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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA POLÍTICA LUCIANA BUTZKE IMPASSES DA GESTÃO DE RECURSOS COMUNS E DA DEMOCRACIA NO BRASIL: O CASO DO CARVÃO MINERAL NO SUL DE SANTA CATARINA FLORIANÓPOLIS 2014

Maio de 2011 - UFSC

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SOCIOLOGIA POLIacuteTICA

LUCIANA BUTZKE

IMPASSES DA GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS E DA

DEMOCRACIA NO BRASIL O CASO DO CARVAtildeO MINERAL

NO SUL DE SANTA CATARINA

FLORIANOacutePOLIS

2014

LUCIANA BUTZKE

IMPASSES DA GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS E DA

DEMOCRACIA NO BRASIL O CASO DO CARVAtildeO MINERAL

NO SUL DE SANTA CATARINA

Tese de doutorado apresentada ao

Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em

Sociologia Poliacutetica do Centro de

Filosofia e Ciecircncias Humanas da

Universidade Federal de Santa

Catarina como requisito para a

obtenccedilatildeo do grau de doutor em

Sociologia Poliacutetica

Orientador Prof Dr Paulo Henrique

Freire Vieira

FLORIANOacutePOLIS

2014

Aos meus pais Marilda e Hermes que

com seus exemplos me inspiram a

tentar ser uma pessoa melhor

AGRADECIMENTOS

O doutoramento foi muito mais abertura de caminhos e encontros que

pontos de chegada E nesses caminhos e encontros pude conhecer

pessoas e estreitar laccedilos que foram muito importantes ao longo desse

processo Aproveito para deixar registrado aqui os meus

agradecimentos

Ao meu orientador Prof Paulo Freire Vieira que me acompanha desde

o mestrado Eacute muito importante ter algueacutem que com equanimidade nos

faccedila perceber os nossos limites e nos estimule a ir aleacutem com humildade

e sem ilusotildees

Aos professores que gentilmente participaram da qualificaccedilatildeo e da

defesa e trouxeram valiosas contribuiccedilotildees ao texto aqui apresentado

Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes da UNESC Profordf Drordf Cristiane

Mansur de Moraes Souza da FURB Prof Dr Luiz Fernando Scheibe do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da UFSC Profordf Drordf Janice

Pontes Tirelli e Marcia Grisotti do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Sociologia Poliacutetica da UFSC

Agrave coordenaccedilatildeo e aos professores e professoras do Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica importantiacutessimos nesse processo de

formaccedilatildeo

Agrave Albertina Buss Volkmann e agrave Maria de Faacutetima Xavier da Silva pelo

carinho e pela ajuda junto agrave Secretaria do PPGSP

Ao CNPq pelo auxiacutelio financeiro por meio da bolsa de estudos

Agraves amigas e amigos do Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e

Desenvolvimento do Grupo de Educaccedilatildeo para o Ecodesenvolvimento e

do Nuacutecleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional Nossas

vivecircncias e convivecircncias foram fundamentais para o meu processo

formativo Foi muito bom poder contar com o carinho e apoio de vocecircs

Agrave Juliana Adriano Marina Fravrim Gasparini Melissa Vivacqua

Tatiane Viega Vargas e Tadeu Santos (da ONG Soacutecios da Natureza) que

gentilmente compartilharam suas impressotildees sobre partes da tese

Agrave Mariana Thibes pela agradaacutevel parceria ao longo desse percurso e ao

Juliano Giassi Goularti pela sugestatildeo dos dados do quinto capiacutetulo

Aos colegas da rede TransForMar pela acolhida e pela oportunidade de

compartilhar e dialogar sobre nossos projetos

Aos amigos Andresa Graciela Wagner Joaquim Hoepers Silvana Maria

Bittencourt e Vanessa Juliana da Silva Santos

Agraves amigas Katia Parizoto e Laurete Coleti que me inspiraram com a sua

coragem

Agraves minhas tias Lizete e Dalila eacute muito bom tecirc-las por perto

Ao Ivo cuja presenccedila tornou minha caminhada mais leve Com carinho e

paciecircncia nas nossas incontaacuteveis conversas sobre a tese ajudou e falou

o essencial quando eu mais precisava e permaneceu em silecircncio quando

isso significava me compreender e respeitar

Agrave minha famiacutelia Marilda Hermes Viviana Susana Lucas Hermes

Carlos Dora Dara e Bruna presenccedilas constantes em minha vida O

amor carinho e apoio de vocecircs foi e sempre seraacute fundamental

Agrave minha querida oma Leonida tio Flaacutevio tio Irineu minha prima

Valeacuteria e minha cachorrinha Nicole que partiram no periacuteodo de

doutorado e deixaram muitas saudades

Meus mais sinceros agradecimentos a todas e todos pois naquilo que

faccedilo sou e me torno a cada dia levo um pouquinho de cada um de

vocecircs

A terra natildeo eacute soacute um espaccedilo onde vivemos Eacute um

mundo que produz e condiciona nossa proacutepria

existecircncia que antecede e se prolonga em nossa

vida em todas as suas dimensotildees Somos seres

terrestres A democracia natildeo eacute soacute um espaccedilo

institucional da poliacutetica Ela para existir deve

tambeacutem realizar-se e estar presente em todas as

dimensotildees de nossas vidas Talvez por isso haja

uma relaccedilatildeo histoacuterica tatildeo estreita entre terra e

democracia Quando a terra eacute apropriada usada

monopolizada por uns poucos a democracia natildeo

existe Quando a democracia natildeo existe a terra se

transforma em um mundo de poucos contra a

maioria (Herbert de Souza ndash Betinho 1991 p

108-9)

RESUMO

Esta tese focaliza os dilemas que continuam bloqueando quatro deacutecadas

apoacutes a Conferecircncia de Estocolmo o funcionamento do sistema de gestatildeo

de recursos naturais natildeo renovaacuteveis no Brasil Mais especificamente o

texto conteacutem uma anaacutelise dos bastidores do processo de licenciamento

ambiental voltado para a implantaccedilatildeo de uma nova usina termeleacutetrica na

regiatildeo sul do estado de Santa Catarina O enfoque analiacutetico utilizado foi

construiacutedo mediante uma hibridizaccedilatildeo de duas linhas de pesquisa

sistecircmica sobre o binocircmio meio ambiente amp desenvolvimento ainda

pouco conhecidas em nosso Paiacutes a saber gestatildeo de recursos comuns

(ldquocommonsrdquo) para o ecodesenvolvimento e justiccedila ambiental e ecoloacutegica Aleacutem da introduccedilatildeo e de uma siacutentese da revisatildeo de literatura

sobre a atualidade dos princiacutepios de ecodesenvolvimento no debate

sobre modos de apropriaccedilatildeo e sistemas de gestatildeo de ldquocommonsrdquo o texto

oferece inicialmente um resgate historiograacutefico das modalidades e das

implicaccedilotildees socioecoloacutegicas do aproveitamento de jazidas de carvatildeo

mineral no Brasil e em Santa Catarina Na sequecircncia coloca em

primeiro plano uma anaacutelise dos padrotildees de interaccedilatildeo dos segmentos

sociais envolvidos no projeto de implantaccedilatildeo da Usina Termeleacutetrica Sul-

Catarinense (USITESC) no municiacutepio de Treviso Os dados coletados

permitiram validar a hipoacutetese segundo a qual a decisatildeo de implantar esta

usina constitui um indicador suplementar de crise do sistema poliacutetico

implantado no Paiacutes relativamente ao agravamento tendencial da

problemaacutetica socioecoloacutegica A linha de criacutetica adotada incide nas

implicaccedilotildees da reproduccedilatildeo de falhas estruturais nos processos de

construccedilatildeo da cidadania ambiental e de promoccedilatildeo da justiccedila ambiental

e ecoloacutegica em todos os niacuteveis de governo ndash do local ao nacional

Argumenta-se que a despeito dos avanccedilos obtidos no debate social

contemporacircneo sobre a urgecircncia de uma transiccedilatildeo ecoloacutegica

consequente para aleacutem de uma ldquoeconomia verderdquo ou do ideaacuterio de um

ldquodesenvolvimento sustentaacutevelrdquo que natildeo rompe com o imaginaacuterio

ocidental de um crescimento material ilimitado a intenccedilatildeo de ampliar a

utilizaccedilatildeo do carvatildeo como fonte de energia estaacute diretamente associada agrave

formaccedilatildeo de redes de influecircncia envolvendo empresaacuterios e agentes

governamentais Buscando elucidar os condicionantes desse cenaacuterio de

mercantilizaccedilatildeo intensiva e indiscriminada de ldquocommonsrdquo o trabalho

reuacutene tambeacutem evidecircncias de iniciativas de resistecircncia que vecircm sendo

gestadas na regiatildeo estudada por de grupos sociais portadores de uma

visatildeo ecoloacutegica da economia da cultura e da poliacutetica

Palavras-chave Ecodesenvolvimento Gestatildeo de recursos comuns

Justiccedila ambiental Justiccedila Ecoloacutegica Democracia Energia Termeleacutetrica

Carvatildeo Mineral Santa Catarina

ABSTRACT

This thesis focuses on the dilemmas that continue blocking four

decades after the Stockholm Conference the functioning of the

management system based on non-renewable natural resources in Brazil

More specifically the text contains an analysis of the backstage of the

licensing process focused on the deployment of a new thermal power

plant in the southern state of Santa Catarina The analytical approach

used was built by a hybridization of two lines of systemic research on

the binomial environment amp development still little known in our

country namely management of common resources (commons) for

the ecodevelopment and environmental and ecological justice Besides

the introduction and a summary of the literature review on the actuality

of the principles of ecodevelopment in the current debate on modes of

ownership and management of commons systems the text initially

provides a historiographical rescuing of the terms and socio-ecological

implications of utilizing coal mines in Brazil and in Santa Catarina

State Following it foregrounds an analysis of the patterns of interaction

of social groups involved in the deployment project Thermoelectric

Plant of South of the Santa Catarina (USITESC) in the city of Treviso

The collected data allow to validate the hypothesis that the decision to

deploy this Plant is a further indicator of the political system deployed

crisis in the country regarding the trend towards worsening of socio-

ecological problems The adopted line of criticism focuses on the

implications of reproducing structural flaws in the processes of

construction of environmental citizenship and promotion of

environmental and ecological justice at all levels of government - from

local to national It is argued that despite the progress achieved in the

contemporary social debate on the urgency of a consequent ecological

transition beyond a green economy or the ideas of sustainable

development that does not break the Western imagination of a growing

unlimited material intention of expanding nowadays the use of coal as

an energy source is directly associated with the formation of powerful

lobbies involving businessmen and government officials Trying to

elucidate the determinants of this intensive and indiscriminate

commodification of commons scenario the paper also gathers

evidence of resistance initiatives that have been gestated in the study

area for social groups suffering from an ecological view of the

economy culture and policy

Keywords Ecodevelopment Management of common resources

Environmental justice Ecological justice Democracy Thermoelectric

energy Coal Santa Catarina

LISTA DE FIGURAS

Figura 1ndash Tipologia das formas de expressatildeo do cidadatildeo numa

democracia 56 Figura 2 - Modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns ajustado a

co-gestatildeo adaptativa 69 Figura 3 - Primeira adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa 72 Figura 4 - Segunda adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa 75 Figura 5 - Tipos de carvatildeo e uso 87 Figura 6 - Etapas da avaliaccedilatildeo de impacto ambiental 95 Figura 7 ndash Mapa de localizaccedilatildeo da Bacia Carboniacutefera Santa Catarina

114 Figura 8- Brasatildeo do municiacutepio de Treviso 158 Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Treviso 159 Figura 10 - Aacuterea prevista para a implantaccedilatildeo da USITESC 163

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Divisatildeo dos envolvidos na gestatildeo por segmentos 55 Quadro 2 - Quadro de anaacutelise do sistema democraacutetico agrave luz da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica 57 Quadro 3 ndash O enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento e as

dimensotildees baacutesicas do conceito sistecircmico de meio ambiente 64 Quadro 4 - Aspectos das atividades de mineraccedilatildeo e processamento do

carvatildeo mineral 91 Quadro 5 - Siacutentese dos pontos que favorecem e questionam a

amplicaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral

por macro variaacutevel 104 Quadro 6 ndash Limites e oportunidades do sistema democraacutetico no Brasil

106 Quadro 7 ndash Aspectos que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral Santa Catarina

130 Quadro 8 ndash Limites e possibilidades do sistema democraacutetico em Santa

Catarina 132 Quadro 9 - Principais caracteriacutesticas fiacutesicas e bioacuteticas da aacuterea de

influecircncia indireta do projeto USITESC 160 Quadro 10- Impactos sobre o Meio Fiacutesico Bioacutetico e Antroacutepico e accedilotildees

geradoras 165 Quadro 11 - Siacutentese dos Programas da USITESC e alvos principais 168 Quadro 12 - Procedimento para conduccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas

FATMA 175

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral em operaccedilatildeo

em 2013 Brasil 88 Tabela 2 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral com outorga

de 1998 a 2013 Brasil 88 Tabela 3 - Faturamento do Segmento do Carvatildeo Mineral 2012 118 Tabela 4 - Produccedilatildeo de carvatildeo bruto (ROM) de 2009 a 2012 119 Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de passivos ambientais em relaccedilatildeo agraves empresas

120 Tabela 6 - Cronograma de recuperaccedilatildeo dos passivos ambientais 120 Tabela 7 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2002 141 Tabela 8 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2002 que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral 142 Tabela 9 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2002 142 Tabela 10 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2006 143 Tabela 11 - Candidatosas que receberam doaccedilotildees das empresas ligadas

ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2006 144 Tabela 12 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2006 145 Tabela 13 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2010 145 Tabela 14 - Candidatosas receberam doaccedilotildees das empresas ligadas ao

carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2010 146 Tabela 15 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2010 147 Tabela 16 - Doadores eleiccedilotildees de 2004 148 Tabela 17 - Comitecircs e candidatos que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2004 149 Tabela 18 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2004 149 Tabela 19 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2008 150 Tabela 20 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2008 que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 151 Tabela 21 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2008 151 Tabela 22 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2012 152 Tabela 23 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2012 que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 152 Tabela 24 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2012 153 Tabela 25 - Siacutentese dos doadores Eleiccedilotildees de 2002 e 2012 154 Tabela 26 - Candidatos que receberam maiores doaccedilotildees Eleiccedilotildees de

2002 a 2012 155 Tabela 27 - Doaccedilotildees por Partido Poliacutetico Eleiccedilotildees de 2002 a 2012 155 Tabela 28 ndash Principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo com a construccedilatildeo da

USITESC 179

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABCM Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo Mineral

ACARESC

Associaccedilatildeo de Creacutedito e Assistecircncia Rural de Santa

Catarina

ACARIMO Associaccedilatildeo Comunitaacuteria do Alto do Rio Molha

AIA Avaliaccedilatildeo de Impacto Ambiental

ALESC Assembleacuteia Legislativa do Estado de Santa Catarina

AMESC Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Extremo Sul Catarinense

AMREC Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera

AMUREL Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo de Laguna

ANEEL Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica

ANSDNPM Associaccedilatildeo Nacional de Servidores do Departamento

Nacional de Produccedilatildeo Mineral

APC Associaccedilatildeo Proacute-Carvatildeo

APIB Articulaccedilatildeo dos Povos Indiacutegenas do Brasil

APINE

Associaccedilatildeo Brasileira dos Produtores Independentes de

Energia Eleacutetrica

APP Agraverea de Preservaccedilatildeo Permanente

ASMURC

Associaccedilatildeo de Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera do

Rio Grande do Sul

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento

CAPES

Coordenadoria de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CASA Centro de Apoio Socioambiental

CBCA Companhia Carboniacutefera de Araranguaacute

CCEE Cacircmara de Comercializaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica

CEPCAN Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo Nacional

CETEM Centro de Tecnologia Mineral

CETMA Conselho Estadual de Tecnologia e Meio ambiente

CFEM

Compensaccedilatildeo Finaceira pela Exploraccedilatildeo de Recursos

Minerais

CFM Comitecircs Financeiros Municipais

CGBHRA

Comitecirc de Gerenciamento da Bacia Hidrograacutefica do Rio

Araranguaacute

CGTEE Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica

CNBB Conferecircncia Nacional dos Bispos do Brasil

CNPE Conselho Nacional de Poliacutetica Energeacutetica

CNPq

Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico

CO2 Dioacutexido de Carbono

COCALIT Coque Catarinense Ltda

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONDEMA Conselho Municipal de Defesa Ambiental

COPEL Companhia Paranaense de Energia

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

DEM Democratas

DNPM Departamento Nacional de Produccedilatildeo Mineral

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EPE Empresa de Pesquisa Energeacutetica

FASE

Federaccedilatildeo de oacutergatildeos para Assistecircncia Social e

Educacional

FATMA Fundaccedilatildeo do Meio Ambiente

FBOMS Foacuterum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais

FBOMS

Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

FDESC Foacuterum de Desenvolvimento do Extremo Sul Catarinense

FEEC Federaccedilatildeo de Entidades Ecologistas Catarinenses

FELC Foacuterum de Ecodesenvolvimento do Litoral Catarinense

FURB Universidade Regional de Blumenau

GAPLAN Gabinete de Planejamento

GEE Gases de Efeito Estufa

GWH Gigawatt-hora

IAD Institutional Framework for Policy Analysis and Design IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renovaacuteveis

IBASE Instituto Brasileiro de Anaacutelises Sociais e Econocircmicas

IBRAM Instituto Brasileiro de Mineraccedilatildeo

ICA Instituto da Cidadania de Araranguaacute

ICC Induacutestria Carboquiacutemica Catarinense

ICMS

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Prestaccedilatildeo de

Serviccedilos

IEA Agecircncia Internacional de Energia

INESC Instituto de Estudos Socioeconocircmicos

IPAT Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnoloacutegicas

JICA Agecircncia de Cooperaccedilatildeo internacional do Japatildeo

KWh QuiloWatt hora

LI Licenccedila de Instalaccedilatildeo

LO Licenccedila de Operaccedilatildeo

LP Licenccedila Preacutevia

MAM Movimento Popular frente agrave Mineraccedilatildeo

MEcircS Movimento Ecoloacutegico de Sideroacutepolis

MMA Ministeacuterio do Meio Ambiente

MME Ministeacuterio das Minas e Energia

MOVET Movimento Ecoloacutegico Tubaronense

MPA Movimento Proacute-Araranguaacute

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MW Megawatt

N Nitrogecircnio

NMD

Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e

Desenvolvimento

NPDR Nuacutecleo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional

OCDE

Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento

Econocircmico

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

PAC Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento

PFL Partido da Frente Liberal

PL Projeto de Lei

PMA Prefeitura Municipal de Araranguaacute

PMDB Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro

PNMA Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente

PNUMA Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente

PP Partido Progressista

PPB Partido Progressista Brasileiro

PPS Partido Popular Socialista

PR Partido da Repuacuteblica

PSD Partido Social Democraacutetico

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

PT Partido dos Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

RBJA Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental

RIMA Relatoacuterio de Impacto Ambiental

ROM Run of Mine

SATC

Associaccedilatildeo Beneficente da Induacutestria Carboniacutefera de

Santa Catarina

SDR Secretaria de Desenvolvimento Regional

SETMA Secretaria de Tecnologia e Meio Ambiente

SIESESC

Sindicato da Induacutestria da Extraccedilatildeo de Carvatildeo do Estado

de Santa Catarina

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNIEC Sindicato Nacional da Induacutestria de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

SOLTECA Sociedade Termoeleacutetrica de Capivari SA

TWH Tera Watt Hora

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense

USITESC Usina Termeleacutetrica Sul-Catarinense

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO39

2 A ATUALIDADE DO ECODESENVOLVIMENTO NO ESTUDO

CONTEMPORAcircNEO SOBRE GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS59

21 RESGATE DO ENFOQUE ldquoCLAacuteSSICOrdquo DE

ECODESENVOLVIMENTO 61

22 AS CONTRIBUICcedilOtildeES DE DIFERENTES ENFOQUES 63

221 Gestatildeo de recursos comuns a importacircncia da

aprendizagem social adaptativa 66

222 Ecodesenvolvimento territorial os recursos comuns no

contexto do desenvolvimento 71

223 Justiccedila ambiental e justiccedila ecoloacutegica os caminhos da

democracia 73

23 LIMITES E POSSIBILIDADES DO

ECODESENVOLVIMENTO REVISITADO 77

3 GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS NO BRASIL O CARVAtildeO

MINERAL EM QUESTAtildeO79

31 DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO GESTAtildeO DE

RECURSOS COMUNS E ENERGIA 81

32 CARACTERIZACcedilAtildeO E USOS DO CARVAtildeO MINERAL NO

BRASIL 86

33 TECNOLOGIAS DISPONIacuteVEIS E IMPACTOS

SOCIOAMBIENTAIS 89

34 REGRAS EM USO NUMA PERSPECTIVA HISTOacuteRICA

INTERFACE ENTRE DIREITOS AMBIENTAIS E DIREITOS

HUMANOS 92

35 ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO 98

351 Segmentos poliacuteticos 98

352 Segmentos econocircmicos 100

353 Segmentos sociais 102

36 SITUACcedilAtildeO ATUAL E DESAFIOS 103

4 CARVAtildeO MINERAL EM SANTA

CATARINA109

41 ldquoCombinandordquo crescimento econocircmico e proteccedilatildeo ambiental 110

42 O sul catarinense uma trajetoacuteria (de desenvolvimento) marcada

pelo carvatildeo mineral 114

43 Da extraccedilatildeo manual agrave mecanizaccedilatildeo das minas 121

44 Regras em uso 122

45 Envolvidos na gestatildeo 124

451 Segmentos poliacuteticos 124

452 Segmentos econocircmicos 124

453 Segmentos sociais 126

46 Situaccedilatildeo atual e desafios 129

5 CARVAtildeO MINERAL E POLIacuteTICA EM SANTA CATARINA

ELEICcedilOtildeES E FINANCIAMENTO PRIVADO133

51 Os argumentos presentes no discurso dos poliacuteticos 134

52 Panorama das eleiccedilotildees e doaccedilotildees de campanha de 2002 a 2012

139

521 Eleiccedilotildees gerais 140

522 Eleiccedilotildees municipais 148

53 Os fatos ausentes do discurso dos poliacuteticos 153

6 CARVAtildeO MINERAL E AMPLIACcedilAtildeO DA ENERGIA

TERMELEacuteTRICA EM SANTA CATARINA157

61 O municiacutepio de Treviso 157

62 O processo de licenciamento os documentos escritos 162

621 O EIARIMA da USITESC 163

622 Das audiecircncias puacuteblicas e licenccedilas 169

623 Pressotildees dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos no

processo de licenciamento 170

624 A posiccedilatildeo dos segmentos sociais 173

63 Relaccedilotildees de poder e desigualdade nas audiecircncias puacuteblicas os

documentos falados 175

631 A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica 177

632 As mudanccedilas climaacuteticas natildeo vecircm ao caso 183

633 Quem defende quem E quem defende os

afetadosatingidosameaccedilados 188

634 O papel da FATMA em questatildeo 192

635 O IPAT e a neutralidade da ciecircncia 195

636 Audiecircncias puacuteblicas como espaccedilos democraacuteticos 200

64 Democracias possiacuteveis e aprendizagem social 202

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS205

REFEREcircNCIAS211

1 INTRODUCcedilAtildeO

O crescimento e as transformaccedilotildees da economia mundial ao

longo do seacuteculo XX foram impulsionados pela oferta de energia tendo

como fonte principal os combustiacuteveis foacutesseis petroacuteleo e carvatildeo mineral

O uso da energia eacute essencial agrave cultura consumista moderna presente em

todas as regiotildees do mundo Os processos de produccedilatildeo e consumo satildeo

responsaacuteveis por inuacutemeros riscos e danos ecoloacutegicos (TOUCHEacute 2004)

A geopoliacutetica mundial dos recursos naturais faz da energia aacutegua

mineacuterio e espaccedilo territorial elementos do comeacutercio internacional Esse

movimento global afeta as localidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de redes

de infraestrutura reconversatildeo de atividades alteraccedilatildeo das formas de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo e satildeo geradores de injusticcedila ambiental Aiacute surgem

conflitos entre a exploraccedilatildeo dos recursos orientada por interesses

presentes em vaacuterias escalas espaciais (ACSELRAD BEZERRA 2010

ZHOURI 2008)

A partir da deacutecada de 1990 depois de mais de cinquenta anos de

controle estatal o sistema energeacutetico brasileiro passou por um periacuteodo

de liberalizaccedilatildeo Duas mudanccedilas consideraacuteveis podem ser apontadas A

privatizaccedilatildeo das companhias operadoras iniciando com a Lei nordm 9427

de dezembro de 1996 que instituiu a Agecircncia Nacional de Energia

Eleacutetrica (ANEEL) e determinou que o potencial energeacutetico seria

concedido via leilatildeo A segunda mudanccedila ocorreu em 2004 com o Novo

Modelo do Setor Eleacutetrico marcando a retomada do planejamento nesse

setor pelo Estado garantindo a seguranccedila no suprimento modicidade

tarifaacuteria e inserccedilatildeo social (atraveacutes do Programa Luz para Todos)

(ANEEL 2008a) Essa deacutecada marcou tambeacutem a desregulamentaccedilatildeo do

setor carboniacutefero que perdeu o mercado metaluacutergico e enfrentou seacuterias

dificuldades vindo a se recuperar somente com a possibilidade de

ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica (JFSC 2008)

Muitas poliacuteticas puacuteblicas incluindo as do setor energeacutetico tecircm

como efeitos colaterais grandes impactos socioambientais (PINHEIRO

2006 RAULINO 2009 SAacuteNCHEZ 2008a VIEacuteGAS 2007) O

Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) reforccedilou a velha loacutegica

de grandes projetos de infraestrutura e a atuaccedilatildeo do Estado ainda eacute

bastante controversa (VIEIRA 2009 ZHOURI LASCHEFSKI 2010)

Dentre as controveacutersias presentes na atuaccedilatildeo do Estado uma refere-se

ao compromisso assumido pelo Brasil no Plano Nacional sobre

40

Mudanccedila do Clima de reduzir as desigualdades sociais a partir de uma

dinacircmica econocircmica que natildeo repita a trajetoacuteria dos paiacuteses

industrializados em termos de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

(GEE) (BRASIL 2008) Esse discurso parece caminhar na contramatildeo

do PAC que prevecirc a construccedilatildeo de mais cinco termeleacutetricas movidas a

carvatildeo mineral sendo uma em Santa Catarina (MONTEIRO 2008)

A Poliacutetica Estadual sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e

Desenvolvimento Sustentaacutevel de Santa Catarina foi instituiacuteda em 2009

Esta pretende compatibilizar desenvolvimento social econocircmico e

tecnoloacutegico com a proteccedilatildeo do sistema climaacutetico e do meio ambiente

com ecircnfase especial agrave minimizaccedilatildeo das atividades geradoras de gases de

efeito estufa (SANTA CATARINA 2009a) Entretanto o Coacutedigo

Estadual do Meio Ambiente aprovado em 2009 (SANTA CATARINA

2009b) e alterado em 2013 abre a possibilidade de regularizaccedilatildeo

fundiaacuteria em Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e do

licenciamento por decurso de prazo (FEEC 2008 SANTA

CATARINA 2014a) Estes e outros aspectos causam grande impacto

nas relaccedilotildees sociedade e meio ambiente no geral e na questatildeo

energeacutetica em particular

O desenvolvimento de Santa Catarina foi durante muito tempo

considerado bem sucedido por ter reduzido grau de desigualdade

socioeconocircmica amparada no predomiacutenio da pequena propriedade e da

produccedilatildeo diversificada (LISBOA THEIS 1993) Todavia com o passar

do tempo observa-se a elevaccedilatildeo do ecircxodo rural o aumento dos

problemas urbanos e da degradaccedilatildeo ecossistecircmica (VIEIRA et al

2010 VIEIRA CUNHA 2002) A crise socioecoloacutegica catarinense estaacute

intimamente ligada agrave civilizaccedilatildeo dos negoacutecios (LENZI 2000) e o

sistema energeacutetico que a sustenta contribui em alguma medida para o

agravamento deste quadro (LISBOA THEIS 1993) O aumento da

produccedilatildeo e consumo de energia em Santa Catarina relaciona-se ao

crescimento da atividade econocircmica e ao crescimento dos impactos

ambientais (THEIS 1988)

Dentre as regiotildees mais afetadas estaacute o Sul de Santa Catarina A

regiatildeo concentra 1041 das reservas de carvatildeo mineral do Brasil

(MONTEIRO 2008) Desde a descoberta do carvatildeo catarinense pelos

tropeiros em 1822 ateacute os dias atuais muitas coisas mudaram em termos

de incentivos ao uso do carvatildeo mineral tecnologias utilizadas

agravamento da problemaacutetica socioambiental global e desenvolvimento

de mecanismos institucionais para lidar com esta problemaacutetica Todavia

41

apesar de existirem avanccedilos intensificaram-se tambeacutem processos de

degradaccedilatildeo ambiental (MENEZES WATERKEMPER 2009 SANTA

CATARINA 1990)

A Agecircncia de Cooperaccedilatildeo Internacional do Japatildeo (JICA)

identificou 4700 hectares degradados no Sul de Santa Catarina mas

estima-se que seriam 6000 hectares (NASCIMENTO BURSZTYN

2010) Do mineacuterio extraiacutedo 25 eacute aproveitado e 75 torna-se rejeito

piritoso (MILIOLI 2009) Na regiatildeo carboniacutefera apesar da

mecanizaccedilatildeo da extraccedilatildeo do carvatildeo ainda existem precaacuterias condiccedilotildees

de trabalho e peacutessimas condiccedilotildees de vida (moradia sauacutede saneamento)

(MONTIBELLER FILHO 2004) Haacute na regiatildeo um gradativo

comprometimento do setor agriacutecola As aacutereas proacuteximas agraves lavras de

subsolo sofrem com rachaduras desabamentos e rebaixamentos do solo

Ocorrem tambeacutem infiltraccedilotildees secagem de cursos de aacutegua accediludes e

poccedilos Dois terccedilos do sistema hidrograacutefico da regiatildeo estatildeo

comprometidos Existem tambeacutem impactos na flora e fauna e decliacutenio

do potencial pesqueiro (MILIOLI 2009)

Em 1993 o Ministeacuterio Puacuteblico Federal propocircs uma Accedilatildeo Civil

Puacuteblica contra as empresas carboniacuteferas diretores soacutecios majoritaacuterios o

Estado de Santa Catarina e a Uniatildeo Federal visando agrave recuperaccedilatildeo do

passivo ambiental resultante da mineraccedilatildeo do carvatildeo Em 2000

aconteceu a condenaccedilatildeo dos reacuteus agrave recuperaccedilatildeo de 619159 hectares de

aacutereas degradadas trecircs bacias hidrograacuteficas (bacias dos rios Araranguaacute

Tubaratildeo e Urussanga) e 768 minas de boca abandonadas (TSJ 2007)

A regiatildeo eacute palco de muitos conflitos No que diz respeito agrave

extraccedilatildeo do carvatildeo destacam-se em 1988 o conflito entre a Companhia

Sideruacutergica Nacional (CSN) e moradores da comunidade rural de

Montanhatildeo em 1994 entre a Companhia Carboniacutefera Belluno e 200

agricultores em 1995 envolvendo a Associaccedilatildeo Comunitaacuteria do Alto do

Rio Molha (ACARIMO) em Urussanga em 1996 o conflito entre

mineradores e agricultores no ldquoMorrordquo do Albino e Estevatildeo em

Criciuacutema (SILVA SCHEIBE 2005) em 1999 o conflito com a

Carboniacutefera Rio Deserto em Sideroacutepolis e em Iccedilara entre agricultores e

a Carboniacutefera Rio Deserto (NASCIMENTO BURSZTYN 2010) Em

2004 com a ocorrecircncia do furacatildeo Catarina o primeiro do Atlacircntico

Sul inaugura-se uma mobilizaccedilatildeo social que une a discussatildeo sobre a

mineraccedilatildeo do carvatildeo com a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas e

justiccedila ambiental (SOacuteCIOS DA NATUREZA 2009 e 2005)

Historicamente na regiatildeo aqueles que tecircm o benefiacutecio econocircmico

42

geralmente natildeo arcam com os impactos negativos resultantes da

mineraccedilatildeo (MILIOLI 2009 NASCIMENTO BURSZTYN 2010)

Todavia os impactos natildeo necessariamente afetam apenas as populaccedilotildees

mais vulneraacuteveis do ponto de vista socioeconocircmico

O iacutendice meacutedio de mortalidade por neoplasias e doenccedilas

respiratoacuterias eacute superior ao resto do territoacuterio catarinense e ultrapassa a

meacutedia nacional Chama atenccedilatildeo tambeacutem o iacutendice de mortalidade de

menores de um ano por doenccedilas respiratoacuterias anomalias congecircnitas

notadamente no sistema nervoso incluindo anencefalia tambeacutem

superiores ao resto do paiacutes (MPF 2009) Os municiacutepios de Imbituba

Tubaratildeo Criciuacutema e Urussanga lideram os piores iacutendices de qualidade

do ar do Estado Existem tambeacutem muitos prejuiacutezos relacionados agrave sauacutede

da populaccedilatildeo De 1980 a 2004 foram 846 mortes causadas por doenccedilas

do aparelho respiratoacuterio nos municiacutepios de Criciuacutema Iccedilara Lauro

Muumlller Morro da Fumaccedila Sideroacutepolis Nova Veneza Urussanga

(MILIOLI 2009)

A mineraccedilatildeo no Sul em 2010 contava com 12 induacutestrias e

aproximadamente 4136 empregos diretos O principal destino do carvatildeo

(95) era o Complexo Termeleacutetrico Jorge Lacerda localizado no

municiacutepio de Capivari de Baixo administrado pela Tractebel

(SIECESC 2010) A Usina Termeleacutetrica Jorge Lacerda foi inaugurada

em 1965 entrando em operaccedilatildeo em 1966 com potecircncia instalada de 50

MW atualmente 856 MW com a incorporaccedilatildeo de mais unidades e

ampliaccedilatildeo da produccedilatildeo de energia eleacutetrica Em 1998 como parte dos

processos de privatizaccedilatildeo o Complexo Jorge Lacerda foi vendido para o

Grupo SuezTractebel (Beacutelgica) (GOULARTI FILHO MORAES

2004)

O Complexo Jorge Lacerda tem o compromisso da compra de

200 mil toneladas mensais de carvatildeo mineral A cadeia produtiva do

carvatildeo gera mais de seis mil empregos (na mineraccedilatildeo do carvatildeo

transporte e abastecimento do carvatildeo geraccedilatildeo de energia eleacutetrica e

extraccedilatildeo e transporte de cinzas) e eacute responsaacutevel por 70 da arrecadaccedilatildeo

de tributos municipais e por 75 da economia de Capivari de Baixo

(TRACTEBEL 2008)

A ampliaccedilatildeo de energia termeleacutetrica tornou-se uma possibilidade

atraveacutes da construccedilatildeo da Usina Termeleacutetrica Sul-Catarinense

(USITESC) Ela faz parte de uma realidade diferente se comparada ao

Complexo Termeleacutetrico Jorge Lacerda Enquanto o Complexo

Termeleacutetrico Jorge Lacerda foi construiacutedo num periacuteodo em que a

43

questatildeo da energia passava pela intervenccedilatildeo federal e estadual

(GOULARTI FILHO MORAES 2004) a USITESC vai ser construiacuteda

num periacuteodo de liberalizaccedilatildeo e privatizaccedilatildeo do setor eleacutetrico Ocorrem

ainda nesse intervalo de tempo a democratizaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de espaccedilos

legais e institucionais motivados pela crescente preocupaccedilatildeo com

questotildees socioambientais (VAINER 2007) Todavia existem

dificuldades na articulaccedilatildeo entre os niacuteveis de planejamento e gestatildeo

(federal estadual regional municipal) especificidades da cultura

poliacutetica brasileira a degeneraccedilatildeo das instituiccedilotildees poliacuteticas e o vieacutes

tecno-burocraacutetico das poliacuteticas ambientais (VIEIRA 2006) Ao liberar

as forccedilas do capital das regulamentaccedilotildees do Estado o controle social

sobre os efeitos nocivos do uso exacerbado do meio ambiente pelos

interesses privados pode ser inviabilizado (ACSELRAD 1992b)

No que se refere agrave geraccedilatildeo de energia do Complexo Jorge

Lacerda a Tractebel natildeo sofre nenhum tipo de fiscalizaccedilatildeo O

Complexo Jorge Lacerda emite 42 milhotildees de toneladas de Dioacutexido de

Carbono (CO2) por ano (MONTEIRO 2008) A Fundaccedilatildeo do Meio

Ambiente (FATMA) autorizou a Tractebel a emitir 15667117

toneladasano de dioacutexido de enxofre Essa e as demais emissotildees

ultrapassam em muito os limites da Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional do

Meio Ambiente (CONAMA) nordm 0890 e violam tambeacutem a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) sobre a Mudanccedila do Clima da

qual o Brasil eacute signataacuterio Em 2009 o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

determinou que a Tractebel Energia SA realize uma auditoria

ambiental uma vez que sua atuaccedilatildeo tem como base um estudo de

impacto ambiental feito em 1986 (MPF 2009)

Jaacute o relatoacuterio de impacto ambiental da USITESC foi questionado

pela sociedade civil organizada e em alguns pontos pelo Ministeacuterio

Puacuteblico (SANTOS 2011 DIAS 2011) Segundo Dias (2011) o estudo

de impacto ambientalrelatoacuterio de impacto ambiental considerou apenas

os impactos da implantaccedilatildeo da usina termeleacutetrica desconsiderando os

empreendimentos acessoacuterios (reservatoacuterio de aacutegua ramal da Ferrovia

Tereza Cristina linha de transmissatildeo e terminal de amocircnia no porto de

ImbitubaSC) Foram feitos estudos complementares e o Ministeacuterio

Puacuteblico corroborou o licenciamento ambiental emitido pela FATMA

Se os estudos de impacto ambiental e relatoacuterios de impacto

ambiental satildeo a base para as tomadas de decisatildeo aleacutem da qualidade

documental a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em associaccedilotildees locais eacute uma

conquista democraacutetica importante mas a praacutetica permanece precaacuteria

44

(SAacuteNCHEZ 2008b AGRA FILHO 2010) na medida em que o campo

ambiental eacute ldquoconstituiacutedo por posiccedilotildees hieraacuterquicas e relaccedilotildees de poder

muito desiguaisrdquo (ZHOURI 2008 p 99) Os empresaacuterios enaltecem os

benefiacutecios sociais dos empreendimentos e o governo tem demonstrado

atitudes controvertidas nos espaccedilos de negociaccedilatildeo e decisatildeo As

audiecircncias puacuteblicas passam de ldquo() um instrumento de avaliaccedilatildeo da

sustentabilidade socioambiental das obras para ser mero instrumento

viabilizador de um projeto de sociedade que tem no meio ambiente um

recurso material a ser explorado economicamenterdquo (ZHOURI 2008 p

101) Outro risco que se corre para aleacutem da negociaccedilatildeo caso a caso eacute

lidar ldquoapenas com a manifestaccedilatildeo superficial de questotildees mais

fundamentais e enraizadas ndash os conflitos de valores e princiacutepios baacutesicos

relativos agrave gestatildeo dos recursosrdquo (ACSELRAD BEZERRA 2010 p

52) Ou seja a preocupaccedilatildeo socioambiental acaba muitas vezes

limitada ao processo de avaliaccedilatildeo de impacto ambiental de casos

isolados sem levar em conta uma discussatildeo ampla e bem informada

sobre alternativas ao estilo de desenvolvimento hegemocircnico

A regiatildeo Sul catarinense convive com um problema socioambiental

considerado grave a saber os impactos negativos decorrentes da

mineraccedilatildeo e do uso do carvatildeo mineral e a construccedilatildeo da USITESC

demonstram a insistecircncia nesse estilo de desenvolvimento Levando em

conta a situaccedilatildeo-problema aqui descrita a questatildeo norteadora dessa tese

foi assim formulada Por que apesar da evoluccedilatildeo do debate sobre os

impactos socioambientais da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral e dos avanccedilos institucionais relacionados agrave questatildeo ambiental o sistema de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral vem sendo

ampliado em Santa Catarina

Partindo dessa questatildeo norteadora satildeo apresentados a seguir o enfoque

analiacutetico e os principais conceitos que ajudaram a delimitar essa tese

Enfoque analiacutetico

Desde a emergecircncia social e cientiacutefica da problemaacutetica

socioambiental a partir da deacutecada de 1960 podemos destacar avanccedilos

conceituais que se somam a progressos no conhecimento empiacuterico

sobre os problemas e ameaccedilas socioambientais e avanccedilos institucionais

da questatildeo ambiental Apesar dos avanccedilos os desafios da problemaacutetica

45

socioambiental satildeo ineacuteditos e possuem implicaccedilotildees epistemoloacutegicas

eacuteticas e poliacuteticas

O ecodesenvolvimento tem sido o ponto de confluecircncia dessa

reflexatildeo Mencionado pela primeira vez no acircmbito da Conferecircncia de

Estocolmo foi utilizado no decorrer da deacutecada de 1970 sendo

progressivamente marginalizado na deacutecada seguinte considerado como

um enfoque demasiadamente criacutetico e radical pela ideologia neoliberal

(SACHS 1986 VIEIRA 2006) O enfoque analiacutetico aqui apresentado

resgata o enfoque ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento enfatizando suas

trecircs dimensotildees (i) recursos naturais (ii) espaccedilo-territoacuterio e (iii) habitat

(compreendido como qualidade de vida)

No que se refere agrave primeira dimensatildeo satildeo consideradas as

contribuiccedilotildees do enfoque da gestatildeo de recursos comuns que vecircm

permeando o debate sobre os modos de apropriaccedilatildeo e gestatildeo No que diz

respeito agrave segunda dimensatildeo traz-se o enfoque do ecodesenvolvimento

territorial como uma possibilidade de operacionalizar o enfoque de

ecodesenvolvimento Por fim as contribuiccedilotildees agrave dimensatildeo do haacutebitat a

partir do enfoque de justiccedila ambiental e ecoloacutegica entendido como

capaz de contribuir na avaliaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo dos benefiacutecios dos

riscos e danos ambientais assim como na reflexatildeo sobre redistribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre os seres humanos

destes com o meio ambiente com as futuras geraccedilotildees espeacutecies natildeo

humanas e processos ecossistecircmicos

O enfoque da gestatildeo de recursos comuns atraveacutes do Institutional Framework for Policy Analysis and Design (IAD) adaptado por

Oakerson (1992) oferece atraveacutes de quatro macro variaacuteveis uma forma

de descrever a gestatildeo de um dado recurso os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso as regras em uso que orientam a interaccedilatildeo dos

envolvidos na gestatildeo a arena de accedilatildeo que compreendem os espaccedilo nos

quais os envolvidos se relacionam e os resultados e consequecircncias da

gestatildeo A relaccedilatildeo entre essas macro variaacuteveis eacute dinacircmica e as mudanccedilas

da gestatildeo envolvem o aprendizado social adaptativo que se incorpora

ao modelo a partir das contribuiccedilotildees recentes do enfoque da cogestatildeo

adaptativa (ARMITAGE et al 2009 PLUMMER 2009 HOLLING

2001 BERKES 2009 CUNDILL 2010) Esse enfoque eacute importante

para o problema desta tese porque a descriccedilatildeo e anaacutelise das macro

variaacuteveis possibilita um diagnoacutestico e uma compreensatildeo mais ampla do

problema bem como um prognoacutestico avaliando estrateacutegias passiacuteveis de

serem colocadas em accedilatildeo visando a resoluccedilatildeo do problema inicial

46

A fim de complementar o enfoque da gestatildeo de recursos comuns

o enfoque do ecodesenvolvimento territorial reforccedila a ideia de que a

gestatildeo de recursos comuns deve ser analisada junto ao estilo de

desenvolvimento Para aleacutem da situaccedilatildeo especiacutefica do recurso

encontram-se as opccedilotildees de desenvolvimento que influenciam as macro

variaacuteveis acima listadas em todas as escalas espaciais do local ao global

(VIEIRA 2006)

Os enfoques da justiccedila ambiental e da justiccedila ecoloacutegica por sua

vez trazem a indissociabilidade da questatildeo ambiental e da questatildeo

democraacutetica enfatizando o fortalecimento do sistema democraacutetico como

condiccedilatildeo para a aprendizagem social adaptativa e como um caminho

para a reflexatildeo-accedilatildeo criacutetica em relaccedilatildeo agrave gestatildeo de recursos comuns e agraves

opccedilotildees de desenvolvimento A democracia (representativa e

participativa) eacute um ldquoelemento dardquo e uma ldquocondiccedilatildeo parardquo a justiccedila

ambiental e ecoloacutegica (SCHLOSBERG 2009)

No sistema democraacutetico eacute preciso identificar os mecanismos de

produccedilatildeo da injusticcedila ambiental entendida como distribuiccedilatildeo

desproporcional dos riscos e danos ambientais proteccedilatildeo ambiental

desigual e acesso desigual aos recursos naturais A justiccedila ambiental

centraliza sua anaacutelise na redistribuiccedilatildeo (que remete a aspectos

econocircmicos) e a justiccedila ecoloacutegica complementa com outras duas

dimensotildees o reconhecimento (que remete a aspectos culturais) e a

representaccedilatildeo (que remete a aspectos poliacuteticos) (FRASER 2009 2007

SCHLOSBERG 2009) A ampliaccedilatildeo da democracia e

consequentemente do aprendizado social adaptativo envolve estrateacutegias

dos segmentos sociais que considerem essas duas dimensotildees

Dessa forma o enfoque central utilizado nessa tese o

ecodesenvolvimento conta com as contribuiccedilotildees da gestatildeo de recursos

comuns do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila ambiental e da

justiccedila ecoloacutegica Mesmo diante da situaccedilatildeo-problema apresentada na

qual os problemas tendem a se acirrar com a ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica a combinaccedilatildeo dos enfoques permite aleacutem de um

diagnoacutestico visando compreender o problema a possibilidade de

atraveacutes do exame das dinacircmicas de desenvolvimento do sistema

democraacutetico e da aprendizagem social adaptativa identificar avanccedilos e

margens de manobra junto aos segmentos sociais que possibilitem o

questionamento da situaccedilatildeo e seu enfrentamento

47

Questotildees norteadoras

Por que apesar da evoluccedilatildeo do debate sobre os impactos

socioambientais da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral e dos avanccedilos

institucionais relacionados agrave questatildeo ambiental o sistema de geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral vem sendo ampliado em

Santa Catarina

Para auxiliar a questatildeo norteadora constam ainda as seguintes questotildees auxiliares

Quais condicionantes levam agrave ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica no Brasil e em Santa Catarina

Como as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento influenciam

as accedilotildees coletivas dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais

De que maneira os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais se

articulam para que a atividade carboniacutefera se mantenha e se

amplie

Como se deu o processo de licenciamento da Usitesc

Como se manifestam os problemas de reconhecimento e

representaccedilatildeo no processo de licenciamento

As accedilotildees coletivas estudadas tecircm gerado oportunidades para

processos de aprendizagem social adaptativa

Haacute indiacutecios de uma possiacutevel rota para uma democracia que

permita que os segmentos sociais intervenham efetivamente em

debates cada vez mais mediados por uma ciecircncia e tecnologia a

serviccedilo dos projetos dos segmentos econocircmicos e respaldados

pelos segmentos poliacuteticos

Hipoacuteteses

Partindo do pressuposto de que a democracia representativa e

participativa eacute um ldquoelemento dardquo e uma ldquocondiccedilatildeo parardquo a

justiccedila social ambiental e ecoloacutegica a falta de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e de representaccedilatildeo nos processos democraacuteticos

seria uma condiccedilatildeo favoraacutevel agrave produccedilatildeo de injusticcedila ambiental

48

e ecoloacutegica Dessa forma a hipoacutetese sustentada aqui eacute de que o

processo poliacutetico que resulta na ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica envolve problemas de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo nos processos democraacuteticos em

todas as escalas espaciais (nacional estadual regional e local)

tanto na modalidade representativa quanto na modalidade

participativa

A tomada de consciecircncia dos limites da democracia

representativa e da democracia participativa faz com que os

segmentos sociais passem a investir em accedilotildees autocircnomas

favorecendo a aprendizagem social adaptativa

Objetivos

Compreender as contradiccedilotildees inerentes agrave ampliaccedilatildeo do sistema de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral no Sul de

Santa Catarina agrave luz do enfoque hiacutebrido envolvendo gestatildeo de recursos

comuns ecodesenvolvimento territorial e justiccedila ambiental e ecoloacutegica

Como objetivos especiacuteficos destacam-se

Apontar as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento que

influenciam as accedilotildees coletivas dos segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais envolvidos na gestatildeo do carvatildeo mineral

Descrever a gestatildeo de recursos comuns no Brasil e em Santa

Catarina com ecircnfase no carvatildeo mineral

Compreender a maneira como os segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais envolvidos na gestatildeo se articulam em

relaccedilatildeo agrave gestatildeo de recursos comuns

Descrever o processo de licenciamento da Usitesc

Reconhecer os problemas de distribuiccedilatildeo reconhecimento e

representaccedilatildeo no processo de licenciamento e nas audiecircncias

puacuteblicas

Verificar ldquoserdquo e ldquocomordquo as accedilotildees coletivas estudadas tecircm

gerado oportunidades para processos de aprendizagem social

adaptativa e

49

Reconhecer indiacutecios de uma possiacutevel rota para uma democracia

que permita que os segmentos sociais intervenham efetivamente

em debates cada vez mais mediados por uma ciecircncia e

tecnologia a serviccedilo dos projetos dos segmentos econocircmicos e

respaldados pelos segmentos poliacuteticos

Justificativa

Satildeo muitos os caminhos que levam ateacute o tema e o problema da

tese Desde a apresentaccedilatildeo do projeto na ocasiatildeo do processo seletivo

da qualificaccedilatildeo agrave defesa e depois O permanente refletir duvidar

reconstruir o que se cristaliza no papel e vai aleacutem dele A aacuterdua tarefa de

tentar traduzir em palavras a dinacircmica complexa da qual todas e todos

satildeo parte

O tema do planejamento do desenvolvimento me acompanha

desde o mestrado e na ocasiatildeo da seleccedilatildeo do doutorado apresentei um

projeto cujo tema era planejamento e aquecimento global Nos anos

subsequentes nas oportunidades que tive para debater o projeto fui

desafiada a trazer o tema para a realidade do estado de Santa Catarina

E seguindo essa intuiccedilatildeo a partir da pesquisa exploratoacuteria entrei em

contato com o Manifesto por Justiccedila Climaacutetica formulado por

movimentos sociais do Sul de Santa Catarina que trazia a reflexatildeo sobre

as mudanccedilas climaacuteticas e a exploraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral para

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica no Sul de Santa Catarina Tive tambeacutem a

oportunidade de participar de uma saiacuteda de campo na bacia carboniacutefera

e ter contato direto com os impactos causados pela mineraccedilatildeo Essas

experiecircncias e as leituras foram gradativamente me ajudando a definir

o tema e o problema desta tese

Existe muito material jaacute produzido sobre a trajetoacuteria de

desenvolvimento e os impactos decorrentes da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo

mineral no Sul de Santa Catarina Aqui se objetivou uma breve siacutentese

de dados e de parte do material jaacute produzido pois a ecircnfase desta tese

recaiu sobre a identificaccedilatildeo de incoerecircncias na relaccedilatildeo entre as questotildees ambientais e o sistema democraacutetico mostrando que o funcionamento do

sistema poliacutetico eacute parte do problema e que as margens de manobra

existentes podem ser mais bem exploradas pelos movimentos sociais

que atuam na regiatildeo Como jaacute foi assinalado anteriormente apesar da

possibilidade de ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a

50

carvatildeo mineral no Sul de Santa Catarina o cenaacuterio atual eacute de

aguccedilamento dos conflitos bem maior do que nas deacutecadas anteriores

Nesse sentido a construccedilatildeo da USITESC eacute mais um elo de um

segmento que tem historicamente um caraacuteter eminentemente destrutivo

do ponto de vista socioecoloacutegico Resta confirmar se isto eacute um destino

inexoraacutevel em funccedilatildeo das caracteriacutesticas especiacuteficas da regiatildeo ou se

pode ser mudado num contexto de questionamento da loacutegica subjacente

agraves dinacircmicas do sistema democraacutetico que envolvem decisotildees sobre as

poliacuteticas ambientais energeacuteticas e poliacuteticas de desenvolvimento

No plano teoacuterico a contribuiccedilatildeo desta tese inscreve-se no

aprofundamento teoacuterico do enfoque ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento

agregando as contribuiccedilotildees dos enfoques da gestatildeo de recursos comuns

do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila ambiental e da justiccedila

ecoloacutegica O esforccedilo de juntar enfoques se justificou na medida em que

se um dos condicionantes da problemaacutetica socioambiental eacute a

fragmentaccedilatildeo do problema e a dificuldade de concebecirc-lo como

problema complexo (GARCIacuteA 1994) religar as perspectivas segundo

as quais observamos e analisamos a realidade faz parte tambeacutem das

estrateacutegias para o enfrentamento do problema

Dessa forma o diaacutelogo entre enfoques trouxe pontos de reflexatildeo

diferentes que enriqueceram a anaacutelise ao enfoque da gestatildeo de recursos

comuns a questatildeo das dinacircmicas de desenvolvimento e do sistema

poliacutetico ao ecodesenvolvimento territorial a preocupaccedilatildeo com a gestatildeo

de recursos comuns e com a desigualdade ambiental e agrave justiccedila

ambiental e ecoloacutegica a atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de desenvolvimento e agrave

gestatildeo de recursos comuns Um ponto que merece destaque eacute o esforccedilo

recente das pesquisas sobre gestatildeo de recursos comuns e justiccedila

ambiental e ecoloacutegica de aplicar os enfoques para tratar as

especificidades do caso brasileiro Esta tese se inscreve como parte

desse esforccedilo

Outro ponto importante eacute a junccedilatildeo dos temas democracia e meio

ambiente no Brasil A democracia foi e eacute sem duacutevida um tema muito

caro agrave Sociologia brasileira e a inclusatildeo de um tema mais recente (o

meio ambiente) tambeacutem eacute considerada uma contribuiccedilatildeo possiacutevel dessa tese

Vale a pena ressaltar ainda que essa tese se insere nas atividades

realizadas pelos integrantes do Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio

Ambiente e Desenvolvimento (NMD) vinculado ao Programa de Poacutes-

51

Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica O Nuacutecleo atua no litoral Centro Sul

de Santa Catarina haacute mais de dez anos Dentre as atividades

desenvolvidas pelo NMD inclui-se a participaccedilatildeo no Observatoacuterio do

Litoral Catarinense que tem como objetivo

Organizar e coordenar uma rede de apoio teacutecnico-

cientiacutefico ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal e

Estadual tendo em vista a promoccedilatildeo de um estilo

de gestatildeo democraacutetico-participativa de conflitos

relacionados agrave apropriaccedilatildeo dos recursos

ambientais existentes na zona costeira e o

consequente fortalecimento da cidadania

ambiental no Paiacutes (OBSERVATOacuteRIO DO

LITORAL 2010)

Como parte das atividades do Observatoacuterio do Litoral

Catarinense a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre meio ambiente e

desenvolvimento auxilia na elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos e prognoacutesticos e

pode favorecer a mobilizaccedilatildeo jaacute que a visibilidade dos problemas

existentes pode estimular a criaccedilatildeo de redes visando a criaccedilatildeo de

estrateacutegias integradas para enfrentamento dos problemas

Essa tese tambeacutem faz parte de um esforccedilo mais amplo de

pesquisa articulado pelo edital da Coordenadoria de Aperfeiccediloamento de

Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) Ciecircncias do Mar tendo como tema

a Gestatildeo Integrada e Compartilhada de Territoacuterios Marinho-Costeiros O projeto possibilitou o compartilhamento do objeto de estudo do

marco conceitual e epistecircmico e a articulaccedilatildeo dos estudos entre os

membros da equipe

Em siacutentese dentre os possiacuteveis aspectos inovativos do trabalho

destacam-se do ponto de vista praacutetico o olhar sobre a questatildeo da

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral a partir do

funcionamento do sistema democraacutetico a identificaccedilatildeo dos

condicionantes da ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica em

diferentes escalas e consequentemente o reconhecimento de limites e

das possibilidades do sistema democraacutetico e da aprendizagem social

adaptativa Do ponto de vista teoacuterico destacam-se o diaacutelogo entre os

enfoques e a aplicaccedilatildeo dos enfoques agraves especificidades brasileiras

Metodologia

52

O agravamento dos problemas socioambientais tem povoado o

debate nos campos de especializaccedilatildeo cientiacutefica seja para a criaccedilatildeo de

novas disciplinas seja para ir aleacutem da fragmentaccedilatildeo disciplinar ldquoA

problemaacutetica socioambiental constituiacute um vigoroso instrumento de

integraccedilatildeo de conceitos teorias e meacutetodos desenvolvidos em

praticamente todas as especialidades cientiacuteficasrdquo (VIEIRA 1993 p

26) A epistemologia das ciecircncias ambientais entra como uma

importante contribuiccedilatildeo para a pesquisa ambiental Ela considera a

complexidade inerente agrave crise socioambiental privilegiando uma visatildeo

integrada do problema socioecoloacutegico e da ciecircncia no acircmbito do novo

paradigma sistecircmico Neste sentido a busca de integraccedilatildeo inter e

transdisciplinar do conhecimento emerge como um elemento essencial

no enfrentamento da crise (GARCIacuteA 1994 JOLLIVET PAVEacute 2000

MORIN 2002)

A tese aqui apresentada se insere nesse esforccedilo de pesquisa Para

tanto a construccedilatildeo da tese considerou sete etapas (a pergunta de partida

a exploraccedilatildeo a problemaacutetica a construccedilatildeo do modelo de anaacutelise a

observaccedilatildeo a anaacutelise das informaccedilotildees e as conclusotildees) segundo os trecircs

princiacutepios do procedimento cientiacutefico em ciecircncias sociais (ruptura

construccedilatildeo e verificaccedilatildeo) (BOURDIEU CHAMBOREDON

PASSERON 2004 QUIVY CAMPENHOUDT 1998)

Apesar de haver uma sequecircncia loacutegica as etapas subsequentes

influenciaram a reelaboraccedilatildeo das etapas precedentes As etapas

estiveram ao longo do processo em permanente interaccedilatildeo (QUIVY

CAMPENHOUDT 1998)

Se eacute evidente que os automatismos adquiridos

podem permitir a economia de uma invenccedilatildeo

permanente devemos nos abster de deixar crer

que o sujeito da invenccedilatildeo cientiacutefica eacute um

automaton spirituale obedecendo aos

mecanismos bem ajustados de uma programaccedilatildeo

metodoloacutegica constituiacuteda uma vez por todas e

confinar dessa forma o pesquisador na submissatildeo

cega ao programa que exclui o retorno reflexivo

ao mesmo condiccedilatildeo da invenccedilatildeo de novos

programas (BOURDIEU CHAMBOREDON

PASSERON 2004 p 15)

53

Dessa forma a evoluccedilatildeo dessa tese natildeo foi linear As quatro

primeiras etapas (a pergunta de partida a exploraccedilatildeo a problemaacutetica e a

construccedilatildeo do modelo de anaacutelise) jaacute apresentadas nessa introduccedilatildeo satildeo

tratadas a seguir de forma a indicar como se deu o processo de sua

construccedilatildeo

1ordf etapa (A pergunta de partida) Foi sendo elaborada e

reelaborada ao longo das vaacuterias etapas da pesquisa

2ordf etapa (A exploraccedilatildeo) Essa etapa compreendeu conversas com

o orientador leituras e entrevistas exploratoacuterias Nessa etapa destacou-se

uma saiacuteda de campo no ano de 2010 agrave Bacia do Rio Araranguaacute

supervisionada pelo Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes e Profordf Drordf

Vanilde Citadini Zanette da Universidade do Extremo Sul Catarinense

(UNESC) Essa saiacuteda de campo foi fundamental para despertar o

interesse pelo problema da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral no Sul do

Estado

Foi feita uma entrevista exploratoacuteria com Tadeu Santos da

Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental (ONG) Soacutecios da Natureza com sede

em Araranguaacute e conversas informais com estudantes da Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Auditoria e Periacutecia Ambiental da UNESC em 2010 e 2012

Etapa 3 (A problemaacutetica) e Etapa 4 (A construccedilatildeo do modelo de

anaacutelise) Destacam-se tambeacutem nessa fase aleacutem das conversas com o

orientador as leituras e o esforccedilo de preparaccedilatildeo do projeto para

qualificaccedilatildeo que ocorreu em 2011 contando com as contribuiccedilotildees do

Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes da UNESC do Prof Dr Luiz

Fernando Scheibe do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da

Universidade Federal de Santa Catarina e da Profordf Drordf Janice Pontes

Tirelli do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica da UFSC

O projeto foi tambeacutem discutido no acircmbito do NMD em alguns

seminaacuterios de pesquisa na disciplina de Ecologia Humana (ministrada

pela ProfordfDrordf Marcia Grisotti e pelo Prof Dr Fernando Dias Aacutevila

Pires) em 2010 nas duas disciplinas de seminaacuterio de pesquisa uma

ministrada pela Profordf Drordf Elizabeth Farias da Silva (na qual o projeto

foi debatido pelo Prof Dr Daniel Silva) e outra ministrada pelo Prof

Dr Raul Burgos no ano de 2011 O projeto tambeacutem foi apresentado e debatido no Nuacutecleo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional (NPDR)

da Universidade Regional de Blumenau (FURB) coordenado pelo Prof

Dr Ivo Marcos Theis e em dois eventos do Projeto Gestatildeo Integrada e Compartilhada de Territoacuterios Marinho-Costeiros em 2011 e 2012

54

Etapa 5 ndash A observaccedilatildeo Nessa etapa o modelo de anaacutelise foi

submetido aos fatos e confrontado com os dados observaacuteveis Aqui satildeo

respondidas as questotildees baacutesicas o que foi observado Em que observou-se E como observou-se

O procedimento da pesquisa foi bibliograacutefico e documental Na

pesquisa bibliograacutefica foram selecionadas fontes secundaacuterias (obras e

artigos) que tratavam do tema de estudo jaacute reconhecidas no domiacutenio

cientiacutefico e na pesquisa documental foram priorizadas fontes primaacuterias

(escritas e audiovisuais) que ateacute entatildeo natildeo haviam recebido tratamento

cientiacutefico (SAacute-SILVA ALMEIDA GUIDANI 2009)

Os discursos da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo

Mineral foram acessados atraveacutes de consulta agrave Cacircmara de Deputados

pelo correio eletrocircnico Os dados sobre prestaccedilatildeo de contas eleitorais

foram acessados atraveacutes do banco de dados online do TSE O processo

de licenciamento da USITESC arquivado na FATMA conta com oito

volumes e 1617 paacuteginas e com arquivos audiovisuais de duas das quatro

audiecircncias puacuteblicas (FATMA 2013) Das quatro audiecircncias puacuteblicas

realizadas soacute foram disponibilizadas as gravaccedilotildees da terceira e da quarta

audiecircncia (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006 2007) Segundo informaccedilatildeo

da FATMA a primeira e a segunda audiecircncia puacuteblica foram gravadas em

VHS e foram danificadas pela accedilatildeo do tempo

A descriccedilatildeo das macro variaacuteveis (as dinacircmicas de

desenvolvimento os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos as regras em uso a

arena de accedilatildeo e os resultadosconsequecircncias) foi feita atraveacutes da

pesquisa bibliograacutefica a fontes secundaacuterias (obras e artigos) Jaacute a

variaacutevel do sistema democraacutetico contou com fontes primaacuterias os

discursos da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral na

Cacircmara dados sobre prestaccedilatildeo de contas eleitoral do Tribunal Superior

Eleitoral e os documentos referentes ao processo de licenciamento

ambiental da USITESC arquivados na FATMA

Na arena de accedilatildeo um primeiro passo foi descrever os envolvidos

na gestatildeo Para tanto os envolvidos foram divididos em segmentos

poliacuteticos econocircmicos e sociais que por sua vez foram subdivididos Os

segmentos poliacuteticos em executivo parlamento e autocircnomo os segmentos econocircmicos em associaccedilotildees empresariais e mistas e empresas

e cooperativas e os segmentos sociais em trabalhadores

afetadosatingidosameaccedilados ONG e academia (Quadro 1) Os

segmentos natildeo apresentam um posicionamento homogecircneo em relaccedilatildeo

ao tema da tese Ao longo do texto a preocupaccedilatildeo eacute tambeacutem de

55

explicitar os diferentes posicionamentos entre e no interior de cada

segmento

Quadro 1 ndash Divisatildeo dos envolvidos na gestatildeo por segmentos SEGMENTOS ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO

Poliacuteticos Executivo

Parlamento

Autocircnomo

Econocircmicos Associaccedilotildees empresariais e mistas

Empresas

Cooperativas

Sociais Trabalhadores

AfetadosAtingidosAmeaccedilados

Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais

Academia

Fonte baseada em Oliveira (2013)

A existecircncia de afetados atingidos e ameaccedilados se inscreve no

reconhecimento e legitimaccedilatildeo de direitos A legislaccedilatildeo ambiental faz

com que os impactos passem a ser considerados e se existem impactos

existem seres humanos que satildeo afetados atingidos e ameaccedilados

(VAINER 2008) A distinccedilatildeo entre os termos afetados atingidos e

ameaccedilados remete agrave proximidade dos seres humanos em relaccedilatildeo aos

impactos Nos afetados o impacto fica num limiar tecircnue entre o direto e

indireto nos atingidos o impacto eacute direto e nos ameaccedilados o impacto eacute

potencialmente indireto

Uma variaacutevel importante na arena de accedilatildeo eacute a democracia que

por sua vez envolve a questatildeo da representaccedilatildeo e da participaccedilatildeo A

expressatildeo cidadatilde atraveacutes da representaccedilatildeo se daacute principalmente nas

eleiccedilotildees plebiscitos e conselhos Jaacute a expressatildeo mediante participaccedilatildeo

pode ser accedilatildeo sob convite (planejamento participativo consulta puacuteblica

e mediaccedilatildeo) e accedilatildeo autocircnoma (lobby peticcedilotildees manifestaccedilotildees

campanhas na imprensa outros) (Figura 1) (SAacuteNCHEZ 2008b)

56

Figura 1ndash Tipologia das formas de expressatildeo do cidadatildeo numa

democracia

Fonte Adaptado de Sagravenchez (2008b p 409)

Na anaacutelise do sistema democraacutetico foi importante identificar as

dimensotildees da justiccedila ambiental (redistribuiccedilatildeo) e da justiccedila ecoloacutegica

(reconhecimento e representaccedilatildeo) ldquoO natildeo reconhecimento eacute uma

questatildeo de impedimentos externamente manifestados e publicamente

verificaacuteveis a que certos indiviacuteduos sejam membros integrais da

sociedaderdquo (FRASER 2007 p 114) O centro normativo da concepccedilatildeo

de Fraser (2007) eacute a paridade de participaccedilatildeo que demanda uma

condiccedilatildeo objetiva e outra intersubjetiva A condiccedilatildeo objetiva ldquoexclui formas e niacuteveis de desigualdade material e dependecircncia econocircmica que

impedem a paridade de participaccedilatildeordquo (FRASER 2007 p 119) A

condiccedilatildeo intersubjetiva ldquoexclui normas institucionalizadas que

sistematicamente depreciam algumas categorias de pessoas e as

caracteriacutesticas associadas a elasrdquo (FRASER 2007 p 120)

57

Quadro 2 - Quadro de anaacutelise do sistema democraacutetico agrave luz da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica

DIMENSOtildeES DO SISTEMA

DEMOCRAacuteTICO

ESTRATEacuteGIAS DA JUSTICcedilA

AMBIENTAL E ECOLOacuteGICA

- Redistribuiccedilatildeo

- Reconhecimento e

- Representaccedilatildeo

- Produccedilatildeo do conhecimento proacuteprio

- Pressatildeo pela aplicaccedilatildeo universal das

leis

- Pressatildeo pelo aperfeiccediloamento da

legislaccedilatildeo de ambiental

- Pressatildeo por novas racionalidades no

exerciacutecio do poder estatal

- Introduccedilatildeo de procedimentos de

avaliaccedilatildeo de equidade ambiental

- Accedilatildeo direta e difusatildeo espacial do

movimento

Fonte Adaptado de Acselrad Mello Bezerra (2009) e Fraser (2009

2007)

As dimensotildees e estrateacutegias da justiccedila ambiental e ecoloacutegica

presentes no Quadro acima entraram no modelo de anaacutelise dessa tese

como indicadores da aprendizagem social adaptativa

Quanto aos meacutetodos de anaacutelise priorizou-se a anaacutelise estatiacutestica e

a anaacutelise do discurso Anaacutelise estatiacutestica privilegiou a interpretaccedilatildeo dos

dados atraveacutes do modelo de anaacutelise buscando ir aleacutem da mera exposiccedilatildeo

de resultados A anaacutelise do discurso aqui proposta ficou num limiar

entre essa modalidade e a anaacutelise de conteuacutedo As categorias utilizadas

estatildeo dispostas no quadro da paacutegina 56 Elas orientaram a seleccedilatildeo de

passagens relevantes nas audiecircncias puacuteblicas analisadas com o

propoacutesito de revelar aspectos da atividade cognitiva do locutor dos

significados sociais e poliacuteticos do discurso (GILL 2002 QUIVY

CAMPENHOUDT 1998 RESENDE RAMALHO 2006)

O processo da tese aqui descrito natildeo foi linear Para Quivy e

Campenhoudt (1998 p 236) ldquoum processo de diaacutelogo e de vaiveacutens

permanentes entre teoria e empirismo mas tambeacutem entre construccedilatildeo e

intuiccedilatildeo que estatildeo mais imbricadasrdquo

As etapas 6 e 7 (Anaacutelise de informaccedilotildees e Conclusotildees)

correspondem ao ldquocorpordquo da tese apresentado na sequecircncia

58

Estrutura da tese

Essa tese foi dividida em sete capiacutetulos O primeiro capiacutetulo eacute

esta introduccedilatildeo dedicada agrave siacutentese dos principais pontos que nortearam a

tese O segundo capiacutetulo busca resgatar a contribuiccedilatildeo do enfoque

ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento agregando com o enfoque da gestatildeo

de recursos comuns do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica elementos que satildeo incorporados no modelo de

anaacutelise e que conferem uma atualidade maior agrave discussatildeo No terceiro

capiacutetulo e quarto capiacutetulo eacute feita uma descriccedilatildeo da gestatildeo de recursos

comuns do Brasil e de Santa Catarina enfatizando as particularidades do

carvatildeo mineral A preocupaccedilatildeo presente nos dois capiacutetulos eacute de realizar

um balanccedilo dos fatores que estimulam a ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral e os fatores que podem favorecer

o questionamento da ampliaccedilatildeo bem como tratar dos limites e

possibilidades do sistema democraacutetico e possibilidades de aprendizagem

social adaptativa O quinto capiacutetulo trata da rede de influecircncia entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos no campo da democracia

representativa tratando a relaccedilatildeo entre doaccedilotildees de campanha e apoio

poliacutetico a causa do carvatildeo mineral O sexto capiacutetulo trata da ampliaccedilatildeo

da energia termeleacutetrica atraveacutes do caso da USITESC no Sul de Santa

Catarina buscando atraveacutes da anaacutelise do processo de licenciamento

compreender os condicionantes locais da ampliaccedilatildeo O seacutetimo e uacuteltimo

capiacutetulo faz uma siacutentese dos principais pontos discutidos na tese

2 A ATUALIDADE DO ECODESENVOLVIMENTO NO ESTUDO

CONTEMPORAcircNEO SOBRE GESTAtildeO DE RECURSOS

COMUNS

O surgimento de uma problemaacutetica de pesquisa envolve o

amadurecimento dos olhares com os quais se observa analisa e

empreende esforccedilos para transformar a realidade A problemaacutetica

socioambiental natildeo surge em um lugar especiacutefico e num tempo

determinado Surge em paiacuteses diferentes em eacutepocas diferentes As

formas variadas de delimitaccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema e da construccedilatildeo da

problemaacutetica correspondente envolvem as diferentes percepccedilotildees dos

cidadatildeos bem como o protagonismo dos foacuteruns locais e movimentos

sociais o envolvimento da comunidade cientiacutefica e a busca de respostas

poliacuteticas agrave altura dos desafios identificados

No final da deacutecada de 1960 a problemaacutetica socioambiental

assume um perfil de crise global ensejando a realizaccedilatildeo de vaacuterios

eventos sobre o tema Numa visatildeo retrospectiva e criacutetica do surgimento

do Clube de Roma em 1968 agrave realizaccedilatildeo da Rio +20 em 2012 muitos

avanccedilos e retrocessos podem ser apontados no espectro que se estende

do questionamento radical do estilo de desenvolvimento hegemocircnico

visto como condicionante da crise socioambiental agrave incorporaccedilatildeo da

crise soacutecio ecoloacutegica na reproduccedilatildeo da loacutegica economicista no campo do

planejamento e da gestatildeo das experiecircncias de gestatildeo dos recursos

comuns agrave caracterizaccedilatildeo da Trageacutedia dos Comuns (HARDIN 1980)

das denuacutencias de injusticcedila ambiental e ecoloacutegica agrave constataccedilatildeo da

violecircncia estrutural embutida na persistecircncia das assimetrias de riqueza

e poder envolvendo os dois hemisfeacuterios (ESTEVA 2001 FENNY et

al 2001 SACHS 1993)

Desde sua origem um desafio que acompanha essa problemaacutetica

refere-se agrave dificuldade de se lidar (na pesquisa cientiacutefica e nos espaccedilos

de tomada de decisatildeo poliacutetica) com dinacircmicas natildeo lineares de

dinamizaccedilatildeo socioeconocircmica e recriaccedilatildeo cultural envolvendo para tanto

a coordenaccedilatildeo de processos transescalares num horizonte de

planejamento de longo prazo Neste contexto vem se tornando cada vez mais evidente a capacidade ainda bastante restrita de cientistas gestores

e agentes governamentais de compreender e tratar a complexidade

inerente agrave teia de interdependecircncias que configura a coordenaccedilatildeo da

dinacircmica de sistemas socioecoloacutegicos que envolve diferentes niacuteveis e

escalas espaciais (BERKES FOLKE 1998 CASHet al 2006)

60

Levando em conta essas consideraccedilotildees gerais o objetivo deste

capiacutetulo eacute discutir a atualidade do enfoque de ecodesenvolvimento e por

implicaccedilatildeo da necessidade de dotaacute-lo da capacidade de assegurar a

coerecircncia das regras que norteiam a gestatildeo dos modos de apropriaccedilatildeo

dos recursos comuns nas diferentes escalas espaciais Parte-se assim da

premissa segundo a qual a efetividade de experiecircncias compatiacuteveis com

os fundamentos deste enfoque dependeraacute de uma consideraccedilatildeo mais

precisa do papel da democracia e da aprendizagem social adaptativa nos

processos de gestatildeo de recursos comuns Para tanto leva-se em conta o

lento processo de elaboraccedilatildeo do enfoque ldquoclaacutessicordquo de

ecodesenvolvimento com a incorporaccedilatildeo sucessiva dos debates sobre (i)

gestatildeo de recursos comuns (ii) ecodesenvolvimento territorial e (iii)

justiccedila ambiental e ecoloacutegica

Em siacutentese defende-se o ponto de vista segundo o qual a gestatildeo

de recursos comuns internaliza os criteacuterios de promoccedilatildeo da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica na produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-superaccedilatildeo da siacutendrome

de violecircncia estrutural que caracteriza a dinacircmica de globalizaccedilatildeo

assimeacutetrica Por sua vez o enfoque de ecodesenvolvimento territorial

focaliza este debate de uma perspectiva mais ampla insistindo na

complexidade envolvida na construccedilatildeo de dinacircmicas territoriais de

desenvolvimento ecologicamente prudente no atual cenaacuterio ldquopoacutes-

fordistardquo

O capiacutetulo estaacute dividido em quatro seccedilotildees contando com essa

introduccedilatildeo A seccedilatildeo seguinte delineia o contexto de emergecircncia da

problemaacutetica socioambiental e do enfoque de ecodesenvolvimento Na

sequecircncia satildeo apresentadas as dimensotildees do conceito sistecircmico de meio

ambiente assumidas pelos estudiosos do ecodesenvolvimento

relacionando-as com as maneiras pelas quais as linhas de reflexatildeo sobre

gestatildeo de recursos comuns ecodesenvolvimento territorial e justiccedila

ambiental e ecoloacutegica focalizam suas anaacutelises Finalmente na quarta

seccedilatildeo avaliam-se as possibilidades e os limites de um esforccedilo de

hibridizaccedilatildeo dessas vaacuterias linhas de reflexatildeo tendo em vista uma

caracterizaccedilatildeo mais rigorosa do conceito de co-gestatildeo adaptativa face agraves

novas configuraccedilotildees do processo de globalizaccedilatildeo econocircmica e cultural

61

21 RESGATE DO ENFOQUE ldquoCLAacuteSSICOrdquo DE

ECODESENVOLVIMENTO

Mar que se encontra na beira do mar congelado do

Norte No inverno todas as palavras e sons da

regiatildeo satildeo congelados na primavera comeccedilam a

degelar e podem ser claramente ouvidos Os

viajantes podem apanhar as palavras congeladas

que se parecem com doces cristalizados de vaacuterias

cores (Franccedilois Rabelais 1991)

A percepccedilatildeo de que a crise socioambiental decorre

fundamentalmente da reproduccedilatildeo de um estilo de desenvolvimento que

hipertrofia a dimensatildeo do crescimento econocircmico ilimitado e eacute

insensiacutevel a uma avaliaccedilatildeo multidimensional de custos sociais e

ecoloacutegicos passou a ser discutida em vaacuterios encontros internacionais

desde o final da deacutecada de 1960 Vaacuterios termos foram sendo criados nos

debates que vecircm sendo conduzidos desde entatildeo Alguns deles foram

esquecidos e outros foram ressignificados visando pontuar as criacuteticas

mais ou menos radicais ao modelo neoliberal hegemocircnico O resgate

dessa polissemia contribui para alimentar a reflexatildeo contemporacircnea e o

aprendizado obtido ao longo das quatro uacuteltimas deacutecadas na concepccedilatildeo

de estrateacutegias de superaccedilatildeo deste modelo Alguns termos atualizam o

modelo de desenvolvimento hegemocircnico incorporando marginalmente

a questatildeo socioecoloacutegica outros se abrem a experimentaccedilotildees criativas

com projetos que subvertem o mainstream da economia do

desenvolvimento O ecodesenvolvimento e o desenvolvimento

sustentaacutevel tratados nessa seccedilatildeo representam dois contrapontos desse

movimento sem duacutevida incerto e controvertido

Maurice Strong utilizou pela primeira vez o conceito de

ecodesenvolvimento no contexto da Conferecircncia de Estocolmo

organizada pela ONU em 1972 A ideia foi reelaborada e sistematizada

de forma pioneira num artigo publicado por Ignacy Sachs em 19741 na

eacutepoca atuando como coordenador do primeiro coletivo interdisciplinar

de pesquisa sistecircmica voltada para a internalizaccedilatildeo da variaacutevel

socioecoloacutegica no campo das teorias do desenvolvimento Deste ponto

1 Em um estudo que foi realizado no acircmbito do Programa das Naccedilotildees Unidas

para o Meio Ambiente (PNUMA) no ano referido e reproduzido em Sachs

(1986 2007)

62

de vista a noccedilatildeo de ecodesenvolvimento foi veiculada como uma

resposta possiacutevel de caraacuteter experimental agrave ideologia que identifica o

desenvolvimento com a supervalorizaccedilatildeo do crescimento econocircmico

sobre o pano de fundo de uma visatildeo tecnocraacutetica dos sistemas de

planejamento e gestatildeo Na contramatildeo do modelo de desenvolvimento

hegemocircnico o enfoque de ecodesenvolvimento foi desenhado com base

numa plataforma normativa composta pelos seguintes criteacuterios

interdependentes (i) satisfaccedilatildeo de necessidades baacutesicas (materiais e

intangiacuteveis) (ii) autonomia local (ou self reliance) (iii) prudecircncia

ecoloacutegica e (iv) eficiecircncia econocircmica a ser reavaliada com base no

debate sobre limites do crescimento material e da prospectiva ecoloacutegica

(SACHS 1986)

O Coloacutequio de Cocoyoc realizado no Meacutexico em 1974

significou uma tentativa bem sucedida de reenfatizar a importacircncia da

dimensatildeo geopoliacutetica na estruturaccedilatildeo do arcabouccedilo metodoloacutegico do

enfoque de ecodesenvolvimento Acreditava-se assim que ldquouma luta

efetiva contra o subdesenvolvimento demandaria o questionamento do

sobredesenvolvimento dos ricosrdquo (SACHS 2009 p 243) Naquela

eacutepoca falar em contracultura e natildeo-crescimento em natildeo repetir nos

paiacuteses do Sul o mesmo caminho percorrido pelos paiacuteses

industrializados num cenaacuterio marcado pela Guerra Fria parecia no

miacutenimo um gesto inconsequente e provocativo Desde entatildeo o conceito

foi eclipsado no acircmbito do sistema onusiano Mas ressurgiu com novas

roupagens vinte anos depois por ocasiatildeo da Cuacutepula da Terra Os

conceitos de desenvolvimento sustentaacutevel e Agenda 21 passaram a

representar os dois principais pontos de referecircncia do debate social

voltado para o enfrentamento da crise global (SACHS 2009 SACHS

2007 VIEIRA 2005)

Seria importante salientar que o Relatoacuterio Nosso Futuro Comum

publicado pela Comissatildeo Brundtland em1987 contribuiu para

aprofundar a discussatildeo em torno do conceito de sustentabilidade Este

texto enfatiza a necessidade de se colocar em primeiro plano nas

agendas governamentais a busca de satisfaccedilatildeo das necessidades da

geraccedilatildeo atual mas sem desconsiderar as geraccedilotildees futuras (CMMAD

1988)

