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jornal i, 24 de março de 2012 atual, 6 de abril de 2012 Trabalha em mais do que um livro ao mesmo tempo? Pelo meio de “E a Noite Roda” fiz dois livros, um de viagem, “Viva México”, e o relato da revolução egípcia, “Tahrir”. Escreve em casa? Tento refugiar-me em algum outro lugar. Em casa há mil rotinas, e inter- net e os amigos à mão. O que é que não pode faltar na sua mesa de trabalho? Uma janela em frente. Já deitou fora muita coisa que tenha escrito? E de cada vez que leio acho que devia ter deitado mais. Como é que dá o nome às suas per- sonagens? Os protagonistas de “E a Noite Roda” chamam-se Ana Blau e Léon Lan- none. Ela é Ana por causa da filha de uma grande amiga, que ia nas- cer, e Blau por ser ao mesmo tem- po um nome judeu e uma palavra catalã. Ele é Léon porque, sendo franco-napolitano, não se podia cha- mar Leão, nome que é uma obses- são minha, e Lannone por sugestão de uma amiga napolitana. V. M. FAZ-SE ASSIM Livro: “E a Noite Roda” (Tinta da China) Preço: 16,20€ ALEXANDRA LUCAS COELHO D. R. Início: “Escrevo para acabar com a história, escrevo para que a história comece. Esquece a morte e segue-me. Sete e meia da manhã em agosto. Gosto do cheiro de jasmim pela manhã no pátio de Karim. Ainda não conheço, está no Brasil, chega em dezembro: Karim Farah. Nome estranho para um brasileiro, mas o amigo do amigo que nos pôs em contacto disse-me que há milhões de descendentes sírio-libaneses no Brasil.” antes de escrever algumas partes, auxiliares de memória. A primeira frase mantém-se ou muda? As duas primeiras frases de “E a Noite Roda” estavam lá desde o princípio: “Escrevo para acabar com a história. Escrevo para que a história comece.” E ainda esta frase do Gilgamesh: “Esquece a morte e segue-me.” Evita ler livros quando escreve? Não. Leio à noite. Durante a última fase de “E a Noite Roda”, que foi escrita em Minas Gerais, li o mara- vilhoso romance da Andrea del Fue- go, “Os Malaquias”. Ouve música enquanto escreve ou prefere silêncio? Nunca ouço música quando escrevo, a não ser que esteja a escrever sobre aquela música, o que acontece várias vezes neste romance. A música não é um fun- do, nem para um café, nem para escrever. Qual é a sensação que fica quando termina um livro? No caso deste romance, primeiro fiquei aliviada, depois comecei a querer deitar tudo fora. Tem algum método de escrita? Não. “E a Noite Roda” foi escrito em períodos de férias ao longo de 2010 e 2011, tentando aproveitar o tem- po todo. Mas as manhãs são melho- res do que as noites. Faz muitas pausas? O mínimo. Como são dias contados, se não os aproveitar terei de inter- romper meses. E quando se recome- ça tanto tempo depois perde-se ain- da mais tempo a voltar. Espera pela inspiração? Espero por tempo para escrever. Escreve no computador ou à mão? No computador. Usa um tipo de letra específico? New York 16. Tem manias como acabar sempre uma página, por exemplo? Não escrevo contra a parede, pre- ciso de um horizonte. Pensa logo no título ou surge depois? Este romance teve outro nome, um nome de trabalho, durante muito tempo. O título só apareceu quase no fim. Faz algum esboço das personagens e trama? Não fiz. Apenas umas notas à mão

jornal i, 24 de março de 2012 atual, 6 de abril de 2012€¦ · jornal i, 24 de março de 2012 atual, 6 de abril de 2012 09/04/12 Assinatura Digital - Expresso > Atual > 6 de Abril

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jornal i, 24 de março de 2012 atual, 6 de abril de 2012

09/04/12 Assinatura Digital - Expresso > Atual > 6 de Abril de 2012

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ABATALHADOAPOCALIPSE

Eduardo SpohrPreço: 19,95€(Presença)

