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JUP Outubro 2009

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Capa: Palácio de Cristal: Reabilitação ou Destruição? -- Destaque 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 11 || U.Porto 12 || FLASH 14 || Desporto 16 || Cultura 20 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 3 -- Jornal da Academia do Porto Ano XX || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Direcção Carlos Daniel Rego e Filipa Mora || Director de Fotografia Manuel Ribeiro || Directora de Paginação Joana Koch Ferreira

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Destaque 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 11 || U.Porto 12 || FLASH 14 || Desporto 16 || Cultura 20 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 31

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reabilitação ou destruição?

Palácio de Cristal

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mado em forma de cúpula, e foi construído segundo o projecto do Arquitecto Carlos Loureiro a pre-texto do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins.

O PROJECTO DE REABiLiTAçãONo dia 17 de Junho de 2009 é apre-sentado no Pavilhão Rosa Mota o projecto de reabilitação. Presi-dem à cerimónia, realizada pelo próprio autor da infra-estrutura o arquitecto José Carlos Loureiro, o Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, acompanhado do Vereador da Cultura, Turismo e Lazer, Gonçalo Gonçalves.

Na apresentação do projecto é anunciado que “o actual estado fí-sico do Pavilhão Rosa Mota (PRM), associado à sua inadequação para a realização de grandes eventos com qualidade, levou a Câmara Municipal do Porto a adoptar uma estratégia que passasse pela sua transforma-ção num grande centro de eventos” e que isto aconteceria “sem alterar as suas características arquitectóni-cas, até porque se encontra classi-ficado pelo Instituto Português do

Património Arquitectónico (IPPAR)”. Ainda segundo a apresentação dada “o novo PRM terá áreas de expansão em cave com frente para a Av. Das Tílias, um novo restaurante e uma nova sala para cerca de 1200 pesso-as, além das áreas técnicas indispen-sáveis. Estas alterações vão permitir que, para além das actividades des-portivas, exposições, grandes con-certos, festas, circo e pista de gelo, se realizem congressos com capaci-dade de plenário até 6 mil pessoas e seminários ou reuniões de menor dimensão: sala de 322 lugares, 522 e 1180 lugares, subdivisível em 3 salas de cerca de 400 pessoas”.

Segundo o site da Câmara Mu-nicipal o projecto de reabilitação e requalificação do Pavilhão Rosa Mota está avaliado num inves-timento de 19 milhões de euros, que será em parte comparticipado pelo QREN e que estará a cargo de uma parceria entre o Município do Porto, a ParqueExpo, o Pavi-lhão Atlântico, a AEP e o Coliseu do Porto, entidades que depois fi-cariam encarregues da gestão do futuro PRM.

A história do espaço que hoje al-berga o Pavilhão Rosa Mota co-meça em 1861, quando se inicia a construção de um pavilhão que viria a ser conhecido como o Pa-lácio de Cristal. Inaugurado a 18 de Setembro de 1865 pelo rei D. Luís, o projecto era da autoria do arquitecto inglês Thomas Dillen Jones e foi construído em grani-to, ferro e vidro, tendo o Crystal Palace londrino por modelo. Me-dia 150 metros de comprimento por 72 metros de largura e era dividido em três naves.

Foi concebido para acolher a grande Exposição Internacional do Porto, organizada pela então

Associação Industrial Portuense, hoje Associação Empresarial de Portugal (AEP). O Palácio de Cris-tal foi também um importante espaço de cultura e concertos: no seu interior havia um órgão de tubos que, na época, era dos maiores do mundo.

A área envolvente ao edifício foi entregue ao paisagista alemão Emílio David. Entre os jardins te-máticos e os jardins românticos situados na entrada há a Avenida das Tílias. Esta é ladeada pela Bi-blioteca Municipal Almeida Garrett onde se situa a Galeria do Palácio, pela Concha Acústica e pela Cape-la de Carlos Alberto da Sardenha (edificada em 1849 pela princesa de Montléart em homenagem ao seu irmão, o Rei Carlos Alberto).

Em 1933, o edifício e os respecti-vos jardins foram adquiridos pela Câmara Municipal do Porto. O Palácio de Cristal original acabou por ser demolido em 1951, com alguma contestação pública, para dar lugar ao Pavilhão dos Despor-tos, hoje Pavilhão Rosa Mota. Este edifício é uma nave de betão ar-

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O espelho d’agua que substiuirá o actual lago e irá integrar-se com as novas construções

O simbolismo de um espaço requalificado

Vista aérea do conjunto das novas edificações

Para aumentar a abertura do edifício as sebes na frente serão substituídas por árvores

As obras de reabilitação do Palácio são motivo de discussão pública. Entre projecto e polémica fomos procurar saber o que está por detrás de ambos.

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A AEP respondeO JUP tentou contactar o Presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), Engenheiro José António Barros, na tentativa de clarificar a estrutura da parceria que irá gerir o Pavilhão Rosa Mota após as obras de reabilitação.A Assessoria de Imprensa da Associação informou-nos que a AEP integra um consórcio juntamente com: a Associação Amigos do Coliseu do Porto, “associação de utilidade pública participada por mais de 3.500 pessoas da Cidade”; a Parque Expo e o Pavilhão Atlântico, “sociedades detidas a 100% pelo Estado português”.Quanto aos custos da obra, ficamos a saber que “O custo global do projecto, de 19 milhões, será suportado pelo Quadro de Referência Estraté-gico Nacional (QREN), e que o consórcio inicialmente entrará com 3 milhões, de um inves-timento total de seis milhões, e que a Câmara Municipal do Porto investirá os restantes 10 milhões, dos quais será inte-gralmente ressarcida através das rendas a receber ao abrigo do contrato de concessão, du-rante os próximo 25 anos”.A concessão da estrutura con-tinuará na posse da empresa municipal Porto Lazer, “pelo que falar em privatização do Palácio de Cristal representa total ignorância, desconheci-mento ou má-fé”.Em concreto: no final de 2011 a AEP para o Porto uma “moderna arena de nível internacional. A cidade ficará dotada de condi-ções excepcionais para acolher grandes congressos e passará a figurar no roteiro da indústria mundial do entretenimento e nos calendários das maiores competições desportivas indoor, e que“a operação jamais porá em causa o edifício existente ou o património paisagístico e a flora daquele espaço único da Cidade”.

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volvente. A sala para 1200 pesso-as, compartimentável em 3 salas para 400 pessoas cada ou 2 salas de 600 pessoas cada, será im-plantada a Sul do Pavilhão, num prisma de 56 x 20 m e terá uma altura de 5 metros, o que excede em 1,70 m a cota geral de 3.30 m. Esta sala, de um lado estaria vi-rada para o rio Douro e, do lado oposto, fará frente com o futu-ro restaurante num espaço que será ocupado por um espelho de água. A construção iria alterar a estrutura do lago e da zona di-rectamente envolvente e teriam de se abater três árvores, de um total de cinco que seriam abati-das em toda a área dos jardins.

O Arqº. José Carlos Loureiro é peremptório ao afirmar que “não vamos dar cabo dos jardins. Va-mos abater cinco árvores. Dois plátanos que estão plantados no asfalto e três cedros. Mas em compensação, entre outras que possamos vir a plantar, vamos substituir por árvores as sebes que ladeiam o pavilhão, planta-das há oito ou dez anos, e que são uma autêntica barreira para o edifício”.

Quando confrontado com as acusações de que vai destruir o lago, o arquitecto defende-se di-zendo que “não vamos destruir o lago. Vamos transformá-lo! Está sempre verde... parece óleo. Vamos construir um espelho de água. O lago vai deixar de ser uma peça solta para passar a ser uma peça que integra e se inte-gra nos edifícios”.

Para além da recuperação de um ex-libris da cidade do Por-to que se encontra degradado e a necessitar de intervenção, as obras de requalificação vão per-mitir que a lotação total da área do PRM passe para 7000 pessoas. A nave central fica com uma lo-tação que rondará as 6000 pes-soas, dependendo do tipo de acti-vidade desportiva ou espectáculo realizado. As intervenções que se terão de realizar a nível de inso-norização, acústica e meios técni-cos visam melhorar aquilo que se pretende que seja mais uma sala de espectáculos para a cidade e também permitirão que as salas e os espaços que serão criados (as salas de reuniões, restauran-te e áreas adjacentes) funcionem de uma forma independente da nave central.

Segundo o arquitecto autor do projecto, José Carlos Loureiro, “o Porto e o Norte não têm, neste momento, um centro de congres-sos à altura da região”. Para ele, a reabilitação do Pavilhão Rosa Mota, passa por ”alargar as pos-sibilidades do pavilhão, melho-rando as suas capacidades acús-ticas, da capacidade cenográfica para espectáculos e concertos e dotá-lo de salas que permitam a realização de congressos”, uma vez que “não se pode deixar ao abandono um edifício qualifica-do pelo IPPAR.”

Para aumentar a lotação e a flexibilidade da nave central o piso dos espectáculos do Pa-vilhão seria descido de forma a aproveitar a área da cave (± 5.000 m2). Em parte desta área, sobre uma das bancadas, surgi-ria uma sala de reuniões para 300 pessoas. No exterior ao pe-rímetro do Pavilhão, onde agora se encontra um armazém técni-co, os sanitários e parte da área da esplanada, seria construído, numa área de cerca de 3.500 m2, uma sala de reuniões com capacidade para 500 pessoas e também um restaurante com a respectiva cozinha. Dispostas ao longo da Avenida das Tílias estas construções teriam uma facha-da em vidro e a sua altura não excederia a altura do pavimento principal do Pavilhão (3.30m) e dos seus jardins e plataformas envolventes nos lados Norte, Este e Oeste. As coberturas des-tas estruturas serão ajardinadas ao contrário das actuais.

No centro da discórdia sobre este projecto está a sala que se pretende construir sobre parte da área do actual lago e zona en-

“Não se pode deixar ao abandono”

não vamos destruir o lago. Vamos transformá-lo! Está sempre verde... parece óleo. Vamos construir um espelho de água”

não vamos dar cabo dos jardins. Vamos abater cinco árvores. Dois plátanos que estão plantados no asfalto e três cedros”

Luta cívica contra o novo edifício

Faz quase um mês que o jovem Diogo Maia, estudante da Facul-dade de Belas Artes, participa nas actividades do Movimento em De-fesa dos Jardins do Palácio. A luta travada é contra a intervenção que irá afectar uma parte dos jardins, concretamente na zona onde o Pa-vilhão se debruça para Avenida das Tílias e que abrange também o pe-queno lago “romântico”.

Diogo explica o que o Movimento conhece sobre o projecto do Arqui-tecto Carlos Loureiro: “o autor é o mesmo que projectou o actual Pa-vilhão, o qual sofrerá uma sensível requalificação. Ao lado, será cons-truído um novo edifício, com capa-cidade para cerca 2.500 pessoas, que terá a função de albergar congres-sos. Isto implicará o desaparecimen-to do actual lago, que será substituí-do por um espelho de água”.

Chegamos logo ao cerne da ques-tão: o Movimento, não contesta a requalificação do Pavilhão em si (intervenção que, aliás, sustenta): “o Movimento apoia a cidade e portanto também a requalificação do Rosa Mota”. O que se combate civicamente é a criação do novo edifício “porque muda a configura-ção do jardim, é demasiado grande e retira o lago. São jardins român-ticos, únicos no Porto. As árvores? A questão não é o número mas a descaracterização do sítio”.

“Nós não somos tradicionalistas” sublinha o Diogo, acrescentando que “os portuenses têm uma liga-ção afectiva com um dos poucos jardins de qualidade da cidade, que está muito bem tratado. Trata-se de um património para o Porto, próxi-mo de uma zona que é classificada como Património da Humanidade”.

Reconhecendo a importância de ter um Centro de Congressos na segunda cidade do Pais, Diogo Maia evidencia que há outras zonas do Porto que precisam de ser potencia-das e que existem alternativas para a implantação de uma estrutura des-se género num sitio que não seja o actualmente proposto pela Câmara. “Será que o congresso não pode des-locar-se para outro sítio?”, interroga.

A opinião do Movimento é clara: a zona em questão não precisa de uma intervenção desse género e o representante do Movimento re-lembra “a catástrofe que teve lugar na época da destruição do (verda-deiro) Palácio”. A preservação do estado actual do jardim sustenta-se, também, com o facto de ser um “es-

paço seguro, com falta de criminali-dade, turístico... enfim, agradável”.

Outra das questões que preocupa o Movimento é a futura gestão do Pavilhão, quer do ponto de vista eco-nómico, quer de um ponto de vista prático: caso haja a necessidade de albergar mais que um evento simul-taneamente “de que maneira serão conciliadas as várias configurações do Pavilhão com a vida no jardim?”.

A meio da entrevista, surge espon-tânea uma pergunta e a sua auto-resposta: “para quem é o edifício? Para os empresários!”. O Movimento receia também perder a fruição pú-blica por uma privada, em que o jar-dim se irá “distanciar das pessoas”.

O JUP perguntou se há o risco de uma possível instrumentalização

do Movimento, face a coincidência temporal com as eleições. A respos-ta corta qualquer dúvida: “no Movi-mento não há uma implicação/liga-ção politica, é um movimento cívico e popular. Na verdade, a campanha é prejudicial para nós: as pessoas pensam que temos um interesse político e isso distancia-as”.

Actualmente o Movimento con-tinua em busca de um número sempre maior de adesões, quer seja através da recolha de assinaturas ou através de acções de sensibilização.

A recolha de assinaturas decorre todas as Terças, das 4 às 18 horas da tarde, e aos Sábados, das 11 às 13 horas, na Rua de Santa Catarina e está em fase de avaliação a mu-dança para outros focos.

A data marcada para um grande número de acções de sensibilização será, presumivelmente, 3 de Outu-bro. O programa prevê uma tertúlia com ambientalistas e arquitectos paisagistas e com todos os que par-ticipam activamente na vida do pró-prio Jardim; prevê também a cria-ção de um cordão humano junto ao lago, simbólico da relação das pes-soas com o espaço; haveria também intervenções artísticas e musicais e ainda um piquenique.

A associação costuma encontrar-se todas as Quartas-Feiras no Café Ceuta por volta das 18 horas.

O Movimento em Defesa dos Jardins do Palácio está contra a mudança de configuração dos jardins.

