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IRMÃOS COEN ESTÃO DE VOLTA Jornal Universitário de Coimbra Os realizadores de “Este País não é para Velhos” regressam ao humor negro com Clonney, Malkovich e Pitt P 18 7 de Outubro de 2008 Ano XVIII N.º 186 Quinzenal gratuito Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo VELHA ALTA Como era o pólo universitário há 70 anos? P 12 e 13 ESTATUTOS AAC Revisão extraordinária do diploma a caminho P 4 Relatório e Contas de núcleo de Relações Internacionais chumbado Imigração Estrangeiros “irregulares” na Europa Os 27 estados membros da União Europeia chegaram a um acordo po- lítico sobre Imigração e Asilo. De- pois do choque inicial das “muralhas da Europa” e da directiva de retorno, o documento é “um pequeno passo”, para uns, e uma “forma péssima de lidar” com a imigração, para outros: com ou sem restrições, a Europa precisa de emigrantes. P 14 O plenário do Núcleo de Estudan- tes de Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Associa- ção Académica de Coimbra (NE- RIFE/AAC) reprovou o Relatório e Contas relativo ao mandato de 2007/2008. Na base da decisão está a falta de clareza do documento, apontada por vários estudantes. A actual direcção acusa ainda o gasto abusivo em telecomunicações e des- pesas de representação. O Conselho Fiscal da AAC refere que não há memória da reprovação de um Relatório e Contas na Acade- mia e que estatutariamente não há uma resposta para o problema. Os novos corpos gerentes acreditam que irá ser realizado um novo plenário para a apresentação de um docu- mento mais discriminado. P 5 Desporto universitário Quando o espírito de grupo não chega O desporto universitário está a dar mostras que pode ser uma aposta de futuro. No entanto, a falta de apoios e patrocínios, a que acresce a redu- zida visibilidade, tornam difícil o ca- minho a trilhar. Os responsáveis acreditam que há quem siga na di- recção correcta. P 10 Mais informação em acabra. net @ PUBLICIDADE Irreverência e diversão na gala dos dezoito anos do festival de tunas de Coimbra P 8 XVIII Festuna Teatro em Coimbra Mudanças recentes trazem novas perspectivas para as companhias profissionais P 2 e 3 a cabra FÁBIO TEIXEIRA Conselho Fiscal refere que à luz dos estatutos da AAC não existe solução

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 186

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Edição 186 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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Page 1: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 186

IRMÃOS COEN ESTÃO DE VOLTA

Jornal Universitário de Coimbra

Os realizadores de “Este País não é paraVelhos” regressam ao humor negro comClonney, Malkovich e Pitt P 18

7 de Outubro de 2008Ano XVIIIN.º 186 Quinzenal gratuito

Director: João MirandaEditor-executivo: Pedro Crisóstomo

VELHA ALTAComo era o pólouniversitário há 70anos?P 12 e 13

ESTATUTOS AACRevisão extraordinária

do diplomaa caminho

P 4

Relatório e Contas de núcleo deRelações Internacionais chumbado

Imigração

Estrangeiros “irregulares”na Europa

Os 27 estados membros da UniãoEuropeia chegaram a um acordo po-lítico sobre Imigração e Asilo. De-pois do choque inicial das “muralhasda Europa” e da directiva de retorno,o documento é“um pequenopasso”, parauns, e uma“forma péssimade lidar” com aimigração, paraoutros: com ousem restrições, aEuropa precisade emigrantes.P 14

O plenário do Núcleo de Estudan-tes de Relações Internacionais daFaculdade de Economia da Associa-ção Académica de Coimbra (NE-RIFE/AAC) reprovou o Relatório eContas relativo ao mandato de2007/2008. Na base da decisão está

a falta de clareza do documento,apontada por vários estudantes. Aactual direcção acusa ainda o gastoabusivo em telecomunicações e des-pesas de representação.

O Conselho Fiscal da AAC refereque não há memória da reprovação

de um Relatório e Contas na Acade-mia e que estatutariamente não háuma resposta para o problema. Osnovos corpos gerentes acreditam queirá ser realizado um novo plenáriopara a apresentação de um docu-mento mais discriminado. P 5

Desporto universitário

Quando o espíritode grupo não chega

O desporto universitário está a darmostras que pode ser uma aposta defuturo. No entanto, a falta de apoiose patrocínios, a que acresce a redu-zida visibilidade, tornam difícil o ca-minho a trilhar. Os responsáveisacreditam que há quem siga na di-recção correcta. P 10

Mais informação em

acabra.net@PUBLICIDADE

Irreverência ediversão na galados dezoitoanos do festivalde tunas deCoimbraP 8

XVIII Festuna

Teatro em CoimbraMudanças recentes trazem novas perspectivas para as companhias profissionais P 2 e 3

a cabra

FÁBIO TEIXEIRA

Conselho Fiscalrefere que à luz dosestatutos da AACnão existe solução

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DESTAQUE2 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

Coimbra na companhia do teatro

mudança foi rápida, de-pois de uma longa es-pera. Os cabos, as roupase os adereços não demo-

raram mais do que uma semana aconhecerem nova casa. A adaptar-se aos novos residentes está o Tea-tro da Cerca de S. Bernardo. Asparedes estão brancas e as divisõesvazias acentuam o eco de um lugarà espera de definição. A cortina jáabriu e ainda cheira a novo.

Depois de A Escola da Noite (EN)e O Teatrão terem estado a progra-mar em espaços provisórios du-rante mais de cinco anos, as duascompanhias têm, a partir de agora,a responsabilidade de gerir e pro-gramar o Teatro da Cerca de S. Ber-nardo e a Oficina Municipal deTeatro (OMT), respectivamente.Estas transformações vieram avivara discussão em torno do papel dasartes de palco na cidade e o estadodo teatro em Coimbra. Que mu-danças pode trazer à cidade em ter-mos culturais a transferênciadefinitiva das duas companhiaspara espaços próprios?

O vereador da Cultura da CâmaraMunicipal de Coimbra (CMC),Mário Nunes, acredita que “agoraestá nas mãos das companhias[programar os espaços], com a au-tarquia a apoiar”. Desde 2002 queEN estava provisoriamente naOMT à espera de se transferir paraa Cerca de S. Bernardo, o que veio aacontecer há duas semanas, muitodepois dos seis meses inicialmenteprevistos. O Teatrão, por sua vez,encontrava-se no Museu dosTransportes desde 2003, que ficalivre para acolher o Núcleo doCarro Eléctrico.

“A estabilidade que a mudançadá às duas companhias vai permitirfinalmente desenvolver projectos amédio prazo”, perspectiva PedroRodrigues, da administração d’AEscola da Noite. “Esta demora ini-biu-nos de fazer certas coisas naOMT, mas agora temos uma ‘esta-

dia’ de quatro anos para trabalhar”.Assim, a EN toma a responsabili-dade de escolher e definir toda aprogramação, com a condição deintegrar oito espectáculos definidospela câmara, por ano. “A EN é res-ponsável por pôr todo o teatro emmovimento, desde a senhora dalimpeza à direcção artística, pas-

sando pela gestão do bar”, explicao administrador.

Do lado d’O Teatrão, Isabel Cra-veiro admite que a companhia, du-rante cinco anos, teve “uma posiçãoconciliadora, em que esperou, mui-tas vezes, prejudicando o seu tra-balho”, mas sublinha que em diantese segue uma fase diferente. “A Ofi-cina possibilita ter uma programa-ção de dança interessante e receberartistas estrangeiros que possamvir trabalhar com esta cidade”, re-vela.

O que fica do passado…Apesar de novas perspectivas, há

quem defenda que a mudança nãopode ser vista como um ‘ponto dechegada’. Como adverte o professorda Faculdade de Letras da UC, JoãoMaria André, “a construção do tea-tro [da Cerca] não resolve de ma-neira nenhuma outros problemas”.“Este desfecho não é inteiramentesatisfatório, porque as condiçõesem que a EN aceita tomar conta da-quele espaço mostram bem a au-sência de política cultural”, aponta.Na opinião de Pedro Rodrigues, ouniverso dos agentes teatrais “nãose esgota nestas duas companhias

nem isto resolve os problemas dafalta de espaço e de condições paraoutros aspectos culturais em Coim-bra”. Mário Nunes defende-se, jus-tificando que “Coimbra está bemservida” e que “há a liberdade de aspróprias companhias residentes in-cluírem outras nacionais e interna-cionais na sua programação”.

O facto de Coimbra não ter umTeatro Nacional leva Pedro Rodri-gues a assumir esta como uma ne-cessidade premente: “não existe e,quando se fala em descentraliza-ção, a cidade tem toda a legitimi-dade para o poder reivindicar, poissó há Teatros Nacionais em Lisboae no Porto”. A razão, insiste,prende-se com a “pujança dosagentes culturais na área do teatro,que lutam pelo segundo lugar” anível nacional. Contudo, JoãoMaria André, igualmente membroda direcção da Cooperativa Boni-frates, lembra existirem gruposque, não conseguindo sobreviverem Coimbra, “foram para o Portopor falta de apoios, espaços e equi-pamentos”. “As condições são, mui-tas vezes, precárias”, denuncia.

Da Escola da Noite, a posição éidêntica. “Reconhecendo que a câ-

Com um cariz imponente ao nível das artes de palco, o teatro parece afirmar-se na cidade como uma arte em movimento.Novas propostas e velhas críticas emergem quando se fala de teatro em Coimbra. Por Pedro Crisóstomo e Sara Oliveira

A Escola da Noitedefende a criação deum Teatro Nacionalem Coimbra

A

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O TEATRO da Alta está parado desde 1989

Com um cariz imponente ao nível das artes de palco, o teatro parece afirmar-se na cidade como uma arte em movimento.Novas propostas e velhas críticas emergem quando se fala de teatro em Coimbra. Por Pedro Crisóstomo e Sara Oliveira

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

DESTAQUE7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 3

mara, nos últimos anos, tem vindoa desinvestir, não podemos senãocriticar essa postura e defenderexactamente o contrário”, acusaPedro Rodrigues. Mário Nunes ad-verte que a câmara “não pode ser aúnica a apoiar as actividades cultu-rais” e fala em apoios: “temos umprotocolo em que cedemos as ins-talações, apoiamos na água, naluz...”.

…Rumo para o futuroSe, por um lado, as políticas cul-

turais adoptadas pela autarquiatêm sido questionadas por váriosagentes e personalidades, nos últi-mos seis anos (desde que começouo “caso” Teatro da Cerca), poroutro, há quem saia em defesa deuma outra perspectiva onde tam-bém o público é o grande interve-niente. Há ou não uma estratégiade Teatro para a cidade? “Somostodos responsáveis pela construçãode uma estratégia”, defende a di-rectora d’O Teatrão. “Não aceitoque seja imputável à autarquia aculpa de em Coimbra não haveruma estratégia”, declara. “Nãoexiste uma plataforma de discussãocriada – não existe localmente e

não existe a nível nacional –, e istonão é um problema de Coimbra.Não é sequer um problema do tea-tro; é um problema das artes e dasociedade em geral”, entende Isa-bel Craveiro.

Já na perspectiva de Pedro Ro-drigues, continua a haver o “pro-blema da falta de diálogo entre acâmara e os agentes culturais”. Damesma forma, insiste na ideia deque “quando parece que os agentesestão em guerra com a autarquia oucom o Ministério da Cultura, deve-ria acontecer um esforço conjuntopara que o trabalho se faça com amaior tranquilidade possível e paraque os públicos possam usufruirdos espectáculos”. O vereador daCultura contrapõe: “politicamentea câmara está a dar um contributomais que válido para o teatro, como único objectivo de difundir, di-vulgar e criar composições tea-trais”.

Isabel Craveiro aponta uma al-ternativa: “o mínimo que se podeexigir é que tanto a universidade,câmara e agentes culturais, uma vezpor ano, se encontrem, discutam ejulguem abertamente quais são assuas ideias”.

O antigo teatro da Altatem espaço paraacolher trêsassociações culturais

O Teatro Sousa Bastos, fechadohá 19 anos, está prestes a entrarem fase de concurso para entregada obra da requalificação do edi-fício. O projecto, apresentado peloproprietário privado (e promotordo teatro),“foi aceite pela câmaraem termos informais”, segundo oDirector do Gabinete do CentroHistórico da Câmara Municipal deCoimbra, Sidónio Simões, depoisde várias propostas rejeitadas pelaautarquia.

O Sousa Bastos, actualmente,

“não tem condições para ser umteatro”, devido às dimensões re-duzidas do piso do rés-do-chão,entende o director. As remodela-ções do Sousa Bastos vão, por isso,avançar com o objectivo de “apro-veitar os pisos superiores do edifí-cio para alojamento deestudantes ou de outro género”,adianta o responsável do CentroHistórico. O rés-do-chão seráaproveitado pela autarquia para a“construção de uma sala poliva-lente, bem como três espaços paraassociações”.

Em 2005, começaram prospec-ções arqueológicas no teatro parase apurar da existência de umaigreja no subsolo. Sob responsabi-lidade camarária ficou a saber-seque o rés-do-chão estava directa-mente assente na rocha. SegundoSidónio Simões, aquilo que con-

firma ser uma igreja é uma janelaoval que se situa numa das late-rais, não existindo assim mais ves-tígio algum. Assim, objectivo dasobras passa por “resolver a ruína edar algum uso ao espaço, permi-tindo o uso da sala pelos habitan-tes da Alta e da Baixa”.

No ano de 2003, surgiu o movi-mento de contestação “Sousa Bas-tos Vivo”, consequente de umoutro nascido em 1996, que de-fendia a revitalização do edifíciocomo espaço cultural condignopara a população local. O movi-mento mais recente acabou por seextinguir, sendo tido retomada atemática em Março deste ano nocolóquio “Cidade, Arte e Política -o valor estratégico da cultura” porum dos defensores do “Sousa Bas-tos Vivo”, quando assistia à sessãona plateia.

Agentes culturaisquerem maiorenvolvimento dacidade para o teatro

Sousa Bastos avança comresidências e associações culturais

HUGO MENESES

Pedro CrisóstomoSara Oliveira

EM DISCURSO DIRECTO

É tão fácil e prazeiroso ter umapostura construtiva quando discuti-mos o teatro. Isso pode ser umaforma de criar uma nova relação dospróprios universitários com a cidade,que precisa de ser reformulada. Oque é que estes estudantes univer-sitários, durante os quatro anos quecá estão, deixam a esta cidade paraalém do dinheiro que gastam e dascoisas que consomem?

Nem sempre foi assim. Já houvealturas difíceis, em que as pessoasse ligavam de uma forma diferenteaos sítios por onde passavam, que

construíam uma ligação com os sí-tios que produziam alguma coisa.Os estudantes precisam de produzirpensamento. Não acredito que aspessoas entre os 18 e os 30 anosnão produzam pensamento, e não ésó aquele conhecimento científicoacumulado. Esse conhecimento temde transbordar dos muros da uni-versidade e contaminar a cidade. Aspessoas precisam de viver mais acidade; precisam de ir ver mais es-pectáculos; de discutir coisas; de lerlivros.

Eu não concebo que esta univer-

sidade, com o peso que tem, não sesente a uma mesa com os outrosagentes culturais, com a CMC, comas outras estruturas de ensino supe-rior, com as outras companhias, e teruma pauta sobre quais são os pon-tos importantes a discutir aqui. Equando há tanta produção de con-hecimento na universidade que nãoextravasa…

Que estratégia vamos montar paramudar isto? Não conseguimos fazeristo sozinhos. O teatro faz umaparte, mas não acredito que façarevoluções!

“O QUE É QUE OS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DEIXAM A ESTA CIDADE?”

ISABEL CRAVEIRO • DIRECTORA D’O TEATRÃO

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ENSINO SUPERIOR4 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

Casa dasCaldeiras abreno segundosemestre

O edifício da Casa das Caldeiras,reconstruído pelo arquitecto JoãoMendes Ribeiro para o curso de Es-tudos Artísticos da Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra(FLUC), tem abertura prevista parao segundo semestre do presenteano lectivo.

De acordo com o presidente doSecretariado de Estudos Artísticos,Abílio Hernandez, "a inauguraçãonão está ainda marcada mas asobras estão praticamente concluí-das".

O professor da FLUC explica que"o concurso para o mobiliário doedifício já foi lançado pela Reitoria"e muito em breve "vão ser lançadosos concursos para uma cafetaria epara uma livraria de arte". O pro-jecto de João Mendes Ribeiro foiorçamentado em dois milhões deeuros, dos quais 550 mil advieramdo fundo de investimento da UC.

Hernandez revela que na Casadas Caldeiras "vão dar-se apenas oscursos de pós-graduação, mestradoe doutoramento". "Toda a licencia-tura vai continuar a decorrer na fa-culdade, porque não há espaço noedifício novo para tudo", esclarece.O responsável pelo curso de Estu-dos Artísticos ressalva ainda a im-portância do projecto, que reside nofacto de "a nova sede abrir o curso ea faculdade para a cidade, atravésde um trabalho de programaçãodos espaços".

Abílio Hernandez afirma que umdos grandes objectivos é precisa-mente "fazer com que o curso deEstudos Artísticos, do domínio dasartes, tenha uma grande ligaçãocom a cidade".

Cláudia Teixeira

Diploma sofre nova revisão

Os estatutos da Associação Aca-démica de Coimbra (AAC), aprova-dos em plenário a 24 de Abril doano passado, vão ser alvo de umanova revisão.

O presidente da Mesa da Assem-bleia Magna da AAC, Nuno Men-donça, adianta que o assunto vaiser levado a magna, para conheci-mento dos estudantes, e que umanova assembleia estatutária seráeleita.

"Legalmente não seria necessárioeleger outra assembleia, mas é maisdemocrático se assim for", escla-rece o dirigente associativo.

Nuno Mendonça acredita que"este será um processo mais célereque nos anos anteriores, porquevão ser logo apontadas as gralhas eas deficiências a suprir".

Já o presidente da Direcção-Geral da AAC, André Oliveira, é daopinião de que a revisão dos esta-tutos da AAC deve ser feita pela as-sembleia estatutária eleita em 2006para o efeito, "porque não se pre-tende uma nova discussão e seriamuito mais simples a última as-sembleia reunir e fazer essas alte-rações". "No entanto, se issolegalmente não for possível, fazsentido haver novo processo eleito-ral para não ficarmos com os esta-tutos como estão", esclarece opresidente da DG/AAC.

