20
AS UNIDADES ECODINÂMICAS NA ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL DO PARQUE ESTADUAL DO MORRO DO DIABO E ENTORNO, TEODORO SAMPAIO/SP Rosangela do Amaral * Jurandyr Luciano Sanches Ross ** * Pesquisadora Científica, Chefe da Seção de Geografia Aplicada do Instituto Geológico – Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e Mestre em Geografia Física pelo Departamento de Geografia – FFLCH – USP. E-mail: [email protected] ** Professor Titular do Departamento de Geografia – FFLCH – USP. E-mail: [email protected] RESUMO O presente artigo apresenta um estudo de caso desenvolvido em Teodoro Sampaio/SP, no Pontal do Paranapanema, para determinar a fragilidade ambiental a partir da proposta metodológica de ROSS (1994) em “Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados”, utilizando o conceito de Unidades Ecodinâmicas. O objetivo do estudo da fragilidade ambiental foi avaliar as áreas suscetíveis à degradação para subsidiar ações de planejamento que restrinjam e direcionem o uso e ocupação da terra, de forma a prevenir e minimizar o surgimento de problemas relacionados à qualidade ambiental. A área de estudo foi selecionada por conter diferentes tipos de uso da terra, com características naturais e antrópicas. Foram levantados dados secundários e desenvolvidos ensaios de campo para a caracterização de quatro fatores primordiais para a análise: uso da terra/cobertura vegetal, relevo, solos e clima. PALAVRAS-CHAVE Fragilidade, Unidades Ecodinâmicas, análise integrada, planejamento ambiental, Parque Estadual do Morro do Diabo ABSTRACT This paper is a case study in the municipality of Teodoro Sampaio, Pontal do Paranapanema, to determine the environmental fragility, developed from the methodological proposal by ROSS (1994) in “Empirical analysis of the fragility of natural and humanized environments” (Análise empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados), using the Ecodynamical Units concept. The objective of this environmental fragility study is to evaluate degradation susceptive areas to subsidize planning actions that restrict and direct land use. These actions are planned to prevent and minimize the appearance of problems related to environmental quality. The study area was selected because it contains different forms of land use, with natural and anthropic characteristics. Secondary data was obtained from previous studies and field surveys were carried out to characterize four important factors for the final analysis: land use/vegetal cover, relief, soil and climate. KEY WORDS Fragility, Ecodynamical Units, integrated analysis, environmental planning, Morro do Diabo State Park / São Paulo / Brazil GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, pp. 59 - 78, 2009

Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

AS UNIDADES ECODINÂMICAS NA ANÁLISE DA FRAGILIDADEAMBIENTAL DO PARQUE ESTADUAL DO MORRO DO DIABO E

ENTORNO, TEODORO SAMPAIO/SP

Rosangela do Amaral*Jurandyr Luciano Sanches Ross**

* Pesquisadora Científica, Chefe da Seção de Geografia Aplicada do Instituto Geológico – Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo eMestre em Geografia Física pelo Departamento de Geografia – FFLCH – USP. E-mail: [email protected]

** Professor Titular do Departamento de Geografia – FFLCH – USP. E-mail: [email protected]

RESUMOO presente artigo apresenta um estudo de caso desenvolvido em Teodoro Sampaio/SP, no Pontal doParanapanema, para determinar a fragilidade ambiental a partir da proposta metodológica de ROSS(1994) em “Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados”, utilizando oconceito de Unidades Ecodinâmicas.O objetivo do estudo da fragilidade ambiental foi avaliar as áreas suscetíveis à degradação para subsidiarações de planejamento que restrinjam e direcionem o uso e ocupação da terra, de forma a prevenir eminimizar o surgimento de problemas relacionados à qualidade ambiental.A área de estudo foi selecionada por conter diferentes tipos de uso da terra, com característicasnaturais e antrópicas. Foram levantados dados secundários e desenvolvidos ensaios de campo para acaracterização de quatro fatores primordiais para a análise: uso da terra/cobertura vegetal, relevo,solos e clima.

PALAVRAS-CHAVEFragilidade, Unidades Ecodinâmicas, análise integrada, planejamento ambiental, Parque Estadual doMorro do Diabo

ABSTRACTThis paper is a case study in the municipality of Teodoro Sampaio, Pontal do Paranapanema, to determinethe environmental fragility, developed from the methodological proposal by ROSS (1994) in “Empiricalanalysis of the fragility of natural and humanized environments” (Análise empírica da Fragilidade dosAmbientes Naturais e Antropizados), using the Ecodynamical Units concept.The objective of this environmental fragility study is to evaluate degradation susceptive areas tosubsidize planning actions that restrict and direct land use. These actions are planned to prevent andminimize the appearance of problems related to environmental quality.The study area was selected because it contains different forms of land use, with natural and anthropiccharacteristics. Secondary data was obtained from previous studies and field surveys were carried outto characterize four important factors for the final analysis: land use/vegetal cover, relief, soil andclimate.

KEY WORDSFragility, Ecodynamical Units, integrated analysis, environmental planning, Morro do Diabo State Park/ São Paulo / Brazil

GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, pp. 59 - 78, 2009

Page 2: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

60 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

Introdução

A proposta metodológica de ROSS (1994)em “Análise Empírica da Fragil idade dosAmbientes Naturais e Antropizados”, foidesenvolvida com base nas concepções deEcodinâmica e Ecossistema, definidas emtrabalhos anteriores de TRICART (1977). Nesteestudo de caso em Teodoro Sampaio/SP, no Pontaldo Paranapanema, foi aplicado o conceito deUnidades Ecodinâmicas para determinar afragilidade ambiental.

Sob essa concepção metodológica oambiente é analisado segundo a Teoria dosSistemas, que parte do pressuposto de que nanatureza os fluxos de energia e matéria seprocessam por meio de relações em equilíbriodinâmico, ou seja, a evolução natural doscomponentes do ambiente se dá em harmoniaentre si.

No entanto, a ação antrópica na naturezaafeta a funcionalidade do sistema e induz aosprocessos degenerativos. Normalmente, busca-se o retorno técnico e econômico imediato, semprognosticar as consequências passíveis deocorrer em longo prazo devido a essasintervenções. Com base nesses fatos acredita-seque todo planejamento deva considerar aspotencialidades dos recursos naturais, mas,sobretudo, as fragilidades diante das diferentesintervenções antrópicas na natureza.

O Pontal do Paranapanema, localizado noOeste do Estado, é uma área que foi vastamentemodificada, hoje caracterizada por pastagensextensivas em relevo de col inas amplas,apresentando intensos processos erosivos.

A área de estudo (Figura 1) tem comocaracterísticas relevantes a presença de umaUnidade de Conservação, o Parque Estadual doMorro do Diabo, e em seu entorno assentamentosrurais com cultivos diversificados, onde sãoevidenciadas marcas de processos erosivos.

Objetivo

O estudo da fragilidade ambiental tevecomo objetivo avaliar as áreas suscetíveis àdegradação para subsidiar ações de planejamentoque restrinjam e direcionem o uso e ocupação daterra, de forma a prevenir e minimizar osurgimento de problemas relacionados àqualidade ambiental.

Para a aplicação do conceito de UnidadesEcodinâmicas foram analisados integradamentedados de uso da terra (componente antrópica) ede relevo, solos e cl ima (componentesambientais), em escala 1:50.000. Foram definidasas Unidades Ecodinâmicas de InstabilidadeEmergente para áreas antropizadas e deInstabilidade Potencial para áreas naturais, comgraus de fragilidade variando de muito baixo amuito alto.

