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MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA GABINETE DO MINISTRO LIVRO BRANCO DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS OCORRIDOS NO VERÃO DE 2003 OUTUBRO 2003

LIVRO BRANCO DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS OCORRIDOS … · 1) INTRODUÇÃO No dia 10 de Agosto, em Castelo Branco, tomou o Governo o compromisso de publicar este Livro Branco. Justificam-no

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MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA

GABINETE DO MINISTRO

LIVRO BRANCO DOS

INCÊNDIOS FLORESTAIS

OCORRIDOS NO VERÃO DE

2003

OUTUBRO 2003

ÍNDICE

1) INTRODUÇÃO…………………………………………………………… 2) SÍNTESE…………………………………………………………………..

I. A CATÁSTROFE: FACTOS E NÚMEROS 1) A DIMENSÃO DOS INCÊNDIOS………………………………………. 2) ANÁLISE COMPARATIVA COM OS ANOS ANTERIORES………... 3) CARACTERIZAÇÃO DO FENÓMENO METEOROLÓGICO……….. 4) CARACTERIZAÇÃO DO FENÓMENO CRIMINAL…………………..

II. A RESPOSTA: PREVENÇÃO E COMBATE

1) A PREPARAÇÃO PARA OS INCÊNDIOS DE 2003………………… a) INVESTIMENTO NA PREVENÇÃO……………………………….

i) CAMPANHAS DE PREVENÇÃO………………………………. ii) INFRA-ESTRUTURAS FLORESTAIS………………………… iii) VIGILÂNCIA MÓVEL MOTORIZADA E VIGILÂNCIA

AÉREA…………………………………………………………….. iv) SAPADORES FLORESTAIS……………………………………

b) DISPOSITIVO DE RESPOSTA PERMANENTE 2003…………... 2) O COMBATE AOS INCÊNDIOS……………………………………….

a) CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS………………………. b) COMBATE A INCÊNDIOS EM NÚMEROS……………………….

i) MEIOS HUMANOS E A SUA EVOLUÇÃO DURANTE A CRISE………………………………………………………………

ii) EQUIPAMENTOS………………………………………………… (1) Veículos de combate e equipamentos diversos………….. (2) Máquinas de rasto…………………………………………… (3) Meios aéreos…………………………………………………

iii) APOIO INTERNACIONAL……………………………………… c) PROCESSO DE TOMADA DE DECISÕES………………………

i) A NÍVEL CENTRAL…………………………………………….. ii) A NÍVEL DISTRITAL…………………………………………….

(1) Medidas de prevenção……………………………………… (2) Apoio ao comando das operações de socorro…………… (3) Diligências efectuadas junto ao governador civil………… (4) Principais medidas tomadas a partir do accionamento do

plano de emergência de protecção civil de nível distrital.. (a) CDOS Castelo Branco………………………………….. (b) CDOS Faro………………………………………………. (c) CDOS Guarda…………………………………………… (d) CDOS Leiria……………………………………………… (e) CDOS Lisboa……………………………………………. (f) CDOS Portalegre……………………………………….. (g) CDOS Santarém…………………………………………

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LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 1

iii) A COORDENAÇÃO ENTRE OS DIFERENTES NÍVEIS……. (1) Nível municipal e nível distrital……………………………... (2) Nível distrital e nível nacional……………………………….

iv) A COORDENAÇÃO OPERACIONAL………………………… (1) Comando das operações…………………………………… (2) Sistema de comando operacional…………………………. (3) Coordenação dos meios aéreos…………………………… (4) Apoio da CEFF distrital………………………………………

(a) CDOS Castelo Branco………………………………….. (b) CDOS Faro………………………………………………. (c) CDOS Guarda…………………………………………… (d) CDOS Leiria……………………………………………… (e) CDOS Lisboa…………………………………………….. (f) CDOS Portalegre………………………………………… (g) CDOS Santarém………………………………………….

v) A COOPERAÇÃO INSTITUCIONAL…………………………... (1) Forças de segurança……………………………………….. (2) Forças Armadas…………………………………………….. (3) Outros agentes de protecção civil…………………………

III. O QUE FUNCIONOU E O QUE FALHOU

1) NA PREVENÇÃO………………………………………………………... 2) NO PLANEAMENTO…………………………………………………….

a) DISPOSITIVO DE RESPOSTA PERMANENTE………………… b) PLANOS DE EMERGÊNCIA DE PROTECÇÃO CIVIL…………..

3) NA COORDENAÇÃO…………………………………………………… a) NÍVEL MUNICIPAL…………………………………………………. b) NÍVEL DISTRITAL…………………………………………………… c) NÍVEL CENTRAL……………………………………………………

4) NO COMBATE………………………………………………………….. a) ORGANIZAÇÃO NO TEATRO DE OPERAÇÕES………………. b) ACTIVIDADES DE COMBATE E RESCALDO…………………… c) MEIOS ESPECIAIS………………………………………………….

i) MÁQUINAS DE RASTOS………………………………………. ii) MEIOS AÉREOS………………………………………………… iii) APOIO LOGÍSTICO……………………………………………...

IV. MEDIDAS A TOMAR

1) MUDANÇAS E MEDIDAS PRÁTICAS A INTRODUZIR DE

IMEDIATO………………………………………………………………… 2) MEDIDAS LEGISLATIVAS E OUTRAS………………………………. NOTAS………………………………………………………………………...

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LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 2

1) INTRODUÇÃO

No dia 10 de Agosto, em Castelo Branco, tomou o Governo o compromisso

de publicar este Livro Branco. Justificam-no a vastidão, voracidade e

tenacidade dos incêndios que, neste verão de 2003, um dos mais tórridos e

secos de que há memória, atingiram proporções de calamidade pública.

Apesar do imenso esforço e sacrifício posto no combate e no socorro, os

incêndios devoraram vidas, casas e haveres, devastaram florestas e matas

protegidas. Deixaram um rasto de tragédia humana, em primeiro lugar, e

estragos materiais e ambientais que levarão muito tempo e mais empenho,

a remediar e reparar. Justificam-no, ainda, o desejo de corresponder, no

mais curto prazo possível, à salutar exigência de que o Governo faculte aos

cidadãos a informação factual e a apreciação que dela faz, de forma a

permitir uma avaliação ciente da actuação desenvolvida e a desenvolver.

Uma catástrofe semelhante, ainda que se repita de futuro a

excepcionalmente forte e longa vaga de calor que atingiu Portugal e grande

parte da Europa, não pode repetir-se nunca mais.

É este o forte objectivo que nos move e preside, também, à compilação do

Livro Branco. Por isso ele não é, nem deveria ser, um mero relato de factos,

um catálogo defensivo das disposições tomadas, nem um repositório dos

mecanismos existentes. Pretende, pelo contrário, atingir duas finalidades

convergentes no objectivo que acabo de enunciar: por um lado, prestar

contas, ou seja, fazer o balanço do que correu menos bem nas diferentes

intervenções, tanto na vigilância e no combate aos fogos como nas

operações de protecção e socorro; por outro lado, remediar as

insuficiências e colmatar as falhas que podem ser imediatamente

diagnosticadas, e identificar medidas susceptíveis de organizar e capacitar

melhor e desde já, a protecção civil, os corpos de bombeiros e os vários

mecanismos de alerta e coordenação na prevenção e combate aos

incêndios.

Porque o tempo urge, não quis ficar à espera que os dados fossem

exaustivamente tratados, como serão oportunamente, ou que as

apreciações de todos os possíveis quadrantes gerassem conclusões

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 3

aplicáveis no mais longo prazo, como as que exigem – sabemo-lo de

antemão – alterações ao quadro legal vigente. Essas, repito, serão

pensadas e elaboradas oportunamente. Agora, importa medir com

exactidão a amplitude e não o pormenor da catástrofe, e avaliar com

exactidão medidas a tomar com carácter imediato para que nunca mais se

repita.

O presente Livro Branco foi compilado com base nos contributos fornecidos

pelos serviços directamente envolvidos no planeamento e na coordenação

das operações de socorro, os Governadores Civis e o Serviço Nacional de

Bombeiros e Protecção Civil, bem como das entidades directamente ligadas

ao sector, a Liga de Bombeiros Portugueses, a Associação Nacional de

Municípios Portugueses e a Associação Nacional dos Bombeiros

Profissionais.

Foram ainda ouvidas a título individual as seguintes personalidades com

especial preparação e reconhecida experiência nas diferentes vertentes da

problemática dos Bombeiros, da Protecção Civil e dos incêndios florestais:

• Dr. António Nunes (24 de Setembro)

• Dr. Duarte Caldeira (24 de Setembro)

• Eng. José António Laranjeira (25 de Setembro)

• Prof. Dr. Francisco Castro Rêgo (25 de Setembro)

• Inspector Alberto Guedes de Moura (25 de Setembro)

• Inspector Cristiano da Costa Santos (26 de Setembro)

• Professor João Cascada (26 de Setembro)

• Comandante Saraiva Santos (29 de Setembro)

• Padre Dr. Vítor Melícias Lopes (29 de Setembro)

• Comandante Jaime Marta Soares (29 de Setembro)

• Sr. Manuel Veloso (29 de Setembro)

• Dr. Manuel Costa Alves (1 de Outubro)

• Eng. Carlos Ferreira de Castro (2 de Outubro)

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 4

O Livro Branco está dividido em quatro partes, incidindo sobre a análise e

caracterização da catástrofe e das suas consequências, o combate aos

incêndios em todas as suas variantes, o sistema de comando e a

organização do teatro de operações. Feito este balanço, não é difícil

enunciar um conjunto de situações mais bem sucedidas e outras que

correram mal, tanto na área da prevenção, como do planeamento e

utilização dos meios no combate aos incêndios. Uma última parte destina-

se a tirar lições para o futuro.

Neste contexto, o Livro Branco propõe um conjunto de medidas práticas a

introduzir de imediato, assim como enuncia outras de carácter organizativo

e de natureza regulamentar que serão desenvolvidas no médio prazo.

Cinge-se, tanto no aspecto da prevenção como da coordenação, vigilância

e combate, aos aspectos que caem sob a alçada do Ministério da

Administração Interna. Não significa isto, no entanto, como a recente

criação da Secretaria de Estado das Florestas indica e o anúncio pelo

Primeiro Ministro de uma reforma estrutural assegura, menor compromisso

do Governo com as outras áreas essenciais, para impedir que os incêndios

deflagrem ou alastrem.

Cinge-se ainda, como atrás se disse, às consultas realizadas até finais de

Setembro de 2003. Estas consultas vão prosseguir, e os resultados já

obtidos e a obter servirão para cumprir o objectivo mais vasto que o

Governo se propôs de reformar todo o sistema de protecção civil,

adequando-o melhor, neste como noutros capítulos, às exigências da

segurança dos cidadãos.

Os cidadãos ficarão assim em melhores condições para compreenderem a

forma como as coisas se passaram e acompanharem as reformas e

mudanças que o Governo, em estreita colaboração com as organizações

dos Bombeiros e com as Autarquias Locais, vai levar a cabo.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 5

2) SÍNTESE

a) CARACTERIZAÇÃO DOS ACONTECIMENTOS

A partir de 19 de Julho último, Portugal foi assolado por um fenómeno de

características meteorológicas de uma adversidade tal, que provocou uma

vaga de incêndios florestais perfeitamente excepcional, não só pela

concentração do número de ocorrências registado, mas principalmente pela

violência com que cada situação se desenvolveu, provocando um rasto de

destruição avassalador, quer para a vida e bens da população das áreas

atingidas, quer para o património florestal e, consequentemente para a

economia do País.

Entre 1 de Janeiro e 30 de Setembro, os dados provisórios sobre a área

ardida indicam que arderam 390.146 hectares, dos quais 262.909 hectares

são de povoamentos florestais e 127.237 hectares de matos, sendo o

distrito de Castelo Branco o mais atingido com 89.709 hectares.

Os incêndios de Nisa, que deflagrou a 30 de Julho e de Proença-a-Nova,

cujo início teve lugar a 1 de Agosto, nos quais arderam, respectivamente

49.049 hectares e 41.079 hectares, têm a maior dimensão registada desde

1980. De entre outros incêndios com maiores áreas ardidas destacam-se os

que deflagraram em Portimão (26.000 ha), Chamusca (21894 ha), Fundão

(19.561 ha), Silves (14.850 ha), Alter do Chão (11.407 ha), Portalegre

(11.341 ha) e Mafra (2.756 ha). A 2 de Agosto foi atingido o pico

relativamente ao número de ocorrências por dia:

A violência dos incêndios registados nos distritos de Bragança, Castelo

Branco, Faro, Guarda, Leiria, Lisboa, Portalegre, Santarém e Viseu, teve

graves consequências do ponto de vista humano, havendo a lamentar 20

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LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 6

vítimas mortais, de entre as quais dois bombeiros e dois técnicos florestais

chilenos.

A primeira constatação é o carácter absolutamente excepcional do Verão de

2003. A partir do momento em que a excepção ocorre, porém, forçoso é

que a encaremos como passível de reproduzir-se. A preparação tem, pois,

agora de ser feita para um patamar mais elevado de dano e risco possível,

ou seja, tem de prever-se o que era até agora imprevisível. Tem de

considerar-se igualmente, a possibilidade de a excepção se converter, num

prazo não muito longínquo, em regra.

Estávamos preparados e organizados para uma campanha normal de

combate aos incêndios, já de si bastante exigente, pois consumiram em

média, nos últimos cinco anos, cerca de 104 mil hectares.

Quando a catástrofe começou a anunciar-se mobilizámos de imediato

meios excepcionais: para além dos 3.344 bombeiros e 802 veículos do

dispositivo sazonal permanente, todos os restantes meios dos distritos

atingidos, mais 93 grupos de reforço no total de 1860 bombeiros por turno.

Face à anormalidade da situação e à necessidade de reforçar meios, no dia

28 de Julho de 2003, recorremos à Cooperação Internacional, tendo obtido

apoios de Espanha, Itália, Alemanha e Marrocos. Idêntica situação se vivia

entretanto em outros países europeus que, como a França, também tiveram

de recorrer à cooperação internacional para reforçar os meios de combate

às chamas na região mediterrânica.

Também se apelou à Cooperação Nacional, com a mobilização de meios da

Guarda Nacional Republicana, da Cruz Vermelha Portuguesa, do Instituto

Nacional de Emergência Médica e Meios Militares. Nunca no nosso País se

conseguiu reunir e aplicar um tão grande número de meios no combate a

um tão elevado e devastador número de incêndios, que deflagravam em

simultaneidade, exigindo uma dispersão de meios humanos e aéreos.

Sob o ponto de vista da estratégia definida para o Centro Nacional de

Operações de Socorro, as prioridades do combate aos incêndios ficaram

estabelecidas, a partir de 31 de Julho de 2003, nesta ordem: 1º - A

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 7

protecção das Pessoas; 2º - A defesa das Habitações; 3º - O combate indirecto com máquinas de rasto e contra fogos.

Os cenários vividos em Portugal foram consideravelmente piores do que

tudo quanto se previa e se tinha conhecido até aqui. Para explicar a

calamidade, já se enunciaram razões de ordem natural, mas também não

ignoramos a persistência de razões de ordem estrutural mais profundas. A

todas elas nos referimos detalhadamente no Livro Branco.

Perante o drama que nos atingiu, é necessário desenvolver esforços para

abordar o tratamento de tudo quanto envolve esta problemática de forma

objectiva e descomplexada, todos os pontos fracos que se acumularam ao

longo dos anos. Desde o sistema de ordenamento e de gestão das nossas

florestas, passando pelas fragilidades das estruturas de protecção civil, até

à impreparação generalizada das populações e de grande parte dos corpos

de bombeiros e agentes da protecção civil, para enfrentar este tipo de

calamidades, em situações de riscos extremos.

Além disso, o excessivo desordenamento do território, com milhares de

habitações localizadas no meio das matas, sem respeito por qualquer

medida de prevenção contra incêndios, obriga a dispersar os meios de

combate dos bombeiros, face à prioridade da sua defesa e reduz a

possibilidade de combate directo aos fogos.

Se, como este ano aconteceu, as variáveis atmosféricas se conjugarem de

forma tão negativa, as insuficiências e as dificuldades exponenciam-se,

dando origem à calamidade.

b) CARACTERIZAÇÃO DO FENÓMENO METEOROLÓGICO

As condições meteorológicas consubstanciadas em altas temperaturas,

humidades relativas muito baixas, bem como ventos instáveis

predominantemente de leste, deram origem a uma simultaneidade e

concentração de incêndios florestais, cuja força e velocidade de propagação

resultaram em violência e proporções fora do comum.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 8

A prolongada permanência destas condições meteorológicas adversas,

conjugadas em algumas das áreas com um coberto vegetal altamente

inflamável e ainda uma topografia em que dominam pendentes acentuadas,

contribuíram para os cenários vividos na região centro-norte interior, no

Algarve e em Trás-os-Montes.

Por outro lado, Portugal registou quedas pluviométricas prolongadas no

Inverno e na Primavera deu-se um elevado crescimento vegetativo nestas

áreas, contribuindo para um aumento significativo do biomassa. Nestas

condições, ficou favorecida a acumulação de matéria inflamável, sem

descontinuidades, que, aliada à secura e às altas temperaturas, facilitou a

propagação dos incêndios e dificultou o rescaldo, alimentando a

probabilidade de reacendimento, em particular perante a presença de

ventos muito fortes.

Assistiu-se, assim, a incêndios com um comportamento extremo e errático,

pulverizados por acção dos ventos fortes e instáveis, provocado em muitos

casos pela ocorrência de trovoadas secas, e auxiliados por temperaturas

que nos seus mínimos foram sempre superiores a 30 graus e nos máximos

chegaram a atingir os 47 graus.

Como é sabido, a dimensão das áreas ardidas e percorridas pelos

incêndios varia em função das condições climatéricas, especialmente no

que se refere a temperaturas do solo e do ar, o tipo e densidade da

vegetação, a topografia, a velocidade e direcção dos ventos, as correntes

de ar quente e a projecção de partículas em ignição. Isto é, a causa de um

incêndio é, na origem, uma combustão provocada ou não por causas

humanas, mas as probabilidades de maior ou menor velocidade de

propagação desta combustão inicial devem-se ao meio físico e a condições

atmosféricas.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 9

c) AVALIAÇÃO DAS DIVERSAS ÁREAS DE RESPONSABILIDADE

i) NA PREVENÇÃO

Funcionou a prevenção da responsabilidade do SNBPC, cujas verbas

foram, globalmente aumentadas em cerca de 44%, como se pode

verificar pelo quadro seguinte:

2001 2002 2003 Orçamento Realizado Orçamento Realizado Orçamento Infra-estruturas florestais

4.168.823,00

3.659.298,56

3.699.286,00

3.152.644,00

5.407.628,00

Vigilância móvel motorizada

1.439.955,00

1.189.300,67

1.896.499,00

1.459.466,00

910.948,00

Vigilância aérea

250.000,00

177.968,09

250.000,00

170.162,00

300.000,00

Sapadores florestais

3.168.000,00

3.120.309,35

3.744.000,00

2.848.081,17

4.500.000,00

Total

9.026.778,00

8.146.876,70

9.589.785,00

7.630.353,17

11.118.576,00

Fonte: SNBPC

Falhou a campanha da informação ao público, que deve ser

consubstanciada em programas permanentes de educação pública,

nomeadamente dirigidas ao ensino básico.

ii) NO PLANEAMENTO

A destacar o contributo resultante do aumento do número de grupos de

primeira intervenção (GPI), de 506 para 560, no dispositivo sazonal

permanente, bem como o facto de terem sido accionados a maior parte

dos planos de emergência de protecção civil, locais e distritais, das

áreas atingidas.

Notou-se haver dificuldade no accionamento dos planos. Na verdade,

estes requerem actualização permanente e verificação da sua eficácia

através de exercícios periódicos.

Por outro lado, parte dos grupos de reforço foram constituídos sem

terem em conta todas as normas que os regem, quer quanto à qualidade

dos veículos que os integraram, quer quando à experiência e à formação

do pessoal para este tipo específico de ocorrências.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 10

iii) NA COORDENAÇÃO

Ao nível municipal: a implantação dos serviços municipais de

protecção civil não é uniforme em todo o País, para o que contribuiu o

facto de nunca terem sido regulamentados, conforme a Lei de Bases da

Protecção Civil prevê; da mesma forma, não estão regulamentadas

carreiras para técnicos municipais de protecção civil, o que constitui

outro condicionalismo, no concreto, daqueles serviços.

Nem sempre se verificou uma ligação permanente da autarquia ao

CDOS, o que é essencial para que conheça o ponto de situação quanto

ao incêndio, aos meios empenhados e aos meios disponíveis.

A nível distrital: o cargo de coordenador distrital, herdeiro dos

anteriores cargos de chefe da delegação distrital do SNPC e de

inspector distrital do SNB, terá de ser desempenhado de modo mais

equilibrado, não relegando para segundo plano atribuições que poderão

pôr em causa o fundamental do sistema nacional de protecção civil.

Em alguns casos, verificou-se algum conflito de competências entre o

coordenador distrital e o comando das operações. Nas grandes

ocorrências o coordenador distrital terá sempre de privilegiar o exercício

da coordenação a partir do CDOS.

A nível central: Apesar das dificuldades registadas pontualmente, é de

salientar a forma positiva como, na generalidade, o CNOS reagiu à

violência dos acontecimentos, tomando as decisões que haveria de

tomar, mesmo que algumas não tenham tido a compreensão de todos

quantos, no terreno, necessitavam de apoio, o que acontece sempre que

as necessidades são superiores aos meios disponíveis. Porém, em

certas situações mais difíceis, predominou a vertente bombeiros em

detrimento da componente protecção civil, em si mesma mais exigente e

complexa. O CNOS é uma unidade orgânica onde se deve fazer a

síntese operacional entre as exigências do terreno e o planeamento da

resposta de emergência, pelo que, solicita pessoal técnico altamente

especializado, tendo em conta a primordial importância das suas tarefas,

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 11

nomeadamente no estudo de situação e tomada atempada de medidas

adequadas, incluindo o alerta às entidades e o aviso às populações.

De realçar a boa cooperação, no âmbito das suas atribuições, das

instituições de investigação técnica e científica, nomeadamente do

Instituto de Meteorologia e da Direcção-Geral das Floresta.

iv) NO COMBATE

Constatou-se o empenho e a abnegação dos bombeiros portugueses e

outras forças intervenientes. A protecção às povoações foi eficaz na

maior parte dos casos, obtendo a preciosa colaboração das populações,

cuja participação ao lado dos bombeiros foi notória em grande parte dos

incêndios. Houve, ainda, uma grande participação das câmaras

municipais e das populações na tentativa de minimizar as deficiências

de logística, particularmente na alimentação. Assistiu-se a um maior

recurso a máquinas de rasto.