O autor do antigo e do novo Pavilhão Rosa Mota, o Arq. José Carlos Loureiro

Diogo Maia, estudante universitário e activista do Movimento em Defesa dos Jardins do Palácio

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JOSé FERREiRA JOSé FERREiRA

edgardo cecchini e JoSÉ [email protected]@hotmail.com

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Porque razão submetemos as crian-ças (dos 6 aos 12 anos) a 8-9 horas de trabalho por dia em actividades que lhes são impostas, enquanto os adultos trabalham em média entre 7-8 horas? Porque razão a opinião, a cultura e os interesses das crian-ças não são elementos constantes nas actividades? Será que os TPC’s, por roubarem tempo livre às crian-ças, não favorecem um sentimento negativo destas em relação ao acto de aprender? Estas têm sido algu-mas questões que têm inquietado Maria de José Araújo, investigadora na área das Ciências da Educação e que lançou recentemente “Crianças Ocupadas”, um livro que segundo a autora “tenta trazer para o debate público o trabalho das crianças e

o seu direito a um tempo efectiva-mente livre”.na introdução refere que a peda-gogia que se usa para criar am-bientes que propiciem o brincar é um direito e não uma mania dos pedagogos. Sente que defen-de uma perspectiva que não é de todo consensual?Maria José Araújo - Muitas vezes há uma visão errada do que é a peda-gogia e do que é brincar. A verdade é que as crianças precisam de brin-car e para elas é uma actividade muito séria. No discurso dominan-te, o brincar, sobretudo quando re-lacionado com as actividades esco-lares, aparece quase sempre como actividade secundária. No entanto, as crianças brincam para descobrir

o mundo, as pessoas e as coisas que estão à sua volta. É preciso é criar condições sócio-espaciais para que as crianças possam brincar. Há mui-tos pedagogos a defender esta pers-pectiva. As crianças compreendem desde cedo que brincar não é, para os pais, nem para a escola, essencial e apercebem-se disso pelas conver-sas e atitudes dos adultos e pela for-ma como se comportam perante a brincadeira ou o jogo.de que forma é que o seu livro pro-cura traduzir para o grande público uma questão que nem sempre está acessível a todos, por exemplo pela linguagem científica dos estudos?MJA - Este livro parte de uma inves-tigação, mas tenta acima de tudo trazê-la para o “murmúrio” e para o

escrutínio do “mundo da vida”, tor-nando acessíveis a um público mais amplo os resultados a que cheguei. É um livro que pretende contribuir para o debate público sobre as ac-tividades que as crianças fazem no seu tempo livre, através da partilha com o maior número possível de lei-tores de uma série de inquietações que o trabalho com as crianças me tem suscitado, seja como investiga-dora, seja como animadora. A lin-guagem que se utiliza para divulgar a investigação tem de ser acessível. Caso contrário, torna-se muito difí-cil a disseminação e divulgação dos resultados a que chegamos.as ciências da educação (ce) têm sido mal interpretadas e sofrido com isso?

MJA - As Ciências Sociais e da Edu-cação ajudam a desconstruir ideias feitas, ajudam a pensar. Tratam de assuntos que toda a gente consi-dera próximos, familiares e em re-lação aos quais têm uma opinião. Mas essa opinião é geralmente ba-seada apenas em ideias-feitas, de mero senso comum. As Ciências da Educação são uma área impres-cindível para criar reflexão crítica sobre o que se passa na educação e fazer chegar a toda a comuni-dade educativa a reflexão que se produz. É, aliás, uma preocupação que partilho com os meus colegas investigadores do Centro de Inves-tigação a que pertenço. Muitas ve-zes fazem-se investigações que não chegam aos pais, aos professores…

no fundo onde ela deveria chegar e, nesse sentido, é necessário que se criem condições para que se possam discutir estes assuntos de forma mais abrangente. Esta é uma das principais razões deste livro.os debates são também uma for-ma de não fechar a investigação na academia?MJA - Claro. Os debates são muito importantes... são imprescindí-veis. É fundamental devolver a in-vestigação que se faz, temos essa obrigação. Percorreu várias escolas para deba-ter com professores, pais e mães… daquilo que apresentou nos deba-tes, o que suscitou mais discussão?MJA - O que impressiona muito as pessoas, quando eu falo sobre o tra-

balho e a ocupação das crianças du-rante o dia, é quando tomam cons-ciência da quantidade de tempo: cerca de 45 horas semanais, 9 horas por dia. Essa é a questão que pre-ocupa os educadores. Porque eles sabem que as crianças têm trabalho na escola e depois um conjunto de actividades programadas durante o dia e muitas vezes ainda vão para casa fazer “trabalhos de casa”.Outra questão são os chamados TPC. Porque os educadores sabem que as crianças não gostam, estão cansadas, não têm vontade, etc... E os pais sofrem com isto. Por um lado, acham que se disserem aos fi-lhos para não fazer os TPC os estão a prejudicar, por outro acham que se eles aprenderem mais qualquer

coisinha isso fará deles melhores alunos. Embora percebam que eles estão cansados... São situações algo contraditórias. Mas estamos no caminho certo, porque já há muitos educadores a tomar posição sobre este assunto. Aliás, esta sobreocupação das crian-ças não pode continuar porque elas não aguentam, como sabemos.Que consequências do excesso da carga horária para as crianças?MJA: As crianças vivem num gran-de stress. Querem corresponder às exigências da escola, às expectativas dos pais e dos professores e até do grupo de pares. Trabalham imenso e preocupam-se em desempenhar bem o seu papel de “alunas”. Mes-mo aquelas que aparentemente não

estão interessadas. Essas, aliás, são muitas vezes as que mais sofrem.As distracções e irreverências das crianças, ou até aquilo a que muitas vezes chamamos “indisciplina”, são muitas vezes consequência do can-saço e do excesso.O cansaço aliado às expectativas dos pais faz com que as crianças andem ansiosas, fiquem aflitas, chorem ou até não queiram ir à escola, inventem mentiras... Come-çam a alhear-se do espaço escolar e por vezes até desistem.Mas o cansaço não é só em relação à quantidade de actividades e tra-balho que têm para fazer, mas tam-bém aos espaços. São muitas horas fechadas e as crianças precisam de espaços de ar livre. Os espaços

Entrevista Maria José Araújo

Tempo livre e a ocupação das crianças: e brincar, não será um direito?investigadora na área das Ciências da Educação lança livro elico sobre o tempo livre e a ocupação das crianças.

“Olhando para o tempo médio de um adulto e de uma criança, percebemos que as crianças trabalham no seu ofício de alunas tanto quanto um trabalhador adulto”

Biografia

Maria José Araújo é Bolseira da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia – e investigadora do CiiE – Centro de investigação e intervenção Educativas da FPCE-UP – integra o núcleo E:etc – Ex-pressões, Espaços e Tempos de Criatividade. Tem actualmente em curso um trabalho de investigação sobre a “Escola a Tempo inteiro e as Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC)”.

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educativos, sobretudo porque as crianças lá estão muitas horas diá-rias, têm de ser espaços de comu-nicação e aprendizagem que assu-mam um papel activo e dinâmico.À sua critica do excesso de car-ga horária subjaz uma outra que questiona as aulas e as actividades desenvolvidas sem ter em atenção os interesses ou as opiniões das crianças. Questiona também o ac-tual modelo escolar?MJA - Uma das dificuldades que con-diciona as escolhas das crianças nas actividades organizadas, por exem-plo nas Actividades de Enriqueci-mento Curricular (AEC’s) do 1.º Ciclo do Ensino Básico, é que elas são pen-sadas para ser aulas, e nesse sentido as diferentes opções (música, plásti-ca, etc.) são organizadas por turmas e muitas vezes sem ter em conta os interesses e culturas das crianças. Como todas as crianças que ficam na Escola depois do horário lectivo têm obrigatoriamente de participar, as actividades são organizadas em função da prescrição do Ministério da Educação. Por razões práticas de organização, normalmente são gru-pos organizados em função das ida-des e anos de escolaridade.Neste sentido, são na maioria – para o melhor e para o pior - actividades realizadas em colectivo coincidente com o grupo que funcionou duran-te o período lectivo. Portanto, para as crianças, além do carácter obriga-tório, não há diferença substancial entre estas aulas e as outras. Por outro lado, os professores das AEC’s são formados para dar uma impor-tância muito maior ao saber escolar do que ao brincar. Nesse sentido, se não tiverem uma intuição muito grande em relação ao que significa ser criança, ao seu cansaço, o que pode acontecer – ou o que aconte-ce – é que é difícil para as crianças assim como para os professores. O problema pode não ser só as actividades que se fazem com ex-cesso de orientação, mas sim ser essa metodologia prevalecente em todas as actividades. As crianças adoram fazer coisas: só temos que lhes dar atenção, ouvi-las e colocarmo-nos disponíveis para ver o mundo na sua perspectiva. Isto re-presenta uma grande aprendizagem para elas e para nós adultos.o que diz aos que acham ingénua ou lírica a ideia de que a aprendizagem pela brincadeira é fundamental?MJA - Digo que as pessoas ainda não conseguiram perceber a função es-

sencial que as brincadeiras têm na formação das crianças, no prazer, no bem estar... Brincar é uma ne-cessidade e um direito. As crianças estão sempre a aprender e a brin-car. Se os adultos não deixarem, elas arranjam-no porque precisam.o projecto da escola a Tempo intei-ro não acaba por responder a uma necessidade das famílias ao demo-cratizar as funções de guarda?MJA - A Escola estar aberta todo o dia é uma medida socialmente útil e importante para os pais. A ques-tão não é se a medida é boa ou má. A questão é se tem uma influência positiva nas crianças. É preciso per-ceber o impacto destas medidas na vida das crianças. As AEC’s são um assunto de grande complexidade. A atenção do senso comum centra-se muito no tipo de actividades propostas pelo Ministé-rio em parceria com as autarquias e na tema da segurança enquanto a questão de fundo fica sempre por resolver. Será que temos o direito de ocupar e condicionar o tempo livre das crianças depois de um dia de Escola? O contrário de tempo livre não é tempo ocupado, como muitas vezes se diz. Porque o tempo pode ser ocupado com liberdade (quando as crianças podem ter uma palavra decisiva na escolha da sua ocupação) e sem liberdade (quando as crianças são vítimas de uma imposição ou es-colha a que são totalmente alheias). Para tempo não livre já temos as au-las, e é normal que assim seja. De-pois das aulas é bom que o tempo livre seja mesmo livre. Não faz sen-tido prolongar de tal modo as suas ocupações e obrigações que não lhes

deixamos tempo para brincar e des-cansar. Para serem crianças... Estas são algumas das questões sobre que conversei com os educadores e que trato no meu livro. As crianças po-dem e devem fazer tudo o que for importante para elas, desde que lhes seja garantida a oportunidade de escolher. Aliás, detestam estar sem fazer nada. E, para algumas delas, a única hipótese de ter essas activi-dades é mesmo na escola. E é jus-tamente por isso que temos de ser muito exigentes em relação à forma como essas actividades são sugeridas e implementadas, para que elas as possam aproveitar plenamente. De-

mocratizar não é fechar as crianças em espaços e obrigar todas as crian-ças a fazer tudo da mesma maneira.Mas concorda que a escola Pública sai reforçada com estas funções? ou critica a forma como se execu-ta? o que pesa mais na avaliação?MJA - Claro. Mas as coisas não são a preto e branco. Todas as medidas precisam de ajustes e de um tempo para ver como podem funcionar. Eu não fiz este estudo para dizer que funciona bem ou mal. Fi-lo para perceber e dar pistas. Para se pode-rem fazer reajustes, melhorando as condições do que se faz. A avaliação é sobretudo importante para perce-

bermos como podemos melhorar a qualidade do tempo que as crianças passam na escola. Eu toda a vida fiz actividades com crianças e o que digo é que é preciso respeitar as crianças e saber estar com elas.com o aumento destes espaços de enquadramento social (escola a tempo inteiro, aec’s), não acha que pode se pode traduzir na re-dução da liberdade e num maior controlo social?MJA: Sim o controlo é talvez a pala-vra-chave desta questão.

As crianças adoram fazer coisas: só temos que lhes dar atenção, ouvi-las e colocarmo-nos disponíveis para ver o mundo na sua perspectiva”

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A Universidade do Porto (UP) con-seguiu preencher todas as vagas na 1ª fase de colocações, algo nunca antes conseguido no país, obrigan-do até à abertura de 2 vagas adi-cionais (em Medicina e Medicina Dentária) por empate de dois can-didatos quanto à última colocação. Feitas as contas, a média dos últi-mos colocados em todos os cursos da UP foi de 155,0, superior a todas as outras Instituições de Ensino Su-perior no concurso.

O Instituto Politécnico do Porto (IPP) também pontuou, preenchen-do 98% das vagas disponíveis na 1ª fase de colocações. Foi na área da Saúde que as médias do IPP se no-taram mais altas, como se pode ver no curso de Medicina Nuclear com 174,0 ou Fisioterapia com 171,0.

A média mais alta do último co-locado pertence, sem surpresas, à Faculdade de Medicina da Uni-versidade do Porto, com 183,7. Na mesma universidade, Arquitectura fechou com 182,5 e o curso de Me-dicina do Instituto de Ciências Bio-médicas de Abel Salazar colocou o último candidato com 182,0.

O top 10 das médias continua com os restantes cursos de Medi-cina do resto do país, mas com a surpresa do curso de Bioengenha-ria da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) no 5º lugar, fechado a 179,8. A UP figura assim em 4 dos 10 lugares cimeiros e com cursos que não pertencem à área de Medicina, ao contrário das restantes Instituições.

A nível nacional foram dispo-nibilizadas 51.352 vagas, sobrando apenas 6102 para a 2ª fase. Mais de metade dos estudantes foram colo-cados na sua 1ª opção, e 85% numa das 3 primeiras. A segunda Universi-dade mais procurada foi a U. Nova

Estudantes preferem o PortoA UP foi a mais escolhida na 1ª fase e arrecadou os 3 primeiros lugares no top das médias do último colocado.

de Lisboa, ocupando 99% das vagas disponíveis, seguida da Universida-de do Minho, Madeira, Açores e Po-litécnicos do Porto e Lisboa, todos com 98% de vagas preenchidas.

A Invicta recebe assim quase 7000 novos estudantes universitá-rios, espalhados pelos variados cur-sos da UP e do IPP.

