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LUIZITA HENCKEMAIER
O IMAGINRIO DA SEGURANA DO PACIENTE NA
PERSPECTIVA DAS FAMLIAS QUE VIVENCIAM O
QUOTIDIANO DE HOSPITALIZAO
Tese de Doutorado apresentado ao Programa de Ps-Graduao em
Enfermagem do Centro de Cincias da Sade, da Universidade Federal de
Santa Catarina, para a obteno do Grau de Doutor em Enfermagem.
rea de Concentrao: Filosofia e Cuidado em Sade e Enfermagem.
Linha de Pesquisa: Promoo da Sade no Processo de Viver Humano e
Enfermagem. Orientadora: Prof. Dra. Rosane
Gonalves Nitschke
FLORIANPOLIS - SC
2016
2
4
Dedico este trabalho Professora Dra.
Ingrid Elsen, que esteve sempre
presente tanto na minha trajetria
acadmica quanto profissional, com
contribuies inigualveis. E que
instigou e estimulou a continuidade
das pesquisas relacionadas famlia,
principalmente s hospitalizadas.
6
AGRADECIMENTOS
Durante o perodo de doutoramento, muitas foram as barreiras
que estiveram presentes nesta trajetria, entre elas os problemas de
sade e as mudanas na vida profissional. Para conseguir chegar ao final,
muitos auxlios foram recebidos, entre eles, a orao, que suporte em
minha vida. Portanto, agradeo a Deus a permanncia e a concluso
deste curso de doutorado, lembrando que sem Ele, nada seremos.
Quero muito agradecer minha famlia que sempre esteve presente
em todos os desafios da vida, at mesmo quando eu achava que a vida
no mais me pertencia. Foi na famlia que consegui superar todos os
obstculos que estiveram em meu caminho. Em especial aos meus
queridos pais, Helena e Bertolino que, apesar de no estarem mais
fisicamente entre ns, sempre acreditaram em mim e no meu
crescimento, desde o momento da concepo. Pai, Me devo toda a
minha vida a vocs dois. Obrigada!
Aos meus onze irmos que me viram nascer, crescer e
desenvolver, sempre apoiando e aplaudindo cada etapa da minha vida.
Saibam que somos uma famlia unida e servimos de alicerce um ao
outro. No esquecendo os cunhados, cunhadas, sobrinhos, sobrinhas e
at mesmo os sobrinhos netos que me fizeram conhecer, re-conhecer e
vivenciar os diferentes papis que exero dentro da famlia Henckemaier.
s amigas Carin Iara Loeffler, Katya Margot Loeffler, Jacqueline
Silva, Silvana Benedet, Mareluce Gehrke que fazem parte desta grande
famlia, e que acompanharam a minha trajetria de vida, com momentos
de inspiraes e de descontraes que foram indispensveis para chegar
at aqui.
Agradeo professora Dra. Rosane Gonalves Nitschke, pela
amizade, incentivo incansvel no permitindo, por vrias vezes, a
desistncia deste doutorado. Agradeo tambm suas inmeras
contribuies por meio do seu conhecimento acerca da pesquisa em
questo. Sabemos quantas dificuldades nos foram colocadas durante este
processo, mas conseguimos superar todas e continuaremos lutando por
uma profisso mais humanizada.
Alm de dedicar-lhe esta tese, professora Dra. Ingrid Elsen, tenho
muito a lhe agradecer, porque sempre foi muito mais do que uma
professora. Foi com a senhora que aprendi o real significado do ser
enfermeira, portanto volto a afirmar que a considero como minha me
na enfermagem.
Agradeo aos demais membros da banca, efetivos e suplentes:
Dra. Jussara Gue Martini, Dr. lvaro Pereira, Dra. Adriana Dutra Tholl,
8
Dra. Lcia Nazareth Amante, Dra. Francis Solange Vieira Tourinho e
Dra. Raimunda da Costa Araruna, que aceitaram participar deste
momento, dedicando o seu precioso tempo para dar valiosas
contribuies para a finalizao desta tese.
Aos docentes do curso de ps-graduao em enfermagem, que
com seus ensinamentos contriburam para a construo desta tese de
doutoramento. Ao Programa de Ps-Graduao que me possibilitou a
frequncia neste curso, bem como a sua prorrogao para finalizar o
trabalho.
Aos membros do NUPEQUISFAM-SC, que por meio das
discusses nos encontros semanais sobre o quotidiano, o imaginrio e
nas prticas do cuidar de si e cuidar do outro, contriburam para a
minha reflexo e o meu autocuidado.
equipe multiprofissional do Hospital Universitrio, que me
incentivou para o trmino do processo de doutoramento, representada
pelos membros do Comit de Segurana do Paciente, Ncleo de
Vigilncia Hospitalar, Servio de Infeco Hospitalar, Grupo
Humanizao, Comisso de tica, Diretoria de Enfermagem, Unidades
de Internao Cirrgica e Ginecolgica.
Enfim, agradeo s famlias que aceitaram fazer parte deste
estudo, e que aps o trmino das entrevistas manifestaram seu
agradecimento verbalizando este como uma oportunidade de
aprendizado e de escuta por algum dentro do hospital.
Ainda que tivesse o dom da profecia,
[...] que eu tivesse a f, a ponto de transportar montanhas, se no tivesse amor, eu no seria nada (Cor 13: 2).
10
HENCKEMAIER, Luizita. O imaginrio da Segurana do Paciente
na perspectiva das famlias que vivenciam o quotidiano de hospitali-zao. 2016. 194f. Tese (Doutorado em Enfermagem) Programa de Ps-
Graduao em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianpolis, 2016.
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa de campo, com abordagem qualitativa, do tipo
exploratrio e descritivo, fundamentada na Sociologia Compreensiva e
do Quotidiano de Michel Maffesoli, que objetivou compreender o
imaginrio sobre a segurana do paciente e o cuidado seguro na
perspectiva das famlias que vivenciam o quotidiano de
hospitalizao. Atravs de entrevistas semiestruturadas e da
observao, participaram do estudo 12 famlias que possuam um de
seus membros internado em um Hospital Universitrio no Sul do Brasil,
no perodo de maro a maio de 2016. Utilizou-se o software Atlas.ti
para organizao e agrupamento dos dados. A anlise foi a partir de
Shatzmann e Strauss, surgindo as categorias: Membros da famlia:
quem so estas pessoas? O quotidiano da famlia; O quotidiano da
famlia no hospital; O significado da segurana do paciente e do
cuidado seguro; Experincias anteriores acerca da segurana do
paciente; A famlia como partcipe da segurana do paciente;
Equipe de sade preparada para o cuidado seguro; Limites e
Potncias para a Segurana do Paciente. Esta pesquisa resultou em
quatro manuscritos, sendo o primeiro relacionado segurana do paciente e a famlia no quotidiano hospitalar, analisando as produes
sobre a segurana do paciente e as famlias no quotidiano hospitalar, no
perodo de 2011 a 2016. O segundo, a produo do conhecimento sobre
quotidiano e imaginrio em dissertaes e teses na enfermagem brasileira objetivou analisar a produo em dissertaes e teses dos
pesquisadores da enfermagem brasileira sobre quotidiano e imaginrio,
no perodo de 2000 a 2015. O terceiro, o quotidiano da famlia diante da hospitalizao buscou compreender o quotidiano da famlia durante a
internao hospitalar de um de seus membros. O quotidiano evidenciado
pelos modos de vida diante da hospitalizao marcado pela incerteza
do diagnstico, do tratamento e a vida que continua fora do hospital,
sendo necessria uma organizao familiar para estar junto. E o quarto,
o imaginrio da famlia acerca da segurana do paciente no encontro
com o quotidiano da hospitalizao, objetivou compreender o
imaginrio sobre a segurana do paciente e o cuidado seguro na
12
perspectiva das famlias que vivenciam o quotidiano de hospitalizao.
Evidencia-se a satisfao das famlias com o cuidado profissional,
valorizando ter conseguido uma vaga em um hospital bem qualificado,
assim como percebem falhas na comunicao entre os profissionais e a
famlia. Conclui-se que a famlia est atenta aos movimentos que
acontecem no hospital, desde os mais complexos aos mais simples,
apontando potncias e limites para a Segurana do Paciente que ocorrem
no quotidiano da hospitalizao. Destaca-se a relevncia do imaginrio
envolvendo a Segurana do Paciente, especialmente, no que se refere
construo de uma Cultura de Segurana, considerando que as pessoas
agem de acordo com os significados que os eventos tm para elas.
Reafirmando-se a Tese: a Famlia uma importante aliada na
Segurana do Paciente, sendo preciso compreender seu quotidiano e
seu imaginrio, para, assim, contribuir afetivamente e efetivamente,
para a garantia de um cuidado seguro e a construo de uma
cultura da segurana no quotidiano da hospitalizao.
Palavras-chave: Segurana do paciente. Famlia. Enfermagem.
Atividades cotidianas. Imaginrio. Hospitalizao. Sade.
HENCKEMAIER, Luizita. The Imaginary of the Inpatient Safety
from the Perspective of Families Experiencing the Daily Routine of a Hospitalization. 2016. 194f. Thesis (Doctorate in Nursing) Post-
Graduate Program in Nursing, Federal University of Santa Catarina,
Florianpolis, 2016.
