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1 Layout: A busca pela referência. Henrique Pereira Murilo Serafim RESUMO ___________________________________________________________________________ Comunicar da forma eficiente, facilitando a compreensão e codificação pelo receptor é geralmente o objetivo de quem transmite uma mensagem, e para alcançar esse objetivo, é necessário reduzir o ruído tanto quanto o possível. Em comunicação visual este processo conta com alguns fatores particulares, podendo utilizar para tal, imagens, textos e ser acompanhada de áudio no caso dos vídeos, usando suportes das mais variadas espécies. Este artigo foca na comunicação via página impressa. Na história da humanidade, normalmente o processo de comunicação precede os demais, citando como exemplo a tipografia de Gutenberg que antecedeu a revolução industrial. Já na complexa estrutura de comunicação do século XXI, talvez o maior desafio seja fazer com que as mensagens se destaquem em relação às demais, e para se atingir este objetivo, o layout tem um papel estratégico. No caso da página impressa, em relação ao layout,é importante delimitar quais os fatores contribuem para que este cumpra bem o seu papel. Palavras-chave: Layout; Página Impressa; Princípios de Design e Direção de Arte. ___________________________________________________________________ 1. INTRODUÇÃO Os diversos meios de comunicação estão presentes na vida da maioria dos seres humanos. Em meio à grande quantidade de informações as quais as pessoas são expostas, como identificar aquelas que se destacam e têm maiores chances de serem decodificadas e gravadas pelos receptores? Talvez por essa dúvida, muitos comunicadores apostam suas fichas na estética ou na organização visual. Nas mídias impressas e eletrônicas, esta organização dos elementos gráficos e a estética, entre outros nomes, pode ser chamada de layout. AMBROSE & HARRIS (2009. p.31) definem Layout: “Layout é o arranjo dos elementos do design em relação ao espaço que eles ocupam no esquema geral do projeto. Também é chamado de gestão da forma e do espaço. O objetivo do layout é apresentar os elementos visuais e textuais de uma maneira clara e eficiente ao leitor. Com um bom layout, um leitor pode navegar por informações bastante complexas tanto na mídia impressa quanto na eletrônica.” A competição pela atenção do público atualmente é acirrada, no entanto, não é de agora a busca pelo bom layout, ela já é bastante antiga. É possível citar a época dos monges

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Layout:

A busca pela referência.

Henrique Pereira

Murilo Serafim

RESUMO ___________________________________________________________________________

Comunicar da forma eficiente, facilitando a compreensão e codificação pelo receptor é

geralmente o objetivo de quem transmite uma mensagem, e para alcançar esse objetivo, é

necessário reduzir o ruído tanto quanto o possível. Em comunicação visual este processo

conta com alguns fatores particulares, podendo utilizar para tal, imagens, textos e ser

acompanhada de áudio no caso dos vídeos, usando suportes das mais variadas espécies. Este

artigo foca na comunicação via página impressa. Na história da humanidade, normalmente o

processo de comunicação precede os demais, citando como exemplo a tipografia de

Gutenberg que antecedeu a revolução industrial. Já na complexa estrutura de comunicação do

século XXI, talvez o maior desafio seja fazer com que as mensagens se destaquem em relação

às demais, e para se atingir este objetivo, o layout tem um papel estratégico. No caso da

página impressa, em relação ao layout,é importante delimitar quais os fatores contribuem para

que este cumpra bem o seu papel.

Palavras-chave: Layout; Página Impressa; Princípios de Design e Direção de Arte.

___________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO

Os diversos meios de comunicação estão presentes na vida da maioria dos seres

humanos. Em meio à grande quantidade de informações as quais as pessoas são expostas,

como identificar aquelas que se destacam e têm maiores chances de serem decodificadas e

gravadas pelos receptores? Talvez por essa dúvida, muitos comunicadores apostam suas

fichas na estética ou na organização visual. Nas mídias impressas e eletrônicas, esta

organização dos elementos gráficos e a estética, entre outros nomes, pode ser chamada de

layout. AMBROSE & HARRIS (2009. p.31) definem Layout:

“Layout é o arranjo dos elementos do design em relação ao espaço que eles

ocupam no esquema geral do projeto. Também é chamado de gestão da

forma e do espaço. O objetivo do layout é apresentar os elementos visuais e

textuais de uma maneira clara e eficiente ao leitor. Com um bom layout, um

leitor pode navegar por informações bastante complexas tanto na mídia

impressa quanto na eletrônica.”

