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JUAZEIRO DO NORTE/CE, JANEIRO DE 2014 - ANO VIII - NÚMERO 44 PAGINA 10 EDIÇÃO ESPECIAL O povo de Juazeiro do Norte relembra os oito anos de falecimentos do Mon- senhor Murilo de Sá Barreto, o Vigário do Nordeste. A saudade é grande é todos sentem a falta do sacerdote que por quase cinco décadas acolheu a Nação Romeira da Mãe das Dores e do Padre Cícero. O Jornal Nação Romeira surgiu para homenagear Monsenhor Murilo com duas edições especiais ressaltando a vida do religioso quando das celebrações de sétimo e trigésimo dias. Para relembrar o amigo e irmão católico Monsenhor Murilo, o Jornal Nação Romeira veicula nesta edição um texto fenomenal do seu amigo parti- cular, professor Renato Casimiro. As últimas horas de Monsenhor Murilo nesse plano são retratadas de forma emocionante e fidedigna mostrando não apenas a sua dor, mas as dos familiares, amigos e da legião romeira que por tantos anos ele tão bem recebeu. Sinceros agradecimentos a Renato Casimiro pela con- fiança em compartilhar com nossos leitores esse verdadei- ro tributo ao Monenhor Murilo denominado O PASSAGEI- RO DA AGONIA. Boa leitura a todos. Foto: Cícero Valério

Jornal Nação Romeira edição 44

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Edição 44 do Jornal Nação Romeira. Homenagem ao inesquecível Monsenhor Murilo na passagem dos oito anos de seu falecimento. Texto do professor, escritor e memorialista Renato Casimiro. Janeiro de 2014.

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Juazeiro do Norte/Ce, JaNeiro de 2014 - aNo Viii - Número 44

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EDIÇÃO ESPECIAL

O povo de Juazeiro do Norte relembra os oito anos de falecimentos do Mon-senhor Murilo de Sá Barreto, o Vigário do Nordeste. A saudade é grande

é todos sentem a falta do sacerdote que por quase cinco décadas acolheu a Nação Romeira da Mãe das Dores e do Padre Cícero.

O Jornal Nação Romeira surgiu para homenagear Monsenhor Murilo com duas edições especiais ressaltando a vida do religioso quando das celebrações de sétimo e trigésimo dias.

Para relembrar o amigo e irmão católico Monsenhor Murilo, o Jornal Nação Romeira veicula nesta edição um texto fenomenal do seu amigo parti-

cular, professor Renato Casimiro. As últimas horas de Monsenhor Murilo nesse plano são retratadas de forma emocionante e fidedigna mostrando não apenas a sua dor, mas as dos familiares, amigos e da legião romeira que por tantos anos ele tão bem recebeu.

Sinceros agradecimentos a Renato Casimiro pela con-fiança em compartilhar com nossos leitores esse verdadei-ro tributo ao Monenhor Murilo denominado O PASSAGEI-RO DA AGONIA.

Boa leitura a todos.

Foto

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Juazeiro do Norte(CE), Janeiro de 20142

Do chão dos verdes cana-viais de Barbalha ao altar de Nossa Senhora das Dores, foram 75 anos de vida e serviço ao reino de Deus do Monsenhor Francisco Murilo de Sá Barreto.

Nesta sua existência, qua-se 50 anos de trabalho incansável de evangelização aos romeiros da Mãe das Dores e afilhados do Pa-dre Cícero Romão Batista. Neste caminhar, uma opção de acolhida humana e pastoral aos romeiros nordestinos: homens e mulheres de fé, orientados por uma forte es-piritualidade, guardados no cora-ção de uma simplicidade de amor e singularidade de expressão da sua religiosidade. Com o chapéu na cabeça, o rosário no pescoço e as mãos calejadas deste sertão, os romeiros se deslocam ao Juazeiro para fazer uma profunda experiên-cia de peregrinação. Elevando o pensamento para ouvir a palavra de Deus, debruçam o seu olhar a imagem de Nossa Senhora das Do-res e abrem atentamente seus ou-vidos para escutar os conselhos do Padre Cícero.

No Juazeiro, o romeiro por muito tempo, encontrou uma voz mansa, tranquila e as palavras cheias de sabedoria que ecoam nos recantos do nordeste brasilei-ro, era a voz do nosso Monsenhor Murilo.

Quem são os romeiros?

Mons. Murilo respondia assim:“São homens e mulheres,

crianças, jovens, idosos, da zona rural ou não que deixam suas ocu-pações rotineiras e se deslocam ao Juazeiro. Saem de, vão e vêm caminhando numa experiência de fé... São cristãos católicos, devo-tos que identificaram na pessoa e obra do Padre Cícero valores que o levaram a experimentar o sagra-do...O romeiro sai para o Juazeiro. Quer celebrar, participar, ser agen-te de um ritual que se iniciou bem longe e tem seu momento especial aqui...Romeiros simples, piedosos, que têm direito ao que lhes deve Juazeiro: acolhida, segurança, tra-tamento, distinção.”(Livro: Pe. Cí-cero do Juazeiro: E...quem é ele? – Anais do III Simpósio Internacio-nal,2004, P.26).

Esta consciência social e pastoral marca o trabalho de evan-gelização de Mons. Murilo com os romeiros e o povo de Juazeiro. Ele conhecia profundamente as neces-sidades e os clamores do povo-ro-meiro. Com sensibilidade e espirito de solidariedade, sentiu de perto o sofrimento de nossa gente do nor-deste. O Monsenhor Murilo trans-mitiu a paz, o conforto, a alegria e a esperança para os corações afli-tos e desesperados da vida. Como o Padre Cícero, sempre foi sincero nos seus sentimentos.

Historicamente, a vida do

Monsenhor Murilo foi doação e vo-cação para o serviço aos outros. Ele tem grande parte da sua for-mação intelectual no seminário São José em Crato e nos cursos de filosofia e teologia no seminário Arquiepiscopal de Fortaleza. Sen-tou nos bancos da sala de aula do seminário da prainha, no mesmo lugar da formação sacerdotal do Padre Cícero.

Indiscutivelmente, uma in-teligência brilhante, um jovem obstinado a seguir os caminhos de Cristo na vida sacerdotal e decidi-do a trabalhar no testemunho do anúncio da boa nova do evangelho de Jesus. Na vitalidade da juven-tude neo sacerdote, padre Murilo é enviado a Juazeiro do Norte com o ideal do seu lema sacerdotal:

DE TODAS AS COISAS DIVINASA MAIS DIVINA É COOPERAR

COM DEUS NA SALVAÇÃO DAS ALMAS.

Com essa convicção pessoal e missionária, veio residir em Jua-zeiro para nunca mais deixar essa terra. Talvez, nunca imaginaria que após quase 48 anos de pasto-reio do rebanho, estaria consagra-do no testemunho, serviço e fideli-dade ao povo de Deus como:• Pároco da Mãe das Dores;• Pastor- presença• Apóstolo do Bem• Defensor do Padre Cícero e dos romeiros;

• Verdadeiro amigo;• Confessor do Nordeste• O Padre-Ro-meiro;

T o d a s essas virtudes são presentes no Monsenhor Murilo, mas sua consagração é ser VIGÁRIO DO NORDESTE.

Este título dado pelos romei-ros ao Monsenhor Murilo sintetiza o que foi a sua vida, a sua pessoa e a sua história de amor aos romeiros e ao povo de Juazeiro. Ele é sím-bolo de bondade e procurou viver com intensidade o ardor missioná-rio no seu trabalho pastoral com a nação romeira. Ele encontrou o ponto de equilíbrio entre, de um lado, o rigor da hierarquia da Igre-ja que historicamente praticou uma ação de indiferença e hostili-dade ao fenômeno do Padre Cícero e das Romarias e por outro lado, vivenciou uma prática humana e pastoral com a vitalidade e resis-tência da piedade popular expres-sa pela fé da nação romeira. Sim-bolicamente, a história revela que Monsenhor Murilo estabeleceu um perfeito equilíbrio entre o rigor das doutrinas da hierarquia da Igreja e o respeito e reconhecimento da fé

do povo- ro-meiro que com s a b e d o r i a , simplicidade e singularidade manifesta a sua espirituali-dade e procu-ra vivenciar os conselhos do Padre Cícero, fundador desta cidade.

