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Destaque 2 || Educação 8 || Sociedade 12 || JUPBOX 15 || FLASH 16 || U.Porto 18 || Desporto 19 || Cultura 22 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29|| Devaneios 31 JUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMA Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Directora Filipa Mora || Director de Fotografia Manuel Ribeiro || Directora de paginação Joana Koch Ferreira Chefe de Redacção Mariana Jacob 23 anos a contar história(s) Especial Queima Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita || Directores: Filipa Mora e Manuel Ribeiro || Director de Fotografia: José Ferreira || Directora de paginação: Joana Koch Ferreira || Chefe de Redacção: Mariana Jacob Tradições Académicas Jornal da Academia do Porto || Ano XX || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Direcção Carlos Daniel Rego e Filipa Mora || Director de Fotografia Manuel Ribeiro || Directora de paginação Marta Macedo PEDRO FERREIRA

JUP ABRIL / MAIO 2010

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Capa:Tradicoes Academicas Ficha Técnica: Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Directores: Filipa Mora e Manuel Ribeiro ||Director de Fotografia: José Ferreira || Directora de paginação: Marta Calejo || Chefe de Redacção: Mariana Jacob

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Destaque 2 || Educação 8 || Sociedade 12 || JUPBOX 15 || FLASH 16 || U.Porto 18 || Desporto 19 || Cultura 22 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29|| Devaneios 31

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A praxe é algo de que toda a gente fala, mas que poucas pessoas conhe-cem. Quem vive e sente percebe que a praxe vai muito mais além de qualquer história ou tradição. Tem um significa-do, para quem a vive, que transcende todas as definições que podemos pes-quisar nos milhares de sites, fóruns e blogues que a debatem no mundo global que é a internet.

Ainda assim, a praxe académica é frequentemente descrita como “um conjunto de usos, costumes e tradi-ções praticados dentro das academias universitárias portuguesas e que visam a integração de novos estudantes den-tro da instituição”. Esta rege-se pelo mote Dura Praxis Sed Praxis (A praxe é dura, mas é praxe).

Esta tradição teve origem na Univer-sidade de Coimbra e retoma ao século XIV, quando era praticado pelo clero. Na altura, tinha como base uma espé-cie de lei: o “foro académico”, aplicada pelos “Archeiros” cuja função era zelar pela ordem no campus e inserir os no-vos alunos na vida académica. A essên-cia manteve-se até aos dias de hoje.

Assim como a contestação. No sécu-lo XVIII surgem as trupes e a praxe vive-se sob o nome de «investidas», levadas a cabo pelos veteranos da Universida-de de Coimbra. Foi proibida pelo Rei D. João V, depois da morte de um aluno.

No século XIX ressurge e o termo é substituído por «caçoada» e «troça».

Mas novamente a sua prática é várias vezes obstruída devido a condições políticas, económicas e sociais - como a proclamação da República e a I Guer-ra Mundial.

Durante a implantação da República as actividades praxísticas são abolidas por causa da oposição dos estudantes revolucionários, voltando a ser instau-rada em 1919. Durante o Estado Novo, é também posta de parte. Os alunos concentram, a sua atenção na contes-tação ao regime salazarista. Durante a luta revolucionária, os estudantes de esquerda consideravam que a praxe distraía os estudantes da luta política, e portanto nunca foram apologistas da sua prática.

Muitos estudantes sofrem represá-lias, o que culmina no Luto Académico, em 1969. O reaparecimento da praxe acontece no final da década de 70 e rapidamente se alastra, ainda que com maior intensidade em Coimbra, ao res-to do país.

A praxe sempre teve e continuará a ter altos e baixos e quase sempre pelas mesmas razões: a forte contestação es-tudantil e as reacções que suscita.

No Porto, individualmente, não foi diferente. No caso da cidade invicta, os costumes praxísticos estão relacio-nados com o uso de um dos maiores símbolos dos estudantes: o traje.

Em 1858, os estudantes da Acade-mia Politécnica (actual Faculdade de

Engenharia) fazem uma requisição ao governo, pedindo autorização para o uso deste, tal como os estudantes de Coimbra. Qualquer que tenha sido ra-zão, o traje começa a aparecer no Porto aos poucos.

O traje sempre foi composto por capa e batina, e surge com base nas vestes eclesiásticas, uma vez que foi in-troduzido pela Igreja, que administrava o ensino Universitário.

Com o uso da Capa e da Batina, começaram a surgir na academia do Porto uma série de “instituições”, como a Tuna e o Orfeão que usavam o traje académico.

Ainda que desde sempre tenham existido alguns opositores à prática da praxe em todo o País, um dos primeiros contestadores que se conhece é Teófi-lo Braga, que viria a ser Presidente da República. O estudante refere, em rela-tos pessoais, que os alunos faltavam às aulas para escaparem à praxe.

Esta objecção materializa-se ainda em movimentos anti-praxe que sur-gem na década de 90, nomeadamente o MATA (Movimento Anti – Tradição Académica) e o Antípodas, que con-sideram que a praxe é um atentado à integridade física e psicológica e à dignidade humana. Estes movimentos evocam várias actividades praxísticas que já correram mal, nomeadamente casos em Elvas e Coimbra. Estudantes que ficaram com danos físicos perma-

nentes e uma aluna que foi coberta de excrementos depois de se declarar anti-praxe (em Santarém), receberam indemnizações dos praxistas. Este caso foi o primeiro que foi resolvido na jus-tiça.

VISAO ESTUDANTES/DOCENTES E OUTRAS MANIFESTAÇÕES

Desde cedo que diversos manifestos anti-praxe foram já assinados, inclusivamente por personalidades. O mais recente data de 2003 e foi assinado por personalidades como Pacman, Manuel Cruz, Eduardo Prado Coelho, Rosa Mota e Pedro Abrunhosa. A praxe é então uma tradição já inerente ao ensino Universitário do nosso País. Ainda assim, os alunos podem optar por fazer ou não parte desta tradição. As concepções sobre este assunto são diversas e envolvem todos os membros da comunidade académica. Mesmo os professores, que parecem por vezes distantes deste tipo de acções, têm uma palavra a dizer.Uma das posições mais demarcadas é a da Faculdades de Belas-Artes (FBAUP) da Universidade do Porto. Não é anti-praxe, apenas não a pratica. Após o Luto Académico de 1969, Belas Artes nunca retomou as praxes, sendo, na sua generalidade, anti-praxista. Arquitectura integrada na data na FBAUP, levou consigo, para o Campo Alegre, esse legado. Mas neste caso foi diferente. A Faculdade de Medicina, em parceria com Letras e Ciências, inicia na praxe cerca de 60 pessoas de Arquitectura, do 1º ao 5º ano. Neste momento, na Faculdade de Arquitectura já há um grupo de alunos que pratica a praxe, tal como

nas outras instituições. Cristina Ferreira, docente na Faculdade de Belas Artes, refere que já nos seus anos de estudante nesta faculdade a praxe não existia. Simplesmente “não é uma opção”. Apesar de participar nas restantes actividades académicas, a praxe não chega a ser considerada. Cristina Ferreira atribui este factor ao facto de, no meio artístico, a praxe não ser vista com bons olhos. Há ideias pré-concebidas acerca da praxe na Faculdade. Em Belas-Artes, os alunos são “desencorajados” a participar em praxe e a não usar o traje académico, primando pela sua individualidade e singularidade, curiosamente o contrário do que acontece nas restantes instituições. Os alunos também não estão muito interessados nisso. Cristina Ferreira diz que “a praxe é importante desde que não ultrapasse os limites. É um rito de iniciação que devia ser opção para todos.” A professora conta o caso de uma aluna de Belas-Artes que pediu autorização à direcção da faculdade para trajar, o que nem seria necessário. A aluna é que sentiu necessidade de o fazer tendo em conta a política da faculdade em relação à praxe”.Em outras Instituições da Academia do Porto, onde a praxe é praticada e aceite, a opinião dos professores não diverge muito da de Cristina Ferreira.Helena Lima, docente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, participou na praxe enquanto aluna, mas considera que “a praxe da altura era muito diferente da que se pratica agora, (…) não tinha esta conotação de regime militar”. Mas acredita que a praxe pode consistir

num elemento de integração, mas dependendo muito da forma como é praticada. Não deixa de reparar que a praxe pode prejudicar o percurso académico dos alunos. “Eles querem cumprir os próprios horários. Estão nas aulas e a pensar que o professor nunca mais se cala para irem para a praxe. É claro que não estão com atenção”. Tal como as docentes Helena Lima e Cristina Ferreira, Luís Mira Vieira, docente no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), frequentou a praxe enquanto caloiro da Faculdade de Farmácia. Achou a “experiência muito interessante”, ainda que não tenha continuado como doutor de praxe. “Eram brincadeiras muito engraçadas. Na altura ficava mesmo chateado, mas agora conto-as a toda a gente. (…) Uma vez obrigaram-me a medir a fachada toda do edifício com um palito”. Admite que actualmente já não está muito a par das tradições, mas considera que “a praxe pode ser uma óptima forma de integração, uma vez que é complicado para alunos que vêm de fora e não

conhecem ninguém”. Na opinião de Luís Vieira, a praxe pode mesmo ser uma boa forma de incentivar os alunos a estudar, uma vez que influencia o ambiente entre os alunos. “Se os alunos se sentirem bem e integrados, sentem-se incentivados. Se não, podem nem sequer ter vontade de estar ali”.Mas o docente refere que a praxe também constitui um foco de distracção. “Noto que às quintas-feiras, [dia de praxe de alguns cursos no ICBAS], os alunos estão na aula mas estão sempre muito agitados. Fisicamente estão lá, mas a cabeça já está na praxe”. Para contornar isto, sugere que “os alunos comecem a aprender a gerir os seus horários. Se amanhã têm um relatório importante para entregar, claro que hoje não vão à praxe”. Até porque “no final do curso não é a praxe que lhes vai arranjar emprego”, sublinha.Mas a praxe, para os estudantes, tem um carácter muito mais complexo do que parece e que exige uma grande disponibilidade e dedicação. Assim, existem alunos que fazem da praxe uma das ocupações mais

importantes da sua vida académica e outros preferem simplesmente dar prioridade a outras actividades por eles mais valorizadas.Joana Borges chegou ao Curso de Ciências da Informação com a ideia de que a praxe “iria valer a pena”, o irmão sempre lhe tinha dito que “era uma óptima maneira de integração e que assim poderia conhecer muitas pessoas do seu curso”. E a verdade é que a praxe não a desiludiu. Neste momento, Joana Borges frequenta o primeiro ano de Ciências da Comunicação porque entretanto mudou de curso. Mas continua a frequentar a praxe de Ciências da Informação, onde já é semi-puto [doutor de praxe com duas matrículas]. È difícil conciliar, são ambos em pólos diferentes da faculdade, mas Joana é resoluta. “Tenho de fazer imensas viagens. Mas eu acho que vale a pena. (…) Foi com aquelas pessoas que passei os meus momentos de caloira, por isso não fazia sentido mudar.”Para Joana, a praxe é muito importante e, enquanto semi-puto sabe que tem muito a aprender

mas está disposta a fazê-lo. “A praxe é para os caloiros, logo há uma grande organização por trás. Nós, semi-putos, temos a função de levar o maior número de caloiros e assistir à praxe, para que para o ano possamos ser bons praxistas.” Para a aluna, a praxe pode ser muito marcante. “Eu sou muito extrovertida e se calhar não tinha problema em falar com as pessoas, mas a verdade é que existem pessoas muito caladas e tímidas que, com a praxe, se integram mais facilmente num grupo”.Sublinha ainda que considera não existir qualquer tipo de humilhações em praxe. “Nós fazemos com que as pessoas se sintam no máximo à vontade e as pessoas de fora, que não têm conhecimento, dizem muitas vezes que na praxe se passam vergonhas e que as pessoas fazem coisas que jamais fariam noutro sítio, mas não é bem assim”. A sua função enquanto doutora de 2º ano, “é fazer com que ninguém do exterior veja a praxe. Os próprios caloiros estão impossibilitados de ver quando um está a ser praxado individualmente.

Isso é mesmo opinião de quem não está presente”.“A praxe serviu mesmo para eu me sentir muito à vontade. Dia após dia sentes-te cada vez melhor de lá estar”, conclui.Margarida Pinto é aluna do 1º ano da Faculdade de Direito e no secundário, não sabia o que era a praxe e chegou ao Porto sem expectativas. Lembrava-se da irmã chegar a casa cheia de ovos na cabeça, mas como a própria refere, “agora sei que é muito mais que isso”. Para além de lhe proporcionar momentos muito bons, acredita que a praxe lhe é útil na vida e no percurso académico, enquanto aluna de Direito.“Mantenho-me na praxe porque já tive momentos muito bons e mesmo com os menos bons, aprendi muito com eles. Daqui para a frente, as coisas não vão correr sempre bem, muito pelo contrário. E acho que a praxe acaba por me preparar muito para isso. E se calhar hoje quando alguém estiver a gritar comigo ou estiver numa oral de direito, terei uma postura completamente diferente da que teria há um tempo atrás”, afirma. A aluna de Direito acredita ainda que a praxe foi muito importante no processo de integração. “Eu não conhecia ninguém e foi na praxe que conheci. A verdade é que o meu grupo de amigos e as pessoas com quem partilho mais coisas são da praxe, não porque eu seja anti-social com as pessoas que não são da praxe ou queria seleccionar, porque não selecciono”, sublinha.Para Margarida, a praxe tem agora “muita importância”. “Se for preciso todos os dias tenho coisas da praxe”. Ainda que reconheça que por vezes o facto de ter estas actividades de praxe façam com que vá menos às aulas, a praxe tornou-se mesmo uma parte vital da vida académica que a aluna não dispensaria. “Se estamos na universidade, devemos aproveitar tudo aquilo que ela nos pode dar e nesse caso, acho que devo aproveitar a praxe”, refere.Relativamente à sua faculdade em particular, explica que se acredita que “a praxe em Direito é mais dura, há mais rigidez, mas a verdade é que praxar um médico não é a mesma coisa que praxar um juiz. Acredito que muitas das coisas que acontecem na praxe têm um porquê. Não sabemos é esses porquês logo no primeiro ano.”“Lembro-me que no primeiro dia éramos imensa gente nos degraus da faculdade à espera da primeira sessão de praxe e no final desse dia só restavam muito poucos”. Assim,

A praxe é uma tradição indissociável do Ensino Supe-rior. Mas será que é necessário seguir à risca as regras para se sentir um verdadeiro aluno universitário?

Tradições académicas: Desmistificar a praxe.

PEDRO FERREIRA

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acredita que “se a praxe fosse mais suave nos primeiros dias se calhar tinha ficado mais gente, mas não sei até que ponto é que isso era bom, porque é importante ver até onde as pessoas podem ir”. E Margarida não duvida de que um dos objectivos da praxe “é conseguir pessoas que realmente consigam aguentar” e por isso, “há uma selecção de forma natural na primeira semana. As pessoas mais frágeis não conseguem mas a partir do momento em que aguentas as primeiras semanas, ficas até ao fim”.Assim, no próximo ano, quer praxar os novos caloiros e partilhar com eles aquilo que este ano partilharam com ela. “Para mim seria estúpido não praxar porque acho que estaria a ser egoísta. Se eu tive a oportunidade de viver coisas, quero proporcioná-lo a outras pessoas”. Considera ainda que “é importante praxar. Mas é importante praxar tendo sido um bom caloiro, porque depois há os maus praxistas que se calhar praxam com um intuito muito diferente do que aqueles que já passaram por isto”.E na opinião da caloira, um bom praxista “é aquele que tem os horizontes suficientemente abertos para aceitar as pessoas que não são de praxe e que (…) consegue fazer com que no dia anterior ao dia de praxe apeteça aos caloiros ir. É aquele que vem ter connosco e nos diz uma palavrinha ou faz um gesto de apoio que pode marcar os caloiros para o resto do percurso académico, e que faz pensar que os doutores até se preocupam connosco”, finaliza.Pedro Costa, aluno do 1º ano de Bioengenharia da Faculdade de Engenharia. Experimentou a praxe durante dois meses, e ainda que tenha saído, não foi por não ter gostado. Aliás, ainda que viesse do secundário com “expectativas diferentes” e esperasse algo mais “dinâmico”, vê a praxe como “uma experiência diferente” da qual “gostou imenso”. Tal como Margarida, Pedro acredita que a praxe “era uma maneira de me integrar no espírito universitário, era uma maneira de conhecer as pessoas do meu curso”, ainda assim, “não era uma prioridade”. Como o próprio justificou, “a partir do momento em que não me deixaram conciliar a praxe com os estudos e o desporto (Pedro pratica natação de competição) á minha maneira, optei por não continuar. Conta ainda que eles [os doutores de praxe] “não eram más pessoas mas não nos deixavam fazer o que nós queríamos. Quando saíamos das aulas íamos logo ser praxados, nem nos deixavam conhecer a faculdade

