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Destaque 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 13 || U.Porto 14 || FLASH 16 || Desporto 18 || Cultura 22 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 31 DEZEMBRO ‘09 Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Directora Filipa Mora || Director de Fotografia Manuel Ribeiro || Directora de paginação Joana Koch Ferreira Chefe de Redacção Mariana Jacob sabores e memórias já não são prato do dia Tascas à moda do Porto

JUP Dezembro 2009

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Capa: Tascas à moda do Porto: sabores e memórias já não são prato do dia Ficha Técnica: Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Directora Filipa Mora || Director de Fotografia Manuel Ribeiro || Directora de paginação Joana Koch Ferreira Chefe de Redacção Mariana Jacob

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Destaque 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 13 || U.Porto 14 || FLASH 16 || Desporto 18 || Cultura 22 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 31

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sabores e memórias já não são prato do dia

Tascas à moda do Porto

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T ascas, tascos, adegas, tabernas… são muitas as designações atri-buídas. Lugares onde se escuta o fado vadio, ao fim da tarde, e onde se apreciam as tripas e os cozidos incomparáveis. Antes, eram centenas, hoje, apenas algu-mas dezenas.

As tascas foram, durante mui-to tempo, pano de fundo e ins-piração ou sugestão de enredos. Reflectiam preconceitos, visões, mentalidades. Eram os locais es-colhidos para conviver, comuni-

As Tascas na primeira pessoaProcuradas e apreciadas por todos antigamente, as tascas fecham as por-tas dia após dia. Algumas das que ainda restam, passam despercebidas. O lugar de convívio transformou-se num lugar de passagem. O que antiga-mente enchia as avenidas, está hoje esquecido nas traseiras…

Entrevista Raúl Simões Pinto

car, degustar e beber conforme gostos, hábitos e capacidades fi-nanceiras. Serviam de ponto de discussão sobre os mais variados assuntos, como política, amores, problemas sociais, questões de honra ou de dinheiro, discussões naturalmente prolongadas em re-dor de uma espécie de mesa re-donda, enquanto se petiscavam alguns acompanhamentos. Uma multiplicidade de valências, refú-gio da invicta. Não se limitavam a ser sítios de preenchimento dos ócios, mas reflectiam o verdadeiro clima da cidade. Ambientes den-sos, restritos e restritivos. Uma vida em comunidade, ao sabor de hábitos genuínos.

Falamos de um Porto que já não existe. A mentalidade espon-tânea criativa foi sucumbida pela vida moderna, onde se destaca o consumismo, a Internet, o poder da TV, centros comerciais… E onde as tascas foram substituídas por

bares, pubs, snacks, restaurantes… Com todas as fraquezas, cedên-cias e abdicações, o negócio das tascas foi completamente extinto ou, pelo menos, reconvertido de uma forma esmagadora.

Mas eis que Raúl Simões Pin-to, professor e tripeiro assumido, teve a ideia de fazer um tributo ao Porto antigo e popular. Escre-veu e publicou o livro “As Tascas do Porto”, um roteiro marginal e até mesmo “boémio”, que pre-tende ser um verdadeiro elogio do viver e sentimento tripeiros. Raúl Pinto escreve com sensibi-lidade e simpatia, mas também com uma certa compaixão e tris-teza. O seu trabalho é um exercí-cio de dedicação, que sugere um revigoramento da memória con-tra o esquecimento.

As tascas assumem-se como tradição, fantasia, orgulho e, so-bretudo, património da cidade. O JUP quis conhecer o ‘escritor’

e saber o que o levou a escrever a obra que é a consagração e cele-bração da cidade profunda.

Foi na Casa Correia, uma tasca tra-dicional da baixa portuense, situada bem ao lado do Tribunal da Relação (Rua Barbosa de Castro) que entre-vistamos Raúl Simões Pinto, autor do livro “As Tascas do Porto”.

A meio de um almoço apressado, falamos com o professor sobre as tascas tradicionais portuenses e a sua progressiva desertificação…JUP — As tascas estão espalhadas por todos os cantos da nossa ci-dade. Na sua opinião, podem ser consideradas património cultural?Raúl Simões Pinto — Eu acho que as tascas deviam ser consideradas património histórico e cultural por-que reflectem um tempo em que a cidade era uma cidade de trabalho, o Porto tinha o dobro da população que tem hoje e as tascas eram re-fúgios onde as pessoas se encontra-vam quando saiam dos seus traba-

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taqu

elhos, sobretudo os homens. A tasca relativamente às mulheres sempre foi um lugar de preconceito. A mu-lher nunca entrou muito nas tascas. Era uma sociedade machista, que ainda hoje continua em certa me-dida. Mas se falarmos por exemplo do princípio da industrialização no Porto, da cidade do Porto como ci-dade de trabalho dos anos 50, 60, 70 do século XX, podemos considerar que a mulher ficava fora de portas à espera do seu marido ou do seu namorado, enquanto ele bebia um copo ou cavaqueava com os amigos na taberna. Jogavam às cartas, con-tavam anedotas, discutiam o fute-bol, discutiam a política. Discutiam coisas, algumas delas proibidas para a época se tivermos em conta que antes do 25 de Abril de 1974 as ta-bernas eram um bocado centros de discussão política. Populares, muito populares mas onde paravam todas as classes para beber, comer ou mes-mo por ser uma questão pontual. O que o levou a escrever o livro ‘As tascas do Porto’?Eu escrevi o livro porque fui pra-ticamente educado numa tasca. O meu falecido pai tinha uma ta-

tascos. Também havia quem os designasse por adegas. Outros diziam tabernas.” Considera que o termo ‘tasca’ tem um sentido pejorativo?Não. Acho que não porque há di-ferenças… há diferenças entre uma casa de pasto, uma Tasca e uma Ade-ga. A adega pode fazer refeições, tem licença para isso. Mas uma tasca, as casas de pasto mais tradicionais só servem petiscos. Não podem fazer refeições porque estão limitados pelos alvarás. Em termos de senso comum, o tasco ou a tasca é o ter-mo que se utiliza mais no Porto. Há zonas onde é as tabernas, as adegas, os botequins. Há muitas referências para este tipo de estabelecimento. Mas aqui no Porto é os tascos, no masculino, ou as tascas. Por norma, esses dois nomes jogam muito com o Porto. As tascas, as ‘tasquinhas’… mas a tasca tradicional não faz re-feições. Só serve petiscos. Algumas actualizaram-se e servem refeições como forma de sobreviver.Sabemos que as tascas são, para si, uma tradição familiar mas sa-bemos que não deu continuidade ao projecto. Porquê?Eu saí com 12 anos. A zona onde estava a tasca foi remodelada, toda aquela zona foi abaixo e eu com 12 anos tive que mudar para o Bairro da Pasteleira, onde estou hoje ain-da a viver com a minha mãe e onde escrevi um livro que é a “Pasteleira City”, que é um livro dedicado à Pas-teleira. E não dei continuidade ao projecto porque era muito novo e também nunca tive possibilidade de ter um negócio. Dei aulas, trabalhei nos correios e agora dou aulas aqui na cooperativa (Árvore) e nunca tive, do ponto de vista económico, oportunidade de montar qualquer tipo de negócio.Hoje em dia as tascas são cada vez menos frequentadas. Quais são, na sua opinião, as soluções para contrariar esta tendência?As soluções começam logo pela au-tarquia, pelos poderes da Câmara a nível cultural e de património que acho que não têm uma política que apoie este sector. E depois, um pou-co a guerra comercial. Com a passa-gem do Porto de cidade de trabalho para cidade de serviços, houve uma modificação. Nós somos o quinto país da Europa com mais centros comerciais. Na área metropolitana do Porto há 46 centros comerciais. Do ponto de vista de mentalidades, isto alterou-se muito. Teria que

“As tascas deviam ser consideradas Património histórico e cultural”

Casa Correia

Casa Correia

berna para os lados de Lordelo do Ouro, para os lados da Foz e eu fui para lá com 5 anos. Saí de lá aos 12, ou seja, vivi praticamente a mi-nha infância e o princípio da mi-nha adolescência numa taberna. A comunicação com aqueles espaços e as cenas que eu assistia deram-me azo para escrever. E foi quase como um tributo à memória do meu pai. Aliás, eu dedico o livro à memória do meu falecido pai…Coube a Hélder Pacheco a elabo-ração do prefácio do seu livro. No início, o autor refere “No Porto chamavam-se, as mais das vezes, corrente e simplesmente

Se não forem os jovens, as tascas desaparecem daqui a 10/20 anos”

ARtUR COStA

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haver uma política camarária para manter estes lugares e uma política até de roteiro turístico, uma questão popular. Os turistas visitavam aqui-lo que é mais tradicional na cidade, mas o poder autárquico não tem desenvolvido nem mantido a tradi-ção da cidade. Aliás, as tradições e o bairrismo do Porto estão-se a perder. O S. João não é o S. João tradicional do Porto, está-se a perder muito do bairrismo da cidade. O Porto está a ser uma cidade atravessada pelo metro. Um metro que passa e um metro que leva as pessoas para os dormitórios. O centro da cidade está fantasmagórico e as pessoas só vêm ao Porto para serviços ou para tra-balhar e vivem na periferia. O cen-tro histórico do Porto perdeu 50% da população em 20 anos. Não ha-vendo população nos centros histó-ricos, a vida extingue-se. Se não hou-ver um apoio para manter os locais, eles vão-se embora. Até pela idade… a maior parte das pessoas que estão à frente das tascas são pessoas de idade. A segunda geração, os filhos, já não vão pegar no negócio dos pais… ou fazem restaurantes ou en-tão fecham e abrem outras coisas, e perde-se. E têm-se perdido. É uma tendência. Mas a responsabilidade número um eu ponho aos poderes camarários, nomeadamente as áre-as de património, cultura e turismo da Câmara. E claro, a ASAE, que com a adaptação das regras europeias às tascas, a ASAE ajudou a “matar” al-gumas tascas da cidade do Porto.Hoje em dia, os turistas conhe-cem as tascas e as tradições da nossa cidade?Não. O turismo conhece os locais in: Casa da Música, Serralves, os Clérigos, a Ribeira… os que estão nos roteiros citadinos. E os restau-rantes que estão nos roteiros turís-ticos. Tinha que haver uma altera-ção. Tinha que se enquadrar nesses

roteiros também as tasquinhas.E acha que isso se consegue fazer?Eu acho que se consegue mas pas-sa também por alguma pressão aos meios de comunicação, às entida-des camarárias, aos sectores turís-ticos… por esta rua (R. Barbosa de Castro) passam dezenas de turistas mas se a Adega Correia não estiver no roteiro, eles não param aqui. Outra coisa que se pode fazer é a

6 tascas

Com a ajuda de Raul Simões Pinto, seleccionamos 6 tascas portuenses. O objectivo é dar a conhecer ou relembrar 6 das casas tradicionais que inundam as ruas desta cidade.Cada uma delas faz parte de um dos percursos definidos pelo autor no livro “As tascas do Porto”.6 caminhos, 6 histórias, 6 abrigos, 6 tascas que ainda (sobre)vivem…No Centro histórico da cidade, está O Alfredo Portista. Com mais de 70 anos, esta tasca é toda azul. O ambiente familiar e o famoso polvo cozido fazem desta, uma tasca com fama e proveito.A Adega S. Martinho está local-izada na Baixa do Porto e está praticamente intacta há mais de 35 anos. teresinha, a dona da tasca, ainda faz as contas em escudos e queixa-se da situação actual “a clientela baixou e o negócio ressentiu-se”.A Casa Melo está integrada nos Caminhos do Romântico. Recentemente renovada por im-posição camarária, esta casa vive essencialmente dos estudantes e do espírito académico.Na Zona Ocidental, a tasca da Badalhoca destaca-se. As famosas sandes de presunto fazem desta, uma das tascas mais conhecidas da cidade. Neste caso concreto, o negócio corre bem e o estabelecimento é frequentado por todo o tipo de pessoas.Na Marginal e Zonas ribeirinhas, podemos encontrar a Adega Rio Douro (ou tasca da Piedade), conhecida pelas suas tardes de fado vadio.A Adega o Escondidinho integra-se na Zona Oriental e Paranhos. Com mais de 120 anos, esta tasca vive veteranos e universitários.

FOtOS DE: ARtUR COStA

O verdadeiro Porto não está nas avenidas, está nas traseiras. O Porto bairrista”

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mAriA JOãO fErNANdES, mAriA frEi-TAS, SArA SOUSA, E TErESA [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

Casa Melo, os clientes são sobretudo universitários

Badalhoca, o templo das sandes de presunto

São quase 7 horas da tarde e, para a maioria das pessoas, o dia de tra-balho já terminou. Estamos na Casa Melo, situada na freguesia de Vitó-ria. Há alguns anos atrás, por esta hora, era normal ver nas tascas reu-nidos homens, que vinham petis-car e molhar a garganta depois de um dia de trabalho. Só nas últimas duas, três décadas começou-se a ver o sexo feminino a frequentar estes estabelecimentos, visto não serem considerados apropriados para mu-lheres sérias. Desde operários fabris, a advogados, professores, intelectu-ais, estudantes, todos faziam uma pequena paragem por estes locais tão característicos do Porto. Mas, nos últimos anos, tal já não se veri-fica. As tascas do Porto estão a ficar sem frequentadores.

A Casa Melo é bem conhecida entre os universitários. Quase todos já fizeram jantares ou provaram a receita do Sr. Melo, o único proprie-tário há já 32 anos. Na verdade, a maioria dos alunos da UP, diz o “Sr. Melo”, quando se refere à tasca. En-quanto falamos com o próprio, ape-nas um cliente, na casa dos 50, está no estabelecimento, a tomar o seu copo de vinho. O Sr. Melo está ao balcão e a esposa, a Sra. Ester Melo, na cozinha, a fazer os pratos do nú-mero 54 da Rua de Sá de Noronha.

A Casa Melo teve origem numa aposta de Manuel Melo, quando

Com o aparecimento de estabele-cimentos atractivos com preços acessíveis, o ideal de tasca tem sido progressivamente posto de lado. O que antigamente, era um lugar de culto, convívio e diver-são, hoje em dia é apenas um lo-cal de acolhimento para os mais antigos ou um ponto de passa-gem para os mais apressados.

Qual património cultural? Qual passagem obrigatória de visitantes e turistas? As tascas de antigamente estão a desapa-recer dia após dia… fecham as portas e lá ficam as memórias de quem por lá passou.

No entanto, e apesar da ten-dência de desertificação, ain-da há tascas a garantir a sua (sobre)vivência. A “Badalhoca” é uma delas. Com mais de um século de vida, a tasca continua a atrair clientes. Como refere Maria de Lurdes de Jesus Gue-des, proprietária da tasca há 45 anos, os fregueses vão “dos juí-zes, aos advogados, às doutoras, aos doutores, aos arquitectos” Também frequentada por tro-lhas, pintores e por aqueles a quem o emprego não dá lugar, a fila na “Badalhoca” contempla a diversidade. Segundo a dona, a adesão é positiva uma vez que os clientes “são bem recebidos, de qualquer maneira”

há 32 anos atrás se encontrava desempregado e viu como única solução, para sair dessa situação, abrir o seu próprio negócio. “Pen-sei e acertei que a única maneira de ter emprego era a trabalhar por minha conta”, declara.

Os que mais visitam a sua casa são universitários, esclarece, e ex-universitários que “continuam a nos visitar”. Ao contrário de ou-tros proprietários de tascas, o Sr. Melo não pensa que a sua tenha vindo a ser menos frequentada, nos últimos anos, porque, em ge-ral, “o meu cliente é universitário e, felizmente, há cada vez mais universitários”. “ Se calhar, noto é alguns com menos disponibilidade económica”, informa-nos.

Sem qualquer ajuda da Câmara Municipal do Porto, o Sr. Melo tem conhecimento de estabelecimentos que necessitam do apoio desta. Afir-ma que não tem pedido ajuda, mas também não tem “queixa”.

Quanto à ASAE e às restrições que esta colocou às tascas, pensa que “fez falta, porque veio impor algu-mas regras, mas, se calhar, entrou muito violenta”.

Quando questionado se o futuro da sua tasca é viver ou sobreviver, o Sr. Melo confessa: “enquanto tiver saúde e com algum espírito jovem que colho dos meus clientes, se ca-lhar, passa por viver”.

Mas mesmo sobrevivendo à desertificação, esta tasca já teve que ser modificada. Para a D. Lurdes, nome pelo qual é cari-nhosamente tratada, a Câmara do Porto e a ASAE são respon-sáveis por algumas alterações físicas ao estabelecimento “Isto já não é nada parecido com uma tasca porque uma tasca com inox tira todas as características das verdadeiras tascas. As tascas de antigamente eram pintadas, escavacadas, com azulejos…”

A proprietária acrescenta ain-da a importância da preservação destes locais. “Como toda a gen-te sabe, os grandes escritores e poetas nasceram das tascas. Nunca nasceram dos restauran-tes. Eles pernoitavam, ficavam solidários a pensar e daí saíam as grandes obras”, refere.