A competição pela atenção do público atualmente é acirrada, no entanto, não é de

agora a busca pelo bom layout, ela já é bastante antiga. É possível citar a época dos monges

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copistas, que antecederam a tipografia, os quais grafavam artesanalmente além dos textos,

figuras ilustrativas de grande complexidade gráfica. Com o advento da tipografia de tipos

movei de Gutenberg, as partes escritas dos livros passaram a ser impressas, possibilitando

uma padronização que melhorou ainda mais o aspecto visual dos livros, tornando-os peças

produzidas em série. A ilustração, no entanto, devido a limitações tecnológicas, levou ainda

algum tempo para se tornar industrial, mas fatalmente acabou seguindo por este caminho.

No século XIX o layout teve outra época marcante, Spencer (1995. p.11) aponta

alguns fatores que levaram a isso:

"O novo vocabulário da tipografia e design gráfico foi forjada em menos de

vinte anos. (...) Ele nasceu como uma resposta às novas exigências e novas

oportunidades que o século XIX trouxe com ele. A violência da tipografia

moderna, que entra em cena no início do século XX, reflete a agressividade

com que os novos conceitos de arte e design, em todos os campos, varria as

convenções e atitudes que não tinham mais relevância em uma sociedade

altamente industrializada."

Já no século XX alguns aspectos como as restrições econômicas, a competitividade, o

desejo de se ter uma coerência visual e a modernização através do design, potencializaram a

padronização do layout como saída estratégica dentro das empresas (KOOP, 2004).

Levando em conta a relevância do tema descrito e frente à necessidade de se reunir

conteúdo sobre ele, formulou-se a seguinte questão de pesquisa: Quais princípios podem

auxiliar na construção de um layout mais eficiente? Para obter essa reposta, o objetivo geral

dessa pesquisa é fazer um levantamento teórico sobre princípios de Direção de Arte e Design

Gráfico, a fim de desenvolver uma ferramenta que facilite a análise e construção de layouts,

utilizando para isso uma pesquisa exploratória. Os objetivos específicos que auxiliarão na

busca da resposta da questão apresentada, são: 1) Relacionar princípios de Direção de Arte e

Design Gráfico que diferenciam os layouts; 2) Selecionar pontos comuns entre os princípios

defendidos pelos autores, de modo a facilitar a consulta; 3) Organizar os princípios em forma

de tabela que servirá como referência para análise e construção de layouts.

A sustentação teórica tem como principais temas e autores: Layout e design da página

impressa (HURBURT, 1986; WILLIAMS, 1995), Comunicação Visual (MUNARI, 1982;

FARINA, 2006 ), Direção de arte e criação (CESAR, 2000); AMBROSE & HARRIS, 2009).

A causa primeira da escolha do “Layout” como tema da pesquisa, se deve ao fato de

que este é um tema extremamente relevante para área de Publicidade e Propaganda. O tema

possibilita gerar informações que poderão ajudar no aprendizado sobre os layouts, como

princípios do design, técnicas de criação, conhecimentos sobre formatos e cores, em fim, os

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princípios empregados que podem fazer com que o produto final dos impressos atraia com

mais eficiência o público alvo.

O intuito deste trabalho é construir uma ferramenta para auxiliar na análise e

construção dos layouts. Acredita-se que será possível utilizá-la como referência para consultas

sobre alguns princípios de Direção de Arte e Design Gráfico. Neste ponto, é importante

ressalvar que para fins de praticidade, neste trabalho os termos Design Gráfico e Direção de

Arte, serão tratados com o mesmo sentido, apesar de os dois termos não serem sinônimos.