Trabalha emmais do que um livroaomesmo tempo?Pelo meio de “E a Noite Roda” fizdois livros, um de viagem, “VivaMéxico”, e o relato da revoluçãoegípcia, “Tahrir”.Escreve emcasa?Tento refugiar-me em algum outrolugar. Emcasahámil rotinas, e inter-net e os amigos à mão.Oque é que não pode faltar na suamesade trabalho?Uma janela em frente.Jádeitouforamuitacoisaquetenhaescrito?Ede cada vezque leio achoquedeviater deitado mais.Como é que dá o nome às suas per-sonagens?Osprotagonistas de “E aNoiteRoda”chamam-se Ana Blau e Léon Lan-none. Ela é Ana por causa da filhade uma grande amiga, que ia nas-cer, e Blau por ser ao mesmo tem-po um nome judeu e uma palavracatalã. Ele é Léon porque, sendofranco-napolitano, não se podia cha-mar Leão, nome que é uma obses-sãominha, e Lannone por sugestãode uma amiga napolitana. V.M.

❞ FAZ-SEASSIM

Livro: “E a Noite Roda”(Tinta daChina)Preço: 16,20€

ALEXANDRALUCASCOELHO

D.R.

Início: “Escrevo paraacabar com a história,escrevo para que a históriacomece.Esquece a morte esegue-me. Sete e meia damanhã em agosto.Gostodo cheiro de jasmim pelamanhã no pátio de Karim.Ainda não conheço, estáno Brasil, chega emdezembro:Karim Farah.Nome estranho para umbrasileiro,mas o amigo doamigo que nos pôs emcontacto disse-me que hámilhões de descendentessírio-libaneses no Brasil.”

antes de escrever algumas partes,auxiliares de memória.Aprimeirafrasemantém-seoumuda?As duas primeiras frases de “E aNoite Roda” estavam lá desde oprincípio: “Escrevo para acabarcom a história. Escrevo para quea história comece.” E ainda estafrase do Gilgamesh: “Esquece amorte e segue-me.”Evita ler livrosquandoescreve?Não. Leio à noite. Durante a últimafase de “E a Noite Roda”, que foiescrita emMinas Gerais, li omara-vilhoso romance daAndrea del Fue-go, “Os Malaquias”.Ouvemúsica enquanto escreve ouprefere silêncio?Nunca ouço música quandoescrevo, a não ser que esteja aescrever sobre aquela música, oque acontece várias vezes nesteromance. A música não é um fun-do, nem para um café, nem paraescrever.Qual é a sensação que fica quandoterminaumlivro?No caso deste romance, primeirofiquei aliviada, depois comecei aquerer deitar tudo fora.

Temalgummétododeescrita?Não. “E aNoite Roda” foi escrito emperíodos de férias ao longo de 2010e 2011, tentando aproveitar o tem-po todo.Mas asmanhãs sãomelho-res do que as noites.Fazmuitaspausas?Omínimo. Como são dias contados,se não os aproveitar terei de inter-rompermeses. E quando se recome-ça tanto tempodepois perde-se ain-damais tempo a voltar.Esperapela inspiração?Espero por tempo para escrever.Escrevenocomputadorouàmão?No computador.Usaumtipode letra específico?New York 16.Temmanias como acabar sempreumapágina, por exemplo?Não escrevo contra a parede, pre-ciso de um horizonte.Pensalogonotítuloousurgedepois?Este romance teve outro nome, umnome de trabalho, durante muitotempo. O título só apareceu quaseno fim.Faz algumesboçodas personagense trama?Não fiz. Apenas umas notas à mão

LIVROSNUMMINUTO

“No momento do Apocalipse,Absalon, o valoroso líder dosrevoltosos que havia sido condenadoa vaguear pela Terra, é aliciado porLúcifer, o Arcanjo Negro, para sejuntar às suas hostes na batalha doArmagedão que decidirá não só odestino do mundo mas o própriofuturo do Universo.” Ela é a Criação,eles são os sonos milenares, oArcanjo Miguel, a feiticeira Shamira.Confessamos curiosidade pelaqueda dos anjos, mas esta sugestãode um homem com asas na capa,com um terrível raio em fundo queparece fustigá-lo, torna o crepúsculoainda mais precoce.

