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Relação de livros para a disciplina Seminários Integrados – 2015-1 Gaibéus - Alves Redol ou O Trigo e o Joio - Fernando Namora; Bolor - Augusto Abelaira ou O Mestre - Ana Hartherly; Um Falcão no punho - Maria Gabriela Llansol ; ou O Vale da Paixão - 2ªedição - Lídia Jorge; ou A Sibila - Augustina Bessa-Luis; Pequenos Burgueses - Carlos de Oliveira; ou O Delfim - José Cardoso Pires; ou As Raízes do Futuro - a Velha Casa 2 - José Régio; O memorial do Convento ou Conto da Ilha desconhecida José Saramago. Outros autores e obras A Menina do Mar - Sophia de Mello Breyner Andresen; Sílvia de Lisardo - os Sonetos - Fiama Hasse Pais Brandão; Lucialima - Maria Velho da Costa; Montedemo - Hélia Correia; O Mundo Sobre o Outro Desbotado, Coleção Fantástico 21 - Maria Isabel Barreno.

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Relação de livros para a disciplina Seminários Integrados – 2015-1

Gaibéus - Alves Redol ou O Trigo e o Joio - Fernando Namora;

Bolor - Augusto Abelaira ou O Mestre - Ana Hartherly;

Um Falcão no punho - Maria Gabriela Llansol ; ou

O Vale da Paixão - 2ªedição - Lídia Jorge;ouA Sibila - Augustina Bessa-Luis;

Pequenos Burgueses - Carlos de Oliveira;ouO Delfim - José Cardoso Pires;ouAs Raízes do Futuro - a Velha Casa 2 - José Régio;

O memorial do Convento ou Conto da Ilha desconhecida – José Saramago.

Outros autores e obras

A Menina do Mar - Sophia de Mello Breyner Andresen;

Sílvia de Lisardo - os Sonetos - Fiama Hasse Pais Brandão;

Lucialima - Maria Velho da Costa;

Montedemo - Hélia Correia;

O Mundo Sobre o Outro Desbotado, Coleção Fantástico 21 - Maria Isabel Barreno.

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RESUMOS DOS LIVROS

É o primeiro romance de Alves Redol, publicado em 1939. Como viria a confirmar-se em obras posteriores, este primeiro trabalho do autor é uma das suas incursões ao país real, rural, de um povo trabalhador e explorado. Conta a vida desses jornaleiros que trabalhavam na monda do arroz numa das lezírias do Ribatejo. Homens e mulheres que vinham de outras terras, como alugados para um trabalho duro, de sol a sol, e de fraca paga. Alves Redol, com uma escrita nascida na oralidade do povo (e por isso o leitor tem de contar com algumas palavras e expressões menos comuns), retrata com um realismo cruel o modo de vida dos gaibéus, que ganhavam o seu sustento na época das mondas do arroz. Os maus-tratos, as más condições de trabalho, a exploração nua e crua, o abismo social entre o proprietário e o assalariado, a resignação e passividade de uns e a consciência e angústia de outros, são o tema deste grande livro desse grande escritor tão pouco lembrado.

O trigo e o joio é um livro sobre as gentes do Alentejo. A narrativa não quer dar envergadura épica ao dia a dia desses sujeitos, mas simplesmente mostrar como há algo digno de ser contado e cantado naquelas operações que eles cumprem todos os dias, do modo de pensar e de conceber as coisas. É justamente por não almejar grandiosidade nem nada transcendental que essa vida carrega algo de inusitado, de misterioso e de fascinante. Namora consegue captar essa aura com uma escritura cadenciada pela quase-fleuma (lento) que caracteriza o ritmo de vida dessas comunidades rurais, sem muitas mudanças ou perspectivas. Falando sobre a obra, aliás, Namora deixa às claras suas intenções: “Gostaria de vos contar coisas dessa gente. Coisas da vila, do Alentejo cálido e bárbaro e dos heróis que lhe dão nervos ou moleza, risos ou tragédia.”

Segundo os críticos e estudiosos, este romance de Augusto Abelaira é considerado um dos livros que marcaram a passagem à pós-modernidade na literatura portuguesa. Foi editado pela primeira vez em 1968. Pelo estilo muito próprio do autor, estilo este presente ao longo da sua obra, trata-se, sem dúvida, de um romance criativo que ultrapassa qualquer classificação ou estilo que se queira atribuir, e que aponta a um modelo de sociedade cujos valores, à época em que foi escrito (também o tempo da ação), quase nada já tinham a ver com as mudanças que surgiram no quotidiano, na consciência e no comportamento das pessoas.

