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LEIRifi-FfiTIMfl - leiria-fatima.pt · DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA Não é intenção de "Leiria-Fátima" arquivar os documentos da Con ferência Episcopal Portuguesa. Pareceu-nos,

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LEIRifi-FfiTIMfl Órgão Ofici<1l d<1 Diocczscz

Ano II • N. fl4 • J aneiro-Abril1994

DIRECTOR AMÉRICO FERREIRA

CHEFE DE REDACÇÃO VÍTOR COUTINHO

ADMINISTRADOR HENRIQUE DIAS SILVA

CONSELHO DE REDACÇÃO BELMIRA DE SOUSA

JORGE GUARDA LUCIANO CRISTINO

MANUEL MELQUÍADES SAUL GOMES

PERIODICIDADE QUADRIMESTRAL

PROPRIEDADE E EDIÇÃO DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO SEMINÁRIO DIOCESANO DE LEIRIA

2400 LEIRIA • TELEF. (044) 32760

ASSINATURA ANUAL -1400$00

O Domingo numa sociedade em mudança ....... 3 Desafios Pastorais.............................................. 9 Pastoral do Sacramento do Crisma ..... ...... ...... .. 14 O Conselho Pastoral Paroquial ........... .............. 15 Estatutos dos Conselhos Pastorais Paroquiais .. 19 Actos Episcopais ............................................... 27 Contributo Penitencial ..................................... 31 Comunicado da Reunião de Vigários ................ 33 Comunicado do Conselho Presbiteral .... ........... 35 Vida Eclesial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 7 Vida Consagrada . . .. . . . . .. . . .. . . . . . . . . .. ... ..... .. . . . . .. .. . . .. . 43 O Sínodo Diocesano .............. . .......................... 49 Renovamento Carismático................................. 53 Evocar Santa Ana de Leiria ............................... 57 D. Joaquim de Sousa Saraiva............................. 61 Santa Maria da Vitória (Batalha)...................... 67

O DOMINGO NUMA SOCIEDADE

EM MUDANÇA

NOTA PASTORAL DA

CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA

Não é intenção de "Leiria-Fátima" arquivar os documentos da Con­ferência Episcopal Portuguesa.

Pareceu-nos, contudo, oportuno divulgar o documento que a seguir transcrevemos, sobre o "Domingo numa sociedade em mudança".

O contexto da sua publicação faz-nos perceber que este texto é moti­vado mais por questões sociais que religiosas. Precedeu a divulgação dos resultados do recenseamento à prática dominical, feito em 1991.

Esta nota pastoral pretende reafirmar a importância do Domingo na vida humana e cristã, face às mudanças sociais dos nossos ambientes.

Realidade humana e cristã do Domingo

1. O Domingo é, desde os primórdios do Cristianismo, o dia de cada se-mana em que os cristãos são convidados a celebrar festivamente o misté­rio central da sua fé. Congregam-se nas igrejas e aí se encontram como irmãos, escutam com fé a Palavra do seu Senhor, cantam louvores a Deus, rezam e dispõem-se ao perdão e à regeneração interior.

O Domingo é também, nos povos de civilização cristã, uma realidade cultural de grande poder humanizante. Tradicional dia de descanso, o Domingo favorece o convívio familiar e social, promove a fraternidade e a partilha, convida à contemplação das maravilhas da Natureza e do en­genho humano, dá sentido à vida.

Novas circunstâncias culturais

2. Forte realidade humana e cristã, o Domingo enfrenta hoje os embates e os desafios das mudanças sócio-culturais em curso.

Por um lado, a laicização da vida moderna e a crise de valores leva-

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O DOMINGO NUMA SOCIEDADE EM MUDANÇA

ram ao amortecimento da fé ou das suas expressões. Em muitos meios, o Domingo deixou de ser vivido como Dia do Senhor e da comunidade, para se diluir no tempo de lazer e de evasão dum fim-de-semana de fra­co sentido humano e cristão.

Por outro lado, o trabalho contínuo, a multiplicação das indústrias e dos serviços dos tempos livres, a mobilidade das populações e a já referi­da crise de valores levantam, em muitos lugares, sérias dificuldades a uma autêntica vivência do Domingo.

Tal situação leva-nos, a nós, Bispos de Portugal, a publicar esta Nota Pastoral, destinada fundamentalmente a reafirmar a importância do Do­mingo na nossa vida humana e cristã.

Dia do Senhor Ressuscitado 3. As narrativas evangélicas são unânimes em afirmar que Jesus Cristo,

depois de ter dado a vida por nós numa Sexta-feira e de repousar no tú­mulo ao longo do Sábado, passou da morte à vida imortal - passagem dita Páscoa- no "primeiro dia da semana", depois chamado Dia do Se­nhor ou Domingo.

As aparições do Senhor Ressuscitado aos seus discípulos começaram nesse primeiro Domingo e repetiram-se no segundo e provavelmente noutros Domingos até à Ascensão. Estas "experiências pascais" induzi­ram a Igreja nascente a celebrar em cada Domingo Jesus Ressuscitado, esperança e alegria de todos os fiéis.

Na espiritualidade cristã, o Domingo é ainda o Dia da Criação e da Natureza, começadas, segundo o Génesis, no primeiro dia da semana; é o Dia do Espírito Santo, enviado no SOQ dia (cm grego Pentecostes) da Páscoa, ou seja, no 8º Domingo pascal; e é o Dia da Igreja, que, dinami­zada por este Espírito, no mesmo dia iniciou a sua marcha salvadora na história da humanidade.

Dia para Deus, dia para os homens 4. Dia da manifestação de Jesus Cristo Ressuscitado aos discípulos, o

Domingo é, por excelência, dia do encontro de Deus connosco e de nós com Deus e de cada um de nós com os homens nossos irmãos.

Ao Domingo prestamos culto a Deus, unindo-nos particularmente, na Missa, ao sacrifício de valor infinito que Jesus Cristo ofereceu, na Cruz, a Seu Pai, em nosso nome e em nosso favor.

Mas o Domingo é também dia para o homem. A liturgia proclama

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que ele "é o dia que o Senhor fez" e convida-nos a que "nele exultemos e cantemos de alegria" (5/. 117, 24). Para nós, cristãos, o Domingo é um "dia diferente", um dia de paragem para tomarmos consciência e afir­marmos em termos concretos que somos livres, que queremos amar a to­dos e a todos servir na gratuidade e solidariedade mais generosas, que sabemos contemplar as maravilhas que Deus fez para nosso bem.

Significado do preceito dominical 5. Compreende-se assim a importância que a Igreja reconhece ao Do-

mingo como dia santo que os cristãos devem consagrar a Deus e aos fi­lhos de Deus, os homens seus irmãos. É o que está prescrito no terceiro mandamento da Lei de Deus ou Decálogo e concretizado, em termos ca­tequéticos, no primeiro preceito da Igreja, que manda participar na missa dominical e abster-se dos trabalhos e negócios que impeçam o culto de Deus, a alegria própria do Dia do Senhor, a prática das obras de miseri­córdia e o devido repouso do corpo e do espírito (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2174-2195).

Ao prescrever aos seus fiéis como dever grave a missa e o descanso ao Domingo (e festas de preceito), a Igreja não lhes coarcta a liberdade, mas procura iniciá-los ao seu bom uso, tal como o fazem os pais que educam os filhos no cumprimento dos deveres ou o Estado quando dita leis como a da escolaridade obrigatória.

Eucaristia dominical, eixo da vida cristã 6. No respeitante à missa, ela deverá ser entendida e vivida como cele-

bração festiva, que estreita os laços de comunhão fraterna entre os fiéis, que projecta a palavra de Deus nas suas vidas, que os une na confissão das maravilhas de Deus, que os conforta com a virtude do sacramento da vida, que os envia a testemunhar e irradiar a sua fé, esperança e caridade.

Tudo isto implica, do ponto de vista pastoral, grande atenção aos ha­bituais e potenciais participantes das assembleias eucarísticas, ao acolhi­mento e ambiente que lhes são proporcionados, à qualidade, adequação e calor humano da celebração e a uma inteligente sintonia da missa com a vida das pessoas, com o meio sócio-cultural envolvente e com as ou­tras expressões da vida eclesial.

Facilite-se a participação na missa aos casais com crianças pequenas. Promovam-se celebrações dominicais da palavra às comunidades que não possam ter missa por falta de padres. Ajudem-se os doentes, idosos

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· e marginalizados, involuntariamente retidos em casa, a santificar o Dia do Senhor, nomeadamente pela união de espírito às assembleias das mis­sas transmitidas pela rádio e televisão. Tenham-se ainda em conta as si­tuações criadas pelo trabalho contínuo e pelas várias formas de turismo, movimentos migratórios e deslocações ocasionais, procurando que todos os fiéis, mesmo nestes casos, tenham possibilidades de celebrar ao Do­mingo o mistério central da fé cristã.

Necessidade e valor do descanso semanal 7. Mas o Domingo, como vimos, não é só um tempo reservado a Deus,

mesmo tendo em consideração que o culto de Deus redunda sempre em proveito nosso e do próximo. O Domingo é também um tempo para o homem, para cada homem e para todos os homens.

O descanso dominical, cada vez mais alargado - e ainda bem - ao fim-de-semana, tem de ser antes de mais um tempo de repouso e re­constituição da fadiga física e psicológica dum trabalho hoje tantas vezes desgastante, pelo ritmo intensivo e absorvente das tarefas laborais, pelo ambiente de tensão e insegurança em que tantas vezes decorre, e pelas horas enervantes das deslocações a que obriga, sobretudo nas áreas urba­nas e suburbanas.

Em países socialmente mais evoluídos como o nosso, o descanso do­minical é assegurado por lei. Mas é bem sabido como a necessidade e a falta de educação para o uso dos tempos livres levam tanta gente a trocar os benefícios do descanso semanal por um complemento de salário, pela ânsia de ter mais ou pela fuga ao tédio.

O Domingo, espaço de liberdade 8. O descanso dominical, contudo, não se reduz ao repouso necessário à

restauração das energias gastas pelo esforço do trabalho. É muito mais que isto. É sobretudo um espaço de exercício da liberdade e da solidariedade. De liberdade, porque torna possíveis as ocupações de livre escolha, as que mais se prestam à afirmação e realização pessoais. O desporto, os jo­gos, os contactos com a natureza, a leitura, a música, a arte, a visita a mu­seus e monumentos, a TV, as festas, espectáculos e diversões ... são opções comuns, cuja variedade e riqueza medem o grau de civilização duma sociedade. É verdade que há também outras ofertas para o uso dos tempos livres, nomeadamente da parte das chamadas indústrias do peca­do, que seduzem mas degradam e alienam. Daí a necessidade da educa-

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ção para o uso correcto e enriquecedor dos tempos livres, para a qual se devem dar as mãos as famílias, os educadores, as Igrejas e o Estado.

O Domingo, dia da família 9. O descanso dominical é, depois, espaço aberto à convivência. Na me-

dida em que se estender à generalidade das pessoas- e aqui há que de­nunciar as tentativas das correntes neo-liberais e laicizantes de o sacrificar a certos interesses, claros ou ocultos -, o descanso dominical oferece larga possibilidade a encontros, formas de convivência e presta­ção gratuita de serviços, extraordinariamente importantes para a vida co­munitária e colectiva dos homens.

Antes de mais, para a vida familiar, hoje tão afectada pela dispersão dos membros da família, pelo desencontro de horários, por dificuldades económicas e de habitação, pela degradação das ideias e costumes que infectam o ambiente e penetram mesmo, através dos meios de comunica­ção social, até ao interior dos lares. O Domingo é o dia da família, que muitas vezes só nele se pode ver reunida em convívio e diálogo de com­preensão e amor. Mas também aqui urge ajudar a família a não perder as riquezas do Domingo, afirmando-se nele como lugar por excelência de encontro e ao mesmo tempo escola de abertura à afirmação pessoal e ao serviço gratuito dos outros.

O Domingo, dia da solidariedade 10. O Domingo é também dia da solidariedade. É dia livre para encon-

tros que afirmam a aprofundam amizades interpessoais, que, tantas ve­zes, entre jovens, levam a um namoro sério e a feliz casamento. É dia também para o exercício das chamadas obras de misericórdia. Importa encontrar a tradução actual destas expressões da caridade fraterna para que continuem a ser hoje resposta válida às novas formas de pobreza. Ainda neste linha, o Domingo é dia bom para o exercício do voluntaria­do, pela entrega generosa a serviços gratuitos em instituições e activida­des de assistência e promoção social e cultural. Através de contribuições deste género e da participação pessoal em encontros, festas e manifesta­ções colectivas, todos podem e devem contribuir para a promoção da vi­da social e do bem comum nos vários níveis.

Mas, é bom repeti-lo, tudo isto pressupõe, por um lado, que o maior número possível de pessoas tenham o descanso semanal ao domingo e, por outro, todas elas estejam iniciadas na utilização racional dos tempos livres.

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O DOMINGO NUMA SOCIEDADE EM MUDANÇA

Para uma pastoral do Domingo criativa 11. Bastam estas rápidas considerações para justificar o empenho da

Igreja na defesa e valorização do Domingo. Não são apenas razões de or­dem religiosa que a movem a isso, mas também o serviço da humanida­de e, concretamente, da vida das pessoas, das famílias e da própria sociedade.

Neste esforço, têm lugar de relevo a sensibilização de todos - crian­ças, jovens, adultos e idosos- aos valores do Domingo e a sua educação para o criterioso aproveitamento das oportunidades que o Domingo cris­tão oferece ao culto de Deus, à afirmação de pertença à Igreja de Cristo, à valorização pessoal e à participação inteligente e generosa na vida comu­nitária e social.

Há aqui lugar necessário a uma grande criatividade que permita vi­ver o Domingo num clima sócio-cultural diferente e em constante muta­ção. Criatividade pastoral, que, sem trair a sua essência, adapte a catequese e a liturgia do Domingo às novas maneiras de sentir e viver o quotidiano da existência. Criatividade social, que favoreça a subordina­ção dos interesses da população e comercialização de bens e serviços aos valores espirituais, culturais e sociais do Domingo.

Não podemos viver sem o Domingo

12. Sai esta Nota Pastoral depois de terem sido apresentados na Assem-bleia Plenária do Episcopado os resultados do segundo recenseamento da prática da missa dominical no País (Março 1991). Tais resultados de­vem ser agora estudados pelas competentes instâncias diocesanas e lo­cais para deles se tirarem as pertinentes ilações de ordem pastoral e social.

Independentemente disso, importa intensificar a catequese sobre o Domingo. Para esta catequese, recomendamos a leitura ou releitura da Instrução Pastoral sobre o Domingo e sua Celebração, por nós publicada (9.6.1978), que desenvolve os vários aspectos do Domingo nesta Nota aflorados e que se mantém actual na doutrina e orientações pastorais que propõe.

Praza a Deus que também nós, portugueses e cristãos, possamos di­zer, com a convicção que levou à morte os mártires da Abitínia (também chamados Mártires do Domingo), a 15 de Fevereiro do ano 304: "Nós não podemos viver sem o Domingo".

Fátima, 1 1 de Novembro de 1993

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DESAFIOS PASTORAIS

No final do último ano pastoral, foi feita na Vigararia de Leiria uma re­flexão sobre a situação das comunidades eclesiais localizadas nesta cidade e na sua periferia. Este trabalho envolveu os párocos e vigários paroquiais a trabalhar nesta Vigararia, outros padres nela residentes e equipas de leigos das diversas par6quias que a constituem. O documento que a seguir se pu­blica é uma síntese das intervenções feitas e foi elaborado em ordem a anali­sar atentamente a realidade e a perceber quais as prioridades que devem ser tomadas. O texto, frontal mas oportuno, transmite alguma preocupação sen­tida diante das dificuldades que parecem ser mais prementes. São observa­ções válidas a ter em conta para uma maior coordenação pastoral e uma canalização de esforços mais adequada às necessidades e limites encontrados.

Constatações

No trabalho de análise e auscultação da situação eclesial que nos envolve partimos de algumas constatações que são comuns à ge­neralidade dos agentes pastorais.

Uma boa parte do povo cristão dá sinais de profunda ignorân­cia religiosa e muit�s jovens e casais novos dão sinais de perda das referências cristãs. E evidente a desafeição dos jovens em relação à Igreja, nas suas expressões tradicionais, como por exemplo a missa dominical e a confissão. O mesmo se verifica quanto à maioria dos intelectuais, dos operários, e das pessoas ligadas a profissões liberais.

A atracção pelas seitas de elementos que habitualmente fre­quentavam as nossas celebrações é acompanhada pelo esboroamento de valores anteriormente aceites e pelo surgimento de novas sensibi­lidades.

Percebemos que é real um vazio espiritual e a ânsia de algo que o preencha, mas temos a sensação de que a pregação passa ao lado ou por cima da maioria das pessoas e que as nossas celebrações não dão resposta a esse vazio.

Agentes pastorais

Os padres ao serviço das nossas comunidades são em número reduzido e com uma média de idades bastante elevada. Verifica-se

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DESAFIOS PASTORAIS

alguma ausência de criatividade e dificuldade no diálogo com os lei­gos, com tendência para o individualismo pastoral.

Notam-se sinais duma linguagem e duma atitude mais próxi­mas do poder do que do servir. Existe, contudo, generosidade, doa­ção e amor à Igreja.

Os leigos verdadeiramente empenhados na acção pastoral tam­bém são poucos e, na maioria das vezes, com formação religiosa di­minuta. Muitos entregam-se a demasiadas coisas na Igreja, rendendo muito menos do que seriam capazes se estivessem ocupa­dos com menos actividades.

A relação do padre com os leigos é, muitas vezes, autoritária, paternalista e pouco dialogante.

Algumas indicações impõem-se:

- aceitar serenamente as capacidades e os limites de todos os agentes pastorais;

- investir na formação permanente dos padres e numa forma­ção mais sistemática dos leigos (Escola Teológica, Escola de Catequistas, Cursos Bíblicos, Semanas Bíblicas);

- dar aos leigos a oportunidade de manifestar o que sentem e pensam.

Celebrações e outras expressões de fé

Percebe-se que as celebrações não envolvem a pessoa toda, por fazerem demasiado apelo ao racional e pouco ao simbólico e à di­mensão da sensibilidade, por serem pouco criativas, mesmo quando tal é permitido.

Persiste-se numa religiosidade assente na crença, quando as pessoas buscam viver uma religiosidade de experiência, sendo mui­tos os fiéis que se queixam que as celebrações não lhes dizem nada.

Muitos vêem neste aspecto uma das grandes causas da adesão dos cristãos às seitas.

Seria necessária uma tomada de consciência de que emerge uma nova sensibilidade: mais emotiva, simbólica e participativa. De-

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ver-se-ia privilegiar a dimensão celebrativa e festiva, para que a ân­sia espiritual, sentida por muitas pessoas das nossas comunidades, possa encontrar aí resposta.

No geral, nota-se a incapacidade dos presidentes das celebra­ções captarem o nível de fé a que vive o povo que a elas acorre e que, por isso, não se sente reconhecido.

De um modo geral as celebrações são pouco personalizadas, al­go rotineiras e com uma participação diminuta dos presentes. Parece oportuno insistir na criação e divulgação das "equipas de liturgia".

Acção pastoral

Sente-se que é indispensável interiorizar e propor a nova ima­gem de Igreja como comunidade/comunhão, decorrente do Concílio Vaticano II. O facto de esta concepção eclesiológica não estar interio­rizada reflecte-se no pouco espaço que é dado, na generalidade das paróquias, à participação e corresponsabilidade dos leigos.

É necessária uma consciência mais esclarecida do lugar e do pa­pel dos leigos na Igreja: não podem ser meros sujeitos passivos ou apenas simples colaboradores do pároco.

Nota-se que se pretende frequentemente renovar a pastoral através de muitas acções mas descurando a vida interior. Para agir a partir de dentro é fundamental cultivar a dimensão de interioridade.

Fazem-se sentir algumas deficiências pastorais:

- a prática duma pastoral de manutenção, sem planos pasto­rais a longo e a médio prazo;

- uma pastoral que se esgota em preservar o que já existe ou em atender os que ainda vêm à Igreja, mas não encontra tempo para ir ao encontro dos que não vêm;

- uma pastoral que investe quase só na liturgia e esquece ou­tros sectores fundamentais: catequese e acção sacio-caritati­va;

- uma redução da catequese ao grupo etário infantil com difi­culdade em instituir uma catequese de jovens e adultos em larga escala.

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DESAFIOS PASTORAIS

Recorrer ao modelo do catecumenato pode ser um meio de de­senvolver a catequese de jovens e adultos.

A criação dos conselhos pastorais paroquiais surge como uma forma de exprimir visivelmente o modelo eclesiológico proposto pe­lo Concílio Vaticano II. Isto exige que se aprenda a planificar e a ava­liar juntamente com os leigos.

A forma pouco comunional como se organiza geralmente a pas­toral paroquial traz diferentes consequências:

- falta de transparência na administração dos bens da Igreja; - frágil unidade vicarial ao nível da celebração dos sacramen-

tos; - ausência de pequenos grupos de partilha e reflexão cristã; - carência de um serviço de acolhimento de qualidade aos que

procuram a Igreja e aos que vivem no espaço das nossas co­munidades paroquiais mas sem qualquer ligação com elas.

Sente-se que é prioritário privilegiar o contacto pastoral e in­vestir nas diversas formas de acolhimento, criando equipas que pos­sam dar à paróquia um clima acolhedor em relação a todos, nomeadamente os imigrantes.

Alguns factos interpelam-nos no sentido de redefinir as nossas opções e prioridades a nível pastoral:

- a paganização das festas religiosas; - o excesso de missas dominicais; - a necessidade da criação de novas paróquias em Leiria; - a massificação das assembleias; - o afastamento dos casais novos, dos jovens e até de crianças; - o medo de arriscar caminhos novos; - a clericalização da pastoral.

