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O Animando a Rua Larga, projeto que traz eventos para a região ao longo dos próximos meses, contará, em mostra inédita, a história da Av. Marechal Floriano e seu entorno. O curador Ney Carvalho garimpou curiosidades sobre 18 pontos importantes para a história local, como a Central do Brasil, o Largo de Santa Rita e o Palácio Itamaraty. Gari compositor protagoniza romance assinado por Haroldo César Convidados a refazer a prova no caso de se sentirem prejudicados, alunos do ensino médio do Colégio Pedro II – Centro, analisam o Enem como forma de ingresso às universidades. Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 24 ANO III RIO DE JANEIRO | NOVEMBRO – DEZEMBRO DE 2010 Exposição itinerante traz informações raras sobre a antiga Rua Larga páginas 8 e 9 Uma experiência de 25 anos como funcionário da Comlurb vira livro. O autor também é líder do Movimento dos Compositores da Pedra do Sal. O melhor método para avaliar o ensino médio O projeto Verão nas UPPs trará diversas oficinas culturais em temas como música, poesia e teatro de rua para comunidades pacificadas. Os ministrantes receberão recursos estaduais para realizar atividades em janeiro e fevereiro de 2011. página 10 página 12 Página 5 Recursos para oficinas culturais nas UPPs página 14 Instituto L’Oréal forma primeira turma de profissionais O primeiro centro de formação de profissionais de beleza L’Oréal Professionnel no mundo, situado na antiga Rua Larga, forma em dezembro sua primeira turma. O centro de treinamento oferece serviços estéticos pela metade do preço de mercado. comércio social Lielzo Azambuja página 13 A sofisticação de Da Vinci no paladar gastronomia cultura Eduardo Paes assinou contrato bilionário com as empreiteiras Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia. O consórcio será responsável tanto por obras, como a demolição do elevado da Perimetral e a construção do Binário do Porto, quanto por serviços de utilidade pública. Acervo Cdurp R$ 7,6 bi para o Porto nos próximos 15 anos página 11 folha da rua larga Carolina Monteiro

Jornal Folha da Rua Larga nº 24

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A Folha da Rua Larga, criada pelo Instituto Light em 2008, é editada pelo Instituto Cultural Cidade Viva. Nesta edição você saberá detalhes sobre a segunda fase do projeto Porto Maravilha, em que três empreiteiras gerenciarão R$ 7,6 bilhões na região ao longo de 15 anos, conhecerá a história do compositor, gari e escritor Haroldo César e conferirá detalhes exclusivos que farão parte da exposição que fará parte do Animando a Rua Larga., projeto que pretende devolver os holofotes para a região da antiga Rua Larga e arredores

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Page 1: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

folha da rua larga

O Animando a Rua Larga, projeto que traz eventos para a região ao longo dos próximos meses, contará, em mostra inédita, a história da Av. Marechal Floriano e seu entorno. O curador Ney Carvalho garimpou curiosidades sobre 18 pontos importantes para a história local, como a Central do Brasil, o Largo de Santa Rita e o Palácio Itamaraty.

Gari compositor protagoniza romance assinado por Haroldo César Convidados a refazer a prova no caso de se sentirem prejudicados, alunos do ensino médio do Colégio Pedro II – Centro, analisam o Enem como forma de ingresso às universidades.

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 24 ANO IIIRIO DE JANEIRO | NOVEMBRO – DEZEMBRO DE 2010

Exposição itinerante traz informações raras sobre a antiga Rua Larga

páginas 8 e 9

Uma experiência de 25 anos como funcionário da Comlurb vira livro. O autor também é líder do Movimento dos Compositores da Pedra do Sal.

O melhor método para avaliar o ensino médio

O projeto Verão nas UPPs trará diversas oficinas culturais em temas como música, poesia e teatro de rua para comunidades pacificadas. Os ministrantes receberão recursos estaduais para realizar atividades em janeiro e fevereiro de 2011.

página 10

página 12Página 5

Recursos para oficinas culturais nas UPPs

página 14

Instituto L’Oréal forma primeira turma de profissionais O primeiro centro de formação de profissionais de beleza L’Oréal Professionnel no mundo, situado na antiga Rua Larga, forma em dezembro sua primeira turma. O centro de treinamento oferece serviços estéticos pela metade do preço de mercado.

comércio

social

Lielzo Azambuja

página 13A sofisticação de Da Vinci no paladar

gastronomia

cultura

Eduardo Paes assinou contrato bilionário com as empreiteiras Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia. O consórcio será responsável tanto por obras, como a demolição do elevado da Perimetral e a construção do Binário do Porto, quanto por serviços de utilidade pública.

Acervo Cdurp

R$ 7,6 bi para o Porto nos próximos 15 anos

página 11

folha da rua larga

Carolina Monteiro

Page 2: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

novembro – dezembro de 2010

nossa rua

Se essa Rua fosse minha

Zuleide Maria da Silva Correia, vendedora

“Trabalho na região há 28 anos e sempre vejo o mesmo problema: o sistema de esgoto que não funciona direito. Estamos chegando às épocas de chuvas e as ruas já estão ficando alagadas e sujas. Qual a razão? Não tem por onde escoar.”

Bruno Alves, estudante

“Para atravessar a rua na Av. Marechal Flo-riano é um sufoco, pois alguns semáforos não fecham para as duas vias. Eu resolve-ria a sinalização e criaria uma ciclovia, já que não há espaço para os ciclistas, que pedalam no meio da via.”

“Mudaria as calçadas, que estão cheias de buracos. Sofri um pequeno acidente dias atrás e desloquei o pé. Não temos o privilé-gio de andar por calçadas decentes e isso precisa mudar. Limparia a Central do Bra-sil, o cheiro é terrível.”

Cláudia Fernanda, operadora de telemarketing

Fabiola Buzim

Fabiola Buzim

Fabiola Buzim

folha da rua larga

cartas dos leitores

2folha da rua larga

Redação do jornalRua São Bento, 9 - 1º andar - Centro

Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690

www.folhadarualarga.com.br [email protected]

A Folha da Rua Larga recebe opiniões sobre todos os temas. Reserva-se, no entanto, o direito de rejeitar acusações insultuosas ou desacompanhadas de docu-mentação. Devido às limitações de espaço, será feita uma seleção das cartas e, quando não forem concisas, serão publicados os trechos mais relevantes. As cartas devem ser enviadas para a Rua São Bento, 9 sala 101 CEP: 20090-010, pelo fax (21) 2233-3690 ou através do endereço eletrônico [email protected].

Conselho Editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa,

Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário

Margutti, Mozart Vitor Serra

Direção Executiva - Fernando Portella

Editora e Jornalista Responsável - Sacha Leite

Colaboradores - Ana Carolina Portella, Carolina

Monteiro, Fabiola Buzim, João Guerreiro, Lielzo

Azambuja, Marina Ayres Costa, Nilton Ramalho,

Rossana Libanio e Teresa Speridião

Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana Lins

Diagramação - Suzy Terra

Revisão Tipográfica - Raquel Terra

Produção Gráfica - Paulo Batista dos Santos

Impressão - Maví Artes Gráficas Ltda.

www.maviartesgraficas.com.br

Contato comercial - Teresa Speridião

Tiragem desta edição: 5.000 exemplares

Anúncios - [email protected]

Pardal perigoso

A prefeitura colocou um pardal entre as Ruas Venezuela e Edgard Gor-dilho. Nada demais, se não fossem os cones que se revezam nas obras, ora fechando a Venezue-la, ora a Edgard Gordi-lho. Durante a semana, é compreensível, já que muitos carros e pedestres transitam por ali, mas, nos finais de semana, ser multado em uma rua im-pedida (em um dos lados) e quase sem transeuntes é inadmissível.

Não é preciso ser um engenheiro de trânsito para saber que está erra-do. Além disso, torna-se perigoso parar naquele deserto, especialmente à noite, para não ser mul-tado.

Por que a prefeitura é eficaz para multar e não para iluminar ou para co-locar uma guarita a fim de dar proteção aos morado-res do local? Mas quan-do o poder se instalar no “Porto Maravilha”, a gen-te aposta que tudo será muito diferente.

Júlia Ebehart

Limpeza ao lado de Santa Rita

Vejo lixo espalhado pelo Centro do Rio, es-pecialmente no seguinte ponto: Rua Miguel Couto, entre a Avenida Marechal Floriano e a Presidente Vargas. Enquanto a pre-feitura não fizer nada, a festa fica por conta dos

mosquitos e baratas que constrangem os proprie-tários de restaurantes do Centro do Rio.

Anônimo

À subprefeitura do Centro

Trabalho no Centro e constato diariamente o abandono no qual se encontra o mesmo. As ruas de pedestres com paralelepípedos ou com blokets se encontram em péssimo estado de conservação com bura-cos e ondulações que podem causar diversos problemas aos pedes-tres.

