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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARCENTRO DE HUMANIDADES

    DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

    GUILHERME SOBREIRA LOPES

    O QUE TORNA UMA PESSOA ATRAENTE?UMA ANLISE DA INFLUNCIA DOS VALORES HUMANOS NA

    PERCEPO DA ATRATIVIDADE FACIAL

    FORTALEZA2012

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    GUILHERME SOBREIRA LOPES

    O QUE TORNA UMA PESSOA ATRAENTE?UMA ANLISE DA INFLUNCIA DOS VALORES HUMANOS NA

    PERCEPO DA ATRATIVIDADE FACIAL

    Monografia apresentada ao Curso de Psicologia da

    Universidade Federal do Cear como requisito paraaprovao na Disciplina de Monografia em Psicologia.

    Orientador:Prof. Dr. Walberto Silva dos Santos

    FORTALEZA2012

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    GUILHERME SOBREIRA LOPES

    O QUE TORNA UMA PESSOA ATRAENTE?UMA ANLISE DA INFLUNCIA DOS VALORES HUMANOS NA

    PERCEPO DA ATRATIVIDADE FACIAL

    Monografia apresentada a Curso de Psicologia daUniversidade Federal do Cear como requisito paraaprovao na Disciplina de Monografia em Psicologia.

    Aprovada em ___/___/___

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________________Prof. Dr. Walberto Silva dos Santos (Orientador)

    Universidade Federal do Cear-UFC

    ___________________________________________Profa. Ms. Andra Carla Filgueiras Cordeiro

    Universidade Federal do Cear-UFC

    ___________________________________________

    Ms. Sandra de Lucena PronkMestre em Psicologia Social-UFPB

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    Ao Laboratrio Cearense de Psicometria (LACEP).

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    AGRADECIMENTOS

    Antes mesmo de comear a escrever minha monografia, j pensava neste

    momento. Como expressar por meio de palavras a gratido que sinto por tantas pessoas?

    Diante deste impasse, receio no contemplar toda a dimenso da minha gratido.

    Primeiramente, agradeo aos meus pais, por me amarem incondicionalmente e

    me proporcionarem um ambiente favorvel ao meu crescimento pessoal e acadmico, e

    a todos os meus familiares, que, de seu modo, sempre torceram por mim.

    Ao meu orientador e Amigo, Prof. Walberto S. Santos. A ele, sou grato pela

    confiana plena que deposita em mim, pelas horas incontveis de dedicao, pela

    preocupao com o meu futuro e pelo apreo que demonstra com seu jeito paraibano. A

    convivncia com ele me ensinou a valorizar a lealdade, a responsabilidade e o

    companheirismo.

    A todos os membros do Laboratrio Cearense de Psicometria (LACEP) e do

    Bases Normativas do Comportamento Social (BNCS). Sem eles, no teria sido possvel

    realizar este trabalho monogrfico. Obrigado a todos que contriburam com a

    divulgao e que preferiram ocupar suas manhs de janeiro coletando dados, a todos

    que, diariamente, me acolheram nas angstias diante das dificuldades que enfrentei.

    Especialmente, agradeo Darlene Pinho e ao Alex Grangeiro, que me apoiaram em

    meus ltimos flegos para a concluso deste trabalho. A este ltimo, sou grato pelas

    impagveis caronas e pelas conversas que costumam render timas ideias.

    minha namorada Karem, que, com amor, carinho e compreenso, acompanha

    minhas conquistas desde o incio, cantando vitrias e compartilhando dores do jeito que

    s ela sabe. Ao meu irmo Gabriel, pelas risadas, pelo companheirismo, pelo ombro de

    irmo mais velho e pelos bons momentos que guardarei por toda a vida.

    Aos amigos. Prezo por poucos amigos, mas que so os melhores: Rommel Reis,

    Iuri Torquato, Edmundo do Vale, dentre outros dos tempos de colgio, EduardoTaveira, Thicianne Malheiros, Sarah Bonfim, Hermrio Moraes, Emanuela Possidnio e

    David Mendes, com quem tenho o prazer de compartilhar experincias, angstias e

    filosofias. A partir deste ponto, me reservo o direito de no mencionar nomes. A todos

    os meus amigos, meus mais sinceros agradecimentos pelos timos momentos.

    Aos membros da banca, Prof. Dr. Walberto S. Santos, Profa. Ms. Andra Karla

    Filgueiras e Sandra de Lucena Pronk, que dedicaram tempo e intelecto para a leitura e a

    avaliao deste trabalho. A eles, agradeo pelas crticas, sugestes e opinies.Por fim, ao leitor, pelo interesse em ler esta monografia e em fazer cincia.

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    Dizes que a beleza no nada?Imagina um hipoptamo com alma de anjo...

    Sim, ele poder convencer os outros de

    sua angelitude - mas que trabalheira!(Mrio Quintana)

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    RESUMO

    O objetivo principal desta monografia foi avaliar se os valores humanos alteramo modo como as pessoas percebem as outras como atraentes. Para tanto, planejaram-setrs estudos. No primeiro, procurou-se construir um banco de imagens faciais,

    distribudas em funo do sexo (masculino e feminino) e do nvel de atratividade (alto ebaixo). Desta forma, contou-se com 264 sujeitos de uma rede social, com idades entre16 e 60 anos (m = 24 e dp = 6,31), a maioria feminina (62,5%), solteira (58,7%) eheterossexual (89,4%), que indicaram, observando as fotos de perfis de uma rede social,as imagens mais e menos atraentes. Obteve-se um banco de 528 imagens, sendo que,aps uma seleo envolvendo seis critrios pr-estabelecidos, reduziu-se para 160imagens, divididas equitativamente em funo do sexo (masculino e feminino) e donvel de atratividade (alto e baixo). O segundo estudo objetivou avaliar quo as imagensfaciais do Estudo 1 so atraentes, buscando avaliar as diferenas entre os nveis deatratividade das imagens. Neste caso, considerou-se 188 sujeitos da populao geral,com idades entre 15 e 53 anos (m = 23,49 e dp = 5,96), a maioria feminina (51,9%),

    solteira (48,9%) e heterossexual (90,6%). O instrumento foi composto por cadernoscontendo as imagens faciais e por folhas de respostas, de modo que aqueles serviam dereferncia para estes. Foi solicitado aos participantes que assinalassem o quo cadaimagem era atraente, em escala Likert de seis pontos (1 = Pouco atraente e 6 = Muitoatraente). Os resultados indicaram que as faces masculinas e femininas com alto nvelde atratividade se diferenciaram significativamente das com baixo nvel de atratividade,

    possibilitando a realizao do Estudo 3. O ltimo estudo (Estudo 3) objetivou avaliar ainfluncia dos valores humanos na percepo da atratividade, observando se hdiferena entre homens e mulheres. Para tanto, contou-se com 240 sujeitos de uma redesocial, distribudos equitativamente entre as combinaes fatoriais, com idades entre 16e 56 anos (m = 24,71 e dp = 6,79), a maioria solteira (49,1%), heterossexual (92,1%) ecatlica (38,8%). Contou-se com um delineamento fatorial de 2 (sexo) x 2 (nvel deatratividade) x 6 (subfuno valorativa). As combinaes foram organizadas paragarantir uma distribuio amostral equitativa entre si. Os participantes avaliaram o nvelde atratividade de cada imagem combinada com uma subfuno valorativa. Alm disso,responderam o Questionrio de Valores Bsicos, a Escala de Desejabilidade Social deMarlowe-Crowne, o Big Five Inventory e a Escala de Autoestima, alm de perguntasdemogrficas (sexo, idade, classe socioeconmica, religio, orientao sexual, etc). Osresultados evidenciaram que as faces masculinas muito e pouco atraentes com valoresde experimentao apresentaram pontuaes significativamente menores do que suascorrespondentes no Estudo 2. Alm disso, as pontuaes entre as faces femininas muito

    atraentes acompanhadas dos valores e suas correspondentes no Estudo 2 noapresentaram diferenas significativas. Os resultados encontrados parecem suficientespara afirmar que, para esta amostra, os valores humanos, por meio do mecanismo deseleo de parceiros, alteram a percepo da atratividade. Por fim, so sugeridas novas

    pesquisas para reaplicao destes achados.

    Palavras-Chaves: Percepo da atratividade; Atratividade facial; Valores humanos;

    Mecanismos evolutivos; Mecanismo de seleo de parceiros.

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    ABSTRACT

    This study aimed to know whether human values affect the way people perceive othersas attractive. For this, three studies were conducted. At first, we tried to build a databaseof facial images, distributed by gender (male and female) and level of attractiveness

    (low and high). In this study, participated 264 subjects of a social network, with agesbetween 16 and 60 years (m = 24 andsd= 6.31), most women (62.5%), single (58.7%)and heterosexual (89.4%), which indicated, considering the profile pictures of a socialnetwork, the most and the least attractive images. We obtained a database of 528images, and, after filtering involving six pre-established criteria, it was reduced to 160images, divided equally by gender (male and female) and level of attractiveness (lowand high). The second study evaluated the attractiveness level of the facial imagescollected in Study 1, seeking to identify differences between the attractiveness of theimages. In this case, we considered 188 subjects from the general population, aged

    between 15 and 53 years (m = 23.49 and sd = 5.96), most women (51.9%), single(48.9%) and heterosexual (90.6%). The instrument consisted of booklets containing the

    facial images and answer sheets, the first as a reference for the sheets. Participants wereasked to indicate the level of attractiveness of each image, in a six-point Likert scale (1= Not attractive, 6 = very attractive). The results indicated that male and female faceswith a high level of attractiveness differed significantly from the low attractivenessimages, allowing the execution of Study 3. The final study (Study 3) evaluated theinfluence of human values in the perception of attractiveness and possible differences

    between men and women. This study involved 240 subjects with a social network,equally distributed between the factorial combinations, with ages between 16 and 56years (M = 24.71 and SD = 6.79), mostly single (49.1%), heterosexual (92.1%) andCatholic (38.8%). Relied on a factorial design of 2 (gender) x 2 (level of attractiveness)x 6 (value subfunction). The combinations were organized to ensure an equitabledistribution of the sample. Participants rated the level of attractiveness of each imagecombined with a value subfunction. Moreover, answered the Basic ValuesQuestionnaire, the Social Desirability Scale of Marlowe - Crowne, the Big FiveInventory, the Self-Esteem Scale and demographic questions (gender, age,socioeconomic class, religion, sexual orientation, etc.). The results indicate thatunattractive male faces with experimental values showed significantly lower scores thantheir counterparts in Study 2. Moreover, the scores between the very attractive femalefaces accompanied by the values subfunctions and their counterparts in Study 2 showedno significant differences. The results seem sufficient to affirm that, for this sample,human values, through the mechanism of mate selection, change the perception of

    attractiveness. Finally, further studies are suggested to reevaluate these findings.Keywords: Perception of attractiveness; Facial attractiveness; Human values;

    Evolutionary mechanisms; Mate selection mechanism.