Uma maior aposta em grupos pequenos (movimentos, equipas bíblicas . . . ), onde as pessoas possam fazer a experiência de grupo, co­mo base para uma maior integr�ção comunitária, pode ajudar a res­ponder a alguns destes desafios. E notória a ausência duma linguagem com base na sensibilidade que permita a cada um sentir-se reconheci­do, sentir que tem vez e voz.

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DESAFIOS PASTORAIS

Relação Igreja-Mundo

Percebe-se que, de um modo geral, a Igreja não se mostrou ca­paz de acompanhar as profundas transformações da sociedade, pro­movendo o necessário "aggiornamento" e as pessoas queixam-se de não encontrar nela a resposta para os seus problemas e vazios.

Existe alguma incapacidade dos agentes pastorais para fazer a leitura dos sinais dos tempos de modo que as pessoas consigam en­contr�r a luz do Evangelho para os problemas e situações actuais.

E escândalo para muitos o silêncio generalizado da Igreja local sobre os grandes problemas que afligem hoje as pessoas, como a pre­cariedade do emprego, a poluição, a violência, a sexualidade . .. A este aspecto deve associar-se o fraco contributo dos cristãos, enquanto tais, nas iniciativas culturais que se inserem numa formação integral do homem.

Da parte de muitos agentes de pastoral é ainda visível uma re­jeição do mundo e dificuldade em acompanhar a modernidade. Exis­te, ao nível da linguagem, um fosso entre o discurso eclesial e a linguagem dos homens de hoje.

Diante destas interpelações há que tomar consciência de que é muito importante a forma como os agentes pastorais (padres e lei­gos) se posicionam:

- ter presente que quem salva o mundo é o Senhor e não nós; - em pastoral, a perseverança é fundamental; - não podemos continuar com uma pastoral clericalista se

queremos ser fiéis à eclesiologia do Vaticano II; - é preferível insistir na qualidade das actividades do que na

quantidade; - na relação humana e pastoral é importante sermos capazes

de nos pormos do lado de lá; - é fundamental cultivar a dimensão espiritual.

Não pretendemos que todos consigam encontrar a resposta à ân­sia de infinito nas nossas paróquias. Podemos, contudo, proporcionar essa resposta, sobretudo através de cursos, retiros, peregrinações e ou­tras experiências fortes que possam ser marcantes para a vida cristã.

· Queremos trilhar os caminhos da autenticidade e da verdade de modo que o falar e o agir sejam a expressão do interior. Não que­remos ser funcionários da religião.

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PASTORAL DO SACRAMENTO DO CRISMA

Na última reunião de vigários, foi apresentada pelo respon­sável do Secretariado Diocesano da Educação Cristã da Infância e Adolescência uma reflexão sobre alguns aspectos a ter em con­ta na pastoral do Sacramento do Crisma.

Os princípios foram estabelecidos pela Conferência Episco­pal ao dizer que a Confirmação deverá ser celebrada "por volta dos 14 anos". Convém ter presente que esta é uma opção pasto­ral e não teológica.

A opção pastoral que os novos catecismos propõem é situar o Crisma no fim dos dez anos de catequese, o que significa no fim da adolescência e princípio da juventude. É, de facto, o co­meço do assumir responsabilidades eclesiais.

Nota-se, entretanto, uma certa diversidade de critérios en­tre as várias paróquias e vigararias. Deve-se referir que há uma ou outra paróquia onde se crisma pré-adolescentes doutras pa­róquias sem atender às exigências pastorais destas.

Torna-se, portanto, necessário que as paróquias invistam mais na catequese da adolescência, tendo em conta que esta é a ida­de decisiva para interessar os jovens e inseri-los na comunidade.

Tenha-se presente que aos 13/14 anos é difícil fazer opções. Daí que o Crisma recebido nesta idade se torne mais um rito ex­terior e social do que um compromisso pessoal e eclesial.

É importante que as paróquias e vigararias apresentem for­mas convergentes e pastoralmente dialogadas neste campo, para que não transpareçam divergências que são inevitavelmente des­trutivas e prejudiciais. Neste sentido algumas propostas parecem ser fundamentais:

• Que se invista cada vez mais na formação dos animado­res/ catequistas de adolescentes.

• Que, no espaço de dois/três anos, todas as paróquias te­nham já os dez anos de catequese.

• Que os párocos não aceitem crismandos de outras paró­quias, a não ser por indicação expressa do pároco da sua re­sidência.

• Que o Crisma se celebre apenas por volta dos 16 anos.

O CONSELHO PASTORAL PAROQUIAL

AO SERVIÇO DA COMUNHAO E DA CORRESPONSABILIDADE

Nestas breves notas, por ocasião da promulgação do modelo de Estatutos dos Conselhos Pastorais Paroquiais, mais do que tecer co­mentários sobre a sua organização, objectivos, funções e composição, optámos por uma reflexão sobre o enquadramento eclesiológico do mesmo, suas consequências para o estilo de vida eclesial e pastoral de uma comunidade paroquial da qual deverá surgir este Conselho1 como estrutura de comunhão, participação e corresponsabilidade. E certamente um passo fundamental para a construção de um novo estilo de vida eclesial e pastoral.

Horizonte eclesiológico: comunidade e ministérios

No Vaticano II, pela acção do Espírito Santo, a Igreja redesco­briu-se como comunhão que nasce do Mistério inefável do Amor tri­nitário, do qual vive e cresce, e comunidade de todos os que acreditam em Cristo e são baptizados. (Cfr. Documento final do Sí­nodo Extraordinário dos Bispos de 1985)

Desta intuição fundamental do Concílio (LG 32; Rom 12,4-5) surge um novo quadro de compreensão e organização da vida e pas­toral eclesiais. O antigo e antiquado binómio hierarquia-laicado é substituído pelo binómio comunidade-ministérios. Deste modo, su­blinha-se a unidade baptismal, eucarística e pneumatológica de todo o Povo de Deus e põe-se em evidência a variedade carismática e mi­nisterial de toda a Igreja. Com o primado da unidade baptismal e eu­carística em relação à variedade ministerial evidencia-se a responsabilidade de cada baptizado para com o Evangelho e para com os homens, já que a seu modo "todo o fiel participa do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo e, segundo a sua condição, é chamado a exercer a missão que Deus confiou à Igreja, para esta rea­lizar no mundo" (CIC, 204 §1).

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O CONSELHO PASTORAL PAROQUIAL

Todos são chamados a crescer em comunhão e simultaneamen­te a expandir a comunhão com o serviço da evangelização. Mais, o anúncio do Evangelho, que é serviço essencial de toda a Igreja, há-de realizar-se principalmente através dessa comunhão vivida por parte de todos os crentes: "é por isso que todos saberão que sois meus dis­cípulos, se vos amardes uns aos outros" (Jo 3, 35). Deste modo, fica claro que o baptizado não anuncia sozinho, nem se anuncia a si mes­mo e a própria fé, mas anuncia a fé eclesial em Cristo morto e ressus­citado como Igreja, com a Igreja e na Igreja. Ele deve poder dizer aos outros, aos "afastados": "vinde ver" (Jo 2,39), oferecendo uma ima­gem de Igreja como autentica comunidade de Salvação (Act 2,47).

Novo estilo de vida eclesial

Se o Espírito de Deus habita e fortalece o coração de cada mem­bro da comunidade cristã, então as coisas da Igreja dizem respeito a todos os baptizados e não apenas à hierarquia, como se todos os ou­tros - a imensa maioria - fossem um rebanho passivo a ser guiado. De facto, não há, em absoluto, uma Igreja docente e uma Igreja dis­cente, como não há uma Igreja que só dá e uma Igreja que só recebe. Todos recebem o Espírito e todos devem manifestá-lo. Todos rece­bem gratuitamente e gratuitamente devem dar. Por isso, ninguém tem direito ao desemprego, porque o Espírito a todos dotou de caris­mas para o serviço e para a comunhão.

Neste contexto, o padre é ministro ordenado da Palavra e dos Sacramentos para a Comunidade e é, ao mesmo tempo, ministro com todos os outros ministros não ordenados para o crescimento e para a Evangelização do mundo. Deste modo, o sacerdócio ministerial não é a síntese de todos os ministérios, mas é o ministério da síntese. Do protagonismo pessoal e quase absoluto, em muitas comunidades, que afoga o exercício da corresponsabilidade laical, o padre deve tor­nar-se servidor silencioso e discreto. Da pressa pelo êxito, o padre deve preferir a pedagogia da participação laical e ser exemplo de gratuidade no serviço. Isto exige saber ouvir, dialogar, aprender, partilhar e reconhecer as responsabilidades dos outros. Exige a todos deixar o culto do egoísmo, da indiferença, do receio pelo confronta­ção, para que seja possível a fraternidade, a comunhão, a partilha e a corresponsabilidade.

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O CONSELHO PASTORAL PAROQUIAL

Nas comunidades em que possa haver uma certa pobreza co­munitária, o Conselho Pastoral Paroquial tornar-se-á ineficaz e até contraproducente. Será necessário aprender a partilhar e a participar na vida da Igreja com acções simples, como sejam assembleias para dar informações e pedir opiniões à comunidade, criando espaços pa­ra que cresça o sentido da corresponsabilidade na missão da Igreja.

Uma nova atitude pastoral

Pastoral significa o serviço de mediação salvífica da comunida­de enquanto tal, histórica e geograficamente situada, realizada ao jei­to do Bom Pastor. Neste contexto, queremos salientar dois aspectos que achamos fundamentais: a pastoral de conjunto e a pastoral por objectivos.

Pastoral de conjunto ou pastoral orgânica. Mais do que um método ou uma técnica, é um espírito de comunhão fraterna e de missão evangelizadora coordenada. Trata-se de desenvolver o ver­dadeiro espírito eclesial, contra todos os particularismos indivi­duais, já que não se evangeliza sem o testemunho da caridade e da unidade (Jo 17,21). O verdadeiro espírito eclesial não se compadece com comunidades fechadas em si mesmas, até porque muitas delas são insuficientes em algumas dimensões do serviço à comunhão e à evangelização. Deste modo, não poderão partilhar as suas próprias riquezas nem receber o remédio para a sua pobreza, ficando tantas vezes a gerir uma religiosidade popular sem capacidade evangeli­zadora.

Pastoral por objectivos. Esta é, antes de mais, um processo edu­cativo que leva uma paróquia ou uma comunidade a repensar a sua finalidade, tendo em conta a situação concreta para que se possa de­finir uma estratégia adequada e exequível.

Ao falarmos de pastoral por objectivos, não temos em vista in­troduzir técnicas de marketing no nosso trabalho eclesial, pois não temos nenhum produto para vender, nem uma qualquer ideologia a impor. Sabemos que não monopolizamos a acção do Espírito Santo, nem mesmo a própria Igreja. Trata-se, pelo contrário, de oferecer um serviço humano qualificado para a Salvação i!'troduzindo elementos de racionalidade no nosso trabalho pastoral. E nossa obrigação saber

1 7

O CONSELHO PASTORAL PAROQUIAL

gerir com inteligência e com critérios válidos, os recursos humanos e materiais de que dispomos, tendo em conta os objectivos concretos a curto, médio e longo prazo.

A pastoral por objectivos não é uma técnica a mais, não é uma simples modernização de instituições, estruturas e tarefas pastorais. A pastoral por objectivos é uma maneira de enfrentar a actividade pastoral que implica uma nova mentalidade e um novo querer dos agentes de pastoral. Esta começa sempre por uma análise realista e crítica - discernir - de tudo o que se faz, de como se faz e para que se faz. A pastoral assim entendida, opõe-se à "pastoral de manuten­ção" e identifica-se com a "pastoral de crescimento", para leva'l' pes­soas e grupos à descoberta de Jesus Cristo, tornando-as capazes de ser suas testemunhas.

É preciso ultrapassar o hábito de não planear "porque sempre assim foi", "porque é costume". Se não o fizermos será impossível que a paróquia deixe de ser a tal "estação de serviços religiosos" e consiga ultrapassar a rotina conservadora que se move em terrenos seguros e resguardados dos meios intra-eclesiais, sem pujança nem criatividade para sair aos caminhos dos homens.

O Conselho Pastoral Paroquial é uma estrutura oportuna e ne­cessária como espaço de exercício deste estilo de vida eclesial. Con­tudo, devemos ter cuidado para não colocarmos "vinho novo em odres velhos", recuperando modelos antigos em estruturas novas. Por outro lado, não devemos esperar por comu�dades vivas e dinâ­micas para criar o Conselho Pastoral Paroquial. E certo que este mo­delo de estatutos tem no horizonte paróquias grandes e organizadas, mas trata-se dum instrumento pastoral que deve ser adaptado se­gundo as circunstâncias concretas e com a aprovação do Ordinário do lugar.

P. Armindo Janeiro

• A Escola Teológica de Leigos tem agendado para o dia 15 de Maio um espaço de reflexão espiritual. A iniciativa dirige-se a todos os alunos e es­tá aberta a todas as pessoas interessadas.

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CONSELHOS PASTORAIS PAROQUIAIS

Modelo de estatutos

Uma das conclusões mais salientes do Congresso Diocesano de Leigos, em 1988, foi a verificação da necessidade de criar Conselhos Pastorais, a nível paro­quial e diocesano, como expressão de uma vivência eclesial mais comunional e corresponsável.

Esta reflexão vinha na sequência das orientações conciliares que exortawm os pastores a fomentarem a corresponsabilidade dos leigos, a pedirem mais os seus conselhos, a confiarem-lhes mais tarefas, a darem-lhes maior liberdade de acção e a animarem-nos a tomar iniciatiws (cfr. L. G.,37)

A criação dos Conselhos Pastorais Paroquiais é recomendada pelo Código de Direito Canónico (cfr. cân. 536) e foi aconselhada pelo Bispo diocesano em Junho de 1976 (cfr. Decreto de 20.06.76 em "A Voz do Domingo" de 27.06.76).

O Conselho Pastoral Paroquial tem como principais objectivos unir e inte­grar todos os cristãos e todos os grupos duma dada área numa mesma comuni­dade paroquial e fomentar a participação e corresponsabilidade de todos. Exige, certm;rzente, uma nom mentalidade e uma conversão no modo de ser Igreja.

E importante que ele seja representativo de toda a paróquia na diversidade dos seus membros, serviços e grupos.

·

O texto que a seguir se apresenta é apenas, um modelo de estatutos, um ins­trumento de trabalho para cada comunidade. E inevitavelmente genérico e omis­so. Deve ser adaptado aos diferentes Conselhos Pastorais Paroquiais, de acordo com a sua situação específica e concreta.

PROVISÃO

Na preparação da peregrinação diocesana a Fátima de 12 de Março de 1989, foi analisado nas comunidades paroquiais um projecto de modelo de estatutos para os Conselhos Pastorais Paroquiais.

Recolhidas as sugestões e propostas apresentadas, mando que seja pu­blicado o seguinte esquema-modelo de Estatutos dos Conselhos Pastorais Paroquiais, num conjunto de 15 artigos.

Leiria, 25 de Janeiro de 1994

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo de Leiria-Fátima

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ESTATUTOS DOS CONSELHOS PASTORAIS PAROQUIAIS

CAPÍTULO I

INSTITUIÇÃO, NATUREZA E COMPETÊNCIA

Artigo 1 fl_ Criação, duração e regime

1. De acordo com a recomendação do can. 536 §I do C.D.C., é cons­tituído, com a aprovação episcopal e por tempo indeterminado, o Conselho Pastoral da Paróquia de ....

2. O Conselho Pastoral Paroquial rege-se pelos presentes Estatutos, bem como pelas normas estabelecidas sobre o assunto no direito geral ou diocesano.

Artigo 2fl- Natureza e fins

1. O Conselho Pastoral Paroquial é um órgão representativo de toda a paróquia (cfr. can. 536 § 2), em que os membros da comunidade - clérigos religiosos e leigos - exercem a sua corresponsabilida­de relativamente à acção pastoral da Igreja, no âmbito da paró­quia.

2. Constitui, por isso, o seu órgão principal de participação e de diá­logo, com o fim específico de ajudar o Pároco:

a) a despertar todos os membros para a missão comum;

b) a unir e a integrar na comunidade os vários centros de culto e de vida cristã, assim como os diversos serviços, movimentos e grupos que compõem a paróquia;

c) a elaborar o plano pastoral da paróquia e a fomentar uma ac­tuação coordenada de todos os sectores;

d) a informar o Bispo da Diocese sobre a real situação da comuni­dade;

e) a formar e escolher os elementos mais competentes para os ser­viços pastorais ;

j) a ver as realidades pastorais da vida paroquial ou zonal;

g) a rever periodicamente a acção pastoral, em renovação perma­nente.

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ESTATUTOS DOS CONSELHOS PASTORAIS PAROQUIAIS

CAPÍTULO II

COMPOSIÇÃO E MANDATO

Artigo 3Q- Composição

O Conselho Pastoral Paroquial é presidido pelo Pároco e tem a seguinte composição:

a) os presbíteros ou diáconos ligados de maneira estável e defini­da à vida da paróquia;

b) um representante de cada uma das comunidades religiosas es­tabelecidas na paróquia que efectivamente colaborem na vida paroquial;

c) um representante, pelo menos, do Conselho Económico Paro­quial;

·d) representantes dos leigos de cada centro de culto e de vida cris­

tã e de cada movimento, serviço ou grupo devidamente inte­grado na orgânica pastoral da paróquia;

e) outros membros da paróquia directamente designados pelo Pá­roco, tendo em conta os critérios da competência, em número não superior a um quarto do total dos membros referidos nas alíneas anteriores.

Artigo 4D- Modo de designação

A designação dos membros do Conselho Pastoral Paroquial referi­dos nas alíneas b - d do artigo anterior é feita da seguinte forma:

a) os da alínea b por indicação dos superiores das respectivas co­munidades religiosas;

b) os das alíneas c e d por eleição das entidades que vão representar.

Artigo 5Q- Requisitos básicos para a designação ou escolha

1. São designáveis para o Conselho Pastoral Paroquial as pessoas que, cumulativamente: a) estejam em plena comunhão com a Igreja; b) dêem testemunho de vida cristã; c) residam na paróquia ou nela tenham algum trabalho pastoral

há, pelo menos, um ano; d) tenham completado 16 anos de idade.

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ESTATUTOS DOS CONSELHOS PASTORAIS PAROQUIAIS

2. Na escolha dos membros do mesmo Conselho devem ser tidos em consideração ainda os seguintes critérios: -a equilibrada participação de ambos os sexos e de diversos es­calões etários; - representação dos vários sectores sócio-profissionais.

3. A mesma pessoa não poderá representar mais do que um orga­nismo, movimento, serviço, sector, zona ou lugar.

Artigo 6f1- Renovação e duração do mandato

1. A nomeação do Conselho Pastoral Paroquial é feita pelo Bispo da Diocese.

2. O mandato dos membros do Conselho Pastoral Paroquial, indica­dos no artigo 32, alínea a, tem a duração do respectivo exercício de funções na paróquia.

3. O mandato dos restantes membros tem a duração de três anos, que pode ser renovado.

Artigo 7f1- Extinção do mandato

1. O mandato dos membros do Conselho Pastoral Paroquial extin­gue-se: a) por renúncia, aceite pelo Pároco; b) por exoneração.

2. São causas de exoneração:

a) a incapacidade de facto;

b) a perda de alguns dos requisitos indicados no artigo 52; c) sendo membro representante, o facto de ter deixado de perten­

cer à entidade que representa ou de por ela lhe ser retirada a representação;

d) a falta a duas reuniões sucessivas sem motivo justificado.

3. A deliberação de exoneração pertence ao Conselho e exige a maioria de dois terços dos votos dos seus membros, ouvida pre­viamente a pessoa em causa.

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ESfATUTOS DOS CONSELHOS PASTORAIS PAROQUIAIS

Artigo 811- Preenchimento de vagas

1. As vagas que ocorrem no Conselho Pastoral Paroquial serão preenchidas em conformidade com o artigo 4º.

2. As novas designações terão lugar no prazo de trinta dias a contar da abertura da vaga.

3. O mandato dos novos membros a que o presente artigo se refere durará pelo tempo que faltar para completar o triénio em curso.

Artigo 911- Renovação do Conselho

Quando se tiver de proceder à renovação do Conselho Pastoral Paroquial a designação dos novos membros será feita em tempo conveniente antes de expirar o mandato dos anteriores, os quais, todavia, só cessarão as suas funções quando os novos membros tomarem posse, o que deve acontecer no prazo de um mês após o termo do seu mandato.

CAPÍTULO III

ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO

Artigo 1011- O Conselho em plenário

1. O Conselho Pastoral Paroquial é presidido, por direito próprio, pelo Pároco (cfr. can. 536 §1) ou, no seu impedimento, por um de­legado, membro do Conselho.

2. O Conselho tem um secretário, eleito de entre os seus membros, a quem compete secretariar as reuniões.

3. O Conselho reune-se, ordinariamente, pelo menos quatro vezes por ano, por convocação do seu presidente, e, extraordinariamen­te, sempre que este o julgue necessário ou a pedido de dois terços dos seus membros.

4. Cada reunião do Conselho terá uma ordem de trabalhos enviada a todos os seus membros com a antecedência mínima de quinze dias.

S. Para a validade das reuniões do Conselho requere-se a presença de metade mais um dos seus membros.

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ESTATUTOS DOS CONSELHOS PASTORAIS PAROQUIAIS

6. As votações do Conselho serão de natureza consultiva, excepto as que se referem à exoneração dos seus membros ou os assuntos que digam respeito ao próprio funcionamento do Conselho, no­meadamente à eleição do secretário e do vogal, ou vogais, do Se­cretariado Permanente.