MéDiASA FEUP tem, nos últimos anos, vis-to as suas médias com tendência a aumentar, como é o caso dos cursos de Engenharia Industrial e Gestão com 177,0, Engenharia Me-cânica com 164,5, Engenharia In-formática e Computação com 154,0 ou Engenharia Electrotécnica e de Computadores com 151,8. No que diz respeito à Faculdade de Econo-mia do Porto, o curso de Economia fechou a 161,0 e o de Gestão a 155,3. Na Faculdade de Letras, o destaque foi o curso de Línguas e Relações Internacionais, com 172,6, seguido pelo de Ciências da Comunicação:

Jornalismo, Assessoria, Multimédia com 162,2. A Faculdade de Direito viu os seus cursos encerrarem com 168,8 e 166,2, Criminologia e Direito respectivamente. O curso com mé-dia mais elevada da Faculdade de Ciências foi o de Bioquímica com 164,5. Quanto a Medicina Dentária, a média do último colocado foi de 173,3; Psicologia fechou com 152,0; Ciências Farmacêuticas com 165,5; Ciências do Desporto com 146,0. A Faculdade de Belas-Artes encerrou com 173,0 e 161,0 a Design de Comu-nicação e Artes Plásticas, respecti-vamente. A Escola de Enfermagem do Porto fechou com 159,0, a mais alta da área no país.

O IPP destacou-se com vários cursos a fecharem com a média mais alta do país, como os cursos de Anatomia Patológica, Citológica e Tanatológica (169,0), Cardiopneu-mologia (162,5), Educação Básica (144,3), Educação Social (142,3), Ra-diologia (152,0), Radioterapia (163,0), Solicitadoria (145,6). riTa baSToS

JoSÉ Miranda [email protected]

DiREiTOS RESERVADOS

JOSé FERREiRA

PUBLiCiDADE

Page 6: JUP Outubro 2009

|| 11 JUPB

OX

JUP || OUTUBRO 09

PEDRO MATOSAnalista financeiro

É um movimento académico que eu sempre fui contra. Para mim é uma questão de afirmação idiota, em que pessoas mais velhas querem se firmar diante das mais novas. O problema é a humilhação e os caloiros nada têm a ganhar com isso.

FiLiPE PEDROJornalista

Dizem que a praxis é para integrar as pessoas, mas eu acho que é uma operação de desintegração. Faz-me lembrar estar na primeira classe e os meninos de dez anos quererem controlar o colégio, aquilo que se pode fazer. O que deveria haver era um convívio muito mais salutar, que promovesse uma integração pela cultura. O problema é que os mais velhos não têm consciência alguma da reprodução que são as suas acções.

NUNO BRiTOEscritor

Gosto dos padrões estéticos da fotografia, faz-me lembrar um bo-cado a Benneton. O interessante é a intersecção de um conjunto de antigas tradições acadêmicas com as condições plásticas da foto, cujas formas e cores são estrita-mente utilizadas em propagandas de hoje em dia. O amarelo é uma cor alegre e que transmite a ideia de união e de proximidade.

MiCHAEL MACHADOEstudante de Psicologia

Para quem vem de outro país, como no meu caso, que sou brasi-leiro, a Praxis marca um momen-to importante no contacto com a cultura portuguesa. Muitos olham como uma práctica estranha, mas a mim instiga-me muito a procu-rar cada vez mais saber sobre a história e os trâmites tradicionais desse país que começo a conhecer.

O que significa para ti esta imagem?

EAR: um projecto que se ouve e que se sente

Com idades entre os 24 e 28 anos, Susana Guimarães, Bruno Teixeira e Marta Godinho são os nomes atrás do projecto. Entre Tecnologias Au-diovisuais, Organização de Eventos e Direito, respectivamente, os três amigos uniram forças por uma causa e comemoram um ano de ajuda que o EAR proporcionou às associações de animais envolvidas.

Susana explica as insónias ini-ciais com o próprio nome do projecto que, numa primeira ten-tativa, seria EAT (Enhance Animal Treatment), não fosse a ironia do nome colidir com o objectivo da iniciativa. Acabaram então por conseguir o duplo sentido com EAR, relacionando-se directamente com o conceito desenvolvido pelos três. O projecto passa pela organi-zação de festas, onde as receitas resultantes quer das entradas, quer do contributo livre (pode ser comi-da) de cada pessoa, reverte para as associações de animais escolhidas pelo EAR.

Susana louva o contributo gra-tuito das bandas nas festas: “É sempre um donativo que o artista faz à causa. Inicialmente, pensa-mos noutro tipo de eventos mas acabou por ser mais fácil organizar um concerto onde as bandas se vo-luntariam e as pessoas vão ao bar quer pela causa, quer pelo próprio espaço porque são clientes. Quer por uma questão de contactos, quer pelas infra-estruturas. E daí o EAR – pelos concertos, pela música e pela causa em si, que tentamos que seja ouvida.” A entrada nas festas varia entre os 1€ e 3€ e o dinheiro converte em géneros ou operações urgentes dos animais das associações escolhidas. Comi-da para cão e gato é sempre bem-vinda e “É inacreditável os quilos

de comida necessários por semana para alimentar os animais das as-sociações”, remata.

Sem pretensões de ser uma asso-ciação, por falta de condições finan-ceiras e de logística, não obstante da luta pelos direitos dos animais, o EAR evidencia o esforço que faz por se fazer ouvir. “Não pretendemos ser uma associação de recolha de animais, até porque já o fazemos a título individual”, continua. “Preten-demos, sim, ser uma infra-estrutura de apoio às associações já existentes, por exemplo, Stª Maria da Feira tem 700 animais, Stº Tirso tem 250, por

aí fora. Comida, veterinários, peque-nos tratamentos e higiene são cus-tos urgentes. A ajuda imediata que, infelizmente, é a mais necessária é mesmo o dinheiro.”

O critério de selecção das associa-ções depende das necessidades de cada uma e daquilo a que Susana chama de empenho: “Sem querer criticar, há associações que têm constantemente a porta aberta por mais problemas que tenham e as que se limitam a tratar dos animais que já têm, por já terem uma estru-tura definida, um número de volun-tários certos etc., permitindo assim

manter a qualidade de vida aos ani-mais que têm. As que têm sempre a porta aberta, também têm sempre a ‘corda no pescoço’, pelo que é mais urgente ajudar essas.”

Confrontada com a questão da manutenção de qualidade de vida dos animais, daí algumas associa-ções não poderem comportar mais animais, Susana defende que pode ser ingrato mas é uma opção do coração. Acima de tudo, defende a qualidade de vida e compreende que se chega a um ponto em que é insustentável abrigar mais animais.

De olhar vivo, intenso e com uma energia que salta à vista, Su-sana critica a escassa comunicação global sobre este assunto apesar de “vivermos em altura de elei-ções, onde esta questão é prevista na agenda política de um partido por saber o eleitorado que tem. Durante o ano somos apenas os ‘tontinhos dos animais’.”

A agonia face às centenas de emails que recebem por dia só conhece alguma paz pelos ani-mais que vão conseguindo ajudar. Entre dores de cabeça e sorrisos, os três divulgam o seu trabalho, maioritariamente, na internet (http://www.myspace.com/pro-jectoear). FiliPa Mora

“Não pretendemos ser uma associação de recolha de animais, até porque já o fazemos a titulo individual.”

O nome do projecto é sugestivo, metafórico e fica no ouvido: EAR (En-hance Animal Respect) dá voz àqueles que não se podem fazer ouvir.

Recolha de assinaturas do Partido Pelos Animais (PPA) na última festa do EAR

10 || JUP || OUTUBRO 09Soci

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MANUEL RiBEiRO

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ManaÍra [email protected]

Page 7: JUP Outubro 2009

E-LEARNiNG CAFé

EXPOSiçãO DE FOTOGRAFiAATé 31 DE OUTUBRO

Encerramento do ciclo “A cidade, a U.Porto

e os seus diversos espaços e vivências”

O ciclo incluiu três momentos. “Um ‘outro olhar’ sobre a identidade das 14 Faculdades da U. Porto” é um conjunto de trabalhos concebido por um grupo de alunos constitu-ído por elementos pertencentes a diversas Faculdades e foi pensado de forma a inaugurar em simul-tâneo com e no E-Learning Café. Com “Re(descobrir) o genius loci do mercado do Bolhão” e pretendeu-se (re)descobrir a realidade histórica, social e cultural de um espaço em-blemático da cidade: o mercado do Bolhão. Finalmente, com “Olhares diferentes sobre o Mercado do Bom Sucesso” o objectivo foi contrapor diversos olhares sobre um impor-tante equipamento da cidade: o Mercado do Bom Sucesso.A exposição retrospectiva dos três momentos é promovida pelo gru-po de fotografia e vídeo do Centro de Comunicação e Representação Espacial (CCRE). O CCRE - http://web.ccre.arq.up.pt - da Faculdade de Arquitectura da U.Porto.

ENCONTROS FiLOSóFiCOS5, 12, 19 E 26 DE OUTUBRO

Todas as 2ª feiras de Outubro 21h30 - en-

contros filosóficos no e-learning café.

12 || JUP || OUTUBRO 09JUP || OUTUBRO 09 || 13 UPo

rto

AGENDA

Lugares do Futuro

O Future Places Festival, festival de media digitais, regressa ao Porto en-tre 13 e 17 de Outubro, e debruça-se sobre a influência dos media digi-tais nas culturas locais. Reflectindo sobre o poder que estes têm para transformar as noções tradicionais de centro e periferia e, consequen-temente, aumentar o desenvolvi-mento potencial das comunidades, o Future Places chama ao Porto profissionais dos media digitais das mais diversas proveniências a nível mundial. Através de conferências, workshops, concertos e performan-ces, o festival Future Places oferece oportunidades de os novos media serem agentes de desenvolvimento, não só a nível global, como, princi-palmente, a nível local.

Por querer envolver toda a cidade no festival, o Future Places assume-se como um festival gratuito e acon-tece um pouco por toda a parte, no-

meadamente em várias unidades da Universidade do Porto, além da Casa da Música, Passos Manuel e Maus Hábitos e do Centro Comercial Stop. Depois do sucesso de 2008, o Future Places assume-se, agora, como um festival de catalisação de mudança, usando a zona Norte de Portugal como exemplo prático. A mobiliza-ção acontece também através de um flashmob durante os dias do festival, num evento único e irrepetível.

Comissariado por Heitor Alve-los (FBAUP) e Karen Gustafson (UT Texas), o festival abre com quatro workshops vocacionados para a uti-lização de telefones móveis como factores chave no desenvolvimento não institucional, o mapeamento urbano através da captação de sons da cidade e a criação de narrativas interactivas. Nomes como David Gunn, Golan Levin, Valentina Nisi e Ian Oakley, Nuno Correia e Mónica S.

Mendes vão ministrar os workshops, dirigidos à comunidade dos media digitais e ao público em geral, a te-rem lugar na Universidade do Por-to, parceira privilegiada do Festival, no âmbito do Programa UT Aus-tin Portugal. As inscrições para os workshops estão disponíveis online.

A concurso estão trabalhos de ta-lentos dos digital media que, após exibição nos espaços abertos do Fu-ture Places, serão avaliados pelo júri do Future Places, com entrega de prémios no dia 17. Presença impor-tante neste Festival é Hugh Forrest, Event Director do Interactive Festi-val no SXSW (South by Southwest), e júri do Festival, assim como Jon Wo-zencroft, director da editora Touch, Steven Devleminck, director do pro-grama Transmedia Brussels, Marc Behrens, músico e field recordist, e Zach Smith, do projecto Thingiverse.

O Festival conta também com uma emissão contínua da radiofutura, a rádio oficial do Future Places Festi-val. De 13 a 17 de Outubro, locutores e repórteres vão dar conta do que acontece no Festival, num ambiente informal, abordando e procurando revitalizar um novo-velho media: a rádio. Informações actualizadas: fu-tureplaces.org. rFM/reiT

Fundação compromete-se a emprego total em 5 anos

O pleno na primeira vaga de candidaturas

Adriano Paço o melhor do ano

BREVES

A assinatura do contrato-programa entre as três universidades que ade-riram ao regime de fundação, onde se inclui a Universidade do Porto, e o Estado decorreu no Porto, no edi-fício da Reitoria, dia 11 de Setembro.

Na prática, em que se traduz a passagem das universidades do Porto, Aveiro e do ISCTE a fundação. As metas estabelecidas nos contra-tos-programa, que têm duração de cinco anos, não são idênticas nos três casos, mas a perspectiva do Estado e destas instituições é de que o novo regime permitirá uma maior autonomia e capacidade de decisão, conferindo maior respon-sabilização na concretização dos objectivos a que se comprometem.

A Universidade do Porto compro-

A Universidade do Porto preencheu todas as vagas que apresentou na primeira fase de candidaturas do concurso nacional ao ensino supe-rior. Apesar de ter sido a instituição que mais vagas apresentou a con-curso, 4.050, conseguiu o feito iné-dito de preencher todas as vagas.

Para além do pleno no preenchi-mento de vagas, são da Universidade

Adriano Paço, campeão da U.Porto, foi eleito o melhor atleta masculino do ano para a Federação Académica de Desporto Universitário.

Depois de ter conquistado o ouro no CNU de Voleibol de Praia, a dupla formada por Paço e por Miguel Coe-lho (ambos estudantes da FADEUP) conquistou o 8º lugar no Europeu Universitário disputado em Gdynia (Polónia). Este foi mesmo o ano de Adriano Paço. O estudante da Facul-dade de Desporto tinha recebido, na Gala da U.Porto, o prémio Car-

mete-se a um nível de empregabi-lidade total dos seus antigos estu-dantes nos cinco anos seguintes à graduação. Propõe-se ainda atingir uma fracção de diplomados estran-geiros de 6% em 5 anos, assim como a duplicação do número relativo de doutoramentos face ao total de di-plomados. No final da vigência do contrato-programa, a U.Porto quer conseguir a um nível de captação de receitas próprias e outros fundos da ordem dos 55%.

Dentro de “um processo de ino-vação”, este é um desafio encarado pelo reitor da U.Porto, José Mar-ques dos Santos, como “um novo período com um conjunto de fer-ramentas novas”, ou “um passo em direcção ao futuro”. Jc+aS/reiT

do Porto os cursos com mais alta média de entrada a nível nacional: Medicina, da Faculdade de Medicina, Arquitectura, da Faculdade de Arqui-tectura, e Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

A U.Porto registou ainda, no con-texto nacional, a mais alta classifi-cação média ponderada do último colocado: 155 valores. Jc+rS/reiT

reira pelo seu empenho constante em prol do desporto universitário e pelo seu papel fundamental nas conquistas de voleibol por parte da universidade.