Existem certamente semelhanccedilas entre os conceitos de

ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentaacutevel na medida em que

ambos colocam em primeiro plano a adoccedilatildeo de uma visatildeo de longo

prazo na busca de enfrentamento da crise socioecoloacutegica e de uma

63

incorporaccedilatildeo sistemaacutetica dos atores locais nos processos de tomada de

decisatildeo sobre dinacircmicas alternativas de desenvolvimento Mas apesar

das semelhanccedilas existem diferenccedilas marcantes que tecircm sido objeto de

um volume crescente de contribuiccedilotildees acadecircmicas As mais importantes

referem-se ao contraste entre a radicalidade embutida na cosmovisatildeo

sistecircmico-complexa assumida pelos adeptos do ecodesenvolvimento e o

vieacutes de ldquoeconomicizaccedilatildeo da ecologiardquo que continua a nortear as

propostas dos arquitetos de uma ldquoeconomia verderdquo Satildeo evidentes os

reflexos desse debate na maneira de se levar em conta as assimetrias

Norte-Sul a promoccedilatildeo da equidade inter e transgeracional os riscos

embutidos nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas inspiradas na siacutendrome de

mercantilizaccedilatildeo indiscriminada de todas as dimensotildees da vida em

sociedade e a hipertrofia da economia de mercado na dinacircmica de

mundializaccedilatildeo

A experimentaccedilatildeo de estrateacutegias de ecodesenvolvimento vem sendo

associada ao questionamento dos fundamentos epistemoloacutegicos eacuteticos e

poliacuteticos do modelo de desenvolvimento que se tornou hegemocircnico nos

dois hemisfeacuterios para aleacutem da ldquooacutetica simplificadora e alienada dos

paradigmas culturais dominantesrdquo (VIEIRA 2005 p 357) Dessa

forma contesta o efeito de imitaccedilatildeo deste modelo pelos paiacuteses do Sul

apostando na fecundidade da pesquisa de um novo projeto civilizador

inspirado numa nova cosmologia e nos princiacutepios de ecossocioeconomia

e convivialidade (LAYRARGUES 1997 SACHS 2007 KAPP 1987

ILLICH 1973)

22 AS CONTRIBUICcedilOtildeES DE DIFERENTES ENFOQUES

Como foi sugerido o ecodesenvolvimento pode ser encarado

como ponto de partida para a reflexatildeo-elaboraccedilatildeo-implementaccedilatildeo de

novos projetos de sociedade e como ponto de convergecircncia das linhas

de reflexatildeo centradas nas noccedilotildees de gestatildeo de recursos comuns

territorializaccedilatildeo das dinacircmicas de desenvolvimento e justiccedila ambientalecoloacutegica O desenho e a concretizaccedilatildeo de estrateacutegias de

gestatildeo levam em conta as dimensotildees essenciais do conceito sistecircmico de meio ambiente incorporado ao modelo de anaacutelise de alternativas de

desenvolvimento territorializado a saber a base de recursos naturais o

espaccedilo-territoacuterio e a qualidade dos haacutebitats (GODARD SACHS 1975

SACHS 1993 1986 VIEIRA 2005 1993) Dessa forma

64

() o ambiente eacute concebido como um fornecedor

de recursos naturais e um receptor de dejetos da

accedilatildeo antroacutepica um espaccedilo-territoacuterio onde

ocorrem as interaccedilotildees entre processos sociais e

ecoloacutegicos e um haacutebitat pensado em sentido

amplo integrando a dimensatildeo da qualidade de

vida das populaccedilotildees (VIEIRA 2006 p 346)

No quadro abaixo essas dimensotildees encontram-se relacionadas

com as trecircs linhas de reflexatildeo que aqui foram incorporadas ao enfoque

de ecodesenvolvimento

Quadro 3 ndash O enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento e as

dimensotildees baacutesicas do conceito sistecircmico de meio ambiente Enfoque central Ecodesenvolvimento

Dimensotildees do

conceito de meio

ambiente

Recursos

naturais Espaccedilo-territoacuterio

Haacutebitat-

qualidade de

vida

Enfoques

complementares

Gestatildeo de

recursos comuns

Desenvolvimento

territorial

Justiccedila ambiental

e ecoloacutegica

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na perspectiva do enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento a

dimensatildeo dos recursos naturais refere-se agrave busca de preservaccedilatildeo e

economia de recursos renovaacuteveis e natildeo renovaacuteveis de valorizaccedilatildeo de

recursos locais subutilizados eou ainda desconhecidos e de promoccedilatildeo

da soberania alimentar e energeacutetica O enfoque de gestatildeo de recursos

comuns ao oferecer uma nova perspectiva de abordagem dos desafios

colocados pela regulaccedilatildeo das modalidades de acesso e uso da base de

recursos naturais pode ser tomado como um ponto de referecircncia Nessa

perspectiva o termo recurso comum avanccedila em relaccedilatildeo aos termos

recurso natural renovaacutevel e recurso natural natildeo renovaacutevel O fato de

serem renovaacuteveis ou natildeo tem relaccedilatildeo com a disponibilidade e

reprodutibilidade dos recursos O termo recurso comum envolve duas

caracteriacutesticas baacutesicas a exclusatildeo ou controle do acesso que eacute

problemaacutetica e o uso que se faz do recurso subtrai aquilo que pertence a todos que tambeacutem coloca em questatildeo o uso compartilhado (BERKES

2005a) As pesquisas em curso ressaltam a importacircncia da participaccedilatildeo

das populaccedilotildees nas tomadas de decisatildeo e da consideraccedilatildeo da

65

complexidade envolvida nas interaccedilotildees transescalares nas dinacircmicas de

planejamento e gestatildeo (VIEIRA 2005)

Por sua vez na internalizaccedilatildeo da dimensatildeo do espaccedilo-territoacuterio a

ecircnfase eacute colocada na organizaccedilatildeo territorial das atividades produtivas

tendo em vista a minimizaccedilatildeo dos desequiliacutebrios nas configuraccedilotildees

rural-urbanas ndash a exemplo do ecircxodo rural e da hiperurbanizaccedilatildeo O

ecodesenvolvimento territorial sensiacutevel agrave variaacutevel socioecoloacutegica acena

com a inclusatildeo da dimensatildeo territorial no planejamento de novas

estrateacutegias de desenvolvimento favorecendo assim o enfrentamento dos

problemas de compatibilidade entre diferentes tipos de atividades

econocircmicas e os demais aspectos que compotildeem a dinacircmica de

coordenaccedilatildeo das interaccedilotildees sociais (GODARD SACHS 1975

VIEIRA et al 2010 VIEIRA 2005)

Finalmente a dimensatildeo do haacutebitat refere-se agrave gestatildeo da qualidade

de vida das populaccedilotildees Converge para os estudos da ecologia humana e

justiccedila ambiental e ecoloacutegica que demonstram ser necessaacuterio considerar

as condiccedilotildees ambientais de existecircncia direitos sociais e trabalhistas

direitos de seguranccedila e integridade fiacutesica direitos de informaccedilatildeo

educaccedilatildeo e auto-realizaccedilatildeo direitos de participaccedilatildeo democraacutetica e

cidadania poliacutetica Neste contexto as noccedilotildees de justiccedila ambiental e

ecoloacutegica alimentam um novo tipo de questionamento da

produccedilatildeoreproduccedilatildeo das relaccedilotildees desiguais entre os seres humanos e

destes com o meio ambiente assim como dos seres humanos com as

futuras geraccedilotildees espeacutecies natildeo humanas e processos ecossistecircmicos

(DANSEREAU 1999 LEROY et al 2002 LOW GLEESON 1998

SCHLOSBERG 2009) ldquoA noccedilatildeo de justiccedila ambiental implica pois o

direito a um meio ambiente seguro sadio e produtivo para todos onde o

lsquomeio ambientersquo eacute considerado em sua totalidade incluindo suas

dimensotildees ecoloacutegicas fiacutesicas construiacutedas sociais poliacuteticas esteacuteticas e

econocircmicasrdquo (ACSELRAD MELLO BEZERRA 2009 p 16)

Em siacutentese o resgate do processo de complexificaccedilatildeo progressiva

do enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento permite a obtenccedilatildeo de

uma imagem mais niacutetida das contribuiccedilotildees oferecidas por outras linhas

de teorizaccedilatildeo sobre o planejamento de dinacircmicas alternativas de

desenvolvimento que corporificam diferentes olhares sobre a crise

socioambiental As trecircs dimensotildees do conceito de meio ambiente

mencionadas acima trazem agrave tona as inter-relaccedilotildees entre processos

naturais e sociais e a escolha de ldquofuturos possiacuteveisrdquo no campo das

dinacircmicas de desenvolvimento Mas resta incorporar agrave linha de

66

argumentaccedilatildeo os subitens correspondentes a contribuiccedilatildeo dos trecircs

enfoques ao ecodesenvolvimento

221 Gestatildeo de recursos comuns a importacircncia da aprendizagem

social adaptativa

O presente enfoque da gestatildeo de recursos comuns tem como

ponto de partida um artigo publicado por Garrett Hardin em 1968 a

Trageacutedia dos Comuns Os recursos comuns satildeo aqueles cuja exclusatildeo de

possiacuteveis usuaacuterios e cujo controle do acesso satildeo geralmente

problemaacuteticos e seu uso envolve subtraccedilatildeo eou rivalidade - que coloca

o problema do uso compartilhado Natildeo haacute um consenso na literatura dos

comuns sobre quais recursos podem ser considerados recursos comuns

Para Berkes (2005) incluem-se entre os recursos comuns peixes

animais selvagens florestas pastagens comunitaacuterias sistemas de

irrigaccedilatildeo aacutegua subterracircnea selvas parques espaccedilos puacuteblicos e

excluem-se as terras agricultaacuteveis e a mineraccedilatildeo Jaacute Oakerson (1992)

afirma que os comuns podem ter uma locaccedilatildeo fixa (mineacuterios) ou pode

ser moacuteveis (como peixes e animais selvagens) Em alguns casos

(oceanos atmosfera) satildeo indivisiacuteveis e natildeo podem ser apropriados de

forma privada e em outros casos (pasto) satildeo organizados como

recursos comuns de acordo com a opccedilatildeo social Os padrotildees de

organizaccedilatildeo variam conforme o lugar e a cultura

A modernidade ocidental transformou a natureza

em ldquoambienterdquo simples cenaacuterio no centro do qual

reina o homem que se autoproclama ldquodono e

senhorrdquo Esse ambiente cedo perderaacute toda a

consistecircncia ontoloacutegica sendo desde logo

reduzido a um simples conservatoacuterio de recursos

antes de se tornar depoacutesito de resiacuteduos (OST

1995 p 10)

O enfoque eacute aqui considerado na perspectiva da gestatildeo integrada

de recursos naturais pois um recurso comum natildeo pode ser gerido

independentemente de outras partes do sistema e de outros recursos

(BERKES 2005a VIEIRA BERKES SEIXAS 2005 VIEIRA

67

WEBER 1997)2 Esse posicionamento converge para o enfoque

patrimonial de recursos naturais desenvolvido na Franccedila Dessa forma

ldquoa qualidade da natureza deve se tornar o lsquobem comumrsquo do conjunto da

sociedaderdquo (OLLAGNON 1997 p 172) No enfoque patrimonial os

recursos satildeo considerados na perspectiva da gestatildeo integrada

Evidecircncias de maacute gestatildeo e prescriccedilotildees de soluccedilotildees convencionais

na gestatildeo de recursos comuns tecircm se avolumado no periacuteodo recente Haacute

falhas em reconhecer a importacircncia das interaccedilotildees entre niacuteveis e escalas

persistecircncia na fragmentaccedilatildeo dos sistemas socioambientais e omissatildeo

em reconhecer a heterogeneidade da percepccedilatildeo das escalas pelos

diferentes atores sociais envolvidos na gestatildeo Isso pode resultar em

poliacuteticas amplas que constrangem poliacuteticas locais accedilotildees locais

desvinculadas de problemas mais amplos soluccedilotildees de curto prazo que

acirram problemas de longo prazo pesquisas cientiacuteficas que enfatizam

apenas um niacutevel e raramente analisam as interaccedilotildees sociais e ecoloacutegicas

do fenocircmeno entre niacuteveis (CASH et al 2006 FENNY et al 2001

HOLLING BERKES FOLKE 1998)

O enfoque da gestatildeo de recursos comuns vem evoluindo atraveacutes

do enfoque da co-gestatildeo e da gestatildeo adaptativa A co-gestatildeo enfatiza a

partilha do poder e responsabilidade entre governo e usuaacuterios e a gestatildeo

adaptativa enfatiza a aprendizagem Ambos vecircm evoluindo em direccedilatildeo agrave

co-gestatildeo adaptativa (BERKES 2009)

Como parte do esforccedilo coletivo dos pesquisadores alinhados com

o enfoque dos comuns vem se desenvolvendo o Institutional Framework for Policy Analysis and Design (IAD) desde a deacutecada de 1970

Inicialmente o modelo de anaacutelise IAD foi utilizado no estudo de

poliacuteticas puacuteblicas em aacutereas metropolitanas e em 1985 Ronald Oakerson

adaptou o IAD aos recursos comuns apresentando o modelo num painel

da Academia Nacional de Ciecircncias (HESS OSTROM 2005)

Oakerson (1992) distingue quatro atributos ou variaacuteveis que

podem ser usadas para descrever os recursos comuns atributos fiacutesicos e

tecnoloacutegicos as regras em uso que governam as relaccedilotildees entre usuaacuterios

a arena de accedilatildeo que envolve a escolha de estrateacutegias e a interaccedilatildeo entre

os envolvidos na gestatildeo e os resultados e consequecircncias O quadro

2 Aqui eacute feita a opccedilatildeo pelo enfoque da gestatildeo de recursos comuns mas outra

possibilidade seria via teoria da regulaccedilatildeo explorada por Drummond e Marsden

(1995)

68

conceitual eacute uma ferramenta heuriacutestica para pensar a loacutegica da situaccedilatildeo e

considerar possibilidades alternativas

Com base em Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992) segue uma breve descriccedilatildeo do modelo de anaacutelise

adaptado a co-gestatildeo adaptativa3

Atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos A natureza fiacutesica e tecnoloacutegica

determinam as limitaccedilotildees e possibilidades de uso do recurso comum

Esses atributos compreendem o tamanho localizaccedilatildeo limites

capacidade e abundacircncia do recurso A tecnologia determina a forma

como se lida com o recurso e com os demais fatores relacionados

Regras em uso O segundo conjunto de atributos no modelo de

anaacutelise consiste nas regras que estruturam as escolhas individuais e

coletivas em relaccedilatildeo aos recursos comuns

Arena de accedilatildeo As regras natildeo satildeo garantia da emergecircncia de

novos padrotildees de comportamento Entre as regras e os comportamentos

observados existe uma distacircncia A arena de accedilatildeo eacute um espaccedilo

conceitual no qual os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais se

informam consideram cursos de accedilatildeo alternativos tomam decisotildees

agem e experienciam as consequecircncias de suas accedilotildees A arena de accedilatildeo

conta com dois aspectos interligados a situaccedilatildeo de accedilatildeo e os segmentos

que interagem na situaccedilatildeo de accedilatildeo A situaccedilatildeo de accedilatildeo enfatiza como as

pessoas cooperam ou natildeo cooperam entre si em vaacuterias circunstacircncias Agrave

anaacutelise da situaccedilatildeo da accedilatildeo eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo dos envolvidos e

os papeacuteis que desempenham na gestatildeo do recurso comum

Resultados eou consequecircncias A observacircncia dos resultados

eou consequecircncias eacute fundamental para avaliar o sistema de gestatildeo

encorajando a inovaccedilatildeo e a aprendizagem adaptativa

As relaccedilotildees entre essas macro variaacuteveis satildeo o principal foco dos

estudos A Figura 2 traz modelo de anaacutelise e como as macro variaacuteveis se

relacionam umas com as outras Os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos e as

regras em uso afetam a arena de accedilatildeo e os resultados e consequecircncias

As linhas soacutelidas a e b representam fortes conexotildees causais

compreendendo que o comportamento individual eacute constrangido mas

natildeo determinado pelo mundo biofiacutesico e pelas regras As linhas soacutelidas

3 Outra opccedilatildeo seria utilizar o modelo de anaacutelise dos ciclos adaptativos descrito

no artigo de Holling (2001) e na coletacircnea organizada por Gunderson e Holling

(2002)

69

c e d representam fortes relaccedilotildees Os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos

afetam os recursos comuns de duas formas afetam a arena de accedilatildeo e

caso natildeo sejam considerados na arena de accedilatildeo podem afetar diretamente

os resultados As regras em uso por sua vez natildeo tecircm efeito nos

resultados independente da escolha humana No longo prazo a interaccedilatildeo

entre as macro variaacuteveis eacute marcada pelas linhas tracejadas Dessa forma

o movimento eacute incorporado no modelo na forma de aprendizagem social

adaptativa

Figura 2 - Modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns ajustado

a co-gestatildeo adaptativa

Fonte Baseado em Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

A aprendizagem social adaptativa marcada principalmente pela

retroalimentaccedilatildeo (linhas tracejadas) presente no modelo de anaacutelise da

gestatildeo de recursos comuns eacute um processo interativo e contiacutenuo No

entanto por ser um processo coletivo a cooperaccedilatildeo entre os envolvidos

na gestatildeo pode ser difiacutecil devido agrave distribuiccedilatildeo de poder tanto nos

segmentos sociais quanto nos segmentos poliacuteticos e entre eles

(BERKES 2009) A expectativa eacute que a aprendizagem leve a accedilatildeo

coletiva agrave mudanccedila institucional na forma de regras leis costumes e

normas As abordagens do aprendizado social visam encontrar formas

70

nas quais as pessoas possam transcender as normas sociais valores e

formas tradicionais de pensar os problemas convergindo para mudanccedilas

socioecoloacutegicas e desempenhando um papel direto no estiacutemulo da

inovaccedilatildeo institucional (CUNDILL 2010)

No campo da co-gestatildeo adaptativa a aprendizagem eacute definida

como a reflexatildeo e accedilatildeo coletiva que tem lugar entre indiviacuteduos e grupos

quanto trabalham para melhorar a gestatildeo das relaccedilotildees entre sistemas

sociais e ecoloacutegicos Aiacute entram em cena os niacuteveis de aprendizagem

aprendizagem em circuito simples duplo e triplo A aprendizagem em

circuito simples se refere a melhorar as accedilotildees estrateacutegias e praacuteticas que

ocorrem num grupo envolvido num projeto de gestatildeo de recursos

comuns A aprendizagem em circuito duplo envolve o questionamento

dos pressupostos e dos modelos mentais que apoiam a seleccedilatildeo de

estrateacutegias particulares e accedilotildees Isto eacute particularmente importante nos

processos colaborativos onde diferentes formas de conhecimento e

modelos mentais estatildeo juntos Na aprendizagem em circuito triplo a

aprendizagem ocorre quando os valores e normas que sustentam as

hipoacuteteses satildeo questionados e refletidos Isto leva a um entendimento

mais profundo do contexto dinacircmicas de poder valores que influenciam

a capacidade de gerir os recursos comuns (CUNDILL 2010)4

A ecircnfase da gestatildeo de recursos comuns eacute na anaacutelise dos modos de

apropriaccedilatildeo e dos sistemas de gestatildeo e neste sentido a cooperaccedilatildeo entre

instituiccedilotildees situadas em diversas escalas e niacuteveis torna-se um elemento

fundamental Inuacutemeras atividades humanas tecircm causas e consequecircncias

que podem ser medidas em niacuteveis diferentes ao longo de muacuteltiplas

escalas Os multi-niacuteveis e as multi-escalas e a transescalaridade dos

problemas relacionados com as dimensotildees humanas das mudanccedilas

globais demandam que pesquisadores abordem questotildees-chave de

escalas e niacuteveis em suas anaacutelises Se a arena de accedilatildeo compreende

tambeacutem as relaccedilotildees que se estabelecem entre os vaacuterios niacuteveis de uma

mesma escala a gestatildeo refere-se a arranjos por meio dos quais o poder

decisoacuterio e as responsabilidades decorrentes satildeo compartilhados entre os

atores envolvidos nas vaacuterias escalas espaciais (CASH et al 2006

BERKES 2005b DIETZ et al 2002 GIBSON OSTROM AHN

2000)

4 A aprendizagem em circuito triplo converge para o engajamento reflexivo e a

reflexividade ecoloacutegica (SCHLOSBERG 2009)

71

222 Ecodesenvolvimento territorial os recursos comuns no

contexto do desenvolvimento

Na tentativa de incorporar ao presente o que o passado nos traz

como bagagem vaacuterios autores vecircm descortinando novas vias de anaacutelise

criacutetica das limitaccedilotildees do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que

tem sido apropriado pelos arautos da globalizaccedilatildeo neoliberal desde o

iniacutecio dos anos 1990

Ignacy Sachs escreve sobre desenvolvimento e meio ambiente haacute

vaacuterias deacutecadas e tem acompanhado as mudanccedilas que aconteceram ao

longo da histoacuteria Para unir os enfoques do ecodesenvolvimento e do

desenvolvimento sustentaacutevel ele distingue no ecodesenvolvimento as

cinco dimensotildees da sustentabilidade sustentabilidade social

sustentabilidade econocircmica sustentabilidade ecoloacutegica sustentabilidade

espacial e sustentabilidade cultural Mais recentemente tem utilizado os

termos desenvolvimento territorial integrado e sustentaacutevel ou ainda

desenvolvimento includente sustentaacutevel sustentado (RIBEIRO 2005

SACHS 2004 2002 1993)

Nos uacuteltimos anos Paulo Freire Vieira tem utilizado o termo

desenvolvimento territorial sustentaacutevel e mais recentemente

ecodesenvolvimento territorial tendo como ideia central o

ecodesenvolvimento agregando tambeacutem o enfoque da gestatildeo de

recursos comuns e os estudos territoriais Nas palavras de Pierre

Dansereau (2005 p 523) Paulo Freire Vieira deu ldquoum novo tom agrave

Sociologia um desembaraccedilo maior agrave experiecircncia em quadros teoacutericos

ampliadosrdquo Nessa linha o conceito emergente de ecodesenvolvimento

territorial leva em conta os riscos de desvio economicista e tecnocraacutetico

nos estudos sobre dinacircmicas territoriais de desenvolvimento

enfatizando a criaccedilatildeo de sistemas de gestatildeo compartilhada e adaptativa

de recursos comuns e a governanccedila territorial Deste ponto de vista

ainda em construccedilatildeo trata-se de favorecer ao maacuteximo possiacutevel a gestatildeo

das conexotildees institucionais transescalares evitando soluccedilotildees

reducionistas e uniformizadoras aleacutem de escalas fixas (GODARD

1997 SACHS 2002 VIEIRA 2010 2009 2005 2006 VIEIRA CAZELLA CERDAN 2006)

A noccedilatildeo de territoacuterio incorporada recentemente ao debate sobre

desenvolvimento amp ambiente designa processos de criaccedilatildeo coletiva e

institucional e as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento

72

ecologicamente prudente pressupotildeem o resgate dos criteacuterios de

endogeneidade descentralizaccedilatildeo e autonomia local (pensada

sistemicamente) assumidos como elementos constitutivos do enfoque

ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento (VIEIRA et al 2010 VIEIRA

2006)

O ecodesenvolvimento territorial traz agrave gestatildeo de recursos

comuns a preocupaccedilatildeo com o estilo de desenvolvimento conforme

demonstrado na Figura 3 Mas partindo do pressuposto que a gestatildeo de

recursos comuns eacute um dos principais componentes na interaccedilatildeo

sociedade e natureza capaz de assegurar seu bom funcionamento seu

melhor rendimento sua perenidade e desenvolvimento ela deveria estar

a montante e natildeo a jusante das principais opccedilotildees de desenvolvimento

(GODARD 1997) Todavia seraacute mantido o estilo de desenvolvimento

como mais amplo para reforccedilar a ideia de que a gestatildeo de recursos

comuns precisa considerar o estilo de desenvolvimento assumindo cada

vez mais a responsabilidade da criacutetica e da mudanccedila

Figura 3 - Primeira adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa

Fonte Adaptado de Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

73

A anaacutelise do contexto e do discurso presente na gestatildeo de

recursos comuns explicita os fatores endoacutegenos e exoacutegenos das

dinacircmicas de desenvolvimento demonstrando seus limites e margens de

manobra

O problema natildeo se identifica tanto com a

preocupaccedilatildeo em se especificar o niacutevel de

responsabilidade ideal mas antes com o

entendimento daquelas formas de interaccedilatildeo entre

os diversos niacuteveis territoriais que tornariam

possiacutevel uma decisatildeo que levasse em conta ao

mesmo tempo os interesses e objetivos locais

regionais e nacionais ou mesmo internacionais

(GODARD 1997 p 237)

Para colocar em praacutetica estrateacutegias alternativas de

desenvolvimento eacute importante reequilibrar a transferecircncia de poder e a

comunicaccedilatildeo entre o local o regional e o nacional e integrar as vaacuterias

dimensotildees das estrateacutegias de desenvolvimento (social econocircmica

ecoloacutegica espacial e cultural) ldquoAgrave luz do princiacutepio da co-gestatildeo

adaptativa os sistemas de planejamento e gestatildeo deveratildeo se abrir cada

vez mais a um padratildeo de envolvimento autecircntico da sociedade civilrdquo

(VIEIRA 2005 p 366)

223 Justiccedila ambiental e justiccedila ecoloacutegica os caminhos da

democracia

O movimento por justiccedila ambiental teve origem nos Estados

Unidos em 1982 com um conflito em Afton na Carolina do Norte Na

iminecircncia de instalaccedilatildeo de um depoacutesito de bifenilpoliclorinato que

contaminaria a aacutegua que abastecia a cidade a populaccedilatildeo organizou

protestos Como a populaccedilatildeo de Afton era composta de 84 de negros e

negras o movimento se desenvolveu como uma reaccedilatildeo expliacutecita agrave

atenccedilatildeo inadequada dos movimentos ambientalistas agrave questatildeo da raccedila e

da classe social Os princiacutepios da justiccedila ambiental ofereceram ao ambientalismo possibilidades de pensar classe social e raccedila junto com

questotildees ambientais combatendo o abuso de corporaccedilotildees poluentes e o

abuso do proacuteprio Estado (ACSELRAD 2009 ACSELRAD MELLO

BEZERRA 2009 SZE LONDON 2008)

74

Desde entatildeo as pesquisas sobre justiccedila ambiental contribuiacuteram

para ampliar a discussatildeo sobre a necessidade de um enfoque consistente

de anaacutelise deste fenocircmeno Aleacutem de vaacuterias aacutereas de conhecimento

(geografia radical geografia criacutetica e economia poliacutetica entre outras)

passaram a ser mobilizados dados relacionados a diferentes grupos

raciais e eacutetnicos aleacutem de disparidades associadas a gecircnero e idade Mais

recentemente as reflexotildees sobre justiccedila ecoloacutegica conduziram o

enfoque a um niacutevel cada vez mais alto de abrangecircncia e abstraccedilatildeo

(BYRNE MARTINEZ GLOVER 2002 HOLIFIELD PORTER

WALKER 2009 SZE LONDON 2008)

O conceito de injusticcedila ambiental designa uma distribuiccedilatildeo

desproporcional dos riscos e danos ambientais devido agrave implantaccedilatildeo de

projetos industriais homogeneizadores do espaccedilo bem como de

poliacuteticas globais que impactam negativamente as camadas mais

vulneraacuteveis da sociedade Trata-se de uma siacutendrome recorrente que

transcende a simples distribuiccedilatildeo de riscos ambientais delimitados

localmente refletindo tambeacutem o reconhecimento de que as poliacuteticas

ambientais tecircm consequecircncias que atravessam as fronteiras nacionais

afetam muacuteltiplas escalas e se estendem agraves redes globais As iniciativas

que geram espaccedilos de desigualdade e injusticcedila ambiental satildeo histoacuterica e

geograficamente muito mais complexas do que parecem (ACSELRAD

MELLO BEZERRA 2009 HOLIFIELD PORTER WALKER 2009

ZHOURI 2008)

A ampliaccedilatildeo dos temas tratados pela justiccedila ambiental e o uso da

pesquisa sistecircmica refletem a percepccedilatildeo da complexidade intriacutenseca aos

problemas estudados inclusive das conexotildees transescalares - do local ao

global Alguns autores passaram a adotar o termo justiccedila ecoloacutegica entendida como aquela que afeta natildeo apenas os seres humanos mais

vulneraacuteveis mas todos os seres humanos as geraccedilotildees futuras espeacutecies

natildeo humanas e processos ecossistecircmicos (BYRNE MARTINEZ

GLOVER 2002 HOLIFIELD PORTER WALKER 2009 LOW e

GLEESON 1998 MAacuteRMORA 1992 PENtildeA 2003 SCHLOSBERG

2009 e 2004 SZE LONDON 2008 TOUCHEacute 2004)

Partindo do pressuposto de que a desigualdade socioambiental se

relaciona ao sistema poliacutetico aquela eacute apenas um sintoma de um

processo que envolve a redistribuiccedilatildeo o reconhecimento e a

representaccedilatildeo (SCHLOSBERG 2009 e 2004) A redistribuiccedilatildeo envolve

minimizar a desigualdade ambiental Jaacute o reconhecimento envolve a

consideraccedilatildeo de distintas perspectivas (das minorias eacutetnicas ldquoraciaisrdquo e

75

sexuais) O reconhecimento objetiva tambeacutem ldquodesinstitucionalizar

padrotildees de valoraccedilatildeo cultural que impedem a paridade de participaccedilatildeo

e substituiacute-los por padrotildees que a promovamrdquo (FRASER 2007 p 109)

A representaccedilatildeo torna-se central nas lutas pela redistribuiccedilatildeo e

pelo reconhecimento natildeo haacute redistribuiccedilatildeo e reconhecimento sem

representaccedilatildeo Logo os problemas na representaccedilatildeo satildeo condicionantes

da injusticcedila ambiental e ecoloacutegica (FRASER 2010 2009)

A representaccedilatildeo juntamente com a redistribuiccedilatildeo e

reconhecimento satildeo fundamentais para o fortalecimento e recriaccedilatildeo do

sistema democraacutetico e aprendizagem social adaptativa Na Figura 4

insere-se no modelo de anaacutelise a variaacutevel do fortalecimento do sistema

democraacutetico

Figura 4 - Segunda adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa

Fonte Adaptado de Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

Satildeo os mesmos caminhos que levam ao restabelecimento do

equiliacutebrio na natureza e agrave construccedilatildeo da democracia na sociedade ldquoO

pensamento democraacutetico estaacute desafiado a pensar o desenvolvimento de

toda a humanidade em harmonia com a naturezardquo (SOUZA 1992 p

76

13) Cabe questionar ldquosob que condiccedilotildees eacute de se esperar que a

democracia produza resultados poliacuteticos justosrdquo (VITA 2003 p 111)

A democracia representativa vem sendo alvo de inuacutemeras

criacuteticas economicizaccedilatildeo do poliacutetico incapacidade de cumprir com suas

promessas fundamentais (governo do povo igualdade poliacutetica

participaccedilatildeo dos cidadatildeos na tomada de decisatildeo) a falta de controle da

representaccedilatildeo e a crescente desconfianccedila dos cidadatildeos na democracia

(MANIN et al 2006 MIGUEL 2005 ROSANVALLON 2006

SCHUMPETER1984)

Jaacute a democracia participativa pretende alcanccedilar uma democracia

digna de seu nome (MIGUEL 2005) A consciecircncia do custo do

crescimento econocircmico da produccedilatildeo das desigualdades e da apatia

poliacutetica podem ser consideradas brechas para a democracia participativa

e a expansatildeo e aprofundamento da participaccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia

promissora para desafiar as desigualdades as assimetrias de interesses e

as hierarquias sociais e poliacuteticas tradicionais (FUNG COHEN 2007

PATEMAN 1992) Todavia ldquo() o principal problema quanto agrave

democracia participativa natildeo eacute quanto a fazecirc-la funcionar mas como

atingi-lardquo (MACPHERSON 1978 p 101)

A ecologia e a democracia se determinam mutuamente ldquo() seja

pela accedilatildeo dos condicionantes soacutecio-poliacuteticos da degradaccedilatildeo ambiental

seja pela prevalecircncia das bases ambientais da desigualdade socialrdquo

(ACSELRAD 1992a p 10) Para compreender essa relaccedilatildeo eacute preciso

identificar e entender a origem das contradiccedilotildees na incorporaccedilatildeo da

questatildeo ambiental pelo Estado e a correlaccedilatildeo de forccedilas sociais em

confronto pelo controle dos recursos

Os estudos sobre justiccedila ambiental identificam como causas da

injusticcedila ambiental as redes de influecircncia (baseadas em alianccedilas entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos) a desinformaccedilatildeo e a neutralizaccedilatildeo

da criacutetica potencial Na linha de questionamento entre as accedilotildees que

buscam reverter quadros de injusticcedilas ambientais estatildeo a produccedilatildeo do

conhecimento proacuteprio a pressatildeo pela aplicaccedilatildeo universal das leis a

pressatildeo pelo aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo de proteccedilatildeo ambiental a

pressatildeo por novas racionalidades no exerciacutecio do poder estatal a introduccedilatildeo de procedimentos de avaliaccedilatildeo de equidade ambiental e a

accedilatildeo direta e difusatildeo espacial do movimento (ACSELRAD MELLO

BEZERRA 2009 GRAZIANO 1997) A base de um modelo mais

justo envolveria a democratizaccedilatildeo do controle dos recursos naturais a

77

desprivatizaccedilatildeo do meio ambiente assegurando o caraacuteter puacuteblico do

patrimocircnio comum (ACSELRAD 1992a)

O desafio consiste em identificar os limites da representaccedilatildeo e da

participaccedilatildeo identificando experiecircncias que caminhem na direccedilatildeo de

uma recuperaccedilatildeo da autonomia (CASTORIADIS COHN-BENDIT

PUacuteBLICO DE LOUVAIN-LA-NEUVE 1981 ILLICH 1973) da

construccedilatildeo de uma democracia cognitiva (MORIN 2002 THEYS

1997) de uma cidadania terrestre (MORIN KERN 2000) de uma

cidadania ecoloacutegica (DOBSON 2003) de uma ecologia da

transformaccedilatildeolibertaccedilatildeo (HATHAWAY BOFF 2012) A direccedilatildeo

apontada a partir dos termos indicados eacute exigente e implica reconhecer

o caraacuteter indissociaacutevel da natureza e da comunidade seres humanos natildeo

humanos e a Terra em uma concepccedilatildeo alargada de justiccedila

(SCHLOSBERG 2009)

23 LIMITES E POSSIBILIDADES DO ECODESENVOLVIMENTO

REVISITADO

De todos os objetos os que mais amo satildeo os

usados () Impregnado do uso de muitos a

miuacuteda transformados foram aperfeiccediloando suas

formas e se fizeram preciosos porque tecircm sido

apreciados muitas vezes (Bertolt Brecht

Antologia Poeacutetica 1982 p 58)

A procura da harmonizaccedilatildeo entre desenvolvimento e gestatildeo de

longo prazo do meio ambiente natildeo pode ser feita de maneira isolada

pois se trata de uma reflexatildeo global sobre a viabilidade de novos estilos

de desenvolvimento baseados no pensamento sistecircmico-complexo

(GODARD SACHS 1975 VIEIRA 2006) Este capiacutetulo insere-se

nessa linha de reflexatildeo ao tratar a atualidade do ecodesenvolvimento

aplicado agrave gestatildeo de recursos comuns

O ecodesenvolvimento eacute o eixo central do modelo de anaacutelise

trazendo em si a criacutetica do modelo hegemocircnico de desenvolvimento e a

preocupaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novos projetos civilizatoacuterios Para tanto eacute preciso considerar o meio ambiente como relaccedilatildeo e natildeo como objeto

Suas dimensotildees os recursos naturais o espaccedilo-territoacuterio e o haacutebitat

colocam no centro as relaccedilotildees que os seres humanos estabelecem entre

si e com o meio Os conceitos de co-gestatildeo adaptativa

78

ecodesenvolvimento territorial e justiccedila ambiental e ecoloacutegica vecircm

sendo incorporados ao modelo de anaacutelise ldquoclaacutessicordquo ampliando o seu

potencial heuriacutestico no enfrentamento da crise socioecoloacutegica global

O enfrentamento envolve mais adaptaccedilatildeo que controle poliacuteticas

flexiacuteveis integradas e adaptativas gestatildeo e planejamento voltados agrave

aprendizagem acompanhamento concebido como uma parte de

intervenccedilotildees ativas para conseguir compreender e identificar respostas

aos problemas natildeo a vigilacircncia pela vigilacircncia investimentos ecleacuteticos

em ciecircncia participaccedilatildeo dos cidadatildeos e parceria na construccedilatildeo de uma

ciecircncia mais cidadatilde evitando a informaccedilatildeo passiva (HOLLING 1995)

O desenvolvimento de uma democracia cognitiva

soacute eacute possiacutevel com uma reorganizaccedilatildeo do saber e

esta pede uma reforma do pensamento que

permita natildeo apenas isolar para conhecer mas

tambeacutem ligar o que estaacute isolado e nela

renasceriam de uma nova maneira as noccedilotildees

pulverizadas pelo esmagamento disciplinar o ser

humano a natureza o cosmo a realidade

(MORIN 2002 p 104)

O ecodesenvolvimento e os enfoques complementares ajudam a

compreender a gestatildeo de recursos comuns em relaccedilatildeo agrave sustentabilidade

dos recursos naturais as dinacircmicas de desenvolvimento e a

desigualdade ecoloacutegica A pesquisa sobre gestatildeo de recursos comuns

nessa perspectiva incorpora uma perspectiva mais ampla sobre seu

papel no modelo de desenvolvimento hegemocircnico e ao mesmo tempo

seu potencial de mudanccedila como parte integrante e importante na

proposta do ecodesenvolvimento O fundamental eacute a compreensatildeo de

que nenhum enfoque eacute completo e que para aleacutem da fragmentaccedilatildeo da

ciecircncia o diaacutelogo entre os enfoques pode oferecer insights para uma

melhor compreensatildeo dos problemas e para a construccedilatildeo de alternativas

capazes de fazer frente agrave crise sistecircmica do meio ambiente

3 GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS NO BRASIL O CARVAtildeO

MINERAL EM QUESTAtildeO

Tudo se aniquilava no fundo desconhecido das

noites obscuras soacute percebia muito ao longe os

altos-fornos e as fornalhas de coque () Era uma

tristeza de incecircndio natildeo havia no horizonte

ameaccedilador outros astros elevando-se a natildeo ser

esses fogos noturnos dos paiacuteses da hulha e do

ferro (Eacutemile Zola 1981 p 14)

O uso do carvatildeo mineral em larga escala estaacute intrinsecamente

ligada agrave Revoluccedilatildeo Industrial e com a origem do movimento dos

trabalhadores na Inglaterra como bem ilustrou Emile Zola em seu livro

Germinal e nos Estados Unidos Ele continua sendo a fonte mais

utilizada para geraccedilatildeo de energia eleacutetrica no mundo correspondendo em

meacutedia a 40 da produccedilatildeo total mundial no periacuteodo de 1973 a 2006

Segundo a Agecircncia Internacional de Energia (IEA) a posiccedilatildeo seraacute

mantida nos proacuteximos trinta anos e a discussatildeo sobre reconversatildeo da

mineraccedilatildeo do carvatildeo ainda permanece incipiente5(ANEEL 2008a

FERREIRA 2002)

No debate sobre mudanccedila ambiental global os recursos naturais

natildeo renovaacuteveis satildeo centrais Embora o petroacuteleo ocupe posiccedilatildeo

privilegiada os impactos ambientais do processo produtivo do carvatildeo

mineral eacute um ponto importante a ser considerado Os combustiacuteveis

foacutesseis continuam a dominar a matriz energeacutetica mundial apoiados por

523 mil milhotildees de doacutelares de subsiacutedios em 2011 quase 30 a mais que

em 2010 e seis vezes mais do que as fontes renovaacuteveis (OCDE IEA

2012) O carvatildeo mineral representou em 2012 195 da matriz

energeacutetica dos paiacuteses que compotildeem a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e

Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) e 282 da matriz mundial Em

relaccedilatildeo agrave oferta de energia eleacutetrica o carvatildeo mineral representou em

2012 14 da oferta brasileira e 417 da oferta mundial Se

consideradas as dimensotildees de sustentabilidade seguranccedila energeacutetica

equidade social e mitigaccedilatildeo dos impactos ambientais o Brasil aparece

como 53ordm lugar em 2012 Se tomadas separadamente o Brasil assume o

5 Destaca-se aqui a iniciativa da Comissatildeo das Comunidades Europeias que

teve iniacutecio em 1989 de proporcionar assistecircncia as Comunidades que queiram

adotar uma reconversatildeo econocircmica das aacutereas de mineraccedilatildeo do carvatildeo atraveacutes de

empreacutestimos e subsiacutedios (COMISSAtildeO DAS COMUNIDADES EUROPEacuteIAS

1990)

80

77ordm lugar em seguranccedila energeacutetica 65ordm em equidade social e 21ordm em

mitigaccedilatildeo dos impactos ambientais (WORLD ENERGY COUNCIL

2012)

A matriz energeacutetica brasileira teve em sua composiccedilatildeo no ano de

2012 424 de oferta de energia de fontes renovaacuteveis (biomassa da

cana hidraacuteulica e eletricidade lenha e carvatildeo vegetal e lixiacutevia dentre

outras) e 576 de fontes de energia natildeo renovaacuteveis (petroacuteleo e

derivados gaacutes natural carvatildeo mineral e uracircnio) da qual o carvatildeo

mineral tem uma participaccedilatildeo de 54 (BRASIL EPE 2013) A

presenccedila de combustiacuteveis foacutesseis na matriz energeacutetica brasileira tende a

aumentar com a exploraccedilatildeo do petroacuteleo do preacute-sal com a possiacutevel

exploraccedilatildeo do gaacutes de xisto e com o retorno do carvatildeo mineral nos leilatildeo

A-56 de 2013 Eacute urgente lidar com a questatildeo das emissotildees de gases de

efeito estufa devido agraves altas emissotildees dos combustiacuteveis foacutesseis O

carvatildeo mineral eacute o mais abundante combustiacutevel foacutessil do mundo e

tambeacutem o que mais produz gases de efeito estufa (BRASIL MME

2007 YAMAOKA et al 2013)

O Brasil no cenaacuterio mundial desponta como fornecedor global

de commodities minerais energeacuteticas e agriacutecolas Esse papel justifica a

abertura de minas de fosfato a mineraccedilatildeo de uracircnio do ferro e de outros

mineacuterios Apesar do carvatildeo mineral brasileiro ser o ldquoprimo pobrerdquo dos

mineacuterios voltado ao mercado interno eacute preciso considerar tambeacutem a

mineraccedilatildeo no geral O marco legal da mineraccedilatildeo estaacute mudando com a

regulamentaccedilatildeo da mineraccedilatildeo em terras indiacutegenas quilombolas e

ribeirinhas e a expansatildeo das mineradoras brasileiras para outros paiacuteses

A conjuntura brasileira eacute de desregulamentaccedilatildeo e de flexibilizaccedilatildeo da

normativa ambiental sem um questionamento profundo sobre as

desigualdades socioambientais existentes no territoacuterio (MALERBA

2012 MILANEZ et al 2013)

O objetivo deste capiacutetulo foi descrever as macro variaacuteveis

presentes no modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns (HESS

6 Os leilotildees foram instituiacutedos em 2005 e satildeo processos licitatoacuterios com o

objetivo de contratar energia eleacutetrica para assegurar o pleno atendimento da

demanda futura no Ambiente de Regulaccedilatildeo Controlada Os leilotildees satildeo divididos

em A-1 A-3 e A-5 Os nuacutemeros 1 3 e 5 correspondem aos anos de

antecedecircncia do iniacutecio do suprimento O Leilatildeo A-5 por exemplo envolve a

licitaccedilatildeo para contrataccedilatildeo de energia eleacutetrica de novos empreendimentos

realizado com cinco anos de antecedecircncia do iniacutecio do suprimento (MME

2014)

81

OSTROM 2005 OAKERSON 1992 POLSKI OSTROM 1992)

abordando o tema no Brasil com destaque agrave gestatildeo do carvatildeo mineral

Para tanto aleacutem de uma breve introduccedilatildeo sobre desenvolvimento

econocircmico gestatildeo de recursos comuns e energia no Brasil o capiacutetulo

traz uma caracterizaccedilatildeo dos atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso

em termos de disponibilidade usos tecnologias disponiacuteveis e impactos

As regras em uso tratam das principais leis que afetam o recurso bem

como das interfaces entre direitos ambientais e direitos humanos Em

relaccedilatildeo agrave arena de accedilatildeo eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos envolvidos na

gestatildeo no niacutevel nacional O balanccedilo da gestatildeo de recursos comuns no

Brasil em especial do carvatildeo mineral revela ao longo desse capiacutetulo

importantes pontos a serem considerados na compreensatildeo da ampliaccedilatildeo

da geraccedilatildeo de energia eleacutetrica movida a carvatildeo mineral no Sul de Santa

Catarina e da possibilidade de surgirem caminhos alternativos para a

questatildeo energeacutetica

31 DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO GESTAtildeO DE RECURSOS

COMUNS E ENERGIA

A gestatildeo de recursos comuns em particular do carvatildeo mineral

traz agrave tona questotildees relacionadas ao desenvolvimento econocircmico e a

questatildeo energeacutetica que envolvem a atuaccedilatildeo de segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais O desafio de tratar a gestatildeo de recursos comuns

reside justamente na complexidade existente nessas inter-relaccedilotildees A

tentativa dessa seccedilatildeo eacute tratar a gestatildeo contextualizada para na

sequecircncia abordar as especificidades do carvatildeo mineral

Na eacutepoca da Repuacuteblica Velha (1889-1930) o governo era

controlado pela oligarquia rural (SCARDUA BURSZTYN 2003) Se

ateacute 1930 a teoria econocircmica pregava o livre funcionamento do mercado

com a crise mundial passou a aceitar um papel mais atuante do Estado e

tambeacutem do planejamento Os recursos comuns acompanharam essa

mesma linha de atuaccedilatildeo federal sendo marcada pelo controle federal na

disputa com elites locais Isso justificou a criaccedilatildeo de poderes setoriais e

deu lugar a burocracias especializadas (NEDER 2002) O setor eleacutetrico que antes era resultado de investimentos privados e locais sofreu

intervenccedilatildeo estatal e de empresas estrangeiras (MALAGUTI 2009)

A Ditadura Vargas (1930-1945) foi centralizada no presidente

com a dissoluccedilatildeo das representaccedilotildees poliacuteticas e baseada numa poliacutetica

82

voltada ao desenvolvimento urbano industrial e nacionalista

(SCARDUA BURSZTYN 2003) Nesse periacuteodo houve pouca

demanda por energia baseada principalmente na geraccedilatildeo de energia a

partir de fontes vegetais indicando um reduzido grau de expansatildeo das

forccedilas produtivas De 1939 em diante ocorreu a consolidaccedilatildeo da

industrializaccedilatildeo com o crescimento da atividade econocircmica e uma

participaccedilatildeo maior no uso de combustiacuteveis foacutesseis (THEIS 1990)

Durante o periacuteodo democraacutetico (1945-1964) teve lugar a

reorganizaccedilatildeo dos partidos poliacuteticos e das representaccedilotildees favorecendo a

descentralizaccedilatildeo sem uma poliacutetica especiacutefica para esse fim Na Ditadura

Militar (1964-1985) a centralidade federal voltou a ser realidade e nesse

contexto o crescimento econocircmico aconteceu a despeito dos custos

sociais e ambientais (EGLER 1997 SCARDUA BURSZTYN 2003)

A questatildeo ambiental era tratada como gestatildeo de recursos naturais com a

criaccedilatildeo de parques e reservas bioloacutegicas Com vieacutes claramente

conservacionista natildeo havia uma preocupaccedilatildeo com os impactos do

crescimento econocircmico da eacutepoca (NEDER 2002) ldquoA ideia de

desenvolvimento econocircmico penetrava a consciecircncia da cidadania

justificando cada ato de governo e ateacute de ditadura e de extinccedilatildeo da

naturezardquo (DEAN 1996 p 281)

O processo de crise na economia mundial deflagrado na deacutecada

de 1970 contou com trecircs marcos poliacuteticos o rompimento dos Estados

Unidos aos acordos de Bretton Woods em 1971 que trouxe a crise aos

paiacuteses membros da OCDE a inclusatildeo das questotildees ambientais no debate

sobre desenvolvimento estimulada pelo relatoacuterio do Clube de Roma e

pela Conferecircncia de Estocolmo em 1972 e a elevaccedilatildeo do preccedilo do

petroacuteleo em 1973 que trouxe a preocupaccedilatildeo com a questatildeo energeacutetica

Esses eventos dentre outros colocaram tambeacutem em questatildeo a regulaccedilatildeo

das relaccedilotildees econocircmicas internacionais e os mecanismos internos de

promoccedilatildeo do desenvolvimento (EGLER 1997)

Na deacutecada de 1970 aumentou a preocupaccedilatildeo com a poluiccedilatildeo

industrial todavia natildeo se alterou a relaccedilatildeo Estado-empresa (NEDER

2002) O movimento ambientalista em sua fase fundacional (1971-86)

foi dominado por uma compreensatildeo estreita da problemaacutetica ambiental

tendo como principais preocupaccedilotildees a poluiccedilatildeo industrial e a

preservaccedilatildeo dos ecossistemas naturais A conexatildeo entre a problemaacutetica

ambiental e o desenvolvimento econocircmico natildeo era percebida pelo

movimento ambientalista nessa fase (VIOLA 1992)

83

Na deacutecada de 1980 a crise do Estado e o processo de

redemocratizaccedilatildeo do paiacutes somou-se agrave discussatildeo do ldquodesenvolvimento

sustentaacutevelrdquo que se inseriu no discurso e na definiccedilatildeo de poliacuteticas Poacutes

1980 outro padratildeo de regulaccedilatildeo puacuteblica socioambiental veio se

desenvolvendo no Brasil ldquoele desloca a dicotomia estado versus capital

privado para um patamar mais complexo que amplia os dois modos

claacutessicos de coordenaccedilatildeo a ordem estatal e mercantil para incluir novas

arenas de conflitosrdquo (NEDER 2009 p 8)

Com a crise econocircmica dos anos 1980 o movimento

ambientalista passou a considerar a dimensatildeo econocircmica como

condicionante e parte da crise socioambiental Nessa mesma deacutecada

formaram-se grupos cientiacuteficos que passaram a tratar da questatildeo

ambiental Em 1981 com a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Meio

Ambiente (PNMA) constituiu-se segundo o artigo 6ordm o Sistema

Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e o CONAMA O movimento

ambientalista de 1987 a 1991 passou por uma fase de institucionalizaccedilatildeo

que envolveu uma organizaccedilatildeo maior do movimento ambientalista em

relaccedilatildeo a recursos financeiros especializaccedilatildeo dos envolvidos e com o

envolvimento com movimentos socioambientais (como o Movimento de

Atingidos por Barragens Movimento dos Seringueiros Movimentos

Indiacutegenas etc) (VIOLA 1992) Somado a isso o fim da Ditadura

Militar em 1985 e a Constituiccedilatildeo de 1988 acenavam com a volta da

democracia representativa e com novos mecanismos participativos

O governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) realizou

uma grande reforma no setor eleacutetrico marcando a transiccedilatildeo entre um

modelo de crescimento impulsionado pelo Estado para um modelo de

crescimento impulsionado pelo mercado A reforma teve como objetivos

a separaccedilatildeo das atividades de geraccedilatildeo transmissatildeo distribuiccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo privatizaccedilatildeo competiccedilatildeo na geraccedilatildeo e na

comercializaccedilatildeo e livre acesso agraves redes de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

(GOLDENBERG PRADO 2003) ldquoO processo de privatizaccedilatildeo do setor

eleacutetrico representou um gigantesco processo de transferecircncia de rendas

utilizando-se de dinheiro puacuteblico para beneficiar grupos empresariais e

garantir o propalado lsquosucessorsquo das privatizaccedilotildeesrdquo (BERMANN 2003

p 47) O ano de 2001 foi conhecido como o ano do ldquoapagatildeordquo Houve

falta de energia eleacutetrica causada pelo desabastecimento de aacutegua e por

uma privatizaccedilatildeo parcial na qual as estatais perderam sua capacidade de

planejamento mediante reduccedilatildeo de investimentos e o setor privado ainda

natildeo havia tomado o seu lugar (GOLDENBERG 2012a)

84

Com a vitoacuteria de Luis Inaacutecio Lula da Silva em 2002 do Partido

dos Trabalhadores (PT) para a presidecircncia da repuacuteblica houve uma

grande expectativa por parte dos movimentos sociais que possuiacuteam uma

ligaccedilatildeo histoacuterica com os partidos de esquerda especialmente o PT Lula

permaneceu na presidecircncia de 2003 a 2010 rompendo com uma

tradiccedilatildeo de eleiccedilotildees que mantinham na presidecircncia a elite tradicional

(LOSEKANN 2012) O fato de ter tido como ministra do meio

ambiente Marina Silva ligada agrave luta dos seringueiros fez com que

muitos acreditassem que o governo Lula seria um marco na poliacutetica

ambiental brasileira Mas contrariando as expectativas houve a

legalizaccedilatildeo dos transgecircnicos a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco e a

anistia aos desmatadores O Ministeacuterio das Minas e Energia (MME) na

eacutepoca liderado por Dilma Russef atual presidenta do Brasil ressuscitou

projetos hidreleacutetricos na Amazocircnia e retomou o programa da energia

nuclear Se durante a sua histoacuteria o PT esteve receptivo agraves demandas

dos movimentos socioambientais uma vez no poder a praacutetica foi

restritiva no CONAMA a participaccedilatildeo dos movimentos sociais foi

diminuiacuteda resultando numa injusticcedila poliacutetica em relaccedilatildeo aos segmentos

poliacuteticos e empresariais A poliacutetica de desenvolvimento empreendida

pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) priorizou a

pecuaacuteria mineraccedilatildeo geraccedilatildeo de energia soja cimento e celulose

causadores de impactos socioambientais e injusticcedilas ambientais e

ecoloacutegicas (LISBOA 2011)

Na Rio+20 que aconteceu em 2012 o tema central da Cuacutepula

dos Povos foi a justiccedila social e ambiental Para a Cuacutepula dos Povos natildeo

houve um balanccedilo das dificuldades e conquistas poacutes Rio-92 e a ecircnfase

na ldquoeconomia verderdquo foi uma forma de reforccedilar a acumulaccedilatildeo

capitalista que natildeo questiona ou substitui a economia baseada no uso de

combustiacuteveis foacutesseis nem nos padrotildees de produccedilatildeo industrial e

consumo crescente (CUacutePULA DOS POVOS 2012)

No governo Dilma (2011- atual) foi aprovada a mudanccedila no

Coacutedigo Florestal que estava tramitando desde 1996 ateacute ser totalmente

reformulado em 2012 Tramita tambeacutem a mudanccedila do Coacutedigo da

Mineraccedilatildeo que vai reduzir radicalmente as conquistas de grupos eacutetnicos

e comunidades tradicionais Com essas mudanccedilas instaura-se a

dominaccedilatildeo poliacutetica empresarial na qual o territoacuterio passa a ser objeto da

accedilatildeo de empresas preocupadas com as proacuteprias metas e apoiadas pela

accedilatildeo do Estado Confunde-se aiacute capitalismo com democracia e liberdade

poliacutetica com liberdade para explorar e investir (SEVAacute FILHO 2013)

No que se refere agrave matriz energeacutetica antes se pensava no que era melhor

85

para o Estado e atualmente a poliacutetica energeacutetica eacute pensada para os

empreiteiros (GOLDENBERG 2012b)

O planejamento energeacutetico no Brasil apoacutes as reformas passou a

ter uma visatildeo ldquoofertistardquo natildeo se baseia em previsotildees de demandas

Existe um emaranhado de interesses e o ldquoplanejamentordquo se eacute que pode

ser assim chamado serve aos que querem vender energia e aos que

querem comprar As empresas por sua vez aperfeiccediloam sua influecircncia

poliacutetica nos espaccedilos de poder do Estado atuando sobre os

licenciamentos ambientais mecanismos de financiamento

influenciando ateacute propostas de reforma do Estado (BERMANN 2012)

No final da deacutecada de 1980 apoacutes momentos de crescimento

econocircmico e crise houve um reposicionamento da economia da gestatildeo

de recursos comuns e da energia do fim da deacutecada de 1980 em diante

Se a PNMA de 1986 e a Constituiccedilatildeo de 1988 pareciam acenar com a

garantia aos direitos humanos e ambientais e uma preocupaccedilatildeo maior

com a participaccedilatildeo das pessoas nos processos de tomada de decisatildeo as

recentes alteraccedilotildees nas leis ambientais parecem um grande retrocesso e

a participaccedilatildeo das pessoas restrita agrave democracia representativa e a

instacircncias participativas controladas

O Estado passou a reforccedilar seu papel como indutor do

desenvolvimento capitalista direcionando investimentos em alguns

setores econocircmicos aos quais se destina financiamento subsiacutedios e

infraestrutura logiacutestica (transporte e energia) Acabou criando tambeacutem

mecanismos que asseguram o aumento no ritmo da exploraccedilatildeo de

recursos naturais e da despossessatildeo de grupos sociais com a desculpa de

gerar divisas para reduzir a pobreza e a desigualdade social ldquoEm nome

da superaccedilatildeo da desigualdade e da pobreza governos progressistas

impulsionam a expansatildeo de atividades extrativas ndash notadamente o

petroacuteleo e os mineacuterios ndash cujos custos sociais e ambientais tecircm gerado

exclusatildeo e desigualdaderdquo (MALERBA 2012 p 12-3)

O carvatildeo mineral acompanha esse movimento mais amplo com

suas especificidades que satildeo tratadas a seguir

86

32 CARACTERIZACcedilAtildeO E USOS DO CARVAtildeO MINERAL7 NO

BRASIL

A histoacuteria do carvatildeo mineral no Brasil teve iniacutecio em 1795 no Rio

Grande do Sul Ele foi descoberto por teacutecnicos ingleses que construiacuteam

ferrovias na regiatildeo do baixo Jacuiacute Durante muito tempo sua exploraccedilatildeo

foi manual passando agrave etapa da mecanizaccedilatildeo somente apoacutes a Segunda

Guerra Mundial (CHAVES 2008 GOMES et al 1998)

A mineraccedilatildeo eacute uma atividade intensiva em recursos naturais

principalmente do solo e da aacutegua competindo com outros usos dos

recursos naturais locais principalmente aqueles que dependem do meio

ambiente tais como pesca turismo agricultura etc Dentre os principais

usos do carvatildeo mineral destacam-se a produccedilatildeo de energia eleacutetrica e uso

industrial principalmente sideruacutergico O uso tem relaccedilatildeo com a

qualidade do carvatildeo medida pela capacidade de produccedilatildeo de calor

Capacidade essa que eacute favorecida pela existecircncia de carbono e

prejudicada pela quantidade de impurezas normalmente material

orgacircnico (macerais do carvatildeo) e inorgacircnicos (argilas pirita e

carbonatos) (ANEEL 2008a SAMPAIO 2002)

O Brasil natildeo tem uma cultura de uso do carvatildeo mineral como em

outros paiacuteses sua exploraccedilatildeo eacute restrita ao Sul do paiacutes outras regiotildees natildeo

convivem com a questatildeo A qualidade do carvatildeo mineral brasileiro eacute

inferior dado resultante dos altos teores de cinza e enxofre (carvatildeo de

SC e PR) e o passivo ambiental de uma exploraccedilatildeo predatoacuteria e sem

compromisso com o meio ambiente fez com que essa atividade natildeo

contasse com boa fama (CHAVES 2008)

O carvatildeo mineral de acordo com o poder caloriacutefico e a incidecircncia

de impurezas se subdivide em carvatildeo de baixa qualidade (linhito e sub-

betuminoso) e hulha (Betuminoso e Antracito) As reservas brasileiras

satildeo compostas pelo carvatildeo dos tipos linhito e sub-betuminoso que pode

ser utilizado na produccedilatildeo de energia eleacutetrica e usado industrialmente

(ANEEL 2008a) (Figura 5)

7 O carvatildeo mineral natildeo eacute um mineral no sentido estrito sendo mais correto

chamaacute-lo de carvatildeo foacutessil A opccedilatildeo pelo carvatildeo mineral se justifica na medida

em que a maior parte dos documentos e referecircncias consultadas utilizam o

termo (CHAVES 2008)

87

Figura 5 - Tipos de carvatildeo e uso

Fonte Adaptado de Aneel (2008a p 133)

A produccedilatildeo do carvatildeo mineral bruto no Brasil em 1970 foi de 55

milhotildees de toneladas chegando ao pico em 1985 com 249 milhotildees de

toneladas (MILIOLI 2009) Ateacute final da deacutecada de 1980 as sideruacutergicas

brasileiras eram obrigadas a comprar carvatildeo coqueificaacutevel nacional para

misturar com o importado Os empresaacuterios do setor contaram com as

benesses do governo federal que obrigava as sideruacutergicas a utilizarem o

carvatildeo mineral brasileiro e os consumidores do carvatildeo mineral eram

empresas governamentais Como natildeo havia diferenccedila entre o preccedilo e a

qualidade do produto as carboniacuteferas natildeo eram estimuladas a melhorar

a qualidade nem buscar tecnologia para isso

O Governo Collor rompeu com a obrigatoriedade do consumo do

carvatildeo mineral pelas metaluacutergicas e muitas mineradoras enfrentaram

problemas (CHAVES 2008) O pano de fundo para o debate eleacutetrico

dos anos 1990 principalmente durante o governo de Fernando Henrique

Cardoso era a liberalizaccedilatildeo dos preccedilos do comeacutercio e do investimento

estrangeiro a desregulamentaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo em grande escala

(GOLDENBERG PRADO 2003)

O carvatildeo energeacutetico passou a ser uma opccedilatildeo para a crise

enfrentada pelas carboniacuteferas As termeleacutetricas estatais foram

privatizadas ou tiveram o seu capital aberto na deacutecada de 1990 exceto a

Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica (CGTEE) Em 2013

estavam em operaccedilatildeo treze usinas termeleacutetricas em seis estados

brasileiros somando um total de 2711 Megawatts (MW) (Tabela 1)

Destaca-se nessas usinas a participaccedilatildeo de empresas estrangeiras

88

Tractebel CITIC Group (estatal chinesa em parceria com a Companhia

de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica) o Consoacutercio Alumar (formado

pelas empresas Alcoa BHP Billiton e Rio Tinto Alcan) e a ENEVA

Tabela 1 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral em

operaccedilatildeo em 2013 Brasil

Fonte ANEEL 2013

Natildeo havia nenhum empreendimento movido a carvatildeo mineral em

construccedilatildeo no ano de 2013 Existem quatro empreendimentos com

outorga no periacuteodo de 1998 a 2013 somando um total de 1445 MW

localizados nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Tabela

2)

Tabela 2 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral com

outorga de 1998 a 2013 Brasil

Fonte ANEEL 2013

USINAPOTEcircNCIA

(MW)MUNICIacutePIO UF PROPRIETAacuteRIO

Charqueadas 72 Charqueadas RS Tractebel

Presidente Meacutedici A B 446 Candiota RS CGTEE

Satildeo Jerocircnimo 20 Satildeo Jerocircnimo RS CGTEE

Figueira 20 Figueira PR Copel

Jorge Lacerda I e II 232 Capivari de Baixo SC Tractebel

Jorge Lacerda III 262 Capivari de Baixo SC Tractebel

Jorge Lacerda IV 363 Capivari de Baixo SC Tractebel

Alunorte 103 Nossa Senhora do Socorro SE Alumina Norte do Brasil SA

Alumar 75 Satildeo Luiacutes MA Consoacutercio Alumar

Porto do Itaqui 360 Satildeo Luiacutes MA UTE Porto do Itaqui Geraccedilatildeo de Energia SA

Porto do Peceacutem I 381 Satildeo Gonccedilalo do Amarante CE Porto do Peceacutem Geraccedilatildeo de Energia SA

Candiota III 12 Candiota RS CGTEE

Porto do Peceacutem II 365 Satildeo Gonccedilalo do Amarante CE MPX Peceacutem II Geraccedilatildeo de Energia SA

TOTAL 2711

USINAPOTEcircNCIA

(MW)MUNICIacutePIO UF PROPRIETAacuteRIO

Jacuiacute 350 Charqueadas RS Eleacutetrica Jacuiacute SA

Sul Catarinense 440 Treviso SC UTE Sul Catarinense

Concoacuterdia 5 Concoacuterdia SC Sadia

CTSUL 650 Cachoeira do Sul RS Central Termoeleacutetrica Sul SA

TOTAL 1445

89

As reservas de carvatildeo no Brasil totalizam sete bilhotildees de

toneladas ocupando o 10ordm lugar no ranking mundial podendo gerar 17

mil mw (ANEEL 2008B) Conveacutem ressaltar tambeacutem que o Brasil

produz mais energia eleacutetrica do que consome em 2011 foram

disponibilizados 5676 TeraWattshora (TWh) e consumidos 4801TWh

e em 2012 foram disponibilizados 5928TWh e consumidos 4984 TWh

A oferta de energia eleacutetrica a base de carvatildeo mineral tende a aumentar

em 53 se as usinas termeleacutetricas com outorga forem construiacutedas Com

a inclusatildeo do carvatildeo mineral nos leilotildees em 2013 parece ser uma

questatildeo de tempo para que as termeleacutetricas listadas na tabela 22 entrem

no leilatildeo e comecem a ser construiacutedas (BRASIL EPE 2013b)

33 TECNOLOGIAS DISPONIacuteVEIS E IMPACTOS

SOCIOAMBIENTAIS

Da extraccedilatildeo do carvatildeo mineral ateacute a geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

existem diferentes processos a serem considerados a extraccedilatildeo o

beneficiamento o transporte o uso do carvatildeo mineral para geraccedilatildeo de

energia eleacutetrica e a disposiccedilatildeo dos rejeitos Cada um desses processos

envolve escolhas tecnoloacutegicas e seus impactos Nesta seccedilatildeo faz-se uma

breve exposiccedilatildeo dos meacutetodos utilizados nos processos compreendendo

que a escolha entre os meacutetodos e impactos decorrentes eacute mais

condicionada pelas leis existentes do que pelo tipo de tecnologia

disponiacutevel A escolha tem a ver com a opccedilatildeo do desenvolvimento

(BRITO 1981)

No que se refere agrave extraccedilatildeo do carvatildeo mineral os meacutetodos

utilizados satildeo a lavra a ceacuteu aberto e subterracircnea dependendo das

caracteriacutesticas geoloacutegicas No iniacutecio as lavras eram essencialmente

manuais depois passaram para uma fase semi-mecanizada e depois

mecanizada Na fase manual o impacto ambiental e a produtividade

eram menores O processo de mecanizaccedilatildeo aumentou a produccedilatildeo e com

ela uma maior destruiccedilatildeo ambiental e problemas de sauacutede (MENEZES

CAROLA 2011)

As lavras a ceacuteu aberto utilizam os seguintes meacutetodos meacutetodo de

lavras em tiras (strip mining) lavra de descobertura com escavadeiras de

arrasto (dragline stripping method) lavra em bancadasescavadeira Os

trecircs meacutetodos de formas diferentes retiram as camadas de solo e outras

formaccedilotildees sedimentares que cobrem as camadas de carvatildeo Satildeo meacutetodos

90

de baixo custo comparados aos de lavra subterracircnea mas foram as

lavras a ceacuteu aberto que causaram entre 1960 e 1970 os maiores danos

ambientais do Sul de Santa Catarina (KOPPE COSTA 2008

MENEZES CAROLA 2011 MONTEIRO 2008)

Dentre os meacutetodos de lavra subterracircnea destacam-se o meacutetodo de

cacircmaras e pilares e de frente larga No primeiro meacutetodo o carvatildeo eacute

extraiacutedo e os pilares satildeo formados pelo proacuteprio carvatildeo que sustenta a

cobertura e facilita o fluxo de ar Na medida em que a mineraccedilatildeo

avanccedila os pilares satildeo retirados e a cobertura tomba Jaacute o meacutetodo da

frente larga envolve a remoccedilatildeo total do carvatildeo e a sustentaccedilatildeo eacute feita por

macacos hidraacuteulicos O meacutetodo precisa estar adequado agrave geologia da

mina e o custo do maquinaacuterio eacute cerca de dez vezes maior que do outro

meacutetodo A lavra subterracircnea causa menos impacto visual mas os

impactos ambientais tambeacutem satildeo significativos Torna-se necessaacuterio o

descarte da aacutegua subterracircnea alterando o regime hiacutedrico e inviabiliza

outros usos do solo (KOPPE COSTA 2008 MONTEIRO 2008)

Dentre os principais impactos resultantes das lavras estatildeo as

mudanccedilas na vida da populaccedilatildeo nos recursos hiacutedricos na fauna e flora

Jaacute o processo de beneficiamento que compreende a separaccedilatildeo dos

materiais desejaacuteveis e indesejaacuteveis tem como principal causador de

impacto o rejeito (ANEEL 2008a) O Quadro 4 apresenta alguns

aspectos ambientais associados agrave atividade de mineraccedilatildeo e

processamento mineral

91

Quadro 4 - Aspectos das atividades de mineraccedilatildeo e processamento

do carvatildeo mineral Mineraccedilatildeo e

processamento

Ar Dispersatildeo de partiacuteculas

Variaccedilatildeo da composiccedilatildeo da poeira do

ar

Poeira

Solo Fontes pontuais de contaminaccedilatildeo

Geraccedilatildeo de resiacuteduos

Alteraccedilatildeo na vegetaccedilatildeo

Instabilidade de taludes

Variaccedilatildeo na morfologia do terreno

Cavidades subterracircneas

Aacutegua

superficial

Contaminaccedilatildeo quiacutemica (drenagem

aacutecida etc)

Soacutelidos em suspensatildeo

Desestabilizaccedilatildeo das margens

Alteraccedilatildeo dos cursos de aacutegua

Criaccedilatildeo de novos corpos hiacutedricos

Aacutegua

subterracircnea

Contaminaccedilatildeo quiacutemica

Alteraccedilatildeo na profundidade do niacutevel

drsquoaacutegua

Variaccedilatildeo nas propriedades dos

aquiacuteferos

Fonte CETEM (2000 p 16)

No meacutetodo mais tradicional de geraccedilatildeo de energia eleacutetrica o

carvatildeo mineral eacute queimado a altas temperaturas transformando a aacutegua da

caldeira em vapor capaz de mover a turbina gerando eletricidade Em

meacutedia as teacutermicas movidas a carvatildeo mineral produzem 700g de CO2

por Quilowatt-hora (KWh) sendo responsaacuteveis por 30 a 35 do total de

emissotildees de CO2 no mundo Aleacutem do CO2 tambeacutem emitem Nitrogecircnio

(N) (ANEEL 2008a YAMAOKA et al 2013)

As chamadas tecnologias limpas compreendem a combustatildeo

pulverizada supercriacutetica a combustatildeo em leito fluidizado e a

gaseificaccedilatildeo integrada a ciclo combinado segundo a IEA Na

combustatildeo pulverizada supercriacutetica o carvatildeo eacute queimado como partiacuteculas pulverizadas o que aumenta substancialmente a eficiecircncia da

combustatildeo e conversatildeo No processo de combustatildeo em leito fluidizado

haacute uma reduccedilatildeo de Enxofre (ateacute 90) e de Nitrogecircnio (7080) pelo

emprego de partiacuteculas calcaacuterias e de temperaturas inferiores ao processo

convencional de pulverizaccedilatildeo Jaacute a gaseificaccedilatildeo integrada a ciclo

92

combinado consiste na reaccedilatildeo do carvatildeo com vapor de alta temperatura

e um oxidante (processo de gaseificaccedilatildeo) o que daacute origem a um gaacutes

combustiacutevel sinteacutetico de meacutedio poder caloriacutefico Esse gaacutes pode ser

queimado em turbinas a gaacutes e recuperado por meio de uma turbina a

vapor (ciclo combinado) o que possibilita a remoccedilatildeo de cerca de 95

do Enxofre e a captura de 90 do Nitrogecircnio Apesar da reduccedilatildeo de

Enxofre e Nitrogecircnio as tecnologias do chamado ldquocarvatildeo limpordquo natildeo

representam uma soluccedilatildeo para a emissatildeo de gases de efeito estufa

(ANEEL 2008a MONTEIRO 2008)

Cada tecnologia tem o seu impacto Na escolha por uma

tecnologia ou outra um impacto menor natildeo eacute considerado o motivador

inicial Atender os requisitos miacutenimos da legislaccedilatildeo e ser viaacutevel do

ponto de vista econocircmico satildeo os motivadores principais das escolhas

Os interesses dos segmentos econocircmicos natildeo raro prevalecem sobre os

interesses dos segmentos sociais ldquoO planejamento pauta-se em acordos

setoriais natildeo necessariamente fruto de uma compilaccedilatildeo e mediaccedilatildeo de

interesses mais amplos da sociedaderdquo (BERMANN 2012 p 21)

O raciociacutenio eacute produzir mais e natildeo pensar em eficiecircncia

energeacutetica O paiacutes perde cerca de 20 de energia na transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo Antes de investir em novas tecnologias e ampliar o sistema

seria interessante resolver a perda na transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de

energia (BERMANN 2012)

34 REGRAS EM USO NUMA PERSPECTIVA HISTOacuteRICA

INTERFACE ENTRE DIREITOS AMBIENTAIS E DIREITOS

HUMANOS

O marco regulatoacuterio do carvatildeo mineral se relaciona com o modo

como a questatildeo ambiental foi sendo incorporada nas leis e numa

perspectiva mais ampla sobre como os direitos ambientais e os direitos

humanos foram sendo constituiacutedos no Brasil O desafio da justiccedila em

sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas ambientais tem dois aspectos relacionais a

justiccedila da distribuiccedilatildeo de ambientes entre pessoas e a justiccedila da relaccedilatildeo

entre humanos e o resto do mundo natural a justiccedila ambiental e justiccedila

ecoloacutegica respectivamente A justiccedila eacute uma qualidade da conduta

humana e envolve tanto a reflexatildeo sobre si mesmo e o estar no mundo

quanto a conduta coordenada com os outros a conduta social e poliacutetica

(LOW GLEESON 1998)

93

Durante muito tempo na histoacuteria recente do brasil os recursos

naturais natildeo renovaacuteveis foram tratados como recursos a serem

explorados natildeo havia uma preocupaccedilatildeo com sua preservaccedilatildeo e com os

impactos socioambientais decorrentes das atividades econocircmicas A

Constituiccedilatildeo de 1934 mencionou pela primeira vez a competecircncia

privativa da Uniatildeo para legislar sobre o subsolo mineraccedilatildeo metalurgia

aacuteguas energia hidreleacutetrica florestas caccedila e pesca Do ponto de vista das

competecircncias a Constituiccedilatildeo de 1937 manteacutem a competecircncia privativa

da Uniatildeo sobre os recursos naturais e seus usos considerando a

competecircncia supletiva dos Estados As Constituiccedilotildees de 1946 1967-69

reproduzem com poucas atualizaccedilotildees as mesmas competecircncias

(SCARDUA BURSZTYN 2003)

A despeito do Coacutedigo das Aacuteguas de 1934 que lograva proteger

os recursos hiacutedricos e imputava ao poluidor os custos com a

recuperaccedilatildeo o setor carboniacutefero seguiu intensificando a poluiccedilatildeo das

aacuteguas e dos solos O mesmo aconteceu com as condiccedilotildees miacutenimas de

trabalho presentes no Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e no Coacutedigo de Higiene e

Seguranccedila no Trabalho que foram sistematicamente desconsideradas

impondo condiccedilotildees muitas vezes incompatiacuteveis com a vida humana

(MENEZES CAROLA 2011)

O avanccedilo do segmento do carvatildeo mineral contou com incentivos

e proteccedilatildeo do governo federal a partir de 1931 atraveacutes do Decreto

20089 em 1940 com o Decreto 2667e o Decreto 1828 de 1937 Aleacutem

de regular o aproveitamento do carvatildeo mineral iniciou nesse momento a

obrigatoriedade de compra do carvatildeo nacional em 10 em 1931 e 20

em 1937 do montante das importaccedilotildees (BRASIL 1931 1937 1940) As

medidas tomadas nesse periacuteodo incluindo aiacute o Plano do Carvatildeo

Nacional Lei nordm 1886 de 1953 fortaleceram muito o setor (BRASIL

1953) Inclui-se nessa lista o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo de 1967 Decreto-Lei

nordm 227 (BRASIL 1967) Junto com o Plano do Carvatildeo Mineral eacute criada

a Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo Nacional (CEPCAN) ligada

inicialmente ao Presidente da Repuacuteblica e depois ao MME A

CEPCAN foi responsaacutevel pela consolidaccedilatildeo da modernizaccedilatildeo e dos

subsiacutedios para o setor carboniacutefero (MENEZES CAROLA 2011)

A Avaliaccedilatildeo de Impacto Ambiental (AIA) apareceu no Brasil

pela primeira vez na deacutecada de 1970 no projeto da hidroeleacutetrica de

Sobradinho por pressatildeo do Banco Mundial e na Lei nordm 6803 de 1980

que dispotildee sobre zoneamento industrial Mas soacute se efetivou na Lei nordm

6938 de 1981 que dispotildee sobre a PNMA que coloca a avaliaccedilatildeo de

94

impacto ambiental como instrumento da Poliacutetica Com o Decreto nordm

88351 ela se tornou parte do licenciamento de atividades e

empreendimentos potencialmente poluidores ou causadores de

degradaccedilatildeo ambiental (BARBIERI 1995)

O CONAMA atraveacutes da Resoluccedilatildeo nordm 1 de 1986 trouxe os

criteacuterios baacutesicos e diretrizes para o uso e implementaccedilatildeo da AIA A

resoluccedilatildeo define impacto ambiental como ldquoqualquer alteraccedilatildeo das

propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das atividades

humanas que direta ou indiretamente afetam I) a sauacutede e bem-estar da

populaccedilatildeo II) as atividades sociais e econocircmicas III) a biota IV) as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V) a qualidade dos

recursos ambientaisrdquo Os processos que envolvem o carvatildeo mineral

extraccedilatildeo beneficiamento transporte uso para geraccedilatildeo de energia satildeo

considerados passiacuteveis de causar impacto e por isso a exigecircncia da

avaliaccedilatildeo de impacto ambiental para seus licenciamentos (BARBIERI

1995)

O Decreto nordm 9927490 conta com a seguinte redaccedilatildeo

Art 19 O Poder Puacuteblico no exerciacutecio de sua

competecircncia de controle expediraacute as seguintes

licenccedilas

I - Licenccedila Preacutevia (LP) na fase preliminar do

planejamento de atividade contendo requisitos

baacutesicos a serem atendidos nas fases de

localizaccedilatildeo instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo observados os

planos municipais estaduais ou federais de uso do

solo

II - Licenccedila de Instalaccedilatildeo (LI) autorizando o

iniacutecio da implantaccedilatildeo de acordo com as

especificaccedilotildees constantes do Projeto Executivo

aprovado e

III - Licenccedila de Operaccedilatildeo (LO) autorizando

apoacutes as verificaccedilotildees necessaacuterias o iniacutecio da

atividade licenciada e o funcionamento de seus

equipamentos de controle de poluiccedilatildeo de acordo

com o previsto nas Licenccedilas Preacutevia e de

Instalaccedilatildeo (BRASIL 1990)

Uma exigecircncia no processo de licenciamento eacute a elaboraccedilatildeo do

Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatoacuterio de Impacto

Ambiental (RIMA) A avaliaccedilatildeo de impacto ambiental conforme consta

95

na Figura 6 compreende segundo orientaccedilotildees internacionalmente

aceitas uma etapa inicial de triagem [na qual o estudo de impacto

ambiental eacute solicitado ou natildeo de acordo com o grau de possiacuteveis

impactos ambientais] uma etapa de anaacutelise detalhada [que inclui a

delimitaccedilatildeo do escopo do estudo a elaboraccedilatildeo do estudo de impacto

ambiental e do relatoacuterio de impacto ambiental a anaacutelise teacutecnica e a

consulta puacuteblica] e a etapa poacutes-aprovaccedilatildeo [que prevecirc o monitoramento

e gestatildeo ambiental e o acompanhamento] (SAacuteNCHEZ 2008a)

Figura 6 - Etapas da avaliaccedilatildeo de impacto ambiental

Fonte Adaptado de Saacutenchez (2008 p 96)

96

A audiecircncia puacuteblica no processo de licenciamento ambiental eacute

uma forma de consulta puacuteblica (consta na anaacutelise detalhada na Figura 6)

um instrumento de participaccedilatildeo de caraacuteter consultivo e informativo

segundo resoluccedilatildeo do CONAMA Nordm 009 de 03 de dezembro de 1987

A audiecircncia pode ser solicitada pelo oacutergatildeo ambiental responsaacutevel pelo

licenciamento por uma entidade civil pelo ministeacuterio puacuteblico ou por

um grupo de pelo menos 50 cidadatildeos (CONAMA 1987) Todavia a

decisatildeo no processo de licenciamento cabe aos oacutergatildeos ambientais

competentes No acircmbito federal ao IBAMA e no acircmbito estadual os

oacutergatildeos ambientais estaduais (SAacuteNCHEZ 2008a)

A Avaliaccedilatildeo Ambiental Estrateacutegica (AAE) surge dos limites da

AIA Entre esses limites estatildeo a dificuldade ldquode analisar com

profundidade alternativas tecnoloacutegicas e de localizaccedilatildeo de levar em

conta satisfatoriamente os impactos cumulativos e os impactos indiretos

satildeo inerentes a esta forma de avaliaccedilatildeo de impacto ambientalrdquo

(SAacuteNCHEZ 2008 p 4)

A Constituiccedilatildeo de 1988 traz um capiacutetulo sobre o meio ambiente e

pela primeira vez na histoacuteria do Brasil coloca o meio ambiente como

direito ldquoTodos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder Puacuteblico e agrave coletividade o dever de

defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo (Art

225 BRASIL 1988) Cabe aos Estados Distrito Federal e Municiacutepios

acrescentar normas especiacuteficas desde que natildeo colidam com a norma

federal (BARBIERI 1995)

A descentralizaccedilatildeo estimulada pela Constituiccedilatildeo de 1988 foi

inovadora ao contemplar mecanismos de democracia participativa

complementando os mecanismos da democracia representativa todavia

essa ainda natildeo ocorreu em niacutevel satisfatoacuterio e efetivo Desde 1996 todos

os estados brasileiros contam com poliacuteticas ambientais estaduais e

oacutergatildeos responsaacuteveis pela sua implementaccedilatildeo Os municiacutepios caminham

devagar 117 contam com algum oacutergatildeo para tratar do meio ambiente e

213 possuem Conselho Municipal de Meio Ambiente (SCARDUA BURSZTYN 2003)

Outro ponto tratado na Constituiccedilatildeo de 1988 que diz respeito agrave

atividade mineradora eacute a Compensaccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo de

Recursos Minerais (CFEM) O valor da CFEM eacute aplicado sobre o

97

faturamento liacutequido e varia de acordo com a substacircncia mineral Para o

carvatildeo aplica-se a aliacutequota de 2 O valor eacute pago mensalmente e 12

dele vai para a Uniatildeo 23 para o Estado e 65 para o municiacutepio

produtor Os recursos devem ser aplicados em projetos que direta ou

indiretamente melhorem a infra-estrutura qualidade ambiental sauacutede e

educaccedilatildeo da comunidade local (DNPM 2013) Um desafio colocado por

algumas pesquisas eacute o uso adequado da CFEM pela gestatildeo puacuteblica jaacute

que natildeo haacute uma regulamentaccedilatildeo legal para o uso do recurso (AARAtildeO

2011 ENRIacuteQUEZ 2007)

No Governo Fernando Henrique Cardoso foi aprovado o Decreto

nordm 3371 de 24 de fevereiro de 2000 que instituiu o Programa

Prioritaacuterio de Termeletricidade (BRASIL 2000) Com o apagatildeo de 2001

ressurgiu a ideia de que a seguranccedila energeacutetica do paiacutes estaria garantida

com a construccedilatildeo de mais usinas termeleacutetricas (GOLDENBERG

2012a)