Além disso, escoam pelas ruas rios de esgo-to e imundície de lixo. Quando chove, ficam poças de esgoto e lixo. Carros em cima das cal-çadas que dificultam o trânsito de pedestres, principalmente na re-gião da Candelária, Theóphilo Otoni, Ou-vidor, Buenos Aires e Quitanda, além dos ca-melôs insistentes.

Por favor, Sr. subpre-feito Thiago Barcellos, cuide melhor desta par-te da cidade, para que possamos ter satisfação e orgulho de aqui viver e trabalhar e consiga-mos divulgá-la verda-deiramente como cida-de maravilhosa para os estrangeiros que aqui queiram vir.

Fernando Freitas

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dezembro de 2009 folha da rua larga

nossa rua

Page 4: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

Cliques Rua Larga boca no trombone

gabriel provocador

[email protected]

O Beco das Sardinhas, coração da região da Rua Larga, em uma sexta-feira à noite. Fazemos votos de que essa energia de bate-papo e interação se repita por muitas vezes em 2011.

Carlos Negreiros e a Orquestra de Tambores trazem música popular brasileira da melhor qualidade, na abertura da campanha Natal Sem Fome dos Sonhos 2010, na Cinelândia.

4folha da rua larga

nossa rua

Sacha Leite

Sacha Leite

Entre a cruz e a AR-15

novembro – dezembro de 2010

No alto da Vila Cru-zeiro, uma cruz. De um lado, bandidos, do outro, fardados, e no pé, a co-munidade – madalenas se debulhando em lágri-mas. Pregada de espi-nhos: nossa culpa cabis-baixa e nossa omissão velada. O Cristo se rende redentor.

Fardas, fuzis, revól-veres sobem as vielas de paredes pichadas, fe-ridas de tijolos aparen-tes de tantas chagas. No alto, escondidos de si encapuzados, peitos nus de tênis Nike, tatuagens “Eu amo Fernandinho Beira Mar”, com armas apontadas para a falta de esperança. Nas casas, chaves trancadas, jane-las vedadas, familiares abraçados debaixo dos colchões – pânico.

Rádios e celulares ordenam o ataque. Nin-guém se entrega. Terços são contados, ladai-nhas, velas que choram cera, não há água nas bicas, joelhos no chão clamam por Nossa Se-nhora. Estrelas xerifes, antes não tão brilhan-tes, vão se tornando heróis a cada passo na subida do calvário. Na escadaria da Igreja da Penha, apenas um pom-bo em prontidão.

Sobem catracas, blin-dados, testas franzidas, caveiras da morte e da ressurreição. Botas na ponta dos pés, fardas verdes, azuis e cisnes brancos em noite de es-curidão se espreitam a cada esquina. Libélulas sobrevoam o descaso urbano, desumano das milícias do passado. Ba-las cruzam o céu, falsos cometas, entram nas paredes, ferem, matam – fogos que não come-moram. Um menino cata balas no chão para ven-der no ferro velho.

Meu estômago doido, dialoga com meu cora-ção. Faz bater seu tam-

bor para outros espíritos cariocas brasileiros “cul-pados sem culpa” desta situação. Quem são estes bandidos meninos e meni-nas, nascidos na falta de esperança, educados nas escolas do sonho impossí-vel, que aprenderam que, na conta de dividir, o resto só poderia ser o caminho do tráfico. No quadro-negro, escrito em giz: “as drogas somos todos nós”.

As botas continuam su-bindo ao som de sirenes, pisca-pisca os olhos da favela, acuando os donos do pó branco em êxtase. Narinas vermelhas, me-ninas de mini sem calci-nha nadam nas hidros dos marginais. Menores de 12, 13, 14 anos (menos) sem esperanças de vida, saudades de casa, de uma casa que nunca existiu ou não existe mais. Mo-tos largadas nos cantos, apreensão, guerra, brasi-leiro contra brasileiro na briga pelo território. É a luta de nós contra nós.

Começa a fuga dos que estão às margens vaginais. “Mãe! Pai! Por que me abandonastes!” Lá no alto, uma estrada, pernas cor-rendo, tiros evitados para não estragar o show das câmeras jornalísticas do espetáculo global. Fogem os sem destinos, ratos pe-los bueiros, até o comple-xo Morro do Alemão.

Salve os soldados va-lorosos, que há dias atrás eram apenas corruptos, agora heróis. Batalha ven-cida. No alto, junto à cruz que não se vê, erguem a bandeira do estado e do Brasil – vitória da vonta-de política, coragem nunca vista em tempos de outro-ra. Lá embaixo, no escuro das casas, os eletrodomés-ticos dormem no meio de prestações atrasadas. Quem ousa apontar uma solução?

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folha da rua larga

entrevista

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Carolina Monteiro

Uma faxina geral na imagem do gariHaroldo César une letras e música em romance cujo protagonista é um lixeiro compositor

novembro – dezembro de 2010

Haroldo César exibe sua primeira obra literária: Garimpando Composições

sacha [email protected]

Há 125 anos, o francês Aleixo Gary assinou o primeiro contrato de lim-peza urbana da cidade do Rio de Janeiro. A “turma do gari” era convocada, na época imperial, para retirar das ruas a sujeira, sobretudo aquelas deixa-das pelos cavalos. O termo persiste até hoje, porém, de lá para cá, a história social dos recolhedores de lixo apresentou mudanças significativas.

O líder do Movimento dos Compositores Samba na Fonte, Haroldo César, aborda a trajetória da pro-fissão no livro Garimpan-do Composições. Morador do Engenho da Rainha, o autor é também funcio-nário da Comlurb há 25 anos. Ele fala à reporta-gem da Folha da Rua Larga sobre a evolução da imagem do gari e revela como associar música, um cargo de utilidade pública e o ofício de escritor.

Do que se trata o seu livro?

O livro é uma ficção, um romance, em que o perso-nagem principal é um gari compositor. Não é auto-biográfico, são crônicas que mostram o dia a dia de todos os garis. O prota-gonista se chama Colosso, como alusão à maioria dos funcionários, que é tratada com apelido e número de matrícula. Eu, por exem-plo, era o “08”. Eu abordo fatos curiosos que cercea-ram a história dos garis ao longo do tempo.

Como surgiu a ideia da obra?

Quando a empresa com-prou computadores, come-cei a teclar a história do livro. Daí já veio começo, meio e fim na minha cabe-ça. Mas não é algo fácil, você tem que prender a pessoa na leitura, é preci-so que seja algo agradável de ler.

Qual é o público-alvo?

O gari. Como a maioria não tem o hábito de ler, op-tei por colocar letras gran-des, em caixa alta, para ler “rapidinho”.

O livro também inclui letras de música e parti-turas. O que veio primei-ro, as composições ou as crônicas?

As composições não fo-ram feitas para o livro. A música veio primeiro, de-pois a história. Criei a tra-ma inspirado nas músicas.

Houve apoio de alguma instituição para a publi-cação?

O Senac Escola fez a impressão, mas utilizei re-cursos próprios. O Sindica-to dos Garis encomendou uma tiragem de 200 livros. Estou buscando apoios e parcerias. Gostaria que al-guém divulgasse o livro na Comlurb, mesmo que in-ternamente.

Ao longo de 1/4 de sé-culo como funcionário da Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janei-ro, quais foram as mu-danças percebidas?

Era uma profissão re-negada. Ninguém queria ganhar um salário mínimo e carregar lixo. Daí entra-va qualquer um: a maioria dos funcionários não sa-bia ler. Logo que cheguei, recebíamos em dinheiro. Eu fui um dos primeiros funcionários a abrir con-ta bancária. Na década de 1970, muita gente não diz, mas, aqui na Central do Brasil, existiam espécies de olheiros que recruta-vam os passantes para tra-balharem como gari.

Para você ver a distância de como era e como ficou. Hoje, a concorrência é super acirrada. São 300 e poucos mil inscritos para as provas. Antigamente, as crianças cantavam: “A galinha comeu... Pipoca. O lixeiro lambeu...” Cha-mávamos os varredores

de cenourinha. As mães falavam: “Estuda filho, senão vai virar gari”. Hoje é quase ao contrário: “Vai estudar para ser gari, meu filho”. De 1985 para cá, o perfil do gari mudou mui-to. As pessoas passaram a ser mais conscientes. Não vejo crianças encarnando nos garis.

Você acompanhou al-guma transição estru-tural que garantisse a mudança de costumes da população com relação à limpeza urbana?

A Lei de Limpeza Ur-bana é de 2001. Essa Lei estabeleceu mudanças de comportamento como “se o cachorro faz cocô na rua, o dono tem que limpar”. Existiam trechos em que os burros faziam a coleta. Antigamente, o gari era tratado como lixo. Hoje em dia, o gari é valoriza-do. Existem serviços que dignificam o profissional, como o Telegari. Entrei lá no limiar.

Antigamente, o gari era aquele que ia ao botequim beber, alguém que não ti-nha voz e não era respeita-do. Hoje, há uma preocu-pação na direção de tratar bem o profissional, uma preocupação com o bem--estar no trabalho. O que poderia melhorar agora é essa preocupação fora do trabalho.