De acordo com o presidente daMesa da Assembleia Magna, estarevisão torna-se necessária, porque"há algumas disposições nos esta-tutos que não são suficientemente

claras". "No que diz respeito às san-ções do Conselho Fiscal da AAC(CF/AAC), há questões que nãoestão bem explicadas", exemplifica.No seu entendimento, "os estatutosdevem ser o mais claros possíveis,para não dar lugar a outras inter-pretações que não sejam as correc-tas".

André Oliveira defende que "éimportante que os estatutos da as-sociação estejam correctamenteelaborados para que a sua consultaseja de fácil acesso a todos os estu-dantes da universidade e seccionis-tas da Academia".

Última revisão foi hádois anos

A última revisão dos estatutos,efectuada em 2006, contém umconjunto alargado de alterações,nomeadamente no que diz respeitoao Conselho Cultural da AAC, aoConselho Fiscal (que passa a tersete elementos em vez de cinco) e àQueima das Fitas.

Os estatutos da AAC são revistosordinariamente de cinco em cincoanos por uma assembleia eleitapara o efeito. No entanto, podetambém haver uma revisão ex-traordinária se a Assembleia

Magna assim o deliberar. Apesardesta directiva, antes da revisão de2006, o diploma não sofria altera-ções desde 1997.

A assembleia de revisão é consti-tuída por 33 sócios: o presidente daMesa da Assembleia Magna, umelemento da DG e do CF da AAC,um representante dos organismosautónomos, um do Conselho de Ve-teranos e um do Conselho de Repú-blicas, dois representantes dassecções culturais, três das secçõesdesportivas, dois dos núcleos de es-tudantes e 20 membros eleitos pormétodo de Hondt.

O regime deprescrições está a serimplementado na UC.A reitoria garante queestá a analisarfavoravelmente ospedidos de manutenção

Alguns alunos da Universidade deCoimbra (UC) foram surpreendidos,nos últimos meses, com cartas deaviso de prescrição. A ideia de quehaveria uma directiva do reitor a im-pedir a prescrição de estudantes até2010 levou a que os alunos ignoras-sem a real situação curricular em quese encontravam, não accionando osmecanismos necessários à sua clari-ficação.

A vice-reitora da UC, Cristina Ro-

balo Cordeiro, garante que “não hánenhuma deliberação que elimine oregime de prescrições”. A docente ad-mite que as indicações eram paraconsiderar este ano como “transição eadaptação ao Processo de Bolonha epoderia haver situações para estu-dar”, mas as decisões do senado nãose poderiam sobrepor à lei.

A UC criou um gabinete nos servi-ços académicos para prestar apoioaos estudantes afectados pelo regimede prescrições. Para responder àsquestões dos alunos, também o pe-louro da Pedagogia da Direcção-Geral da Associação Académica deCoimbra criou “um horário de aten-dimento direccionado a estes estu-dantes, bem como um blogue onde seencontra informação útil e um e-mailatravés do qual podem pedir esclare-cimentos”, explica a coordenadora-geral do pelouro, Cátia Viana.

Para evitar a prescrição, os estu-

dantes podem enviar um requeri-mento ao reitor a explicar a situaçãoem que se encontram, que depois éanalisada caso a caso. Cristina RobaloCordeiro assegura que “já chegaramdezenas de requerimentos paraserem analisados pelo gabinete doreitor e têm sido despachados favo-ravelmente”.

Existe também a possibilidade defazer disciplinas isoladas, no entanto,segundo Cátia Viana, estas “podemcustar 80, 100, e até 150 euros” cada.A dirigente associativa denuncia que“há faculdades que dão como pri-meira opção fazer disciplinas isola-das” antes de referirem apossibilidade de apresentar o reque-rimento para reavaliar os currículos.

A chefe de divisão dos serviços aca-démicos da Faculdade de Ciência eTecnologia da Universidade de Coim-bra (FCTUC), Silvia Figueiredo, ex-plica que “aos estudantes que

prescrevem é vedada a inscriçãonesse ou noutro curso durante umano, em qualquer universidade pú-blica”. Apesar da autonomia admi-nistrativa e financeira da FCTUC faceà UC, o processo é igual em toda auniversidade.

Silvia Figueiredo esclarece queapós o ano de interrupção os estu-dantes podem pedir o reingresso, queé automático. “Durante o ano deprescrição, o aluno é livre para fre-quentar as disciplinas isoladas do seucurso, solicitando posteriormenteque lhe sejam creditadas depois dereingressar”.

Apesar de não haver ainda umadata limite para a entrega de reque-rimentos na Reitoria, o que podegerar alguma confusão na hora dasmatrículas, a vice-reitora Cristina Ro-balo Cordeiro é optimista: “julgo quea maior parte dos estudantes nãoprescreverá”.

Prescrições não devem afectar maioria dos estudantes da UCANA COELHO

DANIELA CARDOSO

NOVA REVISÃO vai ter em atenção disposições pouco claras

ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

Erros de lógica e de interpretação em disposições dos estatutos da AAC levam àrevisão extraordinária do diploma. O assunto vai ser levado a magna e uma nova assembleiaestatutária pode ser eleita

Cláudia Teixeira

Sofia Piçarra

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ENSINO SUPERIOR7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 5

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Plenário do núcleo de RIchumba relatório e contasEstudantes acusamfalta de clareza nodocumento. Actualdirecção aponta gastosabusivos à anterior.Conselho Fiscal nãosabe como actuar

A direcção cessante do Núcleo deEstudantes de Relações Internacio-nais da Faculdade de Economia daAssociação Académica de Coimbra(NERIFE/AAC) apresentou na pas-sada quarta-feira, 1, o Relatório eContas referente ao mandato2007/2008. Após larga discussão,o documento foi reprovado. O novotesoureiro do núcleo, Samuel Vi-lela, aponta as razões para a deci-são dos estudantes: “assim quetomámos posse, tivemos conheci-mento de várias despesas com asquais não concordamos, porquenão achamos que sejam justificá-veis para um núcleo como o nosso”.Os gastos prendem-se, no entenderdo dirigente, com despesas de re-presentação exageradas e com fac-turas de telecomunicações de valorelevado: “entre Março e Maio,tempo em que eles [núcleo ante-rior] usaram o telemóvel, gastaramcerca de 300 euros, num períodoem que até já nem houve muitas ac-tividades”.

Segundo Samuel Vilela, outrarazão da reprovação do relatórioprende-se com a falta de discrimi-

nação no documento. “O Relatórioe Contas não estava suficiente-mente claro ou bem discriminadopara podermos ter uma noção realde onde e por que é que foram fei-tos os gastos”, explica.

O tesoureiro cessante, Hugo Soa-res, corrobora a ideia da falta declareza no documento como motivoda reprovação do documento. Con-tudo, adverte que tudo está dentrodo trâmites legais.

Já o presidente cessante, PedroVilela, diz não estar surpreendidocom a decisão dos estudantes e atri-bui a resolução a “desavenças pes-

soais e alguns problemas do pas-sado”. Sobre a acusação do uso in-devido e excessivo de fundos donúcleo, Pedro Vilela, argumentanão perceber o que se considera um“uso abusivo”. “Façam uma médiade quanto é que o NERIFE gastounum ano inteiro em telemóvel,comparem com outros núcleos evejam se é assim tão descabido”,defende o antigo dirigente.

Ainda assim, Pedro Vilela admiteter usado o telemóvel em proveitopróprio. “O núcleo fez-me estarmuitas vezes longe das pessoas deque eu gosto e é normal que se faça

uma chamada ou outra para usopessoal”, admite.

Futuro na mão do fiscalA acta do plenário vai ser agora

entregue ao Conselho Fiscal daAAC (CF/AAC) para apreciação. Omembro do CF/AAC Rúben Santosadverte que não há memória de umrelatório e contas ser reprovado naAAC e “estatutariamente não hánada que indique o que fazer”.

Samuel Vilela acredita que “omais provável é que seja convocadoum novo plenário para a apresen-tação de um novo relatório que de-

verá vir mais discriminado”. No en-tanto, adverte: “se continuar a serchumbado não sabemos o que vaiacontecer e o Conselho Fiscal nãosabe informar. Na AAC ninguémsabe”. “É a primeira vez que échumbado um Relatório e Contas”,acrescenta o tesoureiro.

Rúben Santos lembra que os nú-cleos são obrigados a apresentar acontabilidade à Direcção-Geral daAAC. Porém, o administrador,Pedro Simões, declara que o “nú-cleo apresentou sempre as contasregularmente” e que nunca houvesuspeitas de algum problema.

O RELATÓRIO E CONTAS DO NERIFE apresentou um gasto de aproximadamente 300 euros em telecomunicações

Evento reúne 25empresas com oobjectivo de recrutarrecém-licenciados

“Mundo Emprego AAC 08” é onome da feira que a Praça da Re-pública recebe a partir de hoje, 7.

O evento, organizado pela Di-recção-Geral da Associação Aca-démica de Coimbra (DG/AAC)em parceria com o Gabinete deSaídas Profissionais da Universi-dade de Coimbra, decorre até dia9 e conta com a participação de

cerca de 25 empresas. De acordocom o presidente da DG/AAC,André Oliveira, a iniciativa temcomo principal objectivo ser "umponto de encontro entre quem re-cruta e quem procura emprego".

O dirigente afirma que no es-paço vão estar presentes empre-sas como a Vodafone, a Tv Cabo, aCritical Software. Além destas, opresidente da DG/AAC sublinhaa presença de associações como aACIC e a AIESEC, e o InstitutoPortuguês da Juventude.

Num espaço de 1400 metrosquadrados, a feira vai ainda teruma componente de formaçãocom uma série de conferências e

workshops. De acordo com ocoordenador-geral do pelouro dasSaídas Profissionais, Carlos Mar-tins, "o tema de uma das confe-rências vai ser 'Empregabilidadee recepção a licenciados por Bolo-nha'". André Oliveira revela que"vai haver uma conferência comex-presidentes da direcção-geralonde se vai discutir a importânciaque para eles teve o associati-vismo aquando a sua chegada aomercado de trabalho". Para alémdas empresas, das conferências edos workshops, a feira “vai teruma vertente cultural, com a ac-tuação de tunas e de grupos defados da AAC", acrescenta.

Feira de emprego arranca hojeANA COELHO

DANIELA CARDOSO

Cláudia Teixeira

João MirandaCláudia Teixeira

ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

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ENSINO SUPERIOR6 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

Ensino privado de novo em discussãoApesar doencerramento deinstituições superioresprivadas, este tipo deensino continua a ser aescolha de muitos

Pelo terceiro ano consecutivo, onúmero de estudantes que procu-ram um lugar no ensino superiorbate recordes. O ‘numerus clau-sus’ parece diminuir perante os jámais de 44 mil jovens que preten-dem prosseguir estudos superio-res. Perante as polémicas sobre oensino privado, será esta aindauma opção a considerar?

De acordo com dados do Insti-tuto Nacional de Estatística, das328 instituições de ensino supe-rior existentes em Portugal, 150são privadas. Este número foi lar-gamente ampliado durante a dé-cada de 80, quando se verificouum importante crescimento nonúmero de instituições privadas.O sociólogo Elísio Estanque de-fende que este fenómeno só foipossível por haver um ‘numerusclausus’ “muito restrito”, que dei-xava “um conjunto muito signifi-cativo de candidatos fora dosistema, o que criava problemasde natureza social e política”. Aexplicação avançada pelo tambémprofessor da Universidade deCoimbra (UC) denuncia a via faci-litista que o governo da altura se-guiu no momento doreconhecimento e criação dessasinstituições privadas: “havia umapressão grande contra as institui-ções de ensino superior e, por isso,a abertura de institutos e univer-sidades privadas contribuiu paraa diminuir”.

Sem avançar com um estereó-

tipo, Elísio Estanque lembra que,a par do nascimento destes insti-tutos de ensino, surgiu a ideia deque “se destinavam aos filhos dasclasses altas”. Hoje, porém, a rea-lidade parece ser outra e as priva-das “absorvem sobretudo filhos daclasse média que não consegui-ram entrar no ensino superior pú-blico”.

“Achei a Moderna equivalente àFaculdade de Direito da UC”. Afrase é de Miguel Amaral, actualaluno da UC que já frequentoutrês estabelecimentos privados. Oestudante admite a sua preferên-cia pelo curso que frequenta hoje enão esquece o facilitismo expe-rienciado no curso da privada Bis-saya Barreto.

Já o licenciado pelo InstitutoSuperior Miguel Torga (ISMT),Nuno Lobo, faz um “balançomuito negativo do curso”, no en-tanto, salienta que “se tivesse es-colhido o mesmo curso no públicoa situação seria igual”.

Elísio Estanque corrobora asduas opiniões ao defender que “auniversidade pública tem umatradição muito maior e, portanto,um corpo docente muito mais es-tabilizado, com mais experiênciae mais prestígio”. Contudo, subli-nha que existem igualmente emPortugal “instituições privadasque têm já uma projecção signifi-cativa e grande reconhecimentoem diversas áreas”.

A importância daavaliação nas privadas

A Universidade Internacional(Lisboa, Figueira da Foz e Insti-tuto Politécnico Internacional deLisboa) e a Universidade Modernaforam, na semana passada, encer-radas por ordem do Ministério daCiência, Tecnologia e Ensino Su-perior. Segundo comunicado doministério, “estes estabelecimen-tos de ensino já não preenchiamos requisitos para lhes ser atri-buído o estatuto de universidade”.Existem “vencimentos e honorá-rios em dívida a docentes, funcio-nários e demais colaboradores”que tornam estas instituições eco-nomicamente inviáveis.

A Universidade Livre, criada em

1979, foi a primeira instituição deensino privado do país. Em 1986,perdeu o reconhecimento porparte do Governo e originou ou-tras três instituições: A Lusíada, aAutónoma e a Portucalense. Fica-ram também conhecidos, na al-tura, os problemas na reitoria daUniversidade Autónoma, denún-cias internas na Lusófona e Portu-calense e, mais tarde, ainvestigação de crimes económi-cos na Independente, que resulta-ram no seu encerramento. ElísioEstanque destaca o papel do Go-verno na fiscalização das institui-ções: “o que é importante é quehaja mecanismos de avaliação quegarantam a qualidade, que sepa-rem o trigo do joio”.

O INSTITUTO MIGUEL TORGA conta já com 71 anos de existência

A praxe tem sidomotivo de discussãoentre alunos,instituições e Governo.O comunicado deMariano Gagooriginou váriasreacções

Nos últimos anos, tem-se assistidoa uma sucessão de casos mediáticosassociados à praxe no ensino supe-rior. Os abusos cometidos surgem es-palhados por todo o país e comconsequências diversas. Casos comoo de Santarém, Macedo de Cavaleirose Castelo Branco são exemplo de si-tuações que chegaram, efectiva-

mente, à barra dos tribunais.Motivado por queixas de praxes

violentas, por parte de estudantes epais, o ministro da Ciência, Tecnolo-gia e Ensino Superior, Mariano Gago,fez chegar às instituições de ensinosuperior uma carta. O documento ad-verte para a “degradação física e psi-cológica dos mais novos, o que é umaafronta aos valores da própria educa-ção”. O texto revela ainda que “deveser eficazmente combatida por todose, muito especialmente, pelos pró-prios responsáveis das instituições”.

Na sequência do comunicado, al-guns estabelecimentos de ensino su-perior optaram por proibircompletamente as praxes no interiordas suas instalações, nomeadamentea Faculdade de Ciências da Universi-dade de Lisboa e o Instituto SuperiorTécnico de Lisboa (IST).

O director do IST, Carlos Matos

Ferreira, publicou, no passado dia 19de Setembro, um documento em querefere “não reconhecer legitimidadea qualquer auto-denominada comis-são de praxe” e, como tal, proibiu asactividades praxísticas dentro docampus universitário.

Quando questionado acerca da po-sição do director, o presidente da As-sociação de Estudantes do InstitutoSuperior Técnico, Jean Barroca, con-sidera que “não faz muito sentido,porque proibir as praxes dentro doInstituto não significa acabar com aspraxes e não resolve o problema daintrodução de valores no ensino su-perior”.

Noutras instituições, como a Es-cola Superior de Enfermagem deCoimbra, os órgãos de direcção con-seguiram chegar a um consenso comos elementos da comissão de praxe.

De acordo com um elemento da co-

missão de praxe, Vanessa Martinho,“a directora apoia a praxe, mas umapraxe de integração”. Outro ele-mento do grupo, Pedro Almeida,menciona que “os caloiros nãopodem ‘estar de quatro’ ou‘pintados’, nem pode existirnenhum tipo de actividademais humilhante”. “Até agora,está a correr tudo bem”, re-mata.

Na opinião dos alunos, tudose encontra dentro da normali-dade. A aluna do primeiro ano daEscola Superior de Enfermagem deCoimbra, Josefina Rodrigues, acre-dita que “as praxes foram uma ma-neira de fazer amigos”. A estudanterevela ainda que a praxe “tem sido in-teressante” e “não têm havido abu-sos”.

Com Sónia Fernandes eSara Ferreira

Praxe gera discórdia no seio das instituições

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JOÃO MIRANDA

Maria Eduarda Eloy

Adelaide BatistaRui Miguel Pereira

Page 7: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 186

CULTURA7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 7

“Vamos tentar puxar grandes espectáculos com as nossas armas”

De que forma encara as su-cessivas demissões de directo-res do TAGV e como antevê asua entrada?

Todos os directores fizeram o seumelhor. Se não conseguiram desco-nheço as suas razões. Contudo,penso que temos como resolver osassuntos. Isto não é nenhuma crí-tica, mas houve situações que seforam arrastando.

Ainda não conheço a actual situa-ção, mas tenho uma ideia do que épreciso alterar, porque alteraram-se as ‘regras do jogo’ no que toca àlegislação. Pode ser paradoxal, poisse não temos dinheiro para ter boasideias e fazer uma boa programaçãocomo é que isso pode ser possível?Se dependermos, como depende-mos da Fundação da Universidade,nada poderá ser feito, pelo menosnesta fase sem o seu conhecimento eprévio consentimento.

Viu este convite como um re-conhecimento do trabalho quetem desenvolvido na universi-dade?