ABSTRACT
This is a field research with a qualitative, exploratory and descriptive
approach, based on the Day-to-Day Life and Comprehensive Sociology
of Michel Maffesoli, aimed to understand the imaginary of inpatient
safety and safe healthcare from the perspective of families
experiencing the daily routine of a hospitalization. Conducted
through semi-structured interviews and observation, the study included
12 families that had one of its members admitted as an inpatient in a
university hospital, from March to May 2016. We used the Atlas.ti
software for arranging and assorting of data. The analysis, from the
work of Shatzmann and Strauss, raised the following categories: family
members: who are these people? The day-to-day life of the family;
the daily routine of the family in the hospital; the significance of
inpatient safety and safe healthcare; previous experiences related to
inpatient safety; the family as a participant of inpatient safety; well-
prepared staff for safe healthcare; Limits and Powers for Patient
Safety. This research resulted in four manuscripts, the first of which
linked to the safety of the inpatient and the family in the daily routine of
the hospital, analyzing the scientific output on the safety of the inpatient
and the family in the daily routine of a hospital, from 2011 to 2016. The
second, the scientific output related to day-to-day life and imaginary of
dissertations and theses in the scope of Brazilian nursing practice,
intended to analyze the output of Brazilian nursing on day-to-day life
and imaginary, from 2000 to 2015. The third, the family's daily life
facing the hospitalization purposed to understand the day-to-day life of
the family when one of its members is an inpatient. In addition to coping
with the hospitalization of a member, the daily life of the family is
characterized by uncertainty of diagnosis, treatment and the life that
goes on outside the hospital, making it necessary to plan family
14
activities to stay with the inpatient. Fourth, the family imaginary
connected to the safety of the inpatient in meeting with the daily routine
of a hospitalization, in order to understand the imaginary of inpatient
safety and safe healthcare from the perspective of families experiencing
the daily routine of a hospitalization. The satisfaction of families with
professional care is evident, appreciating the fact of having obtained an
admission in a highly regarded hospital; on the other hand, the families
realize miscommunication between professional staff and family. It is
concluded that the family is aware of the movements taking place in the
hospital, from the most complex to the simplest, pointing powers and
limits for inpatient safety that occur in the daily routine of the hospital.
It highlights the importance of imaginary involving the Inpatient Safety,
especially as regards the construction of a safety culture, taking into
account that people act according to what they think the meaning of
events is. Reaffirming the point: the family plays a critical role in
Patient Safety, and its necessary to understand their day-to-day
lives and their imaginary to contribute affectively and effectively
and to ensure safe healthcare and to build a culture of safety in the
daily routine of a hospital stay.
Keywords: Patient safety. Famly. Nursing. Activities of daily living.
Imaginary. Hospitalization. Health.
HENCKEMAIER, Luizita. El imaginrio de la seguridade del pacien-
te em la perspectiva de las famlias viviendo la rutina diaria de la hospitalizacin. 2016. 194f. Tesis (Doctorado en Enfermera) Programa
de Postgrado en Enfermera, Universidad Federal de Santa Catarina,
Florianpolis, 2016.
RESUMEN
Se trata de una investigacin de campo con un enfoque cualitativo,
exploratorio y descriptivo, basado en la Sociologa Comprensiva y de la
Vida Cotidiana de Michel Maffesoli, cuyo objetivo es entender el
imaginario de la seguridad del paciente y del cuidado de sade
seguro desde la perspectiva de las familias que experimentan la
rutina diria de la hospitalizacin. A travs de entrevistas
semiestructuradas y observacin, el estudio ha incluido 12 familias que
tenan uno de sus miembros internado en un hospital universitario, del
marzo a mayo de 2016. Se utiliz el software Atlas.ti para organizar y
agrupar los datos. El anlisis fue llevado a cabo basado en Shatzmann y
Strauss, donde se emergen las categoras: miembros de la familia:
Quines son estas personas? La vida cotidiana de la familia. La
vida cotidiana de la famlia en el hospital; la importancia de la
seguridad del paciente y del cuidado seguro; las experiencias
previas sobre la seguridad del paciente; la familia como participante
de la seguridad del paciente; equipo de salud preparado para una
atencin segura; lmites y potencias para la seguridad del paciente.
El resultado de esta investigacin ha resultado em cuatro manuscritos, el
primero relacionado con la seguridad del paciente y de la familia en la
rutina diaria del hospital, mediante el anlisis de las producciones
cientficas acerca de la seguridad del paciente y de la familia em la
rutina diaria del hospital, del 2011 a 2016. La segunda, la produccin de
conocimiento acerca de la vida cotidiana del imaginario de
disertaciones y tesis en enfermera brasilea, tuvo como objetivo
analizar la produccin de disertaciones y tesis de los investigadores de la
enfermera brasilea acerca de la vida cotidiana y del imaginario, del
2000 a 2015. El tercero, la vida cotidiana de la familia ante la
hospitaliacin, tuvo el objetivo de comprender la vida cotidiana de la
16
familia durante la hospitalizacin de uno de sus miembros. La vida
cotidiana que se evidencia por los modos de vida ante la hospitalizacin
est marcada por la incertidumbre del diagnstico, del tratamiento y por
la vida que contina fuera del hospital, lo que requiere una organizacin
de la familia para estar presente con el membro internado de la familia.
Y el cuarto, el imaginrio de la familia sobre la seguridad del paciente
viviendo la rutina diaria de la hospitalizacin, cuyo objetivo es entender
el imaginario de la seguridad del paciente y del cuidado desde la
perspectiva de las familias que experimentan la rutina diria de la
hospitalizacin. La satisfaccin de las familias con la atencin
profesional es evidente, valorando la obtencin de una internacin en un
hospital altamente calificado, as como se dan cuenta de la falta de
comunicacin entre los profesionales y familiares. Se concluye que la
familia est al tanto de los movimientos que tienen lugar en el hospital,
desde los ms complejos a los ms sencillos, sealando poderes y
lmites para la seguridad del paciente que se producen en la rutina diria
de la hospitalizacin. Se destaca la importancia del imaginrio que
implica la seguridad de los pacientes, sobre todo en lo relativo a la
construccin de una cultura de seguridad, teniendo en cuenta que las
personas actan de acuerdo con el significado de que los eventos tienen
para ellos. Reafirmando la tesis: la familia desempea um papel muy
importante en la seguridad del paciente, y es necesario entender su
vida cotidiana y su imaginario, para as contribuir afectiva y
efectivamente, para garantizar una atencin segura y la
construccin de una cultura de seguridad en el cotidiano de la
hospitalizacin.
Palabras-Clave: Seguridad del paciente. Familia. Enfermera.
Actividades cotidianas. Imaginario. Hospitalizacin. Salud.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Caracterizao dos estudos selecionados quanto ao ano de
publicao (2011-2016), autores, ttulo do artigo e peridico. ..................... 51
Quadro 2 - Apresentao do lbum das famlias. ................................. 81
Quadro 3 - Apresentao do Manuscrito 1: A segurana do paciente e a
famlia no quotidiano hospitalar ............................................................ 89
Quadro 4 - Apresentao do Manuscrito 2: A produo do
conhecimento sobre quotidiano e imaginrio em dissertaes e teses na
enfermagem brasileira ........................................................................... 90
Quadro 5 - Apresentao dos resultados atravs das categorias do
Manuscrito 3: O quotidiano da famlia diante da hospitalizao. ......... 91
Quadro 6 - Apresentao dos resultados atravs das categorias do
Manuscrito 4: O imaginrio da famlia acerca da segurana do paciente
num encontro com o quotidiano da hospitalizao. .............................. 91
Quadro 7- Caracterizao dos estudos de acordo com o Referencial
Terico-Metodolgico ........................................................................... 97
Quadro 8 - Relao das teses e dissertaes includas no estudo ......... 98
18
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Representao grfica do quotidiano da famlia diante da
hospitalizao ........................................................................................ 87
Figura 2: Representao grfica do imaginrio da famlia acerca da
Segurana do Paciente ........................................................................... 88
20
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABEn/N - Associao Brasileira de Enfermagem Nacional
ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
AIDS - Acquired Immunodeficiency Syndrome
BMJ - British Medical Journal - Quality and Safety CEAQ Centre dEtudes sur lActuel et le Quotidien CEC/UFSC - Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal de
Santa Catarina
CEPEn - Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem
CNPq Conselho Nacional de Pesquisa
CNS - Conselho Nacional de Sade
COFEn Conselho Federal de Enfermagem
COREn Conselho Regional de Enfermagem
COSEP - Comit de Segurana do Paciente
CONEP - Conselho Nacional de Pesquisa
DeCS - Descritores em Cincias da Sade
EA Eventos adversos
EAM - Efeitos Adversos a Medicamentos
EFC - Ensino Fundamental Completo
EFI - Ensino Fundamental Incompleto
EMC - Ensino Mdio Completo
ESC - Ensino Superior Completo
ESI - Ensino Superior Incompleto
EUA Estados Unidos da Amrica
GAPEFAM Grupo de Assistncia, Pesquisa e Educao na rea da
Sade da Famlia
HM Higienizao das Mos
HU - Hospital Universitrio Professor Polydoro Ernani de So Thiago
IOM - Institute of Medicine IRAS - Infeces Relacionadas Assistncia a Sade
JCAHO - Joint Comission on Accreditation of Healthcare Organizations LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da
Sade
MeSH - Medical Subject Headings MIFS - Medical Insurance Feasibility Study MS Ministrio da Sade
NI - Notas de Interao
NM - Notas Metodolgicas
NOTIVISA - Sistema de Notificaes em Vigilncia Sanitria
NR - Notas Reflexivas
22
NSP - Ncleo de Segurana do Paciente
NT - Notas Tericas
NUPEQUISFAM-SC - Laboratrio de Pesquisa, Tecnologia e inovao
em Enfermagem, Quotidiano, Imaginrio, Sade e Famlia de Santa
Catarina.
NUPEQS-SC - Ncleo de Pesquisa e Estudos sobre Quotidiano, e Sade
de Santa Catarina.