Para a Associação de Designer Gráfico do Brasil (ADG – Brasil, 2011), O design gráfico é

um processo técnico e criativo que utiliza imagens e textos para comunicar mensagens, idéias

e conceitos, com objetivos comerciais ou de fundo social. Quanto ao termo direção de arte, é

definido por ERBOLATO (1986) como a função do profissional encarregado de sugerir e

projetar graficamente os anúncios, entre outra especificações. Apesar de haver diferenças

quanto ao conceito entre os termos Design Gráfico e Direção de Arte, em muitos casos eles

são usados com mesmo propósito, nesse caso o foco está nos princípios e nas funções cada

um, e não exatamente em como são exercidos nas agências e escritórios. Existem muitos

princípios relativos ao layout comuns ao dois, por isso este tratamento semelhante quanto ao

que ao que ser refere cada termo.

Espera-se que este projeto de pesquisa colabore para construção de conhecimento

sobre o assunto, porém, não existe o objetivo de tentar delimitar regras, mas sim, que a

construção desta ferramenta que sirva como referência. A intenção é reunir e organizar alguns

dos princípios apresentados pelos principais autores da área, de forma que auxilie

profissionais e acadêmicos das áreas do Designer Gráfico e Publicidade e Propaganda no

desafio da construção e análise de layouts.

2. METODOLOGIA

O assunto geral desta pesquisa não é novo, já existem muitas publicações e estudos

sobre ele, no entanto o que se pretende gerar a partir dela pode ser considerado novo. Este

estudo demanda a obtenção de critérios e compreensão sobre o assunto, e a pesquisa de

exploratória é capaz de provê-los (MALHOTRA, 2001). Na verdade, o objetivo geral desta

pesquisa depende diretamente dos critérios a serem levantados. Sobre a pesquisa exploratória,

Gil (1995, p. 45) aponta seu objetivo como:

“(...) proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-

lo mais explicito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas

têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de

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intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que

possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato

estudado.”

A pesquisa exploratória em alguns casos pode ser também descritiva, mas não é este

o caso deste estudo, pois a pesquisa descritiva é conclusiva e normalmente tem como objetivo

a descrição de algo.(MALHOTRA, 2001). Na verdade, aqui serão reunidos conteúdos sobre o

tema, com objetivo de obter maior conhecimento sobre ele para fundamentação teórica, e não

com a intenção de ser conclusivo e nem mesmo de descrever algo.

A pesquisa qualitativa, que é o caso deste estudo, proporciona melhor visão e

compreensão do contexto do problema.Quando a não é conclusiva ou quantitativa, a pesquisa

qualitativa e os dados secundários constituem a maior parte do projeto de pesquisa. O objetivo

é alcançar uma compreensão qualitativa das razões e motivações subjacentes, e utiliza como

amostra um pequeno número de casos não representativos. Utiliza uma coleta de dados não

estruturada e a análise destes dados não é estatística. Como resultados ela desenvolve uma

compreensão inicial. Não se deve considerar os resultados da pesquisa qualitativa como

conclusivos, ou utilizá-los para fazer generalizações sobre o assunto (MALHOTRA, 2001).

Em outras palavras os resultados desta pesquisa não podem ser considerados como uma

verdade incontestável, mas sim como uma noção inicial sobre o tema proposto.

Serão reunidos os aspectos mais relevantes para a composição de um bom layout

segundo as obras dos principais autores do ramo do Design Gráfico e Direção de Arte, dando

a pesquisa um caráter bibliográfico, que se diz da pesquisa que é desenvolvida a partir de

materiais já elaborados, constituídos principalmente de livros e artigos científicos (GIL,

1995). Serão levantadas e organizadas informações sobre o assunto, de modo que o acesso a

elas seja prático e rápido, criando para isso uma espécie de ferramenta que reunirá os

principais pontos que segundo os autores, ajudam a produzir um bom layout.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