O Mestre conta a história de uma discípula em busca de um mestre que a leve a descobrir o que é o amor. Esse mestre é alguém especial, um indivíduo que se satisfaz com o próprio saber e que encanta os discípulos, contudo, ela acaba por não entender o que sente e, ignorando-o, tenta seduzi-lo. Um livro fabuloso, que marca o existencialismo de Ana Hatherly e que merece atenção pelo humor, pelo drama, pelo conflito do

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amor e do ódio e pela tragédia daí resultante. Um clássico da moderna literatura portuguesa que, edição atrás de edição, tem vindo a marcar gerações de leitores.

Apesar dos signos sugestivos do título, este é um anti-livro-de-ação. Ou melhor: um livro de inação. A inércia, a contemplação interior e exterior, o estranhamento, a transmutação da cultura e da natureza em escrita — são a matéria de Maria Gabriela Llansol. Na verdade, Um Falcão no Punho se refere ao impulso (vital, inevitável, catártico) de escrever, através do qual ela ressensibiliza coisas, fatos e ideias ao seu redor. A interpenetração de vida e escrita é o que a move: “Escrever é o duplo de viver”, ou: “A minha maior responsabilidade é contribuir para que um livro seja um ser”. (...) Llansol cria uma mitologia própria, onde conjuga elementos díspares em improváveis jogos de sentido. (...). Enredo de enigmas. Labirinto de saídas. Eis o chão que Llansol nos convida a pisar, lenta e pausadamente, onde cada frase esconde uma surpresa, um segredo, uma nova pele por baixo de outras, mais profundas, sem perder a superfície, onde as palavras se misturam à matéria incerta do mundo. (por Arnaldo Antunes)

O Vale da Paixão é um romance inusitado de uma autora especial. Lídia Jorge oferece-nos o retrato de uma família, por uma mulher da qual nunca saberemos o nome. O Vale da Paixão é uma das maiores obras da carreira da escritora, é um texto singular, muito diferente dos anteriores no qual a centralidade é dada às emoções que são trabalhadas profundamente, descendo ao mais íntimo das personagens. "O Vale da Paixão" é um romance centrado na figura de uma mulher que nunca surge nomeada, apenas a conhecemos como «a filha de Walter». Todo o texto é dominado pela admiração ilimitada e paixão que esta personagem nutre pelo pai. Situada a narrativa no espaço geográfico imaginário de Valmares, no Algarves, sul de Portugal, a trama desenvolve-se a partir de uma visita que a narradora, inominada, recebe no inverno de 1963. Esse (re)encontro entre a menina e seu tio, Walter Dias, na verdade seu pai biológico, desencadeia uma profunda reflexão sobre raízes, num magnífico ir e vir, no qual passado e presente são embaralhados e reembaralhados, como no início de um jogo de cartas. Ficamos paulatinamente conhecendo a família Dias, cujo patriarca, Francisco, arroga-se direitos medievais sobre os descendentes, e, mais nuclearmente, Custódio, Walter e Maria Ema, atores de uma tragédia.

Publicado em 1953 e desde então recebedor de inúmeros prêmios em Portugal, A Sibila, de Agustina Bessa-Luís, é uma obra de aspecto caudaloso, fruto de uma narração memorialista que não se mostra objetiva ou direta (qualquer fato inspira, no narrador, comentários que se vão encadeando de forma labiríntica e algumas vezes até dispersiva, o que afasta, sem dúvida, o leitor comum da apreciação da obra. Parece a

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lógica da conversa comum, onde os temas ocorrem por uma associação muitas vezes tênue, sem nenhuma lógica de causalidade ou até de parentesco significativo: como quem recorda.). O romance, em que se destaca e se valoriza o universo feminino, tem início contrapondo o ponto de vista de Germa e de Bernardo, que é o gatilho que detonará toda a narrativa sobre a vida de Quina, a protagonista, e serve para apresentar dois modos de vida, que podemos entender como o burguês-urbano (Bernardo) e o rural (Germa). Então, para poder falar de Quina, a personagem principal da obra, é criado todo um contexto, recuando-se às origens de sua família, quando seu pai, Francisco Teixeira, e sua mãe, Maria, conheceram-se. Apesar de a narrativa lembrar um pouco o tom do Realismo-Naturalismo, ela se distancia daquele estilo pelo fato de não se tratar de um romance urbano. Além disso, o seu tão famoso detalhismo é dispersivo e não aquele que, durante a estética do século XIX, servia como embasamento cientificista para a análise da realidade.

