16
Nº 92 Maio de 2009 Distribuição gratuita aos sócios STAL STAL Quem faltou aos compromissos, mentiu, caluniou e atacou salários, direitos e o emprego não merece a confiança dos trabalhadores. Nas urnas vamos penalizar o governo e continuar a luta! Págs. 2 e 3 Nas eleições europeias de 7 de Junho A manifestação de 13 de Março (na foto) juntou mais de 200 mil pessoas em Lisboa Sondagem STAL/Marktest revela maioria esmagadora contra privatização da água Págs. 8 e 9 Penalizar o Governo Penalizar o Governo

Jornal N.º 92

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jornal do STAL - N.º 92 - Maio-2009

Citation preview

Page 1: Jornal N.º 92

nº 92 • Maio de 2009Distribuição gratuita aos sócios STALSTAL

Quem faltou aos compromissos, mentiu, caluniou e atacou salários, direitos e o emprego não merece a confiança dos trabalhadores. Nas urnas vamos penalizar o governo e continuar a luta!

Págs. 2 e 3

Nas eleições europeias de 7 de Junho

A manifestação de 13 de Março (na foto) juntou mais de 200 mil pessoas em Lisboa

Sondagem STAL/Marktest revela maioria esmagadora contra privatização da água Págs. 8 e 9

Penalizar o GovernoPenalizar o Governo

Page 2: Jornal N.º 92

MAIO 20092 jornal do STAL

É preciso mudar de políticas para sair da crise

O voto dos trabalhadores é um momento decisivo na luta A grande manifestação da CGTP-IN, que em 13 de Março encheu Lisboa com mais de 200 mil trabalhadores, as comemorações do 35.º aniversário do 25 de Abril e as manifestações do 1.º de Maio constituíram poderosas jornadas de luta contra as políticas de direita do Governo PS de José Sócrates, na reivindicação de uma mudança de rumo na condução dos destinos do País que promova o emprego, valorize os salários, garanta os direitos e defenda os serviços públicos.

A«crise» não pode continuar a resultar no aumento da ex-ploração dos trabalhadores e

dos mais desprotegidos em benefí-cio dos interesses dos patronato e do capital, pelo que a luta vai conti-nuar nas ruas e nos locais de traba-lho, mas também nos actos eleito-rais que se avizinham.

Porque o voto é também uma po-derosa arma de luta de que os traba-lhadores dispõem, nas eleições para o Parlamento Europeu que se realizam em 7 de Junho levamos a nossa luta até ao voto, condenando aqueles que têm promovido na Europa e em Por-tugal uma política de degradação dos salários, de ataque aos direitos laborais e sociais e de destruição e privatização de serviços públicos essenciais.

Ofensiva sem precedentes

O Conselho Geral do STAL, reunido em 3 de Abril, fez um ba-

lanço dos efeitos da actual políti-ca governativa e considerou que a «ofensiva sem precedentes (…) fragiliza cada vez mais as rela-ções laborais, procura enfraque-cer os sindicatos, desvaloriza as carreiras profissionais e degrada o poder de compra para propi-ciar o agravamento das condi-ções de exploração e o aumento dos lucros do capital».

A campanha de mentiras e ca-lúnias que o Governo, desde o início do seu mandato, levou a cabo contra os trabalhadores, serviu para apoiar os sucessi-vos ataques aos direitos e aos salários, nomeadamente as alte-rações ao estatuto de aposenta-ção, o congelamento do tempo para as mudanças de escalão, as alterações ao regime de vín-culos carreiras e remunerações, o SIADAP, o contrato de traba-lho em funções públicas, entre outros.

Afirmar e defender os direitosOs impactes das profundas alterações

legislativas que o Governo e a maioria do Partido Socialista têm promovido na legislação laboral para a Administração Pública fazem-se sentir cada vez mais nos locais de trabalho, seja pelos efei-tos directos da sua aplicação seja pelos que decorrem do enviesamento em mui-tas autarquias.

Por isso o STAL enviou no início do ano uma circular a todas as autarquias (circu-lar n.º 4/2009), através da qual chama à atenção para um conjunto de procedimen-tos a respeitar e apela à implementação de um conjunto de medidas tendentes a minorar os efeitos já de si nefastos da no-va legislação.

O direito de audição e negociação dos mapas de pessoal, a aplicação de meca-nismos ainda disponíveis de valorização profissional (progressões devidas em 2008, reclassificações profissionais e mudanças de escalão), a atribuição dos créditos de acordo com as regras da avaliação de de-sempenho nos anos de 2004 e 2005, a ne-gociação dos acordos de cedência de in-teresse público para os trabalhadores que se encontravam requisitados em empresas ou a regularização de horários de trabalho são alguns dos temas tratados naquele do-cumento. Com vista a contribuir para o es-clarecimento destas questões, o STAL está a promover a realização de reuniões com autarquias locais em todo o País.

A «imagem de marca» do go-verno de ataque cerrado aos tra-balhadores e um servilismo in-condicional ao grande capital, ressalta também nas gravosas al-terações ao Código do Trabalho. Rasgando os compromissos elei-torais, Sócrates e o Partido So-cialista acentuaram a desregula-mentação do trabalho e desequi-libraram «ainda mais as relações laborais em favor dos interesses do patronato e dos grandes gru-pos económicos».

Na resolução aprovada o Con-selho Geral do Sindicato lem-bra as decisões de inconstitu-cionalidade que aquele diploma já mereceu e «saúda a iniciativa do PCP, part i lhada por outros grupos parlamentares e alguns deputados», que requereu a fis-cal ização sucessiva de várias normas das alterações ao Có-digo do Trabalho, bem como do regime de vínculos da Adminis-

tração Pública e do seu Estatuto de Aposentação.

O Sindicato considera que é fun-damental mudar de rumo na con-dução das políticas governativas, particularmente na Administração Pública, e tudo fará para que es-ta legislação seja alterada ou re-vogada.

Romper com as causas da crise

O documento aprovado pelo Conselho Geral do STAL alerta que a crise económica e finan-ceira está a ser aproveitada para a justificar «novas investidas do governo e do patronato contra os trabalhadores», ao mesmo tem-po que continuam a crescer as grandes fortunas à custa do erá-rio público. E salienta que a situ-ação que o País vive «não só não é uma inevitabilidade como cons-titui aliás o resultado das políticas

Page 3: Jornal N.º 92

MAIO 2009 3jornal do STAL

Editorial

Votar para mudar

de rumo

O voto dos trabalhadores é um momento decisivo na luta

Votar também é lutar

A intensificação da luta dos tra-balhadores coloca-se também no plano eleitoral. «Os trabalhado-res e os seus sindicatos não es-tão isentos de opinião política, muito menos quando é das polí-ticas governativas e das maiorias legislativas que resultam os gra-ves ataques aos direitos laborais e sociais».

Por isso, o Conselho Geral do STAL salientou que o Sindicato e os trabalhadores «não podem nem devem esquecer» que foi a maioria absoluta do Partido So-cialista que permitiu ao Gover-no de Sócrates um tão profundo ataque aos seus direitos. Para efectivamente «mudar de rumo» é preciso traduzir essa vontade nas eleições para o Parlamento Europeu, para a Assembleia da República e para as Autarquias Locais.

Estes momentos, como frisou o Conselho geral, «devem ser con-siderados como de verdadeira e decisiva luta pelos direitos e pe-los serviços públicos, por um País mais livre, mais justo e mais fra-terno», o que exige uma forte pe-nalização do governo e da maioria socialista, principais responsáveis pela degradação das condições de vida, aumento da precarieda-de e retirada de direitos sociais e laborais.

Manifesto da Frente Comum

Também a Frente Comum se pronunciou sobre o momento eleitoral que se avizinha, apelando à luta contra a Europa dos «pode-rosos e da filosofia cega do mer-cado, que não tem em conta os direitos fundamentais dos cida-dãos e dos trabalhadores».

No manifesto aprovado na Ci-meira de Sindicatos de 8 de Abril, a frente sindical lembra as responsa-bilidades do governo de Sócrates na aprovação e aplicação das políticas europeias prejudiciais aos trabalha-dores e ao País, alertando para os perigos do «chamado Tratado Re-formador ou de Lisboa – que o PS não quis referendar como promete-ra ao povo português – e que o po-vo da Irlanda recusou». Tal reforma «confirmaria a transferência de fatias significativas da nossa soberania e seria um novo passo na instituciona-lização do neoliberalismo».

A Frente Comum conclui assim que não é «indiferente a correlação de forças políticas nos órgãos da UE – no caso, no Parlamento Euro-peu – e as posições aí defendidas pelos diversos partidos» pelo que apela a que o voto dos trabalhado-res no dia 7 resulte de «uma profun-da reflexão (…) e uma opção escla-recida, consciente e de classe».

As palavras isenção, imparcialidade ou independência têm sido utilizadas com frequência para se acusar os sindicatos de politizarem a sua acção. Ainda recentemente, José Sócrates, claramente incomodado com o poderoso protesto contra a sua política que juntou em 13 de Março mais de 200 mil trabalhadores, insinuou injuriosamente que os manifestantes estariam ali a apoiar outros objectivos que não a sua luta, objectivos políticos alegadamente manipulados pelo Partido Comunista.Esta táctica, já antes utilizada à exaustão pela ditadura salazarista, foi igualmente adoptada pelo Governo do PS para caluniar a classe dos professores que se mobilizou quase totalmente para contestar as políticas educativas.

Mas a propósito de «imparcialidade» cabe perguntar: têm sido imparciais José Sócrates e o Partido Socialista na sua ofensiva contra os trabalhadores e os seus direitos, contra as populações e os serviços públicos? É imparcial a sua vergonhosa e descarada submissão aos interesses do patronato e o grande capital? Têm sido imparciais os partidos que se sucederam na governação do País – PS, PSD ou CDS, sozinhos ou coligados – ao aprovaram e aplicarem as políticas neoliberais que precipitaram o país numa crise sem precedentes do capitalismo?

Clamando pela isenção, governo e patronato desejariam que os trabalhadores se conformassem com a injustiça, a arbitrariedade, a exploração desenfreada. Isso não acontece, nem poderá acontecer!Os trabalhadores não se conformam nem podem tolerar as políticas de direita prosseguidas nas últimas décadas. Sabem que é possível um outro rumo para o País e para a Europa – um rumo de justiça, de solidariedade, de emprego e respeito pelos direitos, de desenvolvimento e de progresso social, com serviços públicos de qualidade para todos. Por isso, não nos calamos, não nos vergamos e vamos continuar a luta! Nas ruas e nos locais de trabalho, mas também nas urnas.

Porque o voto é naturalmente uma arma de que dispomos, preciosa e poderosa, não podemos nem vamos desperdiçá-lo. Votaremos já no próximo dia 7 Junho nas eleições para o Parlamento Europeu para exigir uma inversão nas políticas europeias, o respeito pela soberania nacional, contra a Europa do capital, contra o militarismo, pelos direitos laborais e sociais, pela paz e a cooperação entre estados iguais em direitos.E não deixaremos de penalizar com o nosso voto os responsáveis pelas dificuldades crescentes que sentimos no dia a dia. Quem nos mentiu, quem faltou aos compromissos, não merece o voto dos trabalhadores. No próximo dia 7 de Junho não podemos ser imparciais. Vamos votar e exprimir o nosso protesto contra estas políticas, em defesa dos nossos direitos, pelo futuro e por uma vida digna.

de direita que vêm sendo pros-seguidas há muitos anos e que o actual governo intensificou».

Neste sentido, o combate à crise «não pode passar apenas por en-contrar culpados (o que de si tam-bém não é feito) e pela adopção de mais uma ou outra medida de cos-mética que corrija pontualmente os efeitos nefastos que hoje se fazem sentir». Pelo contrário, urge romper com as políticas de direita que têm vindo a ser prosseguidas e com um modelo de sociedade que privilegia as lógicas de um mercado contra as pessoas, os trabalhadores e os serviços públicos.

