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Nº 100 DEZEMBRO de 2011 Distribuição gratuita aos sócios STAL STAL Eleições no STAL Combater o retrocesso social No próximo dia 14 de Dezembro, os asso- ciados do STAL elegem os órgãos nacio- nais e regionais para o quadriénio de 2012/ 2015. centrais Informar e mobilizar 100 números do Jornal do STAL Com a presente edição, o Jornal do STAL cumpre 100 números, dedicados às princi- pais lutas e reivindicações dos trabalhado- res do sector. Pág. 16 Documento «Verde» Tribuna Pública, 12 Dezembro O STAL entrega uma petição na AR e reali- za uma tribuna pública em defesa do Poder Local Democrático. Pág. 4 Indignação geral contra o empobrecimento A greve geral de 24 e a manifestação de 12 de Novembro provam que os trabalhadores estão determinados a prosseguir e intensificar a sua justa luta contra as políticas de empobreci- mento acelerado. Só a luta por uma verdadei- ra mudança de rumo para o País permitirá combater a catástrofe social e econó- mica que nos ameaça. Págs. 2 e 3 Luta justa e necessária!

Jornal N.º 100

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Jornal do STAL - N.º 100

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Page 1: Jornal N.º 100

nº 100 • DEZEMBRO de 2011Distribuição gratuita aos sócios STALSTAL

Eleições no STAL Combater o retrocesso socialNo próximo dia 14 de Dezembro, os asso-ciados do STAL elegem os órgãos nacio-nais e regionais para o quadriénio de 2012/2015. centrais

Informar e mobilizar100 números do Jornal do STAL

Com a presente edição, o Jornal do STAL cumpre 100 números, dedicados às princi-pais lutas e reivindicações dos trabalhado-res do sector. Pág. 16

Documento «Verde»Tribuna Pública, 12 Dezembro

O STAL entrega uma petição na AR e reali-za uma tribuna pública em defesa do Poder Local Democrático.

Pág. 4

Indignação geral contra o empobrecimentoA greve geral de 24 e a manifestação de 12 de Novembro provam que os trabalhadores estão determinados a prosseguir e intensificar a sua justa luta contra as políticas de empobreci-mento acelerado. Só a luta por uma verdadei-

ra mudança de rumo para o País permitirá combater a catástrofe social e econó-mica que nos ameaça.

Págs. 2 e 3

Luta justae necessária!

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DEZEMBRO 20112 jornal do STAL

As medidas de austeridade previstas no memorando da troika e agravadas no Orça-

mento do Estado para 2012 arras-tam o País para a recessão e para o caos, aumentam a pobreza e as injustiças e mantêm acintosamen-te a imoralidade dos privilégios dos grandes grupos financeiros e do pa-tronato.

A luta, que é cada vez mais ge-ral, irá continuar e intensificar-se. Já nos próximos dias 30 de Novembro, quando da aprovação do Orçamen-to do Estado, e 12 Dezembro. Nes-ta última data, em que se assinala o 35.º aniversário das primeiras elei-ções autárquicas em liberdade, o STAL promove junto à Assembleia da República uma Tribuna Pública em defesa do Poder Local Demo-crático, contra a redução do núme-ro de autarquias e de trabalhadores.

Combater o retrocesso social

Analisando a gravíssima situação social e económica do País, o Ple-

nário Nacional do STAL, realizado dia 7 de Outubro em Almeirim, as-sinalou que «ao invés de preconiza-rem soluções efectivas para a crise e o crescimento, o memorando as-sinado pelos partidos do chamado arco do poder (PS, PSD e CDS/PP) com a troika estrangeira e o progra-ma do actual governo empurram vertiginosamente o país para um panorama de recessão avassalador, para o aumento do desemprego, a miséria e o empobrecimento gene-ralizado das populações.»

O Sindicato lembra que os suces-sivos governos do PS e PSD, sozi-nhos ou coligados com o CDS-PP, tudo fizeram para restaurar os pri-vilégios das grandes famílias eco-nómicas, cujo poder terminara com a Revolução de Abril de 1974, que abriu caminho à democracia, à jus-tiça social e ao desenvolvimento.

A este propósito o STAL salienta: «O rumo político que o actual go-verno pretende levar a cabo – de ataque aos direitos, de degradação dos salários e das relações labo-rais, de desmantelamento do Po-

der Local Democrático, de destrui-ção da Administração Pública e de privatização de serviços públicos essenciais – não constitui mais do que a tentativa para, a coberto de um pretenso combate à crise e em nome de um demagógico interesse nacional, promover um verdadeiro ajuste de contas com a Revolução de Abril, atacar violentamente as suas conquistas e possibilitar a res-tauração dos privilégios daqueles que outrora enriqueceram desme-suradamente à custa da exploração do povo português e dos trabalha-dores.»

O Plenário Nacional do STAL con-cluiu que são sinuosos e perigo-sos os caminhos que a coligação de Passos Coelho e Paulo Portas pretendem trilhar. Ao pôr em causa direitos essenciais dos trabalhado-res e das populações, o Governo ataca a própria democracia e com-promete o futuro do País, pelo que aos trabalhadores e às populações cabe resistir com determinação, ampliando a luta e a unidade em torno dos direitos, dos salários, do Poder Local Democrático e dos ser-viços públicos.

No entanto, a ofensiva que se verifica no plano nacional não está desligada do «panorama mais vas-to de uma União Europeia cada vez mais ao serviço dos interesses do capital, uma Europa neoliberal de endeusamento dos mercados, de desregulamentação das leis labo-rais, do desemprego e da injus-tiça», uma Europa que se «verga definitivamente aos ditames dos poderosos e sacrifica tudo e todos para garantir os lucros dos grandes sectores financeiros e do patrona-to.»

Os que apresentam a Grécia como o «mau aluno» e o exemplo a não seguir, ocultam que, tal como em Portugal, não foram os traba-lhadores e o povo que conduziram a economia à recessão e os esta-dos à bancarrota. Estas são, sim, as consequências de uma crise do capitalismo que resulta da sua na-tureza predatória, uma crise que se

aprofundará inevitavelmente à me-dida que forem aplicadas as «so-luções» impostas pelo Fundo Mo-netário Internacional, pelo Banco Central Europeu e pela Comissão Europeia.

Lutar pela mudança

O Plenário Nacional do STAL deixou claro que o combate à cri-se «não passa pela insistência nas mesmas receitas de sempre, mas sim por uma verdadeira ruptura com os caminhos que têm vindo a ser prosseguidos». Neste sentido foram reafirmadas as propostas de-fendidas pelo Sindicato, pela Frente Comum e pela CGTP-IN, as quais «constituem soluções políticas e económicas efectivamente alter-nativas» e «não só são exequíveis como absolutamente indispensá-veis»:

- A renegociação da dívida, dos montantes, juros e prazos;

A manifestação da Administração Pública de 12 Novembro e a greve geral de 24 de Novembro marcaram uma nova etapa da luta dos trabalhadores contra a violenta ofensiva da coligação governamental PSD/CDS-PP, visando diminuir e retirar salários, subsídios, direitos e serviços públicos. Luta geral

contra a ofensiva brutal

Trabalhadores dos diferentes sectores cerram fileiras

O roubo dos subsídios e as dívidas das autarquias

As afirmações foram feitas pelo secre-tário de Estado da Administração Local, Paulo Simões Júlio, e provocaram indig-nação geral. Segundo disse, o produto do roubo dos subsídios dos trabalhadores em 2012 destinar-se-á ao pagamento das dívidas das autarquias a fornecedores, à amortização de empréstimos ou ao inves-timento.

O STAL repudiou prontamente tais inten-ções, qualificando-as como «uma afronta ver-gonhosa a todos quantos diariamente contri-buem para o funcionamento das autarquias e para a prestação dos serviços públicos que prestam».

«Num quadro constitucional que atribui au-tonomia financeira e administrativa ao Poder Local», lembra o Sindicato, «é inadmissível que Paulo Simões Júlio venha a terreiro afir-mar o destino deste verdadeiro saque que o Governo pretende levar a cabo sobre os ren-dimentos dos trabalhadores das autarquias».

Em nota de imprensa, o STAL acusa o Governo de agir como «Robin dos Bosques invertido e transfigurado», retirando aos po-bres para dar aos ricos, tudo a coberto de um pretenso «esforço nacional», que penaliza em primeiro lugar aqueles que trabalham e me-nos têm, mantendo intocáveis os privilégios dos grandes grupos económicos.

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DEZEMBRO 2011 3jornal do STAL

Editorial

Por que lutamos

Andam por estes dias numa roda-viva politiqueiros e fazedores de opinião da nossa

praça, desfazendo-se em análises, considerações e alertas sobre a situação do País e da Europa.Lançam cuidados com o «contágio» grego, antevêem o «caos» do fim da moeda única, vaticinam as inevitabilidades da austeridade, apelam ao «sacrifício nacional», apregoam as privatizações, os cortes na Saúde e na Educação, a redução dos salários e pensões, o aumento dos impostos – é, dizem, a única saída possível do imenso lamaçal em que nos encontramos.

E quando os trabalhadores se erguem em protestos, quando os seus sindicatos de classe

mobilizam para a luta, logo o tom de calamidade cresce: aqui d’el rei que não podemos abanar mais isto, que é preciso compreensão e esforço colectivo «a bem da Nação». Ai, se o Sarkozy nos ouve, se a Merkel se apoquenta, que há-de ser de nós? Nós, que até estamos bem vistos pelos senhores da Europa, nós que até somos um menino bem comportado e vamos além do que a própria troika havia gizado, nós que somos bem diferentes dos gregos, esses, sim, arruaceiros e incumpridores…Pretendem que nos resignemos com «soluções» impostas por uma camarilha política que prega o cardápio da «austeridade» ao povo, ao mesmo tempo que despeja milhares de milhões nos bancos, salvando assim a opulência do grande capital e dos seus apaniguados. Soluções que são as mesmas de sempre – essas que mantêm intocáveis as grandes fortunas, essas que nada resolvem antes aprofundam a crise, agudizam o desemprego e a recessão, aumentam as injustiças e a pobreza, tornam mais gritantes as desigualdades, essas que são na verdade a raiz dos problemas que se abatem sobre a generalidade dos trabalhadores europeus.

A luta dos trabalhadores, e muito em particular a Greve Geral de 24 de Novembro, é

apresentada por estes senhores como o caminho a não seguir, aventando conflitos e convulsões, retaliação dos mercados e dos poderosos que dominam a União Europeia. Mas qual é então o caminho para os trabalhadores? Aceitar de mão beijada o roubo? Curvar-se perante o aumento da exploração? Conciliar-se com a demolição das conquistas laborais e sociais, permitir a destruição do regime democrático nascido da Revolução de Abril?Não! De luta se fez a história, de luta se faz o presente e se fará o futuro em Portugal, na Europa e no mundo. Os trabalhadores e o povo levantar-se-ão contra a barbárie neoliberal, que os espolia e condena ao empobrecimento, e retomarão o caminho do progresso, do desenvolvimento social e económico de Portugal, por uma Europa e um mundo de cooperação fraterna entre povos libertos da exploração. É para isso que lutamos!

