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Legislação Penal Especial

LEGISLAÇÃO ESPECIAL PENAL APLICADA À POLÍCIA FEDERAL

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Legislação Penal Especial

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Legislação Penal Especial - 5ª edição / Obra orga-nizada pelo Instituto IOB - São Paulo: Editora IOB, 2013.

ISBN 978-85-8079-040-5

Informamos que é de inteira responsabilidade do autor a emissão

dos conceitos.Nenhuma parte desta publicação

poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Instituto IOB.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº

9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.

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Sumário

Capítulo 1 – Lei de Drogas, 111. Princípios Penais e Processuais Penais: Princípio da

Insignificância, 112. Princípio da Proporcionalidade, 123. Princípio da Legalidade e Norma Penal em Branco, 134. Princípio da Eficiência e Repressão ao Tráfico de Drogas, 145. Conceito de Droga, 156. Art. 28, 167. Natureza Jurídica do Art. 28, 178. Sanções, 179. Aspectos Constitucionais, 1810. Art. 33, 2011. Associação para o Tráfico, 2112. Tráfico Privilegiado, 2213. Inquérito Policial, 2314. Instrumentos Específicos de Investigação, 2415. Rito Especial, 2516. Prisão e Liberdade Provisória, 26

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Capítulo 2 – Lei dos Crimes Hediondos, 281. Contexto Histórico e Análise Crítica sobre a Lei dos Crimes

Hediondos, 282. Lei dos Crimes Hediondos – Aspectos Constitucionais, 293. Sistemas para Aferição dos Crimes Hediondos, 304. Rol dos Crimes Hediondos, 315. Crimes Equiparados aos Hediondos – Terrorismo e Tortura, 326. Crimes Equiparados aos Hediondos – Tráfico de Drogas, 337. Consumação, Tentativa e os Crimes Hediondos, 348. Vedações Constitucionais, 359. Liberdade Provisória – Lei dos Crimes Hediondos e Lei de

Drogas, 3610. Regime de Cumprimento de Pena, 3711 Prisão Temporária, Delação Premiada e Associação Criminosa, 38

Capítulo 3 – Organizações Criminosas, 401. Crime Organizado – Introdução, 402. Conceito de Organização Criminosa, 413. Tipo Penal Próprio, 424. Organização Criminosa, Associação Criminosa e Milícia Privada, 435. Investigação e Meios de Obtenção da Prova, 446. Colaboração Premiada, 457. Lei da Ficha Limpa e Jecrim, 46

Capítulo 4 – Identificação Criminal – Lei nº 12.037/09, 481. Identificação Civil, 482. Situações Excepcionais à Identificação Civil, 493. Identificação Criminal, 504. Identificação Criminal – Perfil Genético, 51

Capítulo 5 – Estatuto do Desarmamento – Lei nº 10.826/03, 531. Estatuto do Desarmamento – Órgãos, Requisitos e Registro, 532. Estatuto do Desarmamento – Porte e Atribuição para Expedição, 553. Estatuto do Desarmamento – Prazos e Ação Penal, 574. Estatuto do Desarmamento – Arma Desmuniciada, Arma

Defeituosa, Arma Desmontada e Arma de Brinquedo, 605. Estatuto do Desarmamento – Porte Ilegal de Munição e Posse

Irregular de Arma de Fogo de Uso Permitido, 616. Estatuto do Desarmamento – Omissão de Cautela e Omissão de

Informação, 637. Estatuto do Desarmamento – Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso

Permitido, 648. Estatuto do Desarmamento – Disparo de Arma de Fogo e

Acionamento de Munição, 65

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9. Estatuto do Desarmamento – Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Restrito, 66

10. Estatuto do Desarmamento – Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Restrito – Parte II, 68

11. Estatuto do Desarmamento – Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Restrito – Parte III, 69

12. Comércio Ilegal de Arma de Fogo, 7013. Tráfico Internacional de Arma de Fogo – Parte I, 7214. Tráfico Internacional de Arma de Fogo – Parte II, 74

Capítulo 6 – Tortura – Lei nº 9.455/97, 771. Introdução e Antecedente Legislativo, 772. Doutrina, Competência, Ação Penal e Bem Jurídico Tutelado, 783. Tortura-constrangimento e Tortura-prova, 794. Princípio da Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios

Ilícitos. Tortura-crime. Tortura Racial, 815. Tortura-castigo, 826. Omissão Perante a Tortura e a Consequente Responsabilidade do

Omitente, 837. Diferença entre a Tortura Qualificada

pela Morte e o Homicídio Qualificado pela Tortura, 848. Majorantes e Causas de Aumento de Pena, 869. Interdição do Exercício de Cargo, Função ou Emprego Público, 8710. Vedação de Benefícios e Cumprimento de Pena, 8911. Extraterritorialidade, 91

Capítulo 7 – Abuso de Autoridade – Lei nº 4.898/65, 931. Abuso de Autoridade – Introdução, 932. Abuso de Autoridade – Crimes em Espécie, 943. Abuso de Autoridade – Art. 3º da Lei nº 4.898/65 – Parte I, 964. Abuso de Autoridade – Art. 3º da Lei nº 4.898/65 – Parte II, 975. Abuso de Autoridade – Art. 4º da Lei nº 4.898/65, 996. Abuso de Autoridade – Sanções, 1007. Abuso de Autoridade – Considerações Finais, 101

Capítulo 8 – Violação de Direito Autoral de Computador (Lei nº 9.609/98), 103

1. Violação de Direito Autoral – Programa de Computador (Lei nº 9.609/98) – Parte I, 103

2. Violação de Direito Autoral – Programa de Computador (Lei nº 9.609/98) – Parte II, 105

Capítulo 9 – Portador de Deficiência (Lei nº 7.853/89), 1071. Pessoas Portadoras de Deficiência, sua Integração Social – Lei nº

7.853/89 – Parte I, 107

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2. Pessoas Portadoras de Deficiência, sua Integração Social – Lei nº 7.853/89 – Parte II, 110

Capítulo 10 – Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/73), 1121. Estatuto do Índio – Lei nº 6.001/73 – Parte I, 1122. Estatuto do Índio – Lei nº 6.001/73 – Parte II, 115

Capítulo 11 – Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), 1171. Lei nº 11.340/06 – Lei Maria da Penha – Mecanismos de Coibição

e Direitos Fundamentais, 1172. Lei Maria da Penha – Procedimento e Medidas de Urgência, 1193. Lei Maria da Penha – Ação Penal e Aspectos Relevantes, 1214. Lei Maria da Penha – Noções Gerais, 1225. Lei Maria da Penha – Evolução Jurisprudencial, 123

Capítulo 12 – Genocídio (Lei nº 2.889/56), 1251. Lei nº 2.889/56 – Lei de Genocídio – Competência, Elementos e

Características, 1252. Genocídio – Lei nº 2.889/56, 127

Capítulo 13 – Racismo, 1291. Racismo – Lei nº 7.716/89, 1292. Racismo – Crimes em Espécie Previstos na Lei nº 7.716/89, 1303. Aspectos Finais, 132

Capítulo 14 – Lei dos Agrotóxicos – Lei nº 7.802/89, 1341. Lei dos Agrotóxicos, 134

Capítulo 15 – Lei das Contravenções Penais – Decreto-lei nº 3.688/41, 1371. Lei das Contravenções Penais – Introdução, 1372. Estudo Comparativo – Código Penal e Lei de Contravenções

Penais, 1383. Efeitos da Condenação, Medida de Segurança e Ação Penal, 1404. Reincidência, 1415. Parte Especial – Arma Branca, 1426. Das Contravenções Referentes à Pessoa, 1437. Das Contravenções Referentes ao Patrimônio, 1448. Das Contravenções Referentes à Incolumidade Pública – Parte I, 1469. Das Contravenções Referentes à Incolumidade Pública – Parte II, 14710. Das Contravenções Referentes à Paz Pública, 14911. Das Contravenções Referentes à Fé Pública, 15012. Das Contravenções Relativas à Organização do Trabalho e das

Contravenções Relativas à Polícia de Costumes, 15213. Dos Jogos de Azar, 15314. Vadiagem, Mendicância e Outras Contravenções, 154

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Capítulo 16 – Crimes contra a Ordem Tributária – Lei nº 8.137/90, 1571. Crimes contra a Ordem Tributária – Introdução, Competência, 1572. Extinção de Punibilidade na Sonegação Fiscal e Crimes

Praticados por Particulares, 1593. Art. 1º, I, II, III e IV, 1624. Crimes Praticados por Funcionários Públicos e Crimes contra a

Ordem Econômica, 1645. Conflito de Normas, 165

Capítulo 17 – Crimes contra a Ordem Econômica, 1671. Lavagem de Capitais, 1672. Lei nº 9.613/98 – Art. 2º, 1703. Lavagem de Dinheiro – Art. 4º e Questões, 172

Capítulo 18 – Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – Lei nº 7.492/86, 175

1. Aspectos Gerais da Lei nº 7.492/86, 1752. Conceito de Instituição Financeira, 1763. Dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, 1774. Dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – Parte II, 1785. Do Aspecto Procedimental, 180

Capítulo 19 – Crimes da Lei de Licitações – Lei nº 8.666/93, 1831. Crimes de Licitação – Parte I, 1832. Crimes de Licitação – Parte II, 1853. Crimes de Licitação – Parte III, 188

Capítulo 20 – Crimes Falimentares – Lei nº 11.101/05, 1911. Crimes Falimentares – Parte I, 1912. Crimes Falimentares – Parte II, 1933. Crimes Falimentares – Parte III, 1964. Crimes Falimentares – Parte IV, 198

Capítulo 21 – Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98, 2021. Crimes Ambientais – Introdução, 2022. Crimes Ambientais – Aplicação das Penas, Prestação de Serviço e

Recolhimento Domiciliar, 2053. Crimes Ambientais – Agravantes, Sursis e Formação de Título

Executivo, 2084. Crimes Ambientais – Ação Penal e Laudo de Reparação, 2105. Crimes Ambientais – Delitos contra a Fauna, 2136. Crimes Ambientais – Diferenciação entre Animais, 2157. Crimes Ambientais – Pesca, 2188. Crimes Ambientais – Delitos contra a Flora, 221

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9. Crimes contra Florestas, Vegetação, Logradouro Público e Propriedade Privada, 223

10. Crimes contra Pesquisa, Lavra e Extração e Recursos Materiais, 22611. Crimes Ligados a Poluição, Lesão Corporal, 22812. Crimes contra Ordenamento Urbano, Patrimônio Cultural,

Administração Ambiental e Poder Público, 231

Capítulo 22 – Interceptação de Comunicações Telefônicas (Lei nº 9.296/96), 236

1. Interceptação de Comunicações Telefônicas – Introdução, 2362. Requisitos das Interceptações Telefônicas e Prazos, 2373. Procedimentos e Sigilo das Interceptações Telefônicas, 2384. Considerações Finais, 239

Capítulo 23 – Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), 2411. Considerações Iniciais e Princípios, 2412. Comissão Técnica de Classificação e Prisão Especial, 2423. Direitos Políticos do Preso e Assistência ao Egresso, 2444. Trabalho do Preso, 2445. Disciplina dos Presos, 2456. Benefícios do Preso, 2477. Monitoração Eletrônica, 2488. Órgãos da Execução Penal, 2499. Estabelecimentos Penais, 25010. Regimes de Cumprimento de Pena, 25111. Permissão e Autorização de Saída, 25212. Livramento Condicional, 254

Capítulo 24 – Lei de Crimes contra o Consumidor (Lei nº 8.078/90), 256

1. Crimes contra o Consumidor, 2562. Crimes de Propaganda e Publicidade Enganosas, 2573. Crimes Praticados contra o Consumidor – Parte I, 2584. Crimes Praticados contra o Consumidor – Parte II, 259

Capítulo 25 – Juizado Especial Criminal (Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001), 262

1. Juizado Especial Criminal – Parte I, 2622. Juizado Especial Criminal – Parte II, 2643. Juizado Especial Criminal – Parte III, 2654. Juizado Especial Criminal – Parte IV, 2665. Juizado Especial Criminal – Parte V, 2686. Juizado Especial Criminal – Parte VI, 2697. Juizado Especial Criminal – Parte VII, 271

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8. Juizado Especial Criminal – Parte VIII, 2729. Juizado Especial Criminal – Parte IX, 27310. Juizado Especial Criminal – Parte X, 27511. Juizado Especial Criminal – Parte XI, 27712. Juizado Especial Criminal – Parte XII, 27813. Juizado Especial Criminal – Parte XIII, 27914. Juizado Especial Criminal – Parte XIV, 28115. Juizado Especial Criminal – Parte XV, 28216. Juizado Especial Criminal – Parte XVI, 28417. Juizado Especial Criminal – Parte XVII, 28618. Juizado Especial Criminal – Parte XVIII, 287

Capítulo 26 – Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas (Lei nº 9.807/99), 289

1. Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas – Parte I, 2892. Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas – Parte II, 2913. Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas – Parte III, 2924. Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas – Parte IV, 2945. Delação Premiada, 296

Capítulo 27 – Lei de Prisão Temporária (Lei nº 7.960/89), 2981. Lei nº 7.960/89 – Prisão Temporária – Introdução, 2982. Lei nº 7.960/89 – Prisão Temporária – Decretação e Direitos do

Preso, 2993. Lei nº 7.960/89 – Prisão Temporária – Inconstitucionalidade,

Constitucionalidade e Tortura, 301

Capítulo 28 – Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/2005) e Remoção de Órgãos (Lei nº 9.434/97), 303

1. Lei nº 11.105/2005 – Lei de Biossegurança, 3032. Lei nº 9.434/97 – Remoção de Órgãos – Introdução, 3053. Lei nº 9.434/97 – Remoção de Órgãos – Crimes em Espécie, 307

Capítulo 29 – Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), 3091. Introdução, 3092. Idade, Sursis, Prescrição, Precedentes e Sujeito Passivo, 3113. Obrigações da Sociedade e Prioridades, 313

Capítulo 30 – Lei de Trânsito (Lei nº 9.503/97), 3151. Lei de Trânsito – Considerações Iniciais e Conceitos, 3152. Adulteração de Sinal de Veículo Automotor, 3163. Disposições Gerais dos Crimes de Trânsito, 3174. Decisão Cautelar do Juiz, Reincidência e Multa Reparatória, 3185. Circunstâncias que Agravam as Penas e Fuga do Local do Crime, 319

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6. Crimes em Espécie – Arts. 302 a 305 do CTB, 3207. Crimes em Espécie – Arts. 306 e 307 do CTB, 3228. Crimes em Espécie – Arts. 308 a 312 do CTB, 323

Capítulo 31 – Estatuto da Igualdade Racial e Racismo, 3251. Estatuto da Igualdade Racial – Aspectos Introdutórios, 3252. Estatuto da Igualdade Racial – Políticas Públicas e Ações

Afirmativas, 3263. Tutela à Saúde da População Negra – Tutela do Patrimônio

Cultural, 3274. Aspecto Cultural da População Negra, 3295. Direito à Liberdade de Consciência e de Crença e ao Exercício de

Cultos Religiosos, 3306. Acesso à Terra e à Moradia, 3317. Direito ao Trabalho, 3328. Disposições Finais, 333

Gabarito, 335

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1. Princípios Penais e Processuais Penais: Princípio da Insignificância

1.1 Apresentação

Nesta unidade, será abordado o princípio da insignificância na denomi-nada Lei de Drogas.

1.2 Síntese

Temos como conceito de crime que se trata de um fato típico, ilícito e cul-pável, pela teoria tripartida do delito.

Para que haja um fato típico, faz-se necessário que exista uma conduta humana, um resultado, nexo causal entre a conduta e o resultado e, por fim, a tipicidade, a qual poderá ser formal ou material.

Capítulo 1

Lei de Drogas

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12Para que se entenda o princípio da insignificância, é preciso focar os estu-

dos na tipicidade material.O sujeito, quando nasce, é portador de bens e direitos, como a vida e a dig-

nidade sexual, por exemplo. Quando o direito identifica os bens da vida mais importantes, deverá protegê-los e, assim, este bem se torna um bem jurídico.

É preciso entender que, no âmbito da Lei de Drogas, o bem jurídico que deve ser protegido é a saúde pública.

Se o sujeito, por sua conduta, atinge o bem jurídico tutelado (saúde públi-ca), haverá tipicidade material. Se a conduta atingir o bem jurídico, mas de forma insignificante, não há justificativa para que se mova toda a estrutura do Poder Judiciário, sendo o fato atípico.

Recentemente, a Primeira Turma do STF (HC nº 110.475) reconheceu o princípio da insignificância no crime de porte de drogas para uso próprio.

Exercício

1. Cabe o princípio da insignificância na Lei de Drogas?

2. Princípio da Proporcionalidade

2.1 Apresentação

Nesta unidade, será abordado o princípio da proporcionalidade na deno-minada Lei de Drogas.

2.2 Síntese

O princípio da proporcionalidade e sua sistematização servem para explicar algumas situações jurídicas, dentre estas a questão da Lei de Drogas.

Quando se estuda o princípio da proporcionalidade, a primeira ideia que se tem é a de relações proporcionais, ou seja, é preciso que haja comparação para que se meça proporcionalidade.

Para a quantificação, é preciso que se meça a adequação, a necessidade e a chamada proporcionalidade em sentido estrito.

Para que se diga que uma medida jurídica é proporcional, deve-se observar se esta é a medida mais adequada.

Vislumbrada a questão da adequação, o próximo pilar é a questão da neces-sidade. Há casos em que a prisão preventiva é juridicamente adequada, porém,

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13o juiz pode entender pela falta de necessidade para tal. Assim, não havendo necessidade, esta prisão se torna desproporcional.

Os principais crimes da Lei de Drogas são: porte de drogas para uso próprio, disposto no art. 28, e tráfico de drogas, previsto no art. 33.

A proporcionalidade no Direito Penal tem um duplo viés. Se há o senti-mento mais humanitário em relação ao preso, proporcional é a pena que não seja excessiva. De outra forma, para o Ministério Público, deve ser observada uma pena que não seja irrisória.

É preciso observar que, em um caso concreto, o juiz pode declarar a in-constitucionalidade de um dispositivo, uma vez que o princípio da proporcio-nalidade está previsto na Constituição Federal.

Exercício

2. Em que consiste o princípio da proporcionalidade na Lei de Drogas?

3. Princípio da Legalidade e Norma Penal em Branco

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão abordados o princípio da legalidade e a norma pe-nal em branco na Lei de Drogas.

3.2 SínteseO conceito de droga está na Lei de Drogas, mas trata-se de um conceito

aberto. O parágrafo único do art. 1º da referida lei dispõe: “Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.”

No art. 66, a lei estabelece: “Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e ou-tras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.”

É possível observar que a Portaria nº 344, de 1998 não é uma lei aprovada pelo Poder Executivo. Tal Portaria consiste na lista que existe atualmente, in-formando quais são as drogas existentes.

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14Faz-se necessário entender que álcool é uma substância que causa depen-

dência, mas não está contido na lista.No conceito de droga, existe uma lei; porém, tal diploma não traz quais

são as drogas, tratando-se de uma norma penal em branco. Isso porque é a Portaria nº 344, de 1998 que traz o rol acerca de quais são as substâncias con-sideradas drogas.

Ainda, cumpre esclarecer que, caso o Poder Executivo tire uma substância do rol daquelas que são consideradas drogas, ocorrerá o fenômeno denomi-nado abolitio criminis. Assim, tudo o que aconteceu da data para trás deixou de ser crime.

Exercício

3. O fato de o conceito de drogas estarem em um ato do Poder Execu-tivo fere o princípio da legalidade penal?

4. Princípio da Eficiência e Repressão ao Tráfico de Drogas

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão abordados o princípio da eficiência e a repressão ao tráfico de drogas.

4.2 Síntese

Lei penal eficiente é uma lei penal que funcione. O Direito Penal tem san-ções e, por isso, é diferente dos outros ramos do Direito (ultima ratio).

A pena possui duas finalidades (macro): retributiva e preventiva. A preven-ção pode se dar de forma geral e especial. A prevenção geral seria um aviso a todos e a especial é direcionada a determinado sujeito.

A prevenção geral negativa seria no sentido de impedir que as pessoas co-metam crimes. De forma diversa, a prevenção positiva seria no sentido de rea-firmar a vigência da norma.

Em relação à eficiência da Lei de Drogas, é preciso observar que nenhuma lei penal é eficiente. Isso porque a lei penal é um mal necessário e atualmente prisão não significa castigo, mas sim recrutamento para o crime organizado.

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Exercício

4. A busca pela eficiência admite a relativização de garantias constitu-cionais?

5. Conceito de Droga

5.1 Apresentação

Nesta unidade, será abordado o conceito de droga, sendo trazidos aspec-tos importantes acerca deste assunto.

5.2 Síntese

O conceito objetivo e normativo de droga irá condicionar os limites da per-secução penal. Se droga é o objeto material dos crimes relacionados à droga, é preciso que se conheça a amplitude deste conceito.

Não se pode mais utilizar a palavra tóxico, pois em 1976 surgiu a Lei de Drogas anteriormente vigente e tal lei era conhecida como Lei de Tóxicos. Em 2006, tal lei foi revogada expressamente pela Lei de Drogas atual (Lei nº 11.343/06).

O conceito de droga, portanto, é uma substância ou produto que cause de-pendência. Ainda, o produto deve estar na Portaria SVS/MS nº 344, de 1998. Trata-se de um conceito de natureza objetiva.

Se surgir uma droga nova, o Ministério da Saúde não precisará esperar o Congresso aprovar uma lei para incluir esta droga no rol, bastando o Minis-tro da Saúde incluir, em um ato normativo, a nova substância. Dessa forma, nota-se que aparentemente foi proposital a utilização de norma penal em branco.

O que não é permitido, em hipótese alguma, é o Poder Judiciário alterar esse conceito. Isso é chamado pela doutrina constitucionalista de ativismo ju-dicial. Quem dá a última palavra se o ativismo judicial é constitucional ou não é o Supremo Tribunal Federal.

O conceito de drogas está previsto no parágrafo único do art. 1º e art. 66 da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas). Droga é a soma de uma substância ou pro-duto que cause dependência e que esteja na Portaria nº 344/98 do Ministério da Saúde.

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Exercício

5. O conceito de droga pode ser ampliado para receber novas subs-tâncias?

6. Art. 28

6.1 Apresentação

Nesta unidade, será abordado o art. 28 da Lei de Drogas, sendo trazidos aspectos importantes acerca deste assunto.

6.2 Síntese

O art. 28 da Lei de Drogas possui cinco verbos (condutas típicas), que in-serem a pessoa que praticou um dos verbos na tipificação deste artigo. É consi-derado um crime de menor potencial ofensivo e, por isso, a competência para julgamento é do Juizado Especial Criminal.

É preciso observar que usar droga não é crime. Para tal afirmativa, há ex-plicações.

A primeira é que no dispositivo aqui estudado há cinco condutas: adquirir, guardar, ter em depósito, transportar ou trazer consigo. É possível observar que o verbo usar não está previsto no art. 28 e, por isso, não é considerado crime. Na bioética, existe um princípio chamado de princípio da autonomia, ou seja, o sujeito tem autonomia para fazer o que quiser com o corpo, desde que não prejudique ninguém. Ainda, pelo princípio da alteridade, a conduta de alguém só será penalmente reprovável se prejudicar terceiros.

É preciso observar a diferença entre guardar e ter em depósito. Guardar é armazenar a droga para terceiros. De forma diversa, ter em depósito é ter a droga para uso próprio. Já transportar é levar, por um meio de transporte, a droga de um ponto para outro. Adquirir é buscar a droga por meio oneroso ou gratuito.

Se a quantidade da droga que a pessoa traz consigo for pequena, esta não poderá ser presa em flagrante. Desta forma, assinará termo circunstanciado e será apresentada imediatamente ao Juizado Especial Criminal.

Ressalte-se que, se ficar caracterizado que o trazer consigo não era para consumo pessoal, o sujeito é enquadrado no tráfico de drogas, sendo lavrado auto de prisão em flagrante. Faz-se necessário lembrar que o crime de tráfico de drogas é equiparado a crime hediondo.

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7. Natureza Jurídica do Art. 28

7.1 Apresentação

Nesta unidade, será abordada a natureza jurídica do art. 28 da Lei de Drogas, sendo trazidos aspectos importantes acerca deste assunto.

7.2 Síntese

O art. 28 da Lei de Drogas traz uma infração penal, mas há uma forte discussão doutrinária a respeito deste dispositivo. Nota-se que este artigo possui uma carga de reprovabilidade diferente dos demais crimes. Anali-sando-se formalmente, se trata de um crime, mas há diferenciação acerca das sanções.

A primeira sanção é a advertência sobre os malefícios da droga. A segunda é a prestação de serviços à comunidade, preferencialmente direcionados à re-cuperação de usuários. A terceira é a medida educativa de comparecimento a cursos e programas educativos.

Alguns doutrinadores entenderam que houve a descriminalização do porte para uso, porém, esta tese foi rechaçada pelo STF. A segunda tese trouxe que se trata de uma infração penal sui generis, ou seja, trata-se de um crime, mas sua pena é diferente. Tal tese também não emplacou. Outra tese fala a respeito da despenalização do art. 28, ou seja, houve uma substituição na carga repressiva prisional que existia na lei anterior.

É preciso observar que o fato de as sanções do art. 28 não caracterizar pena de reclusão, detenção ou prisão simples, não significa que não se trate de um crime. Ainda, sendo uma infração penal de menor potencial ofensivo, é uma infração penal.

8. Sanções

8.1 Apresentação

Nesta unidade, será abordada a nova realidade normativa para o delito de porte para uso, sendo estudadas agora as sanções.

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8.2 Síntese

O legislador optou por continuar sancionando criminalmente o porte de drogas para uso próprio, sendo as sanções escolhidas para a repressão a este crime. A pessoa não será presa, pois não há previsão de detenção, de reclusão e de prisão simples.

A primeira pena será a advertência sobre os malefícios que a droga causa ao organismo da pessoa. Tal advertência será feita pelo juiz.

A segunda pena é a prestação de serviços comunitários, preferencialmente voltados à recuperação de pessoas dependentes.

A terceira pena é o comparecimento a programas educativos. O sujeito é condenado a comparecer em um determinado local para assistir palestras sobre os malefícios das drogas. Trata-se de comparecimento obrigatório, sendo assi-nado termo de presença, que será juntado ao processo, computando ao final o cumprimento da pena e a extinção da punibilidade.

Ressalte-se que a lei dá balizas, que podem ir de cinco a dez meses.Se o sujeito faltar no programa educativo ou não prestar o serviço comu-

nitário, receberá uma admoestação verbal do juiz ou uma multa de quarenta a cem dias-multa, com base no valor do salário mínimo. Ainda, se o sujeito não pagar a multa, também não será preso, ou seja, independentemente de respeitar-se ou não a pena aplicada, o indivíduo nunca será preso.

Em relação à prescrição, trabalha-se com a prescrição de dois anos. Trata--se da prescrição de pretensão punitiva e da prescrição da pretensão executória. Assim, se o Estado, entre o recebimento da denúncia e a aplicação da pena demorar mais de dois anos, o crime está prescrito.

9. Aspectos Constitucionais

9.1 Apresentação

Nesta unidade, serão estudados os aspectos constitucionais dispostos na Lei de Drogas.

9.2 Síntese

O tráfico de drogas estava previsto no art. 12 da Lei de Tóxicos (Lei nº 6.368) e agora está previsto no art. 33 da nova Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06).

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19É preciso observar a planificação constitucional do tráfico de drogas. Sabe-

-se que há diferentes níveis de hierarquia de normas no mundo.Hans Kelsen desenvolveu a Teoria Pura do Direito. Sua grande contribui-

ção foi desenvolver uma teoria segundo a qual há uma hierarquia das normas, ou seja, existem normas que valem mais do que as outras.

Na pirâmide de Hans Kelsen, tem-se primeiramente a norma fundamental. Em seguida, se tem a Constituição da República, seguida das Leis Comple-mentares, depois das Leis Ordinárias e, por fim, as normas inferiores. Em regra, a Constituição da República vale mais do que a Lei Ordinária.

O art. 5º, inciso XLII da CRFB/1988 dispõe: “a lei considerará crimes ina-fiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes he-diondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.”

A Lei de Crimes Hediondos também define que o traficante não tem direi-to a indulto. Ressalte-se que tráfico de drogas é inafiançável, mas é prescritível.

Dispõe o art. 5º, inciso LI, da Constituição: “nenhum brasileiro será ex-traditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpe-centes e drogas afins, na forma da lei.” Nota-se que o brasileiro pode ser extra-ditado, se for naturalizado e se tiver envolvimento com tráfico ilícito de drogas.

A terceira menção diz respeito à competência da polícia federal. Traz o art. 144, § 1º: “A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: (...) II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o con-trabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência.”

Faz-se necessário entender que a polícia federal somente é competente para investigar o tráfico de drogas se este for transnacional, ou seja, se houver o envolvimento de pessoas de dois ou mais países.

Ainda, dispõe o art. 243 da CRFB/1988: “As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão ime-diatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de co-lonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.”

Exercício

6. Se a pessoa for flagrada carregando semente de planta de drogas, pratica tráfico?

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10. Art. 33

10.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o art. 33 da Lei de Drogas, sendo aborda-dos os aspectos mais relevantes acerca do dispositivo.

10.2 Síntese

Conforme visto anteriormente, como conceito de drogas tem-se que é subs-tância ou produto que cause dependência, e que esteja presente na Portaria nº 344 do Ministério da Saúde.

O tipo penal do art. 33 possui dezoito verbos. Dispõe o artigo referido: “Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratui-tamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regu-lamentar: Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.”

Em relação à questão do importar e exportar, por certo, não é um desem-baraço alfandegário e aduaneiro oficial. Tem-se aqui a competência da Justiça Federal.

Ainda, outra peculiaridade diz respeito aos verbos prescrever e ministrar. O crime próprio é aquele que só pode ser praticado por um determinado e específico grupo de pessoas. Quem tem legitimidade para prescrever drogas é o médico, devendo ser incluído aqui também o dentista. Na modalidade mi-nistrar, além do médico e do dentista, tem-se o farmacêutico. Ressalte-se que o balconista da farmácia, se receber como atribuição do farmacêutico ministrar droga, também entraria no rol de quem pode ministrar drogas.

Quanto aos verbos ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar e adquirir, estes são os verbos também do art. 28 da Lei de Drogas. Assim, são verbos de intersecção entre o art. 28 e o art. 33 da referida lei.

Se o dolo da pessoa é praticar esses verbos para consumo, enquadra-se no art. 28. Todavia, se o dolo da pessoa é praticar esses verbos, mas não para con-sumo pessoal, enquadra-se no art. 33.

Sendo a pena mínima de cinco anos e a pena máxima em abstrato de quin-ze anos, não há problema algum com a possibilidade de prisão preventiva, mesmo sendo réu primário. O art. 313, inciso I, do Código de Processo Penal veda a prisão preventiva, se a pena for igual a quatro anos no máximo e o réu

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21seja primário. É preciso observar que sempre se trabalha com a pena máxima em abstrato para saber se cabe ou não prisão preventiva.

Outro ponto importante diz respeito ao crime impossível. A Súmula nº 145 do STF estabelece: “Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.”

Se a venda provocada não é crime, já que a consumação pela venda é im-possível, ou seja, a pessoa vendeu porque foi estimulada a vender e não porque quis, é impossível que o crime se consume. Faz-se necessário observar aqui que a venda provocada não é crime, mas a pessoa pode ser enquadrada no verbo trazer consigo, já que este verbo estava consumado.

Trata-se de um tipo misto alternativo, ou seja, tanto faz se o agente praticou um ou mais verbos do tipo penal, pois a pena será a mesma.

No momento em que o juiz proferir a sentença (art. 68 do CP), leva-se em consideração a quantidade de droga, a conduta social e a personalidade do agente, aumentando-se a pena-base.

Exercício

7. A venda de droga provocada é crime?

11. Associação para o Tráfico

11.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a associação para o tráfico, prevista na Lei de Drogas.

11.2 Síntese

Quando se fala em associar-se para o tráfico não está se falando em tráfico. Há uma grande diferença entre associar-se e os dezoito verbos do art. 33 da Lei de Drogas.

O tráfico de drogas está previsto no art. 33 da lei aqui estudada e a asso-ciação para o tráfico está prevista no art. 35, portanto, são crimes autônomos. Nota-se que se associação para o tráfico não é tráfico, pode haver o crime de associação ao tráfico antes que o tráfico aconteça. É preciso observar que o ato de associação, antes mesmo do tráfico em si, já constitui crime.

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22Desta forma, se o sujeito associar-se a alguém para, no futuro, cometer o

tráfico e não praticar o tráfico, ainda assim responderá pelo crime de associação ao tráfico, pois este crime independe do tráfico.

Para se falar em crime de associação ao tráfico, é preciso de, no mínimo, duas pessoas. É preciso observar que ainda que uma dessas pessoas seja menor de idade o crime estará caracterizado. Se uma dessas pessoas sofrer doença mental, também está caracterizado o tráfico.

Nota-se que basta que apenas um dos indivíduos seja maior e capaz e tenha pleno discernimento do objetivo da associação, para que se caracterize o requi-sito subjetivo do crime de associação para o tráfico.

Outro relevante ponto é que o crime de associação para o tráfico não é equiparado a crime hediondo. São equiparados a hediondo apenas o tráfico, terrorismo e tortura. É possível observar que o risco para a saúde pública, no crime de associação para o tráfico é menor do que o crime de tráfico em si.

No art. 35 da Lei de Drogas, o verbo é associar-se, ou seja, o simples en-contro entre duas pessoas; contudo, o encontro entre as pessoas não pode ser acidental, ocasional.

O crime de associação para o tráfico não é equiparado a crime hediondo, uma vez que não está no rol dos delitos equiparados a hediondos.

É necessário observar, ainda, que se o agente, acidentalmente, resolve pra-ticar o tráfico de drogas com outra pessoa, não haverá associação para o tráfico, mas sim concurso de pessoas.

Por fim, é preciso entender que quem cometeu o crime de associação ao tráfico poderá progredir de regime com 1/6 da pena cumprida.

12. Tráfico Privilegiado

12.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o tráfico privilegiado, sendo abordados os pontos mais importantes sobre este tema.

12.2 SínteseO art. 33, § 4º da Lei de Drogas trata do tráfico privilegiado. Estabelece o

referido dispositivo: “Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.”

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23Trata-se de previsão legal que beneficia a pessoa condenada por tráfico de

drogas, por força de seu comportamento pessoal e qualidades subjetivas.Havia uma discussão sobre o trecho “vedada a conversão em penas restriti-

vas de direitos”. Ocorre que há uma decisão do STF (HC nº 97.256, STF), na qual foi declarada a inconstitucionalidade deste trecho. A razão jurídica para esta decisão é que esta expressão retirou do juiz a possibilidade de decisão nos casos concretos.

Sabe-se que o Senado deve fazer controle político da decisão, editando Re-solução. De tal forma, o Senado Federal riscou a expressão da lei por meio da Resolução nº 5.

Com isso, existe a possibilidade hoje no Brasil de o traficante condenado cumprir apenas uma pena restritiva de direitos, em determinados casos: se o réu for primário, tiver bons antecedentes, se não se dedicar às atividades crimi-nosas e se não integrar organização criminosa.

Uma crítica feita é no sentido de que é difícil provar na prática que a pessoa integre organização criminosa, sendo esta uma prova que precisa ser feita pela acusação. É possível provar por intermédio de testemunhas, tatuagens, prova documental, mas exige esforço descomunal da acusação.

13. Inquérito Policial

13.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o inquérito policial, sendo abordados os pontos mais importantes sobre este tema.

13.2 Síntese

Algumas leis penais especiais possuem momentos processuais que lhe diferenciam do Código de Processo Penal. No CPP, considera-se como rito comum o rito comum ordinário, sumário e sumariíssimo; contudo, há proce-dimentos especiais.

O art. 48 traz uma importante regra e estabelece em seu texto: “O procedi-mento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo dis-posto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.”

Tal dispositivo, em seus parágrafos, remete ao art. 28, ou seja, traz a compe-tência do Juizado Especial Criminal.

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24A primeira regra trazida pelo art. 49 diz respeito à Lei nº 9.807/99 (lei de

proteção às vítimas e testemunhas). Existe esta menção, pois referido diploma legal visa proteger a pessoa que denunciar um traficante de drogas.

Outro importante ponto é que, havendo a prisão em flagrante, o delegado comunicará o juiz e dará vista ao Ministério Público em vinte e quatro horas.

O primeiro laudo, realizado para saber se a substância é ou não droga, é chamado de laudo de constatação, servindo para analisar a natureza e a quanti-dade da droga (exemplo: 10 kg de cocaína). É preciso ressaltar que droga deve estar dentro da Portaria nº 344/98 do Ministério da Saúde.

Se o indiciado estiver preso, o inquérito policial será encerrado em trinta dias. Se o indiciado estiver solto, o inquérito policial será encerrado em no-venta dias. Encerrando-se o prazo, pode o delegado pedir ao juiz, devendo ser ouvido o Ministério Público, a prorrogação do prazo por igual período, nos termos do art. 51, parágrafo único.

Faz-se necessário entender que quando se fala em tráfico de drogas, fala-se em certa organização de quem a pratica e, por isso, a investigação é diferenciada.

O prazo da prisão temporária para os crimes hediondos e equiparados é de trinta dias, prorrogáveis por mais trinta, já que é uma investigação que necessita de apuração de maiores detalhes.

Observa-se que há três tipos de investigação: aquela feita pelo Promotor de Justiça diretamente, pelo Parlamentar investigando por meio de uma CPI e pelo delegado de polícia e sua equipe.

Exercício8. Como funciona a questão pericial na investigação preliminar?

14. Instrumentos Específicos de Investigação14.1 Apresentação

Nesta unidade, serão estudados os instrumentos específicos de investigação.

14.2 SínteseA Lei de Drogas cuida de todos os crimes referentes a esta lei, mas é possível

que para a prática do tráfico de drogas, por exemplo, seja constituída uma orga-nização criminosa. Assim, é preciso estudar também a lei que trata do assunto.

Os dois instrumentos específicos de investigação são a infiltração de agentes e a chamada não atuação que, pela doutrina, recebe o nome de ação controlada.

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25Infiltração de agentes ocorre quando um policial especializado, bem trei-

nado, finge ser um criminoso e passa a fazer parte de um bando ou quadrilha, praticando atos criminosos.

De acordo com o disposto na nova lei, somente poderá ocorrer a infiltra-ção de agentes caso haja indícios de organização criminosa. Ainda, a prova somente pode ser obtida desta forma. Nota-se que a infiltração é um método específico de investigação, contudo, é subsidiário.

O prazo máximo de duração da infiltração de agentes é seis meses, poden-do ser prorrogado, desde que seja justificado.

Em relação à não atuação, esta deve ocorrer em território brasileiro. No entanto, a nova Lei do Crime Organizado dispõe em seu art. 9º:

“Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a coope-ração das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou des-tino do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do crime.”

O art. 13 da Lei nº 12.850/13 estabelece: “O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade

com a finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados.”Dispõe o parágrafo único: “Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente

infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa.”Nota-se que aqui se está diante de uma causa legal de inexigibilidade de

conduta diversa.

Exercício

9. É considerado um método ilegal de investigação:a) Ação controlada.b) Infiltração de agentes.c) Interceptação telefônica.d) Tortura para liberar vítima de sequestro.

15. Rito Especial

15.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o rito especial previsto na Lei de Drogas.

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15.2 Síntese

Concluído o inquérito policial, este será encaminhado para o Ministério Público e terá o prazo de dez dias para pedir novas diligências, requerer o ar-quivamento ou oferecer a denúncia.

O juiz, ao invés de receber a denúncia, notifica o acusado na denúncia que, por sua vez, apresentará sua defesa prévia no prazo de dez dias. Se não apresentar a defesa prévia, o juiz nomeará um defensor público para fazê-lo, também em dez dias.

Depois de apresentada a defesa, o juiz decide em cinco dias, podendo pedir diligências. Aqui existe uma peculiaridade, pois no rito comum, concluído o inquérito policial, o Ministério Público oferece a denúncia e, na Lei de Dro-gas, notifica-se o acusado para que apresente defesa e o juiz decida se recebe ou não a denúncia.

Nota-se que, no rito comum, o juiz nem se oportunizará para a defesa a chance de haver a argumentação para o não recebimento da denúncia. Desta forma, a Lei de Drogas é mais favorável.

Ainda, a defesa prévia, prevista no art. 396 do Código de Processo Penal, não é a mesma utilizada na Lei de Drogas, podendo os argumentos ser os mesmos.

No rito especial da Lei de Drogas, busca-se o que está previsto no art. 397 do Código de Processo Penal, que é conhecida como absolvição sumária.

No rito especial da Lei de Drogas, se a argumentação não for aceita, o juiz receberá a denúncia e marcará a audiência de instrução e julgamento. No rito comum, se a argumentação não for aceita, o juiz marca a audiência de instru-ção e julgamento.

Outra especificidade da Lei de Drogas diz respeito ao interrogatório do acu-sado. A partir de 2008, o interrogatório deixou de ser um simples meio de prova (era o primeiro ato da instrução). Após a Lei nº 11.719/2008, o interrogatório tornou-se o último ato da audiência. No rito especial da Lei de Drogas, de 2006 a 2008, o interrogatório também era o primeiro ato da audiência e atualmente continua sendo o primeiro ato.

16. Prisão e Liberdade Provisória

16.1 Apresentação

Nesta unidade, serão estudadas a prisão e a liberdade provisória na Lei de Drogas.

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16.2 Síntese

A Lei de Drogas, em seu art. 44, veda a concessão de liberdade provisória para traficantes de drogas. Contudo, esta questão foi decidida pelo STF (HC nº 104.339, STF) e o Plenário concedeu a ordem de habeas corpus a um homem preso por tráfico de drogas para que este respondesse em liberdade. Assim, houve a declaração de inconstitucionalidade do art. 44 da Lei de Drogas, que proibia a liberdade provisória para traficantes.

A Lei nº 12.403/11 modificou a realidade das prisões no país. A alma desta lei traz as chamas medidas cautelares processuais penais. Tais medidas, para se-rem aplicadas, precisam da análise judicial de adequação, necessidade, propor-cionalidade e subsidiariedade. Quem analisa qual cautelar deve ser aplicada ao caso concreto é o juiz.

É preciso inferir que o STF entendeu que o legislador estava retirando do juiz sua atribuição de escolha da medida cautelar mais adequada e necessária e, assim, neste ponto, o art. 44 é inconstitucional. Desta forma, permite-se a concessão de liberdade provisória para traficantes de droga.

A liberdade provisória pode ser cumulada com outras medidas cautelares previstas nos arts. 319 e 320 do Código de Processo Penal.

Nota-se que o art. 44 da Lei de Drogas trazia um engessamento legislativo, impedindo a liberdade provisória e o STF derrubou a proibição legal. Assim, a partir deste momento, foi devolvida ao magistrado a possibilidade de utilizar a liberdade provisória com as novas cautelares.

Com a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, o pedido vai ao juiz, que deverá dizer qual a medida cautelar adequada e necessária. Ressalte--se que, em nome do princípio da presunção da inocência e do princípio da individualização da pena, houve essa importante decisão do STF.

Exercício

10. Cabe liberdade provisória para o traficante de drogas?

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1. Contexto Histórico e Análise Crítica sobre a Lei dos Crimes Hediondos

1.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita uma análise crítica acerca desta lei.

1.2 Síntese

A Lei dos Crimes Hediondos surgiu depois que determinada infração penal foi praticada. Ocorreu o sequestro de um empresário famoso, que causou uma comoção nacional forte. Assim, para responder àquele crime específico, o Con-gresso Nacional fez nascer a chamada Lei dos Crimes Hediondos.

Um tempo depois, ocorreu o homicídio da atriz Daniella Perez e, até aque-le momento, o homicídio qualificado não era hediondo.

Capítulo 2

Lei dos Crimes Hediondos

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29Em seguida, falsificação de medicamentos também entrou no rol dos cri-

mes considerados hediondos.A Lei dos Crimes Hediondos surgiu com uma série de restrições, o que hoje

está muito relativizado.Faz-se necessário observar que, quando a Lei dos Crimes Hediondos entrou

em vigor, trazia que o regime de cumprimento da pena de prisão seria integral-mente fechado.

Ainda, a prisão temporária que, em regra, dura cinco dias prorrogáveis por mais cinco, na Lei dos Crimes Hediondos, há previsão de trinta dias prorrogá-veis por mais trinta.

É preciso ressaltar que até os dias atuais não há conceito do que seja crime hediondo. No entanto, observa-se que ainda que não haja conceito de crime hediondo, a Lei nº 8.072/90 é aplicada.

Se no plano histórico esta lei surgiu com uma missão, no plano epistemo-lógico, nem todos são unânimes. Isso porque, em 1990, o Brasil possuía 90.000 pessoas presas. Hoje, o país tem 500.000 presos.

Em respeito aos princípios constitucionais, a Lei dos Crimes Hediondos foi, por exemplo, declarada inconstitucional para o regime integral fechado. Entendeu o STF que tal fato feria a individualização da pena, uma vez que não é o legislador que escolhe qual é a pena e o regime, mas sim o juiz.

2. Lei dos Crimes Hediondos – Aspectos Constitucionais

2.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita agora uma análise sobre os aspectos constitucionais.

2.2 Síntese

Existe uma expressão jurídica chamada “mandato expresso de criminaliza-ção”. A Constituição Federal traz em seu bojo a previsão de crimes hediondos.

O art. 5º, inciso XLIII, da Constituição da República Federativa do Brasil dispõe:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabili-dade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

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30(...)XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou

anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;”(...)

Sob o plano de vista de natureza jurídica, é preciso separar em dois grupos: crime hediondo de um lado e crimes equiparados de outro.

Os crimes hediondos estão previstos no art. 1º da Lei nº 8.072/90 e os cri-mes equiparados estão fora desta lei (Lei de Tortura, Lei de Drogas e o art. 20 da Lei de Segurança Nacional, que traz os atos de terrorismo).

Ressalta-se que respondem os mandantes, os executores e aqueles que, po-dendo evitar o crime, se omitirem.

Nota-se que a Carta Magna proíbe o direito à fiança, o direito à graça e também a anistia.

Fiança é uma medida cautelar de natureza pessoal consistente no recolhi-mento de um valor, durante a investigação ou processo, para que a pessoa possa responder ao processo em liberdade.

3. Sistemas para Aferição dos Crimes Hediondos

3.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita agora uma análise sobre o sistema adotado pelo Brasil em relação ao conceito de crimes hediondos.

3.2 Síntese

É preciso entender os sistemas para aferição dos crimes hediondos, ou seja, é preciso verificar qual sistema será utilizado para identificar um crime hediondo.

Há três sistemas possíveis. O primeiro é o sistema legal ou rígido, em que a própria lei enumera quais são os crimes hediondos.

O art. 1º da Lei dos Crimes Hediondos tem uma peculiaridade. Isso porque o rol apresentado é taxativo, ou seja, só é hediondo aquilo que está neste artigo. O tráfico de drogas, terrorismo e a tortura são crimes equiparados a hediondos. Assim, pelo critério legal ou rígido, o rol é taxativo.

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31O segundo sistema é o sistema judicial ou flexível. Aqui é o juiz que es-

colherá no caso concreto qual crime é hediondo e qual não é. Neste sentido, nota-se que neste sistema não há rol na lei, o juiz trabalha no caso concreto.

O terceiro sistema é o sistema misto ou híbrido. Aqui há um rol previsto na lei, porém, este rol é exemplificativo. Entretanto, nada impede que o juiz rotule algumas condutas como hediondas, ainda que não estejam no rol.

Por todo o observado, é possível perceber que o Brasil escolheu o sistema legal ou rígido.

O sistema legal traz segurança jurídica, sendo este um ponto positivo deste sistema.

4. Rol dos Crimes Hediondos

4.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita agora uma análise sobre o rol disposto no art. 1º da Lei nº 8.072/90.

4.2 Síntese

A Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90) traz em seu art. 1º o seguinte rol:

“Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consuma-dos ou tentados:

I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V);

II – latrocínio (art. 157, § 3º, in fine); III – extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); IV – extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e

§§ 1º, 2º e 3º); V – estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º);VI – estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º); VII – epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). VII-A – (VETADO) VII-B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto desti-

nado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998).”

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32Latrocínio é um crime contra o patrimônio e, portanto, não vai a júri popu-

lar. Tal crime ocorre quando a pessoa rouba e mata o sujeito. No âmbito dos crimes contra o patrimônio, há também o crime de extorsão

qualificada pela morte e a extorsão mediante sequestro e na forma qualificada.O estupro é um crime contra a dignidade sexual, tendo ocorrido mudanças.

Tal crime pode ser cometido por homem ou mulher e a vítima também pode ser homem ou mulher.

O crime de epidemia com resultado morte é aquele em que o sujeito, de forma dolosa, busca transmitir na sociedade um vírus, uma doença, algo pato-gênico.

O parágrafo único do referido dispositivo estabelece em sua redação: “Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio

previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956, tentado ou consumado.”

Genocídio é a prática de atos destinados a eliminar um grupo determinado de pessoas.

5. Crimes Equiparados aos Hediondos – Terrorismo e Tortura

5.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita agora uma análise acerca dos crimes equiparados aos hediondos.

5.2 Síntese

Em matéria de lei, o que havia acerca do terrorismo estava apenas no art. 20 da Lei de Segurança Nacional. Ainda assim, tal dispositivo não trazia com muita clareza o conceito de terrorismo, já que traz a seguinte redação:

“Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cár-cere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.

Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.”Por conta da omissão legislativa em informar o que seria ato de terroris-

mo, surgiu uma briga na doutrina. De um lado, o professor Antônio Scarance Fernandes defendeu que o terrorismo está previsto no Brasil no art. 20, acima

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33referido; de outro, Alberto Silva Franco entende que a lei somente diz atos de terrorismo, mas não traz quais são ou o que são, havendo desrespeito ao Prin-cípio da Taxatividade.

O crime de tortura no Brasil está na Lei nº 9.455/97, que traz em seu art. 1º a seguinte redação:

“Art. 1º Constitui crime de tortura:I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, cau-

sando-lhe sofrimento físico ou mental:a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de

terceira pessoa;b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;c) em razão de discriminação racial ou religiosa;II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego

de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena – reclusão, de dois a oito anos.”

6. Crimes Equiparados aos Hediondos – Tráfico de Drogas

6.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo ainda feita uma análise acerca dos crimes equiparados aos hediondos.

6.2 Síntese

Desde 2006 até os dias atuais, quando a Lei de Drogas surgiu em um con-texto repressor e hoje foi relativizada pela jurisprudência, há um abrandamento da situação do traficante. Neste abrandamento, analisa-se se o crime continua sendo hediondo.

O art. 44 da Lei nº 11.343/06 dispõe:“Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei

são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.”

Com o tempo, algumas destas proibições caíram. Atualmente, pode ocor-rer a conversão da pena de prisão em penas restritivas de direitos, bem como liberdade provisória.

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34Sursis é suspensão condicional da pena; o sujeito recebe uma pena privati-

va de liberdade de até dois anos de reclusão e o juiz suspende o cumprimento da pena para que sejam cumpridos alguns requisitos. Assim, sendo cumpridos os requisitos, a pena é extinta.

Indulto é um benefício de execução penal para os condenados, concedido pelo Poder Executivo.

O tráfico privilegiado de drogas traz uma situação em que a quantidade de drogas é pequena ou o sujeito é primário ou não integra nenhuma organização criminosa. Este indivíduo pode receber uma diminuição significativa de sua pena. Indaga-se se este crime continua sendo hediondo e sobre o assunto há duas correntes. A primeira entende que continua sendo hediondo, pois todo tráfico de drogas é equiparado a hediondo (corrente majoritária). A segunda corrente entende que todo delito privilegiado não pode ser hediondo. Desta forma, é possível observar que o privilégio não exclui a hediondez do delito.

O art. 35 da Lei de Drogas dispõe acerca da associação para o tráfico:“Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reite-

radamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecen-tos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.”

Nota-se que o simples fato de se associarem para cometimento do tráfico já constitui crime. Tal infração não constitui crime hediondo ou equiparado a hediondo, uma vez que associação para tráfico não é tráfico.

7. Consumação, Tentativa e os Crimes Hediondos

7.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita uma análise sobre consumação e tentativa.

7.2 Síntese

O art. 1º da Lei dos Crimes Hediondos traz que é hediondo o crime tentado ou consumado, trazendo em seguida o rol das infrações consideradas hediondas.

Existem os denominados bens da vida, como dignidade sexual, patrimônio, liberdade de ir e vir, direito a uma Administração Pública com moralidade, dentre outros.

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35Observa-se que é preciso que haja um bem da vida para que o Direito Penal

possa protegê-lo. Se a conduta atinge a esfera do bem jurídico, o crime está consumado.

Exemplo: o bem jurídico protegido no tráfico de drogas é a saúde pública. Na tentativa, também existe um bem jurídico protegido pelo Direito, mas

a conduta não atinge este bem jurídico por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Para que se verifique se cabe a tentativa, havendo uma conduta passível de fragmentação, é possível descobrir se o crime é tentado ou não. Exemplo: matar alguém. É possível fragmentar os atos executórios.

É possível observar que um crime que não admite a tentativa é dirigir embriagado.

8. Vedações Constitucionais

8.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita uma análise acerca das vedações constitucionais.

8.2 Síntese

De acordo com o texto constitucional, os crimes hediondos e equiparados são insuscetíveis de fiança.

A Lei nº 12.403/11, que trata da prisão cautelar e medidas cautelares, revo-lucionou o sistema de medidas cautelares, inclusive a fiança. Antes desta lei, quando a pessoa era presa em flagrante, seu advogado tentava conseguir liber-dade provisória em caso de flagrante formalmente em ordem. Se o flagrante fosse ilegal, o meio seria relaxamento do flagrante.

A liberdade provisória é uma medida cautelar, permitindo que o sujeito responda ao processo criminal em liberdade.

Antes da lei acima referida, a liberdade provisória era com ou sem fiança. Depois de vigente a lei, a liberdade provisória pode ser concedida com dez medidas cautelares, sendo a fiança apenas uma delas.

A Constituição Federal continua com sua redação no sentido de que não cabe fiança para crimes hediondos, mas acerca das outras cautelares não faz menção alguma. Assim, por respeito ao princípio da legalidade, têm cabimento as demais medidas cautelares diversas da fiança, como é o caso da monitoração eletrônica, por exemplo.

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36Quanto ao tráfico, o art. 44 da Lei de Drogas dispõe que tal crime é insus-

cetível de diversos benefícios, dentre estes a liberdade provisória. Desta forma, se o dispositivo traz que não cabe liberdade provisória para traficante, não cabe com ou sem medidas cautelares.

9. Liberdade Provisória – Lei dos Crimes Hediondos e Lei de Drogas

9.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita uma análise acerca da liberdade provisória na Lei dos Crimes Hediondos e na Lei de Drogas.

9.2 Síntese

A Lei dos Crimes Hediondos, em seu art. 2º, dispõe:“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entor-

pecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:I – anistia, graça e indulto;II – fiança.”Ressalta-se que entre 1990 e 2007 o inciso II trazia vedação à fiança e tam-

bém à liberdade provisória. A Lei nº 11.464/07 tirou a liberdade provisória do inciso II, sendo mantida somente vedação à fiança.

Parte da doutrina começou a questionar no sentido de que a vedação à liberdade provisória foi revogada por lei posterior, a Lei de Drogas. A Lei de Drogas proíbe a liberdade provisória em seu art. 44 para o crime de tráfico, porém, a Lei dos Crimes Hediondos somente fala em fiança.

Nota-se que aqui existiu um conflito aparente de normas, que deve ser re-solvido pelo Princípio da Especialidade.

Ocorre que o STF declarou inconstitucional a vedação à liberdade provisó-ria prevista no art. 44 da Lei de Drogas.

Assim, em tese, é cabível liberdade provisória para quem pratica crime he-diondo ou equiparado. Isso porque isso não significa que todos aqueles proces-sados ou investigados por crimes hediondos ou equiparados serão colocados na rua, responderão ao processo em liberdade. O que a lei e a jurisprudência nos informam é que isso foi deslocado do plano normativo para o plano juris-prudencial, ou seja, é o juiz quem vai determinar se cabe ou não liberdade provisória.

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37Quando uma pessoa é presa em flagrante, é formalizada esta prisão com

um documento denominado Auto de Prisão em Flagrante (APF). Depois de lavrado o Auto de Prisão em Flagrante, este deve ser remetido ao

juiz que, por sua vez, poderá tomar uma das três decisões. Poderá o juiz relaxar o flagrante se este se deu de forma ilegal; conceder liberdade provisória com ou sem uma das dez cautelares ou, ainda, converter a prisão em flagrante em prisão preventiva.

Para que se verifique se é cabível a prisão preventiva, é preciso que sejam analisados alguns artigos em conjunto, quais sejam, arts. 282, 312 e 313 do Código de Processo Penal.

É possível verificar que sem que estejam presentes os requisitos para que seja decretada a prisão preventiva, somente sobrará a liberdade provisória.

Ainda, é possível perceber que sendo a fiança uma medida cautelar incabí-vel, restam nove outras que podem ser aplicadas.

10. Regime de Cumprimento de Pena

10.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita uma análise acerca do regime de cumprimento de pena.

10.2 Síntese

Em 1990, surgiu a Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90). Ainda, em 1990, o regime de cumprimento de pena era integral fechado.

Tal situação perdurou até fevereiro de 2006, quando o STF declarou o regime integral fechado inconstitucional. Entendeu o STF que o regime não poderia ser integral fechado, pois no Código Penal há um sistema de progressão de regimes, bem como na Lei de Execução Penal. Nota-se que é preciso que seja observada a ressocialização do sujeito.

