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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Lauro de Camargo Júnior Um estudo sobre a abordagem de Matrizes no Caderno do Professor do Programa “São Paulo faz Escola” Mestrado Profissional em Educação Matemática São Paulo 2010

Lauro Camargo Jr. - Um estudo sobre a abordagem de Matrizes - … de... · 2017. 2. 22. · (Iezzi et al., 2004) Quadro 10 – Sumário do segundo volume Livro de Iezzi et al

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Lauro de Camargo Júnior

Um estudo sobre a abordagem de Matrizes no Caderno do Professor

do Programa “São Paulo faz Escola”

Mestrado Profissional em Educação Matemática

São Paulo

2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Lauro de Camargo Júnior

Um estudo sobre a abordagem de Matrizes no Caderno do Professor

do Programa “São Paulo faz Escola”

Trabalho final apresentado à Banca Examinadora como

exigência parcial para obtenção do título de MESTRE

PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a

orientação da Professora Doutora Silvia Dias

Alcântara Machado.

São Paulo

2010

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Banca Examinadora ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial

desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: _______________________________________ Local e Data:_____________

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Dedico este trabalho aos meus queridos

pais, Lauro e Neide e à minha estimada

amiga professora Cidália.

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Agradecimentos

A Deus, por estar sempre presente em minha vida, iluminando os meus

caminhos e dando-me força para superar as dificuldades.

À professora doutora Silvia Dias Alcântara Machado, minha orientadora, pela

dedicação, paciência e confiança. Registro aqui o meu respeito e admiração.

Às professoras doutoras Bárbara Lutaif Bianchini, Carmen Teresa Kaiber e

Renata Rossini, pelas sugestões apresentadas no exame de qualificação que

muito contribuíram para o aprimoramento deste trabalho.

À minha esposa Cristiane, pelo apoio e compreensão.

À minha filha Laura, pelos momentos em que os compromissos fizeram com

que eu não pudesse lhe dar a atenção merecida.

Aos meus pais, Lauro e Neide, pelo carinho, total apoio e encorajamento,

fundamentais para a conclusão desse trabalho.

À minha irmã Roseli, pelo incentivo e carinho em todos os momentos.

Aos colegas do curso e do grupo GPEA, pela colaboração e companheirismo.

Aos colegas de trabalho de todas as escolas que lecionei durante o período do

curso, pelo apoio e incentivo.

À Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, pela concessão da bolsa

de estudo.

Aos funcionários da Delegacia de Ensino de Osasco, em especial à equipe de

supervisores responsável pelo programa Bolsa-Mestrado e equipe do

Protocolo, pela cordialidade, paciência e apoio em todos os momentos em que

deles precisei.

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Resumo

O presente trabalho relata uma pesquisa qualitativa cujo objetivo foi de

investigar como o Caderno do Professor de Matemática, material didático

integrante da Proposta Curricular do Estado de São Paulo implantada em 2008,

aborda o conteúdo de Matrizes. Para a coleta de dados, utilizei a metodologia

de análise de conteúdo no sentido de Bardin (2009). O corpus da pesquisa

constou de alguns documentos oficiais que regem o ensino de matemática, os

cadernos do Professor de Matemática de 2008 e 2009 e dois livros didáticos de

matemática para o Ensino Médio. Investiguei o assunto em sua forma explícita

e implícita nos cadernos, relacionando a abordagem apresentada com as

orientações desses documentos oficiais e comparando com a abordagem

apresentada nos livros didáticos escolhidos. O estudo do corpus possibilitou

constatar que a abordagem de matrizes nos cadernos se apresenta de acordo

com as propostas dos documentos oficiais que regem o ensino de matemática

no Ensino Médio; que a abordagem, de modo geral, assemelha-se com aquela

apresentada em um dos livros didáticos aprovados no PNLEM 2006, aquele

que teve uma maior preocupação de seguir as orientações de documentos

oficiais e que o caderno do professor de Matemática de 2009 apresentou

aprimoramentos em relação ao de 2008.

Palavras-Chave: Matrizes; Análise de Conteúdo; Caderno do Professor de

Matemática; Proposta Curricular do Estado de São Paulo 2008, Ensino Médio.

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Abstract

This work reports on a qualitative research aiming to investigate how the

Caderno do Professor de Matemática, Mathematics educational material

comprised in the the Proposta Curricular do Estado de São Paulo (Curriculum

Proposal of the Sao Paulo State) launched in 2008, approaches the topic of

Matrices. To collect data for the study I used the content analysis methodology,

as proposed by Bardin (2009). The resulting corpus consists of some official

documents that regulate the teaching of Mathematics in Brazil, the 2008 and the

2009 editions of the aforementioned Caderno, as well as two high school

textbooks of Mathematics. I researched the topic in its explicit and implicit forms

in the Caderno, comparing the observed approach with the guidelines seen in

the official documents, and with the approaches presented by the textbooks.

The analysis of the corpus allowed me to conclude that: i) the approach of the

matrices set forth in the Cadernos is in accordance with the guidelines

proposed by the official documents that regulate the teaching of Mathematics in

Brazilian high school education; ii) such approach, in general, closely resembles

the approach used by one of the textbooks approved by the 2006 edition of the

PNLEM (Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio - Brazilian

Program of High School Textbooks), the one that displayed a greater concern in

following the official recommendations; iii) the 2009 edition of the Cadernos

introduces significant improvements as compared to the previous 2008 edition.

Keywords: Matrices; Content Analysis; Caderno do Professor de Matemática;

Proposta Curricular do Estado de São Paulo 2008; High School Education.

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Índice

Introdução....................................................................................................... 12

Capítulo I: Problemática e Objetivo .............................................................. 14

Capítulo II: Escolhas teórico-metodológicas............................................... 19

Capítulo III: Análise do corpus ...................................................................... 24

Análise dos documentos oficiais................................................................... 24

Análise dos livros didáticos........................................................................... 28

Análise do livro Matemática – Ensino Médio, de Smole e Diniz (2003) ........ 29

Análise do livro Matemática – Ciência e Aplicações, de Iezzi et al. (2004) .. 41

Considerações das análises dos livros didáticos.......................................... 51

Capítulo IV: Análise dos Cadernos do Professor de 2008 e 2009.............. 53

Sobre os Cadernos do Professor.................................................................. 53

O conteúdo Matrizes no Caderno do Professor de 2008.............................. 54

O conteúdo Matrizes no Caderno do Professor de 2009.............................. 68

Capítulo V........................................................................................................ 82

Referências..................................................................................................... 87

Anexos ............................................................................................................ 91

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Quadros

Quadros referentes ao livro Matemática – Ensino Médio, 2ª série (Smole e Diniz, 2003)

Quadro 1 – Índice da parte 2 – Álgebra..................................................... 30

Quadro 2 – Definição de matriz................................................................. 31

Quadro 3 – Matriz genérica........................................................................ 31

Quadro 4 – Seção “O Elo Matemática”...................................................... 32

Quadro 5 – Seção “Flash matemático”...................................................... 34

Quadro 6 – Problemas e exercícios........................................................... 35

Quadro 7 – Seção “Invente você”............................................................... 36

Quadro 8 – Seção “Invente você................................................................ 37

Quadro 9 – Exercícios com uso de calculadora......................................... 39

Quadros referentes ao livro Matemática – Ciência e aplicação – 2ª série (Iezzi et al., 2004)

Quadro 10 – Sumário do segundo volume Livro de Iezzi et al. ................. 43

Quadro 11 – Tabelas numéricas – exemplos contextualizados................. 44

Quadro 12 – Obtenção de uma matriz por uma regra de formação........... 45

Quadro 13 – Exercício contextualizado...................................................... 45

Quadro 14 – Exercício articulado com o conteúdo trigonometria............... 46

Quadro 15 – Multiplicação de matrizes: abordagem contextualizada......... 47

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Quadro 16 – Exercício contextualizado...................................................... 48

Quadro 17 – Conteúdos de matemática do Ensino Médio......................... 55

Quadros referentes ao Caderno do Professor de 2008

Quadro 18 – Unidades do 2° bimestre da 2ª série do Ensino Médio.......... 56

Quadro 19 – Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 1........................... 58

Quadro 20 - Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 2............................ 60

Quadro 21 - Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 3............................ 61

Quadro 22 - Situação de Aprendizagem 2 – Atividades 1 e 2.................... 64

Quadro 23 - Situação de Aprendizagem 2 – Atividade 3............................ 65

Quadros referentes ao Caderno do Professor de 2009

Quadro 24 - Conteúdos de matemática do Ensino Médio........................ 70

Quadro 25 - Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 1 – Problema 1.... 72

Quadro 26 - Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 1 – Problema 2..... 73

Quadro 27 - Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 3........................... 74

Quadro 28 - Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 4........................... 75

Quadro 29 - Situação de Aprendizagem 4 – Atividade 1 – Cálculo da

área de um polígono................................................................................. 77

Quadro 30 - Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 4 – exemplos........ 78

Quadro 31 - Situação de Aprendizagem 4 – Atividade 1 – Problema 2..... 79

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12

Introdução

O interesse em desenvolver uma pesquisa sobre o tema “matrizes”

surgiu após ingressar no curso de Mestrado Profissional em Educação

Matemática da PUC/SP. Ao integrar-me ao Grupo de Pesquisa em Educação

Algébrica – GPEA – que desenvolve o projeto “Qual a álgebra a ser ensinada

na formação de professores?”, me interessei pelo subprojeto “Em busca de

situações propicias para aprendizagem de conceitos básicos de Álgebra

Linear”.

Como professor do Ensino Médio, sempre abordei o conteúdo de

Matrizes segundo o modelo de ensino orientado ao uso de técnicas de

algoritmos, de forma estanque e sem conexão com outros conteúdos, tendo

por referência o livro didático que utilizava em minhas aulas. Considerava esse

conteúdo fácil de ensinar, mas preocupava-me um questionamento feito pelos

alunos do “para que serve?”, demonstrando que esta abordagem não estava

sendo significativa para os alunos.

Por meio de reuniões do grupo GPEA, os membros sugeriram-me

leituras, através das quais pude constatar que a pesquisa de SANCHES (2002)

trazia informações que corroboram minhas impressões iniciais sobre o ensino

de matrizes, além de outras contribuições que vieram a me motivar na

continuidade desse trabalho.

No ano de 2008, enquanto eu definia o meu projeto de pesquisa, a

Secretaria da Educação do Estado de São Paulo implanta uma nova Proposta

Curricular denominada “São Paulo faz escola”, elaborando um material

endereçado aos professores de sua rede de ensino – os Cadernos do

Professor- destacando nestes a contextualização dos conteúdos e a articulação

dos mesmos.

Decidi, então, orientar esta pesquisa com o objetivo de investigar como

os Cadernos do Professor de Matemática abordam o conteúdo de Matrizes,

buscando verificar as abordagens apresentadas, se estas seguem sugestões

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dos atuais documentos oficiais que regem o ensino de matemática e se

apresentam inovações em relação aos livros didáticos.

Este trabalho está dividido em cinco capítulos, descritos da seguinte

forma:

• No capítulo I, apresento a problemática e o objetivo que nortearam o

desenvolvimento da pesquisa, evidenciando os motivos que levaram à

escolha por esse tema e a sua importância.

• No capítulo II, apresento a metodologia de pesquisa baseada na Análise

de Conteúdo, segundo Bardin (2009), os procedimentos metodológicos

adotados e o aporte teórico que fundamentou o desenvolvimento desta

pesquisa.

• No capítulo III, apresento as análises dos documentos oficiais e dos

livros didáticos selecionados para esta pesquisa.

• O capítulo IV é destinado à análise do Caderno do Professor de 2008 e

2009 que tratam do ensino de matrizes.

• As considerações finais são expostas no capítulo V, destacando alguns

resultados obtidos na análise dos Cadernos do Professor de 2008 e

2009, dos documentos oficiais e dos livros didáticos. Nesse capítulo,

faço minhas considerações e apresento algumas reflexões.

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14

Capítulo I

Problemática e Objetivo

Constantemente o ensino da Matemática no Brasil tem sido noticiado

mediante o baixo desempenho dos alunos nas avaliações institucionais

propostas por diferentes esferas educacionais. Segundo reportagem veiculada

no site do jornal O Estado de São Paulo em 15 de maio de 2008, o IDESP -

Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo - mostra que as escolas

estaduais paulistas estão longe de alcançar o nível de ensino de países

desenvolvidos, conforme pretendido pela Secretaria da Educação de São

Paulo até 2030. De acordo com dados dessa Secretaria, a pior situação

encontra-se no Ensino Médio, em que o índice é de 1,41 ainda mais baixo que

os do Ensino Fundamental I cujo IDESP é de 3,23 e do Fundamental II de

IDESP 2,541. Em relação ao SARESP - Sistema de Avaliação de Rendimento

Escolar do Estado de São Paulo - aplicado em 2007, o site do jornal Folha

Online, de 13 de março de 2008, noticiou que “71% dos alunos do Ensino

Médio apresentam deficiências em realizar operações básicas”, segundo dados

da Secretaria da Educação.

Diante desse cenário, pesquisadores investigam as causas desse baixo

desempenho dos alunos em Matemática e dentre as muitas pesquisas, há

aquelas que buscam metodologias diferenciadas de ensino para superar essas

dificuldades, tais como as de Ponte, Brocardo, Oliveira (2003) e de Chevallard,

Bosch e Gascon (2001). Para esses e outros pesquisadores, o ensino centrado

em procedimentos mecânicos, sem conexão com outros conceitos

matemáticos ou de outras disciplinas é apontado como uma das causas das

dificuldades enfrentadas na aprendizagem. Nele, o foco da aprendizagem está

na memorização, não se preocupando com a construção de significados dos

1 De acordo com o site do IDESP, o índice pretendido para o Ensino Médio até o ano de 2030 é 5,0, semelhante ao nível de ensino de países desenvolvidos. Para saber mais, consulte http://idesp.edunet.sp.gov.br/Arquivos/NotaTecnicaPQE2008.pdf.

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conceitos pelo aluno. Contrapondo este fato, percebe-se nas pesquisas que a

educação atual passa por um momento de reflexão acerca das possibilidades

de um ensino mais significativo. Esta reflexão, justamente, está presente nos

documentos oficiais que regem a educação.

Um desses documentos são os Parâmetros Curriculares Nacionais do

Ensino Médio – PCNEM (BRASIL, 2002), que prescrevem no ensino a

prevalência da perspectiva interdisciplinar e a contextualização dos

conhecimentos, visto que a integração dos diferentes conhecimentos pode criar

as condições necessárias para uma “aprendizagem motivadora”. Esta

orientação também está presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais “+” -

PCN+ (BRASIL, 2002), direcionada ao ensino de Matemática:

[…] Aprender Matemática de uma forma contextualizada, integrada e relacionada a outros conhecimentos traz em si o desenvolvimento de competências e habilidades que são essencialmente formadoras, à medida que instrumentalizam e estruturam o pensamento do aluno, capacitando-o para compreender e interpretar situações, para se apropriar de linguagens específicas, argumentar, analisar e avaliar, tirar conclusões próprias, tomar decisões, generalizar e para muitas outras ações necessárias à sua formação (BRASIL, 2002, p. 92).