Luta geralcontra a ofensiva brutal

Trabalhadores dos diferentes sectores cerram fileiras

A Frente Comum de Sindicatos da Administra-ção Pública decidiu não participar num processo negocial de «faz de conta», recusando-se a com-parecer na reunião, convocada

pelo Ministério das Finanças em 14 de Outubro.Como é sabido, na ocasião foram apresentadas

as inaceitáveis medidas inscritas no Orçamento do Estado, designadamente os cortes dos subsídios de férias e de Natal, que significam uma redução dos rendimentos anuais dos trabalhadores da Ad-ministração Pública sem precedentes na história.

Face a uma tal violência, a Frente Comum acu-sou o Governo de subverter a negociação geral anual, transformando-a numa «verdadeira farsa» para iludir a opinião pública, e de tentar usar des-pudoradamente a presença dos Sindicatos como cobertura da sua postura arrogante e antidemo-crática.

Na declaração que entregou naquele Ministério, a Frente Comum sublinha que o Governo violou a lei da negociação, não deu resposta à Proposta Reivindicativa para 2012 e negou qualquer pos-sibilidade de diálogo ao incluir prévia e unilateral-mente medidas inaceitáveis na proposta do Orça-mento do Estado já fechada.

Uma política de terra queimada

As medidas que o Governo se prepara para aplicar «são desastrosas, porque não só não resolvem a crise da dívida, como a agravam», salientou o Conselho Nacional da CGTP-IN, na resolução de 18 de Outubro, na qual aprovou a convocação da Greve Geral de 24 de Novembro.

Trata-se de uma «política de terra queimada» que precisa de ser travada, reafirmou a CGTP-IN, condenando o roubo de parte do subsídio de Natal a todos os trabalhadores já este ano, e, em 2012, o corte dos subsídios de férias e de Natal a todos os trabalhadores do sector público e todos os pensionistas, com remunerações acima do salário mínimo nacional.

A isto junta-se o agravamento dos impostos, o congelamento de salários e pensões, a redução do subsídio de desemprego e a eliminação do abono de família e do rendimento social de inserção a milhares de beneficiários.

A CGTP-IN condena igualmente o aumento da semana de trabalho no regime geral de 40 para as 42,5 horas, calculando que esta medida redu-zirá os salários em sete por cento, em média, aumentará o desemprego, para além de que «é ilegal e subverte a negociação da contratação colec-tiva.» Da mesma forma é recusada a redução dos feriados, medida que «nada tem a ver com a redução da dívida ou do défice. Trata-se, tão só, de uma transferência directa dos rendimentos dos trabalhadores para os bol-sos dos grandes accionistas e do grande patronato», afirma a resolução.

Farsa negocial

- A separação da dívida públi-ca da dívida privada, asseguran-do-se que os custos da crise de-vem ser imputados em primeiro lugar aqueles que décadas a fio têm acumulado lucros em cima de lucros e potenciaram os pro-blemas com que o país agora se confronta;

- A tributação das grandes for-tunas e das mais-valias obtidas na bolsa;

- O combate à fraude, à evasão fiscal e à economia clandestina;

- O fim dos escandalosos benefí-cios fiscais dos bancos e do grande sector económico;

- A aposta no investimento produ-tivo e no investimento público;

- A valorização dos serviços pú-blicos como garante de criação de emprego de qualidade e de inves-timento;

- A valorização dos salários, das carreiras profissionais e dos direitos dos trabalhadores.

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DEZEMBRO 20114 jornal do STAL

Em audiências realizadas no dia 20 de Outubro, com representantes dos gru-

pos parlamentares do PCP, PSD e «Os Verdes», uma delegação do STAL deixou clara a oposição

frontal do Sindicato aos projec-tos destruidores do emprego e do poder local democrático.

Esta posição, já antes assumida contra a orientação ditada pela troika estrangeira de redução do número de trabalhadores e de autarquias, foi reafirmada após a apresentação do chamado «Do-cumento Verde para a Reforma do Poder Local».

Na declaração entregue aos de-putados, o STAL considera que se trata de uma reforma «negra» que

«confirma o claro propósito do Governo de lançar uma violenta e grave ofensiva destruidora e do poder local democrático».

O STAL denuncia igualmente as intenções centralizadoras do projecto, acusando o Governo de pretender transformar o poder lo-cal «num instrumento ao serviço dos ditames do poder central, e os seus eleitos em meros execu-tores das políticas por si emana-das».

Bode expiatório

No documento o STAL sublinha que o Poder Local «não só não foi o causador do endividamen-

to do País como gerou um supe-ravit de 70 milhões de euros em 2010». De resto, a crise e a dívida não passam de falsos pretextos para consumar o ataque a uma das mais importantes conquistas de Abril, como resulta da afirma-ção feita pelo primeiro-ministro de que as medidas apontadas na «reforma» não teriam um impacto substancial no Orçamento do Es-tado e na redução de despesas.

Na realidade, os números mos-tram que as autarquias absorvem

O STAL manifestou aos grupos parlamentares o seu repúdio pelo «Documento Verde para a Reforma do Poder Local», bem como pelo objectivo inscrito no memorando da troika de redução do número de autarquias e de trabalhadores.

apenas cerca de dez por cento das receitas totais do Estado e 1,46 por cento dos recursos do Orçamento de Estado de 2011. E apesar disso asseguram cerca de metade do investimento pú-blico.

O sindicato salienta ainda que as inegáveis realizações do Po-der Local Democrático, ao lon-go de quase quatro décadas de democracia, foram fruto da au-tonomia, democraticidade e pro-ximidade com as populações, modelo consagrado na Consti-tuição da República que importa defender e aprofundar.

A isso soma-se o facto de Por-tugal ser um dos países da União Europeia em que os municípios têm maior dimensão média, tanto em termos demográficos como geográficos, o que torna inaceitável a diminuição do seu

número, bem como o quadro de trabalhadores ao seu serviço, os quais representam apenas 18 por cento do total de fun-cionários públicos.

Condenando a trans-formação do poder lo-cal num bode expiatório para os reais problemas do País, o STAL manifes-ta a firme determinação de lutar pela defesa do poder local democrático, das características de funcionamento colegial e democrático dos órgãos eleitos, da manutenção na sua esfera dos servi-ços públicos essenciais de âmbito local, bem como do emprego e direi-tos dos trabalhadores do sector.

Com o objectivo de travar esta ofensiva

destruidora, o STAL lan-çou uma petição que já reuniu milhares de assinaturas, pre-vendo-se a sua entrega oficial na Assembleia da República a 12 de Dezembro, data em que se assinala o 35.º aniversário das primeiras eleições autár-quicas após o 25 de Abril de 1974. Para a mesma data está agendada a realização de uma tribuna pública junto à sede do Parlamento, com a participação de trabalhadores e eleitos au-tárquicos.

O ataque às autarquias visa liquidar uma das principais conquistas de Abril – o Poder Local Democrático

«No final de 2009, segundo números oficiais, cada câmara social-democrata tinha 1,2 empresas ou serviços municipais na sua esfera de influência, contra 1,1 empresas a cargo do PS. Segundo os últimos números divulgados pela Direcção-geral das Autarquias Locais (DGAAL), no final do ano passado (2009) havia 312 empresas municipais (…). Deste universo, 162 eram geridas por autarquias do PSD (coligado ou sozinho) e 142 estavam ligadas ao Partido Socialista. (…) Contudo, dividindo o núme-ro de empresas municipais pelas autarquias detidas pelos “laranjas”, o PSD continua a aparecer na lide-rança: cada câmara do partido de Passos Coelho gere, em média, 1,2 empresas e serviços munici-pais, contra 1,1 do PS.»

Elisabete Miranda, Jornal Negócios, 3 de Novembro de 2010

Para pior…já basta assim!«PSD é o partido que gere mais empresas municipais»Na chamada Reforma da Administração Local, o PSD elegeu as empresas municipais como um dos alvos a abater. Mas afinal…quem as criou?

«Documento verde» destrói poder local

Uma reforma negra

O governo prepara-se, com o apoio do PS, para alterar a lei eleitoral para os órgãos das autarquias locais. O modelo a seguir deverá ser o de um «executivo homogéneo» sujeito à fiscalização da Assembleia Munici-pal; o «Presidente do Município» é o cidadão que encabeça a lista à As-sembleia Municipal mais votada; os restantes membros do Órgão Execu-tivo serão escolhidos pelo Presiden-te de entre os membros eleitos para a Assembleia Municipal; a Assem-bleia Municipal deverá ter poderes reforçados.

Tudo em nome da democracia e da «estabilidade». A verdade é que…

«(…) Nestes 30 anos foram eleitos 2755 executivos municipais e houve apenas ne-cessidade de realizar eleições intercalares em 20, ou seja, em 0,7%, e em metade destes os executivos que se dissolveram tinham maiorias absolutas».

António Filipe, Declaração de voto na AR, 16 de Abril de 2008

(…) A escolha pessoal dos vereadores por parte do Presidente potencia a existência de um autên-tico rebanho de lealdades congregado em torno de um umbigo presidencial, de uma sociedade de corte e a prevalência do círculo íntimo. (…) O enfraquecimento da pluralidade de vozes interve-nientes que daqui decorre aponta para a asfixia do debate político democrático e da negociação no espaço municipal. (…)»

Fernando Ruivo, Público, 15 Maio de 2005

Foi você que pediu para alterar a lei eleitoral para as autarquias locais?

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DEZEMBRO 2011 5jornal do STAL

Iniciativa legislativa contra a privatização da água

Proteger um direito universal

Promovido no âmbito da cam-panha «Água é de todos», o Fórum decorreu, dia 29, na

Voz do Operário, reunindo mais de 300 participantes, em representa-ção de organizações aderentes à campanha.

Durante os trabalhos, em que fo-ram discutidas formas de acção em defesa da água, teve especial relevo a apresentação da Iniciativa Legisla-tiva de Cidadãos, intitulada «Protec-ção dos direitos individuais e comuns à água», cujo articulado interdita a privatização da água e impõe o re-gresso à esfera da administração di-recta exclusiva das autarquias ou do Estado das actividades concessiona-das a entidades privadas.

Todavia, para que este projecto de lei venha a ser debatido e votado

pelo parlamento é necessário reco-lher 35 mil assinaturas, tarefa que o Fórum elegeu como prioritária nos próximos meses. O documento

para subscrição pode ser impresso a partir do site aguadetodos.com.

Entre as várias intervenções, sus-citou particular interesse a experi-

ência ali trazida por Rosa Pavanelli, presidente da Federação da Fun-ção Pública da Confederação Geral Italiana do Trabalho e activista do Fórum dos Movimentos pela Água naquele país.

A batalha vitoriosa travada pelo povo italiano na defesa da água pública, a que se juntam exemplos de outros países, vem confirmar que é possível travar e inverter os processos de privatização deste bem vital.

Num momento em que o governo ameaça entregar a Águas de Portu-gal a multinacionais estrangeiras, o que já se está a traduzir num bru-tal aumento das taxas e tarifas, o Fórum lançou um apelo às popu-lações, organizações e persona-lidades dos diferentes sectores e quadrantes para que se mobilizem em defesa da gestão pública deste bem comum, com a convicção de que está ao nosso alcance derrotar a ofensiva privatizadora.

O Fórum «Água é de todos, não à privatização», lançou uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos que visa propor na Assembleia da República um projecto de lei consagrando a «Protecção dos direitos individuais e comuns à água».

Poucos suspeitariam, após a retumbante vitória popular no re-ferendo contra a privatização da água, que o governo italiano ou-sasse relançar a infame lei «Ron-chi», revogada pela consulta, para obrigar os municípios a entregar serviços públicos a privados.