A comunicação impressa se apresenta com uma frequência considerável, e a discussão

sobre a melhor forma de construí-la, naturalmente acabam gerando a busca por mais

eficiência entre os profissionais e estudantes da área. Parece inegável a importância do layout,

sendo que surgiram questionamentos sobre o que é mais importante, se o conteúdo do texto,

ou a parte visual da página. Sobre esta questão, Farina (2006, p. 148) expõe uma mudança de

foco através de um período de tempo:

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“Na obra sintaxe da linguagem Visual, a professora Donis (1997) comenta que

em textos impressos, a palavra é o elemento principal, enquanto os fatores

visuais como o cenário físico, o formato, as cores e a ilustração, são

secundários ou necessários apenas como apoio. Nos modernos meios de

comunicação acontece exatamente o contrário. O visual predomina, o verbal

tem função de acréscimo.”

Desta forma reforça-se que o layout tem relevância na comunicação, uma vez que a

parte visual acaba predominando. Construir uma ferramenta para servir como referência para

análise e construção de layouts, demanda investigar e reunir princípios e critérios indicados

por alguns autores da área do Design Gráfico, Direção de Arte e Comunicação Visual.

Contudo, não se espera criar regras, mas reunir referências sobre o assunto. A partir desse

ponto serão abordados alguns destes aspectos-chave, segundo a visão de seus autores.

3.1. Simetria e Assimetria

Um dos fatores influentes na confecção de layouts é a simetria, que consiste em

determinar uma forma baseada num eixo central, com igual equilíbrio de elementos gráficos

em ambos os lados da página. A simetria já é usada há muito tempo, os mestres de Veneza,

que foram os pioneiros do design gráfico, já tinham como principal preocupação o equilíbrio

simétrico. (HURLBURT, 1986). A imagem simétrica gera certo conforto visual, fazendo

parte de boa parte dos layouts produzidos. É como o reflexo que se obtém ao se colocar um

objeto em frente a um espelho, considerando o conjunto da coisa com a sua imagem refletida

(MUNARI, 1982). Logo, o princípio simétrico refere-se a similaridade de formas e equilíbrio

dos elementos a partir do centro da página, proporcionando visualmente, uma sensação de

peso distribuído de forma equilibrada no layout.

O contraponto ao princípio da simetria é o da assimetria, que começou a ser usado

pelos japoneses, e que se define como a não utilização do centro da página como ponto de

partida. Existe um equilíbrio nos elementos em sua distribuição, no entanto, não se dá a partir

de um ponto central e não têm semelhança de tamanhos entre elementos de ambas as metades

da página, de modo que requer uma considerável habilidade para se criar. O equilíbrio é um

princípio chave para o sucesso do design tanto simétrico quanto assimétrico, e para alcançá-lo

num layout assimétrico, o designer tem um desafio mais complexo a sua frente. Um dos

motivos desta complexidade é que neste caso o layout não pode ser criado calculando a partir

de uma fórmula matemática, mas sim com a sensibilidade do designer, comparado a um

equilibrista numa corda (HULBURT, 1986). Em outras palavras, criar um layout assimétrico,

é uma tarefa possivelmente menos complexa para um profissional já experiente, do qual se

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espera mais facilidade para organizar os elementos na página. O fato não tão lógico de se

equilibrar elementos com assimetria e ainda assim de forma equilibrada, é sem dúvidas em

desafio, mas de qualquer modo, não é limitação para novos profissionais.

3.2. Proximidade

A distribuição dos elementos na página passa também pelo princípio da proximidade,

que influência na ordem que o leitor vai observar e ler a página. Os itens relacionados entre si

devem ser agrupados e aproximados uns dos outros, para que sejam vistos como um conjunto

coeso e não como um emaranhado de partes sem ligação. Itens e informações que tem ligação

devem estar próximos, de modo que dêem uma pista visual imediata da organização e do

conteúdo da página (WILLIAMS, 1995). Isto significa que a partir do alinhamento, há a

possibilidade de induzir o leitor a seguir determinado caminho no modo que este observará e

lerá o layout, além de possibilitar a organização do assunto abordado em tópicos, o que pode

ser usado intencionalmente para se atingir objetivos específicos de comunicação.

