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Ano V N o 18 Ago/Set 2006 Terra Justiça Cidadania Ano V N o 18 Ago/Set 2006 Governo e movimentos sociais Governo e movimentos sociais Governo e movimentos sociais Governo e movimentos sociais Governo e movimentos sociais aprimoram diálogo aprimoram diálogo aprimoram diálogo aprimoram diálogo aprimoram diálogo Pág Pág Pág Pág Pág. 14 . 14 . 14 . 14 . 14 Valter Bianchini fala sobre a importância alter Bianchini fala sobre a importância alter Bianchini fala sobre a importância alter Bianchini fala sobre a importância alter Bianchini fala sobre a importância da Agricultura Familiar da Agricultura Familiar da Agricultura Familiar da Agricultura Familiar da Agricultura Familiar Pág Pág Pág Pág Pág. 03 . 03 . 03 . 03 . 03 Política Política Proseando Proseando Há dez anos morria um homem para quem Há dez anos morria um homem para quem Há dez anos morria um homem para quem Há dez anos morria um homem para quem Há dez anos morria um homem para quem mesmo a pior reforma agrária é capaz de mesmo a pior reforma agrária é capaz de mesmo a pior reforma agrária é capaz de mesmo a pior reforma agrária é capaz de mesmo a pior reforma agrária é capaz de proporcionar casa, comida e trabalho proporcionar casa, comida e trabalho proporcionar casa, comida e trabalho proporcionar casa, comida e trabalho proporcionar casa, comida e trabalho Há dez anos morria um homem para quem Há dez anos morria um homem para quem Há dez anos morria um homem para quem Há dez anos morria um homem para quem Há dez anos morria um homem para quem mesmo a pior reforma agrária é capaz de mesmo a pior reforma agrária é capaz de mesmo a pior reforma agrária é capaz de mesmo a pior reforma agrária é capaz de mesmo a pior reforma agrária é capaz de proporcionar casa, comida e trabalho proporcionar casa, comida e trabalho proporcionar casa, comida e trabalho proporcionar casa, comida e trabalho proporcionar casa, comida e trabalho JOSÉ GOMES DA SILVA JOSÉ GOMES DA SILVA

JOSÉ GOMES DA SILVA · 2006-12-04 · F A T O S D A T E R R A 18 3 PROSEANDO: Valter Bianchini A força da Agricultura Familiar uas notícias importantes para a agricul-tura familiar

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Page 1: JOSÉ GOMES DA SILVA · 2006-12-04 · F A T O S D A T E R R A 18 3 PROSEANDO: Valter Bianchini A força da Agricultura Familiar uas notícias importantes para a agricul-tura familiar

Ano V No 18 Ago/Set 2006

TerraJustiçaCidadania

Ano V No 18 Ago/Set 2006

Governo e movimentos sociaisGoverno e movimentos sociaisGoverno e movimentos sociaisGoverno e movimentos sociaisGoverno e movimentos sociaisaprimoram diálogoaprimoram diálogoaprimoram diálogoaprimoram diálogoaprimoram diálogo Pág Pág Pág Pág Pág. 14. 14. 14. 14. 14

VVVVValter Bianchini fala sobre a importânciaalter Bianchini fala sobre a importânciaalter Bianchini fala sobre a importânciaalter Bianchini fala sobre a importânciaalter Bianchini fala sobre a importânciada Agricultura Familiarda Agricultura Familiarda Agricultura Familiarda Agricultura Familiarda Agricultura Familiar Pág Pág Pág Pág Pág. 03. 03. 03. 03. 03

PolíticaPolítica

ProseandoProseando

Há dez anos morria um homem para quemHá dez anos morria um homem para quemHá dez anos morria um homem para quemHá dez anos morria um homem para quemHá dez anos morria um homem para quemmesmo a pior reforma agrária é capaz demesmo a pior reforma agrária é capaz demesmo a pior reforma agrária é capaz demesmo a pior reforma agrária é capaz demesmo a pior reforma agrária é capaz deproporcionar casa, comida e trabalhoproporcionar casa, comida e trabalhoproporcionar casa, comida e trabalhoproporcionar casa, comida e trabalhoproporcionar casa, comida e trabalho

Há dez anos morria um homem para quemHá dez anos morria um homem para quemHá dez anos morria um homem para quemHá dez anos morria um homem para quemHá dez anos morria um homem para quemmesmo a pior reforma agrária é capaz demesmo a pior reforma agrária é capaz demesmo a pior reforma agrária é capaz demesmo a pior reforma agrária é capaz demesmo a pior reforma agrária é capaz deproporcionar casa, comida e trabalhoproporcionar casa, comida e trabalhoproporcionar casa, comida e trabalhoproporcionar casa, comida e trabalhoproporcionar casa, comida e trabalho

JOSÉ GOMESDA SILVAJOSÉ GOMESDA SILVA

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ÍndiceEditorial ................................ 2

Proseando ............................ 3

Regional ............................... 5

Cultura .................................. 8

Ciência e Tecnologia .......... 9

Reportagem de Capa .......10

Nacional .............................13

Política ...............................14

Opinião ...............................15

Curtas .................................16

Agenda ...............................18

Destaque ............................19

Fale Conosco

COMEÇO DE CONVERSA

Itesp - Fundação Instituto de Terras doEstado de São Paulo "José Gomes da Silva"

Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania

Fatos da Terra é a revista da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo "José Gomes da Silva" - Itesp, vinculada àSecretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania.Jornalista Responsável: Helton Lucinda Ribeiro - Mtb 27.002 Reportagens: Helton Lucinda Ribeiro, Regina Bonomo eAna Carolina Garcia Foto Capa: Arquivo Itesp Diagramação e Editoração Eletrônica: Renato Oliveira da SilvaContracapa: Renato Oliveira da SilvaConselho Editorial: Tibério Leonardo Guitton, Luiz Roberto de Paula, Jorge Miranda Ribeiro, Afonso Curitiba Amaral, JurandirVieira Góis, Milton Ramos da Silva, Gabriel Veiga, Anselmo Gomiero, Maria Celina Figueiredo, Antônio Alonso, Marco AntônioSilva e Helton Lucinda Ribeiro

Av. Brigadeiro Luís Antônio, 554 - 7º andar - Bela Vista - CEP 01318-000 - São Paulo - SP Telefone: (11) 3293-3393E-mail: [email protected] Visite nossa página: www.itesp.sp.gov.br Secretaria da Justiça: www.justica.sp.gov.brTiragem: 3.000 exemplares Ctp, Impressão e Acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São PauloÉ permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

TerraJustiçaCidadania

EDITORIAL

Tire suas dúvidas, envie comen-tários, críticas e sugestões para:

Fundação Instituto de Terrasdo Estado de São Paulo"José Gomes da Silva"Av. Brigadeiro Luís Antônio, 554 Bela Vista CEP 01318-000São Paulo - SP - BrasilFone/Fax: (11) 3293-3300E-mail: [email protected]

OuvidoriaFone: (11) 3293-33090800-77 33 173e-mail: [email protected]

Visite nossa página e leia, diariamen-te, as principais notícias sobre a ques-tão agrária:www.itesp.sp.gov.br

Homenagem ao nosso patronoJosé Gomes da Silva lutou até o fim pela Reforma Agrária. Na véspera de

sua morte, no dia 13 de fevereiro de 1996, participou de um debate organiza-do pela Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania, em São Paulo.Na época, ele comentou a situação do Pontal do Paranapanema: “O Pontalsurpreende o Brasil inteiro por mostrar que mesmo aqui, perto de três univer-sidades, na área mais desenvolvida do país, onde se esperava que houvesseuma agricultura patronal capitalista, nós temos problemas como estes.”

A Reforma Agrária, portanto, continuava uma questão ainda não supera-da no Brasil, não só nos rincões, nas áreas ainda de fronteira aberta para aagricultura, mas também em regiões desenvolvidas e populosas. Para JoséGomes, o Brasil havia perdido duas oportunidades de fazê-la: a primeira, quan-do da criação do Estatuto da Terra; a segunda, no governo Sarney, quando foielaborado o primeiro Plano Nacional de Reforma Agrária. Ele foi o protago-nista de ambos os processos, mas sempre esbarrou nas pressões contrárias àdemocratização do acesso à terra. Em meados dos anos 90, acreditava estardiante de outra grande oportunidade. Na época, a opinião pública, pela pri-meira vez, era favorável à Reforma Agrária. Mas José Gomes não pôde conti-nuar esta luta. Felizmente, porém, o seu exemplo continua incentivando cam-poneses, intelectuais, agentes públicos e cidadãos que acreditam na bandeirada Reforma Agrária.

Naquele mesmo evento em que debateu a questão agrária em São Paulo,José Gomes comentou a vinculação do Itesp à Secretaria da Justiça e daDefesa da Cidadania, o que considerava “uma novidade extremamente posi-tiva”. É bom saber que ele achava que esta instituição, que adotaria o seunome, estava no caminho certo.