Combater a crise passa pois por «combater e romper com as suas causas». A este propósito, o STAL afirma que os serviços públicos lo-cais podem e devem ter um papel fundamental na adopção de uma política que potencie o investimen-to, a produtividade e a criação de emprego local, constituindo verda-deira e efectiva alternativa às lógi-cas privatizadoras e às tão apre-goadas parcerias público-privadas que têm imperado.

Por isso o Sindicato defende a promoção do investimento público nestes serviços, designadamente através da criação de parcerias pú-blico-público», paradigma que se assume tão mais necessário quan-to «mais incongruente e inadmissí-vel se torna a aposta em modelos de mercado que provaram já ser contrários aos interesses dos tra-balhadores, das populações e do País, constituindo aliás os princi-pais causadores da crise que atra-vessamos».

Nas comemorações do 35.º aniversário do 25 de Abril (foto à esquerda em baixo) e nas manifestações do 1.º de Maio, os trabalhadores prosseguiram a luta contra as políticas de direita. O Dia do Trabalhador foi também uma jornada de convívio e desporto. Em Lisboa, o STAL participou na corrida da CGTP com uma equipa de 28 atletas, obtendo o 11.º lugar na geral masculinos e o 1.º lugar em M45

Page 4: Jornal N.º 92

MAIO 20094 jornal do STAL

Consultório Jurídico ✓ José Torres

Os períodos de férias mantêm-se tal como estavam em vigor, isto é, 25 dias úteis até aos 39 anos de

idade, 26 a partir dos 39 anos de idade, 27 a partir dos 49 anos de idade e 28 a partir dos 59 anos de idade. A estes pe-ríodos acresce um dia útil de férias por cada dez anos de serviço efectivamente prestado.

Todavia, é e l iminado o dire i to ao acréscimo de cinco dias úteis, que era devido quando as férias fossem go-zadas na sua totalidade fora da épo-ca considerada normal. Porém, os tra-balhadores que hajam adquirido esse direito no ano passado mas não o te-nham gozado, podem reclamá-lo, já que a lei vigente em 2008 permitia que pudesse ser gozado no ano seguinte, isto é, em 2009.

As novas regras determinam igualmen-te que as faltas injustificadas deixam de implicar a redução do período de férias, embora continuem a ser descontadas no vencimento e na antiguidade, para além de constituírem violação do dever de as-siduidade.

Suspensão do contrato

No caso de suspensão do contrato por impedimento prolongado, por exemplo, devido a doença, o trabalhador tem direito a receber a remuneração correspondente ao período de férias não gozado e respec-tivo subsídio.

Em contrapartida, a introdução da suspensão do contrato veio implicar uma redução do direito a férias. As-sim, se o regime anterior preservava a totalidade dos dias de férias após uma baixa prolongada por doença, agora, por força da suspensão do contrato, quando reingressa em funções o tra-balhador apenas tem direito às férias previstas para o ano de contratação. Ou seja, após seis meses completos ao serviço, terá direito a gozar dois dias úteis de férias por cada mês de

duração do contrato, até ao máximo de 20 dias úteis.

Sublinhe-se que, por enquanto, o regi-me de suspensão do contrato por impe-dimento temporário, decorrente de fac-to não imputável ao trabalhador e que se prolongue por mais de um mês, nomeada-mente por motivo de doença, ainda não se aplica aos trabalhadores que tinham o vín-culo de nomeação e transitaram para este Regime, como decorre do disposto no art. 19.º, n.º 5, da Lei 59/2008.

Essa aplicação far-se-á apenas a par-tir da data em que entrarem em vigor os diplomas que procederem à regulamen-tação do chamado «regime de protecção social convergente», cujos princípios já fo-ram aprovados pela Lei 4/2009, de 29/1, mas que ainda aguarda a referida regula-mentação.

No que respeita aos contratados a ter-mo, apenas existe uma disposição espe-cial para os contratos de duração infe-rior a seis meses. Neste caso, a duração das férias é de dois dias úteis por cada mês completo de duração do contrato. Assim, nos casos em que essa duração for igual ou superior a seis meses, apli-cam-se as regras gerais dos contratados sem prazo.

Direito irrenunciável

A remuneração do período de férias é idêntica à do período normal de traba-lho, com excepção do subsídio de re-feição que não é pago nas férias. Além disso, o trabalhador tem direito a um subsídio de férias, de valor igual a um mês de remuneração-base, que deve ser pago por inteiro no mês de Junho de cada ano.

O novo regime estabelece uma nova nor-ma que reconhece o direito do trabalhador a receber uma compensação, caso a en-tidade empregadora obste culposamente ao gozo das férias nos termos legalmente fixados. Esta compensação é equivalente ao triplo da remuneração correspondente ao período em falta, o qual deverá obriga-toriamente ser gozado no primeiro trimes-tre do ano civil subsequente.

Decorre da lei que as férias constituem um direito irrenunciável e imprescritível. Assim, os trabalhadores não só não po-dem abdicar deste direito como devem exigir o seu total reconhecimento, inclu-sive através da responsabilização das entidades empregadoras, quando, cul-posamente, impedirem o gozo do direi-to a férias.

O direito a férias no RCTFP

O Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas (RCTFP), aprovado pela Lei 59/2008, de 11/9 e que entrou em vigor em 1/1/2009, manteve, em muitos aspectos, o regime de férias que vigorava, mas introduziu também algumas alterações significativas.

O documento negociado pelo STAL com a direcção da AHBV de Vila de Rei constituiu o pri-

meiro acordo de regulamentação das relações de trabalho assinado no sec-tor, contribuindo para a defesa dos di-reitos dos profissionais abrangidos e para uma melhor prevenção e socorro na área da protecção civil.

Depois de um processo ampla-mente participado pelos trabalha-dores, as partes estabeleceram um conjunto de normas de que se des-taca uma valorização global da mas-sa salarial média e a definição de um quadro de carreiras profissionais com os respectivos conteúdos fun-cionais e um conjunto de escalões

que permitem a progressão de três em três anos.

Os trabalhadores em regime de tur-nos com folga rotativa têm direito a um subsídio mensal no valor de 25 por cento da respectiva remunera-ção base mensal, bem como à com-pensação pelo trabalho suplementar prestado em dia útil, dia de descanso semanal complementar ou feriado.

Entre outras matérias regulamenta-das, salienta-se igualmente o subsídio de deslocação, o abono para falhas, a protecção na maternidade e pater-nidade, a assistência à família, os di-reitos dos trabalhadores estudantes, tendo ainda sido consagrado o prin-cípio da atribuição de um suplemento

Os problemas dos profissionais das associações humanitárias de bombeiros do distrito de Bragan-ça estiveram em foco no encontro regional do STAL realizado em 31 de Janeiro.

À semelhança de outras regi-ões do País, estes trabalhadores são muitas vezes vítimas de pres-sões e abusos intoleráveis por par-te das direcções ou responsáveis pelo comando, que se aproveitam da inexistência de regulamenta-ção específica para impor horários desmesurados e ignorar direitos básicos dos seus efectivos.

Como refer iu o presidente do STAL, Francisco Braz, é frequente estes profissionais serem obriga-dos a prestar trabalho extraordiná-rio não remunerado por ser indevi-damente considerado como «vo-luntário». Este tratamento é ina-ceitável já que coloca os trabalha-dores numa situação de «volunta-riado forçado». «Os que resistem» acrescentou Francisco Braz, «são muitas vezes marginalizados e até

alvo de processos disciplinares e de suspensões».

Vários casos são conhecidos do Sindicato e no próprio Encontro de Bragança foram relatadas si-tuações de maus-tratos verbais, nomeadamente na Associação de Bombeiros Voluntár ios da Cruz Amarela de Mirandela (ver caixa). Aqui, quatro bombeiros apresenta-ram queixa em Tribunal do Traba-lho contra a direcção por falta de pagamento das horas extraordiná-rias e atribuição dos respectivos dias de folga.

Meses antes, os mesmos traba-lhadores tinham sido alvo de pro-cessos disciplinares e penalizados com suspensão por 20 dias por te-rem entregue os telemóveis à As-sociação em protesto contra as sistemáticas chamadas ao serviço durante os períodos de descanso.

Acção nacional

Exigindo a regulamentação das condições mínimas de trabalho

Profissionais das associações de bombeiros

Bragança

Assinado primeiro acordo

Encontro distrital denuncia abusos e maus-tratos

O STAL assinou em 21 de Março um acordo de empresa com a direcção da Associação de Bombeiros Voluntários de Vila de Rei. Também no distrito de Castelo Branco foi concluído, em 25 de Março, um protocolo de regulamentação das relações de trabalho com a Associação de Bombeiros da Covilhã.

Page 5: Jornal N.º 92

MAIO 2009 5jornal do STAL

Profissionais das associações de bombeiros

Assinado primeiro acordo

Encontro distrital denuncia abusos e maus-tratos

de insalubridade, penosidade e risco, a regulamentar posteriormente.

Os trabalhadores ao serviço da AHBV de Vila de Rei têm direito a um período anual de férias remunerado com a duração de 25 dias úteis, caso não se verifiquem faltas injustificadas, majoradas em função da idade e do tempo de serviço prestado.

Protocolo na Covilhã

Também na Covilhã foram dados passos significativos para a esta-bilização das relações laborais na AHBV, com a assinatura, a 25 de Março, de um protocolo que estabe-lece os princípios e os objectivos da regulamentação colectiva das con-dições de trabalho, a consagrar num acordo de empresa.

O documento assinado, que foi rati-ficado pelos trabalhadores em plená-rio geral realizado no dia 18 de Mar-ço, abrange as carreiras profissionais e conteúdos funcionais, regime de

turnos, trabalho suplementar, subsí-dio de deslocação e férias, para além de garantir uma valorização da massa salarial média e do salário mais baixo, este aumentado em 74 euros.

Regulamentação urgente

Para além de lutar pela contratação colectiva, o STAL há muito que exige do Governo a negociação de um regu-lamento de condições mínimas para os trabalhadores das associações huma-nitárias de bombeiros voluntários, co-mo forma de pôr fim à desregulamen-tação reinante no sector, onde a confu-são entre o estatuto de voluntariado e a actividade profissional é fonte de intole-ráveis violações dos mais elementares direitos dos trabalhadores.

Apesar de o Sindicato ter entregue várias propostas nesse sentido, até hoje nenhum governo, incluindo o ac-tual do PS, se disponibilizou para ne-gociar esta urgente legislação.

No acto de assinatura do Acordo de Empresa, o STAL fez-se representar pelo seu presidente, Francisco Braz (ao centro na foto no momento da intervenção) e pelo dirigente Mário Alves (à direita), estando igualmente representados a direcção da Associação de Bombeiros e o executivo autárquico de Vila de Rei.

O encontro de Bragança acusou comandos e direcções de coagirem trabalhadores a prestarem «trabalho voluntário»

nas associações de voluntários, o STAL pro-moveu durante o mês de Abril a entrega em todos os governos civis de uma carta com as reivindicações do sector.

Para além de exigir o reconhecimento de direitos elementares como vínculos, carrei-

ras, horários de trabalho, férias e faltas, o documento salienta a urgente necessidade de formação profissional, propondo a cria-ção de uma Academia de Fogo e uma regu-lamentação que preveja a formação contí-nua destes profissionais da protecção civil.

Delegada sindical despedida

Maria Eduarda, operadora da central de telecomunicações e delegada sindical do STAL na As-sociação de Bombeiros Voluntá-rios e Cruz Amarela de Mirande-la, foi abusivamente despedida, após ter denunciado várias prá-ticas da direcção que penalizam os trabalhadores daquela asso-ciação.

Durante o Encontro Regional de Bombeiros promovido pelo STAL em Bragança, no dia 31 de Janeiro, a sindicalista usou da palavra para descrever o mau ambiente de trabalho que se vi-ve na associação, referindo con-cretamente casos de colegas que são vítimas de perseguição por exigirem o pagamento das horas extraordinárias e o gozo das folgas a que têm direito.