Assim, disse o Supremo ser inconstitucional a vedação em razão do Prin-cípio da Individualização da Pena, ou seja, cada um merece uma reprimenda diferente, bem como uma progressão própria.

Ocorre que a decisão foi proferida em HC e em se tratando de controle di-fuso de constitucionalidade somente vale para o sujeito que impetrou o habeas corpus. Entretanto, o STF fez algo denominado modulação dos efeitos, pois transformou um efeito inter partes em erga omnes.

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38Desta forma, a partir de fevereiro de 2006, não existia mais regime integral

fechado. Neste sentido, passou a valer a regra geral, ou seja, progressão de re-gime com 1/6 da pena.

Em 2007, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei nº 11.464/07, mo-dificando o patamar para progressão de regime. A partir deste ano, pôde haver progressão com 2/5 ou 3/5. Assim, ressalta-se que 1/6 é a regra geral. Para que o sujeito saia do regime fechado e vá ao semiaberto, é preciso que alguns requisi-tos sejam cumpridos, que são de ordem objetiva (2/5 e 3/5 da pena) e subjetiva (bom comportamento carcerário).

Ainda, é pacífico na jurisprudência que, em caso de violência e de crime hediondo, é possível que o juiz peça o laudo criminológico.

11 Prisão Temporária, Delação Premiada e Associação Criminosa

11.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei dos Crimes Hediondos, sendo feita uma análise acerca da prisão temporária, da delação premiada e da associação criminosa.

11.2 Síntese

Além da prisão em flagrante e prisão preventiva, existe uma terceira hipó-tese de prisão denominada prisão temporária. Tal modalidade ocorre quando na fase de investigação policial é preciso que o sujeito esteja preso para que se facilite a investigação.

Em regra, a prisão temporária, prevista pela Lei nº 7.960/89, dura cinco dias prorrogáveis por mais cinco. No entanto, para os crimes hediondos o prazo é de trinta dias prorrogáveis por mais trinta.

Em relação à delação premiada, esta se dá quando é entregue um prêmio a um dos membros de uma organização criminosa, por exemplo, para que este sujeito delate e desmantele o grupo.

A delação premiada da Lei dos Crimes Hediondos consiste em uma redu-ção de pena, que varia de 1/3 a 2/3.

Quanto aos requisitos para que se consiga a delação premiada, é necessário que a própria pessoa que praticou o crime hediondo ou equiparado ofereça voluntariamente essa ajuda. Ainda, é preciso que ocorra efetivamente o des-mantelamento daquele grupo.

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39O art. 8º da Lei dos Crimes Hediondos traz a seguinte redação:“Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do

Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.”

Ressalta-se que o concurso da Magistratura bem como o concurso do Mi-nistério Público dizem que esta delação somente se aplica para o crime de associação de quadrilha ou bando para prática de crimes hediondos.

O art. 9º da lei trazia uma causa de aumento de pena para as hipóteses das vítimas vulneráveis. Esta presunção de violência não existe mais, pois o art. 224 do Código Penal foi revogado pela Lei nº 12.015/09. Assim, esta revogação esvaziou o art. 9º da Lei dos Crimes Hediondos.

É preciso observar que não houve revogação do art. 224 do Código Penal de forma a deixar uma lacuna normativa, já que a mesma lei que revogou o dispo-sitivo criou um crime novo chamado estupro de vulnerável. Ainda, o legislador remeteu este novo artigo no rol da Lei dos Crimes Hediondos.

Exercício

11. De acordo com a Lei dos Crimes Hediondos, reformulada pela juris-prudência, é cabível:a) fiança;b) anistia;c) liberdade provisória;d) indulto.

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Capítulo 3

Organizações Criminosas

1. Crime Organizado – Introdução

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito das organizações criminosas, sendo feita aqui introdução acerca do tema.

1.2 Síntese

O primeiro diploma que se verifica sobre o crime organizado é a Lei nº 9.034/95, que hoje foi revogada.

Em 2004, o Decreto 5015 colocou dentro do sistema normativo uma con-venção internacional.

Uma corrente doutrinária entendeu que o conceito de organização crimino-sa presente na Convenção de Palermo poderia ser usada para suprir a omissão da Lei nº 9.034/95. Todavia, outra corrente entendia que não poderia ser usada.

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41O STF, quando dizia que não poderia ser utilizada, argumentava que seria

necessária uma lei federal para trazer o conceito de organização criminosa.Já o STJ sustentava no sentido de que seria possível, pois o Decreto teria

força de lei ordinária.Hoje, há dois conceitos de organização criminosa: um na Lei nº 12.694/12

e outro na Lei nº 12.850/13.A Lei nº 12.694/12 trouxe o conceito de organização criminosa, mas este

conceito está voltado exclusivamente para aplicação desta lei. Quando se tratar de procedimento, de ação penal para processar e julgar o

crime organizado e houver necessidade do colegiado composto por três juízes, utilizar-se-á o conceito desta lei (Lei nº 12.694/12).

Na Lei nº 12.850/13, além do conceito da criminalidade organizada, há outras situações que devem ser observadas.

2. Conceito de Organização Criminosa

2.1 Apresentação

Nesta unidade de estudo, será observado o conceito de organização criminosa.

2.2 Síntese

O art. 1º da Lei nº 12.850/13 dispõe:“Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação

criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o proce-dimento criminal a ser aplicado.”

O § 1º do referido artigo estabelece:“§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou

mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tare-fas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.”

Nota-se que na parte final do § 1º fala-se em pena superior a quatro anos. Desta forma, não entra aqui a pena igual a quatro anos, somente penas superiores.

Ainda, o político que integra organização criminosa fica impedido de parti-cipar de eleição, nos termos da Lei da Ficha Limpa.

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42O § 2º do art. 1º da lei aqui estudada dispõe:“§ 2º Esta Lei se aplica também:I – às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional

quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

II – às organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as nor-mas de direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território nacional.”

3. Tipo Penal Próprio

3.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a lei que trata das organizações criminosas, sendo abordado o tipo penal próprio.

3.2 Síntese

O art. 2º da Lei de Organizações Criminosas dispõe:“Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por

interposta pessoa, organização criminosa:Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas

correspondentes às demais infrações penais praticadas.”É preciso observar que quem financia pessoal ou indiretamente também

responde por este crime. Se um menor de idade integrar o grupo, computa-se sua participação para

que seja observado o número de integrantes. Neste sentido, a ausência de cul-pabilidade pela inimputabilidade não ajuda a organização criminosa como tese de defesa.

Estabelece o § 1º do referido artigo:“§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, em-

baraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.”Determina o § 2º:“§ 2º As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização

criminosa houver emprego de arma de fogo.”Já o § 3º tem a seguinte redação:“§ 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo,

da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução.”

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43Nota-se que aqui há uma agravante genérica e, portanto, quem determina

o quanto de aumento é o juiz.Outra causa de aumento de pena vem determinada no § 4º:“§ 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):I – se há participação de criança ou adolescente;II – se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização crimi-

nosa dessa condição para a prática de infração penal;III – se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em

parte, ao exterior;IV – se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações

criminosas independentes;V – se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da or-

ganização.”Dispõe o § 5º do mesmo artigo:“§ 5º Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra

organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual.”

Esclarece o § 6º:“§ 6º A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário pú-

blico a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequen-tes ao cumprimento da pena.”

Dispõe o § 7º:“§ 7º Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata

esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão.”

4. Organização Criminosa, Associação Criminosa e Milícia Privada

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão diferenciados os tipos penais: organização criminosa, associação criminosa e milícia privada.

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4.2 Síntese

A antiga quadrilha ou bando hoje possui a denominação associação crimi-nosa. Ainda, existem as milícias privadas e, por fim, as organizações criminosas, que são agora estudadas.

O art. 288 do Código Penal dispõe acerca do crime de associação cri-minosa:

“Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes:

Pena – reclusão, de um a três anos.”Já o dispositivo que trata da organização criminosa traz o número de pes-

soas de forma diferenciada, pois para este crime é preciso que haja quatro ou mais pessoas. Ainda, os verbos se dão de forma diferente, além da estrutura ordenada e divisão de tarefas.

A constituição de milícia privada traz os seguintes verbos: constituir, orga-nizar, integrar, manter e custear (organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código). A pena é reclusão de quatro a oito anos.

Se o verbo presente na denúncia do Ministério Público for custear, já se sabe que se trata do crime de milícia privada. No mesmo sentido, se trata deste crime quando o verbo for manter.

A organização paramilitar é uma organização que tenta tomar as vezes do Estado. Já a milícia particular não tem a mesma preocupação, mas atua impon-do sua vontade, vendendo segurança local. Grupo de extermínio é um grupo de pessoas que se unem para exterminar um determinado grupo de pessoas. Já no esquadrão da morte há um grupo de pessoas voltado para a prática de crimes dolosos contra a vida, mas sem uma vítima determinada.

5. Investigação e Meios de Obtenção da Prova

5.1 Apresentação

Nesta unidade, serão estudados os meios de prova e a investigação.

5.2 Síntese

O art. 3º da Lei nº 12.850/13 dispõe:“Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem pre-

juízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:

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45I – colaboração premiada;II – captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;III – ação controlada;IV – acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados

cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;

V – interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica;

VI – afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica;

VII – infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;

VIII – cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.”

Colaboração premiada significa um acordo feito entre polícia, promotor e um dos membros da organização criminosa para soltar vítimas, oferecer locali-zação de produtos de infração, enfim, colaborar, em troca de benefícios, como extinção da pena, por exemplo.

Ação controlada se dá quando o Estado age contra o crime organizado de forma controlada.

Quanto ao inciso VII, ressalta-se que agente infiltrado em organização cri-minosa pratica crime para que não descubram que ele é policial e, assim, dian-te desta excludente supralegal de culpabilidade, chamada inexigibilidade de conduta diversa, este sujeito pode praticar atos típicos e ilícitos.

Faz-se necessário observar que o rol de meios de obtenção de provas não é exaustivo.

6. Colaboração Premiada

6.1 Apresentação

Nesta unidade, será abordada a colaboração premiada.

6.2 Síntese

A Lei nº 12.850/13 traz outra denominação à delação premiada, qual seja, a colaboração premiada, mas a essência é a mesma. Na colaboração premiada, aquele que colabora com o Estado receberá um prêmio. Exemplo: identifica-ção dos demais coautores.

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46Quem entrega o prêmio é o magistrado e isso é feito em dois momentos. No

primeiro momento, quando é feito o acordo, o juiz homologa. Em um segundo momento de atuação, após o acordo formalizado, este começa a ser cumprido e depois de cumprido o juiz chancela aquele prêmio.

É preciso entender que o juiz não pode, de ofício, propor um acordo. Quem propõe, faz o requerimento, é o delegado ou o Promotor de Justiça.

O art. 4º da Lei nº 12.850/13 dispõe:“Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judi-

cial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamen-te com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

I – a identificação dos demais coautores e partícipes da organização crimi-nosa e das infrações penais por eles praticadas;

II – a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organi-zação criminosa;

III – a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organi-zação criminosa;

IV – a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;

V – a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.”É preciso observar que no Brasil quem premia é o magistrado, que o fará de

forma proporcional ao benefício trazido à investigação.

7. Lei da Ficha Limpa e Jecrim

7.1 Apresentação

Nesta unidade, de estudo serão abordadas duas questões polêmicas acer-ca das organizações criminosas.

7.2 Síntese

A denominada Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135 de 2010) trouxe alterações à Lei de Inelegibilidades.

Tal diploma dispõe que são inelegíveis aqueles que praticam alguns crimes, dentre os quais o de quadrilha ou bando. Contudo, sabe-se que quadrilha ou bando não mais possui tal denominação, já que hoje se tem a associação crimi-nosa, mas a organização criminosa possui um tipo penal autônomo.

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47Assim, pode ser colocada no rol da lei a organização criminosa, com o con-

ceito da nova lei. Desta forma, os agentes políticos detentores de mandato eleti-vo ou que queiram concorrer para ingresso na seara política deverão ter em sua folha de antecedentes a ausência total e completa da prática de alguns crimes.

Faz-se necessário observar que o mero fato de fazer parte de organização criminosa já torna o indivíduo inelegível, em caso de condenação. É preciso entender aqui que tal condenação não precisa ser definitiva e com trânsito em julgado.

A Lei nº 9.099/95 só trabalha com infrações penais até dois anos, no máxi-mo, de pena.

O art. 22 da Lei de Organizações Criminosas dispõe:“Art. 22. Os crimes previstos nesta Lei e as infrações penais conexas serão

apurados mediante procedimento ordinário previsto no Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), observado o disposto no parágrafo único deste artigo.”

Desta forma, nota-se que o dispositivo acima referido afasta o Juizado Es-pecial Criminal.

Ainda, estabelece o parágrafo único do artigo acima referido:“Parágrafo único. A instrução criminal deverá ser encerrada em prazo ra-

zoável, o qual não poderá exceder a 120 (cento e vinte) dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em até igual período, por decisão fundamentada, devidamente motivada pela complexidade da causa ou por fato procrastinató-rio atribuível ao réu.”

Exercício

12. A nova Lei das Organizações Criminosas pacificou um grave proble-ma relacionado a esse tema. O que esta nova lei fez que modificou a realidade normativa brasileira, resolvendo um problema?a) trouxe um conceito de organização criminosa;b) eliminou a ação controlada da Lei de Drogas;c) revogou a colaboração premiada daquelas sete leis;d) trouxe de volta o regime integral fechado da Lei dos Crimes

Hediondos.

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Capítulo 4

Identificação Criminal – Lei nº 12.037/09

1. Identificação Civil

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 12.037/09 (Identificação Criminal), sendo estudada aqui a identificação civil.

1.2 Síntese

A Lei nº 12.037/09 possui lastro constitucional, o que significa que as possi-bilidades previstas por esta lei têm roupagem no art. 5º, inciso LVIII, da Cons-tituição Federal de 1988.

Dispõe o art. 1º da Lei nº 12.037/09:“Art. 1º O civilmente identificado não será submetido a identificação cri-

minal, salvo nos casos previstos nesta Lei.”

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49Quem tem identidade civil, em regra, não será submetido à identificação

criminal, mas há exceções.A identidade civil é atestada por alguns documentos, como RG, CTPS,

carteira profissional (exemplo: OAB), passaporte, identificação funcional (fun-cionários públicos) e outro documento público que permita a identificação.

O parágrafo único do art. 2º estabelece:“Parágrafo único. Para as finalidades desta Lei, equiparam-se aos documen-

tos de identificação civis os documentos de identificação militares.”O que se está trabalhando aqui é a identificação civil, não se devendo con-

fundi-la com a identificação criminal.

2. Situações Excepcionais à Identificação Civil

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 12.037/09 (Identificação Criminal), sendo estudadas agora as situações excepcionais à identificação civil.

2.2 Síntese

A identificação criminal pode ser de três ordens: identificação dactiloscópi-ca, identificação fotográfica e identificação genética.

O art. 3º da Lei nº 12.037/09 dispõe:“Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer

identificação criminal quando:I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente

o indiciado;III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informa-

ções conflitantes entre si;IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segun-

do despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;

V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qua-lificações;

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50VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da

expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.”

Faz-se necessário ressaltar aqui que as hipóteses acima referidas são taxati-vas e não exemplificativas.

Neste sentido, qualquer tentativa de forçar uma identificação criminal fora dos casos expressos será uma atitude arbitrária e ilegal e, portanto, nula, conta-minando o restante do procedimento.

O parágrafo único do art. 3º dispõe:“Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser jun-

tadas aos autos do inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consi-deradas insuficientes para identificar o indiciado.”

3. Identificação Criminal

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 12.037/09 (Identificação Criminal), sendo estudados aspectos relevantes sobre o assunto.

3.2 Síntese

Dispõe o art. 5º da lei aqui estudada:“Art. 5º A identificação criminal incluirá o processo datiloscópico e o foto-

gráfico, que serão juntados aos autos da comunicação da prisão em flagrante, ou do inquérito policial ou outra forma de investigação.”

Seu parágrafo único traz a seguinte redação:“Parágrafo único. Na hipótese do inciso IV do art. 3º, a identificação cri-

minal poderá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético.”

O art. 4º traz a seguinte regra:“Art. 4º Quando houver necessidade de identificação criminal, a autori-

dade encarregada tomará as providências necessárias para evitar o constrangi-mento do identificado.”

A identificação criminal por meio da colheita de impressões digitais (identificação dactiloscópica) já é, por si só, um constrangimento, porém, evita-se maior constrangimento permitindo-se a limpeza dos dedos ao final do procedimento.

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51O art. 6º da Lei nº 12.037/09 dispõe:“Art. 6º É vedado mencionar a identificação criminal do indiciado em ates-

tados de antecedentes ou em informações não destinadas ao juízo criminal, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.”

Nota-se que há um marco temporal que divide a possibilidade de menção à identificação criminal e a impossibilidade.

O art. 7º estabelece:“Art. 7º No caso de não oferecimento da denúncia, ou sua rejeição, ou

absolvição, é facultado ao indiciado ou ao réu, após o arquivamento definitivo do inquérito, ou trânsito em julgado da sentença, requerer a retirada da identi-ficação fotográfica do inquérito ou processo, desde que apresente provas de sua identificação civil.”

A ressalva constante no dispositivo é a seguinte: o sujeito pode retirar a identificação fotográfica do inquérito ou processo, desde que apresente um documento de identificação civil.

4. Identificação Criminal – Perfil Genético

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 12.037/09 (Identificação Criminal), sendo estudado agora o perfil genético.

4.2 Síntese

A Lei nº 12.654/2012 incluiu dispositivos na lei aqui estudada (Lei nº 12.037/09).

Conforme dito anteriormente, há três formas de identificação criminal: fo-tográfica, datiloscópica e obtenção de perfil genético.

O parágrafo único do art. 5º da Lei nº 12.037/09 dispõe:“Parágrafo único. Na hipótese do inciso IV do art. 3º, a identificação cri-

minal poderá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético.”

O inciso IV do art. 3º dispõe que se for imprescindível para a investigação criminal, o juiz pode autorizar a identificação criminal.

O art. 5º-A estabelece:“Art. 5º-A. Os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser

armazenados em banco de dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal.”

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52Estabelece o § 1º do referido artigo:“§ 1º As informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis ge-

néticos não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero, consoante as normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos.”

O § 2º dispõe:“§ 2º Os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão

caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial.”

Há o § 3º traz em sua redação:“§ 3º As informações obtidas a partir da coincidência de perfis genéticos

deverão ser consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial devida-mente habilitado.”

O art. 7º-A dispõe:“Art. 7º-A. A exclusão dos perfis genéticos dos bancos de dados ocorrerá no

término do prazo estabelecido em lei para a prescrição do delito.”Como a lei foi silente, a prescrição aqui referida é qualquer das existentes,

uma vez que deve ser feita interpretação teleológica. O art. 7º-B estabelece: “Art. 7º-B. A identificação do perfil genético será armazenada em banco de

dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido pelo Poder Executivo.”

Exercício

13. São métodos de identificação criminal, exceto:a) fotografia;b) RG;c) impressão digital;d) DNA.

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Capítulo 5

Estatuto do Desarmamento – Lei nº 10.826/03

1. Estatuto do Desarmamento – Órgãos, Requisitos e Registro

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudados os órgãos, os requisitos e o registro.

1.2 Síntese

Desde 1995 o Brasil vem ratificando convenções que versam sobre a maté-ria e que em linhas gerais trazem recomendações de fortalecimento das legis-lações internas dos países signatários, a fim de tornar mais rígido o controle da aquisição, posse e porte de armas de fogo.

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54Há dois órgãos envolvidos no controle de armas de fogo, que atuam em

conjunto: o SINARM e o Sigma. SINARM é a sigla para Sistema Nacional de Armas e trata-se de um órgão

instituído pela revogada Lei nº 9.437/97. Tem por objetivo manter cadastro ge-ral e permanente das armas de fogo importadas, produzidas e vendidas no país de sua própria competência, bem como o controle de registro dessas armas.

Sigma significa Sistema de Gerenciamento Militar de Armas e tem por objetivo manter um cadastro geral, permanente e integrado das armas de fogo importadas, produzidas e vendidas no país de sua competência e das armas de fogo que constem dos registros próprios.

A relação de armas que deverão ser cadastradas no Sigma consta do Decre-to nº 5.123/04, em seu art. 1º, § 1º.

Para aquisição de arma de fogo é preciso que se cumpram os requisitos des-critos no art. 4º do Estatuto do Desarmamento e no art. 12 do Decreto acima mencionado.

Dispõe o art. 4º: “Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I – comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo cri-minal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; III – com-provação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei.”

Quanto ao registro, estabelece o art. 3º do Estatuto do Desarmamento: “É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente.”

Exercício

14. A transferência de propriedade de arma de fogo entre particulares, desde que cumpridas as formalidades legais, está sujeita à prévia autorização:a) Do Comando do Exército.b) Da Polícia Federal.c) Do Chefe do SINARM.d) Do Chefe do Sigma.e) Das autoridades das Polícias Civis dos Estados.

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2. Estatuto do Desarmamento – Porte e Atribuição para Expedição

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudados o porte e a atribuição para expedição.

2.2 SíntesePorte de arma de fogoA Lei nº 10.826/03, em seus arts. 6º, 7º e 8º, apresenta um rol de pessoas

que têm autorização legal para o porte da arma de fogo. Não se trata de um rol exaustivo, pois no texto do art. 6º consta a ressalva para os casos previstos em legislação própria, como é o caso dos magistrados e dos membros do Ministério Público, que têm direito ao porte assegurado no art. 33, V, da LC nº 35/79, e art. 42 da Lei nº 8.625/93, respectivamente.

É de se observar, entretanto, que os agentes públicos que têm porte funcio-nal não estão isentos de registrar a arma de fogo que pretendem portar. Nesse sentido, já decidiu o STJ: STJ, REsp nº 476.461, j. 19/08/2003.

Aliás, a Lei nº 12.694, do dia 24 de julho de 2012, acrescentou um inciso XI ao art. 6º do Estatuto. Assim, é proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para... diz o inciso XI: “os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da Constituição Federal e os Ministérios Públicos da União e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de seus quadros pessoais que efetivamente estejam no exercício de fun-ções de segurança, na forma de regulamento a ser emitido pelo Conselho Nacio-nal de Justiça (CNJ) e pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).”

Além dos autorizados pela própria Lei, permite-se, em caráter excepcio-nal, que o cidadão comum possa portar arma de fogo, desde que satisfeitos os requisitos legais e nos termos impostos pelo Estatuto do Desarmamento e seu Regulamento.

Atribuição para a expedição do porte de armaNos termos dos arts. 10 da Lei nº 10.826/03 e 22 e 46 do Decreto nº

5.123/04, o Porte de Arma de Fogo de uso permitido, vinculado ao prévio ca-dastro e registro da arma pelo Sinarm, será expedido pela Polícia Federal, em todo o território nacional. Assim, somente o Delegado de Polícia Federal tem atribuição para a expedição do porte de arma de uso permitido.

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56Compete, entretanto, ao Ministério da Justiça, nos termos do art. 9º da Lei

nº 10.826/03, a autorização do porte de arma para os responsáveis pela seguran-ça de cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil.

Requisitos para o porte ordinário (ou comum) – art. 10 da Lei nº 10.826/03 (são 3):

1) demonstrar a sua efetiva necessidade para exercício de atividade profis-sional de risco ou por ameaça à sua integridade física. Enquanto, para a aquisição da arma de fogo, o interessado deve apenas “declarar” sua efetiva necessidade, para o porte ele deve “demonstrar”;

2) atender às exigências previstas no art. 4º do Estatuto;3) apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como

seu devido registro no órgão competente.No § 1º art. 10 da Lei nº 10.826/03, consta que o porte de arma poderá ser

concedido com eficácia temporária e territorial limitada. Há uma imprecisão no dispositivo legal, pois a eficácia temporária será sempre limitada, uma vez que o porte de arma tem validade máxima de cinco anos, nos termos do art. 46 do Decreto nº 5.123/04.

Aqui andou mal o legislador ao determinar validade do porte superior à do registro.

A validade do registro tem prazo máximo de 3 anos. Assim, pode-se chegar à hipótese de se ter um porte de arma válido e um registro vencido, o que acaba por comprometer, também, o próprio porte.

Características do porte de arma de fogo – arts. 22 e seguintes do Decreto nº 5.123/04:

1) tem caráter excepcional; e2) é pessoal, intransferível e revogável a qualquer tempo, sendo válido ape-

nas com a apresentação do documento de identidade do portador.Hipóteses de suspensão do porte de arma – art. 25 do Regulamento:Não comunicação imediata de:I – mudança de domicílio, ao órgão expedidor do Porte de Arma de Fogo;II – extravio, furto ou roubo da arma de fogo, à Unidade Policial mais pró-

xima e, posteriormente, à Polícia Federal; eIII – se constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mu-

lher, nos termos da Lei Maria da Penha (art. 22, I, da Lei nº 11.340/06).Nesta última hipótese, encontrando-se o agressor doméstico nas condições

mencionadas no caput e incisos do art. 6º do Estatuto, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior ime-diato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso (§ 2º do art. 22 da Lei Maria da Penha).

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57Hipóteses de cassação do porte de arma – art. 26 do Regulamento:I – condução ostensiva da arma de fogo (§ 1º);II – adentrar ou permanecer armado em locais públicos, tais como igrejas,

escolas, estádios desportivos, clubes ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas, em virtude de eventos de qualquer natureza (§ 1º);

III – porte da arma em estado de embriaguez ou sob o efeito de drogas ou me-dicamentos que provoquem alteração do desempenho intelectual ou motor (§ 2º).

No art. 10, § 2º, do Estatuto consta que detenção ou abordagem do portador de arma de fogo em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas implica a perda automática da eficácia do porte. Embora a Lei refira que o porte perderá automaticamente a eficácia nas citadas hipóteses, temos que exigir, com toda a certeza, um procedimento administrativo.

Exercício

15. Ao Sinarm (Sistema Nacional de Armas) compete:I. cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no Brasil;II. informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de armas de fogo nos respectivos territórios;III. apreender armas de fogo ilegais, inclusive vinculadas a procedi-mentos policiais e judiciais.É correto o que consta em:a) I, apenas;b) II, apenas;c) III, apenas;d) I e II, apenas;e) I, II e III.

3. Estatuto do Desarmamento – Prazos e Ação Penal

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudados os prazos e a ação penal.

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3.2 Síntese

Iniciamos esta unidade de estudo verificando o prazo previsto no estatuto para a solicitação de registro das armas de fogo de uso permitido. De acordo com o art. 30 da Lei nº 10.826/03: “Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008 (...).”

É importante ressaltar que a Lei nº 11.922/09, no seu art. 20, ampliou o prazo para 31 de dezembro de 2009.

Assim, é considerada atípica a conduta relacionada ao crime de posse de arma de fogo, seja de uso permitido ou de uso restrito, incidindo a chamada abolitio criminis temporária nas duas hipóteses, se praticada no período com-preendido entre 23 de dezembro de 2003 a 23 de outubro de 2005. Até 23 de outubro de 2005 porque a Lei nº 11.191/05 assim o estabeleceu. Então, até 23 de outubro de 2005, haverá abolitio criminis indireta ou temporária se a posse é de arma de uso permitido ou restrito.

Posteriormente, a Lei nº 11.191/05 foi revogada pela Lei nº 11.706/08, que dá a atual redação aos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento. O art. 30 fala em um prazo até 31 de dezembro de 2008, com abolitio criminis alcançan-do somente as armas de uso permitido. Este prazo, no entanto, é prorrogado até 31 de dezembro de 2009, em face da citada Lei nº 11.922/09.

Abolitio criminis indireta ou temporária: posse de arma de fogo de uso per-mitido ou restrito: até 23/10/2005 (Lei nº 11.191/05); e posse de arma de fogo de uso permitido: até 31/12/2009 (Lei nº 11.922/09). Nesse sentido, há o julga-mento do STJ, HC nº 183.440, j. 25/10/2011.

Atualmente, existem algumas decisões ampliando este prazo indefinida-mente, já que foi editado um decreto, datado de 5 de maio de 2011, que re-gulamenta os arts. 31 e 32 do Estatuto. Tais julgados interpretam o decreto no sentido de atualmente inexistiria punição cabível para a posse de arma, seja de uso permitido (art. 12) seja de uso restrito (art. 16), já que se presume a boa-fé do agente que entrega o armamento.

A respeito do Decreto nº 7.473, de 5 de maio de 2011, é possível en-contrar algumas decisões dos TJ/RS, nesse sentido: Apelação Crime nº 70042978445, TJRS, j. 17/08/2011 e Apelação Crime nº 70046911780, TJRS, j. 09/02/2012.

Entretanto, há controvérsias a respeito dessas decisões, visto que uma coisa é entregar a arma espontaneamente na Polícia Federal, outra, bem diferente, é o flagrante de ter arma em casa ou no trabalho sem autorização.

O STJ já se pronunciou sobre o tema, e decidiu que o Decreto nº 7.473/11 não estendeu o prazo para a entrega de armas de uso permitido, e nem poderia

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59fazê-lo, uma vez que é de hierarquia inferior à lei que estabeleceu o menciona-do prazo. Veja julgamento do STJ do Habeas Corpus nº 226.239, j. 13/03/2012.

Quanto à natureza jurídica dos crimes de arma de fogo e assemelhados para a doutrina majoritária, os crimes do Estatuto do Desarmamento são crimes de perigo abstrato e coletivo. Afirma-se que um crime é de perigo abstrato quando não necessita de comprovação de que alguém foi efetivamente exposto a perigo de dano, o que é presumido pela Lei de forma absoluta, e de perigo coletivo (ou comum), tendo em vista o número indeterminado de pessoas que são ex-postas a esse perigo.

Há entendimento, em sentido contrário, de que, mesmo nos crime de pe-rigo, se exige, no mínimo, a ofensividade necessária à tipicidade do delito, não bastando a mera descrição típica, pois as normas penais, em um Estado De-mocrático de Direito, somente se legitimam quando perseguem o objetivo de assegurar ao cidadão uma coexistência pacífica e livre.

O bem jurídico tutelado, de forma imediata ou primária, é a incolumidade pública, segurança pública ou coletiva. Trata-se de proteção de bens coletivos ou supraindividuais. Secundariamente, estão todos os demais bens jurídicos que ficam ameaçados pela circulação da arma de fogo.

O sujeito passivo, em regra, é a coletividade (crime vago). Em alguns tipos penais, entretanto, pode-se ter pessoas determinadas como sujeito passivo se-cundário, como ocorre, por exemplo, no crime do art. 13.

Todos os crimes do Estatuto do Desarmamento são de Ação Penal Pública Incondicionada.

Há conceitos sobre algumas figuras trazidas pelo Estatuto que devem ser observados com atenção, como a definição legal de “arma de fogo” (art. 3º, XIII), definição de “Munição” (art. 3º, LXIV) e ainda a definição legal de “aces-sório de arma” – (art. 3º, II), do Decreto nº 3.665/2000.

Definição legal de “arma de fogo de uso permitido” (art. 10 do Regulamen-to) é aquela cuja utilização é autorizada a pessoas físicas, bem como às pessoas jurídicas, de acordo com as normas do Comando do Exército e nas condições previstas na Lei nº 10.826/03. A relação de armas, acessórios e munição de uso permitido está no art. 17 do Decreto nº 3.665/2000.

Enquanto a definição legal de “arma de fogo de uso restrito” (art. 11 do Regulamento) é aquela de uso exclusivo das Forças Armadas, de instituições de segurança pública e de pessoas físicas e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército, de acordo com legislação específica. O mesmo conceito é encontrado no art. 3º, XVIII, do Decreto nº 3.665/2000. A relação de armas, acessórios e munição de uso permitido está no art. 16 do referido Decreto.

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16. (TRT-SP, Técnico Judiciário, 2008) De acordo com a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, e alterações posteriores, é correto afir-mar que o Certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a:a) portar a arma de fogo na via pública nas proximidades de sua

residência ou domicílio.b) manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua resi-

dência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.

c) manter a arma de fogo exclusivamente no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabele-cimento ou empresa.

d) portar a arma de fogo na via pública nas proximidades de seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.

e) portar a arma de fogo nas proximidades de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.

4. Estatuto do Desarmamento – Arma Desmuniciada, Arma Defeituosa, Arma Desmontada e Arma de Brinquedo

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudadas a arma desmuniciada, a arma defeituosa, a arma desmontada e a arma de brinquedo.

4.2 SínteseHá duas posições: a) conduta típica: 1ª Turma do STF, HC nº 88.757, j.

06/09/2011; 5ª Turma do STJ, HC nº 213.915, j. 18/10/2011; b) conduta atí-

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61pica: 2ª Turma do STF (decisão mais antiga), HC nº 99.449, j. 25/08/2009; 6ª Turma do STJ, HC nº 124.907, j. 06/09/2011.

Arma defeituosa: se for absolutamente ineficaz para a produção de disparos (assim atestado pela perícia), haverá crime impossível, na forma do art. 17 do CP.

Arma desmontada: conforme doutrina majoritária, se puder ser montada haverá crime.

Arma de brinquedo: não há crime autônomo e nem aumenta a pena do roubo, estando cancelada a Súmula nº 174 do STJ.

Exercício

17. (TRF-3ª Região, Técnico Judiciário, 2007) Algumas equipes que competiram nas modalidades de tiro nos Jogos Panamericanos de 2007 trouxeram suas próprias armas de fogo. Neste caso, para a en-trada destas armas no país,a) será necessária autorização da Polícia Internacional (Interpol).b) basta a comunicação do Comitê Olímpico Internacional à Polí-

cia Federal.c) elas devem ser registradas no Sigma.d) será necessária autorização do Comando do Exército.e) será necessária uma autorização do órgão esportivo da Organiza-

ção das Nações Unidas e o registro da Federação Internacional de Tiro.

5. Estatuto do Desarmamento – Porte Ilegal de Munição e Posse Irregular de Arma de Fogo de Uso Permitido

5.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudados o porte ilegal de munição e a posse irregular de arma de fogo de uso permitido.

5.2 SínteseHá dois entendimentos sobre a tipificação de arma desmuniciada. Existe

uma tendência majoritária de se considerar atípica no STF e típica no STJ.

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62A arma defeituosa, em regra, configurará crime impossível e podendo ser

montada a arma que se encontra desmontada irá configurar crime.O Estatuto do Desarmamento, em evidente afronta ao princípio da propor-

cionalidade, comina pena idêntica para porte de arma de fogo e porte somente de munição.

O art. 12 do Estatuto do Desarmamento dispõe: “Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou de-pendência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.” Trata-se do crime em espécie denominado posse irregular de arma de fogo de uso permitido.

Ressalte-se que sendo um crime permanente, se admite a prisão em flagran-te a qualquer tempo. Ainda, quanto à tentativa, de acordo com alguns autores, esta é inadmissível, ou seja, ou o agente possui a arma de fogo ou não possui.

É preciso observar que estamos diante de uma norma penal em branco, uma vez que a expressão “em desacordo com determinação legal ou regula-mentar” denota necessidade de complementação do que vem a ser arma de uso permitido (Decreto nº 3.665/2000).

Exercício

18. Quanto aos requisitos para a aquisição de arma de fogo, conforme lei competente, analise: I – O interessado deve ter idade mínima de vinte e um anos, exceto para os cargos definidos em lei. II – O interessado deverá apresentar certidão negativa, fornecida na forma da lei competente, atestando que não está respondendo a in-quérito policial. III – O interessado deverá comprovar, conforme lei competente, sua capacitação técnica para o manuseio de arma de fogo, incluin-do comprovação do conhecimento acerca das normas de segurança pertinentes a arma de fogo. É correto o que consta em a) I e III, apenas. b) II e III, apenas. c) I, II e III. d) II, apenas. e) III, apenas.

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6. Estatuto do Desarmamento – Omissão de Cautela e Omissão de Informação

6.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudadas a omissão de cautela e a omissão de informação.

6.2 Síntese

O caput do art. 13 do Estatuto do Desarmamento dispõe: “Deixar de ob-servar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.” Trata-se da omissão de cautela.

Temos como objeto material apenas a arma de fogo, ou seja, a lei não fez qualquer menção a munição ou acessórios.

É preciso ressaltar aqui que a reprimenda será maior se a arma for de uso restrito.

Ainda, não há consenso na doutrina sobre a possibilidade de concurso en-tre os crimes do Estatuto. O que deve ser levado em consideração na solução do conflito é sempre o bem jurídico exposto ou agredido, devendo se optar pelo crime que mais lesionou o bem jurídico.

Tal dispositivo traz um crime culposo praticado por negligência, caracteri-zada pela inobservância de dever de cuidado objetivo. Para alguns, trata-se de um crime omissivo impróprio, uma vez que se consuma com o efetivo apode-ramento de arma pelo menor ou pelo deficiente.

A consumação ocorre com o efetivo apoderamento da arma pelo inimpu-tável, o que faz com que a tentativa seja inadmissível. Além disso, os crimes culposos não admitem tentativa.

O procedimento é o do Juizado Especial Criminal por se tratar de infração penal de menor potencial ofensivo, cabendo, inclusive, transação penal e sus-pensão condicional do processo.

O parágrafo único traz o crime de omissão de comunicação: “Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de co-

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64municar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.”

Exercício

19. Analise a afirmativa: O art. 28 da Lei nº 10.826/03 veda, em qualquer hipótese, ao menor de 25 anos, a aquisição de arma de fogo.

7. Estatuto do Desarmamento – Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Permitido

7.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudado o por-te irregular de arma de fogo de uso permitido.

7.2 SínteseO art. 14 do Estatuto do Desarmamento dispõe: “Portar, deter, adquirir,

fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

Tal dispositivo traz o porte ilegal de arma de fogo de uso permitido e nota-se que temos diversos verbos nucleares, treze ao todo.

O parágrafo único dispõe: “O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente.”

Quanto ao objeto jurídico, este é a incolumidade pública e o sujeito ativo é qualquer pessoa, inclusive o funcionário público.

Ainda, é preciso ressaltar que temos o dolo como elemento subjetivo, ou seja, não há previsão de culpa.

Os objetos materiais do crime são a arma de fogo, acessório e munição, sempre de uso permitido.

Atenção para a desproporcionalidade, uma vez que há penas idênticas para objetos com potencialidades lesivas diversas.

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65Havendo mais de uma conduta nuclear o crime será único. No mesmo sen-

tido, havendo apreensão de duas ou mais armas, o crime também será único, devendo a quantidade de verbos nucleares e a quantidade de armas apreendi-das serem levadas em consideração na dosimetria da pena.

Conforme estabelece o parágrafo único do art. 14, a fiança é possível, po-rém somente no caso de arma registrada em nome do agente. Ocorre que o Plenário do STF declarou a inconstitucionalidade deste parágrafo único.

Exercício

20. O porte de arma de fogo em todo o território nacional é permitido para a generalidade dos agentes abaixo, EXCETO: a) Quaisquer integrantes dos corpos de bombeiros militares. b) Os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art.

144 da Constituição Federal. c) Quaisquer integrantes da Receita Federal. d) Os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais

de 250.000 (duzentos e cinquenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço.

8. Estatuto do Desarmamento – Disparo de Arma de Fogo e Acionamento de Munição

8.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudados o disparo de arma de fogo e o acionamento de munição.

8.2 Síntese

O art. 15 do Estatuto do Desarmamento dispõe: “Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

Seu parágrafo único, que foi considerado inconstitucional, estabelece: “O crime previsto neste artigo é inafiançável.”

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66Nota-se que o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive funcionário

público.A tentativa é possível se não houver o disparo de arma de fogo ou aciona-

mento da munição por circunstâncias alheias à vontade do agente. Exemplo: Falha na munição.

O elemento subjetivo é o dolo, ou seja, no disparo acidental a conduta é tida como atípica.

Lugar habitado é aquele que possui moradores; adjacências são os locais próximos aos habitados. Se o local é ermo há duas posições: a primeira entende que não há crime e a segunda entende que há.

9. Estatuto do Desarmamento – Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Restrito

9.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudada a pos-se ou o porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.

9.2 Síntese

Concurso do disparo com o porte ilegal de arma de fogo: Discute-se em sede doutrinária se há concurso entre o disparo de arma de fogo e o porte ilegal, havendo três posições.

A primeira entende que sim, há concurso, uma vez que quando houve o disparo o porte já estava consumado.

A segunda entende que não, uma vez que o porte ilegal é um crime-meio para um crime-fim, que é o disparo.

A terceira entende que há concurso, desde que as condutas sejam temporal-mente diferenciadas e só coincidentes em um único momento.

O STJ já decidiu nesse sentido. Para aplicação do princípio da consunção, se pressupõe a existência de ilícitos penais que funcionam como fase de pre-paração ou de execução, ou como condutas anteriores ou posteriores de outro crime mais grave.

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67No caso concreto, a conduta de portar ilegalmente arma de fogo não pode

ser absorvida pelo crime de disparo de arma de fogo, porquanto os crimes foram consumados em contextos fáticos distintos (crimes autônomos), não incidindo, portanto, o princípio da consunção.

A lei não faz distinção em relação à arma utilizada para o disparo, se de uso permitido ou se de uso restrito ou proibido, mas o juiz deverá levar isso em consideração na dosagem da pena.

O art. 16 dispõe: “Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, em-pregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.” Nota-se que temos aqui catorze condutas distintas.

Exercício

21. Sobre os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03), é CORRETO afirmar: a) A novel legislação separa, em dois tipos distintos, a posse irregu-

lar de arma de fogo de uso permitido e a posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. A fim de verificar a classificação e a definição de armas de fogo, deve-se consultar a parte final da referida lei, eis que, em suas Disposições Gerais, consta o rol de armamentos restritos, permitidos e proibidos.

b) Aquele que deixa de observar as cautelas necessárias e permite que menor de 18 (dezoito) anos se apodere de arma de fogo de sua posse ou propriedade não pode ser punido, eis que os cri-mes previstos no Estatuto do Desarmamento só admitem o dolo como elemento subjetivo do tipo.

c) O disparo de arma de fogo em via pública, quando crime au-tônomo, é afiançável, inexistindo qualquer jurisprudência que admita liberdade provisória em tal delito.

d) A lei expressamente consagra a proibição de porte de arma de fogo em todo o território nacional, ressalvadas algumas hipó-teses específicas, como os integrantes das Forças Armadas e as empresas de segurança privada e de transporte de valores, os quais poderão portar armas de fogo, desde que obedecidos os requisitos legais e regulamentares.

e) N.R.A.

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10. Estatuto do Desarmamento – Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Restrito – Parte II

10.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo dada continuidade do estudo da posse ou do porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.

10.2 Síntese

O parágrafo único do art. 16 dispõe: “Nas mesmas penas incorre quem: I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuita-mente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescen-te; e VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.”

Trata-se de crimes assemelhados ao crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, apesar de não ser correta a nomenclatura “figuras equiparadas”, uma vez que são crimes autônomos com penas idênticas.

Necessário esclarecer que os tipos penais não se referem exclusivamente às armas, aos acessórios ou à munição de uso restrito ou proibido, abrangendo também os objetos de uso permitido, devendo o fato ser levado em considera-ção pelo juiz no momento da aplicação da pena.

Exercício

22. Y tem 22 anos e é vigilante de uma instituição bancária que faz trans-porte de valores. Nessa função, de acordo com a Lei nº 10.826/03, é permitido a Y:

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69a) portar arma municiada em serviço e fora dele.b) fazer o carregamento de arma de fogo em serviço.c) adquirir arma de fogo no comércio legal. d) ter arma de fogo em sua residência. e) ter munição em sua residência.

11. Estatuto do Desarmamento – Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Restrito – Parte III

11.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo dada continuidade do estudo da posse ou do porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.

11.2 Síntese

O inciso III do parágrafo único do art. 16 do Estatuto do Desarmamento dis-põe: “possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.”

Como conceito legal de explosivo, conforme dispõe o inciso LI do art. 3º do Decreto nº 3.665, de 2000, temos que: “explosivo: tipo de matéria que, quan-do iniciada, sofre decomposição muito rápida em produtos mais estáveis, com grande liberação de calor e desenvolvimento súbito de pressão.”

Artefato incendiário não apresenta conceito específico, integrando o conceito de agente químico de guerra: substância em qualquer estado físico (sólido, líquido, gasoso ou estados físicos intermediários), com propriedades físico-químicas que a torna própria para emprego militar e que apresenta pro-priedades químicas causadoras de efeitos, permanentes ou provisórios, letais ou danosos a seres humanos, animais, vegetais e materiais, bem como provocar efeitos fumígenos ou incendiários.

O elemento subjetivo aqui estudado é o dolo, uma vez que não há previsão da figura culposa.

O inciso IV do parágrafo único do art. 16 dispõe: “portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer ou-tro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado.”

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70É preciso ressaltar que aquele que adquire arma com numeração raspada

responde pelo crime previsto no art. 16, parágrafo único, inciso IV, do Esta-tuto do Desarmamento e não pelo art. 180 do CP em razão do princípio da especialidade.

É necessário lembrar que parte da doutrina entende que, em se tratando de arma de uso permitido, a conduta se amolda ao tipo penal do art. 14 do Estatuto do Desarmamento e não no dispositivo em análise, apesar de não ser este o entendimento do STF.

Exercício

23. Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisi-tos, EXCETO: a) Comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões

de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Esta-dual, Militar e Eleitoral.

b) Não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal.c) Comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica

para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei.

d) Apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de domicílio eleitoral.

e) N.R.A.

12. Comércio Ilegal de Arma de Fogo

12.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudado aqui o comércio ilegal de arma de fogo.

12.2 Síntese

O inciso V do parágrafo único do art. 16 do Estatuto do Desarmamento dispõe: “vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente.”

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71Há três condutas distintas do dispositivo referido acima. Como se trata de

um crime vago, quanto ao sujeito passivo, temos de forma imediata a coletivi-dade, mas de forma mediata a criança ou o adolescente.

Em relação ao conflito aparente de normas, é preciso lembrar que o art. 242 do ECA foi derrogado pelo Estatuto do Desarmamento. No entanto, há quem sustente que o art. 242 continua disciplinando a matéria relativamente às outras armas que não as de fogo, ou seja, em relação às armas brancas.

Por fim, o inciso IV do parágrafo único do art. 16 do Estatuto estabelece: “produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qual-quer forma, munição ou explosivo.”

O art. 17 dispõe: “Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à ven-da, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.”

Seu parágrafo único traz: “Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.”

Exercício

24. Quanto ao Estatuto do Desarmamento, é INCORRETO afirmar que:a) A empresa que comercializa arma de fogo em território nacional

é obrigada a comunicar a venda à autoridade competente, bem como a manter banco de dados com todas as características da arma.

b) As armas de fogo utilizadas pelas empresas de segurança privada e de transporte de valores, constituídas na forma da lei, serão de propriedade, responsabilidade e guarda das empresas, sendo a autorização de porte expedida pela Polícia Federal em nome do empregado da respectiva empresa.

c) O certificado de registro de arma de fogo autoriza seu proprietá-rio a manter a arma no seu local de trabalho, desde que seja ele o responsável legal pela empresa.

d) O certificado de registro de arma de fogo autoriza seu proprietá-rio a manter a arma no seu local de trabalho, desde que seja ele o responsável legal pela empresa.

e) N.R.A.

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13. Tráfico Internacional de Arma de Fogo – Parte I

13.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudado aqui o tráfico internacional de arma de fogo.

13.2 Síntese

O art. 18 do Estatuto do Desarmamento dispõe: “Importar, exportar, favo-recer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.”

Trata-se do crime de tráfico internacional de arma de fogo, tendo o dolo como elemento subjetivo, uma vez que não há previsão do crime na forma culposa.

Como se trata de crime plurissubsistente, ou seja, crime em que a conduta é divisível em vários atos, pode ser admitida a tentativa.

Ainda, o tipo penal do art. 18 absorve o disposto no art. 17, bem como o crime de contrabando previsto no art. 334 do CP e o de facilitação de contra-bando, previsto no art. 318 do CP.

Quanto à competência para julgamento do crime previsto no art. 18, esta é da Justiça Federal, pois ofende interesse da União.

O art. 19 do Estatuto do Desarmamento estabelece: “Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.”

Já o art. 20 dispõe: “Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e em-presas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei.” São as majorantes relacionadas ao sujeito do crime.

É preciso ressaltar que diante do reconhecimento de mais de uma causa de aumento de pena, aplica-se apenas uma, nos moldes do disposto no art. 68, parágrafo único, do CP.

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Exercícios

25. Y é preso e acusado de prática de comércio ilegal de arma de fogo, por expor à venda, sem autorização, segundo a autoridade policial, 75 revólveres calibre 38; 23 espingardas calibre 12; 100 lunetas red dots para armas de precisão; 25 estojos municiadores e carregadores de pistolas calibre 765; 12 reservatórios de gasolina para preparo de coquetéis molotov; 80 caixas de munição calibre 22 e 5 granadas de mão. Considerando a acusação específica feita pela autoridade po-licial (comércio ilegal de arma de fogo) e a Lei nº 10.826/03 e seus complementos, o enquadramento policial da conduta de Y está:a) Totalmente equivocado, tendo em vista que a conduta narrada

se enquadra em outro crime da legislação.b) Totalmente correto, tendo em vista que a conduta narrada se

enquadra, integralmente, no delito de “comércio ilegal de arma de fogo”.

c) Parcialmente correto, sendo equivocadas apenas as referências aos estojos municiadores e carregadores de pistolas e aos reser-vatórios de gasolina, que se relacionam a delitos diferentes do comércio ilegal de arma de fogo.

d) Parcialmente correto, sendo equivocadas apenas as referências às granadas de mão e aos estojos municiadores e carregadores de pistolas, que se relacionam a delitos diferentes do comércio ilegal de arma de fogo.

e) Parcialmente correto, sendo equivocadas apenas as referências aos reservatórios de gasolina e às granadas de mão que se rela-cionam a delitos diferentes do comércio ilegal de arma de fogo.

26. Sobre o Estatuto do Desarmamento – Lei nº 10.826, de 2003, mar-que a alternativa CORRETA.a) No julgamento da ADI 3.112, o STF entendeu pela constitu-

cionalidade do art. 21 da Lei nº 10.826, de 2003, que veda a concessão de liberdade provisória aos crimes dos seus arts. 16, 17 e 18 (respectivamente: posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito; comércio ilegal de arma de fogo; e tráfico inter-nacional de arma de fogo).

b) Também no julgamento da ADI 3.112, o STF considerou constitucionais os parágrafos únicos dos arts. 14 e 15 da Lei nº 10.826, de 2003, que estabelecem a inafiançabilidade dos deli-tos neles previstos (porte ilegal de arma de fogo de uso permitido e disparo de arma de fogo, respectivamente).

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74c) Com a entrada em vigor da Lei nº 10.826, de 2003, o crime

previsto em seu art. 12 (posse irregular de arma de fogo de uso permitido) teve, inicialmente, sua aplicação afetada por suces-sivas medidas provisórias, cujo conteúdo foi considerado pela jurisprudência como espécie de abolitio criminis temporário.

d) O crime de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido, tipi-ficado no art. 12 da Lei nº 10.826, de 2003, com pena privativa de liberdade, abstratamente cominada em detenção de 1 a 3 anos, não comporta a substituição por pena restritiva de direitos, consoante as regras do art. 44 do CP, em face da violência intrin-secamente ligada ao comércio e à utilização de armas de fogo em nosso país.

14. Tráfico Internacional de Arma de Fogo – Parte II

14.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo estudado aqui o tráfico internacional de arma de fogo.

14.2 Síntese

O art. 21 do Estatuto do Desarmamento dispõe: “Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória.” Tal dispositivo foi declarado inconstitucional pelo STF em 2007. Considerou-se que o dispositivo violava os princípios da presunção da inocência e do devido processo legal.

Dois são os órgãos responsáveis pela execução do controle das armas de fogo: o Sinarm e o Sigma.

Ainda, os crimes tipificados no Estatuto do Desarmamento são de perigo abstrato.

Prazo para renovação de registros de armas de fogo anteriores ao Estatuto foi fixado em 31 de dezembro de 2009. Depois desta data, os agentes incor-rerão nos arts. 14 ou 16, conforme se tratar de arma de fogo de uso permitido ou restrito.

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Exercícios

27. Levando-se em consideração, exclusivamente, os tipos penais da Lei nº 10.826/03, conhecida como Estatuto do Desarmamento, aquele que é o responsável legal pela empresa e, em desacordo com deter-minação legal ou regulamentar, possui arma de fogo de uso permiti-do no seu local de trabalho:a) comete, em tese, o crime de omissão de cautela.b) não comete crime algum, mas mera infração administrativa.c) comete, em tese, o crime de posse ilegal de arma de fogo ou

simulacro.d) comete, em tese, o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso

permitido.e) comete, em tese, o crime de posse irregular de arma de fogo de

uso permitido.28. A Lei nº 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento – determinou que

os possuidores e os proprietários de armas de fogo não registradas de-veriam, sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180 dias após a publicação da lei, solicitar o seu registro, apresentando nota fiscal de compra ou a comprovação da origem lícita da posse ou en-tregá-las à Polícia Federal. Houve a prorrogação do prazo por duas vezes – Lei nº 10.884/04 e Lei nº 11.118/05 – até a edição da Lei nº 11.191/05, que estipulou o termo final para o dia 23/10/2005. Assinale a opção correta acerca do estatuto mencionado no texto anterior:a) O porte consiste em manter no interior de residência, ou depen-

dência desta, ou no local de trabalho a arma de fogo.b) A posse pressupõe que a arma de fogo esteja fora da residência

ou do local de trabalho.c) As condutas delituosas relacionadas ao porte e à posse de arma

de fogo foram abarcadas pela denominada abolitio criminis tem-porária, prevista na Lei nº 10.826/03.

d) O porte de arma, segundo o Estatuto do Desarmamento, pode ser concedido àqueles a quem a instituição ou a corporação au-torize a utilização em razão do exercício de sua atividade. Assim, um delegado de polícia que esteja aposentado não tem direito ao porte de armas; o pretendido direito deve ser pleiteado nos moldes previstos pela legislação para os particulares em geral.

e) A objetividade jurídica dos crimes de porte e posse de arma de fogo, tipificados na Lei nº 10.826/03, restringe-se à incolumida-de pessoal.

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7629. Em 17/02/2005, Vitor foi surpreendido, em atitude suspeita, dentro

de um veículo estacionado na via pública, por policiais militares, que lograram êxito em encontrar em poder deste duas armas de fogo, sem autorização e em desacordo com determinação legal, as quais eram de sua propriedade, sendo um revólver Taurus, calibre 38, com numeração de série raspada, e uma garrucha, marca Rossi, calibre 22.De acordo com a situação hipotética acima, com o Estatuto do De-sarmamento e com a jurisprudência do STF, assinale a opção correta:a) Vitor praticou a conduta de portar arma de fogo com numera-

ção suprimida.b) Vitor praticou a conduta de portar arma de fogo com numera-

ção suprimida.c) A conduta de ser proprietário de arma de fogo não foi abolida,

temporariamente, pelo Estatuto do Desarmamento.d) Vitor praticou a conduta de possuir arma de fogo.e) A conduta de portar arma de fogo foi abolida, temporariamente,

pelo Estatuto do Desarmamento.

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Capítulo 6

Tortura – Lei nº 9.455/97

1. Introdução e Antecedente Legislativo

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo feita aqui introdução e estudado o antecedente legislativo.

1.2 Síntese

O art. 1º, III, da CF/1988 dispõe acerca da dignidade da pessoa humana. Ainda, o art. 4º, II, estabelece que um dos princípios existentes é a prevalência dos direitos humanos.

O primeiro tipo penal a tratar a tortura como crime foi o art. 233 do ECA, que punia com reclusão aquele que submetesse criança ou adolescente sob sua guarda ou vigilância a tortura.

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78Previsão em tratados ratificados pelo Brasil: O Brasil se tornou signatário de

diversos Tratados e levou quase cinquenta anos para tipificar a conduta crimi-nosa da prática da tortura.

Em relação aos Tratados, são eles: Declaração Universal dos Direitos Hu-manos; Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, de-sumanos ou degradantes; Convenção Interamericana, entre outros.

As Convenções consideram a tortura como crime próprio, ou seja, só po-dem ser cometidos por funcionários públicos.

Exercício

30. Julgue o item seguinte, relativo a crime de tortura.A prática do crime de tortura torna-se atípica se ocorrer em razão de discriminação religiosa, pois, sendo laico o Estado, este não pode se imiscuir em assuntos religiosos dos cidadãos.

2. Doutrina, Competência, Ação Penal e Bem Jurídico Tutelado

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudadas a doutrina, a competên-cia, a ação penal e o bem jurídico tutelado.

2.2 Síntese

Há dois posicionamentos sobre a Lei de Tortura. O primeiro se dá no senti-do de entender ser inconstitucional o diploma legal, uma vez que a tipificação do delito de tortura como crime comum é inconstitucional, tendo em vista que a lei lesionou uma norma com embasamento em Tratados Internacionais de Direitos Humanos.

Assim, o crime de tortura não poderia destoar flagrantemente das defini-ções contidas nas Convenções Internacionais.

A segunda corrente entende pela constitucionalidade, afirmando que o le-gislador brasileiro optou pela forma correta, pois não se pode restringir a tortura ao agente público, uma vez que qualquer pessoa pode praticá-la.

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79É preciso ressaltar que a tortura não constitui crime hediondo, contudo é

a ele equiparado.Qualquer que seja a modalidade de tortura, a ação penal sempre será pú-

blica incondicionada.Temos como elemento subjetivo o dolo, ou seja, a consciente e a vontade

dirigidas à realização da conduta.O bem jurídico primário é a dignidade humana e os bens jurídicos secun-

dários são a integridade física e psíquica da vítima.