É verdade que quem vê capas não vêcorações. Mas ninguém se apaixonapor um livro de cara duvidosa numaestante. Das edições que nos dãovontade de comer só de olhar aostítulos que provocam indigestões.

Os prémios atribuídos todos os anospela organização britânica D&ad sãoum estímulo à produtividade, engenhoe talento das indústrias criativas. Parasaborear o presente e paramais tarderecordar, a Taschen volta a editar estacompilação de nomeados e grandesvencedores que é uma visita ao quedemelhor se fez nas áreas do designe da publicidade em 2011. O resultadoé um bom colírio para os olhos dequem trabalha directamente na área,mas não só. Os leigos não ficarãoindiferentes a este catálogo comquase 600 páginas recheadas deideias sumarentas.

REPROVADO

APROVADO

THEBESTADVERTISINGANDDESIGN IN THEWORLDD&adPreço: 39,99€(Taschen)

08/06/12 Conflitos sem solução - livros - Ípsilon

1/4ipsilon.publico.pt/livros/critica.aspx?id=301660

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Ficção

Conflitos sem soluçãoe a noite rodaAutoria: Alexandra Lucas CoelhoTinta­da­China

Crítica Ípsilon por:Gustavo Rubim

4 de 4 pessoas acharam útil a crítica que se segue.

Uma repórter catalã, Ana Blau, conhece em Israel, onde está a trabalhar para um jornal de Barcelona, um tal LéonLannone, também jornalista, belga (casa e família em Bruxelas), filho de pais italianos emigrados e alguns anosmais velho do que Ana. Quando tudo começa ou se prepara para começar, a data é Novembro de 2004 e anuncia­se a morte de Yasser Arafat.Tudo o que começa é uma paixão e, quando a narrativa arranca, já sabemos que Léon desapareceu faz quatroanos e que Ana, a narradora, escreve e narra porque precisa que a história exista para lá desse desaparecimentoque a suspende: “Escrevo para acabar com a história, escrevo para que a história comece.”

O que há de romanesco neste último livro de Alexandra Lucas Coelho é ao mesmo tempo a intriga passional e adecisão que leva Ana a escrever para reconstituir e dar existência a essa intriga, ou seja, a escrever o que nãoescreve quando escreve para o jornal, ou seja ainda: a tornar­se romancista. No jogo entre o enredo amoroso e oenredo literário, aquilo que entretanto invade a cena é o imaginário do jornalismo nómada, sem pouso que não sejatemporário, sem referências que não sejam apenas múltiplas memórias entre as quais nenhuma linha contínua sedesenha: canções de Brel ou filmes de Bergman, frases de Sophie Calle ou versos de Eliot, concertos deBarenboim ou discos de Joanna Newsom.

Não admira, por isso, que a divisão principal do romance não seja a cronológica, mas a geográfica: os capítulos,por vezes micro­capítulos, que se sucedem de acordo com as cidades e os lugares por onde Ana e Léon transitam.Mas não são quaisquer cidades nem quaisquer lugares, em pura errância imprevisível. Neles alguma coisaacontece que interessa à avidez de actualidade dos jornais e este trânsito, não obstante as aparências românticas,é afinal um trânsito profissional bastante codificado. Aeroportos, táxis, checkpoints, hotéis, restaurantes, quartosalugados têm aqui uma tal regularidade que são menos aventura do que rotina laboral. Isso não deixará decontaminar a relação de Ana e Léon, pela experiência ou sensação de aventura inerente, sem dúvida, mas tambémpelas sucessivas separações e pelo seu efeito mais óbvio: a conversão da paixão erótica em pulsão de escrita,cada vez mais longa e mais marcada pela distância.