Olhando para o panorama ac-tual, a proprietária sugere ainda que “o nome ‘tasca’ praticamen-te já não existe” e garante que a “Badalhoca” não vai ter con-tinuidade. E tudo porque “…os meus filhos não querem nada disto”, afirma.

tERESA VIANASARA SOUSA

As regras impostas pela ASAE foram violentas

Uma tasca com inox tira todas as características das verdadeiras tascas

festa das tasquinhas. Existe a festa da Francesinha, a festa da cerveja… porque é que não fazem a festa das tascas do Porto? Cada tasquinha podia estar aberta, servia os seus pratos, tinha os seus petiscos… é dentro desse aspecto que eu acho que só com campanhas a esse ní-vel, se pode manter o património histórico e cultural do Porto.As tascas fazem parte do seu dia-a-dia? frequenta-as com regularida-de? Se sim, quais?De vez em quando vou a uma, ou vou a outra… a Adega Correia, ve-nho aqui várias vezes até por uma questão de proximidade com a coo-perativa. Também vou muitas vezes à Rua de Trás, a uma adega que se chama Adega Leandro. Às vezes vou, uma ou outra vez, à Badalhoca, por exemplo. Estive também há tempos numa adega que fica junto à Casa da Música, a Adega Soares Marques. Às vezes passo por essas adegas em função da minha vida.Pessoalmente, qual é sua tasca de eleição? Porquê?Há uma tasquinha que eu pesso-almente considero talvez a tasca mais tradicional do Porto. Exacta-mente porquê? Porque mantém a traça há 40 anos. Só pinta as pare-des… é na Rua D. João IV. Chama-se a Adega S. Martinho. A senhora que está lá faz contas em escudos e depois passa para euros. Aquilo não é uma adega, é um santuário. Mantém as coisas em madeira, os balcões ainda em mármore… é dos sítios que mantém uma tradição há mais de 40 anos. Não faz re-feições, só serve petiscos. Daquilo que eu conheço, é talvez a adega mais tradicional do Porto.face à mudança de mentalidades, acha que o futuro das tascas passa por… viver ou sobreviver?Eu acho que nesta altura é sobre-viver. O Porto está-se a tornar uma cidade de turismo e serviços. Dentro dessa perspectiva, as tascas podem sobreviver. Podem ser vistas como locais que podem ser visitados pelos turistas. Isto se houver desenvolvi-mento pela parte de quem gere a cidade. Se houver interesse e se não sobrecarregarem em demasia o comércio, pode ser que em certos lugares se mantenham. Com estes apoios e com roteiros turísticos elas podem-se manter. Agora, se não houver essa política, evidentemente que daqui a 10 anos estaremos re-duzidos a meia dúzia de tascas que sobrevivem.

DUAS DAS MAIS CARISMátICAS tASCAS DA CIDADE

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O processo colectivo de criar uma peça de Teatro Fórum para contar a história de uma opressão que faz parte do quotidiano de uma pessoa e que é partilhado por muitas ou-tras. Tal é mais importante do que a performance teatral em si mesma. Ensaiar os problemas que nos afec-tam como sociedade – a violência sobre as mulheres, a discriminação dos jovens de bairros sociais, o de-semprego de longa duração, a falta de acesso ao ensino superior por falta de financiamento –, criando uma atmosfera visualmente forte e de partilha colectiva, com o poder de nos “atirar” para o lugar do opri-mido e para a realidade da opressão. A consciência despertada desta for-ma sobrepõe-se ao sentimento de separação entre o indivíduo e a sua comunidade, que se foi progressiva-mente instalando na nossa cultura.

Depois de representada em palco a história, o público é chamado a participar, tendo a possibilidade de entrar em cena, de substituir o ac-tor (que representa o papel de opri-mido) e alterar o rumo da história que tinha inicialmente sido apre-sentada. O curinga (“joker”) medeia este diálogo entre o público, os acto-res e a história; é o “provocador de consciências” que utiliza a técnica de TO para estimular a procura de soluções para o problema em dis-cussão e para criar vontade de agir e transformar a realidade a partir do momento em que cada um dos “espect-actores” abandona o local onde assistiu à peça. O objectivo pri-mordial do TO cumpre-se quando a discussão sobre a peça é levada para a rua, se enriquece nas conversas de

café entre amigos e toma forma na acção quotidiana das pessoas.

A PEDAGOGIA DA ACçãO“Aprendemos a sentir, sentin-do; a pensar, pensando; a agir, agindo”(Declaração de Princípios da Associação Internacional do TO)

Augusto Boal, teatrólogo Brasilei-ro, é o mentor da metodologia do Teatro do Oprimido que sistemati-zou um conjunto de exercícios, jo-gos e técnicas teatrais, permitindo o ensaio de alternativas para situ-ações que se revelem como opres-sões na vida quotidiana. No TO “os cidadãos agem na ficção do teatro para se tornarem, depois, protago-nistas das suas próprias vidas”. O Teatro do Oprimido surgiu no Bra-sil em 1971, sob a forma de teatro jornal (representar uma notícia ou narrativa escrita), e desenvolveu-se num contexto social e político mui-to específico, que era o período de ditaduras vivido na América Latina. É influenciado pela Pedagogia do Oprimido criada pelo contemporâ-neo de Augusto Boal, Paulo Freire.

Actualmente a metodologia do TO é praticada em mais de 70 países, em escolas, prisões, centros sociais, associações, bairros, comunidades. É o exemplo pouco ortodoxo de uma metodologia criada no hemisfério sul que está a ser descoberta e apli-cada aos problemas sociais dos paí-ses mais industrializados.

tO NO PORtO: MULtIPLICAR O DIáLOGO NOS BAIRROS E NAS ESCOLASO Núcleo do Teatro do Oprimido do Porto (NTO Porto), sedeado na Asso-

Entram em palco os que participam numa peça de teatro Fórum. todos são convidados a intervir assumindo o papel de “espect-actores”.

6 ||Educ

ação

ciação Pele, surgiu há dois anos com o entusiasmo de um colectivo que desejava multiplicar a metodologia do TO nas escolas e nas comunida-des, promovendo o desenvolvimen-to humano através da arte. Hugo Cruz, coordenador do NTO Porto e curinga de TO, estagiário de Au-gusto Boal no Centro do Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro, mentor

de vários projectos de intervenção social e comunitária através desta metodologia, conversou com o JUP sobre a acção que o NTO Porto tem vindo a desenvolver junto de bair-ros sociais, escolas e na formação de estudantes universitários.

Um dos projectos de que se or-gulha, denominado “Nem Anjo nem Diabo”, é realizado em parceria com

O público é chamado a participar, tendo a possibilidade de entrar em cena, de substituir o actor e alterar o rumo da história

PEDRO FERREIRA

Teatro do Oprimido: o mundo que desejamos

A professora universitária Luisa F. Silva entra em cena e altera o rumo da história

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o Instituto Profissional do Terço, em que o palco serviu para os jovens institucionalizados fazerem ouvir as suas frustrações. O tema princi-pal foi a discriminação de que são alvo na escola por serem de bairros problemáticos e apresentaram uma peça de Teatro-Fórum em várias es-colas da cidade, no Teatro Rivoli e nas estações de metro do Porto. O projecto, inserido no Programa Es-colhas, recebeu um Prémio de boas práticas na inclusão através da arte.

Os estudantes e recém-licencia-dos da Universidade do Porto têm aderido em grande número à for-mação de introdução ao Teatro do Oprimido que o NTO Porto organiza regularmente em conjunto com a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Hugo Cruz considera “curioso terem aparecido muitos estudantes de Educação Física, mas também estudantes de Medicina, Sociologia, Serviço Social e de Tea-tro”, para além “dos estudantes de Psicologia e Ciências da Educação”.

UNIVERSItáRIOS ENSAIAM DEMOCRACIA PARA O PALCO DA ASSEMBLEIA DA REPúBLICAO primeiro projecto de Teatro Le-gislativo em Portugal iniciou no passado mês de Novembro uma digressão pelas principais escolas de ensino superior do país com o ob-jectivo de apresentar uma peça de Teatro-Fórum intitulada “Estudantes por Empréstimo”. A história retrata uma situação vivida actualmente por muitos estudantes de ensino superior - o “subfinanciamento do ensino superior” e a “insuficiência e critérios desadequados dos apoios da acção social” que têm como re-sultado o afastamento de estudan-tes do ensino superior pela ausência de recursos financeiros. “A educação

não é um direito igual para todos?” diz, indignada e em tom desespe-rado, uma das actrizes da peça a quem uma técnica dos serviços da acção social propõe que faça um empréstimo bancário ou realize tra-balho “voluntário” nos serviços da universidade.

As sessões pretendem criar um es-paço de democratização política em que se ouve a voz dos estudantes e se ensaiam soluções e propostas de alteração à lei em vigor, e que têm como meta final a apresentação na Assembleia da República. José Soei-ro, curinga com um universo diver-sificado de experiências de TO em comunidades e escolas e deputado pelo Bloco de Esquerda, é o impul-sionador desta iniciativa.

No decorrer da apresentação públi-ca do projecto no Porto, no passado dia 1, o público mostrou inquietude em face desta projecção da realida-de das universidades Portuguesas e não quis apenas bater palmas no fim do espectáculo. Multiplicaram-se propostas de acções concretas (fazer reportagens no Jornal Universitário, dialogar e envolver a Reitoria e as As-sociações de Estudantes) e ensaiou-se a convocatória de uma Assembleia de Estudantes com a participação de membros do público.

José Soeiro é a imagem de um de-putado pouco habitual. Isto porque, tal como diz em entrevista ao JUP, a política se “distanciou da realidade das pessoas que pretende servir” e porque a “linguagem política está excessivamente institucionalizada”.

Por tudo isto, afirmou Boal (1980) que “o teatro pode ser uma arma de libertação, de transformação social e educativa”.

mAriSA rAmOS GONç[email protected]

“A Internet já é primeiro consumo de Media”

As jornadas, organizadas pelo obser-vatório de ciberjornalismo do CE-TAC.media, tiveram como principal objectivo criar “um espaço de de-bate e reflexão sobre a actualidade ciberjornalística”.

Com um anfiteatro lotado, Antó-nio Granado, editor do Público.pt e professor na Universidade Nova de Lisboa, alertou para uma “descredi-bilização do jornalista” que se deve a “uma mudança brutal que está a transformar radicalmente o jor-nalismo”. Acredita que as universi-dades terão um papel essencial na reversão desta situação e que terão de apostar em 10 pontos para me-lhorar o ensino do jornalismo. Entre os quais, rever totalmente os seus currículos e colocar a tónica no em-preendorismo.

Num painel pleno de diversidade, Isabel Reis, jornalista da TSF, defen-deu que a rádio tem a função de ser “os olhos e os ouvidos do ouvinte”, que através de objectividade e emo-ção, deve transmitir não só imagens auditivas, mas também visuais. Con-clui que a ciber-rádio apresenta um défice muito grande relativamente à criação de um ambiente sonoro, dando primazia à declaração em detrimento de outros aspectos jor-nalísticos como nas notícias em destaque.

Luís Miguel Loureiro, jornalista da RTP, reflectiu sobre as questões ‘Pode o utilizador ser simplesmen-te espectador?’ e ‘Um dispositivo sem espectador pode continuar a chamar-se televisão?’ utilizando o exemplo do ‘O meu telejornal já não é o nosso’, da RTP online. Mas a pre-

ocupação tem também de abranger o modelo de design do jornal online. Foi a esta questão que Nuno Vargas, responsável pelo design do jn.pt, deu voz. Acredita que tem de exis-tir uma “correspondência entre o mundo real e o sistema”, e, acima de tudo, uma “interacção democráti-ca”, que terá de ser acessível a todos os utilizadores independentemente do seu nível de literacia.

Anteriormente, Fernando Zamith, um dos organizadores das Jornadas, havia destacado a importância e as potencialidades da Internet aquan-do da divulgação do ranking ObCi-ber 2009 e dos resultados do estudo anual sobre os sites noticiosos por-tugueses, que reconheceu o Jornal de Notícias Online enquanto dis-positivo online com maior grau de aproveitamento das potencialidades acima referidas, na órbita dos 55%.

Quem mereceu destaque foi Pe-dro Araújo e Sá, administrador do grupo Cofina, que acredita que num futuro próximo “haverá um esbati-mento de barreiras entre medias”. Os media tradicionais estão a per-der monopólio e há um aumento cada vez mais sentido da concor-rência. Neste momento, “a Internet já é primeiro consumo de Media em alguns países, como nos EUA”. Além disso, é líder no investimento publicitário.

O orador considera que em Por-tugal há uma “necessidade de alte-rações culturais profundas” pois “a transição digital implica que os gru-pos de media encontrem soluções criativas”. Os novos repórteres serão multitasking, terão aptidões a nível

Foi no dia 4 de Dezembro que se re-alizaram, pela segunda vez consecu-tiva, as Jornadas ObCiber da UP

do texto, áudio, imagem e vídeo. As-sim, a palavra-chave é formação. Em ciberjornalismo, a produção traduz-se em multiprodutoo mesmo conte-údo, mas com menos custos. Ainda assim, a qualidade e costumização do produto não podem ser descu-radas. Para Pedro Araújo e Sá o ci-berjornalismo em Portugal “ainda é visto como uma área um pouco obscura, um castigo”. Mas “o atraso relativo de Portugal neste processo permitirá a adopção de soluções já testadas e em funcionamento” nou-tros países. O orador não duvida que os media podem ter um futuro risonho ainda que perante um novo modelo de concorrência. “E passo a citar uma justificação darwiniana: ‘os que vão sobreviver não são os mais fortes, mas os que melhor se adaptam à mudança”, finaliza.

Quanto aos prémios de Ciberjor-nalismo 2009, na categoria “Bre-aking News” foi premiada a notícia ‘Morreu João Bénard da Costa’ do Público.pt. A reportagem multimé-dia vencedora pertenceu ao Jornal de Notícias Online, “Entre o dever e o haver”. “Vidas de Silêncio”, da Rádio Renascença, mereceu o pré-mio de vídeojornalismo e “Póquer: o jogo do momento” também do JN Online, o de melhor infografia digital. Já quanto ao ciberjornalismo académico, foi o Jornalismo Porto Net (JPN), que mereceu destaque com o Dossiê ‘Porto à Deriva’.

Estes prémios de Ciberjornalismo, visam reconhecer e premiar o me-lhor da produção ciberjornalística portuguesa.

No fecho desta edição das ObCi-ber, Javier Diaz Nocí colocou mais uma vez a tónica na ‘multiplatafor-ma’ e na necessidade de integração jornalística nesta nova realidade.

Para o ano, esperam-se mais dis-cussões no II Congresso Internacio-nal de Ciberjornalismo que se rea-lizará nos dias 8 e 9 de Dezembro. liliANA PiNHO

EDUCAçãO || 7

PEDRO FERREIRA

Deputado do BE, José Soeiro, moderador da peça de “Teatro Forum”

Page 8: JUP Dezembro 2009

JUP || DEZEMBRO 098 || EDUCAçãO

Ensino Superior: estudantes em Luta

No passado dia 17 de Novembro, estudantes universitários de todo o país saíram às ruas de Lisboa em protesto contra as políticas seguidas no Ensino Superior. Cer-ca de quatro mil estudantes mar-charam até à porta do ministério de Mariano Gago reivindicando mais financiamento público para as instituições e para a acção so-cial, que dizem ser insuficiente. A estas duas grandes bandeiras, que estavam na convocatória da ma-nifestação pela associação acadé-mica de Coimbra, os estudantes juntaram muitos outros proble-mas que vão vivendo, tais como o elevado valor das propinas, a perda de representatividade dos estudantes nos órgãos de gestão, a implementação de Bolonha que consideram ter sido incompleta e o estatuto do trabalhador-estu-dante. Levantaram-se ainda ou-tras questões mais específicas de cada realidade, como por exem-plo a dos estudante de Letras do Porto, que denunciava as várias barreiras arquitectónicas que vão dificultando a vida aos estudantes de mobilidade reduzida.

Presente neste protesto esteve também a questão dos emprésti-mos bancários que, acusam os es-tudantes, deriva da falta de meios dados aos serviços da acção so-cial. Segundo os dados mais re-centes, seis mil estudantes já ti-veram a necessidade de contrair empréstimos de forma a suprir as carências da acção social. O tom bastante plural das reivindi-cações foi um traço distintivo do protesto, sendo que um dos focos da atenção dos estudantes foi, como seria de esperar, o Ministro Mariano Gago, reconduzido por José Sócrates no final de Outu-

bro para a sua quarta legislatura à frente do ministério, depois de também ter sido por duas vezes a escolha de António Guterres para ocupar o cargo.

As críticas ao Ministro foram amplamente exaltadas com cân-ticos de “Não! Não! Não! À priva-tização!”, “A propina dói, a propi-na dói”, “Propina em cima! Bolsas em baixo! E rapa o tacho! E rapa o tacho! E rapa o tacho!”, ou o ha-bitual “estudantes unidos jamais

serão vencidos”. Também por pancartas em denúncia de uma “universidade gourmet” (foto), ou de uma reforma “bolonhesa” para estudantes “sem massa” e outras ainda menos ortodoxas nas referências como uma faixa onde se lia “Se o Gago podia vi-ver sem propinas? Podia… mas não era a mesma coisa!”.

Não foram apenas estudantes da capital que marcaram pre-sença: as academias de Coimbra,

de Lisboa, de Trás dos Montes e Alto Douro, do Minho, de Aveiro e de Évora apoiaram oficialmente o protesto, sendo a maioria dos presentes estudante em Lisboa e Coimbra. Já da Universidade do Porto, a maior do país, apenas estiveram presentes alguns estu-dantes que se deslocaram numa camioneta da associação de Le-tras, isto após a Federação Aca-démica do Porto não ter apoia-do a manifestação. A federação da maior academia do país, que festejou no passado dia 13 de No-vembro a dupla década de exis-tência, em assembleia de repre-sentantes decidiu não participar no protesto por preferir esperar pela apresentação do novo orça-mento de estado.

No ministério, onde culminou a manifestação, os representan-tes dos estudantes foram recebi-dos pelo Ministro, que prometeu prestar uma atenção redobrada às questões da acção social. O novo orçamento de estado, agen-dado para meados de Janeiro, é agora o momento chave que to-dos aguardam. JOSé mirANdA

O tom bastante plural das reivindicações foi um traço distintivo do protesto, sendo que um dos focos da atenção dos estudantes foi o Ministro Mariano Gago.

