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Nº 16 | Maio de 2011 Usinas do Rio Madeira: revoltas e protestos CDDPH constata ausência absoluta do Estado em Belo Monte Mulheres atingidas se encontram com a presidenta no Palácio do Planalto Página 4 Página 5 Página 7 Marcha contra os agrotóxicos, em defesa do Código Florestal e por um novo projeto energético popular reúne movimentos sociais na Esplanada

Jornal do MAB | Nº 16 | Maio de 2011

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Nº 16 | Maio de 2011

Usinas doRio Madeira:revoltas eprotestos

CDDPH constataausência absoluta

do Estadoem Belo Monte

Mulheres atingidas se encontram coma presidenta no

Palácio do PlanaltoPágina 4 Página 5 Página 7

Marcha contra os agrotóxicos, em defesa do Código Florestal e por umnovo projeto energético popular reúne movimentos sociais na Esplanada

Mulheres atingidas por barragens fazem encontro

histórico em Brasília

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EDITORIAL

www.mabnacional.org.br

Jornal do MABExpediente

Uma publicação do Movimento dos Atingidos por BarragensProdução: Setor de Comunicação do MAB

Projeto Gráfico: MDA Comunicação IntegradaTiragem: 6.000 exemplares

2011, bom começo de ano!Revoltas populares (insurreições) no norte da África e Oriente Médio. Mobilizações dos afetados por represas na Colômbia, no México e em outras partes do mundo.Revolta dos trabalhadores nas obras (barragens, por-tos) no Brasil.Encontro histórico das mulheres atingidas por barra-gens no Brasil.Protestos dos estudantes contra os altos preços do transporte público em São Paulo, Brasil.Protestos contra o uso de venenos na produção de comida.

A pergunta é: se abrem novos tempos nas lutas de nosso povo?

Longe de ter respostas, podemos constatar al-gumas coisas:

1. As revoltas pelo mundo mostram que é possível derrubar governos, provocar mudanças através das lutas e mobilizações do povo.

2. Até agora a América Latina se mostrava como um local com lutas e governos mais progressis-tas. As lutas mundiais favorecem esta onda pro-gressista e a América Latina não é mais o único palco. De certa forma quebra o isolamento de um local progressista num mundo conservador.

3. No Brasil, os operários (neste momento da construção civil) retomam lutas contra a extrema exploração nas grandes obras, o que indica uma possibilidade dos operários reassumirem lutas históricas na defesa dos seus direitos.

4. O setor energético é um dos setores mais sensíveis no atual momento histórico e é também por isso que as mais de 500 mulheres atingidas por barra-gens foram recebidas no Palácio do Planalto pela

presidenta Dilma. O MAB é parte num setor estratégico no Brasil e no mundo. A sensibilidade no setor energético se deve a vários fatores. Por ser de al-tíssima lucratividade para as grandes empresas; por se tratar da apropriação privada de enormes riquezas públicas (rios, petróleo e dinheiro público); e por ser a energia fonte essencial para a produção de praticamente todas as demais mercadorias.5. E por último percebemos como na atualidade a cobrança de tarifas (preço da luz, do gás, da água, do transporte) é um grande fator de acumulação de riquezas na mão das empresas priva-das, mas também uma boa fonte de mobilização do povo contra os altos preços e contra a privatização.

Fiquemos atentos para os sinais dos tempos e façamos nossa parte para incendiar as mentes e cora-ções do nosso povo.

A chama continua acesa! Boa leitura.Coordenação Nacional do MAB

ATENÇÃOO novo site do MAB já está no ar! No endereço http://www.mabnacional.org.br é possível ler no-tícias sobre o Movimento, ver fotos e vídeos, ler artigos e ouvir músicas. Acompanhe as novidades e compartilhe com os companheiros e companheiras!

Comemoração dos 20 anos do MAB durante Encontro de Mulheres em Brasília

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Denúncia nacional e internacionaldas violações dos direitos humanos

em áreas de barragens

Em abril, militantes dos mo-vimentos sociais brasileiros estiveram na Noruega, Suiça

e Alemanha para chamar a atenção sobre os casos descritos no dossiê intitulado “A repressão aos defensores de direitos humanos e movimentos sociais no Brasil”. Além do roteiro na Europa, diversas atividades ocor-reram também em Brasília, entre elas, a entrega do documento nas embaixa-das da Finlândia, Noruega, Alemanha e Suíça, à ministra de Estado, Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, e à presidente da comissão de Direitos Humanos da Câmara, a deputada Manuela D’Ávila.