Tibério Leonardo GuittonAssessor Especial do Governador

Respondendo pelo Expediente

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F A T O S D A T E R R A 18 3

PROSEANDO: Valter Bianchini

A força daAgricultura Familiar

uas notícias importantes para a agricul-tura familiar marcaram os meses de julhoe agosto. Uma delas foi o anúncio de um

novo volume recorde de recursos para o Plano Sa-fra 2006/2007: R$ 10 bilhões. Esse dinheiro estarádisponível para agricultores por meio das linhas decrédito do Pronaf (Programa Nacional de Fortale-cimento da Agricultura Familiar).

A outra foi o sancionamento, no dia 24 de julho,da Lei 11.326, que estabelece a Política Nacional deAgricultura Familiar e Empreendimentos Familia-res Rurais. A lei define os conceitos de agriculturafamiliar e de agricultor familiar e prevê a descentra-lização — com a participação de municípios, esta-dos, governo federal e produtores rurais — no de-senvolvimento e gestão dos programas agrários.

Para falar sobre esses temas, Fatos da Terra con-vidou o engenheiro agrônomo Valter Bianchini, se-cretário de Agricultura Familiar do Ministério doDesenvolvimento Agrário. É a SAF a secretaria res-ponsável pela coordenação de programas que vãodo acesso a crédito ao apoio à comercialização. Nestaentrevista, Bianchini também falou sobre a impor-tância da agricultura familiar e analisou as políticasde assistência técnica voltadas a este segmento. En-tre outras coisas, ela aposta na ampliação da parti-cipação da agricultura familiar na economia em re-lação aos dados do último Censo Agropecuário.

Existem vários indicadores que apontam para a importânciada agricultura familiar no Brasil hoje, como sua participaçãono PIB, na geração de empregos, etc. Na sua opinião, qual é atendência de longo prazo para a agricultura familiar? Aumen-tar essa participação na economia?Sim. A tendência é que a agricultura familiar possa au-mentar sua participação na economia. Os dados do Cen-so são muito antigos, ainda de 95/96, e apontavam que

nós tínhamos mais de quatro milhões de estabelecimen-tos da agricultura familiar e uma participação do valorbruto da produção agrícola em torno de 37%. Dadosatualizados para o PIB brasileiro e para o PIB doagronegócio apontam que, hoje, a agricultura familiar res-ponde por 10% do PIB geral e em torno de 1/3 do PIB doagronegócio. São marcas importantes. Como o governoatual, nestes últimos quatro anos, fez aumentar muito o

Divulgação SAFD

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4 I T E S P

PROSEANDO: Valter Bianchini

apoio à agricultura familiar, seja nos atuais R$ 10 bilhõesdisponíveis pelo Pronaf, seja em políticas importantescomo a do reestabelecimento da estrutura de assistênciatécnica e extensão rural (ATER), no qual os frutos da pes-quisa estão sendo colocados cada vez mais a um númeromaior de agricultores familiares; seja em programas im-portantes como agroindústria familiar, biodiesel, turismorural, Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Segu-ro da Agricultura Familiar (Seaf). É um conjunto de ins-trumentos que fortalecem uma política para a agriculturafamiliar, gerando maior produção e maior agregação de va-lor e renda. A continuidade desta política de fortalecimentovem se expressando e vai se expressar ainda mais numatendência de aumentar o percentual de participação daagricultura familiar no PIB da agricultura e o PIB do agro-negócio. Fortalecer a agricultura familiar significa indica-dores de que o rural brasileiro está se fortalecendo em umconjunto de atividades.

O governo sancionou recentemente a Lei 11.326, ou Lei da Agri-cultura Familiar. Quais osimpactos desta lei para aformulação de políticaspúblicas para o setor?Primeiro, esta lei traçacritérios, hoje utilizadosno Pronaf e que conso-lidam este segmento im-portante da agricultura,que é agricultura famili-ar. Com esta lei, temoso reconhecimento destaatividade por meio decritérios como o que es-tabelece em quatromódulos fiscais o tama-nho da área, a predomi-nância da renda origina-da da agricultura, o limi-te de até dois emprega-dos permanentes, a ges-tão de negócios, entreoutros. Mas, mais im-portante que isso, é quea lei estabelece diretri-zes, indicadores para quese possa formular umapolítica de apoio e for-talecimento da agricul-tura familiar. Muitos dosinstrumentos já existem

e já são utilizados, mas com a lei, agora tornam-se conso-lidados como o próprio Pronaf, o programa decooperativismo, a agroindústria familiar, os programas deeducação, entre outros. Agora, temos mais clara a respon-sabilidade de fazer o que determina a lei e traçar uma po-lítica de apoio à agricultura familiar. Neste sentido, estainstitucionalização consolida os atuais instrumentos e criabase para traçarmos outros instrumentos que dêem a estapolítica da agricultura familiar um fortalecimento desteimportante setor para o governo brasileiro.

O Plano Safra 2006/2007 conta com R$ 10 bilhões, um novorecorde. Segundo dados da SAF, o governo tem conseguido me-lhorar a relação entre o que é anunciado e o que é efetivamen-te acessado pelos produtores, chegando próximo a 80% atu-almente. Qual a expectativa para este novo Plano Safra?No primeiro Plano Safra do governo do presidente Lula,nós saímos de um índice de aproveitamento entre o anun-ciado e o disponibilizado que era de 50% para mais de

90% . Dos R$ 5,4 bilhõesanunciados na safra2003/2004, nós aplica-mos cerca de R$ 4,6 bi-lhões. Depois, na safra2004/2005, dos R$ 7 bi-lhões anunciados, aplica-mos aproximadamenteR$ 6,3 bilhões. Já na sa-fra 2005/2006, o índicecaiu para 80% , dos R$ 9bilhões anunciados, va-mos fechar em aproxima-damente R$ 7,5 bilhões(os dados ainda não fo-ram fechados). Nestaatual safra (2006/2007),dos R$ 10 bilhões anun-ciados, temos a expecta-tiva de voltarmos a apli-car algo em torno de90%, ou seja, pelo menosR$ 9 bilhões, o que é umnúmero expressivo, bene-ficiando um amplo con-junto de agricultores. Es-tamos lançando nesta sa-fra o Pronaf Comerciali-zação, para apoiar instru-mentos melhores paracomercialização da safra.Estamos fortalecendo a

“A Lei da Agricultura Familiar traça critérios queconsolidam este segmento”

Dodora Teixeira

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ação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e,para a próxima safra, deve vir uma política de equivalênciaentre o valor financiado e um certo preço de referência paraum conjunto de produtos agrícolas. Todos estes instrumen-tos que o governo vem adotando fazem com que sejamosotimistas em um novo ciclo para esta safra 2006/2007.

Qual a sua avaliação sobre as políticas de assistência técnica eextensão rural oferecidas à agricultura familiar no Brasil?A respeito das políticas de as-sistência técnica e extensãorural, estamos em um bomano nesta safra 2006/2007,em que conseguimos ampliarsignificativamente os recur-sos para a assistência técni-ca. O governo federal apro-vou um adicional de R$ 50milhões para assistência téc-nica e extensão rural que, so-mados aos R$ 62 milhões jáassegurados no orçamento,totalizarão R$ 112 milhões.Estes valores estão sendoaplicados em convênio comas empresas públicas de assis-tência técnica (Emater) e asorganizações não-governa-mentais. O crescimento foimuito expressivo nestes últi-mos três anos, em que saímos de um recurso de cerca deR$ 3 milhões . É um bom momento. Os estados têm fei-to esforços por meio da abertura de concursos na grandemaioria das Emater, além de um fortalecimento dasONGs e cooperativas que atuam com assistência técni-ca. Ampliou-se de uma maneira expressiva e melhorou aqualidade da assistência. Ao lado disso, tem crescido apresença da extensão universitária e das escolasagrotécnicas. Há um conjunto de instrumentos fortale-cendo as nossas ações.Além disso, a Embrapa tem um orçamento importan-te, este ano totalizando mais de R$ 1 bilhão, para que,por meio de seus centros de pesquisa, nesta articula-ção com assistência técnica, possamos cada vez maislevar os frutos das pesquisas da Embrapa e dos insti-tutos estaduais de pesquisa para os nossos agriculto-res familiares.

Existem, atualmente, concepções diferentes de assistência téc-nica no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Enquanto a SAF

PROSEANDO: Valter Bianchini

adota a nomenclatura ATER (Assistência Técnica e ExtensãoRural), o Incra trabalha com um programa denominado ATES(Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária). Porque a diferenciação?Estamos fazendo um esforço grande para integrar estas duasformas de assistência técnica em uma única do Ministériodo Desenvolvimento Agrário. Este é o nosso objetivo:avançarmos para um programa nacional de assistênciatécnica que procure articular não somente as ações de

ATER da Secretaria de Agri-cultura Familiar e das ATESdos assentamentos, mas tam-bém as ações de assistênciatécnica dos ministérios daAgricultura e do Meio Am-biente. É necessário um pro-grama que construa uma ar-ticulação da ATER oficialpública e a não-pública e aATER dos assentamentos,otimizando as ações de assis-tência técnica de forma inte-grada. Hoje, o Incra possuium programa voltado para osassentamentos, mas a políti-ca do MDA é cada vez maisarticular as duas formas deassistência e buscar umaotimização com as ATER deoutros ministérios.

