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  CNPJ: 05.423.670/0001-34 / CREA 66.891/ Rua Gal . Vitorino, 56 / CEP 96.200-310 / Ri o Grande-RS 1  CLAREL PERÍCIAS Engenharia de Avaliações & Perícias Judiciais  Fone/Fax: (53) 2125-7900 / 9966-6220 www.clarelpericias.com.br Clarel da Cruz Riet, Engenheiro Civil inscrito no CREA-RS sob n.º 66.891-D, a pedido da SOLICITANTE, Elaine Simões Gago, tendo procedido aos estudos e diligências que se fizeram necessários, vem apresentar as conclusões a que chegou, consubstanciado no seguinte, LAUDO DE ENGENHARIA

Laudo de verificação de patologias construtivas causadas por obra lindeira

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Consiste na verificação das conformidades técnicas e funcionais visando a descrição e odiagnóstico das patologias manifestadas em um imóvel residencial localizado na Rua 19 deFevereiro n.º 561, e o nexo causal com a construção de um prédio lindeiro, localizado namesma rua, sob o n.º 559, em fase de construção.

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    Clarel da Cruz Riet, Engenheiro Civil inscrito no CREA-RS sob n. 66.891-D, a pedido da SOLICITANTE, Elaine Simes Gago, tendo procedido aos estudos e diligncias que se fizeram necessrios, vem apresentar as concluses a que chegou, consubstanciado no seguinte,

    LAUDO DE ENGENHARIA

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    NDICE

    1. OBJETIVO DA PERCIA ................................................................................................

    03

    2. PRELIMINARES ...........................................................................................................

    03

    3. CARACTERIZAO .......................................................................................................

    03

    3.1. IMVEL ......................................................................................................................

    03

    3.2. REGISTRO FOTOGRFICO ...........................................................................................

    04

    4. METODOLOGIA ...........................................................................................................

    15

    5. SUBSDIOS ESCLARECEDORES .....................................................................................

    15

    5.1. RECALQUES DE FUNDAES .......................................................................................

    15

    5.1.1. INVESTIGAO DO SUBSOLO ......................................................................................

    15

    5.1.2. SOLOS DE COMPORTAMENTO ESPECIAL ......................................................................

    15

    5.1.3. A DEFORMABILIDADE DOS SOLOS E A RIGIDEZ DAS SAPATAS ......................................

    16

    5.1.4. PADRES TPICOS DE TRINCAS ...................................................................................

    18

    5.1.5. RECALQUES ADMISSVEIS ...........................................................................................

    20

    6. DIAGNSTICO DA SITUAO ......................................................................................

    21

    7. CONCLUSO ...............................................................................................................

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    1. OBJETIVO DA PERCIA Consiste na verificao das conformidades tcnicas e funcionais visando a descrio e o diagnstico das patologias manifestadas em um imvel residencial localizado na Rua 19 de Fevereiro n. 561, e o nexo causal com a construo de um prdio lindeiro, localizado na mesma rua, sob o n. 559, em fase de construo. 2. PRELIMINARES A Solicitante relata que as anomalias representadas por trincas e rachaduras nas paredes de seu imvel, comearam a surgir quando da execuo das fundaes do prdio limtrofe ao seu terreno. Aduz que, na poca, o proprietrio da obra vizinha chegou a conversar sobre a possibilidade de restaurao dos danos causados, mas no apresentou data e/ou projeto para tal, visto no tratar-se apenas de pequenas trincas e sim grandes rachaduras com enorme afundamento dos pisos, estando a parede lateral limtrofe inclinada, com risco de desabar, motivo pelo qual teve que pedir a desocupao do prdio, por parte de sua locadora. 3. CARACTERIZAO Trata-se de uma regio urbana litornea com predominncia de habitaes residenciais unifamiliares, clima ameno, superfcie plana, padro scio econmico cultural mdio, topografia em nvel e solo predominantemente arenoso permevel da classe das areias quartzosas marinhas distrficas, com algumas zonas constitudas de relativa parcela de argila de Atividade Alta1. A Infra-estrutura urbana possui sistema virio, transporte coletivo, coleta de resduos slidos, gua potvel, rede eltrica, pluvial, esgoto e telefone, comunicao e televiso. As atividades existentes incluem redes bancrias, comrcio, indstria e atividades de profissionais liberais, sendo mdio como um todo o nvel do mercado de trabalho. Os servios comunitrios disponveis compreendem escolas (municipal e estadual), hospitais, segurana, posto de sade, igrejas e clubes de recreao. Para efeito de melhor entendimento e preciso dos trabalhos periciais, junta-se a documentao fotogrfica comentada a seguir, obtida no ato da inspeo. 3.1. IMVEL O terreno, matriculado no Registro de Imveis de Rio Grande sob o n. 58.618, possui 4,10m de largura por 36,95m de comprimento. A casa do Solicitante possui padro mdio, encontra-se em bom estado de conservao e constituda de 02 dormitrios, sala, cozinha e um banheiro, totalizando aproximadamente 82m2 de rea construda.