Sou lutadora. Talvez por lidar comprojectos de alguma envergadura hájá algum tempo e ter responsabili-dades em algumas publicações, oreitor viu em mim uma pessoa capazde dar essa resposta. Só o tempodirá como tudo se irá desenvolver,também há deveres de lealdade enão tomarei nenhuma decisão semque ele não saiba.

Quais são as alterações maissignificativas com a entrada doTAGV na Fundação Cultural daUniversidade de Coimbra(UC)?

Existem duas questões distintas:uma é ‘arrumar a casa’, uma tarefaque o vice-reitor me pediu com ur-gência, e outra é a questão do finan-ciamento. Estamos em reuniõespara acordar colaborações com ins-tituições dentro e fora da cidade ever como irão ser conseguidos essesapoios, sejam eles para programar,para reabilitar, ou até mesmo rela-tivamente ao funcionamento eléc-trico pois esta casa tem um nívelmuito elevado de manutenção.

Existe alguma estratégia de-finida para esta nova fase doTAGV?

O programador por sua iniciativajá deu algumas ideias, umas que irãoser agendadas e outras que já o es-tavam e não vão desaparecer porquesão boas ofertas para o público destacidade. Ao nível da promoção do

Teatro, estamos também a repensaros mecanismos de ‘chamariz’ aonosso público. Não está somente nanossa esfera, há que depois receberum ‘feed-back’. Relativamente à di-fusão, acho que um exagero de car-tazes não leva a uma melhordivulgação. A verdade é que algunsespectáculos não se podem progra-mar sem dinheiro e é esse é o pontode partida para a busca do apoio queneste momento estamos a traçar.Hoje as pessoas são muito maispragmáticas e assertivas e vêmquando querem e lhes apetece.

Pertencendo à Fundação, aautonomia do TAGV vai serafectada?

É evidente que o teatro é um ins-tituto que tem alguma autonomia,mas não total. No quadro da Funda-ção ainda se está a discutir como vaificar essa autonomia. É uma insti-tuição que ainda não está de pé, ape-nas conhecemos os nomes daspessoas e quais vão ser as suas gran-des linhas orientadora. A Fundação,sendo um grupo menor, poderá sermais ágil. Mas, como sabemos, asinstituições são as pessoas e tudodepende muito da sua capacidadede pôr as coisas em marcha.

Com este novo modelo degestão, como fica a situaçãodos estudante que trabalhamna portaria do TAGV?

As coisas vão sendo feitas, estáquase tudo resolvido. Alguns podemquerer continuar e outros não. Háque repensar o lugar que desempe-nham, pois ainda é um grupogrande [dezassete pessoas]. Essatem sido a solução encontrada. Têmdemonstrado que gostam daquiloque fazem e que isso tem valor. Eisso merece todo o respeito. Quantoao modelo de contratação ainda es-tamos a definir.

Vão proceder a despedimen-tos devido a questões de orça-mento?

Eu creio que não. A minha inten-ção é integrar as pessoas que aquiestão, as quais terão, naturalmente,de ver as suas funções redefinidas.E, neste momento, já estamos atra-sados. A demissão do Manuel Por-tela fez com que algumas questõesnão pudessem ser de imediato tra-tadas.

Acha que os jovens de Coim-bra estão afastados do TAGV?

Não sei se será medo ou ignorân-

cia… As pessoas estão informadas…medo não será. Mas se perguntaraos jovens o que eles querem ter noTAGV, sei qual será a resposta. Con-tudo, esta sala não pode ter nem pi-pocas nem pessoas aos pulos.

Mas se os estudantes estão afasta-dos há que criar mecanismos paraos chamar, como por exemplo, con-certos adequados à sua geração.Mas não vai ao teatro quem de-monstra uma ignorância relativa-mente a essas actividades. Ou já se

tem uma formação cultural ou umatarefa de que goste ligada à arte ecultura, ou não existe entusiasmopor actividades do género. Aqui, noambiente académico, dificilmente secria pois a vida estudantil é muitofrenética. Tudo passa pela internete pelas novas tecnologias, disper-sando assim a atenção dos jovens,independentemente da oferta diver-sificada e adequada à idade.

As ofertas são elitizadas? Internamente isso ainda não foi

bem definido. Está a ser discutido oporquê de os preços serem os prati-cados, mas contornar isso com a in-certa economia nacional é umaquestão a resolver. Num ou outroespectáculo pode-se colmatar aquestão dos preços, noutros podepedir-se um apoio específico. Passamuito pelo mecenato. Não estamosnum bom momento económico.

Coimbra reúne as condiçõesnecessárias para ser a rota dosgrandes espectáculos?

Coimbra poderá estar ainda nestarota. E vamos tentar puxar os gran-des espectáculos para cá com as nos-sas armas. É bom que tudo circuleaqui na zona centro e ter este olhardistante. Insistir junto das institui-ções e públicos-alvos. E Coimbra éuma marca, independentemente dauniversidade.

E a quanto a relações comoutras instituições?

Estão todas muito bem pensadas.Com a câmara já recomeçámos atomar novamente esse contacto, ecom outras instituições também,nomeadamente com a AAC.

ANA COELHO

Coimbra é uma marca,independentementeda universidade

Depois de tempos conturbados entre instituição e dirigentes, surge no panorama do teatroda universidade uma nova direcção e avizinham-se novos rumos para o futuroPor Vanessa Quitério e Lino Ramos

ISABEL NOBRE VARGUES, directora do TAGV

PARA ISABEL VARGUES, a nova fundação Cultural da UC vai permitir maior agilidade ao TAGV

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CULTURA8 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

cápor

7OUT

Com interpretação de Pedro TochasTAGV • 21H30 • 10¤

cultura

JÁ TENHO IDADE PARA TER JUÍZO

10OUT

DA COR DA VIDA

Dina ao vivo FNAC • 22H • ENTRADA LIVRE

15OUT

Bruno Parrinha, João Camões, MiguelMira, Hernâni Fauscino, João Parrinha,João ViegasSALÃO BRAZIL • 23H

13 a 18OUT

CITAC • com o apoio da FundaçãoCalouste Gulbenkian

INSCRIÇÕES ABERTAS

19OUT

Violoncelo e contrabaixoPAVILHÃO CENTRO DE PORTUGAL11H

CONCERTOS PEDAGÓGICOS

A Escola da NoiteTEATRO DA CERCA DE S. BERNARDO

3ª A SÁBADO - 21H30 • DOMINGO - 16H

23OUT

GUITARRA PORTUGUESA

ExposiçãoPAVILHÃO CENTRO DE PORTUGAL

DAS 14 ÀS 20H

31OUT

ExposiçãoCONVENTO DE S. FRANCISCO

10H-12H30 E 14-18H30 • 1¤

14 a 31OUT

Fotografia de PáduaGALERIA ALMEDINA • ENTRADA LIVRE

10-18H

9ª FESTA DO CINEMA FRANCÊS

2NOV

CABARÉ DA SANTA

Musical para maiores de 16OFICINA MUNICIPAL DE TEATRO

4ª A SÁB - 21H30 • DOM - 19H • 4 A 10¤

Por Ana Coelho

Mesmo cantada duasvezes, uma canção nãosoa igual. As luzes, oritmo e o ambiente empalco ofereceramdiferentes experiênciasao espectador

A repetição da famosa “A Desfo-lhada” foi estranha ao início, mas ra-pidamente revelou que um encontrode tunas é um pretexto para conhe-cer diferentes abordagens a ummesmo estilo de música. A gala daXVIII edição do Festival Internacio-nal de Tunas encheu a sala do TeatroAcadémico Gil Vicente no sábado, 4.Um a um, os lugares vazios da plateiaforam preenchidos pelo público he-terogéneo. Um ligeiro atraso inquietaa audiência mais impaciente, as luzesapagam-se lentamente e começa oespectáculo. Os acordes de “SenhoraLua” põem fim às inquietações. Pelaprimeira vez, a Estudantina, tuna daSecção de Fado da Associação Aca-démica de Coimbra (SF/AAC), as-sume a abertura do Festuna, deforma a colmatar a falta da espa-nhola Tuna Magistério de Murcia. Adimensão internacional do evento foiafectada, mas em nada diminuiu asua qualidade. O vice-presidente daSF/AAC, Hugo Ribeiro, afirma que“este foi um Festuna nacional masum Festuna cheio”.

De novo a sala escurece. Sons des-conhecidos invadiram-na. Uma telabranca abriu a porta para uma galá-xia imaginária. Vinda do nada, entraem cena uma espécie de nave espa-cial da Estudantina em alusão à saga

Star Trek. São largados risos. O cari-cato da situação faz antever que anoite promete. A originalidade pautaos vários vídeos que antecedem aapresentação das tunas, como a re-criação de uma música dos Bee Geesna Alta da cidade. A boa disposição ea irreverência das apresentações étransversal a todas as tunas e arrancado público palmas, risos e até algunspiropos. O teatro de Coimbra, silen-ciosamente emudece, em momentosque incluíram eternos clássicos como“Lisboa ao Luar” e “Verdes Anos”.

A Tuna da Universidade Católicado Porto (TUCP) acaba por compen-

sar a ausência de “nuestros herma-nos” ao escolher abrir a sua apresen-tação com o tema espanhol “LaNoche y Tu”.

Desce-se para Sul. A EstudantinaUniversitária de Lisboa apresentaum ritmo de percursão descontraídoe animado. Recupera e reinventa “ADesfolhada”, na segunda versão danoite, com uma maior exploraçãovocal. Parece uma canção diferente.Daí que o primeiro prémio não tenhasido uma surpresa.

Voltamos a Norte. A Azeituna –Tuna de Ciências da Universidade doMinho – marca a diferença com rit-

mos célticos. A capacidade de impro-viso e boa disposição da Tuna Uni-versitária do Instituto SuperiorTécnico (TUIST) vale-lhe o prémiosimpatia e um terceiro lugar. O grupode Cordas da SF/AAC apresenta-sedepois como um “digestivo” num re-gisto instrumental e muito íntimo,antecedendo a tão esperada entregados prémios.

Na queda do pano, uma réstia deanimação agita o público. Fica amarca de sucesso de mais um festi-val. “Uma marca para a Academia epara Coimbra”, conclui Hugo Ri-beiro.

O ESPECTÁCULO contou apenas com tunas nacionais

A alternativasustentável chega àcidade nos próximosdias. O ensino, agastronomia e adiversão dão o mote aquem quer aprender afazer diferente

Fadas, palhaços e feiticeiros. Osseres mágicos visitam Coimbra nopróximo fim de semana, para a se-gunda edição do Artes da Lua d’Ou-tono. A decorrer na Praça daCanção, de 10 a 12 de Outubro ecom entrada livre, a iniciativa parteda associação cultural ColectivoGerminal e conta com diversas ac-tividades. O programa inclui espec-táculos para crianças, concertos,

demonstrações de artes circenses,teatro, diversos ateliês e oficinas dedança, mas vai haver espaço para“quem quiser dar o seu contributopara a animação com iniciativas li-vres”, como explica Afonso Faria,da organização.

No recinto, entre as bancas deprodutos e os espaços de animação,vai existir ainda uma Aldeia deSeres Mágicos. Dedicada às crian-ças, a construção reutiliza embala-gens, cartões e outros materiais,confirmando a ideia de sustentabi-lidade que orienta todo o evento.Tudo realizado com trabalho vo-luntário.

Mas entre a vasta oferta, Fariadestaca o Encontro de Educação In-tegral e Intuitiva, que pretende ser“uma reflexão abrangente de todasas formas de educação, desde asmais tradicionais e formais, às maisalternativas, sendo transversal atodos: pais, educadores, professo-

res e alunos”. No encontro, vaifazer-se um levantamento de esco-las com métodos pedagógicos alter-nativos que permita aos pais eformadores saber onde encontraroutras formas de ensino.

O evento rejeita a ideia da relaçãoconvencional entre professor ealuno, e procura antes “ser umapartilha, porque todos somos co-nhecimento e trazemos algo para odebate, assumindo um papel inter-veniente”, explica o membro da or-ganização.

Durante a actividade decorretambém o Mercadilho do Artes,onde o conceito inspirador é a trocadirecta de produtos. Aqui, o visi-tante vai poder encontrar produtosnaturais, artesanais e manufactura-dos, e há até espaço para medicinasalternativas.

Na procura de estilos de vida sus-tentáveis que conduz o Artes da Luad’Outono, há espaço para alimen-

tar o espírito, mas também o corpo.Durante o encontro vai funcionaruma Cozinha Comunitária, que nostrês dias serve refeições vegetaria-nas, preparadas com produtos eco-lógicos e locais.

Para Afonso Faria, a expectativa éde que “mais do que uma actividadepara ser assistida, o Artes envolvaos visitantes, que sintam que fazemparte e contribuem para o seu en-canto”.

PEDRO MONTEIRO

Sofia Piçarra

Pedro MonteiroVanessa Quitério

19OUT

até

TNT - TUMULTO NO TEATRO

até

até

CERÂMICA DE COIMBRA SÉC. XX

UM SIMPLES OLHAR

DA CULTURA BRASILEIRA

CURSO DE INICIAÇÃO TEATRAL

até

até

XVIII GALA DO FESTIVAL INTERNACIONAL DE TUNAS DE COIMBRA

Maioridade chega ao Festuna

Artes da Lua dinamizam Praça da Canção

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DESPORTO7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 9

BASQUETEBOLAcadémica vs Ovarense17H • ARENA DOLCE VITA

A G E N D A D E S P O R T I V A

ANDEBOLAD Albicastrense vs Académica18H • MUNICIPAL CASTELO BRANCO

FUTEBOL - DISTRITAISAgrário de lamas vs AcadémicaMIRANDA DO CORVO

RUGBYVilamoura vs AcadémicaHIPÓDROMO VILAMOURA

Uma nova era para o BasquetebolO Basquetebolnacional regressouao amadorismo.A Académica venceuna estreia

Depois do fim da Liga Profissio-nal, o basquetebol português en-trou este fim-de-semana numanova etapa. Passados 13 anos deprofissionalismo, a modalidaderegressou ao campeonato amadore para trás ficaram os incumpri-mentos financeiros por parte dosclubes.

O presidente da Federação Por-tuguesa de Basquetebol (FPB),Mário Saldanha, diz-se pouco sur-preendido com este desfecho e de-fende que “só pecou por tardio, amorte era anunciada”. O respon-sável aponta como principal erroda Liga Profissional “a falta derigor de gestão”. “Com uma gestãocatastrófica é evidente que as coi-sas tinham de resultar da formacomo resultaram”, acrescenta.Para além das dívidas, Mário Sal-danha refere a falta de comunica-ção e marketing durante oprojecto profissional. Atrás do es-pectáculo estavam “sempre algunsmecenas e câmaras municipais,mas isto não podia durar a vidainteira”, considera.

Quanto ao processo de liquida-ção das dívidas, o presidenteafirma que “a Federação não temmeios para obrigar os clubes acumprir obrigações financeiras”,

salvo “situações pontuais” comodívidas a treinadores, a jogadorese a árbitros, que estão a ser pagas.

Com a criação da Liga Portu-guesa de Basquetebol, a Proliga,prova secundária e organizadapela Federação, não foi esquecida.“Pela morte da Liga Profissionalnão íamos sacrificar os outros 15clubes, que trabalharam para quea Proliga fosse uma realidade”,conta Mário Saldanha.

No novo modelo competitivo es-tabeleceu-se que há jogos cruza-dos entre as duas provas. O

presidente explica que o facto dosórgãos de comunicação só esta-rem dispostos a transmitir aquiloque é principal levou a que se es-tabelecesse esta ligação.

Para assegurar “o futuro do bas-quetebol português”, as equipasparticipantes só podem ter noplantel três jogadores estrangei-ros. Além disso, cada clube deveter no mínimo três escalões de for-mação. As novas obrigações tra-zem, na opinião de MárioSaldanha, “menos gastos e pro-gressão do jogador português”.

Académica de voltaao primeiro escalão

A equipa sénior da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (AAC) estápresente no primeiro escalão dobasquetebol nacional, depois deter sido semi-finalista da Proligana época transacta. Na primeirajornada realizada este fim-de-semana, a Académica entrou avencer na Liga, ao derrotar o Que-luz Sintra por 50-65. “O nosso pri-meiro objectivo é não descer dedivisão”, define Bruno Costa, pre-sidente da Secção de Basquetebol

da AAC. O técnico Norberto Alves antevê

“jogos complicados com equipasfortes”, mas diz que “os jogadoressão todos ambiciosos”. Para o trei-nador, a Académica fez “um bomtrabalho no recrutamento de es-trangeiros”, embora tenha o “or-çamento mais baixo da liga”.

O fim da Liga Profissional tam-bém não surpreendeu NorbertoAlves. “A dificuldade de cumprirdeterminados compromissos le-varam a um fim esperado”, de-fende.

ACADÉMICA venceu o primeiro jogo frente ao Queluz Sintra

A Secção de DesportosNáuticos sagrou-secampeã nacional declubes pela primeiravez, após 26 anos deexistência

Na última prova pontuável, a Aca-démica conquistou em casa, naságuas do Mondego, o primeiro lugarno Ranking Nacional de Clubes. O se-gundo lugar ficou para o Ginásio Fi-gueirense.

Em épocas anteriores, a equipatinha apenas conseguido o quintolugar. As expectativas foram supera-das, uma vez que o objectivo inicialera atingir o quarto lugar no RankingNacional. “No início do ano, a con-quista não passava de um sonho”, re-

vela o treinador, Júlio Amândio. ASecção de Desportos Náuticos(SDN/AAC) conseguiu um feito únicona história da Académica que, atéentão, só tinha conquistado dois se-gundos lugares, nos anos 90.

Para o presidente da SDN/AAC,Rúben Leite, o segredo para o êxitoreside na aposta da captação de jo-vens para fazer um trabalho de base eno regresso de alguns veteranos, quepara além de serem referências paraos mais novos, ajudaram na con-quista de alguns pontos para o clube.“Foi a união entre todos que levou aeste sucesso”, acrescenta. No mesmosentido, Júlio Amândio acredita queo sucesso da equipa deve-se ao factode todos “puxarem na mesma direc-ção”, no rumo à vitória do campeo-nato. “São todos campeões”, resume.