Pequenos Burgueses foi publicado pela primeira vez na Coimbra Editora, em 1948. Neste texto apercebemo-nos de uma complexa teia de relações amorosas e familiares, em torno da qual outros acontecimentos, sempre descritos com humor e sarcasmo, curiosos e hilariantes, se desenrolam.Somos absorvidos pelas manias, traumas e psicoses destas personagens, bem como pelo seu modo de vida em que muitas vezes estão implícitas a duplicidade e clandestinidade.Satírica comédia de costumes, "Pequenos Burgueses" põe a descoberto as artimanhas e esquemas de uma classe que vive para as aparências, mas que se acaba por revelar triste e mesquinha....

 Delfim data do tempestuoso ano de 1968 e é apontado como o melhor trabalho de Cardoso Pires. Talvez tenha sido a primeira obra da literatura portuguesa a romper com a cronologia, variando o tempo dos fatos de capítulo a capítulo e dentro de cada capítulo, mas sem criar um imbróglio incompreensível. Lembranças, reflexões e investigações sucedem-se na tela mental do narrador-personagem. Ocorre-nos aproximá-la do Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro, mas sem o esforço de registro da coloquialidade. Não é romance policial, embora tal assertiva tenha pipocado algures. Dada a menção a diversos autores policiais no capítulo XXII, não fica afastada de uma leve mistura, tal como os criadores de cães permitem-se visando fortalecer o sangue do próprio plantel. Nos romances policiais, com perdão de nossas incursões em quantidade inferior à desejada, seguem-se pistas e desvenda-se na conclusão a autoria do crime. N'O delfim, o autor dará pistas que depois deixará de acompanhar e si o leitor não presta atenção, termina a leitura "no ar". Em 2001 a história foi levada ao cinema por Fernando Lopes. "Delfim" era designativo exclusivo do herdeiro do trono francês. Ainda que outro fosse coroado, somente o filho mais velho do rei tinha o direito de ser assim designado. Originou-se no século XIV com a cessão da província do Delfinado (Dauphiné) à Coroa. O Delfim, na França, equivalia ao Príncipe da Beira em Portugal, ao Príncipe do Grão Pará no Brasil, ou ainda, ao Príncipe de Gales da Inglaterra. Cardoso Pires queria referir-se ao indivíduo altivo, destinatário das terras, vícios e virtudes de seus ancestrais, mantenedor das tradições avoengas, mas desprovido de brasão e de título. Não poderia etiquetar seu personagem recorrendo à nobiliarquia lusitana, dada a ausência de termo equiparado. "Infante"

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é no todo inapropriado, por ser dado aos filhos de reis que não os herdeiros principais. Segundo a origem latina, infante é aquele que não fala, e por extensão, aquele sem voz ativa nos negócios do Estado.

É curioso que, embora seja a continuação de "Uma gota de sangue", este segundo livro da série "A velha casa" de José Régio", pode ser lido de forma autônoma, mesmo com as referências ao passado de Lélito no colégio de onde fugiu e a um encontro que o mesmo tem com um prefeito do dito colégio de quem se tornou amigo. Neste livro a principal personagem é verdadeiramente a "velha casa", que ganha vida própria no decorrer da descrição de quem a habita.Régio é um escritor fabuloso e este romance é muito bom.

Entre um evento real e outro, somos apresentados a Baltasar Sete-Sóis eBlimunda. Ele, um ex-combatente que perdera na guerra uma de suas mãos. Ela, uma mulher de dons especiais, cuja mãe havia sido julgada e condenada bruxa pela Santa Inquisição. Blimunda enxerga o que os outros não vêem. Diferentemente da mulher do médico em Ensaio Sobre a Cegueira, a protagonista de Memorial do Convento tem realmente algo de mágico na sua visão: quando está em jejum, ela vê dentro dos olhos daqueles à sua volta e conhece seus desejos e medos mais profundos. Blimunda promete a Baltasar nunca olhar dentro dele, e cumpre sua promessa comendo um pão todos os dias, logo que acorda.

Este é um conto muito especial, pois os personagens não têm nomes e são identificados por sua posição social, abrindo o leque para as desigualdades sociais. O texto traduz um paradoxo superficialmente estranho pela busca do desconhecido. Ocorre à valorização dos anônimos, os mesmos têm o poder de decisão. A situação vivida pelo homem mostra uma burocracia que acontece nos dias atuais. O homem a procura do ″EU″, navegar ao desconhecido a procura do conhecimento de si e de sua própria existência, ou seja, da sua história.