SMS e e­mails sucessivos são assim uma parte substantiva deste romance em que se digladiam a escrita deviagem e a narrativa epistolar na sua forma própria da era digital. É uma das dimensões em que Alexandra LucasCoelho arrisca mais, pois o fantasma da banalidade do discurso enamorado nunca abandona a narradora: se aprimeira mensagem de telemóvel é logo “o começo de uma correspondência”, duas outras dessas mensagensiniciais (“Dias de tristeza. Não consigo pensar senão em ti. Cada vez mais grave”, escreveu Léon na segunda)suscitam quando são lembradas um comentário violento: “A realidade é sempre má ficção.”

Se é claro, portanto, que na figura de Léon vemos o conflito insanável ­ e clássico, digamos ­ entre a opção pelapaixão e a incapacidade para abandonar a casa de família já constituída (mulher e três filhos), também é verdadeque na narração de Ana se lê, retrospectivamente, a entrega e a crítica da entrega, o enamoramento real e asuspeita de irrealidade e de banal que leva uma parte da protagonista a perguntar­se: “Isto está mesmo aacontecer­me? Um folhetim de cordel, uma opereta?” Enquanto outra parte ri e uma terceira parte, ainda, “só querouvir que queres estar comigo”. O importante não será tanto essa divisão da apaixonada, mas a descrição doestado interno que relaciona as partes entre si: “E todas as partes em luta, a tomar decisões.”

É aqui, nesta última frase do ano de 2004, dos dois primeiros meses da paixão, que se capta até que ponto aligação desta história ao seu nascimento em Israel, ou entre Israel e a Palestina, ultrapassa o imaginário dojornalista militante tipicamente crítico do modo como os israelitas exercem o poder na região. Na verdade, estaaparente história de amor encontra a sua síntese na figura do conflito sem solução que a guerra israelo­árabequase universalmente codifica. Um conflito onde todas as partes estão em luta, com as outras e consigo mesmas, eonde nenhuma decisão tomada significa uma saída, uma solução, um apaziguamento ou uma resolução do conflito.

Sexta­Feira, 08 Junho 2012

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08/06/12 Conflitos sem solução - livros - Ípsilon

2/4ipsilon.publico.pt/livros/critica.aspx?id=301660

Twingly procura de blogue

Boa parte das passagens de “e a noite roda” dedicadas a relatar experiências de vida (de Ana) em Jerusalém, emGaza ou em Ramallah valem menos pela “verdade” política e social dramática que uma repórter não resiste adocumentar (mesmo quando o que centralmente lhe interessa é outra história) do que pela vertigem de discursos,actos e gestos que de todos os lados vem propagar indefinidamente o conflito e acaba por se tornar, sem que anarradora tenha disso inteira consciência, o emblema de um modo de vida em que nada há se não sobreviventes.

e a noite roda conta sobretudo isso, uma tentativa de fazer sobreviver uma história de amor. Se está longe de ofazer na perfeição também será porque expõe, mais do que resolve, as dificuldades de quem o escreve paraseparar em si mesma uma repórter, uma narradora de viagens e uma romancista.

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08/06/12 Público - No real é que está o milagre

1/3jornal.publico.pt/noticia/09-03-2012/no-real-e-que-esta-o-milagre-24122574.htm

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No real é que está o milagrePor Rui Catalão

O primeiro romance de Alexandra LucasCoelho, e a noite roda, é um regresso aoMédio Oriente e a Jerusalém. O que podeacontecer ao amor num cenário de muros eseparações? E à experiência jornalística,quando é invadida pela urgência da paixão?

Tinha pressa. Mais que pressa, urgência. Precisava de me entregar." É já na página114 que a narradora de e a noite roda escreve esta linha, depois de em apenas seisdias visitar Gaza, Telavive, Ramallah e o deserto do Neguev, escrever diariamente paraum jornal (nunca nomeado) e tratar de instalar­se no bairro de Musrara, em Jerusalém.Ana Blau, a jornalista catalã que narra o primeiro romance de Alexandra Lucas Coelho(Lisboa, 1967), precisa do trabalho para fugir de um amor impossível. Mas no dia 10 deAgosto de 2005, depois de passar a tarde na Cidade Velha, onde assiste a um concertodirigido por Daniel Baremboim, encontrar­se­á com León Lannonne, o jornalista belga,casado, pai de três filhos, por quem se apaixonou.

