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Nº 20 | Abril de 2012 Seminário sobre energia fortalece Plataforma Operária e Camponesa Norte Energia nega direitos de atingidos à jusante de Belo Monte Cúpula dos Povos: Na Rio+20, por justiça social e ambiental Página 3 Página 9 Página 10 Páginas 4 a 7 Atingidos marcham em Brasília durante Jornada de Lutas do 14 de Março

Jornal do MAB | Nº 20 | Abril de 2012

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Nº 20 | Abril de 2012

Seminário sobre energia fortalece Plataforma

Operária e Camponesa

Norte Energia nega direitos de atingidos à jusante de Belo Monte

Cúpula dos Povos:Na Rio+20, por justiça

social e ambientalPágina 3 Página 9 Página 10

Continuar em lutase faz necessário!

Páginas 4 a 7

Atingidos marcham em Brasília durante Jornada de Lutas do 14 de Março

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EDITORIAL

Jornal do MABExpEdiEntE

Uma publicação do Movimento dos Atingidos por BarragensProdução: Setor de Comunicação do MAB

Projeto Gráfico: MDA Comunicação IntegradaTiragem: 8.000 exemplares

Continuar em lutase faz necessário!

Companheiros e companheiras, no dia 14 de março fizemos uma grande jornada de lutas que mobilizou milhares de atingidos em 13 atos

nacionais. Saímos às ruas para cobrar os direitos dos atingidos (pagamento da dívida histórica e criação uma política nacional de tratamento dos atingidos), contra a privatização da água e da energia, questionando o alto preço da luz, e contra a construção de Belo Monte e outras barragens.

As principais estatais do setor elétrico foram ocupadas e nos colocamos ao lado dos trabalhadores do setor elétrico, que em todo o país enfrentam pro-blemas com a precarização das condições de trabalho e com a ameaça de uma nova onda de privatizações. Além disso, fizemos seminários e debates sobre a renovação das concessões do setor elétrico que estão para vencer no próximo período.

Nossa jornada nacional trouxe avanços signi-ficativos, tais como o acordo assinado entre o MAB e o Governo Federal, através de Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência da Repú-blica. Este é o primeiro acordo com o MAB em caráter nacional e abre muitas possibilidades de conquistas, gera ânimo em nossa base e tem propostas estruturan-tes para a vida dos atingidos e atingidas. Além disso, abriram-se portas para conquistas nas pautas regionais através de negociações com as estatais.

Também avançamos na política de alianças em ações conjuntas com movimentos e organizações da Plataforma Operária e Camponesa para a Energia, Via Campesina e Assembleia Popular. O debate que fizemos contra a privatização da água e da energia, através dos seminários e lançamento das campanhas pela renova-ção das concessões do setor elétrico e contra as PPP’s do saneamento, nos aproximou de setores importantes para avançar na luta política e nos temas de interesse da classe trabalhadora.

No entanto, para haver conquistas concretas para os atingidos neste ano de 2012, devemos seguir mobilizados. Como o ditado “Nossos direitos só a luta faz valer” continua atual e necessário, no próximo

período devemos fazer uma nova jornada de lutas, prevista para o início de junho. Essas lutas tem o ob-jetivo de continuar com a pressão junto ao governo e empresas para concretizar o acordo firmado em março, prosseguir e avançar com as negociações das pautas, começar o levantamento da dívida social do Estado com os atingidos, fazer a denúncia ambiental e lutar contra as privatizações.

Cabe lembrar que durante o Fórum Social Te-mático, que aconteceu em Porto Alegre em janeiro deste ano, movimentos sociais do mundo todo defi-niram que no dia 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, serão feitas ações no mundo inteiro contra o avanço do capital sobre os bens naturais e sobre a explora-ção dos trabalhadores. Estas ações internacionais também terão o caráter de preparar o clima de luta para a Rio+20, que acontece no Rio de Janeiro em meados de junho.

Todo esse processo de lutas que estamos empe-nhados em construir em 2012 é parte da preparação para o 3º Encontro Nacional do MAB, que acontece em março de 2013. Continuar nossas lutas contra a privatização da água e energia, pelos direitos dos atin-gidos e trabalhadores do setor energético, sem dúvida é a melhor maneira de preparar-nos com muito ânimo para este grande encontro.