OACs - Organizao Altamente Confiveis
OMS - Organizao Mundial de Sade
ONU - Organizao das Naes Unidas
OPAS - Organizao Pan-americana de Sade
PEN - Programa de Ps-graduao em Enfermagem
PNSP - Programa Nacional de Segurana do Paciente
PubMed - Medical Literature Analysis and Retrieval System On-line
RAM Reaes Adversas relacionadas a Medicamentos
REBEn - Revista Brasileira de Enfermagem
REBRAENSP - Rede Brasileira de Enfermagem e Segurana do
Paciente
SciELO - Scientific Electronic Library On-line
SN Sistema de Notificao
SP - Segurana do Paciente
SUS - Sistema nico de Sade
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UP - lceras por Presso
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
SUMRIO
CAPTULO I: INTRODUO ......................................................... 25 1.1 UM ENCONTRO COM A SEGURANA DO PACIENTE E O
IMAGINRIO NO QUOTIDIANO ................................................. 25
1.2 OBJETIVO GERAL .................................................................... 33
1.3 TESE ........................................................................................... 33
CAPTULO II REVISO DE LITERATURA .............................. 35
2.1 CONTEXTUALIZANDO A SEGURANA DO PACIENTE NO
HOSPITAL ........................................................................................ 35
2.2 METAS INTERNACIONAIS DE SEGURANA DO PACIENTE
........................................................................................................... 37
2.3 O FORTALECIMENTO DA CULTURA DE SEGURANA NAS
INSTITUIES DE SADE ........................................................... 42
2.4 MANUSCRITO 1: A SEGURANA DO PACIENTE E A
FAMLIA NO QUOTIDIANO HOSPITALAR ................................. 46
CAPTULO III REFERENCIAL TERICO-METODOLGICO
............................................................................................................... 67
3.1 APRESENTANDO MICHEL MAFFESOLI ............................... 67
3.2 ALGUMAS NOES APRESENTADAS POR MICHEL
MAFFESOLI .................................................................................... 68
3.2.1 Primeiro Pressuposto: A crtica ao dualismo esquemtico 70 3.2.2 Segundo Pressuposto: A forma ........................................... 71 3.2.3 Terceiro Pressuposto: Uma sensibilidade relativista .......... 72
3.2.4 Quarto Pressuposto: Uma pesquisa estilstica ................... 73 3.2.5 Quinto Pressuposto: Um pensamento libertrio ................ 73
CAPTULO IV METODOLOGIA ................................................. 75
4.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA ...................................... 75
4.2. CONTEXTUALIZAO DO LOCAL DA PESQUISA ........... 76
4.3 COLETA DOS DADOS .............................................................. 77
4.4 ASPECTOS TICOS RELACIONADOS PESQUISA ........... 78
4.5 PARTICIPANTES DA PESQUISA ............................................. 80
4.6 REGISTRO DOS DADOS .......................................................... 84
4.7 ORGANIZAO DOS DADOS ................................................ 85
4.8 ANLISE DOS DADOS ............................................................. 86
CAPTULO V RESULTADOS ........................................................ 89 5.1 MANUSCRITO 2: A PRODUO DO CONHECIMENTO
SOBRE QUOTIDIANO E IMAGINRIO EM DISSERTAES E
TESES NA ENFERMAGEM BRASILEIRA .................................... 92
5.2 MANUSCRITO 3 O QUOTIDIANO DA FAMLIA DIANTE
DA HOSPITALIZAO ................................................................ 114
24
5.3 MANUSCRITO 4 O IMAGINRIO DA FAMLIA ACERCA
DA SEGURANA DO PACIENTE NUM ENCONTRO COM O
QUOTIDIANO DA HOSPITALIZAO ...................................... 134
CAPTULO VI: CONSIDERAES FINAIS ............................... 161
REFERNCIAS ................................................................................ 163
APNDICES ..................................................................................... 183
APNDICE A: PROTOCOLO PARA REVISO INTEGRATIVA
DE LITERATURA ............................................................................ 184
APNDICE B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO ............................................................................... 186
APNDICE C: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ...... 188
APNDICE D: DIRIO DE CAMPO ............................................ 189
ANEXO A: APROVAO DO COMIT DE TICA EM
PESQUISA......................................................................................... 192
25
CAPTULO I: INTRODUO
1.1 UM ENCONTRO COM A SEGURANA DO PACIENTE E O
IMAGINRIO NO QUOTIDIANO
O enfoque do cuidado de enfermagem famlia sempre esteve
presente no quotidiano ao longo da experincia de vinte e quatro anos de
profisso. Toda esta caminhada construda, desde o incio da atuao
como profissional enfermeira na rea hospitalar na unidade de terapia
intensiva adulto, passando pela emergncia, unidade de internao
cirrgica at maternidade, manteve e reforou a importncia tanto do
cuidado famlia, como do cuidado transcultural na hospitalizao.
Com base na histria de vida, pautada nos laos de famlia
construdos ao longo desta trajetria, sempre houve a busca da incluso
da famlia, enquanto unidade de cuidado, em todas as etapas do
quotidiano hospitalar na atuao como enfermeira. Assim, os caminhos
percorridos para fundamentar a importncia do cuidado famlia
hospitalizada foram se entrelaando com histria de vida profissional, a
comear pela participao em grupos de pesquisa.
Na dcada de 90, durante a Graduao em Enfermagem, surgiu a
oportunidade de participar como membro do Grupo de Assistncia,
Pesquisa e Educao na rea da Sade da Famlia (GAPEFAM), criado
e dirigido pela Professora Dra. Ingrid Elsen. As diversas modalidades de
bolsa de pesquisa existentes na poca fizeram parte da formao
profissional com participao em todas as atividades desenvolvidas pelo
grupo de pesquisa, oportunizando, inclusive a divulgao em meio
cientfico das produes realizadas.
Por sua vez, a atuao profissional como enfermeira assistencial
iniciou em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital geral
em Florianpolis, concomitante a funo de pesquisadora no
GAPEFAM. Dois mundos completamente diferentes, mas
indispensveis para a construo do conhecimento tcnico e poltico
acerca da profisso e dos problemas de sade da populao brasileira.
Ento aconteceu o inusitado... Numa noite de planto na UTI, por
volta das vinte e duas horas, ouo um grito estridente de socorro.
Imediatamente nos dirigimos ao corredor do hospital e j era visvel a
nuvem negra de fumaa... Inacreditvel, mas estava acontecendo um
horrvel incndio que destruiu 80% do hospital, inclusive a UTI. Os
pacientes foram levados em ambulncia para os outros hospitais da
grande Florianpolis.
26
No dia seguinte, alm do cheiro de fumaa impregnado no corpo,
veio a incerteza do emprego. Como continuaramos a atuar na profisso,
se o local de trabalho estava destrudo? Ento, recebi a notcia de que
seria transferida para a UTI de um Hospital Estadual, ficando quatro
meses at a recuperao do hospital de origem. Neste perodo, fui
questionada por alguns profissionais sobre a perda de equipamentos
especficos da UTI durante o fogo. A resposta imediata dada foi que o
mais importante era salvar as vidas que estavam sob os nossos cuidados
em um momento trgico como um incndio.
Neste momento, ficou claro que a segurana que queremos vai
muito alm dos bens materiais, mas sim das vidas que esto envolvidas
nos eventos que podem acontecer no decorrer dos nossos plantes.
Segurana esta que envolve as vidas das pessoas que esto necessitando
de cuidados especializados e que esperam a recuperao de sua sade e
no acrescentar agravos que podem prolongar o tempo de tratamento.
H mais de dois mil anos, o chamado pai da medicina,
Hipcrates j defendia a importncia de manter as pessoas que
necessitam de cuidados nas instituies de sade com o mximo de
segurana (WACHTER, 2013). Assim, tambm Florence Nightingale,
nossa precursora na Enfermagem, j enunciava que o mnimo que
podemos fazer proteger as pessoas que esto sob os nossos cuidados
nas instituies de sade (NIGHTINGALE, 1989).
Deste modo, no dia a dia da unidade de emergncia e, depois, nas
unidades de internao cirrgica, emergncia obsttrica/ginecolgica e
internao ginecolgica, vm confirmando a importncia de cuidar das
pessoas e suas famlias, tentando minimizar os riscos que podem estar
envolvidos no quotidiano hospitalar.
Continuando a trajetria profissional, cursei a Especializao em
Enfermagem em Sade da Famlia e o Mestrado em Assistncia de
Enfermagem, cujos trabalhos de concluso tiveram foco na famlia em
situao de hospitalizao na unidade de internao ginecolgica, sendo
fundamentados no cuidado transcultural, o que veio aprofundar este
conhecimento contextualizado no quotidiano do ser enfermeira.
A oportunidade de docncia junto assistncia surge em 1998,
momento em que a contribuio e crescimento da vida acadmica foram
importantes para a formao profissional. Neste perodo, vrias
atividades de ensino, pesquisa, extenso e gesto, vivenciadas
trouxeram-me o encanto do crescimento profissional junto aos alunos do
Curso de Graduao em Enfermagem, de uma Universidade do Sul de
Santa Catarina, inclusive tendo a oportunidade de coorden-los por trs
anos. Durante os encontros com os estudantes, embora baseados em
27
metodologia tradicional, conseguamos trazer o quotidiano da prtica
profissional para sala de aula e as evidncias cientficas para o ambiente
hospitalar. Entre um ir e vir de compartilhar saberes passaram-se doze
anos de muito aprendizado, pautados nos princpios do aprender a
aprender, quebrando paradigmas at ento construdos na trajetria
acadmica.
Como no poderiam deixar de ocorrer, vieram as mudanas. Ao
dar uma pausa no quotidiano da docncia, devido s mudanas
institucionais, surgiu a necessidade de continuar a realizar pesquisas,
quando se iniciou minha participao no Laboratrio de Pesquisa,
Tecnologia e Inovao em Enfermagem, Quotidiano, Imaginrio, Sade
e Famlia de Santa Catarina (NUPEQUISFAM-SC).
A abordagem dos processos de viver e ser saudvel, com base nos
pressupostos da Sociologia Compreensiva e do Quotidiano, tem se
constitudo objeto de anlise no decorrer da histria do
NUPEQUISFAM-SC, buscando respostas s questes vividas no
quotidiano da enfermagem e dos servios de sade.
O NUPEQUISFAM-SC foi criado em 1993, como Ncleo de
Pesquisa e Estudos sobre Quotidiano, e Sade de Santa Catarina,
NUPEQS-SC, sob coordenao da Prof. Dra. Ana Lcia Magela de
Rezende, inspirado no Centre d`Etude sur l`Actuel et le Quotidien
Sorbonne, Paris V, dirigido pelo Prof. Dr. Michel Maffesoli e na
vivncia do NUPEQS-MG, estando desde sua criao ligado ao
Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal
de Santa Catarina (PEN/UFSC) (NITSCHKE, 1999).
Constituiu-se como Projeto Integrado de Pesquisas e Estudos em
1994, ocasio em que se cadastrou junto ao Diretrio de Grupos do
Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). A professora Dra. Ana Lcia
Magela de Rezende coordenou o grupo de pesquisas at 1997, quando a
liderana passou professora Rosane Gonalves Nitschke, at 2008, e
de 2010 at o momento, a qual integra o grupo desde sua criao,
contribuindo com os estudos sobre famlia e sade, entrelaando-os com
a perspectiva do quotidiano e do imaginrio na ps-modernidade.