Ao confrontar a situação apontada pelo IDESP e essas sugestões dos

parâmetros com minha experiência profissional, vieram à tona alguns

questionamentos sobre os conteúdos de Matemática do Ensino Médio e a

forma de abordagem dos mesmos. Por exemplo, sempre abordei o conteúdo

de Matrizes segundo o modelo de ensino orientado pelo uso de técnicas de

algoritmos e o apresentava de forma estanque e sem conexão com outros

conteúdos matemáticos ou de outras disciplinas, tendo por referência o apoio

no livro didático que tinha à disposição. Considerava esse conteúdo fácil de

ensinar e motivador do interesse dos alunos. Quando questionado pelos alunos

do “para que serve?”, respondia que aquele conteúdo poderia ajudá-los

futuramente numa graduação na área de Ciências Exatas, já que o havia

estudado na disciplina de Álgebra Linear durante as graduações de Matemática

e Ciência da Computação. Na realidade, essa resposta não convencia nem

mesmo a mim, pois estava claro que alguns métodos de resolução de sistemas

lineares utilizavam a representação matricial, mas, no entanto, haviam outros

métodos para tal que não utilizavam essa representação e, assim, me flagrava

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questionando a inserção desse conteúdo no currículo de Matemática do Ensino

Médio.

A respeito desse ensino de forma estanque e sem conexão com outras

áreas do conhecimento, MATOS e SERRAZINA (1996) argumentam que:

[...] A Matemática tem de deixar de ser um domínio isolado das outras áreas de conhecimento, ancorada na lógica. A Educação Matemática em especial não se destina a formar matemáticos, mas sim pessoas que possuam uma cultura matemática que lhes permita aplicar a Matemática, nas suas atividades e na sua vida diária (MATOS e SERRAZINA, 1996, p.23)

Ao ingressar no curso de Mestrado Profissional em Educação

Matemática da PUC/SP, beneficiado pelo programa de bolsa de estudo para os

professores da rede da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, tive

condições de poder refletir sobre minha prática ao me aprofundar nos estudos

sobre Educação Matemática. Durante o curso, tive a oportunidade de

apresentar um seminário na disciplina de Geometria com o tema: A Geometria

na Computação Gráfica. A escolha pelo tema proposto ocorreu por uma

curiosidade em relação à articulação entre diferentes conteúdos dos cursos da

minha formação. Ao pesquisar livros de Computação Gráfica utilizados no

Ensino Superior, qual não foi a minha surpresa ao constatar a grande utilização

de matrizes na transformação de imagens no computador. Após a

apresentação deste seminário, senti-me incentivado a continuar a pesquisa

sobre as matrizes com o objetivo não somente de responder a questão dos

alunos acerca do conteúdo, mas aprimorar-me profissionalmente.

Integrei-me ao Grupo de Pesquisa em Educação Algébrica – GPEA –

onde me interessei principalmente pelo subprojeto “Em busca de situações

propicias para aprendizagem de conceitos básicos de Álgebra Linear”. Dentre

as leituras sugeridas pelos membros do projeto, pude constatar que a pesquisa

de SANCHES (2002) traz informações que corroboravam minhas impressões

iniciais sobre o ensino de matrizes, pois essa autora analisou alguns livros

didáticos do Ensino Médio focando o tema de meu interesse. De acordo com

Sanches, nos livros didáticos

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[...] os conceitos são apresentados formalizados, a organização do conteúdo é fechada e em sua forma final, os exemplos utilizados são puramente algébricos sem aplicações práticas, seguidos de exercícios de fixação do tipo fechado (SANCHES, 2002, p.102).

Em contraposição a essas conclusões, a autora cita resultados de

pesquisas de Glidden2 (1990) e de Alexander3 (1985) que comprovam uma

melhoria na aprendizagem dos alunos sobre matrizes, quando o assunto é

utilizado como ferramenta na resolução de problemas contextualizados.

Em 2008, na época em que definia meu projeto de pesquisa para o

Trabalho de Conclusão do Mestrado Profissional, a Secretaria de Educação do

Estado de São Paulo4 iniciou a implantação de uma nova Proposta Curricular

(São Paulo, 2008a). O objetivo declarado dessa proposta é de melhorar a

qualidade de ensino e propor uma base comum para toda a sua rede. Para

atingir este objetivo, foi elaborado um material dirigido especialmente aos

professores, organizado em publicações bimestrais, para ser utilizado durante

o ano letivo: os Cadernos do Professor. Neste material, os temas escolhidos

para compor o conteúdo disciplinar de cada bimestre seguiram orientações

contidas na nova proposta e, segundo a Secretaria da Educação, não diferem,

de maneira geral, do que é apresentado nos diversos sistemas de ensino. A

inovação pretendida refere-se à abordagem dos temas que é sugerido nos

Cadernos de cada um dos bimestres, destacando, entre outros elementos, a

contextualização dos conteúdos e a articulação dos mesmos.

O estudo de Matrizes é abordado nos Cadernos do professor, de 2008 e

2009, no segundo bimestre do segundo ano do Ensino Médio, junto com noção

de determinante de uma matriz quadrada e da resolução e discussão de

sistemas lineares.

Ora, com esse material, não só pela relevância da publicação, mas

também como um componente disponível para o exercício de meu trabalho

profissional como professor da rede estadual paulista, surgiu uma oportunidade

de observar de que maneira o tema de matrizes se engajava na disposição de

ensino contextualizado e articulado para o qual acenava a Proposta Curricular

2GLIDDEN, P.L. (1990). From graphics to matrices. Mathematics Teacher. Vol 83, nº 2, p. 127-130 3ALEXANDER, D. C. (1985). A matrix application technique for secondary level mathematics. Mathematics Teacher. Vol 78, nº 4, p. 282-285 4 A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo também será denominado por SEE/SP.

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18

e, por consequência, como absorvia as inovações de pesquisas em Educação

Matemática com as quais eu vinha tendo contato. Assim, considerando minhas

indagações iniciais acerca do ensino de matrizes, o material elaborado para a

implantação da nova Proposta Curricular de 2008 do Estado de São Paulo e a

análise de documentos institucionais e pesquisas que abordam o ensino e a

aprendizagem de Matemática em geral e de matrizes em particular, levantei a

seguinte questão:

• Como os Cadernos do Professor de 2008 e 2009 do projeto São Paulo

faz escola abordam Matrizes?

Essa questão se desdobra em outras mais específicas:

• Os Cadernos do Professor de Matemática de 2008 do Ensino Médio

abordam matrizes seguindo as recomendações dos documentos oficiais

atuais sobre o ensino de Matemática?

• A abordagem do conteúdo de Matrizes no Caderno do Professor de

Matemática de 2008 segue a dos livros didáticos sugeridos pelo PNLEM

de 2006?

• Houve mudanças na abordagem do conteúdo de Matrizes dos Cadernos

do Professor de Matemática de 2008 e nos de 2009?

Assim, a partir desses questionamentos, o trabalho de investigação que

ora se apresenta busca provocar reflexões sobre ensino de Matemática em

geral e especificamente sobre o ensino de matrizes no Ensino Médio e que

estas venham a servir de incentivo para outras pesquisas, contribuindo para

um constante aprimoramento.

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19

Capítulo II

Escolhas teórico-metodológicas

Neste capítulo apresento a metodologia, as idéias teóricas sobre

abordagem e os procedimentos metodológicos adotados em meus estudos.

Para responder as questões de pesquisa, realizei uma pesquisa

qualitativa do tipo documental baseado na Análise de Conteúdo, conforme

descrito por Bardin (2009). A autora designa sob o termo análise de conteúdo

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2009, p.44).

Segundo a autora, as inferências citadas podem responder a dois tipos

de problemas: a) o que é que conduziu a um determinado enunciado? e b)

quais conseqüências um determinado enunciado provavelmente provocará?

Bardin considera que as pesquisas da análise de conteúdo se organizam em

torno de três fases:

• A pré-análise – que tem por objetivo a organização, a qual

corresponde ao período da escolha dos documentos, a

formulação de hipóteses e objetivos e a elaboração de

indicadores que fundamentem a interpretação final. Diz respeito,

especialmente, ao conjunto de documentos selecionados para

serem analisados, o que denominamos de corpus.

• A exploração do material – fase em que ocorre um estudo

aprofundado sobre o corpus, sendo orientado pelos indicadores e

hipóteses estabelecidos na pré-análise.

• O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação – os

resultados em bruto são tratados de maneira a serem

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significativos e válidos. Nesta fase o pesquisador pode propor

inferências e adiantar interpretações de acordo com os objetivos

previstos ou que digam respeito a outras descobertas. Os

resultados obtidos, a confrontação sistemática e as inferências

alcançadas podem servir de base para uma nova análise, que se

utilize de uma nova dimensão teórica ou praticada por meio de

uma técnica diferente.

É importante notar que essas fases não são estanques; são articuladas

e, muitas vezes, há necessidade de se retornar a organização preliminar para

incluir um documento, que se fez necessário para melhor compreensão do

assunto.

Passo a seguir a discriminar o que encontrei ao investigar o que existe

na literatura de Educação Matemática sobre o ensino e a aprendizagem de

Matrizes, pois, segundo Umberto Eco, em seu livro “Como se faz uma tese”, o

estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob uma óptica

diferente o que já se disse (ECO, 1996 p.22). Nesse sentido, o resultado das

incursões à literatura especializada foi sistematizado na exposição a seguir.

Um sobrevoo sobre pesquisa de Educação Matemática que trataram das matrizes como objeto de ensino

A procura de pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem de matrizes

em sites de Universidades, em revistas científicas, e livros de Educação

Matemática revelou uma escassa produção acerca desse tema. Esse fato pode

ser consequência de vários fatores, dentre eles, o de que os professores de

Matemática não enfrentam dificuldade em lecionar o conteúdo, como era meu

caso, mesmo o fato de que, embora as matrizes façam parte do currículo de

Matemática do Ensino Médio, elas não são consideradas um assunto prioritário

nesse nível de ensino. Desse modo, como resultado dessas fase de

investigação, detalho a seguir três trabalhos que, de alguma forma, tornaram-

se relevantes nesse levantamento bibliográfico. São eles: a dissertação de

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Sanches (2002) e a tese de Karrer (2006) e o artigo de Carvalho (2009) na

Revista do Professor de Matemática nº 70.

Em sua dissertação, Sanches realizou uma pesquisa empírica com o

objetivo de verificar a eficácia de um método sugerido nas pesquisas de

Glidden(1990) e de Alexander(1985), o qual introduz matrizes por meio de

situações contextualizadas, via resolução de problemas. Interessante notar que

a própria autora, na apresentação, admite que encontrou poucos trabalhos

sobre o ensino e aprendizagem de matrizes, o que foi corroborado por minha

busca conforme já apresentado anteriormente.

A autora apresenta a analise de dois grupos de estudantes, um

experimental e outro de controle, num total de 105 alunos de quatro cursos

técnicos profissionalizantes, com idades variando entre 15 a 18 anos,

matriculados na segunda série do Ensino Médio de uma escola particular do

ABC Paulista. O pré-teste consta de dois instrumentos, um teste formal e outro

não-formal, aplicados simultaneamente durante aulas de Matemática antes da

introdução do estudo de Matrizes. O teste não-formal consta de quadrados

mágicos e de outros problemas que utilizam conhecimento prévio do aluno. O

teste formal consta de problemas contextualizados que envolvem outros

conteúdos, como geometria, análise combinatória e vetores e que cuja

resolução é facilitada pela utilização de matrizes.

Ao grupo controle o conteúdo de Matrizes foi apresentado na forma

tradicional, isto é, definição, o desenvolvimento de fórmulas e exercícios de

fixação. Já os alunos do grupo experimental foram submetidos a uma

intervenção com dinâmicas de grupo, utilização de situações-problemas

elaboradas a partir de conhecimentos anteriores dos alunos e realização de

atividades interdisciplinares. No pós-teste os instrumentos foram novamente

aplicados aos dois grupos. Sanches concluiu que, após a utilização de

estratégias diferenciadas de ensino, os sujeitos do grupo experimental

apresentaram resultados melhores do que os do grupo controle.

De fato, o resultado dessa pesquisa sugere a pertinência de se tentar uma

abordagem diferenciada, via resolução de problemas, por exemplo, para propiciar

uma aprendizagem significativa do estudante quando do estudo de Matrizes.

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Karrer (2006) teve como objetivo de sua pesquisa o estudo de questões

relativas ao ensino e à aprendizagem de conceitos da Álgebra Linear no Ensino

Superior. Embora a autora não tenha estabelecido como assunto de

investigação o ensino de matrizes, como as mesmas são obrigatoriamente

estudadas em Álgebra Linear, julguei pertinente o estudo de sua tese.

Em seus estudos preliminares, Karrer analisou livros didáticos de

Álgebra Linear, e verificou que os livros mais recentes tratavam de aplicações

da Álgebra Linear em outras áreas, principalmente de aplicações gráficas, o

que naturalmente despertou meu interesse, pois conforme descrevi

anteriormente, as matrizes aparecem muito nessas aplicações.

Inspirado nas constatações da autora sobre os livros didáticos

analisados, empreendi uma investigação em dois dos livros analisados em sua

pesquisa: Esses livros foram: Álgebra Linear e suas Aplicações, de Lay (1997)

e Álgebra Linear com Aplicações, de Anton e Rorres (2001). O estudo desses

livros me levou a perceber que as aplicações envolvendo matrizes são

abrangentes e que algumas destas podem, quando devidamente adaptadas ao

Ensino Médio, ser utilizadas no ensino de matrizes, proporcionando um ensino

de forma integrada e articulada.

Carvalho (2009), em seu artigo “Uma representação matricial para o

algoritmo de Euclides”, dá um exemplo de contextualização da representação

matricial intramatemática, e argumenta que o emprego de matrizes em problemas

interessantes deveria ser encorajado no Ensino Médio, evitando apresentar as

definições e noções do cálculo matricial sem empregá-los em problemas

significativos. Assim, a leitura de Carvalho reafirmou a possibilidade de tratar o

ensino de matrizes de uma forma mais motivadora e significativa para o aluno.