7. De cada reunião será lavrada acta, que será submetida à aprova­ção do Conselho na reunião seguinte e, depois de aprovada, subs­crita pelo secretário e pelo presidente.

8. Em matéria sobre a qual deva consultar o Conselho, o Pároco de­ve ter na devida conta o parecer do mesmo Conselho e, quando tiver de decidir de forma diferente, deve, na medida do possível, dar as razões da sua decisão.

Artigo 11 ll_ Secretariado permanente

1. O Conselho Pastoral Paroquial tem, como serviço de apoio, um Secretariado Permanente de que fazem parte o presidente e o se­cretário e, pelo menos, um vogal eleito pelo Conselho.

2. Compete ao Secretariado Permanente: a) preparar a agenda das reuniões do Conselho; b) providenciar pelo cumprimento das decisões do Pároco ou do

Conselho na sequência das votações deste, a teor dos números 6 e 8 do artigo 10º; ·

c) assegurar o expediente do Conselho; d) em caso de urgência e dificuldade de reunir o Conselho, pro­

nunciar-se em matéria da competência deste, devendo, contu­do, submeter as posições tomadas à sua ratificação na primeira reunião que se seguir.

3. Dirige as reuniões do Secretariado Permanente o presidente do Conselho, ou, no seu impedimento, o membro do Conselho que ele designar para o efeito.

4. O Secretariado Permanente reune-se pelo menos uma vez por mês.

5. As posições tomadas constarão da acta que, depois de aprovada, por minuta, no termo de cada reunião, será subscrita pelo secretá­rio e pelo presidente.

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ESTATUTOS DOS CONSELHOS PASTORAIS PAROQUIAIS

Artigo 12!1- Grupos ocasionais de trabalho

Para estudo ou execução de tarefas determinadas, o Conselho Pastoral Paroquial pode constituir grupos ocasionais de trabalho.

Estes grupos serão compostos por membros do Conselho Pastoral Paroquial e, se for útil, por outras pessoas, cabendo a presidência a um daqueles membros .

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS

Artigo 13!1- Resolução de conflitos

Qualquer conflito que surja no âmbito do Conselho Pastoral Paro­quial deve ser resolvido em diálogo pelos membros do Conselho, se necessário, com a ajuda do Vigário da Vara e, em último recur­so, pelo Bispo da Diocese.

Artigo 14!1- Alterações dos Estatutos

Qualquer alteração aos presentes Estatutos terá de ser aprovada pelo Bispo da Diocese. A alteração só lhe pode ser proposta me­diante o voto conforme de, pelo menos, dois terços dos membros do Conselho.

Artigo 15!1- Dissolução do Conselho

O Conselho Pastoral Paroquial só pode ser dissolvido pelo Bispo da Diocese.

Na Diocese de Leiria-Fátima os Conselhos Pastorais Paroquiais estão instituídos em cerca de 20 par6quias.

Noutras comunidades paroquiais existem comissões que desempenham tarefas semelhantes às enunciadas nestes Estatutos.

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RETIROS ANUAIS PARA O CLERO Neste ano de 1994, estão marcados, no Santuário de Fátima,

seis retiros, a realizar nas seguintes datas:

De 25 a 29 de Julho De 22 a 26 de Agosto De 19 a 23 de Setembro De 17 a 21 de Outubro De 14 a 18 de Novembro De 21 a 25 de Novembro

Todos os retiros se realizam na casa de Nossa Senhora do Carmo; principiam com o jantar do primeiro dia e terminam com o almoço do último dia. As inscrições devem fazer-se até 10 dias antes das respectivas datas, para: Serviço de Alojamento - San­tuário de Fátima - 2496 FÁTIMA Codex (telef. 533022 - fax 533131).

* * *

-

RECOLECÇOES MENSAIS Também na casa de retiros de Nossa Senhora do Carmo do

Santuário de Fátima se realizam, este ano, as seguintes recolec­ções mensais para sacerdotes: 4 de Abril, 2 de Maio, 6 de Junho, 4 de Julho, 1 de Agosto, 5 de Setembro, 3 de Outubro, 7 de No­vembro e 5 de Dezembro.

O programa destas recolecções principia às 10.30 h, com meditação, exposição do SS.mo Sacramento, reflexão pessoal e confissões; às 12.20, meditação e bênção do Santíssimo; às 13 h, almoço.

Os sacerdotes que tenham de percorrer grandes distâncias podem chegar de véspera e regressar no dia seguinte, desde que haja acordo prévio com o Serviço de Alojamento do Santuário.

ACTOS EPISCOPAIS

PÁROCO DAS PEDREIRAS E DA CALVARIA

Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima. Tendo presente o plano de pastoral da Diocese e de acordo com o

c. 522, achamos por bem aceitar e agradecer a disponibilidade do actual Pároco do Olival (Nossa Senhora da Purificação) concelho e vigararia de Ourém, Rev. P. Bernardo Pereira Morganiça, para o exercício do ministé­rio sacerdotal em qualquer lugar da Diocese.

E assim decidimos:

1. Nomear o Sr. P. Bernardo Pereira Morganiça Pároco de Pedreiras (S. Sebastião), concelho e vigararia de Porto de Mós, substituindo o Sr. P. Manuel Pedrosa Melquíades nesta paroquialidade, a quem agradece­mos toda a acção pastoral realizada com todo o zelo na comunidade de Pedreiras;

2. Nomear o mesmo Sr. P. Bernardo Pereira Morganiça Pároco de Calvaria (Santa Marta), vigararia da Batalha, em substituição do Rev. P. José Ferreira Gonçalves, que continua a ser Pároco da Batalha e vi­gário da mesma vigararia, e a quem agradecemos todo o empenho que demonstrou nas funções de Pároco da Calvaria, desde Setembro de 1993;

3. Confirmar a nomeação do Rev. P. Pedro Manuel Jorge Ferreira como vigário paroquial de Pedreiras.

O novo Pároco de Calvaria e Pedreiras fará na tomada de posse a profissão de fé e o juramento de fidelidade.

Agradecemos ao Sr. P. Bernardo Pereira Morganiça todos os servi­ços prestados nesta nossa querida Diocese de Leiria-Fátima e formula­mos os melhores votos de que seja bem recebido nas novas paróquias e que a sua acção pastoral produza bons frutos.

Leiria, 25 de Janeiro de 1994, festa da Conversão de S. Paulo.

t SERAFIM DE SousA FERREIRA E SILVA

Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

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ACTOS EPISCOPAIS

PÁROCO DO OLIVAL

Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, sen­do necessário prover a paróquia do Olival, concelho e vigararia de Ou-rém.

Achamos por bem nomear Pároco do Olival (Na Senhora da Purifica­ção) o Rev. P. Elias Ferreira da Costa, que até ao presente tem exercido iguais funções na paróquia dos Pousos, concelho e vigararia de Leiria. No acto de 'tomada de posse' fará a profissão de fé e o juramento de fi­delidade.

Agradecemos ao Sr. P. Elias Ferreira da Costa todos os serviços prestados nesta nossa querida Diocese de Leiria-Fátima e fazemos votos que Pároco e paroquianos do Olival se empenhem na evangelização e re­novação permanentes desta comunidade cristã. E que Na Senhora da Pu­rificação vos proteja.

Leiria, 25 de Janeiro de 1994, festa da Conversão de S. Paulo.

t SERAFIM DE SoUSA FERREIRA E SILVA

Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

REVISOR DA CÂMARA ECLESIÁSTICA

Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, tendo presente que o Rev. P. Raul Rodrigues Carnide, revisor da Câmara Eclesiástica, fora nomeado Pároco de S. Simão de Litém, pelo que ficou limitado o seu tempo de serviço na Cúria, nomeia, ad nutum, para aju­dar o Chanceler e o Revisor na Câmara Eclesiástica o Rev. P. Diamantino da Silva Maurício.

Registe-se em acta que entrou ao serviço e que fez, "Coram Episcopo" promessa "de secreto servando et de munere fideliter adim­plendo" (c. 471).

Leiria, 25 de Janeiro de 1994, festa da Conversão de S. Paulo.

t SERAFIM DE SoUSA FERREIRA E SILVA

Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

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ACTOS EPISCOPAIS

PÁROCO DOS POUSOS

Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, a fim de providenciar e prover a paroquialidade dos Pousos (N� Senhora do Desterro), dado que o Rev. P. Elias Ferreira da Costa foi transferido para a paróquia do Olival, havemos por bem nomear Pároco de Pousos, do concelho de Leiria e vigararia do mesmo nome, o Rev. P. Dr. Augusto Ascenso Pascoal, que cumulativamente continuará a exercer as funções de professor do Seminário Diocesano e da Universidade Católica, bem como de Juiz no Tribunal Eclesiástico, e por isso, nomeamos Vigário Paroquial da mesma freguesia dos Pousos, nos termos dos cc. 545 §1 e 548-552, o Rev. P. Dr. Fernando Clemente Varela, sacerdote desta Diocese, que deixou de ser o responsável da secretaria episcopal e manterá os seus encargos no Seminário, no Tribunal Eclesiástico e no colégio de S. Miguel.

Rogo a St2 Agostinho e a Nª Si! de Fátima, Padroeiros desta Diocese, que abençoem e protejam a comunidade dos Pousos e os seus pastores.

Leiria, 25 de Janeiro de 1994, festa da Conversão de S. Paulo.

t SERAFIM DE SoUSA FERREIRA E SILVA

Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

MOVIMENTO ESPERANÇA E VIDA

Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber que homologa a Direcção Diocesana do Movimento Esperança e Vida, de acordo com o artigo 15,2 dos respectivos estatutos, por um trié­nio, a contar de 14 de Dezembro 93, e que é assim constituída:

Júlia Rodrigues Costa, Conceição de Jesus Ferreira Varalonga Rai­nho, Emília Costa Lopes Marques e Celeste Gomes Gil Mateus.

Confirmamos também, como assistente e pelo mesmo tempo de mandato trienal, o Rev. P. Manuel Marques dos Santos.

No 50º aniversário da fundação deste movimento como associação pri­vada de apostolado laical que é constituída e dirigida por "mulheres atingi­das pela provação da viuvez" formulo votos para que a Direcção diocesana e os centros locais prossigam e obtenham os objectivos que constam do art2 5.

Leiria, 25 de Janeiro de 1994, festa da Conversão de S. Paulo.

t SERAFIM DE SoUSA FERREIRA E SILVA

Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

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ACfOS EPISCOPAIS

COMISSÃO DIOCESANA DAS MIGRAÇÕES E TURISMO

Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue:

- Para que o Rev. P. Luís Inácio João possa dedicar-se a outras tare­fas diocesanas, achou por bem dispensá-lo dos encargos relacionados com a pastoral da mobilidade e nomear, para os mesmos objectivos, a seguinte Comissão Diocesana das Migrações e Turismo:

• P. Isidro da Piedade Alberto • D. Maria do Céu Bernardo Leite • José António Santos Silva • D. Maria Odete Marto dos Santos • Vítor Manuel Pedrosa Duarte Gervásio • Jacinto Sousa Gil • Abílio Madeira Martins • D. Maria Cândida Correia do Nascimento.

Esta nomeação é por três anos. Leiria, 25 de Janeiro de 1994, festa da Conversão de S. Paulo.

t SERAFIM DE SoUSA FERREIRA E SILVA

Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

• A Conferência Episcopal Portuguesa divulgou uma Instrução Pasto­ral sobre "O Catecismo da Igreja Cato?ica e a sua utilização pastoral." Na primeira parte é traçada a hist6ria da redacção do texto do Catecismo e as li­nhas mestras do seu conteúdo. A segunda parte apresenta um conjunto de sugestões para a utilização do Catecismo na formação cristã.

• No encerramento do Oitavdrio pela Unidade dos Cristãos, os repre­sentantes das diferentes Igrejas assumiram conjuntamente diversos compro­missos: defender e promover a dignidade e os direitos da famz?ia; combater activamente a droga e a sida; promover a salvaguarda do Domingo como Dia do Senhor.

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CONTRIBUTO PENITENCIAL E RENÚNCIA QUARESMAL

Com data de 8 de Fevereiro deste ano, o Bispo da Diocese de Leiria-Fáti­ma enviou a todos os padres uma carta em que refere os critérios a seguir na prática do contributo penitencial e da renúncia da Quaresma de 1994.

Em 24.2.93 escrevi a V. Rev.cia, tendo ouvido o parecer do Cabido catedralício, a dizer que era deixado ao critério dos Priores o destino a dar ao quantitativo resultante dos actos de "renúncia quaresmal". Suge­ria-se, entretanto, a Diocese de Novo Redondo (Angola), ao mesmo tem­po que a pastoral do acolhimento.

Como se poderá verificar pelo mapa distribuído pelo serviço de administração, 8 paróquias escolheram os destinatários, que indicaram, e as restantes paróquias, com o Santuário de Fátima, mandaram para a Cúria Diocesana o produto de tal ofertório (contributo penitencial e re­núncia), o que somou 5.850.143$00. Foram enviados 3.000.000$00 para a Diocese de Novo Redondo e foram entregues à Cáritas 200.000$00 a fim de serem aplicados na referida pastoral do acolhimento; o restante foi encaminhado para os serviços diocesanos.

Dado que se notava alguma confusão entre o conceito ou a prática do contributo penitencial e a renúncia quaresmal, uma comissão estu­dou o assunto e concluiu que são coisas que se devem manter distintas.

De facto, o contributo penitencial "corresponde a uma entre várias formas de cumprimento do preceito eclesiástico da abstinência", ao pas­so que a renúncia quaresmal significa um acto de ascese que se converte em "partilha e comunhão de bens".

A documentação sobre esta matéria, tendo presente a constituição apostólica Paenitemini (17.2.1966), encontra-se na revista Lumen de 1966, 1967, 1982 e 1985, bem como nos cc. 1249-1253 do CDC.

Na nossa Diocese de Leiria-Fátima o contributo penitencial e a re­núncia quaresmal correspondentes ao ano em curso de 1994 serão cuida­dosamente recolhidos e entregues na Cúria Diocesana. Do total recebido 50% será enviado para a Diocese de Lichinga e para o Seminário de Dili. Lichinga é Diocese desde 1963, chamando-se então Vila Cabral, no Nias­sa, Moçambique. Com 129.362 kms2 tem uma população de cerca de 600 mil habitantes, dos quais 120 mil são católicos. Trabalham em Lichinga

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CONTRIBUTO PENITENCIAL

dois missionários da nossa Diocese e o Bispo é português. O Seminário de Dili precisa de ser restaurado e o Bispo D. Ximenes Belo pediu uma ajuda.

Os restantes 50% serão aplicados na constituição do "fundo econó­mico diocesano" a que se referem os artigos 6-14 do "regulamento da administração de bens da Igreja na Diocese de Leiria-Fátima".

Os Rev. Párocos e responsáveis de centros de culto na nossa Dioce­se terão o cuidado de instruir os fiéis acerca da disciplina penitencial e seu espírito, informando sobre o destino que vai ser dado este ano à so­ma total do contributo penitencial e da renúncia quaresmal.

Só a título muito excepcional poderá ser expressamente autorizada a alguma paróquia a atribuição de outro fim.

Apresento respeitosos e cordiais cumprimentos, com votos de que a Quaresma 94 seja tempo propício de reconciliação e de paz in JC.

t SERAFIM DE SousA FERREIRA E SrL VA Bispo de Leiria-Fátima

• Segundo os dados divulgados pela Comissão Episcopal do Clero, ve­rificou-se em Portugal, nos últimos seis anos, um ligeiro aumento do núme­ro de ordenações sacerdotais. Enquanto em 1988 foram ordenados 37 presbíteros, em 1993 o número foi de 43. Em 1992 tinha havido 51 ordena­ções. O número de seminaristas no curso teológico subiu de 340, em 1988, para 444, em 1993.

• "Televisão e fam!?ia: critérios para saber ver." Este é o tema da men­sagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. O texto foi publicado no nQ 6 de "L'Osservatore Romano".

• Durante o ano de 1993 houve em Fátima cerca de 150.000 confis­sões. Na Capela da Reconciliação confessaram-se 1 1 7.138 pessoas, das quais 70% foram mulheres e 30% homens.

• Está à venda a edição ecuménica da Btôlia em língua portuguesa. Trabalharam nesta obra peritos protestantes e católicos que apresentaram um texto em português moderno. Foram feitas duas tiragens: uma com todos os livros (para uso dos católicos) e outra sem os livros deuterocanónicos (pa­ra os protestantes).

Está também em fase de revisão e actualização a edição da Btôlia da responsabilidade dos Missionários Capuchinhos.

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REUNIAO DE VIGARIOS

COMUNICADO

Sob a presidência do sr. Bispo D. Serafim, os vigários da vara da Diocese de Leiria-Fátima tiveram mais uma reunião de trabalho, no dia 27 de Janeiro, na casa episcopal. Esteve também presente o vi­gário-geral da Diocese.

Dos assuntos agendados e estudados salientamos:

- Contributo penitencial e renúncia quaresmal. Acerca deste tema o sr. Bispo irá publicar um documento doutrinário e indicativo do destino a dar, em 1994, ao contributo penitencial e renúncia qua­resmal. Em 1993, juntaram-se cerca de 3.000 contos, que foram en­viados para o Sumbe, Angola.

- Peregrinação diocesana a Fátima. Será a 20 de Março, com o mesmo programa de 1993. Neste Ano Internacional da Família, o tema geral da peregrinação, e sua preparação, será Famz1ia, Coração da Nova Humanidade. As paróquias irão programar algumas catequeses, para jo­vens e adultos, versando este tema. Foi escolhido um delegado dos vigá­rios para membro da Comissão Diocesana para a Família.

O Ano Internacional da Família, na diocese de Leiria-Fátima, foi oficialmente inaugurado pelo sr. Bispo, em solene celebração no Santuário da Fátima, no passado dia 26 de Dezembro. A ruvel nado­nat estão programadas várias actividades.

Em Roma, irá realizar-se, de 6 a 8 de Outubro, um Congresso Mundial sobre a Família, a que se seguirá, no dia 9, a Grande Festa da Família. Ainda este ano, o Papa irá publicar uma encíclica sobre a Família. A Conferência Episcopal Portuguesa já publicou um volume com vários documentos relacionados com este mesmo tema.

Foram escutadas com muito interesse, e seguidas de franco diá­logo, as comunicações seguintes:

- Do Secretariado da Educação Cristã, o P. Augusto Gomes Gonçalves apresentou um estudo acerca da situação eclesial e pasto-

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COMUNICADO DA REUNIÃO DE VIGÁRIOS

ral do sacramento do Crisma. Lembrou os retiros programados para os catequistas e a realização do Fórum e Festival Nacional da Canção Jovem em Fátima, de 27 a 30 de Abril próximo.

- Do Secretariado da Pastoral Juvenil, o P. Mário Verdasca disse que o secretariado é constituído por gente capaz, e referiu as várias actividades realizadas com grande êxito, salientando o Festi­val Diocesano da Canção Jovem, no Teatro de José Lúcio da Silva, em Leiria, no dia 23 de Janeiro.

Referiu ainda as datas de alguns retiros, de encontros de forma­ção e oração, do Dia Mundial da Juventude, e duma projectada via­gem de jovens a Taizé.

- Da Universidade Católica em Leiria, o Dr. Augusto Ascenso Pascoal e o Dr. Carlos Ascenso André falaram da importância do Curso de Língua Portuguesa e Línguas Estrangeiras Aplicadas, da sensibilização da juventude para a frequência de cursos com futuro, e dos projectos de abertura de novos cursos na Universidade Católi­ca em Leiria.

- O Dr. Manuel dos Santos José e a sua equipa contaram da sua experiência, muito positiva, na organização de retiros espirituais, que têm por objectivo proporcionar um verdadeiro encontro com Deus, em clima de profundo silêncio, recorrendo com frequência à linguagem simbólica e realçando a dimensão festiva das celebrações. O próximo retiro, itinerante, será de 11 a 15 de Fevereiro, no Centro Pastoral de Aljubarrota. De 10 a 13 de Março, haverá outro retiro, no Algarve.

Ainda durante a reunião, o sr. Bispo deu várias informações, fez algumas consultas e constituiu um grupo de trabalho. Uma vigararia apresentou sugestões para uma remodelação vicarial, e alguns vigá­rios comunicaram realizações e acontecimentos das respectivas viga­rarias.

• A próxima assembleia de vigários está agendada para o dia 27 de Abril, com início às 10 horas.

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COMUNICADO DO CONSELHO PRESBITERAL

Nos dias 28 de Fevereiro e 1 de Março de 1994, reuniu-se o Conselho Presbitera!, sob a presidência do Bispo da Diocese. Iniciaram­se os trabalhos com a apresentação da Carta de João Paulo II às famílias, tendo-se salientado o valor do seu conteúdo.

Dos assuntos previstos, deu-se particular destaque aos seguintes pontos:

1. Diaconado permanente Após uma reflexão sobre os fundamentos bíblico-teológicos do

Diaconado, consideraram-se as conclusões do Concílio Vaticano II e a experiência de outras dioceses.

O Conselho depois de se pronunciar pela oportunidade da instituição do Diaconado permanente na Diocese, achou que esta deve ser precedida de um estudo aprofundado e englobante por parte de toda a comunidade diocesana.

2. Ano Internacional da Família Cada membro apresentou as iniciativas e acções realizadas ou

programadas a nível local pelas diferentes comunidades e instituições. O responsável do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar

incentivou particularmente os párocos a fomentarem a constituição de uma equipa de casais, se ainda não existir, para promover a condigna celebração do Ano Internacional da Família e, virtualmente, se transformar em equipa de "Serviço e Apoio à Família" (SAF).

