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8/8/2019 Jornal Impressão nº 182 - Caderno Do!s
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Ano 28 • número 182 • Outubro de 2010 • Belo Horizonte/MG
Leia as críticas de Marcos Mendes, queacompanhou os shows de Ney Mato-
grosso, em Belo Horizonte, e MariaBethânia, no Rio de Janeiro.Página 12
Leonardo Lobo
O amaleão e aabelha-rainha
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A PáicaImPressão2 Belo HorIzonte, outuBro de 2010
Batidore de umagrande expoição
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Ml nv Vv aúj7º Períodoe: a Tll
Muita gente foi conferirde perto as obras do escultorfrancês, Rodin, na Casa Fiatde Cultura no ano passado.Mas é certo que poucas sabemque para realizar a exposiçãoforam necessários dois anosde produção e muito tra-balho. a gestora da Casa Fiatde Cultura, Ana Vilella.
O primeiro passo, de acor-do com a gestora da institu-ição, Ana Vilella, é elaboraruma proposta com todos osdetalhes, espaço, obras, estra-
tégias de marketing e custos. A proposta é apresentadaao conselho diretor da CasaFiat. e, se aprovada, inicia-seuma negociação com as insti-tuições que detêm a guardadas obras. Nesse processo épreciso comprovar que háinfra-estrutura adequada parareceber o acervo.Encerradasas negociações, é necessárioconseguir recursos para via-bilizar o projeto. Ana Vilella
conta que para uma exposiçãocomo a de Rodin o custo éde quatro milhões de reais.O próximo passo é aprovar o
plano junto ao Ministério daCultura, para que parte dostributos que seriam repassa-dos a União, pelo grupo Fiat,sejam direcionados para a ex-posição. “Além dos custos demanutenção e funcionamentoda instituição que são assumi-dos pelos mantenedores, osprojetos são viabilizados comum aporte dos patrocinadoresque giram em torno de 20% a30%. O restante é subsidiadoatravés da Lei de incentivoFederal”,explica a gestora.
Assegurados os recursos,
é hora de finalizar o contratocom a instituição internacio-nal, definir datas para a exi-bição, escolher as obras queserão expostas, enviar técni-cos ao museu de origem daspeças para verificar questõescomo transporte e acondicio-namento. Paralelamente, emBelo Horizonte, as instalaçõessão preparadas para receberas obras (iluminação, e cli-matização). Também é pre-
ciso planejar a melhor dis-posição das peças no espaço. Já a equipe de comunicaçãoinicia uma pesquisa histórica
e desenvolve conteúdos queserão essenciais para mantero evento.
Segundo Ana Vilella, 80pessoas são contratadas tem-porariamente para trabalharno funcionamento das ativi-dades, “entre elas equipe dereceptivo, segurança, limpeza,produção, técnicos, comuni-
cação e educativo”.Mas o trabalho não acaba
aí. Encerrada a exposição,cabe a instituição cultural
acompanhar a viagem de voltadas obras para o museu de ori-gem e assegurar que cheguemsem sequer um arranhão.
Tenologia A Casa Fiat de Cultura é
uma instituição cultural semfins lucrativos. Foi inauguradaem 2006, em comemoraçãoaos 30 anos da Fiat no Bra-sil. Com área total de 3.650m, está localizada em NovaLima, Região Metropolitanade Belo Horizonte. O maiordiferencial da instituição é a
tecnologia com a qual foi pro-jetada, o que permite receberobras centenárias, tombadaspelo patrimônio histórico dahumanidade.
Para a professora decrítica da escola Guignardda UEMG, Janaina Melo,esse novo espaço insere BeloHorizonte na rota das grandesproduções artísticas. Segundoa professora, “na década de90 a capital recebeu impor-
tantes produções como Ca-mille Claudel, Picasso e Dali,mas a proposta de espaçoscomo o Museu de Arte da
Pampulha, que foi um marcona trajetória artística da nossacidade, mudou, e a casa Fiat,aliada a uma política culturalbastante eficiente, colaborapara formação e ampliação deum público de arte”.
Em resposta às críticasde uma parcela da popula-ção que vê a Casa Fiat comoespaço elitizador da cultura, Janaina Melo é taxativa: “apartir do momento em que olocal abre as portas para a visi-tação pública, ele não podeser visto como elitizador, e
sim, como democratizador. Oque falta é incentivo e políti-cas de deslocamento até esseslocais”. Durante a exposiçãode Marc Chagall, em ANO, aCasa Fiat ofereceu transportegratuito à população com ôni-bus que saíam regularmenteda Praça da Liberdade.
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FoTos JuLiana VaLLiM
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A PáicaImPressão 3Belo HorIzonte, outuBro de 2010
Mudança na LeiEm 18 anos de Lei Rouanet, alguns aspectos ainda precisam ser melhorados. Existemdiferenças consideráveis na arrecadação da verba quando se divide o país em regiões.
Realidade da Lei Rouanet
Fonte: MInistério da Cultura
Norte
0,45%
Nortedeste
6,91%Centro-oeste
3,84%
Sudeste
79.11%
Sul
9,69%
M M6º Período
Complexa e exigente. A montagem de exposições
temporárias não é simples edemanda por profissionaisqualificados. Organização,pesquisa, contatos e pa-trocínio são algumas das eta-pas para realizar uma mostra.
O primeiro passo para aelaboração de uma exposiçãode arte é definir o tema e operíodo de duração. Após es-sas decisões, a equipe deve pes-quisar e mapear as obras quese encaixam ao assunto escol-hido. A partir daí começamos contatos entre instituiçõese colecionadores.
Após vencida esta etapa, oinstituto deve garantir trans-porte adequado, direitos au-torais e seguro para as obras.Esses são os grandes proble-mas que, geralmente, invia-bilizam a realização de váriasexposições, principalmenteinternacionais, no Brasil. Porisso, as instituições recorrema patrocínios e leis de incen-tivo a cultura.