As suas afirmações foram rela-tadas pelo jornal local O Mensa-geiro, pretexto que foi utilizado pela direcção para instaurar um processo disciplinar à trabalha-dora, determinando o seu des-pedimento no passado mês de Abril.

O STAL condenou de imediato o despedimento, considerando-o ilegal e bem revelador das práti-cas prepotentes e antidemocráti-cas da direcção da associação. O Sindicato envidará todos os seus esforços até conseguir a reinte-gração da sua delegada sindical e a punição dos responsáveis por este ignóbil acto repressivo que atenta contra direitos elementares dos trabalhadores e o exercício da liberdade sindical constitucio-nalmente garantida.

Page 6: Jornal N.º 92

MAIO 20096 jornal do STAL

Na análise do STAL, o projecto apresentado aos sindicatos para negociação tem como

objectivo principal eliminar o maior número possível de postos de traba-lho na Administração Local, median-te processos que visam uma alega-da «racionalização». Os trabalhado-res «excedentários» serão coloca-

dos na «mobilidade especial», com a consequente e substancial redução dos respectivos direitos, nomeada-mente de natureza retributiva.

O Governo apenas exclui da aplica-ção da mobilidade especial à Adminis-tração Local os preceitos que se refe-rem à extinção, fusão e reestrutura-ção, que tenham por objecto a altera-ção da natureza jurídica dos serviços.

Assim, o pessoal dos serviços al-vo de reorganização está sujeito à mobilidade especial, nos casos em que a reorganização decorra de «re-estruturação» ou de «racionalização de efectivos».

A competência para desencade-ar estes processos cabe aos órgãos executivos das diversas entidades,

O Governo apresentou um projecto de diploma para adaptar à Administração Local o regime de vínculos, carreiras e remunerações, constante da Lei 12-A/2008, bem como o regime de mobilidade especial estabelecido na Lei 53/2006, diplomas que o STAL sempre combateu, contestando a sua aplicação directa.

Governo quer eliminar emprego nas autarquias

Adaptação da 12-A e mobilidade à Administração Local

que ficam obrigados a elaborar a lis-ta de actividades e de postos de tra-balho necessários, tendo em conta as disponibilidades orçamentais, e apresentar um mapa comparativo entre efectivos existentes e aquele número de postos de trabalho.

Se se apurar que os postos de tra-balho existentes excedem os consi-derados necessários, serão aplica-dos os procedimentos inerentes à passagem dos excedentários para a situação de mobilidade especial.

A gestão da mobilidade poderá ser efectuada no âmbito da comuni-dade intermunicipal ou associação de freguesias em que a autarquia estiver inserida, ou através da em-presa de Gestão Partilhada de Re-cursos da Administração Pública, mediante a celebração do respecti-vo contrato-programa.

Por outro lado, ainda segundo o projecto do Governo, o pessoal em situação de mobilidade especial continuará afecto ao serviço de ori-gem, ao qual compete o pagamento das remunerações e subvenções e pratica os demais actos de adminis-tração relativos a esse pessoal.

Despedimentos em vista

Para os trabalhadores que não es-tavam sob o regime de nomeação, a aplicação deste regime representa uma verdadeira antecâmara do des-pedimento, uma vez que, apenas podem permanecer na mobilidade especial durante o prazo máximo de um ano, após o qual serão despedi-dos se não tiverem obtido coloca-ção noutra entidade pública.

Quanto aos restantes, isto é, os que transitam do regime de nomea-ção para o contrato de funções pú-blicas, podem permanecer no regi-me de mobilidade especial por tem-po indeterminado, embora com uma redução drástica da remuneração.

O STAL repudia este projecto le-gislativo, considerando que se trata de mais um instrumento destinado a incrementar a continuada interfe-rência do Governo na organização e gestão das autarquias, reduzin-do as suas atribuições, mediante a privatização/concessão de diversas actividades e eliminação de postos de trabalho, com a consequente e

substancial redução de direitos, in-cluindo até o eventual despedimen-to dos trabalhadores considerados desnecessários.

Adaptações à Lei 12-A

O projecto do Governo determina ainda a aplicação da Lei 12-A, com as respectivas adaptações, a todos os trabalhadores que exercem fun-ções públicas, independentemente da modalidade de vínculo de empre-go, com excepção das normas res-peitantes ao regime de nomeação.

A este propósito, salienta-se que o projecto de estatuto da polícia municipal prevê a manutenção do regime de nomeação.

A figura de dirigente máximo do serviço é atribuída ao presidente da câmara, à junta de freguesia e ao presidente do conselho de adminis-tração, respectivamente, nos muni-cípios, freguesias e Serviços Muni-cipalizados.

Porém, em certas matérias a com-petência cabe aos órgãos execu-tivos, designadamente no recruta-mento de trabalhadores, celebração de contratos de tarefa e de aven-ça, homologação das transições de carreiras.

Quanto aos mapas de pessoal determina-se que são aprovados pelos órgãos deliberativos, o que vem ao encontro da posição defen-dida pelo STAL.

No que respeita ao trabalho su-plementar, ao contrário do que de-termina o Regime de Contrato em Funções Públicas, o Governo res-salva que na Administração Local o trabalho em dias de descanso e fe-riados não fica sujeito ao limite de 60 por cento da remuneração.

O STAL sempre se bateu contra esta lei, contestando desde a pri-meira hora a sua aplicação directa à Administração Local. Contudo, ape-sar de este projecto vir ao encontro desta posição do Sindicato, a adap-tação que o Governo propõe está longe de corresponder às exigências e expectativas do Sindicato.

Face aos múltiplos problemas que resultam da realidade sócio-laboral da Administração Local, o STAL tudo fará para em sede de negociação in-troduzir as alterações necessárias.

Os trabalhadores do sector operário e auxiliar da Câ-mara de Lamego há muito que se batem por condições normais de trabalho. As oficinas funcionam em pavi-lhões antigos que já foram os estábulos da autarquia, serviram mais tarde de garagem e agora acolhem vá-rias profissões, pintores, serralheiros, canteiros, etc.

Os sanitários e balneários são claramente insufi-cientes para os cerca de 150 trabalhadores que fazem parte do sector. Nem sequer há cacifos para todos.

Em cada manhã, dezenas de calceteiros, jardi-neiros, canalizadores e outros concentram-se num terreiro das traseiras das oficinas, de onde par-tem para os diversos locais do concelho. Trazem já vestida a roupa de trabalho e é com ela no cor-po, já suada e suja, que no final do dia regressam a casa. Ali não há balneários, apenas um cubículo com uma retrete e um lavatório.

Ninguém nega a falta de condições de higiene e segurança das instalações. A situação inadmis-

sível foi apresentada pelo STAL ao presidente da autarquia, Francisco Lopes. O eleito reconheceu razão ao Sindicato e logo no primeiro encontro prometeu construir novas oficinas.

Porém, na segunda reunião solicitada pela Di-recção Regional de Viseu, o edil deu o dito por não dito, alegando que tinha falhado um loteamento previsto e que o projecto das novas oficinas teria de esperar.

Aos trabalhadores só restava o protesto. E foi o que fizeram numa acção realizada, dia 22 de De-zembro, frente aos Paços do Concelho, na qual participaram várias dezenas de funcionários da autarquia, delegados e dirigentes sindicais.

O protesto não passou despercebido. Na sua sequência, o presidente da Câmara declarou à im-prensa que teria o terreno durante este ano e que em 2010 será finalmente dado início à construção das novas instalações.

Lamego Por condições dignas

A aplicação da mobilidade

especial às autarquias representa

um ataque ao emprego e uma

ingerência na autonomia do

poder local

Page 7: Jornal N.º 92

MAIO 2009 7jornal do STAL

Representantes da Campanha Nacional «Água é de Todos, Não o Negócio de Alguns» entrega-ram, no dia 20 de Março, na Assembleia da Re-

pública, o abaixo-assinado subscrito por 36.865 pes-soas, condenando os processos de privatização no sector da água e exigindo a manutenção da proprieda-de e gestão públicas deste bem essencial.

A delegação foi recebida pelos grupos parlamentares aos quais reafirmou a necessidade do reconhecimento da água como bem público, universal e comum, bem como do reforço do papel do Estado na sua gestão protecção e salvaguarda e dos ecossistemas aquáticos com base em princípios de equidade e sustentabilidade.

Com a entrega deste documento, concluiu-se a pri-meira etapa da campanha lançada há um ano à qual, entretanto, aderiram mais de 60 organizações.

Tendo realizado um balanço positivo da acção desen-volvida, a campanha irá continuar com o lançamento em breve de uma petição à Assembleia da República recla-mando a consagração legislativa do direito à água.

36 mil assinaturas contra a privatização

Desigualdades no acesso à águaCortes disparam por incumprimentos

Uma delegação da Campanha Nacional «Água é de todos», integrada pelo STAL, entregou o abaixo-assinado na Assembleia da República no dia 20 de Março

«Água é de todos»

Só no concelho de Lisboa, segundo dados revelados pela EPAL, regis-taram-se 140 mil incumprimentos,

tendo a empresa efectuado mais de 10 600 cortes no ano passado, o que repre-senta um aumento de 20 por cento das interrupções de abastecimento em com-paração com 2006, ano em que a EPAL efectuou 8 069 cortes.

Em Setúbal, a empresa Águas do Sado acumula dois milhões de euros em dívi-da por incumprimentos verificados nos últimos seis meses. No ano passado, a empresa procedeu a 6 100 cortes de água devido a atrasos nos pagamentos. Outros exemplos têm sido noticiados re-centemente pela imprensa.

Como salientou a Direcção Nacio-nal do STAL numa nota à imprensa di-vulgada em 22 de Março, Dia Mundial da Água, a imposição de novas taxas e a subida dos preços da água que tem acompanhado o processo de crescen-te empresarialização e privatização de serviços municipais não só penaliza as famílias como também representa um custo acrescido para as pequenos e médios produtores e empresários, agravando as dificuldades e em alguns casos inviabilizando a sua actividade.

No actual quadro de crise, torna-se ca-da vez mais evidente a falência das políti-cas neoliberais e exige-se uma mudança decidida de rumo de modo a atenuar as gravíssimas consequências economias, sociais e ambientais provocadas por quase duas décadas de privatizações.

Governo insiste nas privatizações

Contudo, ignorando os interesses do País e as necessidades da população, o governo continua a insistir em políticas neoliberais que visam a completa mer-cantilização da água e a privatização dos correspondentes serviços públicos.

Como denuncia o Sindicato, a reali-zação do Programa Nacional de Barra-gens com Elevado Potencial Hidroeléc-trico está a ser utilizada para entregar a concessionários privados os recur-sos hídricos, infra-estruturas hidráuli-cas, leitos de rios e margens. O Gover-no pretende ainda alienar competências eminentemente públicas, como o licen-ciamento, cobrança de taxas e fiscali-zação. O STAL alerta para a gravidade deste tipo de concessões que colocam bacias hidrográficas sob o controlo de privados, permitindo-lhes subordinar aos seus interesses lucrativos vastas regiões.

Igualmente preocupantes são as cres-centes pressões sobre as autarquias para que abram mão das redes de dis-tribuição de água. Sob a capa da de-nominada «Parceria para a Organiza-ção dos Sistemas Municipais», o Exe-cutivo PS pretende incentivar a entrega do abastecimento em baixa à Águas de Portugal (AdP), à semelhança do que já antes aconteceu com a maioria dos sis-temas de captação de água e tratamen-to de esgotos.

Neste processo, como o passado re-cente o demonstra, os municípios são

prejudicados, cedendo património por valores muito inferiores aos reais, as po-pulações pagarão preços mais elevados e os trabalhadores destes serviços verão o seu emprego ameaçado, como resulta da intenção de reduzir postos de traba-lho já anunciada pela AdP.

Por último, o Sindicato recorda que es-te Governo chegou ao cúmulo de prever, no quadro da proposta de lei em torno do «Regime Jurídico dos Bens do Domí-nio Público», que as redes municipais de abastecimento de água e saneamento passem para o domínio do Estado, desi-derato que, a concretizar-se, configuraria um dos maiores ataques ao poder local de que há memória.