    1 Projeto RADAM (IBGE,1986) e Cunha e Silveira (FURG, 1995)

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    3.2 REGISTRO FOTOGRFICO

    Foto 1- Mostrando a fachada do prdio da Solicitante (1), localizada na Rua 19 de Fevereiro n. 561 e a obra limtrofe (2), sob o n. 559.

    Foto 2- Da esquerda para a direita, a obra limtrofe, o prdio da Solicitante, com um tapume (4) colocado pelo construtor para impedir a passagem de pedestres e a loja Entre Noivas.

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    Foto 3 esquerda, o prdio da Solicitante e direita, a loja Entre Noivas. Observa-se uma rachadura (3) no tero superior do encontro das edificaes.

    Foto 4 Com mais aproximao, observa-se a rachadura (3), causada pelo "descolamento" da parede lateral direita do imvel da Solicitante, junto ao prdio da loja Entre Noivas.

    (3)

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    Foto 5 Vista da fachada, atrs do tapume. Nota-se uma trinca (5), na unio da sacada com a parede.

    Fotos 6, 7 e 8 Mostrando a trinca existente (5), no encontro da sacada com a parede da fachada.

    (5)

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    Foto 9 A soleira do hall de entrada foi dividida por uma rachadura, ocasionada pelo afundamento do piso, inclinando no sentido da obra lindeira.

    Foto 10 A soleira da porta tambm rachou. Nota-se a inclinao para o lado da obra lindeira.

    Foto 11 O travamento da parede foi executado de forma precria, com a utilizao de sarrafos de madeira com dimenses inapropriadas.

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    Foto 12 Mostrando a parede limtrofe, pertencente ao imvel da Solicitante, calada para no tombar. Observa-se que esta parede afundou 10cm e inclinou para o lado da obra aproximadamente 2.

    Foto 13 Ficou um vo de aproximadamente 15cm entre a parede sendo erguida no lado da obra e a parede limtrofe que afundou. Este local est propiciando a entrada de guas pluviais que se traduzem em infiltrao de umidade para o interior da casa da Solicitante.

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    Foto 14 Presena de rachadura vertical, na parede limtrofe, partindo das fundaes e chegando ao telhado da Solicitante. Estas rachaduras provocam infiltraes de guas pluviais para o interior do imvel.

    Fotos 15 e 16- Mostrando a fachada de fundos da casa da Solicitante. Presena de trincas verticais, partindo das quinas do vo da porta de acesso ao ptio. A direita, na foto, situa-se a edificao que est sendo executada.

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    Foto 17- O muro limite, existente nos fundos da casa, tambm encontra-se avariado. Observa-se uma grande rachadura horizontal junto ao piso (6) e outra na altura mdia (7).

    Fotos 18 O corredor de entrada da casa. A parede da esquerda (limtrofe), afundou 10cm e inclinou para o lado da obra aproximadamente 2. Nota-se o afundamento da cermica junto a base da parede (8) e a rachadura (9) no encontro do pilar do vo de passagem.

    (6)

    (7)

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    Fotos 19 Presena de trincas horizontais prximas aos pisos.

    Fotos 20 e 21 Vrias trincas verticais, indicando o recalque diferencial das fundaes.

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    Fotos 22 e 23 Rachaduras com fendas na ordem de 10mm.

    Fotos 24 e 25 Estas rachaduras de aproximadamente 18mm, existente nos dois lados, sobre o vo de passagem, remetem a risco iminente de ruir.

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    Fotos 26 e 27 Presena generalizada de trincas nas paredes da casa.

    Fotos 28 e 29 A parede afundou levando junto o rodaforro (10). Na foto da direita, uma rachadura (11), provocada pelo afundamento do piso, em direo a parede limtrofe, que recalcou 10cm.