As ações foram organizadas pelo PAD (Processo de Articulação e Diálogo), uma articulação de enti-dades para o diálogo internacional, formada por seis agências ecumê-nicas européias de diferentes países e por 165 entidades parceiras no Brasil. Congrega representantes de movimentos como o MST, o MAB e o MMC, e entidades ecumênicas.

Ricardo Montagner, do MAB, esteve nos países europeus junta-mente com outras lideranças. O grupo entregou o documento com as denúncias no Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, na Suíça, e buscou apoio do Conselho Mundial de Igrejas.

CasosO dossiê apresenta alguns

casos graves de violação de direitos e indica vários mecanismos que o Estado brasileiro cria para reprimir organizações populares, em favore-cimento de interesses quase sempre privados. O relatório revela que opo-sitores à construção da hidrelétrica de Belo Monte enfrentam ameaças e

Dossiê comprova aumento da repressão a defensores de DH

acusações há mais de duas décadas e que alguns sucumbiram diante da violência e abusos. Mostra ainda que pelo menos um milhão de pessoas sofre por causa da construção de bar-ragens, sem compensação real pelas perdas, além de prisões e processos.

Nos casos dos atingidos por bar-ragens foram relatadas as repressões aos defensores dos direitos humanos na bacia do rio Uruguai, na região sul, em especial na barragem de Campos Novos, que inundou 2.400 hectares e deslocou forçadamente mais de 3.500 pessoas. O consórcio que fez a cons-trução negou-se a negociar com os moradores da área. A pressão popular por reparação a essas famílias resultou em prisões arbitrárias e agressões por parte dos policiais, violação ao direito de defesa previsto na Constituição brasileira, abusos de poder, lutas na justiça e multas diárias de R$ 20.000 aos que fizessem protestos nos can-teiros da obra.

“No início dos anos 2000 vive-mos um intenso processo de crimi-

nalização. Somente na bacia do rio Uruguai, mais de 120 lideranças fo-ram processadas, outras tantas foram presas, violentadas e perseguidas. Juntamente com outras entidades, o MAB fez um amplo debate com a sociedade e denunciou toda a onda de criminalização de suas lideranças e de negação histórica dos direitos dos atingidos. E em 2005, articula-mos um grande acampamento que aconteceu na barragem de Campos Novos e que contou com a visita da representante da ONU para os de-fensores dos direitos humanos, Hina Jilani”, disse Montagner.

Como desdobramento do ro-teiro nacional e internacional de denúncias, em agosto uma comissão de deputados do parlamento Europeu virá ao Brasil para conversar com os movimentos sociais sobre esta realidade. Além disso, o Fórum das Embaixadas da União Européia no Brasil irá discutir o tema da repres-são aos movimentos sociais no atual contexto nacional.

Repressão policial na usina de Campos Novos, Santa Catarina (2005)

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Revolta e protestosnas usinas do Madeira

Nos últimos dias de março, a sociedade brasileira acom-panhou a revolta e a greve

dos operários nas usinas de Jirau e Santo Antônio, localizadas no Rio Madeira, em Rondônia. Mas também ocorreram revoltas em outras grandes obras, como na construtora da refina-ria Abreu e Lima, em Suape (PE), e no porto do Pecém, no Ceará. Estas ações repercutiram na grande imprensa, no governo, mas principalmente entre os próprios trabalhadores.

Segundo informações do jornal Brasil de Fato, no dia 24 de março, nestas três regiões quase cem mil trabalhadores da grande construção civil estiveram paralisados, em mo-

bilização. Em todos os ca-sos, as reivindicações eram por melhores condições de vida e de trabalho e respei-to aos direitos mínimos. Nas usinas do Madeira, os operários denunciaram o recebimento de salá-rios extremamente baixos, além de longas jornadas de trabalho, restrições às folgas, péssimas condições de trabalho e segurança, violência e perseguição, acordos não cumpridos, transporte de péssima qualidade e ameaças constantes de demissão.

A falta de diálogo e a postura autoritária das empresas agravaram a situação já adversa de sobrevivên-cia dos operários em uma verdadeira cidade criada no canteiro de obras, que chega a reunir, sem a in-fraestrutura adequada, oito, dez, 15 e mesmo 20 mil pessoas. Trata-se de uma cidade anormal: há muito menos mulheres do que homens, não há velhos ou crianças, há poucas opções

No final de março, o MAB, a Central Única dos Trabalhadores e a Plataforma BNDES lançaram um manifesto de solidariedade à luta dos trabalhadores, que foi assinado por inúmeros movimentos e entidades nacionais e internacionais. No manifesto, as entidades repudiaram a aceleração das obras para antecipação da geração de energia e a exploração dos trabalhadores. No caso de Jirau, a previsão de antecipação era de um ano, de 2013 para 2012, o que significou uma aceleração de 25% no ritmo de trabalho.

