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=========================================================== Temas literários: Realismo, Naturalismo e Parnasianismo TEXTO 1 O romance Cidade de Deus, publicado em 1997, foi escrito por Paulo Lins, um ex-morador do bairro que tem o mesmo nome do livro. esultado de uma pesquisa sobre crime e criminalidade no io de !aneiro, essa obra deu ori"em ao filme Cidade de Deus, que em meados de #$$% &' tin(a sido visto por mais de % mil()es de pessoas. *baixo se"ue um trec(o, em que o enunciador descreve a favela. Cidade de Deus (fragmento) Ci dade de De us deu a sua voz para as assombrações dos casaes abandonados, escasseou a fauna e a flora, remapeou Portugal Pequeno e renomeou o charco: Lá em Cima, Lá na rente, Lá !mbai"o, Lá do #utro Lado do $io e #s %p&s'  %inda ho(e, o c)u azula e estrelece o mundo, as matas enverdecem a terra, as nuvens clareiam as vistas e o homem inova avermelhando o rio' %qui agora uma favela, a neofavela de cimento, armada de becos*bocas, sinistros*sil&ncios, com gritos*desesperos no correr das vielas e na indecis+o das encruzilhadas' #s novos moradores levaram li"o, latas, c+es vira*latas, e"us e pombagiras em guias intocáveis, dias para se ir luta, soco antigo para ser descontado, restos de raiva de tiros, noites para vel ar cad áveres, res qu- cio s de enchentes , bi roscas, fei ras de quarta s*f eir as e as de domingos, vermes velhos em barrigas infantis, rev.lveres, ori"ás enroscados em pescoços, frango de despacho, samba de enredo e sincopado, (ogo do bicho, fome, traiç+o, mortes, (esus cristos em cordões arrebentados, forr. quente para ser dançado, lamparina de azeite para iluminar o santo, fogareiros, pobreza para querer enriquecer, olhos para nunca ver, nunca dizer, nunca, olhos e peito para encarar a vida, despistar a morte, re(uvenescer a raiva, ensang/entar destinos, fazer a guerra e para ser tatuado' oram atiradeiras, revistas +timo Cu, panos de ch+o ultrapassados, ventres abertos, den tes ca riad os, cat acumbas incr ustad as nos c )rebr os, ce mit)r ios cl andest inos, pei"eiros, padeiros, missa de s)timo dia, pau para matar a cobra e ser mostrado, a percepç+o do fato antes do ato, gonorr)ias mal cur adas, as pernas para esperar 0nibus, as m+os para o trabalho pesado, lápis para as escolas p1blicas, coragem para virar a esquina e a sorte para o (ogo de azar' Levar am tamb)m as pipas , lombo para pol-ci a bater , moedas para (ogar porri nha e forç a para tentar viver' 2 ransportaram tamb)m o amor para dignificar a morte e fazer calar as horas mudas' Por dia, durante uma semana, chegavam de trinta a cinq/enta mudanças, do pessoal que trazia no rosto e nos m.veis as marcas das enchentes' !stiveram alo(ados no estádio de futebol 3ario ilho e vinham em caminhões estaduais cantando: Cidade aravil(osa c(eia de encantos mil.. !m seguida, moradores de várias favelas e da 4ai"ada luminense habitavam o novo bairro, formado por casinhas fileiradas brancas, rosas e azuis' Do outro lado do braço esquerdo do rio, constru-ram Os *ps, con(unto de pr)dios de apartamentos de um e dois quartos, alguns com vinte e outros com quarenta apartamentos, mas todos com cinco andares' #s tons vermelhos do barro batido viam novos p)s no corre*corre da vida, na disparada de um destino a ser cumprido' # rio, a alegria da molecada, dava prazer, areia, r+ e muçum, n+o estava de todo polu-do' 5L678, Paulo' Cidade de Deus' 8+o Paulo: Companhia das Letras, 9;'<

Literatura Exercícios Discursivos Naturalismo e Parnasianismo

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Atividade 3 srie Karla e Dulcimar

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Temas literrios: Realismo, Naturalismo e ParnasianismoTEXTO 1

O romance Cidade de Deus, publicado em 1997, foi escrito por Paulo Lins, um ex-morador do bairro que tem o mesmo nome do livro. Resultado de uma pesquisa sobre crime e criminalidade no Rio de Janeiro, essa obra deu origem ao filme Cidade de Deus, que em meados de 2003 j tinha sido visto por mais de 3 milhes de pessoas. Abaixo segue um trecho, em que o enunciador descreve a favela.