Após oito anos da sua pas-sagem para a eternidade, o sen-timento de saudade permanece em todos nós os seus amigos e a nação romeira. O testemunho de vida, os ensinamentos e a pra-tica de acolhimento humano do Monsenhor Murilo devem inspirar a construção de uma cidade com ética, solidariedade e justiça so-cial. Acredito ser esse o sonho e a esperança acalentados no coração do povo que tem eternizado na memória a presença do VIGÁRIO DO NORDESTE.

(*) Professor de Filosofia da Universidade Regional do Cariri

(URCA) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Ceará(IFCE) e membro da Co-missão Diocesana de Pastoral de

Romaria.

Opinião

Monsenhor Murilo, o Vigário do Nordeste

Fundado por João BarbosaOS TExTOS ASSINADOS SãO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DE SEUS RESPECTIVOS AUTORES NãO REPRESENTANDO NECESSÁRIA E

OBRIGATORIAMENTE O PENSAMENTO DA EDITORIA. TIRAGEM: 3.000 ExEMPLARES

EDIçãO DE FEVEREIRO/2012Editor: Beto FernandesComercial: João Carlos Menezes BarbosaColaboradores: José Carlos dos Santos, João Possiano, Francisco Filho e Océlio Teixeira de Sousa.Projeto Gráfico e Diagramação: Claudio Henrique M. Peixoto - (88) 8826.0151

REDAçãO: (88)8827-1660COMERCIAL: (88)8801-1910Rua do Cruzeiro, 942, Bairro São MiguelCEP 63010-485 Juazeiro do Norte – CearáE-mail: [email protected]

POR JOSé CARLOS DOS SANTOS (*)

Faço parte da nova geração de sacerdotes de nossa igreja. Sou padre há quase um ano e meio. Muito pouco tempo. Ainda estou aprendendo a ser um instrumento de Deus, por ocasião do sacerdó-cio ordenado.

E como se não bastasse a leveza de meu sacerdócio, sou vi-gário paroquial na querida e tão exigente realidade da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, a Basíli-ca Santuário de Juazeiro do Norte, do Padre Cícero, da Mãe das Dores e da nossa tão estimada nação ro-meira.

Embora seja uma realidade instigante e desafiadora, valho-me do testemunho de amor e de fide-lidade do nosso querido e saudoso Monsenhor Murilo de Sá Barreto. Sacerdote que esteve à frente desta realidade pastoral por quase cinquenta anos ininterruptos.

Falar da Paróquia de Nossa Senhora das Dores e de

seus romeiros sempre terá como pano de fundo a vida deste servo de Deus. Monsenhor Murilo fez his-tória. Seu legado é algo intranspo-nível.

Não há como aprender a lidar com a realidade romeira sem jamais se reportar aos feitos deste homem de Deus, guardião das coisas do céu. Posso dizer que cada romeiro traz consigo a lem-brança muito forte, a memória muito viva deste sacerdote que nunca mediu esforços para levan-tar a bandeira do Padre Cícero e de seus romeiros.

Estou há quase dois anos convivendo na Paróquia com ou-tros sacerdotes. Atualmente, so-mos uma equipe de quatro padres. E padres jovens. Estamos apren-dendo a cada dia e a cada instan-te a “respirar” o ar romeiro que paira sobre nós nesta envolvente e impressionante expressão de nos-sa religiosidade popular. Vivemos

aprendendo sempre. Aprendendo a ser padre e padre romeiro. é uma realidade diferente, exigente e deveras envolvente.

Mesmo o cotidiano desta Paróquia seja sempre um verda-deiro laboratório para o nosso aprendizado espiritual e sacerdo-tal, não poderemos jamais deixar de aprender com os passos da vida quase cinquentenária daquele que merecidamente recebeu o título carinhoso de Vigário do Nordeste. Monsenhor Murilo continua sendo para nós uma escola de vida e de fé. Uma aula magna de como lidar com a piedade popular na vida de nossos romeiros e romeiras.

Diante dos outros colegas e irmãos no sacerdócio, sinto-me agraciado por Deus por trazer em mim um detalhe que apresenta uma grande diferença em toda esta conjuntura. Refiro-me ao fato de ser filho natural desta ter-ra de oração e trabalho. Sou um

sacerdote juazeiren-se. Vivi muitos anos ouvindo e aprendendo com o Monsenhor Mu-rilo em suas celebra-ções, observando o seu cuidado pastoral. Trago algumas belas lembranças de sua vida. Seu jeito pecu-liar de conviver com as pessoas ainda continua fazendo a diferença. Um homem de Deus que sabia ser compreendido pelos mais eruditos como também pelos mais simples. Sacerdote que sabia unir como ninguém a inteligência adquirida ao longo de sua forma-ção sacerdotal com a sabedoria de toda uma vida voltada às coisas de Deus.

Recentemente celebramos o oitavo ano de sua vida dian-te de Deus. Sim! Ele está diante de Deus, pois esta é a nossa fé! Mas, o seu jeito único soube ser

eterno também entre nós. Monsenhor Mu-rilo ainda é saudade. E assim sempre será, pois soube, em vida, cativar a todos como sacerdote, professor, pai espiritual e ami-go. E, como já disse o célebre autor Saint Exupery, na clássica

obra O Pequeno Príncipe, “tu te tornas ETERNAMENTE responsável por aquilo que cativas”. Encerro estas linhas como costumo fazer sempre ao final das celebrações com os romeiros: Viva o Padre Cí-cero, viva a Mãe das Dores e Viva o Monsenhor Murilo!

Na caridade do Cristo, o seu irmão menor,

“Tende em vós os mesmos senti-mentos de Cristo Jesus” (Fl 2,5).www.aurelianogondim.blogspot.

com

Monsenhor Murilo: escola de vida e de féPADRE AURELIANO DE SOUSA GONDIM

Page 3: Jornal Nação Romeira edição 44

MONS. MURILO, O PASSAGEIRO DA AGONIA

ESPECIAL

3Juazeiro do Norte(CE), Janeiro de 2014

29. Nov.2005, Terça-Feira – PRESSUPOSTOS

Em muitos anos de convivência com Pe. Francisco Murilo de

Sá Barreto, por diversas ocasiões, manifestávamos alguma apreensão por seu estado de saúde. O ritmo estafante das funções de pároco nos levara, mais recentemente, a preocupações maiores. Uma amiga comum me confidenciou que ha-via conversado com ele, em 2003, e disto se revelou o resultado de uma imagem que apresentava um nódu-lo hepático de 1,7 cm. Nos seus an-tecedentes, registrava-se diabetes, hipertensão e insuficiência renal. No almoço do dia anterior, na casa de Assunção Gonçalves ele dissera: “eu não tenho medo de fígado, eu tenho medo dos rins!” Junte-se a isto algumas histórias de vômitos e fezes sanguinolentas. Neste dia 29, Mons. Murilo chegou a Fortaleza sendo acolhido na casa de sua fa-mília, para no dia seguinte se sub-meter à cirurgia para a retirada do nódulo hepático.

30. Nov.2005, Quarta Feira – INTERNAMENTO E CIRURGIA.

No Hospital, pela manhã, já havia a expectativa de que

Mons. Murilo se internasse para os procedimentos. A recepção infor-mava que havia sido reservado o apartamento 307. Somente na parte da tarde o paciente foi internado e, por telefone, a família informa-va, já pelas 20:30h, que a cirurgia estava acontecendo. Naquela hora o Dr. Alcides Muniz já havia saí-do da sala e fornecera alguns da-dos para a família. A previsão era de que a cirurgia terminaria pelas 22:30h. Participaram da equipe os seguintes profissionais: Cirurgião: Dr. José Huygens Parente Garcia. Nefrologista: Dra. Regina Ferreira Gomes Garcia (esposa do Dr. Huy-gens), Médico Intensivista: Dr. Dirk Schreen, Anestesista (sem identifi-cação) e outros assistentes. A ci-rurgia durou 4 horas, entre as 18:30 e 22:30 h do dia 30 de novembro de 2005, data em que se comemorava no Juazeiro os 135 anos de ordena-ção sacerdotal do Pe. Cícero Romão Batista. Mons. Murilo saiu do Cen-tro Cirúrgico com plena consciên-cia e teria falado com os médicos na UTI.