    (10)

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    Fotos 30 e 31 A esquerda, a parede limtrofe que afundou 10cm. Observa-se que o marco superior da porta, inclinou em direo obra e o forro descolou.

    Fotos 32 O forro encontra-se abaulado, com deflexes causadas pela estrutura de madeira de sustentao da cobertura, que torceu devido ao afundamento da parede limtrofe.

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    4. METODOLOGIA

    A presente percia atendeu todos os requisitos necessrios e exigidos pela NBR 13752/96 (norma que fixa os critrios e procedimentos relativos s percias de engenharia na construo civil), em seu item 4.3.2 Requisitos essenciais. Todos foram condicionados tanto quanto abrangncia das investigaes, confiabilidade e adequao das informaes obtidas quanto qualidade das anlises tcnicas e ao menor grau de subjetividade emprestado pelo perito. 5. SUBSDIOS ESCLARECEDORES 5.1. RECALQUES DE FUNDAES 5.1.1. INVESTIGAO DO SUBSOLO

    A investigao do solo a causa mais freqente de problemas de fundaes. Na medida em que o solo o meio que vai suportar as cargas, sua identificao e a caracterizao de seu comportamento so essenciais soluo de qualquer problema, sendo no Brasil, o programa preliminar, normalmente desenvolvido com base em ensaios SPT (NBR 6484/2001).

    O programa complementar depende das condies geotcnicas e estruturais do projeto, podendo envolver tanto ensaios de campo (cone, piezocone, pressimetro, palheta, ssmica superficial, etc.) como de laboratrio (adensamento, triaxiais, cisalhamento direto, entre outros). 5.1.2. SOLOS DE COMPORTAMENTO ESPECIAL

    Os solos de comportamento especial podem ter sua ocorrncia prevista ainda em fase preliminar, definindo os ensaios especiais necessrios caracterizao de seu comportamento e sua influncia nas fundaes.

    Assim, ocorrncias localizadas, como zonas de minerao (problema pouco comum no Brasil), zonas crsticas, influncia da vegetao, colapsibilidade, expansibilidade e ocorrncia de mataces, se no identificados, podem provocar subsidncia ou problemas construtivos sensveis com o surgimento de patologias importantes e custos significativos de reparo.

    Dentre os solos colapsveis, os quais possuem uma estrutura sujeita a grande variao (reduo) volumtrica, encontram-se os solos porosos tropicais, especialmente os originados de rochas granticas, tendo sido encontrando no Rio Grande do Sul, somente nas cidades de Santo ngelo, Carazinho e Vacaria2.

    J os solos expansivos, onde a presena de argilo-minerais em solos argilosos responsvel por grandes variaes de volume, decorrentes de mudanas do teor de umidade, provocando problemas especialmente em fundaes superficiais, foram encontrados no Rio Grande do Sul somente nas cidades de Encantado, So Jernimo, Santa Maria, Rosrio do Sul, Santa Cruz do Sul, Cachoeirinha e ao norte de Porto Alegre3.

    2 Localizao de solos colapsveis no Brasil (Ferreira et al, 1989), com incluses de dados de Milititsky et Dias(1986) 3 Vargas et al. (1989)

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    5.1.3. A DEFORMABILIDADE DOS SOLOS E A RIGIDEZ DAS SAPATAS

    At bem pouco tempo as fundaes dos edifcios eram dimensionadas pelo critrio de ruptura do solo, apresentando as construes cargas que geralmente no excediam a 500Tf, bem inferior a 20.000TF que certas obras nos dias de hoje chegam a atingir, tornando-se imprescindvel uma mudana de postura para o clculo e dimensionamento das fundaes dos edifcios.

    De acordo com Vitor Mello4, apenas em argilas de baixa plasticidade o critrio de clculo condicionante o de ruptura; j em argilas de alta plasticidade os recalques acentuam-se passando em geral a ser condicionante o critrio de recalques admissveis.

    Em siltes e areias (observando que em Rio Grande o solo predominantemente arenoso com algumas zonas constitudas de argila), que so solos com significativos coeficientes de atrito interno, o critrio de ruptura s pode ser condicionante para sapatas muito pequenas de forma que em construes de maior porte passa a ser condicionante o critrio de recalques.