Falhou a organização dos teatros de operações, nomeadamente na

utilização eficaz do sistema de comando operacional, com repercussões

graves a nível da logística, da recepção e enquadramento dos meios de

reforço na rentabilização de pessoal e veículos. Faltaram quadros de

comando para provimento das diferentes funções na organização dos

teatros de operações.

Há falta de formação específica para o combate a incêndios florestais,

incluindo a não utilização de equipamento de protecção individual, a

utilização abusiva da extinção por água em detrimento do uso de

ferramentas manuais e/ou máquinas pesadas e a deficiente

consolidação dos rescaldos, que originaram demasiados

reacendimentos

Utilizam-se linhas de mangueiras de 25 mm, independentemente da

dimensão da frente de fogo. Houve equipas compostas por bombeiros

em fase de instrução preparatória.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 12

A rede rádio de comunicações funcionou com deficiências, o que teve

efeitos negativos na organização do teatro de operações. Também, por

este motivo houve abandono do teatro de operações para alimentação e

abastecimento de combustível.

Falta de formação dos manobradores das máquinas de rasto,

insuficiente qualificação de alguns pilotos e coordenadores aéreos.

d) MEDIDAS A TOMAR

i) MUDANÇAS E MEDIDAS PRÁTICAS A INTRODUZIR DE IMEDIATO

(1) Aprofundamento da organização, funcionamento e modelo de

gestão do SNBPC, tendo em conta o seu papel fundamental

enquanto serviço com o objectivo da protecção e socorro de

pessoas e bens, no âmbito do sistema nacional de protecção civil.

(2) Reavaliação das valências de formação da Escola Nacional de

Bombeiros.

(3) Plano de reequipamento de meios de combate a incêndios

florestais, incluindo meios aéreos.

(4) Actualização do Plano Nacional de Emergência, melhorando a

articulação entre os diferentes níveis.

(5) Realização de uma auditoria técnica aos corpos de bombeiros,

através de equipas integradas do SNBPC e da Liga dos

Bombeiros Portugueses, de modo a clarificar as necessidades

nos domínios dos equipamentos, formação e recursos humanos.

ii) MEDIDAS LEGISLATIVAS E OUTRAS

(1) Regulação do subsistema municipal de protecção civil, em

parceria com a Associação Nacional de Municípios Portugueses.

(2) Clarificação das responsabilidades do SNBPC em matéria de

prevenção, detecção, vigilância e combate a incêndios.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 13

(3) Actualização do regulamento que rege o exercício de funções de

protecção civil pelas Forças Armadas (DR n.º 18/93, de 28-6).

(4) Reavaliação e actualização da legislação sobre centros

operacionais de emergência e planos de emergência de

protecção civil.

(5) Análise e qualificação das funções de comando das operações de

socorro, com especial incidência na clara definição das

responsabilidades operacionais.

Lisboa, 15 de Outubro de 2003

O Ministro da Administração Interna

António Figueiredo Lopes

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 14

I. A CATÁSTROFE: FACTOS E NÚMEROS

1) A DIMENSÃO DOS INCÊNDIOS

A partir de 19 de Julho último, Portugal foi assolado por um fenómeno de

características meteorológicas de uma adversidade tal, que provocou uma

vaga de incêndios florestais perfeitamente excepcional, não só pelo

número de ocorrências registado, mas principalmente pela violência com

que cada situação se desenvolveu, provocando um rasto de destruição

avassalador, quer para a vida e bens da população das áreas atingidas,

quer para o património florestal e, consequentemente para a economia do

País.

De acordo com os dados provisórios da Direcção-Geral das Florestas

(DGF), entre 1 de Janeiro e 30 de Setembro, a área ardida corresponde a

390.146 hectares, dos quais 262.909 hectares são de povoamentos

florestais e 127.237 hectares de matos. Porém, não está, ainda,

contemplada a área ardida nos incêndios de Monchique/Odemira e Serra de

Montejunto, cuja análise está a ser concluída pelos serviços competentes.

A maior área ardida acumulada regista-se no distrito de Castelo Branco,

com 89.709 hectares (23%), seguindo-se Portalegre, 68.312 hectares

(18%), Santarém, 66.886 hectares (17%) e Faro, 43.603 hectares (11%).

Em relação ao número de ocorrências, refere a DGF que, no mesmo

período, eclodiram 4.279 incêndios florestais e 14.092 fogachos (área

inferior a 1 ha), sendo o distrito de Viseu o que contabiliza maior número de

incêndios florestais (496), logo seguido de Braga (477), Vila Real (459) e

Porto (441). No conjunto estes quatro distritos representam 44% do total de

incêndios florestais. Quanto aos fogachos, a maior quantidade eclodiu no

distrito do Porto, com 3.307 (24%) e no de Braga, 1.919 (14%).

Durante o mesmo período, os 175 incêndios com mais de 100 hectares,

que percorreram 359.315 hectares, dos quais 68% são povoamentos

florestais, foram responsáveis por 92% do total da área ardida já

inventariada. Destes incêndios, registaram-se 56 com uma área ardida

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 15

superior a 1.000 hectares, que consumiram 316.762 hectares, isto é, 88%

do total ardido.

Os incêndios de Nisa, que deflagrou a 30 de Julho e de Proença-a-Nova,

cujo início teve lugar a 1 de Agosto, nos quais arderam, respectivamente

49.049 hectares e 41.079 hectares, têm a maior dimensão registada desde

1980.

De entre outros incêndios com maiores áreas ardidas destacam-se os que

deflagraram em Portimão (26.000 ha), Chamusca (21894 ha), Fundão

(19.561 ha), Silves (14.850 ha), Alter do Chão (11.407 ha), Portalegre

(11.341 ha) e Mafra (2.756 ha).

A distribuição distrital dos incêndios florestais entre 1 de Janeiro e 30 de

Setembro, foi a seguinte:

Número de ocorrências Área ardida (ha) Distrito Incêndios

Florestais Fogachos Reacendimentos Povoamentos Matos Total

Aveiro * 57 631 74 252 36 288 Beja 55 43 0 4.615 1.248 5.863

Braga 477 1.946 9 993 1.702 2.695 Bragança 295 315 91 3.543 11.097 14.640 C. Branco 187 355 14 80.239 9.470 89.709 Coimbra 65 446 34 2.594 237 2.831

Évora 41 23 0 8.843 489 9.332 Faro 69 117 1 21.406 22.197 43.603

Guarda 463 626 11 13.538 30.585 44.123 Leiria 131 690 88 6.363 3.222 9.585

Lisboa 413 1.700 39 4.028 3.849 7.877 Portalegre 57 45 5 47.194 21.118 68.312

Porto 441 3.313 29 1.877 1.437 3.314 Santarém 242 615 86 53.291 13.595 66.886

Setúbal 115 510 0 10.316 148 10.464 V. Castelo 216 511 55 864 574 1.437 Vila Real 459 814 197 1.605 3.109 4.714

Viseu 496 1.392 180 1.348 3.126 4.473 Total 4.279 14.092 913 262.909 127.237 390.146

Fonte: DGF (*Faltam dados de sete concelhos)

Quanto à distribuição mensal, verifica-se uma maior concentração de

incêndios florestais e fogachos, bem como de área ardida, no mês de

Agosto. Por outro lado, embora em Setembro o número de incêndios

florestais tenha sido superior ao registado em Julho, a área ardida foi

substancialmente menor:

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 16

Número de ocorrências Área ardida (ha) Mês Incêndios Florestais Fogachos Reacendimentos Povoamentos Matos Total

Janeiro 22 70 0 11 39 50 Fevereiro 30 91 0 14 48 62

Março 188 490 9 276 597 872 Abril 120 415 0 246 320 566 Maio 286 1.208 48 1.157 556 1.713 Junho 581 2.334 144 7.232 4.026 11.258 Julho 759 2.552 153 55.863 21.353 77.216

Agosto 1.473 4.630 475 191.433 94.644 286.077Setembro 820 2.304 0 6.679 5.654 12.333

Total 4.279 14.092 913 262.909 127.237 390.146 Fonte: DGF

Um valor que pode ser observado em ambos os quadros, corresponde aos

reacendimentos, conceito que a DGF emprega para identificar os

reactivamentos, depois dos incêndios terem sido considerados extintos e

nos quais a fonte de calor é proveniente do incêndio inicial. A quantidade e

a simultaneidade dos incêndios, não sendo o único factor que prejudica a

boa prática do rescaldo, têm uma relação directa com o número de

reacendimentos verificado.

Quanto à distribuição do número diário relativo a incêndios florestais,

agrícolas e matos, segundo registos do SNBPC, o pico foi atingido no dia 2 de Agosto, com 650 ocorrências, após um crescente com início a 27 de

Julho (153), uma diminuição em 4 (341) e 5 (334) de Agosto e um novo pico

a 7 de Agosto (510):

Fonte: SNBPC

341334

455510

420

340335304

401

283328

228193

419

347

233

143114153

502

650

508

386

0

100

200

300

400

500

600

700

25-J

ul

27-J

ul

29-J

ul

31-J

ul

2-A

go

4-A

go

6-A

go

8-A

go

10-A

go

12-A

go

14-A

go

16-A

go

A violência dos incêndios registados nos distritos de Bragança, Castelo

Branco, Faro, Guarda, Leiria, Lisboa, Portalegre, Santarém e Viseu, teve

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 17

graves consequências do ponto de vista humano, havendo a lamentar 20 vítimas mortais, de entre as quais dois bombeiros e dois técnicos

florestais chilenos.

Assim, um acidente de viação a caminho do teatro de operações, provocou

uma vítima mortal entre os bombeiros do CBV Figueira de Castelo Rodrigo (Guarda) e com queimaduras graves faleceu outro bombeiro do

CBV Castelo de Vide (Portalegre). Quanto aos técnicos chilenos ao serviço

da AFOCELPA, ficaram encurralados pelo fogo no concelho da Chamusca.

Registaram-se, ainda, cerca de 50 acidentes vários com bombeiros e

elementos das forças de segurança, principalmente queimaduras e

traumatismos diversos, alguns dos quais com gravidade.

As restantes vítimas mortais foram atingidas pelos incêndios que

deflagraram nos distritos de Bragança (2), Castelo Branco (6), Faro, Guarda

(2), Portalegre (2), Santarém (2) e Viseu. Trata-se, fundamentalmente de

cidadãos que, na iminência da aproximação dos incêndios, tentaram

combatê-los sem qualquer apoio ou, na fuga, ficaram desorientados.

Em relação aos prejuízos no parque edificado, de acordo com o relatório

do Instituto Nacional de Estatística (INE), respeitante ao «Inquérito à

Situação de Calamidade Pública – Edificado – Incêndios Verão de 2003»,

promovido pela Secretaria de Estado da Administração Local, em anexo,

foram destruídas 113 habitações permanentes, desalojando 190 pessoas. No total foram atingidas pelos incêndios 2336 edificações, 60%

das quais no distrito de Castelo Branco. De entre os edifícios contam-se

539 alojamentos, mas somente 212 de primeira residência. Foram

atingidos, ainda, 2238 não-alojamentos, sendo que cada edifício pode

conter um ou mais alojamentos e não-alojamentos.

Assim, foram afectadas 107 instalações com 302 postos de trabalho, dos

quais 187 na agricultura e pesca, 109 na indústria e seis noutras.

Os municípios mais afectados quanto ao edificado, foram Oleiros (580),

Sertã (391) e Vila de Rei (136), todos no distrito de Castelo Branco e

Mação (383), no distrito de Santarém.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 18

Os dados recolhidos correspondem a 40 concelhos, já que, dos 62

atingidos pelas chamas, 15 indicaram não existir edificado atingido e sete

não foram registados.

Segundo dados recolhidos até 30 de Setembro pelo Instituto de Solidariedade e Segurança Social, o total de pessoas atingidas pelos

incêndios cifrou-se em 3.476, correspondendo a 1.679 agregados

familiares, tendo beneficiado dos apoios concedidos 1.279 titulares, para

um número de elementos dos agregados familiares de 2.544.

Segundo indicação do MADRP, mais de 5.000 agricultores foram atingidos,

quer pela morte de animais, quer pela perda de recursos de alimentação

animal, quer ainda relativamente à perda de instalações, equipamentos e

culturas.

2) ANÁLISE COMPARATIVA COM OS ANOS ANTERIORES

Relativamente aos anos anteriores e de acordo com Direcção-Geral das

Florestas, a média de área ardida entre 1993 e 2002, cifrou-se em 104.166

hectares, dos quais 43.447 hectares corresponderam a povoamentos e

60.669 hectares a matos. Quanto ao número médio de incêndios florestais e

fogachos, foram respectivamente de 7.061 e 19.936. No quadro seguinte

podem ser observados os números correspondentes a cada ano:

Número de ocorrências Área ardida (ha)

Anos Incêndios Florestais Fogachos Povoamentos Matos Total 1993 3.763 12.338 23.839 26.124 49.963 1994 6.623 13.360 13.487 63.836 77.323 1995 10.199 23.917 87.554 82.058 169.612 1996 7.563 21.063 30.542 58.325 88.867 1997 5.637 17.860 11.466 19.068 30.535 1998 8.834 25.842 57.393 100.975 158.369 1999 5.782 19.695 31.052 39.561 70.613 2000 8.802 25.307 68.646 90.958 159.604 2001 6.985 20.203 45.327 66.557 111.883 2002 6.492 19.996 65.160 59.251 124.411 Média 7.061 19.936

43.447 60.669 104.116 Fonte: DGF

Verifica-se que nos últimos dez anos, a maior área ardida correspondeu a

1995, com 169.612 hectares, logo seguido por 2000 (159.604 ha) e 1998

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 19

(158.369 ha). Estes anos registaram, também, o maior número de

ocorrências.

Considerando, apenas, o período entre a 1 de Janeiro a 30 de Setembro e a

média dos últimos 5 anos, obtêm-se os seguintes resultados:

Número de ocorrências Área ardida (ha) Anos Incêndios

Florestais Fogachos Povoamentos Matos Total

1998 8.239 25.842 57.203 99.813 157.0161999 5.532 18.827 30.940 39.035 69.975 2000 8.016 23.755 67.318 86.487 153.8052001 6.018 17.439 42.986 63.345 106.3312002 6.473 19.887 65.092 59.215 124.3082003* 4.279 14.092 262.909 127.237 390.146

Média 1998-2002 7.061 19.936

43.447 60.669 104.116Desvio - 39,4% -29,3% +605% +210% +375%

Fonte: DGF (*valores provisórios) Verifica-se, assim, que a um desvio negativo em relação à média dos

últimos 5 anos cifrado em cerca de 40% e 30%, respectivamente para

incêndios florestais e fogachos, corresponde uma área total ardida cerca de

quatro vezes superior, que é seis vezes maior, se considerados, apenas, os

povoamentos florestais.

Relativamente aos 175 grandes incêndios já apurados, comparativamente

aos anos anteriores e com dados de 2003 provisórios para o período de 1

de Janeiro a 30 de Setembro, verifica-se um aumento extraordinário no

número de incêndios acima de 1000 hectares de área ardida, com particular

relevância para os que contabilizaram mais de 5000 hectares:

Área ardida Número de ocorrências

(ha) 1998 1999 2000 2001 2002 2003* 100-500 173 83 206 132 123 90 500-1000 52 17 33 12 28 31 1000-2500 19 8 12 17 10 26 2500-5000 3 3 6 0 2 12

>5000 0 0 1 1 1 16 Total 247 111 258 162 164 175

Área ardida 115.009 45.385 110.197 68.084 72.937 359.315 Área anual ardida 158.368 70.612 159.604 111.851 117.294 390.146

% Área ardida 72,6 64,2 69,0 60,8 62,1 92 Fonte: DGF (*valores provisórios, 1 de Janeiro a 30 de Setembro)

Neste período, os grandes incêndios representaram 92% do total da área ardida já inventariada, a que corresponde um acréscimo de 26,3 pontos em

relação à média do último quinquénio.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 20

3) CARACTERIZAÇÃO DO FENÓMENO METEOROLÓGICO

As condições meteorológicas consubstanciadas em altas temperaturas,

humidades relativas muito baixas, bem como ventos instáveis predominantemente de leste, deram origem a uma simultaneidade e

concentração de incêndios florestais, cuja força e velocidade de propagação

resultaram em violência e proporções fora do comum.

De acordo com o relatório sobre os incêndios florestais 2003, do Serviço

Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, o período relativo aos últimos dias

de Julho e primeira quinzena de Agosto caracterizou-se pela persistência de

valores muito elevados da temperatura máxima e mínima do ar. As

temperaturas máximas do ar, em todo o território, foram superiores a 35ºC

em 97% das estações meteorológicas, tendo dois terços das estações

registado temperaturas superiores a 40ºC. Esta situação está associada ao

facto de Portugal Continental, entre 27 de Julho e 1 de Agosto, ter sido

afectado por uma massa de ar quente e seco transportada na circulação

conjunta de um anticiclone, que se estendeu em crista da região sul dos

Açores, em direcção ao Golfo da Biscaia e de um vale depressionário que

se prolongou do norte de África até à Península Ibérica.

Ao longo de 17 dias, entre 29 de Julho e 14 de Agosto, as temperaturas

mínimas e máximas mantiveram-se acima da média. Sem o habitual

arrefecimento nocturno, a circunscrição e extinção dos incêndios florestais foi visivelmente prejudicada.

O quadro seguinte regista o número de dias com temperaturas máximas

igual ou superior a 30ºC, 35ºC e 40ºC, comparativamente aos valores

médios (1961-1990) em igual período:

=> 30ºC => 35ºC => 40ºC Local 2003 Normal 2003 Normal 2003 Normal

Amareleja 14 11.9 14 5.7 14 0.4 Beja 14 11.0 14 3.6 9 0.2

Bragança 14 4.7 12 0.4 0 0.0 Castelo Branco 14 10.1 14 2.9 2 0.3

Elvas 14 11.6 14 5.1 13 0.3 Faro 13 5.0 3 0.3 0 0.0

Lisboa/Geof. 13 3.0 6 0.5 1 0.0 Lisboa/G.C 13 4.1 7 1.1 1 0.0

Penhas Douradas 10 0.2 0 0.0 0 0.0 Portalegre 14 7.1 14 1.4 2 0.0 Porto/P.R 7 0.9 4 0.2 0 0.0

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 21

Viana do Castelo 10 2.1 5 0.2 0 0.0 Vila Real 14 5.5 12 0.8 0 0.0

Fonte: IM/SNBPC

Foram, assim, ultrapassados os mais altos valores da temperatura máxima diária, como, por exemplo, na Amareleja (Beja) que, a 1 de

Agosto registou 47,3ºC, o que fica a constituir um novo máximo absoluto em

Portugal Continental. Por outro lado, os valores médios da temperatura máxima, entre 1 e 14 de Agosto, que foram muito superiores aos valores

médios (1961-1990) em igual período, variaram entre 30,1ºC no Porto e

42,7ºC na Amareleja (Beja).

Refere o mesmo relatório que, no período entre 3 e 15 de Agosto, houve

progressivamente uma alteração da localização dos incêndios florestais,

primeiro para os distritos da Guarda e de Bragança, onde se registaram

situações típicas do período de Verão, mais tarde, a partir de 8 de Agosto,

para a região do Barlavento Algarvio, sujeito a temperaturas mínimas

globalmente superiores a 20ºC e a máximas próximo dos 40ºC.

A subida da temperatura esteve associada a uma descida para valores extremamente baixos da humidade relativa, de 5% a 15% no interior, em consequência da corrente seca de leste que se fez sentir na maior

parte dos dias. Embora, no que respeita a valores médios, a intensidade do

vento não tenha sido particularmente significativa, as áreas próximas dos incêndios estão sujeitas a correntes fortes que se geram com rajadas muito intensas que, em geral, não são medidas pelas estações

meteorológicas da rede do Instituto de Meteorologia. Facilitando a

propagação dos incêndios, os seus efeitos têm, ainda, repercussões na actividade dos meios aéreos, devido à instabilidade que causam.

Salienta-se, também, no citado documento, que entre as 17 horas e as 21

horas do dia 1 de Agosto, os distritos de Portalegre, Évora e o interior do

distrito de Beja, foram fortemente afectados por trovoadas, situação que

veio a agudizar-se durante a noite, primeiro na Península de Setúbal, mais

tarde, entre as cinco horas e as nove horas do dia 2 de Agosto, na faixa

litoral compreendida entre Sines e o Cabo Carvoeiro, bem como a leste do

distrito de Santarém, especialmente na Chamusca, Abrantes, Sardoal e

Mação.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 22

Encontrando elevadas temperaturas na atmosfera, a água associada às trovoadas não se precipitou, isto é, evaporou-se antes de atingir a

superfície terrestre, originando as chamadas trovoadas secas. O aumento

local da velocidade do vento fez-se sentir com grande intensidade,

gerando-se rajadas da ordem dos 80 km/h, com rumo variável, conjugação

que levou à eclosão e rápida propagação de novos incêndios.

Através do Instituto de Meteorologia, são diariamente determinados os

índices de risco de incêndio, tendo em consideração parâmetros

meteorológicos e dados históricos. Saliente-se, porém, que este índice não

prevê a probabilidade de ocorrência de incêndios, mas, tão-somente as

condições de maior ou menor facilidade da sua propagação.

No período considerado, aqueles índices alcançaram os níveis superiores (extremo, muito elevado e elevado), dadas as condições

meteorológicas que se fazem sentir em toda a Europa, com particular

incidência na Península Ibérica, tendo em conta que se registaram

temperaturas muito superiores às médias, associadas a humidades relativas inferiores aos valores normais para a época (ver relatório do

SNBPC, em anexo, página 25 e seguintes).

A prolongada permanência destas condições meteorológicas adversas,

conjugadas em algumas das áreas com um coberto vegetal altamente inflamável e ainda uma topografia em que dominam pendentes

acentuadas (centro-norte interior de Portugal), contribuíram fortemente para

os cenários vividos.

Na verdade, o comportamento dos incêndios florestais está relacionado

com três factores – condições meteorológicas, combustível e relevo –

aos quais se associa a própria dinâmica do incêndio que, face a

temperaturas acima dos 30ºC, velocidades do vento superiores a 30 km/h,

humidades do ar abaixo de 30%, bem como humidades dos combustíveis

inferiores a 6%, conduz a situações de desenvolvimento e propagação

especialmente violentas.