Proposição Metodológica

Para avaliar a área de estudo foi utilizadaa proposta metodológica de ROSS (1994), em quese utiliza o conceito de Unidades Ecodinâmicasde Instabilidade Potencial e de InstabilidadeEmergente, classificadas em graus de fragilidade.Essa proposta foi desenvolvida com base naconcepção de Ecodinâmica definida por TRICART(1977) e ambas foram relacionadas conformeQuadro 1.

Ambas as metodologias têm como objetivoproceder a análises integradas dos dados,resultados de combinações dinâmicas deelementos físicos, biológicos e antrópicos quefazem da paisagem um conjunto único eindissociável, sempre em evolução (BERTRAND,1971). Outras formas de análises integradaspodem ser vistas, por exemplo, nas concepçõesde Geossistema, exploradas por diversos autores(BERTRAND, 1971, SOTCHAVA, 1978 eMONTEIRO, 2000).

Page 3: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

As Unidades Ecodinâmicas na análise da fragilidade ambiental doParque Estadual do Morro do Diabo e entorno, Teodoro Sampaio - SP, pp. 59 - 78 61

Figura 1 – Localização da Área de Estudo na Imagem de Satélite Landsat de 1997

Page 4: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

62 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

As Unidades Ecodinâmicas deInstabilidade Potencial (Estáveis) são as que estãoem equilíbrio dinâmico em seu estado natural,porém, há uma instabilidade potencial contidanelas diante da possibilidade da intervençãoantrópica.

As Unidades Ecodinâmicas deInstabilidade Emergente (Instáveis) foramdefinidas como os ambientes naturais que forammodificados intensamente pelo homem comdesmatamentos, agriculturas, industrialização e

Quadro 1 – Relação entre os conceitos relacionados aos ambientes naturais eantropizados definidos por ROSS (1994) e TRICART (1977).

Autores

Proposta metodológica

Conceituação Ambientes naturais Ambientes antropizados

TRICART, 1977 Ecodinâmica Unidades Estáveis Unidades Instáveis ROSS, 1994 Fragil idade

ambiental Unidades Ecodinâmicas de Instabilidade Potencial

Unidades Ecodinâmicas de Instabilidade Emergente

Org.: AMARAL (2008).

urbanização, portanto, denominados ambientesantropizados.

Para se obter a classificação das unidadesecodinâmicas é necessário proceder alevantamentos de dados sobre o uso da terra(componente antrópica) e de relevo, solos e clima(componentes ambientais), que se constituirãofatores determinantes dos graus de fragilidadeambiental. Os fatores e os respectivos elementosque os compõem, considerados nesta análise, sãodispostos no Quadro 2.

Quadro 2 – Fatores e elementos de análise para determinação da fragilidade ambiental.

Org.: AMARAL (2008)

Fatores de análise para fragilidade ambiental

Elementos

Uso da Terra/Cobertura vegetal Densidade da cobertura vegetal. Presença de práticas conservacionistas.

Relevo Tipos de vertentes. Índices de declividade.

Solos Textura (análise granulométrica). Profundidade / espessura dos horizontes superficiais e subsuperf iciais. Permeabilidade / Compactação.

Clima Distribuição anual e intensidade da pluviometria.

Cada um dos fatores analisados deve serhierarquizado em graus de fragilidade, que variamentre muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto.A composição final do grau de fragilidade é aassociação dos quatro fatores analisados, em queo fator uso da terra/cobertura vegetal é

preponderante para determinar a classificação daUnidade Ecodinâmica.

Deste modo, a associação numéricarepresenta um dígito para o grau de proteção aossolos pela vegetação (natural ou cultivada),variando da mais protetora a menos protetora,

Page 5: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

As Unidades Ecodinâmicas na análise da fragilidade ambiental doParque Estadual do Morro do Diabo e entorno, Teodoro Sampaio - SP, pp. 59 - 78 63

outro para a intensidade de dissecação do relevoou declividade, outro para a suscetibilidade àerosão dos tipos de solos, do menos suscetívelao mais suscetível, e, finalmente, o quarto dígito,referente aos tipos de comportamentopluviométrico.

A análise integrada dos fatores daráorigem à carta-síntese (Carta das UnidadesEcodinâmicas de Instabil idade Potencial eEmergente).

Discussão e Resultados

Na área de estudo, para se obter aclassif icação das unidades, foi efetuado olevantamento e avaliação dos quatro fatores, emescala 1:50.000, de acordo com os parâmetrosdeterminados na proposta de ROSS (1994): Usoda Terra/Cobertura Vegetal, Relevo, Solos e Clima.Posteriormente, esses fatores foram analisadosintegradamente.

1) Uso e ocupação da terra e cobertura vegetal.

O primeiro fator avaliado, preponderantepara a determinação da classificação da UnidadeEcodinâmica, é o uso e ocupação da terra, e serefere ao grau de proteção ao solo, de acordocom a cobertura vegetal predominante.

O estudo foi feito a partir de interpretaçãoda imagem de satélite Landsat TM5, órbita/ponto222/75, 222/76, 223/75 e 223/76, composiçãocolor ida RGB, de 1997 (SMA, 1999),complementado com levantamentos de campo emlocais específicos para subsidiar a elaboração daCarta de Uso da Terra.

A imagem de satélite foi tratada nosoftware Spring e classificada pelo métodosupervisionado Maxver (máximaverossimilhança).

A classificação final do fator uso da terraé representada no Quadro 3.

Quadro 3 - Graus de proteção do solo na área de estudo de acordo com o uso da terra

Fonte: AMARAL (2005).

2) Relevo.

Para avaliar o fator relevo e elaborar aCarta Geomorfológica da área de estudo foi feitauma compartimentação por tipos de vertentes,utilizando-se a classificação taxonômica propostapor ROSS (1992), em que se detalhou a análisedas formas de relevo presentes entre o 4° e o 6°táxons, respectivamente, tipos de formas de

relevo, tipos de vertentes e formas de processosatuais, de acordo com a escala adotada para olevantamento (1:50.000).

A declividade foi associada àcompartimentação geomorfológica para auxiliarna hierarquização do grau de fragilidade. Combase nos dados da imagem de satélite,levantamentos secundários e trabalhos de campo,

Graus de Proteção Tipos de Uso da Terra / Cobertura vegetal (Ocorrências na área de estudo)

1- Muito Alto Florestas/Matas naturais 2- Alto Capoeira 3- Médio (sem ocorrências) 4- Baixo Pastagem sem práticas conservacionistas

Agriculturas diversas sem práticas conservacionistas 5- Muito baixo a nulo Áreas desmatadas e queimadas recentemente

Solo exposto por arado/gradeação Solo exposto ao longo de caminhos e estradas

Page 6: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

64 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

foram representadas as formas de processoserosivos atuais: erosão laminar, voçorocas,ravinas e cabeceiras de drenagem com erosãoacelerada.

A caracterização regional da área deestudo apresenta o predomínio de formas de

relevo denudacionais , com modelado decolinas amplas e baixas com topos convexose topos planos e tabulares (ROSS & MOROZ,1997).

A classificação final do fator relevo érepresentada no Quadro 4.

Quadro 4 - Classes de fragilidade de acordo com os tipos de vertentes edeclividades na área de estudo

Fonte: AMARAL (2005).