Reconheceu-se a urgência de implementar estruturas pastorais especialmente adequadas aos jovens, na perspectiva do casamento.

O Senhor Bispo lembrou que a família se encontra entre as prioridades pastorais desta Diocese e sublinhou a necessidade de se promover a oração familiar.

3. Corresponsabilidade e complementaridade ministerial

Os Conselheiros tiveram a oportunidade de apresentar as suas preocupações e anseios, nomeada-mente no que diz respeito a formas de corresponsabilidade na reflexão, programação e acção pastoral.

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COMUNICADO DO CONSELHO PRESBITERAL

Sublinhou-se a necessidade de maior empenhamento dos membros do clero como corpo presbiteral. Valorizou-se a preparação específica e adequada para as funções desempenhadas, de modo a proporcionar mais competência e maior aproveitamento das qualidades pessoais.

4. Sínodo diocesano Sobre o projecto do Sínodo diocesano, concluiu-se que ele deverá

ser um espaço de abertura à ac-ção do Espírito e de acolhimento dos seus dons, que são dados a todos os membros da Igreja para o bem de toda a comunidade. Orientado no sentido da comunhão eclesial, deverá constituir ponto de partida para novos projectos pastorais e estimular uma crescente e harmoniosa colaboração entre padres e leigos.

5. Assembleia diocesana do clero Porque as realizações pastorais planeadas pressupõem que todos

os membros do presbitério se empenhem num espírito de disponibilidade e de renovação, os conselheiros tiveram a iniciativa de promover uma assembleia geral do clero, a realizar no próximo dia 7 de Junho. Ficou designada uma comissão com a incumbência de preparar a referida assembleia e de motivar para uma reflexão conjunta sobre os temas hoje tratados e a renovação pastoral em perspectiva.

6. Situação sócio-religiosa Apesar do escasso tempo disponível, a publicação dos dados de

recenseamento da prática dominical de 1991 foi ainda ocasião de algumas considerações concluindo-se pela premência de um exame mais aprofundado em ordem ao seu aproveitamento pastoral.

Na sequência desta reflexão, o Senhor Bispo insistiu na sua esperança de vir a poder constituir-se, com a brevidade possível, um gabinete de estudo sócio-pastoral e, ao encerrar a sessão, congratulou-se com os trabalhos salientando a iniciativa da convocação da assembleia diocesana do clero e a preocupação por uma melhor e mais eficaz coordenação pastoral da Diocese.

Leiria, 1 de Março de 1994

O Secretário

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VIDA ECLESIAL ,

ANO INTERNACIONAL DA FAMILIA

A Diocese de Leiria-Fátima iniciou a sua celebração do Ano Inter­nacional da Família em Fátima, no dia 26.12.93, com um programa de oração e convívio preparado pelo Santuário.

O Bispo diocesano presidiu à celebração eucarística onde se referiu às capacidades e responsabilidades da família num mundo em transfor­mação.

Recorde-se que a família está entre as prioridades pastorais defini­das por D. Serafim Ferreira e Silva por altura da tomada de posse como Bispo da Diocese.

Foram programadas ainda outras acções de serviço pastoral à fa­mília:

• Começou a funcionar em Leiria (Largo das Forças Armadas, nº 13) um centro de atendimento e apoio à família, da responsabilidade do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar. Está aberto às terças-feiras, das 18 h às 20 h, e às quintas-feiras, das 21 h às 23 h.

• No dia 29 e 30 de Janeiro realizaram-se no Seminário de Leiria jornadas de reflexão teológica sobre a indissolubilidade matrimonial e o problema pastoral da inserção eclesial dos casais em situações irregu­lares.

• O Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar tem-se disponibi­lizado para apoiar acções paroquiais e vicariais de formação sobre ques­tões ligadas à vida familiar.

• A emissora regional de Leiria da Rádio Renascença tem tido um espaço semanal de reflexão sobre a temática deste Ano Internacional. Colaboram diversos organismos que trabalham ao serviço da família.

REUNIÕES DO CLERO

Com o objectivo de criar espaços efectivos de comunhão eclesial no Presbitério, todos os padres foram convocados para se reunirem com o Bispo da Diocese.

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VIDA ECLESIAL

Os encontros foram feitos por grupos etários e realizaram-se nas seguintes datas:

- até aos 35 anos: 15 de Novembro de 1993 - dos 36 aos 55 anos: 22 de Novembro de 1993 - dos 56 aos 70 anos: 29 de Novembro de 1993 - com mais de 70 anos: 20 de Dezembro de 1993

A adesão a esta iniciativa foi quase unânime e as impressões foram globalmente positivas.

CATEQUESE DE ADULTOS

O Bispo da Diocese iniciou, em Fevereiro, uma série de encontros de formação doutrinal, na paróquia da Marinha Grande. Destina-se a adultos, com idade superior a 44 anos, e tem como tema aspectos cen­trais da fé cristã.

A Marinha Grande situa-se na zona que o Bispo diocesano consi­derou pastoralmente prioritária, e a catequese de adultos corresponde a um dos meios privilegiados do plano pastoral da Diocese.

NOVOS PÁROCOS

Diversas paróquias da Diocese foram, durante este ano de 1994, providas de novos párocos. Assinalamos a data da tomada de posse:

- Amor: 1 de Janeiro, às 15.30 h. - São Simão de Litém: 2 de Janeiro, às 15.00 h. - Albergaria dos Doze: 2 de Janeiro, às 16.30 h - Nossa Senhora da Piedade (Ourém): 9 de Janeiro, às 15.30 h

- Pousos: 13 de Janeiro, às 8.30 h. - Pedreiras: 27 de Fevereiro, às 17 horas. - Calvaria: 27 de Fevereiro, às 15 horas. - Olival: 6 de Março, às 16 horas.

De um modo geral, sobressaiu um empenho activo das diversas co­munidades no acolhimento aos novos párocos.

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VIDA ECLESIAL

ORDENAÇÕES

No dia 6 de Fevereiro de 1994 foram ordenados, na Sé de Leiria, dois presbíteros e três diáconos. Realizaram-se vigílias de oração e en­contros de reflexão vocacional nas comunidades paroquiais onde traba­lhavam os ordinandos e nas suas paróquias de origem.

Após a ordenação, o Seminário Diocesano proporcionou uma refei­ção-convívio a todos os padres presentes e às famílias dos novos presbí­teros e diáconos.

Novos presbíteros:

- P. Bertolino Vieira, a trabalhar nas paróquias de Milagres e Bi­doeira de Cima, é natural de S. Mamede; nasceu a 19.07.69 e entrou para o Seminário em 1979;

- P. José Lopes Baptista, formador no Seminário Diocesano, é na­tural do Cereal, nasceu a 20.01.66 e entrou para o Seminário em 1982.

Novos diáconos:

- Cristiano João Rodrigues Saraiva, em estágio na paróquia de Souto da Carpalhosa;

- Filipe da Fonseca Lopes, em estágio na paróquia da Batalha;

- Jacinto Pereira Gonçalves, em estágio nas paróquias de Arrima!, Mendiga e Serro Ventoso.

FÁTIMA JOVEM 94

Na sequência das celebrações do Ano Internacional da Família (AIF), o Santuário de Fátima decidiu promover um conjunto de acções destinadas directamente aos jovens. A este projecto deu-se o nome de "Fátima Jovem 94".

Entre os objectivos definidos destaca-se: celebrar o AIF numa pers­pectiva cristã, reflectir sobre a problemática familiar, tomar consciência dos desafios sociais e das propostas da Igreja para a família.

Participarão jovens de todas as dioceses, representantes das comu­nidades migrantes e delegações de Espanha, Itália e S. Tomé.

Das actividades previstas, destaca-se: Fórum, Festival e Peregrinação.

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VIDA ECLESIAL

O Fórum decorrerá de 27 a 29 de Abril, no Centro Pastoral Paulo VI.

1 º dia: "Família, um projecto num mundo em transformação". 2º dia: "Família, realidades e projectos nacionais, europeus e uni­

versais". 3º dia: "Família, um desafio hoje".

Os participantes no Fórum serão distribuídos por vários "ateliers" temáticos que funcionarão simultaneamente:

1. Relações humanas e comunicação 2. À busca da felicidade 3. Da opção ao compromisso definitivo 4. O crescimento em ordem à personalidade e maturidade S. Namoro, caminho para o casamento 6. As diversas opções de vida 7. Heterossexualidade, única forma de ser família ? 8. Os conflitos na família 9. Dimensão social e religiosa do Matrimónio

10. Família evangelizadora 11 . Jovens face ao futuro

A Peregrinação decorrerá nos dias 30 de Abril e 1 de Maio. Do pro­grama geral da Peregrinação salienta-se:

- Peregrinação a pé: com um trajecto de 10 km a ser percorrido por grupos em cerca de três horas .

- Vigília de oração: será feita por grupos de dioceses, culminará com uma caminhada de luzes e uma celebração na Capelinha.

- A Missa dominical encerrará oficialmente a Peregrinação. A ce­lebração eucarística será presidida pelo Cardeal Afonso López Trujillo e integrará a consagração das famílias a Nossa Senhora.

O Festival da canção religiosa realiza-se no dia 30 de Abril, às 15.30 h. Concorrem os vencedores dos festivais diocesanos e terá a participa­ção do P. Zezinho.

CONVENTO DE S. FRANCISCO A primeira referência ao Convento de São Francisco, fundado no

rocio de Santo Amaro, junto ao rio, remonta ao ano de 1229. Mas, 1232 será o ano mais provável da sua fundação.

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VIDA ECLESIAL

Devido às sucessivas cheias e inundações do Lis, nomeadamente a de 26 de Março de 1475, o edifício vai-se detereorando sucessiva­mente. Mesmo depois de construído o Marachão, verdadeiro dique de protecção que data do século XVIII, verificam-se infiltrações de águas que formaram pântanos nas traseiras do Convento. E daí sucederem­-se as reconstruções e, com estas, a alteração da traça arquitectónica e do volume do mesmo Convento. Muito da sua riqueza epigráfica e decorativa terá desaparecido. Ultimamente, porém, encontrou-se um fresco, pintura mural, talvez dos inícios do século XVI, ali empareda­do desde tempos recuados. Em 14 de Agosto de 1562 faz-se a sagra­ção da igreja.

Após a extinção das ordens religiosas em 1834, o Convento, votado ao abandono, foi entregue à Câmara Municipal, em 2 de Julho de 1851, para ser demolido e aproveitados os seus materiais. Quatro anos volvi­dos, em 1855, pensou-se instalar ali os Paços do Concelho, o tribunal e a cadeia. Mas, deste projecto, apenas a cadeia foi contemplada, para ali transferida em 1866. Em 1920, o Convento foi cedido a um grupo que o adaptou para fins industriais, a Companhia Leiriense de Moagem.

De todo o rico conjunto arquitectónico apenas restava uma igreja pobre, maltratada, em ruínas.

Alertados pela Ordem Terceira de São Francisco, os Leirienses des­pertaram e as obras de conservação e de beneficiação já se iniciaram e estão actualmente em curso.

RELIGIOSAS EM LEIRIA

Chegou no dia 15 de Fevereiro a Leiria uma comunidade brasileira, as "Religiosas da Instrução Cristã". Em número de três, ficarão a residir em S. Romão (Leiria) numa casa cedida pela Diocese.

A congregação foi fundada em 1823 na Bélgica pela Madre Agathe Verhelle, com a divisa "Gaudere et bene facere" .

A sua missão eclesial dirige-se prioritariamente aos jovens e traba­lham em colégios, centros sociais e paróquias.

Na nossa Diocese irão auxiliar a pastoral juvenil e colaborar em pa­róquias na zona.

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VIDA ECLESIAL

INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO

Com a finalidade de inventariar o património artístico e histórico, foi constituída pelo Bispo diocesano uma comissão de trabalho (Cfr. "Leiria-Fátima", nº3, pg. 206).

Já foram visitadas 20 paróquias e 67 lugares de culto. Estão elaboradas 241 fichas de inventário identificativo e foram feitas 525 fotografias das peças mais significativas.

A ficha identificativa inclui dados que permitam localizar o objecto, descrição, datação, dimensões e uma apreciação sobre o estado de conservação.

COLÓNIA BALNEAR DA CÁRITAS

Das actividades desenvolvidas pela Cáritas diocesana de Leiria, destaca-se a utilização da Colónia Balnear do Pedrógão, cuja construção envolveu toda a Diocese.

Ao longo do ano passado esta casa recebeu cerca de 350 crianças e 30 adolescentes. Foram organizados oito turnos de férias que acolheram 425 idosos, provenientes de vários lares e centros de dia.

As instalações são ainda usadas para semanas de retiros, encontros de fins-de-semana e pequenos cursos de formação. Realizaram-se 22 encontros que envolveram 968 pessoas.

• Um curso de formação musical e litúrgica está a ser preparado pela Escola Teológica de Leigos. Destina-se a animadores de canto, salmistas e organistas, que desempenham este serviço nas celebrações litúrgicas. Come­çará a funcionar no próximo ano lectivo.

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A VIDA CONSAGRADA -

E A SUA MISSAO NA IGREJA E NO MUNDO

O próximo Sínodo dos Bispos terá como tema "A vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo". A fim de preparar os trabalhos desta as­sembleia sinodal foi enviada a todas as dioceses um questionário cujas res­postas ajudarão a reflectir o tema proposto.

Na diocese de Leiria-Fátima, o Bispo diocesano constituiu uma comissão com a tarefa de aprofundar o documento que foi enviado.

O texto que a seguir se apresenta é uma síntese das respostas a esse questionário.

I. Natureza e identidade da vida consagrada.

Entre os aspectos da vida espiritual a salientar na vida consagrada devem contar-se: a atenção constante à escuta de Deus e às inspirações do Espírito; o relevo à oração, pois os consagrados devem tornar-se tes­temunhas e mestres; a vida comunitária assente na vivência do amor re­cíproco e alimentada na comunhão de bens (espirituais e pessoais); a clarificação e aprofundamento da consciência do carisma do próprio ins­tituto, para que a sua vivência seja mais intensa; o cultivo da fraternida­de, do espírito de serviço, da atitude de doação gratuita e da alegria; a vivência quotidiana do Evangelho.

Os consagrados hão-de interiorizar e aprofundar a espiritualidade pascal: a sua entrega a Deus como participação na morte e ressurreição de Cristo exprime-se numa vida que seja um sim constante aos apelos divinos e uma prática incondicional de amor ao próximo.

A dimensão comunitária da vida consagrada apresenta como as­pectos positivos: a possibilidade de uma vivência concreta permanente da comunhão fraterna, da partilha de bens, da inter-ajuda e, por conse­quência, de um enriquecimento mútuo entre os membros da comunida­de. Ela é também apelo ao exercício constante da aceitação mútua na diferença e da correcção fraterna, em ordem ao crescimento na perfeição. A vida comunitária oferece condições para a experiência do encontro com o Senhor ressuscitado, que garantiu a Sua presença entre aqueles que se reúnem em Seu Nome.

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VIDA CONSAGRADA

Também se observam, nos dias de hoje, alguns riscos e mesmo as­pectos negativos: as tentações, nem sempre afastadas, do activismo, do autoritarismo, do protagonismo e da independência bem como a des­confiança por vezes existente entre as pessoas enfraquecem a vivência comunitária. Dão lugar aos casos de despersonalização ou de anonima­to, que por vezes ainda se verificam. A comunidade é também prejudi­cada pelas tensões geradas, por exemplo, pela diferença de cultura e pela carência de formação permanente.

Em ordem a um autêntico testemunho do espírito de cada instituto ao serviço da Igreja no mundo de hoje, urge que cada um viva fielmente o seu carisma específico com toda a sua riqueza e radicalidade. Além disso, é indispensável que o mesmo seja interpretado de modo a corres­ponder às exigências dos sinais dos tempos, sem com isso reduzir ou atenuar a sua originalidade e vigor.

É de esperar da vida consagrada um testemunho vivo da espiritua­lidade e do serviço, segundo a multiplicidade e vivacidade dos dons do Espírito. Para que tal aconteça, é indispensável que os institutos conti­nuem o esforço por aprofundar e clarificar a consciência do carisma de que são portadores para o bem dos homens e eficácia da missão da Igre­ja no mundo. Por seu lado, as autoridades civis e eclesiásticas hão-de respeitar os carismas particulares e cuidar que eles contribuam efectiva­mente para o bem comum.

O testemunho evangélico dos religiosos e religiosas no seio do po­vo de Deus depara-se com as seguintes dificuldades: algum esbatimento do carisma próprio e da vivência evangélica das comunidades e seus membros, uma certa contradição entre a pobreza das pessoas e a rique­za, pelo menos na aparência, dos institutos, as tensões entre os consagra­dos e as obras e os ambientes em que estão inseridos.

A par disto, verifica-se o desconhecimento do específico da vida consagrada por parte da esmagadora maioria do povo de Deus. Daí a ausência daquele impacto visível e de interpelação, que seria de esperar pela presença e acção dos religiosos em determinados ambientes.

As comunidades dedicadas inteiramente à vida contemplativa, no seu âmbito específico, podem oferecer algumas possibilidades à humani­dade de hoje, investindo mais na espiritualidade: desenvolvimento de uma teologia espiritual, abertura de "escolas de oração", acolhimento a pessoas que desejam o silêncio e outras condições para a oração, a medi­tação e o encontro com Deus e consigo próprios.

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VIDA CONSAGRADA

Entre as dificuldades que enfrenta este tipo de comunidades en­contramos o envelhecimento e insuficiente renovação por parte de algu­mas delas e o desapreço e/ou desconhecimento que dele têm as outras comunidades cristãs.

A participação mais activa da mulher na vida da Igreja e da socie­dade trouxe novas oportunidades para a vida consagrada feminina: maior inserção e aceitação das religiosas nas actividades eclesiais e não apenas nos serviços domésticos, colaboração mais frequente e activa com os religiosos e sacerdotes na acção pastoraC aumento da estima pela mulher na Igreja e valorização da sua presença e acção nas comunidades cristãs.

Por outro lado, emergem alguns problemas: desfasamento entre actualização e fidelidade, vida activa e presença na comunidade; busca de compensações afectivas a pretexto de exigências apostólicas ou de trabalho. As novas e múltiplas condições em que se encontram reque­rem das religiosas maior maturidade afectiva e grande empenho na for­mação.

Os Institutos Seculares são bem recebidos na diocese. Possibilitam uma presença cristã diferente no meio do mundo, mais acessível a este. Testemunham a exigência de ser nele fermento do evangelho e de orien­tar para Deus todas as realidades humanas.

Todavia, mani festam-se algumas dificuldades: nem sempre estes institutos se diferenciam, pela sua específica identidade, de algumas for­mas de vida religiosa: têm oração em comum, vida em grupo e obras próprias, além de votos ou promessas emitidos em celebrações comuni­tárias. Por vezes, parecem demasiado clericalizados e a insistir mais na consagração do que na secularidade. Parece ser necessário aprofundar e clarificar melhor a identidade e especificidade desta forma de vida con­sagrada.

II. O caminho da vida consagrada no limiar do ano 2000

A renovação da vida consagrada fez-se. Traduziu-se em maior abertura em vários sentidos, flexibilização das estruturas, maior inserção na Igreja locaC nos ambientes de pobreza e no mundo.

Tal renovação deveu-se à redescoberta dos fundamentos evangéli­cos, cristológicos, pneumatológicos, eclesiológicos, antropológicos e mo­rais da vida consagrada. Para isso contribuiu o grande investimento na

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VIDA CONSAGRADA

formação bíblica, litúrgica, relações humanas e noutros campos que os Institutos têm feito desde o Concílio.

Quanto aos aspectos negativos, há que mencionar os seguintes: há pessoas ainda não abertas à renovação e à formação permanente; houve uma certa perda de identidade e da consciência da especificidade do próprio carisma.

Para alcançar uma decidida renovação, há que seguir pelos cami­nhos da reconversão aos valores da vida consagrada, da releitura do próprio carisma e da própria história no contexto das exigências hodier­nas e dos "sinais dos tempos", da formação permanente nas várias di­mensões, humana, espiritual, apostólica . . . , da assunção do espírito evangélico de serviço, da vivência da fraternidade cristã.

O problema vocacional tem causas múltiplas: diminuição da vivên­cia da fé, falta de testemunhos suficientemente interpelativos, baixa na­talidade nas famílias, emergir de novas vocações, multiplicidade de atractivos para a juventude ...

Podem contribuir para despertar vocações: a celebração da profis­são dos votos na paróquia do consagrando, a formação mediante a esco­la teológica de leigos, a constituição de comunidades eclesiais de base e de grupos de partilha e oração, o proporcionar experiências intensas e significativas do ponto de vista espiritual, o possibilitar o acompanha­mento e a orientação espiritual individual.

Uma formação feita a nível intercongregacional possibilita maior qualidade com economia de meios, contacto mais assíduo com a diversi­dade de carismas, o que permite uma experiência da partilha dos dons espirituais.

Dificuldades encontram-se na diferente preparação de base, na exi­gência de conciliar e completar com a formação congregacional.

A formação deverá preparar para as novas realidades do mundo e da Igreja e despertar para a consciência crítica e responsável.

Para promover a inculturação da vida consagrada, esta deverá atender permanentemente aos sinais de Deus que se manifestam nos di­ferentes ambientes e culturas. Valores perenes são sempre a doação de si mesmo, a atitude de serviço ao próximo por amor, a fidelidade ao Evan­gelho, a abertura à novidade do Espírito. Enriquecimentos culturais se­rão as formas diversificadas que deverão assumir os valores.