Coordenação Nacional do MAB

Atingidos fazem ato em frente à Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro

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VISITE O SITE DO MABEm www.mabnacional.org.br é possível ler no-tícias sobre o Movimento, ver fotos e vídeos, ler artigos e ouvir músicas. Acompanhe as novidades e compartilhe com os companheiros e companheiras!

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Plataforma Operária e Camponesa debate modelo

energético com Governo Federal

Pela renovação das concessõese contra a precarização do trabalho

Uma das questões defendidas pela Plataforma é a renovação das concessões do setor elétrico, entendida como uma forma de combater o avanço da privatiza-ção, pois boa parte dos contratos que vai vencer está nas mãos das estatais. “Os trabalhadores do setor de-fendem a renovação imediata”, afirmou Franklin Mo-reira, da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU).

Outro ponto trazido pelos eletricitários é a questão da terceirização, que precariza o trabalho no setor chegando a custar a vida dos trabalhado-res. Na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), por exemplo, morre um trabalhador ter-ceirizado a cada 45 dias.

Os trabalhadores também fizeram questão de frisar que reconhecem a importância da criação do espaço de debate e interlocução com o governo, mas

Como resultado da articu-lação construída pela Pla-taforma Operária e Cam-

ponesa para a Energia, aconteceu em Brasília o Seminário Nacional sobre o modelo energético: atua-lidade e perspectiva. A atividade foi organizada pela Plataforma em conjunto com a Secretaria Geral da Presidência da República e reuniu 200 lideranças de movimentos so-ciais, sindicais, políticos e religiosos no Palácio do Planalto, nos dias 19 e 20 de abril.

“A atividade é resultado de todo debate feito pela Plataforma, e levado como reivindicação na mesa de negociações entre a Plataforma e o governo, no esforço para que o debate sobre a política energéti-ca aconteça de forma mais ampla possível entre os trabalhadores, e não fique restrito aos grupos e em-

querem, além disso, participar de fato das decisões sobre os rumos do setor energético do país.

Do governo, participaram da atividade os minis-térios ligados ao tema, como Minas e Energia e Meio Ambiente, além da Secretaria Geral da Presidência, pasta responsável por construir o diálogo do governo com os movimentos sociais. Participaram também diretores das estatais do setor energético e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Participam da Plataforma Operária e Camponesa para a Energia o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Federação Nacional dos Urbanitários (FNU/CUT), o Movi-mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Federa-ção Única dos Petroleiros (FUP), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e os sindicatos Sinergia (Florianópolis), Sindieletro (Minas Gerais) e Senge (Curitiba).

presas ligadas ao setor energético, das grandes indústrias e do mercado financeiro”, afirma Joceli Andrioli, da coordenação nacional do MAB e da Plataforma.

Durante o encont ro , os movimentos sociais e entidades de trabalhadores pautaram a ne-cessidade de construir um novo modelo energético, determinado pelas necessidades do povo bra-sileiro e não do capital, como ocorre hoje. “O desenvolvimento

deve levar em consideração não só o aspecto econômico, mas também o social e o ambiental, e não é esse quadro que temos hoje”, afirmou Dom Guilherme Werlang, da Confederação Nacio-nal dos Bispos do Brasil, na mesa de abertura da atividade.

Os movimentos f izeram questão de frisar que a questão do modelo não diz respeito somente à maneira de gerar energia, ou seja, se vai ser através de hidrelétricas, de termoelétricas ou de outras fontes. O questionamento, que o MAB vem fazendo historicamente, é para quem e para quê serve essa energia. “Se nós produzimos ener-gia tão barata, por que pagamos tão caro? Quem ganha com esse modelo não são os trabalhadores, mas o capital financeiro especula-tivo”, afirmou Joceli.

Movimentos sociais e sindicais e representantesdo governo na mesa de abertura

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Mobilização nacional traz avanços para a pauta dos atingidos

14 de Março: Dia internacional de luta contra as barragens, pelos rios, pela água e pela vida

Na semana de 13 a 15 de março, milhares de atingidos por bar-ragens estiveram mobilizados

em diversas capitais e nas áreas afetadas pelas obras durante a Jornada Nacional de Lutas do MAB, que marcou o Dia internacional de luta contra as barragens, pelos rios, pela água e pela vida, 14 de março. O MAB organizou ações para denunciar as tentativas de aprofundar a privatização do setor elétrico e cobrar do Estado brasileiro o pagamento da dívida histórica que tem com os atingidos, além de dizer não à construção de barragens como Belo Monte.