Assim, a trajetria do grupo, ao longo de seus vinte e trs anos,
foi sendo pontuada por produo cientfica significativa, integrando
ensino, pesquisa e extenso, enfocando o quotidiano, ressaltando-se o
imaginrio, a razo sensvel, no seu entrelaamento com a rea da sade
em geral, mas, sobretudo, na rea da enfermagem e da famlia,
caracterizando-se assim nos dias de hoje como Laboratrio de Pesquisa,
Tecnologia e Inovao em Enfermagem, Quotidiano, Imaginrio, Sade
e Famlia de Santa Catarina (NUPEQUISFAM - SC).
28
A vontade de continuar desbravando o mundo do conhecimento
resultou com a aprovao para cursar o Doutorado em Enfermagem, no
Programa de Ps-Graduao em Enfermagem (PEN) da UFSC, na rea
de Concentrao: Filosofia, Cuidado em Sade e Enfermagem.
Inicialmente, pretendia continuar com os estudos na rea da ginecologia,
mais especificamente com mulheres histerectomizadas e suas famlias,
fundamentada na Sociologia Compreensiva do Quotidiano de Michel
Maffesoli, sob a orientao da Professora Dra. Rosane Gonalves
Nitschke.
Surgiu ento, a oportunidade de ser aprovada para ser a primeira
enfermeira do Ncleo de Segurana do Paciente (NSP) e Coordenadora
do Comit de Segurana do Paciente (COSEP), ambos em um Hospital
Universitrio. Quantas mudanas e quantas dvidas e desafios
entrelaados! Junto a essas mudanas, o desafio expresso pela
necessidade de mudar o projeto de tese, vindo a focar em uma rea
pouco estudada que a Famlia como aliada na Segurana do
Paciente, continuando com o mesmo referencial. Um grande desafio
que se colocava em meu quotidiano profissional e acadmico!
Novas motivaes passaram a fazer parte da trajetria durante o
ano de 2014 e as participaes em cursos relacionados segurana do
paciente, vieram a ser um diferencial para diminuir as dvidas e firmar
as mudanas at ento ocorridas. Estes eventos foram fundamentais para
o fortalecimento, tanto do trabalho desenvolvido no NSP e COSEP de
um Hospital Universitrio do Sul do Brasil, como no prosseguimento da
pesquisa no doutorado. As capacitaes nesta rea foram indispensveis
para instrumentalizao acerca do tema, ou seja, para implementar as
metas e aes de Segurana do Paciente (SP), bem como para estar
qualificada para um contnuo compartilhar saberes na pesquisa, ensino e
extenso, iniciando uma nova caminhada em minha trajetria
profissional e pessoal.
A Segurana do Paciente tem sido palco de discusses em
diversas reas do conhecimento. Isso se deve ao fato das ocorrncias de
inmeros casos de danos causados por falhas durante a assistncia
prestada pelos profissionais de sade nas unidades de sade do mundo
inteiro.
Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS), a Segurana
do Paciente entendida como a unio de esforos para proteo das
pessoas, na tentativa de reduo dos atos inseguros, melhorando
processos institucionais e com isso a lapidao da cultura de segurana
(WHO, 2009).
29
Os Eventos Adversos, j enunciados por Florence Nightingale,
decorrentes da assistncia institucional so entendidos como leses
corporais no intencionais, que podem aumentar desde os custos
hospitalares, prolongamento do tempo de internao, causarem danos
irreversveis e at a morte da pessoa (WACHTER, 2013).
Neste sentido, Ferreira (2007, p. 14) aborda em seus estudos os
Eventos Adversos e enfatiza como complicaes indesejadas,
decorrentes do cuidado prestado aos pacientes e no atribudas
evoluo natural da doena de base, sendo, em sua maioria, evitveis,
ou seja, os profissionais e instituies de sade possuem o compromisso
de causar o mnimo de danos a essas pessoas que esto necessitando de
internao e/ou atendimento.
J o incidente entendido como um evento ou circunstncia que
poderia ter resultado, ou resultou, em dano desnecessrio ao paciente,
ou seja, so eventos que podemos estabelecer estratgias na qualidade e
segurana no cuidado pessoa que se encontra na instituio hospitalar
(BRASIL, 2013, p. 3).
A Segurana do Paciente pode ser compreendida como uma
importante dimenso da qualidade, definida como o direito das pessoas
de terem o mnimo de riscos de incidentes e Eventos Adversos
associados ao cuidado prestado na instituio hospitalar (FREITAS et
al., 2014, p. 458).
Nos servios de sade, os incidentes ou Eventos Adversos podem
ocorrer em qualquer momento e a partir de qualquer ato no
intencional ou pretendido, realizado por profissionais considerados
bons. E a, podemos pensar no erro, como no intencional, ao passo
que as violaes so geralmente intencionais, embora raramente
malicioso, e pode tornar-se rotina e automtica em determinados
contextos. Sendo o erro definido como um fracasso para realizar uma
ao planejada como pretendido ou aplicao de um plano incorreto. A
violao, por sua vez, um desvio deliberado de um procedimento
operacional, padro ou regra. Mas, independente se foi um erro ou
violao, ambos podem aumentar os riscos de acontecer um incidente
com as pessoas nas instituies de sade (RUNCIMAN et al., 2009, p.
22-23).
Embora tenha intensificado essa preocupao nos ltimos dez
anos, no um tema novo, pois desde a formao profissional h o
compromisso em oferecer cuidados de enfermagem de forma segura,
evitando ao mximo a ocorrncia de danos s pessoas internadas no
hospital. A famlia, por sua vez, entra nesse processo, passando a
vivenciar uma realidade diferente do seu mundo. Paralelamente, vem
30
necessidade de estar junto ao seu familiar, continuando o cuidado
familial, assim como tambm tem a necessidade de ser cuidada pelas
pessoas que convivem neste ambiente.
A pessoa, como membro integrante de uma famlia, ao longo da
vida experimenta desafios relacionados mudana de papis que
marcada a partir do nascimento, envolvendo fatos do viver e do conviver
que passam a se tornar importantes para o seu crescimento e
desenvolvimento. Neste percurso do seu ciclo vital, ao necessitar ser
internada em um hospital, em seu quotidiano, a pessoa vivencia eventos
diferentes de seu dia a dia e que envolvem rotinas, equipes de
profissionais e tecnologias diferentes, muitas vezes, com imagens
desconhecidas e estranhas, as quais seu corpo individual e familial est
exposto, incluindo vulnerabilidades, que nem sempre so fceis de
serem superadas (MOTTA et al., 2011).
Segundo Helman (2003) o corpo humano envolve vrias crenas
com significados tanto de sua estrutura e funcionamento quanto sociais
e psicolgicos. Neste sentido, a maneira como a pessoa percebe seu
corpo entendida como imagem corporal, que depende das interaes
com a famlia, com o meio cultural e social.
A imagem, por sua vez, est presente em todos os espaos que as
pessoas se relacionam. Segundo Maffesoli, no h nenhum aspecto da
vida social que no esteja contaminado pela imagem (1995, p. 137).
Nitschke nos alerta as imagens fazem parte de nossa vida de todo o dia,
assim como a sade, seja como um elemento concreto seja como algo
simblico que existe (1999, p. 14), compreendendo imagem como
qualquer coisa que se apresenta aos nossos olhos atravs de figuras, de
formas, de cores. Entretanto, estas coisas podem tambm se apresentar
ao nosso esprito de uma maneira abstrata, ancoradas no nosso
imaginrio. E este imaginrio, o que ? Podemos considerar como um
mundo de significados, de ideias, de fantasias, de evocao de figuras
j percebidas ou no percebidas, de crenas, de valores, onde o ser
humano est mergulhado. Enfim, o imaginrio, um mundo de
significados, que so incorporados a imagens (NITSCHKE, 1999, p.
46).
Maffesoli prope sua noo de mundo imaginal, todo este
conjunto feito de imagens, de imaginaes, smbolos, e imaginrio, no
qual a vida social moldada (1995, p. 89). Neste sentido, declara
Nitschke, (1999, p. 47), se o viver a se molda o ser saudvel tambm
a se ancora. Este mundo imaginal tambm referncia para as
interaes que envolvem a sade das famlias e para o seu ser saudvel.
Ao enfocarmos o quotidiano da hospitalizao, um dos fatores
31
que relevante para entender o mundo imaginal da famlia a busca dos
significados da internao hospitalar, e tudo que este contexto envolve,
e, principalmente, a sua relao com as pessoas que esto vivenciando
essa situao. Deste modo, o profissional de sade pode atuar de forma
legtima envolvendo estas noes, para auxiliar na garantia do cuidado
seguro s pessoas e suas famlias durante a hospitalizao.
O hospital entendido por Motta (2004, p. 154) como um
mundo organizado e preparado para proteger e manter a vida, preservar
a existncia do ser, recuperando ou melhorando a qualidade de vida
dentro dos limites da doena e dos recursos tecnolgicos disponveis.
Um quotidiano onde h um entrelaar de conhecimentos cientficos e
tcnicos que, muitas vezes, sobrepe o cuidado prestado s pessoas que
vivenciam problemas de sade, onde a segurana da pessoa internada,
denominada, Segurana do Paciente coloca-se com uma bandeira de
um cuidado efetivo, sendo a famlia partcipe deste cuidado.
A hospitalizao que pode levar a um distanciamento do
ambiente familiar permeada de sentimentos relacionados necessidade
de diminuir esta lacuna, que pode ser significada como o estar junto
emergente (MAFFESOLI, 2010a) neste quotidiano. O quotidiano
entendido como a maneira de viver o dia a dia das pessoas, sendo
expresso por suas interaes, crenas, valores, significados, cultura,
smbolos, que vai delineando seu processo de viver, num movimento de
ser saudvel e adoecer, pontuando seu ciclo vital (NITSCHKE, 2007, p.
24).
Neste sentido, faz-se necessria a incluso da famlia nos
processos que envolvem o seu familiar que est necessitando de
cuidados de sade durante a permanncia no hospital. Entretanto, a
famlia nem sempre vista como uma aliada no ambiente hospitalar,
como as pesquisas de Tholl (2002) e Souza (2008).
No quotidiano da minha experincia profissional, foram inmeras
as vezes que ouvi dos profissionais de sade que a famlia s atrapalha
no desenvolvimento das atividades, ou ainda, que devido a sua
presena que as infeces tm aumentado e que os procedimentos no
obtiveram sucesso! Assim, no se relacionam os riscos aos quais as
pessoas hospitalizadas esto expostas, ao excesso de atividades com
turnos prolongados pela equipe de sade, ao dimensionamento de
pessoal inadequado para as demandas do setor, ao nmero elevado de
pessoas no quarto, muitas vezes atribudo s caractersticas de um
hospital escola, a rea fsica incompatvel com o nmero de leitos por
quarto, enfim, a no aplicao de boas prticas pelos profissionais de
32
sade, entre tantos outros fatores que podem comprometer a segurana
das pessoas que estiverem precisando de cuidados especializados.
