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MEC - Ministério da Educação / SECAD - Secretaria de Educação Básica Alfabetização e Diversidade / CIPEAD - Coordenação de Políticas de Integração de Educação a Distância / NEAB - Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal do Paraná Caro(a) cursista, O Curso de EaD em Educação das Relações Étnico-Raciais convida você a ingressar em uma sequência de debates, leituras e produções acadêmicas que tem como objetivo principal propiciar uma ampliação na sua formação sobre a Educação das Relações Étnico-Raciais. Os temas relacionados à implementação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que alteram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, têm sido alvo de muitos estudos e pesquisas, buscando formas de promover mudanças nos conteúdos e currículos escolares, baseados, grande parte, em um modelo eurocêntrico de ensino. Os objetivos específicos propostos para este curso são: Propiciar formação inicial em cultura e história afro-brasileira, preparando profissionais da educação para uma efetiva implementação do Artigo 26A da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) modificado pelas Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, por meio da aquisição de instrumentos teóricos de análise das

Livro 1 - Modulo I

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Page 1: Livro 1 - Modulo I

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CURSO EaD DE QUALIFICA�ÌO PROFISSIONAL EM EDUCA�ÌO DAS

RELA�ÍES �TNICO-RACIAIS

ABERTURA DO CURSO

MEC - Ministério da Educação / SECAD - Secretaria de Educação Básica Alfabetização e Diversidade / CIPEAD - Coordenação de Políticas de Integração de Educação a Distância

/ NEAB - Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal do Paraná

Caro(a) cursista,

O Curso de EaD em Educação das Relações Étnico-Raciais convida você a

ingressar em uma sequência de debates, leituras e produções acadêmicas que tem como

objetivo principal propiciar uma ampliação na sua formação sobre a Educação das

Relações Étnico-Raciais. Os temas relacionados à implementação das Leis 10.639/2003

e 11.645/2008, que alteram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB,

têm sido alvo de muitos estudos e pesquisas, buscando formas de promover mudanças nos

conteúdos e currículos escolares, baseados, grande parte, em um modelo eurocêntrico

de ensino.

Os objetivos específicos propostos para este curso são:

Propiciar formação inicial em cultura e história afro-brasileira, preparando

profissionais da educação para uma efetiva implementação do Artigo 26A da

LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) modificado pelas Leis 10.639/2003

e 11.645/2008, por meio da aquisição de instrumentos teóricos de análise das

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desigualdades raciais e proposições de formas de superação;

Atualizar profissionais da educação para que desenvolvam conteúdos de História

e Cultura Afro-Brasileira e de Educação das Relações Étnico-Raciais.

A mudança proposta pela Educação das Relações Étnico-Raciais implica em

alterações para além do espaço escolar. Implica em alterações no modo de conceber a

atual organização da sociedade: no reconhecimento da desigualdade racial como fator

preponderante para a desigualdade social e na busca de superação dessas desigualdades.

Assim, as produções científicas responsáveis por tais abordagens representam

possibilidades de compreensão e proposições que nos auxiliam no desenvolvimento

dessas mudanças.

Este curso está estruturado em 7 módulos, compondo um total de 180 horas,

distribuídas em carga horária de formação a distância e de formação presencial em menor

proporção. Tal organização visa apresentar de modo mais didático e acessível elementos

relacionados à interpretação das relações raciais no campo simbólico, socioeconômico e

educacional da sociedade brasileira. Observe a distribuição dos módulos:

MîDULOS CONTEòDOS

Módulo 1 Conceitual EAD e pro-posta para a Educação das Relações Étnico-Raciais

Concepções e políticas de Educação a Distância em diferentes contextos históricosProposta de implementação da Lei 10.639/2003 nos espaços escolares

Módulo 2 Introdução conceitual

A política educacional de Educação das Relações Étnico-Raciais: as alterações na LDB por meio das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008As contribuições das Ciências Sociais para a definição dos concei-tos de raça, racismo, etnia, cultura, discriminação

Módulo 3História da África e história da escravidão e resistência no Brasil

História das sociedades africanas: um continente em movimentoO processo de escravização africana no BrasilA resistência negra à escravização e o Brasil pós-abolição

Módulo 4 Sociologia dos grupos ra-ciais no Brasil e reflexões antropológicas sobre relações raciais no Brasil

As produções acadêmicas sobre o “mito da democracia racial” e as desigualdades raciais no plano estrutural: conceitos, histórico e análise das ações afirmativas

O papel das mulheres negras nos movimentos de resistência

Religiosidades afro-brasileiras: resistências, interlocuções e corporeidade

Módulo 5 Educação e desigualdades raciais no Brasil

Pesquisas sobre desigualdades educacionais e relações raciais no Brasil: da infância ao ensino superior

Eixos de desigualdade: gênero, raça e diversidade sexual

Page 3: Livro 1 - Modulo I

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Os textos que compõem os módulos correspondem a resultados de estudos e

pesquisas sobre relações raciais no Brasil e foram produzidos sob a perspectiva teórica de

diversos/as docentes. Por isso, embora haja um fio condutor que promove a interligação

entre todos os textos e os módulos, optamos por manter as escolhas conceituais e de

linguagem de cada autor/a. Dessa forma, algumas dessas produções podem apresentar,

como nesse texto de abertura, a chamada “linguagem de gênero”, ou seja, tendência de

destacar, sempre que possível, o gênero masculino e feminino.

Outro aspecto de destaque nas páginas de todos os textos é a presença dos

símbolos adinkra, escolhidos para, além de ilustrar, homenagear essa arte de origem

africana que é utilizada por povos milenares, como bem explica Elisa Larkin do

Nascimento ao defini-los como:

[...] um conjunto ideográfico estampado em tecido, esculpido em pesos de ouro, talhado em peças de madeira anunciadoras de soberania. [...] Adinkra significa adeus, e as pessoas das etnias acã usam o tecido estampado com adinkras nas ocasiões fúnebres ou festivais de homenagens. São mais de oitenta símbolos, destacados pelo conteúdo que trazem como ideograma. Não só os desenhos do adinkra são estética e idiomaticamente tradicionais, como, mais importante, incorporam, preservam e transmitem aspectos da história, filosofia, valores e normas socioculturais [...] (NASCIMENTO, 2009, p. 7, destaques da autora).

Durante todo o curso, além das leituras, serão propostas atividades para serem

desenvolvidas individualmente e em grupos, por meio do envio de arquivos de modo on

line ou da participação em fóruns e chats na plataforma moodle. Tais atividades têm como

objetivo ampliar a interação entre as produções científicas que compõem o material e a

leitura que você fará dos textos.

Módulo 6 Literatura africana e afro-brasileira; arte africana e afro-brasileira

O movimento da Negritude; movimentos literários afro-brasileiros e escritores/as dos movimentos negros

A estética africana e afro-brasileira nas artes plásticas

Música africana e afro-brasileira: alteridade negra

Módulo 7 Desigualdades no plano simbólico

Relações raciais na mídia brasileira

Relações raciais e livros didáticos: uma perspectiva histórica dos avanços e retrocessos

Relações raciais na literatura e literatura infanto-juvenil

Estruturação de projeto de implantação da Lei 10.639/03 na instituição escolar

Avaliação final

Page 4: Livro 1 - Modulo I

6

Você também terá acesso a informações adicionais por meio de boxes como Para

!"!#$ %e%&'$('%)'$*, além de leituras complementares, indicações de links relacionados

aos textos lidos, bem como sugestões de sites e filmes. A organização da produção

que comporá a avaliação final do curso estará sendo feita desde o início quando você,

cursista, tiver acesso às leituras e orientações da equipe de tutoria que estará à disposição

para auxiliá-lo/a nas dúvidas. Nesse curso, tal avaliação não deve ser encarada como a

mais importante do ponto de vista de sua formação pois será a atividade que reunirá

os conhecimentos acumulados durante todo o curso. É importante que você participe

ativamente e procure desenvolver de modo efetivo as atividades propostas em todos os

módulos pois serão valiosas fontes de estudos para a elaboração de um trabalho final de

impacto no ambiente escolar onde você está inserido/a como profissional da educação.

Desejamos a você um bom curso!

A Coordenação

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ABERTURA DO MîDULO I

Caro/a cursista,

Neste primeiro módulo você vai conhecer conceitos relacionados à educação a

distância (EaD) e as características que podem ser atribuídas a essa modalidade de ensino.