A partir da Lei de Limpeza Urbana pas-sou a ser possível multar transeuntes que despe-jam lixo nas vias. Você já multou alguém?

Já multei várias pessoas, digo, notifiquei. E cole-gas meus também já mul-taram. O problema é que quando aquilo volta para você é como se você fos-se um réu. É muito difícil aplicar a lei.

Quais são as atribui-ções do gari hoje?

Hoje, a Comlurb lim-pa as ruas, hospitais, praias e poda as árvores. A Comlurb entrava nas comunidades, sempre en-trou. No entanto em cer-ta época ficou perigoso e então foi criada a figura do gari comunitário. Ás vezes a polícia entrava na comunidade disfarça-da com roupa de gari para fiscalizar... Isso gerou des-confiança na classe, deu muito problema. Nas co-munidades pacificadas já pode entrar qualquer gari.

Em sua opinião, qual é o problema mais grave com o qual se depara o gari?

Lidar com a população de rua é um desafio para todos, sobretudo para os governantes. Você tem que trabalhar com a von-tade das pessoas. Elas têm o direito de ir e vir. É di-fícil conseguir moradia. Quando o cidadão vai

para a rua, encontra o ví-cio. Éramos 90 em 1970. Hoje estamos chegando a 200 milhões. E a oferta de trabalho não aumentou tanto. Deveria haver uma preocupação do governo, com campanhas de cons-cientização da população a respeito disso, ou criar novas cidades como foi feito em Brasília.

Qual é o seu envolvi-mento com o Movimento dos Compositores?

No Engenho da Rainha, montamos a Resistência, em 1994, para não dei-xar o samba morrer. Era um grupo grande: eu, Mário, Ivan, Aurélio, Ed-son Côrtes, Wantuí, entre outros. Cada um foi para o seu lado e fiquei sozi-nho. Logo me chamaram para o samba das quartas--feiras na Pedra do Sal. O líder era o Ferreira, mas ele desistiu, agora estou de líder.

Qual foi a maior difi-culdade no que se refere ao lançamento do livro Garimpando Composi-ções?

Só quis lançar o Garim-pando com o meu segun-do livro já pronto para ser lançado. Não quero ser escritor de um livro só. As dificuldades existem para ser superadas. O que que-ro por enquanto é prestar uma singela homenagem ao gari da cidade do Rio de Janeiro com esse ro-mance em que o persona-gem principal é um gari que também compõe sam-bas. Trata-se de uma das poucas expressões artísti-cas onde o gari é protago-nista.

Page 6: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

joão [email protected]

6folha da rua larga

Criança é para brincar e lerMaravilhosa e sem maquiagem

sacha [email protected]

opinião

Nilton Ramalho

novembro – dezembro de 2010

Ao começar a escrever este artigo, estava vendo na televisão os momen-tos tensos que antece-diam ao possível derra-mamento de sangue que se anunciava na ocupa-ção militar do Comple-xo do Alemão. Ao final do dia, mudei tudo que escrevi. Uma imagem não saía da minha cabe-ça: um menino de 9 ou 10 anos com uma garra-fa Pet cheia de cápsulas de fuzil já deflagradas, que, segundo ele, seriam vendidas num ferro ve-lho por nove ou dez re-ais. No mesmo dia, em outro complexo, o do Jacaré, um menino de 8 anos se negou a atear fogo em veículos e foi alvejado nas pernas pe-los mandantes.

Nós, da Ação da Cida-dania, estamos na nossa 18ª Campanha do Natal Sem Fome dos Sonhos. Qual é o sonho des-sas e de muitas outras crianças para este Na-tal e para as suas vidas? Pode ser muito dife-

rente do que pensamos. Mas nós achamos que é uma oportunidade de as crianças voltarem a se alegrar como crianças e sonharem.

Alguém pode dizer: pieguice ou assistencia-lismo puro! Porém não somos ingênuos, assim como Betinho não o era quando denunciou a existência de 32 mi-lhões de famintos neste país. Sabemos que tem que haver ações emer-genciais e, neste caso, iniciar o processo de retornar os sonhos para quem convive na exclu-são deste país desigual. Por isso, a doação de brinquedos nesta Cam-panha ajudará a milha-res de crianças a terem com o que sonhar pelo menos na noite de Natal.

Mas sabemos também que as mudanças estru-turais, tão fundamen-tais para construirmos um país justo, passam, principalmente, por uma grande revolução na educação e nas esco-

las que, hoje, não estão preparadas para receber os 56 milhões de alunos matriculados em todo o Brasil e dar-lhes educa-ção de qualidade.

Por isso, nosso lema nesta Campanha de Na-tal é “Criança é para brincar e ler”. Nós, como sociedade, temos uma dívida com estas crianças que moram em áreas de exclusão e com as que são “obrigadas” a fazer atividades que não são de crianças (e nem de quase crianças, como vimos pela televisão).

Assim como no Mor-ro da Providência, no Alemão, na Vila Cruzei-ro, atuamos também em diversos outros bairros que mantêm o estig-ma de “comunidades” ou “bairros populares”. Buscamos conscientizar todos a conquistarem seus direitos de cidada-nia, assim como os têm os moradores da chama-da área formal das cida-des.

O Estado como ga-

rantidor da segurança pública se fez presente. Mas falta todo o res-to. Exemplo: 56% das moradias no país não têm saneamento bási-co! O Estado provedor do bem-estar está longe de ser uma realidade. Contudo, uma janela de oportunidade está aber-ta. Cabe a nós escanca-rá-la e transformá-la em um “trem bala”. Não te-mos tempo a perder.

Nossas ações para darmos um Natal de So-nhos para essas crianças estão nas ruas. É fácil você participar, aces-sando nosso sítio (www.acaodacidania.com.br). Porém nossos sonhos passam por um Brasil com educação de quali-dade para podermos fa-zer a transformação so-cial que todos nós alme-jamos. Feliz Natal e um verdadeiro Ano Novo.

Descobri agora, após ver vídeo de apresentação do Porto Maravilha, que a primeira fase de execução do projeto inclui a revita-lização do Morro da Con-ceição. Fiquei um pouco confusa. Então significa que as obras no Palácio Episcopal e algumas outras já iniciadas fazem parte de um processo já deflagrado e que logo irá se concluir. Significa dizer que, se há algo a ser impedido ou re-comendado, que seja feito agora, pois dentro em breve o foco de ação irá mudar.

Em um vídeo curto, com bossa nova ao fundo, a prefeitura informa que o projeto Porto Maravilha se propõe a reintegrar o Por-to à cidade. E afirma que esse processo só será pos-sível através da integração com os governos estadual e federal. No vídeo, é dito que a fase inicial do plano diretor, com orçamento de R$ 350 milhões, contempla Píer e Praça Mauá, Mor-ro da Conceição e Saúde. Afirma também, com con-tentamento, que a região irá receber os museus do Ama-nhã e de Arte do Rio.

No vídeo, é demonstra-do, com recursos de com-putação gráfica, como irá aparentar o Centro do Rio e Zona Portuária após as intervenções urbanas pre-vistas. Arborização, demo-lição de estruturas antigas e construção de novas, im-plantação de veículos leves sobre trilhos, ciclovias e a construção de dois grandes novos museus.

São tantas ações previs-tas que seria enfadonho citar uma a uma. Além de cansativo, o número ex-tenso de intervenções tal-vez soe como pretensão ou fantasia aos leitores e moradores da região. Essa questão semântica se expõe no título do projeto, Por-to Maravilha, que remete a um lugar que extrapola

características positivas, quando os frequentadores vivenciam, hoje, uma reali-dade de sérias dificuldades estruturais.

A assinatura da parceria público-privada com as empreiteiras Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia trazem divisas, porém, com elas, uma questão: a quem a população deve recorrer para reivindicar seus direi-tos de cidadão?

Segundo Eduardo Paes, a prefeitura tem uma ope-ração montada, já em an-damento e com muitos resultados. Tendo em vista que o processo no Morro da Conceição já teria começa-do, gostaria de novamente lembrar aos moradores que, se há algum pedido, reco-mendação ou reclamação com relação a encaminha-mento ou conduta, que seja feito agora. Os moradores têm o direito de saber quais seriam esses muitos resulta-dos citados pela prefeitura e, se for o caso, questioná-los.

O mesmo dito à popula-ção do Morro da Conceição é válido para todos os ha-bitantes do Centro do Rio e Zona Portuária. Muitos intelectuais questionam a revitalização no seguinte aspecto: a área é requali-ficada, com as melhorias vem o aumento dos impos-tos e, com isso, a debanda-da de moradores.

Acredito que o Rio de Ja-neiro tem condições de fa-zer diferente com a criativi-dade que lhe é peculiar. Mas para isso, é preciso interati-vidade. Crie comunidades físicas ou virtuais, contas no Twitter, jornais comu-nitários e outras ferramen-tas para dizer a todos desta cidade de que maneira ela pode ficar, sem maquiagem, ainda mais maravilhosa.