Em 2010 comeccedilou a ser articulado um novo marco regulatoacuterio

para a mineraccedilatildeo no Brasil sendo lanccedilado o Projeto de Lei (PL) em

junho de 2013 Em 2014 o Congresso analisaraacute o PL 58072013

(BRASIL 2013a) fruto da Frente Parlamentar da Mineraccedilatildeo Brasileira

da qual fazem parte Celso Maldaner (PMDB) Deacutecio Lima (PT)

Jorginho Mello (Partido da Repuacuteblica - PR) Onofre Santo Agostini

(Partido Social Democraacutetico - PSD) todos eleitos por Santa Catarina

(BRASIL 2013b)

Um dos pontos polecircmicos eacute a regulamentaccedilatildeo da mineraccedilatildeo em

terras indiacutegenas quilombolas e ribeirinhas questatildeo que se situa na

interface entre direitos ambientais e direitos humanos A Constituiccedilatildeo de

1891 vinculava a propriedade do subsolo agrave do solo sendo alterada pela

Constituiccedilatildeo de 1934 ateacute os dias atuais permanecendo a natildeo existecircncia

de viacutenculo entre propriedade do solo e subsolo que pertence agrave Uniatildeo

Todavia conveacutem ressaltar que apesar do domiacutenio puacuteblico dos recursos

minerais eacute possiacutevel a apropriaccedilatildeo privada mediante concessatildeo

(BRASIL MME 2013) A principal criacutetica do novo marco regulatoacuterio eacute

a de que ldquoeacute necessaacuterio reafirmar que o lsquopuacuteblicorsquo e a lsquonaccedilatildeorsquo vivem e

ocorrem sobre o solo e natildeo no subsolo Dessa forma eacute o uso do solo que

deve definir a possibilidade da exploraccedilatildeo do subsolo e natildeo o contraacuteriordquo

(MILANEZ 2012 p 82)

O crescimento da consciecircncia ambiental relaciona-se agrave discussatildeo

histoacuterica sobre direitos humanos e do exerciacutecio desigual de direitos O

movimento ambientalista eacute fruto dessa tradiccedilatildeo de lutas por direitos

98

individuais e coletivos (GONCcedilALVES 1992) Todavia o desafio eacute

superar a visatildeo de que o natildeo-humano eacute de interesse apenas na medida

em que afeta os seres humanos A democracia a justiccedila social e os

direitos humanos satildeo condiccedilatildeo importante para enfrentar a crise mas

natildeo satildeo suficientes Eacute preciso superar tambeacutem o antropocentrismo

caminhando da justiccedila ambiental para a justiccedila ecoloacutegica (DELUCA

2007)

35 ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO

Nesta seccedilatildeo satildeo destacados os envolvidos na gestatildeo do carvatildeo

mineral no Brasil que atuam numa escala mais ampla que a estadual Os

envolvidos na gestatildeo de recursos comuns de Santa Catarina sediados no

estado seratildeo destacados no capiacutetulo quatro Os que foram aqui citados

aparecem nos documentos consultados Dessa forma conveacutem ressaltar

que pode haver outros envolvidos que natildeo estejam citados nesse

capiacutetulo

351 Segmentos poliacuteticos

A atual presidente da repuacuteblica Dilma Rousseff eleita pelo PT

tem mandato de 2011 a 2014 Em sua campanha mais de 90 da receita

foi proveniente de doaccedilotildees ao Comitecirc Financeiro Nacional Do total de

R$ 137 milhotildees e meio o setor mineral contribuiu com 10 desse

valor A Tractebel empresa geradora de energia eleacutetrica doou um

milhatildeo de reais para o Comitecirc Financeiro Nacional para Presidente da

Repuacuteblica do PT o que correspondeu a 07 da receita (OLIVEIRA

2013 TSE 2013) Do setor carboniacutefero natildeo foram identificadas

doaccedilotildees

O Ministeacuterio das Minas e Energia (MME) eacute chave tambeacutem no

processo de gestatildeo Ele foi criado em 1960 e tem como competecircncias a

formulaccedilatildeo e supervisatildeo das poliacuteticas puacuteblicas nos seguintes segmentos geologia recursos minerais e energeacuteticos aproveitamento da energia

hidraacuteulica mineraccedilatildeo e metalurgia e petroacuteleo combustiacutevel e energia

eleacutetrica inclusive nuclear Tem como ministro Edison Lobatildeo e congrega

as secretarias de Petroacuteleo Gaacutes Natural e Combustiacuteveis Renovaacuteveis a

99

Secretaria de Energia Eleacutetrica a Secretaria de Planejamento e

Desenvolvimento Energeacutetico Estatildeo vinculados ao MME o

Departamento Nacional de Produccedilatildeo Mineral (DNPM) (Criado em

1934) a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM)

(Criada em 1969 e iniciando suas atividades em 1970) a ANEEL

(Criada em 1996) o Conselho Nacional de Poliacutetica Energeacutetica (CNPE)

(Criado em 1997)

No Brasil apesar de haverem espaccedilos institucionais o debate

sobre a poliacutetica energeacutetica permanece restrito O Conselho Nacional de

Poliacutetica Energeacutetica (CNPE) criado em 1997 e regulamentado em 2000

eacute um oacutergatildeo de assessoramento da Presidecircncia da Repuacuteblica Ele tem em

sua composiccedilatildeo sete Ministros um representante dos estados e do

Distrito Federal um cidadatildeo brasileiro especialista em energia

designado pelo Presidente da Repuacuteblica e um representante de

universidade brasileira especialista em energia O CNPE eacute influente nos

rumos da poliacutetica energeacutetica nacional todavia pouco democraacutetica em

sua composiccedilatildeo A ANEEL por sua vez ao inveacutes de ser autocircnoma e

independente estaacute formalmente vinculada ao MME como autarquia e

na praacutetica demostra subordinaccedilatildeo ao governo federal (BERMANN

2001)

O Ministeacuterio do Meio Ambiente (MMA) foi criado em 1992

tendo como missatildeo ldquopromover a adoccedilatildeo de princiacutepios e estrateacutegias para

o conhecimento a proteccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo do meio ambiente o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais a valorizaccedilatildeo dos serviccedilos ambientais

e a inserccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel na formulaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de forma transversal e

compartilhada participativa e democraacutetica em todos os niacuteveis e

instacircncias de governo e sociedaderdquo (MMA 2013) O CONAMA eacute o

oacutergatildeo consultivo e deliberativo do SISNAMA ambos criados em 1981

como instrumentos participativos da PNMA O CONAMA eacute o uacutenico

conselho com poder de legislar Os recursos naturais renovaacuteveis ficam

sob a tutela do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renovaacuteveis (IBAMA) criado em 1989 vinculado

posteriormente ao MMA Jaacute os recursos natildeo renovaacuteveis ficam sob tutela

do MME

O Parlamento eacute composto pelos representantes eleitos pelo povo

Ele se divide entre o Senado Federal (Senadores) e a Cacircmara dos

Deputados (Deputados Federais) e exerce o poder legislativo e

fiscalizador no Congresso Nacional Atuam tambeacutem no Parlamento a

100

Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral criada em 2005

e a Frente Parlamentar da Mineraccedilatildeo Brasileira criada em 2011 As

relaccedilotildees entre o parlamento e os segmentos econocircmicos junto agrave questatildeo

do carvatildeo mineral satildeo analisadas no capiacutetulo cinco dessa tese

(OLIVEIRA 2013)

Jaacute o Ministeacuterio Puacuteblico tem autonomia na estrutura do Estado em

relaccedilatildeo ao executivo legislativo e judiciaacuterio Cabe ao Ministeacuterio Puacuteblico

a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico dos interesses

sociais e dos interesses individuais indisponiacuteveis O Ministeacuterio Puacuteblico

da Uniatildeo divide-se em Ministeacuterio Puacuteblico Federal e os Ministeacuterios

Puacuteblicos de cada Estado da Federaccedilatildeo (BRASIL 1993 MPSC 2013)

Os segmentos poliacuteticos aqui apresentados atuam com limitaccedilotildees

mas tambeacutem oferecem brechas A sociedade deveria aproveitaacute-las para

debater os rumos da poliacutetica energeacutetica e as opccedilotildees de desenvolvimento

Contudo o contexto de energia privada e de consequente concentraccedilatildeo

de poder econocircmico se mostra prejudicial agraves questotildees ecoloacutegicas e

democraacuteticas (BERMANN 2001)

352 Segmentos econocircmicos

Os segmentos econocircmicos estatildeo organizados em associaccedilotildees

empresariais e mistas O Instituto Brasileiro de Mineraccedilatildeo (IBRAM) foi

criado em 1976 eacute uma associaccedilatildeo privada sem fins lucrativos que tem

por objetivo congregar representar promover e divulgar a induacutestria

mineral brasileira contribuindo para a sua competitividade nacional e

internacional A mineraccedilatildeo tambeacutem conta com o Consoacutercio Alumar

inaugurado em 1984 eacute um dos maiores complexos de produccedilatildeo de

alumiacutenio do mundo localiza-se no Maranhatildeo e eacute formado pelas

empresas Alcoa BHP Biliton e Rio Tinto Alcan

Os segmentos econocircmicos ligados ao carvatildeo mineral organizam-

se junto ao Sindicato Nacional da Induacutestria de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

(SNIEC) e a Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo Mineral (ABCM) O

SNIEC foi criado em 1989 em Santa Catarina reuacutene as empresas de

mineraccedilatildeo A ABCM foi constituiacuteda em 2006 e reuacutene agentes da cadeia

produtiva do carvatildeo mineradoras geradoras e transportadores O

principal objetivo da Associaccedilatildeo eacute integrar a cadeia produtiva visando o

desenvolvimento sustentaacutevel Conta com 20 empresas associadas

101

Como o tema de tese relaciona-se com a geraccedilatildeo de energia

eleacutetrica conveacutem ressaltar o papel da Cacircmara de Comercializaccedilatildeo de

Energia Eleacutetrica (CCEE) A CCEE foi criada em 2004 ela viabiliza a

compra e venda de energia em todo o paiacutes Ela reuacutene empresas de

geraccedilatildeo de serviccedilo puacuteblico produtores independentes autoprodutores

distribuidoras comercializadoras importadoras e exportadoras de

energia aleacutem de consumidores livres e especiais de todo o paiacutes

Existem empresas e cooperativas bastante influentes a niacutevel

nacional

- A Tractebel do grupo franco-belga GDF-Suez eacute a segunda

maior geradora de energia eleacutetrica privada do Brasil e maior produtora

independente de energia do mundo

- A CITIC Group estatal Chinesa eacute parceira da Eletrobraacutes no

acordo promulgado pelo Decreto nordm 6009 de 3 de janeiro de 2007

(BRASIL 2007)

- A Alunorte Alumina do Norte do Brasil SA criada em 1973

num acordo entre Brasil e Japatildeo pertencia a Vale e localiza-se no estado

do Paraacute A Vale foi privatizada em 1997 e em 2011 negociou as accedilotildees

da Alunorte com a Norsk Hydro ASA

- A ENEVA antiga MPX tendo como principais acionistas a

empresa alematilde EON com 362 e o empresaacuterio brasileiro Eike Batista

com 285 Eacute a maior geradora de energia eleacutetrica privada do Brasil

- A Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica

(CGTEE) constituiacuteda em 1997 pela Uniatildeo tornou-se uma empresa do

Sistema Eletrobraacutes em 2000 Em 2009 assinou um contrato com as

empresas Alstom Power Systems SA ndash France e com a Alstom Brasil

Energia e Transporte Ltda para recuperaccedilatildeo de caldeiras

- A estatal Companhia Paranaense de Energia (COPEL) foi criada

em 1954 abrindo seu capital em abril de 1994

- A Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) eacute uma empresa

puacuteblica criada em 2004 e tem por finalidade prestar serviccedilos na aacuterea de

estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energeacutetico

Destaca-se nas empresas citadas um nuacutemero consideraacutevel de

empresas estrangeiras Conveacutem ressaltar aqui que as mineradoras

102

beneficiadoras e transportadoras natildeo constam nesse item por terem

influecircncia principalmente nos estados e regiotildees produtoras

353 Segmentos sociais

Os trabalhadores do setor mineral encontram-se organizados na

Associaccedilatildeo Nacional de Servidores do Departamento Nacional de

Produccedilatildeo Mineral (ANSDNPM) nos Sindicatos Metabase dentre

outros Jaacute os trabalhadores ligados ao carvatildeo mineral natildeo contam com

uma associaccedilatildeo especiacutefica em niacutevel nacional mas estatildeo organizados em

sindicatos estaduais A posiccedilatildeo dos trabalhadores em relaccedilatildeo ao carvatildeo

mineral eacute de apoio atuando em parceria com os segmentos econocircmicos

O que estaacute em jogo para os trabalhadores eacute a manutenccedilatildeo dos postos de

trabalho e seu sustento (MILANEZ et al 2013)

Os afetadosatingidosameaccedilados enfrentam dificuldades de

vaacuterias ordens no acesso agrave informaccedilatildeo falta de conhecimento teacutecnico-

cientiacutefico espaccedilo de debate restrito etc Na maioria das vezes as

decisotildees sobre empreendimentos de geraccedilatildeo de energia satildeo alimentadas

pela siacutendrome do ldquoapagatildeordquo e os direitos das populaccedilotildees atingidas

parecem ferir o ldquodireitordquo da maioria que precisa de energia

(BERMANN 2001) Mas apesar de todas as dificuldades os

afetadosatingidosameaccedilados pelo setor da mineraccedilatildeo se organizam em

frentes de defesa apoiadas por vaacuterias entidades sediadas em vaacuterias

escalas do local ao global Somam-se aiacute entidades religiosas sindicais

movimentos ambientais movimentos em defesa dos direitos humanos

movimentos indiacutegenas dentre outros Em 2012 surgiu o Movimento

Popular frente agrave Mineraccedilatildeo (MAM) e em 2013 surgiu o Comitecirc

Nacional em Defesa dos Territoacuterios Frente agrave Mineraccedilatildeo Faz parte do

Comitecirc a Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para a Assistecircncia Social e Educacional

(FASE) que atua desde 1961 pela democracia o Instituto de Estudos

Socioeconocircmicos (INESC) criado em 1979 e tem como principal frente

agrave questatildeo da cidadania a Conferecircncia Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB) o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) a

Articulaccedilatildeo dos Povos Indiacutegenas do Brasil (APIB) o Instituto Brasileiro de Anaacutelises Sociais e Econocircmicas (IBASE) entre outros (OLIVEIRA

2013) No caso especiacutefico do carvatildeo mineral natildeo haacute um movimento

popular ou comitecirc em acircmbito nacional embora tenha relaccedilatildeo com o

movimento e comitecirc acima referidos

103

As ONGs e representantes da comunidade acadecircmica tecircm um

papel de parceria com esses movimentos Vaacuterias publicaccedilotildees

demonstram a preocupaccedilatildeo com a questatildeo do carvatildeo mineral o

Greenpeace reprova o chamado ldquocarvatildeo limpordquo e os investimentos feitos

nesse setor (YAMAOKA et al 2013) Amigos da Terra Brasil publicou

Carvatildeo combustiacutevel de ontem com dados atualizados sobre os impactos

do carvatildeo mineral no Brasil (MONTEIRO 2008) A FASE apoiada

pela Fundaccedilatildeo Ford e pela Heinrich Boumlll Stiftung publicou em 2012 o

livro Novo marco legal da mineraccedilatildeo no Brasil Para quecirc Para

Quem (MARLERBA 2012) O IBASE com o apoio da Fundaccedilatildeo Ford

lanccedilou em 2013 Quem eacute quem nas discussotildees do novo coacutedigo da mineraccedilatildeo (OLIVEIRA 2013) Com um caraacuteter mais articulador

aparece o Foacuterum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) desde 1990 e a Rede

Brasileira de Justiccedila Ambiental a partir de 2001

Os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais natildeo tecircm um

posicionamento homogecircneo em relaccedilatildeo a criacutetica ou continuidade da

exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral diferente da posiccedilatildeo dos segmentos

econocircmicos todos contam com contradiccedilotildees internas e externas As

relaccedilotildees estabelecidas nos segmentos e os diferentes posicionamentos de

segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais seratildeo examinados ao longo

dos proacuteximos capiacutetulos

36 SITUACcedilAtildeO ATUAL E DESAFIOS

O objetivo do capiacutetulo foi o de tratar a gestatildeo de recursos

comuns colocando ecircnfase no carvatildeo mineral Pela importacircncia

geopoliacutetica e econocircmica os recursos natildeo renovaacuteveis satildeo de competecircncia

do Ministeacuterio das Minas e Energia mesmo apoacutes a criaccedilatildeo do Ministeacuterio

do Meio Ambiente Dessa forma se a gestatildeo dos recursos naturais no

Brasil se pautou durante um longo periacuteodo pela preservaccedilatildeo e pela

conservaccedilatildeo os recursos naturais natildeo renovaacuteveis natildeo participaram desse

movimento A apropriaccedilatildeo e uso dos recursos naturais natildeo renovaacuteveis

passaram ao largo da regulaccedilatildeo dos recursos comuns

O segmento do carvatildeo mineral aleacutem da preocupaccedilatildeo com os

impactos socioambientais sofreu na deacutecada de 1990 com o corte dos

subsiacutedios e reorientou sua produccedilatildeo para a geraccedilatildeo de energia

termeleacutetrica Tambeacutem na geraccedilatildeo de energia eleacutetrica os novos

104

empreendimentos movidos a carvatildeo mineral passaram por um periacuteodo

sem entrar nos leilotildees de energia sendo incluiacutedos novamente em 2013

A inclusatildeo do carvatildeo mineral nos leilotildees e a reforma do Coacutedigo

de Mineraccedilatildeo demonstram a forte articulaccedilatildeo entre parte dos segmentos

poliacuteticos e econocircmicos Os segmentos sociais tecircm aiacute um grande desafio

Uma possibilidade jaacute explorada pelo movimento ambiental eacute a

interface entre direitos ambientais e direitos humanos Eacute preciso cada

vez mais politizar o tema da mineraccedilatildeo do carvatildeo mineral e da energia

Mineraccedilatildeo por quecirc Como Para quem Energia por quecirc Como Para

quem Natildeo existem respostas uacutenicas mas se parte dos segmentos

poliacuteticos e econocircmicos fazem valer seus interesses como ficam os

interesses dos segmentos sociais

Com a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente atraveacutes da avaliaccedilatildeo

de impacto ambiental e a Constituiccedilatildeo de 1988 surgiram novos espaccedilos

de participaccedilatildeo vistos como uma grande conquista pelo movimento

ambiental Um ponto chave para a questatildeo ambiental eacute o avanccedilo das

praacuteticas democraacuteticas E o campo de lutas por direitos envolve todas as

escalas

No Quadro 5 a seguir foi feita uma siacutentese dos principais

aspectos tratados ao longo do capiacutetulo que favorecem e questionam a

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral

Quadro 5 - Siacutentese dos pontos que favorecem e questionam a

amplicaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo

mineral por macro variaacutevel

MACRO

VARIAacuteVEIS

ASPECTOS QUE

FAVORECEM A

AMPLIACcedilAtildeO

ASPECTOS QUE

QUESTIONAM A

AMPLIACcedilAtildeO

Dinacircmicas de

desenvolvimento

- Papel central do Estado

em assegurar os interesses

privados na gestatildeo de

recursos comuns e na

poliacutetica energeacutetica

- Fragmentaccedilatildeo da gestatildeo

de recursos comuns os

recursos renovaacuteveis satildeo da

competecircncia do MMA e os

recursos natildeo renovaacuteveis satildeo

da competecircncia do MME

- Discussatildeo mundial sobre

mudanccedila ambiental global

- Brasil como fornecedor

de commodities minerais

energeacuteticas e agriacutecolas e

- Atuaccedilatildeo do movimento

ambiental

105

- Privatizaccedilatildeo do setor

eleacutetrico

- subsiacutedios aos combustiacuteveis

foacutesseis

- Matriz energeacutetica

brasileira considerada limpa

em relaccedilatildeo a outros paiacuteses

justifica a ampliaccedilatildeo do uso

de combustiacuteveis foacutesseis e

- Visatildeo do planejamento

energeacutetico eacute aumentar a

oferta de energia eleacutetrica

Atributos fiacutesicos

e tecnoloacutegicos

- Disponibilidade do

recurso

- Evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

- Neutralidade ldquodardquo e

confianccedila ldquonardquo tecnologia

- Ecircnfase na produccedilatildeo e natildeo

na eficiecircncia energeacutetica

- O Brasil natildeo tem uma

cultura do carvatildeo mineral a

atividade estaacute restrita ao sul

do paiacutes

- Mineraccedilatildeo impede outros

usos do solo

- Evoluccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo

garante minimizaccedilatildeo dos

impactos socioambientais

- Escolhas teacutecnicas satildeo

escolhas poliacuteticas natildeo satildeo

neutras

- Necessidade de aumento

da eficiecircncia energeacutetica

Regras em uso - Desregulamentaccedilatildeo e

flexibilizaccedilatildeo das leis

(Coacutedigo de Mineraccedilatildeo)

- A CFEM faz com que o

governo em todos os seus

niacuteveis administrativos

ganhe com a exploraccedilatildeo

mineral

- Participaccedilatildeo tutelada

- Avanccedilo nas leis

(Exigecircncia da AIA nos

licenciamentos)

- Ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo via audiecircncia

puacuteblica accedilatildeo civil puacuteblica

etc

- Relaccedilatildeo entre direitos

ambientais e direitos

humanos

Arena de accedilatildeo

(Caracterizaccedilatildeo

dos envolvidos

na gestatildeo)

- Parte dos segmentos

poliacuteticos tecircm parcerias com

os segmentos econocircmicos

atraveacutes de doaccedilotildees de

campanha e atraveacutes da

atuaccedilatildeo de parlamentares na

Frente Parlamentar Mista

em Defesa do Carvatildeo

Mineral

- Parte dos segmentos

poliacuteticos possuem

instacircncias participativas e

destaca-se tambeacutem a

atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico

- Os segmentos sociais

exceto o movimento

sindical estatildeo organizados

106

- Os segmentos econocircmicos

estatildeo organizados de vaacuterias

formas (sindicato

associaccedilatildeo instituto

cacircmara consoacutercio) e as

empresas exceto a COPEL

e a EPE satildeo

majoritariamente de capital

estrangeiro

- Nos segmentos sociais

destaca-se o apoio dos

sindicatos agrave causa do carvatildeo

mineral

e atuantes no

questionamento da

ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica movida a

carvatildeo mineral

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na macro variaacutevel arena de accedilatildeo a variaacutevel da democracia

apresenta limites relacionadas aos problemas da democracia

representativa e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo aos espaccedilos existentes Nas

oportunidades destacam-se a organizaccedilatildeo dos segmentos sociais (no

MAM e no Comitecirc Nacional em Defesa dos Territoacuterios Frente agrave

Mineraccedilatildeo) nas redes que unem ONGs academia e

afetadosatingidosameaccedilados e as publicaccedilotildees (Quadro 6)

Quadro 6 ndash Limites e oportunidades do sistema democraacutetico no

Brasil VARIAacuteVEL LIMITES OPORTUNIDADES

Fortalecimento do

sistema

democraacutetico

- Democracia

representativa

- Reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo aos

espaccedilos existentes

- Organizaccedilatildeo dos Segmentos

sociais

- Redes unindo ONGs

academia e

afetadosatingidos

ameaccedilados

- Publicaccedilotildees

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Se a aprendizagem social adaptativa eacute chave nesse processo para

que ela ocorra defende-se a hipoacutetese de que o fortalecimento do sistema

democraacutetico se faz necessaacuterio A compreensatildeo da ampliaccedilatildeo da energia

107

termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral aleacutem das evidecircncias descritas

nesse capiacutetulo depende tambeacutem da investigaccedilatildeo dos processos do

ponto de vista do exerciacutecio da democracia em todas as escalas espaciais

e entre os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais A questatildeo passa

pelo modo como os recursos satildeo explorados mas coloca tambeacutem em

questatildeo os objetivos e a direccedilatildeo do desenvolvimento (MELUCCI

2001)

4 CARVAtildeO MINERAL EM SANTA CATARINA

Eacute o duplo resultado da extraccedilatildeo do carvatildeo bens e

riquezas de um lado pirita e restos de homens de

outro (VOLPATO 1984 p 16)

A gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina foi marcada pela

apropriaccedilatildeo privada dos recursos e seu uso serviu principalmente ao

crescimento econocircmico As poliacuteticas ambientais por sua vez foram

condicionadas e limitadas pelos interesses poliacuteticos e econocircmicos e o

oacutergatildeo responsaacutevel a FATMA adotou uma postura de defesa das causas

ambientais sem desestruturar o crescimento econocircmico Nesse contexto

o discurso do carvatildeo foi habilmente sustentado do ponto de vista

material cultural psicoloacutegico e simboacutelico (CAROLA 2004)

O segmento do carvatildeo mineral alternou desde as primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX periacuteodos de crescimento e periacuteodos de crise Os

periacuteodos de crescimento amparados por incentivos do governo federal

e os momentos de crise associados a momentos de crise na esfera

governamental Isso levou os segmentos econocircmicos da regiatildeo sul

catarinense a se articularem cada vez mais com os segmentos poliacuteticos

visando a proteccedilatildeo do segmento e a continuidade da mineraccedilatildeo do

carvatildeo no Sul de Santa Catarina Uma das estrateacutegias mais recentes eacute a

construccedilatildeo da USITESC

Cerca de 95 do carvatildeo mineral extraiacutedo na regiatildeo tem como

destino a geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica Se observados os dados sobre

geraccedilatildeo e consumo de energia eleacutetrica em Santa Catarina o estado natildeo eacute

autossuficiente Em 2012 o estado produziu 16963 Gigawatt-hora

(GWh) consumiu 21601 GWh O consumo industrial ficou em 9312

GWh 431 do total consumido no estado e o consumo residencial foi

de 4699 GWh 218 do total consumido (ANEEL 2014 EPE 2013)

O carvatildeo mineral foi responsaacutevel pelo equivalente a 35 da eletricidade

gerada em Santa Catarina (ALESC 2013)

Existem fortes argumentos para que a geraccedilatildeo de energia

termeleacutetrica se amplie contudo o histoacuterico de impactos socioambientais

poderia ser impeditivo Buscando aprofundar a reflexatildeo sobre os

argumento proacute e contra a ampliaccedilatildeo o objetivo deste capiacutetulo eacute tratar da

gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina com destaque agrave gestatildeo do

carvatildeo mineral considerando as macro variaacuteveis presentes no modelo de

110

anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns (HESS OSTROM 2005

OAKERSON 1992 POLSKI OSTROM 1992)

Inicialmente eacute apresentada uma breve siacutentese de como foi se

organizando a gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina tendo

como eixo central o oacutergatildeo responsaacutevel pelas questotildees ambientais no

estado a FATMA Na sequecircncia as seccedilotildees contextualizam o carvatildeo

mineral na trajetoacuteria de desenvolvimento do Sul de Santa Catarina e

tratam das mudanccedilas ocorridas na extraccedilatildeo do carvatildeo mineral bem

como de seus impactos na regiatildeo Satildeo ainda discutidas as regras em uso

incorporando as alteraccedilotildees recentes do Coacutedigo Estadual do Meio

Ambiente de Santa Catarina e eacute feita uma breve caracterizaccedilatildeo da arena

de accedilatildeo com uma descriccedilatildeo dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais envolvidos na gestatildeo do recurso A forma como a gestatildeo de

recursos comuns se organiza em Santa Catarina revela aspectos

importantes para a compreensatildeo da ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica

bem como aspectos que ldquocoloquem em chequerdquo a continuidade da

atividade carboniacutefera

41 ldquoCombinandordquo crescimento econocircmico e proteccedilatildeo ambiental

Santa Catarina fez parte da histoacuteria do Brasil num primeiro

momento como territoacuterio de passagem para o gado gauacutecho e gerava

produtos primaacuterios para satisfazer as necessidades locais Na segunda

metade do seacuteculo XIX foram implantadas as primeiras induacutestrias do

estado A industrializaccedilatildeo catarinense teve em seu iniacutecio uma estreita

ligaccedilatildeo com os movimentos migratoacuterios da Alemanha e Itaacutelia jaacute que os

imigrantes tinham formaccedilatildeo intelectual e profissional e viveram a

modernizaccedilatildeo provocada pela Revoluccedilatildeo Industrial Destacaram-se

nesse periacuteodo a induacutestria tecircxtil alimentar e madeireira e o uso

energeacutetico do carvatildeo vegetal (THEIS 1988)

No final do seacuteculo XIX o estado ainda tinha uma economia

predominantemente agriacutecola e foram os produtos primaacuterios que

possibilitaram a geraccedilatildeo de capital para o investimento na induacutestria Na

histoacuteria de Santa Catarina dois marcos se destacaram na disputa pela

hegemonia na apropriaccedilatildeo dos recursos comuns o Genociacutedio Indiacutegena e

a Guerra do Contestado A desobstruccedilatildeo das aacutereas contestadas e

daquelas ocupadas pelos Carijoacute Xokleng e Kaingang foram

fundamentais para ampliar a apropriaccedilatildeo privada dos recursos naturais

111

(BORINELLI 1998) Aleacutem disso para sustentar o processo de

industrializaccedilatildeo em Santa Catarina no iniacutecio do seacuteculo XX ocorreu a

instalaccedilatildeo de pequenas usinas hidraacuteulicas e o aumento no uso do carvatildeo

mineral Na Primeira Guerra Mundial o carvatildeo mineral passou a ter

destaque possibilitando o surgimento da induacutestria carboniacutefera (THEIS

1988)

Ateacute a deacutecada de 1960 a regulaccedilatildeo dos recursos comuns foi

marcada pelo poder federal Todavia no campo econocircmico o estado

catarinense assumiu para si diversas funccedilotildees na promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico Data dessa eacutepoca a criaccedilatildeo do Banco

Estadual de Santa Catarina a Caixa Estadual de Santa Catarina do

Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina da

Universidade para o Desenvolvimento de Santa Catarina e a instalaccedilatildeo

de 46 escritoacuterios locais da Associaccedilatildeo de Creacutedito e Assistecircncia Rural de

Santa Catarina (ACARESC) e a Companhia Telefocircnica de Santa

Catarina (BORINELLI 1998) O sistema poliacutetico por sua vez teve um

predomiacutenio conservador relacionado principalmente com a dominaccedilatildeo

oligaacuterquica As lideranccedilas empresariais encontravam-se acomodadas nos

grandes partidos (CARREIRAtildeO 1990)

O crescimento econocircmico somado a uma regulaccedilatildeo dos recursos

naturais que privilegiava o acesso privado deu forma agrave crise ambiental

que teve lugar em Santa Catarina apoacutes a deacutecada de 1970 O consumo de

energia eleacutetrica com o processo de industrializaccedilatildeo catarinense

aumentou sensivelmente O consumo final de energia do setor industrial

ficou numa meacutedia de 60 O modelo de desenvolvimento

industrializante de Santa Catarina implicou natildeo apenas num elevado

consumo de energia mas tambeacutem numa exploraccedilatildeo inadequada da

natureza (THEIS 1988)

No Governo Konder Reis em 1975 foi criada a Secretaria de

Tecnologia e Meio Ambiente (SETMA) o Conselho Estadual de

Tecnologia e Meio ambiente (CETMA) e a FATMA na eacutepoca

Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Tecnologia e Meio Ambiente A FATMA esteve

vinculada a SETMA ateacute sua extinccedilatildeo em 1977 Para o Governo Konder

Reis a finalidade baacutesica da SETMA era ldquoservir numa primeira fase ao

desenvolvimento do Estadordquo Dentre as principais preocupaccedilotildees

ambientais estavam os serviccedilos de aacutegua e esgoto e contraditoriamente o

aumento da produccedilatildeo mineral e da oferta de madeira (BORINELLI

1998)

112

Todas as unidades de conservaccedilatildeo estaduais foram criadas no

periacuteodo de 1975 a 1983 sob a influecircncia direta de Raulino Reitz Parque

Estadual da Serra Tabuleiro (1975) Reserva Bioloacutegica Estadual de

Sassafraacutes (1977) Parque Estadual da Serra Furada e Reserva Bioloacutegica

da Canela Preta (1980) e Reserva Bioloacutegica Estadual de Aguaiacute (1983)

(BORINELLI 1998 MASSIGNAN 1995)

O primeiro secretaacuterio da SETMA foi Augusto Batista Pereira

empresaacuterio do setor carboniacutefero A preocupaccedilatildeo principal da SETMA no

primeiro ano foi de implantar uma Usina Sideruacutergica no Sul do Estado

Nessa eacutepoca foi construiacuteda a Usina Teacutermica Jorge Lacerda a Induacutestria

Carboquiacutemica Catarinense (ICC) e a proposta da Sideruacutergica

Catarinense Havia tambeacutem uma preocupaccedilatildeo com a poluiccedilatildeo industrial

com a balneabilidade e com os recursos hiacutedricos no geral (BORINELLI

1998 MASSIGNAN 1995)

Da segunda parte da deacutecada de 1970 ateacute meados da deacutecada de

1980 a agenda ambiental foi se ampliando passando a exigir da

FATMA respostas mais consistentes (BORINELLI 1998) O intervalo

de tempo compreendido entre 1979 a 1982 marcou o fim do periacuteodo de

maior crescimento econocircmico de Santa Catarina Durante o periacuteodo

conservador do Governo Estadual e no novo contexto democraacutetico a

poliacutetica ambiental sofreu um grande desgaste com a crise econocircmica e

fiscal

As forccedilas conservadoras continuaram atuantes com a eleiccedilatildeo de

Esperidiatildeo Amin para governador (1983-1987) e os problemas

ambientais continuaram divorciados de outras poliacuteticas setoriais

(econocircmicas de ciecircncia e tecnologia minerais) O licenciamento

ambiental entrou como atividade inovadora e a FATMA na condiccedilatildeo

de fundaccedilatildeo passava a imagem de independecircncia em relaccedilatildeo ao estado

o que na praacutetica natildeo acontecia e tornava difusa a responsabilidade sobre

a poliacutetica ambiental (BORINELLI 1998) Entre os anos de 1983 e 1987

o oacutergatildeo diretamente envolvido com o Planejamento Ambiental no

Estado de Santa Catarina era o Gabinete de Planejamento (GAPLAN)

(SDS 2014)

Mesmo sendo baseada na pequena propriedade rural Santa Catarina sofreu com o enfraquecimento da pequena produccedilatildeo rural

aumentando o ecircxodo rural e consequentemente os problemas urbanos

Em termos socioambientais intensificaram-se os processos de

degradaccedilatildeo ecossistecircmica mau uso do solo falta de saneamento

impacto do turismo nas zonas costeiras etc (VIEIRA CUNHA 2002)

113

A incapacidade de resolver a contento estas tensotildees inaugurava o

reconhecimento de uma crise ambiental em Santa Catarina e uma crise

institucional da FATMA Nos municiacutepios foram criados os Conselhos

Municipais de Defesa Ambiental (CONDEMA) oacutergatildeos consultivos de

assessoramento das Prefeituras Os membros do CONDEMA eram

escolhidos pelos Prefeitos Em 1983 foram criados trecircs escritoacuterios

regionais da FATMA em Joinville Chapecoacute e Joaccedilaba totalizando

quatro com o escritoacuterio de Criciuacutema criado em 1979 Apesar disso as

poliacuteticas ambientais continuaram condicionadas e limitadas pelos

interesses poliacuteticos e econocircmicos (BORINELLI 1998)

Na linha da natildeo responsabilizaccedilatildeo durante muito tempo os

empresaacuterios do segmento do carvatildeo mineral atuaram livremente na

regiatildeo Sul de Santa Catarina gerando o maior passivo ambiental do

estado Em 1983 a FATMA foi incumbida de licenciar e fiscalizar essa

atividade fazendo um acordo com as empresas que assumiram o

compromisso de instalar equipamentos e modificar processos visando a

diminuiccedilatildeo dos impactos Mesmo assim treze anos depois em 1996 o

diretor da FATMA veio a puacuteblico declarar que natildeo era possiacutevel

identificar os responsaacuteveis pelos impactos na regiatildeo e que a sociedade

pagaria o custo da recuperaccedilatildeo cerca de 70 milhotildees de doacutelares

(BORINELLI 1998)

Nos anos 1990 proliferaram denuncias de corrupccedilatildeo envolvendo

oacutergatildeos ambientais federais e estaduais em processos de licenciamento

apontando para a crise do Estado a fragilidade da democracia e dos

mecanismos de controle puacuteblico das instituiccedilotildees O aumento da procura

por licenciamento ambiental trouxe agrave FATMA uma posiccedilatildeo mais

influente entre os segmentos econocircmicos e poliacuteticos e aumentou

tambeacutem sua autonomia financeira atraveacutes dos licenciamentos

ambientais Apesar disso sua trajetoacuteria estaacute marcada por uma atuaccedilatildeo na

defesa das causas ambientais sem desestruturar o desenvolvimento

econocircmico (BORINELLI 2013 2007)

114

42 O sul catarinense uma trajetoacuteria marcada pelo carvatildeo mineral

A regiatildeo Sul Catarinense eacute formada por 46 municiacutepios agrupados

em trecircs microrregiotildees Araranguaacute8 Criciuacutema

9 e Tubaratildeo

10 Tem como

limites o Oceano Atlacircntico a Leste a mesorregiatildeo da Grande

Florianoacutepolis e Serrana no estado de Santa Catarina e a Mesorregiatildeo

Metropolitana de Porto Alegre e Nordeste Rio-Grandense no estado do

Rio Grande do Sul

Figura 7 ndash Mapa de localizaccedilatildeo da Bacia Carboniacutefera Santa

Catarina

Fonte Concepccedilatildeo de Luciana Butzke Elaborado por Ruy Lucas de

Souza

8 Municiacutepios Araranguaacute Balneaacuterio Arroio do Silva Balneaacuterio Gaivota Ermo

Jacinto Machado Maracajaacute Meleiro Morro Grande Passo de Torres Praia

Grande Santa Rosa do Sul Satildeo Joatildeo do Sul Sombrio Timbeacute do Sul e Turvo 9 Municiacutepios Balneaacuterio Rincatildeo Cocal do Sul Criciuacutema Forquilhinha Iccedilara

Lauro Muller Morro da Fumaccedila Nova Veneza Sideroacutepolis Treviso e

Urussanga 10

Municiacutepios Armazeacutem Braccedilo do Norte Capivari de Baixo Garopaba Gratildeo

Paraacute Gravatal Imaruiacute Imbituba Jaguaruna Lagura Orleans Pedras Grandes

Pescaria Brava Rio Fortuna Sangatildeo Santa Rosa de Lima Satildeo Ludgero Satildeo

Martinho Treze de Maio e Tubaratildeo

115

Os municiacutepios da regiatildeo se dividem em trecircs associaccedilotildees de

municiacutepios a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Extremo Sul Catarinense

(AMESC)11

a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera

(AMREC)12

e a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo de Laguna

(AMUREL)13

(FECAM 2014) (Figura 7) A regiatildeo possui tambeacutem

quatro Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDR) SDR de

Laguna SDR de Tubaratildeo SDR de Criciuacutema e SDR de Araranguaacute

(SANTA CATARINA 2014a)

Na aacuterea existem quatro feiccedilotildees geoloacutegicas as rochas

cristalinas e metamoacuterficas mais antigas do ldquoembasamento cristalinordquo a

sucessatildeo de rochas sedimentares gondwacircnicas que contecircm as camadas

de carvatildeo os derrames baacutesicos aacutecidos e intermediaacuterios da Formaccedilatildeo

Serra Geral e os sedimentos litoracircneos recentes (SCHEIBE 2000)

Na regiatildeo sul localizam-se duas regiotildees hidrograacuteficas

pertencentes agrave Vertente Atlacircntica a Regiatildeo Hidrograacutefica Sul

Catarinense que tem como bacias hidrograacuteficas a Bacia Hidrograacutefica do

Rio Tubaratildeo e a Bacia Hidrograacutefica do Rio drsquoUna contando com 5733

km2 e a Regiatildeo Hidrograacutefica do Extremo Sul Catarinense tendo como

bacias hidrograacuteficas a Bacia do Rio Urussanga a Bacia Hidrograacutefica do

Rio Araranguaacute e a Bacia Hidrograacutefica do Rio Mambituba contando com

5052 km2 (SANTA CATARINA 2006)

O relevo predominante eacute o forte ondulado e montanhoso com

ocorrecircncia de plano e suave ondulado na planiacutecie costeira Jaacute os solos

predominantes na Regiatildeo Hidrograacutefica Sul Catarinense satildeo os

mediamente profundos de origem graniacutetica pouco feacuterteis e aacutecidos

apresentando pedregosidade Na Regiatildeo Hidrograacutefica Extremo Sul

Catarinense predominam os solos mediamente profundos cascalhentos

11

Municiacutepios filiados Araranguaacute Balneaacuterio Arroio do Silva Balneaacuterio

Gaivota Ermo Jacinto Machado Maracajaacute Meleiro Morro Grande Passo de

Torres Praia Grande Santa Rosa do Sul Satildeo Joatildeo do Sul Sombrio Timbeacute do

Sul e Turvo 12

Municiacutepios filiados Balneaacuterio Rincatildeo Cocal do Sul Criciuacutema Forquilhinha

Iccedilara Lauro Muller Morro da Fumaccedila Nova Veneza Orleans Sideroacutepolis

Treviso e Urussanga 13

Municiacutepios filiados Armazeacutem Braccedilo do Norte Capivari de Baixo Gratildeo

Paraacute Gravatal Imaruiacute Imbituba Jaguaruna Laguna Pedras Grandes Pescaria

Brava Rio Fortuna Sangatildeo Santa Rosa de Lima Satildeo Ludgero Satildeo Martinho

Treze de Maio e Tubaratildeo

116

com baixa fertilidade de origem graniacutetica e sedimentar (SANTA

CATARINA 2006)

Na regiatildeo predomina a Floresta Tropical Atlacircntica e a Vegetaccedilatildeo

Litoracircnea contando com trecircs Unidades de Conservaccedilatildeo estaduais o

Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (criado em 1975) o Parque

Estadual da Serra Furada (1980) e a Reserva Bioloacutegica Estadual do

Aguaiacute (1983) e duas Unidades de Conservaccedilatildeo Federais o Parque

Nacional de Satildeo Joaquim (1961) e a Aacuterea de Proteccedilatildeo Integral da Baleia

Franca (2000) (SANTA CATARINA 2006)

Em 2010 a regiatildeo contava com uma populaccedilatildeo de 906927

habitantes e uma densidade populacional de 944 habkm2 Em 2009 a

movimentaccedilatildeo econocircmica segundo a composiccedilatildeo do PIB foi de R$ 147

bilhotildees que equivale a 113 do PIB estadual ocupando a quinta

posiccedilatildeo no ranking estadual entre as nove macrorregiotildees (SEBRAE

2013a)

A ocupaccedilatildeo do sul do Brasil contou com a presenccedila de grupos

caccediladores-coletores (aproximadamente 8000 anos) pescadores-

coletores (6000 e 4000 anos) ceramistas TaquaraItarareacute e Guarani e

horticultores (1000 anos) (CAMPOS et al 2013) Em 1877 chegaram

os italianos seguidos de poloneses e alematildees Os primeiros nuacutecleos

coloniais foram Azambuja (1877) Urussanga (1878) Satildeo Joseacute de

Cresciuacutema (1880) Cocal (1885) Nova Veneza (1890) Nova Belluno

(1891) dentre outros As lavras de carvatildeo surgiram em Santa Catarina

no final do seacuteculo XIX por iniciativa de uma empresa britacircnica Ateacute

entatildeo a economia da regiatildeo era agriacutecola A transformaccedilatildeo urbano-

industrial foi estimulada pelo carvatildeo que vinculava-se a ideia de

progresso Eacute marcante a presenccedila do carvatildeo nos hinos das cidades

monumentos festas de Santa Baacuterbara (Protetora dos Mineiros) houve

uma fusatildeo entre a memoacuteria da imigraccedilatildeo e a memoacuteria do carvatildeo

(CAROLA 2004 GOULARTI FILHO LIVRAMENTO 2004a)

A Primeira Guerra Mundial marcou o aumento da produccedilatildeo do

carvatildeo mineral destacando-se a Companhia Carboniacutefera de Araranguaacute

(CBCA) (1917) a Companhia Carboniacutefera Urussanga (1918) e a

Companhia Carboniacutefera Proacutespera (1921) Em 1920 Santa Catarina jaacute contava com alguns elementos importantes para um complexo

carboniacutefero minas ferrovia e porto Em 1924 com a Lei nordm 4801

abordou-se pela primeira vez a possibilidade de construccedilatildeo de uma usina

sideruacutergica no estado Isso se concretizou em 1941 no Governo Getuacutelio

117

Vargas com a fundaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica Nacional (CSN)

(KOPPE COSTA 2008 MORAES 2003)

Nos periacuteodos referentes ao Plano de Metas (1956-1960) e Plano

Nacional do Desenvolvimento (1974 a 1978) o clima estava propiacutecio

para o aumento da produccedilatildeo do carvatildeo mineral No Plano de Metas

surgiu a Sociedade Termoeleacutetrica de Capivari SA (SOLTECA)

passando depois a se chamar Complexo Termoeleacutetrico Jorge Lacerda

constituiacuteda em 1957 entrou em operaccedilatildeo em 1965 No periacuteodo do Plano

Nacional do Desenvolvimento foi construiacuteda a ICC e o Complexo Jorge

Lacerda foi ampliado (KOPPE COSTA 2008 MORAES 2003)

O primeiro boom do setor foi na ocasiatildeo da Primeira Guerra

Mundial e depois durante a Segunda Guerra Mundial com a produccedilatildeo

aumentando em 300 Com o fim da Segunda Guerra o governo

acabou com as cotas e o setor entrou em crise A reaccedilatildeo do segmento do

carvatildeo mineral foi a ldquobatalha do carvatildeordquo14

e o governo reagiu criando a

CEPCAM e retornando agraves cotas Em 1973 com a crise do petroacuteleo o

setor passou novamente por um boom O auge da mineraccedilatildeo foi entre

1982 a 1985 No periacuteodo aacuteureo do carvatildeo poucas vozes denunciavam as

peacutessimas condiccedilotildees de trabalho tudo em nome do progresso pois o

carvatildeo mineral representava a consolidaccedilatildeo da induacutestria de base no

Brasil De 1970 em diante onze empresas pertencentes a empresaacuterios

locais passaram a explorar o carvatildeo mineral (CAROLA 2004

GOULARTI FILHO 2002)

Ateacute 1990 o Sul de Santa Catarina tinha a primazia em termos de

volume de produccedilatildeo nuacutemero e mecanizaccedilatildeo de minas trabalhadores

empregados e valores econocircmicos entrando em crise a partir daiacute com

sua desregulamentaccedilatildeo no Governo Collor O que precisa ser destacado

eacute que a crise da deacutecada de 1990 natildeo foi a ldquocrise do carvatildeordquo As

induacutestrias de ceracircmica vestuaacuterio e plaacutestico localizadas no Sul tambeacutem

sofreram com a recessatildeo de 1990 a 1992 (BEacuteRZIN 2005 GOULARTI

FILHO 2002 MORAES 2003)

A deacutecada de 1990 foi marcada pelo fechamento e desestatizaccedilatildeo

das induacutestrias do complexo carboniacutefero e eliminaccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais O lavador de Capivari foi fechado em 1992 a ICC

14

A ldquobatalha do carvatildeordquo compreende a adoccedilatildeo de estrateacutegias por parte dos

segmentos econocircmicos envolvidos com o carvatildeo mineral visando pressionar e

convencer o governo federal a apoiar a continuidade da atividade (CAROLA

2010)

118

passou para o controle da Petrobraacutes em 1993 A CSN foi privatizada em

1993 e a Companhia Proacutespera propriedade da CSN foi vendida para a

Nova Proacutespera A Ferrovia Teresa Cristina foi privatizada em 1996 e o

Complexo Jorge Lacerda em 1998 (BEacuteRZIN 2005 GOULARTI

FILHO 2002 MORAES 2003)

O setor carboniacutefero foi cedendo espaccedilo para a induacutestria de

revestimento ceracircmico de plaacutesticos e descartaacuteveis do vestuaacuterio de

calccedilados e metal-mecacircnica Em 1985 a atividade do carvatildeo era a que

mais empregava na regiatildeo sul com 10536 trabalhadores Em 2000

passou para a quinta posiccedilatildeo com 2752 trabalhadores empregados

(GOULARTI FILHO 2005) Em 2010 as atividades econocircmicas que

mais se destacaram foram Induacutestria de transformaccedilatildeo com 3395

estabelecimentos e 58652 trabalhadores seguida por serviccedilos com

16971 estabelecimentos e 47956 trabalhadores em terceiro Comeacutercio

com 7062 estabelecimentos e 34467 trabalhadores construccedilatildeo civil

com 828 estabelecimentos e 6641 trabalhadores induacutestria extrativa

mineral com 78 estabelecimentos e 4083 trabalhadores As atividades

que mais empregavam vestuaacuterio minerais natildeo metaacutelicos (ceracircmica)

alimentar e plaacutestico (FIESC 2012)

Em 2012 as mineradoras empregavam em Santa Catarina 4042

trabalhadores no Paranaacute 358 e no Rio Grande do Sul 734 trabalhadores

Jaacute o faturamento para o mesmo ano foi de R$ 49231200000 (Tabela 3)

(SATC 2012)

Tabela 3 - Faturamento do Segmento do Carvatildeo Mineral 2012

Estado Total (R$)

Paranaacute 2602336257

RG Sul 29354141523

S Catarina 49231200000

Total de R$ 81187677780

Fonte SATC (2012 p 11)

Jaacute a arrecadaccedilatildeo da CFEM para o ano de 2013 ficou em R$

358664403 contando os municiacutepios de Treviso (R$ 356903710)

Lauro Muller (R$ 1570791) e Urussanga (R$ 189902) para um total de R$ 18589306884 (DNPM 2014)

Aleacutem de ocupar o primeiro lugar em faturamento e na

arrecadaccedilatildeo da CFEM Santa Catarina tambeacutem ocupa o primeiro lugar

na produccedilatildeo de carvatildeo bruto considerando os trecircs estados do Sul do

Brasil conforme dados da Tabela 4

119

Tabela 4 - Produccedilatildeo de carvatildeo bruto (ROM) de 2009 a 2012

ESTADOS PRODUCcedilAtildeO ROM (t)

2009 2010 2011 2012

Santa Catarina 8208063 6278327 6570292 6097496

Rio Grande do Sul 4585050 5010779 5153199 5134217

Paranaacute 351930 293329 344161 315131

Brasil 13145043 11582435 12067652 11546844

SCBrasil () 6244 5421 5445 5281

Ranking de SC 1ordm 1ordm 1ordm 1ordm

Fonte Fiesc (2012 p 68) SATC (2012)

O segmento do carvatildeo mineral no Sul de Santa Catarina apesar

do destaque na produccedilatildeo do carvatildeo bruto teve ao longo dos uacuteltimos

anos sua participaccedilatildeo diminuiacuteda em nuacutemero de empregos Isso

demonstra uma maior diversificaccedilatildeo econocircmica e poderia representar a

possibilidade de reconversatildeo da atividade Contudo as accedilotildees do

segmento do carvatildeo mineral e dos segmentos poliacuteticos caminham para a

continuidade e ampliaccedilatildeo da atividade e natildeo para sua reconversatildeo

Um importante passo para o questionamento da atividade

carboniacutefera foi dado em 1993 O passivo ambiental resultante da

atividade carboniacutefera foi alvo de uma accedilatildeo civil puacuteblica (processo

938000533-4) Os reacuteus da accedilatildeo foram as empresas carboniacuteferas seus

diretores e soacutecios majoritaacuterios do Estado de Santa Catarina e da Uniatildeo

totalizando 24 reacuteus (MPF 2012)

A sentenccedila foi declarada em 05012000 tendo como resultado a

condenaccedilatildeo dos reacuteus A eles foi solicitado a elaboraccedilatildeo de ldquoum projeto

de recuperaccedilatildeo da regiatildeo que compotildee a Bacia Carboniacutefera do Sul do Estadordquo contemplando ldquoas aacutereas de depoacutesitos de rejeitos aacutereas

mineradas a ceacuteu aberto e minas abandonadas bem como o

desassoreamento fixaccedilatildeo de barrancas descontaminaccedilatildeo e retificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua aleacutem de outras obras que visem amenizar os danos

sofridos principalmente pela populaccedilatildeo dos municiacutepios-sede da extraccedilatildeo e do beneficiamentordquo (MPF 2012)

Apoacutes os acordos e imposiccedilotildees judiciais os passivos ambientais

foram distribuiacutedos de acordo com a responsabilidade das empresas

(Tabela 5)

120

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de passivos ambientais em relaccedilatildeo agraves

empresas

RESPONSAacuteVEL HECTARES

CSN 1336 26

Uniatildeo 1215 24

Rio Deserto 571 11

Catarinense 522 10

Criciuacutema 457 9

Cocalit 181 4

Outras empresas 807 16

Fonte MPF (2012)

As aacutereas terrestres a recuperar totalizam 5094 hectares em 217

diferentes aacutereas da Bacia Carboniacutefera O cronograma de recuperaccedilatildeo

compreende o periacuteodo de 2012 a 2020 e um total de 3726 hectares

(Tabela 6) (MPF 2012)

Tabela 6 - Cronograma de recuperaccedilatildeo dos passivos ambientais

Ano conclusatildeo Hectares a serem

recuperadas

Acumulado da

recuperaccedilatildeo

Obras jaacute concluiacutedas e assim

consideradas apoacutes vistorias

526 526

2012 1142 1667

2013 205 1872

2014 528 2400

2015 141 2542

2016 560 3102

2017 84 3186

2018 71 3257

2019 382 3639

2020 87 3726

3726

Fonte MPF (2012)

121

Os 1365 hectares restantes natildeo dispotildeem de cronogramas

definidos e representam aacutereas cuja recuperaccedilatildeo eacute de incumbecircncia da

Uniatildeo (89 deles) (MPF 2012)

A trajetoacuteria do Sul eacute marcada pelo carvatildeo mineral mas para aleacutem

da ldquocultura do carvatildeordquo nascem possibilidades ligadas agrave diversificaccedilatildeo

econocircmica que rompem com a dependecircncia econocircmica do carvatildeo

43 Da extraccedilatildeo manual agrave mecanizaccedilatildeo das minas

A mecanizaccedilatildeo das minas comeccedilou na deacutecada de 1970 e com

ela o fim do ldquovelho mineirordquo que dominava todo o processo de

produccedilatildeo Com a mecanizaccedilatildeo iniciou-se a divisatildeo teacutecnica do trabalho e

aumentou a poluiccedilatildeo Na extraccedilatildeo manual do carvatildeo a pneumoconiose

afetava 5 a 8 passando a 10 a 12 com a mecanizaccedilatildeo das minas

Somadas a pneumoconiose bronquites crocircnicas doenccedilas de pele e

ansiedade (CHOINACKI 1992) A tecnologia dessa forma foi ldquo()

implantada na induacutestria natildeo como serva dos trabalhadores mas como

instrumento que tecircm como fim a acumulaccedilatildeo de capitalrdquo (VOLPATO

1984 p 43)

Volpato (2001) destaca trecircs momentos distintos um primeiro

momento que compreende o periacuteodo de 1913 a 1976 no qual a extraccedilatildeo

de carvatildeo era artesanal sem agregar maiores recursos tecnoloacutegicos um

segundo periacuteodo de 1976 a 1981 no qual procurou-se agregar recursos

tecnoloacutegicos para aumentar a produccedilatildeo e um terceiro periacuteodo de 1981 a

1988 no qual verificaram-se os malefiacutecios da tecnologia para o meio

ambiente sauacutede e seguranccedila do trabalhador ldquoAos poucos os operadores

foram sentindo alguns efeitos prejudiciais das novas maacutequinas - A

desagregaccedilatildeo das praacuteticas nas frentes de trabalho pela agilidade e

domiacutenio da maacutequina sobre o processordquo (VOLPATO 2001 p 34)

A mecanizaccedilatildeo por um lado facilitou as praacuteticas de trabalho

poupando a forccedila fiacutesica do mineiro mas por outro com a intensificaccedilatildeo do processo aumentaram os impactos na sauacutede do trabalhador e no meio

ambiente A pneumoconiose natildeo era reconhecida como doenccedila

profissional o que fazia com que os mineiros escondessem os sintomas

e prejudicassem ainda mais sua sauacutede (VOLPATO 2001) Aleacutem das

doenccedilas pulmonares acontecem tambeacutem acidentes de trabalho Em

122

outubro de 2013 os mineiros fizeram uma paralisaccedilatildeo apoacutes a morte de

um colega na mina Fontanella em Treviso Foi o segundo acidente com

morte em menos de trecircs meses e o nono nos uacuteltimos cinco anos (G1SC

2013)

44 Regras em uso

Em grande medida as leis estaduais se articulam agraves leis federais

Nessa seccedilatildeo satildeo apresentados alguns casos em que a lei estadual difere

da lei federal Um primeiro exemplo eacute o Projeto de Lei nordm 026632005

de autoria do Deputado Estadual Julio Garcia que entrou em tramitaccedilatildeo

em 2005 O Projeto defendia a dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental e Relatoacuterio de Impacto Ambiental para a atividade de

pequeno porte de extraccedilatildeo de carvatildeo mineral em aacutereas de ateacute dois

hectares e meio Para tanto contava com a seguinte fundamentaccedilatildeo

O art 12 sectsect 1ordm a 3ordm da Resoluccedilatildeo CONAMA n

237 de 19 de dezembro 1997 permite que o

oacutergatildeo ambiental competente no caso a FATMA

se necessaacuterio estabeleccedila procedimentos

especiacuteficos e simplificados para o licenciamento

de atividades cujas caracteriacutesticas e peculiaridades

importem em pequeno potencial de impacto

ambiental ou ainda o licenciamento uacutenico e

simplificado para atividades integrantes de planos

e programas voluntaacuterios de gestatildeo ambiental

(SANTA CATARINA 2005 p 2)

Como os impactos do carvatildeo foram considerados de ldquopequeno

potencialrdquo pelos membros da Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina

(ALESC) o Projeto de Lei foi transformado na Lei nordm 18052 de 26 de

janeiro de 2007 (SANTA CATARINA 2007)

Outro exemplo foi a assinatura do Decreto em 2013 que reduziu

o Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadoria (ICMS) de 25 para 3 na

venda de energia eleacutetrica para novos empreendimentos beneficiando

principalmente as termeleacutetricas a carvatildeo O Decreto tem como objetivo favorecer a competitividade do carvatildeo mineral catarinense nos proacuteximos

leilotildees de energia eleacutetrica A-5 (ALESC 2013)

Um uacuteltimo exemplo eacute o Coacutedigo Estadual do Meio Ambiente de

Santa Catarina que continua cercado de muitos pontos polecircmicos

123

(SALVADOR 2009 SANTOS 2014) No Coacutedigo aprovado em 2009 o

Governador em exerciacutecio Luiz Henrique da Silveira fez severas criacuteticas

ao Coacutedigo Ambiental Brasileiro que resulta de uma medida provisoacuteria

que ele chamou de ldquofilha bastarda dos Decretos-Lei da Ditadurardquo

(SILVEIRA 2009 p 9) concebido sem amplitude democraacutetica

Segundo ele o Coacutedigo Ambiental Catarinense levou cinco anos para ser

elaborado e envolveu debates e audiecircncias puacuteblicas

Nosso Coacutedigo foi alvo de poucas mas barulhentas

reaccedilotildees e incompreensotildees contraacuterias ao

desenvolvimento sustentaacutevel Houve quem

ameaccedilasse mandar prender os honestos e

indefesos agricultores que lavrassem suas terras a

menos de trinta metros da mata ciliar

(SILVEIRA 2009 p 9)

A alusatildeo aos agricultores se justifica na medida em que um dos

pontos mais polecircmicos do Coacutedigo eacute a reduccedilatildeo da mata ciliar de 30

metros como prevecirc o Coacutedigo Florestal para 5 metros em propriedades

de menos de cinco hectares

O Coacutedigo natildeo trata de forma especiacutefica o carvatildeo mineral mas

traz novidades em relaccedilatildeo a flexibilizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo do processo

de licenciamento A Seccedilatildeo II do Coacutedigo estabelece prazos para a

concessatildeo das licenccedilas trecircs meses para a LAP e nos casos em que

houver EIARIMA e audiecircncia puacuteblica o prazo seraacute de quatro meses

trecircs meses para a LI e dois meses para a LO Quanto aos prazos de

validade das licenccedilas cinco anos para a LP seis anos para a LI e de

quatro a dez anos para a LAO (SANTA CATARINA 2009b)

Em 2013 entrou em tramitaccedilatildeo o Projeto de Lei 030542013 que

trouxe mudanccedilas ao Coacutedigo Ambiental de Santa Catarina (SANTA

CATARINA 2013) O Projeto foi transformado na Lei nordm 16342 de 21

de janeiro de 2014 A principal mudanccedila eacute a possibilidade de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em aacuterea rural e urbana de edificaccedilotildees atividades

e demais formas de ocupaccedilatildeo em Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente

desde que aprovadas pelo Municiacutepio (SANTA CATARINA 2014b) Conveacutem ressaltar que a revisatildeo do Coacutedigo Ambiental de SC e a defesa

do carvatildeo mineral na produccedilatildeo termeleacutetrica foram as duas principais

bandeiras da Assembleia Legislativa de Santa Catarina em 2013

124

45 Envolvidos na gestatildeo

Na sequecircncia faz-se uma breve descriccedilatildeo dos envolvidos na

gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina lembrando que aparecem

aqui os envolvidos que constam nos documentos e publicaccedilotildees

consultadas

451 Segmentos poliacuteticos

O governador em exerciacutecio Raimundo Colombo investiu em sua

campanha de 2010 R$ 323669211 Natildeo houve nenhuma doaccedilatildeo de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral diretamente ao candidato Mas o

Comitecirc Financeiro Uacutenico do Democratas (DEM) que tambeacutem repassou

recursos ao candidato recebeu R$ 6000000 da Carboniacutefera Nossa

Senhora do Caravagio Ltda (TSE 2013) Jaacute os representantes eleitos se

dividem na Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina (Deputados

Estaduais) e nas Cacircmaras Municipais (Vereadores) As relaccedilotildees entre

carvatildeo mineral e poliacutetica seratildeo aprofundadas no proacuteximo capiacutetulo

A FATMA tambeacutem faz parte dos segmentos poliacuteticos Aleacutem do

seu papel descrito na seccedilatildeo 41 um outro ponto merece ser destacado

De 2000 ateacute 2014 periacuteodo que compreende o licenciamento da

USITESC passaram pela FATMA na funccedilatildeo de presidente Suzana

Maria Cordeiro Trebien Seacutergio Joseacute Grando Jacircnio Wagner Constante

Carlos L Kreuz Murilo Xavier Flores e Gean Loureiro Desses Seacutergio

Joseacute Grando recebeu na eleiccedilatildeo de 2006 quando concorreu a Deputado

Estadual R$ 200000 da Sul Catarinense Mineraccedilatildeo e R$ 3000000 da

Tractebel e Jean Marques Loureiro recebeu R$ 10000000 da

Tractebel quando concorreu a prefeito do municiacutepio de Florianoacutepolis

(TSE 2013)

Inclui-se tambeacutem nos segmentos poliacuteticos o Ministeacuterio Puacuteblico

Estadual que atua em parceria com o Ministeacuterio Puacuteblico Federal no

acompanhamento da accedilatildeo civil puacuteblica do carvatildeo (MPF 2012) e no

acompanhamento dos processos de licenciamento

452 Segmentos econocircmicos

Os segmentos econocircmicos se organizam no Sindicato da Induacutestria

da Extraccedilatildeo de Carvatildeo do Estado de Santa Catarina (SIESESC) criado

125

em 1989 em Criciuacutema e na Associaccedilatildeo Beneficente da Induacutestria

Carboniacutefera de Santa Catarina (SATC)15

As principais empresas que atuam no segmento tecircm origem na

proacutepria regiatildeo A Carboniacutefera Metropolitana SA iniciou suas atividades

em 1890 em Nova Veneza A empresa tem sede em Criciuacutema eacute

detentora das maiores reservas de carvatildeo mineral do paiacutes e explora trecircs

minas no municiacutepio de Treviso Outra empresa que atua na regiatildeo haacute

mais de noventa anos criada em 1918 eacute a Carboniacutefera Rio Deserto

Ltda administrada pela famiacutelia Zanette hoje na terceira geraccedilatildeo A

Carboniacutefera conta com minas nos municiacutepios de Lauro Muller Treviso

Criciuacutema e Iccedilara A Carboniacutefera Criciuacutema SA tecircm origem na fusatildeo da

Carboniacutefera Caeteacute Ltda e Carboniacutefera Cocal Ltda em 1943 Com sede

em Criciuacutema a carboniacutefera explora o carvatildeo no municiacutepio de

Forquilhinha A Comin amp Cia atua no rebeneficiamento de rejeitos

antigos Suas atividades iniciaram em 1984 e sua unidade de

beneficiamento localiza-se em Criciuacutema Na deacutecada de 1980 foi criada

tambeacutem a Cooperminas a partir da falecircncia da CBCA A Cooperminas eacute

uma cooperativa de trabalhadores da mineraccedilatildeo que explora o carvatildeo em

Forquilhinha A Carboniacutefera Belluno Ltda iniciou suas atividades em

1991 tem sede em Sideroacutepolis e aleacutem de trabalhar na extraccedilatildeo e

beneficiamento do Carvatildeo atua tambeacutem no transporte e na

comunicaccedilatildeo A empresa eacute administrada pelo Grupo Salvaro e conta

com reservas de 140 milhotildees de toneladas de carvatildeo mineral e minas em

Treviso e Sideroacutepolis Em 1999 a Carboniacutefera Catarinense Ltda passou

a explorar e beneficiar o carvatildeo em duas minas localizadas em Lauro

Muller A Carboniacutefera Sideroacutepolis Ltda opera a Usina de

Beneficiamento Lageado no municiacutepio de Urussanga A Companhia

Energeacutetica Meridional pertence agrave Tractebel Energia SA e tem sede em

Florianoacutepolis A Gabriella Mineraccedilatildeo foi fundada em 2004 a partir da

dissoluccedilatildeo da empresa Coque Catarinense Ltda (COCALIT) A

Minageo atua desde 1986 em sondagens e obras subterracircneas entrando

para a extraccedilatildeo do carvatildeo em 1997 Em 2000 assinou um contrato de

fornecimento de carvatildeo para a Tractebel Energia neste ano mudando

seu nome para Mineraccedilatildeo Santa Augusta em (SIESESC 2008)

15

A SATC foi criada em 1959 como Sociedade de Assistecircncia aos

Trabalhadores do Carvatildeo e tinha como objetivo a preparaccedilatildeo de matildeo-de-obra

qualificada e assistecircncia social As carboniacuteferas contribuem com 1 de seu

faturamento para a manutenccedilatildeo da instituiccedilatildeo (SATC 2014)

126

453 Segmentos sociais

O movimento mineiro teve iniacutecio em 1920 com uma greve na

CBCA Em 1944 surgiu em Criciuacutema a Associaccedilatildeo dos Trabalhadores

na Induacutestria Extrativa do Carvatildeo Em 1945 a associaccedilatildeo passou a ser

sindicato Nos anos 1950 foram fundados sindicatos mineiros em Lauro

Muller (1951) TubaratildeoCapivari (1953) Urussanga (1957) e Rio Maina

(1961) A primeira greve apoacutes o surgimento dos sindicatos aconteceu

em 1958 seguida de outras em 1959 1960 1961 e 1963 (GOULARTI

FILHO LIVRAMENTO 2004b)

Aleacutem das muitas greves um dos maiores feitos do movimento

sindical mineiro foi a ocupaccedilatildeo da CSN e o gerenciamento da massa

falida da CBCA e da Mineraccedilatildeo Barro Branco De 1945 a 1957 os

mineiros natildeo encontraram no sindicato um espaccedilo de luta De 1957 a

1964 formou-se um sindicalismo baseado na luta e na resistecircncia O

sindicato denunciou as condiccedilotildees precaacuterias de trabalho a exploraccedilatildeo

sofrida pela categoria e a falta de seguranccedila nas minas Passando por

momentos difiacuteceis durante a ditadura militar de 1964 a 1978 o

sindicalismo passou por uma letargia vindo a se reorganizar em 1988

apoiando quatro greves da CBCA e da Proacutespera (CHOINACKI 1992

VOLPATO 2001)

Os mineiros apoiam a causa do carvatildeo mineral e as mineradoras

se o assunto for a questatildeo ambiental A categoria natildeo se envolve em

movimentos ambientais

A negaccedilatildeo ou o silecircncio e a passividade dos

mineiros em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo ambiental

resultante da induacutestria carboniacutefera eacute a expressatildeo

de um mecanismo de defesa reforccedilando a

seguranccedila dos trabalhadores na manutenccedilatildeo do

emprego e da sobrevivecircncia como objetivo mais

imediato e realista (VOLPATO 2001 p 132)

Essas ideias aleacutem de serem defendidas pelos mineiros satildeo

apoiadas por poliacuteticos ligados ao movimento sindical e agrave luta histoacuterica dos trabalhadores Destacam-se Luci Choinacki Joseacute Paulo Serafim e

Milton Mendes de Oliveira que adotam um discurso de apoio ao carvatildeo

mineral em funccedilatildeo de sua importacircncia social (CHOINACKI 1992)

127

A regiatildeo sul de Santa Catarina contou com vaacuterios movimentos

sociais que atuaram e atuam contra a mineraccedilatildeo ao longo da sua

histoacuteria Em 1986 em Sideroacutepolis surgiu o Movimento Ecoloacutegico de

Sideroacutepolis (MES) que atuou ateacute 1989 Tambeacutem em 1986 em Tubaratildeo

surgiu o Movimento Ecoloacutegico Tubaronense (MOVET) que atuou ateacute

1996 Havia um grande envolvimento da igreja catoacutelica que se

consolidou atraveacutes da criaccedilatildeo da Pastoral da Ecologia ligada agrave Diocese

de Tubaratildeo O objetivo da Pastoral da Ecologia era ldquodespertar uma

consciecircncia ecoloacutegica no homem do sul de Santa Catarina destacando a

importacircncia da preservaccedilatildeo da natureza dom de Deus para todos para

que possa atuar comunitariamente na recuperaccedilatildeo do meio ambienterdquo

(Diocese de Tubaratildeo citada por SANTOS 2008 p 81-2) A Pastoral da

Ecologia organizou romarias ecoloacutegicas a primeira aconteceu em

Criciuacutema em 1986 com o tema ldquoNatureza a ganacircncia te destruiu Noacutes te

reconstruiremosrdquo a segunda em Sideroacutepolis em 1988 com o tema ldquoPela

vida pela paz Contra a induacutestria da morterdquo e a terceira em Tubaratildeo em

1991 com o tema ldquoA Matildee Natureza pede socorro O povo exige a

recuperaccedilatildeo da vida na regiatildeo sulrdquo

Uma iniciativa mais recente de mobilizaccedilatildeo e discussatildeo

aconteceu apoacutes o Furacatildeo Catarina em 2004 Exatamente um ano

depois em 2005 aconteceu o 1ordm Encontro da Regiatildeo Sul sobre fenocircmenos naturais adversidades e mudanccedilas climaacuteticas suas causas

efeitos e necessidades de adaptaccedilatildeo que deu origem ao Manifesto por

Justiccedila Climaacutetica O 2ordm Encontro sobre fenocircmenos naturais adversidades e mudanccedilas climaacuteticas da regiatildeo Sul foi realizado em 6 a

8 de outubro de 2009 A realizaccedilatildeo dos dois eventos coube agrave Cacircmara

Temaacutetica do Meio Ambiente do Foacuterum de Desenvolvimento do Extremo

Sul Catarinense (FDESC) sob a Coordenaccedilatildeo da ONG Soacutecios da

Natureza da AMESC do Nuacutecleo Amigos da TerraBrasil Secretaria de

Desenvolvimento Regional (22ordf SDR) da Prefeitura Municipal de

Araranguaacute (PMA) e do Comitecirc de Gerenciamento da Bacia Hidrograacutefica

do Rio Araranguaacute (CGBHRA) Os eventos tambeacutem receberam apoio das

seguintes organizaccedilotildees e coletivos Assembleia Legislativa do Estado de

Santa Catarina (ALESC) Centro de Apoio Socioambiental (CASA)

Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA) Amigos da Terra

Internacional Defesa Civil de Santa Catarina Movimento Proacute-

Araranguaacute (MPA) Instituto da Cidadania de Araranguaacute (ICA) Proacute-

Comitecirc da Bacia do Mampituba e Federaccedilatildeo de Entidades Ecologistas

Catarinenses (FEEC) (SOacuteCIOS DA NATUREZA 2009 2005) Os dois

encontros demonstram o interesse e a organizaccedilatildeo socioinstitucional da

128

aacuterea afetada em torno da discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas

relacionada ao mesmo tempo com problemas jaacute existentes no territoacuterio

O Manifesto por justiccedila climaacutetica elaborado em 2005 eacute um ponto de

partida para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas e justiccedila ambiental

em Santa Catarina Trata-se de uma discussatildeo local que se conecta com

o global sobre um problema atual que se conecta com problemas jaacute

existentes na regiatildeo (MALUF ROSA 2009)

Outra iniciativa importante eacute a dos Foacuteruns Sul Ambiental que

tecircm como objetivo fortalecer um espaccedilo democraacutetico juntando pessoas

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees populares na discussatildeo sobre os problemas

socioambientais do Sul Destaca-se aiacute a participaccedilatildeo de professores e

professoras da UNESC e UFSC aleacutem de convidados e convidadas de

outras universidades sediadas em outros estados brasileiros (SANTOS

2008)

A regiatildeo tambeacutem eacute palco de conflitos Dois casos emblemaacuteticos

envolvendo a resistecircncia dos agricultores aconteceram em 1996 em

Criciuacutema na localidade chamada Morro do Estevatildeo e Albino e em

2003 em Iccedilara na localidade de Santa Cruz e Esperanccedila Neste segundo

conflito havia 300 famiacutelias envolvidas aproximadamente mil pessoas

Essas pessoas sobreviviam da agricultura habitavam o local haacute mais de

cem anos e o tamanho de suas propriedades era na meacutedia de vinte

hectares O conflito era de natureza econocircmica (mineraccedilatildeo versus

agricultura) social (envolvimento e mobilizaccedilatildeo social regional) e

ambiental (degradaccedilatildeo) (NASCIMENTO BURSZTYN 2010 p 79)

Nesses conflitos e nas discussotildees regionais destacam-se

- A ONG Soacutecios da Natureza que surgiu em 1980 em

Araranguaacute e se institucionalizou em 1996 tendo uma atuaccedilatildeo regional

(SANTOS 2008)

A ONG trabalha no sentido de buscar em suas

vaacuterias fontes de accedilatildeo a preservaccedilatildeo da natureza e

uma melhor qualidade de vida para a regiatildeo sul de

Santa Catarina o que assinala sua performance de

conotaccedilatildeo socioambiental No entanto por estar

do mesmo modo voltada a accedilotildees que

constantemente envolvem o papel do Estado

tambeacutem pode ser caracterizada por suas

suposiccedilotildees poliacuteticas contra o poder estabelecido

(SANTOS 2008 p 124)

129

- A FEEC que surgiu em 1989 tendo como objetivo unificar e

fortalecer a luta ecoloacutegica catarinense (SANTOS 2008)

- A atuaccedilatildeo de pesquisadores da UNESC e UFSC bem como

pesquisadores sediados em outras universidades do Brasil

- O Grupo de Pesquisa ldquoMemoacuteria e Cultura do Carvatildeo em Santa

Catarinardquo que foi formado em 2000 e inscrito no CNPq em 2002 Ele

reuacutene professores e alunos da UNESC Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (UFRGS) e CETEM do Rio de Janeiro que estudam

temas relacionados agraves atividades carboniacuteferas O objetivo principal do

Grupo eacute discutir criticamente a cultura a histoacuteria e a economia do

carvatildeo

Ainda nos segmentos sociais incluem-se

- O IPAT vinculado agrave UNESC responsaacutevel pela confecccedilatildeo de

EIARIMA para muitas mineradoras da regiatildeo

- Os meios de comunicaccedilatildeo locais e regionais que natildeo publicam

informaccedilotildees que prejudiquem o segmento carboniacutefero jaacute que muitos satildeo

de propriedade de mineradores e outros recebem valores na forma

patrociacutenio (SANTOS 2008)

46 Situaccedilatildeo atual e desafios

As poucas mudanccedilas ocorridas ateacute o momento satildeo

frutos da pressatildeo exercida pelo movimento

ambiental como um todo na qual seus integrantes

protagonizam um conflito que revela o quanto a

voz do lsquoinimigorsquo fala mais alto (SANTOS 2008

p 160)

A intenccedilatildeo do capiacutetulo foi tratar da gestatildeo de recursos comuns em

Santa Catarina com ecircnfase no carvatildeo mineral O resgate agrave trajetoacuteria do

desenvolvimento catarinense mostra uma ecircnfase na apropriaccedilatildeo privada

dos recursos comuns subordinada ao crescimento econocircmico A

preocupaccedilatildeo ambiental por muito tempo foi considerada marginal

curiosamente ateacute mesmo pelo oacutergatildeo ambiental estadual que incentivou

a expansatildeo da atividade carboniacutefera Essa condiccedilatildeo marginal tambeacutem se

mostra nas regras em uso O Coacutedigo Ambiental de Santa Catarina eacute um

exemplo disso Vaacuterios pontos flexibilizaram a lei ambiental federal para

beneficiar os segmentos econocircmicos

130

O Sul de Santa Catarina tem disponibilidade de carvatildeo mineral e

ao longo de sua trajetoacuteria de desenvolvimento o vem explorando a

despeito dos impactos socioambientais causados pela atividade Nas

uacuteltimas deacutecadas a centralidade desta vem cedendo lugar a outra

atividades econocircmicas Todavia o viacutenculo cultural eacute muito forte Mas

tambeacutem satildeo fortes as vozes contraacuterias agrave exploraccedilatildeo do carvatildeo Os

segmentos sociais se organizam regionalmente e satildeo responsaacuteveis por

movimentos eventos e por uma articulaccedilatildeo em rede com organizaccedilotildees

sediadas em outros estados do Brasil

No Quadro 7 eacute feita uma siacutentese dos principais pontos abordados

ao longo do capiacutetulo que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

energia termeleacutetrica

Quadro 7 ndash Aspectos que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral Santa

Catarina

MACRO

VARIAacuteVEIS

ASPECTOS QUE

FAVORECEM A

AMPLIACcedilAtildeO

ASPECTOS QUE

QUESTIONAM A

AMPLIACcedilAtildeO

Dinacircmicas de

desenvolvimento

- Fragilidade institucional da

FATMA

- Dependecircncia da matriz

energeacutetica catarinense ndash 35

da energia eleacutetrica

consumida no estado vem do

carvatildeo mineral

- Possibilidade de

conexatildeo do carvatildeo

com discussotildees mais

amplas

Atributos fiacutesicos e

tecnoloacutegicos

- Cultura do carvatildeo no Sul

de Santa Catarina

- Disponibilidade do recurso

- Bom faturamento do

segmento do carvatildeo mineral

- Aumento da produccedilatildeo com

a mecanizaccedilatildeo do processo

de trabalho

- Recuperaccedilatildeo do passivo

ambiental como ponto

positivo para a continuidade

da exploraccedilatildeo do recurso

- Aumento da

produccedilatildeo associado a

degradaccedilatildeo

socioambiental

- Diversificaccedilatildeo

econocircmica da regiatildeo

Sul de Santa

Catarina

Regras em uso - Coacutedigo Estadual do Meio

Ambiente estabelece prazos

para as licenccedilas ambientais

131

- Dispensa do EIARIMA

para a atividade de extraccedilatildeo

do carvatildeo mineral de

pequeno porte

- Reduccedilatildeo do ICMS de 25

para 3

Arena de accedilatildeo

(Caracterizaccedilatildeo dos

envolvidos na gestatildeo)

- Parceria de parte dos

segmentos poliacuteticos com os

segmentos econocircmicos

- Parte dos segmentos

sociais os trabalhadores

costumam apoiar a causa do

carvatildeo

- A UNESC que tambeacutem faz

parte dos segmentos sociais

elaborou o EIARIMA

- Miacutedia (segmentos sociais)

natildeo divulga notiacutecias que

prejudiquem o segmento

carboniacutefero

- Parte dos segmentos

sociais ocupam

espaccedilos de

participaccedilatildeo

instituiacutedos

- Existecircncia de

movimentos sociais

regionais

- Parcerias com

ONGs e

Universidades

- Observatoacuterio do

Carvatildeo

- Foacuteruns de

discussatildeo

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na macro variaacutevel arena de accedilatildeo a variaacutevel da democracia

apresenta limites relacionados ao apoio dos segmentos poliacuteticos

(Governo Estadual e FATMA) e de parte dos segmentos sociais

(Movimento Sindical IPATUNESC e miacutedia) agrave causa do carvatildeo

mineral Nas possibilidades destacam-se a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico a organizaccedilatildeo dos segmentos sociais nas redes que unem

ONGs academia e afetadosatingidosameaccedilados e as publicaccedilotildees

(Quadro 8)

132

Quadro 8 ndash Limites e possibilidades do sistema democraacutetico em

Santa Catarina VARIAacuteVEL LIMITES POSSIBILIDADES

Fortalecimento

do sistema

democraacutetico

- Parte dos segmentos

poliacuteticos (Governo

estadual e FATMA)

apoiam a atividade

- Parte dos segmentos

sociais (Movimento

sindical e o

IPATUNESC) apoiam a

causa do carvatildeo mineral

- Miacutedia apoia o segmento

carboniacutefero

- Atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico

- Organizaccedilatildeo de parte dos

segmentos sociais

- Redes unindo ONGs

academia e

afetadosatingidosameaccedilados

- Publicaccedilotildees

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar do forte viacutenculo entre parte dos segmentos poliacuteticos

segmentos econocircmicos e parte dos segmentos sociais em defesa do

carvatildeo mineral outra parte dos segmentos sociais demonstra

aprendizado social adaptativo ao coordenar suas accedilotildees no niacutevel regional

Em uma regiatildeo na qual a atividade estaacute tatildeo arraigada e muitos

municiacutepios e pessoas dependem dela para o seu sustento a mobilizaccedilatildeo

regional eacute uma forma criativa e articulada de enfrentar um problema que

eacute histoacuterico e que se perpetua nas relaccedilotildees poliacuteticas existentes Estas

seratildeo tratadas nos capiacutetulos cinco e seis tanto na democracia

representativa (via eleiccedilotildees) quanto na democracia participativa

(audiecircncias puacuteblicas no processo de licenciamento) para elucidar ainda

mais os limites e as margens de manobra colocadas nos capiacutetulos trecircs e

quatro fundamentais no delineamento de alternativas ao carvatildeo mineral

5 CARVAtildeO MINERAL E POLIacuteTICA EM SANTA CATARINA

ELEICcedilOtildeES E FINANCIAMENTO PRIVADO

Como montanhas de rejeitos soacutelidos compostos de

pirita e enxofre permanece a mesma poliacutetica do

passado patrimonial (TEIXEIRA 1996 p 95)