O estudo das pesquisas tanto de Carvalho (2009), como de Sanches

(2002) me convenceram da importância da forma de abordagem no ensino de

matrizes para a obtenção de uma aprendizagem significativa5. Assim, esse

ponto de vista estará dirigindo minhas análises dos Cadernos do Professor.

5 Segundo Ausubel, uma aprendizagem é significativa quando ocorre um relacionamento entre o novo conhecimento e algum aspecto essencial da estrutura cognitiva do sujeito. Na interação entre as estruturas preexistentes e a nova aprendizagem, há influência de conhecimentos já adquiridos, servindo como ponto de ancoragem para o novo conhecimento, que também são modificados em função da nova informação (Ausubel apud Moreira, 2006).

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Por sua vez, a leitura da tese de Karrer (2006), especialmente da análise

dos livros didáticos de Álgebra Linear, me sugeriu a verificação de como os livros

didáticos de Matemática do Ensino Médio tratavam de aplicações de matrizes. De

alguma forma, pareceu-me que tal investigação contribuiria sensivelmente para a

análise dos Cadernos do Professor, permitindo uma comparação da apresentação

do conteúdo de Matrizes nos Cadernos e nos livros didáticos.

Procedimentos metodológicos

Nesta seção, aponto os procedimentos metodológicos utilizados para

responder as questões de minha pesquisa.

Na fase da pré-análise, fiz um levantamento e seleção de documentos

oficiais atuais para me inteirar sobre propostas e tendências regentes no

Ensino Médio. Além desse material oficial, selecionei alguns livros didáticos de

matemática do Ensino Médio e bem como os Cadernos do Professor

distribuídos na rede estadual de São Paulo durante todo o ano de 2008 e 2009.

Assim o corpus desta análise documental se constitui dos Parâmetros

Curriculares Nacionais do Ensino Médio – PCNEM (BRASIL, 1999); dos PCN+

(BRASIL, 2002), das Orientações Curriculares para o Ensino Médio – OCEM

(BRASIL, 2006), da Proposta Curricular do Estado de São Paulo – Matemática

(SÃO PAULO, 2008a) e dos Cadernos do Professor de Matemática do Ensino

Médio distribuídos no ano de 2008 e 2009, além de dois livros didáticos do

Ensino Médio.

Ao mesmo tempo a participação no GPEA me proporcionou a

oportunidade de coletar outras informações relevantes ao tema de pesquisa,

contribuindo para a formulação de hipóteses e delimitar os objetivos do trabalho,

além de propiciar a maturação da pesquisa e da trajetória de investigação.

No capítulo seguinte, passei para a fase de exploração do material, onde realizei uma leitura criteriosa de todo o corpus, orientado por minhas

questões de pesquisa.

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Capítulo III

Análise do corpus

A análise do corpus foi dividida em dois capítulos. Neste capítulo,

exponho a análise dos documentos oficiais selecionados, bem como a análise

de livros didáticos do Ensino Médio. No 4° capítulo, apresento a análise dos

Cadernos do Professor de Matemática de 2008 e 2009, a fim de dedicar

especial atenção ao vínculo dessa análise com minhas questões de pesquisa.

Análise dos documentos oficiais

Inicialmente, na análise desses documentos, decidi situar a organização

do Ensino Médio atual no Brasil, o que, em decorrência, leva a procura de

referenciais sobre a perspectiva do ensino da Matemática no que se refere à

abordagem de ensino e seleção dos conteúdos. Dado o objeto de pesquisa,

esse material selecionado foi investigado no sentido de buscar evidências do

ensino de Matrizes nesses documentos.

Assim, analisei os seguintes documentos oficiais: os “Parâmetros

Curriculares Nacionais do Ensino Médio” – PCNEM (BRASIL, 1999), “PCN+”

(BRASIL, 2002), “Orientações Curriculares para o Ensino Médio” (BRASIL,

2006) e a “Proposta Curricular do Estado de São Paulo – Matemática – Ensino

Fundamental e Médio” – PCESP (SÃO PAULO, 2008a). Cumpre ressaltar que,

embora seja citada, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei

9.394/96), doravante denominada LDB, não pertence ao corpus desta

pesquisa, e portanto, não mereceu uma análise em profundidade.

De acordo com os PCN+, a LDB, propiciou uma reformulação do

currículo do Ensino Médio, conferindo-lhe uma nova identidade. Na perspectiva

da nova Lei, o Ensino Médio, como parte da educação escolar, deverá vincular-

se ao mundo do trabalho e à prática social. A finalidade do Ensino Médio é

determinada no Art. 35 dessa Lei:

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Art. 35. “O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática no ensino de cada disciplina.” (BRASIL, 2002, p. 33).

Segundo os PCNEM (1999), a concepção da preparação para o trabalho

descrita na LDB (Art. 35) destacará a relação da teoria com a prática e a

compreensão dos processos produtivos enquanto aplicações das ciências, em

todos os conteúdos curriculares, não estando vinculada a nenhum componente

curricular em particular. Tal relação, por conseguinte, é reafirmada na PCESP

(2008), citando novamente a LDB, que determina que essa relação se dê em

cada disciplina do currículo, uma vez que boa parte dos problemas de

qualidade do ensino decorre da dificuldade dos alunos em destacar a dimensão

prática do conhecimento, tornando-o verbalista e abstrato. Enfim, a relação

teoria e prática é mencionada em todos os documentos analisados.

Os PCNEM apontam como um dos pressupostos da organização

curricular do Ensino Médio a

[...] abertura e sensibilidade para identificar as relações que existem entre os conteúdos do ensino e das situações de aprendizagem e os muitos contextos de vida social e pessoal, de modo a estabelecer uma relação ativa entre o aluno e o objeto do conhecimento e a desenvolver a capacidade de relacionar o aprendido com o observado, a teoria com suas conseqüências e aplicações práticas (BRASIL, 1999, p.74).

Ainda no aspecto curricular, os PCNEM citam que o Art. 26 da LDB

determina a obrigatoriedade do estudo de Matemática e outros conhecimentos,

apontando, porém, para um planejamento ou desenvolvimento curricular de

forma a superar a organização por disciplinas estanques e destacar a

integração e articulação dos conhecimentos (BRASIL, 1999, p.17).

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De acordo com os PCN+ (2002), no Ensino Médio, a Matemática deve

ser compreendida como uma parcela do conhecimento humano essencial para

a formação de todos os jovens, que contribui para a construção de uma visão

de mundo, para ler e interpretar a realidade e para desenvolver capacidades

que deles serão exigidas ao longo da vida social e profissional (BRASIL, 2002,

p. 92). O seu ensino, no entanto, não deve ter um enfoque meramente

disciplinar, segmentado, compartimentizado. Segundo os PCNEM (1999), a

atual proposta de reforma curricular estabelece que no ensino prevaleça a

perspectiva interdisciplinar e a contextualização dos conhecimentos,

contribuindo para que, gradativamente se supere o tratamento estanque que

caracteriza o conhecimento escolar.

Os estudos realizados permitem concluir que os documentos oficiais de

âmbito nacional propõem uma articulação no ensino da Matemática no Ensino

Médio com temas atuais da ciência e tecnologia e um esforço na superação do

ensino de forma estanque e segmentado utilizando uma perspectiva

interdisciplinar. Além disso, esses documentos sugerem que os estudos nessa

área devem levar em conta que a Matemática é uma linguagem de expressão e

comunicação para diversas ciências e que permitem compreender os princípios

científicos presentes nas tecnologias e associá-las aos problemas que se

propõe solucionar aplicando aqueles princípios científicos a situações reais ou

simuladas.

Segundo os PCNEM (1999), esta visão atende às duas dimensões do

Ensino Médio determinadas pela LDB e exemplificam que ao operar um

algoritmo, o estudante precisa entender que está diante de uma sentença da

linguagem matemática que representa uma leitura e escrita da realidade ou de

uma situação desta e que esta possibilita o desenvolvimento de competências

básicas, características da dimensão de preparação para prosseguimento de

estudos. Por outro lado, aponta que o mesmo algoritmo seja um instrumento

que possibilite a solução de um problema concreto, que pode auxiliar na etapa

de planejamento, gestão ou produção de um bem, competências

características da dimensão de preparação para o trabalho (BRASIL, 1999, p.

16-17).

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No que tange à estruturação curricular, os documentos analisados

organizam o ensino da Matemática em diferentes temas ou blocos. Nos PCN+

(2002), os conteúdos matemáticos podem ser sistematizados em três eixos ou

temas estruturadores, sendo orientado o desenvolvimento dos mesmos de

forma concomitante e articulada nas três séries do ensino médio. Nas OCNEM

(2006), os conteúdos estão organizados em blocos, o que segundo as

orientações desse documento não significa que os conteúdos ali presentes

devam ser trabalhados de forma estanque, mas, ao contrário, deve-se também

desenvolvê-los de forma articulada constantemente (BRASIL, 2006, p.70).

Quanto aos conteúdos específicos, os PCN+ (2002) não fazem

nenhuma referência ao estudo de Matrizes. Existe uma citação implícita

quando o documento aborda o estudo de equações polinomiais e de sistemas

lineares, sugerindo estender os conhecimentos que os alunos possuem sobre a

resolução de sistemas de duas equações e duas incógnitas para sistemas

lineares 3 por 3, aplicando esse estudo à resolução de problemas simples de

outras áreas do conhecimento (BRASIL, 2002, p.122).

Ainda no estudo de sistemas lineares, as OCEM (2006) sugerem o

abandono da regra de Crammer na resolução de sistemas de equação 3x3,

alegando ser um procedimento custoso (no geral, apresentado sem

demonstração, e, portanto de pouco significado para o aluno), limitado (só

permite resolver os sistemas lineares quadrados com solução única) e também

dispensam o estudo de determinantes (BRASIL, 2006, p.78).

A PCESP (2008) justifica a inclusão do estudo das matrizes pela ampla

utilização na programação de computadores e salienta que esse conteúdo seja

realizado dentro do componente Tratamento da Informação, eixo que completa

a atualização curricular proposta (SÃO PAULO, 2008a, p. 47). Interessante

observar que apesar de todas as restrições mencionadas ao ensino de

determinantes e à regra de Crammer pelas OCEM, o estudo de Matrizes não é

citado nessa lista. Ao contrário, este é um dos poucos temas mencionados na

atual proposta estadual, ainda que de forma superficial e sendo justificada a

sua inclusão pela articulação deste conteúdo com aplicações da tecnologia.

Ao término dessa análise, descrevendo um percurso que partiu de uma

visão global para chegar a uma específica, é possivel afirmar que esses

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documentos propõem uma abordagem de ensino pautada: na contextualização,

na interdisciplinaridade, no ensino através de situações-problema e na relação

teoria-prática (aplicabilidade).

Análise dos livros didáticos

Apesar de Sanches (2002) ter realizado uma análise de livros didáticos

em sua pesquisa, considerei necessária uma nova análise e explicito por quais

razões: primeiro, porque os livros analisados pela autora provavelmente

encontram-se defasados em relação às orientações dos documentos oficiais

atuais, que foram publicados posteriormente à publicação dos livros

analisados. Segundo, para verificar se o conteúdo de estudo apresentado em

recentes publicações seguiu orientações desses documentos. E terceiro,

porque julguei pertinente um exame cuidadoso para fins de comparação

posterior com o material apostilado da SEE/SP, isto é, os Cadernos do

Professor.

O critério para a seleção dos livros baseou-se na relação dos livros

aprovados na avaliação do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio -

PNLEM/2006; isto é, a escolha partiu de uma lista consagrada oficialmente e

que precede à implementação dos Cadernos do Professor. O PNLEM é um

programa, implantado em 2004, que prevê a distribuição de livros didáticos

para os alunos do Ensino Médio de todo o país, sendo essas obras escolhidas

pelos professores nas escolas através de um catálogo impresso, enviado pelo

Ministério da Educação (MEC). De acordo com o site do MEC, a distribuição

desses livros ocorre de forma progressiva aos alunos do Ensino Médio de todo

o Brasil, e o intervalo para uma nova escolha é de três anos. Em 2006, ocorreu

a primeira participação do estado de São Paulo na distribuição dos livros

aprovados pelo PNLEM, sendo que as coleções escolhidas permaneceram a

mesma até 2008, havendo, nesse período, somente reposição dos livros

escolhidos.

No ano de 2006 foram propostas 11 coleções de livros didáticos de

Matemática, das quais duas foram selecionadas por cada escola da rede

estadual de São Paulo (cf. Anexo 2).

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Para efeito de análise, selecionei os dois livros escolhidos pela escola

estadual em que lecionava em 2006. São eles:

• SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. Matemática - Ensino Médio. 4. ed. ref. São

Paulo: Editora Saraiva, 2003. v. 2, 476 p.

• IEZZI, G. et al. Matemática - Ciência e Aplicações, 2ª série. 2. ed. São

Paulo: Atual Editora, 2004. 544 p.

O objetivo desta análise é levantar dados referentes à abordagem do

conteúdo de Matrizes para subsidiar a análise dos Cadernos do Professor de

Matemática de 2008 e 2009. Para tanto, apresento a descrição e análise

desses livros didáticos considerando: a) apresentação e descrição da coleção

e, em especial, do segundo volume no qual aborda-se o conteúdo de Matrizes;

b) a abordagem específica de Matrizes.

Análise do livro Matemática – Ensino Médio, de Smole e Diniz (2003)

A primeira coleção analisada foi a de Smole e Diniz (2003). Trata-se de

uma coleção composta por três volumes, cada um relativo a uma série do

Ensino Médio.

Segundo os dados da publicação, esta é sua quarta reformulação (2004)

e na apresentação é relatado que o objetivo da obra é complementar os

conhecimentos sobre números, operações, álgebra e geometria, focando em

dois aspectos da Matemática: como linguagem das ciências a serviço de outras

áreas e como ciência, com a sua forma de organizar os conceitos e as

técnicas.

O 2º volume tem 476 páginas e é composto de quatro Partes6. Parte 1:

Estatística, Contagem e Probabilidade; Parte 2: Álgebra; Parte 3: Geometria

espacial ; Parte 4: Trigonometria. Cada uma dessas partes é composta por

unidades. Cada unidade é subdividida em itens os quais por sua vez possuem

diversos tópicos.

Os tópicos em geral são desenvolvidos, em sua maioria, com a

explanação e definição dos conceitos, exemplos e exercícios resolvidos e os 6 Partes: denominação dada pelas autoras.

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exercícios, denominados na obra como Problemas e exercícios. Cada unidade

é composta, ainda, pelas seções: “O Elo matemático”, que aborda a relação

teoria e prática, “Flash matemático”, apresentando tópicos da história da

Matemática relativo ao conteúdo estudado ou informações complementares,

como a articulação com outros conteúdos e “Invente você”, que sugere ao

aluno a elaboração de problemas de acordo com uma situação apresentada na

forma numérica, algébrica, geométrica, figural e outras.