João Guerreiro, coordenador de ações culturais da Ação da Cidadania, recebe menção honrosa na Alerj

Page 7: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

folha da rua larga

7novembro – dezembro de 2010

empresa

Eletrobras Eletronuclear inaugura bosque de reflorestamento ambiental

marina ayres [email protected]

Divulgação

Divulgação

Área de lazer e educação ambiental objetiva plantação de uma árvore para cada associado

A empresa Eletrobras Eletronuclear inaugurou no mês de novembro, em Angra dos Reis, o Bosque da Cecremef Eletrobras Eletronuclear, localiza-do na Vila Residencial de Mambucaba.

A idealização do projeto começou em 2008, quando o objetivo era plantar uma árvore para cada associado da Cooperativa de Econo-mia e Crédito Mútuo dos Empregados de Furnas e demais empresas do Siste-ma Eletrobras (Cecremef). Os representantes regio-nais ficaram responsáveis pela procura de áreas des-matadas nas instalações da Eletrobras Furnas, da Eletrobras Eletronuclear ou em reservas ambien-tais protegidas por Lei ou Decreto. O local também deveria oferecer ao asso-ciado a possibilidade de usufruir do bosque como área de lazer e educação ambiental.

Sessenta espécies de árvores já foram planta-das desde que o diretor de Operação e Comercializa-ção da Eletrobras Eletro-nuclear, Pedro José Diniz de Figueiredo, assinou o convênio que viabilizava a concretização do projeto há um ano.

A cerimônia de inaugu-ração do bosque contou com alunos do Colégio Estadual Almirante Álvaro

Alberto e da Escolinha de Futebol Amigos do Meio Ambiente, somando 120 crianças que plantaram cerca de 300 mudas de diversas espécies da Mata

Atlântica, como pau-brasil (caesalpinia echinata) e quaresmeiras (tibouchina granulosa).

Também esteve presen-te a presidente da Cecre-

mef, Maria da Conceição Lourenço Gomes, junto a outros membros da dire-toria da cooperativa. João Carlos da Cunha Bastos, superintendente de Coor-

denação da Operação da Eletrobras Eletronuclear, representou a presidência da Eletrobras Eletronucle-ar e, em nome desta, de-clarou estar satisfeito com

João Carlos da Cunha Bastos e Maria da Conceição inauguram oficialmente o Bosque Cecremef

120 crianças plantaram 300 mudas de espécies da Mata Atlântica

o esforço das novas gera-ções em devolver à natu-reza o que esta havia per-dido, após ter presenciado as obras de aterramento da Vila de Mambucada nos anos 70.

Com 16 mil m², o bos-que reserva 11.300 m² para a recuperação ambiental. Os outros 4.700 m² são destinados a áreas de lazer para os associados e famí-lias da região. O projeto, desenvolvido pela Área de Responsabilidade Social da Eletrobras Eletronucle-ar, faz parte da política da empresa e atende a uma das condicionantes estabe-lecidas pelo Ibama para a licença prévia da obra de construção de Angra 3.

Page 8: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

cultura

A história da Rua Larga espalhada pelas alamedas da regiãoNey Carvalho assina a curadoria da exposição itinerante que traz textos e imagens raras

8folha da rua larga

Carolina Monteiro

novembro – dezembro de 2010

O Animando a Rua Larga, projeto que pro-põe circuitos de eventos culturais para a região, receberá uma exposição exclusiva sobre a histó-ria da antiga Rua Larga e arredores. São, ao todo, 18 pequenos textos que contarão a história dos monumentos e pontos im-portantes para a região, como o Morro da Concei-ção, o Palácio Duque de Caxias, a estação da Cen-tral do Brasil e o Palácio Itamaraty, acompanhados de imagens ilustrativas de fotógrafos do Rio Antigo como Augusto Malta.

O escritor Ney Carva-lho assina a curadoria da mostra, que é realizada pelo Instituto Cultural Ci-dade Viva e conta com o patrocínio da Light e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janei-ro. Abrigando uma biblio-teca com cinco mil títulos sobre ciências humanas e 800 títulos sobre o Rio de Janeiro, Ney Carvalho se alegra com o desafio de contar a história de um território que, em sua opi-nião, é muito rico cultural e historicamente.

As descrições e curio-sidades sobre os lugares mais importantes para a cultura local serão dis-postas em totens triangu-lares de dois metros de al-tura no saguão do Centro Cultural Light, e depois, espalhados por diversos pontos da região, confi-

gurando uma exposição itinerante, com roteiro ainda a ser definido pelos organizadores.

Para Ney Carvalho, o ponto mais interessante é o porquê de Rua Lar-ga: “Ela era dividida em duas, pela Igreja de São Joaquim, anexa ao que hoje é o Colégio Pedro II e que foi um seminário católico. Desta igreja, de-molida em 1904, existem poucas imagens. Com muito custo, conseguimos uma imagem da metade do século XIX”.

Outro caso interessan-te trazido pelo curador

diz respeito à Central do Brasil. A Rua Larga abrigava, até a segunda metade do século XIX, as igrejas de Sant’Ana e de São Joaquim (que, se-gundo literatura católica, foram casados, gerando Maria, mãe de Jesus). O Campo de Sant’Ana é, portanto, uma referência à Igreja de Sant’Ana que foi demolida em 1860 para a construção da Central do Brasil. A Igre-ja de São Joaquim seria posta abaixo 44 anos de-pois, pelo então prefeito Pereira Passos.

Ney Carvalho opina

Curiosidades trazidas pela mostra

• O fundador do Palácio do Itamaraty, Francisco José da Rocha, conhecido como conde de Itamaraty, também era o dono do terreno do Maracanã.

• O prédio do Colégio Pedro II, após sediar o Seminário de São Joaquim, fun-cionou como quartel, em 1817, por decisão de d. João VI.

• Em 1770, houve uma superlotação no Cemitério dos Pretos Novos, no Largo de Santa Rita, ocasionando a proibição de novos enterros no local.

• A cadeia pública funcionava na Rua Acre e a forca, na Praça Mauá, que, na épo-ca, era conhecida como Prainha. Os condenados saíam da cadeia na Rua Acre, fa-ziam as últimas orações na Santa Rita e caminhavam para a forca na Praça Mauá.

• A Rua Larga foi berço de uma série de instituições portuguesas, como o Vasco da Gama, a Beneficência Portuguesa, e o Real Gabinete Português de Leitura, que depois foram transferidas para outros espaços.

sobre a revitalização no Centro do Rio: “É funda-mental para quem mora hoje na região. Temos que tomar muito cuidado para não confundir revitaliza-ção com modernização ar-quitetônica. O importante é revitalizar conservando o que existe de histórico e cultural”.

O escritor se recorda da transformação de cada lugar no Centro do Rio: “Onde estamos (a redação da Folha da Rua Lar-ga) era um restaurante espetacular dinamarquês, nórdico, e que servia sanduíches abertos, típi-cos da Escandinávia, por exemplo. Era um sobrado antigo, simples e tradicio-nal que vendia sanduíches incríveis. Eu me lembro das coisas, não me esque-

Ney Carvalho coleciona 800 títulos sobre o Rio Antigo em sua biblioteca particular

Page 9: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

O samba carioca tem históriaO samba no Rio de Janeiro tem como marco principal a Pedra do Sal. Local onde os escravos vindos da África eram negociados, logo se tornou ponto de encontro para cultuação de ritos religiosos, batuque e rodas de capoeira. Localizada na Saúde – um dos bairros considerados mais importantes na formação cultural da cidade, a Pedra do Sal logo passou a fazer sucesso entre os sambistas da época. Nomes como Pixinguinha, João da Baiana, Cartola, Donga e tantos outros, foram presença marcante naquele local de grande valor histórico para a população carioca.Tombada em 1984, hoje a Pedra do Sal é marcada na agenda carioca como ponto de encontro de sambistas para as comemorações do Dia Nacional do Samba, em dois de dezembro. Neste dia, grupos de sambistas lá se reúnem para prestar homenagens culturais e dar salvas a Xangô, que segundo as tradições umbandistas é o Senhor das Pedreiras.Assim, a Pedra do Sal é forma e cultura, devendo ser considerada, literalmente, a existência concreta da memória do samba de nossa cidade.

Celi de Abreu Lopes

Obrigada a todos que participaram enviando textos para [email protected].

Continue em contato conosco enviando comentários sobre a região, observações ou sugestão de pauta.

9

Concurso Cultural

folha da rua larga

LIGUE. ACESSE.ANUNCIE.

www.folhadarualarga.com.br

folha da rua larga

(21) 2233 3690

folha da rua larga

cultura

ço de nada. Às vezes até finjo que não me lembro”, brinca o bibliófilo.