Em parceria com a SAF, o Itesp tem realizado importantes pro-gramas de capacitação, financiados com recursos do Pronaf.Já foram concluídos dois: um de capacitação em agroecologiae outro de capacitação em comercialização; estamos com ou-tros dois em andamento, um voltado à organização das comu-nidades, com ênfase em questões de gênero, e outro paracapacitação em ATER dos nossos técnicos. Como o sr. avaliaas parcerias com os Estados em ações desse tipo? Seria pos-sível ampliá-las?Para nós, uma entidade como o Itesp, que faz um trabalhoimportante junto aos assentamentos e com o públicoquilombola, tem um papel muito importante na nossa açãode assistência técnica no Estado. A nossa parceria com oItesp já vem de muito tempo e tem estabelecido impor-tantes acordos. Nossa intenção, ainda este ano, é avan-çarmos com estas ações que estão em andamento e dar-mos continuidade a este importante trabalho que o Itespfaz no campo da assistência técnica aos assentados e àprópria política de agricultura familiar.

“É necessário umprograma queconstrua uma

articulação da ATERoficial pública e não-pública e a ATER dos

assentamentos”

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6 I T E S P

REGIONAL

Mais 28 municípiosquerem regularização fundiária

arece que quando a gen-te fica velho, a gente voltaa ser criança, porque co-

meça a sonhar.” O sonho de MariaConceição Queiroz, moradora daVila Aparecida, em Capão Bonito,era ter um documento legítimo depropriedade de sua casa. Por isso aemoção ao receber o título de domí-nio, fruto do Programa Minha Terra,executado pelo Itesp em parceriacom a prefeitura local.

Os resultados expressivos alcança-dos têm chamado a atenção da socie-dade. Em junho, foram assinados 28novos convênios para trabalhos queserão realizados até 2007. Ao todo,estão previstos os cadastros de 53.901imóveis, parte dos quais poderá sertitulada.

Criado em 2003 para sistematizaros esforços de regularização fundiáriado Governo do Estado, o ProgramaMinha Terra atende prioritariamenteaos municípios de menor IDH (Índi-

Fotos: Dodora Teixeira

Gumercindo deOliveiraSantos,

morador deItapirapuã

Paulistabeneficiado

pelo ProgramaMinha Terra

Maria Conceição Queiroz, deCapão Bonito: sonho realizado

ce de Desenvolvimento Humano).Entre os 28 novos conveniados, es-tão Bom Sucesso de Itararé, que temIDH de 0,69, e Itapirapuã Paulista,que tem o menor índice do Estadode São Paulo, 0,65.

Também assinaram convêniosCampina do Monte Alegre, Apiaí,Taquarivaí, Nova Campina, Buri,Itararé, Iaras, Guapiara, Itaporanga,Itu, Piedade, Araçariguama, Pilar doSul, Chavantes, Presidente Epitácio,Platina, Piquerobi, Ribeirão dos Ín-dios, Tarabai, Teodoro Sampaio,Campos do Jordão, Jambeiro, Pa-riquera-Açu, Registro e Sete Barras.Para esses municípios, eliminar aindefinição dominial, ou seja, a in-certeza em relação à propriedade daterra, é um grande incentivo ao de-senvolvimento.

De posse de um documento váli-

do de propriedade, o cidadão podeutilizar o imóvel como garantia paraa obtenção de financiamentos. Nãosó para a produção agrícola, no casodos posseiros rurais, como tambémpara algum investimento na área ur-bana, como a reforma da casa.

“Isso também é desenvolvimentoeconômico. O pedreiro trabalha, oeletricista trabalha e o carpinteirotrabalha, e isso é geração de empre-go”, comentou o prefeito ClóvisVieira Mendes, de Registro, onde oItesp entregou 93 títulos no começodo ano.

Em 2003, o Programa Minha Ter-ra possibilitou a entrega de 1.014 tí-tulos de domínio. No ano seguinte,foram 4.633, um recorde! Em 2005,foram expedidos 2.212 documentos.A meta para este ano é a entrega deoutros 5 mil títulos.

“P

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7F A T O S D A T E R R A 18

REGIONAL

ois contratos foram firmadosentre o Itesp e o Instituto Flo-restal (IF) para possibilitar o

aumento do controle e da preserva-ção ambiental dos parques estaduaisda Serra do Mar e de Jacupiranga.Para alcançar estes objetivos, serãorealizados levantamentos detalhadosda malha fundiária dos dois parques.

O Parque Estadual da Serra doMar, com 315 mil hectares, ocupaboa parte do litoral paulista, numaárea que vai do município de Pedrode Toledo, no Vale do Ribeira, atéCunha, no Vale do Paraíba. No total,o território do parque abrange 22municípios. Ambos os contratos detrabalho firmados entre Itesp e Insti-tuto Florestal prevêem a aplicaçãodos laudos de identificação fundiáriados ocupantes.

No parque da Serra do Mar, os tra-balhos pretendem identificar todas asáreas ocupadas, reconhecer as unida-des de conservação, verificar a porçãoque cada município possui dentro doparque e as porções particulares e aspertencentes a órgãos públicos, como,por exemplo, linhas de força e áreasutilizadas pela Sabesp.

A definição dessas questões permi-tirá ao Instituto Florestal rever os li-mites da unidade de conservação edefinir limites de uso das áreas parti-culares. Como muitas das ocupaçõessão anteriores à criação do parque, oestudo da malha fundiária feito peloItesp também servirá de subsídio parao IF tomar conhecimento de ações dedesapropriação indireta que existam edefinir quem deve e quem não deveser indenizado.

Segundo a Assessoria de Impren-

sa da Secretaria do Meio Ambiente,para o Instituto Florestal, “conhecera malha fundiária do Parque consti-tui etapa fundamental para aperfei-çoar as ações de gestão e proteção dopatrimônio ambiental dessa impor-tante unidade de conservação queabrange cerca de 40% da área totaldas unidades de conservação de pro-teção integral do Estado ”.

O contrato entre as duas entidadespara a execução dos trabalhos na Ser-ra do Mar foi assinado no dia 1º de fe-vereiro, com o valor de R$1.642.380,00. A previsão de conclu-são dos estudos é de 12 meses.

Já no Parque Estadual de Jacupiran-ga, o prazo de conclusão é de 60 dias apartir da assinatura do contrato, que o-correu no dia 13 de julho, na sede doItesp, com o valor de R$ 88.412,00.

Estima-se que, dentro dos 150 milhectares do Parque Estadual de Jacupi-ranga, existam cerca de 2 mil unidadesocupadas. “Esse contrato tem por objetoa aplicação de laudosde identificaçãofundiária emáreas ocupa-das, que sub-sidiarão astomadasde de-

cisões visando à re-solução de conflitos de usoe ocupação do solo, que põemem risco a conservação do pa-trimônio ambiental abrangidopela segunda maior unidade de

conservação do Estado de São Paulo”,declara a Assessoria de Imprensa.

Outro objetivo do Instituto Flo-restal é utilizar o material cartográficoque será elaborado pelo Itesp para es-tudar a possibilidade de mudanças noslimites do parque.

“Os equipamentos que foram utili-zados para fazer a delimitação do Par-que Estadual de Jacupiranga não sãotão precisos quanto os que o Itesp utili-za hoje em dia. Rever os limites da áreaé importante até para sabermos o que émesmo parque”, esclarece o diretor ad-junto de Recursos Fundiários do Itesp,Gabriel Veiga.

Com os limites sendo revistos, áre-as com pouca quantidade de mata emuito populosas poderão ser excluí-das da reserva. Outras, com pouca ounenhuma ocupação e maior quanti-dade de vegetação, poderão ser inclu-ídas, ajudando a preservar a mata epossibilitando a regularização destasáreas.

Estudo fundiário ajuda a preservar

patrimônio ambientalD

Parque Estadualde Jacupiranga

Parque Estadualda Serra do Mar

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8 I T E S P

REGIONAL

o segundo semestre de 2004,o Itesp assumiu, em contratocom o Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária (Incra),compromisso de fazer uma pesquisajunto aos assentados para obter umdiagnóstico mais preciso da aplica-ção dos créditos destinados à refor-ma agrária e dos entraves ao acessoa esses recursos pelo agricultor as-sentado. O objetivo é aperfeiçoar asatividades de assistência técnica eextensão rural (Ater) prestadas aosassentados.

A pesquisa contou com assessora-mento do professor Luiz AntonioBarone, sociólogo da Faculdade deCiências e Tecnologia da Universida-de do Estado de São Paulo (Unesp)de Presidente Prudente e foi execu-tada entre os meses de junho a se-tembro de 2005 por técnicos do Itesp,coordenados por Antonio CarlosRossi, responsável técnico do escri-tório do Itesp de Presidente Bernar-des. O trabalho resultou num exten-so levantamento da aplicação doscréditos pelos assentados na regiãodo Pontal do Paranapanema. Osquestionários foram aplicados em60 assentamentos de Mirante do Pa-ranapanema, Teodoro Sampaio,Euclides da Cunha e Sandovalina,totalizando 2.439 lotes.