O Quadro 1 mostra o índice da parte 2 referente a Álgebra, que possui 3

unidades: a Unidade 4 – Sistemas Lineares -; a Unidade 5 - Matrizes - e a

Unidade 6 - Determinantes. Os itens 7, da Unidade 5, e itens 5 e 6, da Unidade

6, aparecem com uma flecha vermelha ao lado, indicando que são optativos.

Quadro 1 – Índice da parte 2 - Álgebra7 (Smole e Diniz, 2003)

7 Segundo as autoras, os itens do índice assinalados com a seta vermelha podem ser desenvolvidos em caráter opcional, pela não relevância para a formação do aluno no Ensino Médio.

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Observa-se, por esse índice, que a Unidade 4 começa com uma revisão

de assuntos já tratados no Ensino Fundamental, tais como as equações

lineares. Embora desenvolva a noção de sistemas lineares 2x2 e 3x3, deixa a

discussão da solução dos sistemas para a Unidade 6 - Determinantes.

Passo agora a descrever e analisar a abordagem específica que essa

obra dedica ao tema Matrizes.

O conteúdo de Matrizes é iniciado com considerações sobre 3 situações

que podem ser organizadas em tabelas numéricas; neste caso, na última, a

tabela é apresentada no Programa Excel. Em seguida, é apresentado o

seguinte Quadro:

Quadro 2 – definição de matriz (Smole e Diniz, 2003, p. 143)

De fato, com esse percurso, as autoras demonstram uma preocupação

em contextualizar, via situações do cotidiano, antes de apresentar a definição

de Matriz. É interessante observar que a definição traz nota explicando como

se lê m x n.

Após a definição, seguem-se exemplos, com diferentes formas de

representar matrizes do tipo 3x5 e 2x4, colocando os dados da tabela entre

parênteses ou colchetes. Só então, a obra apresenta uma matriz genérica com

uma notação abreviada a ser adotada, conforme mostra o Quadro 3:

Quadro 3 – matriz genérica (Smole e Diniz, 2003, p. 144)

Na sequência, as autoras destacam algumas matrizes com

características especiais. Na primeira delas, matriz quadrada, ressalta suas

diferentes denominações - matriz quadrada de ordem n, matriz quadrada n x n,

ou simplesmente, matriz n x n. Também aborda a definição dos elementos que

constituem as diagonais principal e secundária, sendo estes representados

numa matriz genérica. Os outros tipos de matrizes (matriz linha, matriz coluna e

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matriz transposta) são apresentados de forma sintética: explanação e

exemplos. O item “igualdade e desigualdade de matrizes” é apresentado de

forma semelhante, seguido de dois exercícios resolvidos, sendo que no

primeiro é abordada a igualdade matricial e no segundo, a obtenção de uma

matriz transposta a partir de uma fórmula matemática. Os dois exercícios

trabalham com a manipulação dos elementos que constituem as matrizes.

Apesar do uso do termo “desigualdade”, a obra não faz nenhuma referência ao

mesmo, quer explicando quer utilizando exemplos.

Nas páginas 147 e 149, temos duas seções denominadas: “O Elo

Matemática” e “Flash Matemático”, que abordam aplicações de matrizes.

A primeira seção refere-se às conexões de voos entre quatro cidades

representadas em uma figura, conforme se observa no Quadro 4. Através de regras

estabelecidas, essas conexões são associadas a uma matriz, estabelecendo se há

ou não voos entre as cidades. De acordo com o texto, a figura pode parecer mais

simples que a matriz, mas numa situação de se representar conexões de 200 ou

mais cidades, as matrizes possibilitariam consultas mais fáceis, sobretudo se elas

estiverem armazenadas em computadores.

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Quadro 4 – seção “O Elo Matemática” (Smole e Diniz, 2003, p. 147)

Na outra seção, há mais um exemplo de matrizes como modelo

descrevendo uma situação real. Trata-se de um modelo que representa três

conjuntos de semáforos de um cruzamento, em que as matrizes indicam o

tempo, em minutos em que os semáforos se mantêm simultaneamente abertos,

segundo uma seqüência dada. Interessante notar que as matrizes

representantes da situação são obtidas de um estudo das vias desse

cruzamento, ainda que este seja implícito, sendo mencionado que numa

situação de engarrafamento, o problema pode ser solucionado alterando

valores nessas matrizes. Para isto, são efetuados cálculos com essas matrizes

– multiplicação de um número real por uma matriz – ainda que este item não

tenha sido apresentado ao aluno no livro, ocorrendo no tópico seguinte.

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Quadro 5 – seção “Flash Matemático” (Smole e Diniz, 2003, p. 149-150)

A partir dessas análises, é possível dizer que as duas seções descritas

acima apresentam situações contextualizadas com o foco na aplicabilidade, que,

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apesar da apresentação já finalizada, evidencia uma preocupação das autoras

pelas sugestões de abordagens de ensino presentes nos documentos oficiais.

No tópico “Problemas e Exercícios” (p.148), são apresentadas nove

questões, sendo sete referentes aos assuntos estudados até então. Dois dos

exercícios (Exercícios 8 e 9) tratam de matriz simétrica, sendo que a

explanação ocorre na própria questão (exercício 8). O item apresenta um

exercício contextualizado (exercício 6) e três em que as matrizes são obtidas

por figuras e regras estabelecidas (Exercícios 3, 4 e 5).

Quadro 6 – Problemas e exercícios (Smole e Diniz, 2003, p. 148)

O tópico “Invente você” (p. 149), por sua vez, apresenta três questões

interessantes, posto que exigem do aluno a observação e criatividade,

conforme se vê no Quadro 5. Isso, segundo os PCNEM (1999), tira o aluno da

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condição de expectador passivo na aprendizagem, favorecendo a construção

de significados pelos alunos e possibilitando a identificação das relações

existentes entre os conteúdos do ensino e os muitos contextos de vida social e

pessoal (BRASIL, 1999, p.74).

Quadro 7 – seção “Invente você” (Smole e Diniz, 2003, p. 147)

A análise cuidadosa desse material revelou que, ao abordar as

operações definidas no conjunto de matrizes, as autoras inicialmente propõem

situações contextualizadas para somente depois sistematizá-las. No entanto,

no que se refere às noções, o mesmo percurso não é desenvolvido.

Por exemplo, o item “adição de matrizes” é iniciado pela proposta de

uma situação prática de produção de automóveis, sendo possível a sua

resolução pelos próprios alunos, ainda que não tenham “conhecimentos

formais” do tópico para, na sequência, ser apresentada a definição de adição

de matrizes. Após esta sistematização, as definições de outras noções

relacionadas como matriz nula, matriz oposta, propriedades da adição e

subtração de matrizes são apresentados de forma sintética: explanação e

exemplos.

O capítulo prossegue, de todo modo, apresentando dois “Exercícios

Resolvidos” meramente como exemplos do uso da técnica, e em sua

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sequência, propõem três exercícios (seção “Problemas e Exercícios”, p.154),

exigindo do aluno somente uma reprodução dos exemplos.

A abordagem contextualizada seguida das definições e exemplos ocorre

também com a “multiplicação de matrizes”, apresentando uma situação que

pode ser resolvida de forma intuitiva pelos alunos, sem conhecimentos formais

de definições e procedimentos. Na apresentação de “Exercícios Resolvidos”

(p.157), aparece um problema contextualizado envolvendo a produção de

componentes de uma indústria e dois com uma abordagem pelo uso da

técnica.

Em “Problemas e Exercícios”, a obra apresenta cinco exercícios

(numerados de 13 a 18), sendo dois contextualizados. Nesses dois exercícios,

é interessante notar que as questões propostas envolvem cálculos com os

dados fornecidos diretamente nas tabelas e em projeções futuras, quando o

aluno deve primeiro obter uma matriz que corresponda a essa situação futura

para, só então, responder a questão através de cálculos matriciais.

No tópico “Invente você” solicita-se ao aluno que elabore um problema

com base em tabelas dadas, conforme mostra o Quadro 8.

Quadro 8 – seção “Invente você” (Smole e Diniz, 2003, p. 160)

A partir do tópico “Matriz identidade ou matriz unidade”, a obra não

apresenta mais situações contextualizadas, vindo na sequência o item 7 -

“propriedades das operações com matrizes” - (a ser desenvolvido em caráter

opcional, segundo as autoras) no qual também é tratada a questão de matriz

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inversível. Os exercícios (numerados de 19 a 27) seguem reproduzindo os

exemplos e exercícios resolvidos.

Na seção “Flash matemático”, o livro em análise apresenta um quadro

biográfico “tradicional” de Carl Friedrich Gauss, parecido ao de vários livros

didáticos antigos. De acordo com as OCEM (2006), a utilização da história da

Matemática em sala de aula pode ser vista como um elemento importante no

processo de atribuição de significados aos conceitos matemáticos, no entanto

elas alertam que esse recurso não deve ficar limitado à apresentação de

biografias. Nesse caso, a única razão para a inclusão dessa biografia no livro

aparenta ser o fato de que as autoras tratam do método de Gauss no item

seguinte. De fato, não é possível perceber qualquer outro efeito da biografia

sobre o aluno-leitor como o de motivá-lo, ou de apresentar o processo histórico

de construção de conhecimentos matemáticos.

No item 8 - Matrizes e resolução de sistemas - último dessa unidade, a

resolução de sistemas lineares é proposta pelo método de eliminação de

Gauss, também conhecido por escalonamento. Para esse tópico, a obra dedica

um número considerável de páginas na explanação detalhada e

exemplificação. Talvez isso se dê em função da complexidade do assunto e

pelo longo procedimento do método. A discussão e a determinação do conjunto

solução de sistemas lineares também são abordadas nesse item.

A unidade é encerrada com uma situação contextualizada orientada ao

uso da calculadora, conforme segue:

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Quadro 9 – exercício com uso de calculadora (Smole e Diniz, 2003, p. 169-170)

O fato de se deixar essa atividade para o final da unidade, como se

fosse um adendo, pode parecer ao professor ou ao aluno que ela tem menor

importância. Considero inadequada a localização dessa atividade como última

da unidade, visto que o trabalho com calculadora constitui um eficiente

instrumento de ensino, contemplado nos atuais documentos oficiais.

A Unidade seis, contrariando a sugestão das OCEM (2006), desenvolve

o estudo de determinantes.

Essa unidade - Estudo de determinantes - tem a representação matricial

como base em seus tópicos. O conteúdo é quase todo apresentado de uma

forma tradicional (teoria, exemplo, exercício), repleta de regras, apresentando

somente três dos exercícios (enumerados de 13 a 15, p.179), com situações de

aprendizagem contextualizadas.

Nessa unidade, a resolução de sistemas lineares do tipo n x n volta a ser

discutida (antes fora discutida na Unidade quatro). Mas, agora, com o uso de

determinantes e, por consequência, usando a representação matricial. Sua

utilização, no entanto, é restrita àqueles sistemas em que o número de

equações é o mesmo que o número de incógnitas. Cumpre ressaltar que, dada

esta restrição, as OCEM (2006) sugerem o abandono da regra de Crammer na

resolução de sistemas de equação 3 X 3, alegando ser um procedimento

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custoso, limitado (só permitindo resolver os sistemas quadrados com solução

única) e de pouco significado para o aluno.

Os tópicos abordados nesta unidade são: o cálculo de determinante de

ordem 2x2 e 3x3 pela regra de Sarrus, a resolução de sistemas pela regra de

Cramer e análise de sistemas por determinantes. Também inclui o estudo dos

sistemas lineares homogêneos, determinante de matriz quadrada de ordem n

utilizando o teorema de Laplace e inversão de matrizes.

No final do livro há uma seção de testes de vestibulares com oito

questões sobre o conteúdo, sendo quatro abordando resoluções teóricas e

quatro práticas contextualizadas. Trata-se dos testes 38 a 45 (p. 423-425).

Ao final dessa análise, é possível dizer que as autoras Smole e Diniz

tiveram a preocupação de focar a Matemática como ciência e como linguagem

a serviço de outras áreas. Considero que esses dois aspectos, de forma geral,

foram utilizados em equilíbrio no desenvolvimento da obra.

A abordagem dada pelas autoras utiliza um número considerável de

exemplos e exercícios interessantes do ponto de vista da contextualização na

Unidade 5 (Matrizes).

No entanto, na Unidade 6 (Determinantes), que utiliza matrizes como

ferramenta para o desenvolvimento de determinantes, o conteúdo, em sua

maior parte, é apresentado numa linguagem formal-matemática com exercícios

de reprodução de método dos exercícios resolvidos, o que não atende as

orientações dos documentos oficiais. Desse modo é possível concluir que a

Unidade 6 é apresentada de uma forma a não facilitar que o leitor dê

significado aos conhecimentos ali tratados, contrariando as recomendações

das OCEM (2006).

É preciso, contudo, ponderar o fato de que o professor não é obrigado a

percorrer todas as unidades com seus alunos e, se esse professor refletir nas

sugestões das OCEM e concordar com elas, poderá “pular” essa unidade sem

prejuízo ao aprendizado do aluno.

De forma geral, a obra apresenta o conteúdo de Matrizes

adequadamente na Unidade 5, utilizando em grande parte dos itens de estudo

estratégias diferenciadas para chegar a definição dos mesmos, como por

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exemplo, situações do cotidiano vinculadas à Matemática e outras articuladas

com outros conhecimentos. A abordagem interdisciplinar aparece na utilização

de tabelas de dupla entrada, utilizadas em Estatística e a relação teoria-prática

também é abordada (seção “O Elo Matemática”).

Há de se destacar, também, as atividades com o uso da calculadora,

bem como a elaboração/criação de exercícios, que estimulam a criatividade e

autonomia dos alunos, favorecendo a compreensão dos conteúdos. Isso vem

de encontro às orientações dos PCN+ (2002) que preconizam

[...] O aspecto desafiador das atividades deve estar presente todo o tempo, permitindo o engajamento e a continuidade desses alunos no processo de aprender (PCN+, 2002, p. 129).

Análise do livro Matemática – Ciência e Aplicações, de Iezzi et al. (2004)

A segunda coleção analisada foi “Matemática – Ciências e aplicações”

de Iezzi, G.; Dolce, O.; Degenszajn,D.; Périgo, R.; Almeida, N. (2004).

Trata-se de uma coleção composta de três volumes, cada um relativo a

uma serie do Ensino Médio e que, pelo que se afirma na apresentação, não

sofreu nenhuma reformulação desde a sua primeira impressão. Segundo o

manual do professor que acompanha o livro, os objetivos gerais dessa obra

são: contribuir para a integração do aluno na sociedade em que vive,

desenvolver no aluno competências e habilidades que lhe possibilitem competir

no mercado de trabalho, possibilitar o reconhecimento das inter-relações entre

os vários campos da Matemática e desta com outras áreas do conhecimento e

proporcionar conhecimentos básicos que lhe permitam a continuidade dos

estudos.