Segundo o manifesto, a antecipação das obras beneficiaria apenas as empresas, já que os custos com os operários diminuiria em aproximadamente um bilhão de reais. Além disso, as empresas também ganhariam o direito de vender esta energia gerada antecipadamente

de atividades além trabalho, não dá para escolher o local aonde se vai, o transporte depende da empresa, e assim por diante.

Além disso, os trabalhadores vêm de regiões diferentes do país, com hábitos diversos, no entanto, recebem tratamento similar em al-guns aspectos e bastante desigual em outros, que não correspondem ao que a maioria desejaria.

A concessionária que constrói Jirau é formada pelas empresas GDF Suez, Camargo Correa, Eletrosul e Chesf. No caso de Santo Antônio, o consórcio é formado por Odebrecht, Santander, Cemig e Furnas.

no mercado livre. “Significará em torno de R$ 190 milhões de faturamento a cada mês de antecipação. E se realmente for construída com um ano de antecedência, significa um faturamento de R$ 2,4 bilhões, algo equi-valente a R$ 120 mil por operário”, declara o manifesto.

Além disso, no início de abril, o MAB organizou um ato público em Porto Velho, juntamente com os sindicatos, em apoio aos trabalhadores e aos atingidos pelas usinas.

A mobilização dos trabalhadores obrigou as empresas a voltarem ao ritmo original. Com a alte-ração no cronograma, as construtoras anunciaram a previsão de demissão de quase 6.000 trabalhado-res. As duas obras empregam juntas quase 40 mil funcionários.

Solidariedade aos trabalhadores

MAB e sindicatos organizam ato públicoem apoio aos trabalhadores e atingidos pelas usinas

Trabalhadores e atingidos pelas usinas de Jirau e Santo Antônio protestam nas ruas de Porto Velho

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Conselho de direitos humanos constata ausência absoluta do

Estado em Belo Monte

Os militantes do MAB no Pará, em visita às comunidades ribeirinhas atingidas por Belo Monte, confirmaram a denúncia do CDDPH. Eles contam que, na região conhecida como Arroz Cru, os funcionários das empresas do Consórcio Norte Energia, responsável pela construção da usina, têm forçado a utilização de negociação individual com cada família, o que dificulta o processo de organização do povo na luta por seus di-reitos. O consórcio tem estimulado a desconfiança entre os próprios vizinhos, por isso, até a participação nas celebrações e outras atividades coletivas da comunidade estão comprometidas.

Alem disso, vários são os relatos de pressão psico-lógica para apressar as vendas dos lotes o quanto antes, sob pena dos atingidos não receberem indenização.

Usina já traz problemas à populaçãoJá houve até ameaça de despejo das famílias com força policial, como praticado em outros locais do país.

Em outra região, conhecida como Cobra Choca, onde está prevista a construção do canal que vai levar água até as turbinas da usina, as famílias relatam que o consórcio não dialoga e invade as propriedades para demarcação da área a ser alagada. Por ser uma região de difícil acesso no período de chuvas, as famílias se sentem isoladas e pessoas ligadas ao consórcio fazem ameaças de que podem perder tudo que construíram em anos de luta na região.

A cidade de Altamira já sofre com os impactos da previsão de construção da obra. Com o grande número de pessoas chegando, maior do que a estrutura da cida-de pode absorver, a saúde, a educação, o transporte e o saneamento básico já estão sobrecarregados.

No último 14 de março,Dia Internacional de Luta

contra as Barragens,os militantes do MAB

e de outros movimentos sociais promoveram uma pescaria

nas águas do Xingupara denunciar os danos

que a construção de Belo Monte vai trazer à população local

e à natureza.

O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), órgão consulti-

vo do governo brasileiro, constatou uma situação de “ausência absoluta do Estado” na região do Rio Xingu, onde está sendo construída a Usina de Belo Monte. A avaliação do conselho foi feita em meados de abril.

“É uma terra de ninguém. Há problemas de todas as ordens. Há exploração sexual de crianças, au-sência do Estado no atendimento aos segmentos mais básicos. O que cons-

tatamos é um flagrante desequilíbrio entre o consórcio e as populações ri-beirinhas, as etnias indígenas e outras comunidades tradicionais existentes naquela região”, disse o conselheiro Percílio de Sousa Lima Neto, vice--presidente do CDDPH.