Os problemas derivantes da diminuição das comunidades e do abandono de obras por carência de pessoas deveriam levar à pondera-

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VIDA CONSAGRADA

ção sobre os motivos de tal situação e dos que realmente presidiam à presença ali e à manutenção dessa obra. Acontece que algumas casas se abrem para proveito do próprio instituto e não directamente por moti­vos de serviço ou de testemunho evangélico. Algumas obras têm finali­dades sobretudo económicas, embora a destinação dos bens nelas adquiridos seja a manutenção do instituto e das suas obras apostólicas e missionárias. Estas situações por vezes comprometem os institutos e po­dem mesmo descaracterizá-los aos olhos de quem os observa.

III. Missão da vida consagrada

Nesta Diocese, a comunhão entre os Institutos de vida consagrada e o Bispo manifesta-se na participação e colaboração em várias acções. Os sacerdotes religiosos estão representados no Conselho Presbiteral e alguns deles prestam serviço como professores no Seminário diocesano.

A nível diocesano estão organizados a CNIR e a FNIRF, organis­mos que agregam os institutos religiosos masculinos e femininos, res­pectivamente. Mantêm um relacionamento normal de comunhão com o Bispo.

Para além das próprias obras, há institutos que ainda colaboram com as paróquias, com alguns serviços diocesanos, na assistência a Mo­vimentos e no Santuário de Fátima.

Há experiências positivas de colaboração dos religiosos, nomeada­mente na pastoral vocacional diocesana, no Santuário de Fátima, na edu­cação.

Uma dificuldade verifica-se na excessiva concentração de institu­tos de vida consagrada em Fátima e a quase ausência noutras zonas da diocese, porventura mais carecidas desse tipo de testemunho e serviço.

A ligação entre os consagrados e os leigos não oferece problemas. As ocasiões de encontro, convívio e colaboração são múltiplas, embora não haja, a nível diocesano, iniciativas coordenadas nesse sentido.

Em geral, parece haver uma simpatia dos leigos relativamente aos consagrados. Todavia, também parece haver reservas e alguma má im­pressão, especialmente em Fátima, devido ao envolvimento de alguns institutos no comércio e na hotelaria.

Para participarem mais eficazmente na missão da Igreja, conviria que os institutos desenvolvessem mais a dimensão apostólica, orientan­do nesse sentido todas as suas obras e iniciativas, empenhando-se, con-

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VIDA CONSAGRADA

forme o próprio carisma, no acolhimento aos marginais. Os carismas es­pecíficos deveriam tornar-se mais amplamente presentes na Igreja e não apenas nas obras dos próprios institutos.

Tendo em conta as circunstâncias hodiernas e as exigências de fide­lidade ao carisma específico, conviria que os institutos revissem as pró­prias obras e as novas necessidades para adequar a estas as suas opções.

É importante exortar os institutos a reverem o modo como estão a fazer a sua animação vocacional. Que esta se oriente no respeito pela li­berdade dos candidatos, na valorização da riqueza da diversidade das vocações e carismas e no sentido eclesial.

O grupo de trabalho:

Mons. Henrique Fernandes da Fonseca, Vigário Geral

P. Jorge Manuel Faria Guarda, Secretário das Vocações

P. Pedro da Cruz Ferreira, O. P., Delegado da CNIR

Ira Angelina Vaz Brites Moita, S.S.D.; Delegada da FNIRF

Dri! Emília Almeida Lourenço, leiga

• Nesta Diocese, a vida consagrada está presente em 7 das 73 paró­quias: Fátima, Leiria, Monte Real, Batalha, Olival, Juncal e Mira de Aire. Há também a presença de membros de institutos seculares em mais uma ou duas paróquias. Quanto a formas, predomina a vida religiosa, concentrada sobretu­do em Fátima, onde estão implantados cerca de seis dezenas de institutos.

• No dia 23 de Julho celebra as bodas de ouro sacerdotais o P. Francisco Jorge, Pároco da Marinha Grande

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O SINODO DIOCESANO

A SUA HISTÓRIA NA IGREJA

Na continuidade de outros artigos já publicados em números ante­riores de "Leiria-Fátima", gostaria agora de, embora muito resumida­mente, dar-vos algumas pinceladas da história desta instituição na vida da Igreja.

Segundo o Padre António Leite (dr. Enc. Verbo, vol. 17, cols. 235--236), deu-se este nome às assembleias deliberativas eclesiásticas sobre­tudo de bispos, que no Ocidente tiveram, mais comumente, o nome de Concílios. Nas Igrejas Orientais manteve-se a designação de Sínodo, ou melhor, de Santo Sínodo, para significar duas realidades: a assembleia deliberativa de todos ou, pelo menos, parte dos bispos de cada patriar­cado; e a assembleia composta de sacerdotes, diáconos e leigos que, em cada diocese oriental, se reunia para coadjuvar o bispo no governo das mesmas. Bento XIV (século XVIII), na sua obra clássica De Synodo Dioe­cesana, definia o Sínodo diocesano como "a assembleia reunida pelo Bis­po, composta de presbíteros e clérigos da sua diocese, e de outros que têm o dever de nele participar, na qual se devem tratar e deliberar os as­suntos concernentes à sua cura pastoral".

O Sínodo diocesano nasceu de uma preocupação pastoral: existin­do desde os primeiros tempos um bispo em cada comunidade cristã (ao princípio predominantemente urbana), rodeado pelos presbíteros, é na­tural que se reunissem de vez em quando para tratarem dos problemas que diziam respeito à fé e costumes. Porém, sobretudo depois de Cons­tantino, o Cristianismo propagou-se também pelas aldeias, onde resi­diam presbíteros à frente de pequenas comunidades rurais, pelo que, com o tempo, também estes começaram a reunir-se com o bispo e o cle­ro da cidade para o mesmo fim. Assim, o âmbito de tais reuniões foi-se alargando ao clero de toda a diocese, sendo porém o objectivo o mesmo: reflexão e tomada de medidas concretas acerca da vida, disciplina e dou­trina da comunidade cristã.

Mas, um acontecimento que até aqui tinha um ritmo marcado es­sencialmente pelas exigências do crescimento e desenvolvimento natural das igrejas locais, a partir dos séculos XII-XIII, começa a assumir uma forma institucional. Para dar a conhecer ao clero e restantes fiéis o con­teúdo das resoluções disciplinares, doutrinais e pastorais promulgadas pelos concílios provinciais, começaram a celebrar-se com maior frequên-

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O SÍNODO DIOCESANO

cia sínodos diocesanos, celebrações essas marcadas por uma periodicida­de previamente imposta: ao princípio anualmente, como estabeleceu o IV Concílio Ecuménico de Latrão (1215), depois, até duas vezes por ano, como decretou o Concílio de Basileia (1433). Mais tarde, o Concílio de Trento preceituaria a sua convocação anual, norma que, contudo, nunca se viria a respeitar. O número de sínodos baixou muito no século XVII e sobretudo no século XVIII, sendo pouquíssimos os celebrados no século XIX. O Código de Direito Canónico de 1917 viria a prescrever a obrigato­riedade da celebração do Sínodo cada dez anos. Mas, em geral, não se cumpriu tal periodicidade, sendo muitas as dioceses em que não se reali­zou nenhum.

Há quem faça recuar a instituição do sínodo diocesano aos tempos apostólicos. De facto, S. Lucas relata-nos nos Actos dos Apóstolos (21,18-25), como São Paulo foi recebido em Jerusalém por São Tiago Me­nor, bispo desta cidade, com os presbíteros, tendo-se discutido então a necessidade ou não da circuncisão. E sabemos como desta primeira reu­nião sinodal de que se tem memória, nascem normas pastorais concretas que foram de imediato executadas, as quais trouxeram imensa alegria aos fiéis, e uma experiência muito rica de comunhão na mesma fé.

Em Portugal há notícia (cfr. A. Leite, o.c.) da celebração de alguns sínodos na época medieval, sobretudo em Braga e Lisboa, geralmente para aprovação de constituições diocesanas. Depois do Concílio de Tren­to, segundo o célebre historiador Fortunato de Almeida, realizaram-se 16 no século XVI, 25 no século XVII e 7 no século XVIII, sendo o último o de Miranda, em 1761. Depois da promulgação do Código de Direito Ca­nónico de 1917, celebraram-se sínodos em Braga (1918 e 1943), Coimbra (1923), Leiria (1943), Aveiro (1944), Bragança (1945), Guarda (1949) e La­mego (1951).

Na nossa Diocese, para lá do último já aqui mencionado (1943), a data do primeiro sínodo diocesano recua até ao século XVI (1549), com D. Frei Brás de Barros, em que se publicaram as primeiras Constituições. O Bispo D. Pedro de Castilho reuniu também, em 1598, um outro sínodo que publicou as segundas Constituições do Bispado.

Quanto à estrutura interna do Sínodo poucas modificações se veri­ficaram até ao Código de 1917. A presidência era ocupada pelo Bispo, que o convocava, sem que contudo fosse obrigado a presidi-lo pessoal­mente. Na verdade podia fazê-lo por intermédio de outro eclesiástico, normalmente pelo Vigário-Geral. Tinham o direito e o dever de nele participar os clérigos e, com especial obrigação, todos os que tinham cu-

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O SI NODO DIOCESANO

ra de almas. Os leigos, a partir do século XIV, deixam de nele ter lugar e voz activa, ao contrário do que acontecera até aí. Também a agenda dos sínodos diocesanos foi sofrendo mudanças ao longo dos tempos, fruto quer das circunstâncias dos tempos, quer das necessidades pastorais e disciplinares, quer ainda do centralismo do poder que se fez sentir em certas épocas. Discutiam-se temas diversíssimos: a promulgação das normas canónicas vindas de Roma ou dos concílios provinciais, disposi­ções explicativas sobre o direito comum, ou mesmo normas de validade geral para a diocese e respeitantes à administração e ao clero (statuta dioecesana). Mais tarde vieram a ser tema de debate mais assíduo na reunião sinodal a administração dos sacramentos, a ordem nas festas re­ligiosas, a integridade da doutrina, a disciplina eclesiástica e a colação dos ofícios eclesiásticos. A partir do século XIV foi sendo prática cada vez maior a discussão de assuntos relacionados com a vida e a situação interna da diocese.

O II Concílio do Vaticano veio, na linha da tradição doutrinal e dis­ciplinar, renovar o sentido, o lugar e a importância do Sínodo diocesano na vida das Igrejas particulares. Apesar da forma muito genérica, o De­creto Conciliar sobre o Múnus pastoral dos Bispos na Igreja (Christus Dominus), reafirma o papel desta instituição sublinhando com clareza os seus fins primários: "prover mais adequada e eficazmente ao incre­mento da fé e à conservação da disciplina nas várias igrejas, segundo as exigências dos tempos" (nº 36).

Foi, contudo, o Directório do Ministério Pastoral dos Bispos, que veio despertar nos pastores da Igreja a sensibilidade para a grande im­portância do Sínodo diocesano corno instrumento dinamizador e reno­vador da vida pastoral e cristã das comunidades e das instituições eclesiais. E, nesta linha, não só aconselha a assiduidade da sua celebra­ção na vida das igrejas particulares, corno determina a participação acti­va e directa de todos os fiéis - clérigos, religiosos e leigos -, na sua preparação, realização e execução, dando instruções relativas ao modo de valorizar aquela mesma participação.

A nível da Igreja em Portugal, nestas últimas duas décadas, parece ter-se começado a tomar maior consciência da importância.do sínodo diocesano na renovação da vida pastoral e cristã de pessoas, comunida­des e instituições eclesiais. Isto mesmo o comprova a sua celebração re­cente nas Dioceses de Lisboa e Aveiro e proximamente Coimbra.

P. Fernando Varela

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PASTORAL FAMILIAR Além de outras acções já referidas (Cfr. Vida eclesial), estão

agendadas as seguintes actividades:

Encontros de preparação para noivos (CPM):

1 2 e 13 de Março: Milagres, Batalha e Leiria

30 de Abril e 1 de Maio: Colmeias

7 e 8 de Maio: Batalha, Marinha Grande e Vieira

14 e 15 de Junho: Leiria

4 e 5 de Junho: Leiria

18 e 19 de Junho: Marinha Grande

25 e 26 de Junho: Batalha, Leiria, Milagres e Vieira

2 e 3 de Julho: Colmeias

17 e 18 de Setembro: Marinha Grande

24 e 25 de Setembro: Leiria

Encontro diocesano dos CPM: 17 de Abril

Conselho diocesano dos CPM: 28 de Maio

Reunião dos zeladores da Associação da Sagrada Família: 5 de Junho

Encontro dos conselheiros espirituais das Equipas de Nossa Senhora: 7 de Junho

Reunião dos responsáveis das equipas do Serviço e Apoio à Família: 17 de Junho

Encontro de encerramento para as Equipas de Nossa Senhora: 19 de Junho

Está a ser preparada a participação de alguns casais desta Diocese no Encontro Internacional das Equipas de Nossa Senhora, a realizar em Fátima, de 19 a 24 de Julho de 1994.

RENOVAMENTO CARISMÁTICO

O Renovamento não é um movimento organizado, com chefes, quadros, quotas e estatutos. É sim um estilo de vida cristã à maneira dos primeiros cristãos, suscitado pela força do Espírito Santo.

"O Renovamento Carismático não é um movimento dentro da Igreja. É a Igreja em movimento" (Heribert Mühlen). Chama-se carismá­tico, porque surgiu da força do Espírito Santo, para edificação da Igreja (1 Cor. 14, 12), através dos carismas da Palavra, do Poder de Deus, do Serviço e do Louvor.

Origem

O Renovamento teve o seu começo em 1967 nos Estados Unidos. Um grupo de estudantes da Universidade de Duquesne ligados a

várias actividades de ordem pastoral "sentiam como que um vazio, uma falta de dinamismo, uma perda de força na sua vida de oração e de acção".

Interpelados pelos livros "A cruz e o punhal" de David Wilkerson e "Eles falam em outras línguas" de John Sherrit que leram, põem a per­gunta: "Como é possível que nós, católicos, estejamos tão longe da expe­riência da realidade do Espírito Santo? Porque não vemos hoje os sinais do Espírito Santo?"

Aplicaram-se, então, a meditar os Actos dos Apóstolos e começa­ram a pedir a efusão do Espírito Santo. Sentindo neles a "actualização do Pentecostes e experimentando as maravilhas do Senhor", partilharam a sua força com amigos que tinham noutras universidades.

Em pouco tempo, aquela célula de Renovamento Carismático es­tendeu-se para além do campo universitário, atingindo paróquias, con­ventos, famílias, bispos, sacerdotes e outros cristãos, tendo atingido nestes últimos anos mais de vinte milhões de irmãos espalhados por to­dos os continentes.

Difusão em Portugal

O Renovamento chegou a Portugal em 1974. Começou em Fátima em Novembro de 1974 e em Lisboa em Janeiro de 1975, vindo a difun­dir-se rapidamente por quase todas as dioceses do País.

Na Diocese de Leiria-Fátima já funcionam vinte e quatro grupos.

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RENOVAMENTO CARISMÁTICO

Em Abril de 1977 realizou-se em Fátima a primeira Assembleia de âmbito nacional dos grupos de oração, com a presença de umas mil pes­soas.

Em Novembro passado celebrou-se o XIX aniversário do Renova­mento em Portugal. Estiveram presentes mais de 5.000 cristãos e tiveram como tema: "Todos ficaram cheios do Espírito Santo" (Act. 2,4).

Foi da responsabilidade da Comunidade Pneuma Vita e foi orien­tada por uma equipa do Brasil: P. Alberto Luiz Gambarini e Maria Lúcia Vianna.

Grupo de Oração

O Renovamento no Espírito cria comunidade, como referem os Ac­tos dos Apóstolos (2, 42-47), sendo o grupo de oração a melhor forma de iniciar esse Renovamento.

Os elementos dos grupos de oração, reunem-se, normalmente, uma vez por semana. A reunião tem mais ou menos a seguinte estrutura:

- Oração de louvor, de acção de graças e de adoração. - Leitura e meditação da Palavra de Deus. - Silêncio para ouvir o Espírito Santo (1 Col. 14, 28). - Canto como expressão de oração. - Exercício dos vários carismas: Profecia, palavras de Sabedoria,

de ciência e de discernimento. •

- Instrução ou ensino para crescimento progressivo da Fé. - Petições: de perdão, cura interior e outras formas de pedidos. - Testemunhos: partilha de experiências de vida ou graças recebi-

das para glória do Senhor e edificação dos irmãos.

Cada reunião de oração tem um coordenador que é apoiado por uma equipa de discernimento que ajuda na escolha da leitura bíblica, na selecção dos cânticos e noutras tarefas.

Prioridade: Evangelização

O Renovamento Católico está profundamente empenhado na "Evangelização 2000"; tem em todos os continentes fortes alicerces em irmãos renovados pela acção do Espírito Santo.

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RENOVAM,ENTO CARISMÁTICO

Além das grandes Assembleias que se realizam todos os anos, ha­bitualmente em Fátima, o Renovamento recorre aos seminários de "Vida no Espírito", a cursos bíblicos e a encontros de formação humana e cris­tã. Os seminários de "Vida no Espírito" prolongam-se por oito semanas e têm por finalidade preparar a "efusão do Espírito Santo".

A efusão do Espírito Santo pretende acordar as pessoas para os seus compromissos do Baptismo e fazer nascer nelas o desejo de se dei­xarem conduzir pelo Espírito Santo, tornando-se apóstolos na Igreja.

Muitos membros do Renovamento já estão a trabalhar na pastoral carcerária e hospitalar, animam a catequese de crianças, adolescentes e encontram-se em vários movimentos de apostolado.

O Renovamento Carismático está com a Igreja.

São de Paulo VI estas palavras:

"Regozijamo-nos, convosco, pela renovação que hoje se manifesta na Igreja. Certas notas comuns aparecem nesta renovação: gosto por uma profunda oração, tanto pessoal como comunitária; atracção pela oração de louvor e redescoberta da contemplação; desejo de entrega to­tal a Cristo; grande disponibilidade aos apelos do Espírito Santo; maior procura da Sagrada Escritura; uma larga dedicação fraterna; vontade de colaborar nos serviços da Igreja."

João Paulo II tem-se referido muitas vezes ao Renovamento. Por exemplo:

"O Renovamento Carismático é uma eloquente manifestação de vi­tabilidade da Igreja, hoje, uma vigorosa manifestação de que o Espírito diz às Igrejas (Ap. 2, 7) ao aproximarmo-nos do terceiro milénio". (15.05.87)

"A Igreja, tem comprovado os frutos da vossa oração num profun­do compromisso de santidade de vida e amor à palavra de Deus". (Maio 1981)

Os grupos do Renovamento Carismático de Leiria-Fátima têm ca­minhado, graças ao apoio crescente que lhes está a ser prestado.

Querem enquadrar-se ainda mais na vida comunitária das paró­quias, estão receptivos à assistência e orientação dos seus pastores e es­tão inteiramente com o seu Bispo.

P. Albino Carreira

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EM AGENDA

• Retiro para animadores de adolescentes: 12 e 13 de Março

• Assembleia de jovens da Acção Católica Rural: 27 de Março

• Encontro de monitores da Colónia Balnear Infantil da Cáritas: 24 e 25 de Abril e 18 de Junho

• Actividade regional do C.N.E.: 21 e 22 de Maio

• Encontro diocesano de adolescentes: 22 de Maio

• Conselho diocesano do Movimento Católico de Estudantes: 4 de Junho

• Curso para ministros extraordinários da comunhão: 4 e 1 1 de Junho

• Ultreia diocesana dos cursos de cristandade: 5 de Junho

• Assembleia diocesana da Acção Católica Rural: 12 de Junho

• Acampamento do Movimento Católico de Estudantes: 25 de Junho

• Viagem a Taizé organizada pelo Secretariado da Juventude: 23 de Julho a 1 de Agosto

Informações mais pormenorizadas deverão ser procuradas junto das instituições organizadoras.

EVOCAR SANTA ANA DE LEIRIA

LEMBRAR SOO ANOS DE PRESENÇA DOMINICANA

A Comunidade Educativa do Colégio de Nossa Senhora de Fátima e a Comissão Diocesana dos 5 Séculos de Evangelização e Encontro de Culturas, têm vindo a comemorar os 500 anos da fundação do Convento de Santa Ana de Leiria (1494-1994). Era um convento de monjas domini­canas de clausura, sediado bem no centro da cidade, tendo desempenha­do uma notabilíssima acção educativa e cultural na história de Leiria. Ontem como hoje . . .

Evocar a sua existência secular de antanho é homenagear, de certo modo, a importância da Mulher na História e na Igreja. Importância que não podemos ignorar num tempo em que a Igreja procura, na sua histó­ria, testemunhos de verdade, de identidade e de ideário pastoral para servir no programa evangelizador de hoje e de amanhã. Importância que o fim do segundo milénio do cristianismo mais tem acentuado, en­contrando no mundo feminino exemplos de vida cristã e, até, verdadei­ros alicerces do impulso cristão num mundo dilacerado pelas mais diversificadas angústias e situações anti-humanitárias.

Justificam-se, assim sendo, algumas lembranças sobre o que foi Santa Ana de Leiria, cujo espírito dominicano permanece actualmente em Leiria através das Irmãs da Congregação de Santa Catarina de Sena Colégio de Nossa Senhora de Fátima), herdeiras históricas e morais des­se desaparecido claustro feminino.

O Papa Alexandre VI autorizou a fundação conventual por breve passado em inícios de 1494. Logo em 12 de Fevereiro desse ano, o rei O. João II outorgava às monjas que constituíam a primitiva comunidade o privilégio para poderem adquirir bens de raíz, a fim de se poderem sus­tentar. Assim sendo, permitia que o Convento comprasse propriedades que rendessem até vinte moios de trigo (1 moio = +60 alqueires), cinco tonéis de vinho e um tonel de azeite. Este privilégio foi conseguido por intermédio de O. Catarina, condessa de Loulé, e padroeira fundadora da casa monástica, à qual doou toda a sua fortuna. Seria confirmado por O. Manuel I em 28 de Dezembro de 1498, e por O. João III em 26 de Agosto de 1529.