Graus de F ragilidade T ipos de Vertentes e declividades (O co rrências na Área de Estudo)

1- Muito Baixo Tp - Topos planos (0 a 3% de declividade) 2- Baixo Tc - Topos convexos (0 a 12% de declividade)

Vc1 - Vertentes convexas (3 a 12% de declividade) Pt - Patamares p lanos (3 a 12 % de decliv idade)

3- Médio Vcc - Vertentes côncavas (3 a 12% de decliv idade) Vc2 – Vertentes convexas com declividades médias (12 a 30%)

4- Alto Vr2 - Vertentes re tilínea s com declividades médias (12 a 30% de decl ividade)

5- Muito Alto Vr1 - Ve rtentes re ti líneas com a ltas decliv idades (maiores que 30%) Planície Fluv ia l (0 a 3% de declividade)

3) Solos.

Para avaliar o fator solos e elaborar acaracterização pedológica, foi feita uma análisecom base no Mapa Pedológico do Estado de SãoPaulo (OLIVEIRA et al, 1999) e amostragens decampo, por falta de dados secundários de detalheda região.

A influência do substrato rochoso nodesenvolvimento pedológico é verif icadafundamentalmente por meio da composiçãomineralógica e da permeabilidade. Essa influênciaé observada tanto nos processos de alteraçãofísica e química dos constituintes minerais comonos processos de movimento da matéria no solo.

No caso da área de estudo, o substratopedogenético, produto da alteração de arenitosnão calcíferos apresenta-se relativamente pobreem cátions básicos, facilitando o desenvolvimento

de perfis latossólicos. A ocorrência de Argissolosestá provavelmente condicionada acoluvionamentos subsuperficiais de areias eargilas transportadas por ação de chuvastorrenciais e movimentação por gravidade aolongo das vertentes mais inclinadas.

As características climáticas favoreceramo desenvolvimento de processos de alteraçãoferralítica, bem desenvolvidos nos solos da região.A água também exerce papel de fundamentalimportância, podendo acelerar o processo demigração de argila para os horizontes maisprofundos, causando a lixiviação dos sais solúveis.As formas do relevo contribuem para a definiçãodas intensidades destes processos (IPT, 1987).

Em estudos de detalhe, mais importantedo que enquadrar o solo em tipos específicos, é

Page 7: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

As Unidades Ecodinâmicas na análise da fragilidade ambiental doParque Estadual do Morro do Diabo e entorno, Teodoro Sampaio - SP, pp. 59 - 78 65

verificar o seu padrão textural e comportamentohídrico. Em locais antropizados é relevanteaveriguar o comportamento perante asintervenções que já foram feitas no local, comopor exemplo, o uso de maquinários para prepararo solo para o plantio, que causa uma compactaçãodos horizontes superficiais e, consequentemente,muda os padrões de permeabilidade.

Para estimar essas diferenças, foramescolhidos pontos em locais limítrofes ao Parque(com cobertura de vegetação densa) e em áreasde assentamento rural (culturas diversas).

No total foram efetuados 9 pontos decoleta de solos para análise granulométrica,distribuídos ao longo da principal bacia dedrenagem da área de estudo, a bacia do RibeirãoBonito. Foram amostrados pontos em montante,

médio curso e jusante, e em alta, média e baixavertentes. A análise granulométrica revelou apredominância da fração areia, especialmentemédias a finas.

Os solos predominantemente arenosostêm como principal característica uma rápida eprofunda infiltração da água, que leva consigo osminerais e empobrece o solo superficial.

Além da análise granulométrica, aplicou-se mais algumas técnicas para constatar apermeabilidade do solo em 6 pontos (alta, médiae baixa vertentes): testes com infiltrômetros desuperfície e subsuperfície e com os penetrômetrosde bolso e de percussão (impacto). O Quadro 5apresenta uma síntese das características dospontos amostrados, e sua localização pode servisualizada na Figura 2.

Quadro 5 – Características dos pontos amostrados em campo e resultados da aplicação dostestes com infiltrômetro de subsuperfície e com o penetrômetro de percussão (impacto).

Org: AMARAL (2008).

Pontos amostra-

dos

Posição no relevo / Tipo de vertente

Cobertura vegetal /

uso da terra

Granulo-metria

Penetrômetro de percussão)

(kgf/cm²)

Infiltrômetro de

subsuperfície (ml/s)

Período chuvoso

Período seco

Período chuvoso

Período seco

P-1 Alta vertente / vertente convexa de baixa declividade

Floresta 86% areia 4% silte 10% argila

12,49 22,73 248 592

P-2 Média vertente / vertente convexa de baixa declividade

Floresta 82% areia 6% silte 12% argila

18,72 26,93 39 191

P-3 Baixa vertente / planície aluvial

Floresta 82% areia 4% silte 14% argila

12,16 16,76 9 161

A-1 Alta vertente / topo convexo de baixa declividade

Pastagem / Agricultura

62% areia 4% silte 34% argila

18,39 35,78 0,7 16

A-2 Média vertente / vertente côncava de baixa declividade

Pastagem / Agricultura

78% areia 2% silte 20% argila

18,73 34,15 2 18

A-3 Baixa vertente / vertente convexa de baixa declividade

Pastagem 74% areia 4% silte 22% argila

25,29 53,83 2 9

Page 8: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

66 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

Os testes com inf i lt rômetro foramrealizados com a f ina l idade de medir aquantidade e a velocidade de infiltração da águano solo. Um dos testes foi feito com infiltrômetrode superfície, considerando a influência davegetação e raízes presentes em cada local eas características dos horizontes A e O. O outroteste foi executado com o infiltrômetro desubsuperfície, a 70 cm de profundidade, paraaveriguar o comportamento da permeabilidadeno horizonte B.

Nos pontos amostrados na área internado Parque (P1, P2 e P3), de textura arenosa(cerca de 80% are ia) os testes com osinfiltrômetros demonstraram uma infiltraçãorápida e não houve saturação do solo. Nos locaisamostrados nos assentamentos (A1, A2 e A3),de textura média-arenosa (cerca de 70% areia),a infiltração foi mais lenta e apenas em 2 dos 6pontos houve saturação. Em todos os pontosamostrados, as taxas de infiltração forammaiores em superfície, demonstrando não havercamada arg i losa signif icat iva no topo dohorizonte B.

Também verificou-se que as taxas deinf i lt ração em subsuperf ície aumentaramconsideravelmente do período chuvoso para o

seco, demonstrando o ressecamento dos solosarenosos, que não retêm água, mostrando-seextremamente permeáveis, o que diminui apossibi l idade de ocorrência de processoserosivos laminares e lineares, como ravinas evoçorocas.

O penetrômetro de bolso foi utilizadopara medir a resistência de compressão do soloem superfície. O penetrômetro de percussão,com uma haste de 70 cm e peso de impacto de4 kg, foi utilizado nos mesmos pontos, paradeterminar a var iação de resistência desuperfície e subsuperfície.

Os testes com os penetrômetrosrevelaram que a resistência do solo ou índicede cone é maior nos pontos que apresentamtextura médio-arenosa e em um ponto detextura arenosa. Outro fator importante é quea resistência do solo (nº de impactos) aumentouconsideravelmente em todos os pontoscomparando-se a medição realizada no períodode seca (agosto) em relação à medição realizadano período chuvoso (março), em função domaior atrito decorrente da pouca umidade dossolos.

A classificação final do fator solos érepresentada no Quadro 6.

Quadro 6 - Classes de fragilidade na área de estudo de acordo com os tipos de solos

Fonte: AMARAL (2005).

Graus de Fragilidade Tipos de Solos (Ocorrências na Área de Estudo) 1- Muito Baixo (sem ocorrências) 2- Baixo (sem ocorrências) 3- Médio LVA4 - Latossolo Vermelho-Amarelo (textura média) 4- Alto PVA13 - Argissolos Vermelho-Amarelo (textura arenosa/média) 5- Muito Alto RL8 - Neossolos Litólicos com afloramento de rochas (relevo

escarpado) RL9 - Neossolos Litólicos com afloramento de rochas (relevo forte ondulado) GX9 - Gleissolos Háplicos

Page 9: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

As Unidades Ecodinâmicas na análise da fragilidade ambiental doParque Estadual do Morro do Diabo e entorno, Teodoro Sampaio - SP, pp. 59 - 78 67

4) Clima.