Assim, Portugal regista quedas pluviométricas e temperaturas no centro e

norte do País que favorecem o elevado crescimento vegetativo,

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 23

conjugação de factores que tendo sido, particularmente evidente neste

Inverno, conduziu a um aumento significativo do biomassa. Nestas

condições, ficou favorecida a acumulação de manta morta que, aliada à

secura e às altas temperaturas, facilitou a propagação dos incêndios e

dificultou as actividades de rescaldo, alimentando a probabilidade de

reacendimento, em particular na presença de ventos fortes. Desta forma, os

incêndios caracterizaram-se por um comportamento extremo e errático,

pulverizados por acção dos ventos fortes e instáveis, auxiliados por

temperaturas mínimas que atingiram valores superiores a 30 graus.

Este fenómeno, cujas consequências foram as mais gravosas desde que há

registo, pôs à prova todo o trabalho desenvolvido pelos serviços

competentes, com vista a um quadro de normalidade para a época do ano, reflexo da análise às situações vividas, no mesmo período de tempo,

nos anos antecedentes.

4) CARACTERIZAÇÃO DO FENÓMENO CRIMINAL

A determinação das causas dos incêndios florestais, segundo o Corpo

Nacional de Guardas Florestais (CNGF), resulta da aplicação de um ciclo

de investigação composto pela recolha e análise do conjunto de provas

material e pessoal, com relevância para a recolha da prova material, devido

à ausência de pessoas no local capazes de fornecer testemunhos.

Diz a mesma fonte, que a classificação usada nas estatísticas da FAO e da

União Europeia apresenta quatro categorias: negligência, intencional, natural e desconhecida.

Outra classificação adoptada em 1993 e actualizada em 2001, é designada

por «tipo de causas», dividindo-se por categorias, grupos e subgrupos, com

o objectivo de melhorar o desempenho do investigador na despistagem das

causas. No primeiro nível agrupa a casualidade em seis grandes categorias,

uso do fogo, acidentais, estruturais, incendiarismo, naturais e

indeterminadas, agregando e identificando no segundo nível os grandes

grupos de comportamentos e actividades. Os subgrupos discriminam as

atitudes e motivações específicas.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 24

Em 2002, o incendiarismo correspondeu a 32% das investigações

realizadas e destas, 42% tiveram origem em práticas de vandalismo.

Quanto aos 213 grandes incêndios registados, o incendiarismo recolheu

cerca de 30 pontos percentuais. O aumento registado na intencionalidade

em relação a 2001, de acordo com o CNGF, deveu-se à diminuição das

causas indeterminadas.

Os 175 grandes incêndios com área já inventariada, registados entre 1 de

Janeiro e 30 de Setembro, apresentam o seguinte quadro provisório de

causas, por ordem crescente de quantidade:

Causas indeterminadas 39 Incendiarismo 28 Trovoada 25 Sob investigação 22 Vandalismo 13 Renovação de pastagens 12 Linha eléctrica 5 Máquinas e equipamentos 5 Conflitos de caça 4 Fumadores 4 Caminhos-de-ferro 3 Incêndios não investigados 3 Máquinas agrícolas 2 Queimada 2 Lançamento de foguetes 2 Limpeza do solo florestal 1 Confecção de comida 1 Acidente de viação 1 Chaminés 1 Danos provenientes da vida selvagem 1 Apicultura 1

Fonte: DGF

Em 175 grandes incêndios, isto é, com mais de 100 hectares de área

ardida, ressalta a detecção de 28 cuja causa é o incendiarismo, e destes,

13 correspondendo a práticas de vandalismo. Estão, ainda, sob

investigação 22 grandes incêndios, em 39 não foi possível identificar as

causas e três não foram investigados.

Estando contabilizados, neste período, 4.279 incêndios florestais e 14.092

fogachos, nas causas dos incêndios florestais com menos de 100 hectares

e fogachos, poderão vir ser encontradas, também, práticas ligadas ao

vandalismo.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 25

Os incêndios de origem criminosa são acendidos intencionalmente com a

finalidade de queimar a vegetação ou a propriedade de outrem, sem o

conhecimento ou o consentimento do proprietário. Têm origem, geralmente

em duas categorias de indivíduos:

• Pirómanos, que se satisfazem a assistirem ao espectáculo do fogo e

ao seu combate;

• Criminosos, que ateiam por malevolência ou vingança.

O incendiário pode ser animado por diversos interesses com vista à

consumação do seu acto delituoso, sendo consideradas várias motivações,

nomeadamente ocultação de outro crime, tácticas de diversão, auto

promoção, defraudação de companhias seguradoras, fins lucrativos,

vingança, ódio, inveja, vandalismo e danos voluntários.

Este ano foram detidos mais de uma centena de suspeitos do crime de fogo posto, dos quais 46 ficaram em prisão preventiva, tendo aos restantes

sido aplicadas outras medidas de coacção como prisão domiciliária,

apresentação obrigatória e termo de identidade e residência.

As primeiras investigações a cargo da Polícia Judiciária indicam que os

suspeitos, geralmente:

• Residem ou trabalham nas áreas onde os incêndios tiveram lugar,

movimentando-se sem suspeita no seio da vizinhança;

• Não têm ocupação permanente;

• Têm idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos;

• Utilizaram meios primários, como fósforos, velas isqueiros ou

acendalhas; Actuaram em vários focos de incêndio (multi-acções).

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 26

II. A RESPOSTA: PREVENÇÃO E COMBATE

1) A PREPARAÇÃO PARA OS INCÊNDIOS DE 2003

a) INVESTIMENTO NA PREVENÇÃO

i) CAMPANHAS DE PREVENÇÃO

Coube à extinta Comissão Nacional Especializada de Fogos Florestais

(CNEFF) programar as acções à campanha de prevenção, levadas à

prática através do Núcleo de Protecção da Floresta (NPF), unidade

orgânica do SNBPC que integrou as atribuições daquela comissão.

De acordo com o relatório do SNBPC, as medidas de sensibilização do

público basearam-se no esclarecimento sobre as normas de conduta a

adoptar na utilização das matas e, ainda, sobre os perigos de que se

reveste a não observância das regras estabelecidas em matéria de uso

do fogo e limpeza das florestas.

Foram distribuídos 50.000 exemplares de um cartaz com o título «NÃO

JUNTE LENHA PARA SE QUEIMAR», no qual se davam informações

sobre a nova legislação relativa a queimadas, tendo sido abrangidos os

distritos de Viana do Castelo, Coimbra, Braga, Porto, Vila Real,

Bragança, Viseu, Aveiro e Leiria.

Foram, também, distribuídos 500.000 desdobráveis com o título de

«VOLTA À FLORESTA» por diversas escolas do ensino básico, com

particular incidência nos distritos atrás apontados.

ii) INFRA-ESTRUTURAS FLORESTAIS

Quanto às infra-estruturas florestais, foi destinada uma verba de

5.407.628,00 euros, o que representou um acréscimo de 72% em

relação ao ano de 2002 (3.152.644,00 euros) e de cerca de 48%

comparativamente a 2001 (3.659.299,00 euros).

O apoio concedido teve por base as propostas apresentadas pelas

CEFF municipais, obtido o parecer das CEFF distritais correspondentes,

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 27

para projectos de construção e beneficiação de caminhos florestais e pontos de água.

Para além de 433.114,00 euros destinados a diversas entidades, a

atribuição da verba aos distritos foi a seguinte, podendo a distribuição

por município ser consultada em anexo:

Distrito Valor (euros) Aveiro 240.450,00 Beja 296.750,00

Braga 300.350,00 Bragança 349.584,77 C. Branco 288.310,02 Coimbra 427.700,07

Évora 78.500,00 Faro 284.148,00

Guarda 288.973,00 Leiria 301.151,96 Lisboa 135.005,00

Portalegre 198.000,00 Porto 289.577,00

Santarém 366.066,00 Setúbal 168.485,00

V. Castelo 138.077,15 Vila Real 288.923.00

Viseu 534.463,18 Fonte: SNBPC

iii) VIGILÂNCIA MÓVEL MOTORIZADA E VIGILÂNCIA AÉREA

No âmbito do apoio às CEFF e na linha dos anos anteriores, o SNBPC

deu seguimento à colaboração que vinha sendo prestada pela extinta

CNEFF quanto ao programa de vigilância móvel motorizada, que se

destina, essencialmente, à prevenção dos incêndios florestais (1), a partir

de pequenas equipas dotadas de equipamento próprio, incluindo meio

de transporte.

O financiamento foi de 910.948,00 euros, verificando-se uma redução no

investimento, pela evidente incapacidade das estruturas locais em

fiscalizar os resultados do programa. Tendo em conta a relação

custo/eficácia, foi decidido abandonar o turno do período nocturno,

tendo-se optado pelo reforço dos restantes programas de prevenção.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 28

Para além de 67.848,00 euros destinados a diversas entidades, a

atribuição da verba aos distritos foi a seguinte, podendo a distribuição

por município ser consultada em anexo:

Distrito Valor (euros) Aveiro 46.605,00 Beja 45.010,00

Braga 59.076,78 Bragança 45.034,45 C. Branco 39.369,00 Coimbra 58.914,60

Évora 19.778,00 Faro 43.461,00

Guarda 44.513,00 Leiria 56.205,00 Lisboa 19.754,00

Portalegre 55.338,00 Porto 44.013,00

Santarém 57.805,50 Setúbal 39.003,00

V. Castelo 31.199,00 Vila Real 58.109,00

Viseu 79.912,00 Fonte: SNBPC

Quanto à vigilância aérea, a cargo dos aeroclubes através de um

protocolo, o programa de detecção foi contemplado com uma verba

estimada de 300.000,00 euros, enquanto em 2002 os gastos efectivos

ascenderam a 170.162,00 euros e em 2001 a 177.968,00 euros.

iv) SAPADORES FLORESTAIS

Os sapadores florestais foram criados pelo Decreto-Lei n.º 179/99, de

21-5, como equipas a serem constituídas por entidades públicas ou

privadas, proprietárias, detentoras ou gestoras de espaços florestais,

que prosseguem funções de prevenção dos incêndios florestais (2).

A extinta CNEFF apoiou e financiou as equipas de sapadores

florestais, com os valores de 3.120.309,00 euros e 2.848.081,00 euros,

respectivamente em 2001 e 2002.

Prosseguindo a mesma política, o SNBPC tem inscrito uma previsão de

4.500.000,00 euros, o que representa um acréscimo de 58% em relação ao ano transacto e que corresponde ao aumento significativo

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 29

das equipas de sapadores que, em 2003, atingiu o número de 120

unidades.

b) DISPOSITIVO DE RESPOSTA PERMANENTE 2003

A campanha relativa aos incêndios florestais para 2003, foi planeada de

acordo com os conceitos já anteriormente utilizados no extinto Serviço

Nacional de Bombeiros, tendo por base uma Directiva Operacional Nacional, da responsabilidade do presidente do Serviço Nacional de

Bombeiros e Protecção Civil, na qual são dadas orientações,

nomeadamente quanto aos princípios fundamentais, objectivos principais,

missão, conceitos de execução e demais questões pertinentes, tendo em

vista o designado conceito estratégico global, consubstanciado no seguinte:

• Garantir a protecção da vida, da propriedade, das infra-estruturas

vitais do País e do ambiente;

• Elaborar planos operacionais de prevenção, vigilância, alerta e

intervenção;

• Afectar os meios necessários para reduzir o número de incêndios e a

área ardida;

• Recorrer a meios de excepção de forma a garantir uma actuação

coordenada nos grandes incêndios;

• Sensibilizar e informar a população;

• Articular políticas com as associações provenientes da Sociedade

Civil.

Tal como nos anos anteriores, a estratégia para o combate aos incêndios

florestais baseia-se na reacção rápida e musculada aos incêndios nascentes, de modo a impedir a sua propagação para fora de limites que

requeiram meios de reforço. Naturalmente que, apesar de uma grande

percentagem das ocorrências não necessitar de respostas mais

elaboradas, os fenómenos meteorológicos adversos que todos os anos,

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 30

com menor ou maior intensidade, os corpos de bombeiros enfrentam,

podem resultar em situações graves e difíceis de combater.

Do dispositivo colocado no terreno pelo SNBPC entre 1 de Julho e 30 de

Setembro, 24 horas por dia, e que suporta a estratégia para o combate

aos incêndios nascentes, destaca-se pela sua enorme importância, o

papel dos grupos de primeira intervenção sediados nos corpos de

bombeiros, constituídos por um veículo de combate e cinco bombeiros

disponíveis vinte e quatro horas.

Para diminuir o tempo de chegada de um meio de socorro aos incêndios

nascentes, o dispositivo permanente sazonal dispõe de aeronaves e helicópteros ligeiros, também, em alto grau de prontidão, que actuam

em primeira intervenção, completados por aeronaves de maior porte,

nas situações em que não é possível extinguir o incêndio na sua fase

nascente.

Para suporte da estratégia atrás referida, o SNBPC elaborou um

documento designado «Dispositivo Especial de Combate a Incêndios

Florestais 2003» (DECIF2003), que compila todas as informações

relativas aos meios humanos e materiais previstos para a campanha.

O DECIF2003 forneceu, também, orientações de carácter estratégico e de

articulação entre os diversos actores do dispositivo, determinando a

elaboração por cada Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS),

de um plano especial de socorro e emergência destinado aos incêndios florestais que, ao seu nível, deveria integrar objectivos

estratégicos, levantamento de riscos, constituição e diagrama de

activação, levantamento de meios e recursos especiais, dispositivo de

forças, estrutura de coordenação, comando e controlo, rede de

comunicações, contactos e questões relativas à informação pública.

De salientar, ainda, que o DECIF2003 determinou que onze dos dezoito

CDOS deveriam constituir grupos de reforço formados cada um por

cinco veículos de intervenção, com guarnições entre dois e cinco

bombeiros, em função do tipo de veículo, dispondo de comando próprio

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 31

para, eventual, mobilização destinada a incêndios florestais de grandes

proporções ou perigo.

Em anexo, o DECIF 2003 dispõe de um conjunto de importantes

informações, desde a distribuição das principais espécies florestais, aos

locais de abastecimento em voo dos aerotanques pesados (scooping),

passando pelos níveis de alerta dos CDOS e lista das pistas alternativas

para os meios aéreos.

Os meios do dispositivo de resposta permanente para 2003,

comparativamente com os três anos anteriores, foram os seguintes:

Meios humanos 2000 2001 2002 2003 Grupos de primeira intervenção-bombeiros 2794 2519 2572 2800 Grupos de apoio-bombeiros 180 260 300 320 Grupos especiais de intervenção-bombeiros 155 101 101 75 Elementos de comando de serviço 80 59 67 75 Elementos de apoio aos centros de meios aéreos 76 78 78 74

Total 3285 3317 3118 3.344 Fonte: SNBPC

Meios aéreos contratados 2000 2001 2002 2003 Helicópteros bombardeiros ligeiros 23 16 16 19 Helicópteros bombardeiros pesados - 4 4 4 Aerotanques ligeiros 10 10 10 10 Aerotanques pesados 4 2 2 2 Helicóptero de socorro e assistência/capacidade - 4 4 1

Total 37 36 36 36 Fonte: SNBPC

Meios terrestres 2000 2001 2002 2003 Veículos de combate a incêndios 562 537 506 560 Veículos tanque tácticos 99 127 110 120 Veículos tanque de grande capacidade 41 22 40 40 Veículos de comando e comunicações 22 23 23 19 Veículos de comando operacional 56 35 41 50 Veículos de apoio 6 10 6 11

Total 786 754 726 800 Fonte: SNBPC

Comparativamente ao ano de 2002, verificou-se um aumento de 266 bombeiros, distribuídos por mais 54 grupos de primeira intervenção e

20 grupos de apoio, tendo sido antecipado em quinze dias o grau de

prontidão do dispositivo permanente.

As variações percentuais de meios humanas ocorridas, podem ser

verificadas no quadro seguinte:

Ano a ano Entre 2003 e os restantes anos 2000/2001 + 0,97% 2000/2003 + 1,8% 2001/2002 - 6% 2001/2003 + 0,8% 2002/2003 + 7,2% - -

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 32

2) O COMBATE AOS INCÊNDIOS

a) CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

19 de Julho:

• Início do incêndio nos concelhos de Vila de Rei, Sertã e Mação,

extinto a 22 de Julho.

25 de Julho:

• A previsão do Instituto de Meteorologia apontava para chuva a norte do

sistema montanhoso Montejunto-Estrela, o que se veio a confirmar.

• Apesar destas condições, os técnicos do Serviço Nacional de Bombeiros

e Protecção Civil (SNBPC), após contactos com o Instituto de

Meteorologia, concluíram que o distrito de Castelo Branco poderia vir a

ter condições mais desfavoráveis, sem precipitação e com temperaturas

mais elevadas, verificando-se a tendência para subida das temperaturas

máximas e descida da humidade relativa, a partir de terça-feira, dia 29.

27 de Julho:

• Início do incêndio em Silvares (Fundão), extinto a 7 de Agosto.

• De acordo com o Instituto de Meteorologia, todo o território do

Continente apresentava risco de incêndio moderado, à excepção do

distrito de Castelo Branco, cujo risco era muito alto.

• Registadas 153 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

28 de Julho:

• No briefing diário foi referido que a situação de tempo quente tinha

como factos mais relevantes a subida acentuada da temperatura

máxima, a descida generalizada e gradual da humidade em todo o

território continental e o vento com componente marcadamente de

leste, também, em todo o território continental.

• Esta análise foi realizada em parceria com o Instituto de

Meteorologia, o que acontece habitualmente, mesmo quando não

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 33

existem «avisos meteorológicos» especialmente emitidos por esta

entidade.

• Na previsão feita para o dia 29 pelos técnicos do SNBPC, apontava-

se para risco extremo nos distritos de Castelo Branco e Guarda,

embora no dia seguinte o Instituto de Meteorologia tenha atribuído

este risco apenas para Castelo Branco.

• Registadas 233 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

29 de Julho:

• Às 13h05, a Agência Lusa emitiu uma notícia onde a população é

aconselhada a adoptar cuidados especiais face às elevadas

temperaturas registadas no País.

• Este aviso do SNBPC surgiu na altura em que o Índice de Ícaro

(vigilância das ondas de calor) indicava um «efeito pouco significativo

na mortalidade» e o Instituto de Meteorologia referia risco de incêndio

extremo, apenas, para o distrito de Castelo Branco.

• A sala de operações passou a funcionar com 20 operadores e sete

oficiais de serviço.

• Os meios aéreos espanhóis começaram a operar.

• Registadas 347 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Encontrado sem vida em Ribeira de Eiras, um cidadão de 65 anos de idade.

30 de Julho:

• Início do incêndio em Estreito (Oleiros), extinto a 3 de Agosto.

• Início do incêndio em Vilar do Ruivo (Vila do Rei), extinto a 7 de Agosto.

• Início do incêndio em Alburitel (Ourém), extinto a 3 de Agosto.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 34

• Activados os centros municipais de operações de emergência de

protecção civil (CMOEPC) e respectivos planos municipais de

emergência, nos concelhos de Fundão, Oleiros e Castelo Branco,

por decisão dos presidentes das câmaras municipais.

• Registadas 419 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Encontrados sem vida em Oleiros, dois cidadãos de 78 e 85 anos de idade.

31 de Julho:

• Início do incêndio em Serra da Penha (Castelo de Vide), extinto a 4 de Agosto.

• Início do incêndio em Fugalvaz (Torres Novas), extinto a 3 de Agosto.

• Início do incêndio em Penha de Águia (Guarda), extinto a 3 de Agosto.

• De acordo com o Instituto de Meteorologia, apenas o distrito da

Guarda registava risco de incêndio extremo.

• Registadas 386 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

1 de Agosto:

• Início do incêndio em Nisa (Nisa), extinto a 9 de Agosto.

• Início do incêndio em Rabaça (Portalegre), extinto a 8 de Agosto.

• Início do incêndio em Inguias (Belmonte), extinto a 3 de Agosto.

• Início do incêndio em Fróia (Proença-a-Nova), extinto a 8 de Agosto.

• Início do incêndio em Machio (Pampilhosa da Serra), extinto a 4 de Agosto.

• Início do incêndio em Glória do Ribatejo (Salvaterra de Magos), extinto a 7 de Agosto.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 35

• Atingido o «pico» de temperaturas máximas, cerca de uma semana

após o SNBPC ter desencadeado todo um conjunto de medidas de

alerta às estruturas e agentes de protecção civil e de aviso à

população.

• Disponibilização da Força Aérea para acolher as aeronaves

estrangeiras, tendo sido constituída uma equipa de ligação do

SNBPC na Base Aérea de Monte Real.

• Regresso a Espanha dos meios aéreos disponibilizados, face à vaga

de incêndios no país vizinho.

• Registadas 508 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

2 de Agosto:

• Início do incêndio em Perna Seca (Chamusca), extinto a 7 de Agosto.

• Início do incêndio em Martinchel (Abrantes), extinto a 8 de Agosto.

• Início do incêndio em Milreu (Sardoal), extinto a 7 de Agosto.

• Início do incêndio nas Matas Nacionais (Marinha Grande), extinto a 8 de Agosto.

• Início do incêndio em Reguengo do Fretal (Batalha), extinto a 4 de Agosto.

• Início do incêndio em Marateca (Palmela), extinto a 3 de Agosto.

• Activados os CMOEPC e respectivos planos municipais de

emergência, nos concelhos de Chamusca, Guarda, Gavião e Nisa,

por decisão dos presidentes das câmaras municipais.

• Activados os centros distritais de operações de emergência de

protecção civil (CDOEPC) e respectivos planos distritais de

emergência, de Santarém, Portalegre e Castelo Branco, por

decisão dos governadores civis.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 36

• Utilização da Base Aérea de Monte Real para concentração e

operação com todas as aeronaves estrangeiras.

• Começaram a operar dois aerotanques italianos e três aerotanques

marroquinos.

• Registadas 650 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Encontrado sem vida em Ponte de Sôr, um cidadão de 55 anos de idade.

• Falecido em acidente de serviço um bombeiro dos BV Figueira de Castelo Rodrigo, de 37 anos de idade.

• Falecidos em serviço na Chamusca, dois bombeiros chilenos, de 32 e 42 anos de idade.

