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Trabalho realizado para a Unemat
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UAB - UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
ROBSON R. MARCIDELLI DE ALMEIDA
LEGALIDADE, ANTERIORIDADE, TAXAS E TARIFAS
Alto Araguaia - MT 2014
ROBSON R. MARCIDELLI DE ALMEIDA
LEGALIDADE, ANTERIORIDADE, TAXAS E TARIFAS
Trabalho de Envio de Arquivo apresentado à Universidade Aberta do Brasil – UAB/UNEMAT para a disciplina legislação Tributária e Comercial do curso de Bacharelado em Administração Pública. Docente: Profa. Rose Kelly dos Santos Matínez Fernandez
Alto Araguaia - MT 2014
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1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
O art. 5°, II da Constituição Federal traz o princípio da legalidade de forma a
contemplar o Estado Democrático de Direito, ao dispor que “ninguém será obrigado
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei”. A Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, base da Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948, consignou em seu texto o princípio da legalidade, ao
dispor que as balizas do direito natural só podem ser determinadas pela lei.
O princípio da legalidade quando dirigido ao particular deve ser entendido
dentro da autonomia da vontade, onde está a afirmar que o particular pode fazer
tudo que não for proibido por lei; e sob o prisma da Administração Pública, onde está
a estabelecer que esta só possa fazer o que a lei permitir.
Com esta preocupação de delimitar o poder do Estado, sobretudo quando
estamos a tratar do poder de tributar que se apresenta de forma compulsória ao
particular e limitadora de seu patrimônio, o Poder Constituinte Originário reforçou o
princípio ao repeti-lo no capítulo das limitações ao poder de tributar. O art. 150, I da
Carta Magna estabelece vedação aos entes políticos, titulares da competência
tributária, consistente em “exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”.
A doutrina convencionou chamar este mandamento constitucional
de princípio da legalidade tributária, e com este nome é cobrado em concursos e
exames da ordem. O princípio da legalidade tributária está a impor ao Estado a sua
atuação incondicionalmente baseada na lei, é o que damos o nome de reserva legal.
Neste contexto o artigo 97 do Código Tributário Nacional estabelece as
matérias sujeitas à reserva legal, quais sejam: a instituição de tributo ou a sua
extinção; a majoração de tributos ou a sua redução; a definição do fato gerador da
obrigação tributária principal e do seu sujeito passivo; a fixação de alíquota e da
base de cálculo; a cominação de penalidades e as hipóteses de extinção, exclusão,
suspensão do crédito tributário ou de dispensa ou redução de penalidades.
O princípio da legalidade ao impor a exigência de lei para exigir ou aumentar
tributo, está a falar da lei ordinária ou lei complementar, pois está a dispor sobre a lei
em seu sentido estrito.
Existem duas diferenças principais entre a lei complementar e a lei ordinária,
uma no seu aspecto material e a outra em seu aspecto formal.
No aspecto material a lei ordinária se diferencia da lei complementar pelo
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fato de esta vir taxativamente prevista no texto constitucional, sempre que a
Constituição quiser que determinado assunto seja tratado por lei complementar fará
menção expressa “lei complementar”, quando assim não o fizer estará tratando da
lei ordinária.
No aspecto formal a lei ordinária se diferencia da lei complementar quanto a
quórum de votação exigido para a sua aprovação. Enquanto que para a lei ordinária
ser aprovada se exige apenas o quorum de maioria simples (maioria dos presentes
na sessão de votação); para a lei complementar ser aprovada é necessário a maioria
absoluta (maioria do total dos membros que compõem a Casa).
EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
A primeira exceção ao princípio da legalidade está esculpida no artigo 97, §
2° do CTN, que dispõe não constituir majoração de tributo a atualização do valor
monetário da respectiva base de cálculo. O dispositivo está a tratar de atualização, e
não em aumento da base de cálculo, facultando ao município realizar esta
atualização por meio de Decreto. Contudo, esta atualização deve ter limites, de
forma a não configurar um aumento de base de cálculo revestido de atualização
monetária.
A segunda exceção ao princípio da legalidade está plasmada no artigo 153,
§ 1° da CF ao facultar ao Poder Executivo alterar as alíquotas do Imposto sobre
Importação (II), Imposto sobre Exportação (IE), Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O ato
normativo é o decreto presidencial ou Portaria do Ministro da Fazenda, utilizada na
prática para os impostos aduaneiros (II e IE).