O Movimento realizou as mani-festações principalmente em empresas estatais do setor elétrico e no Ministério de Minas e Energia, porque é o Estado quem planeja, licencia, autoriza e finan-cia as barragens no Brasil.

Por isso, uma das principais reivin-dicações do MAB é que seja criada uma política nacional adequada de reparação das perdas e prejuízos da população atingida, definindo regras e critérios no tratamento social nas barragens, com destinação de recursos para a resolução dos problemas.

Pelos direitos dos atingidosO fato do governo ter reconheci-

do a legitimidade da pauta dos atingidos mostra a efetividade do caráter nacional que o MAB deu às mobilizações. As negociações ocorreram principalmente com a Secretaria Geral da Presidência da República, que agora se tornou oficialmente o órgão do governo res-ponsável por dialogar com os atingidos. Uma das conquistas foi o importante acordo assinado entre o ministro Gil-berto Carvalho, da Secretaria Geral, e o MAB, firmando o compromisso do governo em dar passos concretos no atendimento à pauta de reivindicações.

A Secretaria Geral se comprome-teu a apresentar uma metodologia para fazer o diagnóstico da situação dos atin-gidos no Brasil, que deverá ser construída com a participação dos próprios atingi-dos. Além disso, o governo vai formular uma proposta de decreto estabelecendo a política de tratamento e se comprometeu a identificar de quais fontes poderiam vir os recursos para isso, já que uma das

reivindicações do MAB foi a criação de um fundo para o pagamento da dívida do Estado com os atingidos.

Outro compromisso foi articular reunião com o Ministério do Desen-volvimento Agrário (MDA), o Incra e a Secretaria do Patrimônio da União para elaborar um cronograma visando o reassentamento das 12 mil famílias atingidas já cadastradas pelo Incra. Além disso, houve o acordo em conti-nuar os projetos de alfabetização e de capacitação para produção de alimentos saudáveis e energias alternativas nas comunidades atingidas.

“Tivemos muitos avanços, mas temos a consciência de que, para eles se concretizarem, é preciso continuarmos mobilizados e organizados em todo o país”, afirmou Joceli Andrioli, da Co-ordenação Nacional do MAB.

Atingidos participam de ato na Câmara Legislativa, em Brasília

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Aparato repressor recebe manifestantes em frente à Norte Energia, em Altamira

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APOIO

“Nos associamos de coração à Jornada Nacional de Lutas do MAB. A causa atinge a todos dentro da grande luta pela terra e pela água. Um forte abraço de resistência e esperança” Dom Pedro Casaldàliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT)

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Luta contra a privatizaçãofortalece Plataforma Operáriae Camponesa para a Energia

Durante a jornada, a luta contra as privati-zações e pela renovação das concessões do setor elétrico nacional fortaleceu a

unidade entre os atingidos por barragens e traba-lhadores do setor. Aconteceram seminários em Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba para aprofun-dar o debate e lançar a campanha “Privatização não é a solução”.

As concessões que vão vencer até 2015 somam 20% do parque gerador brasileiro, cerca de 80% das linhas de transmissão e mais de 49 empresas distribuidoras, o que representa 35% do total da energia comercializada no país e envolve negócios na ordem de 30 bilhões de reais por ano. A maior parte dos contratos, principalmente de geração, está sob controle de empresas estatais, como Chesf, Furnas, Eletronor-te, Cesp, Cemig e Copel.

Para o Movimento, o caminho para avançar nas reivindicações é a pressão popular sobre os governos e empresas. “A pauta da classe trabalhadora somente entrará na prioridade se o povo brasileiro pressionar

Em Brasília, o Movimen-to dos Atingidos por Barra-gens organizou acampamento com atingidos de Goiás, norte de Minas Gerais, Tocantins e oeste da Bahia. As manifesta-ções aconteceram em frente à

BrasíliaAtingidos protestam no Ministério de Minas e Energia

sede da Eletronorte, em frente ao Palácio do Planalto e no Ministério de Minas e Energia, onde, no último dia da jornada, os atingidos ficaram em vigília até conseguir avançar nas nego-ciações com o governo.

