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Jornal do Professor PUBLICAÇÃO DO SINDICATO DOS DOCENTES DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS DE GOIÁS – ANO VIII – Nº 67 – SETEMBRO DE 2020 PANDEMIA EXPÔS DESAFIOS DOS PROFESSORES NA ERA DIGITAL DA EDUCAÇÃO Páginas 8 e 9 Professor Ricardo Lima, secretário de Promoção de Segurança e Direitos Humanos da UFG, fala sobre as dificuldades de se formar uma polícia humanizada Professor José Antonio Fornés veio da Argentina às vésperas da Ditadura Militar e encontrou no Brasil uma carreira brilhante Estudo do professor Érico de Campos quer criar cana-de-açúcar resistente ao mosaico Página 7 Página 16 Página 11 SEGURANÇA TRAJETÓRIA PESQUISA Professores João Ferreira e Nelson Amaral comentam as vantagens do novo Fundeb Página 6 ENSINO BÁSICO Arte: Thamires Vieira e Janaína Silva (estagiária)

Jornal do Professor · cana-de-açúcar resistente ao mosaico Página 7 Página 11 Página 16 SEGURANÇA PESQUISA TRAJETÓRIA Professores João Ferreira e Nelson Amaral comentam as

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Jornal do ProfessorJornal do ProfessorPUBLICAÇÃO DO SINDICATO DOS DOCENTES DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS DE GOIÁS – ANO VIII – Nº 67 – SETEMBRO DE 2020

PANDEMIA EXPÔS DESAFIOS DOS PROFESSORES NA ERA DIGITAL DA EDUCAÇÃO Páginas 8 e 9

Professor Ricardo Lima,

secretário de Promoção

de Segurança e Direitos

Humanos da UFG, fala sobre

as dificuldades de se formar

uma polícia humanizada

Professor José Antonio Fornés veio da

Argentina às vésperas da Ditadura Militar e encontrou no Brasil

uma carreira brilhante

Estudo do professor Érico de Campos

quer criar cana-de-açúcar

resistente ao mosaico

Página 7 Página 16Página 11

SEGURANÇA TRAJETÓRIAPESQUISAProfessores

João Ferreira e Nelson Amaral comentam as vantagens do novo Fundeb

Página 6

ENSINO BÁSICO

Arte: Thamires Vieira e Janaína Silva (estagiária)

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Jornal do Professor2 • Goiânia, setembro de 2020

19ª Diretoria Executiva Sindicato dos Docentes das

Universidades Federais de Goiás

Flávio Alves da SilvaDiretor Presidente

Walmirton Tadeu D’ AlessandroDiretor Vice-Presidente

e de Comunicação

Veridiana Maria Brianezi D. de MouraDiretora-Secretária

Daniel Christino Diretor de Promoções Sociais,

Culturais e Científicas

João Batista de Deus Diretor Administrativo

Geovana ReisDiretora de Assuntos Educacionais,

de Carreira e do Magistério Superior

Fernando Pereira dos Santos Diretor Financeiro

Ana Christina de Andrade Kratz Diretora de Convênios e de

Assuntos Jurídicos

Abraão Garcia GomesDiretor de Assuntos de

Aposentadoria e Pensão

Luis Antônio Serrão Contim Diretor para Assuntos Interinstitucionais

PUBLICAÇÃO DO SINDICATO DOS DOCENTES DAS UNIVERSIDADES

FEDERAIS DE GOIÁS

ANO VIII – Nº 67

SETEMBRO de 2020

Professor Juarez Ferraz de MaiaIdealizador do projeto

Cleomar NogueiraProjeto gráfico original

Rafael VazEditor responsável

José Abrão (JP 3331 GO)Edição e reportagem

Luciana Porto (JP 3175 GO)Reportagem

Revisão: Hélio Furtado do Amaral

Fotografias: Diogo Fleury

Diagramação: Thamires Vieira

Estagiária: Janaína Silva

Data de fechamento: 15/09/2020

Tiragem: 2.500 exemplares

Impressão: Stylo Gráfica

[email protected]ª Avenida, 193, Leste Vila Nova - Goiânia - Goiás - (62) 3202-1280

Acompanhe nossas redes sociais:@adufgsindicato

www.adufg.org.br

prestação de contas

Os valores contidos nestes relatórios estão por Regime de Caixa. Regime de caixa é o regime contábil que apropria as receitas e despesas no período de seu recebimento ou pagamento, respectivamente, independentemente do momento em que são realizadas.

Dezembro de 20191 Arrecadação, Rendimentos Financeiros e Outros 1.1 Contribuição Filiados - Mensalidades 525.862,361.2 Ingressos, Eventos e Festas 35.660,001.3 Receita com Pró Labore Seguro de Vida 1.442,351.4 Receitas Financeiras 19.574,811.5 Outras Receitas 4.475,60 1.6 Resgate de aplicações financeiras 77.786,511.6.1 IRRF/IOF sobre Resgate de aplicações financeiras (-) 777,14 Total R$ 664.024,49 2 Custos e Despesas Operacionais 2.1 Despesas com Pessoal 2.1.1 Salários e Ordenados 154.587,432.1.2 Encargos Sociais 66.222,572.1.3 Seguro de Vida 817,932.1.4 Outras Despesas com Pessoal 19.525,012.1.5 Ginástica Laboral 649,002.1.6 Férias, 13º salário e Rescisões 44.598,202.1.7 PIS s/ Folha de Pagto. 1.030,86Total R$ 287.431,00 2.2 Serviços Prestados por Terceiros 2.2.1 Cessão de Uso de Software 2.256,402.2.2 Despesas com Correios 2.838,002.2.3 Energia Elétrica 5.324,132.2.4 Honorários Advocatícios 10.331,482.2.5 Honorários Contábeis 5.788,002.2.6 Locação de Equipamentos 400,002.2.7 Serviços Gráficos 22.207,502.2.8 Honorários de Auditoria 0,002.2.9 Tarifas Telefônicas e Internet 4.187,922.2.10 Hospedagem/manutenção/layout do site 857,972.2.11 Vigilância e Segurança 443,172.2.12 Comunicação/Rádio/TV/Jornal 21,232.2.13 Serviços de Informática 2.606,402.2.14 Outros Serviços de Terceiros 0,002.2.15 Água e Esgoto 800,02 Total R$ 58.062,22 2.3 Despesas Gerais 2.3.1 Combustíveis e Lubrificantes 4.573,572.3.2 Despesas com Táxi 558,462.3.3 Despesas com Coral 2.657,792.3.4 Despesas com Grupo Travessia 1.225,902.3.5 Diárias de Viagens 9.600,752.3.6 Tarifas Bancárias 1.149,822.3.7 Lanches e Refeições 255,512.3.8 Quintart 0,002.3.9 Patrocínios e Doações 9.750,572.3.10 Manutenção de Veículos 1.259,752.3.11 Festa do Professor 0,002.3.12 Festa Final de Ano 77.745,282.3.13 Passagens Aéreas e Terrestres 6.491,942.3.14 Gêneros de Alimentação e Copa 1.805,742.3.15 Despesas com manutenção Sede Campestre 5.568,352.3.16 Hospedagens Hotéis 2.219,302.3.17 Material de expediente 3.402,262.3.18 Outras despesas diversas 1.291,492.3.19 Manutenção e Conservação 2.259,602.3.20 Homenagens e Condecorações 0,002.3.21 Despesas com Sede Adm. Jataí 3.002,872.3.22 Despesas com Sede Adm. Catalão 1.844,45 2.3.22 Despesas com cursos para aposentados 0,002.3.23 Cópias e autenticações 295,362.3.24 Sabadart/Festa do Professor Jataí 8.135,002.3.25 Evento “Mais Sindicato” - Catalão 1.701,902.3.26 Despesas com Manifestações 0,002.3.27 Encontro Nacional PROIFES-FEDERAÇÃO 0,002.3.28 Despesas com Espaço Saúde 913,952.3.29 Despesas com atividades do Espaço Cultural 900,012.3.30 Despesas com processos jurídicos 2.100,70Total R$ 150.710,32 2.4 Despesas Tributárias 2.4.1 IR sobre Folha de Pagto/Férias/Rescisões 3.913,792.4.2 Outras Despesas Tributárias 134,98 Total R$ 4.048,77 2.5 Repasse Fundo Social e Contribuições 2.5.1 Repasse para C/C Fundo Social 0,002.5.2 CUT - Central Única dos Trabalhadores 0,002.5.3 Proifes Federação 28.705,53 Total R$ 28.705,53 Total Geral dos Custos e Despesas Operacionais R$ 528.957,843 Resultado do exercício 12.2019 (1-2) 135.066,65 4 Atividades de Investimentos 4.1 Imobilizado 4.1.1 Construções e Edificações 52.992,804.1.2 Máquinas e Equipamentos 0,004.1.3 Veículos 0,004.1.4 Móveis e Utensílios 0,004.1.5 Computadores e Periféricos 657,984.1.6 Outras Imobilizações 0,00Total R$ 52.992,80

4.2 Intangível 4.2.1 Programas de Computador 4.600,004.2.2 Investimentos com Marcas e Patentes 0,00Total R$ 4.600,00

4.3 Aplicações Financeiras 4.3.1 Aplicação CDB 125.052,53Total R$ 125.052,53 Total Geral dos Investimentos R$ 182.645,335 Resultado Geral do exercício 12.2019 (3-4) -47.578,68

Jornal do Professor

Quando esta edição do Jornal do Professor es-tava sendo fechada, o Brasil completava quatro meses sem ministro da Saúde e com cerca de 135 mil mor-tos pelo novo coronavírus (Covid-19), além de uma retração histórica no PIB, jogando o país de volta na recessão econômica e com os piores indicativos desde antes do Plano Real. Indife-rente a tudo isso, o Governo Federal dá prosseguimento ao seu plano de atacar, cor-tar e destruir o combalido serviço público brasileiro ao enviar para o Congresso Na-cional a Reforma Adminis-trativa. A reforma é, de fato, um gigantesco retrocesso com propostas não apenas draconianas para o funcio-nalismo, mas que busca con-ferir poderes centralizado-res ao Executivo, talvez até mesmo autoritários, e que também ameaça a existência e manutenção de empresas estatais responsáveis por serviços essenciais ao povo brasileiro, como os Correios, o Banco do Brasil e diversas empresas menores de ener-gia e saneamento. Nossa principal matéria aborda um dos maiores desafios para os docentes nesta segunda metade de 2020: o ensino remoto emergencial. Con-versamos com o Centro In-tegrado de Aprendizado em Rede (CIAR) da UFG sobre os desafios pedagógicos e materiais impostos pelo re-torno das atividades acadê-micas e de ensino. Também abordamos nesta edição os impactos positivos do novo Fundo de Manutenção e De-senvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e em outra matéria exploramos as van-tagens e desvantagens do novo Marco do Saneamento Básico. Por fim, encerramos esta edi-ção do JP com a trajetória do fí-sico experimental José Antonio Fornés que fez história na UFG após ter que sair da Argentina, sua terra natal.Boa leitura!

Redação: (62) 3202-1280 [email protected]

Serviço público na mira

EDITORIAL

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Jornal do Professor Goiânia, setembro de 2020 • 3OPINIÃO

O conteúdo dos artigos expressa a opinião dos autores

*Rusvênia Luiza

Por que discutir universidade e fascismo? A pergunta é simples e nem por isso é facil respondê-la. Simples

porque, em se tratando de universidade, toda discussão importa; qualquer questão que se impõe ao mundo social deve ser objeto de reflexão aos modus operandi acadêmico por meio das ferramentas epistêmicas nos mais diversos campos do saber. Apesar de não ser óbvia a resposta é complexa, pois ao que se sabe, vivemos uma democracia, mesmo que muitos discordem disso, na essencialidade prática. Por esse motivo a relação universidade e fascismo é uma questão que importa problematizar.