Esta exceção está baseada no caráter extra-fiscal destes impostos, vale
dizer, são cobrados com a finalidade precípua de regular determinado setor da
economia, exigindo maior dinamismo na alteração das alíquotas a fim de se adequar
às rápidas variações da economia.
A terceira exceção ao princípio da legalidade está encartada no art. 177 §
4°, I, “b” da Constituição Federal, consistente na possibilidade de o Poder
Executivo reduzir ou restabelecer a alíquota da Contribuição de Intervenção no
Domínio Econômico (CIDE), relativa às atividades de importação ou comercialização
de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível.
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Esta exceção se materializa por decreto presidencial, e passou a ter previsão no
texto Constitucional com a Emenda Constitucional n° 33/2001.
A quarta exceção, também inovação trazida pela Emenda Constitucional n°
33/2001, é a do art. 155, § 4°, IV da CF, permitindo aos Estados e Distrito
Federal definir as alíquotas do ICMS monofásico incidente sobre combustíveis. O
instrumento normativo utilizado no presente caso é o convênio do
CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária).
Ainda em relação às duas últimas exceções inseridas pela Emenda
Constitucional n° 33/01, cabe grifar que enquanto na CIDE as alíquotas podem ser
reduzidas ou restabelecidas (retornar ao patamar inicial); no ICMS monofásico
incidente sobre combustíveis o texto normativo utiliza a expressão “definir”, o que
está a demonstrar uma amplitude maior de poder conferido aos Estados e
Municípios que reunidos no Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ)
poderão não só restabelecer, mas aumentar a alíquota.
2. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
O artigo 150, III, “b” da Constituição Federal veda a cobrança de tributos “no
mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou”. O princípio da anterioridade do exercício financeiro predica, tão-
somente, que se uma lei vier a aumentar ou criar um tributo, ela deverá ser anterior
ao exercício financeiro em que o tributo será cobrado.
O exercício financeiro corresponde ao ano civil (01 de janeiro a 31 de
dezembro). Assim, se quiser aumentar a alíquota do ICMS para o ano de 2015, a lei
deverá ser publicada no ano de 2014. Da mesma forma, se quiser instituir o Imposto
sobre Grandes Fortunas (IGF) em 2010, a lei deverá vir em 2009.
O fundamento deste princípio é a não surpresa, ou seja, o escopo da norma
é evitar que o contribuinte seja surpreendido com a cobrança de um determinado
tributo do dia para a noite, dando tempo para ele se programar para a nova exação
que será cobrada.
Este princípio vem a reforçar o princípio da irretroatividade, pois além de o
legislador vedar a aplicabilidade da lei a fatos anteriores à sua edição, ele também
veda que a lei que crie ou aumente tributo venha a ser aplicada no mesmo exercício
financeiro. Este princípio constitucional, assim como o princípio da irretroatividade, é
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considerado cláusula pétrea, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal
na ADIN 939-7 DF, Rel. Min. Sydney Sanches.
EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
O próprio artigo 150 traz as exceções ao princípio da anterioridade do
exercício financeiro em seu § 1°, quais sejam:
1. Imposto sobre a importação de produtos estrangeiros – II; (art. 153, I da
CF)
2. Imposto sobre a exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou
nacionalizados – IE; (art. 153, II da CF)
3. Imposto sobre produtos industrializados – IPI; (art. 153, IV da CF)
4. Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a
títulos ou valores mobiliários – IOF; (art. 153, V da CF)
O fundamento destas exceções ao princípio da anterioridade está no caráter
extra-fiscal destes tributos, que são instrumentos reguladores da economia e da
política monetária e fiscal do país. Não pode o Poder Executivo aguardar a virada do
exercício financeiro para colocar em prática iniciativas tendentes a amenizar ou
contornar crises de setores da economia, sobretudo em um mundo globalizado.