O organizador da ex-posição explica que os textos que estão sendo produzidos por ele são curtos e objetivos, feitos para os passantes mais apressados: “Você tem que escrever de modo singelo, para que as pes-soas entendam. Tem uma Avenida Marechal Floriano em 1924, por Augusto Malta

bre a história econômica do país. O encilhamento, A guerra das privatiza-ções e Praça XV e arre-dores: uma história em cinco séculos são alguns dos títulos que levam a sua assinatura.

sacha [email protected]

Um dos últimos bondes puxados a burro a transitar pela Rua Larga, em setembro de 1906

Acervo LightAcervo Light

frase do Churchill que eu adoro: ‘Das palavras, as mais simples. Das mais simples, a menor’. Tenho horror ao academicismo, ao pedantismo acadêmi-co”.

Bacharel em Direito pela PUC, durante 30 anos Ney Carvalho foi corretor da bolsa de valo-res. Depois disso, come-çou a escrever livros so-

novembro – dezembro de 2010

Reproduzimos abaixo o texto vencedor do 1º Concurso Cultural Folha da Rua Larga

Page 10: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

social

10folha da rua larganovembro – dezembro de 2010

Verão nas UPPs leva projetos culturais às comunidades pacificadas

A comunidade como potência cultural

sacha leite e fabiola [email protected]

[email protected]

Divulgação

Apresentação do grupo Tá na rua, uma das instituições que ministrará oficinas na Providência

Hernani Lopes ministra aulas de caratê, na Providência, há um ano

Tanto para os turistas quanto para os próprios ca-riocas, o verão do Rio cos-tuma ter um roteiro básico que passa pelas praias do Leblon, Ipanema e Copaca-bana, finalizando o dia em algum ponto da Zona Sul. O projeto Verão nas UPPs pre-tende mudar esse quadro: por que não ouvir um bom samba de raiz ou assistir a uma peça de teatro no Santa Marta, Chapéu Mangueira ou Morro da Providência, testemunhando o pôr do sol em uma comunidade pacifi-cada?

Foi com esse argumen-to que Marcus Vinícius Faustini, assessor especial de Cultura e Território da Secretaria de Estado de As-sistência Social e Direitos Humanos, idealizou o Ve-rão nas UPPs. O projeto se propõe a promover três dias de eventos artísticos em cinco comunidades atendi-das pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

O plano é abranger 17 tipos de linguagens, entre elas, teatro, circo, dança, ecoturismo, gastronomia, música, cinema e fotogra-fia. Além da Providência, o projeto será realizado tam-bém nas co-munidades do Batan, Borel, Chapéu Man-gueira/Babilô-nia e Cidade de Deus, com o objetivo de p r o m o v e r , dentro das co-m u n i d a d e s , oficinas que resgatem e va-lorizem a memória local. A verba a ser repassada aos projetos para a execução de todas as atividades, em ja-neiro e fevereiro de 2011, é de R$ 500 mil.

35 projetos foram con-templados, dos 56 inscri-

tos. Ao longo do período de inscrição, o escritório de Apoio à Produção Cul-tural da Secretaria de Cul-tura ofereceu consultoria aos candidatos e, segundo a produção do Verão das UPPs, grande parte deles são agentes culturais das próprias comunidades.

Divulgação

“A cidade pertence à favela

assim como a favela

pertence à cidade” Marcus Faustini

Para o idealizador do Ve-rão nas UPPs, Marcus Viní-cius Faustini, a favela é um importante polo de produção cultural: “Nós temos que romper com este conceito preconceituoso. Nas favelas existem focos de produção cultural de qualidade muito boa. Por que não instituir a ‘Birosca’ como um patri-mônio? É uma instituição carioca, assim como o sam-ba, o funk. Olha só que coisa bacana seria se, depois da praia, o turista pudesse ver o pôr do sol em uma visão panorâmica da Providência? Ou então assistir a um show de MCs no Borel?”, questio-na Faustini.

Atrair a visitação para as comunidades, tornando-as uma opção de espaço de lazer para todos, é o mote do Verão nas UPPs: “Espe-

ro que essas ações forta-leçam a auto-estima desses locais, para desvinculá-los da imagem de violência a que normal-mente são as-sociados. A ci-dade pertence à favela assim como a fave-la pertence à cidade. Che-gou a hora da

comunidade se representar. Os cariocas podem ter um verão na comunidade tam-bém, não apenas na praia. O verão acontece em toda a cidade, não há margem”, justificou.

De acordo com Marcus

Faustini, já existiam alguns projetos sendo desenvol-vidos, como é o caso da “Staumbor Oficina de Músi-ca”. Mas, para alguns agen-tes, faltava apenas o conhe-cimento de formatação de um projeto para um edital. “Queríamos apoiar, quali-ficar e tratar com seriedade essas propostas. Essas fa-velas precisam de políticas específicas, editais específi-cos. Não estou me referin-do a algo pontual somente, como um evento cultural. É uma discussão maior. Se esse projeto piloto der certo, a gente já prepara a edição de outono”, afirmou.

Sobre o Morro da Provi-dência, o coordenador do Verão nas UPPs afirmou que a comunidade tem uma grande importância históri-ca e estratégica. E finalizou dizendo que, se o projeto for abraçado por todos, fun-cionará como um divisor de águas.

Oficina Ministrante

Cultura, uma providência para todos! Instituto Tá na Rua para as Artes

Rimatividade Poética Instituto de Ação Social de Esporte e Educação

Oficina de Música / Músicos pela Paz Instituto Staumbor

Varal de Lembranças Janelas do Futuro Instituto Tocando Você

Ciranda de Roda Studio de Arte Espaço Aberto

Articulação Providência Dignitá Obras Sociais e Educacionais

Oficinas a serem desenvolvidas na Providência em janeiro e fevereiro de 2011

Page 11: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

A capacitação é tanto para os experientes quanto para quem não tem conhecimento na área

11novembro – dezembro de 2010

L’Oréal Professionel abre na região o primeiro centro de formação do mundo

A marca de cosméticos que faz escola

fabiola [email protected]

Divulgação

Produtos conhecidos pela qualidade, serviços a preços reduzidos em um ambiente clean e novo. Esse é o Ins-tituto L’Oréal Professionnel na Avenida Marechal Floria-no, que forma a sua primeira turma de cabeleireiros em dezembro. São os primeiros 20 profissionais capacita-dos pelo primeiro (e único) Centro de Formação de Ca-beleireiros e Manicures da L’Oréal, no mundo. Há seis meses, ele funciona em um casarão na antiga Rua Lar-ga e se tornou febre entre as frequentadoras da região. Os alunos cursam o Salão Está-gio atendendo aos clientes com a supervisão de instru-tores.

São oferecidos todos os tipos de serviços: corte, coloração, relaxamentos e diversos tratamentos para os cabelos. E os preços são bem populares. Uma escova é feita a partir de R$ 10 e o pacote manicure e pedicure sai a R$ 15. O Salão Estágio funciona de segunda à sexta, das 9h às 19h, e os atendi-mentos são feitos por ordem de chegada. O horário de al-moço é o mais concorrido. A maior parte do público vem das grandes empresas, como Light, Oi, Embratel, e ór-gãos públicos, como Detran e PMERJ.

A ideia de criar um curso de formação para cabeleirei-ros surgiu nos salões de ex-posição de produtos da mar-ca L’Oréal. Alguns clientes começaram a questionar e a sugerir que a empresa in-

vestisse em um espaço para capacitação. De acordo com Sheila Duarte, gerente de formação, o mercado brasi-leiro é muito carente de pro-fissionais com boa formação e o Instituto vem para suprir essa demanda nos salões de beleza. “Essa profissão é be-líssima, mas os profissionais enfrentam muitos precon-ceitos, e um deles é a falta de capacitação”, pontua.

Toda uma estrutura foi montada: o espaço abriga dois andares, três salas, área com bancada, lavatórios e posto de tratamento, tudo com qualidade internacio-nal. Já o curso tem dura-ção de seis meses e para se inscrever, os interessados devem acessar o site www.institutolp.com.br e preen-cher o formulário disponível na página. É preciso atender aos pré-requisitos: ter mais de 16 anos, ter concluído ou estar cursando o ensino médio e demonstrar aptidão para a profissão.

Passando por esse estágio, os interessados são entrevis-tados e recebem orientações sobre o formato do curso e as normas da instituição. O candidato fará ainda uma redação explicando porque escolheu ser cabeleireiro. Todo esse procedimento visa mostrar ao candidato que talento não é o suficien-te e que eles precisam co-nhecer todos os aspectos da profissão.

“Para o aluno, o atendi-mento ao cliente é um dos momentos mais importantes

do curso, pois é quando ele pratica tudo o que aprendeu em sala, vivenciando situa-ções reais. Quanto mais ele atender, mais ele estará pre-parado. É um aprendizado total”, explica Nadi Capette, instrutora técnica do Institu-to L’ Oréal. Para ela, o Salão é um ambiente favorável que ajuda a desenvolver a segu-rança nos futuros profissio-nais, pois muitos chegam ao curso sem experiência nenhuma e, após baterias de treinamento intenso, saem bem preparados.