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EVOCAR SANTA ANA DE LEIRIA

Logo em 1494 deslocaram-se para Leiria algumas monjas e novi­ças, oriundas do Convento de Jesus de Aveiro, cujos nomes, singelamen­te aqui recordamos: Soror Maria Dias (1 � prioresa), Soror Teresa Fernandes de Albuquerque, Soror Inês Eanes, Soror Maria Pessoa e So­ror Isabel Vaz. Com elas deve ter recolhido à clausura a própria padroei­ra e fundadora, D. Catarina, condessa de Loulé, como monja conversa, vindo a ser sepultada no coro baixo da igreja mendicante.

Ao rei venturoso se fica a dever uma série de importantes graças e privilégios para este convento de monjas de clausura da Segunda Or­dem de S. Domingos. De facto, logo em 26 de Dezembro de 1498, privile­giava-o para que os caseiros e lavradores que trouxesse nas suas propriedades rurais ficassem isentos de serviços concelhios e encargos fiscais. O mesmo se aplicaria a um procurador dos feitos do mosteiro, a um carpinteiro, um pedreiro e um moleiro que ficassem a trabalhar em regime de exclusividade para a casa monástica. Logo em 27 de Dezem­bro de 1498, O. Manuel autorizaria o Convento a herdar os bens de raíz e heranças familiares das freiras que nele falecessem. Determinava-se nes­sa carta régia que só se aplicaria tal disposição até ao número máximo de trinta monjas e, ainda, desde que os valores em jogo não ultrapassas­sem os cem mil reais.

Entretanto as obras do edifício, iniciadas em 1494, estando em bom ritmo no ano seguinte, - o que permitiu a tomada de posse legal da ca­sa pelas monjas, em meados de 1495 - estavam substancialmente con­cluídas em 1498. Por isso, não estranha que o rei tenha determinado em 15 de Janeiro de 1499, que as justiças leirienses não consentissem que pessoa alguma, fosse de que estado fosse, entrasse dentro do Convento. Em 30 de Janeiro de 1500, D. Manuel I determinava que os mordomos e pessoas do serviço da casa de Santa Ana teriam prioridade na compra das carnes e pescado nos açougues de Leiria. Isto mesmo seria confirma­do por D. João III em 24 de Agosto de 1529.

Também em 12 de Fevereiro de 1500 o monarca outorgava privilé­gios gerais a quatro pedreiros que quisessem trabalhar na conclusão das obras do Convento, o que viria a ser confirmado em 24 de Agosto de 1529. Em 16 de Novembro de 1515, o rei mandava aos juízes de Leiria que dessem auxílio às monjas, quando fossem requeridos para tal, no­meadamente arranjando-lhes oficiais de obras, bestas de carga e carros de transporte, a fim de se prosseguirem as construções em falta. Podere­mos concluir destes dados, por hipótese, que o Convento se foi concluin­do algo lentamente, revelando dificuldades económicas e atestando, assim, a pobreza material dos primeiros tempos. Não admira, então, que

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EVOCAR SANTA ANA DE LEIRIA

o rei lhe tivesse doado a quantia de um por cento do rendimento das si­sas dos almoxarifados de Leiria e de Óbidos, para auxílio de sustento, em 7 de Março de 1514. Este privilégio seria confirmado em 12 de Maio de 1515, e perduraria até 1834.

Denodadamente, contudo, Santa Ana de Leiria afirmava-se como instituição religiosa sólida e de bons fundamentos. Por isso, as referên­cias a ele vão aumentando com o decorrer dos tempos, crescendo as suas disponibilidades de riqueza e de património, o que permitia o aumento da comunidade. Comunidade que atingiria as setenta almas, entre pro­fessas ou de "primeira graduação", noviças, conversas e assistentes, cer­ca de 1630.

Em 1 7 de Dezembro de 1504, um documento lavrado num notário de Leiria, refere-nos uma vinha do Mosteiro da Batalha, à Cogumbrinha (cerca de Porto Moniz e Qt� do Lagar de El-Rei), iapre da dieta vjlla que parte de huã parte com olyvall das freyras de santa ana desta vjlla e da outra com terra e vjnha da obra do corpo de deus da dieta vjlla." Um ou­tro diploma de interesse, datado de 4 de Janeiro de 1513, refere-nos uma tal D. Beatriz Peres, viúva de João Dias, moradora na Batalha, filha que era dum Fr. João, dominicano de Santa Maria da Vitória da Batalha, cer­tamente frade converso, que se queria "ora fazer freira da dieta religião."

O período áureo desta casa situa-se entre 1550 e 1750.

Após esta data, são notórios os sintomas de crise, quer no recruta­mento de vocações, quer na própria vida económico-financeira da insti­tuição. Um clamoroso incêndio, em 1746, destruiria a maior parte do edifício e igreja. Procurou-se recuperá-lo. Mas em 1810, no contexto das Invasões Francesas, a casa voltaria a ser incendiada, não recuperando desde então de forma definitiva. A extinção das Ordens Religiosas, de­cretada em 1834, trouxe novos tempos de crise. As monjas deixaram de ter assistência espiritual dos seus irmãos dominicanos, atravessando um período de incertezas e desencantos. Tratando-se dum convento femini­no, o Governo liberal de 1834 determinava que, nos casos de instituições deste género, a exclaustruração não se aplicaria às monjas professas, ten­do de se aguardar a morte da última ingressa para, só então, a Coroa se apossar efectivamente dos bens móveis e de raíz do cenóbio. Em Santa Ana de Leiria, a última resistente foi Soror Joaquina do Rosário, falecida em 26 de Fevereiro de 1880.

Fevereiro foi, de facto, um mês grande nas datas importantes desta casa ...

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EVOCAR SANTA ANA DE LEIRIA

Nesse mesmo ano, reabria a vida de clausura feminina no convento francês de Prouille (o primeiro mosteiro de monjas dominicanas funda­do por S. Domingos, em 1206). Anos mais tarde, em 1929, quatro religio­sas dominicanas da Congregação de Santa Catarina de Sena, debaixo da protecção de Teresa de Saldanha, dirigiram-se a esse mesmo convento, a fim de nele tomarem novos votos de monjas de clausura. Regressariam a Portugal em 1932, abrindo casa em Vila do Conde, restabelecendo-se, só então, e por iniciativa de portuguesas, a Segunda Ordem das Monjas Dominicanas Contemplativas. O Convento de Nossa Senhora da Euca­ristia passaria depois a Azurara (1933), fixando-se em Azevedo Campa­nhã (Porto), em 1952.

Após 26 de Fevereiro de 1880, o Convento de Santa Ana de Leiria funcionaria como escola de meninas, nele leccionando, até 1910, algumas irmãs cuja Ordem ou Congregação de origem se perdeu da memória his-

. tórica leiriense. É possível, no entanto, que tivessem sido freiras terceiras dominicanas ou, porventura, oriundas do convento das monjas irlande­sas de Nossa Senhora do Bom Sucesso (Lisboa), fundado em 1639, nunca encerrando até aos nossos dias, mesmo e para além das crises de 1834 e 1910 ...

O Convento de Santa Ana de Leiria localizava-se nos terrenos on­de actualmente encontramos o Mercado velho, a Rotunda de Santa Ana, o Banco Nacional Ultramarino, a Fonte Luminosa e demais pré­dios envolventes. Foi demolido entre 1917 e 1922, por imposição muni­cipal.

Do seu recheio artístico resta muito pouco. À guarda do Museu de Leiria, no castelo, encontramos alguns pequeninos painéis dos azu­lejos seiscentistas que cobriram as paredes da capela-mar conventual. Também no Castelo, na chamada Casa da Guarda, se utilizaram algu­mas colunas e mísulas do gótico final, que fizeram parte do claustro dominicano leiriense. São elementos importantes da arte leiriense dos fins da Idade Média, porquanto provam que era um claustro influen­ciado pelo formalismo do claustro de D. Afonso V, no Mosteiro da Ba­talha. Mas a imaginária, as pinturas, as alfaias l i túrgicas, a paramentaria, a biblioteca conventual das monjas, tudo se perdeu na voragem do tempo, ao sabor do abandono e do saque de cidadãos me­nos escrupulosos.

Saul Gomes

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D. JOAQUIM DE SOUSA SARAIVA

DA PARÓQUIA DO OLIVAL À DIOCESE DE PEQUIM

Introdução

Na 1� metade do séc. XVI, S. Francisco Xavier percorrera já vários pontos da costa chinesa, mas é de 1556, quase coincidindo com a fixação do porto comercial de Macau, que vem a notícia da entrada de Fr. Gas­par da Cruz na China, seguindo-se, agora a ele e com o propósito de uma evangelização sistemática, novas levas de padres portugueses e ou­tros mas, todos sob a protecção portuguesa, afinal a única potência euro­peia ali sediada àquele tempo.

Vista a necessidade de estruturar e de controlar o processo de mis­sionação, D. João III em 1558, conseguiu o reconhecimento por parte do Papa Paulo IV do Padroado Português do Oriente que funcionava como um departamento religioso dependente, do ponto de vista administrati­vo, directamente do Rei, isto é, da política ultramarina portuguesa, en­quanto a tutela espiritual cabia, de modo intocável, ao Papa.

Mas as Missões portuguesas não viriam a ser as únicas na China. Outras começaram a estabelecerem-se em Pequim, muitas vezes à mar­gem do Padroado e com as potências europeias, de onde eram originárias, a instigarem a intriga e o descrédito deste braço eclesiástico da Coroa Por­tuguesa. É que aproveitando-se do piedoso processo de missionação e por detrás deste, moviam-se os interesses políticos e comerciais.

Assim, não foram evitados alguns conflitos bem escusados, entre todas estas Missões católicas, como foi a questão dos "Ritos Sínicos" que desde os meados do séc.XVII até aos finais do séc.XVIII as opôs na estra­tégia de adaptação e que tinha a ver com a permissão ou não, no acto li­túrgico, de interferências de tradição chinesa.

A diocese de Pequim e as situações de ruptura

A diocese portuguesa de Pequim fora criada em 1690 mas, quase 100 anos passados aquela mitra encontrava-se grandemente debilitada, em resultado das permanentes querelas entre as várias Missões, assim como pela abrupta saída dos jesuítas alguns anos antes, que resultou na imedia­ta quebra de influência, junto da corte imperial, ao que se juntavam ainda

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D. JOAQUIM DE SOUSA SARAIVA

as periódicas purgas em relação aos estrangeiros, como efeito da política isolacionista do Império do Meio. Certo é que os padres portugueses man­tinham a importante presidência do Tribunal das Matemáticas ('), mas a influência diminuía, ao que não era estranho a disputa de influências já fa­lada e a que se apregoasse a ruína do Padroado Português.

Nos finais do séc. XVIII, tornava-se assim urgente, na perspectiva do bispo de Pequim D. Alexandre Gouveia, dar continuidade à substitui­ção dos jesuítas, expulsos do império português por ordem de Pombal, por homens que garantissem a mesma qualidade científica, atributo fun­damental para a aceitação na corte pequinense (2). De facto, na capital do império chinês viria a ser a Congregação de S. Vicente de Paulo (3) a col­matar a saída da Companhia de Jesus. Conhecidos, não só na pregação e na assistência aos pobres mas, também, pelos seus conhecimentos mate­máticos, seriam os homens desta comunidade fundada havia apenas al­gumas dezenas de anos e ansiosa por crescer, que se perfilariam para substituir os jesuítas, cuja tradição os levava a serem frequentemente dis­tinguidos pelo imperador com graus de mandarins pelo seu vasto saber, sobretudo nos campos da matemática, astronomia e cirurgia. Procurando seguir os mesmos passos, os lazaristas portugueses foram, efectivamente e a um momento, a grande esperança do Padroado para manter a sua in­fluência em Pequim, na passagem do sec. XVIII para o sec.XIX.

Foi neste sentido que em 1803, D. Alexandre enviou um emissário a Portugal buscar, entre outros, um padre da Congregação da Missão que o viesse coadjuvar nas tarefas cada vez mais difíceis da sua diocese e na organização da recentemente aberta Missão da Coreia (•). Vindo, en­tão, um bem experimentado padre de largo prestígio no Oriente, Manuel Correia Valente, antigo professor no Seminário de Rilhafoles e natural do Reguengo do Fétal, faria a escolha recair num ainda jovem padre, de 39 anos, natural do Olival (Ourém), Joaquim de Sousa Saraiva em quem, tanto na bula de nomeação como na anterior proposta régia se deposita­vam vastas esperanças para um profícuo trabalho, sendo-lhe, desde lo­go, atribuída a titularidade honorífica de Tipassa e a coadjuvação de Pequim com a garantia de futura sucessão (s).

O impedimento no ingresso do novo bispo de Pequim A expectativa inicial de uma curta permanência em Macau, até se­

guir viagem para Pequim, acabaria por se tornar numa espera angus­tiante e definitiva. Certo é que em 1801 já se pressentia um novo agudizar das tensões (•) e perante este ambiente, natural seria que, mais

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tarde ou mais cedo, um problema sério surgisse, como parece ter sucedi­do. Segundo o relato de uma "testemunha ocular", teriam sido essas ri­validades que desencadearam uma "terrível perseguição" à cristandade na China (').

O imperador Kia-Kim (1797-1820) debatia-se com várias dificulda­des políticas, tanto a nível interno como externo. Daí à desconfiança e hos­tilização de todos os estrangeiros foi, como sempre nestes casos, um pequeno passo. A agravar tudo isto e sendo a correspondência dos padres vigiada de perto com a proibição completa de circulação de quaisquer ma­pas, pela suspeita de implicações políticas que isto pudesse ter, o padre Adeodato, italiano da Propaganda Fide, terá tentado fazer chegar ao exte­rior, através de um mensageiro entretanto interceptado, um mapa das províncias da diocese portuguesa de Pequim. É o que diz o Pe. João P. Go­mes que assistiu ao desencadear deste terrífico processo persecutório, que viria a impedir a entrada de D. Joaquim na sua cátedra episcopal.

Com estas razões o novo bispo quedou-se em Macau, aguardando a possibilidade de ocupar a sua diocese, consolando-se com as palavras do ainda titular que em Novembro de 1805 lhe escrevia: "terá V. Exa. já sabido do estado da perseguição e os inconvenientes e as dificuldades da vinda de V. Exa. para esta corte, o que não deve desanimar V. Exa . . . esperamos que a tempestade de Pequim vá amainando" (8), falando-lhe, ainda, na protecção de "alguns régulos da família imperial".

Em Agosto do ano seguinte, voltava D. Alexandre a escrever-lhe sossegando-o: "V. Exa. vá tendo paciência até chegar o tempo que julgo não distará. Entretanto vá aprendendo algumas palavras chinas ao mo­do pequinense" (9). Contudo, esta expectativa sempre frustrada, manter­-se--ia para além da morte de D. Alexandre. Em Macau, ficaria a viver no Seminário de S. José que, assim, adquiria um professor brilhante para as disciplinas de Filosofia e Matemática.

O facto foi que D. Joaquim passou quase despercebido pela política activa, não assumindo propositadamente, as conotações diplomáticas que haviam sido atribuídas ao cargo com a nomeação do seu antecessor. Afinal, D. Joaquim mesmo participando nalguns actos da vida pública de Macau que lhe poderiam trazer algum protagonismo, optou pela dis­crição, convencido que a sua neutralidade melhor favorecia a sua ima­gem junto das autoridades sínicas e também das portuguesas. Ficando em Macau, aguardando pacientemente que a hora do seu ingresso em Pequim chegasse, terá sido entre 1808 e 1810 que mais expectativas criou e também que as viu ruir. Foram, na verdade, dois anos de grandes con­vulsões e indecisões.

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D. JOAQUIM DE SOUSA SARA IV A

Governar uma grande diocese à distância

Tendo, em Setembro de 1808, recebido a notícia da morte de D. Alexandre Gouveia, ocorrida a 6 de Julho anterior, sendo, portanto e desde então, bispo titular de Pequim ('0), a teia de intrigas que vinham envolvendo o governador de Macau, Lucas de Alvarenga, o Senado regi­do na sombra pelo ouvidor Miguel de Arriaga, a corte portuguesa e o re­presentante de Kia-Kim na província do Guangdong (Cantão) a propósito de dúbios acordos no combate a rebeldes políticos e à pirata­ria, levaram a que o bispo e o próprio príncipe português se convences­sem que a retomada da cátedra pequinense estaria a ser tratada oficialmente e com iminentes possibilidades de concretização, o que não correspondia à verdade (").

De facto, D. Joaquim continuaria a tentar governar a diocese à dis­tância, através do procurador Nunes Ribeiro, por ele nomeado e já resi­dente em Pequim ao tempo do seu antecessor. É este Nunes Ribeiro que em Maio de 1809 lhe escreve anunciando que a corte pequinense queria afastar, definitivamente, os europeus com o novo e falacioso argumento que, uma vez que os missionários não tinham filhos, os bens adquiridos no império eram canalizados para as suas pátrias de origem, em prejuízo da que os acolhera (12). Era, na verdade, mais um rude golpe nas já té­nues esperanças de quem queria recompor a jurisdição episcopal.

Do Rio de Janeiro, onde estava transitoriamente sediado, o regente de Portugal pressentindo a derrocada de uma das mais importantes dio­ceses do seu Padroado, escrevia amiudadamente questionando sobre o estado da situação, recebendo sempre respostas evasivas por parte do Senado que afirmava, geralmente, que as negociações decorriam a bom ritmo apesar de, pelo menos em 1811, a Câmara de Macau já ter recebido uma resposta clara dos representantes imperiais, a confirmar a recusa da presença de D. Joaquim Saraiva na capital chinesa, pois estando proibida a catequização e se fosse só por assessoria científica, a corte deixara de precisar de matemáticos estrangeiros.

Agravando toda esta situação, D. Joaquim e o seu procurador Nu­nes Ribeiro desentendem-se quanto à melhor forma de apoiar os cris­tãos catecúmenos infiltrados na Coreia desde 1800 por acção de D. Alexandre Gouveia (1'). A questão é grave, os dois padres têm ideias di­ferentes mas, sobretudo, ambos estão muito manietados no apoio a dar, tanto que em 1812 o bispo escreve pela 2il vez ao seu soberano, pedindo a resignação e a entrada oculta de um outro bispo na China, pois ele já era conhecido e a diocese sem um governo próximo não só não produzia

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D. JOAQUIM DE SOUSA SARAIVA

uma eficaz acção pastoral, como os missionários facilmente caíam na in­disciplina (14). Não conseguimos saber se houve alguma resposta a esta missiva mas, certo é que o bispo não resignou.

Para a mitra de Pequim os tempos eram agrestes, encontrando-se o prelado cada vez mais impossibilitado e angustiado em Macau, tanto que nem chegou a ter conhecimento de cartas escritas em Outubro de 1817, chegadas a Macau apenas em Março do ano seguinte, noticiando o fim das perseguições na China a troco de quatro ou cinco mil taeis pagos pela Igreja. Informavam ainda da emissão de decretos pedindo outra vez matemáticos europeus para a corte imperial (15). Tão auspiciosas novas não as pudera saber O. Joaquim, pois "em 18 de Fevereiro de 1818 às 4 e meia da manhã faleceu o Exmº bispo de Pequim, só ungido por ter caído em apoplexia", com 52 anos de idade (16).

Sepultado no altar-mor da Igreja de S. José em Macau, após a sua morte e até 1841 outros bispos foram nomeados, mas nenhum deles con­firmado. Veríssimo Monteiro Serra entrara já na China e quando foi elei­to sucessor de O. Joaquim em 1818, pediu ao imperador para vir à Europa em visita "ad Iimina". A autorização foi-lhe concedida com a condição de não regressar, o que, efectivamente, veio a acontecer (17).

Longo tempo depois, em 25 de Novembro de 1841, apresentou-se O. João da França de Castro e Moura que acabaria, ele próprio, por recu­sar a permanência na China devido à circunstância de a Cúria Romana se recusar a confirmá-lo como bispo, outorgando-lhe, tão só, o vicariato apostólico (18). Tratara-se, afinal, do último acto de Portugal naquele episcopado e O. Joaquim de Sousa Saraiva fora, efectivamente, o último grande mas limitado batalhador pela revivificação da diocese de Pequim e o seu último bispo consagrado.

Notas:

Acácio Fernando de Sousa (Mestrando em Estudos Luso-Asiáticos)

(1) O velho jesuíta José Bernardo, homem de grande prestígio, mantinha-se na pre­sidência deste tribunal à passagem do século.

(2) São diversos os documentos que mostram o interesse da corte de Pequim por as­trónomos, matemáticos, cirurgiões e pintores. Apesar das diferenças entre os ca­lendários ocidental e chinês, é claro o entusiasmo com que a corte via a elaboração dos mesmos, a previsão de eclipses e a fabricação de relógios. Entre outros é elucidativa a "chapa" em que o mandarim de Heong Shan, em 5.11.1800, pedia a Macau o envio de 3 astrónomos para Pequim, facilitando as-

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O. JOAQUIM DE SOUSA SARAIVA

sim a ida de Caetano Pires, José Nunes Ribeiro, e Veríssimo Monteiro Serra. V. Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (AN /TI), Chapas Sínicas, n• 372, ou o pe­dido já feito em 28.4.1785 por aquela bispo de Pequim, existente nos AN/TI, Ar­quivos das Congregações, n• 502.

(3) Os chamados padres lazaristas ou de S. Lázaro são os que fazem o apostolado da Congregação de S. Vicente de Paulo ou Congregação da Missão. Em Portugal também eram denominados por rilhafolenses, devido à principal casa ser em Ri­lhafoles.