Dentre os resultados obtidos, apesquisa revela, por exemplo, que onúmero de pessoas que trabalham nolote quase sempre é menor que três,com raros casos de cinco ou maispessoas. Quanto à residência, o nú-mero de moradores está entre duas ecinco pessoas, registrando um só casode 13 pessoas vivendo num único lote.

A renda da grande maioria dosassentados varia de um a três salári-os mínimos, segundo a pesquisa, e éformada exclusivamente pelo traba-lho desenvolvido no lote, seguidapelos que somam essa renda a pen-sões e aposentadorias.

Quanto ao crédito propriamente,a pesquisa revela que cerca de 90%dos assentados nunca tinham toma-do crédito agrícola antes de torna-rem-se beneficiários. Esta constata-ção, alerta o relatório, aponta para anecessidade de acompanhar e quali-ficar melhor o agricultor assentado, pa-ra minimizar suas dificuldades quantoà aplicação do crédito tomado.

Outra constatação é quanto aoescoamento da produção que, se-gundo os assentados, ocorre de ma-neira inadequada; 1.751 pesquisadosdisseram arcar com os custos de en-trega do produto, outros 1.177 re-passam sua produção a atravessado-res, refletindo a “necessidade de li-nhas de financiamento para facilitara comercializaçãoda produção”, con-clui o relatório.

Para os assenta-dos questionados, aassistência técnicaprestada pelo Itesp éadequada, mas ocor-re de maneira desi-gual durante as fasesde produção, apon-tando deficiência nafase de compra deinsumos e na comer-cialização do produ-to final.

No quesito “trato

com a agência bancária”, as informa-ções foram divergentes: os assentadosconsideram fácil o relacionamentocom os bancos, embora os créditosnão sejam liberados na época certa.Também consideram regular o trata-mento recebido pelo banco e estão sa-tisfeitos com o atendimento bancário.

Para aproveitar os resultados obti-dos, Rossi sugere que sejam feitasreuniões entre técnicos e assentados“para falar dos pontos negativos epositivos da pesquisa e tentar melho-rar o relacionamento entre ambos”.

O diretor de Políticas de Desenvol-vimento do Itesp, Afonso CuritibaAmaral, é da mesma opinião. “Pre-cisamos divulgá-la, pois tem um gran-de potencial de discussões”, afirmaAmaral. E conclui “esse trabalhodará mais condição aos profissionaisda instituição para fazer um projetode crédito mais adequado e tambémdará um norte ao governo na elabo-ração das políticas públicas voltadasaos assentados”.

Itesp faz diagnósticoda aplicação de crédito no Pontal

N

Pesquisa apontou necessidade de linha decrédito para facilitar escoamento da produção

Helton Lucinda Ribeiro

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F A T O S D A T E R R A 18 9

CULTURA

esde o início deste ano, a Secretaria da Cul-tura, em parceria com o Itesp e a Secretariada Justiça e da Defesa da Cidadania, vem

executando o Projeto Quilombos Vivos em comuni-dades quilombolas em três regiões do Estado deSão Paulo: Sudoeste, Vale do Ribeira e Litoral Norte.Estas regiões foram escolhidas por abrigarem comu-nidades remanescentes de quilombos já reconheci-das pelo Estado. O projeto prevê um ciclo de ofici-nas culturais com te-mas da cultura africa-na, teatro, biblioteca,leitura e música.

Segundo Leandroda Silva Rosa, sociólo-go e coordenador doprojeto junto à Secre-taria da Cultura, serãodados quatro módulosde cultura e cidadaniaaos quilombos. O pri-meiro foi sobre histó-ria e cultura dos po-vos africanos, seguidodas oficinas de teatro.Depois serão as bibli-otecas e a importân-cia da leitura, finalizando com música. Cerca de 300livros, uma estante e um computador estão sendodistribuídos para cada uma das 21 comunidades re-conhecidas.

Em julho, as comunidades de Camburi, Caçando-ca e Fazenda da Caixa, todas de Ubatuba, recebe-ram a oficina de Cultura Africana, onde aprenderama história do continente africano, o processo de co-lonização sofrido e o tráfico de escravos, responsá-vel pela vinda forçada de negros ao país e, comeles, um pouco de sua cultura. O objetivo desta ofi-cina é resgatar esta história e os seus costumes,musicalidade, dança e outras manifestaçõestrazidas pelos negros escravizados que até hoje pre-sentes, influenciando a cultura brasileira, e possibili-tar a permanência das tradições.

Em agosto, estas mesmas comunidades recebe-ram a oficina de Leitura, juntamente com 300 livros,estante e computador, para criarem uma biblioteca,que deverá ser administrada pelos próprios mem-bros dos quilombos, num espaço comunitário.

No Vale do Ribeira, foram as comunidades deCangume, Porto Velho, Pilões e Maria Rosa, todasde Iporanga, além de São Pedro e André Lopes, deEldorado, que receberam a oficina de Leitura. No

curso, aprenderam a or-ganizar uma bibliotecacomunitária, além de ve-rem as várias formas decomunicação. “O objeti-vo desta capacitação éfazer com que o númerode leitores nas comuni-dades aumente, pois as-sim todos poderão teruma outra visão demundo diferente daque-la restrita à televisão”,explica WashingtonLopes Góes, do NúcleoCultural Força Ativa, res-ponsável pelacapacitação. Em setem-

bro estas mesmas comunidades receberão a OficinaModular, em que foi escolhida a música para oaprendizado. Nesta próxima oficina os membros dascomunidades terão noções das manifestações cultu-rais e religiosas, como o Jongo e o Maracatu, alémde aprenderem a construir um atabaque.

No mês anterior, jovens destas comunidades doVale do Ribeira, Sudoeste e de Ubatuba fizeram aoficina de Teatro com a companhia de teatro 7Cêni-co, dos atores Wolney de Assis e Fagner Pavan. Nasatividades, os alunos aprenderam expressão corpo-ral, a trabalhar a voz e a criatividade usando semprecomo temas a realidade das comunidades, suas his-tórias ou algo conflitante, como a possibilidade daconstrução de uma barragem para a geração deenergia elétrica, e o direito à terra onde vivem.

Projeto leva oficinasculturais aos quilombolas

D

Oficina realizada na região de Sorocaba:resgate da cultura e da auto-estima

Helton Lucinda Ribeiro

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10 I T E S P

CAPA

uitos foram os camponesesque dedicaram suas vidas àcausa da Reforma Agrária

Já raros são os casos de pessoas comoJosé Gomes da Silva, um fazendeirobem-sucedido que deixou uma marcaindelével na luta pela democratizaçãodo acesso à terra no Brasil.

José Gomes, falecido em 1996, le-vou a bandeira da Reforma Agrária(ele escrevia assim mesmo, com letrasmaiúsculas) aos mais diferentes go-vernos e projetos políticos, desde odo general Castello Branco, em 1964,passando por José Sarney, até o Go-verno Paralelo do PT em 1990 (ex-periência de formulação de propostasalternativas para o país).

A ligação do engenheiro agrônomode Ribeirão Preto com a Reforma Agrá-ria remonta ao governo Carvalho Pin-to (1959-1963), em São Paulo. JoséGomes, ao lado de Plínio de ArrudaSampaio, participou do projeto de“Revisão Agrária”, que resultou nasprimeiras experiências de assenta-mentos rurais do Estado.

A partir daí, inicia uma

trajetória intelectual e política quefaria dele uma das maiores autorida-des brasileiras no tema. Estudou afundo a questão agrária e conheceuexperiências em outros países, dentreas quais a da Itália o impressionouprofundamente.

Logo após o golpe militar, em 1964,José Gomes coordena a elaboraçãode uma proposta de reforma agráriaque é apresentada ao governo Cas-tello Branco. Surpreendentemente, aproposta é aceita e a partir dela é ela-borada a Lei 4.504/64, o Estatuto daTerra, ainda em vigor.

Um dos avanços introduzidos peloEstatuto da Terra foi uma categori-zação do latifúndio que se dava nãosó pelo critério da produtividade,mas também pela extensão. O limiteestabelecido era de 600 módulos ru-rais. Além disso, o pagamento de in-denizações nas desapropriações deterras seria feito em título públicos.

Promulgada em novembro de 64,no entanto, aquela lei estava fadadaa não sair do papel.

Não só devido à pressão dos gruposcontrários à Reforma Agrária, mastambém com o endurecimento do re-gime militar a partir do mandato dogeneral Emílio Garrastazu Médici(1969-1974).

Nem por isso, um defensor sinceroda Reforma Agrária se daria por ven-cido. “A coisa mais marcante no ZéGomes, desde os primeiros contatosque tive com ele, na época em queele escreveu o Estatuto da Terra, foia sua persistência em busca da Re-forma Agrária. Ele nunca desistiu”,conta Roberto Arnt Sant´Ana, 67anos, ex-superintendente do Incra eex-delegado do antigo Mirad (Minis-tério da Reforma Agrária e do De-senvolvimento) em São Paulo.