Esta fase representa 50%da montagem da mostra.Para a próxima etapa entramem cena os courries, pessoas
responsáveis pelo acompan-hamento das obras desde oempréstimo até a exposição,além de observar a devoluçãodos objetos.
A conservação, tempera-tura ambiente, iluminaçãoe segurança devem ser sem-pre observados. O trabalhode montagem mobiliza umagama de profissionais, que vão
desde o curador até o setor deimprensa da exposição.
Em BHO Palácio das Artes abriga
grande parte das exposiçõesna capital mineira. Recente-mente, o espaço recebeu amostra do programa Valoresde Minas, que oferece oficinasde arte para jovens de escolaspúblicas estaduais.
Os trabalhos de 40 alunosforam apresentados e os estu-dantes vivenciaram a monta-gem da exposição, em nívelregional. Primeiro, eles ficar-am três meses trabalhandocom o objetivo de conheceras artes plásticas, criar obras eexpô-las para o público. “No
momento da montagem elesperceberam realmente o queé uma exposição. Participardela é uma estratégia para queeles entendam melhor o pro-cesso”, diz a coordenadora daárea de artes plásticas MarinaBylaardt, do Valores de Mi-nas, do Serviço Voluntário de Assistência Social, o Servas.
O programa Valores deMinas inaugurou, em 2009, oPlug Minas e faz parte do Nú-cleo do Centro de Educação Juvenil, que funciona na an-tiga Febem, no bairro Horto.
Esta semana, o estilista ecurador Ronaldo Fraga es-treia, no Palácio das Artes, aexposição Lendas do Sertão,que retrata a arte das cidadesribeirinhas do Rio São Fran-cisco. A reportagem esteve nagaleria para conferir a monta-gem da mostra, mas o artistapreferiu não revelar detalhespara surpreender o público.
Etapa de montagem
O Governo Federal en- viou ao Congresso Nacionaluma proposta de revisão daLei Rouanet, criada em 1991para incentivar a cultura pormeio de renúncia fiscal. A lei tem sido alvo de críticasdesde sua promulgação, sob oargumento de que a empresanão estaria financiando a cul-tura de fato, apenas redirecio-nando parte dos seus tributosdevidos para uma instituiçãoou projeto cultural.
Segundo o Coordenadorda Secretaria de ArticulaçãoInstitucional do Ministérioda Cultura, Bernardo daMata Machado “A cada R$10,00 investidos, R$ 9,50 sãopúblicos e apenas R$ 0,50 édinheiro do patrocinador pri- vado. E o patrocinador aindase beneficia, porque atravésdo projeto faz propaganda desua empresa sem gastar um
tostão.”Bernardo admite que a Lei
cria distorções regionais (videinfográfico) além de privile-giar projetos ligados a empre-sas fortes, uma vez que seusprojetos teriam maior noto-riedade, por conseqüência,maior publicidade. SegundoBernardo “Projetos de cultu-ra popular, circo, biblioteca,restauração de patrimôniocultural, cultura indígena eafro-brasileira, entre outros,
mesmo que aprovados, quasenunca obtêm patrocínio”.
Pela nova proposta dogoverno, os projetos nãoreceberão 100% de isençãoindiscriminadamente. Opercentual de renúncia seráestabelecido de acordo comcritérios de julgamento quelevam em conta dimensõessimbólica, econômica e socialdo projeto.
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Adeptos do rock, em suas
intermináveis vertentes, têmencontro marcado há muitosanos na Galeria do Rock localizada na Praça Sete,patrimônio histórico-culturalda capital mineira. Em 1999 Wellbert Ramos, mais conhe-cido como Bart, decidiu fun-dar ali a sua loja, a 53 Hard-core Company ou 53HC. A partir daí, o produtor musicalnão apenas comercializou ál-buns de bandas alternativas,mas promoveu a cultura in-dependente em todo o paíscom um misto de loja, selo e
produtora.
Disposto a preencher ocalendário cultural da cidadee querendo ampliar as inicia-tivas da 53HC, nasceu o pro-jeto Flaming Night, em 2007.“Percebendo a defasagem queBH possuía em relação ao cir-
cuito underground, quisemostrabalhar para que a partici-pação da cidade nesse meiofosse mais expressiva”, afirmaa assistente de produção da53HC, Rafaela Maini.
Através do festival, a cidade
se tornou palco de grandesshows e viu despontar talen-tos antes distantes do público.“Nossa proposta é apresentaralguns dos artistas da cena in-dependente, promovendo-ose aumentando o intercâmbioentre estilos musicais”, explicaum dos produtores do festival,Tomaz Alvarenga.
A cada três meses, umanoite flamejante invade acidade, sempre com artistasemergentes ou surpresas dacena independente. Aindapromove o encontro de públi-
cos de várias faixas etárias, es-
tilos e gostos. Rafaela garanteque a diversidade não temfim. “As atrações do FlamingNight já trouxe para Belo Hor-izonte vão do rockabilly aometal, passando pelo reggae,punk rock, hardcore, indie,
jazz, eletrônico e pretendemostornar cada vez mais variada erica essa lista de estilos.”
A lista de bandas quetiveram a oportunidade de
mostrar seu trabalho no fes-tival é extensa e conta comnomes como: Móveis Coloni-ais de Acaju, Fresno, Matanza,Strike, Ratos de Porão, DeadFish, Canastra, Autoramas,Forgotten Boys, CopacabanaClub, Cachorro Grande,
Mundo Livre S/A.Um dos fatores que com-provam a valorização e o re-conhecimento do festival éo apoio da imprensa que au-mentou muito desde a primei-ra edição. “A mídia já perce-beu o valor do evento e cada vez mais abre espaço para estesegmento”, ressalta Tomaz.