01. Dez.2005, Quinta Feira - EM COMA?

No fim da manhã deste dia, por telefone, se dizia que havia

muita confusão no Juazeiro, pois o estado de Monsenhor se agravara bastante e já se comentava que es-tava em coma. Corri para o Hospi-tal São Carlos. Subi para o terceiro andar e não encontrei ninguém da família. Informam-me que a UTI era no quinto andar. Lá já encon-trei uma situação tensa e muito preocupante. Pelas 16 horas esta-va prevista a abertura da UTI para visitas de familiares. Já havia uma decisão de limitar este tempo, em razão da concorrida visitação, ba-rulho e a necessidade de proteger a equipe para o seu eficiente de-sempenho e a tranquilidade do pa-ciente. Mons. Murilo não estava em coma. Seu estado era de sedação para que isto pudesse contribuir, metabolicamente para a necessária retomada de funções afetadas. Das batas fornecidas para a visitação, André Herzog tomou uma e me entregou. Estive receoso em ingressar junto ao leito, e fui muito medroso para a cena que me aguardava. E, real-mente, quando me lembro me dá um aperto na alma. Não que víssemos algum sofrimento no paciente. Ele estava tranquilo, com-pletamente imóvel, mui-to monitorado por uma carga de equipamentos que emitiam sinais lu-minosos e auditivos de suas ações, injetando drogas ou medindo parâmetros. Já tinha sido realizada a pri-meira diálise renal. A ventilação mecâ-nica era fornecida através de entuba-ção traqueal. Fiquei lá uns 5 minutos,

o suficiente para guardar aquela imagem, eternamente. Libânia al-cançou sua perna e ficou fazendo um carinho na medida que seu olhar terno viajava, certamen-te, pelas memórias da vida de seu amado irmão.

VIAGEM DO CI-RURGIÃO. Houve um certo estranha-mento por parte de algu-mas pessoas pelo fato de que o pós-operató-rio não contasse com a presença do cirurgião Dr. José Huygens Parente Gar-cia. Na verdade, o Dr. Huygens se afastou de Fortaleza para cumprir agenda de trabalho na cidade de São Luiz, MA. De lá era inteirado pelos outros membros da equipe, incluindo-se a sua mulher, Dra. Regina Ferreira Gomes Garcia, Nefrologis-ta. A Chefia da equipe esta-va com o Dr. Dirk Screen que já assinara o primeiro boletim, na manhã desta quinta feira. Com o agravamento do quadro clínico do paciente, o Dr. Huygens regressou prontamente a Fortaleza e assu-miu a liderança do caso.

Notas de um Diário, por Renato Casimiro

“Estive receoso em ingressar junto ao leito, e fui muito medroso para a cena que me aguardava”

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4 Juazeiro do Norte(CE), Janeiro de 2014

ESPECIALMONS. MURILO, O PASSAGEIRO DA AGONIA (Notas de um Diário, por Renato Casimiro)

PRIMEIRO BOLETIM. O reitor André Herzog me cha-

mou e me mostrou o boletim sumário e assinado por alguém que não identi-ficamos, pois o cirurgião estava ausen-te. De fato, naquele momento sabíamos que havia por trás de tudo uma equipe reconhecidamente muito bem estrutu-rada, alvo de uma consagração objeto de eficiente e produtivo trabalho com pacientes de doenças hepáticas, sobre-tudo quanto aos necessitados de trans-plantes, junto ao Hospital Universitário Walter Cantídio, da UFC. Mas, naque-le instante era necessário sentir mais a presença de outros profissionais para cuidar setorialmente das diversas insu-ficiências que iam se acumulando, na medida em que a qualidade de vida do paciente ia afundando. Para esclarecer este primeiro boletim, José Carlos me mostrou um gráfico que o Intensivista Dr. Dirk havia rabiscado. Era como se a entrada de Mons. Murilo no Centro Ci-rúrgico estivesse no pico de um monte. Ao longo da cirurgia esta situação ia se revelando como uma descida íngreme e acelerada, até atingir naquele momento um patamar muito baixo, já com sinais de estabilização, o que se confirmaria nas próximas horas. Numa palavra, se dizia que o estado seria ainda reversível, mas muito grave.

02. Dez.2005, Sexta Feira – SEGUNDO BOLETIM.

No começo da noite do dia 2, André Herzog emitiu o seguinte e-mail

para os amigos: Caros Amigos, Com bastante tristeza comunico que o Mon-senhor Murilo de Sá Barreto, de Juazeiro do Norte - CE, encontra-se no 2.º dia de Pós-Operatório aqui em Fortaleza - CE. Unamo-nos numa corrente de fé e ora-ção para o pronto restabelecimento dele. Os médicos dizem que ele ainda não está na mão de Deus (apesar de sempre ter estado). Os médicos emitiram o se-guinte boletim: “O paciente encontra-se no 2.º dia de Pós-Operatório. Epatecto-

mia parcial evoluindo, insuficiência he-pática, respiratória e renal. Continua em estado grave. Mantêm em uso de me-dicação para manter níveis tensionais e respirando através de suporte ventilató-rio mecânico. Realizou hemodiálise hoje devendo realizar nova sessão amanhã. Dr. Dirk Schreen. Médico Intensivista Responsável”.

03. Dez.2005, Sábado – TERCEIRO BOLETIM.

O terceiro boletim trouxe a revela-ção de que o paciente começava

a apresentar arritmias e estava sendo difícil controlar a pressão. Mons. Mu-rilo era hipertenso, vivia ajustando sua pressão às custas de medicação. Depois da cirurgia os médicos informavam que a pressão arterial caira bruscamente e era necessário ajustar com noradrena-lina. Sem a droga o perfil seria de 40 x 10. Com a droga era mantido em volta de 90 x 60. Com o agravamento, na noi-te do dia 3 se falava em 30 x 0. Outro agravante que havia se manifestado era uma hemorragia gástrica, evidenciada pela tubulação da alimentação paren-teral administrada. Por isto mesmo ele passou a receber plasma para recompor elementos de coagulação sanguínea que estavam alterados. Em anexo a este Bo-letim, a Equipe comunicou que havia estabelecido com o Laboratório Pasteur que disponibilizaria um plantonista, 24 horas, para executar exames bioquími-cos, de funções hepáticas e renais, de in-teresse do monitoramento do paciente, de modo a oferecer em tempo real um melhor quadro de evolução para as de-cisões dos médicos.

VISITA DO GOVERNADOR. Na manhã do sábado, dia 3, subindo pelo elevador, encontro o Sr. Governa-dor Lúcio Alcântara, acompanhado de um ajudante de ordem. Ele me vê com um folheto sobre Mons. Murilo, de Da-niel Walker, que lhe passo às mãos e me pede notícias. Conversamos um pouco

e ele estava muito triste. Não entrou na UTI, mas conversou com a família e com o Dr. André Herzog, pedindo que o mantivesse informado sobre a evolução dos fatos, reafirmando que o governo do estado estava inteiramente à disposição da família, tendo passado o contato com o chefe da casa militar do Governo do Estado do Ceará, Cel. Hugo Abreu, para localizá-lo, pois estava indo ao interior para compromissos.

FOTOGRAFIAS. Em duas oca-siões houve tentativas de fotografar o paciente no seu leito de UTI. A primeira aconteceu na tarde deste sábado. Um se-nhor, acompanhado de sua mulher, foto-grafou algumas pessoas no hall da UTI, onde ficavam as visitas. Junto à porta da UTI ele apontava a máquina para a oportunidade em que uma auxiliar de enfermagem estava saindo e abria a porta. Isto até causou constrangimento a um sobrinho do Mons. Murilo. E houve desentendimento entre ambos, já pelas 20 horas, quando estávamos reunidos com a equipe médica, pois lamenta-velmente a pessoa estava alcoolizada. Conversamos bastante, sobre assuntos diversos, e em dados momentos o seu hálito alcoólico era muito desagra-dável. Quando começou a perceber que isto era do desagrado de uns, ele argumentava que era um re-gistro histórico do momento e por isto julgava que era legítimo fazer o que fazia. Aquelas imagens fica-riam para a posteridade e ele as daria para a família. Sua mulher não gostou do seu procedimento, censurou, e nada conseguindo, reti-rou-se da sala, por um tempo. Como a perma-nência deles no Hospital foi longa, eles também estavam no momento da Extrema Unção dada por D. Fer-nando. Já eram 22 horas daquele dia.