Cidade de Deus

(fragmento)

Cidade de Deus deu a sua voz para as assombraes dos casares abandonados, escasseou a fauna e a flora, remapeou Portugal Pequeno e renomeou o charco: L em Cima, L na Frente, L Embaixo, L do Outro Lado do Rio e Os Aps.

Ainda hoje, o cu azula e estrelece o mundo, as matas enverdecem a terra, as nuvens clareiam as vistas e o homem inova avermelhando o rio. Aqui agora uma favela, a neofavela de cimento, armada de becos-bocas, sinistros-silncios, com gritos-desesperos no correr das vielas e na indeciso das encruzilhadas.

Os novos moradores levaram lixo, latas, ces vira-latas, exus e pombagiras em guias intocveis, dias para se ir luta, soco antigo para ser descontado, restos de raiva de tiros, noites para velar cadveres, resqucios de enchentes, biroscas, feiras de quartas-feiras e as de domingos, vermes velhos em barrigas infantis, revlveres, orixs enroscados em pescoos, frango de despacho, samba de enredo e sincopado, jogo do bicho, fome, traio, mortes, jesus cristos em cordes arrebentados, forr quente para ser danado, lamparina de azeite para iluminar o santo, fogareiros, pobreza para querer enriquecer, olhos para nunca ver, nunca dizer, nunca, olhos e peito para encarar a vida, despistar a morte, rejuvenescer a raiva, ensangentar destinos, fazer a guerra e para ser tatuado. Foram atiradeiras, revistas Stimo Cu, panos de cho ultrapassados, ventres abertos, dentes cariados, catacumbas incrustadas nos crebros, cemitrios clandestinos, peixeiros, padeiros, missa de stimo dia, pau para matar a cobra e ser mostrado, a percepo do fato antes do ato, gonorrias mal curadas, as pernas para esperar nibus, as mos para o trabalho pesado, lpis para as escolas pblicas, coragem para virar a esquina e a sorte para o jogo de azar. Levaram tambm as pipas, lombo para polcia bater, moedas para jogar porrinha e fora para tentar viver. Transportaram tambm o amor para dignificar a morte e fazer calar as horas mudas.

Por dia, durante uma semana, chegavam de trinta a cinqenta mudanas, do pessoal que trazia no rosto e nos mveis as marcas das enchentes. Estiveram alojados no estdio de futebol Mario Filho e vinham em caminhes estaduais cantando:

Cidade Maravilhosacheia de encantos mil..

Em seguida, moradores de vrias favelas e da Baixada Fluminense habitavam o novo bairro, formado por casinhas fileiradas brancas, rosas e azuis. Do outro lado do brao esquerdo do rio, construram Os Aps, conjunto de prdios de apartamentos de um e dois quartos, alguns com vinte e outros com quarenta apartamentos, mas todos com cinco andares. Os tons vermelhos do barro batido viam novos ps no corre-corre da vida, na disparada de um destino a ser cumprido. O rio, a alegria da molecada, dava prazer, areia, r e muum, no estava de todo poludo.

(LINS, Paulo. Cidade de Deus. So Paulo: Companhia das Letras, 1997.)

Glossrio:

Exu- entidade iorubanda, considerada como orix e como mensageiro dos orixs e descrita como de gnio irritadio, vaidoso, pode trabalhar para o bem e para o mal.

Pombagira- companheira de Exu.

Orix- personificao das foras da natureza ou ancestral divinizado, que em vida, obteve controle sobre essas foras, segundo a tradio do candombl e da umbanda.

Revista Stimo Cu- revista de fotonovela popular.

Estdio de futebol Mrio Filho- Estdio do Maracan.

Muum- tipo de peixe.