No primeiro texto, +,-.!/01!*% !% /,23#$.'*% 4!% !45.'06,% '% 4$*#7-.$'% !)% 4$8! !-#!*%

.,-#!9#,*%:$*#; $.,*, você terá acesso a informações importantes para o desenvolvimento e

produção das atividades no decorrer do curso e compreensão da organização de cursos

de aperfeiçoamento na modalidade EaD.

Na sequência, o texto < ,/,*#'%4!% $)/2!)!-#'06,%4'% 2!$%=>?@ABCD>>A%-,*% !*/'0,*%

!*.,2' !* apresenta encaminhamentos iniciais para auxiliar no desenvolvimento do trabalho

de conclusão, em que você relacionará elementos apreendidos durante as leituras com as

atividades elaboradas em todos os módulos.

Esperamos que esse material seja de grande auxílio à sua formação.

Bom trabalho!

A Coordenação

CURSO EaD DE QUALIFICA�ÌO PROFISSIONAL EM EDUCA�ÌO DAS

RELA�ÍES �TNICO-RACIAISMEC - Ministério da Educação / SECAD - Secretaria de Educação Básica Alfabetização e

Diversidade / CIPEAD - Coordenação de Políticas de Integração de Educação a Distância / NEAB - Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal do Paraná

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E,%F-'2%4!*#!%);452,G%H,.I%4!H! JK

- Identificar as principais concepções e características de Educação a

Distância;

- Conhecer o percurso histórico da EaD, sua difusão no Brasil e a legislação

que a ampara;

- Identificar os questionamentos básicos que fundamentarão o curso de

Educação a Distância sobre Educação das Relações Étnico-Raciais;

- Elaborar estratégias de observação e análise da presença/ausência da

diversidade étnico-racial no ambiente escolar.

CONCEITUAL EAD E PROPOSTA PARA A

EDUCA�ÌO DAS RELA�ÍES �TNICO-RACIAIS

DU

LO I

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CONCEP�ÍES E POLêTICAS DE EDUCA�ÌO A DISTåNCIA EM DIFERENTES CONTEXTOS

HISTîRICOS

PempamsiePempamsie see bebirebe aho oden ne koroye

A unidade é a força. Esteja preparado. Fique atento.Simbolo da prontidão, da persistência, resistência, bravura e coragem.

O que voc� sabe sobre Educa��o a Dist�ncia? O que sabe da hist�ria da !"#$%&'( $( )*+,-.#*$/(01.$23( '( 4"5( 6( !"#$%&'( $( )*+,-.#*$( 5( 4"$*+( $+(suas caracter�sticas? Voc� conhece outros cursos que s�o oferecidos nesta 7'!$2*!$!5/(8'7'($#'.,5#57/9'#:(!5;5(5+,$<(=5.+$.!'>(=$<$(4"5(,$.,$+(=5<?".,$+@@@@(A$+3(6($(=$<,*<(!5(4"5+,*'.$75.,'+( 4"5( +'7'+( *.+,*?$!'+3(7'B*2*C$!'+( =$<$( #'.D5#5<(7$*+(+'B<5( !*E5<5.,5+( $++".,'+@(9$7'+3( $( =$<,*<( !$+( +"$+( <5+='+,$+( F+( 4"5+,G5+($#*7$3(!*$2'?$.!'(#'7('(,5H,'(4"5(+5?"5@Esse estudo contribuir� para que voc� compreenda sobre o que foi #'.+,<"I!'(D*+,'<*#$75.,5(.$( $)3(='!5.!'(#'.D5#5<(752D'<($(7'!$2*!$!5(!5(5!"#$%&'(4"5(5+#'2D5"(=$<$(#"<+$<@

Suely Scherer1

1 Doutora em Educação; professora adjunta da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e pesquisadora

na área de Educação e Educação Matemática com ênfase em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância, atuando principalmente nas seguintes linhas: educação a distância, informática na educação, educação matemática e formação de professores.

Page 10: Livro 1 - Modulo I

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1. CONCEP�ÍES TEîRICO-METODOLîGICAS DA EaD

A educação nas escolas apresenta uma diversidade muito grande de atitudes,

metodologias, paradigmas e histórias. Isto revela o quanto podemos ser diferentes e o

quanto, pela riqueza da diversidade, precisamos respeitar e sermos respeitados em nossas

diferenças. No entanto, o respeito e a diversidade não impedem novas buscas e pesquisas

que geram mudanças, devendo, sim, suscitá-las.

O que se percebe é que, em muitos casos, as escolas ainda estão centradas em

processos de transferência de informações, esquecendo de pensar em movimentos que

viabilizem uma relação maior delas com o mundo. Enquanto nos diferentes espaços

da comunidade, local ou global, se pesquisa continuamente os avanços da ciência e

da tecnologia, as escolas precisam se articular a estes movimentos, repensando seus

processos educacionais.

Neste sentido, precisam fazer parte da escola a compreensão da complexidade,

da autonomia, da criatividade e criticidade, da liberdade, da comunicação, bem como

do uso de recursos tecnológicos e ambientes que favoreçam movimentos de ensino e

aprendizagem. O que se observa com frequência é que o certo, a ordem e o acabado

ainda representam os movimentos de muitas escolas. O acaso, a incerteza, a desordem,

o contraditório, a autonomia, pouco são considerados como possibilidades para educar.

Assim, falar em uso de tecnologias, ambientes virtuais, EaD, é algo novo para muitas

pessoas, e para outras, parece “impossível”.

Vivendo nessa realidade, a EaD ainda é compreendida por muitos professores

e alunos como um espaço para a “folga” e para o descompromisso. Para eles, parece

difícil compreender que é possível educar quando os alunos estão distantes fisicamente,

ou quando não estão todos reunidos no mesmo lugar. Isso é compreensível, pois

precisamos conhecer e vivenciar processos nesta modalidade, assim como em outras,

para compreendermos as possibilidades de ensino e de aprendizagem que a constituem.

E então, vamos conhecer possibilidades de ensino e aprendizagem da modalidade de

EaD? Ao mesmo tempo em que estudamos estas possibilidades, vivenciamos processos de

ensino e aprendizagem nesta modalidade. Iniciaremos estudando concepções e políticas

que constituíram a história da EaD ao longo destes anos. Procure ir dialogando com o

texto a partir de suas certezas, questionando, ao identificar concepções de Educação a

Distância, políticas e características desta modalidade.

Page 11: Livro 1 - Modulo I

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J@J(KLK8K0L)M(0(NKOPQRK0(

Na história da EaD podemos identificar os diferentes avanços da ciência e da

tecnologia, e esta pode ser apresentada de diferentes formas.

Segundo Aretio (2001) há três gerações de EaD: ensino por correspondência,

ensino multimídia e ensino telemático, enquanto Moore e Kearsley (2007) apresentam

cinco gerações: estudo por correspondência, transmissão por rádio e televisão, uma

abordagem sistêmica, que envolve o nascimento da Universidade Aberta, teleconferência,

e aulas virtuais baseadas no computador e na internet.

Nesta disciplina, a partir do que sugerem os autores citados e outros que iremos

estudar, a história da EaD será apresentada em três etapas: ensino por correspondência,

ensino multimídia e teleconferência, e aulas virtuais baseadas na internet. Estas etapas se

complementam, como estudaremos a seguir.

O ensino por correspond�ncia

Segundo Nunes (2009), a etapa do ensino por correspondência provavelmente

iniciou com o anúncio de aulas de taquigrafia, em 20 de março de 1728, na Gazeta de

Boston, ministradas por Caleb Philips. O curso foi oferecido para as pessoas da região,

que semanalmente recebiam as suas lições em casa. Mais adiante, em 1833, segundo

Simonson (2006), um anúncio no diário sueco oferecia a oportunidade de estudar

“redação por correio”. Depois, em 1840, na Grã-Bretanha, Isaac Pitman anunciava que

iria ensinar o seu sistema de taquigrafia por correspondência.

Em 1873, Anna Eliot Ticknor fundou uma escola em Boston para o

desenvolvimento de estudos em casa. Moore e Kearsley (2007) afirmam que o objetivo

dessa escola era ajudar as mulheres, a quem, em grande parte, era negado o acesso às

instituições educacionais formais naquela época. Segundo Simonson (2006) esta escola

atraiu mais de dez mil estudantes em 24 anos, que mantinham uma correspondência

mensal com os professores, que enviavam leituras dirigidas e testes para suas casas.

Segundo Nunes (2009), em 1910, a Universidade de Queensland, na Austrália,

inicia programas de ensino por correspondência, e em 1924, Fritz Reinhardt cria a

Escola Alemã por Correspondência.