Adriano Paço venceu oito cam-peonatos nacionais universitários de Voleibol e quatro campeonatos nacionais universitários de Voleibol de Praia e participou em quatro campeonatos da Europa de Voleibol, três campeonatos da Europa de Vo-lei de Praia e participou duas vezes nas Universíadas. Pr / SaSUP

Festival reflecte sobre o poder dos media digitais para o desenvolvi-mento das comunidades

LUíS B

AR

BO

SAGlenn Patterson vem ao Porto

8 DE OUTUBRO1.º SiMPóSiO EM METABOLiSMO

Aula Magna da FMUP

As inscrições podem ser realizadas via

e-mail ([email protected]) até ao dia 1

de Outubro. A entrada é gratuita.

MAIS INFORMAÇÕES: http://bioquimica.

med.up.pt/simposio.html.

“DiÁLOGOS COM A CiÊNCiA” -

“RELiGiãO E CiÊNCiA”

Reitoria da Universidade do Porto (Praça

Gomes Teixeira), 21h30.

Sessão com Bispo do Porto e Carlos

Fiolhais.

9 E 10 OUTUBROiRiSH LiTERARY FESTiVAL –

“FUNDAMENTAL SOUNDS: VOiCES

FROM iRELAND”

Faculdade de Letras da Universidade do

Porto, Teatro Carlos Alberto.

Haverá dois eventos principais: um

simpósio na FLUP, com especialistas

portugueses e estrangeiros, e um

espectáculo, no Carlos Alberto, com três

escritores irlandeses: Glenn Patterson

(romacista); Paul Muldoon (poeta), e

Tom Murphy (dramaturgo).

ORGANIZAÇÃO: CETAPS (Centre

for English, Translation and Anglo-

Portuguese Studies), Faculdade de Letras

da Universidade do Porto.

APOIOS: Fundação para a Ciência e a

Tecnologia; Culture Ireland; Embaixada

da Irlanda

COLABORAÇÃO: TNSJ; Centro de Estudos

de Teatro da Universidade de Lisboa;

ASSéDIO

http://www.letras.up.pt

COLóQUiO iNTERNACiONAL

“TRADiçãO E VANGUARDAS: CENAS

DE UMA CONVERSA iNACABADA”

Anfiteatro Nobre da Faculdade de Letras

da Universidade do Porto.

Promovido pelo Centro de Estudos

Teatrais da Universidade do Porto.

10 DE OUTUBROii CONGRESSO GEOGRAFiA AOS

SÁBADOS – “DESENVOLViMENTO

RURAL E DiNÂMiCA DA PAiSAGEM”

Sala Orlando Ribeiro, Torre 8, Piso 4,

FLUP; das 9h30 às 13h00.

A entrada é gratuita e será entregue um

certificado de presença.

ORGANIZAÇÃO: Alunos do

Doutoramento em Geografia da FLUP

(edição 2008-2011)

CEGOT - Porto

12 A 14 DE OUTUBROSEMiNÁRiO DE iNVESTiGAçãO EM

MUSEOLOGiA DOS PAíSES DE LÌNGUA

PORTUGUESA E ESPANHOLA

Responsáveis operacionais e contactos:

Alice Semedo e Sandra Carneiro

Departamento de Ciências e Técnicas do

Património, FLUP

Tel. +351 22 607 7172

Fax: +351 22 607 7181

E-mail: [email protected]

http://www.letras.up.pt/dctp

12 A 16 DE OUTUBROCURSO “SEPARATiNG REACTORS”

Departamento de Engenharia

Química, Faculdade de Engenharia da

Universidade do Porto.

INSCRIÇÕES: Estudantes de

doutoramento da FEUP – inscrição

gratuita; Estudantes do Mestrado

Integrado em Engenharia Química - 50

EUR ; Outros - 350 euros.

ORGANIZAÇÃO: Departamento de

Engenharia Química da Faculdade de

Engenharia da Universidade do Porto

(FEUP); Laboratório de Separação e

Reacção (LSRE).

13 A 17 DE OUTUBROFESTiVAL “FUTURE PLACES”

Porto.

Seis dias de exposições e eventos sobre

o potencial e o impacto dos medias

digitais nas culturas locais.

CURADORES: Heitor Alvelos e Karen

Gustafson.

O festival “Future Places” é uma

iniciativa do Programa UTA/Portugal.

14 A 16 DE OUTUBROViPiMAGE 2009 - ii ECCOMAS

THEMATiC CONFERENCE ON

COMPUTATiONAL ViSiON AND

MEDiCAL iMAGE PROCESSiNG

FEUP, Porto.

MAIS INFORMAÇÕES:

http://www.fe.up.pt/vipimage

15 DE OUTUBROCONFERÊNCiA “À CONVERSA SOBRE

O CAPiTAL DE KARL MARX”

Sala de Reuniões da Faculdade de Letras

da Universidade do Porto, a partir das

17h30.

ORADORES CONVIDADOS: Manuel Loff

(FLUP); Nuno Nunes (ISCTE-CIES); Carlos

Pimenta (FEP; Francisco Melo (editor e

filósofo)

ORGANIZAÇÃO: João Valente Aguiar

(ISFLUP)

16 DE OUTUBRODENSE LiNEAR ALGEBRA FOR HYBRiD

GPU-MULTiCORE SYSTEMS

Sala a anunciar, DMA, FCUP, a partir das

14h30.

Com Marc Baboulin CMUC, Departa-

mento de Matemática da Universidade

de Coimbra.

17 DE OUTUBROii CONGRESSO GEOGRAFiA AOS

SÁBADOS - GOVERNÂNCiA E

CENTRALiDADES URBANAS /

EDUCAçãO GEOGRÁFiCA

Sala Orlando Ribeiro, Torre 8, Piso 4,

Faculdade de Letras da U.Porto; das

9h30 às 16h00.

A entrada é gratuita e será entregue um

certificado de presença.

ORGANIZAÇÃO: Alunos do

Doutoramento em Geografia da FLUP

(edição 2008-2011)

CEGOT – Porto.

18 A 22 DE OUTUBRO45TH iSOCARP iNTERNATiONAL

CONGRESS - “LOW CARBON CiTiES”

FEUP.

Tendo como tema principal - “Low

Carbon Cities”, o objectivo deste

congresso é promover práticas

inovadoras de planeamento e

cooperação internacional ao nível

da satisfação dos requisitos para a

sustentabilidade das cidades.

ORGANIZAÇÃO: Divisão de

Planeamento/FEUP.

19 E 20 DE OUTUBROiNTERNATiONAL FORUM ON ENGLiSH

LANGUAGE TEACHiNG iV

Anfiteatro Nobre da Faculdade de

Letras da Universidade do Porto, a

partir das 8h45.

Oradores do Reino Unido, República

Checa, Finlândia, Alemanha, Portugal e

Espanha.

INSCRIÇÕES: [email protected]

MAIS INFORMAÇÕES:

[email protected]

http://web.letras.up.pt/ifelt

24 DE OUTUBROii CONGRESSO GEOGRAFiA AOS

SÁBADOS – “SOCiEDADE DO

CONHECiMENTO”

Sala Orlando Ribeiro, Torre 8, Piso 4,

Faculdade de Letras da U.Porto; das

9h30 às 13h00.

A entrada é gratuita e será entregue um

certificado de presença.

ORGANIZAÇÃO:

Alunos do Doutoramento em Geografia

da FLUP (edição 2008-2011)

CEGOT - Porto

29 OUTUBRO 2009“DiÁLOGOS COM A CiÊNCiA”: “A

SiMBOLOGiA DA PALAVRA NA

CiÊNCiA MiLiTAR”

Reitoria da Universidade do Porto (Praça

Gomes Teixeira), 21h30.

Sessão com Loureiro dos Santos, Nuno

Rogeiro e Nuno Severiano Teixeira

7 DE NOVEMBROPORTUSCALLE 09 - FESTiVAL DE

TUNAS DA TEUP

Coliseu do Porto

MAIS INFORMAÇÕES: http//:www.

portuscalle.com

ATé 28 DE NOVEMBRONOMADiC.0910 – ENCONTROS

ENTRE ARTE E CiÊNCiA - EXPOSiçãO

DESiGN4SCiENCE.

Reitoria, Átrio de Química. Terça a

Sábado, das 12h às 18h.

No âmbito do Nomadic.0910,

a Universidade traz ao Porto

a exposição Design4Science,

comissariada por Shirley Wheeler

(Universidade de Sunderland, Reino

Unido). Entrada Livre

Mais informação: http://nomadic.up.pt/

ATé MARçO DE 2010

NOMADiC.0910 – ENCONTROS

ENTRE ARTE E CiÊNCiA

PROJECTO ARTíSTiCO/ iNSTALAçãO

“OPiTói-RAC”

Faculdade de Farmácia. Átrio.

Elsa Bronze da Rocha, da Faculdade

de Farmácia, convidou os Artistas

Plásticos Acácio de Carvalho e

Manuela Bronze a reflectirem sobre

o conceito de cariótipo humano e

utilizarem-no como ponto de partida

para a criação de um projecto

artístico. Entrada Livre.

Mais informação: http://nomadic.up.pt/

Organização: Núcleo Regional do Norte

da Associação Portuguesa dos Recursos

Hídricos (APRH).

Page 8: JUP Outubro 2009

14 || JUP || OUTUBRO 09JUP || OUTUBRO 09 || 15 FLA

SH

Nas Quintas de Leitura do Teatro de Campo Alegre hom-enageou-se José Luís Peixoto. Com leituras do seu novo romance, música, dança e um strip agradeceram-se as palavras com que ele preenche a vida dos seus leitores

Ouve agora o ruído do corpo

Há música que parece trazer consigo o sol

O corpo, como a escrita, sai das sombras para a luz

A cadeira é o voyeur em todos nós

Os acessórios são como a pontuação do movimento

O strip é a dança a seduzir os olhosO movimento é moitvo de separação

foTo-reporTagem: LeiTuras exciTaNTes

JoSÉ [email protected]

Page 9: JUP Outubro 2009

O autarca de Vila Nova de Gaia classificou como uma “verdadeira vergonha” a escassa atenção dada pelos media ao evento e às conquis-tas portuguesas, com foco especial na RTP, salientando os 25 mil euros exigidos pela estação pública para a transmissão do Campeonato. Con-tudo, Menezes diz que para a his-tória fica “a grande organização, o apoio do público e do povo de Gaia,

As restantes medalhas foram ga-nhas na categoria Sénior. José Ra-malho chegou ao bronze ao com-pletar a prova de K1 em 2h08m31s. O atleta do Clube Fluvial Vilacondense subiu ao pódio pela segunda vez este ano, depois de ter conquistado a medalha de prata no campeonato Europeu, na Polónia. Na mesma ca-tegoria mas no feminino, a canoísta Beatriz Gomes, terminou a sua pro-va em 01h58m41s e sagrou-se cam-peã do mundo de maratonas. No dia seguinte a mesma atleta, volta a destacar-se entre os três primei-ros. Desta vez, chegou ao bronze na categoria de K2 (pares em caiaque) com a colega Joana Sousa, do Clube Náutico de Crestuma (CNC), o anfi-trião do campeonato.

Portugal alcançou ainda uma quinta medalha, graças ao tercei-ro lugar na pontuação colectiva. A grande vencedora deste campeo-nato foi a selecção espanhola, que

A Vila de Crestuma foi durante três dias palco de uma das maiores provas mundiais de Canoagem, ao receber o Campeonato Mundial de Maratonas. Vindos dos quatro can-tos do mundo, trinta e um países coloriram a zona ribeirinha da fre-guesia gaiense e o rio Douro com as suas bandeiras e equipamentos nacionais.

Ao longo de quinze provas, as equipas de Portugal subiram quatro vezes ao pódio. Fernando Pimenta foi o primeiro português a chegar a uma medalha, ao conquistar a prata na categoria de K1 (caiaque) sub-23. O atleta do Clube Náutico de Ponte Lima percorreu os 25,8Km de ma-ratona em 2h53m52s, ficando a três segundos do vencedor da prova, um atleta sul-africano. Foi a primeira vez que o escalão sub-23 competiu num campeonato mundial, fazendo com que este passasse a ter a duração de três dias e não dois, como o normal.

se mostrou ao mais alto nível em várias provas, o que levou os espa-nhóis ao primeiro lugar na classifi-cação colectiva. A Hungria terminou no segundo posto.

Nos dois dias anteriores ao início das competições, as águas do Douro já eram agitadas pelos muitos re-mos e canoas, já que Crestuma foi também palco da Taça de Mundo de Masters, na qual participam atletas acima dos 35 anos. Trata-se de uma competição mais relaxada, ou mais “a brincar”, como referiu José Carlos Sousa, vice-presidente da Federação Portuguesa de Canoagem. Portugal não conquistou qualquer medalha nesta categoria, onde Espanha vol-tou a impressionar, ao arrecadar 14 medalhas.

ORGANizAçãOO campeonato contou com discur-sos inflamados de várias persona-lidades, como Luís Filipe Menezes.

Ouro para Portugal em Campeonato Mundial de CanoagemA freguesia de Vila Nova de Gaia acolheu entre 18 e 20 de Setembro o Mun-dial de Canoagem de Maratonas, onde Portugal conquistou cinco medalhas.

as medalhas ganhas pelos atletas e os excelentes resultados das várias delegações”. Mário Santos, presi-dente da Federação Portuguesa de Canoagem (FPC), agradeceu a todas as entidades envolvidas e destacou a boa prestação portuguesa, que fe-cha mais um ciclo de competições com 14 medalhas alcançadas.

A organização da competição foi também valorizada pelo presidente da Federação Internacional de Cano-agem, que classificou o campeonato como um dos melhores de sempre.

No entanto, nem tudo foi assim tão perfeito. De acordo com Marcos Oliveira, técnico de provas, o maior problema foram “situações de últi-ma hora”, como a falta de espaço da área reservada aos atletas. A Torre de Controlo foi também uma dor de cabeça para a organização, já que no primeiro dia de competição ain-da estava a ser terminada. A obra já estava prevista aquando da requali-ficação das instalações do CNC, em 2005, mas viu a sua conclusão cons-tantemente adiada.

Não se sabe ao certo quantos es-pectadores terão enchido as banca-das e as margens do Rio Douro du-rante os dias da competição mas o técnico de provas aponta para cerca de 2500 por dia. Marcos Oliveira con-siderou que houve uma boa quanti-dade de espectadores, tendo em con-ta as “limitações do espaço”.