3 de Agosto:

• Reforço no apoio à população no levantamento de situações

referentes a habitações e empresas sinistradas, realojamento de

pessoas, apoio alimentar e bens de primeira necessidade,

implementação de circuitos provisórios de distribuição de água,

informação ao público, recolha e distribuição de donativos, apoio em

operações de distribuição de rações a animais, apoio psicológico às

populações e enquadramento nas operações de socorro dos

contributos das organizações não governamentais.

• Registadas 502 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Encontradas sem vida na Chamusca, duas cidadãs de 35 e 67 anos de idade.

4 de Agosto:

• Reforço de meios militares para os teatros de operações.

• Disponibilizados dois helicópteros da Força Aérea para coordenação

e reconhecimento.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 37

• Registadas 341 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Encontrada sem vida na Sertã, uma cidadã de 65 anos de idade.

• Encontrado sem vida em Oleiros, um cidadão de 51 anos de idade.

5 de Agosto:

• Instalados telefones satélite nas juntas de freguesia que ficaram sem

comunicações, nos distritos de Portalegre, Santarém e Castelo

Branco.

• Registadas 334 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Encontrado sem vida no Sobral, um cidadão de 60 anos de idade.

6 de Agosto:

• Regresso a Itália dos meios aéreos disponibilizados, face à vaga de

incêndios naquele país.

• Começaram a operar três helicópteros pesados alemães.

• Registadas 455 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Encontrados sem vida no Freixo, uma cidadã de 46 anos de idade e um cidadão de 52 anos de idade.

7 de Agosto:

• Início do incêndio em Mira de Aire (Porto de Mós), extinto a 11 de Agosto.

• Início do incêndio em Mexilhoeira Grande (Portimão), extinto a 17 de Agosto.

• Registadas 510 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 38

• Encontrada sem vida na Guarda, uma cidadã de 39 anos de idade.

8 de Agosto:

• Início do incêndio em São Simão (Nisa), extinto a 12 de Agosto.

• Registadas 420 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

9 de Agosto:

• Início do incêndio em Janeiro Baixo (Pampilhosa da Serra), extinto a 13 de Agosto.

• Registadas 340 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

10 de Agosto:

• Disponibilizada a Base Aérea de Beja para apoio logístico dos

aerotanques pesados.

• Registadas 335 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

11 de Agosto:

• Registadas 304 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

12 de Agosto:

• Início do incêndio em Silves (Silves), extinto a 17 de Agosto.

• Registadas 401 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

13 de Agosto:

• Registadas 283 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Falecido em serviço na Serra de S. Mamede, um bombeiro de 45 anos de idade.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 39

14 de Agosto:

• Registadas 328 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Falecida no hospital, uma cidadã de Gonçalo, de 64 anos de idade.

11 de Setembro:

• Início do incêndio em Alferce-Canivete (Monchique), extinto a 19 de

Setembro.

• Início do incêndio em Carvoeira (Mafra), extinto a 18 de Setembro.

12 de Setembro:

• Registadas 266 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Encontrada sem vida em Póvoa de Abraveses, uma cidadã de 74 anos de idade.

15 de Setembro:

• Início do incêndio em Abrigada (Alenquer), extinto a 22 de Setembro.

16 de Setembro:

• Registadas 222 ocorrências de incêndios florestais, agrícolas e

incultos em todo o Continente.

• Encontrado sem vida na Fóia, um cidadão de 59 anos de idade.

18 de Setembro:

• Início do incêndio em Orvalho (Oleiros), extinto a 20 de Setembro.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 40

b) COMBATE A INCÊNDIOS EM NÚMEROS

i) MEIOS HUMANOS E A SUA EVOLUÇÃO DURANTE A CRISE

Em Portugal, sob a coordenação operacional do SNBPC, o combate aos

incêndios florestais está cometido aos corpos de bombeiros (3).

O dispositivo total de combate aos incêndios florestais não conta,

apenas, com os 3.344 bombeiros e os 802 veículos do dispositivo

sazonal permanente. Para além destes, empenhados através de acordo

com o SNBPC, o País conta com todos os restantes bombeiros e veículos pertencentes, quer aos corpos de bombeiros que contribuem

para aquele dispositivo, quer às restantes unidades.

Assim, quando se inicia um incêndio na área de actuação de um corpo

de bombeiros, para além do pessoal e veículos afectos aos grupos de

primeira intervenção, aquele deve intervir no melhor das suas capacidades imediatas, mobilizando os restantes voluntários.

Embora haja uma razoável rede de corpos de bombeiros, a maior parte

dos municípios do interior, apenas, dispõe de um, sediado na sede do

concelho que, geralmente depende de uma associação de bombeiros voluntários.

Donde, nas zonas florestais o combate a incêndios depende,

esmagadoramente de pessoal voluntário, mesmo nos poucos

concelhos com corpos de bombeiros da administração local, como

em Tomar, Alcanena, Cartaxo, Coruche, Abrantes, Sardoal, Santarém e

Alpiarça, no distrito de Santarém, Gavião, no distrito de Portalegre ou

Lousã, no distrito de Coimbra.

Quando os incêndios florestais atingem proporções superiores à

capacidade dos meios existentes no distrito, são mobilizados corpos de

bombeiros de outros distritos, através dos chamados grupos de reforço

(GRR) (4).

No entanto, o balanceamento de meios de uns distritos para outros não pode desguarnecer os municípios que os disponibilizam, quer se

trate de áreas maioritariamente urbanas, sujeitas a outro tipo de

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 41

ocorrências, quer se trate de outras áreas florestais, eventualmente

sujeitas às mesmas condições de eclosão de incêndios (5).

Para além dos meios humanos existentes em cada distrito, mobilizados

para os diversos incêndios que eclodiram nos diferentes municípios,

entre 19 de Julho e 19 de Setembro, o balanceamento de meios de

outros distritos movimentou 93 GRR que, à média de 20 bombeiros por

grupo, corresponde a 1860 bombeiros.

Manter a capacidade de trabalho dos GRR, implica a rendição periódica do pessoal das equipas, pelo menos cada vinte e quatro

horas, sem embargo da existência de paragens para descanso que

deverão coincidir com a manutenção dos equipamentos, normalmente

nas zonas de concentração e reserva. Para que a rotação do pessoal

seja eficiente, cada corpo de bombeiros deveria dispor de três turnos

que, em incêndios de grande duração, teoricamente deveriam trabalhar

um dia e descansar dois dias.

Ora, nem sempre é possível cumprir este plano, pois, continuam a haver

incêndios e outros serviços na área de actuação de origem, e, sendo

voluntários, têm obrigações para com a entidade patronal, o que,

também, condiciona o número total de efectivos disponíveis a cada momento, quando estão em curso, simultaneamente um elevado

número de incêndios florestais.

Do mesmo modo, em relação aos bombeiros profissionais,

nomeadamente os dois corpos de bombeiros com maior quantidade de

pessoal – o RSB de Lisboa e o BSB do Porto – a distribuição por turnos

e o elevado número de outras ocorrências nas duas Cidades,

condicionam fortemente o apoio a prestar às áreas florestais.

Segundo números avançados pelo SNBPC, Portugal dispõe de 41.630

bombeiros, dos quais são profissionais 2.548, voluntários 38.783 e

privativos 467. Pertencem ao quadro de comando 1109 elementos, ao

quadro activo 24.633 bombeiros e ao quadro de especialistas e

auxiliares 15.888.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 42

Assim, contrariamente ao que se passa em outros países, para além dos

corpos de bombeiros, não existem outras forças organizadas para o

combate a incêndios florestais de grandes proporções, isto é, para além

das «forças de quadrícula», o país não dispõe de qualquer entidade autónoma dos corpos de bombeiros, altamente organizada e

treinada, capaz de os reforçar no planeamento, organização, direcção e

controlo dos teatros de operações, bem como no combate ou na

logística.

O balanceamento dos meios de reforço, da responsabilidade do Centro

Nacional de Operações de Socorro, pode ser resumido no seguinte

quadro:

Data Distrito de origem do GRR Distrito da ocorrência 19 Julho Portalegre, Lisboa, Santarém,

Leiria e Setúbal Castelo Branco

20 Julho Évora, Lisboa (2), Santarém (2), Coimbra e Aveiro

Castelo Branco

21 Julho Portalegre, Évora e Setúbal Castelo Branco 23 Julho Leiria Santarém 27 Julho Portalegre e Santarém Castelo Branco 28 Julho Lisboa (2), Évora, Portalegre,

Aveiro e Coimbra Castelo Branco

29 Julho Porto, Lisboa, Lisboa Cidade, Setúbal, Braga e Beja

Castelo Branco

30 Julho Portalegre e Lisboa Castelo Branco 31 Julho Setúbal e Faro Portalegre 1 Agosto Vila Real, Bragança e Aveiro Castelo Branco 5 Agosto Leiria Castelo Branco 7 Agosto Lisboa Santarém

Aveiro, Viseu e Porto Guarda 8 Agosto Setúbal Castelo Branco

Lisboa Santarém 9 Agosto Beja Faro 10 Agosto Santarém Portalegre

Lisboa (2) e Setúbal Faro 11 Agosto Lisboa (2), Setúbal, Évora e

Leiria Faro

12 Agosto Viseu e Porto Guarda 13 Agosto Santarém Faro 14 Agosto Coimbra, Aveiro, Porto e

Santarém Castelo Branco

15 Agosto Viseu Castelo Branco 19 Agosto Lisboa e Portalegre Leiria 24 Agosto Porto Braga

11 Setembro Évora, Setúbal e Beja Faro Lisboa e Portalegre Santarém

12 Setembro Leiria, Lisboa e Coimbra Faro Setúbal Lisboa

13 Setembro Santarém Lisboa 14 Setembro Viseu Guarda

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 43

Portalegre e Leiria (2) Santarém 15 Setembro Porto Guarda

Coimbra e Setúbal Faro 17 Setembro Évora Santarém

Leiria Lisboa 18 Setembro Santarém e Portalegre Castelo Branco 19 Setembro Coimbra Viseu

Setúbal Lisboa Leiria, Portalegre e Évora Santarém

Fonte: SNBPC

ii) EQUIPAMENTOS

(1) Veículos de combate e equipamentos diversos:

Os bombeiros portugueses dispõem de um parque de veículos de combate a incêndios florestais, maioritariamente comparticipado

pelo Estado nas duas ultimas décadas, que são utilizados

intensamente durante os períodos mais críticos. Por isso, é muito

superior o desgaste destes veículos, em comparação com os

destinados ao combate a incêndios urbanos ou outras ocorrências,

pelo que são sujeitos a frequentes e onerosas operações de manutenção e reparação.

Há, no entanto, falhas quanto à capacidade operacional dos veículos de alguns corpos de bombeiros, procedendo-se

anualmente a um plano de reequipamento, de modo a aumentar o

número de unidades tecnicamente apetrechadas para os fins a que

se destinam.

São, essencialmente veículos 4x4 e todo-o-terreno, com tanque e

bomba de água, capazes de transportar a guarnição e equipamento

complementar. Os veículos de combate são apoiados por outros com

maior capacidade de água e menor número de bombeiros

transportados, os quais não existem, ainda, em quantidade suficiente

na versão 4x4.

Tal como referido para o pessoal, para além dos veículos na posse

dos corpos de bombeiros, Portugal não dispõe de outros que,

supletivamente apoiem o combate a incêndios florestais de grandes

proporções, o que poderia acontecer se fosse constituída uma

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 44

entidade autónoma e nacional, cujos veículos apoiassem a Escola

Nacional de Bombeiros durante a formação fora de época.

Para além dos cerca de 700 veículos de combate e apoio

pertencentes aos 176 corpos de bombeiros sediados nos sete

distritos mais atingidos, movimentaram-se cerca de 560 veículos dos GRR.

O trabalho executado pelo tipo de veículos usados em Portugal está

relacionado com a utilização de água no combate aos incêndios.

Na verdade, nos últimos vinte anos, o aumento da capacidade de

penetração em espaços florestais fez diminuir o número de

bombeiros das guarnições. Por outro lado, passou-se a utilizar linhas de mangueiras de 25 mm, as quais, com um débito de água

limitado, são inadequadas para o combate directo em frentes muito

activas.

Na verdade, estudos produzidos na última década consideram ser de

38 mm o calibre adequado das linhas de mangueiras a utilizar nos

incêndios florestais, medida muito pouco divulgada entre os corpos

de bombeiros portugueses.

Por outro lado, embora os novos veículos venham equipados com

um conjunto de ferramentas de sapador destinado à construção de

linhas sem vegetação, incluindo a consolidação de rescaldos,

verifica-se ser material utilizado com menos frequência do que seria

desejável, pese embora ser uma técnica que faz parte da formação

dos bombeiros em matéria de incêndios florestais.

Da formação dos bombeiros em matéria de combate a incêndios

florestais, consta, ainda, a segurança colectiva em operações e a

protecção individual.

O equipamento de protecção individual que cada bombeiro deve usar

quando em operações deste tipo é: capacete, cógula ou capuz,

óculos de protecção, luvas, casaco, calças, camisola interior, botas de atacadores e abrigo individual preso no cinturão.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 45

Em muitos corpos de bombeiros o pessoal não tem disponível este

equipamento, enquanto noutros, há em quantidade suficiente, apenas, para os grupos de primeira intervenção. Ora, quando

estão empenhados bombeiros para além daquele grupo, raramente

são usados equipamentos de protecção individual adequados, que

permitem permanecer por mais tempo junto da frente de fogo,

sem pôr em risco a saúde do bombeiro.

Com certeza que, em cada corpo de bombeiros, poderão ser

encontradas as mais variadas razões para a não existência dos

equipamentos de protecção individual, a começar pelo seu custo. A

principal será a insuficiente formação em matéria de segurança,

que tem como consequência um desvio de atenção em relação à prioridade dos investimentos nesta matéria.

(2) Máquinas de rasto:

Foram utilizadas mais de meia centena de máquinas de rasto,

equipamentos fundamentais no combate a incêndios florestais,

nomeadamente na construção de corta-fogos que permitam a

utilização do método indirecto de ataque. Por outro lado, as

máquinas de rasto servem, ainda, para consolidar linhas de fogo,

quando não é possível ou desejável fazê-lo através de ferramentas

manuais.

É verdade que, por vezes, não são bem recebidas pela população,

principalmente quando a velocidade de propagação aconselha a que

o corta-fogo seja feito a uma razoável distância da linha de fogo

activa. Nesta situação, há histórico de alguns confrontos com os

proprietários dos povoamentos florestais afectados pelo trabalho da

máquina.

Embora na realidade o sejam, nunca foram consideradas

equipamentos de combate, pelo que, normalmente são utilizadas as

pertencentes às câmaras municipais e ao Exército, sendo as

restantes alugadas a particulares em pleno desenrolar das

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 46

operações, a partir dos registos existentes nos planos municipais de

emergência de protecção civil.

(3) Meios aéreos:

A estratégia de combate aos incêndios nascentes conta, desde há

décadas, com a participação de meios aéreos ligeiros, helicópteros

(19) e aerotanques (10), os primeiros dos quais guarnecidos por

grupos especiais helitransportados, que combatem o incêndio até

à chegada dos meios terrestres.

Para combater frentes em pleno desenvolvimento e proteger

habitações e outros bens, existem outro tipo de helicópteros e de

aerotanques que, para terem eficácia, devem ter uma maior

capacidade de transporte de água. Assim, foram contratados quatro helicópteros pesados com capacidade de 3.000 litros e dois

aerotanques anfíbios Canadair, que transportam 5000 litros de água, cuja particularidade consiste em abastecerem os tanques em

voo rasante sobre superfícies líquidas.

No Canadá, de onde são originários, na América do Sul, em alguns

países asiáticos e no sul da Europa, são, por excelência, os meios

pesados de combate a incêndios florestais. Outros países, como a

Suécia, utilizam estas aeronaves para missões diversificadas, por

exemplo, vigilância de costa, busca e salvamento, etc.

Portugal vem recorrendo, desde há anos, ao aluguer de aeronaves

para combate a incêndios florestais, tendo mantido, no corrente ano

o mesmo número de meios aéreos do ano transacto, isto é, 36

helicópteros e aerotanques, assim distribuídos:

Meio aéreo Quantidade Tipo de operação principal Helicópteros pesados (4) 4 Combate Aerotanques pesados (2) 2 Combate Helicópteros ligeiros (19) 19 Primeira intervenção Aerotanques ligeiros (10) 10 Primeira intervenção Helicóptero permanente (1) 1 Coordenação/assistência

Total 36 - Fonte: SNBPC

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 47

Para além dos meios aéreos contratados, durante o período

considerado, operaram mais os seguintes, cedidos pela Força Aérea

Portuguesa (FAP) e por outros países:

Meio aéreo Quantidade Tipo de operação principal Helicóptero FAP 2 Coordenação/reconhecimentoAerotanques pesados espanhóis 2 Combate Aerotanques pesados italianos 2 Combate Aerotanques pesados marroquinos 1 Combate Aerotanques ligeiros marroquinos 3 Combate Helicópteros pesados alemães 3 Combate

Total 13 - Fonte: SNBPC

iii) APOIO INTERNACIONAL

Desde 18 de Julho, a pedido do Centro de Vigilância e Informação (MIC)

do mecanismo de coordenação europeu em matéria de protecção civil (6), o SNBPC passou a enviar pontos de situação relativos aos incêndios

florestais.

Na mesma data, a França solicitou meios aéreos ao MIC, a que Portugal

respondeu negativamente.

O apoio internacional teve início com o pedido de auxílio internacional

remetido ao MIC, a 1 de Agosto, para seis unidades de combate aéreo,

aerotanques pesados ou helicópteros pesados, do qual resultou a

decisão da Comissão Europeia em activar de forma permanente aquela

estrutura, o que aconteceu até 14 de Agosto. Assim, todos os Estados

Membros passaram a ser notificados das necessidades de Portugal

relativamente aos incêndios em curso.

No dia 2 de Agosto, o MIC informou que a Itália e a Alemanha teriam

meios aéreos disponíveis para auxiliar Portugal, tendo sido, de imediato

iniciadas as diligências directas com as autoridades daqueles países. Os

meios aéreos italianos começaram a operar imediatamente, mantendo-

se até 6 de Agosto.

No mesmo dia, foi decidido accionar o Acordo de Cooperação entre o

Governo do Reino de Marrocos e o Governo da República Portuguesa

em Matéria de Protecção Civil, tendo recebido como resposta a

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 48

disponibilização de um aerotanque C-130 e três aerotanques Turbo-

Trush. Os meios aéreos começaram a operar imediatamente.

Os meios aéreos alemães, três helicópteros pesados Puma 330,

chegaram a Portugal e começaram a operar a 6 de Agosto.

No dia 7 de Agosto, a Direcção-Geral de Protecção Civil de Espanha

informou que poderiam voltar a disponibilizar um avião Canadair.

Com vista ao auxílio internacional, foram feitos contactos com o

EADRCC/OTAN, através do Conselho Nacional do Planeamento Civil de

Emergência (CNPCE).

Foram, ainda, feitos contactos com o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA/UN), para a

eventualidade de solicitação de auxílio.

c) PROCESSO DE TOMADA DE DECISÕES

i) A NÍVEL CENTRAL

19 de Julho:

• Accionados cinco grupos de reforço para o incêndio na Sertã.

20 de Julho:

• Accionados sete grupos de reforço para o incêndio na Sertã.

21 de Julho:

• Accionados três grupos de reforço para o incêndio na Sertã.

27 de Julho:

• Accionados dois grupos de reforço para o incêndio do Fundão.

28 de Julho:

• Na sequência do briefing, foi emitido um comunicado a todos os

centros distritais de operações de socorro (CDOS), agentes de

protecção civil e outras entidades ligadas ao sistema nacional de

protecção civil.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 49

• Accionados mais seis grupos de reforço para o incêndio do Fundão.

• Decidido prolongar a actividade dos meios aéreos desde o nascer ao

pôr-do-sol.

• Solicitada a cooperação de Espanha com aerotanques pesados.

• Solicitado o apoio das Forças Armadas em pessoal e máquinas de

rasto.

29 de Julho:

• Conferência de imprensa, na qual os órgãos de comunicação social

foram alertados para o período de tempo quente que o Continente

iria atravessar e possíveis consequências.

• Centralização no CNOS da gestão estratégica de todos os meios

aéreos.

• Activadas no CNOS as células de apoio técnico, de planeamento, de

logística, de avaliação de riscos, de operações aéreas, de relações

internacionais, de relações com os órgãos de comunicação social e

de informação pública, mobilizando no total 21 técnicos do Serviço

Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, para além de uma célula

técnica da Direcção-Geral de Florestas.

• Foram accionados mais sete novos grupos de reforço, para o

incêndio do Fundão.

30 de Julho:

• Emitido novo comunicado sobre as consequências da situação

meteorológica a todos os CDOS, agentes de protecção civil, agentes

de protecção civil e outras entidades ligadas ao sistema nacional de

protecção civil.

• Em colaboração com a Direcção-Geral da Saúde, foi feito um aviso à população sobre as consequências da onda de calor para a saúde.

• Activado para o distrito de Castelo Branco um veículo especial de

gestão estratégica e operações.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 50

• Activados os coordenadores distritais de Évora e Portalegre para

reforço a Castelo Branco.

• Accionados mais dois grupos de reforço, para o incêndio da Sertã.

31 de Julho:

• Emitido novo comunicado com o intuito de reforçar as

preocupações face à situação meteorológica, não só às estruturas

desconcentradas do SNBPC e aos agentes do sistema nacional de

protecção civil, mas também à Agência Lusa.

• Enviado a todos os órgãos de comunicação social um comunicado sobre as medidas de autoprotecção face a temperaturas elevadas

e medidas de autoprotecção face a incêndios florestais.

• Decidido centralizar o planeamento, a logística e a gestão da

informação nos CDOS e, posteriormente em postos de comando

distritais.

• Decidido sectorizar os distritos atribuindo responsabilidades de

comando táctico aos comandantes dos corpos de bombeiros.

• Foram atribuídos pelo CNOS aos CDOS meios humanos de reforço.

• Definidas as prioridades estratégicas de combate: pessoas, habitações, combate indirecto com máquinas de rasto e contra-fogos.

• Accionados outros três grupos de reforço, para o distrito de

Portalegre.

1 de Agosto:

• Novo reforço em termos de alerta e de aviso, sob a forma de

comunicado aos CDOS, agentes de protecção civil e outras

entidades ligadas ao sistema nacional de protecção civil, bem como

aos órgãos de comunicação social.

