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7/24/2019 LE GOFF - História e Memória http://slidepdf.com/reader/full/le-goff-historia-e-memoria 1/4 LE GOFF, Jaques. Documento/Monumento. In: História e Memória. p. Citaço !ireta "#" $ memória co%eti&a e a sua 'orma cient()ca, a *istória, ap%ica+se a !ois tipos !e materiais: os !ocumentos e os monumento. "#" De 'ato, o que sore&i&e no - o conunto !aqui%o que eistiu no passa!o, mas uma esco%*a e'etua!a quer pe%as 'orças que operam no !esen&o%&imento tempora% !o mun!o e !a *umani!a!e, quer pe%os que se !e!icam 0 ci1ncia !o passa!o e !o tempo que passa, os *istoria!ores. "#" O monumento tem como caracter(stica %i2ar+se ao po!er !e perpetuaço, &o%unt3ria ou in&o%unt3ria, !as socie!a!es *istóricas 4- um %e2a!o 0 memória co%eti&a5e o reen&iar a testemun*os que só uma parce%a m(nima so testemun*os escritos. "#" O termo %atino !e documentum, !eri&a!o !e docere 6ensinar7, e&o%uiu para o si2ni)ca!o !e 6pro&a7 e - amp%amente usa!o no &ocau%3rio %e2is%ati&o. 8 no s-cu%o 9II que se !i'un!e, na %in2ua2em ur(!ica 'rancesa, a epresso titres et documents  e o senti!o mo!erno !e testemun*o *istórico !ata apenas !o in(cio !o s-cu%o 9I9. O si2ni)ca!o !e ;pape% usti)cati&o<, especia%mente no !om(nio po%icia%, na %(n2ua ita%iana, por eemp%o, !emonstra a ori2em e a e&o%uço !o termo. O !ocumento que, para a esco%a *istórica positi&ista !o )m !o s-cu%o 9I9 e !o in(cio !o s-cu%o 99, ser3 o 'un!amento !o 'ato *istórico, ain!a que resu%te !a esco%*a, !e uma !eciso !o *istoria!or, parece apresentar+se por si mesmo como pro&a *istórica. $ sua oeti&i!a!e parece opor+se 0 intenciona%i!a!e !o monumento. $%-m !o mais, a)rma+se essencia%mente como um testemun*o escrito. "#" $ %eitura !os !ocumentos no ser&iria, pois, para na!a se 'osse 'eita com i!eias preconcei!as... $ sua =nica *ai%i!a!e 4!o *istoria!or5 consiste em tirar !os !ocumentos tu!o o que e%es cont1m e em no %*es acrescentar na!a !o que e%es no cont1m. O me%*or *istoria!or - aque%e que se mant-m o mais próimo poss(&e% !os tetos. "#> O inspetor 2era% ?ertin, sucessor !e @i%*ouette, escre&e ao rei Lu(s 9I: ;$ *istória e o !ireito p=%ico !e uma naço so apoia!os por monumentos<. "#A Bo!a&ia, !estacan!o+se !e um conunto !e pa%a&ras ... que tenta&am reunir os no&os m-to!os !a memória co%eti&a e !a *istória, ao !eseo !e, por um %a!o, pro&ar cienti)camente ... e, por outro %a!o, ao reno&amento !a %e2is%aço e !o !ireito ... o termo 6!ocumento7 co%ocar+se+ia em primeiro p%ano. "#A Com a esco%a positi&ista, o !ocumento triun'a. O seu triun'o, como em eprimiu Fuste% !e Cou%an2es, coinci!e com o !o teto. $ partir !e ento, to!o o *istoria!or que trate !e *istorio2ra)a ou !o mister !e *istoria!or recor!ar3 que - in!ispens3&e% o recurso !o !ocumento. "# o *3 *istória sem !ocumentos. "# Le'e&re a)rma&a i2ua%mente: ;o *3 not(cia *istórica sem !ocumentos< e precisa&a: ;pois se !os 'atos *istóricos no 'oram re2istra!os !ocumentos, ou 2ra&a!os ou escritos, aque%es 'atos per!eram+se.

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LE GOFF, Jaques. Documento/Monumento. In: História e Memória.p. Citaço !ireta"#" $ memória co%eti&a e a sua 'orma cient()ca, a *istória, ap%ica+se a

!ois tipos !e materiais: os !ocumentos e os monumento."#" De 'ato, o que sore&i&e no - o conunto !aqui%o que eistiu no

passa!o, mas uma esco%*a e'etua!a quer pe%as 'orças que operamno !esen&o%&imento tempora% !o mun!o e !a *umani!a!e, querpe%os que se !e!icam 0 ci1ncia !o passa!o e !o tempo que passa,os *istoria!ores.