ABRAA constatação de que a defesa da

Reforma Agrária não encontravaeco na esfera governamental levouJosé Gomes a buscar o caminho daorganização da sociedade civil. Ele

próprio narra o episódioda criação da AssociaçãoBrasileira de ReformaAgrária em um artigopublicado na revista daentidade, em 1996, anode seu falecimento: “Foinuma viagem de voltade Araçatuba onde foraassistir a inauguraçãode um Centro de Trei-namento para Traba-lhadores Rurais, queum grupo de dirigentessindicais e estudiososda questão agrária co-meçou a especular so-bre a necessidade decontar com uma enti-dade independente,

M

O fazendeiro que lutou Ao longo de uma vida dedicada à democratização do acesso à terra, José Gomes da Silva elabor

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desligada do governo, que atuassecomo núcleo de pressão pela Refor-ma Agrária. A idéia era manter achama acesa (procurando compen-sar as frustrações produzidas pelasiniciativas oficiais) e abrir caminhos,tentando explorar fissuras que a des-favorável correlação de forças pudes-se apresentar.”

Congregando militantes da Refor-ma Agrária, tanto do meio acadêmi-co, como o atual ministro da Agricul-tura Luís Carlos Guedes Pinto, quan-to dos movimentos sociais e organi-zações de trabalhadores, a ABRA, naavaliação feita por José Gomes em96, conseguiu manter a “chama ace-sa”. E mantém até hoje, com sua re-vista, a primeira publicação especi-alizada dedicada ao tema no Brasil.

O embrião do ItespNos anos 70, José Gomes presta

consultoria a organizações interna-cionais, como o BID (Banco Inter-americano de Desenvolvimento) eOEA (Organização dos Estados A-mericanos). Essa experiência conso-lida sua reputação como autoridadena questão agrária.

Com o processo de redemocratiza-ção do Brasil nos anos 80, ele volta aocupar altos cargos governamentais,como o de secretário de Agriculturado governo Franco Montoro, em 1983.Embora tenha permanecido poucotempo à frente da pasta, devido a umenfarte sofrido em agosto daquelemesmo ano, José Gomes deu umacontribuição decisiva para a políticaagrária do Estado: criou o Institutode Assuntos Fundiários (IAF), em-brião do que viria a ser a FundaçãoInstituto de Terras. Com aquela ex-periência, iniciava-se uma políticade destinação de terras públicas es-

taduais à Reforma Agrária, consoli-dada com a Lei 4.957/85, que esta-belece a base legal da política agráriapaulista.

1o PNRAEm 1985, José Gomes é convida-

do a assumir a presidência do Incrano governo Sarney e coordena a ela-boração do Plano Nacional de Refor-ma Agrária. O atual diretor adjuntode Formação, Pesquisa e PromoçãoInstitucional do Itesp, Jorge MirandaRibeiro, trabalhava na Diretoria deCadastro e Tributação do Incra naépoca, comandada por Carlos de Lo-rena, também já falecido. Lorena, a-migo pessoal de José Gomes, foi ou-tro expoente da causa agrária e, sobsua gestão, importantes mudançasforam implementadas no sistema decadastro de imóveis rurais.

Esse período também foi acompanha-do por outro amigo de José Gomes: Ro-berto Sant´Ana, integrante da equipecriada para formular o PNRA. Sant´-Ana conta que a proposta era eleger re-giões prioritárias para a Reforma Agrá-ria em cada Estado. A meta nacionalera assentar 1,4 milhão de famílias.

Mas, uma vez entregue o PNRA, ogoverno decidiu que a região prioritá-ria seria... o Brasil todo! “E quando aprioridade é o país inteiro, então nãoexiste prioridade”, resume Sant´Ana.

De fato, o resultado daquela detur-pação na proposta do grupo de JoséGomes foi o assentamento de poucomais de 82 mil famílias. Frustrado, elefez um desabafo no livro Caindo porTerra, em que disseca as articulaçõespolíticas que barraram o Programa.

O humanistaMuitos dos que trabalharam com

ele se lembram de que, além da dedi-

cação à causa da reforma agrária, JoséGomes valorizava muito as pessoas ese preocupava com os funcionáriosdos órgãos que dirigiu. João CarlosCorsini, analista de desenvolvimentoagrário do Itesp, recorda uma históriaque exemplifica essa preocupação.Em agosto de 1983, um grupo de fun-cionários voltava, em uma perua Kom-bi, da área onde estava sendo criadoo assentamento Pirituba. Estavamno veículo o então diretor do IAF,José Eli da Veiga, o procurador do Es-tado Juvenal Boller de Souza Filho, oagrônomo Zeke Beze Jr., o motoristaAbílio e o próprio Corsini.

Próximo a Capão Bonito, houveum acidente e a Kombi capotou. Fe-lizmente, ninguém se feriu com gra-vidade. Mesmo assim, José Gomesfez questão de visitar um por um dosenvolvidos no acidente.

Quem trabalhou com ele o temcomo referência muito forte, não sóde profissional, mas também de serhumano. “Fui um felizardo em fazerparte da equipe do José Gomes”, con-ta Mário Antônio de Moraes Biral,64 anos, hoje diretor da Ceasa deCampinas. Os dois trabalharam jun-tos na CATI (Coordenadoria de As-sistência Técnica Integral) em 1968.Na época, a instituição havia acaba-do de ser criada, reunindo departa-mentos da Secretaria da Agricultura.José Gomes era responsável pela áreade socioeconomia do Departamentode Extensão Rural.

Para Biral, além da sólida forma-ção técnica que já tinha feito de JoséGomes uma autoridade reconhecidana área de pesquisa com soja, ele pos-suía uma ampla visão social. “Foi umgrande aprendizado trabalhar comele, porque a formação do agrônomoé muito tecnicista. E o José Gomes

u pela Reforma Agráriaaborou o Estatuto da Terra, o primeiro PNRA e criou o órgão antecessor do Itesp em São Paulo

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12 I T E S P

Além das fazendas que legou

aos seus herdeiros, José Gomes

também transmitiu o gene da Re-

forma Agrária. Seu filho, José Gra-

ziano da Silva, é um dos expoentes

atuais do debate em torno da ques-

tão agrária no Brasil.

Engenheiro agrônomo formado

pela USP em 1972, fez mestrado

em Economia e Sociologia Rural

pela mesma Universidade, dou-

torado em economia pela Uni-

camp e pós-doutorado na mesma

área pelo Instituto de Estudos da

América Latina, da Universidade

de Londres.José Graziano escreveu cerca de

20 livros sobre economia agrícola e

dezenas de artigos sobre o tema. É

professor titular do Instituto de

Economia da Unicamp desde

1991. Foi assessor especial da Pre-

sidência da República no governo

Lula, quando coordenou o Progra-

ma Fome Zero. Hoje, é diretor regi-

onal da FAO (Fundo das Nações

Unidas para a Agricultura e Ali-

mentação).

De pai para filho

ensinava que era necessário adaptara tecnologia às condições sociais.”

Biral também fez parte da equipecoordenada por José Gomes que for-mulou o programa para a agriculturano Governo Paralelo do PT em 1990.Ele explica que o que movia aquelainiciativa era a idéia de sair da críti-ca pura e simples e oferecer alterna-tivas ao governo.

Uma das grandes contribuições doprograma foi a proposta para a áreade segurança alimentar, um conceitoque ainda era novidade no Brasil. Aproposta acabou subsidiando a cam-panha Ação da Ci-

dadania contra a Miséria, a Fome epela Vida, comandada pelo sociólo-go Herbert de Souza, o Betinho. Seulegado está presente também noConsea (Conselho Nacional de Se-gurança Alimentar e Nutricional),encarregado de articular governo esociedade civil na formulação dediretrizes na área de alimentação enutrição.

O fazendeiroJosé Gomes muitas vezes foi ques-

tionado se o fato de ser um fazendei-ro bem-sucedido não era contraditó-

rio com sua luta pela ReformaAgrária. Ele sempre respondia que,acima de tudo, era um profissio-nal da terra. E, como tal, via naestrutura fundiária brasileiraum entrave ao desenvolvimen-to do país. A forma como ad-ministrava suas quatro fazen-das sempre foi coerente comseus ideais, como relata seuamigo Mário Biral:

“Nunca vi uma fazenda tãobem dirigida quanto a fazendaSantana do Baguaçu, em Pi-rassununga. Foi um verdadei-ro laboratório para experiên-cias sobre como viabilizar ohomem no campo.” Biralconta que José Gomes não se

prendia a uma única cultura. “Nósdizíamos que os ovos não podiam es-tar em uma única cesta. Quando alaranja estava em baixa no merca-do, ele tinha café. Quando o caféestava em baixa, tinha a laranja oua cana”, explica.

José Gomes nunca foi um homemapenas de discurso. Fez de sua vidatambém um exemplo. Plínio de Ar-ruda Sampaio, em artigo publicadona revista da ABRA em 1996, relataque, após a decepção com o PNRA,ele “voltou para a sua Santana doBaguaçu, na terra roxa de São Paulo,e pôs-se a cuidar do seu café, da suacana, da laranja, do limão. Plantouum seringal atrás mesmo da casa dosempregados, para que as mulheresdestes aí pudessem trabalhar e teruma fonte de renda delas mesmas.”