3.3. Alinhamento

O princípio do alinhamento sugere que não se deve jogar os elementos gráficos na

página de maneira aleatória ou impensada, mas sim alinhar um elemento a outro de forma

estratégica, fazendo com que os elementos tenham ligação uns com os outros. Através deste

princípio, obtém-se uma espécie de link visual, que faz com que o layout tenha uma

visualização mais clara. Os elementos ficam dispostos de uma forma unificada e lógica.

Williams (1995, p. 27) define como os elementos devem se apresentar no layout ao se utilizar

o alinhamento:

“Segundo o princípio do alinhamento, nada dever ser colocado

arbitrariamente em uma página. Cada item deve ter uma conexão visual com

algo na página. O princípio do alinhamento obriga a pessoa a ser mais

consciente: já não se pode simplesmente jogar as coisas na página nos

lugares onde houver espaço."

Fica clara a importância de se pensar a disposição dos elementos no layout, e que

alinhá-los de forma racional gera um produto final mais consciente. Um exemplo é alinhar

um título à um sub-tópico, ou um elemento qualquer a um outro, como o objetivo de

organizar o espaço visual.

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3.4. Contraste

Quando se observa algum objeto de uma determinada cor, tonalidade e textura, sobre

outro com superfície de características semelhantes a ele, acontece uma espécie de

camuflagem, e o objeto sobreposto perde muito em visibilidade e destaque. A função do

contraste é justamente contrária à situação descrita, e se dá quando há diferenças notáveis

entre um elemento e outro comparado a ele. É importante dizer, que não existe contraste

apenas em sobreposição, comparando o fundo ao elemento, mas também entre elementos

postos sobre o mesmo plano, comparando-se um ao outro.. Este recurso é muito explorado

para que layouts tenham atratividade visual. A idéia principal é ressaltar um elemento, e como

exemplo, pode-se citar uma imagem escura sobre um fundo claro, que acaba tendo a

aparência de ser mais escura. Outro exemplo é a comparação de uma imagem em tamanho

grande, com outra de tamanho pequeno na mesma página, que faz a pequena parecer ainda

menor, ou que a imagem grande pareça ainda maior. Além desses existem outros tipos de

contraste, como o entre cores (HULBURT, 1986)

O princípio do contraste cria um diferencial real na página, de modo que esta passa a

ter o poder de atrair a atenção e de aperfeiçoar a organização da informação nela contida, e

para ser eficaz, o contraste tem que ser forte, entre elementos de fato diferentes um dos outros.

Williams ( 1995, p.53) destaca esta importância:

“O contraste é uma das maneiras mais eficazes de acrescentar algum atrativo visual

a uma página (algo que realmente faça com que uma pessoa queira olhar para ela),

criando uma hierarquia organizacional entre diferentes elementos. A “regra”

importante que deve ser lembrada é a de que para o contraste ser realmente eficaz,

ele deve ser forte. Cria-se contraste quando dois elementos são diferentes. Se eles

diferirem um pouco, mas não muito, não acontecerá um contraste e sim um conflito.

Este é o segredo: segundo o princípio do contraste, se dois itens não forem

exatamente os mesmos, diferencie-os completamente.”

Essa diferenciação que pode ser ou não radical é quem faz com que um elemento se

destaque ou não em relação à outro, e pode ser aproveitada também quando se compara algo

novo e algo comum, sendo um diferencial que tem poder de prender a atenção do público. A

diferença entre o habitual e o inusitado, no que ser refere aos sentidos, é um convite que faz

com que o consumidor se predisponha a conhecer a mensagem. A atenção, que é despertada

de forma involuntária, acaba se tornando voluntária (FARINA, 2006). A partir desta

afirmação, não fica longe a conclusão de que é possível chamar a atenção pelo choque do

inusitado em comparação com o comum, o que se constitui em um importante recurso para o

layout.