Page 12: Livro 1 - Modulo I

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Alves (2009) afirma que a história da EaD no Brasil inicia-se com as “Escolas

Internacionais”, em 1904. Os cursos eram oferecidos para pessoas que buscavam

empregos, especialmente nas áreas de serviços e comércio. Assim, a história da EaD no

Brasil iniciou com o ensino por correspondência.

Na etapa do ensino por correspondência, no Brasil, podemos ressaltar a

importância do Instituto Monitor, que iniciou as suas atividades em 1939, e do Instituto

Universal Brasileiro, que lançou seus primeiros cursos em 1941. Estes dois institutos

contribuíram na formação profissional de muitos brasileiros para o mercado de trabalho.

E assim iniciaram as atividades na modalidade de EaD, destinada, principalmente,

às pessoas que não conseguiam uma formação pelas escolas presenciais e/ou na idade

própria para estes estudos.

Podemos observar que neste período histórico da EaD, esta tinha como foco a

transmissão da informação, em linguagem escrita, sem considerar o perfil dos alunos.

A comunicação entre professor e aluno era limitada, com mensagens enviadas por

correspondência.

O modelo da EaD por correspondência, mesmo com algumas iniciativas de uso

do rádio no decorrer do período, prevaleceu até a década de 1960. E o que podemos

perceber é que o material impresso, o uso do correio, continuou presente nas etapas

seguintes da história da EaD, sendo integradas outras tecnologias ao processo de

comunicação entre professores e alunos.

É importante percebermos que nesta primeira etapa da história da EaD, os cursos

oferecidos eram mais de caráter técnico, objetivando a transmissão de informações

e sua memorização por repetição. O diálogo entre professor e aluno era pouco, pois

os contatos pelo correio eram lentos na época, tornando inviável uma proposta com

mais diálogo entre professor e aluno. No entanto, este mesmo modelo de educação, da

transmissão de uma grande quantidade de informações do professor para vários alunos,

esperando respostas iguais, também era o modelo que mais se encontrava nas escolas

presenciais.

.+*.'(A"2,*7I!*$(5(P525#'.E5<:.#*$

Na década de 1960, segundo Aretio (2001), começa uma nova etapa de EaD,

denominada por ele de ensino multimídia. Esta surge com a utilização de vários recursos

Page 13: Livro 1 - Modulo I

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que favorecem o processo de aprendizagem. Além do texto escrito, começam a ser

produzidos áudios e vídeos, com o uso de rádio e televisão. O telefone também se

incorpora ao processo para a comunicação entre professores e alunos.

Quando o rádio surgiu como uma nova tecnologia no inicio do século XX,

muitos educadores perceberam uma oportunidade de articular novas propostas de

EaD. Segundo Nunes (2009), a primeira autorização para uma emissora educativa foi

concedida em 1921, pelo Governo Federal à Latter Day Saints’ da University of Salt Lake

City. Em fevereiro de 1925, a State University of Lowa oferecia seus primeiros cursos,

por rádio, validando cinco créditos.

Na Europa, neste período, houve uma expansão da EaD, sem muitas mudanças

em sua estrutura, mas com métodos e meios mais sofisticados. Simonson (2006) afirma

que as gravações de áudio eram mais usadas na educação de cegos e no ensino de línguas

para vários estudantes.

Além dos programas radiofônicos, em 1934, a televisão educativa também estava

em desenvolvimento. Naquele ano, segundo Moore e Kearsley (2007) a State University

of Iowa realizou transmissões pela televisão sobre temas como higiene e astronomia.

Em 1951 a Western Reserve University foi a primeira universidade que ofereceu cursos

valendo créditos, com o uso da televisão.

A EaD, segundo Giusta (2003), por muito tempo, representou a distância do

ponto de vista geográfico e do ponto de vista político, pela marginalização dos seus

estudantes em comparação com quem usufruía da modalidade presencial. A visão era de

que se usava tecnologias para chegar apenas até aqueles que de outro modo não poderiam

se beneficiar da educação escolar.

Neste sentido, Giusta (2003) lembra que, um acontecimento mudou, em

definitivo, esta visão da EaD: a criação, em 1969, da Universidade Aberta da Grã-

Bretanha – a Open University. Na seqência, outras Universidades contribuíram para

elevar a importância da modalidade de EaD, como a Fern Universität, na Alemanha, e a

UNED, na Espanha, que criaram cursos de graduação e pós-graduação de ótima aceitação

por parte dos estudantes de todo o mundo.

Estas Universidades mostraram que era possível oferecer cursos na modalidade

de EaD com qualidade, usando materiais impressos, e investindo em tecnologias como a

televisão, o rádio, e mais recentemente a internet.

No Brasil, esta etapa da história foi marcada por cursos à distância, utilizando,

Page 14: Livro 1 - Modulo I

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além do material impresso, transmissões por televisão e rádio, gravações de áudio e vídeo,

dentre outros. Segundo Alves (2009), em 1923, foi fundada a Rádio Sociedade do Rio de

Janeiro, numa iniciativa de Edgard Roquete Pinto e um grupo de amigos. Operada pelo

Departamento de Correios e Telégrafos, segundo Niskier (1999), a emissora transmitia

programas de literatura, radiotelegrafia e telefonia, línguas, literatura infantil e outros

de interesse comunitário.

Os programas educativos, a partir deste período, foram sendo implantados

a partir da criação, em 1937, do serviço de radiodifusão educativa do Ministério da

Educação. Destacaram-se a Escola Rádio-Postal, A Voz da Profecia, criada pela Igreja

Adventista em 1943, com o objetivo de oferecer cursos bíblicos. Neste período, em

1946, o SENAC iniciou as suas atividades e, logo depois desenvolveu no Rio de Janeiro e

São Paulo a Universidade do Ar, que, em 1950, já atingia 318 localidades.

Em 1956, o Movimento Educação de Base (MEB), com a promoção da

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cria as !*.,2'*% '4$,8L-$.'*. Estas foram

criadas com o objetivo de alfabetizar e apoiar os primeiros passos da educação de jovens

a adultos que não tinham acesso à escola. Este movimento ocorreu, principalmente, nas

regiões Norte e Nordeste do país.

Podemos citar outros movimentos de EaD nesta etapa da história, como o

Projeto Minerva (rádio educativo), criado em 1970. Este projeto, vinculado ao Governo

Federal, ofertava cursos nos níveis do ensino fundamental e ensino médio (científico,

contabilidade, magistério), com o objetivo de resolver em um curto prazo, os problemas

de desenvolvimento econômico e social do país.

Mas a revolução de 1964 abortou algumas iniciativas, e o sistema de censura

reduziu significativamente o trabalho da rádio educativa brasileira.

E a televisão? Quando será que começou a ser explorada no Brasil para fins

educacionais? A televisão, para fins educacionais, foi usada de maneira positiva em sua

fase inicial, e, há registros de vários incentivos no Brasil a esse respeito, especialmente

nas décadas de 1960 e 1970.

Deve-se destacar a TV Educativa do Maranhão, criada em 1969, o Programa

Nacional de Teleducação (Prontel), e o Centro Brasileiro de TV Educativa (Funtevê),

órgão integrante do Ministério da Educação e Cultura. Destaca-se ainda a TVE, do

Ceará, que oferecia a TV Escolar em 1974. Ainda neste mesmo ano, no estado do

Rio Grande do Norte, é lançado o Projeto SACI (Sistema Avançado de Comunicações

Page 15: Livro 1 - Modulo I

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Interdisciplinares), a primeira experiência de utilização transmissão via satélite para fins

educacionais no Brasil.

Mais adiante, em 1978, surgem os projetos da Fundação Roberto Marinho (Rede

Globo do Rio de Janeiro), que em parceria com a Fundação Padre Anchieta (TV Cultura

de São Paulo) lança o Telecurso 2º Grau, com o objetivo de formar em nível de ensino

médio, vários brasileiros jovens e adultos. Neste projeto era disponibilizado material

impresso, fitas de vídeo e aulas pela televisão. Em 2000, o Telecurso foi reestruturado

passando a denominar-se M!2!.5 *,%D>>>. Esse material também foi utilizado nos Centro

de Estudos Supletivos, hoje mais conhecidos como Centros de Educação de Jovens e

Adultos.

Em 1995 foi lançado pelo MEC o Programa TV Escola com o objetivo de oferecer

formação continuada aos professores da educação básica, para o uso de tecnologias

educacionais. O curso utiliza, principalmente, material impresso, televisão e o vídeo.