E aquela semente também planta-da por ele no Estado de São Paulo,quando colaborou com o GovernoMontoro, vingou e deu frutos: 126assentamentos estaduais, onde maisde 6 mil famílias assentadas possuem“casa, comida e trabalho”. O órgãoque nasceu como um modesto insti-tuto, o IAF, cresceu, tornou-se umafundação com mais de 700 funcioná-rios e leva hoje o seu nome: Funda-ção Instituto de Terras do Estado deSão Paulo “José Gomes da Silva”.

CAPA

PUBLICAÇÕES DE JOSÉ GOMES DA SILVA

A Reforma Agrária no Brasil: frustração camponesa ou instrumentode desenvolvimento? Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1971.

Decálogo da contra-reforma. Campinas, 1986.

Caindo por Terra: crises da Reforma Agráriana Nova República. São Paulo: Busca Vida, 1987.

Buraco negro: a Reforma Agrária naConstituinte. São Paulo: Paz e Terra, 1989.

A Reforma Agrária brasileira na viradado milênio. Campinas: Abra, 1996.

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13F A T O S D A T E R R A 18

NACIONAL

Plano Safra tem R$ 10 bilhõespara a Agricultura Familiar

Programa Nacional de For-talecimento da AgriculturaFamiliar (Pronaf) completa

dez anos com um recorde de recursosanunciados para a safra 2006/2007:R$ 10 bilhões. A meta do Ministériodo Desenvolvimento Agrário é che-gar a dois milhões de contra-tos, incluindo no sistemaprodutivo brasileiro mais deum milhão de novas famíli-as. Só para o Estado de SãoPaulo serão R$ 500 milhões.

De acordo com o coorde-nador geral de financiamen-tos da SAF, João Luiz Gua-dagnin, o governo tem con-seguido melhorar a relaçãoentre o que é disponibiliza-do e o que é efetivamenteacessado pelos agricultores.“Até 2002, ficávamos em50% do anunciado. Hoje,estamos com mais de 80%do anunciado.”

Ele explica que a melhorase deve a um aprimoramento na re-lação com os agentes financeiros ecom os órgãos de assistência técnicanos Estados. Mas destaca que, nocaso de São Paulo, ainda é precisoavançar bastante, sobretudo no aces-so aos Grupos C, D e E.

“Já os assentamentos estão bemmelhor assistidos. A ação do Itesp éboa”, comenta. Para Guadagnin, oproblema maior dos assentamentospaulistas está ligado ao acesso grupala crédito, por meio de cooperativas.Para resolver esse tipo de proble-ma, o governo pretende regula-mentar uma lei que individualize

as dívidas dos produtores.Em São Paulo, de acordo com a

Superintendência do Banco do Brasil,os assentamentos contrataram, entre1995 e 2005, financiamentos agríco-las da ordem de R$ 143 milhões.

Até 1998, os recursos foram dis-

ponibilizados pelo Programa de Cré-dito Especial da Reforma Agrária(Procera). Por esta linha de crédito,foram realizadas operações de cus-teio da safra agrícola em valores pró-ximos a R$ 45 milhões e cerca deR$ 13 milhões em investimentos naestruturação produtiva dos lotes.

Pronaf os em custeio e investimentoEsta inversão ocorreu basicamen-

te por três motivos: O limite de con-tratação em investimento de amploacesso aumentou gradativamente deR$ 9,5 mil em 1998 para R$ 18 mil(Grupo A) em 2005. No período de

1998 e 2005, foram assentadas mais2.700 famílias no Estado, que se be-neficiaram com os créditos de inves-timento de acesso facilitado. E, porfim, a partir de 1999, surgem obstá-culos à contratação de investimentospara custeio, como as exigências de

garantias reais.A partir do ano 2000, o

acesso ao financiamentode custeio vem aumentan-do pela criação de uma li-nha exclusiva para os be-neficiários da ReformaAgrária, o Grupo A/C.Os recursos são originári-os do Orçamento Geralda União e, portanto, nãotrazem riscos financeirosaos bancos que operam alinha. Atualmente, cadaprodutor assentado poderealizar até seis operaçõesem safras consecutivas.

Se, para o custeio, foicriado um mecanismo de

acesso para os agricultores assen-tados, ainda há grandes dificulda-des para as contratações de inves-timentos que não sejam restritos àReforma Agrária (Grupo A), quesão contratados numa única opera-ção. Mesmo tendo sido dada umasegunda oportunidade para a con-tratação do Grupo A, esta está res-trita aos Projetos de Assentamentoelencados pelo Programa de Recu-peração de Assentamentos (PRA)do INCRA.

(Para mais informações sobre aslinhas de crédito do Pronaf, acesse osítio www.pronaf.gov.br)

Ubirajara Machado

Guadagnin, da SAF: relação entre o que é anunciadoe o que é acessado melhorou

O

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POLÍTICA

Governo e sociedade civilaprimoram diálogo no Pontal

postando no diálogo comocaminho para a solução dosconflitos fundiários no Pontal

do Paranapanema, a Secretaria da Jus-tiça e da Defesa da Cidadania adotou,a partir de junho, uma prática dereuniões mensais com movimentossociais que atuam na região.

Essa abertura deum canal permanentede diálogo foi resulta-do de encontro reali-zado no dia 3 de ju-nho. Em um únicodia, a secretária daJustiça, Eunice Pru-dente, reuniu-se comprefeitos da região, lí-deres de diversas enti-dades que represen-tam os sem-terra, re-presentantes de as-sentamentos, peque-nos produtores rurais,lideranças da UniãoDemocrática Rura-lista (UDR), além doIncra e o Itesp.

"O Brasil não vai chegar ao desen-volvimento se não resolver a questãoda terra", disse Eunice Prudente. Foiconsensual entre os participantes doencontro a opinião manifestada peloprefeito de Teodoro Sampaio, Ade-mir Infante: "Existe terra para arre-cadar e existem recursos suficientes.Então, vamos em frente!".

NegociaçõesPara os movimentos sociais, a re-

forma agrária proporciona desenvol-vimento, emprego, renda, cidadaniae inclusão social. A UDR, por suavez, defende que a solução dos con-

flitos é condição indispensável paraa retomada de investimentos no Pon-tal do Paranapanema.

O Itesp vem negociando com a-gropecuaristas interessados em seantecipar a uma decisão judicial eceder desde já as terras ao Estado,mediante a indenização de benfei-

torias. A expectativa é de que acor-dos sejam fechados rapidamente coma disponibilidade de recursos repas-sados pelo Incra.

Na reunião realizada em junho,o órgão federal anunciou a libera-ção de R$ 28 milhões, dos quaisR$ 4 milhões já estão disponíveis.A grande novidade é que o dinheiroestá sendo repassado integralmenteem moeda corrente.

Até então, 70% dos recursos desti-nados à arrecadação de terras eram re-passados em Títulos da Dívida Agrá-ria (TDA). Além disso, os acordos se-rão fechados diretamente pelo Itesp.

Dodora Teixeira

Com os R$ 4 milhões já disponí-veis, o Itesp deve priorizar a arreca-dação de duas fazendas, uma emPresidente Venceslau e outra emPresidente Epitácio. O compromissodo órgão federal é de que, tão logoessa primeira parcela seja utilizada,novos recursos serão liberados.

Para a UDR, tambémé necessário o aprimora-mento dos mecanismoslegais que possibilitama cessão de parte dasfazendas para a refor-ma agrária em troca daregularização do res-tante. Outra propostaé a alteração da LeiEstadual 11.600/03,que dispõe sobre a re-gularização de áreas deaté 500 hectares na re-gião. Na avaliação daentidade, a lei obriga oagricultor a reconhe-cer que a terra é devo-luta, sem que haja de-cisão judicial transita-

da em julgado.Eunice Prudente enfatizou a im-

portância do diálogo também comas entidades patronais e disse quealterações na lei ou outras medidaspossíveis para a superação dos en-traves apontados serão estudadas.

Já como desdobramento das reu-niões periódicas com os movimentossociais, a Secretaria da Justiça viabi-lizou uma audiência com o presiden-te do Tribunal de Justiça de SãoPaulo, Celso Limongi, no dia 18 dejulho. A Secretaria e o TJ propuse-ram a inclusão dos juízes no diálogodas questões agrárias.

Reunião com movimentos sociais em Teodoro Sampaio

A

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F A T O S D A T E R R A 18 15

OPINIÃO: Luís Eduardo Batista e Anna Volochko

Saúde da População Negraegundo dados do Relatório deDesenvolvimento Humano2005, os negros (pretos e pardos)

e as negras (pretas e pardas), juntamen-te com os indígenas (mulheres e ho-mens) têm menor escolaridade e renda,estão nos piores postos de trabalho; suasresidências têm menor acesso a sanea-mento básico e eles têm maior necessi-dade de serviços públicos de saúde.Quando observamos a esperança de vidaao nascer, as mulheres vivem mais doque os homens. Contudo, as mulheresnegras e as mulheres indígenas vivemmenos que as mulheres brancas. O mes-mo acontece com os homens.

Minha proposta aqui é mostrar que asdesigualdades raciais dialogam com a for-ma como se adoece/morre e, num segun-do momento, mostrar a necessidade dese pensar políticas públicas diferenciadas.