O quarto fator considerado foi a análisedo comportamento pluviométrico regional, apartir de dados do posto pluviométrico D9-014 – Fazenda Rosanela, disponibilizados peloDAEE (2003), referentes ao período de 1973a 1992.

Nesta área, segundo dados da SMA(1999), o clima é predominantemente tropical-continental, dada à participação dos sistemasatmosféricos do Centro-Oeste.

Em referência à classificação de Köppen,a definição é Cwa - Mesotérmico de Inverno Seco,caracterizado por temperaturas médias anuaisligeiramente inferiores a 22° C, com chuvas típicasde clima tropical de maior ocorrência no verão.

Não foi possível apurar diferenças decomportamento pluviométrico na área de estudo,e, portanto, foram determinadas as característicaspredominantes na região.

A classificação final do fator clima érepresentada no Quadro 7.

Quadro 7 - Níveis de comportamento pluviométrico na área de estudo

Fonte: AMARAL (2005).

Graus de Fragilidade Características pluviométricas (Ocorrências na área de estudo) 1 – Muito baixo (sem ocorrências) 2 - Baixo (sem ocorrências) 3 – Médio Situação pluviométrica com distribuição anual desigual, com

períodos secos entre 2 e 3 meses no inverno, e no verão com maiores intensidades de dezembro a março. Média anual em torno de 1500 mm/a

4 – Alto (sem ocorrências) 5 – Muito Alto (sem ocorrências)

5) Análise Integrada.

A partir da avaliação detalhada de cadaum dos 4 fatores, realizou-se a análise integradados dados, que foi o objetivo principal do estudo.

Foi feita a classificação numérica dospolígonos, a partir das possíveis combinaçõesentre os fatores analisados. O primeiro dígito éreferente ao fator Uso da Terra/CoberturaVegetal; o segundo dígito é referente ao fatorrelevo, e o terceiro dígito, referente ao fatorsolos. Por fim acrescenta-se o dígito referenteao clima.

De acordo com a proposiçãometodológica de ROSS (1994), o que diferenciaas Unidades Ecodinâmicas de InstabilidadePotencial (Estáveis) das Unidades Ecodinâmicasde Instabilidade Emergente (Instáveis) é o fator

Uso da Terra/Cobertura Vegetal. Portanto, nasáreas cujo uso da terra foi classificado como 1,ou seja, com t ipo de cobertura vegetalpredominantemente de floresta, matas naturaisou florestas cultivadas com biodiversidade, comgrau de proteção muito a lto, foramautomaticamente classificados como UnidadesEcodinâmicas de Instabilidade Potencial. Asdemais áreas, com outros tipos de coberturavegetal, foram classificadas como UnidadesEcodinâmicas de Instabilidade Emergente.

Os graus de fragil idade associadosdependeram da análise dos demais fatores: acombinação entre relevo, solos e clima. Comoo fator clima só teve uma ocorrência na área deestudo, neste caso, não terá alterações.

Page 10: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

68 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

Para classificar as Unidades Ecodinâmicasde Instabilidade Emergente foi elaborada umamatriz de correlações entre os fatores uso daterra e relevo/solos (combinados), visto que o

fator Uso da Terra/Cobertura Vegetal terávariações. O Quadro 9 apresenta a matriz decorrelação para as Unidades Ecodinâmicas deInstabilidade Potencial.

Quadro 8 – Matriz de correlação entre relevo e solos para classificação das UnidadesEcodinâmicas de Instabilidade Potencial

Org.: AMARAL (2008).

Matriz de Correlação Relevo x Solos Unidades Ecodinâmicas de Instabilidade Potencial (Estáveis)

CONSTANTES- Fator Uso da Terra / Cobertura vegetal = grau de proteção (1) Fator Clima = grau de fragilidade (3)

Grau de Fragilidade dos tipos de relevo e declividade

Grau de Fragilidade dos Solos Muito baixo (1) (-)

Baixo (2) (-)

Médio (3)

LVA4

Alto (4)

PVA13

Muito Alto (5)

RL8 RL9 GX9

Muito Baixo (1) Tp - Topos planos (0 a 12% decl.)

- - 13 14 15

Baixo (2) Tc - Topos convexos (0 a 12% decl.) Vc1 - Vertentes convexas (3 a 12% decl.) Pt - Patamares planos (3 a 12 % decl.)

- - 23 24 25

Médio (3) Vcc – Vertentes côncavas (3 a 12% decl.) Vc2 – Vertentes convexas (12 a 30% decl.)

- - 33 34 35

Alto (4) Vr2 – Vertentes retilíneas (12 a 30% decl.)

- - 43 44 45

Muito Alto (5) Vr1 – Vertentes retilíneas (decl. > 30%) Planície Fluvial (0 a 3% decl.)

- - 53 54 55

LEGENDA (-) Sem ocorrência na área de estudo. LVA4 – Latossolo Vermelho-Amarelo de textura média PVA13 – Argissolos Vermelho-Amarelo de textura média/arenosa RL8 e RL9 - Neossolos Litólicos com afloramento de rochas GX9 - Gleissolos Háplicos

Para c lassif icar as UnidadesEcodinâmicas de Instabilidade Potencial foielaborada uma matriz de correlações entre osfatores relevo e solos, visto que o fator Uso daterra/Cobertura Vegetal será único para todas

as combinações: Florestas/matas naturais, comgrau de proteção muito alto (1). O Quadro 8apresenta a matriz de correlação para asUnidades Ecod inâmicas de Instabi l idadePotencial.

Page 11: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

As Unidades Ecodinâmicas na análise da fragilidade ambiental doParque Estadual do Morro do Diabo e entorno, Teodoro Sampaio - SP, pp. 59 - 78 69

Quadro 9 – Matriz de correlação entre uso da terra, relevo e solos para classificação dasUnidades Ecodinâmicas de Instabilidade Emergente

Org.: AMARAL (2008)

M a t r iz d e Co rre laç ão U s o d a Te rr a x R elev o x So los U n i dad es Ec od i nâ m ic as d e In s t ab il i da de E m e rg en t e (I ns t áv eis )

C O N S T A NT E - Fa to r C lim a = g ra u d e f ra g ili d ad e ( 3 )

G ra u d e Fr ag i lid a d e d os so lo s + t ip o s d e v e rt en te s e d e cliv id a d e

G ra u d e Fr a g ilid a d e d o U so d a Te r ra / C ob e r tu ra Ve g e ta l M u i to b aixo

(1 ) ( -)

B aixo ( 2) C ap o e ira

M éd io (3) ( - )

A lt o ( 4) P a s ta g e m

A g ricu l tu ra

M uit o A lto (5 )

S ol o e xp o sto

M uit o B a ixo (1 ) ( -)

- - - - -

B ai xo (2 ) ( -)

- - - - -

M é dio ( 3 ) T p + L VA 4 (1 3 ) T c + L VA 4 (2 3 ) V c1 + LV A4 ( 23 ) P t + L VA 4 (2 3 ) V cc + LV A4 ( 33 ) V c2 + LV A4 ( 33 )