A difusão nas escolas é realizada via satélite, por emissoras de canal aberto ou a cabo.

Neste período, em 1973, a Universidade de Brasília (UnB) se destaca como

pioneira na introdução da tecnologia educacional na EaD. Até hoje se destaca por seus

programas e cursos na modalidade de EaD.

Segundo Aretio (2001), na década de 1980, quando as telecomunicações

começam a ser integradas aos processos de EaD, surge a possibilidade da comunicação

entre grupos de estudantes e professores, distantes fisicamente, usando recursos de

áudio e vídeo.

Fazendo uso de recursos da informática, potencializa-se a emissão por rádio

S$<$(+$B5<(7$*+(+'B<5(5+,5(=<'T5,'(!$(P9( +#'2$3($#5++5($'(+*,5(!'(=<'T5,'>(D,,=>UU,;5+#'2$@75#@?';@B<U@(L5+,5(5.!5<5%'('=,5(=52'(2*.V(WP9( +#'2$X@(

SAIBA MAIS

Page 16: Livro 1 - Modulo I

18

e televisão, amplia-se a possibilidade de transmissão via satélites, favorecendo a

comunicação bidirecional entre professores e alunos a partir de audioconferências e

videoconferências. Neste período, a comunicação entre professores e alunos começa

a acontecer de forma síncrona (pessoas interagindo ao mesmo tempo) e assíncrona

(pessoas interagindo em tempos diferidos) através de diversos meios.

Segundo Moore e Kearsley (2007, p.39), “a primeira tecnologia a ser usada

na teleconferência em escala razoavelmente ampla durante os anos 1970 e 1980 foi a

audioconferência”. As audioconferências eram organizadas com alunos individualmente

em suas casas ou em seus locais de trabalho, usando telefone. Quando estavam em

pequenos grupos, usavam microfones e alto-falantes.

Além das audioconferências, neste período, iniciam-se as experiências com

as videoconferências. Segundo Moore e Kearsley (2007), em 1986, na Penn State

University, iniciou-se os primeiros cursos completos de graduação transmitidos por

teleconferência, reunindo grupos de alunos em três locais diferentes.

No Brasil, podemos destacar a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),

que, através do Laboratório de Ensino a Distância (LED), ofereceu em 1996, o primeiro

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, usando principalmente a

tecnologia das videoconferências.

Nesta etapa da história, segundo Peters (2001), podemos falar em uma mudança

paradigmática na EaD, pois com as tecnologias que surgiram neste período, mesmo

distantes fisicamente, os alunos podem estabelecer comunicação entre si e com os

professores de forma mais rápida que pelo correio. Com isto, começou-se a pensar em

cursos na modalidade de EaD mais individualizados, com aulas e orientações específicas

para diferentes grupos.

Vale lembrar que não é o recurso em si que possibilita uma educação mais

dialogada, pois o movimento de uma educação ocorre a partir da compreensão de

educação do grupo de professores, alunos e gestores do curso. Ou seja, podemos usar

as videoconferências apenas para transmitir informações, sem oportunizar diálogos,

estudos em grupos, debates, seminários...

Page 17: Livro 1 - Modulo I

19

0"2$+(9*<,"$*+(B$+5$!$+(.$(K.,5<.5,

Esta etapa da história, inicia-se na década de 1990, e é apresentada por Taylor

apud Aretio (2001) como a geração do Ensino por Internet. Segundo Moore e Kearsley

(2007), em 1993, apareceu o primeiro navegador WEB ou WWW (World Wide Web

- que em português significa, “Rede de alcance mundial”). No entanto, anterior a este

período, em meados de 1980, a National Sciences Foundation desenvolveu uma rede

com cinco centros de supercomputadores conectados a universidades e organizações de

pesquisa, que, aperfeiçoada, em 1987 possibilitou usar a rede para troca de e-mails e

arquivos de dados.

Na década de 1990, algumas universidades ofereciam programas de graduação

completos por meio da web, entre elas o N-O2$-!%+')/5*%4,%P!Q%R, S%T-*#$#5#!%,8%M!.:-,2,UV?

No final desta década, nos Estados Unidos, segundo Moore e Kearsley (2007, p.47),

“84,1% das universidades públicas e 83,3% das faculdades públicas com cursos de quatro

anos ofereciam cursos com base na web.”

Com o acesso a internet, surgiram novos modelos de Universidades, como as

universidades puramente virtuais, além de combinações e colaborações entre instituições

de todos os tipos. Além disso, a internet viabilizou a oferta de cursos na modalidade

de EaD, considerando uma educação sem distância, ou seja, do modelo de EaD por

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PARA REFLETIR

Page 18: Livro 1 - Modulo I

20

correspondência, com os recursos de internet para interação entre professores e alunos, é

necessário permanecer apenas a distância física entre os sujeitos que ensinam e aprendem.

A internet também viabilizou a comunicação com uso de imagem e som, em

tempo real, personalizada, de professor para aluno, aluno para professor e entre alunos,

independente da distância existente. Hoje, podemos nos conectar à internet, dialogar via

texto escrito e/ou áudio, acessar informações em várias linguagens, conversar a dois, ou

em grupos maiores, vendo e ouvindo os interlocutores pelo computador.

É importante lembrar que muitas pessoas ainda não possuem acesso à internet,

mas este é um caminho que juntos temos de trilhar, lutando juntos por este direito,

independente do bairro, município, estado ou país em que vivemos. Fazemos parte de

uma grande rede, e, para aprendermos a nos relacionar com ela e por ela, aprendendo e

ensinando, temos de estar conectados.

São várias pessoas, várias experiências e histórias, fazendo a história da EaD, e

muito ainda há por fazer. O importante é participar deste processo como sujeito, sendo

e fazendo história. Agora você é parte desta história, ajude a construí-la!

Com o acesso a “novas tecnologias”, as experiências e pesquisas em EaD se

multiplicaram e continuam se multiplicando. São várias as abordagens de educação que

qualificam essas experiências em todo o Brasil e no exterior, desenvolvidas por diferentes

instituições educacionais ou centros de formação profissional.

Vale lembrar que os cursos de graduação na modalidade de EaD começaram a

ser ofertados no Brasil, em 1995. A Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT),

por intermédio do Núcleo de Educação Aberta e a Distância do Instituto de Educação,

ofertou o curso de licenciatura em educação, habilitação em séries iniciais. Segundo

Sanchez (2008) no Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância, entre

2003 e 2006, a oferta de cursos superiores a distância passou de 52 para 349. Em 2007,

somente no ensino superior de graduação, o número de estudantes era de 727.657, e

este número cresce a cada ano.

O que pesquisadores e educadores buscam são propostas de EaD ricas em

comunicação e aprendizagem, que integrem ao material impresso, outros materiais

e recursos tecnológicos, oportunizando a comunicação entre alunos, e destes com os

professores e/ou tutores. O “ensino a distância”, em que o aluno estuda sozinho, apenas

“por leitura”, abre espaço para a educação a distância. Uma educação, nas palavras de

Freire (1992), promovida pela comunicação entre sujeitos que ensinam e aprendem.

Page 19: Livro 1 - Modulo I

21

2. CARACTERêSTICAS DA EAD

Para estudarmos as características da EaD, inicialmente sistematizaremos alguns

elementos conceituais relacionados a esta modalidade. Vamos iniciar discutindo o

conceito de educação.

Baseados em Paulo Freire, podemos afirmar que a ação de educar é uma ação na

qual todos (educadores e educandos) ensinam e aprendem dirigidos pelo educador ou

educadora; dirigidos, não direcionados. É uma ação em que o professor ou professora,

então educadora ou educadora, não apenas informa, mas estabelece uma interação com

os educandos e ao dirigir o processo, sendo conhecedor profundo de sua área, é também

aprendiz na busca constante de novos conhecimentos em todos os espaços.

Neste sentido, Morin (2001, p.11) afirma que “a educação pode ajudar a nos

tornarmos melhores, se não mais felizes, e nos ensinar a assumir a parte prosaica e viver

a parte poética de nossas vidas.”