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Comparao de mdias dos nveis de atratividade por sexo (N = 188) ......... 45

    Tabela 2 - Caracterizao da amostra (N = 240) ............................................................ 50

    Tabela 3 - Distribuio das subfunes valorativas por sexo e nvel de atratividade. ... 51

    Tabela 4 - Comparao de mdias da atratividade de homens muito atraentes ............. 56

    Tabela 5 - Comparao de mdias da atratividade de homens pouco atraentes ............. 57

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Facetas, dimenses e subfunes dos valores bsicos. .................................. 32

    Figura 2 - Estrutura da congruncia das subfunes dos valores bsicos. ..................... 33

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    SUMRIO

    1. INTRODUO ...................................................................................................... 126

    2. ATRATIVIDADE ..................................................................................................... 20

    2.1 O conceito de Atratividade................................................................................ 222.2 Fatores psicossociais explicativos da percepo da atratividade........... 24

    3. VALORES HUMANOS ........................................................................................... 28

    3.1 Teoria Funcionalista dos Valores Humanos............................................. 30

    3.2 Valores Humanos e Percepo da Atratividade...................................... 34

    4. ESTUDO I Seleo das imagens faciais ............................................................... 38

    4.1 Mtodo......................................................................................................... 394.1.1 Amostra ...................................................................................................... 39

    4.1.2 Instrumentos .............................................................................................. 39

    4.1.3 Procedimentos ........................................................................................... 39

    4.2 Anlise dos dados........................................................................................ 404.3 Resultados.................................................................................................... 404.4 Discusso...................................................................................................... 40

    5. ESTUDO II Imagens faciais e atratividade ......................................................... 43

    5.1 Mtodo......................................................................................................... 44

    5.1.1 Amostra ...................................................................................................... 44

    5.1.2 Instrumentos .............................................................................................. 44

    5.1.3 Procedimentos ........................................................................................... 45

    5.2 Anlise dos dados........................................................................................ 455.3 Resultados.................................................................................................... 455.4 Discusso...................................................................................................... 46

    6. ESTUDO III Valores e atratividade: uma relao possvel? ............................. 47

    6.1 Mtodo......................................................................................................... 486.1.1 Delineamento e hipteses .......................................................................... 48

    6.1.2 Amostra ...................................................................................................... 496.1.3 Instrumentos .............................................................................................. 50

    6.1.4 Procedimentos ........................................................................................... 54

    6.2 Anlise dos dados........................................................................................ 556.3 Resultados.................................................................................................... 55

    6.4 Discusso...................................................................................................... 58

    7. CONCLUSES DO ESTUDO ................................................................................ 63

    7.1 Limitaes da pesquisa............................................................................... 647.2 Principais resultados e contribuies........................................................ 657.3 Direes futuras.......................................................................................... 66

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 68

    ANEXOS ....................................................................................................................... 75

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    1. INTRODUO

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    Que caractersticas fazem uma pessoa atraente? A atratividade possui fatores

    universais? Variveis psicossociais como valores e status socioeconmico podem tornar

    as pessoas mais ou menos atraentes? Em termos gerais, as respostas para tais

    questionamentos podem vir de diversos campos do saber. Entretanto, de modo maisparticular, para a Psicologia Evolucionista, o sistema nervoso humano foi moldado pela

    seleo natural para considerar mais atraentes aquelas pessoas cujas caractersticas

    fsicas identificam boas qualidades genticas e reprodutivas (GALLUP, Jr.;

    FREDERICK, 2010). Desta forma, em funo da necessidade que as espcies tm de

    perpetuar genes cada vez mais puros, a atratividade passou a desempenhar um papel

    importante na evoluo dos seres humanos, uma vez que, segundo essa perspectiva, as

    pessoas direcionam seus desejos sexuais para outras cujas caractersticas indicam boagentica e alta capacidade de reproduo (GELDART, 2010).

    De fato, estudos apontam que, em diversas culturas, caractersticas consideradas

    atraentes apresentam relao com a qualidade gentica e reprodutiva de seres humanos

    (OBERZAUCHER; GRAMMER, 2009; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010;

    GELDART, 2010). Nesse contexto, destacam-se, por exemplo, o tamanho proeminente

    dos seios em mulheres, que sinaliza reserva energtica para a prole e boa capacidade de

    ovulao (SYLWESTER; PAWLOWSKI, 2011); a presena de musculatura definida

    em homens, indicando nveis saudveis de testosterona (FREDERICK et al, 2010); uma

    pele macia e sem manchas, que sugere ausncia de doenas e equilbrio fisiolgico na

    puberdade (SUGIYAMA, 2005); e a tonalidade da voz, por dar indcios de

    caractersticas hormonais (SAXTON; CARYL; ROBERTS, 2006). Dentre as

    caractersticas faciais, destacam-se, em mulheres, queixo afilado, bochechas salientes e

    lbios carnudos e, em homens, mandbulas largas, sobrancelhas grossas e olhos

    pequenos, traos que, por serem observados em diversas culturas e estarem relacionados

    a nveis hormonais, corroboram o pressuposto evolucionista (BAUDOUIN;

    TIBERGHEIN, 2004; GELDART, 2010).

    Como se observa, sob a tica da evoluo, a atratividade se constitui como um

    fenmeno universal, em que a escolha do parceiro influenciada pela observao de

    caractersticas associadas possibilidade de sucesso reprodutivo (GALLUP, Jr.;

    FREDERICK, 2010). No entanto, preciso reconhecer que tais caractersticas no

    ocorrem no vcuo, sendo, portanto, a atratividade constituda tambm por fatores

    psicossociais. Estudos recentes observaram, por exemplo, que: a personalidade capaz

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    de alterar os nveis de atratividade de faces humanas (SWAMI et al, 2010); o status

    socioeconmico influencia mais as mulheres do que os homens na escolha do parceiro

    (HA; OVERBEEK; ANGELS, 2010); e os nveis de inteligncia contribuem para

    explicar o modo como a atratividade percebida, principalmente quando consideradosrelacionamentos de longo prazo (KANAZAWA, 2011; MOORE; FILIPPOU;

    PERRETT, 2011). Estas evidncias podem ser explicadas a partir do pressuposto de que

    fatores psicossociais, em geral, podem estar conectados s caractersticas evolutivas.

    possvel que homens bem adaptados ao meio em que vivem tenham maior

    probabilidade de apresentar status socioeconmico elevado, e pessoas com nveis altos

    de inteligncia tendam a fazer escolhas que garantam a sobrevivncia da prole. Neste

    sentido, conjectura-se que construtos como os valores humanos tambm estejamrelacionados com variveis evolutivas, o que releva a sua importncia para a explicao

    da atratividade.

    Segundo Gouveia (2012), os valores humanos representam cognitivamente as

    necessidades humanas, que, resultantes de um processo evolutivo, tornaram-se ligadas

    sobrevivncia (i.e., comida, gua) e reproduo (i.e., pertencimento, amor). Dessa

    forma, uma vez que a atratividade est relacionada capacidade reprodutiva (GALLUP,

    Jr.; FREDERICK, 2010), razovel pensar, por exemplo, que homens que priorizam

    valores interacionais (ou seja, que apresentam necessidades de pertena, amor e

    afiliao) tendem a comprometer-se em relacionamentos de longo prazo, indicando alta

    probabilidade de proporcionar recursos e cuidados prole, caracterstica considerada,

    segundo o pressuposto evolucionista, atrativa s mulheres (SYLWESTER;

    PAWLOWSKI, 2011).

    Por outro lado, mulheres que priorizam valores de experimentao (ou seja, que

    apresentam necessidades de emoo, prazer e sexualidade) tendem a ter mais parceiros,

    o que indica maior facilidade para a perpetuao dos genes por parte dos homens

    (SYLWESTER; PAWLOWSKI, 2011). Portanto, os valores, enquanto princpios-guia

    do comportamento humano (ROKEACH, 1973; GOUVEIA, 2003), podem fornecer

    informaes teis em relao ao modo como so priorizados aspectos que envolvem

    sobrevivncia e reproduo. Neste sentido, considerando que cada pessoa apresenta

    prioridades axiolgicas especficas (i.e. interacional, normativa, experimentao), pode-

    se pensar que existem valores que influenciam a percepo da atratividade.

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    No entanto, apesar do nmero expressivo de publicaes que identificam e

    relacionam variveis psicossociais com percepo da atratividade, ainda so escassos os

    estudos cujo principal objetivo envolve a influncia dos valores humanos neste

    construto. Esse aspecto justifica a realizao do presente estudo, cujo objetivo principal conhecer em que medida os valores humanos influenciam a percepo da atratividade.

    Mais especificamente, procurar-se- identificar os nveis de atratividade em imagens

    faciais em funo dos aspectos fsicos, e estimar em que medida os valores humanos

    alteram estes nveis. Para atender aos objetivos propostos, esta monografia se estrutura

    em duas partes: a primeira, terica, envolve os captulos 1 e 2, referentes aos conceitos e

    operacionalizao da atratividade e dos valores humanos, respectivamente; e a

    segunda, nomeada de parte emprica, dividida em trs estudos, que tero o objetivo de:selecionar imagens faciais (Estudo 1); avaliar o nvel de atratividade das imagens

    coletadas (Estudo 2); e estimar a influncia dos valores humanos na percepo da

    atratividade (Estudo 3). Finalmente, apresentam-se a discusso e a concluso (Captulos

    6 e 7), indicando os principais resultados, as possveis limitaes da pesquisa e algumas

    sugestes para estudos futuros.

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    2. ATRATIVIDADE

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    A atratividade um fenmeno que chama a ateno de artistas, filsofos e

    cientistas. Entretanto, em funo de sua proximidade com o conceito de beleza,

    possvel observar que os dois termos se confundem em diversos momentos histricos.

    Isso, provavelmente, deve-se ao fato de que beleza possui uma definio ampla, sendopossvel perceber, inclusive, que se modifica em funo dos contextos histricos

    (SOUZA, 2004; GELDART, 2010).