A histoacuteria do Sul de Santa Catarina estaacute intimamente ligada ao

carvatildeo mineral Dos tempos aacuteureos entre as deacutecadas de 1930 e 1980 agrave

crise dos anos 1990 e do seu ressurgimento no Governo Fernando

Henrique Cardoso com o anuacutencio da construccedilatildeo de novas termeleacutetricas

movidas a carvatildeo mineral Agora em 2013 no Governo Dilma o carvatildeo

nos leilotildees de energia em 2013 As decisotildees nacionais que ora

incentivam o carvatildeo mineral ora dificultam sua exploraccedilatildeo e uso

impactam sensivelmente as regiotildees que tecircm em seu subsolo esse

recurso natural natildeo renovaacutevel Cabe a essas regiotildees se adaptar

preferencialmente influenciando esses contextos mais amplos

No livro Os donos da cidade Joseacute Paulo Teixeira (1996 p 16)

afirma que o complexo carboniacutefero do Sul de Santa Catarina ldquofoi

constituiacutedo a partir de uma ligaccedilatildeo poliacutetico-estrutural entre a esfera

puacuteblica e privadardquo Tendo essa ideia como referecircncia o objetivo do

capiacutetulo eacute identificar relaccedilotildees entre a poliacutetica catarinense e as empresas

que exploram e utilizam o carvatildeo mineral

Para aleacutem dos discursos sobre desenvolvimento econocircmico

seguranccedila energeacutetica e tecnologias natildeo poluentes a hipoacutetese de que se

parte eacute que existe uma reciprocidade entre os interesses dos poliacuteticos ao

receberem doaccedilotildees para suas campanhas eleitorais e os interesses dos

doadores ligados ao carvatildeo mineral Nesse sentido as injusticcedilas

ecoloacutegicas se referem natildeo apenas agrave distribuiccedilatildeo de riscos ambientais

delimitados localmente Elas satildeo condicionadas tambeacutem poliacuteticas e

praacuteticas cujas consequecircncias atravessam fronteiras instituiacutedas e afetam

muacuteltiplas escalas Como jaacute foi ressaltado anteriormente o conceito de

injusticcedila ecoloacutegica designa um sintoma de um processo que envolve a

distribuiccedilatildeo o reconhecimento e a representaccedilatildeo poliacutetica e determina a

distribuiccedilatildeo desigual dos riscos e danos ambientais (HOLIFIELD et al

2009 SCHLOSBERG 2009 e 2004)

Para tanto foram analisados os pronunciamentos da Frente

Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral e as prestaccedilotildees de

contas das eleiccedilotildees de 2002 2004 2006 2008 2010 e 2012 As eleiccedilotildees

de 2004 2008 e 2012 foram eleiccedilotildees municipais e as eleiccedilotildees de 2002

134

2006 e 2010 foram gerais O recorte temporal utilizado se deve a duas

razotildees principais acompanhar as doaccedilotildees durante o periacuteodo em que se

deu o processo de licenciamento da USITESC e o acesso agraves prestaccedilotildees

de contas que teve iniacutecio na eleiccedilatildeo de 2002

O capiacutetulo eacute dividido em trecircs seccedilotildees principais aleacutem dessa

introduccedilatildeo A primeira seccedilatildeo trata dos argumentos presentes nos

discursos poliacuteticos A segunda apresenta os dados sobre doaccedilotildees de

empresas nas eleiccedilotildees gerais e municipais A terceira e uacuteltima seccedilatildeo traz

uma siacutentese dos fatos ausentes dos discursos Os dados apresentados

sugerem um apoio muacutetuo entre os interesses poliacuteticos e privados Os

candidatos de Santa Catarina que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral em suas campanhas satildeo os mesmos que

apoiam a causa do carvatildeo mineral Nesse caso o apoio envolve a

construccedilatildeo de mais uma termeleacutetrica a USITESC a inclusatildeo do carvatildeo

mineral nos leilotildees de 2013 e a reduccedilatildeo de Imposto sobre o ICMS de

25 para 3 na venda de energia eleacutetrica visando melhorar a

competitividade do carvatildeo mineral de Santa Catarina frente a outros

recursos energeacuteticos

51 Os argumentos presentes no discurso dos poliacuteticos

A Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral foi

constituiacuteda no Congresso Nacional em 2005 tendo como principal

objetivo a expansatildeo do uso do carvatildeo mineral na matriz energeacutetica

nacional Datam desse ano quatro pronunciamentos na Cacircmara dos

Deputados Afonso Hamm (Partido Progressista - PPRS) no dia 19 de

outubro Leodegar Tiscoski (PPSC) no dia 2 de novembro Marcus

Vicente (Partido Trabalhista Brasileiro - PTBES) no dia 9 de

novembro e Edinho Bez (PMDBSC) no dia 18 de novembro

As frentes satildeo constituiacutedas por parlamentares que de forma

suprapartidaacuteria se reuacutenem para tratar de uma questatildeo especiacutefica O que

estaacute em jogo eacute a defesa de interesses econocircmicos ou empresariais

corporativos setoriais ou profissionais regionais e ideoloacutegicos dentre

outros No periacuteodo de 2003 a 2007 havia 148 frentes no parlamento

brasileiro (CORADINI 2010)

Em 19 de outubro de 2005 Afonso Hamm (PPRS) em seu

pronunciamento na Cacircmara dos Deputados reforccedilou a importacircncia do

setor para a seguranccedila energeacutetica e para a geraccedilatildeo de empregos em

Santa Catarina e no Rio Grande do Sul Natildeo houve qualquer menccedilatildeo agrave

135

questatildeo socioambiental exceto para falar do carvatildeo mineral como

ldquoreserva de energiardquo O carvatildeo foi colocado como ldquotema de grande

relevacircnciardquo ressaltando-se a importacircncia de buscar a ldquocompetitividade

do setorrdquo atraveacutes de novos projetos para gerar ldquoem torno de 10 mil

empregos na regiatildeo atualmente deprimida econocircmica e socialmenterdquo

(HAMM 2005 p 50549) Os argumentos em defesa do carvatildeo mineral

enaltecem a seguranccedila e a auto-suficiecircncia energeacutetica do Sul e do Brasil

juntamente com outros argumentos de cunho econocircmico

Por sua vez o pronunciamento de Leodegard Tiscoski traz um

histoacuterico do carvatildeo mineral desafios e medidas reinvindicadas pela

Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral Sobre a

questatildeo ambiental a uacutenica menccedilatildeo aparece no seguinte trecho

Principal insumo energeacutetico no iniacutecio do seacuteculo

XX o carvatildeo foi gradualmente perdendo

importacircncia ateacute transformar-se no patinho feio das

nossas fontes energeacuteticas natildeo soacute pelas suas

deficiecircncias naturais mas principalmente pelos

danos ambientais causados pela sua exploraccedilatildeo

(TISCOSKI 2005 p 52894)

Os problemas enfrentados pelo carvatildeo mineral satildeo imputados ao

governo federal como sugere o trecho a seguir ldquoA histoacuteria do carvatildeo

em Santa Catarina eacute uma sucessatildeo de altos e baixos determinados

sempre pela vontade do Governo Federal independentemente de que tal

vontade fosse beneacutefica ou maleacutefica aos interesses estaduaisrdquo

(TISCOSKI 2005 p 52895) Ao Governo Federal eacute atribuiacuteda tambeacutem a

responsabilidade pela estabilidade de empregos retorno de

investimentos e recuperaccedilatildeo do ambiente natural ldquoRelegado agrave proacutepria

sorte o carvatildeo em Santa Catarina passou a conviver com a incerteza do

emprego e mais que tudo com a anguacutestia da perda de renda de milhares

e milhares de famiacutelias da regiatildeo sul de Santa Catarinardquo (TISCOSKI

2005 p 52895)

Somados aos argumentos sobre a importacircncia econocircmica

ressalta-se o carvatildeo mineral como alternativa ao petroacuteleo e agrave

hidroeletricidade A Frente Parlamentar reivindica a isonomia das regras do leilatildeo de energia nova regulamentaccedilatildeo do artigo 13 da Lei nordm

10438 retomada das pesquisas geoloacutegicas e implementaccedilatildeo de projetos

de pesquisa visando um melhor aproveitamento do carvatildeo ldquoO carvatildeo

136

mineral do Brasil natildeo pode ser objeto de atenccedilatildeo por parte do Governo

Federal apenas nos momentos de criserdquo (TISCOSKI 2005 p 52896)

Em seu pronunciamento Marcus Vicente (PTBES) (2005 p

53630) trata o carvatildeo mineral como ldquoitem de alto significado

estrateacutegicordquo ldquofonte energeacutetica segura e confiaacutevelrdquo que ldquosempre foi

colocado em plano secundaacuteriordquo O discurso reforccedila a geraccedilatildeo de

empregos e a seguranccedila energeacutetica Quanto agrave questatildeo ambiental ela eacute

ldquocolocada em duacutevida quando se fala em maior aproveitamento do

carvatildeordquo (VICENTE 2005 p 53630) Haacute uma aposta na pesquisa e no

desenvolvimento tecnoloacutegico que coloca a mineraccedilatildeo como uma

atividade que pode ser feita ldquosem degradaccedilatildeo ambiental nem

comprometimento da sauacutede dos trabalhadoresrdquo Afirma-se que em

1520 anos a energia seraacute gerada com emissatildeo zero e que as aacutereas

degradadas no Brasil jaacute estatildeo sendo recuperadas (VICENTE 2005 p

53631) Segundo este parlamentar o Brasil precisa acompanhar o curso

da histoacuteria

Jaacute Edinho Bez (PMDBSC) fundamenta seus argumentos em uma

reuniatildeo do G-8 na qual se assume que ldquosuprimentos de energia

confiaacuteveis e baratos satildeo essenciais para um forte crescimento

econocircmicordquo (BEZ 2005 p 55746) Ele afirma que o carvatildeo mineral

tem um papel ldquovitalrdquo a desempenhar face ao contingente de pessoas que

ainda natildeo dispotildeem de acesso a energia comercial por ser uma energia

barata O petroacuteleo e o gaacutes natural seriam fontes energeacuteticas inseguras se

comparadas ao carvatildeo mineral A questatildeo ambiental aparece como

desafio que estaacute sendo equacionado pelo investimento em

desenvolvimento tecnoloacutegico Segundo Bez (2005 p 55746) o objetivo

da Frente Parlamentar eacute o de colocar o carvatildeo mineral ldquodefinitivamente

na agenda do Governo Federal com isso induzindo ao desenvolvimento

regional gerando renda e trabalho e aumentando a seguranccedila energeacutetica

vital para o crescimento do Paiacutesrdquo

No intervalo de tempo compreendido entre dezembro de 2005 e

maio de 2011 natildeo houve pronunciamentos da Frente Parlamentar em

Defesa do Carvatildeo Mineral Todavia nesse periacuteodo a Frente manteve a

articulaccedilatildeo natildeo soacute com o segmento produtivo do carvatildeo mineral mas

tambeacutem com o Ministeacuterio das Minas e Energia e o Ministeacuterio da Ciecircncia

e Tecnologia resultando em accedilotildees programas e projetos importantes

para o segmento (AMARAL 2011)

Em 2011 ocorreram apenas dois pronunciamentos um de Edinho

Bez e outro de Delciacutedio do Amaral O pronunciamento de Edinho Bez

137

(PMDBSC) primeiro secretaacuterio da Frente Parlamentar refere-se agrave

posse da Comissatildeo Executiva da referida Frente Ele fala no carvatildeo

mineral como ldquoenergia do futurordquo ldquoresponsaacutevel pela boa qualidade de

vida de centenas de pessoas nas economias mais desenvolvidasrdquo (BEZ

2011 p 20895) Menciona apenas aspectos econocircmicos da induacutestria

carboniacutefera entendida como base do desenvolvimento socioeconocircmico

do Sul de Santa Catarina Ele finaliza o pronunciamento afirmando que

natildeo se poderia abrir matildeo de nenhuma alternativa energeacutetica

Em novembro de 2011 ocorreu a reinstalaccedilatildeo da Frente formada

por 203 deputados federais e 12 senadores e integrada por ex-

parlamentares do Congresso Nacional Deputados Estaduais Prefeitos

Municipais Vereadores Sindicalistas O principal objetivo da Frente em

2011 era a participaccedilatildeo nos leilotildees A-5

A Frente Parlamentar tem como presidentes de honra o Senador

Joseacute Sarney (PMDBAP) e o Deputado Marco Maia (PTRS) Na

Comissatildeo Executiva o Presidente eacute o Senador Delciacutedio do Amaral

(PTMG) Primeiro Vice-Presidente Deputado Afonso Hamm (PPRS)

Segundo Vice-Presidente Senador Paulo Bauer (Partido da Social

Democracia Brasileira - PSDBSC) Primeiro Secretaacuterio Deputado

Edinho Bez (PMDBSC) Segundo Secretaacuterio Deputado Henrique

Fontanta (PTRS) Terceiro Secretaacuterio Deputado Eduardo Sciarra

(DEMPR) e Quarto Secretaacuterio Deputado Ronaldo Zulke (PTRS)

(AMARAL 2011)

Fazem parte do Conselho Consultivo da Frente como Presidente

o Senador Luiz Henrique da Silveira (PMDBSC) e Vice-Presidente

Deputado Ronaldo Benedet (PMDBSC) como membros cooperadores

Fernando Luiz Zancan (Presidente da ABCM) Cesar Weinschenck de

Faria (Presidente do SNIEC) Ruy Hulse (Presidente do SIECESC)

Sereno Chaise (Diretor da CGTEE) Manoel Arlindo Zaroni Torres

(Diretor-Presidente da Tractebel Energia SA) Paulo Monteiro (Diretor

de Sustentabilidade da EBX representando a MPX Energia SA)

Benony Schmitz Filho (Diretor-Presidente da Ferrovia Tereza Cristina

SA ndash FTC) Paulo Camillo Vargas Penna (Presidente do IBRAM) Luiz

Fernando Leone Vianna (Presidente do Conselho de Administraccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Eleacutetrica

ndash APINE) Heacutelio Bunn (Presidente da AMREC e prefeito do municiacutepio

de Lauro Muller) Paulo Roberto Felix Machado (Presidente da

Associaccedilatildeo de Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera do Rio Grande do Sul

ndash ASMURC e prefeito de Butiaacute) Genoir Joseacute dos Santos (Presidente da

138

Federaccedilatildeo Interestadual dos Trabalhadores na Induacutestria da Extraccedilatildeo de

Carvatildeo) e Oniro da Silva Camilo (Presidente do Sindicato

Intermunicipal dos Trabalhadores nas Induacutestrias de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

Ouro Calcaacuterio Cal e Barro da Regiatildeo Centro-Sul do Estado do Rio

Grande do Sul) (AMARAL 2011) A composiccedilatildeo do conselho

consultivo demonstra que a Frente Parlamentar Mista em Defesa do

Carvatildeo Mineral se assenta em interesses setoriais e empresariais

regionalmente e nacionalmente representados (CORADINI 2010)

Em agosto de 2012 Afonso Hamm fez um pronunciamento cujo

tema era a sustentabilidade da matriz energeacutetica do Brasil e a criaccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Proacute-Carvatildeo (APC) Na sua opiniatildeo ldquoa associaccedilatildeo tem como

propoacutesito estabelecer estrateacutegias de reivindicaccedilatildeo tendo como principal

finalidade a inclusatildeo das usinas termeleacutetricas a carvatildeo mineral nos

leilotildees de energia A-5rdquo (HAMM 2012 p 28704) Mais adiante

esclarece que ldquofalei pessoalmente com a Presidenta Dilma haacute

aproximadamente um ano em Esteio tratando dessa Agendardquo (HAMM

2012 p 28704) Natildeo se fala da questatildeo ambiental a natildeo ser quando eacute

colocada em pauta a inclusatildeo no leilatildeo dos empreendimentos jaacute

instalados e daqueles cuja licenccedila ambiental encontra-se em andamento

Em marccedilo de 2013 Edinho Bez fez seu pronunciamento sobre a

inclusatildeo do carvatildeo mineral no leilatildeo

Sr Presidente meus colegas Parlamentares falo

com satisfaccedilatildeo envaidecido com esta casa e o

proacuteprio Paiacutes pela notiacutecia dada pelo Ministro

Edison Lobatildeo de Minas e Energia com a

autorizaccedilatildeo da Presidente Dilma de que seraacute

incluiacutedo nos proacuteximos leilotildees o carvatildeo mineral

uma fonte de energia uma fonte que garante o

fornecimento de energia natildeo dependeraacute de Satildeo

Pedro natildeo dependeraacute das chuvas natildeo dependeraacute

sequer de uma nem duas ou trecircs Noacutes teremos

mais uma alternativa (BEZ 2013 p 06320)

Bez (2013) ressaltou ainda que o preccedilo do carvatildeo nacional

precisa baixar e para tanto torna-se necessaacuterio reduzir a carga

tributaacuteria Segundo ele o Vice-Governador do Estado de Santa Catarina

Eduardo Moreira jaacute manifestou a disposiccedilatildeo de avanccedilar nessa direccedilatildeo O

resultado dessa disposiccedilatildeo foi a reduccedilatildeo via Decreto em 2013 do ICMS

de 25 para 3 na venda de energia eleacutetrica para novos

empreendimentos beneficiando principalmente as termeleacutetricas a carvatildeo

(ALESC 2013)

139

Ao comentar sobre a posse da nova diretoria da Frente

Parlamentar composta por 182 deputados e senadores presidida pelo

Deputado Federal Afonso Hamm Bez (2013 p 06321) comenta que a

abertura ficou a cargo do presidente da Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo

Mineral o ldquoamigordquo Fernando Zancan

Nos pronunciamentos transparece a ecircnfase colocada na promoccedilatildeo

da seguranccedila energeacutetica do Sul e do Paiacutes mediante o aproveitamento do

carvatildeo mineral visto como uma alternativa viaacutevel se comparada agrave

hidroeletricidade ao gaacutes natural e ao petroacuteleo Como argumentos de

defesa o desenvolvimento econocircmico das regiotildees carboniacuteferas de Santa

Catarina e do Rio Grande do Sul parece depender desta atividade

Aspectos socioambientais satildeo apenas tangenciados reconhecendo-se em

alguns momentos que a atividade carboniacutefera causou impactos mas

tambeacutem se admitindo que os mesmos jaacute foram ou estatildeo sendo

resolvidos natildeo devendo se repetir em decorrecircncia dos avanccedilos

tecnoloacutegicos do segmento

52 Panorama das eleiccedilotildees e doaccedilotildees de campanha de 2002 a 2012

Ateacute 1992 a legislaccedilatildeo em vigor proibia a oferta de doaccedilotildees por

parte das empresas Mas as reformas na legislaccedilatildeo apoacutes 1992 tornaram o

sistema mais tolerante apostando na prestaccedilatildeo de contas como forma de

controle puacuteblico Em 1994 o TSE passou a divulgar dados sobre as

candidaturas e contas de campanha Os dados satildeo de responsabilidade

dos candidatos e questiona-se a veracidade dos mesmos vaacuterios satildeo os

casos de financiamentos ilegais corrupccedilatildeo traacutefico de influecircncias

envolvimento com crime organizado que passam a contribuir para a

criacutetica ao financiamento privado Em funccedilatildeo desses problemas o tema

do financiamento poliacutetico tornou-se central no debate recente sobre a

reforma poliacutetica (LEMOS MARCELINO PEDERIVA 2010 SPECK

2005)

Os resultados das eleiccedilotildees indicam fortes viacutenculos com doaccedilotildees e

gastos de campanha quanto maiores as doaccedilotildees e gastos maiores as

chances de o candidato se eleger Os doadores se tornaram tatildeo

fundamentais nas campanhas que tecircm determinado muitas vezes a

proacutepria escolha do candidato A reeleiccedilatildeo apresenta-se como um trunfo

aos candidatos jaacute que o risco do doador eacute menor do que se este

escolhesse um iniciante (LEMOS MARCELINO PEDERIVA 2010)

140

Em contrapartida candidatos tendem a compensar tais investimentos se

e quando eleitos ldquoEacute grande a lista de entidades que satildeo potencialmente

beneficiadas por decisotildees ou medidas administrativas do governo entre

estes os bancosrdquo (SPECK 2005 p 148)

No Brasil satildeo permitidas doaccedilotildees de empresas que possuem

relaccedilotildees contratuais com o Estado natildeo existindo regra que limite a

dependecircncia entre candidato e doador Dados sobre as prestaccedilotildees de

contas demonstram um problema de dependecircncia entre os candidatos e

seus principais financiadores (SPECK 2005)

Na sequecircncia satildeo examinadas as doaccedilotildees das eleiccedilotildees de 2002 a

2012 divididas em eleiccedilotildees gerais e eleiccedilotildees municipais A ecircnfase recai

nas doaccedilotildees realizadas por empresas ligadas ao carvatildeo mineral e sua

relaccedilatildeo com os candidatos de Santa Catarina As doaccedilotildees para

candidatos de outros estados natildeo satildeo tratadas neste capiacutetulo

521 Eleiccedilotildees gerais

No periacuteodo compreendido entre os anos de 2002 e 2012

ocorreram trecircs eleiccedilotildees gerais Constam nos registros do Tribunal

Superior Eleitoral nove empresas relacionadas ao carvatildeo mineral em

Santa Catarina como doadoras

O Complexo Jorge Lacerda que utiliza carvatildeo mineral para

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica pertence agrave Tractebel que tambeacutem eacute

proprietaacuteria das Usinas Hidreleacutetricas de Itaacute Machadinho e Co-geraccedilatildeo

de biomassa em Lages todos situados em Santa Catarina A Carboniacutefera

Metropolitana SA tem 123 anos de existecircncia estaacute sediada em

Criciuacutema e possui parte da USITESC A Carboniacutefera Belluno Ltda foi

fundada em 1991 apoacutes a compra de parte da Companhia Sideruacutergica

Nacional pelo Grupo Salvaro e localiza-se em Sideroacutepolis Aleacutem de

trabalhar na extraccedilatildeo e beneficiamento do Carvatildeo a Carboniacutefera

Belluno tambeacutem atua no transporte e na comunicaccedilatildeo A Mineraccedilatildeo

Castelo Branco Ltda localiza-se em Lauro Muller A Carboniacutefera

Criciuacutema foi fundada em 1943 e tem sede em Criciuacutema A Induacutestria

Carboniacutefera Rio Deserto foi criada em 1918 e localiza-se em Criciuacutema

bem como a Coque Catarinense a Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos e a

Mineraccedilatildeo Santa Augusta

141

A eleiccedilatildeo de 2002 teve como principais doadores a Tractebel

(5007) a Carboniacutefera Metropolitana (1488) e a Carboniacutefera

Belluno (1320) A empresa que mais apoiou candidatos dez no total

foi a Carboniacutefera Metropolitana As demais empresas apoiaram cinco

candidatos ou menos conforme consta na Tabela 7

Tabela 7 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2002

Fonte TSE 2013

Quanto ao montante de doaccedilotildees por candidato em 2002

destacou-se o candidato a governador Esperidiatildeo Amin que recebeu de

quatro empresas 4138 do total de doaccedilotildees O candidato Paulo Roberto

Bauer recebeu de quatro empresas o equivalente a 1182 das doaccedilotildees

Cleacutesio Salvaro recebeu apenas 673 Aleacutem dos trecircs candidatos citados

outros dezesseis candidatos ficaram com 4007 das doaccedilotildees conforme

dados da Tabela 8 As duas uacuteltimas colunas da Tabela 8 relacionam as

doaccedilotildees com a receita total dos candidatos Em quatro dos 19 candidatos

as doaccedilotildees das empresas ligadas ao carvatildeo mineral representam mais de

50 de sua respectiva receita

Nordm

CANDIDATOS

Tractebel Egi South America Ltda 5 PFL PP PPB PSDB 53000000 5007

Carboniacutefera Metropolitana SA 10 PP PMDB PSDB PT PPB PFL 15750000 1488

Carboniacutefera Belluno Ltda 3 PMDB PFL PT 13970000 1320

Mineraccedilatildeo Castelo Branco Ltda 5 PFL PMDB PP PPB PSDB 8467400 800

Carboniacutefera Criciuacutema Ltda 5 PFL PT PSDB PMDB PT 6450000 609

Induacutestria Carboniacutefera Rio Deserto Ltda 5 PFL PMDB PSDB 4050000 383

Coque Catarinense Ltda 2 PFL PMDB 2434000 230

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos Ltda 4 PFL PMDB PP 927000 088

Mineraccedilatildeo Santa Augusta Ltda 1 PP 800000 076

TOTAL 105848400 10000

DOADOR PARTIDOS VALOR R$

142

Tabela 8 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2002 que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees de 2002 o PP recebeu 46 das doaccedilotildees o Partido

da Frente Liberal (PFL) 2147 o PSDB 1352 o PMDB 1027

o PT 477 e o Partido Progressista Brasileiro (PPB) 397

Tabela 9 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2002

Fonte TSE 2013

NO ME PARTIDO CANDIDATURA VALO R R$ RECEITA TO TAL R$

Esperidiatildeo Amin PP Governador 43798600 4138 373920269 1171

Paulo R Bauer PSDB Deputado Federal 12510800 1182 49994468 2502

Clesio Salvaro PFL Deputado Estadual 7120000 673 11296000 6303

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 5266200 498 27320200 1928

Paulo R Bornhausen PFL Senador 4900000 463 198753494 247

Leodegar da C Tiscoski PP Deputado Federal 4892000 462 20432951 2394

Joseacute P Serafim PT Deputado Estadual 4500000 425 7303000 6162

Luiz H da Silveira PMDB Governador 4000000 378 240099527 167

Ivan C Ranzolin PFL Deputado Federal 3000000 283 26017099 1153

Pedro Bittencourt Neto PFL Deputado Federal 2860800 27 13469800 2124

Vanio de Oliveira PPB Deputado Federal 2200000 208 3110990 7072

Celestino RSecco PPB Deputado Estadual 2000000 189 21164000 945

Joatildeo P K Kleinubing PFL Deputado Estadual 2000000 189 10710330 1867

Julio Cesar Garcia PFL Deputado Estadual 2000000 189 4449450 4495

Cezar P de Luca PSDB Deputado Federal 1800000 17 3925683 4585

Ronaldo J Benedet PMDB Deputado Estadual 1350000 128 12097324 1116

Arleu R da Silveira PFL Deputado Estadual 850000 08 890370 9547

Edson C Rodrigues PT Deputado Federal 550000 052 8653600 636

Aceacutelio Casagrande PMDB Deputado Federal 250000 024 1512694 1653

TOTAL 105848400 100

PARTIDO VALOR R$

PP 48690600 46

PFL 22730800 2147

PSDB 14310800 1352

PMDB 10866200 1027

PT 5050000 477

PPB 4200000 397

TOTAL 105848400 100

143

Nas Eleiccedilotildees de 2006 entraram em cena as seguintes empresas

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasileira que atua na regiatildeo Companhia

Energeacutetica Meridional que eacute subsidiaacuteria da empresa Tractebel A

Mendes Terraplanagem Construccedilatildeo e Extraccedilatildeo de Minerais Ltda que

atua na regiatildeo Minageo Ltda de Criciuacutema Sulcatarinense Mineraccedilatildeo e

Artefatos Ltda com sede em Biguaccedilu Carboniacutefera Sideroacutepolis de

Criciuacutema Gabriella Mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis Carboniacutefera Catarinense

Ltda de Lauro Muller Nas eleiccedilotildees de 2006 a Tractebel doou 4038

para onze candidatos a Carboniacutefera Metropolitana 1226 para quatro

candidatos e a Carboniacutefera Criciuacutema 1136 (Tabela 10) O montante

de doaccedilotildees aumentou de R$ 105848400 em 2002 para R$

158506900 em 2006

Tabela 10 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2006

Fonte TSE 2013

Dos 22 candidatos apoiados pelas empresas em 2006 Edson Bez

de Oliveira recebeu 1325 dos recursos de seis empresas Ada Lili

Faraco de Luca recebeu 1262 de duas empresas Luiz Henrique da

Silveira recebeu 1262 de uma empresa e Paulo Roberto Bauer

recebeu 946 de quatro empresas (Tabela 11) Constata-se uma

distribuiccedilatildeo maior das doaccedilotildees jaacute que na Eleiccedilatildeo de 2002 um uacutenico

candidato Esperidiatildeo Amim recebeu 4138 das doaccedilotildees

DOADOR NordmCANDIDATOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora 11 PFL PMDB PP PPS PSDB PT 64000000 4038

Carboniacutefera Metropolitana SA 4 PMDB PP PSDB 19432000 1226

Carboniacutefera Criciuacutema SA 2 PMDB PSDB 18000000 1136

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasil Ltda 7 PFL PMDB PP PPS PT 15555000 981

Cia Energeacutetica Meridional 3 PFL PP PT 14000000 883

Carboniacutefera Catarinense Ltda 2 PFL PP 8183000 516

Carboniacutefera Belluno Ltda 2 PMDB PSDB 6776000 427

A Mendes TerConstr E Extr De

Minerais Ltda 1 PMDB 4000000 252

Minageo Ltda 2 PMDB PT 3288000 207

Sul Catarinense Mineraccedilatildeo e Art 4 PP PPS PSDB 2400000 151

Carboniacutefera Sideroacutepolis Ltda 1 PP 1186500 075

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda 1 PP 1186400 075

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos 1 PMDB 500000 032

TOTAL 158506900 10000

144

Tabela 11 - Candidatosas que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2006

Fonte TSE 2013

Em 2006 o PMDB recebeu o maior montante de doaccedilotildees

4104 enquanto na eleiccedilatildeo de 2002 o maior montante foi destinado ao

PP 46 O PSDB aumentou suas captaccedilotildees junto ao lobby do carvatildeo de

1352 em 2002 para 1640 em 2006 O PT de 477 em 2002

para 807 em 2006 O PFL diminuiu de 2147 para 1577 no

periacuteodo Aleacutem do PMDB apareceu na lista tambeacutem o Partido Popular

Socialista (PPS) com 265 (Tabela 12)

NOME PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 21000000 1325 44379023 4732

Ada Lili Faraco de Luca PMDB Deputado Estadual 20000000 1262 62976575 3176

Luiz Henrique da Silveira PMDB Governador 20000000 1262 725548795 276

Paulo Roberto Bauer PSDB Deputado Federal 15000000 946 63272293 2371

Leodegar da Cunha Tiscoski PP Deputado Federal 12263900 774 16487006 7439

Geraldo Cesar Althoff PFL Deputado Federal 11000000 694 113398356 97

Angela Regina Heinzen Amin Helou PP Deputado Federal 10000000 631 25349000 3945

Djalma Vando Berger PSDB Deputado Federal 5000000 315 107978844 463

Gervaacutesio Joseacute da Silva PFL Deputado Federal 5000000 315 95845710 522

Giancarlo Tomelin PSDB Deputado Estadual 5000000 315 14028277 3564

Jorge Catalino Leonardelli Boeira PT Deputado Federal 5000000 315 47519555 1052

Paulo Roberto Barreto Bornhausen PFL Deputado Federal 5000000 315 132260292 378

Ivan Cesar Ranzolin PFL Deputado Federal 4000000 252 23237183 1721

Milton Mendes de Oliveira PT Deputado Federal 4000000 252 18603010 215

Joseacute Paulo Serafim PT Deputado Estadual 3788000 239 19238000 1969

Sergio Joseacute Grando PPS Deputado Estadual 3200000 202 16206665 1974

Antonio Carlos Vieira PP Deputado Estadual 3000000 189 15931786 1883

Acelio Casagrande PMDB Deputado Federal 2055000 13 14020875 1466

Ronaldo Joseacute Benedet PMDB Deputado Estadual 2000000 126 42694345 468

Altair Guidi PPS Deputado Estadual 1000000 063 10547730 948

Joseacute Natal Pereira PSDB Deputado Estadual 1000000 063 13659460 732

Licio Mauro Ferreira da Silveira PP Deputado Estadual 200000 013 10092456 198

158506900 100

145

Tabela 12 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2006

Fonte TSE 2013

Na Eleiccedilatildeo de 2010 cinco empresas aparecem como doadoras A

Tractebel assim como na Eleiccedilatildeo de 2002 e 2006 doou a maior parte

dos recursos 7483 para 27 candidatos de vaacuterios partidos As outras

quatro empresas dividem os 2517 restantes conforme dados

apresentados na Tabela 13

Tabela 13 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2010

Fonte TSE 2013

Os candidatos que receberam o maior montante de doaccedilotildees foram

Angela Amin com 1515 Paulo Roberto Bauer com 1082 e Edson

Bez de Oliveira com 884 (Tabela 14) O nuacutemero de candidatos

apoiados por doaccedilotildees aumentou de 19 candidatos em 2002 para 22 em

2006 e 30 em 2010 Diminuiu tambeacutem a concentraccedilatildeo dos recursos em

relaccedilatildeo ao nuacutemero de candidatos em 2002 os trecircs primeiros candidatos

receberam 5993 das doaccedilotildees em 2006 receberam 3849 e em

2010 3481 Isso demonstra que as empresas passaram a investir em

um nuacutemero maior de candidatos concentrando menos as doaccedilotildees

PARTIDO VALOR [R$]

PMDB 65055000 4104

PSDB 26000000 164

PP 25463900 1606

PFL 25000000 1577

PT 12788000 807

PPS 4200000 265

TOTAL 158506900 100

DOADOR NordmCANDIDATOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora

Ltda

27 PMDB PP

PPS PR

PSDB e PT

123500000 7483

Industria Carboniacutefera Rio Deserto

Ltda

4 PMDB e

PSDB

12548100 760

Carboniacutefera Metropolitana SA 5 PMDB

PSDB

11700000 709

Carboniacutefera Belluno Ltda 2 PSDB 10600000 642

Carboniacutefera Criciuacutema Ltda 3 PMDB 6700600 406

TOTAL 165048700 10000

146

Tabela 14 - Candidatosas receberam doaccedilotildees das empresas ligadas

ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2010

Fonte TSE 2013

Em 2010 o mesmo natildeo aconteceu com os partidos poliacuteticos As

doaccedilotildees concentraram-se em trecircs partidos PMDB com 3641 PT com

3393 e PSDB com 1784 conforme dados apresentados na Tabela

15 A concentraccedilatildeo de doaccedilotildees no PMDB diminuiu de 4104 em 2006

para 3641 em 2010 e aumentou para o PT (de 807 em 2006 para

3393 em 2010) e o PSDB (de 1640 em 2006 para 1784 em

2010)

NOME PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Angela R H Amin Helou PP Governador 25000000 1515 285235728 876

Paulo Roberto Bauer PSDB Senador 17859100 1082 215018697 831

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 14589500 884 76475776 1908

Ronaldo Joseacute Benedet PMDB Deputado Federal 10037000 608 62224076 1613

Claudio Antocircnio Vignatti PT Senador 10000000 606 225944994 443

Luiz Henrique da Silveira PMDB Senador 7463100 452 316150000 236

Thatiane Ferro Teixeira PSDB Deputado Estadual 5600000 339 21357586 2622

Ada Lili Faraco de Luca PMDB Deputado Estadual 5000000 303 66479091 752

Jorge C Leonardeli Boeira PT Deputado Federal 5000000 303 51226181 976

Celso Maldaner PMDB Deputado Federal 4000000 242 56183406 712

Deacutecio Nery de Lima PT Deputado Federal 4000000 242 94602191 423

Gean Marques Loureiro PMDB Deputado Federal 4000000 242 47666076 839

Gervaacutesio Joseacute da Silva PSDB Deputado Federal 4000000 242 68162276 587

Luci T K Choinacki PT Deputado Federal 4000000 242 53638737 746

Paulo R B Bornhausen DEM Deputado Federal 4000000 242 132193682 303

Pedro Francisco Uczai PT Deputado Federal 4000000 242 45421410 881

Vanio dos Santos PT Deputado Federal 4000000 242 68945421 580

Aceacutelio Casagrande PMDB Deputado Estadual 2500000 151 19129380 1307

Alexandre Santos Moraes PMDB Deputado Estadual 2500000 151 11717054 2134

Ana Paulo de Souza Lima PT Deputado Estadual 2500000 151 19360800 1291

Antonio M R de Aguiar PMDB Deputado Estadual 2500000 151 57962102 431

Carlos Joseacute Stupp PSDB Deputado Estadual 2500000 151 41555975 602

Edison A A de Oliveira PMDB Deputado Estadual 2500000 151 44778059 558

Giancarlo Tomelin PSDB Deputado Estadual 2500000 151 26041812 960

Joatildeo Batista Nunes PR Deputado Estadual 2500000 151 28970265 863

Joatildeo Olavio Falchetti PT Deputado Estadual 2500000 151 6753000 3702

Joares Carlos Ponticelli PP Deputado Estadual 2500000 151 45669621 547

Luciano Formighieri PPS Deputado Estadual 2500000 151 17351190 1441

Marcos Luiz Vieira PSDB Deputado Estadual 2500000 151 79902729 313

Rosemeacuteri Bartucheski PMDB Deputado Estadual 2500000 151 30045075 832

TOTAL 165048700 10000

147

Tabela 15 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2010

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees gerais de 2002 2006 e 2010 foram registradas

doaccedilotildees de 16 empresas ligadas ao carvatildeo mineral somando um total de

R$ 429404000 A Tractebel doou 5601 do total (R$ 240500000)

seguida pela Carboniacutefera Metropolitana SA com 1092 (R$

46882000) e pela Carboniacutefera Belluno com 730 (R$ 31346000) As

doaccedilotildees tecircm aumentado a cada eleiccedilatildeo em 2002 foram R$

105848400 em 2006 foram R$ 158506900 e em 2010 foram R$

165048700

O candidato Paulo Roberto Bauer recebeu um total de R$

45369900 em doaccedilotildees representando 1057 do total de doaccedilotildees Jaacute

Esperidiatildeo Amin recebeu R$ 43798600 (1020) e Edson Bez de

Oliveira foi agraciado com R$ 40855700 (951) Todos os candidatos

eleitos que receberam doaccedilotildees de campanha das empresas ligadas ao

carvatildeo mineral participam da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral confirmando a hipoacutetese da relaccedilatildeo estreita entre doaccedilotildees e

apoio agrave causa do carvatildeo mineral

No que se refere agrave relaccedilatildeo entre doaccedilotildees e os partidos poliacuteticos

constatou-se que o PMDB recebeu 3168 das doaccedilotildees no periacuteodo de

2002 a 2010 (R$ 136017900) Quanto ao PP este recebeu 1937 (R$

83154500) O PT levou 1720 (R$ 73838000) O PMDB aumentou

de R$ 10866200 em 2002 para R$ 60096700 em 2010 O PT

aumentou de R$ 5050000 em 2002 para R$ 56000000 em 2010 Jaacute

o PP diminuiu de R$ 48690600 em 2002 para R$ 9000000 em

2010 O aumento das doaccedilotildees para o PMDB e o PT pode ser explicado

se considerarmos a reeleiccedilatildeo e ascensatildeo de alguns candidatos inclusive

pela reeleiccedilatildeo de Luiz Inaacutecio Lula da Silva do PT para a presidecircncia da

Repuacuteblica Jaacute as doaccedilotildees concedidas ao PP diminuiacuteram apoacutes a aposta

frustrada na eleiccedilatildeo de Esperidiatildeo Amin para governador

PARTIDO VALOR R$

PMDB 60096700 3641

PT 56000000 3393

PSDB 29452000 1784

PP 9000000 545

DEM 4000000 242

PR 4000000 242

PPS 2500000 151

TOTAL 165048700 10000

148

522 Eleiccedilotildees municipais

Nas eleiccedilotildees municipais de 2004 cinco empresas foram

doadoras Carboniacutefera Belluno (6383) Carboniacutefera Criciuacutema

(1558) Carboniacutefera Metropolitana (895) Carboniacutefera Catarinense

(823) e Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos (341) conforme dados da

Tabela 16 Foram doados R$ 41232300 para sete municiacutepios

Tabela 16 - Doadores eleiccedilotildees de 2004

Fonte TSE 2013

O municiacutepio de Criciuacutema recebeu 852 das doaccedilotildees Dentre os

candidatos estatildeo o candidato a vereador do municiacutepio de Criciuacutema

Edson do Nascimento do PMDB com 728 das doaccedilotildees o candidato

a prefeito de Criciuacutema Deacutecio Gomes Goacutees do PT com 606 e Carlos

Joseacute Stupp candidato a prefeito no municiacutepio de Tubaratildeo pelo PSDB

com 485 Aleacutem dos Comitecircs Financeiros Municipais (CFM) de

Criciuacutema Sideroacutepolis Treviso Lauro Muller e Iccedilara quatorze

candidatos a prefeito e vereador foram apoiados por doaccedilotildees (Tabela

17) Dos quatorze candidatos seis se mostram mais dependentes das

doaccedilotildees representando mais de 50 de sua receita total

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Carboniacutefera Criciuacutema Criciuacutema e Tubaratildeo PFL PMDB PSDB 6425000 3791

Carboniacutefera Metropolitana Criciuacutema Iccedilara e Tubaratildeo PFL PMDB e PT 3688500 2176

Caboniacutefera Catarinense Criciuacutema Lauro Muller Sideroacutepolis

Tubaratildeo

PFL PP PT 3391500 2001

Carboniacutefera Belluno Criciuacutema e Treviso PSDB 2034300 1200

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos Criciuacutema Lauro Muller Urussanga

PMDB PP PSDB e

PT 1408000 831

TOTAL 16947300 10000

149

Tabela 17 - Comitecircs e candidatos que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

2004

Fonte TSE 2013

Em 2004 dos cinco partidos que estatildeo entre os receptores o

PSDB recebeu 6798 das doaccedilotildees o PMDB recebeu 1823 o PT

recebeu 657 o PP recebeu 402 e o PFL recebeu 319 (Tabela

18)

Tabela 18 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2004

Fonte TSE 2013

CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$

RECEITA

TOTAL

R

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Criciuacutema PSDB - 29431300 7138 37042800 7945

Edson Do Nascimento Criciuacutema PMDB Vereador 3000000 728 3777163 7942

Deacutecio Gomes Goacutees Criciuacutema PT Prefeito 2500000 606 41391000 604

Carlos Jose Stupp Tubaratildeo PSDB Prefeito 2000000 485 66861662 299

Comitecirc Financeiro

Municipal Uacutenico

Sideroacutepolis PP - 791500 192 916500 8636

Luiz Carlos Zen Urussanga PP Prefeito 668000 162 4418000 1512

Felipe Felisbino Tubaratildeo PFL Vereador 500000 121 641145 7799

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Treviso PMDB - 388000 094 1004554 3862

Nestor Spricigo Lauro Muller PMDB Prefeito 330000 080 830752 3972

Elemar Nunes Tubaratildeo PFL Vereador 264000 064 404248 6531

Dalton Luiz Marcon Tubaratildeo PFL Vereador 202500 049 342514 5912

Manoel Duarte Porto Tubaratildeo PFL Vereador 202500 049 529725 3823

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Lauro Muller PP - 200000 049 600000 3333

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Iccedilara PMDB - 200000 049 6610000 303

Rudemar Silveira Da

Cunha

Tubaratildeo PFL Vereador 144500 035 242894 5949

Paulo Gonccedilalves Filho Lauro Muller PT Prefeito 110000 027 535000 2056

Antonio Alves Elias Lauro Muller PT Vereador 100000 024 166828 5994

Lauro Pirolla Criciuacutema PSDB Vereador 100000 024 279420 3579

Vanderlei Joseacute Zilli Criciuacutema PMDB Vereador 100000 024 1007126 993

41232300 10000

PARTIDO VALOR R$

PSDB 28031300 6798

PMDB 7518000 1823

PT 2710000 657

PP 1659500 402

PFL 1313500 319

TOTAL 41232300 10000

150

Nas eleiccedilotildees de 2008 seis empresas doaram um total de R$

22918311 A Carboniacutefera Criciuacutema doou 4132 a Mineraccedilatildeo e

Pesquisa Brasileira doou 2313 e a Tractebel doou 2182 (Tabela

19) O montante de doaccedilotildees de 2008 se comparado ao de 2004

diminuiu 4442

Tabela 19 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2008

Fonte TSE 2013

As doaccedilotildees de 2008 se concentraram em trecircs candidatos O

candidato a prefeito de Tubaratildeo Joatildeo Falchetti do PT recebeu 4363

das doaccedilotildees Edison do Nascimento do PMDB candidato a vereador

por Criciuacutema recebeu 2396 e Joseacute Claudio Gonccedilalves do DEM

candidato a prefeito de Forquilhinha recebeu 1091 das doaccedilotildees

Conforme dados apresentados na Tabela 20 receberam doaccedilotildees

candidatos dos municiacutepios de Criciuacutema Tubaratildeo Forquilhinha Iccedilara

Meleiro Timbeacute do Sul Sideroacutepolis e Lauro Muller Se consideradas as

receitas totais dos dezesseis candidatos cinco candidatos satildeo muito

dependentes das doaccedilotildees jaacute que elas representam mais de 50 da

receita total

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Carbonifera Criciuma SA Criciuacutema Forquilhinha Lauro Muller

Meleiro Timbeacute do Sul

PMDB DEM 9468944 4132

Mineraccedilatildeo E Pesquisa Brasileira Criciuacutema Tubaratildeo PMDB PT 5300000 2313

Tractebel Energia Tubaratildeo PT 5000000 2182

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda Criciuacutema Iccedilara DEM PP PSDB 1679175 733

Carboniacutefera Belluno Ltda Criciuacutema PSDB 1120192 489

Carbonifera Metropolitana SA Criciuacutema Sideroacutepolis Timbeacute do Sul PMDB 350000 153

TOTAL 22918311 10000

151

Tabela 20 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2008 que receberam doaccedilotildees

das empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

Fonte TSE 2013

As doaccedilotildees entre os partidos nas eleiccedilotildees de 2008 foram

distribuiacutedas da seguinte forma o PT recebeu 4363 das doaccedilotildees o

PMDB recebeu 3181 o DEM recebeu 1158 o PSDB recebeu

774 e o PP recebeu 524 (Tabela 21)

Tabela 21 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2008

Fonte TSE 2013

Nas Eleiccedilotildees de 2012 cinco empresas doaram R$ 22700000

para candidatos de trecircs municiacutepios Criciuacutema Iccedilara e Tubaratildeo Os

maiores montantes de doaccedilatildeo tiveram origem na Tractebel (6608) Carboniacutefera Metropolitana (1762) e Carboniacutefera Criciuacutema (1101)

conforme dados apresentados na Tabela 22

NOME DO CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Joatildeo Olavio Falchetti Tubaratildeo PT Prefeito 10000000 4363 18223525 5487

Edison Do Nascimento Criciuacutema PMDB Vereador 5490944 2396 10054122 5461

Joseacute Claudio Gonccedilalves Forquilhinha DEM Prefeito 2500000 1091 10147880 2464

Darlan Bitencourt Carpes Iccedilara PP Vereador 1200000 524 3761519 3190

Antoninho Dal Molin Netto Meleiro PMDB Prefeito 1000000 436 1997000 5008

Clesio Salvaro Criciuacutema PSDB Prefeito 842992 368 72173591 117

Andre M Jucoski Iccedilara PSDB Vereador 454175 198 1245875 3645

Luiz Fernando Cardoso Criciuacutema PMDB Vereador 400000 175 8071771 496

Jose Daminelli Criciuacutema PSDB Vereador 277200 121 1227765 2258

Arleu Ronaldo Da Silveira Criciuacutema PSDB Vereador 200000 087 1649455 1213

Heacutelio Roberto Cesa Sideroacutepolis PMDB Prefeito 150000 065 9963963 151

Wersmberg Laureano Lauro Muumlller DEM Vereador 128000 056 385903 3317

Loraci Davila Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 100000 044 163000 6135

Gislael Floriano Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 100000 044 195000 5128

Joao Batista Mandelli Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 50000 022 255800 1955

Romanna G C L Remor Criciuacutema DEM Vereador 25000 011 10166479 025

22918311 10000

152

Tabela 22 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2012

Fonte TSE 2013

Os candidatos a prefeito de Tubaratildeo do PSDB PMDB PSD e

PT receberam 8812 das doaccedilotildees (Tabela 23) O municiacutepio de Tubaratildeo

recebeu 8944 do total de doaccedilotildees Se consideradas as receitas totais

natildeo haacute evidecircncias de uma maior dependecircncia grande das doaccedilotildees

Tabela 23 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2012 que receberam doaccedilotildees

das empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

Fonte TSE 2013

Em 2012 o PSDB recebeu 2996 das doaccedilotildees o PMDB o PSD

e o PT receberam 2203 respectivamente e o PP recebeu 396

(Tabela 24) As doaccedilotildees da Eleiccedilatildeo de 2012 se comparadas agraves eleiccedilotildees

de 2004 e 2008 foram distribuiacutedas de forma mais equilibrada entre os

partidos

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora

Ltda

Tubaratildeo PSD PSDB

PT

15000000 6608

Carboniacutefera Metropolitana SA Iccedilara Tubaratildeo PSDB 4000000 1762

Carboniacutefera Criciuacutema SA Iccedilara Tubaratildeo PMDB PSDB 2500000 1101

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasileira Ltda Criciuacutema PP 900000 396

Minageo Ltda Tubaratildeo PSDB 300000 132

TOTAL 22700000 10000

CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Carlos Joseacute Stupp Tubaratildeo PSDB Prefeito 5000000 2203 36245503 1379

Edson Bez de

Oliveira

Tubaratildeo PMDB Prefeito 5000000 2203 129287720 387

Felippe Luiz Collaccedilo Tubaratildeo PSD Prefeito 5000000 2203 34140000 1465

Joatildeo Olavio falchetti Tubaratildeo PT Prefeito 5000000 2203 42272000 1183

Andreacute Mazzuchello

Jucoski

Iccedilara PSDB Vereador 1500000 661 4995950 3002

Daniel Costa de

Freitas

Criciuacutema PP Vereador 900000 396 6319977 1424

Felipe Felisbino Tubaratildeo PSDB Vereador 300000 132 4119158 728

22700000 10000

153

Tabela 24 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2012

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees municipais de 2004 2008 e 2012 nove empresas

doaram R$ 86850611 para os candidatos a prefeito e vereador As

doaccedilotildees direcionadas agraves eleiccedilotildees municipais apresentam uma reduccedilatildeo

significativa foram R$ 41232300 em 2004 R$ 22918311 em 2008 e

R$ 22700000 em 2012 A Carboniacutefera Belluno lidera as doaccedilotildees com

3159 seguida da Tractebel com 2303 e da Carboniacutefera Criciuacutema

com 2118 Os trecircs partidos que mais recebem doaccedilotildees nas eleiccedilotildees

municipais satildeo PSDB com 4215 PMDB com 2281 e PT com

2039

53 Os fatos ausentes do discurso dos poliacuteticos

No Brasil a degradaccedilatildeo do meio ambiente

e da sociedade das pessoas e da natureza

constitui cara e coroa de uma mesma

moeda de um mesmo estilo de

desenvolvimento e da ausecircncia de

democracia (SOUZA 1992 p 16)

As empresas ligadas ao carvatildeo mineral em Santa Catarina

doaram no intervalo de dez anos R$ 516254611 para candidatos a

eleiccedilotildees gerais e municipais Das dezessete empresas que aparecem

como doadoras a Tractebel foi responsaacutevel por 5046 das doaccedilotildees

seguida pela Carboniacutefera Belluno com 1139 e pela Carboniacutefera

Metropolitana com 1064 As demais quatorze empresas somam

2751 das doaccedilotildees (Tabela 25) O aumento nas doaccedilotildees para eleiccedilotildees

gerais e a diminuiccedilatildeo das doaccedilotildees para eleiccedilotildees municipais mostra que cresce nas empresas o interesse em apoiar candidatos a eleiccedilotildees gerais

que possam participar da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral

PARTIDO VALOR R$

PSDB 6800000 2996

PMDB 5000000 2203

PSD 5000000 2203

PT 5000000 2203

PP 900000 396

TOTAL 22700000 10000

154

Tabela 25 - Siacutentese dos doadores Eleiccedilotildees de 2002 e 2012

Fonte TSE 2013

Os dez candidatos que receberam maiores doaccedilotildees entre 2002 e

2012 foram candidatos a eleiccedilotildees gerais exceto Joatildeo Olavio Falchetti

que foi candidato em duas eleiccedilotildees municipais em 2008 e 2012 (Tabela

26) Todos os candidatos a eleiccedilotildees gerais que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e foram eleitos fazem parte

atualmente da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral

ANO ELEICcedilAtildeO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

DOADOR VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$

Tractebel Egi South

America Ltda 53000000 0 64000000 5000000 123500000 15000000 260500000 5046

Carboniacutefera Belluno Ltda 13970000 26319300 6776000 1120192 10600000 0 58785492 1139

Carboniacutefera

Metropolitana SA 15750000 3688500 19432000 350000 11700000 4000000 54920500 1064

Carboniacutefera Criciuacutema 6450000 6425000 18000000 9468944 6700600 2500000 49544544 96

Mineraccedilatildeo e Pesquisa

Brasil Ltda 0 0 15555000 5300000 0 900000 21755000 421

Induacutestria Carboniacutefera Rio

Deserto 4050000 0 0 0 12548100 0 16598100 322

Cia Energeacutetica Meridional 0 0 14000000 0 0 0 14000000 271

Mineraccedilatildeo Castelo

Branco Ltda 8467400 0 0 0 0 0 8467400 164

Carboniacutefera Catarinense

Ltda 0 0 8183000 0 0 0 8183000 159

Coque Catarinense Ltda 2434000 3391500 0 0 0 0 5825500 113

A Mendes TC e E de

Minerais Ltda 0 0 4000000 0 0 0 4000000 077

Minageo Ltda 0 0 3288000 0 0 300000 3588000 07

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda 0 0 1186400 1679175 0 0 2865575 056

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos

Ltda 927000 1408000 500000 0 0 0 2835000 055

Sul Catarinense

Mineraccedilatildeo e Art 0 0 2400000 0 0 0 2400000 046

Carboniacutefera Sideroacutepolis

Ltda 0 0 1186500 0 0 0 1186500 023

Mineraccedilatildeo Santa Augusta

Ltda 800000 0 0 0 0 0 800000 015

TOTAL 105848400 41232300 158506900 22918311 165048700 22700000 516254611 100

TOTAL

155

Tabela 26 - Candidatos que receberam maiores doaccedilotildees Eleiccedilotildees de

2002 a 2012

Fonte TSE 2013

Os partidos poliacuteticos que se destacam como maiores

receptores das doaccedilotildees satildeo PMDB com 3018 PSDB com 2060

PT com 1773 e PP com 1684 (Tabela 27)

Tabela 27 - Doaccedilotildees por Partido Poliacutetico Eleiccedilotildees de 2002 a 2012

Fonte TSE 2013

Os dados apresentados corroboram a hipoacutetese de que na defesa da causa do carvatildeo mineral se aliam poliacuteticos e empresas pelas doaccedilotildees

de campanha Trazer os fatos ausentes do discurso coloca em questatildeo o

reconhecimento e a representaccedilatildeo poliacutetica condiccedilotildees fundamentais para

assegurar a justiccedila ecoloacutegica e consequentemente para favorecer a

ANO ELEICcedilAtildeO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

NOME VALOR R$ VALOR R$VALOR R$ VALOR R$VALOR R$VALOR R$ TOTAL R$

Edson Bez de

Oliveira 5266200 0 21000000 0 14589500 5000000 45855700 89

Paulo Roberto

Bauer 12510800 0 15000000 0 17859100 0 45369900 88

Esperidiatildeo Amin

Helou Filho 43798600 0 0 0 0 0 43798600 85

Angela R H Amin

Helou 0 0 10000000 0 25000000 0 35000000 68

Luiz Henrique da

Silveira 4000000 0 20000000 0 7463100 0 31463100 61

Ada Lili Faraco de

Luca 0 0 20000000 0 5000000 0 25000000 48

Leodegar da Cunha

Tiscoski 4892000 0 12263900 0 0 0 17155900 33

Joatildeo Olavio

Falchetti 0 0 0 10000000 2500000 1500000 14000000 27

Paulo R B

Bornhausen 4900000 0 5000000 0 4000000 0 13900000 27

Ronaldo Joseacute

Benedet 1350000 0 2000000 0 10037000 0 13387000 26

ANO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

PARTIDO VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ TOTAL

PMDB 10866200 7518000 65055000 7290944 60096700 5000000 155826844 3018

PSDB 14310800 28031300 26000000 1774367 29452000 6800000 106368467 206

PT 5050000 2710000 12788000 10000000 56000000 5000000 91548000 1773

PP 48690600 1659500 25463900 1200000 9000000 900000 86914000 1684

PFL 22730800 1313500 25000000 0 0 0 49044300 95

PPB 4200000 0 4200000 0 2500000 0 10900000 211

DEM 0 0 0 2653000 4000000 0 6653000 129

PR 0 0 0 0 4000000 0 4000000 077

PSD 0 0 0 0 0 5000000 5000000 097

TOTAL 516254611 100

156

aplicaccedilatildeo do enfoque do ecodesenvolvimento Os candidatos eleitos natildeo

representam os interesses da maioria que os elegeu e sim daqueles

poucos que investiram em suas campanhas por meio de doaccedilotildees Vecircm se

consolidando assim um cenaacuterio no qual a injusticcedila poliacutetica alimenta a

reproduccedilatildeo da injusticcedila ambiental e ecoloacutegica

6 CARVAtildeO MINERAL E AMPLIACcedilAtildeO DA ENERGIA

TERMELEacuteTRICA EM SANTA CATARINA

A trajetoacuteria do carvatildeo mineral no Brasil e em Santa Catarina eacute

acompanhada de periacuteodos de crise e recuperaccedilatildeo do segmento A

construccedilatildeo da USITESC eacute uma forma de garantir a continuidade da

exploraccedilatildeo e do consumo do carvatildeo Aleacutem da crise do carvatildeo o que

aparece nos discursos de parlamentares presentes no capiacutetulo anterior eacute

o carvatildeo como seguranccedila energeacutetica

O objetivo desse capiacutetulo eacute compreender a ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo

de energia eleacutetrica movida a carvatildeo mineral atraveacutes da anaacutelise do

processo de licenciamento ambiental da USITESC Nos capiacutetulos dois e

trecircs foram tratados condicionantes mais amplos que incidem sobre a

ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo No capiacutetulo quatro foi examinada a relaccedilatildeo das

redes de influecircncia entre segmentos poliacuteticos e econocircmicos em vaacuterias

escalas Neste capiacutetulo a ideia eacute verificar os condicionantes que atuam

localmente

Para tanto o capiacutetulo estaacute dividido em quatro seccedilotildees aleacutem dessa

introduccedilatildeo A primeira seccedilatildeo trata das principais caracteriacutesticas do

municiacutepio de Treviso A segunda seccedilatildeo traz informaccedilotildees sobre os

documentos escritos da USITESC o EIARIMA o processo de

licenciamento e audiecircncias as correspondecircncias e articulaccedilotildees entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos e a posiccedilatildeo dos segmentos sociais Na

terceira seccedilatildeo entram os documentos falados do processo de

licenciamento os discursos nas audiecircncias puacuteblicas A anaacutelise dos

discursos torna expliacutecitas as relaccedilotildees de poder e desigualdade nas

audiecircncias puacuteblicas A quarta seccedilatildeo faz uma siacutentese das limitaccedilotildees e

possibilidades da democracia e do aprendizado social no caso do

licenciamento da USITESC

61 O municiacutepio de Treviso

A chegada dos primeiros imigrantes italianos no Sul de Santa

Catarina data de 1891 oriundas das proviacutencias de Treviso Beacutergamo

158

Cremona e Ferrara O povoado de Treviso tornou-se distrito de

Urussanga em 1933 Em 1958 o controle do distrito passou para

Sideroacutepolis emancipado de Urussanga Em 1995 o distrito de Treviso eacute

desmembrado de Sideroacutepolis formando um novo municiacutepio (IBGE

2013 PMT 2014)

No brasatildeo do municiacutepio a alusatildeo ao navio que trouxe os

primeiros imigrantes as duas atividades econocircmicas principais (extraccedilatildeo

do carvatildeo e o cultivo da banana) e as datas de colonizaccedilatildeo e

emancipaccedilatildeo (Figura 8)

Figura 8- Brasatildeo do municiacutepio de Treviso

Fonte PMT (2014) Autora Daniela Losso Redesenhado por Edson

Cesconetto

O municiacutepio de Treviso localiza-se na Bacia Carboniacutefera (Figura

9) entre Sideroacutepolis Lauro Muumlller e Urussanga a 220 km da capital

Florianoacutepolis a 35 km da BR 101 e a 25 km da cidade de Criciuacutema

(PMT 2014)

159

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Treviso

Fonte Concepccedilatildeo de Luciana Butzke Elaborado por Ruy Lucas de

Souza

O clima geral da regiatildeo segundo a classificaccedilatildeo climaacutetica de

Koumleppen eacute do tipo Cfa (mesoteacutermico uacutemido e com veratildeo quente) A

temperatura meacutedia anual varia de 170 a 193ordmC maacuteximas de 234 a

259ordmC e miacutenimas entre 120 e 151ordmC A meacutedia anual pluviomeacutetrica fica

em torno de 1220 a 1660mm e a umidade relativa do ar varia de 814

a 822 (UNESC PLURAL 2006)

A regiatildeo conta com grandes variaccedilotildees de relevo clima tipos de

solo fauna e flora A geomorfologia da regiatildeo conta com seis domiacutenios

ambientais Planalto dos Campos Gerais Serra Geral Patamares da

Serra Geral Depressatildeo da Zona Carboniacutefera Sudeste Catarinense

Embasamento em estilos complexos e Planiacutecie Coluacutevio-aluvionar (Quadro 9)

160

Quadro 9 - Principais caracteriacutesticas fiacutesicas e bioacuteticas da aacuterea de

influecircncia indireta do projeto USITESC DOMIacuteNIOS

AMBIENTAIS

SIacuteNTESE DAS CARACTERIacuteSTICAS

1 Planalto dos

Campos Gerais

Corresponde agrave regiatildeo mais elevada com relevo pouco

ondulado e altitudes superiores a 1000 metros Neste

domiacutenio prevalecem rochas de origem vulcacircnicasub-

vulcacircnica com solos pouco desenvolvidos normalmente

utilizados para produccedilatildeo de maccedilatilde reflorestamento e

pastagem Esse domiacutenio abriga algumas nascentes de rios

da bacia do Araranguaacute e da bacia do Tubaratildeo com

cobertura vegetal representada pelas matas de araucaacuteria

matinha nebular e campos de cima da serra tendo fauna

diversificada Aacuterea impactada pela derrubada das matas

de araucaacuteria plantio de pinus e queimadas nos campos

2 Serra Geral Corresponde agraves aacutereas de encosta com altitudes entre

500m e 1000m onde os desniacuteveis satildeo acentuados e os

vales satildeo fechados e profundos Satildeo formadas

principalmente por rochas arenosas e basaacutelticas e solos

rasos normalmente susceptiacuteveis agrave erosatildeo e a movimentos

de massa Abriga grande parte das nascentes dos rios das

bacias do Araranguaacute e do Tubaratildeo As florestas

encontram-se entre as mais preservadas da regiatildeo sul do

Estado atuando como reguladoras do clima do ciclo e da

distribuiccedilatildeo de chuvas servindo de centro de dispersatildeo e

conexatildeo de espeacutecies Caracteriza-se pela ampla

biodiversidade representando um dos ambientes mais

complexos fraacutegeis e ameaccedilados da regiatildeo que deve ser

preservado Neste domiacutenio se insere a Reserva Bioloacutegica

Estadual do Aguaiacute

3 Patamares da

Serra Geral

Os patamares da Serra Geral representam o

prolongamento da escarpa da Serra Geral que avanccedila

sobre a Depressatildeo Carboniacutefera e a Planiacutecie Coluacutevio-

Aluvionar constituindo morros-testemunhos como o

Montanhatildeo sustentados principalmente por basaltos e

diabaacutesicos Os solos tecircm normalmente baixa fertilidade e

satildeo utilizados nas aacutereas planas para pastagens plantio de

eucalipto e lavouras de subsistecircncia Nos terrenos

iacutengremes o solo eacute usado para o cultivo de banana No

alto do Montanhatildeo encontra-se uma das aacutereas mais

preservadas deste domiacutenio correspondente agrave APA do rio

Ferreira

4 Depressatildeo da

Zona Carboniacutefera

Regiatildeo de relevo mais suave em que predominam vales

abertos e pouco profundos Constitui-se principalmente

161

do Sudeste

Catarinense

de rochas sedimentares como arenitos folhelhos siltitos

e camadas de carvatildeo Os solos satildeo variados utilizados

principalmente para pastagens culturas de subsistecircncia e

reflorestamento de eucalipto Os recursos hiacutedricos

encontram-se comprometidos principalmente pela

exploraccedilatildeo de carvatildeo mas tambeacutem pelas atividades

industriais agriacutecolas e esgotamento sanitaacuterio A regiatildeo eacute

fortemente impactada com vaacuterias aacutereas degradadas pela

exploraccedilatildeo do carvatildeo paisagens fortemente

descaracterizadas e reduzida biodiversidade em alguns

locais

5 Embasamento

em estilos

complexos

Corresponde aos relevos ondulados formados por rochas

granitoacuteides e gnaacuteissicas onde os solos normalmente satildeo

pouco desenvolvidos e de baixa fertilidade

6 Planiacutecie Coluacutevio-

Aluvionar

Aacuterea de relevo plano (cotas inferiores a 100m) com solos

do tipo hidromoacuterficos com elevado teor de mateacuteria

orgacircnica Os solos satildeo empregados no cultivo de arroz

irrigado produccedilatildeo de hortaliccedilas uva e cana-de-accediluacutecar

Em regiotildees menos inundadas satildeo utilizados tambeacutem para

reflorestamento e pastagem

Fonte UNESC Plural (2006 p 24)

Eacute destaque em Treviso a Reserva Bioloacutegica Estadual do Aguaiacute e

a Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente do Rio Ferreira A Reserva Bioloacutegica

Estadual do Aguaiacute conta com aacuterea de 7762 hectares que se estende

entre os municiacutepios de Treviso Sideroacutepolis e Nova Veneza nos beirais

da Serra Geral A reserva abriga cachoeiras fauna e flora diversificadas

que constituem grande riqueza natural (UNESC PLURAL 2006)

O municiacutepio contava em 2010 com 3527 habitantes em

157084 km2 com uma densidade demograacutefica de 2245 habitantes por

quilocircmetro quadrado Desses 1789 eram homens e 1738 eram

mulheres 1833 habitavam o espaccedilo urbano e 1694 o espaccedilo rural A

Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) correspondia a 487 da

populaccedilatildeo (SEBRAE 2013b)

O Produto Interno Bruto (PIB) de Treviso corresponde a 008

da composiccedilatildeo do PIB catarinense Jaacute em relaccedilatildeo ao PIB per capita

Treviso encontra-se em 2009 na 17ordf posiccedilatildeo no ranking estadual O

Valor Adicionado Bruto (VAB) que representa a soma de todos os bens

e serviccedilos produzidos num determinado territoacuterio econocircmico ficou

assim distribuiacutedo 61 na induacutestria 24 no setor de serviccedilos e 9 na

administraccedilatildeo puacuteblica Em relaccedilatildeo ao Valor Adicionado Fiscal (VAF)

162

indicador econocircmico contaacutebil utilizado para calcular a participaccedilatildeo

municipal no repasse de impostos a extraccedilatildeo de carvatildeo mineral era

responsaacutevel por 66 da participaccedilatildeo do VAF no ano de 2010

(SEBRAE 2013b) Esses dados demonstram uma forte dependecircncia do

municiacutepio agrave atividade carboniacutefera

Dos 1093 domiciacutelios existentes no municiacutepio 853 eram

proacuteprios 91 alugados 55 cedidos e 01 em outra condiccedilatildeo No

que se refere agrave renda familiar 04 da populaccedilatildeo contava com renda

familiar per capita de ateacute R$ 7000 16 com renda familiar per capita

de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo e 103 com ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo A meacutedia

salarial da induacutestria extrativa era de R$ 185480 inferior apenas a

atividades relacionadas agrave eletricidade e gaacutes com uma meacutedia de R$

277460 Nesse mesmo ano o municiacutepio contava com 1629 postos de

trabalho com carteira assinada dos quais 1132 eram vinculados agrave

atividade carboniacutefera em cinco empresas (SEBRAE 2013b) Quando

69 dos postos de trabalho com carteira assinada tecircm origem na

atividade carboniacutefera que na localidade apresenta tambeacutem uma das

melhores meacutedias salariais a populaccedilatildeo fica numa posiccedilatildeo de

vulnerabilidade jaacute que depende dessa atividade para o seu sustento

Na lavoura temporaacuteria destacam-se a produccedilatildeo do arroz batata-

doce batata inglesa feijatildeo (gratildeo) fumo mandioca milho (gratildeo) Na

lavoura permanente tem se destacado a banana No municiacutepio tambeacutem

satildeo criadas aves (galos galinhas frangos e pintos) que em 2010

somavam 500000 cabeccedilas (SEBRAE 2013b)

Treviso conta com trecircs aacutereas inclusas na Accedilatildeo Civil Puacuteblica nordm

938000533-4 que determina a recuperaccedilatildeo das aacutereas degradas pela

mineraccedilatildeo Aacuterea III Rio Pio que tem 11781 hectares Campo Morosini

com 22100 hectares e UM IV Volta Redonda com 5797 hectares A

primeira aacuterea natildeo foi iniciada a segunda estaacute em andamento e a terceira

jaacute estaacute finalizada O processo de recuperaccedilatildeo foi orccedilado em 319 milhotildees

de reais (ACP DO CARVAtildeO 2014)

62 O processo de licenciamento os documentos escritos

A primeira solicitaccedilatildeo de parecer da USITESC referente ao

Licenciamento Preacutevio (LP) data do dia 2 de maio de 2000 Segundo a

solicitaccedilatildeo o parecer se fazia necessaacuterio para que a Usina fosse

163

implantada dentro do prazo previsto pelo Governo e pelo Programa

Prioritaacuterio de Termeleacutetricas que se colocava para dezembro de 2003

(FATMA 2013a fl 1) A contrataccedilatildeo do EIARIMA foi em 2001 e a

entrega aconteceu em 18 de agosto de 2003 (FATMA 2013a fl 49)

621 O EIARIMA da USITESC

A equipe responsaacutevel pelo projeto da USITESC foi composta por

consoacutercio formado pela Carboniacutefera Criciuacutema SA e pela Companhia

Carboniacutefera Metropolitana SA O projeto foi desenvolvido com o apoio

da Parsons Energy amp Chemicals Group Main Engenharia amp Consultoria

Ltda e Taylor DeJongh E o EIARIMA foi realizado pelo IPAT

vinculado agrave UNESC e Plural

A previsatildeo de construccedilatildeo da USITESC eacute de 40 meses A aacuterea a

ser ocupada pela usina localiza-se na margem direita do rio Matildee Luzia

tem aproximadamente 500000m2 e pertence agrave Carboniacutefera

Metropolitana sendo utilizada como depoacutesito de rejeitos (Figura 10)

(UNESC PLURAL 2006)

Figura 10 - Aacuterea prevista para a implantaccedilatildeo da USITESC

Fonte UNESC Plural 2006 p 5

164

Para a produccedilatildeo de energia termeleacutetrica a usina vai utilizar carvatildeo

bruto da camada Bonito (70) e rejeitos da camada Barro Branco

(30) que seratildeo fornecidos pelas duas empresas que compotildeem o

consoacutercio O consumo meacutedio anual previsto eacute de 1900000 toneladas de

carvatildeo e 820000 toneladas de rejeito A USITESC teraacute potecircncia

instalada de 440 MW e segundo a descriccedilatildeo do empreendimento vai

gerar 180 empregos diretos (FATMA 2013a fl 34)

Na justificativa do EIARIMA destacou-se a importacircncia

estrateacutegica do carvatildeo dada a dependecircncia hidroenergeacutetica e a

inseguranccedila quanto agrave importaccedilatildeo do gaacutes natural e o uso de tecnologias

limpas de queima de carvatildeo Natildeo satildeo citados dados sobre consumo e

demanda A USITESC adquire importacircncia na recuperaccedilatildeo ambiental do

Sul jaacute que vai consumir os rejeitos (UNESC PLURAL 2006)

Para gerar energia termeleacutetrica a USITESC vai utilizar o ciclo

teacutermico regenerativo com uso de caldeira de leito fluidizado que

recupera calor exigindo um consumo menor de combustiacutevel A

combustatildeo em leito fluidizado circulante reduz a produccedilatildeo de oacutexidos de

nitrogecircnio O controle das emissotildees atmosfeacutericas seraacute feito atraveacutes da

injeccedilatildeo de calcaacuterio na caldeira (Consumo meacutedio anual de 150000

toneladas) e de um sistema de filtragem que utilizaraacute amocircnia (consumo

meacutedio anual entre 72000 a 80000 toneladas Como resultado seratildeo

obtidas aproximadamente 300000 toneladas de sulfato de amocircnia que

seratildeo utilizadas na produccedilatildeo de fertilizantes quiacutemicos Quanto ao

consumo de aacutegua prevecirc-se um consumo meacutedio de 32 ls (115m3h) no

processo e 2361 ls (848m3h) no resfriamento Soacute a tiacutetulo de

comparaccedilatildeo para o abastecimento de Criciuacutema e municiacutepios vizinhos

satildeo utilizados 800ls do rio Satildeo Bento localizado na sub-bacia do Rio

Matildee Luzia (UNESC PLURAL 2006)16

Na avaliaccedilatildeo de impactos constam no RIMA oito impactos no

meio fiacutesico seis impactos no meio bioacutetico e 11 no meio antroacutepico

(Quadro 10) Dentre os impactos listados os de maior expressatildeo satildeo

16

O alto consumo de aacutegua e a construccedilatildeo de uma barragem no Rio

Matildee Luzia foram desde o iniacutecio do processo de licenciamento

pontos polecircmicos do projeto Devido a esses pontos o projeto foi

alterado de torre uacutemida para torre seca diminuindo o consumo de

aacutegua para 115m3h em todo o processo

165

reduccedilatildeo na geraccedilatildeo de drenagem aacutecida (considerado um impacto

positivo) alteraccedilatildeo da qualidade do ar (principalmente durante a

construccedilatildeo da Usina com a movimentaccedilatildeo de veiacuteculos pesados o

dioacutexido de enxofre pode elevar-se) reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua

(com as torres de resfriamento uacutemidas) e impacto sobre aacutereas

protegidas

Quadro 10- Impactos sobre o Meio Fiacutesico Bioacutetico e Antroacutepico e

accedilotildees geradoras IMPACTOS SOBRE O

MEIO FIacuteSICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Solo Intensificaccedilatildeo de

processos erosivos e

de assoreamento

Obras de corte e aterro necessaacuterias agrave

implantaccedilatildeo do empreendimento

Contaminaccedilatildeo do solo

pela disposiccedilatildeo de

resiacuteduos soacutelidos e

efluentes

Operaccedilatildeo da usina resiacuteduos produzidos

durante as fases de construccedilatildeo e operaccedilatildeo da

usina

Reduccedilatildeo da geraccedilatildeo

de drenagem aacutecida

Consumo de rejeito do beneficiamento de

carvatildeo e recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

pela mineraccedilatildeo

Aacutegua

Alteraccedilatildeo na

qualidade das aacuteguas

superficiais

Construccedilatildeo da usina efluentes oleosos

como oacuteleos e graxas advindos da

manutenccedilatildeo de maacutequinas e caminhotildees

ligados agraves obras eou do armazenamento

temporaacuterio de combustiacuteveis e lubrificantes

Efluentes a serem descartados pelo

empreendimento durante a fase de operaccedilatildeo

Alteraccedilatildeo na

qualidade das aacuteguas

subterracircneas

Disposiccedilatildeo inadequada de resiacuteduos soacutelidos

efluentes sanitaacuterios efluentes industriais

Reduccedilatildeo da

disponibilidade de

aacutegua

Operaccedilatildeo da usina captaccedilatildeo de aacutegua para

torre de resfriamento da usina

Ar e

ruiacutedo

Alteraccedilatildeo da

qualidade do ar

Aumento do traacutefego de veiacuteculos pesados

movimentaccedilatildeo de veiacuteculos em aacutereas natildeo

pavimentadas operaccedilatildeo da usina manuseio

do combustiacutevel

Alteraccedilatildeo das

condiccedilotildees de ruiacutedo de

fundo

Traacutefego e operaccedilatildeo de veiacuteculos pesados

operaccedilatildeo de equipamentos como

compressores britadores sondas etc

operaccedilatildeo dos equipamentos da usina

166

IMPACTOS SOBRE O

MEIO BIOacuteTICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Fauna

e

Flora

Reduccedilatildeo de habitats

para a fauna local

Preparaccedilatildeo da aacuterea de implantaccedilatildeo da usina

obras de terraplenagem e retirada da

cobertura vegetal

Evasatildeo da fauna Ruiacutedos produzidos durante a fase de

implantaccedilatildeo e construccedilatildeo da usina alteraccedilatildeo

da qualidade do ar e perda de habitats devido

agraves obras de terraplenagem

Impacto sobre a

avifauna

Operaccedilatildeo da usina

Impacto sobre a fauna

de peixes e

organismos aquaacuteticos

Construccedilatildeo da usina operaccedilatildeo da usina

manutenccedilatildeo de equipamentos transporte e

armazenamento de reagentes e outros

insumos natildeo inertes

Impacto sobre a

vegetaccedilatildeo

remanescente e

culturas

Traacutefego de veiacuteculos movidos a oacuteleo diesel

operaccedilatildeo da usina (queima de carvatildeo)

Impacto sobre as aacutereas

protegidas

Periacuteodo de construccedilatildeo da usina contingente

de trabalhadores e operaccedilatildeo da usina

IMPACTOS SOBRE O

MEIO ANTROacutePICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Geraccedilatildeo de conflitos Contrataccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

instalaccedilatildeo do canteiro de obras

Geraccedilatildeo de

expectativa e

mobilizaccedilatildeo da

comunidade

Estudos e projetos contrataccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

Sobrecarga da infra-

estrutura social

existente

Obras da usina contrataccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

da matildeo-de-obra

Geraccedilatildeo de emprego Construccedilatildeo da usina operaccedilatildeo da usina

mineraccedilatildeo do carvatildeo serviccedilos terceirizados

Geraccedilatildeo de renda e

ampliaccedilatildeo da oferta de

serviccedilos

Construccedilatildeo e operaccedilatildeo da usina

Atraccedilatildeo de matildeo-de-

obra de outras aacutereas

Construccedilatildeo da usina contrataccedilatildeo e

desmobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

Incremento do

desenvolvimento

econocircmico

Operaccedilatildeo da usina

Mudanccedila no cotidiano

da comunidade

Obras da usina contrataccedilatildeo de matildeo-de-obra

de outras regiotildees demanda por serviccedilos e

167

sobrecarga da infra-estrutura social

alteraccedilatildeo do padratildeo de traacutefego dos veiacuteculos

Alteraccedilatildeo das

condiccedilotildees de sauacutede da

populaccedilatildeo

Implantaccedilatildeo da usina fase das obras e

operaccedilatildeo da usina emissatildeo de gases ruiacutedo

disposiccedilatildeo das cinzas e depoacutesito temporaacuterio

de carvatildeo e reagentes

Aumento do traacutefego

de veiacuteculos e pressatildeo

sobre a infra-estrutura

viaacuteria

Obras da usina obras complementares

operaccedilatildeo da usina transporte de insumos de

subprodutos e de resiacuteduos

Aumento do risco de

acidentes de tracircnsito

Obras da usina transporte de pessoas e

insumos

Impacto na paisagem

local e perda de

referecircncias histoacuterico-

culturais

Obras da usina e complementares

Interferecircncia em siacutetios

arqueoloacutegicos

Obras complementares da usina barragem e

reservatoacuterio estradas e vias de acesso linha

de transmissatildeo

Fonte UNESC Plural (2006 p 34-5)

No EIARIMA natildeo haacute nenhuma referecircncia aos empreendimentos

acessoacuterios a saber o reservatoacuterio de aacutegua a ser construiacutedo no rio Matildee

Luzia a extensatildeo da ferrovia entre Sideroacutepolis e a Mina Esperanccedila e

Fontanella a linha de transmissatildeo que vai conectar a subestaccedilatildeo da

ELETROSUL em Sideroacutepolis com a Usina e o terminal de recebimento

e estocagem de amocircnia no Porto de Imbituba Os empreendimentos

acessoacuterios seratildeo tratados na sessatildeo 63 deste capiacutetulo Faltou tambeacutem

mencionar nos impactos sobre o meio antroacutepico da desarticulaccedilatildeo da

estrutura econocircmica existente o pequeno comeacutercio a lavoura de

subsistecircncia a pesca artesanal as atividades domeacutesticas etc

Tendo como referecircncia os impactos listados no Quadro 10 foram

propostas 59 medidas mitigatoacuterias sendo 25 preventivas duas

corretivas trecircs preventivas e corretivas 17 compensatoacuterias nove de

acompanhamento e trecircs de controle

Dentre os programas ambientais propostos para a USITESC

destacam-se programa de monitoramento ambiental programa de

conservaccedilatildeo da fauna e flora programa de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

arqueoloacutegico programa de comunicaccedilatildeo social programa de

gerenciamento de risco programa de reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas

168

programa de gestatildeo ambiental e programa de fomento ao

desenvolvimento sustentaacutevel No Quadro 11 uma siacutentese dos programas

e seus alvos principais

Quadro 11 - Siacutentese dos Programas da USITESC e alvos principais PROGRAMA ALVO

Monitoramento ambiental Qualidade do ar solo e aacutegua

Adequaccedilatildeo da infraestrutura baacutesica Rodovias sauacutede educaccedilatildeo e

abastecimento de aacutegua

Controle ambiental Qualidade do ar solo e aacutegua na aacuterea

do empreendimento

Conservaccedilatildeo da fauna e flora Fauna e flora no entorno do

empreendimento

Preservaccedilatildeo do patrimocircnio

arqueoloacutegico

Patrimocircnio arqueoloacutegico da regiatildeo

Comunicaccedilatildeo social Informaccedilotildees atualizadas sobre o

empreendimento para a comunidade

Gerenciamento de risco Armazenamento de produtos

perigosos

Reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas Entorno do empreendimento

Gestatildeo ambiental Processo decisoacuterio da Usina e relaccedilatildeo

com os colaboradores

Fomento ao desenvolvimento

sustentaacutevel

Criaccedilatildeo de um fundo de fomento agrave

atividades de recuperaccedilatildeo ambiental

melhoria da qualidade de vida e

desenvolvimento sustentaacutevel

Fonte Baseado em UNESC Plural (2006)