Segundo o estudante Ber-nardo Biagioni, que não perdeuma edição do festival, o Flam-ing Night mostra quem sãoos artistas mineiros de hoje equais são os novos diálogos da
cultura feita nas mais diversascidades de Minas Gerais. Eletambém acredita na relevânciado evento para o fomento dacultura contemporânea pro-
duzida no Brasil. “Isso é im-portante para compreender-mos os nossos tempos, nossasaspirações, nossas revoluçõespontuais. Com o festival,ficamos por dentro do que háde melhor sendo feito no paíshoje”, destaca Biagioni.
Com visão semelhante,Guto, vocalista da bandamineira The Dead Lover’sTwisted Heart, acredita quea experiência de tocar no fes-tival foi muito boa. “Como éde praxe na Flaming Night,a curadoria mistura públicosdiversos, distinto do nosso ha-bitual e foi um desafio muitolegal. Como músico, o con-tato com públicos diferenteste obriga a experimentar coi-sas novas no palco. Isso é de-mais”, conta.
Outro músico que já par-
ticipou do Flaming Night,Cássio Corsino, acredita nopoder das noites da 53HCpara a música mineira. Atu-al baixista do grupo de BHRagna, o músico analisaque o evento caminha para oamadurecimento no setor or-ganizacional. Ele diz que essetipo de evento é importante,já que “além de colocar a capi-tal mineira na cena musical,auxilia a formação de novospúblicos e perpetua um tra-balho iniciado há décadas”.
A última edição do Flam-
ing Night foi realizada emsetembro, no Music Hall, emanteve a tradição ecléticacom diversidade de estilos. Nopalco, bandas veteranas comoMatanza e Mukeka di Ratodividiram espaço com as no- vatas Vespas Mandarinas, Vi- vendo do Ócio, Skacildes, e oDj Chuck Hiphólito.
PALcOs
flamejante
shwImPressão4 Belo HorIzonte, outuBro de 2010
Não é fácil realizareventos na capital minei-
ra. Os produtores alegamque o retorno não é ga-rantido, o público mudade opinião e gosto comfacilidade e os preços dealuguel e investimentonão costumam ser baixos.É preciso muita coragem,conhecimento e persistên-cia para tocar um projetoadiante.
Por mais difícil quea concretização da idéiapossa parecer, é precisoacreditar e ir em frente, éo que pensa a assistente de
produção da 53HC, Rafa-ela Maiani. “A dificuldadeé grande, pois até o anopassado realizamos todasas edições dos dois pro-jetos sem qualquer apoiofinanceiro, contando coma bilheteria para cobrir to-dos os custos gerados. Éum grande desafio, mastemos muita expectativaem tornar esses projetoscada vez mais sólidos ericos culturalmente falan-do”, afirma.Outro ponto discutido é a
previsão de início e térmi-no dos festivais. “O eventodeveria ser mais pontual. Assim não terminaria tãotarde - ou cedo da manhãseguinte”, indica Bernar-do Biagioni, ouvinte demúsica independente. A última atração, normal-mente mais aguardada,só sobe ao palco algumashoras depois do início deum novo dia.
Até a penúltimaedição, o Lapa Multshow foi a casa que sempre rece-
beu o festival, mas desdea 13ª edição, realizada em10 de abril deste ano, oLapa cedeu espaço parao Music Hall, no SantaEfigênia. Procurado pelareportagem para falar so-bre as noites flamejantes,o produtor musical e pro-prietário do Lapa, Gui-lardo Veloso, não quis semanifestar.
Apoio é
desafo
Confra a matéria também no
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anderson auréLio
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CaImPressão 5Belo HorIzonte, outuBro de 2010
Desafos do “novo”
jornalimo ulturalJlt á ctm pó ct ctú pgm TV m
L scpll8º Períodoe: Lz L
A televisão e os veículosimpressos abrem espaço para
a cultura, mas de forma restri-ta. Nos quadros culturais doscanais de televisão, o que setorna comum é a reproduçãoda agenda cultural de BeloHorizonte, com coberturas
mais aprofundadas de poucoseventos. Tradicionalmenteos mais populares. De umamaneira geral, são poucas asemissoras que apresentama cultura mineira em algumprograma específico.
Uma das exceções é a RedeMinas, com uma programa-ção voltada para discussõesculturais. Para Fernanda Ri-beiro, apresentadora de umdesses programas, o Agenda,o jornalismo cultural em BeloHorizonte “ainda é peque-no”. A frente do programa,a jornalista faz parte da mino-ria responsável por apresentarinformações culturais em umprograma dedicado integral-mente para o assunto. “Issoainda não é suficiente. BeloHorizonte, há muito, vem
entrando na rota dos grandeseventos, mesmo que com várias ressalvas, mas é tristepensar que a cultura ainda épouco valorizada na impren-sa”, completa Fernanda.
Sob outro ponto de vista,
a jornalista e apresentadorado programa Trilha MTV,Laura Damasceno acreditaque o jornalismo vem acom-panhando o crescimentocultural em Belo Horizonte.“Os profissionais da área têm
aproveitado a passagem denomes importantes pela ci-dade e a reunião de públicorealmente interessado em cul-tura para produzir conteúdosmuito interessantes e levantarquestões que tratem da cultu-ra não só de maneira ampla,mas também local, ajudandoa fomentar ainda mais a cenacultural em Belo Horizonte.”
Impreo e a ultura Atualmente o mercado
mineiro conta com três jor-nais impressos de grande cir-
culação que apresentam asinformações culturais belo-horizontinas, através de cad-ernos, semanais ou diários,específicos.
Para a repórter do cadernode cultura Magazine, do jor-
nal O Tempo, Soraya Belusi,os jornais atuais tentam apre-sentar ao seu leitor um textode qualidade, mas acabam seprendendo na reprodução dasagendas culturais. De acordocom Soraya, o Magazine “sai
na frente de seus concorr-entes”, pois tenta trazer paraas matérias, constatações e as-sociações de ideias dos própri-os repórteres.
