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Unidade 2 Coesão textual Apresentando a unidade N esta unidade, identificamos, ilustramos e comentamos os recursos mais eficazes para aumentar a coesão entre as partes dos parágrafos e dos textos. Antes de iniciarmos propriamen-te o tema desta unidade, observe a letra de música abai- xo, que muito se relaciona com o assunto desta unidade. A linha e o linho (Gilberto Gil) É a sua vida que eu quero bordar na minha Como se eu fosse o pano e você fosse a linha E a agulha do real nas mãos da fantasia Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia E fosse aparecendo aos poucos nosso amor Os nossos sentimentos loucos, nosso amor O ziguezague do tormento, as cores da alegria A curva generosa da compreensão Formando a pétala da rosa, da paixão A sua vida, o meu caminho, nosso amor Você a linha e eu o linho, nosso amor Nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa Reproduzidos no bordado A casa, a estrada, a correnteza O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza O texto acima revela a intimidade entre a li- nha e o linho, não só no plano da forma (por cau- sa da estrutura parecida das duas palavras do título), mas também no plano do significado (de- vido a ambas as palavras pertencerem ao campo da costura). Observe que o conteúdo dialoga di- retamente com a noção de coesão textual, que es- tudaremos nesta unidade, afinal é o fenômeno da coesão que “costura” as partes de um texto, ga- rantindo-lhe coerência e clareza. Nas próximas seções, você estudará os mecanismos que deve empregar em seus textos, para que sejam sem- pre coesos e bem articulados. Definindo os objetivos Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: 1. compreender a noção de coesão textual e sua importância para uma boa legibilidade dos textos; 2. identificar as estratégias textuais que assegu- ram coesão ao discurso; 3. reconhecer e corrigir falhas textuais que com- prometam a coesão do discurso; 4. produzir textos mais coesos. Conhecendo a coesão textual Muitas vezes, ao escrever- mos, temos boas ideias, mas sentimos dificul- dades para relacioná-las. Se não tomarmos cui- dado, podemos acabar por lançar no papel uma série de frases gramaticalmente corretas, mas que não se relacionam de forma clara entre si. Para que um conjunto de frases se torne um tex- to, é preciso que haja coesão: que as ideias se entrelacem, completando-se e retomando-se, de modo que as frases sigam um fluxo lógico e con- tínuo, não parecendo blocos isolados. Quando um texto está coeso, temos a sensação de que sua leitura “flui” com facilidade. A origem do termo texto remete a tecido: um texto, como um tecido, deve entretecer seus fios de ideias, de modo que, nos pontos em que essas ideias se tocam, se estabeleça a coesão tex- tual. Para entender isso melhor, observe o con- to abaixo, escrito por Clarice Lispector. Em sua composição, a autora, para encadear as partes do texto de forma clara e criativa, utiliza-se de uma série de estratégias linguísticas, de modo a evitar a repetição sistemática de palavras e a ligar de forma lógica as ideias. Para fins didáticos, desta- camos apenas alguns dos mecanismos de coesão que aparecem nesse texto, os quais serão explo- rados mais aprofundadamente ao longo da unida- de. Por enquanto, reflita sobre a importância das palavras em destaque na composição do conto. Uma esperança Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusó- ria, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto.

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Unidade 2

Coesão textual

Apresentando a unidade

Nesta unidade, identificamos, ilustramos e comentamos os recursos mais eficazes para aumentar a coesão entre as partes

dos parágrafos e dos textos.Antes de iniciarmos propriamen-te o tema

desta unidade, observe a letra de música abai-xo, que muito se relaciona com o assunto desta unidade.

A linha e o linho(Gilberto Gil)

É a sua vida que eu quero bordar na minhaComo se eu fosse o pano e você fosse a linhaE a agulha do real nas mãos da fantasiaFosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-diaE fosse aparecendo aos poucos nosso amorOs nossos sentimentos loucos, nosso amorO ziguezague do tormento, as cores da alegriaA curva generosa da compreensãoFormando a pétala da rosa, da paixãoA sua vida, o meu caminho, nosso amorVocê a linha e eu o linho, nosso amorNossa colcha de cama, nossa toalha de mesaReproduzidos no bordadoA casa, a estrada, a correntezaO sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

O texto acima revela a intimidade entre a li-nha e o linho, não só no plano da forma (por cau-sa da estrutura parecida das duas palavras do título), mas também no plano do significado (de-vido a ambas as palavras pertencerem ao campo da costura). Observe que o conteúdo dialoga di-retamente com a noção de coesão textual, que es-tudaremos nesta unidade, afinal é o fenômeno da coesão que “costura” as partes de um texto, ga-rantindo-lhe coerência e clareza. Nas próximas seções, você estudará os mecanismos que deve empregar em seus textos, para que sejam sem-pre coesos e bem articulados.