Com o intuito de levantar questionamentos em torno do cenário em que a universidade brasileira vive imaginei a organização de quatro quintas feiras para discutir o tema O papel da universidade frente ao avanço do fascismo. Infelizmente os cartazes, os cadernos de anotação, os livros que foram consultados não apareceram em forma de “papel” real. Vivemos um ano atípico. 2020 se iniciou com o gosto amargo de perdas inúmeras onde o abismo parece estar diante de nossos pés. O nosso papel está amassado, rasgado. Nossos diplomas e currículos são colocados a prova num mundo onde os currículos são forjados e registrados, num mundo onde verdade e mentira se confrontam. Um mundo de pegadinhas-verdades, deboches-reais a vida e fake news.

Antes da organização desse evento o grupo de estudos Veredas, que coordeno, se reunia virtualmente, desde o início da quarentena, com encontros semanais às terças feiras e, com a presença de cerca de 10 a 15 pessoas, alunos e professores da UFG e de outras instituições. Uma demanda particular desse grupo fez com que buscássemos o contato da Faculdade de História e assim nasceu o curso, completamente virtual, intitulado Para pensar o Brasil, ministrado pelo professor João Alberto da Costa Pinto, colega de trabalho que conheci pela tela dos nossos computadores, no contexto dessa pandemia, em abril de 2020. Embora seja abril o mais cruel dos meses, segundo Elliot, o abril de 2020 fez germinar uma relação que mistura memória e desejo, aviva agônicas raízes, ainda nos termos do poeta.

No princípio a intenção era tão somente dialogarmos sobre os autores Caio Prado Jr, Gilberto Freyre e Nelson Werneck Sodré nesse pequeno grupo. Porém a busca pela atividade cresceu e por esse motivo, com a anuência do ministrante, nos reorganizamos. Foram três quintas feiras com o público e cinco com o grupo menor nas quais conversamos sobre esses e outros autores. Invariavelmente apareciam questões da ordem da vida política atual uma vez que estamos imersos nas mais diversas conjunturas e realidades do confinamento.

O grupo ampliado das quintas-feiras variou entre 70 e 90 pessoas na sala virtual. Essas reuniões não foram gravadas. Com o final dessa atividade e a nossa avaliação do evento percebi a necessidade de continuar com outras atividades, mantendo esse grupo inicial conectado. Coletivamente, naquela virtualidade, nos conectamos pelo interesse em comum e também por nossas carências desse espaço de acolhimento que o debate acadêmico suscita. Foi como uma janela possível de diálogo e humanidade nascendo e se costurando. Por esse motivo quando nossas vidas já estavam emaranhadas tive a ideia de organizar o evento, também provocada após assistir a uma “live” onde o professor João Alberto colocou a seguinte questão: qual era a voz da universidade diante dos acontecimentos?

Em todo esse contexto devemos nos perguntar: Quais são as vozes da universidade?

Agosto chegou e o número de 100 mil brasileiros mortos e mais

de 3 milhões de casos de covid-19 é uma realidade que bate a nossa porta. Um número que assusta e indigna, assim como quando ainda era metade ou menos ainda. Antes de tudo se colocar nessa dimensão e antes ainda de sabermos o que será, iniciamos o evento em 4 quintas-feiras sendo a primeira no dia 11 de junho e até o dia 2 de julho, das 20h até as 22h.

O evento foi organizado utilizando as plataformas do sympla para inscrições e o meet para as palestras, todas gravadas e disponíveis em um canal do youtube: Programa Trajetórias Intelectuais Brasil e África. Neste canal se encontram outras atividades desenvolvidas por esse programa de extensão que reúne projetos de extensão da Faculdade de História – coordenado pelo Professor João Alberto da Costa Pinto; Faculdade de Educação – coordenado pela professora Kellen Cristina Prado Silva e do Instituto de Estudos Socioambientais coordenado por mim. Apresento uma espécie de relato das falas dos convidados as que podem e devem ser apreciadas com o acesso aos vídeos disponibilizados no youtube, onde estão sem a mediação do meu texto resumido, exposta na íntegra.

O evento se iniciou no dia 11 de junho de 2020. As duas primeiras palestras foram ministradas pelos professores Marília Gouveia, da Faculdade de Educação e João Aberto da Costa Pinto, da Faculdade de História.

A professora Marília iniciou sua fala sinalizando que estávamos vivendo um retrato das trevas, do absurdo e do inominável pelo fato de que o Brasil completava 40 mil mortes naquele dia 11/6/2020. Diante dos nossos olhos e ao longo desse evento, o número de mortes cresceu, mas as bases explicativas para o processo que assistíamos foram elucidadas pela professora, assentando sua fala na ideia de que o fascismo é uma das faces do capitalismo, mais especificamente do neoliberalismo, cujo mote é o de se manter contra tudo que pareça social a despeito do econômico.

Considerando as diversas possibilidades de compreensão nos aspectos conceituais, de leituras e tipologias do fascismo bem como entendendo que ele não se aplica a um momento específico da história humana, a professora Marília trouxe autores do campo do pensamento social e da educação como Otavio Ianni e Marilena Chauí. Não se absteve de dizer que, antes mesmo desse cenário, dessa crise sanitária que vivemos, a escola e a universidade já convivia com a criminalização, a desautorização a desacreditação de toda autoridade dos professores além de uma enorme violência manifestada na realidade da escola pública brasileira. Aponta a professora ser o papel da universidade lutar para não se afastar do seu ethos, de sua autonomia, de seu lugar como produtora do pensamento crítico.

Dando continuidade ao diálogo o professor João Alberto sinalizou os muitos ataques do atual governo as universidades públicas e sua conspiração contra esse patrimônio histórico que é, antes de tudo, lócus de produção de conhecimento de muita importância para a nacionalidade brasileira. A partir do referencial do marxista português João Bernardo o professor afirmou que o que vemos é mais do que o projeto neoliberal: “é a loucura de gestores que desconhecem a lógica elementar fundamental do capitalismo, que garante a reprodução da força de trabalho”.

O professor compreende a universidade como um aparelho de reprodução da força de trabalho, não desconsiderando o fato de que nela também seja possível produzir consciência crítica, mas vendo-a perspectivada na lógica do capitalismo brasileiro e com uma importante missão de formar trabalhadores. Assim, se reconhece como professor e trabalhador que produz outros trabalhadores, os quais vão produz novos trabalhadores, em todos os níveis. Defende que é essa uma função essencial

Universidade e fascismo: quatro lives de uma discussão necessária

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OPINIÃO Jornal do Professor4 • Goiânia, setembro de 2020

O conteúdo dos artigos expressa a opinião dos autores

da universidade. Sinaliza que além de todas as ameaças à universidade tem sido ameaçada por ideologias, como a paradoxal noção de multiversidade que é a ideia de que os estudantes estão no espaço da universidade para se aprofundar apenas nos assuntos que os fascinam, ou seja, um ataque neoliberal que traz uma noção de formação de conhecimento dentro de outra universalidades, fascinada pela técnica.

O contraditório se coloca diante de nós. João Alberto aponta o perigo do ethos corporativo muitas vezes presente nas bandeiras fragmentadas de lutas no interior da universidade que não dialogam e muito se desentendem. Dentre as várias questões que tocou, como os riscos da multidiversidade, a oposição consumidores versus estudantes, aponta o que considera o papel da universidade: falar a cidade, se colocar contrária a liberação do comércio, a abertura das lojas, ter uma posição de autonomia como expressão institucional da ciência e não aceitar outra palavra que não seja essa.

Na segunda semana de evento, no dia 18/6, recebi a professora Adriana Delbó da Faculdade de Filosofia e o professor Francisco Tavares da Faculdade de Ciências Sociais. Novamente tivemos cerca de 100 pessoas inscritas e ouvintes, com alguma variação nesse número, mas permanecendo até o final das apresentações e participando dos debates. Esta foi uma semana em que homenageamos o aluno Hilário, da Faculdade de Educação, um aluno Xavante que morreu de Covid no dia 18/6, ocasião em que lemos um texto escrito pela professora Diane Valdez em homenagem a este aluno e ao povo que tem enfrentado a pandemia a revelia das ações do Estado que pouco faz para preservar a sociedade ante a essa grave crise sanitária.

A professora Adriana fez a leitura de um texto no qual tocou em muitas questões. Segundo ela, os eventos que vivemos colocam para nós desafios para além do ethos acadêmico que praticamos, assentado num fazer que tem nos autores e nas referências bibliográficas uma prática e muitas vezes nos distancia e impossibilita de olharmos para além desses lugares. Olhar além é um convite que a fala da professora coloca, além das nossas condições privilegiadas, além da nossa cor, gênero, de como praticamos a nossa existência.

Para tanto não desconsiderou que se a sociedade tem espaço para o fascismo e nós somos parte disso, ou seja, o fascismo tem facetas e nós somos parte. Provocou a todos de modo que pudéssemos assumir como participamos e escolhemos participar da vida pública social e institucional. A partir da Hannah Arendt, Florestan Fernandes, Sueli Carneiro, Marcos Felipe e tantos outros autores a professora trouxe a tona as matrizes da discussão do fascismo, genocídio e do totalitarismo. Apontou ainda que o papel da universidade é não permitir nenhuma norma que exclua qualquer aluno e formar pessoas capazes de assumir a mesma postura diante das práticas fascistas. Considerou que todos que fazem parte da universidade devem questionar normas e regulamentos que sujam as nossas mãos de sangue, ou seja, que é necessário não mais sustentarmos um tipo de democracia que dê espaço para permissividade, assumindo posturas mais ativas, de modo que nosso papel não seja apenas ficar a espreita, afeito, curral... povo que acredita em fake news. Os riscos dessa nossa coletiva falta de critério para ser governado, o problema do financiamento das campanhas eleitorais e tudo que corrói o que entendemos como democracia. Adriana conclamou a parcela do poder que fazemos parte.

Já o professor Francisco demonstrou muita afinidade e concordância com a fala de Adriana e procurou trazer a sua contribuição dentro ciência política e da filosofia apresentando que maneira a universidade como lugar de fazer inteligência e em defesa do conjunto de conhecimentos que ela produziu, na Filosofia, nas Artes e na Ciência. Ao longo da sua fala o professor disse que o tema em questão poderia ser discutido de diferentes maneiras, por meio de diferentes referenciais e que a universidade como espaço de conhecimentos é lugar central na produção de saber sempre não adquiridas de maneira fácil, mas assentados com o respaldo do método e da teoria.

No entanto é justamente esse conjunto de conhecimentos e o campo de possibilidade que temos que faz com que, nos termos do professor, seja a universidade uma máquina que debela mitos e formas de autoritarismos os quais sempre dependem de mitificações, sejam no passado ou no futuro, sem conexão com a realidade. O professor desenvolve algumas premissas para demonstrar que há uma incompatibilidade entre o que a universidade faz e o autoritarismo, ou seja, defende que a universidade como espaço do não autoritário, mesmo com a diversidade de posturas e posições que nela se encontram. Em uma das premissas que apresenta diz que o conhecimento humano/humanístico é aquele que nos constitui como seres humanos, que nos permite refletir sobre nós mesmos, esse é o tipo de conhecimento mais atacado e que se faz na chamada ciência “não aplicada”; sendo assim é impossível construir conhecimento enquanto tal sob um contexto autoritário. A universidade se definindo como tal, um espaço organizado para produção dos mais diversos modos de conhecimento, Artes, Filosofia, deve praticar as suas atividades desafiando formas autoritárias de poderes.