Fundamentando esta afirmao est a pesquisa de Tholl (2002, p.
83), ao dizer que o imaginrio sobre o acompanhante para a equipe de
enfermagem est relacionado ao bom ou mau acompanhante. O
considerado bom aquele que se molda as rotinas institudas, e o
mau acompanhante aquele que tenta relativizar o institudo. A autora
acrescenta que necessrio que ele se utilize da astcia e do silncio
como forma de reagir e reivindicar o seu espao no quotidiano da
hospitalizao face imposio das normas institudas.
A imagem construda pela equipe de enfermagem na pesquisa de
Tholl (2002, p. 126) sobre papel do acompanhante profissional da sade
est relacionada ao ser um avaliador das atividades desenvolvidas,
uma pessoa chata por cobrar mais que os demais acompanhantes,
exigente na exclusividade dos cuidados, ser superior e abusado,
burlando as normas estabelecidas na instituio, indelicado e
grosseiro, mas que tambm se mostra mais sensvel, demonstrando
sofrimento no andamento da internao.
Neste sentido, Silva, Wegner e Pedro (2012, p. 338), ao estudar a
segurana da criana na unidade de terapia intensiva na viso da famlia,
apontam que nestas situaes de complexidade a famlia desenvolve
um olhar aguado, sendo questionador, curioso, inseguro, o que pode ser
muitas vezes interpretado como um familiar inflexvel, invasivo e
indesejado pela equipe de sade, por ele estar indagando sobre o que
est acontecendo com seu filho.
Assim, tambm, importante resgatar as palavras de Souza (2008,
p. 30), ao afirmar que nas instituies hospitalares, o foco ainda no
paciente e, muitas vezes, na doena, reafirmando o modelo biomdico.
Neste sentido, tornam o cuidado de enfermagem no considerando as
famlias no ambiente hospitalar, quando estas acabam sendo condizentes
com as normas e rotinas estabelecidas, dificultando e no estimulando as
mudanas no quotidiano de cuidado da Enfermagem, nem mesmo a
instrumentalizao para incluir a famlia no cuidado. Costumo dizer que
se abrem as portas do hospital para a famlia entrar, mas no h um
investimento no preparo destes profissionais para incluir a famlia no
cuidado.
Acredito tambm que o quotidiano do cuidado de enfermagem
junto s pessoas hospitalizadas, envolve a famlia das quais fazem parte,
considerando o que Nitschke (1999, p. 176) coloca: trabalhar com
famlia significa no perd-la do nosso foco, o que no quer dizer que
devemos estar com todos os elementos da famlia ao mesmo tempo, mas
33
nunca perd-la de vista enquanto rede.
Entendemos que h uma escassez de pesquisas com foco nas
famlias no quotidiano do hospital, envolvendo a Segurana do Paciente,
o que reafirmado por Berger et al. em 2014, em suas pesquisas de
reviso. Tendo encontrado apenas 12 trabalhos acerca do tema, estando
aqui uma sinalizao sobre a relevncia deste estudo.
Deste modo, consideramos que esta pesquisa vem contribuir para
melhorar a qualidade e a segurana do cuidado prestado, considerando a
famlia como aliada neste processo, bem como estimular outros
profissionais na assistncia, ensino e pesquisa, fortalecendo a produo
do conhecimento acerca do tema em questo.
Embora as famlias enfrentem desafios com a internao de um
de seus membros, elas podem ser parceiras da equipe de sade ao
planejar os cuidados a serem prestados, especialmente, quando se tem
como foco a Segurana do Paciente (HENCKEMAIER, 2004).
Entretanto, para tal, fundamental mergulhar no mundo destas famlias,
que envolve o seu imaginrio, suas crenas seus valores, o que nos leva
a questionar: Qual o imaginrio sobre a segurana do paciente e o
cuidado seguro na perspectiva das famlias que vivenciam o
quotidiano de hospitalizao?
1.2 OBJETIVO GERAL
Compreender o imaginrio sobre a segurana do paciente e o
cuidado seguro na perspectiva das famlias que vivenciam o quotidiano
de hospitalizao.
1.3 TESE
A Famlia uma importante aliada na Segurana do Paciente,
sendo preciso compreender seu quotidiano e seu imaginrio, para,
assim, contribuir, afetivamente e efetivamente, para a garantia de
um cuidado seguro e a construo de uma cultura da segurana no
quotidiano da hospitalizao.
34
35
CAPTULO II REVISO DE LITERATURA
Neste captulo traremos inicialmente, uma contextualizao
acerca da segurana das pessoas internadas, reportando aos avanos ao
longo da histria dos cuidados em sade, as metas internacionais de
segurana do paciente e o fortalecimento da cultura de segurana nas
instituies de sade. A seguir, buscando contemplar a famlia
hospitalizada e a segurana da pessoa internada, traremos uma reviso
integrativa de literatura, em forma de manuscritos, conforme permite a
Instruo Normativa 10/PEN/2011 do Programa de Ps-Graduao em
Enfermagem (PEN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
que prev a produo de manuscritos de autoria do discente juntamente
com o orientador, inclusive na Reviso de Literatura sobre o assunto da
pesquisa como resultados de pesquisa bibliogrfica.
Assim, aps contextualizar a segurana das pessoas internadas
nos hospitais, traremos o primeiro manuscrito, intitulado A segurana
do paciente e a famlia no quotidiano hospitalar, o qual faz uma reviso
de 2011 a 2016 em bases de dados, tendo selecionado vinte e oito
artigos relacionados com tema em questo, de acordo com critrios de
incluso e excluso.
2.1 CONTEXTUALIZANDO A SEGURANA DO PACIENTE NO
HOSPITAL
A Segurana do Paciente (SP) tem sido foco de discusses
internacionais h mais de um sculo entre os estudiosos da rea da
sade, sendo que a preocupao com cuidados seguros vem desde a
poca de Hipcrates (BUENO; FASSARELA, 2013).
Acredita-se que os erros e falhas ocasionados pelos profissionais
de sade durante os cuidados prestados s pessoas hospitalizadas,
provocam prejuzos e/ou prolongam o tempo de recuperao da sade
durante a internao hospitalar. Hipcrates props que, ao tratar as
pessoas, devemos preservar a segurana e, por sua vez, a sua vida,
dizendo que: antes de tudo, no causar danos no cuidado em sade
(WACHTER, 2013, p. 3). Com esta proposio, o pai da medicina,
admitia que os atos assistenciais so passveis de equvoco e a
segurana do paciente j era vista como prioridade (BUENO;
FASSARELA, 2013, p. 2).
Nessa perspectiva, Florence Nightingale, me da Enfermagem
Moderna, marcou a profisso pela preocupao com a qualidade dos
cuidados prestados s pessoas, enfocando em suas publicaes o no
36
causar danos durante todo o cuidado em sade (LOPES; SANTOS,
2010). Em 1863, em seu livro Notes on Hospitals, Nightingale reflete sobre a importncia do cuidado seguro s pessoas, exemplificada atravs
da frase: Pode parecer estranho enunciar que a principal exigncia em
um hospital seja no causar dano aos doentes (PEDREIRA, 2009, p. 1).
Aps a criao da Joint Comission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO), responsvel pela acreditao hospitalar como mtodo de avaliao de qualidade das instituies de
sade, surge o primeiro trabalho referente prevalncia e forma de
evitar as iatrogenias (BUENO; FASSARELA, 2013).
A acreditao hospitalar, que foi implantada no final da dcada de
80 no Brasil, pela Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS),
objetivou criar mecanismos de melhoria dos servios hospitalares e ter
parmetros para promover esse aperfeioamento para a condio de
hospital acreditado (BRASIL, 2014, p. 334).
Houve muitas publicaes que influenciaram nesta crescente
preocupao sobre a SP, a exemplificar as realizadas a partir dos estudos
em Harvard Medical Practice Study, que estimaram as mortes causadas
por erros em nmeros alarmantes entre 44 a 98 mil ao ano, causadas por
danos nos cuidados de sade. Porm a mais significativa publicao foi
a do Institute of Medicine (IOM), em 1999, com o relatrio To Error is
Human: Building a Safer Care System, que desencadeou a importncia de considerar a Segurana do Paciente nos servios de sade
(WACHTER, 2013).
Com o passar dos anos, vrias aes esto sendo implantadas no
Brasil e no mundo. Uma das tantas iniciativas surgiu na Assembleia
Mundial de Sade em 2002, dos pases membros da Organizao
Mundial de Sade (OMS), quando estabeleceram uma resoluo para
melhorar a SP. No ano de 2003, a The Joint Commission Accreditation
of healtcare Organizacion (JCAHO), definiu metas de segurana como forma de minimizar os riscos das pessoas em internao hospitalar e
exigiu que os hospitais as implantassem as medidas recomendadas
(BRASIL, 2013).
Em 2004, objetivando enfatizar mais a Segurana do Paciente, a
OMS criou a Aliana Mundial de Segurana do Paciente (World Alliance for Patient Safety), conhecida hoje como Who Patient Safety, composta por organizaes internacionais e organizaes nacionais de
diversos pases como a Agency for Healthcare Research and Quality, The Joint Commission, National Patient Safety Foundation, entre outras,
congregando os pases membros da Organizao das Naes Unidas
(ONU). Sua abrangncia internacional, tendo como misso coordenar,
37
disseminar e acelerar melhorias para a Segurana do Paciente em todos
os pases membros da Organizao Mundial de Sade (WHO, 2009).
A Enfermagem, por sua caracterstica de atuao nas vinte e
quatro horas junto s pessoas internadas e suas famlias, passou a se
preocupar com as discusses acerca da segurana durante os cuidados
prestados. Para tal, no ano de 2008 foi criada a Rede Brasileira de
Enfermagem e Segurana do Paciente (REBRAENSP) no Estado de So
Paulo. A REBRAENSP surge a partir da Rede Internacional de
Enfermagem e Segurana do Paciente, criada no Chile em 2005, quando
as enfermeiras do mundo oficializaram essa organizao objetivando dar
suporte e promover discusses sobre os problemas enfrentados em todo
o mundo (REBRAENSP, 2013).