O curso é dividido em oito módulos. Na primeira etapa, os alunos recebem aulas teórico-práticas, em que o aprendizado se faz através de apostilas e apresenta-ções. Eles aplicam esses conhecimentos em bonecos ou modelos voluntários, a maioria da própria família dos alunos. É um período de constantes avaliações e de conteúdos trabalhados de

forma progressiva, quando são discutidos vários temas, como o mercado de traba-lho, higiene, ética, vigilân-cia sanitária, administração, especialidades e excelência no atendimento.

Após esse período, o alu-no deverá cumprir um es-tágio no Salão, cuja carga horária será correspondente a 50% da carga total, que é de 288 horas. A capacitação técnica do profissional só se concluirá após esta etapa, que é obrigatória. Sheila Duarte garante que o ensino oferecido é de alta qualida-de. “Eles precisam ter 75% de aproveitamento, a média não pode ser inferior a 7. Nós cobramos a pontuali-dade, o uso de uniformes e boa aparência. Se o aluno reprovar terá que repetir o curso inteiro. É preciso amar a profissão e trabalhar para ser bem sucedido”, explica Sheila.

Em turmas de até 25 alu-

nos, a capacitação é volta-da tanto para quem já tem alguma experiência na área quanto para aqueles que nunca pegaram numa tesou-ra ou num alicate de unhas. “Temos perfis diferencia-dos. Alguns nos procuram porque querem se profissio-nalizar, outros para muda-rem de profissão, e há aque-les que querem conhecer para saber administrar o seu próprio negócio. Posso dizer que a maioria dos interessa-dos ainda são as mulheres”, explica Sheila.

Esse foi o caso de Mi-chel Lemos Rodrigues, de 29 anos, cabeleireiro. Ele já trabalhou como office--boy, auxiliar de escritório, segurança, pedreiro e entre-gador. Nunca havia pensado em ser cabeleireiro, quando sua irmã o convidou para ser sócio de um salão de beleza. Ele aceitou e se ar-riscou a mudar de profissão. A possibilidade de ter o seu

próprio negócio foi o que o motivou. Filho de mili-tar, Michel é casado e tem duas filhas. No início, sua esposa estranhou a decisão, mas agora aprova as habili-dades do marido. “Ela tem um cabeleireiro exclusivo, é a minha modelo preferida”, brinca Michel.

Sem se importar com o questionamento de sua masculinidade, explica que “é um trabalho como outro qualquer. O importante é você se sentir bem. Eu não posso reclamar de nada. Antes eu nem sabia pegar em um pente direito, agora eu pretendo me especializar em corte. O mais importan-te é que estou investindo no meu negócio”, avalia Mi-chel Lemos.

Segundo a administração do Instituto, a procura pelo curso tem aumentado pro-gressivamente e novas tur-mas foram abertas. Um siste-ma de franquias já vem sendo estudado e, até o início de 2011, o projeto chegará a São Paulo. A proposta é estender o modelo para todo o Brasil. De acordo com Sheila Duar-te, esse movimento é com-preensível: “As pessoas estão interessadas em fazer algo prazeroso e essa profissão é bem flexível. Existem mui-tos casos de aposentados que estão fazendo o curso para realizar um sonho, e só agora tiveram a oportunidade”.

11folha da rua larga

comércio

Page 12: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

cidade

Enem na berlindaProfessores e alunos do Colégio Pedro II avaliam o exame candidato a substituir o vestibular

12folha da rua larga

Fabíola Buzim

novembro – dezembro de 2010

fabiola [email protected]

De acordo com a pesquisa Vox Populi divulgada em de-zembro pelo portal IG – Últi-mo Segundo, 67% dos brasi-leiros afirmam que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deve ser mantido. Apesar da polêmica causada por erros na impressão das provas, vazamentos dos ga-baritos em edições passadas e da consequente queda na cre-dibilidade do exame, apenas 13% da população discorda desse método como forma de ingresso nas universidades. A Folha da Rua Larga ouviu alunos do Colégio Pedro II, unidade Centro, além do dire-tor da unidade, professor Flá-vio Norte a respeito do tema em questão.

Para os que participaram da avaliação, alunos do 2º e 3º ano do ensino médio, as opiniões foram diversas, mas a desorganização na aplicação das provas foi o que desagra-dou à maioria dos estudantes entrevistados, como Anna Carolina de Sousa Soares, 17 anos. A adolescente está cursando o 3º ano e aguarda a nota do Enem para ingressar na faculdade de Direto. Ela reclamou do despreparo dos fiscais durante a aplicação dos

que ficaram insatisfeitos com o exame deveriam ter o direi-to de refazê-lo”.

O diretor do Colégio Pedro II, Flávio Norte, entende a indignação de alguns alunos, mas acredita que a discussão não deveria permanecer sobre os erros operacionais do exa-me e defende a legitimidade do método. Ele explicou que a falha se deve a uma questão de execução e não de plane-jamento. “Acredito que o sistema não pode ser respon-sabilizado, pois o processo foi correto e o erro não pode comprometer a importância de um projeto como esse. Existe um grupo que torce para que esse sistema dê er-rado. Mas essas pessoas não têm interesses educacionais, e sim de mercado”.

O diretor explicou, ainda, que o sistema educacional pre-cisa de várias reformulações, por exemplo, ter uma avalia-ção desde as séries iniciais e a extinção do vestibular. Ele criticou alguns colégios que preparam os alunos focando apenas nas provas deste últi-mo. “Isso resulta em um ensi-no de decoreba. A impressão que se tem é de que o objetivo do ensino médio está em pre-

parar o aluno para o vestibular. Aqui no colégio, esse tipo de classe especial que prepara os alunos para o vestibular e para o Enem não funciona. Esse tipo de procedimento gera uma separação entre os alunos e não queremos que isso ocorra aqui. A competição não deve ser supervalorizada. Temos que pensar em formar cidadãos que sejam capazes de enfrentar as dificuldades, que sejam humanos, que tenham facilidade para se socializar “.

Para ele, o Enem é um co-meço desse caminho, por isso é passível de erros e tantas críticas: “A instituição Enem é séria, correta. Graças a esse sistema, temos alunos que já saem do colégio e vão fre-quentar universidades e facul-dades renomadas. É lógico que houve uma falha, mas não faz sentindo anular o Enem. Seria um despropósito”, afir-mou. A maior preocupação do dirigente é sobre o resultado final da avaliação e se ela pode prejudicar a matricula de al-guns alunos em instituições de ensino superior.

testes e do pouco tempo para a realização da prova. Sentiu--se em uma maratona. “São muitas questões e pouco tem-po. Não podemos usar rascu-nho, nem consultar o relógio. Parece que eles avaliam a re-sistência e não o conhecimen-to”, reclamou.

Concordando com a colega, a estudante Gabriela Siracusa Nascimento, 18 anos, ques-tionou a função do Enem: “Será que a prova avalia mes-mo?”. Para ela, tanto o Enem como o vestibular são formas de avaliação que excluem, e acredita que, quando se trata de educação, a palavra excluir não pode existir, a estrutura educacional precisa ser re-vista. “O Estado deve garan-tir educação para o povo. Eu deveria sair do ensino médio já com espaço garantido na faculdade”, afirma.

Para os candidatos que se sentiram prejudicados haverá uma nova avaliação, que já está marcada para o dia 15 de dezembro, às 13 horas. O es-tudante Guilherme S. Andra-de Silva, de 18 anos, acredita que uma boa forma de resol-ver o caso seria anular a prova e dar uma oportunidade igual a todos. “Acho que aqueles

Para alunos do ensino médio do Colégio Pedro II o Enem avalia a resistência, não o conhecimento

Fabíola Buzim

Flávio Norte, diretor do Colégio Pedro II – Centro

Page 13: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

folha da rua larga

13cidadenovembro – dezembro de 2010

morro da conceição A maior PPP do Brasil

sacha [email protected]

teresa speridiã[email protected]

Prefeitura assina convênio com empreiteiras para a 2ª fase da revitalização do PortoHomenagem ao grande professor Jorge Wanderley

Acervo Cdurp

Eduardo Paes afirma que pela primeira vez pega emprestada uma caneta de um empreiteiro

O plantio de 15 mil ár-vores, a instalação de sete mil novos postes de luz e a construção de 17 km de ci-clovias no Centro do Rio e Zona Portuária são algumas das ações previstas para a segunda fase do projeto Por-to Maravilha, formalizada no dia 26 de novembro, no Galpão da Cidadania, com a assinatura de contrato entre a prefeitura do Rio e o Con-sórcio Porto Novo.

Trata-se da primeira par-ceria público-privada (PPP) do município, no valor de 7,6 bilhões de reais a serem administrados, a partir de janeiro de 2011, pelas em-preiteiras Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia, vence-doras da licitação. “Cidade sem Centro é cidade sem alma. Estamos resgatando a alma dessa cidade”, dis-cursou o prefeito Eduardo Paes, após a assinatura do contrato.

