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Sumário de: A Terceira Ordem

Parte 01

I - Diário de Mamhat II - O Julgamento de Mamhat III - O Retorno à Terceira Ordem IV - A Reunião

Parte 02

V - A Vida que Tinha que Ser Salva VI - O Encontro com Luthus

Parte 03

VII - A Fada Parte 04

VIII - O Encontro com Tomas IX - A revelação X - A Vida Vale a Pena

Parte 05

XI - O Início XII - A Bruxa Guia XIII - Luthus e Demônios XIV - Max e a Bruxa XV - A Esperança na Terceira Ordem XVI - A Chegada de Tomas na Casa de Max

Parte 06

XVII - A Batalha Estava Declarada XVIII - A Caminho do Inferno

Parte 07 XIX - Fado, Fardo, Destino ou Carma

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Parte 08

XX - Inferno no Primeiro Nível XXI - O Solo de Anralaar XXII - A Terceira Ordem em Anralaar

Parte 09

XXIII - A Afinidade XIV - O Contra-Ataque XXV - A Cilada XXVI - A Perfídia na Cilada

Parte 10

XXVII - O Preço do Erro XXVIII - A Chance XXIX - A Revolta de Anralaar XXX - O Combate XXXI - A Decisão de Tomas

Parte 11

XXXII - A Esperança no Combate XXXIII - O Conselho da Divina Providência

Parte 12

XXXIV - O Regresso XXXV - As Instruções XXXVI - A Despedida

Parte 13

XXXVII - A Reflexão

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INTRODUÇÃO

PRESÍDIO FENIRON

Não havia dia para visitas no Presídio Feniron, isso que foi estranho. Chamaram-me e acompanhei os guardas. Um senhor praticamente sem qualquer expressão no rosto me aguardava. Eu me sentei ao lado dele e então me foi dito: - Não é bom sentar-se ao meu lado. - Por que não ? Você não me parece ser do mal. - E o que você sabe sobre bem e mal ? - Isso não é obvio o bastante ? - Todos nós estamos acima, e ao mesmo tempo, dentro do bem e do mal. - Então você é do bem ? - Não crie sua própria confusão, bem e mal não é o que a maioria entende, tudo depende do Trívio. - Não entendi. Então ele esclareceu em poucas palavras: �Alguns povos matam e justificam suas guerras usando o nome de Deus. Eles acreditam nisso, acreditam que isso é uma forma de �bem�, pedem proteção ao Senhor. Outros pedem para que Deus lhe guarde um emprego, mesmo sabendo que isso poderia custa a vaga de outrem. O �bem� para um pode ser o �mal� para outra pessoa. Tudo depende exatamente do reflexo do ato e não do ato em si. O Trívio guarda muitos mistérios, salva e condena almas, é ele o responsável pelo Juízo Final de cada um. Mas an es é preciso saber que tudo possui no mínimoduas versões, logo, os livros comuns, a bíblia, mostram a versão de Deus. Você já leu o livro proibido �A Terceira Ordem� ?�

(Este trecho será continuado no Livro II)

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A Terceira Ordem

Parte 01

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I – Diário de Mamhat

Tudo parecia calmo, estávamos na sala de um escritório, era o início da década de setenta, tudo com o glamour da época, a mesa era enorme, toda na cor preta, um vidro a cobria e tinha detalhes em aço, alguns detalhes cromados faziam uma perfeita combinação com a luxuosa cadeira em couro.

Atrás havia uma pequena prateleira, com livros diversos e que davam a impressão de que jamais foram lidos. Entre eles uma bíblia, sim, a Bíblia Sagrada.

O chão era um enorme espaço coberto por um alto tapete, só se via o piso em madeira nas laterais da sala.

Na parede tinham quadros, pareciam quadros caros, com iluminação especial para o efeito perfeito, mas como eu nunca entendi nada de quadros, não faziam a menor diferença para mim.

Uma das paredes laterais era totalmente de vidro, com uma ótima vista em seu vigésimo terceiro andar, mas no momento não tinha vista alguma, pois as cortinas estavam totalmente fechadas, por causa daquela ocasião.

Eu estava de pé, de costas para o que acontecia. Eu olhava o que estava ao redor, como se apenas estivesse esperando o final inevitável.

Queria olhar a vista, mas as cortinas impediam. Então olhava a mesa, os objetos caros que estavam sobre ela. A cadeira. Os livros. Eu tinha que encontrar algo para ter minha atenção, mas era impossível, eu tinha que presenciar o que acontecia. Mas onde estavam os anjos que vêm no momento da morte ?

Atrás de mim havia uma anti-sala, com três sofás em couro, tudo na cor preta, uma pequena mesa de concepção invejável, um ótimo design, flores e revistas sobre a mesma. Parecia-me que haviam outras almas ali, era uma sensação diferente, como a de um momento crucial e decisivo para algo, mas não sabia explicar, só sabia que não eram os anjos da morte. Na verdade nem parei direito para raciocinar sobre o fato, havia outra coisa mais importante para mim acontecendo.

Atrás do sofá central, na parede, havia uma perfeita exibição de espadas, algumas do tipo samurai, outras medievais, algumas das forças armadas e umas desconhecidas por mim. Eu as contemplei por alguns segundos.

Ao chão estava meu amigo, aquele a quem eu deveria proteger. Tentava encontrar uma resposta para aquela cena, uma forma de amenizar meu sofrimento, algo que pudesse justificar a ocasião sem me comprometer. Tudo indicava que eu havia falhado.

Eu, Mamhat, um anjo inexperiente estava vendo minha primeira missão na Terra ser um fracasso. Depois de décadas de ensinamento e estudo. Meu protegido estava na hora de morrer. A única coisa que faltava naquela sala eram os anjos que sempre apareciam para conduzir a alma desencarnada aos céus.

Talvez ele não iria aos céus e havia motivos para isso.

Aproximei-me, como quem duvida do que vê.

Tomas de Lucca, o meu protegido, estava assustado, caído ao chão e meio encostado ao sofá central. Em sua face uma arma, poucos centímetros de sua pele sem cor pelo medo.

Se isso estivesse acontecendo há pouco tempo atrás eu não saberia que arma seria essa, mas naquela ocasião eu já sabia, era a famosa .45 de Gonzalez.

Bem, ali estávamos, eu de joelhos em frente ao meu protegido, que por sua vez estava no chão e Gonzalez meio que sobre Tomas, com sua arma na face do assustado garoto, que nesse momento já se colocava de olhos fechados.

Sentia-me impotente, fraco, fracassado, arrependido de algo.

Na sala nada se ouvia. Parecia que ambos estavam a contemplar aquele fim. Sem sequer o som da respiração era percebido. Os dois suavam frio. Os olhos de Tomas sequer piscavam. Eu podia sentir a freqüência cárdia deles, que estava além do normal.

Tomas demonstrava força de vontade. Parecia que estava disposto a morrer daquela forma, e jamais demonstraria seu medo. Ele jamais se venderia.

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Gonzalez parecia desconsolado. Era como se estivesse matando seu próprio filho. Ele admirava muito o meu protegido. Diversas vezes havia dito que o queria como filho, que daria tudo para ter um filho como Tomas.

Aqueles segundos pareciam uma eternidade.

Pensei comigo, se esse era o momento, naquele instante Tomas estaria vendo aquele famoso filminho que dizem que passa na nossa mente antes da morte. Eu não me lembrava da minha morte, não me lembrava nem mesmo como havia me tornado um anjo guardião, tampouco o motivo pelo qual Tomas era o meu ser protegido.

E nesse momento, então, nenhum filminho desse tipo passou em minha mente e não pude saber se na mente de Tomas o passava, mas sei que essa imagem passa, repetidamente, todos os dias, em minha mente, como um filminho eterno que não se cala.

Era como se fosse um arrependimento, um sinal de que algo se perdeu, que algo estava errado, mas não pude trair a mim mesmo, eu precisava fazer o que fiz. Não me arrependo, mas sei que algo em mim recusava tal ato.

Investido de todo o medo e pavor que um anjo jamais pôde sentir, naquele momento, em desespero para salvar o meu protegido, quebrei a maior regra imposta a um anjo de minha classe. Eu interferi na história dos homens encarnados.

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II - O Julgamento de Mamhat

Eu sabia bem o que eu havia feito, sabia que perderia minha posição, não poderia mais ser um anjo mentor, não poderia mais ficar ao lado de homens encarnados para ajudá-los, não poderia mais os aconselhar e consolar. Havia uma mancha em minha aura. Eu havia traído minha missão, meu juramento.

Agora sabia também que teria que passar por meu julgamento.

Eu nunca havia pensado nisso, em meu julgamento. Mas se tivesse que pensar em algo, jamais teria imaginado algo tão simples, frio e rápido. Seriam todos os julgamentos assim ?

Era um ambiente neutro em todos os aspectos. Não havia luz, frio, calor, som, nada. Apenas o sentimento de que outros lá estavam. Outros muito superiores. Eram almas de elevado conhecimento que podiam criar um mundo imaginário, que podiam criar tudo o que se pudesse crer e sentir. Inclusive tinham o dom de restarem despercebidos, de ficarem invisíveis a espíritos como eu, ainda em evolução natural.

Simplesmente senti um ser chegar ao meu lado e perguntar por pensamento:

- Você sabe por qual razão está aqui ?

Sim, eu sabia e sem responder já senti o peso que a situação impunha em minhas costas. Assim começou o meu julgamento, em total silêncio e consciência.

- Por que você fez isso, após tantas décadas de dedicação ? Por que interferiu na história dos homens ?

Eu nada respondia, pois sabia bem que nada adiantaria, nenhuma defesa, nenhum pedido de desculpas.

Nada mudaria a situação e eu teria que escolher entre recomeçar o treinamento de evolução ou reencarnar e tentar mudar o destino que eu mesmo havia criado. Tanto seria assim que essa foi a proposta:

- Você deve conhecer as conseqüências e poderá fazer a sua opção. Por sua falha somente há duas formas de se consertar o erro, recomeçando o treinamento da evolução com atendimento às almas recém chegadas ou reencarnar e tentar reequilibrar sua alma novamente.

A pergunta tinha sido efetivada em vão, todos já sabiam no que eu pensava. Eu jamais reencarnaria novamente, tinha aflição de viver em meio ao ódio e disputa dos homens. Retornar ao treinamento seria a minha correta opção, mas eu não acreditava mais nos atos da Divina Providência. Então respondi:

- Mesmo que para nada sirva, peço perdão, mas não o faço na esperança de ser perdoado no sentido de esquecerem meu erro, peço perdão se feri a confiança da Divina Providência. E mais ainda, peço perdão pelo que decidirei, se peco frente a Deus. Decido alterar o rumo de minha existência, decido pelo banimento.

Apesar de que todos estavam cientes do meu pensamento, ninguém estava a crer que eu assim procederia. Houve uma comunicação por pensamento coletivamente, era como uma tempestade, um grande vendaval que desorientava o pensamento, a visão e a audição.

Todos agiam de forma frenética, como se desequilibrassem a paz que havia no início. Era como se eles tivessem feito uma aposta errada, era como se tivessem perdido algo de valor. Nesse fase eu ainda não compreendia isso.

O mais sereno de todos, que estava mais afastado, que não havia se pronunciado ainda, veio ao meu encontro e diferentemente dos outros não era invisível, era visível e tinha o semblante natural do amor e da compreensão. Antes mesmo de ficar bem próximo já pude sentir seu amor e junto veio uma doce voz de quem já carregou muitos séculos de responsabilidade e gratidão, dizendo:

- Meu jovem anjo, eu sei o que é errar, pois com a idade de minha existência pude colecionar muitos erros, já errei muito mais que você e também já tomei essa mesma decisão sua uma vez. Acredite, o caminho não é esse, há mais que saber para poder compreender a razão da Divina Providência. Seja caridoso consigo mesmo, saiba aceitar seu erro e passe a não puni-lo tão drasticamente. Você estará novamente com uma missão em pouco tempo, mas primeiro terá que equilibrar seu coração para isso, pois o desequilíbrio leva a alma a caminhos inseguros e ao mal e foi por isso que você acabou cometendo um erro radical.

Chamavam os atos básicos de radicais, pois eram a raiz do começo, o ato que findaria em reflexo, a famosa questão da �causa e efeito�. Um ato de amor radical pode gerar uma grande nuvem de paz, assim como um erro radical poderia levar ao caos absoluto.

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Não entendi bem o que queria dizer o velho anjo, mas sábio tinha certeza que era. Não entendia a razão de tamanha preocupação. Eu era apenas mais um anjo em minha concepção. Eu cometendo um erro radical ? Por isso retruquei de pronto:

- Não foi um erro radical meu Senhor, f...

Ele me cortou dizendo:

- Não sou seu Senhor, sou seu irmão, e um dos caçulas. Lhe chamo de jovem por seus atos, que se parecem com traquinagens de um adolescente descobrindo as conseqüências de seus atos.

Aquilo me confundiu, mas continuei:

- Um erro radical me levaria à um erro maior, até que eu pudesse sentir o efeito do erro em minha existência, mas creio ter sido apenas uma decisão radical, uma decisão que me levará ao caminho que eu mais acredito.

Ele respondeu:

- Então creio ser melhor adiar o momento de decidir sobre seu destino, você ainda está em desequilíbrio, tente se acalmar, fique nos bosques do éden, reflita, continuaremos em outro momento.

Mas minha decisão não tinha sido tomada naquele instante, nem no momento em que quebrei a regra maior e feri a história dos homens.

- Senhor, lamento se o desaponto, mas minha decisão em contrariar orientações da Divina Providência já vem sendo alimentada há certo tempo, há anos venho construindo um pensamento que não coaduna com as lições Divinas. Não estou me punindo, estou encerrando um conflito pessoal, não posso mais continuar com pensamentos conflitantes à Divindade, nem sentir que estou traindo meus próprios sentimentos. Preciso fazer o que creio ser melhor e mais importante.

O bom senhor não estava mais na minha frente, havia desaparecido, ou estava muito longe e uma grande desordem se instalou imediatamente.

Todos se agitavam muito, havia um conflito entre os julgadores de meu ato, uma disputa que não parecia ter um vencedor.

Aos poucos tudo foi se tornando distante, mas era como se eu estivesse no mesmo lugar, eles é que estariam se distanciando e surgiu, então, um anjo comum, não trazia aura iluminada, não era grande nem pequeno, não era bom nem mal, era como se fosse um homem encarnado que eu havia encontrado em uma rua.

Antes que eu pudesse perguntar quem era ele sua voz já me alcançou e era uma voz audível e não por pensamento:

- Puxa, que coisa, mais um grande anjo para fora do paraíso, isso ainda acabará se tornando comum. O céu vai acabar logo.

Então fui direto como ele:

- Saí por decisão e acreditando que os anjos se encontram por afinidade, diga-me: se pensa como eu e também deve ter saído da Divindade, por que ainda vaga sem destino ? Seus sentimentos o traíram ? Você fracassou ? Fracassarei também ?

Ele, muito calmamente e demonstrando equilíbrio de forças notável, simplesmente respondeu sorrindo:

- Você não deve mesmo se lembrar de mim, um belo trabalho Divino, apagar parte do �seu eu� assim... bem.... de qualquer forma posso lhe adiantar: não fracassei, ao menos ainda; não vago sem destino, vim em sua busca; você não fracassará de forma alguma, pois é perfeito, tanto que aqui está. Meu nome é Galdus. Nem estou acreditando, você voltou! � e ele continuou a sorrir.

Eu, perplexo e sem nada entender, fiquei em silêncio total e ele continuou:

- Venha comigo, há muita gente que te espera há longo tempo. Ah, duas coisas queria lhe dizer antes de irmos, estava com muita saudade de você e parabéns ! Você provou a maior e mais perigosa tese já desenvolvida pela Terceira Ordem.

De pronto já perguntei:

- Terceira Ordem ?

Ele:

- Sim, a nossa sociedade ! A Divina Providência ignorou nossa manifestação e alguns anjos e demônios passaram a nos classificar como espíritos da Terceira Ordem, onde estão os espíritos pouco desenvolvidos, as almas que ainda guardam dores e saudades da vida material. Mas não somos isso e com o seu retorno tudo será diferente agora ! Vamos, assim que esse local perder a energia dos anjos julgadores estará repleto de demônios, afinal, com o seu banimento consentido por Tamisau, outro lugar você não poderia estar senão às margens de Aqueronte, o rio lodoso e sem vida que demarca o local das almas perdidas.

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Eu, de uma forma ou outra, sabia tudo aquilo e talvez até mais, até podia ver os demônios atrás da névoa de energia divina. Os demônios não me assustavam, mas aquela situação sim, eu não estava preparado para tudo aquilo, mas podia sentir que não era uma mentira, estava mesmo acontecendo.

A decisão que eu havia tomado era um desejo de meu coração, eu havia confiado em mim mesmo e não poderia agora voltar a trás, tinha que continuar a confiar em mim e então fiz isso, a investida foi tamanha que não o segui, pelo contrário, com um gesto com a cabeça o chamei para me seguir e eu fiz a condução.

Os demônios apenas observaram tudo aquilo e ficaram nos observando até sumirmos da visão deles, no meio daquela forte neblina de energia.

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III – O Retorno à Terceira Ordem

Devo confessar que não entendia tudo o que estava acontecendo, especialmente porque acontecia tudo muito rapidamente. Era muita informação de uma vez só. Precisa refletir e pensar, mas isso parecia impossível nesse momento.

Tínhamos, Galdus e eu, deixado os demônios um instante atrás. Eu havia deixado a Divina Providência. Mas estávamos chegando em um imenso lugar, com várias misturas, eu podia ver espíritos de diversas formas e origens, espíritos brincalhões, canalhas e sábios.

O local era imenso, era como um jardim interminável, mas praticamente morto e destruído, como um jardim abandonado, sem luz, sem água e sem vida. Árvores frutíferas morrendo, carvalhos queimados, grama pisoteada, bancos quebrados e lago seco.

Eu parecia reconhecer o local, mas não daquele jeito, foi quando Galdus disse:

- Viu ? Isso é resultado de sua ausência. Quando tudo parecia estar ficando bom, você começou com a estória de uma Teoria da Evolução Espiritual.

Eu apenas olhava a tudo aquilo e tentava me lembrar, mas parecia impossível.

Galdus, vendo minha impaciência e cobrança pessoal, se antecipou:

- Não se cobre dessa maneira. Estamos em casa, faremos a devida faxina e tudo estará em harmonia novamente, inclusive sua memória. Aí você poderá me contar finalmente qual é a sua Teoria e parar com o mistério e o medo do fracasso. Tenha calma e saiba esperar o momento correto. Equilíbrio meu mestre ! Equilíbrio ! E Luthus nunca chegará perto de você novamente.

Sim, Galdus era um mestre em matéria de equilíbrio da alma e me passa uma confiança interminável.

Meu pensamento foi quebrado por um grito de boas vindas, antes que eu pudesse perguntar por Luthus:

- Meu guerreiro! Você demorou mais que o imaginado, mas está aqui! Me dá um abraço forte! � com gritos e gestos vinha correndo em minha direção � Ainda não se lembra de mim ? Sou eu! Leny!

Eu queria me lembrar, mas não podia, não ainda. Antes que eu pudesse responder algo, Galdus se antecipou:

- Leny, vá procurar algo para se ocupar, Mamhat acaba de tomar a grande decisão de deixar a Divina Providência, ainda não recuperou sua memória espiritual, está confuso e precisa se atualizar. A última alma que precisa ouvir é você, saia. Ouçam todos � em alto tom de voz, chamou quem ali estava � ouçam o que vou dizer, Mamhat venceu a mais dura tarefa, darei uma volta com ele em nosso Campo e mais tarde nos encontraremos aqui para anunciar a retomada de nossas tarefas. Estejam aqui para conhecerem o futuro da Terceira Ordem.

Todos me olhavam de longe, olhavam atentamente, mas sequer se moviam, como se estivessem desorientados.

- Vamos � disse Galdus para mim � venha conversar comigo em uma caminhada e fique longe de Leny, ele é um espírito brincalhão, sem responsabilidades e de fácil acesso ao mal, não podemos permitir que ele fique por perto enquanto você estiver assim, confuso.

Já andando começou a me contar muita coisa e entre elas:

- Meu amigo Mamhat, esperamos alguns séculos por sua volta, muitos retornaram, a maioria já reencarnou e desencarnou diversas vezes. Tinha medo que tudo estivesse perdido. Estive contigo por longa data, mas você não me via, por nenhum momento pôde perceber minha presença, tal qual os encarnados não podem nos ver. Espero que sua memória espiritual esteja de volta em pouco tempo.

- Galdus � eu disse � não me leve a mal, mas não me lembro sequer de você e muita coisa não faz parte de mim ainda, estou confuso mesmo.

- Não se preocupe � com um sorriso no rosto e muito atencioso ele já começou a responder � a memória espiritual é a fonte do saber, o que todos os espíritos têm, a Divina Providência limita essa memória quando encarnamos e geralmente a libera aos poucos quando retornamos ao solo sagrado para evitar impactos. Muitos precisam disso e isso, hoje, é rotina. Quando você deixou a Divina Providência Tamisau não liberou a sua memória, logo, ela terá que voltar por si só, mas você é um mestre, sua espiritualidade está além da compreensão média, não vai demorar.

Ele estava certo, a cada instante flashes vinham e iam, a cada rosto que eu olhava naquele local eu tinha uma lembrança perdida. A cada passo eu podia algo mais, algo além da visão. Sentia muita coisa, coisas que sequer estavam

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ali. Minha autoconfiança vinha em cada flash. A sensação era ótima, me sentia como se estivesse jovem e forte, sentia-me gigante e poderoso. Começa a achar que minha decisão tinha sido perfeita.

- Amigo � disse Galdus � isso tudo estava lindo, quando você partiu esse lugar perdeu o brilho, novas almas vieram e estas não tinham a mesma sintonia que nós, alguns de nós se foram quando o tempo passou e você não voltava, a energia do local foi sugada pelos pobres de espírito que brigavam por ela. Hoje, sem essa energia, eles ficam caídos por aí, muitos sem consciência, sem memória e sem ânimo.

Paramos no alto de uma colina onde eu podia ver a extensão daquele lugar. Eu estava maravilhado. Eu via tudo destruído, mas já podia ver como estaria em pouco tempo, com a certeza absoluta de que eu podia transformar tudo aquilo.

Virei-me para Galdus e sem pensar disse:

- Vamos, não adianta esperar, foi esperando que esse local ficou assim, é hora de fazermos algo correto, a Divina Providência nos assiste, eu posso sentir, assim como os demônios estão nos vigiando e estes eu posso inclusive ver � em tom autoritário, como se dirigisse as palavras em recado completei � sei que pretendem algo, estes demônios estão aqui somente para analisar, mas outros já estão se reorganizando, vamos trocar a energia do local, assim eles não poderão sequer ficar por perto.

Enquanto eu dizia isso eu via dezenas de demônios atrás de pedras, arbustos secos, árvores morrendo. Alguns corriam como se fossem levar o recado, outros de medo, outros desejam fazer parte daquilo tudo e fitava o momento com sede de séculos. A expressão de alguns poderia apavorar até os mais sérios espíritos sábios, mostravam raiva, inveja e desejo, eles queriam essa energia, queriam meu lugar, queriam a mim. Mas por quê ?

- Esse lugar estava feio � argumentou Galdus � mas não assim, parece que o céu e o inferno já sabem de você.

- Não há problemas, se sabem de mim nada podem fazer, afinal, não sabem o que eu farei de agora em diante � e com um gesto com a mão trouxe a falta de visão à eles, ficando invisíveis, Galdus e eu, aos demônios � voltem ao seu mestre, aqui vocês não terão nada � e sumimos em uma névoa que passava.

Mais uma vez, deixamos demônios para trás, alguns com expressão de ódio, outros de surpresa, outros com nítida demonstração de que queriam vingança.

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IV – A Reunião

Apesar de meio confuso com tantas novidades, eu havia tomado uma decisão, eu havia escolhido ser banido do grupo de anjos, fiz uma decisão forte, saí da Divina Providência, deixei os portões e a segurança, por uma crença, por um sonho, que não sabia exatamente qual era.

Talvez a Divina Providência não tivesse conseguido apagar toda a minha memória espiritual, talvez a minha crença fosse maior que tal fato, talvez meu coração fosse totalmente fiel a este sonho que agora eu lutava para relembrar.

Eu, agora, estava no alto de um templo, todos os presentes estavam ali para me ouvir, muitos haviam esperado por décadas, talvez séculos, e queriam ouvir algo razoável.

Eu olhava a tudo e esperava a todos, alguns ainda estavam chegando, muitos com dificuldades, como se estivessem cansados ou fracos. Era pura pobreza de espírito, pois um espírito se alimenta de sua crença, não pode ficar fraco ou cansado. Ali faltava esperança, somente isso e eu sentia que podia dar muita esperança a eles.

Sim, faltava um desafio, um limite a quebrar, uma missão, um ânimo para prosperar, era isso que queriam ouvir.

Eu havia justificado à Divina Providência que minha decisão vinha de um desejo que se arrastava há muito tempo, era o meu passado que gritava por mim, era esse momento que aclamava minha presença.

Era dada a hora de recomeçar o que eu um dia havia iniciado e com a mesma expressão de certeza que eu havia imposto com a Divina Providência agora iniciava meu discurso aos ouvintes:

�Almas da Terceira Ordem, ouçam o que eu tenho para dizer a muito tempo. Eu tenho uma crença e lutarei por ela. Um dia deixei este lugar para buscar a prova que precisava e voltei porque já tenho a resposta.

Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que este lugar não é digno deste sonho, não da forma como ele está. Vocês não foram dignos de manter este paraíso, por isso acredito que muitos aqui não são dignos de permanecer nesse sonho, então, que saiam agora ou sofrerão as duras penas de meu ódio.

Fiz desse lugar minha casa e a vocês emprestei e é assim que me devolvem ? Saiam da minha casa e não voltem mais, nem para pedir perdão, pois quem perdoa é Deus, eu sou muito menos que ele e não tenho tamanha evolução para perdoar essa falta de amor. Saiam, agora.

Que fiquem somente os bravos, somente os guerreiros, somente os fortes. Meu sonho é muito grande e para ser alcançado terá que passar por grandes batalhas, não teremos tempo para os mais fracos, não teremos paciência para os inseguros, não teremos misericórdia para com os pobres de espírito.

Quando no passado ficamos isolados, sem lugar, nos chamaram, dos portões do céu ao limite do inferno, de seres da Terceira Ordem. Nos qualificaram como inferiores, como fracos, como desordenados.

Recuso-me a acreditar nisso. Disseram isso para que nós fôssemos desacreditados, mas eu sou a prova maior da vitória do sonho, eu estou aqui, vim para lutar e não fracassarei, pois se tivesse que partir para falhar, teria falhado em outro lugar, não teria me dado ao trabalho de passar por tudo o que passei para voltar e fracassar.

Sozinho nada farei, sequer poderei começar, por isso conto com os mais fortes, conto com aqueles que acreditam que podem ser mais que seres da Terceira Ordem, conto com os seres de respeito e nobres de espírito.

Aqueles que querem provar que são capazes, aqueles que querem vencer, que fiquem para lutar, que fiquem para vencer, pois este é o momento em que a história vai mudar.

O bem e o mal lutam por milênios e nós faremos a diferença.

Não podemos ser escravos de regras, não podemos esperar que o amor simplesmente venha a surgir em cada ser vivo, não podemos passar a eternidade esperando em um local perdido entre o céu e a terra.

Traremos a paz para a Terra à nossa maneira, pois o céu não foi capaz de agir com punho eficiente. Os demônios terão que procurar um local para remoerem sua inveja e desgosto.

A Terra precisa de nós, a Terra quer paz, a Terra precisa viver e nós sabemos que os homens estão próximos do seu fim.

Os homens são cegos, não vêem que o caos está instalado, não vêem que o fim está próximo e que o céu não pode ajudar.

A profecia religiosa prega, em simples palavras, que o fim virá, os mortos ressuscitarão e o Juízo Final cuidará do destino de cada um, mas saibam que na Terra há milhões de pessoas que querem ser salvas, mas não se deram conta disso, nem sabem como fazer.

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Milhões de pessoas precisam ser salvas, pois sequer perceberam que o fim não terminará com o sofrimento, mas apenas selará a eternidade.

O Juízo Final levará os bons e a Terra estará repleta de homens reencarnando em vidas humilhantes, pois serão escravos do mal e cada demônio se alimentará de um vivo desgraçado. Os bons não mais poderão voltar à Terra e continuar a evolução nesse lindo planeta.

O que faria a Divina Providência ? Levaria as boas almas para um paraíso eterno ? uma vida eterna sem vida material ? uma evolução material destinada à outro planeta ?

Nada disso me convence ! Eu amo a vida na Terra, já tive dezenas de boas vidas lá e sei que muita gente pensa como eu.

Me recuso a entregar a Terra aos demônios, me recuso a abandonar almas ao sofrimento. Sonho em um dia poder voltar a viver lá.

Que Deus é esse que deixa filhos para trás ? Deus não deveria ser o amor incondicional ? Deus não deveria aparecer e orientar seus filhos ? o que seria de uma criança se fosse deixada em uma floresta, seria um ser evoluído e sábio ou um animal selvagem ?

Foi isso que Deus fez conosco, foi isso que Deus nos tornou: animais selvagens !

Me recuso a permanecer humilhado por um demônio, me recuso a ver o mal tirar a vida de uma boa pessoa.

Eu infringi a maior regra da Divina Providência como anjo mentor. Eu interferi na história dos homens por esse ideal�.

Até nesse momento a multidão ouvia calada, mas então parecia que seria impossível continuar o discurso, todos ficaram se entreolhando, todos falavam, até os mais fracos se levantaram. Eles também não haviam percebido isso tudo. Estavam agitados pelo fim que se aproximava.

Eu parei um instante, observei tudo aquilo e notei Galdus ao meu lado, sorrindo, equilibrado e balançando a cabeça. Então disse em voz baixa em meu ouvido:

- Seja bem vindo, meu amigo, eu sabia que você voltaria e retomaria a luta. Eu sabia que nem mesmo a Divina Providência poderia apagar do seu coração o seu amor pelos irmãos da Terra. Você é um grande anjo, agora termine seu discurso.

Retomei o discurso com um grito:

- Se somos da Terceira Ordem, então agora a Terceira Ordem será majestosa, pois aqui só há vencedores ! � o povo empolgado ria e comemorava, se abraçavam, alguns choravam � De agora em diante é muito bom os demônios e os anjos terem respeito pela Terceira Ordem, pois esta é outra, agora a Terceira Ordem será formada por espíritos evoluídos e de Luz, será formada por um grupo que lutará por um sonho digno de ser alcançado � todos se abraçavam, riam, pulavam � vamos mostrar ao inferno que não temos medo e ao céu que merecemos respeito por nossos ideais.

O barulho era quase ensurdecedor.

- Eu tenho um assunto inacabado, por isso terei que partir, mas voltarei em dois dias. Eu quero esse lugar digno de nossos ideais, digno de nosso sonho, digno de nossa luta, digno de nós !!

Todos estavam tão felizes que sequer viram que me afastei. Olhei a tudo por mais um instante, me virei e saí, deixando para trás um povo com energia renovada.

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A Terceira Ordem

Parte 02

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V – A Vida que Tinha que Ser Salva

Enquanto saía da reunião com os demais presentes da Terceira Ordem, Galdus veio até mim e disse:

- Mamhat, você sabe que eu nunca lhe questiono, mas você não deve sair, aqui a segurança é fraca, mas na Terra, sozinho, sem organizar uma escolta, é tudo muito perigoso. Você não se lembra de como fazíamos ? E ainda sempre tínhamos problemas. Não vá, seu protegido está bem, fique calmo.

- Galdus, meu fiel amigo, se deixo de seguir meu sonho, se calo meu coração, tudo o que tenho de bom se vai. Sinto que preciso ir. Eu voltarei em segurança e se eu tiver temor por algo, voltarei rapidamente. Mas saiba que se eu irritar alguém e voltar, esse alguém poderá vir atrás de mim e de todos, por isso esse lugar precisa ser recuperado rapidamente. Ajude-me. Torne esse lugar seguro. Eu estarei bem.

- Você ainda não recuperou tudo o que precisa saber, pode estar em apuros e lá não poderei ser útil, não agora, você deve saber disso.

- Não se preocupe, minha memória está melhorando e minha confiança já está muito melhor. Eu não tenho nada para fazer aqui. A chama que eu poderia lançar já foi lançada, todos estão produzindo energia positiva e assim ficarão por mais algum tempo. Eu preciso ser útil à causa agora e preciso começar onde sei que é mais urgente.

- Mamhat, ele não é mais seu protegido, você sabe.

- Livre arbítrio meu amigo, livre arbítrio. Ele é um forte médium. Poderá me ouvir, saberá como agir. Precisamos dele. Foi por isso que o salvei. Interferi na história dos homens e fui banido da Divina Providência apenas para isso. Eu sei que há algo mais entre ele e eu, por isso tenho que ir.

Nós dois nos olhamos por uns segundos e apesar do temor que sentíamos sabíamos o que precisava ser feito.

Eu me virei e sem olhar para trás segui o caminho onde não tinha mais luz, segui para o portal de saída da Terceira Ordem, eu estava indo para a Terra ver meu protegido.

Ao sair, para minha surpresa, Tamisau me esperava. Ele era o ser evoluído que havia conversado comigo em meu julgamento. Ele não queria que eu tivesse partido, mas mesmo assim consentiu. Muito sério e sem perder tempo, começou:

- Mamhat, feche a porta da Terceira Ordem, lacre-a e me ouça atentamente.

- Tamisau, não me venha com tentativas infrutíferas, já escolhi meu caminho e... � ele me interrompeu mais uma vez:

- Não, não quero que mude de caminho, nem de escolha. Quando você lançou sua decisão acatei de plano, pois era exatamente o que eu esperava que fizesse meu mestre. Esperei muitos anos, décadas para que você recuperasse seu coração. Você é muito mais forte do que imagina. Estou aqui para tratar de outro assunto, apenas ouça-me.

Eu já não sabia mais no que acreditar. Mestre ? Ele havia me chamado de mestre.

- Mamhat, por séculos você tem sido alvo de muitos. Você foi manipulado por demônios e calado por anjos. Mas eu sabia que seu coração jamais perderia o brilho próprio. Você sempre esteve centrado em sua escolha maior. Você precisa ir ao Templo dos Anjos e rogar por sua plenitude, recuperar sua essência, seu passado, seu brilho. Não tenho como lhe devolver sua memória, seu passado; você terá que fazer sozinho. Não se atenha demais ao futuro, não queira prever o que poder ocorrer, nem se acautelar do porvir, se ainda nem sabe o que foi, qual batalhe escolheu para ter, nem sabe ao menos quem é. Afinal, você sempre reage estranhamento quando lhe chamo de mestre.

Ele estava certo, eu deveria buscar primeiro o meu passado, depois descobrir o que deveria fazer no futuro.

- Você está certo, meu amigo Tamisau. Como faço para chegar ao Templo dos Anjos ?

- Não há caminhos, nem porta, nem anjos para guardar os portões de entrada, não há portões, nem entrada, ele simplesmente está lá, e está esperando por você.

- Onde lá ?

- Você ficou tempo demais entre os mortais, não pense como um, não queira um mapa para encontrar o local onde somente seu coração pode lhe levar. Para chegar ao Templo dos Anjos é necessário mais que conhecer o caminho, há que se sentir um anjo merecedor, é um local muito divino e com muita energia e fica entre diversos planos.

- Tamisau, não temos tempo para enigmas.

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- Meu mestre, não é um enigma, não há como se mostrar o verdadeiro sentimento do amor, só se pode amar. Não posso lhe mostrar onde fica o Templo dos Anjos, só posso lhe fazer sentir um anjo merecedor, assim seu coração encontrará o caminho. Tal como eu há outros anjos que oram para iluminar o seu caminho, torcemos por você, mesmo contrariando os anseios da Divina Providência.

Nesse momento se aproximou o anjo que aguardava mais adiante e disse assustado:

- Chegaram, vieram antes que pudessem nos avisar ou nossos mensageiros tiveram problemas, temos que partir agora, agora.

Tamisau:

- Mamhat, ou volte para dentro, ou siga seu caminho, mas não fique aqui, adeus.

Simplesmente partiu rapidamente, fração de segundos e eu não o via mais. Porém, ouvia gritos, grunhidos, barulho de metal, por todos os lados. Eu não temia aquilo, não entendia porque Tamisau estava tão assustado, era algo pequeno, não assustava. Resolvi ficar, eu tinha que ficar, precisava saber o que estava acontecendo.

De forma muito rápida passaram por mim, quase esbarrando, quase tocando, quase pegando.

Eram demônios, de diversos tipos. Haviam os sábios, os temerosos, os doutrinadores, os seguidores, os cães de ataque e muitos outros, eram diversos, centenas, por todos os lados.

Fizeram uma interessante coreografia voando ao meu redor, com muito barulho e olhares intimidadores e então fizeram uma formação como um túnel e do fundo veio um grande espírito evoluído, com péssima aparência, forte, quase deformado e sério.

Na medida em que se aproximava, curiosamente, se transformava em uma pessoa comum, um senhor que poderia se passar um bom velhinho, mas muito saudável e que até aparentava jovialidade.

Era um espírito já conhecido por mim em meu íntimo, era Lucio Luthus, o anjo mal, que tinha o prazer de dizer que era Lúcifer, que era o demônio mor do inferno.