O bispo e mais dois padres (Pe. Marcos – Paróquia de São Vicente, Fortaleza e Pe. Edmilson – Catedral do Crato) entraram na UTI e foram junto ao leito. A família e amigos foram permitidos ficar junto à porta de uma sala anexa. Nesta ocasião, ele entrou indevidamente e por nós foi retirado, já com a intervenção dos mé-dicos que apenas queriam os padres e a irmã de Mons., Libânia, junto ao leito. Tentou mais uma vez, de perto, com a máquina e foi impedido por sua mulher e por nós. A segunda ocasião somente foi presenciada por membros da equipe de plantão na UTI. Uma pessoa se apre-sentou e se identificou como médico. Com isto teve acesso ao leito por alguns instantes. Em um dado momento, con-forme relato do médico Dirk Schreen, usando de um celular, bateu uma foto e saiu da UTI. Isto nos foi relatado no início da mais importante reunião havi-da com a equipe, família e médicos. Fi-camos indignados e até ensaiamos uma desculpa à equipe. Dr. Dirk falou com severidade, dando-nos a impressão que censurava a nossa conduta em não ter observado as restrições que se impunha para o acesso à UTI. Na verdade não tí-

nhamos nada com aquilo. Depois soubemos que a pessoa, de fato, bem identificada, não era médi-co, mas “amigo” de Mons. Mu-rilo. Ele burlara a vigilância do

Hospital, falseando a própria iden-

t i d a d e p ro f i s s i o n a l . Pelas 21 horas soube-se

de quem se tratava. Ele mesmo me c o n f i r m o u que tinha estado lá na

n o s - sa ausência, p e l a hora que o f a t o a c o n t e c e u .

Muito tempo depois, em Ju-

azeiro do Norte, a imagem foi apagada.

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5Juazeiro do Norte(CE), Janeiro de 2014

ESPECIALMONS. MURILO, O PASSAGEIRO DA AGONIA (Notas de um Diário, por Renato Casimiro)

DESPESASA convivência com todos os aspec-

tos da permanência de Mons. Murilo na UTI do Hospital São Carlos nos levou a tomar ciência de algumas preocupações na família quanto às despesas eventual-mente não estavam cobertas pelo plano de saúde de Mons. Murilo, cuja filiação era oriunda da Unimed–Cariri. A primei-ra preocupação dizia respeito às sessões de diálise pelas quais passaria. Foram duas, nos dias 2 e 3, com a previsão neste dia 3 que seria por tempo indeterminado. Neste particular houve a pronta partici-pação do Dr. Alcides Muniz e do Dr. An-dré Herzog para que isto fosse conversa-do com a direção no Cariri para estender a cobertura. Contudo, se alguma mais é confortável, deve-se dizer que algumas pessoas, empresários, políticos e amigos foram muito generosos, disponibilizan-do para a família e demais pessoas os seus serviços e préstimos para aliviar es-tas tensões que aconteciam no ambiente da UTI. Do meu conhecimento foi lou-vável a participação do empresário Tico Amorim, muito dedicado nestes dias, tendo se afastado de seus negócios para ficar junto ao lado da família. Em várias ocasiões manifestou isto reservadamen-te a mim e ao prof. André Herzog a sua disponibilidade de resolver imediata-mente qualquer restrição que houvesse. Frequentemente, a família era procurada por funcionários do Hospital para assi-nar guias de serviços necessários na UTI. Às vezes, éramos nós mesmos, os ami-gos, que assinávamos aqueles papeis, ou do banco de sangue, ou da Unimed, ou mesmo do Hospital, ou do laboratório. Era uma formalidade que não poderia atrapalhar ou trazer qualquer desconfor-to naquelas horas incertas.

BOATOSEnquanto estávamos vivendo o

drama do pós-operatório de Mons. Mu-rilo, eram frequentes as ligações telefôni-cas entre os presentes no hall da UTI e o Cariri. Em meio à curiosidade por novas e auspiciosas notícias, ficávamos saben-do das especulações que rondavam a casa paroquial de Juazeiro do Norte. A primeira delas era com o próprio estado de Mons. Pela ausência de melhores no-tícias, algumas pessoas eram reconheci-damente pessimistas, de modo a até con-tribuir para a boataria. A mais funesta foi a notícia antecipada da morte de Mons., ainda no dia 3. Não bastou a presença de repórteres de jornais, rádios e tvs. Rober-to Bulhões, por exemplo, transmitiu por telefone, informações que procuravam tranquilizar os ouvintes. Os que estáva-mos no hall dávamos opiniões e sinais confortadores numa expectativa positi-va de recuperação do paciente. Mas, os boatos continuavam assaltando a tran-

quilidade dos amigos. Talvez isto tenha diversas origens, pois presenciei médi-cos em conversas de corredores falando coisas como: se não opera viveria mais um ano. Outros falavam de falência múl-tipla de órgãos. E estas notícias iam sain-do livremente, sem uma autocensura do informante, quase sempre empenhado em trazer algo de novo, nem que fosse a nota espalhafatosa. Outra coisa que nos perturbou bastante foi a provisão conce-dida por D. Fernando ao Pe. Ivo, pároco de Assaré, para colaborar com o Pe. Sa-bastião Bandeira, durante a ausência de Mons. Esta informação foi transmitida pela imprensa como se o bispo já tivesse substituído Mons. Murilo, o que era in-terpretado como um testemunho de que o desenlace seria muito breve. Houve in-tolerância de pessoas para com a presen-ça de Pe. Ivo e a Diocese terminou por invalidar a provisão.

VIAGEM DE D. FERNANDOHavia no ar, entre Juazeiro do

Norte e Fortaleza, uma cobrança sobre a presença de D. Fernando Panico junto ao grupo que estava de vigília junto a UTI. Da Diocese do Crato estava conosco, des-de a sexta feira, o Pe. Edmilson, vigário da Catedral. No sábado, já próximo do meio dia, André Herzog fez uma ligação telefônica colocando D. Fernando a par dos últimos acontecimentos. As informa-ções do boletim das 10 horas tinham sido ainda pouco animadoras, embora hou-vesse o registro de que a anemia havia sido corrigida com a tomada de 3 bolsas de concentrado de hemácias. D. Fernan-do decidiu neste momento por sua vin-da, mas não se sabia se ainda encontraria disponibilidade de voo no Aeroporto do Cariri ou se viria de ônibus. Depois se confirmou que já tinha embarcado na ro-doviária do Crato e chegaria pelas 21:30h. Chegando a Fortaleza, D. Fernando foi até a casa da Congregação, no São João do Tauape e logo em seguida foi chama-do por André Herzog que já o colocou inteirado sobre a reunião das 20 horas

com a equipe médica. Era necessário dar a Extrema Unção a Mons. Murilo.

AMARGO REGRESSOÀ noite, quando do anúncio das

providências, diante do possível óbito de Mons. Murilo, André Herzog solici-tou a presença do Cel. Hugo Abreu para que fossem tomadas algumas iniciativas como o carro do corpo de bombeiros, batedores e a disponibilidade de uma aeronave para a viagem a Juazeiro. Ele e auxiliares estiveram no Hospital, con-versamos juntos e tranquilizaram a famí-lia com respeito ao apoio necessário.

SOLIDÁRIOSMuitos foram os visitantes que fo-

ram à antessala da UTI para hipotecar a sua solidariedade à família de Mons. Mu-rilo. Poderia e devo citar algumas destas presenças constantes e muito solidárias, de velhos e queridos amigos de Mons., como Neli Sobreira, Ermengarda Santa-na, Camilo Santana, Cicinha e Romana, Tico Amorim, Humberto Mendonça, Lú-cio Alcântara, Alcides Muniz, Humberto Germano, Cel. Humberto, Cel. Adauto, Ivan Bezerra, Raimundo Macedo, Mauro Benevides e muitos outros.