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

1. compreender a noção de coesão textual e sua importância para uma boa legibilidade dos textos;2. identificar as estratégias textuais que assegu-ram coesão ao discurso;3. reconhecer e corrigir falhas textuais que com-prometam a coesão do discurso;4. produzir textos mais coesos.

Conhecendo a coesão textual

Muitas vezes, ao escrever-mos, temos boas ideias, mas sentimos dificul-dades para relacioná-las. Se não tomarmos cui-dado, podemos acabar por lançar no papel uma série de frases gramaticalmente corretas, mas que não se relacionam de forma clara entre si. Para que um conjunto de frases se torne um tex-to, é preciso que haja coesão: que as ideias se entrelacem, completando-se e retomando-se, de modo que as frases sigam um fluxo lógico e con-tínuo, não parecendo blocos isolados. Quando um texto está coeso, temos a sensação de que sua leitura “flui” com facilidade.

A origem do termo texto remete a tecido: um texto, como um tecido, deve entretecer seus fios de ideias, de modo que, nos pontos em que essas ideias se tocam, se estabeleça a coesão tex-tual. Para entender isso melhor, observe o con-to abaixo, escrito por Clarice Lispector. Em sua composição, a autora, para encadear as partes do texto de forma clara e criativa, utiliza-se de uma série de estratégias linguísticas, de modo a evitar a repetição sistemática de palavras e a ligar de forma lógica as ideias. Para fins didáticos, desta-camos apenas alguns dos mecanismos de coesão que aparecem nesse texto, os quais serão explo-rados mais aprofundadamente ao longo da unida-de. Por enquanto, reflita sobre a importância das palavras em destaque na composição do conto.

Uma esperança

Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusó-ria, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto.

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22 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

Houve um grito abafado de um de meus filhos:

– Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem ida-de para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser.

– Ela quase não tem corpo, queixei-me. – Ela só tem alma, explicou meu filho e,

como filhos são uma surpresa para nós, desco-bri com surpresa que ele falava das duas espe-ranças.

[...]Foi então que farejando o mundo que é

comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia “a” aranha. An-dando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, quería-mos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança:

– É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...

– Mas ela vai esmigalhar a esperança! res-pondeu o menino com ferocidade.

[...]

Para encadear os aconteci-mentos da narrativa, mos-trando que todos estão rela-cionados ao animal chamado

esperança, a autora utilizou uma série de pala-vras e expressões que remetem à criatura que dá título ao conto: uma esperança, a clássica, que, a outra, o inseto, ela, entre outras. Assim, o texto não peca pela repetição desnecessária de palavras.

O encadeamento dos fatos referentes a essa criatura também é garantido por outras palavras, que estabelecem relações de senti-do entre os acontecimentos da narrativa; entre elas, destacam-se e, mas, e então. No trecho “Pequeno rebuliço: mas era indubitável”, a pa-lavra mas estabelece uma oposição entre as ca-racterísticas atribuídas ao rebuliço: pequeno, porém indubitável.

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1Observe o resumo abaixo, referente ao

artigo “Pedagogia de projetos”, de Lúcia Helena Alvarez Leite. Após uma primeira leitura para tomar ciência do sentido global do texto, des-taque, em uma segunda leitura, algumas das ex-pressões que estabelecem coesão entre as ideias apresentadas no resumo. Proceda de maneira semelhante à apresentada na análise do conto de Clarice Lispector.

RESUMO: A discussão sobre Pedagogia de Projetos não é nova. Ela surge no início do século, com John Dewey e outros pensadores da chamada “Pedagogia Ativa”. Já nessa época, a discussão esta-va embasada numa concepção de que “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura e a escola deve representar a vida pre-sente – tão real e vital para o aluno como o que ele vive em casa, no bairro ou no pátio” (DEWEY, 1897).

Os tempos mudaram, quase um século se passou e essa afirmação continua ainda atual. A discussão da função social da escola, do signi-ficado das experiências escolares para os que dela participam foi e continua a ser um dos as-suntos mais polêmicos entre nós, educadores. As recentes mudanças na conjuntura mundial, com a globalização da economia e a informatiza-ção dos meios de comunicação, têm trazido uma série de reflexões sobre o papel da escola dentro do novo modelo de sociedade, desenhado nesse final de século.

É nesse contexto e dentro dessa polêmi-ca que a discussão sobre Pedagogia de Projetos, hoje, se coloca. Isso significa que é uma discussão sobre uma postura pedagógica e não sobre uma técnica de ensino mais atrativa para os alunos.

Conhecendo os recursos de coesão textual

Para conectar e relacionar as partes de um texto, vários mecanismos podem ser adotados. A seguir, encontram-se os dois principais tipos de recursos de que você pode se valer para garantir coesão e legibilidade àqui-lo que escreve:

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23Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica

1. Coesão referencialA coesão referencial é estabelecida por

meio de expressões que retomam ou antecipam ideias. Esse tipo de coesão serve para evitar a re-petição desnecessária de termos, além de garan-tir que uma informação nova esteja conectada a outra que já havia sido mencionada. Tal articu-lação pode se dar basicamente de duas formas, como estudaremos a seguir:

1.1. Emprego dos pronomes na coesão referencial

Observe o trecho abaixo, retirado do arti-go “Esporte e saúde”, de Selva Maria Guimarães Barreto. Preste atenção ao papel dos pronomes (em negrito) na articulação do texto.