Ele se aproximou com uma aparência muito tranqüila, acenou com os dedos somente e sorrindo disse meigamente:

- Se não me der um abraço, te mando para o céu ! � e começou a sorrir.

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VI – O Encontro com Luthus

Estranhamente, aquilo não me parecia algo ruim e não tive dúvidas, abracei aquele que se apresentava a mim. Era o mínimo que eu poderia fazer.

- Mamhat, como você anda disputado ! Já escolheu seu preço para terminarmos logo esse leilão ?

- Lamento acabar com seus planos, mas o meu preço é alto demais para você.

- Diga-me, quem sabe não podemos negociar ?

Sim, era o Senhor das Trevas que estava diante de mim. Como sempre, o diabo se apresenta no corpo de quem mais nos agrada, no meu caso era uma aparência de um senhor sábio. Assim, ele partia logo para uma tentativa de negociação simples. Depois partiria para uma pequena ameaça, por fim faria uma imposição e tentaria tomar o que queria a força.

- Luthus, dê-me a escolha dos homens, passe-me o comando dos seus seguidores por um dia apenas e serei seu.

- Como ? � ele ria escandalosamente em tom baixo e com uma mão em meus ombros continuou � então temos um acordo ! A escolha dos homens é sua e todos estarão ao seu comando por um dia inteiro !

Claro, era apenas um blefe típico para me deixar relaxado e começar as �condições�.

- Vamos, venha comigo, vamos conversar e teremos um acordo fechado, amanhã mesmo, no nascer do sol, serão todos seus.

- Não agora, amigo Luthus, tenho assuntos inacabados, em uma semana sentaremos civilizadamente em um local terreno e fecharemos esse acordo sonhado.

- Mas o que é isso meu jovem ?! Esnoba seu amigo de séculos ?

- Luthus, você conhece minha condição e mal me lembro de quem sou, preciso de um tempo.

- Ah, como eu poderia me esquecer... sua memória ainda está nebulosa, não é ? Venha, darei um jeito nisso ! É fácil e rápido !

- Luthus, sabemos que você não pode me dar o que não me tirou.

- Você é magnífico !! � ele ria muito e todos os demônios a sua volta riam junto, sempre fazendo muito barulho e soltando grunhidos quando sabiam que podiam se exaltar � Somente o grande Mamhat teria consciência plena sem mesmo ter ciência dos fatos.

- Não, apenas não tenho o meu passado, mas o conhecimento do eterno eu possuo.

- Mamhat, você sabe ser indelicado, estou querendo refazer nossa amizade ! Basta você se lembrar do nosso passado e verá quantas travessuras nós fizemos juntos !

Apesar de muito estranho aquilo não me parecia uma inverdade, era muito simples para eu aceitar o fato de que um dia havia sido extremamente mal. Começa a acreditar que o céu e o inferno estavam sim disputando minha alma. Talvez por isso o meu julgamento foi tão infausto.

- Luthus, por nosso passado, por nossas promessas quebradas e ainda viventes, mostre sua crença, sua autoconfiança no destino que escolheu para o mundo dos homens, mostre-me como faço para chegar no Templo dos Anjos.

O silêncio pairou imediatamente. Era possível apenas ouvir o vento de uma tempestade distante e o vôo dos demônios alados.

Ele se aproximou muito de mim, quase relando a sua face na minha e disse olhando dentro dos meus olhos:

- Não há destino certo, não há nada escrito em lugar algum, nós fazemos o nosso caminho. Se vamos ganhar ou perder não sabemos, mas podemos saber de nossas escolhas. Você pode escolher me seguir e me ajudar, ou me enfrentar, a começar por agora.

Pronto, a segunda etapa havia sido alcançada, ele estava me ameaçando.

- Mamhat, se quer seu passado posso muito bem colocá-lo dentro do maldito templo, mas saiba que as informações que vai receber será o motivo final, se você mantiver a conduta da boa moral, vou destruí-lo sem piedade alguma.

- Luthus, não o temo. Estive o tempo todo aí, você nunca apareceu, nem para me fazer o mal, nem para me fazer uma barganha qualquer.

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- Cale-se seu ignorante. Não sabe o que está dizendo, não se lembra do acordo. Fala besteiras por desconhecer a si próprio.

- Faremos o seguinte, você me conta o que sabe sobre isso e decidirei depois sobre sua lealdade.

- Então Mamhat, em plena crise de amnésia, quer barganhar ?!

- Entenda como quiser, terei meu passado comigo antes do sol nascer e esse é seu momento. Decida o que fazer.

Por um instante vi seus olhos perderem o foco, ele tirou os olhos de mim, como alguém que mente ou está sem saber o que na verdade responder. Ele não partiria para a terceira etapa, ele não me atacaria. Não era dado o momento para isso.

- Mamhat, não o quero como escravo, nem poderia, você está muito além disso. Você é um mestre, você cria passagens no mundo dos homens que podem durar séculos, já fez isso, não o enganarei, pois espero que você encontre a verdade em seu coração e saiba decidir corretamente o caminho que trilhará. Por isso preste a atenção no que vou lhe dizer:

�Como sabe, as almas não são simplesmente geradas, elas são cultivadas, podem vir de uma energia que brotou em um flor, um depósito de amor que alguém lançou a ela, pode vir de uma tormenta, de uma inveja, de qualquer sentimento, essa energia evolui, encontra um meio para crescer, se apossa de um corpo, de outro, e de outro, até chegar ao corpo pensante, ao corpo que pode começar a interagir entre o campo carnal e o espiritual com um só objetivo: encontrar o equilíbrio.

A alma que tem o equilíbrio pode tudo, ou no campo material ou espiritual, ou... em ambos.

Você foi além, você pôde se manter tanto no campo material quanto no espiritual, mas com um adicional até então não alcançado, você pôde se integrar ao mal e ao bem, conheceu ambos os lugares, e saiu dos dois. E nunca perdeu o equilíbrio.

Qualquer alma que tentou ousar algo parecido se dissipou, voltou a ser energia, virou nada, ou teve que recomeçar ou se perdeu. Algumas simplesmente se perdem por outros, são sugadas. Meus demônios estão sugando almas todos os dias, especialmente as boas.

Uma alma boa se fere a toa, se revolta, se desequilibra. Basta apenas uma frustração, uma perda, uma derrota. Os demônios são mais fortes, eles não sofrem com a frustração, com a perda ou derrota, eles se fortalecem nelas. O que pode quebrar um demônio é o amor e isso eles não sentem, pois já sofreram demais para amar. Estão em harmonia com a dor e o sofrimento. Estão em equilíbrio.

Para tirar um demônio do equilíbrio precisaria de muitos séculos para isso, mas qual demônio passaria um só dia sem atentar o justo ?

Para o justo, basta que eu ordene o desencarne de sua amada e ele se revolta contra Deus, cai em desequilíbrio aí agimos sobre seu pensamento de uma forma constante e poucos dias ele é meu, é uma alma perdida, sofrida e serve de alimento para meus demônios.

Assim tem sido toda a humanidade nesse planeta chamado Terra. Até você se revoltou com uma possível perda e mesmo sendo um anjo acabou interferindo na história dos homens, apenas por rancor, pelo ódio da perda, não foi ?

Não foi um erro radical, foi apenas a minha Lei básica, uma Lei tronco, o que chamam de �carma�, é um conjunto de ações que findam em uma conseqüência, uma conseqüência natural, do mundo das almas más outra não é a questão se não o desequilíbrio da alma e suas conseqüências em reflexo.

Você quebrou todos os paradigmas, você bebeu e comeu homens justos, fez homens santos sofrerem e viveu deles por anos, décadas.

Você elevou os sofridos e barrou meus atos maléficos em muitas ocasiões, fazendo de almas perdidas homens justos.

Você dizia que a Terra somente poderia continuar a evolução com equilíbrio, sempre tentou manter o mal e o bem na mesma proporção, acreditando que isso seria o correto.

Aos poucos percebeu que não é bem assim. A criança já nasce má, egoísta e decidida. Provoque uma criança e ela lhe mostrará a língua em sinal de desunião. Tente tirar o doce dela, ela relutará e gritará. Deixe que ela decida se deve ou não dividir o alimento e verá que a outra criança passará fome por sua decisão.

O bem é inútil aos homens, eles foram feitos para mim, Deus permitiu isso e a Divina Providência mostra insanidade ao tentar inverter a situação. Pai e mãe justos já têm crianças assim, más, e passam anos tentando mostrar o bem à ela e basta uma tarde comigo... e ela é minha.

Eu tenho as drogas, a dor, o frio, a fome, tudo ao meu dispor, eu criei isso ! Eu criei esse mundo e ele é meu ! Todas as regras são minhas !

Quando o primeiro anjo veio ao meu mundo tentar aplicar a teoria do amor ao irmão, para que este se encantasse e amasse o vizinho, para nascer um bairro de amor, uma cidade e assim por diante... ele... esse anjo... foi meu jantar quando ainda era uma criança.

Esse mundo não existe para o amor, existe para minha diversão e para alimentar meus demônios.

Eu permito o amor uma vez ou outra apenas para que os homens possam ficar mais fortes, terem mais energia através da esperança e assim produzirem mais alimento aos meus escravos.

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É assim o mundo. O meu mundo. E ninguém poderá mudá-lo.

Você criou desordem no meu mundo. Eu iria aprisioná-lo em um local muito especial e me alimentaria de você por séculos, pois sua esperança duraria uma eternidade para ser consumida e enquanto você estivesse vivendo essa eternidade estaria me alimentando.

Mas quer saber ? Eu tentei trazer o equilíbrio a você. Eu o quis como um amigo, eu queria dividir esse reino com você e acabei traído.

Quando você, Mamhat, percebeu que sua insanidade estava grande demais e que já tinha seguidores aos montes e que não poderia criar um terceiro poder para disputar o planetinha, fez um acordo ridículo com a Divina Providência, eles apagariam seu passado, lhe daria um novo eu, uma moral novinha para se gabar, lhe dariam uma educação espiritual com muito amor e então você se tornaria um anjo de primeira classe, um anjo que faria parte da força maior, um anjo que se uniria ao conglomerado de almofadinhas e se diria Deus.

Mas a Divina Providência falhou, você falhou. Até os homens já sabem que �você é o que é e continuará sendo aquilo que sempre foi�. Afinal, uma alma se origina de energia, ou boa ou má e é dela que se alimentará por toda a eternidade, em equilíbrio, ou se cair em desequilíbrio voltará a ser energia dissipada, amontoada em uma plantinha ou em um animal não-pensante.

Eu criei esse mundo, Mamhat. Eu ! Eu criei ! Eu ditei as regras e sabia que vocês fracassariam e um dia eu o teria na minha frente.

Eu, Mamhat, sou Diabo por velho e não por Diabo. Sou a alma mais antiga desse mundo, a primeira energia a pousar nesse mundinho fétido. Eu criei o sistema de evolução daqui e isso nem Deus pode mudar.

Eu permiti que você partisse apenas para provar à Divina Providência que é tolice relutar contra as minhas regras em meu mundo.

Eu permiti a recriação da Terceira Ordem por você, apenas para aborrecer a Divina Providência. Você fez a Terceira Ordem e com ela trouxe esperança e energia aos perdidos. Isso foi notável ! Um simples e rápido retorno seu e a Terceira Ordem está de pé novamente. Puxa, como você é bom nisso ! E veja que também sou bom no que faço, você voltou para buscar a sua energia natural, o bem da Divina Providência não lhe convenceu, você é o que é, Mamhat.

Eu fiz esse mundo e você fez a Terceira Ordem. O que eu fiz no plano material você recriou no mundo espiritual e conseguiu juntar uma horda inteira !

Mas foi aí que você temeu e fracassou. Você temeu perder tudo aquilo, perdeu a força, perdeu o equilíbrio e se deixou levar pela Divina Providência. Prometeram-lhe uma educação invejável e uma nova moral, para poder, então, lutar contra mim. Quando Leny me contou já era tarde, você havia partido. Agora vejo que fracassou novamente.

Agora é hora da Divina Providência recolher seus podres santos e anjos e voltar aos seus outros planetas cheios de criaturinhas amestradas. Aqui na Terra eu sou Deus. As regras são minhas e ninguém poderá contra mim.

A minha proposta é simples e é a mesma de séculos atrás.

Você me ajuda a mandar a Divina Providência e Deus para o lugar deles e o planetinha será nosso. Você fará crescer a esperança nos homens justos e com eles teremos diversão e alimento para uma eternidade ! quando tivermos energia e gente o suficiente partiremos para novos planetas.

O homem já pisou literalmente na Lua e eu nem precisei incitar isso à eles, eles buscam o caminho, a energia sempre encontra um meio, a vida encontra um meio. Logo estarão no sistema solar e depois fora dele. Um dia estaremos maior que Deus e sua Divina �Porca� Providência e serão todos nossos escravos pela eternidade. É uma questão de tempo e em paciência eu sou notável !

E isso não demorará, pois o mal se expande rapidamente e, o mais importante, de forma plena e equilibrada.

Deus implorará por perdão, mas o perdão é divino... não cabe à nós !

Junte-se à mim, seja um elo, um amigo fiel e terá tudo o que quer. Deus permitiu que eu aqui criasse a Terra e agora pretende tirar de mim. Isso não acontecerá. Não permitirei. O fim está próximo, ou ficará como quero, ou acabarei com tudo.

Quer a decisão dos homens ? quer o comando por um dia ? lhe dou a decisão dos homens e o comando pela eternidade, meu amigo Mamhat�.

Aquilo foi um gigantesco banho de água fria em minh�alma. Perecia que tudo havia desmoronado, pois ele não mentia, eu era um anjo avançado demais para cair em mentiras, eu sabia que era tudo real, eu sentia aquilo tudo, pois cada palavra de seu discurso havia invadido o meu ser como um pai que recebe o filho.

Mas e Tamisau, Galdus e todos que esperavam por minha volta ? o que eu havia dito a eles de tão importante para esperarem por séculos a minha volta da Divina Providência ? Por que fui e saí da Divina Providência ? Eu não podia mais pensar claramente, o desequilíbrio era a fraqueza de qualquer ser e aquele era um momento terrível, eu estava vulnerável.

Os demônios abandonaram o silêncio, o barulho voltou, eles grunhiam, voavam, festejavam. Era nítida a minha fraqueza diante da franqueza de Luthus. Eu havia me tornado um nada.

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Olhei para ele e disse exatamente o que sentia:

- Agradeço a franqueza meu amigo Luthus, agradeço mais ainda o voto de confiança, mas está claro que você me pegou desprevenido, me pegou... pegou...

- Sim, eu o peguei, aguardei séculos e não exigirei uma resposta imediata. Vá ao seu jardim e pense um pouco. Eu confio em você e nas regras da minha criação. Você voltará à mim, como de fato já voltou ! � e ria cinicamente com a ciência do que falava.

Então era isso que Tamisau temia, ele temia a minha fraqueza.

- Luthus, tenho que ir ao encontro de meu protegido. Depois irei ao jardim � até isso ele sabia, ele já conhecia a minha próxima decisão, sim eu iria ao meu jardim preferido � aí poderei pensar e voltaremos a nos ver. Dê-me até o pôr-do-sol.

- Não se preocupe, quando você interferiu na lei dos homens eu estava lá, assim como Tamisau, nós vimos o que você fez. Tamisau chorou. Eu celebrei. Mais uma vez, claro. Aí coloquei três dos meus melhores demônios ao lado do seu protegido e o tiramos protegido com toda a segurança do local do crime. A vida dele já está salva e assim continuará sendo, até você tomar a sua decisão final. Você tem até o pôr-do-sol.

Eu já não tinha mais o que fazer ali, não tinha mais o que dizer, nem sabia mais o que perguntar, só queria silêncio, um lugar sem demônios grunhindo, queria descansar a mente perturbada. Eu estava totalmente em desequilíbrio, até sentia sono e fome. Parecia meu fim.

Eu sabia que Tomas, agora, não corria mais riscos, mas sabia que a alma dele agora estava praticamente intocável, com três demônios a guardando. Talvez nem mesmo eu poderia chegar perto dele, especialmente fraco e desequilibrado.

Não poderia retornar à Terceira Ordem, não naquele estado.

Estava derrotado. Só tinha o jardim para ir e foi justamente para lá que parti. Diferentemente das demais vezes, dessa vez parti com a cabeça baixa e os demônios não apenas olhavam, mas festejavam.

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A Terceira Ordem

Parte 03

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VII – A Fada

Puxa, como é bom estar em um lugar tão belo como neste jardim. Há brisa suave e fresca, muita sombra pelas árvores frutíferas, que atraem diversos tipos de pássaros. Um rio calmo e com água cristalina. Um maravilhoso caminho de pedras que corta todo o jardim, contornando o rio e passando por lindos lugares com muitas flores e arbustos. E bancos por todos os lugares em que houver sombra. É magnífico.

Eu vinha muito aqui, sempre que eu tinha alguns momentos de pura felicidade, eu vinha aqui. Sempre que eu tinha um tempinho para refletir, é aqui que eu estava.

Só agora é que eu me dava conta do quanto eu andei ocupado nos últimos anos. Há muito tempo não vinha aqui. O jardim estava totalmente belo, como da última vez.

Sempre que vim aqui, buscava paz interior para refletir e sentir o amor. Nunca havia me dado conta de como era solitário. Nunca tinha visto nenhum outro anjo no jardim.

Agora, sentindo-me fraco e derrotado é que pude perceber a solidão do local. Coloquei-me a chorar. Isso me assustou bastante, era minha fraqueza. Pior, era minha porção material agindo sobre mim.

Um anjo não deveria chorar, isso era praticamente um atraso, somente os apegados ao mundo material é que poderiam chorar. Parei, respirei e tentei me convencer que aquilo era uma insanidade, eu poderia em breve estar até sentindo fome. Eu tinha que manter o controle. Somente um brilho de esperança poderia me lançar às batalhas com garra.

A esperança sempre vem do objetivo, quando não se tem objetivo, não há o que esperar.

Então escolhi uma sombra, sentei-me no banco de frente para o rio, ao longe estavam alguns pássaros e deixei-me embalar na melodia dos seus cantos. Fechei os olhos e comecei a meditar, concentrando-me no objetivo maior, a fim de me recuperar, renovar minha esperança e com ela me alimentar e fortalecer.

A grande pergunta era: qual é o meu grande objetivo ?

Por deus, agora eu havia entendido. Era por isso que eu precisava me lembrar do meu passado, lá estava a resposta. O meu futuro estava separado do passado, pois nada sabia sobre aquele momento. Era um oceano separando continentes. Eu precisava ligar os dois extremos. Mas não fazia idéia de como chegar ao Templo dos Anjos.

Lembrei das palavras de Tamisau: �Não há caminhos, nem porta, nem anjos para guardar os portões de entrada, não há portões, nem entrada, ele simplesmente está lá, e está esperando por você�.

Aquilo começava a me enlouquecer, eu havia solicitado à Luthus um tempo, que era até o pôr-do-sol, faltava poucas horas. E não podia ficar ansioso, tinha que me concentrar.

Então decidi fazer o que meu coração dizia naquele momento. Decidi me concentrar e chamar por alguém, qualquer �alguém� que pudesse me ajudar e assim eu fiz e praticamente de forma instantânea pude ouvir:

- Olá! � era uma voz feminina, doce, suave, calma e equilibrada. � se me quer aqui, podemos nos falar.

- Quem é você, apareça.

Então ela surgiu na minha frente, linda, uma veste longa, branca, pele linda, olhos atentos e um charmoso cabelo loiro. Sentou ao meu lado e se pôs a falar:

- Então, Mamhat, abriu seu coração ao mundo ? Isso é ótimo ! O torna um espírito da Segunda Ordem.

- Como ?

- Sim, a Terceira Ordem é onde estão os poucos avançados, os que ainda estão apegados ao mundo material. A Primeira Ordem está reservada aos espíritos puros, os que estão ligados por afinidade à Deus. Os espíritos não tão apegados à Deus ou ao mundo material, mas que têm bondade no coração e pelo amor lutam, são de Segunda Ordem.

- Sim, eu sei, estava indagando sobre �abrir o coração�.

- Achei que era essa a parte que você já sabia !

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- Não entendi, quem é você ?

- Sou a única que pode entrar e sair em um coração. Não sou um anjo, não sou demônio. Sou uma Fada.

- Fada ?

- Sim, toda boa alma tem o direito de ter uma fada, eu sou a sua.

- Uma Fada ? No meu coração ?

- Mamhat, acorde, você é um espírito especial, elevado. Você possui séculos de experiência e sabedoria. Como pode me perguntar por coisas tão básicas ?

- Minha memória se foi, não me lembro de nada assim.

- Não, isso não é questão de memória, não precisa saber ou ter consciência, afinal, eu estou aqui a seu chamado. Como poderia me chamar sem saber de mim ou ter consciência da minha existência ?

- Eu chamei por �alguém�.

- Viu ? não é questão de memória, é de coração. Estou presente em todos os corações, mas só apareço quando sou chamada e para isso basta o amor. Você me chamou por amor, pelo amor que sente pelos homens, por seu protegido. Foi através do amor que você me chamou e no seu coração eu estou.

- Fada, você tem onisciência ? Sabe de tudo ?

- Não Mamhat, essa virtude é de Deus, dos anjos da Primeira Ordem que a ele estão ligados.

- Mas você conhece meu conflito pessoal, não é ?

- Sim, o que estiver no seu coração é de meu conhecimento, inclusive seus sofrimentos.

- E o que eu posso fazer para resolver isso tudo ?

- Mamhat, parece que você precisa de mim sim, mas não poderia entregar a você o que não tenho, não posso lhe dar uma memória fiel ao seu passado, mas posso lhe ajudar a revelar o que o seu coração guardou, talvez ajude a encontrar certos caminhos.

- O caminho para o Templo dos Anjos ?

Ela riu lindamente e em seguida começou um discurso que mudou meu ânimo:

�Mamhat, você já foi muito bom um dia, um Primeira Ordem, por muitos séculos, se tornou muito mal por extrema necessidade. Foi necessário. E agora você passa por um período de desprendimento desse mal. Um espírito somente chega à Primeira Ordem quando é verdadeiramente bom e assim foi você.

Deus é muito grato a você e aos seus sacrifícios, assim como o respeita muito, pois mostrou ser digno de confiança da Divina Providência. Quando lhe retiraram seu passado foi para lhe proteger. Para lhe proteger de si próprio. Isso, poucos da Divina Providência tiveram ciência e os que tiveram declararam voto de silêncio, ninguém pode revelar o que aconteceu a você.

Esse é dos motivos de sua insatisfação, mas saiba que não é falta de reconhecimento, é falta de momento certo. Chegará a hora que tudo será revelado e você poderá, então, entender o motivo pelo qual tantos lhe admiram.

Sim, você sabe disso, dentro do seu coração você sabe disso. E é por essa razão que se recusa a buscar a sua memória. Não se pode ter todo o passado agora, não sem pagar o preço de jogar tudo o que fez e passou fora.

Buscar seu passado é abdicar de todo o sucesso que você vem tendo. Isso não pode e não deve ocorrer.

Você se recusou a buscar o Templo dos Anjos, porque no fundo sabia disso. Agora poderá melhor fazer isso.

Todo esse jardim é o seu coração, o seu interior. Você o criou. Cada um tem um coração conforme sua crença e fé, dependendo do que você acredita e luta tem um jardim ou um deserto.

Quando você tinha uma alma mais serena, você olhava mais para o seu coração, o consultava, o visitava, refletia.

Agora, com tanta confusão e problemas, você acabou trancando o seu coração, não veio mais aqui. Mas nunca se esqueça que visitar seu coração não é perder tempo, é descobrir o caminho da solução mais rapidamente. Se conhecer e conversar com o seu coração é simplesmente estar com Deus e isso que difere o sucesso e o fracasso para cada um.

Vindo até aqui, você recuperou sua plenitude e equilíbrio. Você nunca me chamou, pois sempre foi o senhor de si mesmo, já sabia das respostas antes de perceber as perguntas.

Foi o desequilíbrio que o afastou de seu coração e foi a fé que pôde restaurar tudo isso. Foi pela fé que você me chamou e voltou a ouvir seu coração.

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Nunca perca a fé, jamais deixe de falar com o seu coração, nunca perca seu objetivo proposto�.

Sim, a fé eu não havia perdido em momento algum, o coração falava comigo novamente. Mas faltava ainda uma ponta desse triângulo.

- Fada, por favor, me ajude, qual é o meu objetivo proposto.

- Ele não está no seu passado, mas na razão do seu existir.

- Mas eu não sei !

- Mamhat, da mesma forma que você criou esse jardim, veio para ele e me chamou, o Templo dos Anjos está também assim posicionado. Lá, somente os de Primeira Ordem entram. Por isso não possui portão ou guardiões, pois só é visto por quem tem o mesmo grau de sintonia de amor. Nenhum demônio o atinge, pois sequer chega a ele e se chegar, demônio não mais será.

- Entendo, mas Tamisau disse que eu poderia ir até lá, como ?

- Mamhat, mais uma vez lhe digo, seu coração é a chave para qualquer porta. Escolha se prefere abrir o inferno ou o céu. Apenas escolha, a chave é a mesma.

Nesse momento senti que tudo o que precisa ouvir já havia sido dito. Eu, de alguma forma, já compreendia tudo, estava tudo muito claro para mim.

Era quase o pôr-do-sol.

- Fada, qual é o seu nome ?

- Agora que você sabe de mim, pode até me dar um nome. Não sou nada mais que a chama viva em seu coração, sou a representação da sua alma e crença. Se quiser, chame-me como mais lhe agradar.

Ela sabia que eu estava pronto. Passou a mão no meu rosto com muito amor, olhando nos meus olhos, se levantou e saiu andando, sem se despedir, afinal, ela não estava partindo, ela estava no meu coração.

Eu me levantei, dei uma breve olhada pelo jardim, analisando a beleza do local, querendo descobrir quão bela era minha alma, confesso que me arrepiei ao notar a infinidade do meu coração e como era linda minha alma.

Sorri, pois senti que estava mais forte que nunca e fui ao encontro do meu protegido.

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A Terceira Ordem

Parte 04

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VIII – O Encontro com Tomas

Eu estava na Terra agora, entre os homens vivos, quase no pôr-do-sol. Estava dentro da casa de Tomas, meu protegido. Assim que apareci, um Demônio de Luthus, um dos três enviados, já se colocou na minha frente.

- Mamhat, por favor, eu o respeito e já lutamos junto, lado-a-lado, não tente nada. Luthus lhe deu tempo para pensar, não para agir. Volte de onde veio, por favor, eu insisto.

- Já lutei ao lado de muitos, bons e maus, agora não venho para lutar, nem contra, nem ao seu lado. Estou aqui para fazer o meu trabalho, proteger o meu garoto, o meu protegido.

- Ele não é mais seu protegido, você o abandou. O anjo que a Divina Providência enviou nada pôde fazer contra nós. Enquanto Luthus assim determinar, ninguém chegará perto de Tomas, nem os maus, os bons ou você.

Eu simplesmente me aproximei do demônio. Eu tinha pouco tempo e, sabendo disso, sabia que não poderia ficar trocando palavras. Meu olhar era decidido, com raiva, com força, como alguém que tem ciência do seu poder.

- Demônio, você foi inteligente e de caráter ao me barrar com palavras e não com a força. Então serei tão gentil quanto e darei meu aviso também. Você sabe que eu não disponho de tempo. Você pode sair e enfrentar Luthus, ou pode ficar e me enfrentar. Mas escolha agora, pois não lhe darei tempo para decidir.

Eu deveria ser realmente bom e nada saber, pois ele simplesmente mudou sua aparência de quem dá ordens e acatou a minha determinação. Afastou-se, mostrou o caminhou e desapareceu. Esse era Paulinus, o demônio fiel que acabava de trair Luthus.

Segui o caminho em direção ao quarto do típico apartamento de solteiro. Pôster no corredor, fotos, uma ligeira bagunça ordenada e alguns livros.

Ao entrar no quarto, vi Tomas escrevendo uma carta e já fui recebido por ele:

- Mamhat, você voltou !

Os outros dois demônios apareceram de trás de uma estante de madeira e se puseram na minha frente.

- Demônios, Paulinus já tomou a decisão deles, qual será a de vocês ? � perguntei antecipadamente, para poupar tempo e já demonstrar que dava as cartas.

Os dois se entreolharam e vieram em minha direção.

Assustado eu agi instintivamente, estiquei o braço com a mão aberta e palma levantada e junto dei um grito, soltando uma grande energia direto do coração, que saiu pelas costas e correu meu braço, saindo da palma da mão como uma grande chama azul e que explodiu por todo o quarto.

Depois me dei conta que havia exagerado, precisava aprender a controlar aquela energia, afinal, a explosão tomou todo o quarteirão e diversas almas perdidas de Terceira Ordem e anjos foram arremessados para muito longe, especialmente aqueles demônios, que não mais voltaram.

Esse era eu, era o Mamhat que todos olhavam e respeitavam. Minha expressão deve ter mostrado que até eu fiquei surpreso. E mais surpreso ainda ficou Tomas, que só voltou a respirar alguns segundos depois.

Para o mundo material foi como se nada tivesse acontecido. Tudo aconteceu apenas e tão somente no universo espiritual. E Tomas, como um grande médium, pôde ver e ouvir a tudo aquilo.

- Mamhat, o que houve, para onde você foi, onde estava, por que me deixou com esses demônios ?

- Acalme-se Tomas. Tudo ficará bem. Prometo. Pegue uma água para você e sente-se. Temos alguns assuntos a tratar de caráter emergencial.

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IX – A Revelação

Tomas tomou a água, encheu o copo novamente e foi para a sala, se acomodou na poltrona e pediu para que eu contasse o que houve.

No momento em que ele estava no chão da sala de Gonzalez, quase pronto para seu desencarne, estava com os olhos fechados e tudo aconteceu tão rapidamente que meu protegido sequer teve ciência de tudo.

Para acalmá-lo, mesmo não dispondo de tempo, sentei-me também, e comecei a explicar:

�A última vez que nos vimos você estava frente a frente com Gonzalez. Ele com a arma na mão, você ao chão e eu ao seu lado.

A situação estava fora do nosso controle, eu vi o pensamento dele, ele estava pronto para puxar o gatilho. Eu não poderia fazer nada e precisa te proteger a qualquer custo.

A Divina Providência não podia esperar que eu fizesse o que fiz, pelo que não puderam colocar um mentor ao seu lado para me substituir imediatamente, lamento.

O que fiz foi simples, naquele momento senti que nada mais poderia fazer para salvar sua vida.

Quando li a mente de Gonzalez vi que seu espírito era muito fraco e de baixa freqüência, eu não poderia influenciar seus pensamentos. Naquele momento somente um mau espírito poderia ter influência real sobre ele.

A decisão dele já estava tomada, ele lhe chamou lá justamente para lhe retirar a vida. E nada eu podia fazer.

Aos anjos é dado o poder, e até dever, de influenciar por pensamento os encarnados, mas não podemos fazer deles fantoches, não podemos fazer que eles tomem decisão conforme nosso gosto, podemos orientar, mas não ordenar, há o livre arbítrio a respeitar.

Se eu pudesse atingir a freqüência de Gonzalez, por certo teria ordenado que parasse com aquilo, mesmo interferindo de forma proibida, mas eu não consegui.

Então, em um ato de desespero, materializei a minha mão dentro do seu peito e apertei o seu coração, com toda a força do ódio que me tomava no momento.

Quando fiz isso, desencadeei um infarte que findou em enfarto. Ele não desencarnou, está ainda hospitalizado e inconsciente, mas bastou para minha punição ocorrer.

Quando a minha mão ainda estava em seu peito eu regressei para o plano espiritual puro, estava na zona limite entre a matéria e a sabedoria divina. Era meu julgamento.

Deram-me opções, mas eu preferi abandonar tudo aquilo e buscar o que meu coração desejava que era, em primeiro lugar, estar ao seu lado e lhe proteger.

Tive alguns contratempos até voltar, enquanto isso esses gentis demônios lhe fizeram companhia. De certa forma foram até úteis.

Agora temos que correr, falta pouco tempo, o sol já está se pondo�.

- Mamhat, você não deveria ter feito isso, você me conhece, sabe que a minha vida é frívola e sem sentido, eu estaria melhor se tivesse desencarnado, tanto que não lutei naquele momento. Eu esperava a morte me chamar. E você não teria que ter passado por isso. Com isso, você prejudicou a nós dois.

- Não, Tomas, você não quer a morte, você não tem vida frívola. Você estava em um momento ruim, péssimo na verdade, eu bem que fiz diversos alertas, mas isso não vem ao caso. A situação é que eu tinha que lhe proteger e fiz isso. Você não quer morrer, está apenas sem uma proposta de objetivo, o que causa insatisfação e falta de esperança. Assim, a angústia corrói a alma.

- Você já me disse que não pretende reencarnar mais. Eu também não quero mais viver entre os homens.

- Tomas, precisamos de você, há uma luta imensa acontecendo e você terá total ciência dos fatos. Mas você tem que estar vivo para poder ajudar como precisamos.

- E essa luta é entre encarnados ou desencarnados ?

- Para ambos, Tomas, para ambos.

- Eu desprezo o homem, não gosto dos vivos e não lutarei por eles.

- Primeiro você lutará por sua vida, depois pela vida dos outros.

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- Não conte comigo.

- Tomas, não seja teimoso como sempre, o sentido da vida mostra que a luta é um ideal divino e os homens precisam de uma chance para mudar. A repulsa que você sente por eles é pelo ódio e o sofrimento que existe, se dermos amor à humanidade tudo será diferente e é para isso que temos que lutar.

- Mamhat, eu o respeito e admiro, não posso negar um pedido seu, mas você sabe que só posso fazer aquilo que acredito. Se você puder me fazer acreditar que a vida vale a pena certamente poderemos ter um ideal de luta em comum.

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X – A Vida Vale a Pena

Eu nunca perdi a confiança na vida e em seus ensinamentos, por isso comecei a expor meu pensamento, na esperança de que Tomas pudesse acreditar em mim e seguir meu pedido:

�Tudo bem Tomas, você está dando as cartas desse jogo e vou aceitá-las, pois esse é justamente o meio da Divina Providência: orientar e aguardar a decisão sob livre arbítrio.

Confio em você e sei que sua decisão não será diferente, pensamos iguais e é por isso que me arrisquei por você, para estarmos juntos nisso.

Não espere que eu possa lhe convencer que a vida é bela e cheia de boas surpresas, pois não é. Isso é justamente o que buscamos, uma vida sadia de ensinamentos e evolução espiritual.

Os homens não souberam usar os dons a eles atribuídos, preferiram conquistar a ter que partilhar, preteriram o amor em prol do ódio e do egoísmo, conquistaram e construíram impérios e jamais se preocuparam com a única bagagem que poderão levar no pós-vida: a alma.

Não tente interpretar a vida como ela é, mas tente ver como deveria ser.

Quem só confia na sorte tem que se contentar com o resultado dela.

A vida foi criada por Deus, foi uma dádiva criada a partir da mesma substância universal, a energia espiritual.

O homem se impressiona com os grandes feitos materiais e nunca faz uma pausa para refletir sobre as poucas coisas pequenas, invisíveis e que realmente importam. É justamente a combinação de todos os pequenos detalhes da vida que tornam grandiosa a viagem. De nada adianta um império, se este é vazio por seu líder e povo. A alma, Tomas, é que é a única coisa importante na vida, a alma.

O homem se perdeu durante a sua história, tentou criar seu pequeno mundo na utópica certeza de que controlava a sua existência. O homem nunca controlou nada. Tudo está nas mãos do universo.

E no universo tudo tem seu lado de energia, sendo positivo ou negativo, ou seja, há o bem e o mal.

O homem se dividiu em pequenos grupos, tendo cada um se submetido ao seu grau de conformismo, nada questionando a liderança desse pensamento, que se arrasta por séculos.

O homem criou seu mundinho individual na busca de poder e com esse poder passou a desejar o poder sobre seus irmãos e, como não poderia ser diferente, com o poder nas mãos passou a buscar com sede o que mais o seduz: mais poder.

O homem criou suas próprias frustrações ao buscar o poder, discordando um com outro e para evitar frustrações maiores criou a precaução da ameaça da derrota, criou o risco da morte, como se fosse possível excluir o oponente do universo, eliminado apenas a carcaça material dele.

O homem foi capaz de criar inúmeros motivos para justificar sua sede pelo poder, incluiu até o nome de Deus nessa intolerável vida e passou a matar em nome de Deus. Dezenas de religião pregam a legalidade da morte em nome das leis divinas.

O homem se desgasta em lutas de destruição, quando poderia vencer mostrando o dom da construção.

É tão tolo que sequer consegue confortavelmente ter a idéia de destruição sozinho. O homem se junta a outros para, como membro de uma mesma espécie, poder se revestir de anuência coletiva e seguir em paz com sua consciência.

Mas a consciência nunca fica limpa, a memória é que tem que ser fraca para poderem continuar, ou então ele faz da verdade uma verdade dele, controlando informações e deturpando situações.

Precisa sempre de um motivo para justificar o ódio e sempre faze isso se mostrando de vítima. O homem produz a guerra em nome do poder, usa até o nome de Deus, se faz de vítima, ganha algum apoio na sociedade cega e parte para a destruição.

Os problemas ? Oras, que Deus os resolva ! Sempre colocam nas mãos de Deus a falta de solução para os problemas que eles criam e reinventam a cada dia.