Além de trabalhar comorepórter, Soraya participa deum núcleo de pesquisa sobrejornalismo cultural do GrupoGalpão. Nos encontros dogrupo, são discutidos novosformatos para a prática dejornalismo cultural, além detemas que cercam a rotinado profissional que trabalhanessa área. “A idéia é refletir
como o jornalismo culturalpode ir além dos padrões queestão sendo veiculados”, ex-plica Soraya.
Indo contra a tendênciade pouco aprofundamento nojornalismo cultural, em 2007surgiu uma nova opção paraos leitores mineiros: sites espe-
cializados, não só nas agendasculturais de Belo Horizonte,mas também com cobertu-ras jornalísticas da área. Oprimeiro deles foi Guia Entra-da Franca, criado pelo gestorcultural, Alexandre FabelloFernandes, o Alex. Além dele,o site conta com duas jornalis-tas responsáveis pelas reporta-gens, Ártemis Brant e AnaPaula Pimentel.
Outra opção, mas voltadapara o público alternativo, éo Coletivo Pegada. O veículosurgiu a partir de uma carência
de bandas independentes, quebuscavam espaço para apresen-tarem seus trabalhos. O iníciofoi em 2008, impulsionadopor Lucas Mortimer, músico ecoordenador de planejamentodo site. Para ele, os veículos aexemplo de jornais impressos,rádio e televisão, não con-seguiram acompanhar a ve-locidade das mudanças estãoacontecendo no meio cultural.Por isso, a internet forçou um
dinamismo para todo o jornal-ismo, e não apenas o cultural.“Hoje, por exemplo, o Twitteré uma grande ferramenta deinformação. Isso fez com que
as notícias tenham que serbem mais diretas e informati- vas, utilizando o mínimo decaracteres para passar a infor-mação”.
Para a jornalista e apresen-tadora do Agenda, na RedeMinas, Fernanda Ribeiro,as novas mídias sociais são válidas para divulgar cada vezmais a cultura. “Acho que hojea coisa é mais casada, como nocaso do Agenda que tem Twit-ter. Mas ainda acho que as mu-danças são pequenas.”
Já na opinião de Laura
Damasceno as redes sociais,como o facebook e twitter,contribuem para a promoçãoda eventos culturais, mas deuma forma geral, não impactana “maneira de pensar o jor-nalismo cultural”. “O maislegal disso (as redes sociais eblogs) é que muitas vezes asconversas que surgem nessesespaços aumenta o interessedo público pelos eventos cul-turais.”
No movimento inverso
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Lucas Mortimer entende que o nicho cultural se diversicou
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FoTos Larissa sCarPeLLi
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eai ImPressão6 Belo HorIzonte, outuBro de 2010
Percorrendo as estradas de Minas, os contrastes de cores que surgem das águas, dosol e da mata que se fundem, inunda os olhos do viajante. As terras, que deram lugar aimensidão azul de águas, que reetem a luz do sol, não podem mais ser vistas, fcaram nalembrança dos antigos moradores e na imaginação do andarilho. Para ele, presenciar oanoitecer à beira daquelas águas é reetir sobre cada história mergulhada sob o imensolago, que carrega consigo o curso dos Rios Grande e Sapucaí. A vida de muitos homens emulheres foi transformada em nome da evolução. A energia elétrica que chega nas casas,ruas e empresas brota dali. Todavia, para o viajante, a verdadeira energia não é a quemove a tecnologia, mas sim àquela que alimenta o espírito quando é inspirada pelo toquenatural.
Furna da natureza
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eaiImPressão 7Belo HorIzonte, outuBro de 2010
FoTos:Gl L4º Período
Design Gráco
TexTo e edição:M M8º Período
Jlm
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PREsERVAR também é preio
A visão de quem restaura lmes para manter viva a memória audiovisual da sociedade
Lc olv
6º Períodoe: Lz L
Tão importante quantoproduzir novos filmes é recu-perar e arquivar os antigos, afim de permitir ao público in-teressado o acesso à nossa me-mória cinematográfica. Rafaelde Luna, atuante na área dememória audiovisual e histó-ria do cinema brasileiro, con-corda quanto a esta im-portância e dizque estaprát ica“ n ã oé
u m aação que se
encerra. Nenhum fil-me jamais ‘foi’ preservado, elepode ‘estar sendo’ preserva-do. Isso requer ações contínu-as e permanentes para garan-tir a manutenção do estado
dos materiais e sua permanen-te acessibilidade”.
O trabalho de preservaçãode filmes é caro e trabalhoso. A boa notícia para os cinéfilosé que há pessoas e instituiçõesinteressadas em manter viva
nossa história audiovisual,como Patrícia Civelli, MyrnaBrandão (do Centro de Pes-quisadores do Cinema Brasi-leiro), os familiares de Glau-ber Rocha - que com o projetoTempo Glauber recuperou os
títulos: Barravento (1961),Terra em Transe (1967), ODragão da Maldade Contra oSanto Guerreiro (1969), e A
Idade da Terra (1980); e de Joaquim Pe-
dro de Andrade (com o proje-to Filmes do Serro); além de Alice Gonzaga. O trabalho de Alice à frente do Cinédia temajudado a mudar o quadroem que se encontra parte doacervo de filmes brasileiro.