Diante de tantas outras questões, o professor apresenta a potência das diversidades teoréticas, metodológicas, ou seja, a universidade como casa do conhecimento produzido na humanidade inteira. Termina a sua fala resgatando o sentido do kratos presente em democracia: “fazer com que as coisas sejam realmente feitas”, “garantir a execução daquilo que se pretende executar”. O Estado brasileiro está apagado no sentido democrático, haja vista muitas ações como o encerramento de gestões importantes que naquele momento serviram de exemplo na fala do professor.

Na terceira semana, no dia 25/6 recebemos a professora Miriam Bianca da Faculdade de Educação e o professor Caio Antunes da Faculdade de Educação Física e Dança.

A professora Bianca, de modo simples, irreverente e original, começa dizendo que estarmos ali reunidos era uma contradição, pois a maior maneira de defender o coletivo nesse momento é ficar sozinho: é a História colocando para cada um de nós que o social constitutivo do humano se faz incontestável. Dedicando a sua fala ao aluno Hilário que na semana anterior, conforme mencionado, morreu da Covid 19, a professora ressaltou as dificuldades que o confinamento traz com o chamado home office, humanizando-se ao dizer que muitas vezes tem feito trabalhos domésticos ao mesmo tempo em que participa de reuniões.

Bianca diz que defender a universidade como espaço de produção da ciência tem que ser antifascista. Só existe esse caminho: para fazer o enfrentamento frente a lógica neoliberal é preciso ser antifascista. Não há muros, nem lados. Há defesa da morte de maneira acintosa, de maneira clara: nesse contexto em que a universidade nos serve? Não há nesse sentido meios termos.

Ao resgatar as falas anteriores a professora demonstra que foi preciso de pandemia para percebermos que não se vive sem Arte, sem Ciência e sem Cultura. Criticou a lógica mecanicista reproduzida mesmo com inspiração na ciência positivista, criticou as disputas internas por partes de recursos como bolsas quando deveríamos lutar para que todos os projetos fossem contemplados, criticou assumirmos pedacinhos pequenos, residuais de fascismo, quando deveríamos radicalmente nos posicionar contra essa lógica de maneira clara, uma vez que está tudo muito claro para todos nós.

*Rusvênia Luiza Batista Rodrigues da Silva Professora do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA/UFG)

Confira a íntegra do artigo:Abra o aplicativo câmera de seu celular ou tablet;Aponte para o código QR;Toque no link que aparece.

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RESPINGOSJornal do Professor Goiânia, setembro de 2020 • 5

Notícias do movimento docente, da vida na UFG e de questões jurídicas sobre o magistério superior

RESPINGOSUNIVERSIDADES PERDERAM 73% DO ORÇAMENTO

PARA INFRAESTRUTURA EM 10 ANOSDe acordo com levantamento do G1, diminuiu em 73%, nos últimos 10 anos, a verba repassada para universidades e institutos federais investirem em infraestrutura: comprarem equipamentos para laboratórios, trocarem computadores e reformarem salas de aula e bibliotecas. A quantia em 2010 era de R$ 2,78 bilhões - e caiu para bem menos da metade em 2019 (R$ 760 milhões), com os valores corrigidos pela inflação. Lentamente, os cortes têm sabotado a pesquisa brasileira, além de encher os campi com laboratórios inacabados por um lado e laboratórios defasados do outro. Ainda segundo o G1, esta década de perdas travou a expansão das universidades brasileiras, principalmente no interior dos estados, e está causando uma crescente fuga de cérebros: professores

altamente qualificados se mudando para instituições de ensino no exterior.

Em tempos de ensino remoto emergencial, muita gente está sentindo falta até deles: os macacos do Campus

Samambaia. Este aqui foi flagrado circulando tranquilo, indiferente à pandemia e, veja só, sem máscara

Esse grafite foi realizado pelo coletivo de arte Renka, de Goiânia, junto a alunos da Escola Estadual

Dom Cândido Penso em Aruanã com o objetivo de reconectar a cidade turística com a natureza.

Falando em Aruanã, corre a lenda que este pescador-mirim é filho do maior pescador

da cidade. Sabe como é: filho de peixe.

Por Daniel Christino

Terra do nuncaA secretaria também parece viver em outro mundo, ao afirmar: “O Governo do Brasil investiu bilhões de reais para salvar vidas e preservar empregos. Estabeleceu parceria e investirá na produção de vacina. Recursos para estados e municípios, saúde, economia, TUDO será feito, mas impor obrigações definitivamente não está nos planos”.

ContágioSegundo pesquisa do Instituto Americano de Física, publicado na Physics of Fluids, visores transparentes e máscaras com válvulas não são o suficiente para conter o contágio, pois durante os testes, as gotículas conseguiram escapar dos equipamentos. Embora ainda seja a melhor forma de proteção em conversas, elas não garantem que objetos no ambiente não sejam contaminados a partir do acúmulo de gotículas no ambiente com o passar do tempo, o que pode ser problemático, especialmente para a retomada de aulas presenciais.

SaúdeEm entrevista à Folha de São Paulo, o professor Shekhar Saxena, de Havard, afirmou que a pandemia terá grande impacto na saúde mental de toda a população do mundo. O professor

MensalidadeO vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que é preciso pensar “seriamente” e “sem preconceitos” na possibilidade de estudantes com melhores condições financeiras pagarem para cursar universidades federais. O pagamento, segundo Mourão, poderia ser “canalizado” para financiar a entrada de alunos de menor renda no ensino superior em instituições privadas. Segundo o vice-presidente, a pessoa estuda gratuitamente e depois “não devolve nada para o país. Simplesmente é formada e passa única e exclusivamente a lidar com a sua vida privada”.

DemissõesO número de demissões de professores da educação básica privada cresce em todo o país. A estimativa da Fenep (Federação Nacional de Escolas Particulares) é de que cerca de 300 mil docentes da educação básica já foram demitidos durante a pandemia, 70% da área de educação infantil, e a perspectiva é que as demissões continuem. Na mesma área, muitos docentes seguem afetados também por redução de jornada e salarial.

E o salário óPelo segundo ano seguido, o salário mínimo brasileiro não teve aumento real e ainda ficou abaixo da projeção inicial do governo, ficando em R$ 1.067. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que um aumento maior “vai condenar as pessoas ao desemprego”. Naturalmente, a decisão reverbera no reajuste de todas as categorias, inclusive no serviço público, cujos salários já estão defasados há anos.

Ataque x defesaAo mesmo tempo em que o Ministério da Economia propôs um corte de 18,2% no orçamento das universidades federais em 2021, o Governo Federal propôs aumentar as verbas em segurança pública e no orçamento do Ministério da Defesa. Outras áreas sob constante ataque tiveram aumentos pequenos ou não tiveram aumento real, como o Ministério do Meio Ambiente (de R$ 2,2 bilhões para 2,3). Já a Defesa subiu de R$ 105 bi para 110.

QuedaO PIB brasileiro sofreu uma queda histórica de 9,7%. Sob efeito da pandemia, atividade econômica registrou dois trimestres seguidos de retração, o que não acontecia desde 2016. Assim, o Brasil está de volta à recessão. Segundo a FGV-Rio, não há registro de um trimestre com desempenho pior desde 1980.

Liberdades Oficialmente através da Secretária de Comunicação do Governo Federal, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que “ninguém é obrigado a tomar vacina”. Veja que ele não se refere apenas à vacina da Covid-19, mas qualquer vacina. O presidente fez esta declaração à repórteres na noite do dia 31 de agosto e a oficializou como posição no dia seguinte com uma imagem no Twitter que diz: “o governo do Brasil preza pelas liberdades dos brasileiros”.

argumenta que o impacto é grande pela combinação de fatores: não apenas enfrentamos uma crise de saúde e socioeconômica (com morte, desemprego, isolamento e estresse) mas uma dificuldade do próprio tratamento (medicamentos caros, acesso à terapia online).

Estável?De acordo com levantamento feito pelo Imperial College de Londres, o Brasil atingiu a sua menor taxa de infecção por Covid-19 desde abril, com uma tendência para a estabilização. Porém, devido à desatualização dos dados, isso não significa que a taxa de novos contágios foi de fato estabilizada: enquanto algumas regiões podem estar passando por uma desaceleração, como em São Paulo, outras ainda estão ascendentes, como é o caso de Goiás. A taxa média de transmissão (Rt) do novo coronavírus no Brasil teria caído de 1 para 0,94. Em julho ela foi de 1,01, o que é considerado “fora de controle”.

Educação na periferiaFoi lançado gratuitamente o e-book “Pesquisadoras da educação básica: germinando ações e saberes nas escolas públicas periféricas”. Ele é composto por uma coleção de textos em que professores negros de escolas das periferias do Rio de Janeiro compartilham reflexões e conclusões a partir das vivências cotidianas junto aos seus alunos. Ao todo são nove artigos de professores de literatura, sociologia, história, biologia e pedagogia. A organização é da professora Ana Beatriz da Silva.

ReformaO Governo Federal enviou, enfim, a proposta de reforma administrativa ao Congresso. Já que o serviço público não tem diálogo com o ministro da Economia, Paulo Guedes, o movimento sindical se prepara para resistir à reforma através de deputados e ministros de outras pastas em busca de atenuar o texto, evitar cortes e buscar alternativas à política de terra arrasada de Guedes que quer economizar R$ 500 bilhões em dez anos, custe o que custar.

SagradoFilho de servidores aposentados, o deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG) comanda a frente parlamentar da reforma administrativa. Ele declarou que “conhece” a ineficiência do serviço público e planeja tentar convencer o Congresso a rever questões como a progressão das carreiras e, principalmente, a estabilidade. Para ele, “baixo desempenho deveria ser critério para o fim da estabilidade”.

EstágioA proposta deve se aplicar somente a novos servidores, criando uma fase extra antes de o servidor conquistar direitos e benefícios plenos. Eles terão que passar por um período de experiência, permanecer por três anos em efetivo exercício em cargo exclusivo de Estado e com desempenho satisfatório antes de ter estabilidade. Há variações em critérios para diferentes funções. A efetivação dependerá do desempenho e do número de vagas.

Fotos: Diogo Fleury

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Jornal do Professor6 • Goiânia, setembro de 2020 EDUCAÇÃO BÁSICA

O Congresso Nacional apro-vou a Proposta de Emenda Cons-titucional (PEC) 26/20 que torna permanente o Fundo de Desenvol-vimento e Valorização dos Profissio-nais de Educação (Fundeb). O fundo é a principal forma de financiamento da educação básica no país e estava em sério risco de ser extinto no final deste ano.

O professor João Ferreira, da Faculdade de Educação (FE) da Uni-versidade Federal de Goiás (UFG) avalia que o projeto aprovado traz avanços importantíssimos em rela-ção ao Fundeb anterior. O primeiro deles é o fato de o fundo agora ser permanente e constitucional. “As ameaças em relação à desvinculação de recursos da Constituição, as ame-aças de redução, especialmente no contexto da pandemia, foram muito grandes. Então foi um avanço impor-tantíssimo”, afirma. Agora, o fundo fica livre das marés sempre imprevi-síveis do Governo Federal.