A Rede no Brasil caracteriza-se como uma estratgia de
vinculao, cooperao e sinergia entre as pessoas, instituies,
organizaes e programas, que possuem a finalidade de manter um
cuidado seguro s pessoas que necessitam de internao e/ou
atendimento nas instituies de sade, marcando avanos na
Enfermagem brasileira (REBRAENSP, 2013, p. 18).
A Organizao Mundial de Sade tem enfatizado a Segurana do
Paciente nas instituies de sade, como forma de garantir um mnimo
de riscos possveis para as pessoas que internam e/ou so atendidas
pelos profissionais de sade. Sabe-se que os danos decorrentes de falhas
nos processos institucionais, sejam eles estruturais, materiais ou
humanos, so desnecessrios para as pessoas e suas famlias que esto
necessitando de cuidados de sade (WHO, 2009). A Segurana do
Paciente tornou-se um movimento mundial, sendo que o estudo pioneiro
a abordar o tema foi realizado nos Estados Unidos da Amrica (EUA),
em 1974, denominado O estudo de viabilidade do seguro mdico,
conhecido como The Medical Insurance Feasibility Study (MIFS),
desenvolvido pela Associao Mdica da Califrnia (California Medical Association) e Associao Hospitalar da Califrnia (California Hospital
Association), que revisou 21 mil pronturios de pessoas internadas em 23 hospitais da Califrnia, encontrando Eventos Adversos em 4,6% dos
hospitalizados (ZAMBON, 2008).
2.2 METAS INTERNACIONAIS DE SEGURANA DO PACIENTE
Em 2005, o Centro Colaborador para a Segurana do Paciente da
Organizao Mundial de Sade (OMS), inicia a rede internacional para
identificar, avaliar, adaptar e difundir solues para Segurana do
38
Paciente. Em 2011, a JCAHO lanou as seis metas para a Segurana do
Paciente, quais sejam: 1) Identificar os pacientes corretamente; 2) Melhorar a comunicao eficaz; 3) Melhorar a segurana dos medicamentos de alto risco;
4) Assegurar stio, procedimentos e pacientes corretos nas cirurgias;
5) Reduzir o risco de infeces associadas aos cuidados de sade;
6) Reduzir o risco do paciente de danos resultantes de quedas e lceras por presso (BRASIL, 2013).
De acordo com JCAHO, a identificao correta se torna
essencial quando falamos em Segurana do Paciente, seja em ambiente
hospitalar, pronto atendimento, ambulatrio ou mesmo no domiclio.
Sistemas falhos de identificao da pessoa se encontram entre as causas
mais comuns de Eventos Adversos, nos exames diagnsticos, na
administrao de medicamentos, de sangue e hemoderivados, nos
procedimentos cirrgicos e na entrega de recm-nascidos (BRASIL,
2013).
Para assegurar identificao das pessoas dentro das instituies,
todos os profissionais precisam estar envolvidos ativamente do processo
de identificao, na admisso, transferncia de outros setores ou
instituio, antecedendo o incio dos cuidados, de qualquer tratamento
ou procedimento, da administrao de medicamentos e solues, assim
como envolver a famlia neste processo (REBRAENSP, 2013).
Melhorar a comunicao entre os profissionais de sade
indispensvel para uma melhor qualidade e segurana nos hospitais. Ao
estabelecer uma comunicao efetiva durante os cuidados as pessoas e
famlias, inclusive diante de Eventos Adversos ocorridos durante a
assistncia, potencializa-se a responsabilidade profissional, bem como a
oportunidade de oferecer os cuidados necessrios na tentativa de
reverter os danos causados pelos Eventos Adversos, inclusive
acompanhado do pedido de perdo aos envolvidos no processo
(MAGLIO, 2011).
A comunicao h muito tem sido considerada como uma
ferramenta indispensvel para a Segurana do Paciente. Prova disso so
os estudos liderados pela Enfermeira Doutora e Livre-docente em
Comunicao Interpessoal, Maria Julia Paes da Silva, propondo
estratgias bsicas para o estabelecimento da comunicao adequada nas
instituies de sade. A autora defende que a comunicao envolve
39
uma gama de fenmenos, com elementos psicolgicos e sociais que
ocorre entre as pessoas e no interior de cada um de ns, em contextos
interpessoais, grupais, organizacionais e de massa. Ressalta ainda que,
todo o tempo manipulamos signos, sinais que nos afetam e aos demais
(SILVA, 2014, p. 48), vendo-se aqui tambm a relevncia do imaginrio,
que nutre e nutrido pelos significados que emergem destes signos e
sinais, definindo situaes, compreenses, interaes e relaes.
As falhas na comunicao podem implicar em reflexos
irreparveis para a populao que depende dos cuidados nas instituies
de sade, haja vista a sua repercusso negativa no comportamento,
promovendo a incompreenso e insatisfao, constituindo-se como
fonte privilegiada de erro e ms prticas dos profissionais de sade
(SANTOS et al., 2010, p. 50).
Alm das falhas de comunicao entre profissionais, pessoas
internadas e suas famlias percebem a inefetividade da comunicao
entre as instituies de sade, quebrando a rede de atendimento que
precisaria existir, organizando e descentralizando os atendimentos a
populao, evitando, desta forma, o excesso de pessoas a serem
atendidas em apenas um servio. Essa organizao existe e faz-se
necessria o cumprimento em toda a rede de atendimento populao
que necessita de atendimento sade. notrio que a peregrinao
entre os servios de sade causa desgaste e insegurana as pessoas que
necessitam de atendimento, prova disso o que Santos et al. (2010, p. 50) abordam sobre a rede de servios de sade existentes, cuja natureza
fragmentria e descentralizada [] transforma o percurso [] num
processo complexo, que implica a passagem por diferentes
servios/reas de interveno, assim como o contato com diversos
profissionais de sade, os quais se encontram frequentemente imersos
numa cultura de autonomia e isolamento diante dos outros profissionais
e servios.
Ao enfatizar a melhoria da segurana na prescrio, no uso e
na administrao de medicamentos, Oliveira et al. (2014, p. 124)
investigaram junto a 37 enfermeiros as estratgias para promover a
Segurana do Paciente na perspectiva dos enfermeiros. Encontraram
relatos de profissionais que consideram a [...] existncia de riscos
fsicos, qumicos e mecnicos que afetam o cuidado de enfermagem e
que geram insegurana para o paciente assistido na instituio, mas
incluindo a carga de trabalho e a comunicao entre os profissionais de
sade, corroborando com as metas preconizadas pelo Ministrio da
Sade (BRASIL, 2013).
40
Em se tratando dos Eventos Adversos relacionados s Reaes
Adversas a Medicamentos (RAM), a pesquisa citada anteriormente
aponta a comunicao inadequada entre os profissionais como uma das
principais causas de erros, iniciando pelas prescries ilegveis, a
dispensao, o preparo e at a administrao de medicamentos, tornando
as pessoas internadas vulnerveis ocorrncia de Eventos Adversos.
Sugerem que as instituies necessitam de um mtodo de identificao
de Efeitos Adversos a Medicamentos (EAM), bem como a reviso do
sistema de dispensao de medicao nas instituies que favoream o
monitoramento e a implementao de mecanismos de defesa, barreira e
proteo voltadas para a melhoria da Segurana do Paciente
(OLIVEIRA et al., 2014, p. 125).
Na quarta meta internacional para a Segurana do Paciente, sabe-
se que os erros em cirurgia ocorrem de maneira assustadora em nvel
mundial, sendo indispensveis algumas medidas para manter as boas
prticas de cirurgia segura nas instituies de sade. Uma das estratgias
para melhorar a adeso dos profissionais a procedimentos que garantam
ou aumentem a segurana das pessoas em mdio prazo, est a criao de
barreiras de segurana nos processos de maior risco, a exemplificar o
checklists, entre outros (WACHTER, 2013). O uso do checklists de segurana traz resultados mais rpidos e
eficazes para tornar a cirurgia segura, no deixando de lado as
capacitaes que aumentam tambm a adeso dos profissionais de sade.
Vale ressaltar que importante no focar s nas capacitaes e sim em
todas as formas de barreiras possveis, pois se no h uma cultura de
segurana institucional, as capacitaes no vo fazer a diferena
(WACHTER, 2013).
Na pesquisa realizada por Bohomol e Tartali (2014) sobre
Eventos Adversos no Centro Cirrgico (CC), foi identificada a
deficincia de comunicao entre a equipe de enfermagem e mdica.
Muitas vezes, a enfermagem acaba ficando intimidada pela equipe
mdica, deixando passar aspectos importantes do protocolo de cirurgia
segura, que poderiam estar evitando os Eventos Adversos durante as
cirurgias. Os autores relatam que a responsabilidade do checklist, acaba
ficando com a equipe de enfermagem.
H desconhecimento de alguns profissionais acerca da cirurgia
segura, prova disso a pesquisa de Motta Filho et al. (2013) apresentada
no 44 Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia. A pesquisa
demonstrou que 65% dos ortopedistas brasileiros desconhecem o
protocolo de cirurgia segura implantado pelo Ministrio da Sade, sendo
que dos que conhecem muitos relatam no terem sido capacitados para
41
tal.
Outra meta a Higienizao das Mos, sendo um ato essencial
para reduzir o risco de infeces associadas aos cuidados de sade nas
instituies. Para tal o Ministrio da Sade estabelece o Protocolo para a
Prtica de Higienizao das Mos em Servios de Sade, pois h a
preocupao com as elevadas taxas de infeco (BRASIL, 2013).
Embora seja uma medida simples e antiga, h deficincia na
formao dos profissionais de sade sobre a higienizao das mos. Vale
ressaltar que a formao profissional no deveria estar restrita as paredes
da Universidade, j que o estudante passa no mximo seis anos no
estudo formal, mas no mnimo trinta anos cuidando de pessoas nas
instituies de sade. Necessitamos investir na educao permanente
para que possamos garantir ou mesmo evitar que as pessoas corram o
risco de adquirir infeces hospitalares.
H necessidade de personalizar a higienizao das mos, pois as
realidades so diferentes e os profissionais precisam se sentir parte do
processo. Portanto, fazer um planejamento considerando os saberes
construdos ao longo da trajetria profissional indispensvel para o
sucesso nas campanhas relacionadas Higienizao das Mos.