Dando continuidade aotrabalho que seu pai, Adhe-mar Gonzaga, iniciou em1930, Alice vem recuperandoboa parte do acervo dos tem-pos de estúdio do Cinédia,além de finalizar em dezem-
bro de 2009–
p e l oInstituto paraPreservação da Memória doCinema Brasileiro (IPMCB)– a recuperação de cinco fil-mes do cineasta Moacyr Fene-lon, nascido em Patrocíniodo Muriaé em 1903,
e um
dos fundadores da Atlântida Cinematográfica etambém um ativista em defe-sa do cinema nacional, na
fase final de sua car-reira (de
1948 a 1951). Por este seu tra-balho de resgate, foi homena-geada em março deste anopela Academia Brasileira deCinema. A produtora doramo cinematográfico confes-sa que sentiu “mais necessida-
de ainda de ajudar a valorizaros artistas, tanto os conheci-dos quanto os esquecidos”, ecompleta que “os novos espec-tadores precisam conhecer opassado artístico do país. Sãoregistros de nossa cultura eparte do nosso patrimôniohistórico”.
A preservação de filmes ea disponibilização das cópias
restauradas para con-sulta, seja tanto
para pesquisa oupara liberação
ao público,
e n v o l v e mp r o c e d i -mentos ca-ros, poisn e c e s s i -tam de au-
xílio de tec-nologias
d i g i -t a i s . A
e x e m -plo dos
filmes deM o a c y rFenelon.M ui t a s pe l í -culas se encon-
tram emsituação de
perda total.Myrna Bran-
dão, do Centrode Pesquisadores
do Cinema Brasilei-ro, se preocupa com a
qualidade dos filmes antigos,principalmente os realizadosantes da década de 1960. Ela
acredita que “a preservaçãoda nossa memória fílmica éimportantíssima, mas no Bra-sil a situação de muitos filmesé crítica. Muitos se perderame outros estão ameaçados deextinção. O cálculo dos pro-
fissionais é que umgrande núme-
ro de
longas realizado antes da dé-cada de 1960 estão desapare-cidos, entre eles clássicoscomo ‘Favela de meus amo-res’, de Humberto Mauro,‘Barro Humano’, de AdhemarGonzaga, ‘Moleque Tião’, de
José Carlos Burle (o primeirofilme sonoro brasileiro), ‘Aca-baram-se os Otários’ (o pri-meiro musical), ‘Coisas nos-sas’ (primeira sátira), entreoutros”.
Resgatar e preservar a me-mória da cultura brasileira épossibilitar às futuras geraçõeso acesso a estas obras. Os in- vestimentos neste sentido sefazem, portanto, necessários.Mas, segundo Alice, “os re-cursos ainda são insuficientes.Nossos filmes precisam serduplicados a fim de evitar a
perda e garantir a manuten-ção dos mesmos”. E ela acres-centa que “os profissionais domeio audiovisual e cultural,inclusive setores da adminis-tração pública, têm uma gran-de responsabilidade social.Os recursos negados a insti-tuições e empresas que preser- vam acervos cinematográfi-cos, sob o argumento deredução de verba, comprome-tem a própria existência dasprodutoras, pois pode não ha- ver mais o que pesquisar eusar nas cinematecas do sécu-
lo XXI”.
Hithok O Instituto Britânico de
Filmes tomou uma iniciativainteressante, lançou uma cam-panha de adoção de filmes de Alfred Hitchcock. Através deuma doação, qualquer pessoapode contribuir para a restau-ração de um trabalho do dire-tor e, dependendo do valordoado, pode inclusive recebercréditos na telona depois daprojeção.
Qualquer valor é aceito.
De acordo com cálculos dopróprio instituto, com 25 li-bras é possível restaurar 50centímetros de filme. Para ob-ter o direito a crédito no finaldo filme, o doador deve de-sembolsar 5 mil libras e calcu-la-se que para restaurar inte-gralmente uma película sejamnecessárias 100 mil libras.
CiaImPressão8 Belo HorIzonte, outuBro de 2010
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Preocupados com a situa-ção da preservação, muitasempresas procuram patrocíniopara conseguir salvar parte denossa memória cinematográ-fica. Mas, mesmo com osincentivos obtidos por quemfinancia esse trabalho, obterinvestimento nem sempre étão fácil. Para os cinco filmesde Fenelon que o Institutopara Preservação da Memóriado Cinema Brasileiro (IPM-CB) resgatou, Alice explicouque, no início, foi muito difí-cil, mas acabou conseguindopatrocínios do Ministério daCultura, do Fundo Nacionalde Cultura e da Petrobras.Esta última contribuiu pararestaurar, por exemplo, “Alô, Alô Carnaval” e outros filmesdo Cinédia. O IPMCB at-ualmente finaliza “Berlim naBatucada”, “Bonequinha deSeda” e outros cinco filmes.
Já Myrna Brandrão expli-ca que enviou seus projetosde restauração para mais de20 empresas, e o resultadosó conseguiu ser alcançadocom a Petrobras e a Labocine,que, com uma equipe técnicacoordenada pelo restauradorFrancisco Moreira, possibili-tou a complementação dosrecursos que foram patroci-nados pela empresa estatal.O CPCB, com seu programa
de restauração, já salvou,em dez anos de atuação, seisfilmes, como “Aviso aos Nave-gantes”, de Watson Macedo,“Tudo Azul”, de MoacyrFenelon, “Menino de Engen-ho”, de Walter Lima Jr., “OPaís de São Saruê”, de Vladi-mir Carvalho, “O Homemque Virou Suco”, de João Ba-tista Andrade, e “A Hora daEstrela”, de Suzana Amaral.Segundo Myrna, todas as res-taurações foram incentivadaspelo Ministério da Cultura –Secretaria do Audiovisual –,através da Lei Rouanet.
Em princípio, qualquerfilme que esteja em gravescondições técnicas pode edeve ser restaurado, porqueindependentemente da quali-dade artística que a produçãopossa ter, todos os filmestrazem em si um componenteforte de memória da épocaem que foi realizado, que deveser preservado. Myrna acredi-ta que os critérios de seleçãoe incentivos financeiros pararecuperação não resolvem oproblema dos inúmeros film-es que estão se perdendo porfalta de um trabalho adequa-do de conservação. “Por isso,outra questão muito difícil éescolher o filme que será res-taurado, entre tantos ameaça-dos”, completa.