·

(4) D. Alexandre Gouveia abrira a Missão da Coreia a título de "comissão pessoal", em 1800. O emissário enviado a Portugal foi o l" lazarista português na China, homem de vasto currículo missionário no Oriente, abriu seminários para forma­ção de clero local em Goa e Macau. Tratava-se de Manuel Correia Valente, do Reguengo do Fétal e contava já mais de 70 anos na altura em que veio recrutar Joaquim de Sousa Saraiva que, provavelmente, ainda conhecera em Rilhafoles quando este se revelava um brilhante aluno.Morreu no regresso a Macau, ao lar­go de Moçambique.

(5) AN /TI, Bulas, maço 58, n• 3. (6) Em 1801, o Pe. Filipe do Rosário e outros fazem ao Núncio Apostólico, o pedido

de um bispo português para Tonquim devido à nomeação, para ali, de um bispo espanhol à margem do Padroado. V. AN/TI, Arq. das Congreg., n" 1139.

(7) Pe. João Pinto Gomes - Breve Relação de huma terrível perseguição contra a Santa Religião Cathólica e seus operários sucedida no império da China na Corte de Pekim em 1805 composta por uma testemunha ocular ... , Porto, 1839, pp. 9-10. O autor relata neste pequeno livro a sua visão sobre as razões que levaram à in­terdição do catolicismo, em 1805 e exalta as virtudes de D. Alexandre Gouveia que procurara, já em 1800, expandir o cristianismo ã península coreana.

(8) Pe. Manuel Teixeira - Arquivos da diocese de Macau, vol. I, Macau, Miss. Padr., 1970, carta de D. Alexandre Gouveia a D. Joaquim de Sousa Saraiva, pp. 69-70.

(9) Idem-ibidem, pp.71-72. (10) Arquivos de Macau, 3' Série, vol. IV, Macau, Imp. Nac., 1965, pp. 373-381. (11) Pe. Manuel Teixeira - Arquivos da diocese de Macau, p. 73. (12) ldem-ibidem, p. 121. O argumento era, apenas, mais um pretexto forçado para

evitar a presença dos agentes da missionação, isto é, de uma nova ideologia de difícil controlo na perspectiva das autoridades chinesas.

(13) Pe. Manuel Teixeira - Macau e a sua diocese: a Missão na Coreia, vol. XVI, Ma­cau, Miss. Padr., 1979, pp. 150-153.

(14) ldem-ibidem. D. Joaquim Saraiva lamentava alguns focos de indisciplina do cle­ro na China, por falta do bispo no lugar que lhe era próprio.

(15) Idem - Arquivos da diocese de Macau, pp. 138-139. Trata-se de uma informa­ção do Diário Noticioso do Pe. Leite. O Diário Noticioso do Pe. Joaquim José Lei­te foi publicado nos Arquivos da diocese de Macau, pp. 113-273, informando Mons. Teixeira ser hoje desconhecido o paradeiro do original.

(16) ldem-ibidem, p. 141. (17) Idem - Macau e a sua diocese, vol. lll, pp. 692- 693. (18) João Feliciano Marques Pereira - Ta-Ssi-Yang-Kuo, I Série, vol. I e 1!, Lisboa, J.

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SOBRE A PRESENÇA DE SANTA MARIA

DA VITÓRIA (BATALHA) NA EXPANSÃO PORTUGUESA.

(SÉCULOS XV E XVI) <·)

1 - O Mosteiro de St[ Maria da Vitória tem um significado históri­co plural ('). A sua beleza estética enuncia, atemporalmente, o discurso duma centúria que se descobriu como de fértil imaginação e poderosa decisão. Por razões plurais, os monarcas de Avis souberam impulsionar uma política de descobrimentos marítimos e de expansão ultramarina que não aconteceu de igual modo noutros reinos ou estados europeus da época. Em Portugal, soube-se favorecer a multiplicação de condições favoráveis pré-existentes, apoiando-se firmemente a prossecução da op­ção quatrocentista expansionista. Mau grado alguns silêncios documen­tais, ao longo de Quatrocentos, desde a conquista de Ceuta (1415), às viagens de Colombo ao Novo Mundo (1492) e de Vasco da Gama à Índia (1498), a historiografia deste período brilhante do passado português e comunitário apresenta-se sempre como fascinante e motivadora. ·

O Século dos descobrimentos encontra-se reflectido necessaria­mente em St"- Maria da Vitória, na Batalha. Antes de mais, porque este monumento representa a memória visível dessa época, testemunhando os enormes investimentos financeiros e político-simbólicos do poder ré­gio lusitano na sua construção. Porque transmite, ainda, o triunfo duma nóvel dinastia no trono português, com um poder real mais centralizado que culmina, no reinado de O. João II, com a própria anulação do pode­rio das casas senhoriais mais influentes da época e com a eliminação das disparidades legislativas existentes, uniformizando-se a justiça e o direi­to administrativo.

Stª Maria da Vitória evoca também a evolução do processo histórico de afirmação e encontro dum mundo novo e das suas culturas diferencia­das e inéditas no horizonte cultural tradicional dos europeus de finais da Idade Média. Fá-lo quando encontramos nas suas características estéticas formais o testemunho da colaboração de diferentes gentes e sensibilida-

(*) Palestra proferida no Colégio Diocesano de S. Miguel, Fátima, em 10 de Abril de 1992.

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SANTA MARIA DA VITÓRIA (BATALHA)

des de pedreiros e canteiros, carpinteiros ou capiteladores, escultores ou pintores, todos eles oriundos das mais diversas regiões do País ou do es­trangeiro, não faltando a presença de mã�e-obra mourisco (2).

Pode reflectir-se na Batalha, ainda, o espírito religioso dominicano desses dois séculos modernos das descobertas. Espírito de proselitismo evangélico que desde os primórdios se afirmara na Ordem dos Pregado­res como ideário e motivação duma pastoral específica. O esforço pela evangelização dos povos considerados infiéis foi evidente nos primór­dios da história dominicana, posto que, então, a atitude missionária jun­to dos heréticos se tivesse afirmado como prioritária.

O Capítulo de Toledo, por exemplo, celebrado pelos dominicanos em 1250, na cidade ibérica que maior contributo havia dado ao encon­tro e ao diálogo entre culturas tão historicamente identificadas como o cristianismo, judaísmo e islamismo, determinava que era dever da Or­dem insistir numa orientação didáctica dos seus professos para o estu­do e o ensino das línguas hebraica e árabe, a fim de se proceder à missionação junto dos infiéis e, mesmo, à interpretação directa dos tex­tos vetero-testamentários no caso da primeira língua. Para tal, decidiu-se mesmo abrir uma escola cristã dominicana na cidade de Tú­nis, com a complacência das autoridades muçulmanas. Sabe-se, tam­bém, que já nas décadas de 1230-40, havia missionários dominicanos na África magrebina (3).

Interessa-nos observar, neste contexto, qual o papel desempenha­do pela comunidade batalhina no esforço missionário cristão junto dos povos islamizados ou pagãos africanos. Trata-se dum assunto um tanto difícil, dada a escassez de informações documentais objectivas sobre o assunto.

Escrever-se-á que o Mosteiro foi sendo construído ao longo dum grande século XV, nele se reflectindo os momentos que o poder político português ia atravessando. A Batalha tornou-se rapidamente um inves­timento simbólico do poder monárquico de Avis. Se a D. João I agradava uma obra mais comedida, ainda que magna para os cânones do que era habitual construir-se em arquitectura de prestígio no Reino, já D. Duarte lhe quis acrescentar novo panteão, enquanto D. Afonso V, acompanhan­do o crescimento monástico da casa dominicana, far-lhe-ia novas alas claustrais. À morte deste monarca, em 1481, com a assunção ao trono de D. João II, podemos dizer que o Mosteiro sofre uma revolução ou, então, uma grande descoberta. E de facto no reinado deste monarca que os obreiros da Batalha criariam a expressão mais complexa do gótico final no País, o chamado manuelino, cuja certidão de maturidade se encontra

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no portal das ditas Capelas Imperfeitas. E a partir da Batalha, esse gosto requintado expandir-se-ia por todo o território metropolitano e mesmo ultramarino.

Mas depois da chegada à Índia, em 1498, tudo se altera, acabando O. Manuel, num processo algo misterioso, por fundar novo panteão, -os Jerónimos, cuja obra se inicia pela mão dum mestre-de-obras ligado intimamente à Batalha, Mestre Boytac, - preterindo Sta Maria da Vitó­ria. Aparentemente, aliás, O. Manuel procurou, com insistência, trans­formar o cenóbio em observante, o que não conseguiu facilmente. Em 1513, pedia ao Papa que determinasse para Sta Maria da Vitória o estatu­to da observância (4). Era então prior da comunidade Fr. Pero Martins. Uma bula de Leão X, de 1516, designada Fidei constantis integritas, chama a Sta Maria da Vitória cenóbio observante, ao mesmo tempo que autori­zava o poder régio português a interferir na nomeação/eleição dos prio­res da comunidade (5). Governava-a, então Fr. Airas de Azevedo, ao que parece com pouco contentamento do monarca. Na bula citada referia-se que o rei teria direito de destituir, porventura tendo em atenção esta prelatura batalhina, qualquer prior que não fosse considerado probo, fiel e capaz duma gestão patrimonial eficaz para a comunidade (6). Mas em 1517 (1), o monarca volta a insistir no seu testamento para que se procu­rasse fazer cumprir na Batalha, a linha observante da Província, o que, creio, parece testemunhar uma certa oposição por parte dos frades da Batalha em aceitarem essa linha de vida monástica.

Voltarei, em breve, a esta questão. Gostaria, agora, de sublinhar a funcionalidade política do Mosteiro

como panteão régio. Nele escolheram sepultura todos os monarcas de Quatrocentos (0. João I, O. Duarte, O. Afonso V e O. João II), as suas consortes (mesmo O. Leonor, esposa de O. João II, chegou a ter capela destinada no cenóbio), príncipes (0. Afonso, 1491), além dos infantes da Ínclita Geração (0. João, O. Pedro, O. Henrique e O. Fernando). Filhos de reis, pois, e progenitores de outros reis. Lembre-se o caso do malogra­do infante O. Pedro, duque de Coimbra, falecido em Alfarrobeira em 1449, que foi pai do Condestável O. Pedro, rei de Aragão, de O. João, rei de Chipre, e de O. Isabel, consorte de O. Afonso V, para citar os exem­plos mais significativos (8).

Todas estas individualidades trouxeram grandes riquezas para o Mosteiro, estabelecendo capelas e obrigações religiosas com o Convento que passavam a ser custeadas com dinheiros em boa parte originários dos tráfegos ultramarinos. O. Henrique, por exemplo, teria a sua capela refor­çada com uma tença de 4 mil reais por ano, assentes na Casa da Guiné. Pa-

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ra acorrer ao elevado número de encargos religiosos para com os defuntos ali sepultados, tornava-se indispensável ao Convento dispor de elevado número de frades professos, clérigos de missa, aptos a oficiarem. Com abundância de conventuais, o Mosteiro via-se confrontado de imediato com a necessidade de proceder ao seu sustento, sendo certo que as despe­sas eram inúmeras, e as dotações régias insuficientes para as cobrirem.

Neste contexto, o espírito de pobreza absoluta recomendado nas Constituições da Ordem entrava em conflito, não raras vezes, com as disponibilidades deste instituto. O Mosteiro possuía uma casa do tesou­ro ricamente recheada, sobretudo em alfaias litúrgicas de ouro e prata e em paramentos cobertos de escamas de ouro que D. João I lhe doara. E, depois deste, todos os demais monarcas enriqueceram o tesouro monás­tico, tornando-o uma referência paradigmática na primeira metade do século XVI. Seria fundido, em grande parte, por ordem de D. João III cer­ca de 1539/40 (9).

Esta riqueza cumulada revela-se através doutros indícios. Um de­les respeita à existência de elevado número de conventuais especializa­dos no ensino e no estudo da Teologia. Entre 1500 e 1510, a sua proporção no seio da comunidade atingiu o ponto mais alto (50%) desde a fundaÇão da Casa ('0). O Convento deve ter conhecido, então, proble­mas internos que se traduziriam, porventura, num certo relaxamento claustral, prontamente contrariado pelo rei e pelos seus conselheiros. A questão abrangia toda a Província, aliás, não sendo de estranhar que, desde então, se chamassem inúmeros reformadores castelhanos ou an­daluzes para promoverem a reforma dominicana portuguesa (").

Aparentemente, os dominicanos atrasaram-se em relação a outras Ordens no que respeitava ao envio de missionários para as terras ultrama­rinas e, particularmente, para a Índia. Esta situação deve ter tido algum peso, creio, no ânimo do rei. Sublinhe-se que só em 1548 se procederia à instituição da Congregação Dominicana de Stª Cruz da Índia, iniciando-se a construção da igreja_ do convento de S. Domingos de Goa somente em 30 de Abril de 1550 ('2). E provável, aliás, que esta instituição tenha sido con­firmada logo em 1549, no Capítulo Provincial da Batalha (13).

Ora, se a nossa hipótese de abordagem está certa, o rei deve ter pretendido que os claustros batalhinos passassem a produzir mais pastores de almas do que frades reduzidos às delícias das abóbadas mo­násticas, certo como é que ali funcionava studium particulare já desde Quatrocentos.

A questão missionária dominicana em Quatrocentos parece-me ex­tremamente complexa. O estabelecimento dum convento de S. Domin-

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gos em Ceuta, em 1415, trasladado para Tânger em 1546, é uma realida­de, ali ficando cinco pregadores, entre eles Fr. Afonso de Alfama, o úni­co cronista da Ordem, em Portugal, de que tenho conhecimento para aquela época. Mas pouco se sabe sobre a prática pastoral destes primei­ros missionários. Fr. Afonso de Alfama regressaria mais tarde a S. Do­mingos de Lisboa, onde redigiria algumas notas de tipo cronistico sobre os monarcas portugueses (D. João I, D. Duarte e D. Afonso V), e invecti­varia os franciscanos, de forma algo negativa, justamente a propósito dos acontecimentos de 1415 (").

A Ordem teria alguns bispos ligados aos territórios ultramarinos, ca­sos de D. Fr. João, bispo de Tânger, por 1451, D. Fr. Estêvão, bispo titular florolianense in partibus infidelium (1457), e Fr. Justo Baldino, bispo de Ceu­ta e Tânger, que viria a ser sepultado na Batalha, junto da entrada para a sala do Capítulo, onde se encontra uma lindíssima lápide que atesta o fac­to. Mas todos estes bispos, cremos, nunca residiram nas suas dioceses (15).

A missionação do Benim e Congo liga-se, dalgum modo, a Stª Ma­ria da Vitória. De facto, em 1486, o rei do Benim, muçulmano, veio a Portugal para solicitar auxílio militar a D. João II, acabando por ser bap­tizado regressando ao seu reino com um confessor dominicano, Mestre Fr. Álvaro Correia, em 1488. Este monarca indígena foi baptizado por D. Fr. Justo Baldino em 3.Xl.1488, vindo a falecer, já no seu reino, como apóstata, no princípio de 1489 ('•) .

Ora, foi justamente este rei do Benim que visitou Stª Maria da Vitó­ria por 1488. A visita fez-se por sugestão de D. João II. Escreveu Cristó­vão Acenheiro, em 1535, único cronista que se refere ao evento, que disseram, no Mosteiro, ao rei africano, "que em sete anos o acabárão Mestres de pedraria; e ele, como Primcipe de muita prudencia, dixe e respondeo: Que era obra d' Amjos, e nom de homens segundo a sua fer­mozura, e obra tal que avia mister tredobrado tempo. Loguo lhe mostrá­rão outros pedreiros que obravão outra obra, ao que ele repricou: Que Deos Noso Senhor fizera cravos e rozas e outras ervas fermozas, e odorí­feras, e assim fizera aquele Moesteiro por sua mão, que o al que os pe­dreiros fazião, que era remedear a obra de Deos;" concluindo Acenheiro "e asim nom enganárão o Primcipe de Etiopia que a obra de quarenta anos se fisese em sete; e como foi desta maneira dos sete anos, como dito he, o Primcipe d'emgenho devino lhe perfundamemte respondeo: e este Moesteiro da Batalha, por homrrada mercê e vemcimento que Deos lhe deu, o mãodou fazer pera se emterrar" ('7).

Este acontecimento não se encontra narrado em nenhum outro cro­nista (v. g. Rui de Pina, Damião de Góis, Garcia de Resende, João de Bar-

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ros ou mesmo nas chamadas "memórias" de Álvaro Lopes de Chaves, secretário de D. João II).

Os dominicanos estiveram presentes também na terceira jornada ao Congo, justamente a da armada chefiada pelo capitão Gonçalo de Sousa, em 1491, onde participou Fr. João de Sta Maria, superior, mais cinco irmãos pregadores, levantando a igreja da invocação de St� Cruz em Ambasse e batizando Manísono, tio do rei do Congo, em 3 de Abril de 1491 ('8).

Em 1503, seguiram com Afonso de Albuquerque para a Índia al­guns missionários dominicanos (Fr. Domingos de Sousa, vigário, gra­duado em Teologia, Fr. Rodrigo Homem de Sousa, Fr. João do Rosário, Fr. Pedro de Abreu e Fr. António da Mata), sem contudo se provar que algum deles era filho do Convento da Batalha ('9).

Sabemos, no entanto, que o Mestre Geral da Ordem, Fr. Tomás Caetano (1508-1513), autorizou em 16 de Julho de 1508 a ida de Fr. Pe­dro da Vitória pelas "Ilhas ou terras descobertas pela primeira vez do rei de Portugal" a fim de "predicare populo et pro subsidio studii ele­mosyna recipere". Na Índia morreu, antes de 22 de Novembro de 1510, Fr. Rodrigo Hispano, do convento de Évora, e, no ano seguinte, há igualmente notícia da morte naquelas partes do dominicano Fr. Rodrigo Quesada (2").

Por 1510, também, aparece-nos um outro frade, Fr. João de Coimbra, doutor em Teologia, em Cananor, o qual fez entrega dalgumas alfaias li­túrgicas, para o estabelecimento duma nova igreja, a um Fr. Adão (").

, Por 1515, sensivelmente, seguiu o primeiro bispo dominicano para a India, D. Fr. Duarte Nunes, titular de Laodiceia, e filho de S. Domingos de Aveiro (22).

Em 1527, encontramos nova referência a um frade ligado à Batalha, Fr. Luís da Vitória, juiz de parceria com Fr. João Haro, também prega­dor, numa contenda entre dois fidalgos, em Goa (23).

Estes elementos provam uma efectiva presença individualizada dos frades pregadores em terras orientais, nomeadamente originários de Sta Maria da Vitória, como é lícito pressupor pela designação "da Vitó­ria", que se interpreta como indicativo de frade formado no Convento de St� Maria da Vitória ou, até, natural da vila da Batalha.

Desde a vitória de Aljubarrota, de 14 de Agosto de 1385, que a de­voção a Sti! Maria da Vitória se propagou intensamente por todo o reino. Construíram-se capelas desse título e organizaram-se festas e procissões anuais em honra do orago um pouco por todo o Reino. Também algu­mas das naus portuguesas acabaram por receber tal hagionómio que, en-

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tre os portugueses, tinha o seu cômoro simbólico no magnificente mos­teiro batalhino.

O nome de Stª Maria da VitÓria percorria, assim, o oceano Índico já por 1509. De facto, entre 15 de Dezembro de 1509 e 20 de Fevereiro dé 1511 existem alguns documentos que provam a existência duma nau sob esta invocação, utilizada na rota do Cabo. Nessa data, efectivamente, en­contramo-la a embarcar duas mãos de papel, certos quintais de cobre e azougue e alguns fardos de arroz em Cochim, ou, pouco depois, fardos de arroz e de açúcar, em Cananor, por ordem de Afonso de Albuquer­que (24). Mais tarde, em 1 de Março de 1525, voltamos a encontrar nova e última referência documental a, muito provavelmente, esta mesma em­barcação (>5).

Nesta nau, além dos mareantes, embarcavam os malabares, gente paga a soldo (200 reais aos sem espada e 100 aos que a traziam). Entre os primeiros lemos os nomes de Francisco, Fernando, Pedro, Diogo, Cosme e André. Entre os segundos, os nomes de João Fernandes, António, Fili­pe, dois Diogos e dois Fernandos. Nomes bem populares e cristãos entre os portugueses e que, então, tinham sido atribuídos a naturais da Índia ocidental (2").

A navegação difícil obrigava à reparação constante das embarcações. -Não admira, assim, que vejamos esta nau adquirir em 17 de Julho de 1510, em Cochim, o vermelhão necessário para a pintura das suas velas (27).

Na Ribeira de Lisboa, em 1 de Março de 1525, a nau carregava 20 antenas e 150 remos de galés, porque "sse ora faz prestes pera a Jmdia". Materiais seguramente necessários para reparações de navios portugue­ses estantes no Índico. Estas antenas, aliás, eram vergas que se fixavam aos mastros, nas quais se prendiam as velas triangulares ou latinas (>�).

Com o avançar de Quinhentos, contudo, quer os dominicanos em geral, quer os filhos de Stª Maria da Vitória, em particular, levavam a me­mória desta casa para aquelas paragens. Em Damão, ergueriam um novo convento para 10 religiosos mais o prior, sob a invocação de Stª Maria da Vitória. Era uma casa entre muitas outras, pois que o atraso de participa­ção institucional da Ordem na missionação foi prontamente ultrapassado após 1548, pelos frutos que semearam em Goa (convento, universidade, escolas médias (ler, escrever e música), confrarias e hospitais), Chaul, Ba­çaim, Diu, Cochim, Ceilão, Malaca, Solor, Timor e Macau (29).