O Movimento também fez um ato político na Câmara dos Deputados contra a privatização do setor elétrico nacional, em de-fesa da renovação das concessões de energia e pelos direitos dos atingidos por barragens.

por isso. É o nível de organização social local jun-tamente com as alianças que construiremos que vai garantir a efetivação dos direitos às famílias. E para o conjunto da classe trabalhadora, é necessário cons-truirmos lutas nacionais e internacionais, massivas e unificadas, não há outro caminho”, afirmou Josivaldo Alves, da Coordenação Nacional do MAB.

Ato em frente ao Ministério de Minas e Energia

14 de Março: Dia internacional de luta contra as barragens, pelos rios, pela água e pela vida

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Atingidos e trabalhadores protestam no Rio de Janeiro

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RondôniaAtingidos por Samuel, Santo Antônio e Jirau ocupam Eletronorte

Rio de JaneiroAtingidos ocupam sede da Eletrobras

No Rio de Janeiro, a Jornada de Lutas do MAB reuniu atingidos e atingidas de Minas Gerais e São Paulo e os moradores do bairro de Vigário Geral, que vem denunciando e lutando contra a elevada tarifa de luz cobrada pela Light, distribuidora de energia e responsável pelas recentes e numerosas explosões de bueiros na capital fluminense.

Entre as atividades da jornada, centenas de pessoas ocuparam a sede da Eletrobrás, no centro do Rio de Janeiro. A estatal recebeu as denúncias e rei-vindicações do Movimento e garantiu que vai cumprir os acordos feitos entre o MAB e o Governo Federal.

O Movimento também protestou no saguão da sede de Furnas. O presidente da estatal, Flavio Decat de Moura, recebeu uma comissão para discutir sobre a pauta e depois desceu até o saguão para falar com os atingidos. Ele se comprometeu publicamente com a luta pela renovação das concessões e a trabalhar

para resolver as pendências de Furnas para com os atingidos por barragens.

A jornada encerrou com uma marcha pelo centro do Rio de Janeiro, na qual o MAB denunciou o mo-delo energético brasileiro e dialogou com a população sobre suas pautas.

Atingidos protestam em frente à sede de Furnas

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Na cidade de Tucuruí (PA), centenas de atingidos marcha-ram rumo à UHE Tucuruí. Eles reivindicam da empresa Eletro-norte os direitos que têm sido negados pela estatal há quase 30 anos. Além de Tucuruí, no Pará o MAB fez atos em Alta-mira contra a barragem de Belo

Atingidos por Tucuruí e Estreito protestam contra empresasMonte e em Belém, em apoio aos trabalhadores da Celpa, a distribuidora de energia do esta-do. Os trabalhadores estavam em paralisação para garantir seus direitos e impedir o aumento na conta da luz, perante o risco de falência da empresa, que foi privatizada na década de 90.

Já as famílias atingidas pela barragem de Estreito realizaram uma manifestação no escritório do Consórcio Estreito Energia (Ceste), responsável pela construção da usina. Centenas de atingidos participaram da marcha que percorreu as principais ruas de Carolina, no MA, e em segui-da protestaram no escritório do Ceste.

Em Rondônia, atingidos pelas barragens de Samuel, Santo Antônio e Jirau ocuparam a sede da Eletronorte, em Porto Velho. Depois da ocupação, os atingidos

deixaram a sede da estatal e em marcha passaram pela Assembleia Legislativa Estadual, encerrando a atividade com um ato no centro da cidade.

MAB marcha nas ruas de Porto Velho, Rondônia

14 de Março: Dia internacional de luta contra as barragens, pelos rios, pela água e pela vida

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NordesteOcupação da Chesf garante avanços na pauta local

Na região Sul, os atingidos por barragens ocuparam a Eletro-sul em Florianópolis, defenderam a renovação das concessões em Curitiba e cobraram os direitos dos atingidos pelas barragens de Garabi e Panambi, na fronteira com a Argentina. Também no Sul, o MAB fez ações na barragem de Garibaldi (veja matéria na página 8).

Em Florianópolis, os atingidos montaram acampamento dentro da sede da Eletrosul, onde permaneceram por três dias. Em reunião com a diretoria da empresa, o MAB entregou uma pauta de reivindicações contendo diversos itens, desde terra para os atin-gidos até recursos para os projetos de desenvolvimento regional.

Na fronteira com a Argentina, centenas de pessoas, entre brasileiros e argentinos, atingidos pelas barragens de Panambi e Garabi participaram de um ato público internacional em defesa dos direitos no dia 14. Os manifestantes fizeram uma marcha pela cidade de Porto Mauá, região noroeste do estado do Rio Grande do Sul.