O estudo da mortalidade comodemarcador de desigualdades

As estatísticas de mortalidade sãoutilizadas para avaliar a situação dapopulação e desenvolver políticas pú-blicas de saúde. Na análise dos dadosde mortalidade, apontam-se as causasde morte que assolam a população,discutem-se os dados segundo idade,sexo e grupo social ou frações de clas-se, mas não se discutem as diferentesconstruções socioculturais existentesna sociedade e seus reflexos no perfilda mortalidade. Por exemplo, não secontempla a raça/cor como categoriade análise e apenas em 1996 se inse-riu a variável raça/cor nos atestadosde óbito e de nascidos vivos.

No estudo “Mortalidade da popula-ção Negra Adulta no Brasil”, realizadoem parceria com Anna Volochko,Carlos Eugênio de Carvalho Ferreirae Vanessa Martins e que foi publicadono livro Saúde da População Negra noBrasil (Fernanda Lopes – org.), cons-tatou-se que em 2000 ocorreram apro-

ximadamente 134.344 óbitos em mulhe-res adultas (10-64 anos) no Brasil(208,17/100 mil mulheres). A taxa demortalidade das mulheres pretas (284,36/100 mil) supera a das brancas (184,67/100 mil) e das pardas (145,11/100 mil).

Quando analisamos a mortalidade dasmulheres adultas (10-64 anos) residen-tes na região Sudeste do Brasil, segundoa cor, constatamos que a taxa de mortali-dade das mulheres pretas é de 369,78/100mil mulheres pretas; que a taxa de mor-talidade das mulheres brancas é de204,30/100 mil mulheres brancas e a taxade mortalidade das mulheres pardas é de173,96/100 mil mulheres pardas.

Quando se analisa a taxa de mor-talidade segundo o grupo de causas dedoenças infecciosas e parasitárias, pre-dominando aids e tuberculose, a taxade mortalidade das mulheres pretaspor HIV é de 12,29/100 mil, contra5,45 das mulheres brancas e 5,41 daspardas. Por tuberculose, a taxa de mor-talidade dentre as mulheres pretas éde 5,27, contra 2,22 das mulheres par-das e 1,33 das mulheres brancas.

A mortalidade das mulheres pretas portranstornos mentais é 4,5 vezes maiorquando comparado às mulheres brancas.

As mulheres pretas também apresen-tam um excesso de mortalidade por do-enças isquêmicas do coração, cerebrovas-culares, insuficiência cardíaca, hiperten-são, doenças hipertensivas e cardiopatias.Quando observamos as mortes por gra-videz, parto e puerpério entre mulheresde 10 a 49 anos, constatamos que a taxade mortalidade das mulheres pretas é de4,9, das mulheres pardas é de 2,11 e den-tre as brancas a taxa é de 1,82.

Concluindo, há uma forte relaçãoentre as desigualdades raciais, a exclu-são social vivenciada pelos negros, a for-ma como mulheres e homens sãoconstruídos socialmente e o processosaúde, doença e morte.

Os dados de mortalidade aqui apre-

sentados evidenciam isso. Eles tam-bém indicam a necessidade de políti-cas de saúde direcionadas a este gru-po populacional.

Exemplo PaulistaA Secretaria Estadual de Saúde de

São Paulo vem realizando várias açõespara promover a eqüidade racial em saú-de e transformar os estudos produzidospela academia e movimentos sociais empolíticas públicas. Destacam-se:

- Investimentos (Qualis/PSF) paraos municípios que possuem comuni-dades remanescentes de quilombos;

- Treinamento de profissionais paramelhorar a qualidade de informaçõesdo SUS quanto a coleta, processamen-to e análise do quesito cor;

- Criação do Comitê Técnico Saú-de da População Negra do Estado deSão Paulo.

Essas contribuições pretendem pro-mover a eqüidade em saúde da popu-lação negra e combater o racismo e adiscriminação nas instituições e servi-ços do Sistema Único de Saúde. Emparceria com movimentos sociais,ONGs do movimento negro e demaissetores do governo, a Secretaria come-ça a dar resposta às necessidades dapopulação negra no campo da saúde,mas para chegar à eqüidade racial noSUS ainda há um longo caminho a serpercorrido.

S

Luís E. Batista é sociólogo, Doutor emSociologia, Pesquisador do Instituto de Saúde /SES-SP, Assessor Técnico da CCD/SES-SP,coordenador do Comitê Técnico Saúde da Po-pulação Negra do Estado de S. Paulo e repre-sentante da Secretaria da Saúde no Conselhode Participação e Desenvolvimento da Comu-nidade Negra do Estado de S. Paulo.

Anna Volochko é médica, Doutora emSaúde Pública e Pesquisadora do Instituto deSaúde/SES-SP.

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16 I T E S P

Pesquisa da Esalq avaliaassentamentos do Estado

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

m projeto de pesquisa financiado pela Fapesp(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado deSão Paulo), na modalidade de políticas públicas,

possibilitou a uma equipe supervisionada pelo professorGerd Sparovek, da Escola Superior de Agricultura Luizde Queiróz (Esalq/USP), fazer uma pesquisa que resultouno relatório intitulado Avaliação das terras do Estado deSão Paulo visando o apoio de decisões ligadas à AgriculturaFamiliar. A pesquisa teve como parceiros a FundaçãoItesp e o Instituto Nacional de Colonização e ReformaAgrária (Incra) e está dividida num relatório e um AtlasRural de São Paulo.

Após longo período de análise pela Fapesp de sua via-bilidade técnica, o projeto teve início em 2003 para serexecutado ao longo de dois anos.

O relatório enviado às instituições parceiras está emforma de anexos, que são capítulos nos quais são apre-sentados os resultados das linhas de pesquisa desenvolvi-das separadamente. Apesar de integrada uma a outra, ca-

da pesquisa teve sua própria dinâmica de execução.O Anexo A consiste num Banco de Dados com infor-

mações gerais dos projetos de assentamentos seleciona-dos para a pesquisa. Para auxiliar na busca das informa-ções, foi elaborado um Atlas Rural de São Paulo (AnexoH), com detalhes da inserção dos projetos de assenta-mento no contexto socioeconômico local.

No Anexo B estão os resultados da pesquisa de avalia-ção do impacto ambiental feita em oito assentamentos,apresentando a evolução do uso da terra nas fases antes,durante e depois de instalados, para avaliar sua interfe-rência na preservação dos recursos florestais nativos.

A percepção dos assentados em relação aos proble-mas ambientais é o tema da pesquisa que resultou noAnexo C do relatório. Trata-se de uma pesquisa poramostragem feita em forma de questionários. Na elabo-ração dos questionários, foi levado em conta o históricodos assentados, para que numa próxima etapa do proje-to seja analisada uma possível relação entre a percepção

ambiental e o perfil dos agricultores.Os Anexos D, E e F mostram os relatórios

descritivos das atividades desenvolvidas si-multaneamente por três alunos, em projetosde iniciação científica, relativas a avaliaçãode impacto ambiental dos assentamentos e ocultivo de cana-de-açúcar em áreas reforma-das. E, por fim, o Anexo G são artigos apre-sentados em encontros científicos.

Com algumas exceções, este relatório con-sistiu em atender às demandas acordadas comas instituições parceiras.

No início do ano, o professor Gerd Sparo-veck apresentou, num workshop feito nasede do Itesp, os dados resultantes da pes-quisa aos técnicos da casa e repassou as ba-ses do banco de dados às duas instituiçõesparceiras. O professor Gerd pretende hos-pedá-las num sítio ligado à Esalq e aos par-ceiros. E, se conseguir financiamento, pre-tende também publicar os resultados dapesquisa em livro.

U

Equipe da Esalq apresenta resultados da pesquisa na sede do Itesp

Dodora Teixeira

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F A T O S D A T E R R A 18 17

Com o objetivo de desenvolver social e economica-mente os assentamentos do Estado, a Secretaria da Jus-tiça e da Defesa da Cidadania, a Secretaria da Agricul-tura e Abastecimento e a empresa Biocapital Consulto-ria Empresarial e Participações S/A assinaram protocolode intenções para o plantio de oleaginosas, matéria-pri-ma na produção de biodiesel.

A Secretaria da Agricultura ficou responsável por fo-mentar a produção, a Secretaria da Justiça, por meio doItesp, de prestar assistência técnica desde o preparo dosolo até o plantio, colheita e armazenamento. E a Bioca-pital, de adotar os critérios e procedimentos necessários

à concessão do selo Combustível Social. Além de definiras atribuições dos envolvidos, o protocolo de intençõesestabelece medidas para garantir o sucesso do projeto,como melhores opções logísticas para a entrega degrãos, estimativa do número de famílias beneficiadas edefinição de modelo de compra de sementes junto àCATI.

O documento esclarece ainda que todas as partes en-volvidas reconhecem saber da importância da inclusãosocial pela agricultura familiar para a geração de empre-gos e o desenvolvimento do mercado nacional debiodiesel.

