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Pós-Graduação em Direito Tributário Disciplina: Obrigação e Crédito Tributário LEITURA OBRIGATÓRIA – AULA 5

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Pós-Graduação em Direito Tributário

Disciplina: Obrigação e Crédito Tributário

LEITURA OBRIGATÓRIA – AULA 5

LEITURA OBRIGATÓRIA – AULA 1

NARLON GUTIERRE NOGUEIRA

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SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

REGINA HELENA COSTA

7.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

O tema da suspensão da exigibilidade do crédito tributário envolve a análise não so-

mente das relações jurídico-tributárias, mas também de aspectos administrativos e, especi-

almente, processuais, porquanto a maior parte das hipóteses supõe a existência de litígio

entre o Fisco e o sujeito passivo.

Como visto, a obrigação principal é o vínculo jurídico mediante o qual o Fisco tem o

direito de exigir do sujeito passivo uma prestação economicamente apreciável, consubstan-

ciada no pagamento de tributo. A obrigação, assim. É constituída de crédito e débito. Estes

traduzem o liame jurídico na sua dupla perspectiva.

Outrossim, o crédito torna-se exigível com o lançamento, que o aperfeiçoa para co-

brança.

Desse modo, suspensa a exigibilidade do crédito, inexoravelmente estará suspensa

a exigibilidade do débito; daí porque mais adequado falar-se em suspensão da exigibilidade

da obrigação.

A presença de uma causa de suspensão da exigibilidade acarreta as seguintes con-

sequências: i) o Fisco fica impedido de exercitar atos de cobrança, não podendo ajuizar a

execução fiscal até que cesse a eficácia da causa suspensiva; e ii) fica suspensa a conta-

gem do prazo prescricional para o ajuizamento da execução fiscal, se já iniciado, ou impedi-

da a fluência de tal prazo.

Portanto, a suspensão da exigibilidade da obrigação tributária é sempre um estado

provisório, que dura um período de tempo. Em consequência, poderemos ter diferentes situ-

ações diante da cessação da suspensão da exigibilidade da obrigação: i) o pagamento pelo

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sujeito passivo, extinguindo-se a obrigação tributária; ii) o advento de outra causa de extin-

ção do pagamento – ex.: decisão judicial declaratória da inexistência da obrigação de pagar

tributo, ou, ainda, iii) o restabelecimento da exigibilidade, com o prosseguimento da cobran-

ça do crédito fiscal, inclusive mediante o ajuizamento de execução fiscal.

Convém anotar, por outro lado, que o CTN trata apenas da suspensão da exigibilida-

de da obrigação principal, mas pode-se verificar tal situação também em relação à obriga-

ção acessória, por exemplo, uma decisão judicial provisória que exonere o contribuinte de

um determinado comportamento1.

O tema de suspensão da exigibilidade da obrigação principal suscita importantes

questões de ordem prática.

A primeira delas diz com a possibilidade de a Fazenda Pública efetuar o lançamento

do tributo enquanto pendente causa suspensiva de sua exigibilidade.

Entende-se, majoritariamente, que, enquanto pendente uma causa de suspensão da

exigibilidade da obrigação, não fica a Fazenda Pública inibida de proceder ao lançamento do

tributo2.

Ousamos divergir de tal orientação, uma vez que o lançamento, como sabido, visa,

exatamente, aperfeiçoar o crédito tributário a fim de que se torne exigível, passível de co-

brança, portanto. Ora, se a cobrança está vedada enquanto perdurar a causa de suspensão

da exigibilidade, parece inadequado falar-se em lançamento, apenas para “evitar a deca-

dência do direito efetuar o lançamento”. Mesmo porque a decadência é consequência da

1 Imagina-se, por exemplo, a hipótese de o contribuinte impetrar mandado de segurança para eximir-

se do cumprimento de obrigação acessória prevista em ato administrativo, sob alegação de violação ao princípio da legalidade (art. 5º, II, CR). 2 No âmbito federal, o entendimento encontra-se arrimo na Lei n. 9.430, de 1996, cujo art. 63, caput,