Segundo os autores, a obra apresenta muitos exemplos de aplicação

matemática às outras ciências e à realidade dos alunos, inclusive relacionando-

os com os temas transversais. Afirmam, além disso, ter-se optado por uma

introdução intuitiva dos assuntos estudados, utilizando uma linguagem mais

coloquial e na formalização dos conceitos, uma linguagem precisa, rigorosa.

O conteúdo de Matrizes é abordado no segundo volume, composto de

544 páginas, e que entre outros conteúdos, apresenta funções trigonométricas,

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geometria do espaço, determinantes e sistemas lineares, análise combinatória,

binômio e probabilidades. Esse volume é dividido em 12 capítulos, sendo o

sexto capítulo o objeto de nossa análise. Os capítulos apresentam ainda, as

seções “Testes de vestibulares”, “Desafios8” e “Matemática no tempo”, como

mostra o sumário do segundo volume no Quadro 10.

8 A seção Desafios não é discriminada no sumário. Porém, é apresentada em todos os capítulos após a seção Testes de vestibulares.

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Quadro 10 – Sumário do segundo volume (Iezzi et al, 2004)

A sequência da apresentação dos tópicos de matrizes é semelhante a

do livro anterior, de Smole e Diniz (2003), analisado anteriormente. Inicia-se

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apresentando tabelas com informações numéricas relacionadas a situações

cotidianas dos alunos, tal qual se pode observar no Quadro 11.

Quadro 11 – Tabelas numéricas: exemplos contextualizados (Iezzi et al, 2004, p.140)

Em seguida, os autores apresentam a definição de matrizes seguidas de

exemplos e da definição genérica no tópico dois (representação de uma

matriz). As definições de matrizes são iguais àquelas encontradas no livro de

Smole e Diniz (cf. Quadro 2 e 3 da p. 31). Em um dos exemplos, uma matriz é

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obtida utilizando uma “regra de formação” dos elementos da matriz solicitada,

manipulando, assim, os elementos formadores desta matriz.

Quadro 12 – Obtenção de uma matriz por uma regra de formação (Iezzi et al.,2004, p.143)

Seguindo conforme a ordem de apresentação do livro em análise, verifica-

se que do tópico três – “matrizes especiais” – até o seis – “multiplicação de um

número real por uma matriz”, o conteúdo é abordado de uma forma sistematizada,

pronta, permeado de exemplos e sequências de exercícios que reproduzem as

técnicas apresentadas nos exemplos. O tópico três, especificamente, abrange:

matriz coluna, matriz linha e matriz quadrada.

Na sequência, aparecem dois exercícios contextualizados (Exercícios 9 e

10), num total de 10 propostos, sendo um deles mostrado no Quadro 13.

Quadro 13 – Exercício contextualizado (Iezzi et al, 2004, p.145)

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Nos exercícios do tópico quatro – “Igualdade de matrizes”, temos uma

situação interessante de cálculo matricial envolvendo razões trigonométricas,

retomando um estudo do capítulo anterior. Essa situação pode ser observada

no Quadro 14:

Quadro 14 – Exercício articulado com o conteúdo trigonometria (Iezzi et al, 2004, p.147)

A articulação com outros conhecimentos, como apresentada no

exercício acima, é proposta pelos PCNEM (1999) e pela PCESP (2008), que

sugerem que esta ocorra entre inúmeras formas possíveis, num processo

permanente de interdisciplinaridade.

Dando sequência à análise, no tópico seis, a obra apresenta mais dois

exercícios diferenciados em que novos conceitos foram incorporados nos

próprios enunciados (Exercícios 33 e 37), abordando matriz transposta e matriz

simétrica.

No tópico sete – “Multiplicação de matrizes” – a abordagem é

contextualizada, utilizando uma situação do cotidiano para, a partir dela,

estimular a construção dos conceitos envolvidos e seus significados. Observe o

Quadro 15.

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Quadro 15 – Multiplicação de matrizes – abordagem contextualizada (Iezzi et al, 2004, p.154-155)

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Após a definição do conceito, a obra apresenta quatro exemplos

utilizando a técnica da multiplicação. Além disso, nos 23 exercícios da

sequência, encontram-se apenas três exercícios contextualizados (Exercícios

51, 54 e 61), sendo dois semelhantes ao utilizado na introdução do tópico e o

último semelhante a uma situação apresentada no livro de Smole e Diniz

(2003) na seção “O elo matemática” (cf. Quadro 4 da p. 27), com exceção da

falta da representação da situação por meio de uma figura. Este exercício é

reproduzido no Quadro 16.

Quadro 16 – Exercício contextualizado (Iezzi et al, 2004, p.164)

Aparece, nessa mesma sequência, mais um exercício articulado com o

conteúdo trigonometria (Exercício 60).

Os tópicos finais, oito e nove, e os exercícios seguintes (Exercícios 63 a

75) seguem a mesma estrutura já descrita no tópico três: definição, exemplos e

exercícios.

O capítulo oferece ainda testes de vestibulares, com 26 questões sendo

uma contextualizada e uma articulada com outros conhecimentos matemáticos

(logaritmo, potenciação e radiciação), os Desafios, apresentando seis questões

semelhantes as dos vestibulares, tendo uma questão abrangendo trigonometria

e duas contextualizadas semelhantes àquelas já apresentadas no livro. O

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capítulo finaliza com um quadro chamado “Matemática no tempo”, por meio do

qual se aborda a vida de Arthur Cayley e a origem das matrizes.

A utilização da história da Matemática é interessante no ensino da

matemática, já que para muitos essa disciplina é transmitida como se fosse um

conhecimento pronto e acabado e não um conhecimento historicamente

construído e em permanente evolução. Dessa forma, os autores procuram não

incorrer no erro apontado por D’Ambrósio (1996), de apresentar a Matemática

como uma coisa acabada, morta e absolutamente fora do contexto que faz com

que se torne difícil motivar os alunos para uma ciência cristalizada.

Apesar do elevado número de exercícios propostos no capítulo – 75

exercícios, 25 testes de vestibular e 6 desafios - encontramos somente oito

exercícios contextualizados e quatro relacionando conhecimentos matemáticos.

O capítulo sete, que vem na sequência, estuda o conteúdo

“determinante”, relacionando aos tópicos: definições e regra prática (Sarrus),

cofator, Teorema de Laplace, propriedades e abaixamento de ordem de um

determinante. Neste capítulo, todos os 44 exercícios presentes exigem do

aluno somente o uso das técnicas de cálculo apresentadas.

O capítulo oito contempla o estudo de Matrizes em três tópicos: sistema

linear (representação matricial), regra de Cramer e discussão de um sistema.

Assim como na obra de Smole e Diniz (2003), nenhum método de resolução de

sistemas lineares é priorizado. A esse respeito, importa salientar que, segundo

as orientações do manual do professor desta coleção, o método de

escalonamento é apresentado como a forma mais importante na resolução de

um sistema linear, o que não se verifica na análise do capítulo. Neste capítulo,

os autores utilizam situações contextualizadas na introdução do estudo e em

14 exercícios propostos num total de 81.

Em geral, os exercícios dessa obra reproduzem os exemplos dados,

sendo repetitivos e enfatizando o aspecto teórico desse conteúdo. De acordo

com os PCN+ (2002), quando o professor propõe apenas exercícios de

aplicação dos conceitos e técnicas matemáticas, o aluno não desenvolve as

competências almejadas, visto que o aluno busca na memória um exercício

semelhante e desenvolve passos análogos aos daquela situação. Os PCN+,

porém, salientam que:

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[...] Isso não significa que os exercícios do tipo “calcule...”, “resolva...” devam ser eliminados, pois eles cumprem a função do aprendizado de técnicas e propriedades, mas de forma alguma são suficientes para preparar os alunos tanto para que possam continuar aprendendo, como para que construam visões de mundo abrangentes ou, ainda, para que se realizem no mundo social ou do trabalho (PCN+, 2002, p.113).

O predomínio do padrão definição-exemplos-exercícios mostra, assim, a

preservação da concepção de aprendizagem tradicional “bourbakista”9

contrária à concepção construtivista. Essa abordagem tradicional não

corresponde às orientações dos documentos oficiais atuais e nem contempla

resultados de pesquisa da Educação Matemática. Além disso, podem

influenciar a abordagem que os professores adotam, pois, muitas vezes, o livro

didático exerce o papel de única referência ao professor sobre o saber a ser

ensinado, sendo visto como um substituto de orientações curriculares e não

com o um recurso a mais (BRASIL, 2006). De acordo com Lopes (2000), em

meio a muitos problemas enfrentados pelos professores, o livro didático torna-

se solução, já que é ele que decide e apresenta o conteúdo a ser trabalhado,

formula os exercícios e os problemas a serem resolvidos e orienta os

professores através do manual do professor. Isso me chamou a atenção

quanto a escolha do segundo livro analisado pelos professores.

Penso que a escolha dessa coleção pela maioria dos professores da

escola deveu-se ao fato de que os docentes ainda consideram interessantes

obras que privilegiam as listas de exercícios de reprodução, por razões de

formação, ensinando do mesmo modo que aprenderam.

9 Segundo Ambrósio (1996), Bourbaki é um personagem fictício, adotado por um grupo de jovens matemáticos franceses em 1928, para propor e discutir avanços da matemática. Sua obra teve grande repercussão na Educação Matemática em todo o mundo por intermédio do que ficou conhecido por Matemática Moderna.

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Considerações das análises dos livros didáticos

Considerando a escolha e a análise criteriosa das obras de Smole e

Diniz (2003) e Iezzi et al. (2004), podemos traçar uma comparação. A primeira

obra busca constantemente seguir as orientações dos documentos oficiais

atuais, propondo várias situações contextualizadas, interdisciplinares,

atividades com o uso da calculadora e elaboração de atividades pelos próprios

alunos. Já em Iezzi et al. (2004), predomina a abordagem tradicional,

apresentando poucas situações contextualizadas e um número excessivo de

exercícios reproduzindo exemplos, contrariando, pelo menos no que se refere

ao ensino de matrizes, a informação dos autores de que a obra apresenta

muitos exemplos de aplicação matemática às outras ciências e à realidade do

aluno. A obra sequer apresenta atividades com o uso da calculadora, sendo

esse fato considerado como desfavorável ao ensino, segundo orientações das

atuais propostas. A articulação com outros conceitos da Matemática e de

outras ciências, enfim, está presente nas duas obras, porém em menor ênfase

na segunda.

Outro aspecto que distingue as duas obras relaciona-se à história da

Matemática. No livro de Smole e Diniz (2003), considerei inadequada a

abordagem da história da Matemática, já que as autoras apresentaram

somente um quadro sobre a biografia de um matemático, sem relacionar essa

personalidade à construção do conhecimento matemático em questão. Isso

difere do livro de Iezzi et al. (2004), que destaca essa relação.

As duas obras, porém, apresentam alguns aspectos comuns. É o caso

da utilização da abordagem contextualizada na introdução do conteúdo de

Matrizes, na multiplicação de matrizes e em sistemas lineares que, apesar de

inicialmente serem escritos através de equações lineares, nos dois livros

podem ser resolvidos ou discutidos por métodos matriciais. Por sua vez, os

determinantes não apresentam situações contextualizadas em nenhuma obra.

Esse fato me leva a pensar que o uso ou não de situações contextualizadas

ocorre pela facilidade/dificuldade de representar/elaborar situações reais e

significativas para o ensino de um conteúdo.

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A relação dos tópicos abordados também é semelhante nas duas obras

quando se refere ao ensino de Matrizes e Determinantes.

Quanto à sequência de estudo, as obras apresentam diferenças. O

estudo de Sistemas Lineares é realizado na unidade anterior às matrizes na

obra de Smole e Diniz (2003), sendo retomado dentro do estudo de Matrizes e

Determinantes enquanto que na obra de Iezzi et al. (2004) este estudo ocorre

posteriormente à Determinantes. Cumpre assinalar que os métodos de

resolução de sistemas lineares apresentados são: escalonamento, regra de

Sarrus e Teorema de Laplace. Nenhum deles, contudo, é priorizado nas duas

obras.

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Capítulo IV

Análise dos Cadernos do Professor de 2008 e 2009

Neste capítulo, apresento a descrição e a análise dos Cadernos do

Professor de 2008 e 2009. A opção de analisar este material nas duas

publicações foi de verificar as eventuais alterações ocorridas de um ano para

outro. Os Cadernos que abordam o assunto Matrizes, tanto no de 2008 quanto

no de 2009, são os do segundo bimestre do 2º ano do Ensino Médio.

Sobre os Cadernos do Professor

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo providenciou a

elaboração dos Cadernos do professor para integrar sua Proposta Curricular

para o Ensino Fundamental e Médio, denominada de “São Paulo Faz Escola”,

proposta essa divulgada e implantada em 2008 em toda rede de ensino público

paulista.

Neste material, tanto os conhecimentos disciplinares quanto as

habilidades e competências foram identificados e organizados por séries e

bimestres. Segundo a “Orientação Geral sobre os Cadernos”, encontrada no

Caderno do Professor Matemática10:

Os temas escolhidos para compor o conteúdo disciplinar de cada bimestre não se afastam, de maneira geral, do que é usualmente ensinado nas escolas ou apresentado pelos livros didáticos. As inovações pretendidas referem-se à forma de abordagem desses temas, que é sugerida ao longo dos Cadernos de cada um dos bimestres. Em tal abordagem, busca-se evidenciar os princípios norteadores do currículo atual, destacando-se a contextualização dos conteúdos, as competências pessoais envolvidas- especialmente as relacionadas com a leitura e a escrita matemática, bem como os elementos culturais internos e externos à Matemática (SÃO PAULO, 2008b, p.8).

10 O Caderno do Professor de Matemática também será denominado pelas suas iniciais: CPM

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Assim, os temas estão organizados em oito unidades, a serem

desenvolvidas em aproximadamente oito semanas, de acordo com cada

professor. O professor é orientado a contemplar as oito unidades juntas, o que

se justifica pelo fato de que estas “compõem um panorama do conteúdo do

bimestre e, muitas vezes, uma unidade contribui para a compreensão de

outras” (SÃO PAULO, 2008b, p.8).

Cada Caderno apresenta quatro diferentes “Situações de

Aprendizagem”, independentes, que pretendem, segundo a orientação, ilustrar

a forma de abordagem sugerida, instrumentalizando o professor para sua ação

em sala de aula (SÃO PAULO, 2008b, p.8). Afirma-se, ainda, que a exploração

de cada assunto, com maior ou menor intensidade, fica a critério do professor,

que deverá agir segundo o seu interesse, o perfil de seus alunos e do número

de aulas disponíveis por semana.