Exercício

31. Considerando a Lei nº 9.455/97 – Crimes de Tortura – assinale a alternativa CORRETA:a) Admite fiança no valor máximo.b) Caberá anistia no último ano de pena.c) Inicia a pena em presídio especializado.d) Inadmite a graça.

3. Tortura-constrangimento e Tortura-prova

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudadas a tortura-constrangimento e tortura-prova.

3.2 Síntese

O art. 1º, inciso I, da Lei de Tortura dispõe: “Constitui crime de tortura: I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental.”

Temos como sujeito passivo qualquer pessoa, independentemente de vín-culo com o sujeito ativo do crime.

Existe majorante prevista no art. 4º, inciso II, do mesmo diploma legal, se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescen-te ou maior de 60 (sessenta) anos.

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80Para configuração da tortura nesta modalidade, é preciso que haja dolo

(não existe forma culposa), bem como o especial fim de agir do agente, que deve atuar com uma das finalidades previstas nas alíneas.

A violência e a grave ameaça estão presentes apenas nos incisos I e II como modos de execução. A violência consiste no emprego da força física, para do-minar a vítima, e a grave ameaça consiste na promessa de mal grave, injusto e iminente, como a ameaça de morte, por exemplo.

É preciso ressaltar que quanto ao sofrimento mental, a prova é de difícil aferição.

De acordo com o art. 158 do CPP, quando a infração deixar vestígios deve--se proceder à realização de perícia. Sendo hipótese de tortura psicológica é comum que não fiquem vestígios.

A tortura-prova está prevista na alínea “a” do inciso I do art. 1º da Lei de Tortura e dispõe: “com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.”

Nota-se que estamos diante de um crime formal, de consumação ante-cipada, em que o atingimento do resultado é mero exaurimento da conduta delituosa.

Exercício

32. Sobre a Lei de Tortura (Lei nº 9.455/97), assinale a alternativa correta:I – O condenado por crime previsto na Lei de Tortura, sem exceções, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.II – Constranger alguém com emprego de violência ou grave amea-ça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, em razão de discrimi-nação sexual não constitui crime de tortura. III – É crime qualificado pelo resultado a tortura que gere na vítima lesão corporal de natureza grave ou gravíssima. IV – Não há crime de tortura previsto no Código Penal Militar, razão pela qual a conduta típica de tortura por policial militar enseja a aplicação da Lei nº 9.455/97.a) Somente as proposições I, II e IV estão corretas.b) Somente as proposições II, III e IV estão corretas.c) Somente as proposições II e III estão corretas.d) Somente as proposições III e IV estão corretas.e) Todas as proposições estão corretas.

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4. Princípio da Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos. Tortura-crime. Tortura Racial

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudados o princípio da inadmissi-bilidade das provas obtidas por meios ilícitos, a tortura-crime e a tortura racial.

4.2 Síntese

A CF assegura em seu art. 5º, inciso LVI, que são inadmissíveis provas obtidas por meios ilícitos. As provas ilegais podem ser ilícitas, ilegítimas ou irregulares.

O § 1º do art. 157 do CPP dispõe: “São inadmissíveis, devendo ser desentra-nhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.”

Tortura-crime está disposta no art. 1º, inciso I, alínea “b”, tratando-se de crime de tortura para provocar ação ou omissão de natureza criminosa. Aqui, o agente constrange a vítima com violência ou grave ameaça para obrigá-la a praticar um crime.

Consuma-se o crime independentemente da realização dos crimes preten-didos, sendo um delito formal, de consumação antecipada.

Concurso com crime praticado pela vítima: Fernando Capez entende que o agente responderá pelo crime de tortura em concurso material com o crime praticado pela vítima, e esta não responde por crime nenhum. Isso porque, temos aqui uma excludente de culpabilidade, que é a coação moral irresistível.

A alínea “c” do inciso I do art. 1º da Lei aqui estudada dispõe: “constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental em razão de discriminação racial ou religiosa”. Temos aqui a tortura racial.

O inciso II do art. 1º dispõe: “submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.” Temos aqui a denominada tortura-castigo.

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Exercício33. Sobre os crimes hediondos, assinale a alternativa INCORRETA:

a) A tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e o terrorismo são crimes equiparados a crimes hediondos.

b) Os crimes considerados hediondos são insuscetíveis de anistia, graça, indulto e livramento condicional.

c) O homicídio simples (caput) é considerado hediondo somente quando praticado por grupo de extermínio.

d) Considera-se também hediondo o crime de genocídio na sua forma consumada ou tentada.

e) N.R.A.

5. Tortura-castigo5.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudada a tortura-castigo.

5.2 SínteseA tortura-castigo também é chamada de tortura maus-tratos, tortura-abuso

e tortura-intimidatória.Se a intenção do agente for de educar, ensinar, o crime não se classifica

como tortura, mas sim maus-tratos. No entanto, se a finalidade for de fazer a vítima sofrer, física ou mentalmente, temos o crime de tortura.

Assim, para ser tortura é imprescindível que a vítima sofra intenso sofrimen-to físico ou mental.

O § 1º do art. 1º da Lei de Tortura dispõe: “Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.”

Como sujeito ativo, temos aqui aquele que tem o preso ou alguém subme-tido à medida de segurança sob sua custódia, ou seja, estamos diante de um crime próprio.

Como sujeito passivo, temos a pessoa presa ou sujeita a medida de seguran-ça. Temos a inclusão até mesmo dos presos provisórios aqui.

Nucci entende que é natural que o sofrimento deva ser ilícito, pois há for-mas de aflição legalizadas, como o regime fechado.

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Exercício34. César, oficial da Polícia Militar, está sendo processado pela prática

do crime de tortura, na condição de mandante, contra a vítima Ro-naldo, policial militar. César visava obter informações a respeito de uma arma que havia sido furtada pela vítima.Considerando a situação hipotética citada, assinale a opção correta de acordo com a lei que define os crimes de tortura:a) O tipo de tortura a que se refere a situação mencionada é a físi-

ca, pois a tortura psicológica e os sofrimentos mentais não estão incluídos na disciplina da lei que define os crimes de tortura.

b) Se César for condenado, deve incidir uma causa de aumento pelo fato de ele ser agente público.

c) Se César for condenado, a sentença deve declarar expressamente a perda do cargo e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada, pois esses efeitos não são automáticos.

d) A justiça competente para julgar o caso é a militar, pois trata-se de crime cometido por militar contra militar.

e) O delito de tortura não admite a forma omissiva.

6. Omissão Perante a Tortura e a Consequente Responsabilidade do Omitente

6.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudadas a omissão perante a tortu-ra e a consequente responsabilidade do omitente.

6.2 SínteseO § 2º do art. 1º da Lei de Tortura dispõe: “Aquele que se omite em face

dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.”

Temos aqui um delito unissubsistente, ou seja, se consuma na prática de uma única conduta.

Prevaricação e condescendência criminosa: Pelo princípio da especialida-de os crimes de prevaricação e condescendência criminosa ficam afastados, pois do contrário estaríamos diante de bis in idem.

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84Aquele que presenciou a conduta e nada fez será responsabilizado pelo

mesmo crime do qual participou com sua omissão. É preciso ressaltar que se o omitente se omitiu culposamente não poderá responder por crime principal e nem pela forma em comento, uma vez que não existe participação culposa em crime doloso.

Exercício

35. Julgue a assertiva: Daniel, delegado de polícia, estava em sua sala, quando percebeu a chegada dos agentes de polícia Irineu e Osvaldo, acompanhados por uma pessoa que havia sido detida, sob a acusação de porte de arma e de entorpecentes. O delegado permaneceu em sua sala, elaborando um relatório, antes de lavrar o auto de prisão em flagrante. Durante esse período, ouviu ruídos de tapas, bem como de gritos, vindos da sala onde se encontravam os agentes e a pessoa detida, percebendo que os agentes determinavam ao detido que ele confessasse quem era o verdadeiro proprietário da droga.Quando foi lavrar a prisão em flagrante, o delegado notou que o detido apresentava equimoses avermelhadas no rosto, tendo decli-nado que havia guardado a droga para um conhecido traficante da região. O delegado, contudo, mesmo constatando as lesões, resolveu nada fazer em relação aos seus agentes, uma vez que os considerava excelentes policiais.Nessa situação, o delegado praticou o crime de tortura, de forma que, sendo proferida sentença condenatória, ocorrerá, automatica-mente, a perda do cargo.

7. Diferença entre a Tortura Qualificada pela Morte e o Homicídio Qualificado pela Tortura

7.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudada a diferença entre a tortura qualificada pela morte e o homicídio qualificado pela tortura.

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7.2 Síntese

O § 3º do art. 1º da Lei de Tortura dispõe: “Se resulta lesão corporal de na-tureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.”

O dispositivo só se refere às lesões graves ou gravíssimas e a morte, assim as lesões leves ficam absorvidas, já que servem como meio de execução.

Concurso entre tortura simples e homicídio qualificado pode, em tese, ocorrer na situação em que após conseguir a informação desejada por meio de tortura, o agente resolve matar a vítima para assegurar a ocultação ou impuni-dade do crime anterior.

O § 4º traz algumas majorantes, as causas de aumento de pena: “Aumenta--se a pena de um sexto até um terço: I – se o crime é cometido por agente público; II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de defi-ciência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; III – se o crime é cometido mediante sequestro.”

Se houver reconhecimento de mais de uma causa o juiz deve aplicar ape-nas um acréscimo.

A primeira causa de aumento diz “se o crime é cometido por agente públi-co”. O aumento deve ser aplicado a qualquer funcionário público, ainda que exerça o cargo transitoriamente ou sem remuneração.

Exercício

36. Quanto à legislação a respeito do crime de tortura, assinale a opção correta:a) A condenação por crime de tortura acarreta a perda do cargo, fun-

ção ou emprego público, mas não a interdição para seu exercício.b) Não se aplica a lei de tortura se do fato definido como crime de

tortura resultar a morte da vítima.c) O condenado por crime previsto na lei de tortura inicia o cum-

primento da pena em regime semiaberto ou fechado, vedado o cumprimento da pena no regime inicial aberto.

d) Aquele que se omite em face de conduta tipificada como crime de tortura, tendo o dever de evitá-la ou apurá-la, é punido com as mesmas penas do autor do crime de tortura.

e) Pratica crime de tortura a autoridade policial que constrange alguém, mediante emprego de grave ameaça e causando-lhe so-frimento mental, com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.

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8. Majorantes e Causas de Aumento de Pena

8.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudadas as majorantes e as causas de aumento de pena.

8.2 Síntese

O art. 1º, § 4º, inciso II, da Lei de Tortura dispõe: “Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos.”

Tendo sido revogado o art. 233 do ECA, os crimes de tortura contra crian-ças e adolescentes passaram a ser disciplinados integralmente pela Lei de Tor-tura (Lei nº 9.455/97).

A definição de deficiência está prevista no Decreto nº 3.298/1989, que em seu art. 3º dispõe: “Para os efeitos deste Decreto, considera-se: I – deficiên-cia – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de ativida-de, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II – deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e III – incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipa-mentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem--estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.”

O art. 4º do Decreto acima mencionado estabelece: “É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: I – defi-ciência física – alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentan-do-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetra-plegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, am-putação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; II – deficiência auditiva – perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e

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873.000Hz; III – deficiência visual – cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a me-lhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; IV – deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adap-tativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade; e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho; V – deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências.”

Para que incida a majorante é imprescindível que haja ciência do agente a respeito da condição da vítima.

A majorante relacionada ao idoso foi inserida pelo Estatuto do Idoso. Neste caso, não será aplicada a agravante genérica prevista no CP, sob pena de bis in idem.

O inciso III do § 4º do art. 1º da Lei que trata do crime de tortura dispõe: “se o crime é cometido mediante seqüestro.”

O § 5º do art. 1º dispõe: “A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.”

Exercício37. A seguir é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma as-

sertiva a ser julgada.Um agente penitenciário submeteu a intenso sofrimento físico um preso que estava sob sua autoridade, com o objetivo de castigá-lo por ter incitado os outros detentos a se mobilizarem para reclamar da qualidade da comida servida na penitenciária. Nessa situação, o referido agente cometeu crime inafiançável.

9. Interdição do Exercício de Cargo, Função ou Emprego Público

9.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudada interdição do exercício de cargo, função ou emprego público.

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9.2 Síntese

Capez entende que tratando-se de crime de tortura, a aplicação do art. 92, inciso I, do CP fica excluída em razão do princípio da especialidade, tendo em vista o disposto no art. 1º, § 5º, da Lei de Tortura.

Diz também que, ainda que automáticos esses efeitos terão lugar somente após o trânsito em julgado da decisão condenatória.

Em outro sentido, alguns autores entendem que o efeito não é automático, devendo constar expressamente da sentença. Ainda, em caso de omissão caberá ao MP opor embargos declaratórios para saná-la.

É preciso ressaltar que há duas posições relacionadas ao art. 1º, § 5º, da Lei de Tortura, quanto à perda automática do cargo.

Exercícios

38. Em relação ao crime de tortura é possível afirmar:a) Passou a ser previsto como crime autônomo a partir da entrada

em vigor da Constituição Federal de 1988 que, no art. 5º, in-ciso III, afirma que ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento desumano e degradante e que a prática de tortura será considerada crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

b) É praticado por qualquer pessoa que causa constrangimento fí-sico ou mental à pessoa presa ou em medida de segurança, pelo uso de instrumentos cortantes, perfurantes, queimantes ou que produzam stress, angústia, como prisão em cela escura, solitária, submissão a regime de fome etc.

c) É cometido por quem constrange outrem, por meio de violência física, com o fim de obter informação ou confissão da vítima ou de terceira pessoa, desde que do emprego da violência resulte lesão corporal.

d) Os bens jurídicos protegidos pela ‘tortura discriminatória’ são a dignidade da pessoa humana, a igualdade, a liberdade política e de crença.

e) É praticado por quem se omite diante do dever de evitar a ocor-rência ou continuidade da ação ou de apurar a responsabilidade do torturador pelas condutas de constrangimento ou submissão levadas a efeito mediante violência ou grave ameaça.

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8939. A Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997, estabelece que pratica crime

de tortura:a) qualquer pessoa que submete alguém, sob sua guarda, poder

ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar cas-tigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

b) o agente público que submete pessoa presa ou sujeita a medi-da de segurança, a sofrimento físico ou mental, ainda que por intermédio da prática de ato previsto em lei ou resultante de medida legal.

c) qualquer pessoa que constrange alguém com emprego de vio-lência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou men-tal, em razão de discriminação de qualquer natureza.

d) o agente público que constrange alguém, com emprego de vio-lência ou grave ameaça, com o fim de provocar ação ou omissão de qualquer natureza.

e) qualquer pessoa que se omita diante de constrangimento ou submissão a ato de tortura.

10. Vedação de Benefícios e Cumprimento de Pena

10.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudados a vedação de benefícios e o cumprimento de pena.

10.2 Síntese

Na análise da Lei nº 9.455/97, em seu art. 1º, § 6º, encontramos as vedações de benefícios penais. São elas: inafiançabilidade e insuscetibilidade de graça ou anistia.

A Constituição, em seu art. 5º, XLIII, veda a fiança, a graça e a anistia para os crimes hediondos, tortura, tráfico ilícito de drogas, bem como para o terrorismo.

O legislador infraconstitucional, por meio da lei dos crimes hediondos – Lei nº 8.072/90, ampliou as vedações, acrescendo, na redação original do art. 2º do referido diploma legal, o indulto e a liberdade provisória (art. 2º, I e II).

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90A Lei nº 9.455/97, ao dispor sobre o crime de tortura, vedou somente a con-

cessão de anistia, graça e fiança, deixando de proibir a concessão de indulto. Por se tratar de lei especial, que disciplinou de forma diversa do que previa a Lei de Crimes Hediondos, restou revogada a vedação ao indulto e à liberdade provisória para os crimes de tortura. É que a aplicação do art. 2º, I, da Lei nº 8.072/90, é insubsistente em relação ao crime de tortura, pelo princípio da especialidade. É preciso ficar atento, porque há entendimento contrário.

Nucci e Mirabete entendem que o indulto continua vedado à tortura, sob o argumento de que, na CF, onde se lê graça, deve-se ler igualmente indulto, pois este nada mais é do que o perdão coletivo.

Quanto à liberdade provisória, de lembrar que a Lei nº 11.464, de 2007, dando nova redação ao inciso II do art. 1º da Lei nº 8.072/90, não repetiu a ve-dação antes existente em se tratando de crimes hediondos e equiparados. Logo, já não há qualquer óbice legal à sua concessão.

Na questão do cumprimento de pena, o art. 1º, § 7º determina que, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

Ao disciplinar que o regime carcerário inicial será o fechado, independen-temente do montante da pena aplicada ou da reincidência do condenado, o dispositivo fere o Princípio da Humanização e da Individualização da Pena, assentado no art. 5º, III e XLIV, da CF.

Esse dispositivo entrou em conflito com a redação original da Lei nº 8.072/90, que proibia a progressão de regime para os condenados pela prática de tortura, tráfico de drogas, terrorismo e crimes hediondos, na medida em que estabelecia que o regime de cumprimento de pena fosse o integralmente fechado, independentemente do montante da condenação e de reincidência.

Os tribunais superiores, STF e STJ, julgaram a constitucionalidade e a coe-xistência das duas normas legais, não estendendo esse beneficio aos condena-dos por crimes hediondos e pelos equiparados, excetuado a tortura.

Em virtude de seus reiterados julgados nesse sentido, o STF pacificou seu entendimento e sumulou a matéria no Verbete nº 698, segundo o qual “não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão de regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura” (Súmula nº 698 do STF).

Todavia, em 23/02/2006, em sede do STF, HC nº 82.959, a Suprema Corte julgou da inconstitucionalidade da vedação de progressão de regime inserida no art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90. A partir dessa decisão, o STJ passou a adotar tal posicionamento.

Em 28/03/2007, por meio da Lei nº 11.464/2007, o § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90 recebeu nova redação, passando a determinar que a pena seja cum-prida em regime inicialmente fechado, autorizando, com isso, a progressão de regime carcerário também aos condenados por crimes hediondos, tráfico ilícito de drogas e terrorismo.

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91Importante observar que o regime inicial fechado não será adotado no cri-

me do art. 1º, § 2º, da Lei nº 9.455/97, que trata da omissão perante a tortura. É que o crime omissivo ali tipificado é apenado com detenção, de modo que somente podem ser fixados os regimes: semiaberto ou aberto para cumprimen-to da pena imposta.

A última observação é sobre a decisão tomada pelo Plenário do STF, em 27/06/2012, no julgamento do HC nº 111.840, quando declarou, incidental-mente, a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com reda-ção dada pela Lei nº 11.464/07, o qual prevê que a pena por crime hediondo será cumprida, inicialmente, em regime fechado.

No referido habeas corpus, estava em julgamento crime de tráfico. Assim, a partir de tal julgado, condenado por tráfico pode iniciar a pena em regime semiaberto. Será preciso aguardar para ver se a decisão se estenderá, ou não, a todos os crimes equiparados a hediondos, como a tortura.

Exercício40. (Agente Penitenciário, PE, 2010) Julgue as seguintes proposições:

I. Segundo entendimento predominante do STF, não se admite pro-gressão de regime prisional em crime de tortura.II. Como efeito automático, a condenação por crime de tortura im-plica perda do cargo público e na interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.III. A tortura é crime próprio, apenas podendo ser praticada por agentes públicos.IV. O início do cumprimento da pena por crime previsto na Lei nº 9.455/97 se dá sempre no regime fechado.Está(ão) correta(s):a) I.b) II.c) I e III.d) II e IV.e) I, II, III e IV

11. Extraterritorialidade11.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.455/97 (Tortura), sendo estudada a extraterritorialidade.

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11.2 SínteseO art. 2º da Lei de Tortura dispõe: “O disposto nesta Lei aplica-se ainda

quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.”

O professor Alberto Silva Franco ensina que a segunda parte do art. 2º estabelece a aplicabilidade da lei penal brasileira em relação ao agente que tenha sido localizado em lugar sob jurisdição brasileira, e adverte que se não houve nenhum equívoco do legislador ao empregar a palavra “ou” em vez de “e”, o texto legal significa que a lei penal brasileira será aplicada em relação ao agente, brasileiro ou não, que ingressou no Brasil.

Quanto à vigência da Lei de Tortura, tal diploma legal entrou em vigor na data de sua publicação (8 de abril de 1997).

A tortura jamais será de competência da Justiça Militar, uma vez que não está descrita no Código Penal Militar crime desta natureza. Assim, tortura não é crime militar e é julgada pela Justiça Comum (Estadual ou Federal).

Ainda, embora não seja crime hediondo, a tortura é considerada crime equiparado a hediondo.

É preciso lembrar que qualquer que seja a modalidade de tortura, a ação penal sempre será pública incondicionada.

Exercícios41. A seguir é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma as-

sertiva a ser julgada, relativa a crime de tortura.Como forma de punir um ex-membro de sua quadrilha que o havia delatado à polícia, um traficante de drogas espancou um irmão do delator, em plena rua, quando ele voltava do trabalho para casa. Nes-sa situação, o referido traficante praticou crime de tortura.

42. De acordo a Lei nº 9.455, de 1997, que define os crimes de tortura, assinale a alternativa correta:a) A condenação de agente público no crime de tortura não acar-

retará a perda do cargo, função ou emprego público nem a in-terdição para seu exercício.

b) O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça, mas pode ser anistiado.

c) Se a vítima for brasileira, o disposto nessa lei aplica-se ainda quando o crime tenha sido cometido fora do território nacional.

d) A pena do crime de tortura não aumenta quando é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de sessenta anos de idade.

e) Não é considerado crime de tortura submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou gra-ve ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental como forma de aplicar castigo pessoal.

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Capítulo 7

Abuso de Autoridade – Lei nº 4.898/65

1. Abuso de Autoridade – Introdução

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 4.898/65, sendo feita introdução sobre o assunto.

1.2 Síntese

Abuso de autoridade ocorre quando esta, embora competente para praticar o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou desvia das finalidades admi-nistrativas.

O art. 2º da Lei aqui estudada dispõe: “O direito de representação será exercido por meio de petição: a) dirigida à autoridade superior que tiver com-petência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva

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94sanção; b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada.”

Seu parágrafo único estabelece: “A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver.”

Ressalte-se que a EC nº 45 legitimou o CNJ a ser titular do direito cons-titucional de representação. Compete ao Conselho o controle da atuação ad-ministrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, representar ao MP, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade.

Exercício

43. Considerando que um cidadão, vítima de prisão abusiva, tenha apre-sentado sua representação, na Corregedoria da Polícia Civil, contra o delegado que a realizou, assinale a opção correta quanto ao direito de representação e ao processo de responsabilidade administrativa, civil e penal no caso de crime de abuso de autoridade:a) Eventual falha na representação obsta a instauração da ação

penal. b) A ação penal é pública incondicionada. c) A representação é condição de procedibilidade para a ação penal. d) A referida representação deveria ter sido necessariamente dirigi-

da ao Ministério Público (MP). e) Se a representação apresentar qualquer falha, a autoridade que

a recebeu não poderá providenciar, por outros meios, a apura-ção do fato.

2. Abuso de Autoridade – Crimes em Espécie

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 4.898/65, sendo estudados os crimes em espécie.

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2.2 Síntese

O art. 3º do diploma legal aqui estudado dispõe: “Constitui abuso de auto-ridade qualquer atentado: a) à liberdade de locomoção; b) à inviolabilidade do domicílio; c) ao sigilo da correspondência; d) à liberdade de consciência e de crença; e) ao livre exercício do culto religioso; f) à liberdade de associação; g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; h) ao direito de reunião; i) à incolumidade física do indivíduo; j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.”

O art. 4º dispõe: “Constitui também abuso de autoridade: a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder; b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a ve-xame ou a constrangimento não autorizado em lei; c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa; d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada; e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei; f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cum-prir imediatamente ordem de liberdade.”

Os bens jurídicos tutelados na lei coincidem com os direitos e garantias fundamentais constantes no rol do art. 5º da CF.

Temos como sujeito ativo a autoridade, portanto, desde logo nota-se ser um crime próprio. O conceito de autoridade está no art. 5º: “Considera-se autori-dade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.”

É preciso ressaltar que o particular que não exerce função pública pode ser responsabilizado por crime de abuso de autoridade, na hipótese de concurso de pessoas.

Em relação ao sujeito passivo, o direto é o titular do bem jurídico atingido, podendo ser pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. Como sujeito passivo mediato temos o Estado, uma vez que possui interesse no cum-primento das leis.

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Exercício

44. É incorreto afirmar que constitui crime de abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65), qualquer atentado:a) à liberdade de locomoção. b) à incolumidade física.c) ao exercício de ideologia político partidária.d) ao sigilo da correspondência.

3. Abuso de Autoridade – Art. 3º da Lei nº 4.898/65 – Parte I

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 4.898/65, sendo estudados os crimes em espécie.

3.2 Síntese

O art. 3º do diploma legal aqui estudado dispõe: “Constitui abuso de auto-ridade qualquer atentado: a) à liberdade de locomoção; b) à inviolabilidade do domicílio; c) ao sigilo da correspondência; d) à liberdade de consciência e de crença; e) ao livre exercício do culto religioso; f) à liberdade de associação; g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; h) ao direito de reunião; i) à incolumidade física do indivíduo; j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.”

De acordo com o art. 5º, inciso XV, da CF: “é livre a locomoção no terri-tório nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.”

A fruição desse direito fundamental vem reconhecida não apenas ao bra-sileiro, mas também ao estrangeiro, residente ou não em território nacional.

Quanto à letra “b”, temos fundamento no inciso XI do art. 5º da CF, que dispõe: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.”

Em relação à letra “c”, dispõe o inciso XII do art. 5º de nossa Carta Magna: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judi-

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97cial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.”

Quanto às letras “d” e “e”, temos como fundamento o art. 5º, inciso VI, da CF: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”

Em relação à letra “f”, temos também como fundamento o art. 5º da CF, porém seu inciso XVII: “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.”

Exercício45. Acerca do direito de representação e do processo de responsabili-

dade administrativa civil e penal, nos casos de abuso de autoridade, assinale a opção incorreta:a) O direito de representação será dirigido ao MP competente para

dar início à ação penal contra a autoridade apontada como cul-pada, não podendo ser dirigido ao juiz ou à polícia.

b) A representação será encaminhada à autoridade superior àquela acusada de ter cometido o abuso, com competência legal para aplicar a sanção necessária, se for o caso.

c) Caso um policial e outra pessoa, não pertencente aos quadros da administração pública e com conhecimento da condição de autoridade do policial, efetuem, juntos, uma prisão ilegal, res-ponderão ambos por abuso de autoridade.

d) É admissível a participação, ou seja, o auxílio de terceiro para o cometimento do delito de abuso de autoridade, sem que o terceiro pratique, diretamente, a figura típica.

e) O autor do abuso de autoridade está sujeito a responder pelo ato nas esferas administrativa, civil e penal. A sanção civil depende do ajuizamento da ação correspondente a ser proposta pela vítima.

4. Abuso de Autoridade – Art. 3º da Lei nº 4.898/65 – Parte II

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 4.898/65, sendo estudados os crimes em espécie.

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4.2 Síntese

A letra “g” do art. 3º dispõe: “Constitui abuso de autoridade qualquer aten-tado: g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto.”

Já a letra “h” dispõe acerca do direito de reunião, tendo como fundamento constitucional o art. 5º, XVI, da CF: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.”

Tal direito pode ser restringido, caso haja decretação de estado de defesa, nos termos do art. 136, § 1º, de nossa Magna Carta. Pode, ainda, ser suspenso em caso de estado de sítio, conforme dispõe o art. 139, IV, da CF.

A letra “i” trata da incolumidade física do indivíduo e temos aqui como fundamento o art. 5º, III, da CF/1988: “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.”

A letra “j” traz que constitui abuso de autoridade qualquer atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. O art. 5º, XIII, dispõe: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.”

Exercício

46. A respeito dos crimes contra a administração pública, meio ambien-te, ordem tributária, licitações e abuso de autoridade, assinale a opção correta. a) Nos termos da Lei nº 9.605/98, as pessoas jurídicas não podem

ser responsabilizadas penalmente por crimes ambientais. b) Prestar declaração falsa às autoridades fazendárias trata-se de

ilícito civil e não de crime contra a ordem tributária. c) É possível haver coautoria entre funcionário público e pessoa

que não é funcionário público nos chamados crimes funcionais. d) A simples tentativa de executar os crimes previstos na Lei nº

8.666/93 não sujeita os servidores públicos autores da tentativa à perda do cargo, sendo imprescindível que o crime se consume.

e) O atentado contra o direito de reunião, nos termos da Lei nº 4.898/65, não constitui abuso de autoridade.

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5. Abuso de Autoridade – Art. 4º da Lei nº 4.898/65

5.1 Apresentação

Nesta unidade, o autor analisa todos os crimes do art. 4º da Lei nº 4.898/65, bem como comenta algumas alterações advindas da Lei nº 12.403/11, a respeito da prisão e da fiança.

5.2 Síntese

O crime do art. 4º, letra “a”, da Lei nº 4.898/65 refere: “ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder.” O texto coincide com parte da redação do art. 350 do CP, o qual, segundo entendimento hoje majoritário, foi revogado pela Lei de Abuso de Autoridade. Atenção para as alterações de 4 de maio de 2011, que entraram em vigor em 4 de julho de 2011, com a Lei nº 12.403, de 2011. A atual redação do art. 310 do CPP refere que o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá fundamentadamente: I – relaxar a prisão ilegal; ou II – converter a pri-são em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. Além disso, pelo parágrafo único, o juiz, se verificar que o agente praticou o fato sob o manto de alguma excludente da ilicitude, poderá, funda-mentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação.

Na alínea “e” do art. 4º, haverá abuso de autoridade se o autor “levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei”. Novamente, deve-se atentar para as alterações advindas com a Lei nº 12.403/11, agora a respeito da fiança, em especial os arts. 322, 323 e 324 do CPP. Agora, o delegado de polícia poderá conceder fiança nos casos de infra-ção cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 anos. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 horas.

Exercício

47. (Prova Cespe – 2011 – Delegado de Polícia/ES) Considere que um agente policial, acompanhado de um amigo estranho aos quadros

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100da administração pública, mas com pleno conhecimento da condi-ção funcional do primeiro, efetuem a prisão ilegal de um cidadão. Nesse caso, ambos responderão pelo crime de abuso de autoridade, independentemente da condição de particular do coautor. Certo ou errado?

6. Abuso de Autoridade – Sanções

6.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 4.898/65, sendo estudadas as sanções previstas para o abuso de autoridade.

6.2 Síntese

O art. 6º da Lei aqui estudada dispõe: “O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.”

Seu § 1º estabelece: “A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e consistirá em: a) advertência; b) repreensão; c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e vantagens; d) destituição de função; e) de-missão; f) demissão, a bem do serviço público.”

Já o § 2º dispõe: “A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.”

Seu § 3º nos traz: “A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos arts. 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: a) multa de cem a cinco mil cruzeiros; b) detenção por dez dias a seis meses; c) perda do cargo e a inabilita-ção para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos.”

O § 4º dispõe: “As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplica-das autônoma ou cumulativamente.”

O § 5º traz: “Quando o abuso for cometido por agente de autoridade poli-cial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autô-noma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza poli-cial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos.”

Os crimes de abuso de autoridade prescrevem hoje em três anos, conforme redação do art. 109, inciso VI, do CP.

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101Quanto ao procedimento, reza o art. 13 da Lei aqui abordada: “Apresentada

ao Ministério Público a representação da vítima, aquele, no prazo de quarenta e oito horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado constitua abuso de autoridade, e requererá ao Juiz a sua citação, e, bem assim, a designação de audiência de instrução e julgamento.”

O art. 17 dispõe: “Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou rejeitando a denúncia.”

O art. 22 traz: “Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o interrogató-rio do réu, se estiver presente.” Já o art. 23 traz: “Depois de ouvidas as testemu-nhas e o perito, o Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou ao advogado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou defensor do réu, pelo prazo de quinze minutos para cada um, prorrogável por mais dez (10), a critério do Juiz.”

O art. 24 dispõe: “Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente a sentença.”

Este é o rito disposto na Lei nº 9.848, porém os crimes de abuso de autori-dade são de menor potencial ofensivo e, portanto, o julgamento será perante o Juizado Especial Criminal.

Exercício48. Constitui abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65):

a) Ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, com as formalidades legais.

b) Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a qualquer tipo de vexame ou constrangimento.

c) Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a pri-são ou detenção de qualquer pessoa.

d) Deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção legal que lhe seja comunicada.

e) Levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, não permitida em lei.

7. Abuso de Autoridade – Considerações Finais

7.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 4.898/65, sendo realizadas considerações finais acerca do diploma legal.

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7.2 Síntese

A Súmula nº 172 do STJ dispõe: “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.”

Sobre a ação penal, esta será pública incondicionada, e a representação não é uma condição de procedibilidade, mas mera notitia criminis.

O art. 14 da lei dispõe: “Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autori-dade houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado poderá: a) promover a comprovação da existência de tais vestígios, por meio de duas testemunhas qualificadas; b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da audiência de instrução e julgamento, a designação de um perito para fazer as verificações necessárias.”

Exercícios

49. O ato lesivo da honra, ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídi-ca, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem compe-tência legal constitui:a) abuso de autoridade; b) crime previsto no Código Penal contra a honra e contra o patri-

mônio;c) crime contra o patrimônio;d) injúria;e) N.R.A.

50. A seguir é apresentada uma situação hipotética seguida de uma as-sertiva a ser julgada com base no direito penal.Hélio, maior e capaz, solicitou a seu amigo Fernando, policial mili-tar, que abordasse seus dois desafetos, Beto e Flávio, para constrangê--los. O referido policial encontrou os desafetos de Hélio na praça principal da pequena cidade em que moravam e, identificando-se como policial militar, embora não vestisse, na ocasião, farda da cor-poração, abordou-os, determinando que se encostassem na parede com as mãos para o alto e, com o auxílio de Hélio, algemou-os en-quanto procedia à busca pessoal. Nada tendo sido encontrado em poder de Beto e Flávio, ambos foram liberados. Nessa situação, Hé-lio praticou, em concurso de agente, com o policial militar Fernan-do, crime de abuso de autoridade, caracterizado por execução de medida privativa de liberdade individual.

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Capítulo 8

Violação de Direito Autoral de Computador (Lei nº 9.609/98)

1. Violação de Direito Autoral – Programa de Computador (Lei nº 9.609/98) – Parte I

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.609/98, sendo realizadas considerações importantes sobre o assunto.

1.2 Síntese

O art. 1º da Lei nº 9.609/98 dispõe: “Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em má-quinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou

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104equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.”

O art. 12 dispõe: “Violar direitos de autor de programa de computador: Pena – Detenção de seis meses a dois anos ou multa.”

Como sujeito ativo, temos qualquer pessoa, e como sujeito passivo temos o autor do programa de computador. O objeto jurídico do crime é a propriedade intelectual e o objeto material é o programa de computador.

Elemento subjetivo do crime é o dolo, não se admitindo modalidade culposa nos crimes previstos nesta Lei. Admite-se, por outro lado, a forma tentada.

Seu § 1º traz: “Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de programa de computador, no todo ou em parte, para fins de comércio, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente: Pena – Reclusão de um a quatro anos e multa.”

Já o § 2º estabelece: “Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, introduz no País, adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de comércio, original ou cópia de programa de computador, produzi-do com violação de direito autoral.”

O § 3º nos traz: “Nos crimes previstos neste artigo, somente se procede mediante queixa, salvo: I – quando praticados em prejuízo de entidade de di-reito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo poder público; II – quando, em decorrência de ato delituoso, resultar sonegação fiscal, perda de arrecadação tributária ou prática de quaisquer dos crimes contra a ordem tributária ou contra as relações de consumo.”

No § 4º está descrito: “No caso do inciso II do parágrafo anterior, a exigi-bilidade do tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, processar-se-á independentemente de representação.”

Exercício

51. À luz da lei sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador, julgue o próximo item:Aquele que violar direitos de autor de programa de computador esta-rá sujeito a pena de reclusão de dois a seis anos.

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2. Violação de Direito Autoral – Programa de Computador (Lei nº 9.609/98) – Parte II

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 9.609/98, sendo realizadas considerações importantes sobre o assunto.

2.2 Síntese

O § 3º nos traz: “Nos crimes previstos neste artigo, somente se procede me-diante queixa, salvo: I – quando praticados em prejuízo de entidade de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo poder público; II – quando, em decorrência de ato delituoso, re-sultar sonegação fiscal, perda de arrecadação tributária ou prática de quaisquer dos crimes contra a ordem tributária ou contra as relações de consumo.”

A regra para os crimes previstos nessa lei é ação penal de iniciativa da vítima ou de alguém que tenha qualidade para representá-la, portanto, queixa.

No § 4º está descrito: “No caso do inciso II do parágrafo anterior, a exigi-bilidade do tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, processar-se-á independentemente de representação.”

Pela letra da Lei é desnecessária representação para que se inicie cobrança judicial do tributo ou contribuição social ou qualquer acessório.

A Súmula Vinculante nº 24 dispõe: “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lan-çamento definitivo do tributo.”

Segundo o art. 13: “A ação penal e as diligências preliminares de busca e apreensão, nos casos de violação de direito de autor de programa de computa-dor, serão precedidas de vistoria, podendo o juiz ordenar a apreensão das cópias produzidas ou comercializadas com violação de direito de autor, suas versões e derivações, em poder do infrator ou de quem as esteja expondo, mantendo em depósito, reproduzindo ou comercializando.”

O art. 14 dispõe: “Independentemente da ação penal, o prejudicado poderá intentar ação para proibir ao infrator a prática do ato incriminado, com comi-nação de pena pecuniária para o caso de transgressão do preceito.”

O § 1º traz: “A ação de abstenção de prática de ato poderá ser cumulada com a de perdas e danos pelos prejuízos decorrentes da infração.”

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106O § 2º dispõe: “Independentemente de ação cautelar preparatória, o juiz

poderá conceder medida liminar proibindo ao infrator a prática do ato incrimi-nado, nos termos deste artigo.”

O § 3º estabelece: “Nos procedimentos cíveis, as medidas cautelares de busca e apreensão observarão o disposto no artigo anterior.”

O § 4º traz: “Na hipótese de serem apresentadas, em juízo, para a defesa dos interesses de qualquer das partes, informações que se caracterizem como confidenciais, deverá o juiz determinar que o processo prossiga em segredo de justiça, vedado o uso de tais informações também à outra parte para outras finalidades.”

O § 5º estabelece: “Será responsabilizado por perdas e danos aquele que requerer e promover as medidas previstas neste e nos arts. 12 e 13, agindo de má-fé ou por espírito de emulação, capricho ou erro grosseiro, nos termos dos arts. 16, 17 e 18 do Código de Processo Civil.“

Exercício

52. Acerca da Lei nº 9.609/98, considere as assertivas a seguir:I – A proteção aos direitos autorais independe de registro. II – É assegurada a tutela dos direitos relativos a programa de com-putador pelo prazo de cinquenta anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano subsequente ao da sua publicação ou, na ausência desta, da sua criação.III – Não constitui ofensa aos direitos do titular de programa de com-putador a reprodução, em um só exemplar, de cópia legitimamente adquirida, desde que se destine a cópia de salvaguarda ou armazena-mento eletrônico.IV – O uso de programa de computador no País será objeto de con-trato de licença.

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Capítulo 9

Portador de Deficiência (Lei nº 7.853/89)

1. Pessoas Portadoras de Deficiência, sua Integração Social – Lei nº 7.853/89 – Parte I

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 7.853/89, sendo realizadas considerações importantes a res-peito das pessoas portadoras de deficiência e sua integração social.

1.2 SínteseA legislação em comento traz diversos dispositivos que visam garantir o pleno

exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência.O caput do art. 1º nos traz: “Ficam estabelecidas normas gerais que assegu-

ram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social, nos termos desta Lei.”

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108O § 1º do art. 1º da Lei dispõe: “Na aplicação e interpretação desta Lei, serão

considerados os valores básicos da igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça social, do respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e outros, indicados na Constituição ou justificados pelos princípios gerais de direito.”

Conforme o parágrafo único do art. 2º: “Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e finalidade, aos assuntos objetos esta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

I – na área da educação: a) a inclusão, no sistema educacional, da Edu-cação Especial como modalidade educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus, a supletiva, a habilitação e reabilitação profissionais, com currículos, etapas e exigências de di-plomação próprios; b) a inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais, privadas e públicas; c) a oferta, obrigatória e gratui-ta, da Educação Especial em estabelecimento público de ensino; d) o oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial a nível pré-escolar, em unidades hospitalares e congêneres nas quais estejam internados, por prazo igual ou superior a 1 (um) ano, educandos porta-dores de deficiência; e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos demais educandos, inclusive material esco-lar, merenda escolar e bolsas de estudo; f) a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem no sistema regular de ensino;

II – na área da saúde: a) a promoção de ações preventivas, como as referen-tes ao planejamento familiar, ao aconselhamento genético, ao acompa-nhamento da gravidez, do parto e do puerpério, à nutrição da mulher e da criança, à identificação e ao controle da gestante e do feto de alto risco, à imunização, às doenças do metabolismo e seu diagnóstico e ao encaminhamento precoce de outras doenças causadoras de deficiência; b) o desenvolvimento de programas especiais de prevenção de acidente do trabalho e de trânsito, e de tratamento adequado a suas vítimas; c) a criação de uma rede de serviços especializados em reabilitação e habi-litação; d) a garantia de acesso das pessoas portadoras de deficiência aos estabelecimentos de saúde públicos e privados, e de seu adequado trata-mento neles, sob normas técnicas e padrões de conduta apropriados; e) a garantia de atendimento domiciliar de saúde ao deficiente grave não internado; f) o desenvolvimento de programas de saúde voltados para as pessoas portadoras de deficiência, desenvolvidos com a participação da sociedade e que lhes ensejem a integração social;

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109III – na área da formação profissional e do trabalho: a) o apoio governamen-

tal à formação profissional, e a garantia de acesso aos serviços concer-nentes, inclusive aos cursos regulares voltados à formação profissional; b) o empenho do Poder Público quanto ao surgimento e à manutenção de empregos, inclusive de tempo parcial, destinados às pessoas porta-doras de deficiência que não tenham acesso aos empregos comuns; c) a promoção de ações eficazes que propiciem a inserção, nos setores públicos e privado, de pessoas portadoras de deficiência; d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado de trabalho, em favor das pessoas portadoras de deficiência, nas entidades da Admi-nistração Pública e do setor privado, e que regulamente a organização de oficinas e congêneres integradas ao mercado de trabalho, e a situa-ção, nelas, das pessoas portadoras de deficiência;

IV – na área de recursos humanos: a) a formação de professores de nível médio para a Educação Especial, de técnicos de nível médio especiali-zados na habilitação e reabilitação, e de instrutores para formação pro-fissional; b) a formação e qualificação de recursos humanos que, nas diversas áreas de conhecimento, inclusive de nível superior, atendam à demanda e às necessidades reais das pessoas portadoras de deficiências; c) o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico em todas as áreas do conhecimento relacionadas com a pessoa portadora de de-ficiência;

V – na área das edificações: a) a adoção e a efetiva execução de normas que garantam a funcionalidade das edificações e vias públicas, que evitem ou removam os óbices às pessoas portadoras de deficiência, permitam o acesso destas a edifícios, a logradouros e a meios de transporte.”

Os crimes estão previstos em diversos incisos do art. 8º da Lei nº 7.853/89. Diz o art. 8º: “Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa: I – recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qual-quer curso ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta; II – obstar, sem justa causa, o acesso de alguém a qualquer cargo público, por motivos derivados de sua deficiência; III – negar, sem justa cau-sa, a alguém, por motivos derivados de sua deficiência, emprego ou trabalho; IV – recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de prestar assistên-cia médico-hospitalar e ambulatorial, quando possível, à pessoa portadora de deficiência; V – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei; VI – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.”

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110O inciso I fala em recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar,

sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qual-quer curso ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta. Trata-se de crime próprio, uma vez que o sujeito ativo é o respon-sável pelo estabelecimento de ensino e o sujeito passivo é o aluno portador de deficiência.

Exercício

53. É correto afirmar que a Lei nº 7.853/89:I – Tipifica as condutas discriminatórias que negam direitos funda-mentais básicos a pessoas com deficiência nas áreas da educação, da saúde, do emprego ou trabalho e de acesso ao concurso público.II – Tipifica condutas que obstaculizam a preservação de interesses coletivos, difusos e individuais homogêneos de pessoas com deficiên-cia protegidos por lei, na tramitação de inquérito civil e ajuizamento de ação civil pública.III – Tipifica condutas que obstaculizam a administração da justiça ao proteger a execução de ordem judicial no âmbito da ação civil pública para a defesa de interesses coletivos, difusos e individuais homogêneos da pessoa com deficiência.Marque a alternativa CORRETA:a) todos os itens são corretos;b) apenas os itens I e II são corretos;c) apenas os itens I e III são corretos;d) apenas os itens II e III são corretos;e) N.R.A.

2. Pessoas Portadoras de Deficiência, sua Integração Social – Lei nº 7.853/89 – Parte II

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 7.853/89, sendo realizadas considerações importantes a res-peito das pessoas portadoras de deficiência e sua integração social.

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2.2 Síntese

O art. 8º dispõe: “Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa:”

Seu inciso II estabelece: “obstar, sem justa causa, o acesso de alguém a qual-quer cargo público, por motivos derivados de sua deficiência.” Temos aqui como objeto jurídico o direito ao acesso a qualquer cargo público das pessoas portado-ras de deficiência. O elemento subjetivo é o dolo e a tentativa é admitida.

O inciso III traz: “negar, sem justa causa, a alguém, por motivos derivados de sua deficiência, emprego ou trabalho.” Aqui, o sujeito ativo pode ser qual-quer pessoa. O objeto jurídico é o direito ao trabalho da pessoa portadora de deficiência.

O inciso IV dispõe: “recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial, quando possível, à pessoa portadora de deficiência.” Temos mais uma vez um crime próprio e o elemento subjetivo é o dolo. A tentativa só será possível nas condutas retardar e dificultar.

O inciso V traz: “deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei.”

O inciso VI traz: “recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministé-rio Público.”

É preciso ressaltar que a ação penal é sempre pública incondicionada.

Exercício

54. Considere como verdadeiro ou falso: I – Constitui crime recusar, retardar ou omitir dados técnicos indis-pensáveis à propositura da ação civil, objeto desta lei, quando requi-sitados pelo Ministério Público.II – Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da ação e suscetíveis de recurso, poderá recorrer qualquer legitimado ativo, in-clusive o Ministério Público.III – O crime de lesão corporal não deverá ter a pena majorada se a vítima for pessoa portadora de deficiência de qualquer espécie.

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Capítulo 10

Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/73)

1. Estatuto do Índio – Lei nº 6.001/73 – Parte I

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 6.001/73, sendo realizadas considerações sobre o Estatuto do Índio.

1.2 Síntese

O art. 1º do Estatuto do Índio dispõe: “Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de pre-servar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional.”

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113Seu parágrafo único estabelece: “Aos índios e às comunidades indígenas se

estende a proteção das leis do País, nos mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros, resguardados os usos, costumes e tradições indígenas, bem como as condições peculiares reconhecidas nesta Lei.”

No âmbito constitucional, o art. 231 dispõe: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos ori-ginários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.”

Seu § 1º traz: “São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades pro-dutivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.”

O § 2º dispõe: “As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam--se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.”

O § 3º traz: “O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os poten-ciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.”

O § 4º estabelece: “As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indis-poníveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.”

O § 5º traz: “É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, “ad referendum” do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retor-no imediato logo que cesse o risco.”

O § 6º dispõe: “São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às ben-feitorias derivadas da ocupação de boa fé.”

Ainda, o art. 232 da CF dispõe: “Os índios, suas comunidades e organiza-ções são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.”

Os arts. 3º e 4º do Estatuto do Índio trazem importantes definições. O art. 3º estabelece: “Para os efeitos de lei, ficam estabelecidas as definições a seguir discriminadas: I – Índio ou Silvícola – É todo indivíduo de origem e ascendên-

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114cia pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional; II – Comunidade Indígena ou Grupo Tribal – É um conjunto de famílias ou comunidades índias, quer vivendo em estado de completo isolamento em rela-ção aos outros setores da comunhão nacional, quer em contatos intermitentes ou permanentes, sem contudo estarem neles integrados.”

Já o art. 4º traz: “Os índios são considerados: I – Isolados – Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagos informes atra-vés de contatos eventuais com elementos da comunhão nacional; II – Em vias de integração – Quando, em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos, conservam menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de existência comuns aos demais setores da comunhão nacional, da qual vão necessitando cada vez mais para o próprio sustento; III – Integrados – Quando incorporados à comunhão nacional e re-conhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos, costumes e tradições característicos da sua cultura.”

O art. 2º dispõe: “Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das respectivas administrações indiretas, nos limites de sua competên-cia, para a proteção das comunidades indígenas e a preservação dos seus direitos: I – estender aos índios os benefícios da legislação comum, sempre que possível a sua aplicação; II – prestar assistência aos índios e às comunidades indígenas ainda não integrados à comunhão nacional; III – respeitar, ao proporcionar aos índios meios para o seu desenvolvimento, as peculiaridades inerentes à sua con-dição; IV – assegurar aos índios a possibilidade de livre escolha dos seus meios de vida e subsistência; V – garantir aos índios a permanência voluntária no seu habitat, proporcionando-lhes ali recursos para seu desenvolvimento e progres-so; VI – respeitar, no processo de integração do índio à comunhão nacional, a coesão das comunidades indígenas, os seus valores culturais, tradições, usos e costumes; VII – executar, sempre que possível mediante a colaboração dos ín-dios, os programas e projetos tendentes a beneficiar as comunidades indígenas; VIII – utilizar a cooperação, o espírito de iniciativa e as qualidades pessoais do índio, tendo em vista a melhoria de suas condições de vida e a sua integração no processo de desenvolvimento; IX – garantir aos índios e comunidades indígenas, nos termos da Constituição, a posse permanente das terras que habitam, reco-nhecendo-lhes o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes; X – garantir aos índios o pleno exercício dos direitos civis e políticos que em face da legislação lhes couberem.”

No que concerne à competência, são necessárias algumas observações. A primeira é a de que deve ser lembrado que a CF estabelece a competência dos juízes federais nas disputas sobre direitos indígenas. Assim, a competência é da justiça comum para o julgamento dos índios.

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Exercício

55. Acerca do Estatuto do Índio, considere a seguinte afirmação: No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os costumes, em que o ofendido seja índio não integrado ou comunidade indígena, a pena será agravada de um terço. Certo ou errado?

2. Estatuto do Índio – Lei nº 6.001/73 – Parte II

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 6.001/73, sendo realizadas considerações sobre o Estatuto do Índio.

2.2 Síntese

O art. 56 do Estatuto do Índio dispõe: “No caso de condenação de índio por infração penal, a pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o Juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola.”

Seu parágrafo único traz: “As penas de reclusão e de detenção serão cum-pridas, se possível, em regime especial de semiliberdade, no local de funciona-mento do órgão federal de assistência aos índios mais próximos da habitação do condenado.”

O art. 57 dispõe: “Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.”

O art. 58 nos traz: “Constituem crimes contra os índios e a cultura indí-gena: I – escarnecer de cerimônia, rito, uso, costume ou tradição culturais in-dígenas, vilipendiá-los ou perturbar, de qualquer modo, a sua prática. Pena – detenção de um a três meses; II – utilizar o índio ou comunidade indígena como objeto de propaganda turística ou de exibição para fins lucrativos. Pena – detenção de dois a seis meses; III – propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação de bebidas alcoólicas, nos grupos tribais ou entre índios não integrados. Pena – detenção de seis meses a dois anos.”

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116Seu parágrafo único nos diz: “As penas estatuídas neste artigo são agravadas

de um terço, quando o crime for praticado por funcionário ou empregado do órgão de assistência ao índio.”

É preciso ressaltar que um índio que esteja integrado não pode ser conside-rado sujeito passivo dessas figuras típicas.

Temos aqui um tipo misto alternativo, há um único crime, seja praticada uma ou várias condutas nucleares. O objeto material diz respeito à cultura indígena, e o objeto jurídico é a preservação da cultura indígena.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, uma vez que estamos diante de um crime comum.

Nota-se que o inciso I do art. 58, além do dolo, exige a vontade de menos-prezar a cultura indígena.

O art. 59 dispõe: “No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os cos-tumes, em que o ofendido seja índio não integrado ou comunidade indígena, a pena será agravada de um terço.”

Exercício

56. No que diz respeito ao Estatuto do Índio considere a seguinte afir-mação: No caso de condenação de índio por infração penal, a pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola.

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Capítulo 11

Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06)

1. Lei nº 11.340/06 – Lei Maria da Penha – Mecanismos de Coibição e Direitos Fundamentais

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 11.340/06, sendo realizadas considerações sobre a Lei Maria da Penha.

1.2 Síntese

A mulher, vítima de violência doméstica, efetivamente sofre violência físi-ca, ou psicológica, ou sexual ou de natureza patrimonial, as quais podem se dar

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118de forma isolada ou cumulativamente. Esta mulher deve procurar as autoridades em busca de auxílio (autoridades policiais).

O art. 11 da Lei nº 11.340/06 apresenta dois momentos: o primeiro é a questão do atendimento emergencial. Neste atendimento, a autoridade policial deve tomar algumas cautelas, sendo a primeira a proteção policial; a segunda medida é o encaminhamento desta mulher, que sofreu violência doméstica, ao hospital. Não havendo hospital na região, a mulher deve ser encaminhada ao posto de saúde. É preciso observar que se a mulher foi vítima de violência e precisa ser submetida à perícia imediata a coleta de sêmen, em caso de estupro, deve ser incluído o Instituto Médico Legal (IML); a terceira medida é o trans-porte desta mulher a um abrigo ou a um local seguro, caso não haja abrigo na comarca; a quarta medida é acompanhar a vítima para retirada de seus perten-ces de seu domicílio ou do local da ocorrência, se necessário; e, por fim, a quin-ta medida é a informação de seus direitos, bem como os serviços disponíveis.

É preciso entender que aqui deve haver a comunicação imediata ao Minis-tério Público e ao juiz.

É importante entender que a proteção policial não será aquela que acom-panha a pessoa em tempo integral.

Ainda, dispõe o art. 313, III, do Código de Processo Penal:“Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação

da prisão preventiva:(...)III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,

criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.”

Exercício

57. Sobre a Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha), que criou mecanis-mos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, é correto afirmar:a) A prisão preventiva do acusado passou a ser obrigatória, com a

inclusão do inciso IV ao art. 313 do Código de Processo Penal, que estabelece as hipóteses em que se admite a sua decretação.

b) Diversas medidas cautelares foram previstas, sob a denominação de “medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor”, per-mitindo ao magistrado a utilização imediata de instrumentos cí-veis e penais contra o acusado, alternativa ou cumulativamente.

c) O juiz competente para apuração do delito praticado contra a mulher deverá, quando for o caso, oficiar imediatamente ao juí-

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119zo cível para a adoção de medidas consideradas urgentes, como a separação de corpos e a prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

d) As medidas restritivas de direito previstas na lei, como a proibição de frequentar determinados lugares, têm caráter de pena e, por-tanto, só podem ser aplicadas pelo juiz ao final do procedimento.

2. Lei Maria da Penha – Procedimento e Medidas de Urgência

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 11.340/06, sendo realizadas considerações sobre a Lei Maria da Penha, como o procedimento e medidas de urgência.

2.2 Síntese

O art. 12 da Lei nº 11.340/06 trata dos procedimentos e dispõe:“Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mu-

lher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de ime-diato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:

I – ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;

II – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;

III – remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;

IV – determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários;

V – ouvir o agressor e as testemunhas;VI – ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha

de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;

VII – remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.”

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120O art. 41 dispõe que não se aplica o Juizado Especial Criminal em caso de

violência doméstica contra a mulher.O art. 15 da Lei Maria da Penha trata da competência e estabelece:“Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis

regidos por esta Lei, o Juizado:I – do seu domicílio ou de sua residência;II – do lugar do fato em que se baseou a demanda;III – do domicílio do agressor.”É possível observar que o domicílio do agressor não é a primeira hipótese

de competência cível.Ainda, uma peculiaridade das Varas do Juizado de Violência Doméstica e

Familiar contra a Mulher é a possibilidade de realização de atos processuais no período noturno.

Quanto às medidas protetivas de urgência, dispõe o art. 18 da Lei nº 11.340/06:

“Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:

I – conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas proteti-vas de urgência;

II – determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso;

III – comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.”

Exercício58. A Lei Maria da Penha cria mecanismos para coibir a violência do-

méstica e familiar contra as mulheres e dispõe de medida protetiva de urgência que estabelece:a) A notificação da ofendida dos atos processuais relativos ao agres-

sor e a responsabilidade da ofendida em entregar a intimação de notificação ao agressor.

b) A sua concessão de imediato, mediante realização de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público.

c) O prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ao juiz, depois de recebi-do o expediente com o pedido da ofendida, conhecer e decidir sobre as medidas protetivas de urgência.

d) A sua concessão ocorrer mediante solicitação exclusiva do Mi-nistério Público.

e) A irrevogabilidade da prisão preventiva do agressor antes do tér-mino do processo.

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3. Lei Maria da Penha – Ação Penal e Aspectos Relevantes

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 11.340/06, sendo realizadas considerações sobre a ação penal.

3.2 Síntese

Existe um Ministério Público que trabalha somente com violência domés-tica e familiar.

O Ministério Público atua no plano civil, como quando há interesses de incapazes. Exemplo: divórcio em que haja um menor de idade. Trata-se de uma decisão civil que envolve família.