SUCESSÃOEm diversas oportunidades da

permanência de Mons. Murilo na UTI a questão da sucessão no Santuário Dioce-sano veio à tona, entre os participantes da vigília, mais pela motivação estranha das especulações que corriam pela cida-de e pelo Cariri, sobretudo depois que se anunciou a presença de Pe. Ivo, vigário de Assaré, para colaborar com as deman-das da Paróquia, junto ao seu vigário, Pe. Sebastião Bandeira Gonçalves. A famí-lia, felizmente, foi poupada de qualquer questionamento, pois já era muito grave a situação e não se poderia cometer maior indelicadeza que esta. Foi numa destas ocasiões que tive uma longa conversa te-lefônica com Maria do Carmo Pagan For-ti, que naquele momento estava no Seme-ador, bairro do Aeroporto, em Juazeiro. Era muito grande o desconforto sentido por mim, André Herzog e José Carlos com o vai-e-vem destas informações e deste bombardeio desumano, completa-mente absurdo. Em síntese, ficou eviden-te que antes da vinda de Mons. Murilo para Fortaleza, D. Fernando havia tratado deste assunto consigo, tendo perguntado se ele se opunha (O Sr. se opõe ?), no que Mons. Murilo teria dito que concordava com a sua atitude. Maria do Carmo me disse nesta ocasião que era visível o inte-resse de setores ainda não bem localizado para indispor o Diocesano com o Juazeiro e também com alguns setores do próprio clero. Mais tarde, o próprio André Her-zog me relatou que da sua conversa com

o Pe. Edmilson ficou evidenciado que o Conselho Presbiteral da Diocese de Crato, se tivesse sido consultado, não aprovaria a emissão da provisão com a qual o Bispo D. Fernando designara Pe. Ivo para esta missão de apoio às necessidades da Paró-quia-Matriz. Mas, na visão do Bispo, não se tratava de uma substituição. A presença de Pe. Ivo no Juazeiro, e particularmente na Casa Paroquial, foi interpretada como um ato extemporâneo de substituição. E como tal, deselegante. Isto revelava, mais uma vez, as dificuldades enormes que o Diocesano sempre enfrentou quando se tratou de equacionar questões ligadas aos interesses do Juazeiro. Em verdade, Mons. Murilo havia confidenciado a Irmã Annette, por ocasião da sua partida, no Aeroporto de Juazeiro na noite do dia 29, o que havia sido combinado, indican-do que o Pe. Ivo só se disponibilizaria a partir do dia 12, no que foi induzido por D. Fernando a aceitar a provisão já para o dia 30. Mons. Murilo encareceu às irmãs que oferecessem seus serviços, colabora-ção e receptividade para facilitar suas ta-refas, provisoriamente na Paróquia. Mas, nas entrelinhas, a atitude tinha trazido grande discordância popular e isto foi interpretado facilmente por Pe. Ivo que, segundo fáceis evidências de indiferença e hostilidades, assim nos foi transmiti-do, preferiu regressar a Assaré. Coube a D. Fernando a atitude sensata de cortar o problema rapidamente invalidando a provisão e fazendo cessar os boatos. Contudo, a sucessão não saia mais da boca de políticos e de outras pessoas que frequentaram a antessala da UTI. Ainda durante o velório, D. Fernando procurou ouvir o meu sentimento. Disse-lhe com muita tranquilidade: D. Fernando, eu sou dos que não tem candidato, simpatia qualquer, nem por quem quer que seja diante de um hipotético perfil, muito me-nos sobre o estilo ou modelo que se ajus-tará a esta tarefa quase impossível para se responder a curto prazo a pergunta que não quer calar: quem vai substituir Mons. Murilo? Quero crer que todos nós vamos apoiar integralmente o Bispo se pelo menos uma coisa foi tomada, exem-plarmente – que ele dê um tempo para que isto tudo fique em clima mais ame-no, que a Diocese por seus bispos, por seus padres, por seu povo, reflita sobre este instante grave de sua existência, no momento em que pensamos exclusiva-mente na continuidade da obra magní-fica que Mons. Murilo construiu e que, finalmente, encontrou boa acolhida nesta nova fase do entendimento entre romei-ros e nossa Igreja. D. Fernando bateu em meu ombro e me disse simplesmente: o senhor não imagina como estou vivendo este tormento, à frente de tantos candida-tos, alguns apadrinhados até por políti-cos da região.

Foto: Arquivo Cícero Valério

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6 Juazeiro do Norte(CE), Janeiro de 2014

ESPECIALMONS. MURILO, O PASSAGEIRO DA AGONIA (Notas de um Diário, por Renato Casimiro)

Falar sobre o Monsenhor Murilo de Sá Barreto é comentar sobre um exem-plo de sacerdote. Sua vida foi caracterizada pela dedicação a Igreja Católica Apostólica Romana e em especial ao acolhimento dos filhos do Nordeste, ro-

meiros e romeiras de nossa Excelsa Padroeira, Nossa Senhora das Dores e do padre Cícero Romão Batista.

O que mais nos impressionou em seu trabalho foi à forma inteligente com que se comportou e conviveu com lideranças da Igreja, movidas ainda por um con-servadorismo que sequer admitiam a possibilidade de falar sobre o padre Cícero, a beata Maria do Araújo e os fatos do Juazeiro.

Sem desrespeitar os superiores foi o grande responsável pelo processo de organização do acolhimento da grande Nação Romeira que anualmente vem a esta Terra Santa renovar seus votos de fé.

São oito anos de saudades do chamado Vigário do Nordeste. Monsenhor Murilo de Sá Barreto partiu, porém continua vivo dentro de nossos corações por tudo que fez, sendo um exemplo não apenas para seus familiares, mas para todos nós que aprendemos a admirar e respeitá-lo.

Dentre as muitas e justas homenagens a esse grande religioso o maior obra estruturante do Cariri, o Hospital Regional, mostra o tanto quanto foi e é impor-tante.

Nós que fazemos a Câmara Municipal de Juazeiro do Norte aproveitamos o ensejo desta edição especial do Jornal Nação Romeira para dizer que jamais Mon-senhor Murilo será esquecido.

Rubens Darlan de Morais LoboPresidente interino da Câmara muniCiPal de Juazeiro do norte

Quando vivenciamos a data de oito anos da partida do Monsenhor Murilo de Sá Barreto para um plano superior vem à sau-dade, mas também a lembrança do tempo em que esteve à frente da Paróquia de Nos-sa Senhora das Dores e como norteador na Matriz que se transformou a pequena ca-pela onde ocorreram os fenômenos do “Jo-aseiro” quando a hóstia se transformou no sangue de Jesus Cristo na boca da Beata Maria do Araújo.

Quando vivenciamos os oito anos da partida do Monsenhor Murilo, deixamos aqui nossas palavras de agradecimentos por uma vida dedicada a Igreja e na defesa do santo popular, Cícero Romão Batista.

Muito obrigado Monsenhor Murilo,

Normando SóraclesVereador

REUNIÃO FINALA última reunião da equipe médica

com a família e demais amigos de Mons. Murilo aconteceu por volta de 20 horas do dia 3. Participaram deste encontro Li-bânia, André Herzog, Renato, Luiz Neto, Drs. Huygens, Dirk e o chefe da UTI. Os médicos fizeram breve relato da situação clínica do paciente e concluíram com a péssima notícia de que tinham chegado ao recurso extremo para segurar a pres-são do paciente, já com arritmias mais fre-quentes, e a substituição de noradrenalina por adrenalina. Ficou conhecido, lamenta-velmente, que o desenlace poderia aconte-cer a qualquer momento, ou até pela ma-drugada e o amanhecer. O Chefe da UTI, transmitiu, em nome do Dr. Wilson Meire-les (Diretor do Hospital), depois que este entrou em contato com o Cel. Adauto Be-zerra, um conjunto de medidas que deve-riam ser tomadas no caso de falecimento de Mons. Murilo. O Cel. Adauto havia su-gerido que a família deveria encaminhar o corpo para a preparação na Funerária Ter-nura e daí o destino do Cariri. Isso foi um choque enorme para o grupo, sobretudo para Libânia, pois pelas 18:30h havíamos tido uma notícia de ligeira melhora do pa-ciente. Alguns de nós tínhamos saído do Hospital para ir em casa para um banho, voltando em seguida. O prof. André Her-zog fez o contato com a Funerária Ternura e os manteve informado sobre a eventu-alidade do óbito para as próximas horas. A organização se prontificou a assistir a família na pretensão e informou que tudo estaria disponibilizado.

ONDE SEPULTARDepois da Extrema Unção, Libânia

me aborda sobre a questão do sepultamen-to. E me indaga se alguma vez eu lembra-va de Mons. Murilo ter falado sobre o seu desejo na hora do sepultamento. Informei que desconhecia qualquer menção. Pron-tifiquei-me a falar imediatamente com Daniel Walker. Ele me esclareceu, por tele-fone, que em duas ocasiões eles tinham fa-lado a respeito e que nestes momentos, em viagem para fora do Cariri, em Alagoas, ele manifestara o seu desejo de ser sepultado no jazigo da família em Barbalha. Transmi-ti esta informação a Libânia e isto foi discu-tido por telefone com a família. Durante a noite e a madrugada, até depois da morte

de Mons. constatou-se que esta disposição traria muita angústia ao povo de Juazeiro, pois não teria o privilégio da guarda dos restos mortais do Vigário do Nordeste. Em novo telefonema, Daniel Walker me diz que lembrara que esta disposição de Mons. Murilo tinha um condicionante que era o de já estar afastado de suas funções de vi-gário em Juazeiro e no convívio da família, em Barbalha. O que não sabíamos era o seu sentimento mais atualizado, de fato, pois, posteriormente a estas conversas, já no ano 2000, com a construção da Capela do En-contro, Marcílio, Armando Lopes Rafael e Assunção Gonçalves haviam combinado e determinado a construção de um jazigo no interior da Capela, com a disposição, inclu-sive registrada em documento, cuja cópia foi mantida no interior do jazigo, para que ali fosse sepultado o vigário. Há informa-ções de que algumas vezes Mons. Murilo até comentou que não, não iria ser sepulta-do ali, mas ao tempo não mais manifestou discordância. Transmiti esta informação a D. Fernando, garantindo-lhe que, de fato, Mons. deveria ser sepultado no interior da Capela de Santa Terezinha, mais conhecida como Capela do Encontro.