Em Curitiba, as organizações da Plataforma Operária e Camponesa fizeram um seminário pela renovação das concessões do setor elétrico, que contou com a presença do presidente de Itaipu e representantes da Copel, Eletrosul, Incra e governo do estado. Além disso, os atingidos por barragens protestam no Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e no Incra.

Cerca de 1.500 integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) de toda a região Nordeste ocuparam e montaram acampamento na sede da Compa-nhia Hidroelétrica do São Francis-co (Chesf), na cidade de Recife, no dia 13 de março.

Na sequência da jornada, os trabalhadores e trabalhadoras se-guiram em marcha até o Palácio das Princesas, onde entregaram uma pauta de reivindicações ao governo do estado. O movimento também conseguiu uma audiência com a diretoria e o presidente da empresa.

As mobilizações na Chesf garantiram avanços às famílias atingidas nos estados da região Nordeste. A empresa colocou à disposição suas terras públicas na região para o reassentamento das famílias e também colocou à dispo-sição as terras de uso de servidão, que são utilizadas para instalação das linhas transmissão de energia, para serem avaliadas se poderão ser utilizadas pelos atingidos para produção de alimentos. A empre-sa também ficou responsável por agilizar a instalação de luz elétrica para as famílias reassentadas e organizadas no MAB, em espe-cial no município de Sobradinho (BA). Também fará articulações para a instalação de água nas co-munidades e reassentamentos da Bahia e para reformar o hospital de Sobradinho.

SulMobilizações em Florianópolis, Curitiba e fronteira com Argentina

Em Florianópolis, ação foi no prédio da Eletrosul

Atingidos protestam na Chesf, em Recife

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Atingidos pela UHE Garibaldi permanecem mobilizados

Os atingidos pela hi-drelétrica de Garibal-di, em Santa Catarina,

continuam mobilizados para garantir seus direitos. Há mais de um ano que os agricultores estão realizando atividades e protestos na região para pressio-nar a empresa Triunfo a negociar e reconhecer os pontos da pauta reivindicação.

De acordo com os atin-gidos, o tamanho dos lotes proposto pela empresa como indenização às famílias é insu-ficiente. Além disso, os preços a serem pagos pelas propriedades, o tratamento dado às comuni-dades remanescentes e os crité-rios sobre quem tem direito às indenizações também não são satisfatórios para os atingidos.

Desde o dia 13 de março, quando o MAB iniciou sua Jor-nada Nacional de Lutas, cerca de 500 atingidos montaram acampamento para que, em vigília, pudessem acompanhar os avanços das negociações. A atividade começou com a ocupa-ção do canteiro de obras da usi-na, mas, após a forte repressão

da empresa através da polícia e de um interdito proibitório, as famílias se deslocaram para a comunidade Nossa Senhora das Graças, onde permaneceram acampadas.

Nesse mesmo período, fun-cionários da obra atearam fogo nos alojamentos em protesto devido às péssimas condições de trabalho e baixos salários que lhe são oferecidos pela empresa Triunfo. Por todos esses aconte-cimentos e pela articulação feita pelo Movimento, a Comissão de Direitos Humanos da Assem-bleia Legislativa de Santa Ca-tarina esteve na região ouvindo os trabalhadores e atingidos e reconheceu a violação dos di-reitos humanos na construção da barragem. Um relatório com as entrevistas e depoimentos cole-tados na região será entregue à ministra da Comissão dos Direi-tos Humanos, Maria do Rosário, e ao ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho.

No dia 9 de abril, os atingi-dos retomaram as mobilizações com um acampamento per-

manente nas proximidades do canteiro de obras da usina para pressionar a empresa Triunfo a cumprir com o acordo assinado na última reunião de negociação, ocorrida no Ministério Publico Estadual. “A empresa cons-trutora responsabilizou-se na última negociação a iniciar o processo de compra das terras para reassentar inicialmente 50 famílias”, afirma Denilson Ribeiro, da coordenação do MAB. “A identificação das famílias será feita com base no decreto presidencial assinado pelo ex-presidente Lula em 2010, que assegura o direito ao cadastramento das famílias atingidas”, conclui.

