Káritha Macedo 1Universidade do Estado de Santa Catarina Centro de Ciências Humanas e da Educação Departamento de História Programa de Pós-Graduação em História DISCIPLINA: Teoria e Metodologia da História ANO/SEMESTRE: 2012/1 PROFESSOR(A): Prof.ª Dra. Mara Rubia Sant’Anna-Mull er ALUNA: Káritha Bernardo de Macedo AULA: 25/04/2012. EXERCÍCIO: Uma obra como espelho. OBRA: RAMOS, Alcides Freire. Canibalismo dos fracos: cinema e história do Brasil. Bauru: EDUSC, 2002. O livro “Canibalismo dos Fracos: cinema e história do Brasil”, publicado em 2002, foi escrito por Alcides Freires Ramos e originalmente apresentado como sua tese de doutoramento em História Social à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP em 1996. Atualmente, Alcides Ramos é professor da Universidade Federal de Uberlândia, atuando no âmbito da graduação e da pós- graduação. Sua área de pesquisa permeia os temas História e Cinema, Ditadura Militar, Luta Armada, Brasil décadas de 1960 e 1970, Inconfidência Mineira e Arte e Política. Além de “Canibalismo dos Fracos”, Alcides F. Ramos publicou o livro "Cinema e História do Brasil" (3ª ed., São Paulo: Contexto, 1994) em coautoria com Jean-Claude Bernardet, inúmeros capítulos de livros e artigos dentro dos temas supracitados, mostrando-se um autor e pesquisador bastante atuante. A cuidadosa obra de Alcides Ramos, apresenta-se como uma verdadeira “solidificação” 1 da relação entre historiadores e o cinema como uma fonte histórica. Sua proposta inicial era fazer não apenas uma análise de filmes históricos “brasileir os”— por estarem m ais próximo da nossa realidade—, mas também prestar uma “contribuição teórico-metodológica” para um campo que encontra-se defasado. Nesse ponto em especial, podemos atestar o grande mérito do autor. Dentre a filmografia brasileira, Alcides Ramos escolheu como objeto de estudo o filme “Os Inconfidente s” (1972), de Joaquim Pedro de Andrade, o qual considera um dos m ais instigantes dentre nossa filmografia histórica, tanto do ponto de vista estético quanto do político e do histórico. Esteticamente esse filme rompe com os cânones estabelecidos e com uma linguagem naturalista, trazendo características do Cinema Novo, a fala direta ao espectador, entre outros aspectos que o diferenciam das demais produções. Já a conjuntura política, na época de seu lançamento, estava embebida da censura imposta pelo AI-5, pelos movimentos de esquerda e pela repressão violenta da ditadura. No sentido histórico ele é interessante pela vasta pesquisa histórica, bibliográfica e pelas fontes em geral utilizadas em sua produção (os Autos da Devassa, poemas dos inconfidentes, documentos diversos etc.) e por apresentar uma nova versão da Inconfidência Mineira, com um enfoque bastante diverso do apresentado pelo governo ou pela disciplina de História nas escolas. Nessa esteira, cabe destacar também o vasto acervo de fontes utilizadas na pesquisa, que perpassa filmes, críticas e textos acerca dos filmes, documentos, documentos internos de organizações políticas de "esquerda", obras literárias, bibliografia extensa sobre cinema, história e historiografia brasileira, metodologia e teoria. Em seu trabalho, estão presentes as influências teóricas de Michèle 1 O autor aponta que “não há uma tradição solidamente constituída acerca da relação História-Cinema” (2002, p.16), mas com sua obra e outras que vem surgindo, podemos entender que um caminho vem sendo construído progressivamente para isso. No entanto, a maioria dos trabalhos brasileiros em que historiadores fazem análises fílmicas, são em sua maioria no formato de artigos ou participações em capítulos de livros, falta a historiografia brasileira obras completas, como as de Alcides Ramos.