    Plato (428-347 a.C), em O Banquete (380 a.C), procura estabelecer uma relao

    entre a beleza e o amor, entendendo que existe a beleza real e a beleza moral,

    relacionadas, a primeira, ao amor fsico e, a segunda, ao amor espiritual. Ainda neste

    perodo, os escritos da poetisa grega Safo (630-612 a.C) definiram a atratividade como

    uma relao entre beleza e qualidades positivas. No Renascimento, um novo padro debeleza pregava que, em mulheres, a magreza era sinal de pobreza, e que a mulher ideal

    renascentista deveria ser voluptuosa e loira (SOUZA, 2004). Nesta mesma poca,

    Leonardo da Vinci (1452-1519), retomando os estudos de Fibonacci, desenharia uma

    representao humana baseada nas propores ureas, conhecida como homem

    vitruviano, legitimando a viso antropocntrica da beleza na poca. Sculos depois,

    segundo Souza (2004), a Era Vitoriana desenvolveria sua prpria concepo de beleza,

    que tinha por caracterstica a valorizao da naturalidade, da higiene e dos costumes da

    nobreza. J no sculo XX, destacam-se as mudanas observadas na dcada de 70, em

    que o movimento hippie passa a questionar, dentre outras coisas, os parmetros

    estticos exigidos pela sociedade. Para Souza (2004), estes questionamentos formaram a

    ideia de que a beleza estaria voltada juventude e ao esprito de liberdade, e,

    associada s demandas capitalistas, desenvolveria o mercado da moda nas dcadas

    subsequentes.

    Observando as referncias histricas, percebe-se que o conceito de beleza se

    modifica em funo da cultura, e que, portanto, independe de fatores evolutivos. A

    atratividade, entretanto, parece interagir de modo diferente com estes fatores. No campo

    da cincia, diversos autores tm se preocupado em entender este conceito

    (PAUNONEN, 2006; BACK et al, 2011; GELDART, 2010; SWAMI et al, 2010).

    Geldart (2010), por exemplo, diferencia os termos atratividade e beleza,

    enfatizando que a beleza se refere a caractersticas bem adaptadas ao contexto social, ao

    passo que a atratividade pode ser encontrada em caractersticas que despertam desejo

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    sexual. Neste sentido, parece pertinente perguntar: qual o conceito de atratividade e que

    fatores a explicam?

    2.1 O conceito de Atratividade

    Por que o acar doce? A doura no uma caracterstica inerente ao acar,

    entretanto, sabe-se que o acar uma excelente fonte de calorias. Indivduos que

    desenvolveram mecanismos neurolgicos para perceber o acar como doce e, portanto,

    agradvel, tiveram uma vantagem adaptativa por conseguirem identificar um alimento

    com alto potencial calrico. Da mesma forma, a atratividade no inerente s pessoas,

    mas percebida porque os seres humanos desenvolveram mecanismos neurolgicos

    capazes de identificar caractersticas relacionadas qualidade gentica e reprodutiva,

    podendo, assim, selecionar parceiros em potencial (GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010).

    Entretanto, nem toda a percepo da atratividade constituda de fatores

    evolutivos. Sabe-se, por exemplo, que fatores psicossociais como a personalidade

    (SWAMI et al, 2010), o status social (HA; OVERBEEK; ANGELS, 2010) e a

    inteligncia (KANAZAWA, 2011; MOORE; FILIPPOU; PERRETT, 2011) so capazes

    de alterar o modo como a atratividade percebida. Neste sentido, torna-se plausvel

    pensar que a percepo da atratividade constituda, principalmente, por fatores

    evolutivos e psicossociais (SWAMI et al, 2010). No entanto, no h consenso acerca do

    modo que estes fatores se relacionam com a percepo da atratividade. De acordo com

    Langlois et al. (2000), as teorias evolucionistas propem trs mecanismos que se

    apresentam relevantes para a compreenso deste fenmeno, a saber:

    a)Mecanismo da seleo de parceiros (LANGLOIS et al., 2000; GALLUP, Jr.;

    FREDERICK, 2010). Os homens tendem a escolher mulheres que possam perpetuar

    seus genes e que, para isso, apresentem boa capacidade de reproduo. Desta forma,baseiam suas escolhas priorizando os aspectos fsicos, pois caractersticas fsicas

    consideradas atraentes tm relao com a capacidade reprodutiva. Por outro lado, as

    mulheres tendem a escolher homens que sejam capazes de obter recursos e de garantir a

    sade de sua prole. Assim, tendem a priorizar, em homens, aspectos psicossociais que

    identifiquem estas capacidades. Por exemplo, segundo Langlois et al (2000, p.394)

    homens inteligentes tm maior probabilidade de adquirir recursos para a prole e, por

    isso, mulheres atraentes tendem a escolher homens inteligentes.

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    b)Mecanismo da boa gentica dos indivduos(LITTLE et al, 2001; GALLUP,

    Jr.; FREDERICK, 2010). Os aspectos fsicos considerados atraentes influenciam as

    relaes humanas por serem indicativos de boa sade, pois podem indicar estabilidade

    fisiolgica e nveis hormonais favorveis reproduo (GALLUP, Jr.; FREDERICK,2010). Em funo disso, uma vez que uma gentica relacionada boa sade

    fundamental para a sobrevivncia dos indivduos, os aspectos fsicos parecem ser

    igualmente importantes para a percepo da atratividade em ambos os sexos, ao

    contrrio do que prope o mecanismo da seleo de parceiros.

    c) Mecanismo do investimento parental (LANGLOIS et al, 2000). Os pais

    tendem a priorizar os filhos que apresentam boa gentica e capacidade reprodutiva, pois

    estes tm maior probabilidade de conseguir perpetuar seus genes. Sob tal perspectiva,indivduos que so tratados de modo especfico pelos pais, desenvolvem

    comportamentos tambm especficos, contribuindo para o desenvolvimento de um perfil

    psicossocial. Assim, segundo Langlois et al(2000, p.394), este mecanismo prope que

    indivduos muito atraentes devem apresentar comportamentos e traos mais positivos

    que indivduos pouco atraentes. Desta forma, segundo este mecanismo, possvel

    pensar a percepo da atratividade relacionada a perfis psicossociais especficos.

    Adicionalmente, Langlois et al(2000), em uma metanlise envolvendo estudos

    acerca destes trs mecanismos, identificou que as teorias evolucionistas pressupem alta

    concordncia intercultural de quem ou no atrativo (GANGESTAD; SIMPSON, 2000;

    GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010). Isso pode ser explicado porque, de acordo com

    Langlois (2000, p.393), os seres humanos desenvolveram um padro universal de

    atratividade, e que, portanto, no deve variar entre culturas. Esta observao vem

    sendo comprovada em diversos outros estudos (GANGESTAD; SIMPSON, 2000;

    RHODES, 2006; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010). Desta forma, considera-se que: a)

    a atratividade exerce influncia significativa nas relaes interpessoais; b) a atratividade

    possui um padro universal determinado por fatores evolutivos e psicossociais; e, c) em

    funo de um tratamento parental diferenciado, pessoas atraentes tendem a apresentar

    determinados perfis psicossociais. Contudo, estes mecanismos, por deterem-se na

    explicao dos componentes da atratividade, no constituem nem limitam toda a

    compreenso de seu conceito. Neste caso, parece pertinente perguntar: Como os fatores

    psicossociais alteram a percepo da atratividade?

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    2.2 Fatores psicossociais explicativos da percepo da atratividade

    Cada vez mais, afirmaes como caractersticas no-fsicas podem influenciar a

    percepo da atratividade fsica (SWAMI et al., 2010, p. 640) tm estado presentes

    entre os estudos acerca da atratividade. De fato, diversos autores identificam a relao

    entre percepo da atratividade e fatores psicossociais (LEWANDOWSKI; ARON;

    GEE, 2007; JUDGE; HURST; SIMON, 2009; LEDER et al., 2010; MEIER et al., 2010;

    HA; OVERBEEK; ENGELS, 2010; KANAZAWA, 2011; MOORE; FILIPPOU;

    PERRETT, 2011;). Destes fatores, destacam-se na literatura, de modo especial, a

    inteligncia, o status social e a personalidade.

    Para Moore, Filippou e Perrett (2011, p.215), inteligncia uma caracterstica

    evolutivamente desejvel, pois pode conferir vantagens como inteligncia herdada

    prole, senso de humor e alta probabilidade de obteno de recursos. Estudos tm

    demonstrado correlaes positivas entre inteligncia e indicadores de boa gentica e

    capacidade reprodutiva, como qualidade do smen (ARDEN et al, 2009), sade fsica

    (BATTY; DEARY; GOTTFREDSON, 2007) e expectativa de vida (GOTTFREDSON;

    DEARY, 2004; JOKELA et al, 2009). Em relao ao segundo fator, Ha, Overbeek e

    Engels (2010), avaliando a influncia do status social e da atratividade fsica no desejo

    de relacionar-se, observaram que as mulheres apresentam maior desejo de relacionar-se

    com homens que possuem alto status social. Por outro lado, em homens, o status social

    capaz de alterar o desejo de relacionar-se somente quando as mulheres so fisicamente

    atraentes, ou seja, conclui-se que homens priorizam os aspectos fsicos, ao passo que as

    mulheres priorizam caractersticas relacionadas capacidade de obter recursos e de

    cuidar da prole, o que corrobora o mecanismo de seleo de parceiros (LANGLOIS et

    al., 2000; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010).

    Considerando outros fatores psicossociais importantes para a explicao dapercepo da atratividade, Tokumaru et al(2010), observando o efeito da infidelidade

    sobre a atratividade facial de homens e mulheres, observaram que as mulheres

    percebem os homens infiis como menos atraentes, ao passo que, em relao aos

    homens, a infidelidade pouco alterou a percepo da atratividade. Para explicar esta

    diferena entre os sexos, o autor recorre Teoria de Estratgias Sexuais (BUSS;

    SCHMITT, 1993), que defende mecanismos evolutivos diferenciados para homens e

    mulheres, como, por exemplo, o mecanismo de seleo de parceiros (LANGLOIS et al.,2000; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010). Considerando este mecanismo, parece

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    coerente que homens infiis apresentam menor potencial de manter relacionamentos de

    longo prazo e, por conseguinte, apresentam menor probabilidade de prover recursos e

    cuidados prole.

    Vale citar, ainda, Albada, Knapp e Theune (2002), que observaram em quemedida a interao social altera a percepo da atratividade. Os resultados indicaram

    que os nveis de atratividade apresentam diferenas antes e depois da interao social,

    para ambos os sexos. Entretanto, segundo os autores, a interao social influenciou mais

    as mulheres do que os homens, indicando que mulheres so mais propensas a alterar o

    modo como percebem a atratividade em funo da interao social. Tendo em conta o

    mecanismo de seleo de parceiros (LANGLOIS et al., 2000; GALLUP, Jr.;

    FREDERICK, 2010), possvel pensar que os homens, por se deterem mais scaractersticas fsicas do que as mulheres, sofrem menos influncia da interao social

    na percepo da atratividade.