"#" O monumento tem como caracter(stica %i2ar+se ao po!er !eperpetuaço, &o%unt3ria ou in&o%unt3ria, !as socie!a!es *istóricas4- um %e2a!o 0 memória co%eti&a5e o reen&iar a testemun*os quesó uma parce%a m(nima so testemun*os escritos.

"#" O termo %atino !e documentum, !eri&a!o !e docere 6ensinar7,e&o%uiu para o si2ni)ca!o !e 6pro&a7 e - amp%amente usa!o no&ocau%3rio %e2is%ati&o. 8 no s-cu%o 9II que se !i'un!e, na

%in2ua2em ur(!ica 'rancesa, a epresso titres et documents e osenti!o mo!erno !e testemun*o *istórico !ata apenas !o in(cio !os-cu%o 9I9. O si2ni)ca!o !e ;pape% usti)cati&o<, especia%mente no!om(nio po%icia%, na %(n2ua ita%iana, por eemp%o, !emonstra aori2em e a e&o%uço !o termo. O !ocumento que, para a esco%a*istórica positi&ista !o )m !o s-cu%o 9I9 e !o in(cio !o s-cu%o 99,ser3 o 'un!amento !o 'ato *istórico, ain!a que resu%te !a esco%*a,!e uma !eciso !o *istoria!or, parece apresentar+se por si mesmocomo pro&a *istórica. $ sua oeti&i!a!e parece opor+se 0intenciona%i!a!e !o monumento. $%-m !o mais, a)rma+seessencia%mente como um testemun*o escrito. 

"#" $ %eitura !os !ocumentos no ser&iria, pois, para na!a se 'osse'eita com i!eias preconcei!as... $ sua =nica *ai%i!a!e 4!o*istoria!or5 consiste em tirar !os !ocumentos tu!o o que e%escont1m e em no %*es acrescentar na!a !o que e%es no cont1m.O me%*or *istoria!or - aque%e que se mant-m o mais próimoposs(&e% !os tetos.

"#> O inspetor 2era% ?ertin, sucessor !e @i%*ouette, escre&e ao rei Lu(s9I: ;$ *istória e o !ireito p=%ico !e uma naço so apoia!os pormonumentos<.

"#A Bo!a&ia, !estacan!o+se !e um conunto !e pa%a&ras ... quetenta&am reunir os no&os m-to!os !a memória co%eti&a e !a

*istória, ao !eseo !e, por um %a!o, pro&ar cienti)camente ... e,por outro %a!o, ao reno&amento !a %e2is%aço e !o !ireito ... otermo 6!ocumento7 co%ocar+se+ia em primeiro p%ano.

"#A Com a esco%a positi&ista, o !ocumento triun'a. O seu triun'o, comoem eprimiu Fuste% !e Cou%an2es, coinci!e com o !o teto. $partir !e ento, to!o o *istoria!or que trate !e *istorio2ra)a ou !omister !e *istoria!or recor!ar3 que - in!ispens3&e% o recurso !o!ocumento.

"# o *3 *istória sem !ocumentos."# Le'e&re a)rma&a i2ua%mente: ;o *3 not(cia *istórica sem

!ocumentos< e precisa&a: ;pois se !os 'atos *istóricos no 'oram

re2istra!os !ocumentos, ou 2ra&a!os ou escritos, aque%es 'atosper!eram+se.

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"# Bo!a&ia, se a concepço !e !ocumento no se mo!i)ca&a, o seuconte=!o enriquecia+se e amp%ia&a+se. Em princ(pio, o !ocumentoera soretu!o um teto. o entanto, o próprio Fuste% !e Cou%an2essentia o %imite !esta !e)niço. uma %iço pronuncia!a em Ana Kni&ersi!a!e !e Estrasur2o, !ec%arara: On!e 'a%tam os

monumentos escritos, !e&e a *istória !eman!ar 0s %(n2uas mortasos seus se2re!os.... De&e escrutar as '3u%as os mitos, os son*os!a ima2inaço... On!e o *omem passou, on!e !eiou qua%quermarca !e sua &i!a e !a sua inte%i21ncia, a( est3 a *istória<.