Estudantes de todo o país mostraram o seu descontentamento e denuncia-ram os vários problemas do Ensino Superior

Estudantes universitários juntos contra as medidas realizadas no Ensino Superior

IRINA CAStRO

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JUP || DEZEMBRO 09

Workshops na Universidade do Porto

ANA FORtUNA

UP organiza uma vez mais um conjunto de workshops. O canto gregoriano, escrita criativa, dança do ventre e Tai-Chi são algumas das actividades que a Reitoria propõe.À semelhança do que tem vindo a acontecer em anos anteriores, a Universidade do Porto volta a proporcio-nar uma série de diferentes formações. Estes cursos destinam-se não apenas aos alunos da Universidade mas também a toda a comunida-de em geral com o intuito de promover a mobilidade dentro da UP aos alunos de diferentes cursos e de várias zonas do país. Além disso, pretende direccionar as aten-ções para áreas de saberes muito distintos e comple-mentares ao quotidiano.Com várias áreas de interes-se, que se adequam à popula-ção estudantil mas também a quem pretende ver os seus conhecimentos enriquecidos, é possível encontrar uma variedade de ofertas que se multiplicam em oficinas de canto gregoriano, Workshop de História da percussão no Jazz, Tai-Chi Chuan e o Workshop de análise de ideias de investigação. É um conjunto de actividades que acontece durante o ano todo, alguns até realizam-se duas vezes por semestre, me-

diante a adesão ao workshop em causa. Os cursos facultam aos alunos, funcionários e docentes da Universidade do Porto um pequeno desconto que ronda os 10€ nos vários workshops, numa tentati-va de facilitar o acesso dos membros da UP aos serviços.Segundo Ruben Rodrigues, do gabinete dos cursos livres, “existem participantes de vários pontos do país que mostram um feedback muito positivo”, fruto também de um investimento efectuado pela Universidade em equipa-mentos, nomeadamente em máquinas digitais para assim proporcionar um melhor serviço aos formandos. O responsável refere que “os cursos com mais sucesso são os de escrita criativa, a dança do ventre e os cursos ligados à área da fotografia”. Os workshops contam com formadores externos e alguns em parceria com a Civiliza-ção Editora. As propostas são apresentadas ao gabinete dos cursos livres que são analisadas tendo em conta o conteúdo programático, o custo e o próprio formador. Estas são avaliadas e sujeitas a uma aprovação por parte de Manuel Janeiro, o Reitor da Cultura e Lazer, que faz questão de ter uma palavra final em relação às propostas apresentadas.

EDUCAçãO || 9

Acabaram as mesas verdadeiramen-te redondas, onde cada ápice do raio era uma pessoa exactamente igual às outras. Os que aceitaram o convi-te do jornal “Tribuna”, órgão gerido pelos estudantes da FDUP (Faculda-de de Direito do Porto), apresenta-ram-se lado a lado, entregando as memórias das próprias experiências como instrumento de reflexão.

Começou Raquel Louçã, Directo-ra do Mundo Universitário (MU). Desde 2004, Raquel é responsável do jornal quinzenal, criado para “atacar” um mercado que vai de Braga até Faro. Raquel contou-nos as dificuldades em trabalhar num órgão profissional que está fora da Universidade e que, portanto, tem menos margens de manobra em comparação com quem está lá dentro. “Mas o empenho e a dedi-

cação é sempre a mesma!”, asse-gura. E não custa acreditar: a re-dacção do MU conta só com duas pessoas para gerir a grande rede de colaboradores externos.

Vasco Baptista foi o representan-te do coimbrense “A Cabra”. O Di-rector Executivo falou com orgulho de uma redacção histórica compos-

Três vozes do Jornalismo Universitário

ta por quase 15 elementos de dife-rentes faculdades. O motivo desse orgulho são também as edições es-peciais que ao longo dos anos mar-caram a vida académica, não só de Coimbra mas do país inteiro.

A seguir foi a vez de Carlos Da-niel Rêgo, antigo director deste mesmo jornal, o “JUP” (agora Jor-nal da Academia do Porto).

Os testemunhos do mundo jor-nalístico universitário cruzaram-se com o julgamento e as recordações dos que já contam décadas de mili-tância no mundo da informação.

O jornalista e escritor César Prín-cipe evidenciou as diferenças entre um jornal amador (onde a participa-ção é fruto de uma vontade pessoal e o jornalista tem uma margem de manobra bastante ampla) e um jor-nal profissional (onde a militância é devida e é sujeita a uma série de condicionantes). Sabiam que, em 2008, as palavras mais publicadas pela imprensa portuguesa foram Benfica e Futebol? Com sabedoria, esta estatística foi entregue por Cé-sar Príncipe quase como pretexto para rasgar um sorriso, mas dentro do Salão Nobre todos perceberam a ironia amarga contida naquele dado de facto.

Dulcis in fundo para a receita pessoal de Paulo Ferreira, Sub-director do “Jornal de Notícias”, que enumera as sete regras de ouro para encarar com a profis-são de Jornalismo: sofrer, espe-rar, ter curiosidade, saber fazer perguntas e transportá-las para o papel, ter sorte e trabalhar. Muito. EdGArdO CECCHiNi

SARA MOREIRA

Participar num jornal amador resulta na vontade pessoal

As sete regras de ouro para encarar com a profissão de Jornalismo: sofrer, esperar, ter curiosidade, saber fazer perguntas e transportá-las para o papel, ter sorte e trabalhar

Os maiores jornais universitários do país respondem ao convite do “tribuna” para debaterem jornalismo académico

O JUP ERROU

Na peça intitulada “E depois da Festa, há vida no Porto?” (Ed. NOV. pág. 2 e 3) o autor é José Miranda.Na peça intitulada “Oito Selecções já confirmaram presença” ( Ed. NOV, pág. 21) a foto devia ter sido credita a “GADUP - Nuno Gonçalves”.Na peça intitulada “Escravos do Preconceito”(Ed. NOV. pág. 26) o autor da foto é Pedro Ferreira.Aos visados, as nossas desculpas.

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JUP || DEZEMBRO 09

Desenvolver competências que possibilitem a abertura à sociedade, com todas as dificuldades e impedi-mentos, mas sobretudo a procura da aceitação e um tratamento não diferenciado socialmente: estes são os baluartes de um projecto dife-rente que tentou mudar o modo como a sociedade vê o autismo.

No decorrer de um habitual conselho de turma surgiu a ideia de envolvimento com o autismo e a procura de novas soluções para interagir com jovens autistas. O desafio foi aceite por duas profes-soras que agarraram o projecto de corpo e alma. Assim, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, o Ex-ternato Pedro Nunes (em Vila Nova de Gaia) estabeleceu um protocolo com a APPDA Norte (Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo). O projecto consistiu na transformação de um dos contos do livro “Contos Soltos”, escrito por André Vilaça, num texto dramático para ser re-presentado por todos em Maio. De Janeiro a Maio de 2009 os alunos

Autismo: apenas mais uma maneira de ser normalViver com autismo significa conviver com condicionantes cognitivas e emocionais. Contudo, tal condição não implica a separação nas vivên-cias e nos afectos.

Alunos preparam o projecto em conjunto

10 || SOCIEDADE

SUSANA ALMEIDA

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JUP || DEZEMBRO 09

muito surpreendentes, “já fui agre-dida por alguns deles durante estas crises”. A responsável justifica os ac-tos mais violentos devido às fortes dores que sentem, mas que, devido ao seu défice de comunicação não conseguem transmitir, reflectindo “um sofrimento retraído e que eles não conseguem explicar devida-mente”. Por outro lado, a agressão nem sempre é externa, resultando em auto-agressões que por vezes chegam a provocar a cegueira, já que ferem os olhos constantemen-te. Pais e técnicos sentem-se impo-tentes perante esta situação. “Esta é talvez uma das maiores dificuldades no meu trabalho diário, porque não sei como ajudá-los. É frustrante”, la-menta a auxiliar.

A evolução no autismo é feita sem ânsia de resultados imedia-tos, pois não vale a pena exigir a estas crianças o que nem sempre podem dar. Inês Freitas valoriza esta gradação no desenvolvimen-to, mesmo que seja sentida em pequenos momentos de contacto, “qualquer evolução é significativa e irá ajudá-las a integrarem-se na sociedade”. A importância de uma aposta no desenvolvimento logo nos primeiros anos de vida é es-sencial para que os resultados se-jam mais visíveis e permanentes. Tal implica um auxílio dos técni-cos de saúde e de educação em geral de modo a que “mais poten-cialidades sejam dadas à criança para que esta se possa desenvol-ver da melhor maneira possível e envolver-se na sociedade”, ressal-ta Inês Freitas.

Mas a pouca capacidade para comunicar e o atraso no desen-volvimento cognitivo não signifi-cam necessariamente a completa apatia destes jovens perante a sociedade e o processo de apren-dizagem. Marta Colim conclui que estas crianças “são muito inteli-gentes. Ensinam-nos coisas só com o olhar ou sorriso, pedem beijos. Ninguém pense que um autista é burro, pelo contrário”.

A responsável não esquece tam-bém a discriminação que por ve-zes observa em relação aos jovens autistas que acompanha, “durante as saídas que fazemos as pessoas olham muito para eles e também para nós. Olham com desagrado e isso irrita-me profundamente”. Mi-nimizar esta sensação de diferença na sociedade era também um dos objectivos que este projecto con-

da APPDA mantiveram contacto com os alunos de 12º ano de Área de Projecto, no Externato. Participaram em diversas actividades, como pin-tar, colar, recortar e principalmente conversar. O objectivo era sobretudo “sensibilizar a sociedade sobre o au-tismo e trabalhar a interacção, sem ser de uma forma preconceituosa”, salienta Lígia Santos, professora do Externato e responsável pela disci-plina de Área de Projecto.

O resultado prático do processo em Maio foi de extrema importân-cia para o grupo, pois os partici-pantes ficaram orgulhosos de si próprios, o que aumentou a sua motivação para novos desafios. Lígia Santos exalta tal momento, descrevendo-o como “algo de in-descritível, porque ultrapassou tudo aquilo que qualquer um de nós pensava ser capaz de fazer”.

Natália Correia é professora do Externato Pedro Nunes e colabora-dora na área da Educação Física da APPDA. Esta “dupla-personalidade” como a própria assume, tornou-a no elo de ligação entre as duas

instituições. A professora percebeu desde cedo o potencial do projecto, já que “uma parceria entre as duas instituições traria benefícios óbvios para todos os intervenientes”.

Natália realça a importância do projecto para os seus alunos no Ex-ternato: “penso que este projecto os fez crescer como pessoas, passa-ram a perceber que ser “normal” é só mais uma maneira de ser, entre tantas outras”.

O AUtISMO VIStO POR DENtROInês Freitas é terapeuta da fala e trabalha directamente com crianças autistas, o que considera uma activi-dade de “grande emoção e expecta-tiva constante, já que ainda há mui-to o que descobrir sobre o autismo, o que torna o nosso trabalho ainda mais fascinante”. Tal implica “muita dedicação e calma, respeito e muita força de vontade, não apenas por parte dos terapeutas e, claro está, das próprias crianças”. Fernanda (nome fictício), mãe de uma dessas crianças aponta os problemas que constatava antes do contacto com

a terapeuta: “O meu filho não me olhava nos olhos, chorava quando lhe pegávamos ao colo, não res-pondia quando o chamávamos e não dizia uma única palavra. Ele foi para a terapia com cerca de um ano e meio”. Agora com seis anos, as diferenças são evidentes: “o seu desenvolvimento está a ser notório e nós como pais estamos muito sa-tisfeitos com a sua evolução”.

Por outro lado, Marta Colim, au-xiliar de acção directa da APPDA-Norte é quem acompanha os jo-vens (sobretudo durante o período nocturno) que estão institucionali-zados e realça a existência de um carácter especial de quem tem autismo porque “não são doentes fáceis, não gostam que se quebrem as rotinas. Facilmente tornam-se obsessivos com algumas das activi-dades que realizamos”. Inês Freitas concorda com esta especificidade, já que “cada caso é um caso e para cada criança, uma história de vida diferente”, por isso põe em prática um plano terapêutico muito direc-cionado, pensado para cada criança individualmente.

Contudo, nem sempre é fácil esta-belecer comunicação com as crian-ças autistas. Conseguir, de facto, fa-zê-lo, é para a terapeuta da fala uma grande conquista pela qual vale a pena lutar. Não obstante, a imprevi-sibilidade nas suas atitudes pode le-var a situações de exigente controlo. Marta Colim conta que apesar de es-tes jovens serem muito medicados, as crises são frequentes e, por vezes,

Nem sempre é fácil estabelecer comunicação com as crianças autistas. Conseguir, de facto, fazê-lo, é para a terapeuta da fala uma grande conquista pela qual vale a pena lutar.

A evolução no autismo é feita sem ânsia de resultados imediatos, pois não vale a pena exigir a estas crianças o que nem sempre podem dar.

TATiANA [email protected]

SUSANA ALMEIDA

Definição

O Autismo é uma perturbação do desenvolvimento global da criança, caracterizada pela presença simultânea de uma tríade de perturbações (tríade de Wing). Revela-se nas dificuldades na interacção social e a nível da comunicação, dificuldade no jogo simbólico (em brincar, jogar ou imaginar) e na aprendizagem. “Alguns são muito afectivos, embora alguns evitam o toque, o que acaba por ser o mais comum”, explica Marta Colim. Podem apresentar estereo-tipias (movimentos repetitivos) e doenças relacionadas como a epilepsia, a esquizofrenia, a hiperactividade e o síndrome de Asperger (distingue-se do au-tismo clássico por não influenciar negativamente no desenvolvi-mento cognitivo ou da linguagem do indivíduo, verificando-se essencialmente um défice na capacidade comunicação) – este é o caso do de André Vilaça.O Autismo manifesta-se preco-cemente e é mais frequente no sexo masculino. Aliás, a relação homem mulher é de 4 para 1. Na maioria dos casos é possível estabelecer um diagnóstico entre os 18 e os 36 meses. A doença passa por diferentes graus: o completamente autónomo em que as perturbações não são tão fortes, o moderado e o profundo que requer cuidados especiais e muito específicos. A origem do autismo ainda está por esclarecer mas admite-se que o Defeito Básico seja provo-cado por uma disfunção cerebral, seja ele definido a nível neurosi-fisiológico, neuro-patológico ou psicológico.

|| 11 Soci

edad

eEnsaios da peça

representada pelos alunos.

Professora Lígia Santos acompanha a turma, tendo a vista a concretizaçao do projecto final

SUSANA ALMEIDA

templava. E segundo Lígia Santos, tais objectivos não podiam ter tido resultados mais favoráveis: “Sem presunção, penso que, mesmo pe-las opiniões auscultadas no fim, os anseios iniciais foram largamente preenchidos, levando-me ao espan-to. Nenhum dos envolvidos conti-nuou a mesma pessoa”.

Page 12: JUP Dezembro 2009

JUP || DEZEMBRO 09

A pandemia da gripe está aí e já chegou à Academia do Porto. São muitos os cartazes espalhados pe-las faculdades que alertam para a lavagem das mãos e outras medi-das preventivas. Mas até que pon-to isso não passa de alarmismo?

O vírus da Gripe A (H1N1) é mais um dos subtipos do grupo Influenza, responsável pela gripe comum. A natureza desse vírus permite-lhe mutações, isto é, for-mar novos subtipos num deter-minado período. Acontece que a mutação e a transmissão do H1N1 ocorre com maior rapidez e facili-dade do que a de vírus anteriores. São essas as características que têm preocupado a comunidade médica. Por isso, torna-se neces-sário redobrar os cuidados tão publicitados.

Mas é preciso ter atenção, pois não há motivos para alarmismos. A gripe é uma das doenças que anualmente atinge milhões de pessoas, vitimando entre os 250 e 500 mil, um número muito su-perior ao actualmente verificado para a Gripe A.

Segundo as médicas Elsa Cala-do, do serviço de Microbiologia, e Madalena Alves, do serviço de Cuidados Intensivos, ambas do Hospital Santo António, o media-tismo a que se assiste é exagera-do, alcançando as camadas mais jovens, entre os 20 e os 40 anos. As especialistas constataram que, ao menos, as reverberações me-diáticas auxiliaram que a prática clínica da frequente lavagem das mãos tenha saído do meio hospi-talar para se alargar a toda a co-munidade.

A verdade é que a divulgação

Gripe A: prevenção ou alarmismo?

Divulgação em torno da propagação do virus H1N1 veio reforçar medidas de higiene e prevenção.

12 || SOCIEDADE

PUBLICIDADE

de medidas preventivas ajudou os mais descuidados e reforçou os comportamentos de higiene. O importante é que essas práticas permaneçam com ou sem a Gripe A. diOGO CArNEirO, filiPA PEdrOSA,

mAriA JOãO SilvA, NUNO fONSECA E

PAOlA BOTElHO.

Em todos os corredores, gel desinfectante para as mão

e instruções de prevenção.

A verdade é que a divulgação de medidas preventivas ajudou os mais descuidados.

MANUEL RIBEIRO

Page 13: JUP Dezembro 2009

JUP || DEZEMBRO 09 || 13 JUPB

OX

HELENA LOURENçOEstudante (secundário)

Era mais bonito assim, dava um ar mais saudável á cidade. No Porto a maior parte das pessoas vive em apartamentos e este es-paço era bonito e acolhedor para descontrair e estudar!

CARLA VILELAAuxiliar Administrativa

Gostava mais quando tinha o jardim, era mais bonito! Agora baseia-se em “cimento”, basi-camente dava mais despesa ter jardim. Para os eventos é sempre mais prático assim!