- 2 13 2 23 2 23 2 23 2 33 2 33

- 41 3 42 3 42 3 42 3 43 3 43 3

51 3 52 3 52 3 52 3 53 3 53 3

A lt o (4 ) T p + P V A1 3 ( 14 ) T c + P V A1 3 ( 24 ) V c1 + P VA 13 (24 ) P t + P V A1 3 ( 24 ) V cc + P VA 13 (3 4 ) V c2 + P VA 13 (34 ) V r2 + L VA 4 (43 ) V r2 + P V A13 ( 44 )

- 2 14 2 24 2 24 2 24 2 34 2 34 2 43 2 44

- 41 4 42 4 42 4 42 4 43 4 43 4 44 3 44 4

51 4 52 4 52 4 52 4 53 4 53 4 54 3 54 4

M uit o A lto (5 ) T p + R L8 ( 15 ) T p + R L9 ( 15 ) T p + G X9 ( 15 ) T c + R L8 ( 25 ) T c + R L9 ( 25 ) T c + G X9 ( 25 ) V c1 + R L8 (2 5 ) V c1 + R L9 (2 5 ) V c1 + G X 9 (2 5 ) P t + R L8 ( 25 ) P t + R L9 ( 25 ) P t + G X9 ( 25 ) V cc + R L8 (3 5 ) V cc + R L9 (3 5 ) V cc + G X 9 (3 5 ) V c2 + R L8 (3 5 ) V c2 + R L9 (3 5 ) V c2 + G X 9 (3 5 ) V r2 + R L8 ( 4 5 ) V r2 + R L9 ( 4 5 ) V r2 + G X9 ( 4 5 ) V r1 + L VA 4 (53 ) P la n . Flu v ia l + LVA 4 ( 5 3 ) V r1 + P V A13 ( 54 ) P la n . Flu v ia l + PV A1 3 ( 54 ) V r1 + R L8 ( 5 5 ) P la n . Flu v ia l + RL8 ( 55 ) V r1 + R L9 ( 5 5 ) P la n . Flu v ia l + RL9 ( 55 ) V r1 + G X9 ( 5 5 ) P la n . Flu v ia l + G X9 ( 55 )

- 2 15 2 15 2 15 2 25 2 25 2 25 2 25 2 25 2 25 2 25 2 25 2 25 2 35 2 35 2 35 2 35 2 35 2 35 2 45 2 45 2 45 2 53 2 53 2 54 2 54 2 55 2 55 2 55 2 55 2 55 2 55

- 41 5 41 5 41 5 42 5 42 5 42 5 42 5 42 5 42 5 42 5 42 5 42 5 43 5 43 5 43 5 43 5 43 5 43 5 44 5 44 5 44 5 45 3 45 3 45 4 45 4 45 5 45 5 45 5 45 5 45 5 45 5

51 5 51 5 51 5 52 5 52 5 52 5 52 5 52 5 52 5 52 5 52 5 52 5 53 5 53 5 53 5 53 5 53 5 53 5 54 5 54 5 54 5 55 3 55 3 55 4 55 4 55 5 55 5 55 5 55 5 55 5 55 5

LEG END A : (-) S em oc o rrê n ci a n a ár e a d e es t ud o . T p – To pos p lanos (0 a 3 % de c l. ) T c – T opos c o nvexo s (0 a 12% d e cl .) V c 1 – V erte n tes c on ve xa s (3 a 12% d ecl .) Pt – Pat am ares pl a nos (3 a 1 2% dec l . ) V c c – V er te n te s cô nc av as ( 3 a 1 2% dec l. ) V c 2 – V erte n tes c on ve xa s (3 a 12% d ecl .)

V r2 – V erte n te s ret il íne as (1 2 a 3 0% d ecl .) V r1 – V erte n te s ret il íne as (d ecl . > 30 % ) P lan . F luv ia l – P lan íc ie fluv ia l (0 a 3% dec l. ) L V A4 – L ato s so lo Verm elh o-A m are lo de tex tu ra méd ia PV A 13 – A rgis so lo s V erm e lho -A ma re lo d e te xtu ra m éd ia/a renos a R L8 e R L9 - N e os so los L it ó lico s co m a flo r ame nto d e ro ch as GX 9 - G le is so lo s H á pli c os

Page 12: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

70 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

As matrizes descritas anteriormenterepresentam as combinações que podem ocorrerentre os diferentes tipos de relevo, solos e usoda terra/cobertura vegetal. Deve-se esclarecerque não ocorrerão todas as combinações

A) Unidades Ecodinâmicas de InstabilidadePotencial.

Correspondem às áreas cuja coberturavegetal é de floresta/matas naturais, e, portanto,o grau de proteção é muito alto, proporcionadopela densidade da vegetação e presença deserrapilheira. A presença da vegetação densaimpede que o solo seja atingido diretamente pelaságuas pluviais, evitando a ação do salpicamento.A presença da serrapilheira, assim como aspróprias raízes presentes no solo, impedem aerosão laminar e linear. Nos testes com oinfiltrômetro verificou-se rápida infiltração eausência de saturação, tanto em superfície comoem subsuperf ície, demonstrando boapermeabilidade e porosidade dos solos, o que

necessariamente. O Quadro 10 apresenta asíntese das possíveis combinações numéricas dedefinição dos polígonos da área de estudo. Aofinal de cada grau de fragilidade identificado foiacrescido o dígito 3, referente ao clima.

Quadro 10 – Classificação numérica por grau de fragilidade das Unidades Ecodinâmicasde Instabilidade Potencial e Emergente (possíveis combinações).

Org.: AMARAL (2008)

Para obter as correlações entre ospolígonos definidos nas cartas de Uso da Terra,Geomorfológica e Pedológica, foi elaborado umalgoritmo no módulo Legal do Software Springpara alcançar como produto final a carta síntese,a Carta das Unidades Ecodinâmicas deInstabilidade Potencial e Emergente. Aclassificação das Unidades Ecodinâmicas e seusrespectivos graus de fragilidade podem servisualizados na Figura 2.

Em análise ao resultado obtido pela CartaSíntese, tanto as Unidades Ecodinâmicas deInstabilidade Potencial como as de InstabilidadeEmergente apresentaram três graus defragilidade: médio, alto e muito alto, descritosdetalhadamente a seguir.

Graus de Fragilidade: Classificação numérica dos polígonos (possíveis combinações):

Unidades Ecodinâmicas de Instabilidade Potencial

Unidades Ecodinâmicas de Instabilidade Emergente

Médio Alto Muito Alto Médio Alto Muito Alto 1133, 1233, 1333

1143, 1243, 1343, 1433, 1443

1153, 1253, 1353, 1453, 1533, 1543, 1553

2133, 2233, 2333

2143, 2243, 2343, 2433, 2443, 4133, 4233, 4333, 4143, 4243, 4343, 4433, 4443

2153, 2253, 2353, 2453, 2533, 2543, 2553, 4153, 4253, 4353, 4453, 4543, 4553, 5143, 5243, 5343, 5433, 5443, 5153, 5253, 5353, 5453, 5533, 5543, 5553

Page 13: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

As Unidades Ecodinâmicas na análise da fragilidade ambiental doParque Estadual do Morro do Diabo e entorno, Teodoro Sampaio - SP, pp. 59 - 78 71

Figura 2 – Carta das Unidades Ecodinâmicas de Instabilidade Potencial e Emergente

evita o escoamento superficial. Entretanto,essas áreas estão restritas ao Parque Estadualdo Morro do Diabo e out ros pequenosfragmentos ainda preservados, principalmentea oeste do Parque.

a) Grau de Fragilidade Médio (1133, 1233 e1333): são áreas de vertentes côncavas econvexas, topos e patamares planos, comdeclividades baixas e médias, associadas aosLatossolos Vermelho-Amarelos. Ocorrem em