É importante que este mesmo promotor tenha conhecimento cível (em especial família, sucessões) e criminal.

O Ministério Público, quando necessário, pode requisitar força policial, serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e de seguran-ça. Também deve fiscalizar os estabelecimentos públicos de atendimento à mulher em situação de violência. Deve, ainda, cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Se a mulher, vítima de violência doméstica, não possui um defensor, esta receberá assistência judiciária gratuita de um Defensor Público.

É importante frisar que, antes da criação de vara específica, a competên-cia para casos tratados na lei fica com a vara criminal, que ganha competência cumulativa com a competência cível.

O art. 41 reza:“Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,

independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.”

É preciso observar que a composição civil é afastada, bem como a transação penal. Outro benefício trazido pela Lei nº 9.099/95 é a suspensão do processo, que também não pode ser aplicado a crimes que envolvam a Lei Maria da Penha, não importando a pena do crime.

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Exercício

59. A Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha) resguarda os direitos da mulher contra a violência doméstica e familiar. No plano processual, pode-se afirmar que:a) Possui rito especial, previsto na Lei nº 11.340.b) Possui rito especial que será utilizado, em todo o País, apenas

nos casos em que a vítima for do gênero feminino.c) Proíbe a concessão de fiança ou liberdade provisória, quando

qualquer infração penal for praticada contra a mulher.d) Proíbe a aplicação da Lei nº 9.099/95, mesmo para as infrações

penais de menor potencial ofensivo, quando praticadas contra a vítima mulher.

4. Lei Maria da Penha – Noções Gerais

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 11.340/06, realizando-se considerações gerais acerca desta lei.

4.2 Síntese

A Lei Maria da Penha tem uma peculiaridade: é destinada especialmente à proteção da mulher, tendo previsão constitucional.

Fórmula: violência + vulnerabilidade + mulher = aplicação da Lei Maria da Penha. Assim, para que se aplique a lei aqui estudada, é importante que se tenha a violência, as situações de vulnerabilidade e que a vítima seja do sexo feminino.

Há cinco espécies de violência: física, sexual, psicológica, patrimonial e moral.

A violência psicológica está presente, por exemplo, no crime de ameaça. Já a violência moral atinge a moral da mulher, como no crime de injúria, por exemplo.

Quanto às situações de vulnerabilidade, há três hipóteses:A primeira é o ambiente doméstico (critério espacial). O segundo critério

é o da relação familiar (critério de parentesco). A terceira hipótese é chamada de relação íntima de afeto.

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123É preciso entender que “ficar” não caracteriza a situação de vulnerabilida-

de, tendo sido o fato decidido pelo STJ.Ainda, faz-se necessário observar que a relação íntima de afeto dispensa a

coabitação.Outro ponto importante é que a mulher possui proteção, ainda que o sujei-

to seja ex-namorado.Em relação à empregada doméstica, nota-se que não há relação íntima de

afeto, mas existe o âmbito doméstico. Assim, a empregada doméstica está prote-gida contra a violência de seu patrão ou de um terceiro no ambiente doméstico.

Exercício

60. Não constitui forma de violência contra a mulher:a) Violência física.b) Violência sexual.c) Violência cultural.d) Violência patrimonial.

5. Lei Maria da Penha – Evolução Jurisprudencial

5.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados aspectos importantes a respeito da Lei nº 11.340/06, tecendo-se considerações sobre a evolução jurisprudencial.

5.2 Síntese

No momento em que a lei foi criada, segundo as estatísticas, a grande víti-ma era a mulher. Assim, como o homem é exceção, já estaria protegido pelo Código Penal. Contudo, a prática demonstrou que o homem também pode ser vítima em relações íntimas de afeto. Desta forma, em alguns casos, o Poder Judiciário aplicou trechos da Lei Maria da Penha para proteção do homem, ressaltando-se que esta não é a regra.

O transexual é aquele que nasce com uma personalidade diferente do cor-po que carrega, sendo realizadas cirurgias para alterar o sexo. No caso do tran-sexual, a jurisprudência entendeu que este necessita de proteção, uma vez que juridicamente trata-se de mulher.

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124Quanto à empregada doméstica, esta também está protegida pela lei aqui

estudada, conforme julgado do STJ.Ainda, a lei protege a vítima mulher, não necessitando que o agressor seja

do sexo masculino.Conforme visto anteriormente, a ex-namorada também se encontra prote-

gida pela Lei Maria da Penha.Faz-se necessário entender, que em se tratando de casal de namoradas (ho-

mossexualismo), há incidência da proteção da lei. Isso porque, não há distinção de orientação sexual. Observe-se, no entanto, que em se tratando de casal ho-mossexual masculino, não há aplicação da lei.

Exercício61. De acordo com a letra estrita da Lei nº 11.340, a titularidade dos

direitos previstos pertence:a) Ao homem.b) Ao irmão.c) Ao idoso.d) À neta.

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Capítulo 12

Genocídio (Lei nº 2.889/56)

1. Lei nº 2.889/56 – Lei de Genocídio – Competência, Elementos e Características

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 2.889/56, sendo realizadas considerações sobre o Genocídio.

1.2 Síntese

O crime de genocídio é considerado hediondo na sua forma tentada ou consumada, sendo a ele aplicáveis todas as consequências decorrentes da Lei nº 8.072/90.

A competência para processar e julgar o crime irá variar de acordo com a conduta do agente e, consequentemente, conforme o bem jurídico por ele

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126diretamente ofendido. Portanto, quando se tratar de crime doloso contra a vida, por exemplo, a competência será do Tribunal do Júri. Nas demais hipóteses do art. 1º será competente o juízo monocrático estadual.

A regra é que a competência seja da justiça estadual, podendo ser deslocada para a justiça federal em duas hipóteses: quando houver violação aos direitos humanos e quando for praticado contar comunidade indígena.

O art. 1º que trata do genocídio dispõe: “Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) ado-tar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra “a”; Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra “b”; Com as penas do art. 270, no caso da letra “c”; Com as penas do art. 125, no caso da letra “d”; Com as penas do art. 148, no caso da letra “e”.”

É preciso lembrar que a quantidade de vítimas não importa, basta que o agente tenha a intenção de eliminação de indivíduos de mesma nacionalidade, etnia, raça ou religião. Isso porque poderá o autor matar um a um do grupo, estando ainda assim caracterizado o genocídio.

O genocídio é um crime comum, ou seja, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito passivo é qualquer um vinculado a certo grupo étnico, racial ou religioso.

Exercício

62. Sobre os crimes hediondos, assinale a alternativa incorreta:a) A tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e o terrorismo são

crimes equiparados a crimes hediondos.b) Os crimes considerados hediondos são insuscetíveis de anistia,

graça, indulto e livramento condicional.c) O homicídio simples é considerado crime hediondo somente

quando praticado por grupo de extermínio.d) Considera-se também hediondo o crime de genocídio na sua

forma consumada ou tentada.e) N.R.A.

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2. Genocídio – Lei nº 2.889/56

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei nº 2.889/56, dando continuidade às considerações sobre o Ge-nocídio.

2.2 Síntese

A letra “b” do art. 1º da Lei nº 2.889/56 dispõe: “causar lesão grave à inte-gridade física ou mental de membros do grupo.” O termo lesão grave pode ser lesão gravíssima ou lesão grave propriamente dita.

Temos aqui o dolo como elemento subjetivo, não se podendo punir na forma culposa por ausência de previsão legal.

Ainda, o delito pode ser praticado por qualquer pessoa, portanto trata-se de um crime comum.

A letra “c” do mesmo artigo traz: “submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial.” O sujeito ativo é qualquer pessoa, por se tratar de um crime comum.

O dolo é o elemento subjetivo, tendo como elemento específico destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso.

A letra “d” dispõe: “adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo.” Pode ocorrer em dois momentos: o primeiro momento ocorre antes da concepção e o segundo durante a gravidez.

A letra “e” traz: “efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo”.

O art. 2º traz: “Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos cri-mes mencionados no artigo anterior: Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.” O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo é a humanidade.

O art. 3º dispõe: “Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qual-quer dos crimes de que trata o art. 1º: Pena: Metade das penas ali cominadas.” Seu § 1º traz: “A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se consumar.” Ainda, o § 2º traz: “A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida pela imprensa.”

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Exercício

63. Acerca dos crimes hediondos, julgue os itens em (C) CERTO ou (E) ERRADO.a) Segundo o disposto na legislação específica, são crimes hedion-

dos, entre outros, o homicídio qualificado, o latrocínio, a epide-mia com resultado morte e o genocídio.

b) Suponha que Francisco, imputável, suspeito da prática de crime de estupro seguido de morte, seja preso em flagrante delito e, no decorrer de seu interrogatório na esfera policial, confesse a autoria do crime, mas, após a comunicação da prisão ao juiz competente, verifique-se, pela prova pericial, que Francisco foi torturado para a confissão do crime. Nessa situação, deverá a autoridade judiciária, mesmo se tratando de crime hediondo, relaxar a prisão de Francisco, sem prejuízo da responsabilização dos autores da tortura.

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Capítulo 13

Racismo

1. Racismo – Lei nº 7.716/891.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito do racismo, Lei nº 7.716/89, sendo estudados aqui os arts. 3º e 4º.

1.2 SínteseO art. 1º da Lei dispõe: “Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes re-

sultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou pro-cedência nacional.”

Discriminação é o ato de diferenciar e separar pessoas ou coisas. Já precon-ceito significa conceituar ou opinar sobre algo antes de se obter conhecimentos adequados.

A raça está ligada a um conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, como a cor da pele e o tipo de cabelo, que são semelhantes e se transmitem por hereditariedade, embora variem de indivíduo para indivíduo.

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130O art. 3º dispõe: “Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente ha-

bilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.”

Seu parágrafo único traz: “Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional.”

O art. 4º nos traz: “Negar ou obstar emprego em empresa privada.” O § 1º dispõe: “Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: I – deixar de conceder os equipamentos necessários ao em-pregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; II – impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profis-sional; III – proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário.”

O § 2º dispõe: “Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências.”

Exercício

64. É crime de preconceito, definido na Lei nº 7.716/89:a) Impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso.b) Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer ou-

tro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave.c) Reduzir alguém à condição análoga à de escravo, submetendo-

lhe a trabalhos forçados.d) Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou

residenciais e elevadores ou escada de acesso a estes.

2. Racismo – Crimes em Espécie Previstos na Lei nº 7.716/89

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito do racismo, Lei nº 7.716/89, sendo estudados aqui os crimes em espécie.

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2.2 Síntese

O art. 5º da Lei nº 7.716/89 dispõe: “Recusar ou impedir acesso a estabele-cimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou compra-dor. Pena: reclusão de um a três anos.”

O art. 6º dispõe: “Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de alu-no em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. Pena: reclusão de três a cinco anos.”

Seu parágrafo único dispõe: “Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).”

O art. 7º nos traz: “Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. Pena: reclusão de três a cinco anos.”

O sujeito ativo será o proprietário ou responsável pelo hotel, pensão, es-talagem ou estabelecimento similar. Aqui é admitida a tentativa na conduta impedir.

O art. 8º dispõe: “Impedir o acesso ou recusar atendimento em restauran-tes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público. Pena: reclu-são de um a três anos.” Nota-se que aqui também deve ser feita interpretação analógica, por trazer “locais semelhantes”.

O art. 9º estabelece: “Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabe-lecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público. Pena: reclusão de um a três anos.”

O art. 10 dispõe: “Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de ca-beleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades. Pena: reclusão de um a três anos.” Até mesmo SPA pode ser considerado para o dispositivo.

Exercício

65. Leia e analise os itens abaixo:I – É crime negar ou obstar emprego em empresa privada, punível com a pena de reclusão de dois a cinco anos, resultante de discrimi-nação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.II – No crime de negação, sem justa causa, de emprego ou trabalho à pessoa com deficiência, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa com poder para realizar a conduta típica, desde que detenha cargo de direção na empresa.

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132III – Constitui crime punível com reclusão de seis meses a um ano e multa negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho, segundo o Estatuto do Idoso. Marque a alternativa CORRETA:a) todos os itens são corretos;b) apenas os itens I e II são corretos;c) apenas os itens I e III são corretos;d) apenas os itens II e III são corretos;e) não respondida.

3. Aspectos Finais

3.1 Apresentação

Nesta unidade, dar-se-á continuidade ao estudo dos aspectos mais impor-tantes a respeito do racismo, Lei nº 7.716/89.

3.2 Síntese

O art. 11 da Lei nº 7.716/89 dispõe: “Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mes-mos: Pena: reclusão de um a três anos.”

O art. 12 estabelece: “Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido. Pena: reclusão de um a três anos.”

Existe uma discussão aqui, a respeito de táxi, se estaria ou não incluso no dispositivo. Alguns entendem que não, em respeito ao princípio da reserva legal e outros entendem que sim, argumentando que o taxista presta serviço público.

O art. 13 dispõe: “Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qual-quer ramo das Forças Armadas. Pena: reclusão de dois a quatro anos.”

Já o art. 14 nos traz: “Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o ca-samento ou convivência familiar e social. Pena: reclusão de dois a quatro anos.” O crime aqui é comum, pode ser cometido por qualquer pessoa.

O art. 16 dispõe: “Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou fun-ção pública, para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do esta-belecimento particular por prazo não superior a três meses.”

É preciso ressaltar que tais efeitos não são automáticos, conforme reza o art. 18: “Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.”

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133O art. 20 traz: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito

de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa.”

O § 1º traz: “Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, em-blemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.”

O § 2º nos diz: “Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natu-reza: Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.”

O § 3º dispõe: “No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ou-vido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: I – o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo; II – a cessação das respectivas transmis-sões radiofônicas ou televisivas. III – a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores.”

O § 4º diz: “Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido.”

Exercício66. A respeito da Lei nº 7.716, de 05/01/1989, e alterações posteriores,

que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, considere: I – A perda do cargo constitui efeito automático da condenação por crime resultante de preconceito de raça ou de cor praticado por ser-vidor público. II – Constitui crime punido com reclusão de dois a cinco anos e multa, fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, em-blemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. III – A suspensão do funcionamento do estabelecimento particular pelo prazo de três meses constitui efeito automático da condenação por crime resultante de preconceito de raça ou de cor praticado por seu responsável. Está correto o que se afirma SOMENTE em:a) III.b) I e II.c) I e III.d) II e III.e) II.

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Capítulo 14

Lei dos Agrotóxicos – Lei nº 7.802/89

1. Lei dos Agrotóxicos

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei dos Agrotóxicos.

1.2 Síntese

O art. 1º da Lei nº 7.802/89 dispõe: “A pesquisa, a experimentação, a pro-dução, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercia-lização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, serão re-gidos por esta Lei.”

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135O art. 2º traz o conceito de agrotóxicos: “Para os efeitos desta Lei, conside-

ram-se: I – agrotóxicos e afins: a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no arma-zenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a compo-sição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; b) substâncias e produtos, empregados como desfolhan-tes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento; II – componentes: os princípios ativos, os produtos técnicos, suas matérias-primas, os ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação de agrotóxicos e afins.”

O art. 14 dispõe: “As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização, transporte e destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, não cumprirem o disposto na legisla-ção pertinente, cabem: a) ao profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida; b) ao usuário ou ao prestador de serviços, quando proceder em desacordo com o receituário ou as recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; c) ao comerciante, quando efe-tuar venda sem o respectivo receituário ou em desacordo com a receita ou recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; d) ao registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou fornecer informações incorretas; e) ao produtor, quando produzir mercadorias em de-sacordo com as especificações constantes do registro do produto, do rótulo, da bula, do folheto e da propaganda, ou não der destinação às embalagens va-zias em conformidade com a legislação pertinente; f) ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos adequados à proteção da saúde dos trabalhadores ou dos equipamentos na produção, distribuição e aplicação dos produtos.”

O art. 15 estabelece: “Aquele que produzir, comercializar, transportar, apli-car, prestar serviço, der destinação a resíduos e embalagens vazias de agrotóxi-cos, seus componentes e afins, em descumprimento às exigências estabelecidas na legislação pertinente estará sujeito à pena de reclusão, de dois a quatro anos, além de multa.”

O art. 16 traz: “O empregador, profissional responsável ou o prestador de serviço, que deixar de promover as medidas necessárias de proteção à saúde e ao meio ambiente, estará sujeito à pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, além de multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR. Em caso de culpa, será punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, além de multa de 50 (cinqüenta) a 500 (quinhentos) MVR.”

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Exercício

67. Com relação ao controle, à inspeção e à fiscalização de produtos tóxicos, julgue os itens que se seguem.I – Possuem legitimidade para requerer o cancelamento ou a impug-nação do registro de agrotóxicos e afins, arguindo prejuízos ao meio ambiente, à saúde humana e dos animais, as entidades de classe re-presentativas de profissões ligadas ao setor e as entidades constituídas para a defesa dos interesses difusos relacionados à proteção do con-sumidor, do meio ambiente e dos recursos naturais, bem como os partidos políticos com representação no Congresso Nacional.II – A Lei dos Agrotóxicos (Lei nº 7.802/89) proíbe o fracionamento e a reembalagem de agrotóxicos e afins com o objetivo de comer-cialização.III – As pessoas físicas e jurídicas que sejam prestadoras de serviços na aplicação de agrotóxicos, seus componentes e afins, ou que os produzam, importem, exportem ou comercializem, ficam obrigadas a promover os seus registros nos órgãos competentes, do estado ou do município, atendidas as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis que atuem nas áreas da saúde, do meio ambiente e da agricultura.IV – Compete exclusivamente à União legislar sobre o uso, a produ-ção, o consumo, o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos e de seus componentes e afins.V – Os agrotóxicos, seus componentes e afins só poderão ser pro-duzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados se previamente registrados nos órgãos estaduais de controle ambiental.Estão certos apenas os itens:a) I e II.b) I e III.c) II e V.d) III e IV.e) IV e V.

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Capítulo 15

Lei das Contravenções Penais – Decreto-lei nº 3.688/41

1. Lei das Contravenções Penais – Introdução

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo feita aqui introdução acerca do assunto.

1.2 Síntese

Infração penal é gênero, que se subdivide em duas espécies: crime e con-travenção. Crime é punido com detenção ou reclusão e contravenção é punida com prisão simples.

A competência para julgar contravenções penais nunca será da Justiça Fe-deral, mas sim da Justiça Estadual.

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138É preciso observar que toda contravenção penal será de competência do

Juizado Especial Criminal, independente da pena máxima.A Lei de Contravenções Penais é dividida em duas partes: parte geral e parte

especial. A parte geral traz uma série de regras gerais, que norteiam a aplicação e

interpretação de todas as infrações em espécie. O art. 1º da Lei de Contravenções dispõe:“Art. 1º Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código Penal, sem-

pre que a presente lei não disponha de modo diverso.”O art. 2º do mesmo diploma estabelece:“Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território

nacional.”Observa-se aqui que esta lei não possui extraterritorialidade, de forma diver-

sa do disposto no Código Penal. Por fim, é preciso observar dois sinônimos para contravenção penal: delito

anão e delito liliputiano.

2. Estudo Comparativo – Código Penal e Lei de Contravenções Penais

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo estudada a tentativa e as penas.

2.2 Síntese

O art. 3º da Lei das Contravenções Penais estabelece:“Art. 3º Para a existência da contravenção, basta a ação ou omissão voluntá-

ria. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra, qualquer efeito jurídico.”

No entanto, é preciso observar que a Constituição Federal de 1988 assegura um mínimo de dolo ou culpa para que exista infração penal.

O art. 4º do mesmo diploma traz uma premissa clássica que deve ser ob-servada:

“Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.”

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139O art. 5º apresenta quais são as penas, trazendo a seguinte redação:“Art. 5º As penas principais são:I – prisão simples.II – multa.”A prisão simples deve ser cumprida sem rigor penitenciário, em regime

semiaberto ou aberto. O art. 6º, § 1º, da Lei das Contravenções Penais traz uma regra importante,

repetindo o art. 300 do CPP e a Lei de Execução Penal, dispondo:“§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos con-

denados a pena de reclusão ou de detenção.”Ainda, o trabalho para quem for condenado definitivamente por contra-

venção penal é facultativo. Todavia, se a pena passar de quinze dias, o trabalho passará a ser obrigatório.

O art. 21 do Código Penal fala do erro de proibição, que significa o desco-nhecimento de que aquele ato é proibido pelo Direito. O juiz analisa no caso concreto se aquela pessoa não tinha como conhecer a lei. Caso o juiz entenda desta forma, afasta-se a culpabilidade.

Na Lei de Contravenções Penais, dispõe o art. 8º:“Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando

escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada.”Pode ser notado que aqui há uma exclusão de punibilidade e não de cul-

pabilidade. Quanto à multa, estabelece o art. 9º da Lei de Contravenções Penais:“Art. 9º A multa converte-se em prisão simples, de acordo com o que dispõe

o Código Penal sobre a conversão de multa em detenção.”Ocorre que, desde 1996, o sistema de descumprimento de multa se tornar

cadeia não existe mais. O que acontece hoje é que em caso de não pagamento da multa, converte-se em dívida de valor, vai para a Procuradoria da Fazenda e o sujeito sofre uma Execução Fiscal.

O Código Penal dispõe que o máximo que um indivíduo pode permanecer preso no Brasil é trinta anos. Já na lei aqui estudada, o prazo máximo é cinco anos. Dispõe o art. 10:

“Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos.”

O art. 11 estabelece:“Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspender por

tempo não inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de prisão simples, bem como conceder livramento condicional.”

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3. Efeitos da Condenação, Medida de Segurança e Ação Penal

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo estudadas as penas, como a medida de segurança, bem como a ação penal.

3.2 Síntese

O art. 12 da Lei de Contravenções Penais trata de penas acessórias, mas é necessário entender que não mais existem penas acessórias no sistema criminal brasileiro. Neste sentido, é preciso interpretar a expressão “penas acessórias” como efeitos da condenação.

“Art. 12. As penas acessórias são a publicação da sentença e as seguintes interdições de direitos:

I – a incapacidade temporária para profissão ou atividade, cujo exercício dependa de habilitação especial, licença ou autorização do poder público;

II – a suspensão dos direitos políticos.”A incapacidade para exercício de profissão ou atividade dura de um mês

a dois anos, desde que o motivo da prática da infração tenha relação com sua profissão. Já a suspensão dos direitos políticos dura enquanto durar a execução da pena.

O art. 13 da Lei de Contravenções possui a seguinte redação:“Art. 13. Aplicam-se, por motivo de contravenção, as medidas de segurança

estabelecidas no Código Penal, à exceção do exílio local.”O art. 14 estabelece:“Art. 14. Presumem-se perigosos, além dos indivíduos a que se referem os

ns. I e II do art. 78 do Código Penal:I – o condenado por motivo de contravenção cometido, em estado de em-

briaguez pelo álcool ou substância de efeitos análogos, quando habitual a em-briaguez;

II – o condenado por vadiagem ou mendicância.”Tal dispositivo deve ser considerado como revogado tacitamente por ser

incompatível com a ordem constitucional.O art. 15 dispõe:“Art. 15. São internados em colônia agrícola ou em instituto de trabalho,

de reeducação ou de ensino profissional, pelo prazo mínimo de um ano: (Regulamento)

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141I – o condenado por vadiagem (art. 59);II – o condenado por mendicância (art. 60 e seu parágrafo).”Faz-se necessário advertir que a contravenção penal de mendicância foi

revogada expressamente no ano de 2009.O prazo mínimo para que uma pessoa fique internada em manicômio ju-

diciário, no Código Penal, é de um a três anos e na lei aqui estudada são seis meses (art. 16).

O parágrafo único do art. 16 também está revogado tacitamente, uma vez que trata da liberdade vigiada, modalidade de medida de segurança que não mais existe.

Por fim, o art. 17 da Lei de Contravenções Penais dispõe que a ação penal é pública.

4. Reincidência

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo estudada agora a reincidência.

4.2 Síntese

Acerca da reincidência, dispõe o art. 7º da Lei de Contravenções Penais:“Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contraven-

ção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.”

É preciso entender que contravenção anterior ao crime não torna o sujeito reincidente. O art. 63 do Código Penal dispõe que será considerado reincidente aquele que praticar um crime anterior e não uma contravenção anterior.

Desta forma, havendo contravenção anterior definitivamente julgada e cri-me posterior, o sujeito não é reincidente por falta de previsão legal.

Se o sujeito praticou um crime e pratica outro crime, é reincidente. Se o sujeito praticou contravenção e pratica outra contravenção, é reincidente. Se o sujeito praticou crime em primeiro lugar, é reincidente, mas se praticou contravenção, em primeiro lugar, não é reincidente.

Ainda, quem praticar contravenção no estrangeiro, não é punido aqui no Brasil. Neste sentido, se não importa para fins de punição, não importa tam-bém para fins de reincidência.

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142A reincidência é uma circunstância agravante de natureza pessoal. Assim,

na segunda fase da dosimetria da sentença, o juiz aumentará a pena.É preciso observar que cinco anos depois de extinta a pena em que foi reco-

nhecida a reincidência, o sujeito volta a ser tecnicamente primário.Para que se prove a reincidência, é preciso da Certidão de Antecedentes

Criminais, não podendo ser atestado, xerox de processo, dentre outros do-cumentos.

Havendo no primeiro processo perdão judicial, transação penal na audiên-cia preliminar, suspensão do processo no oferecimento da denúncia, composi-ção civil dos danos na audiência preliminar ou ainda crime militar próprio ou crime político, não há que se falar em reincidência.

Se o crime anterior for tentado ou culposo, sendo praticado outro delito, haverá reincidência.

Se o sujeito for condenado à pena de multa no primeiro processo, o sujeito também será reincidente.

Por fim, é preciso observar que a reabilitação criminal não elimina a reincidência.

5. Parte Especial – Arma Branca

5.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo estudada agora a parte especial, começando pelos arts. 18 e 19.

5.2 Síntese

A parte especial da Lei de Contravenções Penais começa com as contraven-ções referentes à pessoa.

Os arts. 18 e 19 foram tacitamente revogados pela Lei de Armas de 1997 que, por sua vez, foi revogada expressamente pelo Estatuto do Desarmamento em 2003.

Entretanto, o art. 19 continua sendo utilizado em relação às chamadas ar-mas brancas (aquilo que não é arma de fogo, aquilo que não é uma arma rela-cionada à explosão, pólvora, projéteis). Exemplo de arma branca: faca, peixeira, foice, pedaços de pau com pregos, etc.

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143Dispõe o art. 19 da Lei de Contravenções Penais:“Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem

licença da autoridade:Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos

mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente.” É preciso que seja observada a voluntariedade. Se o sujeito está com a

arma branca e se encontra voluntariamente apto a praticar algo mais sério, está caracterizada voluntariedade para infração penal. Tirando a voluntariedade, exclui-se o elemento subjetivo do injusto e, portanto, teoricamente não foi pra-ticada a contravenção penal.

Ainda, acerca da confiscação da arma branca, o entendimento jurispruden-cial majoritário é de que a arma pode ser apreendida.

6. Das Contravenções Referentes à Pessoa

6.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo estudada a contravenção denomi-nada vias de fato e a ação penal.

6.2 SínteseO art. 20 da Lei de Contravenções Penais traz a seguinte redação:“Art. 20. Anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar

aborto:Pena – multa de hum mil cruzeiros a dez mil cruzeiros.”Aborto é o ato de interromper involuntariamente o processo de gestação,

ou seja, quando a gestação é artificialmente interrompida, existe o crime de aborto, previsto no Código Penal.

Nota-se que apesar do artigo acima referido trazer uma pena pecuniária, é uma pena criminal, trata-se de uma infração penal.

O art. 21 estabelece:“Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil

réis a um conto de réis, se o fato não constitui crime.Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a

vítima é maior de 60 (sessenta) anos.”Vias de fato é todo ato de violência física que não caracteriza lesão corpo-

ral, é uma violência que não consegue deixar lesão corporal para ser periciada

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144como lesão. Exemplos: sujeito dá um tapa nas costas de outro indivíduo; rasgar a roupa da pessoa; puxão de cabelo, etc.

Quanto à ação penal, o art. 88 da Lei nº 9.099/95 modificou o tipo de ação penal, dispondo que para lesão corporal leve é necessária representação:

“Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, de-penderá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.”

Ronaldo Batista Pinto, Guilherme Nucci e Damásio de Jesus defendem que por analogia esta representação também migrou para vias de fato. A se-gunda corrente, em que consta até mesmo o STF, defende que o art. 17 da parte geral das contravenções dispõe que para toda contravenção a ação penal é pública incondicionada.

O art. 22 da lei aqui estudada dispõe:“Art. 22. Receber em estabelecimento psiquiátrico, e nele internar, sem as

formalidades legais, pessoa apresentada como doente mental:Pena – multa, de trezentos mil réis a três contos de réis.”Assim, é possível internação, desde que sejam respeitadas as formalidades

legais. Traz os §§ 1º e 2º do dispositivo referido:“§ 1º Aplica-se a mesma pena a quem deixa de comunicar a autoridade

competente, no prazo legal, internação que tenha admitido, por motivo de urgência, sem as formalidades legais.

§ 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três meses, ou mul-ta de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, aquele que, sem observar as prescrições legais, deixa retirar-se ou despede de estabelecimento psiquiátrico pessoa nele, internada.”

O art. 23 encerra a parte que trata das contravenções referentes à pessoa e dispõe:

“Art. 23. Receber e ter sob custódia doente mental, fora do caso previsto no artigo anterior, sem autorização de quem de direito:

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.”

7. Das Contravenções Referentes ao Patrimônio

7.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo estudadas agora as contravenções referentes ao patrimônio.

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7.2 Síntese

Subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel, se for sem violência é furto e se for com violência ou grave ameaça é roubo, sendo ambos delitos previstos no Código Penal.

Todavia, a Lei de Contravenções Penais traz três artigos (24, 25 e 26) que apresentam uma antecipação do momento de tutela penal para condutas ante-riores ao furto ou ao roubo.

O art. 24 da Lei de Contravenções Penais dispõe: “Art. 24. Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumento empregado usual-

mente na prática de crime de furto:Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, de trezentos mil

réis a três contos de réis.”O art. 25 da mesma lei estabelece:“Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de

furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove destinação legítima:

Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, e multa de duzentos mil réis a dois contos de réis.”

Já o art. 26 tem a seguinte redação:“Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão de serralheiro ou oficio

análogo, a pedido ou por incumbência de pessoa de cuja legitimidade não se tenha certificado previamente, fechadura ou qualquer outro aparelho destina-do à defesa de lugar nu objeto:

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de réis.”

Quanto ao art. 25, se o sujeito tem consigo, em seu bolso, uma chave falsa, por exemplo, mas não há condenação anterior, então, não responderá por este artigo, uma vez que é elementar típica desta infração ser depois de condenado.

Ainda, é preciso observar que a liberdade vigiada não foi mantida pela nova parte geral do Código Penal.

Quando se fala em mendigo ou mendicância, é necessário entender que houve revogação expressa.

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8. Das Contravenções Referentes à Incolumidade Pública – Parte I

8.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo abordadas agora as contravenções referentes à incolumidade pública.

8.2 Síntese

A incolumidade pública é uma situação social de harmonia. Não havendo abalo a essa ordem pública, tem-se uma sociedade pacífica e harmônica, mas quando uma conduta coloca em perigo essa sociedade, há incolumidade pública.

O art. 28 da lei aqui estudada dispõe:“Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas adjacências,

em via pública ou em direção a ela:Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil réis

a três contos de réis.”Ocorre que hoje todo disparo de arma de fogo é regido pelo Estatuto do

Desarmamento.O parágrafo único do art. 28 estabelece:“Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a dois

meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, quem, em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, sem licença da autoridade, causa deflagração perigosa, queima fogo de artifício ou solta balão aceso.”

É preciso ressaltar que este parágrafo único foi tacitamente revogado pelo art. 251 do Código Penal. Ainda, é preciso que se coloque em conjunto com o dispositivo do Código Penal o art. 16, parágrafo único, inciso III do Estatuto do Desarmamento.

Soltar balão aceso é crime ambiental, de acordo com o art. 42 da Lei nº 9.605/98.

Quando a pessoa vende, fornece ainda que gratuitamente ou de qualquer forma fogos de estampido ou de artifício para criança ou adolescente, este co-merciante pratica o crime disposto no art. 244 do ECA:

“Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qual-quer forma, a criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto

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147aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qual-quer dano físico em caso de utilização indevida:

Pena – detenção de seis meses a dois anos, e multa.”Dispõe o art. 29 da Lei de Contravenções:“Art. 29. Provocar o desabamento de construção ou, por erro no projeto ou

na execução, dar-lhe causa:Pena – multa, de um a dez contos de réis, se o fato não constitui crime

contra a incolumidade pública.”O art. 30 do mesmo diploma legal estabelece:“Art. 30. Omitir alguém a providência reclamada pelo Estado ruinoso de

construção que lhe pertence ou cuja conservação lhe incumbe:Pena – multa, de um a cinco contos de réis.”O art. 31 traz a seguinte redação:“Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou

não guardar com a devida cautela animal perigoso:Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, de cem mil réis

a um conto de réis.Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia à

pessoa inexperiente;b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia;c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a segurança alheia.”Por fim, o art. 32 da Lei de Contravenções Penais foi revogado pelo art. 309

do Código de Trânsito.

9. Das Contravenções Referentes à Incolumidade Pública – Parte II

9.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo abordadas agora as contravenções referentes à incolumidade pública.

9.2 Síntese

O art. 33 da Lei de Contravenções Penais dispõe:“Art. 33. Dirigir aeronave sem estar devidamente licenciado:Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, e multa, de duzentos mil

réis a dois contos de réis.”

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148É possível observar que se trata de crime de perigo abstrato, havendo pre-

sunção absoluta do legislador.O art. 34 estabelece:“Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em águas públi-

cas, pondo em perigo a segurança alheia:Pena – prisão simples, de quinze das a três meses, ou multa, de trezentos

mil réis a dois contos de réis.”Aqui é preciso lembrar-se do Código de Trânsito Brasileiro, que traz os

crimes de direção perigosa com racha, direção com excesso de velocidade e direção embriagado. Assim, todas as demais formas de direção perigosa carac-terizam contravenção penal, como ultrapassar pela direita.

A lei fala em via pública, ou seja, avenidas, estradas, logradouros, ruas, vias internas de condomínio, inclusive praias. Não são consideradas vias públicas: estacionamento de shopping, estacionamento de supermercado, posto de ga-solina e pátios.

Dispõe o art. 35:“Art. 35. Entregar-se na prática da aviação, a acrobacias ou a vôos baixos,

fora da zona em que a lei o permite, ou fazer descer a aeronave fora dos lugares destinados a esse fim:

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.”

O art. 36 estabelece:“Art. 36. Deixar do colocar na via pública, sinal ou obstáculo, determinado

em lei ou pela autoridade e destinado a evitar perigo a transeuntes:Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil

réis a dois contos de réis.Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:a) apaga sinal luminoso, destrói ou remove sinal de outra natureza ou obs-

táculo destinado a evitar perigo a transeuntes;b) remove qualquer outro sinal de serviço público.”Sobre este artigo, é preciso observar que hoje é a legislação municipal que

cuida deste assunto.O art. 37 do diploma aqui estudado dispõe:“Art. 37. Arremessar ou derramar em via pública, ou em lugar de uso co-

mum, ou do uso alheio, coisa que possa ofender, sujar ou molestar alguém:Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, sem as devidas caute-

las, coloca ou deixa suspensa coisa que, caindo em via pública ou em lugar de uso comum ou de uso alheio, possa ofender, sujar ou molestar alguém.”

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149Hoje em dia, se a pessoa joga lixo na rua, pratica o crime de poluição, pre-

visto na Lei de Crimes Ambientais, ou seja, não se trata mais de contravenção, mas sim crime.

O art. 38 traz a seguinte contravenção:“Art. 38. Provocar, abusivamente, emissão de fumaça, vapor ou gás, que

possa ofender ou molestar alguém:Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”Nota-se que a lei não traz o que seja “abusivamente” e sempre que a lei

não trouxer o significado correto de uma expressão como esta, se está diante de uma elementar típica valorativa. Sendo valorativa, alguém deverá atribuir um determinado valor no caso concreto; quem o fará será o magistrado.

Faz-se necessário entender que se a quantidade de gás liberado pela pessoa for tal, a ponto de lesionar ou matar outro ser humano, o sujeito responderá por homicídio qualificado pela asfixia se foi intencional, mas, caso não tenha sido intencional, responderá por homicídio culposo. Se a pessoa não morrer, mas ficar seriamente lesionada, o sujeito responderá por lesão corporal dolosa ou culposa, a depender da intenção.

10. Das Contravenções Referentes à Paz Pública

10.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo abordadas agora as contravenções referentes à paz pública.

10.2 Síntese

O art. 39 da Lei de Contravenções Penais dispõe:“Art. 39. Participar de associação de mais de cinco pessoas, que se reúnam

periodicamente, sob compromisso de ocultar à autoridade a existência, objeti-vo, organização ou administração da associação:

Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil réis a três contos de réis.”

É possível perceber aqui o caráter inquisitório desta tipificação. A primeira ressalva que deve ser feita é que este dispositivo é parcialmente

inconstitucional, pois a Constituição Federal traz que é livre e plena a liberdade

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150de associação. Neste sentido, sobraram no art. 39 as associações constituídas para fins ilícitos ou de caráter paramilitar.

Ainda, o dispositivo traz o número de mais de cinco pessoas, ou seja, pelo menos seis pessoas. O dispositivo traz também o requisito da periodicidade.

O art. 40 estabelece:“Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo inconveniente ou desres-

peitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembléia ou espetáculo público, se o fato não constitui infração penal mais grave;

Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”

O art. 41 traz a seguinte redação:“Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou

praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto:Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos

mil réis a dois contos de réis.”Tal contravenção entrou aqui por conta de trotes que causavam pânico ou

tumulto na população. Exemplo: sujeito pega um rádio amador e divulga que a sociedade está sendo atacada por alienígenas, fazendo com que várias pessoas se suicidem.

O art. 42 dispõe:“Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios:I – com gritaria ou algazarra;II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as pres-

crições legais;III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por ani-

mal de que tem a guarda:Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos

mil réis a dois contos de réis.”Faz-se necessário entender aqui que o dispositivo traz a palavra “alheios”.

Desta forma, caso haja uma só vítima, não há que se falar nesta contravenção penal, sendo este inclusive o entendimento do STF.

11. Das Contravenções Referentes à Fé Pública

11.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo abordadas agora as contravenções referentes à fé pública.

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11.2 Síntese

A fé pública diz respeito à confiança que as pessoas depositam em alguns símbolos do Estado, em alguns documentos públicos ou com natureza públi-ca. Exemplo: distintivos de autoridades.

O art. 43 traz a seguinte conduta:“Art. 43. Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de curso legal no país:Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”Esta conduta consiste numa recusa do sujeito em receber uma nota ou

uma moeda de dinheiro por seu valor de face. Exemplo: a pessoa chega a um estabelecimento e compra algo no valor de R$ 10,00, porém, dá ao dono uma nota de R$ 20,00. O dono se recusa a receber a nota de R$ 20,00 pelo valor de R$ 20,00, dizendo que receberá a nota de R$ 20,00 pelo valor de R$ 10,00.

Observa-se que moedas estrangeiras não entram nesta contravenção, uma vez que deve ser analisado o Princípio da Legalidade Estrita e o tipo traz “moe-da de curso legal no país”.

Se o sujeito chega a um estabelecimento com o intuito de adquirir um pro-duto e o dono diz que não receberá o dinheiro, se houver desconfiança a res-peito da fé pública daquela nota, poderá se recusar e pedir que o sujeito pague de outra forma. Se o sujeito não tiver outro meio de pagamento, o comerciante poderá reter a mercadoria que ainda não foi vendida.

O art. 44 dispõe:“Art. 44. Usar, como propaganda, de impresso ou objeto que pessoa inexpe-

riente ou rústica possa confundir com moeda:Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”Estabelece o art. 45 da Lei de Contravenções Penais:“Art. 45. Fingir-se funcionário público:Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis

a três contos de réis.”Se o sujeito praticar atos privativos de funcionário público, responderá pelo

art. 328 do Código Penal. O art. 46 dispõe: “Art. 46. Usar, publicamente, de uniforme, ou distintivo de função pública

que não exerce; usar, indevidamente, de sinal, distintivo ou denominação cujo emprego seja regulado por lei.

Pena – multa, de duzentos a dois mil cruzeiros, se o fato não constitui in-fração penal mais grave.”

Esta contravenção foi tacitamente revogada no tocante a distintivo pelo art. 296, § 1º, inciso III, do Código Penal.

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12. Das Contravenções Relativas à Organização do Trabalho e das Contravenções Relativas à Polícia de Costumes

12.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo abordadas agora as contravenções relativas à organização do trabalho e as contravenções relativas à polícia de costumes.

12.2 Síntese

O art. 47 diz o seguinte:“Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exer-

ce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício:Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos

mil réis a cinco contos de réis.”Uma primeira corrente entende que se o sujeito exerce profissão ou ativi-

dade econômica, significa que uma única ação praticada não é considerada contravenção. No entanto, uma segunda corrente entende que basta a prática de um só ato para caracterizar esta contravenção.

Se a atividade econômica desempenhada pela pessoa não tiver previsão legal, não incidirá a contravenção penal do art. 47.

“Art. 48. Exercer, sem observância das prescrições legais, comércio de anti-guidades, de obras de arte, ou de manuscritos e livros antigos ou raros:

Pena – prisão simples de um a seis meses, ou multa, de um a dez contos de réis.”

Em relação às contravenções relativas à polícia de costumes, é preciso que se entenda como os famosos jogos de azar.

O art. 50 da lei aqui estudada apresenta algumas peculiaridades, mas foram revogados os arts. 51 a 58 pelo Decreto-lei nº 6.259, de 1944.

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13. Dos Jogos de Azar

13.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo abordados aqui os jogos de azar.

13.2 Síntese

O art. 50 da Lei de Contravenções Penais dispõe:“Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível

ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele:Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze

contos de réis, estendendo-se os efeitos da condenação à perda dos moveis e objetos de decoração do local.”

O § 1º estabelece que a pena será aumentada de um terço, se existir entre os empregados ou participar do jogo pessoa menor de dezoito anos.

Ainda, incorre na pena de multa quem é encontrado a participar do jogo, como ponteiro ou apostador.

O § 3º traz uma norma explicativa:“§ 3º Consideram-se, jogos de azar:a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente

da sorte;b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde

sejam autorizadas;c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.”Os jogos associados ao jogo de dados também são considerados jogos de

azar, caso as pessoas joguem valendo dinheiro e dependa única e exclusiva-mente de sorte.

O § 4º traz a seguinte redação:“§ 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar acessível ao público:a) a casa particular em que se realizam jogos de azar, quando deles habi-

tualmente participam pessoas que não sejam da família de quem a ocupa;b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes e moradores se

proporciona jogo de azar;c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, em que se realiza

jogo de azar;d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de azar, ainda que se

dissimule esse destino.”

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154Faz-se necessário observar que o jogo de bilhar (sinuca) não é considerado

jogo de azar, uma vez que é preciso habilidade do jogador. Ainda, o jogo de truco também pressupõe habilidade do jogador, não sendo considerado jogo de azar.

É preciso entender que se a máquina estiver programada a fim de manipu-lação do número de vitórias possíveis, é considerado crime contra a economia popular, nos termos da Lei nº 1.521/51.

Quanto ao jogo de bingo, o entendimento do STF e STJ é de que se trata de jogo de azar.

A Súmula Vinculante nº 2 do STF dispõe que é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

Se o bingo for beneficente, não se tratará de contravenção penal, por força do Princípio da Adequação Social.

14. Vadiagem, Mendicância e Outras Contravenções

14.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito da Lei das Contravenções Penais, sendo abordadas as contravenções de vadiagem e outras previstas na lei.

14.2 Síntese

A contravenção penal de vadiagem vem prevista no art. 59, e tem a seguinte redação:

“Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita:

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses.”Trata-se de um dispositivo inconstitucional; mas esta inconstitucionalidade

ainda não foi declarada.A contravenção penal de mendicância foi expressamente revogada pela Lei

nº 11.983/09. O art. 61 traz a seguinte redação:“Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de

modo ofensivo ao pudor:Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”

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155O art. 62 da lei aqui estudada dispõe:“Art. 62. Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo

que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia:Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos

mil réis a dois contos de réis.Parágrafo único. Se habitual a embriaguez, o contraventor é internado em

casa de custódia e tratamento.”O art. 63 estabelece:“Art. 63. Servir bebidas alcoólicas:I – a menor de dezoito anos;II – a quem se acha em estado de embriaguez;III – a pessoa que o agente sabe sofrer das faculdades mentais;IV – a pessoa que o agente sabe estar judicialmente proibida de frequentar

lugares onde se consome bebida de tal natureza:Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, ou multa, de quinhentos

mil réis a cinco contos de réis.”É preciso observar aqui que o inciso I trata de menor de dezoito anos, po-

rém, hoje existe crime disposto no ECA.O art. 64 trata da questão da crueldade ou trabalho excessivo em relação

aos animais. Estas condutas eram consideradas contravenções penais até 1998; todavia, a partir do referido ano, há crimes ambientais cuidando desta hipótese.

O art. 65 dispõe:“Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou

por motivo reprovável:Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos

mil réis a dois contos de réis.”Quanto às contravenções referentes à Administração Pública, há a omissão

da notificação compulsória.O art. 67 trata da inumação ou exumação de cadáver, pois para fazê-lo é

preciso de autorização judicial. O art. 68 tem a seguinte redação:“Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta, justificadamente solicita-

dos ou exigidos, dados ou indicações concernentes à própria identidade, estado, profissão, domicílio e residência:

Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de um a seis meses,

e multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, se o fato não constitui infração penal mais grave, quem, nas mesmas circunstâncias, faz declarações inverídicas a respeito de sua identidade pessoal, estado, profissão, domicílio e residência.”

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156Por fim, o art. 70 da lei aqui estudada dispõe:“Art. 70. Praticar qualquer ato que importe violação do monopólio postal

da União:Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de três a dez con-

tos de réis, ou ambas cumulativamente.”

Exercícios

68. Analise a assertiva: Não são puníveis as tentativas de contravenção penal.

69. Analise a assertiva: Admite-se queixa-crime nas contravenções, na modalidade subsidiá-ria da pública.

70. Analise a assertiva: A mendicância continua sendo penalmente tutelada.

71. Analise a assertiva:Contravenções penais serão processadas no rito sumariíssimo, pre-visto na Lei nº 9.099/95, independente da pena máxima cominada.

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Capítulo 16

Crimes contra a Ordem Tributária – Lei nº 8.137/90

1. Crimes contra a Ordem Tributária – Introdução, Competência

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito dos crimes contra a Ordem Tributária, sendo feita aqui introdução sobre o tema.

1.2 Síntese

Para estudarmos esta Lei devemos observar que ela possui fundamento constitucional previsto no art. 145 da CF, que diz:

“Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

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158I – impostos;II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização,

efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;

III – contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.§ 1º – Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão gra-

duados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à admi-nistração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

§ 2º – As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos.”Os tributos, se bem empregados, servem para promover justiça social, ga-

rantindo a todos os brasileiros o mínimo de bem-estar social. Por isso que diz-se que a finalidade do Direito Tributário é “promover o equilíbrio nas relações entre os que têm e os que não têm poder”.

Quanto se diz “CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA” abrange outras condutas tipificadas no Código Penal, que igualmente tutelam a arreca-dação tributária, como os crimes de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A), sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A) e descaminho (art. 334).

Deve-se cuidar também que a Lei nº 8.137/90 não trata apenas dos crimes contra a ordem tributária, mas também dos delitos contra a ordem econômica e contra as relações de consumo.

A estrutura desta Lei é composta da seguinte forma: Capítulo I – compreen-de os arts. 1º a 3º (crimes contra a ordem tributária); Capítulo II – compreende os arts. 4º a 7º (crimes contra a ordem econômica e contra as relações de con-sumo); Capítulo III – compreende os arts. 8º a 10 (regras para a aplicação da pena de multa); Capítulo IV – compreende os arts. 11 a 23 (disposições gerais).

Outra dúvida é se houve a revogação da Lei nº 4.729/1965 por esta lei, no entanto, não houve revogação integral da Lei de Sonegação Fiscal, a Lei nº 4.729/1965, já que foi mantido o disposto no art. 5º, que tipifica o crime de contrabando ou descaminho.

Outro assunto importante diz respeito à competência: Nos crimes contra a ordem tributária a competência se dispõe conforme o ente beneficiário do tributo objeto da conduta delituosa. Assim, se houver sonegação de Imposto de Renda, a competência é da Justiça Federal; se houver sonegação de ICMS, a competência será da Justiça Estadual.

A ação penal será sempre pública incondicionada.Entre as instâncias penais e administrativas há uma independência relativa,

já que em certos casos a decisão no âmbito administrativo, que declara, por

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159exemplo, não ter havido supressão ou redução do tributo, isto descaracteriza a ação ou omissão, porém em regra não há esta dependência. Assim, deve-se observar a súmula vinculante 24 do STF:

STF 24: “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo”.

Então se entende que deve haver o esgotamento da esfera administrativa. Existe também neste campo o princípio da insignificância no âmbito dos

crimes tributários, que atualmente reconhecido a falta de lesividade da con-duta pelo fato de os valores obtidos a partir da sonegação fiscal não serem su-ficientes para ensejar eventual cobrança civil por parte da entidade tributante.

Assim, não há interesse do direito administrativo, que é a prima ratio, não poderá havê-lo do direito penal, que é a última ratio. Esta teoria tem seu fundamento no art. 20 da Lei nº 10.522/2002, com redação dada pela Lei nº 11.033/2004, e assim há as decisões: da 3ª Seção do STJ: STJ, AgRg no REsp 1.133.843, j. 03/02/2011 e STF, HC 102.935, j. 28/09/2010.

Exercício

72. Prova Cespe, 2010, Procurador do TCE/BA. Considerando a inter-pretação do STJ e do STF a respeito da legislação penal extravagan-te, julgue o item a seguir.Com relação à materialidade do crime contra a ordem tributária previsto na Lei nº 8.137/90, apesar de a jurisprudência do STF reco-nhecer o lançamento definitivo do tributo como condição objetiva de punibilidade, o plenário da Corte Suprema rejeitou proposta de súmula vinculante tendente a consolidar tal entendimento. Certo ou errado?

2. Extinção de Punibilidade na Sonegação Fiscal e Crimes Praticados por Particulares

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito dos crimes contra a Ordem Tributária, sendo estudados aqui a extinção de punibilidade na sonegação fiscal e os crimes praticados por particulares.

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2.2 Síntese

Existem hipóteses de extinção dos crimes presentes nesta Lei, e está dispos-ta no art. 34 da Lei nº 9.249/1995, que diz:

“Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia”.

Segundo o art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/2003 havia certa dúvida a respeito do momento máximo para o pagamento que extinguiria a punibilidade, já que este artigo não mencionava que deveria ser antes da denúncia, e assim o STF vinha decidindo que a extinção ocorreria, inclusive, após o recebimento da denúncia.

Isto até a nova Lei nº 12.382/2011, conhecida como “Lei do Salário-Míni-mo”, que deu nova disciplina ao tema, esclarecendo, perfeitamente, a dúvida, sendo declarado o momento Máximo como o recebimento da denúncia, veja o dispositivo:

Art. 6º da Lei nº 12.382/2011: O art. 83 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescido dos §§ 1º a 5º, renumerando-se o atual pará-grafo único para § 6º: Art. 83. “A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tribu-tário correspondente.

§ 1º Na hipótese de concessão de parcelamento do crédito tributário, a representação fiscal para fins penais somente será encaminhada ao Ministério Público após a exclusão da pessoa física ou jurídica do parcelamento.

§ 2º É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes pre-vistos no caput, durante o período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no parcelamen-to, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do rece-bimento da denúncia criminal.

§ 3º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva.

§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pes-soa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento.

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161§ 5º O disposto nos §§ 1º a 4º não se aplica nas hipóteses de vedação legal

de parcelamento. § 6º As disposições contidas no caput do art. 34 da Lei nº 9.249, de 26 de

dezembro de 1995, aplicam-se aos processos administrativos e aos inquéritos e processos em curso, desde que não recebida a denúncia pelo juiz.” (NR)

“Art. 7º Esta Lei entra em vigor no primeiro dia do mês subsequente à data de sua publicação.”

Sendo novatio legis in pejus, só poderá ser aplicada a partir de 1º de março de 2011.

Vejamos os crimes em espécies: “Art. 1º. Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessó-rio, mediante as seguintes condutas:”

Devemos observar alguns conceitos para entendermos este artigo. Inician-do pelo art. 113 do Código Tributário Nacional:

“Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por

objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se junta-mente com o crédito dela decorrente.

§ 2º A obrigação acessória decorrente da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arre-cadação ou da fiscalização dos tributos.

§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte--se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.”

O art. 3º do CTN diz que tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plena-mente vinculada.

Vejamos o inciso do art. 1º: “I – omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias.”

O objeto jurídico do crime é a tutela ao erário público. O objeto material é a informação ou a declaração falsa.

Este crime é próprio e só pode ser praticado pela pessoa física indicada em lei como contribuinte. O sujeito passivo é o Estado, representado pela Fazendo Pública federal, estadual ou municipal.

O elemento subjetivo é sempre o dolo. A consumação ocorre com a efetiva supressão ou redução de tributo, contribuição social ou qualquer acessório, mediante omissão de informação ao Fisco ou prestação de declaração falsa às autoridades fazendárias.

Grande parte dos doutrinadores diz ser inadmissível a figura tentada aqui, em-bora se trate de um crime material, dependente de um resultado naturalístico,

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162consistente na efetiva supressão (total falta de recolhimento) ou redução (reco-lhimento parcial) do tributo, seria um delito condicionado que, por isso, não admitiria tentativa. Isto será esclarecido, posteriormente, no art. 2º, I.

Exercício

73. Prova Esaf, 2008, Prefeitura de Natal/RN, Auditor do Tesouro Muni-cipal. Analise as assertivas abaixo a respeito da Lei nº 8.137/90, que trata dos crimes contra a Ordem Tributária, indicando a assertiva incorreta. a) A lei anterior que tratava do tema foi revogada, somente se apli-

cando aos fatos praticados antes da entrada em vigor da nova legislação.

b) Há crimes contra a ordem tributária que podem ser cometidos por particulares ou por funcionários públicos.

c) Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondi-cionada.

d) Há delitos nesta lei que admitem a modalidade culposa. e) O agente que confessar espontaneamente, revelando toda a tra-

ma à autoridade policial ou judiciária, terá a pena reduzida de um a dois terços.

3. Art. 1º, I, II, III e IV

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito dos crimes contra a Ordem Tributária, sendo estudado o art. 1º da Lei nº 8.137/90.

3.2 Síntese

“Inciso II – fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal.”

Aqui se tem um crime próprio, já que o sujeito ativo só pode ser o definido como contribuinte. O sujeito passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública federal, estadual ou municipal.

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163O objeto jurídico é a tutela ao erário público. O objeto material é o docu-

mento ou o livro exigido pela lei fiscal.“Inciso III – falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda

ou qualquer outro documento relativo à operação tributável.”Caso seja possível fracionar o inter criminis, admite-se a tentativa.O sujeito ativo é sempre o contribuinte pessoa física. O sujeito passivo é a

Fazenda Pública.“Inciso IV – elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que

saiba ou deva saber falso ou inexato.”Agora o elemento subjetivo dirá respeito a dolo direto ou a dolo eventual. A

expressão “saiba” está relacionada a dolo direto. A expressão “deva saber” está relacionada a dolo eventual.

O objeto jurídico é a tutela do erário público. O objeto material do crime é o documento falso ou inexato.

“Inciso V – negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa à venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.”

Estamos diante de normas penais em branco.O crime é sempre próprio, já que o sujeito ativo deve ser a pessoa física

indicada em lei como contribuinte. O sujeito passivo é a Fazenda Pública.A pena para todos os incisos é de reclusão de 2 a 5 anosa, além de multa.

Possível, portanto, ao menos em tese, a concessão de sursis ao réu e a substitui-ção da PPL por PRD.

“Art. 2º. Constitui crime da mesma natureza:I – fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos,

ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo;

II – deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos;

III – exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal;

IV – deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, in-centivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento;

V – utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”

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164O objeto jurídico em relação a todas as figuras é a tutela ao erário público.

O sujeito ativo é o contribuinte pessoa física. O sujeito passivo é o Estado, re-presentado pela Fazenda Pública federal, estadual ou municipal.

O elemento subjetivo é o dolo, representado pela vontade livre e conscien-te de praticar as condutas típicas. Deve, ainda, haver a finalidade específica de eximir-se, total ou parcialmente, do pagamento do tributo.

Exercício

74. Prova: FCC – 2010 – TCE/AP – Procurador. Nos crimes contra a ordem tributária:a) não tipifica delito funcional o ato de utilizar ou divulgar progra-

ma de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.

b) é admissível o concurso de pessoas apenas na forma de coautoria. c) a pena pode ser aumentada até a metade, se praticado o delito

por funcionário público e ocasionar grave dano à coletividade. d) é punível apenas a supressão de tributo ou contribuição social. e) é admissível a forma culposa.

4. Crimes Praticados por Funcionários Públicos e Crimes contra a Ordem Econômica

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito dos crimes contra a Ordem Tributária, sendo estudados os crimes praticados por funcionários públicos e crimes contra a ordem econômica.

4.2 Síntese

Art. 3º: traz crimes próprios (sujeito ativo: funcionário público).Art. 4º: tem redação nova conferida pela Lei nº 12.529, de 30 de novembro

de 2011, cuja entrada em vigor se dará no fim de maio de 2012.