dispõe que, “na constituição de crédito tributário destinada a prevenir a decadência, relativo a tributo de competência da União, cuja exigibilidade houver sido suspensa na forma dos incisos IV e V do art. 151 da Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966, não caberá lançamento de multa de ofício”. A jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido de que a suspensão da exigibilidade da obrigação tributária não impede o Fisco de efetuar lançamento (“A suspensão da exigibilidade do crédito tributário na via judicial impede o Fisco de praticar qualquer ato contra o contribuinte visando à cobrança de seu crédito, tais como inscrição em dívida, execução e penhora, mas não impossibilita a Fazenda de proceder à regular constituição do crédito tributário para prevenir a decadência do direito de lançar” – 1ª Seção, ERESP 572.603-PR, Rel. Min. Castro Meira, j. 08.06.2005, DJ 05.09.2005, p. 199). No entanto, a mesma Corte consagrou o entendimento segundo o qual o depósito do montante integral do tributo efetuado com a finalidade de suspender a exigibilidade equivale a lançamento por homologação tácito e, assim, não que se falar em decadência (EREsp 898.992 – PR, 1ª Seção, Rel. Min. Castro Meira, j. 08.08.2007, DJ 27.08.2007, p. 186).

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situação de inércia do titular do direito, que, na hipótese, não pode ser imputada à Fazenda

Pública, impedida que está de cobrar seu crédito devido à presença de uma das circunstân-

cias aptas a suspender aquela exigibilidade. 3

Outra situação, bastante frequente, respeita à expedição de certidões que espelhem

a situação fiscal dos contribuintes, necessárias para que possam participar de licitações,

celebrar contratos administrativos ou obter empréstimos junto ao Poder Público.

Com efeito, a presença de uma causa suspensiva de exigibilidade enseja a expedi-

ção de certidão de regularidade de situação, vulgarmente denominada “certidão positiva

com efeito de negativa”, nos termos do art. 206, CTN. Já a certidão negativa, prevista no art.

205, CTN, somente pode ser expedida na hipótese de ausência de débitos fiscais vencidos

e não pagos. 4

Importante ressaltar que a suspensão da exigibilidade do crédito tributário não se

confunde com a suspensão da prescrição. Em outras palavras, nem sempre a existência de

uma causa suspensiva da exigibilidade implicará a suspensão da fluência do prazo prescri-

cional. Para que a suspensão da exigibilidade enseje a suspensão da prescrição, é neces-

sário que a primeira ocorra em momento subsequente àquele em que o sujeito ativo teve

condições de acesso à ação judicial de cobrança. Isto é, que a suspensão da exigibilidade

somente acarretará a suspensão do prazo prescricional se este já tiver iniciado seu curso

quando aquela for deflagrada.

Assim, por exemplo, no caso de reclamações e recurso administrativos, a exigibilida-

de está suspensa por força desses expedientes, e, portanto, a prescrição ainda nem come-

çou a fluir. Já nos casos de depósito do montante integral e liminar ou antecipação de tutela,

diversamente, a suspensão da exigibilidade acarreta, forçosamente, a suspensão da pres-

crição.

Assinale-se que o parágrafo único do art. 151, CTN, veicula preceito didático, ao

afirmar que a suspensão da exigibilidade do credito tributário não dispensa o cumprimento

3 Misabel Derzi afirma que, quando advém causa suspensiva antes do lançamento, devolver-se-á o

prazo à Fazenda para lançar, uma vez cessada a causa. Ilustra seu entendimento com a hipótese de, após a concessão de medida liminar em mandado de segurança preventivo impetrado pelo sujeito passivo, sobrevir sentença desfavorável (notas ao Direito Tributário Brasileiro, de Baleeiro, cit., p. 840). 4 A respeito do tema, vide Parte III, Capítulo 12, item 12.2.3.

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de obrigações acessórias, ressaltando a distinção entre as modalidades de obrigação tribu-

tária e reafirmando a autonomia das obrigações acessórias.

7.2 – HIPÓTESES

O tema é tratado nos arts. 151 a 155-A, CTN. O art. 151 abriga um rol de hipóteses

que se entende taxativo, recentemente ampliado pela Lei Complementar n. 104, de 2001: a

moratória, o depósito do montante integral, as reclamações e recursos administrativos, a

concessão de medida liminar em mandado de segurança, em outra ação, e a antecipação

de tutela, e o parcelamento (art. 151, CTN).

Vejamos, sucintamente, cada qual.

7.2.1 – MORATÓRIA

A moratória vem regrada nos arts. 152 a 155, CTN. Observa-se que tal disciplina é

minudente, pouco afinada com a ideia de “normas gerais de direito tributário”, objeto do Có-

digo.