e estar com os nossos amigos (…) porque dizem que é para conhecer os outros e às vezes nem podemos falar com eles. Mas sei de algumas pessoas do meu curso que vão à praxe até se tornaram grandes amigas”, assegura.Pedro acredita ainda que a praxe é importante na ajuda à integração, na interacção com alunos mais velhos do mesmo curso e como ele próprio refere, “para perceber como tudo funciona”. Mas na sua opinião, “os alunos não podem fazer da praxe o expoente máximo da sua vida universitária”. Ele acredita que “uma praxe mais liberal” até o motivaria mais, porque o que menos apreciou foi “que o pusessem entre a espada e a parede”, porque “desta maneira, quem quer ter boas notas, acaba sempre por deixar de ir. A praxe exige muito tempo”.Em relação às polémicas de violência e abusos em praxe, Pedro não concorda. “Nunca sofri violência nenhuma. Somos um bocadinho gozados, mas basta entrarmos no jogo e pode ser muito engraçado”. Ainda assim, sente a discriminação na pele, por parte de alguns colegas. “Houve pessoas que deixaram de falar para mim quando deixei a praxe, mas isso não são os alunos mais velhos, são mesmo colegas meus que não entendem o porquê de não termos a mesma visão que eles [da praxe] ”. Ainda que a praxe seja evocada como ritual de integração, Pedro sente-se “totalmente integrado (…), e nunca me senti excluído de nada por não ir [à praxe].”O aluno universitário não deixa de referir que considera “as tradições académicas mesmo importantes”, e ainda que tenha pena de não ter conseguido conciliar, afirma: “não vou deixar de viver a vida académica por causa disso. Aliás, espero participar no cortejo, vou trajar e vou continuar a sentir-me um aluno da Universidade do Porto, tanto ou mais que os meus colegas que andam na praxe”.Dinis Oliveira, colega de Pedro Costa enquanto aluno do 1º ano de Bioengenharia, foi mais radical. Nunca experimentou a praxe, e continua a não ter curiosidade em fazê-lo. No secundário, tinha a ideia de que “a praxe era uma perda de tempo e que existiam outras formas de conhecer pessoas sem perder horas naquelas actividades [de praxe] menos interessantes”. Agora, afirma que a ideia se mantém, embora tenha ficado mais elaborada. Não aprecia as hierarquias e a rigidez de toda a actividade praxista. Quanto à praxe enquanto

integração, Dinis reconhece que poderia ser diferente.“Parece-me que poderia estar mais bem integrado nalguns grupos de alunos se tivesse ido, mas por outro, estou satisfeito por não ter ido porque compensou a nível académico. Seguir matérias e assim…”, declara. “Não conheço os nomes de tantas pessoas como poderia conhecer (…) mas também estamos muito no início”, e acredita que isso também se pode dever ao facto de não ser muito extrovertido. “Como não fui, dou-me com pessoas que também não são da praxe”, reconhece. Ainda assim, e ao contrário de Pedro, afirma que não se sente discriminado, “de maneira nenhuma”.Apesar das boas experiências vividas pelos alunos ou da simples opção de se manter aparte do movimento, nem tudo parece ser favorável e simples.Uma estudante da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto descreve a sua experiência como “inútil” e “uma perda de tempo”.A aluna frequentou a praxe durante quase quatro meses. Afirma que não é propriamente anti-praxe mas é contra a maneira como ela é encarada. “Se é suposto a praxe servir para integrar um estudante na vida académica e incutir espírito de grupo, não foi esse o meu caso. Penso que devia haver uma mudança relativamente ao conceito de praxe”. Sublinha ainda que “não era contra a praxe se isso não prejudicasse o horário de estudo, se não obrigasse a estar tantas horas sem fazer nada e a ouvir pessoas a dizerem-me coisas sem sentido. (…) Ninguém me ajudou em nada nessa altura, e não me diverti minimamente com o que fazíamos”. Refere mesmo que, visto não ser do Porto, a mudança foi muito complicada e a praxe nem a conhecer a cidade ajudou. “Obrigavam-me a estar cedo na faculdade e a ir muito tarde para casa sozinha, não tendo tempo para mais nada”.Faz questão de referir que “No caso da minha faculdade, a praxe não é muito agressiva em termos de humilhações”, ainda assim, a estudante de Farmácia acredita que “Era perder tempo gratuitamente. Tempo importante para outras coisas, até porque os caloiros não podiam falar entre si. Só fiz amigos na faculdade durante as aulas, depois de sair da praxe”. Na sua opinião, “a praxe podia ser um espaço em que os estudantes partilhassem experiências e debatessem assuntos ou uma forma de se divertirem todos juntos sem

hierarquias e regras. O mote da praxe devia ser incluir ao máximo as pessoas e tratá-las com respeito e igualdade e não excluir quem não faz parte”.A estudante vai mais longe e diz que “Se os estudantes se juntassem para defender causas justas com o empenho com que se juntam para participar na praxe, o ensino superior e muita coisa no nosso país podia ser diferente. Só assim haveria uma verdadeira união de estudantes dentro da Universidade do Porto”. Mas não se fica por aqui. “Penso que este é um problema que os estudantes vão ter de resolver futuramente entre si, pois estarmos a perder o nosso espírito crítico e o poder que tínhamos para mudar e para revolucionar”, conclui.

OUTRAS FORMAS DE INTEGRAÇÃO ACADÉMICA

Desde cedo que diversos manifestos anti-praxe foram já assinados, inclusivamente por personalidades.

O mais recente data de 2003 e foi assinado por personalidades como Pacman, Manuel Cruz, Eduardo Prado Coelho, Rosa Mota e Pedro Abrunhosa. A praxe é então uma tradição já inerente ao ensino Universitário do nosso País. Ainda assim, os alunos podem optar por fazer ou não parte desta tradição. As concepções sobre este assunto são diversas e envolvem todos os membros da comunidade académica. Mesmo os professores, que parecem por vezes distantes deste tipo de acções, têm uma palavra a dizer.Uma das posições mais demarcadas é a da Faculdades de Belas-Artes (FBAUP) da Universidade do Porto. Não é anti-praxe, apenas não a pratica. Após o Luto Académico de 1969, Belas Artes nunca retomou as praxes, sendo, na sua generalidade, anti-praxista. Arquitectura integrada na data na FBAUP, levou consigo, para o Campo Alegre, esse legado. Mas neste caso foi diferente. A Faculdade de

Medicina, em parceria com Letras e Ciências, inicia na praxe cerca de 60 pessoas de Arquitectura, do 1º ao 5º ano. Neste momento, na Faculdade de Arquitectura já há um grupo de alunos que pratica a praxe, tal como nas outras instituições. Cristina Ferreira, docente na Faculdade de Belas Artes, refere que já nos seus anos de estudante nesta faculdade a praxe não existia. Simplesmente “não é uma opção”. Apesar de participar nas restantes actividades académicas, a praxe não chega a ser considerada. Cristina Ferreira atribui este factor ao facto de, no meio artístico, a praxe não ser vista com bons olhos. Há ideias pré-concebidas acerca da praxe na Faculdade. Em Belas-Artes, os alunos são “desencorajados” a participar em praxe e a não usar o traje académico, primando pela sua individualidade e singularidade, curiosamente o contrário do que acontece nas restantes instituições. Os alunos também não estão muito

interessados nisso. Cristina Ferreira diz que “a praxe é importante desde que não ultrapasse os limites. É um rito de iniciação que devia ser opção para todos.” A professora conta o caso de uma aluna de Belas-Artes que pediu autorização à direcção da faculdade para trajar, o que nem seria necessário. A aluna é que sentiu necessidade de o fazer tendo em conta a política da faculdade em relação à praxe”.Em outras Instituições da Academia do Porto, onde a praxe é praticada e aceite, a opinião dos professores não diverge muito da de Cristina Ferreira.Helena Lima, docente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, participou na praxe enquanto aluna, mas considera que “a praxe da altura era muito diferente da que se pratica agora, (…) não tinha esta conotação de regime militar”. Mas acredita que a praxe pode consistir num elemento de integração, mas dependendo muito da forma como é

praticada. Não deixa de reparar que a praxe pode prejudicar o percurso académico dos alunos. “Eles querem cumprir os próprios horários. Estão nas aulas e a pensar que o professor nunca mais se cala para irem para a praxe. É claro que não estão com atenção”. Tal como as docentes Helena Lima e Cristina Ferreira, Luís Mira Vieira, docente no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), frequentou a praxe enquanto caloiro da Faculdade de Farmácia. Achou a “experiência muito interessante”, ainda que não tenha continuado como doutor de praxe. “Eram brincadeiras muito engraçadas. Na altura ficava mesmo chateado, mas agora conto-as a toda a gente. (…) Uma vez obrigaram-me a medir a fachada toda do edifício com um palito”. Admite que actualmente já não está muito a par das tradições, mas considera que “a praxe pode ser uma óptima forma de integração, uma vez que é complicado para alunos que vêm de fora e não conhecem ninguém”. Na opinião de Luís Vieira, a praxe pode mesmo ser uma boa forma de incentivar os alunos a estudar, uma vez que influencia o ambiente entre os alunos. “Se os alunos se sentirem bem e integrados, sentem-se incentivados. Se não, podem nem sequer ter vontade de estar ali”.Mas o docente refere que a praxe também constitui um foco de distracção. “Noto que às quintas-feiras, [dia de praxe de alguns cursos no ICBAS], os alunos estão na aula mas estão sempre muito agitados. Fisicamente estão lá, mas a cabeça já está na praxe”. Para contornar isto, sugere que “os alunos comecem a aprender a gerir os seus horários. Se amanhã têm um relatório importante para entregar, claro que hoje não vão à praxe”. Até porque “no final do curso não é a praxe que lhes vai arranjar emprego”, sublinha.Mas a praxe, para os estudantes, tem um carácter muito mais complexo do que parece e que exige uma grande disponibilidade e dedicação. Assim, existem alunos que fazem da praxe uma das ocupações mais importantes da sua vida académica e outros preferem simplesmente dar prioridade a outras actividades por eles mais valorizadas.Joana Borges chegou ao Curso de Ciências da Informação com a ideia de que a praxe “iria valer a pena”, o irmão sempre lhe tinha dito que “era uma óptima maneira de integração e que assim poderia conhecer muitas pessoas do seu curso”. E a verdade é que a praxe não a desiludiu. Neste momento, Joana Borges frequenta o primeiro ano de

Ciências da Comunicação porque entretanto mudou de curso. Mas continua a frequentar a praxe de Ciências da Informação, onde já é semi-puto [doutor de praxe com duas matrículas]. È difícil conciliar, são ambos em pólos diferentes da faculdade, mas Joana é resoluta. “Tenho de fazer imensas viagens. Mas eu acho que vale a pena. (…) Foi com aquelas pessoas que passei os meus momentos de caloira, por isso não fazia sentido mudar.”Para Joana, a praxe é muito importante e, enquanto semi-puto sabe que tem muito a aprender mas está disposta a fazê-lo. “A praxe é para os caloiros, logo há uma grande organização por trás. Nós, semi-putos, temos a função de levar o maior número de caloiros e assistir à praxe, para que para o ano possamos ser bons praxistas.” Para a aluna, a praxe pode ser muito marcante. “Eu sou muito extrovertida e se calhar não tinha problema em falar com as pessoas, mas a verdade é que existem pessoas muito caladas e tímidas que, com a praxe, se integram mais facilmente num grupo”.Sublinha ainda que considera não existir qualquer tipo de humilhações em praxe. “Nós fazemos com que as pessoas se sintam no máximo à vontade e as pessoas de fora, que não têm conhecimento, dizem muitas vezes que na praxe se passam vergonhas e que as pessoas fazem coisas que jamais fariam noutro sítio, mas não é bem assim”. A sua função enquanto doutora de 2º ano, “é fazer com que ninguém do exterior veja a praxe. Os próprios caloiros estão impossibilitados de ver quando um está a ser praxado individualmente. Isso é mesmo opinião de quem não está presente”.“A praxe serviu mesmo para eu me sentir muito à vontade. Dia após dia sentes-te cada vez melhor de lá estar”, conclui.Margarida Pinto é aluna do 1º ano da Faculdade de Direito e no secundário, não sabia o que era a praxe e chegou ao Porto sem expectativas. Lembrava-se da irmã chegar a casa cheia de ovos na cabeça, mas como a própria refere, “agora sei que é muito mais que isso”. Para além de lhe proporcionar momentos muito bons, acredita que a praxe lhe é útil na vida e no percurso académico, enquanto aluna de Direito.“Mantenho-me na praxe porque já tive momentos muito bons e mesmo com os menos bons, aprendi muito com eles. Daqui para a frente, as coisas não vão correr sempre bem, muito pelo contrário. E acho que a praxe acaba por me preparar muito

para isso. E se calhar hoje quando alguém estiver a gritar comigo ou estiver numa oral de direito, terei uma postura completamente diferente da que teria há um tempo atrás”, afirma. A aluna de Direito acredita ainda que a praxe foi muito importante no processo de integração. “Eu não conhecia ninguém e foi na praxe que conheci. A verdade é que o meu grupo de amigos e as pessoas com quem partilho mais coisas são da praxe, não porque eu seja anti-social com as pessoas que não são da praxe ou queria seleccionar, porque não selecciono”, sublinha.Para Margarida, a praxe tem agora “muita importância”. “Se for preciso todos os dias tenho coisas da praxe”. Ainda que reconheça que por vezes o facto de ter estas actividades de praxe façam com que vá menos às aulas, a praxe tornou-se mesmo uma parte vital da vida académica que a aluna não dispensaria. “Se estamos na universidade, devemos aproveitar tudo aquilo que ela nos pode dar e nesse caso, acho que devo aproveitar a praxe”, refere.Relativamente à sua faculdade em particular, explica que se acredita que “a praxe em Direito é mais dura, há mais rigidez, mas a verdade é que praxar um médico não é a mesma coisa que praxar um juiz. Acredito que muitas das coisas que acontecem na praxe têm um porquê. Não sabemos é esses porquês logo no primeiro ano.”“Lembro-me que no primeiro dia éramos imensa gente nos degraus da faculdade à espera da primeira sessão de praxe e no final desse dia só restavam muito poucos”. Assim, acredita que “se a praxe fosse mais suave nos primeiros dias se calhar tinha ficado mais gente, mas não sei até que ponto é que isso era bom, porque é importante ver até onde as pessoas podem ir”. E Margarida não duvida de que um dos objectivos da praxe “é conseguir pessoas que realmente consigam aguentar” e por isso, “há uma selecção de forma natural na primeira semana. As pessoas mais frágeis não conseguem mas a partir do momento em que aguentas as primeiras semanas, ficas até ao fim”.Assim, no próximo ano, quer praxar os novos caloiros e partilhar com eles aquilo que este ano partilharam com ela. “Para mim seria estúpido não praxar porque acho que estaria a ser egoísta. Se eu tive a oportunidade de viver coisas, quero proporcioná-lo a outras pessoas”. Considera ainda que “é importante praxar. Mas é importante praxar tendo sido um bom caloiro, porque

PEDRO FERREIRA

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depois há os maus praxistas que se calhar praxam com um intuito muito diferente do que aqueles que já passaram por isto”.E na opinião da caloira, um bom praxista “é aquele que tem os horizontes suficientemente abertos para aceitar as pessoas que não são de praxe e que (…) consegue fazer com que no dia anterior ao dia de praxe apeteça aos caloiros ir. É aquele que vem ter connosco e nos diz uma palavrinha ou faz um gesto de apoio que pode marcar os caloiros para o resto do percurso académico, e que faz pensar que os doutores até se preocupam connosco”, finaliza.Pedro Costa, aluno do 1º ano de Bioengenharia da Faculdade de Engenharia. Experimentou a praxe durante dois meses, e ainda que tenha saído, não foi por não ter gostado. Aliás, ainda que viesse do secundário com “expectativas diferentes” e esperasse algo mais “dinâmico”, vê a praxe como “uma experiência diferente” da qual “gostou imenso”. Tal como Margarida, Pedro acredita que a praxe “era uma maneira de me integrar no espírito universitário, era uma maneira de conhecer as pessoas do meu curso”, ainda assim, “não era uma prioridade”. Como o próprio justificou, “a partir do momento em que não me deixaram conciliar a praxe com os estudos e o desporto (Pedro pratica natação de competição) á minha maneira, optei por não continuar. Conta ainda que eles [os doutores de praxe] “não eram más pessoas mas não nos deixavam fazer o que nós queríamos. Quando saíamos das aulas íamos logo ser praxados, nem nos deixavam conhecer a faculdade e estar com os nossos amigos (…) porque dizem que é para conhecer os outros e às vezes nem podemos falar com eles. Mas sei de algumas pessoas do meu curso que vão à praxe até se tornaram grandes amigas”, assegura.Pedro acredita ainda que a praxe é importante na ajuda à integração, na interacção com alunos mais velhos do mesmo curso e como ele próprio refere, “para perceber como tudo funciona”. Mas na sua opinião, “os alunos não podem fazer da praxe o expoente máximo da sua vida universitária”. Ele acredita que “uma praxe mais liberal” até o motivaria mais, porque o que menos apreciou foi “que o pusessem entre a espada e a parede”, porque “desta maneira, quem quer ter boas notas, acaba sempre por deixar de ir. A praxe exige muito tempo”.Em relação às polémicas de violência e abusos em praxe, Pedro não concorda. “Nunca sofri violência

nenhuma. Somos um bocadinho gozados, mas basta entrarmos no jogo e pode ser muito engraçado”. Ainda assim, sente a discriminação na pele, por parte de alguns colegas. “Houve pessoas que deixaram de falar para mim quando deixei a praxe, mas isso não são os alunos mais velhos, são mesmo colegas meus que não entendem o porquê de não termos a mesma visão que eles [da praxe] ”. Ainda que a praxe seja evocada como ritual de integração, Pedro sente-se “totalmente integrado (…), e nunca me senti excluído de nada por não ir [à praxe].”O aluno universitário não deixa de

referir que considera “as tradições académicas mesmo importantes”, e ainda que tenha pena de não ter conseguido conciliar, afirma: “não vou deixar de viver a vida académica por causa disso. Aliás, espero participar no cortejo, vou trajar e vou continuar a sentir-me um aluno da Universidade do Porto, tanto ou mais que os meus colegas que andam na praxe”.Dinis Oliveira, colega de Pedro Costa enquanto aluno do 1º ano de Bioengenharia, foi mais radical. Nunca experimentou a praxe, e continua a não ter curiosidade em fazê-lo. No secundário, tinha a ideia de que