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SAIBA MAIS

Page 20: Livro 1 - Modulo I

22

E a EaD? Sendo educação, busca os sentidos e significados aqui apresentados. A

EaD, compreendida como educação, mobiliza professores e alunos para criarem novas

rotinas, exigindo, como toda mudança, novas atitudes, novas leituras, novas formas de

ver e se organizar no mundo. Ao vivenciar e conhecer a EaD, muitas vezes, professores

e alunos mudam processos de ensino e aprendizagem da educação presencial. Neste

sentido, Moran (2004) afirma que:

[...] obrigar alunos a ficar confinados horas seguidas de aula numa mesma sala, quando temos outras possibilidades, torna-se cada dia mais contraproducente. Para alunos que têm acesso à Internet, à multimídia, as universidades e instituições educacionais têm que repensar esse modelo engessado de currículo, de aulas em série, de considerar a sala de aula como único espaço em que pode ocorrer a aprendizagem. [...] A flexibilização de gestão de tempo, espaços e atividades é necessária, principalmente no ensino superior ainda tão engessado, burocratizado e confinado à monotonia da fala do professor num único espaço que é o da sala de aula.

Ao pensarmos na flexibilização de gestão de tempo, espaços e atividades nas

instituições educacionais, é importantíssimo focar na aprendizagem dos alunos. É

necessário pensar em propostas para uma verdadeira educação, buscando uma educação

coerente com o mundo que queremos juntos (re)construir. Ou seja, é necessário

flexibilizar e democratizar com responsabilidade, sugerindo a co-responsabilidade.

Para conhecermos mais da educação que acontece na modalidade de EaD, iremos

dialogar sobre características da modalidade de EaD, partindo dos estudos realizados

por Landim (1997), Oliveira (2001) e Moraes (2008). Lembre-se que estas são apenas

algumas características selecionadas para o nosso estudo nesta disciplina, mas vocês

poderão encontrar outras ao longo de seus estudos no curso, ou demais espaços de

formação. As características selecionadas, neste momento, são:

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Page 21: Livro 1 - Modulo I

23

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A partir destas características, podemos mencionar alguns movimentos que

caracterizam os processos de ensino e de aprendizagem nesta modalidade. Fazendo a

leitura de textos de autores como Nunes (1992) e Preti (2000), podemos destacar que

na EaD:

Page 22: Livro 1 - Modulo I

24

Professores e alunos que podem ficar separados por uma diferença temporal e

espacial.

O aluno precisa aprender a fazer a gestão de seu tempo de estudo, pois cabe a ele

escolher os melhores horários e locais para desenvolver os estudos. É importante

incluir neste processo de gestão os horários de comunicação com colegas e

professores.

Os alunos são em sua maioria adultos e dispersos geograficamente.

Os estudos são realizados pelo aluno, na maioria dos casos, de forma individual

e flexível em termos de horários, pois o aluno estuda no horário e local que lhe

é mais conveniente.

É uma modalidade de educação que necessita de recursos tecnológicos para

viabilizar a interação entre professores e alunos (telefone, computadores com

acesso a internet, tecnologia de videoconferência, (...).

Há uma estrutura organizacional a serviço do educando: sistema de informação

e comunicação, secretaria, tutoria, equipe de produção de material didático,

campus central, pólos de apoio presencial, etc.

A linguagem para comunicação é a escrita, mas a depender do modelo de EaD

outras linguagens são utilizadas como a linguagem sonora, de vídeo,... usando

recursos como o telefone, e-mail, ambientes virtuais de aprendizagem com

fóruns, chats, webconferência, audioconferências...

Os materiais didáticos usados são elaborados para o estudo independente do

professor, com linguagem clara, reflexões ao longo do processo, atividades

avaliativas e sugestão de estudos complementares.

Nesta modalidade há a possibilidade de comunicação simultânea com um grande

número de estudantes.

Os cursos são antecipadamente planejados, e os materiais são produzidos

com antecedência. Há uma espécie de pré-produção. Esta pré-produção pode

envolver a organização de materiais em textos impressos, programas de rádio

e televisão, vídeos, material digitalizado e disponível em ambientes virtuais da

internet, etc.

Inclui a produção de materiais impressos para grandes quantidades, contando

na maioria das vezes com grandes equipes de trabalho para a criação e produção

dos mesmos.

Tendência a uma estrutura curricular flexível, em módulos, por exemplo,

possibilitando uma maior adaptação aos interesses de cada aluno.

Page 23: Livro 1 - Modulo I

25

Estes são alguns movimentos que caracterizam a EaD. Mas, há outras

características que você poderá perceber ao longo do curso. O interessante é vivenciar e

continuar estudando sobre esta modalidade para a caracterizarmos ainda mais.

E como caracterizar um pouco mais a EaD em ambientes virtuais acessados pela

internet? Este ambiente, espaço virtual de aprendizagem, é a possibilidade de estarmos

juntos, mesmo distantes. Podemos estar juntos em uma sala de aula em um prédio, como

podemos estar juntos em uma “sala de aula virtual”. Para estarmos juntos na sala de aula

de um prédio, ao participarmos de um curso, temos de nos locomover de nossas casas

ou local de trabalho até o prédio, em um determinado horário; para estarmos juntos

em uma “sala de aula virtual” (fórum ou chat, por exemplo), para participarmos de um

curso, podemos permanecer em diferentes lugares, distantes ou não (poucos metros ou

milhões de quilômetros) e nos unirmos independente de horário.

Estas são duas maneiras de “estar junto” e uma não anula a outra. Nos dois casos,

podemos estar muito próximos ou muito distantes do outro, em nossos pensamentos,

ações e sentimentos.

O espaço virtual, disponível na internet, não é um espaço físico, mas é um espaço

de encontro, um espaço que comporta a entrada de muitas pessoas, que é democrático

ao possibilitar o acesso a todos, mesmo que ainda tenhamos problemas com a via

tecnológica de acesso a ele, sendo limitada a poucos. O ambiente virtual é real, pois

estamos presentes nele, sentindo, aprendendo, comunicando... a partir de uma via de

acesso física: o teclado, o monitor, o mouse.

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PARA REFLETIR

Page 24: Livro 1 - Modulo I

26

3. A LEGISLA�ÌO BRASILEIRA E A EAD

No contexto histórico da EaD apresentado, pudemos conhecer concepções e

políticas de EaD, e agora discutiremos questões relacionadas diretamente à legislação

brasileira para cursos nesta modalidade.

A EaD começou a existir legalmente no Brasil, em 20 de dezembro de 1996,

quando foi instituída pela LDB (Lei n.9.394). Anterior a esta data existiam, como

apresentado anteriormente, várias ações em EaD, no entanto, a modalidade ainda não

estava oficializada por uma lei. Com a LDB instituída podiam ser oferecidos cursos

em todos os níveis e modalidades de enisno e de educação continuada, concedendo

certificação com o mesmo valor que do ensino presencial.

Abordando sobre a EaD, o artigo 80 da LDB prevê:

A partir deste artigo, em 1998, o decreto n. 2.494, regulamentou a LDB,

detalhando mais os seus processos. Neste decreto, apontam-se as formas de uma

instituição se credenciar para a oferta dos cursos, requisitos para fazer a matrícula de

alunos, transferências para o ensino presencial, a diplomação e certificação dos alunos,

a avaliação da aprendizagem (ainda exigida presencialmente). Muitas das concepções

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Page 25: Livro 1 - Modulo I

27

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Para saber mais

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Decreto/D5800.

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presentes neste decreto estavam vinculadas a uma certa superioridade da modalidade

presencial, como a exemplo da avaliação.

Neste decreto, a Educação a Distância é compreendida como “uma forma

de ensino que possibilita a auto-aprendizagem com a mediação de recursos didáticos

sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação,

utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados através dos diversos meios de

comunicação.” Que características da EaD podemos identificar a partir desta definição?

Vamos refletir sobre essa questão...

Em 19 de dezembro de 2005, foi revogado o decreto de 1998, com a publicação

do decreto n. 5.622, que em certos aspectos ampliou a compreensão da modalidade de

EaD. Neste decreto, o conceito de EaD aparece como:

Esta é a legislação mais recente que trata da especificidade da modalidade de EaD.

Alguns pontos a destacar neste decreto são: a obrigatoriedade de momentos presenciais

para avaliações, estágios, defesas e atividades em laboratórios; a necessidade de criação

de pólos presenciais; que os resultados de avaliações presenciais devem prevalecer sobre

os demais resultados de avaliação, entre outros.

Outro registro importante da legislação brasileira sobre EaD, é o Decreto n.

5.800, de 8 de junho de 2006, que oficializa a UAB. Você sabe o significado de UAB? É

a Universidade Aberta do Brasil, um projeto elaborado pelo Ministério de Educação e

a Associação dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino, como a Universidade

Federal do Paraná, na qual você é hoje cursista.