Quando analisadas as perspectivas para a regiatildeo com e sem a

implantaccedilatildeo do empreendimento alguns aspectos podem ser destacados

Sem o empreendimento natildeo haveria pressatildeo antroacutepica e a regiatildeo seguiria

as atuais tendecircncias de desconcentraccedilatildeo crescimento moderado da

atividade agropecuaacuteria continuidade da atividade carboniacutefera num

cenaacuterio de suposta estagnaccedilatildeo econocircmica Com o empreendimento

haveria uma dinamizaccedilatildeo da economia municipal geraccedilatildeo de emprego e

renda o consumo do rejeito para geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica e a pressatildeo antroacutepica na aacuterea de influecircncia da USITESC inclusive aacutereas

preservadas (UNESC PLURAL 2006)

169

622 Das audiecircncias puacuteblicas e licenccedilas

O processo de licenciamento da USITESC contou com a

realizaccedilatildeo de quatro audiecircncias puacuteblicas que ocorreram de acordo com

a resoluccedilatildeo do CONAMA nordm 00987 As audiecircncias aconteceram no

municiacutepio de Treviso A primeira ocorreu em 19 de fevereiro de 2004 a

segunda em oito de julho de 2004 a terceira em 16 de maio de 2006 e a

quarta em 8 de novembro de 2007 A realizaccedilatildeo das quatro audiecircncias

puacuteblicas se deve ao fato de que vaacuterias informaccedilotildees natildeo constavam do

EIARIMA tendo sido solicitados estudos complementares que

incluiacuteam tambeacutem os empreendimentos acessoacuterios

Apoacutes a terceira audiecircncia puacuteblica em trecircs de julho de 2006

Darlan Aiacuterton Dias Procurador da Repuacuteblica enviou uma

correspondecircncia para o entatildeo presidente da FATMA Jacircnio Wagner

Constante informando que o licenciamento da USITESC e do

reservatoacuterio de aacutegua precisam ser conjuntos sob pena de fracionar o

licenciamento (FATMA 2013d fl 687) O procurador da repuacuteblica

recomendou que ldquonatildeo seja concedida LP para a USITESC sem que

antes seja apresentado EIARIMA relativo agrave construccedilatildeo do reservatoacuterio

no rio Matildee Luzia o qual deveraacute ser publicado e submetido a audiecircncia

puacuteblica conforme determina a legislaccedilatildeo vigenterdquo (FATMA 2013d fl

687)

Em seis de marccedilo de 2007 Alfredo Flavio Gazzolla informou ao

novo presidente da FATMA Carlos L Kreuz que diante da situaccedilatildeo

colocada a USITESC estava alterando seu projeto original mudando o

sistema de resfriamento da usina e reduzindo o consumo de aacutegua a 10

do previsto anteriormente (FATMA 2013e fl 831)

Com a alteraccedilatildeo do projeto o Procurador da Repuacuteblica Darlan

Airton Dias em oito de maio de 2007 informou a necessidade da

realizaccedilatildeo de uma nova audiecircncia puacuteblica ldquoConsiderando a mudanccedila

conceitual no projeto eventual concessatildeo de Licenccedila Ambiental Preacutevia

ndash LAP depende da realizaccedilatildeo de nova audiecircncia puacuteblicardquo (FATMA

2013e fl 842-3) Apoacutes a realizaccedilatildeo da quarta audiecircncia puacuteblica em 8 de novembro de 2007 a LP foi concedida em 14 de dezembro de 2007

(LAP nordm 1482007) (FATMA 2013f fl 1065)

Em 31 de marccedilo de 2008 foi comunicada a Alteraccedilatildeo da

composiccedilatildeo acionaacuteria da USITESC 95 do capital foi assumido pela

170

Linear Participaccedilotildees e Incorporaccedilotildees Ltda e os 5 restantes ficam com

as Carboniacuteferas Criciuacutema e Metropolitana A comunicaccedilatildeo remetida por

Kaioaacute Gomes diretor teacutecnico da Linear foi endereccedilada ao novo

presidente da FATMA Murilo Xavier Flores (FATMA 2013f fl

1111)

Em dois de marccedilo de 2010 foi concedida a LI (LAI nordm 06GELUR

2010) (FATMA 2013h fl 1540) Ainda em 2010 foi estabelecido o

Termo de Compromisso de Compensaccedilatildeo Ambiental R$ 670800000 a

serem aplicados na Reserva Bioloacutegica Estadual do Aguaiacute (FATMA

2013h fl 1549-1554)

Em 15 de fevereiro de 2013 Kaioaacute Gomes solicitou a

prorrogaccedilatildeo da LI (FATMA 2013h fl 1607-08) Em resposta Ivana

Becker concluiu ser viaacutevel a prorrogaccedilatildeo da LI pelo prazo de 36 meses

(FATMA 2013h fl 1603-5)

A solicitaccedilatildeo de estudos complementares e as quatro audiecircncias

puacuteblicas parecem demonstrar uma estrateacutegia de desinformaccedilatildeo por parte

dos segmentos econocircmicos O papel do Ministeacuterio Puacuteblico foi chave no

questionamento e equacionamento dessa questatildeo

623 Pressotildees dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos no processo de

licenciamento

Um aspecto interessante na anaacutelise do discurso dos documentos

do processo de licenciamento foi a pressatildeo exercida pela USITESC e

pelo Governo do Estado sobre a FATMA Em janeiro de 2005 o entatildeo

presidente da USITESC enviou uma carta ao governo do estado

questionando o tratamento dado pela FATMA ao processo de

licenciamento ambiental destacando a importacircncia da USITESC e

sugerindo uma falta de sintonia entre FATMA e poder executivo

conforme trecho da carta a seguir

Esta empresa gostaria de registrar seu protesto e

indignaccedilatildeo pelo peacutessimo tratamento dado por esta

Fundaccedilatildeo ao processo de licenciamento ambiental

da USITESC embora tenhamos sempre procurado

dar o maacuteximo de suporte e pautado nossa postura

171

no sentido da maacutexima cooperaccedilatildeo e pronto

atendimento a qualquer solicitaccedilatildeo da FATMA

Nossa paciecircncia esgota-se no momento em que

percebemos o descaso com que eacute tratado um

projeto da magnitude da Usina Termeleacutetrica Sul

Catarinense ndash USITESC cujo conceito de

desenvolvimento vem desde o iniacutecio de seus

estudos buscando a melhor integraccedilatildeo do projeto

com sua aacuterea de influecircncia e geraccedilatildeo de resultados

positivos para o meio ambiente em que se insere

()

Este fato contrasta com as manifestaccedilotildees puacuteblicas

de apoio ao Projeto USITESC recebidas do

Governo Estadual pelos empreendedores e revela

falta de sintonia entre a Fatma e o poder executivo

do Estado de Santa Catarina (Alfredo Flaacutevio

Gazzolla presidente da USITESC FATMA

2013c fl 357 e 359)

Em marccedilo de 2005 o vice-governador em exerciacutecio Eduardo

Pinho Moreira cobrou um posicionamento do diretor geral da FATMA

Janio Wagner Constante

Pela inegaacutevel importacircncia da instalaccedilatildeo da Usina

para o Estado de Santa Catarina e tendo em vista

ter a mesma cumprido com todas as

recomendaccedilotildees ministeriais solicito-lhe urgecircncia

na anaacutelise teacutecnica do projeto pelo que agradeccedilo

antecipadamente (FATMA 2013b fl 352)

Em dezembro de 2005 novamente Alfredo Flaacutevio Gazzolla

enviou carta ao governador do estado Luiz Henrique da Silveira

pedindo a determinaccedilatildeo de um ldquomelhor estudordquo para a emissatildeo da LP

Assim em respeito ao vosso honrado nome e na

defesa do maior empreendimento em estudo no

estado de Santa Catarina solicito seus preacutestimos

no sentido de determinar um melhor estudo

quanto agrave emissatildeo da LAP sem a qual estaremos

impossibilitados de participar do proacuteximo leilatildeo

de energia no semestre vindouro (FATMA

2013c fl 388)

172

Na mesma carta o presidente da USITESC solicitou a licenccedila

preacutevia independente da conclusatildeo do Estudo Suplementar solicitado

pela FATMA

Solicita-se ao Governo do Estado que emita a

Licenccedila Preacutevia para a USITESC

independentemente da conclusatildeo do Estudo

Suplementar solicitado pela FATMA jaacute que nada

impede a FATMA de emitir esta licenccedila uma vez

que o empreendedor cumpriu todas as exigecircncias

legais cabiacuteveis para sua obtenccedilatildeo e que a FATMA

poderaacute nela colocar todos os condicionantes que

considerar pertinentes tendo em vista assegurar a

viabilidade da continuidade do processo de

licenciamento ambiental da USITESC (FATMA

2013c fl 390)

Em resposta Luiz Antocircnio Garcia Correcirca Diretor de controle

ambiental da FATMA em 19 de dezembro de 2005 repreendeu a

USITESC quanto agraves manifestaccedilotildees da miacutedia que relacionavam o natildeo

licenciamento da USITESC e a natildeo participaccedilatildeo no leilatildeo da ANEEL a

uma decisatildeo da FATMA

Temos observado manifestaccedilotildees equivocadas na

miacutedia provenientes de representante do SIECESC

relativa ao processo de licenciamento ambiental

reputado inclusive a FATMA a natildeo participaccedilatildeo

da USITESC no leilatildeo da ANEEL o que natildeo

condiz com a realidade Tais fatos em nada

contribuem ao processo de licenciamento

ambiental (FATMA 2013c fl 641-642)

O conteuacutedo das correspondecircncias demonstra as articulaccedilotildees entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos Depois de 2005 natildeo constam mais

correspondecircncias relacionadas Eacute importante frisar que eacute em 2005 que

surgiu a Frente Parlamentar Mista em defesa do Carvatildeo Mineral e

aumentaram as doaccedilotildees das carboniacuteferas aos poliacuteticos Dessa forma

sugere-se que se ateacute 2005 a pressatildeo sobre o oacutergatildeo ambiental era

173

exercida diretamente apoacutes 2005 com uma maior articulaccedilatildeo a pressatildeo

pode ser exercida de outras formas natildeo passando necessariamente pelo

oacutergatildeo ambiental

624 A posiccedilatildeo dos segmentos sociais

Os segmentos sociais se posicionaram contra a ampliaccedilatildeo da

energia termeleacutetrica ao longo do processo de licenciamento Na ocasiatildeo

da primeira audiecircncia puacuteblica em 19 de fevereiro de 2004 a ONG

Amigos da Terra Brasil enviou a seguinte mensagem

Amigos da Terra se solidariza com as entidades da

regiatildeo sul de Santa Catarina e acredita que as lutas

locais satildeo responsaacuteveis pela resistecircncia agraves

injusticcedilas socioambientais e pela promoccedilatildeo das

mudanccedilas necessaacuterias para um futuro sustentaacutevel

Um futuro onde as energias renovaacuteveis podem

promover descentralizaccedilatildeo universalizaccedilatildeo do

acesso controle social e empregos sem a

contaminaccedilatildeo local e o aquecimento global

decorrentes do uso do carvatildeo mineral (FATMA

2013c Fl 463)

O Grupo de Trabalho Energia do FBOMS tambeacutem enviou uma

mensagem

As organizaccedilotildees do GT Energia do Foacuterum

Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento expressam

sua solidariedade agraves populaccedilotildees direta ou

indiretamente afetadas pelos impactos da

mineraccedilatildeo e queima do carvatildeo mineral para a

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica na regiatildeo sul de

Santa Catarina () Conhecendo os graves

impactos jaacute causados pelas atividades carboniacuteferas

no Sul de Santa Catarina temos a certeza do

equiacutevoco que representa a instalaccedilatildeo de mais uma

174

usina a carvatildeo na regiatildeo (FATMA 2013c fl

464)

O Movimento pela Vida de Iccedilara tambeacutem registrou sua posiccedilatildeo

ldquoA regiatildeo natildeo suporta mais impactos ambientais eacute preciso mais

seriedade quando se discute qualquer accedilatildeo que interfira na natureza e na

qualidade de vida das crianccedilas dos jovens das mulheres e dos homens

que vivem na regiatildeordquo (FATMA 2013c fl 466)

Na ocasiatildeo da segunda audiecircncia puacuteblica 8 de julho de 2004 natildeo

constaram manifestaccedilotildees escritas Na terceira audiecircncia puacuteblica 16 de

maio de 2006 em carta da ONG Soacutecios da Natureza assinada por Tadeu

Santos agrave Direccedilatildeo da FATMA ficou registrado que havia uma

solicitaccedilatildeo ldquo() agrave FATMA que realizasse a terceira AP em Criciuacutema ou

mesmo em Araranguaacute jaacute que se trata de um empreendimento que

comprovadamente promove impactos ambientais em toda regiatildeordquo E

mais a frente ao falar sobre o processo de licenciamento afirmou que

ldquosomos atores num circo montado para apresentar uma peccedila com o final

desejado pelo empreendedorrdquo (FATMA 2013c fl 538-542)

Na quarta audiecircncia puacuteblica 8 de novembro de 2007 tambeacutem

natildeo constam manifestaccedilotildees escritas Em 19 de maio de 2011 a Diocese

de Criciuacutema enviou um manifesto para o entatildeo presidente da FATMA

Murilo Xavier Flores contra a instalaccedilatildeo da USITESC (FATMA

2013h fl 1601)

A articulaccedilatildeo dos segmentos sociais apresenta estrateacutegias

importantes que convergem com o enfoque da justiccedila ambiental A

difusatildeo espacial do movimento torna-se vital quando aleacutem dos impactos

regionais a populaccedilatildeo diretamente afetada pelo empreendimento tem

uma forte dependecircncia do segmento em questatildeo Conforme jaacute

mencionamos neste capiacutetulo 69 dos empregos com carteira assinada

satildeo oferecidos pelo segmento do carvatildeo mineral e boa parte da

arrecadaccedilatildeo da prefeitura local vem desta atividade Dessa forma natildeo se

verifica uma resistecircncia local ao empreendimento daiacute porque os

segmentos sociais sediados em outros municiacutepios regiotildees estados

brasileiros desempenham um papel fundamental no questionamento do

empreendimento

175

63 Relaccedilotildees de poder e desigualdade nas audiecircncias puacuteblicas os

documentos falados

No estado de Santa Catarina o procedimento adotado durante

uma audiecircncia puacuteblica eacute descrito resumidamente no Quadro 12 A

coordenaccedilatildeo dos trabalhos eacute feita pela FATMA e o tempo de duraccedilatildeo

maacuteximo da audiecircncia puacuteblica eacute de quatro horas Eacute feita uma abertura da

sessatildeo na qual o presidente da mesa esclarece os objetivos e transmite

as regras gerais Na sequecircncia o empreendedor apresenta o projeto e a

consultoria apresenta o EIARIMA Um intervalo de 15 minutos eacute feito

para que os presentes possam se inscrever Os questionamentos satildeo

feitos por ordem de inscriccedilatildeo e podem ser orais ou escritos Os escritos

satildeo lidos pelo coordenador da sessatildeo e os orais devem ser formulados

em trecircs minutos O empreendedor e a consultoria tecircm cinco minutos

para responder e ainda constam dois minutos para reacuteplica e trecircs minutos

para treacuteplica O encerramento eacute feito pelo coordenador da sessatildeo

Quadro 12 - Procedimento para conduccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas

FATMA ETAPAS DA AUDIEcircNCIA TEMPO

Abertura FATMA (10min)

Exposiccedilotildees Proponente do projeto (20min)

Consultoria responsaacutevel pelo

EIARIMA (45min)

Manifestaccedilatildeo da plenaacuteria e debates Intervalo para inscriccedilotildees (15min)

Questionamento (3min)

Resposta (5min)

Reacuteplica (2min)

Treacuteplica (3min)

Encerramento FATMA (sem tempo definido)

Fonte Adaptado de FATMA (2013a fl 101-2)

A elaboraccedilatildeo do projeto da USITESC iniciou em 1999 (Luis

Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007) Em 19 de

fevereiro de 2004 foi realizada a primeira audiecircncia puacuteblica Na

abertura foi lido um ofiacutecio do Ministeacuterio Puacuteblico Federal avisando que

seria requerida uma segunda audiecircncia puacuteblica dado que o EIA

precisava da anaacutelise dos peritos da quarta cacircmara de Brasiacutelia A segunda

audiecircncia puacuteblica foi realizada no dia 8 de julho de 2004 por solicitaccedilatildeo

da FATMA para discutir o projeto da USITESC com o Comitecirc Gestor

176

da Bacia do Rio Araranguaacute porque havia uma preocupaccedilatildeo com o

consumo de aacutegua Motivado pela recomendaccedilatildeo nordm 14 foi contratado

entatildeo um estudo de suplementaccedilatildeo Esse estudo foi apresentado na

terceira audiecircncia puacuteblica em 16 de maio de 2006 tratando dos

empreendimentos acessoacuterios da USITESC (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

As duas audiecircncias puacuteblicas analisadas neste capiacutetulo a terceira e

quarta audiecircncia de 16 de maio de 2006 e 8 de novembro de 2007

respectivamente seguiram o procedimento acima apresentado Em

ambas constatou-se um rigor maior no controle do tempo dos

participantes que apresentaram seus questionamentos que com os

respondentes (empreendedor IPAT Ministeacuterio Puacuteblico Federal e

FATMA) Foram convidados para tomar assento na mesa representantes

da FATMA Ministeacuterio Puacuteblico Federal empreendedor IPAT

prefeitura e SIESESC Diante disso cabe questionar Por que somente

representantes dos segmentos poliacuteticos e econocircmicos tiveram assento na

mesa de trabalho Por que os representantes dos segmentos sociais natildeo

tiveram assento

Na quarta audiecircncia mediada por Adhiles Bortot da FATMA foi

utilizada uma sequecircncia diferente nos questionamentos orais e escritos

natildeo foi respeitada a ordem de chegada Os questionamentos escritos

foram lidos primeiro Em muitos momentos nos questionamentos orais

diante de colocaccedilotildees polecircmicas Adhiles Bortot passava para a pergunta

seguinte como se o questionamento natildeo precisasse ser respondido Por

vaacuterias vezes ele foi interrompido pelo IPAT e Ministeacuterio Puacuteblico

Federal que queriam comentar as intervenccedilotildees do puacuteblico Outro ponto

que merece ser destacado eacute que ele interrompia repetidamente o

questionador pedindo que o tempo fosse respeitado Logo as pessoas

que faziam questionamentos resumiam sua fala sobrando mais tempo

para os respondentes

Nas proacuteximas seccedilotildees desse capiacutetulo a partir da transcriccedilatildeo e

anaacutelise das audiecircncias puacuteblicas encontram-se trechos selecionados de

temas Fragmentos dos discursos dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais foram destacados e comentados a partir dos pontos mais

controvertidos

177

631 A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica

Os discursos das audiecircncias puacuteblicas proacute USITESC tenderam a

minimizar os impactos causados pelo empreendimento ressaltando seus

aspectos positivos Os segmentos econocircmicos representados pelo

empreendedor situaram a USITESC num contexto mundial no qual o

carvatildeo mineral eacute base da matriz energeacutetica O uso de novas tecnologias

e a situaccedilatildeo do Brasil colocaria as emissotildees de gases de efeito estufa

como insignificantes na matriz energeacutetica brasileira

() os estudos energeacuteticos mostram que o carvatildeo

ainda seraacute a base da matriz energeacutetica mundial ateacute

o ano de 2050 no miacutenimo O incremento de

novos projetos a carvatildeo vem paulatinamente

recebendo tratamento tecnoloacutegico para minimizar

a formaccedilatildeo de gases de efeito estufa Isso eacute uma

verdade () a contribuiccedilatildeo do Brasil para o efeito

estufa com novas usinas a carvatildeo eacute insignificante

perante o quadro mundial Soacute para citar um

exemplo esse ano soacute na Alemanha foram

contratados mais de oito mil novos megawatts a

carvatildeo O Brasil todo tem pouco mais de mil

megawatts a carvatildeo instalados A USITESC estaacute

propondo colocar uma potecircncia bruta de 200440

dos quais vai gerar em meacutedia 280 a 300

Alemanha tem 70 mil megawatts de carvatildeo

instalados O nordeste dos Estados Unidos tem

350 mil soacute o nordeste dos Estados Unidos 350

mil megawatts de carvatildeo instalados (Luis Carlos

Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

A ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral eacute

ldquonecessaacuteriardquo para o Brasil e a USITESC eacute um empreendimento

economicamente viaacutevel

() o sistema eleacutetrico brasileiro necessita da

geraccedilatildeo teacutermica e para isso o carvatildeo mineral eacute

sem duacutevida o nosso melhor potencial a USITESC

utilizaraacute um combustiacutevel de baixo custo os niacuteveis

tarifaacuterios sinalizados para o horizonte de

contrataccedilatildeo da energia da Usina indicam boa

rentabilidade para o Projeto adicional pela venda

178

do sulfato de amocircnia 320000 toneladas por ano

(Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Os impactos ambientais e riscos foram minimizados nas

colocaccedilotildees garantindo-se que os investidores internacionais natildeo

participam de empreendimentos que contrariem a legislaccedilatildeo e possuam

risco ambiental A atuaccedilatildeo fiscalizadora do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

tambeacutem foi citada Natildeo foi destacada em nenhum momento a

importacircncia da FATMA

() a USITESC significa um investimento global

da ordem de 750 milhotildees de doacutelares Esse

dinheiro natildeo vai ser buscado em algum fundo de

quintal Esse dinheiro tem investidores

internacionais e ningueacutem arrasta dinheiro

ningueacutem bota dinheiro em empreendimento que

possui risco ambiental A maior garantia que vocecirc

tem que um projeto vai ser implantado com a

qualidade ambiental que estaacute sendo anunciada eacute

que hoje os auditores internacionais natildeo aprovam

os financiamentos se o projeto natildeo estiver de

acordo com aquela disposiccedilatildeo feita no papel

(Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

O que noacutes estamos querendo implantar aqui na

regiatildeo natildeo eacute nada de coisa anormal que vai

prejudicar algueacutem Mesmo porque () o

Ministeacuterio Puacuteblico natildeo vai deixar noacutes cometermos

barbaridade () Eu digo a todos vocecircs o seguinte

como o proacuteprio Banco Mundial me disse laacute em

Washington ldquose vocecircs tiverem algum problema de

poluiccedilatildeo ao implantar o projeto noacutes natildeo daremos

um centavo sequer (Alfredo Flaacutevio Gazzolla

USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

A importacircncia do empreendimento para a regiatildeo e para o municiacutepio tambeacutem foi destacada Ele vai trazer desenvolvimento para

Treviso e regiatildeo com geraccedilatildeo de emprego e renda E quanto agrave

dependecircncia do municiacutepio em relaccedilatildeo ao carvatildeo Luis Carlos Cunha

garantiu que o municiacutepio diversificaraacute sua economia

179

Ora cinquenta anos eacute um prazo bastante grande

pra pra pra um desenvolvimento de outras

atividades no municiacutepio Natildeo vai o municiacutepio natildeo

vai ficar estagnado somente na mina e numa

Usina E a Usina eacute multiplicadora na medida em

que ela vai proporcionar com os seus subprodutos

o sulfato de amocircnia e a proacutepria cinza que eacute uma

mateacuteria prima importante para a construccedilatildeo civil

etc a implantaccedilatildeo de outros empreendimentos na

regiatildeo ou no proacuteprio municiacutepio pra

aproveitamento industrial desses subprodutos e

presumo ao longo de cinquenta anos outras

oportunidades apareceratildeo para o municiacutepio dentro

das suas vocaccedilotildees (Luis Carlos Cunha USITESC

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A usina foi colocada pelo empreendedor como uma forma de

recuperaccedilatildeo ambiental jaacute que vai ser construiacuteda em aacuterea degradada e

utilizar 30 de rejeito como mateacuteria prima para geraccedilatildeo de energia ldquoA

rigor a instalaccedilatildeo da Usina nessa localizaccedilatildeo significa uma accedilatildeo de

recuperaccedilatildeo ambientalrdquo (Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

O maior impacto ambiental segundo o representante do

empreendedor eacute a pressatildeo sobre a infraestrutura urbana de Treviso que

seraacute devidamente minimizada com investimentos nessa aacuterea Como

principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo foi destacada a geraccedilatildeo de emprego e

renda apresentada ao puacuteblico da audiecircncia atraveacutes da Tabela 28

Tabela 28 ndash Principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo com a construccedilatildeo da

USITESC SETOR DA

ECONOMIA

EMPREGOS

DIRETOS

EMPREGOS

INDIRETOS

Mineraccedilatildeo de carvatildeo 400-500

Mineraccedilatildeo de calcaacuterio ~60

Geraccedilatildeo de energia ~150

Amocircnia e sulfato de

amocircnia

~60

Transportes diversos ~140

Restante da economia

associada

4500

Fonte Luis Carlos Cunha USITESC Audiecircncia Puacuteblica (2007)

180

Os segmentos poliacuteticos tambeacutem se posicionaram em relaccedilatildeo agrave

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica O representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal ressaltou a necessidade da ampliaccedilatildeo da oferta de

energia eleacutetrica resguardando seu posicionamento teacutecnico-legal

E aiacute o Brasil estaacute numa encruzilhada no meu

ponto de vista e aqui isso que noacutes estamos

vivendo em Treviso eacute um microcosmo do que taacute

acontecendo no paiacutes Porque o paiacutes estaacute diante de

uma crise energeacutetica noacutes tivemos um apagatildeo

daqui a um tempo vamos ter outro aqui noacutes

estamos discutindo USITESC mas tem problema

de usina hidreleacutetrica em Itaacute em Anita Garibaldi

em Belo Monte laacute na Amazocircnia e natildeo sei mais

aonde e noacutes estamos refeacutem do gasoduto do Evo

Morales Entatildeo Esse eacute um questionamento pra

noacutes brasileiros como um todo Claro que natildeo

somos noacutes aqui que vamos resolver isso mas

temos que ter isso em mente E isso passa pelo

presidente da repuacuteblica pelo Congresso a

sociedade tem que ter uma resposta pra isso

porque noacutes queremos luz eleacutetrica queremos o

desenvolvimento econocircmico Entatildeo daonde vai

sair a energia Algum impacto ambiental em

algum lugar vai ter que ter Eacute claro que noacutes

queremos o mais longe possiacutevel do nosso quintal

E o papel do Ministeacuterio Puacuteblico nesse processo eacute

um oacutergatildeo independente que fiscaliza E noacutes

estamos fiscalizando esse processo da USITESC

com base olhando duas coisas o cumprimento da

legislaccedilatildeo e os aspectos teacutecnicos Vocecircs viram

aqui que tem uma equipe teacutecnica trabalhando

temos outros profissionais que estatildeo trabalhando

nisso () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico

Federal AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A prefeita Lucia Simolin enfatizou a situaccedilatildeo de dependecircncia do municiacutepio em relaccedilatildeo agrave atividade carboniacutefera

Eacute verdade tambeacutem que Treviso hoje tem a

seguinte realidade incontestaacutevel feliz ou

infelizmente 80 da nossa economia faltando

alguns poucos deacutecimos praticamente

181

arredondando para 80 depende da economia da

extraccedilatildeo do carvatildeo mineral nos seus diversos tipos

de exploraccedilatildeo e usos Em torno de 20 gira em

torno da produccedilatildeo agropecuaacuteria embora a gente

tenha 168km2 de aacuterea Entatildeo senhores a

exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral para Treviso ela eacute

equivalente agrave monocultura do arroz para Turvo e

Meleiro Essa eacute uma realidade teacutecnica e

administrativa que natildeo eacute do dia pra noite que a

gente pode alterar (Lucia Simolin prefeita

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

() noacutes temos a consciecircncia dos problemas que

podem advir uns mais visiacuteveis e comprovados

outros que o tempo vai nos dizer e a natureza de

que um empreendimento desse porte ele vai nos

afetar Mas vejamos bem como vamos

sobreviver a uma condiccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos

municipais se praticamente a receita do

municiacutepio hoje estaacute diretamente vinculada a

extraccedilatildeo de um foacutessil (Lucia Simolin prefeita

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Apesar de demonstrar uma certa inseguranccedila em relaccedilatildeo aos

impactos o empreendimento natildeo foi questionado A prefeita inclusive

enfatizou a ldquocultura do carvatildeordquo e a ideia da construccedilatildeo do museu do

carvatildeo como algo positivo para a cidade

noacutes temos a nossa cultura eacute o carvatildeo Aiacute a natildeo

exploraacute-lo ou a transformaacute-lo em energia eacute uma

discussatildeo que noacutes estamos presentes e portanto

natildeo fugindo () A gente tem que ver a melhor

saiacuteda pra todas as situaccedilotildees E noacutes do poder

puacuteblico estamos aqui pra isso Estamos aqui para

contribuir Entatildeo esse eacute o meu depoimento a

respeito do empreendimento essa eacute a realidade do

municiacutepio e que natildeo pode ser negada Eacute a nossa

realidade Eacute a nossa verdade A verdade que eacute

uma verdade econocircmico-financeira mas eacute a nossa

verdade (Lucia Simolin AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

182

O crescimento econocircmico do municiacutepio e regiatildeo foi um

argumento forte de convencimento

Noacutes temos que ter consciecircncia de que o projeto

USITESC quando implantado ele seraacute a mola

propulsora de uma nova fase de desenvolvimento

para toda a regiatildeo carboniacutefera Natildeo eacute soacute mineiro

que quer emprego Toda a populaccedilatildeo quer

emprego Quer investimento em sauacutede educaccedilatildeo

e a USITESC eacute investimento eacute sinal de

investimento () Eu acho que a regiatildeo toda tem

muito a ganhar com esse grande projeto que vai

alavancar o progresso e o desenvolvimento de

uma nova fase () (Marcos Antocircnio Cesconetto

Vereador AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

O que fica expliacutecito nos discursos de alguns poliacuteticos locais eacute

uma confianccedila no processo de licenciamento e nas empresas

carboniacuteferas

Noacutes temos que discutir aqui assuntos pertinentes

agrave populaccedilatildeo ou seja a instalaccedilatildeo da Usina E

dizer Dr Darlan que noacutes confiamos na atuaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico Federal confiamos na atuaccedilatildeo

do Ministeacuterio Puacuteblico Estadual na atuaccedilatildeo da

Fatma e de tantos oacutergatildeos como o Ibama que satildeo

realmente quem tem condiccedilotildees de fiscalizar aquilo

que vai acontecer no empreendimento Natildeo satildeo

afirmaccedilotildees infundadas que foram levantadas aqui

e que muitas delas natildeo tem a ver com o

empreendimento Noacutes queremos dizer que noacutes

confiamos na Carboniacutefera Metropolitana e na

Carboniacutefera Criciuacutema uma delas aqui a mais de

vinte anos outra jaacute explorou carvatildeo aqui na volta

redonda e nas reservas que eles tecircm aqui E noacutes

temos consciecircncia de que o empreendimento eacute

viaacutevel e eacute viaacutevel porque ele pode viabilizar a

exploraccedilatildeo de carvatildeo e a grande maioria das

pessoas eu posso dizer que quase a totalidade das

pessoas que estatildeo aqui ou satildeo mineiros ou algueacutem

da famiacutelia vive do carvatildeo nos mais diversos

municiacutepios (Marcos Antocircnio Cesconetto

Vereador AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

183

A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica fica evidente

nos discursos aqui apresentados O empreendimento se justifica na

medida em que paiacuteses ldquodesenvolvidosrdquo utilizam o carvatildeo para geraccedilatildeo

de energia e o Brasil por ter uma matriz energeacutetica considerada

ldquolimpardquo pode usaacute-lo sem maiores problemas Os impactos ambientais

do empreendimento seratildeo miacutenimos jaacute que os investidores internacionais

assim o exigem e o Ministeacuterio Puacuteblico estaacute fiscalizando Afinal a

concessatildeo do licenciamento estaacute condicionada ao respeito agraves leis e a

criteacuterios teacutecnicos

Os poliacuteticos municipais dada a dependecircncia econocircmica da

atividade carboniacutefera veem o empreendimento com ldquobons olhosrdquo pois

apesar dos impactos negativos ele traraacute tambeacutem o crescimento ao

municiacutepio e agrave regiatildeo Segundo eles a cultura do carvatildeo precisa ser

mantida

632 As mudanccedilas climaacuteticas natildeo vecircm ao caso

Os segmentos sociais presentes nas audiecircncia puacuteblicas (Amigos

da Terra Movimento Iccedilara pela Vida Soacutecios da Natureza UNESC

dentre outros) demonstraram preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas

com o aquecimento global com o impacto regional do empreendimento

e a continuidade da atividade carboniacutefera que jaacute causou muitos impactos

na regiatildeo

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionou a

continuidade de uma atividade que se mostrou e se mostra inviaacutevel do

ponto de vista socioambiental

Porque a nossa preocupaccedilatildeo do Movimento pela

Vida aleacutem de todo o efeito estufa aleacutem de toda a

poluiccedilatildeo que vai gerar aqui na regiatildeo que natildeo eacute

soacute o CO2 que vai largar O gaacutes que vai ser largado

aqui mas toda uma poluiccedilatildeo que vai ser gerada

aqui proacuteximo do Aquiacutefero Guarani da Serra todo

esse ecossistema que existe que essa usina estaacute

colocando em perigo E tambeacutem vai a meacutedio e

longo prazo trazer problemas para as famiacutelias da

regiatildeo onde existe carvatildeo no subsolo porque

assim como laacute na Iccedilara eles tatildeo tentando tirar

carvatildeo eles vatildeo tentar continuar tirando de outros

184

lugares (Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela

Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Carlyle professor da UNESC fez a seguinte pergunta

ldquoConsiderando as implicaccedilotildees das emissotildees de CO2 Dioacutexido de Carbono

para o aquecimento global quais as razotildees pelas quais esse poluente natildeo

foi analisado17

tendo em vista os recentes relatoacuterios do Painel sobre

Mudanccedilas Climaacuteticasrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Em resposta Luiz Nogueira Palma deixou claro que a questatildeo

das mudanccedilas climaacuteticas natildeo dizia respeito ao conteuacutedo da audiecircncia

puacuteblica

Eu vou responder isso aiacute eu acho que o Carlyle

estaacute colocando uma pergunta muito interessante

mas que no meu entendimento ela foge

totalmente ao objeto dessa audiecircncia Eacute todo

mundo sabe que uma usina termeleacutetrica que

queima carvatildeo ou qualquer outro combustiacutevel

emite CO2 Existem necessidades de gerar energia

e o que estaacute se discutindo aqui eacute a necessidade de

um empreendimento que foi colocado junto ao

cenaacuterio nacional Eacute eu natildeo vou mentir para vocecircs

essa usina emite CO2 como o carro de cada um de

noacutes emite CO2 e o que o que o Carlyle taacute

colocando eacute uma preocupaccedilatildeo mundial de emissatildeo

de CO2 Mas nem por isso nenhum paiacutes estaacute

deixando de implantar usina as necessaacuterias como

todos os controles necessaacuterios [ele interrompe

momentaneamente a fala por conta do burburinho]

Entatildeo eu acho que essa pergunta que trata de uma

mateacuteria global A usina trata os poluentes

atmosfeacutericos de forma exemplar com elementos

de controle extremamente sofisticados

encarecendo o preccedilo da energia gerada e por isso

estaacute se chamando usina da energia verde neacute

Porque a teacutermica que usa um combustiacutevel natildeo tatildeo

nobre como o gaacutes que eacute o carvatildeo nacional ela taiacute

para produzir mostrando que as emissotildees tatildeo

muito abaixo dos padrotildees nacionais Natildeo existe

um padratildeo nacional para CO2 em lugar nenhum

17

Nos estudos complementares que haviam sido apresentados na audiecircncia

puacuteblica

185

do mundo Entatildeo essa eacute outra questatildeo () O

contraponto dessa pergunta e de que se noacutes

estamos ou natildeo colaborando com o Protocolo de

Quioto O Brasil colabora porque a nossa matriz

energeacutetica mais de 90 da energia gerada no paiacutes

eacute hidraacuteulica (Luiz Nogueira Palma IPAT

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida fez a leitura de

uma moccedilatildeo que foi aprovada na etapa regional da Conferecircncia do Meio

Ambiente A Conferecircncia aconteceu na UNESC e foi promovida pela

Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econocircmico Sustentaacutevel pelo

IBAMA Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo EPAGRI CIRAM

FECAM ANAMA FLORAM FEEC FIESC ALESC FETAESC

Poliacutecia Militar Ambiental e ACAFE Aconteceram sete delas em Santa

Catarina O objetivo das Conferecircncias foi traccedilar poliacuteticas puacuteblicas sobre

meio ambiente no paiacutes em relaccedilatildeo ao aquecimento global ldquoE qual foi a

decisatildeo que a Conferecircncia Regional aqui tomou em relaccedilatildeo ao carvatildeo

Em resumo ldquoa substituiccedilatildeo da matriz energeacutetica baseada no carvatildeo para

outras alternativas de modo gradativordquo Moccedilatildeo que foi aprovada por

unanimidade Ele aproveitou para ler um trecho da moccedilatildeo

() em face da comprovada participaccedilatildeo da

queima de carvatildeo mineral no aumento do

aquecimento global e na intensa degradaccedilatildeo do

solo e aacuteguas provocadas pela sua extraccedilatildeo a

Conferecircncia Regional do Meio Ambiente de

Criciuacutema solicita o cancelamento de todo o

processo de licenciamento da Termeleacutetrica

USITESC em Santa Catarina bem como outras da

regiatildeo sul do Estado dado o elevado passivo

ambiental associado aos empreendimentos

especialmente em termos de degradaccedilatildeo dos

ecossistemas costeiros e da perda da qualidade de

vida das populaccedilotildees que ocupam o sul do estadordquo

Ele completou sua intervenccedilatildeo fazendo o seguinte comentaacuterio

Algueacutem estaacute indo na contramatildeo da histoacuteria ()

Ou noacutes nos damos conta que esse

empreendimento vai contra taacute indo contra tudo o

que estaacute se vendo nesse paiacutes nesse planeta ou

entatildeo a gente estaacute assinando nossa sentenccedila de

morte Chegamos ao absurdo de escutar dos

186

teacutecnicos do IPAT que essa questatildeo do CO2 eacute uma

questatildeo irrelevante natildeo vem ao caso Gente essa

eacute a maior questatildeo E que foi deixada de lado E o

IPAT estaacute indo contra a missatildeo da UNESC

(Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Diante do comentaacuterio o representante do IPAT Marcos Back

fez as seguintes consideraccedilotildees

Em primeiro lugar eu gostaria de esclarecer

algumas questotildees por aqui que natildeo estatildeo muito

claras Primeiro existe um posicionamento

equivocado aqui Noacutes temos que entender

exatamente o que noacutes estamos colocando

Primeiro noacutes estamos discutindo o EIARIMA

que se refere a uma usina termeleacutetrica que queima

carvatildeo e que emite CO2 Quando o Engenheiro

Palma coloca que a questatildeo do CO2 natildeo deve ser

discutida aqui natildeo eacute que ele estaacute querendo dizer

que a questatildeo do CO2 eacute irrelevante Natildeo eacute que ele

quer dizer que o problema do CO2 do

aquecimento global natildeo sejam questotildees

importantes a serem discutidas Pelo contraacuterio a

questatildeo do aquecimento global e da emissatildeo de

CO2 eacute uma questatildeo muito importante a ser

discutida Que a sociedade tem que pensar

seriamente nas consequecircncias da emissatildeo de CO2

que natildeo vem soacute do carvatildeo taacute Entatildeo noacutes temos

que pensar nisso que o aquecimento global estaacute

mostrando seus efeitos e jaacute vaacuterios cientistas

demonstraram mostraram esses efeitos Entatildeo noacutes

temos que pensar nisso sim Quando o IPAT taacute

colocando aqui que noacutes estamos discutindo o

EIARIMA da USITESC noacutes estamos colocando

que discutir licenciamento ambiental eacute um

procedimento legal vocecirc segue o tracircmite as

normas de um procedimento legal () Natildeo eacute da

competecircncia do IPAT julgar a matriz energeacutetica

brasileira Quem estabeleceu isso foram as leis

federais o Congresso Nacional e o Presidente

Lula Satildeo eles que estabelecem se pode ou natildeo

pode produzir carvatildeo se pode ou natildeo pode ter

187

energia movida a carvatildeo Entatildeo natildeo compete ao

IPAT nesse estudo NESSE ESTUDO de usina

termeleacutetrica conduzir uma discussatildeo sobre

aquecimento global porque natildeo eacute isso que estaacute

em discussatildeo aqui O que taacute em discussatildeo aqui eacute

se pode ou natildeo implantar a usina termeleacutetrica

dentro dos tracircmites da lei atual (Marcos Back

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Um representante dos segmentos poliacuteticos Joatildeo Luiacutes presidente

da Cacircmara de Vereadores de Trevisto tambeacutem fez um questionamento

sobre o assunto

Eu gostaria de fazer uma pergunta aos oacutergatildeos

ambientais Noacutes vimos na televisatildeo todos os dias

que os Estados Unidos eacute o maior produtor desse

planeta e foi superado pela China Exatamente nas

suas termeleacutetricas que queimam carvatildeo mineral

87 da energia produzida pela China eacute da queima

do carvatildeo mineral Entatildeo noacutes vemos aiacute o mundo

todo criticando brigando contra isso agora eu

gostaria que vocecircs respondessem a todos noacutes que

satildeo pessoas entendidas Noacutes podemos implantar

um projeto como esse em Treviso Ele eacute viaacutevel

Noacutes podemos pagar esse preccedilo E por que (Joatildeo

Luis Presidente da Cacircmara de Vereadores de

Treviso AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

A resposta do representante da FATMA tambeacutem natildeo contemplou

a preocupaccedilatildeo com questotildees mais amplas

Algumas questotildees que jaacute foram hoje objeto de

abordagem aqui ele foge do escopo do processo

de licenciamento Noacutes tratarmos de mudanccedilas

climaacuteticas natildeo eacute uma questatildeo que estaacute inserida no

projeto que hoje estaacute sendo objeto dessa audiecircncia

puacuteblica A garantia que eu posso dar aos senhores

em relaccedilatildeo ao projeto que estaacute sendo avaliado pela

FATMA e logicamente que noacutes temos natildeo eacute uma

parceria mas um papel fiscalizador do Ministeacuterio

Puacuteblico que tem auxiliado e tem contribuiacutedo de

uma maneira positiva pra que noacutes ao longo desses

dois trecircs anos desse processo de licenciamento

noacutes tenhamos tido avanccedilos significativos em

188

termos de ganhos ambientais () (Luis Antocircnio

Garcia FATMA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Jaacute o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal Darlan Aiacutelton

Dias contemplou a preocupaccedilatildeo dos presentes afirmando que ldquoeu acho

sim que o aquecimento global faz parte da discussatildeo da USITESC Deve

ser discutida mas a decisatildeo do licenciamento eacute verificar a adequaccedilatildeo

teacutecnica e o atendimento agrave legislaccedilatildeordquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Apesar do parecer favoraacutevel do representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal fica claro que para os que compotildeem a mesa de

trabalho na audiecircncia puacuteblica o tema natildeo tem relaccedilatildeo com o

licenciamento Aos representantes dos segmentos sociais e poliacuteticos aqui

citados foi permitida a manifestaccedilatildeo quanto ao tema mas ela natildeo

encontrou eco Isso aconteceu tambeacutem para a tentativa de discutir o

empreendimento regionalmente

633 Quem defende quem E quem defende os

afetadosatingidosameaccedilados

Nas audiecircncias puacuteblicas foram colocadas duacutevidas em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo da populaccedilatildeo de Treviso O vereador Joatildeo Luis Brunel fez a

seguinte colocaccedilatildeo seguida de uma pergunta

() Eu quero dizer que sou a favor do progresso e

quero que a nossa gente tenha emprego mas que

noacutes temos que pagar um preccedilo justo Eu gostaria

de fazer uma pergunta aqui Falou-se sobre muita

coisa mas eu gostaria de saber sobre todas essas

famiacutelias que seratildeo desapropriadas Eu cito aqui a

comunidade da Brasiacutelia Eu vejo aqui a

comunidade satildeo famiacutelias centenaacuterias de gente que

desbravaram essa terra que ajudaram a construir

esse municiacutepio Entatildeo eu faccedilo a seguinte pergunta

como que eles tem o direito de se defender Eles

simplesmente vatildeo ser notificados vatildeo ser

desapropriados Satildeo pessoas que estatildeo aiacute haacute mais

de um seacuteculo Eu gostaria de saber onde estatildeo os

direitos humanos Quais satildeo os direitos que eles

189

tecircm (Joatildeo Luis Brunel AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

Joaquim Teixeira Neto estudante da UNESC fez seu comentaacuterio

sobre a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo na audiecircncia puacuteblica

Entatildeo o seguinte eu gostaria que a populaccedilatildeo de

Treviso que natildeo estaacute aqui presente por motivos

que a gente desconhece precisa A populaccedilatildeo de

Treviso precisa se manifestar em audiecircncia

exclusiva Porque esse empreendimento apesar de

ser regional vai atingir primeiramente essa

comunidade e eles natildeo estatildeo sendo ouvidos Eles

estatildeo sendo calados e todos sabemos (Joaquim

Teixeira Neto AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Lucia Ortiz da Amigos da Terra fez um relato de um processo

de licenciamento que aconteceu no Rio Grande do Sul no qual mesmo

depois de emitida a licenccedila foi feito um plebiscito na regiatildeo

() mesmo depois que a Fepam liberou a licenccedila

preacutevia pra instalaccedilatildeo dessa usina o pessoal

conseguiu realizar a realizaccedilatildeo de um plebiscito

na regiatildeo que vai ser agora esse saacutebado pra que a

populaccedilatildeo de fato possa decidir se quer ou natildeo

esse empreendimento A minha pergunta eu tenho

duas perguntas uma eu acho que seria saber se

tem resposta pra populaccedilatildeo dos municiacutepios aqui

da regiatildeo que eacute se as pessoas aqui estatildeo mesmo

dispostas a abrirem matildeo das suas reservas de

aacutegua pro seu abastecimento proacuteprio ou dos seus

filhos ou dos seus netos tendo em vista que essa

usina vai consumir muito mais que a populaccedilatildeo da

regiatildeo de aacutegua a aacutegua do Rio Matildee Luzia aquilo

que ainda resta de aacutegua natildeo contaminada nessa

bacia (Lucia Ortiz Amigos da Terra

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A prefeita de Treviso Lucia Simolin na quarta Audiecircncia

Puacuteblica comentou que foi realizada uma pesquisa e que 70 da

populaccedilatildeo de Treviso concorda com o empreendimento Duas criacuteticas

feitas merecem destaque

190

A primeira feita pelo estudante da UNESC Joaquim Teixeira

chamou a atenccedilatildeo para o fato de que a USITESC eacute um empreendimento

que afetaraacute a regiatildeo e ouvir apenas a populaccedilatildeo de Treviso natildeo seria

uma medida adequada Segundo ele ldquoa termeleacutetrica natildeo eacute soacute um

problema de Treviso Fazer pesquisa de opiniatildeo soacute em Treviso eacute

desprezar uma questatildeo que eacute regionalrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

A segunda criacutetica questionou a pesquisa citada pela prefeita com

base em uma pesquisa feita no municiacutepio de Iccedilara

O IPAT quando fala que eacute imparcial ele estaacute

numa situaccedilatildeo que eu passei pelo conjunto do

Movimento pela Vida em Iccedilara Foi feita uma

pesquisa na Iccedilara pelo IPAT perguntando o

seguinte se a mina natildeo degradar natildeo poluir natildeo

fazer isso natildeo fazer aquilo nanana nananan vocecirc

vai ser a favor da mina Ai o pessoal ateacute eu

responderia que sim Aiacute fizeram uma publicaccedilatildeo

ldquoO IPAT confirma que 80 da populaccedilatildeo de Iccedilara

eacute a favor da mina Fomos laacute saber qual era a

pergunta que foi feita era desse jeito Noacutes

queremos contratar o IPAT para fazer a seguinte

pesquisa se levar em conta toda a degradaccedilatildeo que

a mina provoca os caimentos as casas rachadas a

aacutegua poluiacuteda o aquecimento global papapaacute vocecircs

seriam a favor da mina ou natildeo Ah isso noacutes natildeo

podemos fazer Pra noacutes podiam fazer uma

pesquisa desde fugiu a palavra aqui () mas pra

eles sim Eu questiono sim o IPAT mas

parabenizo grande parte da UNESC professores e

alunos que estatildeo buscando realmente uma defesa

do meio ambiente (Gilmar Bonifaacutecio Movimento

Iccedilara pela Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Nos discursos das duas audiecircncias puacuteblicas constatou-se que

apenas uma pessoa se colocou como representante de uma comunidade

de Treviso Gerson Hanne A intervenccedilatildeo seguinte de Sivio Saad

sintetiza a preocupaccedilatildeo de quem assistiu as duas audiecircncias puacuteblicas

Noacutes temos uma cidade pacata com 3500

habitantes e algueacutem resolve colocar um

empreendimento dentro dessa cidade Os

moradores claro devem saber o que estaacute

191

acontecendo Vimos a exposiccedilatildeo do

empreendedor vimos a exposiccedilatildeo da universidade

e o poder de julgar de saber se aceitam ou natildeo o

empreendimento agrave medida que eles foram

convincentes neacute os empreendedores satildeo

convincentes tatildeo preparados tem audiovisual satildeo

convincentes Mas eu gostaria de saber se a

populaccedilatildeo decide que natildeo quer quem defende os

interesses da populaccedilatildeo Quem eacute que taacute aqui

sentado (ele mostra os integrantes da mesa) que

representa os interesses dessa populaccedilatildeo Que

possa pelo menos equilibrar esse jogo Seria o

empreendedor Claro que natildeo Ele taacute defendendo

os seus interesses Ele eacute capaz de dizer aqui que

os oacutergatildeos internacionais soacute aprovam o dinheiro se

tiver cuidado com o meio ambiente Acredite se

quiser Temos aqui o pessoal da FATMA Eu jaacute vi

a FATMA aprovar coisas absurdas () Agora

depois que ela aprovou ela fiscaliza () Aiacute eles

respondem ldquonatildeo temos quem fiscalizerdquo Quem

seria a Universidade A UNESC () A prefeita

() eu ouvi uma entrevista dela hoje cedo dizendo

que se der dinheiro para a cidade ela aprova

Quem mais O governador que vem aqui diz que

vai dar emprego Vocecircs querem emprego Vocecircs

querem colocar mais duas mil pessoas aqui

dentro () Se a populaccedilatildeo quer oacutetimo Se a

populaccedilatildeo natildeo quer precisa ter algueacutem aqui que

defende () Soacute tem uma pessoa que defende os

interesses da populaccedilatildeo o Dr Darlan Esse

defende Dentro da lei esse defende Agora

precisava mais algueacutem () Se for confiar em

quem taacute aqui na mesa vocecircs tatildeo perdidos Se a

populaccedilatildeo chega agrave conclusatildeo que natildeo quer e

confia nesses que tatildeo aqui vocecircs estatildeo perdidos

A minha pergunta eacute quem defende os interesses

da populaccedilatildeo (Silvio Saad AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Diante dessa fala o apresentador Adhiles Bortot da FATMA

passou para a proacutexima pergunta sem que ningueacutem da mesa se

pronunciasse Essa atitude refletiu o clima das duas audiecircncias

analisadas Quando o assunto se referia aos

192

atingidosafetadosameaccedilados muitas respostas evasivas eram dadas

ressaltando sempre o respeito pelas leis e pelos criteacuterios teacutecnicos

As interveccedilotildees apresentadas demonstram a injusticcedila poliacutetica Se a

mineraccedilatildeo respeita as leis e os criteacuterios teacutecnicos ela eacute liacutecita O que passa

ao largo eacute uma discussatildeo mais ampla sobre gestatildeo de recursos comuns

opccedilotildees de desenvolvimento direitos humanos e justiccedila ecoloacutegica

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida falou da importacircncia

de uma discussatildeo sobre os direitos do cidadatildeo ldquo() concordamos

tambeacutem com o direito constitucional que todo cidadatildeo tem o direito a

um ambiente saudaacutevel () Essa tambeacutem eacute uma questatildeo legal Entatildeo noacutes

devemos comeccedilar a discutir questotildees legaisrdquo (Gilmar Bonifaacutecio

Movimento Iccedilara pela Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007) Mas as

evidecircncias demonstram que as audiecircncias se propunham a ser espaccedilo de

discussatildeo apenas de assuntos referentes ao licenciamento Todas as

discussotildees mais amplas foram desconsideradas

634 O papel da FATMA em questatildeo

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionou o

Ministeacuterio Puacuteblico e a FATMA que na segunda audiecircncia afirmaram

que a licenccedila natildeo seria emitida sem estudos conclusivos Ele citou o

exemplo de Iccedilara que haacute trecircs anos vinha se mobilizando para a natildeo

instalaccedilatildeo de uma mina de carvatildeo Ele destacou o papel do Ministeacuterio

Puacuteblico e questionou o papel da FATMA No caso da USITESC a

preocupaccedilatildeo dele foi que se a LP fosse dada e os empreendedores

participassem do leilatildeo haveria uma pressatildeo para a aprovaccedilatildeo dos

processos de licenciamento dos empreendimentos acessoacuterios

(AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Joatildeo Luis Brunel tambeacutem questionou os criteacuterios da FATMA na

concessatildeo da licenccedila

() noacutes vemos aiacute todos os dias uma campanha

mundial de preservaccedilatildeo da natureza

principalmente das aacuteguas aacuteguas do nosso planeta

que estatildeo quase que totalmente poluiacutedas entatildeo eu

faccedilo a pergunta noacutes vamos construir essa usina ao

lado de uma reserva ambiental e vamos captar a

maior fonte de aacutegua potaacutevel do nosso municiacutepio

193

uma aacutegua que jaacute estaacute mapeada pela Casan pra

abastecimento futuro em cidades vizinhas E onde

vatildeo passar a linha do trem e a linha de transmissatildeo

vatildeo atingir terrenos cobertos por floresta nativa

Entatildeo eu gostaria de saber quais satildeo os criteacuterios

que a Fatma os oacutergatildeos ambientais adotam pra dar

a licenccedila ou natildeo para a construccedilatildeo de um projeto

como esse (Joatildeo Luis Brunel AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Luis Antocircnio Garcia da FATMA respondeu ldquoA Fatma atraveacutes

de seu corpo teacutecnico e seus consultores vai avaliar os estudos como os

demais e leva em consideraccedilatildeo criteacuterios teacutecnicos e aspectos legais Se

houver viabilidade pelo licenciamento assim seraacute feito Se natildeo houver

viabilidade a licenccedila natildeo seraacute concedidardquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

O representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal na defesa da

FATMA fez as seguintes consideraccedilotildees

Mas posso dizer que na maioria dos casos

inclusive envolvendo o carvatildeo a Fatma tem

atuado em bastante sintonia com o Ministeacuterio

Puacuteblico Eacute claro que a Fatma eacute um oacutergatildeo do poder

executivo e noacutes conhecemos a tradiccedilatildeo do nosso

estado poliacutetica inclusive tudo eacute muito politizado

noacutes sabemos que a Fatma sofre pressotildees poliacuteticas

de toda ordem Mas eu sou testemunha pelo que

vivo aqui em Criciuacutema que os teacutecnicos tem se

esforccedilado e a direccedilatildeo tambeacutem pra resistir agraves

pressotildees e fazer um trabalho teacutecnico (Darlan

Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Na quarta audiecircncia puacuteblica a legitimidade da FATMA nos

processos de licenciamento tambeacutem foi colocada vaacuterias vezes em

duacutevida A jornalista Ana Echevenguaacute de Florianoacutepolis fez o seguinte

questionamento

() eu gostaria de perguntar para o Dr Darlan de

acordo com aquela decisatildeo liminar proferida pelo

Dr Germano juiz federal onde ele dizia que

enquanto a FATMA natildeo tiver o corpo teacutecnico

194

capaz de apreciar EIARIMA ela estaacute proibida e o

IBAMA assumiria essa responsabilidade eu

entendo que nem essa audiecircncia deveria estar

acontecendo (Ana Echevenguaacute AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Em resposta o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

enfatizou o caraacuteter fiscalizador do Ministeacuterio Puacuteblico e que o IBAMA

natildeo seria a soluccedilatildeo para os problemas de licenciamento em Santa

Catarina

Aquela decisatildeo do juiz que disse que o

licenciamento das minas e dos PRADES de

recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas natildeo poderia ser

feito pela FATMA se natildeo fosse embasada em

pareceres teacutecnicos aiacute o juiz lista uma seacuterie de

empreendedores perdatildeo de profissionais

geoacutelogos engenheiro de minas bioacutelogo

agrocircnomo e tal tal tal natildeo me lembro de cabeccedila

mas se a FATMA tiver um parecer teacutecnico

embasado por esses profissionais ela pode emitir a

licenccedila Quando o juiz disse que o licenciamento

tem que ser passado para o IBAMA o Ministeacuterio

Puacuteblico entende que isso eacute um equiacutevoco do juiz e

noacutes recorremos contra essa parte da decisatildeo Por

que Primeiro que isso natildeo foi pedido entatildeo o

juiz natildeo pode julgar extra petita18

e ele fez isso

nesse caso Segundo o IBAMA natildeo eacute a soluccedilatildeo

A FATMA tem problemas Tem seacuterios e vaacuterios

problemas Noacutes estamos fiscalizando e atuando

para que isso se altere Mas o IBAMA natildeo eacute a

soluccedilatildeo Porque o IBAMA eacute totalmente ausente

da regiatildeo Sul de Santa Catarina O estado de Santa

Catarina inteiro a equipe do IBAMA eacute

precariacutessima Entatildeo com respeito ao Leonir aqui

que taacute por aiacute que agora eacute do Chico Mendes O

IBAMA aqui na regiatildeo sul natildeo existe Entatildeo

passar o licenciamento de qualquer coisa pro

IBAMA aqui na regiatildeo eacute um equiacutevoco (Darlan

Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico Federal

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

18

Decisotildees extra petita satildeo aquelas que o juiz toma concedendo ao

autor coisa diversa da que foi requerida em sua peticcedilatildeo inicial

195

O representante da FATMA Luis Antocircnio Garcia por sua vez

insistiu que a FATMA tem melhorado seu quadro teacutecnico e conta com

consultores externos Ele ressaltou tambeacutem que a decisatildeo do

licenciamento eacute baseada nos criteacuterios legais e teacutecnicos

Dos segmentos sociais que participaram das audiecircncias

percebeu-se uma desconfianccedila em relaccedilatildeo agrave conduta da FATMA nos

processos de licenciamento A FATMA por sua vez reconhece as

dificuldades existentes e faz uma aposta na atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico Segundo o representante da FATMA ldquoo licenciamento com

todas as dificuldades que temos mas noacutes temos hoje uma cooperaccedilatildeo

uma parceria extremamente sadia e participativa e com resultados

extremamente beneacuteficos a sociedade que eacute junto com o Ministeacuterio

Puacuteblico ()rdquo (Luis Antocircnio Garcia FATMA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Nos discursos dos segmentos sociais e poliacuteticos transparece a

fragilidade do oacutergatildeo ambiental E aiacute a responsabilidade que seria do

oacutergatildeo ambiental eacute passada para o Ministeacuterio Puacuteblico Isso pode ser bom

por um lado uma vez que existe fiscalizaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental mas

por outro lado pode fazer com que as fragilidades do oacutergatildeo ambiental se

perpetuem

635 O IPAT e a neutralidade da ciecircncia

A linguagem teacutecnica do IPAT foi questionada na terceira

audiecircncia puacuteblica ldquo() a maioria de noacutes cidadatildeos mortais e comuns

natildeo temos conhecimento suficiente para traduzir as informaccedilotildees que

foram passadasrdquo (Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida

AUDIEcircNCIA 2006) Mauricio Luis Camara questionou sobre a

apresentaccedilatildeo do IPAT para que fizessem um resumo de forma que

todos entendessem (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Outro ponto que merece destaque eacute o fato de o IPAT natildeo ter

deixado clara a viabilidade do empreendimento Abaixo a intervenccedilatildeo

de Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionando esse

ponto

196

[] eacute nesse sentido que eu gostaria de saber []

quais satildeo os pontos positivos e quais satildeo os

pontos negativos para que a populaccedilatildeo tambeacutem

tenha condiccedilatildeo de por si soacute analisar e tomar uma

posiccedilatildeo e natildeo simplesmente tomar uma posiccedilatildeo

porque algueacutem ou um chefe poliacutetico tipo um

empreendedor taacute dizendo que eacute assim [] na

minha opiniatildeo ficou faltando isso do IPAT uma

posiccedilatildeo clara de quais satildeo os pontos positivos e

negativos porque aiacute se coloca na balanccedila Porque

eacute isso que a gente tem que ver [] (AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Em resposta Fabiano Luzi Neris representante do IPAT

afirmou que ldquoo IPAT natildeo tem posicionamento se a Usina eacute viaacutevel ou

natildeo eacute viaacutevel se ele eacute a favor ou contra a Usina () Soacute o oacutergatildeo

ambiental tem competecircncia para viabilizar ou natildeo a Usinardquo (Fabiano

Luiz Neris IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A Universidade apresentou os resultados teacutecnicos

que estatildeo aqui e foram apresentados e estatildeo nos

documentos entregues ao empreendedor e ao

oacutergatildeo ambiental A Universidade natildeo tem o papel

de emitir o parecer favoraacutevel ou contraacuterio agrave

liberaccedilatildeo da licenccedila da Usina A Universidade tem

o papel de apresentar os estudos realizados Se

tiver algum conflito em relaccedilatildeo aos estudos a

gente estaacute a disposiccedilatildeo para discutir tecnicamente

(Fabiano Luiz Neris IPAT AUDIEcircNCIA 2006)

A representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal questionou a

resposta dada pelo IPAT ldquose o EIA natildeo vai dizer se eacute viaacutevel ou natildeo

quem de noacutes diraacute issordquo (Denise Cristina de Resende Nicolaitz

Ministeacuterio Puacuteblico Federal AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Na sequecircncia manifesta-se um posicionamento que parece

contraacuterio ao anterior

Todas as consideraccedilotildees positivas ou negativas

estatildeo e fazem parte de uma matriz de anaacutelise de

impacto Elas constam tanto do estudo da

USITESC quanto dos estudos dos

empreendimentos acessoacuterios E a equipe embora

tenha optado por natildeo fazer nenhuma manifestaccedilatildeo

197

proacute ou contra a USITESC ela nos estudos nas

suas conclusotildees ela deixa bem claro se eacute viaacutevel

ou natildeo dentro do estudo que foi feito Eu soacute queria

dizer isso e que a populaccedilatildeo tivesse ciecircncia e os

nossos colegas ecologistas que Que noacutes

apresentamos os trabalhos e noacutes temos

consciecircncia Noacutes temos nossa responsabilidade

social tambeacutem Noacutes natildeo somos levianos noacutes natildeo

queremos aprovar absolutamente nada Noacutes

estamos fazendo um estudo que demonstra a

possibilidade ou natildeo do empreendimento (Luiz

Nogueira Palma IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

O IPAT enfatizou em muitas intervenccedilotildees o ldquocaraacuteter teacutecnicordquo das

informaccedilotildees prestadas Alguns exemplos de explicaccedilotildees duvidosas

foram extraiacutedos das duas audiecircncias puacuteblicas e satildeo apresentados na

sequecircncia Na audiecircncia puacuteblica de 2006 o IPAT afirmou que uma

barragem no Rio Matildee Luzia preservaria a aacutegua

() quando vocecirc constroacutei um barramento ele

isola ou seja vocecirc taacute preservando a aacutegua boa a

aacutegua de boa qualidade Vocecirc taacute reservando vocecirc

taacute evitando que aquela aacutegua polua neacute pelo menos

pelos outros motivos que mineraccedilatildeo a gente sabe

que o ph nesses frac34 de trecho do Rio Matildee Luzia o

ph da aacutegua eacute 3 E laacute em cima na foz onde natildeo

tem onde natildeo ocorre ou seja a aacutegua eacute de boa

qualidade Entatildeo vocecirc taacute isolando vocecirc taacute

isolando vocecirc taacute preservando (Naacutedia e Andreacuteia

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Quanto agrave existecircncia de risco na construccedilatildeo da barragem e na

possibilidade de caimento de mina o IPAT tambeacutem manifestou sua

posiccedilatildeo

Teoricamente eu natildeo vou te dizer que natildeo eacute

possiacutevel ocorrer um problema na construccedilatildeo da

barragem mas isso aiacute eacute uma coisa que eacute pouco

provaacutevel E quanto aos caimentos de mina cai em

vaacuterios locais e esse caimento que ocorreu

recentemente natildeo tem absolutamente nada a ver

vamos dizer assim com a eventual construccedilatildeo de

198

um barramento neacute Natildeo tem realmente natildeo tem

nada a ver e foi uma coisa improvaacutevel daquelas

coisas que natildeo se pode dizer que estava por

acontecer A mina onde caiu era um lugar

conhecido claro tinha falha geoloacutegica neacute Mas

ela tava sendo vamos dizer assim toda eacute toda

minerada de uma maneira muito teacutecnica com um

fator de seguranccedila muito alto e aconteceu Quer

dizer eacute a natureza neacute Eu com toda sinceridade

natildeo vou lhe enganar pra dizer que eacute impossiacutevel de

ocorrer um caimento laacute () Se for minerado de

uma maneira teacutecnica eacute pouco provaacutevel que

aconteccedila Agora dizer que natildeo tem caimento eu

acho que teacutecnico nenhum diria isso (Cleacutevis

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Na quarta audiecircncia puacuteblica mais duas explicaccedilotildees chamaram a

atenccedilatildeo uma do IPAT outra do empreendedor A primeira foi dada por

Marcos Back do IPAT ldquoSegundo as pesquisas natildeo haacute uma correlaccedilatildeo

entre a usina e a sauacutede da populaccedilatildeo entre a Usina Termeleacutetrica Jorge

Lacerda e as doenccedilas respiratoacuteriasrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Em contraposiccedilatildeo a essa informaccedilatildeo Joseacute Dagostin do Movimento

Iccedilara pela Vida trouxe informaccedilotildees atualizadas dados do Datasus

questionando o IPAT sobre os dados defasados do estudo sobre sauacutede e

tambeacutem sobre acidentes com amocircnia Dois anos depois o proacuteprio

Ministeacuterio Puacuteblico coletou e analisou dados confirmando a relaccedilatildeo

entre diversos problemas de sauacutede e o funcionamento do Complexo

Jorge Lacerda (MPF 2009)

A outra fala do empreendedor sugeriu que ldquoa estocagem de

amocircnia eacute mais segura que o botijatildeo de gaacutes que vocecircs tecircm em suas casas

Muitos dos senhores tecircm mangueiras inadequadas para conectar o

botijatildeo de gaacutes Quantas vezes passam perto do botijatildeo de gaacutesrdquo (Luis

Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Essa eacute uma amostra pequena das explicaccedilotildees dadas em resposta

aos questionamentos Muitas pessoas tambeacutem natildeo se sentiram

contempladas com as respostas As evasivas contemplavam encaminhar questionamentos por escrito agrave FATMA e ao IPAT desconsiderar as

perguntas com base no fato de que as informaccedilotildees jaacute haviam sido

apresentadas nas outras audiecircncias ou que as informaccedilotildees seriam

tratadas posteriormente na anaacutelise de risco

199

Nas duas audiecircncias puacuteblicas analisadas o IPAT foi questionado

ao fazer o EIARIMA da USITESC quanto ao seu posicionamento

O estudante da UNESC Joaquim Teixeira fez a seguinte

intervenccedilatildeo

ldquoA USITESC eacute a nova Marion do seacuteculo XXIrdquo Eacute

preciso separar a UNESC eacute nossa o IPAT eacute de

quem paga () o empreendimento pode ser feito

ou natildeo feito tem essa possibilidade taacute na lei Tem

alternativas ao empreendimento () Eacute preciso

mudar de paradigma () Vocecircs podem virar a

paacutegina da histoacuteria Treviso natildeo precisa de mina

Ou melhor termeleacutetrica (Joaquim Teixeira

estudante da UNESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Em resposta Marcos Back do IPAT reclamou dessa e de outras

intervenccedilotildees como ldquoataque gratuito agrave Universidaderdquo E completou

() Eu quero dizer o seguinte que eacute muito faacutecil

muito faacutecil a gente vir para uma audiecircncia e

quando a gente natildeo tem mais argumento vocecirc

desqualifica quem produziu Quem dizer eu tocirc

numa discussatildeo eu natildeo sei mais o que dizer eu

desqualifico o outro eu falo que o outro natildeo sabe

nada E na hora que eu desqualifico a pessoa

comeccedilo a desqualificar todo o estudo que foi feito

() natildeo adianta dizer que o IPAT natildeo eacute

Universidade porque a decisatildeo de implantaccedilatildeo

que o IPAT participasse desse estudo partiu da

eacutepoca que o reitor era Edson Rodrigues que fez

uma reuniatildeo com a Universidade inteira e decidiu

que a Universidade ia participar desse processo

porque eacute muito grande para a regiatildeo inteira esse

empreendimento e era preciso que a Universidade

se envolvesse no projeto para fazer a avaliaccedilatildeo

desses impactos ambientais (Marcos Back IPAT

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Percebe-se nos posicionamentos do IPAT que existe a confianccedila

de que o documento produzido eacute neutro Dessa forma os segmentos

sociais natildeo teriam que questionar quem produz o documento apenas as

informaccedilotildees que o documento traz

200

636 Audiecircncias puacuteblicas como espaccedilos democraacuteticos

Somente o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal Darlan

Aiacutelton Dias e os segmentos sociais fizeram menccedilatildeo agrave questatildeo

democraacutetica nas audiecircncias puacuteblicas Na terceira audiecircncia puacuteblica o

representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal fez a seguinte intervenccedilatildeo

A audiecircncia puacuteblica eacute um ambiente democraacutetico

bonito agraves vezes a gente fica [pausa] vem com

uma preacute-concepccedilatildeo e fica irritado quando algueacutem

fala o contraacuterio mas isso eacute o processo

democraacutetico uma sociedade democraacutetica Em

outros tempos da nossa histoacuteria recente era

inimaginaacutevel um empreendedor ter que se

submeter a esse tipo de [pausa] situaccedilatildeo Mas eacute a

realidade da nossa sociedade democraacutetica graccedilas

a deus neacute E a Constituiccedilatildeo nos daacute esse recado do

desenvolvimento sustentaacutevel noacutes queremos

desenvolver o paiacutes mas queremos preservar o

meio ambiente (Darlan Aiacutelton Dias

AUDIEcircNCIA 2006)

Todavia o elogio agrave democracia contrasta com o processo da

audiecircncia puacuteblica Tadeu Santos da ONG Soacutecios da Natureza colocou

em questatildeo o caraacuteter democraacutetico da audiecircncia puacuteblica depois de ter

sido lembrado do limite de tempo quatro vezes Segundo ele

As audiecircncias puacuteblicas anteriores foram mais

democraacuteticas a coisa taacute ficando fechada Taacute se

percebendo que o grande lobby das mineradoras

estaacute funcionando Eacute possiacutevel que realmente a

FATMA venha a dar o licenciamento Eacute possiacutevel

natildeo vai dar Porque deu para a mineradora em

Treviso (Tadeu Santos AUDIEcircNCIA 2006)

E continua referindo-se a Luis Antocircnio Garcia da FATMA ldquoSr

diretor eu gostaria que o Sr fosse mais maleaacutevel que conduzisse a

assembleia de forma mais democraacutetica porque afinal estamos

discutindo uma coisa muito seacuteriardquo (Tadeu Santos AUDIEcircNCIA 2006)

201

Na quarta audiecircncia puacuteblica o representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal novamente enaltece o caraacuteter democraacutetico da audiecircncia

() a audiecircncia puacuteblica eacute o instrumento que estaacute

previsto na lei e noacutes vivemos num estado

democraacutetico de direito e que a publicidade dos

licenciamentos ambientais eacute um princiacutepio

fundamental previsto na poliacutetica nacional do meio

ambiente Entatildeo um processo de licenciamento

tem que ser puacuteblico as pessoas tem que ter o

direito de se manifestar desde que haja claro

respeito muacutetuo Mas por outro lado eu percebo

que muita gente veio aqui hoje com a cabeccedila feita

a favor ou contra o empreendimento sem querer

ouvir qualquer coisa Isso ficou muito claro jaacute

nano niacutevel de conversa durante as apresentaccedilotildees

As pessoas tem o direito de ser contra ou a favor

do empreendimento Aleacutem disso disse a prefeita

aqui que os estudos ficaram agrave disposiccedilatildeo da

populaccedilatildeo por 45 dias como manda a lei mas soacute

duas pessoas consultaram os estudos na prefeitura

Entatildeo eu peccedilo que se respeite as opiniotildees e que

todos tem direito a fazer uso da palavra E isso eacute

democraacutetico () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio

Puacuteblico Federal AUDIEcircNCIA 2007)

O reflexo dessa democracia foi o rigoroso controle do tempo de

questionamento o despeito pela ordem de chegada dos questionamentos

(orais e escritos) e a inexistecircncia de reacuteplica Gilmar Bonifaacutecio do

Movimento Iccedilara pela Vida criticou a forma como foram conduzidos os

debates jaacute que natildeo foi respeitado o direito agrave reacuteplica

A intervenccedilatildeo do representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

trouxe alguma esperanccedila para os segmentos sociais

Na verdade toda essa discussatildeo que hoje se trava

aqui eacute uma discussatildeo se a gente for pensar aqui

do ponto de vista histoacuterico bonita e importante e

acho que essa luta pode mudar o rumo dessa

legislaccedilatildeo Mas vamos colocar ela num contexto

maior que precisa ser colocado Na verdade eacute

uma discussatildeo que se trava no Brasil inteiro e no

mundo inteiro que eacute a discussatildeo de que modelo

de sociedade e desenvolvimento noacutes queremos

202

Pela questatildeo do efeito estufa e toda a questatildeo de

sobrevivecircncia da espeacutecie E eu como ser humano

como pai eu quero tambeacutem que o mundo pros

meus filhos pros meus netos seja viaacutevel No

entanto diante desse debate e assim como aqui

natildeo se quer uma usina termeleacutetrica laacute em Belo

Monte natildeo se quer uma hidreleacutetrica laacute em

Campos Novos natildeo se quer uma hidreleacutetrica laacute no

Rio Madeira e assim por diante Mas de algum

lugar tem que sair energia E o Ministeacuterio Puacuteblico

nessa discussatildeo tem que se pautar no equiliacutebrio e

ter como paracircmetro o que A Constituiccedilatildeo e as

leis E eacute assim que eu procuro agir Entatildeo essa

discussatildeo eacute legiacutetima essa oposiccedilatildeo a qualquer

empreendimento desse tipo eacute legiacutetima e esse eacute o

espaccedilo para falar Mas noacutes vamos nos pautar pela

lei () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico

Federal Federal AUDIEcircNCIA 2007)

O representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal reconhece a

possibilidade de mudanccedila na legislaccedilatildeo mas reconhece que sua atuaccedilatildeo

se restringe ao que eacute legal O Ministeacuterio Puacuteblico Federal produziu em

2004 um dossiecirc sobre as Deficiecircncias em estudos de impacto ambiental

mas natildeo tocou na questatildeo das audiecircncias puacuteblicas (MPF 2004) Apesar

das audiecircncias puacuteblicas natildeo serem deliberativas a observacircncia do

processo democraacutetico eacute algo necessaacuterio e deveria entrar nos estudos do

Ministeacuterio Puacuteblico

64 Democracias possiacuteveis e aprendizagem social

A avaliaccedilatildeo de impacto ambiental compreende processos que

envolvem muacuteltiplos segmentos que recolhem analisam sintetizam e

comunicam informaccedilotildees sobre as condiccedilotildees ambientais tendecircncias

direccedilotildees impactos e futuros possiacuteveis com o objetivo de sensibilizar

para uma questatildeo especiacutefica ou apoiar processos de regulaccedilatildeo ambiental

Essas avaliaccedilotildees satildeo processos sociais de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo que

envolvem muito mais do que a mera produccedilatildeo de relatoacuterios Todavia os

limites estruturais e conjunturais das avaliaccedilotildees natildeo garantem o

questionamento do estilo de desenvolvimento de planos poliacuteticas e

203

programas que estariam sendo elaborados avaliados e implementados

(SACHS 1986 VIEIRA 2005)

O licenciamento ambiental estaacute envolto numa suposta

neutralidade em relaccedilatildeo aos criteacuterios juriacutedicos e teacutecnicos que o

sustentam e os condicionantes e interesses intriacutensecos ao processo

acabam passando para segundo plano ldquoNatildeo eacute porque a mineradora

cumpre com as exigecircncias que o oacutergatildeo licenciador pode liberar a

atividade Eacute preciso considerar a aceitaccedilatildeo do empreendimento pela

comunidade que poderaacute ser afetadardquo (Soacutecios da Natureza citado por

SANTOS 2008 p 103)

No caso especiacutefico da USITESC os segmentos poliacuteticos

(representados pelos poliacuteticos estaduais e municipais Ministeacuterio Puacuteblico

e FATMA) apresentaram em seus discursos algumas peculiaridades Os

poliacuteticos estaduais e municipais apoiam o empreendimento porque

querem estimular o desenvolvimento econocircmico A FATMA sofre

pressotildees poliacuteticas e tem dificuldades teacutecnicas mas garante que o

licenciamento eacute concedido considerando a anaacutelise teacutecnico-legal O

Ministeacuterio Puacuteblico aparece nos discursos dos segmentos econocircmicos

poliacuteticos e sociais como confiaacutevel Ele se mostra receptivo as colocaccedilotildees

dos segmentos sociais mas se move dentro do que considera legal Pode

questionar os dados do EIARIMA mas dificilmente questionaria a

questatildeo democraacutetica no processo da audiecircncia puacuteblica

Os segmentos econocircmicos como tratado na seccedilatildeo 623 fazem

pressatildeo sobre os segmentos poliacuteticos Nas audiecircncias puacuteblicas sua

participaccedilatildeo se limita a responder agrave perguntas e fazer a defesa do

empreendimento quando necessaacuterio O fato eacute que a USITESC tem a LI e

pode participar dos leilotildees de energia O iniacutecio da construccedilatildeo vai

depender dos interesses econocircmicos e poliacuteticos envolvidos O ponto

importante nesse capiacutetulo era tornar mais expliacutecitas as redes de

influecircncia e os mecanismos que satildeo utilizados nas audiecircncias puacuteblicas

para neutralizar as criacuteticas (aqui entra a injusticcedila poliacutetica nos tempos e

nas intervenccedilotildees) e a desinformaccedilatildeo Ao mesmo tempo tornam-se

tambeacutem mais expliacutecitas as formas de atuaccedilatildeo dos segmentos sociais

(afetadosatingidosameaccedilados ONGs e parte da academia)

A histoacuteria dos segmentos sociais no Sul de Santa Catarina traz

evidecircncias de aprendizagem social adaptativa Eles contam com uma

atuaccedilatildeo regional articulada fazem a relaccedilatildeo dos problemas globais e

locais questionam os segmentos poliacuteticos e os segmentos econocircmicos e

reivindicam que as audiecircncias puacuteblicas sejam mais democraacuteticas Isso

204

demonstra na discussatildeo especiacutefica da USITESC que se vem travando

uma luta histoacuterica na regiatildeo

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Nesta tese buscamos compreender as contradiccedilotildees inerentes agrave

proposta de ampliaccedilatildeo do sistema de geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica na

regiatildeo sul de Santa Catarina Para tanto adotamos um modelo de anaacutelise

que combina os enfoques de gestatildeo de ldquocommonsrdquo para o

ecodesenvolvimento e de justiccedila ambiental e ecoloacutegica Na estrutura

deste modelo hiacutebrido comparecem os conceitos de trajetoacuteria de

desenvolvimento local de atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso em

questatildeo de padrotildees de interaccedilatildeo entre os atores sociais envolvidos no

sistema de gestatildeo de regras em uso de arena de accedilatildeo e de resultados

eou consequecircncias das tomadas de decisatildeo

Caracterizamos inicialmente a especificidade das dinacircmicas de

desenvolvimento que tecircm influenciado as accedilotildees coletivas dos segmentos

poliacuteticos econocircmicos e sociais envolvidos nos modos de apropriaccedilatildeo e

gestatildeo do carvatildeo mineral na regiatildeo em pauta Neste sentido destacamos

o papel hegemocircnico exercido pelos agentes governamentais na

centralizaccedilatildeo dos processos decisoacuterios e na oferta de subsiacutedios agrave

utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis foacutesseis natildeo obstante o apelo agrave necessidade

de se promover uma ldquomatriz energeacutetica limpardquo no Paiacutes

No resgate da dinacircmica de exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral

buscamos caracterizar os fatores relacionados agrave disponibilidade do

recurso agrave rentabilidade econocircmica deste segmento atualmente aos

criteacuterios de tomada de decisatildeo na pesquisa de inovaccedilotildees na busca de

alternativas de mecanizaccedilatildeo dos processos de extraccedilatildeo agraves praacuteticas de

recuperaccedilatildeo do passivo ambiental e ao perfil dominante das poliacuteticas de

suprimento energeacutetico no bojo do modelo de desenvolvimento adotado

Com base nas evidecircncias coletadas foi possiacutevel constatar que o nosso

Paiacutes natildeo conta ainda hoje com uma ldquocultura do carvatildeordquo e que na

regiatildeo estudada as atividades de mineraccedilatildeo dificultam ou mesmo

impedem outros usos possiacuteveis do solo aleacutem de responderem pela

geraccedilatildeo de riscos e de impactos socioambientais cujos custos

geralmente muito elevados continuam a ser distribuiacutedos de forma

socialmente desigual Aleacutem disso reforccedilamos o ponto de vista segundo

o qual as escolhas tecnoloacutegicas satildeo essencialmente tributaacuterias de

orientaccedilotildees poliacuteticas As anaacutelises mostraram tambeacutem que uma parcela

significativa da populaccedilatildeo catarinense jaacute percebe natildeo soacute uma relaccedilatildeo

causal direta entre o aumento da exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral e o

comprometimento da resiliecircncia ecossistecircmica e da qualidade de vida

das comunidades locais Ao mesmo tempo vem se impondo

206

gradualmente a impressatildeo de que os processos de diversificaccedilatildeo da

economia regional vecircm legitimando a adoccedilatildeo de uma poliacutetica mais firme

de reconversatildeo do segmento de exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral

No que diz respeito agrave adequaccedilatildeo dos arranjos institucionais em

vigor na dinacircmica de gestatildeo deste segmento correlacionamos a

iniciativa de ampliaccedilatildeo do sistema de geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica

movida a carvatildeo mineral agrave desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo ambiental - especialmente do Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e do