Arreadação para amanutenção de flme
Preservar é um trabalhoconstante para manter viva
uma obra no estado maispróximo possível àquele emque ela foi originalmente real-izada e apresentada. Isto per-mite que as gerações futurastenham acesso à memóriaaudiovisual daqueles retrata-dos por essa obra. Portanto,Restaurar filmes é mais queuma questão relativa à arte,é uma questão de cidadaniae de identidade, seja regionalou nacional. Myrna Brandãodiz que “o cinema é como umespelho onde cada um se vê e vê também sua história e sua
cultura. Se nossos filmes nãoforem restaurados e preser- vados, corremos o risco deadotar valores de outras cultu-ras que inundam nossas telascom seus filmes”.
O professor Rafael deLuna lembra que “hoje todossabem do valor de um filmecomo “Central do Brasil” ou“Cidade de Deus”, mas nemsempre foi assim. No passadomuitas vezes não se question-ou a possibilidade de se estarperdendo – sobretudo por
descaso e inércia – uma parteda memória cuja ausência
hoje lamentamos”. A boa notícia é que atual-mente muitos já se consci-entizam da importância depreservar os filmes, apesarda falta de um programa deincentivo governamental,por exemplo. A lei Ruanet éuma ajuda importante paraos produtores, mas deixa asprodutoras dependentes dointeresse de empresas em par-ticipar dos projetos. Uma saí-da simples e de custos baixosseria a realização de mais festi- vais e premiações para o setor.
Porém, o que resolveria deforma definitiva o probelma éa criação de políticas públicasadequadas.
Ainda é difícil conseguiros recursos para manter ourecuperar nossas produções.Depois desta prática, o que seespera é que os espectadoresbrasileiros possam ter maisacesso à nossa cultura cin-ematográfica, e assim se possaprivilegiar os filmes produzi-dos no Brasil, que contêm osnossos valores e costumes.
CiaImPressão 9Belo HorIzonte, outuBro de 2010
Quem etá à frente da reuperaçõe
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arquiVo
8/8/2019 Jornal Impressão nº 182 - Caderno Do!s
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Fim ou reomeço?Cm bl Hzt p g l cm tm tv
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Que ligação pode existirentre uma pequena cidade te- xana, chamada Anarene, euma grande metrópole comoBelo Horizonte? Coisa algu-ma, quase nada. Exceto pelofato de ambas as cidades, cada
uma a seu tempo, terem teste-munhado o fim das tradicio-nais salas de cinema. Mesmocomparando a década de 50nos Estados Unidos com osanos 90 no Brasil, essa relaçãofantasiosa é bastante adequa-da, tendo em vista que o de-senvolvimento tardio das ati- vidades culturais no Brasil– principalmete a TV - fezcom que a crise dos estabeleci-mentos de exibição de filmestambém tivesse efeito retarda-do. O caso de Anarene dá umpequeno entendimento a res-
peito dos motivos que deter-minaram o fechamento dasgrandes salas de cinema.
Anarene é a cidade retrata-da pelo diretor Peter Bogda-novich no clássico “A últimasessão de cinema”, de 1971. Ofilme, que aborda as desespe-ranças e infelicidades dos mo-radores da pequena cidade,usa o encerramento das ativi-dades da sala de cinema Royalcomo elemento metafóricodessa desilusão, ao mesmotempo em que expõe a fragili-
dade da sétima arte frente àconcorrência da televisão. Nocaso específico da capital mi-neira, o fim das grandes e ba-daladas salas de cinema pare-ce ter diversas outras razões,entre as quais a especulaçãoimobiliária, a disseminaçãoda TV a cabo e o surgimentodos shoppings centers, comsuas modernas instalações deprojeção. No entanto, para al-guns, como o projecionistaEder Mario Delatore, os anos
difíceis podem ter ficado paratrás. Pesquisador do assunto,ele acredita no retorno dos ci-nemas de rua mas ressalta a
importância de um projetoeficiente, que inclua uma po-lítica de preços populares.
O fenômeno do fechamen-to das grandes salas é bastanterecente, sentido por muitosdos belo-horizontinos commais de 20 anos de idade, masuma de suas principais causas
não é tão nova assim. Desde o
seu planejamento, Belo Hori-zonte não foi concebida paraabrigar uma população dequase três milhões de habi-tantes. Como a cidade temdimensões limitadas, cada es-paço é extremamente valioso,e as salas de cinemas tradicio-nais, por ocuparem áreasmaiores, não foram capazesde manter uma estrutura dis-pendiosa (impostos, aluguéis,taxas). Paralelamente, por lo-calizarem-se em um centro co-mercial, as salas nos shoppin-
gs ganharam localização
estratégica, oferecendo facili-dade de acesso e comodidadescom as quais os antigos cine-mas, empreendimentos volta-dos exclusivamente para a exi-bição de filmes, não foramcapazes de competir
O primeiro cinema da ci-dade foi o teatro Paris, inau-gurado em 1906 e, posterior-mente renomeado paraOdeon. Em 1927, foi inaugu-rado o Cine Glória, controla-do pela produtora cinemato-gráfica Metro-Goldwin-Mayer,com capacidade para 1.200
pessoas. Tivemos também ou-tros nomes marcantes emBelo Horizonte, como o CinePathé, na Savassi, o Cine Pa-dre Eustáquio, que tinha ca-pacidade para 1000 pessoas.Tivemos o Cine Acaiaca, oCine Tupi, com capacidadepara 1.800 pessoas e tambémo importante Cine Brasil. Detodas as salas, a única em ple-no funcionamento atualmen-te é o Cine Humberto Mauro,criado nas dependências doPalácio das Artes em 1978.Para o cineasta e diretor exe-
cutivo do Instituto HumbertoMauro, Victor Almeida, os ci-nemas faziam parte de um ri-tual social, mas, com o desen- volvimento da sociedade demassas, as pessoas começarama ter acesso a outras formas delazer. “Nos Estados Unidos,ela fez com que fossem muda-dos os filmes. Entre nós, a te-levisão, dispensando as pesso-as de saírem de casa, e, alémdisso, sendo de graça, contri-
buiu para o fechamento dos
cinemas, primeiro no interior,depois nos bairros das capitaise, finalmente, nos seus cine-mas de rua. Não foi o cinemaque perdeu o encanto, é queoutros encantos não cessamde aparecer, explica.