A UAB faz parte do atual conjunto de políticas públicas desenvolvidas pelo Governo

Federal para a área de educação, voltadas para a expansão da educação superior com qualidade

e promoção da inclusão social. O objetivo é proporcionar uma alternativa para o atendimento

às demandas reprimidas pela educação superior, pois, segundo Mota (2007), no Brasil, apenas

11% dos jovens entre 18 e 24 anos têm acesso a este nivel de educação.

De maneira geral, a UAB tem por objetivo estabelecer um amplo sistema

nacional de educação superior a distância, ampliando o acesso à educação superior no

Page 26: Livro 1 - Modulo I

28

Brasil, gratuitamente. O Decreto n. 5.800, oficializa a UAB, destacando a articulação

e integração de Instituições do ensino superior, municípios e estados, visando a

democratização, expansão e interiorização da oferta de ensino público no país.

A UAB iniciou suas atividades em 2006, com um projeto piloto em 20 estados,

com o curso de Administração em parceria com empresas estatais, principalmente o

Banco do Brasil. Articulado ao projeto da UAB, tem o Programa Pró-Licenciatura, o

qual atendia, em 2007, em torno de 20 mil estudantes em todo o Brasil, prioritariamente

professores em atividade da rede pública da educação básica, sem habilitação, com a

oferta de cursos de licenciatura em diferentes áreas.

A UAB articula experiências das instituições de ensino superior, as quais,

isoladamente, não teriam como atuar em toda a abrangência do Brasil. A UAB nasceu com

o objetivo de expandir e levar até o interior dos estados a oferta de cursos e programas de

educação superior do país, oferecendo, prioritariamente, cursos de licenciatura e formação

inicial e continuada de professores da educação básica, como é o caso deste curso.

Além de cursos de licenciatura, também é objetivo da UAB ofertar cursos

superiores nas diferentes áreas do conhecimento, reduzindo as desigualdades de oferta

de ensino superior entre as diferentes regiões do país.

Page 27: Livro 1 - Modulo I

29

REFERæNCIAS

ALVES, João Roberto Moreira. A história da EaD no Brasil. In: LITTO, Frederic M.;

FORMIGA, Marcos (orgs.). Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson

Education do Brasil, 2009. p. 9-13.

ARETIO, Lorenzo García. La Educación a Distancia: de la teoria a la práctica. Barcelona:

Ariel, 2001.

BRASIL, Ministério da Educação/ Secretaria de Educação a distância. Referenciais de

qualidade para cursos a distância. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/

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30

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NUNES, Ivôneo Barros. Noções de Educação a Distância. 1993-1994. Disponível em:

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VALENTE, José Armando. O computador na sociedade do conhecimento. Campinas-SP:

Unicamp/NIED, 1999.

Page 29: Livro 1 - Modulo I

31

ATIVIDADES

1. A partir do estudo do contexto histórico da EaD crie um quadro com a síntese das

etapas apresentadas, apontando para cada geração:

a) Período Histórico

b) Tecnologias utilizadas

c) Papel do professor (Como orienta os alunos?)

d) Papel do aluno (Como o aluno estuda?)

e) Processo de Comunicação entre professores e alunos

Encaminhe-a para seu/sua tutor/a em arquivo único, no seguinte formato:

2. A partir da leitura sobre a legislação brasileira de EaD, participe de um fórum virtual

com colegas, apresentando a(s) característica(s) da EaD que mais se diferencia(m) das

características da educação presencial, justificando sua escolha.

8bROM() ( )b80}~M(0()KOP�L8K0( A( )b80}~M()0O(R p0}� O(

xPLK8MaR08K0KO(v(A 8UO 80)( (8KS 0)UL 0]abkSR

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�b0)RMaO�LP O

Page 30: Livro 1 - Modulo I

32

Page 31: Livro 1 - Modulo I

33

PROPOSTA DE IMPLEMENTA�ÌO DA LEI

10.639/2003 NOS ESPA�OS ESCOLARES

Ohene aniwaOhene aniwa twa ho hyia

Os olhos do rei.Os olhos do rei estão em todos os lugares.

Símbolo da vigilância, proteção, segurança e excelência.

+,5(,5H,'(+5(=<'=G5($(+"?5<*<(F+U$'+(5!"#$!'<$+U5+(=$<,*#*=$.,5+(!'(8"<+'(!5( $)(57(R52$%G5+(x,.*#'aR$#*$*+3($2?"7$+(='++*B*2*!$!5+(!5(*7=2575.,$%&'(.'+(5+=$%'+(5+#'2$<5+(!5(=<w,*#$+(=5!$?`?*#$+(#'7(;*+,$+($($,5.!5<(F(p5*(J[@ejdUZ[[j3(4"5( ,'<.$( ('B<*?$,`<*'('(5.+*.'(!$(N*+,`<*$(5(8"2,"<$(0E<'aB<$+*25*<$(5(0E<*#$.$3(57(,'!'+('+(+*+,57$+3(.I;5*+(5(7'!$2*!$!5+((!5(5.+*.'(!'(]<$+*2@( 3($(=$<,*<(!5+,$(p5*3('(8'.+52D'(L$#*'.$2(!5( !"#$%&'3($,<$;6+(!$(R5+'2"%&'([JUZ[[{(*.+,*,"*($+()*<5,<*C5+(8"<<*#"2$<5+(L$#*'.$*+(=$<$($( !"#$%&'(!$+(R52$%G5+(x,.*#'aR$#*$*+(5(=$<$('( .+*.'(!5(N*+,`<*$(5(8"2,"<$(0E<'a]<$+*25*<$(5(0E<*#$.$@

Tânia Aparecida Lopes1

1 Mestra em Educação pela UFPR. Professora de História da rede estadual de educação do Paraná.

Coordenadora do IPAD Brasil – Instituto de Pesquisa da Afrodescendência.

iwaa

i.s.a.

Page 32: Livro 1 - Modulo I

34

1. INTRODU�ÌO

Para além da História e da Cultura Afro-brasileira e Africana, a implementação

da Lei 10639/2003 oportuniza-nos reflexões e práticas acerca de uma Educação das

Relações Étnico-Raciais, no sentido de valorização das diferentes participações e

contribuições na construção social, política e cultural da sociedade brasileira.

Assim, para a efetiva aplicabilidade de tais práticas que serão discutidas durante

o nosso percurso e para além do aprendizado e das reflexões sobre assuntos relacionados

à temática da Lei 10.639/2003 dependerá a nossa apreensão da importância, no que

concerne a uma Educação das Relações Étnico-Raciais no Brasil e o combate ao racismo

e a todas as formas de discriminação no espaço escolar.

2. A LEI 10.639/2003 E REFLEXÍES SOBRE PRçTICAS PEDAGîGICAS PARA A EDUCA�ÌO DAS RELA�ÍES �TNICO-RACIAIS

Entendemos que em nossa sociedade os diferentes pertencimentos das/dos

sujeitas/os, sejam étnico-raciais, identidade de gênero, orientação sexual, religião,

geracional estão intrínsecas às suas oportunidades de mobilidade social.

Também entendemos que os conhecimentos que dizem respeito às realidades

das/dos diferentes sujeitas/os da nossa sociedade foram e são pouco abordados nos

conteúdos curriculares, como nos aponta Nilma Lino Gomes (2007, p. 25):

Há diversos conhecimentos produzidos pela humanidade que ainda estão ausentes nos currículos e na formação [das professoras e] dos professores, como por exemplo, o conhecimento produzido pela comunidade negra ao longo da luta pela superação do racismo, o conhecimento produzido pelas mulheres no processo de luta pela igualdade de gênero, o conhecimento produzido pela juventude na vivência da sua condição juvenil, entre outros. [...]

Ainda de acordo com Nilma Lino Gomes (2007), a partir de reivindicações dos

diferentes Movimentos Sociais esses conhecimentos são apontados como fundamentais e

L5+,5(,5H,'3(",*2*C$7'+('(

$!T5,*;'(+"T5*,$U'3(na contram�o

dos conceitos

52$B'<$!'+(5(5H=2*#*,$!'+(.'+(!*#*'.w<*'+3(4"5(E$C57(=$<,5(!$+(

#'25%G5+(5H='+,$+(.$+(B*B2*',5#$+@(

Entendemos

sujeitas/os todas/

'+($4"52$+(5($4"525+(4"5(.&'(+5(

submetem e que

5+,&'(F(E<5.,5(!$+(,<$.+E'<7$%G5+(!$+(+'#*5!$!5+3(que constroem

a hist�ria da

nossa sociedade.