Jogar para Deus a responsabilidade do caos é a mais simples e inteligente forma de se fazer uma barreira defensiva, protegendo os ideais e atitudes impensadas.

A vaidade, Tomas, é que impera. A vaidade do homem o obriga a buscar mais poder e para isso ele mata e destrói.

Parece que o homem quer evitar a verdade diante de seus olhos, o homem tem a absurda vaidade de imaginar que na Terra ele é Deus.

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Deus, só permitiu a vida por amor, foi amando as almas que Deus permitiu que viessem para a vida. A força do amor é infinita na linha da consciência humana, que ganha sentido próprio e se transforma em sede por poder.

O homem só tem atenção para o caos e não consegue notar o amor. O único sentimento que pode notar é a traição e demais níveis do ódio. A traição é maior de todas as sensações, maior até que o amor, assim é o sentimento do homem.

Por isso que o dom do perdão é tão divino... e pouco usual ao homem.

O poder é tão vazio que ao alcançá-lo a satisfação não vem. Assim o homem parte para a próxima conquista sem satisfação, indo para outra e outra, sem jamais perceber isso.

Enquanto o amor, sublime em sua forma de ser, não exige outra conquista. O amor é a satisfação máxima. Quem ama não precisa de mais nada e sabe que tudo tem. O maior sentimento deveria ser o amor e não a traição ou ódio.

O homem, quando desencarna, descobre isso, pois aí ele percebe que seu mundo material ficou para trás, e o único poder que pode controlar algo no universo exige conhecimento e sabedoria, conseqüentemente, exige o amor, pois sem o amor universal o desencarnado nada mais é que uma alma que vaga fora dos portões do céu. É uma alma abandonada e que sofre com os ataques de demônios. É um nada, é menos que já foi na Terra.

Só se descobre o valor da vida quando se descobre pelo que vale a pena morrer. O vazio do poder nunca trará a satisfação e obviamente nunca valerá a pena, por ele, morrer, pelo que o homem morre sem ter descoberto o sentido da vida.

Quem ama dá a própria vida e a própria alegria ao amado, por ele sim vale a pena morrer. Então se descobre, aí, o sentido da vida: o amor.

Esse é o sentimento que nos faz acordar pelas manhãs com vontade de celebrar a vida e sorrir a toa pela rua. O amor é que nos leva a ajudar até quem não conhecemos. Pois isso nos dá prazer, nos sentimos bem, nos dá a satisfação.

O homem nunca se perguntou qual seria a razão pela qual veio à vida, assim passa a vida toda sem ter uma verdadeira diversão, sem descobrir algo pelo que morrer, sem amar e sem conhecer o sentido da vida. Logo, ele não se importa com a vida, tanto a própria quanto a alheia.

Sem ter ciência do sentido da vida, sente-se abandonado e culpa a Deus pelo seu medo e solidão. Se sente insatisfeito, imaginando não ter o que precisa, sem perceber que o amor está nele mesmo. Concentra-se tanto na busca pela satisfação, que não enxerga que está no caminho errado. E culpa a Deus.

O homem moderno se encontra com tantas prioridades de vida, que se esqueceu dela. A vida vai acabar sem ele ter sequer começado. O homem se concentra tanto no desejo da felicidade e liberdade que para isso ele franze a testa e se algema na conquista pelo poder, contrariando seus sonhos, como se para ter o bem, tivesse que trabalhar o ódio.

E em vício cíclico, só descobre isso depois que já deixou a vida e não pode mais mudar suas buscas e objetivos. A viagem já terminou. Ele percebe que não fez o que devia, não desfrutou do que sempre sonhou, não ajudou o amigo, não amou. O homem finda em apenas existir e não no viver. Trabalha tanto que sequer vê os filhos crescerem.

E o pior de tudo não é ter que conviver com mais essa frustração, mas saber que tudo o que se precisa ter houve a devida oportunidade, mas o poder consumia muito tempo e mesmo com a oportunidade a sua frente diversas vezes não houve tempo. Ter a oportunidade de amar e não ter amado é o pior desgosto que uma alma desencarnada pode ter ao descobrir o sentido da vida.

O amor está no coração de cada um, é a chave da porta do sucesso ou do fracasso.

E nem mesmo Deus pode ajudar um encarnado a ver isso, ele tem que fazer por si só. A vaidade humana é tamanha que não aceita a resposta de imediato, é da natureza humana recusar um pensamento de outrem, a vaidade quer saber a resposta sozinha. Mas conhecer a resposta sem antes conhecer a pergunta é algo pouco provável.

Não se pode chegar ao ouvido humano e dizer: você está no caminho errado. A vaidade recusa a informação. Para que a mensagem seja sugestiva, é preciso chegar com a força de uma revelação. É preciso fazer o encarnado se perguntar se está no caminho certo. Mas só o seu coração pode fazer isso. Pois para chegar na resposta é preciso muita honestidade e nenhuma vaidade. Tarefa que só o coração pode exercer.

O homem precisa ter a consciência de suas limitações e de sua mortalidade. A vida é frágil e curta. Só assim poderá enfrentar a verdade ao olhar para dentro de si. Esse mesmo honesto coração um dia vai parar e a vida cessará. Será dado o momento em que a alma olhará para trás e poderá descobrir se teve ou não uma vida.

Soltar um pássaro que nasceu em uma gaiola é descobrir que ele saberá voar. Mas não se sabe se sobreviverá, se estará pronto para enfrentar a vida como ela é.

Da mesma forma, não se sabe se o mundo está pronto para essa verdade e algumas cautelas são necessárias.

Não se pode simplesmente pegar cada homem e fazer com que este olhe para o seu interior. O mundo poderia sofrer em angústia mais que sofre com o ódio.

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A maior parte da humanidade já desistiu de sonhar. E os poucos que restaram dominaram com maior facilidade, pois seja bom ou mau o sonho, o que importa é ir atrás dele.

O homem precisa de esperança, antes de enfrentar a si próprio.

Mas plantar essa esperança é ter que enfrentar os dominadores do mundo, então dominados pela sedução do poder.

A luta espiritual pelo bem será a compra de uma grande batalha contra o mal. E os homens tomados pelo poder agirão brutalmente sobre os pouco iluminados.

A causa requer boas almas, desencarnadas e encarnadas, para combater o mal de todas as formas. Essa luta se iniciou, não há como voltar. Ou vencemos ou seremos derrotados.

A causa quer devolver à humanidade o sentido da vida, para que todos possam descobrir como é bela a vida que Deus nos permitiu ter, somente para evoluirmos e chegarmos ao fim, que é a unificação com os anjos de Primeira Ordem, os anjos que formam Deus.

O homem precisa descobrir que ele faz diferença e é o mal implantado no mundo que retira os sonhos de uma boa alma, afinal, somente a criança é que acredita e conversa com uma Fada.

Assim, Tomas, se você é do tipo que se recusa a acreditar que é o universo que conspira contra você, se você acredita que o mundo parou de sonhar coisas boas, se acredita que pode fazer a diferença e ainda acredita em fadas, consulte o seu coração e me diga se vem comigo ou não.

Diga-me se a vida vale a pena ou não�.

Quando terminei, olhei para Tomas e ele estava chorando, como se tivesse desencarnado e visto que sua vida tinha corrido em vão. Estava com o olhar perdido, lembrando, vendo seu passado.

- Se todos os homens pudessem ter essa oportunidade que eu tive, meu amigo Mamhat, o mundo seria outro. Mas as suas palavras não puderam me convencer na totalidade. Não digo que poderei ajudar por acreditar na vida e nos homens. Mas você é o meu Senhor e por você tudo faria. Entrego a minha vida para a sua causa. Por isso sim vale a pena morrer. Mesmo não acreditando que vamos conseguir, acredito ao menos que vale a pena. Você me deu um ideal de vida desde que nos conhecemos. Não creio nesse sentido da vida e não sei para que serve a divindade de viver. Mas tenho fé em você e basta. Por onde começamos ?

- O sol já se pôs, nós corremos riscos, os homens de Gonzalez estão atrás de você, vindo para cá nesse momento, enquanto eu também tenho meus riscos. Precisamos elaborar uma fuga urgente, depois continuaremos. Quando tivermos tempo, poderemos falar sobre a divindade de viver. Mas agora, vamos nos ater em mantê-lo vivo.

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A Terceira Ordem

Parte 05

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XI – O Início

Ainda na sala e em companhia de Tomas, Pensei seriamente em Galdus e aclamei por sua presença, como fazem os anjos para chamarem alguém, seguindo somente o desejo do meu coração e ele veio.

- Mamhat, por que me chamou aqui ? Você sabe que aqui é altamente perigoso para mim.

- Meu amigo Galdus, é ótimo saber que está aqui. Aqui não é mais perigoso que no Templo da Terceira Ordem meu amigo. Conheça meu protegido, diga um �oi�.

Galdus:

- Olá Tomas, é um prazer conhecer aquele que libertou Mamhat.

Tomas:

- Libertou ?

Mamhat:

- Depois falaremos disso. Tanto Tomas como eu precisamos de um plano emergencial. Nos complicamos muito nos últimos dias. Primeiro cuidaremos de Tomas, depois veremos a minha posição. Galdus, lembra-se de Max ?

- Sim, o poderoso da máfia. Ele tem a polícia e os traficantes do Estado todo sob suas ordens. Que tem ele ?

- Galdus, precisamos da ajuda dele. Somente ele tem poder para proteger Tomas nesse momento no mundo material. Vá com Tomas até sua casa, agora. Eu cuidarei do resto.

- Como é que você pretende fazer com que Max nos receba ? a velha Bruxa verá o poder de Tomas e poderá sentir a minha presença.

- Galdus, permaneça em freqüência superior, ela não o verá, acredite, ela é do mal e não poderá sequer sentir a sua presença, quanto a Tomas, eu cuidarei disso. Apenas vão.

Tomas era muito inteligente e rápido, enquanto ouvia já preparava sua mochila com seus pertences e algumas roupas.

Mamhat:

- Tomas, você ainda tem o dinheiro ?

- Não está tudo comigo, deixei apenas uma parte aqui.

- Ótimo, leve consigo o que tiver.

- Já está na mochila e eu estou pronto. Iremos com o meu carro.

Galdus:

- Espero que eu possa ser útil como pretende meu amigo Mamhat. Mas não demore, para mim o mundo material é altamente perigoso e eu sei que aqui não poderei durar muito. Mas entrego minha alma ao seu pedido, meu amigo. Mamhat, estamos como nos velhos tempos novamente! Boa sorte companheiro, continue sempre na missão, olhe sempre para frente e não se perca tentando recuperar perdas. Concentre-se somente no que interessa e pelo que sempre lutamos.

- Para você será apenas uma noite meu amigo, depois o resto será comigo.

Galdus saiu e suas palavras eram, para mim, como conselhos, não um adeus.

Enquanto Tomas tirava o carro da garagem, Galdus ficou olhando as estrelas, há muito tempo ele não vinha à Terra. Então ele olhou para mim, quando Tomas já conduzia o carro pela rua, lentamente, e deu um breve adeus.

Ainda assim, para mim, era como um �até logo�, não um adeus. Eu nada havia percebido. Continuei como deveria ser, planejando a guarda física de Tomas.

Da mesma forma que invoquei Galdus, agora fechava os olhos e me concentrava. Agora eu invocava o espírito perdido, o típico espírito de Terceira Ordem: Leny.

- Mamhat, por que me chama aqui ? A Terceira Ordem está virando um caos ! Não podemos ficar aqui. Temos que voltar agora.

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- Acalme-se Leny, precisamos negociar.

- Negociar ? hum... parece que sua memória anda melhorando, não é ?

- Há muitos flashes indo e vindo, mas não sei tudo o que preciso saber ainda.

- E você já tentou o Templo dos Anjos ? É lá que a força do seu passado é guardada...

- Ainda não tive tempo e tempo é o que preciso de você.

- Como assim, como poderei arrumar tempo para você ?

- Não é para mim, precisamos dar guarida a Tomas, ele corre perigo e creio que o único local seguro para ele, agora, é ao lado de Max.

- Por que se preocupa tanto com ele se é você que está prestes de ser capturado ?

- Leny, ouça-me, você não pode falhar. Preciso que vá à casa de Max, incorpore a Bruxa guia dele e envie um recado.

- Mamhat, você está louco ! Com a memória perdeu a sanidade ?

- Leny, quer ou não negociar ?

- Mamhat, eu posso fazer isso para você, mas não assim, graciosamente... e o meu preço costuma ser um pouco contrário aos seus pensamentos.

- Diga logo o que quer.

- Bem, há tempos venho acompanhando uma garotinha. Ela desencarnou, adorava o mal, brincava com invocação de espíritos e acreditava em bruxaria. Eu a amo ! Pena que morreu em um ritual. Nós brincávamos tanto com o tabuleiro.

- E o que pretende, Leny ?

- Meu amigo, você pode dar uma chance de vida a ela, pode encaminhá-la à reencarnação. Ela será minha ! Eu comandarei o seu pensamento, serei seu guia, manterei contato o tempo todo, eu a tornarei uma médium capaz, ela fará consultas às pessoas e semeará o mal ao meu modo. O preço lhe assusta, Mamhat ?

- Vindo de você, creio ser o justo, soube pedir nada alto, tampouco aceitará menos. Tempo é o que não temos para esse negócio. Mas isso, esse acordo, poderá ser remediado depois. Se ela o recusar, você abdicará e deixará que ela siga o caminho que preferir. Temos um acordo ?

- Mamhat, farei a minha parte agora e depois do meu certo sucesso voltarei aqui e você cumprirá com a sua parte.

- Não Leny, aqui não, estou voltando para a Terceira Ordem, nos veremos lá.

- Lá, Mamhat ? Sem acordos. Se você for até lá nunca voltará do inferno. Luthus está lá, ainda não sabe ?

- Eu vejo e ouço mais que você pode saber. Nos veremos lá. Agora é melhor partir. A casa de Max fica a poucas horas daqui. Tomas já está a caminho. Não temos tempo, Leny.

- Você nunca deixou de cumprir um acordo, não será na minha vez que isso vai ocorrer, certo ?

- Leny, você começa a me aborrecer, vá logo.

E nesse momento parti para a Terceira Ordem, tentando evitar o fim de um sonho. Leny partiu em seguida, para a casa de Max, para incorporar a Bruxa guia.

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XII – A Bruxa Guia

- Hã ? O quê ? Quem é ? Quem está aí ? Como pensa que pode invadir meus aposentos ?

- Calma sua bruxa burra. Eu entrei aqui e seu poder não pôde me impedir. Se eu quiser tomar o seu corpo o farei sem pedir e você não poderá fazer nada.

- Eu ordeno que saia, espírito baixo !

- Cale-se, sua tola. Não brinque com o desconhecido para você.

Leny era um espírito brincalhão, perturbador, pseudo-sábio e muito perverso. Perfeito para essa tarefa. Assim ele poderia blefar com sua pseudo-sabedoria, provocar o sentimento da velha com brincadeiras psicológicas, mover objetos para criar um bom clima de terror e até bater nela, perversamente.

Fazer o que outros não podem é talento, fazer o que o talento não faz é ser genial. Leny, apesar de sua precária evolução espiritual, era genial.

- Velha ! � ele disse enquanto mexia as cortinas e apagava as velas lentamente, uma a uma, até a escuridão tomar o quarto � Velha ! � ele continuava com tom amargo, voz baixa e grossa � Não discuta comigo, sua porca, cadela.

- O que quer de mim, seu demônio ?

Sim, ele começava a colocar a velha onde queria.

Uma vez ou outra derrubava um copo, um porta-retratos e entre uma coisa e outra, dava bons tapas no rosto da Bruxa.

- Velha, o que quero que faça é algo simples. Resista à minha vontade. Resista.

- Resistir a quê ? Não compreendo.

- Cale-se, apenas resista, agora vou tomar o seu corpo para uma tarefa muito simples, mas muito necessária.

- Não ! Não ! � nem era preciso aquele aviso, ela tentaria resistir naturalmente, mas Leny queria provocar, queria brincar com a sua presa antes do golpe final � Não seu espírito grosseiro, demônio de qualidade inferior, saia daqui, eu ordeno, eu... � e Leny batia com força nela, em lugares do corpo onde a dor era maior, batia no rim, nos seios, na garganta e no rosto, várias vezes no rosto, pois nada mais desafiador que um bom tapa no rosto.

Com voz suave, perversa e macabra, terminou dizendo, já através do corpo da velha, que ainda se debatia:

- Eu sou bom, sou o melhor, nem a Bruxa pôde resistir, nem me dar trabalho. � e saiu do quarto sorrindo com expressão de leviandade superior, totalmente incorporado no corpo velho da bruxa má.

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XIII – Luthus e Demônios

- Mamhat, que surpresa notável !

- Luthus, você não está em condições de compreender o que está ocorrendo. Retire seus demônios daqui agora e conversaremos.

- Mas o que é isso ? Que malcriado !

Eu olhava a Terceira Ordem e podia ver que enquanto estive fora os espíritos trabalharam bastante. Haviam replantado quase dois campos, haviam restaurado o rio que novamente corria, estreito, mas corria. As pedras haviam sido removidas e muito estava mudado. Até as árvores demonstravam vida.

- Luthus, seus demônios estão estragando o meu lugar. Como entrou aqui ?

- Esse não é mais seu lugar. Agora é meu ! Eu permiti que você criasse isso. Oras, Mamhat, você está parecendo uma menininha... vá logo recuperar sua memória e veja tudo que já aconteceu... não queira me irritar novamente. A partir de hoje você será meu prisioneiro predileto !

- Não sei o que você espera, tampouco o que sabe sobre, mas poderá ver e decidir depois. Mas como entrou aqui ?

Após o pequeno episódio no quarto de Tomas, eu começava a crer que o período em que fiquei ao lado da Divina Providência eu pude aumentar muito os diversos dons que me foram confiados.

Eu ainda não compreendia, mas de alguma forma eu começava a acreditar que a minha presença lá e meus atos já tinham sido todos planejados pela Divina Providência. Deus deveria querer algo de mim e eu tinha que confiar em algo, em alguma explicação. Só assim a minha esperança poderia manter a chama alta.

Em um único instante saí da presença de Luthus e pus-me no meio do campo, onde julguei ser o centro de onde todos se posicionavam.

Concentrei-me, pedi perdão a Deus se cometia algum erro naquele momento, pedi apoio à Divina Providência, chamei a Fada e pedi para orientar meu coração para que eu tivesse êxito, olhei para Luthus e pedi seu ódio emprestado. Comprimi o meu corpo e o expandi com um alto grito:

- Deeeeeeeeeeuuusssss !

Por um segundo me senti a criatura mais tola do universo, nada aconteceu.

Todos olharam para mim. Ouvi Luthus aplaudir do alto dizendo:

- A melhor apresentação de humilhação que já vi ! � e aplaudia e ria � Deus ? Deus jamais virá nesse submundo. Esse é meu lugar ! Meu !

Sim, a Divina Providência tinha um acordo. Não invadiriam a Terra, nem nenhuma dimensão que estivesse sob as formas terrenas. Mas puderam me ouvir. O céu que cobria a Terceira Ordem é o mesmo que cobria a Terra, e o céu é divino.

Os aplausos e risos de Luthus tiveram que dar um tempo. Um espetáculo começava a acontecer.

O céu se fechou em um único ponto, sobre nós. Exatamente sobre nossas cabeças as nuvens se reuniram e todo o resto do céu se abriu. Nas nuvens havia intensa energia e muitos raios começaram a cortar o céu. As estrelas brilhavam com intensidade muito além do comum. Muito vento tomava todo o lugar.

As árvores quase não podiam se manter fincadas no solo, o vento era imenso.

O céu mandava o seu recado.

A esperança em mim brotava de cada parte do meu corpo, que se iluminou com a máxima intensidade, junto com as estrelas, raios e o vento. Quanto mais aumentava o espetáculo do céu mais eu ficava iluminado.

E os espíritos da Terceira Ordem começaram a bradar:

- Deus ! Deus não se esqueceu de nós !

Alguns choravam, outros faziam pedidos, outros caíram de joelhos e olhando para o céu abriram seus braços, como se para receber toda a energia do amor de Deus.

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Os Demônios pararam de assistir a tudo e começaram a destruir o local.

Como por milagre, as árvores não mais se incendiavam. As que já queimavam se tornaram vivas. Nada era destruído. Eles olhavam para Luthus e voltam para tentar destruir algo ainda. Nada se partia. Nada se quebrava. Nada se incendiava.

O local estava tomado da mais pura energia divina, emanada pela força da esperança que se apoderou dos corações dos fracos que residiam a Terceira Ordem. A energia divina que brotava em mim começava a brotar em cada ser. Todos começaram a se iluminar.

Olhei para Luthus e disse:

- Peço novamente. Retire seus demônios agora, antes que eles se tornem meus.

Luthus, em um único gesto, fez com que todos desaparecessem, mas advertiu:

- Mamhat, entendo que você acaba de tomar esse lugar, assim como fez com muitos de meus demônios. Essa foi a pior traição de todas. Lhe espero amanhã, para uma conversa a sós, na Terra.

- Não Luthus, amanhã não, eu o chamarei para essa conversa, aguarde o momento. Agora vá.

E Luthus partiu, sem discutir. Sem sorrir ou aplaudir.

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XIV – Max e a Bruxa

A Bruxa saiu dos seus aposentos, atormentada, querendo resistir à força de Leny, que a mantinha consciente para mostrar o seu poder. Leny adorava testar a si próprio e provar a inferioridade nos demais.

Ele era um espírito de muitos séculos, tinha vasta sabedoria e experiência. Não poderia ser páreo a uma velha bruxa encarnada. Os espíritos levianos podem ser demônios quando querem, mas não são tão maus para seguir Luthus. Para Leny, isso era uma farra.

Andando pelo corredor pôde perceber que Max estava na sala de televisão, aguardando o momento do jantar. Leny conduziu a velha até Max e pôs-se a falar:

- Os seus negócios cairão por terra ! � falava em tom ameaçador e em voz alta � Nada poderá fazer para evitar.

- Dona Berta, Bruxa ? � perguntava para ver o que acontecia, se a velha acordava do aparente transe � Bruxa, acorde, vamos, reaja ao mal !

- Cale-se mortal fútil e sem preparo. Quem manda no seu destino está além de suas ordens. Sente-se e ouça a ordem que lhe trago.

- Quem é você ? como ousa ?

- Já mandei se calar, sentar e ouvir � começava a gritar em alto tom ameaçador � não vim para ouvir, vim para ordenar.

Max era um sujeito alto, forte e além do seu peso, estava sempre muito bem vestido e tinha uma cicatriz bem grande na bochecha direita. Ele praticamente caiu no sofá. Estava pálido e assustado. A Bruxa estava com ele há muitos anos. Ela via o seu destino e o orientava. Ele confia muito nela e nunca tinha passado por uma situação assim.

A Bruxa era sempre dominadora e nunca havia perdido o controle da situação. Max, então, obedeceu em sinal de respeito e medo.

Leny já havia feito isso centenas de vezes, mas não por uma causa tão nobre. Há que se concordar que ele havia cobrado um preço exageradamente alto, mas era sua primeira intromissão na vida terrena para um bem maior.

- Max, há muito em jogo, muito mais que a sua compreensão pela vida poderia entender. Então vou poupar detalhes. Chegará um jovem à sua casa nessa noite. Quero que o espere para o jantar. Seja educado e prestativo. Trate-o como um rei, pois rei ele será para você. Enquanto estiver sob seus cuidados, seus negócios irão bem. Se o colocar para fora de sua proteção, a minha eternidade servirá aos propósitos de sua desgraça. Fui claro ?

- Sim � com a voz trêmula e mãos geladas � sim, entendi e satisfarei sua vontade.

- Ótimo, não o desagrade, pois desagradará à mim.

Leny deixou o corpo da Bruxa e partiu instantaneamente, sem deixar nenhuma sobra de energia à velha, que caiu após recuperar plena consciência e seu corpo.

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XV – A Esperança na Terceira Ordem

Após a partida de Luthus, todos olhavam para o céu sem parar, a maioria nem havia percebido a ida dos demônios e de Luthus.

Aos poucos vieram até mim, que estava agora no alto da Pedra do Templo, local que usávamos para reuniões.

Nada disseram, se colocaram a ouvir.

Eu apenas disse:

�Se um dia alguém disser a vocês que Deus os esqueceu, não caiam nessa mentira. Muitos ainda tentarão quebrar o elo que há entre Deus e nós, não permitam. Hoje vocês tiveram a demonstração de que Deus nunca os esqueceu.

Vocês sim é que esqueceram Deus. Mas hoje pudemos ver que a esperança foi renovada. Deus nos visitou !

Aproveitem essa oportunidade, pois não são todos os dias que vocês enfrentam e vencem centenas de demônios e colocam Luthus para correr.

Sejam bem-vindos à morada da Terceira Ordem, o mais novo solo sagrado em nível terreno !�

Todos festejavam aquele momento e gritavam diversas frases, como �Mamhat é nosso guia�, �ele nos conduz nas trevas�, �viva Mamhat�, e muitas outras.

Sim, a esperança estava de volta, a Terceira Ordem não era mais a morada de seres incompletos e abandonados.

Surgia uma nova era entre a Terra e a Divina Providência.

Ao meu lado surgiu Leny, que tinha um sorriso que em nada se confundia com humildade e disse:

- Querido Mamhat, seu protegido tem um teto e comida, além de um servo de nome Max. Agora eu quero o que é meu.

- Leny, como foi ?

- Parece que tão bem quanto você ! Quando saí isso parecia dia de festival de destruição. Como reciclaram esse lugarzinho tão rápido ?

- Leny, hoje tivemos a presença de Deus por manifestação, foi espantoso. Todos estão com o coração iluminado, estão acreditando novamente em algo, têm esperança ! Entre no clima e renuncie ao preço. Renuncie a garota.

- Mamhat, há séculos sou o que sou, não se lembra da sua teoria ?

Nesse momento vários flashes vieram em minha mente.

�Você é o que é e continuará sendo o que sempre foi� � essa frase se repetia em minha mente sem parar.

- Mamhat, deixe de bobagem !

Leny tirou-me a concentração.

- Sim, Leny, ela será sua.

- Então faça agora !

Agora ? Eu havia pensado que eu teria que pedir isso a Tamisau. Pensei que teria uma alfadia pela frente. Depois de tantas vitórias até aquele momento, eu tinha que tentar mais isso.

- Diga o nome dela e me ajude a trazê-la aqui. Faremos isso agora.

- Aqui ? na Terceira Ordem ?

- Leny, parece que você nunca nos ouve, a Terceira Ordem agora é solo sagrado, qual o nome ? � eu estava com pressa, havia um enorme entusiasmo em mim para testar mais esse dom.

- O nome dela é Débora e que fique claro que ela é minha !

- Ela será sua, mas que fique claro que será apenas até quando ela permitir.

Fechei os olhos, coloquei as mãos nos ombros de Leny para aproveitar-me de sua mente e trazê-la até nós.

Chegou uma garotinha, suja, faminta, olhar perdido e com um coração gelado.

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- Leny, se ela tiver uma chance, ela será boa.

- Ela não terá a chance e ao reencarnar terá até o mesmo nome, para não perder nenhuma raiz !

- Não brinque assim, deixe que os pais decidam pelo nome.

- Ela é minha, eu sou o pai e a mãe, seu nome será Débora também em vida.

Fechei os olhos e semeei em seu coração a vontade de vida, assim a alma dela poderia estar livre para sair das trevas e buscar uma chance de reencarnar. A Divina Providência poderia recolhê-la e pela semente em seu coração voltaria à vida. A Divina Providência faria isso sem questionar. É assim que eles trabalham.

Mas junto semeei também uma pitada de amor, um dia, talvez, esse amor poderá brotar. Só vai depender dela.

Leny agradeceu, pegou nas mãos da garotinha e foi em sentido ao escuro, para soltá-la onde os emissários da Divina Providência poderiam encontrá-la e encaminhá-la à vida.

Eu olhei aquilo tudo e fiquei tentando me convencer que tinha sido necessário. Tentei me convencer que a semente brotaria o amor embutido algum dia e ela sairia da prisão de Leny. Afinal, Tomas era mais valioso nesse momento que uma alma já perdida. Débora levaria alguns anos terrenos para se recuperar e finalmente reencarnar, mas Leny era do mundo eterno e dominava a paciência como ninguém.

Aquela alma poderia vagar por um século ou mais, mas o amor que eu havia implantado nela poderia trazê-la à esperança divina mais cedo. Sim, talvez tivesse sido bom. Para todos nós.

Mas eu tinha que me concentrar na Terceira Ordem naquele momento. Pois voltaria à Terra em poucas horas, para ver Tomas e tirar a incumbência de Galdus.

Eu tinha muito que fazer e conversar com os presentes da Terceira Ordem.

Mas só pensava em Galdus e Tomas.

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XVI – A Chegada de Tomas na Casa de Max

A campainha na luxuosa casa de Max tocou, haviam oito empregados prontos para receberem Tomas. A Bruxa estava fraca e desfalecida em sua cama.

Max estava com sua melhor roupa, para impressionar o jovem e lhe dar uma recepção.

Um empregado ia abrir a porta e Max gritou:

- Não ! Eu farei isso !

Os empregados olharam, pois Max nunca havia feito aquilo, nem mesmo para seus amigos da máfia.

Abriu a porta com um imenso e até verdadeiro sorriso e disse:

- Seja bem vindo, se você é o rei enviado pelas forças ocultas.

Tomas achou aquilo engraçado, segurou a vontade de rir e, já compreendendo que Mamhat era o responsável por aquela recepção, já lançou a primeira ordem:

- Max, prazer meu criado, meu nome é Tomas. Vim para poucos dias, mas a eternidade será diferente após essa jornada conjunta. Quero um banho e comida. Ah, e ponha meu carro sob abrigo.

- Claro, meu rei. Se meus negócios dependem do tratamento a você, saiba que serei mais rico ainda, pois tudo lhe darei.

Tomas entrou, os empregados não sabiam nem como reagir, nunca haviam visto uma cena como aquela.

Galdus sequer hesitou, invisível a qualquer médium e a espíritos medianos, entrou na casa junto com Tomas, pois não sairia de seu lado em momento algum.

Tomas tomou um rápido banho e foi à sala de jantar, estava faminto.

Max havia usado as horas até a chegada de Tomas para incrementar o jantar daquela noite. Havia frutas, diversos pães, queijos, frutos do mar, peixe e uma diversidade de carne, salada, molhos e vinho, muito vinho de excelente qualidade.

Tomas estava onde sempre queria ter estado: em uma situação de trono real.

Foi assim que a situação toda iniciou a grande batalha contra o mal, com um banquete regado com vitórias. Se soubéssemos, teríamos curtido mais aquele momento.

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A Terceira Ordem

Parte 06

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XVII – A Batalha Estava Declarada

Os demônios de Luthus haviam sim causado um certo estrago inicial na Terceira Ordem, mas como um milagre a Divina Providência havia interferido e tomado uma decisão.

Com isso, a fé que as almas da Terceira Ordem tinham em mim havia aumentado. A crença no ser superior havia se instalado novamente em seus corações. Eles acreditavam novamente em si próprios. A esperança estava renovada.

Nada mais era preciso, eles sabiam o que fazer para reorganizarem o local e eu tinha a certeza que eles o fariam melhor que já haviam feito antes.

Estavam todos animados e eu não quis estragar o momento, mas eu precisava voltar para a Terra, precisa saber como estava Tomas. Algo me incomodava, Galdus havia deixado muito claro que ele não poderia voltar à Terra e eu não entendia isso.

Chamei os espíritos que estavam mais próximos de mim e deixei claro que eles teriam que refazer a Terceira Ordem novamente, esse exercício de reconstrução do local também reconstruía seus corações e tudo isso seria colocado em teste logo.

Cada alma teria o julgamento de sua existência em breve, precisam arrumar seus corações e seus sonhos. Só assim poderiam reconquistar a evolução espiritual novamente. Despedi-me rapidamente e segui para o portal de saída.

Um portal que não havia guardas, era como o jardim onde ficava a minha Fada e até mesmo o Templo dos Anjos, só se entrava com a afinação da mente e coração. Mas como Luthus havia entrado na Terceira Ordem ? Algo me dizia que eu saberia depois.

Saindo do solo sagrado da Terceira Ordem, deparei-me com Tamisau:

- Mamhat, corra, você precisa ajudar Galdus.

- Tamisau, por que você nunca entrou na Terceira Ordem e sempre me aguarda no portão de saída ? Como Luthus pôde entrar e você não ?

- Mamhat, não se perca tentando recuperar as perdas, siga para a Terra. A Batalha entre o bem e o mal já começou.

Um flash veio novamente, sim, essas haviam sido as palavras de Galdus antes que ele saísse com Tomas. Ele sabia de algo mais. Não pude esperar mais nada, simplesmente na velocidade do pensamento coloquei-me na Terra, estava agora na casa de Max, em busca de Tomas e Galdus.

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XVIII – A Caminho do Inferno

- Mamhat, por Deus, onde esteve ? � era Tomas, estava aflito e amedrontado � Faça algo, há demônios por todos os lados, eles estão com Galdus.

- Tomas, acalme-se, onde está Galdus ?

- Ele estava comigo, mas disse que separados ele não poderia ajudar muito, ele teria que estar com a Bruxa, disse para que eu ficasse aqui, pois os demônios não me queriam e ele saiu em direção ao quarto da Bruxa. Ela está gritando há muito tempo.

Era possível ouvir gritos mesmo, saindo aflitos de dentro do quarto que tinha largas paredes e grossa porta de madeira maciça. Ela parecia estar sofrendo. Fui até o quarto dela.

Ao chegar no quarto, os demônios pararam. Estavam com a Bruxa, seguravam seus braços e pernas, abertos sobre a cama e eles a violentaram. Usaram de pecados, exercidos à força, abusaram da pobre velha em nome �dos bons tempos� em que havia jovens bruxas.

Materialmente havia sido o mesmo que um ritual demoníaco com virgens. Os demônios saciavam sua sede corporal com a velha Bruxa, porém com a mesma sagacidade de jovens cheios de energia. Pareciam Bárbaros em pós luta nas cidades.

Fui em direção aos demônios e nenhuma palavra foi necessária. Eles me olharam com espanto.

O maior deles disse:

- Esse é Mamhat. É o Traidor amigo do covarde. Ainda veremos a sua dor, Mamhat. Vamos demônios, já tivemos nossa festa.

Simplesmente desapareceram.

Aproximei-me da velha e, comovido com a situação que tinha presenciado, não podia falar muito. Mas ela se adiantou, para meu alívio:

- Não sei quem é você, mas tem meu respeito. Muito obrigada.

Quando cheguei mais perto pude ver além do corpo físico, ela era linda, uma moça com corpo escultural, longos cabelos pretos, olhos grandes e negros. Pele macia e voz doce.

- Essa sou eu de verdade, minha alma não retém o residual de meu corpo como outros encarnados fazem. Estou além, guardo para mim a feição de quem já fui. E foi dessa imagem que se aproveitavam.

Aquilo doeu muito em mim.

- Não se preocupe comigo, os males estarão curados pela manhã, mas seu amigo pode não resistir o resto da noite com os demônios.

- Galdus, levaram Galdus ?

- Sim, os demônios invadiram a casa em busca dele, eu não sabia que ele estava aqui, pensei que estivessem atrás do Rei.

- Rei ?

- Sim, o jovem que detém a atenção de Max, o protegido de Max.

Ela estava falando de Tomas, sem dúvidas Leny havia feito um ótimo trabalho.

- Quando senti a presença dos demônios, mandei que Max se livrasse de todas as armas, pois armas e possessão é o perigo maior. Mandei que todos deixassem a casa, eu ficaria com o Rei. Eu estava resistindo, foi quando Galdus apareceu e disse para que eu parasse, eles me matariam, matariam o Rei para que o tivessem.

- Onde está Galdus ?

- Galdus se entregou em nome da paz na casa. Ele disse que a sua presença era mais perigosa que proteção. Os demônios o levaram.

Um forte frio correu em minha alma e então voltei a ver a Bruxa como uma velha novamente. Eu estava em desequilíbrio mais uma vez. Ela olhava para mim de forma meiga, aquela visão nunca mais deixaria a minha memória e toda a impressão que eu tinha dela havia mudado naquele momento. Eu saí do quarto e voltei para Tomas.

- Tomas, sabe me dizer o que houve aqui ?

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- Não, Mamhat, mas Galdus disse que teria que fazer a parte dele, retirando um perigo a mais da missão. O que ele quis dizer com isso ?

- Ele deu a sua alma para servir de alimento aos demônios, para minimizar a quantidade de inimigos, foi isso. Tomas, vá para junto da Bruxa, proteja-a agora, por esta noite, ela precisa de energia espiritual, dê um longo passe a ela, vai ser necessário.

- Para onde você vai ?

- Descobrir onde Galdus está.

- Mamhat, prometa que assim que você descobrir, você virá até mim. Não creio que poderei ficar nessa casa muito tempo mais.

- Não será necessário prometer, eu virei, acredite, tenho uma impressão não muito boa sobre isso.

Dei as costas ao meu protegido e segui para o jardim da casa. Tomas me seguiu e me assistia de longe, eu não me importei, afinal, perto de mim estaria seguro e eu não demoraria, logo ele estaria com a Bruxa novamente, para protegê-la.

Ajoelhei-me perto de uma árvore, entre a piscina e o longo gramado, olhei para a lua que indicava que a madrugada estava na metade e fechei os olhos. Pensei em Leny e o chamei.