Porém, estes são os factos, como salientou Rosa Pavanelli no debate promovido pelo STAL, dia 28 de Outubro, na sua sede em Lisboa, explicando que, la-mentavelmente, a vontade po-pular não está a ser respeitada.

A experiência italiana, salien-tou Pavanelli, mostra que a ac-ção popular organizada pode contrariar as pressões dos gru-pos económicos que preten-dem controlar este bem essen-cial e subordiná-lo às ditas «leis do mercado», com vista à sua exploração lucrativa.

Todavia, a realidade também está a mostrar que não basta ganhar o referendo. Até ao mo-

mento, apenas o município de Nápoles decidiu remunicipalizar os serviços de água, na sequên-cia das recentes eleições locais. No parlamento, o projecto de lei da água continua na gaveta.

Para além disso, numa clara afronta à vontade democratica-mente expressa, poucas sema-nas depois do referendo, o go-

verno de Silvio Berlusconi (en-tretanto já substituído por Mário Monti), usando como pretexto a «crise» e os ditames do Banco Central Europeu, desencadeou uma nova ofensiva contra os serviços públicos locais.

Em resposta, os movimentos em defesa da água reunidos no Fórum Italiano voltaram a mobi-lizar-se, convocando para 26 de Novembro uma manifestação nacional, em Roma, para exigir que o resultado do referendo seja acatado e traduzido na le-gislação do país. Em causa está não só a água, mas também a própria democracia.

O movimento apela à partici-pação na campanha «Obediên-cia Civil», que, a par de acções nacionais, prevê a constituição de colectivos de cidadãos or-ganizados localmente para re-clamar a redução das tarifas e a remunicipalização da água. A batalha anuncia-se dura e difí-

cil, já que, apesar da mudança de governo, é certo e sabido que as políticas ao serviço dos monopólios serão mantidas.

Direitos laborais e sociais ameaçados

A vaga privatizadora nos ser-viços públicos é indissociável da ofensiva geral, comandada a nível europeu, contra os direitos sociais e laborais dos trabalha-dores e dos povos, ameaçando conquistas históricas como a protecção social, o acesso uni-versal à saúde ou à educação.

A coberto da crise económica, ou da chamada «crise da dívida», também em Itália os severos pro-gramas de austeridade têm como primeiras vítimas os trabalhado-res da Administração Pública.

Enquanto Presidente da Fe-deração da Função Pública da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), Rosa Pavanelli,

em declarações ao Jornal do STAL, referiu que os trabalha-dores do sector público estão a sofrer fortíssimos ataques aos seus direitos. Os cortes orça-mentais de dezenas de milha-res de milhões de euros têm implicado a extinção massiva de postos de trabalho, o conge-lamento salarial e a redução de vários subsídios.

«Só em 2011 foram já des-truídos 35 mil postos de traba-lho, através da não renovação de contratos a prazo», referiu Pavanelli, acrescentando que, caso os planos do governo se concretizem, a redução de pes-soal poderá atingir entre 300 a 400 mil trabalhadores até 2013.

A dirigente sindical está cons-ciente de que as organizações sindicais e os trabalhadores ita-lianos têm pela frente difíceis combates em defesa dos direitos laborais, do poder de compra, do emprego e dos serviços públicos.

O Fórum reuniu mais de 300 pessoas em representação de dezenas de organizações aderentes à campanha «Água é de Todos».

Debate com Rosa Pavanelli

Italianos exigem respeito pelo referendo

Rosa Pavanelli salientou a importância da vitória do referendo em Itália

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DEZEMBRO 20116 jornal do STAL

Esta foi a posição manifesta-da ao Governo pelo STAL e pelo SITE numa reunião con-

vocada pelo Ministério da Econo-mia e do Emprego no dia 22 de Se-tembro.

Na ocasião, ambos os sindicatos manifestaram disponibilidade para negociar um acordo colectivo de trabalho, processo que de resto ini-ciaram com a apresentação de uma proposta concreta para a Simtejo. Todavia, deixaram claro o seu repú-dio pelos propósitos da administra-ção, que pretenderia dar cobertura

legal, através do ACT, a práticas claramente ilegais que se verificam em várias filiais do grupo.

São disso exemplos as intenções de consagrar no acordo a possi-bilidade de alargar os horários de trabalho até às 60 horas semanais; alterar horários e escalas de tur-nos segundo as conveniências da empresa; eliminar as carreiras e categorias profissionais impondo a polivalência; transferir livremente os trabalhadores de locais de trabalho sempre que o entendesse.

Tais condições, sublinha o STAL, são totalmente inaceitáveis e in-viabilizam qualquer negociação do ACT. Aliás, insiste o sindicato, entre a proposta da empresa e não haver acordo (aplicando-se apenas a lei), os trabalhadores ficam melhor sem acordo.

Demarcando-se de estruturas sindicais sempre dispostas a as-sinar de cruz e fazer a vontade ao patronato, o STAL reafirma que só aceitará um ACT que não preju-dique os trabalhadores e leve em conta as propostas discutidas nos locais de trabalho, visando dar resposta às justas aspirações do sector.

A administração da Amarsul S.A pretende impor novas regras que violam o Acordo de Empresa (AE) e se somam às duras medidas aponta-das no Orçamento do Estado.

No plenário promovido pela comis-são intersindical do STAL e do SITE, dia 27 de Outubro, os participantes repudiaram as brutais medidas im-postas pelo Governo e manifestaram o seu veemente protesto contra o agravamento das condições de tra-balho na empresa.

Em causa está a pretensão de fixar horários a trabalhadores em regime de turnos, visando a eliminação faseada dos respectivos subsídios; a alteração

de regras de pagamento de subsídios, nomeadamente de isenção de horário; a criação de novas categorias profis-sionais não enquadradas na tabela sa-larial do AE e cujas função não foram definidas e discutidas previamente com os sindicatos; a intenção de des-locar trabalhadores da recolha selecti-va para outras funções e instalações.

Exigindo uma política que sirva os trabalhadores e o País, e declarando a sua adesão à Greve geral de 24 de Novembro, a resolução sublinha que os accionistas da Amarsul devem procurar soluções que assegurem a estabilidade financeira da empresa, mas não à custa dos salários e direitos laborais.

Depois de terem solicitado, em 5 de Julho, uma reunião ao presidente da autarquia, à qual não obtiveram resposta, os bombeiros municipais de Viana do Castelo decidiram avançar com novas formas de luta para pôr cobro a várias situação irregulares.

Em plenário realizado em 29 de Setembro, estes profissionais decidiram apresentar quei-xa em tribunal pela falta de negociação na de-

finição dos objectivos, falta de avaliação do desempenho e contra as ilegalidades e com-portamentos arrogantes do chefe de divisão da área da protecção civil, cargo criado pela autarquia que se sobrepõe ao comandante da corporação. Os bombeiros acusam este responsável de não dialogar, desrespeitar a lei, ameaçar quem não concorda com ele e de favorecer os amigos.

O STAL entregou recentemente propos-tas de Acordos de Empresa às direcções das associações humanitárias de bombei-ros voluntários (ANBV) dos concelhos de Vila do Bispo, no distrito do Algarve, Alter do chão e Arronches, no distrito de Porta-

legre, e de Penamacor, no distrito de Cas-telo Branco.

Todas as propostas foram elaboradas, dis-cutidas e aprovadas previamente pelos traba-lhadores bombeiros das respectivas associa-ções.

Grupo Águas de Portugal

Formadores da ENB

Viana do Castelo

Profissionais das AHBV

Plenário denuncia dupla penalização

Negociar condições justas

Negociar o acordo

Corporação descontente

Melhorar condições

Amarsul desrespeita AE

O STAL acusa de má-fé o grupo Águas de Portugal, e o seu conselho de administração nomeado pelo Governo, e exige a negociação séria de acordos colectivos de trabalho (ACT), que ponham cobro às práticas ilegais em várias empresas do grupo e resolvam problemas laborais específicos nos diversos locais de trabalho.

A exigência de carreiras dignas

é um aspecto central da luta dos bombeiros

profissionais

Os formadores da Escola Nacional de Bom-beiros (ENB) reafirmam a necessidade da negociação urgente do Acordo de Empresa (AE), instrumento que consideram essencial para gestão dos recursos humanos e da re-gulamentação das relações de trabalho.

Em plenários realizados na ENB e nos nú-cleos de formação descentralizados da Lou-sã e de S. João da Madeira, os formadores bem como todo o pessoal auxiliar decidiram endurecer a luta caso a direcção da Escola não abra caminho à negociação da proposta de AE apresentada pelo STAL ao órgão res-ponsável da instituição.

Os trabalhadores chamam a atenção para a «clara perda da qualidade formativa» da Escola, devido à insistência na quantidade a qualquer preço, e acusam a Autoridade Na-cional de Protecção Civil de, pela sua inac-ção, se desresponsabilizar desta área decisi-va para os bombeiros portugueses.

Ao mesmo tempo salientam que a afirma-ção da ENB, como estrutura fundamental da formação dos bombeiros no nosso Pais, passa necessariamente pela valorização dos seus profissionais e pela criação das condi-ções que permitam garantir elevados níveis de formação.

Segundo o delegado sindical do STAL, Nelson Batista, a actual situação ao nível da formação e das relações de trabalho na ENB está a ter reflexos negativos nos diferentes corpos de bombeiros. Por isso, reorganizar a ENB é uma necessidade urgente, devendo o AE constituir uma peça chave para a valoriza-ção dos trabalhadores e da instituição.

Nos plenários realizados foi decidido ela-borar um caderno reivindicativo com as vá-rias questões que preocupam os trabalhado-res, bem como encetar formas de luta, caso a Direcção continue a protelar a negociação do AE.

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DEZEMBRO 2011 7jornal do STAL

✓ José Alberto LourençoEconomista

É este o sentido da redução, proposta no Orçamento do Estado para 2012, de mais

120 milhões de euros nos montan-tes globais de transferências para os municípios, a qual, adicionada às reduções impostas em 2011 e 2010, faz com que, só desde 2010, tenham sido subtraídos aos municí-pios 647 milhões de euros.

É também este o sentido da proposta de redução de cinco por cento do Fundo de Financiamento das Freguesias, num valor que ul-trapassa os cerca de dez milhões de euros.

Desta forma, os municípios e as freguesias vêem os seus recursos financeiros uma vez mais reduzidos, o que, conjugado com as alterações que o Governo pretende introduzir na Lei das Finanças Locais, introduzindo limites à prática de actos que determi-nem a assunção de encargos financeiros tais como recrutamento de trabalhadores, aquisição de serviços de consultadoria e assessoria técnica e valorizações remu-neratórias dos trabalhadores, viola ob-jectivamente a autonomia financeira das autarquias locais, constitucionalmente definida.

Se dúvidas pudessem existir quanto ao claro e inequívoco controlo que o Go-verno pretende ter sobre essa autono-mia, o enunciado dos artigos 39.º, 40.º e 41.º da proposta de lei de Orçamento do Estado dissipá-las-ia. Aí se define clara-

mente o carácter perfeitamente excep-cional de todo e qualquer recrutamento nas autarquias locais e a sua sujeição a autorização do Governo, da mesma for-ma que se decreta a redução em 15 por cento do número de dirigentes nas au-tarquias locais no primeiro semestre de 2012, bem como a redução do número de trabalhadores nas autarquias locais em dois por cento até ao final do pró-ximo ano.