A moratória é a prorrogação do prazo ou a outorga de novo prazo, se já findo o origi-

nal, para o cumprimento da obrigação principal. Sempre dependerá de lei para sua conces-

são, não somente porque a obrigação tributária é ex lege, mas também por força do princí-

pio da indisponibilidade do interesse público, já que a moratória implica o recebimento do

crédito fiscal posteriormente ao prazo originalmente estabelecido.

Preceitua o art. 152:

Art. 152. A moratória pode ser concedida:

I – em caráter geral:

a) Pela pessoa jurídica de direito público competente para instituir o tributo a que

se refira;

b) Pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal

ou dos Municípios, quando simultaneamente concedida quanto aos tributos de competência

federal e às obrigações de direito privado;

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II – em caráter individual, por despacho da autoridade administrativa, desde que au-

torizada por lei nas condições do inciso anterior.

Parágrafo único. A lei concessiva de moratória pode circunscrever expressamente a

sua aplicabilidade a determinada região do território da pessoa jurídica de direito público que

a expedir, ou a determinada classe ou categoria de sujeitos passivos.

O dispositivo prevê duas modalidades de moratória quanto ao regime de concessão:

em caráter geral e em caráter individual. Note-se que o inciso I, alínea b, do dispositivo, con-

templa hipótese inconstitucional, uma vez que a União não poderia conceder moratória de

tributos de outras pessoas políticas sem flagrante ofensa aos princípios federativos e da

autonomia municipal.

Situação que autoriza a edição de lei concessiva de moratória aplicável à determina-

da região do território é a de calamidade pública, uma vez evidente o interesse público em

deferir maior prazo para a satisfação das obrigações tributárias.

O art. 153, por sua vez, estabelece o conteúdo da lei concessiva de moratória, em

ambas as modalidades mencionadas, sendo de destacar-se, itens mais importantes, o prazo

do beneficio, as condições a serem preenchidas pelo interessado e os tributos por ela

abrangidos.

Em sequência, o art. 154 abriga norma supletiva, elucidando que, ressalvada dispo-

sição legal em contrário, a moratória “somente abrange os créditos definitivamente constitu-

ídos à data da lei ou do despacho que a conceder, ou cujo lançamento já tenha sido iniciado

àquela data por ato regularmente notificado ao sujeito passivo”.

O parágrafo único desse artigo afasta a possibilidade de a moratória ser aplicada a

casos de dolo, fraude ou simulação do sujeito passivo ou do terceiro em beneficio daquele.

Por evidente, o benefício em foco não poder ser outorgado àqueles que, de ma fé, pratica-

ram atos ilícitos.

O art. 155 contém dicção algo confusa, assim expressa:

Art. 155 - A concessão da moratória em caráter individual não gera direito ad-

quirido e será revogada de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não satis-

fazia ou deixou de satisfazer as condições ou não cumpria ou deixou de cumprir os

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requisitos para a concessão do favor, cobrando-se o crédito acrescido de juros de

mora:

I - com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou simulação do

beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele;

II - sem imposição de penalidade, nos demais casos.

Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, o tempo decorrido entre a conces-

são da moratória e sua revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à

cobrança do crédito; no caso do inciso II deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de

prescrito o referido direito.

Por primeiro, o caput encerra uma impropriedade técnica, ao declarar que “a conces-

são da moratória em caráter individual não gera direito adquirido e será revogada de ofício,

sempre que se apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições

ou não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do favor”. Isso porque

a concessão da moratória, como claramente se depreende do disposto nos arts. 152 e 153,

dá-se mediante ato administrativo vinculado, ou seja, uma vez preenchidos os requisitos

legais pelo interessado, tem ele direito ao benefício. Logo, sua concessão, nos termos da

lei, gera direito adquirido.

E, se assim é, incabível falar-se em revogação, modalidade de extinção de ato admi-

nistrativo discricionário, cuja expedição envolve a apreciação, oportunidade e conveniência,

por razões relacionadas a tais critérios. Se o interessado não preenchia os requisitos legais

necessários e, ainda assim, a moratória foi concedida, esta dever ser objeto de anulação,

não de revogação. Diversamente, se a moratória foi outorgada corretamente, mas posteri-

ormente, o interessado deixou de satisfazer as condições para a sua fruição, é caso de cas-

sação da moratória. Esses os termos que expressam os conceitos aplicáveis a tais hipóte-

ses, segundo as lições de direito administrativo5.