Coacutedigo Estadual do Meio Ambiente em Santa Catarina No segundo

caso o Coacutedigo estabeleceu prazos para as licenccedilas ambientais e a

Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina dispensou o EIARIMA para

atividade de extraccedilatildeo de pequeno porte A CFEM e a reduccedilatildeo do ICMS

de 15 para 3 no estado contribuiacuteram fortemente para legitimar o

projeto de uma nova usina junto agrave opiniatildeo puacuteblica Mas outros aspectos

relevantes foram destacados a exemplo da evoluccedilatildeo progressiva das leis

ambientais favorecendo a percepccedilatildeo de que o direito a um meio

ambiente saudaacutevel integra o coacutedigo universal dos direitos humanos

fundamentais Todavia o balanccedilo entre os aspectos que favorecem a

ampliaccedilatildeo e os que questionam eacute bastante desigual A

desregulamentaccedilatildeo e a flexibilizaccedilatildeo dos coacutedigos juriacutedicos promovidas

nos uacuteltimos anos representam da perspectiva adotada na tese um

evidente e preocupante retrocesso em relaccedilatildeo aos avanccedilos alcanccedilados

anteriormente Finalmente acreditamos que a dimensatildeo da participaccedilatildeo

autecircntica da sociedade civil organizada nas tomadas de decisatildeo uma das

bandeiras da deacutecada de 1980 continua ainda hoje muito aqueacutem das

expectativas ndash sobretudo pelo fato de permanecer tutelada pelo jogo de

alianccedilas formadas pelos representantes dos setores econocircmico e

governamental

A reflexatildeo centrada no aprofundamento deste uacuteltimo toacutepico

mostrou que o sistema de gestatildeo de recursos comuns no Brasil continua

atrelado a um modelo de desenvolvimento que faz do apelo agrave

sustentabilidade uma retoacuterica que natildeo ataca as raiacutezes do problema

Trata-se de evitar as mudanccedilas estruturais que se tornaram emergenciais

face ao agravamento da crise em escala global Nesse contexto o

componente democraacutetico-representativo do sistema poliacutetico que tende a

reforccedilar e a legitimar a formaccedilatildeo de lobbies envolvendo os segmentos

poliacuteticos e econocircmicos contrasta com o componente democraacutetico-

participativo que responde pela abertura de espaccedilos ainda incipientes e

restritos de participaccedilatildeo aos setores majoritaacuterios da populaccedilatildeo A

existecircncia da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral eacute

207

um indiacutecio da existecircncia dessas articulaccedilotildees entre segmentos

econocircmicos e poliacuteticos E os dados apresentados no capiacutetulo 5

confirmam a hipoacutetese de que no bojo do processo de licenciamento da

USITESC no periacuteodo de 2002 a 2012 as doaccedilotildees de empresaacuterios para o

financiamento de campanhas eleitorais (nos niacuteveis municipal estadual e

nacional) tornaram-se um fenocircmeno recorrente

Em outras palavras consideramos que a gestatildeo de recursos

comuns em Santa Catarina segue as tendecircncias nacionais

Historicamente a questatildeo ambiental vem sendo apropriada de forma

marginal no estado permanecendo subordinada agrave hegemonia dos

interesses dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos Um dos principais

indicadores dessa tendecircncia pode ser encontrado na dinacircmica de

organizaccedilatildeo e funcionamento da FATMA abrigando a formaccedilatildeo de

lobbies ativos no setor da exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral - seja

estimulando sua expansatildeo seja dificultando sua fiscalizaccedilatildeo em

coerecircncia com os avanccedilos da legislaccedilatildeo ambiental Todavia ressaltamos

ainda que se uma parte dos segmentos poliacuteticos e dos segmentos sociais

apoia a tendecircncia de ampliaccedilatildeo deste setor os posicionamentos natildeo satildeo

homogecircneos e o fortalecimento do sistema democraacutetico vem se dando

por meio da organizaccedilatildeo dos segmentos sociais (ONGs academia

afetadosatingidosameaccedilados) e da atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico No

que diz respeito agrave organizaccedilatildeo dos segmentos sociais as iniciativas

extrapolam os espaccedilos de participaccedilatildeo previstos constitucionalmente

envolvendo tambeacutem accedilotildees autocircnomas de produccedilatildeo e difusatildeo de

conhecimentos aleacutem da promoccedilatildeo de campanhas e manifestaccedilotildees

Na consideraccedilatildeo do processo de licenciamento da USITESC

constatamos que no processo de licenciamento as audiecircncias puacuteblicas

realizadas no municiacutepio de Treviso foram coordenadas pela FATMA e

natildeo contaram com estrateacutegias de distribuiccedilatildeo (minimizando a

desigualdade) reconhecimento (considerando as distintas perspectivas)

e a representaccedilatildeo (paridade de participaccedilatildeo) As evidecircncias obtidas

indicam que essas reuniotildees foram organizadas visando reproduzir a

loacutegica que bloqueia na base a concretizaccedilatildeo desses anseios

Os principais temas tratados nas audiecircncias puacuteblicas foram

tratados no capiacutetulo 6 mostrando as contradiccedilotildees existentes ldquoentrerdquo e

ldquodentrordquo dos segmentos sociais principalmente A ampliaccedilatildeo de energia

termeleacutetrica eacute inevitaacutevel do ponto de vista dos segmentos econocircmicos

sendo respaldada por uma parcela dos agentes governamentais locais e

dos representantes da sociedade civil A discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre

208

a construccedilatildeo da USITESC e as mudanccedilas climaacuteticas proposta pela rede

de ONGs movimentos sociais e parte da UNESC foi categoricamente

colocada de lado como um aspecto natildeo pertinente ao caso em pauta ou

seja a apresentaccedilatildeo do EIARIMA Aleacutem disso ressaltamos que

durante as audiecircncias praticamente natildeo foram consideradas as vozes

dos habitantes de Treviso que seriam afetados pela implementaccedilatildeo do

projeto As discussotildees envolveram apenas uma parcela dos

representantes da sociedade civil sediados em outros municiacutepios e em

outros estados Poucos habitantes de Treviso participaram das

audiecircncias puacuteblicas Num municiacutepio em que 69 dos postos de trabalho

estatildeo vinculados a atividade carboniacutefera torna-se difiacutecil imaginar que os

habitantes estivessem em condiccedilotildees favoraacuteveis para se posicionarem

contra a implantaccedilatildeo da USITESC

Mostramos tambeacutem que a competecircncia da FATMA e da UNESC

foi repetidamente questionada nessas audiecircncias Se os representantes da

FATMA argumentaram agrave luz do princiacutepio de respeito agrave legislaccedilatildeo em

vigor e os pesquisadores da UNESC agrave luz do princiacutepio de neutralidade

da ciecircncia ambos os grupos evitaram assumir o desafio de encarar uma

discussatildeo poliacutetica do caso em pauta Por sua vez foi enaltecido o papel

desempenhado pelo Ministeacuterio Puacuteblico na defesa dos interesses da

populaccedilatildeo local Natildeo obstante consideramos que os depoimentos dos

Procuradores permaneceram refeacutens de um ponto de vista essencialmente

legalista na avaliaccedilatildeo do processo de licenciamento

Na busca de respostas agrave questatildeo de ldquoserdquo e ldquocomordquo as accedilotildees

coletivas estudadas teriam gerado oportunidades de aprendizagem social

adaptativa capazes de deflagrar accedilotildees coletivas de mudanccedila

institucional concluiacutemos que a atuaccedilatildeo de parte dos segmentos sociais

envolvidos no caso da USITESC aponta nesta direccedilatildeo Eles jaacute

conseguem perceber o surgimento da demanda de ampliaccedilatildeo do sistema

termeleacutetrico como um elemento de uma problemaacutetica mais ampla e mais

complexa que natildeo foi considerada nas audiecircncias puacuteblicas Eles estatildeo

mobilizados de outras formas mas a concessatildeo do licenciamento ainda

tem a audiecircncia puacuteblica (consultiva) como uacutenica modalidade de

participaccedilatildeo Diante disso pensamos que os problemas de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo existentes no espaccedilo da audiecircncia

precisariam ser vistos com mais cuidado pelo Ministeacuterio Puacuteblico Seria

interessante que daqui em diante o Ministeacuterio Puacuteblico superasse a

visatildeo dominante segundo a qual a anaacutelise das deficiecircncias do

EIARIMA (MPF 2004) satildeo suficientes para democratizar os processos

209

de licenciamento de projetos programas e poliacuteticas de desenvolvimento

no Paiacutes

Finalmente o trabalho ofereceu subsiacutedios que reforccedilam a

validade do pressuposto de que a maturaccedilatildeo de um sistema de gestatildeo de

recursos comuns voltado para um novo estilo de desenvolvimento

norteado pelo princiacutepio de sustentabilidade forte deveraacute passar

necessariamente pela ldquodemocratizaccedilatildeo do aparelho do Estado de modo

que a sociedade possa controlar seus controladoresrdquo (BOcircA NOVA

1985 p 227)

A sugestatildeo eacute que se faccedila uma pesquisa sobre ldquodeficiecircncias nas

audiecircncias puacuteblicasrdquo Como mencionado na justificativa desta tese um

dos encaminhamentos possiacuteveis seria a realizaccedilatildeo de um levantamento

mais rigoroso dos processos de licenciamento realizados no litoral de

Santa Catarina nos uacuteltimos anos a ser suplementado pela anaacutelise criacutetica

das respectivas audiecircncias puacuteblicas Os resultados poderiam ser

encaminhados ao Ministeacuterio Puacuteblico Estadual e Federal servindo assim

de base para o questionamento da forma pela qual os anseios de

distribuiccedilatildeo justa reconhecimento e representaccedilatildeo autecircntica dos

segmentos sociais tecircm sido incorporados nos processos de

licenciamento Neste sentido o caraacuteter meramente consultivo das

audiecircncias puacuteblicas poderia se tornar tambeacutem objeto de reconsideraccedilatildeo

na trilha ainda incipiente que nos conduziria ao exerciacutecio da cidadania

ambiental plena

Em outras palavras as perspectivas de ampliaccedilatildeo da rede de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica no Sul de Santa Catarina refletem uma

tomada de consciecircncia ainda bastante restrita dos riscos envolvidos na

continuidade da atividade carboniacutefera e de forma mais ampla de um

modelo de gestatildeo de recursos naturais de cunho ecologicamente

predatoacuterio e socialmente injusto Diante de argumentos que defendem o

caraacuteter ldquoinevitaacutevelrdquo do apelo a fontes natildeo renovaacuteveis de geraccedilatildeo de

energia cabe lembrar que

() existe pela frente um futuro repleto de possibilidades

alternativas e de potenciais inexplorados que natildeo cabem na bitola

estreita dos que estatildeo presos a modelos do passado ou a interesses do establishment Ou seja o futuro natildeo se projeta nas equaccedilotildees

matemaacuteticas mas se inventa na incessante discussatildeo das alternativas e

se faz na luta poliacutetica (BOcircA NOVA 1985 p 233)

210

Transformar a essa situaccedilatildeo envolve a adoccedilatildeo de outra

perspectiva baseada natildeo soacute na compreensatildeo da complexidade do

problema mas tambeacutem na consideraccedilatildeo simultacircnea dos fatores que

comparecem em todas as escalas do local ao global e na formaccedilatildeo de

parcerias capazes de impulsionar a gestaccedilatildeo de um projeto alternativo de

sociedade Esperamos que os resultados obtidos ofereccedilam subsiacutedios

uacuteteis apontando nesta direccedilatildeo insistindo que a superaccedilatildeo dos atuais

dilemas que cercam o exerciacutecio da democracia em nosso Paiacutes deveria

transcender a preocupaccedilatildeo pela pertinecircncia dos arranjos institucionais

em vigor Se os limites da tradiccedilatildeo democraacutetico-representativa tornam-

se evidentes quando prevalecem os interesses dos grupos sociais

atrelados agrave hegemonia do regime de apropriaccedilatildeo privada e economicista

dos ldquocommonsrdquo por sua vez os avanccedilos alcanccedilados na promoccedilatildeo de um

novo formato democraacutetico-participativo correm o risco de se tornarem

funcionais agrave reproduccedilatildeo das tendecircncias dominantes se permanecerem

restritos aos limites fixados pela obediecircncia agraves determinaccedilotildees legais

Impotildee-se assim uma dinacircmica de radicalizaccedilatildeo da democracia

entendida como componente essencial de uma estrateacutegia consistente de

enfrentamento dos dilemas colocados pela urgecircncia de uma transiccedilatildeo

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LUCIANA BUTZKE

IMPASSES DA GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS E DA

DEMOCRACIA NO BRASIL O CASO DO CARVAtildeO MINERAL

NO SUL DE SANTA CATARINA

Tese de doutorado apresentada ao

Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em

Sociologia Poliacutetica do Centro de

Filosofia e Ciecircncias Humanas da

Universidade Federal de Santa

Catarina como requisito para a

obtenccedilatildeo do grau de doutor em

Sociologia Poliacutetica

Orientador Prof Dr Paulo Henrique

Freire Vieira

FLORIANOacutePOLIS

2014

Aos meus pais Marilda e Hermes que

com seus exemplos me inspiram a

tentar ser uma pessoa melhor

AGRADECIMENTOS

O doutoramento foi muito mais abertura de caminhos e encontros que

pontos de chegada E nesses caminhos e encontros pude conhecer

pessoas e estreitar laccedilos que foram muito importantes ao longo desse

processo Aproveito para deixar registrado aqui os meus

agradecimentos

Ao meu orientador Prof Paulo Freire Vieira que me acompanha desde

o mestrado Eacute muito importante ter algueacutem que com equanimidade nos

faccedila perceber os nossos limites e nos estimule a ir aleacutem com humildade

e sem ilusotildees

Aos professores que gentilmente participaram da qualificaccedilatildeo e da

defesa e trouxeram valiosas contribuiccedilotildees ao texto aqui apresentado

Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes da UNESC Profordf Drordf Cristiane

Mansur de Moraes Souza da FURB Prof Dr Luiz Fernando Scheibe do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da UFSC Profordf Drordf Janice

Pontes Tirelli e Marcia Grisotti do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Sociologia Poliacutetica da UFSC

Agrave coordenaccedilatildeo e aos professores e professoras do Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica importantiacutessimos nesse processo de

formaccedilatildeo

Agrave Albertina Buss Volkmann e agrave Maria de Faacutetima Xavier da Silva pelo

carinho e pela ajuda junto agrave Secretaria do PPGSP

Ao CNPq pelo auxiacutelio financeiro por meio da bolsa de estudos

Agraves amigas e amigos do Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e

Desenvolvimento do Grupo de Educaccedilatildeo para o Ecodesenvolvimento e

do Nuacutecleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional Nossas

vivecircncias e convivecircncias foram fundamentais para o meu processo

formativo Foi muito bom poder contar com o carinho e apoio de vocecircs

Agrave Juliana Adriano Marina Fravrim Gasparini Melissa Vivacqua

Tatiane Viega Vargas e Tadeu Santos (da ONG Soacutecios da Natureza) que

gentilmente compartilharam suas impressotildees sobre partes da tese

Agrave Mariana Thibes pela agradaacutevel parceria ao longo desse percurso e ao

Juliano Giassi Goularti pela sugestatildeo dos dados do quinto capiacutetulo

Aos colegas da rede TransForMar pela acolhida e pela oportunidade de

compartilhar e dialogar sobre nossos projetos

Aos amigos Andresa Graciela Wagner Joaquim Hoepers Silvana Maria

Bittencourt e Vanessa Juliana da Silva Santos

Agraves amigas Katia Parizoto e Laurete Coleti que me inspiraram com a sua

coragem

Agraves minhas tias Lizete e Dalila eacute muito bom tecirc-las por perto

Ao Ivo cuja presenccedila tornou minha caminhada mais leve Com carinho e

paciecircncia nas nossas incontaacuteveis conversas sobre a tese ajudou e falou

o essencial quando eu mais precisava e permaneceu em silecircncio quando

isso significava me compreender e respeitar

Agrave minha famiacutelia Marilda Hermes Viviana Susana Lucas Hermes

Carlos Dora Dara e Bruna presenccedilas constantes em minha vida O

amor carinho e apoio de vocecircs foi e sempre seraacute fundamental

Agrave minha querida oma Leonida tio Flaacutevio tio Irineu minha prima

Valeacuteria e minha cachorrinha Nicole que partiram no periacuteodo de

doutorado e deixaram muitas saudades

Meus mais sinceros agradecimentos a todas e todos pois naquilo que

faccedilo sou e me torno a cada dia levo um pouquinho de cada um de

vocecircs

A terra natildeo eacute soacute um espaccedilo onde vivemos Eacute um

mundo que produz e condiciona nossa proacutepria

existecircncia que antecede e se prolonga em nossa

vida em todas as suas dimensotildees Somos seres

terrestres A democracia natildeo eacute soacute um espaccedilo

institucional da poliacutetica Ela para existir deve

tambeacutem realizar-se e estar presente em todas as

dimensotildees de nossas vidas Talvez por isso haja

uma relaccedilatildeo histoacuterica tatildeo estreita entre terra e

democracia Quando a terra eacute apropriada usada

monopolizada por uns poucos a democracia natildeo

existe Quando a democracia natildeo existe a terra se

transforma em um mundo de poucos contra a

maioria (Herbert de Souza ndash Betinho 1991 p

108-9)

RESUMO

Esta tese focaliza os dilemas que continuam bloqueando quatro deacutecadas

apoacutes a Conferecircncia de Estocolmo o funcionamento do sistema de gestatildeo

de recursos naturais natildeo renovaacuteveis no Brasil Mais especificamente o

texto conteacutem uma anaacutelise dos bastidores do processo de licenciamento

ambiental voltado para a implantaccedilatildeo de uma nova usina termeleacutetrica na

regiatildeo sul do estado de Santa Catarina O enfoque analiacutetico utilizado foi

construiacutedo mediante uma hibridizaccedilatildeo de duas linhas de pesquisa

sistecircmica sobre o binocircmio meio ambiente amp desenvolvimento ainda

pouco conhecidas em nosso Paiacutes a saber gestatildeo de recursos comuns

(ldquocommonsrdquo) para o ecodesenvolvimento e justiccedila ambiental e ecoloacutegica Aleacutem da introduccedilatildeo e de uma siacutentese da revisatildeo de literatura

sobre a atualidade dos princiacutepios de ecodesenvolvimento no debate

sobre modos de apropriaccedilatildeo e sistemas de gestatildeo de ldquocommonsrdquo o texto

oferece inicialmente um resgate historiograacutefico das modalidades e das

implicaccedilotildees socioecoloacutegicas do aproveitamento de jazidas de carvatildeo

mineral no Brasil e em Santa Catarina Na sequecircncia coloca em

primeiro plano uma anaacutelise dos padrotildees de interaccedilatildeo dos segmentos

sociais envolvidos no projeto de implantaccedilatildeo da Usina Termeleacutetrica Sul-

Catarinense (USITESC) no municiacutepio de Treviso Os dados coletados

permitiram validar a hipoacutetese segundo a qual a decisatildeo de implantar esta

usina constitui um indicador suplementar de crise do sistema poliacutetico

implantado no Paiacutes relativamente ao agravamento tendencial da

problemaacutetica socioecoloacutegica A linha de criacutetica adotada incide nas

implicaccedilotildees da reproduccedilatildeo de falhas estruturais nos processos de

construccedilatildeo da cidadania ambiental e de promoccedilatildeo da justiccedila ambiental

e ecoloacutegica em todos os niacuteveis de governo ndash do local ao nacional

Argumenta-se que a despeito dos avanccedilos obtidos no debate social

contemporacircneo sobre a urgecircncia de uma transiccedilatildeo ecoloacutegica

consequente para aleacutem de uma ldquoeconomia verderdquo ou do ideaacuterio de um

ldquodesenvolvimento sustentaacutevelrdquo que natildeo rompe com o imaginaacuterio

ocidental de um crescimento material ilimitado a intenccedilatildeo de ampliar a

utilizaccedilatildeo do carvatildeo como fonte de energia estaacute diretamente associada agrave

formaccedilatildeo de redes de influecircncia envolvendo empresaacuterios e agentes

governamentais Buscando elucidar os condicionantes desse cenaacuterio de

mercantilizaccedilatildeo intensiva e indiscriminada de ldquocommonsrdquo o trabalho

reuacutene tambeacutem evidecircncias de iniciativas de resistecircncia que vecircm sendo

gestadas na regiatildeo estudada por de grupos sociais portadores de uma

visatildeo ecoloacutegica da economia da cultura e da poliacutetica

Palavras-chave Ecodesenvolvimento Gestatildeo de recursos comuns

Justiccedila ambiental Justiccedila Ecoloacutegica Democracia Energia Termeleacutetrica

Carvatildeo Mineral Santa Catarina

ABSTRACT

This thesis focuses on the dilemmas that continue blocking four

decades after the Stockholm Conference the functioning of the

management system based on non-renewable natural resources in Brazil

More specifically the text contains an analysis of the backstage of the

licensing process focused on the deployment of a new thermal power

plant in the southern state of Santa Catarina The analytical approach

used was built by a hybridization of two lines of systemic research on

the binomial environment amp development still little known in our

country namely management of common resources (commons) for

the ecodevelopment and environmental and ecological justice Besides

the introduction and a summary of the literature review on the actuality

of the principles of ecodevelopment in the current debate on modes of

ownership and management of commons systems the text initially

provides a historiographical rescuing of the terms and socio-ecological

implications of utilizing coal mines in Brazil and in Santa Catarina

State Following it foregrounds an analysis of the patterns of interaction

of social groups involved in the deployment project Thermoelectric

Plant of South of the Santa Catarina (USITESC) in the city of Treviso

The collected data allow to validate the hypothesis that the decision to

deploy this Plant is a further indicator of the political system deployed

crisis in the country regarding the trend towards worsening of socio-

ecological problems The adopted line of criticism focuses on the

implications of reproducing structural flaws in the processes of

construction of environmental citizenship and promotion of

environmental and ecological justice at all levels of government - from

local to national It is argued that despite the progress achieved in the

contemporary social debate on the urgency of a consequent ecological

transition beyond a green economy or the ideas of sustainable

development that does not break the Western imagination of a growing

unlimited material intention of expanding nowadays the use of coal as

an energy source is directly associated with the formation of powerful

lobbies involving businessmen and government officials Trying to

elucidate the determinants of this intensive and indiscriminate

commodification of commons scenario the paper also gathers

evidence of resistance initiatives that have been gestated in the study

area for social groups suffering from an ecological view of the

economy culture and policy

Keywords Ecodevelopment Management of common resources

Environmental justice Ecological justice Democracy Thermoelectric

energy Coal Santa Catarina

LISTA DE FIGURAS

Figura 1ndash Tipologia das formas de expressatildeo do cidadatildeo numa

democracia 56 Figura 2 - Modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns ajustado a

co-gestatildeo adaptativa 69 Figura 3 - Primeira adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa 72 Figura 4 - Segunda adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa 75 Figura 5 - Tipos de carvatildeo e uso 87 Figura 6 - Etapas da avaliaccedilatildeo de impacto ambiental 95 Figura 7 ndash Mapa de localizaccedilatildeo da Bacia Carboniacutefera Santa Catarina

114 Figura 8- Brasatildeo do municiacutepio de Treviso 158 Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Treviso 159 Figura 10 - Aacuterea prevista para a implantaccedilatildeo da USITESC 163

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Divisatildeo dos envolvidos na gestatildeo por segmentos 55 Quadro 2 - Quadro de anaacutelise do sistema democraacutetico agrave luz da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica 57 Quadro 3 ndash O enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento e as

dimensotildees baacutesicas do conceito sistecircmico de meio ambiente 64 Quadro 4 - Aspectos das atividades de mineraccedilatildeo e processamento do

carvatildeo mineral 91 Quadro 5 - Siacutentese dos pontos que favorecem e questionam a

amplicaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral

por macro variaacutevel 104 Quadro 6 ndash Limites e oportunidades do sistema democraacutetico no Brasil

106 Quadro 7 ndash Aspectos que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral Santa Catarina

130 Quadro 8 ndash Limites e possibilidades do sistema democraacutetico em Santa

Catarina 132 Quadro 9 - Principais caracteriacutesticas fiacutesicas e bioacuteticas da aacuterea de

influecircncia indireta do projeto USITESC 160 Quadro 10- Impactos sobre o Meio Fiacutesico Bioacutetico e Antroacutepico e accedilotildees

geradoras 165 Quadro 11 - Siacutentese dos Programas da USITESC e alvos principais 168 Quadro 12 - Procedimento para conduccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas

FATMA 175

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral em operaccedilatildeo

em 2013 Brasil 88 Tabela 2 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral com outorga

de 1998 a 2013 Brasil 88 Tabela 3 - Faturamento do Segmento do Carvatildeo Mineral 2012 118 Tabela 4 - Produccedilatildeo de carvatildeo bruto (ROM) de 2009 a 2012 119 Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de passivos ambientais em relaccedilatildeo agraves empresas

120 Tabela 6 - Cronograma de recuperaccedilatildeo dos passivos ambientais 120 Tabela 7 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2002 141 Tabela 8 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2002 que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral 142 Tabela 9 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2002 142 Tabela 10 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2006 143 Tabela 11 - Candidatosas que receberam doaccedilotildees das empresas ligadas

ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2006 144 Tabela 12 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2006 145 Tabela 13 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2010 145 Tabela 14 - Candidatosas receberam doaccedilotildees das empresas ligadas ao

carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2010 146 Tabela 15 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2010 147 Tabela 16 - Doadores eleiccedilotildees de 2004 148 Tabela 17 - Comitecircs e candidatos que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2004 149 Tabela 18 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2004 149 Tabela 19 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2008 150 Tabela 20 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2008 que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 151 Tabela 21 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2008 151 Tabela 22 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2012 152 Tabela 23 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2012 que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 152 Tabela 24 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2012 153 Tabela 25 - Siacutentese dos doadores Eleiccedilotildees de 2002 e 2012 154 Tabela 26 - Candidatos que receberam maiores doaccedilotildees Eleiccedilotildees de

2002 a 2012 155 Tabela 27 - Doaccedilotildees por Partido Poliacutetico Eleiccedilotildees de 2002 a 2012 155 Tabela 28 ndash Principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo com a construccedilatildeo da

USITESC 179

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABCM Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo Mineral

ACARESC

Associaccedilatildeo de Creacutedito e Assistecircncia Rural de Santa

Catarina

ACARIMO Associaccedilatildeo Comunitaacuteria do Alto do Rio Molha

AIA Avaliaccedilatildeo de Impacto Ambiental

ALESC Assembleacuteia Legislativa do Estado de Santa Catarina

AMESC Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Extremo Sul Catarinense

AMREC Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera

AMUREL Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo de Laguna

ANEEL Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica

ANSDNPM Associaccedilatildeo Nacional de Servidores do Departamento

Nacional de Produccedilatildeo Mineral

APC Associaccedilatildeo Proacute-Carvatildeo

APIB Articulaccedilatildeo dos Povos Indiacutegenas do Brasil

APINE

Associaccedilatildeo Brasileira dos Produtores Independentes de

Energia Eleacutetrica

APP Agraverea de Preservaccedilatildeo Permanente

ASMURC

Associaccedilatildeo de Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera do

Rio Grande do Sul

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento

CAPES

Coordenadoria de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CASA Centro de Apoio Socioambiental

CBCA Companhia Carboniacutefera de Araranguaacute

CCEE Cacircmara de Comercializaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica

CEPCAN Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo Nacional

CETEM Centro de Tecnologia Mineral

CETMA Conselho Estadual de Tecnologia e Meio ambiente

CFEM

Compensaccedilatildeo Finaceira pela Exploraccedilatildeo de Recursos

Minerais

CFM Comitecircs Financeiros Municipais

CGBHRA

Comitecirc de Gerenciamento da Bacia Hidrograacutefica do Rio

Araranguaacute

CGTEE Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica

CNBB Conferecircncia Nacional dos Bispos do Brasil

CNPE Conselho Nacional de Poliacutetica Energeacutetica

CNPq

Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico

CO2 Dioacutexido de Carbono

COCALIT Coque Catarinense Ltda

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONDEMA Conselho Municipal de Defesa Ambiental

COPEL Companhia Paranaense de Energia

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

DEM Democratas

DNPM Departamento Nacional de Produccedilatildeo Mineral

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EPE Empresa de Pesquisa Energeacutetica

FASE

Federaccedilatildeo de oacutergatildeos para Assistecircncia Social e

Educacional

FATMA Fundaccedilatildeo do Meio Ambiente

FBOMS Foacuterum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais

FBOMS

Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

FDESC Foacuterum de Desenvolvimento do Extremo Sul Catarinense

FEEC Federaccedilatildeo de Entidades Ecologistas Catarinenses

FELC Foacuterum de Ecodesenvolvimento do Litoral Catarinense

FURB Universidade Regional de Blumenau

GAPLAN Gabinete de Planejamento

GEE Gases de Efeito Estufa

GWH Gigawatt-hora

IAD Institutional Framework for Policy Analysis and Design IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renovaacuteveis

IBASE Instituto Brasileiro de Anaacutelises Sociais e Econocircmicas

IBRAM Instituto Brasileiro de Mineraccedilatildeo

ICA Instituto da Cidadania de Araranguaacute

ICC Induacutestria Carboquiacutemica Catarinense

ICMS

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Prestaccedilatildeo de

Serviccedilos

IEA Agecircncia Internacional de Energia

INESC Instituto de Estudos Socioeconocircmicos

IPAT Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnoloacutegicas

JICA Agecircncia de Cooperaccedilatildeo internacional do Japatildeo

KWh QuiloWatt hora

LI Licenccedila de Instalaccedilatildeo

LO Licenccedila de Operaccedilatildeo

LP Licenccedila Preacutevia

MAM Movimento Popular frente agrave Mineraccedilatildeo

MEcircS Movimento Ecoloacutegico de Sideroacutepolis

MMA Ministeacuterio do Meio Ambiente

MME Ministeacuterio das Minas e Energia

MOVET Movimento Ecoloacutegico Tubaronense

MPA Movimento Proacute-Araranguaacute

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MW Megawatt

N Nitrogecircnio

NMD

Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e

Desenvolvimento

NPDR Nuacutecleo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional

OCDE

Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento

Econocircmico

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

PAC Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento

PFL Partido da Frente Liberal

PL Projeto de Lei

PMA Prefeitura Municipal de Araranguaacute

PMDB Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro

PNMA Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente

PNUMA Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente

PP Partido Progressista

PPB Partido Progressista Brasileiro

PPS Partido Popular Socialista

PR Partido da Repuacuteblica

PSD Partido Social Democraacutetico

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

PT Partido dos Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

RBJA Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental

RIMA Relatoacuterio de Impacto Ambiental

ROM Run of Mine

SATC

Associaccedilatildeo Beneficente da Induacutestria Carboniacutefera de

Santa Catarina

SDR Secretaria de Desenvolvimento Regional

SETMA Secretaria de Tecnologia e Meio Ambiente

SIESESC

Sindicato da Induacutestria da Extraccedilatildeo de Carvatildeo do Estado

de Santa Catarina

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNIEC Sindicato Nacional da Induacutestria de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

SOLTECA Sociedade Termoeleacutetrica de Capivari SA

TWH Tera Watt Hora

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense

USITESC Usina Termeleacutetrica Sul-Catarinense

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO39

2 A ATUALIDADE DO ECODESENVOLVIMENTO NO ESTUDO

CONTEMPORAcircNEO SOBRE GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS59

21 RESGATE DO ENFOQUE ldquoCLAacuteSSICOrdquo DE

ECODESENVOLVIMENTO 61

22 AS CONTRIBUICcedilOtildeES DE DIFERENTES ENFOQUES 63

221 Gestatildeo de recursos comuns a importacircncia da

aprendizagem social adaptativa 66

222 Ecodesenvolvimento territorial os recursos comuns no

contexto do desenvolvimento 71

223 Justiccedila ambiental e justiccedila ecoloacutegica os caminhos da

democracia 73

23 LIMITES E POSSIBILIDADES DO

ECODESENVOLVIMENTO REVISITADO 77

3 GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS NO BRASIL O CARVAtildeO

MINERAL EM QUESTAtildeO79

31 DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO GESTAtildeO DE

RECURSOS COMUNS E ENERGIA 81

32 CARACTERIZACcedilAtildeO E USOS DO CARVAtildeO MINERAL NO

BRASIL 86

33 TECNOLOGIAS DISPONIacuteVEIS E IMPACTOS

SOCIOAMBIENTAIS 89

34 REGRAS EM USO NUMA PERSPECTIVA HISTOacuteRICA

INTERFACE ENTRE DIREITOS AMBIENTAIS E DIREITOS

HUMANOS 92

35 ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO 98

351 Segmentos poliacuteticos 98

352 Segmentos econocircmicos 100

353 Segmentos sociais 102

36 SITUACcedilAtildeO ATUAL E DESAFIOS 103

4 CARVAtildeO MINERAL EM SANTA

CATARINA109

41 ldquoCombinandordquo crescimento econocircmico e proteccedilatildeo ambiental 110

42 O sul catarinense uma trajetoacuteria (de desenvolvimento) marcada

pelo carvatildeo mineral 114

43 Da extraccedilatildeo manual agrave mecanizaccedilatildeo das minas 121

44 Regras em uso 122

45 Envolvidos na gestatildeo 124

451 Segmentos poliacuteticos 124

452 Segmentos econocircmicos 124

453 Segmentos sociais 126

46 Situaccedilatildeo atual e desafios 129

5 CARVAtildeO MINERAL E POLIacuteTICA EM SANTA CATARINA

ELEICcedilOtildeES E FINANCIAMENTO PRIVADO133

51 Os argumentos presentes no discurso dos poliacuteticos 134

52 Panorama das eleiccedilotildees e doaccedilotildees de campanha de 2002 a 2012

139

521 Eleiccedilotildees gerais 140

522 Eleiccedilotildees municipais 148

53 Os fatos ausentes do discurso dos poliacuteticos 153

6 CARVAtildeO MINERAL E AMPLIACcedilAtildeO DA ENERGIA

TERMELEacuteTRICA EM SANTA CATARINA157

61 O municiacutepio de Treviso 157

62 O processo de licenciamento os documentos escritos 162

621 O EIARIMA da USITESC 163

622 Das audiecircncias puacuteblicas e licenccedilas 169

623 Pressotildees dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos no

processo de licenciamento 170

624 A posiccedilatildeo dos segmentos sociais 173

63 Relaccedilotildees de poder e desigualdade nas audiecircncias puacuteblicas os

documentos falados 175

631 A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica 177

632 As mudanccedilas climaacuteticas natildeo vecircm ao caso 183

633 Quem defende quem E quem defende os

afetadosatingidosameaccedilados 188

634 O papel da FATMA em questatildeo 192

635 O IPAT e a neutralidade da ciecircncia 195

636 Audiecircncias puacuteblicas como espaccedilos democraacuteticos 200

64 Democracias possiacuteveis e aprendizagem social 202

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS205

REFEREcircNCIAS211

1 INTRODUCcedilAtildeO

O crescimento e as transformaccedilotildees da economia mundial ao

longo do seacuteculo XX foram impulsionados pela oferta de energia tendo

como fonte principal os combustiacuteveis foacutesseis petroacuteleo e carvatildeo mineral

O uso da energia eacute essencial agrave cultura consumista moderna presente em

todas as regiotildees do mundo Os processos de produccedilatildeo e consumo satildeo

responsaacuteveis por inuacutemeros riscos e danos ecoloacutegicos (TOUCHEacute 2004)

A geopoliacutetica mundial dos recursos naturais faz da energia aacutegua

mineacuterio e espaccedilo territorial elementos do comeacutercio internacional Esse

movimento global afeta as localidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de redes

de infraestrutura reconversatildeo de atividades alteraccedilatildeo das formas de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo e satildeo geradores de injusticcedila ambiental Aiacute surgem

conflitos entre a exploraccedilatildeo dos recursos orientada por interesses

presentes em vaacuterias escalas espaciais (ACSELRAD BEZERRA 2010

ZHOURI 2008)

A partir da deacutecada de 1990 depois de mais de cinquenta anos de

controle estatal o sistema energeacutetico brasileiro passou por um periacuteodo

de liberalizaccedilatildeo Duas mudanccedilas consideraacuteveis podem ser apontadas A

privatizaccedilatildeo das companhias operadoras iniciando com a Lei nordm 9427

de dezembro de 1996 que instituiu a Agecircncia Nacional de Energia

Eleacutetrica (ANEEL) e determinou que o potencial energeacutetico seria

concedido via leilatildeo A segunda mudanccedila ocorreu em 2004 com o Novo

Modelo do Setor Eleacutetrico marcando a retomada do planejamento nesse

setor pelo Estado garantindo a seguranccedila no suprimento modicidade

tarifaacuteria e inserccedilatildeo social (atraveacutes do Programa Luz para Todos)

(ANEEL 2008a) Essa deacutecada marcou tambeacutem a desregulamentaccedilatildeo do

setor carboniacutefero que perdeu o mercado metaluacutergico e enfrentou seacuterias

dificuldades vindo a se recuperar somente com a possibilidade de

ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica (JFSC 2008)

Muitas poliacuteticas puacuteblicas incluindo as do setor energeacutetico tecircm

como efeitos colaterais grandes impactos socioambientais (PINHEIRO

2006 RAULINO 2009 SAacuteNCHEZ 2008a VIEacuteGAS 2007) O

Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) reforccedilou a velha loacutegica

de grandes projetos de infraestrutura e a atuaccedilatildeo do Estado ainda eacute

bastante controversa (VIEIRA 2009 ZHOURI LASCHEFSKI 2010)

Dentre as controveacutersias presentes na atuaccedilatildeo do Estado uma refere-se

ao compromisso assumido pelo Brasil no Plano Nacional sobre

40

Mudanccedila do Clima de reduzir as desigualdades sociais a partir de uma

dinacircmica econocircmica que natildeo repita a trajetoacuteria dos paiacuteses

industrializados em termos de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

(GEE) (BRASIL 2008) Esse discurso parece caminhar na contramatildeo

do PAC que prevecirc a construccedilatildeo de mais cinco termeleacutetricas movidas a

carvatildeo mineral sendo uma em Santa Catarina (MONTEIRO 2008)

A Poliacutetica Estadual sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e

Desenvolvimento Sustentaacutevel de Santa Catarina foi instituiacuteda em 2009

Esta pretende compatibilizar desenvolvimento social econocircmico e

tecnoloacutegico com a proteccedilatildeo do sistema climaacutetico e do meio ambiente

com ecircnfase especial agrave minimizaccedilatildeo das atividades geradoras de gases de

efeito estufa (SANTA CATARINA 2009a) Entretanto o Coacutedigo

Estadual do Meio Ambiente aprovado em 2009 (SANTA CATARINA

2009b) e alterado em 2013 abre a possibilidade de regularizaccedilatildeo

fundiaacuteria em Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e do

licenciamento por decurso de prazo (FEEC 2008 SANTA

CATARINA 2014a) Estes e outros aspectos causam grande impacto

nas relaccedilotildees sociedade e meio ambiente no geral e na questatildeo

energeacutetica em particular

O desenvolvimento de Santa Catarina foi durante muito tempo

considerado bem sucedido por ter reduzido grau de desigualdade

socioeconocircmica amparada no predomiacutenio da pequena propriedade e da

produccedilatildeo diversificada (LISBOA THEIS 1993) Todavia com o passar

do tempo observa-se a elevaccedilatildeo do ecircxodo rural o aumento dos

problemas urbanos e da degradaccedilatildeo ecossistecircmica (VIEIRA et al

2010 VIEIRA CUNHA 2002) A crise socioecoloacutegica catarinense estaacute

intimamente ligada agrave civilizaccedilatildeo dos negoacutecios (LENZI 2000) e o

sistema energeacutetico que a sustenta contribui em alguma medida para o

agravamento deste quadro (LISBOA THEIS 1993) O aumento da

produccedilatildeo e consumo de energia em Santa Catarina relaciona-se ao

crescimento da atividade econocircmica e ao crescimento dos impactos

ambientais (THEIS 1988)

Dentre as regiotildees mais afetadas estaacute o Sul de Santa Catarina A

regiatildeo concentra 1041 das reservas de carvatildeo mineral do Brasil

(MONTEIRO 2008) Desde a descoberta do carvatildeo catarinense pelos

tropeiros em 1822 ateacute os dias atuais muitas coisas mudaram em termos

de incentivos ao uso do carvatildeo mineral tecnologias utilizadas

agravamento da problemaacutetica socioambiental global e desenvolvimento

de mecanismos institucionais para lidar com esta problemaacutetica Todavia

41

apesar de existirem avanccedilos intensificaram-se tambeacutem processos de

degradaccedilatildeo ambiental (MENEZES WATERKEMPER 2009 SANTA

CATARINA 1990)

A Agecircncia de Cooperaccedilatildeo Internacional do Japatildeo (JICA)

identificou 4700 hectares degradados no Sul de Santa Catarina mas

estima-se que seriam 6000 hectares (NASCIMENTO BURSZTYN

2010) Do mineacuterio extraiacutedo 25 eacute aproveitado e 75 torna-se rejeito

piritoso (MILIOLI 2009) Na regiatildeo carboniacutefera apesar da

mecanizaccedilatildeo da extraccedilatildeo do carvatildeo ainda existem precaacuterias condiccedilotildees

de trabalho e peacutessimas condiccedilotildees de vida (moradia sauacutede saneamento)

(MONTIBELLER FILHO 2004) Haacute na regiatildeo um gradativo

comprometimento do setor agriacutecola As aacutereas proacuteximas agraves lavras de

subsolo sofrem com rachaduras desabamentos e rebaixamentos do solo

Ocorrem tambeacutem infiltraccedilotildees secagem de cursos de aacutegua accediludes e

poccedilos Dois terccedilos do sistema hidrograacutefico da regiatildeo estatildeo

comprometidos Existem tambeacutem impactos na flora e fauna e decliacutenio

do potencial pesqueiro (MILIOLI 2009)

Em 1993 o Ministeacuterio Puacuteblico Federal propocircs uma Accedilatildeo Civil

Puacuteblica contra as empresas carboniacuteferas diretores soacutecios majoritaacuterios o

Estado de Santa Catarina e a Uniatildeo Federal visando agrave recuperaccedilatildeo do

passivo ambiental resultante da mineraccedilatildeo do carvatildeo Em 2000

aconteceu a condenaccedilatildeo dos reacuteus agrave recuperaccedilatildeo de 619159 hectares de

aacutereas degradadas trecircs bacias hidrograacuteficas (bacias dos rios Araranguaacute

Tubaratildeo e Urussanga) e 768 minas de boca abandonadas (TSJ 2007)

A regiatildeo eacute palco de muitos conflitos No que diz respeito agrave

extraccedilatildeo do carvatildeo destacam-se em 1988 o conflito entre a Companhia

Sideruacutergica Nacional (CSN) e moradores da comunidade rural de

Montanhatildeo em 1994 entre a Companhia Carboniacutefera Belluno e 200

agricultores em 1995 envolvendo a Associaccedilatildeo Comunitaacuteria do Alto do

Rio Molha (ACARIMO) em Urussanga em 1996 o conflito entre

mineradores e agricultores no ldquoMorrordquo do Albino e Estevatildeo em

Criciuacutema (SILVA SCHEIBE 2005) em 1999 o conflito com a

Carboniacutefera Rio Deserto em Sideroacutepolis e em Iccedilara entre agricultores e

a Carboniacutefera Rio Deserto (NASCIMENTO BURSZTYN 2010) Em

2004 com a ocorrecircncia do furacatildeo Catarina o primeiro do Atlacircntico

Sul inaugura-se uma mobilizaccedilatildeo social que une a discussatildeo sobre a

mineraccedilatildeo do carvatildeo com a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas e

justiccedila ambiental (SOacuteCIOS DA NATUREZA 2009 e 2005)

Historicamente na regiatildeo aqueles que tecircm o benefiacutecio econocircmico

42

geralmente natildeo arcam com os impactos negativos resultantes da

mineraccedilatildeo (MILIOLI 2009 NASCIMENTO BURSZTYN 2010)

Todavia os impactos natildeo necessariamente afetam apenas as populaccedilotildees

mais vulneraacuteveis do ponto de vista socioeconocircmico

O iacutendice meacutedio de mortalidade por neoplasias e doenccedilas

respiratoacuterias eacute superior ao resto do territoacuterio catarinense e ultrapassa a

meacutedia nacional Chama atenccedilatildeo tambeacutem o iacutendice de mortalidade de

menores de um ano por doenccedilas respiratoacuterias anomalias congecircnitas

notadamente no sistema nervoso incluindo anencefalia tambeacutem

superiores ao resto do paiacutes (MPF 2009) Os municiacutepios de Imbituba

Tubaratildeo Criciuacutema e Urussanga lideram os piores iacutendices de qualidade

do ar do Estado Existem tambeacutem muitos prejuiacutezos relacionados agrave sauacutede

da populaccedilatildeo De 1980 a 2004 foram 846 mortes causadas por doenccedilas

do aparelho respiratoacuterio nos municiacutepios de Criciuacutema Iccedilara Lauro

Muumlller Morro da Fumaccedila Sideroacutepolis Nova Veneza Urussanga

(MILIOLI 2009)

A mineraccedilatildeo no Sul em 2010 contava com 12 induacutestrias e

aproximadamente 4136 empregos diretos O principal destino do carvatildeo

(95) era o Complexo Termeleacutetrico Jorge Lacerda localizado no

municiacutepio de Capivari de Baixo administrado pela Tractebel

(SIECESC 2010) A Usina Termeleacutetrica Jorge Lacerda foi inaugurada

em 1965 entrando em operaccedilatildeo em 1966 com potecircncia instalada de 50

MW atualmente 856 MW com a incorporaccedilatildeo de mais unidades e

ampliaccedilatildeo da produccedilatildeo de energia eleacutetrica Em 1998 como parte dos

processos de privatizaccedilatildeo o Complexo Jorge Lacerda foi vendido para o

Grupo SuezTractebel (Beacutelgica) (GOULARTI FILHO MORAES

2004)

O Complexo Jorge Lacerda tem o compromisso da compra de

200 mil toneladas mensais de carvatildeo mineral A cadeia produtiva do

carvatildeo gera mais de seis mil empregos (na mineraccedilatildeo do carvatildeo

transporte e abastecimento do carvatildeo geraccedilatildeo de energia eleacutetrica e

extraccedilatildeo e transporte de cinzas) e eacute responsaacutevel por 70 da arrecadaccedilatildeo

de tributos municipais e por 75 da economia de Capivari de Baixo

(TRACTEBEL 2008)

A ampliaccedilatildeo de energia termeleacutetrica tornou-se uma possibilidade

atraveacutes da construccedilatildeo da Usina Termeleacutetrica Sul-Catarinense

(USITESC) Ela faz parte de uma realidade diferente se comparada ao

Complexo Termeleacutetrico Jorge Lacerda Enquanto o Complexo

Termeleacutetrico Jorge Lacerda foi construiacutedo num periacuteodo em que a

43

questatildeo da energia passava pela intervenccedilatildeo federal e estadual

(GOULARTI FILHO MORAES 2004) a USITESC vai ser construiacuteda

num periacuteodo de liberalizaccedilatildeo e privatizaccedilatildeo do setor eleacutetrico Ocorrem

ainda nesse intervalo de tempo a democratizaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de espaccedilos

legais e institucionais motivados pela crescente preocupaccedilatildeo com

questotildees socioambientais (VAINER 2007) Todavia existem

dificuldades na articulaccedilatildeo entre os niacuteveis de planejamento e gestatildeo

(federal estadual regional municipal) especificidades da cultura

poliacutetica brasileira a degeneraccedilatildeo das instituiccedilotildees poliacuteticas e o vieacutes

tecno-burocraacutetico das poliacuteticas ambientais (VIEIRA 2006) Ao liberar

as forccedilas do capital das regulamentaccedilotildees do Estado o controle social

sobre os efeitos nocivos do uso exacerbado do meio ambiente pelos

interesses privados pode ser inviabilizado (ACSELRAD 1992b)

No que se refere agrave geraccedilatildeo de energia do Complexo Jorge

Lacerda a Tractebel natildeo sofre nenhum tipo de fiscalizaccedilatildeo O

Complexo Jorge Lacerda emite 42 milhotildees de toneladas de Dioacutexido de

Carbono (CO2) por ano (MONTEIRO 2008) A Fundaccedilatildeo do Meio

Ambiente (FATMA) autorizou a Tractebel a emitir 15667117

toneladasano de dioacutexido de enxofre Essa e as demais emissotildees

ultrapassam em muito os limites da Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional do

Meio Ambiente (CONAMA) nordm 0890 e violam tambeacutem a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) sobre a Mudanccedila do Clima da

qual o Brasil eacute signataacuterio Em 2009 o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

determinou que a Tractebel Energia SA realize uma auditoria

ambiental uma vez que sua atuaccedilatildeo tem como base um estudo de

impacto ambiental feito em 1986 (MPF 2009)

Jaacute o relatoacuterio de impacto ambiental da USITESC foi questionado

pela sociedade civil organizada e em alguns pontos pelo Ministeacuterio

Puacuteblico (SANTOS 2011 DIAS 2011) Segundo Dias (2011) o estudo

de impacto ambientalrelatoacuterio de impacto ambiental considerou apenas

os impactos da implantaccedilatildeo da usina termeleacutetrica desconsiderando os

empreendimentos acessoacuterios (reservatoacuterio de aacutegua ramal da Ferrovia

Tereza Cristina linha de transmissatildeo e terminal de amocircnia no porto de

ImbitubaSC) Foram feitos estudos complementares e o Ministeacuterio

Puacuteblico corroborou o licenciamento ambiental emitido pela FATMA

Se os estudos de impacto ambiental e relatoacuterios de impacto

ambiental satildeo a base para as tomadas de decisatildeo aleacutem da qualidade

documental a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em associaccedilotildees locais eacute uma

conquista democraacutetica importante mas a praacutetica permanece precaacuteria

44

(SAacuteNCHEZ 2008b AGRA FILHO 2010) na medida em que o campo

ambiental eacute ldquoconstituiacutedo por posiccedilotildees hieraacuterquicas e relaccedilotildees de poder

muito desiguaisrdquo (ZHOURI 2008 p 99) Os empresaacuterios enaltecem os

benefiacutecios sociais dos empreendimentos e o governo tem demonstrado

atitudes controvertidas nos espaccedilos de negociaccedilatildeo e decisatildeo As

audiecircncias puacuteblicas passam de ldquo() um instrumento de avaliaccedilatildeo da

sustentabilidade socioambiental das obras para ser mero instrumento

viabilizador de um projeto de sociedade que tem no meio ambiente um

recurso material a ser explorado economicamenterdquo (ZHOURI 2008 p

101) Outro risco que se corre para aleacutem da negociaccedilatildeo caso a caso eacute

lidar ldquoapenas com a manifestaccedilatildeo superficial de questotildees mais

fundamentais e enraizadas ndash os conflitos de valores e princiacutepios baacutesicos

relativos agrave gestatildeo dos recursosrdquo (ACSELRAD BEZERRA 2010 p

52) Ou seja a preocupaccedilatildeo socioambiental acaba muitas vezes

limitada ao processo de avaliaccedilatildeo de impacto ambiental de casos

isolados sem levar em conta uma discussatildeo ampla e bem informada

sobre alternativas ao estilo de desenvolvimento hegemocircnico

A regiatildeo Sul catarinense convive com um problema socioambiental

considerado grave a saber os impactos negativos decorrentes da

mineraccedilatildeo e do uso do carvatildeo mineral e a construccedilatildeo da USITESC

demonstram a insistecircncia nesse estilo de desenvolvimento Levando em

conta a situaccedilatildeo-problema aqui descrita a questatildeo norteadora dessa tese

foi assim formulada Por que apesar da evoluccedilatildeo do debate sobre os

impactos socioambientais da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral e dos avanccedilos institucionais relacionados agrave questatildeo ambiental o sistema de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral vem sendo

ampliado em Santa Catarina

Partindo dessa questatildeo norteadora satildeo apresentados a seguir o enfoque

analiacutetico e os principais conceitos que ajudaram a delimitar essa tese

Enfoque analiacutetico

Desde a emergecircncia social e cientiacutefica da problemaacutetica

socioambiental a partir da deacutecada de 1960 podemos destacar avanccedilos

conceituais que se somam a progressos no conhecimento empiacuterico

sobre os problemas e ameaccedilas socioambientais e avanccedilos institucionais

da questatildeo ambiental Apesar dos avanccedilos os desafios da problemaacutetica

45

socioambiental satildeo ineacuteditos e possuem implicaccedilotildees epistemoloacutegicas

eacuteticas e poliacuteticas

O ecodesenvolvimento tem sido o ponto de confluecircncia dessa

reflexatildeo Mencionado pela primeira vez no acircmbito da Conferecircncia de

Estocolmo foi utilizado no decorrer da deacutecada de 1970 sendo

progressivamente marginalizado na deacutecada seguinte considerado como

um enfoque demasiadamente criacutetico e radical pela ideologia neoliberal

(SACHS 1986 VIEIRA 2006) O enfoque analiacutetico aqui apresentado

resgata o enfoque ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento enfatizando suas

trecircs dimensotildees (i) recursos naturais (ii) espaccedilo-territoacuterio e (iii) habitat

(compreendido como qualidade de vida)

No que se refere agrave primeira dimensatildeo satildeo consideradas as

contribuiccedilotildees do enfoque da gestatildeo de recursos comuns que vecircm

permeando o debate sobre os modos de apropriaccedilatildeo e gestatildeo No que diz

respeito agrave segunda dimensatildeo traz-se o enfoque do ecodesenvolvimento

territorial como uma possibilidade de operacionalizar o enfoque de

ecodesenvolvimento Por fim as contribuiccedilotildees agrave dimensatildeo do haacutebitat a

partir do enfoque de justiccedila ambiental e ecoloacutegica entendido como

capaz de contribuir na avaliaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo dos benefiacutecios dos

riscos e danos ambientais assim como na reflexatildeo sobre redistribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre os seres humanos

destes com o meio ambiente com as futuras geraccedilotildees espeacutecies natildeo

humanas e processos ecossistecircmicos

O enfoque da gestatildeo de recursos comuns atraveacutes do Institutional Framework for Policy Analysis and Design (IAD) adaptado por

Oakerson (1992) oferece atraveacutes de quatro macro variaacuteveis uma forma

de descrever a gestatildeo de um dado recurso os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso as regras em uso que orientam a interaccedilatildeo dos

envolvidos na gestatildeo a arena de accedilatildeo que compreendem os espaccedilo nos

quais os envolvidos se relacionam e os resultados e consequecircncias da

gestatildeo A relaccedilatildeo entre essas macro variaacuteveis eacute dinacircmica e as mudanccedilas

da gestatildeo envolvem o aprendizado social adaptativo que se incorpora

ao modelo a partir das contribuiccedilotildees recentes do enfoque da cogestatildeo

adaptativa (ARMITAGE et al 2009 PLUMMER 2009 HOLLING

2001 BERKES 2009 CUNDILL 2010) Esse enfoque eacute importante

para o problema desta tese porque a descriccedilatildeo e anaacutelise das macro

variaacuteveis possibilita um diagnoacutestico e uma compreensatildeo mais ampla do

problema bem como um prognoacutestico avaliando estrateacutegias passiacuteveis de

serem colocadas em accedilatildeo visando a resoluccedilatildeo do problema inicial

46

A fim de complementar o enfoque da gestatildeo de recursos comuns

o enfoque do ecodesenvolvimento territorial reforccedila a ideia de que a

gestatildeo de recursos comuns deve ser analisada junto ao estilo de

desenvolvimento Para aleacutem da situaccedilatildeo especiacutefica do recurso

encontram-se as opccedilotildees de desenvolvimento que influenciam as macro

variaacuteveis acima listadas em todas as escalas espaciais do local ao global

(VIEIRA 2006)

Os enfoques da justiccedila ambiental e da justiccedila ecoloacutegica por sua

vez trazem a indissociabilidade da questatildeo ambiental e da questatildeo

democraacutetica enfatizando o fortalecimento do sistema democraacutetico como

condiccedilatildeo para a aprendizagem social adaptativa e como um caminho

para a reflexatildeo-accedilatildeo criacutetica em relaccedilatildeo agrave gestatildeo de recursos comuns e agraves

opccedilotildees de desenvolvimento A democracia (representativa e

participativa) eacute um ldquoelemento dardquo e uma ldquocondiccedilatildeo parardquo a justiccedila

ambiental e ecoloacutegica (SCHLOSBERG 2009)

No sistema democraacutetico eacute preciso identificar os mecanismos de

produccedilatildeo da injusticcedila ambiental entendida como distribuiccedilatildeo

desproporcional dos riscos e danos ambientais proteccedilatildeo ambiental

desigual e acesso desigual aos recursos naturais A justiccedila ambiental

centraliza sua anaacutelise na redistribuiccedilatildeo (que remete a aspectos

econocircmicos) e a justiccedila ecoloacutegica complementa com outras duas

dimensotildees o reconhecimento (que remete a aspectos culturais) e a

representaccedilatildeo (que remete a aspectos poliacuteticos) (FRASER 2009 2007

SCHLOSBERG 2009) A ampliaccedilatildeo da democracia e

consequentemente do aprendizado social adaptativo envolve estrateacutegias

dos segmentos sociais que considerem essas duas dimensotildees

Dessa forma o enfoque central utilizado nessa tese o

ecodesenvolvimento conta com as contribuiccedilotildees da gestatildeo de recursos

comuns do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila ambiental e da

justiccedila ecoloacutegica Mesmo diante da situaccedilatildeo-problema apresentada na

qual os problemas tendem a se acirrar com a ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica a combinaccedilatildeo dos enfoques permite aleacutem de um

diagnoacutestico visando compreender o problema a possibilidade de

atraveacutes do exame das dinacircmicas de desenvolvimento do sistema

democraacutetico e da aprendizagem social adaptativa identificar avanccedilos e

margens de manobra junto aos segmentos sociais que possibilitem o

questionamento da situaccedilatildeo e seu enfrentamento

47

Questotildees norteadoras

Por que apesar da evoluccedilatildeo do debate sobre os impactos

socioambientais da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral e dos avanccedilos

institucionais relacionados agrave questatildeo ambiental o sistema de geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral vem sendo ampliado em

Santa Catarina

Para auxiliar a questatildeo norteadora constam ainda as seguintes questotildees auxiliares

Quais condicionantes levam agrave ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica no Brasil e em Santa Catarina

Como as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento influenciam

as accedilotildees coletivas dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais

De que maneira os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais se

articulam para que a atividade carboniacutefera se mantenha e se

amplie

Como se deu o processo de licenciamento da Usitesc

Como se manifestam os problemas de reconhecimento e

representaccedilatildeo no processo de licenciamento

As accedilotildees coletivas estudadas tecircm gerado oportunidades para

processos de aprendizagem social adaptativa

Haacute indiacutecios de uma possiacutevel rota para uma democracia que

permita que os segmentos sociais intervenham efetivamente em

debates cada vez mais mediados por uma ciecircncia e tecnologia a

serviccedilo dos projetos dos segmentos econocircmicos e respaldados

pelos segmentos poliacuteticos

Hipoacuteteses

Partindo do pressuposto de que a democracia representativa e

participativa eacute um ldquoelemento dardquo e uma ldquocondiccedilatildeo parardquo a

justiccedila social ambiental e ecoloacutegica a falta de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e de representaccedilatildeo nos processos democraacuteticos

seria uma condiccedilatildeo favoraacutevel agrave produccedilatildeo de injusticcedila ambiental

48

e ecoloacutegica Dessa forma a hipoacutetese sustentada aqui eacute de que o

processo poliacutetico que resulta na ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica envolve problemas de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo nos processos democraacuteticos em

todas as escalas espaciais (nacional estadual regional e local)

tanto na modalidade representativa quanto na modalidade

participativa

A tomada de consciecircncia dos limites da democracia

representativa e da democracia participativa faz com que os

segmentos sociais passem a investir em accedilotildees autocircnomas

favorecendo a aprendizagem social adaptativa

Objetivos

Compreender as contradiccedilotildees inerentes agrave ampliaccedilatildeo do sistema de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral no Sul de

Santa Catarina agrave luz do enfoque hiacutebrido envolvendo gestatildeo de recursos

comuns ecodesenvolvimento territorial e justiccedila ambiental e ecoloacutegica

Como objetivos especiacuteficos destacam-se

Apontar as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento que

influenciam as accedilotildees coletivas dos segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais envolvidos na gestatildeo do carvatildeo mineral

Descrever a gestatildeo de recursos comuns no Brasil e em Santa

Catarina com ecircnfase no carvatildeo mineral

Compreender a maneira como os segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais envolvidos na gestatildeo se articulam em

relaccedilatildeo agrave gestatildeo de recursos comuns

Descrever o processo de licenciamento da Usitesc

Reconhecer os problemas de distribuiccedilatildeo reconhecimento e

representaccedilatildeo no processo de licenciamento e nas audiecircncias

puacuteblicas

Verificar ldquoserdquo e ldquocomordquo as accedilotildees coletivas estudadas tecircm

gerado oportunidades para processos de aprendizagem social

adaptativa e

49

Reconhecer indiacutecios de uma possiacutevel rota para uma democracia

que permita que os segmentos sociais intervenham efetivamente

em debates cada vez mais mediados por uma ciecircncia e

tecnologia a serviccedilo dos projetos dos segmentos econocircmicos e

respaldados pelos segmentos poliacuteticos

Justificativa

Satildeo muitos os caminhos que levam ateacute o tema e o problema da

tese Desde a apresentaccedilatildeo do projeto na ocasiatildeo do processo seletivo

da qualificaccedilatildeo agrave defesa e depois O permanente refletir duvidar

reconstruir o que se cristaliza no papel e vai aleacutem dele A aacuterdua tarefa de

tentar traduzir em palavras a dinacircmica complexa da qual todas e todos

satildeo parte

O tema do planejamento do desenvolvimento me acompanha

desde o mestrado e na ocasiatildeo da seleccedilatildeo do doutorado apresentei um

projeto cujo tema era planejamento e aquecimento global Nos anos

subsequentes nas oportunidades que tive para debater o projeto fui

desafiada a trazer o tema para a realidade do estado de Santa Catarina

E seguindo essa intuiccedilatildeo a partir da pesquisa exploratoacuteria entrei em

contato com o Manifesto por Justiccedila Climaacutetica formulado por

movimentos sociais do Sul de Santa Catarina que trazia a reflexatildeo sobre

as mudanccedilas climaacuteticas e a exploraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral para

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica no Sul de Santa Catarina Tive tambeacutem a

oportunidade de participar de uma saiacuteda de campo na bacia carboniacutefera

e ter contato direto com os impactos causados pela mineraccedilatildeo Essas

experiecircncias e as leituras foram gradativamente me ajudando a definir

o tema e o problema desta tese

Existe muito material jaacute produzido sobre a trajetoacuteria de

desenvolvimento e os impactos decorrentes da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo

mineral no Sul de Santa Catarina Aqui se objetivou uma breve siacutentese

de dados e de parte do material jaacute produzido pois a ecircnfase desta tese

recaiu sobre a identificaccedilatildeo de incoerecircncias na relaccedilatildeo entre as questotildees ambientais e o sistema democraacutetico mostrando que o funcionamento do

sistema poliacutetico eacute parte do problema e que as margens de manobra

existentes podem ser mais bem exploradas pelos movimentos sociais

que atuam na regiatildeo Como jaacute foi assinalado anteriormente apesar da

possibilidade de ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a

50

carvatildeo mineral no Sul de Santa Catarina o cenaacuterio atual eacute de

aguccedilamento dos conflitos bem maior do que nas deacutecadas anteriores

Nesse sentido a construccedilatildeo da USITESC eacute mais um elo de um

segmento que tem historicamente um caraacuteter eminentemente destrutivo

do ponto de vista socioecoloacutegico Resta confirmar se isto eacute um destino

inexoraacutevel em funccedilatildeo das caracteriacutesticas especiacuteficas da regiatildeo ou se

pode ser mudado num contexto de questionamento da loacutegica subjacente

agraves dinacircmicas do sistema democraacutetico que envolvem decisotildees sobre as

poliacuteticas ambientais energeacuteticas e poliacuteticas de desenvolvimento

No plano teoacuterico a contribuiccedilatildeo desta tese inscreve-se no

aprofundamento teoacuterico do enfoque ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento

agregando as contribuiccedilotildees dos enfoques da gestatildeo de recursos comuns

do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila ambiental e da justiccedila

ecoloacutegica O esforccedilo de juntar enfoques se justificou na medida em que

se um dos condicionantes da problemaacutetica socioambiental eacute a

fragmentaccedilatildeo do problema e a dificuldade de concebecirc-lo como

problema complexo (GARCIacuteA 1994) religar as perspectivas segundo

as quais observamos e analisamos a realidade faz parte tambeacutem das

estrateacutegias para o enfrentamento do problema

Dessa forma o diaacutelogo entre enfoques trouxe pontos de reflexatildeo

diferentes que enriqueceram a anaacutelise ao enfoque da gestatildeo de recursos

comuns a questatildeo das dinacircmicas de desenvolvimento e do sistema

poliacutetico ao ecodesenvolvimento territorial a preocupaccedilatildeo com a gestatildeo

de recursos comuns e com a desigualdade ambiental e agrave justiccedila

ambiental e ecoloacutegica a atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de desenvolvimento e agrave

gestatildeo de recursos comuns Um ponto que merece destaque eacute o esforccedilo

recente das pesquisas sobre gestatildeo de recursos comuns e justiccedila

ambiental e ecoloacutegica de aplicar os enfoques para tratar as

especificidades do caso brasileiro Esta tese se inscreve como parte

desse esforccedilo

Outro ponto importante eacute a junccedilatildeo dos temas democracia e meio

ambiente no Brasil A democracia foi e eacute sem duacutevida um tema muito

caro agrave Sociologia brasileira e a inclusatildeo de um tema mais recente (o

meio ambiente) tambeacutem eacute considerada uma contribuiccedilatildeo possiacutevel dessa tese

Vale a pena ressaltar ainda que essa tese se insere nas atividades

realizadas pelos integrantes do Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio

Ambiente e Desenvolvimento (NMD) vinculado ao Programa de Poacutes-

51

Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica O Nuacutecleo atua no litoral Centro Sul

de Santa Catarina haacute mais de dez anos Dentre as atividades

desenvolvidas pelo NMD inclui-se a participaccedilatildeo no Observatoacuterio do

Litoral Catarinense que tem como objetivo

Organizar e coordenar uma rede de apoio teacutecnico-

cientiacutefico ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal e

Estadual tendo em vista a promoccedilatildeo de um estilo

de gestatildeo democraacutetico-participativa de conflitos

relacionados agrave apropriaccedilatildeo dos recursos

ambientais existentes na zona costeira e o

consequente fortalecimento da cidadania

ambiental no Paiacutes (OBSERVATOacuteRIO DO

LITORAL 2010)

Como parte das atividades do Observatoacuterio do Litoral

Catarinense a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre meio ambiente e

desenvolvimento auxilia na elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos e prognoacutesticos e

pode favorecer a mobilizaccedilatildeo jaacute que a visibilidade dos problemas

existentes pode estimular a criaccedilatildeo de redes visando a criaccedilatildeo de

estrateacutegias integradas para enfrentamento dos problemas

Essa tese tambeacutem faz parte de um esforccedilo mais amplo de

pesquisa articulado pelo edital da Coordenadoria de Aperfeiccediloamento de

Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) Ciecircncias do Mar tendo como tema

a Gestatildeo Integrada e Compartilhada de Territoacuterios Marinho-Costeiros O projeto possibilitou o compartilhamento do objeto de estudo do

marco conceitual e epistecircmico e a articulaccedilatildeo dos estudos entre os

membros da equipe

Em siacutentese dentre os possiacuteveis aspectos inovativos do trabalho

destacam-se do ponto de vista praacutetico o olhar sobre a questatildeo da

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral a partir do

funcionamento do sistema democraacutetico a identificaccedilatildeo dos

condicionantes da ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica em

diferentes escalas e consequentemente o reconhecimento de limites e

das possibilidades do sistema democraacutetico e da aprendizagem social

adaptativa Do ponto de vista teoacuterico destacam-se o diaacutelogo entre os

enfoques e a aplicaccedilatildeo dos enfoques agraves especificidades brasileiras

Metodologia

52

O agravamento dos problemas socioambientais tem povoado o

debate nos campos de especializaccedilatildeo cientiacutefica seja para a criaccedilatildeo de

novas disciplinas seja para ir aleacutem da fragmentaccedilatildeo disciplinar ldquoA

problemaacutetica socioambiental constituiacute um vigoroso instrumento de

integraccedilatildeo de conceitos teorias e meacutetodos desenvolvidos em

praticamente todas as especialidades cientiacuteficasrdquo (VIEIRA 1993 p

26) A epistemologia das ciecircncias ambientais entra como uma

importante contribuiccedilatildeo para a pesquisa ambiental Ela considera a

complexidade inerente agrave crise socioambiental privilegiando uma visatildeo

integrada do problema socioecoloacutegico e da ciecircncia no acircmbito do novo

paradigma sistecircmico Neste sentido a busca de integraccedilatildeo inter e

transdisciplinar do conhecimento emerge como um elemento essencial

no enfrentamento da crise (GARCIacuteA 1994 JOLLIVET PAVEacute 2000

MORIN 2002)

A tese aqui apresentada se insere nesse esforccedilo de pesquisa Para

tanto a construccedilatildeo da tese considerou sete etapas (a pergunta de partida

a exploraccedilatildeo a problemaacutetica a construccedilatildeo do modelo de anaacutelise a

observaccedilatildeo a anaacutelise das informaccedilotildees e as conclusotildees) segundo os trecircs

princiacutepios do procedimento cientiacutefico em ciecircncias sociais (ruptura

construccedilatildeo e verificaccedilatildeo) (BOURDIEU CHAMBOREDON

PASSERON 2004 QUIVY CAMPENHOUDT 1998)

Apesar de haver uma sequecircncia loacutegica as etapas subsequentes

influenciaram a reelaboraccedilatildeo das etapas precedentes As etapas

estiveram ao longo do processo em permanente interaccedilatildeo (QUIVY

CAMPENHOUDT 1998)

Se eacute evidente que os automatismos adquiridos

podem permitir a economia de uma invenccedilatildeo

permanente devemos nos abster de deixar crer

que o sujeito da invenccedilatildeo cientiacutefica eacute um

automaton spirituale obedecendo aos

mecanismos bem ajustados de uma programaccedilatildeo

metodoloacutegica constituiacuteda uma vez por todas e

confinar dessa forma o pesquisador na submissatildeo

cega ao programa que exclui o retorno reflexivo

ao mesmo condiccedilatildeo da invenccedilatildeo de novos

programas (BOURDIEU CHAMBOREDON

PASSERON 2004 p 15)

53

Dessa forma a evoluccedilatildeo dessa tese natildeo foi linear As quatro

primeiras etapas (a pergunta de partida a exploraccedilatildeo a problemaacutetica e a

construccedilatildeo do modelo de anaacutelise) jaacute apresentadas nessa introduccedilatildeo satildeo

tratadas a seguir de forma a indicar como se deu o processo de sua

construccedilatildeo

1ordf etapa (A pergunta de partida) Foi sendo elaborada e

reelaborada ao longo das vaacuterias etapas da pesquisa

2ordf etapa (A exploraccedilatildeo) Essa etapa compreendeu conversas com

o orientador leituras e entrevistas exploratoacuterias Nessa etapa destacou-se

uma saiacuteda de campo no ano de 2010 agrave Bacia do Rio Araranguaacute

supervisionada pelo Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes e Profordf Drordf

Vanilde Citadini Zanette da Universidade do Extremo Sul Catarinense

(UNESC) Essa saiacuteda de campo foi fundamental para despertar o

interesse pelo problema da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral no Sul do

Estado

Foi feita uma entrevista exploratoacuteria com Tadeu Santos da

Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental (ONG) Soacutecios da Natureza com sede

em Araranguaacute e conversas informais com estudantes da Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Auditoria e Periacutecia Ambiental da UNESC em 2010 e 2012

Etapa 3 (A problemaacutetica) e Etapa 4 (A construccedilatildeo do modelo de

anaacutelise) Destacam-se tambeacutem nessa fase aleacutem das conversas com o

orientador as leituras e o esforccedilo de preparaccedilatildeo do projeto para

qualificaccedilatildeo que ocorreu em 2011 contando com as contribuiccedilotildees do

Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes da UNESC do Prof Dr Luiz

Fernando Scheibe do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da

Universidade Federal de Santa Catarina e da Profordf Drordf Janice Pontes

Tirelli do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica da UFSC

O projeto foi tambeacutem discutido no acircmbito do NMD em alguns

seminaacuterios de pesquisa na disciplina de Ecologia Humana (ministrada

pela ProfordfDrordf Marcia Grisotti e pelo Prof Dr Fernando Dias Aacutevila

Pires) em 2010 nas duas disciplinas de seminaacuterio de pesquisa uma

ministrada pela Profordf Drordf Elizabeth Farias da Silva (na qual o projeto

foi debatido pelo Prof Dr Daniel Silva) e outra ministrada pelo Prof

Dr Raul Burgos no ano de 2011 O projeto tambeacutem foi apresentado e debatido no Nuacutecleo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional (NPDR)

da Universidade Regional de Blumenau (FURB) coordenado pelo Prof

Dr Ivo Marcos Theis e em dois eventos do Projeto Gestatildeo Integrada e Compartilhada de Territoacuterios Marinho-Costeiros em 2011 e 2012

54

Etapa 5 ndash A observaccedilatildeo Nessa etapa o modelo de anaacutelise foi

submetido aos fatos e confrontado com os dados observaacuteveis Aqui satildeo

respondidas as questotildees baacutesicas o que foi observado Em que observou-se E como observou-se

O procedimento da pesquisa foi bibliograacutefico e documental Na

pesquisa bibliograacutefica foram selecionadas fontes secundaacuterias (obras e

artigos) que tratavam do tema de estudo jaacute reconhecidas no domiacutenio

cientiacutefico e na pesquisa documental foram priorizadas fontes primaacuterias

(escritas e audiovisuais) que ateacute entatildeo natildeo haviam recebido tratamento

cientiacutefico (SAacute-SILVA ALMEIDA GUIDANI 2009)

Os discursos da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo

Mineral foram acessados atraveacutes de consulta agrave Cacircmara de Deputados

pelo correio eletrocircnico Os dados sobre prestaccedilatildeo de contas eleitorais

foram acessados atraveacutes do banco de dados online do TSE O processo

de licenciamento da USITESC arquivado na FATMA conta com oito

volumes e 1617 paacuteginas e com arquivos audiovisuais de duas das quatro

audiecircncias puacuteblicas (FATMA 2013) Das quatro audiecircncias puacuteblicas

realizadas soacute foram disponibilizadas as gravaccedilotildees da terceira e da quarta

audiecircncia (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006 2007) Segundo informaccedilatildeo

da FATMA a primeira e a segunda audiecircncia puacuteblica foram gravadas em

VHS e foram danificadas pela accedilatildeo do tempo

A descriccedilatildeo das macro variaacuteveis (as dinacircmicas de

desenvolvimento os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos as regras em uso a

arena de accedilatildeo e os resultadosconsequecircncias) foi feita atraveacutes da

pesquisa bibliograacutefica a fontes secundaacuterias (obras e artigos) Jaacute a

variaacutevel do sistema democraacutetico contou com fontes primaacuterias os

discursos da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral na

Cacircmara dados sobre prestaccedilatildeo de contas eleitoral do Tribunal Superior

Eleitoral e os documentos referentes ao processo de licenciamento

ambiental da USITESC arquivados na FATMA

Na arena de accedilatildeo um primeiro passo foi descrever os envolvidos

na gestatildeo Para tanto os envolvidos foram divididos em segmentos

poliacuteticos econocircmicos e sociais que por sua vez foram subdivididos Os

segmentos poliacuteticos em executivo parlamento e autocircnomo os segmentos econocircmicos em associaccedilotildees empresariais e mistas e empresas

e cooperativas e os segmentos sociais em trabalhadores

afetadosatingidosameaccedilados ONG e academia (Quadro 1) Os

segmentos natildeo apresentam um posicionamento homogecircneo em relaccedilatildeo

ao tema da tese Ao longo do texto a preocupaccedilatildeo eacute tambeacutem de

55

explicitar os diferentes posicionamentos entre e no interior de cada

segmento

Quadro 1 ndash Divisatildeo dos envolvidos na gestatildeo por segmentos SEGMENTOS ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO

Poliacuteticos Executivo

Parlamento

Autocircnomo

Econocircmicos Associaccedilotildees empresariais e mistas

Empresas

Cooperativas

Sociais Trabalhadores

AfetadosAtingidosAmeaccedilados

Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais

Academia

Fonte baseada em Oliveira (2013)

A existecircncia de afetados atingidos e ameaccedilados se inscreve no

reconhecimento e legitimaccedilatildeo de direitos A legislaccedilatildeo ambiental faz

com que os impactos passem a ser considerados e se existem impactos

existem seres humanos que satildeo afetados atingidos e ameaccedilados

(VAINER 2008) A distinccedilatildeo entre os termos afetados atingidos e

ameaccedilados remete agrave proximidade dos seres humanos em relaccedilatildeo aos

impactos Nos afetados o impacto fica num limiar tecircnue entre o direto e

indireto nos atingidos o impacto eacute direto e nos ameaccedilados o impacto eacute

potencialmente indireto

Uma variaacutevel importante na arena de accedilatildeo eacute a democracia que

por sua vez envolve a questatildeo da representaccedilatildeo e da participaccedilatildeo A

expressatildeo cidadatilde atraveacutes da representaccedilatildeo se daacute principalmente nas

eleiccedilotildees plebiscitos e conselhos Jaacute a expressatildeo mediante participaccedilatildeo

pode ser accedilatildeo sob convite (planejamento participativo consulta puacuteblica

e mediaccedilatildeo) e accedilatildeo autocircnoma (lobby peticcedilotildees manifestaccedilotildees

campanhas na imprensa outros) (Figura 1) (SAacuteNCHEZ 2008b)

56

Figura 1ndash Tipologia das formas de expressatildeo do cidadatildeo numa

democracia

Fonte Adaptado de Sagravenchez (2008b p 409)

Na anaacutelise do sistema democraacutetico foi importante identificar as

dimensotildees da justiccedila ambiental (redistribuiccedilatildeo) e da justiccedila ecoloacutegica

(reconhecimento e representaccedilatildeo) ldquoO natildeo reconhecimento eacute uma

questatildeo de impedimentos externamente manifestados e publicamente

verificaacuteveis a que certos indiviacuteduos sejam membros integrais da

sociedaderdquo (FRASER 2007 p 114) O centro normativo da concepccedilatildeo

de Fraser (2007) eacute a paridade de participaccedilatildeo que demanda uma

condiccedilatildeo objetiva e outra intersubjetiva A condiccedilatildeo objetiva ldquoexclui formas e niacuteveis de desigualdade material e dependecircncia econocircmica que

impedem a paridade de participaccedilatildeordquo (FRASER 2007 p 119) A

condiccedilatildeo intersubjetiva ldquoexclui normas institucionalizadas que

sistematicamente depreciam algumas categorias de pessoas e as

caracteriacutesticas associadas a elasrdquo (FRASER 2007 p 120)

57

Quadro 2 - Quadro de anaacutelise do sistema democraacutetico agrave luz da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica

DIMENSOtildeES DO SISTEMA

DEMOCRAacuteTICO

ESTRATEacuteGIAS DA JUSTICcedilA

AMBIENTAL E ECOLOacuteGICA

- Redistribuiccedilatildeo

- Reconhecimento e

- Representaccedilatildeo

- Produccedilatildeo do conhecimento proacuteprio

- Pressatildeo pela aplicaccedilatildeo universal das

leis

- Pressatildeo pelo aperfeiccediloamento da

legislaccedilatildeo de ambiental

- Pressatildeo por novas racionalidades no

exerciacutecio do poder estatal

- Introduccedilatildeo de procedimentos de

avaliaccedilatildeo de equidade ambiental

- Accedilatildeo direta e difusatildeo espacial do

movimento

Fonte Adaptado de Acselrad Mello Bezerra (2009) e Fraser (2009

2007)

As dimensotildees e estrateacutegias da justiccedila ambiental e ecoloacutegica

presentes no Quadro acima entraram no modelo de anaacutelise dessa tese

como indicadores da aprendizagem social adaptativa

Quanto aos meacutetodos de anaacutelise priorizou-se a anaacutelise estatiacutestica e

a anaacutelise do discurso Anaacutelise estatiacutestica privilegiou a interpretaccedilatildeo dos

dados atraveacutes do modelo de anaacutelise buscando ir aleacutem da mera exposiccedilatildeo

de resultados A anaacutelise do discurso aqui proposta ficou num limiar

entre essa modalidade e a anaacutelise de conteuacutedo As categorias utilizadas

estatildeo dispostas no quadro da paacutegina 56 Elas orientaram a seleccedilatildeo de

passagens relevantes nas audiecircncias puacuteblicas analisadas com o

propoacutesito de revelar aspectos da atividade cognitiva do locutor dos

significados sociais e poliacuteticos do discurso (GILL 2002 QUIVY

CAMPENHOUDT 1998 RESENDE RAMALHO 2006)

O processo da tese aqui descrito natildeo foi linear Para Quivy e

Campenhoudt (1998 p 236) ldquoum processo de diaacutelogo e de vaiveacutens

permanentes entre teoria e empirismo mas tambeacutem entre construccedilatildeo e

intuiccedilatildeo que estatildeo mais imbricadasrdquo

As etapas 6 e 7 (Anaacutelise de informaccedilotildees e Conclusotildees)

correspondem ao ldquocorpordquo da tese apresentado na sequecircncia

58

Estrutura da tese

Essa tese foi dividida em sete capiacutetulos O primeiro capiacutetulo eacute

esta introduccedilatildeo dedicada agrave siacutentese dos principais pontos que nortearam a

tese O segundo capiacutetulo busca resgatar a contribuiccedilatildeo do enfoque

ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento agregando com o enfoque da gestatildeo

de recursos comuns do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica elementos que satildeo incorporados no modelo de

anaacutelise e que conferem uma atualidade maior agrave discussatildeo No terceiro

capiacutetulo e quarto capiacutetulo eacute feita uma descriccedilatildeo da gestatildeo de recursos

comuns do Brasil e de Santa Catarina enfatizando as particularidades do

carvatildeo mineral A preocupaccedilatildeo presente nos dois capiacutetulos eacute de realizar

um balanccedilo dos fatores que estimulam a ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral e os fatores que podem favorecer

o questionamento da ampliaccedilatildeo bem como tratar dos limites e

possibilidades do sistema democraacutetico e possibilidades de aprendizagem

social adaptativa O quinto capiacutetulo trata da rede de influecircncia entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos no campo da democracia

representativa tratando a relaccedilatildeo entre doaccedilotildees de campanha e apoio

poliacutetico a causa do carvatildeo mineral O sexto capiacutetulo trata da ampliaccedilatildeo

da energia termeleacutetrica atraveacutes do caso da USITESC no Sul de Santa

Catarina buscando atraveacutes da anaacutelise do processo de licenciamento

compreender os condicionantes locais da ampliaccedilatildeo O seacutetimo e uacuteltimo

capiacutetulo faz uma siacutentese dos principais pontos discutidos na tese

2 A ATUALIDADE DO ECODESENVOLVIMENTO NO ESTUDO

CONTEMPORAcircNEO SOBRE GESTAtildeO DE RECURSOS

COMUNS

O surgimento de uma problemaacutetica de pesquisa envolve o

amadurecimento dos olhares com os quais se observa analisa e

empreende esforccedilos para transformar a realidade A problemaacutetica

socioambiental natildeo surge em um lugar especiacutefico e num tempo

determinado Surge em paiacuteses diferentes em eacutepocas diferentes As

formas variadas de delimitaccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema e da construccedilatildeo da

problemaacutetica correspondente envolvem as diferentes percepccedilotildees dos

cidadatildeos bem como o protagonismo dos foacuteruns locais e movimentos

sociais o envolvimento da comunidade cientiacutefica e a busca de respostas

poliacuteticas agrave altura dos desafios identificados

No final da deacutecada de 1960 a problemaacutetica socioambiental

assume um perfil de crise global ensejando a realizaccedilatildeo de vaacuterios

eventos sobre o tema Numa visatildeo retrospectiva e criacutetica do surgimento

do Clube de Roma em 1968 agrave realizaccedilatildeo da Rio +20 em 2012 muitos

avanccedilos e retrocessos podem ser apontados no espectro que se estende

do questionamento radical do estilo de desenvolvimento hegemocircnico

visto como condicionante da crise socioambiental agrave incorporaccedilatildeo da

crise soacutecio ecoloacutegica na reproduccedilatildeo da loacutegica economicista no campo do

planejamento e da gestatildeo das experiecircncias de gestatildeo dos recursos

comuns agrave caracterizaccedilatildeo da Trageacutedia dos Comuns (HARDIN 1980)

das denuacutencias de injusticcedila ambiental e ecoloacutegica agrave constataccedilatildeo da

violecircncia estrutural embutida na persistecircncia das assimetrias de riqueza

e poder envolvendo os dois hemisfeacuterios (ESTEVA 2001 FENNY et

al 2001 SACHS 1993)