P$7B67('=,$7'+(='<(",*2*C$<3(sempre que

='++I;523($!T5,*;'+(e substantivos no

feminino e no

7$+#"2*.'@(M",<$('=%&'(,5`<*#$(6(!5(

informar o nome

#'7=25,'(!$+U!'+($",'<$+U<5+3(

pois entendemos

que a Identidade

!5(r:.5<'(,57("7(;$2'<(='2I,*#'(diferenciado em

nossa sociedade.

Page 33: Livro 1 - Modulo I

35

como eixos centrais na elaboração dos < ,W!#,*%<,23#$.,*%<!4'U;U$.,*%!%4,*%<2'-,*%4!%M '('2:,%

X,.!-#!%nas escolas de diferentes níveis e modalidades de ensino:

[...] Tais movimentos indagam a sociedade como um todo e, enquanto [sujeitas políticas e] sujeitos políticos, colocam em xeque a escola uniformizadora que tanto imperou em nosso sistema de ensino. Questionam os currículos, imprimem mudanças nos projetos pedagógicos, interferem na política educacional e na elaboração de leis educacionais e diretrizes curriculares (GOMES, 2007, p. 26).

Desta forma, acreditamos que para a implementação da Lei 10.639/2003 seja de

fundamental importância uma permanente reflexão e apreensão em torno dessa temática

relacionando-a às nossas práticas cotidianas, ao nosso convívio social de forma geral e,

nesse momento especificamente, às nossas relações no espaço escolar, no que diz respeito

à Educação das Relações Étnico-Raciais.

3. CONHECENDO AS/OS SUJEITAS/OS NOS ESPA�O ESCOLAR

Acreditamos que o racismo ainda está entranhado nas relações sociais, desiguais,

entre as/os negras/os e brancas/os no Brasil. Um racismo herdado desde o período

colonial brasileiro, que garantiu e legitimou a escravização de africanas/os, baseados em

supostas “justificativas” racistas, que hierarquizaram e classificaram homens e mulheres

brancas/os em superioras/es e inferiores (negras/os) e que, possivelmente estas

“justificativas” permeiam algumas práticas pedagógicas nos espaços escolares.

Em 2009, uma pesquisa realizada em várias escolas brasileiras pela Fundação

Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira – INEP, na qual o objetivo proposto foi analisar situações

de discriminação no ambiente escolar, “de forma a subsidiar a formulação de políticas e

estratégias de ação que promovam a redução das desigualdades em termos de resultados

educacionais, o respeito e a própria educação para a diversidade”, nos explicita que

94,2% das pessoas entrevistadas têm algum tipo de preconceito e/ou discriminação

quanto ao pertencimento étnico-racial.

L'(2*.V(D,,=>UU='<,$2@75#@?';@br/dmdocuments/

!*;5<+*!$!5|apresentacao.pdf

voc� encontrar�

a s�ntese dos

principais

<5+"2,$!'+(!$(=5+4"*+$(*.,*,"2$!$(A Pesquisa sobre

Preconceito e

Discrimina��o no

Ambiente Escolar.

Page 34: Livro 1 - Modulo I

36

Neste momento

=<*;*25?*$7'+($+(='="2$%G5+(

brancas/os e

negras/os pois

s�o os grupos

que representam

o maior n�mero

!$(='="2$%&'(B<$+*25*<$3(5(4"5(

entendemos

deveriam estar na

mesma propor��o

das pessoas que

E$C57(=$<,5(!'+(diferentes espa�os

do nosso conv�vio

+'#*$2@(L$!$(nos impediria

!5(,$7B67(!5(=<'B257$,*C$<($+(#'.,<*B"*%G5+(!5(

'",<$+(='="2$%G5+3(#'7'(='<(5H57=2'3(os diferentes povos

ind�genas.

Assim, propomos como parte das nossas discussões quanto à Educação das

Relações Étnico-Raciais uma futura atividade simples e reflexiva (que poderá ser

articulada com a equipe multidisciplinar da sua escola), de acordo com a realidade de

cada escola, a partir da qual possamos nos conhecer melhor. Uma possível articulação de

discussões sobre as relações étnico-raciais no Brasil, no Paraná, a partir das/os sujeitas/

os do espaço escolar (que poderá ser com representantes de todos os segmentos:

educadoras/es, educandas/os, mães, pais e coletivos como Grêmio Estudantil, Conselho

Escolar, APMF, entre outros). Alguns questionamentos podem ser feitos em torno das

experiências de vida de cada uma/um no tocante às impressões, às apreensões e quanto

às nossas práticas e relações entre brancas/os e negras/os, para que possamos melhor

compreender a importância da implementação da Lei 10639/2003 no espaço escolar:

Quantas/os negras/os fizeram ou fazem parte do nosso convívio social, em

relação à brancas/os e pessoas de outras raça-etnia? Quais foram as nossas

experiências com namoradas/os, esposas/os, médicas/os, educadoras/es,

amigas/os, colegas e chefes de trabalho?

Quantas/os educadoras/es, educandas/os negras/os, brancas/os e de outras

raça-etnia fazem parte da nossa comunidade escolar ?

Por que estavam presentes ou não, nos espaços do nosso convívio social?

Como se deu a chegada de nossas/os antepassadas/os ao Brasil? Quais foram as

ações de políticas públicas que possibilitaram para a sua permanência no Brasil?

Compreendemos que tal discussão, devidamente contextualizada sobre a possível

existência (ou não) de sujeitas/os negras/os e brancas/os nos diferentes espaços do nosso

convívio social, e especialmente no espaço escolar, poderá servir primeiramente como

um momento de socialização dos depoimentos das diferentes experiências vivenciadas.

Isso possibilitará um maior entendimento e conhecimento quanto as nossas existências

e/ou permanência como sujeitas/os históricas/os em determinado espaço geográfico.

O diálogo poderá ser uma forma de compreendermos as nossas maiores ou

limitadas possibilidades de mobilidade social – como pessoas negras e brancas -, pois

entendemos, por exemplo, que as possibilidades que a população branca teve e tem para

a sua inserção e mobilidade social não foram e não são as mesmas proporcionadas à

Page 35: Livro 1 - Modulo I

37

população negra.

Esta atividade pode nos levar a alguns conflitos quanto às nossas experiências, o

que não é demérito nenhum. Pelo contrário, representa um grande crescimento pois é

partir dos conflitos que buscamos outras respostas e, por que não dizer, outras verdades,

quanto às nossas diferentes histórias de vida.

4. PRçTICAS PEDAGîGICAS DIANTE DAS RELA�ÍES �TNICO-RACIAIS

Diante da diversidade que compõe os grupos dos quais fazemos parte (como um

coletivo de cursistas, por exemplo), é possível afirmar que tivemos diferentes processos

educativos e diferentes aprendizados nos diversos espaços sociais de nossa existência,

sejam aprendizados em nossos ambientes familiares ou na nossa formação acadêmica.

E, a partir desses aprendizados, construímos as nossas verdades, muitas vezes verdades

“absolutas”, algumas delas possivelmente carregadas de preconceitos e de práticas

discriminatórias.

No entanto, o espaço escolar é múltiplo e representa um local privilegiado

para interações e para aprendizados entre as diferenças. A escola é o espaço onde se

encontram diferentes crianças, adolescentes e adultas/os e é um local onde podem

acontecer diferentes conflitos, reforçados diante de possíveis outras diferenças, sejam

elas culturais, geracionais, de classe, das sexualidades, dos pertencimentos étnico-raciais,

das religiosidades, entre outras.

E quanto às nossas práticas pedagógicas diante da Lei 10639/2003 e de uma

Educação das Relações Étnico-Raciais? Nós não chegamos às escolas “caídas/os de um

para quedas”, prontas/os para discutir e entender as diversas situações com as quais nos

deparamos no espaço escolar e que dizem respeito às/aos diferentes pertencimentos

das/os sujeitas/os que lá encontramos.