PAULO NUNESEconomista

Isto é um nojo! A construção do metro do Porto não pressupunha que se tinha de acabar com o jardim tão bonito que havia na superfície para construir pedra sobre pedra.

VítOR MIGUELtrabalhador/Estudante

Neste momento a arquitectura acaba por ser menos bonita, no entanto, o espaço foi melhor aproveitado.

O que significa para ti esta imagem?

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JUP

móNiCA [email protected]

Page 14: JUP Dezembro 2009

JUP || DEZEMBRO 09

LOJA U.PORtO

Numa altura em que o Natal se anuncia em grande estilo nas montras das lojas, existem pre-sentes habituais e com lugar ga-rantido numa qualquer lista de compras. Mas, e se a esses mes-mos presentes lhe acrescentares um toque diferente, capaz de fazer de cada prenda algo único e especial para quem as recebe? Pois bem, é isso que podes en-contrar em plena Baixa do Por-to, na exclusiva Loja da Univer-sidade do Porto.A Loja da U.Porto tem conquis-tado a atenção de toda a comu-nidade académica e do público em geral que por ali passa. Tudo isto através de uma vasta gama de peças exclusivas e autenti-cadas com o selo de qualidade Universidade do Porto. E porque numa lista de presentes são muitos os gostos a satisfazer, a oferta da Loja foi pensada para ir de encontro a todas as idades e preços. Assim, para os amantes da moda, a proposta passa por bolsas de todas as cores ou por um con-junto de relógios para homem e mulher. Já quem estiver a equipar a casa, pode optar por adquirir um

serviço de café, para logo pensar na decoração, a qual poderá en-riquecer com velas de vários fei-tios. Entre artigos de papelaria e escritório há ainda espaço para o entretenimento, garantido por um jogo de xadrez cinzento e lilás, um xilofone em forma de “arco-íris” ou por um mikado que promete fazer as delícias dos mais novos.A partir de 12 de Dezembro, será também possível visitar a Gale-ria dos Leões, espaço concebi-do pelo arquitecto Manuel Reis numa sala situada no prolon-gamento da Loja da U.Porto. A Galeria vai procurar ser um es-paço privilegiado de exposição e de realização de iniciativas dos estudantes e docentes da FBAUP. Apresenta-se assim uma alterna-tiva válida a todos que, em plena Baixa do Porto, quiserem conhe-cer os talentos gerados na esco-la que deu a conhecer ao mundo nomes como Henrique Pousão ou Soares dos Reis.

Loja U.Porto

Horário de Funcionamento

10h – 19h

www.loja.up.pt

14 ||

AGENDA

A PARtIR DE 12 DE DEZEMBRO

GALERIA DOS LEõES – REItORIA

DA U.PORtO

Espaço privilegiado de exposição

e de realização de iniciativas dos

estudantes e docentes da FBAUP.

Segunda a Sexta das 10h às 19h,

Entrada Livre.

14 DE DEZEMBROSESSãO DE ESCLARECIMENtO

PARA PROGRAMA ERASMUS

Estudantes da U.Porto que pretendam

saber como se candidatar ao

programa no próximo ano lectivo.

14h30, Salão Nobre da Reitoria (Praça

Gomes Teixeira) Entrada Livre

I WORKSHOP EM BOtâNICA

FORENSE

A (FMUP) e a Delegação do Norte do

Instituto Nacional de Medicina Legal

(INML) organizam a iniciativa.

Inscrição: 30 euros (até 11/12/2009 na

Divisão Académica da FMUP).

A realizar-se na Delegação do Norte

do Instituto Nacional de Medicina

Legal sita no Jardim Carrilho Videira,

4050-167 Porto. 8h45 e as 18 h.

16 DE DEZEMBRO

CONFERêNCIA: “CONtROLO DE

QUALIDADE DOS ALIMENtOS”

Conferência com três palestras.

Entrada Livre com Inscrição

Obrigatória.

No site: http://sigarra.up.pt/ffup/

noticias_geral.ver_noticia

17 A 19 DE DEZEMBROWORKSHOP DE EDIçãO EM

XILOGRAVURA JAPONESA COM

HIROSHI MARUyAMA

Taxa de inscrição: 95 euros

Comunidade em Geral: 140 euros

17 Dez. 14h - 20h

18 Dez. 9h - 13h / 14h - 20h.

(Presença de Mr. Maruyama da parte

da tarde).

19 Dez. 9h00 - 13h00

Contactos Prof. Graciela Machado

[email protected]; Prof Paulo

Luís de Almeida [email protected]

Organização e Local: MDTI, mestrado

em Desenho e Técnicas de Impressão

FBAUP, oficina de técnicas de

impressão .

Av. Rodrigues de Freitas

265 4049-021 Porto PORTUGAL

17 DE DEZEMBRO E 14 DE JANEIRO

DIáLOGOS COM A CIêNCIA

A criação de diálogos entre vários

campos do saber é o principal

objectivo desta iniciativa que conta

sempre com vários especialistas das

áreas debatidas.

CIÊNCIA E ESOTERISMO

17 Dezembro 2009 - 21h30

Maria Flávia de Monsaraz, Luís Resina

e Estela Guedes

CIÊNCIA E CIDADANIA

14 Janeiro 2010 - 21h30

Fernando Nobre, Adriano Moreira e Rui

Marrana. Salão Nobre da Reitoria da

Universidade do Porto. Entrada Livre.

18 DE DEZEMBROPALEStRA: “RECENt RESEARCH ON

DyNAMIC EFFECtS ON RAILWAy

INFRAStRUCtURE”

Palestra de José Maria Goicolea, da

Universidade Politécnica de Madrid.

15horas. Sala Nobre do Departamento

de Engenharia Civil, G130, FEUP.

Entrada Livre. Contactos:

Ana Martins - Tel: 220408193

E-mail: anamartins@reit.

up.pt;[email protected]

19 DE DEZEMBROVII WORKSHOP DE DANçA

CONtEMPORâNEA DA U.PORtO

Local da inscrição: Gabinete de

Cultura, Desporto e Lazer da Reitoria

da Universidade do Porto

Local do Workshop: Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto

Horário: 10h às 13h e das 14h30 às 17h

Preços: 15€ UP | 25€ fora UP

Inscrições até 16 de Dezembro ,

limitadas a 25 participantes –

Ana Martins: [email protected]

ou Ruben Rodrigues: rrodrigues@reit.

up.pt; Tlf. 220408193

Até 31 DE DEZEMBRONAtAL N’ UPORtO – AtELIERS

DE NAtAL

A Universidade do Porto vai organizar

de 21 a 30 de Dezembro de 2009,

actividades de carácter artístico,

lúdico e criativo , orientadas para

crianças dos 5 aos 10 anos.

O objectivo desta acção é ocupar os

tempos livres das crianças durante as

férias do Natal, aproximando-os das

artes plásticas, do desenho, da expressão

musical e da expressão dramática.

“CHARLES DARWIN (1809-2009) -

EVOLUçãO E BIODIVERSIDADE”

Última oportunidade para viajar pelo

legado do cientista inglês e

assinalar, assim, o bicentenário do

nascimento do cientista.

Reitoria da U.Porto

10h às 19h. Entrada livre.

Até 7 DE JANEIROEXPOSIçãO - DIáRIO DE UM

EStUDANtE DE BELAS ARtES -

HENRIQUE POUSãO (1859 - 1884)

Museu Nacional de Soares dos Reis

Horário - Terça-feira, das 14h às 18h; de

quarta-feira a domingo das 10h às 18h

Comissária: Lúcia Matos, professora da

Faculdade de Belas Artes da U.Porto.

7 E 8 DE JANEIRO WORKSHOP E-LEARNING U.PORtO

Nos próximos dias 7 e 8 de Janeiro terá

lugar, no Anfiteatro Nobre da Faculdade

de Letras do Porto o Workshop de

e-learning, destinado aos estudantes da

Universidade do Porto.

O Workshop de e-learning tem como

objectivos dinamizar a utilização da

NTE, criar uma comunidade académica

com interesses comuns, fomentar a

utilização dos recursos electrónicos

- Internet - no processo de Ensino e

Aprendizagem e avaliar o interesse do

e-learning na melhoria da qualidade

do ensino. Para te inscreveres basta

preencheres um formulário on-line no

site do e-learning na U.Porto.

Entrada Livre.

Até MARçO 2010

NOMADIC.0910 – ENCONtROS

ENtRE ARtE E CIêNCIA

Projecto Artístico/Instalação

“OPITÓI-RAC”

Faculdade de Farmácia. Átrio. Elsa

Bronze da Rocha, Faculdade de

Farmácia, convidou Acácio de Carvalho

e Manuela Bronze, artistas plásticos, a

reflectirem sobre o conceito de cariótipo

humano e utilizarem-no como ponto de

partida para a criação de um projecto

artístico. Entrada Livre. Mais informação

em: http://nomadic.up.pt

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JUP || DEZEMBRO 09 || 15 UPo

rto

Universidade do Porto mais internacional

BREVES

A Universidade do Porto recebeu mais estudantes e investigadores estrangeiros em 2008/09 do que em qualquer outro ano da sua história: 2500 estudantes e investigadores de todo o mundo. Este valor traduz um aumento de 7,4% em relação ao re-gistado em 2007/2008 e representa já 8,3% do total de estudantes da UP.

Em 2008/2009, foi possível en-contrar entre as salas de aula e os laboratórios da Universidade cida-dãos de 77 países diferentes, como Bangladesh, Congo, Índia ou Tai-

lândia. A ascensão nos principais rankings internacionais de insti-tuições do Ensino Superior acaba por ser o reflexo lógico de uma estratégia que, até 2011 (ano do centenário), visa fixar a U.Porto no top 100 das instituições de Ensino Superior europeias. Um objectivo que ficou mais próximo com as su-bidas registadas, ao longo do ano passado, nos rankings de investi-gação: Taiwan (140º na Europa) e Scimago (109º na Europa), e no Webometrics (40º na Europa).

Investigadora do INEB distinguida pela L´Oreal

Ganha prémios por ajudar a criar um mundo melhor

Maria José Oliveira é uma das três jovens cientistas que, este ano, re-cebeu as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciên-cia. A investigadora do INEB (Insti-tuto Nacional de Engenharia Biomé-dica), associação da qual a U.Porto é uma das entidades fundadoras, re-cebeu, na Academia das Ciências de Lisboa, a Medalha de Honra e os 20 mil euros de financiamento destina-dos a cada uma das galardoadas.

A investigadora viu assim reco-nhecida a qualidade e a pertinência

A maior competição internacional de tecnologia destinada a estudan-tes do ensino superior passou pela Universidade do Porto no início de Dezembro. A Microsoft levou até ao E-learning Café da U.Porto o seu roadshow de apresentação da “Imagine Cup 2010”.

Dividido em três categorias - De-sign de Software, Desenvolvimento de Jogos e Artes Digitais - a “Imagi-ne Cup” desafia equipas de 4 estu-dantes a Cria um projecto inovador onde a tecnologia ajuda a resolver

científica do seu actual projecto so-bre o cancro, desenvolvido em par-ceria com o IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da U.Porto) e o IBMC (Instituto de Biologia Molecular e Celular).

Maria José Oliveira doutorou-se em Ciências Médicas na Universida-de de Ghent, na Bélgica, em 2004, e é hoje professora afiliada da Faculda-de de Medicina da U.Porto, activida-de que desenvolve em paralelo com o seu trabalho no Departamento de Engenharia Biomédica do INEB.

os problemas mais graves da hu-manidade (definidos pelos 8 Objec-tivos do Milénio da ONU).

Todos os projectos serão analisa-dos e os mais exequíveis serão fi-nanciados e postos em prática. Os vencedores da final nacional irão representar Portugal na final mun-dial a realizar-se na Polónia. Aí, vão habilitar-se a ganhar até 25.000 Eu-ros e muitos outros prémios.

Todas as informações sobre a “Imagine Cup” estão disponíveis em www.microsoft.pt/imaginecup.

Voluntariado na academia

Na véspera do último Dia Interna-cional do Voluntariado, celebrado a 5 de Dezembro, a Universidade do Porto apresentou publicamen-te a Comissão de Voluntariado da U.Porto, estrutura que pretende reunir e coordenar num mesmo es-paço todos os projectos de volunta-riado da Universidade, promovendo simultaneamente uma maior parti-cipação de estudantes, docentes e funcionários nos esforços de apoio à comunidade.

De facto, a Universidade do Porto está empenhada em contribuir para o desenvolvimento social da comu-nidade em que se insere, estimu-lando entre a academia uma maior cultura da participação, através da prática do voluntariado entendida enquanto expressão cívica e de ci-dadania corporizada em iniciativas que vão desde o desenvolvimento

U.Porto apresentou o seu mais re-cente grupo de trabalho: a Comis-são de Voluntariado da U.Porto

de processos de inovação até ao su-porte e execução de programas.

Neste momento, existem já cerca de 10 iniciativas organizadas de vo-luntariado na Universidade do Porto, dividindo-se pelas várias faculdades da U.Porto e por acções tão díspares como o apoio tutorial a alunos do Ensino Básico e Secundário ou a es-tudantes universitários estrangeiros e o desenvolvimento de acções de assistência humanitária.

A Universidade pretende agora recolher e organizar a experiên-cia adquirida destes grupos autó-nomos para criar uma estrutura, a Comissão de Voluntariado da U.Porto, capaz de organizar e ex-pandir por toda a academia este espírito de missão.O primeiro pas-so neste sentido foi dado no dia 4 de Dezembro último, com a reali-zação do I Encontro do Voluntaria-

do da Universidade. No Salão No-bre da Reitoria reuniram-se, pela primeira vez no mesmo local, as várias estruturas de estudantes vo-luntários já existentes na U.Porto, entidades nacionais de apoio ao voluntariado e organizações de re-cepção de trabalho voluntário.

Representantes do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado, de entidades em-pregadoras e de organizações não governamentais deram o seu tes-temunho quanto ao facto do vo-luntariado ser um apreciável fac-tor de desenvolvimento pessoal, social e educativo no percurso de um estudante universitário.

Depois, os grupos de voluntariado existentes na Universidade do Porto, deram-se a conhecer publicamente através dos seus principais respon-sáveis, que tiveram oportunidade de apresentar os projectos em que se encontram envolvidos.

Conhecida a realidade actual, foi tempo de colocar em debate algu-mas propostas concretas para a promoção e o desenvolvimento do voluntariado na Universidade.

Como primeira consequência desta discussão ficou a promes-sa da criação de uma Bolsa de Voluntários, constituída por fun-cionários, docentes, estudantes, aposentados e antigos alunos que desejem participar nos projectos de voluntariado organizados pela Universidade. Os interessados po-dem inscrever-se através do e-mail [email protected].

DIREItOS RESERVADOS

Os grupos de voluntariado existentes na UP deram-se a conhecer publicamente

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JUP || DEZEMBRO 09

“HOPENHAGEN” :PrOvirá “EsPErANçA” dE COPENHAGA?

A conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a decorrer em Copenhaga, vai na 15ª edição e será aquela que muitos designam como “a derradeira oportunidade para salvar o planeta”. O mundo aguarda por um “tratado justo, ambicioso e vinculante”. O 12 de Dezembro de 2009 fica assinalado pelas in-úmeras acções de manifestação marcadas a nível planetário através da organização “Avaaz” que signifi-ca “voz” em várias línguas. No Porto estavam previstas 3 vigílias em diferentes locais da cidade mas apenas duas tiveram alguma ex-pressão, nos Aliados e na rotunda da Boavista. O JUP esteve lá e mostra-lhe como foi.

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MANUEL RIBEIRO - AV. DOS ALIADOS

IGOR GONçALVES - AV. DOS ALIADOS

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Jogos Galaico-Durienses: UP termina em 4ºMesmo com mais vitórias na competição, a UP não conseguiu atingir o pódio. Mas o mais importante foi cumprido: espírito de equipa, convívio entre atletas e muito empenho.

Campeonato amador ainda arrasta adeptos

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JUP || DEZEMBRO 09

Os Jogos Galaico-Durienses são já um dos pontos altos do Desporto Universitário do Norte de Portu-gal e da Galiza. Entre 24 e 26 de Novembro, seis Universidades, três do Norte de Portugal e três da Galiza, disputaram a vitória na competição, que é atribuída de-pois da soma dos pontos de todas as provas realizadas. Este ano, a universidade anfitriã foi a Univer-sidade de Santiago de Composte-la, na Galiza. O JUP acompanhou a comitiva da Universidade do Por-to durante os três dias da com-petição, e viu a equipa da casa a subir ao lugar mais alto do pódio. A UP foi a melhor Universidade portuguesa, mas ficou-se pelo quarto lugar.

misturavam-se os gigantes do Basquetebol com os representan-tes do Xadrez, as raparigas do An-debol com os rapazes do Volei-bol. Sorridente, Bruno Almeida, director do Gabinete de Desporto da UP, referia que o importante destes jogos é mesmo o convívio. No entanto, não deixava de pen-sar na parte desportiva. Alguns dias antes do início da compe-tição, o responsável do GADUP adiantava que o “objectivo míni-mo” era o 3º lugar. Afinal, a UP é a Universidade que conta com mais vitórias nos Jogos Galaico-Durienses. Os estudantes (naque-les dias desportistas) até estão habituados a alguma pressão, já que muitos competem ao mais alto nível. Mas a ansiedade, no momento da partida, era nula. A boa-disposição e a tranquilidade reinava em quase toda a gente. Menos em Bruno Almeida, que continuava atarefado de um lado para o outro, a tentar perceber por onde andavam os atletas que ainda não tinham chegado.