“a praxe era uma perda de tempo e que existiam outras formas de conhecer pessoas sem perder horas naquelas actividades [de praxe] menos interessantes”. Agora, afirma que a ideia se mantém, embora tenha ficado mais elaborada. Não aprecia as hierarquias e a rigidez de toda a actividade praxista. Quanto à praxe enquanto integração, Dinis reconhece que poderia ser diferente.“Parece-me que poderia estar mais bem integrado nalguns grupos de alunos se tivesse ido, mas por outro, estou satisfeito por não ter ido porque compensou a nível académico. Seguir matérias e

assim…”, declara. “Não conheço os nomes de tantas pessoas como poderia conhecer (…) mas também estamos muito no início”, e acredita que isso também se pode dever ao facto de não ser muito extrovertido. “Como não fui, dou-me com pessoas que também não são da praxe”, reconhece. Ainda assim, e ao contrário de Pedro, afirma que não se sente discriminado, “de maneira nenhuma”.Apesar das boas experiências vividas pelos alunos ou da simples opção de se manter aparte do movimento, nem tudo parece ser favorável e simples.Uma estudante da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto descreve a sua experiência como “inútil” e “uma perda de tempo”.A aluna frequentou a praxe durante quase quatro meses. Afirma que não é propriamente anti-praxe mas é contra a maneira como ela é encarada. “Se é suposto a praxe servir para integrar um estudante na vida académica e incutir espírito de grupo, não foi esse o meu caso. Penso que devia haver uma mudança relativamente ao conceito de praxe”. Sublinha ainda que “não era contra a praxe se isso não prejudicasse o horário de estudo, se não obrigasse a estar tantas horas sem fazer nada e a ouvir pessoas a dizerem-me coisas sem sentido. (…) Ninguém me ajudou em nada nessa altura, e não me diverti minimamente com o que fazíamos”. Refere mesmo que, visto não ser do Porto, a mudança foi muito complicada e a praxe nem a conhecer a cidade ajudou. “Obrigavam-me a estar cedo na faculdade e a ir muito tarde para casa sozinha, não tendo tempo para mais nada”.Faz questão de referir que “No caso da minha faculdade, a praxe não é muito agressiva em termos de humilhações”, ainda assim, a estudante de Farmácia acredita que “Era perder tempo gratuitamente. Tempo importante para outras coisas, até porque os caloiros não podiam falar entre si. Só fiz amigos na faculdade durante as aulas, depois de sair da praxe”. Na sua opinião, “a praxe podia ser um espaço em que os estudantes partilhassem experiências e debatessem assuntos ou uma forma de se divertirem todos juntos sem hierarquias e regras. O mote da praxe devia ser incluir ao máximo as pessoas e tratá-las com respeito e igualdade e não excluir quem não faz parte”.A estudante vai mais longe e diz que “Se os estudantes se juntassem para defender causas justas com

o empenho com que se juntam para participar na praxe, o ensino superior e muita coisa no nosso país podia ser diferente. Só assim haveria uma verdadeira união de estudantes dentro da Universidade do Porto”. Mas não se fica por aqui. “Penso que este é um problema que os estudantes vão ter de resolver futuramente entre si, pois estarmos a perder o nosso espírito crítico e o poder que tínhamos para mudar e para revolucionar”, conclui.

ORFEÃO UNIVERSITARIO

Também no Orfeão Universitário do Porto (OUP) a praxe é símbolo de integração. Surgiu da necessidade de uma hierarquia mas é uma praxe diferente da habitual, mais centrada na vertente logística. “ (Os caloiros) têm que aprender a montar um espectáculo, a organizar, a saber que instrumentos são precisos para cada grupo”, refere Eva Mesquita Cordeiro, presidente do grupo académico. E “é aquela cordialidade – os mais velhos já carregaram, logo, carregam os mais novos”, afirma.

Relativamente ao traje, o Orfeão persiste na conservação do uso da capa e da batina. No entanto, distingue-se do traje tradicional da Academia. Segundo Eva Cordeiro “O traje académico feminino nasceu em 1944 no Orfeão Universitário do Porto. (Elas) usavam um vestido com a faixa preta, da cor do Orfeão. Só depois é que se sentiu a necessidade de criar um uniforme para a mulher, daí usarmos meia branca. Depois a praxe é que adoptou o nosso traje, mudando,individualizando-o,

usando a meia preta.”

OUTRAS FORMAS DE INTEGRAÇÃO ACADÉMICA

A Real Tertúlia dos Bastardos é uma das alternativas à praxe habitual e apenas existe na Secção Autónoma de Ciências da Comunicação da UP. Existe há cerca de cinco anos e tem cada vez mais participantes, que pretendem a integração no mundo académico, mas sem as regras mais rígidas da praxe. “O grande objectivo é integrar as pessoas que entram no curso”, conta Bárbara Pinho, a actual responsável pela Real Tertúlia dos Bastardos. Na sua Carta de Princípios, a Tertúlia assume-se como um “grupo académico vedado a praxistas”, descartando qualquer associação a alguma actividade praxística, seja física ou psicológica. “Nós não fazemos praxe. Só nos reunimos e estamos juntos. Além das reuniões marcamos jantares para convivermos uns com os

outros”, assegura Bárbara. A responsável afirma ainda que na Tertúlia “ se pretende que os mais novos tenham sempre alguém a quem pedir apontamentos e que lhes conte o que se passa no curso. O ambiente é informal”. As tradições académicas são seguidas da mesma forma, podendo os “tertulianos” usar traje (já que este é académico), terem direito a Baptismo e participarem na Serenata. Mas, durante o cortejo, os participantes na Tertúlia não passam na tribuna, como os restantes colegas que pertencem à praxe. Não obstante, as insígnias, como a semente, nabo ou grelo, não são permitidas, pois são de cariz praxístico. Também existe uma hierarquia dentro da Real Tertúlia dos Bastardos, mas que serve como “uma mera formalidade”. Bárbara Pinho salienta

que ninguém se trata por “doutor” e nem se fazem saudações, “podem olhar-nos nos olhos e sentar-se ao mesmo nível que nós”. A responsável lembra ainda que sentiu alguma picardia entre a Tertúlia e a Praxe: “já sentimos bastante discriminação, apesar de agora ter diminuído um pouco. Mas chegaram a perseguir-nos e boicotar as nossas reuniões”. Além disso, Bárbara refere que os cartazes que anunciavam os encontros da Tertúlia foram arrancados. A responsável acrescenta que “os cartazes são colocados em finais de Outubro para que os caloiros experimentem a Praxe, e só depois decidam se querem ou não, ir à Tertúlia”. Bárbara Pinho esclarece que a Tertúlia é anti-praxe, mas que há respeito pelas actividades praxísticas, “não somos contra a praxe e nem competimos com

ela”. A Real Tertúlia dos Bastardos é organizada por uma comissão de cinco pessoas, que existe para alterar algo na Carta de Princípios, quando necessário. O objectivo passa agora pela passagem da Tertúlia a uma instituição, “para que qualquer pessoa da Universidade

do Porto pudesse entrar”

FAP – FEDERAÇÃO ACADÉMICA DO PORTO

A Academia do Porto é formada por todos os estudantes de ensino superior da área metropolitana. Seja Universidade Pública, Privada, Politécnicos ou outros. Segundo o site da própria instituição, a Federação Académica do Porto (FAP) surge “como interlocutor representativo da maior Academia do país (…). Assume-se

como organismo coordenador do movimento estudantil, criando os meios para a união das diversas associações.” Segundo a mesma fonte, a FAP “é constituída por 26 Associações, fiéis depositárias dos interesses dos seus estudantes, que são mais de 70 000”. Isto é, a FAP é constituída pelas associações de estudantes da Academia do Porto. Quer sejam praxistas quer sejam anti-praxe. Porque o conceito é ‘académico’ e não praxista. Qualquer aluno, independentemente das suas crenças, é aluno da Academia do Porto e portanto usufrui das actividades da FAP e tem os mesmo direitos e deveres que qualquer outro. Senão, que legitimidade teria a FAP de representar associações como a de Belas-Artes?Os dirigentes da FAP devem ainda ser isentos de opções e partidos. Enquanto representantes da

PEDRO FERREIRA

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ação

“Sem fronteiras, como o conhecimento.”

8ª Mostra da Universidade do Porto

Entre os dias 25 a 28 de Março, as diversas cores, correspondentes às Faculdades da Universidade do Porto, animaram o Pavilhão Rosa Mota. O evento contou mais de 14 mil visitantes.

O principal objectivo da 8ª Mostra da Universidade do Porto é proporcionar “quatro dias de informação,experimentação e descoberta”. CadaFaculdade procurou responder ao requisito essencial: promover actividades de ensino, investigação, inovação e interacção com a comunidade. Esta iniciativa é destinada, principalmente, a jovens interessados em prosseguir estudos no ensino superior, mas está aberta a um público muito mais vasto, em termos de idade, formação, origem e áreas de interesse. Assim, pretende-se promover uma visita atenta, com a possibilidade do diálogo e contacto directos com profissionais e estudantes. Deste modo, tenta

cumprir-se a máxima: “Sem fronteiras, como o conhecimento”.

Uma das bancas representadas na mostra deste ano foi a da Faculdade de Ciências (FCUP), que recolheu grande receptividade por parte dos visitantes. Elisabete Rodrigues, do Gabinete de Imagem e Relação com o Exterior, adiantou que um objectivos fundamentais da presença da Faculdade nesta Mostra é dar a conhecer, de forma clara e objectiva, as informações chave que os alunos interessados necessitam, acerca de cada curso e da própria Faculdade. Sob o slogan “Ciências como o teu futuro”, a organização procurou apelar, através de actividades e experiências práticas, ao conhecimento de outras vias do saber, mais distantes das ditas “ciências clássicas”.

A Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP) aglomerou muitas pessoas junto à sua caixa “Olha p’ra dentro e faz-te ao mundo”. Sofia Marques da Silva é a principal mentora deste projecto que, segundo a mesma, é preparado desde o final da Mostra da UP do passado ano. Segundo a professora, o projecto teve por base um conceito que pretendia apresentar, por um lado, a área de psicologia e, por outro, a área de ciências da educação. O passo seguinte consistiu em materializar o conceito, tornando-o apelativo para os visitantes e capaz de concorrer com as outras actividades presentes na Mostra. O resultado final foi uma caixa preta, de um lado fechada, onde é suposto incentivar os visitantes a entrar num espaço recolhido, isolado por uma cortina, e ouvirem, através de auscultadores, curiosidades, questões, relatos de casos/histórias verídicas que, de algum modo, levem à reflexão e ao exercício prático da psicologia. Do outro lado, encontramos uma parte da caixa aberta, um espaço circular, dinâmico, onde são discutidos, em grupo, temas como a participação cívica e a cidadania, a mediação de conflitos, a sexualidade entre os jovens, entre outros temas que procuraram ser abordados de um modo cativante e que envolvesse e interessasse os participantes. Isabel Lopes, uma das curiosas, foi uma das que viveu a experiência, “fiquei impressionada, foi inesperado a quantidade de temas abordados”. “Consolidei o desejo de seguir psicologia, pois gostei imenso”, acrescenta Isabel. A tia Nazaré Maia, enfermeira de profissão, valoriza ainda “a variedade de temas”. ”Sinto em mim a missão do psicólogo”, despertou em mim ainda mais o “saber o porquê, perceber e ajudar”

as pessoas, finaliza Isabel Lopes. Para a posteridade ficam as mensagens dos seus post-its:“Trabalho muito original, interessante, que realça pontos principais, que se relaciona com o nosso dia a dia. Muito importante!!! Obrigada. Nazaré Maia” “Gostei imenso!... Vi, aprendi e apercebi-me que apesar do que os outros dizem mais vale seguir o que gosto e ser feliz que chorar por não ter tomado a decisão certa. Em relação a actividade, para o ano repito a experiência! Isabel Lopez” Manuel Barros, aluno da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), participou, pela primeira vez, na Mostra, apresentando os cursos disponíveis e dando esclarecimentos. “O objectivo é atrair os jovens, dando a conhecer as principais vantagens de estudar na FEUP”, afirma o estudante. Exemplo disto mesmo são as actividades laboratoriais a decorrer em alguns espaços destinados à FEUP, que proporcionam uma maior interactividade e captação de jovens.

Foram diversas as escolas que rumaram ao Palácio da Bolsa. Vânia Pinto, uma das alunas da escola D. Dinis, tem achado o evento “bastante interessante e criativo – as experiências são bastante fixes”. No entanto, afirma: “ainda não estou segura do curso que quero”.

Após 8 anos de existência, há quem avance com balanços relativamente à utilidade da Mostra da UP. Apesar das reacções à Mostra serem, de um modo global, bastante positivas, existem expectativas mais altas para alguns dos envolvidos na parte organizativa do evento. Sofia Marques da Silva, que se encontra, pelo segundo ano consecutivo, envolvida na organização da Mostra pela FPCEUP, lamenta o espaço muito limitado que as ciências sociais e humanas possuem para divulgar os seus cursos. No entanto, encara de forma positiva a criação de novos espaços, como o speed dating, bem como o voluntarismo dos alunos e pessoal envolvido. Para tal, a professora chama à atenção para a importância das formações, de modo a que cada membro cumpra a sua função, da melhor forma.

Elizabete Rodrigues, envolvida desde o início na presença da FCUP na Mostra da UP, vê estes 8 anos como um processo evolutivo, no sentido da melhoria das condições de qualidade da Mostra. Contudo, segundo ela, é necessário “mudar o estilo da Mostra; renová-la”. Fica o desafio, para o próximo ano...

Universidade Júnior 2010 - A UP mostra-se por dentro

No Verão de 2010, as principais faculdades da Universidade do Porto vão abrir, novamente, as portas a alunos do ensino básico e secundário. O desafio é simples: desfrutar de diversas actividades e projectos de investigação na maior Universidade do País.

São esperados cerca de 5000 jovens estudantes, do 5º ao 11º ano de escolaridade, em mais uma edição da Universidade Júnior. Tal acontece quando a Universidade do Porto comemora 99 anos de existência e após quatro dias de divulgação da oferta formativa da Instituição, na 8ª Mostra da UP.

O programa propõe uma oferta diversificada, em termos de áreas de investigação e de públicos-alvo. As oficinas de Verão são destinadas a alunos do 7º e 8º anos de escolaridade, que ainda não se encontram preparados para ingressar na Universidade. Existe ainda o Verão em Projecto, indicado para alunos do 9º ou 11º anos, indecisos quanto à área de estudo a seguir.

Além da exploração de novas áreas do saber e do contacto com o mundo académico, este programa nacional pretende o convívio entre jovens da mesma idade, de várias zonas do país. Assim, a Universidade do Porto apresenta um programa de alojamento e um suplemento de actividades, conduzido pela empresa Vértico, Lda, indicado para alunos de fora do Grande Porto.

As inscrições estão abertas desde 25 de Março de 2010 até 4 de Junho de 2010. A inscrição é feita online, de acordo com as normas presentes no sítio da internet http://universidadejunior.up.pt/index.php/. Aqui, podem, ainda, encontrar-se muitas mais informações, que interessam a todos aqueles que quiserem ter umas férias de Verão diferentes. De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, a oferta promete ser variada e divertida. MARIANA TEIXEIRA [email protected]

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Academia, deverão representar a Academia, composta por todos os alunos e não tomar grupos isolados, quer sejam praxistas ou não. Deverão representar, sim, uma mediação entre eles. Aliás, a FAP descreve-se como sendo um “espelho de um movimento associativo que se quer dinâmico e interactivo. É um espaço de trabalho, convívio e de aproximação aos estudantes.”Como tal, todas as actividades realizadas pela FAP - como a Queima das fitas (que envolve o Cortejo, a Monumental Serenata, a Bênção das Pastas, etc. …) - são dirigidas a todos os estudantes da Academia do Porto, ainda que esta seja realizada com a colaboração do Magnum Concilium Veteranorum, instituição da Academia. Segundo a FAP, a história da Queima das Fitas no Porto surge em 1920, quando os finalistas de Medicina da Universidade do Porto faziam a chamada “Festa da Pasta”, considerada a origem da Queima das Fitas do Porto. “Desde então, este evento tem sofrido uma progressiva mutação: deixou de ser exclusivamente uma festa restrita aos estudantes para passar a ser a segunda maior festa da cidade do Porto e a maior festa académica do país.” Precisamente. A Queima das Fitas é uma festa académica.Para além disto, em todos os locais referentes ao Cortejo pela FAP, este está sempre identificado como Cortejo Académico do Porto, não tendo qualquer relação com a actividade praxista. Deste modo, não se entende o porquê de, todos os anos, vários alunos anti-praxe da Academia não terem o mesmo direito de desfilar com o seu curso no Cortejo. Se consideram legítimo ser vedado aos alunos que não se encontram em praxe, visto ser representado pelo Magnum Concilium Veteranorum, então a FAP não tem o direito de lhe chamar académico.

O JUP tentou entrevistar o actual presidente Ricardo Morgado que, por indisponibilidade, não conseguiu aceder ao pedido antes do fecho desta edição. Tentou igualmente contactar Américo Martins, DUX VETERANORUM da Academia do Porto. Tais tentativas revelaram-se infrutíferas. JULIA ROCHA, LILIANA PINHO TERESA CAEIRO

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Foi na biblioteca da FLUP que es-teve patente de 15 a 20 de Março a exposição dedicada a Albert Camus.

Albert Camus na FLUP

Foi na biblioteca da FLUP que esteve patente de 15 a 20 de Março a exposição dedicada a Albert Camus.

A exposição consistiu numa mostra de livros do escritor e filósofo francês no ano do cinquentenário da sua morte. Entre as numerosas obras expostas era possível encontrar títulos como “Os Justos” e “A Queda” da autoria do escritor premiado com o Nobel em 1960, mas também livros sobre a sua vida e arte. Além de Camus, outros autores francófonos e magrebes foram revisitados na exposição como Jacques Derrida, François Emmanuel, Assia Djebar e Mouloud Mammeri.