A decadência dos cinemasde bairro foi causada por vá-rios fatores externos, mastambém por falta de planeja-mento. O fechamento das sa-las que, quando não demoli-das, se tornaram templosevangélicos ou centros comer-ciais seria uma prova de que
boa parte da população não énostálgica e preza pela quali-dade dos serviços apresenta-dos, afinal, a dinâmica da ci-dade não permite que aspessoas criem uma mobiliza-ção cultural por pura conveni-ência ou para salvar empreen-dimentos que não lhesoferecem qualidade técnicacomparável à das salas de ci-nema dos shoppings.
O público busca qualida-de de som, imagem e atendi-mento, além de outras opçõesde atividades, facilmente en-
contrados em shoppings. A maioria dos moradores da ca-pital mineira já deve ter idoaos cinemas antes desse perío-do de crise. As salas eram umadiversão legítima e o climasempre festivo. Todavia, filasenormes se formavam, o pú-blico se tornou mais exigentee os cinemas se fecharam.
Cia ImPressão10 Belo HorIzonte, outuBro de 2010
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Cine Brasil exibe um dos ultimos lmes antes do seu fechamento, ocorrido em julho de 1999
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Mariana Medrano
arquiVo
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O Cine-Theatro Brasil é omaior exemplo da ascensão equeda dos cinematógrafos deBelo Horizonte. Inauguradoem 1932, foi um marco para o
processo de verticalização dacidade, e sua arquitetura con-tribuiu para o design das ruasda região central. Nos anos 80,sentiu o declínio na procurapelos cinemas convencionais,mas resistiu, popularizandoo gênero dos filmes exibidos.Em 1999 o prédio fechousuas portas, paradoxalmenteno mesmo ano em que foireconhecido pelo PatrimônioHistórico e Artístico.
O cinema está sendo refor-mado e se tornará um centrocultural graças à iniciativa pri-
vada. Segundo Victor Almei-da, não falta interesse dosórgãos públicos. O governodo Estado está transformandoa Praça da Liberdade numgrande centro cultural a céuaberto e a prefeitura mantém vários centros culturais embairros de Belo Horizonte.“O projeto do Cine Brasil era,talvez, grande demais para ela(a prefeitura). O principal elafez, que foi impedir que osproprietários destruíssem oedifício. Ela teve também asabedoria de entregar o em-
preendimento para a inicia-tiva privada, que está fazendoum belo trabalho de restaura-ção”, afirma.
CiaImPressão 11Belo HorIzonte, outuBro de 2010
O cine Brailrenae “Se souberem dosar,
terão boas chances”
Qual foi a causa do fecha-mento dos cinemas debairros? Com o adventoda TV o público perdeu oencantamento com o cin-ema?
Não acredito. No caso deBH, praticamente todosos cinemas eram de umproprietário só e, quandoele morreu, as salas foramtransformadas em igrejas,lojas, entre outros. Isso no
início dos anos 90, quan-do a televisão a cabo, porexemplo, estava engatin-
hando, bem como eram in-existentes as grandes tevêsde plasma. Agora, numacoisa estamos de acordo,há uma sensível perda deencantamento do públicopelo cinema, tudo parecehoje girar em torno de umaatração visual combinadacom pipocas e refrigerantescaros e enormes. Há umasobreposição da máquinade consumo, que é notórianos shoppings, sobre as sa-
las, ainda que haja o esfor-ço de alguns por uma pro-gramação mais diferente.
Como fazer com que essepúblico perceba a propostade novos olhares sobre ocinema? Difícil responder,mesmo numa cidade privi-legiada como BH, em quehá um circuito alternativoforte em ação, no qual aSala Humberto Mauro é areferência principal.
Você acredita que salas decinema como as do CineBrasil vão atrair o grandepúblico, visto que osShoppings oferecem maisopções de lazer, comprase, principalmente, segu-
rança?
Ir ao cinema em shoppinghoje é mais imbatível porestas razões. Eu incluiriaainda o estacionamento.Mas é também muito maiscaro, ao contrário do quese observava nos cinemasdo centro e dos bairros.Contudo, acho que, se ocinema dos centros e dosbairros voltarem, devem in- vestir em algo próximo à for-mação de um público, quenão seja totalmente igual à
programação blockbusterdos shoppings, porque aíeles não vão ter nenhuma
chance. Mas se souberemdosar a proposição de umolhar diferente para o cin-ema, para formar o públicoque vai passar a frequentarali e trazer mais público,combinado com alguma vantagem de serviço (esta-cionamento, cafés, bares esegurança), creio ter boaschances de sucesso.
A reforma de alguns cin-emas de BH, como o CineBrasil, está sendo realizada por iniciativa privada. Seelas fossem conduzidaspela Prefeitura, já teriam
sido concluídas?
Tudo depende da políticacultural a ser conduzidapelo município. A prefeitu-ra de BH está demorandoa atuar na área, vide a crisegerada pelo adiamentodo FIT. De um lado, devehaver o interesse político.De outro, o suporte finan-ceiro. No caso do CineBrasil, houve ainda umproblema jurídico para sedefinir qual era o dono doimóvel. Agora vamos espe-
rar que o centro da capitaltenha, novamente, um es-paço de cinema.