As denúncias apresentadas pelo CDDPH são as mesmas feitas por organizações defensoras de direitos humanos à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que resul-taram em uma medida cautelar expe-dida em março na qual a Organização

dos Estados Americanos (OEA) pedia a imediata suspensão do processo de licenciamento da obra da usina.

À época, o Ministério das Rela-ções Exteriores afirmou, por meio de nota, ter recebido com “perplexida-de” a recomendação e considerou as orientações “precipitadas e injustifi-cáveis”. O governo também informou que não abre mão da construção da usina e que pretende acompanhar mais de perto o assunto.

(Com informações da Agência Brasil)

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Mulheres atingidas por barragens fazem encontro histórico em BrasíliaRelatório constatou

que as mulheres são as mais agredidas no processo de construção de barragens

Em luta por direitos e pela construção de um novo projeto ener-gético popular, cerca de 500 mulheres atingidas por barragens vindas de 16 estados brasileiros estiveram reuni-das em Brasília, entre os dias 4 e 7 de abril, para o Encontro Nacional das Mulheres Atingidas por Barragens.

O evento, organizado pelo MAB, teve o objetivo de discutir e analisar a realidade e as conseqüências da construção das barragens na vida das mulheres, traçar um plano de ação para que elas sejam ativas na luta e na organização e denunciar a violação de seus direitos no processo de constru-ção de barragens. O encontro culmi-nou em atos públicos pela Esplanada e em uma audiência com a Presidenta Dilma (veja na página ao lado).

Um dos debates que marcou o en-contro foi a constatação de que o proces-so de construção de hidrelétricas agride principalmente as mulheres. Este fato re-mete ao relatório da Comissão Especial “Atingidos por Barragens”, aprovado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH)e lançado du-rante o encontro. O relatório reconheceu que as mulheres são atingidas “de forma

particularmente grave e, via de regra, encontram maiores obstáculos para a re-composição de seus meios e modos de vida; [...] não têm sido consideradas em suas especificidades e dificuldades par-ticulares”, e por isso “têm sido vítimas preferenciais dos processos de empobre-cimento e marginalização decorrentes do planejamento, implementação e ope-ração de barragens”.

Cleonira dos Santos, atingida pela barragem de Barra Grande, na região sul, ilustra o caso: “As mulheres sofre-ram mais pressão que os homens no processo de resistência à implantação da barragem. Como muitas delas eram analfabetas, a empresa responsável pela obra as pressionava para assinarem do-

cumentos sem terem acesso ao conteú-do”, declarou. Além disso, tiveram mais dificuldades para conquistar o direito de reassentamento por não terem, em sua maioria, documentos que comprovas-sem sua vinculação com a terra.

Para as lideranças do MAB, o encontro foi mais um marco histórico nos 20 anos de organização nacional, representou um avanço nos debates do MAB sobre a inserção política das mulheres e fortaleceu o reconhe-cimento do papel do Movimento na luta contra as barragens e na defesa dos direitos dos atingidos. “É uma vitória política da população atingida pelas construções de hidrelétricas do país, manter de pé, contra interesses tão poderosos, um Movimento que atua em todo Brasil”, avaliou Tatiane Paulino, da coordenação nacional.

Ativistas internacionais Ativistas do movimento inter-

nacional da luta contra as represas também participaram do encontro brasileiro. Representante do movi-mento mexicano, Miriam Jimenez Agredano, e da Patagônia Argentina, Moira Ivana Millán, assim como a vice-ministra de Minas e Energia do Paraguai, Mercedes Canese, foram presenças marcantes no encontro.

Atingidas da região Nordeste fazem mística de abertura do Encontro

Cerca de 500 atingidas por barragens de 16 estados participaram do Encontro

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Mulheres atingidas se encontramcom a presidenta Dilma

No último dia do Encontro Nacional em Brasília, as mulheres atingidas por

barragens foram recebidas pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Soniamara Maranho, da coorde-

nação nacional do MAB, leu uma carta com as reivindicações das atingidas.

Entre as reivindicações es-tava a regulamentação do decreto assinado no ano passado pelo ex--presidente Lula, que instituiu o

cadastro dos atingidos por barragens, a suspen-são das obras da usina de Belo Monte, no Pará, e a elaboração de uma nova política nacional de tra-tamento das questões sociais e ambientais re-lacionadas aos projetos de barragens.