Em paralelo, no dia 18 de Março, realizou-se uma mesa redonda sob o tema “Re(visões) de Camus em Portugal”. Tanto a exposição como a mesa redonda estiveram integradas no evento “lasemaine.fr.” ou Semana da Francofonia, que incluiu outros eventos como conferências e projecções de cinema.

8ª Mostra da Universidade do Porto. VERA LOPES

U m a c i d a d e q u e d e v e a p r e n d e r c o m o p a s s a d o a c o n s t r u i r “u m f u t u r o d i f e r e n t e”

O Seminário “Centros históricos: passado e presente” aconteceu de 10 a 12 de Março e destacou a importância de preservar o passado para enriquecer o futuro.

O Seminário de História “Centros históricos: passado e presente” foi organizado pelos alunos de Seminário do Projecto I do 1º ciclo do Departamento de Ciências e Técnicas do Património. Foram três dias preenchidos por ciclos de conferências na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, uma visita ao centro histórico e uma prova de vinho do Porto. A discussão centrou-se no planeamento urbano do Centro Histórico de várias cidades portuguesas e estrangeiras e na importância que este assume nos dias de hoje, enquanto promotor do futuro.

Foi Manuel Joaquim Rocha que abriu as hostes, perante um

anfiteatro lotado. O director do Curso de História da Arte acredita que foi um “encontro interdisciplinar” e que permitiu “a formação e o avanço do conhecimento”. Felicitou a organização dos alunos, principalmente porque “as verbas foram mínimas”, destacando a “forte adesão ao evento” (cerca de 200 inscritos das várias áreas curriculares) e a “participação de empresas ligadas ao património, de provenientes de outras instituições de ensino do país e até membros das autarquias”.

Quem também fez questão de deixar algumas palavras à atenta audiência foi Maria de Lurdes Fernandes, vice-reitora da Universidade do Porto. Salientou a importância de “as áreas das humanidades mostrarem o contributo que podem dar para o desenvolvimento das cidades”

mostrando, neste caso, que “o domínio da história pode ajudar na construção de um futuro diferente”.

O primeiro conferencista, José Alberto Fernandes, professor catedrático de Geografia na Universidade do Porto, começou por notar que “as cidades são cada vez mais nós de uma rede” e o centro histórico “é um bocadinho de uma cidade enorme”. É importante “adequar o passado ao presente e ao futuro”, sublinhou. No caso do Porto, destacou a “dicotomia este-oeste” e afirmou que o Centro Histórico, neste caso, “tem de ser visto dos dois lados do rio”.

Mas ainda que José Alberto Fernandes retire enfoque ao turismo, foi também lembrado no Seminário que o Porto foi cidade titulada Património Mundial pela UNESCO. José Alberto Fernandes destacou precisamente as suas

LILIANA PINHO

LILIANA PINHO

inquietações acerca de “O que a Humanidade pode desejar do Centro Histórico do Porto” e as alunas Liliana Vasconcelos e Teresa Santos da licenciatura de História da Arte (e também integrantes da organização) levantaram a questão da possibilidade de o Porto ter o título em risco. Segundo as duas alunas, há a “necessidade de surgirem projectos de reabilitação e requalificação na cidade”, além de ambas terem verificado no seu estudo uma grande “discrepância entre o ideário da intervenção e a aplicação no terreno”.

“Enquanto em Lisboa houve o terramoto [1775], caindo tudo numa noite, no Porto cai um bocadinho todas as noites”, foi assim que Rui Loza, arquitecto e professor na Universidade de Aveiro, demonstrou a sua preocupação com a degradação do centro do Porto. “É imperativo

por o Centro histórico a funcionar, pois toda a cidade beneficiaria desse motor”, sublinhou.

O seminário culminou com numa visita ao Centro Histórico, guiada por Manuel Joaquim Rocha, durante a qual se debateu sobre a degração de símbolos emblemáticos da cidade, como a Igreja de São Lourenço e a Igreja de Santa Clara.

No final, as expectativas foram superadas. O número de inscrições excedeu o número de lugares disponíveis do auditório, que permaneceu lotado durante a maioria do evento.

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FOTO DE JOSÉ FERREIRA

A tão peculiar história de “Alice no País das Maravilhas”, obra de refe-rência da literatura inglesa, é moti-vo para uma colecção inusitada em construção por José António Brito. Desde Março de 1992, portanto há 18 anos, colecciona “Alices” ilustra-das por diferentes artistas e escri-tas em diferentes línguas. Tem ao todo 89 exemplares, todos diferen-tes.

O JUP foi conhecer a sua colec-ção e conversar um pouco com este portuense que nos fala com tanto entusiasmo de um livro que encanta crianças e adultos com a sua história fantástica recheada de seres imaginários, do género lite-rário nonsense ou do surrealismo.

E de onde vem esse interesse especial pela Alice? Conta-nos que este “não é um livro para crianças”, e o seu valor reside também nas outras interpretações que existem para além da leitura imediata. De facto, a obra de Lewis Carroll está repleta de referências linguísticas e matemáticas, dadas muitas vezes através de enigmas; associações entre personagens do livro e pes-soas concretas da vida do autor; e associações a lugares e edifícios reais de Oxford.

Mostra-nos, de uma forma apai-xonada, as ilustrações da Alice, que foram sendo feitas ao longo dos tempos por ilustradores de tantos países diferentes, e que são o real cerne da sua colecção. Desde as originais, realizadas por Sir John Tenniel, até outras bem actuais em BD, fotografia ou até li-vros “pop-up”, existe uma panóplia de exemplares que nos permitem observar uma evolução tanto das técnicas e estilos de representação gráfica, como da forma como as personagens vão sendo retrata-das, reflectindo, muitas vezes, os usos sociais de cada época: pelas roupas e formas de actuação, por

exemplo. Porque havia tanto para ver, tivemos que nos ficar pelos principais ilustradores, aqueles que constituíram rupturas e foram marcos importantes para a forma com esta história foi sendo imagi-nada visualmente e materializada em imagens: mostra-nos as suas características principais, a relação com as correntes artísticas que vi-goravam nessa época, as “brinca-deiras” do artista com a história de Lewis Carroll e nalguns casos, as ilusões de óptica que são induzi-das ao leitor.

JUP: O nome Lewis Carroll, conhe-cido por todos como autor de “Alice no País das Maravilhas” é, de facto, um pseudónimo usado por Charles Lutwidge Dodgson, que era profes-sor de matemática na Universidade de Oxford. Qual a génese da criação desta obra?

José Brito: Charles Lutwidge Dodg-son nasceu em Deresbury, aldeia próxima da cidadezinha de Warring-ton (Lancashire) no dia 27 de Janeiro de 1832.

A 4 de Julho de 1862, anotou no seu diário: “Subida do ribeiro Isis até Godston com as três meninas Liddell [filhas do deão da Universidade de Oxford, o Dr. Henry George Liddell]: Lorina, de 13 anos, Alice, de 9 anos, e Edith, de 8 anos: tomámos chá à bor-da da água e só regressamos a Christ Church cerca das oito e meia. (...) Nes-ta ocasião contei-lhes uma história fantástica intitulada “Alice’s Adven-tures Under Ground” (Aventuras de Alice debaixo da terra) que me pus a escrever para Alice.” A história ma-nuscrita num caderninho verde, que inclui também 37 desenhos do autor, foi oferecida a Alice Liddell pelo Na-tal. Incentivado por diversas pessoas amigas, Lewis Carroll decidiu desen-volver o texto inicial e publicá-lo, mas por sua conta e risco pois não queria causar prejuízos à firma editora, que veio a ser a Macmillan.

A incumbência das ilustrações (42 gravuras a preto e branco) foi atribuí-da a Sir John Tenniel, então muito co-nhecido em Inglaterra, mas que não conseguiria reproduzir em imagens todo o esplendor de um livro excessi-vamente avançado para a sua época.

O título alterou-se para “Alice Passa uma Hora no País dos Elfos” até Ju-nho de 1864, altura em que surgiu o definitivo “Alice’s Adventures in Won-derland” (Aventuras de Alice no País das Maravilhas) que o público pôde começar a conhecer a partir de 1865.

JUP: Após esta edição original, a obra foi motivo de inspiração para muitos outros ilustradores que, com ela se encantaram. Quais foram os mais importantes marcos nesta his-tória da ilustração da “Alice”?

José Brito: Após esta edição, só em 1907 os direitos ingleses da publica-ção da “Alice” caem e uma enfiada de edições, 9 em 6 meses, mais uma trintena antes dos anos 30, aparecem em Londres.

A aparição da cor e das técnicas derivadas da fotografia ou dos estilos da moda: arte nova, “art déco”, etc, suscitaram criações originais.

Mas para lá de toda a consideração temática ou estilística, o artista que domina incontestavelmente a edição inglesa até ao limiar dos anos trinta, é Arthur Rackham (1907). Entram no seu rasto Georges Soper (1911), A.E. Jackson (1915) e, de uma certa me-dida alguns outros como Margaret Torrant (1916). Mais que qualquer outro ilustrador, Arthur Rackham sabe revelar a riqueza interior de Ali-ce fazendo-a uma rapariga romântica em harmonia íntima com a natureza e os seus habitantes... Independente-mente da sua modernidade gráfica, ele encarna os valores românticos duma sociedade em mudança.

Através dos anos vinte e trinta as ilustrações da Alice subiram de ou-tras buscas formais, influenciadas pala moda ou simplesmente pelo ar

dos tempos.Gwynedd Hudson (1922) inflecte o

estilo da Alice num registo “art déco”. Gertrude Kay (1923) decompõe as cores em planos geométricos. Mor-ton Sale (1933) interpreta Alice num estilo florido com traços de uma ado-lescente frágil no país dos elfos, em curvas e transparências numa atmos-fera sonhadora.

Willy Pogany (1929), um ilustrador Norte Americano, decorador de es-pectáculos de variedades, vai imagi-nar uma Alice deliberadamente “art déco” ao ritmo endiabrado duma comédia musical onde os animais e os jogos de cartas manobravam-se com alegria. Alice, com o seu pente-ado muito curto, sua pequena bolsa de colarinho redondo, sua saia esco-cesa e curta; uma “teen-ager” livre e feliz de viver, de presença fulgurosa com muita força do desenho a preto e branco.

Em Londres, uma nova leitura da Alice, inconformada, por vezes meta-física, desenha-se nos anos 50 com a volta do preto e branco. A mais extra-vagante é a de Gough (1940) onde a decoração teatral está omnipresente. Mas o grande inovador é Ralph Ste-adman cujas composições simbóli-cas são susceptíveis de uma grande variedade de expressões gráficas. A

sua Alice (1967) é aquela pela qual o escândalo chegou. A escrita de Car-rol atravessa o tempo soberbamen-te. A Alice de Steadman não é mais aquela da sociedade vitoriana, mas da nossa com a sua violência, suas in-conveniências e seus novos compro-missos. Porque a obra de Steadman, por feroz caricatura que ela seja, está perfeitamente tónica pelo espanto e pelos seus risos que ela provoca nos leitores.

Em França várias Alices foram edi-tadas, mas temos de chegar a 1974 para Nicole Claveloux dominar a ilus-tração para crianças com mutações muito importantes.

JUP: Continuando a observar esta viagem cronológica, consideras que podemos constatar que a história da ilustração se revela pela análise das ilustrações de “Alice no País das Ma-ravilhas” ao longo do tempo?

José Brito: Sim, sem dúvida. A edi-ção de Nicole Claveloux é um livro base da história da ilustração em França, como é o de Ralph Steadman em Inglaterra, o de Frans Haacken (1977) na Alemanha, o de Olga Sie-maszko (1957) na Polónia, os de Mi-turic (1977) e de Kalinovskij (1977) na ainda U.R.S.S. ou de Dusan Kallai (1981) na ainda Checoslováquia. Mais de cem anos se passaram depois da

Alice no País das MaravilhasJosé Brito, um coleccionador de ilustrações

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primeira edição de Tenniel. A evo-lução das tecnologias modernas de impressão autorizaram uma grande variedade de estilos e de materiais.

Na Checoslováquia convém realçar a extraordinária obra do pintor Du-san Kallai (1981) que prepara os seus originais com gravuras sobre madei-ra. Este ilustrador eslovaco absorve um texto para recriar o ritmo visual. A tradição das artes gráfica checoslo-vacas é uma das mais antigas. Tudo é um símbolo nas imagens de Dusan Kallai, mesmo um minúsculo ponto de cor que parece perdido na sua página.

E finalmente com os surrealistas que se apropriaram da obra de Car-roll no início do seu movimento, Salvador Dali, concentrou na sua ilus-tração da Alice (1969) as suas obses-sões ligadas ao tempo, à memória e à silhueta de uma mulher-criança que frequentavam os seus quadros.

E depois de 1981, data até à qual foi feita esta análise resumida, muitos desenharam, pintaram, fotografaram ou criaram com meis digitais, entre outros processos, para produzirem as suas visões de uma história e as poderem transmitir. E todos os anos são lançadas novas edições, cujo in-

teresse artístico é continuamente re-novado pelos novos paradigmas que se vão concretizando nos campos da arte gráfica e pelas novas possibilida-des técnicas que são continuamente conquistadas.

MARIA LEMOS

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RITA GOUVEIA

JUPB

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A Unidade Residencial da Bouça

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Construída segundo projecto de Álva-ro Siza Vieria e António Madureira, esta é uma obra que começou a ser projec-tada antes do 25 de Abril de 1974, para satisfazer as necessidades habitacio-nais da cidade do Porto. A implantação da obra dividiu-se em dois períodos: 1973 segundo projecto de Siza Vieria e 1977 sob a direcção de António Madu-reira, e encontra-se integrada no pro-grama S.A.A.L. Localiza-se junto á Rua

da Boavista e tem acesso directo para o metro na Lapa. O objectivo do S.A.A.L. (Serviço Ambu-latório de Apoio Local) consistia em dar apoio, através das câmaras municipais às iniciativas das populações alojadas em situações precárias, construindo no-vas habitações e infra-estruturas, ofere-cendo melhores condições de vida aos bairros existentes, na exigência de uma habitação decente e o direito ao lugar,

na construção de uma sociedade mais justa. Contribuía, desse modo, para a transformação dos próprios bairros. O S.A.A.L. surge como proposta de solu-ção aos graves e acumulados proble-mas de habitação social nos centros urbanos. Era constituído por brigadas de técnicos ou brigadas de apoio local e pelos moradores das zonas mais des-favorecidas e carenciadas. No sentido de construir uma sociedade mais justa,

o S.A.A.L. proporcionou o direito a uma habitação decente á população mais carenciada, o direito ao lugar e o direito á arquitectura. A integração do projec-to da Bouça no programa S.A.A.L. de-veu-se ao facto dos moradores pobres daquela zona se terem constituído em Associações de moradores e reivindi-carem uma solução para o local.

A obra iniciou-se em 1973 sob pro-jecto de Siza Vieira mas devido a deci-sões políticas ficou inacabado, tendo sido retomado apenas 30 anos depois. Nesta 2ºa fase de obras procedeu-se á recuperações do já edificado e á cons-trução do restante. A obra foi finalmen-te terminada e inaugurada a 25 de Abril de 2006. Quando foi construída a unidade habitacional da Bouça foi considerada algo chocante, uma vez que era vista como uma obra demasiado moder-nista, para o sítio onde se destinava. O terreno inserido no coração da cidade tradicional representou um desafio enorme para os arquitectos envolvidos no programa S.A.A.L.-Norte, uma vez que,lhes dava a oportunidade de inter-vir directamente no espaço histórico, o que não aconteceu noutros locais do país, onde também foi posto em práti-ca o programa S.A.A.L. A unidade residencial da Bouça é actualmente considerada um marco da arquitectura contemporânea por-tuguesa, e é local de residência de uma homogeneidade de pessoas, desde os primários habitantes até estudantes de arquitectura e design a psicólogos. De acordo com alguns testemunhos re-colhidos é de assinalar que existe uma opinião divergente no que respeita á habitabilidade e serviços do sítio. Se por um lado os arquitectos que lá es-tabeleceram o seu atelier, consideram um óptimo espaço para exercerem a sua profissão, por outro, há certos habi-tantes - na maioria os mais idosos - que têm algumas objecções a fazer relativa-mente á obra; ora porque acham que tem falhas constructivas e dificuldades de acesso ora simplesmente porque a acham feia. Não obstante, é do consen-so geral que a unidade residencial está bem localizada, próxima de tudo e com boas comunicações para o exterior. Segundo o arquitecto Alexandre Alves Costa, foram os habitantes que mais lutaram por ter um lar, quem mais sofreu neste complicado processo da realização da obra da Bouça: “Aquelas pessoas que lutaram por ter a sua casa, os antigos moradores da associação, foram desaparecendo e as casas foram sendo compradas por pessoas que nada tinham a ver com a associação”.

Queima das Fitas 2010 aposta em cartaz com Franz Ferdinand

A “Festa da Pasta”, como come-çou por ser conhecida no Porto nos anos 20 a actual Queima da Fi-tas, já não é só uma celebração dos estudantes que entram na recta fi-nal, mas também a segunda maior festa da cidade do Porto e a maior festa académica do país.

Este ano, a Queima das Fitas abre dia 2 de Maio à 00h01, com a banda vencedora do VIII Concurso de Bandas de Garagem “Salta da Garagem para o Palco Principal” os Phama, com a já histórica Monu-mental Serenata na antiga Cadeia da Relação e com os DJ’s João Di-nis no Espaço Mundos - destinado à world music, que funcionará no palco principal depois dos concer-tos - e Nuno di Rosso na Discote-ca.

O bilhete semanal para os oito dias da Queima das Fitas terá um preço único de €50, sendo a sua venda exclusiva a estudantes. Nota-se uma ligeira descida em comparação ao ano anterior moti-vada, talvez, por alguma sensibili-dade por parte da organização em colocar preços mais acessíveis. Os cartazes de Postos de Venda dos bilhetes, foram já distribuídos. Es-tes, estarão à venda entre dia 26 e dia 30 na Federação Académica do Porto, no Queimódromo, no El Corte Inglés (entre as 10h e as 23h) e pontualmente em algumas facul-dades. Para estudantes o preço do bilhete pontual será de €7 (cada dia), à excepção da Noite TMN na sexta-feira, dia 7 de Maio que cus-tará €8. Os bilhetes pontuais para não estudantes variam entre €11 e €14, dependendo dos dias.