• Solicitado apoio ao Centro de Vigilância e Informação da União

Europeia, para seis aerotanques e helicópteros pesados.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 51

• Solicitado apoio em meios aéreos a Marrocos, ao abrigo do acordo

bilateral em matéria de protecção civil.

• Atribuídos alguns meios aéreos aos CDOS para gestão táctica.

• Accionados mais três grupos de reforço, para o distrito de Castelo

Branco.

2 de Agosto:

• Reuniu o Centro Nacional de Operações de Emergência de

Protecção Civil (CNOEPC), que decidiu continuar os apoios aos

distritos nos moldes que vinha a ser executado, mantendo-se

permanentemente activado, sem accionamento formal do Plano

Nacional de Emergência de Protecção Civil.

• Solicitada ao Comando Operacional Conjunto do Estado-Maior

General das Forças Armadas, a passagem do Plano Lira das Forças

Armadas ao nível negro.

• Solicitada a colocação de militares para vigilância na Serra de Sintra.

• Activação de técnicos da Direcção-Geral de Florestas/Direcções

Regionais de Agricultura para apoio aos postos de comando.

• Accionamento dos oficiais de ligação ao CNOS da Cruz Vermelha

Portuguesa, Força Aérea, Direcção-Geral das Florestas e Guarda

Nacional Republicana.

• Activação de dois pelotões do Grupo de Operações Especiais da

GNR para Castelo Branco e Santarém.

• Criação de três postos de recepção de reforços no Centro de Meios

Aéreos das Moitas, na Base de Apoio Logístico do Sardoal e no

Núcleo Empresarial de Portalegre.

• Activação de apoio médico e pré-hospitalar do INEM para os

concelhos de Portalegre, Chamusca, Mação e Proença-a-Nova.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 52

3 de Agosto:

• Activação de apoio da CVP às populações dos concelhos de Nisa,

Chamusca e Proença-a-Nova.

4 de Agosto:

• Iniciados os briefings diários para os órgãos de comunicação social.

• Recomendado à CP a não circulação com vagões de transporte de

mercadorias perigosas nas linhas que atravessem áreas florestais

críticas.

• Deslocação de técnicos do SNBPC para reforço dos CDOS dos

distritos afectados.

5 de Agosto:

• Reuniu o CNOEPC que, tendo avaliado a situação nacional e a

conduta das operações de protecção civil, da responsabilidade, ao

nível dos diversos escalões territoriais, respectivamente dos

presidentes das câmaras municipais e dos governadores civis, optou

pela continuação da estratégia empregue quanto aos apoios

operacionais aos escalões territoriais subordinados.

• Solicitados ao Comando Operacional Conjunto cinco geradores de

energia eléctrica para instalação na área atingida.

• Accionado mais um grupo de reforço, para o distrito de Castelo

Branco.

7 de Agosto:

• Accionados quatro grupos de reforço, um para o distrito de Santarém

e três para o distrito da Guarda.

8 de Agosto:

• Accionados dois grupos de reforço, um para o distrito de Santarém e

outro para o distrito de Castelo Branco.

9 de Agosto:

• Accionado um grupo de reforço para o distrito de Faro.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 53

10 de Agosto:

• Accionados quatro grupos de reforço, três para o distrito de Faro e

um para o distrito de Portalegre.

• Accionados dois aerotanques pesados para o distrito de Faro, com

apoio logístico no aeródromo de Tires, em virtude da manobra ser

mais demorada no aeroporto de Faro.

• Accionados dois aerotanques pesados espanhóis para o distrito de

Faro.

11 de Agosto:

• Accionados cinco grupos de reforço para o distrito de Faro.

• Accionados dois helicópteros pesados para o distrito de Faro.

12 de Agosto:

• Accionados dois grupos de reforço para o distrito da Guarda.

• Accionados três helicópteros pesados alemães para o distrito de

Faro.

• Accionado um helicóptero da Força Aérea para coordenação aérea

no distrito de Faro.

• Constituição e envio de uma equipa de ligação do SNBPC para o

aeródromo da Penina, distrito de Faro, disponibilizado para apoio

logístico aos meios aéreos alemães.

• Enviado para o distrito de Faro o veículo de gestão estratégica e

operações do SNBPC.

• Accionados os coordenadores distritais de Évora e Portalegre para

reforço do distrito de Faro.

13 de Agosto:

• Accionado um grupo de reforço para o distrito de Faro.

• Accionado um helicóptero da Força Aérea para reconhecimento

aéreo no distrito de Faro.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 54

14 de Agosto:

• Accionados quatro grupos de reforço para o distrito de Castelo

Branco.

15 de Agosto:

• Accionado um grupo de reforço para o distrito de Castelo Branco.

19 de Agosto:

• Accionados dois grupos de reforço para o distrito de Leiria.

24 de Agosto:

• Accionado um grupo de reforço para o distrito de Braga.

11 de Setembro:

• Accionados cinco grupos de reforço, três para o distrito de Faro e

dois para o distrito de Santarém.

12 de Setembro:

• Accionados quatro grupos de reforço, três para o distrito de Faro e

um para o distrito de Lisboa.

13 de Setembro:

• Accionado um grupo de reforço para o distrito de Lisboa.

14 de Setembro:

• Accionados quatro grupos de reforço, três para o distrito de

Santarém e um para o distrito da Guarda.

15 de Setembro:

• Accionados três grupos de reforço, dois para o distrito de Faro e um

para o distrito da Guarda.

17 de Setembro:

• Accionados dois grupos de reforço, um para o distrito de Lisboa e um

para o distrito de Santarém.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 55

18 de Setembro:

• Accionados dois grupos de reforço para o distrito de Castelo Branco.

19 de Setembro:

• Accionados cinco grupos de reforço, três para o distrito de Santarém,

um para o distrito de Viseu e outro para o distrito de Lisboa.

ii) A NÍVEL DISTRITAL

De acordo com os relatórios dos centros distritais de operações de

socorro (CDOS), foram tomadas as seguintes decisões, quanto a:

(1) Medidas de prevenção:

(2) Apoio ao comando das operações de socorro:

(3) Diligências efectuadas junto ao governador civil:

(4) Principais medidas tomadas a partir do accionamento do plano de emergência de protecção civil de nível distrital:

(a) CDOS Castelo Branco:

(1) • Divulgação dos alertas e comunicados aos agentes de protecção civil, serviços municipais de protecção civil, corpos de bombeiros e demais entidades integradas no centro distrital de operações de emergência de protecção civil (CDOEPC);

• Divulgação dos alertas meteorológicos aos órgãos de comunicação social (OCS), entrevistas a diversas rádios locais, com medidas de autoprotecção e preventivas na área da saúde e dos incêndios florestais.

(2) • Assegurou a coordenação operacional e a direcção estratégica das operações;

• Diligenciou a mobilização rápida dos meios disponíveis no distrito e providenciou o pedido de meios de fora do distrito;

• Manteve reuniões operacionais com responsáveis no teatro de operações;

• Montou um centro de operações avançado (COPAV), no qual uma célula de acompanhamento permanente manteve o contacto com os postos de comando dos bombeiros.

(3) • Manteve informada a autoridade distrital de protecção civil;

• Face à situação, propôs a activação do CDOEPC, o que foi aceite, tendo resultado no accionamento do Plano Distrital de Emergência (PDE).

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 56

(4) • Reforço das equipas médicas nos diversos centros de saúde e Hospital Amato Lusitano;

• Apoio em pessoal e material aos centros de saúde dos municípios afectados;

• Protecção a diversas indústrias;

• Evacuações preventivas diversas;

• Protecção especial à Portucel (Vila Velha do Ródão)

• Montagem de um sistema de informações para minimizar os efeitos da queda das telecomunicações;

• Activação de máquinas de rasto;

• Reforço de meios militares;

• Comunicados aos OCS.

(b) CDOS Faro:

(1) • Conhecimento ao governador civil, aos agentes de protecção civil, aos serviços municipais de protecção civil e respectivos presidentes das câmaras municipais.

(2) • Assegurou a coordenação operacional e a direcção estratégica das operações;

• Diligenciou a mobilização rápida dos meios disponíveis no distrito e providenciou o pedido de meios de fora do distrito.

(3) • Manteve informada a autoridade distrital de protecção civil;

• Face à situação, propôs a activação do CDOEPC, o que foi aceite, embora daí não resultasse o accionamento de qualquer plano de emergência de nível distrital;

• Propôs a realização de uma reunião com os presidentes das câmaras municipais, na qual foram expostos os procedimentos para accionamento dos planos municipais de protecção civil.

(4) • NÃO APLICÁVEL

(c) CDOS Guarda:

(1) • Divulgação dos alertas e comunicados ao Governo Civil, agentes de protecção civil, serviços municipais de protecção civil, corpos de bombeiros e demais entidades integradas no centro distrital de operações de emergência de protecção civil (CDOEPC);

• Reuniões operacionais com a finalidade de analisar a situação operacional e solicitação à GNR e Polícia Florestal para intensificar o patrulhamento preventivo.

(2) • Acompanhamento das operações mais problemáticas, com a consequente verificação da organização do comando, tendo, em alguns casos, procedido à completa alteração da organização operacional;

• Pontualmente, exerceu o comando das operações.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 57

(3) • Manteve informada a autoridade distrital de protecção civil;

• Assessoria à autoridade distrital de protecção civil sobre a matéria;

• Acompanhamento da autoridade distrital de protecção civil aos teatros de operações;

• Propôs o accionamento do Plano Especial para Fogos Florestais (PEFF), em 7 de Agosto.

(4) • Reuniões para análise da situação;

• Comunicados aos OCS;

• Activação de um número de telefone para apoio à população;

• Implantação de medidas especiais de atendimento no Hospital Distrital;

• Disponibilização de meios e recursos da GNR, para eventuais evacuações e realojamentos;

• Colaboração com a DGV no levantamento dos danos no sistema de sinalização rodoviária;

• Levantamento das áreas ardidas com implicações nos locais de captação de água para abastecimento público;

• Articulação das operações com o Parque Natural da Serra da Estrela, Direcção Regional de Agricultura e GNR;

• Solicitação da intervenção de meios militares.

(d) CDOS Leiria:

(1) • Divulgação dos alertas aos corpos de bombeiros, câmaras municipais, agentes de protecção civil e OCS;

• Intensificação do patrulhamento pelo dispositivo especial existente nos corpos de bombeiros.

(2) • Deslocou-se aos teatros de operações, após efectuadas as mobilizações necessárias e garantida a intervenção dos meios aéreos;

• Procurou garantir o nível de comando compatível com as situações;

• Sugeriu alterações de estratégia, maior mobilização de meios, mobilização de quadros de comando e reorganização dos teatros de operações.

(3) • Manteve informada a autoridade distrital de protecção civil, tendo daí resultado a activação do CDOEPC, mas não o accionamento de qualquer plano de emergência de protecção civil de nível distrital.

(4) • NÃO APLICÁVEL

(e) CDOS Lisboa:

(1) • Divulgação dos alertas e comunicados ao Governo Civil, agentes de protecção civil, serviços municipais de protecção civil e corpos de bombeiros;

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 58

• Deslocação de grupos de reforço para áreas de maior risco;

• Solicitação de apoio especial à GNR, Exército, PSP, PJ e ICN;

• Reforço dos meios à ordem do SMPC de Sintra;

• Reuniões operacionais com comandantes de zona e sector operacional.

(2) • Acompanhamento nos teatros de operações.

(3) • Manteve informada a autoridade distrital de protecção civil, tendo daí resultado a activação do CDOEPC, mas não o accionamento de qualquer plano de emergência de protecção civil de nível distrital.

(4) • NÃO APLICÁVEL

(f) CDOS Portalegre:

(1) • Divulgação dos alertas e comunicados ao Governo Civil, agentes de protecção civil, serviços municipais de protecção civil, corpos de bombeiros e demais entidades integradas no centro distrital de operações de emergência de protecção civil (CDOEPC).

(2) • Apoio à elaboração do plano Estratégico de Acção e à decisão pelas tácticas de combate, mobilização de meios, aplicação de meios e ligação aos mais diversos organismos;

• O apoio visou fortalecer o desempenho e não substituir os comandantes das operações de socorro, exercendo alguma magistratura sobre os postos de comando, por questões de ordem e método.

(3) • Propôs a realização de uma reunião com os presidentes das câmaras municipais e das juntas de freguesia, com o objectivo de incentivar ao accionamento dos planos municipais de protecção civil;

• Manteve informada a autoridade distrital de protecção civil, tendo daí resultado a activação do CDOEPC, mas não o accionamento de qualquer plano de emergência de protecção civil de nível distrital.

(4) • NÃO APLICÁVEL

(g) CDOS Santarém:

(1) • Divulgação dos alertas e comunicados ao Governo Civil, agentes de protecção civil, serviços municipais de protecção civil, corpos de bombeiros e demais entidades integradas no centro distrital de operações de emergência de protecção civil (CDOEPC);

• Tomada de medidas preventivas, de acordo com o planeamento operacional, nomeadamente vigilância de locais críticos a cargo dos corpos de bombeiros, deslocação de meios para as zonas mais afastadas dos quartéis e activação do grupo de reforço.

(2) • Toda a actividade de apoio desenvolvida foi executada a

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 59

partir do CDOS, sem interferência nos teatros de operações, tendo em conta a quantidade de diferentes incêndios em simultâneo.

(3) • Manteve informada a autoridade distrital de protecção civil, tendo daí resultado o accionamento do Plano Distrital de Emergência, a 2 de Agosto.

(4) • Reforço dos centros de saúde e hospitais das áreas afectadas;

• Mobilização de equipas do INEM, CVP, militares, especialistas da DGF e IEP;

• Mobilização de maquinas de rasto e plataformas militares e privadas;

• Mobilização de meios para evacuações, telefones satélite, reforço policial, escoltas para deslocação de máquinas;

• Articulação com a EDP para a reposição de energia;

• Articulação com o CDSSS par apoio aos desalojados e deslocados;

• Articulação com os serviços municipais de protecção civil;

• Interdição de lançamento de foguetes.

iii) A COORDENAÇÃO ENTRE OS DIFERENTES NÍVEIS

(1) Nível municipal e nível distrital:

Determina a lei, que é competência dos presidentes das câmaras

municipais dirigir o serviço municipal de protecção civil (7). Por outro

lado, são os directores dos respectivos planos municipais de emergência de protecção civil, aprovados legalmente pela

Comissão Nacional de Protecção Civil e previstos na Lei de Bases de

Protecção Civil, tal como os designados centros operacionais de

emergência de protecção civil de âmbito municipal (CMOEPC) (8).

O modelo do sistema nacional de protecção civil visa a prossecução

de um dos princípios orientadores da política de protecção civil – o

princípio da subsidiariedade – que se pode traduzir pelo conceito

de que, quem está mais próximo da emergência deve intervir em

primeiro lugar, sem, no entanto, deixar de contar com a solidariedade

dos escalões superiores.

Durante as operações de socorro e salvamento desenvolvidas pelos

bombeiros, os técnicos municipais de protecção civil devem

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 60

acompanhar a ocorrência, de modo a verificarem se a situação

tende para alguma das hipóteses que constam do plano municipal

de emergência de protecção civil aplicável.

Se o estudo que fizerem da situação indicar aquela tendência, os

técnicos devem propor ao presidente da câmara municipal a

convocação dos representantes das diversas forças e entidades no

CMOEPC, de acordo com o estipulado no plano ou no anexo do

plano aplicável. Com o apoio dos referidos elementos, o presidente

da câmara municipal decide:

Pela continuação da operação conforme está, se os trabalhos

de supressão estiverem a dar resultados positivos; ou,

Pelo accionamento do plano municipal de emergência de protecção civil adequado, desde que se esteja iminente alguma

das hipóteses do plano.

Refira-se, que a passagem de uma ocorrência a operação de

protecção civil não deve ser discricionária, mas sim baseada nas

hipóteses inscritas no plano, cuja elaboração terá sido, forçosamente

acompanhada e participada por todos os membros do CMOEPC.

Ao passar a operação de protecção civil, devem verificar-se,

obrigatoriamente as seguintes condições:

A direcção da operação passa a pertencer à autoridade local de

protecção civil;

É accionado um plano municipal de emergência de protecção

civil;

A conduta das operações é acompanhada de forma permanente

pelo CMOEPC;

As forças que intervêm no teatro de operações, continuam a actuar sob o comando ou chefias próprias.

Por decisão do presidente da câmara municipal, agora director do

plano de emergência que está a ser executado, o CMOEPC pode

constituir centros de operações avançados, destacados no teatro

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 61

de operações, bem como fazer deslocar para os locais atingidos

equipas técnicas capazes de avaliar a situação e prever a sua

evolução.

No caso específico dos incêndios florestais, a dinâmica associada

a este tipo de risco permite, muito rapidamente, que se atinjam

proporções capazes de justificar a classificação como acidente grave

ou catástrofe. Deste modo, quase sempre, há como que uma «etapa queimada», que pode levar à activação, em simultâneo, dos

CMOEPC e dos centros distritais de operações de emergência de protecção civil (CDOEPC) e, eventual, accionamento dos planos de

emergência.

Mesmo que o incêndio percorra, apenas, a área de um município, o

accionamento do plano do escalão superior poderá justificar-se para

suportar legalmente a atribuição dos apoios necessários. No entanto,

há que ter em conta que, o accionamento do plano do escalão superior não prejudica a execução dos planos dos escalões inferiores, já que a sua elaboração prevê a articulação entre os

diferentes níveis. Assim, se estiver accionado o plano distrital para

incêndios florestais, no escalão municipal deve estar em execução o

plano municipal de emergência, no qual deverá constar um anexo

para aquele risco específico.

De acordo com os relatórios dos CDOS, foram os seguintes os

planos municipais de emergência de protecção civil accionados,

realçando-se o facto de nem todos os municípios fortemente

atingidos o terem feito:

CDOS Castelo Branco

• PME do Fundão;

• PME de Castelo Branco;

• PME de Oleiros;

• PME da Sertã;

• PME de Idanha-a-Nova;

• PME de Vila Velha do Ródão.

CDOS Faro

• PME de Aljezur;

• PME de Silves;

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 62

• PME de Lagos;

• PME de Monchique;

• PME de Portimão.

CDOS Guarda • PME da Guarda.

CDOS Leiria • Não foi accionado qualquer plano.

CDOS Lisboa

• PME de Mafra;

• PME do Cadaval.

CDOS Portalegre

• PME de Nisa;

• PME do Gavião;

• PME de Portalegre;

• PME de Marvão.

CDOS Santarém

• PME da Chamusca;

• PME de Abrantes;

• PME de Mação;

• PME de Sardoal;

• PME de Constância;

• PME de Santarém.

(2) Nível distrital e nível nacional:

Nem todas as emergências de protecção civil se esgotam ao nível do

município. Antes pelo contrário, tendo em conta a dimensão dos

municípios portugueses e o tipo de riscos naturais susceptíveis de

ocorrer, facilmente se atinge uma situação que, pelo menos, requer o

apoio do escalão territorial distrital.

Assim, cada vez mais se torna importante ter em conta a

intervenção distrital, seja para a atribuição dos apoios necessários,

seja para a direcção e coordenação de vários escalões de âmbito

territorial mais reduzido, sob a orientação do respectivo governador

civil (9), coadjuvado pelo coordenador distrital do CDOS, bem como

pelos representantes dos diversos agentes de protecção civil e

outras entidades com assento no centro distrital de operações de

emergência de protecção civil (CDOEPC) (10).

Os governadores civis são os directores dos respectivos planos distritais de emergência de protecção civil, aprovados legalmente

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 63

pela Comissão Nacional de Protecção Civil e previstos, tal como os

CDOEPC, na Lei de Bases de Protecção Civil.

Por outro lado, do ponto de vista operacional, é atribuição do CDOS

assegurar a nível distrital a coordenação das operações de socorro e possibilitar a mobilização rápida e eficiente do pessoal

indispensável e dos meios disponíveis que permitam a direcção das

acções de socorro.

A lei orgânica do SNBPC, manteve nos CDOS a esmagadora maioria

das atribuições das inspecções distritais, tal como o fez com as

competências próprias dos antigos inspectores distritais do SNB.

Manteve, igualmente o essencial das atribuições das extintas

delegações distritais do SNPC (11).

A legislação confere ao coordenador distrital um conjunto bastante

diversificado de atribuições, entre as quais o planeamento de

emergência, bem como ser como que um «chefe de estado-maior»

do governador civil, sempre que este assuma a direcção e o controlo

das operações.

Assim, o coordenador distrital acompanha a situação, trabalha as

informações recebidas, quer dos SMPC, quer do posto de comando

operacional dos bombeiros, estuda a evolução da situação e

apresenta ao governador civil propostas de acção devidamente sustentadas, que auxiliem na decisão de activação do CDOEPC.

Se a decisão do governador civil for nesse sentido, o CDOEPC

mantém-se em reunião permanente, assegurando a direcção das

operações de protecção civil, a coordenação dos meios a empenhar

e a adequação das medidas de carácter excepcional a adoptar. Com

o apoio do CDOS e respectivos técnicos do quadro daquela estrutura

distrital do SNBPC, passa a garantir os objectivos consagrados na

lei:

Assegurar as ligações com as entidades e organizações

necessárias às operações;

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 64

Desencadear a execução dos correspondentes planos de

emergência que exijam a sua intervenção, bem como

assegurar a conduta das operações deles decorrentes;

Possibilitar a mobilização rápida e eficiente das organizações

e pessoal indispensáveis e dos meios disponíveis que

permitam a conduta coordenada das acções a executar;

Difundir os comunicados oficiais relativos à operação.

Sendo necessário, envia para o teatro de operações equipas de avaliação e constitui um centro de operações avançado de nível distrital.

Conforme anteriormente indicado, apenas, foram accionados os

planos distritais de emergência (PDE) de Castelo Branco e Santarém, bem como o plano especial para fogos florestais (PEFF) do distrito da Guarda.

De acordo com a sua lei orgânica, é competência do SNBPC exercer

as funções de coordenação nacional de alerta e combate aos incêndios florestais (DL n.º 49/2003, de 25-3, art.º 3.º).

Para o exercício das suas atribuições operacionais, o SNBPC dispõe,

como serviço central, de uma unidade orgânica designada Centro

Nacional de Operações de Socorro (CNOS), com a competência

para coordenar e acompanhar toda a actividade operacional no

domínio do socorro, garantir o apoio logístico em situações de

emergência e assegurar o desencadeamento das medidas mais

adequadas, bem como orientar e apoiar a actividade dos CDOS (DL

n.º 49/2003, de 25-3, art.º 9.º).