Neste quadro, o STAL considera que a saída da crise não passa por despe-jar milhões às cegas nas grandes em-presas e bancos nem em insistir na li-beralização e privatização dos serviços públicos essenciais. Pelo contrário, exige-se a manutenção da sua proprie-dade e gestão públicas, o seu desen-volvimento e melhoria, a sua valoriza-ção e aproximação às populações co-mo forma de garantir a universalidade de acesso, a criação de emprego e o progresso do País.

Com o aumento do desemprego e a diminuição do poder de compra de largos estratos da população, é cada vez maior o número de famílias que não consegue pagar a factura de água e vê por esse motivo interrompido o fornecimento deste bem essencial.

Page 8: Jornal N.º 92

8 jornal do STAL/MAIO 2009jornal do STAL/MAIO 2009

Ao encomendar este inquérito, o primeiro estudo conhecido em Portugal sobre a opinião

dos portugueses acerca da privati-zação dos sistemas de água, sane-amento e resíduos sólidos urbanos, o STAL pretendeu não só determinar o grau de concordância da popula-ção com os processos de privatiza-ção no sector, e retirada das corres-

pondentes competências aos muni-cípios, mas igualmente medir o grau de cobertura e satisfação e identi-ficar os critérios mais importantes para os utentes na gestão destes serviços.

No universo da sondagem, verifi-cou-se que os serviços em análise têm uma ampla taxa de cobertura da população, que é confirmada pelos dados estatísticos nacionais: abas-tecimento de água (89,8%); recolha e tratamento do lixo (82,9%); sanea-mento e esgotos (79,7%); recolha se-lectiva de lixo (71,9%).

A esmagadora maioria dos inquiri-dos (93,9%) beneficia de pelo menos um serviço prestado por entidades públicas. Só 22,2 por cento afirma-ram utilizar um serviço (água, sanea-

mento, recolha ou tratamento de lixo) prestado por empresas privadas.

É no sector dos resíduos urbanos que o peso dos privados é maior, ten-do a sua presença sido assinalada por 15,8 por cento das respostas. Em con-trapartida, no abastecimento de água a gestão privada foi notada por nove por cento dos inquiridos, enquanto na actividade de saneamento apenas 3,6 por cento afirmaram serem servidos por empresas deste tipo.

Satisfação elevada com gestão pública

A sondagem revelou que a maioria da população está satisfeita ou muito satisfeita com os serviços prestados. Numa escala de zero a dez, a classi-

ficações médias mais elevadas foram atribuídas aos serviços de água, de-signadamente em relação à «conti-nuidade do fornecimento de água» (8.0) e à «qualidade da água distribuí-da» (7.4). No primeiro critério, 36,2 por cento declararam-se «satisfeitos» e 40,6 «muito satisfeitos», enquanto no segundo critério 40,4 por cento estão «satisfeitos» e 30,5 por cento «mui-to satisfeitos». Em ambos os casos, mais de 70 por cento dos inquiridos manifestaram opinião claramente po-sitiva sobre a qualidade do serviço.

De forma geral, a «facilidade de contacto» é também apreciada pelos utentes, com uma classificação média de 6.4 valores, notando-se uma me-nor satisfação com «o tipo de infor-mação fornecida pelos serviços» (5.9), com a «higiene dos contentores» (5.6) e com «os valores facturados» (5.5). Saliente-se que em nenhum destes critérios a apreciação é negativa.

Água é um direito Não à privatização!

O estudo mostrou uma opinião praticamente unânime sobre a im-portância da água como bem es-sencial à vida humana.

Questionados sobre a afirmação de que «o acesso à água é um direi-to que deve ser assegurado a todas as pessoas independentemente da sua condição económica e social e da região onde habitem», 99 por cento dos inquiridos manifestaram a sua concordância.

Estabelecendo uma relação entre a garantia deste direito e a gestão pú-blica do serviço, uma clara maioria (69%) não quer que os serviços de abastecimento de água e saneamen-to sejam privatizados, geridos por em-presas privadas.

Dos que assim responderam, 88,2 por cento valorizam o facto de que «a água é de todos», 83,2 por cento, que

Primeira sondagem nacional sobre água, saneamento e resíduos

Uma grande maioria dos portugueses (69%) não concorda com a privatização ou gestão privada dos serviços de abastecimento de água e saneamento, apontando três razões principais: «a água é de todos» (75,5%), é um «serviço público essencial» (65%), «as pessoas com menores rendimentos deixariam de ter acesso à água» (57,1%). Estes são resultados obtidos pela sondagem/Marktest encomendada pelo STAL e realizada entre os dias 6 e 15 de Janeiro.

Portugueses preferem serviços públicos com gestão municipal

Page 9: Jornal N.º 92

jornal do STAL/MAIO 2009 9jornal do STAL/MAIO 2009

Primeira sondagem nacional sobre água, saneamento e resíduos

Contrariamente à Directiva Quadro da Água e outros documentos aprovados pelo

Parlamento Europeu, que definem a água, saneamento e resíduos como «serviços de interesse geral», a pro-posta de decreto-lei do Governo PS classifica estas actividades como «serviços de interesse económico geral».

Para o cidadão comum menos familiarizado com os pormenores destes dois conceitos, sublinhe-se que a principal diferença é que os primeiros «de interesse geral» não estão abrangidos pela política de concorrência da UE, enquanto os segundos «de interesse económico geral» devem ser subordinados às regras do mercado, isto é, privati-zados.

Para alcançar o objectivo de libe-ralizar o sector, o Governo calunia os municípios, apontando-lhe uma alegada incapacidade para gerir e desenvolver novas infra-estruturas e pressionando-os a delegarem estas competências nos sistemas multimunicipais, sob controlo da Águas de Portugal, que posterior-mente serão entregues aos «parcei-ros» privados.

À semelhança de outros sec-tores liberalizados, a proposta do Governo prevê a criação de uma Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos, com nomeação governamental, que passará a deter um poder quase total no sector, podendo designadamente interferir com a gestão municipal dos serviços, mediante a emissão de parece-res e recomendações ou mesmo a realização de auditorias.

O Governo pretende assim criar uma entidade com super-poderes que tentará colocar os municípios na sua dependência, ratificando ou inviabilizando estratégias de gestão dos seus sistemas

É também clara a intenção de di-ficultar a delegação da gestão dos sistemas municipais em empresas municipais ou intermunicipais, de-cisão que teria de ser escrutinada pela entidade reguladora, exigência que não é feita caso a delegação se processe a favor de um sistema multimunicipal.

Ao mesmo tempo, o Governo PS incentiva a entrada de capital privado nas empresas municipais, chegando ao ponto de sobrepor os interesses dos investidores ao interesse público. Assim, refere-se no projecto de diploma, decor-rido o período mínimo de perma-nência de 10 anos, o privado vê garantido um determinado preço das acções caso decida vendê-las. Mas se, pelo contrário, for o município a exercer a opção de compra, então o investidor terá direito a uma remuneração muito superior por acção.

A proposta de lei zela ainda para que aos privados sejam garantidos, por contrato, os proveitos mínimos anuais, expressos a preços cons-tantes, e ressalva que a revisão do contrato de concessão só poderá ser feita caso se assegure a dupli-cação da taxa de rentabilidade ini-cialmente prevista.

Desta forma, o governo preten-de assegurar por lei chorudos lu-cros aos privados e eliminar qual-quer risco nos seus investimentos. Trata-se de retirar literalmente ser-viços às autarquias e populações para os oferecer aos grupos eco-nómicos.

Por último refira-se que o projec-to ataca indirectamente o direito de greve constitucionalmente consa-grado. No n.º3 do artigo 60.º afirma-se que «a recolha indiferenciada e selectiva de resíduos urbanos aos utilizadores só pode ser interrompi-da em casos fortuitos ou de força maior», «não se considerando as greves como casos de força maior», acrescenta-se na alínea seguinte. Será que o Governo pretende impe-dir o direito de greve no sector dos resíduos?

Regime jurídico dos serviços de água, saneamento e resíduos

Uma «lei das concessões»Portugueses preferem

serviços públicos com gestão municipal

se trata de «um serviço público essen-cial» e 77,4 por cento consideram que a privatização põe em causa «o aces-so à água de pessoas de menores rendimentos». De igual modo, foram registadas percentagens significativas relativamente a outras consequências da privatização: «os preços aumen-tam mais do que esperado» (72,3%); «os direitos dos trabalhadores dimi-nuem» (66,3%); «a qualidade do servi-ço diminui (65,3%); «os lucros passa-rão a estar em primeiro lugar (62,1%).

Manter as competênciasdos municípios

Em coerência com a defesa do serviço público com gestão públi-ca municipal, 79,4 por cento dos inquiridos não concordam com a retirada das competências às câ-maras na gestão da água, trata-mento de esgotos e definição dos preços, discordando deste modo das orientações do Governo, que pretende transferir estas compe-tências para empresas onde as autarquias perdem capacidade de decisão.

Os que exprimiram esta opinião fundamentam-na com o argumento de que as «Câmaras são mais aten-tas às necessidades da população» (25,2%); que os «serviços fornecidos pelas Câmaras são bons» (11%); que caso deixem de os prestar «os pre-ços vão aumentar» (10,5%); que as câmaras são a garantia da continu-ação do «serviço público» (10,5%); que «os serviços são mais bem geri-dos localmente» (10,1%).

Sete em cada dez inquiridos (73,4%), consideram que a retirada desta competência não contribuiria para melhorar o serviço de abas-tecimento de água e saneamento, uma vez que as câmaras municipais são quem melhor «conhece as ne-cessidades da população».

Ambiente de qualidade

Uma expressiva maioria de pessoas (86,7%) respondeu que a protecção do meio ambiente constitui uma caracte-rística «importante» ou «muito importante» da gestão dos serviços públicos. Seguem-se como critérios prioritários a «qualidade» (85,9%); «universalidade de acesso» (83,5%); «boas condições de trabalho dos funcionários» (81,9%); «participação dos cidadãos» (80%); «transparência das decisões» (72,6%).

Maioria esmagadora discorda das opções do Governo

Assim, a sondagem encomendada pelo STAL mostra inequivocamente que cerca de três quartos da popula-ção portuguesa discordam de forma fundamentada com a privatização do sector da água e saneamento e con-sideram que a sua gestão não deve ser retirada às au-tarquias locais.

Num momento em que o actual Governo PS, pros-seguindo e aprofundando políticas anteriores, pretende transformar a água e outros serviços públicos de âmbito local em mercadorias como as demais, os portugueses afirmam esmagadoramente que a água, saneamento e resíduos sólidos são direitos sociais e humanos que não podem ser reduzidos à mera lógica do lucro e expres-sam a sua confiança nas autarquias enquanto órgãos democráticos para continuarem a assegurar estes ser-viços essenciais.

O regime jurídico que o Governo pretende impor aos serviços municipais e intermunicipais de água, saneamento e resíduos urbanos visa claramente condicionar a autonomia municipal e garantir níveis de rentabilidade à exploração de privados, pondo em causa o direito ao acesso universal à água.

Ficha técnicaForam entrevistadas 801 pessoas, com 25 anos

ou mais anos, de ambos os sexos, residentes em Portugal continental, em lares que possuem telefo-ne de rede fixa. A recolha de informação decorreu entre os dias 6 de Janeiro e 15 de Janeiro de 2009. A margem de erro máxima para o total, para um in-tervalo de confiança de 95%, é de ± 3.46%.

Page 10: Jornal N.º 92

MAIO 200910 jornal do STAL

Pôr cobro aos abusosProtesto

em Gondomar

Testemunhos

A acção, convocada pela As-sociação Gondomarense dos Utentes dos Serviços Públicos

Essenciais (AGUSPE), dá seguimento a uma luta que se arrasta desde 2005, ano em que a empresa concessioná-ria começou a cobrar valores exorbi-tantes pelos ramais de ligação à rede pública de saneamento.