Para a prática do remo, o principalobstáculo é o facto de se tratar de um

desporto dispendioso. “É um investi-mento bastante grande e temos sem-pre dificuldades em arranjarpatrocinadores”, explica Rúben Leite.

O clube tem sido alvo de grandeprocura por atletas que querem trei-nar a modalidade, o que torna difícila tarefa de oferecer boas condições atodos. “Para ter mais atletas no In-verno, não podemos treinar no riopor causa das condições climatéricas,o que pode ser uma limitação quetemos de contornar, com a gestão dotreino, com os horários”, confessaJúlio Amândio.

Para a próxima época já se pensana revalidação do primeiro lugar doRanking Nacional e o apuramentopara o Campeonato da Europa em2010, que irá realizar-se em Monte-mor-o-Velho. Antes, em 2009, Coim-bra torna a receber o CampeonatoNacional de Sprint.

A união faz os campeões

D.R.

Ana Coelho

Catarina DomingosAndré Ferreira

D.R.

11OUT

11OUT

12OUT

12OUT

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DESPORTO10 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

Carências e conquistas

Longe do nível deoutros países, Portugalainda não dá o devidovalor ao desportouniversitário

Os atletas queixam-se das condi-ções, dos poucos apoios e apenasexaltam o espírito de grupo. O ca-minho a percorrer parece ser longo.“Estamos ainda numa fase muitoembrionária”, considera Nuno San-tos, coordenador técnico da Secçãode Badminton e que participou emvários Campeonatos Universitários.

O primeiro vice-presidente daFederação Académica do DesportoUniversitário (FADU), Estêvão Cor-dovil, salienta a importância daprática desportiva durante o ensinosuperior. “É importante que se en-tenda que o desporto universitárioé uma peça fundamental para queos jovens portugueses adquiramhábitos saudáveis, aguçando a suasensibilidade desportiva e forma-ção sócio-pessoal”, afirma o res-ponsável.

Apesar dos apoios fornecidospelo Ministério da Ciência, Tecno-logia e Ensino Superior (MCTES) epelo Instituto do Desporto de Por-tugal (IDP), faltam patrocínios e

cooperação de entidades privadas.“Os apoios de entidades privadas epatrocinadores esbarram semprena reduzida visibilidade dada aodesporto universitário em termosmediáticos”, avalia Estêvão Cordo-vil. No seu entender, falta também“apoio de algumas instituições deensino superior”.

Algumas universidades já têm oestatuto de atleta-estudante. Não éo caso da Universidade de Coimbra(UC). “A UC sempre esteve na van-guarda do desporto e este é umponto em que estamos a ficar umpouco atrasados”, diz o coordena-dor-geral do desporto da Direcção-Geral da Associação Académica deCoimbra (DG/AAC), Miguel Portu-gal.

Na opinião do coordenador esta-mos perante uma realidade igno-rada. “Na política desportiva dopaís, o desporto universitário foideixado para trás”, defende. Já Es-têvão Cordovil argumenta que“quando se olha para o número deatletas e modalidades que existementre os estudantes, não se podefalar de uma realidade ignorada”.“Aqueles que mais nos merecemconsideração, os atletas, técnicos edirigentes, continuam a lutar,dando credibilidade ao desportouniversitário”, acrescenta. O res-ponsável fala ainda de um “pro-blema complexo”, derivado da“inexistência de um projecto estru-turado para o desenvolvimento

desportivo na educação”.

Desporto estudantil aganhar espaço

O valor do desporto académicodeu sinais nos Campeonatos Mun-diais de Futsal Universitário. NaEslovénia, a selecção nacional mas-culina sagrou-se campeã pela pri-meira vez na história, ao vencer aUcrânia por 5-1. “Foi uma provaviva que o desporto universitáriotem tudo para andar para a frente emelhorar”, enaltece André Sousa,guarda-redes da selecção, eleito omelhor da prova. O tambémguarda-redes da AAC conta queteve boas condições de trabalho.

“Quanto à Liga Universitária por-tuguesa as condições já são dife-rentes, muitas vezes não temoscampo para treinar, bolas e equipa-mentos”, contrapõe.

No Brasil, a selecção feminina al-cançou o segundo posto. MargaridaMarques, que representou a selec-ção feminina, considera que “há

muita qualidade em Portugal, mashá pessoas que têm de ir jogar parafora do país”.

Nuno Santos, da sua experiência,sublinha que “o desporto universi-tário tem de ser encarado comouma necessidade, não como umpassatempo, deve ser um hábito decada pessoa e estar salvaguardadonos currículos de cada universi-dade”.

As conquistas do futsal são, paraEstêvão Cordovil, “resultado demuitos anos de trabalho e apostascertas”. “Custa perceber que exis-tem dezenas de modalidades compotencial para crescer, mas porfalta de apoio e desinteresse aca-bam por ficar sem resposta”.

Portugal vai estar na rota de com-petições internacionais de desportouniversitário. Já este ano, o paísacolheu o Campeonato Mundial deBadminton, em Braga. Em 2010, éo Porto que recebe a prova mundialuniversitária de Rugby 7. E em2011, o Algarve organiza o Cam-peonato Europeu Universitário deGolfe. O facto de Portugal ser o paísanfitrião em algumas provas signi-fica que, para o vice-presidente daFADU, “há gente a remar na direc-ção correcta”. Contudo, não es-quece que “as organizações deeventos universitários têm um im-pacto nacional reduzido”. “Nin-guém mudará o país sozinho e ofuturo terá que crescer com maismãos”, assegura.

HUGO MENESES

A ACADÉMICA tem 14 modalidades com ligação à FADU

Ana CoelhoCatarina Domingos

Vanessa Soares

P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

AAC/OAFA Acadé-

mica empa-tou a umabola frenteao Nacionalda Madeira.

Aos 28 minutos, Nené marcoupara os insulares, após falha de-fensiva de Nuno Piloto, que seredimiu e repôs a igualdade aos82 minutos. A equipa de Domin-gos Paciência soma agora setepontos e já não perde em casa hámais de dez meses. Na 6ª jor-nada da Liga Sagres, a Briosa de-fronta o Trofense.

HÓQUEI EM PATINSA Acadé-

mica entroua vencer noCampeonatoNacional deTerceira Di-

visão Zona B. Os estudantes des-locaram-se a Cucujães eganharam à equipa local por 1-3.Com os três primeiros pontos daépoca, a AAC recebe o ACRPVouga na próxima jornada.

RÂGUEBIA equipa

de râguebisub-20 daAssociaçãoAcadémicade Coimbra

(AAC) perdeu o jogo da SuperTaça frente ao CF Os Belenenses.O resultado final foi 72-8. Os oitopontos da AAC foram marcadospor Henrique Ribeiro e ManuelSantos. O campeonato nacionalde râguebi sub-20 tem início nodia 25 de Outubro. Na primeirajornada, a Académica folga eentra apenas em prova no iníciode Novembro.

ANDEBOLA equipa sé-

nior de An-debol daAAC regres-sou às vitó-rias. Em jogo

referente àquarta jornada do CampeonatoNacional Segunda Divisão ZonaCentro, a turma de RicardoSousa venceu o Andebol ClubeLamego por 29-25.

A Académica soma agora dezpontos e, na próxima ronda, des-loca-se ao Municipal de CasteloBranco para jogar com a AD Al-bicastrense.

Catarina Domingos

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DESPORTO UNIVERSITÁRIO

“Há gente a remar nadirecção correcta (...)e o futuro terá quecrescer com maismãos”

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CIDADE7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 11

ANA COELHO

NA FALTA de espaço para estacionar, muitos condutores improvisam um local para o carro

3Carlos Félix

Estacionamento condicionado?As dificuldades deestacionamento sãoevidentes na cidade,apesar das medidasaplicadas pelomunícipio. Oposiçãoapresenta soluções

Qual o morador de Coimbra quenunca se deparou com problemasdevido ao estacionamento irregu-lar em Coimbra? Automóveis emsegunda fila, estacionados emcima de passeios ou sobre passa-deiras abundam por toda a cidade.

“O problema de Coimbra é umvelho problema”, afirma o verea-dor do Partido Socialista (PS) naCâmara Municipal de Coimbra(CMC), Vítor Baptista. Se o esta-cionamento em Coimbra já foi umtema de grande discussão, actual-mente tem vindo a ser descurado.As filas para estacionar tendem a

aumentar e os protestos conti-nuam a surgir. Para o vereador doPS, “é urgente que se resolva oproblema da falta de estaciona-mento em Coimbra, para que sepossa circular mais junto ao cen-tro histórico, junto à universidadee à Baixa”.

Enquanto que para uns o pro-blema do estacionamento se deveà falta de infraestruturas própriaspara o efeito, para outros deve-se àfalta de civismo dos condutores. Overeador da Coligação Democrá-tica Unitário (CDU) na CMC,Jorge Gouveia Monteiro, por suavez, não concorda que haja falta deestacionamento em Coimbra.Contudo, afirma que há excesso deautomóveis em circulação. JorgeGouveia Monteiro apresenta a so-lução para o problema: “se os au-tomóveis ficassem em casa, aspessoas andassem de transportespúblicos e o metro começasse afuncionar, deixava de haver pro-blemas de estacionamento”.

Dina Rocha, chefe de divisão daPolícia Municipal (PM), partilhada mesma opinião que Gouveia

Monteiro e diz mesmo que “o es-tacionamento que existe dentro dacidade é para ser usado num sis-tema de rotatividade, por exem-plo, para uma pessoa que venha auma consulta ou ao centro comer-cial. Não se deve trazer a viatura edeixá-la estacionada no mesmolocal o dia todo”.

A falta de estacionamento afectaprincipalmente os estudantes,como salienta Vítor Baptista: “hácarências profundas na zona daUniversidade”. Numa cidade queé dos estudantes, as facilidades sãocada vez menores. Aumenta a taxade estacionamento, o tempo per-dido é cada vez maior e as penali-zações para os infractores são cadavez mais frequentes. Dina Rochajustifica que os procedimentos le-vados a cabo pela PM se inseremnuma política que tem por objec-tivo “reduzir o estacionamentodentro da cidade para um períodocada vez mais pequeno. Por detrásdo estacionamento pago não estáuma política de ganhar dinheiro,mas sim uma política que visa me-lhorar o ambiente citadino”. Gou-

veia Monteiro ressalva a impor-tância destas políticas, que habi-tuam os cidadãos “a não invadirtodos os cantos da cidade com oseu automóvel”. “Quem tem car-ros tem que perceber que estorvamais do que aquilo que resolve”,acrescenta o vereador.

Na tentativa de encontrar res-ponsáveis pela situação que se viveem Coimbra, as sugestões sãomuitas, mas a chefe de divisão daPM acredita não existirem culpa-dos. Afirma ainda que a situaçãose deve à “política promovida pelogoverno, que visa sensibilizar aspessoas, processo este que emCoimbra está a ser mais demoradopela falta de sensibilidade da po-pulação local para esta questão”.

Várias têm sido as medidas apli-cadas com vista à redução dos pro-blemas no estacionamento,contudo estas políticas não têmsortido efeito. O vereador do CDUdeclara ser“ impraticável aguentaruma cidade com os 40.000 carrosque passam diariamente na Ruada Sofia, por exemplo”. DinaRocha sustenta esta afirmação,

acrescentando que “não é concebí-vel que as pessoas estacionem emcima do passeio ou em cima deuma passadeira, pois estes têmoutra utilidade e há pessoas queacabam por sofrer com isso”.

Há projectos em desenvolvi-mento para tentar solucionar afalta de estacionamento, como aconstrução de um parque na Praçada República e de outro na Uni-versidade, como garante VítorBaptista. No campo das soluções,Gouveia Monteiro acredita quenão são necessários mais estacio-namentos, mas sim “a melhoriados transportes públicos e sua re-modelação”. Para além dos pro-jectos materiais, Dina Rochaacredita que a resolução do pro-blema passa essencialmente porcampanhas anuais de sensibiliza-ção de forma a incutir nas pessoaso espírito cívico e de protecção doambiente.

Até ao fecho desta edição, nãofoi possível obter declarações dopresidente da CMC, Carlos Encar-nação, sobre a posição da autar-quia acerca deste tema.

Daniela FernandesAna Margarida Gomes

Marta Pedro

Presidente da Uniãode Coimbra

Porque aceitou o desa-fio de assumir o co-mando da União deCoimbra?

Foi-me proposto este desafio, porcausa da situaçao muito grave em queestá a União e devido aos meus conhe-cimentos a nível imoviliário e futebo-listico. A União não tinha apoiosnenhuns, vieram todos, depois, atravésde mim. Tudo o que me disseram eramentira. As dificuldades eram trêsvezes piores do que aquilo que estavam.

Está satisfeito com orumo que o seu mandatotem tomado?

Está a ser muito difícil, porque tenhomuitos problemas para resolver e estão aser solucionados um a um. Inclusive hámuito pouco tempo não podiamos ins-crever jogadores e agora já estão a jogar.Enquanto presidente propus-me a resol-ver os problemas financeiros e levar aequipa a um patamar superior. Temoscomo principal objectivo passar à 3º di-visão e sanar todas as dívidas fiscais.

Coimbra tem espaçopara dois clubes comoa União de Coimbra e aAcadémica?

Penso que sim, têm dois espaços,duas grandes equipas. Mas paraduas grandes equipas é preciso é quesejam tratados da mesma maneira oque não é o caso.

Tiago Carvalho

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COIMBRA

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12 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

VISITA AO PASSADO DA VELHA ALTA

s estudantes que percor-rem as ruas da Velha Altade Coimbra desconhecemque, na realidade, aquele

espaço como hoje o conhecemos temafinal pouco mais de 30 anos. No fimda década de 30, o Estado Novo deuinício a um processo de expropria-ções e demolições que culminaria naconstrução de novos edifícios, con-cluído apenas nos anos 70, e quetransformou irreversivelmente umadas zonas nobres e mais emblemáti-cas da cidade.

No local onde actualmente se si-tuam as faculdades de Letras, Medi-cina e os edifícios de Matemática,Física e Química, em 1934 estudan-tes, artesãos, vendedores e habitan-tes partilhavam a mesma área. Avizinhança fomentava uma estreitarelação entre a comunidade estudan-til e a população residente. Os agre-gados familiares, o comércio e aszonas de lazer desenvolviam na Altaum dinamismo próprio que não se es-gotava no período escolar.

Mas, pela mão de Cottinelli Telmo,responsável pelo plano de reestrutu-ração urbana da Alta de Coimbra, atéentão com muitas funções, passouapenas a albergar um núcleo univer-sitário. A transformação obrigou à

demolição não só de edifícios de ha-bitação e comércio, como inclusive deestruturas da própria universidade,num total de 202 prédios.

As mudanças foram profundas. OObservatório Astronómico do Pateoda Universidade e o Observatório As-tronómico Pombalino, o Colégio de S.Boaventura, o Colégio dos Lóios, oColégio de S. Paulo Ermita, o Colégiodos Militares, parte do Castelo deCoimbra e muralhas, o Arco do Cas-telo e Arco do Aqueduto de São Se-bastião não sobreviveram à ânsiareformista de Salazar. Para lá daPorta Férrea, o Colégio de S. Pedro, aSé Nova, o Museu de História Natu-ral, o Laboratório Químico, a Im-prensa da Universidade, o Colégiodos Grilos, o Colégio de S. Bento, acasa dos Melos e o Museu NacionalMachado de Castro.

Para concretizar a remodelação doespaço, o governo encetou um pro-cesso de expropriações de váriascasas habitacionais e 97 estabeleci-mentos comerciais. Em 1942, exis-tiam na Alta de Coimbra seisalfaiatarias, duas modistas, duas ti-pografias, uma relojoaria, um mer-ceeiro e restaurador, quatroencadernadores e douradores, cincobarbearias e duas latoarias. Apenas

três anos depois, o êxodo do comércioera evidente: haviam desaparecidocinco alfaiates, uma modista, uma ti-pografia, a relojoaria, quatro barbea-rias e restava um encadernador.

A sede do Governo Civil, o Museude Antropologia e o Largo da Feiraderam lugar à actual Faculdade deMedicina, e na Alameda de Camõesergue-se hoje a nova Faculdade deLetras. A Biblioteca Geral ocupou oedifício onde funcionava a antiga Fa-culdade de Letras e o Arco do Casteloé hoje a Praça D. Dinis. Nasceu tam-bém um novo Arquivo e chegoumesmo a estar previsto um hospitalpara substituir o Colégio de São Je-rónimo e o Colégio das Artes, masque acabou por não se concretizar.

Nos cerca de 50 anos que demoroutodo o processo, o perfil da cidade al-terou-se de forma profunda. Pelo ca-minho, desapareceu parte doagregado histórico, como elementosmarcantes da arquitectura tradicio-nal da Alta de Coimbra. No seu lugar,nasceram blocos de edifícios em fron-tal ruptura arquitectónica com o pas-sado. Hoje, a preocupação com atraça singular que caracteriza a ci-dade permite recuperar e proteger opatrimónio que restou.

Com Francisca Saldanha

Onde hoje se distribui o Pólo I da UC esteve em tempos um núcleo residencial, comercial eespaços de lazer. A CABRA foi revisitar a Velha Alta da cidade e percorrer as principais mudançasocorridas durante o século passado. Por João Miranda e Sofia Piçarra

TEMA

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7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 13

A HISTÓRIA DE UMA REFORMA

A demolição da Velha Alta surtiu efeitos não sóno funcionamento da universidade, como emtoda a população residente. Especialistasreferem motivos e consequências daremodelação do espaço. Por João Miranda

TEMA

DANIELA CARDOSO

DANIELA CARDOSO

A vontade do governo de Oli-veira Salazar de reestruturar e ex-pandir o espaço universitário deCoimbra levou a que se procedes-sem a mudanças profundas e es-truturais na alta universitária naprimeira metade do século XX.

Em 1934, iniciou-se um pro-cesso de expropriações de mora-dias e estabelecimentoscomerciais de uma Alta em quehabitantes e lojistas se viram ob-rigados a abandonar o espaço queaté então dividiam com a Univer-sidade de Coimbra. Sete anos de-pois, começaram a ser demolidosos primeiros edifícios com vista àconstrução de um novo pólo deensino superior.