" Bo!a uma parte, e sem !=&i!a a mais apaionante !o nossotraa%*o !e *istoria!ores, no consistir3 num es'orço constantepara 'aNer 'a%ar as coisas mu!as, para 'aN1+%as o que e%as por sipróprias no !iNem sore os *omens, sore as socie!a!es que aspro!uNiram, e para constituir, )na%mente, entre e%as, aque%a &astare!e !e so%i!arie!a!e e !e entre au!a que supre a aus1ncia !o!ocumento escrito

" ... a partir !os anos ... o interesse !a memória co%eti&a e !a*istória 3 no se crista%iNa ec%usi&amente sore os 2ran!es*omens, os acontecimentos, a *istória que a&ança !epressa, a*istória po%(tica, !ip%om3tica, mi%itar. Interessa+se por to!os os*omens, suscita uma no&a *ierarquia mais ou menos imp%(cita !os!ocumentos por eemp%o, co%oca em primeiro p%ano, para a*istória mo!erna, o re2istro paroquia% que conser&a para amemória to!os os *omens. ... O re2istro paroquia%, em que soassina%a!os, por paróquia, os nascimentos, os matrimPnios e asmortes, a marca e a entra!a na *istória !as ;massas !ormentes<e inau2ura a era !a !ocumentaço !e massa.

" ;O !ocumento, o !a!o 3 no eiste por si próprios, mas emre%aço com a s-rie que os prece!e e os se2ue, - o seu &a%orrelativo que se toma oeti&o e no a sua re%aço com umainapreens(&e% sustQncia rea%.<

"+

$ inter&enço !o computa!or comporta uma no&a perio!iNaço namemória *istórica: pro!uN+se, a partir !e ento, um corte'un!amenta% no momento em que se po!em constituir s-riessore a *istória seria% entre os seus numerosos escritos tem+se,!ora&ante, uma i!a!e pr-+estat(stica e uma i!a!e quantitati&a.Mas - necess3rio oser&ar que, se este corte correspon!e a um2rau !e !i'erença !as socie!a!es *istóricas em re%aço ao

recensaneamento R in!i'erença ou !escon)ança em re%aço aon=mero para aqu-m, atenço sempre maior e mais precisa paraa%-m + , a *istória quantitati&a como o !emonstra a arqueo%o2ia,po!e transpor a%e2remente esta 'ronteira *istórica. Sorque a*istória quantitati&a no - nem uma re&o%uço puramentetecno%ó2ica, nem a consequ1ncia !e uma emer21ncia !o n=merona *istória. o - imposta nem pe%o computa!or nem pe%opassa!o. Como oser&a G%-nisson, no s-cu%o 9I9, ao princ(pio erao !ocumento *oe, ao princ(pio - o pro%ema. 8 uma ;re&o%uço!a consci1ncia *istorio2r3)ca<.

" $ memória co%eti&a &a%oriNa+se, institui+se em patrimPnio cu%tura%.

O no&o !ocumento - armaNena!o e manea!o nos ancos !e!a!os. E%e ei2e uma no&a eru!iço que a%ucia ain!a e que

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!e&e respon!er simu%taneamente 0s ei21ncias !o computa!or e0 cr(tica !a sua sempre crescente inTu1ncia sore a memóriaco%eti&a.

" o ostante o que por &eNes parecem pensar os principiantes, os!ocumentos no aparecem, aqui ou a%i, pe%o e'eito !e um qua%quer

imperscrut3&e% !es(2nio !os !euses. $ sua presença ou a suaaus1ncia nos 'un!os !os arqui&os, numa i%ioteca, num terreno,!epen!em !e causas *umanas que no escapam !e 'orma a%2uma0 an3%ise, e os pro%emas postos pe%a sua transmisso, %on2e !eserem apenas eerc(cios !e t-cnicos, tocam, e%es próprios, nomais (ntimo !a &i!a !o passa!o, pois o que assim se encontraposto em o2o - na!a menos !o que a passa2em !a recor!açoatra&-s !as 2eraçUes.

" J3 Sau% Vumt*or tin*a aerto a &ia a no&as re%açUes entre!ocumentos e monumento. Bratan!o+se !e um muito pequenon=mero !e tetos, os mais anti2os em %(n2ua 'rancesa 4s-cu%o III

R I95, e%e propPs uma !istinço entre os monumentos %in2u(sticos eos simp%es !ocumentos. Os primeiros respon!em a uma intenço!e e!i)caço, ;no !up%o si2ni)ca!o !e e%e&aço mora% e !econstruço !e um e!i'(cio<, enquanto que os se2un!os respon!em;apenas 0s necessi!a!es !a intercomunicaço corrente<.