Esporte e Saúde

Nos cursos de Educação Física está ocor-rendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação entre “Esporte e Saúde”. Esta vinculação, infe-lizmente, não é a mais usual, pois geralmente é substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhe-cimento popular, uma relação que aparenta ser uma verdade absoluta, quando não, obrigato-riamente, é. Os novos conceitos trabalhados relacionam Esporte, Saúde e Qualidade de Vida, de maneira a levantar o debate para refletirmos sobre os mesmos.

O Esporte, como conceito, é conside-rado uma atividade metódica e regular, que associa resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indi-víduos. Esta é a conotação que podemos cha-mar de “Esporte de alto nível”, veiculada nas mídias em geral, representada por pessoas executando gestos extremamente mecaniza-dos, uniformes, com um certo gasto de energia para produzir um determinado tipo de movi-mento repetidas vezes. São gestos plásticos, muito organizados, moldados e com muitas re-gras, para que se possa obter algum resultado prático. O Esporte pode ser encarado, dentro de outras ópticas, tanto como o Esporte vei-culado nas mídias, como uma atividade dentro de um grupo de amigos (na escola, na rua ou qualquer local).

[...]

Você já deve ter passado por problemas enquanto escrevia, porque não queria repetir desnecessariamente uma palavra. Evitar a reu-tilização excessiva de determinada expressão garante elegância ao seu texto, revelando uma elaboração cuidadosa. Os pronomes, como você viu, são bastante úteis para esse fim, pois per-mitem o encadeamento de ideias e podem subs-tituir os termos a que se remetem. Observe a seguir como tal recurso foi empregado no artigo “Esporte e saúde”.

“Nos cursos de Educação Física está ocor-rendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos [...]”

No trecho acima, o pronome que evitou a repetição de revolução. Assim, a autora ganhou em coesão, pois o trecho, sem o pronome, ficaria da seguinte forma:

Nos cursos de Educação Física está ocorren-do uma revolução. A revolução vem provocan-do questionamentos sobre alguns conceitos.

De maneira semelhante, o texto apresenta o período abaixo:

“O Esporte, como conceito, é considera-do uma atividade metódica e regular, que asso-cia resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indivíduos”.

Tal frase poderia ser desdobrada em duas outras, mas isso atrapalharia uma leitura fluente do texto, tornando-o repetitivo. Observe:

O Esporte, como conceito, é considerado uma atividade metódica e regular. A ativida-de metódica e regular associa resultados con-cretos referentes à anatomia dos gestos e à mobi-lidade dos indivíduos.

Há outros pronomes como esses (prono-mes relativos), que ligam duas orações e evitam a repetição de termos, como você verá a seguir:

l ONDE – Esse pronome relativo, embora empregado com frequência nos textos veicu-lados pela mídia, tem um uso bastante restri-to: segundo a gramática tradicional, tal pro-nome pode apenas indicar a noção de “lugar”.

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24 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

Exemplos:O Brasil é um país onde o incentivo à edu-

cação é primordial.A frase está correta de acordo com a nor-

ma dita culta, pois o pronome onde retoma a pa-lavra país, que indica a noção de “lugar em que”.

l CUJO – Tal pronome estabelece, geral-mente, relação de posse entre dois substantivos. Observe que ele deve concordar com o termo que o sucede, o qual não pode vir acompanhado por um artigo.

Exemplos:(a) Machado de Assis é um autor cujas

obras são estudadas até hoje.A frase (a) está de acordo com a norma

culta, pois cujo está conectando dois substan-tivos (autor e obras), estabelecendo entre eles uma relação de posse, pois as obras pertencem ao autor. Veja agora:

(b) Animais cujos os filhos são amamenta-dos são chamados de mamíferos.

A frase (b) estabelece uma relação de posse entre dois substantivos (animais e filhos), mas erra ao pôr o artigo os entre cujos e filhos.

l O QUE – Essa expressão não substitui, como os pronomes relativos anteriormente men-cionados, uma palavra, mas sim uma oração in-teira. Observe:

Exemplo: A democracia eletrônica permi-te uma eficaz articulação entre cidadão e gover-no, o que facilita processos de consulta pública, como referendos via Internet.

Na frase acima, o que evita a repetição não de uma palavra, mas de toda a oração que o antece-de, funcionando como o sujeito do verbo facilitar.