A consequência da cessação da fruição da moratória, em ambas as hipóteses apon-

tadas, consiste no acréscimo de juros de mora. Se ocorreu a prática de ilícito, aplica-se, evi-

5 Veja-se, por exemplo, a lição de Maria Sylvia Zanella di Pietro (Ob. Cit., PP. 222-235).

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dentemente, a sanção cabível, não se computando o lapso temporal decorrido para efeito de

prescrição.

7.2.2 – DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL

O art. 151, em seu inciso II, aponta o depósito do montante integral como causa de

suspensão da exigibilidade da obrigação principal, sendo o único preceito do CTN a respei-

to.

Trata-se de um dos expedientes mais comumente utilizados para a obtenção desse

efeito.

Como a própria dicção legal indica, somente o depósito de valor total do débito em

dinheiro, e com os acréscimos legais devidos, conduz à aludida suspensão6.

Funciona o depósito como garantia do credito da Fazenda Pública, que fica impedida

de proceder à sua cobrança, não podendo ajuizar a execução fiscal.

Em princípio, tal depósito pode ser efetuado tanto em sede de processo administrati-

vo como no bojo de um processo judicial.

A hipótese do CTN, por óbvio, refere-se ao depósito judicial, pois, no âmbito adminis-

trativo, a suspensão já estaria assegurada pela utilização de reclamações e recursos (art.

151, III, CTN). Assim, o deposito administrativo visa evitar a atualização monetária da dívida,

porquanto a propositura da execução fiscal já está inibida em razão do próprio recurso ad-

ministrativo; o depósito judicial, além de produzir esse efeito, impede o ajuizamento da ação

de execução.

Questão que se põe diz com a possibilidade de o contribuinte efetuar o levantamento

de tal depósito e em que momento.

O entendimento corrente é o de que, uma vez efetuado o depósito, sua destinação

está necessariamente vinculada ao resultado do processo. Se extinto o processo sem reso-

lução de mérito, por qualquer fundamento, o depósito há de ser levantado pelo próprio con-

6 É o que reafirma a Súmula 112, STJ: “O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito

tributário se for integral e em dinheiro”.

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tribuinte, uma vez que a decisão judicial não provocou nenhuma modificação na relação

tributária de direito material7. Por outro lado, se o processo foi extinto com resolução do mé-

rito, há duas possibilidades: julgado procedente o pedido, o contribuinte tem direito ao levan-

tamento da quantia depositada; se ocorrer a improcedência, o depósito deverá ser converti-

do em renda da Fazenda Pública8.

Nossa opinião, entretanto, é bastante diversa. Sustentamos que, em sendo o depósi-

to direito do contribuinte, a ser exercido dentro de certos limites, este pode proceder ao le-

vantamento do respectivo valor a qualquer tempo, enquanto não houver decisão judicial

definitiva. Vale dizer, requerendo o levantamento do valor depositado, estará abrindo mão

da situação de suspensão da exigibilidade do crédito tributário e, consequentemente, ense-

jando a possibilidade de sua cobrança por meio de execução fiscal.

Ademais, nessa linha de raciocínio, cremos que, mesmo diante de uma decisão judi-

cial definitiva de improcedência, ainda assim é possível ao contribuinte proceder ao levan-

tamento da quantia que depositou, pois a conversão do deposito em renda constitui espécie

de pagamento (art. 156, VI, CTN) e, portanto, modalidade voluntária de extinção da obriga-

ção tributária. Pensamos, contudo, que caso não tenha o contribuinte êxito na ação judicial

que propôs, ao formular o requerimento de levantamento do montante depositado, deve a

Fazenda Pública ser cientificada a respeito para, querendo, tomar as providências necessá-

rias com vista à penhora desse valor, com o consequente prosseguimento da execução fis-

cal.