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165Arts. 5º e 6º: traziam crimes contra a ordem econômica. Foram integral-

mente revogados pela Lei nº 12.529/2011.Art. 35-C da Lei Antitruste (Lei nº 8.884/1994): trazia o “acordo de leniên-

cia”. Foi revogado pela Lei nº 12.529/2011.

Exercício75. (Prova: Cespe – 2009 – Bacen – Procurador) Acerca dos crimes re-

lativos a licitações, contra a administração pública e a ordem tribu-tária, contra o SFN e de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, diga se a assertiva está certa ou errada.O funcionário público que patrocine diretamente interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se da qualidade de fun-cionário público, pratica o crime de advocacia administrativa, pre-visto no CP.

5. Conflito de Normas

5.1 Apresentação

Nesta unidade, o autor fala sobre as alterações advindas pela Lei nº 12.382/2011, sobre os crimes do art. 7º da Lei nº 8.137/90 e sobre os arts. 11 (concurso de pessoas) e 12 (agravantes) da Lei nº 8.137/90.

5.2 SínteseA Lei nº 12.382/2011, conhecida como “Lei do Salário Mínimo”, alterou o

art. 83 da Lei nº 9.430/1996, trazendo reflexos importantes – sobre suspensão da pretensão punitiva e extinção da punibilidade – relacionados aos crimes dos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90 e 168-A e 337-A do Código Penal.

O art. 7º da Lei nº 8.137/90 traz os crimes contra as relações de consumo, sem, no entanto, afastar o (ou ter sido afastado pelo) CDC (Código de Defesa do Consumidor), que protege o consumidor individualmente considerado.

O art. 11, caput, da Lei nº 8.137/90 traz uma disposição acerca do concurso de pessoas, repetindo o art. 29 do CP, com a peculiaridade de destacar que o delito pode ser cometido por pessoas jurídicas.

O art. 12 da Lei nº 8.137/90 traz agravantes específicas, que aumentam de 1/3 até a metade as penas dos crimes previstos nos arts. 1º, 2º e 4º e 7º da mesma lei.

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Exercício

76. (Prova: FGV – 2010 – SEAD-AP – Fiscal da Receita Estadual – Pro-va 2) Muito se discute sobre a natureza do crime contra a ordem tributária como crime formal ou crime material. Admitindo-se o enquadramento como crime material, ainda que hipoteticamente, seria correto afirmar que:a) não admite tentativa.b) não se pode falar em culpa.c) é irrelevante o aspecto subjetivo para a configuração do crime.d) é necessário haver efetiva supressão ou redução do tributo.e) o crime deverá estar previsto em lei.

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Capítulo 17

Crimes contra a Ordem Econômica

1. Lavagem de Capitais1.1 Apresentação

Nesta unidade, continuando o estudo das leis penais e processuais penais especiais, iniciamos agora a Lei nº 9.613/98, que trata dos crimes de lavagem de capitais.

1.2 SínteseIniciamos o estudo da famosa Lei de Lavagem de Dinheiro. A expressão

lavagem foi escolhida pelo legislador para designar o processo pelo qual uma pessoa ou organização simula e mesmo realiza transações e operações lícitas para justificar a origem de bens, direitos e valores de origem ilícita.

O termo lavagem surge nos Estados Unidos, na década de 20, como alusão às lavanderias controladas pela máfia americana tida como o principal ramo negocial usado para dar aparência lícita ao dinheiro obtido com o crime.

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168Costuma-se atribuir quatro fases para a lavagem de dinheiro de origem ilí-

cita: Placement, Layering, Integration e Recycling.A primeira é a fase do placement ou da colocação. Aqui há uma verdadei-

ra diluição de uma massa de bens que consistiria numa unidade identificável em diversas frações que, isoladas, não se ligam àquela unidade identificável. Por exemplo, o valor de 500 mil reais obtido pelo pagamento de um resgate de sequestrado é dividido em 10 porções de 50 mil, depositadas em contas diversas.

A segunda é a fase do layering ou da cobertura. Aqui há a realização de di-versas operações financeiras ou contábeis para dissimular a origem dos valores.

A terceira é a fase da integration ou da lavagem propriamente dita. Isso porque ocorre a integração (ou seja, o retorno) do valor já dissimulado para ser utilizado de maneira formal pelo interessado.

A quarta é a fase da recycling ou da reciclagem. Ocorre depois da lavagem dos valores, pretendendo a limpeza dos rastros, evitando que eventuais inves-tigações possam chegar aos agentes que procederam à lavagem do dinheiro. Dá-se com o fechamento de contas bancárias, com vendas simuladas e com saques de valores.

O objetivo da Lei nº 9.613/98 é contribuir ao combate do crime organizado em nível transnacional. É por isso que a lei transformou algo que seria mero efeito da condenação (perda em favor da União do produto do crime) em fato típico. Sobre o tema, há o julgamento do STF: HC nº 83.515, noticiado no Informativo nº 361.

Na análise dos crimes em espécie, é preciso ter atenção com a recente alte-ração advinda com a Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012, que passou a ter a seguinte redação: Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores prove-nientes, direta ou indiretamente, de infração penal.

Os dispositivos que traziam os crimes antecedentes, incisos I a VIII, foram todos revogados, ou seja, não há mais restrição quanto ao rol de crimes antece-dentes e necessários à discussão sobre a lavagem de capitais. Em verdade, não há sequer rol de crimes antecedentes agora.

A nova legislação alargou por completo o âmbito de reconhecimento da la-vagem de dinheiro, que poderá ocorrer, ao menos em tese, diante de qualquer infração penal, portanto, crime e até contravenção penal. Eu entendo, por conse-guinte, que atualmente se poderá responsabilizar alguém por lavagem de dinhei-ro tendo como infração penal antecedente o jogo do bicho, que é contravenção penal. Também foram alterados o §§ 1º, 2º, 4º e 5º do art. 1º da Lei nº 9.613.

Veja que os verbos nucleares são ocultar e dissimular, sendo o tipo misto alternativo. Isso significa que o agente, praticando um ou mais verbos, come-te apenas um único crime, ou seja, se o autor oculta um bem e dissimula a

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169origem de outro valor qualquer, estará praticando um único delito. Claro que tudo deverá estar inserido no mesmo contexto fático, caso contrário, teremos concurso de crimes.

Atenção porque a autonomia do crime de lavagem de dinheiro é relativa, já que, tal qual ocorre na receptação, a configuração desse delito dependerá da infração penal antecedente. O representante do MP deverá, no processo, trazer cópia dos autos que narram o ilícito em que o denunciado pela lavagem foi o próprio autor (o traficante de drogas, por exemplo) ou pelo menos beneficiário.

O crime é comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusi-ve o sujeito ativo do delito antecedente. O sujeito passivo é o Estado.

Já o elemento subjetivo é sempre o dolo. Não existe lavagem de dinheiro culposa no Brasil. Não há unanimidade acerca do dolo eventual. Entenden-do, no entanto, ser difícil falar em dolo eventual, por conta da intencionali-dade exigida nos verbos ocultar e dissimular, que não dão margem à assunção do risco.

Quanto à possibilidade de haver concurso de crimes no âmbito da Lei nº 9.613/98, a resposta é: depende.

A conduta do agente, posterior ao crime, pode ou não ser atípica pela inci-dência do post factum impunível. O autor não concorda com os autores que di-zem ser sempre atípica. Caso assim fosse, nunca poderíamos punir o homicida pela ocultação de cadáver. O traficante atenta contra a saúde pública, e poderá, posteriormente, quando da lavagem do dinheiro, afetar o Estado, a economia, a ordem tributária. Nesse caso, haverá concurso de crimes.

Por outro lado, caso ocorra concurso de crimes durante o processo de la-vagem, a resposta também poderá ser positiva. Se o autor, além da lavagem, praticou falsidade material ou ideológica, haverá concurso material de crimes. Aliás, necessário registrar que uma eventual falsidade ideológica não é conse-quência natural ou passo necessário para a prática da lavagem, não se podendo falar, aqui, de fato posterior impunível.

Se o autor da lavagem a pratica por várias vezes, é possível entender que haverá, na hipótese, crime continuado.

Exercício

77. (Cespe – 2008 – DPE-CE – Defensor Público) No que concerne às leis penais especiais, julgue os itens a seguir.No crime de lavagem de dinheiro advindo do tráfico de entorpecen-tes, a pena será aumentada de um a dois terços, se for cometido de forma habitual ou por intermédio de organização criminosa. Certo ou errado?

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2. Lei nº 9.613/98 – Art. 2º

2.1 Apresentação

Nesta unidade, continuaremos o estudo da Lei nº 9.613/98, iniciando pelo art. 2º.

2.2 Síntese

Na última unidade, foi abordado o art. 1º da Lei de Lavagem de Dinheiro, com as alterações advindas da Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012. Vamos, agora, às disposições processuais especiais. Novamente aqui temos alterações importantes trazidas com a Lei nº 12.683.

Observe o art. 2º, em primeiro lugar, que a nomenclatura utilizada no dispo-sitivo (“procedimento comum dos crimes punidos com reclusão, de competên-cia do juiz singular”) não mais se coaduna com a atual redação do CPP. Hoje se deve falar em rito ordinário comum, conforme art. 394, § 1º, I, do CPP.

O rito é o ordinário para apuração de crimes com pena máxima superior a 4 anos de pena privativa de liberdade, o que é o caso dos crimes de lavagem de dinheiro.

O procedimento está previsto nos arts. 395 a 405 do CPP, com recebimento da denúncia, citação para oferecimento de resposta escrita à acusação no prazo de 10 dias, confirmação do recebimento da denúncia ou absolvição sumária, audiência de instrução com oitiva do ofendido, de testemunhas (no máximo 8 para cada parte) e de perito, interrogatório do réu, debates e julgamento.

Posteriormente, veja que não há necessidade de se concluir a apuração e eventual punição dos autores da infração penal antecedente para que se possa processar e julgar o delito de lavagem de dinheiro. Importante, claro, é a prova da materialidade desta infração antecedente. Aliás, o dispositivo menciona que a infração pode ter sido cometida em outro país. Nesse caso, deve-se respeitar o Princípio da Dupla Tipicidade, ou seja, o fato deve ser criminoso aqui no Brasil e lá no estrangeiro. Sobre o assunto, há o precedente do STF, Extradição nº 1.176, República da Coreia, Tribunal Pleno, j. 10/02/2011.

O dispositivo diz ainda que a regra é a Justiça Federal. Isso significa que a Justiça Estadual é residual. Os critérios de fixação da competência federal são sempre três: a) quando o crime de lavagem é cometido de forma a ofender o sistema financeiro nacional e a ordem econômico-financeira; b) quando o crime é cometido em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas; e c) quando a apuração

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171e o processo em relação à infração penal antecedente seja de competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109 da CF. Lembre, aliás, da extensão de tal competência a eventuais crimes conexos àqueles de competência federal, consoante Súmula nº 122 do STJ.

Conforme dito anteriormente, não há necessidade de identificação ou con-denação pela infração antecedente para que se processe o delito de lavagem de dinheiro, basta que a denúncia venha instruída com elementos indiciários sufi-cientes para se comprovar a existência antecedente de alguma infração penal.

O art. 3º foi revogado pela Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012. Enquanto o art. 4º também foi substancialmente alterado pela Lei nº 12.683/2012, e fala da apreensão e do sequestro de bens, direitos ou valores do acusado. Observe:

De acordo com o art. 4º-A, por exemplo, dispositivo criado com a Lei de ju-lho de 2012, sobrevindo o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, o juiz decretará, em favor, conforme o caso, da União ou do Estado: I – a perda dos valores depositados na conta remunerada e da fiança; II – a perda dos bens não alienados antecipadamente e daqueles aos quais não foi dada destinação prévia; e III – a perda dos bens não reclamados no prazo de 90 (noventa) dias após o trânsito em julgado da sentença condenatória, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé.

De acordo com o art. 4º-B, a ordem de prisão de pessoas ou as medidas as-securatórias de bens, direitos ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata puder comprometer as investigações.

Exercícios

78. (Cespe – 2009 – Secont-ES – Auditor do Estado – Direito) Julgue os itens que se seguem a respeito do direito penal.O delito de lavagem de dinheiro é autônomo e independente dos crimes antecedentes. Certo ou errado?

79. (Cespe – 2009 – PC-PB – Agente de Investigação e Agente de Po-lícia) Acerca dos crimes de lavagem de capitais, assinale a opção incorreta.a) São objetos materiais do crime de lavagem: o bem, o direito ou

o valor proveniente de crime.b) A lei exige a demonstração da existência da materialidade de um

crime antecedente.c) Segundo o STJ, a lei privilegia a separação obrigatória das ações

penais e a autonomia do feito referente à lavagem de dinheiro, sob o argumento de que seria providência indispensável à eficá-

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172cia da legislação, já que, primeiro, o procedimento relativo à in-fração antecedente pode estar sujeito à jurisdição de outro país e, segundo, é necessário que se resguarde a persecução criminal, ante a gravidade e a reiteração de delitos que desafiam o Estado.

d) A pena do crime de lavagem de dinheiro é aumentada se esse crime é cometido por intermédio de organização criminosa.

e) O delito de lavagem de dinheiro não é punível se isento de pena o autor do crime antecedente.

3. Lavagem de Dinheiro – Art. 4º e Questões

3.1 Apresentação

Nesta unidade, continuaremos o estudo da Lei nº 9.613/98 por meio da resolução de questões, bem como análise de outros artigos.

3.2 Síntese

Ainda na análise do crime de Lavagem de Capitais, o art. 4º caracteriza a medida assecuratória prevista genericamente nos arts. 125 a 144 do CPP, possibilitando o sequestro ou a apreensão dos bens, tudo com a finalidade de garantir eventual ressarcimento ao ofendido, indenização dos danos, pagamen-to de penas pecuniárias, custas judiciais ou mesmo execução de perdimento de bens em favor do Estado.

O artigo não traz novidades, já que sempre houve a possibilidade de se asse-gurar futura indenização à vítima, reparação do dano ou mesmo o pagamento de despesas judiciais mediante a indisponibilidade dos bens do suspeito. Isso inclusive para evitar o enriquecimento ilícito.

Outro dispositivo que traz novidades, conforme a Lei nº 12.683/2012 é o art. 7º, que fala dos efeitos da condenação.

Além da aplicação do preceito secundário contido em cada um dos tipos penais (os chamados efeitos primários da condenação), é possível a existência de efeitos secundários penais e extrapenais da sentença penal condenatória, previstos nos arts. 91 e 92 do CP e em eventuais disposições em leis penais especiais.

Aqui na Lei de Lavagem, além dos efeitos secundários genéricos da sen-tença penal condenatória (previstos no art. 91 do CP), que são automáticos, e dos efeitos secundários específicos (previstos no art. 92 do CP), estes últimos

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173não automáticos e dependentes de fundamentação do juiz, o réu por crime de lavagem de capitais se sujeita a efeitos secundários específicos e especiais previstos no citado art. 7º.

É preciso atenção porque não há unanimidade sobre serem, ou não, au-tomáticos os efeitos do art. 7º da Lei nº 9.613/98. Guilherme de Souza Nucci refere, por exemplo, que o efeito é automático, não precisando ser proclamado na decisão condenatória. Isso porque não há, ao contrário do que se prevê no art. 92, parágrafo único, do CP, regra nesse sentido.

Em sentido contrário, José Geraldo da Silva, Paulo Rogério Bonini e Wil-son Lavorenti referem que os aludidos efeitos não são automáticos, necessitan-do de declaração fundamentada na sentença sobre a sua aplicação e extensão.

Isso porque o inciso I traz ressalva a direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, o que somente autoriza a aplicação do efeito secundário após o afasta-mento de tal ressalva. Além disso, o inciso II, ao tratar de interdição específica, depende da análise concreta se o exercício do cargo ou da função pública, ou ainda do cargo de diretor, membro de conselho de administração ou de gerên-cia das pessoas jurídicas referidas no art. 9º teve alguma influência concreta na ocorrência do crime. Afirma-se que, se o exercício de tais funções não guarda nenhuma relação com o crime de lavagem, seria totalmente ilegal a extensão dos efeitos da pena para relações jurídicas públicas e privadas do réu, configu-rando verdadeira responsabilidade penal objetiva.

Por fim, tenha ciência das novidades incluídas pela Lei nº 12.683/2012 como disposições gerais ao final da Lei de Lavagem de Dinheiro:

Art. 17-A. Aplicam-se, subsidiariamente, as disposições do Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), no que não forem incompatíveis com esta Lei.

Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério Público terão acesso, ex-clusivamente, aos dados cadastrais do investigado que informam qualificação pessoal, filiação e endereço, independentemente de autorização judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartão de crédito.

Art. 17-C. Os encaminhamentos das instituições financeiras e tributárias em resposta às ordens judiciais de quebra ou transferência de sigilo deverão ser, sempre que determinado, em meio informático, e apresentados em arquivos que possibilitem a migração de informações para os autos do processo sem redigitação.

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno.

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174Art. 17-E. A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservará os dados

fiscais dos contribuintes pelo prazo mínimo de 5 (cinco) anos, contado a partir do início do exercício seguinte ao da declaração de renda respectiva ou ao do pagamento do tributo.

Exercício

80. (Cespe – 2009 – PC-PB – Delegado de Polícia) Assinale a opção cor-reta com base na legislação sobre os crimes de lavagem de dinheiro:a) O processo e o julgamento dos crimes de lavagem de dinheiro

dependem do processo e do julgamento dos crimes anteceden-tes, a menos que praticados em outro país.

b) Compete à justiça estadual processar e julgar os crimes de lava-gem de dinheiro, se o crime antecedente for de competência da justiça federal.

c) Os crimes de lavagem de dinheiro são insuscetíveis de anistia, graça e fiança, não podendo o réu apelar em liberdade.

d) A tentativa é punida com a mesma pena do crime consumado.e) No caso de delação premiada prevista na lei, presentes os re-

quisitos, a pena deve ser reduzida de um a dois terços e come-ça a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos.

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Capítulo 18

Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – Lei nº 7.492/86

1. Aspectos Gerais da Lei nº 7.492/86

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, sendo abordados aqui os aspectos gerais.

1.2 Síntese

Primeiramente, é preciso entender que há um conjunto geral e, dentro deste conjunto, há conjuntos menores. O conjunto geral é chamado ordem econômica.

Ainda, ao se estudar esta lei, é preciso que sejam estudados outros diplomas legais.

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176A Comissão de Valores Mobiliários estipula regras para o Sistema Finan-

ceiro, por exemplo.Em regra, o valor desviado do Sistema Financeiro, para receber uma apa-

rência de licitude, acaba sendo lavado. A Lei nº 12.683/12 acabou com os crimes antecedentes, ou seja, qualquer

infração penal que dê lucro; este lucro pode ser lavado, dando aparência de licitude para dinheiro sujo.

Há três diplomas normativos diferentes que tratam de situações aparente-mente análogas, mas não são: Lei Complementar nº 105, de 2001 (Lei do Sigilo das Operações Financeiras); Lei nº 7.492/86 e Lei nº 10.028 de 2000 (Crimes contra as Finanças Públicas).

2. Conceito de Instituição Financeira

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, sendo trazido o conceito de instituição financeira.

2.2 Síntese

Instituição Financeira, para efeitos desta lei, é a pessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória a capta-ção, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moe-da nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários.

É possível perceber que não é só a instituição financeira tutelada pela lei, mas o Sistema Financeiro.

O parágrafo único do art. 1º traz a seguinte redação:“Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:I – a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio,

capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;II – a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste

artigo, ainda que de forma eventual.”

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3. Dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, sendo abordados aqui os crimes propriamente ditos.

3.2 Síntese

O art. 2º da Lei nº 7.492/86 dispõe:“Art. 2º Imprimir, reproduzir ou, de qualquer modo, fabricar ou pôr em

circulação, sem autorização escrita da sociedade emissora, certificado, cautela ou outro documento representativo de título ou valor mobiliário:

Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.”Os valores mobiliários, para que sejam emitidos, precisam de autorização

da sociedade emissora e também da Comissão de Valores Mobiliários, mas o dispositivo trata somente da autorização da sociedade emissora.

O parágrafo único estabelece:“Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem imprime, fabrica, divulga,

distribui ou faz distribuir prospecto ou material de propaganda relativo aos pa-péis referidos neste artigo.”

O art. 3º do mesmo diploma dispõe:“Art. 3º Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre

instituição financeira:Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.”Exemplo: sujeito que, em reuniões com amigos, fala que a Instituição Fi-

nanceira “X” está com a situação financeira crítica. Trata-se de boatos que po-dem acabar gerando prejuízo a esta instituição.

O art. 5º traz a seguinte redação:“Art. 5º Apropriar-se, quaisquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta

lei, de dinheiro, título, valor ou qualquer outro bem móvel de que tem a posse, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio:

Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.”Aqui são pessoas que lidam com empresas que estão falindo, em recu-

peração, ou seja, o liquidante, o interventor e o antigo síndico, que hoje é a figura do administrador judicial. Desta forma, estas pessoas que se apro-

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178priam de dinheiro, valores ou bens, já que estão gerindo aquela liquidação e aquela falência, praticam este crime.

O art. 6º diz:“Art. 6º Induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública

competente, relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-lhe informação ou prestando-a falsamente:

Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.”O art. 7º estabelece:“Art. 7º Emitir, oferecer ou negociar, de qualquer modo, títulos ou valores

mobiliários:I – falsos ou falsificados;II – sem registro prévio de emissão junto à autoridade competente, em

condições divergentes das constantes do registro ou irregularmente registrados;III – sem lastro ou garantia suficientes, nos termos da legislação;IV – sem autorização prévia da autoridade competente, quando legalmente

exigida:Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.”Os crimes de gestão temerária e gestão fraudulenta estão previstos nesta lei,

no art. 4º. Gestão fraudulenta é uma fraude, uma mentira, o sujeito está men-tindo no momento em que está gerindo um banco. Assim, há prática de atos ordinários desempenhando as funções, mas de forma mentirosa. Já na gestão temerária, o sujeito age de forma arriscada.

É preciso entender que, no caso da ação penal que recebeu o nome de “mensalão”, os réus foram condenados por gestão fraudulenta.

4. Dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – Parte II

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito dos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, sendo abordados aqui os crimes propriamente ditos.

4.2 Síntese

Os arts. 8º, 9º e 10 trabalham com uma questão de falsidade contra a fé pública e contra a dificuldade de fiscalização.

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179Se o sujeito exige juros, comissão, remuneração para qualquer operação

financeira, sem lastro legal, incorre no art. 8º. Já se o sujeito frauda a fiscali-zação inserindo declarações falsas em documentos, incorre no art. 9º. Se o sujeito coloca em valores mobiliários informação de valor falso, incorre no art. 10.

O art. 11 traz o crime de contabilidade paralela, conhecido como “Caixa Dois”. Neste “Caixa Dois”, o sujeito coloca recursos, receitas obtidas sem escrituração.

O art. 12 dispõe:“Art. 12. Deixar, o ex-administrador de instituição financeira, de apresentar,

ao interventor, liquidante, ou síndico, nos prazos e condições estabelecidas em lei as informações, declarações ou documentos de sua responsabilidade:

Pena – Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”O art. 13 estabelece:“Art. 13. Desviar bem alcançado pela indisponibilidade legal resultante de

intervenção, liquidação extrajudicial ou falência de instituição financeira.Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.”O art. 14 do mesmo diploma dispõe:“Art. 14. Apresentar, em liquidação extrajudicial, ou em falência de insti-

tuição financeira, declaração de crédito ou reclamação falsa, ou juntar a elas título falso ou simulado:

Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.”O art. 15 estabelece:“Art. 15. Manifestar-se falsamente o interventor, o liquidante ou o síndico,

à respeito de assunto relativo a intervenção, liquidação extrajudicial ou falência de instituição financeira:

Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.”Traz o art. 16 a seguinte redação:“Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida

mediante declaração falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de câmbio:

Pena – Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”Dispõe o art. 17:“Art. 17. Tomar ou receber, qualquer das pessoas mencionadas no art. 25

desta lei, direta ou indiretamente, empréstimo ou adiantamento, ou deferi-lo a controlador, a administrador, a membro de conselho estatutário, aos respec-tivos cônjuges, aos ascendentes ou descendentes, a parentes na linha colateral até o 2º grau, consangüíneos ou afins, ou a sociedade cujo controle seja por ela exercido, direta ou indiretamente, ou por qualquer dessas pessoas:

Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.”

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180O art. 18 dispõe:“Art. 18. Violar sigilo de operação ou de serviço prestado por instituição

financeira ou integrante do sistema de distribuição de títulos mobiliários de que tenha conhecimento, em razão de ofício:

Pena – Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”Nota-se que aqui se tem um crime próprio (aquele que só pode ser praticado

por determinado grupo de pessoas). O art. 19 tem a seguinte redação:“Art. 19. Obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira:Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.” O art. 20 dispõe:“Art. 20. Aplicar, em finalidade diversa da prevista em lei ou contrato, re-

cursos provenientes de financiamento concedido por instituição financeira ofi-cial ou por instituição credenciada para repassá-lo:

Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.”Exemplo: o sujeito pede empréstimo para construção de sua casa, mas viaja

a Las Vegas e gasta toda a quantia em cassinos.

5. Do Aspecto Procedimental

5.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito dos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, sendo abordados a aplica-ção e o procedimento criminal.

5.2 Síntese

O art. 25 traz as pessoas que podem responder por esta lei: os penalmente responsáveis, conforme visto anteriormente.

O § 2º do referido dispositivo trata de delação premiada, contendo a seguinte redação:

“§ 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-auto-ria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à auto-ridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.”

O art. 26 fala de competência, dispondo:“Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo

Ministério Público Federal, perante a Justiça Federal.”

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181Dispõe o parágrafo único deste artigo:“Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no art. 268 do Código de Pro-

cesso Penal, aprovado pelo Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, será admitida a assistência da Comissão de Valores Mobiliários – CVM, quando o crime tiver sido praticado no âmbito de atividade sujeita à disciplina e à fisca-lização dessa Autarquia, e do Banco Central do Brasil quando, fora daquela hipótese, houver sido cometido na órbita de atividade sujeita à sua disciplina e fiscalização.”

O art. 27 traz uma situação peculiar, estabelecendo:“Art. 27. Quando a denúncia não for intentada no prazo legal, o ofendido

poderá representar ao Procurador-Geral da República, para que este a ofereça, designe outro órgão do Ministério Público para oferecê-la ou determine o ar-quivamento das peças de informação recebidas.”

O art. 28 dispõe:“Art. 28. Quando, no exercício de suas atribuições legais, o Banco Central

do Brasil ou a Comissão de Valores Mobiliários – CVM, verificar a ocorrência de crime previsto nesta lei, disso deverá informar ao Ministério Público Fede-ral, enviando-lhe os documentos necessários à comprovação do fato.”

O art. 29 estabelece:“Art. 29. O órgão do Ministério Público Federal, sempre que julgar ne-

cessário, poderá requisitar, a qualquer autoridade, informação, documento ou diligência, relativa à prova dos crimes previstos nesta lei.

Parágrafo único O sigilo dos serviços e operações financeiras não pode ser invocado como óbice ao atendimento da requisição prevista no caput deste artigo.”

É possível perceber que aqui o legislador relativizou o sigilo financeiro.Dispõe o art. 30:“Art. 30. Sem prejuízo do disposto no art. 312 do Código de Processo Penal,

aprovado pelo Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, a prisão preven-tiva do acusado da prática de crime previsto nesta lei poderá ser decretada em razão da magnitude da lesão causada.”

Nota-se que este artigo traz uma disparidade em relação à nova realidade do sistema de cautelares de 2011.

O art. 31 traz uma hipótese de inafiançabilidade:“Art. 31. Nos crimes previstos nesta lei e punidos com pena de reclusão,

o réu não poderá prestar fiança, nem apelar antes de ser recolhido à prisão, ainda que primário e de bons antecedentes, se estiver configurada situação que autoriza a prisão preventiva.”

Ocorre que os arts. 594 e 595 do Código de Processo Penal foram revogados. Assim, presentes os requisitos da prisão preventiva, não importa em que proces-so se está, o sujeito pode ser preso cautelarmente antes do trânsito em julgado.

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182O art. 33 dispõe:“Art. 33. Na fixação da pena de multa relativa aos crimes previstos nesta

lei, o limite a que se refere o § 1º do art. 49 do Código Penal, aprovado pelo Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, pode ser estendido até o décuplo, se verificada a situação nele cogitada.”

Exercício

81. Assinale verdadeiro ou falso: O crime de gestão temerária e o crime de gestão fraudulenta não po-dem ser aplicados na prática, pois ferem o Princípio da Legalidade.

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1. Crimes de Licitação – Parte I

1.1 Apresentação

Neste capítulo, continuando com o estudo das leis penais e processuais penais especiais, iniciamos o estudo da Lei nº 8.666/93, que traz hipóte-ses de crimes contra licitação.

1.2 SínteseA licitação é um procedimento formal pelo qual a Administração Pública a

convoca empresas interessadas a fim de que apresentem propostas relativas ao oferecimento de bens e serviços, sempre com condições previamente estabele-cidas em ato próprio.

O fundamento constitucional da licitação está no art. 37, inciso XXI, da Carta Magna, que diz:

Capítulo 19

Crimes da Lei de Licitações – Lei nº 8.666/93

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184“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...) XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de quali-ficação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.”

Devemos observar o que dizem os arts. 82 e 83 da Lei nº 8.666/93.“Art. 82. Os agentes administrativos que praticarem atos em desacordo com

os preceitos desta Lei ou visando a frustrar os objetivos da licitação sujeitam-se às sanções previstas nesta Lei e nos regulamentos próprios, sem prejuízo das responsabilidades civil e criminal que seu ato ensejar.

Art. 83. Os crimes definidos nesta Lei, ainda que simplesmente tentados, sujeitam os seus autores, quando servidores públicos, além das sanções penais, à perda do cargo, emprego, função ou mandato eletivo.”

Diante da discussão desses artigos se referirem ao âmbito criminal ou ad-ministrativo, o doutrinador Guilherme de Souza Nucci entende que não são efeitos da condenação criminal, já José Geraldo da Silva, Paulo Rogério Bonini e Wilson Lavorenti pensam o contrário.

Devemos ver também o art. 327 do Código Penal e o art. 84 da Lei de Lici-tações, que define funcionário público para os fins da Lei nº 8.666/93.

“Art. 84. Considera-se servidor público, para os fins desta Lei, aquele que exerce, mesmo que transitoriamente ou sem remuneração, cargo, função ou emprego público.

§ 1º. Equipara-se a servidor público, para os fins desta Lei, quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, assim consideradas, além das fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, as demais entidades sob controle, direto ou indireto, do Poder Público.

§ 2º. A pena imposta será acrescida da terça parte, quando os autores dos crimes previstos nesta Lei forem ocupantes de cargo em comissão ou de função de confiança em órgão da Administração direta, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista, fundação pública, ou outra entidade controlada direta ou indiretamente pelo Poder Público.”

O art. 85 traz uma importante regra de competência, estatuindo que as licitações e os contratos realizados podem ser objeto de atenção da Justiça Es-tadual ou da Justiça Federal, conforme o ente estatal atingido.

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185Sempre que a União, suas autarquias e empresas públicas forem interessadas

no ato licitatório, a competência será federal, na forma do art. 109, IV, da CF.Vamos ver agora os crimes em espécie, que inicia-se no art. 89 da Lei nº

8.666/93: “Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei,

ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: Pena – detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovada-

mente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.”

Nos termos do art. 84 da Lei, o sujeito ativo é o servidor público, razão pela qual o crime é próprio. Sujeito passivo será o Estado (ou seja, a União, o Estado-membro, o Distrito Federal ou o Município), bem como as autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas e outras sob controle estatal direto ou indireto.

Estamos diante de uma lei penal em branco que deverá ser complementa-da com a norma pertinente, no que se refere a dispensa da licitação.

O objeto material do crime é a licitação ou a formalidade legal indevida-mente desrespeitada. O objeto jurídico é a proteção dos interesses da Adminis-tração Pública.

Exercício

82. Prova: Cespe – 2009 – TCE-RN – Assessor Técnico Jurídico. Julgue o item subsequente, relativo à licitação. As condutas ilegais no procedimento licitatório que forem tipificadas como crime, ainda que sejam apenas tentadas, sujeitam seus auto-res, quando servidores públicos, à perda do cargo, emprego ou man-dato eletivo. Certo ou errado?

2. Crimes de Licitação – Parte II

2.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 8.666/93, que diz respeito aos crimes cometidos diante de licitações, des-tacando o art. 90.

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2.2 Síntese“Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer

outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação: Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

O crime é próprio, já que o sujeito ativo somente pode ser o particular lici-tante interessado na concessão de licitação. O sujeito passivo é o Estado, lato senso, e, de forma indireta, o titular do bem jurídico particularmente protegido.

O objeto material é o processo de licitação. O objeto jurídico é a tutela dos interesses da Administração Pública.

O elemento subjetivo é o dolo, havendo, igualmente, elemento subjetivo específico, consistente no “intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação”, sendo inexiste então a forma culposa.

Na modalidade plurissubsistente, ou seja, quando cometido por intermédio de vários atos, admite tentativa.

“Art. 91. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação ou à celebração de con-trato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário: Pena – deten-ção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”

O sujeito ativo é o servidor público. Caso haja participação, lato senso, do particular, todos incorreram no art. 91, em concurso de pessoas, conforme pre-visão do art. 30 do CP. Sujeito passivo é o Estado e, de forma mediata, o titular do bem jurídico protegido.

Observe que há duas condições objetivas de punibilidade neste artigo: a) a instauração de licitação ou a celebração de contrato; e b) a invalidação poste-rior de um deles pelo Judiciário.

O elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão de modalidade culposa.Como se trata de infração penal de menor potencial ofensivo, são cabíveis

os benefícios da Lei nº 9.099/95, como a transação penal.“Art. 92. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer modificação ou van-

tagem, inclusive prorrogação contratual, em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos con-tratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade, observado o disposto no art. 121 desta Lei: Pena – detenção, de dois a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. Incide na mesma pena o contratado que, tendo comprova-damente concorrido para a consumação da ilegalidade, obtém vantagem indevi-da ou se beneficia, injustamente, das modificações ou prorrogações contratuais.”

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187O crime é próprio, pois só pode ser praticado ou por servidor público ou por

contratado. Por servidor público no caput, e por contratado no parágrafo único. O sujeito passivo é o Estado, lato senso, ou seja, a União, o Estado-membro, o Distrito Federal e o Município, além de suas autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas e outras.

O elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão de modalidade culposa.Estamos diante de crime formal no caput, já que, para a sua consumação,

não há necessidade de comprovação de prejuízo para a Administração Pública. Mas no parágrafo único o delito é material, uma vez que depende da prova de ter havido a obtenção de vantagem ou benefício injustificado.

“Art. 93. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de pro-cedimento licitatório: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”

O crime agora é comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa. A vítima é o Estado, e, de forma secundária, o titular do bem jurídico particular-mente protegido.

O objeto material é o procedimento de licitação que sofreu a fraude, per-turbação ou impedimento. O objeto jurídico é a proteção dos interesses da Administração Pública. Na modalidade plurissubsistente, admite tentativa.

“Art. 94. Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licita-tório, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena – detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa.”

O crime novamente é comum, já que o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado, lato senso.

O elemento subjetivo é o dolo, não sendo admitida a modalidade culposa.O objeto material é a proposta sigilosa. O objeto jurídico é a proteção dos

interesses da Administração Pública.A consumação ocorrerá no momento em que o conteúdo da proposta é

conhecido pelo sujeito ativo. A tentativa é possível.

Exercício

83. Prova: FGV – 2010 – PC-AP – Delegado de Polícia. Maurício e San-doval, sócios da empresa 007 Construções Ltda., decidem participar de uma concorrência pública realizada pela Secretaria de Obras do Estado do Amapá para seleção da empresa encarregada de construir um estádio de futebol com vistas à Copa do Mundo que se realiza-rá no Brasil. Como a empresa não dispõe dos documentos exigidos pelo edital – especificamente a comprovação de realização de obra semelhante em contratação com o setor público – Maurício e San-

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188doval falsificam ART’s (anotação de responsabilidade técnica) a fim de simular que já realizaram tais obras. A fraude surte efeito e a 007 construções é efetivamente selecionada dentre as concorrentes. To-davia, a falsificação é descoberta pouco tempo depois.Assinale a alternativa que indique o crime praticado por Maurício e Sandoval.a) Fraude à licitação (art. 93, Lei nº 8.666/93).b) Falsificação de documento público (art. 297, Código Penal).c) Falsidade ideológica (art. 299, Código Penal).d) Falsificação de documento particular (art. 298, Código Penal).e) Estelionato (art. 171, Código Penal).

3. Crimes de Licitação – Parte III

3.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 8.666/93, que diz respeito aos crimes cometidos diante de licitações, com enfoque no art. 95.

3.2 Síntese

“Art. 95. Afastar ou procura afastar licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo: Pena – de-tenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém ou desiste de licitar, em razão da vantagem oferecida.”

O crime do caput é comum, razão pela qual o sujeito ativo pode ser qual-quer pessoa. Mas o crime do parágrafo único é próprio, pois somente pode ser cometido pelo licitante. O sujeito passivo é sempre o Estado, lato senso falando.

O elemento subjetivo é o dolo, não havendo elemento subjetivo específico nem modalidade culposa.

O objeto material é o licitante, sobre o qual recai a conduta criminosa. O objeto jurídico é a proteção dos interesses da Administração Pública.

Estamos diante de crime punido de forma bilateral, já que receberá pu-nição tanto quem tenta afastar o licitante com o oferecimento de vantagem, quanto quem desiste da licitação em face da vantagem oferecida.

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189“Art. 96. Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação instaurada

para aquisição ou venda de bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente: I – elevando arbitrariamente os preços; II – vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou de-

teriorada; III – entregando uma mercadoria por outra; IV – alterando substância, qualidade ou quantidade da mercadoria fornecida; V – tornando, por qualquer modo, injustamente, mais onerosa a proposta

ou a execução do contrato: Pena – detenção, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.”O crime é próprio, já que somente pode ser praticado por licitante ou con-

tratado. O sujeito passivo é o Estado, ou seja, a União, o Estado-membro, o Distrito Federal e o Município, bem como suas autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas e outras.

O elemento subjetivo é o dolo, não sendo punida a forma culposa.Trata-se de crime material, e a consumação somente ocorrerá com o efeito

dano à Administração Pública.“Art. 97. Admitir à licitação ou celebrar contrato com empresa ou profis-

sional declarado inidôneo: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que, declarado inidôneo, venha a licitar ou a contratar com a Administração.”

No caso do caput, sujeito ativo é o servidor público com atribuição para admitir, ou não, possíveis licitantes, já no caso do parágrafo único, autor é o licitante declarando inidôneo.

O objeto material é a licitação ou o contrato. O objeto jurídico é a tutela dos interesses da Administração Pública.

O elemento subjetivo é o dolo, não sendo punida a modalidade culposa.“Art. 98. Obstar, impedir ou dificultar, injustamente, a inscrição de qual-

quer interessado nos registros cadastrais ou promover indevidamente a altera-ção, suspensão ou cancelamento de registro do inscrito: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”

Embora não haja unanimidade, estamos diante de crime próprio, o qual somente pode ser praticado por funcionário público.

O elemento subjetivo é sempre o dolo, não havendo previsão de modali-dade culposa.

O objeto material é a inscrição ou o registro. O objeto jurídico é a proteção dos interesses da Administração Pública.

A ação penal é sempre pública incondicionada (art. 100 da Lei de Licita-ções), salvo a possibilidade da ação privada subsidiária da pública (art. 103).

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190A Lei nº 8.666/93 prevê procedimento especial, observe o teor dos arts. 104

a 107:“Art. 104. Recebida a denúncia e citado o réu, terá este o prazo de 10 (dez)

dias para apresentação de defesa escrita, contado da data do seu interrogatório, podendo juntar documentos, arrolar as testemunhas que tiver, em número não superior a 5 (cinco), e indicar as demais provas que pretenda produzir.

Art. 105. Ouvidas as testemunhas da acusação e da defesa e praticadas as diligências instrutórias deferidas ou ordenadas pelo juiz, abrir-se-á, sucessiva-mente, o prazo de 5 (cinco) dias a cada parte para alegações finais.

Art. 106. Decorrido esse prazo, e conclusos os autos dentro de 24 (vinte e quatro) horas, terá o juiz 10 (dez) dias para proferir a sentença.

Art. 107. Da sentença cabe apelação, interponível no prazo de 5 (cinco) dias.”

Há, no entanto, forte entendimento hoje no sentido de que, em face do art. 394, § 4º, do CPP, que foi acrescentado pela Lei nº 11.719/2008, as disposições dos arts. 395 a 398 do CPP aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados pelo CPP. Isso significa que, para essa corrente, o procedimento a ser aplicado hoje seria o comum.

Exercício

84. Prova: FCC – 2009 – PGE-RJ – Técnico Superior de Análise Con-tábil. A pena de multa, nos crimes relacionados a licitações, não po-derá superar o seguinte percentual do contrato licitado ou celebrado com dispensa ou inexigibilidade de licitação:a) quinze por cento. b) dez por cento. c) oito por cento. d) sete por cento. e) cinco por cento.

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1. Crimes Falimentares – Parte I

1.1 Apresentação

Nesta unidade, continuando com o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando a Lei nº 11.101/05, que trata dos crimes falimentares.

1.2 SínteseA nova lei de falências substituiu o Decreto-lei nº 7.661/1945, que refletia

toda uma conjuntura do capital privado no Brasil da primeira metade do sé-culo passado.

A nova LF introduziu uma mudança profunda na disciplina dos crimes falimentares, considerados estes os praticados depois da decretação da falência ou da concessão da recuperação judicial ou da recuperação extrajudicial.

Capítulo 20

Crimes Falimentares – Lei nº 11.101/05

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192Muitos crimes que existiam na legislação anterior (Decreto-lei nº

7.661/1945) deixaram de existir, outros delitos foram criados e outros ainda foram modificados, com imposição de penas mais severas.

Deve-se então aplicar sempre a irretroatividade da lei mais severa e a retroa-tividade da lei mais benéfica. Se for melhor, retroage, se for pior, não retroage.

A nova lei, por outro lado, criou figuras delituosas até então inexistentes, em verdadeira novatio legis incriminadora. Exemplo disso sãos os novos crimes de violação de sigilo empresarial, previstos no art. 169 da Lei nº 11.101/05.

Veremos que os crimes falimentares são sempre dolosos. Além disso, são delitos concursais, já que o seu reconhecimento depende de um fato exterior à sua própria conceituação típica, ou seja, depende da sentença que decretar a falência ou que conceder a recuperação judicial ou extrajudicial. Portanto, não poderemos falar em crime falimentar sem a sentença que decreta a falência ou concede a recuperação judicial ou extrajudicial.

Começando pelos crimes em espécie, veremos o art. 168, que diz: “Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência,

conceder a recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou para outrem. Pena – reclu-são, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Aumento da pena § 1º A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente:

I – elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos;II – omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles

deveria constar, ou altera escrituração ou balanço verdadeiros;III – destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados

em computador ou sistema informatizado;IV – simula a composição do capital social;V – destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de

escrituração contábil obrigatórios.Contabilidade paralela § 2º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até me-

tade se o devedor manteve ou movimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pela legislação.

Concurso de pessoas § 3º Nas mesmas penas incidem os contadores, téc-nicos contábeis, auditores e outros profissionais que, de qualquer modo, con-correrem para as condutas criminosas descritas neste artigo, na medida de sua culpabilidade.

Redução ou substituição da pena § 4º Tratando-se de falência de microem-presa ou de empresa de pequeno porte, e não se constatando prática habitual de condutas fraudulentas por parte do falido, poderá o juiz reduzir a pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) ou substituí-la pelas penas

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193restritivas de direitos, pelas de perda de bens e valores ou pelas de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas.”

O crime é próprio, já que o sujeito ativo somente pode ser o empresário devedor. O sujeito passivo é o credor lesado ou em vias de ser prejudicado. De forma mediata vítima também é o Estado.

O elemento subjetivo do crime é o dolo, não sendo punida a forma culposa.Devem-se observar as normas penais em branco, já que o tipo fala em falên-

cia, recuperação judicial e em recuperação extrajudicial.Os motivos determinantes da Falência estão elencados no art. 94, como, por

exemplo, o devedor não paga, sem relevante razão de direito, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos na data do pedido de falência.

A Recuperação Judicial vem descrita no art. 47 da LF, e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhado-res e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

A Recuperação Extrajudicial está disposta no art. 161 da LF, o qual refere que o devedor que preencher os requisitos da recuperação judicial poderá pro-por e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial.

Exercício85. No crime de fraude a credores, previsto no art. 168 da Lei nº

11.101/05, caso se trate de falência de microempresa ou de empresa de pequeno porte, e não se constatando prática habitual de condu-tas fraudulentas por parte do falido, poderá o juiz reduzir a pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), ficando vedada a subs-tituição por penas restritivas de direitos, por perda de bens e valores ou por prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas. Certo ou errado?

2. Crimes Falimentares – Parte II

2.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 11.101/05, que diz respeito aos crimes falimentares, discorrendo sobre o art. 169.

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2.2 Síntese

“Art. 169. Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou dados confidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a con-dução do devedor a estado de inviabilidade econômica ou financeira: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

O crime é comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa. A vítima será o empresário devedor. De forma indireta ou mediata, serão sujeitos passi-vos também o Estado e os credores.

O elemento subjetivo do tipo é o dolo, não sendo punida a forma culposa.O objeto jurídico é a proteção ao crédito público e a regularidade do desen-

volvimento da atividade empresarial. O objeto material é o sigilo mantido pela atividade empresarial ou o dado

confidencial sobre operação ou serviços da pessoa jurídica.O crime é material, ou seja, depende da ocorrência do resultado naturalís-

tico para a sua consumação, que é justamente o estado de inviabilidade econô-mica ou financeira, redundando em falência ou recuperação.

Em relação à tentativa, não há unanimidade, enquanto Guilherme de Sou-za Nucci não a admite, alegando se tratar de delito condicionado ao advento da falência ou da recuperação judicial ou extrajudicial, Ricardo Andreucci a admite nas modalidades violar e explorar, bem como na conduta divulgar, des-de que a divulgação seja verbal.

“Art. 170. Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre devedor em recuperação judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

A objetividade jurídica aqui é garantir que o credor em recuperação judi-cial não seja prejudicado no cumprimento do plano de recuperação por conta de informações falsas.

Como o crime é comum, pode ser praticado por qualquer pessoa. O sujeito passivo é o devedor em recuperação judicial, capaz de ser levado à falência.

O elemento subjetivo é o dolo, exigindo inclusive o dolo específico, que consistente em querer levar o devedor em recuperação à falência ou querer obter vantagem indevida.

O crime admitirá tentativa nos casos de divulgação ou propalação por meio escrito ou qualquer outro de suporte material.

“Art. 171. Sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no processo de falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assem-bleia-geral de credores, o Comitê ou o administrador judicial: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

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195Trata-se de delito comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. O

sujeito passivo é a Administração da Justiça, e de forma indireta os credores habilitados.

O crime é doloso, mas novamente se exige um dolo específico. Não se pune a forma culposa.

Caso a indução a erro ocorra antes da sentença que decretar a falência, a decisão que concede a recuperação judicial ou homologa a recuperação extra-judicial, não será admitida a tentativa, já que a consumação estará condiciona-da a tais atos.

“Art. 172. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar plano de recuperação extra-judicial, ato de disposição ou oneração patrimonial ou gerador de obrigação, destinado a favorecer um ou mais credores em prejuízo dos demais: Pena – re-clusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o credor que, em conluio, pos-sa beneficiar-se de ato previsto no caput deste artigo.”

O crime é próprio, pois somente pode ser praticado pelo empresário deve-dor. O sujeito passivo é o credor e, de forma mediata, o Estado, isso quando a falência ou a recuperação for decretada.

O elemento subjetivo do tipo é o dolo, havendo também dolo específico, representado pelo querer “favorecer um ou mais credores em prejuízo dos de-mais”. Não há, no entanto, modalidade culposa.

O delito é formal, ou seja, independe de resultado naturalístico, que seria o efetivo prejuízo aos demais credores.

A tentativa somente será admitida se o crime ocorrer após a falência ou a decisão de recuperação judicial ou extrajudicial.

Exercício

86. OAB-SP Exame de Ordem (134º Exame de Ordem SP) 68ª. Quan-to aos crimes falimentares, previstos na Lei nº 11.101/05, assinale a opção correta.a) Os efeitos da condenação, tais como inabilitação para o exercí-

cio de atividade empresarial, impossibilidade de gerir empresa por mandato, entre outros, devem ser aplicados automaticamen-te com a sentença condenatória.

b) A fraude contra credores, descrita como conduta criminosa, só poderá ocorrer antes da sentença que decretar a falência.

c) A redução ou substituição da pena privativa de liberdade pre-vista na lei dos crimes falimentares só poderá ser aplicada às microempresas e às empresas de médio porte.

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196d) Praticam crime falimentar o juiz, o representante do Ministério

Público, o administrador judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro, por si ou por interposta pessoa, que adquiram bens da massa falida ou de devedor em recuperação judicial.

3. Crimes Falimentares – Parte III

3.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 11.101/05, que diz respeito aos crimes falimentares, abordando o art. 173.

3.2 Síntese“Art. 173. Apropriar-se, desviar ou ocultar bens pertencentes ao devedor

sob recuperação judicial ou à massa falida, inclusive por meio da aquisição por interposta pessoa: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

Na modalidade apropriação, o sujeito ativo somente poderá ser a pessoa que tem o bem em confiança, portanto, trata-se de crime próprio nessa modali-dade. Já nos verbos desviar e ocultar, o sujeito ativo é qualquer pessoa, tratando--se, aqui, de crime comum.

O objeto material é o bem desviado, ocultado ou sujeito ao apossamento por terceiro. Já o objeto jurídico é a proteção ao crédito público, que é comum a todos os crimes falimentares.

O elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão de modalidade cul-posa aqui.

“Art. 174. Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que sabe pertencer à massa falida ou influir para que terceiro, de boa-fé, o adquira, receba ou use: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

O objeto jurídico deste crime é a proteção ao conjunto de bens que forma a massa falida, utilizada para pagamento das obrigações em favor dos credores que participam do concurso. De forma mediata, protege-se, também, a indispo-nibilidade incidente sobre os bens da empresa a partir da decretação da falên-cia. O objeto material é justamente o bem pertencente à massa falida.

O crime é comum, razão pela qual pode ser cometido por qualquer pessoa. O sujeito passivo é o credor lesado com a disposição do bem pertencente à massa falida. De forma secundária é o Estado, bem como o terceiro de boa-fé que venha a ser eventualmente prejudicado.

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197A expressão “adquirir, receber, usar bem que sabe pertencer à massa falida”

diz que o elemento subjetivo aqui é o dolo direto. “Art. 175. Apresentar, em falência, recuperação judicial ou recuperação ex-

trajudicial, relação de créditos, habilitação de créditos ou reclamação falsas, ou juntar a elas título falso ou simulado: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

O crime é comum e o sujeito passivo é a própria massa falida e os credores que integram o chamado concurso universal.

O objeto material é a relação de credores, a habilitação de créditos ou a reclamação, bem como o título falso a elas anexado. O objeto jurídico é a pro-teção ao equilíbrio do concurso de credores, que é prejudicado com a inclusão de créditos inexistentes ou com valor falso.

A consumação ocorrerá com a efetiva apresentação da relação de créditos, com a habilitação de créditos ou com a reclamação falsas, bem como com a efetiva juntada a elas de título falso ou simulado.

A tentativa não é possível na modalidade apresentar, já que se trata de cri-me formal e unissubsistente. Já na modalidade juntar é em tese possível a figu-ra tentada, quando, por exemplo, o pretenso credor é surpreendido em vias de protocolar petição pleiteando a juntada do título falso.

“Art. 176. Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado por decisão judicial, nos termos desta Lei: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”

Aqui temos crime próprio, porque somente pode ser praticado por pessoa inabilitada ou incapacitada. O sujeito passivo é a Administração Pública, pro-priamente a administração da justiça, considerando-se a tutela do cumprimen-to das decisões judiciais.

O crime é doloso, não havendo previsão de elemento subjetivo específico nem modalidade culposa.

O objeto material do delito é a atividade vedada. O objeto jurídico é a ad-ministração da justiça e a tutela ao patrimônio dos credores.

“Art. 177. Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o admi-nistrador judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro, por si ou por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recuperação judicial, ou, em relação a estes, entrar em alguma especulação de lucro, quando tenham atuado nos respectivos processos: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”

O crime aqui é próprio, já que somente pode ser praticado pelos agentes especificados na lei: o juiz, o representante do MP, o administrador judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça e o leiloeiro.

O sujeito passivo, além do Estado sempre, é também o credor prejudicado com a prática da conduta.

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198O elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão de dolo específico

nem de modalidade culposa.O crime é formal, ou seja, independe, para a sua consumação, da ocorrên-

cia de resultado naturalístico, consistente na produção de prejuízo efetivo aos credores.

Como a lei fala em adquirir e especular verifica-se possível, na modalidade plurissubsistente (ou seja, praticada em vários atos), a forma tentada.

Exercício87. Prova: FCC – 2008 – MPE-PE – Promotor de Justiça. Em relação à

recuperação judicial de empresa, é correto afirmar: a) O Ministério Público tem sua atuação restrita à verificação da prá-

tica de crimes falimentares ou no curso da recuperação judicial. b) Os crimes previstos na lei respectiva são de ação penal pública

condicionada à representação dos credores. c) A sentença que decreta a falência, concede a recuperação ju-

dicial ou extrajudicial é condição objetiva de punibilidade das infrações penais respectivas.

d) Na omissão do Ministério Público ao oferecimento de denúncia por crime falimentar, qualquer credor habilitado ou o adminis-trador judicial poderá oferecer ação penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de três meses.

e) A inabilitação para o exercício de atividade empresarial é efeito automático da condenação por crime falimentar.

4. Crimes Falimentares – Parte IV

4.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 11.101/05, que diz respeito aos crimes falimentares, discorrendo sobre o art. 178.

4.2 Síntese

“Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homolo-

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199gar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contá-bil obrigatórios: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.”

O crime é próprio, já que somente pode ser praticado pela pessoa obrigada a manter em ordem os livros obrigatórios. O sujeito passivo é o conjunto de credores que, pela incorreção contábil, que se veem prejudicados em seu di-reito de cumprimento de obrigações pela empresa, assumidas antes ou depois da quebra, além, claro, do Estado, que se vê prejudicado em sua atividade fiscalizadora e tributária.

O objeto material é o documento de escrituração contábil obrigatório. O objeto jurídico é a proteção aos credores e, lato senso, ao crédito público.

O crime é doloso, não havendo previsão de dolo específico nem de moda-lidade culposa.

Encerrando os crimes em espécies, devemos observar algumas outras nor-mas relativas a estes crimes, assim o art. 179 diz:

“Art. 179. Na falência, na recuperação judicial e na recuperação extrajudi-cial de sociedades, os seus sócios, diretores, gerentes, administradores e conse-lheiros, de fato ou de direito, bem como o administrador judicial, equiparam--se ao devedor ou falido para todos os efeitos penais decorrentes desta Lei, na medida de sua culpabilidade.”

Não há utilidade prática no dispositivo, já que o art. 29 do CP traz norma semelhante e inclusive mais genérica.

“Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei:I – a inabilitação para o exercício de atividade empresarial;II – o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de

administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei;III – a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de

negócio.§ 1º. Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser mo-

tivadamente declarados na sentença, e perdurarão até 5 (cinco) anos após a ex-tinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar antes pela reabilitação penal.

§ 2º. Transitada em julgado a sentença penal condenatória, será notificado o Registro Público de Empresas para que tome as medidas necessárias para impedir novo registro em nome dos inabilitados.”

O mais importante é que você lembre que tais efeitos não são automáticos, devendo o juiz, na sentença, declará-los motivadamente. Esses efeitos perdura-rão até 5 anos depois da extinção da punibilidade, salvo se o condenado obtiver a reabilitação criminal antes disso.

“Art. 182. A prescrição dos crimes previstos nesta Lei reger-se-á pelas dis-posições do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal,

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200começando a correr do dia da decretação da falência, da concessão da recupe-ração judicial ou da homologação do plano de recuperação extrajudicial.

Parágrafo único. A decretação da falência do devedor interrompe a prescri-ção cuja contagem tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a homologação do plano de recuperação extrajudicial.”

Os crimes falimentares são julgados pelo juiz criminal da jurisdição onde tenha sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou homolo-gado o plano de recuperação extrajudicial, conforme art. 183 da LF.

A ação penal é pública incondicionada, sendo admitida a queixa subsidiá-ria, segundo o art. 184 da LF.

O procedimento está previsto entre os arts. 185 a 188 da LF.“Art. 185. Recebida a denúncia ou a queixa, observar-se-á o rito previsto nos

arts. 531 a 540 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal.

Art. 186. No relatório previsto na alínea e do inciso III do caput do art. 22 desta Lei, o administrador judicial apresentará ao juiz da falência exposição circunstanciada, considerando as causas da falência, o procedimento do deve-dor, antes e depois da sentença, e outras informações detalhadas a respeito da conduta do devedor e de outros responsáveis, se houver, por atos que possam constituir crime relacionado com a recuperação judicial ou com a falência, ou outro delito conexo a estes.

Parágrafo único. A exposição circunstanciada será instruída com laudo do contador encarregado do exame da escrituração do devedor.

Art. 187. Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recu-peração judicial, o Ministério Público, verificando a ocorrência de qualquer crime previsto nesta Lei, promoverá imediatamente a competente ação penal ou, se entender necessário, requisitará a abertura de inquérito policial.