De acordo com o relatório do SNBPC, a análise diária das condições

meteorológicas e todos os demais factores que contribuem para os

incêndios florestais, bem como a emissão dos consequentes alertas

ao sistema nacional de protecção civil, distrital, municipal e

respectivos agentes, foi executado com o apoio da Divisão de Riscos

Naturais e Tecnológicos, da Direcção de Serviços de Prevenção e

Protecção.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 65

O CNOS tem, ainda, outra atribuição que decorre do

acompanhamento permanente da situação nacional e da sua

evolução decorrente dos incêndios florestais. Tal como para o

escalão distrital, ao estudar as informações recebidas dos CDOS,

estará em condições de apresentar ao presidente do SNBPC – que,

por inerência do cargo, preside ao Centro Nacional de Operações de Emergência de Protecção Civil (CNOEPC) – propostas de

modalidades de acção, que sustentem decisões de nível mais

elevado.

O CNOEPC é o centro operacional de protecção civil de nível

nacional, que tem por finalidade coordenar as operações de

protecção civil e o apoio logístico necessário em caso de acidente

grave, catástrofe ou calamidade, sendo presidido pelo presidente do

SNBPC (12).

Face ao número e gravidade dos incêndios florestais, foi decidido

reunir o CNOEPC, com o propósito de proceder a uma avaliação

global da situação e desencadear o apoio logístico complementar

necessário à prossecução dos objectivos dos planos de emergência

de protecção civil dos diferentes distritos envolvidos.

A primeira reunião do CNOEPC teve lugar em 2 de Agosto, tendo

sido decidido continuar o apoio aos distritos nos moldes que vinha a

ser executado, quer pelo SNBPC, quer pelos diversos agentes de

protecção civil empenhados, mantendo-se o CNOEPC

permanentemente activado, sem accionamento formal do Plano Nacional de Emergência (PNE).

Na verdade, a propagação dos diversos incêndios florestais,

motivada essencialmente pelas extraordinárias condições

meteorológicas adversas para este tipo de risco natural, atingiu uma

velocidade tal, que obrigou as estruturas desconcentradas do

SNBPC à rápida mobilização e balanceamento de meios de reforço não existentes nos distritos atingidos, sob a coordenação do

Centro Nacional de Operações de Socorro que, em permanência,

vinha procedendo ao estudo integrado da situação nacional.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 66

Os meios de reforço mobilizados para os diversos teatros de

operações foram, entre outros, constituídos por unidades de

bombeiros dos distritos não atingidos ou parcialmente atingidos,

Guarda Nacional Republicana, Cruz Vermelha Portuguesa, Forças

Armadas e Instituto Nacional de Emergência Médica, para além de

máquinas de rasto municipais, militares e privadas, bem como de

aeronaves militares e estrangeiras, ao abrigo, quer de acordos

bilaterais, quer solicitadas através do mecanismo de coordenação de

protecção civil da União Europeia.

Assim, o accionamento do PNE para atribuição dos apoios

necessários foi, de algum modo, prejudicado pela dinâmica a que os próprios incêndios obrigaram, de forma a evitar consequências

ainda mais graves para a vida e os bens da população. Por outro

lado, mesmo no que relaciona com as vítimas – mortos e feridos –

não foi previsível a necessidade de apoio de âmbito nacional, já que

o seu número não excedeu a capacidade de resposta local.

Na realidade, a execução do PNE implica a mobilização de um

conjunto de Gabinetes e Grupos de Planeamento e Coordenação Operacional, guarnecidos pelos diferentes departamentos da

Administração Central de quase todos os ministérios, não compatível

em termos temporais, com a velocidade de propagação que se

verificou nos incêndios florestais em causa.

Em 5 de Agosto, o CNOEPC realizou uma segunda reunião na qual

foram avaliadas a situação nacional e a conduta das operações de

protecção civil, da responsabilidade, ao nível dos diversos escalões

territoriais, respectivamente dos presidentes das câmaras municipais

e dos governadores civis, optando-se pela continuação da estratégia empregue quanto aos apoios operacionais aos escalões

territoriais subordinados.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 67

iv) A COORDENAÇÃO OPERACIONAL

Existente desde 1983, o modelo conjuntural de comando das operações de bombeiros, designado sistema de comando operacional (SCO), foi instituído como forma de organização dos teatros de operações, independentemente do tipo e das proporções da

ocorrência (Portaria n.º 449/2001, de 5-5, art.º 22.º).

Desenvolvendo-se modularmente, tem, apenas, uma função de carácter

obrigatório designada por comandante das operações de socorro,

que, na fase inicial da ocorrência, é exercida pelo chefe do primeiro

veículo de bombeiros a chegar ao teatro de operações.

Tendo em conta o evoluir da emergência, a função deve passar,

sucessivamente para os bombeiros mais graduados conforme forem

chegando ao teatro de operações.

Como é um sistema evolutivo, em caso de necessidade, podem ser

constituídas células de combate, de planeamento e de logística, as

quais formam o posto de comando operacional dos bombeiros

(PCOB) que, apoia o comandante das operações de socorro na

preparação das decisões e na articulação dos meios no teatro de

operações (Portaria n.º 449/2001, de 5-5, art.º 24.º).

Para a distribuição dos meios nos teatros de operações específicos de

incêndios florestais, são criadas divisões correspondentes a uma faixa

de terreno, cada uma sob a responsabilidade de um comandante de divisão, que reporta directamente ao comandante responsável pela

célula de combate.

A este reportam-se directamente, também, os especialistas de meios aéreos e os responsáveis pelas zonas de concentração e reserva,

locais onde são colocados os meios disponíveis para entrada imediata

no combate. Por seu lado, os meios atribuídos a cada divisão são

agrupados em grupos de combate constituídos por um máximo de

cinco veículos cada.

Completando a organização do teatro de operações, o PCOB (13) pode

dispor de adjuntos para as relações públicas, para a segurança e

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 68

para a ligação, que trabalham directamente com o comandante das

operações de socorro.

Quanto mais difícil é a operação, mais necessária é a unidade de comando, isto é, de que, em cada momento esteja, claramente

identificado o comandante das operações de socorro (COS). Da

mesma forma, é imperioso que cada bombeiro, independentemente da

função que desempenha no teatro de operações, seja capaz de

identificar, sem dificuldade, o seu chefe directo.

Relacionando o território percorrido pela ocorrência com o responsável

pela função conjuntural de comandante das operações de socorro,

obtém-se o seguinte quadro:

Território percorrido pela ocorrência Comandante das operações de socorro Área de actuação própria de um corpo de bombeiros

Comandante do corpo de bombeiros ou comandante do corpo de bombeiros da

administração local (sapador ou municipal), se existir no município

Mais do que uma área de actuação própria, na mesma zona operacional

Comandante de zona operacional

Mais do que uma área de actuação própria, em mais do que uma zona operacional

Comandante de sector operacional distrital

Assim, a organização do teatro de operações impõe que se assuma obrigatoriamente a função de comandante das operações de socorro, a ser provida sucessivamente conforme o evoluir das

operações, pelo chefe do primeiro veículo a chegar ao local, pelo

comandante do corpo de bombeiros local (ou comandante do corpo

de bombeiros da administração local, nos municípios onde exista), pelo

comandante de zona operacional (14) e pelo comandante de sector operacional distrital;

Mantendo uma organização estabelecida há 20 anos, a mesma portaria

instituiu as zonas operacionais como agrupamentos de áreas

operacionais (municípios) que englobam um mínimo de seis corpos de bombeiros do mesmo distrito, com áreas de actuação próprias de risco

semelhante (Portaria n.º 449/2001, de 5-5, art.º 7.º).

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 69

Porém, na expectativa de que uma ocorrência possa atingir áreas

correspondentes a mais do que uma zona operacional, foi criada a

função de comandante de sector operacional distrital (15).

Tal como o comandante de zona operacional, também, o comandante

de sector operacional distrital exerce graciosamente a função, que

acumula com o comando do seu próprio corpo de bombeiros, seja

voluntário ou profissional.

Entre outros, para a concessão de apoio técnico e logístico aos postos

de comando operacional envolvidos em acções de combate a incêndios

florestais, foram criadas as comissões especializadas de fogos florestais

municipais (CEFF municipal), a qual deve ser ouvida na elaboração ou

na actualização do plano de acção, sempre que haja população em

perigo (Portaria n.º 341/90, de 7-5, art.º 8.º).

Para apoiar a acção das CEFF municipais, foram criadas as CEFF

distritais, tendo em vista a utilização coordenada de meios humanos e

materiais disponíveis (DR.º 55/81, de 18-12, art.º 7.º).

Em relação à organização dos diversos teatros de operações, foram as

seguintes as indicações constantes nos relatórios dos CDOS às

seguintes questões:

(1) Comando das operações:

(2) Sistema de comando operacional:

(3) Coordenação dos meios aéreos:

(4) Apoio prestado pela CEFF distrital:

(a) CDOS Castelo Branco: (1) • Os comandantes dos corpos de bombeiros, em cada uma das

áreas de actuação, tendo em conta a simultaneidade de incêndios nos mesmos dias;

• Não está nomeado comandante de sector operacional distrital e os comandantes de zona operacional estiveram empenhados nas áreas de actuação próprias dos respectivos corpos de bombeiros.

(2) • Foi utilizado na medida do possível, em função das disponibilidades de cada quadro de comando.

(3) • Através do helicóptero da FAP, que fazia pontos de situação

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 70

para o centro de operações avançado;

• Através de um helicóptero ligeiro, na ausência do anterior.

(4) • Não existiu, porque os seus membros pertencem simultaneamente ao CDOEPC.

(b) CDOS Faro:

(1) • Os comandantes de sector operacional distrital e das zonas operacionais, em alternância.

(2) • Foi utilizado.

(3) • Em articulação com o PCOB, pelo coordenador aéreo que se encontrava no ar.

(4) • Não houve.

(c) CDOS Guarda:

(1) • Os comandantes de sector operacional distrital e das zonas operacionais, pontualmente o coordenador distrital.

(2) • Utilizado de forma irregular, a maior parte das vezes por pressão do coordenador distrital.

(3) • A cargo do elemento de comando a prestar serviço no CMA;

• Quando houve intervenção de meios pesados, a cargo do PCOB.

(4) • Disponibilização de máquina de rasto;

• Disponibilização de sapadores florestais;

• Disponibilização de vigilantes da natureza (ICN);

• Assessoria técnica por parte do ICN e DRABI.

(d) CDOS Leiria:

(1) • Os comandantes de sector e das zonas operacionais e comandantes dos corpos de bombeiros.

(2) • Nota-se muita dificuldade na aplicação do sistema de comando operacional.

(3) • Não respondeu.

(4) • Não houve.

(e) CDOS Lisboa:

(1) • Os comandantes de sector e das zonas operacionais, sempre em parceria com o coordenador distrital.

(2) • Foi utilizado.

(3) • Pelos coordenadores aéreos, segundo instruções dos PCOB.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 71

• Há registo de desobediências por parte de um dos pilotos.

(4) • Não houve.

(f) CDOS Portalegre:

(1) • Numa primeira fase, os comandantes de sector e das zonas operacionais, posteriormente os comandantes dos corpos de bombeiros em cada uma das áreas de actuação.

(2) • Foi utilizado, embora com alguma dificuldade por falta de quadros de comando disponíveis.

(3) • O coordenador distrital.

(4) • Não houve, porque a composição é praticamente a mesma do CDOEPC.

(g) CDOS Santarém:

(1) • Os comandantes dos corpos de bombeiros em cada uma das áreas de actuação;

• O comandante de sector operacional desenvolveu a sua actividade na sala de operações do CDOS, em conjunto com o coordenador distrital.

(2) • Foi utilizado.

(3) • O elemento de comando de serviço (ECS) e o coordenador aéreo.

(4) • Não houve, os membros são os mesmos do CDOEPC.

v) A COOPERAÇÃO INSTITUCIONAL

(1) Forças de segurança:

As forças de segurança, nomeadamente, a Guarda Nacional

Republicana (GNR) e a Polícia de Segurança Pública (PSP), fazem

parte do conjunto dos agentes de protecção civil, que tem, entre

outras, as seguintes missões definidas no Plano Nacional de

Emergência:

Garantir a manutenção da lei e da ordem;

Garantir o controlo do tráfego e manter abertos corredores de

circulação de emergência;

Coordenar o controlo de acessos às áreas afectadas;

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 72

Coordenar as operações de movimentação das populações;

Colaborar nas acções de aviso, alerta e mobilização do

pessoal envolvido nas operações de socorro, bem como no

aviso e alerta às populações.

Cerca de um milhar de militares e agentes da GNR e da PSP

colaboraram com os diversos teatros de operações, havendo a

registar situações de perigo para a integridade física dos elementos

de ambas as entidades, que demonstraram grande espírito de

abnegação e um louvável sentido do Dever.

(2) Forças Armadas:

A Lei de Bases da Protecção Civil determina que as Forças Armadas são agentes de protecção civil, cujas condições de

emprego, em situação de catástrofe ou calamidade, são definidas por

decreto regulamentar. Assim, a colaboração das Forças Armadas

desenvolve-se, essencialmente através do apoio programado previsto nos planos de emergência de protecção civil, em

diferentes modalidades (16).

Apesar do quadro de colaboração não abranger o combate directo

aos incêndios florestais, para o qual seria necessário outro tipo de

condições, quer no que respeita a equipamentos, quer a formação,

nos últimos anos os extintos SNPC e SNB não foram chamados a

participar na instrução e formação dos militares, conforme determina

a legislação (17).

No entanto, de acordo com o relatório do SNBPC, mais de um milhar de militares pertencentes aos três Ramos participaram,

com sucesso, nas operações resultantes dos incêndios florestais,

tanto nas actividades de rescaldo e vigilância, como no

reconhecimento aéreo, nas telecomunicações e no combate indirecto

com máquinas de rasto.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 73

(3) Outros agentes de protecção civil:

Os restantes agentes de protecção civil envolvidos nos teatros de

operações foram a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) e o Instituto

Nacional de Emergência Médica (INEM) que, segundo o relatório do

SNBPC, participaram com 26 veículos e 84 técnicos, no primeiro

caso e seis veículos e 16 médicos, enfermeiros e técnicos, no

segundo.

Com duas vertentes distintas – apoio sanitário aos bombeiros e

assistência pré-hospitalar às vítimas – a intervenção dos agentes

de protecção civil directamente relacionados com a saúde é uma

mais-valia importante, desde que devidamente coordenada com o

posto de comando operacional dos bombeiros.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 74

III. O QUE FUNCIONOU E O QUE FALHOU

1) NA PREVENÇÃO

Um dos aspectos mais salientes das falhas na prevenção diz respeito à

sensibilização do grande público e à formação das camadas mais jovens nas questões ligadas aos incêndios florestais, áreas tipicamente da

responsabilidade dos serviços de protecção civil, em particular do SNBPC

(19).

Embora tenha sido dada continuidade ao trabalho iniciado pela extinta

CNEFF nesta matéria, a recorrência dos incêndios florestais deveria ter

despoletado, já em anos anteriores, campanhas dirigidas ao público e,

principalmente uma actuação junto das escolas do ensino básico, dando

continuidade ao Programa de Sensibilização da População Escolar (PROSEPE), que teve o seu início em 1993/1994 e chegou a mobilizar

cerca de 500 estabelecimentos de ensino.

Só uma política baseada em fortes campanhas de sensibilização e

formação, executadas por uma única entidade, será capaz de dar frutos a

médio e longo prazo.

As medidas de prevenção herdadas da extinta CNEFF pelo SNBPC, em

matéria de construção de infra-estruturas para apoio ao combate

(caminhos florestais, pontos de água, etc.), vigilância e apoio às equipas

de sapadores florestais, funcionaram, embora sejam matérias,

necessariamente a reequacionar face à Lei n.º 33/96, de 17-8 (Lei de Bases

da Política Florestal) e à recente criação da Secretaria de Estado das

Florestas, pelo que será desejável uma análise em separado, no âmbito do

Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.

2) NO PLANEAMENTO

a) DISPOSITIVO DE RESPOSTA PERMANENTE

Para apoio às operações de maior envergadura, foram dadas orientações

para, a nível distrital, serem planeados grupos de reforço para ficarem à

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 75

disposição do CNOS. Porém, constata-se que muitos grupos de reforço não foram constituídos de acordo com as normas que os regem, seja

quanto ao tipo de veículos, seja quanto à autonomia logística que devem

assegurar nas primeiras 72 horas, o que pode ser encarado de duas

formas: falhas das estruturas distritais do SNBPC ou incapacidade por parte dos corpos de bombeiros, em termos de equipamento, pessoal e formação, para assegurar aquela medida de planeamento.

Outro aspecto que importa referir quanto ao planeamento do dispositivo

sazonal permanente, que provém já de anos anteriores, é o emprego diário de 75 quadros de comando de corpos de bombeiros para missões

relacionadas com os CDOS e os centros de meios aéreos (CMA),

retirando-os da sua missão principal. Ora, uma estrutura composta,

maioritariamente por corpos de bombeiros voluntários, na qual há défice em

relação aos quadros de chefia e de comando, terá dificuldade em

responder, se os seus responsáveis estiveram indisponíveis para as

tarefas da sua competência.

b) PLANOS DE EMERGÊNCIA DE PROTECÇÃO CIVIL

Os planos de emergência de protecção civil são documentos aprovados oficialmente pela Comissão Nacional de Protecção Civil. A sua

elaboração é da responsabilidade dos presidentes das câmaras municipais

e dos governadores civis, consoante digam respeito aos escalões territoriais

municipal e distrital.

São instrumentos da maior importância, que identificam cenários

(hipóteses) relacionados com os perigos e as vulnerabilidades do escalão

territorial e estabelecem:

As normas de actuação dos organismos, serviços e estruturas,

públicas ou privadas, com responsabilidades no domínio da

protecção civil;

Os critérios de mobilização e mecanismos de coordenação dos

meios e recursos, públicos ou privados, utilizáveis;

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 76

A estrutura operacional que há-de garantir a unidade de direcção

e o controlo permanente da situação.

Na verdade, ao longo das últimas décadas, raramente um incêndio florestal, independentemente das suas proporções, dos meios

empenhados, das áreas atingidas ou dos danos causados, foi tratado como

uma operação de protecção civil. A maior parte das vezes, as autoridades

locais e distritais assistiam ao desenrolar das operações a cargo dos

bombeiros, sem qualquer intervenção, com excepção de algum apoio em

matéria de logística, embora, em cada distrito exista, para além do plano

geral, um Plano Especial para Fogos Florestais (PEFF).

Convém ter presente que, como instrumentos dinâmicos que são, os planos

de emergência de protecção civil necessitam de actualização permanente

e dos indispensáveis exercícios e treinos destinados a verificar da

conformidade da sua adequação.

Mesmo assim, por decisão do SNBPC, os coordenadores distritais

elaboraram um plano paralelo, designado «plano especial de socorro e

emergência distrital para incêndios florestais», gerado na doutrina do extinto

SNB e carecendo de melhor adequação em relação à directiva para a

elaboração de planos de emergência de protecção civil, emanada da

Comissão Nacional de Protecção Civil.

Estes ajustamentos impõem-se, ainda mais, pelo facto de haver

necessidade de transformar os PEFF em instrumentos integrados, com

orientações para os diferentes estádios de desenvolvimento dos incêndios

florestais, culminando nos cenários que permitem ao governador civil,

coadjuvado pelo coordenador distrital, decidir sobre a activação do

CDOEPC e dirigir uma operação de protecção civil, sem perda da eficácia legal.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 77

3) NA COORDENAÇÃO

a) NÍVEL MUNICIPAL

No sistema nacional de protecção civil, a coordenação só obterá resultados

positivos quando puder contar com a participação activa de todos os

actores que intervêm no esforço da protecção civil, nomeadamente dos que

na base do sistema detêm a autoridade em matéria de protecção civil – os

presidentes das câmaras municipais – aos quais estão atribuídas

responsabilidades que têm em conta o conhecimento de cada um sobre o

território do seu município e as relações privilegiadas que detém com os

corpos de bombeiros, próprios ou de associações de bombeiros voluntários

nele sediadas.

Obviamente, o sistema só funciona onde o presidente da câmara municipal assume, na hora certa, uma das funções inerentes ao cargo que ocupa – a de autoridade de protecção civil – fazendo funcionar os

instrumentos de coordenação que tem à sua disposição, sejam os

CMOEPC, sejam os planos de emergência de protecção civil.

No entanto, é necessário ter em atenção que, sendo a direcção da

operação uma responsabilidade do presidente da câmara municipal, não pode ser confundida, nem substitui as atribuições de quem, no plano técnico tem por dever comandar as actividades no teatro de operações

– o comandante das operações de socorro – no respeito pelo princípio

determinado na lei, de que as forças que intervém operam sob o comando ou chefia próprios.

Com competências nas áreas do planeamento, informação, formação,

coordenação e controlo, os serviços municipais de protecção civil (SMPC)

detêm um importante papel junto do responsável pelo município.

A implantação dos SMPC não é uniforme em todo o País, pelo que, a

reacção das câmaras municipais perante os grandes incêndios florestais é

bastante diversificada. Para tal, contribui o facto de nunca terem sido regulamentados, conforme a Lei de Bases da Protecção Civil prevê. Da

mesma forma, não estão regulamentadas carreiras para técnicos

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 78

municipais de protecção civil, o que constitui outro condicionalismo à

implementação no concreto dos SMPC.

Este é, na verdade, um dos grandes constrangimentos ao funcionamento do

subsistema municipal de protecção civil, não só pela falta de técnicos municipais, mas também pela insuficiência da formação específica para este nível. Para além das tarefas atrás indicadas, para que o estudo

do evoluir dos cenários das ocorrências seja o mais aproximado possível, é

necessário que os técnicos municipais existam e tenham perfil e formação

adequados

Para que a responsabilidade do presidente das câmaras municipais se

afirme quanto à forma como é prestado o socorro ás populações, torna-se

necessário promover a clarificação das relações entre a câmara municipal e

as associações de bombeiros residentes, através da instituição de

protocolos definidores das «regras de jogo», nomeadamente quanto aos

níveis de prestação e prontidão de serviço e respectivas contrapartidas

de suporte, tendo em conta que, na área específica do socorro, as

associações de bombeiros são, efectivamente prestadoras de serviços à

câmara municipal.