A escolha deste local para receber tal evento desportivo já remonta a 2005, quando o CNC apresentou a sua candidatura à Federação de Ca-noagem. A proposta foi bem recebi-da pela FPC, pois a zona de Crestuma é um local privilegiado para a prática da canoagem. Esta freguesia de Gaia já havia sido palco de diversas Taças do Mundo e de várias provas a nível nacional. O único problema residia nos maus acessos à localidade. Mar-cos Oliveira disse ao JUP que Cres-tuma é um local de “difícil acesso, especialmente para um evento deste género que envolve sempre muitos veículos, como autocarros”.

A organização do Campeonato Mundial de Maratonas contou com a parceria entre várias entidades, entre as quais se destacam a Federa-ção Portuguesa de Canoagem (com o apoio do Instituto Português do Desporto), o Clube Náutico de Cres-tuma e a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.

Clube Náutico de Crestuma: uma escola de campeões

Perto de completar trinta anos de existência, o Clube Náutico de Crestuma é um dos mais importantes clubes no panorama da canoagem portuguesa. Só este ano, foram sete as medalhas con-quistadas pelos seus atletas. De destacar a júnior Joana Vascon-celos, que se sagrou campeã da Europa e do Mundo nos 500m K1, na Polónia e na Rússia, respec-tivamente. Também nos 1000m K1 a canoísta subiu ao pódio: foi vice-campeã no Mundial e alcan-çou o terceiro lugar no Europeu.No Campeonato Mundial de Maratonas, em Gaia, entre os 25 atletas portugueses, seis eram do CNC. Apenas Joana de Sousa terminou entre os três primeiros, com o terceiro lugar em K2, ao fazer dupla com Beatriz Gomes. Hugo Guedes, que conquistou a medalha de bronze no Europeu de Maratonas e um honroso sexto lugar no Mundial, na categoria de sub-23 K1, é outro dos grandes nomes do clube gaiense. Também o actual vice-presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, José Carlos Sousa, foi um produto da escola de Crestuma, deixando para trás um percurso notável na modalidade.Para Alexandre Rocha, júnior do Náutico de Crestuma, a chave do sucesso reside “no trabalho que o clube tem connosco, o tempo que investe em nós”, sa-lientando o importante papel de José Cunha, presidente do CNC. O clube dispõe, desde 2005, de novas instalações para melhor responder às necessidades dos atletas, garantindo-lhes uma melhor formação, que vai para além da Canoagem. O CNC desenvolve outras actividades desportivas como Aeróbica e Taekwondo. Segundo os seus dirigentes, o grande objectivo do clube é fomentar o gosto pela prática do desporto.

Praia da Esteira em Crestuma, onde o campeonato decorreu

Atleta C1 em competição

Actuais instalações do Clube Náutico de Crestuma

Uma portagem durante a competição

Vindos dos quatro cantos do mundo, trinta e um países coloriram a zona ribeirinha da freguesia gaiense e o rio Douro com as suas bandeiras e equipamentos nacionais.

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Universidade do Porto quer manter nível em 2009/2010

Com o início do ano lectivo, arran-cam também as actividades despor-tivas da Universidade do Porto. A UP dá o pontapé de saída na época 2009/2010 com vontade de consoli-dar o seu estatuto como Universi-dade mais medalhada do país nos Campeonatos Nacionais Universi-tários. As Selecções da UP bateram todos os recordes na época passa-da, ao conquistar 81 medalhas. Em 2007/2008 tinham sido 72. Por isso, no arranque desta nova época, o ob-jectivo só pode passar por manter os resultados alcançados na época transacta. Bruno Almeida, Coorde-nador do Gabinete de Desporto da Universidade do Porto, reconhece que é bastante complicado conse-guir resultados melhores. “Estamos a chegar a uma fase em que é com-plicado fazer melhor. A UP é, nes-te momento, a Universidade mais forte nas competições desportivas, e tem dominado os campeonatos a nível nacional”, afirma. Os bons resultados também têm surgido a nível internacional, com a UP a ver quatro atletas nas Universíadas de Belgrado 2009, e com quatro atle-tas nos Campeonatos do Mundo Universitários 2008.

FUTEBOL DÁ O PONTAPé DE SAíDAA agenda para 2009/2010 é preen-chida e marcada por vários eventos nacionais e internacionais. A Selec-ção de Futebol da Universidade do Porto é a primeira a entrar em campo, no Torneio Universia. A UP estará presente com uma equipa de Futebol e uma equipa de Fut-sal. Numa primeira fase, este Tor-neio é disputado entre as equipas de Universidades portuguesas, e a Selecção vencedora desloca-se até

à América do Sul para defrontar as suas congéneres mundiais na Fase Final da competição.

No fim de Novembro, as equipas da Universidade do Porto vão estar na Galiza, nos 24º Jogos Galaico-Durienses. Esta é uma prova com grande tradição no desporto uni-versitário do Norte de Portugal, que conta com a presença, além da UP, da Universidade do Minho, da UTAD, e das Universidades de Vigo, Coru-nha e Santiago de Compostela. Em 2008/2009, os ateltas da UP ficaram no 3º lugar. Os jogos Galaico-Durien-ses têm a particularidade de todas as provas serem mistas. Este ano, além do Voleibol, Andebol e Basquetebol, surgem modalidades como o Tiro com Arco, o Xadrez, o Ténis de Mesa, ou os Jogos Tradicionais Galegos.

Em Dezembro, realiza-se o Cam-peonato Europeu Universitário de Taekwondo, que se disputa em Bra-ga. A UP domina a modalidade a ní-vel nacional, e a época passada viu dois atletas sagrarem-se Campeões Nacionais Universitários: Elisabe-te Ribeiro (FEUP) e Ismael Vieira (FLUP) trouxeram o ouro para a Invicta. Agendados estão também os Opens de 2009/2010, que servem para captar atletas para as Selec-ções da Universidade do Porto.

RUGBY DOMiNA ATENçõESO principal destaque desta época vai, naturalmente, para o Campeonato Mundial Universitário de Rugby 7, que se realiza entre 21 e 24 de Julho, no Porto. O palco será o Estádio do Bessa Séc. XXI, propriedade do Boa-vista e totalmente remodelado para o Euro2004. A meta, diz Bruno Al-meida, é contar com a presença de 32 equipas, apesar de reconhecer

Resultados históricos em 2008/2009 deixam boas indicações para a nova época

que este é um objectivo “bastante ambicioso”. Para já, a China já con-firmou a sua presença, depois de vá-rias edições ausente da competição. Também já é garantido que Tomaz Morais, treinador da Selecção Nacio-nal de Rugby, e o principal rosto da modalidade em Portugal, vai orien-tar a Selecção Universitária neste Campeonato do Mundo. Outra das novidades é a participação da Selec-ção Feminina Universitária de Ru-gby Sevens, que medirá forças com as principais potências mundiais da modalidade. As instituições respon-sáveis pelo Campeonato do Mundo já está a preparar um programa de Voluntariado, aberto a universitários

e estudantes que queiram participar e ajudar na organização do evento.

UP QUER APOiAR ATLETASSe dentro de campo os objectivos são ambiciosos, fora dele não são menos. O Coordenador do Gabi-nete de Desporto da UP pretende aproximar mais a Universidade dos estudantes que pratiquem despor-to ao mais alto nível, de forma a manter os seus níveis de motiva-ção elevados. Bruno Almeida re-velou algumas medidas concretas que estão em cima da mesa, como a reserva de vagas em residências universitárias para estudantes que tenham estatuto de Atleta de Com-petição. “Neste momento temos 125 estudantes com estatuto de Es-tudante-Atleta. Queremos dar mais apoio a estes jovens, e queremos tornar a UP ainda mais atractiva para estudantes que pratiquem desporto de alta competição”, afir-ma o responsável do GADUP. Até ao momento, Bruno Almeida refere que os Professores têm sido “com-preensivos” em relação à participa-

ção de alunos nas provas nacionais, em representação da Universidade, mas sublinha que a UP quer ser mais “ambiciosa” neste campo.

FiTNESS JÁ ARRANCOUNem só de competição se faz o Des-porto na UP. O programa “Fitness na Universidade do Porto” já arran-cou a meio de Setembro, e conta com aulas de Step, Hidroginástica, Musculação ou Pilates. A UP ofere-ce ainda a possibilidade de praticar modalidades como a Natação, o Jiu-Jitsu, o Kung-Fu ou o Squash. O objectivo, diz Bruno Almeida, é ofe-recer aos universitários da Invicta a oportunidade de praticarem despor-to. Destaque ainda para o Programa Júnior, que se centra nos filhos de Funcionários, Estudantes ou Profes-sores da Universidade. Neste Progra-ma, os mais pequenos podem iniciar a aprendizagem de Judo, Natação, Ténis ou Voleibol. “O objectivo é que toda a comunidade da Universidade do Porto tenha oportunidade de pra-ticar desporto”, remata o Coordena-dor do GADUP. FranciSco Ferreira

O Coordenador do Gabinete de Desporto pretende aproximar mais a Universidade dos estudantes que pratiquem desporto ao mais alto nível

Tomaz Morais, treinador que levou Portugal à fase final do Mundial de Rugby, vai mesmo ser o técnico da Selecção Universitária Portuguesa que vai estar presente no Campe-onato Mundial Universitário de Rugby 7. A Comissão Organizadora do Mundial chegou a acordo com o técnico, e contou ainda com a luz verde da Federação Portuguesa de Rugby. Pedro Neto, habitual ad-junto de Morais, também estará na equipa técnica dos Universitários. O treinador é reconhecido como uma das principais figuras do Ru-gby em Portugal, e tem levado os “Lobos” aos grandes palcos interna-

Tomaz Morais vai orientar Sevens

bem os jogadores, e todos o res-peitam muito”, afirma. O Coorde-nador do GADUP considera ainda que um grande trunfo para os por-tugueses é no facto de a maioria dos atletas da Selecção Nacional serem também universitários, o que lhes permite integrar a Selec-ção Universitária.

O Campeonato Mundial de Rugby 7 realiza-se pela primeira vez em Portugal, e os lusos estão empe-nhados em deixar uma boa ima-gem na competição. A Federação de Rugby já anunciou que está a elaborar um plano de treinos para Portugal se apresentar na máxima força. FranciSco Ferreira

cionais. Além da presença no Mun-dial 2007, Tomaz liderou a equipa na conquista do Torneio das 6 Nações B, e conta com cinco vitórias em Campeonatos Europeus de Sevens.Bruno Almeida, do Gabinete de Desporto da UP, reconhece que a presença de Morais é muito im-portante. “O Tomaz conhece muito

Vem colaborar com o JUP!Rua Miguel Bombarda, 187espacosjup.blogspot.com

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tura

Quintas de LeituraPoesia, música, dança, fotografia: as Quintas de Leitura do Teatro do Campo Alegre têm tudo (incluíndo strip). O JUP não faltou à chamada, falou com João Gesta, programador do TCA, e, claro, trouxe fotos...

24 de Setembro, quinta-feira, faltavam poucos minutos para as dez da noite e uma pequena multidão de mais de trezentas pessoas juntava-se à porta do Te-atro do Campo Alegre. Era noite de Quintas de Leitura, um even-to capaz de se tornar tradição se não se reinventasse constante-mente a si próprio.

Esta era a noite de José Luís Peixoto, como já o foi antes, nas Quintas. No Grande Auditório do Teatro o público vai-se acomo-

dando e, rapidamente, as luzes perdem intensidade, os focos ligam-se e entra o escritor em palco acompanhado de Pedro La-mares, Catarina Nunes de Almei-da, Margarida Cardeal e Sandra Salomé – os leitores – e ainda do pianista Raúl Peixoto da Costa. As leituras do novo romance de José Luís Peixoto (chamado Li-vro e que, pelo que os textos nos mostraram, fala sobre um rapaz filho de pai desconhecido e aban-donado pela mãe) foram sendo

intercaladas pelo virtuoso piano enquanto em fundo passavam fo-tografias de Augusto Brázio.

Assim se fez a primeira parte. Depois de um breve intervalo, no auditório iniciam-se uma série de performances que, de alguma forma estão ligadas ao universo de José Luís. Isabel Ariel dança, Márcia canta, Cindy despe-se, As Três Marias fazem um showcase do seu tango fusion. No início de cada actuação, ouve-se um verso do autor.

isabel Ariel a dançar, os leitores e José Luís Peixoto, o poeta homenag-eado da noite.

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João Gesta, o homem atrás dos poetasA sessão “Livre” das Quintas de Leitura não foi uma sessão co-mum, enfim, nas Quintas talvez não haja nunca uma sessão co-mum. Foi, como João Gesta, pro-gramador do Teatro do Campo Alegre e o homem chave por trás deste ciclo, fez questão de escla-recer, um tributo a José Luís Pei-xoto. «Era absolutamente justo ao fim da sétima presença», confessa. As Quintas de Leitura são assim: gostam de acarinhar os seus poetas. Em noventa e quatro sessões que se realizaram desde Janeiro de 2002, passaram pelos palcos do Teatro portuen-se pouco mais de trinta poetas que, na sua maioria, já repetiram a dose. Os que por lá passaram até ao fim de 2008 estão reuni-dos na antologia Diga Trinta e Três. Os poetas das Quintas de Leitura que incluem nomes tão falados como os de José Luís Pei-xoto, valter hugo mãe, Gonçalo M. Tavares, Filipa Leal, Daniel Jonas, entre os mais novos; de entre os mais consagrados Ana Luísa Amaral, Manuel António Pina, Jorge Sousa Braga apenas para citar alguns.

As Quintas têm o condão de descobrir novos talentos. «Da primeira vez que eu trouxe o valter [hugo mãe], pouca gente o conhecia», diz Gesta. De facto, muitos dos que agora reconhe-cemos, deram os seus primei-ros passos firmes nos palcos do Campo Alegre. O programador confessa-se «muito orgulhoso» quando os vê alcançar sucesso.

Sucesso que não é só dos poe-tas mas também das Quintas. No princípio diziam a João Gesta: «É possível que funcione, talvez durante um ano ou dois, mas há uma coisa que não vais conse-guir: que as pessoas paguem para ouvir poesia». Mas não foi assim que aconteceu. «Ao segundo ano, tínhamos já o público fide-lizado», diz-nos o programador.