As referências a frades que estanciaram na Batalha e agora missio­nários tornam-se frequentes. No Capítulo Provincial da Batalha, de 1579, legisla-se, pela primeira vez, abundantemente sobre os missioná­rios pregadores, impedindo-se que os professos voltassem ao Reino an-

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tes de cinco anos efectivos na Índia, expulsando os incorregíveis naquela Congregação (v. g. Jorge Cabral da Cunha e João Moreno), apreciando, longamente, os progressos missionários na China, em Solor e em Co­chim, e aceitando duas novas casas, uma em Moçambique (Na Sr[ do Ro­sário) e outra em Damão (Mayn, sob a invocação do Bom Jesus) (30) .

Concordavam os frades reunidos sob as abóbodas de St[ Maria da Vitória, que "Sobre a Congregação das Índias muitas coisas eram notícia, pois que nela os nossos frades com grande esforço vão obtendo ft;Jto, co­mo nos informam os nossos confrades daquela Congregação". E inegá­vel entrever no discurso da acta capitular o entusiasmo fervoroso com que se aprecia a gesta missionária, nunca suficiente pois que "messis quidem multa, operarij uero pauci" (31).

Nas Casas da Congregação não havia uma única que não tivesse confraria de Nossa S� do Rosário e muitas uma do nome de Jesus, mode­los muito identificados com a Batalha ou com S. Domingos de Lisboa (32).

Neste processo missionário a Batalha ocupou um lugar fundamen­tal. Após 1520 e até à elevação do seu Studium Particulare a Generale, em 1551, reuniram-se sob aquelas paredes dos melhores frades e mestres da Província, formando noviços e estudantes que singrariam no professora­do e magistério teológico ou na missionação (33).

À Batalha se deve um dos primeiros bispos portugueses residentes em África. Refiro-me a Fr. João Baptista, embaixador em Roma, filho do Convento da Vitória, eleito prelado de S. Tomé, após a renúncia de D. Fr. Bernardo da Cruz. Faleceria na sua diocese em 1554. Na Batalha resi­diu também, entre 1548-1550, D. Fr. Jorge Temudo, bispo de Cochim e, depois, arcebispo de Goa, falecido em 1571 (3-1).

Foi missionário no Índico, natural da Batalha, Fr. Conrado Taca (1543-1588) (35).

Ligados ao Convento encontramos ainda Fr. António Pegado (1548-1555), Fr. Diogo de Aveiro (1550-1554), Fr. Fernando de St[ Maria (1551-1552), Fr. Francisco da Anunciação (1554-1559), Fr. Francisco de Abreu (1555-1558), Fr. Francisco de, Carvalho (1548-1559), que veio a ser vigário geral da Congregação da India em 1579, Fr. Jerónimo Correia (1555-1560), Fr. Jerónimo Pereira (1533-1545), que foi bispo de Salé, Fr. Manuel da Serra (1548-1550), também vigário geral da Índia, Fr. Miguel dos Anjos (1555), Fr. Pedro de Avis (1543-1555), vigário de Tânger em 1579, Fr. Pedro Lobato (1538) e Fr. Simão das Chagas (1554-1560), tendo sido Mestre de Noviços na Batalha, missionário em Solor, onde faleceu em odor de santidade, atribuindo-se-lhe alguns milagres (água em vi­nho, acalmia de tempestades, cegueiras) (36).

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Em Solor e Timor, como se sabe, os grandes missionários foram dominicanos. Solor é evangelizada desde meados de Quinhentos e Ti­mor somente após 1641 (37). São diversos os missionários ligados à Bata­lha que viveram em Timor (v. g. Fr. Duarte Travasses, mt�rtirizado em Lifáo em 1679, e Fr. Alberto de S. Tomás, autor dum tratado sobre a flora de Timor) (38).

Em todo este processo de promoção do homem universal e de en­contro de culturas, o Mosteiro de Stª Maria da Vitória teve um papel ac­tivo e auspicioso (39).

Saul António Gomes

Notas e Bibliografia

(1) Veja-se, sobre este problema, J. Veríssimo SERRÃO, Hist6ria de Portugal, VIII, Do Mindelo à Regeneração (1832-1851), Lisboa, Verbo, 1986, p. 360; Id., ibidem, X, A Queda da Monarquia (1890-1910), Lisboa, 1988, pp. 60-61, 99, 476; ld., ibidem, XI, A Primeira República (1910-1928), Lisboa, 1989, pp. 182, 257-258; António José de ALMEIDA, Quarenta Aos de Vida Literária e Polftica, IV, Lisboa, 1933, pp. 106-107; Idem, Discursos em Honra dos Soldados Desconhecidos, Lisboa, Imprensa Nacional, 1921, pp. 11-27. Sobre a política de restauros sofrida pelo monumento após 1834 veja-se Paulo PEREIRA, James Murphy e o Mosteiro da Batalha, Batalha, 1989, pp. 9-10; Maria João BAPTISTA, "Elementos para o estudo do Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XIX", in Lusíada, Revista de Ciência e de Cultura, N• 2, (Abril/1992), pp. 219-232; Magda PINHEIRO, Luís Mousinho de Albuquerque, Um intelectual na Revolução, Lisboa, Fundação Maria Manuel c Vasco d'Orey - Quet­zal, 1992, pp. 178-182.

(2) Refiro-me ao meu estudo O Mosteiro de Santa Maria da Vit6ria no Século XV, Coimbra, ed. Inst. de História da Arte da Faculdade de Letras, 1990, e ã tese, ain­da inédita, de Maria João BAPTISTA, O Restauro do Mosteiro de Santa Maria da Vi­t6ria de 1840 a 1900, Lisboa, Faculdade de Letras, 1991. Tem a maior importância para o conhecimento da história deste mosteiro, em Quinhentos, o catálogo da exposição comemorativa dos 400 anos da morte de O. Fr. Bartolomeu dos Márti­res, consulte-se Frei Bartolomeu dos Mártires, Mestre Te6logo em Santa Maria da Vi­t6ria, 1538 a 1552. Exposição Documental e Iconográfica, Mosteiro da Batalha, 19 de Setembro a 5 de Outubro de 1992, Batalha, ed. Câmara Municipal da Batalha, passim. Do ponto de vista da história da arte os estudos são mais abundantes, merecendo consulta os de Virgílio Correia, Mário Clúcó, Pedro Dias e, mais re­centemente, Sérgio Guimarães ANDRADE, Santa Maria da Vit6ria - Batalha, Lis­boa-Mafra, ed. ELO, 1992.

(3) Consulte-se Joaquim Chorão LA VAJO, "Túnis e o Primeiro Studium Arabicum Hispânico do Século XIII. Problemática do Capítulo Dominicano de Toledo de 1250", in Islão e Arabismo na P_enfnsula Ibérica. Actas do _xi Congresso da União Euro­peia de Arabista e lslam6logos, Evora, Universidade de Evora, 1986, pp. 225-252.

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(4) Arquivo Nacional da Torre do Tombo (=ANTT) - Corpo Cronológico, Parte I, M• 12, Doe. 69 (5.11.1513, Roma); Luiz Rebello da SILVA, Corpo Diplomdtico Portu­guez, T. 1., Lisboa, Academia Real das Sciencias, 1862, pp. 187-189.

A ideia da reforma do convento de St' Maria da Vitória, juntamente com o de S. Domingos de Lisboa, assinala-se já no Capítulo Geral da Roma, de 1501. Mas não teve efeito imediato, para desagrado de D. Manuel. O rei português continuaria a insistir, nos anos seguintes, na necessidade dessa mudança de cos­tumes e de "individualismos" dentro do convento batalhino. Por pressão de D. Manuel, de facto, Fr. Tomás Caetano, mestre-geral, reafirma a decisão do Capí­tulo de Roma (1501) em 22 de Abril de 1512, como se lê em carta missiva dirigida ao provincial português. A saber: "Monentur praesidens provinciae, prior et fra­tres conventus Ulixbonensis et prior et fratres conventus Victoria, ut secundum acta capituli generalis Romae 1501 celebra ti, reforment se cum effectu in commu­nitate, ita ut nulli liceat habere quidquid proprium in victu et vestitu, moribus exemplaritate, assignato eis termino sex mensium quo elapso non conquerantur, cum Rex inste!, ut subdantur vicario reformatorum, nisi se reformaverint infra praefixum terminum, si ulterius processum fuerit". (Albertus MAYER, "Regis­trum Litterarum Fr. Thomae de Vio Caietani O. P. Magistri Ordinis 1508-1513", in Monumenta Ordinis Fratrum Praedicalorum, Roma, 1935, p. 315).

(5) ANTT - Bulas, M• 20, N• 36; Jayme Freitas MONIZ, Corpo Diplomdtico Portuguez, T. XI, Lisboa, 1898, N• n9-121; Frei Bartolomeu dos Mártires, Mestre Teólogo, cit., pp. 46, 60.

(6) Sobre os priores da comunidade nesta época veja-se o meu estudo O Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XV, pp. 261-273.

(7) Testamento de D. Manuel, de 7.IV.1517, Penha Longa (Sintra); As Gavetas da Tor­re do Tombo, Vol. IV, Lisboa, centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1967, pp. 119 e 141; vide também o meu trabalho "Ética e Poder em Torno do Mosteiro da Batalha (0 Século XV- Materiais para o seu estudo)", in Actas do III Encontro sobre História Dominicana, Vol. IV /1, Porto, Arquivo Histórico Dominicano Por­tuguês, 1991, p. 185, doe. 133.

(8) Saul GOMES, O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, pp. 353-363.

(9) ANTT - Batalha, 2• Compartimento, E. 18, P. 7, M• 5, doe. avulso c/ os n% anti­gos: "141" e "62"; Frei Bartolomeu dos Mdrtires, Mestre Teólogo, pp. 44-45, 71.

(lO) Saul GOMES, O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, pp. 275-287.

(11) Frei Bartolomeu dos Mdrtires, Mestre Teólogo, pp. 45-47.

(12) Fr. Luís de SOUSA, História de S. Domingos Particular do Reino e Conquistas de Por­tugal, !'-III' Partes, Lisboa, 1623, 1662 e 1678 (nova edição por Manuel Lopes de ALMEIDA, 2 vols., Porto, Lello e Irmão, 1977, II, p. 267).

(13) Frei Bartolomeu dos Mdrtires, Mestre Teólogo, p. 78, n• 46.

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(14) Fr. António do ROSÁRIO, Letrados Dominicanos em Portugal nos séculos >UII-XV, sep. de Repertorio de las Ciencias Eclesiásticas en Espana, Vol. 7, Salamanca, 1979, p. 537, n23.

(15) Saul GOMES, op. cit., pp. 306, 555; Fr. Luís de SOUSA, op. cit., pp. 1239-1241.

(16) Rui de PINA, Cr6nica de D. João 11, cap• 37; Álvaro Lopes de CHAVES, Livro de Apontamentos (1438-1489), C6dice 443 da Colecção Pombalina da B. N. L., introd. e transcriÇão de Anastásia Mestrinho SALGADO e Abílio José SALGADO, Lisboa, ed. I.N.C.M., 1983, pp. 321-324; Fr. Luís de SOUSA, op. cit., IV Parte, Cap• XVI, p. 1167; FONTANA, Monumenta Dominicana, Ann. 1486, Part. 3, Cap. 10.

(17) Cristóvão ACENHEIRO, Chronyca dos Reis de Portugal - D. João I, Lisboa, 1535 (in Inéditos de Hist6ria PortugueZI.I, T. V., Lisboa, Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1824, pp. 236-237).

(18) Fr. Luís de SOUSA, op. cit., p. 1168, 1171; João de BARROS, Décadas, I, Livro 3, cap2 9.

(19) Fr. Luís de SOUSA, op. cit., 3• Parte, Livro 1, cap• 3, pp. 258-261.

(20) Albertus de MEYER, "Registrum Litterarum Fr. Thomae de Vio Caietani O. P. Magistri Ordinis 1508-1513", in Monumenta Ordinis Fratrum Praedicatorum, Ro­ma, 1935, pp. 308-316.

(21) ANTT- Corpo Crono16gico, Parte 2, M• 23, Doe. 212 (16.X.1510).

(22) Fr. Luís de SOUSA, op. cit., p. 260.

(23) Fr. Luís de SOUSA, op. cit., p. 268.

(24) ANTT - Corpo Cronol6gico, Parte 2, M2 19, Doe. 142 (recibo de André Homem, escrivão da galé Stt Maria da Vitória, por que consta receber do feitor de Cochim duas mãos de papel, de 15.XII. 1509); ld., ibidem, Parte 2, M2 19, Doe. 186 (man­dado de Afonso de Albuquerque para se pagar aos malabares que serviam na nau St• Maria da Vitória, de 28.XII.1503); ld., ibidem, Parte 2, M2 20, Doe. 105 (mandados de Afonso de Albuquerque para Diogo Pereira, feitor de Cochim, en­tregar a Gonçalo Eanes, mestre da nau Stt Maria da Vitória, os quintais de cobre e azougue nele declarados, de 25.1.1510); ld., ibidem, Parte 2, M• 20, Doe. 146 (mandado de Rodrigo Rebelo para Gonçalo Mendes, feitor de Cananor, dar a Aquiles Godinho, oito fardos de arroz e três de açúcar para mantimento da nau St• Maria da Vitória, de 3.II.1510); ld., ibidem, Parte 2, M• 20, Doe. 158 (mandado de Rodrigo Rebelo para Gonçalo Mendes, feitor de Cananor, entregar a João Ro­drigues oito fardos de arroz e dois de açúcar para mantimento da nau St• Maria da Vitória, de 4.11.1510); Id., ibidem, Parte 2, M• 20, Doe. 179 (mandado de D. An­tónio de Noronha para o feitor de Cananor, Gonçalo Mendes, dar ao dispenseiro da galé St• Maria da Vitória doze fardos de arroz para mantimento da gente de mareação da dita galé, de 6.1I.l510); Id., ibidem, Parte 2, M• 20, Doe. 202 (manda­do de D. António de Noronha para que o feitor de Cananor entregasse seis sacas de arroz a Aquiles Godinho, para mantimento da nau St• Maria da Vitória, de 8.11.1510); Id., ibidem, Parte 2, M• 20, Doe. 217 (mandado de Rodrigo Rebelo para

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Gonçalo Mendes, feitor de Cananor, dar a Aquiles Godinho nove cruzados para compra de três pipas de braque, para mantimento da nau St• Maria da Vitória, de 9.IJ.1510); ld., ibidem, Parte 2, M" 25, Doe. 127 (conhecimento por que consta receber Diogo Fernandes, dispenseiro da nau St• Maria da Vitória, de Francisco Corvinel, feitor de Goa, 20 fardos pequenos de açúcar, por mandado de Afonso de Albuquerque, de 20.11.1511).

(25) ANTI - Corpo Cronológico, Parte 2, M" 124, Doe. 41 (mandado de D. António de Almeida, contador-mar, para Sebastião Gonçalves, almoxarife da Ribeira de Lis­boa, entregar a João Gonçalves, mestre da nau St• Maria da Vitória 20 antenas de toda a sorte, para levar para Cochim, de 1.111.1525).

(26) ANTI- Corpo Cronológico, Parte 2, M" 19, Doe. 186 (de 28.Xll.1509).

(27) ANTI - Corpo Cronológico, Parte 2, M•. 22, Doe. 148 (ordem de António Real pa­ra Diogo Pereira, feitor e escrivão de Cochim, dar o vermelhão necessário para se pintar as velas da nau St• Maria da Vitória, de que era capitão Jorge da Silveira, de 17.V1!.1510).

(28) ANTI - Corpo Cronológico, Parte 2, Mq 124, Doe. 41.

(29) Fr. Luís de SOUSA, op. cit., pp. 263, 381 e 1102-1103.

(30) Capítulos Provir:ciais da Ordem de S. Domingos em Portugal, 1567-1591, (ed. Fr. An­tónio do ROSARIO), Porto, Arquivo Histórico Dominicano Português, "Século XVI, Fase. 10", 1977, p. 30-35.

(31) Ibidem, p. 34.

(32) Fr. Luís de SOUSA, op. cit., pp. 1100-1105.

(33) Frei Bartolomeu dos Mártires, Mestre Teólogo, pp. 35, 38-40, 49-50, 77-78.

(34) Fr. Luís de SOUSA, op. cit., pp. 1239-1240.

(35) Fr. António do ROSÁRIO, Dominicanos em Portugal, Repertório do Século XVI, (=DEP), Porto, Arquivo Histórico Dominicano Português, 1991, n"s 623 e 1099, respectivamente.

(36) DEP, n• 2061.

(37) DEP, passim; Fr. Luís de SOUSA, op. cit ., m• Parte, pp. 314-317.

(38) Fr. Lucas de St• CATARINA, História de S. Domingos, cit., IV Parte, p. 1162. Veja­-se também as respectivas entradas em DEP.

(39) Sobre os problemas teológicos e filosóficos levantados pela missionação na ex­pansão moderna, sob o ponto de vista da escola dominicana, vide Frei Bartolomeu dos Mártires, Mestre Teólogo . . . , pp. 15-31; Fr. Raul ROLO, Bartolomeu dos Mártires, testemunha da renovação da ética ultramarina portuguesa, separata de Bracara Augus­ta, XLII Braga, 1990; Idem, "Teologia, Cultura e Missão", in Evangelização e Cultu­ras. 3 Estudos Fundamentais, Cucujães, Secretariado Nacional das Comemorações dos 5 Séculos, col. "Biblioteca Evangelização e Culturas", n• 1, 1991, pp. 39-53.

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APÊNDICE DOCUMENTAL

O Mosteiro de St' Maria da Vitória visto por Cristóvão Acenheiro, cerca de 1535.

Cristóvão Acenheiro, Chronyca dos Reis de Portugal - D. João I, Lisboa, 1535 (in Inéditos de Historia Portugueza, Lisboa, Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1824, to­mo V, pp. 236-237).

"E mãodou fazer o Moesteiro da Batalha, onde venceo o Rei de Castela; e cha­ma-se Sam ta Maria da Vitoria, pera si e seus filhos; e parece obra d' Amjos que se fez em sete anos, que he obra pera corenta; e teve esta estucia. Mãodou El Rei noteficar pelas partes de Espanha que tinha obra pera fazer de pedraria, que todos os Mestres que viesern que lhe daria sete anos que fazer, e lhe pagaria a vimda e a yda de suas Terras: e a esta noteficação vierão muitos Mestres de pedraria, e gramdes officiaes, e a fizerão segumdo dito he.

O ano de mil e quatrocentos e noventa e dous (') veo a este Reino de Portugal Bo­moim Primcipe negro de Jalofo, homem de muita prudencia, e o Rei Dom João, segundo do nome e treze no Reino de Portugal, lhe mãodou amostrar o dito Moesteiro ao dito Bomoirn; e lhe diserão que em sete anos o acabárão Mestres pedraria; e ele, como Prirn­cipe de muita prudencia, dixe e respondeo: Que era obra d' Amjos, e norn de homens se­gundo a sua ferrnozura, e obra tal que avia mister tresdobrado tempo. Loguo lhe rnostrárão outros pedreiros que obra vão outra obra, ao que ele repricou; Que Deos noso Senhor fizera cravos e rozas e outras ervas ferrnozas, e odoriferas, e asim fizera aquele Moesteiro por sua mão, que o al que os pedreiros fazião, que era remedear a obra de Deos: e asim norn ernganárão o Primcipe de E ti opia que a obra de quarenta anos se fise­se em sete; e como foi desta maneira dos sete anos, como dito he, o dito Primcipe d'em­genho devino lhe perfundarnente respomdeo: e este Moesteiro da Batalha, por hornrrada mercê e verncimento que Deos lhe deu, o mãodou fazer pera se em terra r.

E estarndo este Rei Dom João em a cidade de Lixboa doemte, conhecendo sua morte, se fez levar á Sée da dita cidade, á capela maior, pera se espedir do Martire Sam Vicente, de que ele era muito devoto; e ahi ovio Misa: e porque a capela maior es­tava desbaratada, terneo que corno ele falesese não se daria aviamento á obra; fez vir o Mestre da obra, e fez com ele preço de toda a obra; e antes que dali se partise fez vir todo o dinheiro, e o deu a mão ao Mestre da obra. E fese levar a nosa Senhora Sam ta Maria da Escada a Sam Domingos, a qual ele mãodou fazer e era muito devoto dela; e dali o levárão aos Paços do Castelo, ornde ele pousava, estamdo ele já pera morrer: e porque tragia grarnde barba mãodou-a cortar dizemdo: Que não convinha a Rei a quem muitos avião de ver, estar depois de morto espantozo e disforme; e loguo fale­ceo aos quatorze d' Agosto, bespora de Nossa Senhoa Sam ta Maria, ano de Christo de mil e quatrocentos e trimta e tres, sendo em ydade de setemta e seis anos, dos quais reinou os simquoemta de muita vitoria vencedor, e não vemcido.

Foi levado à Batalha aomde jaz onorificamente com seos filhos ditos já. Foi cou­sa de maravilha que a estes quatorze d' Agosto pôs cerco em Cepta, e aos vim te e hu delle a tomou; e erntam avia corem ta e oito que vemcera a batalha Real; e avia dozoito que tomára Cepta: e este mesmo dia foi sol cris, e asim o foi quãodo morreo a Rainha Dona Felipa sua molher. Deo gracias".

(1) Sic, de facto foi em finais de 1488 que Bemoim esteve em Portugal (cf. Rui de Pi­na, Crónica de D. João II, cap• 37).

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LEIRIA-FÁTIMA, publicação quadri­mestral, que arquiva decretos e pro­visões, divulga critérios e normas de acção pastoral e recorda etapas im­portantes da vida da Diocese.

Depósito Legal N2 64587/93

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