Quem acompanha as crónicas e reportagens de Alexandra Lucas Coelho no PÚBLICOreconhecerá temas e lugares do seu trabalho neste romance, cujo centro nervoso éIsrael e o conflito israelo­palestiniano. Mas logo nas primeiras páginas, quando o nomeda narradora ainda não foi revelado, e os jornalistas aguardam a morte de Yasser Araft(estamos em 2004), o leitor sabe que este livro não vai ser apenas essa misturaliterária de jornalismo e narrativa de viagem dos seus livros anteriores. Desde a página21, alguém dorme a seu lado, num outro quarto. Ela ainda não o conhece, mas oencontro marcará a passagem para o universo íntimo da autora, para a vida privada daexperiência jornalística. Até ao final, o livro saltará fronteiras: entre o público e oprivado, entre paisagens e quartos, entre um conflito político e um conflito amoroso.Entre constantes viagens de trabalho e encontros de apaixonados. Entre a Europa e oMédio Oriente. Entre cenas de sexo e uma correspondência febril com trocas de livrose discos e poemas para iludir a separação.

Onde estava então Alexandra Lucas Coelho a 10 de Agosto de 2005, no dia em queAna Blau se reencontrou com Léon no Hotel Jerusalem?

"É muito fácil perceber que há uma colagem deliberada das minhas circunstânciascomo jornalista a essa personagem. Várias das reportagens que a Ana Blau fez, eu fiz.Interessava­me absorver essas experiências. Sinto que o romance é o género que estámais próximo de absorver tudo aquilo que me interessa. Sou jornalista há mais de 20anos e vejo isto como um caminho. O que me interessa é sempre o real. Agora a formacomo me aproximo, como tento chegar a ele, isso vai­se alterando. Mas o que meinteressa continua a ser o mesmo que me levou a fazer jornalismo", responde­nos.

O encontro com Alexandra Lucas Coelho deu­se num fim de tarde à beira Tejo, comvista para um desses coloridos pores­do­sol em que Lisboa tem sido generosa esteInverno. Acompanhando a conversa, um copo de vinho branco mal servido. Desceu atemperatura, aumentou a resistência. Acabada de chegar do Rio de Janeiro, ondeactualmente vive, Alexandra Lucas Coelho despiu o seu comprido casaco vermelho edeu a entrevista em mangas de camisa.

"O que me interessa é o real, mas partindo do princípio de que a poesia é a forma maisextrema do real. Se conseguires, quando estás a escrever, tornar real o real, então éisso. Quando tocas de tal forma no nervo que as coisas se tornam vivas. Apenas fuiganhando coragem para me aproximar de uma forma finalmente livre. Se o romancepode absorver tudo, pode também absorver aquilo que me interessa na prática dojornalismo."

O entrevistador enregelou. Talvez porque ficando calado tinha mais arrepios de frio,avançou então para uma interpretação conflituosa e caprichosa do livro, o que avivou adiscussão e a circulação sanguínea. Mas a entrevistada tinha voado muitas horas edormido poucas: "A tua questão é porque é que ela se chama Ana Blau e não

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08/06/12 Público - No real é que está o milagre

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Alexandra? Isto não é uma autobiografia, não estou a contar o que me aconteceuquando fui correspondente no Médio Oriente. Se a parte de amor é real ou umafantasia?" Os mal­entendidos tornam­se divertidos quando há um esforço deentendimento.