Se dúvidas pudessem existir quanto à subordinação do poder local ao poder central, bastaria dizer que, em 2011, cerca de 200 municípios passaram a estar em situação de excesso de endividamento,

sem se terem endividado em qual-quer valor e mesmo nalguns casos, tendo diminuído esse mesmo endi-vidamento.

Corte de um terço nos salários

Com a actual proposta de Orça-mento do Estado para 2012, as con-dições de endividamento são ainda mais agravadas e, por isso mesmo, não se pode deixar de fazer a per-gunta de quantos municípios não se encontrarão em situação de ex-cesso de endividamento no final de 2012? Receamos que muito poucos municípios escapem a este limite e consequentemente à insuportável pressão que o Governo não deixará de sobre eles fazer.

Se as autarquias com este projec-to de Orçamento do Estado vêem a sua autonomia uma vez mais posta em causa, os trabalhadores por seu lado sofrem um novo rombo no seu salário, com a supressão do sub-sídio de natal e/ou do subsídio de férias. Depois de uma quebra sala-rial em 2010 e 2011, resultado do

congelamento generalizado das remune-rações e da redução dos vencimentos su-periores a 1500 euros, em 2012 os traba-lhadores da Administração Local, do mais baixo nível salarial ao mais elevado, vão ser fortemente afectados com o corte dos subsídios férias e/ou de Natal. De acordo com a nossa estimativa, nestes três últi-mos anos (de 2010 a 2012) os trabalhado-res da Administração Local poderão sofrer uma redução de um terço do salário anu-al, cerca de 34 por cento. Este é um corte salarial de uma dimensão nunca vista no nosso País e cujo impacto sobre a vida dos trabalhadores da administração local será extremamente negativo.

Orçamento de Estado para 2012

Governo subjuga autarquias e empobrece trabalhadores

A proposta de Orçamento do Estado para 2012 continua e aprofunda o ataque ao Poder Local que sucessivos governos têm protagonizado nas últimas décadas.

A ofensiva sem precedentes con-tra o Estado e as suas funções so-ciais, pondo em causa o emprego público, os direitos dos trabalhado-res e os interesses da população, foi o tema da conferência promovida, dia 3, pela CGTP-IN, em Lisboa.

Na iniciativa, em que o STAL par-ticipou, foram abordados com maior profundidade os sectores da Edu-cação, Saúde, Segurança Social e Poder Local, todos eles alvo de gravíssimos cortes orçamentais que inevitavelmente se traduzirão negati-vamente na qualidade dos serviços e em restrições no seu acesso.

Os oradores repudiaram o discurso ideológico do Governo PSD/CDS, par-tidário da redução da redução da inter-venção do Estado, e acusaram-no de utilizar a falta de recursos como pretex-to para subverter as funções e respon-sabilidades sociais do Estado e substi-tuir a universalidade de direitos por um modelo assistencialista, em prol dos interesses dos grupos económicos.

- Quase quatro quintos do Orça-mento de Estado são financiados pelos trabalhadores e pensionistas.

- O IRC representava só 15 por cento da receita fiscal total em 2011 e representará 14 por cento em 2012.

- O peso dos impostos indirectos representou 57 por cento em 2011 na receita fiscal; o IVA, que já pesa-va 38 por cento em 2011, represen-tará 42 por cento em 2012.

- O aumento da taxa reduzida e taxa intermédia do IVA visa arre-cadar mais de dois mil milhões de euros, ou seja, cinco vezes mais do que o previsto no programa da troi-ka, representando 71 por cento do objectivo da receita para a redução do défice público.

- Dos 10,4 mil milhões de euros de redução do défice público, 44 por cento (quase 4,6 mil milhões de euros) são obtidos à custa de redu-ções nos salários dos trabalhadores do sector público e nas pensões.

- O esforço pedido ao capital é de apenas dois por cento (190 milhões de euros).

- A proposta de OE para 2012 prevê um aumento da receita fiscal de 7,6 por cento, uma redução de quase 20 por cento nas despesas com o pessoal, quase seis por cen-to nas prestação sociais e 42 por cento no investimento público.

- O volume global de investimento em Portugal em 2012 estará ao ní-vel de 1991/1993.

Números do OE

CGTP debateu funções do Estado

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8 jornal do STAL/DEZEMBRO 2011jornal do STAL/DEZEMBRO 2011

No dia 14, as assembleias eleitorais terão dois boletins de voto distintos – um para

os órgãos nacionais (Direcção Na-cional, Mesa da Assembleia Geral e Conselho Fiscal) e outro para os ór-gãos regionais (Direcção Regional e Mesa da Assembleia Regional). Em Viseu aparecerá mais um boletim de voto, visto que nesta região concor-rem duas listas, tendo já a actual Di-recção Nacional do Sindicato anun-ciado que apoia a Lista B.

Este é o primeiro acto eleitoral que se realiza após a alteração es-tatutária, aprovada em 18 de Maio último, da qual se salienta o aumen-to do número de dirigentes nacio-nais e regionais.

A Lista A, concorrente aos órgãos nacionais do STAL, assume o com-promisso de prosseguir e intensifi-car o combate contra as políticas de retrocesso social corporizadas pelo Governo PSD/CDS-PP, refor-çar a unidade e organizar a resistên-cia dos trabalhadores na luta pelos salários, pelos horários de trabalho, pelos direitos, pelo emprego e pe-los serviços públicos, tarefa intrin-secamente ligada ao fundamental reforço do Sindicato, da sua orga-nização, estrutura e ligação aos lo-cais de trabalho.

Proposta pelos órgãos que ces-sam o seu mandato no próximo mês de Janeiro, a Lista A salienta que

estas eleições «ocorrem numa con-juntura social (económica e política) de extrema gravidade para o País em geral e para os trabalhadores em particular: as políticas neoliberais le-vadas a cabo ao longo das últimas décadas pelos sucessivos governos despoletaram mais uma violenta crise do capitalismo e as receitas que são implementadas pela via do “pacto de agressão e submissão”, assinado com a troika UE/BCE/FMI, conduzem-nos vertiginosamen-te para o abismo, para a recessão, para o aumento do desemprego, das injustiças e da pobreza.»

Fazer frente à ofensiva

A luta é pois o único caminho para fazer frente à ofensiva do Governo contra os trabalhadores, os serviços públicos e a democracia. Luta que se trava nos locais de trabalho e em torno de questões específicas, seja pugnando por melhores condições de segurança, higiene e saúde, seja exigindo o respeito pelos direitos e, a partir destes, pelo direito à nego-ciação e à contratação colectiva e por melhores condições de vida.

A Lista A propugna «um sindica-lismo de classe, de massas, reivindi-cativo e solidário» sindicalismo que «não deixa de ser actuante e propo-nente na procura de soluções con-juntas para os problemas dos traba-lhadores, seja na negociação directa com as autarquias ou na contrata-ção colectiva aos diversos níveis, sindicalismo que aposta numa ges-tão responsável do património e das finanças do STAL, património colec-tivo dos trabalhadores, e numa liga-ção estreita aos locais de trabalho.»

Eleições para os órgãos do STAL 2012/2015

Firmeza e unidade no combate contra o retrocesso social

No próximo dia 14 de Dezembro, os associados do STAL são chamados a participar nas eleições para os órgãos nacionais e regionais que orientarão a actividade do Sindicato no quadriénio de 2012/2015.

Salientando a necessidade de resistir à ofensiva e ao «retrocesso social que hoje vivemos», a Lista A defende uma ruptura efectiva com as políticas neoliberais que têm sido seguidas nas últimas décadas.

O programa de acção reafirma o conteúdo da Proposta Reivin-dicativa Comum (PRC) da Frente Comum de Sindicatos e exige um conjunto de medidas que permi-tam uma política de desenvolvi-mento, de justiça social e de de-mocracia. Entre estas destacam-se a renegociação da dívida, dos montantes, juros e prazos; a sepa-ração da dívida pública da dívida privada, garantindo que os custos da crise devem ser imputados em primeiro lugar aqueles que têm acumulado lucros em cima de lu-cros durante décadas a fio e po-tenciaram os problemas com que o país agora se confronta; a tribu-tação das grandes fortunas e dos ganhos obtidos na bolsa; o com-bate à fraude, à evasão fiscal e à economia clandestina; o fim dos escandalosos benefícios fiscais dos bancos e do grande sector económico.

Constituem igualmente premis-sas fundamentais para uma políti-ca alternativa de combate à crise a aposta no investimento produtivo e no investimento público, a valori-zação dos serviços públicos como garante de investimento, de cria-ção de emprego de qualidade e da prestação de serviços imprescin-díveis às populações como saúde, educação, distribuição de água, tratamento de resíduos, saneamen-to, transportes públicos, etc., na valorização dos salários, das carrei-ras profissionais e dos direitos dos trabalhadores.

O Poder Local Democrático e os serviços públicos continuarão a constituir uma bandeira na luta dos trabalha-dores da Administração Local, de-signadamente contra as intenções de redução de autarquias e de tra-balhadores, bem como no combate à privatização da água e dos resí-duos sólidos.

Agir sobre as mudanças

As mutações que têm ocorrido e irão ocorrer no sector serão alvo de uma profunda abordagem, propondo-se a Lista A identificar «os problemas dos trabalhadores, enquadrá-los em fun-ção das novas realidades e adequar a

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jornal do STAL/DEZEMBRO 2011 9jornal do STAL/DEZEMBRO 2011

Eleições para os órgãos do STAL 2012/2015

Firmeza e unidade no combate contra o retrocesso social

acção reivindicativa» assumindo desde logo como principais linhas orientado-ras para um caderno reivindicativo:

- A negociação de um novo siste-ma de carreiras que potencie a va-lorização e a motivação dos traba-lhadores, tendo presente as incon-gruências e as injustiças constantes no actual modelo;

- A renegociação do sistema de avaliação de desempenho e a elimi-nação do sistema de quotas;

- O fim da precariedade laboral e a adopção de mecanismos legislati-vos para a integração nos mapas de pessoal dos trabalhadores que se encontram a desempenhar tarefas de carácter permanente; a defesa do vínculo público;

- A negociação e publicação do suplemento de insalubridade, pe-nosidade e risco;

- A defesa dos horários de tra-balho e a garantia de que as ho-ras extraordinárias são pagas, in-cluindo as prestadas em serviços imprescindíveis como a recolha de resíduos sólidos, água e sane-amento, mercados e feiras, moto-ristas, cultura e desporto e outros, defendendo a criação progressiva de novos postos de trabalho;

- A revisão do regime de contra-tação colectiva na Administração Local, eliminando-se as normas castradoras da autonomia do poder local e da liberdade de negociação, bem como as discriminações em função da sindicalização.

Reforçar o STAL, unir os trabalhadores, organizar a luta

A lista A assume o propósito de manter uma estreita ligação aos trabalhadores

e de promover a intervenção directa nos locais de trabalho em torno da resolu-

ção dos seus problemas específicos, particularmente através do apoio e da co-

laboração com as direcções regionais em áreas como a elaboração de cadernos

reivindicativos, a contratação colectiva, a segurança, higiene e saúde no trabalho,

a contratação colectiva no sector empresarial e nas autarquias, a precariedade

laboral ou as mudanças por opção gestionária.

Sectores ou grupos específicos de actividade continuarão a merecer atenção

especial do sindicato, tais como a juventude, a igualdade, os quadros técnicos,

os bombeiros ou a polícia municipal, comprometendo-se a Lista A «a levar a efeito

durante o próximo mandato uma realização de âmbito nacional que procure dis-

cutir os problemas dos jovens, apresentar propostas reivindicativas e melhorar a

capacidade de mobilização do sindicato».