    Para avaliar a influncia da personalidade na percepo da atratividade, Swami

    et al (2010) consideraram dois polos de cada um dos cinco grandes fatores de

    personalidade (por exemplo, extroverso/introverso, neuroticismo/estabilidade).

    Utilizando imagens de ambos os sexos que variavam em funo das categorias do ndice

    de massa corporal (IMC), onze grupos foram organizados, a saber, o grupo sem

    descries de personalidade e dez grupos referentes combinao das imagens com as

    descries de personalidade. Os resultados indicaram que as imagens sem descries de

    personalidade que foram consideradas pouco atraentes, quando combinadas com polos

    positivos dos fatores de personalidade, passaram a compor o grupo das imagens muito

    atraentes. Desta forma, pode-se pensar que pessoas pouco atraentes, quando

    acompanhadas de uma personalidade com polo positivo, tornam-se mais atraentes

    (SWAMI et al, 2010).

    Com base nestas informaes, parece pertinente considerar que, alm dos

    pressupostos da Psicologia Evolucionista, existem variveis psicossociais que se

    apresentam como determinantes na percepo da atratividade. Neste sentido coerente

    pensar que construtos correlatos da inteligncia, do status social e da personalidade,

    como o caso dos valores humanos, tambm se apresentem como fatores explicativos

    da percepo da atratividade. Roccas et al(2002), em estudo envolvendo personalidade

    e valores humanos, observou correlao entre os cinco grandes (Big Five) e os valores

    humanos como propostos por Schwartz (1992), e identificou que traos de

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    personalidade como extroverso e amabilidade tendem a correlacionar-se,

    respectivamente, com valores de realizao e estimulao, e tradio e benevolncia.

    Outros estudos tambm apontam para uma relao entre personalidade e valores

    (ROCCAS et al, 2002; FURNHAM et al, 2005; CAPRARA et al, 2006; STANKOV,2007). Para Caprara et al(2006), traos de personalidade descrevem como as pessoas

    so, ao passo que os valores referem-se ao que as pessoas consideram importante. Desta

    forma, os valores esto correlacionados com traos de personalidade, sobretudo, porque

    as pessoas tendem a se comportar de maneira consistente com seus valores

    (ROKEACH, 1973). Para Roccas et al (2002, p.791), traos de personalidade so

    capazes de alterar os valores, uma vez que pessoas que apresentam determinados

    comportamentos tendem a elevar a importncia de valores que os justifiquem. Destemodo, conclui-se que valores e traos de personalidade sofrem influncia mtua

    (ROCCAS et al, 2002). Nesta direo, conjectura-se que os valores sejam, tambm,

    capazes de alterar a percepo da atratividade, ou seja, que pessoas pouco atraentes, em

    funo de suas prioridades valorativas, possam tornar-se mais atraentes.

    De fato, os valores humanos tm se apresentado como um construto importante

    em Psicologia Social (ROKEACH, 1981; GOUVEIA, 2012). Neste campo, identificam-

    se estudos que relacionam valores com temas clssicos, como: a) atitudes e

    comportamento, em que valores e atitudes compem um modelo explicativo dos

    comportamentos (ROKEACH, 1981; AJZEN, 2001); b) personalidade, que, como j

    dito, relaciona-se de maneira mtua com valores humanos (ROCCAS et al, 2002;

    CAPRARA et al, 2006); c) individualismo e coletivismo (GOUVEIA et al, 2003), em

    que as prioridades valorativas se apresentam nas culturas de modo diferente em funo

    dos nveis de individualismo e de coletivismo, d) identidade social (GOUVEIA et al,

    2002), explicada por um perfil valorativo comum entre culturas, a saber, valores

    normativos, e) preconceito (VASCONCELOS et al, 2004), que pode ser predito por

    valores suprapessoais e de realizao, e g) religiosidade (SCHWARTZ; HUISMANS,

    1995), em que observado um perfil valorativo comum em amostras de diversas

    religies.

    No obstante a sua relevncia, preciso reconhecer que, no campo de estudo da

    atratividade, os valores tm sido negligenciados. A exceo do estudo de Buss et al

    (2001), no se encontrou qualquer publicao relacionando este construto com a

    percepo da atratividade, o que justifica a realizao da presente monografia. Contudo,

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    deve-se reconhecer que compreender a relao entre valores e atratividade sem uma

    teoria prvia que a explique, apresenta-se como um desafio. No entanto, com base nos

    estudos desenvolvidos por Langlois et al. (2000), mais especificamente, no mecanismo

    de seleo de parceiros, parece possvel, sem deixar de reconhecer o carter heursticodessa proposio, estabelecer algumas associaes entre os valores humanos e a

    percepo da atratividade. Ao mesmo tempo, antes de discorrer mais sobre tais

    conjecturas, torna-se necessrio apresentar, ainda que de forma resumida, um pouco

    acerca dos valores e, mais especificamente, da teoria que embasa a presente monografia.

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    3. VALORES HUMANOS

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    Segundo Gouveia (2012, p.64), os valores humanos tm sido praticamente os

    mesmos desde as civilizaes antigas, embora priorizados de formas variadas. Esta

    afirmao corroborada pelo fato de que os valores podem ser observados em diversos

    momentos histricos. possvel observar nas civilizaes gregas (800 a.C), porexemplo, a valorizao da arte, da msica e da literatura que, segundo esse autor,

    compem os valores suprapessoais. Na Roma antiga, em funo do avano cultural e

    jurdico, foram priorizados valores como beleza, xito, conhecimento e justia social

    (GOUVEIA, 1998). Na Idade Mdia, percebe-se a oposio entre o rei, que

    representava valores de poder e tradio, e o clero, que, redigindo a Magna Charta

    Libertatumde 1215, anunciava a preocupao com a justia e a liberdade (GOUVEIA,

    2012). J no sculo XIX, os ingleses, migrando para a Amrica, compuseram aDeclarao de Direitos do Bom Povo de Virgnia, orientados pelos princpios de

    igualdade e liberdade.

    Desta forma, para Gouveia (2012, p.68), parece evidente que os valores [...]

    existem desde a poca em que o homem, na pr-histria, abandonou o refgio das

    cavernas e se ergueu de p. Entretanto, embora os valores se constituam como

    universais e atemporais, as primeiras tentativas de sistematizao dos valores humanos

    s vieram a ocorrer com Rokeach (1973). Rokeach (1973, p.20) sugere que os valores

    so representaes cognitivas e transformaes das necessidades, e classifica os 36

    valores por ele identificados em terminais, que se referem aos estados finais de

    existncia (por exemplo, felicidade, liberdade, igualdade), e instrumentais, que dizem

    respeito a modos de comportamento (por exemplo, obedincia, amor, coragem). Esta

    sistematizao trouxe avanos significativos para o estudo dos valores humanos

    (SANTOS, 2008).

    Desde ento, algumas teorias acerca dos valores humanos tm sido

    desenvolvidas, por exemplo, a de Inglehart (1977) e a de Schwartz (1992), entretanto,

    no contexto brasileiro, uma das teorias que mais apresenta relevncia na compreenso

    deste construto a Teoria Funcionalista dos Valores Humanos (GOUVEIA, 2003;

    GOUVEIA et al, 2009). Em consonncia com premissas de tericos como Rokeach

    (1973), Maslow (1954), Kluckhohn (1951) e Thomas e Znaniecki (1958), a Teoria

    Funcionalista dos Valores se destaca pela parcimnia em relao a teorias prvias,

    sendo uma forma sistemtica, parcimoniosa e integradora de pensar acerca dos valores

    humanos (GOUVEIA et al, 2011, p.309). Ao longo dos anos, diversos estudos tm

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    corroborado a adequao deste modelo em um nmero significativo de amostras e

    contextos (GOUVEIA et al, 2011; MEDEIROS, 2011), bem como sua relao com

    outros construtos (MAIA, 2000; COELHO Jr., 2001; FORMIGA, 2002; PIMENTEL,

    2004; VASCONCELOS, 2004; CHAVES, 2006). Portanto, sem deixar de reconhecer ascontribuies dos modelos propostos por outros autores, a presente monografia toma

    como referncia para compreenso dos valores a Teoria Funcionalista dos Valores

    Humanos proposta por Gouveia e seus colaboradores (GOUVEIA, 2003; GOUVEIA et

    al, 2009, 2011).

    3.1 Teoria Funcionalista dos Valores Humanos

    Em sua reviso dos principais referenciais tericos no campo dos valores,

    Gouveia (1998) identificou que, em geral, os modelos sobre valores no apresentam

    critrios para identificar a fonte e a natureza deste construto. Segundo ele, raramente as

    propostas tericas partem de uma concepo de homem, o que pode sugerir a

    composio de uma lista de valores tanto positivos como negativos (contra-valores).

    Alm disso, destaca que autores como Schwartz (1992) incluem, em seus modelos,

    valores sem contedo ou direo clara (por exemplo, limpo) e omitem outros de

    fundamental importncia, como critrios de orientao do comportamento (por

    exemplo, sobrevivncia). Rokeach (1973), de quem Schwartz deriva 40% dos valores

    utilizados em seu modelo, assume que a eleio dos valores que compem seu

    instrumento foi intuitiva. Inglehart (1990), apesar de reconhecer a teoria das

    necessidades de Maslow como a base de sua teoria, no intenciona, com seu modelo,

    predizer comportamentos sociais, mas comparar culturas, por meio de uma dimenso

    bipolar dos valores (materialismo e ps-materialismo).

    Partindo destas crticas, mas sem deixar de reconhecer as contribuies dosmodelos existentes, Gouveia (1998, 2003, GOUVEIA et al, 2011) prope um modelo

    alternativo, mais parcimonioso e que, apesar de ainda pouco difundido no contexto

    internacional, tem apresentado padres satisfatrios de adequao. De acordo com

    Gouveia et al (2008b), os valores so critrios de orientao que guiam as aes do

    homem e expressam as suas necessidades bsicas. Sua concepo de valores inclui trs

    suposies tericas, a saber: (1) assume a natureza benevolente do ser humano; (2) os

    valores so representaes cognitivas das necessidades individuais, demandas dasociedade e institucionais, que restringem os impulsos pessoais e asseguram um

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    ambiente estvel e seguro; e (3) todos os valores so terminais, ou seja, expressam um

    propsito em si, sendo definidos como substantivos.