"+"

O que !istin2ue a %(n2ua monumenta% !a %(n2ua !ocumenta% -;esta e%e&aço, esta &ertica%i!a!e< que a 2ram3tica con'ere a um!ocumento, trans'orman!o+o em monumento.

"" $ssim, Sau% Vumt*or !escoria o que trans'orma o !ocumento emmonumento: a sua uti%iNaço pe%o po!er. Mas *esita&a emtranspor o 'osso que consistia em recon*ecer em to!o o

!ocumento um monumento. o eiste um !ocumento oeti&o,inócuo, prim3rio. $ i%uso positi&ista 4que, em enten!i!o, erapro!uNi!a por uma socie!a!e cuos !ominantes tin*am interesseem que assim 'osse5, a qua% &ia no !ocumento uma pro&a !e oa+'-, !es!e que 'osse aut1ntico, po!e muito em !etectar+se aon(&e% !os !a!os me!iante os quais a atua% re&o%uço !ocumenta%ten!e a sustituir os !ocumentos.

"" ... a cr(tica !o !ocumento R qua%quer que e%e sea R enquantomonumento. O !ocumento no - qua%quer coisa que )ca por conta!o passa!o, - um pro!uto !a socie!a!e que o 'aricou se2un!o asre%açUes !e 'orças que a( !etin*am o po!er. @ó a an3%ise !o

!ocumento enquanto monumento permite 0 memória co%eti&arecuper3+%o e ao *istoria!or us3+%o cienti)camente, isto -, comp%eno con*ecimento !e causa.

""+

O !ocumento no - o 'e%iN instrumento !e uma *istória que sea,em si própria e com p%eno !ireito memória: a *istória - uma certamaneira !e uma socie!a!e !ar estatuto e e%aoraço a umamassa !ocumenta% !e que se no separa.

"> ... o !ocumento - composto !e e%ementos que ;'uncionam comoum 6inconsciente cu%tura%7 que assume um pape% !ecisi&o einter&1m para orientar uma apreenso, um con*ecimento, umaapresentaço !as G3%ias... pro'un!amente asea!a nas %utas e nas

rea%i!a!es imperia%istas !o momento<. Ba% resu%ta!o só po!e seratin2i!o porque a autora consi!erou o seu !ocumento como um

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monumento !e que era preciso encontrar, atra&-s !e uma cr(ticainterna, as con!içUes !e pro!uço *istórica e, %o2o, a suaintenciona%i!a!e inconsciente.

"A O !ocumento - monumento. Wesu%ta !o es'orço !as socie!a!es*istóricas para impor ao 'uturo R &o%unt3ria ou in&o%untariamente R

!etermina!a ima2em !e si próprias. o %imite, no eiste um!ocumento+&er!a!e. Bo!o o !ocumento - mentira. Cae ao*istoria!or 'aNer no 'aNer o pape% !e in21nuo. Os me!ie&a%istas,que tanto traa%*am para construir uma cr(tica R sempre =ti%,!ecerto R !o 'a%so, !e&em superar esta pro%em3tica, e ta%&eNsoretu!o, os 'a%sos R e 'a%so, porque um monumento - emprimeiro %u2ar uma roupa2em, uma apar1ncia en2ana!ora, umamonta2em. 8 preciso começar por !esmontar, !emo%ir estamonta2em, !esestruturar esta construço e ana%isar as con!içUes!e pro!uço !os !ocumentos+monumentos.Ora, esta monta2em !o !ocumento+monumento no po!e 'aNer+se

com o au(%io !e uma =nica cr(tica *istórica."A+

Mais ain!a !o que estes m=%tip%os mo!os !e aor!ar um!ocumento, para que e%e possa contriuir para uma *istória tota%,importa no iso%ar os !ocumentos !o conunto !e !ocumentos !eque 'aNem parte. @em suestimar o teto que eprime asuperiori!a!e, no !o seu testemun*o, mas !o amiente que opro!uNiu, monopo%iNan!o um instrumento cu%tura% !e 2ran!eporte, o me!ie&a%ista !e&e recorrer ao !ocumento arqueo%ó2ico,soretu!o 0que%e que 'aN parte !o m-to!o estrato2r3)co, ao!ocumento icono2r3)co, 0s pro&as que 'ornecem m-to!osa&ança!os como a *istória eco%ó2ica que 'aN ape%o 0 'enPmenos

em situaço 4a semQntica *istórica, a carto2ra)a, a 'oto2ra)aa-rea, a 'oto+interpretaço5 - particu%armente =ti%.