Grande parte dos recursos de municípios pobres vem do Fundeb. O município sozinho não teria como arcar com as despesas de manuten-ção e desenvolvimento do ensino nem com o pagamento do salário dos profissionais da educação. Fer-reira avalia que estes 23% trazem um aumento significativo que terá grande capilaridade na rede de ensino. “É uma complementação importante. Ela vai ampliar signi-ficativamente o número de esta-dos e municípios que vão receber recursos da União, fazendo uma

equalização importante”, destaca.Os 10% do Fundeb antigo

continuam sendo distribuídos da mesma forma, atendendo apenas a alguns estados. A alteração impor-tante é que 10,5% vai alcançar os municípios de todo o país. “Este di-nheiro, mesmo em um estado rico, vai melhorar as condições dos muni-cípios que são pobres. Em Goiás, 32 novos municípios receberão recur-sos por esta regra. O estado de São Paulo, que é rico, apenas um muni-cípio foi incluído”, exemplifica o pro-fessor Nelson Amaral, também da FE e especialista no Fundeb.

Ferreira argumenta que o novo fundo traz avanços em relação ao volume e distribuição de recursos e em relação à redução de desigual-dades regionais e estaduais, espe-cialmente ao implementar o Cus-to Aluno Qualidade Inicial (CAQI) como referência para definir um padrão mínimo de qualidade para cada escola. Desta forma, com da-dos atualizados e melhor finan-ciamento, será possível planejar a médio e longo prazo a educação do país.

Nelson avalia que o CAQI deve ajudar a mudar a educação no Brasil. “Em seu cálculo, estão os insumos que a escola deve ter, a qualidade da sua infraestrutura, se tem quadra poliesportiva, biblioteca, laboratório. E tem a parte de técni-cos e de professores, inclusive seus salários. Isto será um jogo entre o mínimo, do piso salarial, do valor estipulado pelo CAQI, e o volume

total de dinheiro que se tem”. Outra mudança importante

foi determinar que estamos e muni-cípios não podem gastar menos que 70% dos recursos da educação com pagamento de salários, um acrés-cimo de 10% em relação ao fundo anterior. “Isto se aproxima mais da realidade do que se gasta com o pa-gamento de salários e garante que com esse não inferior a 70%, estados e municípios terão um patamar para pagar o salário dos professores, me-lhorar o salário, garantir que o piso nacional seja respeitado. Na prática, muitos não pagam”, analisa Ferreira.

Nelson concorda: “foi uma derrota para o governo que queria no máximo 70%. Feito o prédio e instalado as salas de aula, a par-tir daí o mais importante é o sa-lário das pessoas”. Mesmo assim, o salário dos professores está em média 25% abaixo do que profis-sionais de nível superior ganham no país, mas Ferreira tem espe-rança: “há muito o que avançar. A lei do piso foi muito importante para melhorar essa valorização do professor, mas certamente este novo Fundeb vai contribuir muito com este patamar contando com recursos da União”.

Além disso, valorizar o ma-gistério agora pode ajudar a con-tornar um problema sério no futuro próximo: o de apagão de professores no ensino básico. “Esta definição, minimamente, é um avanço signifi-cativo neste processo de valorização da profissão de professor no país”,

torce Ferreira. Nelson também torce. “Esse conjunto de amarração que vai fazer com que os salários melhorem e precisam melhorar mesmo para atrair mais pessoas para a carreira”.

Outro campo que pode ser afetado pelo Plano Nacional de Edu-cação (PNE) que até agora esteve completamente abandonado des-de o governo Temer. “Ele começou a ficar abandonado a partir da EC 95 que congelou o dinheiro do po-der executivo. O congelamento dos gastos, o pessoal já viu que o país estagnado, vai ter que extrapolar isso ou o Brasil fica parado”, analisa Amaral, “é um absurdo essa Emenda e desde que ela foi instalada foi pratica-mente decretado que o PNE não seria levado em conta”.

E o governo Bolsonaro nada fez para mudar isso. “Nenhum dos minis-tros da Educação sequer falou no PNE. Quando o Weintraub falava nele era pra criticar as metas estabeleci-das, dizendo que eram absurdas e impossíveis de serem alcançadas”, critica Nelson. O Fundeb vai con-tribuir para a valorização e univer-salização da pré-escola, que ainda estamos longe de universalizar, e do ensino médio, que são metas do plano. “Ele corrige desigualdades regionais e ao mesmo tempo bus-ca cumprir as metas de expansão e universalização”, salienta Ferreira, lembrando que já estamos atrasados em todas as datas estipuladas pelo plano. “As metas estão estagnadas ou piorando. O Fundeb dá uma inje-ção de ânimo”, afirma.

Fundo agora se tornou permanente e permite uma reaproximação com o Plano Nacional de Educação

Fotos: : Arquivo/reprodução

Professores Nelson Amaral e João Ferreira, ambos da Faculdade de Educação, veem o novo Fundeb com bons olhos

CONGRESSO NACIONAL APROVA NOVO FUNDEB

José Abrão

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Jornal do Professor Goiânia, setembro de 2020 • 7

Em 2020, Brasil deve bater um novo recorde de óbitos. Em 2019, foram 5.804 casos

VIOLÊNCIA POLICIAL: RECORDE DE MORTESREASCENDE O DEBATE

SEGURANÇA

A execução de George Floyd por um policial nos EUA em maio deste ano resultou em uma onda de protestos por lá e reascendeu pelo mundo, inclusive no Brasil, questões sobre violência policial, segu-rança pública e racismo estru-tural. Desde a morte de Floyd, por aqui, têm pipocado na imprensa e nas redes sociais filmagens de segurança que denunciam práticas similares por policiais brasileiros.

A letalidade policial no Brasil é cinco vezes maior do que nos EUA: foram 1.093 casos por lá em 2019 contra 5.804 no Brasil (dados do Nú-cleo de Estudos de Violência – NEV/USP). Em 12 de julho, um PM paulistano foi filmado pisando no pescoço de uma mulher; no dia 14, PMs foram filmados ajoelhando no pes-coço de um motoboy na ave-nida Rebouças. Só em maio, dois garotos, ambos negros, um de 7 e outro de 14 anos, fo-ram mortos por policiais den-tro de casa no Rio de Janeiro.

Em 2020, a violência poli-cial irá bater recordes. São Pau-lo já passa por um aumento de 70% em assassinatos por po-liciais: 443 civis mortos pela PM até o dia 13 de julho, ba-tendo o recorde anterior, de 409 mortes, em 2003. No Rio, outro recorde no mesmo perío-do: 741 mortes.

“A segurança é uma ques-tão fundamental do Estado de-mocrático de direito moderno. Um dos seus pilares é do uso legítimo da força. Garantir que só através do Estado e de mecanismos legais, seguindo o devido processo, garantindo a ampla defesa, se possa uti-lizar da força para garantir o contrato social entre nós”, dis-se o secretário de Promoção de Segurança e Direitos Hu-manos da UFG e professor do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos, professor Ricardo Lima. Se esta condição está estruturalmente fragilizada, todos estão em risco.

O professor avalia que o

primeiro grande problema na segurança pública brasileira está na forma como as for-ças de segurança estão es-truturadas . E le compara com os EUA: “a polícia é de base municipal e todas são de ci-clo completo: fazem o osten-sivo e a investigação. Na po-lícia brasileira a estrutura é distante da base municipal e cada polícia faz uma parte do processo. No Brasil, eu tenho uma pulverização das forças de segurança. Para lidar com uma ocorrência eu preciso re-correr, ao mesmo tempo, a di-ferentes entes”.

Uma ocorrência simples será atendida primeiro pela Polícia Militar e a investiga-

ção será feita pela Polícia Civil . Para o professor, isto torna o processo desorgani-zado e isola cada carreira po-licial: o que está muito longe do Sistema Único de Seguran-ça Público (SUSP), aprovado em junho de 2018, visando integrar os órgãos de segu-rança e inteligência e padro-nizar informações, estatísti-cas e procedimentos.

Essa pulverização, ao seu ver, fragiliza o devido pro-cesso. “Temos uma estrutu-ra da segurança pública que é pressionada a produzir, na forma de apreensões de pes-soas e coisas. Se minha legis-lação não diferencia entre o pequeno e o grande traficante,

eu loto as penitenciárias en-quanto a estrutura financeira e de poder do tráfico perma-nece intacta”, argumenta.

Outro problema está na herança histórica da formação das polícias no Brasil. O pro-fessor destaca que as forças de segurança no país foram formadas historicamente pró-ximas ao poder e com o foco de servir ao poder e oprimir dis-sidências: algo que começou com os senhores de engenho, continuou com os coronéis, e seguiu nas ditaduras do Esta-do Novo e Militar. “Você sai de um período de ditadura para uma democracia e essas práti-cas não mudam”, resume.

Junto a isso, está o racis-mo estrutural, uma herança da escravidão. “Na estrutura do Estado, há um tratamento diferenciado em relação a esta população. Não tem institui-ção brasileira que não reflita isso”, aponta o professor. En-tão, qual é o caminho da mu-dança? Lima defende a rees-truturação e crê que isso só é possível com a inclusão dos próprios pol ic iais no debate. A solução está na reestru-turação com políc ias inte-gradas, de c ic lo completo, próximas do cidadão e com carreiras que permitam pro-gressão e comunicação.

E a universidade tem um papel nisso, podendo contribuir com a formação destes profissionais da segu-rança. Tanto que a pós-gradu-ação em Direitos Humanos começou neste s e m e s t re c o m u m a t u r m a e s p e c i a l d e d o u t o ra d o c o m p o s t a p o r 1 9 p o l i c i a i s , c o m p r o j e t o s de pesqu i s a que envolvem suas práticas e as especif i -c idades de suas carreiras .

“Os profissionais de segurança pública têm que ser chamados para essa con-versa e têm que dizer, deste lugar de fala, dos seus pro-blemas. Precisam se pensar como sujeitos e pensar a re-formulação. A desmilitariza-ção não é um passe de mági-ca”, argumenta Lima.

José Abrão

Foto: Diogo Fleury

O professor Ricardo Lima defende uma reestruturação para modernizar e integrar as forças policiais

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Jornal do Professor8 • Goiânia, setembro de 2020 ENSINO REMOTO

Uma pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Traba-lho Docente da Universidade Federal de Minas Gerais (Ges-trado/UFMG) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) apontou que 89% dos professores não tinham experiência anterior à pandemia para dar aulas re-motas. Os dados divulgados no mês de julho revelaram, ainda, que para 21% é difícil ou mui-to difícil lidar com tecnologias digitais. Contudo, além da fal-ta de vivência no ensino à dis-tância, outros desafios batem à porta dos docentes e escan-caram a dificuldade desses profissionais em lidarem com a nova realidade. Desconheci-mento dos meios de transmis-são das aulas, sobrecarga ho-rária de trabalho, dificuldade de planejamento e didática do ensino, garantia de preserva-ção dos direitos autorais e de imagens, e tantos outros fa-tores podem comprometer a

qualidade do trabalho e afetar a carreira docente.

De acordo com a coorde-nadora pedagógica do Centro Integrado de Aprendizagem em Rede da Universidade Fe-deral de Goiás (Ciar/UFG), Janice Pereira Lopes, a adap-tação dos professores que re-tornaram o semestre letivo por meio das atividades remo-tas pode ser difícil . Isso por-que na modalidade do Ensino à Distância (EaD) os docentes seguem legislações e normati-zações, bases teóricas, meto-dológicas e didáticas específi-cas para esse tipo de ensino, realidade diferente das aulas remotas emergenciais. “No caso do EaD, os cursos nascem originalmente já nessa moda-lidade da não presencialidade, enquanto o ensino remoto é um recorte de algumas dessas particularidades. Ou seja, as aulas remotas emergenciais são basicamente o emprésti-mo da tecnologia com a ressig-nificação da ideia da presença

do ensino à distância”, explica.