Com custo de cerca de R$ 780 milhões, a barragem de Garibaldi atinge os muni-cípios de Abdon Batista (onde fica o canteiro de obras), Cerro Negro, Vargem, Campo Belo do Sul e São José do Cerrito, alagando 1.864 hectares de terra fértil e expulsando apro-ximadamente mil famílias. A previsão de lucros é de 10 milhões de reais por ano.

Ocupação do canteiro de obras da UHE Garibaldi

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Norte Energia nega direitos de atingidos à jusante de Belo Monte

Depois da Jornada Nacional de Lutas do MAB, onde em Altamira os atingidos por

Belo Monte fizeram uma marcha pela cidade e protestaram em frente ao consórcio Norte Energia, a em-presa se viu obrigada a receber uma comissão dos atingidos, que resultou em acordos, como a audiência públi-ca realizada em Vitória do Xingu.

A audiência aconteceu no final de março e contou com a participação de mais de 2000 atin-gidos deste e de outros municípios que ficam à jusante da barragem. “Lamentavelmente, a Norte Ener-gia disse publicamente que não re-conhece esta como área impactada e os moradores como atingidos”, disse Claret Fernandes, militante do MAB na região.

Para o Movimento dos Atin-gidos por Barragens, o não re-conhecimento dos moradores de Vitória do Xingu como atingidos por Belo Monte é uma violação aos direitos humanos e representa um retrocesso com relação ao conceito de atingido estabelecido no decreto assinado pelo ex-presidente Lula no final de 2010.

Pelo decreto presidencial, inclui-se no conceito de atingido

todos aqueles e aquelas cuja ati-vidade econômica é afetada pela barragem. Nesse caso se enqua-dram os pescadores de Vitória do Xingu, que denunciam que a diminuição do fluxo das águas prejudicará irreversivelmente seu sustento.

Violações tambémà montante

E não são só os atingidos à jusante que sofrem com o não reconhecimento da Norte Energia. A concessionária trabalha com índices de medição que já foram provados por estudos solicitados pelo Ministério Público Federal e pela Universidade Federal do Pará como incorretos, ou seja, enquanto as medições do consórcio apontam 16 mil atingidos na cidade de Alta-mira, esses novos estudos da UFPA apontam mais de 25 mil.

“A questão é que até agora ninguém sabe dizer até onde vai chegar o limite do lago. E sem contar que o conceito que usam é de área alagada, que é muito ultrapassado”, afirma Rogério Hohn, da coordena-ção nacional do MAB.

Os atingidos também reclama-ram de falta de políticas públicas ele-mentares, da falta de informações sobre a situação deles e do abandono pelos governos. Alguns se disseram perse-guidos por órgãos ambientais quando precisam construir sua casa ou pescar para matar a fome. Todos reclamaram da piora da qualidade da água depois do início da construção da barragem e temem que essa situação piore com o avanço das obras. E criticaram a Norte Energia que age como se fosse o poder público em toda a região: “Aqui, agora é tudo Norte Energia”, afirmaram.

Durante a audiência em Vitória do Xingu, o Consórcio Norte Energia foi convocado a prestar esclarecimen-tos e responderam as perguntas de forma evasiva. Frisaram, principal-mente, os programas de compensação de impactos, principalmente, através de convênios assinados com prefei-turas e outras entidades.

Rogério também disse que “essa audiência já é uma conquista do povo. Se não tivéssemos ido lá e exigido, ela não estaria acontecendo”, referindo-se à pressão na Norte Ener-gia no dia 14 de março, com marcha e participação de 500 pessoas.

Atingidos por Belo Monte protestam em Altamira durante Jornada de Lutas

Moradores de Vitória do Xingu participam da audiência pública

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Cúpula dos Povos: Na Rio+20,por justiça social e ambiental

Em meados de junho, acontece no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre o Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida

como Rio+20, porque marca os vinte anos da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92), que também aconteceu no Rio de Janeiro, em 1992.

Paralela à Rio+20, entre os dias 15 e 23 de junho, acontecerá a Cúpula dos Povos, um evento organizado pela sociedade civil internacional. “A cúpula dos povos será parte do processo de luta, de organização e de mobiliza-ção contra a mercantilização dos bens naturais, tais como a água, os minérios, as florestas, entre outros. O interesse das grandes empresas com a Rio+20 é aumentar o controle sobre nossas riquezas, mercantilizando o meio ambiente, e sobre isso temos que nos manifestar”, disse Tatiane Paulino, da coordenação do MAB.