Além dessas, há outras estratégias no uso do pronome que estabelecem coesão entre as partes de um texto. Observe o exemplo retirado do texto de “Esporte e saúde”:

“Nos cursos de Educação Física está ocor-rendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação entre ‘Esporte e Saúde’. Esta vinculação, infelizmente, não é a mais usual, pois geralmente é substituída por ‘Esporte é Saúde’ pelo conhecimento popu-lar, uma relação que aparenta ser uma verdade absoluta, quando não, obrigatoriamente, é”.

Veja que, dessa vez, o pronome não co-nectou duas orações em uma mesma frase, mas duas frases diferentes. Geralmente, isso é fei-to por um pronome como “esse(a)”, “este(a)”, “isso” ou “isto”. Tais palavras, chamadas pro-nomes demonstrativos, costumam apontar para outra ideia no texto, que já tenha sido menciona-da ou que ainda será expressa. No exemplo ana-lisado, o pronome “esta”, ligado a “vinculação”, refere-se à ideia vinculada em “Esporte e Saúde”, expressão que já havia sido mencionada na frase anterior. No entanto, é preciso observar que a maioria dos gramáticos tradicionais preferem o uso de “esse”, “essa” e “isso”, quando o pronome se refere a algo que já foi dito. Assim, uma me-lhor redação do trecho seria:

Nos cursos de Educação Física está ocorren-do uma revolução, que vem provocando questio-namentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação entre “Espor-te e Saúde”. Essa vinculação, infelizmente, não é a mais usual, pois geralmente é substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhecimento popular, uma relação que aparenta ser uma verdade abso-luta, quando não, obrigatoriamente, é.

Situação semelhante ocorre no trecho abaixo, extraído do mesmo artigo:

“O Esporte, como conceito, é considera-do uma atividade metódica e regular, que asso-cia resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indivíduos. Esta é a conotação que podemos chamar de “Espor-te de alto nível”, veiculada nas mídias em geral, representada por pessoas executando gestos extremamente mecanizados, uniformes, com um certo gasto de energia para produzir um deter-minado tipo de movimento repetidas vezes”.

O pronome “esta” retoma o conteúdo de toda a frase anterior, atribuindo-lhe os novos sentidos da segunda frase. No entanto, como se trata de remissão a algo que já havia sido dito, seria mais adequado o uso de “essa”.

Geralmente, os pronomes “este”, “esta” e “isto” referem-se a algo que ainda será mencio-nado. Observe a frase abaixo como modelo, pois o pronome “isto” aponta não para uma informa-ção anterior, mas para algo que se apresenta de-pois dele: a palavra violência.

Exemplo: O que me assusta no Brasil é isto: a violência.

É importante atentar, além disso, para uma construção muito comum em textos acadê-

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micos, em que há duas referências consecutivas a termos que foram mencionados.

Exemplo: O Brasil exporta cacau e soja. Esta é plantada na região Sul; aquele, no Nordeste.

Embora ambos os pronomes em destaque re-firam-se a palavras já mencionadas, não se usam os pronomes “esse”, “essa” e “isso” nesse caso. Conven-cionou-se que, em situações como essa, devem-se usar “este”/“esta”/”isto” para apontar para a palavra mais próxima (“soja”) e “aquele”/“aquela”/“aquilo” para a palavra mais distante (“cacau”).

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto, que

tal pôr em prática o que você acabou de ver na uni-dade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2Os trechos abaixo poderiam se tornar

mais coesos, caso fosse empregado o recurso da coesão referencial. Aplique tal estratégia coesi-va, unindo as informações em uma única frase.

1. Este é o país. Moro no país.2. Este é o país. O país se chama Brasil.3. Não se sabe onde está o livro. Dependo

do livro para fazer um trabalho.4. Perguntei-lhe o nome. Baseou-se no

nome para tomar sua decisão.5. Os Estados Unidos conduziram uma in-

cursão destruidora no Iraque. Os soldados dos Estados Unidos alegavam defender sua pátria.

6. O corpo humano é percorrido por um sistema circulatório. Pelo sistema circulatório são conduzidos os nutrientes às células.

7. O verbo concorda com o sujeito. O nú-cleo do sujeito não pode ser uma preposição.

8. O Brasil foi descoberto pelos portugue-ses. Nos navios dos portugueses foi transporta-do pau-brasil.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteú-do aqui estudado.

Atividade 3Observe os parágrafos abaixo e identifi-

que neles problemas decorrentes do mau uso das estratégias de coesão referencial.

1. Giddens descreve o surgimento da Teo-ria da estruturação a partir do encontro de várias correntes teóricas com as quais foi se familiarizan-do nos anos 60, como o Marxismo. Pontua o seu princípio na continuidade da vida social, em que as estruturas dependem das ações dos indivíduos e só existem na medida em que as pessoas agem no contexto a partir de seu referencial interno.