Segundo Reginaldo As-sunção da Silva, diretor da OAS, para elaborar o pacote de obras e serviços desti-nados ao Porto, sua equipe contatou 55 entidades e per-correu 22 cidades: “Visita-mos lugares como Londres, Sidney, Roterdam, Buenos

Aires, Barcelona. Estamos prontos para agir. Há mais de 30 anos os cariocas dese-jam esse tipo de investimen-to. Existiam projetos, mas não de forma integrada”.

O contrato prevê, dentre as ações, a demolição do Elevado da Perimetral no trecho entre a Praça Mauá e a Francisco Bicalho, a cons-trução do Binário do Porto – via de mão dupla paralela à Avenida Rodrigues Al-

ves e a criação de um túnel que vai da Praça Mauá até o Armazém nº 5 do Cais do Porto. Além disso, será feita a ampliação do túnel ferro-viário sob o Morro da Provi-dência, para recebimento do tráfego de automóveis.

R$ 4,1 bilhões serão in-vestidos em obras e R$ 3,5 bilhões em serviços ao lon-go dos próximos 15 anos. Todo o investimento nessa etapa da revitalização será

custeado pela venda dos Certificados de Potencial Adicional Construtivo (Ce-pacs). Segundo a prefeitura, a operação proporcionará a disponibilização de obras e serviços para a população sem a utilização de recursos públicos municipais.

Entre os serviços que fi-carão sob responsabilidade do consórcio Porto Novo nos próximos 15 anos estão, por exemplo, a conserva-ção e a manutenção de vias públicas, calçadas e monu-mentos históricos, ilumina-ção pública, limpeza urba-na, coleta de lixo domiciliar e atendimento ao cidadão.

A PPP em questão permi-te o controle de qualidade na prestação de serviços e rea-lização das obras por parte das autoridades públicas e da população. A prefeitura também anunciou, na oca-sião, o início das obras de implantação e fortalecimen-to das vigas de sustentação do Museu do Amanhã, no dia 1º de dezembro, etapa a ser finalizada em fevereiro de 2011.

• Construção de 4 km de túneis e viadutos

• Execução de 70 km de vias e 700 km de redes de infraestrutura urbana

• Execução de 650 km² de calçadas

• Implantação de 17 km de ciclovias

• Instalação de sete mil postes

• Plantio de 15 mil árvores

• Projeto Morar Carioca na Providência

• Urbanização nos bairros Saúde, Livramento e Morro do Pinto

Obras e melhorias previstas

E por falar em saudade, por onde anda você que a gente não vê? Não vê, mas lê. Não vê, porque há alguns anos foi morar com as estrelas. Foi habi-tar um cosmo cheio de au-sências. Deixou saudades e um punhado de livros ali na estante, bem ao al-cance das mãos, para nos comunicarmos com ele.

Escreveu tudo que gos-taríamos de escrever, tra-duziu Shakespeare como ninguém. Não, ele não traduziu Shakespeare. Ele se encorpou nele. Sempre dizia em suas au-las: “Hamlet muda a cada leitura — Você já leu seu Hamlet de hoje?”

Era neurocirurgião, dei-xou a medicina para ser poeta. Trocou o bisturi pelas palavras e o fez tão bem que cada poesia lida é uma cirurgia na alma. Algumas vezes são cheias de cicatrizes. Jorge Wan-derley, neurocirurgião do espírito, incansável professor, esta é uma ho-menagem que faço para que as pessoas entendam como os conflitos familia-res são desnecessários.

Previsão do Tempo

A árvore diante da janela parecia destruída, mas no tempo certo / deu flores espantosas sem ligar / a mínima para os parasi-tas do tronco / ou para os prognósticos gerais.Dentro da casa, todos / continuavam a se massa-crar uns aos outros / sem que houvesse entre eles e a árvore / nenhum víncu-lo, mistério, ponte.Agora vem aí o inverno / e a árvore vai outra vez se esgalhar / em nervos e eminências de uma morte.Que não chegará / depois na primavera de novo / estará colorida. Porém os de dentro de casa / – sem nada que as-segure seus ritmos – / não vão saber como estão, / a julgar pelos parasitas

do tronco / nervos esga-lhados e os prognósticos gerais

Sobre o autor

Jorge Wanderley nas-ceu em Recife, Pernam-buco, em 1938. Médico, poeta e tradutor, come-çou a escrever aos 16 anos de idade, publican-do seu primeiro livro Gesta e outros poemas, em 1960. Ainda em sua cidade natal, formou--se em Medicina, com especialização em Neu-rocirurgia, carreira que abandonaria alguns anos após sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1976. Na capital carioca, concluiu mestrado e doutorado em Letras pela PUC. Nesta universidade e na UFF foi professor de Literatu-ra Brasileira e Teoria da Literatura nos anos 1980 e faleceu em 1999.

Conhecido, sobretudo, como tradutor e crítico li-terário, não menor foi sua obra própria, que se es-tendeu ao longo de qua-tro décadas, resultando em um “fazer poético” que permaneceu sempre em constante constru-ção, grande parte reunido hoje em sua Antologia Poética, livro publica-do postumamente. Jorge Wanderley publicou inú-meras crônicas e ensaios literários em revistas e jornais, além de uma de-zena de traduções tanto de clássicos da literatura, de Dante (de quem tra-duziu todos os poemas esparsos e também os poemas de Vita nuova) a Shakespeare, como de autores contemporâneos, entre os quais Bukowski, com quem muito se iden-tificava por ver no bardo americano uma reprodu-ção de si mesmo.

Page 14: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

gastronomia

receitas carolMais pinceladas de bom gosto no Centro do RioGioconda Café abre filial na Rua Acre, trazendo opção charmosa aos paladares mais apurados

karina [email protected]

ana carolina [email protected]

14folha da rua larga

Ambiente acolhedor do Fim de Tarde

Medalhão de mignon ao molho madeira e batata rostie

O aconchegante ambiente que une bar e galeriaCarolina Monteiro

Divulgação

novembro – dezembro de 2010

Trago uma receita bem tradicional, com especia-rias e açúcar mascavo, que pode ser servida como so-bremesa, junto com sorvete ou café, ao final da ceia. É um presente maravilhoso, além do prestígio de se ganhar um bolo feito por

você: quer honra maior do que essa? Passe um papel filme bem esticado para conservar o bolo e embrulhe no papel celo-fane. Fica um luxo! Boas festas a todos os nossos leitores e um 2011 bem curtido.

Os frequentadores da re-gião da Rua Larga ganharam mais um restaurante como presente de fim de ano: Gio-conda Café. Inaugurada há cinco meses na Rua Acre, a casa vem rapidamente con-quistando uma clientela fiel. O ambiente do Gioconda des-toa da agitação das ruas e logo faz o cliente esquecer que está em pleno Centro da cidade. São três ambientes espaçosos dispostos em dois andares. As mesas em madeira dão um ar elegante ao restaurante, que acomoda também uma seleta adega refrigerada.

A personagem que dá nome ao bistrô está por toda parte. Do lado de fora, diversas ima-gens de Gioconda enfeitam a fachada. No interior, quadros em sequência mostram uma divertida transformação da musa em seu criador, Leonar-do da Vinci. A decoração se-gue a mesma linha da matriz, fundada em 2002, na Avenida Rio Branco. O nome é uma homenagem à tradicional livraria Leonardo da Vinci, instalada no Centro há meio século.

“O restaurante é a realiza-ção de um sonho para mim. Cresci em uma família de co-zinheiros, atrás de um balcão, ajudando a servir os salgadi-nhos que meus avós e tias fa-ziam quando eu era criança”, conta o dono José Mattoso.

O amor pelo negócio é vi-sível na atenção dada tanto à decoração quanto aos alimen-tos servidos. Alguns itens são receitas da família, como as quiches, pastéis, empadas e bolos de milho e formigueiro. Os pratos são elaborados por uma chef e uma nutricionista. Produtos industrializados não entram na cozinha.

O cardápio é vasto e agra-da a todos os gostos. O me-dalhão de mignon ao molho madeira e batata rostie é uma boa pedida (R$ 25,90), assim

há uma variedade de saladas, quiches e pratos lights, como a panqueca integral, que vem recheada com ricota defuma-da e espinafre ao molho de iogurte com alho-poró (R$ 20,60).

As sobremesas são de tirar o fôlego e fica difícil escolher

entre tantas opções. A que leva o nome do restaurante, a Gioconda Carioca (R$ 4,50), é uma mistura de biscoito com chocolate, ótima pedi-da para se comer tomando um expresso (R$ 3,20). Ou-tra ótima sugestão é a torta integral de banana com sor-vete e canela (R$ 10,20), ou alguns dos inúmeros pavês que a casa oferece. O Gio-conda abre também para o café da manhã e oferece op-ções variadas de sanduíches, croissants e outras delícias. O atendimento, feito por cinco garçons, é excelente.

Outra opção que a casa ofe-rece, nesta época do ano, é a ceia de Natal, com cardápio que apresenta desde rabana-das e bolinhos de bacalhau até um sofisticado e surpre-endente rosbife ao molho de gorgonzola. Em janeiro de 2011, o Gioconda iniciará o serviço de delivery, passando a entregar lanches e refeições. Bom apetite!