Nísio Teixeira, jornalista, professor universitário e ciné-filo acredita na possibilidade do retorno dos cinemasde bairro. Segundo ele, se os cinemas dos centros volta-rem, devem investir na formação de um público difer-enciado daquele das programações dos shoppings parater chances de sucesso.
arquiVo PessoaL
8/8/2019 Jornal Impressão nº 182 - Caderno Do!s
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CíicaImPressão12 Belo HorIzonte, outuBro de 2010
O beijo bandido de Ney Mc M3º Período
No mês de julho, Ney Mato- grosso trouxe a Belo Horizonte oseu mais recente trabalho, o BeijoBandido. O teatro do Palácio das Artes foi palco de uma memo-rável viagem por grandes suces-sos da música popular brasileira.Surpreendentemente, o camaleãose despe dos excessos para exibir sua excelência vocal num crite-rioso repertório que passeia entrenomes como Herivelto Martins, Astor Piazzola, Chico Buarquee também de importantes referên-cias do pop/rock nacional comoPaula Toller, Hebert Viana eCazuza.
De cara limpa e terno cor claro aos moldes dos dançarinosde tango, Ney Matogrosso subiuao palco para mostrar um showíntimo e sedutor. Com perfeitaafinação, cantou uma pequenae irretocável seleção de canções,acompanhado apenas de umquarteto de cordas liderado pelopianista e maestro Leandro Bra- ga.
Mesmo sem fantasia, o can-tor não perde sua expressão tea-tral. Parece sentir cada palavra
interpretada como se realmentevivesse tudo aquilo que canta.
Aos 68 anos, o cantor revelasurpreendente forma vocal. De
tom camerístico, Beijo Bandidose encontra na MPB, mas sem a fantasia e os adereços brilhantes
do trabalho anterior do intér-prete, “Inclassificáveis”. Quembrilha em Beijo Bandido é a vozde Ney, emoldurada por um pia-no, violino e violoncelo.
Tudo posto a serviço de rep-ertório irretocável. Ney consegue
se impor até em músicas “bati-das”. Na sua voz, “Fascinação” ganha uma de suas mais belasabordagens. Sinal de que Ney não
buscou somente hits populares é a gravação de “Invento” (faixa daqual foi extraído o título “BeijoBandido”), canção do inspiradocompositor gaúcho Vitor Ramil.
Merece destaque tambémsua interpretação para Bichode Sete Cabeças, dramáticacanção de Geraldo Azevedo, ZéRamalho e Renato Rocha, quese transformou num quase choro graças ao bandolim de Ricardo Amado. Sendo uma das músicasmais aplaudidas pelo público emtodo o espetáculo. E o belíssimosamba-canção, “Doce de Coco”
de Hermínio Bello de Carvalhoe de Jacob do Bandolim, eterni-zado na voz de Elizeth Cardoso,que marcam um dos melhores mo-mentos do show.
Acima de qualquer clima ourótulo, o show expõe a segurançado intérprete e seu total domíniocênico, resultando ainda melhor do que o álbum de estúdio. BeijoBandido apresenta Ney Mato- grosso em real estado de graça.É (mais um) grande show desse grande intérprete!
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Aos 68 anos, o cantor revela sua surpreendente forma vocal
A arte de Maria Bethânia e as palavrasMc M3º Período
Onde começa uma e terminaa outra? Em seu novo espetáculoa resposta fica mais difícil, poisambas se confundem e entrelaçamprofundamente em uma coisa só.Com a sua voz inconfundível epresença de palco marcante, Ma-ria Bethânia aflora toda a sualigação com o teatro e a poesia
para apresentar leituras que nosremetem a grandes escritores, po-etas e compositores.
A ligação de Maria Bethâniacom o teatro e com as palavrasnão é nenhuma novidade. Porém,nunca esteve tão evidente comoagora. Em “Maria Bethânia eas palavras”, a cantora se libertapara apresentar algo totalmentepouco usual.
No palco, Bethânia mesclaa leitura de textos, selecionadoscom Hermano Vianna e Elias Andreatto, e poucas canções,capazes de reafirmar sua íntima
ligação com a palavra escrita. Acompanhada pelo violonistaLuiz Brasil e o percussionistaCarlos César, entoa versos cunha-dos por grandes nomes da cançãoe das letras de língua portuguesa,como Manuel Bandeira (“Tremde ferro”), Caetano Veloso e Fer-nando Pessoa (“Os argonautas”), Amália Rodrigues (“Estranha forma de vida”), entre outros.
Alguns poemas já frequen-ta a h P a
do Menino Jesus, de AlbertoCaeiro, e Ultimatum, de Álvarode Campos, ambos heterônimosde Fernando Pessoa. Outros au-tores escolhidos por Bethâniasão de gêneros e épocas distintas,destacando Guimarães Rosa,Cecília Meireles, Ramos Rosa,Sophia de Mello Breyner An-dersen, José Craveirinha, Padre Antonio Vieira, Fausto Fawcet eFerreira Gullar.
As músicas entram emtrechos, de modo oposto ao queacontece em seus shows. No rep-ertório, clássicos como ABC doSertão (Luiz Gonzaga), Romaria(Renato Teixeira), Último Paude Arara (J. Guimarães/Venân-cio/Corumbá), Marinheiro Só(adaptação Caetano Veloso),casam perfeitamente com ospoemas declamados resultandonum banquete regado a música epoesia, para o brinde de todos osseus fãs.
A cada trabalho, a cantorase reinventa sem perder a simpli-
cidade que deixa de imensuráveltamanho a beleza do espetáculo.Nesse não é diferente, com ospés descalços como quem sente a força da terra nordestina em suavida e com a voz de uma pessoavitoriosa cada palavra ganha cor-po, alma e voz e ocupa cada la-cuna exposta por nossa carênciapoética e se transforma em algoque transcende os saraus. Faznos acreditar verdadeiramente na
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Heron barbosa