2 . “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Essa citação do poeta brasileiro Vinícius de Moraes mostra-se não só politica-mente incorreta, mas também caduca nos dias de hoje. A atualidade enxerga a mulher sob uma nova perspectiva, não mais atrelada à sua cons-tituição física, como um objeto, mas voltada para aspectos como força de trabalho, produção intelectual e igualdade de direitos. Ela revela, as-sim, mudanças profundas em sua constituição.

1.2. Emprego de itens do léxico na coesão referencial

Quando você escreve um texto, interrom-pe mais de uma vez o processo de composição, em busca de expressão que substitua alguma palavra que você já utilizou. A coesão lexical co-necta as partes do texto e evita a repetição voca-bular, por meio do uso de substantivos, verbos e adjetivos, o que exige um vocabulário amplo, adquirido com a leitura constante e frequentes consultas ao dicionário. Para entender melhor esse tipo de estratégia coesiva, observe o trecho abaixo, retirado do artigo “Análise da publicidade de medicamentos veiculada em Goiás – Brasil”, de Johnathan S. de Freitas et alii:

A propaganda/publicidade é um conjunto de técnicas utilizadas com o objetivo de divulgar conhecimentos e/ou promover adesão a princí-pios, ideias ou teorias, visando exercer influên-cia sobre o público através de ações que objeti-vem promover determinado medicamento com fins comerciais (BRASIL, 2000). Quando tais téc-nicas são utilizadas apenas com a finalidade de ampliar lucros em detrimento da qualidade da informação veiculada, ocultando ou diminuin-do os aspectos negativos e superestimando os benefícios do produto medicamentoso, surgem questões de cunho ético, uma vez que, podem promover o uso irracional de medicamentos e,

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consequentemente, danos à saúde e à economia. [...]Existem diversos casos em que a propaganda e publicidade de medicamentos têm apresenta-do estes produtos como soluções rápidas para diversos problemas de saúde que acometem a população, sem levar em consideração o risco sanitário intrínseco que todo produto medica-mentoso possui.Para evitar a repetição desnecessária de pala-

vras, o autor usou expressões como “produto medicamentoso” e simplesmente “produto” para se referir a medicamento, garan-

tindo a coesão textual. Veja a seguir algumas es-tratégias para o bom uso de itens do léxico a fim de tornar seus textos mais coesos.

1.2.1. Uso de sinônimosEssa é a estratégia a que mais recorremos

enquanto escrevemos, embora nem sempre seja fácil encontrar um sinônimo. Dificilmente um par de sinônimos pode ser considerado perfeito, isto é, com um elemento podendo ser trocado pelo outro em qualquer contexto. Quando você leu o texto acima, deve ter se perguntado por que o autor não usou a palavra “remédio” para se referir a “medicamento”. Tal substituição não foi feita, pois, como acabamos de ver, esse não é um par de sinônimos perfeitos. Segundo o Gran-de Dicionário Português ou Tesouro da Língua Por-tuguesa, de Domingos Vieira, “Remédio tem um sentido mais amplo que medicamento. O remé-dio compreende tudo o que é empregado para a cura de uma doença. [...] O exercício pode ser um remédio, porém nunca é um medicamento”.

Assim, é preciso ter cuidado no uso de sinônimos, especialmente no texto acadêmico, do qual se espera grande precisão. No texto que estamos analisando, o autor preferiu utilizar “produtos medicamentosos” como sinônimo de “medicamentos”.

1.2.2. Uso de hiperônimosUm hiperônimo é uma palavra com sentido

mais genérico do que uma outra, chamada de hipôni-mo. O significado de um hiperônimo contém o signifi-cado de vários hipônimos ao mesmo tempo, como no caso de “produtos” (hiperônimo) e “medicamentos” (hipônimo), palavras retiradas do artigo aqui anali-sado. Ao se referir a “produtos”, o autor nos remete diretamente a “medicamentos”, único produto que já havia sido citado. No entanto, se o texto também

falasse de cosméticos, seria necessário buscar ou-tra forma de estabelecer coesão, pois “produtos” en-globa tanto “medicamentos” quanto “cosméticos”. Tal relação pode ser definida da seguinte forma:

Essa estratégia garante que o leitor recu-pere a relação entre as partes do texto sem que o autor precise repetir desnecessariamente pala-vras. Você deve tomar cuidado, porém, para não usar um hiperônimo vago demais, como “coisa”, por exemplo. Tal palavra poderia ser interpretada como se referindo a praticamente qualquer item mencionado no texto, gerando grave ambiguidade.

1.2.3. Uso de perífrasesA perífrase é uma construção complexa

para designar algo para o qual há uma expressão mais simples. No caso do texto analisado, o au-tor poderia ter empregado uma perífrase para re-meter a “medicamentos”, escrevendo, por exem-plo, “substâncias empregadas no tratamento de uma afecção ou de uma manifestação mórbida”. Para isso, o uso de dicionários e de boas fontes de consulta é imprescindível, de modo que você possa apresentar informações precisas.