- Salve Mamhat ! Em que posso servi-lo ?

- Leny, você sabe o que aconteceu aqui e eu preciso saber.

- Não se apegue em coisas assim, são muito perigosas para você se arriscar e...

- Leny, agora ! � o meu tom de voz não estava para ser negociado, a imposição da minha vontade estava além � não me faça perder o tempo que não tenho.

�Mamhat, Galdus foi como você e tamisau um dia. Vocês foram anjos maus, se assim não fosse não estariam aqui e a Terra não estaria tendo essa oportunidade. Nós fizemos essa escolha. Cada um pagou um preço. Eu pago até hoje e divido com os demônios algumas coisas que consigo negociar, assim eles ficam longe de mim e me dão alguma paz.

Tamisau era seu seguidor e quando vocês foram para a Luz ele tomou a decisão de seguir os passos da Divina Providência enquanto você retornou algumas outras vezes à Terra como reencarnado. Galdus sempre o acompanhou como seu protetor e com isso conquistou muitos inimigos. Vocês lutaram lado-a-lado diversas vezes em épocas que os homens sequer tinham armas poderosas e planejamento de guerra.

Vocês fizeram grande parte da história das Guerras, vocês destruíram civilizações e cidades inteiras. Luthus os amava por isso e sempre dava proteção extra a vocês. Era incrível como vocês partiam para as batalhas e voltavam sem um arranhão. Vocês ganhavam novos adeptos todos os dias, diversos homens vinham de longe para lutar ao lado dos homens-lenda.

Tamisau lhe convenceu a segui-lo para a Divina Providência. Ele apareceu para você em campo de batalha e o aconselhou a seguir o caminho divino.

Você disse a Galdus que tinha um sonho, que vinha sonhando com isso há tempos e que seu coração não podia mais viver em batalhas. Você disse que teria que seguir seu coração, pois era uma voz que soprava insistentemente todos os dias, em todas as batalhas.

Antes de partir deixou uma mensagem a Galdus, disse que tinha uma teoria e que se voltasse contaria toda a visão que havia tido.

Galdus sempre acreditou muito em você e não resistiu a isso. Você partiu para o confronto no momento em que todos recuavam, aquele seria o primeiro sabor de derrota de seus homens seguidores. Mas foi o seu grito que atraiu a multidão de volta ao combate e tiveram tamanha energia com a sua coragem suicida que venceram mais uma das batalhas.

Você desencarnou naquele dia, virou mártir e é lembrado pelos homens dessa região na Terra até hoje.

Galdus não podia seguir sua missão na Terra sem você e abandou os homens, que vieram a ser perseguidos e mortos pelos exércitos inimigos, que haviam se juntado para poderem enfrentar os homens-lenda. Houve uma tarde inteira de batalha e todos foram mortos por espadas e flechas, sem a liderança que sempre levou a técnica da guerra acima da coragem, que sempre preferiu a inteligência à força bruta.

Mais de cinco mil homens morreram somente nessa batalha final e praticamente nenhum deles pôde ver a Luz. Eram homens das sombras, que agiam por mal e pela sede de poder. Queriam enriquecer roubando e levando dos demais homens. E estavam sem um líder forte.

Reuniram-se no plano pós-vida, montaram uma horda e começaram a fazer o que gostavam, mas usando das forças das trevas, cedidas por Luthus, para semear o mal na Terra e nos homens de Deus.

Cada homem que tinha bom coração, eles chamavam de homens de Deus e atribuíram a covardia de Galdus à derrota sangrenta que tiveram. Mamhat era um mártir, Galdus se tornara o covarde e o exército, até então vencedor, passou a viver da desgraça que plantavam nos homens de Deus, para ter abrigo e alimento de Luthus.

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Galdus deixou de ser o anjo negro protetor dos homens-lenda e passou a ser motivo de vergonha. Eles não podiam compreender a razão de Galdus. Acharam que foi sua ausência que levou o grande Mamhat à morte.

Essa atual batalha serve bem a Luthus e mantém a esperança nesses espíritos, que estão ordenados por si próprios, se alimentando do mal que nasce no coração de cada homem que se rende à dor do sofrimento invocado pelo mal que eles plantam.

Galdus sabia que você tinha uma razão além da compreensão para aquele momento e esperou séculos pela sua vinda, residindo ora na Terceira Ordem, ora escondido em lugares diversos. Brigou e correu diversas vezes dos homens que um dia foram do seu exército.

Galdus foi jurado de vingança. Enquanto a memória de Mamhat foi consolidada em uma posição diferente de mártir, e o grande Mamhat passou a ser chamado de traidor, pois passou a bancar o bom samaritano, virou um anjo mentor e trabalhava sem peso na consciência, pois havia jogado a memória em um baú trancado, livrando-se do mal para ter uma serena vida eterna servindo a Divina Providência.

Eles temem a Mamhat, mas não a Galdus. Por isso você não corre perigo, mas Galdus foi levado. Galdus será servido a todos, eles sugarão sua energia e então não mais existirá, nunca mais veremos Galdus, meu amigo Mamhat�.

- Leny, por que você nada me contou ?

- Galdus não permitiu, sequer autorizou-me a chegar perto de você.

- Você disse �nós� quando contava esse passado, o que seria esse �nós� ?

- Eu era o chefe do exército, os homens me seguiam, que lutava conforme suas ordens. Quando você e Galdus partiram eu tentei suprir a ausência e liderar os homens, mas não fui capaz. Nunca me cobraram isso. Eu fiz o acordo entre eles e Luthus, para garantir uma continuidade a cada um dos bravos homens. Eu o respeitava muito e ainda respeito. Quando eu e Galdus nos encontramos conversamos bastante e Galdus me levou para a Terceira Ordem, mesmo não concordando com o que eu havia feito. Quando eu o vi trabalhando para a Divina Providência me enchi de perguntas e passei a viver entre lá e cá.

- Você não é do mal Leny, por que não chamou por mim ?

- Mamhat, você estava além de nós, estava por trás de uma camada cega da Divina Providência.

- Então por que não chamou pela Divina Providência ?

- Porque eu nunca deixei de acreditar em você, meu amigo.

- E por que, então, não ignorou Galdus e me contou tudo isso ?

- Porque eu tinha a esperança que você fosse buscar a memória e eu não precisasse trair a tantos.

- Trair a tantos ?

- Sim, trairia Galdus por ter jurado silêncio, trairia os homens, que foram do nosso exército, trocando de luta e ideal e trairia Luthus, que sempre me autorizou a ir e vir, sem nada pagar.

- Luthus ? ir e vir ? Você é um espião entre nós ?! � passei a entender como esses demônios sabiam onde estava Galdus, como Luthus havia entrado na Terceira Ordem, mas... � Leny, ao invés de trair a todos, você traiu somente a mim, não foi ?

- Não, Mamhat, tento refazer tudo agora, você pode entender a extensão da complicação em que me envolvi, colocando tantos em perigo por não ser tamanho líder. Volto a segui-lo mais uma vez, traio nesse momento o grande Luthus. E traio para salvar todos os homens que não pude liderar. Eu o traí enquanto pensava que você novamente nos deixaria. Traí Galdus para poder saber e entender tudo o que precisa. O vendo agora, tenho a certeza que todas as péssimas decisões que tomei foram acertadas. O destino nos empurrou para uma posição que exige estratégia. Você está renascendo novamente, mas do lado certo agora. E eu quero estar novamente a seu lado.

Leny, que estava andando para lá e cá, ajoelhou-se na minha frente, colocou sua mão sobre meu ombro e completou:

- Não vou jurar fidelidade para estar ao seu lado, eu já fiz isso. Você saiu, nos deixou, agora volta e meu juramento retoma o caminho de sempre. Estou com você Mamhat. Faça o que fizer, estarei ali para seguir suas ordens.

Eu não sabia o que dizer, mas sabia bem o que fazer.

- Leny, fique com Tomas algumas horas, voltarei logo, temos um líder ausente e é minha obrigação trazê-lo de volta para nós. Se você tentar me trair, preferirá ser escravo de Luthus a ter que me ver novamente. Não quero que ninguém toque em Tomas, ninguém, fui claro ?

- Mamhat, vá e volte em paz, faça o que você mais sabe fazer. Lidere mais uma vez. Temos pouco tempo.

Levantei-me, fui em direção a Tomas, que assistiu toda nossa conversa.

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- Tomas, fique com a Bruxa, proteja-a por essa noite, o perigo que ela corre é por nossa causa. Leny é um forte guerreiro e um grande negociador, o trabalho que ele fez com a Bruxa é prova disso. Você estará bem, eu voltarei logo, antes do sol nascer.

- Mamhat, você não está pensando em ir lá... ? E sozinho ?

- Vou só, isso será de grande valia, acredite em mim. Vou ao inferno agora e só voltarei com Galdus ao meu lado.

Fechei os olhos e segui meu coração, indo ao inferno, enquanto Tomas olhava o jardim e Leny levantava forças para a batalha que começa na Terra e no Inferno.

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A Terceira Ordem

Parte 07

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XIX – Fado, Fardo, Destino ou Carma

Leny se aproximou de Tomas, se olharam um instante e Tomas deu início:

- Salve Leny !

- Salve Tomas � Leny sorriu, com aquela saudação, como se reencontrasse um amigo antigo � parece que teremos uma longa noite, não é ?

- Pois é, há dias não durmo.

Nesse momento o portão da garagem se abriu e três carros entraram, eram Max e seus homens voltando.

- Meu rei, como está ?

- Eu estou bem, Max, parece que a Bruxa é que está mal, vamos entrar, vamos ver como ela está.

Todos entraram e Leny ficou no jardim, ouvindo a conversa dos guarda-costas de Max.

Max, a conselho de Tomas, não entrou no quarto da Bruxa, foi tomar um banho e depois voltou para a sua refeição, que havia deixado sem terminar, por causa dos demônios que invadiram a casa.

Tomas entrou no quarto, ninguém disse nada, a velha estava quase adormecida, fazendo preces. Tomas colocou a cabeça da Bruxa em seu colo e deu a ela um longo passe espiritual. A velha adormeceu profundamente.

Max já havia se recolhido, mais de medo da noite que de sono.

Tomas foi ao jardim, procurar por Leny, que o aguardava.

- Leny, eu ainda não entendi essa estória toda. Qual luta exatamente é esse que o bem e o mal vêm travando ultimamente ?

- Não, jovem rei � dizia em tom mais sarcástico que salutar � não é ultimamente, essa luta já existia antes do mundo se tornar a morada de Luthus.

- E será que alguém pode me dizer o que está havendo, para eu saber onde me meto ?

- Levando em consideração que Mamhat vai demorar um pouco e nós não vamos dormir, é sábio conversar um pouco, ao mesmo tempo em que é justo você saber o que ocorre, está pronto para receber mais informação que um mortal poderia entender e acreditar ?

- Se você pular alguma parte, vou surrá-lo até você reencarnar !

Tomas era jovem, por isso brincava o tempo todo. Sentou-se na escada que dava à piscina e pôs-se a ouvir as palavras de Leny:

�A estória toda levou alguns séculos para acontecer, seria necessário algumas décadas para eu lhe contar, então, não vou pular nenhuma parte, vou apenas fazer um breve comentário sobre as partes mais importantes.

Tudo o que existe no universo é feito de energia, ou algum dia foi feito de energia. Toda energia possui seu pólo positivo e negativo, está aí o equilíbrio.

Na evolução espiritual também é assim, há que se ter seus pólos para se distinguir o tamanho da evolução.

Quanto mais energia positiva ou negativa, mais desequilíbrio há na energia, porém mais pureza na alma, seja para o bem ou mal.

As almas semelhantes se encontram e se reúnem, que passam a lutar por um ideal único. É assim que anjos e demônios se agrupam, por afinidade a um objetivo em comum.

Imagine se todas as almas fossem boas, seria difícil conseguir o progresso da evolução espiritual, pois as almas não seriam testadas jamais. É como diz o ditado: a ocasião faz o ladrão.

Muitas almas boas que se diziam seguidoras de Deus foram rapidamente seduzidas pelo mal, quando em contato a ele. E vice-versa.

Isso parece uma forma obsoleta de evoluir, mas é assim que é. A energia tem a tendência de se dissipar com o tempo, como tudo na natureza. É preciso de movimento para criar novas energias, que gasta energia para esse ato e assim é a continuidade do universo.

O universo está em constante expansão, especialmente no mundo da energia espiritual.

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Cada nova energia é capaz de criar uma outra nova energia e que por si só pode se unir à outra energia criada, aumentando seu volume e pode, um dia, chegar a ser uma energia densa e capaz de ocupar um corpo vivo.

Assim nasce uma alma que pode estar em um pequeno animal e ganhar maior proporção e inteligência, passando a ocupar um corpo mais evoluído e instruído, ganhando evolução.

A última etapa da alma é a moradia no corpo humano, que tem inúmeros prazeres carnais e por eles facilmente se vende. Esse é o homem.

Todo homem tem seu fado, que é sua sorte, é o seu passado que está sendo testado. É seu coração no ponto mais puro, seja bom ou ruim. O homem vem à vida sem experiências e sabedoria, mas traz o fado no seu coração e com esse vem o seu caráter. Se o homem tiver maldade no coração, provavelmente ele será em vida um ser do mal, se vier com um fado construído no passado com base em amor, provavelmente ele será um bom e justo sujeito.

Assim, vem o fardo, que é uma pesada bagagem de responsabilidade, eivada de pontos bons, de prazer, e de maus, que são os sofrimentos. Um homem não pode criar sofrimento a alguém em busca de alcançar um prazer. Isso é pisar no fardo e no fado.

A todo homem é dado um destino, que é a seqüência de fatos que podem ou não acontecer. Todo homem quando reencarna tem um desafio pré-programado para seu teste. Quanto melhor é o homem, maior será seu teste, como ocorre em qualquer jogo. Se o homem for possuidor de um forte fado, terá em seu coração a chave para abrir os caminhos e levar o fardo ao destino. Assim ele terá cumprido com o seu destino.

Se ele falhar em nome dos prazeres temporários da Terra, ele enfrentará seu carma, que é nada mais que o resultado, o reflexo da soma de todos os seus atos.

Todo homem vem à vida com um destino certo, mas nem sempre o atinge. Sempre vem com um fado, mas nem sempre carrega seu fardo. Mas sempre, sempre, tem que enfrentar seu carma.

Porém, nem só Deus pode autorizar uma alma a reencarnar, a Luthus também é garantido esse dom.

Muitos séculos atrás, Deus teve que fazer uma escolha, quando o homem ainda não tinha avanço algum, sequer manuseava ferramentas.

Luthus e um outro demônio, que não se sabe exatamente seu nome, ocupavam um planeta. Desenvolveram juntos habilidades notáveis e estavam conduzindo esse planeta à destruição, pois o homem que busca o poder nunca tem a paz da satisfação no espírito e luta incessantemente, até destruir a si próprio.

Deus fez um acordo com esses dois demônios. Eles se separariam e cada um teria um planeta para reinar.

Eles tinham um planeta que estava próximo da destruição, pois estava atingindo o ponto máximo do desequilíbrio, o pólo negativo reinava. Ambos ficariam sem nada.

Deus deu a oportunidade de enviar boas almas a esse planeta, para gerar o equilíbrio e a perpetuação da espécie. Mas com dois demônios tudo estaria perdido em pouco tempo.

Então Deus ofereceu a um dos dois a Terra. A Terra não tinha qualquer sedução, pois era povoada de homens sem evolução e com pouca tendência ao desejo do poder. Então, como parte da oferta ofereceu também controle total, até que o próprio demônio pedisse a ajuda divina.

O outro demônio preferiu o planeta onde já estava e Luthus aceitou o pouco evoluído planeta Terra, que não teria qualquer interferência em seu solo até que pedisse ajuda.

Luthus já era antigo e muito mal e hoje é mais diabo que nunca, mas por ser velho e não por ser diabo, como ele mesmo diz, inclusive acredito que isso já virou ditado entre os homens.

Assim como os homens, Luthus quando veio à Terra recebeu seu fado e o fardo, com um destino que Deus julgou certo: um dia pedir a interferência divina.

Mas Deus subestimou a besta, subjugou a mente negra e perversa do sábio demônio. Luthus jamais pediu a interferência divina.

O próprio Luthus criou alguns povos de bom coração, dando a eles tudo o que precisavam e algumas vezes tirava tudo desses homens com fortes chuvas ou fogo. Assim eles teriam respeito e medo. Com isso esses homens passaram a ter desejo de posse sobre o que tinham, pois sentiam a perda quando Luthus envia seus demônios à Terra para invocar o sofrimento.

Dessa forma, Luthus pôde manter o equilíbrio da esperança e da dor, mantendo seus exércitos de demônios alimentados com a esperança do homem em busca de poder e posses.

Assim estava feita a evolução no planeta onde Deus havia se comprometido em não reinar até que fosse chamado.

O destino foi quebrado e uma nova lei impera por séculos, com grandes desgraças ao homem comum.

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Porém, o carma é mais forte e este sempre vem. Assim como o homem o tem, Luthus agora sofre seu carma.

Luthus permitiu que grandes almas evoluíssem, como Mamhat evoluiu. Mas Mamhat traiu seu fado e fardo, que eram maus e escolheu o caminho do bem, trocando seu destino. Essa evolução durou séculos também e fugiu do controle de Luthus.

Como Mamhat, outros demônios se tornaram anjos.

Esses anjos não puderam chegar até Deus, estavam comprometidos em solo das trevas, eram de Luthus e Deus não poderia interferir.

Grandes almas, quando juntas, formam o todo poderoso, sim, Deus é a união da sabedoria do bem máximo, por isso pode estar em tantos lugares ao mesmo tempo, Deus é milhares e milhares de boas almas lutando por um só destino e por isso é muito maior que Luthus, mas Deus não pode interferir no plano terreno, esse foi o trato.

Anjos bons que reinaram na Terra foram banidos e não mais puderam voltar, mas também não podiam se unir à Deus, então formaram a Divina Providência, que é um degrau entre o bem espiritual e a plena divindade maior.

A Divina Providência é formada por anjos que estariam fora do controle de Deus e somente os grandes anjos é que encontraram o caminho entre a Divina Providência e Deus. Esses são os anjos de Primeira Ordem e que não mais poderão voltar à Terra, pois uma vez Deus, não podem mais interferir na história humana.

Luthus agora brinca de ser Deus. As primeiras notícias de que homem está fazendo bebês por meio artificial já rondam o planeta. O homem já pisou na Lua, há pouco tempo atrás.

Isso interfere em tudo, pois Luthus sabe que o homem ganhou proporção que poderá destruir o planeta em uma próxima guerra mundial e ele mesmo evita tal situação. O próprio príncipe das trevas não quer outra guerra. Mas é seu carma.

Luthus quer algo maior. Luthus quer chegar ao ponto de ser mais que Deus.

Luthus quer conseguir copiar o homem, feito pelo próprio homem, com alterações em seus genes, para tirar-lhe a boa moral e deixá-lo inteiramente mau. Com isso fará robôs e homens-robô, enviará ao espaço para colonizar novos planetas à sua forma.

Ao contrário da história bíblica, não mais haverá homens à imagem de Deus, mas sim homens à imagem de Lúcifer, que é o nome a ele atribuído pelos homens.

Deus interferiu, de certa forma, na história dos homens em algumas vezes, como ocorreu em Sodoma e Gomorra, que até hoje historiadores não sabem exatamente relatar o que lá ocorreu, alguns dizem que foi obra de extra-terrestres.

Talvez foi mesmo, só assim haveria alguma interferência, sem o dedo direto de Deus.

Porém, o mais importante é que Deus não permitirá a saído do homem do planeta Terra. Não se este estiver ainda sob os desejos de Luthus.

Muitos foguetes que ainda serão lançados simplesmente explodirão. Mas Deus não poderá evitar isso, pois não poderá interferir, terá que contar, digamos, com algumas falhas das equipes. Há homens que compreendem isso e continuarão a fazer seus trabalhos nesse sentido. Na Terra ainda há anjos encarnados, sob o comando da Divina Providência, só assim o controle pode ser mantido. É um controle indireto de Deus.

Todavia, o carma de Luthus parece que foi maior que o destino a ele programado.

Os demônios de Luthus estão em maior número e aumentarão nos próximos anos. Serão centenas de demônios para cada homem de bom coração. Estaremos todos sob o império do mal e nada poderemos fazer.

Mas Luthus não pedirá a interferência divina, ele, mais que qualquer homem, tem o total desejo pelo poder.

Está programada uma grande guerra para um futuro próximo e é praticamente inevitável.

Mas Luthus já providenciou que alguns homens possam ter devidas cautelas e já há lugares de proteção, para uma eventual guerra mundial, sendo construídos, chamam esses lugares de abrigos nucleares.

A verdade é uma só: o carma foi maior que o destino e a destruição do planeta é quase que inevitável.

Mamhat traiu Luthus, ignorou seu fado e fardo. Torcemos, agora, pela nossa própria existência. Que Mamhat saiba exatamente como fazer o seu, e o nosso, destino. Só assim teremos uma chance.

Trocar o carma de Luthus, então, é trocar nosso próprio carma. É garantir nossa vida e perpetuação.

É por isso que lutamos, Tomas, lutamos em nome de Deus, em um solo que ele não pode interferir. Lutamos para salvar os homens, filhos de Deus. Lutamos por nós mesmos�.

Depois de uma breve pausa no término das palavras de Leny, disse Tomas:

- Leny, você acha que vamos conseguir ?

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- Não sei Tomas. Mamhat já deveria ter ido em busca de sua memória, mas parece que ele teme por algo, ou acredita demais em algo ainda maior. Mas uma coisa é certa, se ele falhar, estaremos todos fadados ao destino e carma de Luthus: a destruição ou domínio total do mal.

Os dois se calaram.

Tomas olhava a água da piscina que balançava levemente. Leny contemplava as estrelas, que vistas da Terra tinham um brilho mais belo que quando vistas da Terceira Ordem.

Enquanto eu já estava no inferno.

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A Terceira Ordem

Parte 08

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XX – Inferno em Primeiro Nível

Eu estava andando lentamente, era um lugar frio, transmitia uma aparência úmida e tinha sinal material em tudo. O mundo materialista era tão forte que se podia sentir a freqüência baixa de mentes perdidas.

Tudo era tão material naquele universo que facilmente se entendia a pouca evolução daqueles que lá ficavam. Lá só haviam os seres extremamente apegados ao mundo material. Sentiam fome, frio, medo, solidão, abandono e até sentiam seus cabelos crescerem.

Por um instante me apeguei à energia daquele local, como se explorasse a novidade. Fui capaz de sentir o cheiro do local. Cheirava à pântano com carne morta. Era um grande cemitério sombrio. A aparência e o cheiro úmido transformavam o local, que já era horrível, em algo de absoluta tristeza.

A cada passo que dava naquele pântano, desviando de pontos mais profundos que fazia a água chegar à linha da cintura, mais eu podia sentir a energia pesada e a sua origem.

Ali milhares de almas já haviam sido escoadas. Após longo período de escravidão cada espírito que era sacrificado tinha sua energia consumida pelos demônios. Essa era a forma pela qual os demônios punham um fim à alma perdida.

A energia tirada dessas pobres almas servia de alimento aos demônios, que por sua vez aplicavam toda a sua vontade em nome do mal. Bem alimentados e fortes os demônios podiam aplicar cada vez mais o mal e desse mal mais almas ruins surgiam pelas raias das trevas através dos corações dos homens sofridos.

Assim era a cartilha de Lucio Luthus, que acreditava que qualquer homem de bom coração seria capaz de ignorar o bem divino para se entregar ao mal, após breve período de pura desgraça.

O homem traído é capaz de matar e fazer muitos sofrerem, trocando sua boa moral, em minutos, ou segundos, por atos de extremo ódio e a este, depois, se entregar por prazo indeterminado. O homem sofrido é capaz de trair. Esse ciclo se repete desde que Luthus veio a esse planeta e agora eu via uma parte horrenda desse ciclo, em que a energia negra minguava no lodo fétido daquele nível do inferno.

Eu estava em um ponto que seria, para o inferno, o que a Divina Providência estaria para o céu divino de Deus. Era um nível do inferno, um ponto onde Luthus não aparecia para dar ordens. Nesse local ficavam os demônios pouco esclarecidos e lá podiam sentir o poder em seu melhor estado, pois o local dava margem à ilusão de que podiam controlar a situação.

Esse era o objetivo de Luthus, dar um local aparentemente independente e com certa significação de importância aos demônios, para que eles pudessem crer que eram importantes e podiam mandar e dominar ali. Fazia que era um portal do inferno, onde seus homens de confiança guardavam a entrada do reino do príncipe das trevas.

Mas pouca sapiência era exigida para entender que aquilo tudo estava em outro nível, outra freqüência e de longe estaria ou seria um portal do inferno.

Aquele local era onde ficavam os demônios que não tinham evolução suficiente para entenderem os desejos de Luthus. Aqueles que não poderiam aplicar o mal em sua essência maior, ficavam por ali e esparramavam o ódio a esmo, se alimentando das almas sofridas e criando novos sofrimentos aos homens. Um ciclo.

Tudo era apenas uma forma de Luthus continuar o ciclo, onde exigia demônios sábios para arquitetar planos com altos retornos a longo prazo e demônios pouco esclarecidos, para manter a desordem no cotidiano dos homens.

Luthus não poderia estar presente em cada coração humano, para plantar cada semente do rancor, isso os demônios perdidos faziam, assim Luthus podia se dedicar às causas maiores, controlando não o homem individual, mas a raça humana coletivamente.

Essa era a hierarquia do inferno e neste submundo das trevas eu estava prestes a entrar. Fiz questão de olhar tudo a minha volta, pois não sabia se lá um dia voltaria e queria ter uma opinião certa sobre aquilo que via.

Eu já estava próximo da entrada, que não possuía guardião, nem portão. Era apenas como uma cortina de água, como se eu olhasse para um lago por cima. Era um limitador da visão, que separava aquele nível do resto, tudo para aumentar a sensação de local dominado, cercado.

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Se Tomas estivesse comigo ele diria que seria uma implicação de intenção de consciência, uma indução quase subliminar. Galdus diria que seria falsas paredes para aprisionar pseudos presos, em falsas sentenças, em uma jaula sem grades.

Ambos estariam certos. Luthus lançava uma falsa idéia de proteção, com um falso portão, induzindo os demônios dali ao entendimento de que podiam controlar a tudo, assim acreditavam inconscientemente pelo teatro produzido que eram importantes, mas eram prisioneiros de uma falsa esperança e um falso poder. Estavam condenados por si próprios injustamente e não podiam ver a realidade.

Minha mão quase atravessou a cortina que se parecia água, olhei para trás e tive a certeza que eu tinha que entrar, pois meu amigo Galdus em breve estaria naquele pântano, somente em forma de resto da energia que dele pudesse ali decantar. As sobras de sua energia milenar. Eu não permitiria aquilo.

Minha mão atravessou a cortina líquida e entrei totalmente naquele ambiente. Tive que caminhar para sair da espessa largura limitadora. Era fria que gelava a alma. Podia-se ouvir o som de almas sofridas reclamando baixo do sofrimento que viviam, como o som agudo que se propaga na água por milhas.

Ao sair daquela faixa sombria pude ver um longo caminho, com uma larga trincheira tortuosa entre espinhos e pequenos pântanos. O solo tinha a marca de lutas e em alguns pontos podia-se ver a silhueta de gente que ali morreu. Aquilo tudo sequer existia, era uma representação imaginária de um passado que aqueles demônios viveram. Tudo ardilosamente construído para manter cada um deles preso em um mundo inócuo.

Segui em frente, mais rápido dessa vez, queria acabar logo com aquilo. Aquele lugar começava a mexer comigo.

Mais à frente pude ver um terreno plano com uma grande construção, era um castelo antigo. A ponte que ligava o castelo e o caminho que eu percorria estava baixada e, mais uma vez, sem guardas.

Afinal, ninguém entraria naquele local se ali não pudesse ver a sua própria morada. Tudo aquilo era uma questão mental, meramente psicológica. Escolher ficar ali era se entregar à solidão e só faz isso quem sofreu além do limite e, por esta perda de coragem, passou a não mais se importar com seu próprio destino.

Diminuí a marcha novamente, queria pensar sobre tudo aquilo, refletir, tirar conclusões. Muitos flashes continuavam a ir e vir e eu queria forçar a lembrança que tudo aquilo provocava em meu coração. Encostei em uma parede mais alta e ereta da trincheira e lá fiquei um tempo, pensando. Parecia que eu conhecia aquela paisagem.

Aquele castelo era a morada dos homens que sofreram e que passaram a ver no sofrimento alheio a única forma de contentamento, como se pudessem diminuir a própria dor em prol do afogamento da satisfação de outrem.

Eu estava no primeiro nível do inferno, eu estava em solo Anralaar, o solo prometido ao sofrimento.

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XXI – O Solo de Anralaar

Próximo do portão do castelo já se podia ouvir risos de demônios e gemidos de sofredores. Aquilo fez com que eu sentisse um enorme arrepio correndo pelas costas e braços.

Um demônio viu minha chegada e correu para dentro do castelo. Aquela forma de correr eu já conhecia. Quando escolhi pelo banimento da Divina Providência e fui deixado em um lugar escuro, estes mesmos demônios lá estavam. Eles eram aquelas criaturas que aguardavam a energia divina se dissipar para chegarem perto.

Eles ainda estavam nas margens da divisa da Terceira Ordem, quando lá cheguei.

Só podiam ser os demônios mensageiros, os demônios que procuravam por almas perdidas que pudessem saciar a sede dos demônios lutadores. Essas mesmas almas perdidas alimentavam os demônios ocupantes de Anralaar. O seu propósito era apenas guiar os demônios maiores ao alimento e esperar as sobras.

O silêncio se instalou naquela hora e muitos olhos começaram a surgir de dentro da neblina que começava a aparecer na medida em que eu me aproximava.

Entrei no castelo e reparei que na lateral da entrada haviam alguns escritos em língua desconhecida por mim. Era um corredor longo e também frio como a cortina da entrada. Podia-se ouvir pingos de água caindo e ecoando túnel a dentro, que tinha uma claridade no final e era para onde eu me dirigia.

Estranhamente, como em mágica, quando saí do túnel o interior daquele castelo era imenso, gigantescamente maior e desproporcional ao seu tamanho visto de fora. Isso mostrava que tudo não passava de um mero cenário imaginário, era sim uma prisão falsa.

Haviam várias galerias no alto das laterais que somavam mais de quinze andares e tinham torres nos cantos e no centro de cada lateral. Cada andar possuía sua divisão, como celas para os moradores aprisionados pelos demônios. Uma verdadeira escrita bíblica do inferno, com muito fogo por todo o lugar, com correntes e chicotes batendo.

Eu sabia que a intimidação teria que valer, pois eu tinha que inverter a surpresa, afinal, nenhum demônio veio ao meu encontro, por óbvio queriam uma aparição passível de uma grande entrada, uma aparição do tipo triunfal. Eu tinha que reverter isso.

Parei, olhei o local e coloquei-me a sorrir, alto e de forma agradável. Isso faria surtir o efeito desejado. As almas presas poderiam perceber que algo diferente estava acontecendo.

Foi exatamente o que aconteceu, as almas presas começaram a se levantar e colocar suas cabeças para fora das celas, curiosas para ver o que acontecia e de onde vinha um sorriso majestoso, sorriso que há muito tempo não ouviam, pois os demônios somente riam sarcasticamente.

Assim, ao ver que poderiam perder o controle, começaram a aparecer, eu os via como uma fraca fumaça. Quanto mais demônios apareciam, maior ficava o local, como se o castelo tivesse que ter o tamanho adequado, para que os demônios nunca se sentissem pequenos na ausência de muitos, nem sufocados e diminuídos quando todos se reunissem.

Milhares de demônios apareceram e se colocaram na minha frente, formando um círculo ao meu redor e depois começaram a aparecer nas diversas galerias e divisões de cada andar do castelo.

Cada um começou, então, a tomar sua forma corporal, deixando de ser um fantasma e passando a ser um espírito com corpo. Eram fortes e estavam meio desfigurados. As cicatrizes adquiridas em combates ainda sangravam, alguns nem tinham algumas partes do corpo, que provavelmente perderam em lutas quando ainda estavam encarnados.

Todos estavam trajados para combate, como quando faleceram.

As vestes eram distribuídas por épocas históricas, que vinham desde os Hoplitas do século IV antes de Cristo até soldados do século XVIII, D.C.

Um deles deu alguns passos à frente, em minha direção e iniciou:

- Mamhat, o traidor ! A traição finalmente encontrou o seu lugar. Bem vindo à terra de Anralaar, a terra do sofrimento, o local justo para você, seu traidor.

- Venho sozinho, em paz e sem desejo de fazer o mal.

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- Ah, não me diga ! E Mamhat poderia fazer mal a alguém ? Aquele que traiu seus homens e os deixou à sorte do sofrimento ? Poderia você fazer ainda algum mal ? Mais do que já nos fez ?

- Nunca abandonei ninguém, por isso mesmo que aqui estou.

- Então você pretende buscar seu amiguinho Galdus ? Sozinho ? Em solo que comandamos com nossas regras ?

Pronto, eu tinha mais uma certeza. Eles tinham a ilusão de que controlavam o lugar. Vários flashes do passado vinham em minha mente. Batalhas sangrentas, vitórias, roubos, saques, navios, mulheres e crianças. Celebrações, várias celebrações e bebidas, tudo de uma só vez, em menos de um segundo, passava por minha memória. Meu coração me alertava do passado.

Eu olhava para cada homem e tinha a estranha sensação de que cada rosto me trazia uma lembrança, como se eu já tivesse conhecido cada um deles. Decidi jogar com a minha sorte, juntando o quebra-cabeça dos flashes do passado e as poucas informações que eu tinha e respondi:

- Houve um tempo que eu dava uma ordem e muitos não entendiam, mas cumpriam. Muitas ordens nenhum chegou a entender. Mas em todas as vezes vencemos e pudemos celebrar depois. Questionar meus atos e decisões nunca foi uma estratégia dos meus exércitos. Cumprir minhas ordens sempre foi ter o êxito maior no fim. Cada um é o que é, morreu sendo o que foi e por mais que tente evitar, acabará no fim sendo o que sempre foi, seja encarnado ou não.

- Não tente nos enganar, Mamhat, você nos abandonou, nós pudemos vê-lo diversas vezes ao lado da Divina Providência.

- Não importa o que fiz ou que fizemos, em longa data ou em passado remoto. O que importa é o objetivo maior. Muitas vezes mandamos pequenos exércitos à morte para completar a estratégia do ataque e vencer no fim. Nunca puderam aprender isso ?

- Mamhat, mostre sua face real para que possamos lhe aplicar o sofrimento merecido.

- A minha face não mudou nada, é você que mudou a forma de me ver, ou vocês.

- Você não nos enganará.

- Não quero enganar ninguém. Nunca chamei ou busquei por nenhum de vocês, vocês é que vinham ao meu encontro para lutar ao meu lado. Estou aqui porque não abandonei ninguém. Estou aqui para livrar cada um de vocês deste sofrimento eterno e poder colocá-los em ponto de celebração novamente.

- Faremos um teste � virou-se para os demônios atrás dele e deu a ordem � tragam Galdus até mim !

Ficamos nos olhando em silêncio e no alto de uma das torres laterais alguns demônios deram licença para uma pequena caravana que trazia Galdus. Ele estava meio que em transe, surrado, mordido e totalmente fraco. Esses demônios fizeram como vampiros fazem nas estórias de terror, morderam seu corpo para chupar sua energia, enfraquecendo o nobre Galdus e deixando-lhe marcas.

Ficamos assistindo a condução que veio do alto da torre até o solo em que pisávamos. Galdus foi colocado do outro lado do pátio do castelo, entre três grandes fogueiras que formavam um triângulo e que tinham fogo ora verde, ora vermelho.

Os demônios abriram um corredor, ligando a minha visão a Galdus, dividindo-se em dois grandes grupos. Centenas de demônios assistiam a tudo do alto e então o grande demônio voltou a narrar as regras do teste que propunha:

- Que o teste comece, Mamhat, o traidor, terá que provar sua lealdade aos homens que um dia formaram seus exércitos. Como ele mesmo afirmou, exércitos foram sacrificados para um bem maior e hoje ele ordenará a morte da alma de Galdus, para salvar sua honra e retomar a lealdade de seus homens. É um sacrifício pequeno, de uma só alma, para retomar um exército único de milhares de almas guerreiras que atravessaram os séculos aguardando este momento. Mamhat, jure sua lealdade para mim, o general de seu exército que mais teve vitórias, jure para Ankarllan agora e retome a liderança suprema.

Neste momento os demônios começaram a bradar e bater espadas em escudos e lanças no solo. Foi também neste momento que vi Paulinus, um dos três demônios que guardaram Tomas por ordem de Luthus em minha ausência para garantir que eu não me aproximaria dele e que preferiu não lutar comigo.

Olhei para Paulinus, depois para Ankarllan, e respondi:

- Isso mostra duas coisas. A primeira delas é que vocês perderam o respeito pelas minhas ordens e a segunda é que não entendem o que está em jogo.

Paulinus:

- Talvez seja porque você ainda não tenha dado nenhuma ordem, ou seus homens não querem mais lhe obedecer.

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Então, para tirar essa dúvida de Paulinus, respondi ordenando:

- Libertem Galdus, tragam-no até mim e aguardem meu retorno que será breve, pois liderarei cada um de vocês para uma vitória bem maior que qualquer outra, de uma batalha que se iniciou e vocês ainda não conhecem. Retornei para retomar minha posição e preciso da lealdade dos meus exércitos.