Em razão da limitação de espaço dos Cadernos, as Situações de

Aprendizagem não contemplam todas as unidades, mas a expectativa relatada

na Orientação Geral sobre os Cadernos é que a forma de abordagem dos

temas seja explicitada naquelas que são oferecidas.

Todo Caderno compõe-se de: considerações sobre a avaliação; o

conteúdo considerado indispensável ao desenvolvimento das competências

almejadas; a apresentação de materiais de acordo com a forma de abordagem

proposta que podem ser utilizados pelo professor para o enriquecimento de

suas aulas e um quadro com o conteúdo bimestral do referido Caderno e os

demais conteúdos matemáticos de outras séries/bimestres dentro do mesmo

nível de escolaridade (Ensino Fundamental ou Médio), sendo também

assinaladas as conexões com o conteúdo trabalhado no bimestre.

O conteúdo Matrizes no Caderno do Professor de 200811

No Caderno do Professor, CPM, relativo ao segundo bimestre de 2008

da segunda série do Ensino Médio, o conteúdo tratado é Matrizes,

Determinantes e Sistemas Lineares. O Quadro 17 permite a visualização do

assunto na proposta do Ensino Médio.

11 O sumário deste caderno se encontra anexo.

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Quadro 17 – Conteúdos de Matemática do Ensino Médio. 2ª série. 2º bimestre (SÃO PAULO, 2008b, p. 32)

Esse quadro de Conteúdos de Matemática por série/bimestre do CPM-

2008 evidencia que não será retomado o assunto de matrizes em qualquer

outro bimestre, o que parece contrariar a ideia da Proposta Curricular sobre a

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importância da interconexão de conteúdos do Ensino Médio, como a Geometria

Analítica e a Estatística, por exemplo.

As “orientações específicas” desse Caderno indicam o trabalho com

diferentes significados dos conteúdos de Matrizes, Determinantes e Sistemas

Lineares e sugerem que sejam estimuladas algumas das várias conexões entre

os mesmos. Além disso, criticam a prioridade aos aspectos meramente

algébricos, dada em geral pelos livros didáticos, que colocam em segundo

plano as importantes e atuais aplicações do assunto, como também uma sólida

base que deveria ser formada com vistas à continuidade dos estudos

matemáticos (SÃO PAULO, 2008b, p.9). É ressaltado, então, que o Caderno

apresenta situações propícias para a construção de alguns desses diferentes

significados de cada um dos conteúdos, atendendo aos dois aspectos

apontados – aplicabilidade e formação conceitual. Como exemplo desses dois

aspectos mencionados, as orientações referem-se às imagens na tela de

aparelhos digitais (câmeras fotográficas, televisores, etc) e ao campo de estudo

da Álgebra Linear.

A sugestão da distribuição das unidades do bimestre é reproduzida no

Quadro 18:

Unidade 1: Unidade 2: Unidade 3: Unidade 4: Unidade 5: Unidade 6: Unidade 7: Unidade 8:

Matrizes – apresentação, tipos, igualdade e operações (adição, subtração e multiplicação por uma constante Matrizes – diferentes significados; multiplicação entre duas matrizes Matrizes – operações e equações matriciais Determinantes – um nº associado a uma matriz quadrada; método de Sarrus Determinantes – método de Laplace Sistemas Lineares – resolução por escalonamento Sistemas Lineares – discussão de parâmetros Problemas resolvíveis por intermédio de sistemas lineares

Quadro 18 – Unidades do 2º bimestre da 2ª série do Ensino Médio (SÃO PAULO, 2008b, p.11)

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57

Embora sejam 8 unidades, no mesmo Caderno, que devem

corresponder a mais ou menos 8 aulas, o CPM as distribui em 4 “Situações de

Aprendizagem”.

Para cada “Situação de aprendizagem” o Caderno apresenta um quadro

contendo: o tempo previsto; conteúdo/temas; competências/habilidades; e

estratégias. As duas primeiras Situações de Aprendizagem, das quatro que

compõem o CPM, tratam especificamente de matrizes.

A Situação de Aprendizagem 1, denominada “Matrizes: diferentes

significados”, ressalta alguns significados associados à utilização de matrizes

em diferentes contextos, conforme sugerido constantemente nas orientações

do CPM. São abordado três aspectos, que serão relatados mais adiante na

análise das três atividades apresentadas nessa Situação de Aprendizagem .

Ainda, segindo as orientações da atividade, interpretar corretamente os dados

numéricos registrados em uma matriz é o objetivo principal da proposta dessa

Situação de Aprendizagem. O tempo previsto para a realização das atividades

é de uma semana. A seguir, analiso cada uma delas.

A atividade 1 – Multiplicação entre duas matrizes – enfoca um tópico

do conteúdo em que os alunos apresentam dificuldade, sobretudo quando ele é

apresentado sem uma associação de significado, enfatizando, por exemplo, as

regras de cálculo. É sugerido que a situação-problema proposta seja

apresentada ao aluno sem qualquer comentário sobre o cálculo a ser realizado

e que as conclusões sobre os resultados da situação sejam utilizadas para a

introdução do conceito. Observe a Atividade 1 no Quadro 19:

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Quadro 19 – Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 1 (SÃO PAULO, 2008b, p. 12-13)

Essa atividade do CPM 2008 é semelhante às situações apresentadas

nos dois livros didáticos analisados anteriormente quando abordam a

multiplicação de matrizes, conforme observado, por exemplo, no Quadro 15 (p.

41), referente ao livro de Iezzi et al (2004).

A situação proposta é apresentada em uma tabela de dupla entrada, em

que os seus elementos guardam posições dadas pelas coordenadas de suas

linhas e colunas para, então, ser representada por uma matriz.

Apesar das orientações do Caderno sugerirem que as conclusões sobre

os resultados dessa situação sejam utilizadas na definição dessa operação, o

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que mostra um consenso na abordagem desse tópico com os autores dos

livros didáticos analisados, o CPM não apresenta essa definição, ficando esta

apresentação implicitamente a cargo do professor.

Infelizmente, a situação apresenta uma resolução não correta para a

questão d; ao invés de sugerir (327,50-316,00) + (346,00-336,00) = 21,50,

sugere-se um outro valor que resulta em erro. Isto reforça a necessidade do

professor conhecer previamente o material, pois, se o professor não tiver

estudado antes, poderá repassá-la aos alunos conforme consta e causar uma

incompreensão, ou seja, exatamente o contrário do que se deseja.

A atividade 2 – Matriz de compensação – apresenta a ideia de que

cada elemento de uma matriz pode representar explicitamente a frequência de

um evento e, implicitamente, revelar a frequência de outro evento

complementar utilizando as “matrizes de compensação”. É dado, então, como

exemplo, uma situação representada por uma tabela com o percentual de

vitorias de dois jogadores. A seguir é proposta uma situação-problema:

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Quadro 20 – Sit. Aprendizagem 1 – Atividade 2 (SÃO PAULO, 2008b, p.14) A atividade apresenta uma situação de armazenagem de dados em uma

tabela e revela uma interconexão com a Estatística e Probabilidade. Apesar de

específica, a situação apresentada é interessante ao propiciar o estudo de

eventos complementares de forma explícita e implícita e suas diferentes

representações. Nesse sentido, a atividade vai de encontro aos PCNEM

(1999), para o qual a integração dos diferentes conhecimentos pode criar as

condições necessárias para uma aprendizagem motivadora, devendo

prevalecer no ensino a perspectiva interdisciplinar e a contextualização dos

conhecimentos.

Na atividade 3 – Resolução de imagens: os pixels - o aspecto

abordado refere-se á resolução de imagens em aparelhos digitais, associando

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a idéia de matriz à imagem fotografada. Para ampliar a rede de significados

associados às matrizes, sugere-se que os alunos investiguem a formação das

imagens nos aparelhos de TV digital. A atividade se constitui de três questões,

iniciando com um texto informativo sobre o conceito de pixel, associando, em

seguida, uma fotografia digital à uma matriz de n elementos em que cada um

deles é um pixel da imagem. Relaciona, também, a ordem da matriz com o

tamanho da imagem e sua resolução (qualidade). A atividade é apresentada no

Quadro 21.

Quadro 21 – Sit. Aprendizagem 1 – Atividade 3 (SÃO PAULO, 2008b, p.16)

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Com efeito, essa atividade apresenta uma aplicação tecnológica do

conteúdo Matrizes: a representação matricial de imagens em aparelhos digitais.

Nela, os alunos verificarão a composição de um elemento de uma matriz (cor)

de acordo com o posicionamento desse elemento (pixel) e as informações do

enunciado.

Nota-se que, para a realização da atividade, o CPM aborda a estrutura

dos elementos de uma matriz (aij e bij) e a associação dos elementos da matriz

por uma sentença matemática (bij = 2i – j) a um código proposto na atividade

(se 200 < bij ≤ 320 → Tonalidade 2), destacando o uso de inequações. Desse

modo, verifica-se que o Caderno apresenta a parte conceitual implicitamente,

utilizando-a na resolução da atividade.

Observo que esta apresentação não acontece de forma sistematizada

em cada atividade, mostrando uma maior preocupação com o significado das

atividades do que com as definições. Considerando que a utilização do CPM

não dispensa o uso do livro didático pelo professor em sala de aula, e que

nestes as definições são apresentadas sistematicamente em decorrência até

da própria estrutura em tópicos, considero favorável a ênfase dada nas

atividades pelo CPM.

Apesar de a atividade estar de acordo com o que é proposto nas

orientações do Caderno, ou seja, a associação dessas imagens com a

representação matricial, acredito que a sugestão de outras atividades

contribuiriam ainda mais para a atribuição de significado de matrizes pelo

aluno. Por exemplo, nenhuma matriz representando uma imagem foi

manipulada por cálculos matriciais, o que possibilitaria ao aluno relacionar o

conteúdo com as transformações de imagens ocorridas na Computação

Gráfica 12, considerando, assim, a articulação do conteúdo com um tema atual

no que se refere ao cotidiano do aluno e aplicação tecnológica.

O ensino de Matemática no Ensino Médio deve propor essa articulação,

levando em conta que a Matemática é um instrumento formal de expressão e

comunicação para diversas ciências e permite compreender os princípios

científicos presentes nas tecnologias. De acordo com os PCNEM (1999), essa

articulação permite

12 Vide Anexo 1 – Aplicações em Álgebra Linear que usam cálculo matricial.

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[...] estabelecer uma relação ativa entre o aluno e o objeto do conhecimento e a desenvolver a capacidade de relacionar o aprendido com o observado, a teoria com suas conseqüências e aplicações práticas (BRASIL, 1999, p.74).

Ainda, quando os PCN+ (2002) se referem à LDB, art. 35 sobre as

finalidades do Ensino Médio, propõem [...] a compreensão dos fundamentos

científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a

prática no ensino de cada disciplina (BRASIL, 2002, p. 33).

Ainda assim, conforme descrito anteriormente, a atividade envolve uma

situação contextualizada, com ênfase na aplicabilidade do conteúdo e, que de

acordo com os estudos até aqui realizados, permite um ensino com significado

aos alunos, contrapondo o ensino voltado para aplicação de regras e uso de

algoritmos.

A Situação de Aprendizagem 2 – Matriz de Codificação: Desenhando

com Matrizes – aborda a formação de imagem a partir de uma sequência de

ligação entre pontos do plano de acordo com regras matemáticas

estabelecidas pelos elementos de uma matriz. Segundo as Orientações do

CPM, a atividade é uma adaptação da Teoria dos Grafos, com a qual muitos

alunos se defrontarão na continuidade dos estudos. Ressalto que a informação

acima só faz sentido para aqueles que continuarem os seus estudos na área

de Exatas.

Após dois exemplos da construção de uma matriz na forma de “quadro”,

a partir de uma fórmula algébrica (aij =...) e outro exemplo sobre a construção

de uma figura a partir de pontos num plano e dos dados de uma matriz, são

propostas as seguintes atividades, conforme observadas no Quadro 22:

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Quadro 22 – Sit. Aprendizagem 2 – Atividade 1 e 2 (SÃO PAULO, 2008b, p.19)

Na atividade 1, é proposto que os alunos construam uma figura a partir

do código registrado em uma matriz, reproduzindo, assim, o exemplo anterior.

Na atividade 2 propõe-se o procedimento inverso, ou seja, o aluno deve

representar um desenho por meio de uma matriz.

Essa forma de elaboração de atividades proposta no CPM vem ao

encontro da ideia da importância da conversão entre diferentes registros de

representação semiótica (DUVAL in Machado,2003)13, o que supera a

abordagem proposta por Smole e Diniz (2003)14, a qual se restringe a

13 Segundo Duval, a compreensão matemática está ligada ao fato do aluno dispor de ao menos dois diferentes tipos de registros de representações, como converter a escrita algébrica de uma equação à sua representação gráfica (Duval in Machado, 2003, p.22). 14 Ver quadro 6 (p.28).

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transformação da representação de uma figura em matriz. Cabe informar que

para a realização dessas atividades, as orientações do CPM salientam a

necessidade dos alunos já terem vivenciado o estudo de Matrizes associado à

condições matemáticas. Isto já ocorreu na Situação de Aprendizagem 1 -

atividade 3, porém, somente nesta atividade o CPM apresenta exemplos da

obtenção dessas matrizes, ainda que nas atividades esta não seja realizada a

partir de uma fórmula algébrica e sim, a partir de figuras.

Quanto à atividade 3 dessa Situação de Aprendizagem, a sugestão do

CPM é a de que alunos crirem seus próprios desenhos para serem codificados

por outros alunos da classe:

Quadro 23 – Sit. Aprendizagem 2 – Atividade 3 (SÃO PAULO, 2008b, p.20) Segundo as orientações do CPM, o desenvolvimento dessa atividade

favorece o envolvimento dos alunos na criação de desenhos e de diferentes

codificações, segundo a experiência de aplicação de questões semelhantes às

propostas. Importa salientar que uma atividade semelhante foi encontrada no

livro de Smole e Diniz (2003), na seção “Invente você” (cf. Quadro 7 da p.36).

Essa forma de atividade exige do aluno a observação e criatividade na

elaboração e resolução da mesma, que de acordo com os PCNEM, tira o aluno

da condição de expectador passivo na aprendizagem e possibilita a

identificação das relações existentes entre os conteúdos do ensino e os muitos

contextos sociais e pessoais.