04. Dez.2005, Domingo – ExÉQUIAS.

Na madrugada dolorosa, com a chegada de D. Fernando, passamos a falar objetivamente sobre as cerimônias das exé-quias. Na primeira projeção, imaginando que grande afluência de romeira aconte-ceria, e seria desejável para contemplá-los

neste desejo de reverenciar seu vigário, D. Fernando nos falava de um longo velório, de tal maneira que isto se prolongaria até a manhã da sexta, dia 9. Alguns obstáculos desaprovaram esta perspectiva. A primeira era a cansativa jornada a que estaria sub-metida a família de Mons. Murilo. Outro fato era a preparação do corpo, exigindo o embalsamamento, para que resistisse ao demorado velório. Outra questão era a convulsão social que isto determinaria. E, por fim, já estaríamos na véspera do sétimo dia. Ponderados todos estes motivos, deter-minou-se que o corpo ficaria na Funerária Ternura até à hora da celebração de uma missa, com a presença de amigos e das co-lônias de filhos do Cariri. Depois seria le-vado até ao antigo aeroporto de Fortaleza por um carro do Corpo de Bombeiros. Daí seguiria em avião da TAF até o Aeroporto Regional do Cariri. Novamente, em carro do Corpo de Bombeiros seria levado para a Paróquia de Santo Antonio, em Barbalha, onde ficaria até a manhã da segunda feira. Depois de missa oficiada, viria novamente em carro do Corpo de Bombeiros e chega-ria até à Capela do Socorro, passando junto ao túmulo do Pe. Cícero, seguindo depois para a o Santuário Diocesano. O velório se prolongaria até à tarde da terça feira. Após a celebração de solene missa, o sepulta-mento seria procedido no interior da Cape-la de Santa Terezinha, com a presença de Bispos, Padres, Diáconos, Seminaristas, a família de Mons. Murilo e alguns convida-dos. Ainda em Fortaleza este era o esboço do itinerário. Alguma coisa se alterou de-pois com a chegada ao Cariri.

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7Juazeiro do Norte(CE), Janeiro de 2014

ESPECIALMONS. MURILO, O PASSAGEIRO DA AGONIA (Notas de um Diário, por Renato Casimiro)

SOPA QUENTEApós a administração da Extrema

Unção, o clima entre a família e os ami-gos na antessala da UTI era de tragédia. As fisionomias estavam tensas e angus-tiadas. Havia choro e não havia um canto que nos abrigasse. O dia tinha sido longo e penoso. Entre 22:30h e 2:00h ficamos mantendo pequenas conversas. Eu desci e fiquei na recepção do Hospital, tentan-do enganar o tempo com uma revista. Por esta hora, Tico Amorim sugeriu que saíssemos juntos com D. Fernando para tomarmos um café. Foi o que se pensou para reanimar o grupo. O Bispo tinha chegado naquela noite do Crato, depois de viagem cansativa em ônibus, e não tinha se alimentado satisfatoriamente. Então, Tico Amorim, D. Fernando, An-dré Herzog, José Carlos e eu saímos pela Aldeota em busca de um café. Tico suge-riu que pudéssemos tomar algo mais for-te e nos levou a uma pizzaria onde ser-viam sopas. Foi uma tristeza: estávamos ali sentados, olhando um para o outro, tomando aquela sopa, sem gosto, sem nada. Tentamos falar de amenidades, de como Mons. Murilo gostava de comida italiana, apreciador de um Chianti e fre-qüentador costumeiro, em suas viagens a Fortaleza, do Restaurante Pulcinella, na companhia de seus sobrinhos. Fala-mos de pão italiano que acompanhava a sopa. Nada era interessante. Aí ficamos por pouco tempo, pois já era 3 da manhã. Voltamos ao Hospital e então alguns fo-ram para suas casas. Eu fui levar D. Fer-nando na casa da sua congregação, no São João do Tauape. E voltei para dormir um pouco em casa. Dormi de cansaço, não mais que duas horas. Às 6:15h o pro-fessor José Carlos dos Santos me chama pelo telefone. O óbito foi registrado às 5:30h e somente meia hora depois a famí-lia foi notificada oficialmente, nos termos do boletim médico.

ÚLTIMO ATODepois que José Carlos me avisou

por telefone, corri ao Hospital. Quando cheguei ao 5º andar, o corpo de Mons. Murilo tinha sido removido para a área de hemodinâmica, conforme se falara na reunião das 20 horas. O corpo estava enrolado em gaze e junto ao peito havia em pincel atômico o nome completo do paciente, a data e a hora do óbito. Os pés estavam enfaixados, e havia também uma faixa na cabeça, envolvendo o quei-xo. A cena era de difícil contemplação. Chorávamos todos e nos abraçávamos. Logo veio o pessoal da Funerária, trazen-do uma maca. O corpo de Mons. Murilo foi posto nesta maca, preso a dois cintos e coberto por uma capa plástica preta. Participei neste instante e detestei aquela cena: parecia que fazíamos uma embala-gem. O corpo desceu pelo elevador e foi posto no carro da Funerária, indo direto para o preparo na Rua Pe. Valdivino, es-quina com Tibúrcio Cavalcante, na Alde-ota. As pessoas foram saindo e fiquei por último. Por alguma razão o carro do ele-vador demorou a voltar ao quinto andar. Enquanto isto, que enfim, me pareceu uma eternidade, eu fiquei por ali, percor-rendo o corredor, ao olhar desconfiado de uma ou outra enfermeira que passa-va. Num dado momento, percebi que na porta principal da UTI estava pregado o último comunicado da equipe médica, nos seguintes termos: Hospital São Car-los. Boletim Médico. Cliente: Francisco Murilo de Sá Barreto. Data: 04.12.2005.

Hora: 06:00h. O Monsenhor Francisco Murilo de Sá Barreto faleceu hoje, dia 4 de dezembro de 2005, às 5:30h de falên-cia de múltiplos órgãos e sistemas. Seu quadro clínico vinha se agravando acen-tuadamente nos últimos dias, apesar de todas as medidas de suporte instituídas, evoluindo com queda progressiva da pressão arterial, insuficiência hepática e renal, hemorragia digestiva e arritmias. Ass. Dr. Dirk Schreen (Médico Intensi-vista responsável pelo paciente), Dr. José Huygens Parente Garcia (Cirurgião Res-ponsável pela Equipe). Depois daque-la leitura, retirei o papel, pregado com fita gomada e levei a folha comigo para o velório. Vai ficar para algum arquivo, como último ato formal, de uma tristeza incomparável.

CEL. ADAUTOO Cel Adauto Bezerra, bem como

seus irmãos Humberto e Ivan estiveram em diversas oportunidades na UTI. Por telefone, com a família e a direção do Hospital, tinha comunicação fácil. Em

duas ocasiões eu o vi acompanhado de perto pelo Dr. Wilson Meireles, diretor do Hospital São Carlos. Junto com sua esposa sempre trazia uma palavra de conforto. No instante da transferência do corpo para a Funerária acompanhou de perto todas as gestões. Estivemos juntos por ocasião da escolha da urna funerária. A sua escolha teria recaído numa belíssi-ma urna em madeira, escura, de fino aca-bamento, com metais dourados. Uma pe-quena fortuna, vi pela etiqueta pregada, que custaria pouco mais de 8 mil reais. D. Fernando ponderou que a urna tinha, na sua apreciação, um grande defeito: não tinha o crucifixo. Passaram a outras op-ções. Umas não tinham bom acabamen-to, outras não comportariam o corpo de Monsenhor, outras tinham um design que não nos agradava. Finalmente, se chegou a uma que satisfazia as nossas especifica-ções (?) já que todos opinavam. Custaria uns 4 mil reais. Todo o funeral onde se incluiu transporte, preparo do corpo, al-gumas coroas e flores, taxa de utilização das salas e demais providências junto ao

Cartório de plantão foram pagas pela fa-mília do Cel. Adauto Bezerra.