Nenhum dos demônios se mexeu, permaneceram intactos, estavam todos solidários às ordens de Ankarllan, afinal, séculos estiveram assim.

Um segundo depois, alguns demônios mensageiros começaram a correr e a fazer barulhos, um deles veio até Ankarllan e disse:

- Mestre, veja, outros se aproximam.

Ankarllan podia ver através dos olhos dos demônios mensageiros. Aquilo foi uma luz para mim, afinal, ao menos ele demonstrava que teve alguma evolução no mundo espiritual, dominando a energia universal, não tendo restado totalmente apegado aos atos comuns da matéria. Foi ali que vi que teríamos alguma boa chance.

Os demônios mensageiros correram para o alto e Ankarllan voltou a abrir os olhos. Não precisou dizer mais nada. O que estava acontecendo já estava no raio de visão de todos os outros.

Centenas de almas com certa Luz vinham pelo corredor de entrada do castelo, eram os espíritos da Terceira Ordem que vieram sob o chamado de Leny, que apareceu sendo um dos primeiros daquele novo exército que aparecia.

Leny trazia um sorriso travesso, de vitória, de amizade, um sorriso de quem sabia que havia feito algo grandioso e correto. Havia acertado em algo e estava feliz por isso.

Percebi que uma das coisas certas é que o sucesso é nada mais que o acerto preciso, após diversos fracassos sucessivos. Até o insucesso cede ao sucesso, quando há vontade firme no propósito desejado.

Cada um dos espíritos trazia consigo também um sorriso na face e armas de metal nas mãos. Alguns estavam trajados para a batalha, outros vinham apenas como seu resíduo terrestre, com roupas comuns à sua época e nenhuma arma, exceto a coragem e a esperança no coração.

Os presos nas celas começavam a acreditar no milagre que assistiam, a esperança começou a brotar. A energia do local se modificou.

Ankarllan disse:

- Como sempre, usando boas e novas táticas de guerrilha, não é Mamhat ? Primeiro sorri e ganha atenção dos meus presos. Agora isso ? Tal qual nos velhos tempos. Basta saber se ainda é um guerreiro também como outrora foi. Pegue uma arma, você não sairá daqui nunca mais, exceto se provar se o seu novo exército é páreo para o nosso combate.

A Terceira Ordem estava em solo de Anralaar.

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XXII – A Terceira Ordem em Anralaar

Os demônios de Anralaar estavam inquietos, estavam desconfiados e sentiam que algo estava fora de controle.

Virei-me para Leny e disse em voz muito baixa:

- O que está fazendo aqui, está louco ?

- Louco foi você que veio aqui sozinho, por que demora tanto aqui ?

- Mas eu acabei de chegar, Leny.

- Como ? Você saiu há três dias, Tomas e eu estávamos preocupados. Os homens de Gonzalez estão chegando cada vez mais perto. Estão indo à casa de Max, querem saber se Max sabe de algo. Eu tive que vir.

- Tudo bem, teremos que fazer algo e rápido, agora não há como voltar à trás, vamos terminar isso logo.

Ankarllan ergueu sua enorme espada e exibiu-a, todos os demais fizeram o mesmo com suas armas. Agora eu entendia a razão pela qual eu tanto gostava das espadas que Gonzalez tinha na parede de sua sala de negócios.

Todos os demônios começaram a gritar, como sempre faziam antes de um combate e Ankarllan gritou:

- Se Mamhat acredita que pode vencer com almas perdidas um exército de soldados treinados, é hora de saber se Mamhat é mesmo o grande líder. Hoje teremos um bom combate finalmente !

Estratégia, foi assim que sempre levei meus homens à vitória, era isso que meu coração me dizia incessantemente. Então disse outra vez em voz baixa:

- Leny, guie os espíritos da Terceira Ordem para as torres, libertem todas as almas que puderem, temos que criar distração durante o combate, não temos outra estratégia.

- Mamhat, você não deve se lembrar, mas sou bom em combate, melhor que em ordens, ficarei ao seu lado, os espíritos saberão o que fazer sem mim, acredite, serei mais útil ao seu lado.

Sem esperar minha resposta foi próximo aos espíritos da Terceira Ordem para passar a determinação. Os demônios já estavam prontos para iniciar o combate. Estavam em formação de quatro blocos.

Os maiores e com armas maiores estavam na frente, atrás estavam os menores demônios com armas menores e com grandes lançadores de pedras, aguardando sua vez para ingressarem no embate.

Corri para a saída do túnel que estava atrás de mim. Era uma formação de pedras sobre-postas em grandes colunas de madeira. Aquele local era uma grande farsa, era tudo imaginário, só era necessário acreditar, ter fé, para modificar o cenário que se aumentava e diminuía conforme a situação.

Em alta concentração tirei uma das colunas de madeira, devia ter pelo menos quatro metros e pesar mais de duzentos quilos. Joguei-a para Leny, que parecia já entender o que estava acontecendo naquele local. Afinal, Leny já deveria ter estado ali para negociar com os demônios que um dia foram homens que lutaram ao seu lado.

Leny agarrou a grande coluna e eu retirei outra. Grandes pedras caíram com a falta de sustentação, algumas caíram em mim e eu pude ver que elas não me feriam. Era sim uma grande questão de fé.

Ankarllan gritou ordenando o combate e os demônios começaram a marchar em nossa direção. Então também dei a ordem para que começássemos, gritando para que a Terceira Ordem mostrasse a sua força.

Os espíritos da Terceira Ordem correram separadamente em blocos, divididos em conjuntos de uns cinqüentas homens, um conjunto para cada corredor que dava para os andares superiores.

Eu comecei a girar a grande coluna de madeira, pegando-a por uma das pontas, atingindo grande velocidade e soltei-a em direção aos demônios, jogando-a entre os grandes soldados rumo ao local onde Galdus estava.

A coluna voou em linha reta e em grande velocidade, mas parecia que eu podia ver tudo em câmera lenta. A coluna girando e os grandes soldados se abrindo para desviar do golpe pesado da madeira. Na medida em que se curvavam e se retiravam da trajetória de vôo da pesada coluna um corredor novamente se abriu e eu corri para dentro da grande massa do exército quase que acompanhando a madeira.

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Leny que aguardava o meu primeiro passo correu atrás de mim. Ele segurava a sua coluna pelo meio e vinha quase junto de mim. Sim, ele conhecia aquele lugar, conhecia a relação de tempo que ele mantinha.

Conforme a madeira que eu tinha jogado abria caminho eu corria aproveitando o corredor e os demônios se voltavam para seus lugares, fechando o corredor logo após eu passar. Os demônios vinham na direção de Leny, que os afastava com golpes duros e certeiros, segurando a coluna pelo centro e golpeando os demônios com as extremidades.

A coluna que eu tinha jogado caiu próxima de Galdus e na parte de trás dos blocos dos exércitos. Eu estava agora próximo aos demônios menores.

Leny e eu ficamos de costas um para o outro, para que cada um pudesse proteger o companheiro e ambos protegíamos Galdus, que ainda estava inconsciente.

Os grandes demônios queriam chegar onde estávamos e começaram a passar por cima dos pequenos.

As grandes armas que lançavam pedras com fogo não podiam ser usadas, estávamos muito próximos e elas não podiam ser usadas em curta distância.

Peguei a coluna de madeira que estava ao chão e com ela comecei, tal qual Leny, a bater fortemente em qualquer demônio que estivesse próximo. A cada golpe vários pequenos demônios eram lançados para longe. Os grandes demônios pisotearam vários dos pequenos, diminuindo nossa desvantagem.

Leny era muito bom nos golpes e lutava bravamente e eu gritava para ele sem parar: �Força Leny, bata com força, use a força da fé, use a força do coração, basta acreditar, basta acreditar !�.

Estávamos jogando muitos demônios para longe quando os maiores chegaram perto de nós. O combate ficou mais complicado, mas mesmo assim jogávamos os demônios para longe. Alguns se levantavam e voltavam ao combate, ainda sentido a dor.

Algumas vezes tudo estava agindo lentamente, algumas vezes em velocidade comum ao tempo que conhecia.

Nos corredores superiores os espíritos da Terceira Ordem se mostravam bravos guerreiros e jogavam demônios do alto, que batiam no chão fazendo grande barulho com suas armaduras.

Lanças e espadas atravessaram diversos corpos naquele dia. A dor era sentida normalmente, mas as almas não podiam morrer e se levantavam depois.

Os espíritos da Terceira Ordem que eram feridos, enquanto caíam com a dor, os demônios pulavam sobre eles para sugar-lhes sua energia, tentando assim levantar forças para continuar o combate.

Os corredores eram estreitos e enquanto alguns combatiam os que vinham atrás tinham fácil possibilidade de abrir as celas e libertar as almas que sofriam naquele lugar. Essas almas se jogavam com o próprio corpo sobre os demônios para impedir que eles avançassem, era a maior demonstração de coragem com desespero que já tinha presenciado.

Leny e eu lutávamos sem sentir cansaço. Nossa energia crescia a cada segundo, pois estávamos lutando bravamente e essa força gerava um sentimento enorme de satisfação, isso fazia nossas almas crescerem e nossa crença aumentar com a esperança que surgia a cada golpe. Podíamos vencer. Estávamos cada vez mais acreditando nisso e a esperança aumentava mais. Era a sedução do poder que nos dava força.

Nossos braços não se enfraqueciam, pelo contrário, os golpes ficavam cada vez mais fortes e os demônios cada vez mais caíam mais longe.

As almas presas que se libertavam se juntavam a nós, libertando outros presos e lutando ao nosso lado. Muitos que saíam das celas não tinham como seguir pelo corredor estreito que já tinham centenas de espíritos e demônios lutando, não podiam ir até outras celas para libertarem outros presos e se jogavam do alto sobre os demônios que estavam no pátio lutando contra nós.

Eles pulavam com tanta crença em destruir um demônio que assim faziam. Era a força de vontade que surgia com origem no ódio e que findava em trazer a felicidade ao ver um dos inimigos cair ao solo. Essa satisfação enchia seus corações de esperança de poder fugir da terra maldita, do solo do sofrimento. Então ficavam mais fortes.

Os demônios começaram a sentir a falta de força quando não podiam reabastecer por falta de escravos e a esperança no combate, para eles, diminuía, consumindo toda a força que restava. Eles sequer percebiam que era justamente a força na crença que levantava a energia. Qualquer coração pode criar uma energia gigantesca, desde que assim deseje de verdade, mas eles não sabiam disso.

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Aos poucos fomos invertendo a situação que antes era uma verdadeira covardia, de um lado havia um exército treinado para o combate com milhares de guerreiros, do outro lado havia apenas poucos espíritos que estavam vagando há décadas ou séculos, que não somavam mais que poucas centenas de almas.

Com os presos sendo libertados o nosso número foi aumentando e a nossa força somente crescia. Os demônios foram se enfraquecendo e no desespero para continuar o combate seguravam homens do seu próprio exército para se alimentarem de suas forças. Era o desesperando criando a traição.

Diversos demônios escolhiam um alvo e todos o agarravam fortemente, pulando em seu corpo e o mordendo, sugando suas forças. Isso diminuía o número deles e nosso exército começava a ter alguma vantagem no combate.

Ankarllan apareceu na minha frente e eu juntei toda a minha força em um único golpe. A coluna enorme de madeira e altamente pesada se partiu ao bater em seu peito, não tendo ele sequer chance de manusear sua espada, que caiu ao solo dezenas de metros longe.

Pude reparar que estava tudo como se estivesse em câmera lenta mesmo, nossos movimentos estavam extremamente mais rápido que os golpes dos demônios.

Haviam diversos demônios caídos no solo e os que estavam de pé e que corriam em nossa direção vinham lentamente, correndo em passos largos e lentos, ouvi o som da batalha que também chegava lentamente.

Aquele lugar tinha freqüência muito baixa, isso fazia com que os demônios não vissem o tempo passar. Eu também deveria estar lento quando cheguei, foi a energia do combate que me libertou do transe aparente. Seria então por essa lentidão do local que eu estivesse pensando que havia chegado há poucos minutos, mas Leny afirmava que eu havia partido há dias. Leny sabia como funcionava o tempo naquele lugar, por isso foi até lá.

Era por isso, então, que espíritos tinham o tempo de forma diferente dos encarnados. Espíritos também tinham o tempo diferenciado entre si, um espírito também podia evoluir mais que outro, dependendo da freqüência que escolhia impor.

Era a força na vontade que fazia as regras da quarta dimensão. Era a força do pensamento que podia alterar a velocidade do tempo e daquele cenário do inferno.

Decidi então testar mais um dos caminhos que acreditava.

Joguei minha cabeça para trás, abri meu braços e me concentrei fortemente. Gritei em silêncio dentro de mim para que a minha fada pudesse ouvir a minha vontade e do meu coração surgiu uma gigantesca energia que, como tinha feito acontecer no quarto de Tomas, mas agora em dimensão muito maior, saiu em grande volume das minhas costas e correu para meus braços.

Ankarllan ainda estava se levantando atordoado do golpe que havia recebido.

Eu dei um grito alto e longo, lançando uma alta energia para as mãos que estavam em direção aos demônios com as palmas abertas e toda a energia foi lançada em forma luz, com raios, grande barulho, um vento muito forte soprava e a energia se expandia como uma grande bomba, arremessando os demônios do pátio e de cada andar daquele castelo para longe, batendo com força nas paredes.

Até mesmo o grande Ankarllan foi de encontro à parede e bateu com tanta força que tinha sangue saindo dos olhos, boca, nariz e ouvidos.

Aquilo era a extensão da vida. O espírito com pouca evolução era ainda tão apegado à matéria que sequer tinha consciência que não poderia sangrar, e a mente produzia aquele resultado em reflexo à crença.

Todos pararam. Os recém libertados, os espíritos da Terceira Ordem e Leny. Todos olharam para mim enquanto o vento ainda soprava forte. Somente os demônios estavam caídos. O vento trazia uma forte neblina que corria fora do castelo.

Eu, Mamhat, começava a entender a força do pensamento e a crença. Começava a entender o poder da fé que vinha do coração. Era esse o grande poder de controle que os homens queriam. Era um poder que trazia satisfação. Pois era um poder que vinha unicamente para fazer o correto. Mas mesmo assim era uma fraqueza, pois seduzia.

Eu também estava espantado, mas não sabia o tempo que isso poderia manter os demônios em estado de mente desacordada, então dei a ordem:

- Rápido, peguem as almas fracas, libertem os que ainda estão presos, comecem a sair agora, o corredor é pequeno e levaremos um bom tempo para sair daqui. Temos que sair agora, todos para fora.

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Corri ao encontro de Galdus que ainda estava acorrentado no centro das três fogueiras e ao chegar perto, estiquei minha mão e apenas com um pensamento firme, as correntes partiram. Cada elo se partiu e caiu ao solo. Galdus estava caído.

Aproximei-me, coloquei sua cabeça junto de mim, apertei com força e chamei em pensamento o meu amigo, compartilhando com ele toda a energia que eu tinha naquele momento e pude ouvir a sua voz:

- Mamhat, meu amigo !

Ele estava bem. Fraco, mas bem. Ele queria agradecer, mas não tínhamos tempo. Chamei Leny e ordenei que levasse Galdus para fora de Anralaar. Pude notar que Galdus não sabia o que havia acontecido. Havia milhares de demônios nos cantos e no centro somente havia almas correndo para a liberdade e armas de metal caídas.

Olhei para o túnel de saída e pude ver que ele estava bem maior que antes. E crescia quanto mais almas apareciam para sair. Era a vontade de cada um de ter a saída que fazia aquilo ocorrer.

Fechei os olhos e desejei com força que a parede frontal inteira caísse, cuidando para que nenhuma pedra pudesse cair sobre algum espírito. Ouvindo o ruído eu abri os olhos. Toda a frente do castelo estava virando pó. Lembrei-me do �pó ao pó�.

Uma grande cortina de pó caiu e uma nuvem se formou e no meio dela via milhares de almas correndo para fora do castelo, seguindo a larga trincheira que levava ao pântano e à saída.

Olhei para os demônios e percebi que para eles o tempo poderia ter até parado. Poderiam ali ficar por semanas, anos, décadas, aguardando uma força que pudesse retirá-los dali.

Caminhei até Ankarllan e com a palma das mãos em sua testa lancei uma luz no tom azul claro que entrou em sua mente e eu o chamei, ele abriu os olhos. Estava fraco, não podia falar, mas estava com a mente alerta e podia me entender. E eu ordenei:

- Ankarllan, homem dos meus homens. Você não foi derrotado, apenas perdeu o controle e a energia, pois não sabe o que está acontecendo, não entendeu ainda a supremacia das leis divinas. Faça o que determino. Esse será o teste. Feche os olhos, ouça a voz que quer lhe falar. É seu coração que quer lhe mostrar o verdadeiro caminho. Se você se levantar é porque você possui o poder da escolha. Faça isso, levante-se, levante seus homens e venha para o nosso encontro. Estaremos todos prontos para recebê-los na Terceira Ordem. O solo de Anralaar não será mais a sua moradia, nem dos nossos homens. Eu os liberto desse sofrimento agora.

Olhei para todos que corriam para fora. Olhei para os demônios e senti pena. Olhei para Ankarllan e completei:

- Traga seus homens, os nossos homens, vou lhe contar tudo o que está havendo e vocês poderão decidir se se juntarão à mim outra vez. Mas se vierem, venham preparados, pois o combate dessa vez será como nunca combatemos. Agora sim teremos um verdadeiro combate pela frente.

Essas palavras seriam a semente da esperança em seu coração. Tudo o que um guerreiro quer é um bom combate. Tínhamos em séculos passados escolhido os combates errados, tínhamos sido maus. Mas agora eu poderia arrumar essa parte equivocada da minha existência. Era hora de escolher certo. Era hora de escolher o combate certo. E o combate já estava acontecendo fora daquele inferno, ocorria em solo terreno.

Assim como esses demônios não tinham a consciência do que ocorria, os homens humanos não faziam a menor idéia também. Acordavam pelas manhãs, iam para o serviço, passeavam, buscavam seus sonhos e, mais cedo ou tarde, cediam completamente ao mundo material, sem se recordar da razão da existência daquele mundo, sem se dar conta da evolução espiritual que abandonavam.

Os demônios estavam tendo uma chance de se libertarem e escolherem o bom combate. Tudo o que eu queria era que os humanos pudessem ter essa oportunidade de escolha também.

Coloquei Ankarllan encostado ao muro e me levantei. Olhei para ele com semblante de confiança. Ele sabia que eu estava do lado dele. Que eu o aguardaria. Eu confiava em Ankarllan.

Então comecei a caminhar em direção à saída também, junto com os últimos espíritos que saíam daquele lugar.

Esse foi o dia que a Anralaar deixou de ser o solo do sofrimento.

As almas escravizadas foram libertadas e os demônios tiveram o momento de fazer a escolha. Eu caminhava pela nuvem de pó deixada pela parede que havia se esfarelado e sumi da visão de Ankarllan.

Eu precisava voltar à Terra, Tomas estava com problemas. Galdus estaria a salvo em solo sagrado, Leny estava conduzindo-o para a Terceira Ordem. Nos encontraríamos em breve. Agora eu partia de volta à Terra.

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A Terceira Ordem

Parte 09

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XXIII – A Afinidade

Saindo de Anralaar, depois de já ter passado pelo pântano, eu estava em local livre das amarras que o mal repousava naquele local, eu já podia simplesmente desaparecer e me materializar na Terra, mas tive o desejo de esperar por mais um minuto, enquanto olhava as últimas almas que saíam de lá, eram centenas ainda.

Tamisau apareceu. Era ele que havia despertado aquele desejo de ficar. Ele queria falar comigo.

- Mamhat, toda a Divina Providência está orgulhosa de você. Trago os parabéns de todos.

- Tamisau, por que aqui ?

- Você nunca está pronto para receber um elogio ou parabéns ?

- Não responda com outra pergunta. Aqui é solo maldito e muita coisa má pode acontecer. Aqui o mal está acima de muitos dos nossos dons.

- Mamhat, olhe ao seu redor, você acaba de libertar milhares de almas. Você não pode se dar conta disso ?

- Sim, mas para o que nos espera, isso é pequeno e o que me incomoda é o que está por vir. Tomas está com problemas, eu tenho que ir agora.

- O que lhe incomoda tanto e que não seria mais confortável se você pudesse recuperar todo o seu passado ? Você soma muitos anos, Mamhat, saiba disso. Desfrute disso. A profecia foi lançada há muitos anos, há séculos e está se cumprindo. Poderíamos melhorar isso com a sua memória de volta.

- A minha memória está voltando, acredite.

- Mamhat, você pode conviver com o que está no seu passado, tenha fé. E será altamente importante você estar com seu passado na mente, pois o momento para usar o seu conhecimento está chegando.

- Eu não temo o meu passado e se há algo que eu preciso saber, pode me contar.

- Nada poderá ser comentado, senão estaríamos interferindo onde...

- Tamisau, não quero saber desses detalhes, apenas conte ou partirei, eu preciso ir.

- Você sabe tanto quanto eu que a Divina Providência nada pode fazer, não sem ter que quebrar um acordo. Nós precisamos manter nossa moral intacta, então não quebramos acordos. Até um anjo quando se compromete com algo não abandona o seu caminho.

- Mas eu não poderei recuperar meu passado agora. Lamento.

- Não tema, estaremos todos do seu lado. O momento se aproxima.

- Qual momento ?

- Não há o que ser dito, por isso seria importante você mesmo saber.

- Eu sei o que preciso saber. Isso basta.

- E o que lhe dá tamanha convicção ?

- Tamisau, o meu coração é mais forte que qualquer informação. Ele é quem está me levando nos últimos anos e parece que quanto mais eu confio nele, mais vejo a importância de fazer somente o que ele manda. Tenha fé em mim e em minhas palavras, meu amigo.

- Livre arbítrio, meu sagrado mestre.

- Desculpe, Tamisau, mas tenho que ir, estou com uma forte agonia e preciso acalmar meu coração, preciso ver Tomas. Tenho que partir.

Aquela conversa, aquele lugar, parecia que algo estava fortemente errado e tudo me deixava com uma enorme sensação ruim, eu precisava partir e assim o fiz, sem esperar por uma palavra de Tamisau, simplesmente parti.

O que conto agora, somente fui saber muito depois, mas assim que parti, tornou-se visível um espírito, que já estava ali, mas estava além da minha visão e percepção, era um solo maldito e nele eu não dominava meus dons.

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Toda a energia negra que eu sentia não era somente pela batalha que havia terminado, especialmente porque havíamos vencido. Não era somente por causa do local, o solo do sofrimento estava quieto e vazio. O que me incomodava era a presença de Lucio Luthus. Ele estava ali, ao lado de Tamisau, o tempo todo. Da mesma forma que estavam na sala de Gonzalez quando dei o primeiro passo na interferência terrena.

Assim que Luthus apareceu, Tamisau, sem olhar para o ilustre demônio, adiantou-se:

- Você mesmo viu Lucio, já tentamos diversas vezes devolver a Mamhat seu passado e sua memória pretérita. Ele recusa esse passado, ele recusou você.

- Tamisau � ele dizia lenta e calmamente � você me enganou ?

- Você sabe que não.

- Como isso foi possível ?

- Isso, Lucio, é devido à afinidade.

- Não me venha com isso, Tamisau.

- Aceite, Lucio, saiba perder algumas vezes. Mamhat foi criado e entregue a você, como solicitado.

- Eu não solicitei nada.

- Está bem, você não solicitou nada, você permitiu que fosse assim, para a harmonia da energia.

- Exato, foi por isso. Mamhat deveria semear a esperança entre os homens, apenas para que estes tivessem a crença que algo poderia ser positivo a eles. Era dessa energia que eu pretendia ter meu poder total. Mas você me enganou.

- Eu não fiz nada, tudo é obra da Divina Providência e esta não engana, nem mesmo a você, caro Lucio.

- Vocês fizeram algo, isso é óbvio, veja, o meu menino está contra mim agora.

- Lucio, Mamhat saboreou o doce prazer de fazer o amor, ele degustou do prazer de fazer o bem. Ele sentiu na alma a satisfação de receber um sorriso. Ele viu que o poder é o que se sente e não o que se tem para controlar.

- Cale-se. Por enquanto está bem. Ele viu o bem e gostou, mas ninguém é imune ao sofrimento e com este qualquer coração padece. Aceito esta derrota parcial. Mamhat não mais me servirá. Para nada mais poderá me ajudar.

- Lembre-se, temos um pacto, você não poderá interferir na escolha dele. Havíamos marcado esse momento para o teste final. Se ele desejasse a sabedoria passada, ele teria alguma chance de voltar ao mal, a partir do momento que ele recusou o passado ele recusou você, Lucio, é o poder da escolha que cada um tem e pelo acordo, agora, ele está livre.

- Sim, a minha palavra ainda vale. Foi esse o acordo. Eu permitiria essa pequena benevolência, para meu próprio contentamento. Obtive maiores vantagens com a força que ele transmitia aos homens. Permiti a vinda de Mamhat, sob a forma de pura energia má, estava sob o meu controle e eu o perdi. Ele me recusou, agora está fora de meus desejos. Ele está livre.

Luthus começou a caminhar à Anralaar e Tamisau interferiu:

- Não. O acordo compreende o solo que ele conquista. Anralaar cedeu à vontade de Mamhat. É solo sagrado agora.

- Nada dentro dos limites do meu território é sagrado, Tamisau. Anralaar é minha ! Se algum demônio quiser lá permanecer, será meu, como sempre foi. Eu reconquistarei as almas em curto prazo de tempo. Você sabe o que está por vir. E não interfira nisso.

Luthus continuou a caminhada e Tamisau, antes de partir, ainda completou:

- Sim, mas apenas os demônios que quiserem permanecer em Anralaar, não os outros.

Tamisau partiu e Luthus entendeu que afinidade é mais que confiança, é mais que ver o reflexo de si próprio em uma alma, afinidade era o desejo absoluto de querer ao companheiro o mesmo bem que desejava a si próprio. E por afinidade os anjos se reúnem e promovem projetos em conjunto, até que, por afinidade maior, possam se reunir a Deus e se tornarem parte de um todo.

A afinidade é a identidade absoluta, que não depende de nada mais além do compartilhamento de um pensamento único, em harmonia completa. Essa era a primeira etapa da perfeição. A perfeição que quando alcançada em seu ápice, se torna a porta de entrada para a Primeira Ordem. Assim é que uma alma se junta a Deus.

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XXIV – O Contra-Ataque

Como até então eu não tinha conhecimento do estranho acordo entre a Divina Providência e Luthus sobre a minha chega à Terra, eu começa a perguntar porque tudo estava indo tão bem.

Eu não havia sofrido nenhuma forte resistência, tudo parecia estar caminhando muito bem e favorável para meus planos. Mas o mal agora já havia me perdido. O teste sobre a minha escolha já havia ocorrido. O mal havia sido vencido.

Luthus não mais permitiria que eu desse mais um só passo, sem que ele estivesse por perto.

Assim que deixei Tamisau em Anralaar, fui direto ao encontro de Tomas, que estava muito aflito e não dormia direito há dias. Estava pálido e preocupado.

Os homens de Gonzalez estavam por toda parte, já haviam ido até Max diversas vezes. Max simulava uma certa ajuda a eles e ainda estava fiel à nós, por medo e não afinidade.

A velha Bruxa não mais saía de seu quarto, ela estava com medo, a casa toda estava cercada de demônios. Ela podia senti-los.

Tomas podia mais que isso. Ele os via andando e voando, ao redor e sobre a casa. O céu, sob a visão mediúnica de Tomas, estava sempre na cor cinza e ventava muito. A qualquer hora do dia ou da noite.

Quando cheguei na casa de Max era noite, Tomas estava no jardim, vigiando os demônios, como se pudesse impedi-los de entrar, caso quisessem. Ele também sentiu minha chegada, antes que eu aparecesse e assim que cheguei ele já me interpelou:

- Mamhat, que bom que finalmente chegou. Eu tenho que sair daqui agora, mas para onde irei, como farei ?

- Acalme-se, Tomas. Aqui está ruim, mas lá fora estará pior.

- O que faremos Mamhat, estou com muito medo.

- Calma, o medo é uma forma da mente medir a intensidade do perigo, mas não quer dizer sofrimento. Você está a salvo por enquanto. Mas temos que preparar a sua partida.

- E para onde irei ?

- De início, para lugar algum.

- Como assim � ele estava aflito e suas mãos suavam � me explica, me fala.

- Gonzalez, mesmo desencarnado, será um grande mal. Não sei o que poderia ser pior, ele vivo ou morto. Você terá que partir, eu cuidarei dos demônios e você terá que se livrar de Gonzalez.

Nesse momento senti um grande mal ocorrendo. O céu se tornou mais escuro e a velocidade dos demônios aumentou, eles se moviam freneticamente e sempre de olho em nós.

- Tomas, parece que as coisas começam a sair do controle, não é ?

- E eu estou apavorado, Mamhat.

- Não temos outra saída senão uma trégua.

- Trégua ? com quem ?

- Com todos. Como eu disse, cuidarei dos demônios, você terá que cuidar de si mesmo. Verei a possibilidade de conseguir uma trégua com Luthus, assim teremos a chance de nos organizarmos melhor e continuar essa batalha em outro momento. Você terá que partir para um lugar desconhecido, ir de cidade em cidade, país em país, até sentir que os homens de Gonzalez perderam o seu rastro, assim como os demônios.

- Eu não sei o que você pretende fazer, mas tomara que dê certo, que Deus nos ajude.

- Gostaria de pensar que Deus poderá ajudar.

- Deus não fará nada para ajudar os homens ? que Deus é esse que abandonou seus filhos ?

- Isso é um pouco mais complicado Tomas, mas Deus quer muito ajudar, só não sei se ele poderá.

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O vento começou a aumentar. O sentimento sombrio aumentou. Algo estava mesmo errado.

O telefone tocou e em pouco tempo Max veio para o jardim, estava procurando Tomas.

- Tomas, onde você está ?

- Aqui Max, perto das flores.

- Tomas, algo muito ruim acabou de acontecer.

- O que foi ? Conte-me.

- Gonzalez saiu do hospital, foi procurar um tratamento espiritual, pois nenhum exame pôde identificar o que aconteceu com ele, aquele maldito tem saúde de verdade. Com isso ele contratou os serviços de uma mulher, seu nome é Kandira.

Eu fechei os olhos. Esse nome era conhecido e temido. Tomas pôde ver minha expressão. E Max continuou:

- Essa mulher, dizem que é muito má, mas muito eficiente para quem lhe paga e Gonzalez para essas coisas nunca foi de economizar. E, pior, Gonzalez ainda fez um acordo com Helder, um grande traficante que já trabalhou com Kandira por muitos anos. Eles disseram que o encontrarão em horas. Isso poderá arruinar todos os meus planos, o que faremos ?

- Max, entre e tente se acalmar, não faça nada, não atenda telefone nem fale com ninguém agora. Espere por mim, lá dentro. Eu já vou.

Max fez o que Tomas sugeriu e ficamos novamente a sós, para tentarmos planejar algo. Eu comecei:

- Agiu muito bem Tomas. É melhor que Max espere lá dentro mesmo. E essa mulher, a Kandira, ela é perigosa.

- Você a conhece, Mamhat ?

- Já ouvi falar. Ela soma muitos anos, ninguém sabe exatamente quantos. Ela é meio índia, tem dons sobrenaturais e é tendenciosa ao mal. Nem mesmo ela sabe de onde veio e qual a sua história, coisa típica de almas enviadas à Terra com um propósito. Seja qual for esse propósito, agora, é nosso destino também.

- Mamhat, parece que a situação está se agravando muito de uma hora para outra. Maldita hora em que fui pegar aquele dinheiro de Gonzalez.

- Isso não tem nada a ver com o dinheiro de Gonzalez, Tomas. Isso já estava sendo articulado para acontecer. Muitos vêm trabalhando para isso tudo há muitos anos. Ainda bem que tivemos a oportunidade de saquear os cofres de Gonzalez, agora temos como fazer o nosso próprio plano de fuga. Bendito dinheiro, Tomas !

- Mas como poderei sair se estão me procurando por toda parte ?

- Converse com Max, ele tem influência para tirar você daqui. Peça para que ele mande uns homens buscar o restante do dinheiro, pegue o que já está com você e saia do país. Vá para algum lugar, pegue transporte público e vá para outro país e outro, até sentir que perderam seu rastro. Aí você deverá me aguardar. Não poderei lhe seguir, Kandira poderá encontrá-lo através de mim. Ela já deve estar fazendo isso.

- Ela sabe de nós, Mamhat ?

- É provável, acredito que ela seja produto de Luthus. Tomas, será prudente selarmos o seu dom. A sua mediunidade poderá ser o seu fim. Teremos que interromper esse seu poder.

Assim como Kandira, Tomas também tinha uma história conturbada, sem origem exata e maiores detalhes sobre sua vida. Ele também era uma alma que tinha um propósito, eu tinha certeza disso. E ele deveria ser protegido totalmente, a qualquer custo.

- Mas, Mamhat, meu dom é tudo o que tenho.

- Não, Tomas, você é grande, você é gigante. Você pode muito, mesmo sem seu dom. Você está acostumado com ele, mas terá que ter proteção até poder novamente tê-lo. Terá que aprender mais sobre a espiritualidade antes de reabrir o canal da mediunidade. Peça para Max recuperar seu dinheiro, com ele você poderá viver alguns anos sem preocupação. Peça uma forma de você sair do país em segurança. Vá para dentro agora, tenho que ver alguns desses detalhes.

Tomas fez o que eu pedi e eu chamei por Leny mais uma vez.

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XXV – A Cilada

Tomas entrou na casa e foi negociar sua saída com Max.

Leny veio até mim:

- Salve Mamhat ! Que batalha, não foi ?! Sinto-me jovem e com muita força novamente, obrigado por isso.

- Leny, temos mais problemas que tínhamos antes.

- Ah, você sempre com esse ar preocupado. Estamos vencendo ! Não fique preso à visão desse céu � e apontou para sobre nossas cabeças, onde os demônios passeavam e nos olhavam, sem qualquer aparência de ódio ou amor, simplesmente nos olhavam � esses poucos demônios nem chegam perto do que acabamos de passar em Anralaar.

- Não é com eles o nosso combate, são apenas os olhos de Luthus.

- Por que não conversamos na Terceira Ordem ? Lá é seguro. Estão todos celebrando, como antigamente. Galdus está bem melhor. Por que ficar aqui ?

- Temo que se eu for até lá, Luthus desejará invadir o local, ele quer a mim. Não posso arriscar.

- Mamhat, você está começando a ser pessimista demais.

- Lembra-se de Kandira ?

- Nem me diga o nome dessa feiticeira.

- Gonzalez se aliou à Helder, contrataram Kandira. Estão atrás de Tomas.

- Por Yahweh ! Estamos com problemas.

- Sim, e tenho a forte convicção de que Tomas é um prometido. Temos que protegê-lo.

- De onde você tirou isso, Mamhat ? Tomas, um prometido ?

- Exato, Tomas é um prometido e a ele foi dado um destino com pesado fardo. Tudo começa a ser montado em minha mente. Ele terá forte participação na mudança terrena, ou será o elo para o caso de tudo dar errado. Eu não estou certo de detalhes, mas sei o que devo fazer agora, Leny.

- Você pretende reencarnar ?

- Não, longe disso, preciso tirar Gonzalez do destino de Tomas, em primeiro lugar. Depois tenho que tentar um acordo de paz com Luthus. Somente assim teremos alguma chance.

- Você acredita que Luthus estará pronto para lhe ouvir ?

- Ele não tem muita escolha, se nós fracassarmos ele será derrotado pela sua própria sorte. Deus não permitirá que o homem brinque com a divindade da vida. Luthus também tem o dom da ordem da reencarnação. Agora quer dominar a criação. A ciência humana está muito próxima de conseguir fazer o homem em laboratório. Por duas vezes Luthus já tentou algo parecido com isso e fracassou. A primeira vez o homem não estava preparado. Na segunda o próprio homem, por ter sido vaidoso demais em sua tentativa, fracassou, por ter tentado imperar sobre os demais da raça. Agora, com a ciência e os laboratórios a sorte poderá ser outra.

- Essa segunda foi no nazismo. Qual foi a primeira vez ?

- Isso é um assunto que está além de você, pois a sua língua jamais se selaria com isso. É melhor que fique assim.

- A sorte é o encontro da capacidade com a oportunidade. Antes os homens não estavam prontos para a seleção de Luthus, faltou capacidade, nas duas vezes. Agora, com o avanço tecnológico e os bons argumentos de empresas para iludir a população com o uso da indústria da informação, a oportunidade e a capacidade estão aliadas.

- Como assim ?

- O homem está próximo de dominar a criação da vida humana em laboratório. As mega-empresas têm interesse econômico nesse estudo e estão patrocinando qualquer cientista que tenha vocação. Estão investindo bilhões na mídia para iludir o povo, alegando que o propósito é beneficiar.

- E não vai ?

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- De certa forma até beneficiará, mas não é difícil de prever que será pouco, perto da desgraça que espalhará. Um dos maiores eventos foi a roda, que logo foi usada em catapultas. Nós, inclusive, usamos. O domínio do fogo criou motores à propulsão, que virou veículos de guerra. O avião seria para servir a humanidade, e virou o melhor meio de vencer uma guerra.