Rua Acre, 14, Centro.Fones: (21) 2233-8661 /

(21) 2292-8909

Ingredientes

3/4 de xícara de rum escuro3/4 de xícara de pera seca picada3/4 de xícara de passas pre-tas3/4 de xícara de damasco seco picado1/2 colher de chá de raspas de laranja120 g de manteiga sem sal (3/4 de xícara)160 g de farinha de trigo (1 xícara cheia)1/2 colher de chá de canela

em pó1 pitada de cravo em pó1 pitada de noz moscada em pó1/4 de colher de chá de cardamomo em pó2/3 de xícara de açúcar mascavo1/3 de xícara de açúcar branco3 ovos1/2 colher de sopa de bau-nilha1/4 colher de chá de sal

Modo de preparo:

Bata a manteiga com o ta-basco, alho e limão.Use de 2 a 4 ovos, depen-dendo da sua fome. Ferva um pouco de água com sal na frigideira e acrescente os ovos um a um. Deixe ferver levemente por 3 a 4 minutos, assim a clara cozinha, mas a gema con-tinua molinha.Derreta 2 colheres de sopa da manteiga temperada,

acrescente a salsa e deixe cozinhar por um minuto.Torre o pão e espalhe a manteiga que não foi der-retida, coloque os ovos e regue com a manteiga de salsa. Polvilhe um pouco de sal e sirva imediata-mente.

Bolo de frutas com especiariasACP

como o salmão grelhado com tomilho fresco e arroz de aça-frão (R$ 27,90). O fusilli ao molho de camarões frescos e vinho branco ao perfume de limão siciliano é uma exce-lente pedida para os amantes de massa (R$ 23,30). Para os que querem manter a linha,

O pé-direito alto é um dos destaques do ambiente

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Page 15: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

folha da rua larga

lazer

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fabiola [email protected]

DJs antenados com a revitalizaçãoAlexandre Correa e Enzo Wajntraub promovem festa descolada com ingressos a R$ 5

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novembro – dezembro de 2010

Alexandre Correa toca na Festa do Alê, na Rua da Assembleia

As noites no Centro estão mais movimentadas. Além das tradicionais Rua do Mer-cado, Beco das Sardinhas e Lapa, uma nova opção surgiu na Rua da Assembleia, no Restaurante Cristal. A festa de “Happy hour do Cristal” ou “Festa do Alê”, que propõe um encontro entre amigos a fim de conversar e descon-trair depois do expediente.

A festa acontece há quatro meses, sempre às quintas-feiras. O clima começa a es-quentar mesmo a partir das 20h na pista de dança da boi-te. Antes disso, o pessoal faz um “esquenta” no barzinho ao lado. Para os homens, um valor simbólico de entrada: R$ 5. Já as mulheres têm en-trada liberada. Além do am-biente agradável, ao longo da noite costumam acontecer

rodadas de cerveja ou caipi-vodka como cortesia da casa.

A programação musical é comandada pelos DJs Ale-xandre Correa e Enzo Wa-jntraub e tem uma proposta diferente. Alexandre Correa

diz que a ideia é criar um am-biente leve e descontraído: “A música é boa. Nossa propos-ta é fazer algo com cara de festa, sem se prender nem ao hit atual, tampouco ao con-vencional. Às vezes vamos

buscar playlists nos anos 60, fugindo um pouco do que está na moda, do que está no eixo comercial. Nós tocamos mú-sicas alegres, não importa a época”.

A ideia do evento surgiu na organização da festa de ani-versário do próprio promoter. Tudo começou informalmen-te e foi uma vontade dos ami-gos de criar um ambiente para um encontro semanal. Um outro fator apontado pelos organizadores como determi-nante na escolha do local foi movimentar um pouco mais a noite do Centro e participar efetivamente da revitaliação. Para Alê Ortiz, a região cen-tral é um lugar que tem uma diversificação cultural muito grande e é preciso aproveitar esse encontro. “Já temos mui-tos espaços bacanas para ir, a

Lapa por exemplo, mas aqui na Rua da Assembleia, não há. Estamos cercados por vá-rios escritórios nesta região. Nós criamos mais uma opção para melhorar a vida noturna do Centro”.

O promoter Alê Ortiz, or-ganizador da festa, descreve o evento como um espaço amigável, onde as pessoas já se conhecem e querem ficar juntas. Para os “estranhos no ninho”, há um encaminha-mento: “Como a maioria das pessoas já se conhece, quando vai um convidado, logo ele é enturmado, pois a proposta é esta, que as pessoas interajam, se apresentem e que o clima de amizade seja mantido.”

Segundo Alê Ortiz, o clima é tranquilo e o local é seguro. A maioria dos frequentadores é de pessoas que trabalham na

região. São adultos entre 30 e 40 anos. Em todos os even-tos a casa fica cheia, mas não existe uma propaganda ainda. Quem passa e ouve o som acaba entrando, ou então há a indicação “boca a boca”. Mas quem for só pensado em “pe-gação’, o produtor dá uma dica: “Aqui não rola esta ideia de pegação geral. Os roman-ces acontecem de forma mais sutil. Se tem um amigo inte-ressado em alguém, ele pede a um outro para apresentar e assim vai, na conversa”.

Festa do Alê – Happy Hour do Cristal: Rua da Assem-bleia, 11, Centro – Restau-rante Cristal. Produção: 2210-0717 – Cristal Club.

Page 16: Jornal Folha da Rua Larga nº 24

da redaçã[email protected]

dicas da cidade Velha guarda da Vila canta ao mestre NoelCCL recebe a Vila Isabel para encerramento do projeto Noel, Feitiço do Samba

16folha da rua larga

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sacha [email protected]

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Adílson da Vila, Juju Bragança e instrumentistas cantam a história da Vila

novembro – dezembro de 2010

Concurso Porto Olímpico

A Prefeitura do Rio, o Ins-tituto de Arquitetos do Brasil e o Comitê Olímpico Brasi-leiro estão promovendo um concurso para a seleção da melhor proposta arquitetô-nica e de urbanização para as instalações olímpicas na Zona Portuária. Serão esco-lhidos os quatro melhores projetos para construções como a Vila de Mídias, a Vila de Árbitros e o Centro de Convenções: www.con-cursoportoolimpico.com.br

Gastronomia e degustação

O Principado Louças promove degustações e cursos de gastronomia em seu Espaço Gourmet. Re-centemente, a casa recebeu os chefs Juan Bertoni e Cida Bodstein, que minis-traram cursos práticos em

confeitaria. Os interessados em seguir ou ministrar se-minários devem entrar em contato com Ana Claudia: (21) 3289-2443. O Princi-pado fica na Avenida Ma-rechal Floriano, 153 a 161.

Morro da Conceição

No dia 11 de dezembro, os artistas plásticos do Pro-jeto Mauá abrirão as portas de seus ateliês. Este ano, além do tradicional Bar do Serginho e do Geraldo, estarão também abertos os seguintes bares: Sacabral Art Gallery, situado aos pés do Morro da Conceição (Rua Sacadura Cabral, 63, esquina com a Rua do Es-correga), e Imaculada (Rua João Homem, 07).

A Velha Guarda Musical de Vila Isabel fará a últi-ma apresentação do proje-to Noel, Feitiço do Samba, no dia 16 de dezembro, às 12h30, no Centro Cultural Light. Há oito anos, Adílson da Vila criou o grupo e o show que corre o mundo e já foi visto por mais de um mi-lhão e meio de pessoas.

Como surgiu a Velha Guarda Musical de Vila Isabel?

Foi iniciativa do Martinho da Vila. Achava que juntar velha guarda era coisa de fim de carreira. Montei um grupo musical, inicialmente, com 25 componentes. Devido ao ritmo árduo de ensaios, ao fi-nal ficamos com dez pessoas. O objetivo maior era traba-lhar o nome não só da escola, mas também do bairro.

O grupo costuma se apresentar fora do Bra-sil?

Estivemos na Sibéria, abrindo o show do U2, na China, representando o Brasil nas Olimpíadas de Pequim, e no Oriente Mé-

dio, tocando para 75 mil pessoas. Assinamos um contrato para voltarmos ao país nos próximo três anos. Somos o primeiro grupo brasileiro a se apre-sentar por lá. A propósito, existem mais libaneses no Brasil do que no Líbano.

Aqui há 12 milhões e por lá apenas 8 milhões.

De onde surgiu o inte-resse em contar a história do bairro através das mú-sicas?

Como historiador, pro-curei formas de trabalhar a velha guarda. Fui buscar a história do bairro, que foi o primeiro a ser projetado no Rio de Janeiro. Na época, a Lapa era um antro de mar-ginalidade e prostituição. A boemia estava na Vila. Noel: Orestes Barbosa, Guilherme Brito (parceiro de Nelson Cavaquinho), Jamelão, Ataulfo Alves e Braguinha. Salve a Vila!

ANÚNCIO FIM DE TARDESENDO FEITO