A perífrase permite que você acrescente novos dados ao tópico sobre o qual você está escrevendo, como propusemos ao criar a perí-frase “substâncias empregadas no tratamento de uma afecção ou de uma manifestação mórbi-da”. Nesse caso, tal construção acrescentaria ao texto uma informação sobre a função do medi-camento.

O uso das perífrases pode ser útil para você reforçar seu ponto de vista ao longo de um texto dissertativo. Veja a seguir dois exemplos:

Exemplos:(a) Deve ser permitido o porte de armas

a civis, pois a sociedade está cada vez mais vio-lenta. É impensável a vida em uma grande socie-dade sem esses instrumentos que garantem a autodefesa do cidadão.

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27Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica

(b) Apesar da crescente onda de violência nas grandes capitais, deveria ser proibido a civis o porte de armas. É absurdo haver cidadãos co-muns portando esses instrumentos de ameaça à vida e à integridade física do outro.

Em (a), sendo o autor favorável ao porte de armas, valeu-se de uma perífrase (em negri-to) que reforça essa ideia, valorizando as vanta-gens trazidas por esses instrumentos. Por outro lado, como em (b) o autor é contrário ao porte de armas, utilizou uma perífrase que reafirma tal ponto de vista, destacando as consequências ne-gativas do uso desses objetos.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 4 Observe o trecho abaixo, retirado do ar-

tigo “Edifícios ecológicos”, de Francisco Maia Neto. Identifique, no texto, os itens lexicais que retomam a palavra em destaque, estabelecendo com ela coesão referencial:

Criticada mundialmente pela pouca preo-cupação com o meio ambiente, a China anun-ciou recentemente que está investindo em cons-truções ambientalmente responsáveis, tendo sido lançado seu primeiro edifício ecológico, com uma economia de até 70% de energia e 60% de água, o que lhe valeu uma certificação inter-nacional.

Concebida por profissionais americanos e chineses, esta construção destinada a escri-tórios constitui-se no primeiro edifício no país a receber o “LEED”, sigla em inglês de Liderança em Energia e Design Ambiental, que é um certi-ficado criado por um grupo de empresários da construção nos Estados Unidos, preocupados com a preservação do meio ambiente.

Para imaginarmos a dimensão da iniciati-va, foi feita uma projeção sobre o impacto que resultaria se esta tecnologia fosse aplicada em todos os edifícios comerciais na China. A econo-mia energética obtida anualmente seria equiva-lente à Usina Hidrelétrica de Três Gargantas, o megaprojeto chinês do Rio Yangtse, com capa-

cidade de 18.200 megawatts, que fará com que supere Itaipu, transformando-se na maior usina do mundo.

O projeto contempla iniciativas que come-çam pelo telhado, cujo terraço acumula 70% da água da chuva e filtra os agentes poluentes, utili-zando espécies naturais de Pequim, além de pai-néis solares, que fornecem 10% de toda a energia consumida no edifício.

2. Coesão sequencialPara que um texto seja coeso, não basta

evitar a repetição desnecessária de palavras, re-tomando, pelos mecanismos que vimos acima, termos que já haviam sido mencionados. É pre-ciso também estabelecer relações lógicas entre as ideias expressas, o que é especialmente im-portante em gêneros de escrita acadêmica.

Para estabelecer relações lógicas entre as ideias, utilizamos conectivos, como preposições e conjunções. Observe o trecho abaixo, retira-do do artigo “Mensuração da glicemia em cães mediante a utilização do glicosímetro portátil: comparação entre amostras de sangue capilar e venoso”, de G. A. S. Aleixo. Atente para os conec-tivos em negrito e sua função no encadeamento das ideias:

A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia, por isso é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio (BUSH, 2004). Níveis gli-cêmicos alterados (elevação ou redução) trazem consequências negativas para o corpo e a manei-ra mais adequada de reduzir essas complicações é tentando manter o equilíbrio. Para isso se faz necessário realizar medições da glicemia (PICA et al., 2003).

As diferentes técnicas de monitoramento da glicose no sangue podem ser classificadas em laboratorial e portátil. A primeira opção é mais confiável, entretanto, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais (PICA et al., 2003). Outra des-vantagem observada é a necessidade de maiores volumes de sangue (três mililitros) para realizar o teste (GROSS et al., 2002).

Além disso, é preciso muito cuidado e agilidade ao manipular uma amostra que será submetida à dosagem de glicose no laboratório, pois o consumo desse carboidrato pelos eritró-citos no sangue ocorre na taxa de aproximada-mente 10% por hora em temperatura ambiente.

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Esse consumo pode ser ainda mais acelerado se a amostra estiver contaminada com microrga-nismos ou em ambientes quentes (COLES, 1984; KANEKO, 1997).