A sindicalização e o reforço da estrutura sindical, a gestão rigorosa das finanças

e do património do sindicato, a melhoria da informação e das ofertas de formação

profissional e sindical são outras das áreas de acção a que a Lista A atribui impor-

tância, comprometendo-se ainda com uma intervenção empenhada no plano do

movimento sindical nacional, particularmente através da participação na CGTP-IN,

na Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública e na Confederação de

Quadros Técnicos e Científicos. Continuará igualmente a cooperar com sindicatos

de outros países, mantendo a participação nas organizações sindicais internacionais

de que faz parte, mas «não esconde críticas a um forte sentido reformista tanto no

plano da Internacional de Serviços Públicos como na actuação da Confederação

Europeia de Sindicatos».

Os movimentos e organizações sociais, a paz e a solidariedade estão entre as priori-

dades da Lista A, que condena «as guerras imperialistas e de subjugação dos povos».

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DEZEMBRO 201110 jornal do STAL

Consultório Jurídico ✓ José Torres

Num momento em que os tra-balhadores são frequente-mente coagidos por práticas

desregradas, inquinadas pela viola-ção de direitos arduamente conquis-tados, os princípios estruturantes da organização dos horários revestem-se de particular importância.

Com efeito, está a ser cada vez mais frequente a imposição de horá-rios manifestamente ilegais, visando o não pagamento do trabalho extra-ordinário ou do subsídio de turno, que desrespeitam os mais elementa-res princípios subjacentes à organi-zação das jornadas de trabalho.

Como exemplo disso podemos re-ferir a imposição de horários cujos períodos da manhã e da tarde estão separados por intervalos de três ou mais horas, quando legalmente, esse intervalo nunca pode ser superior a duas horas!

Evidentemente que horários desta natureza, que, por vezes, parecem ter sido acordados com os trabalha-dores, mas que, em boa verdade, re-sultam da coação que sobre eles é exercida, para além de violarem a lei reflectem-se também gravosamente na organização da vida pessoal e fa-miliar dos trabalhadores.

Os dias de descanso

No que respeita aos dias de des-canso, complementar e semanal, o Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas estabelece princí-pios básicos, em particular no seu artigo 166.º, que têm de ser rigoro-samente observados.

Aí se determina que a semana de trabalho é, em regra, de cinco dias, fixando-se um dia de descanso se-manal obrigatório, acrescido de um dia de descanso complementar, que devem coincidir com o domingo e o sábado, respectivamente.

Porém, os referidos dias de des-canso poderão situar-se noutros dias da semana, mas apenas nas situações enumeradas taxativamen-te no referido artigo 166.º. Para o efeito, as entidades empregadoras terão de fundamentar devidamente as razões subjacentes a essa pre-tendida alteração.

De qualquer forma, salientamos que a lei prevê sempre dois dias de descanso, e não apenas um dia e meio como sucedia no anterior regi-me, os quais deverão ser gozados, em princípio, seguidamente.

Todavia o chamado dia de descan-so complementar – normalmente o sábado, como dissemos – pode ser gozado, por opção do trabalhador, de forma fraccionada, quando a na-tureza do serviço ou razões de inte-resse público o exijam, do seguinte modo:

– Dividido em dois períodos ime-diatamente anteriores ou posteriores ao dia de descanso semanal obriga-tório;

– Meio dia imediatamente anterior ou posterior ao dia de descanso se-manal obrigatório, sendo o tempo restante deduzido no período normal de trabalho dos restantes dias úteis.

Consulta obrigatória

Confrontamo-nos, frequentemen-te, com regulamentos autárquicos, sobre esta matéria, que não foram previamente enviados ao Sindicato para emissão do respectivo parecer, ou, tendo-o sido, não respeitaram o prazo de 30 dias úteis, fixado no arti-go 118.º do Código do Procedimento Administrativo.

A este respeito importa recordar que o citado Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas impõe que as estruturas sindicais sejam previamente consultadas so-bre a definição e a organização dos horários de trabalho, consulta que é igualmente obrigatória antes da alte-ração de qualquer horário, seja qual for a respectiva modalidade.

O incumprimento destes princípios é muitas vezes justificado com uma suposta anuência obtida directamen-te dos próprios trabalhadores, a que pode estar subjacente um inaceitável processo de coacção dos trabalha-dores. De qualquer forma, essa con-sulta directa não chega para respeitar a lei, porquanto é sempre obrigatório consultar também previamente as estruturas representativas dos traba-lhadores.

Finalizamos com este alerta, inci-tando os trabalhadores a actuarem com a devida prudência, solicitando o apoio do STAL, sempre que neces-sário, para o esclarecimento e ade-quada defesa dos seus direitos.

Horários de trabalho

Combater práticas ilegais

A essência dos direitos ligados aos horários de trabalho assenta, prioritariamente, na escrupulosa observância dos respectivos limites máximos diários e semanais, dos intervalos para refeições e dos dias de descanso, consagrados nas diversas modalidades de horários que a lei prevê.

Na Administração Local existe uma ligação muito estreita entre o emprego – o trabalho realizado por milhares de trabalhadores – e a protecção do ambiente. São disto exemplos os importantes sectores da captação, tratamento e distribui-ção de água, recolha e tratamento de águas residuais, recolha e trata-mento de resíduos sólidos urbanos, transporte urbano, planeamento e ordenamento do território, protec-ção civil, etc.

Sendo inegável o seu contributo decisivo para a melhoria das con-dições de vida das populações e, ao mesmo tempo, para a protec-ção do meio ambiente em que todos vivemos, a verdade é que, num momento em tanto se fala da necessidade de «salvar o planeta», estes serviços públicos essenciais estão a ser alvo de inadmissíveis restrições orçamentais que põem em causa o cumprimento cabal da sua missão.

Este alerta foi feito pelo STAL no encontro-debate, realizado dia 16 de Junho, na sede da CGTP-IN, so-bre o tema «Trabalho digno – em-prego verde», no qual participaram representantes das diversas regiões sindicais do STAL, particularmente quadros sindicais ligados aos refe-ridos sectores.

O sindicato referiu casos de esta-ções de tratamento de águas resi-duais (ETAR) que já hoje funcionam com um número insuficiente de trabalhadores, sendo que as orien-tações são para cortar ainda mais. Mas se é uma evidência que a cons-trução de um modelo de desen-volvimento sustentável exige uma alteração radical das políticas até agora seguidas, para o STAL «falar de empregos verdes não pode ser apenas falar de ambiente, eles tem que ser também verdes nas condi-ções de trabalho, nos salários, na segurança de emprego e nos direi-tos, condição aliás essencial para a prestação de um serviço público de qualidade.»

O emprego e a protecção do ambiente

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DEZEMBRO 2011 11jornal do STAL

Esta inaceitável decisão não teve acolhimento por parte de três juízes conselheiros,

que dela se demarcaram nas res-pectivas declarações de voto, posi-ção que o STAL saúda, ao mesmo tempo que condena com veemên-cia a deliberação maioritária deste órgão, claramente subordinada a critérios políticos.

Recorrendo a uma argumentação duvidosa, e já depois de uma longa dissertação, o Tribunal entendeu, quanto à irredutibilidade da retribui-ção, que, «não estando em causa a afectação do direito a um mínimo salarial, uma vez que a redução re-muneratória apenas abrange retri-buições superiores a 1500 euros, valor muito superior ao do salário mínimo nacional, a irredutibilidade apenas poderá resultar do respeito pelo princípio da protecção da con-fiança e porventura, ainda, do prin-cípio da igualdade».

Poder-se-ia pensar que o Tribu-nal, apesar de entender que a re-tribuição não é irredutível (ou seja, que pode ser reduzida), concluiria que a medida fere os princípios da protecção da confiança e da igual-

dade. Porém, surpreendentemente, entendeu precisamente o contrário.

Assim, embora reconheça estar em causa o princípio da protec-ção da confiança, logo de seguida desculpa-se com o facto de que «não se pode ignorar todavia que atravessamos reconhecidamente uma conjuntura de absoluta ex-cepcionalidade do ponto de vista da gestão financeira dos recursos humanos». (Será este um argu-mento jurídico?...) E nesta base conclui que «as medidas de re-dução remuneratória visam a sal-vaguarda de um interesse público que deve ser tido por prevalecente – e esta constitui a razão decisiva para rejeitar a alegação de que es-tamos perante uma desprotecção da confiança constitucionalmente desconforme».

Argumentação ainda mais insólita foi utilizada para negar a violação do princípio da igualdade, afirmando a este propósito que «quem recebe por verbas públicas não está em posição de igualdade com os res-tantes cidadãos, pelo que o sacri-fício adicional que é exigido a essa categoria de pessoas – vinculada que ela está, é oportuno lembrá-lo, à prossecução do interesse público

– não consubstancia um tratamento injustificadamente desigual»!...

Interesse público justifica discriminação?

Como se constata, este pronun-ciamento do Tribunal soa como eco da voz do dono, submetendo-se assim aos ditames da política go-vernativa, que penaliza essencial-mente quem sobrevive à custa do seu trabalho.

Neste caso, e em conforto das teses governativas, o Tribunal en-contra o seu melhor refúgio no que chama «interesse público prevale-cente», pelo que, à luz desse prin-cípio, parece querer legitimar todas as violências possíveis sobre os mais sagrados direitos dos traba-lhadores da Administração Pública.

Tanto mais inaceitável é a afirma-ção de que «quem recebe por ver-bas públicas não está em posição de igualdade com os restantes ci-dadãos», o que, pelos vistos, justi-ficará todas as aleivosias…sempre em nome do tal interesse público prevalecente!

No caso em apreço estavam em causa cortes salariais sobre remu-nerações superiores a 1500 euros,

supostamente, como o Tribunal também salienta, apenas pelo pe-ríodo de um ano. Mas então o que dirão agora os sumos magistrados sobre a proposta de Orçamento do Estado que mantém essa medida nos próximos anos e ainda autori-za não só o roubo dos subsídios de férias e de Natal dos trabalhadores da Administração Pública, como também dos pensionistas tanto do regime público como do regime privado? Será que, uma vez mais, o Tribunal vai novamente invocar o apodrecido argumento do «interes-se público prevalecente»?

Interesse público que, bem o sa-bemos, se traduz milagrosamente na defesa dos mais vergonhosos interesses privados, dos especula-dores, dos grandes grupos econó-micos e de todos quantos se têm banqueteado com a coisa pública, insensíveis à destruição do tecido económico e social e à miséria de tantas famílias cada vez mais de-sesperadas.

Veremos então onde pára a coe-rência e o sentido de justiça não só deste Tribunal como de outras ins-tituições, não esquecendo o papel fundamental que ao Presidente da República cumpre desempenhar.

De facto, não podemos esquecer-nos das recentes afirmações proferi-das pelo mais alto magistrado da Na-ção, lembrando que «há limites aos sacrifícios que se podem pedir aos portugueses» e que o corte dos sub-sídios de natal e de férias «violam um princípio básico de equidade fiscal».

Mas que acção se seguirá a tão adequadas afirmações? Haverá coerência, vetando a lei e subme-tendo-a à fiscalização prévia do Tribunal Constitucional? E, nesta eventualidade, qual será a coerên-cia deste Tribunal perante a cala-midade pública provocada por um Orçamento que discrimina cida-dãos segundo o seu estatuto e se caracteriza como mais um violento esbulho dos trabalhadores?