O Cartaz das Noites da Quei-ma das Fitas do Porto 2010 foi anunciado dia 15 de Abril de 2010 no Salão Nobre do Governo Ci-

vil do Porto, com alguns nomes conhecidos: Tiago Bettencourt & MANTHA; a grande novidade Franz Ferdinand (que regressam a Por-tugal após a actuação no Campo Pequeno em Dezembro); Souls Of Fire; a cantora germano-nigeriana Nneka; o rapper brasileiro Marcelo D2; Buraka Som Sistema; o legen-dário Quim Barreiros; Xutos e Pon-tapés; Legendary Tiger Man; GNR e Crystal Castles (que, apesar do des-mentido por parte do presidente da Federação Académica do Porto, que disse: “Essa notícia é mentira”, em declarações ao site Jornalismo Porto Net, a banda canadiana ac-tua na madrugada do primeiro dia de Queima).

Quanto ao transporte, a empre-sa Metro do Porto comunicou que terá serviço contínuo nas linhas Azul, Vermelha, Verde e Amarela nas principais noites de Queima das Fitas: de 1 para 2 de Maio e de 4 para 5 de Maio, na Serenata, no Cortejo e na Missa da Bênção das Pastas. Nos demais dias de Quei-ma, o metro estará em funciona-mento até às 01h00, retomando o serviço às 05h00, a partir da Esta-ção Câmara de Matosinhos.

O JUP fará a cobertura da Quei-ma das Fitas a publicar no próximo número de Maio. SARA CARREIRA

A Queima em números:ESTE ANO ESPERAM-SE:119 BARRAQUINHAS350 000 ESTUDANTES€ 7 267 000*

* (valor para os orçamentos das festas académicas, em conjunto)

6 Ralph Stedman, 1967

7Pormenor da ilustração de Nicole Claveloux, 1974

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Contudo acredita que actualmente, apesar dos novos e diferentes mora-dores, todos encontram uma certa sin-tonia. Antes da adopção do programa S.A.AL. já existia um projecto de im-plantação para aquele local da Bouça, realizado por Siza Vieira que não tinha cliente, e que depois a pedido da as-sociação de moradores se concretizou para eles mesmos. Volvidos 30 anos desde a primeira fase de construção, a Câmara Municipal do Porto resolveu terminar a obra, pondo assim um pon-to final em toda esta azáfama. Ainda assim os antigos moradores sentem uma certa amargura pela situação ter sido resolvido tão tarde. Actualmente a visita de estranhos e de estrangeiros é hábito comum, e os habitantes já não os estranham, alguns até se mostram bem satisfeitos e orgu-lhosos por viverem numa casa feita por Siza Vieira.

Nos anos 20 chamava-se Festa da Pasta. Agora, o nome mudou mas a Queima das Fitas continua a ser a festa dos estudantes.

RITA GOUVEIA

1 Sir John Tenniel, 1965 (data da publicação da ilustração)

2Arthur Rackham, 1907

4Gwynedd Hudson, 1922para a luta

3A. E. Jackson, 1915

5Willy Pogany, 1929

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Eletrico turistico no Largo dos Leões1

2Escritos numa rua da cidade do Porto

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TEXTO DE JOSÉ FERREIRAFOTOS DE IGOR GONÇALVES (4 , 5) E DE JOSÉ FERREIRA (1,2,3,67)[email protected],[email protected]

CIDADE VELHA: NO PASSADO E NO PRESENTE

O Porto hoje em dia é uma cidade envelhecida, que se transforma para tentar enfrentar o presente. Nesta ed-ição do JUP fomos procurar imagens de pessoas, da renovação e do futuro adiado. Fomos à procura do Porto que todos vemos e que permanece es-condido sob a imagem da cidade que preferimos ver.Da renovação do Cinema águia na Batalha, às casas abandonadas nas ruas travessas da Ribeira, o JUP foi à procura da cidade que se esconde sob a cidade. Isto foi o que encontramos.

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Centro Comercial dos Clerigos3

4Grafitti nas ruas do Porto

Cineáguia, interior5

6Centro Comercial dos Clérigos

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7Casas Devolutas, Ribeira

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Um gesto de boa vontade pode mudar o mundo

Luís (nome fictício) faltava frequente-mente às aulas. Pai ausente. A mãe não lhe poderia dar todo o apoio de que precisava. Luís foi considerado um caso problemático pela escola, de recupera-ção difícil. Quase perdido. Este poderia coincidir com muitos casos, mas tra-ta-se de uma situação concreta numa escola da zona do Porto. Ao contrário de muitos outros casos, aqui houve um “pequeno gesto” que gerou a mudança. A pessoa certa no lugar certo que se tra-duziram numas horas de apoio ao estu-do em regime de voluntariado, podem ter mudado o futuro do Luís. Um dos voluntários, no âmbito de um projecto participado pela Universidade do Porto, deu a atenção e conseguiu a empatia que faltava para fazer a diferença. O Luís passou a ser muito mais assíduo, a mu-dança é hoje evidente.

Para além de procurar minimizar as dificuldades de aprendizagem dos alunos do ensino básico e secundário, facilitando a integração na escola e combatendo o abandono escolar, o vo-luntariado estudantil tutorial também pode preparar os alunos para a tomada de decisões responsáveis, nomeada-mente quanto ao seu futuro estudantil e profissional. Esta iniciativa, designada Programa Porto de Futuro, é promovida pela Câmara Municipal do Porto e conta com a participação dos estudantes do ensino superior de várias instituições. No caso da Universidade do Porto, es-

U.Porto pioneira no voluntariado universitário

tão envolvidos 18 voluntários, cerca de 100 alunos do Agrupamento de Esco-las de Miragaia e 8 da EB 2,3 Augusto Pires de Lima. Neste último caso, foram seleccionados inicialmente 6 alunos e, entretanto, mais duas alunas quiseram entrar. Para os estudantes da U.Porto, a participação neste projecto possibi-lita a aquisição e desenvolvimento de competências complementares à sua formação académica: o sentido de res-ponsabilidade social e cidadania activa, enquanto actor do processo educativo e na colaboração em medidas promo-toras de inclusão social, entre outras.

DIVERSIVIDADE NA BOA VONTADENo entanto, este é apenas um aspecto da actividade voluntária na Universida-de do Porto, pioneira em Portugal na coordenação e promoção assumida do voluntariado universitário, enquan-to componente formativa dos seus estudantes. Havendo vontade de “dar uma mão amiga”, as opções são muito diversas e não faltarão. No passado dia 28 de Abril, a U.Porto assinalou o Dia do Voluntariado, numa sessão de apresen-tação dos projectos que tem vindo a desenvolver onde se constatou precisa-mente essa diversidade. As acções inte-gradas no I Dia do Voluntário da U.Porto surgem no seguimento da estratégia definida, em 2009, a partir da criação da Comissão de Voluntariado da U.Porto, estrutura que reúne e coordena num mesmo espaço todos os projectos de voluntariado da Universidade.

Na totalidade contam-se 17 projec-tos de voluntariado identificados e de-senvolvidos em várias Faculdades da U.Porto e promovidos pela instituição ou por organizações estudantis. Entre os que se desenvolvem via institucional está o já referido de voluntariado estu-dantil tutorial, cujo promotor na Univer-sidade do Porto é a Reitoria que também promove o voluntariado nos museus da U.Porto ([email protected]) e noutras actividades culturais ([email protected]). Ainda via institucional decorre o voluntariado desportivo da U.Porto, onde se inclui a campanha de volunta-riado para o Mundial de Rugby Sevens

(ver caixa), promovido pelos Serviços de Acção Social. ou o voluntariado na Faculdade de Medicina Dentária dirigi-do a estudantes de pós-graduação ou a graduados. Neste grupo está ainda a actividade do Grupo de Estudantes Vo-luntários da Faculdade de Direito (GEV), iniciativa do Gabinete de Inserção na Vida Activa daquela Faculdade, e o GIVE (Grupo de Intervenção, Voluntariado e Envolvimento da Faculdade de Psico-logia e Ciências da Educação (recém-criado).

VAGA DE FUNDOA actividade de voluntariado, contudo, também se desenvolve por iniciativa es-pontânea da comunidade estudantil, incluindo grupos associados às Associa-ções Estudantis. Entre estas, estão a FEP Solidária, na Faculdade de Economia, e o Núcleo de Acção Social AEFFUP (NASA), na Faculdade de Farmácia. O Engenharia para o Desenvolvimento e Assistência Humani-tária (EpDAH), na FEUP, o NEV-Núcleo de Estudantes Voluntários e o Projecto de Tu-toria a Estudantes ERASMUS, ambos na FEP, e ainda o VO.U-Associação de Voluntariado Universitário, surgiram sem dependência funcional das Associações de Estudantes.

Apesar de se entender que o verda-deiro voluntariado deve ser exercido sem compensação material”, a U.Porto prevê a certificação da participação dos seus estudantes em acções de voluntariado reconhecidas pela Universidade. Entre as condições que essas acções devem cum-prir, estão a duração e o seu tipo: pelo menos 20 horas de actividades ligadas a “programas de voluntariado organizados e aprovados” pela instituição e uma avaliação de, pelo menos, “Bom”. As acções passarão, assim, a ser mencionadas num suplemento ao diploma. Pretende-se, com esta medida, reconhecer a participação dos estudantes em iniciativas que manifestem responsabi-lidade social, algo cada vez mais valorizado a nível profissional e na análise dos currícu-los académicos.

A Mostra da U.Portodecorrerá no Palácio de Cristal

AGENDA17, 21, 24 E 28 MAIOAPRESENTAÇÃO DE MONOGRAFIAS NA ÁREA DA TOXICOLOGIA PELOS ESTUDANTES DA FFUP.

“Porto Procura-se... Exposição fotográfica FFUP” (FLUP); EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS DO PEDDy-PAPPER PELA zONA HISTóRICA DA CIDADE INVICTA..

DE 4 A 27 MAIO“AS TARDES ITALIANAS”Auditório Gomes Teixeira (Reitoria da Universidade do Porto).

4 DE MAIO - 18H30“LA FEBBRE”, ALESSANDRO D´ALATRI

11 DE MAIO - 18H30“I DEMONI DI SAN PIETROBURGO”, GIULIANO MONTALDO

13 DE MAIO - 18H30“IL MAESTRO DEGLI ERRORI”, PIETRO MARIA BENFATTI

18 DE MAIO“IL VENTO FA IL SUO GIRO”, GIORGIO DIRITTI.

20 DE MAIO“L´ABBUFFATA”, MIMMO CALOPRESTI

25 DE MAIO“LA MASSERIA DELLE ALLODOLE”, PAOLO E VITTORIO TAVIANI

27 DE MAIO“CENTOCHIODI”, ERMANNO OLMI | ENTRADA LIVRE

Mundial de Rugby procura voluntáriosEntre as tarefas previstas, estão o apoio no hotel em que os atletas ficarão hos-pedados, o acompanhamento das de-legações participantes durante a sua estadia no Porto, conduzir os transpor-tes reservados para o evento ou ainda o apoio no estádio. O World University Championship Rugby Sevens 2010 é um evento internacional, pelo que no

UPo

rto

5 DE MAIOAPRESENTAÇÃO DO 4º CAMPEONATO MUNDIAL UNIVERSITÁRIO RUGBy 7S 2010

RICARDO [email protected]

tição oficial de desporto universitário reconhecida pela Federação Académi-ca do Desporto de Desporto Universi-tário (FADU), permitindo o reconheci-mento, de acordo com os resultados da prova, dos mais de 70 campeões nacionais universitários 2010 nas seguintes modalidades: Atletismo, Andebol, Basquetebol, Esgrima, Fut-sal, Futebol de 11, Hóquei em Patins, Natação, Rugby Sevens, Squash, Vo-

O Politécnico do Porto apresentou, pelo segundo ano consecutivo, a sua candidatura à organização das Fases Finais dos Campeonatos Nacionais Universitários, a decorrerem de 24 a 30 de Abril de 2010, tendo esta sido aceite. Os municípios vizinhos, Mato-sinhos e Póvoa do Varzim, irão alber-gar este expoente do desporto uni-versitário nacional.

Este evento corresponde à compe-

Politécnico do Porto organiza CNU 2010IPP organiza, pela segunda vez, as fases finais dos Campeonatos Univer-sitários. O acontecimento decorre de 24 a 30 de Abril, nos munícipios de Matosinhos e da Póvoa do Varzim.

leibol, Voleibol de Praia, Ténis, Ténis de mesa, Tiro com Arco e Xadrez.

Este evento mobilizará cerca de 3000 estudantes do ensino superior do con-tinente e ilhas, que se encontram em competição desde Novembro de 2009, tentando conquistar a sua qualificação para as fases finais concentradas.

A organização deste evento tem como objectivo proporcionar aos participantes as melhores condições

desportivas alguma vez utilizadas em Fases Finais e uma interacção efectiva entre todos os atletas, onde possa ser fomentada a troca de experiências e o conhecimento mais aprofundado da região onde se vão realizar as activi-dades desportivas e culturais.

O Politécnico do Porto, consciente da sua responsabilidade social, pre-tende contribuir assim para a dina-mização qualificada da região onde

RUI PINHEIRO – IPP

CNU 2010 irá coroar 70 campeões do desporto universitário

IPP do Porto conta com mais de 15 mil estudantes inscritos

se insere e promover a prática des-portiva junto da sua comunidade, escolheu, mais uma vez, assumir esta candidatura, ambicionando trazer ao distrito do Porto a elite do desporto universitário nacional procurando, assim, pela divulgação de iniciativas de valor, reforçar a participação dos jovens da região nas actividades des-portivas, promovendo atitudes sau-dáveis de inclusão do desporto como uma componente essencial à forma-ção plena dos cidadãos.

O Instituto Politécnico do Porto, fun-dado em 1985, surge a partir de uma iniciativa de relançamento do ensino politécnico em Portugal, datada de 1979, e engloba, actualmente, sete escolas superiores divididas por cinco cidades da área do Grande Porto: Por-to, Matosinhos, Póvoa do Varzim, Vila do Conde e Felgueiras. movimentando mais de 15 mil estudantes. Ocupa o topo da liderança do ranking nacional dos politécnicos, envolvendo, no âmbi-to do ensino superior, um conjunto di-versificado de áreas de conhecimento ciêntifico, que vão desde a engenharia às artes do teatro e da música, incluin-do contabilidade, gestão, educação, tecnologias da saúde, línguas e design. O seu currículo formativo é composto por 38 licenciaturas e 17 mestrados, além de um vasto conjunto de cursos de especialização.

O IPP, considerou o seu presidente, Vitor Correia Santos, na edição de 2009, “já atingiu, pela sua dimensão e po-tencial, a massa crítica necessária para que assuma o que se considera ser hoje a missão das modernas instituições do ensino superior: uma organização que cria e incorpora conhecimento e o transmite à sociedade através da formação superior que oferece e da transferência do conhecimento e da tecnologia que promove, no contexto da procura permanente da excelência”.

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VOLUNTARIOS DO ANO

No âmbito do Dia do Voluntariado, a 28 de Abril, a Universidade do Porto escolheu um logótipo para o volunta-riado da U.Porto, concebido por Leo-nardo Pais, e foram distinguidos os vo-luntários que mais se destacaram em cada organização ao longo do ano:- André Cunha (GAS Porto);- Pedro Cadavez (Grupo de Estudantes Voluntários da Faculdade de Direito);- Flávio Fernandes (Grupo de Estudan-tes Voluntários da FEP);- Hugo Volz (Projecto Tutoria de Estu-dantes ERASMUS da FEP);- Susana Ribeiro (Voluntariado Estu-dantil Tutorial, SPO);- Pedro Silva (Voluntariado Estudantil Tutorial, GIPSE);- Rui Machado (Voluntariado na Facul-dade de Medicina Dentária);- Amélia Aleixo (VO.U.)- Turma do 2º ano de Geografia pelo apoio na integração do colega Jorge Anselmo (Serviço de Apoio ao Estu-dante com Deficiência da U.Porto, se-deado na Faculdade de Letras).

processo de candidatura será tido em conta, entre outros itens, os conheci-mentos linguísticos dos candidatos. Os voluntários devem estar totalmente disponíveis ao longo do evento (21 a 24 de Julho).

Antes do torneio, será organizado um fim-de-semana de formação e prepara-ção no Porto. Os voluntários terão opor-tunidade de conhecer os membros das equipas participantes. Os interessados devem consultar o site do Mundial e preencher a ficha de inscrição. Para mais informações, contactar Nuno Car-valho Vieira, do Gabinete de Actividades Desportivas (GADUP) , através do e-mail [email protected] .

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JUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMA JUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMAJUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMA

Vitor Correia Santos, presidente do Instituto Politécnico do Porto

Atletismo é uma das modalidades presentes no CNU

Hóquei em Patins da U.Porto vence o II Torneio de Apuramento

BREVES

A selecção de Hóquei em Patins da U.Porto, liderada por Miguel Mo-reira, ganhou o II Torneio de Apura-mento, qualificando-se para o Cam-peonato Nacional Universitário.

O torneio, organizado pelo Institu-to Politécnico do Porto, realizou-se nos dias 11 e 12 de Março em Mato-sinhos e contou com a participação das equipas IPLeiria, IPP, Associação Académica de Coimbra, U.Porto e AAUMinho.

A U.Porto já partia com vantagem do I Torneio de Apuramento, lide-rando a tabela de classificação. A equipa de hóquei em patins provou que quer repetir o feito do ano pas-sado e alcançar o título de campeã nacional universitária.