- É verdade, para tudo o homem encontra uma forma de exterminar a vida. Nós fizemos isso por séculos. Se eu pudesse voltar.

- Voltar você não pode, Leny, mas pode me ajudar agora. Você pode reencarnar com um forte propósito e apagar esse seu passado, como eu mesmo fiz. Você pode recriar sua alma.

- Não sei se poderia. Em vida é tudo muito difícil. É fácil perder o caminho da evolução, não creio que, com o meu fado, com o conteúdo do meu coração, eu possa vencer a barreira do mundo material.

- Leny, vai à vida somente três tipos de espíritos: o leviano a mando de Luthus, o evoluído em missão e o espírito bom para a evolução. Mas tem um detalhe, a Divina Providência sabe encaixar o teste de evolução para cada espírito, você poderá ter uma boa vida e melhorar.

- Vi muitos irem à vida e terem um berço de ouro e com este se perderem mais que outros. A vida é uma grande emboscada.

- Mas ter uma boa evolução não é ter poder e dinheiro em vida, pelo contrário, é mais fácil se perder tendo uma vida fácil que labutando com honra no cotidiano. A Divina Providência saberá escolher. Tenha fé.

- Talvez, mas no que eu poderia ajudar agora ?

- Encare isso como o seu primeiro teste de evolução. Não, o segundo, o primeiro você já passou ao enfrentar os demônios ao meu lado, em Anralaar.

Nós dois rimos. Talvez rimos mais pela pressão daquele momento que pela vitória na batalha em si. Os demônios continuavam a nos observar.

- Leny, eu terei que enfrentar Gonzalez. Para isso terei que furar o bloqueio de Kandira e entrar no prédio dele. Eu terei que terminar o que comecei. Terei que lhe tirar a vida, por Tomas. Mas Kandira tentará me impedir e é aí que você entrará.

- Mamhat, talvez seja melhor levar Galdus também.

- Galdus está fraco, amigo Leny, teremos que fazer isso sem ele. Não temos como esperar. Mas teremos uma forte escolta chegando pelo amanhecer.

- E como faremos isso, uma cilada ? Que escolta ?

- Cilada, hum... sim e não.

- Meu Deus, Mamhat, seja preciso. Você é muito bom em estratégias, sempre foi, mas nunca ouvi de você um �sim e não�.

- Leny, qualquer estratégia agora é perigosa, não temos tempo para nada, teremos que ir imediatamente. Está quase amanhecendo e ao nascer do sol estarão todos aqui na Terra, todos invadirão o prédio de Gonzalez e eu poderei terminar o que comecei.

- E o que devo fazer ? Digo, agora ?

- Vá para a Terceira Ordem e volte aqui ao amanhecer, fique com Tomas até eu voltar e unirmos os exércitos para começar a batalha contra Kandira e Gonzalez.

- E agora, para onde você vai ?

- Vou até Gonzalez, vou falar com Kandira e, se ela permitir, tentar negociar com Gonzalez, para evitar esse confronto que se iniciará pelo amanhecer. Ela poderá entender a dimensão dessa batalha e poderá ajudar em um acordo. Eles não terão como, em tão pouco tempo, se aprontarem em boa defesa.

- Entendo. É seguro, Mamhat ?

- Certamente Leny, certamente será seguro. Agora vá, veja se Galdus está melhor e volte ao amanhecer.

Leny deixou um olhar de confiança e medo ao mesmo tempo e partiu.

Olhei novamente para o alto e pude notar que havia menos demônios agora, mas os que lá ainda ficaram ainda agiam da mesma forma.

E eu parti para o encontro com Gonzalez e Kandira.

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XXVI – A Perfídia na Cilada

Eu tinha medo desse plano insólito, mas não tinha muito mais o que fazer. Tomas sabia que era preciso se esconder e esperar o momento certo e ele saberia reconhecer esse momento para reaparecer, ainda mais se esperasse alguns anos, pois teria mais experiência.

Leny voltaria ao amanhecer e com ele ficaria, o ajudaria na fuga, caso eu não voltasse. Depois ele reencarnaria, como eu havia sugerido, eu tinha depositado a semente da esperança em Leny, para buscar a evolução em uma nova vida.

Galdus estaria com a Terceira Ordem para enfrentar o porvir.

Tudo estava bem encaminhado, caso eu não voltasse dessa tarefa que havia proposto. Era necessário fazer isso.

Gonzalez teria que lutar comigo depois da minha visita, afinal, eu o colocaria no plano espiritual.

Sentia-me como Apolo, da mitologia, indo ao encontro de Píton, a grande serpente por ele morta. Só não sabia se eu seria o Apolo com o arco e suas flechas que trazia em seu aljava ou se seria Píton dentro dessa analogia.

Mas uma coisa era certa, a cilada lançada havia produzido seu veneno no inimigo. Eu estava na ante-sala do escritório de Gonzalez. Não havia ninguém naquela parte, o escritório estava fechado, nenhum negócio foi ali feito desde o incidente, haviam vozes vindo da sala, que tinha sua porta fechada.

Eu fui para a sala principal de Gonzalez, onde ficavam as espadas, quando entrei as vi e logo lembrei da batalha em Anralaar e de alguns flashes do passado. Sorri levemente, distraindo-me da tensão daquele momento que atravessava.

Kandira havia transformado aquele luxuoso local em um ponto de ritual satânico. No lugar da mesa havia um santuário. Diversas imagens satânicas estavam esparramadas no local, com muita vela, areia no chão com alguns escritos, objetos e livros de invocação demoníaca.

Parecia que Gonzalez estava realmente determinado com aquilo.

A cadeira em couro estava ali, ao lado de diversas velas pretas e vermelhas. Nela se sentava Gonzalez. À sua frente estava Kandira, de joelhos, fazendo suas orações.

Ela estava de costas para mim, sem abrir os olhos e sem se virar, disse ainda em transe, com uma voz roca:

- O lugar onde o mal se instala é onde há má intenção. Você tem má intenção, deve partir agora, ou aborrecerá a mim, em meu lugar santo.

- Kandira, venho em paz.

- Eu sei de suas intenções, pode partir agora. Se der um só passo, vou me virar e você poderá sentir o que sou.

- Deixe-me falar com Gonzalez, por favor.

- Já sabemos da sua intenção. Parta agora ou a batalha começará já.

Enquanto com ela eu falava, alguns demônios que estavam sobrevoando a casa de Max apareceram. Eras os mesmos que haviam desaparecido depois da minha conversa com Leny. Eles tinham deixado a casa de Max para trazerem a notícia da minha vinda.

- Kandira, peço alguns minutos que poderão salvar a vida de muitos durante o combate. Quero uma trégua agora, para um acordo que poderá sobrevir.

- Gonzalez tem medo, foi você que quase o matou. Todos os demônios sabem disso. Eu cuidarei de você, assim que ele estiver pronto. O ataque é no nascer do sol, estaremos prontos.

Gonzalez que ouvia a voz da feiticeira, mas não a minha, se irritou:

- Vamos Kandira, termine com esse papo logo, mande esse demônio para o inferno agora, temos muito o que fazer.

Eu podia ver que qualquer chance de acordo estava afastada, não haveria acordo ou negócio naquela sala. A primeira parte do meu blefe já ficava para o passado.

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Olhei para os demônios como quem dá consentimento à fala e com expressão de desistência fiz que me aprontava para me retirar. A cilada estava pronta, agora vinha a perfídia, a segunda etapa do blefe, pois não haveria qualquer ataque ao nascer do sol.

Saltei por cima da bruxa, enfiando minha mão direita no peito de Gonzalez e a esquerda nas costas de kandira, em cada mão eu tinha um coração e os apertava com toda a força do meu ódio.

Minha face desfigurou-se toda, eu pude sentir e isso não me assustou, estava agora vestido com o poder do mal, o mesmo mal que um dia me tomou para fazer o sofrimento aos homens. Mas agora eu o usava contra o próprio mal.

Os demônios olharam assustados para mim, não esperavam aquela reação. Eu havia dito que o ataque seria pelo nascer do sol, jamais puderam crer que eu atacaria sozinho, em solo inimigo, naquela hora, enfrentando a todos e em especial a Kandira.

Subestimaram Mamhat, foi isso que aconteceu. Ninguém imaginou que eu poderia tentar algo sozinho, aquilo seria um plano insano. Mas foi o que fiz.

Os demônios saltaram no ar e vieram ao meu encontro em um vôo rápido, soltando finos grunhidos e com as mãos abertas como uma águia.

Eu trouxe do peito uma forte energia que me agoniava, era uma energia má e avermelhada que estava presa em mim. Lancei essa energia contra os demônios por minha boca e saíram junto com meu grito de ódio.

Mais demônios surgiam, mais eu lançava gritos com fortes luzes que afastavam os demônios. Diversos tipos de demônios apareceram, eram os voadores, os guerreiros, os mensageiros e muitos outros.

Eu sabia que aquilo estava fora do controle para eles, até pequenos demônios e os mensageiros partiram para um ataque desesperado contra mim. Eles estavam sem defesa.

Era uma simples questão de tempo.

Então, nesse momento, apareceram os demônios de verdade, eram cinco. Eram os satanás.

Satanás não é um espírito, nem é outro nome de Lúcifer, são forças malignas que agem sobre a mente humana, conduzindo-a para o mal. Os demônios que serviam Luthus para esses propósitos eram almas preparadas para o desafio de conduzir a mente humana para o mal, sabiam seduzir o coração humano e para isso tinham conhecimento diversificado e aprofundado em diferentes assuntos.

Além de tudo, eram altamente fortes. Era uma perfeita aliança entre a força e a sabedoria, tudo em prol do mal. E agora estavam na minha frente.

Tinha a perfeita consciência de que Luthus fazia parte da unificação de Gonzalez com Helder, tudo para que Kandira viesse ao meu encontro, usando Tomas para chegarem até mim.

Os satanás saltaram sobre mim, me puxando fortemente pelos membros.

Eu nunca poderia imaginar que eram tão fortes.

O meu propósito, o meu objetivo era extremamente forte e isso que me trazia força para manter cada coração bem apertado em minhas mãos.

Os satanás me mordiam, enfiavam suas garras em meu corpo e o cortava facilmente. Eu tinha o domínio do meu corpo espiritual e os cortes não sangravam, assim como cada um dos cortes cicatrizava instantaneamente, para isso consumia muita energia e a dor era imensa.

Eu mal podia manter a consciência do ato que praticava. Eu sentia minha alma se desfazendo.

Eu estava feito animal irracional, rugindo com a face desfigurada e tentando também morder os satanás. Esse foi o meu erro, caí em desequilíbrio e dei chance à derrota.

Um deles enfiou a mão pela minha nuca e começou a tentar invadir meu pensamento, tirando parte da minha orientação.

Mas meu propósito estava acima de tudo e não era comandado por pensamento. Meu coração mantinha as minhas mãos intactas e cada vez mais fortes, apertando cada coração.

Cada um dos outros quatro satanás enfiou uma mão em meu peito, trazendo extrema dor, jorrando uma energia em forma de esputo escuro, eu sentia o odor do pântano de Anralaar, aquele era o meu sofrimento.

Nesse momento ficou difícil de me concentrar e, sem desejo de me entregar, fui vencido pelos satanás.

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Minha alma tornou-se um perispírito simples e fraco, deixando de ser puramente energia universal e adquiriu uma forma de freqüência baixa, com extensão quase material, um degrau entre a espiritualidade e a vida em matéria.

Isso diminuiu meu reflexo, retirou meus dons e eu pude ver duas coisas.

A primeira é que eu estava vencido pelos demônios. Estava vulnerável.

Meu rosto estava caído no chão, sobre alguns escritos na areia. Eram orações demoníacas em uma língua satânica antiga qualquer.

Havia plasma espiritual onde eu tocava. Quanto mais plasma eu deixava, mais energia minha saía da alma, ficando eu cada vez mais fraco.

Meus olhos queriam se fechar, mas eu não podia me entregar, eu tinha que sair daquele local.

Mas apesar dessa vitória dos demônios, a segunda coisa que eu podia ter certeza era que meu propósito maior havia sido alcançado: Gonzalez estava também caído no chão de sua sala. Ele estava morto.

Kandira estava também caída, mas viva e tinha ainda sua consciência. Seus protetores, os Oxamans, haviam segurado os meus dedos e a força imposta não foi o suficiente para ela.

Minha alma agora estava em plasma materializado, eu havia me tornado um perispírito fraco. Era momentâneo, mas os momentos seguintes poderiam substituir minha luta por sofrimento.

Os satanás sorriam silenciosamente, enquanto andavam ao meu redor. Eu sentia o fracasso e pensava em Tomas e nos guerreiros da Terceira Ordem. Eu esperava que eles pudessem alcançar o destino final com êxito, para fazer valer o meu sofrimento.

Eu tentava me arrastar para fora da sala e os satanás me puxavam de volta para o centro da areia com o escrito satânico. Eu tentava chamar Galdus, mas estava sem esse dom também, e assim eu ficaria enquanto estivesse em forma materializada.

Foi quando Luthus apareceu naquela sala.

Ele agachou próximo de Kandira, olhou para ela como se olha para uma filha. Estava orgulhoso. Colocou a mão sobre a cabeça dela, fechou os olhos e a dor que ela ainda sentia foi bloqueada.

Ela se levantou e olhou para mim. Ela era cega. Eu não sabia disso.

Ela via por mediunidade e pôde me ver caído.

Luthus levantou-se e sorria para todos com imensa satisfação. Olhou para Gonzalez, balançou levemente a cabeça e não deu importância alguma para o corpo dele.

Olhou para mim, no início com certa pena, respirou fundo, levantou as sobrancelhas e, com as mãos na cintura, apenas disse:

- Mamhat, você veio a mim e eu o acolhi, como pôde pensar que poderia me trair e impedir ?

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A Terceira Ordem

Parte 10

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XXVII – O Preço do Erro

Luthus estava feliz com aquele momento, era uma vitória para ele, eu estava totalmente sem defesas e ele tinha uma platéia para falar e ser aplaudido. Ele não perdeu tempo.

- Mamhat, lembro-me de você quando chegou, era uma alma sem experiência, eu o coloquei em berço de ouro. Você foi filho de grandes reis e herdou muita coisa. Foi treinado pelos melhores guerreiros que já fizeram nome na história da humanidade. Ao longo das suas vidas, você só me deu alegria.

Eu nada podia fazer, além de ouvir sua fala e esperar que algo pudesse acontecer. As minhas forças podiam voltar, Galdus poderia aparecer, algo poderia acontecer enquanto eu ouvia, caído, as palavras de Luthus.

- No início eu o acompanhei pessoalmente nos combates. Nunca deixei que uma flecha o atingisse. Nenhuma lâmina penetrava seu corpo fechado, assim, nós dois, juntos, fizemos o seu nome. Milhares de homens vieram para lhe servir em combate. Essa mesma história se repetiu dezenas de vezes, em dezenas de encarnações por mim concedidas. A cada velhice que tomava seu corpo você voltava mais soberano e sábio, liderando, cada vez mais, melhor.

Ele andava na sala e gesticulava sem parar. Algumas vezes pensava no passado com expressão de orgulho e voltava a falar. Minhas forças pareciam não voltar, mas eu ainda tinha esperança e isso me mantinha firme.

Luthus aproximou-se das espadas que estavam na sala de Gonzalez, as mesmas que eu havia contemplado um dia e começou:

�Lembro-me de uma batalha em especial. Nessa eu não me manifestei em nada. Era sua vez de deixar a vida novamente, para voltar mais jovem. Seu exército já estava cansado, há meses estavam batalhando e saqueando. A última batalha havia se encerrado há três dias e quase não haviam comido ou dormido desde então.

Muitos homens estavam feridos e suas armas pesadas pareciam ser impossíveis de manejo naquele momento. Na busca por um abrigo seguro, vocês não pararam ao anoitecer e continuaram a caminhada, carregando os objetos saqueados, as armas e os feridos que mal podiam andar.

Era preciso chegar a um local seguro e cuidar da fome, do sangue que corria e dormir. Mas você não tinha nenhum arranhão. Era imbatível, apesar do cansaço.

A necessidade por um local seguro era por causa de dois reis que haviam determinado a exterminação de seus homens e sua cabeça estava a prêmio. Era uma bela quantia. Até fazendeiros se uniram para sair em busca do sonhado valor em ouro prometido.

Vocês foram seguidos e antes que pudessem chegar a algum local foram surpreendidos. O número dos que esperavam em emboscada era quatro vezes superior aos homens de seu exército, incluindo os que estavam quase mortos.

Na surpresa, vários foram mortos sem ter tido tempo para qualquer reação.

Naquela manhã fria que ainda aguardava a chegada do sol você foi incrível. Foi ali que percebi o quanto eu o admirava, Mamhat.

Você ergueu sua espada, a mais pesada de todos os homens e deu um grito ordenando para que todos se juntassem.

Você agrupou os homens e fez com que os mais fracos ficassem no meio com arcos e flechas, ao redor formaram uma proteção humana com lanças e espadas que dava proteção ao núcleo com menos poder de ataque direto.

Você escolheu alguns homens, os melhores, eram uns trinta homens e saíram pelo ponto mais íngreme do terreno, escalaram com bravura e atacaram os grandes chefes que organizavam o combate. Eram soldados reais, uns cem homens, que estavam em cavalos e de longe davam as ordens que eram seguidas pelos toques das cornetas.

O exército real e os homens que acompanhavam a batalha em nome do rei, apesar de ser em grande número, não tinham mais a organização dos pensantes. Eram apenas homens contra homens.

Vocês pegaram os cavalos dos soldados reais já mortos e correram sobre os arqueiros reais, pisoteando os homens que ficaram fora do combate rapidamente. O seu exército, Mamhat, lutava com sabor de vitória desde o começo e fizeram muito bonito naquela manhã. Estavam resistindo bravamente e matavam mais que morriam.

Você saiu em disparada com o cavalo negro e desceu a colina pegando o exército inimigo por trás. Sem ter tido tempo para armar uma estratégia, você foi magnífico. Você sozinho foi capaz de dar conta de dezenas de homens.

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Aquele ataque inesperado foi um suicídio para o exército real e você deixou apenas três homens vivos, em dois cavalos, para que pudessem voltar e contar o resultado do ataque, em uma mensagem para que ninguém mais se atrevesse novamente com aquilo.

Vocês então tinham armas novas, flechas, cavalos e comida, tudo que era daquele exército real passou a ser seu. Assim puderam arrumar um abrigo e voltar em segurança para a terra dos homens guerreiros.

A liderança desse exército foi tido por você três vezes, em três reencarnações diferentes. Você voltava como criança, se preparava, ia para o combate e rapidamente era ordenado à líder. Eles o amavam. Eu o amava. Você poderia ter sido um grande rei soberano. Poderia ter comandado o planeta sozinho, em meu nome.

Bastava voltar à vida mais uma vez e você teria tudo o que qualquer homem sonha em ter.

Mas por que desistiu de tudo ? Por que, Mamhat ?�.

Eu ainda estava caído no solo, sobre a areia com escritos que eu não entendia, apesar de parecerem familiares. Com dor e fraco, dei a resposta, na intenção de ganhar o máximo de tempo que pudesse:

- Luthus, eu entendi naquela época o que você ainda não entendeu. O poder não é nada se você não pode se sentir tranqüilo. O poder não sacia a alma, ele é um vício que entorpece e cega, sem nunca satisfazer. Após centenas de batalhas eu olhei ao longo do horizonte e descobri que tudo o que já tinha conquistado ainda não podia calar o meu desespero. Eu sabia que poderia ser mais feliz, mesmo nada tendo. Vi isso ao olhar por uma manhã inteira uns pássaros que se aprontavam para o primeiro vôo fora do ninho. Aquilo me fez pensar.

- Cale-se Mamhat � ele sorria com tom sarcástico e de deboche � como um guerreiro como você poderia contemplar um pássaro ? Um ninho ?!

- Foi por isso que pude contemplar, Luthus, eu estava com o poder. Eu tinha a palavra frente aos meus homens. Se eu ordenasse que algum deles cortasse seu próprio pescoço assim seria. Se você puder ter a vitória sucessiva, talvez, também poderá contemplar os pássaros.

- Você diz que eu não venci ? Pensa que não tenho o poder ?

- Se você ainda não encontrou, se não pôde ver o resultado da vitória pelo poder, certamente ainda não venceu.

Eu fazia isso para ganhar tempo.

- Seu tolo, eu estou nesse planetinha há séculos e estou ampliando cada vez mais o meu exército.

- Sim, tanto que está buscando em outros mundos a sua satisfação. Aqui você também não tem muito a conquistar.

- Isso é outro assunto e tratarei com você depois, agora receio que seja mais inteligente partir. Seus amiguinhos estão preocupados com você e eu tenho um servicinho para acabar.

- Luthus, eu quero lhe fazer uma proposta.

- Depois, depois. Agora partiremos, depois a gente conversa mais um pouquinho, agora estou ansioso !

Os demônios se abaixaram, pegaram do corpo de Gonzalez a sua alma inconsciente. Levantaram-no e saíram, desaparecendo durante uma breve caminhada.

Luthus olhou para mim e eu não pude ver mais nada, tudo se tornou escuro.

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XXVIII – A Chance

Eu podia ouvir, mas não via nada. Para mim estava tudo escuro. Enquanto ouvia vozes ao fundo, tentava me concentrar para encontrar a visão naquele lugar. Era apenas uma questão de equilibrar minha freqüência, meu pensamento.

Aos poucos fui atingindo o ponto de visão clara. Eu estava no reino de Luthus. Finalmente eu conhecia o famoso inferno.

Não era tão ruim quanto diziam. Era um palácio altamente bem cuidado, em estilo que unia arquitetura grega com inúmeras decorações celtas.

Sim, Luthus se lembrava de uma das melhores fases de sua existência e era a fase que eu mais tinha sido mau, que mais tinha distribuído esperança e fé aos fracos, trazendo-lhes o terror. Que mais tinha semeado a maldade no coração dos homens, trazendo aos meus aliados o poder da conquista incessante.

Luthus se lembrava e fazia do seu reino algo como um espelho desse passado, talvez para se sentir bem. Ou o local era agradável, ou eu é que estava se sentindo em casa.

Eu tinha medo e não queria pensar em nada. Eu estava semi-sentado em uma poltrona que mais se parecia com um trono real e tentava manter minha concentração para não perder a visão. Eu precisava de equilíbrio.

Luthus veio até mim:

- Finalmente meu filho acordou !

- Não me chame pelo que não sou, Luthus.

- Mamhat, não renegue o que lhe dou com tanto carinho.

- O que você sabe sobre carinho, afinal ?

- Não é porque vivemos do plantio do mal para colher o poder da esperança que temos que ser ruins para nós mesmos. Lembre-se que em terra de corcunda o ereto é torto ! � ele ria como se tivesse aguardado toda a sua existência para aquilo.

- Luthus, se quer dissipar minha alma em energia e alimentar seus demônios, por que perde tanto tempo comigo agora ?

- Oras, vamos, não fique bancando a vítima. Eu o tornarei um soberano novamente !

- Eu não quero ser soberano, quero apenas que os homens sejam livres.

- Mamhat, esses animais não podem ser livres, não saberiam o que fazer com a liberdade deles... eles se matariam !

- Talvez sim, talvez não.

- Onde quer chegar meu filho ?

- Não me chame assim e não banque o ignorante, Luthus. Você sabe que os homens poderiam recuperar a dignidade em pouco tempo se os seus demônios não fossem tão atuantes.

- É, talvez.

- Os homens poderiam até tentar se matar, mais aí estariam em suas mãos, buscando mais esperança em um amanhã e menos acreditando na salvação divina.

- Mamhat, você tenta me iludir ?

- Eu jamais faria isso ao nobre príncipe das trevas.

- Não me venha com isso, Mamhat. Você sabe tanto quanto eu que isso é para os animais terrenos. Eu sou um demônio sábio, sim, mas não grande. Deus detém todo o poder e é infinitamente maior que eu. Ele é formado por milhares de almas e eu sou um só. Somente estou com a posição de grande porque esse foi o trato: ele não interferiria. Só me tornei maior porque os homens são tolos.

- Talvez você possa se livrar de um grande problema.

- E qual seria, posso saber ?

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- A Divina Providência já foi clara, Deus não permitirá que você busque conquistas fora da Terra e isso poderá custar o planeta de onde você tira todo o seu poder.

- Mamhat, Deus pode até tentar me impedir lá fora, mas na Terra ele jamais poderá se manifestar.

- Luthus, ele já o fez uma vez, lembra-se, ele destruiu cidades e isso consta até da bíblia.

- Sodoma e Gomorra ? Aquelas porcarias ? Eu mesmo destruí. Não foi por causa do pecado que havia lá, foi o mau exemplo.

- Mas você pode se livrar de Deus para sempre e partir para outros planetas próximos, sem correr o risco de perder algo.

- Hum, você tem o poder da palavra agora, Mamhat ?

- Não, tenho apenas uma proposta, que sei que tanto você quanto a Divina Providência gostariam de tentar, pois todos só teriam a ganhar e nenhum corre o risco de perder algo.

- Impossível, para alguém ganhar, alguém tem que perder, meu jovem.

- Não pense como sempre pensou, seja mais inteligente, Luthus.

- Tudo bem, vou segurar minha ansiedade um pouco. Você tem a minha atenção, qual seria sua proposta ?

- Você deve ordenar que seus demônios não mais passem a influenciar os homens, enquanto a Divina Providência não mais os ampararia. Assim poderíamos descobrir o que os homens são de verdade e aí tudo recomeçaria novamente. Se você estiver certo, a Terra será liderada por você com total crédito, se a Divina Providência vencer e os homens se tornarem puros você poderá retomar seus planos de onde parou. Vê, você não corre risco de perder nada.

- Simples assim ? E a Divina Providência se retiraria e seria como Deus, inerte ?

- A Divina Providência é formada por anjos que ainda não estão prontos para chegar até Deus, tanto faz ficarem aqui ou em outro lugar até conseguirem mais evolução. Estão aqui por que são obrigados a estar. Posso nesse acordo conseguir a retirada de todos para outro plano, deixando-o livre. Eles não perdem, nem você. Mas seja lá quem vencer, o outro acaba ganhando junto.

- E a regra, seria assim simples ?

- Mais ou menos, há algumas etapas a considerar.

- Odeio etapas, Mamhat, já perdemos muito tempo, prefiro do meu jeito.

- E como será ?

- Mamhat, será do meu jeito e pronto, agora vamos aprontá-lo, quero ser o mais breve possível nisso, antes que algumas coisas se tornem fora do controle.

- É o meu fim ?

- Uma alma como a sua nunca chega ao fim. Seu início foi diferente e não poderá ter um final igual aos demais. Você é o que é, Mamhat ! � ele começou a rir novamente, usando as minhas palavras � não poderá terminar como nunca foi.

- Não entendi, Luthus.

- Você teve a sua chance, Mamhat. Várias até. Mas já fez a sua escolha.

- Sim, eu escolhi o caminho da fé.

- Cale-se. Você apenas ignorou seu passado, nada mais. Tamisau e eu tínhamos um acordo, eu não interferiria no seu caminho até você ter a sua escolha. Se você escolhesse seu passado, buscando sua memória, é porque você tinha ainda algum mal dentre de si e gostaria de resgatá-lo, se recusasse o passado é porque não queria nada de ruim em você. Só isso.

- Então Tamisau venceu, e o que acontece ? Viro seu escravo, agora ?

- Não, o acordo seria que se você ignorasse seu passado você estaria me recusando, logo, eu teria que renunciar a você.

- Então o que faço aqui, Luthus ?

- Nada, você é meu inimigo, só isso. Vou colocá-lo em um lugar de destaque e centenas de almas famintas vão se alimentar de você.

- Então é isso, como eu já falei, é o meu fim.

- Seu tolo, você está acreditando nisso porque não tem informação sobre você mesmo, mas terá em pouco tempo � ele ria como se pudesse ver o futuro, como se tivesse uma visão precógnita do que estaria por vir, algo assim, isso me assustava muito � Mamhat, você é o que é ! Não queira fugir de si mesmo, isso é impossível.

- Não fugirei Luthus, eu sou o que sou. Não temo e sei que Deus me amparará.

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- Quanta demonstração de ignorância, você sabe que Deus não ampara ninguém. Se nós dois olharmos para aquela espada � era uma espada celta de combate � você terá a sua visão e eu terei a minha. Por que ?

- Porque você jamais empunhou uma antes.

- Sim ! Cada um tem um conhecimento. Eu vejo um instrumento de poder. O que você vê ?

- Vejo apenas uma espada, quem dá o destino à ela é quem a manuseia. Não há como ver poder nela, se quem a usa é um fraco.

- Esse é Mamhat ! Viu ? É a mesma coisa. Você olha para o seu interior e vê uma espada e imagina que pode manusear seu coração, decidindo trocar a sua origem por um fim diferente. Eu olho para você e vejo um filho que se perdeu no caminho, perdeu o conhecimento e não sabe quem é. Vou ajudá-lo a se recuperar, Mamhat.

- Você não poderá me obrigar a nada.

- Não será preciso, você é o que é, só isso.

- Eu sou filho de Deus ! � nesse momento eu comecei a gritar � Não sou seu filho, sou filho de Deus !

- Você teve a sua chance, agora terá que enfrentar seu maior temor. Terá que enfrentar a si próprio. Esse será o seu verdadeiro Juízo Final. Só há uma forma de saber quem você é realmente e esse momento será agora. A sua chance anterior teve uma escolha baseada no medo, você me renegou temendo enfrentar a si próprio. Agora terá que fazê-lo de qualquer maneira, depois veremos o que você vai escolher.

Ele acenou com a cabeça, eu em desespero gritava para que não fizesse isso, dizia que ele estava traindo o acordo firmado com Tamisau, mas de nada adiantou. Ele não estava querendo me convencer de nada, por isso não estava traindo o acordo. Ele estava apenas fazendo comigo o que eu tinha medo que acontecesse com os homens: olhar firmemente para o fundo do próprio coração.

Encarar a si próprio é a pior tarefa de todas e eu não estava pronto para isso, tal qual os homens. A grande maioria dos seres vivos não consegue passar do Juízo Final, pois não agüenta ver tantas oportunidades perdidas, tanto mal semeado, tanta discórdia criada por nada.

Dois grandes demônios vieram, tinham a face coberta por máscaras e eu não podia ver seus olhos para tentar imaginar o que estavam pensando.

Eu estava ainda muito fraco e não consegui sequer afastá-los de mim. Os dois me seguraram, me levantaram e começaram a me conduzir, sem qualquer esforço, enquanto Luthus olhava para mim com um olhar de felicidade. O meu medo era visível e isso o agrava muito.

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XXIX – A Revolta de Anralaar

Enquanto os demônios estavam me conduzindo para fora do palácio de Luthus, muita agitação começou a ocorrer e eu vi no horizonte, um exército se aproximando, eram os guerreiros de Anralaar.

Os demônios pararam e olharam para trás, Luthus vinha caminhando e parou ao nosso lado.

- Mamhat, veja como seus homens vêm. Eles trazem a força calcada na alma. Eles querem o líder de volta. Eu devolverei a você o que a Divina Providência lhe retirou.

- Luthus, se eles querem a mim, por óbvio seguirão minhas ordens. Teremos um combate aqui.

- Não seja tolo. Eles não podem nos ver. Você mesmo que está muito mais evoluído que esses demônios teve que se concentrar para enxergar esse lugar. Tudo o que está aqui só existe em uma esfera de pura evolução. Não é uma questão de quantidade de maldade no coração, mas de evolução.

Os homens vinham marchando e ficamos ali, olhando. Eu esperava poder fazer um contato, queria que eles me vissem, mas aos poucos começaram a descer o terreno como se ainda buscassem o paradeiro do destino. Estava óbvio que não nos viam.

Luthus balançou a cabeça, desaprovando o desperdício de coragem sem liderança firme, fez um gesto com as mãos e os demônios continuaram a me levar.

Nesse momento o céu que cobria o palácio de Luthus, que ficava no ponto mais alta do terreno, começou a se fechar, foi ficando escuro, tinha uma tonalidade avermelhada muito escura.

Nuvens foram aparecendo rapidamente e se juntando, algo importante estava acontecendo.

O exército de Anralaar parou de caminhar e começaram a observar o céu. Puderam notar que somente parte do céu estava escurecendo e era exatamente sobre o palácio. Foi fácil entender isso, apesar de nada verem, e começaram então a marchar novamente, mas dessa vez na direção certa, eles estavam vindo.

O vento começou a soprar muito forte, raios em disparada começaram a cortar o céu. Centenas de demônios começaram a aparecer, como que para proteger o palácio do perigo iminente que estava por vir.

Luthus, sem perder a calma, levantou suas mãos e começou a dizer palavras em uma língua que eu não tinha conhecimento, mas de alguma forma eu podia entender, no fundo do meu coração, eu entendia o que estava acontecendo, ele estava chamando por Kandira.

Em poucos segundos Kandira apareceu e como se já soubesse a razão do chamado sentou-se sobre os próprios pés, de joelhos, e começou um feitiço, escrevendo no solo com uma pequena vareta.

Luthus caminhou até mim e disse:

- Sim, seus amigos são fiéis a você, isso será ótimo em pouco tempo. Em breve você estará recuperado e poderá fazer valer essa força de liderança que tem.

Kandira estava confiante e eu assistia a tudo. Conforme ela desenrolava o feitiço o céu começava a se controlar, os raios começaram a diminuir e o ventou foi perdendo a intensidade.

- Veja, Mamhat, - Luthus estava cada vez mais feliz e me contava tudo com muito prazer � veja o poder total acontecer quando o imortal encontra o poder mortal. Kandira, em meu reino, é o intermédio do material e do imaterial, aqui os poderes dela se fundem com o meu e nenhum demônio ou anjo pode com isso. Os seus guerreiros de Anralaar nada podem fazer. Conosco também foi assim, você não se lembra ?

Do horizonte surgiu milhares de almas, era uma mistura de demônios e anjos, todos de média e baixa evolução. Eram os errantes da Terceira Ordem que agora se juntavam com os de Anralaar.

O céu saiu fora de controle novamente e os raios cortavam o céu causando grande barulho, que misturado ao vento tornou a audição impossível. Luthus começou a demonstrar sinais de preocupação, via que algo estava fora do controle.

Ele olhou para os demônios que me seguravam e deu a ordem para continuarem.

Enquanto os demônios me conduziam, Anralaar e a Terceira Ordem se aproximavam de nós.

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Os demônios me entregaram para criaturas grotescas dotadas de asas enormes, era uma mistura de homem e demônio alado. Estas me levaram para o alto de uma pilastra em frente ao palácio.

Para mim, não havia nada abaixo, não havia o palácio nem nada, era uma imensidão no escuro, de onde vinham gritos de sofrimento. Era então outra fase do inferno, ocupando o mesmo lugar do palácio e ao mesmo não estando lá.

A sensação é que se eu caísse, não mais sairia de lá, meu coração me avisava que eu deveria resistir a tudo, não poderia cair.

Por trás de mim surgiram alguns demônios que me agarraram e começaram a me morder, queriam sugar a minha energia, como se dos ferimentos pudesse sair sangue em forma de energia, aquilo doía muito e eu comecei a lutar no pequeno espaço que eu tinha.

Eu estava muito fraco, mas pude lembrar de uma cena que havia assistido há muitos anos. Esse flash foi mais longo e as cenas não vieram picotadas, eu pude ver e lembrar aquele fato, durante uma batalha em que saqueávamos um cidade, uma casa desabou, ficando um nenê preso sob o telhado de folhas, que começava a se incendiar. A mãe do bebê, fraca e quase inconsciente levantou-se do chão e caminhou até a casa. Levantou o telhado com as mãos, abaixou-se e sustentou o telhado nas costas, pegou o bebê e saiu de lá.

Ela estava quase morta e encontrou força no desespero. Era como eu naquele momento. Eu estava quase entregue ao fim, mas comecei a relutar e a jogar os demônios no abismo escuro abaixo de mim.

Quanto mais lutava para salvar minha alma, mais forte me tornava. A dor era imensa, outros demônios começaram a surgir e o solo abaixo de mim começou a aumentar, como se eu tivesse maior espaço para a luta que travava, mas o abismo ainda estava lá, com os mesmos gritos de sofrimento.

O céu estava negro e os raios intermitentes mostravam a cor vermelha que ainda estava lá.

Mesmo em luta eu olhava os exércitos de Anralaar e da Terceira Ordem, eles ainda estava meio perdidos, não podendo nos ver.

Da ponta lateral do palácio ouvi um grito:

- Mamhat, lute !

Olhei e não acreditei, era Tomas.

Leny estava ao seu lado. Eu pude perceber que Leny já deveria ter estado ali, ele sabia que ninguém poderia encontrar o palácio com os olhos meramente de imortais, era preciso mesclar o mortal e o imortal, como Luthus havia deixado claro.

Ainda lutando contra os demônios que estavam contra mim, vi Leny ser capturado por uns demônios de Luthus, enquanto Tomas corria para perto de mim.

Tomas não tinha como chegar mais perto, o abismo estava entre nós. Alguns demônios começaram a voar sobre ele preparando um ataque, eu não poderia deixar que Tomas se ferisse, ele era mortal.

- Tomas, saia daqui, esse lugar está sob a proteção de Kandira, o local está entre o mortal e o imortal, se os demônios matarem você aqui, você morrerá na Terra também, volte para Galdus, agora, é uma ordem.