Para a Técnica Superior de His-tória da Arte do Gabinete para oCentro Histórico da Câmara Mu-nicipal de Coimbra, Luísa Silva, “aideia de remodelar os espaçosuniversitários nasceu com a con-vicção de que o velho núcleo deedifícios prefigurava uma cidadeuniversitária, bastando para issoampliá-lo”. Por esse motivo, en-tendeu-se manter a localização dainstituição de ensino, em vez querealojar os novos edifícios, cons-truídos de raiz.

Num outro plano, o historiadorAmadeu Carvalho Homem en-contra um “certo mimetismoentre o autoritarismo provincianodo Salazar de Santa Comba e oautoritarismo fascista de Musso-lini”. O professor considera que aadmiração do estadista portuguêspelo seu congénere italiano orien-tou as novas estruturas. “Todaaquela construção que nós hojepodemos observar não corres-pondente à Velha Alta, aquelas fa-culdades e aquelas estátuas desentido um pouco proto-romano,um pouco proto-clássico, todaaquela imponência um bocado

balofa, tudo aquilo tresanda a edi-ficação fascista”, acrescenta.

Já Nuno Rosmaninho, no livro“Evolução do Espaço Físico deCoimbra”, atribui a reestrutura-ção da Alta à necessidade de se-gregar as zonas escolares dasáreas de habitação.

O processo de reestruturaçãodaquele espaço provocou inúme-ras dificuldades entre os lojistas ea reinstalação e readaptação dosresidentes na alta levantou váriosproblemas. Luísa Silva refere que“a população não reagiu da me-lhor forma à reestruturação efec-tuada”. Chegou-se mesmo aestabelecer um paralelo entre ademolição dos edifícios à devasta-ção que se sentia em várias cida-des europeias, devido à SegundaGuerra Mundial. Contudo, não selevantaram grandes protestos. “Éevidente que não passava pela ca-beça de ninguém bater o pé, oumesmo invocar direitos adquiri-dos ou direitos de indemnização,perante Salazar”, lembra Carva-lho Homem.

Também no plano nacional aremodelação da Alta surtiu efei-tos. Criou-se uma nova perspec-tiva na população portuguesasobre a Universidade de Coimbra.Segundo Carvalho Homem, oúnico dividendo que Salazar tiroude todo o processo foi “a vanta-gem de mostrar aos visitantes, so-bretudo aos menos esclarecidos,que havia ali um núcleo que era oequivalente à cidade dos douto-res”. “E isso pode eventualmentedeslumbrar sobretudo aquele tipode mentalidade menos instruídae menos esclarecida que julga queo fazer uma coutada de naturezaterritorial num interior de um es-paço universitário até fica muitobem”, conclui.

Com Francisca Saldanha

D.R./ COLECÇÃO SÉRGIO NAMORADO

D.R./ COLECÇÃO REGINA ANACLETO

INFOGRAFIA POR JOÃO MIRANDA

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PAÍS & MUNDO14 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

Após o falhanço adiado do Tra-tado de Lisboa, a União Europeia(UE) parece agora recompor-se. Napróxima reunião de Conselho deMinistros, a 15 de Outubro, os 27estados-membros assinam a suaprimeira política comum sobre oasilo e imigração.

O Pacto sobre Imigração e Asiloaprovado dia 25 de Setembro, dáforma a uma futura legislação con-junta e vem reforçar os poderes doFRONTEX, órgão responsável pelasegurança das fronteiras da UE.

Contudo, o texto representa ape-nas um compromisso. O deputadosocialista europeu, ArmandoFrança sublinha que a natureza dodocumento “não é legal, apenas po-litico”. Juntamente com o Pacto deAsilo e Imigração foi também dadoum passo importante para a criaçãode um “Cartão Azul”. À semelhançado “Green Card” norte-americano,este cartão visa atrair mão-de-obramais qualificada, como é o caso dosestudantes. Esta proposta abrangetodos os que tiverem pelo menostrês anos de estudos universitáriosou experiência profissional com-provada durante um mínimo decinco anos.

O documento para a imigração easilo está longe de ser uma questãopacífica. Iniciada a controvérsiacom a directiva de retorno, entre-tanto já aprovada em ParlamentoEuropeu, o Pacto não escapa a igualresistência.

Na opinião do dirigente da SOSRacismo, Mamadu Ba, “a Europaestá a lidar de forma péssima com aquestão da imigração”. O respon-sável acredita que estas políticasrestritivas vão contribuir para en-tregar os imigrantes às máfias.“Não há nenhuma lei ou norma quepossa impedir ou regular os fluxosmigratórios”, acrescenta MamaduBa. De forma contrária pensa o so-cial-democrata, Carlos Coelho.Para o eurodeputado a integraçãopassa pela organização e regulaçãoda imigração: “o sucesso de qual-quer política de imigração passapela capacidade de acolhimento”.Existe um facto ao qual ninguém éindiferente, a Europa é um conti-nente envelhecido. Os fluxos mi-gratórios parecem ser a respostapara que todos apontam. CarlosCoelho recorda que até ao ano2030 a Europa irá precisar de 21milhões de imigrantes, salienta noentanto que “não podemos assimi-lar toda a gente”.

Directiva de retornoAté agora o Parlamento Europeu

em processo de co-decisão com oConselho de Ministros apenasaprovou a directiva de retorno. Odiploma prevê, entre outras medi-das, o retorno voluntário dos imi-grantes “irregulares” até trinta dias,estipula prazos máximos para a suadetenção até 18 meses e impede osimigrantes de entrar novamente noespaço europeu por um período decinco anos.

Para a dirigente da Amnistia In-ternacional, Sónia Pires, é duvidosoque com estes prazos existam “me-

lhorias no tratamento aos imigran-tes”, contudo a activista reconheceque a tentativa de harmonizaçãodos seus direitos é no mínimo “lou-vável”. No entanto, e pela naturezalegislativa da directiva, os paísesmembros estão apenas obrigados acumprir o seu fim. Assim, Portugalmantém, por exemplo, o prazo má-ximo de sessenta dias para a deten-ção, ficando longe dos máximospermitidos na directiva. O euro-de-putado Armando França sublinhaque Portugal tem actualmente“uma legislação avançada, huma-nista”. Refere ainda que para o par-tido-socialista, “o prazo dadirectiva é desproporcionado”.Sónia Pires vai mais longe e classi-fica-a de “desumana”.

As reacções no plano internacio-nal não se fizeram esperar. Após aaprovação da directiva em Junhodeste ano o Mercosul, união adua-neira composta por países da Amé-rica Latina acusou a Europa deignorar a sua história e o contributoque as migrações entre países tran-satlânticos trouxeram para o de-senvolvimento do continenteEuropeu.

Na opinião do deputado CarlosCoelho, as políticas para a imigra-ção e asilo têm aspectos positivos,ainda que não se conheça, para já, oconteúdo legislativo do pacto. Já odeputado Armando França acusaeste Pacto de ser “tímido” masainda assim importante. Apesardisso a directiva foi votada negati-vamente pelo seu partido e seus ho-mólogos europeus, alegando a“desproporcionalidade dos prazosmáximos”.

A LEI DA IMIGRAÇÃO portuguesa entrou em vigor no ano passado

A economia do país africanoaproxima-se do colapso. Economis-tas independentes estimam uma hi-perinflação perto dos 40 milhõespontos percentuais e não existemsinais de melhoria, muito pelo con-trário.

A inflação começou a ganhar con-tornos surreais desde 2006,quando se apresentou na casa dos1000 pontos percentuais, passandopara 12 mil em 2007.

Neste momento, um dólar ameri-cano vale 10 triliões de dólares zi-babweanos. O presidente reeleitosobre grande controvérsia este ano,Robert Mugabe, rejeita delegar ocontrolo financeiro do país. Exacta-mente a única solução apontadapelos economistas.

BREVES

PEDRO CRISÓSTOMO

Adelaide BatistaIvo Borges

Rui Miguel Pereira

UE avança compolítica de imigraçãoDepois da aprovação da directiva de retorno em Junho, a UE espera agoraver assinado o Pacto para a Imigração e Asilo. A decisão do Conselho deMinistros da União não é, no entanto, pacífica

A imigração para o Continente Europeu tem vindo a crescer de formasignificativa, segundo o Eurostat, sendo que de 1994 a 2007, foram maisde 21 milhões. Só em território nacional, são perto de 400 mil os resi-dentes provenientes do estrangeiro. Desde a abertura do espaço Schen-gen a Portugal, em1991, o número de emigrantes residentes cresceu cercade 35 por cento. Sobre a imigração ilegal, as contas são naturalmentemais complicadas. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) não adi-anta números. As associações apontam para 150 mil emigrantes em situ-ação irregular. Portugal, sendo um país cada vez mais na rota da imigração,é também, segundo Armando França, um dos que tem “uma legislação hu-manista” à altura do desafio.

NÚMEROS SOBRE IMIGRAÇÃO

Zimbabwe“Não é a solução”. O ministro

dos negócios estrangeiros francês,Bernard Kouchner, deixou o re-cado, este fim-de-semana, sobreum eventual ataque ao Irão porparte de Israel.

Isto apesar de o ministro fran-cês já ter considerado como “ina-ceitável” um eventual fabrico dearsenal nuclear por parte do Irão.Kouchner insiste que a soluçãodeve seguir a via do diálogo.

Desde que o regime de Teerãoreactivou o seu programa nuclear,em 2006, que a comunidade in-ternacional tem tentado, por di-versas vezes, negociar com arepública islâmica, mas sem su-cesso.

Ainda no mês passado este país

rejeitou a resolução das NaçõesUnidas para suspender o enrique-cimento de urânio.

O nervosismo instalado em Is-rael parece ainda mais justificadocom o facto de Ahmadinejad nãoreconhecer o Estado muçulmanoe já por várias vezes ter declaradoo seu “aniquilamento”.

Os Estados Unidos sublinham anecessidade de prosseguir na viado diálogo e no agravamento dassanções económicas, contudotambém para eles um Irão nu-clearmente armado é algo incon-cebível. “Um Irão dotado dearmas nucleares é um grande pe-rigo para o mundo”, afirma o pre-sidente dos Estados Unidos daAmérica, George W. Bush.

Portugal prepara-se para reco-nhecer a independência do Ko-sovo. O ministro dos negóciosestrangeiros, Luís Amado, apre-senta hoje, 7, ao Parlamento por-tuguês a tomada de posição oficialdo governo.

O embaixador russo para aUnião Europeia, Vladimir Chizov,classificou esta possibilidade como“um erro”, “tal como aconteceucom os outros países que já reco-nheceram” a ex-província Sérvia.Sobre isto, também o embaixadorsérvio em territorio portuguêspediu contenção ao governo.

Portugal é o único país europeu,sem problemas com minorias ét-nicas no seu território, que aindanão reconheceu o Kosovo.

D.R.

KosovoIrão • França • Israel

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PAÍS & MUNDO7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 15

ma onda de violênciacontra as Forças de As-sistência e Segurança In-ternacional e forças

afegãs volta a pôr o Afeganistão naagenda internacional. O especialistaem questões do Médio Oriente, doInstituto de Políticas Sociais da Uni-versidade Católica Portuguesa(UCP), Miguel Monjardino, não estáoptimista em relação ao país, subli-nhando que o "governo tem muitasdificuldades em manter credibili-dade e segurança junto da popula-ção local".

O general Loureiro dos Santos,

afirma que o governo afegão, "en-leado na corrupção", não consegueimpor autoridade no país o que fazcom que haja "muita criminalidadee uma tendência para os afegãos serecordarem do regime talibã comoum regime melhor do que o actual".Apesar dos esforços do presidenteda República Islâmica do Afeganis-tão, Hamid Karzai, em tentar me-diar a situação com o Presidente dos

Estados Unidos da América (EUA),George W. Bush e o presidente doIrão, Mohamed Ahmadinejad, a si-tuação económica e social do paísestá longe de encontrar estabili-dade. Ao longo dos últimos anos, opaís tem vivido períodos conturba-dos e a invasão, em 2001 pelos EUA,confirmaram que o país está longede atingir a democracia. Loureirodos Santos define a situação no ter-reno como sendo "muito preocu-pante", porque os EUA "em vez deprosseguirem com a operação doAfeganistão e consolidarem a esta-bilização do país, voltaram pelaforça para o Iraque", retirandomeios no Afeganistão.

Quando questionado sobre a in-tervenção da NATO no Afeganistão,Miguel Monjardino não consideraque o problema possa ser resolvidocom o aumento de efectivos milita-res. Estes podem ajudar a estabili-zar a situação e a melhorar asegurança da população, mas tendoem conta a história e sociedadeafegã, o ideal é que este trabalhoseja feito o mais rapidamente possí-vel pelo exército e polícia afegã, pra-ticamente inexistente no país. "Éum dilema muito difícil: o Afeganis-tão precisa de mais segurança, por-que sem segurança não háeconomia, e actualmente não há se-gurança nem uma economia fiávelno país", prossegue o professor da

UCP, classificando a situação de "in-sustentável por muito mais tempo".Já Loureiro dos Santos, diz que a so-lução não passa pela NATO, massim por “uma maior intervençãodos Estados Unidos, porque aNATO é uma coligação e uma coli-gação não é adequada para condu-zir este tipo de operações decontra-solução".

"Vazio de poder"Após a queda do antigo presi-

dente do Paquistão, Pervez Mus-harraf, em Agosto deste ano,instalou-se um "vazio de poder"neste país e as expectativas de Lou-reiro dos Santos é que esse vazio de-sapareça e que se consiga "acabarcom o extremismo violento". O Pa-quistão sempre teve uma enormeinfluência em tudo o que se passavano Afeganistão. Segundo MiguelMonjardino, "as opções políticasque a NATO, EUA e Europa têm se-guido em relação ao Afeganistãonão parecem levar em conta a ques-tão paquistanesa". O professor con-clui que o Paquistão precisa deexercer um maior controlo nas fron-teiras, mas para isso tem que terajuda de organismos internacionais."O governo afegão não pode falhar,mas o governo civil do Paquistãotambém não." No entanto, "as ac-ções que estão a ser levadas a cabopõem em causa a credibilidade do

governo civil do Paquistão", resul-tando numa conjuntura de grandetensão entre os dois objectivos.

Uma eventual retiradado Afeganistão

"Se houver uma retirada dos EUAno Afeganistão, ou Iraque, não terámuitas repercussões no local.Agora, a nível global estas serãoenormes", diz Loureiro dos Santos.Em primeiro lugar, por ser um "des-prestígio para a nação mais pode-rosa do planeta" e pela possibilidadede um novo ataque terrorista porparte da Al-Qaeda. O especialista

defende que o problema deixou deinteressar apenas aos EUA e passoua ser uma questão global, uma vezque as restantes nações perceberamque também estão vulneráveis aosatentados terroristas. Monjardino,duvida que no caso de “uma reti-rada no Afeganistão, a situação vámudar drasticamente no Iraque. AAl-Qaeda não vai conseguir triunfarno coração do Golfo Pérsico e isso é

uma derrota estratégica muito im-portante." Possivelmente a organi-zação vai conseguir sobreviver nasmontanhas do Afeganistão e do Pa-quistão, o que é uma fonte de preo-cupação para os dois países, arriscao professor. Apesar da diferença deopiniões, ambos os especialistasconcordam que o Paquistão é umproblema para a segurança euro-peia. O Afeganistão "foi claramenteum tubo de ensaio militar", afirmaMiguel Monjardino, "porque o queos EUA conseguiram fazer com oderrube dos talibãs foi notável doponto de vista militar”. Na opiniãodeste especialista, “quando se tratoudo planeamento militar para derru-bar o regime de Saddam Hussein"os americanos avançaram com umplano semelhante ao do Iraque e osresultados, do ponto de vista con-vencional, não foram maus porqueo regime caiu muito rapidamente.“A influência do Afeganistão no pla-neamento militar iraquiano foi ex-tremamente negativa”, conclui. Ajanela de oportunidades está a fe-char-se no Afeganistão. "Se nãohouver um melhor governo, queseja menos corrupto, tribunais quefuncionem, mais polícia e desenvol-vimento básico, a missão afegã serávista pela história como um grandeinsucesso”. “Mas é possível que issonão aconteça”, acredita MiguelMonjardino.

Afeganistão, quatro anos depoisMAIS DE 900 MILITARES da coligação foram mortos no Afeganistão desde 2001

D.R.

Quando se assinalam quatro anos sobre as primeiras eleições afegãs do pós-guerra, A CABRA foi perceber qual a situaçãoactual do país. Especialistas partem do actual teatro de operações e traçam caminhos diferentes para o conflito. Por DianaCraveiro, Ana Rita Ribeiro, Inês Almas Rodrigues

U

D.R.

D.R.

“A NATO não é adequada para este tipo de operações”

“O Afeganistão foiclaramente um tubode ensaio”

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA16 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

“O choque tecnológico foi muitascoisas e não foi coisa nenhuma”

Carlos Fiolhais recebeu-nos na Bi-blioteca Geral da Universidade deCoimbra (UC), de que é director,para uma conversa que era para ser(só) sobre ciência... Falou de ciência,política, livros, a cidade e a univer-sidade. O físico anunciou que vaipublicar um novo livro, referiu ablogoesfera como a sua intervençãopública mais activa e comentou oPlano Tecnológico. E quase nem foipreciso fazer as perguntas…

É autor do artigo científicomais citado do mundo. O que éque isso significa para si?

Não há nada como ser exacto naCiência. Em Julho tinha mais de5600 citações. Fico contente, por-que é melhor ter um artigo muito ci-tado do que ter um artigo poucocitado... E é melhor ter um artigopouco citado do que não ter ne-nhum. Trata-se de uma colaboraçãointernacional no início da década de90 com pessoas dos Estados Unidosda América, em particular com JohnPerdew, onde apareceu o resultadocerto na hora certa. É muito útil emvários ramos da ciência. O resultadoé uma fórmula que permite descre-ver a ligação química e que tem apli-cações em muitos ramos, como aQuímica, a Física, a Farmácia, a Bio-logia e a Nanotecnologia. A partir domomento em que a fórmula entrounos programas de computador, pas-sou a ser usada porque era útil. Eisto é bom para a Ciência portu-guesa e para a Universidade deCoimbra.