Logo na primeira frase, as duas principais ideias (o aproveitamento da glicose e a necessidade de manter sua concentração equilibrada são ligadas pelo conectivo “por isso”. A escolha dele estabelece entre essas ideias uma relação de conclusão, de modo que, em consequência do constante aproveitamento da glicose, seja necessário manter sua concen-tração no sangue em equilíbrio.

Observe agora o período: “A primeira op-ção é mais confiável, entretanto, por gerar maio-res custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais”. Nessa frase, há mais de um conectivo estabelecendo relações ló-gicas entre as ideias. A palavra “entretanto”, por exemplo, indica uma oposição, contrastando a confiabilidade (aspecto positivo) e a restrição (aspecto negativo) das técnicas laboratoriais de monitoramento da glicose. Já a palavra “por” in-dica um valor de causa, de modo que a geração de maiores custos é o motivo de restringir tais técnicas. Por fim, o conectivo “e” tem valor de adição, somando os locais a que se restringem as técnicas laboratoriais de monitoramento da glicose: clínicas e hospitais.

A seguir apresentamos as principais ideias que os conectivos podem acrescentar ao enca-deamento da frase.

2.1. Relação de causa-consequênciaEssa é uma das relações mais comuns na

construção de um texto. É possível estabelecê-la por uma série de mecanismos diferentes. Como exemplo, vamos retomar uma frase do texto.

“A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia, por isso é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio”.

Conforme você já viu, esse conectivo in-troduz uma ideia de consequência a algo que ha-via sido dito antes. Essa frase poderia também ter sido dita de outras formas. Veja:

Exemplos:(a) A glicose é constantemente aproveita-

da pelas células do corpo como fonte de energia,

logo é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

(b) A glicose é constantemente aproveita-da pelas células do corpo como fonte de energia, portanto é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

(c) A glicose é constantemente aproveita-da pelas células do corpo como fonte de energia; é necessário, pois, manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

(d) A glicose é constantemente aproveita-da pelas células do corpo como fonte de energia, de modo que é necessário manter sua concen-tração no sangue em equilíbrio

Observe que em (c) há uma construção pouco comum na fala cotidiana. Geralmente, a palavra “pois” é empregada para introduzir uma causa. Na frase que estamos analisando, no en-tanto, esse conectivo está introduzindo uma con-sequência. Para isso, deve ser posicionado após o verbo da oração em que se encontra.

Outros conectivos que expressam rela-ções de consequência (ou conclusão) são assim, então, por conseguinte, em vista disso.

Se você inverter a estrutura dessa frase, passando o conectivo para a outra oração, não haverá mais ideia de consequência, mas sim de causa. Na verdade, essas ideias estão intima-mente relacionadas. Observe:

(a) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, porque ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

(b) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, pois ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

(c) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, visto que ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

(d) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, já que ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

Observe que em (b) o emprego da palavra “pois” corresponde ao uso mais frequente na lín-gua. Nesse caso, para expressar ideia de causa, esse conectivo deve ser posicionado antes do verbo da oração em que se encontra.

Outros conectivos que expressam relações de causa são dado que, como, uma vez que, por-

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quanto, por, por causa de, em vista de, em vir-tude de, devido a, por motivo de, por razões de.

2.2. Relação de oposiçãoObserve a frase: “A primeira opção é mais confiável, en-

tretanto, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais”.

A palavra “entretanto” realça o contraste que há entre a confiabilidade e a restrição da “pri-meira opção”. Tal frase poderia ser reescrita de vá-rias outras formas, mantendo seu sentido básico.

Exemplos:(a) A primeira opção é mais confiável, mas,

por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b) A primeira opção é mais confiável, porém, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(c) A primeira opção é mais confiável, no entanto, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(d) A primeira opção é mais confiável, todavia, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(e) A primeira opção é mais confiável, contudo, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

Veja que, embora todos esses conectivos expressem basicamente a mesma ideia, têm um comportamento sintático diferente: à exceção de “mas”, todos os outros têm mobilidade na oração, podendo ser posicionados em diferentes locais da frase.

Exemplos:(b.1) A primeira opção é mais confiável;

por gerar maiores custos, porém, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.2) A primeira opção é mais confiável; por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos la-boratórios de análises clínicas e hospitais, porém.

Da mesma maneira que na seção referente às relações de causa-consequência, você tem a opção de mudar o conectivo de oração para ex-

pressar uma mesma oposição. No entanto, em-bora a relação entre as ideias continue sendo de oposição, a ênfase muda. Veja:

Exemplos:(a) A primeira opção é mais confiável, mas

seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b) Embora a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

O conectivo “mas” e seus equivalentes, vistos acima, introduzem a oração a que se quer dar ênfase. O conectivo “embora” e seus equiva-lentes, vistos a seguir, reduzem a importância do fato expresso pela oração que introduzem.

Veja agora construções equivalentes às de (b).