5. Empréstimo Compulsório para atender a despesas extraordinárias
decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; (art. 148, I
da CF)
6. Impostos Extraordinários de Guerra; (art. 154, II da CF)
Além das exceções plasmadas no art. 150, I da Constituição Federal, temos
outras três exceções esparsas no texto constitucional, a saber:
A prevista no artigo 195, § 6º da Constituição Federal:
1. Contribuições de seguridade social, incluídas a contribuição para o
PIS/PASEP e a CONFINS. (art. 195 da CF)
A prevista no artigo 177, § 4°, I “b” da Constituição Federal:
2. Contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às atividades
de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus
derivados e álcool combustível - CIDE, no caso de redução ou restabelecimento de
sua alíquota por ato do Poder Executivo;
A prevista no artigo 155, § 4º, IV, “c” da Constituição Federal:
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3. Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação – ICMS, incidente em etapa única sobre combustíveis e lubrificantes,
no caso de redução e restabelecimento da alíquota mediante convênios de ICMS,
celebrados no âmbito do CONFAZ.
Das nove exceções apresentadas, as oito primeiras estão incluídas na
Competência da União, sendo que a última está a tratar de imposto de competência
estadual. Destas oito de competência da União verificamos que dos impostos deste
ente político apenas o IR, ITR e o IGF são os que não constam nesta lista.
Outrossim, no que pertine às duas últimas (CIDE e ICMS), a
excepcionalidade está apenas na redução e restabelecimento da alíquota. Desta
forma, a exceção ao princípio da anterioridade não está autorizando que se
ultrapasse o teto da alíquota fixada anteriormente à redução, razão pela qual se fala
em restabelecimento e não em aumento de alíquota.
3. CONCLUSÃO
Conhecendo melhor estes princípios, podemos compreender que o princípio
da legalidade traz ao particular a liberdade para se fazer tudo que não esteja fora da
lei e para a Administração Pública a obrigação de fazer apenas o que está na lei. O
princípio da legalidade diz que não se pode aumentar um tributo sem lei específica,
seja ela ordinária ou complementar.
O princípio da anterioridade diz que não se pode aumentar um tributo no
mesmo ano do exercício e que quando for ocorrer um aumento, o mesmo deve ter
sua lei criada em ano anterior à sua aplicação como forma de previsibilidade para
que possa proteger o contribuinte de surpresas e incertezas com relação às
contribuições e impostos.
4. SEMELHANÇAS E DISTINÇÕES ENTRE TAXAS E TARIFAS
Taxas e tarifas são prestações pecuniárias que arrecadam valores aos
cofres estatais, face os serviços públicos prestados. Ocorre que taxa é tributo, nasce
por meio de lei, é compulsória e possui caráter de essencialidade; por outro lado,
tarifa não é tributo, nasce por meio de um contrato e é voluntária (observe que não é
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compulsória e sim voluntária, pois permite a voluntariedade ao interessado, não
sendo impostas conseqüências fiscais caso não haja opção pelo contrato que lhe
faria pagar tal gravame), não possui caráter de essencialidade.
O resumo comparativo abaixo foi elaborado com base no artigo de Leonardo
Avelino Duarte, publicado no Portal Educação em 15/04/2013
(http://www.portaleducacao.com.br/direito/artigos/43852/diferencas-constitucionais-
entre-as-taxas-tarifas-e-precos).
Comparativo : Taxas e Tarifas
Taxa Tarifa
Objeto Exercício do poder de polícia ou a
utilização de serviços públicos
específicos e divisíveis. Art. 145, II,
CF.
Serviços públicos explorados
por concessionários. Art.
175, parágrafo único, III, CF.
Obrigatoriedade Existente por se tratar de tributo não
sendo voluntária e/ou facultativa. A
contraprestação pelo serviço é devida
independentemente da vontade do
contribuinte. Art. 145, II, CF
Inexistente. Fica obrigado a
pagar somente aquele que
opta pelo serviço.
Finalidade
Lucrativa
Não há. A prestação pecuniária existe
apenas para cobrir os custos da
atividade.
Existente como o principal
interesse do particular em
explorar uma atividade
pública.
Natureza
jurídica
Tributo Preço público
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Referências bibliográficas
OLIVEIRA, Alexandre Machado. Princípios da Legalidade e Anterioridade no Direito
Tributário - Acessado em 25 de Novembro de 2014 às 15:38 horas
http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7864.
http://www.portaleducacao.com.br/direito/artigos/43852/diferencas-constitucionais-
entre-as-taxas-tarifas-e-precos - Acessado em 25 de Novembro de 2014 às 21:52
horas.