Para além de cobrar em média cer-ca de 300 euros por cada metro de ra-mal, quando o seu custo ronda os 70 euros, a empresa exige o pagamento de um mínimo de quatro metros, ape-sar de a maioria das ligações execu-

tadas terem metade desse compri-mento. A tudo isto acresce uma tarifa adicional de 230 euros por cada liga-ção, o que eleva o custo total para o utente para perto de 1500 euros.

Face aos insistentes protestos da po-pulação, a Câmara comprometeu-se a negociar com a empresa, prometendo uma redução destes preços em 20 por cento. Todavia, enquanto as negocia-ções se prolongam desde há anos, a empresa ameaça os munícipes com processos em tribunal e cobrança co-erciva dos valores facturados.

A AGUSPE, associação de utentes que tomou a cabeça do movimento de cidadãos, exige, em primeiro lugar, o estrito cumprimento do Regulamen-to Municipal, à luz do qual os ramais devem ser cobrados de acordo com o seu efectivo comprimento. Mas o regulamento estabelece também a possibilidade de os ramais serem executados directamente pelos uten-tes, direito que a empresa se recusa a reconhecer, recusando-se a fornecer a informação técnica detalhada pa-ra o efeito.

Reclamando a rápida conclusão das negociações entre a Câmara e a empresa, a AGUSPE lembra os res-ponsáveis autárquicos que existem milhares de munícipes ameaçados com acções judiciais, situação into-lerável tanto mais que a autarquia se comprometeu a obter uma redução dos actuais preços.

«Fui residir para Gondomar em Maio deste ano e tenho achado as contas da água muito elevadas. Por exemplo, entrei dia 1 numa nova casa e passado um mês enviaram-me uma factura da água de dois dias (de 1 a 3 de Maio) e depois en-viaram-me outra do resto do mês, ou seja, paguei duas vezes as mes-mas tarifas no mês de Maio! Acho uma roubalheira!

Quando coloquei o contrato no meu nome, foi só mudar de nome, ninguém teve de se deslocar a casa nem nada, tive de pagar 167 euros, mas porquê?

Sei que os preços da água variam em cada concelho, mas aqui eu acho mesmo muito caro. Tenho pa-go contas de água de valores acima dos 18 euros, somos só dois mora-dores. Vivi com três pessoas numa casa e nunca pagámos tanto! Já pago tanto de água como de gás, o que é muito estranho!

Que acham? Obrigada.Cris»(16/09/2008, www.portalgondomar.

com/index.php/sociedade/474-aguasde-

gondomar.html)

«Também eu tive de pagar»

«Então digo-lhe em resposta ao seu post. Também eu tive de pagar os ditos 167 euros. Quando ques-tionei a Águas de Gondomar, fui in-formada de que parte desse valor se referia à inspecção realizada. (…) Mas não sei que inspecção podem ter feito sem nunca terem entrado no apartamento em causa. Nessa mesma altura queriam que pagasse a conta em aberto da anterior inquili-

na, o que me recusei já que nada te-nho a ver com a pessoa que habitou a casa. Devo confessar que na altura pensei “que vergonha, não pagou as contas antes de se ir embora!”.

Recentemente decidi mudar de casa, também em Gondomar, em-bora numa freguesia diferente. Diri-gi-me às Águas de Gondomar para transferir o contrato. A empresa in-formou-me que tal não era possível. Teria de fazer um novo contrato com a nova morada e cancelar o contrato na antiga morada. Pedi de imediato o novo contrato sendo-me cobrado novamente os ditos 167 euros pela tal inspecção que mais uma vez não fizeram. Sem alternativa, paguei por-que era a única forma de ter em ca-sa um bem tão vital como é a água. Entretanto, dirigi-me novamente à Águas de Gondomar para cancelar o contrato anterior. Fui informada de que havia um custo de 50 euros para desligar o contador...

Foi então que percebi por que é que havia dívidas da anterior inqui-lina do apartamento: Digam lá que não dá vontade de os mandar para uma certa parte e não pagar! Que acontece a quem não paga as fac-turas? Cortam-lhe a água e retiram o contador... Pois bem, é isso que eu quero que façam, que cortem a água e retirem o contador!

O engraçado é que também pedi a desactivação de mais dois con-tadores, luz e gás e nenhuma das entidades me cobrou. Por isso lhe digo sobre a Águas de Gondomar, são, sim, verdadeiros ladrões!

mcavasconcelos»(17/12/2008, http://www.portalgondo-

mar.com/index.php/sociedade/499-rea-

guasdegondomar.html)

«Uma roubalheira»

O presidente da CM de Penamacor, Do-mingos Torrão, é mais uma das vozes crí-ticas dos sistemas multimunicipais, que já dominam o abastecimento de água em al-ta do País.

Em declarações à Rádio Cova da Beira, este eleito do PS reconheceu que já pen-sou várias vezes abandonar o sistema das Águas do Zêzere e Côa.

«Os valores cobrados pela empresa começam a ser incomportáveis para os municípios, e existem vários problemas que estão por resolver, nomeadamente a separação das águas residuais das plu-viais», ambas cobradas à autarquia, afir-mou na reunião pública do executivo, re-alizada em 16 de Abril, no âmbito da dis-

cussão das contas de gerência de 2008. Para o presidente da CM de Penama-

cor, é urgente alterar as actuais regras que penalizam os municípios e repensar todo o sistema que não está a funcionar como inicialmente previsto: «Estava desenhado para mais municípios, mais investimentos e mais apoios comunitários que não acon-teceram.»

Hoje, com os recursos humanos e o equi-pamento que a Câmara dispõe, o edil não duvida de que teria condições para as-segurar directamente todo o sistema de abastecimento de água, quer em alta quer em baixa, à população do concelho. Por is-so, acrescentou Domingos Torrão, «se a lei permitisse, sairia do sistema».

Depois de já ter aumentado oi-to por cento em 2006, 19,6 por cento em 2007 e 11 por cento em 2008, o preço da água no conce-lho de Vila do Conde voltou a su-bir este ano 8,2 por cento.

Assim, em apenas quatro anos, o preço do metro cúbico dispa-rou 55,3 por cento, isto num con-

celho que tem uma das mais ele-vadas taxas de desemprego e um poder de compra dos mais bai-xos do País. Tal é o resultado da concessão do serviço à empresa Indáqua, à qual a autarquia Vila-condense entregou o abasteci-mento e saneamento por um pra-zo de 40 anos.

A vigília foi convocada pela AGUSPE, associação de utentes que representa a luta dos gondomarenses contra os abusos da empresa

Cerca de duas centenas de gondomarenses concentraram-se, dia 17 de Abril, em vigília frente aos paços do concelho para exigir o fim dos abusos da empresa Águas de Gondomar, cujas práticas infringem desde há anos o Regulamento Municipal.

As práticas abusivas da Águas de Gondomar provocam desde há muito profunda indignação na população, que se sente vítima de uma exploração desenfreada por parte do operador privado. Os dois testemunhos anóni-mos que aqui divulgamos com pequenas reduções foram recolhidos em www.portalgondomar.com.

Sistemas multimunicipaisPreços incomportáveis

Vila do CondeMais 55% em 4 anos

Page 11: Jornal N.º 92

MAIO 2009 11jornal do STAL

Pôr cobro aos abusos

Segundo a referida lei, que de-fine o Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públi-

cas (RCTFP), este processo assenta na negociação de dois instrumentos fundamentais: O Acordo Colectivo de Carreiras Gerais (ACCG) e o Acordo Colectivo de Entidade Empregadora Pública (ACEEP).

No entanto, subvertendo aliás o que é norma na contratação colectiva por-tuguesa, o Acordo Colectivo de Enti-dade Empregadora Pública só é pos-

sível se existir um Acordo Colectivo de Carreiras Gerais, e as matérias a negociar estão dependentes das que nesse instrumento forem definidas.

Embora no RCTFP estejam previstas matérias susceptíveis de negociação e contratação colectiva com as estrutu-ras sindicais representativas dos traba-lhadores, inaceitavelmente estas estão limitadas à regulação/organização de horários de trabalho e à segurança, hi-giene e saúde no trabalho.

Numa clara acção de propaganda, o Governo convocou a Frente Co-mum para uma reunião, que se reali-zou em 27 de Abril, anunciando a in-tenção de negociar, antes do final do seu mandato, um ACCG limitado às matérias referentes à organização do tempo de trabalho.

Manifestando o seu interesse de participar em todos os processos negociais que possibilitem a melho-ria dos direitos dos trabalhadores da Administração Pública, a Frente Co-mum contestou de imediato as con-dicionantes importas pelo Governo, não só no número de matérias a ne-gociar como no próprio período de tempo em que o pretende fazer (entre 100 a 120 dias, isto é antes do final da legislatura).

Entretanto foi colocada à discus-são dos trabalhadores uma propos-ta do referido ACCG (disponível em www.stal.pt), documento que a Fren-te Comum conta aprovar em Plenário de Sindicatos, ainda durante o mês de Maio, para posterior apresentação ao Governo.

Um direito que a lei prevê

Uma chaga aberta

Embora com graves limitações, a Lei 59/2008, de 11/9, determina que é possível a Contratação Colectiva na Administração Pública.

O Tribunal Administrativo deu razão a um conjunto de processos apoiados pela Direcção Regional de Braga do STAL que visavam o reconhecimento de elementa-res direitos dos trabalhados de diversas autarquias do distrito.

A contagem de tempo de serviço antes do ingresso do quadro era uma reclamação de um grupo de traba-lhadores que a Câmara de Vila Verde não pretendia sa-tisfazer. Entre Fevereiro e Março últimos, o órgão judicial deu razão a três acções interpostas pelo STAL em repre-sentação dos seus associados. A autarquia conformou-se com a decisão em primeira instância e iniciou a sua execução.

Maior resistência ofereceu a Câmara de Celorico de Basto que, depois de ter perdido uma acção sobre o pa-gamento de ajudas custo no Tribunal Administrativo do Porto, em Setembro de 2008, recorreu para o Tribunal Central Administrativo do Norte. Este confirmou a deci-são anterior em Março passado, reconhecendo razão ao trabalhador queixoso.

Também a CM de Guimarães considerou que devia re-correr de uma decisão que a obrigava a remunerar um grupo de trabalhadores pelo trabalho prestado em dia de descanso semanal. Todavia, no início de Abril um acór-dão confirmou a decisão em primeira instância. Os tra-balhadores serão ressarcidos.

Os motoristas de pesados da CM de Odivelas que há largos anos desempenham funções de motoris-tas de transportes colectivos, iniciaram a 17 de Abril, uma greve por tempo indeterminado às horas extraor-dinárias, exigindo a sua reclassificação profissional.

Apesar de possuírem as habilitações que a Lei de determina (carta de serviços públicos e licença emi-tida pelo IMTT para o transporte de crianças), os pe-didos de reclassificação como motoristas de trans-portes colectivos foram protelados por mais de três anos.

Entretanto, a entrada em vigor da Lei 12-A/2008, que não contempla a antiga figura da reclassificação, veio dar novo pretexto à autarquia para recusar a le-gítima reivindicação dos trabalhadores. Face ao ale-gado desconhecimento das formas de resolução do problema, o STAL apresentou uma proposta de solu-ção. Porém, mais uma vez, a autarquia decidiu fazer outro compasso de espera, solicitando parecer à As-sociação Nacional de Municípios.

Constatando uma nítida má vontade dos respon-sáveis autárquicos, tanto mais que a reclassifica-ção representa um custo adicional para a Câmara de pouco mais de 130 euros mensais, os trabalhadores caminharam para a luta. Entretanto, no primeiro fim-de-semana de Maio, a autarquia violou a lei da gre-ve, optando por contratar empresas de aluguer para substituir os trabalhadores. Com esta atitude ilegal, a autarquia gastou em dois dias cinco vezes mais do que gastaria por mês se satisfizesse a legítima recla-mação dos motoristas.