Público este, que tem vindo a aumentar e a tornar-se cada vez mais fiel. A última sessão esgo-tou e a taxa de ocupação das sa-las em sessões anteriores passou sempre os 85%. O sucesso, expli-ca João Gesta, deve-se ao facto de as Quintas de Leitura não serem simplesmente uma récita de poesia onde as pessoas vão e adormecem. Quando confron-tado com o facto de considerar a programação de uma Quinta de Leitura um acto de criação, responde, «Sim, montar as pe-

ças do puzzle, é muito criativo». E assim é, de facto. Talvez por isso se distingam as Quintas de Leitura. Não se limitam apenas a ser uma recitação de poesia mas a partir da palavra poética criam uma nova arte. «A poesia necessita de ser interpenetrada por todas as outras áreas de ex-pressão artística», explica João Gesta.

Agenda

29 DE OUTUBROCafé-Teatro - 22h00“UM POETA NO SAPATO”Espectáculo para maiores de 16.Quatro vozes da poesia portugue-sa contemporânea: António Pedro Ribeiro, Daniel Jonas, João Rios e Nuno Moura. Durante 40 minu-tos, ler-nos-ão os seus poemas incendiários, eivados de amor e humores de todas as cores.A actriz Adriana Faria ajuda à festa e o artista plástico Mário Vitória dá imagem à sessão.Mônica Coteriano & Pedro Gon-çalves (Dead Combo) contam-nos “The Story of My Life”. Perfor-mance baseada na história da violoncelista Guilhermina Suggia.Fecham a noite os “Moliquentos”. Concerto com Tânia Carvalho (voz e piano), Bruna Carvalho (bateria) e zeca iglésias (baixo eléctrico).

26 DE NOVEMBROAuditório - 22h00“LADO B”Espectáculo para maiores de 16.O comediante Pedro Tochas apre-senta-se nas “Quintas de Leitura” pela 12.ª vez, com um dos seus espectáculos mais emblemáticos e aclamados: “Lado B”. Oportunidade única para rever o seu mais pessoal e autobiográfico espectáculo.O amor, o sexo, a dicotomia homem/mulher são temas que estão de volta nesta bem disposta e irreverente visão do mundo.

17 DE DEzEMBROCafé-Teatro - 22h00“CERCO VOLUNTÁRiO”Espectáculo para maiores de 12.Sessão de lançamento do 13.º livro da colecção “Cadernos do Campo Alegre”. O autor da obra é Vasco Gato, uma das vozes da “novís-sima” poesia portuguesa. O livro intitula-se “Cerco Voluntário”, tem gravuras de Sandra Filipe e será apresentado por Catarina Nunes de Almeida.A sessão contará ainda com leitu-ras de Vasco Gato, Catarina Nunes de Almeida e Pedro Lamares e com imagem de Sandra Filipe.Uma performance por Sónia Bap-tista e um concerto por Tó Trips completam o espectáculo.

João Habitualmente

Filipa LealDaniel Jonas Gonçalo M. Tavares João Gesta

Manuel António Pina

Adolfo Luxúria Canibal

FiliPa Mora e Tiago SoUSa [email protected]@gmail.com

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Ano novo programa novo

Este ano, os espectadores podem contar com uma programação de folgo que engloba mais de 30 es-pectáculos, conferências, exposi-ções e festivais.

No âmbito da iniciativa “Sons Fundamentais”: Vozes da Irlanda, a peça de Tom Murphy, O Concerto de Gigli, é reposta no TeCA de 8 a 11 de Outubro, enquanto decorre no mesmo espaço uma exposição de fotografia intitulada “Autores Irlandeses no Teatro Português”. Quem quiser ouvir falar de lite-ratura irlandesa pela voz de três grandes escritores irlandeses – Gle-en Patterson, Paul Muldoon, e Tom Murphy – poderá ir ao encontro público que terá lugar também no TeCA, dia 10 de Outubro.

Continuando pelo Teatro Car-los Alberto, o Cão Danado traz ao Porto Emilia Galotti, a controversa tragédia burguesa de Lessing. A en-cenação é de Nuno M Cardoso e do elenco fazem parte nomes como Albano Jerónimo, Ana Bustorff e Dinarte Branco. Em cena de 28 de Outubro a 8 de Novembro. Mais para o fim do mês, é a vez do tea-tro clássico francês: Molière e uma das suas obras-primas: O Avarento, encenado por Rogério de Carvalho. Uma produção da Ensemble – So-ciedade de Actores a ver entre 27 de Novembro e 20 de Dezembro.

Entretanto, no palco do São João, apresentam-se duas produções da casa. A primeira é Breve Sumário da História de Deus, de Gil Vicente. Depois de ter encenado o espectá-culo Beiras, Nuno Carinhas volta

ao pai do teatro português com esta peça de pendor religioso e pouco conhecida do público. Para que se possa entender melhor o universo que circunscreve o Breve Sumário da História de Deus, have-rá um ciclo de cinco conferências intitulado O que resta de Deus, do qual participarão José Tolentino Mendonça, D. Manuel Clemente, Jacinto Lucas Pires, entre outros. No dia 14 de Dezembro - e é de la-mentar que se faça uma só récita – o Paraíso Perdido de John Milton vai ser lido integralmente segun-do a tradução de Daniel Jonas. A música de VortexSoundTech e as leituras de actores e leitores convi-dados prometem uma interessante maratona de cinco horas.

Janeiro de 2010 será praticamen-te consagrado ao Ciclo de Monólo-gos, que inclui espectáculos como O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion, encenado por Diogo Infante e interpretado por Eunice Muñoz, e A Febre, de Wallace Sha-wn, encenada por Marcos Barbosa e com interpretação de João Reis.

De facto, quando uma progra-mação é boa, torna-se necessário passar revista a cada produção e, em 2010, o TNSJ promete grandes títulos. Sigamos então para Feve-reiro com A Mãe, de Bertolt Brecht, autor de Tambores na Noite e Baal, em cena no São João na passada temporada. Desta vez a encenação é de Joaquim Benite, para a Com-panhia de Teatro de Almada. De 25 a 28 de Fevereiro, o TeCA acolhe uma das peças mais famosas do

Começa a temporada 2009/2010 e o Teatro Nacional do São João já anunciou a sua programação.

autor sul africano Athol Fugard. Canção do Vale é um quase diálogo entre uma geração oprimida pelo apartheid e uma juventude rege-neradora. A produção é do Teatro dos Aloés. Entre 26 de Março e 24 de Abril, vai a cena o clássico mais aguardado da temporada: Antígo-na, de Sófocles. Uma das tragédias mais representadas do repertório dramático grego, Antígona é o ter-

ceiro espectáculo da temporada encenado por Nuno Carinhas.

Finalmente, destaque para Electra, o espectáculo de dança de Olga Roriz (4 a 7 de Fevereiro, no TNSJ) e para o Festival da Fábrica, o FITEI, o Alkan-tara Festival e o Festival de Almada, todos a fecharem uma temporada digna de um teatro nacional e que deve ser seguida com muita atenção. Maria inêS MarQUeS

De facto, quando uma programação é boa, torna-se necessário passar revista a cada produção e, em 2010, o TNSJ promete grandes títulos.

Nova Programação no Teatro Nacional S.João

“Acha que o meu trabalho é fora do comum?” Raul Constante Pe-reira é marionetista. Nascido no Porto, onde passou a infância e para onde regressou aos 16 anos, não se lembra de querer fazer ou-tra coisa. “Quando tinha 19 anos decidi que queria trabalhar com marionetas”. Depois do aprendiza-do na Soares dos Reis e na FBAUP, onde tirou o curso de escultura “para melhorar um pouco a parte da produção plástica”, fez o máxi-mo que pôde para completar a fal-ta de formação específica na área, como cursos de representação, qualificação para ser formador e participação em encontros de ma-rionetas, onde teve contacto com artistas estrangeiros.

“Até os 18 anos não tinha muito bem noção daquilo que queria ser.” Raul nunca soube bem de onde lhe surgiu o gosto pelo marionetismo. “Nunca fiz psicanálise neste aspec-to. Aos 19 anos fazia teatro na es-

cola e fiz um curso de marionetas, colaborei em programas de tele-visão, há muitos anos atrás, e foi surgindo este interesse.”

No curso de iniciação do TUP - Te-atro Universitário do Porto, “ há vin-te e tal anos atrás”, conheceu Isabel Alves Costa, directora do Festival In-ternacional de Marionetas do Porto (FIMP) homenageada este ano após o seu falecimento, com quem man-teve contacto ao longo das suas vá-rias participações com espectáculos e acções de formação no festival “desde a primeira edição”.

“Podes pintar aqui, se quiseres, e depois vais pintando ou outros espaços de outra cor”. Raul Pereira está a ajudar uma rapariga a pin-tar uma caixa amarela. À sua volta, várias crianças divertem-se a criar e pintar marionetas que serão exi-bidas em plena Cordoaria no úl-timo dia do festival. Este ano, no FIMP, Raul dirige uma oficina para crianças, “A Festa da Marioneta”, a

cargo da organização Limite Zero, que criou em parceria com um co-lega, que trabalha com adultos e crianças em acções de formação e sensibilização artística. Além da componente formativa, a associa-ção onde Raul Pereira é director artístico apresenta espectáculos por todo o país, em escolas, festi-vais e outros eventos culturais.

A Limite Zero não é o primeiro projecto que funda para divulgar a sua actividade. Aliás, com 25 anos a trabalhar como marionetista, Raul Constante Pereira nem sempre tra-balhou nessa área específica, sem, no entanto, ter precisado sair do universo artístico: “Faço acções de formação, já dei aulas, trabalhei na área de cenografia, faço edição de vídeo, pós-produção, portanto, uma série de áreas multidisciplina-res que pouco têm a ver com isto, mas sempre na área artística e téc-nica” – “temos que nos desmulti-plicar um bocadinho”. aline Flor

...ser Marionetista

CONTA-ME COMO é...

PEDRO EiRAS

Ceci n’est pas une chroniqueIsto não é uma crónica, é coisa bem mais simples. Eu conto.O meu amigo instalou o gps, comentou: se não ponho isto, perco-me sempre. E lá segui-mos, estrada fora, de noite. Ora, eu costumo ser sempre o último dos mortais a conhe-cer, a dominar essas máqui-nas. Resisto, mas depois cedo, claro: o telemóvel, o e-mail, tudo. Nomes de utilizador, palavras-passe. (Pseudónimos, teorias da conspiração.)Seguimos, estrada fora. E o gps ia dizendo: vire à direita e logo depois à esquerda – saia na próxima saída – vire à es-querda na rotunda – etc., etc.Coisa estranha, esta voz sem-pre igual, com breves desfa-samentos entre os sintagmas, e omnisapiente. Deseja evitar as portagens? Até esses ata-lhos mais económicos a voz dominava.

Não, eu não ia ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra. Nem conduzia, nem era um Chevrolet, nem ia para Sintra. Sobretudo, não poderia dizer, como Álvaro de Campos: perco-me na estrada futura, sumo-me na distância que alcanço. Eu não me per-dia, nem sumia. Nem podia ter a sensação de que há algures um caminho melhor, ou sequer um caminho pior, um caminho outro.

Eu obedecia àquela voz, a que ainda não me habituei. Hei-de habituar, decerto. Já me habituo, enquanto escrevo este texto. Em breve também eu ouvirei essa voz que me conduz, ela sabe para onde, decerto sabe. E não estranha-rei. Nem me perderei.Ela sabe tudo, ela conduz-me. Sabe o caminho e calcula por mim estratégias, economias, soluções. Eu é um outro. E outro é uma voz mecânica que sabe tudo. Eu obedeço, docilmente.De repente, damos por nós a pensar, nas contracurvas de estradas sempre iguais: que sabe esta voz da minha vida? Sabe decerto mais do que eu próprio. Atalhos e perdições. Ou seria tudo ilusão, uns e zeros, electricidade, uma voz gravada? Mas que importaria, se fosse? A voz dizia, condu-

zia. Bastava um toque no volante, es-querda, direita, sono, piloto automático.Hei-de me habituar. Até a voz ser apenas mais um gesto de tantos que faço sem saber porquê, gestos

que sabem mais do que eu. Mandamento, princípio cate-górico, uma moral mecânica.Hei-de me habituar – telemó-veis, e-mails – até ser apenas mais um eco da voz que vai iluminando o caminho na noite. Docilmente: a voz conti-nuará a falar, e eu já não a ouvirei.P.S.: não sei se isto é uma crónica. Crónica é coisa que se possa saber? Talvez a voz do gps saiba. Eu não.

“...que sabe esta voz da minha vida? Sabe decerto mais do que eu próprio. Atalhos e perdições.”