EstruturaEm parceria com diversos

órgãos da universidade, como as Pró-Reitorias de Gradua-ção, Pós-Graduação, Extensão e Cultura e outros, o Ciar ficou responsável pelo acompanha-mento dos docentes e discen-tes durante o período de ati-vidades remotas. Seja no que tange a parte didática do ensi-no ou na técnica, a pasta deve fornecer o suporte necessário para que os professores con-duzam o processo. De início, a coordenadora pedagógica revela que para a transmissão das aulas serão utilizadas as principais plataformas já co-nhecidas pelos docentes: Moo-dle Ipê e SIGAA. Entretanto, outras possibilidades podem ser avaliadas, conforme o an-damento das atividades. Uma portaria publicada pela Secre-taria de Tecnologia e Infor-mação (SETI/UFG) autoriza o uso de ferramentas do G Suite,

plataforma do Google Institu-cional. A escolha das plataformas de transmissão ocasionou alguns debates. A limitação das fer-ramentas eleitas pela insti-tuição levou o Ciar a estudar estratégias para facilitar o acesso tanto para docentes, quanto para alunos, sobretu-do àqueles que não possuem alguma barreira na conexão. “Conhecemos alguns pro-blemas de segurança ocorri-dos em algumas plataformas abertas, como por exemplo o próprio Zoom. Claro que para algumas circunstâncias muito específicas já estamos discutindo algumas possibi-lidades de abertura e flexibi-lização. Mas, para situações muito pontuais, em que por exemplo, alguns estudantes indígenas que estão em suas aldeias com muitas dificulda-des de acesso não consigam, por exemplo, acessar a plata-forma Moodle Ipê, G Suite ou o SIGAA. Mas, isso já vem sendo

Pandemia expôs desafios dos professores na era digital da educação

Dificuldades no uso das plataformas de transmissão, preocupação com direitos de imagens e autorais, escolha adequada dos recursos didáticos para o conteúdo,

e muitos outros fatores extrapolam a linha tênue entre o “fazer” e a exposição

Luciana Porto

Professores esbarram em desafios durante o período de aulas remotas, como a falta de conhecimento das plataformas, desinformação sobre questões legais e cargas de trabalho excessivas

Foto: Diogo Fleury

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Jornal do Professor Goiânia, setembro de 2020 • 9ENSINO REMOTO

discutido junto à Coordena-doria de Ações Afirmativas e a Comissão de Inclusão e Per-manência”, pondera Janice. Para o docente do Instituto de Estudos Instituto de Estudos Socioambientais, Romualdo Pessoa, apesar das recomen-dações de plataformas feitas pela universidade, o profes-sor tem o direito de escolher a ferramenta com a qual ele mais se identifica. Isso porque há duas gerações de docentes na instituição: os mais jovens, que possuem mais facilidade para tratamento com as novas tecnologias; e os mais velhos de carreira, que normalmente possuem mais dificuldade no uso dos meios digitais. Outro argumento usado pelo docen-te que reitera os desafios dos professores durante o ensino remoto é a particularidade de cada disciplina. O profes-sor de geopolítica tem usado ferramentas como o Strea-mYard, para palestras e lives com convidados, e o Google Meet, para os momentos de interação com os discentes. “Eu participei do treinamen-to fornecido pela Prograd so-bre o Moodle, mas continuei com algumas dificuldades na plataforma. Optei por ferra-mentas mais simples e didá-ticas. Há uma dificuldade de nos adaptarmos a novas me-todologias, eu – por exem-

plo – gastarei de seis meses a um ano para me ajustar aos novos moldes, quando isso acontecer já estaremos re-tornando para o ensino pre-sencial”, critica.

RecursosNem só de tecnologia

vive o ensino remoto. Isto porque a escolha da plata-forma ideal para as aulas não está alheia à definição do melhor material de subsidio para o conteúdo. Vídeos, in-fográficos, e-books, e outras dezenas de opções estão dis-poníveis para os professores. Mas, qual a melhor alterna-tiva? Para a coordenadora de produção e publicação do Ciar, Ana Bandeira, o impor-tante é que o docente se ques-tione sobre a finalidade da proposta de trabalho. Depois de estabelecidos os objetivos, o professor ainda precisa re-fletir sobre “como fazer”. “Uma questão importante que preci-samos destacar é que grande parte dos alunos vai acessar o conteúdo por uma tela de celu-lar. Ou seja, às vezes o docente quer usar um recurso especial, mas a tela pequena do celular não permite. O G Suite, por exemplo, deve ter aproximada-mente uns 20 aplicativos dis-poníveis. Então quando vamos pensar no “como fazer”, preci-samos pensar automaticamen-

te na plataforma. Essa discus-são que eu quero propor por meio de um game, ela vai dar certo na tela do celular? Não, então no caso é melhor um e--book com algumas imagens animadas? Temos que pensar que nem todos os alunos vão ter acesso por uma tela maior, como a de um computador, isso é importantíssimo”, com-pleta a coordenadora de publi-cação do Ciar.

DireitosAcima da discussão da

realização ou não de aulas re-motas, está a manutenção dos direitos dos professores du-rante este período. A preserva-ção da imagem, voz, produção intelectual, carga horária de trabalho e muitas outras ques-tões têm preocupado os do-centes. A câmera e o microfone devem estar obrigatoriamente ligados? O aluno pode gravar a aula? Aulas são protegidas por direitos autorais? São perguntas que, provavelmen-te, o professor busca respos-tas em tempos de atividades remotas. Pensando nisso, o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato) dis-ponibilizou um parecer com orientações jurídicas sobre o assunto. O guia trata de 18 questões importantes para o exercício da profissão sem

que haja qualquer prejuízo ou danos a moral ou carreira do docente. O material está completo no site www.adufg.org.br

Em entrevista ao Re-pórter Adufg, a professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universida-de Federal de Goiás (FIC-UFG), professora Maria das Graças Monteiro Castro, revelou não se sentir segura no ambiente virtual. Para ela, a discussão não deve ser sobre a transposi-ção de conteúdos da forma pre-sencial para a remota, ou se o professor é ou não favorável às atividades à distância. “A UFG deve nos oferecer condições tecnológicas, metodológicas e jurídicas para exercermos o nosso trabalho com seguran-ça. Nós já tínhamos as nossas imagens expostas quando os alunos filmavam as aulas pre-senciais. Falta um protocolo de conduta. O professor hoje en-contra-se muito sozinho diante de tantos desafios que não são dele. Eu entendo como limite o “meu fazer” enquanto pro-fessor, eu não tenho que dar conta de gravar, filmar, editar. O meu papel é dar aula. Pre-cisamos tomar cuidado para não precarizar ainda mais a nossa profissão”, criticou a docente, que também fo i d i -retora do Centro Editorial e Gráfico UFG (Cegraf ).

Mesmo com dificul-dades, o ensino remoto já é realidade em boa parte das instituições de ensino do Bra-sil. Em Goiás, as três univer-sidades federais anunciaram a retomada das aulas de for-ma online. Na Universidade Federal de Goiás (UFG), por exemplo, o retorno aconteceu no dia 31 de agosto.

De acordo com o rei-tor da instituição, professor Edward Moreira Brasil, mes-mo diante de todas as dificul-dades que o ensino público tem enfrentado, as universidades públicas resistem e mostram sua força. Segundo ele, apesar de graves perdas de direitos, as instituições permanecem se posicionando.

Para que o retorno fosse possível, a UFG, em parceria com a Associação de Egres-

sos e Egressas, lançou a cam-panha UFG ID – Solidariedade para Inclusão Digital. Um dos principais objetivos é arrecadar equipamentos eletrônicos para estudantes de baixa renda du-rante o período de aulas remo-tas. O Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato) é par-ceiro da iniciativa.

Jataí e CatalãoA Universidade Federal

de Jataí (UFJ) também anunciou a retomada das aulas de forma remota. A instituição ofertará disciplinas de Núcleo Livre, co-mum e específico, tanto optativas quanto obrigatórias, Atividades Complementares (AC), Práticas como Componentes Curriculares, disciplinas de orientação, defe-sas de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Tudo isto median-

te aprovação do Conselho Dire-tor de cada unidade acadêmica.

Os estudantes poderão cancelar disciplinas a qualquer momento enquanto durar o período de distanciamento social provocado pela pande-mia. Não haverá prejuízo para os docentes e discentes que op-tarem em não ingressar na mo-dalidade remota.

As atividades remotas po-derão ser realizadas de forma síncrona (participação dos estu-dantes e professores no mesmo ambiente virtual e no mesmo instante) e assíncrona (quan-do não é necessário que os estudantes e professores es-tejam conectados ao m e s m o tempo para que as tarefas sejam realizadas). Os dois modelos de atividades tam-bém poderão ser combinadas na mesma disciplina.

Considerando a Resolução que permite o franqueamento do RGCG, as Unidades Acadê-micas se organizarão para a oferta de disciplinas e a matrí-cula dos estudantes, permitin-do ao discente que siga evo-luindo no curso, mesmo que algum componente da matriz curricular não seja ofertado nesse momento.

Na Universidade Federal de Catalão (UFCAT), foi apro-vada a resolução que dispõe sobre a regulamentação, em caráter excepcional, da oferta de componentes curriculares e outras atividades acadêmi-cas de forma não presencial e institui o Período Suple-mentar Excepcional (PSE) para o ensino de graduação, como soluções temporárias às consequências acarretadas pela Covid-19.

Rafael Vaz

Apesar das dificuldades, ensino remoto já é realidade

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Jornal do ProfessorPOLÍTICAS PÚBLICAS

Pesquisa da EA tenta desenvolver plantas resistentes ao mosaico da cana

Foto: Acervo

Promulgado em julho, projeto planeja levar água e esgoto para todos os lares brasileiros até o final de 2033, mas especialistas questionam se é possível atingir essa meta dentro do prazo

Novo marco regulatório busca universalizar saneamento básico

O Governo Federal pro-mulgou em julho o novo mar-co regulatório do saneamento básico que tem como principal objetivo universalizar o atendi-mento de saneamento no Brasil até 2033. O custo estimado é de R$ 700 bilhões. Uma proposta ousada, já que 34 milhões de brasileiros não têm acesso a água tratada e 104 milhões não tem coleta de esgoto.

Para o professor José Vi-cente Granato, da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (EECA/UFG), é um projeto mui-to complexo e mesmo imprevi-sível, começando dos recursos financeiros e humanos neces-sários para atingir este obje-tivo em tão pouco tempo. Ele relembra que todos os projetos nacionais de saneamento já im-plementados no Brasil previam a universalização do atendi-mento e nenhum sequer che-gou perto. Isto não quer dizer que a situação não melhorou: o primeiro projeto do tipo foi o Plano Nacional de Saneamento (Planasa), instituído pela Dita-dura Militar nos anos 1970. Na época o Brasil tinha 90 milhões de habitantes e apenas 35% dos domicílios eram servidos com água e só 15% dos domi-cílios urbanos tinham coleta de esgoto. Em 16 anos com um investimento de R$ 8,5 bilhões anuais, os números subiram para 55% das casas com água e 30% com coleta de esgoto.