De facto, qualquer baixa seria um duro golpe nas aspirações da UP, já que tinha sido complicado formar todas as equipas e conse-guir participantes para todas as modalidades. Alguns, como José Araújo, que ia representar a UP no duatlo (natação e corrida), ti-nham sido convocados no último minuto. “É uma altura compli-cada, a maior parte dos alunos estão numa fase de entrega e apresentação de trabalhos”, ex-plicava Ana Carneiro, da FADEUP. “Nesta altura, quase ninguém se pode dar ao luxo de estar 3 dias longe do Porto, ainda por cima com as exigências do Processo de Bolonha”, acrescentava. Apesar destas condicionantes, foram 42 os atletas a responder à chamada da UP, e a representar a Universi-dade na competição.

Antes de a viagem começar, ainda houve tempo para um de-safio... curioso. João Costa, Cam-peão Nacional Universitário de Xadrez, foi desafiado a prestar provas frente aos jogadores da equipa de Basquetebol. Aliás, o desafio inicial seria para uma partida de Xadrez entre João Costa e um dos membros da equipa de Basquetebol, mas o xadrezista atirou: “jogo sozinho contra vocês todos”. A confiança era muita, portanto.

RUMO A SANtIAGOA chamada começou bem cedo, pouco passava das 8 horas da manhã. A partida para a Galiza estava marcada para as 8h30, mas os hábitos portugueses fa-laram mais alto, e a comitiva seguiu apenas por volta das 9h. Em frente à entrada principal da FADEUP, vários amigos foram-se encontrando e cumprimentando. Alguns já se conheciam de outras provas em que representaram a UP, outros eram apenas colegas de Faculdade que repetiam a ro-tina do “bom dia”, e outros re-encontravam amigos de outras Faculdades que já não viam há algum tempo. Ali, no átrio prin-cipal da Faculdade de Desporto,

CAMIONEtA SERVIU PARA EStUDARJá na camioneta, ultimam-se os preparativos para a competição. Os Galaico-Durienses têm uma particularidade interessante: to-das as equipas são mistas. Cada Universidade deve ter sempre atletas masculinos e femininos em competição ao mesmo tempo, e nalgumas modalidades, as re-gras são um pouco diferentes. Por exemplo, no Andebol, um golo marcado por uma rapariga vale por dois. Os responsáveis de cada modalidade iam explicando as di-ferenças, afinando estratégias, e tratavam das questões burocráti-cas do costume. Enquanto isso, al-guns aproveitavam as duas horas e meia de viagem para estudar. O cenário não dava espaço para enganos: aquela era mesmo uma competição de desporto universi-tário, e todos os presentes eram estudantes e atletas ao mesmo tempo. Estavam representadas praticamente todas as Faculdades da UP. Uma grande fatia dos parti-cipantes pertenciam à Faculdade de Desporto, mas também havia estudantes da FLUP, da FEUP, da FEP, do ICBAS ou da FMUP.

Alguns minutos antes da che-gada, o discurso da praxe. Bruno Almeida apelou ao empenho e esforço de todos. E agradeceu a presença dos estudantes-atletas. “Estão a prestar um serviço à Universidade do Porto”, afirmou. E fechou o discurso com toda a ambição: “Temos que tentar ga-nhar isto”. Para vencer, a UP ti-nha que ultrapassar a equipa da casa (Universidade de Santiago de Compostela), a Universidade de Vigo, a Universidade de La Coru-nha, a Universidade do Minho, e a Universidade dos Trás-os-Montes e Alto Douro. Missão complicada. Ao todo, eram oito as modalida-des escolhidas para a edição des-te ano: Andebol, Voleibol, Basket, Duatlo, Xadrez, Ténis de Mesa, Tiro com Arco e Jogos Tradicionais Ga-legos. A UP tinha que ser forte em todas se queria levar a medalha de ouro para o Porto.

PRIMEIROS JOGOS, PRIMEIRAS VItóRIASDepois de uma rápida visita ao confortável hotel reservado para a UP, era hora de entrar em ac-ção. A equipa de Andebol foi a primeira a conquistar pontos

preciosos para a classificação fi-nal, ao bater confortavelmente a UTAD por 42-23, perante uma boa franja de apoio. As palmas, asso-bios e gritos ecoavam pelo Pavi-lhão da Universidade de Santiago de Compostela, em claro con-traste com o que se ia passan-do nos jogos de Xadrez. Apesar de vários representantes da UP fazerem questão de ir apoiar os xadrezistas, pouco mais podiam fazer do que olhar atentamente para as peças do tabuleiro. Mas havia motivos para festejar: os portuenses safaram-se bem, e venceram o seu primeiro encon-tro por 3,5-0,5 (três vitórias e um empate). Um início prometedor.

Ao mesmo tempo, três bravos atletas da UP tinham um primeiro contacto com os Jogos Tradicio-nais Galegos, certamente a moda-lidade mais estranha destes jogos Galaico-Durienses. Num longo relvado, os participantes ensaia-vam o lançamento de um disco, que tinha que derrubar um pino, colocado a uns bons 20 metros de distância. Não havia muito tempo para ensaiar, até porque no dia seguinte, já era a doer, e conta-va para a classificação final. Mas nem por isso deixava de haver uma grande boa disposição, e até os que não iam participar apro-veitaram para verificar o seu jeito para os jogos tradicionais. Com o tempo, todos os atletas foram apanhando o jeito, com maior ou menor dificuldade. No entanto, os galegos estavam em clara van-tagem. Nos intervalos dos seus lançamentos, os representantes da UP observavam atentamente os seus adversários espanhóis, e comentavam a superioridade téc-nica de “nuestros hermanos” no momento de tentar derrubar o pino. Lucas da Silva, “adaptado” do Xadrez para os Jogos Tradi-cionais face à dificuldade em

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port

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O cenário não dava espaço para enganos: aquela era mesmo uma competição de desporto universitário.

Os estudantes até estão habituados a alguma pressão, já que muitos competem ao mais alto nível. Mas a ansiedade, no momento da partida, era nula.

FRANCISCO FERREIRA

Classificação

Resultados UP

1º – Universidade Santiago Compostela (39 pontos)2º – Universidade da Corunha (37 pontos)3º – Universidade de Vigo (30 pontos)4º – Universidade do Porto (28 pontos)5º – Universidade trás-os Mon-tes e Alto Douro (18 pontos)6º – Universidade do Minho (15 pontos)

Basquetebol – 1º lugarVoleibol – 3º lugarAndebol – 3º lugartiro com Arco – 5º lugarXadrez – 2º lugarDuatlo – 5º lugarJogos tradicionais – 5º lugarténis de Mesa – 4º lugar

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recrutar participantes, afirmava que os Jogos Tradicionais tinham um elevado grau de dificuldade. “Estes jogos implicam muita pe-rícia e muita técnica”, dizia, bem-disposto.

No fim do primeiro dia, as pers-pectivas eram animadoras. As modalidades entraram a ganhar, e a motivação era grande. A equipa de Basquetebol teve que ultrapas-sar uma arbitragem incrivelmen-te tendenciosa, com más decisões a sucederem-se durante todo o encontro. O adversário? Universi-dade de Santiago de Compostela... Prevaleceu a garra e a superiori-dade dos basquetebolistas da UP, que assim ficaram bem lançados para a vitória na prova. A arbi-tragem dos jogos (e a fraca quali-dade das mesmas) acabaram por manchar uma competição anima-da e com um grande espírito de convívio.

VOLEIBOL E ANDEBOL AFAStADOS DA FINALO segundo dia foi um dia de contrastes. Se por um lado a UP festejou os bons resultados no Basquetebol e no Xadrez, os resul-tados das selecções de Andebol e Voleibol souberam a pouco. Logo a abrir o dia, os basquetebolistas portuenses cumpriram as expec-tativas, e confirmaram a presença na final da competição. No en-tanto, as formações de Andebol e Voleibol perderam os seus jogos e acabaram afastadas da Final das respectivas provas. Sobrava a luta pelo 3º e 4º lugar.

No duatlo, o cenário também não foi o melhor, mas as expectati-vas também não eram elevadas, já que os três atletas que represen-taram a UP eram “adaptações” à modalidade. O azar também bateu à porta de Ana Carneiro, que não conseguiu terminar os 1000 me-tros de natação devido a proble-mas físicos. Enquanto os homens do duatlo se davam as braçadas na piscina de Santiago de Compos-

tela, a equipa de Ténis de Mesa entrava em acção. A UP até entrou bem na prova masculina e femini-na, mas acabou por ceder perante a superioridade dos espanhóis. No entanto, os portuenses consegui-ram qualificar-se para a disputa do 3º e 4º lugar, que se disputava na manhã seguinte. Interessante foi a participação da UP no Tiro com Arco. Perante a indisponibili-dade de atletas, foi mesmo Bruno Almeida, do GADUP, e uma atleta do Voleibol a assegurar a presença na modalidade. Apesar da inexpe-riência, a UP até conseguiu fugir ao último posto, e acabou em 5º. Na mesma posição ficaram os atletas dos Jogos Tradicionais, que lutaram contra a falta de prática nas modalidades. As provas foram marcadas por muitas gargalhadas, e o objectivo principal estava cum-prido: a UP não ficou em último.

Apesar da sucessão de provas, os atletas não acusavam grande cansaço. O apoio e o espírito de equipa continuavam, o que aju-dou a UP a assegurar a 3ª posição na prova de Voleibol e no Ande-bol. O jogo de atribuição do 3º e 4º lugar na prova de Andebol foi um bom exemplo do espírito que se pretende criar nesta competi-ção: fair-play entre todos os joga-dores, animação nas bancadas e boa disposição durante o jogo.

“Até PARA O ANO!”No último dia de competição, muitas modalidades já estavam decididas. No entanto, a UP tinha a oportunidade de conquistar o primeiro lugar no Basquetebol e no Xadrez. A expectativa era gran-de, até porque a Universidade do Porto ainda não tinha assegurado nenhuma primeira posição nesta edição dos Galaico-Durienses. E os basquetebolistas não desiludiram, e conseguiram bater a Universi-dade de Santiago de Compostela, e conquistaram o único primeiro lugar para a UP em Santiago. Por outro lado, o Xadrez acabou por não conseguir dar seguimento

No fim do primeiro dia, as perspectivas eram animadoras. As modalidades entraram a ganhar, e a motivação era grande.

Universidade de Vigo conquistou a 1ª posição no Xadrez

derrotando a UP no jogo final

IGOR GONçALVES

Os jogadores de Basket da UP eram os mais satisfeitos, mas no geral, o sentimento era de missão cumprida.

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As mais versáteis

Um popular site escreveu há algum tempo que a palavra “desenrascar” é a que mais falta faz ao vocabulário inglês. E escreveu-se que esta carac-terística era típica dos portugueses, que eram os maiores especialistas nesta arte de improvisar no último segundo. A UP, nos jogos Galaico Durienses, não fugiu à regra cul-tural. Inicialmente, Élia Cipriano e Inês Caldeira estavam convocadas apenas para a selecção de Voleibol e de Basquetebol da UP. No entan-to, a falta de atletas obrigaram as duas desportistas a assumir a sua versatilidade, e acabaram por dar

uma ajuda no Ténis de Mesa e nos Jogos Tradicionais.

Élia Cipriano, estudante de Me-dicina no ICBAS, jogou Voleibol no Boavista, e foi chamada para representar a selecção de Voleibol. Mas, no autocarro, os responsáveis pediram-lhe que também mar-casse presença no Ténis de Mesa. “Alguém tinha que ir jogar, e não havia mais ninguém... Lá fui eu!”. A futura médica nunca foi federada,

nem se considera uma boa jogado-ra de ténis de mesa. No entanto, venceu mesmo o seu 2º jogo. “A outra jogadora era muito fraca”, brincou a atleta da UP. A equipa de Ténis de Mesa acabou a competi-ção no 4º lugar, também graças à ajuda da jogadora de voleibol. “Se for para ajudar, eu jogo”, concluiu a estudante madeirense.

Já Inês Caldeira, da FEUP, tinha tudo preparado para representar

Élia Cipriano preenchou a vaga no Ténis de Mesa feminino

a selecção de Basket da UP. Devido à indisponibilidade de outra atleta, acabou por representar a Univer-sidade nos Jogos Tradicionais. “Foi uma experiência nova, e até foi en-graçado”, revelou a estudante de Engenharia Civil. No Basket, Inês Caldeira comemorou o 1º lugar, mas nos Jogos Tradicionais, a UP ficou-se pelo 5º posto. “Apesar de tudo, foi positivo”, afirmou a bas-quetebolista.

aos resultados anteriores, e termi-nou a competição na 2ª posição, depois de não conseguir vencer a Universidade de Vigo. João Costa, xadrezista da UP, lamentou a 2ª posição, e afirmou que a UP tinha “condições para vencer”, até por-que a UP contava com 3 Campe-ões Nacionais Universitários.

Feitas as contas, e depois de o Duatlo terminar em 5º e o Ténis de Mesa em 4º, tornava-se óbvio que a UP acabaria em 3º ou 4º lugar. No momento do anúncio dos resul-tados finais, o pior cenário confir-mou-se: os portuenses ficavam fora do pódio, atrás das três Universida-des da Galiza. Por uma unha negra, diga-se, já que foram apenas dois pontos a separar a UP da Universi-dade de Vigo, 3ª classificada.

No regresso a casa, depois de um almoço cheio de convívio entre todos os participantes, e depois da despedida de alguns amigos que foram aparecendo na competição, era altura de ba-lanços. Bruno Almeida rejeitava a opinião de que a UP tinha ficado muito abaixo das expectativas. “Apesar de tudo, fomos a me-lhor Universidade portuguesa, o que é bom”, começou por dizer o responsável do GADUP. Bruno Al-meida sublinhou ainda que havia equipas “bastante mais fortes”, mas disse que o objectivo princi-pal foi atingido. “Não ficámos em 3º lugar por muito pouco. Mas o importante era o convívio en-tre todos os elementos da UP e a interacção com as outras Uni-versidades, e isso foi conseguido. Além disso, foi uma oportunidade para experimentarmos outras coi-sas, como os Jogos Tradicionais, e foi muito divertido”, afirmou. Já José Araújo, do Duatlo, destacou o “espírito de sacríficio” que todos os atletas tiveram, já que alguns até competiram em mais que uma modalidade. Os jogadores de Basket da UP eram os mais satis-feitos, mas no geral, o sentimento era de missão cumprida. Afinal, a UP não ficou na última posição em nenhuma modalidade (apesar de muitos improvisos).

A despedida ficou novamente a cargo de Bruno Almeida, que não podia ser mais claro: “obrigado por terem vindo representar a UP, espero que tenham gostado. Até para o ano!”. Para o ano, nas ins-talações da UTAD, há mais Galai-co-Durienses.

De todas as 8 modalidades em competição, a UP só conseguiu conquistar a primeira posição no basquetebol. Os jogadores tiveram que superar a equipa de Santiago de Compostela por duas vezes, uma delas na final, e conseguiram sempre levar a melhor. Américo Santos, treina-dor da equipa de Basket da Uni-

que o objectivo era ficar na pri-meira posição.

O técnico afirmou ainda que a vitória na final, apesar de escas-sa, acabou por ser fácil. “A equi-pa estava muito motivada, e o resultado surgiu naturalmente”. Mas o responsável pela equipa de Basquetebol da UP destacou que o espírito de equipa e o conví-vio entre todos os elementos da equipa foram os segredos para a vitória da equipa portuense. “Houve sempre um grande espí-rito na equipa, e isso foi mesmo o mais importante na competi-ção”, rematou o técnico.

élia Cipriano (Voleibol) e Inês Caldeira (Basket) foram chama-das à última hora para o ténis de Mesa e para os Jogos tradiciona-is. E cumpriram.

O segredo foi espírito de equipa

versidade do Porto, mostrou-se satisfeito com os resultados alcançados na competição. “A equipa estava forte, estava bem, e sabíamos que tínhamos equi-pa para ganhar a competição”. Foi isso que o treinador tentou sempre incutir nos jogadores: já no fim do primeiro jogo, Améri-co Santos tinha referido ao JUP

frANCiSCO [email protected]

A equipa de Bas-quetebol foi a única a acabar a competição no primeiro lugar.

FRANCISCO FERREIRA

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A Cidade das GaleriasAs artes plásticas reclamam cada vez mais território na cidade. De uma ponta a outra, galerias, museus, cooperativas formam um Porto que respira cultura. O JUP foi apanhar o ar fresco da arte.

Sem o espaço das galerias con-sideradas comerciais, muito dos artistas contemporâneos não te-riam a projecção e a visibilidade de que hoje gozam.

A transformação da Rua Mi-guel Bombarda em zona pedonal e o patrocínio dado durante dois anos às galerias da zona pela The Famous Grouse veio renovar a ideia de que esta artéria da cidade constitui um grande museu, onde a cada inauguração simultânea se juntam várias dezenas de pessoas, tornando este acontecimento num marco para a cidade do Porto.

No entanto, a par deste grande centro cultural, existem não só dezenas de outras galerias espa-lhadas pela cidade como também bastantes organizações sem fins lucrativos que utilizam as suas sedes para expor artistas das mais variadas áreas.

Em conversa com Joana Gomes, representante da galeria Fernan-do Santos, a diferenciação entre estes espaços “alternativos” e uma galeria deve-se ao trabalho relacionado com o artista: “O nosso trabalho em relação aos ar-tistas é muito mais do que uma exposição, que é a parte mais visí-vel e acessível ao público. Depois, há toda a parte de bastidores, que na maior parte das vezes é a mais importante, no sentido em que a colocação de um artista num mu-

seu, numa fundação, a promoção do artista a todos os níveis é a parte que a galeria faz e que não está visível ao público.”