§ 1º. O prazo para oferecimento da denúncia regula-se pelo art. 46 do De-creto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, salvo se o Ministério Público, estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar a apresentação da exposição circunstanciada de que trata o art. 186 desta Lei, devendo, em seguida, oferecer a denúncia em 15 (quinze) dias.

§ 2º. Em qualquer fase processual, surgindo indícios da prática dos crimes previstos nesta Lei, o juiz da falência ou da recuperação judicial ou da recupe-ração extrajudicial cientificará o Ministério Público.

Art. 188. Aplicam-se subsidiariamente as disposições do Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.”

Veja que se seguia o rito previsto para os crimes apenados com detenção, o que era absolutamente incompreensível, já que quase todos os crimes fali-mentares, à exceção daquele previsto no art. 178, são apenados com reclusão.

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201Com a Lei nº 11.719/2008, o procedimento passa a ser o comum, pelo rito

ordinário, conforme os delitos tenham pena máxima cominada seja igual ou superior a quatro anos de PPL (art. 394, § 1º, I, do CPP) ou inferior a 4 anos (art. 394, § 1º, II, do CPP).

Exercício

88. Prova: Cespe – 2009 – PGE-PE – Procurador de Estado. Quanto ao procedimento aplicado aos crimes falimentares, assinale a opção correta:a) Via de regra, referidos crimes são apurados mediante ação penal

pública incondicionada. b) Ação penal pode-se iniciar antes de decretada a falência. c) A competência é do juiz criminal da jurisdição onde o crime

tenha ocorrido. d) O órgão do MP não poderá aguardar a apresentação da expo-

sição circunstanciada do administrador judicial para oferecer a denúncia.

e) Decorrido in albis o prazo de que o MP dispõe para oferecer denúncia, não haverá possibilidade de se oferecer ação penal privada subsidiária da pública.

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1. Crimes Ambientais – Introdução

1.1 Apresentação

Neste capítulo, continuando com o estudo das leis penais e processuais penais especiais, iniciamos da Lei nº 9.605/98, que trata dos crimes am-bientais.

1.2 Síntese

Esta Lei tem fundamento no art. 225 da Constituição Federal, que diz: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Capítulo 21

Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98

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203§ 1º – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o mane-

jo ecológico das espécies e ecossistemas;II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e

fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supres-são permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que compro-meta a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencial-mente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, mé-todos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a cons-cientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

§ 2º – Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

§ 3º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujei-tarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrati-vas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º – A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preser-vação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º – São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º – As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.”

Não obstante a questão ambiental já fosse regida por outras normas, por exemplo, as Leis nos 5.197/67, 6.938/81 e 7.653/88, o mandamento constitucio-nal previsto no art. 225 da Carta fez surgir a novel legislação, de nº 9.605/98, complementada que é por regulamentos federais, estaduais e municipais, além de resoluções internas de órgãos incumbidos da gestão ambiental, como o Co-nama e o Ibama.

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204O meio ambiente vem conceituado no art. 3º, I, da Lei nº 6.938/81, veja a

definição:“Art. 3º – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações

de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.”

Podemos falar em meio ambiente natural (com a flora e a fauna, por exemplo), em meio ambiente cultural (como o patrimônio arqueológico, por exemplo), em meio ambiente artificial (como edifícios ou equipamen-tos urbanos e comunitários, por exemplo) e em meio ambiente do trabalho (como a proteção do trabalhador no seu local de trabalho, por exemplo).

A Lei nº 9.605/98 dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

“Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes pre-vistos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabi-lidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.”

A primeira parte do dispositivo seria desnecessária, pois apenas repete o que já está disposto no art. 29 do CP. A segunda parte, no entanto, deixa clara a relevância da omissão de certas pessoas, mostrando-se como complemento à regra do art. 13, § 2º, do CP, que trata da figura do garante.

“Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.”

Eu quero, no entanto, chamar a sua atenção para o que hoje se vem cha-mando de teoria da dupla imputação ou da imputação paralela.

O STJ vem admitindo a responsabilidade penal da pessoa jurídica em cri-mes ambientais, desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que não se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio, isto é chamado de “teoria da dupla imputação ou da imputação paralela”. Neste sentido veja a decisão: STJ, HC 969.160, j. 06/08/2009.

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Exercício

89. Companhia Estadual de Habitação Popular da Paraíba. Cespe – 2009 – CEHAP-PB – Advogado. Quanto à Lei dos Crimes Ambien-tais, julgue os itens subsequentes.I – As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.II – A responsabilidade das pessoas jurídicas exclui a das pessoas físi-cas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.III – Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.Assinale a opção correta. a) Apenas os itens I e II estão certos. b) Apenas os itens I e III estão certos. c) Apenas os itens II e III estão certos. d) Todos os itens estão certos.

2. Crimes Ambientais – Aplicação das Penas, Prestação de Serviço e Recolhimento Domiciliar

2.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, abordando inicialmen-te o art. 6º.

2.2 Síntese“Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente

observará:I – a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conse-

quências para a saúde pública e para o meio ambiente;II – os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de

interesse ambiental;

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206III – a situação econômica do infrator, no caso de multa.”A individualização da pena advém de determinação constitucional, prevista

no art. 5º, XLVI, da CF. Ocorre que, não obstante os critérios gerais previstos no Código Penal, com o enfrentamento do art. 68 e as suas três fases (art. 59, circunstâncias judiciais; depois agravantes e atenuantes; e finalmente majoran-tes e minorantes), bem como com a opção do regime (se fechado, semiaberto ou aberto), a Lei dos Crimes Ambientais traz critérios específicos.

Assim sem desconsiderar as disposições do CP, a Lei nº 9.605/98 determina ao magistrado verificar a gravidade do fato, bem como os antecedentes e a situação econômica do infrator.

“Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as priva-tivas de liberdade quando:

I – tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a quatro anos;

II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.

Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída.”

A prestação de serviços à comunidade está prevista no art. 9º e consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas nos parques e jardins públicos e unidades de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na restauração desta, se possível.

As penas de interdição temporária de direito estão previstas no art. 10 e são a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos.

A suspensão de atividades está prevista no art. 11 e será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às prescrições legais.

A prestação pecuniária está prevista no art. 12 e consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator.

O recolhimento domiciliar, previsto no art. 13, baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença condenatória. O interes-

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207sante é que essa PRD, recolhimento domiciliar, veio vetada quando a Lei nº 9.714/1998 alterou o art. 43 do CP.

“Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:I – baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;II – arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do

dano, ou limitação significativa da degradação ambiental causada;III – comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação

ambiental;IV – colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle

ambiental.”

Exercícios

90. Prova Cesgranrio – 2010 – BNDES – Advogado. Um Banco rece-be pedido de financiamento da Empresa Mascas e Mascotes Ltda., representada por seu sócio-gerente, o Sr. Empédocles. Realizando diligências quanto à regularidade cadastral do proponente, o Banco verifica a existência de processos criminais por infração a normas penais que tratam da proteção ao meio ambiente. As anotações in-dicam a persecução penal à pessoa jurídica, bem como ao sócio-ge-rente. Indagado sobre as anotações, o Sr. Empédocles informa que, segundo seu advogado, a pessoa jurídica está infensa da responsabi-lidade penal e, quanto à pessoa física, ainda não existe condenação, estando os fatos em fase de apuração judicial. Alega que ingressou na empresa em data posterior aos fatos narrados como ilícitos. A partir do caso exposto, conclui-se que:a) no sistema pátrio não há responsabilização criminal de pessoa

jurídica. b) nos crimes ambientais sempre haverá concurso de agentes, in-

cluindo pessoa física sócia e pessoa jurídica. c) os crimes ambientais permitem a responsabilidade criminal da

pessoa jurídica. d) a responsabilidade da pessoa física por crimes ambientais é ob-

jetiva. e) a pessoa física é a quem cabe somente responder pelos crimes

ambientais praticados. 91. Prova Cespe – 2004 – Polícia Federal – Delegado de Polícia. No

item a seguir é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada.

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208Bartolomeu, pessoa com baixo grau de instrução, foi preso em fla-grante pela prática de ato definido como crime contra a fauna. Nessa situação, o baixo grau de instrução de Bartolomeu não exclui a sua culpabilidade, mas constitui circunstância que atenuaria a sua pena no caso de eventual condenação penal. Certo ou errado?

3. Crimes Ambientais – Agravantes, Sursis e Formação de Título Executivo

3.1 Apresentação

Nesta unidade, damos prosseguimento ao estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, versando sobre o art. 15.

3.2 Síntese“Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem

ou qualificam o crime:I – reincidência nos crimes de natureza ambiental;II – ter o agente cometido a infração:a) para obter vantagem pecuniária;b) coagindo outrem para a execução material da infração;c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o

meio ambiente;d) concorrendo para danos à propriedade alheia;e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do

Poder Público, a regime especial de uso;f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;g) em período de defeso à fauna;h) em domingos ou feriados;i) à noite;j) em épocas de seca ou inundações;l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;n) mediante fraude ou abuso de confiança;o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por ver-

bas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;

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209q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autori-

dades competentes;r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.”A lei dos crimes ambientais traz uma hipótese de reincidência específica,

que é justamente tornar a praticar crimes ambientais. Com isso, embora a ma-téria não seja unânime, deve-se considerar afastada a chamada reincidência genérica do art. 61, I, do CP.

A Lei dos Crimes Ambientais traz, ainda, uma regra específica para o sursis, ou seja, a suspensão da execução da pena prevista no art. 77 do CP. Observe o que diz o art. 16.

“Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos.”

Ocorre que o art. 16 da Lei nº 9.605/98 eleva o prazo de condenação para 3 anos, em verdadeira exceção à regra geral (o art. 77 diz que o prazo é de dois anos).

O art. 18 refere que a multa será calculada segundo os critérios do CP. No entanto, se ela se revelar ineficaz, ainda que aplicada no máximo, nós pode-remos aumentá-la até 3 vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.

Tal aumento não vai ocorrer com fundamento na situação econômica do réu, como está no CP, e, sim, com base na vantagem econômica auferida por ele.

“Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os pre-juízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente.

Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execu-ção poderá efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido.”

Exercícios

92. FGV – 2008 – Senado Federal – Advogado. Relativamente aos cri-mes contra o meio ambiente, analise as afirmativas a seguir: I – Nos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, o baixo grau de instrução ou escolaridade do agente constitui circunstância que atenua a pena. II – Nos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, a prática do crime no domingo é circunstância que agrava a pena, quando não constitui ou qualifica o crime. III – Constitui crime reformar estabelecimentos potencialmente polui-dores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes.

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210IV – Constitui crime impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação. Assinale:a) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas.b) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.c) se apenas as afirmativas III e IV estiverem corretas.d) se todas as afirmativas estiverem corretas.e) se apenas a afirmativa II estiver correta.

93. Cespe – 2004 – Polícia Federal – Delegado de Polícia.No item a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Um delegado de polícia federal determinou abertura de inquérito para investigar crime ambiental, apontando como um dos indiciados a madeireira Mogno S.A. Nessa situação, houve irregularidade na abertura do inquérito porque pessoas jurídicas não podem ser consi-deradas sujeitos ativos de infrações penais. Certo ou errado?

4. Crimes Ambientais – Ação Penal e Laudo de Reparação

4.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, examinando o art. 21.

4.2 Síntese

“Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pes-soas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:

I – multa; II – restritivas de direitos;III – prestação de serviços à comunidade.Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:I – suspensão parcial ou total de atividades;II – interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;III – proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter

subsídios, subvenções ou doações.

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211§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem

obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente.

§ 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou ativi-dade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar.

§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos.

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consis-tirá em:

I – custeio de programas e de projetos ambientais;II – execução de obras de recuperação de áreas degradadas;III – manutenção de espaços públicos;IV – contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.”A ação penal em relação aos crimes ambientais é sempre pública incondi-

cionada, conforme dispõe o art. 26 da Lei.Já a competência para o processo e julgamento dos crimes ambientais será,

em regra, da Justiça Estadual, já que não há, na proteção ambiental, interesse direto da União ou de empresas públicas ou autarquias federais.

Como vem decidindo o STJ, a proteção ao meio ambiente constitui maté-ria de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme art. 23, incisos VI e VII, da Carta da República. A com-petência da Justiça Federal, nos crimes ambientais, restringe-se ao processa-mento e julgamento dos crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou interesses diretos da União, ou de suas autarquias ou empresas públicas (art. 109, inciso IV, da CF/88). Nesse sentido temos a decisão: STJ, 3ª Seção, CC 99.541, j. 27/10/2010.

Caso o autor do delito seja um índio, a competência continuará sendo da Justiça Estadual; entende o STJ que o mero fato de índio figurar como autor do delito ambiental, sem nenhuma conotação especial, não enseja o deslocamen-to da causa para a Justiça Federal, temos nesse sentido a decisão: STJ, 3ª Seção, CC 93.120, j. 09/06/2010.

Deve-se observar também a Súmula nº 140 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima”.

“Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:

I – a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5º do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano am-biental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1º do mesmo artigo;

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212II – na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa

a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição;

III – no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1º do artigo mencionado no caput;

IV – findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resul-tado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III;

V – esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do dano.”

Além da transação penal, que é admitida na Lei nº 9.605/98, a suspensão condicional do processo, ou o sursis processual, é admitido quando a pena mínima do crime não supera um ano, bem como se presente o juízo de sufi-ciência, que é o requisito subjetivo, previsto no art. 77 do CP.

A novidade aqui é que a extinção da punibilidade do réu dependerá da ela-boração de um laudo final, demonstrando que houve efetivamente a reparação do dano ambiental.

Exercício

94. Prova: Cespe – 2010 – MPE-ES – Promotor de Justiça Questão 85. A Lei de Crimes Ambientais estabelece a responsabilização na esfera cível, penal e administrativa, em caso de infração cometida em face do meio ambiente. A respeito de crimes ambientais, assinale a opção correta.a) Em matéria ambiental, o julgamento pelo cometimento de cri-

mes comuns é de competência da justiça estadual comum. b) A responsabilização do poluidor pela indenização ou reparação

dos danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade exige comprovação de culpa.

c) O poder de polícia exercido pela administração pública em ma-téria ambiental, desempenhado por profissionais e técnicos de formação civil, tem caráter unicamente repressivo.

d) Processo em matéria ambiental, se administrativo, deve ser con-duzido harmonicamente, considerando as garantias constitucio-nais; contudo, não deve prender-se à razoabilidade e proporcio-nalidade, pois estas são exigências dos processos judiciais.

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213e) Em um acidente nuclear, na manipulação de organismos gene-

ticamente modificados ou até na devastação de uma floresta, a cobrança da responsabilização ambiental tem o caráter exclusi-vo de reparação do dano produzido.

5. Crimes Ambientais – Delitos contra a Fauna

5.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, examinando o art. 29.

5.2 SínteseVamos iniciar agora os crimes em espécie, pelo art. 29, que diz: “Art. 29.

Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da au-toridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas:I – quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em

desacordo com a obtida;II – quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cati-

veiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna sil-vestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriun-dos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.

§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

§ 3º São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espé-cies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.

§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:I – contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que

somente no local da infração;

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214II – em período proibido à caça;III – durante a noite;IV – com abuso de licença;V – em unidade de conservação;VI – com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar des-

truição em massa.§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de

caça profissional.§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.”Fauna significa o conjunto de animais de qualquer espécie que viva natu-

ralmente fora do cativeiro. A Lei nº 9.605/98 foi menos severa que a Lei nº 5.197/67, a qual considera-

va inafiançáveis os delitos contra a fauna. O objeto material é o espécime da fauna silvestre. O objeto jurídico é a

proteção ao meio ambiente.O crime é comum, razão pela qual pode ser praticado por qualquer pessoa.

O sujeito passivo é a sociedade. O elemento subjetivo é o dolo, não havendo dolo específico nem forma

culposa. A tentativa será possível quando o delito for plurissubsistente, ou seja, quan-

do é cometido por intermédio de vários atos.No que se refere à competência, é necessário o registro do cancelamento

da Súmula nº 91 do STJ, que tinha o seguinte teor: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a fauna”.

Com o cancelamento da súmula, a competência para o processo e julga-mento de crimes contra a fauna passa a ser da Justiça Estadual, somente se des-locando à Justiça Federal quando houve lesão a bens, serviços ou interesses da União. Nesse sentido temos a decisão: STJ, 3ª Seção, CC 41.562, j. 08/09/2004.

“Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente: Pena – reclu-são, de um a três anos, e multa.”

Este crime é comum, e a vítima é a sociedade.O objeto material será a pele ou o couro de anfíbios e répteis em bruto. O

objeto jurídico é sempre a tutela do meio ambiente.O crime é doloso, não havendo previsão de modalidade culposa.“Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial

favorável e licença expedida por autoridade competente: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.”

O objeto material aqui é qualquer animal provindo de outro país. O objeto jurídico é a preservação da fauna silvestre e aquática, ameaçada com a introdu-ção no país de espécime sem parecer técnico oficial favorável.

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215O crime é comum, podendo ser sujeito ativo qualquer pessoa. Sujeito pas-

sivo será a coletividade. Elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão de modalidade culposa. “Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silves-

tres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.”

O crime, por ser comum, pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive a jurídica. O sujeito passivo é a coletividade.

Objeto material é o animal silvestre, doméstico ou domesticado, nativo ou exótico. Objeto jurídico é a preservação da fauna silvestre contra o abuso e os maus-tratos praticados pelo homem.

O elemento subjetivo do tipo é o dolo, porém o § 1º exige, além do dolo, um elemento subjetivo específico, constante da expressão “para fins didáticos ou científicos”. Não há previsão de modalidade culposa.

Não esqueça que, se o animal morrer em face da conduta do agente, a pena dele será aumentada de um sexto a um terço.

Exercício95. Cespe – 2009 – DPE-PI – Defensor Público. Admite-se a responsa-

bilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que não se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atua-ção de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio. Certo ou errado?

6. Crimes Ambientais – Diferenciação entre Animais

6.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, tratando o art. 32.

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6.2 Síntese“Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silves-

tres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.”Animais silvestres: são aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias

e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do Território Brasileiro, e suas águas jurisdicionais, como, por exemplo, a onça, o tamanduá, o papagaio, a arara, o jacaré, a borboleta, a aranha e outros.

Animais Exóticos: são aqueles cuja distribuição geográfica não inclui o Ter-ritório Brasileiro. As espécies ou subespécies introduzidas pelo homem, inclusi-ve domésticas, em estado selvagem, também são consideradas exóticas. Outras espécies consideradas exóticas são aquelas que tenham sido introduzidas fora das fronteiras brasileiras e suas águas jurisdicionais, e que tenham entrado es-pontaneamente no Território Brasileiro, como, por exemplo, a zebra, o leão, o urso e o javali.

Animais Domésticos: são aqueles que, através de processos tradicionais e sistematizados de manejo e melhoramento zootécnico, tornaram-se domésti-cos, possuindo características biológicas e comportamentais em estreita depen-dência do homem, podendo, inclusive, apresentar aparência diferente da espé-cie silvestre que os originou, como, por exemplo, o gato, o cachorro, a vaca, o cavalo, a galinha e o avestruz.

“Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açu-des, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras: Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:I – quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aquicultura

de domínio público;II – quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem

licença, permissão ou autorização da autoridade competente;III – quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza so-

bre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica.”O objeto jurídico é a preservação do meio ambiente, especialmente da fau-

na aquática em suas diversas espécies. O objeto material é a fauna aquática propriamente dita.

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217O crime é doloso, não havendo dolo específico nem modalidade culposa.Trata-se de crime comum e o sujeito passivo é a coletividade, eventualmen-

te, poderá ser vítima mediata o proprietário.O delito é material em todas as suas figuras, à exceção do último inciso

(quem fundeia embarcação ou lança detrito sobre bancos de moluscos ou co-rais), exigindo a produção do resultado naturalístico. Já no caso do inciso III o crime é formal.

“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:I – pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos

inferiores aos permitidos;II – pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de

aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;III – transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes prove-

nientes da coleta, apanha e pesca proibidas.”O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. O sujeito

passivo é sempre a sociedade.Exige-se o dolo do agente, não sendo punida a forma culposa.O objeto material é a fauna aquática. O objeto jurídico é a tutela do meio

ambiente.Veja que estamos diante de norma penal em branco, já que é necessário

saber as regras extrapenais que regulam a pesca, autorizando-a ou proibindo-a. Assim observe o que diz o art. 6º da Lei nº 11.959/09 sobre o assunto:

“Art. 6º: O exercício da atividade pesqueira poderá ser proibido transitória, pe-riódica ou permanentemente, nos termos das normas específicas, para proteção:

I – de espécies, áreas ou ecossistemas ameaçados;II – do processo reprodutivo das espécies e de outros processos vitais para a

manutenção e a recuperação dos estoques pesqueiros;III – da saúde pública;IV – do trabalhador.§ 1º. Sem prejuízo do disposto no caput deste artigo, o exercício da ativida-

de pesqueira é proibido:I – em épocas e nos locais definidos pelo órgão competente;II – em relação às espécies que devam ser preservadas ou espécimes com

tamanhos não permitidos pelo órgão competente;III – sem licença, permissão, concessão, autorização ou registro expedido

pelo órgão competente;IV – em quantidade superior à permitida pelo órgão competente;

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218V – em locais próximos às áreas de lançamento de esgoto nas águas, com

distância estabelecida em norma específica; VI – em locais que causem embaraço à navegação;VII – mediante a utilização de:a) explosivos;b) processos, técnicas ou substâncias que, em contato com a água, produ-

zam efeito semelhante ao de explosivos;c) substâncias tóxicas ou químicas que alterem as condições naturais da

água;d) petrechos, técnicas e métodos não permitidos ou predatórios.”O STJ vem decidindo possível a incidência do princípio da insignificância

nos crimes ambientais, desde que presentes as seguintes condições: 1) a míni-ma ofensividade da conduta do agente; 2) a nenhuma periculosidade social da ação; 3) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e 4) a inex-pressividade da lesão jurídica provocada. Nesse sentido: STJ, HC nº 143.208, j. 25/05/2010.

Exercício

96. Prova: Cespe – 2011 – PC-ES – Escrivão de Polícia. Com relação à legislação especial, julgue o item que se segue. Deve-se reconhecer a atipicidade material da conduta de uso de ape-trecho de pesca proibido se resta evidente a completa ausência de ofensividade ao bem jurídico tutelado pela norma penal, qual seja, a fauna aquática. Certo ou errado?

7. Crimes Ambientais – Pesca

7.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, iniciando pelo art. 35.

7.2 Síntese

“Art. 35. Pescar mediante a utilização de:I – explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito

semelhante;

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219II – substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente:Pena – reclusão de um ano a cinco anos.”O objeto jurídico do delito é a preservação da fauna aquática. O objeto

material são justamente os espécimes da fauna aquática.O crime é comum, podendo ser sujeito ativo qualquer pessoa, inclusive a

pessoa jurídica e o pescador profissional. Sujeito passivo é a coletividade.O crime é doloso, não havendo previsão de dolo específico nem de forma

culposa.“Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a re-

tirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aprovei-tamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora.”

Este artigo trata-se, como se vê, de norma penal explicativa, a qual se rela-ciona com os arts. 34 e 35 da Lei nº 9.605/98.

“Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:I – em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;II – para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou des-

truidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autori-dade competente;

IV – por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.”

O dispositivo é totalmente desnecessário, já que para tal fim podemos usar o art. 23 do Código Penal.

“Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação perma-nente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.”O objeto jurídico do crime é a preservação das florestas de preservação

permanente, como a Mata Atlântica. O objeto material é a própria floresta de preservação permanente.

O crime é doloso, não havendo elemento subjetivo específico. Mas aten-ção: aqui se pune a forma culposa, como se verifica pelo parágrafo único do art. 38.

Como o delito é comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. A vítima, por sua vez, é a coletividade.

A Lei nº 11.428/2006 acrescentou um art. 38-A a Lei dos Crimes Ambientais.“Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em es-

tágio avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-

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220-la com infringência das normas de proteção: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.”O crime, por ser comum, pode ser praticado por qualquer pessoa. O sujeito

passivo é a sociedade. O elemento subjetivo é o dolo. Só cuidado porque novamente vem punida

a forma culposa, com imposição de pena por metade.O objeto jurídico é a proteção ao meio ambiente. O objeto material é a

vegetação do Bioma Mata Atlântica.Na forma plurissubsistente e dolosa, o delito admite tentativa.“Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanen-

te, sem permissão da autoridade competente: Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.”

O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive a pessoa jurídica. Sujeito passivo é sempre a coletividade.

O elemento subjetivo é o dolo, não havendo dolo específico nem modali-dade culposa.

O objeto jurídico é a tutela do meio ambiente. O objeto material é a árvore situada em floresta de preservação permanente.

Cabe tentativa na modalidade plurissubsistente, ou seja, quando o crime é praticado por intermédio de vários atos.

“Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização: Pena – reclusão, de um a cinco anos.

§ 1º. Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Es-tações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumen-tos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre.

§ 2º. A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância agravante para a fixação da pena.

§ 3º. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.”Como o crime é comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. A vítima

é sempre a sociedade.O elemento subjetivo do tipo é o dolo, embora venha punida, no parágrafo

terceiro, a forma culposa.O objeto jurídico é sempre a proteção do meio ambiente. O objeto material

é a Unidade de Conservação e as áreas circundantes.

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Exercício

97. Prova: Cespe – 2010 – DPE-BA – Defensor Público. No item a se-guir, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada com lastro no direito penal. Nélson foi flagrado na lagoa do Abaeté, área de proteção ambien-tal, portando apetrechos para pesca artesanal – duas varas de pescar, isca, caixa de isopor, faca de cozinha. Constatou-se, na ocasião, que Nélson pretendia pescar para alimentar a família, que passava gran-des privações. Nessa situação, resta configurado o crime ambiental de penetração, com porte de instrumentos para pesca, em área de proteção ambiental, delito considerado de mera conduta, o que obs-ta a incidência das causas excludentes de ilicitude. Certo ou errado?

8. Crimes Ambientais – Delitos contra a Flora

8.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, iniciando pelo art. 40-A.

8.2 SínteseO art. 40, como vimos, trata do crime de dano contra as Unidades de Conser-

vação, assim devemos observar o art. 7º da Lei nº 9.985/2000 que diz quais são: “Art. 7º As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em

dois grupos, com características específicas:I – Unidades de Proteção Integral;II – Unidades de Uso Sustentável.§ 1º O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a na-

tureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei.

§ 2º O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

Art. 8º O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguin-tes categorias de unidade de conservação:

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222I – Estação Ecológica;II – Reserva Biológica;III – Parque Nacional;IV – Monumento Natural;V – Refúgio de Vida Silvestre.”A mesma Lei nº 9.985/2000 incluiu o art. 40-A à Lei dos Crimes Ambien-

tais, que teve o seu caput vetado, restando apenas os parágrafos, que assim dizer respeito ao art. 40 em si.

“Art. 40-A. (vetado)§ 1º Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas

de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de De-senvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural.

§ 2º A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Uso Sustentável será considerada cir-cunstância agravante para a fixação da pena.

§ 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta: Pena – reclusão, de dois a

quatro anos, e multa.Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses

a um ano, e multa.”O objeto jurídico é a preservação da flora brasileira. O objeto material é a

mata ou floresta.O crime é comum e o sujeito passivo será a coletividade.O elemento subjetivo é o dolo, mas cuide porque há, no art. 41, previsão

de modalidade culposa.Como o delito é material, ou seja, depende da produção do resultado natu-

ralístico, será possível a tentativa aqui.“Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar

incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano: Pena – detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.”

Novamente constitui crime comum e a vítima será a sociedade.O elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão de elemento subjeti-

vo específico nem de modalidade culposa.O objeto material é o balão apto a provocar o incêndio. O objeto jurídico é

a preservação da flora brasileira.Este artigo revogou tacitamente a contravenção penal do art. 28, parágrafo

único, da LCP no que diz respeito aos balões.“Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de pre-

servação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.”

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223O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, inclusive a

pessoa jurídica. O sujeito passivo é sempre a coletividade.O delito é material, já que somente restará consumado com a produção do

resultado naturalístico, ou seja, com a efetiva extração de pedra, areia, cal ou qualquer outra espécie de mineral. Por tal razão admitirá a tentativa.

“Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração, econômica ou não, em desacordo com as determinações le-gais: Pena – reclusão, de um a dois anos, e multa.”

Este crime também é comum e o sujeito passivo é a sociedade, porém de forma mediata podemos ter como vítima também o proprietário das árvores de onde foi retirada a madeira.

O delito é eminentemente doloso, não sendo admitida a forma culposa.

Exercício

98. Prova: Cespe – 2009 – DPE-PI – Defensor Público. Com relação aos crimes contra o meio ambiente, a fauna e a flora, assinale a opção correta:a) A extração de areia em floresta de domínio público independe

de autorização, e, portanto, não é considerada crime quando for destinada a manutenção de viveiro de avifauna nativa.

b) Abater um animal para proteger lavoura é um ato que indepen-de de autorização.

c) Se um indivíduo, em estado de necessidade, abate um animal para saciar a sua fome, sua conduta não será considerada crime.

d) O abate de animal, ainda que este seja considerado nocivo pelo órgão competente, é considerado crime.

e) Os crimes contra a fauna praticados durante a noite, aos sábados e aos domingos aumentam as respectivas penas.

9. Crimes contra Florestas, Vegetação, Logradouro Público e Propriedade Privada

9.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, iniciando pelo art. 46.

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9.2 Síntese“Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira,

lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento: Pena – de-tenção, de seis meses a um ano, e multa.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produ-tos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade competente.”

O objeto jurídico é a preservação da flora brasileira. O objeto material é a madeira, a lenha, o carvão e outros produtos de origem vegetal, como, por exemplo, o látex.

Como o crime é próprio, o sujeito ativo é o comerciante ou o industrial, inclusive a pessoa jurídica. O sujeito passivo é a sociedade.

O elemento subjetivo é o dolo, havendo elemento subjetivo específico, consistente na expressão “para fins comerciais ou industriais. Não há forma culposa.

Como a pena máxima não supera um ano, estamos diante de infração pe-nal de menor potencial ofensivo.

O art. 47 foi vetado.“Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais

formas de vegetação: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.”O crime é comum, razão pela qual pode ser praticado por qualquer pessoa,

inclusive a jurídica. A vítima é a coletividade.O elemento subjetivo é o dolo, não havendo dolo específico nem modali-

dade culposa.O objeto jurídico é a tutela do meio ambiente. O material, a floresta ou

outra forma de vegetação danificada.“Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou

meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou multa.”Estamos diante de crime material, razão pela qual a consumação exige a

produção do resultado naturalístico. A tentativa é plenamente admissível. O delito é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, inclusive a

pessoa jurídica. O sujeito passivo é a sociedade.Objeto material serão as plantas de ornamentação de logradouros públicos

ou de propriedade privada.

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225“Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação

fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.”

Novamente o crime é material, exigindo, para a sua consumação, a produ-ção do resultado naturalístico. O crime é doloso e não admite a forma culposa.

Trata-se de delito comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, in-clusive a jurídica.

O art. 50-A foi incluído à Lei dos Crimes Ambientais pela Lei nº 11.284/2006.

“Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plan-tada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.

§ 1º Não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua família.

§ 2º Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), a pena será aumentada de 1 (um) ano por milhar de hectare.”

Crime comum, sendo sujeito ativo qualquer pessoa. Sujeito passivo é a co-letividade.

Objeto jurídico é sempre a tutela do meio ambiente. Objeto material é a floresta plantada ou nativa. Delito doloso que não admite a modalidade culposa.

“Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente:

Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.”A infração penal é de menor potencial ofensivo, obedecendo ao rito da Lei

nº 9.099/95.O objeto jurídico é a preservação da flora nacional. O objeto material é a

motosserra. O crime é doloso, não havendo dolo específico nem modalidade culposa.

“Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodu-tos florestais, sem licença da autoridade competente: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.”

O crime é comum, já que pode ser praticado por qualquer pessoa. O sujeito passivo é a sociedade.

Objeto jurídico é a preservação do meio ambiente. Objeto material é a Unidade de Conservação.

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Exercício99. Prova: FCC – 2010 – TCE-AP – Procurador Questão 83. A conduta

consistente em destruir ou danificar floresta de preservação perma-nente é:a) atípica, sem também ensejar infração administrativa. b) objeto de tipo penal autônomo. c) circunstância agravante do crime de dano a unidade de conser-

vação.d) circunstância agravante do crime de dano a reserva legal. e) atípica, consistindo apenas em infração administrativa.

10. Crimes contra Pesquisa, Lavra e Extração e Recursos Materiais

10.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, iniciando pelo art. 53.

10.2 Síntese“Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto

a um terço se:I – do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a

modificação do regime climático;II – o crime é cometido:a) no período de queda das sementes;b) no período de formação de vegetações; c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça

ocorra somente no local da infração;d) em época de seca ou inundação; e) durante a noite, em domingo ou feriado.”Tais causas de aumento de pena serão aplicadas apenas aos crimes contra a

flora. Caso haja conflito com as agravantes genéricas do art. 15 (por exemplo: crime cometido durante a noite), serão aplicadas as majorantes do art. 53.

“Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortan-dade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

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227§ 1º Se o crime é culposo: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e

multa.§ 2º Se o crime:I – tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;II – causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que mo-

mentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;

III – causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abaste-cimento público de água de uma comunidade;

IV – dificultar ou impedir o uso público das praias;V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou

detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabe-lecidas em leis ou regulamentos: Pena – reclusão, de um a cinco anos.

§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precau-ção em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.”

O crime é comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusi-ve a jurídica. O sujeito passivo é a sociedade e, de forma mediata, a pessoa que sofreu a ação poluidora, como o dono dos animais que morreram.

O elemento subjetivo é o dolo, não havendo dolo específico. Mas atenção: pune-se a forma culposa.

O crime é material, exigindo a produção do resultado naturalístico para a sua consumação. Eu entendo que a perícia se mostra absolutamente necessária para a comprovação da materialidade do fato, já que o delito deixa vestígios (art. 158 do CPP).

O objeto jurídico é a preservação do meio ambiente. O material, pode ser o homem, a fauna e a flora.

“Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.”

Novamente a infração penal de menor potencial ofensivo, sendo possível o oferecimento de transação penal ao autor do fato.

O crime é comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa.O elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão de forma culposa. A

tentativa somente será admitida no caput, que traz uma forma comissiva. No parágrafo único, com a omissão pura, será incabível a forma tentada.

“Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou

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228substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamen-tos: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:I – abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em

desacordo com as normas ambientais ou de segurança;II – manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla

ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento.

§ 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é au-mentada de um sexto a um terço.

§ 3º Se o crime é culposo: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.”

O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, inclusive a jurídica. A vítima é a coletividade e, de forma indireta, a pessoa eventualmente atingida pelo tóxico.

O objeto jurídico é a tutela do meio ambiente. Objeto material é o produto ou substância tóxica.

O elemento subjetivo é o dolo, mas atenção: neste crime vem punida a forma culposa.

Exercício

100. Vunesp – 2009 – TJ-MT – Juiz. De acordo com a Lei nº 9.605/98, nos casos de crimes praticados contra a fauna, a pena é aumentada até o triplo, quando o crime for praticado em decorrência do exercício a) de caça profissional. b) em período proibido à caça. c) em unidade de conservação. d) durante a noite. e) contra espécie rara.

11. Crimes Ligados a Poluição, Lesão Corporal

11.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, iniciando pelo art. 58.

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11.2 Síntese“Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as penas serão au-

mentadas:I – de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível à flora ou ao meio

ambiente em geral;II – de um terço até a metade, se resulta lesão corporal de natureza grave

em outrem;III – até o dobro, se resultar a morte de outrem.Parágrafo único. As penalidades previstas neste artigo somente serão aplica-

das se do fato não resultar crime mais grave.”Este dispositivo traz, portanto, causas de aumento de pena previstas para os

delitos de poluição e outros crimes ambientais.No primeiro caso, temos um dano irreversível à flora ou ao meio ambiente

em geral, ou seja, uma lesão permanente que não poderá ser posteriormente recuperada. No segundo inciso, temos o resultado lesão grave em outrem, seja ou não funcionário da empresa poluidora. Esta lesão grave aqui é usada em sentido amplo, para abranger a lesão corporal de natureza grave propriamente dita (art. 129, § 1º, do CP) e a lesão corporal de natureza gravíssima (art. 129, § 2º, do CP). No inciso terceiro, temos o resultado morte.

Os crimes serão, em regra, preterdolosos, em que o agente possui dolo no antecedente e culpa no consequente. Embora não seja a regra, já que há condutas poluidoras culposas, se o agente causar poluição dolosamente, o re-sultado agravador necessariamente deverá advir a título de culpa. Se a morte adviesse a título de dolo, teríamos dois crimes, poluição e homicídio.

“Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambien-tais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares perti-nentes: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.”

O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. O sujeito passivo é a sociedade.

O crime é doloso e não há previsão de modalidade culposa. O objeto jurí-dico é a preservação do meio ambiente. O objeto material é o estabelecimento, obra ou serviço potencialmente poluidor.

“Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.”

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive a pessoa jurídica. O sujeito passivo é a coletividade.

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230Atenção porque o delito é formal, ou seja, independe da ocorrência do

resultado naturalístico, consistente na contaminação geral. A tentativa será possível na modalidade plurissubsistente, ou seja, quando o

crime for praticado por intermédio de vários atos.O objeto material é a doença, a praga ou espécie que possa causar dano à

agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas. O objeto jurídico é a tutela do meio ambiente.

“Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:I – bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão

judicial;II – arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica

ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial: Pena – re-clusão, de um a três anos, e multa.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa.”

Novamente o crime é comum e o sujeito passivo é a coletividade e, de forma mediata, o ente estatal ou o particular proprietário do bem prejudicado.

O objeto material é o bem protegido por lei, por ato administrativo ou por decisão judicial, bem como o arquivo, o registro, o museu, a biblioteca, a pina-coteca, a instalação científica ou similar. O objeto jurídico é a preservação do patrimônio cultural.

O elemento subjetivo é o dolo, não havendo elemento subjetivo específi-co. Pune-se, no entanto, a forma culposa, já que estamos diante de um dano culposo.

“Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueo-lógico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade compe-tente ou em desacordo com a concedida: Pena – reclusão, de um a três anos, e multa.”

O objeto material do crime aqui é a edificação ou o local especialmente protegido por lei. O objeto jurídico é a preservação do patrimônio cultural nacional.

O crime é doloso, não havendo elemento subjetivo específico nem previsão de forma culposa.

Como o delito é comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive a jurídica. O sujeito passivo é a coletividade e, de forma secundária, o proprie-tário do bem.

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Exercício

101. Prova: TJ-PR – 2010 – Juiz. Considerando o que dispõe a Lei nº 9.605/98 em relação à Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica, nas infrações penais contra o meio ambiente, é CORRETO afir-mar que:I – Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes pre-vistos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou man-datário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de ou-trem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.II – As pessoas jurídicas somente poderão ser responsabilizadas admi-nistrativa e civilmente, conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. III – A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato. IV – Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. Dadas as assertivas citadas escolha a alternativa CORRETA.a) Apenas as assertivas I, III e IV estão corretas. b) Apenas as assertivas II, III e IV estão corretas. c) Apenas as assertivas I, e III estão corretas. d) Todas as assertivas estão corretas.

12. Crimes contra Ordenamento Urbano, Patrimônio Cultural, Administração Ambiental e Poder Público

12.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo dos crimes previstos na Lei nº 9.605/98, que diz respeito aos crimes ambientais, continuando pelo art. 64.

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12.2 Síntese

Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turís-tico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.O objeto jurídico é a preservação do patrimônio cultural nacional. O objeto

material é a construção em solo não edificável.O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, inclusive

a jurídica. O sujeito passivo é a sociedade e, de forma indireta, o detentor de solo não edificável.

Trata-se de delito formal, que independe, para a sua produção, de resultado naturalístico. Assim, se praticado de forma plurissubsistente, ou seja, quando desdobrado em vários atos, admite tentativa.

Como a pena mínima não ultrapassa dois anos, estamos diante de infração penal de menor potencial ofensivo, devendo ser observado o rito da Lei nº 9.099/95.

O crime do art. 65 encerra a seção dos delitos contra o ordenamento urba-no e o patrimônio cultural.

Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.§ 1º Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude

do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa.

§ 2º Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas edita-das pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional.

Com a Lei nº 12.408/2011, o § 1º foi renumerado e o § 2º foi incluído no texto da Lei dos Crimes Ambientais.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é a coletividade e, de forma mediata, o proprietário da edificação ou do monumento que foi pichado ou grafitado.

Trata-se de delito material, ou seja, exige resultado naturalístico para a sua consumação. Portanto, se praticado de forma plurissubsistente, admitirá tentativa.

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233O elemento subjetivo aqui é o dolo, não havendo previsão de dolo específi-

co e nem de modalidade culposa.O objeto jurídico é a preservação do patrimônio cultural e do próprio

meio ambiente artificial. O objeto material são as construções e monumentos urbanos.

A Seção V trata dos crimes contra a administração ambiental.Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a

verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental:

Pena – reclusão, de um a três anos, e multa.O crime agora é próprio, já que somente poderá ser praticado por funcioná-

rio público. O sujeito passivo é a Administração Pública.O elemento subjetivo é o dolo, não sendo admitida a forma culposa.O objeto material agora é a afirmação falsa ou enganosa ou a informação

ou dado técnico-científico não fornecido. O objeto jurídico é a moralidade da administração ambiental.

Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público:

Pena – detenção, de um a três anos, e multa.Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano de

detenção, sem prejuízo da multa.O elemento subjetivo aqui é o dolo, mas atenção: admite-se a modalidade

culposa.Novo crime próprio, já que o sujeito ativo somente pode ser o funcionário

público. Sujeito passivo será a administração pública ambiental que foi atingida.Objeto jurídico é a moralidade da administração ambiental. Objeto mate-

rial é a licença, a autorização ou a permissão.Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de

cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:Pena – detenção, de um a três anos, e multa.Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano,

sem prejuízo da multa.Como o crime também é próprio, o sujeito ativo somente poderá ser a

pessoa que tenha o dever legal ou contratual de cumprir a obrigação. Sujeito passivo é a coletividade.

Veja o verbo: deixar de. Isso significa que estamos diante de um delito omis-sivo puro ou próprio, razão pela qual não admite tentativa.

O objeto material é a obrigação inadimplida. O objeto jurídico é a tutela ambiental.

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234Embora o elemento subjetivo seja o dolo, há expressa previsão de modali-

dade culposa.Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato

de questões ambientais:Pena – detenção, de um a três anos, e multa.O crime agora é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. A

vítima será a Administração Pública.O elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão de modalidade

culposa.O objeto material é a ação fiscalizatória do Estado visando à tutela do meio

ambiente. O objeto jurídico é a administração da justiça ambiental.O último dos crimes ambientais previsto na Lei nº 9.605/98 é aquele dis-

posto no art. 69-A, criado pela Lei nº 11.284/2006.Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou

qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório am-biental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.§ 1º Se o crime é culposo:Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.§ 2º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se há dano

significativo ao meio ambiente, em decorrência do uso da informação falsa, incompleta ou enganosa.

O crime é próprio, já que somente poderá ser praticado pela pessoa en-carregada do estudo, do laudo ou do relatório ambiental. O sujeito passivo é a administração pública ambiental.

O delito é doloso, não havendo elemento subjetivo específico. Pune-se, no entanto, a modalidade culposa.

O objeto jurídico é a moralidade administrativa ambiental. E o objeto ma-terial será o estudo, o laudo ou o relatório ambiental falso ou enganoso.

Exercício

102. (FCC – 2010 – TRF – 4ª Região – Analista Judiciário – Área Judiciá-ria) No que se refere aos crimes ambientais, de acordo com a Lei nº 9.605/98, é certo que:a) não incorre nas mesmas penas o indivíduo que causar poluição

de qualquer natureza, a ponto de dificultar ou impedir o uso público das praias, e o indivíduo que deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

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235b) o crime de matar espécimes de fauna silvestre, nativos ou em

rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida, não se aplica aos atos de pesca.

c) o crime de destruição de floresta considerada de preservação permanente não admite a modalidade culposa.

d) é fato atípico a realização de experiência dolorosa em animal vivo para fins didáticos, inclusive se existirem recursos alternativos.

e) incorre nas mesmas penas o indivíduo que pesca em período no qual a pesca seja proibida e o indivíduo que pesca mediante a utilização de explosivo.

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1. Interceptação de Comunicações Telefônicas – Introdução

1.1 Apresentação

Nesta unidade, continuando o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordaremos agora a lei que trata das interceptações de comu-nicações telefônicas.

1.2 Síntese

A interceptação de comunicações telefônicas está prevista na Lei nº 9.296/96, bem como na Resolução nº 59, de 2008 do Conselho Nacional de Justiça.

Interceptação de comunicação telefônica significa ouvir a conversa de duas pessoas sem que estas saibam.

Capítulo 22

Interceptação de Comunicações Telefônicas (Lei nº 9.296/96)

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237A interceptação de comunicação telefônica pode acontecer durante a investiga-

ção criminal ou durante a ação penal. De qualquer forma é uma medida cautelar.O art. 1º da Lei nº 9.296/96 dispõe:“Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natu-

reza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.”

Há seis espécies de intromissão no conteúdo sigiloso alheio que devem ser observadas: interceptação telefônica, escuta telefônica, gravação telefônica, in-terceptação ambiental, escuta ambiental e gravação ambiental.

Interceptação telefônica ocorre quando um terceiro capta a conversa de outras duas pessoas, sem o conhecimento destas.

Escuta telefônica é a captação da conversa por um terceiro com o conhe-cimento de um deles.

Já a gravação telefônica é feita por um dos comunicadores.A gravação ambiental é a captação da conversa, porém, esta não se dá por

telefone, mas em um ambiente, sem o conhecimento dos comunicadores.A escuta ambiental ocorre quando um terceiro capta, mas com o conheci-

mento de um deles.Por fim, a gravação ambiental é feita por um dos comunicadores, uma das

pessoas da conversa.Observa-se que a lei trata especificamente da interceptação telefônica e da

escuta telefônica. A interceptação das comunicações telefônicas é uma medida cautelar, que

pode ser preparatória ou incidental, destinada a produzir prova a ser utilizada em ação penal, com autorização judicial e de forma subsidiária.

2. Requisitos das Interceptações Telefônicas e Prazos

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão abordados os requisitos das interceptações telefônicas e os prazos.

2.2 Síntese

Há seis requisitos para que haja as interceptações telefônicas que devem ser observados.

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238Primeiramente, somente pode ocorrer interceptação telefônica para fins

criminais.O segundo requisito é que são necessários indícios razoáveis de autoria ou

participação em infração penal.O terceiro requisito é a indispensabilidade da prova, ou seja, somente se

pode pedir interceptação quando não houver outro meio de conseguir a infor-mação necessária.

O quarto é que sejam crimes, infração penal, punidos com reclusão. Assim, caso a punição seja detenção, não há que se falar em interceptação telefônica.

O quinto requisito é que se indique o crime que está sendo praticado e a pessoa que será interceptada.

Por fim, o último requisito é que haja ordem do juiz competente para a ação penal.

Desta forma, presentes todos os requisitos, é possível interceptar uma co-municação telefônica.

Ainda, de acordo com o disposto na Lei nº 9.296/96, é admissível intercep-tar qualquer tipo de comunicação, ou seja, não necessariamente a telefônica. Exemplo: computador.

Em relação aos prazos, quando o juiz recebe um pedido de interceptação telefônica, terá 24 horas para decidir. Se o juiz descumprir a lei, poderá sofrer penalidades disciplinares.

Indaga-se por quanto tempo o Estado pode escutar as conversas ao telefone. A lei dispõe que são 15 dias, prorrogável uma vez se provada extrema necessida-de. No entanto, há interceptações que duram até mesmo dois anos. Sobre este assunto, a jurisprudência majoritária afirma que é possível prorrogar indefini-damente, desde que exista uma justificativa.

3. Procedimentos e Sigilo das Interceptações Telefônicas

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão abordados os procedimentos e o sigilo inerente às interceptações telefônicas.

3.2 Síntese

Sendo concedida pelo juiz a ordem para interceptação telefônica, tal or-dem irá para quem fez o requerimento do pedido (Delegado de Polícia ou

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239Ministério Público) que, por sua vez, requisita os serviços técnicos às conces-sionárias do serviço público.

Dispõe a Súmula Vinculante nº 14: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos

elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”.

Observa-se que a interceptação telefônica é um apenso, uma vez que deve ser sigiloso.

O sigilo e a juntada posterior não prejudicam o contraditório e a ampla defesa, pois neste caso o contraditório é diferido, ou seja, postergado no tempo.

Caso nada seja encontrado, depois de realizada a interceptação telefônica, o material deverá ser destruído. Sendo parcial a destruição, é obrigatória mani-festação prévia da defesa.

Outro importante tema que deve ser estudado é o encontro fortuito. Sobre este assunto, entende a jurisprudência que poderá ser usada como prova a in-terceptação em relação ao novo crime ou criminoso descoberto fortuitamente, quando houver conexão ou continência com o fato investigado.

Ainda, é preciso que se diferenciem as conversas dos dados telefônicos. Conversa telefônica é o conteúdo do que é falado ao telefone e dados telefôni-cos são o número do telefone, o horário, quem é a pessoa que recebeu a ligação e a duração da chamada.

A interceptação da conversa telefônica somente se dará com autorização do juiz, porém, quanto aos dados telefônicos, não é necessária autorização ju-dicial.

4. Considerações Finais

4.1 Apresentação

Nesta unidade, serão feitas considerações finais acerca das interceptações telefônicas.

4.2 Síntese

Se a ilegalidade de uma interceptação de comunicação telefônica não for alegada em primeira instância, ocorrerá um problema processual de supressão de instância. Para que uma matéria seja rediscutida em um Tribunal Superior,

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240é preciso que esta matéria tenha sido trabalhada por algum juiz em instâncias inferiores, sob pena de supressão de instância.

Outro ponto relevante é que, se, ao interceptar-se uma conversa telefônica, se descobre que um crime está acontecendo, é possível que o sujeito seja preso em flagrante.

Sabe-se que a Constituição Federal garante ao sujeito o direito de se calar. Sobre este tema, foi decidido que não há violação ao direito ao silêncio, ou seja, é possível interceptar conversas telefônicas nos limites da lei aqui estudada e isso não significa violação ao direito ao silêncio. Isso porque o direito ao silêncio é exercido depois de feita uma acusação formal.

Em relação ao segredo de justiça e à interceptação telefônica, há duas es-pécies de segredo de justiça: contra o investigado durante a interceptação tele-fônica e contra terceiros após a juntada aos autos.

O art. 10 da Lei nº 9.296/96 cuida de um interessante crime, dispondo em sua redação:

“Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefôni-cas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autoriza-ção judicial ou com objetivos não autorizados em lei.

Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.”Nota-se que o bem jurídico tutelado neste crime é o sigilo das comunica-

ções telefônicas. Trata-se de um crime de dupla subjetividade passiva, ou seja, há duas vítimas, obrigatoriamente.

Exercício

103. Sobre o crime do art. 10 da Lei de Interceptação Telefônica:a) É de dupla subjetividade passiva;b) Não admite excludente;c) É imprescritível;d) Caiu em desuso pela adequação social.

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Capítulo 23

Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84)

1. Considerações Iniciais e Princípios

1.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei de Execução Penal, sendo feitas aqui considerações iniciais acerca do tema.

1.2 Síntese

O objeto da Lei de Execução Penal é o momento em que a pessoa já foi processada criminalmente, em que não cabem mais recursos, em que transita em julgado a decisão criminal condenatória e em que, então, o Estado obriga a pessoa a cumprir a pena.

Há três tipos de penas: penas privativas de liberdade, pena restritiva de di-reito e multa.

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242A pena restritiva de direitos está prevista no art. 44 do Código Penal e se

materializa em algumas situações diversas da prisão. Exemplo: limitação de fim de semana; pagamento de cesta básica; dentre outras.

É preciso observar que nem todo crime admite este tipo de pena, como é o caso da violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei Maria da Penha).

Observa-se que sempre que se fala em penas, fala-se em execução penal, existindo uma lei para regulamentar o cumprimento das penas.

É preciso diferenciar os termos presídio e cadeia. Quando a pessoa é presa durante o processo, o nome do local é cadeia e quando a pessoa já foi conde-nada definitivamente a uma pena de reclusão e vai cumprir esta pena, vai para um presídio.

A execução penal traz um sistema híbrido, no qual existem a parte jurisdi-cional e a parte administrativa.

Faz-se necessário entender que a Lei de Execução Penal e o sistema de exe-cução penal têm cunho de natureza jurisdicional, apesar de algumas decisões ficarem no âmbito administrativo. Exemplo: se os sujeitos têm direito a jogar futebol.

Alguns princípios devem ser observados. O primeiro é o Princípio da Lega-lidade, pois só se podem retirar direitos de um sujeito previstos na lei. O segun-do é o Princípio da Igualdade, o terceiro é o Princípio da Individualização da pena e, por fim, tem-se o Princípio da Ressocialização.

O princípio que não está em fase de execução penal é a presunção de ino-cência, uma vez que o sujeito é presumido inocente durante o processo, mas quando foi definitivamente condenado, é considerado culpado.

2. Comissão Técnica de Classificação e Prisão Especial

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão estudados a Comissão Técnica de Classificação e o caso de prisão especial.

2.2 Síntese

Quando é feito um pedido ao juiz da execução, como livramento condicio-nal, por exemplo, e este pedido é negado, cabe recurso de agravo em execução. Observa-se que este é um dos dois recursos criminais em que cabe juízo de retratação.

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243Quando o preso ingressa no sistema penitenciário, é feito um estudo sobre

este indivíduo, há uma comissão técnica de classificação que analisa a situação pessoal, familiar, social acerca deste sujeito. Levam-se em consideração, basica-mente, os antecedentes criminais e a personalidade do indivíduo.

O preso condenado por crime hediondo ou por crime doloso com violência contra a pessoa, no momento da comissão de classificação, é obrigado por lei a fornecer ao Estado material de DNA para que seja traçado um perfil genético, o qual vai para um banco de dados oficial. Ressalta-se que a extração do DNA deve ser feita por técnica adequada e indolor.

Indaga-se: quem julga os pedidos feitos pelo sujeito que fica preso durante a fase processual (juiz do processo ou juiz da execução)? A Resolução nº 113 do CNJ, em seu art. 8º, traz que para que o preso seja levado à cadeia, é expedida uma guia de recolhimento provisória. Quem analisa os pedidos de benefícios realizados, conforme disposto pelo CNJ, é o juiz da execução.

Dispõe a Súmula nº 717 do STF: “Não impede a progressão de regime de execução da pena, fixada em sen-

tença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial.”A prisão especial está prevista no art. 295 do Código de Processo Penal.

Trata-se da prisão que é cumprida de forma diferente. Algumas pessoas que ocupam cargos ou fizeram algumas atividades têm direito a ficar em uma cela diferente dos presos comuns, mas tal regalia termina assim que transitado em julgado o processo.

Dois detalhes devem ser observados: policial militar e policial civil. Isso porque há presídios construídos para policiais que praticaram crimes. O presí-dio construído no estado de São Paulo para policiais militares chama-se Romão Gomes e o presídio para policiais civis chama-se PEPC (Presídio Especial da Polícia Civil).

Existe uma prisão especial para advogado que possui um nome específico. Quando o advogado responde ao processo preso, fica em um local chamado sala de Estado Maior.

Por fim, a Súmula nº 192 do STJ dispõe: “Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas

impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando reco-lhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.”

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3. Direitos Políticos do Preso e Assistência ao Egresso

3.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordados agora os direitos políticos do preso e a assistência ao egresso.

3.2 Síntese

Todas as pessoas possuem direitos políticos, denominados sufrágio universal. Trata-se da capacidade eleitoral ativa e passiva, capacidade de votar e ser votado.

A Constituição Federal traz que a pessoa que é condenada definitivamente tem seus direitos políticos suspensos.

O problema encontra-se quando se trata do preso provisório. No plano ju-rídico, enquanto este sujeito responde ao processo, o direito o trata como juri-dicamente inocente. Neste sentido, o preso provisório pode votar e ser eleito.

É preciso observar que a Lei da Ficha Limpa determina que se o político for condenado criminalmente, mas, ainda, couber recurso, já ficará impossibi-litado de exercer cargo político por oito anos.

É preciso estudar também a assistência ao egresso. A Lei de Execução Penal dispõe que egresso é o liberado definitivo pelo prazo de um ano, a contar da saída do estabelecimento.

Observa-se que o egresso tem direito a uma assistência do Estado. Ressalta--se que é egresso também o liberado condicional durante o período de prova.

Existem orientação e apoio dado pelo Governo para que haja reintegração à vida em sociedade. Há também alojamento e alimentação para esta pessoa pelo período de dois meses.

Quando o sujeito for o arrimo da família e for preso, fará jus ao auxílio-re-clusão. Assim como a assistência ao egresso, o auxílio-reclusão vem do Fundo Penitenciário que, por sua vez, tem a quantia vinda das Loterias.

4. Trabalho do Preso

4.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordados agora os direitos políticos do preso.

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4.2 Síntese

A Lei de Execução determina que o preso deve trabalhar, porém, muitos presos não trabalham porque o Estado não oferece vagas de trabalho dentro do presídio.

É possível observar que o trabalho é um dever legal, mas na prática acaba sendo um prêmio. Isso porque o preso que consegue trabalhar, a cada três dias trabalhados tem um dia da pena descontado.

Ressalta-se que o trabalho do condenado possui duas finalidades: educativa e produtiva.

Obviamente, as regras de segurança e higiene estão presentes neste traba-lho, mas a primeira exceção é que o preso não é celetista, ou seja, ninguém assinará sua carteira de trabalho. Neste sentido, os direitos do trabalho previstos na CLT não são aplicáveis ao preso.