Começam os nossos conflitos, diante das nossas práticas, na escolha dos

conteúdos, supostamente necessários conforme os nossos processos de formação e os

conhecimentos das/os nossas/os educandas/os e as diferentes realidades explicitadas

no espaço escolar, a partir da fala e práticas dessas/es diferentes sujeitas/os e seus

0(p5*(!5()*<5,<*C5+(5(]$+5+(a(p)](9394/96 informa:

W0<,@(Jz(0(educa��o abrange

os processos

formativos que

+5(!5+5.;'2;57(.$(;*!$(E$7*2*$<3(na conviv�ncia

D"7$.$3(.'(,<$B$2D'3(.$+(*.+,*,"*%G5+(!5(5.+*.'(5(=5+4"*+$3(nos movimentos

sociais e

'<?$.*C$%G5+(!$(+'#*5!$!5(#*;*2(5(.$+(7$.*E5+,$%G5+(#"2,"<$*+@(P$7B67(entendemos

por processos

educativos3('",<$+(poss�veis formas

de ensino e

$=<5.!*C$?573('"(+5T$3(.&'($=5.$+($(5+#'2$<X@((Ver mais em:

R*#$<!'(9*5*<$@(Processo educativo

e contextos

culturais: notas

para uma

antropologia

da educa��o.

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Page 36: Livro 1 - Modulo I

38

pertencimentos:

De que forma são representadas/os as/os sujeitas/os negras/os, nas imagens

utilizadas no espaço escolar?

E as produções culturais, as produções intelectuais, tecnológicas, produzidas

por nossas/os antepassadas/os negras/os? De que forma são abordadas nos

conteúdos escolhidos como importante?

Qual o lugar que os temas oriundos da Lei 10.639/2003 têm nos Projetos

Políticos Pedagógicos? Como eixo central que orientará as práticas escolares

ou como “modismo”, temas “exóticos”, lembrados em algumas datas pontuais

do calendário escolar, como o dia “13 de Maio” e “20 de novembro”? Será que

os conteúdos são propostos de uma forma que todas/os as/os educandas/os

descendentes de negras/os tenham sua autoestima elevada e orgulho da sua

ascendência?

Não é a nossa pretensão responsabilizar a escola por todas as práticas racistas

e discriminatórias do espaço escolar. No entanto, seria ingênuo da nossa parte não

identificá-la como reprodutora dessas práticas.

S$<$(N5.<*4"5(8".D$(s<@3(W�$+�('+(5+,"!$.,5+($E<'a!5+#5.!5.,5+(.&'(?'+,$7(!5(E$2$<(+'B<5('(5+#<$;*+7'(#<*7*.'+'(57(+$2$(!5($"2$@(k*#$7(5.;5<?'.D$!'+(�$+�(5($#$.D$!'+(�$+�3(,<$,$a+5("7($++".,'(*.!*?5+,'@(0+(<$CG5+(!5+,$($;5<+&'(+&'( 7"*,'( +*7=25+>( '( $++".,'( 6( +57=<5( ,<$,$!'( !5( E'<7$( *.$!54"$!$( 5(=<55.#D*!'(!5(=<5#'.#5*,'+(5(<$#*+7'(4"5(*.E5<*'<*C$7($(='="2$%&'(.5?<$(�@@@�X@(p5*$(7$*+(57>(M+(L5?<'+(.&'(+5(!5*H$<$7(5+#<$;*C$<@(()*+='.I;52(57>(D,,=>UUwww.espacoacademico.com.br/069/69cunhajr.htm

PARA REFLETIR

Page 37: Livro 1 - Modulo I

39

O artigo As

contradi��es

expressas nos

discursos sobre

inclus�o/exclus�o3(!5()6B'<$(8<*+,*.$(!5(0<$"T'(apresenta uma

$.w2*+5(!'(<$#*+7'(discursivo presente

em coment�rios e

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No cotidiano das nossas práticas escolares, possivelmente naturalizamos algumas

falas preconceituosas que foram fundamentadas/os pelas nossas verdades adquiridas nos

nossos diferentes processos de aprendizados. Por exemplo, ainda é comum na sala das/

dos professoras/es ouvirmos piadas de negras/os e acharmos engraçado chamarmos

o bolo de chocolate de “nega maluca” e, quando estamos em uma situação difícil de

solucionarmos, com a maior “naturalidade” falarmos que a “situação está preta”. Não

nos damos conta, muitas vezes, que reproduzimos e legitimamos essas práticas racistas

e discriminatórias e, ao não sermos capazes de questionarmos essa naturalização,

legitimamos a violência que é exercida contra a identidade da população negra e de

suas/seus descendentes no espaço escolar, e ainda afirmamos que a escola trata a todas/

os de forma igual.

Talvez ao refletirmos sobre as questões e situações propostas até o momento

nesse texto possamos organizar e elaborar práticas pedagógicas com o conjunto da

comunidade escolar que possam atender o previsto na Lei 10.639/2003 e que nos

orientará para uma Educação das Relações Étnico-Raciais, que todas/os se sintam

inseridas/os e respeitadas/os.

Page 38: Livro 1 - Modulo I

40

REFERæNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana,

2004. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cnecp_003.pdf>

Acesso em:21/11/2010

_____.Presidência da República. República. Lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003. Altera

a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade

da temática “História e Cultura Afro- Brasileira”, e dá outras providências. Disponível

em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/2003/L10.639.htm>. Acesso em

20/11/2010.

______. Conselho Nacional de Educação, Conselho Pleno. Resolução nº 1 de 17 de

junho de2004. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações

Étnico-Raciais em para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/res012004.pdf>.

Acesso em 21/11/2010.

______. Ministério da Educação, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Pesquisa sobre Preconceito

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<ht tp ://rev i s t a se l e t ron i ca s.pucr s.br/o j s/ index.php/faced/ar t i c l e/

viewFile/490/359> Acesso em 04/01/2011.

Page 39: Livro 1 - Modulo I

41

ATIVIDADES

1. Tendo em vista a sua realidade e as suas experiências como estudante ou profissional

da educação, comente (em até 20 linhas) sobre as possíveis diferenças percebidas nas suas

relações com as/os diferentes sujeitas/os (negras/os, brancas/os, indígenas) no espaço

escolar.

Envie-a em arquivo único, no seguinte formato:

2. Todas as nossas interações no espaço escolar e demais espaços de convivência em

nossa sociedade devem ser pensadas em práticas que visam o combate a todas as formas

de preconceito e discriminação, sejam de ordem étnico-racial, sexual, social, entre

outras, e que reflitam em nossas relações. Os materiais didáticos presentes no espaço

escolar podem refletir práticas de combate ou de reforço de tais formas de preconceito

e discriminação. Assim, comente sobre como a população negra está representada nos

livros didáticos, nos cartazes e outros trabalhos visuais da escola onde trabalha.

Poste sua reflexão nesse fórum e aproveite para interagir com colegas.

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Page 40: Livro 1 - Modulo I

42

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SUGESTÌO DE LEITURA

Page 41: Livro 1 - Modulo I

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ABERTURA DO MîDULO II

Caro/a cursista,

O segundo módulo propõe a você uma discussão específica sobre relações raciais

no Brasil e a formulação de leis para a Educação das Relações Étnico-Raciais.

No primeiro texto, A política educacional de Educação das Relações Étnico-

Raciais: as alterações na LDB por meio das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, você

conhecerá os momentos anteriores à promulgação das duas mais importantes leis do

Brasil para a instituição de uma educação antirracista e que são responsáveis, inclusive,

por balizar a existência de cursos como este.

Na parte seguinte deste módulo, o tema As contribuições das Ciências Sociais para a

definição dos conceitos de raça, racismo, etnia, cultura, discriminação reúne dois artigos: no

primeiro, Apontamentos sobre o racismo no Brasil, serão apresentados conceitos essenciais

para a compreensão dos estudos atuais sobre relações raciais no Brasil, como raça/cor, etnia/

étnico, racismo e discriminação, dentre outros. No segundo texto, A contribuição conceitual

da antropologia a partir de uma experiência desafiadora, você conhecerá teóricos e teorias

importantes dessa área e que nos auxiliam na interpretação do racismo e da discriminação

relacionados a determinados grupos da sociedade, como é o caso de afro-brasileiros e indígenas.

O objetivo é que você faça uma leitura atenta de todos os textos para que haja debates

sistemáticos e críticos, contribuindo na sua formação como profissional da educação.

Bom trabalho!

A Coordenação

CURSO EaD DE QUALIFICA�ÌO PROFISSIONAL EM EDUCA�ÌO DAS

RELA�ÍES �TNICO-RACIAISMEC - Ministério da Educação / SECAD - Secretaria de Educação Básica Alfabetização e

Diversidade / CIPEAD - Coordenação de Políticas de Integração de Educação a Distância / NEAB - Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal do Paraná

Page 42: Livro 1 - Modulo I

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