Nas conferências oficiais da ONU sobre o meio ambiente e o clima, há uma hegemonia do discurso do capital, que apresenta falsas soluções seguindo a lógica da mercantilização da vida, da natureza e dos bens na-turais. Essa lógica é chamada de ambientalismo de mer-cado ou economia verde. A intenção do ambientalismo de mercado na Rio+20 é avançar em instrumentos para transformar a natureza cada vez mais em mercadoria e garantir uma legislação que regulamente a propriedade e o comércio dos bens naturais, inclusive para comer-cializar nas bolsas de valores mundo a fora, tal como propôs a Nestlé para a água.

O avanço do capital sobre os recursos naturais se dá através de mecanismos tais como os REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), o TEEB (sigla em inglês para Economia dos Ecossistemas e da

Biodiversidade, uma metodologia para estipular valor econômico à biodiversidade), a venda de crédito de car-bono e o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo). Todas estas propostas são oferecidas pelo mercado ou por instituições financeiras (Banco Mundial e FMI).

“Estes mecanismos são uma farsa, pois apenas aumentam a destruição da natureza e a exploração dos trabalhadores. E quando há uma legislação que estabele-ce controle sobre a atuação dos bancos, do agronegócio e das empresas, as leis sofrem desmonte, tal como vem ocorrendo com o Código Florestal. Neste debate e com essa prática, o mercado e o lucro estarão sempre no cen-tro e o que fica para os povos é mais exclusão, migrações forçadas, miséria, violações de direitos de toda ordem e destruição”, disse Tatiane.

O MAB participará da Cúpula dos Povos pelo Acampamento da Via Campesina, que reunirá milhares de camponeses do Brasil e da América Latina, e irá integrar atividades propostas em conjunto com as orga-nizações da Plataforma Operária e Camponesa para a Energia. “Entre os debates que o Movimento vai levantar na Cúpula está a crítica à mercantilização e privatização da água e ao setor elétrico brasileiro, que adota medidas tais como a venda de créditos de carbono, por considerar que a energia elétrica é uma energia limpa se comparada ao uso do petróleo. No entanto, milhares e milhares de hectares são inundados para dar lugar ao lago das barra-gens, destruindo muita floresta e acabando com muitas comunidades, como aconteceu em Barra Grande, e agora em Belo Monte e tantas outras”, finalizou.

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MST cobra avanço da Reforma Agrária em Jornada Nacional de Lutas

MST reivindica do governo federalcumprimento dos compromissos assumidos

Com esta jornada, o Movimento reivindica que o governo federal cumpra os compromissos assumidos em agosto de 2011, durante o acampamento nacional. Entre os pontos estão:1. Um plano emergencial do Governo Federal para o as-

sentamento das mais de 186 mil famílias acampadas até o final deste ano. Há famílias acampadas há mais de cinco anos, vivendo em situação bastante difícil à beira de estradas e em áreas ocupadas, que são vítimas da violência do latifúndio e do agronegócio.

2. Um programa de desenvolvimento dos assentamen-tos, com investimentos públicos, crédito agrícola, habitação rural, educação e saúde. Os assentados

Neste ano, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizou uma série

de mobilizações pelo país, com o trancamento de trechos de rodovias em 20 estados, pela punição dos responsáveis pelo Massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, e pelo assentamento das 186 mil famílias acampadas.

Todos os anos, o MST faz a luta em memória dos 21 militan-tes assassinados no Massacre de Eldorado de Carajás, em operação da Polícia Militar, no município de Eldorado dos Carajás, no Pará, no dia 17 de abril de 1996. A data se tornou oficialmente o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária e depois de 16 anos de um massacre de repercussão internacional, nin-guém foi preso e o país ainda não resolveu os problemas da pobreza no campo nem acabou com o lati-fúndio, que continua promovendo diversos atos de violência.

Com a jornada de 2012, foram realizados protestos em

20 estados. Houve 105 bloqueios de rodovias, estradas, avenidas e ferrovias. Dezenas de latifúndios foram ocupados em nove estados, além de onze superintendências do Incra. As ocupações, protes-tos e marchas têm como objetivo denunciar que a Reforma Agrária está parada com diminuição nas políticas de desapropriações de terras. Segundo o próprio MST, o primeiro ano do governo Dilma foi o pior para a criação de as-sentamentos dos últimos 16 anos

(apenas 7 mil famílias do MST foram assentadas).