A Situação de Aprendizagem 3 – Sistemas lineares em situações-

problema - não aborda diretamente o conteúdo de Matrizes. Porém, é ressaltar

a orientação do CPM aos professores para que estes priorizem a resolução dos

sistemas lineares com base no método do escalonamento, em detrimento do

Método de Cramer. Além disso, o CPM recomenda a apresentação aos seus

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alunos de situações envolvendo sistemas “não quadrados”, em que o número

de equações e de incógnitas não seja igual, e situações de contexto em que

conduzam à elaboração e a resolução de sistemas indeterminados. Estas

orientações estão de acordo com as OCEM (2006), que indicam que a

resolução de sistemas lineares deve ser feita pelo processo de escalonamento,

com discussão das diferentes situações: sistemas com uma solução, com

infinitas soluções e sem solução.

Na Situação de aprendizagem 4, que aborda sistemas lineares, as

matrizes são pouco utilizadas. O objetivo é o estudo da resolução de sistemas

lineares pelo método do escalonamento e de Cramer, comparando os

diferentes métodos e apontando a vantagens do método de escalonamento. O

estudo de Determinantes ocorre, assim, de maneira superficial nessa Situação

de Aprendizagem. Ressaltamos que a ênfase na utilização do método de

escalonamento não é proposta nos livros didáticos analisados anteriormente.

Pela análise realizada, pode-se dizer que o CPM aborda determinantes

contrariando as orientações das OCEM (2006), que sugerem o abandono da

regra de Crammer e também o estudo de determinantes. Há de se ponderar,

contudo, que a abordagem superficial de determinantes e da regra de Cramer

foi dirigida mais para convencer o professor da vantagem do método de

escalonamento, chamado de “combinações lineares” do que para introduzir o

estudo de determinantes conforme proposto na maioria dos livros didáticos

inclusive nas duas coleções analisadas anteriormente.

Enfim, o CPM-2008 foi elaborado como um material de apoio ao

professor e, segundo as orientações, as inovações apresentadas referem-se à

abordagem dos conteúdos, propondo situações contextualizadas, entre outros

princípios. As orientações específicas do CPM-2008 relativo ao segundo

bimestre da segunda série do Ensino Médio, indicam o trabalho com diferentes

significados dos conteúdos de Matrizes, Determinantes e Sistemas Lineares,

priorizando tanto as importantes e atuais aplicações do assunto, como também

uma sólida base que deve ser formada com vistas à continuidade dos estudos

matemáticos.

De acordo com os propósitos apresentados, considero que o CPM

atingiu os objetivos, apresentando atividades contextualizadas através de

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situações-problema, conexões implícitas com outros conteúdos matemáticos e

situações que exigem a participação dos alunos na elaboração e resolução das

atividades. Segundo os documentos oficiais analisados, estas perspectivas

devem prevalecer no ensino da Matemática, já que a integração de diferentes

conhecimentos, o ensino de forma contextualizada, entre outros, pode criar as

condições necessárias para uma aprendizagem motivadora.

As situações contextualizadas, de modo geral, se assemelham àquelas

apresentadas nos livros didáticos, como as matrizes representando tabelas de

dupla entrada, a multiplicação de matrizes e os sistemas lineares e muitas

vezes as ultrapassam. As atividades de aplicações são elaboradas e

apresentadas em situações-problema que possibilitam a construção do

conhecimento pelo aluno sobre o tema estudado e não apenas como exemplos

de “utilidade” do assunto estudado.

Chamo a atenção para a Situação de Aprendizagem 2, uma adaptação

da Teoria dos Grafos, segundo as orientações do Caderno. Essa teoria é

relatada no Anexo 1 como uma das várias aplicações com o uso de matrizes

em Álgebra Linear e, assim como essa foi adaptada para o nível de ensino

proposta, considero que outras também possam ser, como por exemplo, as

transformações de imagens ocorridas na Computação Gráfica, contribuindo

ainda mais para a rede de significados proposta pelo Caderno.

Na comparação com os livros didáticos analisados, o Caderno apresenta

poucos exercícios práticos, aqueles reproduzindo exemplos, enquanto que nos

livros os mesmos são encontrados em um número elevado, principalmente no

de Iezzi et al. (2004). Constantemente, porém, as orientações do Caderno

solicitam ao professor que complemente as atividades propostas, nem sempre

explicitando a abordagem pretendida, o que poderá levar o professor a utilizar

o livro didático e aplicar esses exercícios práticos por consequência.

Outra conclusão é que muitos tópicos não foram abordados no Caderno,

sendo estes justamente aqueles que nas obras analisadas não foram

apresentados de forma contextualizada como, por exemplo, matriz transposta,

igualdade de matrizes, matriz oposta, matriz identidade. Por outro lado, se o

CPM abordou um número menor de tópicos de Matrizes, esses foram

abordados com maior aprofundamento, o que vem ao encontro com as

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recomendações do PCN+ (2002) de que é importante evitar detalhamentos

excessivos no estudo de um conteúdo (Brasil, 2002, p.120), devendo

prevalecer o estudo de tópicos que possibilitem uma aprendizagem mais

significativa. Sendo o Caderno um material de apoio ao professor, não

prescindindo o livro didático, fica subentendido que o ensino dos tópicos não

abordados pelo Caderno poderá ficar a cargo do professor.

Apesar da preocupação em apresentar as atividades seguindo

inovações referentes à abordagem dos conteúdos, não se observou a presença

de atividades com o uso da calculadora e a utilização da história da

Matemática, estando, neste caso, em desacordo com as orientações dos atuais

documentos oficiais.

Cabe ressaltar que a conexão do conteúdo de Matrizes em outros

Cadernos ocorre no CPM-2008 da 3ª série/4ºbimestre, no estudo de

Estatística. As matrizes, no entanto, são utilizadas somente como tabelas, não

sendo referenciadas em nenhum momento no Caderno .

O conteúdo Matrizes no Caderno do Professor de 2009

Para o ano de 2009, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

– SEE/SP apresentou uma versão revista do CPM-2008. Conforme mensagem

da coordenadora geral do Projeto São Paulo Faz Escola dirigida ao

professor(a) constante nos CPMs de 2009:

É com muita satisfação que apresento a todos a versão revista dos Cadernos do Professor, parte integrante da Proposta Curricular de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental-ciclo II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Esta nova versão também tem a sua autoria, uma vez que inclui suas sugestões e críticas, apresentadas durante a primeira fase de implantação da proposta (SÃO PAULO, 2009, p.5).

Segundo informação obtida no site15 da SEE/SP, em 2008 foram abertas

pesquisas bimestrais envolvendo o uso dos CPMs em sala de aula. Foram

realizadas, também, consulta aos professores e equipes pedagógicas das

escolas do Ensino Fundamental e Médio com o objetivo de compartilhar

15http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/EnsinoMédio/Notícias2009/tabid/1099/Default.aspx (acesso em 12/05/2009)

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experiências positivas em salas de aula a partir da nova proposta curricular e

aprimorar esse trabalho. Dessa forma, a SEE/SP creditou o refinamento do

CPMs aos professores da rede estadual, o que pode refletir numa maior

aceitação do professorado à Proposta em caso.

Em relação aos CPM-2008 e CPM-2009 dedicados ao 2º bimestre da 2ª

série do Ensino Médio pude observar algumas modificações, as quais passo a

detalhar.

Já considero significativo iniciar a análise comparativa dizendo que o

CPM-2008 tinha 32 páginas ao passo que o CPM-2009 tem 56 páginas. Todas

as atividades do conteúdo de Matrizes do CPM-2008 se repetem no CPM-

2009, outras, porém, foram acrescentadas neste processo de revisão e

aperfeiçoamento.

No CPM-2009 não consta mais o número de aulas semanais previstas

para cada atividade, nem o número de aulas do bimestre. O sumário do CPM-

2009 encontra-se no Anexo 4.

O quadro de Conteúdos de Matemática por série/bimestre do CPM-2009

apresenta interconexões com o conteúdo de outros bimestres, como a

Geometria Analítica e as Funções, diferente do quadro apresentado no CPM-

2008 em que o ensino de matrizes é apresentado de forma isolada. O Quadro

24 permite a visualização da alteraçõe mencionada:

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70

Quadro 24 – Conteúdos de Matemática do Ensino Médio. 2ª série. 2º bimestre (SÃO

PAULO, 2009, p. 54)

A primeira Situação de Aprendizagem do CPM-2009 aborda quatro

aspectos, um aspecto a mais do que no CPM-2008, cada um apresentado em

uma atividade sob um enfoque específico.

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A atividade 1 apresenta o mesmo enfoque nos dois Cadernos, ou seja, a

associação de significados atribuídos à utilização de matrizes. Agora, porém, a

atividade é subdividida em cinco problemas ao invés de um único, como no ano

anterior, que no CPM-2009 é apresentado no Problema 4.

O CPM-2009 destaca os Problemas 1 e 2, que abordam a translação de

polígonos representados no plano cartesiano por meio de adições entre

matrizes e atribuem um significado pouco usual à representação e às

operações matriciais (cf. Quadros 26 e 27 adiante). É sugerido ao professor

criar outras situações de natureza semelhante utilizando outras figuras

geométricas e que os valores relativos às quantidades não sejam expressos

somente por números naturais para que o contexto proposto se aproxime o

máximo possível do real.

O ensino de matemática utilizando conjuntos numéricos diversificados é

proposto em vários estudos em Educação Matemática. SILVA JUNIOR (2009),

por exemplo, em sua dissertação, afirma que propostas como esta não faz com

que o aluno, ao se deparar com problemas do cotidiano que não apresentam

quantidades ou medidas expressas nesse conjunto numérico, tenha dificuldade

em resolver e/ou pense que os resultados estejam errados, pois escapam de

sua experiência escolar.

As orientações do Caderno sugerem também que o professor, a seu

critério, permita a utilização de calculadora para que o foco do conteúdo não se

perca. Havendo possibilidade do uso de recursos de informática, as

orientações sugerem, ainda, que a atividade seja auxiliada por planilhas de

cálculo.

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Quadro 25 – Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 1 – Problema 1 (SÃO PAULO, 2009,

p.13-14)

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Quadro 26 – Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 1 – Problema 2 (SÃO PAULO, 2009,

p.14-15)

Com a inclusão dos problemas acima no CPM-2009, as operações

matriciais, antes restritas à multiplicação de duas matrizes no CPM-2008,

passam a abranger, também, a adição de matrizes, apresentando assim um

número maior de operações tratadas de forma contextualizada.

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Os Problemas 3 e 5 abordam a multiplicação de duas matrizes através

de situações-problema, ou seja, de forma semelhante ao Problema 4, presente

no CPM-2008 (cf. Quadro 19 da p. 58). Na publicação atual, também foi

corrigido um erro de cálculo apresentado na publicação anterior (cf. mais uma

vez o Quadro 19).

Na Atividade 3 foi acrescentada uma figura ao texto que já constava no

CPM-2008, que exemplifica a relação entre a quantidade de elementos de uma

matriz (pixels) e a resolução de uma fotografia, conforme se observa no

Quadro 27.

Quadro 27 – Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 3 (SÃO PAULO, 2009, p. 20)

A primeira Situação de Aprendizagem encerra-se com a Atividade 4.

Utilizando como recurso o funcionamento da técnica da tomografia

computadorizada, a atividade propõe-se a ampliar o estudo do pixel, discutido

na atividade anterior, simulando outras situações-problema envolvendo

matrizes. A atividade é subdividida em seis problemas, apresentados após

exemplos no texto, que associam a reconstituição de imagens a uma matriz (cf.

Quadro 28 da p.67).

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Quadro 28 – Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 4 (SÃO PAULO, 2009, p.24)

A Situação de Aprendizagem 2 apresentada no CPM-2009 é idêntica à

do Caderno do ano anterior, salvo a ordem das figuras da primeira questão

proposta. Houve também uma mudança na denominação das questões, que no

ano de 2008 eram tratados como “Atividade” e que no Caderno atual são

denominados “Problema”.

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76

Conforme já mencionado na análise do CPM-2008, a Situação de

Aprendizagem 3 não aborda o conteúdo matrizes. Ainda assim, considero

relevante tecer algumas considerações.

Foi acrescentado mais um problema no CPM-2009, sendo a Situação de

Aprendizagem agora composta de seis problemas. Em cada um deles, foi

acrescentado comentários da resolução para auxíliar o professor. O roteiro

para aplicação sugere que o professor estimule os alunos a utilizar os métodos

de resolução de sistemas lineares estudados no Ensino Fundamental ou por

escalonamento, diferente de 2008, em que era sugerido somente o método do

escalonamento. Nos dois Cadernos, os métodos são sugeridos em detrimento

do método de Cramer.

A Situação de aprendizagem 4 acrescenta o uso de determinantes em

outras situações que não envolvem a resolução de sistemas lineares. A

situação abordada, denominada Atividade 1, é o cálculo de áreas de polígonos

representados no plano cartesiano, quando conhecidas as coordenadas dos

seus vértices. São apresentados exemplos de cálculos de área por composição

e decomposição de figuras, baseando-se no princípio de que um polígono pode

ser dividido em vários triângulos. O método sugerido é o de Sarrus.

Em um dos exemplos da página 42, aparece um erro de digitação no

cálculo da área do polígono ABCD, em que, a soma de duas frações com o

mesmo denominador (2) resulta uma fração com denominador 5. No resultado

final, porém o valor está correto (7,5 u.a.). Num outro exemplo, na sequência, é

apresentada outra maneira de se calcular a área de um polígono, utilizando

uma extensão da regra de Sarrus, conforme mostra o Quadro 29.

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Quadro 29 – Situação de Aprendizagem 4 – Atividade 1 – Cálculo da área de um polígono

(SÃO PAULO, 2009, p.43)

Em seguida, o CPM mostra um exemplo utilizando a expressão acima:

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78

Quadro 30 – Situação de Aprendizagem 1 – Atividade 4 – exemplo (SÃO PAULO, 2009, p.43-44)

Por fim nesta atividade, é proposta aos alunos a resolução de dois

problemas relacionados ao cálculo da área de polígonos (cf. Quadro 31 da p.

79). A abordagem interdisciplinar que se verifica nssta atividade é sugerida

pelo PCNEM (2002), a fim de superar o tratamento estanque e segmentado de

ensino. Essa abordagem já ocorre nos livros didáticos no estudo de Geometria

Analítica, que utiliza o cálculo de determinante para encontrar a área de um

triângulo sendo conhecidas as coordenadas dos vértices no plano cartesiano.

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79

No entanto, a atividade proposta no CPM-2009 é mais abrangente, estendendo

este estudo ao cálculo da área de outros polígonos.