A carta também declarou o apoio do Movimento às lutas dos operários das obras de

barragens por melhores condições de trabalho e a solidariedade à re-sistência dos Povos Latinos, em especial os Mapuches no norte da Patagônia Argentina, atingidos pe-las refinarias da Petrobrás.

A presidenta destacou a im-portância da organização das mu-lheres na luta por seus direitos, reconhecendo que elas são as mais afetadas pelos grandes problemas do país, e manifestou a intenção de manter as portas abertas para o diálogo permanente com os movi-mentos sociais.

Dilma, no entanto, não se comprometeu a atender todas as demandas especificadas na carta elaborada pelas mulheres do MAB, afirmando que não iria fazer pro-messas “demagógicas”.

Antes da audiência com a presidenta, as mulhe-res do MAB participaram de uma marcha pela Espla-nada para lançar a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, que reúne movimentos so-ciais e ambientais, entidades estudantis e sindicatos para alertar a sociedade sobre o uso indiscriminado de venenos na produção de alimentos.

A mobilização também defendeu a Reforma Agrária e protestou contra o projeto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) de alteração do Código Florestal, defendido pelos ruralistas.

A marcha encerrou no Ministério de Minas e Ener-gia para a denúncia do atual modelo energético, que ex-plora os trabalhadores com os altos preços da energia elétrica. “O Ministério [de Minas e Energia] é o coorde-nador de todo setor elétrico que, em sua grande maioria, está nas mãos das empresas privadas. Essas empresas, historicamente, têm violado os direitos humanos, nega-do o direito dos atingidos e precarizado as condições de trabalho, como tem ocorrido com os trabalhadores das usinas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia”, afirmou Ivanei Dalla Costa, da coordenação nacional do MAB.

Movimentos marcham em defesa do código florestal,contra o uso de agrotóxicos

e por um novo modelo energético

Dilma Rousseff recebe carta com as reivindicaçõesdas mulheres atingidas por barragens

Marcha dos movimentos sociais por Brasília

Mulheres do MAB participam de ato em Brasília

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Desrespeito e violação de direitossão a marca da Usina Hidrelétrica de Estreito

Consórcio errou medição da área de

alague e muitas pessoas tiveram que deixar suas casas às pressas

Os atingidos pela Usina Hi-drelétrica de Estreito, construída no rio Tocantins, na divisa entre os estados do Maranhão e Tocantins, estão resistindo à onda de violações promovidas pelas construtoras desde o início das obras. A usina começou a operação há pouco tempo, mas desde 2007 carrega um rastro de degrada-ção social e ambiental. Os últimos episódios foram a retirada forçada de moradores ribeirinhos e a morte de 35 toneladas de peixes, conforme relataram pescadores da região.

Os atingidos por Estreito afirmam que o Consórcio Ceste, formado pelas empresas trans-nacionais Vale, Alcoa, Camargo Corrêa e Tractebel Suez, errou nas medições e áreas que não estavam previstas para serem alagadas ficaram submersas. As empresas Camargo Corrêa e Suez são as

mesmas que em Rondônia deixam os operários da usina hidrelétrica de Jirau em condições desumanas de trabalho e de vida.

Em março, o MAB forma-lizou uma denúncia na Secretaria dos Direitos Humanos de que, com o fechamento das comportas da UHE de Estreito para a formação do lago da barragem, famílias que não seriam atingidas ficaram de-samparadas, com a água entrando em suas residências.

“Durante todas as audiências públicas realizadas no município

de Barra do Ouro, em Tocantins, o consórcio sempre deixou claro que os povoados ribeirinhos não seriam atingidos. No entanto, no início do ano, uma equipe do con-sórcio alojou-se na cidade e iniciou o levantamento de todo o povoado, sem sequer discutir conosco o por-quê de tal medição de última hora”, afirmam os atingidos.

A situação agravou-se depois da conclusão dos levantamentos, quando os representantes do con-sórcio começaram a ameaçar as famílias para que assinassem os acordos de desocupação. Inúmeros proprietários não foram procurados sob a alegação de que suas proprie-dades não sofreriam os impactos da usina e hoje já estão isolados, sem colégio, água, igreja e vizinhança.

“Eles deram o prazo de 24 horas para nós sairmos e, se não saíssemos, seríamos multados em até 27 mil reais e retirados por força policial”, declarou uma moradora. Ela conta que sua comunidade foi desocupada, as casas foram destruídas e, com um caminhão, a empresa transportou os pertences dos moradores, contra sua vontade. Eles tiveram que deixar para trás os animais, as fruteiras e muitas outras coisas pessoais.