Desde sua origem um desafio que acompanha essa problemaacutetica

refere-se agrave dificuldade de se lidar (na pesquisa cientiacutefica e nos espaccedilos

de tomada de decisatildeo poliacutetica) com dinacircmicas natildeo lineares de

dinamizaccedilatildeo socioeconocircmica e recriaccedilatildeo cultural envolvendo para tanto

a coordenaccedilatildeo de processos transescalares num horizonte de

planejamento de longo prazo Neste contexto vem se tornando cada vez mais evidente a capacidade ainda bastante restrita de cientistas gestores

e agentes governamentais de compreender e tratar a complexidade

inerente agrave teia de interdependecircncias que configura a coordenaccedilatildeo da

dinacircmica de sistemas socioecoloacutegicos que envolve diferentes niacuteveis e

escalas espaciais (BERKES FOLKE 1998 CASHet al 2006)

60

Levando em conta essas consideraccedilotildees gerais o objetivo deste

capiacutetulo eacute discutir a atualidade do enfoque de ecodesenvolvimento e por

implicaccedilatildeo da necessidade de dotaacute-lo da capacidade de assegurar a

coerecircncia das regras que norteiam a gestatildeo dos modos de apropriaccedilatildeo

dos recursos comuns nas diferentes escalas espaciais Parte-se assim da

premissa segundo a qual a efetividade de experiecircncias compatiacuteveis com

os fundamentos deste enfoque dependeraacute de uma consideraccedilatildeo mais

precisa do papel da democracia e da aprendizagem social adaptativa nos

processos de gestatildeo de recursos comuns Para tanto leva-se em conta o

lento processo de elaboraccedilatildeo do enfoque ldquoclaacutessicordquo de

ecodesenvolvimento com a incorporaccedilatildeo sucessiva dos debates sobre (i)

gestatildeo de recursos comuns (ii) ecodesenvolvimento territorial e (iii)

justiccedila ambiental e ecoloacutegica

Em siacutentese defende-se o ponto de vista segundo o qual a gestatildeo

de recursos comuns internaliza os criteacuterios de promoccedilatildeo da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica na produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-superaccedilatildeo da siacutendrome

de violecircncia estrutural que caracteriza a dinacircmica de globalizaccedilatildeo

assimeacutetrica Por sua vez o enfoque de ecodesenvolvimento territorial

focaliza este debate de uma perspectiva mais ampla insistindo na

complexidade envolvida na construccedilatildeo de dinacircmicas territoriais de

desenvolvimento ecologicamente prudente no atual cenaacuterio ldquopoacutes-

fordistardquo

O capiacutetulo estaacute dividido em quatro seccedilotildees contando com essa

introduccedilatildeo A seccedilatildeo seguinte delineia o contexto de emergecircncia da

problemaacutetica socioambiental e do enfoque de ecodesenvolvimento Na

sequecircncia satildeo apresentadas as dimensotildees do conceito sistecircmico de meio

ambiente assumidas pelos estudiosos do ecodesenvolvimento

relacionando-as com as maneiras pelas quais as linhas de reflexatildeo sobre

gestatildeo de recursos comuns ecodesenvolvimento territorial e justiccedila

ambiental e ecoloacutegica focalizam suas anaacutelises Finalmente na quarta

seccedilatildeo avaliam-se as possibilidades e os limites de um esforccedilo de

hibridizaccedilatildeo dessas vaacuterias linhas de reflexatildeo tendo em vista uma

caracterizaccedilatildeo mais rigorosa do conceito de co-gestatildeo adaptativa face agraves

novas configuraccedilotildees do processo de globalizaccedilatildeo econocircmica e cultural

61

21 RESGATE DO ENFOQUE ldquoCLAacuteSSICOrdquo DE

ECODESENVOLVIMENTO

Mar que se encontra na beira do mar congelado do

Norte No inverno todas as palavras e sons da

regiatildeo satildeo congelados na primavera comeccedilam a

degelar e podem ser claramente ouvidos Os

viajantes podem apanhar as palavras congeladas

que se parecem com doces cristalizados de vaacuterias

cores (Franccedilois Rabelais 1991)

A percepccedilatildeo de que a crise socioambiental decorre

fundamentalmente da reproduccedilatildeo de um estilo de desenvolvimento que

hipertrofia a dimensatildeo do crescimento econocircmico ilimitado e eacute

insensiacutevel a uma avaliaccedilatildeo multidimensional de custos sociais e

ecoloacutegicos passou a ser discutida em vaacuterios encontros internacionais

desde o final da deacutecada de 1960 Vaacuterios termos foram sendo criados nos

debates que vecircm sendo conduzidos desde entatildeo Alguns deles foram

esquecidos e outros foram ressignificados visando pontuar as criacuteticas

mais ou menos radicais ao modelo neoliberal hegemocircnico O resgate

dessa polissemia contribui para alimentar a reflexatildeo contemporacircnea e o

aprendizado obtido ao longo das quatro uacuteltimas deacutecadas na concepccedilatildeo

de estrateacutegias de superaccedilatildeo deste modelo Alguns termos atualizam o

modelo de desenvolvimento hegemocircnico incorporando marginalmente

a questatildeo socioecoloacutegica outros se abrem a experimentaccedilotildees criativas

com projetos que subvertem o mainstream da economia do

desenvolvimento O ecodesenvolvimento e o desenvolvimento

sustentaacutevel tratados nessa seccedilatildeo representam dois contrapontos desse

movimento sem duacutevida incerto e controvertido

Maurice Strong utilizou pela primeira vez o conceito de

ecodesenvolvimento no contexto da Conferecircncia de Estocolmo

organizada pela ONU em 1972 A ideia foi reelaborada e sistematizada

de forma pioneira num artigo publicado por Ignacy Sachs em 19741 na

eacutepoca atuando como coordenador do primeiro coletivo interdisciplinar

de pesquisa sistecircmica voltada para a internalizaccedilatildeo da variaacutevel

socioecoloacutegica no campo das teorias do desenvolvimento Deste ponto

1 Em um estudo que foi realizado no acircmbito do Programa das Naccedilotildees Unidas

para o Meio Ambiente (PNUMA) no ano referido e reproduzido em Sachs

(1986 2007)

62

de vista a noccedilatildeo de ecodesenvolvimento foi veiculada como uma

resposta possiacutevel de caraacuteter experimental agrave ideologia que identifica o

desenvolvimento com a supervalorizaccedilatildeo do crescimento econocircmico

sobre o pano de fundo de uma visatildeo tecnocraacutetica dos sistemas de

planejamento e gestatildeo Na contramatildeo do modelo de desenvolvimento

hegemocircnico o enfoque de ecodesenvolvimento foi desenhado com base

numa plataforma normativa composta pelos seguintes criteacuterios

interdependentes (i) satisfaccedilatildeo de necessidades baacutesicas (materiais e

intangiacuteveis) (ii) autonomia local (ou self reliance) (iii) prudecircncia

ecoloacutegica e (iv) eficiecircncia econocircmica a ser reavaliada com base no

debate sobre limites do crescimento material e da prospectiva ecoloacutegica

(SACHS 1986)

O Coloacutequio de Cocoyoc realizado no Meacutexico em 1974

significou uma tentativa bem sucedida de reenfatizar a importacircncia da

dimensatildeo geopoliacutetica na estruturaccedilatildeo do arcabouccedilo metodoloacutegico do

enfoque de ecodesenvolvimento Acreditava-se assim que ldquouma luta

efetiva contra o subdesenvolvimento demandaria o questionamento do

sobredesenvolvimento dos ricosrdquo (SACHS 2009 p 243) Naquela

eacutepoca falar em contracultura e natildeo-crescimento em natildeo repetir nos

paiacuteses do Sul o mesmo caminho percorrido pelos paiacuteses

industrializados num cenaacuterio marcado pela Guerra Fria parecia no

miacutenimo um gesto inconsequente e provocativo Desde entatildeo o conceito

foi eclipsado no acircmbito do sistema onusiano Mas ressurgiu com novas

roupagens vinte anos depois por ocasiatildeo da Cuacutepula da Terra Os

conceitos de desenvolvimento sustentaacutevel e Agenda 21 passaram a

representar os dois principais pontos de referecircncia do debate social

voltado para o enfrentamento da crise global (SACHS 2009 SACHS

2007 VIEIRA 2005)

Seria importante salientar que o Relatoacuterio Nosso Futuro Comum

publicado pela Comissatildeo Brundtland em1987 contribuiu para

aprofundar a discussatildeo em torno do conceito de sustentabilidade Este

texto enfatiza a necessidade de se colocar em primeiro plano nas

agendas governamentais a busca de satisfaccedilatildeo das necessidades da

geraccedilatildeo atual mas sem desconsiderar as geraccedilotildees futuras (CMMAD

1988)

Existem certamente semelhanccedilas entre os conceitos de

ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentaacutevel na medida em que

ambos colocam em primeiro plano a adoccedilatildeo de uma visatildeo de longo

prazo na busca de enfrentamento da crise socioecoloacutegica e de uma

63

incorporaccedilatildeo sistemaacutetica dos atores locais nos processos de tomada de

decisatildeo sobre dinacircmicas alternativas de desenvolvimento Mas apesar

das semelhanccedilas existem diferenccedilas marcantes que tecircm sido objeto de

um volume crescente de contribuiccedilotildees acadecircmicas As mais importantes

referem-se ao contraste entre a radicalidade embutida na cosmovisatildeo

sistecircmico-complexa assumida pelos adeptos do ecodesenvolvimento e o

vieacutes de ldquoeconomicizaccedilatildeo da ecologiardquo que continua a nortear as

propostas dos arquitetos de uma ldquoeconomia verderdquo Satildeo evidentes os

reflexos desse debate na maneira de se levar em conta as assimetrias

Norte-Sul a promoccedilatildeo da equidade inter e transgeracional os riscos

embutidos nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas inspiradas na siacutendrome de

mercantilizaccedilatildeo indiscriminada de todas as dimensotildees da vida em

sociedade e a hipertrofia da economia de mercado na dinacircmica de

mundializaccedilatildeo

A experimentaccedilatildeo de estrateacutegias de ecodesenvolvimento vem sendo

associada ao questionamento dos fundamentos epistemoloacutegicos eacuteticos e

poliacuteticos do modelo de desenvolvimento que se tornou hegemocircnico nos

dois hemisfeacuterios para aleacutem da ldquooacutetica simplificadora e alienada dos

paradigmas culturais dominantesrdquo (VIEIRA 2005 p 357) Dessa

forma contesta o efeito de imitaccedilatildeo deste modelo pelos paiacuteses do Sul

apostando na fecundidade da pesquisa de um novo projeto civilizador

inspirado numa nova cosmologia e nos princiacutepios de ecossocioeconomia

e convivialidade (LAYRARGUES 1997 SACHS 2007 KAPP 1987

ILLICH 1973)

22 AS CONTRIBUICcedilOtildeES DE DIFERENTES ENFOQUES

Como foi sugerido o ecodesenvolvimento pode ser encarado

como ponto de partida para a reflexatildeo-elaboraccedilatildeo-implementaccedilatildeo de

novos projetos de sociedade e como ponto de convergecircncia das linhas

de reflexatildeo centradas nas noccedilotildees de gestatildeo de recursos comuns

territorializaccedilatildeo das dinacircmicas de desenvolvimento e justiccedila ambientalecoloacutegica O desenho e a concretizaccedilatildeo de estrateacutegias de

gestatildeo levam em conta as dimensotildees essenciais do conceito sistecircmico de meio ambiente incorporado ao modelo de anaacutelise de alternativas de

desenvolvimento territorializado a saber a base de recursos naturais o

espaccedilo-territoacuterio e a qualidade dos haacutebitats (GODARD SACHS 1975

SACHS 1993 1986 VIEIRA 2005 1993) Dessa forma

64

() o ambiente eacute concebido como um fornecedor

de recursos naturais e um receptor de dejetos da

accedilatildeo antroacutepica um espaccedilo-territoacuterio onde

ocorrem as interaccedilotildees entre processos sociais e

ecoloacutegicos e um haacutebitat pensado em sentido

amplo integrando a dimensatildeo da qualidade de

vida das populaccedilotildees (VIEIRA 2006 p 346)

No quadro abaixo essas dimensotildees encontram-se relacionadas

com as trecircs linhas de reflexatildeo que aqui foram incorporadas ao enfoque

de ecodesenvolvimento

Quadro 3 ndash O enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento e as

dimensotildees baacutesicas do conceito sistecircmico de meio ambiente Enfoque central Ecodesenvolvimento

Dimensotildees do

conceito de meio

ambiente

Recursos

naturais Espaccedilo-territoacuterio

Haacutebitat-

qualidade de

vida

Enfoques

complementares

Gestatildeo de

recursos comuns

Desenvolvimento

territorial

Justiccedila ambiental

e ecoloacutegica

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na perspectiva do enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento a

dimensatildeo dos recursos naturais refere-se agrave busca de preservaccedilatildeo e

economia de recursos renovaacuteveis e natildeo renovaacuteveis de valorizaccedilatildeo de

recursos locais subutilizados eou ainda desconhecidos e de promoccedilatildeo

da soberania alimentar e energeacutetica O enfoque de gestatildeo de recursos

comuns ao oferecer uma nova perspectiva de abordagem dos desafios

colocados pela regulaccedilatildeo das modalidades de acesso e uso da base de

recursos naturais pode ser tomado como um ponto de referecircncia Nessa

perspectiva o termo recurso comum avanccedila em relaccedilatildeo aos termos

recurso natural renovaacutevel e recurso natural natildeo renovaacutevel O fato de

serem renovaacuteveis ou natildeo tem relaccedilatildeo com a disponibilidade e

reprodutibilidade dos recursos O termo recurso comum envolve duas

caracteriacutesticas baacutesicas a exclusatildeo ou controle do acesso que eacute

problemaacutetica e o uso que se faz do recurso subtrai aquilo que pertence a todos que tambeacutem coloca em questatildeo o uso compartilhado (BERKES

2005a) As pesquisas em curso ressaltam a importacircncia da participaccedilatildeo

das populaccedilotildees nas tomadas de decisatildeo e da consideraccedilatildeo da

65

complexidade envolvida nas interaccedilotildees transescalares nas dinacircmicas de

planejamento e gestatildeo (VIEIRA 2005)

Por sua vez na internalizaccedilatildeo da dimensatildeo do espaccedilo-territoacuterio a

ecircnfase eacute colocada na organizaccedilatildeo territorial das atividades produtivas

tendo em vista a minimizaccedilatildeo dos desequiliacutebrios nas configuraccedilotildees

rural-urbanas ndash a exemplo do ecircxodo rural e da hiperurbanizaccedilatildeo O

ecodesenvolvimento territorial sensiacutevel agrave variaacutevel socioecoloacutegica acena

com a inclusatildeo da dimensatildeo territorial no planejamento de novas

estrateacutegias de desenvolvimento favorecendo assim o enfrentamento dos

problemas de compatibilidade entre diferentes tipos de atividades

econocircmicas e os demais aspectos que compotildeem a dinacircmica de

coordenaccedilatildeo das interaccedilotildees sociais (GODARD SACHS 1975

VIEIRA et al 2010 VIEIRA 2005)

Finalmente a dimensatildeo do haacutebitat refere-se agrave gestatildeo da qualidade

de vida das populaccedilotildees Converge para os estudos da ecologia humana e

justiccedila ambiental e ecoloacutegica que demonstram ser necessaacuterio considerar

as condiccedilotildees ambientais de existecircncia direitos sociais e trabalhistas

direitos de seguranccedila e integridade fiacutesica direitos de informaccedilatildeo

educaccedilatildeo e auto-realizaccedilatildeo direitos de participaccedilatildeo democraacutetica e

cidadania poliacutetica Neste contexto as noccedilotildees de justiccedila ambiental e

ecoloacutegica alimentam um novo tipo de questionamento da

produccedilatildeoreproduccedilatildeo das relaccedilotildees desiguais entre os seres humanos e

destes com o meio ambiente assim como dos seres humanos com as

futuras geraccedilotildees espeacutecies natildeo humanas e processos ecossistecircmicos

(DANSEREAU 1999 LEROY et al 2002 LOW GLEESON 1998

SCHLOSBERG 2009) ldquoA noccedilatildeo de justiccedila ambiental implica pois o

direito a um meio ambiente seguro sadio e produtivo para todos onde o

lsquomeio ambientersquo eacute considerado em sua totalidade incluindo suas

dimensotildees ecoloacutegicas fiacutesicas construiacutedas sociais poliacuteticas esteacuteticas e

econocircmicasrdquo (ACSELRAD MELLO BEZERRA 2009 p 16)

Em siacutentese o resgate do processo de complexificaccedilatildeo progressiva

do enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento permite a obtenccedilatildeo de

uma imagem mais niacutetida das contribuiccedilotildees oferecidas por outras linhas

de teorizaccedilatildeo sobre o planejamento de dinacircmicas alternativas de

desenvolvimento que corporificam diferentes olhares sobre a crise

socioambiental As trecircs dimensotildees do conceito de meio ambiente

mencionadas acima trazem agrave tona as inter-relaccedilotildees entre processos

naturais e sociais e a escolha de ldquofuturos possiacuteveisrdquo no campo das

dinacircmicas de desenvolvimento Mas resta incorporar agrave linha de

66

argumentaccedilatildeo os subitens correspondentes a contribuiccedilatildeo dos trecircs

enfoques ao ecodesenvolvimento

221 Gestatildeo de recursos comuns a importacircncia da aprendizagem

social adaptativa

O presente enfoque da gestatildeo de recursos comuns tem como

ponto de partida um artigo publicado por Garrett Hardin em 1968 a

Trageacutedia dos Comuns Os recursos comuns satildeo aqueles cuja exclusatildeo de

possiacuteveis usuaacuterios e cujo controle do acesso satildeo geralmente

problemaacuteticos e seu uso envolve subtraccedilatildeo eou rivalidade - que coloca

o problema do uso compartilhado Natildeo haacute um consenso na literatura dos

comuns sobre quais recursos podem ser considerados recursos comuns

Para Berkes (2005) incluem-se entre os recursos comuns peixes

animais selvagens florestas pastagens comunitaacuterias sistemas de

irrigaccedilatildeo aacutegua subterracircnea selvas parques espaccedilos puacuteblicos e

excluem-se as terras agricultaacuteveis e a mineraccedilatildeo Jaacute Oakerson (1992)

afirma que os comuns podem ter uma locaccedilatildeo fixa (mineacuterios) ou pode

ser moacuteveis (como peixes e animais selvagens) Em alguns casos

(oceanos atmosfera) satildeo indivisiacuteveis e natildeo podem ser apropriados de

forma privada e em outros casos (pasto) satildeo organizados como

recursos comuns de acordo com a opccedilatildeo social Os padrotildees de

organizaccedilatildeo variam conforme o lugar e a cultura

A modernidade ocidental transformou a natureza

em ldquoambienterdquo simples cenaacuterio no centro do qual

reina o homem que se autoproclama ldquodono e

senhorrdquo Esse ambiente cedo perderaacute toda a

consistecircncia ontoloacutegica sendo desde logo

reduzido a um simples conservatoacuterio de recursos

antes de se tornar depoacutesito de resiacuteduos (OST

1995 p 10)

O enfoque eacute aqui considerado na perspectiva da gestatildeo integrada

de recursos naturais pois um recurso comum natildeo pode ser gerido

independentemente de outras partes do sistema e de outros recursos

(BERKES 2005a VIEIRA BERKES SEIXAS 2005 VIEIRA

67

WEBER 1997)2 Esse posicionamento converge para o enfoque

patrimonial de recursos naturais desenvolvido na Franccedila Dessa forma

ldquoa qualidade da natureza deve se tornar o lsquobem comumrsquo do conjunto da

sociedaderdquo (OLLAGNON 1997 p 172) No enfoque patrimonial os

recursos satildeo considerados na perspectiva da gestatildeo integrada

Evidecircncias de maacute gestatildeo e prescriccedilotildees de soluccedilotildees convencionais

na gestatildeo de recursos comuns tecircm se avolumado no periacuteodo recente Haacute

falhas em reconhecer a importacircncia das interaccedilotildees entre niacuteveis e escalas

persistecircncia na fragmentaccedilatildeo dos sistemas socioambientais e omissatildeo

em reconhecer a heterogeneidade da percepccedilatildeo das escalas pelos

diferentes atores sociais envolvidos na gestatildeo Isso pode resultar em

poliacuteticas amplas que constrangem poliacuteticas locais accedilotildees locais

desvinculadas de problemas mais amplos soluccedilotildees de curto prazo que

acirram problemas de longo prazo pesquisas cientiacuteficas que enfatizam

apenas um niacutevel e raramente analisam as interaccedilotildees sociais e ecoloacutegicas

do fenocircmeno entre niacuteveis (CASH et al 2006 FENNY et al 2001

HOLLING BERKES FOLKE 1998)

O enfoque da gestatildeo de recursos comuns vem evoluindo atraveacutes

do enfoque da co-gestatildeo e da gestatildeo adaptativa A co-gestatildeo enfatiza a

partilha do poder e responsabilidade entre governo e usuaacuterios e a gestatildeo

adaptativa enfatiza a aprendizagem Ambos vecircm evoluindo em direccedilatildeo agrave

co-gestatildeo adaptativa (BERKES 2009)

Como parte do esforccedilo coletivo dos pesquisadores alinhados com

o enfoque dos comuns vem se desenvolvendo o Institutional Framework for Policy Analysis and Design (IAD) desde a deacutecada de 1970

Inicialmente o modelo de anaacutelise IAD foi utilizado no estudo de

poliacuteticas puacuteblicas em aacutereas metropolitanas e em 1985 Ronald Oakerson

adaptou o IAD aos recursos comuns apresentando o modelo num painel

da Academia Nacional de Ciecircncias (HESS OSTROM 2005)

Oakerson (1992) distingue quatro atributos ou variaacuteveis que

podem ser usadas para descrever os recursos comuns atributos fiacutesicos e

tecnoloacutegicos as regras em uso que governam as relaccedilotildees entre usuaacuterios

a arena de accedilatildeo que envolve a escolha de estrateacutegias e a interaccedilatildeo entre

os envolvidos na gestatildeo e os resultados e consequecircncias O quadro

2 Aqui eacute feita a opccedilatildeo pelo enfoque da gestatildeo de recursos comuns mas outra

possibilidade seria via teoria da regulaccedilatildeo explorada por Drummond e Marsden

(1995)

68

conceitual eacute uma ferramenta heuriacutestica para pensar a loacutegica da situaccedilatildeo e

considerar possibilidades alternativas

Com base em Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992) segue uma breve descriccedilatildeo do modelo de anaacutelise

adaptado a co-gestatildeo adaptativa3

Atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos A natureza fiacutesica e tecnoloacutegica

determinam as limitaccedilotildees e possibilidades de uso do recurso comum

Esses atributos compreendem o tamanho localizaccedilatildeo limites

capacidade e abundacircncia do recurso A tecnologia determina a forma

como se lida com o recurso e com os demais fatores relacionados

Regras em uso O segundo conjunto de atributos no modelo de

anaacutelise consiste nas regras que estruturam as escolhas individuais e

coletivas em relaccedilatildeo aos recursos comuns

Arena de accedilatildeo As regras natildeo satildeo garantia da emergecircncia de

novos padrotildees de comportamento Entre as regras e os comportamentos

observados existe uma distacircncia A arena de accedilatildeo eacute um espaccedilo

conceitual no qual os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais se

informam consideram cursos de accedilatildeo alternativos tomam decisotildees

agem e experienciam as consequecircncias de suas accedilotildees A arena de accedilatildeo

conta com dois aspectos interligados a situaccedilatildeo de accedilatildeo e os segmentos

que interagem na situaccedilatildeo de accedilatildeo A situaccedilatildeo de accedilatildeo enfatiza como as

pessoas cooperam ou natildeo cooperam entre si em vaacuterias circunstacircncias Agrave

anaacutelise da situaccedilatildeo da accedilatildeo eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo dos envolvidos e

os papeacuteis que desempenham na gestatildeo do recurso comum

Resultados eou consequecircncias A observacircncia dos resultados

eou consequecircncias eacute fundamental para avaliar o sistema de gestatildeo

encorajando a inovaccedilatildeo e a aprendizagem adaptativa

As relaccedilotildees entre essas macro variaacuteveis satildeo o principal foco dos

estudos A Figura 2 traz modelo de anaacutelise e como as macro variaacuteveis se

relacionam umas com as outras Os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos e as

regras em uso afetam a arena de accedilatildeo e os resultados e consequecircncias

As linhas soacutelidas a e b representam fortes conexotildees causais

compreendendo que o comportamento individual eacute constrangido mas

natildeo determinado pelo mundo biofiacutesico e pelas regras As linhas soacutelidas

3 Outra opccedilatildeo seria utilizar o modelo de anaacutelise dos ciclos adaptativos descrito

no artigo de Holling (2001) e na coletacircnea organizada por Gunderson e Holling

(2002)

69

c e d representam fortes relaccedilotildees Os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos

afetam os recursos comuns de duas formas afetam a arena de accedilatildeo e

caso natildeo sejam considerados na arena de accedilatildeo podem afetar diretamente

os resultados As regras em uso por sua vez natildeo tecircm efeito nos

resultados independente da escolha humana No longo prazo a interaccedilatildeo

entre as macro variaacuteveis eacute marcada pelas linhas tracejadas Dessa forma

o movimento eacute incorporado no modelo na forma de aprendizagem social

adaptativa

Figura 2 - Modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns ajustado

a co-gestatildeo adaptativa

Fonte Baseado em Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

A aprendizagem social adaptativa marcada principalmente pela

retroalimentaccedilatildeo (linhas tracejadas) presente no modelo de anaacutelise da

gestatildeo de recursos comuns eacute um processo interativo e contiacutenuo No

entanto por ser um processo coletivo a cooperaccedilatildeo entre os envolvidos

na gestatildeo pode ser difiacutecil devido agrave distribuiccedilatildeo de poder tanto nos

segmentos sociais quanto nos segmentos poliacuteticos e entre eles

(BERKES 2009) A expectativa eacute que a aprendizagem leve a accedilatildeo

coletiva agrave mudanccedila institucional na forma de regras leis costumes e

normas As abordagens do aprendizado social visam encontrar formas

70

nas quais as pessoas possam transcender as normas sociais valores e

formas tradicionais de pensar os problemas convergindo para mudanccedilas

socioecoloacutegicas e desempenhando um papel direto no estiacutemulo da

inovaccedilatildeo institucional (CUNDILL 2010)

No campo da co-gestatildeo adaptativa a aprendizagem eacute definida

como a reflexatildeo e accedilatildeo coletiva que tem lugar entre indiviacuteduos e grupos

quanto trabalham para melhorar a gestatildeo das relaccedilotildees entre sistemas

sociais e ecoloacutegicos Aiacute entram em cena os niacuteveis de aprendizagem

aprendizagem em circuito simples duplo e triplo A aprendizagem em

circuito simples se refere a melhorar as accedilotildees estrateacutegias e praacuteticas que

ocorrem num grupo envolvido num projeto de gestatildeo de recursos

comuns A aprendizagem em circuito duplo envolve o questionamento

dos pressupostos e dos modelos mentais que apoiam a seleccedilatildeo de

estrateacutegias particulares e accedilotildees Isto eacute particularmente importante nos

processos colaborativos onde diferentes formas de conhecimento e

modelos mentais estatildeo juntos Na aprendizagem em circuito triplo a

aprendizagem ocorre quando os valores e normas que sustentam as

hipoacuteteses satildeo questionados e refletidos Isto leva a um entendimento

mais profundo do contexto dinacircmicas de poder valores que influenciam

a capacidade de gerir os recursos comuns (CUNDILL 2010)4

A ecircnfase da gestatildeo de recursos comuns eacute na anaacutelise dos modos de

apropriaccedilatildeo e dos sistemas de gestatildeo e neste sentido a cooperaccedilatildeo entre

instituiccedilotildees situadas em diversas escalas e niacuteveis torna-se um elemento

fundamental Inuacutemeras atividades humanas tecircm causas e consequecircncias

que podem ser medidas em niacuteveis diferentes ao longo de muacuteltiplas

escalas Os multi-niacuteveis e as multi-escalas e a transescalaridade dos

problemas relacionados com as dimensotildees humanas das mudanccedilas

globais demandam que pesquisadores abordem questotildees-chave de

escalas e niacuteveis em suas anaacutelises Se a arena de accedilatildeo compreende

tambeacutem as relaccedilotildees que se estabelecem entre os vaacuterios niacuteveis de uma

mesma escala a gestatildeo refere-se a arranjos por meio dos quais o poder

decisoacuterio e as responsabilidades decorrentes satildeo compartilhados entre os

atores envolvidos nas vaacuterias escalas espaciais (CASH et al 2006

BERKES 2005b DIETZ et al 2002 GIBSON OSTROM AHN

2000)

4 A aprendizagem em circuito triplo converge para o engajamento reflexivo e a

reflexividade ecoloacutegica (SCHLOSBERG 2009)

71

222 Ecodesenvolvimento territorial os recursos comuns no

contexto do desenvolvimento

Na tentativa de incorporar ao presente o que o passado nos traz

como bagagem vaacuterios autores vecircm descortinando novas vias de anaacutelise

criacutetica das limitaccedilotildees do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que

tem sido apropriado pelos arautos da globalizaccedilatildeo neoliberal desde o

iniacutecio dos anos 1990

Ignacy Sachs escreve sobre desenvolvimento e meio ambiente haacute

vaacuterias deacutecadas e tem acompanhado as mudanccedilas que aconteceram ao

longo da histoacuteria Para unir os enfoques do ecodesenvolvimento e do

desenvolvimento sustentaacutevel ele distingue no ecodesenvolvimento as

cinco dimensotildees da sustentabilidade sustentabilidade social

sustentabilidade econocircmica sustentabilidade ecoloacutegica sustentabilidade

espacial e sustentabilidade cultural Mais recentemente tem utilizado os

termos desenvolvimento territorial integrado e sustentaacutevel ou ainda

desenvolvimento includente sustentaacutevel sustentado (RIBEIRO 2005

SACHS 2004 2002 1993)

Nos uacuteltimos anos Paulo Freire Vieira tem utilizado o termo

desenvolvimento territorial sustentaacutevel e mais recentemente

ecodesenvolvimento territorial tendo como ideia central o

ecodesenvolvimento agregando tambeacutem o enfoque da gestatildeo de

recursos comuns e os estudos territoriais Nas palavras de Pierre

Dansereau (2005 p 523) Paulo Freire Vieira deu ldquoum novo tom agrave

Sociologia um desembaraccedilo maior agrave experiecircncia em quadros teoacutericos

ampliadosrdquo Nessa linha o conceito emergente de ecodesenvolvimento

territorial leva em conta os riscos de desvio economicista e tecnocraacutetico

nos estudos sobre dinacircmicas territoriais de desenvolvimento

enfatizando a criaccedilatildeo de sistemas de gestatildeo compartilhada e adaptativa

de recursos comuns e a governanccedila territorial Deste ponto de vista

ainda em construccedilatildeo trata-se de favorecer ao maacuteximo possiacutevel a gestatildeo

das conexotildees institucionais transescalares evitando soluccedilotildees

reducionistas e uniformizadoras aleacutem de escalas fixas (GODARD

1997 SACHS 2002 VIEIRA 2010 2009 2005 2006 VIEIRA CAZELLA CERDAN 2006)

A noccedilatildeo de territoacuterio incorporada recentemente ao debate sobre

desenvolvimento amp ambiente designa processos de criaccedilatildeo coletiva e

institucional e as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento

72

ecologicamente prudente pressupotildeem o resgate dos criteacuterios de

endogeneidade descentralizaccedilatildeo e autonomia local (pensada

sistemicamente) assumidos como elementos constitutivos do enfoque

ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento (VIEIRA et al 2010 VIEIRA

2006)

O ecodesenvolvimento territorial traz agrave gestatildeo de recursos

comuns a preocupaccedilatildeo com o estilo de desenvolvimento conforme

demonstrado na Figura 3 Mas partindo do pressuposto que a gestatildeo de

recursos comuns eacute um dos principais componentes na interaccedilatildeo

sociedade e natureza capaz de assegurar seu bom funcionamento seu

melhor rendimento sua perenidade e desenvolvimento ela deveria estar

a montante e natildeo a jusante das principais opccedilotildees de desenvolvimento

(GODARD 1997) Todavia seraacute mantido o estilo de desenvolvimento

como mais amplo para reforccedilar a ideia de que a gestatildeo de recursos

comuns precisa considerar o estilo de desenvolvimento assumindo cada

vez mais a responsabilidade da criacutetica e da mudanccedila

Figura 3 - Primeira adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa

Fonte Adaptado de Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

73

A anaacutelise do contexto e do discurso presente na gestatildeo de

recursos comuns explicita os fatores endoacutegenos e exoacutegenos das

dinacircmicas de desenvolvimento demonstrando seus limites e margens de

manobra

O problema natildeo se identifica tanto com a

preocupaccedilatildeo em se especificar o niacutevel de

responsabilidade ideal mas antes com o

entendimento daquelas formas de interaccedilatildeo entre

os diversos niacuteveis territoriais que tornariam

possiacutevel uma decisatildeo que levasse em conta ao

mesmo tempo os interesses e objetivos locais

regionais e nacionais ou mesmo internacionais

(GODARD 1997 p 237)

Para colocar em praacutetica estrateacutegias alternativas de

desenvolvimento eacute importante reequilibrar a transferecircncia de poder e a

comunicaccedilatildeo entre o local o regional e o nacional e integrar as vaacuterias

dimensotildees das estrateacutegias de desenvolvimento (social econocircmica

ecoloacutegica espacial e cultural) ldquoAgrave luz do princiacutepio da co-gestatildeo

adaptativa os sistemas de planejamento e gestatildeo deveratildeo se abrir cada

vez mais a um padratildeo de envolvimento autecircntico da sociedade civilrdquo

(VIEIRA 2005 p 366)

223 Justiccedila ambiental e justiccedila ecoloacutegica os caminhos da

democracia

O movimento por justiccedila ambiental teve origem nos Estados

Unidos em 1982 com um conflito em Afton na Carolina do Norte Na

iminecircncia de instalaccedilatildeo de um depoacutesito de bifenilpoliclorinato que

contaminaria a aacutegua que abastecia a cidade a populaccedilatildeo organizou

protestos Como a populaccedilatildeo de Afton era composta de 84 de negros e

negras o movimento se desenvolveu como uma reaccedilatildeo expliacutecita agrave

atenccedilatildeo inadequada dos movimentos ambientalistas agrave questatildeo da raccedila e

da classe social Os princiacutepios da justiccedila ambiental ofereceram ao ambientalismo possibilidades de pensar classe social e raccedila junto com

questotildees ambientais combatendo o abuso de corporaccedilotildees poluentes e o

abuso do proacuteprio Estado (ACSELRAD 2009 ACSELRAD MELLO

BEZERRA 2009 SZE LONDON 2008)

74

Desde entatildeo as pesquisas sobre justiccedila ambiental contribuiacuteram

para ampliar a discussatildeo sobre a necessidade de um enfoque consistente

de anaacutelise deste fenocircmeno Aleacutem de vaacuterias aacutereas de conhecimento

(geografia radical geografia criacutetica e economia poliacutetica entre outras)

passaram a ser mobilizados dados relacionados a diferentes grupos

raciais e eacutetnicos aleacutem de disparidades associadas a gecircnero e idade Mais

recentemente as reflexotildees sobre justiccedila ecoloacutegica conduziram o

enfoque a um niacutevel cada vez mais alto de abrangecircncia e abstraccedilatildeo

(BYRNE MARTINEZ GLOVER 2002 HOLIFIELD PORTER

WALKER 2009 SZE LONDON 2008)

O conceito de injusticcedila ambiental designa uma distribuiccedilatildeo

desproporcional dos riscos e danos ambientais devido agrave implantaccedilatildeo de

projetos industriais homogeneizadores do espaccedilo bem como de

poliacuteticas globais que impactam negativamente as camadas mais

vulneraacuteveis da sociedade Trata-se de uma siacutendrome recorrente que

transcende a simples distribuiccedilatildeo de riscos ambientais delimitados

localmente refletindo tambeacutem o reconhecimento de que as poliacuteticas

ambientais tecircm consequecircncias que atravessam as fronteiras nacionais

afetam muacuteltiplas escalas e se estendem agraves redes globais As iniciativas

que geram espaccedilos de desigualdade e injusticcedila ambiental satildeo histoacuterica e

geograficamente muito mais complexas do que parecem (ACSELRAD

MELLO BEZERRA 2009 HOLIFIELD PORTER WALKER 2009

ZHOURI 2008)

A ampliaccedilatildeo dos temas tratados pela justiccedila ambiental e o uso da

pesquisa sistecircmica refletem a percepccedilatildeo da complexidade intriacutenseca aos

problemas estudados inclusive das conexotildees transescalares - do local ao

global Alguns autores passaram a adotar o termo justiccedila ecoloacutegica entendida como aquela que afeta natildeo apenas os seres humanos mais

vulneraacuteveis mas todos os seres humanos as geraccedilotildees futuras espeacutecies

natildeo humanas e processos ecossistecircmicos (BYRNE MARTINEZ

GLOVER 2002 HOLIFIELD PORTER WALKER 2009 LOW e

GLEESON 1998 MAacuteRMORA 1992 PENtildeA 2003 SCHLOSBERG

2009 e 2004 SZE LONDON 2008 TOUCHEacute 2004)

Partindo do pressuposto de que a desigualdade socioambiental se

relaciona ao sistema poliacutetico aquela eacute apenas um sintoma de um

processo que envolve a redistribuiccedilatildeo o reconhecimento e a

representaccedilatildeo (SCHLOSBERG 2009 e 2004) A redistribuiccedilatildeo envolve

minimizar a desigualdade ambiental Jaacute o reconhecimento envolve a

consideraccedilatildeo de distintas perspectivas (das minorias eacutetnicas ldquoraciaisrdquo e

75

sexuais) O reconhecimento objetiva tambeacutem ldquodesinstitucionalizar

padrotildees de valoraccedilatildeo cultural que impedem a paridade de participaccedilatildeo

e substituiacute-los por padrotildees que a promovamrdquo (FRASER 2007 p 109)

A representaccedilatildeo torna-se central nas lutas pela redistribuiccedilatildeo e

pelo reconhecimento natildeo haacute redistribuiccedilatildeo e reconhecimento sem

representaccedilatildeo Logo os problemas na representaccedilatildeo satildeo condicionantes

da injusticcedila ambiental e ecoloacutegica (FRASER 2010 2009)

A representaccedilatildeo juntamente com a redistribuiccedilatildeo e

reconhecimento satildeo fundamentais para o fortalecimento e recriaccedilatildeo do

sistema democraacutetico e aprendizagem social adaptativa Na Figura 4

insere-se no modelo de anaacutelise a variaacutevel do fortalecimento do sistema

democraacutetico

Figura 4 - Segunda adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa

Fonte Adaptado de Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

Satildeo os mesmos caminhos que levam ao restabelecimento do

equiliacutebrio na natureza e agrave construccedilatildeo da democracia na sociedade ldquoO

pensamento democraacutetico estaacute desafiado a pensar o desenvolvimento de

toda a humanidade em harmonia com a naturezardquo (SOUZA 1992 p

76

13) Cabe questionar ldquosob que condiccedilotildees eacute de se esperar que a

democracia produza resultados poliacuteticos justosrdquo (VITA 2003 p 111)

A democracia representativa vem sendo alvo de inuacutemeras

criacuteticas economicizaccedilatildeo do poliacutetico incapacidade de cumprir com suas

promessas fundamentais (governo do povo igualdade poliacutetica

participaccedilatildeo dos cidadatildeos na tomada de decisatildeo) a falta de controle da

representaccedilatildeo e a crescente desconfianccedila dos cidadatildeos na democracia

(MANIN et al 2006 MIGUEL 2005 ROSANVALLON 2006

SCHUMPETER1984)

Jaacute a democracia participativa pretende alcanccedilar uma democracia

digna de seu nome (MIGUEL 2005) A consciecircncia do custo do

crescimento econocircmico da produccedilatildeo das desigualdades e da apatia

poliacutetica podem ser consideradas brechas para a democracia participativa

e a expansatildeo e aprofundamento da participaccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia

promissora para desafiar as desigualdades as assimetrias de interesses e

as hierarquias sociais e poliacuteticas tradicionais (FUNG COHEN 2007

PATEMAN 1992) Todavia ldquo() o principal problema quanto agrave

democracia participativa natildeo eacute quanto a fazecirc-la funcionar mas como

atingi-lardquo (MACPHERSON 1978 p 101)

A ecologia e a democracia se determinam mutuamente ldquo() seja

pela accedilatildeo dos condicionantes soacutecio-poliacuteticos da degradaccedilatildeo ambiental

seja pela prevalecircncia das bases ambientais da desigualdade socialrdquo

(ACSELRAD 1992a p 10) Para compreender essa relaccedilatildeo eacute preciso

identificar e entender a origem das contradiccedilotildees na incorporaccedilatildeo da

questatildeo ambiental pelo Estado e a correlaccedilatildeo de forccedilas sociais em

confronto pelo controle dos recursos

Os estudos sobre justiccedila ambiental identificam como causas da

injusticcedila ambiental as redes de influecircncia (baseadas em alianccedilas entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos) a desinformaccedilatildeo e a neutralizaccedilatildeo

da criacutetica potencial Na linha de questionamento entre as accedilotildees que

buscam reverter quadros de injusticcedilas ambientais estatildeo a produccedilatildeo do

conhecimento proacuteprio a pressatildeo pela aplicaccedilatildeo universal das leis a

pressatildeo pelo aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo de proteccedilatildeo ambiental a

pressatildeo por novas racionalidades no exerciacutecio do poder estatal a introduccedilatildeo de procedimentos de avaliaccedilatildeo de equidade ambiental e a

accedilatildeo direta e difusatildeo espacial do movimento (ACSELRAD MELLO

BEZERRA 2009 GRAZIANO 1997) A base de um modelo mais

justo envolveria a democratizaccedilatildeo do controle dos recursos naturais a

77

desprivatizaccedilatildeo do meio ambiente assegurando o caraacuteter puacuteblico do

patrimocircnio comum (ACSELRAD 1992a)

O desafio consiste em identificar os limites da representaccedilatildeo e da

participaccedilatildeo identificando experiecircncias que caminhem na direccedilatildeo de

uma recuperaccedilatildeo da autonomia (CASTORIADIS COHN-BENDIT

PUacuteBLICO DE LOUVAIN-LA-NEUVE 1981 ILLICH 1973) da

construccedilatildeo de uma democracia cognitiva (MORIN 2002 THEYS

1997) de uma cidadania terrestre (MORIN KERN 2000) de uma

cidadania ecoloacutegica (DOBSON 2003) de uma ecologia da

transformaccedilatildeolibertaccedilatildeo (HATHAWAY BOFF 2012) A direccedilatildeo

apontada a partir dos termos indicados eacute exigente e implica reconhecer

o caraacuteter indissociaacutevel da natureza e da comunidade seres humanos natildeo

humanos e a Terra em uma concepccedilatildeo alargada de justiccedila

(SCHLOSBERG 2009)

23 LIMITES E POSSIBILIDADES DO ECODESENVOLVIMENTO

REVISITADO

De todos os objetos os que mais amo satildeo os

usados () Impregnado do uso de muitos a

miuacuteda transformados foram aperfeiccediloando suas

formas e se fizeram preciosos porque tecircm sido

apreciados muitas vezes (Bertolt Brecht

Antologia Poeacutetica 1982 p 58)

A procura da harmonizaccedilatildeo entre desenvolvimento e gestatildeo de

longo prazo do meio ambiente natildeo pode ser feita de maneira isolada

pois se trata de uma reflexatildeo global sobre a viabilidade de novos estilos

de desenvolvimento baseados no pensamento sistecircmico-complexo

(GODARD SACHS 1975 VIEIRA 2006) Este capiacutetulo insere-se

nessa linha de reflexatildeo ao tratar a atualidade do ecodesenvolvimento

aplicado agrave gestatildeo de recursos comuns

O ecodesenvolvimento eacute o eixo central do modelo de anaacutelise

trazendo em si a criacutetica do modelo hegemocircnico de desenvolvimento e a

preocupaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novos projetos civilizatoacuterios Para tanto eacute preciso considerar o meio ambiente como relaccedilatildeo e natildeo como objeto

Suas dimensotildees os recursos naturais o espaccedilo-territoacuterio e o haacutebitat

colocam no centro as relaccedilotildees que os seres humanos estabelecem entre

si e com o meio Os conceitos de co-gestatildeo adaptativa

78

ecodesenvolvimento territorial e justiccedila ambiental e ecoloacutegica vecircm

sendo incorporados ao modelo de anaacutelise ldquoclaacutessicordquo ampliando o seu

potencial heuriacutestico no enfrentamento da crise socioecoloacutegica global

O enfrentamento envolve mais adaptaccedilatildeo que controle poliacuteticas

flexiacuteveis integradas e adaptativas gestatildeo e planejamento voltados agrave

aprendizagem acompanhamento concebido como uma parte de

intervenccedilotildees ativas para conseguir compreender e identificar respostas

aos problemas natildeo a vigilacircncia pela vigilacircncia investimentos ecleacuteticos

em ciecircncia participaccedilatildeo dos cidadatildeos e parceria na construccedilatildeo de uma

ciecircncia mais cidadatilde evitando a informaccedilatildeo passiva (HOLLING 1995)

O desenvolvimento de uma democracia cognitiva

soacute eacute possiacutevel com uma reorganizaccedilatildeo do saber e

esta pede uma reforma do pensamento que

permita natildeo apenas isolar para conhecer mas

tambeacutem ligar o que estaacute isolado e nela

renasceriam de uma nova maneira as noccedilotildees

pulverizadas pelo esmagamento disciplinar o ser

humano a natureza o cosmo a realidade

(MORIN 2002 p 104)

O ecodesenvolvimento e os enfoques complementares ajudam a

compreender a gestatildeo de recursos comuns em relaccedilatildeo agrave sustentabilidade

dos recursos naturais as dinacircmicas de desenvolvimento e a

desigualdade ecoloacutegica A pesquisa sobre gestatildeo de recursos comuns

nessa perspectiva incorpora uma perspectiva mais ampla sobre seu

papel no modelo de desenvolvimento hegemocircnico e ao mesmo tempo

seu potencial de mudanccedila como parte integrante e importante na

proposta do ecodesenvolvimento O fundamental eacute a compreensatildeo de

que nenhum enfoque eacute completo e que para aleacutem da fragmentaccedilatildeo da

ciecircncia o diaacutelogo entre os enfoques pode oferecer insights para uma

melhor compreensatildeo dos problemas e para a construccedilatildeo de alternativas

capazes de fazer frente agrave crise sistecircmica do meio ambiente

3 GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS NO BRASIL O CARVAtildeO

MINERAL EM QUESTAtildeO

Tudo se aniquilava no fundo desconhecido das

noites obscuras soacute percebia muito ao longe os

altos-fornos e as fornalhas de coque () Era uma

tristeza de incecircndio natildeo havia no horizonte

ameaccedilador outros astros elevando-se a natildeo ser

esses fogos noturnos dos paiacuteses da hulha e do

ferro (Eacutemile Zola 1981 p 14)

O uso do carvatildeo mineral em larga escala estaacute intrinsecamente

ligada agrave Revoluccedilatildeo Industrial e com a origem do movimento dos

trabalhadores na Inglaterra como bem ilustrou Emile Zola em seu livro

Germinal e nos Estados Unidos Ele continua sendo a fonte mais

utilizada para geraccedilatildeo de energia eleacutetrica no mundo correspondendo em

meacutedia a 40 da produccedilatildeo total mundial no periacuteodo de 1973 a 2006

Segundo a Agecircncia Internacional de Energia (IEA) a posiccedilatildeo seraacute

mantida nos proacuteximos trinta anos e a discussatildeo sobre reconversatildeo da

mineraccedilatildeo do carvatildeo ainda permanece incipiente5(ANEEL 2008a

FERREIRA 2002)

No debate sobre mudanccedila ambiental global os recursos naturais

natildeo renovaacuteveis satildeo centrais Embora o petroacuteleo ocupe posiccedilatildeo

privilegiada os impactos ambientais do processo produtivo do carvatildeo

mineral eacute um ponto importante a ser considerado Os combustiacuteveis

foacutesseis continuam a dominar a matriz energeacutetica mundial apoiados por

523 mil milhotildees de doacutelares de subsiacutedios em 2011 quase 30 a mais que

em 2010 e seis vezes mais do que as fontes renovaacuteveis (OCDE IEA

2012) O carvatildeo mineral representou em 2012 195 da matriz

energeacutetica dos paiacuteses que compotildeem a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e

Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) e 282 da matriz mundial Em

relaccedilatildeo agrave oferta de energia eleacutetrica o carvatildeo mineral representou em

2012 14 da oferta brasileira e 417 da oferta mundial Se

consideradas as dimensotildees de sustentabilidade seguranccedila energeacutetica

equidade social e mitigaccedilatildeo dos impactos ambientais o Brasil aparece

como 53ordm lugar em 2012 Se tomadas separadamente o Brasil assume o

5 Destaca-se aqui a iniciativa da Comissatildeo das Comunidades Europeias que

teve iniacutecio em 1989 de proporcionar assistecircncia as Comunidades que queiram

adotar uma reconversatildeo econocircmica das aacutereas de mineraccedilatildeo do carvatildeo atraveacutes de

empreacutestimos e subsiacutedios (COMISSAtildeO DAS COMUNIDADES EUROPEacuteIAS

1990)

80

77ordm lugar em seguranccedila energeacutetica 65ordm em equidade social e 21ordm em

mitigaccedilatildeo dos impactos ambientais (WORLD ENERGY COUNCIL

2012)

A matriz energeacutetica brasileira teve em sua composiccedilatildeo no ano de

2012 424 de oferta de energia de fontes renovaacuteveis (biomassa da

cana hidraacuteulica e eletricidade lenha e carvatildeo vegetal e lixiacutevia dentre

outras) e 576 de fontes de energia natildeo renovaacuteveis (petroacuteleo e

derivados gaacutes natural carvatildeo mineral e uracircnio) da qual o carvatildeo

mineral tem uma participaccedilatildeo de 54 (BRASIL EPE 2013) A

presenccedila de combustiacuteveis foacutesseis na matriz energeacutetica brasileira tende a

aumentar com a exploraccedilatildeo do petroacuteleo do preacute-sal com a possiacutevel

exploraccedilatildeo do gaacutes de xisto e com o retorno do carvatildeo mineral nos leilatildeo

A-56 de 2013 Eacute urgente lidar com a questatildeo das emissotildees de gases de

efeito estufa devido agraves altas emissotildees dos combustiacuteveis foacutesseis O

carvatildeo mineral eacute o mais abundante combustiacutevel foacutessil do mundo e

tambeacutem o que mais produz gases de efeito estufa (BRASIL MME

2007 YAMAOKA et al 2013)

O Brasil no cenaacuterio mundial desponta como fornecedor global

de commodities minerais energeacuteticas e agriacutecolas Esse papel justifica a

abertura de minas de fosfato a mineraccedilatildeo de uracircnio do ferro e de outros

mineacuterios Apesar do carvatildeo mineral brasileiro ser o ldquoprimo pobrerdquo dos

mineacuterios voltado ao mercado interno eacute preciso considerar tambeacutem a

mineraccedilatildeo no geral O marco legal da mineraccedilatildeo estaacute mudando com a

regulamentaccedilatildeo da mineraccedilatildeo em terras indiacutegenas quilombolas e

ribeirinhas e a expansatildeo das mineradoras brasileiras para outros paiacuteses

A conjuntura brasileira eacute de desregulamentaccedilatildeo e de flexibilizaccedilatildeo da

normativa ambiental sem um questionamento profundo sobre as

desigualdades socioambientais existentes no territoacuterio (MALERBA

2012 MILANEZ et al 2013)

O objetivo deste capiacutetulo foi descrever as macro variaacuteveis

presentes no modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns (HESS

6 Os leilotildees foram instituiacutedos em 2005 e satildeo processos licitatoacuterios com o

objetivo de contratar energia eleacutetrica para assegurar o pleno atendimento da

demanda futura no Ambiente de Regulaccedilatildeo Controlada Os leilotildees satildeo divididos

em A-1 A-3 e A-5 Os nuacutemeros 1 3 e 5 correspondem aos anos de

antecedecircncia do iniacutecio do suprimento O Leilatildeo A-5 por exemplo envolve a

licitaccedilatildeo para contrataccedilatildeo de energia eleacutetrica de novos empreendimentos

realizado com cinco anos de antecedecircncia do iniacutecio do suprimento (MME

2014)

81

OSTROM 2005 OAKERSON 1992 POLSKI OSTROM 1992)

abordando o tema no Brasil com destaque agrave gestatildeo do carvatildeo mineral

Para tanto aleacutem de uma breve introduccedilatildeo sobre desenvolvimento

econocircmico gestatildeo de recursos comuns e energia no Brasil o capiacutetulo

traz uma caracterizaccedilatildeo dos atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso

em termos de disponibilidade usos tecnologias disponiacuteveis e impactos

As regras em uso tratam das principais leis que afetam o recurso bem

como das interfaces entre direitos ambientais e direitos humanos Em

relaccedilatildeo agrave arena de accedilatildeo eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos envolvidos na

gestatildeo no niacutevel nacional O balanccedilo da gestatildeo de recursos comuns no

Brasil em especial do carvatildeo mineral revela ao longo desse capiacutetulo

importantes pontos a serem considerados na compreensatildeo da ampliaccedilatildeo

da geraccedilatildeo de energia eleacutetrica movida a carvatildeo mineral no Sul de Santa

Catarina e da possibilidade de surgirem caminhos alternativos para a

questatildeo energeacutetica

31 DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO GESTAtildeO DE RECURSOS

COMUNS E ENERGIA

A gestatildeo de recursos comuns em particular do carvatildeo mineral

traz agrave tona questotildees relacionadas ao desenvolvimento econocircmico e a

questatildeo energeacutetica que envolvem a atuaccedilatildeo de segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais O desafio de tratar a gestatildeo de recursos comuns

reside justamente na complexidade existente nessas inter-relaccedilotildees A

tentativa dessa seccedilatildeo eacute tratar a gestatildeo contextualizada para na

sequecircncia abordar as especificidades do carvatildeo mineral

Na eacutepoca da Repuacuteblica Velha (1889-1930) o governo era

controlado pela oligarquia rural (SCARDUA BURSZTYN 2003) Se

ateacute 1930 a teoria econocircmica pregava o livre funcionamento do mercado

com a crise mundial passou a aceitar um papel mais atuante do Estado e

tambeacutem do planejamento Os recursos comuns acompanharam essa

mesma linha de atuaccedilatildeo federal sendo marcada pelo controle federal na

disputa com elites locais Isso justificou a criaccedilatildeo de poderes setoriais e

deu lugar a burocracias especializadas (NEDER 2002) O setor eleacutetrico que antes era resultado de investimentos privados e locais sofreu

intervenccedilatildeo estatal e de empresas estrangeiras (MALAGUTI 2009)

A Ditadura Vargas (1930-1945) foi centralizada no presidente

com a dissoluccedilatildeo das representaccedilotildees poliacuteticas e baseada numa poliacutetica

82

voltada ao desenvolvimento urbano industrial e nacionalista

(SCARDUA BURSZTYN 2003) Nesse periacuteodo houve pouca

demanda por energia baseada principalmente na geraccedilatildeo de energia a

partir de fontes vegetais indicando um reduzido grau de expansatildeo das

forccedilas produtivas De 1939 em diante ocorreu a consolidaccedilatildeo da

industrializaccedilatildeo com o crescimento da atividade econocircmica e uma

participaccedilatildeo maior no uso de combustiacuteveis foacutesseis (THEIS 1990)

Durante o periacuteodo democraacutetico (1945-1964) teve lugar a

reorganizaccedilatildeo dos partidos poliacuteticos e das representaccedilotildees favorecendo a

descentralizaccedilatildeo sem uma poliacutetica especiacutefica para esse fim Na Ditadura

Militar (1964-1985) a centralidade federal voltou a ser realidade e nesse

contexto o crescimento econocircmico aconteceu a despeito dos custos

sociais e ambientais (EGLER 1997 SCARDUA BURSZTYN 2003)

A questatildeo ambiental era tratada como gestatildeo de recursos naturais com a

criaccedilatildeo de parques e reservas bioloacutegicas Com vieacutes claramente

conservacionista natildeo havia uma preocupaccedilatildeo com os impactos do

crescimento econocircmico da eacutepoca (NEDER 2002) ldquoA ideia de

desenvolvimento econocircmico penetrava a consciecircncia da cidadania

justificando cada ato de governo e ateacute de ditadura e de extinccedilatildeo da

naturezardquo (DEAN 1996 p 281)

O processo de crise na economia mundial deflagrado na deacutecada

de 1970 contou com trecircs marcos poliacuteticos o rompimento dos Estados

Unidos aos acordos de Bretton Woods em 1971 que trouxe a crise aos

paiacuteses membros da OCDE a inclusatildeo das questotildees ambientais no debate

sobre desenvolvimento estimulada pelo relatoacuterio do Clube de Roma e

pela Conferecircncia de Estocolmo em 1972 e a elevaccedilatildeo do preccedilo do

petroacuteleo em 1973 que trouxe a preocupaccedilatildeo com a questatildeo energeacutetica

Esses eventos dentre outros colocaram tambeacutem em questatildeo a regulaccedilatildeo

das relaccedilotildees econocircmicas internacionais e os mecanismos internos de

promoccedilatildeo do desenvolvimento (EGLER 1997)

Na deacutecada de 1970 aumentou a preocupaccedilatildeo com a poluiccedilatildeo

industrial todavia natildeo se alterou a relaccedilatildeo Estado-empresa (NEDER

2002) O movimento ambientalista em sua fase fundacional (1971-86)

foi dominado por uma compreensatildeo estreita da problemaacutetica ambiental

tendo como principais preocupaccedilotildees a poluiccedilatildeo industrial e a

preservaccedilatildeo dos ecossistemas naturais A conexatildeo entre a problemaacutetica

ambiental e o desenvolvimento econocircmico natildeo era percebida pelo

movimento ambientalista nessa fase (VIOLA 1992)

83

Na deacutecada de 1980 a crise do Estado e o processo de

redemocratizaccedilatildeo do paiacutes somou-se agrave discussatildeo do ldquodesenvolvimento

sustentaacutevelrdquo que se inseriu no discurso e na definiccedilatildeo de poliacuteticas Poacutes

1980 outro padratildeo de regulaccedilatildeo puacuteblica socioambiental veio se

desenvolvendo no Brasil ldquoele desloca a dicotomia estado versus capital

privado para um patamar mais complexo que amplia os dois modos

claacutessicos de coordenaccedilatildeo a ordem estatal e mercantil para incluir novas

arenas de conflitosrdquo (NEDER 2009 p 8)

Com a crise econocircmica dos anos 1980 o movimento

ambientalista passou a considerar a dimensatildeo econocircmica como

condicionante e parte da crise socioambiental Nessa mesma deacutecada

formaram-se grupos cientiacuteficos que passaram a tratar da questatildeo

ambiental Em 1981 com a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Meio

Ambiente (PNMA) constituiu-se segundo o artigo 6ordm o Sistema

Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e o CONAMA O movimento

ambientalista de 1987 a 1991 passou por uma fase de institucionalizaccedilatildeo

que envolveu uma organizaccedilatildeo maior do movimento ambientalista em

relaccedilatildeo a recursos financeiros especializaccedilatildeo dos envolvidos e com o

envolvimento com movimentos socioambientais (como o Movimento de

Atingidos por Barragens Movimento dos Seringueiros Movimentos

Indiacutegenas etc) (VIOLA 1992) Somado a isso o fim da Ditadura

Militar em 1985 e a Constituiccedilatildeo de 1988 acenavam com a volta da

democracia representativa e com novos mecanismos participativos

O governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) realizou

uma grande reforma no setor eleacutetrico marcando a transiccedilatildeo entre um

modelo de crescimento impulsionado pelo Estado para um modelo de

crescimento impulsionado pelo mercado A reforma teve como objetivos

a separaccedilatildeo das atividades de geraccedilatildeo transmissatildeo distribuiccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo privatizaccedilatildeo competiccedilatildeo na geraccedilatildeo e na

comercializaccedilatildeo e livre acesso agraves redes de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

(GOLDENBERG PRADO 2003) ldquoO processo de privatizaccedilatildeo do setor

eleacutetrico representou um gigantesco processo de transferecircncia de rendas

utilizando-se de dinheiro puacuteblico para beneficiar grupos empresariais e

garantir o propalado lsquosucessorsquo das privatizaccedilotildeesrdquo (BERMANN 2003

p 47) O ano de 2001 foi conhecido como o ano do ldquoapagatildeordquo Houve

falta de energia eleacutetrica causada pelo desabastecimento de aacutegua e por

uma privatizaccedilatildeo parcial na qual as estatais perderam sua capacidade de

planejamento mediante reduccedilatildeo de investimentos e o setor privado ainda

natildeo havia tomado o seu lugar (GOLDENBERG 2012a)

84

Com a vitoacuteria de Luis Inaacutecio Lula da Silva em 2002 do Partido

dos Trabalhadores (PT) para a presidecircncia da repuacuteblica houve uma

grande expectativa por parte dos movimentos sociais que possuiacuteam uma

ligaccedilatildeo histoacuterica com os partidos de esquerda especialmente o PT Lula

permaneceu na presidecircncia de 2003 a 2010 rompendo com uma

tradiccedilatildeo de eleiccedilotildees que mantinham na presidecircncia a elite tradicional

(LOSEKANN 2012) O fato de ter tido como ministra do meio

ambiente Marina Silva ligada agrave luta dos seringueiros fez com que

muitos acreditassem que o governo Lula seria um marco na poliacutetica

ambiental brasileira Mas contrariando as expectativas houve a

legalizaccedilatildeo dos transgecircnicos a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco e a

anistia aos desmatadores O Ministeacuterio das Minas e Energia (MME) na

eacutepoca liderado por Dilma Russef atual presidenta do Brasil ressuscitou

projetos hidreleacutetricos na Amazocircnia e retomou o programa da energia

nuclear Se durante a sua histoacuteria o PT esteve receptivo agraves demandas

dos movimentos socioambientais uma vez no poder a praacutetica foi

restritiva no CONAMA a participaccedilatildeo dos movimentos sociais foi

diminuiacuteda resultando numa injusticcedila poliacutetica em relaccedilatildeo aos segmentos

poliacuteticos e empresariais A poliacutetica de desenvolvimento empreendida

pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) priorizou a

pecuaacuteria mineraccedilatildeo geraccedilatildeo de energia soja cimento e celulose

causadores de impactos socioambientais e injusticcedilas ambientais e

ecoloacutegicas (LISBOA 2011)

Na Rio+20 que aconteceu em 2012 o tema central da Cuacutepula

dos Povos foi a justiccedila social e ambiental Para a Cuacutepula dos Povos natildeo

houve um balanccedilo das dificuldades e conquistas poacutes Rio-92 e a ecircnfase

na ldquoeconomia verderdquo foi uma forma de reforccedilar a acumulaccedilatildeo

capitalista que natildeo questiona ou substitui a economia baseada no uso de

combustiacuteveis foacutesseis nem nos padrotildees de produccedilatildeo industrial e

consumo crescente (CUacutePULA DOS POVOS 2012)

No governo Dilma (2011- atual) foi aprovada a mudanccedila no

Coacutedigo Florestal que estava tramitando desde 1996 ateacute ser totalmente

reformulado em 2012 Tramita tambeacutem a mudanccedila do Coacutedigo da

Mineraccedilatildeo que vai reduzir radicalmente as conquistas de grupos eacutetnicos

e comunidades tradicionais Com essas mudanccedilas instaura-se a

dominaccedilatildeo poliacutetica empresarial na qual o territoacuterio passa a ser objeto da

accedilatildeo de empresas preocupadas com as proacuteprias metas e apoiadas pela

accedilatildeo do Estado Confunde-se aiacute capitalismo com democracia e liberdade

poliacutetica com liberdade para explorar e investir (SEVAacute FILHO 2013)

No que se refere agrave matriz energeacutetica antes se pensava no que era melhor

85

para o Estado e atualmente a poliacutetica energeacutetica eacute pensada para os

empreiteiros (GOLDENBERG 2012b)

O planejamento energeacutetico no Brasil apoacutes as reformas passou a

ter uma visatildeo ldquoofertistardquo natildeo se baseia em previsotildees de demandas

Existe um emaranhado de interesses e o ldquoplanejamentordquo se eacute que pode

ser assim chamado serve aos que querem vender energia e aos que

querem comprar As empresas por sua vez aperfeiccediloam sua influecircncia

poliacutetica nos espaccedilos de poder do Estado atuando sobre os

licenciamentos ambientais mecanismos de financiamento

influenciando ateacute propostas de reforma do Estado (BERMANN 2012)

No final da deacutecada de 1980 apoacutes momentos de crescimento

econocircmico e crise houve um reposicionamento da economia da gestatildeo

de recursos comuns e da energia do fim da deacutecada de 1980 em diante

Se a PNMA de 1986 e a Constituiccedilatildeo de 1988 pareciam acenar com a

garantia aos direitos humanos e ambientais e uma preocupaccedilatildeo maior

com a participaccedilatildeo das pessoas nos processos de tomada de decisatildeo as

recentes alteraccedilotildees nas leis ambientais parecem um grande retrocesso e

a participaccedilatildeo das pessoas restrita agrave democracia representativa e a

instacircncias participativas controladas

O Estado passou a reforccedilar seu papel como indutor do

desenvolvimento capitalista direcionando investimentos em alguns

setores econocircmicos aos quais se destina financiamento subsiacutedios e

infraestrutura logiacutestica (transporte e energia) Acabou criando tambeacutem

mecanismos que asseguram o aumento no ritmo da exploraccedilatildeo de

recursos naturais e da despossessatildeo de grupos sociais com a desculpa de

gerar divisas para reduzir a pobreza e a desigualdade social ldquoEm nome

da superaccedilatildeo da desigualdade e da pobreza governos progressistas

impulsionam a expansatildeo de atividades extrativas ndash notadamente o

petroacuteleo e os mineacuterios ndash cujos custos sociais e ambientais tecircm gerado

exclusatildeo e desigualdaderdquo (MALERBA 2012 p 12-3)

O carvatildeo mineral acompanha esse movimento mais amplo com

suas especificidades que satildeo tratadas a seguir

86

32 CARACTERIZACcedilAtildeO E USOS DO CARVAtildeO MINERAL7 NO

BRASIL

A histoacuteria do carvatildeo mineral no Brasil teve iniacutecio em 1795 no Rio

Grande do Sul Ele foi descoberto por teacutecnicos ingleses que construiacuteam

ferrovias na regiatildeo do baixo Jacuiacute Durante muito tempo sua exploraccedilatildeo

foi manual passando agrave etapa da mecanizaccedilatildeo somente apoacutes a Segunda

Guerra Mundial (CHAVES 2008 GOMES et al 1998)

A mineraccedilatildeo eacute uma atividade intensiva em recursos naturais

principalmente do solo e da aacutegua competindo com outros usos dos

recursos naturais locais principalmente aqueles que dependem do meio

ambiente tais como pesca turismo agricultura etc Dentre os principais

usos do carvatildeo mineral destacam-se a produccedilatildeo de energia eleacutetrica e uso

industrial principalmente sideruacutergico O uso tem relaccedilatildeo com a

qualidade do carvatildeo medida pela capacidade de produccedilatildeo de calor

Capacidade essa que eacute favorecida pela existecircncia de carbono e

prejudicada pela quantidade de impurezas normalmente material

orgacircnico (macerais do carvatildeo) e inorgacircnicos (argilas pirita e

carbonatos) (ANEEL 2008a SAMPAIO 2002)

O Brasil natildeo tem uma cultura de uso do carvatildeo mineral como em

outros paiacuteses sua exploraccedilatildeo eacute restrita ao Sul do paiacutes outras regiotildees natildeo

convivem com a questatildeo A qualidade do carvatildeo mineral brasileiro eacute

inferior dado resultante dos altos teores de cinza e enxofre (carvatildeo de

SC e PR) e o passivo ambiental de uma exploraccedilatildeo predatoacuteria e sem

compromisso com o meio ambiente fez com que essa atividade natildeo

contasse com boa fama (CHAVES 2008)

O carvatildeo mineral de acordo com o poder caloriacutefico e a incidecircncia

de impurezas se subdivide em carvatildeo de baixa qualidade (linhito e sub-

betuminoso) e hulha (Betuminoso e Antracito) As reservas brasileiras

satildeo compostas pelo carvatildeo dos tipos linhito e sub-betuminoso que pode

ser utilizado na produccedilatildeo de energia eleacutetrica e usado industrialmente

(ANEEL 2008a) (Figura 5)

7 O carvatildeo mineral natildeo eacute um mineral no sentido estrito sendo mais correto

chamaacute-lo de carvatildeo foacutessil A opccedilatildeo pelo carvatildeo mineral se justifica na medida

em que a maior parte dos documentos e referecircncias consultadas utilizam o

termo (CHAVES 2008)

87

Figura 5 - Tipos de carvatildeo e uso

Fonte Adaptado de Aneel (2008a p 133)

A produccedilatildeo do carvatildeo mineral bruto no Brasil em 1970 foi de 55

milhotildees de toneladas chegando ao pico em 1985 com 249 milhotildees de

toneladas (MILIOLI 2009) Ateacute final da deacutecada de 1980 as sideruacutergicas

brasileiras eram obrigadas a comprar carvatildeo coqueificaacutevel nacional para

misturar com o importado Os empresaacuterios do setor contaram com as

benesses do governo federal que obrigava as sideruacutergicas a utilizarem o

carvatildeo mineral brasileiro e os consumidores do carvatildeo mineral eram

empresas governamentais Como natildeo havia diferenccedila entre o preccedilo e a

qualidade do produto as carboniacuteferas natildeo eram estimuladas a melhorar

a qualidade nem buscar tecnologia para isso

O Governo Collor rompeu com a obrigatoriedade do consumo do

carvatildeo mineral pelas metaluacutergicas e muitas mineradoras enfrentaram

problemas (CHAVES 2008) O pano de fundo para o debate eleacutetrico

dos anos 1990 principalmente durante o governo de Fernando Henrique

Cardoso era a liberalizaccedilatildeo dos preccedilos do comeacutercio e do investimento

estrangeiro a desregulamentaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo em grande escala

(GOLDENBERG PRADO 2003)

O carvatildeo energeacutetico passou a ser uma opccedilatildeo para a crise

enfrentada pelas carboniacuteferas As termeleacutetricas estatais foram

privatizadas ou tiveram o seu capital aberto na deacutecada de 1990 exceto a

Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica (CGTEE) Em 2013

estavam em operaccedilatildeo treze usinas termeleacutetricas em seis estados

brasileiros somando um total de 2711 Megawatts (MW) (Tabela 1)

Destaca-se nessas usinas a participaccedilatildeo de empresas estrangeiras

88

Tractebel CITIC Group (estatal chinesa em parceria com a Companhia

de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica) o Consoacutercio Alumar (formado

pelas empresas Alcoa BHP Billiton e Rio Tinto Alcan) e a ENEVA

Tabela 1 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral em

operaccedilatildeo em 2013 Brasil

Fonte ANEEL 2013

Natildeo havia nenhum empreendimento movido a carvatildeo mineral em

construccedilatildeo no ano de 2013 Existem quatro empreendimentos com

outorga no periacuteodo de 1998 a 2013 somando um total de 1445 MW

localizados nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Tabela

2)

Tabela 2 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral com

outorga de 1998 a 2013 Brasil

Fonte ANEEL 2013

USINAPOTEcircNCIA

(MW)MUNICIacutePIO UF PROPRIETAacuteRIO

Charqueadas 72 Charqueadas RS Tractebel

Presidente Meacutedici A B 446 Candiota RS CGTEE

Satildeo Jerocircnimo 20 Satildeo Jerocircnimo RS CGTEE

Figueira 20 Figueira PR Copel

Jorge Lacerda I e II 232 Capivari de Baixo SC Tractebel

Jorge Lacerda III 262 Capivari de Baixo SC Tractebel

Jorge Lacerda IV 363 Capivari de Baixo SC Tractebel

Alunorte 103 Nossa Senhora do Socorro SE Alumina Norte do Brasil SA

Alumar 75 Satildeo Luiacutes MA Consoacutercio Alumar

Porto do Itaqui 360 Satildeo Luiacutes MA UTE Porto do Itaqui Geraccedilatildeo de Energia SA

Porto do Peceacutem I 381 Satildeo Gonccedilalo do Amarante CE Porto do Peceacutem Geraccedilatildeo de Energia SA

Candiota III 12 Candiota RS CGTEE

Porto do Peceacutem II 365 Satildeo Gonccedilalo do Amarante CE MPX Peceacutem II Geraccedilatildeo de Energia SA

TOTAL 2711

USINAPOTEcircNCIA

(MW)MUNICIacutePIO UF PROPRIETAacuteRIO

Jacuiacute 350 Charqueadas RS Eleacutetrica Jacuiacute SA

Sul Catarinense 440 Treviso SC UTE Sul Catarinense

Concoacuterdia 5 Concoacuterdia SC Sadia

CTSUL 650 Cachoeira do Sul RS Central Termoeleacutetrica Sul SA

TOTAL 1445

89

As reservas de carvatildeo no Brasil totalizam sete bilhotildees de

toneladas ocupando o 10ordm lugar no ranking mundial podendo gerar 17

mil mw (ANEEL 2008B) Conveacutem ressaltar tambeacutem que o Brasil

produz mais energia eleacutetrica do que consome em 2011 foram

disponibilizados 5676 TeraWattshora (TWh) e consumidos 4801TWh

e em 2012 foram disponibilizados 5928TWh e consumidos 4984 TWh

A oferta de energia eleacutetrica a base de carvatildeo mineral tende a aumentar

em 53 se as usinas termeleacutetricas com outorga forem construiacutedas Com

a inclusatildeo do carvatildeo mineral nos leilotildees em 2013 parece ser uma

questatildeo de tempo para que as termeleacutetricas listadas na tabela 22 entrem

no leilatildeo e comecem a ser construiacutedas (BRASIL EPE 2013b)

33 TECNOLOGIAS DISPONIacuteVEIS E IMPACTOS

SOCIOAMBIENTAIS

Da extraccedilatildeo do carvatildeo mineral ateacute a geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

existem diferentes processos a serem considerados a extraccedilatildeo o

beneficiamento o transporte o uso do carvatildeo mineral para geraccedilatildeo de

energia eleacutetrica e a disposiccedilatildeo dos rejeitos Cada um desses processos

envolve escolhas tecnoloacutegicas e seus impactos Nesta seccedilatildeo faz-se uma

breve exposiccedilatildeo dos meacutetodos utilizados nos processos compreendendo

que a escolha entre os meacutetodos e impactos decorrentes eacute mais

condicionada pelas leis existentes do que pelo tipo de tecnologia

disponiacutevel A escolha tem a ver com a opccedilatildeo do desenvolvimento

(BRITO 1981)

No que se refere agrave extraccedilatildeo do carvatildeo mineral os meacutetodos

utilizados satildeo a lavra a ceacuteu aberto e subterracircnea dependendo das

caracteriacutesticas geoloacutegicas No iniacutecio as lavras eram essencialmente

manuais depois passaram para uma fase semi-mecanizada e depois

mecanizada Na fase manual o impacto ambiental e a produtividade

eram menores O processo de mecanizaccedilatildeo aumentou a produccedilatildeo e com

ela uma maior destruiccedilatildeo ambiental e problemas de sauacutede (MENEZES

CAROLA 2011)

As lavras a ceacuteu aberto utilizam os seguintes meacutetodos meacutetodo de

lavras em tiras (strip mining) lavra de descobertura com escavadeiras de

arrasto (dragline stripping method) lavra em bancadasescavadeira Os

trecircs meacutetodos de formas diferentes retiram as camadas de solo e outras

formaccedilotildees sedimentares que cobrem as camadas de carvatildeo Satildeo meacutetodos

90

de baixo custo comparados aos de lavra subterracircnea mas foram as

lavras a ceacuteu aberto que causaram entre 1960 e 1970 os maiores danos

ambientais do Sul de Santa Catarina (KOPPE COSTA 2008

MENEZES CAROLA 2011 MONTEIRO 2008)

Dentre os meacutetodos de lavra subterracircnea destacam-se o meacutetodo de

cacircmaras e pilares e de frente larga No primeiro meacutetodo o carvatildeo eacute

extraiacutedo e os pilares satildeo formados pelo proacuteprio carvatildeo que sustenta a

cobertura e facilita o fluxo de ar Na medida em que a mineraccedilatildeo

avanccedila os pilares satildeo retirados e a cobertura tomba Jaacute o meacutetodo da

frente larga envolve a remoccedilatildeo total do carvatildeo e a sustentaccedilatildeo eacute feita por

macacos hidraacuteulicos O meacutetodo precisa estar adequado agrave geologia da

mina e o custo do maquinaacuterio eacute cerca de dez vezes maior que do outro

meacutetodo A lavra subterracircnea causa menos impacto visual mas os

impactos ambientais tambeacutem satildeo significativos Torna-se necessaacuterio o

descarte da aacutegua subterracircnea alterando o regime hiacutedrico e inviabiliza

outros usos do solo (KOPPE COSTA 2008 MONTEIRO 2008)

Dentre os principais impactos resultantes das lavras estatildeo as

mudanccedilas na vida da populaccedilatildeo nos recursos hiacutedricos na fauna e flora

Jaacute o processo de beneficiamento que compreende a separaccedilatildeo dos

materiais desejaacuteveis e indesejaacuteveis tem como principal causador de

impacto o rejeito (ANEEL 2008a) O Quadro 4 apresenta alguns

aspectos ambientais associados agrave atividade de mineraccedilatildeo e

processamento mineral

91

Quadro 4 - Aspectos das atividades de mineraccedilatildeo e processamento

do carvatildeo mineral Mineraccedilatildeo e

processamento

Ar Dispersatildeo de partiacuteculas

Variaccedilatildeo da composiccedilatildeo da poeira do

ar

Poeira

Solo Fontes pontuais de contaminaccedilatildeo

Geraccedilatildeo de resiacuteduos

Alteraccedilatildeo na vegetaccedilatildeo

Instabilidade de taludes

Variaccedilatildeo na morfologia do terreno

Cavidades subterracircneas

Aacutegua

superficial

Contaminaccedilatildeo quiacutemica (drenagem

aacutecida etc)

Soacutelidos em suspensatildeo

Desestabilizaccedilatildeo das margens

Alteraccedilatildeo dos cursos de aacutegua

Criaccedilatildeo de novos corpos hiacutedricos

Aacutegua

subterracircnea

Contaminaccedilatildeo quiacutemica

Alteraccedilatildeo na profundidade do niacutevel

drsquoaacutegua

Variaccedilatildeo nas propriedades dos

aquiacuteferos

Fonte CETEM (2000 p 16)

No meacutetodo mais tradicional de geraccedilatildeo de energia eleacutetrica o

carvatildeo mineral eacute queimado a altas temperaturas transformando a aacutegua da

caldeira em vapor capaz de mover a turbina gerando eletricidade Em

meacutedia as teacutermicas movidas a carvatildeo mineral produzem 700g de CO2

por Quilowatt-hora (KWh) sendo responsaacuteveis por 30 a 35 do total de

emissotildees de CO2 no mundo Aleacutem do CO2 tambeacutem emitem Nitrogecircnio

(N) (ANEEL 2008a YAMAOKA et al 2013)

As chamadas tecnologias limpas compreendem a combustatildeo

pulverizada supercriacutetica a combustatildeo em leito fluidizado e a

gaseificaccedilatildeo integrada a ciclo combinado segundo a IEA Na

combustatildeo pulverizada supercriacutetica o carvatildeo eacute queimado como partiacuteculas pulverizadas o que aumenta substancialmente a eficiecircncia da

combustatildeo e conversatildeo No processo de combustatildeo em leito fluidizado

haacute uma reduccedilatildeo de Enxofre (ateacute 90) e de Nitrogecircnio (7080) pelo

emprego de partiacuteculas calcaacuterias e de temperaturas inferiores ao processo

convencional de pulverizaccedilatildeo Jaacute a gaseificaccedilatildeo integrada a ciclo

92

combinado consiste na reaccedilatildeo do carvatildeo com vapor de alta temperatura

e um oxidante (processo de gaseificaccedilatildeo) o que daacute origem a um gaacutes

combustiacutevel sinteacutetico de meacutedio poder caloriacutefico Esse gaacutes pode ser

queimado em turbinas a gaacutes e recuperado por meio de uma turbina a

vapor (ciclo combinado) o que possibilita a remoccedilatildeo de cerca de 95

do Enxofre e a captura de 90 do Nitrogecircnio Apesar da reduccedilatildeo de

Enxofre e Nitrogecircnio as tecnologias do chamado ldquocarvatildeo limpordquo natildeo

representam uma soluccedilatildeo para a emissatildeo de gases de efeito estufa

(ANEEL 2008a MONTEIRO 2008)

Cada tecnologia tem o seu impacto Na escolha por uma

tecnologia ou outra um impacto menor natildeo eacute considerado o motivador

inicial Atender os requisitos miacutenimos da legislaccedilatildeo e ser viaacutevel do

ponto de vista econocircmico satildeo os motivadores principais das escolhas

Os interesses dos segmentos econocircmicos natildeo raro prevalecem sobre os

interesses dos segmentos sociais ldquoO planejamento pauta-se em acordos

setoriais natildeo necessariamente fruto de uma compilaccedilatildeo e mediaccedilatildeo de

interesses mais amplos da sociedaderdquo (BERMANN 2012 p 21)