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A utilização do contraste em uma cor em comparação a outras, pode gerar um grande

destaque para ambas, desde que sejam usadas de maneira correta. No entanto, dependendo da

cor que se usa comparada a outra, e da tonalidade desta cor, os elementos podem se confundir,

e não se destacar. Neste caso é importante escolher as cores que realmente se diferenciem

bastante. Por exemplo, o vermelho, cor quente, cria facilmente um contraste, enquanto as

cores frias (azuis, verdes) vão desaparecendo diante dos olhos. (WILLIAMS, 1995)

O contraste das cores tem poder sobre o aumento do grau da atenção de anúncios

coloridos. Todavia, isto depende da forma que são utilizadas as cores, pois se combinado de

forma adequada o uso de tons, pode tornar a mensagem escrita mais sensível, dramática e

com capacidade de ser lida de forma mais rápida (FARINA, 2006). Através do contraste de

cores é possível que as mensagens sejam visualizadas e lidas, com maior atenção por parte do

receptor, o que consequentemente torna mais eficiente o processo.

3.5. Cor

A luz refletida nos objetos é captada pelos olhos e é interpretada pelo cérebro como

cores. A cor não pode ser esquecida como uma opção neste processo de tornar um layout

mais atrativo e de qualidade. Não restam dúvidas que o uso das cores de maneira estratégica

tem seu lugar garantido na confecção de layouts, uma vez que olhos são bastante atraídos

pelas cores quentes (WILLIAMS, 1995). Neste caso, é possível destacar intencionalmente os

elementos na página em relação a outros, de acordo com a ordem que ser espera que o público

leia a página além de tornar os elementos mais atrativos para observação e leitura.

A cor tem uma atração psicológica sobre o ser humano, provocando nele diversas

reações, por isso, enquanto elemento gráfico, as cores têm participação vital no resultado da

percepção da mensagem pelo receptor. O homem tem a necessidade de diferenciar e apreciar

as coisas ao seu redor, não apenas pelas formas, mas também pelas cores. Do ponto de vista

psicológico, o homem é atraído pela infinidade de tons. Não se pode negar, que o ser humano

reage mais emotivamente do que racionalmente frente às cores. As cores podem ser usadas

para estimular, acalmar, afirmar, negar, decidir, curar e, no caso da propaganda, vender.

(CESAR, 2000). Desta forma, o uso das cores pode ser relacionado diretamente à impressão

que se quer passar em determinada mensagem, uma vez que certas cores podem associadas a

mensagens de paz ou tranquilidade, outras a mensagens festivas, e outras até mesmo a

mensagens chocantes ou tristes.

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Além de outras atribuições, pode-se dizer sobre a cor, que ela é a alma do design e que

está arraigada nas emoções humanas. Através do tempo se aplica a cor de muitas formas. Os

desenhistas a usam de forma estratégica a fim de criar condições visuais de unidade,

diferenciação e seqüência, entre outros (FARINA, 2006). A cor assume então um papel

importantíssimo para o layout, porque além de emocionar, pode ser usada também para

organização visual e unidade.

Visão semelhante sobre a cor é compartilhada por Ambrose & Harris (2009), que

afirmam que a cor acrescenta dinamismo, atrai a atenção e pode ser utilizada para emocionar

o receptor. Ela também pode facilitar a organização dos elementos em uma página, guiando o

olho de um item a outro, dividindo elementos em zonas ou agrupando itens semelhantes,

codificando certos tipos de informações e auxiliando o receptor a encontrar as informações

que ele deseja.

Desta forma, se pode pensar na cor como um princípio de design com o forte poder de

passar sensações, organizar e dar dinamismo, com a ressalva de que em certas ocasiões, a

ausência das cores seja uma opção. Dependendo do conteúdo que se quer comunicar, pode-se

construir um layout em tons de cinza ou em preto e branco. Desta maneira a forma que a cor

vai ser utilizada não é exatamente uma regra, mas algo a se avaliar de acordo com a

necessidade de comunicação de cada trabalho.