Page 14: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

72 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

praticamente toda a extensão do Parque, excetono Morro do Diabo, nas planícies fluviais e nasáreas antropizadas. Ocupam 27,60% da área deestudo (318 km²).

b) Grau de Fragilidade Alto (1143, 1243, 1343,1433, 1443): são áreas de vertentes côncavas econvexas, topos e patamares planos, comdeclividades baixas e médias, associadas aosArgissolos Vermelho-Amarelos e de vertentesretilíneas de declividade média associadas aosLatossolos Vermelho-Amarelos e aos ArgissolosVermelho-Amarelos. Ocorrem restritamente noMorro do Diabo. Ocupam 0,09% da área de estudo(1 km²).

c) Grau de Fragilidade Muito Alto (1153, 1253,1353, 1453, 1533, 1543, 1553): ocorrem emtodos os tipos de vertentes e declividades,incluindo as planícies f luviais, desde queassociados aos Neossolos Litólicos e aos GleissolosHáplicos e, no caso das vertentes retilíneas dealta declividade, podem estar associados tambémaos Latossolos Vermelho-Amarelos e aosArgissolos Vermelho-Amarelos. As áreas deplanícies fluviais, que, embora sejamconsideradas estáveis pela cobertura florestal, sãoclassificadas como grau de fragilidade potencialmuito forte por se tratar de áreas inundáveis. Asfrequentes cheias nessas áreas promovem ocarreamento dos sedimentos finos presentes nasmargens dos corpos d’água, que podem provocarassoreamento. Na área de estudo, estessedimentos são carreados para o Reservatóriode Rosana, no Rio Paranapanema. Em longoprazo estes sedimentos depos itados nosreservatórios podem comprometer suacapacidade. Ocupam 1,75% da área de estudo(20 km²).

B) Unidades Ecodinâmicas de InstabilidadeEmergente.

Correspondem às áreas cuja coberturavegetal é de capoeira, pastagem, agriculturaou solo exposto. O grau de proteção varia de

acordo com a cobertura vegetal presente,conforme os graus de fragilidade descritos aseguir.

a) Grau de Fragilidade Médio (2133, 2233, 2333):são áreas vertentes côncavas e convexas, topose patamares planos, com declividades baixas emédias, associadas aos Latossolos Vermelho-Amarelos, onde a vegetação predominante é acapoeira ou vegetação de mata em regeneração.Ocorrem esparsas em pequenos fragmentos portoda a área de estudo e ao longo das margensdos corpos d’água. Este tipo de vegetação,menos densa do que as áreas de floresta/matanatural, oferece certo grau de proteção aossolos. Observou-se que as bordas do Parqueapresentam vegetação de capoeira ou vegetaçãode mata alterada, assim como algumas áreas nointerior do Parque como ao longo da rodovia e daantiga ferrovia que cruzam o Parque (áreasalteradas) e próximo à margem do Reservatóriode Rosana (vegetação de brejo – alterada pelonível d’água mais alto devido ao enchimento doreservatório). Ocupam 8,73% da área de estudo(101 km²).

b) Grau de Fragilidade Alto (2143, 2243, 2343,2433, 2443, 4133, 4233, 4333, 4143, 4243, 4343,4433, 4443): são áreas de vertentes côncavase convexas, topos e patamares planos, comdeclividades baixas e médias, associadas aosArgissolos Vermelho-Amarelos e de vertentesretilíneas de declividade média associadas aosLatossolos Vermelho-Amarelos e aos ArgissolosVermelho-Amarelos, onde a cobertura vegetalpode ser capoeira, pastagem ou agricultura.Ocorrem em grande parte da área de estudo, nosassentamentos e fazendas. As áreas destinadasà pastagem sofrem diversos tipos de impactos:podem estar relacionados à erosão de sulcos entreas braquiárias plantadas ou ao pisoteio do gadoem linhas preferenciais, responsável pela erosãolinear encontrada nestes trechos. As áreas deagriculturas diversas, que ocorrempredominantemente nos assentamentos, tambémdesencadeiam impactos: é rara a aplicação de

Page 15: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

As Unidades Ecodinâmicas na análise da fragilidade ambiental doParque Estadual do Morro do Diabo e entorno, Teodoro Sampaio - SP, pp. 59 - 78 73

práticas conservacionistas no manejo dos solos,o que faz com que a superfície seja exposta emalguns per íodos do ano (entressafra),favorecendo a erosão laminar e linear, e o usode maquinário pesado causa compactação doshorizontes superficiais do solo, o que dificulta a

infiltração da água no solo e favorece a erosãolaminar e linear. Além de propiciar a erosão,estes impactos também causam oempobrecimento dos solos, exigindo outrasmedidas corretivas para mantê-los férteis. Essascaracterísticas ocorreram em todos os pontos

Figura 3 – Distribuição das Unidades Ecodinâmicas de Instabilidade Potencial eEmergente, por grau de fragilidade, área ocupada em km² e porcentagem.

Page 16: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

74 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

amostrados na área de assentamento. Ocupam50,82% da área de estudo (587 km²).

c) Grau de Fragilidade Muito Alto (2153,2253, 2353, 2453, 2533, 2543, 2553, 4153, 4253,4353, 4453, 4543, 4553, 5143, 5243, 5343, 5433,5443, 5153, 5253, 5353, 5453, 5533, 5543,5553): ocorrem em todos os tipos de vertentes edeclividades, incluindo as planícies fluviais, desdeque associados aos Neossolos Litólicos e aosGleissolos Háplicos e, no caso das vertentesretilíneas de alta declividade, podem estarassociados também aos Latossolos Vermelho-Amarelos e aos Argissolos Vermelho-Amarelos.Nestas áreas o uso da terra pode ser de capoeira,pastagem, agricultura ou solo exposto. Incluem-se aqui as áreas de planícies fluviais semcobertura florestal densa, por se tratar de áreasinundáveis, que têm as mesmas implicações dasplanícies fluviais das Unidades Ecodinâmicas deInstabilidade Potencial. As áreas de uso da terradestinadas à capoeira, pastagem e agriculturastêm as mesmas implicações escritas para asUnidades Ecodinâmicas de Instabil idadeEmergente de grau de fragilidade alta, acrescidasdo fato de estarem localizadas em solo raso ecom más condições de permeabil idade eporosidade. Correspondem também às áreas desolo exposto, que em alguns locais da área deestudo coincidem como áreas destinadas aoplantio da cana-de-açúcar em seu período dequeima. O solo exposto, sem nenhum tipo decobertura vegetal, associado aos solos de texturamédia e arenosa, é muito erodível, de forma quepodem ocorrer processos de erosão laminar elinear. Ocupam 5,31% da área de estudo (61km²).

A distribuição dos graus de fragilidade porárea ocupada pode ser visualizada na Figura 3.

Considerações Finais

Com o objetivo de avaliar as áreassuscetíveis à degradação no Parque Estadual doMorro do Diabo e entorno (Teodoro Sampaio/SP)foi desenvolvido um estudo com a aplicação doconceito de Unidades Ecodinâmicas. Foram

analisados integradamente dados de uso da terra(componente antrópica) e de relevo, solos e clima(componentes ambientais), em escala 1:50.000,para definir as Unidades Ecodinâmicas deInstabilidade Emergente para áreas antropizadase de Instabilidade Potencial para áreas naturais,com graus de fragilidade variando de muito baixoa muito alto.

Para subsidiar o estudo foram coletadosdados secundários e de campo, de forma aclassificar hierarquicamente cada um dos fatoresanalisados (uso da terra/cobertura vegetal,relevo, solos e clima).