    Assim, de uma forma geral poderamos dizer que para solos de alta resistncia, prevalece o critrio da ruptura, pois as deformaes so pequenas e para solos de baixa resistncia, prevalece o critrio de recalque admissvel, pois as deformaes do solo sero sempre grandes.

    A capacidade de carga e a deformabilidade dos solos no so constantes, sendo no caso de fundaes superficiais, que o tipo ora examinado, funo dos seguintes fatores;

    a) Tipo e estado do solo (areia nos vrios estados de compacidade ou argilas nos vrios

    estados de consistncia) b) Disposio do lenol fretico c) Intensidade da carga e cota de apoio da fundao d) Dimenses e formato da sapata carregada (quadradas ou retangulares) e) Interferncia de fundaes vizinhas

    Portanto para as fundaes diretas (superficiais) a intensidade dos recalques depender no s do tipo de solo, mas tambm das dimenses do componente da fundao.

    Para as areias, onde a capacidade de carga e o mdulo de deformao aumentam rapidamente com a profundidade, existe a tendncia de que os recalques ocorram com mesma magnitude, tanto para sapatas estreitas quanto para sapatas mais largas, entretanto, a capacidade de carga nestes solos, aumenta tanto com a dimenso como com a profundidade de apoio da sapata. Seguindo esta linha de raciocnio, para os solos com grande coeso, onde os parmetros de resistncia e deformabilidade no variam tanto com a profundidade, pode-se raciocinar hipoteticamente que uma sapata com maior rea apresentar maiores recalques que uma outra, menor, submetida a mesma presso, pois o bulbo de presses induzidas no terreno na primeira sapata alcana maior profundidade.

    4 Mello, V. F. B. Deformao como base fundamental de escolha da fundao. Revista Geotcnica n. 12, Lisboa. 1975.

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    Figura 1- Grficos tericos Presso x Recalque de sapatas apoiadas em argilas e areias, representando o comportamento hipottico citado anteriormente, para sapatas com diferentes dimenses5. importante observar que a ocorrncia deste comportamento leva em considerao a existncia de uma mesma presso para sapatas de tamanho diferentes, ou seja, a sapata de maior dimenso estaria suportando uma carga superior a de menor dimenso, que o que geralmente ocorre, enquanto a boa tcnica levaria a manter a carga de clculo e aumentar as dimenses da base, o que levaria a presses menores e conseqentemente a menores recalques.

    Do exposto, conclui-se que na maioria dos casos, os problemas de recalques diferenciais

    das fundaes so originados na concepo, onde muitas vezes a sondagem geotcnica no realizada e o dimensionamento feito 'a sentimento', levando a adoo de sapatas do tipo Rgida (normalmente sapatas estreitas, com pouca largura), onde deveriam ser do tipo Flexvel (com menor altura e maior largura) e vice-versa.

    As sapatas Flexveis so prprias para solos com baixa resistncia admissvel, como em algumas zonas de Rio Grande (na ordem de 0,15MPa), onde o solo constitudo de argila mole, devendo ser dimensionadas ao momento fletor e ao esforo cortante, da mesma forma que para as lajes macias, enquanto as Rgidas so comumente adotadas como elementos de fundaes em terrenos que possuem boa resistncia em camadas prximas da superfcie.

    5 Fonte: Thomaz, Ercio, 1989- Trincas em edifcios.

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    Sendo, Rgida: H > (A-Ap)/3 Flexvel: H (A-Ap)/3 Onde, A a dimenso da sapata na direo analisada; H a altura da sapata; Ap a dimenso do pilar na

    Figura 2- Classificao das sapatas quanto a sua rigidez, segundo a NBR 6118:2003.

    Na realidade, segundo Bowles6, o mdulo de deformao 'Es' do solo e a prpria profundidade de influncia de fundao variam com uma srie de propriedades do solo, principalmente com a estratificao de camadas, a massa especfica do solo e eventuais estados de pr-adensamento. Em razo disso, a predio do verdadeiro mdulo de deformao do solo e, em conseqncia, a avaliao do recalque real que ocorrer na sapata carregada, tarefa bastante difcil. 5.1.4. PADRES TPICOS DE TRINCAS

    De maneira geral, as fissuras provocadas por recalques diferenciados so inclinadas com ngulo de 45, confundindo-se s vezes com as fissuras provocadas por deflexo de componentes estruturais, contudo, apresentam aberturas geralmente maiores, "deitando-se" em direo ao ponto onde ocorreu o maior recalque.