NO AEROPORTO DE FORTALEZAApós a celebração da missa, André

Herzog me pergunta: você vai ao Juazei-ro? Respondo-lhe que decidira ir para o sepultamento, de alguma maneira. Você não quer ir na aeronave? Há uma vaga. Aceitei prontamente e assim decidi acom-panhar o corpo de Mons. Murilo, junto com Libânia, José Carlos e D. Fernando. Na saída da Funerária, Tico Amorim nos dá uma carona para o aeroporto e acom-panhamos o cortejo que fluiu rápido, pois os batedores da polícia auxiliaram o livre trânsito. Entramos no antigo aeroporto pelo portão lateral. Rapidamente o corpo foi colocado no Caravan da TAF, devida-mente retirados os bancos para acomo-dar a urna. Constatamos que eram cinco cadeiras disponíveis. Então, André Her-zog convidou Tico Amorim para também viajar. E assim embarcamos.

A VIAGEM PARA JUAZEIRO A aeronave levantou voo às 12:30h.

A previsão era de chegada a Juazeiro pe-las 14:00h. No meio do caminho tivemos ligeira turbulência e algum desconforto. Libânia ainda comeu uma barrinha de cereais, recomendada pela família que pôs alguma coisa em sua bolsa. Aliás, esta bolsa me foi passada pela irmã de Lí-lian (esposa de Luiz Neto) para entregar a alguém que seria avisado no aeroporto de Juazeiro. Ai estavam alguns objetos pessoas de Mons. Murilo, documentos e um pacote de dinheiro que Mons. levara para despesas com o tratamento médico que, enfim, segundo me disseram, nada foi usado. De cansaço, todos cochilaram um pouco. Libânia era a mais sofrida. Ficou toda a viagem com sua mão por sobre o caixão, e de vez em quando sua respiração nos transmitia angústia. O co-mandante, algumas vezes dava informa-ções sobre o vôo, falando de uma ou ou-tra cidade que sobrevoávamos. Nada era interessante. O relógio corria e só pensá-vamos chegar e dividir aquela enorme angústia com os amigos e parentes que nos esperavam no aeroporto.

NO AEROPORTO DE JUAZEIROO Aeroporto Regional do Cariri era

nossa expectativa maior desta viagem. Já imaginávamos a enxurrada de gente. Pa-recia que todas as providência falharam, se é que existiram, as precauções para que se evitasse a invasão da pista e a área de manobra da aeronave, tão logo ela es-tacionou. Ainda não havia saído do avião e pude ver de perto algumas figurinhas conhecidas, políticos, jornalistas, gente desnecessária, arrastando o caixão para fora, como se fosse uma carga. A lateral do avião se abria para a melhor retirada do caixão. Não esperaram as providên-cias da tripulação. À frente desta horda pude ver um que correra na frente e fa-zia um péssimo papel. A imagem ficou gravada junto com a pobreza e a tristeza daquele gesto. Depois, foi o que vimos, uma exibição desnecessária da parte de alguns que queriam se apropriar da urna até a sua montagem no caminhão do Corpo de Bombeiros e o posicionamento junto ao caixão, para o cortejo até Barba-lha. É só ver as imagens fotográficas que foram tomadas. Um atestado de incivili-dade com a qual se teve de conviver, por outras ocasiões até no instante final do sepultamento.

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ESPECIALMONS. MURILO, O PASSAGEIRO DA AGONIA (Notas de um Diário, por Renato Casimiro)

05. Dez.2005 – ExAME ANATOMO-PATOLÓGICO

Uma amostra do material retirado na cirurgia do paciente Francisco Murilo de Sá Barreto, na noite de 30.11, foi envia-do pelo cirurgião Dr. José Huygens Paren-te Garcia, para o Laboratório de Patologia Pathus LaboRocha, na Av. Pontes Vieira, 2591, ao lado do Hospital São Carlos, onde o paciente estava internado. O material foi recebido no laboratório em 02.12.2005 e ca-talogado sob o número B/05/008061, para ser feito através do convênio com Unimed, e correspondia a uma porção do lobo di-reito do fígado e vesícula biliar, cujo diag-nóstico clínico associado era o de nódulo tumoral. No laudo da biopsia, com data de 05.12.2005, assinado pela médica Luciana Gomes da Rocha de Arruda (CRM 7960), encontra-se a seguinte descrição macros-cópica do material: “Recebido em for-malina lobo direito do fígado, elástico de tecido pardo-amarelado, previamente sec-cionado no seu maior eixo, medindo 16,0 x 12,0 x 7,0cm e pesando 700g. Aos cortes nota-se volumosa massa tumoral branco-amarelada com área friável de localiza-ção periférica, medindo 6,0 x 5,0 x 5,0cm, distando 2,0 cm da margem de ressecção cirúrgica. Nota-se também, adjacente a lesão área nodular brancacenta, medindo

0,3cm de diâmetro rente à cápsula. O res-tante do parênquima hepático encontra-se normal. Acompanha no mesmo frasco ve-sícula biliar, medindo 8,5 x 3,0cm. A serosa é esverdeada. Aberta mostra bile esverde-ada sem cálculos. A parede mede 0,3cm de espessura. A mucosa é esverdeada e de aspecto aveludado. Legenda: A-massa tumoral(57/5c); B-margem de ressecção (1f/1c); C-área nodular (1f/1c); D-vesícula biliar (3f/3c).” A descrição microscópica do exame está nos seguintes termos:

“As secções exibem lesão circuns-crita e nodular (A e C) envolta por pseu-do-cápsula conjuntiva fibrótica, cerceada por parênquima hepático típico. A lesão é constituída pela proliferação de células po-ligonais com núcleo redondo, ora mais au-mentado de volume e irregular, contendo pseudo-inclusões intracitoplasmáticas, de-notando hialinos de Mallory. Tais células dispõem-se em trabélulas com sinusóides separando-as em feixes, contendo ainda por vezes microgotículas lipídicas em cito-plasma e microfocos de necrose tumoral, além de infiltração focal por histiócitos es-pumosos e extravasamento de hemácias. A lesão não traspassa pseudo-cápsula. O pa-rênquima adjacente apresenta reação por-tal de padrão biliar. As secções de vesícula biliar exibem hemiação diverticular muco-sa para parede, formando seios de Roki-

tansky-Aschoff, associado a espessamento de camada muscular e infiltrado inflama-tório mononuclear linfoplasmocitário.” Ao final, a médica patologista deu a seguinte conclusão: “Carcinoma hepatocelular mo-deradamente diferenciado, grau 2 de Ed-mondson-Steiner, padrão arquitetural cir-rótico (maior diâmetro tumoral = 6,0cm). Margens cirúrgicas livres. Ausência de invasão perineural ou angiolinfática. Pa-rênquima hepático adjacente: periferia de lesão expansiva. Colecistite crônica.”

04. Dez.2013 – FINAL

Estas notas foram escritas ao calor da hora, até uns 15 dias após o sepultamen-to de Mons. Murilo. Por estes anos trans-

corridos guardei-as e evitei transcrever ou mencionar alguma coisa destes bastidores. Tive sempre muito escrúpulo e a ninguém encaminhei para leitura. Recentemente, e com o sentimento de que em nada exorbi-tei nessas linhas, por não externar um sen-timento pessoal, decidi que daria divulga-ção, e o faço agora apenas em fidelidade ao compromisso de registrar para a poste-ridade, o drama que vivemos por aquelas 83 horas da agonia de Mons. Murilo. Sua morte nos afetou profundamente. Não é sem razão que a lembrança destas datas e destes fatos nos conduzem novamente às veredas de angústias que sua família e al-guns amigos experimentaram há oito anos atrás. Por sua crença no Cristo ressuscita-do, também Mons. Murilo, vivo, repousa na paz do Senhor. Amém.

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Juazeiro do Norte(CE), Janeiro de 2014 9SOCIAL

João Carlos BarbosaSociedade [email protected]

FoNe/Fax (88) 3571.1993Rua Letícia Vasconcelos, 217 Parque Triangulo - Juazeiro do Norte-CE

[email protected]

SÓ CHARLANDO

O casal de empresário Humberto e Eliana do Sal & Fogo, todos os anos fazem uma viagem internacional. Na foto na Argentina jantando ao som de um tradicional Tango Argentino. Em 2014, quem sabe qual será o destino America do sul ou Europa?