Escreveu vários livros…(interrompe) Tenho aqui um. É o

meu próximo livro, chamado “Enge-nho Luso e Outras Crónicas”. Trata-se de uma colectânea de artigos quepubliquei no “Público”. Com temascomo cultura, ciência, economia,desporto e internacional. O livro vaiser publicado até ao fim do mês.Não sei quantos livros tenho, massão mais de 40. Tenho alguns de fic-ção científica e cultural e tenho tam-bém uma intervenção directa naprópria política da educação. Aliás, amaior parte são escolares. Não devoapenas falar do ensino, mas intervirno ensino. Claro que não faço istosozinho; um dos segredos de ter umtrabalho que chegue às pessoas é terboas equipas. Procuro juntar pes-soas e esforços, e entusiasmar osamigos e é assim que se consegueesse número [de livros] que esperoque não pare. Tenho 52 anos, nãotenho tantos livros como anos, masainda vou a tempo. Os anos não

posso diminuir, mas os livros possoaumentar! A minha intervenção pú-blica não se resume a jornais e re-vistas. Agora, a minha intervençãomais activa é na internet, no blogue“De Rerum Natura”, que sabemosque é visto internacionalmente ecomo uma experiência nova. O blo-gue tem a vantagem de interagircom as pessoas e isso compensa onosso trabalho. A maior parte dosleitores é jovem, pois quem sai datelevisão para ir à internet não sãopessoas da terceira idade.

Como é que faz para chegaràs crianças?

Para chegar às crianças uma pes-soa tem que ser especial, não asvamos matar com as minhas cróni-cas. Se não, elas não cresciam, mir-ravam! Nós criámos uma colecçãode livros para crianças chamada“Ciência Divertida”, que tem maisde nove títulos, a única para crian-ças feita por portugueses, o que dizlogo de um estado de subdesenvol-vimento. Os livros deram lugar auma série para a RTP2 e esperamosque estes façam crescer o entu-siasmo das crianças face à ciência.

Pensa que deviam existirmais programas de televisãosobre ciência?

A televisão tem muito lixo, háquem diga que estamos condenadosa isso. Há espaço na televisão paraos mais pequenos onde deve caberum apontamento de ciência. Sou umdos autores do programa “MegaCiência”, que teve boas audiências.Ainda fiz outro, o “ABCiência”. Nãoé verdade que não há público, mas oque é certo é que nenhum dos doisteve continuação. É preciso não es-tarmos fechados e não nos cingir-mos aos programas de “massas”,como o Big Brother.

Em relação ao Plano Tecno-lógico, em que é que este go-verno foi diferente dos outros?

Desenvolver o país passa pela tec-nologia e a intenção é boa. Se se con-seguiu ou não, tem que se ver maistarde na altura das eleições. O queme faz impressão é o espectáculo dapropaganda. Às vezes, dá a ideia quenão é tanto a questão da tecnologia,é a questão de parecer moderno,porque se tem tecnologia e isso éuma ilusão. E levanta grandes ques-tões: será que aquele é o investi-mento mais correcto para fazer nasescolas? Não deveriam apostar maisno ensino experimental? É uma ilu-são as pessoas pensarem que, por

terem computador, ficam mais in-teligentes.

Acha que o acordo com oMIT (Massachusetts Insti-tute of Technology) foi ounão um bom primeiropasso para implementar oPlano Tecnológico?

O Plano Tecnológico anteschamava-se choque tecnoló-gico e eu fico chocado. Ochoque tecnológico foimuitas coisas enão foi ne-n h u m a .Q u a l q u e ra c o r d oque asuniversi-d a d e sp o r t u -g u e s a spossamfazer éb o m ,mas oque é

menos bom é que se defenda aquiloapenas como imagem. A ciência éinternacional e só pode evoluir sehouver estes acordos. Agora, se pas-sarmos a vida apenas a falar disso,acho que não temos tempo para oresto. Percebo que haja iniciativasespeciais nas melhores escolas, masisso não deve descorar o trabalhoque tem de ser feito com outras. O

trabalho universitário é um trabalhoa nível internacional. O professor doMIT vem para aqui ensinar a mesmaciência que ensina lá e nós somosconvidados para lá ir e vamos ensi-nar o que ensinamos aqui. A UC éuma universidade diferente, quantomais nesta fase pós-Bolonha em quehá cada vez mais Erasmus. Quandoacabei o curso, há 32 anos, tive pos-sibilidade de ir imediatamente paraa Alemanha e a realidade era com-pletamente diferente. Fiquei con-tente quando saí, porque nasbibliotecas da universidade na Ale-manha podíamos levar livros paracasa, o que não acontecia aqui.

Gostava de ver os estudantes maisactivos a exigir coisas para as biblio-tecas. Ter as bibliotecas abertasmais tempo, poder levar mais livrospara casa durante mais tempo. Era

preciso haver uma solicitação activados estudantes, que são muito im-portantes para isso. As bibliotecasprecisam dos estudantes a quereremverdadeiramente tomá--las comosuas. Os estudantes precisam dedizer: “eu pago propinas e não épouco, tenho direito a ter acesso aisso”. Se os livros são poucos, as pro-pinas devem ser para alargar as bi-bliotecas, a ciência, a electrónica…Vejo alguma passividade nos estu-dantes. Já tenho falado com o Pre-sidente da Direcção-Geral daAssociação Académica de Coimbrasobre isto. Muito do serviço adicio-nal tem de se fazer à noite: não épreciso contratar mais funcionáriospara a biblioteca estar aberta maistempo. Podiam pôr os estudantesencarregues de assumir a responsa-bilidade de acesso aos bens.

DIANA CRAVEIRO

É uma ilusão aspessoas pensaremque, por teremcomputador, ficammais inteligentes

O físico defende o ensino experimental nas universidades e critica os estudantes por seremdemasiado passivos a reivindicar condições na UC. Por Diana Craveiro e Inês AlmasRodrigues

CARLOS FIOLHAIS, docente da FCTUC

“ENGENHEIRO LUSO E OUTRAS CRÓNICAS” é o próximo livro do físico

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ESTATUTO EDITORIAL7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 17

De acordo com o Artigo 17º, alí-nea 3, da Lei de Imprensa, qualquerpublicação deve divulgar, anual-mente, o seu estatuto editorial

1. ACABRA e ACABRA.NETsão dois órgãos de comunicação so-cial académicos cujo objectivo éconstituírem-se – numa simbiosecapaz de aproveitar o formato e es-tilo diferente que cada um possui –enquanto Jornal Universitário deCoimbra.

2. ACABRA e ACABRA.NET

têm como público-alvo a Academiade Coimbra e

é sob este princípio que devemguiar as decisões editoriais.

3. ACABRA e ACABRA.NETorientam o seu conteúdo por crité-rios de rigor,

criatividade e independência po-lítica, económica, ideológica ou dequalquer outra espécie.

4. ACABRA e ACABRA.NETpraticam um jornalismo que sequer universitário

no sentido amplo do termo –desprovido de preconceitos, cria-tivo, atento, incisivo,

crítico e irreverente.

5. ACABRA e ACABRA.NETpraticam um jornalismo de quali-dade, que foge ao sensacionalismoe reconhece como limite a fronteirada vida privada.

6. ACABRA e ACABRA.NETsão na sua essência constituídospor um conteúdo

informativo, mas possuem es-

paço e abertura para conteúdos nãoinformativos,

que se pautem por critérios dequalidade e criatividade.

7. ACABRA e ACABRA.NETintegram-se na Secção de Jorna-lismo da Associação Académica deCoimbra, perante cuja Direcção sãoresponsáveis; contudo, as decisõeseditoriais d’ ACABRA e d’ ACA-BRA.NET não estão subordinadasaos interesses ou a qualquer posi-ção da Secção de Jornalismo, nemaquele facto interfere com a relação

sempre honesta e transparente queACABRA e ACABRA.NET se ob-rigam a ter perante os seus leitores.

8. A CABRA é um jornal quin-zenal, cuja periodicidade acompa-nha os períodos

de actividade lectiva.

9. ACABRA.NET é um site in-formativo, de actualização diária,cuja actividade

acompanha os períodos de acti-vidade lectiva.

A isenção, imparcialidade e in-tegridade que devem marcar o tra-balho no Jornal Universitário deCoimbra implicam por parte dosseus jornalistas o conhecimento eaceitação de regras de conduta.Assim, o jornalista deve:

1. Recusar cargos e funções in-compatíveis com a sua actividadede jornalista. Neste grupo in-cluem-se ligações à Direcção-Geralda Associação Académica deCoimbra, à Queima das Fitas, aopoder autárquico, bem como a ac-tividade em gabinetes de im-prensa, na área da publicidade edas relações públicas. Deste grupoestão excluídos, por respeito paracom o direito do estudante deCoimbra de participar na gestão daUniversidade de Coimbra, os car-gos em órgãos de gestão das facul-dades e da universidade. Cabe àDirecção do Jornal Universitáriode Coimbra decidir quais os casosem que a actividade jornalística seencontra prejudicada por outrasactividades e agir em conformi-dade.

2. Abdicar do uso de informa-ções obtidas sob a identificação de“jornalista do Jornal Universitáriode Coimbra” (ou similares) em tra-balhos que não sejam realizadosno âmbito do Jornal Universitáriode Coimbra. Além disso, o jorna-lista compromete-se ao sigilo dasinformações obtidas desta forma.Excepções a esta norma poderãoser autorizadas pela Direcção doJornal Universitário de Coimbra.

3. Recorrer apenas a meios le-gais para a obtenção da informa-

ção, sendo norma a identificaçãocomo jornalista do Jornal Univer-sitário de Coimbra. De forma al-guma podem ser usadasinformações obtidas através deconversas informais ou outras si-tuações em que o jornalista não seidentifica como tal e como estandoem exercício de actividade.

4. Abdicar de se envolver emactividades ou tomadas de posiçãopúblicas que comprometam a ima-gem de isenção e independênciado Jornal Universitário de Coim-bra. Contudo, o Jornal Universitá-rio de Coimbra reconhece o direitoinalienável do jornalista universi-tário a assumir-se como cidadão.Assim, nunca um jornalista doJornal Universitário de Coimbraserá impedido de se manifestar emReunião Geral de Alunos ou As-sembleia Magna, desde que nãoesteja nessa altura em exercício dasua actividade jornalística, em cujocaso deverá prescindir do seu di-reito de expressão e voto. De igualforma, nunca será impedido departicipar activamente em qual-quer actividade pública. Cabe à Di-recção do Jornal Universitário deCoimbra decidir quais os casos emque a actividade jornalística se en-contra prejudicada por outras ac-tividades e agir em conformidade.

5. Ter consciência do valor dainformação e das suas eventuaisconsequências, particularmenteno meio académico de Coimbra,no qual o Jornal Universitário deCoimbra é produzido e para o qualproduz. Neste contexto particular-mente sensível, o jornalista deveter especial atenção à proveniên-

cia da informação e à eventual par-cialidade ou interesses da fonte(não descurando o imprescindívelprocesso de cruzamento de fon-tes), bem como garantir umaigualdade de representação emcaso de informações contraditóriasou interesses antagónicos, evi-tando que o Jornal Universitáriode Coimbra se torne meio de co-municação de qualquer institui-ção, grupo ou pessoa. Num meioem que o desenrolar de aconteci-mentos pode afectar, directa ou in-directamente, o JornalUniversitário de Coimbra, o jorna-lista tem também que saber man-ter o distanciamento necessáriopara a produção de uma informa-ção rigorosa.

6. Garantir a originalidade doseu trabalho. O plágio é proibido.Nestes casos, a Direcção do JornalUniversitário de Coimbra deveráagir disciplinarmente e o jornaldeverá retractar-se publicamente.

7. Recusar qualquer tipo de gra-tificação externa pela realização deum trabalho jornalístico. Estão ex-cluídos deste grupo livros, cd’s, bi-lhetes para cinema, espectáculosou outros eventos, bem como qual-quer outro material que venha aser alvo de tratamento crítico oujornalístico; constituem tambémexcepção convites de entidadespara eventos que tenham um ine-gável interesse jornalístico (porexemplo, convites da Direcção-Geral da Associação Académica deCoimbra para cobertura do FórumAAC). Cabe à Direcção do JornalUniversitário de Coimbra resolverqualquer questão ambígua.

Estatuto Editorial do JornalUniversitário de Coimbra A CABRAe do portal informativo ACABRA.NET

De acordo com o Artigo 17º, alínea 3, da Lei de Imprensa, qualquer publicação deve divulgar,anualmente, o seu estatuto editorial

Princípios e normas de condutaPUBLICIDADE

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ARTES FEITAS18 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

abem como se costumadizer: bom filho à casatorna. Neste caso, bons fi-lhos. Depois do memorá-

vel “No Country for Old Men”, osirmãos Coen regressam emgrande forma ao delicioso e cruelhumor negro que os celebrizou. Aúltima vez que vimos os Coen atentar fazer algo do género foi em2004 com o insípido e desapon-tante remake de “The LadyKil-lers”, que levou a comunidadecinéfila a perguntar se os bons ir-mãos não teriam perdido o jeitopara estas coisas. Felizmente, poragora, não parece haver razõespara duvidar. “Burn After Rea-ding” é cruel (ou se não, vejamoso que o destino reservou ao maispacífico e simpático dos persona-gens), é selvagem e moralmentepouco aceitável, mas… bolas, jánão me ria no cinema assim hámuito muito tempo. Pode-se dizerque, com esta obra, os Coen cria-ram a definitiva ode ao absurdo eà paranóia de uma sociedade com

sede de conspirações. Para issoderam vida a personagens absur-dos e egoístas, atiraram-lhes algoque lhes desse uma oportunidadede viajar a um universo desco-nhecido, onde pudessem dar al-guma emoção e condimento auma existência invariavelmentemonótona (as informações secre-tas actuam como típico MacGuf-fin que vai, invariavelmente,perdendo importância ao longodo filme) e sentaram-se a ver odestrutivo e inevitável desfecho.Mestres do mise en scéne e da en-cenação, os irmãos Coen revela-ram mais uma vez o seu olhoclínico para a comédia. Fazer rirnão tem nenhum pré-requisitomultimilionário. Não são precisosefeitos especiais nem orçamentosastronómicos e os Coen sabem-nomelhor que ninguém. Um silênciono tempo certo, uma simples ex-pressão de olhar, uma situaçãoinesperada, ou, até mesmo, umretrato do Vladimir Putin no sítiocerto, é suficiente para distinguir

uma obra vencedora de um filmeque sai directamente para DVD.Se for verdade que Deus está nospormenores, então os Coen têmlugar assegurado na galeria de di-vindades de uma qualquer reli-gião politeísta. «Mas e a violênciadesconcertante?», estarão nestemomento a perguntar os leitoresfamiliarizados com a obra destesdois senhores. Não se preocupemque ela continua lá. Gratuita einesperada como nos tempos de“Fargo “ e “Raising Arizona” ecapaz de subverter as estratégiasnarrativas e práticas cinemato-gráficas mais comuns. No entantoé curioso ver como “Burn AfterReading” tem muito mais de “NoCountry for Old Men” do que seriade esperar. Com medo de revelarmais do que devia, só quero cha-mar a vossa atenção para o diá-logo final (com o brilhante J.K.Simmons a assumir o papel de uminesperado Tommy Lee Jones) epara o que o guião reservou aBrad Pitt.

Destruir Depoisde Ler ”

CIN

EM

A

Depois dos Óscaresos Coen voltaram para nosfazer rir… e chorar por mais

CRÍTICA DE FRANÇOIS FERNANDES

DE

JOEL E ETHAN COEN

COM

GEORGE CLONNEY

BRAD PITT

JOHN MALKOVICH

2008

DE

BEN STILLER

COM

BEN STILLER

ROBERT DOWNEY JR.JACK BLACK

2008

ropic Thunder” é a novacomédia de Ben Stillersobre a produção dumépico de guerra, onde o

elenco é abandonado em plenoLaos para filmar o filme em es-tilo cinema verité. Stiller é o “ac-tion hero” à antiga, umSchwarzenneger tornado fa-moso pela sua saga de “block-busters” apocalípticos,“Scorcher” (que já vai no 6ºfilme… e 6º apocalipse). DowneyJr. é o actor de método que jáganhou 5 óscares, e que, para oseu papel no filme, faz uma plás-tica para mudar a sua cor de pelee assim assumir em pleno opapel de sargento negro. Jack-son é o estereótipo dos rappersafro-americanos que querem seractores, conhecido pela sua

linha de marketing que vende abebida “booty sweat”. SobraBlack, numa caricatura simplistade um Eddie Murphy branco,Coogan enquanto realizadorinexperiente, Nolte, o veteranode guerra desiludido e o precioso“cameo” de Tom Cruise en-quanto produtor. Ora, se cadauma destas personagens acabapor ajudar a formar uma sátirabem sucedida a Hollywood, averdade é que Stiller nunca assabe aproveitar, preferindo usá-las enquanto meros veículos degags brejeiros, escandalosa-mente escatológicos e sobre-tudo, de profundo mau gosto(para já nem falar de todas as re-ferências previsíveis aos clássi-cos de Vietname, como“Platoon” e “Apocalypse Now”).

No entanto, com um elenco des-tes, algo havia de funcionar, e defacto, Downey Jr. tem aqui umpapel que quase salva o filme,cheio de toques subtis, um per-feito sentido de timing cómico ealguns diálogos memoráveis.Tom Cruise é o outro factor deredenção, participando, num re-gisto único e sem precedentes,nas únicas cenas verdadeira-mente hilariantes do filme (é verpara crer). O resto é um miasmadoloroso de sketches que pare-cem ter sido editados do “Satur-day Night Live”, repletos depiadinhas de adolescente e in-terpretações sofríveis. Na erapós Judd Apatow sabe a pouco…a muito pouco.