Ainda, todos que trabalham no país ganham, no mínimo, um salário mí-nimo. Todavia, o preso ganha abaixo do salário mínimo, pois receberá 3/4 do salário mínimo federal.

A quantia recebida a título de salário vai para uma conta judicial denomi-nada pecúlio. Pecúlio é o dinheiro do preso e que sobra depois de ser paga a indenização da vítima. Assim, o dinheiro vai para indenização dos danos causa-dos, assistência à família e pequenas despesas pessoais.

O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado.

Sobre o trabalho interno, o preso definitivo está obrigado a trabalhar. O preso provisório não está obrigado a trabalhar; se quiser ficar ocioso durante a prisão processual, poderá fazê-lo. No mesmo sentido, o preso político não tem esta obrigação.

O § 1º do art. 32 da LEP dispõe: “Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão eco-

nômica, salvo nas regiões de turismo.”Quanto à jornada de trabalho, esta não será inferior a seis horas e no máxi-

mo oito horas por dia.O trabalho externo ocorre quando o preso mora no presídio, mas pode tra-

balhar fora dele (autorização para trabalho externo).

5. Disciplina dos Presos

5.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordada aqui a disciplina dos presos.

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5.2 Síntese

Primeiramente, tanto o preso provisório quanto o definitivo precisam ser comportados, disciplinados. Nota-se que violação de códigos disciplinares acar-reta em sanções, em penalidades.

Se for uma falta leve ou média, simplesmente uma advertência, o diretor do presídio cuida destas sanções, mas se o sujeito for colocado em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), somente o juiz de direito poderá fazê-lo.

É preciso entender que é vedada a sanção na chamada cela escura. O art. 45, § 2º, da Lei de Execução Penal estabelece de forma clara:

“§ 2º É vedado o emprego de cela escura.”Ainda, são proibidas as sanções coletivas, de acordo com a redação do § 3º

do art. 45 da LEP.As faltas disciplinares são subdivididas em faltas leves, faltas médias e faltas

graves. Falta leve e falta média são especificadas na legislação local, pois as sanções não são graves. Já as faltas graves têm consequências mais sérias e, por isso, estão estipuladas na Lei de Execução Penal.

Faz-se necessário observar que o sujeito que pratica uma falta grave ou ten-ta praticar receberá a mesma sanção.

Dispõe o art. 50 da Lei de Execução Penal:“Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:I – incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;II – fugir;III – possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade

física de outrem;IV – provocar acidente de trabalho;V – descumprir, no regime aberto, as condições impostas;VI – inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta

Lei.VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio

ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.”

Quanto às sanções disciplinares, dispõe o art. 53 da Lei de Execução Penal:“Art. 53. Constituem sanções disciplinares:I – advertência verbal;II – repreensão;III – suspensão ou restrição de direitos (art. 41, parágrafo único);IV – isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimen-

tos que possuam alojamento coletivo, observado o disposto no art. 88 desta Lei.V – inclusão no regime disciplinar diferenciado.”

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247Quanto ao RDD, se o sujeito praticar um ato previsto como crime doloso

dentro do presídio ou quando causa um tumulto na disciplina interna, estará sujeito a este regime. É grave, pois o sujeito permanecerá sozinho por 360 dias. Se o juiz entender que não foi suficiente esta punição, poderá prorrogar por mais 360 dias.

O § 2º do art. 52 dispõe: “§ 2º Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso

provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvi-mento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadri-lha ou bando.”

6. Benefícios do Preso

6.1 Apresentação

Nesta unidade, continuaremos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordados agora os benefícios do preso.

6.2 Síntese

A remição penal é uma oportunidade que a Lei de Execução Penal dá ao preso que trabalha e estuda, premiando o sujeito com um desconto em sua pena.

A remição hoje pode ser obtida pelo preso com o trabalho e com o estudo, havendo diminuição gradativa na pena.

Observa-se que o preso que trabalha três dias, tem um dia de sua pena descontado. É possível observar que isso criará um conjunto de dias remidos.

Quanto ao estudo, este foi incorporado na Lei de Execução Penal recen-temente, pela Lei nº 12.433/11. Neste caso, a cada doze horas estudadas, é descontado um dia da pena. Entretanto, é preciso observar que a lei só permite quatro horas de estudo por dia.

Indaga-se se estudo e trabalho podem ser cumulados diariamente e a res-posta é que em tese sim. No entanto, na vida real, este fato é praticamente impossível, já que a maior parte dos presídios brasileiros nem mesmo profes-sor tem.

A lei, antes de 2011, trazia que a prática de falta grave acarretava na perda de todos os dias remidos. Hoje, a lei traz que o tempo máximo que pode ser perdido em caso de falta grave é 1/3 dos dias remidos.

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248Se o sujeito conseguir se formar, tanto no ensino fundamental quanto no

ensino médio, superior ou técnico, havendo reconhecimento pelo MEC, ga-nhará um acréscimo de 1/3 a mais de remição.

Por fim, a leitura está sendo considerada como estudo pela jurisprudência para fins de remição de pena.

7. Monitoração Eletrônica

7.1 Apresentação

Nesta unidade, continuaremos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordada a monitoração eletrônica.

7.2 Síntese

A monitoração eletrônica é uma criação que acompanha o desenvolvimen-to da tecnologia, para rastrear uma pessoa em tempo real. O Estado vigia a pessoa por meio de satélite.

A monitoração eletrônica é utilizada quando a pessoa não está presa, mas o Estado quer continuar a vigiá-la.

São dois os casos em que pode ser usada a monitoração eletrônica: no caso da condenação criminal, do preso que está no presídio e que sai para regime semiaberto (para saída temporária) e prisão domiciliar.

A pessoa que está em regime semiaberto pode conseguir autorização de saída, para o dia das mães, por exemplo, e, neste caso, pode ser monitorada eletronicamente. O mesmo se dá com a prisão domiciliar.

A monitoração aqui estudada é diferente da monitoração cautelar. Isso porque a natureza jurídica é diferente, porém, o sistema de rastreamento é o mesmo.

Os deveres do condenado que tem autorização de saída e daquele que cum-pre pena em casa, em prisão domiciliar, são o recebimento de visitas do agente público responsável pela monitoração eletrônica. O sujeito não pode remover, violar, modificar ou danificar o dispositivo.

Em caso de descumprimento dos deveres, o juiz da execução escolherá a pena para o caso, ouvidos o Ministério Público e advogado do acusado. Dentre as penas, podem ocorrer a regressão de regime, a revogação da autorização da saída temporária, a revogação da prisão domiciliar e uma advertência por escrito.

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249Dispõe o art. 146-D da Lei de Execução Penal acerca da revogação da mo-

nitoração eletrônica:“Art. 146-D. A monitoração eletrônica poderá ser revogada:I – quando se tornar desnecessária ou inadequada;II – se o acusado ou condenado violar os deveres a que estiver sujeito duran-

te a sua vigência ou cometer falta grave.”

8. Órgãos da Execução Penal

8.1 Apresentação

Nesta unidade, continuaremos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordado aqui o juízo da execução.

8.2 Síntese

Quando se fala em órgãos que compõem a Execução Penal, fala-se em instituições ou de funções exercidas: um conjunto de atribuições institucionais que forma este conjunto chamado Execução Penal.

A lei começa com o CNPCP (Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária), que é um órgão que visita presídios de todo o Brasil para fiscali-zar se a lei está sendo cumprida.

O art. 61 da Lei de Execução Penal traz o seguinte rol:“Art. 61. São órgãos da execução penal:I – o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;II – o Juízo da Execução;III – o Ministério Público;IV – o Conselho Penitenciário;V – os Departamentos Penitenciários;VI – o Patronato;VII – o Conselho da Comunidade.VIII – a Defensoria Pública.”O art. 66 traz especificamente o juiz da execução. Caso haja abolitio crimi-

nis e o sujeito esteja cumprindo pena por aquele crime, competirá ao juiz da execução reconhecer a abolitio criminis e extinguir a punibilidade.

O inciso III do referido artigo traz diversas alíneas sobre o que o juiz da execução poderá decidir, como: soma ou unificação de penas; progressão ou regressão nos regimes; detração e remição da pena; suspensão condicional da pena; livramento condicional; e incidentes da execução.

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250Detração penal ocorre quando é contado o tempo de prisão provisória, pro-

cessual e este tempo é diminuído da pena definitiva. Assim, é o desconto na pena definitiva do tempo de prisão provisória e quem é responsável pelo reco-nhecimento da detração é o juiz da sentença e não mais o juiz da execução.

É preciso observar que a antecipação do momento da detração serve apenas para fixação do regime inicial do cumprimento de pena e, portanto, para todos os outros fins a detração continua sendo feita pelo juiz da execução.

Ainda, tem o juiz como obrigação emitir anualmente o atestado de pena a cumprir.

9. Estabelecimentos Penais

9.1 Apresentação

Nesta unidade, continuaremos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordados os estabelecimentos penais.

9.2 Síntese

Os estabelecimentos penais se destinam ao condenado, ao preso provisó-rio, àqueles que recebem uma medida de segurança e também à questão do egresso.

A lei estabelece que a mulher e o maior de sessenta anos precisam cumprir suas penas em estabelecimentos próprios. Existem os presídios femininos, mas não foram criados os presídios para idosos. Assim, na prática, os maiores de sessenta anos ficam em uma cela diferenciada dos demais.

O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar estabelecimentos de desti-nação diversa desde que devidamente isolados. Neste sentido, pode haver uma colônia industrial agrícola, uma casa do albergado e um presídio no mesmo terreno.

Quanto aos presídios femininos, é preciso que estes tenham berçário em que as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los no mínimo até os seis meses de idade. Ainda, sobre os presídios femininos, os agen-tes penitenciários são do sexo feminino.

O § 4º do art. 83 dispõe: “Serão instaladas salas de aulas destinadas a cursos do ensino básico e pro-

fissionalizante.”O § 5º do artigo acima referido traz que haverá também a instalação desti-

nada à Defensoria Pública.

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251O art. 84 da lei aqui estudada dispõe que o preso provisório deve ficar sepa-

rado do preso definitivo.Prevê a lei que preso primário deve cumprir a pena separado de preso re-

incidente, porém, na prática, é um dispositivo que dificilmente é cumprido.É preciso observar que o estabelecimento penal deverá ter lotação compa-

tível com a sua estrutura e finalidade.A penitenciária é o local destinado aos presos condenados à pena de reclu-

são em regime fechado.Nas colônias agrícolas, industriais ou similares são desenvolvidas atividades

de indústria ou agrícola, feitas por presos que estão em regime semiaberto. Não havendo vagas nestes estabelecimentos, em regra, os presos ficam em regime fechado ou o Tribunal manda o indivíduo esperar pela vaga em casa, no regime albergue domiciliar.

Quanto ao regime aberto, existe um órgão do estabelecimento prisional chamado Casa do Albergado, que consiste em um prédio aonde o sujeito irá para dormir. A Casa do Albergado possui como função paralela o cumprimento da pena restritiva de direito denominada limitação de fim de semana.

Por fim, a cadeia pública destina-se ao recolhimento dos presos provisórios, nos termos do art. 102 da Lei de Execução Penal.

10. Regimes de Cumprimento de Pena

10.1 Apresentação

Nesta unidade, continuaremos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordados os regimes de cumprimento de pena.

10.2 Síntese

Uma informação importante é que quando a pessoa é acometida por uma doença mental durante o cumprimento de sua pena, se esta doença for curá-vel, o sujeito será tratado e voltará a cumprir sua pena normalmente. Se a doença for de difícil cura, o juiz converterá a pena privativa de liberdade em medida de segurança e a pessoa será deslocada da penitenciária para o mani-cômio judiciário.

Quanto aos regimes para cumprir a pena, há três: fechado, semiaberto e aberto.

A Lei de Execução Penal traz em seu art. 112 a progressão de regime, con-tendo a seguinte redação:

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252“Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progres-

siva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.”

Para que o sujeito vá do regime fechado ao semiaberto, deve ser feito um pedido com dois requisitos: requisito objetivo (tempo de cumprimento de pena) e requisito subjetivo (comportamento do preso). Ressalta-se que tais re-quisitos são cumulativos.

Quanto ao comportamento dos presos, quem irá verificar e falar se o preso se comportou ou não é o Diretor do Presídio, mediante atestado de conduta carcerária.

Dispõe a Súmula Vinculante nº 26: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime

hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalida-de do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do bene-fício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.”

Antes de 2007, não poderia haver progressão de regime quando se tratasse de crimes hediondos ou equiparados, porém, o STF declarou tal fato inconsti-tucional. Assim, todos podem progredir de regime.

11. Permissão e Autorização de Saída

11.1 Apresentação

Nesta unidade, continuaremos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordadas agora a permissão e a autorização de saída.

11.2 Síntese

Primeiramente, é preciso observar que autorização de saída é gênero e há duas espécies: a permissão de saída e saída temporária.

Permissão de saída é difícil de conseguir, pois só é possível quando ocorre falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descen-dente ou irmão ou quando há necessidade de tratamento médico muito espe-cífico.

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253A saída temporária está prevista no art. 122 da Lei de Execução Penal e

possui diversos requisitos.Quem está em regime fechado não tem direito à saída temporária, somente

quem está em regime semiaberto pode ter esta saída.Estabelece o art. 122 da lei aqui estudada:“Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semiaberto pode-

rão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos:

I – visita à família;II – freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução

do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução;III – participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio

social.”O parágrafo único do referido artigo traz a seguinte redação:“Parágrafo único. A ausência de vigilância direta não impede a utilização

de equipamento de monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim de-terminar o juiz da execução.”

O art. 123 do mesmo diploma legal traz o seguinte texto, dispondo acerca dos requisitos:

“Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execu-ção, ouvidos o Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos:

I – comportamento adequado;II – cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for

primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente;III – compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.”Observa-se que é preciso que o sujeito esteja em regime semiaberto, tenha

comportamento adequado, tenha cumprido pelo menos 1/6 da pena se for pri-mário e 1/4 se for reincidente e que haja compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.

O prazo de saída, de acordo com a lei, é de sete dias, no máximo, podendo ser renovada a saída por mais quatro vezes durante o ano.

O art. 124, § 1º traz algumas condições:“§ 1º Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as se-

guintes condições, entre outras que entender compatíveis com as circunstân-cias do caso e a situação pessoal do condenado:

I – fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado durante o gozo do benefício;

II – recolhimento à residência visitada, no período noturno; III – proibição de freqüentar bares, casas noturnas e estabelecimentos con-

gêneres.”

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12. Livramento Condicional

12.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo da Lei de Execução Penal, sendo abordado o livramento condicional.

12.2 Síntese

O livramento condicional é a possibilidade que o preso tem de ir para casa, ficando em liberdade antes do término de sua pena.

Não se deve confundir o livramento condicional com a liberdade provisória que, por sua vez, diz respeito à possibilidade de o sujeito responder ao processo em liberdade. Desta forma, nota-se que o livramento condicional ocorre na fase de execução e a liberdade provisória ocorre na fase processual.

Quem concede o livramento condicional é o juiz da execução, trata-se de decisão jurisdicional.

Os requisitos para que seja concedido livramento condicional estão previs-tos no Código Penal e não na Lei de Execução Penal.

O art. 83 do Código Penal dispõe:“Art. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a

pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:I – cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente

em crime doloso e tiver bons antecedentes;II – cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime

doloso; III – comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena,

bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto;

IV – tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano cau-sado pela infração;

V – cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.”

É preciso ressaltar que algumas condições devem ser cumpridas. O sujeito deve conseguir um trabalho razoável para conseguir se manter, deve comuni-car periodicamente ao juiz qual é a ocupação e não pode haver mudança de comarca sem prévia comunicação ao juiz.

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255Ainda, o juiz pode impor condições facultativas, como não mudar de casa,

retorno à residência às 21h00min e não frequentar determinados lugares. Quando ao sujeito é concedido o livramento condicional e o sujeito pro-

mete cumprir os requisitos, recebe a chamada carta de livramento. Trata-se do documento que materializa a concessão do livramento condicional.

O livramento condicional pode ser revogado quando o sujeito é condenado por outro crime em sentença irrecorrível.

Indaga-se se a revogação do livramento condicional acarreta necessaria-mente na prisão do sujeito e a resposta é que quem decide é o juiz da execução.

Quanto à duração, o livramento condicional dura pelo tempo restante de pena a cumprir.

Exercícios

104. A Lei de Execução Penal é regida pelos seguintes princípios, exceto:a) ampla defesa;b) contraditório;c) jurisdição;d) presunção de inocência.

105. São pedidos possíveis na fase de Execução Penal, exceto:a) progressão de regime;b) pena no mínimo legal;c) remição da pena;d) saída temporária.

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Capítulo 24

Lei de Crimes contra o Consumidor (Lei nº 8.078/90)

1. Crimes contra o Consumidor

1.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais pe-nais especiais, abordando a Lei nº 8.078/90, que trata de crimes contra o consumidor.

1.2 Síntese

O art. 61 da Lei aqui estudada dispõe: “Constituem crimes contra as rela-ções de consumo previstas neste código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes.”

Traz o art. 63: “Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou pu-blicidade: Pena – Detenção de seis meses a dois anos e multa.”

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257O § 1º refere: “Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, me-

diante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.”

Ainda, traz o § 2º: “Se o crime é culposo: Pena Detenção de um a seis meses ou multa.”

O objeto material é a informação sobre a nocividade ou periculosidade do produto ou serviço e o objeto jurídico é o interesse coletivo nas relações de consumo.

Diz o art. 64: “Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consu-midores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado: Pena – Detenção de seis meses a dois anos e multa.” Seu parágrafo único nos traz: “Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente quando determinado pela autori-dade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo.”

O art. 65 dispõe: “Executar serviço de alto grau de periculosidade, contra-riando determinação de autoridade competente: Pena Detenção de seis meses a dois anos e multa.” O parágrafo único refere que: “Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente: Pena: Detenção de seis meses a dois anos e multa.”

Exercício106. Nos crimes contra o consumidor:

a) o tipo que encerra a execução de serviços de alto grau de pericu-losidade é absorvido pelos crimes de lesão corporal e homicídio, quando estes resultados ocorrerem.

b) constitui agravante o fato de ter sido o delito praticado por pes-soa de condição socioeconômica superior à vítima.

c) não há responsabilização penal dos administradores e gerentes de pessoas jurídicas.

d) não se admite a forma culposa.

2. Crimes de Propaganda e Publicidade Enganosas

2.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando ainda a Lei nº 8.078/90, no que se refere aos crimes de propaganda e publicidade enganosas.

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2.2 SínteseO art. 66 do CDC dispõe: “Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir

informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou servi-ços: Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.”

Seu § 1º traz: “Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.” Ain-da, seu § 2º refere: “Se o crime é culposo; Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.”

Temos o dolo como elemento subjetivo, porém o tipo prevê a forma cul-posa. O delito admite a tentativa apenas na forma comissiva, já que plurissub-sistente.

O art. 67 traz: “Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva: Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.”

Dispõe o art. 68: “Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria sa-ber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança: Pena – Detenção de seis meses a dois anos e multa.”

O art. 69 diz: “Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à publicidade: Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.”

O crime aqui é omissivo puro, trata-se de um delito unissubsistente. Assim, não admite tentativa.

Exercício107. A Lei nº 8.137/1990, que no seu art. 7º institui vários crimes contra

a relação de consumo, revogou os delitos contra o consumidor pre-vistos no CDC, em face do brocardo latino lex posterior derogat legi priori. Certo ou errado?

3. Crimes Praticados contra o Consumidor – Parte I

3.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando ainda a Lei nº 8.078/90, no que se refere aos crimes praticados contra o consumidor.

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3.2 SínteseO art. 70 do CDC dispõe: “Empregar na reparação de produtos, peça ou

componentes de reposição usados, sem autorização do consumidor: Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.”

O dispositivo traz a elementar típica “sem autorização do consumidor”, ou seja, havendo acordo prévio haverá atipicidade.

O art. 71 traz: “Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, cons-trangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.”

O art. 72 refere: “Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informa-ções que sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros: Pena – Detenção de seis meses a um ano ou multa.”

Aqui, será admitida tentativa na modalidade plurissubsistente (vários atos). O art. 73 dispõe: “Deixar de corrigir imediatamente informação sobre con-

sumidor constante de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata: Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.”

Nota-se que aqui temos um crime omissivo puro ou próprio. Desta forma, não será admitida a tentativa.

Exercício108. Considere que Tânia, que trabalha em uma entidade de cadastro de

devedores inadimplentes, tenha impedido que Manoel tivesse acesso às informações que sobre ele constavam do referido cadastro. Nesse caso, Tânia praticou crime contra as relações de consumo, devendo incidir circunstância agravante, se Manoel for pessoa portadora de deficiência mental. Certo ou errado?

4. Crimes Praticados contra o Consumidor – Parte II

4.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando ainda a Lei nº 8.078/90, no que se refere aos crimes praticados contra o consumidor.

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4.2 Síntese

Dispõe o art. 74 do CDC: “Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteú-do. Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.”

Garantia legal é a prevista no art. 24 do CDC e incide sobre todos os pro-dutos e serviços, e a garantia contratual é aquela prevista no art. 50 do CDC, sendo complementar à legal.

Traz o art. 75: “Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes refe-ridos neste código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua cul-pabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e pres-tação de serviços nas condições por ele proibidas.”

O art. 76 diz: “São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código: I – serem cometidos em época de grave crise econômica ou por oca-sião de calamidade; II – ocasionarem grave dano individual ou coletivo; III – dissimular-se a natureza ilícita do procedimento; IV – quando cometidos: a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja ma-nifestamente superior à da vítima; b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoito ou maior de sessenta anos ou de pessoas portadoras de deficiência mental interditadas ou não; V – serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou quaisquer outros produtos ou serviços essenciais.”

Ainda, dispõe o art. 77 do CDC: “A pena pecuniária prevista nesta Seção será fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na individualiza-ção desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, §1º do Código Penal.”

O art. 78 nos traz: “Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas, cumulativa ou alternadamente, observado o disposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal: I – a interdição temporária de direitos; II – a publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação; III – a pres-tação de serviços à comunidade.”

O art. 79 fala sobre a fiança e diz que: “O valor da fiança, nas infrações de que trata este código, será fixado pelo juiz, ou pela autoridade que presidir o in-quérito, entre cem e duzentas mil vezes o valor do Bônus do Tesouro Nacional (BTN), ou índice equivalente que venha a substituí-lo.”

Seu parágrafo único dispõe: “Se assim recomendar a situação econômica do indiciado ou réu, a fiança poderá ser:

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261a) reduzida até a metade do seu valor mínimo;b) aumentada pelo juiz até vinte vezes.”Por fim, diz o art. 80: “No processo penal atinente aos crimes previstos

neste código, bem como a outros crimes e contravenções que envolvam rela-ções de consumo, poderão intervir, como assistentes do Ministério Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo legal.”

Exercício

109. A seguir, apresenta-se uma situação hipotética acompanhada de uma assertiva a ser julgada com base no que dispõe o CDC.João, mecânico de automóveis, empregou peças de reposição já usa-das ao efetuar o conserto de certo automóvel, sem autorização do proprietário do veículo. Nessa situação, João praticou crime contra as relações de consumo, estando sujeito a multa e a pena de três meses a um ano de detenção.

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Capítulo 25

Juizado Especial Criminal (Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001)

1. Juizado Especial Criminal – Parte I

1.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

1.2 Síntese

O art. 1º da Lei nº 9.099/95 dispõe: “Os Juizados Especiais Cíveis e Crimi-nais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência.”

A competência dos Juizados Especiais é conferida pela própria Constitui-ção Federal.

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263O art. 1º da Lei nº 10.259/2001 dispõe: “São instituídos os Juizados Es-

peciais Cíveis e Criminais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.”

O art. 2º da Lei nº 9.099 tem o seguinte teor: “O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.”

O art. 60 da mesma lei nos traz: “O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.”

Refere seu parágrafo único: “Na reunião de processos, perante o juízo co-mum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.”

Diz o art. 61: “Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensi-vo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei co-mine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.”

Exercício

110. Relativamente aos juizados especiais criminais, analise as afirmativas a seguir: I – São princípios que orientam os juizados especiais a oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual, celeridade e a busca pela conciliação. II – Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito que exer-çam funções na administração da Justiça Criminal. III – Os atos processuais serão públicos, sendo vedada sua realização em horário noturno. IV – É possível a aplicação dos institutos da conciliação e da tran-sação no tribunal do júri nas infrações de menor potencial ofensivo conexas com crimes dolosos contra a vida. Assinale:a) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas.b) se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas.c) se apenas as afirmativas I e IV estiverem corretas.d) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.e) e apenas as afirmativas III e IV estiverem corretas.

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2. Juizado Especial Criminal – Parte II2.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

2.2 SínteseO art. 14 da Lei nº 11.340/2006 dispõe: “Os Juizados de Violência Domés-

tica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Ter-ritórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.”

Seu parágrafo único refere: “Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.”

A Lei Maria da Penha permite que sejam criados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

O art. 41 do mesmo diploma legal traz: “Aos crimes praticados com violên-cia doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena previs-ta, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.”

A definição de infração de menor potencial ofensivo está no art. 61 da Lei nº 9.099, que traz: “Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensi-vo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei co-mine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.”

A atual redação do art. 394 do CPP traz: “O procedimento será comum ou especial.”

Dispõe seu § 1º: O procedimento comum será ordinário, sumário ou su-maríssimo: I – ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; II – sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; III – sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.”

Exercício111. Acerca das leis brasileiras que instituíram o conceito de infração pe-

nal de menor potencial ofensivo, assinale a opção correta:a) Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo os crimes

a que a lei comina pena máxima não superior a um ano, ou

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265multa. É irrelevante para tal conceituação o fato de os crimes serem de competência da justiça estadual ou da federal.

b) Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, o juiz não pode oferecer a proposta de transação penal de ofício ou a re-querimento da parte, uma vez que esse ato é privativo do re-presentante do Ministério Público (MP), titular da ação penal pública.

c) Como não há em lei qualquer menção aos delitos submetidos a procedimentos especiais, não se submetem à competência dos Juizados Especiais as infrações de menor potencial ofensivo a que sejam previstos ritos especiais.

d) Mesmo havendo necessidade de diligências de maior complexi-dade para apuração dos fatos e da autoria de uma infração penal de menor potencial ofensivo, a exemplo de pedido de quebra de sigilo de dados, tais circunstâncias não autorizam o deslocamen-to de competência do juizado especial criminal para o juízo de direito comum.

3. Juizado Especial Criminal – Parte III

3.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

3.2 Síntese

Há uma observação que diz respeito ao Estatuto do Idoso. Isso porque tal lei traz em seu art. 94 previsão de que seja seguido rito sumaríssimo para as infrações ali previstas, cuja pena máxima não ultrapasse quatro anos.

Traz o dispositivo: “Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima pri-vativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.”

É preciso ressaltar que se aplica apenas o procedimento previsto na Lei nº 9.099/95, mas não os outros benefícios ali previstos, como a transação penal.

O art. 62 da Lei nº 9.099/95 dispõe: “O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual

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266e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.”

Diz o art. 63 que: “A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.”

Exercício

112. O processo perante o Juizado Especial Criminal orientar-se-á pelos seguintes critérios:a) Oralidade, informalidade, economia processual e celeridade.b) Informalidade, presunção de inocência, economia processual e

celeridade.c) Oralidade, pecuniaridade, informalidade e celeridade.d) Informalidade, economia processual, oralidade, busca da verda-

de real.

4. Juizado Especial Criminal – Parte IV

4.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

4.2 Síntese

Conforme já visto, dispõe o art. 63 da Lei nº 9.099/95: “A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.”

O art. 4º do CP diz que: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.”

O art. 6º do CP dispõe: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.”

Quando falamos em fixação da competência, adotamos em regra a teoria do resultado.

O art. 70 do CPP traz: “A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.”

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267Assim, nota-se que temos na Lei nº 9.099 um problema, pois a lei não escla-

rece qual é o lugar da prática. Desta forma, podemos ter aqui uma teoria mista, a infração pode ser apurada tanto onde ocorreu a ação ou omissão quanto onde ocorreu o resultado.

Contudo, o tema não é pacífico, havendo quem entenda que a teoria aco-lhida foi a teoria da atividade.

O art. 64 da Lei nº 9.099 diz: “Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme dispu-serem as normas de organização judiciária.”

O art. 65 refere que: “Os atos processuais serão válidos sempre que preen-cherem as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os critérios in-dicados no art. 62 desta Lei.”

Seu § 1º traz: “Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havi-do prejuízo.”

Ainda, seu § 2º dispõe: “A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação.”

Diz o § 3º: “Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento po-derão ser gravados em fita magnética ou equivalente.”

O art. 66 dispõe: “A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sem-pre que possível, ou por mandado.” Seu parágrafo único traz: “Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo co-mum para adoção do procedimento previsto em lei.”

Dispõe o art. 67: “A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, me-diante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identifi-cado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de man-dado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.”

Seu parágrafo único refere: “Dos atos praticados em audiência considerar--se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.”

Ainda, diz o art. 68: “Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de citação do acusado, constará a necessidade de seu comparecimento acompa-nhado de advogado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público.”

Exercício113. A competência do Juizado Especial Criminal será determinada pelo

lugar no qual a infração penal: a) foi praticada;b) se consumou;c) foi praticada ou se consumou;d) produziu resultado.

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5. Juizado Especial Criminal – Parte V

5.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

5.2 SínteseDoutrinariamente, chama-se intimação a comunicação dada à parte do

processo da prática de um ato, de um despacho ou de uma sentença. Refere-se a um ato já praticado.

Chama-se notificação a comunicação dada à parte ou outra pessoa, como o advogado, do lugar, dia e hora de um ato processual que deva ocorrer. Assim, se refere ao ato que será praticado.

Autor do fato é a pessoa a quem se imputa a prática da infração penal de menor potencial ofensivo.

O art. 69 diz: “A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrên-cia lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.”

Seu parágrafo único traz: “Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cau-tela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.”

O art. 301 do CTB dispõe: “Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.”

O art. 72 da Lei nº 9.099 traz: “Na audiência preliminar, presente o re-presentante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.”

Exercício114. Na hipótese de conexão entre uma infração penal de menor poten-

cial ofensivo, resistência (artigo 329, caput, do Código Penal, que

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269estabelece a pena de detenção de 2 meses a 2 anos), e um crime, roubo (art. 157, caput, do Código Penal, que fixa pena de reclusão de 4 a 10 anos e multa): a) desmembra-se o processo, cabendo ao Juizado Especial Crimi-

nal a infração penal de menor potencial ofensivo e à Vara Cri-minal o crime de roubo;

b) não se desmembra o processo, que terá curso, inicialmente, no Juizado Especial Criminal, onde, quanto à infração penal de menor potencial ofensivo, serão observados os institutos da tran-sação penal e da composição dos danos civis, seguindo, depois, os autos à Vara Criminal, onde prosseguirá o processo;

c) não se desmembra o processo, em face das regras de conexão, competindo à Vara Criminal tanto a resistência como o roubo, observando, quanto à infração penal de menor potencial ofensi-vo, os institutos da transação penal e da composição dos danos civis;

d) não se desmembra o processo, em face das regras de conexão, competindo à Vara Criminal tanto a resistência como o roubo, não se aplicando, quanto à infração penal de menor potencial ofensivo, os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.

6. Juizado Especial Criminal – Parte VI

6.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

6.2 Síntese

Conforme vimos anteriormente, o art. 72 da Lei nº 9.099/95 dispõe: “Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.”

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270Sendo a ausência do ofendido e a ação é pública condicionada, há quatro

posições. A primeira entende que a audiência deve ser suspensa, desde que ainda não ultrapassado o prazo decadencial, aguardando-se em cartório a re-presentação do ofendido até o lapso decadencial.

A segunda entende que a ausência da vítima denota renúncia tácita ao direito de representação, de modo que será extinta a punibilidade do autor do fato.

A terceira corrente sustenta mais uma tentativa de intimação do ofendido, para que diga se deseja ou não representar contra o autor do fato.

A quarta refere que a representação é válida mesmo que ofertada em sede policial, de modo que o MP, com a ausência da vítima, estaria legitimado a propor transação penal ao autor.

Sendo a ação privada, o entendimento majoritário é o de que, desde que ainda não esgotado o prazo decadencial, a ausência da vítima à audiência fará com que os autos aguardem em cartório pela sua manifestação (até o decurso do aludido prazo decadencial).

O art. 73 nos traz: “A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por con-ciliador sob sua orientação.” Diz seu parágrafo único: “Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da Justiça Criminal.”

O art. 74 dispõe: “A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.”

O parágrafo único refere que: “Tratando-se de ação penal de iniciativa pri-vada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homo-logado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.”

Exercício

115. Assinale a alternativa que complete corretamente a proposição a seguir:No Juizado Especial Criminal, a composição civil, em ação penal pública condicionada, acarreta _____.a) renúncia ao direito de queixa.b) extinção da punibilidade.c) transação penal com aplicação de pena restritiva de direitos ou

multa, a ser especificada na proposta.d) perdão judicial.e) absolvição criminal.

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7. Juizado Especial Criminal – Parte VII

7.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

7.2 Síntese

É preciso lembrar que para os crimes que não são de menor potencial ofen-sivo, o fato de a vítima receber indenização pelo dano causado não implica renúncia ao direito de queixa, sendo esta a regra.

O art. 104 do CP dispõe: “O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente.” Seu parágrafo único diz: “Importa re-núncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo crime.”

Ressalte-se que a renúncia tácita em face de acordo entre as partes só ocor-rerá no âmbito da Lei nº 9.099/95.

O art. 75 da Lei nº 9.099/95 traz: “Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.” Dispõe seu parágrafo único: “O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.”

Sobre o prazo decadencial diz o art. 38 do CPP: “Salvo disposição em con-trário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.”

O art. 25 do CPP dispõe: “A representação será irretratável, depois de ofe-recida a denúncia.”

Ainda, traz o art. 16 da Lei Maria da Penha: “Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admi-tida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.”

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Exercício

116. O Juizado Especial Criminal julga causas:a) De menor potencial ofensivo.b) Somente casos de ameaça e lesões corporais leves.c) Somente os casos que envolvam lesões provocadas em acidente

de trânsito.d) Somente os crimes de posse de entorpecente e uso de drogas.

8. Juizado Especial Criminal – Parte VIII

8.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

8.2 Síntese

O art. 76 da Lei nº 9.099/95 dispõe: “Havendo representação ou tratando--se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arqui-vamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.”

Seu § 1º traz: “Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.”

O § 2º refere que: “Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I – ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II – ter sido o agente beneficiado anterior-mente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; III – não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser neces-sária e suficiente a adoção da medida.”

O § 3º dispõe: “Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz.”

De acordo com o disposto no § 4º: “Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.”

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273O § 5º traz: “Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação

referida no art. 82 desta Lei.”O § 6º dispõe: “A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não

constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.”

Exercício

117. Considerando a temática dos Juizados Especiais Criminais, assinale a alternativa correta:a) A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que

foi praticada a infração penal.b) Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo as

contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena míni-ma não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

c) Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou in-ferior a um ano, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por um a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

d) A composição civil, estabelecida nos arts. 74 e 75 da Lei, é uma causa de extinção da punibilidade nos crimes de menor poten-cial ofensivo, quando a ação for pública incondicionada.

e) A proposta de Transação Penal (art. 76) deve ser feita pelo Juiz na presença do Ministério Público.

9. Juizado Especial Criminal – Parte IX

9.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

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9.2 Síntese

Conforme disposto anteriormente, o art. 76, § 2º, da Lei nº 9.099/95 dispõe: “Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I – ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II – ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; III – não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.”

Por antecedentes, entende-se hoje serem as condenações definitivas que não geram reincidência.

Indaga-se se cabe transação penal na ação privada ou somente na ação pú-blica condicionada. A posição majoritária entende que sim.

O art. 27 da Lei nº 9.605/98 diz: “Nos crimes ambientais de menor poten-cial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.”

Ainda, o art. 17 da Lei Maria da Penha dispõe: “É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta bá-sica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.”

Exercício118. Assinale a afirmação correta no que se refere ao Juizado Especial

Criminal:a) Na reunião de processos do Juizado Especial Criminal, perante

o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, não serão observados os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.

b) No procedimento sumaríssimo imposto pela Lei nº 9.099/95 para as infrações de menor potencial ofensivo, a citação do autor do fato será feita por correspondência com aviso de recebimento.

c) No procedimento sumaríssimo imposto pela Lei nº 9.099/95, nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou infe-rior a dois anos, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão condicional do processo.

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275d) No procedimento sumaríssimo imposto pela Lei nº 9.099/95,

tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada ou havendo representação, quando não aceita ou não sendo ofere-cida a transação penal, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de dili-gências imprescindíveis.

e) No procedimento sumaríssimo imposto pela Lei nº 9.099/95, a presença do advogado na audiência em que será proposta a transa-ção penal não é obrigatória, pois ainda não existe processo judicial.

10. Juizado Especial Criminal – Parte X

10.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

10.2 SínteseO descumprimento da transação penal gera a submissão do processo ao seu

estado anterior, de acordo com entendimento do STF. Uma segunda posição entende que em se tratando de proposta de pena de

multa não é possível o oferecimento de denúncia, havendo controvérsias sobre a totalidade da execução no Juizado Especial Criminal, nos termos do art. 84.

Tratando-se de PRD, o procedimento deve ser retomado para que seja pos-sível o oferecimento de denúncia ou queixa.

A terceira posição traz que depois de homologada a proposta é impossível o oferecimento de denúncia, cabendo ao titular da ação buscar a execução nas vias cíveis, como a execução da multa ou da obrigação de fazer comprometida.

O quarto entendimento afirma que, descumprida a transação, não é possí-vel prosseguir no processo em que houve transação homologada. No entanto, se a homologação for condicionada ao cumprimento da prestação, não haverá homologação com descumprimento, podendo o processo prosseguir.

O art. 77 da Lei nº 9.099/95 dispõe: “Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.”

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276O § 1º traz: “Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com

base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a mate-rialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.”

Diz o § 2º: “Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encami-nhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.”

O § 3º traz que: “Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser ofereci-da queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.”

Dispõe o art. 41 do CPP: “A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.” Este é o momento adequado para que o MP apresente o rol de testemunhas.

A Lei nº 9.099/95 não fala em número de testemunhas, porém o art. 538 do CPP traz que: “Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.”

Assim, podemos entender que o número de testemunhas no rito sumaríssi-mo será cinco para cada parte.

Exercício

119. Tomando por base a Lei nº 9.099/95, que prevê a constituição dos Juizados Especiais Criminais, analise as afirmativas e assinale a alter-nativa CORRETA:a) Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento nos

Juizados Especiais Criminais poderão ser gravados em fita mag-nética ou equivalente.

b) O Juizado Especial Criminal tem competência para a concilia-ção, o julgamento e a execução das infrações penais de médio potencial ofensivo, independentemente das regras de conexão e continência.

c) As infrações penais que o Juizado Especial Criminal tem com-petência para julgar são apenas os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 1 (um) ano, cumulada ou não com multa.

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277d) Os conciliadores que atuam nos Juizados Especiais Criminais

são auxiliares da Justiça, recrutados sempre entre bacharéis em Direito que possuam experiência mínima de dois anos no exer-cício da advocacia.

11. Juizado Especial Criminal – Parte XI

11.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

11.2 Síntese

O art. 394 do CPP dispõe: “O procedimento será comum ou especial.” O § 1º traz que: “O procedimento comum será ordinário, sumário ou su-

maríssimo: I – ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; II – sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; III – sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.”

O § 2º dispõe: “Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em contrário deste Código ou de lei especial.”

Diz o § 3º: “Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedi-mento observará as disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código.”

O § 4º traz: “As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.”

O § 5º dispõe: “Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário.”

O art. 78 diz: “Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução e julga-mento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.”

O § 1º dispõe: “Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da audiência de instrução e julga-

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278mento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias antes de sua realização.”

Diz o § 2º: “Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e julgamento.”

O § 3º refere que: “As testemunhas arroladas serão intimadas na forma pre-vista no art. 67 desta Lei.”

Exercício

120. Relativamente aos juizados especiais criminais, analise as afirmativas a seguir: I – No rito processual previsto na Lei nº 9.099/95, oferecida a denún-cia, o juiz deverá dar a palavra ao defensor para responder à acusação antes de decidir se recebe a inicial. II – Da sentença que homologa a transação penal cabe apelação no prazo de dez dias. III – Não se imporá prisão em flagrante nem se exigirá fiança ao autor de infração de menor potencial ofensivo, desde que após a la-vratura do termo ele concorde em comparecer ao juizado especial. IV – É possível a proposta de transação penal nas infrações de me-nor potencial ofensivo, mesmo quando o autor do fato já tiver sido condenado anteriormente, com sentença transitada em julgado, por contravenção penal. Assinale: a) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas. b) se apenas as afirmativas II e III estão corretas. c) se apenas as afirmativas III e IV estiverem corretas. d) se apenas as afirmativas I, II e IV estiverem corretas. e) se todas as afirmativas estiverem corretas.

12. Juizado Especial Criminal – Parte XII

12.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

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12.2 Síntese

O art. 80 da Lei nº 9.099/95 dispõe: “Nenhum ato será adiado, determi-nando o Juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer.”

O art. 81 diz que: “Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.”

O § 1º traz: “Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.”

O § 2º refere que: “De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença.”

Dispõe o § 3º: “A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elemen-tos de convicção do Juiz.”

Exercício

121. Nas infrações de competência do Juizado Especial Criminal, é cor-reto afirmar:a) É dispensável o Inquérito Policial.b) A queixa poderá ser oral.c) Todas as provas serão produzidas na Audiência de Instrução e

Julgamento.d) Todas as alternativas estão corretas.

13. Juizado Especial Criminal – Parte XIII

13.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

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13.2 Síntese

O art. 81 preza pela concentração das provas em audiência única, porém não traz previsão específica acerca dos debates. Assim, por analogia, pode se buscar regramento no art. 534 do CPP.

Dispõe o art. 534 que: “As alegações finais serão orais, concedendo-se a pa-lavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.”

Seu § 1º diz: “Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.”

O § 2º traz: “Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.”

O art. 82 refere: “Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da senten-ça caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.”

O § 1º dispõe: “A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.”

Diz o § 2º: “O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.”

O § 3º refere: “As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei.”

O art. 4º traz que: “As partes serão intimadas da data da sessão de julgamen-to pela imprensa.”

O § 5º dispõe: “Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.”

O procedimento da apelação é diverso. Isso porque, no CPP a apelação é interposta em cinco dias, abrindo-se prazo de mais oito dias para a apresentação das razões. Já no Juizado Especial Criminal a apelação deve ser interposta em dez dias, apresentando-se as razões concomitantemente.

Ainda, dispõe o art. 83 da Lei nº 9.099/95: “Caberão embargos de declara-ção quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omis-são ou dúvida.”

Seu § 1º traz: “Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.”

O § 2º refere que: “Quando opostos contra sentença, os embargos de decla-ração suspenderão o prazo para o recurso.”

O § 3º diz: “Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.”

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Exercício

122. No Juizado Especial Criminal, da decisão de rejeição de denúncia ou queixa, caberá:a) recurso em sentido estrito, a ser interposto no prazo de cinco

dias.b) apelação, a ser interposta no prazo de cinco dias.c) recurso em sentido estrito, a ser interposto no prazo de dez dias.d) apelação, a ser interposta no prazo de dez dias.

14. Juizado Especial Criminal – Parte XIV

14.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

14.2 Síntese

O art. 82 da Lei nº 9.099/95 dispõe: “Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.”

O inciso III do art. 105 da CF/1988 nos traz que: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça: III – julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribu-nais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:”

Como a Turma Recursal não é Tribunal, resta afastada a possibilidade de Recurso Especial.

Corroborando tal entendimento, dispõe a Súmula nº 203 do STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais.”

Em relação ao Recurso Extraordinário, este é admissível nas decisões de segundo grau nos Juizados Especiais Criminais. O inciso III do art. 102 da CF estabelece: “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:”

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282A CF não fala aqui em decisões oriundas de Tribunais. Ainda, a Súmula nº

640 do STF dispõe: “É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juiza-do especial cível e criminal.”

A Súmula nº 727 do STF traz que: “Não pode o magistrado deixar de en-caminhar ao Supremo Tribunal Federal o agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente a causa instaurada no âmbito dos juizados especiais.”

O art. 84 da Lei aqui estudada dispõe: “Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secretaria do Jui-zado.” Seu parágrafo único refere: “Efetuado o pagamento, o Juiz declarará extinta a punibilidade, determinando que a condenação não fique constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição judicial.”

O art. 85 estabelece: “Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei.”

Já o art. 86 traz: “A execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será processada perante o órgão competente, nos termos da lei.”

Exercício123. Em caso de sentença condenatória proferida por juiz do Juizado

Especial Criminal:a) o promotor de justiça poderá oferecer apelação em dez dias, da

qual constarão as razões e o seu pedido.b) o acusado poderá formular embargos de declaração em dois

dias, ficando interrompido o prazo da apelação.c) a competência para a execução da pena será sempre do próprio

Juizado Especial.d) a competência para julgar a apelação poderá ser de turma com-

posta por juízes de primeiro grau, salvo se a pena for privativa de liberdade.

15. Juizado Especial Criminal – Parte XV15.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

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15.2 SínteseO art. 88 da Lei nº 9.099/95 traz: “Além das hipóteses do Código Penal e

da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.”

Quando a ação penal depender de representação da vítima, esta será con-dição objetiva de procedibilidade, o MP não poderá denunciar sem que haja manifestação do ofendido ou de alguém que o represente.

De acordo com o art. 39 do CPP: “O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.”

O art. 88 da Lei nº 9.099/95 será aplicado ao crime de lesão corporal cul-posa praticado na direção de veículo automotor (art. 303 do CTB), conforme previsão do art. 291, § 1º, do mesmo diploma legal.

O art. 89 da Lei aqui estudada dispõe: “Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do pro-cesso, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).”

Seu § 1º traz: “Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submeten-do o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; II – proibição de freqüentar deter-minados lugares; III – proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, men-salmente, para informar e justificar suas atividades.”

O § 2º refere: “O Juiz poderá especificar outras condições a que fica su-bordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.”

Diz o § 3º: “A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.”

O § 4º diz: “A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser pro-cessado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.”

O § 5º dispõe: “Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.”

Por sua vez, diz o § 6º: “Não correrá a prescrição durante o prazo de sus-pensão do processo.”

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284Finalmente, traz o § 7º: “Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste

artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.”Chegamos aqui ao instituto da suspensão condicional do processo, também

chamado de sursis processual.

Exercício

124. Em procedimento da competência do Juizado Especial Criminal, contendo a sentença obscuridade ou contradição, cabem embargos de declaração, que poderão ser opostos:a) por escrito ou oralmente, no prazo de dois dias, suspendendo-se

o prazo para o recurso.b) por escrito, no prazo de dois dias, suspendendo-se o prazo para o

recurso.c) por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, suspendendo-

-se o prazo para o recurso.d) por escrito, no prazo de dois dias, não se suspendendo o prazo

para o recurso.

16. Juizado Especial Criminal – Parte XVI

16.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

16.2 SínteseO § 1º do art. 89 da Lei nº 9.099/95 traz: “Aceita a proposta pelo acusado

e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá sus-pender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; II – proi-bição de freqüentar determinados lugares; III – proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.”

O § 2º dispõe: “O Juiz poderá especificar outras condições a que fica su-bordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.”

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285Diz o § 3º: “A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário

vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.”

O § 4º traz: “A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser pro-cessado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.”

O § 5º refere: “Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.”

Por sua vez, diz o § 6º: “Não correrá a prescrição durante o prazo de sus-pensão do processo.”

Traz o § 7º: “Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.”

O instituto do sursis processual não se confunde com o “probation system” do sistema anglo-saxão. Também não deve ser confundido com a suspensão da pena.

Ressalte-se que o STJ vem decidindo que para efeito de suspensão condicio-nal do processo é de ser considerada, no caso da tentativa, a redução máxima de 2/3 para averiguação da pena mínima em abstrato.

Ainda, no concurso de crimes a regra da aplicação da pena correspondente ao concurso é que repercutirá na apreciação do cabimento da suspensão con-dicional do processo.

A Súmula nº 243 do STJ traz: “O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.”

A Súmula nº 723 do STF dispõe: “Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.”

Exercício

125. Do ponto de vista objetivo, fará jus à suspensão condicional do pro-cesso (art. 89, Lei nº 9.099/95):a) o funcionário público que, por imprudência, brincando com

uma arma de fogo, mata uma criança com disparo na cabeça.b) o comerciante que, por imprudência, conduzindo automóvel

em velocidade superior à permitida e sob a influência de álcool, provoca colisão no trânsito e causa a morte de passageiro de ou-tro veículo, único dos envolvidos que se encontrava sem o cinto de segurança.

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286c) o funcionário público que compra uma CNH falsa, mediante

expectativa de que é produzida com papel autêntico e com prontuário registrado no órgão de trânsito, apresentando-a a po-licial rodoviário numa blitz.

d) o comerciante que expõe à venda, numa banca do shopping Oiapoque, em Belo Horizonte, 400 CDs piratas, cópias não autorizadas de álbum fonográfico de músico estrangeiro, com violação de direito de autor.

17. Juizado Especial Criminal – Parte XVII

17.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

17.2 Síntese

O segundo requisito para que haja suspensão condicional do processo é que o acusado não esteja sendo processado por outro crime.

É importante ressaltar que se o agente estiver respondendo por contraven-ção penal em um dos processos, não haverá óbice para a concessão do bene-fício, uma vez que a lei fala expressamente em crime. Existe, por outro lado, quem aponte a inconstitucionalidade de tal pressuposto, já que ofenderia o princípio constitucional do estado de inocência.

Para o STJ, o art. 89, § 3º, da Lei nº 9.099/95 não atrita com o princípio da presunção de inocência.

O terceiro requisito refere que o sujeito não pode ter sido condenado por outro crime, ou seja, se uma das condenações disser respeito à contravenção penal, será possível a concessão do benefício.

Existe, ainda, um requisito subjetivo, que é o juízo de suficiência.A Súmula nº 696 do STF dispõe: “Reunidos os pressupostos legais permis-

sivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.”

O § 1º do art. 89 da Lei nº 9.099/95 traz: “Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá sus-pender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes

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287condições: I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; II – proi-bição de freqüentar determinados lugares; III – proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.”

Diz o § 2º: “O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordi-nada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.”

Exercício

126. Eventual habeas corpus contra constrangimento ilegal ao direito de ir e vir do indivíduo oriundo de decisão de turma recursal do Juizado Especial criminal da justiça estadual será impetrado: a) perante a própria turma recursal; b) perante o tribunal de justiça do respectivo Estado da Federação

sede da turma recursal; c) perante o Superior Tribunal de Justiça; d) perante o Supremo Tribunal Federal.

18. Juizado Especial Criminal – Parte XVIII

18.1 Apresentação

Nesta unidade, continuamos o estudo das leis penais e processuais penais especiais, abordando as Leis nos 9.099/95 e 10.259/2001, que tratam do Juizado Especial Criminal.

18.2 Síntese

A Súmula nº 337 do STJ dispõe: “É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.”

O § 3º do art. 89 da Lei nº 9.099/95 traz: “A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.”

O § 4º estabelece: “A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.”

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288É preciso ressaltar que a Lei nº 9.605/98, que trata dos crimes ambientais,

prevê mais um requisito para que seja concedido o sursis processual. O art. 28 do referido diploma legal traz: “As disposições do art. 89 da Lei nº

9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações: I – a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5º do artigo referido no caput, de-penderá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1º do mesmo artigo; II – na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição; III – no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1º do artigo mencionado no caput; IV – findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser nova-mente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III; V – esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do dano.”

Por fim, é necessário observar que o art. 90-A da Lei nº 9.099/95 traz que: “As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.”

Exercício

127. Quanto às disposições da Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95) é INCORRETO afirmar:a) As disposições da Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.b) A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que

foi praticada a infração penal.c) Os conciliadores são auxiliares da Justiça, que exercem funções

na administração da Justiça Criminal, excluídos os Bacharéis em Direito.

d) Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.

e) No procedimento sumário, os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias conta-dos da ciência da decisão.

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Capítulo 26

Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas (Lei nº 9.807/99)

1. Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas – Parte I

1.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei nº 9.807/99, Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas, sendo abordados aspectos introdutórios.

1.2 SínteseA Lei nº 9.807/99 estabelece normas para organização e manutenção de

programas especiais a vítimas e testemunhas ameaçadas. Ainda, dispõe sobre a proteção de acusados e condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação e ao processo criminal.

O art. 1º dispõe: “As medidas de proteção requeridas por vítimas ou por testemunhas de crimes que estejam coagidas ou expostas a grave ameaça em

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290razão de colaborarem com a investigação ou processo criminal serão prestadas pela União, pelos Estados e pelo Distrito Federal, no âmbito das respectivas competências, na forma de programas especiais organizados com base nas dis-posições desta Lei.”

Seu § 1º traz: “A União, os Estados e o Distrito Federal poderão celebrar convênios, acordos, ajustes ou termos de parceria entre si ou com entidades não-governamentais objetivando a realização dos programas.”

O § 2º diz que: “A supervisão e a fiscalização dos convênios, acordos, ajustes e termos de parceria de interesse da União ficarão a cargo do órgão do Ministé-rio da Justiça com atribuições para a execução da política de direitos humanos.”

Vítima é o titular do bem jurídico lesado ou posto em perigo. O art. 201 do CPP dispõe: “Sempre que possível, o ofendido será qualifi-

cado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações.”

Seu § 1º traz: “Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem moti-vo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.”

O § 2º refere: “O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem.”

O § 3º estabelece: “As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no en-dereço por ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico.”

Diz o § 4º: “Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço separado para o ofendido.”

O § 5º traz: “Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de as-sistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado.”

Por fim, traz o § 6º: “O juiz tomará as providências necessárias à preserva-ção da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, in-clusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação.”

A testemunha pode falar diretamente ou indiretamente sobre o ocorrido. De acordo com o art. 202 do CPP “Toda pessoa poderá ser testemunha.”

O art. 208 do CPP traz: “Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.”

Dispõe o art. 206 do mesmo diploma legal: “A testemunha não poderá eximir--se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão

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291e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.”

Exercício128. De acordo com a Lei nº 9.807/99, que trata de Programas de Prote-

ção a Vítimas e Testemunhas, analise as assertivas.I – Estão excluídos da proteção os ascendentes e os dependentes que tenham convivência habitual com a vítima ou a testemunha.II – Estão incluídos nessa proteção os condenados que estejam cum-prindo pena, uma vez que é dever do Estado proteger a integridade física do preso.III – O ingresso nesse programa e as restrições de segurança indepen-dem da anuência da pessoa protegida ou de seu representante legal.

2. Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas – Parte II

2.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei nº 9.807/99, Lei de Proteção a Víti-mas e Testemunhas, sendo abordados os pontos mais importantes.

2.2 SínteseO art. 2º da Lei nº 9.807/99 dispõe: “A proteção concedida pelos programas e

as medidas dela decorrentes levarão em conta a gravidade da coação ou da amea-ça à integridade física ou psicológica, a dificuldade de preveni-las ou reprimi-las pelos meios convencionais e a sua importância para a produção da prova”

Traz o § 1º: “A proteção poderá ser dirigida ou estendida ao cônjuge ou companheiro, ascendentes, descendentes e dependentes que tenham convi-vência habitual com a vítima ou testemunha, conforme o especificamente ne-cessário em cada caso.”

O § 2º diz: “Estão excluídos da proteção os indivíduos cuja personalidade ou conduta seja incompatível com as restrições de comportamento exigidas pelo programa, os condenados que estejam cumprindo pena e os indiciados ou acusados sob prisão cautelar em qualquer de suas modalidades. Tal exclusão não trará prejuízo a eventual prestação de medidas de preservação da integrida-de física desses indivíduos por parte dos órgãos de segurança pública.”

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292O § 3º fala que: “O ingresso no programa, as restrições de segurança e de-

mais medidas por ele adotadas terão sempre a anuência da pessoa protegida, ou de seu representante legal.”

O § 4º refere que: “Após ingressar no programa, o protegido ficará obrigado ao cumprimento das normas por ele prescritas.”

O § 5º dispõe: “As medidas e providências relacionadas com os programas serão adotadas, executadas e mantidas em sigilo pelos protegidos e pelos agen-tes envolvidos em sua execução.”

É preciso ressaltar que o art. 2º fala em meios convencionais e quer dizer que a proteção com base nesta lei é uma medida extrema.

O art. 3º dispõe: “As medidas e providências relacionadas com os programas serão adotadas, executadas e mantidas em sigilo pelos protegidos e pelos agen-tes envolvidos em sua execução.”

Exercício

129. Em relação à Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas, analise as assertivas:I – O programa de proteção a vítimas e testemunhas compreen-de, entre outras medidas, ajuda financeira mensal em valor com-patível com os ganhos percebidos pelo indivíduo ou pela família antes da sua admissão, até que possa desenvolver atividade laboral regularmente.II – Estão excluídos da proteção os indivíduos cuja personalidade seja incompatível com as restrições de comportamento exigidas pelo programa de proteção a vítimas e testemunhas, os condenados que estejam cumprindo pena e os submetidos a prisão cautelar, sendo possível eventual medida de preservação de sua integridade física pela polícia.

3. Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas – Parte III

3.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei nº 9.807/99, Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas, continuando a aobrdagem dos pontos mais importantes.

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3.2 Síntese

O art. 4º da Lei aqui estudada dispõe: “Cada programa será dirigido por um conselho deliberativo em cuja composição haverá representantes do Ministé-rio Público, do Poder Judiciário e de órgãos públicos e privados relacionados com a segurança pública e a defesa dos direitos humanos.”