Se a coerência, o bom senso e a justiça imperassem neste tão apregoado «Estado de Direito De-mocrático», o tal «interesse público prevalecente» deveria impor a estri-ta observância dos mais relevantes princípios constitucionais em favor da maioria esmagadora da popula-ção. É esse mínimo de espírito de coerência e de justiça que se exige aos órgãos de soberania, incluindo os Tribunais.

O eco da voz do donoTribunal Constitucional avaliza os cortes salariais

O Acórdão 396/2011, do Tribunal Constitucional concluiu, por maioria, que os cortes salariais impostos pela Lei do Orçamento de Estado de 2011 «não violam a Constituição».

Barcelos promete pagar subsídios

A Câmara Municipal de Barcelos pretende pagar os subsídios de férias e de Natal aos seus cerca de 800 funcionários, opondo-se assim aos cortes anunciados pelo governo para 2012.

A decisão foi aprovada por unanimidade pelo executivo camarário, que solicitou à Assembleia da República um regime de excepção aplicável aos tra-balhadores da autarquia. Caso a proposta não seja acolhida pela maioria do parlamento, a Câmara ga-rante que irá atribuir a todos os trabalhadores um subsídio equivalente a dois salários.

Esta medida não inclui os vereadores, adjuntos e secretários, os quais, dada a natureza política das suas funções políticas «são quem deve dar o exem-plo de sacrifício que se impõe neste momento».

O STAL batalhará para que a decisão seja cumpri-da, tanto mais que os trabalhadores desta autarquia foram penalizados pela recusa do edil em aplicar a «opção gestionária».

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DEZEMBRO 201112 jornal do STAL

O STAL condenou a repressão policial em França e solidarizou-se com os trabalhadores da Saúde que foram vítimas da violência quando se manifestavam pacificamente, em 6 de Outubro, na cidade de Lyon, em defesa das convenções colectivas.

Em resultado da intervenção desproporciona-da das forças policiais, três trabalhadoras (duas enfermeiras e uma administrativa) ficaram gra-vemente feridas, das quais uma dirigente sindi-cal da CGT foi hospitalizada correndo perigo de vida.

Notando que os povos da generalidade dos estados-membros da União Europeia estão confrontados com fortíssimos ataques contra as principais conquistas alcançadas nas últi-mas décadas, o STAL considera que o surto de violência policial contra os trabalhadores não é uma situação particular deste ou daquele país, mas uma reacção do capital e dos poderosos que dominam a Europa, na tentativa de conter o protesto das massas face ao aumento da ex-ploração, à destruição de direitos, redução de salários e encerramento de serviços públicos.

Cada vez mais, sublinha o Sindicato, trava-se uma luta comum nos diferentes países europeus contra o empobrecimento e as injustiças, pelos direitos, pelos salários, pelo emprego, pelos ser-viços públicos, pela democracia e pelo futuro.

Durante os qua-tro dias dos tra-balhos cerca de

mil delegados discuti-ram a organização do sindicato e a actualida-de social e reivindica-tiva, marcada pela cri-se e pelo programa de austeridade que o go-verno britânico preten-de levar por diante.

Cortes nas pensões, aumento da idade de reforma, despedimen-tos em massa e priva-tizações são algumas das medidas muito contestadas, que mo-tivaram uma grande greve de Junho, convo-

cada por vários sindi-catos. Só na Adminis-tração Local prevê-se que, este ano, sejam reduzidos cerca de 150 mil postos de trabalho e em toda a adminis-tração pública estima-se que, nos próximos três anos, perderão o emprego cerca de 600 mil trabalhadores.

Em alguns serviços, os cortes atingirão 25 a 30 por cento, o que é qualificado pelo Unison como um «ataque ideo-lógico», que canaliza o dinheiro para os bancos e para as guerras em detrimento dos servi-

ços públicos. «Fizeram esta trapalhada, agora desfaçam-na» – afirmou na sua intervenção final o secretário-geral do Sindicato, Dave Prentis, apelando à mobilização para a luta e à recolha de um milhão de assi-naturas em defesa dos serviços públicos.

O Unison iniciou na altura da conferência a preparação de uma greve, que foi entretan-to aprovada para 30 de Novembro. A convoca-ção de greves no Reino Unido é um processo lento e muito burocrati-zado, em resultado dos condicionalismos im-postos pelos governos de Margaret Thatcher nos anos 80. De acor-do com a lei, a greve tem de ser previamen-te aprovada por uma maioria de associados. A consulta é obrigato-

riamente feita por cor-reio e só é válida se votarem pelo menos 50 por cento dos associa-dos em cada local de trabalho. Para além do custo inerente ao envio de envelopes RSF para um milhão de asso-ciados, os resultados podem ser falseados, uma vez que, em caso de extravio, alguém que não seja membro do sindicato poderá participar na votação.

Em representação do STAL, José Manuel Marques teve oportu-nidade de intervir num debate internacional, organizado à margem do Congresso, onde deu conta da actual si-tuação social e política no nosso país, respon-dendo a diversas per-guntas, designadamen-te, sobre as formas de organização do STAL.

Ofensiva inaudita na Grã-Bretanha

Congresso do Unison

O STAL participou entre 21 e 24 de Junho, em Manchester, na Conferência anual do Unison, o maior sindicato britânico do sector público, que representa cerca de 1,3 milhões de trabalhadores da administração local, saúde e educação, entre outros.

Segurança e saúde no Trabalho

Polícia francesa agride trabalhadores

Seminário debate prevenção de riscos

STAL condena repressão

O STAL vai realizar, no dia 19 de Dezembro, em Almei-rim, um seminário sobre o Pa-pel dos Representantes dos Trabalhadores na Prevenção de Riscos Psicossociais.

A iniciativa visa debater e estimular a intervenção dos representantes dos traba-lhadores para a Segurança e Saúde no Trabalho (SST), num momento em que os riscos decorrentes da activi-dade laboral atingem propor-ções preocupantes.

De acordo com o tercei-ro relatório do Observatório Europeu de Riscos, os prin-cipais riscos psicossociais emergentes estão intimamen-te ligados à precariedade do

trabalho, designadamente às novas formas de contratos de trabalho e à insegurança no emprego, ao envelhecimento da força de trabalho, à inten-sificação do trabalho, à difi-culdade de conciliação entre a vida profissional e a vida pessoal/familiar, às elevadas exigências emocionais que se colocam e à violência no trabalho.

O stress relacionado com o trabalho é hoje a segunda causa de doença mais referi-da pelos trabalhadores, afec-tando mais de 25 por cento da população empregada na Europa, sendo responsável por 50 a 60 por cento do ab-sentismo. O stress é, por isso,

um dos maiores desafios que se nos colocam ao nível da segurança e saúde nos locais de trabalho.

Estes factores que são for-temente agravados no quadro da actual crise económica, fi-nanceira e social, o que refor-ça a importância e urgência de intervir nesta área.

O seminário do STAL, que terá lugar no salão Restau-rante Moinho de Vento, tem o apoio da Autoridade para as Condições de Trabalho e é especialmente destinado aos trabalhadores, represen-tantes e candidatos a repre-sentantes dos trabalhadores para a SST dos distritos de Leiria, Lisboa e Santarém.

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DEZEMBRO 2011 13jornal do STAL

Há mais de 60 anos que tenho a missão, voluntariamente aceite, aliás, de ser o grilo falante do cidadão Advento. E

quem é o Advento (?) perguntarão vocês.Bom, muito abreviadamente, digamos que é um gajo demasiado impulsivo, com muito pouca pachorra para eufemismos politicamente correctos, e que muitas vezes diz o que pensa sem medir as consequências, jurídicas e outras, que as suas palavras poderão acarretar.Tenho conseguido, até hoje, atenuar na medida do possível as suas exacerbações linguísticas. Não por desacordo quanto ao conteúdo, mas por considerar que há formas mais elegantes e politicamente correctas de abordar as questões.Por exemplo: Sempre que qualquer governo deste desgraçado país investiu contra o mundo do trabalho (o que vem acontecendo há bem mais de 30 anos) lá me aparecia o irado Advento com a sua virulenta linguagem, que não saía muito deste registo: – Filhos da puta! Bandidos! Ladrões! Vendidos aos urubus que governam este mundo! Servos imundos dos grandes capitalistas, nacionais e estrangeiros, cuja riqueza obscena é obtida a sugar o sangue daqueles que vivem do seu trabalho. Quando isto acontecia, esperava que se acalmasse. E depois replicava: – Ó Advento, não fales assim. Tu tens razão em toda a análise que fazes, mas as coisas devem ser apresentadas de outra forma. Primeiro, as mãezinhas dos senhores (e também das senhoras, nada de discriminações) a quem te referes podem até não ter culpa nenhuma das acções praticadas pelos filhotes. Depois, sabes bem que «bandido» é aquele que viaja sem bilhete nos transportes públicos por não ter dinheiro para o adquirir, e ladrão é quem assalta uma padaria para matar a fome aos filhos. Não se pode aplicar esta terminologia aos senhores doutores, engenheiros, economistas e outros istas que nos (des)governam, por vontade deste povo de marinheiros, mental e fisicamente semi-afogado. Vendidos... servos... é pá, o que para aí vai. Mais elegância nas palavras, caramba. Não custa nada. Digamos apenas que os senhores doutores, engenheiros e istas estão ao serviço do grande capital, que a sua política é inaceitável, que se baseiam em inverdades nas campanhas eleitorais para ganhar votos, que são comandados enquanto governo pelos poderosos para mais tarde se fixarem em altos cargos principescamente remunerados (aqui dava-lhe três ou quatro exemplos recentes). Estás a perceber? Dizes tudo o que queres mas com a possível delicadeza democrática.A verdade é que esta minha estratégia foi dando os seus frutos. O Advento lá se ia

aguentando à bronca, e nas intervenções diárias que protagonizava junto da sua roda de amigos e simples conhecidos, ia conseguindo escutar a minha grilada voz e, assim, continha-se nas palavras e conceitos, interrompia por vezes o discurso para que não saíssem da sua boca vernáculos inconvenientes, e mesmo a desconversar tinha algum cuidado com aquilo que dizia. Encontrei o Advento na manhã do dia seguinte à arenga solene vociferada pelo sr. primeiro-ministro, anunciando mais uma ofensiva terrorista do seu governo à vida de quem tem ou teve, no trabalho, a sua única fonte de rendimentos.Assim que me viu, interpelou-me sem me dar tempo, sequer, a abrir a boca.– Olha cá, ó caramelo, vens para aqui outra vez com falinhas mansas? Continuas a considerar que este bando de criminosos que nos arruína a vida deve ser tratado com delicadeza? Esta chularia miserável que se alcandorou ao poder, usando para tal a extrema ingenuidade de um povo incapaz de aprender com a vida, engolindo ciclicamente as aldrabices que esta escumalha lhes vende em todas as campanhas

eleitorais, merece-nos alguma contenção verbal? Filhos da puta, sim, com todo o respeito pelas

respectivas mãezinhas. (E com um respeito muito, mas muito maior pelas mulheres que

são as primeiras vítimas desta miserável política). Bandidos, sim. Ladrões, pois claro! O que se pode chamar com mais propriedade àqueles que assaltam miseravelmente à luz do dia a nossa casa, o nosso porta-moedas, a nossa

saúde, a nossa educação, o nosso direito a uma vida digna? Canalhas,

evidentemente, porque têm até o supremo descaramento de pôr ao serviço dos seus

assaltos a protecção da polícia, chamada de segurança pública e paga com os impostos pagos maioritariamente pelos cidadãos roubados. Qual é o teu problema em chamar as coisas pelos seus

nomes próprios? Desculpa, mas hoje não me dás a volta.