Um maior controlo da autarquia em relação à área da protecção e do

socorro, deve passar pela ligação permanente ao CDOS, rentabilizada

através de um único centro de operações municipal, permitindo, a cada

momento, conhecer o ponto de situação quanto a meios empenhados e a

meios disponíveis no município e, simultaneamente uma maior

disponibilidade, a nível distrital, para as tarefas de planeamento,

informação, formação, coordenação, controlo e apoio aos SMPC.

b) NÍVEL DISTRITAL

O cargo de coordenador distrital é herdeiro dos anteriores cargos de chefe de delegação distrital do SNPC e inspector distrital do SNB, pelo que

tem de ser desempenhado de modo equilibrado, dando continuidade a

atribuições importantes que, se relegadas para segundo plano, poderão pôr

em causa o fundamental do sistema nacional de protecção civil.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 79

Nas ocorrências de grandes proporções, se o coordenador distrital

permanecer junto ao posto de comando operacional, da responsabilidade

do comandante das operações de socorro, terá dificuldade em distanciar-se o suficiente para poder ter uma perspectiva mais alargada do problema.

Sendo certo que ao coordenador distrital compete assegurar a coordenação

operacional e a direcção estratégica das operações de socorro, esta não deve prejudicar ou gerar confusão com as competências próprias de comando das operações. Assim, nas grandes ocorrências, deve ser

privilegiado o exercício da coordenação a partir do CDOS ou, quando tal for decidido pelo director do plano de emergência que está a ser

executado numa dada operação de protecção civil – o governador civil – no

centro de operações avançado instalado próximo do teatro de operações.

Antes da fusão, o inspector distrital do SNB acompanhava o desenrolar da

maior parte das ocorrências significativas junto dos bombeiros, no teatro de

operações. Ao mesmo tempo, o chefe da delegação distrital do SNPC,

procurava acompanhar e estudar a evolução da situação, de modo a apoiar

o governador civil.

A constante presença dos coordenadores distritais nos teatros de operações, tal como antes acontecia com os inspectores distritais, por

vezes em ocorrências limitadas a dois ou três corpos de bombeiros, tem

sido objecto de crítica por parte de comandantes de corpos de bombeiros

e de estruturas representativas das associações e corpos de bombeiros.

Essa presença resulta, não só de orientações superiores, com vista à

obtenção de informações, mas também da falta de confiança operacional

na forma como, em muitos casos, se processa o comando das operações,

mesmo quando estão a cargo dos comandantes de zona operacional e de

sector operacional.

Para a diversidade de tarefas a cargo do coordenador distrital, é necessário

uma cada vez maior qualificação, com recurso a formação especializada

que leve ao pleno domínio da análise do risco, do planeamento, da gestão

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 80

operacional e da informação pública, que deverá ser, igualmente ministrada

aos técnicos dos quadros dos CDOS.

Por isso, todos os actuais coordenadores distritais do SNBPC foram comandantes de corpos de bombeiros e, consequentemente têm

formação nesta área. Assim, antes da nomeação para o novo cargo, 12 dos

actuais coordenadores distritais eram já inspectores distritais do SNB, dois

eram chefes de delegação distrital do SNPC e, simultaneamente

comandantes de corpos de bombeiros voluntários, um estava destacado na

CNEFF e era comandante de um corpo de bombeiros voluntários e os três

restantes ingressaram no SNBPC vindos directamente de comandantes de

corpos de bombeiros voluntários.

A tarefa de dinamização, fomento e incentivo da política de protecção civil a nível distrital cabe aos governadores civis, cuja atitude pró-activa e empenhamento devem ir no sentido da assumpção atempada das responsabilidades no quadro dos instrumentos de que dispõem,

CDOEPC e planos de emergência, privilegiando soluções capazes de

resolver, de forma expedita, os problemas resultantes das vulnerabilidades

do território, promover a coesão social e manter activa a solidariedade

entre os cidadãos.

c) NÍVEL CENTRAL

O CNOS não é um «comando nacional» de corpos de bombeiros, mas sim

uma unidade orgânica com atribuições altamente especializadas, de

primordial importância para possibilitar a tomada atempada de medidas

adequadas face à situação, incluindo o aviso às populações, pois,

normalmente é bastante curto o hiato de tempo que vai da previsão

sustentada ao início das ocorrências.

Este equívoco gerado, certamente pela prática de anos do extinto SNB, é

motivo suficiente para ter em conta a necessidade de aprofundar a

organização, funcionamento e modelo de gestão do SNBPC, tendo

presente o seu papel fundamental enquanto serviço central do sistema

nacional de protecção civil.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 81

Para além das atribuições respeitantes às operações, compete ao CNOS,

estabelecer as necessidades e o diálogo permanente com as instituições

técnicas e científicas no sentido de obter informação de base e produtos

para a previsão e acompanhamento de todas as situações.

Apesar de algumas dificuldades registadas pontualmente, é de salientar a

forma positiva como, na generalidade, o CNOS reagiu à violência dos

acontecimentos, tomando as decisões que haveria que tomar, mesmo que

algumas não tenham tido a compreensão de todos quantos, no terreno,

necessitavam do imprescindível apoio, o que acontece sempre que as necessidades são superiores aos meios disponíveis.

Sublinhe-se, ainda, a boa cooperação das instituições de investigação

técnica e científica, nomeadamente do Instituto de Meteorologia e da

Direcção-Geral das Florestas, no âmbito das suas competências

específicas, para o apoio à decisão.

4) NO COMBATE

a) ORGANIZAÇÃO DO TEATRO DE OPERAÇÕES

O sistema de comando operacional, essencial na organização do teatro de operações, não foi aplicado em alguns casos e, em outros, foi utilizado de forma bastante deficiente.

As falhas na organização do teatro de operações estão, ainda, relacionadas

com o número de quadros de comando disponível para assumir as

diferentes funções, com a agravante de, numa grande parte dos corpos de

bombeiros, os quadros de chefias se encontrarem incompletos.

De acordo com um dos princípios da unidade de comando, a organização

do teatro de operações é uma responsabilidade do comandante das operações de socorro que, nas de nível distrital, deve ser

inequivocamente assumida pelo comandante de sector operacional distrital.

Esta é uma função de alta responsabilidade prevista na lei, que só poderá

ser cabalmente desempenhada se os quadros de comando nomeados

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 82

possuírem qualificação adequada, formação permanente e total disponibilidade, principalmente durante os meses mais quentes, por ser a

época durante a qual a função operacional poderá ser requerida com maior

probabilidade. Mesmo exercida em acumulação e graciosamente, não pode

defraudar expectativas, sob pena de deixar de haver razão para continuar a existir.

Embora, para as grandes ocorrências, o sistema nacional de protecção civil

preveja a execução de planos distritais de emergência, dirigidos pelo

governador civil com o apoio dos membros do CDOEPC, o teatro de operações não pode deixar de ter a funcionar uma estrutura organizativa e um posto de comando responsável pelo planeamento, organização, direcção e controlo de todas as actividades que tenham

lugar no seu espaço geográfico.

Obviamente, o problema não reside somente na qualificação dos

comandantes de zona e sector operacional. O exercício de quaisquer das restantes funções na organização do teatro de operações, desde os

responsáveis pelas células do posto de comando operacional, até à chefia

dos grupos de combate, passando pelo comando das divisões, só pode resultar se os lugares estiverem providos por quadros de chefia ou de comando identificados com o sistema de comando operacional.

Apesar do que tem sido feito pela Escola Nacional de Bombeiros (ENB)

quanto à formação de quadros de comando, a prática demonstra que os resultados alcançados continuam bem aquém dos objectivos, nomeadamente quanto ao sistema de comando operacional, o que se

torna bem visível quando é necessário enfrentar ocorrências de grandes

proporções.

Outro aspecto que, não sendo o principal, condiciona o desempenho dos

quadros de comando, prende-se com o facto de, após terem sido

nomeados, continuarem ao serviço mesmo quando, nos cursos que

frequentam na ENB, não obtêm classificações mínimas nos testes de

avaliação.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 83

Caberá à ENB estudar a metodologia mais adequada ao ensino do

sistema de comando operacional, cujo peso relativo perante outras matérias

deverá ser reavaliado. O esforço de investimento na formação e requalificação em relação ao sistema de comando operacional, enquanto instrumento da maior importância para a prossecução da missão

dos corpos de bombeiros, terá que incidir, prioritariamente e de forma

intensiva, nos quadros de comando que desempenham funções de

comandante de zona ou de sector operacional.

b) ACTIVIDADES DE COMBATE E RESCALDO

Apesar da dedicação e esforço que, mais uma vez, os bombeiros

portugueses mostraram face a tão grande adversidade, uma das questões

que têm de ser avaliadas prende-se com a qualidade do desempenho nas

actividades de combate e rescaldo, pois, tal como nas outras ocorrências,

também nos incêndios florestais é, naturalmente um factor crítico de sucesso.

A deficiente formação do pessoal dos corpos de bombeiros em matéria

de incêndios florestais é responsável por alguns pontos fracos, como, por

exemplo, a não utilização de equipamentos de protecção individual, condicionando o trabalho contínuo junto às linhas de fogo, quer nas

actividades de extinção, quer nas actividades de rescaldo.

Por outro lado, os bombeiros estão demasiado dependentes do uso da água enquanto substância extintora, em detrimento de outras técnicas,

nomeadamente a construção de linhas de contenção com ferramentas de sapador.

Esta situação é particularmente importante no que respeita aos rescaldos

(20). Verifica-se que, na maior parte dos casos, a extinção com água não é

consolidada com a limpeza da linha de fogo até ao solo mineral, tendo-

se verificado, de acordo com a Direcção-Geral das Florestas, um apreciável

número de reacendimentos nos incêndios de Junho (144), Julho (153) e

Agosto (475).

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 84

A agravar a situação, constatou-se que muitas equipas, principalmente de

rendição, eram constituídas por elementos dos corpos de bombeiros muito jovens, ainda, em período de formação básica pluridisciplinar ou

em instrução preparatória, isto é, aspirantes e cadetes, que,

eventualmente por serem estudantes estariam mais disponíveis.

Embora já tenha sido referido anteriormente, nunca é de mais ter presente

que, para além dos corpos de bombeiros, não existem outras forças organizadas para o combate a incêndios florestais de grandes proporções,

incluindo no que respeita às actividades de rescaldo, apesar do

empenho dos militares, cuja formação nesta matéria terá que ser

melhorada.

A exemplo do que se passa em outros países, nomeadamente em França,

em que há unidades militares especializadas para intervir em actividades de protecção civil, incluindo nos incêndios florestais, seria

desejável rever as formas de cooperação das Forças Armadas no esforço

de protecção civil.

Assim, as actividades de extinção e rescaldo nos grandes incêndios

florestais, contam, apenas, com os corpos de bombeiros locais e com o

reforço de grupos provenientes dos distritos não atingidos, que não conhecem o terreno e que, de uma maneira geral, sofrem dos mesmos problemas que os primeiros quanto à qualificação do pessoal.

Só será possível rentabilizar os grupos de reforço quando, à chegada ao

teatro de operações, forem encontrar uma organização que,

imediatamente os integre colocando-os a trabalho em divisões comandadas por quadros de comando do distrito onde tem lugar a

ocorrência.

Assim, só é possível qualificar a maioria dos bombeiros se houver, por parte

dos comandantes, uma política adequada de formação contínua semanal, consubstanciada na instrução e treino (21).

Na realidade, em muitos corpos de bombeiros, a instrução e o treino no quartel, que deve fazer parte do aperfeiçoamento contínuo indispensável

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 85

em qualquer unidade de bombeiros voluntários, não é levada à prática com regularidade.

Saliente-se que, nas competências dos coordenadores distritais, a lei

orgânica do SNBPC determina, tal como acontecia para os antigos

inspectores de bombeiros do SNB, que superintendem na instrução do

pessoal dos corpos de bombeiros voluntários e aprovam os respectivos

planos anuais (DL n.º 49/2003, de 25-3, art.º 31.º).

Tendo em conta os custos associados, nomeadamente em relação à

formação ministrada na ENB e aos grupos de primeira intervenção que

fazem parte do dispositivo, torna-se importante garantir um mínimo de

qualificação dos bombeiros, através da intensificação dos cursos para chefias, acompanhada de uma eficaz supervisão da instrução e treino nos

quartéis, com o contributo dos núcleos distritais de formação.

A retoma dos cursos destinados a grupos de intervenção (veículo e

equipa), só poderá ser rentável no quadro da constituição de grupos de reforço, previamente planeados com garantia de participação no dispositivo

sazonal permanente.

c) MEIOS ESPECIAIS

i) MÁQUINAS DE RASTO

Um dos aspectos mais críticos em relação às máquinas de rasto é o seu

aluguer já com o incêndio a decorrer, prática que as torna

substancialmente mais onerosas.

Por outro lado, não é dada qualquer qualificação aos manobradores

quanto às questões de segurança que envolvem o trabalho das

máquinas nos incêndios florestais.

No entanto, as máquinas de rasto constituem preciosas ferramentas no

combate aos incêndios florestais e na consolidação do rescaldo, apesar

de, por vezes, trabalharam desenquadradas quando a organização no teatro de operações se mostra deficiente. Esta é uma situação a evitar

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 86

a todo o custo, nomeadamente porque colide com as mais elementares

regras de segurança.

A opção por máquinas de rasto vai, geralmente para as que apresentam

uma determinada dimensão, o que dificulta a sua movimentação,

dependente de meios de difícil manobra. No entanto, há máquinas de rasto de dimensão reduzida, que poderão desempenhar tarefas

importantes em acções de rescaldo, nomeadamente se integradas em

grupos de reforço.

ii) MEIOS AÉREOS

O problema dos meios aéreos pesados, não passa exclusivamente

pela quantidade de unidades disponíveis. A sua eficácia depende,

também da qualificação dos pilotos para este tipo de trabalho, bem

como do modo como, no teatro de operações, se desenvolve a

coordenação dos meios aéreos.

Na verdade, os especialistas em coordenação de meios aéreos não

abundam, pelo que, em incêndios florestais de grandes proporções,

alguns pilotos chegaram a operar por sua conta e risco, sem instruções

do posto de comando operacional.

Ora, os coordenadores de meios aéreos têm sido quadros de comando

de corpos de bombeiros, que frequentaram acções de formação nesta

especialidade. Tal como já atrás referido, estar ao serviço dos meios aéreos limita o desempenho do cargo no seu próprio corpo de bombeiros. Por outro lado, alguns antigos pilotos que durante anos

participaram no combate a incêndios florestais, poderiam participar, com

vantagens, como especialistas em coordenação de meios aéreos, tendo

em conta a experiência adquirida.

Na estratégia de emprego dos meios aéreos, está definido que as

aeronaves ligeiras, helicópteros e aerotanques, se destinam ao

combate a incêndios nascentes, sendo, por isso, considerados meios distritais, accionados pelos CDOS.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 87

Assim, logo que há conhecimento de uma eclosão, é accionado o meio aéreo ou um dos meios aéreos disponíveis no distrito que, se for um

helicóptero, transporta uma equipa especial de cinco bombeiros. O

CNOS pode sobrepor-se ao CDOS e accionar o meio aéreo para outro

distrito, desde que, ponderadas as circunstâncias, haja necessidade de

operar em grupo.

As aeronaves pesadas, aerotanques e helicópteros, denominados

meios aéreos nacionais, são accionados pelo CNOS segundo um

conjunto de procedimentos, dos quais se destacam:

• Se a situação distrital assim o impuser, o CDOS solicita os meios

nacionais ao CNOS;

• Face à situação nacional, o CNOS decide as prioridades de

utilização.

Embora possam operar isoladamente, tendo em conta que são

empregues, especialmente em incêndios não nascentes, devem-no fazer

em grupo, de modo a potenciar o efeito das largadas sucessivas nas

frentes de fogo. A forma de emprego depende, naturalmente das

características do incêndio e da necessidade de separar os meios face à

simultaneidade das ocorrências.

No entanto, há limitações técnicas ao emprego dos meios aéreos, as

quais podem ser consultadas na página 58 e seguintes do relatório do

SNBPC, em anexo.

No mesmo relatório, anexo I, encontra-se um quadro com as

movimentações dos meios aéreos entre 20 de Julho e 16 de Agosto.

A este propósito importa referir que, o modelo de Canadair que tem

sido utilizado em Portugal não é recente (CL-215), o que dificulta o seu

desempenho, nomeadamente quanto ao tipo de combustível que é

diferente do usado pelos modelos mais recentes da marca (CL-415) e

pelas aeronaves comerciais.

Assim, quando do primeiro grande incêndio no distrito de Faro, os

aerotanques não puderam abastecer no aeroporto internacional,

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 88

porque a operação, a partir do pequeno depósito de combustível

compatível e respectiva bomba, demorava duas horas, tempo suficiente

para voar até ao aeródromo de Cascais e voltar a operar.

Mesmo assim, o segundo abastecimento foi já feito na Base Aérea de Beja, dado que a Força Aérea disponibilizou combustível compatível e

transferiu para aquela unidade uma bomba capaz fazer a operação mais

rapidamente.

Quanto aos helicópteros, o trabalho desenvolvido, quer em primeira

intervenção (ligeiros), quer em reforço (pesados), constitui um

importante complemento ao combate. No entanto, é necessário afirmar

que são os bombeiros que consolidam o trabalho de extinção dos incêndios florestais.

iii) APOIO LOGISTICO

Sem organização no teatro de operações, que ponha em funcionamento o sistema de comando operacional, não há logística operacional, tal como não haverá outras células do posto de comando,

mesmo que as câmaras municipais, as associações de bombeiros ou

outras entidades procurem fazer o seu melhor para colmatar esta falha.

Nos grandes incêndios, a célula de logística está relacionada, não só

com a alimentação, mas também, com os combustíveis,

abastecimentos, manutenção de veículos e equipamentos,

comunicações, transportes, instalações e apoio sanitário.

Um dos núcleos da logística que continua a dificultar o desenrolar das

grandes operações prende-se com as comunicações, que continua a

utilizar o sistema de banda baixa criado nos anos 60, complementado

com alguns equipamentos de banda alta. Sendo verdade que,

tecnicamente não respondem às necessidades, particularmente quando

as operações envolvem muitos meios, a falta de organização do teatro de operações, que leva à indisciplina nas comunicações, é um forte

potenciador das dificuldades sentidas, pois cada veículo procurará

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 89

estabelecer contacto com o posto de comando operacional, em vez de o

fazer para o comandante de divisão.

Esta questão poderá vir a ser resolvida quando o sistema integrado das

redes de emergência e segurança de Portugal (SIRESP), estiver

instalado e a ser utilizado pelos corpos de bombeiros.

O apoio logístico aos grandes incêndios florestais foi, desde sempre,

objecto de controvérsia, embora as reclamações dos corpos de

bombeiros incidam, principalmente na alimentação.

Desde há muitos anos, foram feitas várias tentativas para dotar o extinto

SNB com equipamentos de apoio logístico, nomeadamente na área

alimentar e do fornecimento de combustíveis no teatro de operações. No

entanto, apenas, existem três veículos de apoio à alimentação,

distribuídos pelo CBV Barcarena (frio) e CBV Santa Comba Dão (frio e

cozinha), que são, porém, insuficientes para operações que

movimentem grande quantidade de pessoal, com o agravante de serem

guarnecidos por bombeiros desviados da sua missão principal.

Em 1999, o extinto SNPC adquiriu uma cozinha de campanha, à qual

juntou outra cedida pela Cruz Vermelha Portuguesa. Numa tentativa de

encontrar soluções, foi firmado um protocolo com o Corpo Nacional de

Escutas, que passou a guarnecer as cozinhas de campanha, embora a

idade dos equipamentos não permita utilizações prolongadas sem risco

para a segurança dos operadores.

Indica o relatório do SNBPC, que o abastecimento dos combustíveis

dos veículos dos bombeiros esteve a cargo dos corpos de bombeiros locais e das câmaras municipais respectivas. Na prática há duas

formas mais utilizadas de abastecimento de combustíveis aos veículos

de combate:

• O abandono do local de trabalho para abastecimento em

estações de serviço, não aconselhável, tendo em conta o tempo

que demora entre a saída e o regresso ao teatro de operações;

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 90

• O abastecimento por meio de trasfega, com bomba manual, a partir de bidões, que tende a provocar avarias nos

equipamentos.

Se a célula de logística do posto de comando funcionar e existir um

plano adequado de manutenção de veículos, em parte é possível

fazer coincidir o abastecimento de combustível com a ida à zona de

concentração e reserva (ZCR).

Mandam as técnicas da boa organização do teatro de operações, que a

alimentação e os combustíveis sejam distribuídos sem necessidade de deslocação de pessoal e veículos para fora das divisões de

combate, excepto quando recebem ordens para se dirigirem às ZCR,

para períodos de descanso e manutenção.