Exemplos:(b.1) Apesar de que a primeira opção seja

mais confiável, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

(b.2) Mesmo que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

(b.3) Ainda que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

(b.4) Posto que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.5) Não obstante a confiabilidade da pri-meira opção, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

(b.6) Malgrado a confiabilidade da primei-ra opção, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.7) A despeito da confiabilidade da pri-meira opção, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

2.3. Relação de condiçãoObserve a frase a seguir, retirada do artigo

que estamos analisando: “Esse consumo pode ser ainda mais acelerado se a amostra estiver contaminada com microrganismos ou em am-bientes quentes”.

Nesse caso, o conectivo “se” apresenta a contaminação da amostra como uma condição para a aceleração do consumo. Veja que, com algumas modificações nos tempos verbais, essa frase poderia ser escrita de outras maneiras.

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Exemplos:(a) Esse consumo pode ser ainda mais

acelerado caso a amostra esteja contaminada com microrganismos ou em ambientes quentes.

(b) Esse consumo pode ser ainda mais ace-lerado, desde que a amostra esteja contaminada com microrganismos ou em ambientes quentes.

(c) Esse consumo pode ser ainda mais ace-lerado, contanto que a amostra esteja contamina-da com microrganismos ou em ambientes quentes.

2.4. Relação de finalidadeObserve agora o seguinte trecho retirado

do texto: “Níveis glicêmicos alterados (elevação ou redução) trazem consequências negativas para o corpo e a maneira mais adequada de re-duzir essas complicações é tentando manter o equilíbrio. Para isso se faz necessário realizar medições da glicemia”.

Nesse contexto, o conectivo “para isso” estabelece que a manutenção do equilíbrio é a finalidade (ou objetivo) das medições da glice-mia. Veja, abaixo, como essas ideias poderiam ser reunidas em apenas uma frase, por meio de diferentes conectivos.

Exemplos:(a) Para que se mantenha o equilíbrio, faz-

se necessário realizar medições da glicemia.(b) A fim de que se mantenha o equilíbrio,

faz-se necessário realizar medições da glicemia.(c) Com o objetivo de manter o equilíbrio,

faz-se necessário realizar medições da glicemia.(d) Com o intuito de manter o equilíbrio,

faz-se necessário realizar medições de glicemia.Observe, por fim, que há outras relações

lógicas que podem ser estabelecidas por conec-tivos, como adição, tempo, conformidade, com-paração, proporcionalidade etc.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 5Observe abaixo o trecho retirado do arti-

go “A dependência química”, de Júlio Cruz. Iden-

tifique o valor semântico dos conectivos em des-taque e sugira outros que possam substituí-los, sem acarretar mudanças no significado básico:

A série de capítulos penosos protagoniza-da pelo ator global Fábio Assunção traz à baila mais uma vez a discussão da temática que mais tem afligido nossa sociedade nos últimos anos: a dependência química. Uma síndrome caracte-rizada pelo uso de substâncias psicoativas nas quais se incluem o álcool, a maconha, a cocaína e o crack, em troca das sensações de tranquilida-de e de prazer.

Avaliando a intermitente ampliação deste panorama, pode-se perceber quão complexa é a matéria e constatar que a dependência química já faz parte de nossas estatísticas mais nefastas, quando grifam o expressivo número de aciden-tes de trânsito e crimes que têm origem no uso das drogas.

Levar à sociedade um maior número de informações significará permitir compreender que a dependência química é uma doença e não uma opção de vida, e que essa doença gera consequências danosas ao indivíduo e às pes-soas que dele estão próximas. Faz-se relevante compreender que a doença não se inicia com a dependência química, pois, de antemão, o usuá-rio já se encontra doente existencialmente, indo procurar nas drogas a cura de suas feridas mais íntimas, fato reconhecido pela Organização Mun-dial de Saúde.

Por outro lado, a falta de transmissão de notícias precisas acaba gerando conceitos erra-dos, tanto sobre o usuário da droga quanto so-bre o mito que ela tem de solucionar problemas. Nesse sentido, saliente-se que os familiares do usuário são de fundamental importância para o aprendizado de quais atitudes se devem tomar perante tal problema, mesmo porque muitos dos dependentes químicos iniciam seu relacio-namento com drogas exatamente no lugar onde se suporia que estariam mais seguros: dentro de seus próprios lares.

Glossário

lPronome – palavra que substitui ou acompanha nomes;

lNorma dita culta (ou norma-padrão) – variedade linguística de prestígio em uma co-munidade, sendo a forma consagrada em textos acadêmicos e jornalísticos;

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l Léxico – conjunto aberto de palavras da língua, que abrange todos os substantivos, verbos e adjetivos, bem como alguns advérbios.

Referências

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ALEIXO, G. A. S. Mensuração da glicemia em cães mediante a utilização do glicosímetro portátil: comparação entre amostras de sangue capilar e venoso. Disponível em: <http://www.revistavet.byethost13.com/modules/mastop_publish/files/files_47d568db4dab7.pdf>.Acesso em 15 jun. 2009.

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