3.6. Tipografia

Os tipos, ou famílias de fontes, com o tempo deixaram de ser apenas texto para

assumirem função de elemento gráfico. A tipografia é parte tão importante no layout quanto

qualquer outro elemento. Isto fica evidente pelo fato das palavras ou imagens serem

normalmente utilizadas em conjunto, podendo um destes dois, texto ou imagem, predominar,

ou até mesmo que o significado de um seja determinado pelo outro. Alguns dos exemplos

mais sofisticados de design gráfico recorrem à precisão das palavras para dar sentido exato a

imagens ambíguas. A palavra quando impressa, na forma de registro da fala, perde uma

extensa variedade de expressões e inflexões. Os designers gráficos contemporâneos

(especialmente seus precursores, os futuristas) têm tentado romper esta limitação. Ampliando

ou reduzindo os tamanhos, os pesos e a posição das letras, seu tipografismo consegue dar voz

ao texto. Instintivamente, existe um anseio não só de transmitir a mensagem, mas também de

dar a ela uma expressão única (HOLLIS, 2000). Depende de cada caso a aplicação da

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tipografia, mas ela tem uma função que vai além do conteúdo, pois a sua forma e cor, dão

identidade ao layout. Assim a tipografia é utilizada como elemento gráfico da peça.

A tipografia é o meio pelo qual uma ideia escrita recebe uma forma visual. A seleção

da forma visual pode afetar significativamente a legibilidade da ideia escrita e as sensações de

um leitor em relação a ela, devido às centenas, se não milhares, de fontes disponíveis. A

tipografia pode produzir um efeito neutro ou despertar paixões, simbolizar movimentos

artísticos, políticos ou filosóficos ou exprimir a personalidade de uma pessoa ou organização.

Fontes variam desde formas claras e distinguíveis de fácil leitura, adequadas para grandes

quantidades de texto, até fontes visualmente mais fortes e atraentes usadas em manchetes e

anúncios publicitários. A tipografia está em constante evolução. Muitas fontes usadas hoje se

baseiam em designs criados em épocas passadas. A indústria de impressão estabeleceu as

maiúsculas romanas e as minúsculas carolíngias como formas padrão durante o reinado de

Carlos Magno, no século XV, e elas ainda são muito utilizadas atualmente (AMBROSE &

HARRIS, 2009). Em fim, a tipografia tem um poder sintetizador, e a identidade de alguns

estilos atravessou o tempo e ainda serve na confecção dos layouts, muita vez em conjunto

com os estilos mais recentes, não menos importantes.

3.7. A Ferramenta

Com base no levantamento teórico sobre os princípios direção de arte e design gráfico

de vários autores, foi construída a ferramenta em forma de tabela ou gráfico exemplo pratica

de aplicação de cada um deste princípios. Ela objetiva facilitar o acesso aos principais pontos

abordado no artigo. Na próxima página será apresentada esta ferramenta, e para um

entendimento do funcionamento da mesma, é necessário explicar neste ponto, que ela é

composta por uma tabela, uma consideração do autores do artigo e um exemplo prático de

cada princípio. As tabelas estão dispostas em forma vertical, uma para cada princípio de

direção de arte e de design gráfico e a principal afirmação sobre este principio dos autores,

além uma consideração sobre o princípio dos autores do artigo, grafadas sobre fundo cinza. A

tabelas estão ligadas graficamente, para fins organização visual e entendimento do conteúdo,

a um exemplo prático da utilização de cada princípio no layout, em forma de miniatura. Como

ser trata de vários princípios, do que é defendido pelos autores, das considerações dos autores

do artigo e ainda de um exemplo prático de cada um, o espaço ocupado por esta ferramenta é

de duas páginas.

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Figura 1. Primeira parte da ferramenta criada para análise de layouts.

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Figura 2. Segunda parte da ferramenta criada para análise de layouts.