"É um jogo que estou a propor. São materiais e experiências por que passei. Eu possopegar nesses materiais e cruzá­los, transfigurá­los. Aí há uma experiência fascinante,quase infantil, de liberdade, que é de criar vidas. Claro que a Ana Blau sou eu. Só quenão faria sentido que ela fosse a Alexandra no livro. Aquilo já não sou eu. Ela temcoisas de muitas outras pessoas, absorveu muitas outras experiências. A história queviveu com o Léon é uma matéria da mesma natureza de todas as outras matérias dolivro. Jerusalém, Gaza, A Mancha, Roma, Barcelona são da mesma natureza dahistória de amor. Estou a trabalhar também a memória. É um todo que está ligado.Esta história não existiria sem aqueles lugares. É como se as pessoas pudessem veruma parte [jornalística] e agora possam ver a outra parte [romanceada]. É um jogo deocultação e desocultação. Já tinha escrito sobre Gaza, mas não assim. Há um lado deintimidade que permite ver Gaza de outra forma. As zonas de sombra e de luz aqui sãodiferentes."

Fazer o impossível

Talvez porque as histórias de guerra nunca acabem bem e as histórias de amorterminem quase sempre mal, a conversa tornou­se cada vez mais complicada. Enfim,não tanto como a primeira vez de Ana Blau e León. O sexo sai frustrado, mas émemorável para o leitor, pela forma como a autora se detém nas nuances do desejo, doprazer, da ansiedade, da inibição, e até pela criação de figuras de estilo ("mas logoencolhes, como um bicho de conta").

"O que é relevante para mim é se as pessoas conseguem estabelecer uma relaçãocom aquilo que se vê. Se consegues criar uma relação física com o texto." Apesar deas cenas de sexo serem episódicas, são como juntas que unem as disparidades deuma relação torturada, construída em permanente trânsito, entre a Europa e o MédioOriente. A separação do par amoroso só é interrompida quando as contingências doconflito israelo­palestiniano geram acontecimentos que proporcionam o encontro. Aperversidade da experiência amorosa reside no facto de a união entre Ana e Léon estardependente de novos eventos que dão continuidade ao conflito.

"A intimidade deriva das circunstâncias, é aquele contexto que molda [a personagem],a torna possível e revela todo o seu vazio. É um beco sem saída desde o princípio.Creio que a diferença é que ela estava disposta a segui­lo até ao fim, e ele não. Ouseja, ela acreditou e ele não. Em ambos há o desejo de paixão mais do que paixão,mas no caso dela isso podia ter passado para outra fase, e nele não."

Uma relação de amor que não é o amor, mas a fantasia, a urgência de acreditar naaventura, nem que seja por ilusão.

"A nossa história é continuarmos a atirar­nos de cabeça para a paixão. É o meu livromais ingénuo, no sentido em que só o poderia ter escrito depois de todos os outros,depois de saber o quanto as coisas são impossíveis. Na semana passada fui com unsamigos à Mangueira visitar um sambista meu amigo, o Vadinho, e no muro da lage[terraço] dele havia uma frase que dizia "por ser impossível foi lá e fez". Há ummecanismo quase infantil de encantamento que talvez só seja possível quando jávimos como a aventura é impossível, e ainda assim continuamos a cair na aventura, ea desejar a aventura. Qual é a alternativa melhor?"

Alexandra Lucas Coelho procura no iPhone a fotografia com a frase que citou eapercebe­se de que no original o que está escrito é "não sabendo que era impossível,foi lá e fez". "Há 15 anos eu não sabia que era impossível, ia lá e fazia, agora sei que éimpossível. Mas não conheço nenhuma alternativa melhor do que fazer. Há umaespécie de ponto de não retorno em que nos podemos tornar irreversivelmentecépticos. Talvez eu tenha decidido que isso não era para mim. Ou é isto ou mais valedesaparecer. Não porque haja qualquer sentido na vida, mas justamente porque nãohá."