Atingidos ocupam áreapara pressionar desapropriação

Frente à situação de desestruturação das comunidades, em meados de abril, os atingidos ocuparam uma área da União na cidade de Barra do Ouro, Tocantins. Entre os manifestantes, estavam muitas pessoas que não tiveram direito a indenização quando foram expulsas de suas terras para a construção de Estreito. Muitas delas viviam como agregadas em casas de outros moradores.

Além da ocupação da área, os atingidos pela barragem fizeram uma marcha e acamparam em frente à sede do Incra, em Palmas, capital de To-cantins. Eles pedem a desapropriação de terras para reassentamento.

Atingidos por barragens e sem-terra marcham por mais de 30 km de Porto Nacional até Palmas

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Hidrelétricas binacionais de Garabi e Panambi:fábricas de energia e de lucro

para as grandes empresas

Um projeto de mais de trinta anos volta a “assombrar” a população da bacia do

rio Uruguai no trecho de frontei-ra entre o Brasil e a Argentina: a construção das grandes barragens de Garabi e Panambi. Os gover-nos brasileiro (MME/Eletrobrás) e argentino (EBISA) prevêem iniciar as obras em 2012, a um custo de oito bilhões de reais. Se-gundo dados do próprio governo, as barragens inundarão quase cem mil hectares e a estimativa é de que atingirão 12.600 pessoas. No entanto, o Movimento dos Atingi-dos por Barragens prevê que este número pode ser bem maior.

Pela proposta atual, os prin-cipais municípios brasileiros atin-gidos seriam Garruchos, São Ni-colau, Porto Xavier, Pirapó, Roque Gonzáles, Tucunduva, Tuparandi, Novo Machado, Doutor Mauricio Cardoso, Criciumal, Tiradentes do Sul, Esperança do Sul, Derrubadas, Alecrim e Porto Mauá, todos no es-tado do Rio Grande do Sul. A região mais afetada no território argentino será a província de Misiones.

Histórico Em 1972, o Brasil e a Ar-

gentina assinaram convênio para a realização de estudos conjuntos do trecho compartido do rio Uruguai e seu afluente Peperì-Guazú, para exploração do potencial energético. A partir destes estudos foi elaborado o projeto que previa a construção de duas represas: Garabi (potência de 1800MW) e Roncador (potência de 2800MW). Depois de inúmeras paralisações e de um processo de privatização das obras, o projeto Garabi foi incluído na Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regio-nal Sul-americana (IIRSA).

As barragens na bacia do Rio Uruguai

Em 2008 a assinatura da Declaração da Casa Rosada, em Buenos Aires, ratificou a deci-são de construir as usinas hidre-létricas de Garabi e Panambi, determinando que a Eletrobrás e a EBISA avancem na reali-

A bacia do rio Uruguai tem grande capacidade e potencial de geração hídrica, sendo considerada estratégica na geração de eletricidade. Por isso, se tornou um dos territórios brasileiros em disputa, que o capital internacional quer controlar.

Atualmente, a energia no Brasil é vendida por um valor entre R$ 130,00 e R$ 140,00 por MWh. Portanto se as duas barragens juntas produzirem, em média, 1.100 MWh de energia, terão uma receita de 1 bilhões e 230 milhões por ano. Isso sem contar os lucros das empreiteiras na construção, a apropria-ção privada do dinheiro público através do financiamento do BNDES, a expro-priação de quase cem mil hectares de terras, e o controle da água na região.

Do potencial da região, 12.816 MW (5,1% do potencial nacional), 5.182 MW já são aproveitados. Ali já foram construídas sete grandes hidrelétricas que estão nas mãos de quatro transnacionais – Alcoa (Estados Unidos da América), GDF Suez Tractebel (França), Votorantim e Camargo Correa (brasileiras): são as usinas de Passo Fundo, Itá, Machadinho, Barra Grande, Cam-pos Novos, Monjolinho e Foz do Chapecó.

Juntas, as hidrelétricas (5.357 MW de potência) geram por ano 3,2 bilhões de reais. Durante 30 anos que detêm a concessão, vão gerar aos seus ‘donos’ nada menos que 95 bilhões de reais.

Rio Uruguai, fronteira com Argentina: local onde está planejada a UHE Garabi

zação dos estudos técnicos e ambientais. Em março de 2010, o governo brasi leiro incluiu o projeto hidrelétrico Garabi na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).