O apoio da The Famous Grouse veio trazer um novo público à “rua das galerias”. “Não sei se criou no-vos públicos para a arte. Criou uma publicidade à rua Miguel Bombar-da. Hoje em dia, se calhar já imen-sa gente viu uma peça do Pedro Cabrita Reis. Por outro lado, em termos práticos, de consistência, tenho dúvidas de que as galerias tenham ganho alguma coisa. Há muita gente a visitar as galerias, mas, na maioria dos casos, duvido que as pessoas saiam com mais in-formação do que com aquela que entraram” explica Joana Gomes.

Será que toda esta atenção dada a Miguel Bombarda pelo público será apenas uma moda ou será algo permanente? “Moda é. O futuro da baixa é muito imprevisível. Mas há uma coisa que se mantém desde os finais dos anos 90 no território artístico: os espaços independentes tanto aparecem como desaparecem, mas há sempre algo a acontecer, e parece-me que essa vontade das pessoas mostrarem o que fazem não esmorece tão rapidamente como uma moda” sugere José Al-meida Pereira, artista em exposição na galeria Fernando Santos.

Num circuito alternativo ao conhecido quarteirão, e muitas

vezes com conceitos diferentes, existem diversos espaços. Galerias como a Dama Aflita, na Rua da Picaria, a MCO Arte Contempo-rânea, na Rua Duque de Palmela, Vera Lúcia, na Avenida da Boavis-ta, Galeria Cordeiros, na Rua An-tónio Cardoso, e tantas outras de não somenos importância, fazem parte de um circuito complemen-tar a Miguel Bombarda.

Outro centro artístico impor-tante da cidade é a galeria da Co-operativa Árvore. Cooperativa de actividades artísticas, sediada des-de 1963 na Rua Azevedo de Albu-querque e responsável por gran-de parte da renovação cultural do Porto, que incorpora entre os seus fundadores o escultor José Rodri-gues, figura proeminente das ar-tes a nível nacional e reconhecido internacionalmente. No panora-ma artístico da cidade, não pode-mos deixar de referir a importân-cia da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto “cujas boas relações existentes com as princi-pais galerias do Porto permitem a colaboração destas na divulgação dos jovens artistas que terminam aí os seus estudos”. Foram vários os artistas que adquiriram forma-ção nesta secular instituição: Viei-ra Portuense, Dordio Gomes, Júlio Resende, Barata-Feyo, Silva Porto, Henrique Pousão, Fernando La-nhas, Júlio Pomar, entre outros.

Já mais recentemente edifica-do, o Palácio das Artes – Fábrica dos Talentos, inaugurado a 11 de Dezembro deste ano, irá tornar-se num “centro de criatividade e ino-vação de excelência nacional e in-ternacional”. Este novo pólo, que certamente dinamizará a zona da baixa e colaborará activamente na dinamização do Centro Histórico, terá uma importante função na

Existem não só dezenas de outras galerias espalhadas pela cidade como também bastantes organizações sem fins lucrativos.

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JUP || DEZEMBRO 09 || 23 Cul

tura

transição dos artistas entre os es-tabelecimentos de ensino, a vida prática e o mundo profissional, já que irá proporcionar meios para o desenvolvimento de projectos de inserção do artista no meio cultural, quer pela mostra de tra-balhos quer pelo enriquecimento cultural decorrente do contacto com artistas consagrados ou co-missários de exposições.

Apesar deste panorama cultural tão rico, João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporâ-nea de Serralves, afirma que no Porto existe “ um paradoxo, com instituições de referência por um lado e, por outro, artistas votados ao abandono”. Não são só os ar-tistas que sofrem este abandono. Lugares e espaços outrora impor-tantes têm lentamente desapare-

cido. Os conhecidos Ateliers da Lada, onde proeminentes figuras nacionais leccionaram workshops e onde decorreram ciclos de cine-ma e espectáculos musicais, foi votado ao abandono.

Será que a cidade tem capaci-dade para lidar com tantos e di-versos artistas plásticos? Será que existem instituições, públicas e privadas, interessadas em apoiar

estes organismos e artistas? Como diz José Almeida Pereira, a vontade das pessoas se expressa-rem artisticamente não esmorece como uma moda, e conhecemos a vontade e garra dos portuenses: a arte veio para ficar.

“...parece-me que essa vontade das pessoas mostrarem o que fazem não esmorece tão rapidamente como uma moda”

Os pioneiros de Miguel Bombarda

Inaugurada em 1993, a galeria Fernando Santos foi a primeira a abrir portas naquilo que hoje conhecemos como o quar-teirão Miguel Bombarda. Nos seus quase dezassete anos de existência, já acolheu nomes tão interessantes como Antoni tàpies, Pedro Cabrita Reis ou Rui Sanches, entre muitos outros. “Uma galeria é um projecto comercial, mas mais do que um projecto comercial, é pedagógico e cultural”, diz Fernando Santos.

PEDR

O FER

REIR

A

CATAriNA CrUz E mAriANA SOBrAl [email protected]@gmail.com

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JOãO GEStAESCRItOR E PROGRAMADOR DO tCA

Novas OportunidadesAs próximas linhas são da responsabilidade do parti-do ( muito partido, diga-se) do governo.Informa-se que o executivo do Nosso Sinistro-Primeiro vai propor à Assembleia da República a aprovação de uma linha de crédito para promover a descoberta de novos talentos, prefe-rencialmente nas áreas da literatura, da rapinagem artística e dos bordados.Podem candidatar-se ao referido apoio os seguin-tes talentos, nascidos em território nacional e/ou na Malveira:- sucateiros- pataniscas (que tenham sido comidas a norte do Mondego)- linces (que exerçam ac-tividade fora da região da Malcata)- engenheiros de papel- poetas com mais de um olho- o Armando Vara

- rabos de boys- o Armando Vara- pequenos arenques por fumar- enguias da Murtosa, que não tenham inscrição na “Universidade Independente”- jovens casadoiras com sete saias e, pelo menos, um ovário

Jovem-coisa:Se és saudável, se tens pelo menos dois dentes do Siza, então NÃO HESITES: - envia-nos a tua candidatu-ra, explicitando se gostas de ficar por cima ou por baixo.Só tens de indicar o teu nome completo, a morada da toca abjecta onde te acoitas, o nome do dealer que serve a tua área de sobrevivência e a idade do mânfio que anda a comer a tua irmã, miseravelmen-te, às escondidas do fisco.Depois, lê em voz alta um poema do Baudelaire e esfrega-o no rabo. Se não tiveres rabo, esfrega-o na alma, que fica mais à direita.Enfia tudo ( a candidatura e o poema devidamente esfregado) num envelope lacrado e envia-o para o presidente do Sporting ou para o Santos Silva. Tanto faz. São ambos patéticos

e, como tal, muito com-petentes.Uma última nota:Se não tive-res em casa um poema do Baude-laire, podes esfregar o rabo num pensamen-to do Padre António Vieira, num ligamento

do Cristiano Ronaldo e por aí fora, até chega-res ao útero da Josefa D’ Óbidos ou, mais à frente, ao cruzamento da Carva-lhosa.Deixa o resto connosco.Ousa.O país precisa de ti. Nós, também não.

“Se és saudável, se tens pelo menos dois dentes do Siza, então NÃO HES-ITES: - envia-nos a tua candidatura, explicitan-do se gostas de ficar por cima ou por baixo.”

24 || CULtURA

Vendedora de peixe no Bolhão des-de que se recorda, Bininha criou-se “à força” no interior da “bolha grande” do coração da cidade. Entre pescada fresca, robalos e carapau miúdo, esta peixeira foca aquilo que o Bolhão tem de mais precioso: “as pessoas”.

Mãos hábeis, olhar vivo e sorriso aberto. Aos 58 anos, Bininha, peixei-ra por herança mais que por von-tade, cresceu no Bolhão. “Brincáva-mos às peixarias e muitas vezes me sentei naquelas escadas, com um caixote como secretária, a fazer os deveres da escola”, recorda. Hoje os seus herdeiros já não aspiram a ocupar o seu posto na “bolha gran-de”. Há 50 anos atrás, não houve opção. “Entre o liceu ou o trabalho teve que ser o trabalho, porque na altura os tempos não eram de es-tudar”. Da escola fica-lhe a secreta vontade de ser professora e o jei-to natural para a contabilidade na banca de peixe.

Lugar de passagem obrigatória Nunca virou costas à luta. Na

vida e pelo mercado do Bolhão. Dá o rosto pelo Bolhão e, nos últimos anos, com muitas lágrimas à mis-

tura. “Já tenho chorado muito pelo Bolhão”. Nestas alturas são as re-cordações que lhe dão alento. E são muitas as memórias e os rostos. Porque, como diz Bininha, “o Bo-lhão são as pessoas e as amizades que aqui nascem”. Mas, o Bolhão é também o sol que se refugia nos recantos mais imprevistos, o cheiro a laranja, o colorido das flores, os gestos e os vozeirões projectados que nunca se apagam.

Gasto pelo tempo e pela humida-de que corrói as entranhas do edifí-cio oitocentista, Bininha ostenta um rol de fotografias que retrata en-contros que teima em não esquecer. “Uma senhora israelita deixou-me esta foto que tinha tirado numa ou-tra visita e também um chinês que, após dois anos, veio aqui à minha procura para me entregar uma foto-grafia que tinha feito comigo”.

À medida que se despe da sua própria gente, o Bolhão recebe, ano após ano, um número crescente de turistas. “Eles gostam desta vida só nossa”, lança Bininha. “Aqui come-se a sardinha à mão e empurra-se tudo com broa e pimentos”. As pou-cas convenções à mesa chamam a

atenção dos transeuntes, assim como os peixes que se exibem na barraca de Bininha. “Eles passam e perguntam se dá para comer. Dou-lhes tempo para cozer as percebas, o camarão e sapateira e depois é vê-los na esplanada a acompanhar com as cervejas”.

DEStINO ERASMUS Numa altura em que os locais fo-gem para a periferia, o Porto cobre-se de uma malha que une várias línguas. Alguns dos estudantes es-trangeiros ao abrigo de programas de intercâmbio são clientes fiéis dos peixes da Bininha. Vindos de Espa-nha, Itália, Alemanha ou Polónia en-contram no Bolhão a alma de uma cidade diferente dos seus países de origem. Porque é essa a beleza do Bolhão. Não existe franchising pos-

...ser vendedora do Bolhão

CONtA-ME COMO é...CARLOS XOCHICALE

sível para um mercado que vive dos pregões e da alma desta gente.

Ultrapassada a barreira da lín-gua, Bininha desvenda as amizades com estudantes espanholas, italia-nas ou incautos uruguaios. “Havia um grupo de estudantes espanho-las que vinham cá comprar peixe e comecei a explicar-lhes algumas receitas e criámos uma relação en-graçada. Quando regressaram ao Porto, depois do Natal, trouxeram-me um vinho lá da terra e, na se-mana seguinte, surpreendi-as com um raminho de rosas vermelhas. Os pais chegaram a vir cá conhecer-me e elas vieram todas despedir-se de mim no final do ano”, conta. Quem também lhe ficou no cora-ção foram umas italianas, que se deixaram encantar pelo sabor das sardinhas molhadas em farinha.

Fazem-se muitas amizades, mas “desfazem-se outras tantas pelo caminho, porque as pessoas aban-donam a cidade e o hábito de vir ao Bolhão”, observa Bininha. A equação final não engana. “A ver-dade é que perde-se mais do que aquilo que se ganha”. mAriANA

TEixEirA SANTOS

O Bolhão são as pessoas e as amizades que aqui nascem

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JUP || DEZEMBRO 09 CULtURA || 25

Mestre Joaquim Lopestrabalhar com o seu tio materno como pintor decorador de cofres. É este seu tio, José Pinto Jr., que o in-centiva a ingressar na Academia de Belas Artes do Porto.

Inicia a sua formação na Escola Industrial Passos Manuel, em Vila Nova de Gaia, onde termina o curso em 1906, com a classificação de 20 valores, ingressando nesse ano na Academia Portuense de Belas Artes, tendo como mestres Marques de Oliveira e José de Brito.

Termina a formação com média de 17 valores, em 1915. Quatro anos depois, parte para Paris com o ob-jectivo de aperfeiçoar a sua forma-ção ao nível do desenho e da pin-tura, contactando com obras dos grandes mestres do século XVII e XVIII e com os impressionistas, sen-do particularmente marcado pelo tratamento da luz destes últimos.

De regresso a Portugal, Joaquim Lopes ingressa na carreira docente do ensino técnico o que lhe permi-te estabelecer um equilíbrio finan-ceiro, compensando a instabilidade da carreira artística. Em 1930 ganha o concurso para o lugar de profes-sor da cadeira de pintura na Escola de Belas Artes do Porto, ocupando o lugar até então de Marques de Oliveira.

Joaquim Lopes era um Mestre atento aos seus alunos, ajudando-os sempre que podia, motivando-os para a arte e procurando que a sua formação os preparasse de forma consciente. Gostava de lhes manter a personalidade mas dando-lhes meios para revelarem o que de melhor tinham. Queria que fossem homens de cultura, capazes de se-guir o caminho com inteligência e intuição para poderem definir o seu

próprio estilo. Por isso funda uma Biblioteca e procura erguer um Mu-seu de estudo na EBAP. O seu inte-resse pela existência de um museu escolar prende-se com a noção de aprendizagem prática e visual que explorava.

O ambiente das aulas seria des-contraído, conciliando a prática com a teoria, procurando que per-cebessem a importância do estudo, do saber e da experiência. Pedago-gicamente, Joaquim Lopes deixou boas impressões nos seus alunos e na forma como dirigiu a Escola, que se distinguia a nível nacional pelo seu peculiar ambiente.

Enquanto director da EBAP (1945 - 1952), pondera sobre a reforma do ensino, que acha imperiosa para o desenvolvimento da educação ar-tística. Além da alteração dos anos prévios, nas escolas primárias e téc-nicas, pensa que ao nível superior há também muito a fazer, nomea-damente na alteração do estatuto do curso de arquitectura. Nesse sentido, apoiou a criação das no-vas cadeiras ligadas ao urbanismo. Procura também dar melhores con-dições aos alunos, erguendo novos pavilhões nos jardins da Escola — solução intermédia, pois gostava de ter instalações mais condignas, como a Faculdade de Engenharia ou de Farmácia.

O percurso académico de Joa-quim Lopes foi acompanhado por uma forte actividade como crítico e investigador de arte, estudando os velhos mestres, nacionais e estran-geiros, ocupando-se das questões pedagógicas, entre outros assuntos, dos quais deixou um vasto número de artigos dispersos.

Durante a sua carreira recebeu diversos prémios: várias medalhas da SNBA, bem como medalhas em exposições internacionais. Joaquim Lopes é dos poucos artistas que con-segue arrecadar medalhas de honra da SNBA em todas as categorias de pintura, demonstrando a sua versa-tilidade em qualquer técnica. O pró-prio admitia que como professor devia ensinar de tudo.

Joaquim Lopes viria a falecer a 25 de Março de 1956, pouco an-

Crítico, investigador, pintor e pro-fessor: notas biográficas de um di-rector da EBAP

Exposição

Partindo do espólio da Casa do Douro, o Museu do Douro apre-senta uma exposição evocativa deste vulto da história da arte portuguesa. O discurso expositivo propõe uma viagem pelo curso do rio, desde Miranda até à Foz, locais de eleição deste mestre de pintura, cuja leitura actual é bem diversa. Na obra exposta, onde se apresentam diferentes técnicas de desenho e pintura, evidenciam-se múltiplas facetas de um rio Douro da primeira metade do século XX, não só patentes na paisagem natural, agrícola e construída, mas igual-mente nos costumes, nos trajos, nos rostos dos seus habitantes. Ao mesmo tempo, é exibida uma descida do rio, o Douro do vinho do Porto, concebida pelo próprio Mestre para o pavilhão da Casa do Douro na I Exposição Colonial Portuguesa, realizada em 1934. A propósito destas obras, o visitante pode conhecer as difer-entes etapas da intervenção de conservação e restauro realizada pelos técnicos do Museu. Esta será uma oportunidade para contactar com uma realidade raramente visível mas essencial para a preservação do nosso património.A exposição Mestre Joaquim Lopes – Douro, está patente entre 14 de Dezembro de 2009 e 5 de Abril de 2010, na sede do Museu do Douro, em Peso da Régua.

Alguém definiu Joaquim Lopes como “o pintor que sabia desenhar”. É certamente o maior elogio que se pode fazer a um artista que sempre viu no desenho a base de toda a obra de arte, alguém que não con-cebia a obra final sem muito estu-do. Notabilizou-se como pedagogo na Escola de Belas Artes do Porto, ganhou prémios nacionais e inter-

nacionais como pintor, pertenceu à Academia Nacional de Belas Artes e a Academias internacionais, escre-veu inúmeros artigos de crítica de arte… trabalhou incessantemente.

Joaquim Francisco Lopes nasceu a 23 de Abril de 1886, em Vila Nova de Gaia. Cresceu num ambiente propí-cio ao desenvolvimento da aptidão artística, indo aos 11 anos de idade

Fotografia do Mestre Joaquim Lopes no seu atelier

COLECçãO PARtICULAR

tes de se jubilar. A notícia é dada com tristeza na sua Escola. Dos depoimentos ressalta sobretudo o seu carácter e a sua generosidade — ajudou os jovens talentos que surgiam na Academia e que não ti-nham posses, pagando do seu bol-so ou arranjando quem o pudesse fazer. JOãO dUArTE

Ganhou prémios nacionais e internacionais como pintor, pertenceu à Academia Nacional de Belas Artes e a Academias internacionais, …

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JUP || DEZEMBRO 0926 || CULtURA

Casa Correiamos muito de pratos para o cliente não enjoar”. Quando questionamos qual a fonte destes pratos, a cozi-nheira argumenta: “Nunca precisei de livros para fazer de comer! Bas-tam-me estas mãos.”.