- Mamhat, Galdus está liderando o exército da Terceira Ordem, ao lado de Ankarllan, eu vim com Leny para tentar anular a força de Kandira, somente eu poderei fazer isso, somente eu poderei chegar até Kandira.

- Você está errado Tomas, você sozinho não poderá ultrapassar os demônios de Luthus para chegar até Kandira, você é um mortal e aqui é altamente frágil frente os demônios. Da mesma forma que os demônios não têm força na Terra você nada pode fazer aqui. Você é mortal, Tomas, saia daqui rápido, você é muito importante para morrer aqui, você tem uma grande missão na Terra, volte, volte todos � eu gritava para Leny também � saiam todos daqui.

Tomas tentava evitar o vôo rasante dos demônios que faziam ataques sobre ele.

Eu olhei para Leny e ele havia sumido, não estava mais ali.

Olhei para Tomas, ele olhava para mim de uma forma que se podia ver a dificuldade da decisão naquele momento.

Deixar um companheiro para trás é a pior decisão que um guerreiro pode tomar em combate. É horrível e ele não se esqueceria daquilo jamais.

Os exércitos estavam perdidos, nada podiam fazer até que nos tornássemos visíveis para eles.

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Olhei para Tomas novamente e ele sem nada dizer, sem um único aceno, simplesmente sumiu, deixando para trás os demônios, o palácio e a mim. A difícil decisão havia sido tomada.

Kandira ainda estava de joelhos fazendo a sua oração do feitiço. Luthus ria de braços abertos e mãos levantadas para o céu negro e vermelhado, debochando do fracasso da revolta de Anralaar.

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XXX – O Combate

Uma imensa neblina tomou conta do local e eu não mais podia ver os exércitos de Anralaar e da Terceira Ordem. Éramos somente Luthus, Kandira, os demônios e eu.

A minha esperança, tenho que confessar, ficou abalada, mas eu ainda tinha algo para provar: eu não pertencia às forças de Luthus.

Sobre um pequeno espaço içado acima do abismo os demônios me atacavam sem cessar e eu continuava a lutar. Eu entendia que a queda me colocaria em um ponto de desvantagem, aquele abismo era o local onde cada alma podia se ver e enfrentar a sua realidade.

Nesse momento eu entendi que eu deveria fazer isso, eu tinha que enfrentar a minha realidade, só assim eu poria um fim nesse amargo carma. Era o momento de enfrentar o fado, como carma do que eu tinha feito. Somente enfrentando as conseqüências dos meus atos é que eu poderia continuar a minha caminhada.

Deixei que os demônios se aproximassem e me segurasse, somente fora do combate é que eu poderia me entregar à concentração.

Fechei os olhos e me concentrei a ponto de não mais sentir a dor vinda dos dentes dos demônios, eu não sentia nem ouvia nada mais. Eu era apenas energia.

Lancei tanta energia para fora de mim que os demônios começaram a se afastar, como o sedento que se afasta da grande quantidade de água que o engasga e afoga.

Pus-me de pé e quando abri os braços e os olhos o espaço sobre o abismo estava todo tomado de luz azul e nenhum demônio estava perto de mim.

Virei a cabeça lentamente e falei em tom muito baixo, mas com a certeza de que Luthus poderia me ouvir por pensamento:

- Eu sou mais que energia, eu sou fé. Eu não temo o meu julgamento, se fiz diversas coisas erradas isso não mais importa, eu estou pronto para recomeçar e mudar tudo o que fiz. Não importa a ciência ou a ignorância dos meus atos, importa apenas que agora sou filho de Deus e em nome do meu pai enfrento o meu julgamento, Luthus. Eu sou o que sou e continuarei a ser o que fui. Eu fui um enviado que usou as ferramentas necessárias para chegar até aqui, se fiz o mal não importa, o que importa é que evoluí desde então, assim, não importa o que fiz, mas o que sempre tive dentro de mim. O amor esteve em mim o tempo todo e surgiu quando pôde. Esse sou eu.

Dei alguns passos para frente e soltei a minha alma, que se ela fosse um corpo na gravidade e caí no abismo.

Essas poucas palavras proferidas foram mais que o necessário para tirar o sorriso de Luthus, ele pôde ver que eu não mentia. Foi ali que ele percebeu que eu havia, na verdade, sido uma perfeita ferramenta de Deus e ele, Luthus, havia se iludido.

Luthus ficou ali, parado, contemplando a meditação de Kandira, tentando encontrar uma forma de poder negar aquela situação.

Kandira soltou um grito, pôs-se de pé, perdeu a concentração e o céu tornou-se mais revolto ainda.

O vento começou a limpar a neblina e Luthus, sem entender, virou-se para Kandira com expressão de ódio e surpresa.

Kandira, meio engasgada, estava com a mão no peito e tinha sangue escorrendo de sua boca. Ela olhou para Luthus e disse:

- Meu pai, proteja a minha alma que sempre lhe servirá.

Luthus, que detinha total poder de visão entre o material e o imaterial viu a realidade que se passava no mundo terreno, era Tomas.

Tomas tinha em suas mãos uma pistola automática e tinha acertado o peito de Kandira, que no mundo terrestre estava ainda na sala de Gonzalez. Ao lado de Tomas haviam dois homens de confiança de Max.

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Tomas colocou a arma próximo da face de Kandira e deu mais dois tiros, jogando seu corpo junto do de Gonzalez. No mundo de Luthus foi a mesma cena, Kandira caiu no solo sobre as escritas e a união do material e o imaterial terminou.

Nos olhos de Luthus haviam lágrimas reprimidas que não caíram.

Ele havia se dado conta que algo havia saído errado, os homens de Gonzalez e Helder cuidavam da segurança do prédio, Tomas e Max devem ter tido alguma ajuda.

Luthus havia sido traído e acaba de perceber que tinha perdido dois filhos, eu e Kandira.

Como no coração do homem comum a traição é o que há de pior para despertar o mais nobre ódio. Luthus deu um grito imenso que pôde ser ouvido por muito longe.

A invisibilidade estava quebrada. Sem o poder material de Kandira o solo de Luthus podia ser visto, afinal, haviam dois exércitos se esforçando para encontrar tal lugar, um liderado por Galdus e o outro por Ankarllan.

A Terceira Ordem apontou na lateral extrema do palácio e os guerreiros de Anralaar vieram pela frente. Os demônios de Luthus se puseram na entrada impedindo que guerreiros ultrapassassem os limites do solo de Luthus.

Milhares de demônios surgiram das diversas camadas do inferno.

Todos traziam consigo as armas que mais agradavam Luthus: espadas.

A Terceira Ordem havia sido instruída e construída por mim e por Galdus. Amávamos essa era maravilhosa de vitórias. Os guerreiros de Anralaar eram os homens mais bravos que já pisaram na Terra e tiveram as mesmas vitórias na mesma época. Todos eram guerreiros com armas de metal.

Os demônios de Luthus usavam as mesmas armas, pois essa fase tinha também sido a fase de glória dele.

Estávamos de volta ao episódio das lutas de armaduras, escudos e espadas.

Assim iniciou-se o primeiro combate de resistência contra Luthus.

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XXXI – A Decisão de Tomas

Assim que Tomas partiu e eu fiquei sozinho sobre o abismo ele tomou uma sábia decisão que eu jamais poderia esperar.

Ele havia entendido que não poderia combater Kandira, pois ambos eram seres encarnados e ela tinha proteção no mundo das trevas, enquanto ele estava sendo atacado.

Ele não me deixou para trás no combate, apenas seguiu um caminho diferente.

Leny o havia conduzido para um transe e guiado sua alma até as terras negras de Luthus, na esperança que sua ligação com o mundo material pudesse iluminar os exércitos até o palácio para o combate.

Quando Leny percebeu o erro, retornou para junto do corpo de Tomas, que assim que retornou também foi direto até Max.

Max destacou dois de seus melhores homens para acompanhar Tomas até o prédio de Gonzalez.

A bruxa de Max havia dito que os �amigos de Tomas� haviam assassinado Gonzalez.

Max sabia que Helder era amante puro do dinheiro e, enquanto Tomas e seus homens seguiam para o prédio, entrou em contato com Helder, fazendo uma verdadeira proposta irrecusável, se colocando à disposição para acabar com Gonzalez em troca de território livre para as suas atividades.

Helder não sabia que Gonzalez já estava morto e como a sua atividade era diferente da de Max, aceitou rapidamente e retirou seus homens do prédio, deixando a segurança do local bem fraca, com apenas três homens de Gonzalez. Ninguém sabia de sua morte.

O território de Max estava aberto para as atividades de Helder, assim como o território deste estava aberto para as atividades de Max. Não eram mais concorrentes, eram agora parceiros.

Tomas e os dois homens de Max chegaram no prédio e ao serem abordados pelos homens de Gonzalez, os únicos que estavam no local, dispararam vários tiros, eliminando-os e ficando livres para subirem e se encontrarem com Kandira.

Tomas cuidou dela pessoalmente. O tempo novamente correu mais rápido na Terra que no mundo imaterial.

De tudo, o que mais impressionou Tomas foi a breve conversa que ele teve com um dos homens de Max. Isso ele me contou depois e foi assim:

- Qual o seu nome ?

- Todd.

- O meu é Tomas, prazer.

- Prazer.

- Todd, você já matou muita gente ?

- O que seria muita gente, para você ?

- Hoje eu matei pela primeira vez na vida.

- Não pense nisso, Sr. Tomas. É melhor.

- É o que você faz, Todd ? Não pensa ? Você acredita em Deus ?

- Sr. Tomas, não sou ateu, nem agnóstico, eu simplesmente não me importo com Deus.

- Como assim ?

- Nunca tive a sensação de que Deus estivesse por perto.

- Como pode dizer isso ?

- Tanto Deus como Lúcifer nos querem muito bem. O que ambos não aceitam é a traição, se você for fiel a um ou outro, terá tudo o que quer, será filho legítimo. Quem sofre mesmo são os fracos. Os fortes sempre saem vitoriosos.

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- Você acha que os atos de Deus são parecidos com os atos de Lúcifer ?

- Deus e Lúcifer são idênticos, ambos cobram a mesma coisa por nossa felicidade. A diferença é que Deus cobra adiantado, você sofre primeiro, depois é recompensado, para Lúcifer, primeiro você goza a felicidade, depois paga.

Depois dessa resposta nenhuma outra palavra foi trocada. A viagem de volta foi em pleno silêncio e Tomas ficou com essas palavras gravadas na mente.

Todd tinha feito uma excelente reflexão, exceto pelo fato que ele não tinha ciência que Deus ainda não havia se manifestado na Terra, pelo acordo um dia feito.

Mas no efeito prático, ele tinha acertado, todos teriam contas a acertar com Lúcifer, fosse adiantado ou depois de gozar a felicidade.

Não adiantava o bem e o mal, era tudo a mesma coisa, dentro das mesmas regras de Luthus. A única diferença era a fidelidade e o poder individual, isso sim separava o forte do fraco, tendo uns os agrados de Luthus e os outros seu desprezo.

Esse era o destino da humanidade que precisava ser alterado e tudo só dependia da Terceira Ordem.

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A Terceira Ordem

Parte 11

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XXXII – A Esperança no Combate

Eu havia caído no abismo de Luthus, parecia que o abismo na verdade seria apenas uma das fases do inferno, era uma questão puramente psicológica da alma e não uma realidade.

A sensação que eu tive é que caí em um sono profundo, haviam algumas vozes em meu pesadelo, todas elas diziam afirmativamente que eu era mal, que meus atos me condenavam, que minhas preces tinham sido frígidas, que meu coração sempre pertenceu à maldade pura.

Eu tentava negar, mas elas diziam que a negativa era a forma simplória que eu havia inconscientemente criado para acalmar o desespero da alma. Afirmavam que eu negava para tentar evitar as conseqüências dos meus atos.

Eu pedia provas e o meu passado de assassinatos corria na minha mente. Cada liderança que eu efetivei para invadir uma cidade começou a passar em forma de filme para mim, não eram flashes, eram recordações.

Eu relutava tentando afirmar que tudo era mero passado, que eu também tinha feito muita coisa boa, mas refutavam meus argumentos dizendo que aquilo era parte da maldade, que eu só queria implantar esperança nos corações fracos e sofridos.

Eu era o propósito ativo do mal, que pendia entre o bem e o mal, oscilando conforme a necessidade.

Aquela revolução toda era apenas para criar um espaço temporal entre a destruição do planeta e as necessidades de Luthus.

Tentavam impor a realidade de que eu apenas agia entre o bem e o mal, porque assim era eu, esse era o meu propósito e eu jamais poderia mudar a minha verdade.

Explicavam que eu fazia o mal para criar a fraqueza, depois enchia a fraqueza de esperança, para gerar pânico nos corações, assim o ódio era mantido entre os homens e o controle de Luthus era mantido.

Eu tinha sido enviado para essa tarefa sem fim e eu somente estaria livre se Luthus cedesse e pedisse a interferência divina. Eu era escravo de Luthus. Era seu filho e estava preso em um ciclo que ninguém poderia interferir. Luthus tinha que se render à Deus, era a única forma.

Recusava-me a crer naquelas palavras, mas tudo era muito real para mim. Eu não podia reescrever o meu passado, mas acreditava que eu poderia reescrever o meu futuro.

Então só pensava no bom combate, no combate que tinha o propósito de enfrentar o mal, eu só pensava em me juntar aos exércitos da Terceira Ordem e de Anralaar.

Os exércitos estavam tentando invadir o palácio de Luthus, haviam muitos demônios e Luthus ordenou o regresso de milhares de demônios que estavam na Terra. O Inferno, pela primeira vez, precisa de proteção.

Os campos em volta do palácio estavam repletos de demônios contra demônios, não havia nenhum anjo por ali, só haviam almas errantes, almas perdidas, almas sofridas e almas demônios que pairavam entre a vida e a morte, sem propósito algum além do combate pelo alimento e pela liberdade. Nenhum anjo poderia participar daquela batalha que exigia ódio no coração pelo inimigo e amor ao combate violento.

Não haviam guerreiros caindo mortos, mas somente almas que não poderiam novamente morrer. Os golpes que seriam fatais em vida somente criavam um momento de desconforto psicológico e dor na alma dos guerreiros.

Alguns que caíam pelos golpes eram açoitados e o inimigo sugava-lhe sua força espiritual, puxava para si a energia da vida da alma.

Era uma batalha inusitada para mim, jamais havia visto exércitos se enfrentando sem um homem cair morto.

O exército da Terceira Ordem estava sob a liderança de Galdus e se mantinham nas laterais e na parte de trás do palácio, onde a força de resistência era menor, apesar da entrada ser mais difícil, porém as almas da Terceira Ordem não estavam preparadas para aquele combate e tentavam arrumar distrações e uma forma de invadir o palácio.

O exército de Anralaar, com grandes e fortes guerreiros, estava sob o comando de Ankarllan e era a linha de frente no combate. Quando um guerreiro caía e os demônios vinham para sugar-lhes a vida, outros guerreiros se juntavam e impediam o ato que chamavam de haurire.

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A tática de Ankarllan era exatamente assim, derrubar o demônio e praticar o haurire, assim como evitar que qualquer guerreiro pudesse ser sugado pelos demônios.

Seria um combate longo, muito mais longo que os combates pela vida na Terra, era um esforço além da compreensão humana manter-se em combate com concentração extrema por tanto tempo.

Combates assim poderiam durar dias, semanas, ou até mais.

A quantidade numérica entre as duas forças estavam igualadas, tínhamos como vencer.

O combate durou várias horas e eu ainda estava dentro do abismo, confrontando a minha própria realidade e só tive um único pensamento depois de várias horas de reflexão.

Só pensava em uma única situação: eu não poderia me enfrentar sem ter o meu passado inteiro. Eu poderia ser enganado e traído por mim mesmo, com a persuasão daquelas vozes que eu não sabia de onde vinham.

O abismo revelou-me que era conhecido como �Trívio�, que seria como um terceiro caminho que se juntava a outros dois.

Um seria o bem e o outro o mal. O terceiro caminho seria o caminho da troca e ao mesmo tempo da manutenção.

Fazer o bem não seria necessariamente estar ao lado do bem. Naquele mesmo combate os demônios se ajudavam mutuamente, salvavam uns aos outros do haurire. Praticavam o bem para si próprios em comunidade.

Na vida e na evolução todos nós passamos por dissabores e castigos, isso nos faz entender a extensão de cada verdade, nos torna mais fortes e sábios. Aquele que nos castiga, muitas vezes apenas nos quer bem, sendo este mal a verdadeira exposição do bem futuro.

O Trívio era isso, era o fim que justificava o meio.

Eu estava diretamente ligado ao Trívio. Luthus e Tamisau já haviam me revelado que eu havia tido uma origem incomum entre as almas.

Eu precisa resgatar, então, todo o meu passado para entender os meus atos. Eu não poderia enfrentar a mim mesmo sem saber da intenção do meu Trívio, do meu terceiro caminho, sem saber do fim que levaria meus atos eu não poderia entender a justificativa. Agora eu já poderia resgatar meu passado no Templo dos Anjos, o teste sobre esse fato já estava superado. Meu passado poderia ser a minha salvação, a salvação dos homens viventes.

Questionei aos sábios demônios que se expressavam em vozes dentro da minha mente se eu poderia buscar o meu passado na promessa de retornar e terminar o confronto pessoal.

O silêncio pairou profundamente. Tudo estava escuro, foi quando me dei conta de onde estava na verdade. Eu já havia estado lá uma vez, foi o meu julgamento quando interferi na história humana. O abismo era uma ligação entre o bem e o mal em sua essência maior. Nada poderia trair a verdade naquele lugar. Ali, eu estava acima de Luthus. Seria dali que se saberia qual seria o meu equilíbrio, se eu seria bom ou mau.

Percebi que novamente se aproximava uma voz, uma alma, tal qual da outra vez. Era novamente Tamisau.

- Mamhat, uma vez eu vim lhe resgatar nesse mesmo lugar. É um prazer saber que você por três vezes saiu ileso do Julgamento do Trívio. Isso nos dá total crédito e fé para mantermos a esperança no combate.

- Lamento, Tamisau, mas novamente não poderei ir com você. Lembro-me de duas vezes ter passado por aqui e não sei como foi a primeira. É por isso que não poderei ir com você.

- Você usou sua palavra. Você deve buscar seu passado e retornar, para terminar o que começou.

- Não, eu entrei para enfrentar o que eu sou e já o fiz. Prometi retornar para enfrentar o sempre fui, mas antes preciso fazer algo que também comecei. Luthus terá que me ouvir. Não há razão para as almas ficarem em combate, quando o que queremos salvar são os homens. Tamisau, reúna o conselho da Divina Providência, teremos uma reunião e será agora. Isso tem que acabar, de uma forma ou outra. Teremos uma reunião com o Conselho Universal.

- Mamhat, o que pretende ?

- Quero apenas concluir o meu �eu�, quero selar a razão da minha existência, quero sinetar meu nome em minha alma. Só assim terei um começo, um meio e um fim. Com isso retomarei o meu passado e todas as minhas lembranças, com a permissão de Deus, e virei até aqui para ver realmente quem sou e quem continuarei sendo.

- Eu reunirei o conselho como me pede, estaremos aguardando seu chamado.

- Que assim seja, amigo Tamisau.

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Tamisau afastou-se e eu senti a alma aliviada. Eu começava a entender a fonte universal da energia. Tudo para mim havia mudado de concepção. Não havia o bem e o mal, havia apenas o Trívio e eu tinha fé que a maldade que eu tinha semeado fosse um trívio, uma passagem má que fortalecia o momento, mas que poderia findar em um bem maior.

Toda a minha esperança estava mergulhada nesse pensamento. A minha maldade poderia ter sido uma armadilha contra Luthus, a minha maldade poderia ter sido a chave do fracasso de Luthus. A minha continuidade dependia agora da queda do Senhor do Mal e para isso eu tinha que compreender tudo aquilo, resgatando o meu passado.

Naquele instante evoluí tanto que eu não somente ouvia as vozes, eu começava a enxergar dentro do Trívio, eu via centenas de almas sendo interrogadas, sendo esclarecidas, sendo punidas, sendo objeto de especulação e enfrentando a si próprias.

O Trívio possuía o poder de fazer com que o coração de cada um punisse ou aprovasse a razão aplicada. Cada um seria o carrasco de si próprio. Ali não tinha como ludibriar o passado.

No meu caso, eu não tinha um passado e era isso que eu tinha que buscar. Eu tinha que entender o meu próprio bem e mal, para saber avaliar o meu ser. Para julgar a mim mesmo, eu teria antes que me conhecer e saber que fui.

O Trívio tinha me testado apenas, ele havia imposto afirmações para que eu pudesse manifestar medo de mim mesmo, medo do meu passado, mas eu não carregava nenhum medo. O meu fado era puro e isso me deu segurança.

Fechei os olhos e mostrei o meu coração para o Trívio, um coração sem medo nem culpa e pedi para voltar.

Senti a minha alma sendo puxada para cima e comecei a ver a luz avermelhada que pairava sobre o palácio de Luthus.

Antes de atingir a saída já podia ouvir o som da batalha, dos gritos, do metal pesado batendo entre espadas e escudos.

Quando recuperei toda a consciência eu estava fora do abismo, de frente para Luthus.

Luthus olhou para mim surpreso:

- Mamhat, que bom que veio para se juntar a nós !

- Luthus, não se engane, você sabe que eu não vim para me juntar a você.

- Meu filho, é a última vez que lhe estendo a mão. Você jamais deveria ter saído do abismo se não fosse para se juntar a mim. Você é meu filho!

- Não, Luthus, não sou o seu filho, mas posso lhe dar um.

- Vê, você é como eu, você negocia as suas vontades.

- Luthus, não temos que deixar as almas combatendo entre si, a questão é libertar os homens e nada mais.

- Impossível, isso jamais ocorrerá, a espécie humana é criação minha.

- Não, a espécie humana é condição corporal de bilhões de almas que foram escravizadas por você, sem obedecer a questão universal maior. Eu não entendia muito bem a razão pela qual Tamisau tanto queria que eu recuperasse minha memória e passado, mas posso tentar um palpite agora.

- Está querendo jogar com a sorte, Mamhat ? Isso é perigoso!

- Luthus, solicitei uma reunião do conselho e você terá que vir comigo, agora.

Os exércitos continuavam a se enfrentar e o som podia ser ouvido há muitos quilômetros dali.

A Terceira Ordem começou a se juntar na linha de frente, Galdus havia ordenada que praticassem haurire nos demônios que caíam, deixando os guerreiros de Anralaar livres para derrubarem outros demônios. O haurire, o ato de sugar a energia do oponente, não era prática comum aos ocupantes da Terceira Ordem, mas eles faziam o que podiam para atender as ordens de Galdus. Estavam uniformemente coordenados, era uma união excelente e pareciam altamente interligados nesse propósito.

- Mamhat, sou o Senhor desse planeta e nada mudará a minha opinião. A minha escolha já foi feita e se você insiste nesse propósito terá então que me enfrentar.

Luthus começou a respirar rapidamente, o céu ficou com cor mais intensa, o vento soprou mais forte, os olhos dos demônios começaram a brilhar e então começou a vir na minha direção.

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Eu estiquei o braço, abri as mãos e criei um círculo de luz divina ao meu redor. A sombra não existe na luz e o mal não existe no calor divino.

- Mamhat, não seja covarde, venha para o combate que você mesmo proclamou.

- Luthus, somente ingresso em combate que tenha um propósito e eu não tenho o propósito de lhe destruir, eu o quero para um acordo, não o quero destruído � afinal, para quebrar o ciclo do reinado de Luthus eu tinha que fazê-lo sucumbir e não destruí-lo.

- Oras, e você poderia me destruir, pequeno Mamhat ?

- Não, eu não poderia. Nenhum ser encarnado ou não poderia fazer isso, não um ser ligado a Terra.

- Deus não poderá interferir ! Lembra-se ? Só restamos nós !

- Você está enganado Luthus, há forças além da sua possibilidade de defesa que podem vir até aqui em um simples chamado. Eu sou o bem e o mal, o meu propósito é conclamar o equilíbrio e a Terra está em desequilíbrio. Eu surgi com um propósito que está além da minha atual compreensão, mas logo terei como saber. O que importa, é que eu posso chamar Temhikari, ou outro demônio qualquer.

- Não, Mamhat, você não pode fazer isso.

- Sim, eu posso e o farei se você não me acompanhar. Temhikari, pelo que sei, foi seu tutor, é seguidor das normas universais do equilíbrio das forças, ele respeita a ordem maior, ele respeita o �livre arbítrio�. Parece que ele não imagina o que está acontecendo aqui, mas poderá vir se souber que o seu nome poderá ser manchado pelos seus atos. Já imaginou se Temhikari souber que seu tutelado está traindo suas ordens ? Que ignorou seus ensinamentos ?

- Mamhat, isso é chantagem e é próprio dos demônios, você é um demônio, podemos arrumar isso a nossa maneira.

- Mais uma vez você se engana, se sou ou não um demônio, eu estou entre o inferno e o divino, não sou demônio nem anjo, sou único e isso não vem mais ao caso, o que importa agora é o propósito que eu decidi me entregar. Quero a liberdade na Terra e não descansarei. Não me importa se tenho que praticar chantagem ou lutar. Não me importa nada, exceto alcançar o meu sonho. Todo ser tem que idealizar seu sonho e sair em busca dele, é o que estou fazendo e você virá comigo e não importa o que terei que fazer, isso é a conseqüência do Trívio.

Em um ato sem pensar, mantive a mão esquerda aberta lançando a luz divina branca, estiquei o braço direito para o céu e criei um facho de luz azulada, um grande archote, era um facho fino, mas de intensa luz forte e azul claro. A luz, ao atingir o céu, começou a refletir para todas as direções.

Os guerreiros olharam para o palácio e Ankarllan viu que eu enfrentava Luthus. Chamou Galdus e pediu ordem para avançar com força em direção ao palácio.

Os grandes guerreiros de Anralaar vieram com toda a força e começaram a bater nos portões do palácio, batiam com muita força, com enormes troncos que derrubaram das laterais, eram as colunas do palácio que estavam sendo usadas como aríetes para aluir e derrubar os portões.

Em poucos golpes, o palácio tinha o primeiro dos portões caídos, as almas da Terceira Ordem corriam pelo lado de dentro para os outros portões e pulavam sobre os poucos demônios que ficaram dentro do palácio.

Luthus estava tão confiante no combate que havia ordenado que praticamente todos os demônios deveriam ir ao combate, o castelo estava sem resistência.

Os demônios que vinham e surgiam no castelo, paulatinamente, iam sendo atacados em massa pelos bravos seres da Terceira Ordem, que sugavam suas forças em haurire, deixando o caminho livre para os guerreiros de Anralaar entrarem e começarem a grande destruição.

Vários portões foram abertos e o palácio estava sob ataque, invertendo as posições. A medida desesperada dos demônios de aparecerem dentro do palácio era a sentença deles, que eram sugados pela Terceira Ordem e por Anralaar, depois atirados ao abismo do Trívio.

O número de demônios estava diminuindo rapidamente e Luthus percebia que a era dele estava sob ameaça, a fase de ouro de reinado sem resistência estava condenada, não havia muito mais que fazer.

Centenas, milhares de guerreiros, vieram invadindo o imenso palácio, aniquilando tudo o que estava à volta. Foi uma verdadeira retaliação.

Luthus recuou e disse em voz muito baixa:

- Diga que você quer uma trégua e a terá.

Certamente o grande Luthus não poderia expor o seu ego e pedir a trégua, mas eu sim e era isso o que ele esperava e eu não tinha nada a perder.

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- Luthus, pedimos uma trégua, para que possamos nos reunir junto ao conselho e decidir as diretrizes do futuro da humanidade.

- Mamhat, por lhe considerar um verdadeiro filho, acato o seu pedido, concedo a trégua e o acompanharei até a reunião do conselho.

Todos os demônios pararam de atacar, o combate cessou e os guerreiros celebraram a trégua como uma verdadeira vitória, afinal, sabiam que a trégua tinha sido uma derrota para Luthus.

A Terceira Ordem e Anralaar começaram a recuar. Galdus e Ankarllan vieram para junto de mim. Não fizeram nada, apenas nos olhamos entre si. Não era preciso dizer nada naquele momento. Sabíamos exatamente o que estava acontecendo e pela primeira vez na história da Terra o bem poderia ter uma chance.

Galdus e Ankarllan estavam trajando armaduras celta e seguiram a retirada vitoriosa com seus guerreiros.

Luthus olhou com ódio para mim e começamos a caminhar entre os demônios que se separaram em dois grupos, formando um corredor por onde passávamos, deixamos os demônios com a vergonha da derrota enquanto íamos ao conselho universal.

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XXXIII – O Conselho da Divina Providência

O Conselho da Divina Providência estava pronto nos aguardando, deveria haver mais de quinhentos espíritos elevados. O local era verdadeiramente diferente do Trívio pelo qual eu já havia passado três vezes, apesar de me lembrar de apenas duas. Era tudo muito iluminado.

A calma reinava no local e o silêncio era assustador. Todos estavam dispostos como em um teatro, todos sentados olhando para um palco de onde seria lançada a proposta.

Havia apenas um corredor com intensidade menor de luz, que era por onde estávamos passando. Talvez Luthus não se sentisse confortável sob tamanha energia divina, talvez eu estaria incluído naquela cautela.

Nos sentamos junto à mesa, com mais três espíritos de elevada evolução, um deles era meu amigo Tamisau.

Assim que sentamos, Tamisau tomou a palavra e quebrou o silêncio.

Ele lembrou a todos há quanto tempo a Divina Providência aguardava aquela oportunidade, talvez nem todos os presentes fossem da Divina Providência da Terra. Alguns poderiam até ser de Primeira Ordem.

Ele lembrou dos tempos de dificuldade que o mal imperou sozinho. Ele lembrou quando a Divina Providência começou a ser formada e qual era o objetivo: amparar os homens e não deixá-los sucumbir.

Lembrou que Deus somente poderia se manifestar caso Luthus aclamasse por sua interferência. Lembrou que o fim da Terra poderia estar próximo, pois o pecado estava cada vez mais invadindo o planeta pelos corações sofridos dos homens que perdiam a fé.

Invocou argumentos que constam da Bíblia, lembrou passagens que narram a destruição e a ressurreição dos mortos. Lembrou do momento da salvação dos homens. Lembrou que a Terra teria que passar pela destruição para recomeçar novamente.

Narrou fatos e lembrou argumentos que eu vagamente me lembrava. Narrou que o homem tinha conhecimento escasso sobre as três eras: a era da Mãe Isis, do Pai Osíris e a atual era do Filho Hórus.

A primeira fase foi a de criação, a era matriarcal. Depois, houve a marca da renovação, a era patriarcal. Estávamos então na fase terrena da pura evolução, onde havia um crescimento continuado da integração e compartilhamento, a fase do filho.

O homem estaria próximo, assim, de um período de pura evolução, onde teriam uma formidável forma de comunicação mundial, podendo integrar culturas e compartilhar conhecimentos. Nessa fase, o homem estaria pronto para criar a sua destruição ou a sua liberdade do mal.

Tamisau fez desses fatos uma lembrança natural e positiva e atribuiu tais questões à Luthus, mas daí começou a acusação, como se aquele momento fosse de Juízo Final a Luthus.

Nesse ponto dos argumentos Tamisau levantou-se, dirigiu-se à frente da mesa e ficou entre nós e os que nos assistiam. Apontou para Luthus e começou a explicar que ele havia imperado a sua verdade no mundo que inicialmente foi criado por Deus.

Deus tentava poupar os seres de outro plano universal e na tentativa de livrar um planeta de dois demônios, aceitou a dolorosa opção de autorizar a vinda de Luthus para a Terra, onde poderia impor suas regras sem qualquer interferência divina.

Assim foi por muito tempo. Aos poucos, homens bons se recusavam a laborar para Luthus e começaram a sofrer na carne a opção de não servir ao Demônio Mor.

Luthus passou a não mais admitir o livre arbítrio e então negou aos homens seu maior direito universal, o direito de escolher.

Luthus impera há séculos de uma só forma, impondo o mal a sua maneira, sem deixar o homem escolher seu caminho, a ambição de Luthus é tamanha que mostrou ao homem o poder e a ganância. Aqueles que desejaram o bem passaram a viver em subcategoria de vida, tendo que se sujeitarem aos caprichos dos homens poderosos.

O homem foi diminuído e duas classes são as dominantes. Os poderosos que se esqueceram da razão da vida e os que se humilham para viver no caminho do amor.

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Era dado o momento para finalizar tal gestão do mal. A era do imperialismo de Luthus precisava terminar, ou o mundo atingiria a margem limite e fatal do pecado.

Sete foram os pecados lançados ao homem da Terra e eram conhecidos como pecados capitais. Alguns estavam tão dentro da rotina que já começavam a ser tratados como �obsoletos�.

A prática da luxúria era tão rotina que qualquer canal de televisão banalizava os mandamentos. Qualquer revista trazia anúncios de cobiça. A inveja era o alimento que os homens estavam usando para se superarem. O orgulho trazia guerras. A gula era explorada e com isso se fazia uma economia que escravizava povos inteiros ao trabalho quase escravo no mundo privado do consumismo. A ira era encontrada em qualquer coração, mesmo nos bons homens, que começavam a perder a fé diante de tanto sofrimento. A preguiça começa a marcar os homens que se cansavam de lutar com ética e perdiam para os homens do poder sem ética.

O homem no geral estava pronto para entrar na fase de total evolução, trazendo em seu coração tudo o que Deus repudiava.

O homem passaria a ter para o seu prazer o poder da comunicação global, usaria a tecnologia para entrar na cultura alheia e procriar o ódio. A nova era traria um novo mercado e o ouro então passaria a ser a informação. Seria a informação trocada que geraria o fim dos tempos. Essa tecnologia precisava nascer, mas de uma forma saudável e não para atender às necessidades de Luthus.

Sem controle sobre esse meio de comunicação o coração fraco acabaria se rendendo e faria parte do jogo com as regras do poder, tudo para sobreviver no mundo de regras do mais poderoso ou morrer sendo humilhado.

Se o homem entrasse na fase da comunicação global desse jeito, o mundo não teria mais salvação, a destruição teria que ocorrer, fosse pela vinda de Jesus e conseqüente queda dos maus e elevação dos justos, fosse pelo chamado Hercólubus, fosse por qualquer outro meio de interferência universal para frear o pecado terreno.

Os homens não eram maus, eram sofridos e desprovidos de fé, que perderam ao longo dos séculos, após tanto sofrimento e desequilíbrio.

Luthus não conseguiu manter o mal que desejava com equilíbrio. Tinha tanta auto-estima que não podia aceitar a intervenção divina. Assim, estariam os homens destinados ao fim, pelo simples capricho de Luthus.

Os homens estavam fadados ao extermínio, apenas para que Luthus pudesse se manter como o Senhor da raça humana, sem qualquer interferência divina.

Imagina Luthus que o homem poderá se alastrar pelos planetas e diversas tentativas começarão a ocorrer em breve e a prova é a recente proeza humana de pisar na Lua. Isso Deus não permitirá e o homem terá o seu fim decretado.

As almas de bom coração foram, aos poucos, se reunindo e formaram a Divina Providência. Esta está entre o que há de divino maior e o coração humano.

A Divina Providência segue os mandamentos de Deus e não interfere diretamente na história humana. Mas está atrelada ao homem e terá o seu fim com a humanidade.

A Divina Providência roga pelas vidas terrenas, roga pela evolução espiritual, roga para que possa se juntar ao divino supremo.

Mas a Divina Providência não pode fazer nada para modificar a situação.

Estamos reunidos aqui para um feito notável e único. Luthus tem uma proposta a fazer ao conselho da Divina Providência e se esta a aprovar, poderemos consultar o Conselho Universal, para dirimir a questão da vida humana.

Mamhat, o ser que foi criado e enviado com um propósito de tentar manter o equilíbrio entre o bem e o mal foi seduzido e retirado do seu caminho divino. Mamhat é a prova vital que Luthus interfere na escolha humana. Mas a alma pode sempre evoluir e encontrar o caminho, sempre que a escolhe está em seu poder.

Mamhat pede a interferência de Temhikari na Terra, pois ele foi o tutor de Luthus, mas talvez substituir um mal por outro seja impróprio para a fase em que os homens começam a ingressar.

Luthus entende que há a necessidade de uma modificação na estrutura do equilíbrio no coração humano.

Mas sabemos que não há tempo hábil para conceber o milagre sem invocar o medo ou a sedução.

Não podemos criar o controle baseado no medo, não podemos convencer em pouco tempo o homem que se acostumou com a maneira com que agem.

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Então Mamhat, que viveu diversas vezes na Terra e entende o coração humano mais que a razão divina, invoca um acordo.

Essas foram em resumo, as palavras de Tamisau, que voltou ao seu lugar, sentou-se e todos olharam para mim. Era a minha vez.

Apesar de estar com a palavra eu não tinha a mesma sensação de liberdade que Tamisau, mantive-me sentado e comecei a expor o que pensava.

Tamisau havia facilitado para mim, ele tinha muito bem exposto a situação e então fui direto ao assunto.

Coloquei que Luthus acreditava que qualquer coração poderia ser domesticado pelo sofrimento. Ele acreditava que o homem era apenas uma forma de alimento aos demônios, que por sua vez trabalhavam para o seu próprio contentamento. Ele acreditava que a verdadeira evolução era a que ele autorizava aos seus demônios, controlando, inclusive, o tempo na consciência de cada um, fazendo com que o tempo fosse mais rápido para uns e mais lentos para outros.