Da fronteira

Alexandra é portuguesa, Ana catalã e León belga. Cruzam­se em viagem. Sãopersonagens de fronteira, como é de fronteira o capital episódio de Portbou, nosPirinéus, em que Walter Benjamin é invocado. A Catalunha é tão estranhamentevisualizada pela personagem de Ana Blau como é o Médio Oriente: "Creio que arelação que Ana Blau tem com a Catalunha é a mesma que eu tenho com Portugal ouLisboa. Menos a de morador constante, mais a de quem parte e volta há muito tempo.O que tentei trabalhar foi a minha própria experiência de voltar a Lisboa depois de viverem Jerusalém, que era uma coisa de flâneuse flutuante, um pouco onírica. Tanto elacomo ele são gente que se desprendeu de uma pátria, gente em movimento."

Em e a noite roda há um território sagrado em disputa por dois povos, e de igualmaneira o amor é um credo impartilhável. "O real é o meu milagre. Nos últimos dezanos vivi em contextos extremamente religiosos e a minha relação com essasexperiências é isso: o real é o milagre. O que me interessa são aqueles homens e oDeus na cabeça deles, não o Deus deles."

E isto é o romance na cabeça de Alexandra Lucas Coelho: "Tive uma noção dasfragilidades que este livro implicava desde o começo. Hesitei muito se o publicaria e detodo sinto que encontrei a minha forma de escrever um romance. Este livro é umaexperiência. Aquilo que agora tenho para fazer são coisas diferentes, embora hajasempre uma ligação com os materiais, com as minhas perguntas, a necessidade detocar o real, de criar uma intensidade e de que o texto crie uma existência física. Quese ouça, que se toque, que tenha um relevo."

Ver crítica de livros pág. 40 e segs.

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ípsilon, 9 de março de 2012

revista time out, 14-20 de março de 2012

jornal de letras, 7 a 20 de março de 2012

Janeiro: romancefuturistadeRosaMontero,LágrimasnaChuva (PortoEditora).Fevereiro: romancedeestreiadeAnaSofiaFonseca,ComoCarneemPedraQuente (ClubedoAutor).Março:segundovolumede1Q84,deHarukiMurakami (CasadasLetras);APistadeGelo,deRobertoBolaño(Quetzal).Abril:novoromancedeJoséEduardoAgualusa,TeoriaGeraldoEsquecimento (D.Quixote); livrodecontosdeAntonioTabucchi,OTempoEnvelheceDepressa(D.Quixote).Maio:primeiro livrodePhilipRoth,GoodbyeColumbus (D.Quixote);SomosTodosumBocadoCiganos,deManuel JorgeMarmelo (Quetzal).Junho: inéditodeW.G.

Sebald,DaNatureza (Quetzal);The Information,deMartinAmis (Quetzal).Julho: terceirovolumede1Q84 (CasadasLetras).Outubro:novoromancedeAntónioLoboAntunes(D.Quixote);CrónicasdeDinisMachado(Quetzal).Novembro:novoromancedeRichardZimler (D.Quixote);Money,deMartinAmis (Quetzal).Semdata:AD.Quixotevaipublicarnovosromancesde InêsPedrosa,MiguelReal,VascoLuísCuradoeoPrémioLeyaOTeuRostoSeráoÚltimo,deJoãoRicardoPedro. JáaPlanetavaieditaroPrémioPlaneta2011,El ImperioEresTú,deJavierMoro,eonovoromancedeCarlosRuizZafón,ElPrisionerodelCielo.

A GRANDE ARTERUBEM FONSECA 16 DE JANEIRO

Para muitos é a obra--prima de RubemFonseca, e isso é dizermuito. A partir doassassinato de duasprostitutas, o escritorbrasileiro percorre omundo do crime desdeas grandes mansõesdo Rio de Janeiro aosbares sórdidos do bas-fond. Sexo,cocaína e “a grandearte” de matar com afaca, está cá tudo.Sextante

OUTRA VIDARODRIGO LACERDA 20 DE JANEIRO

Citemos a revistaVeja para dizer queOutra Vida “mereceapenas os maioreselogios”. Finalista doPrémio PT e Jabuti,um dos maisimportantes doBrasil, é a história dosdilemas éticos esociais de umapequena família quetenta manter-se unidaenquanto espera poruma camioneta.Quetzal