    Outra caracterstica das fissuras provocadas por recalques a presena de esmagamentos localizados, em forma de escamas, dando indcios das tenses de cisalhamento que as provocaram. Alm disso, quando os recalques so acentuados, observa-se nitidamente uma variao na abertura da fissura.

    As variaes de umidade do solo, principalmente no caso de argilas, provocam alteraes volumtricas e variaes no seu mdulo de deformaes, com possibilidade de ocorrncia de recalques localizados. Segundo BRE7, estes recalques, bastante comuns por causa da saturao do solo pela penetrao de gua da chuva nas vizinhanas da fundao, podem tambm ocorrer pela absoro de gua por vegetao localizada prxima a obra.

    Alm dos fatores geotcnicos apontados como provveis causadores de recalques diferenciais, como consolidaes distintas de aterro, interferncia em bulbos de tenses etc., a geometria das edificaes e/ou do componente, tamanho e localizao de aberturas, grau de enrijecimento da construo (emprego de cintamentos, vergas e contra-vergas) e a eventual presena de juntas no edifcio, so variveis que tambm podem provocar recalques diferenciais e conseqentemente o aparecimento de fissuras e trincas. 6 Bowles, J. E. Foundation: Analysis and design, 3 ed. Tokyo, McGraw-Hill kogakusha, 1982. 7 Bulding Research Establishment. Soils and foundations, Garston, 1977 (Digest n. 63, Part 1)

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    Tabela 1 - Relao entre abertura de fissuras e danos em edifcios (Thornburn e Hutchinson, 1985) Abertura da Fissura (mm)

    Intensidade dos danos

    Efeito na estrutura e uso do edifcio Residencial

    Comercial ou publico

    Industrial

    < 0,1 Insignificante

    Insignificante

    Insignificante

    Nenhum

    0,1 a 0,3 Muito leve Muito leve

    Insignificante

    Nenhum

    0,3 a 1

    Leve Leve Muito leve Apenas esttica. Deteriorao acelerada do aspecto externo.

    1 a 2

    Leve a moderada Leva a moderada

    Muito leve

    2 a 5

    Moderada Moderada Leve A utilizao do edifcio ser afetada e, no limite superior, a estabilidade pode, tambm, estar em risco

    5 a 15

    Moderada a severa

    Moderada a severa

    Moderada

    15 a 25 Severa a muito severa

    Severa a muito severa

    Moderada a severa

    > 25

    Muito severa e perigosa

    Severa a perigosa

    Severa a perigosa

    Cresce o risco da estrutura tornar-se perigosa

    Tabela 2 - Classificao dos danos visveis em paredes de edifcios Categoria do Dano

    Danos Tpicos Largura aproximada da fissura (mm)

    Fissuras capilares com largura menor que 0,1mm so classificadas como desprezveis.

    < 0,1

    1. Fissuras finas que podem ser tratadas facilmente durante o acabamento normal.

    < 1,0

    2. Fissuras facilmente preenchidas. Um novo acabamento provavelmente necessrio. Externamente, pode haver infiltraes. Portas e janelas podem empenar ligeiramente.

    < 5,0

    3. As fissuras precisam ser tornadas acessveis e podem ser reparadas por um pedreiro. Fissuras que reabrem podem ser mascaradas por um revestimento adequado. Portas e janelas podem empenar. Tubulaes podem quebrar. A estanqueidade , freqentemente, prejudicada.

    5 a 15 ou, um nmero de fissuras (por metro) > 3

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    4. Trabalho de reparao extensivo envolvendo a substituio de panos de parede, especialmente sobre portas e janelas. Esquadrias de portas e janelas distorcidas; pisos e paredes inclinados visivelmente. Tubulaes rompidas.

    15 a 25, porm, tambm, funo do nmero de fissuras.

    5. Essa categoria requer um servio de reparao mais importante, envolvendo reconstruo parcial ou completa. Vigas perdem suporte; paredes inclinam perigosamente e exigem escoramento. Janelas quebram com distoro. Perigo de instabilidade.

    Usualmente > 25, porm, tambm, funo do nmero de fissuras

    Fonte: Velloso e Lopes, 2002: 34. 5.1.5. RECALQUES ADMISSVEIS

    Uma vez que os solos so materiais deformveis que ao serem carregados, apresentam variaes de volume, podemos afirmar que todas as fundaes sob carga apresentam deformaes que podem ser deslocamentos verticais (recalques), deslocamentos horizontais ou rotacionais.