O primeiro jogo mostrou uma AAC fraca em relação à selecção da U.Porto, que acabou por vencer os académicos de Coimbra por 9-2. No segundo jogo, a U.Porto defrontou a equipa da casa, o mesmo adversário da final dos Campeonatos Nacio-nais Universitários de 2009 - o IPP - e voltou a ganhar, desta feita por 3-1. A U.Porto sofreu a única derrota frente ao IPLeiria por 5-3 mas, não

desanimando com o resultado, res-ponderam como actuais campeões nacionais e ganharam o último jogo frente à AAUMinho por 11-1.

Os convocados da selecção uni-versitária da U.Porto, neste Torneio de Apuramento, foram Pedro Cube-lo do Instituto de Ciências Biomédi-cas Abel Salazar, André Matos, estu-dante da Faculdade de Engenharia, Tiago Ferraz, da Faculdade de Des-porto, António Leal, da FEUP, Duarte Dias, FEUP, Gabriel Dâmaso, FEUP, Pedro Alves, FEUP, Tiago Ferro, FEUP e Vítor Gilberto, FADEUP.

A Selecção da U.Porto de hóquei em patins tem como objectivo ven-cer os CNU de 2010, que se realizam de 26 a 30 de Abril, em Matosinhos. A equipa treina todos os domingos por volta das 21.30h, orientados pelo monitor Miguel Moreira e conta com a adesão de todos os estudan-tes que gostem ou tenham alguma experiência na modalidade.

RICARDO N. [email protected]

U.Porto e o IPP organizam o VIII Open de Voleibol de Praia

DIREITOS RESERVADOS

Preparem os óculos de sol e os fatos de banho, porque as competições na praia do Gabinete de Actividades Desportivas da U.Porto estão a che-gar.

A primeira actividade desporti-va da praia do ano é o VIII Open de Voleibol Praia, uma organização da U.Porto em parceria com o Instituto Politécnico do Porto.

7 de Abril será o dia em que os atletas estudantes da U.Porto e do IPP, nos campos de areia do IPP, se juntam para dar um espectáculo na areia. O VIII Open de Voleibol de Praia U.Porto/IPP visa oferecer aos alunos um dia de convívio e de competição saudável. Esta oportunidade de se conhecer outros amantes deste des-porto e de competir a um bom nível entre as instituições de ensino supe-rior do Porto não é de perder.

RICARDO [email protected]

U. Porto com representação no Campeonato do Mundo Universi-tário de Corta-Mato

Após a brilhante prestação nos Campeonatos Nacionais de Corta-Mato que se realizaram no passado dia 13 de Março em Vagos, Salomé Rocha e Paulo Lopes são os atletas da U. Porto convocados para integrar a Selecção Nacional, que irá participar no Campeonato do Mundo Universi-tário de Corta Mato.

O CNU de Corta-Mato juntou cer-ca de 80 participantes. Carla Salomé

Rocha, estudante da FADEUP, Liliana Manhente, estudante da Faculdade de Letras, e Lúcia Ribeiro, da FADEUP, foram as representantes femininas da U. Porto na prova, e, Paulo Lopes da Faculdade de Medicina, e José Araújo da FADEUP foram os representantes masculinos. Salomé Rocha foi a gran-de vencedora no sector feminino. Já Paulo Lopes não chegou ao pódio, por pouco, tendo ficado em quarto

lugar.Estes dois atletas fazem parte da

lista dos nove convocados para re-presentação da Selecção Nacional no Campeonato do Mundo de Corta-Mato, que irá ocorrer no próximo dia 11 de Abril em Kingston, Ontário, no Canadá.

Salomé Rocha frequenta o 2.º ano de faculdade, pratica atletismo no F.C. Vizela e, com apenas 19 anos, conta já no curriculum com partici-pações no Campeonato Europeu de Cross de 2007, 2008 e 2009, no Cam-peonato Mundial de Pista em 2008, no Cross Internacional de Loures de 2008, Campeonato Europeu de Pista de 2009 e no FOJE, Festival Olímpico da Juventude Europeia.

A estudante explica que é difícil conciliar a vida de atleta com a de universitária, mas que, com muito es-forço e dedicação tudo se consegue: “ o meu treinador sempre me disse «quando não se tem vontade, todas as desculpas servem», por isso, para mim, com vontade tudo é possível”, conta Salomé.

A atleta acredita que estas provas internacionais universitárias são um incentivo à prática da modalidade e deseja que se continuem a realizar cada vez mais “não só porque a mo-dalidade está um pouco mal divul-gada, mas essencialmente porque contribui para o desenvolvimento dos estudantes, não só como atletas, mas também como pessoas”. Salomé pretende dar o seu melhor para uma boa performance individual no 17.º Mundial de Corta-Mato Universitário 2010, mas sobretudo traça como ob-jectivo um título colectivo.

Do outro lado do Atlântico, em Kingston, no Canadá, estarão a repre-sentar Portugal, ao todo, 5 atletas fe-mininas e 4 atletas masculinos. A de-legação, chefiada por André Couto, presidente da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), é composta ainda pelos técnicos Pedro Rocha e Pedro Ribeiro, da Federação Portuguesa de Atletismo.

Caixa/Oráculo – Kingston OntárioO corta-mato é um desporto que

nasceu na Grã Bretanha, no longín-quo século XIX. Era, na altura, um desporto completamente diferente do actual. Originalmente praticado pelas universidades inglesas de Cam-bridge e de Oxford, o corta-mato consistia numa corrida onde um gru-po de corredores seguia um percuso seleccionado, aleatoriamente, e dei-xava um rasto com marcas de papel enquanto corria. O grupo rival deve

Salomé Rocha e Paulo Lopes são os corredores da U. Porto no evento que irá decorrer no Canadá,

no próximo dia 11 de Abril.

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Leonor Matos leva U. Porto ao ouro no ténis Atleta da Faculdade de Medicina ganhou a medalha de ouro, no Campeonato Nacional de Ténis realizado em Coimbra, nos dias 16 e 17 de Março.

A U. Porto fez-se representar por seis atletas no Campeonato Nacional de Ténis, que se realizou nos dias 16 e 17 de Março, no Estádio Universitário de Coimbra. A final feminina foi disputada entre duas estudantes da U. Porto, Ma-ria Leonor Matos da Faculdade de Me-dicina e Catarina Morais da Faculdade de Psicologia.

Maria Leonor Matos foi a vencedora do campeonato, alcançando o quarto título nas competições de ténis uni-versitárias. A final foi bem disputada, com Catarina Morais, também da U. Porto, que venceu o primeiro set pelo parcial 6-4, mas Leonor Barros venceu o segundo por 7-5 e, no disputado tie break, levou a melhor sobre Catarina Morais, vencendo pelo parcial de 10-7.

Foram nove as participantes femini-nas e trinta e dois os participantes mas-culinos. A U. Porto foi representada por Rui Coelho, estudante da Faculdade de Medicina, Luís Carmo, estudante do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Gustavo Moreira e Pedro Ma-galhães, estudantes da Faculdade de Letras, Maria Leonor Matos, da Facul-dade de Medicina, e Catarina Morais, estudante de Psicologia.

As histórias no feminino e no mascu-lino foram bem diferentes. No feminino, Maria Leonor Matos, que tinha sido tri-campeã nacional nos anos 05/06, 06/07 e 07/08 e participado em 2009 no Cam-peonato Europeu de Ténis na Polónia, derrotou a primeira adversária, Marija Vranic, da AEIST, pelos parciais de 4-1, 4-0, repetindo o feito, frente à segunda adversária, Salomé Duarte, da AAUBI, por 4-1, 4-0. Catarina Morais do primei-ro ano de Psicologia, derrotou Inês Cris-tóvão, do IPLeiria, por 4-1, 3-5 e 4-1, e, no segundo jogo, Verónica Sanchez, da U. Lisboa pelos parciais 4-0 e 4-2.

Já no masculino, Rui Coelho, estu-

dante da FMUP, foi o atleta da U. Porto que chegou mais longe na qualificação masculina, tendo perdido nos quartos de final frente a José Gaspar da Asso-ciação Académica de Coimbra, vence-dor da medalha de bronze. Rui Coelho, que já participara noutros campeona-tos nacionais universitários, achou o deste ano “bem mais competitivo que o de 2009”, mas “preferia que existisse uma competição regional para apurar os melhores atletas”, pois, este ano, a única competição de ténis universitário foi o CNU directo.

Pedro Magalhães, estudante da Fa-culdade de Letras, perdeu nos oitavos finais pelos parciais 3-5, 4-2 e 1-4, frente ao espanhol Ignacio Puya da AEIST, que

RICARDO N. [email protected]

ficou em 4.º lugar na classificação final. Luís Carmo, estudante do ICBAS, e Gus-tavo Moreira da FLUP, não conseguiram passar aos oitavos de final, tendo sido eliminados no primeiro jogo.

Leonor Matos alcançou, em Coimbra, a quarta vitória nas competições de ténis universitárias

ria seguir a pista do primeiro, atra-vés dos trilhos marcados pelos pa-péis.

A evolução da modalidade acom-panhou o passar do tempo e, por isso, o corta-mato evoluiu até aos dias de hoje. Actualmente, é um dos típicos desportos das estações frias, o inverno e o outono, e um dos mais populares a nível internacional.

Portugal tem como uma das gran-des referências do corta mato, Carlos Lopes. O antigo atleta lusitano alcan-çou a glória ao vencer três campeo-natos mundiais de corta-mato, em 1976, 1984 e 1985, proeza que mais nenhum atleta europeu consegui al-

cançar.No Canadá, mais precisamente na

cidade de Kingston, no estado de On-tário, estarão os holofotes do atletis-mo nacional, na busca do tão ambi-cionado pódio.

RICARDO N. [email protected]

Sem uma única derrota, a U.Porto venceu o II Torneiro de Apuramento de Rugby Sevens, mas mesmo assim está em dúvida para as fases finais universi-tárias.

No dia 18 de Março, nove atletas estudantes mostraram raça e atitude frente às oito universidades em com-petição e saíram vitoriosos em todos os jogos. Nem a actual campeã nacional universitária, Associação Académica de Coimbra, conseguiu fazer frente ao conjunto liderado por José Luís Vareta, perdendo o primeiro jogo da competi-ção por 21-5 e a final por 21-10.

Os atletas mostravam boa dispo-sição e entusiasmo pela competição. Afonso Vareta (FADEUP), atleta do Cra-ve e da Selecção Sub-21 de Sevens, Luís Gonçalves (FMDUP), Francisco Gomes (FADEUP), Francisco Vareta (FADEUP), Francisco Santiago (FLUP) e Jorge Vare-ta (FADEUP), atletas da escola de rugby do Porto “Prazer de Jogar Rugby”, José Costa (FEUP) atleta do Famalicão, Pedro Silva (FCUP) e João Poças (FEUP), foram os nove representantes da U.Porto no segundo TA, organizado pela Universi-dade de Évora, em Montemor-o-Novo.

Os atletas enfrentaram a poderosa AAC no primeiro jogo, mas o título de campeã não despertou qualquer medo na equipa da U.Porto. Pelo contrário, motivou os atletas que converteram todos os ensaios e venceram a partida por 21-5. No segundo jogo, a equipa mostrou coesão defensiva e venceu a

Associação Académica da Universida-de de Aveiro por 26-0.

Depois de muitas placagens e en-saios convertidos, a U.Porto chegou à meia-final já um pouco desgastada ií-sicamente, mas venceram a equipa da casa, a AAU Évora, por 17-11.

Na final a U.Porto reencontrou-se com a AAC e reeditou-se um “duelo de titãs”. A actual campeã esteve a ganhar 10-0 mas a força e a vontade de vencer dos atletas da U.Porto sobrepôs-se ao cansaço, dando a volta ao placard e alcançando a vitória na final do IITA de Rugby Sevens por 21-10.

Esta vitória revela o empenho da U.Porto nesta modalidade e a grande aposta do ano da U.Porto, o Campeo-nato do Mundo de Rugby Sevens Uni-versitário 2010. A equipa organizadora está a postos e motivada para receber os melhores do mundo do Rugby de 21 a 24 de Julho, na cidade do Porto.

Apesar da esmagadora vitória so-bre todas as universidades, a U.Porto não é imediatamente apurada para o Campeonato Nacional Universitário. A Associação Académica de Coimbra, Académica do Algarve e Académica de Trás-os-Montes e Alto Douro são as universidades com passagem garanti-da para disputar a fase final, a U.Porto fica dependente do resultados finais do Campeonato Universitário de Lisboa.

U.Porto em destaque no Rugby Sevens

RICARDO [email protected]

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JUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMA JUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMAJUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMA

Estes artistas precisam de palco!As associações culturais, os grupos de teatro, per-formers multiplicam-se na cidade do Porto: o que fazem estes artistas quando não há palco?

Este mês o JUP decidiu investigar o que acontece a muitas das pessoas que acabam os seus cursos em áreas artísticas, especificamente as per-formativas. Finda a licenciatura será necessário colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante três anos, que foram de investimen-to no aspecto tanto pessoal como financeiro. Muitas vezes, em altu-ras de crise económica, a cultura é das primeiras áreas a sofrer cortes. Mas, ainda que muitas vezes ape-nas suportados com muita vontade e força pessoal, existem grupos de pessoas que não perecem. Núcleos mais ou menos organizados, mais ou menos subsidiados que vão re-sistindo na cidade do Porto.

VARIAÇÃO DA CULTURA Ricardo Alves é uma das pessoas que integra a Variação da Cultura, um colectivo de entidades criado-ras de espectáculos, grupos infor-mais e artistas em nome individual que, impulsionados pela escassez de locais de apresentação para os seus trabalhos na cidade, decidiram dinamizar a Sala-Estúdio Latino, no teatro Sá da Bandeira, de Fevereiro a Junho de 2010. A “inexistência de uma política cultural municipal in-tegrada capaz de gerar sinergias”, diz-nos Ricardo Alves, é uma das premissas básicas para que a exis-tência deste núcleo faça sentido. Mostra-nos a sua estupefacção quando verifica que numa cidade com quatro escolas de teatro (duas profissionais e duas superiores) não exista capacidade de acolhimento aos jovens grupos que naturalmen-te se vão formando, como alternati-va à impossibilidade dos jovens for-mados integrarem as companhias já existentes.Numa cidade como o Porto em que a tradicção cultural está enraizada, a não aposta nestas vertentes é um “erro sociológico grave”, afirma o grupo por escrito no texto que é representativo dos seus princípios. “E o público existe”, acredita, “ve-jamos o caso do Teatro Nacional São Jõao, de Serralves, da Casa da Música, entre outros”. “As pessoas procuram cultura”. O que acontece com estas estruturas culturais, já bem montadas e definidas nos seus objectivos, é que têm outros com-promissos quanto ao que conside-ram que devem apresentar ao seu público-alvo. A sua função é, não tanto a de projectar novos artistas,

PEDRO FERREIRA

mas a de consolidar grandes nomes já existentes no panorama nacional e internacional. “Faltam estruturas para gente nova”, por outras pala-vras, “não há um circuito forte que permita o experimentar”. E, numa cidade onde, apesar de tudo, se tenta combater a apatia, é irrespon-sável não existir uma oferta contí-nua, alternativa e experimental aos valores instituídos. Ainda à conversa connosco, no co-

nhecido café em frente ao Sá da Bandeira, e falando sobre o Porto, Ricardo Alves diz-nos que esta é “cada vez mais uma cidade deserta em termos artísticos”. Apostar na cultura e particularmente na colo-cação destes jovens recém-licencia-dos “é também apostar em resolver o problema do desemprego”, tema que parece tomar conta de grande parte dos discursos políticos que nos são apresentados.

Falamos ainda do Rivoli e na dema-gogia mediática que por ali se vai praticando e da Fábrica da Rua da Alegria, um bastidor da criação que não é do conhecimento geral da população portuense. Um edifício pertencente à ESMAE que ajuda a manter uma dinâmica social cultu-ral e para o qual existe a ideia de transformar o espaço numa escola de dança. Um pólo que, sendo mais

e melhor explorado, poderia bene-ficiar os artistas na sua comunidade em geral e também o público.

O PROJECTO DA SALA-ESTúDIO LATINOA ideia surgiu do grupo de pessoas que trabalha na Variação da Cultu-ra muitas destas ligadas ao grupo Palmilha Dentada. Trata-se de um ajuntamento informal de criadores que vai variando os seus membros. Isto é: pretende-se que a Variação da Cultura exista por vários anos enquanto marca, mas que os seus membros se vão renovando. Aluga-ram, através de protocolos, a Sala-Estúdio Latino por seis meses, entre Fevereiro e Julho e lutam agora para que a árvore dê futos, apos-tando numa programação variada. Esta pode ir desde teatro infantil ou para adultos, a magia, dança, per-formances, cinema, entre outros. Trata-se, sem dúvida, de um projec-to algo arriscado mas alguma coisa tem de ser feita. Estes espectáculos revestem-se ainda de uma formali-dade própria, dando normalmente no final lugar a um debate entre público e artistas que, no fundo, aproxima estes dois mundos. Ri-cardo Alves não tem dúvidas ao afirmar que “a Variação deu visibili-dade à sala”.

À população, resta interessar-se e participar nestas actividades, pa-gando o bilhete, para que, em troca de um bom momento, se possa fa-zer alguma coisa por estes grupos culturais tão importantes na vida de uma cidade.

TUPO Teatro Universitário do Porto (TUP) foi criado em 1948, por um grupo de estudantes da Universi-dade do Porto. Pretende tanto dar formação como fazer teatro, para pessoas que não o podem fazer a nível profissional. O TUP sofreu al-gumas mudanças desde a sua cria-ção até aos dias de hoje. No início, o reportório baseava-se em Teatro Clássico, muito pouco experimen-tal. Com a revolução do 25 de Abril e através da intervenção cultural na sociedade, o TUP alterou a sua ma-neira de existir, tanto que nos anos 80 e 90 a actividade dependia da dedicação e colaboração dos pou-cos sócios que tinha. Assim, a sua actividade andava em constantes altos e baixos.