Ouvi-o com atenção e, pela primeira vez, não tive argumentos para o contrariar.

Porque ele tem a razão toda. Mas, nem eu sei bem porquê, continuo com esta postura chamada de politicamente correcta. E por isso, atrevo-me a colocar aos senhores (e às senhoras) que hoje estão no governo, com todo o respeito, as seguintes questões:- Vossas Excelências não têm um pingo de vergonha na cara?

- Vossas Excelências ainda não perceberam que, com esta

sabuja subserviência aos vossos donos, acabarão

desprezados por todo um povo que, mais cedo ou mais tarde, encontrará a via certa que o conduzirá ao futuro que

merece? Acreditem, Excelências, que a verdadeira História não vos vai perdoar. E o nojo que Vossas Excelências nos provocam hoje, irá perdurar por todas as futuras gerações deste país. Será bom que Vossas Excelências não se iludam. Apesar de todos os vossos esforços em contrário, Portugal sobreviverá. O povo português, por mais adormecido e domesticado que hoje vos pareça, tem em si as potencialidades suficientes para vos escorraçar, mais cedo do que tarde, como ao longo dos séculos tem feito a todos os Miguéis de Vasconcelos* que se vão insinuando com falinhas doces mas acabam sempre por ser desmascarados.Que Deus se compadeça, então, das vossas pútridas almas.AmemE pronto. Vamos à luta que se faz tarde!__________* Miguel de Vasconcelos (1590-1640) foi primeiro-ministro durante a dominação filipina de Portugal. Odiado pelo povo por colaborar com o ocupante, foi capturado na Revolução de 1640 e lançado da janela do Palácio Real para o Terreiro do Paço.

... E o Advento passou-se!Conversas desconversadas

✓ Adventino Amaro

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DEZEMBRO 201114 jornal do STAL

N.º 100DEZEMBRO 2011Publicaçãode informação sindical do STAL

PropriedadeSTAL – Sindicato Nacional dos Trabalhadoresda Administração Local

Director:Santos Braz

Coordenação e redacção:José Manuel Marques e Carlos Nabais

Conselho Editorial:Adventino AmaroAntónio AugustoAntónio MarquesHelena AfonsoIsabel RosaJorge FaelJosé TorresMiguel VidigalVictor Nogueira

Colaboradores:Adventino AmaroAntónio MarquesJorge Fael,José Alberto LourençoJosé TorresRodolfo CorreiaVictor Nogueira

Grafismo:Jorge Caria

Redacção e Administração:R. D. Luís I n.º 20 F1249-126 LisboaTel: 21 09 584 00Fax: 21 09 584 69Email: [email protected] Internet: www.stal.pt

Composição:pré&pressCharneca de BaixoArmazém L2710-449 Ral - SINTRA

Impressão:LisgráficaR. Consiglieri Pedroso, n.º90, 2730-053 Barcarena

Tiragem:50 000 exemplaresDistribuição gratuitaaos sócios

Depósito legalNº 43-080/91

Horizontais: 1. São aqueles que comandam o nosso indigente governo. 2. Enfeitar (com lindas palavras a roubalheira que fazem). 3. É quase preciso ir aqui, à era antes de Cristo, p´ra ver o que se vê hoje; mas não nos irão ven-cer, somos rijos como isto; Só precisamos é disto, para os enterrar de vez. 4. As S´otoras, tão a ver, poêm isto antes do nome; Conselho Regional de Delegados, para programar as lutas. 5. Medida de secos, com que nos querem medir; para que nos aconteça isto, mas nós não va-mos deixar. 6. Por mor e a bem da nação, mais uma vez, a canalhada reinante lá nos aumentou mais isto; segundo se ouve dizer, este é que lava mais branco. 7. É o que sinto pelo catraio Seguro quan-do o ouço proclamar-se de «líder da oposição» (hi, hi, hi,) desculpem o desabafo; é neste mundo que querem transformar o planeta; as duas primeiras vogais do alfabeto nacional. 8. Não vamos seguir a deles, a nossa música é outra. 9. O Coelho é-o tam-bém, pois claro, dos miseráveis vampiros.

Verticais: 1. É o mesmo que latido, cujo ruído empor-calha os caneiros da TV. 2. É esta, ainda e sempre,

a flor que nos dá força. 3. Medida japonesa equivalente a dois decilitros; cada tacho dos mamões tem, em geral, uma destas a dobrar; cá está a ferramenta, vamos lá abrir-lhes a cova. 4. Também precisamos desta, se for bem utilizada; pois, são os cabelos brancos por tantos anos de luta. 5. Pacotilha de tabaco,

é onde se pode chegar; naipe de baralho de cartas ou armas de gente pobre. 6. É tanto, pois está claro; base aérea militar que esteve na origem da anedota «jamais». 7. É o que nos vai faltando já, com tanta po-luição à solta; há já muitos portugueses, de tão rou-bados que são, que já não podem fugir a pregar o seu calote; e o mais que adiante se verá. 8. Esta é filha do irmão que por acaso é assessora de um secretário de Estado. 9. São os mercados, as troikas, os Coelhos mal Seguros e o raio que os parta a todos.

Palavras cruzadas

InternetReverso ✓ Victor Nogueira

Na Internet podemos encontrar va-liosa informação e mesmo des-frutar de muitas obras emblemá-

ticas desta corrente artística. Uma sínte-se do neo-realismo e da sua contraposi-ção à estética e ideologia fascistas en-contra-se nos trabalhos de Sandra Fol-gado Saber Ver a Arquitectura Neo-Rea-lista em Portugal (1) e de Luciane Páscoa A posição social do artista no movimento Neo-realista em Portugal.(2)

No cinema, para além do neo-realismo italiano e do cinema novo português,(3) relevam-se Chaplin em Tempos Mo-dernos(4) e o genial Eisenstein com Ou-tubro,(5) A Greve(6) e Couraçado Pote-mkin.(7)

Na fotografia, podemos ler uma intro-dução ao neo-realismo português num artigo de Alexandre Pomar(8) e referên-cias a Maria Lamas, As Mulheres do Meu País.(9) Outros fotógrafos sociais são por exemplo Sebastião Salgado,(10) Lewis Hine,(11) Dorothea Lang e Walker Evans.(12 )

Entre os cantores e compositores portu-gueses, citam-se Fernando Lopes Gra-ça,(13) José Afonso,(14), Adriano,(15) Luís Cília,(16) José Mário Branco,(17) Manuel

Freire,(18) Sérgio Godinho,(19) ou ainda a Brigada Victor Jara(20) e o GAC.(21)

Um sítio a explorar tematicamente é o Arquivo Marxista na Internet.(22)

1. estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/14072/1/Saber%20Ver%20a%20Arquitectura%20Neo-Realis-ta%20em%20Portugal_Disserta%C3%A7%C3%A3.pdf

2. www.revistas.uea.edu.br/old/abore/artigos/artigos_2/Artigos_Professores/Luciane%20Viana%20Bar-ros%20Pascoa.pdf

3. pt.wikipedia.org/wiki/Neo-realismo4. www.youtube.com/watch?v=SmQ0nL79aws&featu

re=related5. www.youtube.com/watch?v=MPkXaiHrK0E&featur

e=related6. www.youtube.com/watch?v=kObFn6VkJyE7. http://www.youtube.com/watch?v=LDKKN-KILIY8. alexandrepomar.typepad.com/alexandre_po-

mar/2008/09/da-fotografia-neo-realista-a.html e alexandrepomar.typepad.com/alexandre_po-mar/2008/09/fotografia-neo-realista-2.html

9. alexandrepomar.typepad.com/alexandre_po-mar/2008/06/maria-lamas-autora--e-reporter-fotogr%C3%A1fica.html#more 10. www.youtube.com/watch?v=Z7_L2PSjguw

11. www.youtube.com/watch?v=JqEBO3Fimek&feature=related

12. www.youtube.com/watch?v=btvbL61Z94A&feature=related

13. www.youtube.com/watch?v=GFgwcktnaWM14. www.youtube.com/watch?v=2yZkC3YCU20&feat

ure=related15. www.youtube.com/watch?v=xyN1A2IOtbA16.www.youtube.com/watch?v=xgFifm4Bxa017. www.youtube.com/watch?v=rE_nw8VGVYE18. www.4shared.com/audio/8iqi-tY9/Manuel_Frei-

re_-_Pedro_Soldado.htm19. www.youtube.com/watch?v=KpFEn24TyuA

e www.youtube.com/watch?v=hBuNrlM5N8w&feature=related

20. www.youtube.com/watch?v=9KNJT3QzLMA21. www.youtube.com/watch?v=UAyS8cP5NX822. www.marxists.org/portugues/tematica/index.htm

O neo-realismo e a marcha da humanidade

O "líder da oposição"

O neo-realismo, movimento cultural progressista que marcou todo o século XX, manifestou-se em vários países, atravessando as diferentes expressões artísticas.

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António José Seguro é um rapaz bem parecidoque se calhar nem tem culpa das figuras que hoje faz.Aprendeu na sua Jota os caminhos da ascensãoao poder pelo poder, sem antes ter aferidoprincipiozinhos éticos a que gente séria e capaz,presta sempre, em sua vida, a natural atenção.

O imberbe rapazito, e a gente sabe porquê,foi eleito para boss da sua agremiação, depois da pífia figura feita pelo antecessor.E, como é natural e já toda a gente vê,quis parecer o que não é, com ridícula presunção.(Pois é, são as armadilhas do Soarento professor...)

O garoto apresenta-se, então, com grande pose, em palcos que o ultrapassam largamente,com o título pomposo de «líder da oposição».Por muito que a gente ria, por muito que a gente goze,o rapaz não se apercebe do papel tão deprimenteque lhe foi distribuído na farsa em exibição.

Sejamos justos, contudo. Não é o moço o primeiroa esgrimir este título com igual ostentação.O Guterres já o fez, mais o Barroso e o Santana,e o Sócrates, pois claro. (Vêm do mesmo viveiro)...Mas nunca, nunca, algum deles foi sequer oposiçãoàs políticas carunchosas da direita ultramontana.

Umas perguntas se impõem com toda a simplicidade:– Se o puto ficou em terra, como é que lidera o barco?– E aqueles que embarcaram vão rir, só, das anedotas?A nau navega em mar bravo em busca da liberdade, muito longe destes «líderes» estatelados no charcoda servil obediência aos bandidos agiotas.

Nós vamos sentir por eles piedosa compaixão.Mas cuidado, meus amigos, que esta gente é perigosa. Mascara-se de oposição mas é colaboradoraporque apoia, também ela, esta brutal agressãoao povo deste País, só que em versão cor de rosa.Continuemos a luta, gritando com voz sonora

25 de Abril sempreFascismo nunca mais!!!

A Melga

SOLUÇÕES

Horizontais: 1.Agiotas. 2. Ornar; 3. Ac; aco; pa. 4. Dra; crd. 5. Rasa; cair. 6. Iva; omo. 7. Do; cao; ae. 8. Pauta. 9. Vassalo.

Verticais: 1. Ladrido. 2. Cravo. 3. Go; asa; pa. 4. Ira; cas. 5. Onca; paus. 6. Tao; ota. 7. Ar; cao; al. 8. Prima. 9. Ladroes.