Um relampagozinhotropical

Tempestade Tropical ”

RUI CRAVEIRINHA

“ S

T“

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ARTES FEITAS7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 19

s sigur rós já nãoandam tão tristes.Ou pelos menos,assim nos é dado

pensar, depois de ouvirmoso seu último disco “með suðí eyrum við spilum enda-laust” (em inglês, “With abuzz in our ears we play en-dlessly”), editado no Verãopassado. Nas duas cançõesque introduzem o álbum, ébem notória esta vontadeda banda islandesa em ar-riscar por terrenos maispop e musicalmente maisalegres e festivos. Há mo-tivo para alarme? Não, es-peremos que não. Nada sealterou significativamentena sua forma de fazer mú-sica. Está lá a atmosfera vi-brante e enérgica, nascanções “gobbledigook ouvið spilum endalaust”. Estálá também a atmosfera me-lancólica, instrospectiva esolitária dos belíssimos (e

melhores!) discos do grupo, “ágætis byrjun e ( )”, agoravisível em temas como “ára bátur” e “straumnes”. Háainda uma canção que, sem dúvida alguma, se destacaem todo o álbum. Chama-se festival e dura uns preciososquase dez minutos.A fórmula, definitivamente, não mudou. Os sigur róscontinuam a provocar emoções em quem os ouve. As pa-lavras cantadas continuam intraduzíveis e intensas. Aregistar, há apenas algumas particularidades. “með suðeyrum við spilum endalaust” é o único longa-duração dabanda a não ser gravado inteiramente na Islândia. O pro-dutor é Flood, que já trabalhou com nomes como osSmashing Pumpkins e os Nine Inch Nails. E, pela pri-meira vez na história dos sigur rós, há uma música, a úl-tima do álbum, cantada em inglês. Esta constitui, talvez,a grande mudança no seu percurso musical, por con-trastar com o “hopelandish” – espécie de dialecto in-ventado pelos próprios – e com o islandês a que semprenos habituaram desde que saiu Von, disco de estreia dogrupo.Já não há surpresa, é verdade, mas as suas canções con-tinuam a encantar-nos e eles aí estão para o confirmar jáno próximo mês de Novembro, em Lisboa.

a Luanda do pós-guerra, FélixVentura, negro albino, ganhaa vida reinventando passadose genealogias para os novos-

ricos da sociedade angolana. Pela casado "homem sem cor" passeiam os quedesgovernam o país, governando-se,homens de futuro e fortuna assegura-dos que querem garantir um passadode raízes com a força da História e daverosimilhança.Eulálio é a única companhia de Félix.Partilham o medo do sol e os segredosda casa onde se desenrola toda a nar-rativa. Eulálio desmonta a cadênciados dias sempre iguais, sempre quen-tes e sempre húmidos. Eulálio é umaosga. Mas quando a casa dorme, Eulá-lio e Félix sonham-se. Nos encontrosoníricos, a osga recupera a sua formahumana, recorda a vida em forma degente e conversa com o vendedor depassados.Uma noite, a rotina é interrompidapela chegada de José Buchmann, fotó-grafo de guerra, retratista de morte esombras, da ausência de cor, que pro-cura memórias para fazer suas. Nacasa onde se pressentem as "almas ve-lhas de escritores", Félix e Eulálio as-sistem ao transfigurar de Buchmann,que se deixa possuir pela vida inven-tada e se recria, assumindo como iden-tidade inata a que comprou.

Ao mesmo tempo, Ângela Lúcia atra-vessa a existência solitária de Félix.Nos antípodas da presença de Buch-mann, Ângela procura nas nuvens e noarco-íris a luz perfeita para capturarnos seus retratos. A languidez e os sus-surros da presença feminina alteramos hábitos da casa. A osga suspeita doacaso. O encontro de duas existênciastão diferentes, mas tão iguais, nãopode ser coincidência. Desconhecer asrazões não é acaso, é ignorância.Entra em cena uma nova personagem,essencial para o deslinde da trama. Ed-mundo Barata dos Reis, vadio profis-sional e ex-gente, como o próprio seresume, traz para a história os passa-dos autênticos das personagens, for-çando-as a um confronto com asmemórias que lhes altera irremedia-velmente o futuro.Entre o sonho e a realidade, as recor-dações verídicas e as recordações quese desejam como fiéis, “O Vendedor depassados” é uma reflexão da impor-tância da memória no que somos e nopercurso que fazemos. Agualusa criaum enredo onde, entre a verdade e amentira, a ficção e o real, as figuras sereinventam por vontade própria oupelo decorrer dos acontecimentos. Oresultado é uma história onde as per-sonagens e os seus alter-egos imagina-dos se confundem magistralmente.

eve o Cinema assumir umaposição política declarada?Defender uma determinadaideologia, por ela pugnar e

procurar a adesão dos seus especta-dores à mensagem que pretendetransmitir? Se a ideologia que pro-fessa se revelar errada ou acabar dolado errado da História, como serãorecordados os filmes que a defende-ram? Questões que podem ser apli-cadas num contexto de apresentaçãode Leni Riefenstahl, actriz e realiza-dora alemã famosa (ou infame) pelostrabalhos que produziu sob enco-menda do Partido Nazi, e escolhidaa dedo pelo próprio Hitler para osconcretizar.Depois da II Guerra Mundial, Rie-fenstahl repetiu até à exaustão o seuafastamento da ideologia Nazi, comoo trabalho feito para o III Reich eraisso apenas, trabalho. No entanto, aoobservar o engajamento da câmaracolocado ao serviço da mensagem apassar (Um Povo, Uma Alemanha,Um Líder), torna-se difícil aceitar talalegação. Ainda mais quando sabe-mos que, para filmar tanto o Con-gresso do Partido em Nurembergacomo para filmar as Olímpiadas de1936, Riefenstahl pediu e teve recur-

sos pouco utilizados na altura. Ape-sar de se tratarem de obras destina-das a propagandear um dos regimesmais brutais da História, é inevitáveladmirar o prodigío técnico de ambosos filmes, sendo ainda hoje analisa-dos como exemplos de inovação nadécada de trinta e cuja influência sesente ainda no uso de ângulos e pla-nos das actuais transmissões olímpi-cas.Como deve então o espectador reagirao ver “O Triunfo da Vontade” ou“Olympia”? São inegáveis os atribu-tos técnicos que Riefenstahl utilizacom grande à vontade, mas é tam-bém inegável a sensação de descon-forto ao ver a celebração deNuremberga, conhecendo a Históriae sabendo quais os caminhos trilha-dos por aquelas personagens.Edição dupla da espanhola CameoMedia, com comentários áudio (emcastelhano) como único extra alémda ficha técnica. Apesar das legendaspara a banda sonora dos filmes, afaixa de comentário não teve talsorte. Também há a destacar a fracaqualidade da banda-imagem, frutoda relação tensa que a Humanidadetem com estas obras, estando mesmobanidas em diversos países.

OUVIR

DE

LENI RIEFENSTAHL

2007

DE

JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

EDITORA

BOOKET - PUBLICAÇÕES

DOM QUIXOTE

EDIÇÃO 2007

DE

SIGUR RÓS

EDITORA

BEGGARS XL

2008

með suð í eyrum við spilum endalaust ”

O

INÊS RODRIGUES

Artigos disponíveis na:

FILME

EXTRAS

N

D

O Vendedor de passados ”

FERNANDO OLIVEIRA

SOFIA PIÇARRA

Leni Riefenstahl - O Tirunfo da Vontade; Olympia ”

Inventam-sememórias

E eles levitampara fora daIslândia…

LER

VER

O Cinema e aPolítica

Page 20: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 186

m Outubro de 1996,são aprovados os novosestatutos da AssociaçãoAcadémica de Coim-

bra, 14 anos depois da última revi-são. A CABRA noticiou, na sua 26ªedição, “a extraordinária revisão”,como lhe chamou.

Desfasados da realidade acadé-mica de então, os estatutos da AACnecessitavam, na opinião da maio-

ria, de uma revisão, que surge fi-nalmente depois de “um intenso ecomplicado processo no qual esti-veram envolvidas centenas de pes-soas, mas a que a generalidade dossócios se manteve alheia”.

No inicio da década de 90, sur-giram as primeiras propostas derevisão aos estatutos de 1982. De-pois de um polémico referendoque revelava as fragilidades do an-tigo texto, surge a Assembleia deRevisão dos Estatutos, que teveuma influência decisiva na altera-ção que se deu. Dotados de ummolde rígido e pensado para umaassociação com um número menorde sócios e uma estrutura menoscomplexa, os antigos estatutosforam assim sujeitos a uma revisãoprofunda, onde novidades não fal-taram.

Depois de três anos de trabalho,

em Julho de 1996 entram em vigoros novos estatutos da AAC. “ O quehá de novo?” perguntava o artigodo jornal em um dos dois artigosque dedicou ao tema. Com uma es-trutura semelhante ao texto ante-rior, os novos estatutos possuíamum novo princípio base: o princí-pio da promoção dos Direitos doHomem, o que proibía a AAC dereceber financiamentos de entida-des que contrariassem os princí-pios da Declaração Universal dosDireitos do Homem.

Introduzindo uma nova catego-ria de sócios – a de sócios extraor-dinários, os estatutos nãoalteraram os órgãos da AAC, mo-dificando apenas algumas das suascompetências e o seu funciona-mento. Tal aconteceu não apenascom o Conselho Fiscal, mas tam-bém com as “Secções Associati-

vas”.Um dos artigos que A

CABRA qualifica como “omais importante” é o queprescreve a responsabili-dade das direcções de sec-ção. A maior inovaçãodeste texto estatutário de1996 é a institucionaliza-ção dos Núcleos e aindados Conselhos Cultural eDesportivo.

As restantes e mais im-portantes alterações rela-cionam-se com a data daseleições, que é fixada emNovembro, com o au-mento dos elementos daDirecção-Geral da AAC ecom as regras que passariam a re-gular a Assembleia Magna. Sur-gindo numa altura em que a AACse preparava para comemorar o

seu 109º aniversário, os novos es-tatutos marcaram um período derenovação da academia.

Marta Pedro

A CABRA sai do arquivo...

18ºANIVERSÁRIO

EXTRAORDINÁRIA

REVISÃO ”

22 DE OUTUBRO DE 1996 • EDIÇÃO N.º 26 • 100$00

E

JOÃO NETO • JUDOCA • 9º CLASSIFICADO NOS JOGOS OLÍMPICOS PEQUIM 2008

SOLTAS20 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

Entrevista por Catarina Domingos

Melão

VIDA

ACADÉMICA

“Lembro-me do ano de caloiro.Lembro-me que na primeira Latadaia ter um Campeonato da Europadali a dez dias e quase nem podiabeber água. Foi uma Latada muitotriste. Fui praxado quanto baste. Apraxe serviu para me integrar. Dei-me logo bem com o meu padrinho.Eu dizia que tinha de ir para otreino e eles diziam para eu ir. Lem-bro-me de algumas oportunidadesem que não tinha competições epodia ir a algumas serenatas.Houve um ano em que pude vir àQueima das Fitas mais tempo, por-que não tinha Campeonato doMundo. Por acaso calhou no anoem que eu fui no carro. Lembro-me da viagem de finalistas que eutambém fiz. Ultimamente já não fazsentido eu andar na vida acadé-mica, porque não vou à faculdade enão tenho lá amigos. Já não trajo.Acho que não perdi nada da vidaacadémica, porque acho que o queos estudantes fazem é um exageroautêntico. Ganhei mais em saúde.Tive outras coisas que um estu-dante pode não ter, porque pratica-mente dorme um dia inteiro, comovisitar outros países. Não trocavaisso por nada”.

ALMOÇO SOCIAL

Lombo assado

JUDO

PORTUGUÊS

“As pessoas que estão de foraficam iludidas. Temos alguns atle-tas no topo e que dão visibilidade àmodalidade. Parece que está tudobem, mas a base está mal ou cadavez pior. Há cada vez menos gentecom um bom nível na selecção na-cional. Nós não temos suplentes,para nos substituírem em caso delesão ou em caso de abandono. Seeu deixar, se o João Pina deixar, sea Telma Monteiro deixar, não háninguém, neste momento, comnível para se qualificar para osjogos, nessas categorias. Temos demelhorar o nosso desporto escolar.Aliás, tem de haver desporto esco-lar, porque aquilo que há é umabrincadeira. O desporto universitá-rio também tem de mudar. Não é sóter secções na Associação Acadé-mica e praticar desporto. Acho queas próprias faculdades deviam terequipas. O desporto não está inse-rido no ensino como acontece nou-tros países. O desporto devia seruma pirâmide com uma basegrande, mas, em Portugal, temosuma pirâmide invertida, não temosbase”.

Sopa de Feijão

JOGOS

OLÍMPICOS

“Acho que os resultados forammuito bons, dada a dimensão quePortugal tem. Nuns Jogos Olímpi-cos é extremamente positivo fica-rem quatro judocas nos dezprimeiros. Não vou abandonarcompletamente o judo. Com a idadeque tenho posso continuar a com-petir. Mas não me estou a ver afazer a vida que fiz nos últimos doisanos, com estágios, competiçõestodos os fins-de-semana. Só faziajudo, não fazia mais nada. Estoupraticamente há dois anos sem es-tudar. Vou acabar o curso, traba-lhar em Farmácia e ter uma vidapessoal normal. Daqui a dois outrês anos, se eu me sentir com forçapara me classificar para os JogosOlímpicos de 2012, não digo quenão. Não posso concordar com aspalavras da Vanessa. Qualquer pes-soa que vai aos Jogos vai lá dar oseu melhor e não para se deixarperder. Não acho que os atletas vãolá e se deixem perder. Quanto às de-clarações de alguns atletas, houveum exagero. No caso do Marco For-tes, ele quis dizer que naquele dianem devia ter saído da cama, ironi-zou a prestação dele e só isso. O co-mandante Vicente Moura estevemal. Parece que teve vergonha dosatletas quando estes não lhe davamas medalhas que ele ambicionava.No final, quando as coisas começa-ram a melhorar, ele já se recandi-datava. Devia ter tomado umaatitude no fim dos Jogos e não ameio”.

VANESSA QUITÉRIO

Page 21: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 186

ALEMANHA Umhomem de 39 anos foicondenado a três deprisão por alugar osserviços sexuais da suaesposa ao vizinho. Emtroca, o vizinho, de 60anos, deveria cederuma grade de cervejaspor dia. A mulher, quetemeu pela sua vida,acabou por denunciaro acordo à polícia e ocondenado deveráagora submeter-se areabilitação.

INDIA A luz faltounum templo hindu en-quanto estava a ser ce-lebrado um casamento

no qual participavam 40 ca-sais. Precisamente quando osnoivos colocavam os colaressagrados nas suas respectivas,o local ficou às escuras e várioscasais trocaram as noivas. Oerro foi descoberto e improvi-sada uma reza “correctora” quepermitiu aos noivos colocar oscolares no pescoço do parcerto.

BRASIL Um homem foipreso por alegadamente terfeito sexo com cerca de 400…vacas. Durante quatro anos o“chupa-vacas” , como foi apeli-dado pela população, causouelevados prejuízos aos fazen-deiros. Manteve relações se-xuais com éguas e cavalos.Porém, admitiu que as vacasleiteiras eram o seu animal deeleição.

Adelaide Batista

lá começou o novo anolectivo. Voltaram ascapas negras, os cânticos

de gosto duvidoso, os convívios, asruas cheias de vómito e as filas. Éverdade. Não se espantem. As filas

pertencem tanto à Universidade deCoimbra como o rasganço ou aQueima das Fitas. Ora, senão veja-mos: há umas semanas chegaramos caloiros. Cheios de sonhos e es-peranças de perderem finalmente avirgindade, e o que é que lhesfazem? Colocam-nos no Pateo dasEscolas a fazer fila para entrarnuma tenda. Horas e horas. O sol aapertar, o cérebro a esturrar e o raioda tenda que nunca mais se apro-xima (sim, porque por aquela alturao cérebro está tão queimado que jánão somos nós que nos mexemos.É a tenda. Com os seus olhos emforma de ar condicionado… que nosvigiam… a cada passo…). Não im-porta que já se tenham inventadoas senhas. A partir de certo pontoduas pessoas alinham-se e estátudo lixado. É só ver a fila a formar-se. Parece que estamos a jogar oSnake. Se as pontas se tocam esta-mos tramados. Claro que nessa al-tura os caloiros devem estar apensar “Que se lixe. Também é sóeste ano”. Coitadinhos. Nem sabemo que lhes espera… Cá para mim asfilas da UC fazem parte de umplano curricular oculto para nospreparar para a vida. Afinal de con-tas as filas vão-nos acompanharpara o resto das nossas existências:nos supermercados, nas casas debanho, no centro de emprego. Fe-lizmente que a ciência se pôs a tra-balhar para nos facilitar a vida e nostrouxe a invenção mais importantedesde aquela coisa que faz buracosnegros: estou a falar, claro, das fitaslabirínticas que conseguem encai-

xar 3 mil pessoas num espaço de 10metros quadrados. Um pouco comoo Bar da AAC numa terça-feira àstrês da manhã. Para mim, o pior deuma fila nem é a espera. O piormesmo é ser o último. Ser o últimode uma fila deixa-me inquieto. Sen-tes-te o idiota do grupo. Todos en-traram antes de ti. Até que cheguemais alguém fico inquieto. Agoraquando chega, aí sim, olho para elecom superioridade, “pois é meuamigo. Deixas tudo para a últimada hora”. Outro dos grandes pro-blemas das filas são as emergên-cias. O que fazemos quandoestamos há quatro horas na filapara conseguir bilhetes para oPorto-Sporting e nos lembramosque é sexta-feira e ainda não regis-támos o Euro-Milhões? Normal-mente deixamos lá a namorada,mas e se estivermos sozinhos? Umdia, numas bilheteiras do cinema,estive 10 minutos a fazer fila atrásde uma garrafa de água. O gajo queestava à minha frente perguntou-me se podia deixar a garrafa a guar-dar o lugar. Ele nunca mais vinha elá estava eu, a agarrar na garrafa ea colocá-la um pouco mais à frente.No final acabei por comprar um bi-lhete para mim e para a garrafa.Fomos ver o “Mamma Mia!” Masacho que ela não gostou muito.

P.S. Consegui escrever uma cró-nica sobre filas sem referir num sómomento a palavra “bicha”. Achoque mereço uma recompensa.Não?

Licenciado Arsénio Coelho

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COM PERSONALIDADE

Sou de Santos, uma cidade do litoral brasileiro no estado de São Paulo... mas torço pelo Palmeiras Futebol Clube! Comecei a tocar piano com seis anos. Fiz o curso técnico para profes-sor de piano no Conservatório; na Universidade Católica de Santos estudei Direito e também comecei a trabalhar com música coral. Num coro, conheci um director musical que mistu-rava técnicas de música com técnica de Teatro. A minha ligação ao teatro começa nessa altura, dirigindo coros encenados e fazendo direcçõesmusicais para espectáculos teatrais. Posso considerar-me actor desde há 10 anos, quando fiz o curso de palhaço com uma grande professora e actriz, Beth Dorgan. Antesdisso, era um músico que trabalhava com o Teatro. Poderá achar estranho alguém estudar Direito e Teatro e estar apaixonado pelas duas áreas... Mas as duas falam de pessoas e das suasvidas e é nesse espírito que vejo o meu trabalho teatral. O importante são as pessoas e as suas ânsias de cidadãos.