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Atingidos por barragensfazem marcha em Minas Gerais

A última semana de abril foi marcada por uma ampla jornada

de lutas, protagonizada pe-los movimentos sociais, em Minas Gerais.

No dia 25, o MAB ini-ciou uma marcha pelo estado para reivindicar os direitos dos atingidos e debater sobre o projeto energético popular. Participaram cerca de 450 militantes.

Três colunas saíram de três pontos diferentes com destino a Belo Horizonte. Uma delas saiu de Ponte Nova (na Zona da Mata), passando por Mariana, Ouro Preto, Itabirito, Cachoeira do Campo e Congo-nhas. Outra iniciou a marcha a partir de Taioberas (Norte do Estado), passando por Montes Claros e Sete Lagoas. A tercei-ra saiu de Aimorés (Zona Les-te), passando por Governador Valadares e Ipatinga.

As três colunas da mar-cha chegaram à capital mi-neira no dia 28 de abril e se somaram a um acampamento realizado pelo MST e pelas Brigadas Populares, para ato uni-ficado da Via Campesina com as centrais sindicais, por ocasião Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes do Trabalho. De acordo

Mesmo responsável por cerca de 17% da geração de energia elétrica do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais é o estado brasileiro com uma das tarifas de energia mais caras do país. Esta contradição tende a se agravar pois, por um lado o preço da luz tem, sistematicamente, aumentado para os trabalhadores, e por outro, 83 novas obras estão sendo construídas ou em outorga no estado.

Enquanto os trabalhadores pagam mais caro, o fa-turamento da Cemig fica a cada ano mais gordo. De 1995 a 2006, segundo dados do Sindieletro de Minas Gerais, a

com o Sindicato dos Eletricitários, a cada 45 dias morre um trabalhador, vítima de acidente de trabalho, na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a empresa que atua nas áreas de geração, transmissão,

Atingidos por barragens participam de ato em Belo Horizonte,no dia de encerramento da marcha estadual

distribuição e comercializa-ção de energia elétrica em Minas Gerais.

“A marcha superou as expectativas e animou os homens e as mulheres que tiveram os seus direitos am-plamente violados a lutarem não só pelo o que é deles, mas por um projeto energético que respeite a vida e sirva aos tra-balhadores e não ao capital”, afirma Fernanda de Oliveira Portes, membro da coordena-ção estadual de MAB.

Paralelamente, o MAB também participou do 2º Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale. O en-contro ocorreu entre os dias 25 e 28, também em Belo Horizonte, e contou com a participação de cerca de 60 pessoas de nove países.

No dia 30 de abril teve início na capital mineira o 3º En-contro dos Movimentos Sociais de Minas Gerais ao qual o MAB se incorporou após a marcha. O encontro teve o objetivo de denunciar a política do gover-no de Minas, que privilegia o

lucro das grandes empresas e reprime os trabalhadores e as trabalhadoras que exigem seus direitos básicos, como mo-radia, melhores condições de trabalho e ensino público de qualidade.

MG: tarifas altas e violação de direitos humanostarifa residencial da Cemig aumentou 469%. Ainda segun-do o sindicato, o estado controla apenas 23% das ações da empresa, o restante é controlado por empresas privadas, a maioria delas é estrangeira.

Além desses problemas, Minas também é palco de diversos casos de violação de direitos humanos ocorridos na construção de barragens. Entre as sete barragens inves-tigadas pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) devido a casos de violação dos direitos humanos, três estão no estado: a UHE Aimorés e as PCH’s Fumaça e Emboque.

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Famílias atingidas por barragensrestabelecem vínculos produtivos

nos reassentamentos do Ceará

A nos depois de serem deslocados de suas terras pelo lago da barragem do Castanhão, no Ceará, as famílias organizadas no Mo-

vimento dos Atingidos por Barragens (MAB) estão restabelecendo a produção familiar, como garantia de sobrevivência. Isso é parte das conquistas dos atingidos e fortalece o debate sobre a produção de alimentos saudáveis com a preservação do meio am-biente nos reassentamentos e comunidades atingidas pela barragem.

Os atingidos estão desenvolvendo experiências produtivas de horticultura, piscicultura, criação de galinha caipira, caprinocultura, piscicultura, cajucul-tura, apicultura, entre outras, isso tudo no intuito de resistir no campo através da produção camponesa. “As experiências são umas das principais formas de gera-ção de renda das famílias, garantindo a organização da produção pautada na coletividade e nos princípios da agroecologia”, afirmou Zilda Torquato, uma das reassentadas da região.