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Los Abrazos Rotos, de Pedro Al-modóvar, fala-nos da história dos amantes Lena (Penélope Cruz) e Henri Caine (Llúis Homar), através de uma narração confessional do último a Diego, filho da sua amiga e antiga assistente de realização, Judit. Assente nesta complexa teia relacional e com o uso de flash-backs, vão sendo desvendados os mistérios da vida de Henri: O encontro com Lena, a perseguição obsessiva do marido Ernesto, a fuga para Lanzarote e uma fatali-dade que lhe tirou a visão.Sem ousadias técnicas ou as habituais provocações, o filme vive da graciosidade e libido de Penélope que trespassam o ecrã e nos fulminam em cada plano. A partir do momento em que Lena sai da história, Almodóvar parece ter esgotado os seus recursos, prolongado o argumento nos últimos trinta minutos para além dos limites do bom gosto.Mas pela contínua construção de atmosferas luxuriantes, fiéis a uma cultura de argumento e direcção, ou simplesmente pelas expectativas que as rodeiam, é sempre um grande prazer ver as estreias de Almodóvar. De facto, ele faz parte do restrito grupo de realizadores cujo nome cons-trói uma obra, cujo universo e linguagem estão vincadamente enraizados na memória colectiva, tendo o poder de fazer o portu-guês ser traído por expressões tais como “já vi o novo Almodóvar” ou “ontem vi um Almodóvar”. Os seus filmes são sempre objectos de colecção.As histórias de Almodóvar conti-nuam a falar da puta, do queer, do acamado, do adultério e da morte mas tudo surgiu agora de forma menos visceral e sentida. Oxalá que os próximos ‘Almodóvares’ sejam o que um dia foram.JoaQUiM gUilherMe blanc

4/10 abrazos roTos ALMODOVAR

Colectânea de 15 singles retiradas dos albuns “Canned Heat” (1967), “Boogie With Canned Heat” (1968), “Living the Blues” (1968), “Halle-lujah” (1969), and “Future Blues” (1970). Entre o blues e o psicadé-lico, este é daqueles discos que destila uma carga etílica em quem o ouve. Apesar da misturas de cas-tas, parece ter envelhecido bem, ganhando corpo e maturidade em cascos do mais puro carvalho. Nestes anos, os Canned Heat eram Alan “Blind Owl” Wilson (guitarra/voz), Larry “The Mole” Taylor (baixo), Henry “Sunflo-wer” Vestine (guitarra) e Bob “The Bear” Hite (voz). Frank Cook (bateria) participou no CD de estreia homónimo, sendo depois substituído por Aldolfo “Fito” de la Parra, que ficou como baterista da banda até aos anos 90.O que esta colectânea tem de melhor é a capacidade de nos levar estrada fora por algumas das melhores músicas da banda, logo com a primeira faixa “On the Road Again” que viaja na rica terra de ninguém entre o blues e o rock contido, ou na versão de “Let’s Work Together” de Wilbert Harrison. “Amphetamine Annie” um boogie moderno com uma vaga lição moral na frase “Speed Kills”. Os blues também têm es-paço com o original “My Crime”, com o óptimo cover de “Rollin ‘N’ Tumblin’ de Muddy Waters e de “Dust My Broom” de Robert John-son. O álbum termina com a faixa “Parthenogenesis”, uma grande orgia psicadélica que começa com um apelo tribal, viaja pelas terras dos blues e termina com umas cítaras que fazem lembrar Ravi Shankar. JoSÉ Ferreira

7/10 caNNed HeaT ON ThE ROAD AGAiN

Falo do livro do homem. No grego homérico original, a primeira palavra é andra: homem. Atribuído a Homero, a Odisseia é um dos primeiros livros do sistema literário Ocidental e um dos mais perfeitos. Copiada, reescrita, glosada, tornou-se mais símbolo que livro, mais metáfora que narrativa.A Odisseia é um livro passível de ser visto, por alguns leitores, com o preconceito de se tratar apenas de um achado arqueológico. Totalmen-te infundado. Neste poema milenar, a tremenda tensão que se respira – especialmente nos versos que antecedem a vingança de Ulisses – é criada, entre outros elementos, pelas técnicas narrativas surpreen-dentemente complexas. Não só pela famosa in media res, como pela voz narratorial (a certo ponto, um nar-rador heterodiegético transforma-se no próprio Ulisses contando as suas desventuras), como pela focalização que tanto vigia o astuto homem como o seu filho. Técnicas essas que, desde esse primordial uso, foram repetidas à exaustão.A tradução exemplar que Frederico Lourenço fez em 2003 para a Cotovia é agora reeditada em formato de bolso para a Biblioteca Editores Indepentes num preço que, todavia, se esperava mais acessível. A Odisseia torna ao verso e ao ritmo originais e a única falha – embora se trate de uma decisão consciente para que o ritmo de leitura não seja afectado – é a ausência de notas explicativas que seriam vitais para os que ainda estu-dam Homero. Tiago SoUSa garcia

“Era uma casa muito engraçada, não tinha tecto, não tinha nada”. Nos últimos tempos, não houve companhia que esmiuçasse tão bem essa cantiga popular como a Circo-lando, que em Setembro encerrou a trilogia Poética da Casa com o espectáculo Mansarda. Na peça, a casa não é mais o sím-bolo comum do lar ou do abrigo, nem mesmo é concebida por uma abordagem filosófica ou ontológica. A casa é um objecto em potenciali-dade e dissecado nas suas perspecti-vas espaciais, assim como o homem quando zoomorfizado – tudo ganha lupa de aumento sobre a redução dos objectos ao espaço e o ser humano não é mais do que um animal a angariar comportamentos de outros animais. As influências do teatro contemporâneo francês estão por todo lado, a começar pela exploração da materialidade dos objectos, o que garante a sucessão de acontecimentos. Assim, o cenário parece assumir o protagonismo e, por vezes, surpreenderá os especta-dores a cada acto instaurado.Há em Mansarda uma espécie de “casa vazada”; as dinâmicas cénicas, cimentadas pelo humor não-verbal, garantem uma apreciação sinestési-ca intensa, em que os espectadores são levados a imaginar sensações a partir do que presenciam, inclusive quando o cheiro de terra molhada invade o auditório e embarca a pla-teia numa verdadeira mistura entre águas-furtadas e reminiscências. Se não fosse pela morosidade que resulta da repetição cansativa da mesma fórmula ao longo de todo o espectáculo – fórmula esta que é o destrinchamento da materialidade –, Mansarda conseguiria atingir gran-des picos de amálgamas artísticas. Ainda sim, a peça digere as influên-cias numa roupagem bastante por-tuguesa, o que faz-nos acreditar que, com amadurecimento, o espectáculo poderá firmar uma linguagem bas-tante própria. ManaÍra aThayde

9/10 odisseia hOMERO

8/10 maNsarda CiRCOLANDO

CULTURA || 27

Crít

icas

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É outono na Europa. A cada es-quina de Porto as folhas caem das árvores como que anuncian-do a queda dos arcabouços do passado, antes tão mentores da forma de ver e de viver desse povo português.

“Repare como os outonos são estações mais da alma que da natureza”, dizia o poeta brasi-leiro Carlos Drummond de An-drade se referindo a todo ama-durecimento por qual passamos em diferentes estações da vida. Morar em outro País talvez seja realmente isso: amadurecemos entre as reminiscências e o co-ração aberto ao que se princi-pia, tal como também vivem as pessoas aqui deste lugar. O conflito entre o anacrônico e o novo é visível não só na estrutu-ra arquitetônica da cidade, bem como na grande disparidade de comportamento entre os jovens e os mais velhos.

Andando no Porto, observa-mos verdadeiras construções

modernas, repletas de espelhos e cores vibrantes, que dialogam com igrejas medievais, museus antiquíssimos, pontes ainda tes-temunhas da invasão napoleô-nica no século XIX. Perambular por estas ruas é ter a sensação de que podemos atracar a todo instante em novos portos, reple-tos de atividades culturais e um ar que mistura o fim do verão com mais um começo de ano.

Nada em Porto me convida a construir um porto-seguro, cheio de certezas e confortos. Muito pelo contrário, aqui o campo é minado pelas dúvidas,

Vida nova, velho mundo

RiCARDO PiNTO MESQUiTA

TuA graça do teu olhar. Os teus olhos embainhados de uma luz intensa e funda. A tua pele com a volúpia a escorre-gar-lhe no traço fino e firme das tuas formas. As tuas mãos compridas e os teus dedos longos numa promessa de serenidade. A forma como te rias para mim naquela noite. A mesa comprida e o magnetismo do teu sorriso a prender-me demoradamente a atenção. Os teus ombros numa simetria absoluta e a noite como a moldura perfei-ta para o teu rosto.As tuas mãos tocando-me ligeiramente as pernas. Os passos dos teus dedos e o arrepio aceso do desejo. Com os olhos despi-te o mundo e o espaço. Meti no bolso o tempo. E desenhei com a in-tensidade do olhar a vontade na areia fina da tua pele.Boiava no ondular sereno do teu corpo e escutava

o sono da noite embalado pela doçura dos teus gestos. Seguraste-me a mão debai-xo da mesa. Os teus dedos assim presos na carne dos meus. Sempre gostaste das minhas mãos.As velas soprando luz no car-mim suave dos teus lábios. A música suave como um hino à tua beleza despretensiosa.

Uma gargalhada acendia-te o rosto e o génio.No meio das vozes que ape-nas ouvia sem lhes reparar nos rostos, procuravas o meu olhar. O amor assim trocado era o mais cómodo dos lugares. E lembrava-me das noites em que te amei. A mesma luz vinda do teu sorriso e a música suave da entrega. Os nossos dedos enlaçando-nos os corpos ao que as almas se haviam pro-metido. Ficavas depois horas com o teu rosto pousado nos meus braços. Os teus olhos fixos nos meus com o silêncio a flutuar no ar sua-ve da respiração cansada. O teu corpo nu com a cidade e as ruas lá em baixo.Sibilavas palavras quentes e doces no meu ouvido e fica-vas lá a derreter-me a pele e a acender a vontade de semear o desejo no serpen-tear do teu corpo.

Perdia-me com o teu riso infantil e luminoso. Com a forma como o mun-do parecia importar pouco no sentido que punhas nas coisas. Como nada parecia importar no estreitar sen-tido dos teus braços.

E nessa noite, como em todas as outras, tinhas na moldura do teu rosto a talha acesa do meu amor por ti.Ao passares os teus dedos, de novo, na minha perna a voz escondida sob a pele da noite iluminou o fundo dos meus olhos para ti.Como as estrelas no céu de uma noite qualquer.

porque quando vivemos sozi-nhos num outro país estamos condenados à liberdade de nos conhecermos mais, de questio-narmos mais sobre nossa identi-dade. Aprendemos a reconhecer o que é e o que não é essencial em nossas vidas – e acredite, muito do que antes nos parecia imprescindível, com o tempo se torna secundário.

“Ora bem”, como dizem meus novos amigos, Portugal é essa amálgama entre aquilo que se foi e aquilo que se é. Um misto de sensações entre as pilastras do passado e o concreto do presen-te. E quando me lembro dos ver-sos “Quanto menos eu quisesse recordar, mais a saudade andasse presa a mim”, da poetisa portu-guesa Florbela Espanca, já não sei ao certo se é saudade do que deixei no Brasil ou se é saudade de cada instante que vivo aqui e que eu gostaria que perdurasse muito mais do que um piscar de olhos. ManaÍra aThayde

“Os teus olhos fixos nos meus com o silêncio a flutuar no ar suave da respiração cansada. O teu corpo nu com a cidade e as ruas lá em baixo.”

Andando no Porto, observamos verdadeiras construções modernas, repletas de espelhos e cores vibrantes

MANAíRA AiRES

Page 15: JUP Outubro 2009

A revolta já não veste de preto

Contra a mediocridade

Acima de tudo o caos, a haver, é mental. E da organização que per-mitiu que todas as placas que eles disseram que foram afixadas fos-sem roubadas. É certo que não sou a pessoa mais orientada do mun-do, mas quantos se iriam lembrar que Recarei é ao lado de Paredes, assim perto de Baltar?

Estamos em 2009 e o dia é 11 de Setembro. É o primeiro dia do festi-val Open Air Caos Emergente que vai durar até dia 13. São três dias muito rápidos e poeirentos aqui em Recarei. O recinto do festival é num campo da bola, pelado. É grande e até tem bancadas de onde se pode espreitar o palco. A música é metal. Só. Pron-to, com as devidas variantes, mas eu não estou aqui para ouvir a música. Vim para ver as pessoas, para beber umas cervejas... enfim, divertir-me.

Para encontrar Recarei fui a Pare-des e tive de voltar para trás por es-tradas e caminhos perdidos dos ma-pas de deus e dos homens... estradas estreitas e sinuosas que ameaçavam trazer em sentido contrário à curva que fazia um qualquer camião per-dido de uma pedreira. Até podem pensar que podia ter pedido infor-mações sobre como chegar ao local do festival. O facto é que pedi, mas algo se deve ter perdido na tradu-ção do português deles para o meu. Cheguei lá já tinha caído a noite e estava cansado de conduzir. Tudo o que queria era beber uma cerveja fresca e descansar da condução.

Quando dei por mim, já daquela taça plástica bebia uma duvidosa cerveja Tagus e no palco dava-se um Holocausto Canibal. Não, não é uma metáfora... é o nome da banda.

É uma seca voltar 10 anos de-pois e continuar a ouvir exac-tamente o mesmo nos devidos rótulos que continuam com o mesmo aspecto e tudo decorado com uma bela forquilha cheia de corações espetados. Que kitch! As excepções foram Draconian, uma banda de doom metal da Suécia, e Destruction, um trio de thrash alemão que trouxe consigo o gui-tarrista de Evile para substituir o seu, lesionado.

Dizem que este pessoal está re-voltado. Não a vi... a revolta, isto é. Ou isso ou ela tornou-se outra coi-sa. O pessoal veste de preto, calça a sua bota, deixa crescer o seu ca-belo, e que mais depois disto? Fi-losofia e astrologia barata? Sonhos fantásticos com as realidades me-dievais e com as possibilidades de uma maça de armas? Runas e mis-ticismo nórdico que despontam de discursos nacionalistas? Tudo isto e muito mais! Regado com ál-cool do mais barato para revoltar ainda mais a figadeira e penteados estranhos que andam vagamente na moda no nicho comercial aqui explorado. JoSÉ Ferreira

Visto que a grande maioria dos leitores desta publicação são jo-vens adultos, cidadãos que en-tram numa derradeira fase da sua formação pessoal e profis-sional, e que como tal já deverão possuir uma base firme de ideias e ideologias próprias, achei que esta altura do regresso às aulas, que para muitos significa a en-trada numa nova realidade estu-dantil, seria uma boa época para propor que abordássemos o tema da mediocridade. Faço-o, porque considero que é bem mais fácil ser-se medíocre do que outra coi-sa qualquer, tendo por base a socieda-de em que vivemos e a cultura adjacen-te que nos é incuti-da desde crianças. O grande sinal desta é-nos dado através da atitude e postura de cada um, ou me-lhor dizendo, da falta de ambas. A falta de participação, de inte-racção, de crença no seu papel na nossa sociedade é a prova disso mesmo. É muito mais fácil criticar e arranjar bodes expiató-rios para os diversos problemas sociais e culturais da actualida-de e depois encolher os ombros dizendo que as coisas são assim mesmo, que infelizmente na nos-sa sociedade as coisas funcio-nam assim e como somos todos demasiado pequeninos no meio desta selva gigante não temos qualquer poder para alterar isso. Pois bem, isto é aquilo que um derrotista pensa, e nesta linha de pensamento jamais se passará a barreira da mediocridade. Por sua vez, quem está atento e não se contenta em ser apenas mais um entre muitos já é capaz de

PALAVRAS LEVA-AS O VENTO

encarar as coisas de outra forma, pois não só se questiona sobre aquilo que se passa à sua volta, mas depois, ao invés de apenas se ficar por criticas e lamúrias, é capaz de pensar em alternativas viáveis, tomar uma posição firme e defendê-la. Ou seja, é capaz de adoptar uma postura firme e a atitude necessária e assumindo-se assim sem qualquer tipo de problema. Tendo isto por base, penso então que seria uma exce-lente altura para o leitor parar um bocadinho e pensar um pou-co no seu papel aqui neste mun-

do, porque convenhamos, que se-ria bom que tivesse um e quanto mais depressa compreender qual ele é melhor. O planeta está cheio de seres humanos pequeninos, quando na realidade precisa é dos grandes, e quantos mais me-lhor, pois não há nenhum núme-ro pré-estabelecido para estes. E se ambiciona tornar-se um destes a receita é muito simples: basta começar a agir, a tomar posições e a acreditar que estas terão um impacto que criará repercussões e que por sua vez estas serão as responsáveis por uma mudança. É que de outra forma, podem acreditar, tudo fica exactamente como está! arMando Pêra

“...quem está atento e não se contenta em ser apenas mais um entre muitos já é capaz de encarar as coisas de outra forma...”