Corroborando com esta afirmao est Oliveira e Paula (2014) ao
dizerem que as baixas adeses a higienizao das mos pelos
profissionais, preocupam os gestores e instituies de sade. Neste
sentido, fundamental promover atualizaes entre os profissionais,
disponibilizando protocolos atuais, bem como levantamentos
realizados em cada instituio que comprovem a importncia e
influncia da Higienizao das Mos no controle de Infeces
Relacionadas Assistncia a Sade (IRAS) (OLIVEIRA; PAULA,
2014, p. 86).
A sexta meta internacional para a Segurana do Paciente envolve
a reduo do risco de quedas e lceras por presso (UP) ou leses
por presso. A preveno de quedas diz respeito avaliao de risco
atravs das escalas de Morse para adultos e Humpty Dumpty para crianas, envolvendo cuidados relacionados proximidade destas
pessoas ao posto de enfermagem, empoderamento das pessoas e suas
famlias, assim como a educao continuada para a equipe
multiprofissional com notificao e investigao dos casos de quedas
(BRASIL, 2013).
A preveno da leso por presso, que pode ser implementada
com o uso das Escalas de Braden para adultos e Braden Q para crianas
que avaliam riscos e recomendam prticas, com o uso de medidas
preventivas. Alm disto, as aes educativas promovem a capacitao
42
dos profissionais para o exerccio contnuo de uma prtica com
qualidade, oferecendo possibilidades para o seu desenvolvimento e
minimizando esforos, tempo, custos e conflitos (MIRA, 2006).
2.3 O FORTALECIMENTO DA CULTURA DE SEGURANA NAS
INSTITUIES DE SADE
Embora saibamos da importncia da aplicao de boas prticas
para garantir a qualidade e segurana das pessoas internadas nos
hospitais, as instituies nem sempre corroboram com esta preocupao
e, muitas vezes, no oferecem condies adequadas para que
profissionais comprometidos possam atuar de forma segura, criando
uma cultura de segurana para as pessoas internadas. Um exemplo disso
a falta de abertura para discusses com os gestores sobre as
deficincias institucionais, o dimensionamento de pessoal inadequado
para a complexidade dos cuidados, bem como o incentivo e a motivao,
fundamentada na educao permanente (OLIVEIRA et al., 2014).
Apesar de todo o empenho da OMS, OPAS e MS, ainda temos
muitas resistncias quanto adeso aos protocolos relacionados
Segurana do Paciente, sendo intensificadas, segundo alguns autores,
em centros cirrgicos, por se tratar de uma equipe multiprofissional com
uma diversidade de conhecimentos e resistncia as mudanas propostas.
Chamamos de cultura de segurana que se no for uma determinao
da gesto, ou seja, uma cultura incorporada em todo o sistema
institucional e profissional (FREITAS et al., 2014; PANCIERI et al.,
2013; SANTOS, CAREGATO, MORAES, 2013).
A adaptao e a adeso da equipe aos procedimentos de
identificao e conferncia dos dados das pessoas so consideradas os
aspectos que apresentam maior dificuldade em termos de aplicao. Foi
apontado que o uso da notificao de incidentes poderia estimular o
desenvolvimento de uma cultura da segurana na gesto dos servios
de sade. Assim, preciso pensar em equipe, enquanto filosofia
institucional, ou seja, dependemos da gesto para mudana de cultura de
qualidade e segurana das pessoas internadas.
Com a problemtica da Segurana do Paciente e a
responsabilidade das organizaes, a sade passa a adotar os modelos j
utilizados em outras reas, a exemplificar as empresas de aviao,
adotando o modelo de Organizao Altamente Confiveis (OACs)
(WACHTER, 2013).
As Organizaes Altamente Confiveis vm trazer tona a
importncia de manter os processos mais seguros dentro das instituies
43
de sade, construindo-se, assim uma cultura de segurana. Neste
sentido, entende-se por cultura de segurana as interaes
incentivadas pelas instituies que possibilitam s pessoas que fazem
parte deste ambiente sejam eles pacientes, famlias ou os profissionais
de sade sentir-se confortveis em chamar a ateno para riscos
potenciais ou falhas reais sem medo de censura por parte do gestor
(WACHTER, 2013, p. 252).
Desenvolver uma cultura de segurana nas instituies de sade,
no uma tarefa fcil e nem mesmo de um dia para o outro. Envolve
todas as pessoas que esto fazendo parte, de forma temporria ou no,
incluindo as famlias que possuem um de seus membros internados. Ela
fortalecida a cada dia e em todos os espaos que envolvem o cuidado
s pessoas, sendo estabelecida atravs de um conjunto de normas e
padres ou pela formao de colaboradores capazes de inovar, pensar
por si prprios e at quebrar regras para promover o cuidado seguro
(WACHTER, 2013, p. 252).
Existem instrumentos j validados que fazem a avaliao da
cultura de segurana, tais como a Pesquisa de Cultura de Segurana
do Paciente da AHRQ (Patient Safety Culture Survey) e o Questionrio
de Atitudes Seguras (Safety Attitudes Questionare - SAQ). Estes instrumentos j foram utilizados por muitos pesquisadores que
detectaram existir diferenas entre os setores de uma mesma instituio,
embora os gestores apontem para a existncia da mesma de forma
sistmica (WACHTER, 2013).
No Brasil para ser efetivada a acreditao de instituies e
garantir uma assistncia de qualidade para as pessoas, foi implantado o
Programa Nacional de Segurana do Paciente (PNSP), lanado pelo MS,
atravs da portaria n 529, de 1 de abril de 2013 (BRASIL, 2013). Esta
PNSP objetivou o monitoramento e preveno dos danos sade das
pessoas internadas, exigindo dos hospitais a sua efetiva implantao,
com profissionais responsveis at o incio de 2014.
O Sistema de Notificao (SN) j existe h muitos anos em pases
desenvolvidos. A Austrlia j tem o Sistema de Notificao desde 1993.
Pases como Estados Unidos da Amrica (EUA), Canad, Espanha e
Reino Unido possuem o SN desde 1996, tendo iniciado com o Sistema
de Notificao de Eventos Adversos nas instituies de sade, pelo
Programa Sentinelas de Notificao de Eventos Adversos, criado pela
Joint Comission on Acreditation of Healthcare Organization (JCAHO). J, nos pases da Amrica Latina o Sistema de Notificao chegou bem
mais tarde, sendo o Brasil ainda iniciante neste processo sistematizado
(MIRA et al., 2013).
44
O Sistema de Notificao tem suas particularidades e difere na
sua regulamentao, taxonomia, incidentes que so notificados, gesto
do sistema, confidencialidade, incentivo da notificao e manejo de suas
consequncias. Esses fatores tem relao direta com a cultura de
segurana institucional, principalmente relacionado ao carter punitivo,
o que resulta em subnotificaes de incidentes e Eventos Adversos
(MIRA et al., 2013).
No Brasil, as notificaes de incidentes e Eventos Adversos, tm
crescido muito nos ltimos anos. Isto se deve ao fato da existncia da
Rede Sentinela do Sistema de Notificaes em Vigilncia Sanitria
(NOTIVISA). Neste sistema, os profissionais realizam a investigao de
causa raiz, estabelecendo melhorias para prevenir a reincidncia do
ocorrido nas instituies de sade (CAPUCHO; CASSIANI, 2013).
As notificaes manuais so um importante passo inicial do
Sistema de Notificao, porm existem lacunas que podem estar
influenciando as subnotificaes dentro das instituies de sade, das
quais podemos citar: a falta de formulrio disponvel, principalmente
nos finais de semanas e feriados; formulrios mal elaborados que
dificultam a posterior investigao; falta de clareza do que pode e deve
ser notificado pelas equipes de sade; o fluxo das notificaes que
possibilitam a agilidade no processo investigativo (CAPUCHO;
ARNAS; CASSIANI, 2013).
Por sua vez, sabe-se que o caminho certo para o sucesso das
notificaes um Sistema de Notificao informatizado, que possibilita
o profissional de sade ter acesso facilitado no momento oportuno em
que ocorreu o incidente. O fluxo desta notificao acaba sendo mais
sistematizado, chegando mais rpido submisso de avaliao pela
equipe responsvel, bem como o devido encaminhamento ao
NOTIVISA. Porm, este fluxo no resolve totalmente os problemas que
temos acerca das subnotificaes, j que h uma preocupao dos
profissionais com a punio frente aos eventos que podem acontecer
durante a assistncia s pessoas no hospital.
So muitas as barreiras estabelecidas para garantir a Segurana
do Paciente, destacando-se a identificao pelos profissionais de sade
dessas deficincias institucionais. Assim, v-se, ento, a relevncia de
envolver os gestores, discutindo sobre a importncia de um adequado
dimensionamento das equipes, com incentivos e motivaes centrados
nos profissionais de sade, fundamentada na educao permanente
(OLIVEIRA et al., 2014).
Enfim, em se tratando de boas prticas no quotidiano do cuidado
em sade e nas situaes de hospitalizao, existe uma lacuna
45
relacionada Segurana do Paciente, no que se refere s aes para
minimizar os riscos aos quais as pessoas so expostas ao entrar ou
necessitar de intervenes nas instituies de sade. Isto, por sua vez, se
deve ao fato, no s do estar relacionado ao erro humano, mas
tambm s condies de trabalho, aos aspectos estruturais, bem como a
complexidade do trabalho que os profissionais de sade desenvolvem
(OLIVEIRA et al., 2014).
Embora saibamos da importncia da aplicao de boas prticas
para garantir a qualidade no quotidiano do cuidado em sade e a
segurana das pessoas, as instituies nem sempre corroboram com esta
preocupao e, muitas vezes, no oferecem condies adequadas para
que profissionais comprometidos possam atuar de forma segura.
Enfim, para se estabelecer uma cultura de segurana nas
instituies de sade necessrio compreender o processo que envolve
o trabalho em equipe, liderana, justia, aprender com os erros, a prtica
baseada nas evidncias at ento divulgadas, a comunicao efetiva
entre gestores, profissionais de sade, pessoas internadas e suas famlias,
bem como o cuidado centrado no paciente e famlia (ANVISA, 2013).