Foi este plano que insti-tuiu as estatais de saneamento em todo país, como a Saneago em Goiás. Isto permitiu que aos poucos estados e municípios fossem ampliando seus siste-mas com certo grau de suces-so. “Com isso houve um gran-de avanço. Uma das vantagens foi que as companhias usavam o chamado subsídio cruzado, uma tarifa igualitária para o

estado inteiro. O que arreca-dasse a mais em um município maior subsidiava o município menor. E não visava lucro. Tudo que ela arrecadava, e la investia no próprio sistema”, explica Granato.

Houve outros ganhos como a obrigação do estado de destinar 5% de sua receita para um fundo de água e esgo-

to. Além disso, uma estatal po-dia arcar com custos mais altos com insumos, investimentos e manutenção, distribuindo isto tudo diretamente aos municí-pios mais carentes sem custos.

Uma ressalva no novo mo-delo proposto é permitir que mais cidades sejam atendidas pela iniciativa privada. “Como sanitaristas, a gente não olha se o poder público ou se é a iniciativa privada que fariam o melhor ou pior serviço. A gen-te olha com uma outra ótica. O que a gente preza seria a efi-ciência da operadora do siste-ma”, comenta o professor.

Porém, isto talvez até crie um novo problema, já que, para as empresas, as cidades com os maiores sistemas se tornam as mais interessantes, enquanto os lugares mais pobres e pre-cários continuam ao deus dará.

“A gente acredita que não vão se interessar por sistemas ca-rentes que eram compensados pelo subsídio cruzado”, explica, “nós não temos uma regulação forte para garantir isso. Estão fazendo em blocos, que a em-presa privada concorre com sistemas atrativos e não atrati-vos. Mas o governo não regula-mentou isso, então a gente não

sabe como isso vai acontecer”.Outro problema é que o

marco estabelece uma regula-ção por parte da Agência Na-cional de Águas (ANA) que não possui estrutura nem pessoal para isso. “Ela atua muito na água e nos recursos hídricos. Ela precisa se qualificar e au-mentar o quadro de funcioná-rios para trabalhar na questão do saneamento que não é a ex-pertise dela atualmente”.

No atual sistema brasi-leiro há muito desperdício. Segundo o Serviço Nacional de informações em Saneamen-to (SNIS), a média de perdas é de 38,5%. Em Goiás, é 30,2%. Goiânia se destaca porque é a segunda capital com menor ín-dice de perd a s , q u e é 2 1 , 7 % , a t rá s a p e n a s d e C a m p o G ra n d e ( 1 9 , 6 % ) q u a n d o a m é d i a d a s c a p i t a i s e s t á e m

t o rno de quase 30%. Por f im, há o desaf io

imposto pelas desigualda-des regionais e pela própria extensão territorial do país . Segundo o Trata Brasi l , das 20 cidades que tem maiores índices de saneamento, 10 cidades estão no estado de São Paulo; 5 estão no estado do Paraná; duas estão no es-tado do Rio de Janeiro; uma em Minas Gerais ; uma em Campina Grande, na Paraíba; e uma em Vitória da Conquis-ta , na Bahia . “ E n t ã o d á p a ra a g e n t e ve r c l a ra m e n t e q u e a s c i d a d e s e o s e s t a d o s e c o -n o m i c a m e n t e m a i s fo r t e s t ê m o s m e l h o re s í n d i c es”, aponta Granato.

D e q u a l q u e r fo r m a , o p ro fe s s o r s a l i e n t a q u e q u a l -q u e r g ra u d e p ro g re s s o t ra z re t o r n o s ex p o n e n c i a i s à p o -p u l a ç ã o e m q u a l i d a d e d e v i d a . “ O s a n e a m e n t o b á s i -c o q u a n d o e s t á i m p l a n t a d o e fe t iva m e n t e é ve t o r d a m e -d i c i n a p re ve n t iva . C i d a d e s q u e t ê m s a n e a m e n t o c o m -provadamente têm menos do-enças com veiculação hídrica, que são várias”, salienta, “a cada real investido em sane -a m e n t o – á g u a , e s g o t o , d re -n a g e m , c o l e t a , t ra t a m e n -t o – va i e c o n o m i z a r d e u m a cinco reais em tratamento médico no futuro”.

O marco ainda pode so-frer mudanças. Ele recebeu ve-tos e há pressão dentro e fora do Congresso para que alguns deles sejam derrubados. Para o professor Granato, a questão não pode ser acelerada. “O as-pecto é muito complexo. O sa-neamento é importante, mas vamos fazê-lo com técnica, com expertise. Vemos com preocupa-ção se a regulação vai conseguir fazer a tempo de preservar os pequenos municípios”, finaliza.

José Abrão

Para o professor José Vicente Granato, cada real investido em saneamento trará grandes vantagens para o país. Porém, os desafios são numerosos.

10 • Goiânia, setembro de 2020

“O aspecto é muito com-plexo. O saneamento é im-

portante, mas vamos fazê-lo com técnica, com experti-

se. Vemos com preocupação se a regulação vai conseguir fazer a tempo de preservar os pequenos municípios”

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Jornal do Professor Goiânia, setembro de 2020 • 11PESQUISA

A Escola de Agronomia (EA) da Universidade Federal de Goiás (UFG) faz parte da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Su-croenergético (RIDESA) que de-senvolve pesquisas para o me-lhoramento da cana-de-açúcar. Entre os projetos em execução na escola estão alguns focados no combate a pragas comuns da cana, como a podridão verme-lha, causada por um fungo. Há pouco mais de um ano, o professor Érico de Campos atua no combate ao vírus do mosaico da cana.

Segundo o professor, o mosaico historicamente é con-siderado um dos vírus mais co-nhecidos e comuns, sendo um dos primeiros a causar proble-mas no Brasil. Eventualmente, porém, foram desenvolvidas va-riedades da planta resistentes ao vírus, que reduziram dras-ticamente as infestações. Mas isto está começando a mudar. “Por volta do início dos anos 2000, se notou o ressurgimento do mosaico em pontos isolados. Ele está ocorrendo novamente, mas ainda com um nível bem menor do que originalmente e em plantas que são resistentes”, explica o professor.

Foi encontrado este iso-lado do vírus do mosaico que

consegue infectar plantas resis-tentes e “estamos trabalhando com ele em acessos de melho-ramento genético desenvolvi-dos pela Ridesa”, que já passam por um processo de seleção alinhando características inte-ressantes, como porte e capa-cidade produtiva. “Pegamos es-tas variedades e testamos para a resistência ao vírus e vamos separando o material resisten-te para poder incorporar mais resistência a este isolado para não dar chance de ele retornar a ser uma das principais doen-ças da cana”, resume o docente.

Para isso, a pesquisa pro-cura desenvolver genótipos re-sistentes ao isolado do vírus do mosaico da cana. Campos afir-ma que já começaram a encon-trar alguns resultados promis-sores.

A primeira parte do pro-cesso é um tanto simples, mas trabalhosa e demorada. Os pesquisadores recebem uma listagem de plantas diferen-tes que já estão em processo para melhoramento genético. Este material é levado para a casa de vegetação. Um pedaço da cana é colocado na bandeja com substrato e, quando se de-senvolve em uma planta jovem, é inoculado com o vírus. “É um processo mecânico, fazemos

isso com as próprias mãos”, explica o professor, “depois de inocular as plantas verificamos quais expõem sintomas. Depois analisamos todas as plantas em laboratório para ver se o vírus está presente na planta, mesmo sem sintomas, usando técnicas de biologia molecular”.

Acessos são plantas que estão em processo de melhora-mento para gerar uma varieda-de que vai ser plantada no cam-po para produzir. Os acessos que se mostram resistentes ao isolado são selecionados para a segunda parte do processo que ainda não foi iniciada e que é mais complexa: descobrir qual é o gene responsável por con-ferir essa resistência ao vírus.

Então eles irão pra ter-ceira parte, que é encontrar uma maneira de transferir ou incorporar estes genes resis-tentes para as variedades co-merciais da cana, usadas de fato na produção, para que não sejam infectadas. “São vários passos. Ainda temos muitos anos de pesquisa pela frente”, reconhece Campos. “A parte de busca do gene é bastante tra-balhosa. E depois ainda vamos trabalhar com o vírus do ama-relinho também que é muito comum e está sempre presente nas áreas de produção”.

Além disso, o pesquisador salienta que há muitas oportu-nidades de publicação relacio-nadas à pesquisa e que preten-de aos poucos incorporar mais estudantes no projeto. “É um assunto que rende bastante. No momento estou com um es-tudante de iniciação científica. Fizemos uma abordagem mais simples, comprovamos a efici-ência da metodologia”, conta, “temos potencial para manter estudantes de pós-graduação tanto no mestrado quanto no doutorado. A pesquisa sobre o vírus ainda está na fase inicial. Tenho a intenção de começar a envolver estudante de pós--graduação a partir do ano que vem”.

Neste espaço de tempo, Campos ressalta o grande in-teresse econômico neste tipo de pesquisa. “A intenção de trabalhar com esta parte de resistência a doenças sempre é a de se tentar a aplicação mais imediata possível dos resultados”, afirma, “encon-trar materiais resistentes é de interesse geral: do peque-no produtor ao grande”. É importante tanto do ponto de vista político quanto econômi-co, o que torna “evidente para a população, a importância da ciência para a vida de todos”.

Pesquisadores buscam encontrar variedades da cana-de-açúcar que sejam imunes através do melhoramento genético

Pesquisa da EA tenta desenvolver plantas resistentes ao mosaico da cana

Foto: Reprodução/acervo pessoal

José Abrão

Estudo busca encontrar formas de tornar a cana resistente a doenças virais

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12 • Goiânia, setembro de 2020 Jornal do ProfessorADUFG EM AÇÃO

Professores Flávio Silva, Edward Madureira, Rosângela Nunes e Geci José Pereira da Silva foram alguns dos participantes da mobilização digital

Fotos: Diogo FleuryArte: Tham

ires Vieira

Em meio à readequação imposta pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), as uni-versidades federais podem en-frentar um obstáculo extra em 2021. Afinal, o Projeto de Lei

Orçamentária Anual do próximo ano prevê corte orçamentário das instituições de ensino supe-rior. Contra a proposta, o Adufg inciiou uma mobilização digital contra a medida e em defesa da

educação pública, gratuita e de qualidade.

Todos os canais de comuni-cação do sindicato passaram a con-tar com pautas que alertam sobre os impactos que a redução pode causar

nas universidades. O Adufg tam-bém convocou a população em ge-ral para a luta contra o retrocesso. Os vídeos da campanha estão dis-poníveis no Facebook, Instagram e YouTube (@adufgsindicato).

O Adufg enviou ofício a todos os deputados federais e senadores do Brasil pedindo que aprovassem a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Fundo de Manutenção e Desen-volvimento da Educação Básica (Fundeb). Os principais desta-ques da proposta foram: amplia-ção em até 23% da participação da União no financiamento da educação infantil e dos ensino fundamental e médio.

Na solicitação, o sindi-cato destacou a importância do Fundeb para o ensino no Brasil . “É a principal fonte de recursos da educação básica. O futuro de 40 milhões de estu-dantes está na mãos do Congres-so”. Além de encaminhar a so-licitação, o sindicato também disponibilizou uma lista com os e-mails de todos os parla-mentares e convocou os do-centes a pressioná-los .