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enho

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aro

Cun

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DEZEMBRO 2011 15jornal do STAL

Um livro, um autor

Conhecer

Ontem como hoje, Gil Vicente evoca a consci-ência e a solidariedade que levam S. Marti-nho a partilhar a sua capa com quem neces-

sita. Assim nasceu o teatro português.Gil Vicente é um caso raro, talvez único, na li-

teratura de língua portuguesa, a cuja obra os es-tudiosos continuam a dedicar muitos trabalhos e redobrada atenção. O grande poeta renascentista é o autêntico fundador do teatro ibérico, uma das personalidades mais importantes e livres da sua época e um dos maiores expoentes da literatura portuguesa.

As comadres, as alcoviteiras e as regateiras, os ra-tinhos, os almocreves e os fidalgotes, bem como as moças casadoiras, que povoam os autos e as farsas vicentinas, têm parentes próximos no teatro de todos os países da Europa. Mas nos autos de Gil Vicente, são mais humanos e artisticamente mais autênticos. Gil Vicente é ainda hoje grande e moderno sobretudo pelo tom e profundidade da sua sátira social.

Vida e época

Gil Vicente nasceu no reinado de D. Afonso V (1438-1481), presenciou os rei-nados de D. João II (1481-1495) e D. Manuel I (1495-1521) e morreu em meados do reinado de D. João III (1521-1557). Não são conhecidas as da-tas de seu nascimento e da sua morte, mas, provavelmente, nasceu em torno de 1465 e deve ter morrido entre 1536 e 1540, pois a última notícia que temos dele ocorre naquela data (1536: encenação de sua última peça, Floresta de Enganos; sua primeira peça, o Monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visita-ção, fora encenada em 1502).

Atravessou, pois, um período crucial da história de Portugal, tendo testemunhado as lutas políticas que agitaram o reinado de D. João II, a chegada de Vasco da Gama à Índia, o fausto do reinado de D. Manuel (durante o qual se descobriu o Brasil), a construção dos Jerónimos e de outros grandes monumentos, as perseguições sangrentas aos cristãos novos e, final-

mente, os começos da crise do reinado de D. João III, que trouxe a Inquisição, a Companhia de Jesus e o ambiente simul-taneamente austero e hipócrita que ele

próprio personifica na figura de Frei Paço.No plano literário, Gil Vicente é con-

temporâneo de dois eventos marcantes: o primeiro é a publicação, em 1516, do Cancioneiro Geral, organizado por Gar-cia de Resende; o segundo é a renova-ção promovida pelo grande poeta Sá de Miranda que, em meados da década de 1520, introduziu em Portugal novidades renascentistas trazidas da Itália, conhe-cidas como de medida nova.

Provavelmente foi o prestígio que go-zou na corte que lhe permitiu levar a efei-

to a ampla e mesmo violenta crítica social que empreendeu nos seus autos e farsas, onde são satirizadas todas as camadas da sociedade, inclusive o clero e a nobreza.

Assim, vemos desfilar diante de nós o Fidalgo, representando a nobreza explo-radora e arrogante, os juízes Corregedor e Procurador, a magistratura corrupta, a Alcoviteira figurando a prostituição, o Sapateiro a que hoje corresponderiam a um misto de industriais e comerciantes, o Onzeneiro grande usurário, correspon-

dente aos banqueiros de hoje. Em pleno apogeu do império português renascen-

tista, Gil Vicente observa a decadência que já toma-va vulto, utilizando as formas poéticas e dramáticas do fim da Idade Média, em versos de redondilhas. Legou-nos 44 peças, 17 escritas em português, 11 em castelhano e 16 bilingues.

O Auto de São Martinho foi uma das primeiras obras de teatro levadas à cena na Península, perante a rainha D.ª Leonor e a sua corte, na igreja pré-manuelina de Nª Sr.ª do Pópulo, em Caldas da Rainha, no final da procissão do Corpo de Deus. Estávamos em 1504.

Auto de São Martinho

Gil Vicente

✓ António Marques

✓ António Marques

Da praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande, famíl ias de

pescadores de antanho, se-mi-nómadas, a que chama-ram os avieiros desceram o mar em cabotagem e povo-aram as margens dos rios. Legaram-nos um património popular construído, represen-tante de uma cultura de edi-ficações palafitas, cujos res-quícios subsistem no vale do Tejo e do Sado: são os últimos sobreviventes na Europa Oci-dental. As habitações, ergui-das nas margens dos cursos de água desde tempos re-motos, em assentamentos de pequenas dimensões, dese-nham memórias de uma vida singular que se extingue em

cada dia que passa. Os últi-mos avieiros vamos encontra-los na Aldeia Palafita da Car-rasqueira que urge visitar de-moradamente.

Uma vida dedicada ao rio Sado, em lares precários, er-guidos com materiais ligeiros e rudimentares, cujas técnicas conviveram com as primeiras civilizações de recolectores, e que mereciam hoje mais apoio dado o seu avançado estado de degradação, pres-tes a serem devoradas defini-tivamente pelos novos modos de vida.

Os traços vincados desta cultura aí estão nesta maravi-lhosa pintura etnográfica que nos oferece a visita à Aldeia da Carrasqueira, perdida na margem esquerda do grande rio Sado, ao lado do lugar da Moitinha e perto de sítios su-gestivos e interessantes como o Cambado o Possanco e a Comporta.

Aos avieiros do Tejo e do Sado, Alves Redol chamou com carinho «os ciganos do

rio», que ainda persistem na Carrasqueira em viver como nos tempos idos, com amor ao rio e muito sacrifício para enfrentar as agruras do sus-tento, perdidos entre a pe-quena agricultura e as ar-tes da pesca, ao sabor das épocas do ano. Agricultores e pescadores oferecem-nos uma lição de cultura e te-nacidade que importa visi-tar já que os seus produtos, sobretudo o peixe que nos oferecem é de óptima quali-dade.

A Carrasqueira, aldeia pala-fita, documento vivo e miste-rioso perdido no tempo sim-bólico, pertence ao Concelho de Alcácer do Sal, e cresce à vista da península de Tróia. A civilização moderna lado a lado com os primeiros passos do homem em terra firme, vida dura, burilada pela força do homem que teima em resistir à adversidade com a coragem dos que enfrentam o mar mas abraçam a terra mãe, que lhes dá o pão amargo do conforto possível.

As habitações palafitas, com os pequenos barcos ancorados nos esteios, reflectindo a ondu-lação do rio sereno, representam a última tela da Europa de quan-do os homens ainda a medo gal-gavam a terra e se aventuravam na conquista do futuro.

Lugares assim são uma lição de coragem que é bom com-partilhar.

Apanhe o barco em Setúbal e de Tróia à Carrasqueira é um pulo. Se quer terra firme, des-ça a auto-estrada A2 até Alcá-cer do Sal e utilize a saída n.º 8 em direcção ao IC1. Contorne a urbe e quando cruzar a Na-cional 253 siga à direita até à Carrasqueira.

Vai ficar maravilhado com o que lhe é dado ver, ouvir e sobretudo partilhar da vida e também da gastronomia des-tas gentes rudes mas infinita-mente amáveis, sábias e pa-cientes. Da Aldeia Palafita da Carrasqueira, espreitamos o homem nosso antepassado. É outro mundo e eu apaixo-nei-me.

A Aldeia Palafita da CarrasqueiraDa Aldeia Palafita da Carrasqueira, espreitamos o homem nosso antepassado. É outro mundo, ali a dois passos de Tróia, e eu apaixonei-me.

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DEZEMBRO 201116 jornal do STAL

As origens do Jornal do STAL re-montam a Janeiro de 1984. O primeiro número, como se ex-

plica no seu Editorial, resultou da «ne-cessidade imediata de alertar os tra-balhadores para um conjunto de me-didas que o Governo tenta impor e so-bre os aspectos mais gravosos dos di-plomas que constituem o famigerado pacote laboral para a função pública».

Foi portanto a urgência de informar e mobilizar os trabalhadores para a luta que levou a direcção do Sindicato a lançar o jornal. O papel da imprensa sindical é abordado com mais profun-didade no Editorial do segundo nú-mero, publicado no mês seguinte. Aí se salienta que «a informação e pro-paganda é uma das armas mais im-

portantes que os trabalhadores têm», contribuindo para melhorar a «organi-zação, unidade e luta pela defesa dos seus interesses e direitos constitu-cionalmente consagrados», devendo

por isso «constituir uma preocupação constante de todos os órgãos e secto-res do nosso Sindicato».

Decorridos praticamente 28 anos, embora sempre com meios modestos, o jornal beneficiou de vários melhora-mentos no seu conteúdo e apresenta-ção gráfica, garantiu a sua publicação regular e ganhou um conjunto de cola-boradores que o enriquecem de varie-dade temática, para além do universo sindical mais estrito.

Todavia, no essencial, mantêm-se as razões que estiveram na base da sua criação: a necessidade de infor-mar, esclarecer e divulgar as posições e propostas do Sindicato, de reflectir as experiências de luta, as vitórias e os reveses, de denunciar e mobilizar contra os sucessivos ataques aos di-reitos sociais e laborais.

Por tudo isto, hoje, confrontados com uma ofensiva sem precedentes contra os salários e direitos labo-rais elementares, que põe em causa conquistas e o próprio regime demo-crático fundado com o 25 de Abril, justifica-se, talvez mais que nunca, prestar uma atenção redobrada à imprensa e propaganda sindical, nos seus diferentes suportes, enquanto instrumento de reforço da unidade, coesão, organização e mobilização dos trabalhadores para os combates cada vez mais duros que se avizi-nham.

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Resumo da luta

100 números do Jornal do STAL

Informar, esclarecer, mobilizar

15 de Setembro – A CGTP-IN realiza um debate sobre contratação colectiva. 1 de Outubro – A Manifestação Nacional da CGTP-IN junta cerca de 150 mil traba-lhadores em Lisboa e no Porto; assinala-se o 41.º aniversário da Central e o Dia Nacio-nal da Água.7 de Outubro – Realiza-se em Almeirim um Plenário Nacional do STAL.14 de Outubro – A Frente Comum recusa participar na «farsa» de negociações anu-ais encenada pelo Governo. 18 de Outubro – O Conselho Nacional da CGTP-IN decide a realização de uma Gre-ve Geral.20 de Outubro – O STAL entrega na AR uma declaração contra a destruição do Poder Local Democrático e reúne com di-versos grupos parlamentares. 21 de Outubro – Cerca de cinco mil ac-tivistas sindicais participam no Plenário Nacional da Frente Comum e desfilam do Rossio para o Ministério das Finanças. 28 de Outubro – O STAL promove na sua sede nacional um debate com Rosa Pava-nelli, dirigente sindical italiana activista do Fórum dos Movimentos Italianos pela Água.29 de Outubro – Realiza-se na Voz do Operário, em Lisboa, o Fórum «Água é de todos, não à privatização», que junta cerca de trezentos participantes. 3 de Novembro – O STAL participa no Encontro sobre o Estado, Administração Pública e Direitos Sociais, promovido pela CGTP-IN. 12 de Novembro – Milhares de trabalha-dores da Administração Pública de todo o País participam numa poderosa Manifesta-ção Geral, em Lisboa.

Com a presente edição, o Jornal do STAL cumpre 100 números, publicados ao longo de quase três décadas, que nos falam das principais reivindicações e lutas travadas pelos trabalhadores da Administração Local.