Para caracterizar o fator uso da terra/cobertura vegetal foram considerados dados dedensidade da cobertura vegetal e a presença depráticas conservacionistas; para caracterizar ofator relevo, foram considerados dados sobre ostipos de vertentes e índices de declividade; parao fator solos foram considerados dados sobretextura, profundidade e espessura dos horizontessuperficiais e subsuperficiais, permeabilidade ecompactação; para o fator cl ima foramconsiderados dados sobre a distribuição anual eintensidade da pluviometria.

Para avaliar o fator uso da terra/coberturavegetal foi feita uma interpretação da imagemde satélite Landsat TM5, com averiguações decampo. Os tipos de uso da terra identificadosforam florestas/matas naturais, capoeira,pastagem e agriculturas diversas sem práticasconservacionistas, áreas desmatadas equeimadas, solo exposto por arado/gradeação esolo exposto ao longo de caminhos e estradas.

Para avaliar o fator relevo e elaborar aCarta Geomorfológica da área de estudo foi feitauma compartimentação por tipos de vertentes,uti lizando-se a classif icação taxonômica,associando-se os índices de declividade. Os tiposde formas de relevo encontrados na área deestudo foram: as Colinas amplas e baixas, cujostipos de vertentes são predominantementeconvexas de baixas declividades (3 a 12%),algumas ocorrências de vertentes côncavas, demesma declividade e alguns topos convexos, comdeclividades entre 0 a 12%. Outro tipo de forma

Page 17: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

As Unidades Ecodinâmicas na análise da fragilidade ambiental doParque Estadual do Morro do Diabo e entorno, Teodoro Sampaio - SP, pp. 59 - 78 75

de relevo encontrado foi o morro com topoaplanado ou tabular, correspondente ao Morro doDiabo, única grande elevação da Bacia. Os tiposde vertentes encontrados no morro correspondemàs vertentes convexas de médias declividades (12a 30%), vertentes retilíneas de médias e altasdeclividades (de 12 a 30% e >30%,respectivamente), topos planos, com declividadesde 0 a 3%, patamares planos, de mesmadeclividade e topos convexos, com declividadesde 0 a 12%. Por fim, as planícies fluviais àsmargens do Ribeirão Bonito e seus afluentes, comdeclividades de 0 a 3%.

Para avaliar o fator solos foram feitoslevantamentos secundários (Carta Pedológica doEstado de São Paulo) e levantamentos de campo,com análises granulométricas e testes paraaveriguar a permeabilidade/compactação. Foramamostrados pontos em diferentescompartimentos de relevo e uso da terra.

Nas áreas onde a declividade está próximade 12%, foram identificados solos ArgissolosVermelho-Amarelos (PVA13) e nas áreas demenores declividades Latossolos Vermelho-Amarelos (LVA4). Às margens dos rios afluentese do Rio Paranapanema (Reservatório de Rosana),foram identificados solos Gleissolos Háplicos(GX9). No Morro do Diabo identificaram-seNeossolos Litólicos (RL8 e RL9). Os solos sãopredominantemente arenosos, influenciadosdiretamente pela composição do subsolo, o quecausa uma rápida e profunda infiltração da águaque leva consigo os minerais e empobrece o solosuperficial. Como os arenitos da área são finos, oimpacto da chuva desagrega o solo com facilidadee estes são carreados, causando erosão em áreasem vegetação ou com cultivos sem práticasconservacionistas e a sedimentação dessaspartículas em rios ou reservatórios.

Para avaliar o fator clima, foi feitolevantamento de dados junto ao postopluviométrico instalado na área de estudo. Asituação pluviométrica característica dessa áreaé de distribuição pluviométrica anual desigual,com períodos secos entre 2 e 3 meses no inverno,e no verão com maiores intensidades de dezembroa março. A média anual é de 1500 mm/a.

A partir da análise integrada pôde-se notarque não se verificam diferenças representativasde degradação e graus de fragilidade entre asposições dos pontos amostrados no relevo (alta,média e baixa vertente), mas sim em relação àpresença ou não de cobertura vegetal florestal(Unidades Ecodinâmicas de Instabil idadePotencial (Estáveis) e de Instabilidade Emergente(Instáveis)).

Verif icou-se que as altas taxaspluviométricas concentram-se nos meses deverão, quando as chuvas torrenciais favorecem oescoamento superficial e abrem cicatrizes erosivasque rapidamente podem evoluir de ravinas paravoçorocas, principalmente em função dascondições físicas dos solos, que são arenosos, doque o relevo, que apresenta em geral vertentescom baixos gradientes topográficos, vertenteslongas e baixas declividades. Dessa forma, o fatorprimordial de estabilidade ambiental é a presençade cobertura vegetal florestal densa e solorecoberto de serrapilheira.

Na área restrita ao Parque Estadual doMorro do Diabo, classificada como UnidadeEcodinâmica de Instabilidade Potencial, não seencontram marcas erosivas evidentes, frente aoalto grau de proteção do solo contra a erosãoproporcionado pela cobertura florestal natural. NoMorro do Diabo há um forte potencial de erosãodevido às altas declividades das vertentes aliencontradas. Entretanto não se observou nenhumponto com marcas de processos erosivosagressivos, em função da proteção do solo pelafloresta.

No restante das áreas, classificadas comoUnidades Ecodinâmicas de Instabil idadeEmergente, há a influência do fator uso da terra,que torna o ambiente bastante frágil, pois emmuitos locais sequer existe alguma coberturavegetal, encontrando-se solo totalmente exposto.Há ainda as plantações de cana-de-açúcar, quetêm queimas periódicas, deixando o solo expostoà ação das águas por determinado período detempo ao longo do ano.

O pisoteio do gado e a implantação dasculturas diversificadas fazem com que o solo fique

Page 18: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

76 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

exposto às intempéries, e qualquer chuva podecarrear grande quantidade de partículas, o queacaba causando o assoreamento nos rios ereservatórios. O tipo de pastagem cultivada comcapim braquiár ia também proporc iona oaparecimento de sulcos entre os tufos davegetação. Em estradas ou próximo às cercasdas propriedades são encontradas cicatrizes deerosão e até mesmo voçorocas.

Desta forma, pode-se considerar que aintervenção humana, verificada pela alteraçãono uso da terra, é o fator preponderante noscasos de processos erosivos observados naárea. Este uso expõe o solo à alterações muitasvezes irreversíve is, caso não haja umaintervenção rápida e prát ica, como arecuperação de áreas muito suscetíveis àerosão. Processos como o voçorocamento têmcusto muito alto para serem revertidos e, àsvezes, são até ineficazes. Deste modo, percebe-se ser melhor prevenir, do que no futuro terque recuperar estas áreas. A textura média-arenosa e arenosa favorece a desagregação dosolo, tornando difícil a interrupção dos processoserosivos instalados. Verifica-se também que seimplantou o sistema de curvas de nível emalgumas propriedades agrícolas para conter aerosão.

As planícies f luv iais apesar de selocalizarem em áreas de baixa declividade (0 a3%), foram classificadas como sendo de graude fragilidade muito alto de acordo com o índicede relevo, porque estas áreas estãocondicionadas às inundações constantes eelevação do nível do lençol freát ico,proporcionando o carreamento de sedimentospara os cursos d’água.

Na área em estudo, assim como em todoo Pontal do Paranapanema, as terras são poucoférteis, o que restringe o plantio, sobretudo nosassentamentos agrár ios, onde o grau demecanização e práticas conservacionistas quasenão ocorrem. As culturas, além do baixoaproveitamento potencial, fazem com que o soloseja exposto frequentemente, o que diminuicada vez mais sua capacidade de uso agrícola.