Diante dos ataques do Governo Federal aos servi-dores públicos, o Sindicato

dos Docentes das Univer-sidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato) intensi-

f icou sua atuação na defesa dos interesses da categoria e aos serviços públicos como

um todo. Confira as princi-pais ações realizadas neste sentido nos últimos meses:

Logo após a divulgação da proposta de reforma admi-nistrat iva , o Adufg d ivulgou nota de repúdio e anunciou que não poupará es forços p a ra te nta r evi tar que a me -dida se ja aprovada . “O s in -d ica to adotará todas as me-

didas necessár ias na defesa dos servidores e se ju nt ará a ou t ras ent idades repre -sent at ivas para evi t ar mais um ret rocesso de u m g over -no qu e e l eg eu o fu nciona -l i smo público como inimigo”, diz o texto assinado pelo pre-

sidente da entidade, profes-sor Flávio Alves da Silva.

A nota também critica a falta de diálogo do gover-no com os servidores e alerta para o fim da estabilidade e corte de benefícios dos futu-ros servidores. “É uma mano-

bra que abrirá caminhos para ataques ainda mais severos. A desvalorização proposta pelo governo certamente afastará bons profissionais do serviço público, sucateando o atendi-mento oferecido à população em todas as áreas.

Sindicato liderou mobilizações contra ataques do Governo Federal à educação

Contra a reforma administrativa

#SalveAEducação

#AprovaFundeb

Adufg intensifica atuação na defesa dos direitos e dos serviços públicos

Rafael Vaz

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Jornal do Professor Goiânia, setembro de 2020 • 13CIÊNCIA

Pesquisadores da UFJ estudam potenciais fármacos contra a Covid-19

Estudo iniciado em janeiro tem como objetivo encontrar drogas que atuem na inibição da proteína não-estrutural do SARS-CoV-2

Três possíveis fármacos contra o novo coronavirus já foram encontrados pelos pesquisadores de Jataí

Foto: Diogo Fleury

Luciana Porto

Paralelas à corrida cien-tífica para desenvolvimento de uma vacina eficaz e segu-ra contra a Covid-19, outras pesquisas avançam na busca de fármacos com capacidade terapêutica sobre a doença. Na Universidade Federal de Jataí (UFJ), um estudo promo-vido pelo Núcleo Colaborati-vo de Biossistemas (NCBios) tenta identificar potenciais drogas contra o coronavirus. Com artigo pub l i c a d o p e l o “ J o u r n a l o f B i o m o l e c u l a r S t r u c t u re a n d D y n a m i c s ” n o m ê s d e j u l h o , o s a u t o -re s d o p ro j e t o , a a l u n a d e m e s t ra d o G a b r i e l a d e L i m a M e n e z es sob orientação do professor Roosevelt Alves da Silva, descobriram três pos-síveis fármacos para inibição de uma proteína que facilita a sobrevivência do vírus no corpo humano, a NSP-1.

Gabriela, que é biomédi-ca e bolsista do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde da Coor-denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), explica que inicial-mente os pesquisadores esta-vam utilizando como base um banco de dados de compos-tos chamado DrugBank - que

possui fármacos já aprova-dos para uso em outras doen-ças ou em fase experimental. De acordo com a mestranda, nesta etapa as moléculas Ti-rilazad, Phthalocyanine e Zk-806450 tiveram boa afinida-de em diversas conformações com a proteína NSP-1. “Des-cobrimos que esses fárma-cos quando comparados com outras moléculas com capa-cidade de inibição in vitro da NSP-1 do SARS-CoV, como Alisporivir e Ciclosporina, apresentam melhor afinida-de pela proteína homologa do SARS-CoV-2, sendo um possível indicativo que elas também possuem atividade inibitória in vitro.”, revela.

Roosevelt pontua que as pesquisas agora mudaram um pouco de foco. Segundo o docente, um novo banco de dados com mais de 200 mil moléculas de origem natural está sendo estudado. Entre-tanto, há a possibilidade de se encontrar fragmentos que ainda não passaram por ne-nhum tipo de estudo, ou seja, que ainda não estão em fase de testes clínicos para uso em outras patologias, o que pode tornar o processo de pesquisa mais moroso. “Em

nossa primeira etapa, traba-lhamos com drogas que já es-tão disponíveis no mercado para que possamos atender a urgência que a pandemia da Covid-19 pede. Mas, um ponto interessante do nosso novo trabalho é que as mo-léculas naturais podem ser de fácil aprovação para o uso humano”, complementa.

FuturoO laboratório da UFJ

atua na área de biologia computacional, com foco em modelagem de estruturas de proteínas, dinâmica e função das proteínas, e prospecção de novos fármacos. Roosevelt explica que a princípio as pes-quisas estavam concentradas nos principais patógenos do grupo dos Flavivírus, como o da zika, dengue e febre ama-rela; e alguns tipos de fungos e bactérias. Em janeiro, os cientistas do núcleo deram o pontapé também para as pes-quisas do SARS-CoV-2. “Te-mos uma parceria com outro laboratório de vírus aqui da UFJ que nos ajuda aplicando os nossos estudos na prática, realizando os testes in vitro. Porém, estamos em um mo-mento em que necessitamos

de maior segurança nos la-boratórios e, infelizmente, as nossas instituições não po-dem nos atender nesse que-sito, dependeríamos de agen-tes externos, laboratórios de fora”, critica.

Apesar disso, Gabriela é positiva com relação ao futu-ro da pesquisa. A biomédica comenta que mesmo com a promessa do desenvolvimen-to de vacinas para ainda este ano, o fármaco tem a sua im-portância por atuar no tra-tamento da doença. “Na rea-lidade, não sabemos quando a população vai ser imuniza-da contra o coronavirus, por isso precisamos pesquisar e estudar potenciais drogas eficazes no combate à Co-vid-19”, destaca a estudante.

Outro ponto que é abor-dado por Roosevelt são os casos de reinfecção da do-ença ou mesmo o surgimen-to de vírus similares e/ou da mesma família. “Muitas vezes podem surgir dúvidas sobre o motivo da gente investir numa pesquisa que procura fármacos, sendo que a vacina já está sendo desenvolvida. Mas, essa seria a justificati-va: uma alternativa”, comple-ta o docente.

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Jornal do Professor14 • Goiânia, setembro de 2020 JURÍDICO

Sempre atento para garantir os direitos dos professores, o Sindicato dos Docentes das Univer-sidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato) dispo-nibilizou um parecer com orientações jurídicas aos educadores que retoma-ram as atividades acadê-micas de forma remota por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). O documento é estrita-mente jurídico e destaca questões, como direitos de imagem de docentes e estudantes, proteção de produção intelectual, di-reitos autorais e compati-bilização entre liberdade de ensino e transmissão das aulas.

No total, são abor-dadas 18 questões que envolvem aspectos legais. O documento também dis-ponibiliza uma sequência de links com materiais so-

bre o ensino remoto, como orientações, vídeos e pa-lestras. “É um momento atípico para a comunidade acadêmica. Estamos acom-panhando atentamente todo o processo para ga-rantir que os direitos dos professores sejam respei-tados”, afirma o presidente do Adufg, professor Flávio Alves da Silva. O parecer foi elaborado pelos escri-tórios responsáveis pela assessoria jurídica do sin-dicato.

Jurídico RespondeO Adufg-Sindicato

também estreou a nova temporada do programa Jurídico Responde. Nos vídeos, o advogado Elias Menta, da assessoria jurí-dica da entidade, responde dúvidas dos professores sobre os aspectos legais do ensino remoto. Os vídeos são publicados às segun-

das-feiras, às 16 horas.Todos os programas

ficam disponíveis no canal do sindicato no YouTube (@adufgsindicato). A enti-dade também disponibili-zou um canal de comunica-ção para que os professores enviem as dúvidas que que-rem ver respondidas no programa. As perguntas de-vem ser encaminhadas para o e-mail [email protected].

Confira a íntegra do Guia:Abra o aplicativo câmera de seu celular ou tablet;Aponte para o código QR;Toque no link que aparece.

Representantes do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato) estiveram reunidos com membros da direção da Universidade Federal de Goiás (UFG) para tratar de processos impetrados pela assessoria jurídica do Adu-fg relacionados aos profes-sores aposentados afetados pelo corte no artigo 192. O

objetivo da reunião foi pe-dir mais celeridade aos pro-cessos, uma vez que o trâ-mite foi afetado nos últimos meses por causa da pande-mia do novo coronavírus (Covid-19).

A meta, agora, é fazer com que os processos vol-tem a progredir com mais rapidez. A reunião foi reali-zada de forma virtual. Pelo Adufg, participaram a dire-

tora de Convênios e de As-suntos Jurídicos, professora Ana Christina Kratz, o dire-tor administrativo, professor João Batista de Deus e o as-sessor jurídico Elias Menta. A UFG, por sua vez, foi repre-sentada pelo pró-reitor de Gestão de Pessoas, Everton Wirbitzki da Silveira, e a di-retora de Administração de Pessoas, Wilma Maria Gon-çalves dos Santos.

Documento é estritamente jurídico, aborda 18 tópicos e disponibiliza materiais sobre aulas online

Objetivo foi pedir mais celeridade aos processos

Adufg lança guia sobre questões legais do ensino remoto

INFORME JURÍDICORetomada das atividades

docentes de forma remota: direito de imagem e

direitos autoraisO cenário mundial impôs diversas mudanças de hábitos e atividades profissionais e econômicas frente à pandemia do novo coronavírus, o que demanda uma série de adaptações por parte, inclusive, das universidades, através da implementação emergencial do ensino remoto apoiado nas plataformas digitais. Disto emergem várias dúvidas no que tangem o cotidiano, especialmente no que toca ao direito de imagem e dos direitos autorais na execução e elaboração das aulas.

No que tange aos direitos autorais, as aulas são consideradas produção intelectual. Porém, o conteúdo não é necessariamente autoral. O que está protegido, neste caso, não é a teoria, mas a forma literária ou artística pela qual o conteúdo científico é transmitido. Os textos de obras literárias, artísticas ou científicas são protegidos por direitos autorais, assim como vídeos, fotografias e gravuras. Lembramos que o uso de representações teatrais e execuções musicais para fins didáticos é legalmente permitido. Portanto, é importante certificar-se se o material que se pretende usar esteja liberado para uso e sempre informar a autoria e a fonte. Outro cuidado que se deve ter é quanto à possibilidade de que o material já esteja em domínio público, de forma que seu uso estará liberado, desde que referida a autoria.

Quanto ao direito de imagem, qualquer gravação, publicação ou divulgação de aulas pressupõe a concordância dos envolvidos. Não há necessidade de que essa concordância seja formalizada individualmente e por escrito, desde que fique claro que a pessoa foi alertada da gravação, da finalidade a que se propõe e da alternativa de se opor à exposição de sua imagem. Não se pode impor a obrigação de ser filmado o gravado. Portanto, alunos podem desligar a câmera e o microfone se quiserem durante a aula, mas isto não os isenta da presença. Uma opção para se comunicar neste caso é o chat por escrito. O aluno também pode gravar a aula com a única finalidade de uso próprio para fazer anotações e estudo.

O professor também deve ficar atento à proteção de sua produção. A originalidade de uma obra não pressupõe registro. A vantagem do registro é a proteção daí decorrente e a facilidade de comprovar a data de criação. Atualmente existem algumas plataformas na rede mundial que auxiliam no registro gratuito de obras, como a Creative Commons.