Seu § 1º diz: “A execução das atividades necessárias ao programa ficará a cargo de um dos órgãos representados no conselho deliberativo, devendo os agentes dela incumbidos ter formação e capacitação profissional compatíveis com suas tarefas.”

O § 2º menciona que: “Os órgãos policiais prestarão a colaboração e o apoio necessários à execução de cada programa.”

Nota-se que o art. 4º trata de um órgão que vai dirigir o programa de pro-teção a testemunha.

Dispõe o art. 5º: “A solicitação objetivando ingresso no programa poderá ser encaminhada ao órgão executor: I – pelo interessado; II – por representante do Ministério Público; III – pela autoridade policial que conduz a investigação criminal; IV – pelo juiz competente para a instrução do processo criminal; V – por órgãos públicos e entidades com atribuições de defesa dos direitos humanos.”

Seu § 1º traz: “A solicitação será instruída com a qualificação da pessoa a ser protegida e com informações sobre a sua vida pregressa, o fato delituoso e a coação ou ameaça que a motiva.”

O § 2º menciona: “Para fins de instrução do pedido, o órgão executor pode-rá solicitar, com a aquiescência do interessado: I – documentos ou informações comprobatórios de sua identidade, estado civil, situação profissional, patrimô-nio e grau de instrução, e da pendência de obrigações civis, administrativas, fiscais, financeiras ou penais; II – exames ou pareceres técnicos sobre a sua personalidade, estado físico ou psicológico.”

O § 3º refere: “Em caso de urgência e levando em consideração a proce-dência, gravidade e a iminência da coação ou ameaça, a vítima ou testemunha poderá ser colocada provisoriamente sob a custódia de órgão policial, pelo ór-gão executor, no aguardo de decisão do conselho deliberativo, com comunica-ção imediata a seus membros e ao Ministério Público.”

O art. 6º registra: “O conselho deliberativo decidirá sobre: I – o ingresso do protegido no programa ou a sua exclusão; II – as providências necessárias ao cumprimento do programa.”

Seu parágrafo único dispõe: “As deliberações do conselho serão tomadas por maioria absoluta de seus membros e sua execução ficará sujeita à disponi-bilidade orçamentária.”

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294O art. 7º declara: “Os programas compreendem, dentre outras, as seguintes

medidas, aplicáveis isolada ou cumulativamente em benefício da pessoa pro-tegida, segundo a gravidade e as circunstâncias de cada caso: I – segurança na residência, incluindo o controle de telecomunicações; II – escolta e segurança nos deslocamentos da residência, inclusive para fins de trabalho ou para a pres-tação de depoimentos; III – transferência de residência ou acomodação pro-visória em local compatível com a proteção; IV – preservação da identidade, imagem e dados pessoais; V – ajuda financeira mensal para prover as despesas necessárias à subsistência individual ou familiar, no caso de a pessoa protegi-da estar impossibilitada de desenvolver trabalho regular ou de inexistência de qualquer fonte de renda; VI – suspensão temporária das atividades funcionais, sem prejuízo dos respectivos vencimentos ou vantagens, quando servidor públi-co ou militar; VII – apoio e assistência social, médica e psicológica; VIII – sigilo em relação aos atos praticados em virtude da proteção concedida; IX – apoio do órgão executor do programa para o cumprimento de obrigações civis e adminis-trativas que exijam o comparecimento pessoal.”

Seu parágrafo único menciona que: “A ajuda financeira mensal terá um teto fixado pelo conselho deliberativo no início de cada exercício financeiro.”

Exercício

130. Considere a proposição abaixo e, em seguida, indique a alternativa que contenha o julgamento devido sobre ela:A proteção oferecida pelo programa especial de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas, previsto na Lei Federal nº 9.807/99, terá a duração máxima de dois anos, podendo, em circunstâncias excepcio-nais, perdurando os motivos que autorizaram a admissão do benefi-ciado, a permanência ser prorrogada.

4. Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas – Parte IV

4.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei nº 9.807/99, Lei de Proteção a Ví-timas e Testemunhas, continuando a abordagem dos pontos mais im-portantes.

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4.2 Síntese

O art. 9º da lei estudada dispõe: “Em casos excepcionais e considerando as características e gravidade da coação ou ameaça, poderá o conselho delibe-rativo encaminhar requerimento da pessoa protegida ao juiz competente para registros públicos objetivando a alteração de nome completo.”

O § 1º traz: “A alteração de nome completo poderá estender-se às pessoas mencionadas no § 1º do art. 2º desta Lei, inclusive aos filhos menores, e será precedida das providências necessárias ao resguardo de direitos de terceiros.”

Diz o § 2º: “O requerimento será sempre fundamentado e o juiz ouvirá previamente o Ministério Público, determinando, em seguida, que o procedi-mento tenha rito sumaríssimo e corra em segredo de justiça.”

O § 3º refere que: “Concedida a alteração pretendida, o juiz determinará na sentença, observando o sigilo indispensável à proteção do interessado: I – a averbação no registro original de nascimento da menção de que houve alteração de nome completo em conformidade com o estabelecido nesta Lei, com expressa referência à sentença autorizatória e ao juiz que a exarou e sem a aposição do nome alterado; II – a determinação aos órgãos compe-tentes para o fornecimento dos documentos decorrentes da alteração; III – a remessa da sentença ao órgão nacional competente para o registro único de identificação civil, cujo procedimento obedecerá às necessárias restrições de sigilo.”

O § 4º dispõe que: “O conselho deliberativo, resguardado o sigilo das infor-mações, manterá controle sobre a localização do protegido cujo nome tenha sido alterado.”

Já o § 5º traz: “Cessada a coação ou ameaça que deu causa à alteração, fica-rá facultado ao protegido solicitar ao juiz competente o retorno à situação an-terior, com a alteração para o nome original, em petição que será encaminhada pelo conselho deliberativo e terá manifestação prévia do Ministério Público.”

O art. 10 menciona: “A exclusão da pessoa protegida de programa de pro-teção a vítimas e a testemunhas poderá ocorrer a qualquer tempo: I – por soli-citação do próprio interessado; II – por decisão do conselho deliberativo, em conseqüência de: a) cessação dos motivos que ensejaram a proteção; b) condu-ta incompatível do protegido.

Ainda, o art. 11 dispõe: “A proteção oferecida pelo programa terá a duração máxima de dois anos.” Seu parágrafo único traz que: “Em circunstâncias ex-cepcionais, perdurando os motivos que autorizam a admissão, a permanência poderá ser prorrogada.”

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Exercício

131. Em relação à Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas, analise as assertivas.I – Ao acusado que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colabora-ção tenha resultado identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa, o juiz poderá conceder o perdão judicial, inde-pendentemente dos antecedentes criminais do beneficiário desse perdão.II – O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com in-vestigação e com o processo criminal na recuperação total ou parcial do produto do crime ficará isento de pena.III – A proteção oferecida pelo programa de proteção a vítimas e testemunhas terá a duração máxima de quatro anos, prorrogável por igual período, quando perdurarem os motivos que autorizaram a ad-missão do protegido no programa.

5. Delação Premiada

5.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei nº 9.807/99, Lei de Proteção a Víti-mas e Testemunhas, sendo abordada a delação premiada.

5.2 Síntese

Delação Premiada (art. 13 da Lei nº 9.807/99): é um instituto que consiste na diminuição da pena ou mesmo no perdão judicial do coautor ou partícipe do delito que, com sua confissão espontânea, contribui para que a autoridade identifique os demais coautores ou partícipes do crime, localize a vítima com sua integridade física preservada e auxilie na recuperação do produto do crime, ainda que de forma parcial.

O art. 13 da Lei nº 9.807/99 fala em perdão judicial e consequente extinção da punibilidade, desde que sejam cumpridos os requisitos legais.

O art. 14 da lei em análise traz a hipótese de redução de pena, e não de perdão judicial, isso porque o delator não preenche todos os requisitos do art. 13. Pode o colaborador não ser primário, ou mesmo ter contribuído na locali-

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297zação da vítima com vida, não obstante ferida. A redução deverá estar ligada à medida da culpabilidade do agente, ou seja, quanto maior a censura que recai sobre ele, menor o quantum de redução.

Segundo o STJ, a delação premiada não se comunica aos corréus no con-curso de pessoas (HC nº 33.833, j. 19/08/2004).

Há outras normas no ordenamento jurídico que também versam sobre a delação premiada, como: i) art. 159, § 4º, do CP; ii) art. 16, parágrafo único, da Lei nº 8.137/1990; c) art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 8.072/1990.

Inovação: A Lei nº 12.483, de 8 de setembro de 2011, acrescentou o art. 19-A ao texto da Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas, referindo que: i) o inquérito e o processo criminal terão prioridade quando figurarem indiciado, acusado, vítima ou réu colaboradores, ou mesmo vítima ou testemunha prote-gidas; ii) qualquer que seja o rito processual criminal, o juiz, depois da citação, tomará antecipadamente o depoimento das pessoas incluídas nos programas de proteção, devendo justificar a eventual impossibilidade de fazê-lo no caso concreto ou o possível prejuízo que a oitiva antecipada traria para a instrução criminal.

Exercício

132. (Cespe – 2009 – PC-RN – Delegado de Polícia – adaptada) De acor-do com a Lei nº 9.807/99, que trata de Programas de Proteção a Vítimas e Testemunhas, diga se as alternativas abaixo estão certas ou erradas.I. A solicitação visando ao ingresso nesse programa poderá ser en-

caminhada ao órgão executor pelo interessado, por representan-te do MP, pela autoridade policial que conduz a investigação criminal, pelo juiz competente para a instrução do processo criminal ou por órgãos públicos e entidades com atribuições de defesa dos direitos humanos.

II. Os programas não compreendem ajuda financeira mensal para prover as despesas necessárias à subsistência individual ou fami-liar, se a pessoa protegida estiver impossibilitada de desenvolver trabalho regular.

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Capítulo 27

Lei de Prisão Temporária (Lei nº 7.960/89)

1. Lei nº 7.960/89 – Prisão Temporária – Introdução

1.1 Apresentação

Nesta unidade, o autor fala sobre os tópicos iniciais da Lei nº 7.960/89, que versa sobre a prisão temporária, como os requisitos do art. 1º. Faz referência, igualmente, ao princípio da continuidade normativo-típica.

1.2 SínteseSobre os requisitos necessários para a decretação da prisão temporária: não

há unanimidade acerca da necessidade de cumulação, ou não, dos três incisos do art. 1º da Lei nº 7.960/89. De acordo com a posição majoritária, a prisão temporária somente poderá ser decretada se o agente praticar uma das infra-ções do inciso III, que traz o rol de crimes considerados graves, associada tal

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299prática ou à imprescindibilidade para a investigação policial (inciso I) ou à situação de ausência de residência certa ou identidade inconteste (inciso II).

Há uma certa desatualização do rol do inciso III do art. 1º. O crime de rapto violento, por exemplo, foi revogado pela Lei nº 11.106/2005, mas não saiu do sistema, tendo sido substituído pelo inciso V do § 1º do art. 148 do CP. Da mesma forma, o crime de atentado violento ao pudor foi revogado pela Lei nº 12.015/2009, que acrescentou o que era chamado de atentado violento ao pudor à conduta do estupro (art. 213). É o que se conhece como “princípio da conti-nuidade normativo-típica”, ou seja, o fato continua previsto em lei como crime, porém, com outro nomen iuris. Procede-se a uma mera readequação típica.

Exercício133. (FGV – 2010 – PC/AP – Delegado de Polícia) Relativamente ao

tema prisão temporária, analise as afirmativas a seguir:I. A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da represen-tação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Pú-blico, e terá o prazo de 5 (cinco) dias. A prorrogação dispensará nova decisão judicial, devendo entretanto a autoridade policial colocar o preso imediatamente em liberdade findo o prazo da prorrogação.II. Ao decretar a prisão temporária, o Juiz poderá, de ofício, deter-minar que o preso lhe seja apresentado, solicitar esclarecimentos da autoridade policial e submeter o preso a exame de corpo de delito.III. Os presos temporários deverão permanecer, obrigatoriamente, separados dos demais detentos.Assinale:a) se somente a afirmativa I estiver correta.b) se somente a afirmativa II estiver correta.c) se somente a afirmativa III estiver correta.d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.e) se todas as afirmativas estiverem corretas.

2. Lei nº 7.960/89 – Prisão Temporária – Decretação e Direitos do Preso

2.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei nº 7.960/89, que trata da prisão temporária, sendo abordados a decretação e os direitos do preso.

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2.2 SínteseDe acordo com o art. 2º, caput, da Lei da Prisão Temporária, o juiz não

pode decretá-la de ofício, fazendo-se necessário o requerimento do MP ou a representação do delegado de polícia. Aliás, o posicionamento hoje majoritário é que o juiz, no curso da investigação criminal, não poderá decretar nenhuma modalidade de prisão de ofício, sendo necessário requerimento do MP ou re-presentação da autoridade policial. Esse posicionamento advém da nova reda-ção dada pela Lei nº 12.403/2011 ao art. 282 do CPP.

O juiz deve analisar o pedido do MP ou do delegado de polícia em 24 ho-ras, conforme art. 2º, § 2º, da Lei nº 7.960/89.

O prazo de prisão preventiva é de 5 dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2º, caput, da Lei nº 7.960/89). Em se tratando de crime hediondo, o prazo será de 30 dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2º, § 4º, da Lei nº 8.072/1990).

Vencido o prazo da prisão temporária, o detido deverá ser posto em liber-dade, independentemente de alvará de soltura ou qualquer outra manifestação judicial ou ministerial.

Exercício134. (FCC – 2009 – TJ-MS – Juiz de Direito) A prisão temporária será

decretada pelo Juiz, em face:a) apenas de representação da autoridade policial, e terá prazo de

cinco dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

b) apenas de requerimento do Ministério Público, e terá prazo de cinco dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

c) de representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá, em qualquer caso, prazo de trinta dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e com-provada necessidade.

d) de representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público e terá, em caso de crimes hediondos e equi-parados, prazo de trinta dias, não se admitindo prorrogação.

e) de representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá, na hipótese de crimes hediondos e equiparados, prazo de trinta dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

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3. Lei nº 7.960/89 – Prisão Temporária – Inconstitucionalidade, Constitucionalidade e Tortura

3.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudada a Lei nº 7.960/89, que trata da prisão tem-porária, sendo abordadas a inconstitucionalidade, a constitucionalidade e a tortura.

3.2 Síntese

De acordo com o art. 2º, § 7º, da Lei nº 7.960/89, é possível que o juiz alte-re a natureza da restrição cautelar. Admite-se, portanto, a decretação da prisão preventiva enquanto durar a prisão temporária ou, então, após o término dessa prisão temporária.

Conforme o art. 3º da Lei da Prisão Temporária, os presos temporários de-verão permanecer, obrigatoriamente, separados dos demais detentos. A regra é semelhante àquela prevista no art. 84 da LEP.

O art. 4º da Lei nº 7.960/89 criou mais um tipo penal na Lei nº 4.898: “pro-longar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade” (art. 4º, “i”, da Lei de Abuso de Autoridade).

Conforme o art. 5º da Lei nº 7.960/89: “Em todas as comarcas e seções judi-ciárias haverá um plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão temporária.”

Exercício

135. (Cespe – 2009 – PC-PB – Delegado de Polícia) Considerando a lei que regulamenta a prisão temporária, assinale a opção correta.a) Pode ser decretada a prisão temporária em qualquer fase do IP

ou da ação penal.b) A prisão temporária pode ser decretada por intermédio de re-

presentação da autoridade policial ou do membro do MP, assim como ser decretada de ofício pelo juiz competente.

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302c) O prazo da prisão temporária, que em regra é de 5 dias, prorro-

gáveis por igual período, é fatal e peremptório, de modo que, esgotado, o preso deve ser imediatamente posto em liberdade, não podendo ser a prisão convertida em preventiva.

d) Quando a prisão temporária for requerida pela autoridade poli-cial, por intermédio de representação, não haverá necessidade de prévia oitiva do MP, devendo o juiz decidir o pedido formu-lado no prazo máximo de 24 horas.

e) Não cabe prisão temporária nas contravenções nem em crimes culposos.

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Capítulo 28

Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/2005) e Remoção de Órgãos (Lei nº 9.434/97)

1. Lei nº 11.105/2005 – Lei de Biossegurança

1.1 Apresentação

Nesta unidade, será abordada a Lei de Biossegurança, sendo estudados seus aspectos mais importantes.

1.2 Síntese

O art. 225 da CF/1988 dispõe: “Todos têm direito ao meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualida-de de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Os dois primeiros incisos de seu § 1º trazem que: “Para assegurar a efetivi-dade desse direito, incumbe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os pro-cessos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecos-

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304sistemas; II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.”

O art. 24 da Lei nº 11.105/2005 refere que: “Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5º desta Lei: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.”

Este crime é comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é a sociedade.

O art. 5º dispõe: “É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam embriões inviáveis; ou II – sejam embriões con-gelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.”

Seu § 1º traz: “Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.”

O § 2º dispõe que: “Instituições de pesquisa e serviços de saúde que rea-lizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.”

O § 3º diz que: “É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.“

O art. 25 dispõe: “Praticar engenharia genética em célula germinal hu-mana, zigoto humano ou embrião humano: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”

O art. 26 versa sobre o crime que trata de clonagem humana e traz que: “Realizar clonagem humana: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.”

O art. 27 diz: “Liberar ou descartar OGM no meio ambiente, em desacor-do com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”

O § 2º traz uma majorante: “Agrava-se a pena: I – de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se resultar dano à propriedade alheia; II – de 1/3 (um terço) até a metade, se resultar dano ao meio ambiente; III – da metade até 2/3 (dois ter-ços), se resultar lesão corporal de natureza grave em outrem; IV – de 2/3 (dois terços) até o dobro, se resultar a morte de outrem.”

Observa-se que OGM significa organismo geneticamente modificado e CTNBio significa Comissão Técnica Nacional de Biossegurança.

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305O art. 28 dispõe: “Utilizar, comercializar, registrar, patentear e licenciar

tecnologias genéticas de restrição do uso: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cin-co) anos, e multa.”

Finalmente, diz o art. 29: “Produzir, armazenar, transportar, comercializar, importar ou exportar OGM ou seus derivados, sem autorização ou em desa-cordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização: Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.”

Exercício

136. Assinale a opção correta no que se refere à clonagem humana:a) A clonagem humana é crime previsto no Código Penal.b) A clonagem humana deixa de ser crime se for realizada para

salvar um enfermo.c) A utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões

humanos produzidos por fertilização in vitro é sempre permiti-da se houver consentimento dos genitores e os embriões forem inviáveis.

d) A clonagem humana é crime tratado pela Lei de Biosseguranca.

2. Lei nº 9.434/97 – Remoção de Órgãos – Introdução

2.1 Apresentação

Nesta unidade, será abordada a Lei nº 9.434/97, sendo estudados seus aspectos mais importantes.

2.2 SínteseA Lei nº 9.434/97 dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do

corpo humano, para fins de transplante e tratamento e dá outras providências.A CF/1988, em seu art. 199, refere que: “A assistência à saúde é livre à ini-

ciativa privada.” Porém, o fundamento principal está disposto no § 4º do mes-mo art., que diz: “A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de san-gue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.”

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306O art. 1º da Lei nº 9.434/97 dispõe: “A disposição gratuita de tecidos, órgãos

e partes do corpo humano, em vida ou post mortem, para fins de transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei.”

Seu parágrafo único refere que: “Para os efeitos desta Lei, não estão com-preendidos entre os tecidos a que se refere este artigo o sangue, o esperma e o óvulo.”

O art. 2º diz que: “A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, ór-gãos ou partes do corpo humano só poderá ser realizada por estabelecimento de saúde, público ou privado, e por equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados pelo órgão de gestão nacional do Sistema Único de Saúde.”

Traz seu parágrafo único: “A realização de transplantes ou enxertos de te-cidos, órgãos ou partes do corpo humano só poderá ser autorizada após a reali-zação, no doador, de todos os testes de triagem para diagnóstico de infecção e infestação exigidos para a triagem de sangue para doação, segundo dispõem a Lei nº 7.649, de 25 de janeiro de 1988, e regulamentos do Poder Executivo.”

Transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na retirada de órgão ou parte do corpo humano vivo ou morto e sua reposição, para fins terapêuti-cos, em outro ser humano.

Quando receptor e doador possuem caracteres hereditários diferentes, fala--se em alotransplante ou homotransplante. Por outro lado, quando temos a transferência de um órgão ou tecido para outro lugar da mesma pessoa, temos o autotransplante.

A morte encefálica prevista no art. 3º desta Lei deverá ser constatada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Con-selho Federal de Medicina.

O art. 14 dispõe: “Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições desta Lei: Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa.”

O § 1º traz que: “Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe: Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa.”

Diz o § 2º: “Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofen-dido: I – incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II – perigo de vida; III – debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV – aceleração de parto: Pena – reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa.”

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Exercício

137. A respeito dos crimes de remoção ilegal de órgãos, tecidos e partes do corpo humano, analise a assertiva.A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas não identificadas, mediante autorização do membro do MP competente, é fato atípico.

3. Lei nº 9.434/97 – Remoção de Órgãos – Crimes em Espécie

3.1 Apresentação

Nesta unidade, aqui estudado será abordada a Lei nº 9.434/97, no qual daremos continuidade ao estudo dos seus aspectos mais importantes.

3.2 Síntese

O art. 15 dispõe: “Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano: Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-multa.”

Seu parágrafo único traz que: “Incorre na mesma pena quem promove, intermedeia, facilita ou aufere qualquer vantagem com a transação.”

Temos aqui o dolo como elemento subjetivo, não havendo punição na for-ma culposa. Ainda, o crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.

Traz o art. 16: “Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos ou partes do corpo humano de que se tem ciência terem sido obtidos em desa-cordo com os dispositivos desta Lei: Pena – reclusão, de um a seis anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.”

O art. 17 dispõe: “Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do cor-po humano de que se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei: Pena – reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, de 100 a 250 dias-multa.”

Temos aqui uma infração penal de menor potencial ofensivo, sendo o rito o previsto na Lei nº 9.099/95.

É preciso ressaltar que na modalidade plurissubsistente, o delito admite a forma tentada.

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308O art. 17, ao contrário dos dois crimes anteriores, somente faz referência a

partes do corpo humano.Ainda, o tipo fala em recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do

corpo humano de que se tem ciência. Desta forma, o elemento subjetivo será sempre o dolo direto.

O art. 18 diz: “Realizar transplante ou enxerto em desacordo com o dispos-to no art. 10 desta Lei e seu parágrafo único: Pena – detenção, de seis meses a dois anos.”

O art. 10 teve sua redação modificada em 2001 e dispõe: “O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor, assim inscrito em lista única de espera, após aconselhamento sobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento.”

Seu § 1º refere: “Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida da sua vontade, o consentimento de que trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais.”

O § 2º diz: A inscrição em lista única de espera não confere ao pretenso receptor ou à sua família direito subjetivo a indenização, se o transplante não se realizar em decorrência de alteração do estado de órgãos, tecidos e partes, que lhe seriam destinados, provocado por acidente ou incidente em seu transporte.”

O art. 19 refere: “Deixar de recompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto con-digno, para sepultamento ou deixar de entregar ou retardar sua entrega aos familiares ou interessados: Pena – detenção, de seis meses a dois anos.”

Diz o art. 20: “Publicar anúncio ou apelo público em desacordo com o disposto no art. 11: Pena – multa, de 100 a 200 dias-multa.”

Exercício

138. Julgue os itens abaixo, com referência à bioética:I – A Lei nº 9.434/97 regulamenta a remoção de órgãos, tecido e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. Um médico que realiza um enxerto, sabendo que a doação do tecido foi realizada contra a vontade do doador, está cometendo um crime, mesmo que não tenha responsabilidade direta na remoção do tecido.II – Uma pessoa sem-teto, não identificada, dá entrada em um hospi-tal, vítima de atropelamento, e falece após quatro dias de internação no CTI, onde seu estado clínico progrediu de coma a morte cere-bral. A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo dessa pessoa seria permitida sob os termos Lei nº 9.434/97, que re-gulamenta a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento.

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Capítulo 29

Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003)

1. Introdução

1.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o Estatuto do Idoso, sendo feita aqui intro-dução sobre o assunto.

1.2 Síntese

A CF determina, a respeito das pessoas idosas, em seu art. 230: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, asseguran-do sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.”

O § 1º refere que: “Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares.”

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310O § 2º diz que: “Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratui-

dade dos transportes coletivos urbanos.”O Estatuto do Idoso dispõe em seu art. 1º: “É instituído o Estatuto do Idoso,

destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou supe-rior a 60 (sessenta) anos.”

O art. 94 do mesmo diploma legal traz: “Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica--se o procedimento previsto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.”

O que o legislador pretendeu aqui foi dar maior proteção ao idoso, tor-nando célere o procedimento, com a utilização do rito sumaríssimo da Lei nº 9.099/95, desde que a vítima seja idosa e que a pena máxima não ultrapasse quatro anos.

Sobre a ação penal, diz o art. 95: “Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.”

O art. 96 dispõe: “Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.”

O § 1º traz: “Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menos-prezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.”

O § 2º refere que: “A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente.”

O art. 97 traz: “Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê--lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.”

Há uma causa de aumento no parágrafo único que diz: “A pena é aumen-tada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e tripli-cada, se resulta a morte.”

O art. 98 trata do abandono do idoso e dispõe: “Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.”

Nota-se que o crime é comum na primeira figura, mas se transforma em próprio na segunda figura.

Diz o art. 99: “Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de

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311alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando--o a trabalho excessivo ou inadequado: Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.”

Seu § 1º dispõe: “Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.”

O § 2º traz: “Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.”

Exercício

139. Relativamente ao Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), analise as afirmativas a seguir: I – O Estatuto do Idoso é destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 65 (sessenta e cinco) anos. II – Os crimes definidos no Estatuto do Idoso são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal. III – Aos crimes previstos no Estatuto do Idoso, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 2 (dois) anos, aplica-se o pro-cedimento previsto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. Assinale: a) se somente a afirmativa I estiver correta. b) se somente a afirmativa II estiver correta. c) se somente a afirmativa III estiver correta. d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. e) se todas as afirmativas estiverem corretas.

2. Idade, Sursis, Prescrição, Precedentes e Sujeito Passivo

2.1 Apresentação

Nesta unidade será estudado o Estatuto do Idoso, sendo feita análise da idade, do sursis, da prescrição, dos precedentes e do sujeito passivo.

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2.2 Síntese

Conforme já visto anteriormente, o art. 1º fala na idade igual ou superior a sessenta anos.

O art. 65 do CP traz: “São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I – ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença.”

Quanto ao sursis, o art. 77, § 2º, do CP dispõe: “A execução da pena priva-tiva de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.”

Em relação à prescrição, o art. 115 do CP traz: “São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.”

O art. 100 do Estatuto do Idoso traz que: “Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa: I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade; II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho; III – recusar, retardar ou dificultar atendimen-to ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa; IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei; V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.”

Todas as figuras são de menor potencial ofensivo, razão pela qual deverá ser oferecida transação penal ao autor do fato. Deverá, ainda, ser observado o rito sumaríssimo da Lei nº 9.099/95.

O art. 101 dispõe: “Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo mo-tivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.”

O art. 102 traz: “Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qual-quer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finali-dade: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.”

O art. 103 refere: “Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar procuração à entidade de atendimento: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.” Trata-se de crime próprio e o objeto material é a própria pessoa idosa.

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Exercício

140. Analise as seguintes afirmativas sobre alguns crimes.I – Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou de-pendências e elevadores ou escada de acesso a estes.II – Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a pri-são ou detenção de qualquer pessoa.III – Negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho.Podemos afirmar que todos os crimes acima descritos estão previstos nas Leis:a) de Abuso de Autoridade e na de Proteção ao Idoso.b) Contra o Racismo, na Lei da Anistia e na Lei de Proteção ao

Idoso. c) Contra o Racismo, na Lei sobre Abuso de Autoridade e na Lei

de Proteção ao Idoso. d) de Proteção ao Idoso, na Lei sobre Abuso de Autoridade e na Lei

Contra Tortura.

3. Obrigações da Sociedade e Prioridades

3.1 Apresentação

Nesta unidade será estudado o Estatuto do Idoso, sendo feita análise a respeito das obrigações da sociedade e prioridades.

3.2 SínteseO art. 3º do Estatuto do Idoso dispõe: “É obrigação da família, da comuni-

dade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prio-ridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.”

Seu parágrafo único diz: “A garantia de prioridade compreende: I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos

públicos e privados prestadores de serviços à população; II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas

específicas; III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas

com a proteção ao idoso;

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314IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e conví-

vio do idoso com as demais gerações; V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em

detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;

VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos;

VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de in-formações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhe-cimento;

VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais.

IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda.”O art. 104 traz outro crime em espécie: “Reter o cartão magnético de conta

bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem como qual-quer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimen-to de dívida: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.”

O art. 105 traz: “Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso: Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.”

Diz o art. 106: “Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a ou-torgar procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremen-te: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.”

O art. 107 dispõe: “Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração: Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.”

O art. 108 diz: “Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discer-nimento de seus atos, sem a devida representação legal: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.”

Por fim, diz o art. 109: “Impedir ou embaraçar ato do representante do Mi-nistério Público ou de qualquer outro agente fiscalizador: Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.”

Exercício

141. A respeito dos crimes praticados contra a criança e o adolescente, contra o meio ambiente e daqueles previstos no Estatuto do Idoso, julgue o item a seguir.Constitui crime de menor potencial ofensivo abandonar injustifica-damente pessoa idosa em hospital ou casa de saúde.

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Capítulo 30

Lei de Trânsito (Lei nº 9.503/97)

1. Lei de Trânsito – Considerações Iniciais e Conceitos

1.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o Código Brasileiro de Trânsito, sendo feita análise a respeito de conceitos trazidos pela lei.

1.2 Síntese

No Código Penal, há a pena privativa de liberdade (prisão) e pena restritiva de direito (substitutiva da pena privativa de liberdade). No Código de Trânsito, existe uma pena restritiva autônoma.

Outra novidade da lei diz respeito à possibilidade do legislador afastar uma regra geral de competência. Quando se tem uma infração de menor potencial

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316ofensivo, segue-se o rito do Juizado Especial Criminal. A lei legislação de trân-sito excepciona esta regra geral e traz que em caso de prática de lesão corporal culposa no trânsito é preciso que se instaure inquérito policial e não termo circunstanciado.

É preciso entender o conceito de trânsito, previsto no § 1º do art. 1º da lei estudada:

“§ 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e ani-mais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, para-da, estacionamento e operação de carga ou descarga.”

Como conceito de veículo automotor tem-se: todo veículo a motor de pro-pulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utili-zados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elé-trico).

A Lei nº 12.760/12 trouxe um conceito importante, qual seja, o conceito de etilômetro. Trata-se do aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar alveolar.

2. Adulteração de Sinal de Veículo Automotor

2.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o Código Brasileiro de Trânsito, sendo feita análise a respeito dos crimes de trânsito previstos no Código Penal.

2.2 Síntese

O art. 311 do Código Penal tem a seguinte redação:“Art. 311. Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal iden-

tificador de veículo automotor, de seu componente ou equipamento:Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa.”Os componentes e equipamentos foram inseridos no dispositivo, pois algu-

mas pessoas modificam muito seus veículos, tirando algumas características de identificação.

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal entendeu em um julgado que a conduta de alterar a placa de veículo automotor mediante colocação de fita adesiva é típica. Desta forma, é possível observar que existem a tipicidade formal e a tipicidade material.

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317A defesa alegou que a real intenção não seria praticar um crime, mas sim

fugir de rodízio, queria alegar que o dolo não era criminoso.Acerca da alegação, entendeu o Supremo Tribunal Federal que o art. 311

do Código Penal não pede em momento nenhum uma finalidade específica.

3. Disposições Gerais dos Crimes de Trânsito

3.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o Código Brasileiro de Trânsito, sendo feita análise acerca das disposições gerais dos crimes de trânsito.

3.2 Síntese

O art. 291 do Código de Trânsito Brasileiro dispõe:“Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, pre-

vistos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.”

O § 1º traz uma exceção muito cobrada em concursos:“§ 1º Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto

nos arts. 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver:

I – sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência;

II – participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição auto-mobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;

III – transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora).”

Nota-se que há três exceções que, se acontecerem no caso concreto, o sujei-to não recebe os benefícios da Lei nº 9.099/95.

Outro ponto decorrente da conclusão da lei é que é feito inquérito policial quando o sujeito é conduzido ao Distrito Policial.

O art. 292 também traz uma exceção que existe somente no Código de Trânsito:

“Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilita-ção para dirigir veículo automotor pode ser imposta como penalidade princi-pal, isolada ou cumulativamente com outras penalidades.”

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318Dispõe o art. 293:“Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a per-

missão ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos.”

O § 1º traz a seguinte redação:“§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado

a entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.”

O § 2º estabelece:“§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão

ou a habilitação para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sen-tenciado, por efeito de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional.”

4. Decisão Cautelar do Juiz, Reincidência e Multa Reparatória

4.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o Código Brasileiro de Trânsito, sendo feita análise acerca da decisão cautelar que pode ser proferida pelo juiz, da reincidência e também da multa reparatória.

4.2 Síntese

O Código de Trânsito Brasileiro traz a seguinte redação no art. 294:“Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo

necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda me-diante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.”

É preciso observar que o Delegado representa, o Ministério requer, mas quem decide é o juiz.

O parágrafo único dispõe: “Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida caute-

lar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo.”

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319Diante de ausência de regulamentação no CTB, buscam-se outras informa-

ções em outros diplomas normativos.O art. 296 do CTB estabelece em sua redação:“Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Códi-

go, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis.”

Nota-se que o dispositivo obriga o juiz a suspender habilitação de quem é reincidente.

Reincidente é o sujeito que pratica um crime, é condenado definitivamen-te, com trânsito em julgado, e pratica novamente uma infração de trânsito. Neste momento, o indivíduo já é reincidente e, assim, deve o juiz aplicar a sanção prevista no art. 296 do CTB.

A multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito judicial, em favor da vítima. Assim, aqui a quantia não vai para o Estado, mas sim para a víti-ma daquela infração. Ressalta-se que caso a vítima tenha falecido, a quantia irá para os sucessores, sendo respeitada a ordem sucessória prevista no Código Civil.

A quantificação do valor a ser pago não é simples, uma vez que a indeniza-ção trabalha com os danos materiais, como gastos com hospital, por exemplo, e lucros cessantes. Contudo, o juiz aplicará a multa reparatória de acordo com previsão do art. 49 do Código Penal.

5. Circunstâncias que Agravam as Penas e Fuga do Local do Crime

5.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o Código Brasileiro de Trânsito, sendo feita análise acerca das circunstâncias que agravam as penas e fuga do local do crime.

5.2 Síntese

O art. 298 do Código de Trânsito Brasileiro traz um rol de circunstâncias que sempre agravam as penalidades:

“Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos cri-mes de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:

I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros;

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320II – utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;III – sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;IV – com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria

diferente da do veículo;V – quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o

transporte de passageiros ou de carga;VI – utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou

características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante;

VII – sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres.”

Quanto ao inciso II, faz-se necessário observar que a causa que agrava a pena não incide no art. 311 do Código Penal.

O art. 301 do Código de Trânsito Brasileiro tem o seguinte texto:“Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que

resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.”

É preciso observar que se houver atropelamento e a vítima morrer instanta-neamente, a jurisprudência traz que de qualquer forma o sujeito deve estacio-nar o veículo, ligar para o número de emergência e aguardar no local.

Existe uma situação em que o motorista, ao atropelar o pedestre, corre o ris-co de ser linchado pela população. Neste caso, deve ser utilizado um instituto do Direito Penal denominado inexigibilidade de conduta diversa, uma vez que se o motorista permanecesse no local seria linchado.

6. Crimes em Espécie – Arts. 302 a 305 do CTB

6.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o Código Brasileiro de Trânsito, sendo feita análise acerca dos crimes em espécie (homicídio culposo e lesão corporal culposa, dentre outros).

6.2 Síntese

Culpa é a prática de determinado ato, que acarreta em um resultado jurídi-co, por imprudência, negligência ou imperícia.

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321Os arts. 302 e 303 do Código de Trânsito Brasileiro tratam dos crimes cul-

posos (homicídio e lesão corporal). Se o sujeito cometer homicídio culposo no trânsito, terá como pena dois a

quatro anos de detenção e suspensão da habilitação.Ainda, no homicídio culposo, há causas de aumento de pena, de acordo

com o parágrafo único do art. 302 do CTB: “Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo

automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:I – não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;II – praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;III – deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à

vítima do acidente;IV – no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo

de transporte de passageiros.”A lesão corporal culposa está prevista no artigo seguinte, contendo a seguin-

te redação:“Penas – detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se

obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”Dispõe o parágrafo único do referido dispositivo:“Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer

qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.”O art. 304 do Código de Trânsito estabelece:“Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar

imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa cau-sa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:

Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.”

Dispõe o parágrafo único do artigo supramencionado:“Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do

veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.”

Por fim, o art. 305 dispõe:“Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir

à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída:Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.”Tal dispositivo traz em sua parte inicial um elemento subjetivo do injusto, o

que alguns chamam de dolo específico, ou seja, se o sujeito se afasta do local do acidente para não responder por processo penal ou para não pagar indenização à vítima ou a seus familiares, incorrerá neste artigo.

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7. Crimes em Espécie – Arts. 306 e 307 do CTB

7.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o Código Brasileiro de Trânsito, sendo feita análise acerca dos crimes em espécie, mais precisamente aqueles previstos nos arts. 306 e 307 do CTB.

7.2 Síntese

O art. 307 do Código de Trânsito Brasileiro trata do crime de violar a sus-pensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veícu-lo automotor. A pena é detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.

Se o sujeito estiver com habilitação ou permissão suspensa, se continuar a dirigir e for pego em uma blitz ou preso em flagrante dirigindo sem a permissão ou habilitação, praticará o tipo descrito acima.

Dispõe o parágrafo único do art. 307:“Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de

entregar, no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.”

O art. 306 do CTB traz a redação do crime de embriaguez ao volante:“Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora al-

terada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:

Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”

No intuito de impedir as pessoas de conduzirem seus veículos embriagadas, o legislador mudou o art. 306 e instituiu que seria considerada embriagada a pessoa que contivesse 0,6 decigramas de álcool por litro de sangue.

Trata-se de um crime de perigo e este perigo é presumido pelo legislador. Assim, se for ingerida esta quantidade e o sujeito dirigiu, não importa se houve dano, o simples perigo já é crime.

Ocorre que para que a quantia seja observada, para que se quantifique, é preciso que seja feita uma perícia, uma prova. No entanto, o legislador esque-ceu-se do princípio nemo tenetur se detegere, ou seja, ninguém é obrigado a produzir prova contra si próprio.

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323Neste sentido, se o sujeito não produzir a prova, não poderá ser condenado

criminalmente. Desta forma, para corrigir esta falha, foi editada a “Lei Seca”. O § 2º do art. 306 tem a seguinte redação:“§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante tes-

te de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.”

8. Crimes em Espécie – Arts. 308 a 312 do CTB

8.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o Código Brasileiro de Trânsito, sendo feita análise acerca dos crimes em espécie, mais precisamente aqueles previstos nos arts. 308 a 312 do CTB.

8.2 Síntese

O art. 308 do Código de Trânsito Brasileiro traz a seguinte redação:“Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de

corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autorida-de competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada:

Penas – detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”

Nota-se que é um crime de perigo concreto, o dano potencial exige uma situação em que alguém ficou exposto ao risco desta competição.

O art. 309 surgiu e revogou tacitamente a contravenção penal do art. 32. Estabelece o art. 309:

“Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Per-missão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:

Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.”O art. 310 dispõe:“Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a

pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir sus-penso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança:

Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.”

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324O art. 311 traz a seguinte redação:“Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas pro-

ximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de pas-sageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concen-tração de pessoas, gerando perigo de dano:

Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.”O art. 312 estabelece:“Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico

com vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz:

Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.”

Exercício

142. A respeito dos crimes de trânsito, é correto afirmar:a) prova-se a embriaguez ao volante exclusivamente com aferição

de 0,6 dg de álcool por litro de sangue;b) o homicídio no trânsito não é da competência do júri;c) o valor da multa reparatória vai para o Fundo Penitenciário;d) a suspensão da permissão para dirigir é pena autônoma.

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Capítulo 31

Estatuto da Igualdade Racial e Racismo

1. Estatuto da Igualdade Racial – Aspectos Introdutórios

1.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratados os aspectos mais importantes a respeito do Estatuto da Igualdade Racial.

1.2 Síntese

A Lei nº 12.288/10, denominada Estatuto da Igualdade Racial, foi aprovada como uma tentativa do Estado em resgatar parte da cultura deixada de lado.

A lei fala em raça, em população negra e para que se possa compreender o alcance das expressões, é preciso trabalhar com o conceito trazido pela le-gislação.

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326Trata-se de uma lei destinada a garantir à população negra a efetivação da

igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

O parágrafo único do art. 1º dispõe acerca de alguns conceitos, de grande importância para este estudo.

Para esta lei, discriminação racial significa toda distinção, exclusão, restri-ção ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fun-damentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada.

Desigualdade racial é toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica.

O inciso III trata da desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais.

População negra é o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e par-das, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga.

Políticas públicas são as ações, as iniciativas e os programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais.

Por fim, as ações afirmativas são os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades.

2. Estatuto da Igualdade Racial – Políticas Públicas e Ações Afirmativas

2.1 Apresentação

Nesta unidade, serão tratadas as políticas públicas e as ações afirmativas.

2.2 Síntese

O art. 4º do Estatuto da Igualdade Racial dispõe:“Art. 4º A participação da população negra, em condição de igualdade de

oportunidade, na vida econômica, social, política e cultural do País será promo-vida, prioritariamente, por meio de:

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327I – inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social;II – adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa;III – modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado

enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas decorrentes do precon-ceito e da discriminação étnica;

IV – promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à dis-criminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as suas manifestações individuais, institucionais e estruturais;

V – eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica nas esferas pública e privada;

VI – estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos públicos;

VII – implementação de programas de ação afirmativa destinados ao en-frentamento das desigualdades étnicas no tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça, e outros.”

De acordo com o parágrafo único, os programas de ação afirmativa cons-tituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar as distorções e desigual-dades sociais e demais práticas discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada, durante o processo de formação social do País.

3. Tutela à Saúde da População Negra – Tutela do Patrimônio Cultural

3.1 Apresentação

Nesta unidade, serão estudadas a tutela à saúde da população negra e tutela do patrimônio cultural.

3.2 Síntese

O art. 6º traz que o direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos.

Dispõe o § 1º que o acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saú-de (SUS) para promoção, proteção e recuperação da saúde da população negra

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será de responsabilidade dos órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e municipais, da administração direta e indireta.

O § 2º estabelece que o poder público garantirá que o segmento da população negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado sem discriminação.

O art. 7º tem a seguinte redação:“Art. 7º O conjunto de ações de saúde voltadas à população negra constitui

a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, organizada de acor-do com as diretrizes abaixo especificadas:

I – ampliação e fortalecimento da participação de lideranças dos movimen-tos sociais em defesa da saúde da população negra nas instâncias de participa-ção e controle social do SUS;

II – produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde da po-pulação negra;

III – desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educa-ção para contribuir com a redução das vulnerabilidades da população negra.”

O art. 8º traz os objetivos da Política Nacional de Saúde Integral da Popu-lação Negra:

“Art. 8º Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra:

I – a promoção da saúde integral da população negra, priorizando a redu-ção das desigualdades étnicas e o combate à discriminação nas instituições e serviços do SUS;

II – a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do SUS no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos dados desagregados por cor, etnia e gênero;

III – o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da população negra;

IV – a inclusão do conteúdo da saúde da população negra nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde;

V – a inclusão da temática saúde da população negra nos processos de for-mação política das lideranças de movimentos sociais para o exercício da participação e controle social no SUS.”

O parágrafo único traz uma peculiaridade, dispondo que os moradores das comunidades de remanescentes de quilombos serão beneficiários de incentivos específicos para a garantia do direito à saúde, incluindo melhorias nas condi-ções ambientais, no saneamento básico, na segurança alimentar e nutricional e na atenção integral à saúde.

Dispõe o art. 9º do mesmo diploma legal:“Art. 9º A população negra tem direito a participar de atividades educacio-

nais, culturais, esportivas e de lazer adequadas a seus interesses e condições, de modo a contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e da socie-dade brasileira.”

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329Patrimônio cultural é o conjunto de fatos históricos que contribuem para

a identidade brasileira. Exemplo: escravidão, chegada dos imigrantes, algumas guerras, dentre outros.

O art. 10 traz a seguinte redação:“Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9º, os governos federal,

estaduais, distrital e municipais adotarão as seguintes providências:I – promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da população ne-

gra ao ensino gratuito e às atividades esportivas e de lazer;II – apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço para promoção

social e cultural da população negra;III – desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive nas escolas, para

que a solidariedade aos membros da população negra faça parte da cultura de toda a sociedade;

IV – implementação de políticas públicas para o fortalecimento da juven-tude negra brasileira.”

Quanto à educação, nos estabelecimentos de ensino fundamental e de en-sino médio, públicos e privados, é obrigatório o estudo da história geral da África e da história da população negra no Brasil, observado o disposto na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

Nos termos do § 1º, os conteúdos referentes à história da população negra no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do País.

O § 2º traz que o órgão competente do Poder Executivo fomentará a for-mação inicial e continuada de professores e a elaboração de material didático específico para o cumprimento do disposto no caput deste artigo.

Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos responsáveis pela educação incentivarão a participação de intelectuais e representantes do mo-vimento negro para debater com os estudantes suas vivências relativas ao tema em comemoração (§ 3º).

Dispõe o art. 12 que os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento à pesquisa e à pós-graduação poderão criar incentivos a pesquisas e a programas de estudo voltados para temas referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões pertinentes à população negra.

4. Aspecto Cultural da População Negra

4.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o aspecto cultural da população negra.

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4.2 Síntese

O art. 17 da lei aqui estudada traz a seguinte redação:“Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das sociedades ne-

gras, clubes e outras formas de manifestação coletiva da população negra, com trajetória histórica comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos ter-mos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.”

Ainda, é assegurado aos remanescentes das comunidades dos quilombos o direito à preservação de seus usos, costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção do Estado.

A preservação dos documentos e dos sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos, tombados nos termos do § 5º do art. 216 da Constituição Federal, receberá especial atenção do poder público.

O art. 19 trata das celebridades, dispondo que o poder público incentivará a celebração das personalidades e das datas comemorativas relacionadas à tra-jetória do samba e de outras manifestações culturais de matriz africana, bem como sua comemoração nas instituições de ensino públicas e privadas.

O art. 20 dispõe que o poder público garantirá o registro e a proteção da capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de natureza imaterial e de formação da identidade cultural brasileira, nos termos do art. 216 da Consti-tuição Federal.

O parágrafo único traz que o poder público buscará garantir, por meio dos atos normativos necessários, a preservação dos elementos formadores tradicio-nais da capoeira nas suas relações internacionais.

O art. 21 dispõe que o poder público fomentará o pleno acesso da população negra às práticas desportivas, consolidando o esporte e o lazer como direitos sociais.

O art. 22 reconhece a capoeira como um desporto nacional e a atividade de capoeirista será reconhecida em todas as modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território nacional. Ainda, é facultado o ensino da capoeira nas ins-tituições públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos.

5. Direito à Liberdade de Consciência e de Crença e ao Exercício de Cultos Religiosos

5.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o direito à liberdade de consciência e de crença e ao exercício de cultos religiosos.

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5.2 Síntese

O art. 23 dispõe que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

Dispõe o art. 24 do mesmo diploma legal:“Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercí-

cio dos cultos religiosos de matriz africana compreende:I – a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à religiosidade

e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins;

II – a celebração de festividades e cerimônias de acordo com preceitos das respectivas religiões;

III – a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições be-neficentes ligadas às respectivas convicções religiosas;

IV – a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e ma-teriais religiosos adequados aos costumes e às práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas vedadas por legislação específica;

V – a produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana;

VI – a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de natureza privada para a manutenção das atividades religiosas e sociais das respectivas religiões;

VII – o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das respectivas religiões;

VIII – a comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância religiosa nos meios de comunica-ção e em quaisquer outros locais.”

6. Acesso à Terra e à Moradia

6.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o acesso à terra e à moradia.

6.2 Síntese

O art. 27 do Estatuto dispõe que o poder público elaborará e implementará políticas públicas capazes de promover o acesso da população negra à terra e às atividades produtivas no campo.

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332Neste sentido, nos termos do artigo seguinte, para incentivar o desenvol-

vimento das atividades produtivas da população negra no campo, o poder pú-blico promoverá ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao financiamento agrícola.

O art. 29 prevê que serão assegurados à população negra a assistência téc-nica rural, a simplificação do acesso ao crédito agrícola e o fortalecimento da infraestrutura de logística para a comercialização da produção.

O poder público promoverá a educação e a orientação profissional agrícola para os trabalhadores negros e para as comunidades negras rurais, conforme dispõe o art. 30 desta lei.

O art. 31 destaca os quilombos, estabelecendo que aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

O art. 32 traz que o Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá polí-ticas públicas especiais voltadas para o desenvolvimento sustentável dos rema-nescentes das comunidades dos quilombos, respeitando as tradições de prote-ção ambiental das comunidades.

7. Direito ao Trabalho

7.1 Apresentação

Nesta unidade, será estudado o direito ao trabalho.

7.2 Síntese

A população negra não possui um regramento jurídico só para eles, mas a preocupação do Estatuto se dá no sentido da inclusão da população negra no mercado de trabalho.

O poder público promoverá ações que assegurem igualdade de oportunida-de no mercado de trabalho, mediante medidas que implementem a promoção da igualdade na contratação do setor público, por exemplo.

Neste sentido, é possível a criação de um concurso público em que parte dos candidatos aprovados pertença à população negra.

Ressalta-se que as ações para que se possa nivelar a igualdade assegurarão o Princípio da Proporcionalidade de gênero entre os beneficiários.

Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena produção, nos meios rural e urbano, com ações afirmativas para mulheres negras, nos termos do § 5º do art. 39 deste diploma legal.

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333Ainda, de acordo com o § 6º, o poder público promoverá campanhas de

sensibilização contra a marginalização da mulher negra no trabalho artístico e cultural.

O poder público promoverá ações com o objetivo de elevar a escolaridade e a qualificação profissional nos setores da economia que contem com alto índice de ocupação por trabalhadores negros de baixa escolarização (§ 7º).

O art. 41 estabelece que as ações de emprego e renda, promovidas por meio de financiamento para constituição e ampliação de pequenas e médias empre-sas e de programas de geração de renda, contemplarão o estímulo à promoção de empresários negros.

Por fim, a lei usa a expressão turismo étnico, quer dizer, o poder público estimulará as atividades voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais, monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os costumes da popu-lação negra.

8. Disposições Finais

8.1 Apresentação

Nesta unidade, serão analisadas alterações que o Estatuto fez em outras leis.

8.2 Síntese

O Estatuto da Igualdade Racial fez uma releitura do ordenamento jurídico brasileiro, entendendo que algumas legislações em vigor precisavam de alguns ajustes.

O art. 58 desta lei tem a seguinte redação:“Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem outras em prol da

população negra que tenham sido ou venham a ser adotadas no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.”

Nos termos do art. 59, o Poder Executivo Federal criará instrumentos para aferir a eficácia social das medidas previstas nesta Lei e efetuará seu moni-toramento constante, com a emissão e a divulgação de relatórios periódicos, inclusive pela rede mundial de computadores.

Os arts. 60 e seguintes deste diploma legal aqui estudado trazem as modifi-cações feitas em outras leis.

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Exercício

143. Assinale verdadeiro ou falso: Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, deven-do o Estado emitir-lhes os respectivos títulos.

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Gabarito

1. Em regra não, conforme enten-dimento do STJ e STF. Porém, em fevereiro de 2012, a Primei-ra Turma do STF entendeu pela possibilidade da aplicação do Princípio da Insignificância no art. 28 da Lei de Drogas.

2. O Princípio da Proporcionalida-de na Lei de Drogas e de suas respectivas sanções deve ser analisado sob duas perspectivas: a perspectiva da proibição no excesso de punição, bem como a perspectiva acerca da falta de rigor na punição.

3. Não. Trata-se de um caso de norma penal em branco e o conceito de drogas está comple-

mentado pela Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.

4. O legislador possui competên-cia constitucional para fazê-lo, mas isso não significa que o resultado será eficiente. Signifi-ca uma tentativa de otimizar a persecução penal, sempre res-peitando os direitos e garantias constitucionais.

5. Seguindo os trâmites legais, sen-do um produto ou substância que cause dependência, pode ser incluída nova droga, desde que o seja pela Portaria nº 344/1998 do Ministério da Saúde.

6. Se dentro da semente hou-ver o princípio ativo da droga,

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336caracteriza-se o tráfico. Se não

houver, não haverá o crime de tráfico de drogas.

7. A venda em si não estará con-figurada por crime impossível, por obra do agente provocador, mas há outras condutas tipifica-das no art. 33 que podem e vão ocasionar a prisão em flagrante e a consequente responsabilida-de penal.

8. Um simples laudo de constata-ção para verificar a natureza e a quantidade da droga.

9. Letra D.10. Depois do HC nº 104.339 do

STF, é possível a liberdade provisória para o traficante de drogas. Trata-se de uma análise cautelar feita pelo juiz da causa no caso concreto.

11. Letra C.12. Letra A.13. Letra B.14. Letra B.15. Letra D.16. Letra B.17. Letra D.18. Letra B.19. Errada.20. Letra C.21. Letra D.22. Letra B.23. Letra D.24. Letra B.25. Letra E.26. Letra C.27. Letra E.28. Letra D.29. Letra A.

30. Errado.31. Letra D.32. Letra D.33. Letra B.34. Letra B.35. Certa.36. Letra E.37. Certa.38. Letra E.39. Letra A.40. Letra B.41. Errado.42. Letra C.43. Letra B.44. Letra C.45. Letra A.46. Letra C.47. Certo.48. Letra C.49. Letra A.50. Certo.51. Errado.52. Todas estão corretas.53. Letra C.54. I – Verdadeira; II – Verdadeira;

III – Falsa.55. Certo.56. Certo.57. Letra B.58. Letra C.59. Letra D.60. Letra C.61. Letra D.62. Letra B.63. Os itens “a” e “b” estão corretos.64. Letra D.65. Letra C.66. Letra E.67. Letra B.68. Correta.

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33769. Correta.70. Incorreta.71. Correta.72. Como vimos, a resposta está er-

rada, já que foi editada pelo STF a Súmula Vinculante nº 24.

73. Letra D.74. Letra A.75. Errado, pois o crime pratica-

do é o do art. 3º, III, da Lei nº 8.137/90, e não o de advocacia administrativa, previsto no art. 321 do CP.

76. Letra D.77. Certo, e decorre do art. 1º, § 4º,

da Lei nº 9.613/98.78. A questão está absolutamente

certa. O importante é que você lembre: há plena autonomia do crime de lavagem de dinheiro em relação ao crime antecedente.

79. Letra E; lembre-se do art. 2º, § 1º, da Lei de Lavagem de Di-nheiro, que nos diz assim: “A denúncia será instruída com in-dícios suficientes da existência do crime antecedente, sendo puníveis os fatos previstos na Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crime.”

80. Letra E, pelo art. 1º, § 5º, da Lei nº 9.613/98.

81. Falsa.82. A assertiva está correta, e decor-

re do art. 83 da Lei de Licita-ções: “Os crimes definidos nesta lei, ainda que simplesmente tentados, sujeitam os seus auto-res, quando servidores públicos, além das sanções penais, à perda

do cargo, emprego, função ou mandato eletivo.”

83. Letra A.84. Letra E.85. A assertiva está errada. Isso, por-

que o art. 168, § 4º, da Lei nº 11.101/05 admite, expressamen-te, a substituição da PPL por pe-nas alternativas.

86. Letra D.87. Letra C.88. Letra A.89. Letra B.90. Letra C.91. Certo, e decorre do art. 14, I, da

Lei nº 9.605/98.92. Letra D.93. Errado, como vimos anterior-

mente. Só não se esqueça da Teoria da Dupla Imputação.

94. Letra A.95. A assertiva está correta, e decor-

re da Teoria da Dupla Imputa-ção ou da Imputação Paralela.

96. Certo. Se incidente o princí-pio da insignificância no caso concreto, seja crime ambiental ou não, deverá ser reconhecida a atipicidade material daquela conduta.

97. Errado, não existe, na Lei nº 9.605/98, o crime de portar instrumentos para pesca. Aliás, o art. 36 refere expressamen-te que se considera PESCA todo ato tendente a RETIRAR, EXTRAIR, COLETAR, APA-NHAR, APREENDER ou CAP-TURAR espécies dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios.

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33898. Letra C.99. Letra B.100. Letra A.101. Letra A.102. Letra B.103. Letra A.104. Letra D.105. Letra B.106. Letra B.107. Errado.108. Certo.109. Certo.110. Letra C.111. Letra B.112. Letra A.113. Letra A.114. Letra C.115. Letra B.116. Letra A.117. Letra A.118. Letra D.119. Letra A.120. Letra E.

121. Letra D.122. Letra D.123. Letra A.124. Letra C.125. Letra A.126. Letra B.127. Letra C.128. I. Errada. II. Errada. III. Errada.129. I. Errada. II. Certa.130. Certo.131. I. Errada. II. Errada. III. Errada.132. I. Certa. II. Errada.133. Letra D.134. Letra E.135. Letra E.136. Letra D.137. Errado.138. I. Certa. II. Errada.139. Letra B.140. Letra C.141. Errado.142. Letra D.143. Verdadeira.