A CAIXA NEGRAAMOS OZ JANEIRO

Amos Oz abre acaixa negra mas nãopor causa de umacidente de avião. Os destroços de queo escritor israelitafala no seu maisrecente romance sãoantes os de umahistória de amor,pretexto paraacompanhartambém os últimos –e atribulados – anosde Israel. D. Quixote

ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO SUL LUÍS SEPÚLVEDA FEVEREIRO

Luis Sepúlvedajuntou-se aofotógrafo DanielMordzinski e os doislevam-nos numaviagem pelaPatagónia. O quecomeçou por ser umacrónica de viagemtransformou-seentretanto no“romance de uma regiãodesaparecida”, comodiz o escritor chileno. Porto Editora

THE NAÏVE AND THESENTIMENTALNOVELISTORHAN PAMUK MARÇOO Nobel OrhanPamuk debruça-sesobre vários mistériosda escrita – que tipode processos ocorremnas nossas mentesquando lemos umromance? Qual é arelação entre ospersonagens de umromance e as pessoasreais? – e responde--lhes através deexemplos retirados daliteratura mundial.Edição: Presença

OS MALAQUIASANDREA DEL FUEGO ABRILÉ o romancevencedor do PrémioSaramago 2011 echega-nos do Brasilpela mão de Andreadel Fuego. “Umaimpressiva obra deficção” que“transfigura a cruelbanalidade daexistência de trêsdesgraçados irmãosórfãos nascidos norude ambiente deuma fazenda da SerraMorena”, disse VascoGraça Moura, do júri.Edição: Porto Editora

O QUE SEI DOSHOMENZINHOSJUAN JOSÉ MILLÁS PRIMAVERA

É o novo romance deum dos melhoresautores espanhóisvivos e, ao que tudoindica, é o Millásdesconcertante eoriginal de sempre,aqui em torno da vidade um professoruniversitário quedescobre réplicas emminiatura dos sereshumanos, capazes derealizar todos os seusdesejos. Edição: Planeta

O JULGAMENTO DO MORTOPEDRO ROSA MENDES JUNHO

Era um projectoantigo e em 2012vê a luz do dia:Pedro Rosa Mendeslança o que pode serentendido como “umromance político”. Oacontecimento centralé a morte de AmílcarCabral e a Guiné deNino Vieira mastambém há “algunsajustes de contas com oPortugal dos anos 60”,diz o autor.Edição: D. Quixote

A VISIT FROM THE GOON SQUAD JENNIFER EGAN ABRIL

Quando foi publicadonos EUA, o novo livrode Jennifer Egan foirecebido em apoteose.No Reino Unido amesma coisa. Escritoem capítulosfragmentados, é umareflexão sobre o que otempo faz às relaçõese tem como fonte deinspiração doisnomes improváveis:Marcel Proust e OsSopranos. Edição: Quetzal

E AIN

DAUma fonte do

meio livreiro disse-nosque há boatos de que a

Amazon pode vir para Portugalem 2012,o mesmo ano em que

chegará ao Brasil. Não hágarantias,mas o que é verdade éque o gigante electrónico estácada vez mais europeu,depoisda abertura da loja espanhola

em 2011 e da italiana em2010.

Dar

início à publicação

da obra completa de

Jorge Luis Borges, livroa

livro.Eé jáapartirdeFevereiro,

com o lançamento de Livro

deAreia e História da

Eternidade.

EDITORA DA QUETZAL

EM 2012

VOU...

E A NOITE RODAALEXANDRA LUCAS COELHOMARÇO

Alexandra LucasCoelho é uma granderepórter, e mostrounos seus já três livrosde viagens que escrevemuito, e muito bem,para lá das páginasdos jornais. Em Marçoestreia-se na ficçãocom a história de umcatalão e uma belgaque se conhecem emJerusalém e andampelo mundo a viveruma paixão itinerante.Edição: Tinta da China

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024_026 TEMA 1_N223.qxp 02-01-2012 14:56 Page 25revista time out, 14-20 de março de 2012