BragaAcções ganhas em Tribunal

OdivelasMotoristas lutam pela reclassificação

Contratação colectiva na Administração Pública

A autêntica «chaga» do empre-go precário na Administração Pú-blica parece não ter fim, seja pelo constante e abusivo recurso a estas formas de contratação, designada-mente por parte das autarquias lo-cais, seja pelos obstáculos levanta-dos pela a própria legislação à re-gularização da situação destes tra-balhadores.

Dramática e imoral, esta é uma si-tuação que abrange muitos milha-res de trabalhadores, que cumprem funções de carácter permanente, necessárias ao bom funcionamento dos serviços, e que por isso deve-riam fazer parte como trabalhado-res efectivos dos respectivos mapas de pessoal.

Apesar de existirem normas que prevêem a abertura de procedi-mento concursal para trabalhado-res com mais de três ou cinco anos em situação irregular (art.º 14 da Lei 12-A/2008), estas disposições são demasiado restritivas e em muitos casos impraticáveis, uma vez que implicam a abertura de um concurso público e consulta à Bolsa de Em-prego Público.

No sentido de propiciar a urgente resolução e regularização destas si-

tuações, a Frente Comum de Sindi-catos da Administração Pública, por proposta do STAL, apresentou ao secretário de Estado da Administra-ção Pública e ao secretário de Esta-do Adjunto da Administração Local uma proposta de regularização ex-

traordinária de trabalhadores em si-tuação precária, que prevê a abertu-ra de concursos internos limitados, aos quais sejam candidatos exclu-sivos os trabalhadores que compro-vadamente desempenhem funções em situação precária.

Por proposta do STAL, a Frente Comum apresentou ao Governo uma proposta de regularização extraordinária de trabalhadores em situação precária

Page 12: Jornal N.º 92

MAIO 200912 jornal do STAL

Uma dirigente da Direcção Regional de Lisboa do STAL foi expulsa, no dia 2 de Fevereiro, pelo presi-dente da Junta de Benfica, que assim impediu deli-beradamente o exercício da actividade sindical.

A sindicalista, que apenas contactava trabalha-dores e distribuía informação do Sindicato, face à actuação do autarca ainda tentou dialogar, mas pe-rante a sua intransigência viu-se forçada a chamar a PSP que tomou conta da ocorrência.

O STAL, que apresentou queixa contra o presi-dente da junta de Benfica, repudia a sua actuação arrogante e ilegal e reafirma que continuará a inter-vir em todos os locais de trabalho, de acordo com o direito garantido na Constituição da República Portuguesa e restante legislação.

A CM de Loures fez uma tentativa de limitar o direito de férias dos trabalhadores do Departamento de Obras, emitindo um despacho ilegal em 5 de Janeiro.

A ordem determinava que o trabalhadores abrangi-dos não poderiam gozar fér ias durante o mês de Setembro e que, nos me-ses de Maio, Junho e Ju-lho teria de ser garantida a presença de 70 por cento dos efectivos, bem como

de 50 por cento no mês de Agosto.

Face à denúncia das co-missões sindicais do STAL, que apelaram aos traba-lhadores para rejeitarem tal despacho ilegal, a autar-quia foi obrigada a recuar e anulou a ordem. Certamen-te a contragosto, já que, em época de eleições, o ideal seria ter à sua inteira disposição os trabalhado-res do departamento para as obras de «última hora».

Um ano já passou desde que o Tribunal Central Administrativo Norte deu razão a uma trabalha-dora da CM da Nazaré que foi ile-galmente colocada pelo presidente em licença sem vencimento de lon-ga duração.

A autarquia foi condenada a pa-gar em Abril de 2008, o recurso que apresentou foi indeferido e o acórdão transitou em julgado em Julho desse ano. Todavia, até hoje, os montantes relativos a 13 anos de salários ainda não foram pagos.

O STAL, que representou a fun-cionária, admite penhorar o carro da presidência e intentar uma acção por desobediência contra o presidente da autarquia, Jorge Barroso.

A trabalhadora, Maria Salada Sil-vério, de 65 anos, recorda que logo a seguir às eleições de 1993 foi vítima de retaliação pelo novo presidente eleito, Jorge Barroso (PSD), por ser apoiante do seu adversário político e anterior edil, Luís Monterroso (PS).

Sem qualquer fundamento legal, a trabalhadora foi reconvertida para ou-

tras funções com uma categoria infe-rior, de fiel de mercados e feiras. Mais tarde, após a anulação daquela deci-são pelo Tribunal, o presidente deci-diu sumariamente erradicá-la do local de trabalho, impondo-lhe férias sem vencimento de longa duração.

Com a ajuda do STAL, a trabalha-dora recorreu ao tribunal, iniciando um processo em 1996. Foi preciso esperar 12 anos para lhe ser reconhe-cida a razão, mas a justiça continua por aplicar com total impunidade do condenado.

Nos dois encon-tros foram deba-tidos os proble-

mas específicos no âm-bito do novo quadro le-gislativo que destruiu o estatuto dos trabalha-dores da Administração Pública, o vínculo pú-blico e o regime de car-reiras.

Os participantes consi-deraram que a chamada «reforma da Administra-ção Pública» veio agravar a descaracterização e su-balternização profissional destes trabalhadores, di-luindo a autonomia jurí-dica e técnica que desde

sempre caracterizou as suas funções.

Assinalando a cres-cente necessidade nas autarquias de trabalha-dores especializados e qualificados, que decor-re em grande parte do alargamento das atr i-buições e competências municipais, os encontros assinalaram igualmente as tentativas de acentu-ar o desmantelamento e esvaziamento de servi-ços públicos, transferin-do as suas funções pa-ra sectores privados que não asseguram as fina-lidades sociais a que os

Estado está obrigado a garantir.

Em Beja, o encontro te-ve lugar em 27 de Abril, juntando quadros técni-cos e científicos das re-giões sindicais de Beja, Évora, Faro, Portalegre

e Setúbal. Dois dias de-pois, em 29 de Abril, de-correu no Porto um en-contro similar que abran-geu as regiões sindicais de Aveiro, Braga, Bra-gança, Porto, Viana do Castelo e Vila real.

Os trabalhadores dos Serviços Municipaliza-dos de Aveiro (SMA), en-tregaram, do dia 16 de Abri l , um abaixo-assi-nado ao presidente da Câmara, condenando a intenção do executivo camarário de privatizar aquele sector.

O texto lançado pe-lo STAL fo i subscr i to por 154 trabalhadores de um total de 197, de-monstrando a oposição da maioria esmagadora do pessoal dos SMA à privatização. O abaixo-assinado acusa o pre-sidente da edilidade de pretender «desrespon-sabilizar-se de uma das principais funções para que foi eleito», «na ân-sia arrecadar alguns mi-lhões de euros no ime-diato».

Os subscr i tores não encontram «nenhuma ra-zão social» que justifique a operação, nem que es-ta seja «economicamen-te vantajosa para os in-teresses do município», uma vez que os Serviços têm uma rede completa-

mente renovada graças aos investimentos públi-cos já realizados.

Por outro lado, o do-cumento recorda que os SMA «asseguram há mais de 60 anos o abas-tecimento de água potá-vel à população aveiren-se, revelam uma situa-ção financeira estável e prestam um serviço pú-blico de grande quali-dade».

Para os t rabalhado-res e o seu sindicato, a concretização do projec-to de privatização sig-nificaria o fim dos SMA e a submissão da água à lógica do lucro, com graves prejuízos para os utentes e para os traba-lhadores, entregando a interesses privados um património de todos os aveirenses. O abaixo-assinado entregue pe-la Direcção Regional de Aveiro do STAL chama a atenção para os «re-sultados negativos das experiências nacionais e internacionais em tor-no da pr ivat ização da água».

As comissões sindicais das empresas mu-nicipais Educa, HPEM e dos SMAS de Sin-tra tomaram posse no dia 22 de Abril, na sequência dos processos eleitorais realiza-dos recentemente com vista ao reforço e re-novação da estrutura do STAL, no concelho sintrense. No mesmo dia, tomaram ainda posse os delegados sindicais na EMES e no Sintra Quórum. As novas estruturas são in-tegradas por trabalhadores eleitos pela pri-meira vez e incluem um número considerá-vel de mulheres.

JF de Benfica Autarca expulsa dirigente do STAL CM de Loures recuaComissões

tomam posse

SM de AveiroTrabalhadores contra privatização

Quadros técnicos e científicos

Dignificar carreiras

13 anos de salários devidos a trabalhadoraCM da Nazaré ignora sentença

O STAL promoveu dois seminários regionais de quadros técnicos e científicos que juntaram profissionais de todo o País sob o lema «Pela dignificação da carreira».

O Encontro em Beja abrangeu igualmente quadros técnicos de Évora, Portalegre Faro e Setúbal

Page 13: Jornal N.º 92

MAIO 2009 13jornal do STAL

A tragédia dos inocentesConversas desconversadas

✓ Adventino Amaro

A vida até que não andava a correr nada mal ao Inocêncio Sarapião até há bem pouco tempo atrás. Tinha o seu empregozito certo, um sa-

lário razoável que lhe ia dando para comer, vestir e pagar a renda da barraca que o senhor Trigoso, seu patrão, lhe fizera o favor de arrendar mesmo à porta da fábrica onde trabalhava, enfim, estava até a ten-tar amealhar uns cobres para comprar um carrito em segunda ou terceira mão, para poder mais conforta-velmente dar uma fugida à praia pelo menos uma vez durante as férias e ir à terra visitar a família uma vez ao ano. E também, evidentemen-te, para subir mais um degrau na hierar-quia social lá da fábrica, onde só o patrão e os capatazes, e estes nem todos, se po-diam orgulhar de ter automóvel.

O Inocêncio a nada mais aspirava. Sa-bia ter nascido pobre e pobre haveria de ser toda a vida, porque os desígnios de Deus todo-poderoso ninguém tem o direi-to de contestar.

E era por isso que o nosso pobre Sa-rapião se indignava sempre que os seus companheiros de trabalho reivindicavam melhor salário, mais e melhor segurança no trabalho, um horário compatível e ou-tros direitos de que ele, Inocêncio, nem sequer percebia o alcance. E faziam exi-gências ao seu patrão e senhorio benfei-tor, e iam a manifestações de protesto e participavam em greves, deixando o nos-so amigo revoltado com tanta ingratidão para com aquele que lhes assegurava o pão de cada dia.

E depois ele sabia, porque o senhor Tri-goso o informava, que havia uma camba-da de malandros que vivia do subsídio de desemprego ou do rendimento mínimo garantido. O que eles não queriam era tra-balhar, porque trabalho não faltava. E ele bem o sabia, bastava olhar para a fábrica do seu benemérito patrão.

Até que, aqui há uns meses, o senhor Trigoso começou a verificar que os seus lucros estavam a minguar. Habituado a vi-ver à tripa forra e não admitindo que a coi-sa se alterasse, logo magicou a forma de reduzir despesas e começou a fazer con-tas. Primeiro de cabeça, depois no com-putador Magalhães, que lhe fora ofereci-do pelo primeiro-ministro numa visita que este fez à fábrica para que as televisões mostrassem ao País um exemplo glorioso do empreendedorismo privado na evolu-ção do país.

Sem qualquer tipo de originalidade, a conclusão a que chegou foi a de que a única forma de resolver o (seu) problema era a de despedir trabalhadores.

Conclusão tirada, medidas tomadas. A fábrica reduziu o seu pessoal em 50 por

cento dos seus efectivos, ficando apenas a laborar com 100 trabalhadores.

Claro que os primeiros a irem à vida foram os con-testatários. Os que faziam exigências, os que defen-diam os seus direitos, os que protestavam nas ruas, os que faziam greve.

O Inocêncio, como paga pela sua canina dedica-ção, não foi despedido. É verdade que o patrão lhe aumentou a renda da barraca e o informou de que, nos próximos anos, não haveria aumento de ordena-

do. «Os tempos estão difíceis e eu estou a passar por grandes dificuldades», disse-lhe ele.