1-

Aqui agora uma favela, a neofavela de cimento, armada de becos-bocas, sinistros-silncios, com gritos-desesperos no correr das vielas e na indeciso das encruzilhadas.

Relacionando o trecho de Cidade de Deus e o romance naturalista O Cortio (analisado nas aulas de literatura), explique como a neofavela tambm pode ser um neocortio.

3 linhas

2- Alm da neofavela/neocortio, cite uma caracterstica do Naturalismo presente no trecho de Cidade de Deus.

3 linhas

3-

Cidade de Deus deu a sua voz para as assombraes dos casares abandonados, escasseou a fauna e a flora, remapeou Portugal Pequeno e renomeou o charco: L em Cima, L na Frente, L Embaixo, L do Outro Lado do Rio e Os Aps.

a) Observe que o sujeito que inicia a narrativa selecionada Cidade de Deus. Na verdade as aes praticadas e expressas pelos verbos deu, escasseou, remapeou e renomeou, foram expressas pela populao da favela, mas no trecho, o local (Cidade de Deus) est empregado em lugar de seus habitantes. Cite a figura de linguagem que foi utilizada.

1 linha

b) Que efeito de sentido se produz no texto a utilizao da figura de linguagem citada na questo a.

3 linhas

c) Relacione a explicao da questo b com o Naturalismo.

3 linhas

4- Transcreva do texto 1 (fragmento de Cidade de Deus) uma expresso que demonstre:a) opresso do poder pblico

1 linha

b) religiosidade

1 linha

c) precariedade da sade

1 linha

5- A transcrio dos versos cantados pelos moradores que chegavam Cidade de Deus produz, no texto, um efeito de:

(A) nfase

(B) ironia

(C) reiterao

(D) fragmentao

6- As enumeraes presentes no terceiro pargrafo compem um painel da vida na Cidade de Deus. Essa composio est baseada, sobretudo, no seguinte procedimento narrativo:

(A) descrio de aspectos sociais da violncia policial

(B) justaposio de smbolos religiosos de origens diversas

(C) referncia a comportamentos prprios das grandes cidades

(D) reunio de elementos dspares do cotidiano daquela comunidade

7- Identifique o nmero de perodos e oraes do primeiro pargrafo do texto 1:

2 linhas

8- Em : Os novos moradores levaram lixo,.. Identifique a funo sinttica dos termos grifados:

2 linhas

9- Em: Por dia, durante uma semana, chegavam de trinta a cinqenta mudanas, do pessoal que trazia no rosto e nos mveis as marcas das enchentes. Qual o valor semntico da segunda orao em relao a primeira. Argumente em defesa de sua resposta:

3 linhas

TEXTO 2O cortio

(fragmento)

Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de c para l com os tarecos ao ombro, numa balbrdia de doidos. O ptio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colches espocados. Ningum se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianas esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Baro saam clamores apoplticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E comeou a aparecer gua. Quem a trouxe? Ningum sabia diz-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.

Os sinos da vizinhana comearam a badalar.

E tudo era um clamor.

A Bruxa surgiu janela da sua casa, como boca de uma fornalha acesa. Estava horrvel; nunca fora to bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das guas selvagens, dava-lhe um carter fantstico de fria sada do inferno. E ela ria-se, bria de satisfao, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.

Ia atirar-se c para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num monto de brasas.

(Alusio Azevedo. O cortio)

10- Em O cortio, o carter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma viso crtico-analtica dos fatos. A sugesto de que o narrador testemunha pessoal e muito prxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explcito em:

(A) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaadas pelo fogo.

(B) Ningum sabia diz-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.

(C) Da casa do Baro saam clamores apoplticos...

(D) A Bruxa surgiu janela da sua casa, como boca de uma fornalha acesa.

(E) Ia atirar-se c para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada...

11- O carter naturalista nessa obra de Alusio Azevedo oferece, de maneira figurada, um retrato de nosso pas, no final do sculo XIX. Pe em evidncia a competio dos mais fortes, entre si, e estes, esmagando as camadas de baixo, compostas de brancos pobres, mestios e escravos africanos. No ambiente de degradao de um cortio, o autor expe um quadro tenso de misrias materiais e humanas. No fragmento, h vrias outras caractersticas do Naturalismo. Aponte a alternativa em que as duas caractersticas apresentadas so corretas.