Entre as conquistas que os atingidos tiveram, pode--se destacar a construção de 145 cisternas nas regiões do Castanhão e Maciço de Baturité, locais onde o MAB tem organização. A tecnologia de armazenamento de água em cisternas de placa é considerada muito importante para essa região, “pois a construção de barragens não tem sido sinônimo de solução dos problemas de escassez de água. Vivemos numa realidade onde as famílias atin-gidas não têm nenhum acesso à água, e o abastecimento ocorre através do velho e conhecido ‘carro-pipa’, isso tem que acabar”, afirmou a reassentanda.

Apropriação do lago

Entre as ações que representam um grande avanço no processo de reestruturação produtiva nas áreas de reassentamentos está a produção de peixes em cati-veiro no lago da barragem. A atividade cumpre um importante papel econômico para as famílias, pois está se tornando a principal fonte de renda de algumas famílias envolvidas com projetos. “Politicamente tem um significado enorme porque representa um processo de reapropriação das águas do lago pelas famílias que foram atingidas pela barragem”, finalizou Zilda.

NOSSA PRODUÇÃO

Page 12: Jornal do MAB | Nº 16 | Maio de 2011

Jornal do MAB | Maio de 201112

Organização Internacionaldos atingidos por barragens

Viva a lutana Colômbia!

No último dia 28 de março, a comunidade de Temacapulin, no México, ocupou o canteiro de obras da barragem El Zapotillo, como parte da “revolução da água”, como vem

sendo chamada a luta popular do Movimento Mexicano de Atin-gidos por Barragens e em Defesa dos Rios (MAPDER), declarada em novembro passado. Com o protesto, abriu-se negociação entre a comunidade e aliados com o governo estadual e federal. “Ficou claro que governo do estado é surdo e não quer pensar alternativas para o abastecimento de água. A comunidade de Temacapulin jamais renunciará a sua dignidade e a seus direitos”, dizem as lideranças. Nesta comunidade foi realizado, em outubro de 2010, o 3º Encontro Internacional dos Atingidos por Barragens.

Com a perspectiva de sensibi-lizar a sociedade brasileira sobre a gravidade do uso e

consumo de agrotóxicos, em abril foi lançada a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, que reúne movimentos sociais, enti-dades estudantis e sindicatos em de-fesa do direito à alimentação saudável para todos, da qualidade de vida do trabalhador e de um meio ambiente equilibrado.

Uma das principais motiva-ções da campanha é que com o uso exagerado de produtos químicos nas lavouras do país, os agrotóxicos estão deixando de ser uma questão rela-cionada especificamente à produção agrícola e se transformam em um pro-blema de saúde pública e preservação da natureza.

O Brasil é o país que mais con-some agrotóxicos no mundo: cerca de um bilhão de litros foram utilizados

Durante a comemoração do 14 de março, Dia Internacional de Luta contra as Barragens, os atingidos na Colômbia convocaram a

jornada nacional em defesa dos territórios, que mobi-lizou cerca de 2200 pessoas atingidas pela barragem El Quimbo, 4000 na região afetada pela barragem Hiroituango e 1500 na região afetada por Hidroso-gamoso. Posteriormente a essas mobilizações, os atingidos fundaram o Movimento Colombiano em Defesa dos Territórios e Atingidos por Barragens, fruto da necessidade de articulação nacional e de garantir maiores resultados na tomada de decisões.

no país em 2009 – uma média de 5 litros por pessoa. Isto movimentou um mercado de 7, 2 bilhões de dóla-res, que por sua vez se concentra nas mãos de apenas seis grandes empresas transnacionais, que controlam mais de 80% do mercado dos venenos. São elas: Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont, DowAgrosciens e Basf.

Para os coordenadores da cam-panha, além de denunciar as mazelas causadas pelas empresas e pelo uso de agrotóxicos, é preciso construir formas de restringir o uso de venenos e de impedir sua expansão, propondo projetos de lei, portarias e iniciativas legais e jurídicas. Outro campo de atuação da campanha é o anuncio da possibilidade de construção de um ou-tro modelo agrícola, baseado na agri-cultura camponesa e agroecológica.

“Temos estudos que comprovam que a produção camponesa e agroeco-lógica é viável, produz em quantidade e em qualidade suficientes para abastecer o campo e a cidade. Então propomos avançar na construção destas experiên-cias que são a única saída para esse mo-delo imposto que concentra riquezas, expulsa a população do campo e produz pobreza e envenenamento”, alertou Valter Israel da Silva, do Movimento dos Pequenos Agricultores.

Temaca: em plenarevolução da água!