    O modelo acerca da natureza motivacional dos valores humanos, desenvolvido

    por Gouveia, tem como foco principal as funes dos valores. Este autor aponta que sopoucos os estudos que fazem referncia a este aspecto, e, a partir da anlise dessas

    publicaes, identifica duas funes consensuais dos valores: eles guiam as aes do

    homem (tipo de orientao) e expressam suas necessidades (tipo de motivador). Outro

    aspecto inovador do modelo se refere incluso do critrio de orientao central.

    Rokeach (1973) divide os valores terminais em sociais, que compreendem queles de

    carter interpessoal, e pessoais, considerados de foco intrapessoal. Revisando estudos

    empricos sobre o tema, Gouveia (2003) observou que alguns valores figuram entre eso congruentes com os pessoais e sociais; tais valores so denominados por ele de

    centrais, indicando seu carter central ou adjacente.

    Segundo este autor, embora no haja uma correspondncia perfeita entre

    necessidades e valores, possvel identific-los como expresses das necessidades

    humanas; todos os valores podem ser classificados em termos materialistas

    (pragmticos) ou humanitrios (idealistas). Valores materialistas referem-se a ideias

    prticas, e a nfase nestes valores implica numa orientao para metas especficas e

    regras normativas. Valores humanitrios demonstram uma orientao universal, baseada

    em princpios mais abstratos e ideias. Tais valores so coerentes com um esprito

    inovador, sugerindo menos dependncia de bens materiais. A partir destas

    consideraes, Gouveia et al (2011) apresentam a estrutura terica de seu modelo de

    valores.

    As duas dimenses funcionais dos valores formam dois eixos principais, sendo o

    eixo horizontalcorrespondente ao tipo de orientaoe o vertical ao tipo de motivador.

    Tais dimenses podem ser combinadas em uma estrutura trs por dois, ou seja, com trs

    critrios de orientao (social, central e pessoal) e dois tipos de motivadores

    (materialistas e humanitrios), compondo seis quadrantes: social-materialista, social-

    humanitrio, central-materialista, central-humanitrio, pessoal-materialista e pessoal-

    humanitrio. A partir das interaes dos valores ao longo dos eixos, so identificadas

    seis subfunes, distribudas equitativamente nos critrios de orientao social

    (interacionais e normativos), central (suprapessoal e existncia) e pessoal

    (experimentao e realizao). Deste modo, os tipos de motivadores so representados

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    por meio de trs subfunes cada: no tipo materialista, localizam-se os valores de

    existncia, realizao e normativos, e, no humanitrio, os suprapessoais, de

    experimentaoe interacionais. Uma apresentao esquemtica destas interaes pode

    ser observada na Figura 1, sendo a descrio de cada uma das subfunes apresentadaem seguida.

    Figura 1 - Facetas, dimenses e subfunes dos valores bsicos.

    Valores de Existncia. So compatveis com as orientaes social e pessoaldentro do domnio motivador materialista; o propsito principal destes valores

    assegurar as condies bsicas de sobrevivncia biolgica e psicolgica. Estes valores

    so referncia para os valores de realizao e normativos, e so os mais importantes na

    representao do motivador materialista (estabilidade pessoal,sade esobrevivncia).

    Valores de Realizao. Representam o motivador materialista com orientao

    pessoal; pessoas orientadas por tais valores so focadas em realizaes materiais e

    buscam praticidade em decises e comportamentos (xito,podereprestgio).Valores Normativos. Expressam uma orientao social, sendo focados em regras

    sociais, e um princpio-guia materialista, que reflete a importncia da preservao da

    cultura e das normas sociais. Estes valores enfatizam a vida social, a estabilidade grupal

    e o respeito por smbolos e padres culturais que prevaleceram durante anos. A

    obedincia valorizada acima de qualquer coisa (obedincia, religiosidade e tradio).

    Valores Suprapessoais. Apresentam orientao central e motivador humanitrio.

    Os seres humanos possuem uma necessidade biolgica por informao (curiosidade)

    que os conduzem a uma melhor compreenso e domnio do mundo fsico e social. Esta

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    subfuno referncia para os valores interacionais e de experimentao, e a mais

    importante na representao do motivador humanitrio (beleza, conhecimento e

    maturidade).

    Valores de Experimentao. So representados pelo motivador humanitrio,com uma orientao pessoal; contribuem para a promoo de mudana e inovao na

    estrutura das organizaes sociais (emoo,prazer esexualidade).

    Valores Interacionais. Correspondem s necessidades de pertena, amor e

    afiliao, enquanto estabelecem e mantm as relaes interpessoais do indivduo.

    Representam o motivador humanitrio com orientao social (afetividade, apoio social

    e convivncia).

    Finalmente, Gouveia et al(2011) apresentam a hiptese da congruncia entre osvalores; eles observaram que as correlaes entre as subfunes dos valores so

    predominantemente positivas, podendo variar entre os indivduos em termos de fora.

    Segundos tais autores, apesar dos termos congruncia e compatibilidade serem

    frequentemente tidos como sinnimos, preciso fazer algumas consideraes.

    Congruncia refere-se consistncia interna do sistema funcional dos valores, j a

    compatibilidade sugere a validade discriminante destas subfunes em relao a

    critrios externos. No modelo, a congruncia entre as subfunes dos valores pode ser

    representada pela figura de um hexgono (Figura 2).

    Figura 2 - Estrutura da congruncia das subfunes dos valores bsicos.

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    O hexgono sugere trs nveis de congruncia: (1) Congruncia baixa.

    Concentra as subfunes que apresentam diferentes orientaes e motivadores; estas se

    localizam em lados opostos do hexgono. Por exemplo, valores de experimentao e

    normativos, e valores de realizao e interacionais. Os autores apontam que a baixacongruncia deve-se ao princpio-guia relativamente independente destes grupos de

    valores; (2) Congruncia moderada. Rene as subfunes com o mesmo motivador,

    mas com orientaes diferentes; corresponde aos pares de subfunes dos valores de

    realizao-normativo e experimentao-interacional, cujas metas so extrnsecas e

    intrnsecas, respectivamente; e (3) Congruncia alta. Agrupa os valores com a mesma

    orientao, mas com motivador diferente; esta corresponde aos pares experimentao-

    realizao e normativo-interacional, situados em lados adjacentes do hexgono.Gouveia et al(2011) ressaltam que os valores de existncia e suprapessoais no

    foram includos na hiptese de congruncia por duas razes tericas. Primeiro, por

    serem valores centrais, estes apresentam correlaes positivas e fortes com todas as

    outras subfunes; os valores de existncia apresentam correlaes mais fortes com os

    de realizao e normativos, e os valores suprapessoais com os de experimentao e

    interacionais. Segundo, a no incluso destas subfunes est relacionada com firme

    distino terica entre os valores; a diferena principal dentro do sistema de valores

    ocorre entre os sociais e pessoais, e no entre os materialistas e humanitrios, porque

    aqueles refletem a unidade principal de sobrevivncia (indivduo ou sociedade). Como

    se pode constatar, a Teoria Funcionalista dos Valores Humanos apresenta um conjunto

    de vantagens frente a outros modelos acerca desse construto, o que refora a sua

    utilizao como referencial terico na presente monografia.

    3.2 Valores Humanos e Percepo da Atratividade

    Estudos que relacionam valores humanos e atratividade ainda so escassos.

    Clawson e Vinson (1978), em anlise histrica acerca dos valores humanos, identificou

    que, na teoria de valores proposta por Rokeach (1973), diversos valores no so

    contemplados (por exemplo, juventude, liderana, eficincia), incluindo-se a a

    atratividade fsica. Os mecanismos da Psicologia Evolucionista (LANGLOIS et al.,

    2000; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010), tambm, recorrem pouco aos valores

    humanos para a explicao da atratividade. Entre os estudos acerca dos valores,encontrados aps uma busca nas bases de dados do Google Acadmico (2012),

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    utilizando como entrada os termos atratividade, atratividade facial, valores e

    valores humanos, em lngua inglesa e portuguesa, sem limitar datas, apenas um trata a

    respeito deste tema (BUSS et al, 2001). Neste, os autores avaliaram, em amostras de

    diversos perodos entre 1939 e 1996, a evoluo cultural dos valores em casais e,entre os aspectos analisados, inclui-se a atratividade fsica. Os resultados indicaram

    que a atratividade fsica em 1996 se apresentou mais importante se comparada a 1939.

    Para Buss et al (2001), o bombardeamento de imagens e o surgimento das

    mdia visuais (televiso, filmes, imagens de internet, realidade virtual) contriburam

    para elevar o valor que damos atratividade fsica. Entretanto, a teoria acerca dos

    valores utilizada nesse estudo a de Hill (1945), que identifica valores especificamente

    relacionados a casais (por exemplo, maturidade, estabilidade emocional, castidade pr-conjugal). Apesar de importante, este estudo pouco contribui para a compreenso da

    relao entre valores humanos e percepo de atratividade. A ausncia de modelos

    integrativos entre valores e esse tipo de percepo, provavelmente, pode ser explicada

    pelo aparente isolamento dos pesquisadores em seus campos. Contudo, como j foi

    exposto, mesmo sem contar com um modelo terico especfico que integre estes

    construtos, coerente pensar, como se tem comprovado com outras variveis

    (personalidade, inteligncia, status etc.), na existncia de algum nvel de relao entre

    eles.

    Neste ponto, o leitor pode se perguntar: uma vez que no h modelos que

    integrem estes dois construtos, possvel explicar a relao entre eles? A resposta sim,

    recorrendo ao modo como alguns correlatos dos valores se relacionam com atratividade.

    Construtos como inteligncia (MOORE; FILIPPOU; PERRETT, 2011), status

    socioeconmico (HA; OVERBEEK; ENGELS, 2010), infidelidade (TOKUMARU et

    al, 2010), interao social (ALBADA; KNAPP; THEUNE, 2002) e personalidade

    (SWAMI et al, 2010) se relacionam com a atratividade e confirmam pelo menos um dos

    trs mecanismos evolutivos revisados por Langlois et al. (2000). Cabe destacar que no

    pretenso destes autores desconsiderar fatores culturais para a explicao da relao

    entre variveis psicossociais e percepo da atratividade. Entretanto, padres

    encontrados interculturalmente permitem pensar que esta relao pode ser explicada,

    antes, por fatores evolutivos.

    Nesta direo, pode-se pensar a relao entre valores humanos e percepo da

    atratividade por meio do mecanismo adaptativo, identificado por Langlois et al(2000)

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    como de seleo de parceiros. Esta possibilidade no exclui os outros mecanismos,

    apenas reconhece que, ao menos na relao entre valores e atratividade, a explicao

    com base nos mecanismos da boa gentica e de investimento parental pouco

    consistente e, possivelmente, incoerente: o primeiro, por no considerar a relevncia dasvariveis psicossociais para a explicao da atratividade, defendendo, sobretudo, a

    qualidade gentica como fator determinante; e o segundo, apesar de admitir a existncia

    de alguma relao entre evoluo e variveis psicossociais, no campo dos valores, se

    apresenta pouco significativo.