Há anos atrás pude reviver o meu curso através de uma peça de teatro escrita por um advogado criminalista sobre o uso do Direito. Chamava-se “Nada mais foi dito nem perguntado”.Há 12 anos, juntei-me a um grupo de pessoas e resolvemos fazer um espectáculo chamado “Verás que tudo é mentira” e, a partir desse espectáculo, nasce o Folias d’Arte. Vive-se umacrença no actor completo que faz desde criação de figurinos, maquilhagem até direcção teatral: é a ideia do actor que cuida de tudo, em que não existe alguém que está acimados restantes, em que todos sabem os pormenores e os detalhes do espectáculo que estão a produzir.

Mantenho a ideia de que não há um artista a trabalhar num espectáculo, mas sim um artista dentro de um grupo a trabalhar para um espectáculo. O grupo é como uma fa-mília no sentido de união, de trabalho e cooperação. É a família enquanto conceito, enquanto espaço libertador que permite experimentar. Para a experiência doteatro sinto que é preciso esse espaço. E essa liberdade de experiência que sinto no Brasil também a tenho aqui em Portugal. Estou em Portugal pela terceira vez, vim sem-pre com projectos teatrais, primeiro com o espectáculo “Otelo” e depois com “Oresteia”. Agora vim para encenar o “Cabaré da Santa” com O Teatrão.

Devo dizer que gosto muito de Portugal, vejo história espalhada por todo o país, nas casas, nos castelos, nas igrejas, nas pessoas.Estar aqui também me faz pensar o meu modo de vida. Vivo em São Paulo, são 20 milhões de pessoas, é um ritmo de vida muito diferente do que se vive aqui. Lá eu faço 563 coisas aomesmo tempo, aqui eu só tenho este projecto. Também vejo que as pessoas aqui se queixam de falta de segurança, mas em São Paulo eu não posso passar na rua semir olhando por cima do ombro, aqui passeio de madrugada sem esse medo.

UM HOMEM DE LEIS E PALCOS

Entrevista por Tiago Canoso

DAGOBERTO FELIZ • 47 ANOS • ACTOR E ENCENADOR

TEM DIAS...

A MINHA FILA É MAIOR QUE A TUA

E

SOLTAS7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 21

DANIELA CARDOSO

CLÁUDIA TEIXEIRA

Page 22: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 186

OPINIÃO22 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira

No início do ano lectivo, importa,mais uma vez, lançar o aviso. Empleno século XXI, num país daUnião Europeia, existem ainda ci-dadãos e cidadãs que continuam ater MEDO quando dão entrada –pasme-se – numa Universidade ouPolitécnico. Basta passear durantedez minutos pelas ruas de Coimbra,ou outra qualquer cidade, para nosdepararmos com quadros indica-dores de civilização tais como: alu-nas de 17 anos que cantam cançõesobscenas sobre elas mesmas, cora-das até às orelhas, sob o olhar degozo de colegas quatro ou cincoanos mais velhos, ou alunos querastejam no chão imundo sob osgritos coléricos dos “generais denegro” (isto para não falar nos fa-mosos rituais de cariz medievalcomo “levar nas unhas” ou “ser ra-pado”). E se é verdade que nemtodas as praxes são desta natureza,também é verdade que são estas (eoutras muito mais repugnantes) ashistórias reais que chegam aos ou-vidos de muitos alunos finalistas dosecundário que anseiam e tememao mesmo tempo o dia em que setornarão universitários.

A praxe (e entenda-se por praxehumilhação disfarçada de processode integração praticada no início decada ano) é, por princípio, umaprática irracional que não deveriaser admitida. Em dois argumentosprovo isso:

1-Na praxe, manda mais quemtem menos sucesso. É a altura emque aqueles que demoram sete,oito, dez anos para concluírem umalicenciatura de quatro (obviamenteque daqui se excluem os trabalha-dores estudantes, ou aqueles quedemoram a acabar por motivos deforça maior) têm oportunidade dedescarregar as suas frustrações emostrarem ao mundo que afinalainda têm alguma credibilidade.Pelo menos uma vez no ano todosos respeitam.

2- A praxe não integra nem élivre. Primeiro, a maior parte dos“doutores” que praxam, após apraxe desaparecem da vida dos es-tudantes do primeiro ano, o que de-monstra que apenas se queremdivertir às suas custas e não inte-grá-los. Depois, há quem diga queos “caloiros” podem sempre esco-lher ser anti-praxe. Escolha livre?Poderia parecer mas não é. Caso o“caloiro” escolha esse caminho vêmos “ses”. “Se queres ser anti-praxe,

não trajarás, não participarás nocortejo da Queima das Fitas, nãoirás a jantares de curso, poderásmesmo não arranjar amigos”. Ar-gumentos fortes para quem vemcom 17 ou 18 anos para uma cidadeestranha onde não conhece nin-guém… O mundo é a preto e brancopara os “constitucionalistas dapraxe”. Ninguém pode gostar docortejo da queima sem se sujeitar àpraxe, ninguém pode trajar se nãosouber humilhar colegas que an-seiam integração. Belos exemplosdo pensamento crítico e evoluídodos universitários.

Há alguns anos que sou anti-praxe, desde essa altura que pro-fesso essa opinião. No entanto,sempre usei traje (paguei-o caro,não admito que ninguém me im-peça de o usar) e participei nos con-vívios onde se cultiva a amizade.Tomei parte do espírito académico,senti a tradição de Coimbra e paraisso nunca foi preciso humilhar ouassustar ninguém. Fui a jantares decurso, fui no “carro” do cortejo e fizmuitos e bons amigos. Arrependo-me de ter sido praxado, hoje teriasido diferente. Ah, e que não meameaçassem que ia a “conselho deveteranos” ou “tribunais de praxe”,essas assustadoras instâncias dajustiça que fariam o próprio Mu-gabe tremer de pavor. Os universi-tários são crescidos de mais parabrincar à Justiça! Acusar X ou Y éuma prática comum entre os alu-nos da Escola Primária onde douaulas.

Aos colegas do primeiro anodeixo um apelo: Desobedeçam!Não permitam que os humilhem!Estamos num país livre. Ninguémvai ficar sem amigos, ninguém vosimpedirá de participar em festas ouvestir o traje estudantil de Coimbra(que vos vai ficar tão caro). Revol-tem-se! Estarão a escrever uma daspáginas mais belas da História davossa Universidade, estarão a darum passo em frente, em direcção àliberdade de escolha e no combateà humilhação que alguns tentamimpor. Os vossos futuros colegasrelembrar-vos-ão e agradecer-vos-ão. E se houver abusos, não se es-queçam que existe a polícia, e queo Código Civil é o único que têm decumprir.

*Estudante de Mestrado da Fa-culdade de Letras da Universidadede Coimbra

Cartas ao directorpodem ser

enviadas para

[email protected]

APELO À DESOBEDIÊNCIA

Daniel Salvador Joana *

Entenda-se por praxehumilhação disfarçadade processo deintegração praticadano início de cada ano

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ANA COELHO

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OPINIÃO7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 23

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editora-Executiva Multimédia: Vanessa Quitério Editores: DanielaCardoso (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade),Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação PedroCrisóstomo Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Ana Raquel Melo, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, InêsAlmeida, João Picanço, João Ribeiro, Liliana Figueira, Patrícia Gonçalves, Salvador Cerqueira, Sofia Piçarra, Soraia Manuel Ramos Fo-tografia Ana Coelho, Cláudia Teixeira, Diana Craveiro, Fábio Teixeira, Gonçalo Carvalho, Hugo Meneses, João Miranda, Pedro Crisós-tomo Ilustração Marcos Moura, Rafael Antunes Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Cláudia Morais, DárioRibeiro, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Birrento Almeida, Milene Santos, Pedro Nunes, Rafael Fernandes, Rui Craveir-inha Colaboraram nesta edição Ana Margarida Gomes, Ana Rita Ribeiro, André Ferreira, Daniela Fernandes, Francisca Saldanha,Inês Almas Rodrigues, Ivo Borges, Lino Ramos, Maria Eduarda Eloy, Pedro Monteiro, Sara Ferreira, Tiago Canoso, Tiago Carvalho,Vanessa Soares Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.;Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da AssociaçãoAcadémica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra,Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

EDITORIAL

Para um mero estudante do se-cundário, o ensino superior é osonho de toda uma vida, é o cul-minar do nosso árduo caminho dedoze anos e o início de um novociclo. Mas nem tudo, até à nossaentrada para o ensino superior, éassim tão colorido. Existem mui-tos obstáculos e os maiores detodos são os “belos” Exames Na-cionais, que nos avaliam em duassimples horas, em que estamos fe-chados numa sala, e onde despe-jamos toda a matéria que demosao longo, não de três, mas de dozeanos, deixando de fazer sentidotoda a história da avaliação contí-nua. Exame este que pode serainda mais complicado se olhar-mos para as deficientes condiçõesde algumas escolas, tanto mate-riais como humanas. Grandeparte das escolas portuguesas têmpoucas ou nenhumas condiçõespara a preparação dos estudantespara o Exame Nacional, ou porfalta de materiais, ou até porquemuitos desses estudantes, princi-palmente do agrupamento deArtes, não tem rendimentos sufi-cientes para os adquirir, e o apoiodo Estado às escolas é cada vezmenor, passando agora a ser res-ponsabilidade das autarquias asvárias escolas, afastando assim, oEstado de problemas graves, queagora, já não lhe podem ser atri-buídos. Mas após este exame, quepode ser bom para alguns e maupara outros, passamos por umafase difícil, a das candidaturas.

Quantos são os estudantesque não entram para o ensino su-perior público porque as médiaspara o seu curso são demasiadoaltas? É bem verdade que temosde exigir competência e resulta-dos, mas é com uma nota deexame que sabem se vamos ounão bem preparados para fre-quentar a faculdade? Não acho amelhor maneira de ajudar os jo-vens a cumprir os seus sonhos,sendo depois, empurrados para omercado de trabalho para seremexplorados como mão-de-obrabarata.

Depois da entrada no ensinosuperior público, chegam mais

despesas, como as propinas, quese viram aumentadas devido aodesinvestimento do Estado e aoProcesso de Bolonha, um meio deagravar a elitização da educação ede abrir portas à sua privatizaçãoe mercantilização. O Processo deBolonha diminui a qualidade daslicenciaturas e agrava as despesasdos alunos que pretendem umaformação que lhes permita acederao mercado de trabalho. A divisãodas licenciaturas em dois ciclos,assim como a redução do seu nú-mero de anos tem o objectivo dereduzir a comparticipação do Es-tado com a educação e fazer o es-tudante pagar para ter a suaformação, num valor ainda maisalto de propinas no segundo cicloa preço de “mestrado”. Não es-quecendo ainda os milhares de jo-vens que são colocados a centenasde quilómetros de casa e têm quese sustentar de alguma forma, en-trando no mercado de trabalho aomesmo tempo que tiram o seucurso, porque, de certo modo, oEstado e as próprias universida-des não têm disponibilidade fi-nanceira para ajudar osestudantes através de bolsas deestudo, porque não são apenas aspropinas que custam dinheiro,uma vez que no ensino superiornão existem manuais próprios dadisciplina, mas sim, materiais deapoio como as fotocópias, outroslivros que estão à venda no mer-cado por preços exorbitantes eque muitos destes estudantes nãotêm possibilidade de os adquirir.Outra das perspectivas que nós,alunos do ensino secundário,temos é que no ensino superior aAcção Social Escolar, com a im-plementação do Processo de Bo-lonha, em 2005, passou a serpraticamente inexistente.

Para terminar, a DelegaçãoNacional de Associações de Estu-dantes do Ensino Secundário de-seja um Ensino Superior Público,mais justo, menos desigual, erealmente público e gratuito.

* membro da Delegação Na-cional de Associações de Estu-dantes do Ensino Secundário

começou mais umano, “caloiros” e “dou-tores” encetam cânti-cos pela Alta da

cidade, as filas das matrículasparecem nunca ter fim, a pro-cura de casa torna-se numa tor-tura... Contudo, num outroplano, o início de mais um anotrouxe também consigo a de-monstração prática das opçõesdo executivo governamentalpara o ensino superior. As con-sequências da aplicação do Pro-cesso de Bolonha são cada vezmais patentes. As turmas mani-festamente grandes provocam asobrelotação das salas de aula ea impossibilidade da realizaçãoda avaliação contínua. A divisão

das licenciaturas em dois ciclosacarretou a diminuição da qua-lidade pedagógica e já se conhe-cem os valores das propinas demestrado.

Também a implementação doRegime Jurídico das Institui-ções de Ensino Superior começaa surtir os primeiros efeitos. Aremodelação dos órgãos de ges-tão veio reduzir substancial-mente a participação dosestudantes nas decisões da vidada Universidade de Coimbra(UC). A par disto, só no início doano, as propinas conheceramum aumento de 4,8%, o regimede prescrições ameaça expulsarmilhares de alunos da universi-dade e os estágios continuam anão ser a prometida porta parao mercado de trabalho.

Face a todas estas questões,seria natural que os estudantesse insurgissem contra as políti-cas adoptadas para o ensino su-perior. Porém, a realidade écompletamente diferente. As-sistimos hoje a uma Academia

completamente alheada da po-lítica do ensino superior. Ascampanhas de informação emobilização, por parte da direc-ção da academia, tornaram-seescassas ou completamentenulas. Os jardins da associação,onde noutros tempos se desen-rolaram participadas assem-bleias magnas, são hoje cenáriode guerras de balões de água edemonstrações de fogo-de-artifício. Resultado destas op-ções, não é portanto de admirarque as lutas de rua (salvo rarascolagens a iniciativas da CGTP-IN) se tenham convertido emmiragens no ideário e históriada AAC.

Numa Academia de Causas

seria de esperar que a causamaior fosse os próprios estu-dantes. Seria de esperar que aAcademia soubesse encetaruma resposta organizada atodas estas políticas. Seria deesperar a realização de mais doque as assembleias magnas es-tatutariamente previstas. Se-riam de esperar campanhas deinformação e mobilização sobretodos os problemas que afectamos estudantes do ensino supe-rior e em todas as faculdades.Seriam de esperar iniciativas deluta claras e concretas. Mas emvez disso, os únicos gritos deluta que se ouvem são os da dis-puta entre licenciaturas, no de-curso da praxe.

João Miranda

E

Numa Academia de Causas seria deesperar que a causa maior fosse ospróprios estudantes

É PRECISO DESPERTAR!

O ENSINO SUPERIOR

João Rodrigues *

Page 24: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 186

acabra.netRedacção:Secção de JornalismoAssociação Académica de CoimbraRua Padre António Vieira3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54

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Cartoon :: Por Marcos Moura

Um dólar na mão direita, doisgelados na esquerda. Um rapazescanzelado. Outro nem chegaao balcão. Uma empregadaaborrecida. São estes fracos ele-mentos, empastados de coresquentes e sólidas, que matizamesta foto tirada nas praias“imundas” de New Brighton.Neste pequeno espaço azul-menta, o branco açucarado daluz exterior adocica a atmosfera.Torna-a pegajosa. Rompendo asjanelas, tenta disfarçar a bar-reira física que nos separa dapraia. Na fila desordenada, bra-ços suados acotovelam-se porum gelado enquanto o dólar namão amolece e ameaça rasgar-se. Apenas dois olhares apateta-dos denunciam algo para lá doperceptível por nós. O momentoé a própria substância da foto-grafia, uma evidência do vulgar.Esta banal fotografia de fériasparece, à partida, nada ter a vercom uma foto de James Dean adeambular sozinho, num diachuvoso em pleno Times

Square. E na verdade, não tem.Em rigor, o que as associa é osimples facto de pertencerem aautores da prestigiada agênciaMagnum. Longe dos grandesconflitos e crises internacionais,Martin Parr intitula-se o fotó-grafo do populismo. Não é o tí-pico fotojornalista, talvez nemseja fotojornalista. Nos seus tra-balhos é evidente o estilo críticoe irreverente onde procura criar“ficção da realidade”. O seuhumor envergonha-nos silen-ciosamente pela semelhançacom as nossas vidas. Trans-forma-a num cartoon. Para ele“a atrofia moral das nossas vidassignifica que só podemos encon-trar a salvação adoptando umcerto humor”. É professor de fo-tografia na Universidade deGales desde 2004, mas nem issoacalma a irreverência do seu ta-lento. Actualmente procura apli-car a sua fotografia emcontextos como a publicidade,cinema e moda.

Por Rui Miguel Pereira

Notassobrearte...

New Brighton • Martin Parr

Fotografia • 1985

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Após 26 anos de existência, aequipa da Secção de DesportosNáuticos da Associação Académicade Coimbra sagrou-se, no passadodia 27, pela primeira vez, campeãnacional. A vitória foi uma surpresapara a equipa, que no início daépoca apenas ambicionava o quartolugar no ranking. O colectivo pre-para-se agora para a revalidação dotítulo e o apuramento do Campeo-nato da Europa, em 2010.

Náuticos AAC Secção de Fado Mariano Gago

No último fim-de-semana, reali-zou-se a XVIII edição do FESTUNA,organizada pela Secção de Fado daAAC. O evento contou com várias no-vidades, entre elas, um convívio nosjardins da AAC. O festival teve iníciohá 18 anos quando a Estudantina de-cidiu institucionalizar um encontrode tunas. Desde então já marcarampresença no festival mais de 4000tunos das mais variadas academiasnacionais e internacionais.

Depois de anos de desinvestimentocontínuo por parte do executivo paracom o ensino superior, que se con-cretizou na agudização dos proble-mas estruturais das universidades, oministro veio anunciar um cresci-mento de 7,8% no orçamento globalpara o ensino superior, em 2009.Contudo, não podemos deixar de re-parar que estes valores representamapenas uma pequena restituição doscortes feitos no orçamento de Estado.

J.M.

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