Quadro 31 – Situação de Aprendizagem 4 – Atividade 1 – Problema 2 (SÃO PAULO, 2009, p.45)

Na atividade 2, resolução de sistema lineares determinados e

indeterminados, foram acrescentados quatro problemas, totalizando sete,

sendo três contextualizados. O uso de situações contextualizadas é comum no

estudo de resolução de sistemas lineares, como já analisados nos livros

didáticos, creio que em razão de uma maior facilidade de representar/elaborar

situações reais e significativas sobre esse tópico.

Outros avanços são constatados nesse CPM-2009 em relação à versão

anterior. Em relação aos conteúdos matemáticos do Ensino Médio, o Caderno

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apresenta conexões com outros conteúdos (cf. Quadro 24 da p.64), que não se

verificavam no CPM-2008. As atividades incluídas apresentam-se de acordo

com a proposta da Secretaria no que tange à abordagem contextualizada

utilizando situações-problema.

Os problemas 1 e 2 da Situação de Aprendizagem 1, conforme

mencionado anteriormente, abordam a adição de matrizes por meio da

translação de polígonos no plano cartesiano. Tomando por base as atividades

da Situação de Aprendizagem 2, encontradas nos Cadernos de 2008 e 2009 e

a informação de que essas são adaptações da Teoria dos Grafos, pode-se

dizer que os problemas 1 e 2 também são adaptações do uso de matrizes nas

transformações geométricas na Computação Gráfica (cf. as aplicações de

matrizes no Anexo 1). Apesar de interessante a inclusão dessa transformação,

considero que outras poderiam ser propostas, como a reflexão, a escala, a

rotação e o uso de coordenadas homogêneas, que permitem, por exemplo, que

a translação ocorra por multiplicação de matrizes ao invés de soma,

uniformizando as transformações geométricas pelo cálculo matricial

(multiplicação) e otimizando a aplicação dessas operações pelos computadores

na manipulação de imagens (Azevedo e Conci, 2003, p.51-52).

Ressalto que, apesar da Proposta Curricular de 2008 implantada pela

SEE/SP justificar a inclusão do conteúdo matrizes devido às atuais aplicações

tecnológicas, não é citado que os problemas propostos tratam de aplicação de

matrizes em manipulação de imagens na Computação Gráfica.

A sugestão do uso de calculadora ou de planilha de cálculo, além de que

os valores relativos às quantidades não sejam expressos somente por números

naturais, para que o contexto se aproxime o máximo possível do real é bem

oportuna e vem de encontro às pesquisas na área de Educação Matemática e

orientações de documentos oficiais.

A atividade 4 da Situação de Aprendizagem 1, denominada Matrizes e o

princípio da tomografia apresenta outra aplicação tecnológica de matrizes. A

compreensão dos fundamentos científicos-tecnológicos, relacionando a teoria

com a prática é uma das finalidades do Ensino Médio, segundo a Lei de

Diretrizes e Bases – LDB (PCNEM, 1999, p.18). Os PCNEM ainda

complementam que

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[...] Os processos produtivos dizem respeito a todos os bens, serviços e conhecimentos com os quais o aluno se relaciona no seu dia-a-dia, bem como àqueles processos com os quais se relacionará mais sistematicamente na sua formação profissional. Para fazer a ponte entre teoria e prática, de modo a entender como a prática (processo produtivo) está ancorada na teoria (fundamentos científico-tecnológicos), é preciso que a escola seja uma experiência permanente de estabelecer relações entre o aprendido e o observado, seja espontaneamente, no cotidiano em geral, seja sistematicamente, no contexto específico de um trabalho e suas tarefas laborais (Brasil, 1999, p. 73).

E finalmente, na situação de Aprendizagem 4, acrescentaram-se

atividades com o uso de determinantes para calcular a área de polígonos no

plano, conferindo um caráter contextualizado e interdisciplinar. O mesmo não

ocorre no ensino de determinantes nos livros didáticos analisados, pois não

apresentam situações contextualizadas em nenhuma das obras. Na atividade

2, foram acrescentados também exercícios contextualizados na resolução de

problemas lineares, mas, conforme visto na análise dos livros didáticos, as

atividades contextualizadas via situações-problema nesse tópico são propícias

de serem representadas num contexto real, ainda que tal estratégia não tenha

sido utilizada no CPM-2008.

A conexão do conteúdo de Matrizes em outros Cadernos ocorre

somente no CPM-2009 do 4º bimestre da 3ª série do Ensino Médio, no estudo

de Estatística. A mesma conexão se apresentava no CPM-2008. No entanto,

cumpre ressaltar que nessas duas publicações (2008 e 2009) as matrizes são

utilizadas somente como tabelas, não aparecendo qualquer citação ou uso da

representação matricial.

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82

Capítulo V

Considerações Finais

Esta pesquisa teve por objetivo investigar como o conteúdo de Matrizes

é abordado nos CPM destinados ao Ensino Médio e distribuídos pela

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo como parte integrante de sua

Proposta Curricular implantada em 2008.

Para atingir o objetivo desta pesquisa documental, optei em analisar os

CPM relativos ao segundo bimestre da segunda série do Ensino Médio de 2008

e de 2009, orientando-me pelas propostas e tendências prescritas nos

documentos oficiais atuais que regem o Ensino Médio e pelo conteúdo de

Matrizes de livros didáticos. Todos esses “documentos” constituíram o corpus

desta pesquisa. Este direcionamento levou-me a desdobrar a questão geral da

pesquisa em três questões específicas, apresentadas conjuntamente com as

análises e conclusões de cada uma:

• Os Cadernos do Professor de Matemática de 2008 do Ensino Médio

abordam matrizes seguindo as recomendações dos documentos

oficiais atuais sobre o ensino de Matemática?

Para responder a essa questão, remeto à análise dos documentos

oficiais descrita no capítulo III desta pesquisa. Estes documentos enfatizam a

importancia da contextualização, da interdisciplinaridade, do ensino através de

situações-problema e da relação teoria-prática (aplicabilidade) no ensino de

Matemática. Especificamente, o único documento que menciona o ensino de

matrizes é a PCESP (2008) e justifica a sua inclusão pela articulação deste

conteúdo com aplicações da tecnologia.

De acordo com os resultados explicitados no capítulo IV sobre a análise do

CPM-2008, constatei que esse material apresenta atividades contextualizadas

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através de situações-problema, conexões implícitas com outros conteúdos

matemáticos e situações que exigem a participação dos alunos na elaboração e

resolução das atividades. As atividades de aplicações são, de fato, elaboradas e

apresentadas em situações-problema que possibilitam a construção do

conhecimento pelo próprio aluno sobre o tema estudado.

No entanto, considero que outras atividades poderiam constar no

Caderno, por exemplo, a manipulação de imagens por cálculos matriciais, o

que possibilitaria ao aluno relacionar o conteúdo com as transformações de

imagens ocorridas na Computação Gráfica, contribuindo ainda mais para a

atribuição de significado.

Na resolução de Sistemas Lineares, o CPM enfatiza o uso do método do

escalonamento em detrimento do método de Cramer, conforme sugestão das

OCEM (2006), que também dispensa o estudo de Determinantes. Porém, esse

estudo é apresentado no CPM-2008, ainda que, ao que parece, mais para

justificar a vantagem do uso de método do escalonamento do que para

introduzir o estudo de Determinantes.

Apesar das restrições quanto a uma maior exploração de algumas

atividades e à abordagem de determinantes, concluo que o conteúdo de

Matrizes no CPM é abordado de acordo com as recomendações dos

documentos oficiais atuais que regem o Ensino Médio.

A seguir, explicito minha segunda questão de pesquisa:

• A abordagem do conteúdo de Matrizes no Caderno do Professor de

Matemática de 2008 segue a dos livros didáticos sugeridos pelo

PNLEM de 2006?

Para responder a essa questão, remeto-me à análise das duas obras de

livros didáticos apresentadas no capítulo III e à análise do Caderno do

Professor de 2008 (CPM-2008).

Na comparação com os livros didáticos analisados, o CPM-2008 apresenta

poucos exercícios práticos, reproduzindo exemplos, diferente dos livros, em que é

encontrado em um número elevado, principalmente no de Iezzi et al. (2004).

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Constatei que alguns conceitos, tais como matriz transposta, igualdade de

matrizes, matriz identidade, entre outros, não foram abordados no CPM-2008,

justamente aqueles que nas obras analisadas foram apresentados de forma

descontextualizada. Nos tópicos abordados, porém, o aprofundamento do CPM foi

maior e mais significativo em relação ao livro didático.

O Caderno em questão e as obras apresentam alguns aspectos comuns:

a abordagem contextualizada nos tópicos multiplicação de matrizes e em

sistemas lineares que, apesar de inicialmente serem escritos através de

equações lineares, podem ser resolvidos ou discutidos por métodos matriciais.

O Caderno, porém, enfatiza o método de resolução por escalonamento, o que

não ocorre nas obras analisadas. O estudo de determinante não apresenta

situações contextualizadas nem nos livros nem no CPM-2008, sendo neste

último tratado de maneira superficial, como já descrito anteriormente.

Dessa forma, concluo que a apresentação do conteúdo de Matrizes no

CPM não difere significativamente daquela apresentada por Smole e Diniz

(2003), que demonstram uma preocupação em aspectos como a

contextualização, a relação teoria e prática e articulações do conteúdo matrizes

com outras áreas do conhecimento. A maior diferença ocorre em relação ao

livro de Iezzi et al. (2004), já que neste, há o predomínio de uma abordagem

teórica do conteúdo seguido de exemplos e um número elevado de exercícios

práticos.

• Houve mudanças na abordagem do conteúdo de Matrizes dos

Cadernos do Professor de Matemática de 2008 e nos de 2009?

Para o ano de 2009, a SEE/SP apresentou uma versão revista do

Caderno do Professor, incluindo aperfeiçoamentos de acordo com as

sugestões e críticas apresentadas em pesquisas com professores da rede

pública estadual durante a primeira fase de implantação da proposta.

Em relação aos conteúdos matemáticos do Ensino Médio, o CPM-2009

apresenta conexões com outros conteúdos, o que não se verificava

explicitamente no CPM-2008. As atividades incluídas apresentam-se de acordo

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com a proposta da Secretaria no que tange à abordagem contextualizada

utilizando situações-problema.

Uma dessas atividades aborda a adição de matrizes por meio da

translação de polígonos no plano cartesiano, operação matricial não

contemplada no CPM-2008. Apesar de interessante, considero que outras

atividades poderiam ser propostas abordando a manipulação de uma figura por

cálculos matriciais, como a reflexão, a escala e a rotação. Outra atividade

apresentada no CPM-2009 com aplicação tecnológica utilizando matrizes

aborda o princípio da tomografia.

O estudo de Determinante, por sua vez, é apresentado numa atividade

para calcular a área de polígonos no plano, conferindo um caráter

contextualizado e interdisciplinar. O mesmo não ocorre no ensino de

Determinantes no CPM-2008 tampouco nos livros didáticos analisados. Na

atividade referente à resolução de sistemas lineares, foram acrescentados

também exercícios contextualizados. Conforme constatado na análise dos

livros didáticos, as situações contextualizadas contempladas nesse tópico são

propícias de serem representadas num contexto real, ainda que não tenham

sido utilizadas no CPM-2008.

Por fim, concluo que o CPM-2009 apresenta melhorias significativas na

abordagem de outros tópicos do conteúdo de Matrizes, bem como na inclusão

de atividades relacionadas a outras áreas do conhecimento como a

Computação Gráfica, ainda que de forma implícita. Também se verifica o

trabalho com determinantes em conexão com a geometria e sugestões de

acordo com as propostas educacionais atuais e pesquisas na área da

Educação Matemática, como o uso da calculadora e de planilhas de cálculo,

suprindo uma lacuna existente no CPM-2008.

Os resultados obtidos nesta pesquisa, enfim, me permitiram fazer

algumas reflexões sobre ensino de Matemática em geral e especificamente

sobre o ensino de matrizes no Ensino Médio:

• Considerando as poucas pesquisas relativas ao ensino de matrizes e o

CPM elaborado seguindo orientações dos documentos oficiais e

propostas de pesquisas em Educação Matemática, que melhoria

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apresenta o ensino de matrizes utilizando o CPM em relação a uma

abordagem de ensino tradicional, como a proposta no livro de Iezzi et al.

(2004)?

• A sugestão das OCEM quanto ao abandono do estudo de determinantes,

que utiliza a representação matricial, não estaria equivocada, já que uma

abordagem adequada como a apresentada no CPM-2009 na Situação de

aprendizagem 4, por exemplo, pode proporcionar uma aprendizagem

significativa desse conteúdo aos alunos?

Espero que essas reflexões, e outras que possam surgir dos resultados

deste trabalho, venham servir de incentivo à outras pesquisas que respondam

às questões dessas reflexões e contribuam para o aperfeiçoamento do ensino

de Matemática.

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Anexos

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Anexo 1.

Aplicações em Álgebra Linear que utilizam os cálculos matriciais, segundo os livros didáticos de Álgebra Linear de LAY(1997) e de ANTON e RORRES (2001)

Aplicação Discriminação Pesquisa operacional – alocação de tarefas e recursos

Permite encontrar a melhor distribuição de operários em uma obra, maquinários em locais de construção e rotas de transporte.

Interpolação Spline cúbica

Por pontos específicos de um plano é possível ajustar uma curva. Os parâmetros dessa curva são determinados pela resolução de um sistema linear de equações.

Cadeias de Markov

É um processo de mudança de estado em sistemas físicos e matemáticos em que a ocorrência de um estado pode ser determinada probabilisticamente a partir da observação do estado imediatamente anterior.

Modelos econômicos de Leontieff

Permite fazer a descrição da inter-relação de preços, produção e demanda em sistemas econômicos utilizando a teoria das matrizes.

Computação Gráfica

Utilizando a álgebra matricial, pode-se obter novas imagens de um objetos por meio das transformações geométricas.

Criptografia

É o estudo da codificação e descodificação de mensagens secretas, assunto de interesse crescente devido à necessidade de manter a privacidade em transmissões de dados.

Genética

Permite investigar a propagação de uma característica hereditária em sucessivas gerações por meio de potência de matrizes.

Teoria dos grafos

O uso da aritmética matricial permite analisar as relações entre os elementos de um conjunto finito.

Colheita sustentável de populações animais/ administração de florestas (corte)

Calcula o rendimento sustentável ótimo de uma colheita por modelos matriciais.

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Anexo 2. Sumário do Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino

Médio – PNLEM / 2006 Matemática - com a relação das obras aprovadas

Catálogo disponível em

<www.fnde.gov.br/index.php/...pnlemguiasmatematica2006/download> Acesso

em: 26 mar. 2008.

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Anexo 3.

Sumário – Caderno do Professor de 2008. Ensino Médio, 2ª série – 2° bimestre

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Anexo 4.

Sumário – Caderno do Professor de 2009. Ensino Médio, 2ª série – 2° bimestre