    Segundo Gouveia et al (2008), todos os valores so positivos e priorizados de

    formas diferentes pelas pessoas, entretanto, no campo evolucionista, pouco provvel

    que sejam mediados pelo mecanismo de investimento parental (LANGLOIS et al,2000). Uma vez que tal mecanismo afirma que indivduos muito atraentes devem

    apresentar comportamentos e traos mais positivos que aqueles pouco atraentes

    (LANGLOIS et al, 2000, p.394), o mecanismo de investimento parental no

    influenciaria de forma significativa os valores, pois, sob tal perspectiva, pessoas

    atraentes tenderiam a apresentar valores mais positivos. Contudo, segundo a Teoria

    Funcionalista (GOUVEIA et al, 2011), apesar dos valores serem todos positivos,

    possvel que a combinao destes resulte em traos ou comportamentos socialmente

    reprovveis (FORMIGA, 2003; PIMENTEL, 2004; VASCONCELOS, 2004; CHAVES,

    2006; SANTOS, 2008).

    Por outro lado, a explicao pautada no mecanismo da seleo de parceiros se

    apresenta mais consistente. Segundo este mecanismo (LANGLOIS et al., 2000;

    GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010), as mulheres tendem a considerar variveis

    psicossociais na identificao da capacidade dos homens de cuidar da prole, ao passo

    que os homens tendem a priorizar as caractersticas fsicas das mulheres para avaliar a

    sua capacidade reprodutiva. Alm disso, os valores humanos se apresentam como

    correlatos de variveis psicossociais que tem a relao com percepo da atratividade

    explicada por este mecanismo. Assim, torna-se plausvel pensar que a influncia dos

    valores humanos na percepo da atratividade tambm possa ser explicada por este

    mecanismo.

    Para avaliar esta relao, o mtodo da pesquisa foi desenvolvido em trs etapas.

    A primeira (Etapa 1) teve como objetivo coletar um conjunto de imagens de rostos e

    construir um instrumento para avaliar os nveis de atratividade de cada uma delas. A

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    Etapa 2 pretendeu avaliar os nveis de atratividade das imagens selecionadas e observar

    a existncia de diferenas significativas entre seus nveis de atratividade. Finalmente, na

    Etapa 3, que corresponde ao estudo emprico (quase experimental) propriamente dito,

    buscou-se avaliar a influncia dos valores humanos na percepo da atratividade dosrostos selecionados. Descries mais especficas acerca dessas etapas podem se

    observadas no mtodo a seguir.

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    4. ESTUDO I Seleo das imagens faciais

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    O presente estudo teve como objetivo construir um banco de imagens faciais,

    distribudas equitativamente em funo do sexo (masculino e feminino) e do nvel de

    atratividade (alto e baixo). Tal proposta se configura como uma condio fundamental

    para o desenvolvimento dos demais estudos da presente monografia, sendo suas

    especificidades apresentadas no mtodo a seguir.

    4.1 Mtodo

    4.1.1 Amostra

    Contou-se com uma amostra no probabilstica de 264 usurios do Facebook,

    com idades entre 16 e 60 anos (m = 24 e dp = 6,31), a maioria do sexo feminino

    (62,5%), solteira (58,7%), heterossexual (89,4%) e da regio nordeste (74,4%). Com

    base na avaliao destes usurios, obteve-se um conjunto de 528 imagens, distribudas

    igualmente entre pessoas consideradas atraentes e no atraentes, conforme os critrios

    pr-estabelecidos.

    4.1.2 Instrumentos

    Por meio da plataforma Limesurvey (http://www.limesurvey.com), elaborou-se

    um questionrio on-line (Anexo I). Neste instrumento, os participantes deveriam

    indicar, observando as fotos de apresentao dos perfis da rede social Facebook, quais

    as imagens mais e menos atraentes. As respostas foram dadas por meio da digitao dos

    links, referentes aos perfis, em espao reservado para cada imagem. Adicionalmente,

    aps preencher os dois itens iniciais, solicitaram-se aos respondentes algumas

    informaes de carter biossciodemogrfico como idade, sexo, estado civil, orientao

    sexual e local de residncia (Estado).

    4.1.3 Procedimentos

    Para a coleta das imagens, escolheu-se como fonte o Facebook, por afirmar, no

    item 2, subitem 4, de sua declarao de direitos e responsabilidades, que o usurio, ao

    publicar o contedo ou informaes usando a configurao todos, (...) permite que

    todos, incluindo pessoas fora do Facebook, acessem e usem essas informaes e as

    associem a ele (isto , seu nome e a foto do perfil) (FACEBOOK, 2012). Aps a

    observao das questes legais para utilizao das imagens, enviou-se, aleatoriamente,

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    para diversos usurios do Facebook, por meio de seus murais e caixas de mensagens, o

    link de acesso pesquisa. Na ocasio, foram informados os objetivos e algumas

    referncias (PAUNONEN, 2006; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010; GELDART,

    2010) que justificavam a realizao do estudo, bem como a indicao de que todas asinformaes disponibilizadas pelo participante eram de carter annimo. Em funo da

    possibilidade de mudana da foto do perfil, medida que as pessoas indicavam um

    perfil, era realizada a coleta de sua imagem, correspondente foto exposta na pgina

    principal, de modo que, ao final do processo, obtiveram-se 528 imagens.

    4.2 Anlise dos dados

    Aps o levantamento, foi realizada uma seleo das imagens envolvendo seis

    critrios, a saber: a) as fotos devem expor o rosto, incluindo, obrigatoriamente, as

    regies das orelhas, do queixo e da testa; b) os rostos no devem ter acessrios que

    cubram ou alterem a sua fisionomia (por exemplo, culos de sol, gorros, bon,

    maquiagem em excesso); c) a angulao do rosto deve estar de tal forma que seja

    possvel a visualizao das duas orelhas; d) a resoluo horizontal da foto deve ser igual

    ou maior a 110 pixels, garantindo qualidade satisfatria da imagem aps a impresso; e)

    as expresses devem variar entre a seriedade e um leve sorriso; e f) a idade aparente das

    pessoas deve variar entre 18 e 35 anos.

    4.3 Resultados

    A coleta resultou em um banco de 528 imagens, sendo que, aps a seleo das

    imagens envolvendo os seis critrios previamente estabelecidos, houve uma reduo

    para 160 imagens divididas equitativamente em funo do sexo (masculino e feminino)e do nvel de atratividade (alto e baixo).

    4.4 Discusso

    O objetivo do presente estudo foi construir um banco de imagens faciais,

    distribudas equitativamente em funo do sexo (masculino e feminino) e do nvel de

    atratividade (alto e baixo). Neste sentido, construiu-se um banco composto por 160

    imagens faciais. Uma vez construdo o banco de imagens, principal objetivo desse

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    estudo, elaboraram-se os passos para a realizao do Estudo 2, cuja descrio pode ser

    observada a seguir.

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    5. ESTUDO II IMAGENS FACIAIS E ATRATIVIDADE

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    Esse estudo teve como objetivo avaliar em que medida as imagens faciais

    obtidas no Estudo 1 so atraentes. Em um segundo momento, buscou-se avaliar as

    diferenas entre os nveis de atratividade das imagens. Esta proposta se apresentou

    como condio sine qua nonpara a realizao da ltima etapa da monografia (Estudo

    3), suas especificidades so detalhadas no mtodo.

    5.1 Mtodo

    5.1.1 Amostra

    Contou-se com uma amostra de 188 sujeitos da populao geral, com idades

    variando entre 15 e 53 anos (m = 23,49 e dp = 5,96), sendo a maioria feminina (51,9%),

    solteira (48,9%) e heterossexual (90,6%).

    5.1.2 Instrumentos

    O instrumento, composto a partir das 160 imagens selecionadas no Estudo 1,

    possui duas verses, uma contendo 80 fotos de mulheres e outra contendo 80 fotos de

    homens, cada verso com 40 fotos consideradas no primeiro estudo como muito

    atrativas e 40 fotos pouco atrativas. Para evitar o efeito de exposio, a posio das

    imagens no caderno de apresentao foi escolhida de forma aleatria. Assim, para cada

    uma das verses (masculina e feminina), foram elaborados 10 cadernos, contendo, cada

    um, 80 imagens correspondentes a cada verso, distribudas aleatoriamente. As ordens

    aleatrias foram obtidas por meio do site www.random.org. As imagens foram

    enumeradas de 01 a 80 e organizadas em cinco linhas de quatro colunas, totalizando

    vinte imagens por pgina, de modo que cada livreto possua quatro pginas. Para aavaliao dos nveis de atratividade de cada imagem, contou-se com uma folha de

    respostas, com estrutura similar dos livretos, exceo de que, no lugar das imagens

    faciais coloridas, havia quadrados em branco com a numerao correspondente s

    imagens e a escala de atratividade. Desse modo, os livretos serviam de referncia para

    que se fizesse a correspondncia na folha de respostas, sendo compartilhados entre os

    respondentes. Para cada imagem, o participante deveria assinalar em que medida cada

    imagem facial era atraente em sua opinio, em uma escala likertvariando de 01 (Pouco

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    atraente) a 06 (Muito atraente). Alm disso, consideraram-se algumas questes

    sociobiodemogrficas, como idade, sexo, orientao sexual e estado civil.

    5.1.3 Procedimentos

    A coleta dos dados ocorreu em lugares pblicos, como shoppings, praias, centros

    culturais, e aeroportos. Para cada participante, foi dado um dos livretos contendo as

    imagens faciais e a folha de repostas, sendo solicitado que fizesse a correspondncia

    entre as numeraes das imagens do livreto e dos quadrados da folha de respostas para a

    avaliao dos nveis de atratividade. Foi garantido o carter annimo e confidencial de

    suas respostas, bem como convidado a assinar o termo de consentimento livre e

    esclarecido, que esclarece questes ticas e garante a voluntariedade do sujeito em

    participar da pesquisa.

    5.2 Anlise dos dados

    Alm das estatsticas descritivas (mdia, desvio padro, frequncia e

    porcentagem), para avaliar a possibilidade de ser dividir as imagens faciais em dois

    grupos com nveis de atratividade significativamente diferentes, inicialmente,

    organizaram-se as imagens faciais por sexo e calculou-se o percentil de cada uma delas.Depois, selecionaram-se as imagens correspondentes aos intervalos percentlicos 20-30

    e 70-80, e compararam-se as mdias de atratividade, para cada sexo. Estas anlises

    foram efetuadas por meio do Statistical Package for the Social Sciences(SPSS) 19.