7 Diversamente, firmou-se no âmbito do STJ a orientação segundo a qual, na hipótese de extinção do

processo sem resolução de mérito, em regra, cabe a conversão do deposito em renda, consoante o acórdão assim ementado: “Tributário. Mandado de Segurança. Extinção do processo sem resolução de mérito. Depósito judicial efetuado para suspender a exigibilidade do crédito. Conversão em renda. Precedentes. 1. Com o julgamento dos Embargos de Divergência no Recurso Especial 479.725/BA (Relator Ministro José Delgado), firmou-se, na Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, o entendimento de que, nas hipóteses de extinção do mandado de segurança sem julgamento de mérito, em face da ilegitimidade passiva da autoridade apontada como coatora, os depósitos efetuados pelo contribuinte para suspender a exigibilidade do crédito tributário devem ser convertidos em renda da Fazenda Pública (AgRg no Ag 756.416/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJU de 10.08.2006). 2. Em regra, no caso de extinção do feito sem resolução do mérito, o depósito deve ser repassado aos cofres públicos, ante o insucesso da pretensão, a menos que se cuide de tributo claramente indevido, como no caso de declaração de inconstitucionalidade com efeito vinculante ou, ainda, por não ser a Fazenda Pública litigante o titular do crédito. No caso, cuida-se de mandado de segurança impetrado contra a exigência da contribuição para o Finsocial, após a instituição da contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas (CSLL), cuja inconstitucionalidade jamais foi reconhecida pelo STF. 3. Recurso Especial provido” (1ª Seção, REsp 901.052-SP, Rel. Min. Castro Meira, j. 13.02.2008, Dje 03.03.2008). 8 Nesse sentido, v.g. STJ, 2ª T., REsp 734.793 – PR, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 12.06.2007, DJ

29.06.2007, p. 535.

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Lembre-se, por derradeiro, que a Lei n. 6.830, de 1980 (LEF), em seu art. 38, menci-

ona ações judiciais admissíveis para a discussão da dívida ativa, dentre as quais a ação

anulatória, estabelecendo deva ela ser precedida do depósito do valor integral do débito

tributário9. O entendimento de que tal depósito constitui condição de procedibilidade há de

ser afastado, por ser incompatível com o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicio-

nal (art. 5º, XXXV, CR). Assim, a interpretação consentânea com tal diretriz é no sentido de

que a ação anulatória pode ser proposta sem a necessidade de depósito; mas o depósito do

montante integral do débito em discussão, uma vez efetuado, impede a Fazenda Pública de

ajuizar a execução fiscal.

7.2.3 – RECLAMAÇÕES E RECURSOS ADMINISTRATIVOS

Também as reclamações e os recursos administrativos constituem causas de sus-

pensão da exigibilidade da obrigação tributária (art. 151, III, CTN).

A expressão “reclamações e recursos administrativos”, de significação ampla, com-

preende todos os instrumentos de defesa, todos os meios hábeis a impugnar exigências

fiscais.

Observe-se que a referencia a “recursos”, a nosso ver, assegura o duplo grau de

cognição obrigatório, isto é, garante ao contribuinte o direito de que sua pretensão, deduzida

na via administrativa, possa ser apreciada por, no mínimo, duas instâncias de julgamento.

Esse o entendimento que se afina com o disposto no art. 5º, LV, CR, que assegura aos liti-

gantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a

ampla defesa, com todos os meios e recursos a eles inerentes.

Se a decisão definitiva no processo administrativo for favorável ao reclamante, a exi-

gência fiscal extingue-se (art. 156, IX, CTN). Se desfavorável, restabelece-se a exigibilidade,

devendo ser concedido ao contribuinte um prazo para satisfazer a obrigação.

7.2.4 – CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA OU

EM OUTRA AÇÃO, OU DE TUTELA ANTECIPADA

9 “Art. 38. A discussão judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública só é admissível em execução, na

forma desta Lei, salvo as hipóteses de mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato declarativo da dívida, esta precedida do depósito preparatório do valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais encargos”.

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Estas causas de suspensão da exigibilidade, que analisaremos conjuntamente por

sua afinidade (art. 151, IV e V, CTN), remetem para a sua adequada compreensão à ques-

tão da morosidade do processo judicial.

Como sabido, a crescente preocupação com o assunto culminou com a edição da

EC n. 45, de 2004, que introduziu o inciso LXXVIII ao art. 5º, para proclamar que “a todos,

no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os

meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

Como ensina Cândido Rangel Dinamarco10, atuando o tempo como fator de corrosão

de direito, busca-se, presentemente, obter-se a maior efetividade do processo.

Nesse contexto, exsurge a crescente importância das medidas judiciais antecipató-

rias dos efeitos da tutela jurisdicional as quais, em princípio, somente poderiam ser concedi-

das ao final.