Esse tipo de controle não estava aprovado e Deus, ainda assim, teria que honrar o acordo de não interferir.

Deus estava sendo paciente demais, mas eu não queria criar celeumas sobre isso. Queria apenas tentar ajudar a resolver. A Divina Providência tinha competência e vontade, mas não tinha autorização de interferir.

O controle pelo Conselho Universal não poderia interferir nas regras de Luthus, nem quebrar o acordo feito com Deus. Só sobraria a destruição do planeta, caso alguém não cedesse.

Luthus estaria tendencioso a ceder, de certa forma e a proposta seria simples.

Uma nova era seria estabelecida na Terra. Nessa era nova, nem Luthus nem a Divina Providência poderiam fazer algo. Os demônios e os anjos estariam na Terra apenas como espectadores. Somente assistiram a tudo. Os homens estariam por si só.

Não seria feita nenhuma maldade a eles, tampouco haveria amparo. Eles seriam os Senhores dos seus destinos.

Cada homem seria o responsável por si e todos pela coletividade.

Se o mal ainda reinasse, os homens de bom coração seriam libertados e poderiam escolher o seu caminho junto à Deus, estando livres de Luthus. Os maus ficariam para Luthus e poderia fazer com estes o que bem entendesse.

Se o bem vier a reinar, Luthus terá que abdicar da proteção do acordo e consentirá na intervenção divina através do trabalho da Divina Providência.

A destruição do planeta ficará a cargo do Conselho Universal depois que transcorrer o período de trégua das forças universais do bem e mal.

Isso servirá para verificar quais são bons e maus, para saber se é prudente destruir um planeta tão belo quanto a Terra. No mínimo, servirá para libertar as boas almas das amarras de Luthus, que aprisiona os vivos e os desencarnados, dentro de uma esfera de maldade.

Voltei para o meu silêncio e olhei para Tamisau, devolvendo-lhe a palavra.

Tamisau, sempre muito prudente, passou a palavra para Luthus, que aguardava sua chance.

Luthus pareceu muito frio, algo havia em seus planos, mas eu não tinha idéia do que poderia ser. Ele começou agradecendo a oportunidade, agradeceu e cumprimentou diversos nomes dos elevados espíritos que nos assistiam. Ele tinha idade para saber e conhecer muito.

Luthus sabia que não poderia fazer muito, ele havia rompido dogmas universais e isso teria um preço que poderia lhe custar o controle terreno e ele tinha que evitar isso, para tanto, estava propenso a aceitar o período de trégua.

Luthus, de uma forma muito serena, explicou em palavras complexas o que pensava das forças universais, lembrou que o bem poderia ser um mal e vice-e-versa, invocando para tanto o conceito do Trívio.

Os argumentos naquela reunião consumiram muitas horas terrestres, motivo pelo qual tento apenas relatar o ocorrido, outros focos levantados estavam além da compreensão humana, pelo que sequer posso comentar.

O mais importante é que Luthus aceitou o desafio, mas com uma pequena condição:

Luthus queria que um enviado fosse à Terra, apontando para mim. Imaginei que ele me queria na Terra. Mas usou-me como exemplo apenas.

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Disse que eu fui enviado à Terra com um propósito e defendeu-se dizendo que jamais me seduziu. Não era justo que fizessem daquela reunião uma avaliação de seus atos.

Não era Luthus que estava sendo avaliado, nem seus atos, mas o fim ou a perpetuação dos homens. Ele era mesmo sábio.

Propôs, então, que uma alma fosse criada, do nada e isso poderia ser feito. Disse que eu fui entregue ao mundo com uma alma já feita e eu falhei. O correto seria fazer uma alma com um propósito único, sem passado.

Luthus afirmou que a minha chegada na Terra criou uma tendência ao mal, pois eu era fraco e me entreguei ao mal, pois havia mal em mim, para atender o chamado do meu propósito que era manter equilíbrio nas forças, nisso eu tinha o bem e o mal em mim, sendo esse fato o que causou minha tendência. Mesmo que ele tivesse feito algo para me seduzir, eu não poderia ter me afastado do caminho proposto. Disse que eu imperei a maldade por muitos séculos.

Luthus lembrou que nenhum anjo está pronto para conhecer os prazeres terrenos. Qualquer anjo se tornaria demônio após alguns anos de sofrimento ou de satisfação com o poder. Qualquer homem em sofrimento encontra seu preço e cede ao poder se tiver chance. Assim havia sido comigo.

Aquilo me trazia grande agonia, pois eu não me lembrava. O que me acalmava é que Tamisau permanecia sereno, como se aquelas palavras fossem inverídicas. Mas Luthus não poderia mentir ao Conselho da Divina Providência que tudo sabia e tudo se lembrava.

Ao fim, Luthus pediu que a alma fosse feita com metade de energia celestial divina e a outra metade seria feita com pura maldade terrena. Mas na alma não fosse colocado nenhum propósito, assim essa alma poderia ceder para qual metade desejasse, por afinidade.

A proposta era uma alma sem fado e sem destino. Esse era o desafio, era descobrir a vontade dos homens, sem qualquer interferência.

Seria a prova entre o divino e o coração do homem. Seria o resultado desse coração que traria a resposta do verdadeiro bem e mal, sem interpretação do Trívio, sem se poder invocar o terceiro caminho que poderia justificar o meio pelo fim. Seria uma alma sem nada no coração para interferir em seu futuro, assim seria uma alma totalmente livre para expressar a vontade humana, sem qualquer compromisso com um destino previsto ou proposto.

Foi nesse ponto que eu entendi a calma de Tamisau sobre as acusações feitas contra mim. Eu poderia ter feito a maldade, mas eu estava ali, lutando pelos homens. Eu era, talvez, a prova de que o homem poderia se voltar contra Luthus, se tivesse a plena consciência e o poder da escolha.

Eu me entreguei à sedução do poder, mas quando entendi a razão da vida, quando pude ter a consciência, quando pude ter a escolha, eu optei pelo bom caminho. Mas isso consumiu várias vidas minhas, qual seria a chance de uma alma em uma única vida ter essa mesma consciência ?

A falha, no meu caso, é que Luthus não permitia a evolução continuada. Ele permitiu que eu evoluísse vida após vida, pois acreditava que meu coração era puramente dele. Outros, como os guerreiros de Anralaar, ele mantinha em evolução retardada. Alguns ele mantinha sem evolução dentro de um ciclo de vida e morte de puro sofrimento.

Era essa a falha maior no império de Luthus. Ele permitia o poder da escolha, só não deixava que a alma chegasse até o momento de escolher. Talvez eu tenha sido o único a ter a opção da escolha. Se essa alma encomendada tiver a oportunidade de exercer sua escolha tudo poderá ser diferente, mas em uma vida ?

No fim dos argumentos de Luthus, ele pediu que a alma fosse testada separadamente, no término do prazo e o seu coração desse o destino a todos os outros. Depois disso ele se sentou.

Eu precisava fazer essa minha última argumentação. Levantei-me e pedi a palavra.

Disse que eu aceitava a proposta como havia sido feita, mas que queria uma pequena modificação: seria preciso que a tal alma tivesse a consciência plena do imortal, podendo exercer o poder da escolha para que fosse avaliada, só assim essa alma poderia ter um coração a altura do desafio.

Não seria no estado do seu coração que colocaria o destino da humanidade, não seria o bem ou o mal contido em seu coração, mas na consciência plena do imortal que estivesse no seu coração.

Com aquilo eu colocava em xeque a decisão de Luthus de aceitar o acordo e ele não estava a ponto de negociar, não porque eu estava disposto a invocar, mesmo que sem a autorização do Conselho, a presença de Temhiraki, mas porque outra opção não havia.

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Como havia explicado a Tomas um vez, a alma depois de se ver em estado imortal é que começa a pensar nas oportunidades que perdeu em vida. Era no pós vida que a alma compreendia o tempo perdido. Era na imortalidade que a alma compreendia finalmente o desafio da vida.

Com isso, a alma poderia até fazer o errado, poderia tomar o caminho do mal, poderia semear o mal, mas teria a chance de resgatar a humanidade no fim da vida, ou até mesmo após a sua vida.

Voltei para o meu lugar novamente e vi Tamisau fazendo um gesto com a cabeça de total aprovação. Eu tinha feito o certo. Tamisau estava orgulhoso, ele sabia de algo mais, mas parecia que ele não poderia ter feito o que eu fiz por alguma razão, talvez porque ele tinha acesso à essas informações e eu não, eu poderia estar sendo ferramenta de toda aquela revolução por ser uma alma apegada à matéria. Sim, estava aí a minha vantagem. Eu não era divino, logo não se podia dizer que Deus havia feito alguma interferência.

O Conselho da Divina Providência deu a reunião por encerrada. Pediu para que nós saíssemos, pois eles iriam deliberar a pauta invocada e dariam a resposta no amanhecer.

Nem mesmo me levantei e tudo o que estava a nossa volta se foi. Fiquei sozinho em uma escuridão. Parecia o término do meu julgamento depois que interferi na história dos humanos.

Eu não pretendia esperar a névoa da energia divina se dissipar para encontrar os demônios. Concentrei-me e fui direto à Terceira Ordem.

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A Terceira Ordem

Parte 12

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XXXIV – O Regresso

Quando abri os olhos estava no interior da Terceira Ordem. Estava divino, era imensa e iluminada. Haviam milhões de almas e todas estavam celebrando com muita intensidade. O clima era de pura felicidade.

A vitória em solo negro de Luthus havia fortificado os laços e criado total esperança. A Terceira Ordem estava toda viva e trazia forte lembrança terrena. Haviam pássaros, lago, árvores e flores. Era um campo de beleza infinita, muito maior que um dia já havia sido.

Galdus veio até mim, sorrindo serenamente e com o mesmo equilíbrio de sempre.

- Mamhat, meu amigo! Como eu queria que você viesse! Que bom que está aqui. Veja, o seu sonho é uma realidade.

- Galdus, fizemos isso nesses poucos dias ?

- Não, você fez!

- Nós fizemos � ele queria sempre ser simpático, mas ele sabia que eu não tinha feito nada sozinho � e estamos de parabéns.

- Mamhat, Anralaar não existe mais, todos vieram para a Terceira Ordem. Muitos outros errantes os acompanharam e se juntaram a nós. Outros planos da imortalidade souberam de nós e estão aqui. Estamos ganhando forças a cada dia, como uma vez já aconteceu na Terra quando éramos combatentes.

- Não, quando éramos destruidores.

O silêncio reinou alguns instantes e o foi quebrado por Ankarllan:

- Meu líder Mamhat ! � ele se ajoelhou e fez o gesto da submissão � sou seu servo e entrego minha imortalidade a seus serviços.

- Pare com isso Ankarllan, levante-se e me dê um forte abraço.

Galdus participou do abraço e ficamos os três ali. Me lembrei que faltava alguém:

- Onde está Leny ?

- Leny está com Tomas. Parece que Max se voltou totalmente aos negócios quando fez a parceria com Helder. Ele voltou ao seu ritmo normal e a bruxa está novamente forte ajudando-o.

Eu precisava cuidar da fuga de Tomas, afinal, Max não estava mais tão preocupado e ainda havia risco para Tomas. Ele era a única carta de triunfo que ainda tínhamos, era nosso elo com a Terra e tinha que ser protegido a todo custo. Eu não confiava em Luthus, além de que haviam os sucessores de Gonzalez que ainda poderiam fazer algo contra Tomas.

Nesse momento, Ankarllan chamava seus homens para saudar a vitória em gesto de respeito a mim, todos vieram com as espadas levantadas, como fazíamos em tempos de batalhas.

Todos gritavam meu nome e se orgulhavam daquele bom combate. Eram milhões que se agrupavam a felicitavam aquele momento.

Então chegou Tamisau:

- Mamhat, as horas com o Conselho da Divina Providência foram excelentes. Acataram o seu pedido. Eles temem que você invoque Temhikari. Ele mudou muito nos últimos séculos e não está tão distante dos atos de Luthus. Teremos muito trabalho pela frente.

- Então vocês farão a alma solicitada por Luthus ?

- Não pense que você ficará de fora, Mamhat. Você ajudará.

- Lamento meu amigo Tamisau. Temo que eu tenha ainda alguma maldade em meu coração e prefiro crer na sua bondade a ter a vaidade de participar desse momento e pôr tudo a perder.

Tamisau baixou a cabeça. Talvez minhas palavras fossem reais mesmo. Eu não estava inteiramente pronto para os atos divinos.

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- Tamisau, Galdus, temo que eu não retorne tão cedo à Terceira Ordem. Estou partindo para a Terra, vou ajudar Tomas com a sua fuga. Vou dar alguma orientação sobre o que está por vir. Ele precisa ser salvo até o momento final. Depois irei finalmente até o Templo dos Anjos, preciso reviver minha existência, quero um basta para minhas dúvidas. Ficarei na retidão do meu silêncio, aguardarei o momento que todos nós estaremos esperando em meu jardim. Ficarei pensando comigo mesmo. Sinto que precisarei muito disso. Nos veremos depois disso.

Tamisau:

- Entendo a sua decisão, Mamhat. Saiba que estaremos consigo. Não queira enfrentar todo o seu passado sozinho, os amigos estarão aqui. Você terá muita desilusão, mais que felicidades, mas saiba avaliar o que você é hoje, além do que já foi.

Galdus:

- Deixe, Tamisau. Mamhat é uma alma de muita fibra e um ser como ele não se deixará abalar. Mamhat, estaremos aqui sim, mas confiamos em você e o seu caminho é você quem faz. Na Terra, estamos subjugados por nosso fado, mas aqui no mundo imaterial somos apenas destino. Fado e fardo simplesmente não existem mais. Somos atitude e escolha, temos a plena consciência. O Trívio o aguarda. Vá com Deus. Estaremos aguardando seu retorno.

Eu já me virava para partir para a Terra quando Tamisau me chamou:

- Mamhat, espere. Só mais uma coisa. O tempo que teremos não é muito. Ficou decidido que em onze mil luas o destino da Terra estará pronto para ser avaliado.

- Tomaram a decisão baseada em luas ? isso dá aproximadamente trinta anos, é muito pouco. Os homens mal notarão o novo destino a eles dado.

- Se estivermos enganados, em trinta anos o homem poderá ter conquistado a própria destruição.

- Tudo bem, se essa foi a decisão, temos que acatá-la. Quando a alma será criada ?

- Estão trabalhando nisso nesse exato momento. Farão ao estilo �progenesis evolutiva�. Isso fará com que a alma tenha uma aceleração na evolução, podendo ser criada diretamente como homem. Isso foi feito poucas vezes e na Terra será a segunda vez.

Pareceu-me que eu tinha sido a primeira alma a ser consentida nessa natureza.

Galdus:

- A natureza de almas assim depende exclusivamente da forma pela qual é concebida e não pelo que passam em evolução. Em trinta anos a alma não terá ainda maturidade para escolher o caminho em que pretende trilhar. Isso pode ser um grande erro.

Tamisau:

- Há ainda um agravante, ela passará por momentos de crises, pois estará totalmente dividida entre as duas formas em que está sendo criada � conforme Tamisau relatava, eu imagina inconscientemente o processo � no processo da unificação do bem e do mal. A alma está sendo concebida com ternura e amor divino ao mesmo tempo em que está recebendo energia ruim da Terra, escolhida por Luthus.

Eu imagina Luthus sugando energia de presídios, de delinqüentes, de executivos de poder, da sedução do mundo material envolto em dinheiro, de gente que lidava com a conspiração, com o ódio e com a traição.

Ninguém poderia prever o resultado, mas mesmo assim insisti:

- O que acham que isso poderá revelar ?

Galdus:

- Não importa o que essa alma poderá fazer ou deixar de fazer, ela terá pouco tempo para um ou outro meio, mal terá tempo de conhecer para poder, então, escolher. Valerá mesmo o coração individual de cada um.

Tamisau:

- A Divina Providência aceitou o acordo e eu tenho fé nos atos divinos. A alma já recebeu um nome, é �Uza Ghart�. Todos os demônios e anjos possuem apenas um nome de denominação e um complemento pelo seu nível, como se fosse um sobrenome. Uza Ghart é um nome concebido em prol de sua criação e propósito. Tanto um como outro está em desequilíbrio e os dois nomes juntos são o equilíbrio perfeito. A data de seu nascimento será 10 de dezembro de 1973, seu KIN será o número �um�, assim como a numerologia de seu nome. Estará em equilíbrio perfeito e será Dragão Magnético Vermelho, com crono-psi adequado para o que precisa. Tudo dependerá dos homens a sua volta.

Galdus:

- Ele terá Kin �um� ? Isso foi combinado ? Isso é relevante ?

Tamisau:

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- Não sei dos detalhes dessa escolha, mas parece que foi para atender o propósito. Nascendo nessa data ele terá o efeito da união, da nutrição, do poder magnético do duplo propósito e do conhecimento ampliado. O prazo vencerá em era de tormenta, será o momento em que ele será testado. Estão também providenciando uma genitora sem laços. Uza Ghart será da vida, sem família, sem laços ou raízes. Será apenas do destino. Ele fará o seu caminho e a Divina Providência e Luthus não poderão influenciar em nada.

Mamhat:

- Como chegaremos até ele, quando saberemos quem será Uza Ghart na Terra ?

Tamisau:

- Não saberemos. Isso está fora do acordo. Somente quando ele retornar é que nos será revelado. Assim poderemos participar da avaliação. Somente isso.

Mamhat:

- Mas isso não nos retira a chance de poder investigar, não é ?

Tamisau:

- Nenhum desencarnado poderá influenciar. Apenas os homens serão avaliados, logo, eles estarão sozinhos nessa fase. Qualquer desencarnado que se aproximar será detido e levado ao Conselho. E há mais um detalhe. Uza Ghart terá dois dons além da mediunidade comum ao homem.

Mamhat:

- Quais seriam ?

Tamisau:

- Não há como saber. Um foi atribuído pelo Conselho da Divina Providência, o outro por Luthus. Os dons estarão aflorando quando o prazo estiver para se esgotar. Será com esses dons que ele se manifestará e verá a diferente entre ele e os homens comuns. Será a partir daí que tudo começará e terá a consciência plena da vida imaterial.

Galdus:

- Então que Deus o mantenha com o coração puro e em equilíbrio.

Tamisau:

- Agora só nos resta aguardar e torcer para o bem dos homens.

Mamhat:

- É dada a minha hora de partir. E, Tamisau, gostei de ter visto que agora você pode nos visitar na Terceira Ordem. Nos veremos em breve. Até lá, que Deus esteja pronto para assumir o destino da Terra e nos proteger. Adeus!

Ninguém me deu adeus. Ninguém se despediu ou fez algum comentário extra. Simplesmente assistiram a minha partida, sabendo que eu retornaria um dia.

Regressei à Terceira Ordem e vi o progresso daquele lugar, isso me deu forças. Deu-me esperança. Assim que eu garantisse a fuga de Tomas, ainda regressaria ao meu passado, depois ao Trívio. Aí só me restaria aguardar o momento certo.

Então fui para a Terra.

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XXXV – As Instruções

- Olá Tomas.

- Mamhat, estava lhe aguardando. O que aconteceu lá ? Como foi o combate ?

- Leny não contou ? Onde ele está ?

- Desde que voltamos está no jardim, pensando. Ele nunca me pareceu tão calado.

- Tudo bem, parece que ele terá que tomar algumas decisões mesmo, afinal, ele estava dividido e se aproveitava dos dois lados. Para Luthus, ele também é um traidor agora.

- Ele corre perigo ?

- Não se ele ficar na Terceira Ordem ou reencarnar. Tudo está indo muito bem e ganhamos muita força. Muitos se juntaram à causa e estão todos reunidos em nosso solo protegido. A Terceira Ordem agora é solo sagrado declarado e Luthus não pode mais entrar lá. Leny ficará bem, minha preocupação agora é com você.

- Max quase não fica mais aqui. O dia todo está em reuniões e estabelecendo metas aos homens. Parece que seu negócio cresceu muito enquanto a minha proteção tem ficado meio estranha, tenho medo que haja alguma falha na segurança e alguém possa chegar até mim.

- Tomas, escute, é necessário três atos para o futuro. O primeiro é você perder suas raízes. Isso não será problema, você não tem família e nunca foi de ter amigos.

- Já estou pronto. Quanto antes partir será melhor. Max disse que providenciará um passa-porte para mim, com identidade alterada e com idade garantida, serei maior e capaz. Terei um novo nome.

- É importante que ninguém saiba do novo nome, nem mesmo Max, nem mesmo eu ou outro.

- Mamhat, você não virá comigo ?

- Infelizmente não meu jovem. Será mais seguro se você perder todo o contato com o divino, esse será o item dois. O seu dom terá que ser selado, você não mais terá a mediunidade de sempre. É para a sua proteção e ficará assim até o momento certo, caso algo dê errado. Senão, você estará livre e poderá continuar a sua vida normalmente.

- Sim, eu já sabia que isso aconteceria. Já estou me acostumando com a idéia de viver somente com os homens. Qual é o item três ?

- O terceiro item é você se preparar muito bem, muito acontecerá e a única chance que poderemos ter, se algo der errado, será através de você.

- Como assim ?

- Houve um acordo, Luthus retirou todos os demônios da Terra, agora os homens estão por si só, não haverá mais manipulação de maldade.

- Isso é maravilhoso ! E qual é parte ruim nisso ?

- O acordo é uma trégua. Por onze mil luas teremos manifestação zero de Luthus.

- Onze ? Esse é o número de Nuit e Hadit.

- Tomas, por favor, pare com isso. Essa Lei é maldita. O item três está além desse seu conhecimento. Será essencial que você esteja preparado no término dessa trégua.

- O que devo fazer ? O que estudar ? Preparar-me para quê ?

- Esse acordo é para duas situações. A primeira é ver até onde o homem pode caminhar por si só, para se conhecer o seu coração e ter a certeza que há bondade suficiente para fazer valer o risco. Se o homem não provar que é suficientemente bom, a salvação humana poderá ser esquecida. Isso não pode acontecer. Tenho fé que o homem está preparado para vencer essa etapa e, sem Luthus interferir, poderá semear o bem e garantir que a divindade fará tudo para salvar os homens.

- É aí que entro ? Como ?

- Ainda não Tomas. A segunda situação somente virá se o homem provar ser digno de salvação. O Bem e o Mal prepararam uma alma em estilo �progenesis evolutiva�. Isso é raro e quase nunca acontece. A alma é preparada sem a evolução da energia normal. É a criação do nada. A alma já tem nome: Uza Ghart.

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- Isso parece ser assustador.

- Uza Ghart será colocado na Terra, nascerá no dia 10 de dezembro de 1973, mas não acredito que haverá registro certo disso. Esse tipo de alma nasce sem laços, provavelmente o parto será em um quarto qualquer e a criança será abandonada em algum lugar.

- Devo encontrá-lo ?

- Também não acredito que isso possa ser possível. Ele será um grande médium e ainda contará com dois dons especialmente concedidos, um por Luthus e o outro pela Divina Providência. Se o seu destino cruzar com o dele, é porque ele o encontrou.

- Ele saberá de mim ?

- Não, é aí que você precisará se preparar. Você terá que ter conhecimento amplo, conhecer o coração do homem mais que ninguém, procurar um estilo de vida regrado e se lançar à perfeição dos atos. Terá que ter total equilíbrio entre mente e alma. Só assim haverá uma chance.

- Você acredita que ele estará buscando um coração elevado para se projetar ou destruir ?

- Exatamente Tomas. Você é um médium forte e conhece muita coisa, todo o seu conhecimento está no seu coração e isso é muito importante. Você terá que explorar o seu coração e melhorá-lo, você terá que atrair Uza Ghart, terá que despertar seu interesse. De alguma forma, se você fizer diferença no mundo material, ele irá encontrá-lo.

- Provavelmente ele se sentirá sozinho... é aí que ele começará a busca.

- Sim, da mesma forma que você também se sente sozinho. Ele será poder, você será conhecimento. É aí que a necessidade de equilíbrio ocorre. Ele buscará o que você é. Ele tentará fazer com que você se alie a ele, ou ele o destruirá.

- Se ele é feito com metade de amor e metade de vaidade má, como será tendencioso ao mal ?

- Esqueça o que sabe sobre Ying e Yang, Tomas. O equilíbrio não é tudo. As forças opostas nesse caso não se anularão, mas entrarão em conflito. Ele passará primeiramente a buscar o equilíbrio e a paz interior. Se não encontrar, ele entrará em fase de conflito puro. Aí, a revolta é o primeiro sentimento. A repulsa por todos que não o compreendem será a alavanca. Ele poderá ter ódio dos homens, como você começava a ter.

Nesse momento tive a impressão que falava de mim mesmo. Começava aí a me entender melhor. Eu era parecido com Uza Ghart. Talvez fosse por essa razão que eu não mais tinha interesse pela vida terrena e não mais reencarnei. Eu tinha repulsa, eu não aceitava os homens que não me aceitavam. Eu havia falhado provavelmente, então.

- Mas Mamhat, o que exatamente deverei fazer ? Instruí-lo ? Destruí-lo ?

- Sim, exatamente nessa ordem. Você deverá mostrar o que sabe e o que ainda aprenderá, deverá mostrar o valor da vida e ensiná-lo que viver vale a pena, lembra-se dessa nossa conversa ?

- Jamais me esquecerei. Estou aqui depois dessa conversa. E se ele resistir... bem...

- Sim, Tomas, o melhor a ser feito para garantir o bem dos homens será tirá-lo da Terra. Se ele não puder ter a consciência imortal em vida, que a tenha desencarnando, mas ele precisa ter essa consciência quando for avaliado, após o término do prazo de trégua.

- Mamhat, se eu estiver pronto para isso eu não terei o coração na freqüência certa para atraí-lo.

Aquilo foi a prova certa que eu não estava indo tão bem quanto queria. Eu não era tão bom quanto imaginava que pudesse ser. Mas ao menos Tomas tinha essa pureza e isso me tranqüilizava muito.

- Esqueça o que eu disse, Tomas. Ando preocupado, cansado e com muita bobagem em meu coração. Busque o equilíbrio, o estudo e a harmonia. Essa é a paz interior que ele estará em busca na primeira fase. Não o deixe entrar na segunda fase. Esteja pronto em onze mil luas.

- Farei o melhor que puder. E quando o verei novamente, Mamhat ?

- Se nos encontrarmos aqui na Terra novamente, é porque a segunda fase se iniciou, pois até esse ponto nenhum desencarnado poderá interferir de qualquer forma. Aí será o grande desafio dos homens: vencer Uza Ghart sem saber quem ele é e qual seria a razão do combate contra ele. Mas mesmo assim não poderemos perder a fé, a salvação dependerá apenas dos homens. Até lá, nenhum imortal com conhecimento desses fatos poderá fazer algo. O homem está por si só agora. Nessa fase você, talvez, recuperará a sua mediunidade, pois será necessária.

- Entendo. Não me sinto capaz para tanto. Gostaria que você pudesse ficar comigo.

- Lamento Tomas. Torça por mim. Tenho um desafio tão grande quanto o seu pela frente. Apenas ore por mim, para iluminar o meu caminho, pois certamente precisarei de muita Luz.

Nesse momento fomos interrompidos por Max.

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XXXVI – A Despedida

- Tomas, os seus documentos já estão prontos ! Você poderá ter a paz que procura !

- Não sei se terei exatamente essa paz, Max, mas certamente poderei ter menos problemas.

Os dois riram. Leny veio até nós, saber o que estava havendo, enquanto Max retomava:

- Quando pretende partir, Tomas ?

- O mais breve possível. Se houver algum vôo ainda, partirei essa mesma noite. Só preciso de um pouco de dinheiro, tenho uma quantia guardada, você poderia providenciar que alguém fosse buscar ?

- É muito dinheiro ?

- Não muito, deve ter o suficiente para eu encontrar um lugar e passar algumas semanas ou meses, até retomar uma rotina normal.

- Tomas, a sua vinda até mim foi profetizada, a Bruxa viu que se eu o protegesse, meus negócios se tornariam ainda maiores. Faço questão de lhe garantir uma vida saudável, modesta, mas saudável. Farei uma transferência nessa noite para uma conta em um paraíso fiscal, em seu nome novo, pois você não teria idade para gerir tamanha quantia. Com esse dinheiro você poderá obter uma nova identidade, o que recomendo, para quebrar qualquer outro vínculo que possa ter ficado. Pode ter certeza que o dinheiro será suficiente para muitos anos, basta saber lidar com ele.

- Max, só posso agradecer. Aqui está a chave onde guardei o dinheiro. Vou lhe dar o endereço de onde o guardei. Peça para pegarem para mim, será tudo o que terei até poder fazer a transferência em um local seguro. Veja se há algum vôo para o exterior ainda hoje, vou preparar minhas coisas, que são poucas, no caminho para o aeroporto, pegarei os documentos novos.

Os dois se abraçaram como irmãos. Max deixou claro que qualquer coisa que precisasse bastaria entrar em contato. Haviam criado um elo forte.

Tomas estava separando algumas poucas roupas depois do banho enquanto eu terminava de contar à Leny o que havia acontecido até então.

A Bruxa, a Dona Berta, foi até o quarto de Tomas para se despedir.

- Tomas, meu filho ?

- Olá. Estou partindo essa noite.

- Filho, a chave é o símbolo de amizade e essa é mais que isso. Um dia algo grandioso acontecerá � Tomas olhou surpreso e assustado para ela � esteja com essa � ela segurava uma pequena chave em sua mão � chave nesse dia.

- O que é essa chave ?

- Isso nem mesmo eu sei. Mas sei que devo assim fazer. A vida é curta, não devemos querer adiantar as coisas. A vida revelará cada fato quando estivermos prontos para eles.

Tomas recebeu a chave que vinha em uma corrente. Colocou-a no pescoço e jogou para dentro da camisa. Os dois se abraçaram. Parecia que a Bruxa podia sentir o peso que Tomas carregava. O silêncio se instalou e a Bruxa saiu do quarto.

Logo depois entrou Max com uma pasta, era o dinheiro de Tomas que estava guardado em um local seguro, o dinheiro que ele havia tomado de Gonzalez. Ele separou uma quantia, pegou de sua agenda uma carta, a que ele escrevia em seu quarto quando o reencontrei na Terra em companhia dos três demônios enviados por Luthus.

Aquele dinheiro serviria alguém, pois a carta tinha um destinatário. Ele entregou essa quantia com a carta a Max e pediu que fosse entregue no endereço anotado. Max garantiu que assim seria feito.

Tomas estava pronto para seguir seu destino. Leny foi para fora, queria dar-nos liberdade.

- Mamhat, sentirei a sua falta.

- Coragem Tomas. Assim que eu puder eu voltarei. Essa noite você terá um alívio. Você acordará amanhã em um país diferente e sem a mediunidade. Isso lhe dará um maior conforto, acredite.

- Gostaria ao menos de lhe dar um abraço.

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Eu sorri delicadamente como um pai ao filho.

Tomas partiu sem olhar para trás, dois carros saíram juntos para garantir a segurança de Tomas, que estava no carro da frente e o motorista era o Todd.

Leny também veio até mim:

- Mamhat, então é isso ? Ficamos assim ?

- Pois é, não tenho a sensação de que fizemos o certo. Estou confuso.

- Não, você não está confuso, você está agoniado. Antes de ir ao Templo do Anjos, antes de ir ao Trívio, visite seu coração, desafogue a mágoa. Vá em seu caminho sem medo.

- E quanto a você, Leny ?

- Eu farei o mesmo, tenho as mesmas dúvidas. Não sei até onde sou puro. Parece que sinto a necessidade de ir à Terra, não resistirei ficar assistindo. Talvez lá, de uma forma ou outra, eu poderei fazer algo. Mas não tenho certeza. Voltarei à Terceira Ordem. Conversarei com Tamisau, ele certamente saberá me orientar.

- Perfeito.

- Mamhat, tenha fé. Você é o que é e continuará sendo o que foi.

Eu sorri para ele, afinal não sabia o que fazer. Não sabia o que eu tinha sido.

Nos abraçamos e Leny partiu.

Eu decidi ficar um pouco mais na Terra.

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A Terceira Ordem

Parte 13

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XXXVII – A Reflexão

Passei a agir nesses últimos dias como se fosse o dono da palavra. Senti a gnose e no fim me senti em absoluta agnosia.

Busquei a Fada em meu coração, conversei muito com ela.

Lembrei-me de Tomas em muitos momentos. Lembrei-me da Lei imposta por Nuit: �faça o que tu queres�. Foi assim que agi. Fiz o que quis.

Fiz acreditando que seria o melhor e tive o apoio de Tamisau e do Conselho da Divina Providência. Isso era o que me acalmava.

Havia empurrado Tomas para a vida, sem a proteção que eu deveria ter dado, ele era meu protegido e eu tive que assistir a sua partida.

Lembrei-me da Bíblia na maior parte da conversa com a Fada. A maior mensagem de Deus é o amor. Para ter o amor infinito e alcançar a satisfação maior era preciso, agora, renovar a fé.

Pensei nos treze tons de fluxo de energia que fluem do Criador, segundo os Maias. Nas trinta e sete práticas dos filhos de Buda. Relembrei o que sabia sobre Manji de Shorinji Kempo, pois queria para mim a harmonia entre o intelecto e a misericórdia.

Nada pôde acalmar a angústia em minha alma. Eu tinha medo.

Mas a Fada conseguiu o que parecia ser impossível. Ela acalmou a minha alma.

Eu não sabia como isso tudo iria terminar, sabia apenas como poderia começar.

O homem, com a sua liberdade, daria continuidade em muitos atos que inicialmente foi expugnado por Luthus. Os homens foram persuadidos por Luthus milhares de vezes.

Muitos desses atos continuariam a ser praticados, pois o homem havia se acostumado com a rotina.

Aos poucos novos rumos começarão a aparecer. Novas religiões começarão a ser pregadas. A economia mundial começará a estar interligada. A política se estabelecerá de forma homogenia pelo globo. As culturas irão se misturar. Muros cairão. Justos ainda serão humilhados e os poderosos ainda reinarão.

Mas o que vai valer no fim é o coração individual de cada um e esse futuro é incerto, sempre.

Onze mil luas é o prazo que o homem tem para garantir uma salvação, mas não quer dizer que estarão salvos.

Trinta anos após o nascimento de Uza Ghart, se ainda houver carros trafegando, crianças indo à escola, homens e mulheres fazendo seus ofícios, é porque o homem mostrou ao etéreo o seu valor.

Se o mundo ainda estiver com vida, se a Terra ainda estiver aqui, é porque há uma chance.

Cada um tem que resgatar a vida sadia, cabe a cada um então buscar o seu ritmo para a total satisfação.

Não é feliz aquele que tudo tem, é feliz aquele que sabe aproveitar a oportunidade de cada dia na vida, para ser feliz e encontrar o amor.

Cabe a cada um a própria felicidade. A vida vale a pena e é por isso que Jesus veio até nós um dia.

Cada coração tem que valorizar cada esforço já feito na Terra para a felicidade dos homens.

Antes de partir para o meu destino, decidi registrar a minha história através de um médium que por psicografia redigiu o meu diário, a minha forma de ver o que aconteceu, acreditando que possa um dia valer de algo para alguém. Se um só coração for tocado, já bastou o ato.

Não devemos temer, temos apenas que amar. Cada um tem uma Fada muito sábia dentro de si. Volte-se para ela, lembre-se que a alegria dela é poder nos ajudar. No começo pode ser difícil, mas continue tentando, é como aprender a andar de bicicleta, a gente cai, quer desistir, mas um dia consegue.

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Encontre Deus de alguma forma, ele não é um homem, é a união de milhares de espíritos evoluídos que trabalham em nome do amor.

Não importa a religião, não importa a crença, não importa a raça. A mensagem maior é o amor e esse é mais que terreno, é universal.

Ame e encontrará Deus.

Salvando o seu próprio coração, cada um estará também ajudando a salvar a humanidade.

Não importa se acredita, não importa se existe. Só importa é estar bem.

O único caminho da satisfação plena é o amor. Ame e seja feliz. Mesmo que seja só.

Se o mundo ainda existir depois de onze mil luas, a vida vale a pena mesmo.

Uza Ghart pode estar ao lado de qualquer um, fazendo qualquer coisa, mas pode ser vendo o seu amor que ele poderá relevar no momento da decisão final.

Luthus poderá estar esperando um momento para voltar a atacar o seu coração, não deixe isso acontecer. Chame a sua fada. Fale com ela e ame novamente.

A Divina Providência estará sempre olhando por nós, nos protegendo, nos amando. Só temos que retornar o mesmo amor.

Imaginemos que há um Uza Ghart próximo de nós, em nossa casa talvez. Talvez você possa ser Uza Ghart. Tome a sua posição, ame, liberte-se.

Agora, vou fazer o que nem todo homem está preparado para fazer. Vou encarar a mim mesmo. Vou olhar para o meu passado e fazer o meu Juízo no Trívio. Vou relevar cada ato. Vou enfrentar tudo o que fiz.

Se fiz algo errado, não terei mais medo. Vou recomeçar.

Se fiz algo certo, não terei vaidade. Vou continuar humildemente.

Um dia nos encontraremos ainda. Todos nós. Não carregue na alma nenhuma angústia, senão não nos veremos.

Faça o seu próprio Juízo Final, agora, tenha a consciência plena da imortalidade, e talvez poderá aproveitar a vida muito mais.

(Fim)