A compactação do solo e a exposição dasuperfície por meio da diminuição do grau deproteção, comparado à proteção que havia coma vegetação natural fazem com que ocorra oescoamento superf icial, que por sua vez,proporciona a erosão laminar e linear.

Um dos fatores de desgaste que maisseriamente tem contr ibuído para aimprodutividade dos solos é a erosão hídricaacelerada pelo homem com as prát icasinadequadas de ocupação e agricultura peranteos tipos de solos e clima.

Por meio dos resultados desta análise,fica confirmada a influência da cobertura vegetalflorestal, onde a mudança de uso (do estadonatural – estável – para o antrópico – instável)é o que desencadeia os processos erosivos.

Constatado o principal problema,procura-se fazer breves sugestões em relaçãoàs diretrizes que devem caber ao planejamentoambiental.

A degradação ambiental no local ocorredesde que a vegetação original foi derrubadapara dar lugar às monoculturas extensivas.Observando os dados de cobertura florestal doEstado de São Paulo verificou-se o avanço dodesmatamento e a consequente ocupação doterritório, de forma que somente restou MataAtlântica nas Unidades de Conservação e empequenos fragmentos de vegetação em áreasparticulares. Tratando-se aqui de uma área ondese encontra o principal fragmento de MataAtlântica do interior do Estado de São Paulo, oplanejamento deve objetivar sua preservaçãoe manutenção.

Verificou-se que na área do Parque nãoocorrem processos erosivos severos, exceto nasáreas com intervenção humana, como porexemplo, onde a antiga ferrovia cruzava asmatas. Nesses locais, agora abandonados coma desativação da ferrovia, ocorrem processosde erosão em estágio avançado, como asvoçorocas. É importante fazer a contenção dofluxo d’água das vertentes com canaletas ecaixas de retenção temporária, desviando a

Page 19: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

As Unidades Ecodinâmicas na análise da fragilidade ambiental doParque Estadual do Morro do Diabo e entorno, Teodoro Sampaio - SP, pp. 59 - 78 77

água para que não cont inue at ing indo avoçoroca e consequentemente aumentando suaproporção. Deve ser feito o reflorestamento dasáreas atingidas, pois o solo exposto é carreadofacilmente, o que causa assoreamento doscursos d’água e do Reservatório de Rosana, noRio Paranapanema.

Para melhorar as condições ambientaisda área, é importante não só a preservação doParque, mas também do entorno, melhorandoinclusive a qualidade de vida dos moradores.

Na área dos assentamentos e nasfazendas devem ser incentivados o sistema decurvas de nível e as redes de terraços paracontenção de escoamento superficial e induçãoda infiltração, pois controlam a erosão laminare o assoreamento. É necessário ainda impedirque o solo fique exposto, já que além da erosãolaminar, causa o empobrecimento do solo,adotando-se técnicas de cultivo adequadas,como o plantio na palha (plantio direto).

A diversi f icação da produção, oreflorestamento de áreas e a capacitaçãotécnica dos assentados devem ser algumas dasprioridades para que seja obtido sucesso naprodutividade, melhoria na qualidade ambientale de vida da população.

Esses são apenas alguns dos problemasidentificados aos quais se propõem formas detentar minimizar seus impactos. Muitos outrospoderão ser diagnosticados em estudos emescalas de maior detalhe e em estudos com

outros enfoques, como por exemplo, o agrárioe o socioeconômico, aos quais esta análise podeservir de subsídio.

Ressalta-se que a metodologia, comoqualquer modelo que possa ser aplicado, é umarepresentação da realidade, de acordo com aperspectiva de enfoque. Portanto, em algumasáreas o resultado da fragilidade pode nãocondizer com a realidade atual, mas representao seu potencial.

Outro fator a ser destacado é anecessidade de adequar a escala de trabalho àárea que se pretende analisar. Embora osestudos em escala 1:50.000 sejam consideradoscomo uma abordagem regional, os dadosdisponíveis, principalmente relacionados ageomorfologia e aos solos, não eram adequadospara representar a área de estudo. Paraviabil izar este estudo foi necessár iocomplementar os dados de levantamentosecundário com as amostragens e análises decampo.

De qualquer forma, a ut i lização demodelos é útil ao planejamento ambiental eurbano, visto que é a forma de avaliar áreasextensas de uma forma rápida. Para os locaisonde são verificados intensos processos dedesequilíbrio ambiental, se deve proceder a umdiagnóstico mais específico, em escala maior.

A análise das fragilidades proporcionadiretrizes ao planejamento de uso e ocupação,de forma a preservar o equilíbrio ambiental.

Referências Bibliográficas

AMARAL, R. – Unidades Ecodinâmicas: Análise dafragilidade ambiental do Parque Estadual do Morrodo Diabo e entorno, Teodoro Sampaio/SP. 2005.170f. (Dissertação de Mestrado em GeografiaFísica) – Departamento de Geografia / FFLCH -Universidade de São Paulo. São Paulo.

BERTRAND, G. – Paisagem e Geografia FísicaGlobal – Esboço Metodológico. In: Caderno deCiências da Terra, 13. São Paulo: Instituto deGeografia – Universidade de São Paulo, 1971.

DAEE - SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria deSaneamento e Energia - Departamento deáguas e Energia Elétrica – disponível em http://www.sigrh.sp.gov.br/cgi-bin/bdhm.exe/plu,acesso em 21/03/2003.

IPT - INSTITUTO DE PESQUISASTECNOLÓGICAS Orientações para o combate àerosão no Estado de São Paulo (Bacia do Peixe-Paranapanema), Relatório n.º 24.739, SãoPaulo: DAEE, 1987.

Page 20: Jurandyr Luciano Sanches Ross. As Unidades Ecodinâmicas na Análise da Fragilidade Ambiental

78 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 AMARAL, R.; ROSS, J.L.S.

MONTEIRO, C. A. F. – Geossistemas – ahistória de uma procura. São Paulo: Contexto,2000.127 p.

OLIVEIRA, J. B., et. al. Mapa Pedológico doEstado de São Paulo, Rio de Janeiro: InstitutoAgronômico de Campinas / Embrapa - Solos,1999. Mapa color. Escala: 1:500.000.

ROSS, J. L. S. Análise empírica da fragilidadedos ambientes natura is e antrop izados.Rev ista do Departamento de Geograf ia/FFLCH/USP, n.º 8, p. 63-73, 1994.

ROSS, J. L. S. O registro cartográfico dosfatos Geomórficos e a questão da taxonomiado re levo. Revista do Depar tamento deGeografia/FFLCH/USP, n.º 6, 17-29, 1992.

ROSS, J . L . S., MOROZ, I . C . MapaGeomorfológico do Estado de São Paulo, São

Paulo: Laboratório de Geomorfologia, DG,FFLCH, USP / Laboratório de CartografiaGeotécnica-Geologia Aplicada - IPT / FAPESP,1997. Mapa color, v.1 e 2. Escala: 1:500.000.

SMA - SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria doMeio Ambiente Zoneamento Econômico eEcológico do Pontal do Paranapanema. SãoPaulo, 1999. 170p.

SOTCHAVA, V. B. – Po r Uma Teor ia deC lass i f i cação de Geoss ist emas da V idaTerrestre. In: Biogeografia nº 14. São Paulo:Instituto de Geografia – Universidade de SãoPaulo, 1978.

TRICART, J. – Ecodinâmica. Rio de Janeiro:FIBGE, Secr etar i a de P lanejamento daPresidência da República, 1977. 97p.

Trabalho enviado em Agosto de 2008

Trabalho aceito em Setembro de 2009