A liminar em mandado de segurança foi a primeira delas e, por isso, a única prevista

originalmente no texto do Código Tributário Nacional11.

Com o advento do Código de Processo Civil, de 1973, surgiu o instituto das medidas

cautelares, com a possibilidade de provimentos liminares, destinados a assegurar a eficácia

do provimento da ação principal. Embora não constasse essa referência no texto original do

art. 151, CTN, o Judiciário passou a admitir a suspensão da exigibilidade da obrigação tribu-

tária operada por decisão liminar em ação cautelar, por equiparação à decisão liminar profe-

rida em mandado de segurança.

Em 1994, em mais uma etapa da reforma processual que vem sendo efetuada paula-

tinamente, foi introduzida a antecipação da tutela como instituto inspirado na liminar em

mandado de segurança, viabilizando a prolação de provimento antecipatório dos efeitos da

tutela jurisdicional pleiteada em ações de rito ordinário12.

10

Nova Era do Processo Civil, 1. Ed., 2. Tir., São Paulo, Malheiros Editores, 2004, p. 55. 11

Isso porque o mandado de segurança é disciplinado pela Lei n. 1.533, de 1951, e, portanto, anterior ao CTN (Lei n. 5.172, de 1966). 12

A Lei n. 8.952, de 1994, deu nova redação ao art. 273, CPC, que autoriza a antecipação dos efeitos da tutela.

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12

De início, o instituto da tutela antecipada sofreu resistências quanto à sua aplicação

em relação à Fazenda Pública, sob o fundamento de que a execução contra esta se subme-

te a regime jurídico especial, que impõe a expedição de precatório.

No entanto, a jurisprudência pouco a pouco firmou o entendimento segundo o qual,

desde que preenchidos os pressupostos legais, não há óbice na concessão de tutela anteci-

pada contra a Fazenda Pública13. Posteriormente, encarregou-se de reconhecer que a deci-

são antecipatória de tutela poderia suspender a exigibilidade da obrigação tributária, por

revestir a mesma natureza da liminar em mandado de segurança, hipótese prevista expres-

samente.

Finalmente, atualizando a disciplina do CTN de acordo com a jurisprudência já con-

solidada, a Lei Complementar n. 104, de 2001, incluiu o inciso V ao art. 151, para prever,

igualmente, como causas de suspensão da obrigação tributária, “a concessão de medida

liminar ou de tutela antecipada em outras espécies de ação judicial”.

A cláusula relativa a “outras espécies de ação judicial que comportem liminar e tutela

antecipada”, além da hipótese do mandado de segurança, originalmente prevista, e da ação

cautelar, há muito admitida pela jurisprudência, faz refletir sobre quais seriam essas outras

ações.

E as hipóteses que vem primeiramente à mente são, obviamente, as das ações de ri-

to ordinário – declaratória e anulatória de débito tributário.

Também pensamos que as ações civis públicas estão abrigadas na hipótese legal14.

Se a decisão definitiva no processo judicial for favorável ao sujeito passivo, cessa a

suspensão da exigibilidade e consuma-se a extinção da obrigação. Se desfavorável, resta-

belece-se a exigibilidade, devendo ser concedido ao contribuinte um prazo para satisfazer a

obrigação15.

13

Veja-se STF, Ação Direta de Constitucionalidade 4, Rel. Min. Sydney Sanches, Rel. p/ o acórdão Min. Celso de Mello, j. 1º.10.2008, Dje 14.10.2008, e STJ, REsp 770.308, 2ª T., Rel. Min. Eliana Calmon, j. 28.08.2007, Dj 11.09.2007, p. 213. 14

Parte VI, item 3. 15

Cite-se, uma vez mais, o mesmo art. 63 da Lei n. 9.430, de 1996, sublinhando outro aspecto: “Art. 63. Na constituição de crédito tributário destinada a prevenir a decadência, relativo a tributo de competência da União, cuja exigibilidade houver sido suspensa na forma dos incisos IV e V do art. 151 da Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966, não caberá lançamento de multa de ofício. § 1º O

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Embora evidente, vale anotar que, conquanto o CTN refira-se apenas a decisões de

caráter liminar, também possuem efeito suspensivo da exigibilidade outras decisões não

definitivas, quais sejam, as sentenças e acórdãos ainda passíveis de recurso. Em outras

palavras, enquanto não ocorrida a coisa julgada, as decisões judiciais favoráveis ao contri-

buinte serão sempre provisórias e, desse modo, passíveis de suspender a exigibilidade do

credito tributário.