Se não bastasse, neste mês de abril, o Ministério do Planeja-mento cortou 70% do orçamento do Incra, justamente os recursos para obtenção de terras, instalação de assentamentos, para desenvolvi-mento da agricultura familiar e para a educação do campo. Com isso, segundo os sem terra a tendência é o governo repetir o desempenho lamentável do ano passado.

MST bloqueia rodovia em São Paulo e distribui alimentos para os motoristas

também passam por uma situação bastante difícil, com a falta de investimento público para crédito rural e infraestrutura em áreas de reforma agrária, como casa, saneamento básico, escola e hospital.

3. Um novo tipo de credito rural que não endivide ainda mais os pequenos agricultores. O modelo do Pronaf não atende o público da reforma agrária, pois o volume de recursos não atende a todos os setores.

4. Medidas para garantir educação nos assentamentos, com a construção de escolas nos assentamentos (em todos os níveis, do infantil, passando pelo fundamental até o médio), um programa de combate ao analfabetismo e políticas para a formação de professores no meio rural.

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Page 12: Jornal do MAB | Nº 20 | Abril de 2012

Jornal do MAB | Abril de 201212

Mulheres atingidas porbarragens em Rondônia:

fortalecendo a organização do MAB

Com o objetivo de fortalecer a organização das mulheres atingidas por barragens e denunciar a violação dos direitos humanos das mulheres,

agravados com a construção das hidrelétricas, o MAB deu início a um trabalho de formação e organização das mulheres atingidas pelas barragens de Rondônia, com apoio da ONU Mulher.

Este trabalho decorre da compreensão do Movimento que, na violação sistemática dos direitos humanos provoca-da pela construção de barragens no Brasil, as mulheres são as mais afetadas devido à sua condição de submissão em uma sociedade machista e patriarcal. É parte da estratégia do MAB cada vez mais criar espaços para que as mulheres sejam protagonistas da luta e organização.

O Movimento desenvolveu um diagnóstico participativo com um grupo de 62 mulheres de comu-nidades atingidas pelas barragens de Santo Antônio (comunidades de Santa Rita, Joana D’arc e São Carlos) e Samuel (município de Itapuã do Oeste) no estado de Rondônia. A ideia foi verificar de forma concreta, a partir da fala e da vivencia das próprias mulheres, quais os principais direitos das mulheres atingidas por barragens que são violados.

Rondônia foi escolhido por ser o local onde nos últimos anos têm ocorrido muitos conflitos sociais e am-bientais devido à construção das hidrelétricas. São cons-tantes as denúncias do aumento da violência, da exploração sexual, da precarização do trabalho, da falta de estrutura de atendimento na saúde e educação.

Com a realização dos encontros e aplicação do diagnostico pelas próprias mulheres, mais uma vez foi comprovado que uma das principais violações aos di-reitos das mulheres atingidas se dá na esfera produtiva, ou seja, no âmbito do trabalho. A maioria delas (78%) trabalha como camponesas e exerce trabalhos domésti-cos e apenas 14% das mulheres recebem algum tipo de remuneração. Isso demonstra a falta de reconhecimento do trabalho desenvolvido por essas mulheres. Com a chegada da barragem, a situação se agrava ainda mais pela perda da terra, pelo deslocamento forçado para os centros urbanos e pela falta de qualificação para os trabalhos na cidade.

A velha prática das empresas construtoras de bar-ragens de negar direitos, reproduzir as relações de opres-são e negar o acesso às informações, gera a ausência de espaços de diálogo e de discussão sobre a implantação das barragens. Essa violação é agravada no caso das mulheres, que são sempre excluídas do processo de negociação com o consórcio. A maioria está insatisfeita com a indenização e afirma que, se pudesse decidir, teria negociado de forma diferente, algumas afirmando até que “não teriam deixado construir a barragem”.

“A partir deste importante trabalho realizado, as mulheres atingidas das comunidades de Rondônia perce-beram a importância de estarem inseridas na organização e através dos espaços coletivos construirem propostas de para cada vez mais as mulheres serem as sujeitas da própria libertação”, afirma Creusa Silvestre, da coordenação do MAB em Rondônia.

Mulheres da comunidade de São Carlos, em Rondônia Foto: Mira Rusin

Atividade incentiva participação das mulheres no MAB

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