Ora, sem veículos de logística apropriados não é possível cumprir este

desiderato, pelo que as movimentações para alimentação e combustíveis correm em prejuízo das acções de combate.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 91

IV. MEDIDAS A TOMAR

De acordo com as sugestões e propostas apresentadas pelas diversas

entidades ouvidas neste âmbito, são identificadas como medidas futuras, as

seguintes:

1) MUDANÇAS E MEDIDAS PRÁTICAS A INTRODUZIR DE IMEDIATO

a) Aprofundamento da organização, funcionamento e modelo de gestão do SNBPC, tendo em conta o seu papel fundamental enquanto serviço com o objectivo da protecção e socorro de pessoas e bens, no âmbito do sistema nacional de protecção civil, nomeadamente:

i) Na caracterização das valências profissionais específicas do serviço,

quer ao nível central, quer ao nível distrital;

ii) No desenvolvimento da função inspectiva e de um modelo de

avaliação do sistema de comando e controlo dos corpos de

bombeiros.

b) Reavaliação das valências de formação da Escola Nacional de Bombeiros, nomeadamente:

i) Actualização dos estatutos face à necessidade de introduzir a

formação de protecção civil;

ii) Melhoria e actualização permanente das matérias respeitantes ao

sistema de comando operacional;

iii) Melhoria e maior rentabilização do investimento nos cursos

relacionados com os incêndios florestais, através da

descentralização da formação específica;

iv) Parceria com instituições de ensino superior para apoio à formação

de dirigentes e técnicos de protecção civil, bem como de quadros dos

corpos de bombeiros, incluindo na modalidade de formação a

distância;

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 92

v) Criação de um centro de estudos e desenvolvimento, tendo por

missão essencial promover a investigação aplicada e dinamizar a

institucionalização da formação de protecção civil;

vi) Criação de um centro de formação especializada em incêndios

florestais;

vii) Criação de centros de formação operacional distritais;

viii) Competência para presidir ao júri dos cursos de ingresso, promoção

e classificação nas provas de acesso às diferentes categorias do

quadro activo dos corpos de bombeiros.

c) Organização de grupos de reforço e reacção rápida, próprios para actuação musculada em apoio aos corpos de bombeiros locais, nomeadamente:

i) Para combate especializado, através de pessoal qualificado pela

ENB;

ii) Para actividades de logística, em particular, abastecimento de

combustíveis, manutenção de equipamentos, alimentação,

assistência sanitária e bem-estar;

iii) Para reforço de postos de comando operacional e centros de

operações avançados.

d) Avaliação das tácticas e técnicas de combate e rescaldo, nomeadamente:

i) Participação de técnicos florestais;

ii) Qualificação dos coordenadores aéreos;

iii) Eficácia dos meios aéreos e qualificação dos pilotos;

iv) Maneabilidade das máquinas de rasto e sua utilização por grupos de

socorro;

v) Tipo de veículos e quantidade de pessoal nos grupos de combate;

vi) Técnicas de combate e rescaldo apeado com ferramentas de

sapador;

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 93

vii) Utilização do contra-fogo.

e) Plano de reequipamento de meios de combate a incêndios florestais, incluindo meios aéreos, nomeadamente:

i) Estudo e normalização de veículos de combate e apoio ao combate

adequados à floresta portuguesa, quanto a relação peso/potência,

guarnição e equipamento de trabalho;

ii) Plano de reequipamento para protecção individual, com

obrigatoriedade da sua utilização em combate;

iii) Equipamentos de extinção hidráulica e de comunicações;

iv) Estudo sobre as vantagens da contratação a privados versus a

existência de meios aéreos na FAP, por protocolo com o SNBPC.

f) Actualização do Plano Nacional de Emergência, melhorando a articulação entre os diferentes níveis.

g) Realização de uma auditoria técnica aos corpos de bombeiros, através de equipas integradas do SNBPC e da Liga dos Bombeiros Portugueses, de modo a clarificar as necessidades nos domínios dos equipamentos, formação e recursos humanos.

h) Criação de um Observatório Nacional Permanente para a problemática dos incêndios florestais, no âmbito da Lei de Bases da Política Florestal.

l) Elaboração de uma Carta Nacional de Risco, projecto a desenvolver sob a coordenação do SNBPC.

2) MEDIDAS LEGISLATIVAS E OUTRAS

a) Regulação do subsistema municipal de protecção civil, em parceria com a Associação Nacional de Municípios Portugueses, nomeadamente:

i) Organização e funcionamento dos serviços municipais de protecção

civil (SMPC);

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 94

ii) Protocolos de parceria com as associações de bombeiros

voluntários;

iii) Homologação de corpos de bombeiros voluntários;

iv) Reforço da cooperação e articulação entre as câmaras municipais,

as associações de bombeiros voluntários sediados no município e as

estruturas distritais do SNBPC, com vista à melhoria da gestão das

emergências a nível municipal;

v) Desenvolvimento dos grupos de intervenção permanente em

associações de bombeiros voluntários;

vi) Criação da carreira de técnico municipal de protecção civil, com

funções nas áreas do planeamento, informação, coordenação,

controlo e segurança contra incêndios;

vii) Parceria entre a ENB e o Centro de Estudos e Formação Autárquica

com vista à formação dos técnicos municipais de protecção civil;

viii)Manual de Conduta, incluindo modalidades de planeamento de

emergência e de revisão, exercício e treino periódico dos planos

municipais de emergência;

ix) Inclusão das CEFF municipais nos órgãos de protecção civil.

b) Clarificação das responsabilidades do SNBPC em matéria de prevenção, detecção, vigilância e combate a incêndios, nomeadamente quanto aos:

i) Decreto-Lei n.º 179/99, de 21-5 (sapadores florestais);

ii) Decreto-Lei n.º 327/80, de 26-8, ratificado pela Lei n.º 10/81, de 10-7

(prevenção, detecção e combate a incêndios florestais);

iii) Decreto Regulamentar n.º 55/81, de 18-12 (regulamenta o anterior);

iv) Portaria n.º 341/90, de 7-5 (normas de combate a incêndios

florestais).

c) Actualização do regulamento que rege o exercício de funções de protecção civil pelas Forças Armadas (DR n.º 18/93, de 28-6), nomeadamente:

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 95

i) Desenvolvimento de formas de cooperação activa na prevenção e

combate aos incêndios florestais pelas unidades militares;

ii) Apoio a operações que exigem o emprego de meios específicos,

particularmente nas áreas da logística, meios aéreos e máquinas de

rastos.

d) Reavaliação e actualização da legislação sobre centros operacionais de emergência e planos de emergência de protecção civil, nomeadamente:

i) Revisão da directiva para a elaboração de planos de emergência de

protecção civil;

ii) Revisão do Decreto-Lei n.º 222/93, de 18-6, quanto à composição e

forma de organização do CNOEPC e dos CDOEPC.

e) Dinamização da Comissão Nacional de Protecção Civil (Decreto Regulamentar n.º 23/93, de 19-7), nomeadamente:

i) Criação do comité permanente, composto pelos representantes dos

agentes de protecção civil;

ii) Criação de subcomissões especializadas (incêndios florestais,

NRBQ, segurança contra incêndios, etc.).

f) Análise e qualificação das funções de comando das operações de socorro, com especial incidência na clara definição das responsabilidades operacionais, nomeadamente:

i) Revisão da Portaria n.º 449/2001, de 5-5 (sistema de socorro e luta

contra incêndios);

ii) Revisão do Decreto-Lei n.º 295/2000, de 17-11 (regulamento geral

dos corpos de bombeiros);

iii) Estudo sobre formas de qualificação mais avançadas dos quadros de

chefias e comando;

iv) Dependência da homologação definitiva da nomeação dos quadros

de comando, da frequência, com aproveitamento, de cursos

específicos;

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 96

v) Instituição do perfil funcional, pré-requisitos de acesso, conteúdo

programático, avaliação dos cursos específicos e período de estágio

para quadros de comando.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 97

Notas: (1) A Lei de Bases da Política Florestal que, no seu artigo 10.º prevê a instituição de

«(…) uma estrutura nacional, regional e sub-regional com funções de planeamento

e coordenação das acções de prevenção e detecção e de colaboração no combate

aos incêndios florestais»(Lei n.º 33/96, de 17-8, art.º 10.º). Acrescenta o artigo 21.º do

mesmo diploma legal, que são acções com carácter prioritário a desenvolver pelo

Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas (MADRP) o «(…) reforço e

estruturação dos processos de prevenção, vigilância e de apoio ao combate aos

fogos florestais». O Decreto Regulamentar n.º 55/81, de 18-12, determina que para

efeitos de detecção estão previstos postos de vigia, brigadas móveis de vigilância e

meios aéreos, cuja instalação, acrescenta, se insere no âmbito da DGOGF,

actualmente, Direcção-Geral das Florestas (DGF). A Portaria n.º 341/90, de 7-5,

refere no artigo 5.º que «a DGF constituirá nas zonas públicas e privadas brigadas de vigilância, fiscalização, detecção e primeira intervenção, que integrarão um ou

mais elementos da polícia florestal». O Decreto Regulamentar n.º 11/97, de 30-4, que

estabelece a orgânica da DGF, determina no artigo 17.º, que a divisão de Protecção e

Conservação Florestal tem a seu cargo, «organizar e coordenar a nível nacional o

sistema de prevenção, detecção e vigilância dos incêndios florestais, incluindo a rede

nacional de postos de vigia e a rede de radiocomunicações».

(2) «(…) funções de prevenção dos incêndios florestais através de acções de

silvicultura preventiva, nomeadamente da roça de matos e limpeza de povoamentos, da

realização de fogos controlados, da manutenção e beneficiação da rede divisional,

linhas quebra-fogo e outras infra-estruturas» (n.º 1, do art.º 2.º).

O art.º 8.º do mesmo diploma refere que, «o Estado pode conceder apoios às equipas de sapadores nas áreas da formação, do equipamento e do funcionamento», o último

dos quais corresponde a um apoio anual a atribuir por equipa, «(…) correspondente a

75% dos encargos directos com a contratação dos elementos que as integram (…)

até ao montante máximo de 7000 contos» (n.º 2, do art.º 11.º).

No art.º 16, relativo a disposições finais e transitórias, determina-se no n.º 1 que:

«até à instituição da estrutura prevista na alínea d) do n.º 2 do artigo 10.º da Lei n.º

33/96, de 17 de Agosto, as atribuições e competências dos órgãos nacional, distritais e

municipais referidos nos artigos 7.º, 14.º e 15.º do presente diploma são cometidas,

respectivamente, à Comissão Nacional Especializada de Fogos Florestais e às comissões especializadas de fogos florestais distritais e municipais»

A instituição prevista é, obviamente a estrutura nacional, regional e sub-regional com

funções de planeamento e coordenação das acções de prevenção e detecção e de

colaboração no combate aos incêndios florestais, referida na alínea anterior.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 98

(3) «As acções de combate a incêndios florestais são da responsabilidade dos corpos de bombeiros» (DR n.º 55/81, de 18-12, art.º 16.º).

(4) «(…) conjunto estruturado de meios de um sector operacional, integrando até um grupo de combate, com comando próprio e capacidade de deslocação por todo o

território do continente (…) dispondo de uma autonomia total de setenta e duas horas, quer para a realização prática das missões, quer para o funcionamento logístico do conjunto» (Portaria n.º 449/2001, de 5-5, art.º 42.º).

(5) «O avanço de meios humanos e materiais para a zona de incêndio não deve

implicar o desguarnecimento do quartel, quer do corpo de bombeiros directamente

responsável, quer dos que actuam em reforço daquele (…) considera-se que o

quartel fica desguarnecido quando nele não permaneça elemento do corpo activo

com poder de decisão para a resolução imediata de situações de emergência e com

equipamento mínimo para o efeito» (DR n.º 55/81, de 18-12, art.º 18.º).

(6) COOPERAÇÃO E SOLIDARIEDADE EUROPEIA:

No preâmbulo do documento «Forest Fires in Southern Europe – Report n.º 1», a

Comissária Europeia para o Ambiente, Margot Wallström refere que, em média por

ano, há na Europa cerca de 50.000 incêndios, que queimam 500.000 hectares de

espaços florestais. Acrescenta, ainda, que os incêndios florestais são uma ameaça cada vez maior, quer para as populações rurais, quer para bombeiros e outras forças

de intervenção. Por essa razão, a Comissária para o Ambiente, diz ser sua firme

intenção apoiar os centros de combate a incêndios florestais dos Estados Membros, fornecendo-lhes informação diária sobre os níveis de risco, dado que os

referidos centros estão numa melhor posição quanto às decisões a tomar e à

coordenação das operações de assistência em ajuda mútua.

Na sequência de uma série de catástrofes naturais, tecnológicas e ambientais,

ocorridas nos últimos anos e que causaram danos consideráveis (sismo na

Turquia/1999, derrame de petróleo na Bretanha/2000, inundações em países vizinhos

da União Europeia/2000, etc.), constatou-se haver descoordenação nas intervenções de socorro por parte dos países presentes.

Perante tal, a União Europeia concluiu ser necessário melhorar, com urgência, a

articulação das diversas organizações de protecção civil a nível comunitário, de

modo a que, em caso de catástrofe ocorrida em território europeu, a intervenção das

equipas de cada Estado Membro passasse a ter uma coordenada mais eficaz.

Assim, em Setembro de 2000, a Comissão Europeia propôs a criação de um

mecanismo comunitário destinado a facilitar, dentro e fora da União Europeia, a

articulação e a cooperação nas intervenções de socorro do âmbito da protecção civil,

que exigissem resposta urgente.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 99

O mecanismo, que veio a ser aprovado através da Decisão 2001/792/CE, de 23 de

Outubro de 2001 e entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2002, assenta,

fundamentalmente nos seguintes elementos e acções:

o Um Centro de Vigilância e Informação (Monitoring and Information Centre-

MIC), acessível e pronto a intervir imediatamente 24 horas/dia, encarregue de

acompanhar o desenrolar dos acontecimentos e fornecer informações;

o Recenseamento preliminar das equipas de intervenção disponíveis nos

serviços de protecção civil ou outros serviços de urgência dos Estados

Membros;

o Programa de formação destinado a reforçar as capacidades de reacção aos

acontecimentos e melhorar a coordenação e a transmissão de conhecimentos

entre as equipas de intervenção;

o Mobilização de equipas de avaliação e de coordenação que, no mais breve

espaço de tempo possível, poderão ser enviadas de acordo com as

necessidades;

o Sistema comum de comunicações de emergência entre as autoridades dos

Estados Membros responsáveis pela protecção civil e os serviços competentes

da Comissão.

Tendo em vista promover um debate no âmbito da União Europeia, sobre a

necessidade de actualizar e aprofundar o mecanismo, o Ministro da Administração

Interna manifestou, na reunião informal do Conselho Justiça e Assuntos Internos,

realizada em Roma, a 12 de Setembro, o interesse e a oportunidade de, em breve, se

proceder a uma reflexão conjunta sobre a suficiência dos meios disponíveis para

lidarmos com estes fenómenos e com as suas consequências, sendo certo que a

grande envergadura de algumas catástrofes torna patente a incapacidade de cada

Estado para com elas lidar de forma isolada.

Considerou, também, como muito pertinente e oportuna uma ponderação sobre a

eventual constituição, a prazo, de uma força comum de reacção rápida – uma

espécie de “piquete” europeu – mobilizável para intervenção imediata em calamidades desta natureza, designadamente mediante o emprego de meios aéreos

partilhados.

Finalmente, lembrou que a Protecção Civil é, de facto, uma das dimensões da

intervenção da União Europeia que cai sob a alçada deste Conselho JAI, assim como

estamos certos de que o novo Tratado da União irá conferir maior evidência a este

domínio, sobretudo pela activação da cláusula de solidariedade mútua prevista no

artigo 42.º do Projecto da Constituição Europeia.

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 100

O impacto da proposta não se fez esperar. De acordo com o semanário «Comission en

direct», de 19 de Setembro, a Comissária do Ambiente, Margot Wallström, apresentou

recentemente uma nota informativa relativa à resposta comunitária a acidentes

graves e catástrofes, que tem por objectivo propôr uma reflexão sobre o que mais poderá ser feito ao nível da Comunidade, com vista a apoiar as intervenções de

níveis nacional e local, quando aquelas situações ocorram.

Sublinha-se, especificamente que, verdadeiramente a acção do MIC, poderia vir a ser

criado um corpo europeu de protecção civil, a ser constituído por unidades nacionais especializadas, a mobilizar para catástrofes nacionais, nas quais fosse

requerida assistência a mais do que um Estado Membro. Por último, é referido que, até ao final do ano, a reflexão deverá resultar numa comunicação sobre a forma como a

Comunidade poderá melhor contribuir para a resposta a catástrofes nos Estados

Membros.

(7) «Dirigir, em estrita articulação com o Serviço Nacional de Protecção Civil, o serviço municipal de protecção civil, tendo em vista o cumprimento dos planos e programas

estabelecidos e a coordenação das actividades a desenvolver no domínio da protecção civil, designadamente em operações de socorro e assistência, com

especial relevo em situações de catástrofe e calamidade públicas» (Lei n.º 169/99, de

18-9, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 5-A/2002, de 11-1, art.º68.º).

(8) «Os municípios constituirão junto dos respectivos serviços municipais de protecção

civil um centro municipal de operações de emergência de protecção civil (CMOEPC),

dirigido pelo presidente da câmara ou por um vereador seu delegado (…) Na

iminência ou ocorrência de acidente grave, catástrofe ou calamidade que afecte todo

ou parte do município, o CMOEPC é activado por decisão do presidente da câmara municipal ou, na sua ausência ou impedimento e quando a situação o impuser, pelo

vereador do pelouro da protecção civil, carecendo a activação, neste caso, de

confirmação posterior daquele» (DL n.º 222/93, 18-6, art.º 11.º).

(9) «(…) no exercício de funções de protecção e socorro, desencadear e coordenar, na

iminência ou ocorrência de acidente grave, catástrofe ou calamidade, as acções de

protecção civil de prevenção, socorro, assistência e reabilitação adequadas em cada

caso, com a coadjuvação do director do centro coordenador de socorro distrital e do

chefe da delegação distrital de protecção civil (pela actual estrutura, coordenador

distrital do centro distrital de operações de socorro) e a colaboração dos agentes de

protecção civil competentes, nos termos legais». (DL n.º 252/92, de 19-11, com as

alterações introduzidas pelo DL n.º 213/2001, de 2-8, art.º 4.º-E).

(10) «Junto de cada governo civil, a quem compete assegurar o respectivo apoio

logístico, funcionará um centro distrital de operações de emergência de protecção civil

(CDOEPC), com a seguinte composição: a) O governador civil, que dirige; (…) Na

iminência ou ocorrência de acidente grave, catástrofe ou calamidade que afecte todo

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 101

ou parte do distrito, o CDOEPC é activado por decisão do governador civil ou, na

sua ausência ou impedimento e quando a situação o impuser, pelo chefe da delegação

distrital de protecção civil (na actual estrutura, coordenador distrital do centro distrital

de operações de socorro), carecendo, neste caso, de confirmação posterior daquele»

(DL n.º 222/93, 18-6, art.º 11.º).

(11) «São atribuições dos CDOS (…) d) Desenvolver acções de informação, formação,

planeamento, coordenação e controlo (…) g) Assegurar a coordenação das

operações de socorro realizadas pelos corpos de bombeiros; h) Possibilitar a

mobilização rápida e eficiente do pessoal indispensável e dos meios disponíveis que

permitam a direcção coordenada das acções de socorro» (DL n.º 49/2003, de 25-3,

art.º 30.º).

(12) «(…) órgão essencial para assegurar ao Governo o controlo da situação e a

liberdade de acção necessária para as acções a desenvolver em situação de

emergência (…) não só porque a categoria dos representantes dos vários Ministérios

e Instituições que o compõem se fixaram a nível de director-geral, como também

porque a constituição dos Grupos organizados no âmbito do PNE e respectivas

missões estão agora claramente definidas (…)» (Plano Nacional de Emergência, em

vigor por Deliberação do Conselho de Ministros de 1 de Setembro de 1994).

(13) As missões genéricas atribuídas ao PCOB, são (…):

a) A recolha e o tratamento operacional das informações;

b) A preparação das acções a desenvolver;

c) A formulação e transmissão de ordens, directrizes e pedidos;

d) O controlo da execução das ordens;

e) A manutenção das capacidades operacionais dos meios empregues;

f) A gestão dos meios de reserva.

(Portaria n.º 449/2001, de 5-5, art.º 25.º).

(14) «Em cada zona operacional existe um comandante de zona operacional, nomeado pelo inspector distrital (na estrutura actual, coordenador distrital) de entre os

comandantes dos corpos de bombeiros da zona respectiva, sob proposta dos

comandantes dos corpos de bombeiros dessa zona. (…) Ao comandante de zona

operacional compete (…) b) Comparecer no local do sinistro e assumir as funções de comandante das operações de socorro, por solicitação do comandante do corpo

de bombeiros da área presente no teatro de operações ou do inspector distrital»

(Portaria n.º 449/2001, de 5-5, art.º 13.º).

(15) «Em cada sector operacional distrital existe um comandante de sector operacional distrital (CSOD), nomeado pelo inspector distrital de bombeiros (na

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 102

estrutura actual, coordenador distrital) de entre três comandantes dos corpos de

bombeiros do distrito respectivo, propostos pelos comandantes dos corpos de

bombeiros desse distrito. (…) Compete ao comandante de sector operacional, em fase

de operação, comparecer no local do sinistro e assumir as funções de comandante das operações de socorro, sempre que as circunstâncias o aconselhem

ou por solicitação do inspector distrital» (Portaria n.º 449/2001, de 5-5, art.º 12.º).

(16) «No âmbito das suas atribuições, as Forças Armadas prestam a sua colaboração

da seguinte forma:

a) Através do apoio em pessoal não especializado, designadamente para o rescaldo de incêndios (…);

c) Participando em acções de busca e salvamento de pessoas e bens; (…)

d) Mediante a disponibilização de meios de transporte; (…)

f) Através do fornecimento de alimentação, géneros alimentares, abastecimento de água e alojamento de emergência; (…)

h) Efectuando reconhecimentos terrestres, aéreos e marítimos;

i) Prestando apoio em telecomunicações; (…)

(DR n.º 18/93, de 28-6, art.º 3.º).

(17) «Serão promovidas a instrução e formação dos militares para as missões específicas de protecção civil, com a colaboração do Serviço Nacional de Protecção

Civil, Serviço Nacional de Bombeiros ou outras entidades nacionais e estrangeiras»

(Decreto Regulamentar n.º 18/93, de 28-6, art.º 4.º).

(18) «Sempre que os serviços de protecção civil considerem necessário o apoio ao

combate a incêndios florestais, as equipas de sapadores florestais podem ser chamadas a participar à sua ordem, independentemente da natureza das entidades

a que estão vinculadas, tendo sempre salvaguardada a necessidade de protecção das áreas a que se encontrem adstritas» (DL n.º 179/99, de 21-5, art.º 13.º).

(19) «(…) c) Informação e formação das populações, visando a sua sensibilização em

matéria de autoprotecção e colaboração com as autoridades» (Lei n.º 113/91, de 29-8,

art.º 3.º).

(20) «Compete ao comandante operacional dos bombeiros assegurar o rescaldo dos incêndios, podendo para tal solicitar a cooperação da CEFF, da DGF ou do

SNPRCN (na estrutura actual, ICN). (…) É obrigatória a presença do pessoal dos corpos de bombeiros no local do incêndio após a sua extinção e rescaldo durante o

tempo necessário para precaver o seu reacendimento, decorrendo sob a sua

orientação e responsabilidade as operações referidas» (Portaria n.º 341/90, de 7-5,

art.º 13.º).

LIVRO BRANCO – Incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2003 103

(21) «A instrução do pessoal dos corpos de bombeiros é ministrada sob direcção do comandante e de acordo com programas previamente estabelecidos e aprovados

pelo SNB (…) O comandante elabora anualmente um plano de instrução que

estabelece as actividades mínimas a desenvolver pelo seu corpo de bombeiros, de que

dá conhecimento à entidade detentora e submete à aprovação do inspector distrital

de bombeiros» (DL n.º 295/2000, de 17-11, com as alterações introduzidas pelo DL n.º

209/2001, de 28-7, art.º 39.º).

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