Neste momento, o TUP encontra-

Cultu

ra

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actores do núcleo original, bem como cúmplices com ligações à li-teratura, ao cinema, às artes plásti-cas e à economia, entre outros.

Esta associação surge assim da vontade de absorver, baralhar e re-configurar a experiência artística, promovendo o cruzamento entre diferentes formas de expressão. Os objectivos centrais para as áreas de actuação como o teatro, a perfor-mance, o cinema e as artes plásticas são a valorização e inovação artísti-cas, bem como a aproximação en-tre a arte e sociedade.

Num futuro próximo e no sentido de uma procura contínua de novos conteúdos, processos de criação e modelos de trabalho, os Sem Palco funcionarão enquanto laboratório de experimentação artística, aberto a propostas de criadores das mais diversas áreas, do qual resultarão produções próprias para apresen-

tação ou intervenção pública.Formalmente, a actividade dos SP

iniciou-se em Março de 2009, data a partir da qual se têm desenvolvido projectos centrados no teatro, pro-curando sempre sinergias entre vá-rias linguagens e diferentes pontos de partida, encontrando um lugar propício para as suas actividades junto de áreas de interesse cienti-fico e sociológico e explorando, de forma artística, essas temáticas.

Daniel Pinheiro, Presidente da Asociação Cultural Sem Palco diz-nos: “Ser um artista Sem Palco pressupõe uma grande abertura e disponibilidade face à imprevisi-bilidade das condições em que se trabalha e formas de ultrapassar as diferentes barreiras que se vão interpondo no processo de criação de um projecto artístico, indepen-dentemente de qual seja o ponto

de partida.”A falta de apoios não é, nem tem

sido, necessariamente um proble-ma, antes uma condicionante. Os apoios podem ser dos mais varia-dos, mas os subsídios estatais aca-bam por regulamentar a activida-de das várias associações culturais existentes. Daniel Pinheiro revela: “Acredito que a melhor forma de ul-trapassar essa subsídio-dependên-cia está no trabalho árduo de apli-car o empreendedorismo dentro de pequenas associações, é algo que não se transcreve com facilidade, mas enquanto a atribuição de sub-sídios funcionar como actualmen-te funciona será quase impossível os jovens criadores terem acesso a essa fatia do orçamento de estado dedicado à proliferação da cultura, cabe-nos a nós alertar para essa si-tuação e a melhor forma de o fazer é demonstrar trabalho e qualidade, ainda que esses mesmos subsídios não sejam atribuídos normalmente a Associações em inicio de activida-de.”

O trabalho mais recente dos SP foi a reposição da performance Medidas entre Barras, um trabalho encomendado pela Escola de Crimi-nologia da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, e desenvol-vido no âmbito do programa NO-MADIC09.10 - Encontros entre Arte e Ciência.

Neste momento, encontra-se em desenvolvimento um projecto de teatro para a exposição Anfíbios: uma pata na água, outra na terra, um projecto que parte do universo das fábulas de La Fontaine para hu-manizar uma história entre um ser humano e um anfíbio.

A longo prazo a Associação pre-tende solidificar a sua estrutura e poder continuar a desenvolver projectos com maior segurança económica que possibilite a evolu-ção da mesma, no sentido de poder oferecer mais serviços e produtos ao público e poder inserir-se no panorama cultural português onde a assinatura da Associação Sem Pal-co seja reconhecida e validada pelo simples facto de existir. IGOR GOLÇAL-VES E CAROLINA VAz-PIRES

se debilitado mas “a recomeçar”, diz Gonçalo Gregório, Presidente e Di-rector de Produção do TUP há dois anos, seguindo agora uma vertente com novas ideias e experiências.

O TUP tem promovido, de dois em dois anos, o Curso de Iniciação à Representação que pretende for-mar e fazer espectáculos mais ex-perimentais, levando assim o teatro além dos clássicos. É de referir que as duas últimas peças encenadas pelo TUP, Recuperados e Alan, sur-giram sem uma ideia inicial defini-da, e contudo tiveram casa cheia.

O TUP é uma extensão da Univer-sidade do Porto, tal como o OUP (Orfeão) e o CL Uporto (Coral de Le-tras), lidando no entanto com uma situação bastante precária. Vive essencialmente da Direcção e dos Sócios, porque a Reitoria só propor-ciona o espaço e um subsídio anu-al, não cobrindo, por exemplo, os custos totais de divulgação, como flyers e cartazes.

Há uma outra questão que se prende com o espaço. Os ensaios já passaram por três sítios diferentes: primeiro uma sala a que mudaram a fechadura, sem que ninguém per-ceba o motivo; depois, pela sede do TUP (casa na travessa de Cedofeita com infiltrações de água nas salas, danificando todo o piso e mate-rial); neste momento os ensaios decorrem numa das salas da Sec-ção Autónoma de Ciências da Co-municação da Faculdade de Letras, na Praça Coronel Pacheco. Esta sala deixará de ser a sala de ensaios do TUP depois da peça que está a ser preparada para entrar em cena.

Gonçalo Gregório diz-nos ainda que “é muito complicado conseguir uma reunião com o Vice-Reitor”. A vontade de colaborar parece pouca; os projectos não são financiados, e o TUP é visto como um grupo de “miúdos que se juntam depois das aulas para fazer teatro”, afirma. Ape-sar de tais opiniões, o trabalho feito é algo que junta o amor ao Teatro com a qualidade dos espectáculos.

Neste momento, o TUP encontra-se a meio do curso de iniciação à re-presentação, com professores que pertencem à Associação Cultural Sem Palco. A peça entrará em cena no mês de Maio.

Como produtor, Gonçalo diz-nos que desde que assumiu funções tem aprendido muito sobre asso-ciativismo e Teatro, traduzindo-se isso numa experiência muito grati-

ficante. Lamenta aquilo que não se faz e que se podia fazer, e apenas passará o cargo de direcção a al-guém capaz de levar o TUP para a frente num projecto ainda mais ali-ciante para a cidade do Porto.

SEM PALCO, MAIS DO QUE UMA ASSOCIAÇÃO CULTURALSem Palco foi o nome de um grupo jovem de actores, cuja actividade começou em 2007.Recuando no tempo, importa recor-dar o 1º espectáculo da companhia: Hamlet, de Luís Buñuel. Foi atra-vés dessa peça que se começou a construir uma nova tendência que resvalou numa expressão artística totalizante.

Essa tendência terá sido o princi-pal motor para a constituição dos Sem Palco numa Associação Cultu-ral, que, actualmente, junta alguns

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O Senhor Gonçalves, gerente do Piolho há 30 anos

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Fabíola Maciel é uma jovem esta-giária do Jornalismo Porto Net (JPN). Com apenas vinte e um anos, termina este ano a licenciatura em Ciências da Comunicação no ramo de Jornalismo, e, para isso, falta-lhe concluir o está-gio, com duração de seis meses.

Do mundo académico para o mundo do trabalho, a transição não é, muitas vezes, nem fácil, nem line-ar. “É difícil ser estudante para quem for aplicado, temos muitos trabalhos para fazer e pouco tempo para o res-to. Mas sendo estagiário, temos o dia inteiro para trabalhar e às vezes ainda

levamos trabalho para casa, porque a faculdade não nos dá condições. A nível profissional é mais exigente ser estagiário do que estudante.” Assim, a finalista encara o estágio como um trabalho real: “Temos horários a cum-prir, reuniões e temos de ser profis-sionais ao máximo”. Para esta quase-licenciada, o “salto” é ainda maior, já que por opção própria, Fabíola em Junho ruma à SIC para um segundo turno do estágio. “Não queria ir para a SIC sem experiência nenhuma no ter-reno, e achei que o JPN era um óptimo local para estagiar e aprender. Tenho

...ser Estagiário

CONTA-ME COMO É...

LUIS MENDES

noção que na SIC a exigência e a res-ponsabilidade serão maiores, tendo em conta que são tempos, meios e formas de trabalhar diferentes”, disse a estagiária ao JUP. Neste momento, encontra-se a realizar conteúdos para a Casa da Música TV, no âmbito da parceria media entre o canal e o JPN, e, mais tarde, regressará à cobertura da agenda diária do jornal online. “As notícias no JPN são muito dinâmicas, têm ligações de áudio, vídeo, sites, são hipertextuais. O ciberjornal faz a co-bertura de muitos eventos, em todos os formatos e tem muitos seguidores.

Temos notícias diárias pouco conheci-das pelo público”.

Actualmente, os estágios não re-munerados são uma realidade em crescendo. O JUP quis saber qual a posição da futura jornalista em rela-ção a esta problemática: “Ambos os meus estágios são não remunerados, mas sinto que estou a trabalhar para o meu futuro. Embora também sinta que dou demais. Trabalho todos os dias, fins-de-semana, e, por vezes, nem posso ir a casa (Viana do Cas-telo). Nessa perspectiva, penso que deveríamos ter algum benefício, uma

vez que tirar uma licenciatura não é barato. Mas não é isso que me desmo-tiva, porque tudo o que faço é para o meu curriculum”. Acerca dos apoios da Universidade do Porto e das enti-dades governamentais, acrescentou que “com Bolonha a situação é mais delicada. Entramos muito cedo no mercado de trabalho. Ninguém quer pessoas com vinte anos para traba-lhar, sem experiência. E nesse aspec-to, principalmente, os apoios falham muito.” Por outro lado, estagiar não re-quer só responsabilidade por parte do formando, mas também do formador, pois “há pessoas fixas na redacção, acima de nós, que corrigem os textos. É aí que aprendemos. Isso não deixa de ser jornalismo profissional, ape-sar de sermos estagiários”. Quanto à questão da preparação que a licencia-tura faculta, a aprendiz defende que parte de cada pessoa. “O curso prepa-rou-me para o estágio, pelo facto que procurei sempre fazer parte de tudo, como participar em palestras, confe-rências, workshops. E também traba-lhar noutros jornais. A minha vontade foi fundamental, porque o curso só por si não nos prepara”.

Estágio não é nada mais nada me-nos que um “período de trabalho por tempo determinado para formação e aprendizagem de uma prática pro-fissional”, e a entrevistadora que pas-sou a entrevistada, considera que “o estágio é essencial seja na SIC, no JPN ou na CNN, é uma ferramenta para o nosso futuro e ajuda-nos a preparar para o mercado de trabalho que está muito complicado”. Depois do estágio, Fabíola Maciel pondera o mestrado em Comunicação Política, dado que pensa ser de extrema importância a especialização na área do jornalismo. Em resposta à frase “ser estagiário é…”, a jovem declarou: “ser estagiário é aprender, sozinho às vezes, e acima de tudo saber que o que estamos a fazer é para nós próprios e o nosso fu-turo pode passar pelo nosso estágio”. LUíS MENDES

PEDRO FERREIRA

O Cineclube do Porto retomou, desde Fevereiro, as actividades que prometem vir a ser regulares. Com nova direcção, existem já muitos planos para o que pode-rá vir a ser feito, não tanto pelo – e no – edifício que neste mo-mento se encontra à sua guarda, mas pelo nome do Cinecluebe do Porto e por aquilo que este repre-senta junto das pessoas da cida-de. “Trata-se de um nome forte e que consegue causar expectativa na população, de cada vez que alguma coisa é dita sobre ele”. As próximas actividades serão já nos dias 13, 17 e 18 de Abril, em nome da celebração dos 65 anos de his-tória daquela marca. No dia 13, no Passos Manuel, será exibido o

filme Os Faroleiros, de 1922, reali-zado por Maurice Mariaud no Por-to, musicado por um grupo que o fará propositada e ineditamente para este espectáculo. No dia 17, será exibido o filme O Alto de Floripes, de 1959, uma produção colectiva do Cineclube do Porto. No final, o filme será discutido pelo público e convidados espe-ciais. O espaço onde esta sessão se realizará ainda é não é conhe-cido, encontrando-se em fase de confirmação. Por fim, no dia 18, na Biblioteca Almeida Garret, “A Fábrica do Cinema”: uma oficina para o público infantil e juvenil sobre o cinema em paralelo com sessões de filmes de ficção cientí-fica para os pais ou simplesmente

Espólio : Foi assinado um acordo com a Escola Àrvore para que seja feito um levantamento e catalogamento do material que existe em concreto.

O Cineclube para as pessoasDepois de anos de inactividade, há uma nova di-recção a querer levantar o Cineclube do Porto do chão. O JUP foi saber mais.

mais velhos. A pertir dessa data espera-se que as sessões come-cem a ser quinzenais, em vários sítios da cidade.

O actual presidente, José António Cunha, que, juntamente com uma equipa, “muita dela ex-periente”, assumiu o projecto de levantar o Cineclube do Porto das cinzas, confirma que o Cineclube voltou para ficar. Existe, por um lado, uma dívida a ser regulari-zada com o Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), um espaço que está algo degradado e um grande e importante espólio ci-nematográfico a ser preservado; por outro, a vontade de que a cidade tenha acesso ao cinema

que deixou de circular nas esferas mais alargadas da sociedade, gru-pos que reivindicam o cinema de qualidade na cidade, e o querer aproximar o Cineclube às pesso-as, para angariação de associa-dos e apaixonados pelo cinema. Existe a necessidade de criar uma programação que ganhe visibili-dade numa cidade em que “não há concorrência” e em que existe uma grande expectativa por par-te da população. A juntar a tudo isto, ainda o interesse que marcas privadas possam ter em associar o seu nome ao do Cineclube do Por-to, a fim de alargar mais a sua visi-bilidade e as suas actividades eco-nómicas. “Este projecto pretende inserir-se no contexto social e tecnológico da cidade.” – diz-nos o presidente àcerca deste plano – como um “ponto de equilíbrio”. Mas existe mais: um já prometido pólo da Cinemateca Nacional no Porto, que poderá trabalhar em relação com o Cineclube; oficinas de cinema de super 8; cursos de projeccionismo. As expectativas são altas e, mais importante ain-da, nas palavras de José António Cunha, “se houver oferta há públi-co”.

O EDIFíCIOApresenta sinais evidentes de de-terioração. É um edifício privado e que depende de um impasse en-tre o Cineclube e o senhorio para que a situação seja resolvida. A saída deste espaço por parte do Cineclube não está fora de ques-tão. O espólio histórico é grande e necessita de um lugar para ser guardado em condições. Segun-do o presidente, alguns associa-dos mostram-se mesmo interes-sados em doar algumas dos suas colecções privadas para que a do Cineclube continue a crescer, des-de que haja condições para estas serem guardadas. O espaço tem de conseguir albergar a colecção e, ao mesmo tempo, ser apresen-tável ao público.

MOVIMENTO CINECLUBE DO PORTONão tem uma relação directa com o Cineclube do Porto, pelo menos a nivel formal mas, citando, “todas as pessoas que se mostrem inte-ressadas em ajudar o Cineclube são, evidentemente, bem-vindas”. “Estamos já a tentar marcar uma

reunião em que se possam encon-trar todas as pessoas pertencen-tes às várias frentes para que se venha a perceber o que é possível fazer”. A preocupação pelo futuro do Cineclube é, portanto, do inte-resse de várias pessoas e grupos.

O CINECLUBE DO PORTOÉ uma associação cultural que funciona independentemente dos diversos nomes a que se possa associar, incluindo o do Estado, e que tem como responsabilidade “apenas a resposta à demanda dos seus associados e público em geral da cidade do Porto”. A nova direcção tem como objectivo a projecção do Cineclube para a ci-dade e as pessoas. “O Cineclube está na rua!”, diz-nos José António Cunha, sem com isto querer dizer que está desalojado mas que se pretente encontrar com as pes-soas da cidade para que estas se comprometam com o cinema. E existem diversas formas de com-promisso, o simbólico e o efecti-vo. “Quantos mais associados me-lhor”. IGOR GOLÇALVES

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Conga«quando chegaram de Angola, na altura do 25 de Abril, aperceberam-se que na cidade do Porto faltava um espaço atractivo, diferente dos tascos da altura, que tinham ofertas pouco criativas e onde o ambiente, muitas vezes, era pouco recomen-dável. Assim, abriram o espaço e a receita do sucesso terá sido os pra-tos que criaram, como as bifanas à moda do Porto ou as codornizes fri-tas, pratos que não eram habituais na época».

Nestes 36 anos de existência a Conga acumula histórias sobre aqueles cujo desejo, de uma bifana da Conga, se conseguiu sobrepor à distância. Goretti recorda que

A Conga tornou-se ponto de paragem obrigatório para quem

A Conga é sinónimo de bifanas e os portuenses já se renderam a esta evidência. O restaurante familiar de Manuel José Oliveira é um dos bons segredos da cidade. Assim se justi-fica a afluência a esta casa simples, de boa comida caseira.

Questionada sobre o nome Con-ga, a filha do proprietário, Goretti, esclarece: «A casa Conga já existia quando o meu pai a adquiriu. Op-tou-se por manter o nome, embora com um logótipo diferente, porque tal como a dança Conga as pessoas fazem fila para vir comer as nossas bifanas».

O restaurante, tendo como pro-prietário Manuel Oliveira, faz este mês 36 anos. Goretti considera que os pais foram visionários pois

GOURMET DAS TASCAS

não dispensa um pão recheado de bifanas cortadas finas e pequenas e cheio de molho muito picante. Mas não é tudo, podemos degustar também codornizes fritas com mo-lho das bifanas, sopa com molho de bifanas ou ainda papas de sarra-bulho…com molho de bifanas. Os empregados não param, solícitos a tentarem matar a sede e a fome a quem chega, a qualquer hora do dia, entre as 09.00 e as 21.00. E os estudantes comem as bifanas da Conga? «Temos imensos estudan-tes porque os nossos pratos são bastante baratos. E na altura do cortejo a casa enche durante todo o dia». E Goretti acrescenta diver-tida «Até já nos fizeram a proposta de ter uma barraquinha na Queima

Conga significa dança popular cubana de raízes africanas e que se executa ao ritmo de tambores; instrumento musical de percussão, de origem africana, semelhante a um tambor.