AMIZADE

O casal Dr. Giovanni Sampaio e esposa,com o Monsenhor Murilo. “Lacuna que nunca será preenchida. Ele era insuperável, era o melhor, Por isso recebeu do povo. o título de “Vigário do Nordeste”. Disse Dr. Giovanni.

SAUDADEO amigo Elis Romeiro com Monsenhor Murilo, logo quando recebeu o título de Monsenhor. Na foto podemos observar ainda o amigo Expedito Costa e Mairton Administrador do Cemitério.

FORMATURA

Quem está feliz da vida com a nova conquista no curso de Direito na Faculdade Paraíso é a amiga Claudênia Luna, esposa do amigo Arilo Luna.Parabéns e sucesso na carreira.

BAZAR

Sucesso total o Bazar beneficente realizado pela Associação Vida Para Todos, Fundação Otília Correia Saraiva e Associação Manduca e Letícia que ocorreu de 25 à 30 de dezembro último. Doação da Receita Federal. A frente o Padre Francisco Luiz, que esta dando uma nova roupagem tanto na estrutura da Igreja como na comunidade católica do bairro. Parabéns.

DEVOTADona Rosa Lúcio, mãe do jornalista Cícero Lúcio, esteve visitando o Juazeiro na virada do ano. Romeira de Cajazeiras PB, D. Rosa é devotado Pe. Cicero, desde 1930, hoje com 85 anos volta as origens e visita a estátua do seu padrinho. Que dos sete filhos,um recebeu o nome do Padre, fruto da fé e de uma graça alcançada.

CASAL SIMPÁTICOO Casal empresário Erivaldo Junior e sua esposa Janaina, sempre presente nos eventos sociais do Cariri. O simpático casal faz parte da Loja Maçônica Cavalheiros Spartanos Nº 85. Que 2014 seja só sucesso.

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Juazeiro do Norte(CE), Janeiro de 201410DESTAQUE ROMEIRO

Gilmar Bender, devoto do Pe. Cícero uniu tecnologia e qualidade ampliando o polo calçadista caririense

NATURAL DE NOVO HAMBURGO, RIO GRANDE DO SUL, Bender chegou ao Cariri para trabalhar na manutenção de injetoras do empresário Severino Duarte. A previsão de passar 30 dias na cidade se transformou num projeto de vida com a fixação de raízes familiares e profissionais. Gilmar Bender é hoje, indiscutivelmente, reconhecido como um dos responsáveis por transformar o Cariri Cearense no terceiro maior polo calçadista do Brasil.

Por Beto Fernandes

Casado com Rosane, Bender é pai de Rache-dy, Alan, Natália, Bru-

na, Marina, Sheila e Giova-na. Ao falar sobre sua vinda para Juazeiro do Norte, Gil-mar Bender tem um misto de emoção e agradecimen-to. Com larga experiência como técnico em conserto e montagem de injetoras viu o convite de Severino Duarte se transformar numa grande oportunidade de trabalho onde com humildade, dedi-cação e Inteligência começou uma sólida carreira no ramo calçadista regional. Bender entrou no mercado com uma pequena empresa, a Begam, primando pela qualidade dos produtos, mesmo com a produção de apenas dez pares por dia gerando cinco empregos diretos na época.

Homem a frente de seu tempo buscou parcerias e foi visitar polos maiores para implantar tecnologia no mercado local. “Fui en-tão ao Rio Grande do Sul, Itália e até a China com ob-jetivo claro de descobrir e aprimorar tecnologias. Foi lá que com outros empresá-rios tivemos a ideia de arti-cular, viabilizar e organizar a I FETEC (Feira de Tecno-logia de Calçados) que ser-viu demais para projetar o nome de Juazeiro no cenário calçadista e empresarial na-cional”, explicou.

Individualmente, a Began mudou-se para um pavilhão de mais de 1.200m² no Bairro triangulo, semente da hoje consagrada Tecnoli-ty. “O que eu fiz? Juntei a qualidade da pequena em-presa com a tecnologia de ponta de uma nova empre-sa surgindo a Tecnolity, ou seja, um empreendimento primando pela qualidade e tecnologia tendo como princípio norteador que os

funcionários, antes de em-pregados são colaboradores e responsáveis diretos pelo sucesso do que produzi-mos”, afirmou emocionado.

Em dezembro do ano passado a Tecnolity alcan-çou a incrível marca de 1.000 colaboradores. A empresa tem médico de saúde do trabalho e equipe técnica de saúde além de incentivar a permanente capacitação de seus funcionários através do Serviço Nacional de Apren-dizagem Industrial (SESI).

Casa das Máquinas

Antenado com o se-tor Gilmar Bender idealizou e concretizou a Casa das Máquinas, implantada na cidade polo da Região Me-tropolitana do Cariri. Ele diz

que sua origem humilde o faz reconhecer que é impos-sível concretizar um projeto empresarial sozinho. “Não canso de agradecer a todos os meus colaboradores e aos empresários, grandes ou pe-quenos, que são parceiros do desenvolvimento regional. Com esse pensamento iden-tifiquei que muitos dos pe-quenos não tinham acesso ao crédito para comprar equipa-mentos e melhorar sua linha de produção”, afirmou.

Para enfrentar e ven-cer o problema de importa-ção Bender lançou a Casa das Máquinas vendendo de forma nacionalizada e parcelada garantindo crédi-to, melhoria e ampliação na produção e, por conseguin-te, gerando mais emprego e renda junto aos pequenos empresários. Atualmente a Casa das Máquinas tem mais de 300 clientes mostrando o sucesso da empresa.

Construção Civil

Mostrando sua visão empresarial Gilmar Bender investe agora no setor de construção civil com im-plantação de uma “concre-teira”, a BenderMix. “Identi-fiquei a necessidade de uma nova empresa nesse setor como forma de melhorar a competitividade no Cariri

e agilizar execuções das di-versas obras. Estamos ini-ciando com seis betoneiras, mas a meta em dois anos é de ampliarmos para 20”, in-formou.

Segundo o empresá-rio o dinamismo na constru-ção civil juazeirense deve-se, dentre outros aspectos, a me-lhoria na qualidade de vida da população, agora com mais poder aquisitivo. Ele compreende que a peque-na área geográfica contribui para verticalização da cida-de. Segundo Bender, Juazei-ro tem hoje um consumo de 20 mil m³ de concreto mês, mas em dois anos a perspec-tiva é de 60 mil m³/mês. Gil-mar Bender disse também ser conhecedor de uma crise de cimento no país, mas que não a teme porque está sen-do instalada uma fábrica do produto em Quixeré que vai normalizar o abastecimento em todo o Ceará.

Política

Indagado sobre as especulações dando conta

de seu nome com vistas às eleições 2016 em Juazeiro do Norte foi enfático. “Fico feliz em saber que o povo de Ju-azeiro está lembrando-se de meu nome, que nossa gente está cotando meu nome. Mi-nhas empresas estão bem. Meus negócios estão bem e eu devo muito a essa cida-de. Se o povo precisar de mim eu estarei à disposição para concorrer à prefeitura no próximo pleito”, afirmou reconhecendo uma pré-can-didatura. Disse também que caso essa ideia se concreti-ze implantará um sistema público de gerenciamento como o privado, otimizan-do serviços, investindo na capacitação de servidores concursados e comissiona-dos para atender bem e de forma humanizada e bus-cando as reais parcerias com equilíbrio financeiro com o Estado e a União visando à boa execução de todas as políticas públicas.

Na última semana o Governador Cid Gomes abriu espaço em sua agenda no Cariri para visitar as ins-

talações da Tecnolity. A visita coincidiu justamente quando aumentam comentários posi-tivos sobre ingresso de Ben-der na política, apesar de não ser filiado a nenhuma agre-miação partidária. Cid esta-va acompanhado do deputa-do federal José Guimarães e do presidente da Assembléia Legislativa do Ceará, Zezi-nho Albuquerque.

Padre Cícero

O gaúcho Gilmar Ben-der disse ser um devoto e fiel do padre Cícero. “Na minha empresa tenho uma imagem do padre Cícero. Tenho cer-teza que ele tem abençoado a minha vida, a minha família e os meus colaboradores as-sim como abençoa toda essa cidade construída a partir do seu trabalho e da fé de milhões de pessoas que vêm o reverenciar anualmente”, afirmou olhando para está-tua do Patriarca do Nordeste na Sagrada Colina do Horto. Bender disse também acredi-tar na reabilitação sacerdotal do religioso.

O empresário recebeu a visita de Cid Gomes e José Guimarães