Em relação às famosas tripas, sen-tados à mesa, apercebemo-nos que elas são servidas em dois momen-tos: em primeiro lugar deliciamo-nos com a mão de vaca, a moura e o salpicão; e só depois nos chega à mesa o arroz e uma travessa com as tripas e o feijão a boiar num molho espesso, óptimo de comer com pão! E o preço? A dose fica a 13,50 e três pessoas ficam satisfeitas. A relação qualidade / preço de todos os pra-tos é boa e mesmo assim Filomena Correia afirma que por vezes “os estudantes, com pouco dinheiro, só pedem meias doses e é para dividir. Eu acabo sempre por lhes encher as travessas pois não quero que pas-sem fome na Casa Correia.”.

Ainda em relação às tripas, de-pois de estarmos “cheios como uns Abades”, quisemos saber a receita. A resposta foi curta e rápida: “Tripas das nossas (conhecidas pela gente do Sul como dobrada), cenouras, a água de cozer os enchidos e, claro, um bom feijão manteiga que faz

toda a diferença para o molho. O resto é segredo que é a alma do ne-gócio mas posso garantir que não leva soda! É tudo ingredientes sau-dáveis e naturais que até um bebé podia comer.” mAriANA JACOBEm pleno centro da cidade do Porto,

encontramos uma tasca que guarda um segredo há cerca de 40 anos…

É quinta-feira e ao chegarmos à Casa Correia apercebemo-nos que estão à porta várias pessoas que aguardam, pacientemente, não para desvendar o segredo mas sim para o saborear. Esta tasca é o recanto mais afamado da arte de bem comer tri-pas à moda do Porto!

A tasca existe há cerca de 40 anos pelo trabalho e dedicação de José Correia e sua mulher, Filome-na Conceição Santos Correia.

Nesta tasca, de decoração rústica, a cozinha é domínio de Filomena Correia que garante que “é muito exigente na escolha dos produtos que utiliza, tendo sempre preferên-cia pelo peixe fresco, legumes e fru-tas da época e por carnes de origem nacional ” e que “nos meus tachos ninguém mete uma unha!”. É desta cozinha que saem petiscos variados como cabrito assado, bolinhos de bacalhau com arroz de feijão, iscas de fígado, peixe fresco (às quartas-feiras), as tripas à moda do Porto (às quintas-feiras), entre outros. Há pratos fixos como o peixe e as tripas mas o resto da ementa altera muito, facto que Filomena justifica: “varia-

É mesmo triste perder um amigoHoje vi esta frase quando ia a correr para a faculdade. Mesmo estando eu stressada, suada e prestes a ter uma arritmia car-díaca, uma feia parede cinzen-tona conseguiu captar o meu esquivo olhar e fez-me parar para a ver. E pensar melhor, reflectir naquelas palavras tão banais. Já estou tão habituada às pseudo frases grandioso-trágico-cómico-poéticas, dos novos Che Guevara de boné e calças a escorregar pelo traseiro (embora eu também use as calças assim). “É mesmo triste perder um amigo”. Esta frase não é das típicas, daquelas ditas nas fúteis conversas de autocarro e de “bicha” do supermercado, em que as pessoas falam com o à vontade de quem não tem nada para dar a não ser o próprio vazio. E de quem antes se estava a queixar do preço do bacalhau.

Para mim, quando uma frase não é proferida com sentimento, então é como se não tivesse sido proferida. O que saiu da boca e chegou até ao ouvido foi uma amálgama de sons ininteligíveis para o coração. Mas eu olhei para aquela frase e tocou-me. Não é o típico rabisco que costumo ver escrito nas paredes. Apanhou-me de surpresa. Veio de encontro ao meu espírito, infiltrou-se e cá continua, e faz-me escrever esta crónica.Aquela frase foi um desabafo. Eu li-a e respondi interiormente “pois é”, não fossem pensar que eu, maluquinha, andava a pres-tar atenção às baboseiras do “amo-te Di” ou “a Su é porca”

que andam por aí a completar a pintura das casas. “É mesmo triste perder um amigo”. Pois é. Uma pessoa muito minha querida foi morar no estrangeiro. Abençoada Internet que nos liga. Eu não a perdi, apenas perdi os beijos e os abraços e o conforto de um toque. Se calhar quem escre-veu a frase tinha acabado de perder um amigo mesmo, para sempre. Mas o que é “perder um amigo”?“Perder um amigo” não é só quando a morte se mete no meio da amizade. E quando um amigo morre só para nós e con-tinua vivo? Ou nós morremos para ele… Ou quando não temos a possibilidade de sentir o abra-ço, de ter a SMS no telemóvel, de ouvir o riso, de confortar o choro...Ou se calhar eu é que estou hipersensível, e foi um pseudo

blá blá blá que escreveu aquilo. E não perdeu nin-guém. E estava só a tentar ser “cool” e todo mandado para a “frentex”,

olhem-só-para-mim-a-escrever-numa-parede.Para logo já tenho planos. Como todas as noites vou-me recostar em frente ao sagrado monitor e vou tentar abraçar, beijar e confortar virtualmente, até que passe a tempestade e eu sinta que recuperei o meu amigo do lado de lá, porque perder um amigo é mais do que uma frase na parede, é mais do que impotência, é mais do que uma disputa pelo comando, é mais do que um caixão. E já agora, desejo passar por aquela parede desligada e distanciada como quem acena em concordância e segue em frente com desconhe-cimento de causa.

“E quando um amigo morre só para nós e continua vivo?”

MANUEL RIBEIRO

História

As tripas à Moda do Porto fazem parte da gastronomia típica desta cidade, chegando mesmo os seus habitantes a serem conhecidos pela alcunha de tripeiros. A origem deste prato poderá remontar ao período dos Descobrimentos, mais especificamente, com os prepara-tivos para a expedição militar da tomada de Ceuta. Reza a história que em 1415 terá sido pedido aos habitantes do Porto todo o género de alimentos, incluindo todas as carnes, que foram limpas, salgadas e acamadas nas embarcações. Aos portuenses restaram apenas as miudezas para confeccionar, incluindo as tripas. terá sido neste momento que os habitantes, ao inventarem pratos alternativos, terão criado as tripas à Moda do Porto. Há quem afirme que este prato é o reflexo do espírito da população do Norte de Portugal: altruísmo e hospitalidade.

VERA LOPES

“Tire a foto mas não diga que são tripas, tripas só à quinta-feira!”

GOURMEt DAS tASCAS

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Para quem conhece os filmes de Copolla, ao ver Tetro reconhece logo as influências de Rumble Fish ou The Outsiders. Na verdade este filme é uma retrospectiva do trabalho do realizador com traços de uma autobiografia.A historia fala-nos da relação de dois irmãos cujo pai é um maestro mundialmente conhecido. A che-gada do irmão mais novo, Bennie (Alden Ehrenreich) a La Boca, Bue-nos Aires, causa em Tetro (Vicent Gallo) uma certa perturbação. O irmão mais velho exilou-se da fa-mília e desde que se mudou para a Argentina não quis contactar com os seus parentes. Miranda (Maribel Verdú) é companheira de Tetro que no início do filme acolhe Ben-nie. A partir daqui desenvolve-se um conflito entre os dois irmãos, acentuado pelos flashbacks em que nos é mostrado um passado de Tetro com o pai Carlo, levando-o a separar-se da família.Tetro foi filmado num preto e branco contrastado para relatar o presente da acção, e a cores velhas e saturadas para nos mostrar o passado. Estilisticamente, o filme é muito bem conseguido. A imagem ampla preenche-nos a visão e a fotografia do filme poderia ser analisada plano a plano. La Boca é um local bastante vivo mas em Tetro vemos, até nos momentos de humor, um bairro carregado de drama e tensão. Depois de Youth Without Youth, Copolla volta em melhor forma e mais convicto dos seus filmes. Já não vamos ver um filme deste re-alizador à espera de um Apocalipse Now ou de mais um Padrinho, ago-ra entramos no mundo de Francis Ford Copolla, cada vez mais fundo. JOãO PEdrO CrUz

8/10 TETrOFrAnCIS FOrD COPOLLA

A nova-iorquina Norah Jones lan-çou no dia 17 de Novembro o seu quarto álbum de originais, The Fall. Este disco vem alterar o seu cânone. A menina que começou a dar os primeiros passos da música no coro da igreja, rapidamente se tornou uma referência no jazz. De cabelo curto, batom vermelho nos lábios e vestidos justos, é assim que Norah, com um novo look, reaparece neste álbum. “Chasing Pirates” é o single de apresenta-ção e a primeira das 13 faixas que dele fazem parte. A cantora de 30 anos cresceu num ambiente ligado ao jazz, mas neste trabalho afastou-se dessas raízes e misturou rock, folk, country e blues. Assim, em The Fall, podemos ouvir ritmos mais vivos que vão de encontro à personalidade de Norah. Ainda se assumindo como sendo tímida, a menina do famoso single “Sunrise”, arruma o piano e entrega-se à guitarra. Este álbum tem ainda a particularidade de contar com a contribuição de vários compositores: Ryan Adams, Will Sheff, Okkervil River, e ainda com o produtor Jacquire King, dos Kings of Leon e dos Modest House. Norah Jones não lança nada de inédito desde o seu terceiro disco, Not Too Late, de 2007.The Fall exibe uma nova faceta da cantora, na qual até ao momento não estávamos habituados da parte dela. Mas esta mudança não é absoluta, neste álbum podemos ainda ver a calma e a vivacidade de Jones de mão juntas. Com 236 milhões de discos vendidos em sete anos de carreira e nove Grammys, a cantora traça este álbum como «um novo caminho», provavelmente bem galardoado. SUSANA COrrEiA

9/10 THE FAllnOrAh JOnES

São quase sempre poemas de uma única estância, os presentes em Últimos Poemas (2009) de Nuno Rocha Morais, de uma unidade avassaladora até na forma. E, todavia, são a obra de um poeta múltiplo de manifestações e temas que tanto passeia por um ultra-re-alismo de uma Odisseia moderna - «Sentir-te-ás velho e também isto é um regresso» (pág. 90) – como nos surpreende com um surrealismo sarcástico de «peixes humoristas / Que, espontaneamente, saltam da água, / Se escamam, se amanham e se comem por nós» (pág. 97); tanto é crua - «Ser nada mais do que este relevo / De veias e ossos, / E o odor senil da urina» (pág. 57) – como distante: «Nuno Morais é um projecto / No bico partido de um lápis / Quando já ninguém pega num lápis» (pág. 79).As páginas de Últimos Poemas estão pejadas de vocábulos pouco co-muns. «Adolescer» parece ser um dos verbos preferidos do poeta, que funciona dialécticamente com a sua obra amadurecida. Este diálogo é estendido à infância, representa-da por mais do que uma vez como um período de inocência efémera: «A infância começava a ser uma impostura, / Não sabíamos ainda, não ainda / Que já tínhamos sido expulsos do paraíso» (pág. 37).A triste realidade que enquadra a publicação deste livro (publicado postumamente, depois da morte do autor em 2008), é, também, trágica para a Literatura, que vê em Últimos Poemas o registo único de um poeta maior, simultane-amente tese, antítese e síntese. TiAGO SOUSA GArCiA

Um título desconhecido para a maior parte dos espectadores. Primeiro mérito deste espectáculo: trazer a cena um auto de mora-lidade de Gil Vicente raramente encenado, mas de grande dignidade literária. Breve Sumário da História de Deus percorre algumas das passagens bíblicas que marcam o imaginário judaico-cristão: a queda do Paraíso, a morte de Abel, as lamentações de Job, as tentações de Cristo no deserto, a Crucifixão e Ressurreição. Após um prelúdio em que as personagens percorrem, como que alienadas, o palco e uma corda desliza misteriosamente do céu, as figuras bíblicas caminham, umas atrás das outras, para a mor-te e para os três demónios, que as retêm no inferno e que asseguram o cómico ao longo do auto: Lúcifer, o maioral do inferno, Satanás, o fazedor, e Belial, o incompetente. Diga-se que as curtas incursões das personagens começam e acabam numa espécie de beliches em ma-deira, nítida colagem das camara-tas dos campos de concentração. A leitura parece clara. Segundo mérito desta encenação: projectar, através de recursos cénicos, um texto do século XVI para os nossos tempos. Outro aspecto positivo a destacar é o respeito exemplar pelo texto vicentino: sem cortes, bem declamado, aparentemente bem interiorizado pelos actores. Como se não bastasse, Carinhas convocou mais três belíssimos textos: o Sal-mo 139, e dois poemas, um de Ruy Belo e outro de Else Lasker-Schüler.Nota ainda para o final surpreen-dente, ao som de Haydn, que nos deixa a pensar: será que a Ressur-reição foi luz? mAriA iNêS mArQUES

9/10 ÚlTimOs POEmAsnUnO rOChA MOrAIS

9/10 BrEvE sumáriO dA HisTóriA dE dEus GIL VICEnTE

CULtURA || 27

Crít

icas

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17 DE DEZEMBROCOMUNIDADE DE LEItORES Biblioteca Almeida Garrett, 21hQUINtAS DE LEItURA: “CERCO VOLUNtáRIO” DE VASCO GAtOTeatro Campo Alegre, 22h

18 DE DEZEMBROLEItURAS: QUANDO O POEMA SE CUMPREMaria Vai Com as Outras, 22h30

19 DE DEZEMBROARtESANAtO URBANORua Galeria de Paris, 13h-24h

12 A 19 DE DEZEMBRO

NAtAL FEItO à MãORua Cândido dos Reis, 30 (Plano B), 14h-21h30

20 DE DEZEMBRODESFILE DE PAIS NAtALAvenida dos Aliados, 14h30

14 A 20 DE DEZEMBROFEStIVAL DE SORRISOSAvenida dos Aliados

18 A 24 DE DEZEMBRO ELéCtRICO DE NAtAL - VIAGENS COM ANIMAçãO DURANtE O DIA NA LINHA 22 E VIAGENS à NOItE, NUM ELéCtRICO CHAMADO… NAtALPartidas do Carmo e percurso no centro histórico e Baixa do Porto

Até 29 DE DEZEMBRONAtAL COM CULtURA EM GAIAVários Locais

Até 30 DE DEZEMBROANIMAçãO D’OUROAvenida dos Aliados, 14h-17h

Car

dápi

o15 DE DEZEMBROEXéRCItO RUSSOCasa da MúsicaSCOUt NIBLEtt + LONG WAy tO ALASKAPassos Manuel

18 DE DEZEMBROGOttA DANCECasa da MúsicaALèMU AGACulturgestANDREW tHORNTertúlia CastelensetEENGIRL FANtASyPlano BCROOKERS CLASH CLUBTeatro Sá da Bandeira

19 DE DEZEMBROSUSANA SANtOS SILVA QUINtEtOCasa da MúsicaSICKSIN + PHIStFábrica de SomNOISERV CDGO

26 DE DEZEMBROtHE LEGENDARy tIGERMANPlano B

30 DE DEZEMBROJACINtACasa da Música

31 DE DEZEMBROANDAMENtO + COSMICLUB + UMA NAPER + RUI MAIA + MR. MItSUHIRAtOPlano B

3 DE JANEIRORAUL PEIXOtO DA COStACasa da Música

6 DE JANEIROMISSISSIPPI GOSPEL CHOIRColiseu

16 DE JANEIROEROL ALKAN (CLASH CLUB)Teatro Sá da Bandeira

28 DE JANEIROtHE BLACK DAHLIA MURDER + tHE FACELESS + CARNIFEX + INGEStED (BONECRUSHER FESt)Cine-Teatro Júlio Diniz

Até 19 DE DEZEMBRO

“LASSA” DE ANtóNIO QUADROS FERREIRA AMIarte

Até 20 DE DEZEMBROVICENtE [EXPOSIçãO]: PINtU-RAS DE ILDA DAVIDTeatro Nacional São João

Até 22 DE DEZEMBROFAMA - FEIRA DE ARtESANAtO DE MAtOSINHOSParque Basílio Teles

Até 23 DE DEZEMBROARtESANAtUS’09Praça D. João I

Até 31 DE DEZEMBROXI PORtOCARtOON-WORLD FEStIVAL “AS CRISES”Museu Nacional da Imprensa

Até 3 DE JANEIROR4 EM EXPOSIçãO: PEçAS DE DESIGN E INStALAçõES DE ARtEAv. dos Aliados

Até 7 DE JANEIRODIáRIO DE UM EStUDANtE DE BELAS-ARtES - HENRIQUE POUSãOMuseu Nacional de Soares dos Reis

Até 10 DE JANEIROCIRCO CARDINALLIArena Super Bock (antigo quei-módromo), Parque da CidadeSERRALVES 2009 - “A COLECçãO”Museu de Serralves

Até 31 DE JANEIROAUGUStO ALVES DA SILVA - “SEM SAíDA / ENSAIO SOBRE O OPtIMISMO”Museu de Serralves

MúSICA VáRIOSEVENtOSAté 20 DE DEZEMBRO

O AVARENtOTeatro Carlos AlbertoBREVE SUMáRIO DA HIStóRIA DE DEUSTeatro Nacional São João

21, 22 E 23 DE DEZEMBROtEAtRO DE SOMBRAS - A PRENDA DE NAtAL DE HENRIQUE SEM-PRESPERABiblioteca Pública Municipal do Porto, 10h30 às 11h30UM LOBO QUASE BEM-COMPOR-tADO - tEAtRO DE FANtOCHESBiblioteca Municipal Almeida Gar-rett, 15h às 16h

Até 27 DE DEZEMBRO“QUERIDA tELEVISãO”Teatro Rivoli

Até 31 DE JANEIROA CASA DO LAGORivoli Teatro Municipal

Até 28 DE FEVEREIRO

O FEItICEIRO DE OZRivoli Teatro Municipal

Até 31 DE JANEIROREBIStA à MODA DO PORtOTeatro Sá Bandeira

tEAtRO

The Legendary Tigerman vai actuar no Plano B

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JUP || DEZEMBRO 09

Reconheci alguma da originali-dade e vocação para a reinvenção dos espaços abandonados de Ber-lim e Budapeste na nova cidade “subterrânea” Portuense, com lo-cais de referência como os Maus

De Jornalista a AtletaTodos os adeptos de futebol alimen-tam o sonho secreto de, um dia, durante um jogo, serem chamados a jogar pela sua equipa porque um jogador se lesionou e não há mais ninguém. Os jornalistas nem pen-sam nisso. Duvido que um comenta-dor de rádio pense que, um dia, vai faltar algum atleta e ele vai acabar a jogar futebol, enquanto faz o re-lato. Acho que ninguém se acredita que isso possa acontecer realmente. Mas a verdade é que pode. Não nes-tes moldes, claro, mas quase. Quan-do foi convidado para acompanhar a comitiva da Universidade do Por-to nos Jogos Galaico-Durienses, em Santiago de Compostela, para fazer a cobertura da competição para o JUP, estava muito longe de imaginar que ia acabar por ser transformado de jornalista em jornalista-atleta. Sim, além de ir acompanhando as provas da competição, sempre de bloco e gravador na mão, também corri e nadei como gente grande.