O Sarapião agradeceu comovido a magnanimidade do seu patrão, senhorio, amigo e protector. – «É de muitos homens assim que este País precisa» – pen-sava ele sempre que tinha tempo para isso, normal-mente à hora do almoço, enquanto ia trincando os jaquinzinhos que a sua Maria lhe mandava num sa-co de plástico do mini-preço lá do bairro onde mo-ravam.

Há um mês atrás, quando chegou à fá-brica pelas oito da matina, pronto para contribuir com o seu melhor esforço pa-ra a recuperação económica do seu amo, encontrou-a fechada.

Alguns dos seus companheiros de tra-balho já haviam tentado contacto com o patrão, mas ninguém sabia dele. Diziam então, entre dentes, que o Sr. Trigoso se tinha pirado, deixando-os abandonados à sua sorte. O Inocêncio abespinhou-se com tanta falta de consideração por um homem tão generoso. Que não, ele deve ter adoecido, ou alguém da família, sabe-se lá. E tratou de procurar saber, ele pró-prio, o que se terá passado, não fosse o senhor precisar da sua ajuda.

O que conseguiu apurar junto dos vizi-nhos do seu ex-patrão foi que ele e toda a sua família tinham viajado para o estran-geiro, não se sabia bem para que país.

- «Coitado, eu bem que tinha razão. Foi doença grave de alguém, não há dúvi-da. Se eu pudesse ajudá-lo, sei lá, dando sangue, doando um ou dois rins, qualquer coisa que fosse necessário, por ele eu fa-ria tudo… porque ele tudo merece.»

Nos dias que se seguiram o Sarapião ainda tentou saber notícias mas foi per-dendo a esperança porque ninguém mais soube do senhor Trigoso. Um dia, na se-mana passada, quando chegou à barraca, barraca já não havia. Os terrenos onde ela se encontrava tinham sido vendidos e o seu novo proprietário precisava deles lim-pos para construir um prédio. Que tives-se paciência, mas o tempo urgia. Os seus tarecos amontoados a um canto, mais a sua Maria a guardá-los numa choradeira pegada e o Sarapião atónito a olhar pa-ra tudo aquilo sem perceber bem o que se passava.

- «Se o meu patrão cá estivesse nin-guém se atreveria a fazer-me isto» – mur-murava ele aturdido. – «Homens bons co-mo ele há poucos cá na terra. Como vou agora viver sem a sua protecção?»

E pronto. Fico por aqui. Deixemos o Inocêncio em paz, porque ele nunca irá entender a selva em que transformaram o mundo em que o pariram.

Page 14: Jornal N.º 92

MAIO 200914 jornal do STAL

N.º 92MAIO 2009Publicaçãode informação sindical do STAL

PropriedadeSTAL – Sindicato Nacional dos Trabalhadoresda Administração Local

Director:Santos Braz

Coordenação e redacção:José Manuel Marques e Carlos Nabais

Conselho Editorial:Adventino AmaroAntónio AugustoAntónio MarquesJorge FaelJosé TorresMiguel VidigalVictor Nogueira

Colaboradores:Adventino AmaroAntónio MarquesJorge Fael,José Alberto LourençoJosé TorresManuel GameiroRodolfo CorreiaVictor Nogueira

Grafismo:Jorge Caria

Redacção e Administração:R. D. Luís I n.º 20 F1249-126 LisboaTel: 21 09 584 00Fax: 21 09 584 69Email: [email protected] Internet: www.stal.pt

Composição:pré&pressCharneca de BaixoArmazém L2710-449 Ral - SINTRA

Impressão:LisgráficaR. Consiglieri Pedroso, nº90, 2730-053 Barcarena

Tiragem:57 000 exemplaresDistribuição gratuitaaos sócios

Depósito legalNº 43-080/91

Horizontais: 1. Descarga eléc-trica entre duas nuvens; nem sempre o bife é de vaca, às vezes também é dele; tronco de videira. 2. Pequena capela em lugar ermo; trepadeiras lenhosas tropicais. 3. Senhora (abr.); habilidades; se-nhores (abr.). 4. Ferramenta indis-pensável para jogar bilhar; auto-carro; transeunte que anda a pé. 5. Encurralada; leviana. 6. Planta umbelífera usada como tempero culinário; está espalhado pelas estradas para nos caçar a multa. 7. Nome feminino; existência. 8. Laço apertado; a voz mais agu-da de cantor; ande. 9. A unidade, no feminino; saliente; preposição designativa de falta. 10. Género de plantas santaláceas; monarca; cada uma das partes distintas e articuladas que terminam os pés e mãos do ser humano. 11. Letra grega; instrumentos de ataque ou defesa; óxido de cálcio. 12. Hirta; invertida. 13. Rezai; via; guarne-cer de asas.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

Palavras cruzadas

SOLUÇÕES:

Horizontais: 1. Raio; boi; cepa. 2. Ermida; lianas. 3. Sra; artes; srs. 4. Taco; bus; peão. 5. Acuada; ai-rada. 6. Salsa; radar. 7. Aida; vida. 8. No; soprano; va. 9. Uma; saída; sem. 10. Mida; rei; dedo. 11. Eta; armas; cal. 12. Rígida; virada. 13. Orai; rua; asar.

Verticais: 1. Restas; numero. 2. Arraca; omitir. 3. Imacula; adaga. 4. Oi; oásis; II. 5. Da; dados; ad. 6. Barba; aparrar. 7. Tu; riem. 8. Ilesa; vadiava. 9. Is; irina; si. 10. Ca; prado; ra. 11. Enseada; secas. 12. Parada; vedada. 13. Assoar; amolar.

Verticais: 1. Sobras; algarismo; 2. Melhora a ge-ração de animais cruzando-os com animais de raça pura; não mencionar. 3. Torna impoluta; arma bran-ca de lâmina larga; 4. Cumprimento abrasileirado; lugar aprazível no deserto em que vivemos; dois em numeração romana. 5. Oferece; oferecidos; an-

tiga aliança dos partidos da direita declarada. 6. Conjunto dos pêlos que nascem no rosto do ho-mem; criar parra. 7. A tua pessoa; alegram-se. 8. Incólume; vagabundava. 9. Terceira vogal no plural; nome feminino da nova vaga; sétima no-ta musical. 10. Aqui; campo coberto de plantas forraginosas; batráquio. 11. Pequena baía; en-xutas. 12. Revista de tropas; tapada. 13. Limpar o nariz se mucosidades; aguçar.

Estar perto da natureza, da praia ou do campo, desfrutar de um ambiente descontraí-do e informal sem ter de gas-tar fortunas em alojamento são razões que levam muitas famí-lias a optar pelo campismo pa-ra passar férias.

Os associados do STAL adeptos desta modalidade be-neficiam ainda de descontos suplementares nos parques de campismo do SITAVA e da Novaférias/Campiférias, situ-ados ambos em Vila Nova de

Mil Fontes. As reduções sobre a tabela de preços são de 20 por cento em Julho e Agosto, 40 por cento em Junho e Se-tembro e 50 por cento no res-to do ano.

Também o Parque Munici-pal de Campismo da Ortiga, no concelho de Mação (Santarém), oferece reduções de 50 por cento durante todo o ano.

As taxas cobradas pelos di-versos serviços estão dispo-níveis junto das direcções re-gionais do STAL e na página

electrónica do sindicato www.stal.pt.

Para obter mais informações ou efectuar reservas, os asso-ciados podem contactar direc-tamente os parques de campis-mo através dos telefones 283 890 100 (SITAVA); 283 996 409 (Novaférias/Campiférias); e 241 573 464 (Parque Municipal da Ortiga).

Lembramos os associados que podem requerer ou reno-var a carta de campista junto da Sede Nacional do STAL.

Vantagens do associado

Fazer campismo em férias

Ginásio com descontos

Acidente de trabalho vitima trabalhador

U m p r o t o c o l o e n -t re o STAL e a Pat r i se r proporciona aos associa-dos do STAL descontos e outros benefícios no ginásio Leirigym em Leiria e no Viva Mais Health Club, em Porto Mós.

Para acederem às condi-ções estabelecidas, os as-sociados e seus familiares devem solicitar junto daque-la entidade um cartão STAL, que será concedido mediante identificação como membro do Sindicato.

Deste modo, ficarão isen-tos de inscrição em ambos os ginásios. No Leirigym po-derão aceder a todas as mo-dalidades com livre-trânsito em todos os horários. A fre-quência implica a subscrição de um seguro anual no va-lor de 12 euros, podendo ser efectuados contratos de 12 meses (mensalidade de 30 euros), de seis meses (men-salidade de 35 euros) e três meses (mensalidade de 40 euros).

No Viva Mais Health Club, em Porto Mós, é igualmen-te exigido um seguro de 12 euros por ano, podendo os associados aceder à seguin-te tabela de preços: Piscina, mensalidade de 28 euros com livre-trânsito; Piscina, Sauna e Spa, (34 euros); Ginásio com livre-trânsito (28 euros); Giná-sio, Sauna e Spa (34 euros), Ginásio e piscina (35 euros); Ginásio, piscina, Sauna e Spa (40 euros). Aqui todos os con-tratos são de seis meses.

Rogério Manuel Machado dos Santos, de 36 anos, sócio n.º 69500, foi vítima de um acidente de trabalho, no passado dia 4 de Maio, ao serviço da Câmara Munici-pal das Lajes do Pico, Açores.

Rogério, que exercia funções na recolha de resíduos sólidos, deslocava-se com dois colegas para o aterro sanitário para descar-ga do camião, quando um violento acidente de viação lhe fez perder a vida.

Tendo ingressado em 1989 como con-tratado na Câmara Municipal das Lajes do Pico, Rogério dos Santos tinha actu-almente a categoria de Assistente Ope-racional.

À família enlutada, aos colegas e ami-gos, o Jornal do STAL expressa sentidas condolências.

Page 15: Jornal N.º 92

MAIO 2009 15jornal do STAL

Em 14 de Abril de 1909 nasci em Gestaçô, freguesia do concelho de Baião, Joaquim Soeiro Perei-

ra Gomes, filho de pequenos agricul-tores. Numa terra de cultura celta, ani-nhada no sopé de um monte, esprei-tando o Marão lá longe, cresceu com os garotos do seu tempo e foi calde-ando a sua infância num ambiente ru-ral onde a natureza em todo o seu es-plendor impõe a sua força telúrica.

Na Escola Agrícola de Bencanta, junto a Coimbra e a dois passos do rio Mondego, fez-se homem e estudou as ciências da Agricultura tendo embar-cado para Angola com o curso de Re-gente Agrícola. Mas a experiência em terras africanas foi de pouca dura, um ano depois fixa-se em Alhandra e vai trabalhar para os escritórios da Fábri-ca de Cimentos do Tejo.

Nas margens do grande rio, Alhan-dra de origem árabe, vila de pescado-res e camponeses até ao princípio do século XX, industrializa-se e é o terre-no propício para a afirmação do jovem escritor, permitindo-lhe formar a sua visão neo-realista e começar a publi-car os seus textos desde 1939 no se-manário O Diabo.

É importante recordar que o neo-re-alismo português foi em primeiro lugar uma forma de literatura de verdadeira resistência ao regime fascista, guiada pela visão marxista da história e do fu-turo, caldeada na luta de classes.

Um livro obrigatório

Em 1941 publica Esteiros, com ilus-tração de Álvaro Cunhal com quem teve uma intensa cumplicidade cul-tural e política. Obra maior dedicada «aos filhos dos homens que nunca foram meninos», livro obrigatório nas estantes dos portugueses, fonte on-de foram beber gerações de homens e mulheres.

Neste romance assistimos ao de-senrolar de um cordão de vida repre-sentada por um povo explorado, onde corre um grupo de crianças que rejei-tam a moral bafienta da época e res-pondem à violência da sociedade com um abraço de solidariedade.

Poucos autores abordaram o capi-talismo industrial como Soeiro Pereira

Gomes o retratou neste romance, cuja acção nos prende e nos desperta para a realidade da exploração dos operá-rios fabris, nos comunica o roubo da meninice e da infância dos pequenos trabalhadores engolidos por uma vida de miséria.