Reunião entre Adufg e UFG trata de processos relacionados ao artigo 192

Arte: Janaína Silva

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Jornal do Professor Goiânia, setembro de 2020 • 15CURTAS

O orçamento das universida-des federais de 2021 está ameaçado novamente por um corte de 18,2% previsto no Projeto de Lei Orça-mentária Anual. “As universidades federais não vão conseguir absorver um corte dessa magnitude”, afirma o reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e presidente da Asso-ciação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Su-perior (Andifes), professor Edward Madureira. As universidades já trabalham com orçamento reduzi-do. A proposta, que ainda precisa

passar pelo Congresso Nacional, foi feita pelo Ministério da Economia e confirmada pelo Ministério da Edu-cação (MEC). Em Goiás, somando as projeções das três universidades federais (UFG, UFCAT e UFJ), o pre-juízo seria de R$ 21,6 milhões no próximo ano. Na comparação com o orçamento de 2020, a Universidade Federal de Goiás perderia R$ 16,5 milhões. Para a Universidade Fede-ral de Jataí, o corte representaria R$ 2,7 milhões. A Universidade Federal de Catalão, por sua vez, sofreria um impacto de R$ 2,4 milhões.

Após inspeção da Vigilância Sanitária de Hidrolândia, bem como autorização da Prefeitura Municipal, a Sede Campestre do Adufg-Sindica-to foi reaberta. Ela estava fechada desde março como medida de pre-venção ao coronavírus. A entrada só será permitida mediante assinatura e entrega de termo de responsabi-lidade. Nele, professores e depen-dentes se comprometem com o cumprimento dos procedimentos de segurança adotados. Entre as principais medidas, está a obrigato-riedade do uso de máscara de pro-teção em toda a área comum. Foram

estabelecidos limites de oito pesso-as por vez na piscina para adultos e quatro pessoas na piscina infantil. Todos os visitantes terão a tempe-ratura aferida na entrada e duran-te a estadia no local. A capacidade máxima de lotação adotada será de 50%. As reservas serão feitas exclu-sivamente pelo telefone (62) 3202-1280. Não será permitida a entrada de sindicalizados que não tenham feito reserva com antecedência. O Adufg também pede que todos que estiveram no local higienizem as mãos com álcool em gel 70% sem-pre que possível.

O Adufg-Sindicato entre-gou 20 tablets doados para a campanha UFG ID – Solidarieda-de para Inclusão Digital. Um dos principais objetivos da iniciati-va, realizada por meio de parce-ria entre Universidade Federal de Goiás (UFG) e Associação de Egressos, é arrecadar equipa-

mentos eletrônicos para estu-dantes de baixa renda durante o período de aulas remotas. “É uma campanha que vai benefi-ciar muitos alunos que realmen-te precisam. A crise provocada pela pandemia do coronavírus (Covid-19) nos trouxe para um momento atípico que só será

superado com a união de todos”, afirmou o presidente Flávio Alves da Silva. Os tablets contam, entre outras características, com cone-xão wi-fi, bluetooth e GPS. O Adufg--Sindicato é parceiro da campanha e quem quiser colaborar, deve levar sua doação ao Centro de Manu-tenção e Equipamentos (Campus

Samambaia) e na Escola de Enge-nharia Elétrica, Mecânica e de Com-putação (Campus Colemar Natal e Silva). Também são aceitas doações em dinheiro pelo Banco do Brasil (Agência: 1242-4 / Conta Corren-te 47.930-6 / Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultural / CNPJ: 01.517.750/0001-06).

Sede Campestre é reaberta com novos protocolos de segurança

Adufg doa tablets para campanha de inclusão

digital da UFG

O Adufg-Sindicato levou atendimento jurídico aos profes-sores da Universidade Federal de Catalão (UFCAT) e da Universida-de Federal de Jataí (UFJ) na última semana de agosto. Todas as me-didas de prevenção contra o novo coronavírus (Covid-19) foram tomadas. Além do atendimento presencial, desde o início de agos-to, os docentes da UFCAT e da UFJ também podem contar com aten-dimento jurídico online. Nesta mo-dalidade, o serviço é prestado por

telefone ou internet. O atendimen-to é realizado às segundas (no pe-ríodo da manhã) e quintas-feiras (tarde). O atendimento é disponi-bilizado aos professores filiados e não filiados ao sindicato. Para os professores da UFCAT, o agenda-mento deve ser feito pelo telefone (64) 3411-4217 ou pelo e-mail [email protected]. Os docentes da UFJ, por sua vez, de-vem solicitar o atendimento pelo telefone (64) 3631-8363 ou pelo e-mail [email protected].

Ameaça de novo corte orçamentário de 18,2% pode inviabilizar

funcionamento das universidades

Assessoria Jurídica do Adufg realiza atendimento em Catalão e Jataí

Visando preservar a saúde do docente e de seus familiares, a sede só poderá ser visitada seguindo o novo padrão de prevenção

O presidente do Adudfg, professor Flávio Alves da Silva, participa da entrega dos dispositivos

Foto: Diogo Fleury

Foto: Diogo Fleury

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16 • Goiânia, abril de 2015 RETRANCA Jornal do ProfessorTRAJETÓRIA16 • Goiânia, setembro de 2020

Uma carreira experimentalVindo da Argentina em um tempo de crise, o professor José Antonio Fornés consolidou

sua carreira como físico de renome internacional nos laboratórios da UFG

Um verbo que define a car-reira científica é experimentar. Buscar novas abordagens e solu-ções diferentes para problemas que parecem insolúveis fazem par-te do que significa ser um pesqui-sador. Acontece que, confrontado com uma crise, o professor José Antonio Fornés encontrou através da experimentação um caminho para contornar obstáculos que po-deriam ter sido intransponíveis.

Nascido em Córdoba, na Ar-gentina, Fornés realizou no país vizinho toda a sua formação aca-dêmica, tendo se apaixonado, ain-da quando adolescente, pela Física teórica. “Começou na escola secun-dária. Tínhamos um bom professor, e comecei estudando no Observa-tório Astronômico Nacional na Uni-versidade de Córdoba”, relembra, “passei os dois primeiros anos es-tudando matemática, astronomia e física. No terceiro ano fui para a Universidade Nacional de La Plata e lá continuei com minha carreira”.

Com mais perguntas do que respostas na mente, enveredou no mestrado e no doutorado, ter-minando a sua tese em 1972. Sem tempo para parar, embarcou para a Suécia, onde passou um ano desen-volvendo uma pesquisa de física teórica no laboratório de Química Quântica da Universidade de Upp-sala. De lá, passou um ano e meio no Mid Essex Hospital, realizando pesquisa molecular antes de re-gressar ao seu país.

Porém, enquanto a carreira de Fornés decolava, a Argentina mergulhava em um dos períodos mais sombrios da sua história. Em 1975, diversas forças militares, pa-ramilitares e reacionárias entra-ram em confronto com movimen-tos populares, de trabalhadores e de esquerda, em um grande ensaio para o golpe em 1976 que instala-ria uma ditadura sangrenta, que mataria mais de 30 mil argentinos.

“Em 1975, a Argentina co-meça uma espécie de guerra inter-na. Foi uma crise bastante triste”, relata o professor, que na época fora incumbido de montar um la-boratório em Buenos Aires. A ten-são política já fazia com que muitos colegas pensassem em abandonar o país. “Um dia chego à universida-de e uma colega me diz: Cordobês, aqui está o que precisamos: vamos buscar trabalho no Brasil”. Ele já

tinha trabalho, mas não deixou os colegas na mão: partiu com mais três de carro para a fronteira.

Primeiro foram à USP, apre-sentar seus currículos. Depois à Unicamp. Por fim, à São Carlos. Na USP de lá, um professor se interes-sou pelo currículo de Fornés. “Fo-mos a uma sala de aula em que ele tinha um problema com uma equa-ção, que eu resolvi. Então ele me trouxe um contrato: se você quiser ficar aqui... Eu que não tinha vindo buscar trabalho, havia conseguido! (risos)”, brinca.

Mas se mudar para o Brasil ainda não estava nos planos. Sem problema, disse o professor de São Carlos, “se um dia você decidir vir, me chame que eu te mando a pas-sagem de avião”, lembra, “volta-mos todos para a Argentina. A cri-se piorava cada vez mais”. Ele não tinha carro na época e sua esposa estudava à noite, saía da aula 23h, voltava para casa a pé, “e ouvia na

noite os tiros. Imagine uma guerra. Ela me disse: isto aqui não dá mais”.

Decidiram ir para às serras de Córdoba, onde os pais da sua mulher moravam, na esperança de esperar que as coisas se acalmas-sem. “Três dias depois que che-gamos, recebemos um telegrama contando que haviam colocado uma bomba no carro de uma famí-lia boliviana que morava no mesmo andar que eu”, relata. O carro e os destroços subiram e o apartamen-to foi totalmente destruído. “E aí decidimos vir para o Brasil (risos)”.

De mudança para o Brasil, promessa é dívida, e ele ficou um ano em São Carlos, depois foi para Brasília onde ficou três anos antes de passar em um concurso em Goi-ás. “Quando eu vim para São Carlos minha esposa ainda ficou seis me-ses na Argentina, depois ela conti-nuou o curso dela de Nutrição na UnB que havia iniciado em Buenos Aires”, conta. Mais tarde ela, Nélia

Fornés, também se tornaria docen-te da UFG.

Já lecionando por aqui, con-seguiu uma bolsa do CNPq para dar continuidade à sua pesquisa de físi-ca experimental. Passou mais dois anos na Universidade da Califórnia no departamento de Biofísica e Biologia, e deu continuidade à dis-tância a um trabalho com o grupo de Ciências Biomédicas da USP.

De toda sua carreira, uma memória vem à mente que sem-pre o faz se emocionar. Antes de ir para os EUA, teve a oportunida-de de conhecer e trabalhar junto com um professor da Virgínia Tech University por um ano que veio fa-zer intercâmbio. “Quando fui para os EUA, fui convidado por ele a ir à Virgínia Tech. Ele me convidou para a sala de aula onde um aluno dava uma palestra”, relembra, “co-mecei a observar e fiquei pensan-do: esse trabalho aí eu conheço. E quando ele terminou, disse: o autor deste trabalho está sentado aqui. E isso me emocionou muito”, disse o professor com olhos marejados.

Fornés se aposentou em 1998. Sua esposa faleceu de cân-cer em 2002. Não tiveram filhos. Olhando para trás, o professor percebe uma carreira dedicada de corpo e alma à ciência. Inclusive, a aposentadoria não o fez parar de trabalhar: seguiu escrevendo, pes-quisando e publicando. “Continuo me dedicando ao trabalho científi-co. Tenho mais ou menos 40 publi-cações, todas internacionais”, conta com orgulho.

E ainda está com um livro novo no forno, já aprovado e revisa-do, pronto para a publicação. “Este livro será sobre Princípios Motores Moleculares. Em uma célula bioló-gica há cerca de 3000 motores que transportam substâncias de um lu-gar na célula para o outro. E estes motores precisam das flutuações térmicas porque são tão pequenas. Este livro irá tratar sobre como funcionam estes motorzinhos, são todas equações muito complexas”.

Depois de todo esse tempo, Fornés não se arrepende de mudar para o Brasil, nem para Goiânia e conta que nunca teve vontade de voltar a morar na Argentina. “Fiz a minha vida aqui. Vou lá para visitar meus parentes, meus sobrinhos, minha irmã. Fui muito bem recebi-do e acolhido no Brasil”.

Luciana Porto e José AbrãoFoto: Diogo Fleury

Mesmo após se aposentar de uma

bem-sucedida carreira docente,

o professor seguiu escrevendo,

pesquisando e publicando