Vou voltar um pouco atrás no tempo, para a história ficar bem explicada. Alguns dias antes do iní-cio da competição, aproveitei para passar uns minutos pelo Gabinete de Desporto, não só para confirmar a minha deslocação a Santiago para fazer a reportagem para o JUP, mas também para fazer umas pergun-tas ao Bruno Almeida, Director do GADUP, para começar a recolher mais inforamação para a reporta-gem. Nesse dia, o Bruno desabafou que não estava a ser fácil arranjar atletas para todas as modalidades, porque estávamos numa altura de entregas e apresentação de traba-lhos. Nesse pequeno encontro, ficou no ar a possibilidade de, caso não se arranjasse ninguém, eu poder com-petir nos Jogos Tradicionais. Ora, nada de complicado: uma prova que não exigia qualquer preparação física, e que acabava por estar longe do clima competitivo das restantes

PALAVRAS LEVA-AS O VENtO

provas. No entanto, essa possibilida-de não se concretizou.

Não se concretizou porque, no dia anterior à partida para Santiago, o mesmo Bruno Almeida me telefo-nou com um pedido sério e urgente: a UP não estava a conseguir encon-trar ninguém para competir no... Duatlo. “Francisco, achas que con-segues nadar 1000m e correr 5km?”. Bom, a meio acho que não ficava. Fiz natação de competição durante muitos anos, mas já não treino com regularidade há mais de três anos. De qualquer maneira, estava perante um grande dilema: por um lado, eu ia a Santiago ao serviço do JUP, e não era suposto (nem estava planeado) participar na Competição. Por outro lado, era complicado saber que já es-tava confirmado na comitiva da UP, e acabava por ser a resposta à ne-cessidade urgente da Universidade para a dita prova. Uma falta nessa modalidade resultaria numa penali-zação pontual para a Universidade. Perante isto, acedi ao pedido.

E, por isso, transformei-me em jornalista-atleta. E acabei por com-petir numa prova muito dura, que exige muita preparação. Lá nadei os 1000 metros, e lá corri os 5 km. Com muito esforço, claro, reflexo da minha péssima forma física. Para a história, fica uma participação me-díocre mas honrosa: não fiquei em último em nenhuma das provas. Na natação, acho que até fiquei em antepenúltimo. Nada mau, para um jornalista-atleta, que no dia anterior soube que, além do computador, bloco de notas e gravador, também tinha que guardar na mala uns cal-ções-de-banho, touca e sapatilhas. Para os jornalistas que vão cobrir o Mundial 2010, fica o conselho (do alto da minha inexperiência): não se esqueçam das chuteiras..

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nião

PEDRO FERREIRA

Acabada de regressar à cidade e ao país, agrada-me ver que o Porto antigo “sacudiu o pó” e abriu final-mente as portas de armazéns e pré-dios ao abandono, revelando alguns dos seus melhores segredos.

A oferta de espaços multiface-tados de arte, cultura e entreteni-mento multiplicou-se na cidade. As pessoas voltaram a ocupar as ruas do coração do Porto que es-tiveram, nos últimos anos, esque-cidas por habitantes e lojistas fas-cinados por edifícios modernos e centros comerciais em contínuo desenvolvimento noutras áreas e nos arredores da cidade.

O meu primeiro regresso ao Porto foi em 2000, depois de um ano como estudante Erasmus na Alemanha e três anos a estudar na Universidade do Minho em Braga.

Em viagem pela Europa, Berlim e Budapeste passaram a ser as mi-nhas referências de cultura artís-tica que se vive na rua, no bairro em que se habita e onde sair para ver uma exposição ou ir ao cine-ma era sinónimo de ir parar ao terraço de uma casa do início do século onde existiam também um bar, concertos e performances e se respirava a história de um sítio

Os “maus hábitos” do PortoHábitos, Gesto e Contagiarte. Lembro-me bem de correr a pala-vra que existia um sítio em frente ao Coliseu… Subi de elevador até ao 4º andar, bati à porta e tive de irromper com convicção num en-saio de teatro para poder conhe-cer o novo espaço de que todos falavam! A cidade ganhava, então, estes maus hábitos…

A criatividade, a informalidade e a programação alternativa des-tes bares / associações culturais recriam, em cada novo olhar que visita a cidade, o seu carácter de “ser distinto”.

e de uma cidade. O mais inspira-dor desses sítios foi a Arthouse Tacheles em Berlim Oriental, um edifício parcialmente destruído durante a II Guerra Mundial e ocupado desde 1990 por artistas de várias nacionalidades.

De volta ao Porto, no ano de pre-paração para a Capital Europeia da Cultura, a cidade estava irreconhe-cível com tantas obras de requali-ficação em espaços emblemáticos como a Praça da Batalha, a Avenida dos Aliados, a Praça da Cordoaria e os Jardins do Palácio de Cristal. A cidade boémia e vanguardista era já outra, afastada dos conhecidos bares da Ribeira e da Foz, que mar-caram várias gerações.

A oferta de espaços multifacetados de arte, cultura e entretenimento multiplicou-se na cidade. As pessoas voltaram a ocupar as ruas do coração do Porto...

frANCiSCO [email protected]

mAriSA rAmOS GONç[email protected]

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JUP || DEZEMBRO 0930 || OPINIãO

FICHA téCNICA

DIRECçãODIRECçãO DO NJAP/JUP - PRESIDENtE Sara Moreira VICE-PRESIDENtE Rita Falcão tESOURARIA Rita Bastos VOGAIS Pedro Ferreira (JUP) || Filipa Mora (aguasfurta-das) || Bárbara Rêgo (espaçosJUP) || Manaíra Athayde (galerias)

DIRECçãO DO JUP Filipa Mora DIRECtORA DE PAGINA-çãO Joana Koch Ferreira DIRECtOR DE FOtOGRAFIA Manuel Ribeiro CHEFE DE REDACçãO Mariana Jacob EDItORES E SUB-EDItORESEDUCAçãO Filipa Mora SOCIEDADE Manaíra Athayde CULtURA Filipa Mora e Tiago Sousa Garcia OPINIãO Pedro Ferreira DESPORtO Francisco Ferreira COLABORARAM NEStA EDIçãO

Ana Fortuna || Agripina Roxo || Artur Costa || Catarina Cruz || Carlos Xochicale || Diogo Carneiro || João Duarte || João Pedro Cruz || Edgardo Cecchini || Filipa Pedrosa || Igor Gonçalves || Liliana Pinho || Luísa Catita || José Ferreira || José Miranda || Maria Freitas || Maria Inês Marques || Maria João Fernandes || Maria João Silva || Mariana Sobral || Mariana Teixeira Santos || Marisa Ra-mos Gonçalves || Mónica Silva || Nuno Fonseca || Nuno Moniz || Paola Botelho || Sara Sousa || Susana Correia || Teresa Viana || Vera Lopes || Yiannis Bournous

IMAGEM DA CAPA Manuel Ribeiro DEPóSItO LEGAL nº23502/88 tIRAGEM 10.000 exemplares DESIGN LOGO JUP Bolos Quentes Design EDItORIAL/GRAFISMO Joana Koch Ferreira PAGINAçãO Joana Koch Ferreira

PRé-IMPRESSãO Jornal de Notícias, S.A IMPRESSãO Nave-

Printer - Indústria Gráfica do Norte, S.A. Propriedade Núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário REDACçãO E ADMINIStRAçãO Rua Miguel Bombarda, 187 - R/C e Cave 4050-381 Por-to, Portugal || telefone 222039041 || Fax 222082375 || E-mail [email protected]

APOIOSReitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção So-cial da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude.

EDItORIAL

As características singulares do centro histórico do Porto fizeram com que a UNESCO o classificasse de Património Cultural da Humanidade, em 1996. Passados 13 anos, senti-mos que cada vez que uma das tascas típicas fecha as portas, o património que elas encerram se perde para sempre.As tascas são detentoras de património material mas, sobre-tudo, imaterial de grande valor, pois surgiram e desenvolveram-se com a industrialização e com o movimento operário de finais do século XIX. As tascas que se perdem marcaram o desenho arquitectónico da cidade, foram sítios de tertúlias; conspirações e luta na época da implantação da República; de excessos de álcool e violência; de cumplicidades quando se ouviam, através dos rádios, os emissores clandestinos durante a ditadura; de receitas com segredos; de vinho servido das pipas; do fado vadio; do manguito do Zé Povinho; ex-pressões típicas como “traçadi-nho”, “chamar pelo Gregório”. Hoje, as Tascas esvanecem no meio da desertificação do centro historio, dos centros comerciais, do MacDonalds, dos novos hábitos, da avaliação da ASAE, do tráfico, das novas gerações que já não as reconhecem como suas.O final de um ano é sempre tempo de fazer balanços e tempo de pensar em novos desafios. É neste contexto que a equipa do JUP vem apresentar uma nova rubrica, na editoria de cultura - Gourmet das Tascas. O objectivo é dar a conheceras as tascas da cidade, as estórias e memórias, os pratos típicos que oferecem. O que propomos, para este novo ano de 2010, é que tri-lhem a cidade em busca das tas-cas que vos damos a conhecer, entrem, sentem-se e saboreiem, calmamente, a cultura que vos servem à mesa. A equipa do JUP deseja-vos em bom Natal, dando garantias que em 2010 nos voltamos a encontrar e reforçamos o con-vite, aos nossos leitores, para se juntarem ao mais antigo órgão de informação estudantil do país. mAriANA JACOB

‘Alexis, há um ano atrás’: sobre a revolta na Grécia

Poucas horas após o homicídio a sangue-frio do estudante de 15 anos, Alexandros Grigoropoulos, por um homem pertencente ao Corpo “Guardas Especiais” da Polícia Grega, no dia 6 de Dezembro de 2008, em Exarhia, Atenas, as reacções públicas foram demonstradas de duas ma-neiras: manifestações massivas e re-voltas violentas. Ambos os tipos de reacções tiveram três características em comum: foram organizadas es-pontâneamente, a nível nacional e caracterizadas por uma atmosfera anti-repressiva, expressa tanto pela radicalização de slogans de manifes-tantes pacíficos ou pela subida de tom de actos violentos por parte de um largo número de pessoas, não apenas o “tradicional” black block.

Existe uma solidariedade “en-tre classes” nas pessoas que par-ticiparam nas várias formas de manifestação e mobilização orga-nizadas em todo o país. Isto acon-teceu por duas razões:

1)O efeito simbólico e poderoso

chocantes da revolta, mas também devido ao facto da “geração dos se-tecentos euros” poder ser localiza-da, hoje em dia, quase em todo o lado, seja qual for a origem social dos pais desses jovens.

O homicídio do Alexis não é um evento isolado, como o Governo Grego, o partido da extrema-direita (LAOS), os responsáveis da Polícia Grega e a maioria dos meios de co-municação corporativos tentaram fazer parecer. É baseado num dia-crónico conceito de repressão que caracteriza a estrutura da Polícia Grega. Vejamos : O agente da Po-lícia que assassinou o Alexandros pertence ao corpo “Guardas Espe-ciais”. Este corpo foi inicialmente criado aquando dos Jogos Olímpi-cos de 2004, para formar seguran-ças desarmados para os edifícios, após providenciar um treino de três meses. As pessoas que desejem entrar para este corpo policial são contratadas através de um simples processo, enquanto a Academia de Polícia é um curso universitário de quatro anos, pertencente ao Sistema do Ensino Superior Grego. Com a Reforma Legal há alguns anos, o Governo de direita mudou o âmbito dos “Guardas Especiais” permitindo a sua participação em patrulhas, confronto com manifes-tantes nas ruas e porte de arma. Lembrança: Após três meses de treino apenas …

Fora esta situação, existe uma ex-tensa lista de casos de impunidade em situações de extrema brutali-dade policial (especialmente con-tra imigrantes e manifestantes),

chegando mesmo a homicídios, que começaram a aumentar com os Jogos Olímpicos de 2004, sob a desculpa de “aumento de medidas de segurança”.

O papel de protagonista da revolta, sem dúvida, pertence ao estudantes do ensino secundário de quinze anos, cuja identidade social e política foi para sempre marcada, durante os primeiros dias após o homicídio do seu cole-ga. As reacções dos estudantes do secundário foram profundamente rápidas e massivas (alguns analis-tas sugerem que se tenha excedi-do os números da histórica revolta em 1990-91, quando um membro duma Juventude da direita assassi-nou um professor conotado com a esquerda, Nikos Temponeras). Eles utilizaram todas as recentes for-mas de comunicação, ocuparam centenas de escolas secundárias por todo o país e executaram múl-tiplas acções, desde as mais vio-lentas às não violentas, actuações simbólicas fora do Parlamento ou frente às linhas policiais.

A criatividade dos estudantes, de certo modo, contra-balançou as imagens projectadas nos media, que constantemente reproduziam vide-os de destruição, apedrejamento e fogo. Eles conseguiram tornar-se no instrumento para a larga legitima-ção da revolta, enquanto a lideran-ça política e operacional da Polícia Grega e os media manipuladores fizeram o seu melhor para obter o contrário... ExCErTO dE TExTO dE

YiANNiS BOUrNOUS E TrAdUçãO dE

NUNO mONiz

yIANNIS BOURNOUS

do homicídio. As manifestações tiveram a participação - fora os tradicionais actores de mobiliza-ção – de um largo espectro de pes-soas, desde os pais sensibilizados pela homicídio, até aos ultras de claques futebolísticas, tradicional-mente anti-repressão.

2)A precarização da sociedade grega, com maior reflexo nas ge-rações jovens, levou a novos pro-blemas sociais, afectando desde os extremos das estruturas sociais até à classe média urbana. Analistas dizem que nós já experienciámos revoltas sociais através das quais “os jovens dos guetos dos subúr-bios” revoltaram-se devido às suas condições de vida serem antagóni-cas ao estilo de vida provocadora dos jovens da classe média urbana. Neste caso específico, os jovens das classes altas foram para a rua, lado a lado com os imigrantes e jovens “sem-voz” vindos das classes mais baixas, não apenas porque demons-traram admiração face às imagens

Jovem casal rodeado pela policia grega durante os tumultos que se fizeram sentir nas ruas de Atenas

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Devaneios

“Ele segurou-me a mão. Passou ao de leve os dedos pelo rosado da minha cara e sorriu.Tem um sorriso bonito ele. Um sorriso grande e umas mãos doces, mas não é quente.Não é o meu mar, nem o meu fogo. É só ele. E por isso choro”. Trocam-se os personagens, muda-se o capítulo anterior para que fique mais de acordo com o seguinte e (re)começa-se o exercício da escrita. Com algumas alterações, pois claro. O era uma vez não se repete, e o príncipe também não.O que mais dói de doer, é chegar ao décimo capítulo ou qualquer coisa por aí, com uma constante repetição de regras. Ajustar o capítulo anterior não é difícil, mas palavras para começar um novo exercício de escrita começam a rarear. Os dedos, esses, passam a sofrer de uma gaguez convulsa. E demora. Demora muito mais tempo. A experiência atrapalha o ofício e o cansaço de quem sente em demasia reflecte-se na ausência das palavras. O príncipe fica cada vez mais longe e o era uma vez esquecido, até ao dia da derradeira amnésia, o dia em que o escritor decide começar um novo livro ao invés de um novo capítulo. Era uma vez um príncipe encantado de um reino distante. Tinha um sorriso grande e umas mãos doces. Gostava das cores dos dias e dos cheiros. Sabia falar do Outono, e até sorrir. Sonhava sonhos distantes e sorria com o sor-riso grande de quem sonhava os sonhos. Gostava de ter uma família e um cão. Gostava dela e para ela. Gostava de uma vida para viver e para amar. Um dia, de um dos seus muitos dias [1], o príncipe segurou-lhe a mão. Passou ao de leve os dedos pelo rosado da sua cara e sorriu. Só que os príncipes não existem e ela sabia e por muitas histórias que se reescrevam, não adi-anta começar livros sem passar pela derradeira amnésia. O ofício não pode ser manipulado. E sim, esta é uma história triste. “Ele segurou-me a mão. Passou ao de leve os dedos pelo rosado da minha cara e sorriu.Tem um sorriso bonito ele. Um sorriso grande e umas mãos doces, mas não é quente.Não é o meu mar, nem o meu fogo. É só ele. Por isso choro”.

Agripina Roxo

[1] Os príncipes vivem sempre muitos dias. E, de preferência felizes.

LUISA

CA

tItA

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