26 || CULTURA

das Fitas».É sem ponta de sacrifício que nos

rendemos à Conga, bem conhecida pelos portuenses que afirmam sem hesitação que este é o local das ori-ginais e mais afamadas bifanas do Porto. MARIANA JACOB

Rua do Bonjardim, 314 - 318Contacto: 222 052 118 / 969 637 441Dia de fecho: domingo

Após ter começado a apresenta-ção mundial do novo disco, Black-magic, no Japão, foi por Portugal que José James entrou na Europa.

Naquele que foi o primeiro (e o mais a norte) de cinco concertos no nosso país, o cantor radicado em Nova Iorque mostrou, perante uma sala bem composta e heterogénea, o porquê dos elogios que tem rece-bido desde o seu disco de estreia, The Dreamer (2008).

Vocalmente sobredotado e com os trejeitos e movimentos próprios de um ser algures entre o MC e o crooner, James vai da intensidade do rap e do hip-hop ao registo mais contido do jazz e da pura canção romântica. Foi nesta dialéctica que se passaram cerca de 80 minutos de verdadeira classe.

A banda da tournée Blackmagic, composta por Grant Windsor nas teclas, Richard Spaven na bateria, Neil Charles no baixo e a adorável Jordana De Lovely na voz de apoio é brilhante. Com especial distinção para o baterista, que deu espectá-culo nos interlúdios.

Após uma pequena introdução instrumental, o início foi ao som de «Code». Os pontos altos da noite foram os duetos com Jordana De Lovely, em particular «Love Conver-sation». Mas há ainda a salientar os momentos hip-hop e dubstep de «Electromagnetic» e «Warrior», res-pectivamente.

Destaco, por fim, a interacção com a plateia. Conversou-se q.b. durante e após o concerto, na ses-são de autógrafos, onde a grande nota foi a afabilidade de toda a banda. Bastante ecléctico, Black-magic trouxe a Portugal o melhor José James de sempre. E o público aplaudiu de pé. TIAGO PEREIRA

7/10 A SINGLE MAN, DE TOM FORD

A Single Man é o título do primei-ro filme do estilista Tom Ford. Este filme foi o vencedor de vários pré-mios em festivais reconhecidos, tais como o de Veneza onde ganhou prémio para melhor actor graças à brilhante interpretação de Colin Firth.

A história desenrola-se numa América dos anos 60 em que um professor de inglês, George, tenta recompor a sua vida após a morte do seu parceiro. Entre flashback’s e cenas em câmara lenta, a acção passa-se inteiramente num só dia, “em que tudo ia ser diferente”, se-gundo George. O filme conta tam-bém com Charley (Julienne Moore) – a melhor amiga de George desde a adolescência. Entre momentos mais ou menos enfatizados conse-guimos encontrar uma boa estru-tura narrativa, apesar de esta só se desenvolver realmente a partir do meio do filme.

A preocupação de Tom Ford com os aspectos estéticos é bastante no-tável: desde a direcção de fotogra-fia até à banda-sonora. No entanto, não se pode afirmar que Tom Ford tenha ainda delineado claramente a sua marca. Nota-se que vai beber a certos estilos de cinema e que quer incluir todas essas referências no seu trabalho, chegando, por vezes, a resultar em algumas incoerências. Estas incoerências tornam-se com-preensíveis vindas de um estilista recém-chegado ao mundo do cine-ma e que, para primeira obra, reali-za um filme de longa duração.

A Single Man é um filme que cau-sou surpresa no mundo do cinema, tendo aberto a Tom Ford algumas portas. Agora é esperar pelo segun-do filme do novo realizador. JOÃO PEDRO CRUz

8/10A ILHA DEBAIXO DO MAR, ISABEL ALLENDE

Neste novo livro, Isabel Allende volta a transportar-nos para o seu imaginário de territórios tropicais, mágicos e coloridos. Em A Ilha De-baixo do Mar acompanhamos zari-té, tratada por Teté, uma escrava na ilha de Saint Domingue, actual Hai-ti. Teté vai trabalhar para a herdade de Saint-Lazare onde está à mercê do patrão, o francês Toulouse Val-morain. Somos introduzidos a uma panóplia de personagens, interes-santes, mas pouco desenvolvidas, ou que podiam ter permanecido na história durante mais tempo e de uma maneira mais activa na nar-rativa, como o guerreiro Gambo. Acompanhamos a vida da família, dos filhos legítimos e ilegítimos, a escravidão, a revolta dos negros, a fuga para Nova Orleães. zarité re-presenta tudo o que normalmente um romance de Allende oferece: uma personagem feminina corajo-sa, mas sofredora. Esta mulher luta pela sua liberdade até ao fim, num tempo em que os negro eram lixo. zarité é o protótipo de mulher lu-tadora e vencedora, mas de quem o hábito de ser considerada menor não desaparece. Apesar disso, ga-nha a sua independência e conclui que teve uma boa étoile. O romance foca o vudu de uma maneira pouco conhecida, religiosa como poucos conhecem, sem a conotação nega-tiva que se lhe atribui. De destacar também personagens evoluídas para a época e que devem ser tidas em atenção na leitura: Dr. Parmen-tier e zacharie. Mantendo o seu estilo habitual, Allende não surpre-ende mas enche as medidas, num romance que não podia ter apareci-do em melhor altura.JúLIA ROCHA

8/10JOSÉ JAMES, CINE-TEATRO DE ESTARREJA

CULTURA || 27

Críti

cas

JOSÉ FERREIRA

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JUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMA JUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMAJUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMA

Card

ápio

MúSICA VÁRIOSTEATROSEXTA 30 ABRIL LIVE SETCROOKERS (IT) [CLASH CLUB]Teatro Sá da Bandeira

SÁBADO 1 MAIOALTA BAIXAMaus Hábitos, Passos Manuel, Pitch

24 ABRIL A 22 MAIOÂNGELO DE SOUSAGal. Quadrado Azul | Joaquim Machado - retrospectiva

SÁBADO 8 MAIOMARKETMercado Porto Belo | Praça Car-los Alberto | 14h - 19h

1 DE ABRIL A 9 DE MAIO“7:AM” Teatro Sá da Bandeira

22 DE ABRIL A 23 DE MAIO“PEDRO E INÊS”Cace Cultural do Porto

12 A 30 DE MAIO “NOITES BRANCASE”Teatro Sá da Bandeira - Sala Estudio Latino | 21:45hSÁBADO 8 MAIO

CONCERTO- GOTAN PROJECT Coliseu Porto

JORGE MOyANOMONOCine-Teatro Constantino Nery Teatro Municipal | 21:30H

Opi

nião

ría” como dizem aqui, no Bairro de Almagro onde se encontra a minha morada actual também. É um bairro conhecido pela sua boémia de tan-go, bem de bairro – não para turistas. E, muito afortunadamente, trabalho aí de onde aprendo muito sobre o Buenos Aires antigo que cada vez mais se perde na ânsia crescente de

PALAVRAS LEVA-AS O VENTO

Buenos Aires é o lugar do mundo onde escolhi viver, pelo menos por agora. Vim para cá (já faz um ano e pico) com o objectivo de estudar interpretação e poder participar da grande e variada actividade cultu-ral que aqui decorre. Como todavia não posso viver da arte, trabalho num bar dos antigos, uma “tangue-

modernização enquanto o peso ar-gentino desvaloriza de dia para dia e a inflação não pára. Os contrastes é aquilo que marca esta cidade, o anti-go e o moderno misturam-se e a his-tória de imigração europeia (predo-minantemente espanhola e italiana) dos inícios do século XX nota-se por todas as partes, seja na comida, na arquitectura, na gíria ou até mesmo na forma de ser das pessoas.

Tango, na verdade, representa muito daquilo que é Buenos Aires: uma amálgama de influências eu-ropeias e silêncios americanos, um dramatismo de viver siciliano, o es-pírito trabalhador galego, a sedução do latino, a nostalgia do estrangeiro e a procura da identidade. O queixu-me constante das pessoas e o amor por pensar mais na vida do que vivê-la, esse, é de agora, é “porteño”

SARA MONTALVÃO www.omeucaminito.blogspot.com

e resulta de toda a história confusa de identidades, da crise económi-ca e da aparição precoce e forte da psicologia e psicanálise em Buenos Aires. O que equilibra a forma de viver acelerada e quase desumana da capital é o “barrio” – o sentido de vizinhança, as casas baixas, o assado ao domingo, tomar mate à porta de casa, os cafézinhos e os bares onde se jogavam as cartas - algo que in-felizmente cada vez mais se perde e quase que não existe.

Buenos Aires continua a ser um pólo de atracção para grande parte dos países da América Latina e não só – muitos vêm estudar na universi-dade pública conhecida pela sua boa qualidade de ensino e porque não se paga propinas, peruanos, bolivianos e paraguaios vêm em busca de me-lhores condições de vida, artistas de todas as partes do mundo chegam com o intuito de aprender, crescer e trabalhar no mundo artístico por-teño. Buenos Aires continua a ser um porto de chegada como sempre o foi mas também um porto onde é difícil atracar, como todas as gran-des capitais mundiais. Onde criar ra-

ízes e envolver-se com a sociedade se complica quando os contrastes sociais e culturais do próprio lugar convivem de forma pouco harmo-niosa. Cada bairro é um mundo pró-prio e uma faceta distinta da cidade e leva o seu tempo até encontrar o ninho possível para aquele que aca-bou de chegar.

A minha relação com Buenos Aires é de amor e ódio (como ge-ralmente acontece com qualquer estrangeiro “exilado”); é uma cidade densa, pesada, cinzenta, barulhenta, chega a ser sufocante realmente. Outras vezes as suas ruas têm um quê de mistério e romance, o bulício da gente cativa e a cidade mostra-se inesperada e surpreendente. As pessoas ou são insuportavelmente deprimidas e cabisbaixas ou surgem como compinchas do bairro, gente simples e honesta, com vontade de desfrutar a vida e nada mais. É tudo uma questão de perspectiva, experi-ências, dias e luas de cada um, sorte e azar – tudo na mesmíssima mesa de jogo. Mas como um amigo me disse, ou a cidade te ganha ou tu ga-nhas a cidade.

SARA MONTALVÃO

Caminito de Buenos Aires...el mio

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JUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMA JUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMAJUP || ABRIL ANTEVISÃO QUEIMA OPINIÃO ||31

FICHA TÉCNICA

DIRECÇÃONúcleo de Jornalismo Académico do Porto - NJAP/JU- PRESIDENTE Sara Moreira VICE-PRESIDENTE Rita Falcão TESOURARIA Rita Bastos VOGAIS Pedro Ferreira (JUP) || Filipa Mora (aguasfurtadas) || Sara Carreira (Publicidade e Espaços JUP) || Catarina Cruz (galerias)

Jornal da Academia do Porto - JUPDIRECTORES Filipa Mora e Manuel Ribeiro DIRECTORA DE PAGINAÇÃO Marta Macedo com apoio de Beatriz Azevedo DIRECTOR FOTOGRAFIA José Ferreira CHEFE DE REDACÇÃO Mariana Jacob EDITORES E SUB-EDITORES EDUCAÇÃO Tatiana Henriques SOCIEDADE Leandro Ro-drigues CULTURA Tiago Sousa Garcia OPINIÃO Pedro Fer-reira DESPORTO Ricardo Noronha

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Igor Gonçalves || José Ferreira || José Ribeiro || Júlia Ro-cha || Leandro Rodrigues, Liliana Pinho || Luís Mendes || Mariana Jacob || Rita Gouveia || Tatiana Henriques || Tiago Sousa Garcia

IMAGEM DA CAPA Arquivo JUP DEPóSITO LEGAL nº23502/88 TIRAGEM 10.000 exemplares DESIGN LOGO JUP Bolos Quentes Design EDITORIAL/GRAFISMO Joana Koch Ferreira PAGINAÇÃO Joana Koch Ferreira

PRÉ-IMPRESSÃO Jornal de Notícias, S.A IMPRESSÃO Nave-Printer - Indústria Gráfica do Norte, S.A. Propriedade Núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Rua Miguel Bombarda, 187 - R/C e Cave 4050-381 Porto,

Portugal || Telefone 222039041 || Fax 222082375 || E-mail [email protected]

APOIOSReitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude.

Entrelaçando

Tecido. Tudo é tecido. A própria vida é um tecido. Fios que se entrelaçam e que formam uma só coisa. Deam-bulamos pelas ruas e constatamos a diversidade de realidades com as quais nos deparamos. Por vezes, o stress diário torna-nos insensíveis e desatentos em relação a essas re-

de todos esses tecidos. O que eu sou como pessoa depende dos fios que vieram dos meus antepassados. Se o meu pai não tivesse casado com a minha mãe, eu não seria eu. E se o meu avô paterno não tivesse encon-trado a minha avó paterna, o meu pai não seria o meu pai. Os fios entrela-çados seriam completamente distin-tos e o ‘produto final’ seria certamen-te outro. O mesmo se passa com os edifícios e os materiais utilizados na sua construção, os jardins e as plan-tas que os constituem, as lojas e os produtos que vendem, os animais que se reproduzem com a mesma ou diferentes raças, os diversos sons que diferentemente se combinam para construir várias melodias, os diferen-tes fios de lã que se entrelaçam para diferentes camisolas e cachecóis, as cores que se misturam e dão tons dis-tintos, os ingredientes que se combi-nam e que resultam em diferentes sabores… Tudo é constituído por fios, que se entrelaçam e formam um ‘tecido’, um produto, uma espécie, um ser, um só, único. Mas porquê di-vagar sobre tecidos? Aparentemente esta constatação de que tudo seja um tecido, que não é imediatamente evidente para a maior parte das pes-soas, não parece afectar a nossa vida, numa primeira impressão. Mas, e se esse entrelaçamento de fios não for o melhor? Quanto a nossa vida pode-ria ser diferente se o entrelaçamento fosse outro… Poderíamos ter nasci-do no seio de outra família, ter tido outro emprego, ter casado com outra pessoa, ter ido viver para outro país, ter comprado uma mansão ou passa-do fome nos subúrbios da cidade… Parece então, agora, complexa esta

alidades, sobre as quais raramente reflectimos meticulosa e descontrai-damente. Olhamos e vemos casas, prédios, estradas, jardins, velhos, crianças, carros, lojas, vidas acelera-das, sorrisos escassos, caras preocu-padas. E, raras vezes, paramos para pensar nos fios que estão por detrás

questão. Diferindo dos fios que selec-cionamos para fazer camisolas, das cores que escolhemos para pintar as paredes da nossa casa, muitas vezes, não podemos tecer a nossa própria vida. Os fios já foram escolhidos, já foram entrelaçados, nós já somos o ‘tecido’. Embora, por vezes, ainda nos seja possível fazer remates. Só que, geralmente, mais tarde, reparamos que não entrelaçamos correctamen-te esses novos fios ou que alguém novamente os entrelaçou por nós, sem a nossa permissão. A vida é um entrelaçamento de fios, sobre o qual nós não temos o mínimo controlo..MARIANA FREITAS

PEDRO FERREIRA

30 || OPINIÃO

Devaneios

Regresso ao Porto: A Madrugada…As gaivotas fustigam a madrugadano Porto. A luz é brancae resplandecem as fachadas que sevêem daqui, do último andar. Alguns prédiosmais altosrompem o céu límpido. Uma gruaparece suspensa sobre a frentede Gaia. Da Torre, só o cimovisível. Algumas árvores mais frondosascresceram saudáveis em sítiosimprováveis. O inverno perdeu muita coisadesta paisagem, daqui a uns diasa primavera trará o avessodessa aridez. Nesta varanda, respiroo impoluto ar da manhã,como uma dádiva. Enfrento,com o coração a dilatar-se,o berço que não me viu nascer,que nem por isso é menos berço.Ou casa.JOÃO BORGES

EDITORIAL

Acerca da tolerânciaTolerante adj.2gén. 1 que tole-ra ou suporta; 2 que consegue aceitar e conviver com a diferen-ça (de ideias, de comportamen-tos, etc.) sem se sentir ameaçado por ela; 3 indulgente para com erros ou falhas (…) (Dicionário da Língua Portuguesa 2004 - Porto Editora)

Quando pensamos na palavra tolerância e todo o seu campo semântico, pode ser inevitável recuarmos ao um determinado imaginário da metáfora e re-ferenciada “fábula” intemporal narrada n’O Principezinho. O chapéu ou um elefante dentro de uma jibóia? Não obstan-te outras referências da nossa infância, uma das metáforas explanadas ao longo do livro, remete-nos para o velho axio-ma: vemos o mundo com olhos diferentes, não significando, por isso, que a razão só pertença a um dos lados.

Independentemente do com-preensível e tolerável para nós, a capacidade de respeitar - em-bora que, por vezes, dificilmen-te – o olhar de outrem sobre as mesmas coisas, atenua a dura incompatibilidade, nos dias que correm.

Tolerar para ser tolerado e res-peitado. Numa altura em que a confusão parece dominar o ar, a tolerância merece hipérbole na sua aplicação.

O planeta Terra podia ser aquele que mais intrigava o Principezinho mas, certamen-te, se não tolerarmos o que nos rodeia, pode intrigar-nos ainda mais e dificultar-nos a nossa so-brevivência nele. É preciso tem-po, tempo para ser tolerante.

Claro que é só uma opinião. Da mesma forma que todo o conteúdo deste jornal deve ser. Imparcial é a máxima que ten-tamos cumprir. Mas a imparcia-lidade, ainda que tentativa de idoneidade, peca sempre pelo esforço. FILIPA MORA

JOSÉ

FER

REIR

A

JOSÉ FERREIRA

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