    Esses deslocamentos dependem do solo e da estrutura, ou seja, so resultados da interao entre o solo e a estrutura. Quando esses deslocamentos ultrapassam certos limites admissveis, poder a estrutura em si ou no seu entorno imediato, ser levada ao colapso, devido ao surgimento de esforos para os quais no foi projetada.

    Denominamos Recalque Absoluto ao deslocamento vertical descendente de um ponto discreto de uma fundao e Recalque Diferencial a diferena entre os recalques totais ou absolutos de dois pontos quaisquer. Assim, quando uma fundao recalca por igual, de maneira uniforme, podemos afirmar que a mesma no sofreu recalque diferencial. Existem regras empricas, usualmente conhecidas, relativas a recalques admissveis, as quais foram obtidas atravs de coleta de dados e casos entre 1975 e 1995, considerando estruturas correntes e cargas relativamente uniformes, devendo, portanto ser utilizadas com a devida cautela, dado a mudana de padres construtivos ocorridos desde ento, devendo nos casos complexos ser utilizadas anlises mais sofisticadas que permitam estabelecer consideraes quanto a interao Solo x Estrutura. A) Fundaes assentes em solos granulares (areias)8

    Recalque diferencial: 25mm Recalque total: 40mm

    B) Fundaes assentes em solos argilosos9

    Recalque diferencial: 40mm Recalque total: 65mm

    8 Burland et al. (1977) 9 Skempton e MacDonald (1956)

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    6. DIAGNSTICO DA SITUAO Tpico de obras de pequeno porte, em geral por motivos econmicos, mas tambm presente em obras de porte mdio, a ausncia de investigao de subsolo em obras, como indica ser o caso, prtica inaceitvel. A normalizao vigente (NBR 6122/1996; NBR 8036/1983) e o bom senso devem nortear o tipo de programa de investigao, o nmero mnimo de furos de sondagem e a profundidade de explorao. Estudos e pesquisas no Brasil, tambm referendados pela estatstica francesa10, indicam que em mais de 80% dos casos de mau desempenho de fundaes de obras pequenas e mdias, a ausncia completa de investigao o motivo da adoo de soluo inadequada. A no existncia em nossa cidade, de solos classificados como especiais (Ver item 5.1.2. SOLOS DE COMPORTAMENTO ESPECIAL, do Laudo), a qual, como j mencionado, possui um solo predominantemente arenoso com algumas zonas constitudas de argila, como indica ser o caso em questo, nos leva a deduzir que a ocorrncia do sinistro no se deve a existncia de solo de comportamento especial.

    Constata-se que a parede limtrofe afundou aproximadamente 10cm, provocando recalques que ultrapassam os limites indicados por Skempton e MacDonald (1956) (Ver Item 5.1.5 RECALQUES ADMISSVEIS, letra B, do Laudo). 7. CONCLUSO

    A configurao e o padro das Anomalias Exgenas, manifestadas no imvel, representadas por trincas e rachaduras em paredes e pisos e abaulamento de forros, indicam a ocorrncia de sinistro originado pela metodologia e equipamentos utilizados nas escavaes, junto s fundaes da parede limtrofe, de propriedade da Solicitante.

    Assim, o prdio da Solicitante, com a interferncia sofrida no bulbo de presses das fundaes, associado a possvel inexistncia de sondagem do solo, estudos tcnicos e anlise de riscos necessrios, sofreu recalques acima do limite aceitvel, provocando o surgimento das patologias detectadas.

    Alm destas anomalias, constatamos presena de umidade no interior da casa, infiltrada atravs das rachaduras (ver foto 14), existentes na parede limite.

    Observa-se que estas patologias interferem tanto no desempenho e vida til dos componentes construtivos como na sade, segurana e habitabilidade do imvel, impossibilitando sua utilizao, portanto, necessria e urgente a implementao de medidas corretivas e reparos necessrios.

    -.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

    Vai o presente Laudo, desenvolvido em 21 (Vinte e uma) folhas impressas em um s lado, todas rubricadas, sendo a ltima datada e assinada.

    Rio Grande, 19 de novembro de 2012.

    ------------------------------------ Clarel da Cruz Riet Eng. Civil CREA 66.891-D Perito - IBAPE 1.047/99

    10 Logeais, 1982