    5.3 Resultados

    Os resultados indicaram que as faces masculinas com alto nvel de atratividade

    (m = 2,80, dp= 0,04) se diferenciaram significativamente (t = 66,83, p 0,001) das

    com baixo nvel de atratividade (m = 1,52, dp= 0,02), e o mesmo ocorreu para as faces

    femininas (t = 28,34, p 0,001), considerando as imagens com alto (m = 3,68, dp =

    0,15) e com baixo (m = 1,91, dp= 0,05) nvel de atratividade, como pode ser observado

    na Tabela 1.

    Tabela 1 - Comparao de mdias dos nveis de atratividade por sexo (N = 188)

    Sexo Nvel de atratividade m dp t pHomens Alto 2,80 0,04 66,83 0,001

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    Baixo 1,52 0,02

    MulheresAlto 3,68 0,15

    28,34 0,001Baixo 1,91 0,05

    Nesta direo, percebe-se que as imagens faciais muito e pouco atraentes, de

    fato, se diferenciaram significativamente entre si em funo do nvel de atratividade.

    5.4 Discusso

    Este estudo possibilitou a organizao das imagens faciais masculinas e

    femininas, selecionadas no estudo anterior, em ordem crescente de atratividade. Autilizao da escala de avaliao permitiu ir alm das informaes obtidas no Estudo 1,

    o que possibilitou a obteno de informaes mais precisas acerca dos nveis de

    atratividade de cada imagem, permitindo uma distribuio destas em intervalos

    percentlicos. Alm disso, o estudo ainda possibilitou observar as diferenas entre os

    nveis de atratividade das imagens, com o objetivo de identificar se, de fato, as que

    correspondiam a intervalos percentlicos inferiores se diferenciavam, em nvel de

    atratividade, das imagens de intervalos percentlicos superiores.

    Os resultados encontrados so de suma importncia para realizao do Estudo 3,

    dado que o seu principal objetivo analisar se os valores humanos alteram a forma

    como as pessoas avaliam a atratividade em outras. preciso reconhecer que, sem um

    parmetro anterior, esta avaliao se tornaria invivel ou inconsistente. Em sntese, uma

    vez comprovado que as imagens pouco atraentes so significativamente menos atraentes

    do que as imagens muito atraentes, torna-se possvel a efetivao do Estudo 3, que ser

    detalhado a seguir.

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    6. ESTUDO III Valores e atratividade: uma relao possvel?

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    Uma vez realizada as etapas anteriores, obtendo-se as imagens e suas respectivas

    avaliaes, realizou-se o presente estudo, cujo principal objetivo foi avaliar a influncia

    dos valores humanos na percepo da atratividade, observando se tal influncia

    apresenta diferena na percepo de homens e de mulheres. Para tanto, contou-se comalgumas das imagens obtidas nos estudos anteriores, manipulando os valores

    correspondentes s seis subfunes apresentadas por Gouveia (2011). Um detalhamento

    das especificidades deste estudo pode ser visualizado no mtodo a seguir.

    6.1 Mtodo

    6.1.1 Delineamento e hiptesesO presente estudo obedeceu a um delineamento quase experimental, tendo sido

    manipulados a imagem apresentada ao respondente, o nvel de atratividade pr-

    estabelecido nos estudos anteriores e as subfunes valorativas para duas amostras

    independentes, a saber, de homens e de mulheres. O delineamento fatorial resultante foi

    de 2 (sexo: masculino ou feminino) x 2 (nvel de atratividade: alto ou baixo) x 6

    (subfunes valorativas: normativo, suprapessoal, existncia, experimentao,

    realizao e interacional). A avaliao da atratividade (O quanto voc considera estapessoa atraente?) foi considerada como varivel dependente (critrio), sendo o nvel de

    atratividade (alto ou baixo), pr-estabelecido nos estudos anteriores, e as subfunes

    valorativas figurados como variveis antecedentes. Com base na reviso da literatura

    acerca dos temas em questo e diante dos objetivos mencionados, foram elaboradas as

    seguintes hipteses, organizadas de acordo com a combinao fatorial (sexo x nvel de

    atratividade) a que se referem:

    Hipteses envolvendo imagens de faces masculinas com alto nvel de atratividade

    Hiptese 1. Valores normativos aumentaro o nvel de atratividade.

    Hiptese 2. Valores de experimentao reduziro o nvel de atratividade.

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    Hiptese 3. Valores de experimentao diminuiro o nvel de atratividade em

    relao s outras subfunes valorativas.

    Hipteses envolvendo imagens de faces masculinas com baixo nvel de atratividade

    Hiptese 4. Valores normativos elevaro o nvel de atratividade.

    Hiptese 5. Valores de experimentao diminuiro o nvel de atratividade.

    Hiptese 6. Valores de experimentao reduziro o nvel de atratividade em

    relao s outras subfunes valorativas.

    Hipteses envolvendo imagens de faces femininas1

    Hiptese 7. As subfunes valorativas no alteraro o nvel de atratividade

    das imagens pouco atraentes.

    Hiptese 8. Os valores no influenciaro o nvel de atratividade das imagens

    muito atraentes.

    6.1.2 Amostra

    Inicialmente, a amostra compreendeu 406 usurios do Facebook, com idades

    variando entre 16 e 62 anos (m = 24,33 e dp= 6,82), sendo a maioria feminina (61,8%),

    solteira (48,3%), heterossexual (93,3%) e catlica (43%). Entretanto, para a realizao

    das anlises, selecionaram-se aleatoriamente 10 respondentes de cada sexo para cadacombinao fatorial. Desta forma, a amostra neste estudo foi composta por 240 usurios

    do Facebook, equitativamente distribudos entre as combinaes, com idades variando

    entre 16 e 56 anos (m = 24,71 e dp = 6,79), sendo a maioria solteira (49,1%),

    heterossexual (92,1%) e catlica (38,8%), como pode ser melhor observado na Tabela 2.

    1

    As imagens do sexo feminino envolveram somente duas hipteses, pois, de acordo com omecanismo de seleo de parceiros, os homens priorizariam mais as caractersticas fsicas, sendo menospropensos a alterar sua percepo acerca da atratividade por meio de aspectos psicossociais.

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    Tabela 2 -Caracterizao da amostra (N = 240)

    Varivel Nveis f %

    Sexo Masculino 120 50,0Feminino 120 50,0

    Orientao sexual Heterossexual 221 92,1Homossexual 11 4,6Bissexual 08 3,3

    Estado civil Solteiro 119 49,6Namorando 83 34,6Casado 32 13,3Divorciado 06 2,5

    Religio Catlico 93 38,8

    Evanglico 44 18,3

    Esprita 10 4,2No tem religio 84 35,0Outras 09 3,8

    Nvel de escolaridade At ensino mdio completo 14 6,9Ensino superior incompleto 145 60,4Ensino superior completo 37 15,4Ps-graduao 44 18,3

    Renda mensal de R$0 a R$622,00 46 19,2de R$622,01 a R$1.866,00 62 25,8de R$1.866,01 a R$3.732,00 43 17,9

    de R$3.732,01 a R$6.220,00 34 14,2de R$6.220,00 a R$9.330,00 21 8,8Mais de R$9.330,00 12 5,0

    No sabe informar 22 9,2

    6.1.3 Instrumentos

    Pediu-se aos participantes que respondessem aos seguintes instrumentos:

    Cenrios compostos por Imagens Faciais e Subfunes Valorativas. Foram

    elaboradas seis estrias, representando as subfunes dos valores. Estas foram

    associadas a uma imagem, variando o sexo (masculino e feminino) e o nvel de

    atratividade (baixa e alta). Desta forma, constituram-se 24 cenrios, representados pelas

    combinaes expostas na Tabela 3.

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    Tabela 3 - Distribuio das subfunes valorativas por sexo e nvel de atratividade.

    SubunoSexo

    Masculino (M) Feminino (F)A () B () A () B ()

    Normativo (NR) MNR MNR FNR FNR

    Existncia (EX) MEX MEX FEX FEX

    Suprapessoal (SP) MSP MSP FSP FSP

    Realizao (RL) MRL MRL FRL FRL

    Experimentao (EP) MEP MEP FEP FEP

    Interacional (IT) MIT MIT FIT FITNota: A = Alta atratividade; B = Baixa atratividade.

    De acordo com a tabela acima, a estria de uma imagem do sexo masculino,

    com alta atratividade e valores normativos identifica pelo cdigo MNR. Do mesmo

    modo, a imagem do sexo feminino, com baixa atratividade e valores de experimentao,

    representada por meio do cdigo FEP. Os participantes foram convidados a ver a

    imagem facial do sexo oposto e a ler uma das estrias que representavam as subfunes

    valorativas. Cada participante teve acesso a somente uma das combinaes possveis.

    Depois de avaliarem as imagens e lerem as estrias, deveriam indicar o quo a pessoa

    da imagem, acompanhada da estria, lhes era atraente (O quanto voc considera estapessoa atraente?), utilizando, para tanto, uma escala do tipo Likert variando de 1

    (Pouco) a 6 (Muito). Alm disso, por meio de uma escala dicotmica (Sim/No),

    indicavam se a narrativa retratava uma pessoa real (Voc considera que esta narrativa

    pode retratar uma pessoal real?). Se marcasse positivamente, era levado a indicar, em

    escala de seis pontos, variando de 1 (Pouco) a 6 (Muito), o quo estaria disposto a

    relacionar-se com aquela pessoa (Em que medida voc estaria disposto(a) a se

    relacionar com esta pessoa?) e, em escala de 1 (Classe humilde) a 10 (Classe alta), qualseu provvel nvel socioeconmico (Na sua opinio, qual seria o provvel nvel

    socioeconmico dessa pessoa?). Um exemplo de uma combinao pode ser observado

    no Anexo II.

    Questionrio de Valores Bsicos (GOUVEIA, 1998; 2003). Este instrumento

    (anexo V) composto por 18 itens (valores bsicos), distribudos em seis subfunes

    psicossociais: experimentao (emoo, prazer e sexual), realizao (xito, poder e

    prestgio), existncia (estabilidade pessoal, sade e sobrevivncia), suprapessoal

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    (beleza, conhecimento e maturidade), interacional (afetividade, apoio social e

    convivncia) e normativa (obedincia, religiosidade e tradio). Para respond-lo, o

    participante deve ler a lista de valores e indicar em que medida cada um deles

    importante como um princpio que guia sua vida. Para tanto, utiliza uma escala deresposta com os seguintes extremos: 1 = Totalmente no Importante e 7 = Totalmente

    Importante. De acordo com as anlises fatoriais confirmatrias efetuadas por Gouveia

    (2003), este instrumento apresenta ndices de bondade de ajuste satisfatrios: 2/g.l =

    2,67, GFI = 0,91, AGFI = 0,89 e RMSEA = 0,05; sua consistncia interna (Alfa de

    Cronbach) mdia foi de 0,51 para o conjunto das seis subfunes.