Soeiro Pereira Gomes tem o condão de criar ambientes de atmosfera ra-ra, onde a dor e o sofrimento dão as mãos à alegria e à esperança, na linha directa do naturalismo francês de Zo-la, dos russos Gladkov e Górki e, por que não, de Jorge Amado.

Esteiros mostra-nos as classes so-ciais bem caracterizadas, as suas re-acções económicas, a violência da acção, a miséria para muitos, a abas-tança para uns poucos. O mundo é composto de interacções mas o ho-mem é quem produz, por isso a boca de um dos miúdos revela-nos a quem pertencem os bens, simbolizados nos tijolos, «dono é a gente que os faze-mos».

Sempre junto da classe mais desfa-vorecida, contra a arbitrariedade e o esmagar das pequenas e médias em-presas pelo capitalismo, caracteriza-do na grande fábrica, cega e desuma-na, Esteiros, onde nos confrontamos com uma verdadeira dialéctica, é um livro escrito também pelas gentes de Alhandra, pelos operários, pela espe-rança colectiva, pelo pulsar da vida.

Farol do amanhã

Para muitos de nós, então jovens estudantes, foi um farol que nos mos-trou o caminho de um amanhã percor-rido por gente que luta, que se opõe, que recusa o lugar comum, que traba-lha e que vencerá por força da sua so-lidariedade e persistência.

Esteiros é também o mundo do Gi-neto ou do Gaitinhas, meninos que das fendas do Tejo – esses pequenos canais que, por se chamarem esteiros, deram o nome ao romance – colhiam a argila que transformavam em telhas e tijolos, numa actividade cuja violên-cia ultrapassava as raias do imaginá-vel e fazia a vida do dia a dia daquelas crianças sofridas do Telhal Grande.

A obra termina com um grito de es-perança no futuro, quando os miúdos partem em busca do pai: «E quando o encontrar, virá então dar liberda-de ao Gineto e mandar para a esco-la aquela malta dos telhais – moços

que parecem homens e nunca foram meninos.»

Aliás o Gineto, que nunca fora crian-ça, seria na realidade o famoso Bap-tista Pereira, mais tarde excelente na-dador, que percorreu o Tejo e os seus 35 quilómetros de Alhandra até Lisboa em cinco horas, foi o grande campeão que bateu o recorde do estreito de Gi-braltar e do Canal da Mancha e su-plantou o desafio da longa distância na Europa, com 26 horas de natação em que percorreu mais de 166 quiló-metros. Este Gineto dos esteiros terá nascido para o desporto na piscina que Soeiro Pereira Gomes ajudou a construir nas suas actividades de di-namização social e cultural para os fi-lhos dos operários, onde se incluíam aulas de ginástica, bibliotecas e inter-venções em colectividades e associa-ções de todo o tipo.

Escritor militante

Esteiros, um dos meus livros prefe-ridos, é justamente considerado como porventura a melhor obra literária es-

crita nos anos 40 e foi o único publi-cado durante a curta vida do seu au-tor. Para além de Esteiros, Soeiro Pe-reira Gomes escreveu ainda Engrena-gem, dedicada aos trabalhadores sem trabalho, escrito durante os anos de clandestinidade e publicado em 1951, depois da sua morte, e ainda Con-tos Vermelhos, Última Carta e Refúgio Perdido, obras póstumas.

Foi um homem de convicções inaba-láveis e por isso sofreu as agruras do

fascismo. Em Alhandra, era visitado pelos grandes vultos culturais da época e fez um círculo de amigos onde figura-vam nomes como Alves Redol, Álvaro Cunhal, Dias Lourenço. Aderiu ao Partido Comunista ainda nos anos 30 integrando a célula da empresa e o comi-té local de Alhandra. Pelas su-as qualidades e competências, participou com êxito no traba-lho clandestino de acção cultu-ral levado a efeito pelo partido em todo o Ribatejo, cuja orga-nização regional viria a dirigir, como membro do Comité Cen-tral eleito no IV Congresso. Te-ve um papel muito importante na reorganização do Partido na década de 40. Participou acti-vamente na famosa greve de 8 e 9 de Maio de 1944, momen-to grande da luta operária em Portugal. Participou na forma-ção e organização do MUNAF e do MUD.

Em 1945 Soeiro Pereira Go-mes entra na clandestinida-de para não mais regressar. Aí viveu com o estoicismo e o sofrimento dos homens que nada temem e tudo desafiam. Perdeu tudo menos a dignida-

de, a coragem e a esperança em dias melhores. Viveu em moinhos erguidos pelos montes ou em casas recatadas como em Salir do Porto, Caldas da Rainha, onde, em fins de 1947, Álvaro Cunhal, antes da partida para a União Soviética, o foi encontrar já minado pe-la doença que lhe atacou os pulmões. Cunhal quis despedir-se do amigo e camarada que nunca mais reviu.

Nem a mulher, Manuela Câncio Reis, jovem compositora inserida nos meios do teatro amador, sabia do seu paradeiro. Mas isso não impediu a PIDE de invadir a modesta casa de Alhandra, levando pela calada da noi-te aquela frágil e doente mulher para um hospital prisão.

Soeiro Pereira Gomes, trabalhador dos Cimentos Tejo, propriedade das poderosas famílias Sommer Cham-palimaud, foi enorme exemplo de luta pela liberdade e de empenho em defe-sa dos direitos dos trabalhadores, das populações em geral e sobretudo dos fracos e desprotegidos. Soeiro Pereira Gomes é sem duvida o maior exemplo do Escritor Militante.

Um livro, um autor✓ António Marques

Uma palavra de amor, mas também um grito de indignação de alguém que, sendo portador de esperança, entendia que a miséria e o humanismo se podem revelar através da poética.

ESTEIROSde Soeiro Pereira Gomes

A primeira edição

de Esteiros, em 1941, foi enriquecida

com ilustrações

de Álvaro Cunhal

Page 16: Jornal N.º 92

MAIO 200916 jornal do STAL

Cart

oon

de: M

igue

l Sei

xas

Resumo da luta24 de Janeiro – Centenas de pessoas parti-cipam em Lisboa numa concentração de so-lidariedade com o povo palestiniano.

31 de Janeiro – O STAL promove em Bra-gança um Encontro Regional de Bombeiros.

6 de Março – Os trabalhadores da HPEM – Sintra Higiene Pública – desconvocam a greve de uma semana após a administração desbloquear as negociações sobre a tabela salarial de 2008.

8 Março – Comemora-se em todo o País o Dia Internacional da Mulher.

13 de Março – Mais de 200 mil trabalhadores participam no grandioso protesto em Lisboa convocado pela CGTP-IN.

21 de Março – O STAL assina com a Asso-ciação de Bombeiros Voluntários de Vila de Rei, Distrito de Castelo Branco o primeiro Acordo de Empresa no sector.

22 de Março – Assinala-se o Dia Mundial da Água.

25 de Março – O STAL conclui um protocolo de Acordo de Empresa com a Associação de Bombeiros da Covilhã.

28 de Março – Uma manifestação de jo-vens em Lisboa, promovida pela Interjovem/CGTP-IN, assinala o Dia Internacional da Ju-ventude.

6, 7 e 8 de Abril – O STAL promove a entrega aos governos civis de documento reivindica-tivo dos bombeiros profissionais.

8 de Abril – A Cimeira da Frente Comum aprova o documento de princípios para a proposta de Acordo Geral de Carreiras.

18 de Abril – As organizações que integram a Campanha da Água reúnem-se em Lisboa.

25 Abril – Comemora-se em todo o País o 35.º aniversário da Revolução de Abril.

27 de Abril – Realiza-se em Beja um Encon-tro Regional de Quadros Técnicos e Científi-cos da Administração Local, sob o lema «Pe-la dignificação da carreira», com a participa-ção das regiões sindicais de Setúbal, Évora, Beja, Portalegre e Faro

29 de Abril – Tem lugar no Porto novo Encon-tro Regional de Quadros Técnicos e Científi-cos da Administração Local.

30 de Abril – Realiza-se no Porto um Encon-tro de Fiscais da Administração Local.

1.º de Maio – A CGTP-IN comemora em todo o País o Dia Internacional do Trabalhador.

6 de Maio – O STAL promove em Lisboa uma reunião nacional de Polícias Municipais.

7 de Maio – Realiza-se na sede nacional do STAL um Encontro Nacional da Carreira Sub-sistente de Encarregado de Brigada de Ser-viços de Limpeza.

12 de Maio – O STAL entrega ao Governo Regional dos Açores um abaixo-assinado em que exige a aplicação à Administração Local da legislação regional que adapta o regime de carreiras, vínculos e remunerações.

Apesar de o Parlamen-to Europeu ter recu-sado, em 17 de De-

zembro, o aumento da jor-nada média de trabalho pa-ra as 65 horas, continuava a existir o perigo de as par-tes poderem chegar a acor-do no Comité de Concilia-ção, onde as negociações se prolongaram entre Fe-vereiro e o passado dia 28 de Abril.

Neste período era vital que os sindicatos dos diferentes países da Europa não afrou-xassem a sua vigilância, co-mo alertou a eurodeputa-da do PCP, Ilda Figueiredo, numa audição realizada dia 16 de Fevereiro, em Lisboa, na qual participaram repre-sentantes de vários sindi-catos, designadamente do STAL, através de José Ma-nuel Marques, membro da Comissão Executiva da DN.

Enquanto membro do Co-mité de Conciliação, a eu-

Directiva derrotadaOrganização do tempo de trabalho

Em vésperas do 1.º de Maio, chegaram ao fim sem qualquer acordo as negociações entre o Conselho e o Parlamento Europeu sobre a retrógrada proposta de directiva sobre o tempo de trabalho, aprovada em Junho de 2008 pelos governos da UE, com a abstenção envergonhada do executivo português.

rodeputada deu conta das pressões do Conselho e da «abertura» manifestada pela maioria do Parlamento Euro-peu, onde se incluem os de-putados do PS, PSD e CDS/PP, para ceder em alguns as-pectos.

Na verdade, para além da eliminação do actual limite máximo semanal de 48 ho-ras, o Conselho pretendia igualmente introduzir o con-ceito de «tempo inactivo» de trabalho para assim poder descontar pausas no tempo de permanência, contrarian-do as decisões do Tribunal Europeu que consideram as pausas como tempo de tra-balho, devendo ser pagas por inteiro.

Os socialistas e conserva-dores admitiam que o regi-me de permanência tivesse uma parte do tempo calcu-lada de modo diverso, com correspondente desvalori-zação da remuneração. Em

troca queriam o fim das der-rogações à actual legislação, que possibilitam a vários pa-íses, caso do Reino Unido e da generalidade dos novos estados-membros do Les-te europeu, ultrapassarem o limite semanal de trabalho mediante acordo individual entre o trabalhador e o em-pregador.

Porém, a luta dos traba-lhadores e a proximidade das eleições, bem como as posições ultra-radicais de alguns governos lidera-dos pelo Reino Unido, que não abdicaram das der-rogações, inviabi l izaram um acordo que seria sem-pre desfavorável aos traba- lhadores.

Efectivamente, ao longo de todo este processo, apenas o Grupo da Esquerda Unitária Europeia, no qual a deputada Ilda Figueiredo se integra, foi intransigente na defesa dos di-reitos laborais, tendo proposto, logo em Dezembro, a rejeição total do projecto do Conselho.

Esta posição de rejeição total, que foi reclamada pela CGTP, não foi seguida pelos restantes grupos parlamen-tares, incluindo os deputados do PS, PSD e CDS/PP, que aceitaram «negociar» con-quistas históricas dos traba-lhadores. O processo fracas-sou, mas são de prever no-vos ataques na próxima le-gislatura. É preciso continuar vigilante.

Numa audição com representantes de vários sindicatos portugueses, a eurodeputada do PCP, Ilda Figueiredo, alertou para os perigos da revisão da directiva do trabalho