O Itesp esteve presente no evento GEOBrasil 2006,em julho, representado pela servidora Márcia CristinaMarini, que apresentou um trabalho sobre o uso demetodologias rápidas com GPS para georrefe-renciamento de imóveis rurais. O trabalho foi desenvol-vido por alunos da Unesp em parceria com o Itesp.Georreferenciamento é uma das principais ferramentasutilizadas pelo Itesp nos trabalhos de regularização fun-diária. Márcia é analista de desenvolvimento fundiárioda diretoria adjunta de Recursos Fundiários do Itesp emPresidente Prudente.

Segundo ela, seu comparecimento ao evento é muitoimportante, pois, além de divulgar o nome e o trabalhodo Itesp, “posso conhecer as tendências tecnológicas eparticipar de discussões sobre assuntos comogeorrefrenciamento, cadastro rural e urbano,mapeamento, entre outros relacionados ao meu dia-a-dia de trabalho”.

O evento, realizado entre os dias 18 e 20 de julho noCentro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, é vol-tado ao mercado de geotecnologias e visa à integraçãoentre indústria e usuários.

Itesp participa de evento sobre geoinformação

Biodiesel pode ser alternativa para assentados

O Itesp e a CATI (Coordenadoria de Assistência Téc-nica Integral) aproveitaram o Dia do Agricultor, 28 dejulho, para reafirmar parceria entre as instituições e assi-nar o convênio para o Programa Estadual de Microba-cias Hidrográficas, que será estendido também aos mu-nicípios onde existem assentamentos rurais. A cerimô-nia foi realizada no auditório da CATI em Campinas.

O programa de Microbacias Hidrográficas é uma pro-posta do Governo do Estado de São Paulo, com o apoiodo Banco Mundial, para enfrentar os problemas de de-gradação dos recursos naturais de forma global e integra-da. Funciona por meio de implantação de sistemas deprodução agropecuária que possibilitem o aumento dobem-estar das populações rurais, com melhoria de rendae de produtividade, garantindo ainda a qualidade e aquantidade de águas.

Solenidade do Dia do Agricultor, em Campinas

Técni-cos doItesp já fo-ram capa-citadospara atuarno âmbitodo progra-ma. Elespassarampor umcurso comnoções bá-sicas para a elaboração do PIP (Projeto Individual dePropriedade). Dividido em dois módulos, um teórico eoutro prático, o curso foi ministrado por técnicos doItesp e da CATI.

Itesp e CATI assinam convênioRegina Bonomo

CURTAS

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4 a 6 de agosto

IV Agrifam - Feira da Agricultura Familiar e do Trabalho Rural

ACONTECEU

A quarta edição da Agrifam (Feirada Agricultura Familiar e do TrabalhoRural), em Agudos, atraiu 470 carava-nas e 32 mil visitantes . O evento con-ta com o apoio do Itesp, que estevepresente com estande institucional euma barraca na praça de alimentaçãoda feira, onde foram comercializadosprodutos dos assentamentos.

No estande institucional, foramcomercializados, entre outros produ-tos, doces, artesanatos e até ostrasfrescas do quilombo Mandira, deCananéia. Também fizeram suces-so as buchas vegetais da Eco Bu-chas, agroindústria do assenta-mento Che Guevara, de Mirantedo Paranapanema. Outra atração

do evento foi a fabri-cação de doces pelaBemacla, agroindús-tria do assentamentoReunidas, de Promis-são. As assentadasBernadete, Clarinda eErenice, proprietáriasda Bemacla, fabrica-ram os doces no protó-tipo de agroindústriaartesanal localizadono Itetresp (Institutode Treinamento deTrabalhadores Rurais), onde é reali-zada a feira.

O Itesp também foi responsávelpor duas palestras: sobre o Programa

Nacional de Crédito Fundiário, pro-ferida por Antônio Carlos de Seta, esobre Legislação da Agroindústria,proferida por Ovanyr Vinício Renesto.

Estande do Itesp no evento

Dodora Teixeira

CURTAS

A Secretária da Justiça e da Defe-sa da Cidadania, Eunice Prudente,reuniu no dia 19 de agosto, em El-dorado, um grande número degestores públicos para a primeiraAudiência Pública do GrupoGestor Quilombos. A audiênciaaconteceu no Centro Comunitá-rio de Eldorado, em São Paulo.

A proposta é que estas reuni-ões ocorram periodicamente co-mo meio de informar às comuni-dades quilombolas e demais in-teressados sobre o andamentodas ações do Programa de Coo-peração Técnica e Ação Con-junta do Grupo Gestor Quilom-bos, do Governo do Estado, eouvir as reivindicações das lideran-ças das comunidades quilombolaslocais.

Coordenada pela secretária da

Justiça, a audiência contou com aparticipação de Tibério LeonardoGuitton, assessor especial do gover-

nador respondendo pelo Itesp, doprefeito de Eldorado, Elói Fouquet,e de representantes das secretariasda Cultura; Juventude; Educação;

Saúde e Meio Ambiente; do procu-rador do Estado Alexandre Mourade Souza e de Rodrigo Antunes,

promotor de Justiça e de Cida-dania de Eldorado.

Aproveitando a ida ao Valedo Ribeira, a secretária, acom-panhada das autoridades pre-sentes, visitou a nova balsa detravessia do rio Ribeira deIguape para as comunidadesde São Pedro e Ivaporunduva,também em Eldorado. A balsafoi construída pelo Itesp e pre-feitura. A comitiva conheceuainda o Centro de Visitantesde Ivaporunduva, construídopelo Itesp, que recebeu recen-

temente recursos da Petrobrás para acompra de equipamentos, e a EscolaMaria Antonia Chules Princesa, nacomunidade de André Lopes.

Vale do Ribeira tem audiência pública

AGENDA

As comunidades apresentaram suasreivindicações

Regina Bonomo

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DESTAQUE

roduzir com qualidade oprodutor sabe. Às vezes,o que ele não sabe é ven-

der.” A afirmação, do produtor ruralassentado Edvaldo José Previatto, deAndradina, resume a importância doPrograma de Capacitação em Comer-cialização e Agroindústria Familiar,desenvolvido pelo Itesp em parceriacom o Ministério do Desenvolvimen-to Agrário. Encerrado com o Semináriode Comercialização e Feira da Agricul-tura Familiar, realizados de 11 a 13 deagosto, o programa teve justamente oobjetivo de oferecer aos produtores fer-ramentas para sua inserção competiti-va no mercado.

Além dos objetivos alcançados noseminário, a feira foi um sucesso depúblico. A grande variedade de pro-dutos, distribuídos em 20 estandes, ea boa qualidade se aliaram à locali-zação privilegiada: segundo a admi-nistração do Parque da Água Bran-ca, cerca de 40 mil pessoas visitam olocal aos finais de semana. Os orga-nizadores estimam o volume de ven-das em R$ 25 mil, aproximadamen-te. Mas destacam que o mais impor-tante foi a divulgação dos produtosda reforma agrária e a experiênciade comercialização oferecida aosparticipantes.

SeminárioAlém de uma programação de pa-

lestras, o Seminário abriu espaço pa-ra painéis e relatos orais de experi-ências de comercialização dos pro-dutores. Eles demonstraram como aorganização das comunidades e a ca-pacitação em comercialização propi-ciaram um incremento na geraçãode renda. “Eu vendia mandioca deporta em porta. Passei a vender amandioca descascada e congelada, oque aumentou as vendas. Já tenhotrês freezers. Meus planos, agora, sãocomprar um empacotador a vácuo,um veículo e um sistema de irriga-ção”, contou Humberto Couto, doassentamento Santa Carmem, deMirante do Paranapanema.

Temas como legislação, agregaçãode valor, alternativas de comercializa-ção e economia solidária foram abor-dados nas palestras. Para falar sobreeconomia solidária, por exemplo, o se-minário contou com a participação dePaul Singer, responsável por uma se-cretaria nacional dedicada ao temano âmbito do Ministério do Trabalhoe Emprego. Singer explicou que oprincípio da economia solidária é aajuda mútua, em que todos são iguais,sem patrões e empregados.

Márcio Automare, do Itesp, falou

sobre “Licitação solidária e compraspúblicas”. Segundo ele, há poucasoportunidades para a participaçãodos pequenos produtores nas com-pras feitas pelo poder público. Mas,embora sejam necessárias mudançasna legislação, a organização dos pro-dutores já pode garantir bons resulta-dos. O exemplo é o quilombo Ivapo-runduva, que ganhou uma licitaçãopara o fornecimento de banana àprefeitura de Suzano.

Os próprios assentados apresenta-ram alternativas de comercialização.É o caso do entreposto conhecidocomo “Ceasinha”, criado pelos pro-dutores do assentamento Ipanema,de Iperó. “Por que os assentamentosque produzem mandioca não mon-tam uma agroindústria de farinha?Venderia quando quisesse, quando opreço estivesse melhor”, sugeriu oassentado Carlos Aparecido Dellai.

Ao final do evento, produtores etécnicos fizeram uma avaliação posi-tiva do programa e sugeriram suacontinuidade. Uma das propostas éa realização de feiras regionais daagricultura familiar.

“P

Feira encerraPrograma de Capacitaçãoem Comercialização

Feira encerraPrograma de Capacitaçãoem Comercialização

Fotos: Dodora Teixeira

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