    Escala de Desejabilidade Social de Marlowe-Crowne (RIBAS, Jr.; MOURA;HUTZ, 2004)

    Desenvolvida por Crowne e Marlowe (1960), esta escala foi originalmente

    elaborada em lngua inglesa. Expressa condutas que podem indicar uma necessidade de

    aprovao por parte dos outros e contm 33 itens retirados de escalas de personalidade

    (por exemplo, Se pudesse entrar em um cinema sem pagar e ter certeza de que no

    seria visto(a), provavelmente eu o faria eSou sempre cuidadoso(a) com meu jeito de

    vestir). Para responder s questes (anexo VI), o participante deveria assinalar

    verdadeiro (1) ou falso (0), avaliando se o item descreve seu comportamento cotidiano.

    Neste sentido, 15 itens (3, 5, 6, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 19, 22, 23, 28, 30 e 32) devem ser

    respondidos como falsos e 18 como verdadeiros (1, 2, 4, 7, 8, 13, 16, 17, 18, 20 21, 24,

    25, 26, 27, 29, 31 e 33), de modo que quanto maior a pontuao, maior o nvel de

    desejabilidade social. Conforme relatado por seus autores, o instrumento apresenta um

    coeficiente Kuder-Richardson (K-R) de 0,88, sendo validado para o contexto brasileiro

    por Ribas Jr., Moura e Hutz (2004). Na oportunidade, se comprovou a estrutura

    unifatorial da escala que apresentou consistncia interna (Alfa de Cronbach) de 0,79.

    Inventrio dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade (ANDRADE, 2008).

    Elaborado originalmente em lngua inglesa por John, Donahue e Kentle (1991) e

    adaptado para o contexto espanhol por Benet-Martnez e John (1998), est composto

    por 44 itens, sendo utilizada no presente estudo uma verso reduzida composta por 20

    itens (ANDRADE, 2008), estruturados em sentenas simples e respondidos em uma

    escala de respostas Likertde cinco pontos com os seguintes extremos: 1 = Discordo

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    totalmente e 5 = Concordo totalmente. O instrumento (anexo VII) foi elaborado para

    permitir uma eficiente e flexvel avaliao da personalidade quando no h necessidade

    de diferenciao entre as facetas individuais. Os itens so agrupados em cinco fatores, a

    saber: Abertura a mudanas ( original, tem sempre novas ideias),Conscienciosidade (Insiste at concluir a tarefa ou o trabalho), Neuroticismo (

    temperamental, muda de humor facilmente), Extroverso ( conversador,

    comunicativo) e Amabilidade (Tem capacidade de perdoar, perdoa fcil).

    Escala de Autoestima de Rosenberg (HUTZ; ZANON, 2011). A Escala de

    Autoestima foi originalmente desenvolvida por Rosenberg (1979). Esta uma medida

    unidimensional constituda por dez afirmaes relacionadas a um conjunto desentimentos de autoestima e de autoaceitao que avalia a autoestima global. Os itens

    (por exemplo, Sinto que sou uma pessoa de valor como as outras pessoas e Eu tenho

    motivos para me orgulhar na vida) so respondidos em uma escala tipoLikertde cinco

    pontos, em que 1 = Nunca e 5 = Sempre. Neste estudo, utilizou-se a verso adaptada

    para o portugus por Hutz e Zanon (2011), que pode ser observada no anexo VIII, cujos

    resultados iniciais j indicavam a unidimensionalidade do instrumento e caractersticas

    psicomtricas equivalentes s encontradas por Rosenberg (1979).

    Caracterizao da Amostra

    A ltima parte, denominada Caracterizao da Amostra, consta de perguntas

    como idade, estado civil e orientao sexual, alm de itens envolvendo religio (Qual a

    sua religio?), escolaridade (Qual o seu nvel de escolaridade?), nvel socioeconmico

    (Considerando as pessoas de seu pas, qual o seu nvel socioeconmico?), renda (Qual

    a sua renda mensal?), dentre outros. Alm dessas perguntas, os respondentes foram

    convidados a indicar algumas caractersticas fsicas, como peso e altura, bem como cor

    dos olhos, da pele e dos cabelos, devendo indicar as figuras que mais correspondessem

    s suas caractersticas. Solicitou-se, ainda, que avaliassem o seu prprio nvel de beleza

    (Comparado s pessoas do contexto em que voc vive, quo voc se considera

    bonito(a)?). Para as mulheres, foram levantadas perguntas acerca de seu ciclo

    menstrual.

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    6.1.4 Procedimentos

    Para a realizao do Estudo 3, selecionaram-se 20 das 160 imagens consideradas

    no Estudo 2,equitativamente distribudas entre sexo (masculino e feminino) e nvel de

    atratividade (alto e baixo), de modo que cada combinao fatorial foi composta porcinco imagens (Anexo III). Como as imagens utilizadas no Estudo 2 no apresentaram

    resoluo satisfatria para serem utilizadas no Estudo 3, recorreu-se a imagens

    semelhantes das mesmas pessoas que pudessem substitu-las. Esta seleo teve como

    objetivo coletar imagens que compusessem os quatro grupos, evitando o efeito de

    exposio da imagem relacionada subfuno valorativa. As imagens foram escolhidas

    levando em considerao sua resoluo e sua proximidade com os extremos

    percentlicos, de acordo com a combinao em que estava inserida. Para a seleo deimagens que comporiam o grupo das mulheres pouco atraentes, por exemplo,

    considerou-se, primeiramente, a imagem do sexo feminino de menor percentil e, em

    funo da sua resoluo, a imagem era selecionada ou no, passando para o prximo

    percentil. Os dados foram coletados por meio eletrnico, obedecendo ao procedimento

    tpico de coletas desta natureza (divulgao on-line do link da pesquisa e tabulao

    automtica dos dados) e as especificidades dos estudos quase experimentais.

    Para a divulgao, enviou-se, aleatoriamente, para usurios do Facebook, em

    seus murais e caixas de mensagens, o link de acesso pesquisa. Na ocasio, foram

    informados os objetivos do estudo, resguardando quaisquer informaes que pudessem

    comprometer a imparcialidade do respondente. Por fim, explicitou-se que todas as

    informaes disponibilizadas pelo participante tinham carter annimo. O link de

    acesso pesquisa redirecionava o participante a um link, entre 12, correspondente s

    combinaes das variveis controladas pelo delineamento fatorial do presente estudo

    (nvel de atratividade x subfunes valorativas). Em cada link, o participante deveria

    indicar o seu sexo e, em funo de sua resposta, era novamente redirecionado, desta vez

    a uma das cinco imagens da combinao fatorial correspondente ao link. Para tanto,

    considerou-se dois algoritmos de randomizao, um para o redirecionamento dos links e

    outro para o redirecionamento das imagens, assim os questionrios foram

    contrabalanceados de modo que as 12 combinaes reunissem quantitativos

    aproximados de participantes.

    Em cada link, como mencionado, considerou-se 10 respondentes de cada sexo,

    totalizando os 240 componentes da amostra. Desta forma, para garantir a distribuio

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    equitativa dos respondentes em cada link, quando um destes alcanava o nmero de 10

    respondentes, era excludo do algoritmo de randomizao, evitando que os prximos

    fossem redirecionados para ele. Na tela de apresentao de pesquisa, informava-se aos

    participantes o objetivo geral, indicando que a mesma tinha como propsito analisaralguns aspectos relacionados com a identificao de rostos que se poderiam encontrar

    no cotidiano. Foi mencionado que as descries (subfunes valorativas) poderiam ou

    no corresponder ao perfil real das pessoas e que o respondente deveria, antes de

    prosseguir, acessar ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Neste termo foi

    enfatizado que, clicando em Prosseguir, o colaborador estaria concordando em

    participar, sendo, portanto, liberado o acesso ao questionrio. Um tempo mdio de 20

    minutos foi suficiente para a concluso da participao.

    6.2 Anlise dos dados

    Para a realizao da anlise dos dados, utilizou-se o software SPSS 19

    (Statistical Package for the Social Sciences). Alm das estatsticas descritivas (medidas

    de tendncia central e de disperso, frequncias e porcentagens), utilizadas para o

    levantamento de caractersticas biossociodemogrficas (por exemplo, idade, estado

    civil, religio), compararam-se, por meio de testes t para amostras emparelhadas, as

    mdias dos nveis de atratividade entre as imagens acompanhadas das subfunes

    valorativas (Estudo 3) e suas correspondentes no Estudo 2, para cada combinao (sexo

    x nvel de atratividade). Em seguida, realizaram-se anlises de covarincia (ANCOVA)

    a fim de comparar as mdias das imagens acompanhadas das subfunes valorativas

    entre si, buscando controlar o efeito da desejabilidade social entre os participantes.

    6.3 Resultados

    As trs primeiras hipteses referem-se combinao fatorial de imagens de

    faces masculinas com alto nvel de atratividade. A primeira hiptese (Hiptese 1)

    previa que as imagens deste grupo acompanhadas de valores normativos apresentariam

    pontuaes significativamente maiores do que suas correspondentes no Estudo 2. Esta

    hiptese foi refutada [t= -1,68; p> 0,05]. Deste modo, para esta amostra, os valores

    normativos no alteraram positivamente o nvel de atratividade de homens consideradosatraentes (Tabela 4). A Hiptese 2previa que as imagens de faces masculinas com alto

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    nvel de atratividade acompanhadas de valores de experimentao apresentariam

    pontuaes significativamente menores do que suas correspondentes no Estudo 2. Os

    dados confirmaram esta hiptese [t= -4,39;p 0,001], demonstrando que, neste caso, o

    nvel de atratividade foi significativamente menor no grupo das imagens acompanhadasde valores de experimentao (m = 2,30, dp = 1,06) do que no correspondente do

    Estudo 2 (m = 4,23, dp= 1,32), em que no havia a presena da estria, como pode ser

    observado na tabela 4.

    Tabela 4 - Comparao de mdias da atratividade de homens muito atraentes

    Hiptese Imagens de homens muito atraentes... m dp t p

    1Acompanhadas de valores normativos 3,50 1,27

    -1,68 > 0,05Sem a presena dos valores 4,23 1,32

    2Acompanh