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4. Considerações Finais

Devido a diferença entre públicos-alvo e objetivos de comunicação, existe uma

dificuldade em se ditar regras, ou mesmo definir o que é certo ou errado quando o assunto é

comunicação visual. Dentro desse campo, o possível é buscar e enumerar referências sobre o

assunto, uma vez que cada público demanda ações de formas e conteúdos diferentes. Sobre a

questão do layout de páginas impressas, muitas destes princípios podem auxiliar na

construção e análise dos mesmos. Desta forma, o que tem são referências sobre princípios

aconselhados por profissionais e autores da área.

Estas contudo foi reunido e organizado em forma de tabela e exemplo prático para um

acesso otimizado e eficiente a ele. Dessa maneira ficaram dispostos por princípio e autor,

dando um dinamismo maior a quem se interessar por informações que auxiliem na criação e

análise de layouts. A partir do levantamento, foi apresentada esta ferramenta, com a qual se

espera auxiliar os profissionais e acadêmicos da área.

Os princípios do alinhamento, proximidade, contraste, cor e tipografia, simetria e

assimetria, podem ser diferenciais na página impressa, através dos quais se gera uma

quantidade imensurável de possibilidades. A utilidade deles vai desde a organização e

facilidade para leitura, até o poder de passar emoções através do layout, como alegria, tristeza,

formalidade, casualidade ou outros sentimentos. Tudo isso resulta no poder de prender a

atenção do receptor da mensagem e de induzir a ordem em que este observará e lerá a página.

Sobre este artigo, convém citar limitações que surgiram no decorrer da elaboração do

mesmo. Um exemplo foi a dificuldade de se reunir material bibliográfico sobre o assunto.

Apesar de a quantidade de autores que abordam o tema ser extensa, poucos definiram de

forma clara seus critérios, até pelo fato do tema aqui proposto possuir uma parte subjetiva em

relação a criação do layout. É possível que este motivo explique o porquê da dificuldade em

encontrar autores que defendam de forma clara os princípios de direção de arte e design

gráfico. Isso gerou também outra limitação, a diferença de terminologia utilizada pelos

diversos autores, ou seja, os nomes que cada um utiliza para classificar as funções dos

elementos no layout. Como consequência houve dificuldade e até impossibilidade em alguns

casos, de se extrair definições sobre os mesmos princípios de mais de um autor. Todavia estas

limitações não diminuem a relevância do que se levantou.

Para novas pesquisas na área, a sugestão é um levantamento teórico com foco em

Comunicação Visual e Semiótica, diferenciando-se deste artigo que teve seu foco em

princípios de direção de arte e de design gráfico. Dessa forma pode construir uma ferramenta

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ainda mais completa para auxilio dos profissionais e acadêmicos que tiverem como

preocupação, a construção do layout com mais eficiência.

7. REFERÊNCIAS

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2004.

AMBROSE, Gavin; HARRIS, Paul. Fundamentos de design criativo. Porto Alegre:

Bookman, 2009.

Associação de Designers Gráfico do Brasil. O que é design gráfico . Disponível em:

<http://www.adg.org.br/adgbrasil.php> Acessado em 22/10/2011.

CESAR, Newton. Direção de Arte em Propaganda – São Paulo: Futura, 2000.

DOMINGOS, Carlos – Criação sem Pistolão 2° Ed, Editora Campus, Rio de Janeiro 2003.

ERBOLATO, Mário L. DICIONÁRIO DE PROPAGANDA E JORNALISMO. Campinas,

abril de 1986 Disponível em <http://pt.scribd.com/doc/6883714/dicionario-de-propaganda-e-

jornalismo> Acessado em 22/10/2011.

HOLLIS, Richard. Design Gráfico uma história concisa. Tradução de Carlos Daudt. São

Paulo, Editora Martins Fontes, 2000.

HURBURT, Allen. Layout: O design da página impressa 1986. AMPUB Comercial.

Edição brasileira, 2002.

MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual, Livraria Martins Fontes, 1982

MATTAR, F.N. Pesquisa de marketing. São Paulo, Atlas, 2001

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MALHOTRA, N. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. Porto Alegre: Editora

Bookman, 2001. 719 p.

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