46
2.4 MANUSCRITO 1: A SEGURANA DO PACIENTE E A FAMLIA
NO QUOTIDIANO HOSPITALAR
A segurana do paciente e a famlia no quotidiano hospitalar
Safety of the inpatient and the family in the daily routine of the
hospital
La seguridad del paciente y de la familia em la rutina diaria del
hospital
Luizita Henckemaier1
Rosane Gonalves Nitschke2
RESUMO: Este estudo tem como objetivo analisar as produes acerca
da segurana do paciente e das famlias no quotidiano hospitalar, no
perodo de 2011 a 2016. Trata-se de uma reviso integrativa da
literatura, nas bases de dados PubMed (Medical Literature Analysis and
System On-line), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Cincias da Sade) e SciELO (Scientific Electronic Library On-line),
utilizando os descritores: segurana do paciente, famlia e
hospitalizao. Foram selecionados 18 artigos, tendo os seguintes
critrios de incluso: artigos completos de pesquisa, estudos de caso e
relatos de experincias, que tratassem da temtica, disponveis nos
idiomas ingls, portugus e espanhol, no perodo de 2011 a 2016. A
anlise dos dados emergiram as categorias: O imaginrio da famlia
acerca da segurana das pessoas no quotidiano hospitalar; A
comunicao como forma de melhorar a segurana das pessoas no
quotidiano hospitalar; A interao da famlia com os profissionais de
sade para o cuidado seguro durante a internao. Os resultados
possibilitaram uma aproximao sobre a produo cientfica acerca da
Segurana do Paciente e sua famlia no quotidiano da hospitalizao,
1Enfermeira do Ncleo de Segurana do Paciente do Hospital Universitrio (HU/UFSC).
Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, da Universidade Federal de
Santa Catarina PEN/UFSC. Membro do Laboratrio de Pesquisa, Tecnologia e Inovao em
Enfermagem, Quotidiano, Imaginrio, Sade e Famlia de Santa Catarina (NUPEQUISFAM-
SC), do PEN/UFSC. Florianpolis, SC, Brasil. E-mail: [email protected] Correspondncia:
Luizita Henckemaier. Rua Prefeito Dib Cherem, 2881 Apto 302, Capoeiras. CEP 88.090-000
- Florianpolis, SC, Brasil. 2 Enfermeira. Professora do Departamento de Enfermagem e do PEN/UFSC. Doutora em
Filosofia de Enfermagem pela UFSC/ SORBONNE/Paris V. Lder do NUPEQUISFAM-SC.
Coordenadora do Projeto Ninho.
47
enfatizando a importncia de manter a famlia junto pessoa
hospitalizada, bem como a relevncia de estabelecer uma comunicao e
interao efetiva com os profissionais durante o perodo de permanncia
no hospital.
Palavras-chave: Segurana do paciente. Famlia. Hospitalizao.
ABSTRACT: The aim of this study is to examine the scientific output
related to inpatient and respective families safety in the daily routine of
a hospital in the period from 2011 to 2016. This is an integrative review
of the literature in the databases PubMed (Medical Literature Analysis
and System On- Line), LILACS (Latin American and Caribbean
Literature in Health Sciences) and SciELO (Scientific Electronic Library
Online) using the keywords: inpatient safety, family and hospital stay.
Eighteen articles were selected, with the following inclusion criteria: full
research articles, case studies and reports of actual experiences dealing
with the subject, available in the English, Portuguese and Spanish
languages, from 2011 to 2016. The data analysis raised the following
categories: the family imaginary related to the safety of people in the
daily routine of a hospital; communication as a mean to improve the
safety of people in the daily routine of a hospital; the interaction of the
family with health professionals for safe healthcare during the hospital
stay. The results has allowed us to focus more clearly on the scientific
output related to the safety of the inpatient and his family in the daily
routine during the period of the hospital stay, emphasizing the
importance of keeping the family close to the inpatient, as well as the
relevance of establishing effective communication and interaction with
the professionals throughout the time of hospital stay.
Keywords: Patient safety. Famly. Hospitalization.
RESUMEM: El objetivo de este estudio es analizar las producciones
cientficas acerca de la seguridad del paciente y de la familia en la rutina
diaria del hospital del 2011 a 2016. Se trata de una revisin integradora
de la literatura en las bases de datos PubMed (anlisis de la literatura
mdica y Sistema On- lnea), LILACS (Ciencias de la Salud de Amrica
Latina y el Caribe) y SciELO (Scientific Electronic Library en lnea),
utilizando las palabras clave: la seguridad del paciente, la familia y la
hospitalizacin. Se seleccionaron 18 artculos, con los siguientes
criterios de inclusin: artculos de investigacin completa, estudios de
casos e informes de experincias vividas, que tratan el tema, disponibles
en ingls, espaol y portugus, en el perodo 2011 a 2016. A partir del
anlisis de los datos han surgido las siguientes categoras: imaginrio de
48
la familia sobre la seguridad de las personas en la rutina diaria del
hospital; la comunicacin como una forma de mejorar la seguridad de
las personas em la rutina diaria del hospital; la interaccin de la familia
con los profesionales de salud para una atencin segura durante la
hospitalizacin. Los resultados permitieron um abordaje ms preciso de
la produccin cientfica sobre la seguridad del paciente y su familia en la
vida cotidiana durante la hospitalizacin, haciendo hincapi en la
importancia de mantener unida la familia a los pacientes hospitalizados,
as como la importancia de establecer una interaccin y comunicacin
efectiva con los profesionales durante la estancia en el hospital.
Palavras-clave: Seguridad del paciente. Familia. Hospitalizacin.
INTRODUO
A Segurana do Paciente (SP) tem sido discutida nas vrias reas
de atuao da sade. Embora tenhamos estabelecidas estratgias
buscando evitar os erros que acontecem nesses ambientes, podemos
considerar elevadas as estatsticas relacionadas a Eventos Adversos (EA)
que acometem as pessoas e que contribuem para o sofrimento de todos
os envolvidos no processo. Sabemos que vrios erros podem ser
evitados, e que as causas de danos irreversveis e at a morte superam os
acidentes de trnsito, cncer de mama e as mortes por AIDS (Acquired Immunodeficiency Syndrome) nos Estados Unidos da Amrica (MAGLIO, 2011; SANTOS et al., 2010).
Esses acontecimentos que afetam a integridade e a vida das
pessoas que esto necessitando de cuidados especializados precisam
fazer parte do princpio fundamental da Biotica que norteia a prtica
dos profissionais de sade, que no causar danos aos pacientes, que
chamado o Princpio da No Maleficncia (MAGLIO, 2011).
Neste sentido, consideramos que temos muitos avanos aps a
implantao dos Ncleos de Segurana do Paciente (NSP), estimulando
instituies e despertando nos profissionais o alerta sobre os riscos aos
quais as pessoas podem estar expostas durante a internao hospitalar
(BRASIL, 2013).
A Enfermagem, por sua caracterstica de atuao nas vinte e
quatro horas junto s pessoas internadas e suas famlias, passou a se
preocupar com as discusses acerca da segurana dos cuidados
prestados. So muitos os desafios para garantir a Segurana do Paciente,
para os quais existem estratgias tais como: a identificao riscos
inerentes aos cuidados de enfermagem, a aplicao de boas prticas
referentes ao cuidado e a identificao das barreiras para a segurana
49
das pessoas (OLIVEIRA et al., 2014).
Embora saibamos da importncia da identificao das barreiras,
riscos e aplicao de boas prticas para garantir uma melhor qualidade
do cuidado e a Segurana do Paciente, as instituies nem sempre
corroboram com esta preocupao e, muitas vezes, no oferecem
condies adequadas para que profissionais comprometidos possam
atuar de forma segura. Torna-se indispensvel o envolvimento dos
gestores para que estas estratgias sejam efetivadas, buscando sempre a
segurana das pessoas e suas famlias, efetivando, desta forma, uma
cultura de segurana nas instituies de sade (OLIVEIRA et al., 2014).
Ao pensar em Segurana do Paciente, tambm somos provocados
a pensar no termo paciente, podendo nos reportar definio de
Runciman et al. (2009, p. 2), entendendo que pacientes so pessoas,
seres humanos que recebem cuidado de sade, incluindo seu
autocuidado e o cuidado de seus familiares nas instituies de sade,
sendo entendidas como servios recebidos por indivduos ou
comunidades para promover, manter, monitorar ou restaurar a sade.
Estes pacientes, portanto, fazem parte de uma famlia.
A famlia, por sua vez, entendida como uma unidade formada
por pessoas, que se uniram e mantm a unio atravs dos laos de
afetividade, aproximao e/ou consanguinidade, considerando-se uma
famlia, tendo necessidade de cuidar de seus membros, ao longo dos
diferentes momentos de seu ciclo vital, nas mais distintas situaes,
dentre estas durante uma hospitalizao, quando preciso estar junto ao
seu familiar (ELSEN et al., 1994).
Assim, considerando a relevncia desta interao estabelecida
entre as pessoas e suas famlias com os profissionais de sade que atuam
nas instituies hospitalares, bem como em manter a famlia junto
pessoa durante o perodo que necessita de internao no hospital,
acreditamos ser a famlia uma colaboradora importante e indispensvel
para garantir a segurana das pessoas que precisam ser hospitalizadas.
Neste sentido, temos como objetivo neste estudo analisar as produes
acerca da segurana do paciente e a famlia no quotidiano hospitalar,
no perodo de 2011 a 2016.
METODOLOGIA
Trata-se de uma reviso integrativa, que segundo Mendes,
Silveira e Galvo (2008, p. 759) tem a finalidade de reunir e sintetizar
resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questo, de
maneira sistemtica e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do
50
conhecimento do tema investigado.
A reviso integrativa, desde o incio do estudo, desenvolve-se
atravs de um protocolo de pesquisa que foi previamente elaborado,
seguindo critrios no que concerne coleta dos dados, anlise e
apresentao dos resultados. Assim, foram adotadas e adaptadas as
etapas que constitui a reviso integrativa da literatura sugerida por
Ganong (1987) e Mendes, Silveira, Galvo (2008), tais como: definio
da pergunta de pesquisa; critrios de incluso, excluso e amostragem;
explanao dos achados em comum do estudo; anlise dos achados e
constataes; interpretao dos resultados; e redao com a clareza da
evidncia.
Ao iniciar a proposta, elaborou-se a pergunta norteadora para a
construo desta reviso: O que tem sido publicado acerca da
Segurana do Paciente e a Famlia em situao de hospitalizao, no