JUP || OUTUBRO 09 || 29 Opi

nião

6 A 11 OUTUBROSONS FUNDAMENTAiS: VOzES DA iRLANDA - O FESTiVAL LiTERÁRiO iRLANDÊSTeatro Carlos Alberto

7 OUTUBROCOMUNiDADE DE LEiTORES Biblioteca Almeida Garrett, 21h

8 OUTUBRO

ATOM [PERFORMANCE]Mosteiro São Bento da Vitória, 21h30

CiCLO PORTO CiDADE DE CiÊNCiA“O PORTO E A TUBERCULOSE, 100 ANOS DE LUTA”, PELO DR. ANTó-NiO RAMALHO DE ALMEiDA, 21H15Fundação Porto Social, Quinta de Bonjóia

8 A 11 OUTUBROTRAMA – FESTiVAL DE ARTES PER-FORMATiVAS – 4.ª EDiçãOvários espaços da cidade

13 A 17 OUTUBROFUTURE PLACES 2009 (DiGiTAL MEDiA FESTiVAL)vários locais

17 OUTUBROLOMOGRAFiA FéRiAS DAY Embaixada Lomográfica Porto

29 OUTUBROQUiNTA DE LEiTURA, “UM POETA NO SAPATO”Café-Teatro Teatro Campo Alegre, 22h

Car

dápi

o9 DE OUTUBROAMÁLiA HOJEColiseu do Porto

10 DE OUTUBROSEU JORGEColiseu do Porto

DOWNTOWN SOUNDS – MúSi-CA NA BAiXAAv. dos Aliados

11 DE OUTUBRODiANA KRALLPavilhão Rosa Mota

12 DE OUTUBROTHE MARY ONETTESO Meu Mercedes

17 DE OUTUBROJOAN AS POLiCE WOMANCasa da Música

BLiND zEROAuditório Municipal (Vila do Conde)

22 DE OUTUBRODREAM THEATER, OPETHProgressive Nation, Jardins Palá-cio de Cristal

LA TRAViATAColiseu do Porto

29 DE OUTUBROMARizAColiseu do Porto

30 DE OUTUBROPETER MURPHY

Teatro Sá da Bandeira

31 DE OUTUBROTRÊS CANTOS: JOSé MÁRiO BRANCO, SéRGiO GODiNHO, FAUSTOColiseu do Porto

MÁRiO LAGiNHA E MARiA JOãO

Teatro Municipal (Vila do

Conde)

4 DE NOVEMBROSKUNK ANANSiEColiseu do Porto

5 DE NOVEMBROGLENN MiLLER Coliseu do Porto

SÁBADOS MERCADO PORTO BELOPraça Carlos Alberto, 14h às 19h

09 A 26 OUTUBROLOMOFéRiAS 2009Nova Embaixada Lomográfica, Centro Português Fotografia, Estação Metro Trindade

ATé 18 OUTUBRO“A-z ENTRE iMAGENS E PALA-VRAS”, EXPOSiçãO DE PiNTURA DE JOANA RÊGOGaleria Municipal de Matosinhos

ATé 25 DE OUTUBROEXPOSiçãO “JOSé RéGiO E O TEATRO”CASA DE JOSé RéGiOCentro de Documentação (Vila do

Conde)

EXPOSiçãO “ONDE HÁ ÁGUA, HÁ ViDA”, FOTOGRAFiAS DE CéSAR SANzPalacete Pinto Leite

EXPOSiçãO DE PiNTURA E iLUS-TRAçãO - “MãO DiREiTA” POR MARTA MONTEiROParque Central da Maia

ATé 30 OUTUBRO

EXPOSiçãO DE FOTOGRAFiA “NiNGUéM”Biblioteca Municipal de Almeida Garrett

ATé 31 DE DEzEMBROXi PORTOCARTOON-WORLD FESTiVAL “AS CRiSES”Museu Nacional da Imprensa

MúSiCA VÁRiOSEVENTOS

Joan as a Police Woman no Porto

JUP || OUTUBRO 09

2 A 10 OUTUBRO15º FESTiVAL iNTERNACiONAL TEATRO CóMiCO DA MAiAFórum Maia

8 A 11 OUTUBROO CONCERTO DE GiGLiTeatro Carlos Alberto

ATé 11 DE OUTUBRO“O MARiNHEiRO” DE FERNANDO PESSOATeatro Hekena Sá e Costa

“DOCE PÁSSARO DA JUVENTUDE”Pequeno Auditório Teatro Rivoli

“A GAiOLA DAS LOUCAS”Grande Auditório do Teatro Rivoli

17 OUTUBROMECANiSMOS/iN TENSõESTeatro Municipal (Vila do Conde)

ATé 17 OUTUBRO

“O OLHO DE ALÁ”Cace Cultural do Porto

ATé 18 OUTUBROCOMéDiA “AQUi HÁ FANTASMAS”Teatro Sá da Bandeira

DE 19 A 24 OUTUBRO“MUNA”Teatro Hekena Sá e Costa

ATé 31 DE OUTUBROUM BARCO NA CiDADECine-Teatro Constantino Nery, Teatro

Municipal (Matosinhos)

TEATRO

Diana Krall no Pavilhão Rosa Mota

JOSé FERREiRA

Page 16: JUP Outubro 2009

JUP || OUTUBRO 09 OPiNiãO || 31

Devaneios

1Saltos fervilham na calçadaVarrendo a avenida transtornadaSão tempos difíceis de explicarEstes que correm apressados para o autocarro vinte e oito

Só, sentado ao balcão de uma tasca rústica da cidadeAdmiro a solidão que assentou com os anosNa esperança que a esperança fique sem reste-aBebo mais um trago de whisky puro

Ao longe uma maquilhagem esborratadaDecide, por fim, agitar os ares de moléstiaFitando a fatalidade, travo um cigarroEmpurrando o fumo para um hotel rasca da baixa

Queres saber…Vá lá querida, queres mesmo saber que a vida não vale merda nenhuma E a sociedade não presta?Para isso tinha ficado em casa a ver televisão

Semedo

FiCHA TéCNiCA

DiRECçãODiRECçãO DO NJAP/JU - PRESiDENTE Sara Moreira ViCE-PRESiDENTE Rita Falcão TESOUREiRO José Ferreira VOGAiS Pedro Ferreira (JUP) || Filipa Mora (aguasfur-tadas) || Bárbara Rêgo (espaçosJUP) || Manaíra Athayde (galerias)

DiRECçãO DO JUP Carlos Daniel Rego e Filipa Mora Di-RECTORA DE PAGiNAçãO Joana Koch Ferreira DiREC-TOR DE FOTOGRAFiA Manuel Ribeiro EDiTORES E SUB-EDiTORESEDUCAçãO Carlos Daniel Rego SOCiEDADE Manaíra Athayde CULTURA Filipa Mora e Tiago Sousa Garcia OPiNiãO Pedro Ferreira DESPORTO Francisco Ferreira

COLABORARAM NESTA EDiçãO Aline Flor || Armando Pêra || Edgardo Cecchini || José Fer-reira || Rita Bastos || Vera Covêlo Tavares || Guilherme blanc || Tiago Sousa Garcia || Filipa Mora || José Miranda || Francisco ferreira || Sara moreira || Manaíra Athayde, || Pedro Eiras || Ricardo Pinto Mesquita || Bruno silva || Maria Inês Marques

iMAGEM DA CAPA Pooiioppoi DEPóSiTO LEGAL nº23502/88 TiRAGEM 10.000 exemplares DESiGN LOGO JUP Bolos Quentes Design EDiTORiAL/GRAFiSMO Joana Koch Ferreira PAGiNAçãO Joana Koch Ferreira

PRé-iMPRESSãO Jornal de Notícias, S.A iMPRESSãO NavePrinter - indústria Gráfica do Norte, S.A. Proprie-dade Núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário

REDACçãO E ADMiNiSTRAçãO Rua Miguel Bombarda, 187 - R/C e Cave 4050-381 Porto, Portugal Telefone 222039041 Fax 222082375 E-mail [email protected]

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EDiTORiAL

“Tempo, esse grande escultor”

“Começa um ciclo novo; os pri-meiros caules verdes atravessam como setas as últimas folhas secas do Outono passado”, parafrasean-do a erudita Marguerite Yourcenar através de um excerto de um dos seus ensaios que dá corpo ao título deste editorial, começa um novo ciclo, uma nova viagem.Partindo da reflexão sobre o pas-sado e o presente do universo da autora, o JUP vai vestindo o casa-quinho, nestes dias e noites ame-nos salpicados de gotículas ainda que pouco veraneantes, enquanto se prepara para um novo ciclo. Os caules verdes que já vêm do Verão respiram, agora, mudança. Arrumou-se e preparou-se a casa para o futuro a curto (e, talvez, médio) prazo e não só. Porque a ambição e o sonho equiparam-se com empenho e dedicação. A isto, juntamos-lhe uma pitada de afec-to e cumplicidade para a corrida semestral/anual. Para o comum leitor, a velha máxima “Ano novo, vida nova” fazia todo o sentido em meados de Dezembro/Janeiro, enquanto se preenchem listas de promessas e desejos. Para o público-alvo do JUP, esta espécie de “axioma” popular ganha con-tornos de maior dimensão agora.Ano (lectivo) novo, vida nova. Sem qualquer pretensiosismo ou condescendência, o JUP enquanto força colectiva, apela à participa-ção, ao activismo da palavra. Na era da Informação e Conhecimen-to, o entorpecimento tem perna curta. Os novos tempos emergem, exigindo uma postura pró-activa, criticismo e dinamismo. O tempo é um recurso escasso e aquilo a que nos propomos é continuar a comunicar aquilo que acredita-mos ter interesse e qualidade.Terminamos com um tópico as-sente no que acreditamos serem os nossos valores enquanto o mais antigo órgão de informação estudantil do país: apesar de não ter profissionais na sua redacção, o JUP não confunde a falta de profissionais com falta de profis-sionalismo, assumindo o lema: “voluntários na opção – profis-sionais na acção”. FiliPa Mora

30 || OPiNiãO JUP || OUTUBRO 09

Jusqu’ici tout va bienVive-se período eleitoral, altura em que se esperaria um diálogo mais aberto e real no centro da cidade do Porto. Que cada cidadão fizesse jus ao seu estatuto e tivesse uma pala-vra a dizer, mesmo que não fervilhas-se em críticas acesas por um sentido de pertença à sua comunidade.

Estamos em período eleitoral, e na Rua do Bonjardim, aos domingos de manhã, um vizinho vira as colu-nas na janela e deixa o pimba tocar bem alto para quem vai a passar na rua ou mesmo para aqueles que se deixam estar no seu lugar. É coisa que o vizinho repete todos os fins-de-semana, e não é por estarmos em período eleitoral que ele havia de mudar. Nunca há quem olhe ou dance, mas na Rua do Bonjardim, agora que o Outono entrou de céu cinzento carregado, as notas só eco-am ligeiramente diferentes porque o chão de paralelo granítico absorve a humidade criando um jogo triste de espelhos, que reflectem as ba-ladas, entre o chão e a vidraça dos prédios em ruínas.

No bairro, durante a semana, ouvem-se bem alto os programas televisivos duvidosos no conteúdo que lavam a consciência de um povo desempregado perseverante no sau-dosismo sebastianista. Talvez seja ele, o sempre esperado, que os levou a decidir nunca pegar nas casas de-volutas, assombradas, decadentes de um bairro que só não é deserto, por-que há olhares a medo por trás de cortinas corridas, a cada raro sinal de vida que pouco corre lá fora. Nunca é tempo de mudar, de inspirar, de ter uma palavra a dizer e levá-la em frente. O próprio carro do comício que passa com locutor de voz ultra-

passada, megafone em riste, parece não acreditar no seu apelo: ao par-tido e ao voto. O bairro desconfia daquele proclamador outsider, olha-o de lado. Eventualmente ele deixa de aparecer. Na Rua do Bonjardim, de tanto olharem para a televisão ou através de cortinas, deixaram de ver que tudo em redor está a ruir. Mais! Eu sei, porque vi, que eles esquece-ram aqueles hectares de terreno das traseiras, hoje escondidos em jardins secretos, que um dia traziam uma economia ao local.

Assisto a esta apatia, temo pela minha própria inércia, e imagino as formas diferentes que as vidas poderiam assumir, assim que cada cidadão decidisse abrir as janelas à sua cidade. Mas por aqui, o que

verdadeiramente ecoa, não é o Por-tugal no Coração, nem a carripana do comício. Ouve-se em cada olhar, «Jusqu’ici tout va bien.» (La Hai-ne,1995, Kassovitz). Quantos men-tirão a si próprios até ao culminar do fim mais triste. Que o que somos não é o conforto doloroso da vida que fazemos todos os dias mas sim aquilo que daí conseguimos criar.

À Rua do Bonjardim, a criação chega em pacotes de bailarinas de grupos pimba com roupas rosa “shocking”, ora em versão sistema-de-som-à-janela, ora pela mágica caixa negra cuja programação e conteúdo deixa pouco a desejar no que diz respeito a atentados ao inte-lecto social. E é assim, que no centro da cidade do Porto, a consciência se

vai criando com a alienação dos va-lores e objectivos, com a exploração da desgraça do outro e a personifi-cação do espírito do coitado.

Vejo o quão fácil foi deixar o cor-po ser levado pela corrente, dese-nhando um percurso inerte. Vive-se período eleitoral e devia apetecer cortar o paradigma pela raiz, esco-lher a inspiração, não permitir que outros decidam que o meu caminho é o do outro. Acabo de ver “Into the Wild”, que citava Thoreau pedindo «mais do que o amor, o dinheiro, a fé, a fama, a justiça… dá-me a verda-de.» É altura de, na Rua do Bonjar-dim, romper cortinas velhas, abalar fachadas decrépitas, provocar uma reacção e pedir, tão simples, a ver-dade. Sara Moreira

MANUEL RiBEiRO

Vive-se período eleitoral e devia apetecer cortar o paradigma pela raiz

Page 17: JUP Outubro 2009

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