7.2.5 – PARCELAMENTO

Originalmente, o CTN não dispunha o parcelamento como causa de suspensão da

exigibilidade do crédito tributário. No entanto, tal hipótese já era admitida em razão do fato

de este ser considerado, majoritariamente, uma espécie de moratória.

A hipótese veio a ser acrescentada pela Lei Complementar n. 104, de 2001 (art. 151,

VI), que introduziu também os arts. 155 e 155-A.

À semelhança da moratória, o parcelamento somente pode ser concedido mediante

lei, uma vez mais em respeito ao princípio da indisponibilidade do interesse público, por-

quanto o Fisco receberá seu crédito em momento posterior ao originalmente estabelecido.

A diferença entre moratória e parcelamento é sutil, porquanto este é espécie daque-

la, relação que exsurge clara do preceito contido no § 2º, do art. 155-A, que determina a

aplicação subsidiária, ao parcelamento das disposições do CTN relativas à moratória.

Podemos dizer que os institutos distinguem-se pelo fato de que, enquanto a morató-

ria pode se dar mediante execução unitária ou parcelada - pagamento do débito em uma ou

várias parcelas -, o parcelamento, somente desta última forma.

O art. 155-A encontra-se assim expresso:

Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição estabeleci-

das em lei específica.

disposto neste artigo, aplica-se, exclusivamente, aos casos em que a suspensão da exigibilidade do débito tenha ocorrido antes do início de qualquer procedimento de ofício a ele relativo. § 2º A interposição da ação judicial favorecida com a medida liminar interrompe a incidência da multa de mora, desde a concessão da medida judicial, até 30 dias após a data da publicação da decisão judicial que considerar devido o tributo ou contribuição” (destaque nosso).

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§ 1º Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário

não exclui a incidência de juros e multas.

§ 2º Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições desta Lei,

relativas à moratória.

§ 3º Lei específica disporá sobre as condições de parcelamento dos créditos

tributários do devedor em recuperação judicial.

§ 4º A inexistência da lei específica a que se refere o § 3º deste artigo importa

na aplicação das leis gerais de parcelamento do ente da Federação ao devedor em

recuperação judicial, não podendo, neste caso, ser o prazo de parcelamento inferior

ao concedido pela lei federal específica.

O § 1º, do art. 155-A, proclama a obviedade consistente no fato de que o parcela-

mento não exclui a penalidade. O preceito remete, claramente, ao instituto da denúncia es-

pontânea (art. 138, CTN), que tem o condão de afastar a penalidade imposta, dentro de cer-

tas condições, rechaçando o entendimento, sustentado por parte da doutrina e da jurispru-

dência, segundo o qual o parcelamento pode configurá-la16.

Os § § 3º e 4º do art. 155-A, por seu turno, foram acrescentados pela Lei Comple-

mentar n. 118, de 2005, para adaptar a disciplina do CTN à Lei da Recuperação Judicial (Lei

n. 11.101, de 2005)17.

Regina Helena Costa

16

Analisaremos o instituto da denúncia espontânea em capítulo subsequente (Capitulo 10, item 10.6). 17

A respeito, dispõem os arts. 6º, § 7º, e 68 da Lei n. 11.101, de 2005: “Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. (...) § 7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica”; “Art. 68. As Fazendas Públicas e Instituto Nacional do Seguro Social – INSS poderão deferir, nos termos da legislação especifica, parcelamento de seus créditos, em sede de recuperação judicial, de acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966- Código Tributário Nacional”.

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Professora de Direito Tributário nos cursos de graduação e pós-graduação em Direito, es-

pecialmente na PUCSP, foi fecundada pelo exercício das funções de Procuradora do Esta-

do de São Paulo, de Procuradora da República e, desde 1991, de Magistrada Federal, com

intensa atuação nessa seara.

Como citar este texto:

COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário: Constituição e Código Tributário Nacio-

nal. São Paulo: Saraiva, 2009. Material da 5ª aula da Disciplina Obrigação e Crédito Tributá-

rio, ministrada no Curso de Especialização Telepresencial e Virtual de Direito Tributário –

REDE LFG.