(A) Explorao do comportamento anormal e dos instintos baixos; enfoque da vida e dos fatos sociais contemporneos ao escritor.

(B) Viso subjetivista dada pelo foco narrativo; tenso conflitiva entre o ser humano e o meio ambiente.

(C) Preferncia pelos temas do passado, propiciando uma viso objetiva dos fatos; crtica aos valores burgueses e predileo pelos mais pobres.

(D) A oniscincia do narrador imprime-lhe o papel de criador, e se confunde com a idia de Deus; utilizao de preciosismos vocabulares, para enfatizar o distanciamento entre a enunciao e os fatos enunciados.

(E) Explorao de um tema em que o ser humano aviltado pelo mais forte; predominncia de elementos anticientficos, para ajustar a narrao ao ambiente degradante dos personagens.

12- Releia o fragmento de O cortio, com especial ateno aos dois trechos a seguir.

I-Ningum se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianas esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. (...)

II-E comeou a aparecer gua. Quem a trouxe? Ningum sabia diz-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.

No fragmento, rico em efeitos descritivos e solues literrias que configuram imagens plsticas no esprito do leitor, Alusio Azevedo apresenta caractersticas psicolgicas de comportamento comunitrio. Aponte a alternativa que explicita o que os dois trechos tm em comum.

(A) Preocupao de um em relao tragdia do outro, no primeiro trecho, e preocupao de poucos em relao tragdia comum, no segundo trecho.

(B) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo de todos por si prprios, no segundo trecho.

(C) Angstia de um no poder ajudar o outro, no primeiro trecho, e angstia de no se conhecer o outro, por quem se ajudado, no segundo trecho.

(D) Desespero que se expressa por murmrios, no primeiro trecho, e desespero que se expressa por apatia, no segundo trecho.

(E) Anonimato da confuso e do salve-se quem puder, no primeiro trecho, e anonimato da cooperao e do todos por todos, no segundo trecho.

13- No perodo: Da casa do baro saam clamores apoplticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. Identifique o valor semntico da sgunda e da terceira oraes:

3 linhas

14- O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida a abundante como as das guas selvagens , dava-lhe um carter fantstico de fria sada do inferno. O trecho formado por uma ou mais oraes? Argumente em defesa de sua resposta, classificando a(s) orao(es)

3 linhas

15- E ela ria-se bria de satisfao.... Como podemos classificar sintaticamente os termos destacados?

3 linhas

16- os sinos da vizinhana comeam a bater... , sintaticamente a expresso destacada classificada como adjunto adverbial? Argumente, justificando sua resposta:

3 linhas

TEXTO 3

Fantico pela novidade do automvel, o jornalista Jos do Patrocnio foi dos primeiros na cidade do Rio de Janeiro a ter um. Muito amigo do poeta Olavo Bilac com quem partilhava essa paixo, emprestou, ainda que relutantemente, o carro ao companheiro. Entretanto o ilustre poeta jamais havia dirigido. Recebeu minuciosas instrues do proprietrio do veculo, mas foi em vo. Colidiu com uma rvore na primeira curva, transformando o automvel em sucata. Patrocnio ficou inconsolvel, mas Bilac gabava-se de ser responsvel pela primeira ocorrncia de acidente de trnsito no pas...

Revista Discutindo Literatura, n 4, ano I, So Paulo, Escala Educacional.

17- Olavo Bilac o smbolo do Parnasianismo no Brasil. Tal movimento defendia o lema Arte pela Arte. Defina esse princpio.

3 linhas

18- Reescreva o trecho, nas formas possveis, sem alteraes estruturais, substituindo o instrues por lembretes.

Recebeu minuciosas instrues...

3 linhas

19- Divida o ltimo perodo do texto 3 em oraes e classifique-as.

4 linhas

2- .., emprestou, ainda que relutantemente, o carro a seu companheiro. Analise o verbo e seus complementos, levando em conta a transitividade verbal:

3 linhas