O raciociacutenio eacute produzir mais e natildeo pensar em eficiecircncia

energeacutetica O paiacutes perde cerca de 20 de energia na transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo Antes de investir em novas tecnologias e ampliar o sistema

seria interessante resolver a perda na transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de

energia (BERMANN 2012)

34 REGRAS EM USO NUMA PERSPECTIVA HISTOacuteRICA

INTERFACE ENTRE DIREITOS AMBIENTAIS E DIREITOS

HUMANOS

O marco regulatoacuterio do carvatildeo mineral se relaciona com o modo

como a questatildeo ambiental foi sendo incorporada nas leis e numa

perspectiva mais ampla sobre como os direitos ambientais e os direitos

humanos foram sendo constituiacutedos no Brasil O desafio da justiccedila em

sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas ambientais tem dois aspectos relacionais a

justiccedila da distribuiccedilatildeo de ambientes entre pessoas e a justiccedila da relaccedilatildeo

entre humanos e o resto do mundo natural a justiccedila ambiental e justiccedila

ecoloacutegica respectivamente A justiccedila eacute uma qualidade da conduta

humana e envolve tanto a reflexatildeo sobre si mesmo e o estar no mundo

quanto a conduta coordenada com os outros a conduta social e poliacutetica

(LOW GLEESON 1998)

93

Durante muito tempo na histoacuteria recente do brasil os recursos

naturais natildeo renovaacuteveis foram tratados como recursos a serem

explorados natildeo havia uma preocupaccedilatildeo com sua preservaccedilatildeo e com os

impactos socioambientais decorrentes das atividades econocircmicas A

Constituiccedilatildeo de 1934 mencionou pela primeira vez a competecircncia

privativa da Uniatildeo para legislar sobre o subsolo mineraccedilatildeo metalurgia

aacuteguas energia hidreleacutetrica florestas caccedila e pesca Do ponto de vista das

competecircncias a Constituiccedilatildeo de 1937 manteacutem a competecircncia privativa

da Uniatildeo sobre os recursos naturais e seus usos considerando a

competecircncia supletiva dos Estados As Constituiccedilotildees de 1946 1967-69

reproduzem com poucas atualizaccedilotildees as mesmas competecircncias

(SCARDUA BURSZTYN 2003)

A despeito do Coacutedigo das Aacuteguas de 1934 que lograva proteger

os recursos hiacutedricos e imputava ao poluidor os custos com a

recuperaccedilatildeo o setor carboniacutefero seguiu intensificando a poluiccedilatildeo das

aacuteguas e dos solos O mesmo aconteceu com as condiccedilotildees miacutenimas de

trabalho presentes no Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e no Coacutedigo de Higiene e

Seguranccedila no Trabalho que foram sistematicamente desconsideradas

impondo condiccedilotildees muitas vezes incompatiacuteveis com a vida humana

(MENEZES CAROLA 2011)

O avanccedilo do segmento do carvatildeo mineral contou com incentivos

e proteccedilatildeo do governo federal a partir de 1931 atraveacutes do Decreto

20089 em 1940 com o Decreto 2667e o Decreto 1828 de 1937 Aleacutem

de regular o aproveitamento do carvatildeo mineral iniciou nesse momento a

obrigatoriedade de compra do carvatildeo nacional em 10 em 1931 e 20

em 1937 do montante das importaccedilotildees (BRASIL 1931 1937 1940) As

medidas tomadas nesse periacuteodo incluindo aiacute o Plano do Carvatildeo

Nacional Lei nordm 1886 de 1953 fortaleceram muito o setor (BRASIL

1953) Inclui-se nessa lista o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo de 1967 Decreto-Lei

nordm 227 (BRASIL 1967) Junto com o Plano do Carvatildeo Mineral eacute criada

a Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo Nacional (CEPCAN) ligada

inicialmente ao Presidente da Repuacuteblica e depois ao MME A

CEPCAN foi responsaacutevel pela consolidaccedilatildeo da modernizaccedilatildeo e dos

subsiacutedios para o setor carboniacutefero (MENEZES CAROLA 2011)

A Avaliaccedilatildeo de Impacto Ambiental (AIA) apareceu no Brasil

pela primeira vez na deacutecada de 1970 no projeto da hidroeleacutetrica de

Sobradinho por pressatildeo do Banco Mundial e na Lei nordm 6803 de 1980

que dispotildee sobre zoneamento industrial Mas soacute se efetivou na Lei nordm

6938 de 1981 que dispotildee sobre a PNMA que coloca a avaliaccedilatildeo de

94

impacto ambiental como instrumento da Poliacutetica Com o Decreto nordm

88351 ela se tornou parte do licenciamento de atividades e

empreendimentos potencialmente poluidores ou causadores de

degradaccedilatildeo ambiental (BARBIERI 1995)

O CONAMA atraveacutes da Resoluccedilatildeo nordm 1 de 1986 trouxe os

criteacuterios baacutesicos e diretrizes para o uso e implementaccedilatildeo da AIA A

resoluccedilatildeo define impacto ambiental como ldquoqualquer alteraccedilatildeo das

propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das atividades

humanas que direta ou indiretamente afetam I) a sauacutede e bem-estar da

populaccedilatildeo II) as atividades sociais e econocircmicas III) a biota IV) as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V) a qualidade dos

recursos ambientaisrdquo Os processos que envolvem o carvatildeo mineral

extraccedilatildeo beneficiamento transporte uso para geraccedilatildeo de energia satildeo

considerados passiacuteveis de causar impacto e por isso a exigecircncia da

avaliaccedilatildeo de impacto ambiental para seus licenciamentos (BARBIERI

1995)

O Decreto nordm 9927490 conta com a seguinte redaccedilatildeo

Art 19 O Poder Puacuteblico no exerciacutecio de sua

competecircncia de controle expediraacute as seguintes

licenccedilas

I - Licenccedila Preacutevia (LP) na fase preliminar do

planejamento de atividade contendo requisitos

baacutesicos a serem atendidos nas fases de

localizaccedilatildeo instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo observados os

planos municipais estaduais ou federais de uso do

solo

II - Licenccedila de Instalaccedilatildeo (LI) autorizando o

iniacutecio da implantaccedilatildeo de acordo com as

especificaccedilotildees constantes do Projeto Executivo

aprovado e

III - Licenccedila de Operaccedilatildeo (LO) autorizando

apoacutes as verificaccedilotildees necessaacuterias o iniacutecio da

atividade licenciada e o funcionamento de seus

equipamentos de controle de poluiccedilatildeo de acordo

com o previsto nas Licenccedilas Preacutevia e de

Instalaccedilatildeo (BRASIL 1990)

Uma exigecircncia no processo de licenciamento eacute a elaboraccedilatildeo do

Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatoacuterio de Impacto

Ambiental (RIMA) A avaliaccedilatildeo de impacto ambiental conforme consta

95

na Figura 6 compreende segundo orientaccedilotildees internacionalmente

aceitas uma etapa inicial de triagem [na qual o estudo de impacto

ambiental eacute solicitado ou natildeo de acordo com o grau de possiacuteveis

impactos ambientais] uma etapa de anaacutelise detalhada [que inclui a

delimitaccedilatildeo do escopo do estudo a elaboraccedilatildeo do estudo de impacto

ambiental e do relatoacuterio de impacto ambiental a anaacutelise teacutecnica e a

consulta puacuteblica] e a etapa poacutes-aprovaccedilatildeo [que prevecirc o monitoramento

e gestatildeo ambiental e o acompanhamento] (SAacuteNCHEZ 2008a)

Figura 6 - Etapas da avaliaccedilatildeo de impacto ambiental

Fonte Adaptado de Saacutenchez (2008 p 96)

96

A audiecircncia puacuteblica no processo de licenciamento ambiental eacute

uma forma de consulta puacuteblica (consta na anaacutelise detalhada na Figura 6)

um instrumento de participaccedilatildeo de caraacuteter consultivo e informativo

segundo resoluccedilatildeo do CONAMA Nordm 009 de 03 de dezembro de 1987

A audiecircncia pode ser solicitada pelo oacutergatildeo ambiental responsaacutevel pelo

licenciamento por uma entidade civil pelo ministeacuterio puacuteblico ou por

um grupo de pelo menos 50 cidadatildeos (CONAMA 1987) Todavia a

decisatildeo no processo de licenciamento cabe aos oacutergatildeos ambientais

competentes No acircmbito federal ao IBAMA e no acircmbito estadual os

oacutergatildeos ambientais estaduais (SAacuteNCHEZ 2008a)

A Avaliaccedilatildeo Ambiental Estrateacutegica (AAE) surge dos limites da

AIA Entre esses limites estatildeo a dificuldade ldquode analisar com

profundidade alternativas tecnoloacutegicas e de localizaccedilatildeo de levar em

conta satisfatoriamente os impactos cumulativos e os impactos indiretos

satildeo inerentes a esta forma de avaliaccedilatildeo de impacto ambientalrdquo

(SAacuteNCHEZ 2008 p 4)

A Constituiccedilatildeo de 1988 traz um capiacutetulo sobre o meio ambiente e

pela primeira vez na histoacuteria do Brasil coloca o meio ambiente como

direito ldquoTodos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder Puacuteblico e agrave coletividade o dever de

defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo (Art

225 BRASIL 1988) Cabe aos Estados Distrito Federal e Municiacutepios

acrescentar normas especiacuteficas desde que natildeo colidam com a norma

federal (BARBIERI 1995)

A descentralizaccedilatildeo estimulada pela Constituiccedilatildeo de 1988 foi

inovadora ao contemplar mecanismos de democracia participativa

complementando os mecanismos da democracia representativa todavia

essa ainda natildeo ocorreu em niacutevel satisfatoacuterio e efetivo Desde 1996 todos

os estados brasileiros contam com poliacuteticas ambientais estaduais e

oacutergatildeos responsaacuteveis pela sua implementaccedilatildeo Os municiacutepios caminham

devagar 117 contam com algum oacutergatildeo para tratar do meio ambiente e

213 possuem Conselho Municipal de Meio Ambiente (SCARDUA BURSZTYN 2003)

Outro ponto tratado na Constituiccedilatildeo de 1988 que diz respeito agrave

atividade mineradora eacute a Compensaccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo de

Recursos Minerais (CFEM) O valor da CFEM eacute aplicado sobre o

97

faturamento liacutequido e varia de acordo com a substacircncia mineral Para o

carvatildeo aplica-se a aliacutequota de 2 O valor eacute pago mensalmente e 12

dele vai para a Uniatildeo 23 para o Estado e 65 para o municiacutepio

produtor Os recursos devem ser aplicados em projetos que direta ou

indiretamente melhorem a infra-estrutura qualidade ambiental sauacutede e

educaccedilatildeo da comunidade local (DNPM 2013) Um desafio colocado por

algumas pesquisas eacute o uso adequado da CFEM pela gestatildeo puacuteblica jaacute

que natildeo haacute uma regulamentaccedilatildeo legal para o uso do recurso (AARAtildeO

2011 ENRIacuteQUEZ 2007)

No Governo Fernando Henrique Cardoso foi aprovado o Decreto

nordm 3371 de 24 de fevereiro de 2000 que instituiu o Programa

Prioritaacuterio de Termeletricidade (BRASIL 2000) Com o apagatildeo de 2001

ressurgiu a ideia de que a seguranccedila energeacutetica do paiacutes estaria garantida

com a construccedilatildeo de mais usinas termeleacutetricas (GOLDENBERG

2012a)

Em 2010 comeccedilou a ser articulado um novo marco regulatoacuterio

para a mineraccedilatildeo no Brasil sendo lanccedilado o Projeto de Lei (PL) em

junho de 2013 Em 2014 o Congresso analisaraacute o PL 58072013

(BRASIL 2013a) fruto da Frente Parlamentar da Mineraccedilatildeo Brasileira

da qual fazem parte Celso Maldaner (PMDB) Deacutecio Lima (PT)

Jorginho Mello (Partido da Repuacuteblica - PR) Onofre Santo Agostini

(Partido Social Democraacutetico - PSD) todos eleitos por Santa Catarina

(BRASIL 2013b)

Um dos pontos polecircmicos eacute a regulamentaccedilatildeo da mineraccedilatildeo em

terras indiacutegenas quilombolas e ribeirinhas questatildeo que se situa na

interface entre direitos ambientais e direitos humanos A Constituiccedilatildeo de

1891 vinculava a propriedade do subsolo agrave do solo sendo alterada pela

Constituiccedilatildeo de 1934 ateacute os dias atuais permanecendo a natildeo existecircncia

de viacutenculo entre propriedade do solo e subsolo que pertence agrave Uniatildeo

Todavia conveacutem ressaltar que apesar do domiacutenio puacuteblico dos recursos

minerais eacute possiacutevel a apropriaccedilatildeo privada mediante concessatildeo

(BRASIL MME 2013) A principal criacutetica do novo marco regulatoacuterio eacute

a de que ldquoeacute necessaacuterio reafirmar que o lsquopuacuteblicorsquo e a lsquonaccedilatildeorsquo vivem e

ocorrem sobre o solo e natildeo no subsolo Dessa forma eacute o uso do solo que

deve definir a possibilidade da exploraccedilatildeo do subsolo e natildeo o contraacuteriordquo

(MILANEZ 2012 p 82)

O crescimento da consciecircncia ambiental relaciona-se agrave discussatildeo

histoacuterica sobre direitos humanos e do exerciacutecio desigual de direitos O

movimento ambientalista eacute fruto dessa tradiccedilatildeo de lutas por direitos

98

individuais e coletivos (GONCcedilALVES 1992) Todavia o desafio eacute

superar a visatildeo de que o natildeo-humano eacute de interesse apenas na medida

em que afeta os seres humanos A democracia a justiccedila social e os

direitos humanos satildeo condiccedilatildeo importante para enfrentar a crise mas

natildeo satildeo suficientes Eacute preciso superar tambeacutem o antropocentrismo

caminhando da justiccedila ambiental para a justiccedila ecoloacutegica (DELUCA

2007)

35 ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO

Nesta seccedilatildeo satildeo destacados os envolvidos na gestatildeo do carvatildeo

mineral no Brasil que atuam numa escala mais ampla que a estadual Os

envolvidos na gestatildeo de recursos comuns de Santa Catarina sediados no

estado seratildeo destacados no capiacutetulo quatro Os que foram aqui citados

aparecem nos documentos consultados Dessa forma conveacutem ressaltar

que pode haver outros envolvidos que natildeo estejam citados nesse

capiacutetulo

351 Segmentos poliacuteticos

A atual presidente da repuacuteblica Dilma Rousseff eleita pelo PT

tem mandato de 2011 a 2014 Em sua campanha mais de 90 da receita

foi proveniente de doaccedilotildees ao Comitecirc Financeiro Nacional Do total de

R$ 137 milhotildees e meio o setor mineral contribuiu com 10 desse

valor A Tractebel empresa geradora de energia eleacutetrica doou um

milhatildeo de reais para o Comitecirc Financeiro Nacional para Presidente da

Repuacuteblica do PT o que correspondeu a 07 da receita (OLIVEIRA

2013 TSE 2013) Do setor carboniacutefero natildeo foram identificadas

doaccedilotildees

O Ministeacuterio das Minas e Energia (MME) eacute chave tambeacutem no

processo de gestatildeo Ele foi criado em 1960 e tem como competecircncias a

formulaccedilatildeo e supervisatildeo das poliacuteticas puacuteblicas nos seguintes segmentos geologia recursos minerais e energeacuteticos aproveitamento da energia

hidraacuteulica mineraccedilatildeo e metalurgia e petroacuteleo combustiacutevel e energia

eleacutetrica inclusive nuclear Tem como ministro Edison Lobatildeo e congrega

as secretarias de Petroacuteleo Gaacutes Natural e Combustiacuteveis Renovaacuteveis a

99

Secretaria de Energia Eleacutetrica a Secretaria de Planejamento e

Desenvolvimento Energeacutetico Estatildeo vinculados ao MME o

Departamento Nacional de Produccedilatildeo Mineral (DNPM) (Criado em

1934) a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM)

(Criada em 1969 e iniciando suas atividades em 1970) a ANEEL

(Criada em 1996) o Conselho Nacional de Poliacutetica Energeacutetica (CNPE)

(Criado em 1997)

No Brasil apesar de haverem espaccedilos institucionais o debate

sobre a poliacutetica energeacutetica permanece restrito O Conselho Nacional de

Poliacutetica Energeacutetica (CNPE) criado em 1997 e regulamentado em 2000

eacute um oacutergatildeo de assessoramento da Presidecircncia da Repuacuteblica Ele tem em

sua composiccedilatildeo sete Ministros um representante dos estados e do

Distrito Federal um cidadatildeo brasileiro especialista em energia

designado pelo Presidente da Repuacuteblica e um representante de

universidade brasileira especialista em energia O CNPE eacute influente nos

rumos da poliacutetica energeacutetica nacional todavia pouco democraacutetica em

sua composiccedilatildeo A ANEEL por sua vez ao inveacutes de ser autocircnoma e

independente estaacute formalmente vinculada ao MME como autarquia e

na praacutetica demostra subordinaccedilatildeo ao governo federal (BERMANN

2001)

O Ministeacuterio do Meio Ambiente (MMA) foi criado em 1992

tendo como missatildeo ldquopromover a adoccedilatildeo de princiacutepios e estrateacutegias para

o conhecimento a proteccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo do meio ambiente o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais a valorizaccedilatildeo dos serviccedilos ambientais

e a inserccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel na formulaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de forma transversal e

compartilhada participativa e democraacutetica em todos os niacuteveis e

instacircncias de governo e sociedaderdquo (MMA 2013) O CONAMA eacute o

oacutergatildeo consultivo e deliberativo do SISNAMA ambos criados em 1981

como instrumentos participativos da PNMA O CONAMA eacute o uacutenico

conselho com poder de legislar Os recursos naturais renovaacuteveis ficam

sob a tutela do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renovaacuteveis (IBAMA) criado em 1989 vinculado

posteriormente ao MMA Jaacute os recursos natildeo renovaacuteveis ficam sob tutela

do MME

O Parlamento eacute composto pelos representantes eleitos pelo povo

Ele se divide entre o Senado Federal (Senadores) e a Cacircmara dos

Deputados (Deputados Federais) e exerce o poder legislativo e

fiscalizador no Congresso Nacional Atuam tambeacutem no Parlamento a

100

Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral criada em 2005

e a Frente Parlamentar da Mineraccedilatildeo Brasileira criada em 2011 As

relaccedilotildees entre o parlamento e os segmentos econocircmicos junto agrave questatildeo

do carvatildeo mineral satildeo analisadas no capiacutetulo cinco dessa tese

(OLIVEIRA 2013)

Jaacute o Ministeacuterio Puacuteblico tem autonomia na estrutura do Estado em

relaccedilatildeo ao executivo legislativo e judiciaacuterio Cabe ao Ministeacuterio Puacuteblico

a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico dos interesses

sociais e dos interesses individuais indisponiacuteveis O Ministeacuterio Puacuteblico

da Uniatildeo divide-se em Ministeacuterio Puacuteblico Federal e os Ministeacuterios

Puacuteblicos de cada Estado da Federaccedilatildeo (BRASIL 1993 MPSC 2013)

Os segmentos poliacuteticos aqui apresentados atuam com limitaccedilotildees

mas tambeacutem oferecem brechas A sociedade deveria aproveitaacute-las para

debater os rumos da poliacutetica energeacutetica e as opccedilotildees de desenvolvimento

Contudo o contexto de energia privada e de consequente concentraccedilatildeo

de poder econocircmico se mostra prejudicial agraves questotildees ecoloacutegicas e

democraacuteticas (BERMANN 2001)

352 Segmentos econocircmicos

Os segmentos econocircmicos estatildeo organizados em associaccedilotildees

empresariais e mistas O Instituto Brasileiro de Mineraccedilatildeo (IBRAM) foi

criado em 1976 eacute uma associaccedilatildeo privada sem fins lucrativos que tem

por objetivo congregar representar promover e divulgar a induacutestria

mineral brasileira contribuindo para a sua competitividade nacional e

internacional A mineraccedilatildeo tambeacutem conta com o Consoacutercio Alumar

inaugurado em 1984 eacute um dos maiores complexos de produccedilatildeo de

alumiacutenio do mundo localiza-se no Maranhatildeo e eacute formado pelas

empresas Alcoa BHP Biliton e Rio Tinto Alcan

Os segmentos econocircmicos ligados ao carvatildeo mineral organizam-

se junto ao Sindicato Nacional da Induacutestria de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

(SNIEC) e a Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo Mineral (ABCM) O

SNIEC foi criado em 1989 em Santa Catarina reuacutene as empresas de

mineraccedilatildeo A ABCM foi constituiacuteda em 2006 e reuacutene agentes da cadeia

produtiva do carvatildeo mineradoras geradoras e transportadores O

principal objetivo da Associaccedilatildeo eacute integrar a cadeia produtiva visando o

desenvolvimento sustentaacutevel Conta com 20 empresas associadas

101

Como o tema de tese relaciona-se com a geraccedilatildeo de energia

eleacutetrica conveacutem ressaltar o papel da Cacircmara de Comercializaccedilatildeo de

Energia Eleacutetrica (CCEE) A CCEE foi criada em 2004 ela viabiliza a

compra e venda de energia em todo o paiacutes Ela reuacutene empresas de

geraccedilatildeo de serviccedilo puacuteblico produtores independentes autoprodutores

distribuidoras comercializadoras importadoras e exportadoras de

energia aleacutem de consumidores livres e especiais de todo o paiacutes

Existem empresas e cooperativas bastante influentes a niacutevel

nacional

- A Tractebel do grupo franco-belga GDF-Suez eacute a segunda

maior geradora de energia eleacutetrica privada do Brasil e maior produtora

independente de energia do mundo

- A CITIC Group estatal Chinesa eacute parceira da Eletrobraacutes no

acordo promulgado pelo Decreto nordm 6009 de 3 de janeiro de 2007

(BRASIL 2007)

- A Alunorte Alumina do Norte do Brasil SA criada em 1973

num acordo entre Brasil e Japatildeo pertencia a Vale e localiza-se no estado

do Paraacute A Vale foi privatizada em 1997 e em 2011 negociou as accedilotildees

da Alunorte com a Norsk Hydro ASA

- A ENEVA antiga MPX tendo como principais acionistas a

empresa alematilde EON com 362 e o empresaacuterio brasileiro Eike Batista

com 285 Eacute a maior geradora de energia eleacutetrica privada do Brasil

- A Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica

(CGTEE) constituiacuteda em 1997 pela Uniatildeo tornou-se uma empresa do

Sistema Eletrobraacutes em 2000 Em 2009 assinou um contrato com as

empresas Alstom Power Systems SA ndash France e com a Alstom Brasil

Energia e Transporte Ltda para recuperaccedilatildeo de caldeiras

- A estatal Companhia Paranaense de Energia (COPEL) foi criada

em 1954 abrindo seu capital em abril de 1994

- A Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) eacute uma empresa

puacuteblica criada em 2004 e tem por finalidade prestar serviccedilos na aacuterea de

estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energeacutetico

Destaca-se nas empresas citadas um nuacutemero consideraacutevel de

empresas estrangeiras Conveacutem ressaltar aqui que as mineradoras

102

beneficiadoras e transportadoras natildeo constam nesse item por terem

influecircncia principalmente nos estados e regiotildees produtoras

353 Segmentos sociais

Os trabalhadores do setor mineral encontram-se organizados na

Associaccedilatildeo Nacional de Servidores do Departamento Nacional de

Produccedilatildeo Mineral (ANSDNPM) nos Sindicatos Metabase dentre

outros Jaacute os trabalhadores ligados ao carvatildeo mineral natildeo contam com

uma associaccedilatildeo especiacutefica em niacutevel nacional mas estatildeo organizados em

sindicatos estaduais A posiccedilatildeo dos trabalhadores em relaccedilatildeo ao carvatildeo

mineral eacute de apoio atuando em parceria com os segmentos econocircmicos

O que estaacute em jogo para os trabalhadores eacute a manutenccedilatildeo dos postos de

trabalho e seu sustento (MILANEZ et al 2013)

Os afetadosatingidosameaccedilados enfrentam dificuldades de

vaacuterias ordens no acesso agrave informaccedilatildeo falta de conhecimento teacutecnico-

cientiacutefico espaccedilo de debate restrito etc Na maioria das vezes as

decisotildees sobre empreendimentos de geraccedilatildeo de energia satildeo alimentadas

pela siacutendrome do ldquoapagatildeordquo e os direitos das populaccedilotildees atingidas

parecem ferir o ldquodireitordquo da maioria que precisa de energia

(BERMANN 2001) Mas apesar de todas as dificuldades os

afetadosatingidosameaccedilados pelo setor da mineraccedilatildeo se organizam em

frentes de defesa apoiadas por vaacuterias entidades sediadas em vaacuterias

escalas do local ao global Somam-se aiacute entidades religiosas sindicais

movimentos ambientais movimentos em defesa dos direitos humanos

movimentos indiacutegenas dentre outros Em 2012 surgiu o Movimento

Popular frente agrave Mineraccedilatildeo (MAM) e em 2013 surgiu o Comitecirc

Nacional em Defesa dos Territoacuterios Frente agrave Mineraccedilatildeo Faz parte do

Comitecirc a Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para a Assistecircncia Social e Educacional

(FASE) que atua desde 1961 pela democracia o Instituto de Estudos

Socioeconocircmicos (INESC) criado em 1979 e tem como principal frente

agrave questatildeo da cidadania a Conferecircncia Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB) o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) a

Articulaccedilatildeo dos Povos Indiacutegenas do Brasil (APIB) o Instituto Brasileiro de Anaacutelises Sociais e Econocircmicas (IBASE) entre outros (OLIVEIRA

2013) No caso especiacutefico do carvatildeo mineral natildeo haacute um movimento

popular ou comitecirc em acircmbito nacional embora tenha relaccedilatildeo com o

movimento e comitecirc acima referidos

103

As ONGs e representantes da comunidade acadecircmica tecircm um

papel de parceria com esses movimentos Vaacuterias publicaccedilotildees

demonstram a preocupaccedilatildeo com a questatildeo do carvatildeo mineral o

Greenpeace reprova o chamado ldquocarvatildeo limpordquo e os investimentos feitos

nesse setor (YAMAOKA et al 2013) Amigos da Terra Brasil publicou

Carvatildeo combustiacutevel de ontem com dados atualizados sobre os impactos

do carvatildeo mineral no Brasil (MONTEIRO 2008) A FASE apoiada

pela Fundaccedilatildeo Ford e pela Heinrich Boumlll Stiftung publicou em 2012 o

livro Novo marco legal da mineraccedilatildeo no Brasil Para quecirc Para

Quem (MARLERBA 2012) O IBASE com o apoio da Fundaccedilatildeo Ford

lanccedilou em 2013 Quem eacute quem nas discussotildees do novo coacutedigo da mineraccedilatildeo (OLIVEIRA 2013) Com um caraacuteter mais articulador

aparece o Foacuterum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) desde 1990 e a Rede

Brasileira de Justiccedila Ambiental a partir de 2001

Os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais natildeo tecircm um

posicionamento homogecircneo em relaccedilatildeo a criacutetica ou continuidade da

exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral diferente da posiccedilatildeo dos segmentos

econocircmicos todos contam com contradiccedilotildees internas e externas As

relaccedilotildees estabelecidas nos segmentos e os diferentes posicionamentos de

segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais seratildeo examinados ao longo

dos proacuteximos capiacutetulos

36 SITUACcedilAtildeO ATUAL E DESAFIOS

O objetivo do capiacutetulo foi o de tratar a gestatildeo de recursos

comuns colocando ecircnfase no carvatildeo mineral Pela importacircncia

geopoliacutetica e econocircmica os recursos natildeo renovaacuteveis satildeo de competecircncia

do Ministeacuterio das Minas e Energia mesmo apoacutes a criaccedilatildeo do Ministeacuterio

do Meio Ambiente Dessa forma se a gestatildeo dos recursos naturais no

Brasil se pautou durante um longo periacuteodo pela preservaccedilatildeo e pela

conservaccedilatildeo os recursos naturais natildeo renovaacuteveis natildeo participaram desse

movimento A apropriaccedilatildeo e uso dos recursos naturais natildeo renovaacuteveis

passaram ao largo da regulaccedilatildeo dos recursos comuns

O segmento do carvatildeo mineral aleacutem da preocupaccedilatildeo com os

impactos socioambientais sofreu na deacutecada de 1990 com o corte dos

subsiacutedios e reorientou sua produccedilatildeo para a geraccedilatildeo de energia

termeleacutetrica Tambeacutem na geraccedilatildeo de energia eleacutetrica os novos

104

empreendimentos movidos a carvatildeo mineral passaram por um periacuteodo

sem entrar nos leilotildees de energia sendo incluiacutedos novamente em 2013

A inclusatildeo do carvatildeo mineral nos leilotildees e a reforma do Coacutedigo

de Mineraccedilatildeo demonstram a forte articulaccedilatildeo entre parte dos segmentos

poliacuteticos e econocircmicos Os segmentos sociais tecircm aiacute um grande desafio

Uma possibilidade jaacute explorada pelo movimento ambiental eacute a

interface entre direitos ambientais e direitos humanos Eacute preciso cada

vez mais politizar o tema da mineraccedilatildeo do carvatildeo mineral e da energia

Mineraccedilatildeo por quecirc Como Para quem Energia por quecirc Como Para

quem Natildeo existem respostas uacutenicas mas se parte dos segmentos

poliacuteticos e econocircmicos fazem valer seus interesses como ficam os

interesses dos segmentos sociais

Com a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente atraveacutes da avaliaccedilatildeo

de impacto ambiental e a Constituiccedilatildeo de 1988 surgiram novos espaccedilos

de participaccedilatildeo vistos como uma grande conquista pelo movimento

ambiental Um ponto chave para a questatildeo ambiental eacute o avanccedilo das

praacuteticas democraacuteticas E o campo de lutas por direitos envolve todas as

escalas

No Quadro 5 a seguir foi feita uma siacutentese dos principais

aspectos tratados ao longo do capiacutetulo que favorecem e questionam a

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral

Quadro 5 - Siacutentese dos pontos que favorecem e questionam a

amplicaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo

mineral por macro variaacutevel

MACRO

VARIAacuteVEIS

ASPECTOS QUE

FAVORECEM A

AMPLIACcedilAtildeO

ASPECTOS QUE

QUESTIONAM A

AMPLIACcedilAtildeO

Dinacircmicas de

desenvolvimento

- Papel central do Estado

em assegurar os interesses

privados na gestatildeo de

recursos comuns e na

poliacutetica energeacutetica

- Fragmentaccedilatildeo da gestatildeo

de recursos comuns os

recursos renovaacuteveis satildeo da

competecircncia do MMA e os

recursos natildeo renovaacuteveis satildeo

da competecircncia do MME

- Discussatildeo mundial sobre

mudanccedila ambiental global

- Brasil como fornecedor

de commodities minerais

energeacuteticas e agriacutecolas e

- Atuaccedilatildeo do movimento

ambiental

105

- Privatizaccedilatildeo do setor

eleacutetrico

- subsiacutedios aos combustiacuteveis

foacutesseis

- Matriz energeacutetica

brasileira considerada limpa

em relaccedilatildeo a outros paiacuteses

justifica a ampliaccedilatildeo do uso

de combustiacuteveis foacutesseis e

- Visatildeo do planejamento

energeacutetico eacute aumentar a

oferta de energia eleacutetrica

Atributos fiacutesicos

e tecnoloacutegicos

- Disponibilidade do

recurso

- Evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

- Neutralidade ldquodardquo e

confianccedila ldquonardquo tecnologia

- Ecircnfase na produccedilatildeo e natildeo

na eficiecircncia energeacutetica

- O Brasil natildeo tem uma

cultura do carvatildeo mineral a

atividade estaacute restrita ao sul

do paiacutes

- Mineraccedilatildeo impede outros

usos do solo

- Evoluccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo

garante minimizaccedilatildeo dos

impactos socioambientais

- Escolhas teacutecnicas satildeo

escolhas poliacuteticas natildeo satildeo

neutras

- Necessidade de aumento

da eficiecircncia energeacutetica

Regras em uso - Desregulamentaccedilatildeo e

flexibilizaccedilatildeo das leis

(Coacutedigo de Mineraccedilatildeo)

- A CFEM faz com que o

governo em todos os seus

niacuteveis administrativos

ganhe com a exploraccedilatildeo

mineral

- Participaccedilatildeo tutelada

- Avanccedilo nas leis

(Exigecircncia da AIA nos

licenciamentos)

- Ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo via audiecircncia

puacuteblica accedilatildeo civil puacuteblica

etc

- Relaccedilatildeo entre direitos

ambientais e direitos

humanos

Arena de accedilatildeo

(Caracterizaccedilatildeo

dos envolvidos

na gestatildeo)

- Parte dos segmentos

poliacuteticos tecircm parcerias com

os segmentos econocircmicos

atraveacutes de doaccedilotildees de

campanha e atraveacutes da

atuaccedilatildeo de parlamentares na

Frente Parlamentar Mista

em Defesa do Carvatildeo

Mineral

- Parte dos segmentos

poliacuteticos possuem

instacircncias participativas e

destaca-se tambeacutem a

atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico

- Os segmentos sociais

exceto o movimento

sindical estatildeo organizados

106

- Os segmentos econocircmicos

estatildeo organizados de vaacuterias

formas (sindicato

associaccedilatildeo instituto

cacircmara consoacutercio) e as

empresas exceto a COPEL

e a EPE satildeo

majoritariamente de capital

estrangeiro

- Nos segmentos sociais

destaca-se o apoio dos

sindicatos agrave causa do carvatildeo

mineral

e atuantes no

questionamento da

ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica movida a

carvatildeo mineral

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na macro variaacutevel arena de accedilatildeo a variaacutevel da democracia

apresenta limites relacionadas aos problemas da democracia

representativa e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo aos espaccedilos existentes Nas

oportunidades destacam-se a organizaccedilatildeo dos segmentos sociais (no

MAM e no Comitecirc Nacional em Defesa dos Territoacuterios Frente agrave

Mineraccedilatildeo) nas redes que unem ONGs academia e

afetadosatingidosameaccedilados e as publicaccedilotildees (Quadro 6)

Quadro 6 ndash Limites e oportunidades do sistema democraacutetico no

Brasil VARIAacuteVEL LIMITES OPORTUNIDADES

Fortalecimento do

sistema

democraacutetico

- Democracia

representativa

- Reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo aos

espaccedilos existentes

- Organizaccedilatildeo dos Segmentos

sociais

- Redes unindo ONGs

academia e

afetadosatingidos

ameaccedilados

- Publicaccedilotildees

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Se a aprendizagem social adaptativa eacute chave nesse processo para

que ela ocorra defende-se a hipoacutetese de que o fortalecimento do sistema

democraacutetico se faz necessaacuterio A compreensatildeo da ampliaccedilatildeo da energia

107

termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral aleacutem das evidecircncias descritas

nesse capiacutetulo depende tambeacutem da investigaccedilatildeo dos processos do

ponto de vista do exerciacutecio da democracia em todas as escalas espaciais

e entre os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais A questatildeo passa

pelo modo como os recursos satildeo explorados mas coloca tambeacutem em

questatildeo os objetivos e a direccedilatildeo do desenvolvimento (MELUCCI

2001)

4 CARVAtildeO MINERAL EM SANTA CATARINA

Eacute o duplo resultado da extraccedilatildeo do carvatildeo bens e

riquezas de um lado pirita e restos de homens de

outro (VOLPATO 1984 p 16)

A gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina foi marcada pela

apropriaccedilatildeo privada dos recursos e seu uso serviu principalmente ao

crescimento econocircmico As poliacuteticas ambientais por sua vez foram

condicionadas e limitadas pelos interesses poliacuteticos e econocircmicos e o

oacutergatildeo responsaacutevel a FATMA adotou uma postura de defesa das causas

ambientais sem desestruturar o crescimento econocircmico Nesse contexto

o discurso do carvatildeo foi habilmente sustentado do ponto de vista

material cultural psicoloacutegico e simboacutelico (CAROLA 2004)

O segmento do carvatildeo mineral alternou desde as primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX periacuteodos de crescimento e periacuteodos de crise Os

periacuteodos de crescimento amparados por incentivos do governo federal

e os momentos de crise associados a momentos de crise na esfera

governamental Isso levou os segmentos econocircmicos da regiatildeo sul

catarinense a se articularem cada vez mais com os segmentos poliacuteticos

visando a proteccedilatildeo do segmento e a continuidade da mineraccedilatildeo do

carvatildeo no Sul de Santa Catarina Uma das estrateacutegias mais recentes eacute a

construccedilatildeo da USITESC

Cerca de 95 do carvatildeo mineral extraiacutedo na regiatildeo tem como

destino a geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica Se observados os dados sobre

geraccedilatildeo e consumo de energia eleacutetrica em Santa Catarina o estado natildeo eacute

autossuficiente Em 2012 o estado produziu 16963 Gigawatt-hora

(GWh) consumiu 21601 GWh O consumo industrial ficou em 9312

GWh 431 do total consumido no estado e o consumo residencial foi

de 4699 GWh 218 do total consumido (ANEEL 2014 EPE 2013)

O carvatildeo mineral foi responsaacutevel pelo equivalente a 35 da eletricidade

gerada em Santa Catarina (ALESC 2013)

Existem fortes argumentos para que a geraccedilatildeo de energia

termeleacutetrica se amplie contudo o histoacuterico de impactos socioambientais

poderia ser impeditivo Buscando aprofundar a reflexatildeo sobre os

argumento proacute e contra a ampliaccedilatildeo o objetivo deste capiacutetulo eacute tratar da

gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina com destaque agrave gestatildeo do

carvatildeo mineral considerando as macro variaacuteveis presentes no modelo de

110

anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns (HESS OSTROM 2005

OAKERSON 1992 POLSKI OSTROM 1992)

Inicialmente eacute apresentada uma breve siacutentese de como foi se

organizando a gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina tendo

como eixo central o oacutergatildeo responsaacutevel pelas questotildees ambientais no

estado a FATMA Na sequecircncia as seccedilotildees contextualizam o carvatildeo

mineral na trajetoacuteria de desenvolvimento do Sul de Santa Catarina e

tratam das mudanccedilas ocorridas na extraccedilatildeo do carvatildeo mineral bem

como de seus impactos na regiatildeo Satildeo ainda discutidas as regras em uso

incorporando as alteraccedilotildees recentes do Coacutedigo Estadual do Meio

Ambiente de Santa Catarina e eacute feita uma breve caracterizaccedilatildeo da arena

de accedilatildeo com uma descriccedilatildeo dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais envolvidos na gestatildeo do recurso A forma como a gestatildeo de

recursos comuns se organiza em Santa Catarina revela aspectos

importantes para a compreensatildeo da ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica

bem como aspectos que ldquocoloquem em chequerdquo a continuidade da

atividade carboniacutefera

41 ldquoCombinandordquo crescimento econocircmico e proteccedilatildeo ambiental

Santa Catarina fez parte da histoacuteria do Brasil num primeiro

momento como territoacuterio de passagem para o gado gauacutecho e gerava

produtos primaacuterios para satisfazer as necessidades locais Na segunda

metade do seacuteculo XIX foram implantadas as primeiras induacutestrias do

estado A industrializaccedilatildeo catarinense teve em seu iniacutecio uma estreita

ligaccedilatildeo com os movimentos migratoacuterios da Alemanha e Itaacutelia jaacute que os

imigrantes tinham formaccedilatildeo intelectual e profissional e viveram a

modernizaccedilatildeo provocada pela Revoluccedilatildeo Industrial Destacaram-se

nesse periacuteodo a induacutestria tecircxtil alimentar e madeireira e o uso

energeacutetico do carvatildeo vegetal (THEIS 1988)

No final do seacuteculo XIX o estado ainda tinha uma economia

predominantemente agriacutecola e foram os produtos primaacuterios que

possibilitaram a geraccedilatildeo de capital para o investimento na induacutestria Na

histoacuteria de Santa Catarina dois marcos se destacaram na disputa pela

hegemonia na apropriaccedilatildeo dos recursos comuns o Genociacutedio Indiacutegena e

a Guerra do Contestado A desobstruccedilatildeo das aacutereas contestadas e

daquelas ocupadas pelos Carijoacute Xokleng e Kaingang foram

fundamentais para ampliar a apropriaccedilatildeo privada dos recursos naturais

111

(BORINELLI 1998) Aleacutem disso para sustentar o processo de

industrializaccedilatildeo em Santa Catarina no iniacutecio do seacuteculo XX ocorreu a

instalaccedilatildeo de pequenas usinas hidraacuteulicas e o aumento no uso do carvatildeo

mineral Na Primeira Guerra Mundial o carvatildeo mineral passou a ter

destaque possibilitando o surgimento da induacutestria carboniacutefera (THEIS

1988)

Ateacute a deacutecada de 1960 a regulaccedilatildeo dos recursos comuns foi

marcada pelo poder federal Todavia no campo econocircmico o estado

catarinense assumiu para si diversas funccedilotildees na promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico Data dessa eacutepoca a criaccedilatildeo do Banco

Estadual de Santa Catarina a Caixa Estadual de Santa Catarina do

Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina da

Universidade para o Desenvolvimento de Santa Catarina e a instalaccedilatildeo

de 46 escritoacuterios locais da Associaccedilatildeo de Creacutedito e Assistecircncia Rural de

Santa Catarina (ACARESC) e a Companhia Telefocircnica de Santa

Catarina (BORINELLI 1998) O sistema poliacutetico por sua vez teve um

predomiacutenio conservador relacionado principalmente com a dominaccedilatildeo

oligaacuterquica As lideranccedilas empresariais encontravam-se acomodadas nos

grandes partidos (CARREIRAtildeO 1990)

O crescimento econocircmico somado a uma regulaccedilatildeo dos recursos

naturais que privilegiava o acesso privado deu forma agrave crise ambiental

que teve lugar em Santa Catarina apoacutes a deacutecada de 1970 O consumo de

energia eleacutetrica com o processo de industrializaccedilatildeo catarinense

aumentou sensivelmente O consumo final de energia do setor industrial

ficou numa meacutedia de 60 O modelo de desenvolvimento

industrializante de Santa Catarina implicou natildeo apenas num elevado

consumo de energia mas tambeacutem numa exploraccedilatildeo inadequada da

natureza (THEIS 1988)

No Governo Konder Reis em 1975 foi criada a Secretaria de

Tecnologia e Meio Ambiente (SETMA) o Conselho Estadual de

Tecnologia e Meio ambiente (CETMA) e a FATMA na eacutepoca

Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Tecnologia e Meio Ambiente A FATMA esteve

vinculada a SETMA ateacute sua extinccedilatildeo em 1977 Para o Governo Konder

Reis a finalidade baacutesica da SETMA era ldquoservir numa primeira fase ao

desenvolvimento do Estadordquo Dentre as principais preocupaccedilotildees

ambientais estavam os serviccedilos de aacutegua e esgoto e contraditoriamente o

aumento da produccedilatildeo mineral e da oferta de madeira (BORINELLI

1998)

112

Todas as unidades de conservaccedilatildeo estaduais foram criadas no

periacuteodo de 1975 a 1983 sob a influecircncia direta de Raulino Reitz Parque

Estadual da Serra Tabuleiro (1975) Reserva Bioloacutegica Estadual de

Sassafraacutes (1977) Parque Estadual da Serra Furada e Reserva Bioloacutegica

da Canela Preta (1980) e Reserva Bioloacutegica Estadual de Aguaiacute (1983)

(BORINELLI 1998 MASSIGNAN 1995)

O primeiro secretaacuterio da SETMA foi Augusto Batista Pereira

empresaacuterio do setor carboniacutefero A preocupaccedilatildeo principal da SETMA no

primeiro ano foi de implantar uma Usina Sideruacutergica no Sul do Estado

Nessa eacutepoca foi construiacuteda a Usina Teacutermica Jorge Lacerda a Induacutestria

Carboquiacutemica Catarinense (ICC) e a proposta da Sideruacutergica

Catarinense Havia tambeacutem uma preocupaccedilatildeo com a poluiccedilatildeo industrial

com a balneabilidade e com os recursos hiacutedricos no geral (BORINELLI

1998 MASSIGNAN 1995)

Da segunda parte da deacutecada de 1970 ateacute meados da deacutecada de

1980 a agenda ambiental foi se ampliando passando a exigir da

FATMA respostas mais consistentes (BORINELLI 1998) O intervalo

de tempo compreendido entre 1979 a 1982 marcou o fim do periacuteodo de

maior crescimento econocircmico de Santa Catarina Durante o periacuteodo

conservador do Governo Estadual e no novo contexto democraacutetico a

poliacutetica ambiental sofreu um grande desgaste com a crise econocircmica e

fiscal

As forccedilas conservadoras continuaram atuantes com a eleiccedilatildeo de

Esperidiatildeo Amin para governador (1983-1987) e os problemas

ambientais continuaram divorciados de outras poliacuteticas setoriais

(econocircmicas de ciecircncia e tecnologia minerais) O licenciamento

ambiental entrou como atividade inovadora e a FATMA na condiccedilatildeo

de fundaccedilatildeo passava a imagem de independecircncia em relaccedilatildeo ao estado

o que na praacutetica natildeo acontecia e tornava difusa a responsabilidade sobre

a poliacutetica ambiental (BORINELLI 1998) Entre os anos de 1983 e 1987

o oacutergatildeo diretamente envolvido com o Planejamento Ambiental no

Estado de Santa Catarina era o Gabinete de Planejamento (GAPLAN)

(SDS 2014)

Mesmo sendo baseada na pequena propriedade rural Santa Catarina sofreu com o enfraquecimento da pequena produccedilatildeo rural

aumentando o ecircxodo rural e consequentemente os problemas urbanos

Em termos socioambientais intensificaram-se os processos de

degradaccedilatildeo ecossistecircmica mau uso do solo falta de saneamento

impacto do turismo nas zonas costeiras etc (VIEIRA CUNHA 2002)

113

A incapacidade de resolver a contento estas tensotildees inaugurava o

reconhecimento de uma crise ambiental em Santa Catarina e uma crise

institucional da FATMA Nos municiacutepios foram criados os Conselhos

Municipais de Defesa Ambiental (CONDEMA) oacutergatildeos consultivos de

assessoramento das Prefeituras Os membros do CONDEMA eram

escolhidos pelos Prefeitos Em 1983 foram criados trecircs escritoacuterios

regionais da FATMA em Joinville Chapecoacute e Joaccedilaba totalizando

quatro com o escritoacuterio de Criciuacutema criado em 1979 Apesar disso as

poliacuteticas ambientais continuaram condicionadas e limitadas pelos

interesses poliacuteticos e econocircmicos (BORINELLI 1998)

Na linha da natildeo responsabilizaccedilatildeo durante muito tempo os

empresaacuterios do segmento do carvatildeo mineral atuaram livremente na

regiatildeo Sul de Santa Catarina gerando o maior passivo ambiental do

estado Em 1983 a FATMA foi incumbida de licenciar e fiscalizar essa

atividade fazendo um acordo com as empresas que assumiram o

compromisso de instalar equipamentos e modificar processos visando a

diminuiccedilatildeo dos impactos Mesmo assim treze anos depois em 1996 o

diretor da FATMA veio a puacuteblico declarar que natildeo era possiacutevel

identificar os responsaacuteveis pelos impactos na regiatildeo e que a sociedade

pagaria o custo da recuperaccedilatildeo cerca de 70 milhotildees de doacutelares

(BORINELLI 1998)

Nos anos 1990 proliferaram denuncias de corrupccedilatildeo envolvendo

oacutergatildeos ambientais federais e estaduais em processos de licenciamento

apontando para a crise do Estado a fragilidade da democracia e dos

mecanismos de controle puacuteblico das instituiccedilotildees O aumento da procura

por licenciamento ambiental trouxe agrave FATMA uma posiccedilatildeo mais

influente entre os segmentos econocircmicos e poliacuteticos e aumentou

tambeacutem sua autonomia financeira atraveacutes dos licenciamentos

ambientais Apesar disso sua trajetoacuteria estaacute marcada por uma atuaccedilatildeo na

defesa das causas ambientais sem desestruturar o desenvolvimento

econocircmico (BORINELLI 2013 2007)

114

42 O sul catarinense uma trajetoacuteria marcada pelo carvatildeo mineral

A regiatildeo Sul Catarinense eacute formada por 46 municiacutepios agrupados

em trecircs microrregiotildees Araranguaacute8 Criciuacutema

9 e Tubaratildeo

10 Tem como

limites o Oceano Atlacircntico a Leste a mesorregiatildeo da Grande

Florianoacutepolis e Serrana no estado de Santa Catarina e a Mesorregiatildeo

Metropolitana de Porto Alegre e Nordeste Rio-Grandense no estado do

Rio Grande do Sul

Figura 7 ndash Mapa de localizaccedilatildeo da Bacia Carboniacutefera Santa

Catarina

Fonte Concepccedilatildeo de Luciana Butzke Elaborado por Ruy Lucas de

Souza

8 Municiacutepios Araranguaacute Balneaacuterio Arroio do Silva Balneaacuterio Gaivota Ermo

Jacinto Machado Maracajaacute Meleiro Morro Grande Passo de Torres Praia

Grande Santa Rosa do Sul Satildeo Joatildeo do Sul Sombrio Timbeacute do Sul e Turvo 9 Municiacutepios Balneaacuterio Rincatildeo Cocal do Sul Criciuacutema Forquilhinha Iccedilara

Lauro Muller Morro da Fumaccedila Nova Veneza Sideroacutepolis Treviso e

Urussanga 10

Municiacutepios Armazeacutem Braccedilo do Norte Capivari de Baixo Garopaba Gratildeo

Paraacute Gravatal Imaruiacute Imbituba Jaguaruna Lagura Orleans Pedras Grandes

Pescaria Brava Rio Fortuna Sangatildeo Santa Rosa de Lima Satildeo Ludgero Satildeo

Martinho Treze de Maio e Tubaratildeo

115

Os municiacutepios da regiatildeo se dividem em trecircs associaccedilotildees de

municiacutepios a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Extremo Sul Catarinense

(AMESC)11

a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera

(AMREC)12

e a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo de Laguna

(AMUREL)13

(FECAM 2014) (Figura 7) A regiatildeo possui tambeacutem

quatro Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDR) SDR de

Laguna SDR de Tubaratildeo SDR de Criciuacutema e SDR de Araranguaacute

(SANTA CATARINA 2014a)

Na aacuterea existem quatro feiccedilotildees geoloacutegicas as rochas

cristalinas e metamoacuterficas mais antigas do ldquoembasamento cristalinordquo a

sucessatildeo de rochas sedimentares gondwacircnicas que contecircm as camadas

de carvatildeo os derrames baacutesicos aacutecidos e intermediaacuterios da Formaccedilatildeo

Serra Geral e os sedimentos litoracircneos recentes (SCHEIBE 2000)

Na regiatildeo sul localizam-se duas regiotildees hidrograacuteficas

pertencentes agrave Vertente Atlacircntica a Regiatildeo Hidrograacutefica Sul

Catarinense que tem como bacias hidrograacuteficas a Bacia Hidrograacutefica do

Rio Tubaratildeo e a Bacia Hidrograacutefica do Rio drsquoUna contando com 5733

km2 e a Regiatildeo Hidrograacutefica do Extremo Sul Catarinense tendo como

bacias hidrograacuteficas a Bacia do Rio Urussanga a Bacia Hidrograacutefica do

Rio Araranguaacute e a Bacia Hidrograacutefica do Rio Mambituba contando com

5052 km2 (SANTA CATARINA 2006)

O relevo predominante eacute o forte ondulado e montanhoso com

ocorrecircncia de plano e suave ondulado na planiacutecie costeira Jaacute os solos

predominantes na Regiatildeo Hidrograacutefica Sul Catarinense satildeo os

mediamente profundos de origem graniacutetica pouco feacuterteis e aacutecidos

apresentando pedregosidade Na Regiatildeo Hidrograacutefica Extremo Sul

Catarinense predominam os solos mediamente profundos cascalhentos

11

Municiacutepios filiados Araranguaacute Balneaacuterio Arroio do Silva Balneaacuterio

Gaivota Ermo Jacinto Machado Maracajaacute Meleiro Morro Grande Passo de

Torres Praia Grande Santa Rosa do Sul Satildeo Joatildeo do Sul Sombrio Timbeacute do

Sul e Turvo 12

Municiacutepios filiados Balneaacuterio Rincatildeo Cocal do Sul Criciuacutema Forquilhinha

Iccedilara Lauro Muller Morro da Fumaccedila Nova Veneza Orleans Sideroacutepolis

Treviso e Urussanga 13

Municiacutepios filiados Armazeacutem Braccedilo do Norte Capivari de Baixo Gratildeo

Paraacute Gravatal Imaruiacute Imbituba Jaguaruna Laguna Pedras Grandes Pescaria

Brava Rio Fortuna Sangatildeo Santa Rosa de Lima Satildeo Ludgero Satildeo Martinho

Treze de Maio e Tubaratildeo

116

com baixa fertilidade de origem graniacutetica e sedimentar (SANTA

CATARINA 2006)

Na regiatildeo predomina a Floresta Tropical Atlacircntica e a Vegetaccedilatildeo

Litoracircnea contando com trecircs Unidades de Conservaccedilatildeo estaduais o

Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (criado em 1975) o Parque

Estadual da Serra Furada (1980) e a Reserva Bioloacutegica Estadual do

Aguaiacute (1983) e duas Unidades de Conservaccedilatildeo Federais o Parque

Nacional de Satildeo Joaquim (1961) e a Aacuterea de Proteccedilatildeo Integral da Baleia

Franca (2000) (SANTA CATARINA 2006)

Em 2010 a regiatildeo contava com uma populaccedilatildeo de 906927

habitantes e uma densidade populacional de 944 habkm2 Em 2009 a

movimentaccedilatildeo econocircmica segundo a composiccedilatildeo do PIB foi de R$ 147

bilhotildees que equivale a 113 do PIB estadual ocupando a quinta

posiccedilatildeo no ranking estadual entre as nove macrorregiotildees (SEBRAE

2013a)

A ocupaccedilatildeo do sul do Brasil contou com a presenccedila de grupos

caccediladores-coletores (aproximadamente 8000 anos) pescadores-

coletores (6000 e 4000 anos) ceramistas TaquaraItarareacute e Guarani e

horticultores (1000 anos) (CAMPOS et al 2013) Em 1877 chegaram

os italianos seguidos de poloneses e alematildees Os primeiros nuacutecleos

coloniais foram Azambuja (1877) Urussanga (1878) Satildeo Joseacute de

Cresciuacutema (1880) Cocal (1885) Nova Veneza (1890) Nova Belluno

(1891) dentre outros As lavras de carvatildeo surgiram em Santa Catarina

no final do seacuteculo XIX por iniciativa de uma empresa britacircnica Ateacute

entatildeo a economia da regiatildeo era agriacutecola A transformaccedilatildeo urbano-

industrial foi estimulada pelo carvatildeo que vinculava-se a ideia de

progresso Eacute marcante a presenccedila do carvatildeo nos hinos das cidades

monumentos festas de Santa Baacuterbara (Protetora dos Mineiros) houve

uma fusatildeo entre a memoacuteria da imigraccedilatildeo e a memoacuteria do carvatildeo

(CAROLA 2004 GOULARTI FILHO LIVRAMENTO 2004a)

A Primeira Guerra Mundial marcou o aumento da produccedilatildeo do

carvatildeo mineral destacando-se a Companhia Carboniacutefera de Araranguaacute

(CBCA) (1917) a Companhia Carboniacutefera Urussanga (1918) e a

Companhia Carboniacutefera Proacutespera (1921) Em 1920 Santa Catarina jaacute contava com alguns elementos importantes para um complexo

carboniacutefero minas ferrovia e porto Em 1924 com a Lei nordm 4801

abordou-se pela primeira vez a possibilidade de construccedilatildeo de uma usina

sideruacutergica no estado Isso se concretizou em 1941 no Governo Getuacutelio

117

Vargas com a fundaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica Nacional (CSN)

(KOPPE COSTA 2008 MORAES 2003)

Nos periacuteodos referentes ao Plano de Metas (1956-1960) e Plano

Nacional do Desenvolvimento (1974 a 1978) o clima estava propiacutecio

para o aumento da produccedilatildeo do carvatildeo mineral No Plano de Metas

surgiu a Sociedade Termoeleacutetrica de Capivari SA (SOLTECA)

passando depois a se chamar Complexo Termoeleacutetrico Jorge Lacerda

constituiacuteda em 1957 entrou em operaccedilatildeo em 1965 No periacuteodo do Plano

Nacional do Desenvolvimento foi construiacuteda a ICC e o Complexo Jorge

Lacerda foi ampliado (KOPPE COSTA 2008 MORAES 2003)

O primeiro boom do setor foi na ocasiatildeo da Primeira Guerra

Mundial e depois durante a Segunda Guerra Mundial com a produccedilatildeo

aumentando em 300 Com o fim da Segunda Guerra o governo

acabou com as cotas e o setor entrou em crise A reaccedilatildeo do segmento do

carvatildeo mineral foi a ldquobatalha do carvatildeordquo14

e o governo reagiu criando a

CEPCAM e retornando agraves cotas Em 1973 com a crise do petroacuteleo o

setor passou novamente por um boom O auge da mineraccedilatildeo foi entre

1982 a 1985 No periacuteodo aacuteureo do carvatildeo poucas vozes denunciavam as

peacutessimas condiccedilotildees de trabalho tudo em nome do progresso pois o

carvatildeo mineral representava a consolidaccedilatildeo da induacutestria de base no

Brasil De 1970 em diante onze empresas pertencentes a empresaacuterios

locais passaram a explorar o carvatildeo mineral (CAROLA 2004

GOULARTI FILHO 2002)

Ateacute 1990 o Sul de Santa Catarina tinha a primazia em termos de

volume de produccedilatildeo nuacutemero e mecanizaccedilatildeo de minas trabalhadores

empregados e valores econocircmicos entrando em crise a partir daiacute com

sua desregulamentaccedilatildeo no Governo Collor O que precisa ser destacado

eacute que a crise da deacutecada de 1990 natildeo foi a ldquocrise do carvatildeordquo As

induacutestrias de ceracircmica vestuaacuterio e plaacutestico localizadas no Sul tambeacutem

sofreram com a recessatildeo de 1990 a 1992 (BEacuteRZIN 2005 GOULARTI

FILHO 2002 MORAES 2003)

A deacutecada de 1990 foi marcada pelo fechamento e desestatizaccedilatildeo

das induacutestrias do complexo carboniacutefero e eliminaccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais O lavador de Capivari foi fechado em 1992 a ICC

14

A ldquobatalha do carvatildeordquo compreende a adoccedilatildeo de estrateacutegias por parte dos

segmentos econocircmicos envolvidos com o carvatildeo mineral visando pressionar e

convencer o governo federal a apoiar a continuidade da atividade (CAROLA

2010)

118

passou para o controle da Petrobraacutes em 1993 A CSN foi privatizada em

1993 e a Companhia Proacutespera propriedade da CSN foi vendida para a

Nova Proacutespera A Ferrovia Teresa Cristina foi privatizada em 1996 e o

Complexo Jorge Lacerda em 1998 (BEacuteRZIN 2005 GOULARTI

FILHO 2002 MORAES 2003)

O setor carboniacutefero foi cedendo espaccedilo para a induacutestria de

revestimento ceracircmico de plaacutesticos e descartaacuteveis do vestuaacuterio de

calccedilados e metal-mecacircnica Em 1985 a atividade do carvatildeo era a que

mais empregava na regiatildeo sul com 10536 trabalhadores Em 2000

passou para a quinta posiccedilatildeo com 2752 trabalhadores empregados

(GOULARTI FILHO 2005) Em 2010 as atividades econocircmicas que

mais se destacaram foram Induacutestria de transformaccedilatildeo com 3395

estabelecimentos e 58652 trabalhadores seguida por serviccedilos com

16971 estabelecimentos e 47956 trabalhadores em terceiro Comeacutercio

com 7062 estabelecimentos e 34467 trabalhadores construccedilatildeo civil

com 828 estabelecimentos e 6641 trabalhadores induacutestria extrativa

mineral com 78 estabelecimentos e 4083 trabalhadores As atividades

que mais empregavam vestuaacuterio minerais natildeo metaacutelicos (ceracircmica)

alimentar e plaacutestico (FIESC 2012)

Em 2012 as mineradoras empregavam em Santa Catarina 4042

trabalhadores no Paranaacute 358 e no Rio Grande do Sul 734 trabalhadores

Jaacute o faturamento para o mesmo ano foi de R$ 49231200000 (Tabela 3)

(SATC 2012)

Tabela 3 - Faturamento do Segmento do Carvatildeo Mineral 2012

Estado Total (R$)

Paranaacute 2602336257

RG Sul 29354141523

S Catarina 49231200000

Total de R$ 81187677780

Fonte SATC (2012 p 11)

Jaacute a arrecadaccedilatildeo da CFEM para o ano de 2013 ficou em R$

358664403 contando os municiacutepios de Treviso (R$ 356903710)

Lauro Muller (R$ 1570791) e Urussanga (R$ 189902) para um total de R$ 18589306884 (DNPM 2014)

Aleacutem de ocupar o primeiro lugar em faturamento e na

arrecadaccedilatildeo da CFEM Santa Catarina tambeacutem ocupa o primeiro lugar

na produccedilatildeo de carvatildeo bruto considerando os trecircs estados do Sul do

Brasil conforme dados da Tabela 4

119

Tabela 4 - Produccedilatildeo de carvatildeo bruto (ROM) de 2009 a 2012

ESTADOS PRODUCcedilAtildeO ROM (t)

2009 2010 2011 2012

Santa Catarina 8208063 6278327 6570292 6097496

Rio Grande do Sul 4585050 5010779 5153199 5134217

Paranaacute 351930 293329 344161 315131

Brasil 13145043 11582435 12067652 11546844

SCBrasil () 6244 5421 5445 5281

Ranking de SC 1ordm 1ordm 1ordm 1ordm

Fonte Fiesc (2012 p 68) SATC (2012)

O segmento do carvatildeo mineral no Sul de Santa Catarina apesar

do destaque na produccedilatildeo do carvatildeo bruto teve ao longo dos uacuteltimos

anos sua participaccedilatildeo diminuiacuteda em nuacutemero de empregos Isso

demonstra uma maior diversificaccedilatildeo econocircmica e poderia representar a

possibilidade de reconversatildeo da atividade Contudo as accedilotildees do

segmento do carvatildeo mineral e dos segmentos poliacuteticos caminham para a

continuidade e ampliaccedilatildeo da atividade e natildeo para sua reconversatildeo

Um importante passo para o questionamento da atividade

carboniacutefera foi dado em 1993 O passivo ambiental resultante da

atividade carboniacutefera foi alvo de uma accedilatildeo civil puacuteblica (processo

938000533-4) Os reacuteus da accedilatildeo foram as empresas carboniacuteferas seus

diretores e soacutecios majoritaacuterios do Estado de Santa Catarina e da Uniatildeo

totalizando 24 reacuteus (MPF 2012)

A sentenccedila foi declarada em 05012000 tendo como resultado a

condenaccedilatildeo dos reacuteus A eles foi solicitado a elaboraccedilatildeo de ldquoum projeto

de recuperaccedilatildeo da regiatildeo que compotildee a Bacia Carboniacutefera do Sul do Estadordquo contemplando ldquoas aacutereas de depoacutesitos de rejeitos aacutereas

mineradas a ceacuteu aberto e minas abandonadas bem como o

desassoreamento fixaccedilatildeo de barrancas descontaminaccedilatildeo e retificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua aleacutem de outras obras que visem amenizar os danos

sofridos principalmente pela populaccedilatildeo dos municiacutepios-sede da extraccedilatildeo e do beneficiamentordquo (MPF 2012)

Apoacutes os acordos e imposiccedilotildees judiciais os passivos ambientais

foram distribuiacutedos de acordo com a responsabilidade das empresas

(Tabela 5)

120

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de passivos ambientais em relaccedilatildeo agraves

empresas

RESPONSAacuteVEL HECTARES

CSN 1336 26

Uniatildeo 1215 24

Rio Deserto 571 11

Catarinense 522 10

Criciuacutema 457 9

Cocalit 181 4

Outras empresas 807 16

Fonte MPF (2012)

As aacutereas terrestres a recuperar totalizam 5094 hectares em 217

diferentes aacutereas da Bacia Carboniacutefera O cronograma de recuperaccedilatildeo

compreende o periacuteodo de 2012 a 2020 e um total de 3726 hectares

(Tabela 6) (MPF 2012)

Tabela 6 - Cronograma de recuperaccedilatildeo dos passivos ambientais

Ano conclusatildeo Hectares a serem

recuperadas

Acumulado da

recuperaccedilatildeo

Obras jaacute concluiacutedas e assim

consideradas apoacutes vistorias

526 526

2012 1142 1667

2013 205 1872

2014 528 2400

2015 141 2542

2016 560 3102

2017 84 3186

2018 71 3257

2019 382 3639

2020 87 3726

3726

Fonte MPF (2012)

121

Os 1365 hectares restantes natildeo dispotildeem de cronogramas

definidos e representam aacutereas cuja recuperaccedilatildeo eacute de incumbecircncia da

Uniatildeo (89 deles) (MPF 2012)

A trajetoacuteria do Sul eacute marcada pelo carvatildeo mineral mas para aleacutem

da ldquocultura do carvatildeordquo nascem possibilidades ligadas agrave diversificaccedilatildeo

econocircmica que rompem com a dependecircncia econocircmica do carvatildeo

43 Da extraccedilatildeo manual agrave mecanizaccedilatildeo das minas

A mecanizaccedilatildeo das minas comeccedilou na deacutecada de 1970 e com

ela o fim do ldquovelho mineirordquo que dominava todo o processo de

produccedilatildeo Com a mecanizaccedilatildeo iniciou-se a divisatildeo teacutecnica do trabalho e

aumentou a poluiccedilatildeo Na extraccedilatildeo manual do carvatildeo a pneumoconiose

afetava 5 a 8 passando a 10 a 12 com a mecanizaccedilatildeo das minas

Somadas a pneumoconiose bronquites crocircnicas doenccedilas de pele e

ansiedade (CHOINACKI 1992) A tecnologia dessa forma foi ldquo()

implantada na induacutestria natildeo como serva dos trabalhadores mas como

instrumento que tecircm como fim a acumulaccedilatildeo de capitalrdquo (VOLPATO

1984 p 43)

Volpato (2001) destaca trecircs momentos distintos um primeiro

momento que compreende o periacuteodo de 1913 a 1976 no qual a extraccedilatildeo

de carvatildeo era artesanal sem agregar maiores recursos tecnoloacutegicos um

segundo periacuteodo de 1976 a 1981 no qual procurou-se agregar recursos

tecnoloacutegicos para aumentar a produccedilatildeo e um terceiro periacuteodo de 1981 a

1988 no qual verificaram-se os malefiacutecios da tecnologia para o meio

ambiente sauacutede e seguranccedila do trabalhador ldquoAos poucos os operadores

foram sentindo alguns efeitos prejudiciais das novas maacutequinas - A

desagregaccedilatildeo das praacuteticas nas frentes de trabalho pela agilidade e

domiacutenio da maacutequina sobre o processordquo (VOLPATO 2001 p 34)

A mecanizaccedilatildeo por um lado facilitou as praacuteticas de trabalho

poupando a forccedila fiacutesica do mineiro mas por outro com a intensificaccedilatildeo do processo aumentaram os impactos na sauacutede do trabalhador e no meio

ambiente A pneumoconiose natildeo era reconhecida como doenccedila

profissional o que fazia com que os mineiros escondessem os sintomas

e prejudicassem ainda mais sua sauacutede (VOLPATO 2001) Aleacutem das

doenccedilas pulmonares acontecem tambeacutem acidentes de trabalho Em

122

outubro de 2013 os mineiros fizeram uma paralisaccedilatildeo apoacutes a morte de

um colega na mina Fontanella em Treviso Foi o segundo acidente com

morte em menos de trecircs meses e o nono nos uacuteltimos cinco anos (G1SC

2013)

44 Regras em uso

Em grande medida as leis estaduais se articulam agraves leis federais

Nessa seccedilatildeo satildeo apresentados alguns casos em que a lei estadual difere

da lei federal Um primeiro exemplo eacute o Projeto de Lei nordm 026632005

de autoria do Deputado Estadual Julio Garcia que entrou em tramitaccedilatildeo

em 2005 O Projeto defendia a dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental e Relatoacuterio de Impacto Ambiental para a atividade de

pequeno porte de extraccedilatildeo de carvatildeo mineral em aacutereas de ateacute dois

hectares e meio Para tanto contava com a seguinte fundamentaccedilatildeo

O art 12 sectsect 1ordm a 3ordm da Resoluccedilatildeo CONAMA n

237 de 19 de dezembro 1997 permite que o

oacutergatildeo ambiental competente no caso a FATMA

se necessaacuterio estabeleccedila procedimentos

especiacuteficos e simplificados para o licenciamento

de atividades cujas caracteriacutesticas e peculiaridades

importem em pequeno potencial de impacto

ambiental ou ainda o licenciamento uacutenico e

simplificado para atividades integrantes de planos

e programas voluntaacuterios de gestatildeo ambiental

(SANTA CATARINA 2005 p 2)

Como os impactos do carvatildeo foram considerados de ldquopequeno

potencialrdquo pelos membros da Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina

(ALESC) o Projeto de Lei foi transformado na Lei nordm 18052 de 26 de

janeiro de 2007 (SANTA CATARINA 2007)

Outro exemplo foi a assinatura do Decreto em 2013 que reduziu

o Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadoria (ICMS) de 25 para 3 na

venda de energia eleacutetrica para novos empreendimentos beneficiando

principalmente as termeleacutetricas a carvatildeo O Decreto tem como objetivo favorecer a competitividade do carvatildeo mineral catarinense nos proacuteximos

leilotildees de energia eleacutetrica A-5 (ALESC 2013)

Um uacuteltimo exemplo eacute o Coacutedigo Estadual do Meio Ambiente de

Santa Catarina que continua cercado de muitos pontos polecircmicos

123

(SALVADOR 2009 SANTOS 2014) No Coacutedigo aprovado em 2009 o

Governador em exerciacutecio Luiz Henrique da Silveira fez severas criacuteticas

ao Coacutedigo Ambiental Brasileiro que resulta de uma medida provisoacuteria

que ele chamou de ldquofilha bastarda dos Decretos-Lei da Ditadurardquo

(SILVEIRA 2009 p 9) concebido sem amplitude democraacutetica

Segundo ele o Coacutedigo Ambiental Catarinense levou cinco anos para ser

elaborado e envolveu debates e audiecircncias puacuteblicas

Nosso Coacutedigo foi alvo de poucas mas barulhentas

reaccedilotildees e incompreensotildees contraacuterias ao

desenvolvimento sustentaacutevel Houve quem

ameaccedilasse mandar prender os honestos e

indefesos agricultores que lavrassem suas terras a

menos de trinta metros da mata ciliar

(SILVEIRA 2009 p 9)

A alusatildeo aos agricultores se justifica na medida em que um dos

pontos mais polecircmicos do Coacutedigo eacute a reduccedilatildeo da mata ciliar de 30

metros como prevecirc o Coacutedigo Florestal para 5 metros em propriedades

de menos de cinco hectares

O Coacutedigo natildeo trata de forma especiacutefica o carvatildeo mineral mas

traz novidades em relaccedilatildeo a flexibilizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo do processo

de licenciamento A Seccedilatildeo II do Coacutedigo estabelece prazos para a

concessatildeo das licenccedilas trecircs meses para a LAP e nos casos em que

houver EIARIMA e audiecircncia puacuteblica o prazo seraacute de quatro meses

trecircs meses para a LI e dois meses para a LO Quanto aos prazos de

validade das licenccedilas cinco anos para a LP seis anos para a LI e de

quatro a dez anos para a LAO (SANTA CATARINA 2009b)

Em 2013 entrou em tramitaccedilatildeo o Projeto de Lei 030542013 que

trouxe mudanccedilas ao Coacutedigo Ambiental de Santa Catarina (SANTA

CATARINA 2013) O Projeto foi transformado na Lei nordm 16342 de 21

de janeiro de 2014 A principal mudanccedila eacute a possibilidade de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em aacuterea rural e urbana de edificaccedilotildees atividades

e demais formas de ocupaccedilatildeo em Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente

desde que aprovadas pelo Municiacutepio (SANTA CATARINA 2014b) Conveacutem ressaltar que a revisatildeo do Coacutedigo Ambiental de SC e a defesa

do carvatildeo mineral na produccedilatildeo termeleacutetrica foram as duas principais

bandeiras da Assembleia Legislativa de Santa Catarina em 2013

124

45 Envolvidos na gestatildeo

Na sequecircncia faz-se uma breve descriccedilatildeo dos envolvidos na

gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina lembrando que aparecem

aqui os envolvidos que constam nos documentos e publicaccedilotildees

consultadas

451 Segmentos poliacuteticos

O governador em exerciacutecio Raimundo Colombo investiu em sua

campanha de 2010 R$ 323669211 Natildeo houve nenhuma doaccedilatildeo de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral diretamente ao candidato Mas o

Comitecirc Financeiro Uacutenico do Democratas (DEM) que tambeacutem repassou

recursos ao candidato recebeu R$ 6000000 da Carboniacutefera Nossa

Senhora do Caravagio Ltda (TSE 2013) Jaacute os representantes eleitos se

dividem na Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina (Deputados

Estaduais) e nas Cacircmaras Municipais (Vereadores) As relaccedilotildees entre

carvatildeo mineral e poliacutetica seratildeo aprofundadas no proacuteximo capiacutetulo

A FATMA tambeacutem faz parte dos segmentos poliacuteticos Aleacutem do

seu papel descrito na seccedilatildeo 41 um outro ponto merece ser destacado

De 2000 ateacute 2014 periacuteodo que compreende o licenciamento da

USITESC passaram pela FATMA na funccedilatildeo de presidente Suzana

Maria Cordeiro Trebien Seacutergio Joseacute Grando Jacircnio Wagner Constante

Carlos L Kreuz Murilo Xavier Flores e Gean Loureiro Desses Seacutergio

Joseacute Grando recebeu na eleiccedilatildeo de 2006 quando concorreu a Deputado

Estadual R$ 200000 da Sul Catarinense Mineraccedilatildeo e R$ 3000000 da

Tractebel e Jean Marques Loureiro recebeu R$ 10000000 da

Tractebel quando concorreu a prefeito do municiacutepio de Florianoacutepolis

(TSE 2013)

Inclui-se tambeacutem nos segmentos poliacuteticos o Ministeacuterio Puacuteblico

Estadual que atua em parceria com o Ministeacuterio Puacuteblico Federal no

acompanhamento da accedilatildeo civil puacuteblica do carvatildeo (MPF 2012) e no

acompanhamento dos processos de licenciamento

452 Segmentos econocircmicos

Os segmentos econocircmicos se organizam no Sindicato da Induacutestria

da Extraccedilatildeo de Carvatildeo do Estado de Santa Catarina (SIESESC) criado

125

em 1989 em Criciuacutema e na Associaccedilatildeo Beneficente da Induacutestria

Carboniacutefera de Santa Catarina (SATC)15

As principais empresas que atuam no segmento tecircm origem na

proacutepria regiatildeo A Carboniacutefera Metropolitana SA iniciou suas atividades

em 1890 em Nova Veneza A empresa tem sede em Criciuacutema eacute

detentora das maiores reservas de carvatildeo mineral do paiacutes e explora trecircs

minas no municiacutepio de Treviso Outra empresa que atua na regiatildeo haacute

mais de noventa anos criada em 1918 eacute a Carboniacutefera Rio Deserto

Ltda administrada pela famiacutelia Zanette hoje na terceira geraccedilatildeo A

Carboniacutefera conta com minas nos municiacutepios de Lauro Muller Treviso

Criciuacutema e Iccedilara A Carboniacutefera Criciuacutema SA tecircm origem na fusatildeo da

Carboniacutefera Caeteacute Ltda e Carboniacutefera Cocal Ltda em 1943 Com sede

em Criciuacutema a carboniacutefera explora o carvatildeo no municiacutepio de

Forquilhinha A Comin amp Cia atua no rebeneficiamento de rejeitos

antigos Suas atividades iniciaram em 1984 e sua unidade de

beneficiamento localiza-se em Criciuacutema Na deacutecada de 1980 foi criada

tambeacutem a Cooperminas a partir da falecircncia da CBCA A Cooperminas eacute

uma cooperativa de trabalhadores da mineraccedilatildeo que explora o carvatildeo em

Forquilhinha A Carboniacutefera Belluno Ltda iniciou suas atividades em

1991 tem sede em Sideroacutepolis e aleacutem de trabalhar na extraccedilatildeo e

beneficiamento do Carvatildeo atua tambeacutem no transporte e na

comunicaccedilatildeo A empresa eacute administrada pelo Grupo Salvaro e conta

com reservas de 140 milhotildees de toneladas de carvatildeo mineral e minas em

Treviso e Sideroacutepolis Em 1999 a Carboniacutefera Catarinense Ltda passou

a explorar e beneficiar o carvatildeo em duas minas localizadas em Lauro

Muller A Carboniacutefera Sideroacutepolis Ltda opera a Usina de

Beneficiamento Lageado no municiacutepio de Urussanga A Companhia

Energeacutetica Meridional pertence agrave Tractebel Energia SA e tem sede em

Florianoacutepolis A Gabriella Mineraccedilatildeo foi fundada em 2004 a partir da

dissoluccedilatildeo da empresa Coque Catarinense Ltda (COCALIT) A

Minageo atua desde 1986 em sondagens e obras subterracircneas entrando

para a extraccedilatildeo do carvatildeo em 1997 Em 2000 assinou um contrato de

fornecimento de carvatildeo para a Tractebel Energia neste ano mudando

seu nome para Mineraccedilatildeo Santa Augusta em (SIESESC 2008)

15

A SATC foi criada em 1959 como Sociedade de Assistecircncia aos

Trabalhadores do Carvatildeo e tinha como objetivo a preparaccedilatildeo de matildeo-de-obra

qualificada e assistecircncia social As carboniacuteferas contribuem com 1 de seu

faturamento para a manutenccedilatildeo da instituiccedilatildeo (SATC 2014)

126

453 Segmentos sociais

O movimento mineiro teve iniacutecio em 1920 com uma greve na

CBCA Em 1944 surgiu em Criciuacutema a Associaccedilatildeo dos Trabalhadores

na Induacutestria Extrativa do Carvatildeo Em 1945 a associaccedilatildeo passou a ser

sindicato Nos anos 1950 foram fundados sindicatos mineiros em Lauro

Muller (1951) TubaratildeoCapivari (1953) Urussanga (1957) e Rio Maina

(1961) A primeira greve apoacutes o surgimento dos sindicatos aconteceu

em 1958 seguida de outras em 1959 1960 1961 e 1963 (GOULARTI

FILHO LIVRAMENTO 2004b)

Aleacutem das muitas greves um dos maiores feitos do movimento

sindical mineiro foi a ocupaccedilatildeo da CSN e o gerenciamento da massa

falida da CBCA e da Mineraccedilatildeo Barro Branco De 1945 a 1957 os

mineiros natildeo encontraram no sindicato um espaccedilo de luta De 1957 a

1964 formou-se um sindicalismo baseado na luta e na resistecircncia O

sindicato denunciou as condiccedilotildees precaacuterias de trabalho a exploraccedilatildeo

sofrida pela categoria e a falta de seguranccedila nas minas Passando por

momentos difiacuteceis durante a ditadura militar de 1964 a 1978 o

sindicalismo passou por uma letargia vindo a se reorganizar em 1988

apoiando quatro greves da CBCA e da Proacutespera (CHOINACKI 1992

VOLPATO 2001)

Os mineiros apoiam a causa do carvatildeo mineral e as mineradoras

se o assunto for a questatildeo ambiental A categoria natildeo se envolve em

movimentos ambientais

A negaccedilatildeo ou o silecircncio e a passividade dos

mineiros em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo ambiental

resultante da induacutestria carboniacutefera eacute a expressatildeo

de um mecanismo de defesa reforccedilando a

seguranccedila dos trabalhadores na manutenccedilatildeo do

emprego e da sobrevivecircncia como objetivo mais

imediato e realista (VOLPATO 2001 p 132)

Essas ideias aleacutem de serem defendidas pelos mineiros satildeo

apoiadas por poliacuteticos ligados ao movimento sindical e agrave luta histoacuterica dos trabalhadores Destacam-se Luci Choinacki Joseacute Paulo Serafim e

Milton Mendes de Oliveira que adotam um discurso de apoio ao carvatildeo

mineral em funccedilatildeo de sua importacircncia social (CHOINACKI 1992)

127

A regiatildeo sul de Santa Catarina contou com vaacuterios movimentos

sociais que atuaram e atuam contra a mineraccedilatildeo ao longo da sua

histoacuteria Em 1986 em Sideroacutepolis surgiu o Movimento Ecoloacutegico de

Sideroacutepolis (MES) que atuou ateacute 1989 Tambeacutem em 1986 em Tubaratildeo

surgiu o Movimento Ecoloacutegico Tubaronense (MOVET) que atuou ateacute

1996 Havia um grande envolvimento da igreja catoacutelica que se

consolidou atraveacutes da criaccedilatildeo da Pastoral da Ecologia ligada agrave Diocese

de Tubaratildeo O objetivo da Pastoral da Ecologia era ldquodespertar uma

consciecircncia ecoloacutegica no homem do sul de Santa Catarina destacando a

importacircncia da preservaccedilatildeo da natureza dom de Deus para todos para

que possa atuar comunitariamente na recuperaccedilatildeo do meio ambienterdquo

(Diocese de Tubaratildeo citada por SANTOS 2008 p 81-2) A Pastoral da

Ecologia organizou romarias ecoloacutegicas a primeira aconteceu em

Criciuacutema em 1986 com o tema ldquoNatureza a ganacircncia te destruiu Noacutes te

reconstruiremosrdquo a segunda em Sideroacutepolis em 1988 com o tema ldquoPela

vida pela paz Contra a induacutestria da morterdquo e a terceira em Tubaratildeo em

1991 com o tema ldquoA Matildee Natureza pede socorro O povo exige a

recuperaccedilatildeo da vida na regiatildeo sulrdquo

Uma iniciativa mais recente de mobilizaccedilatildeo e discussatildeo

aconteceu apoacutes o Furacatildeo Catarina em 2004 Exatamente um ano

depois em 2005 aconteceu o 1ordm Encontro da Regiatildeo Sul sobre fenocircmenos naturais adversidades e mudanccedilas climaacuteticas suas causas

efeitos e necessidades de adaptaccedilatildeo que deu origem ao Manifesto por

Justiccedila Climaacutetica O 2ordm Encontro sobre fenocircmenos naturais adversidades e mudanccedilas climaacuteticas da regiatildeo Sul foi realizado em 6 a

8 de outubro de 2009 A realizaccedilatildeo dos dois eventos coube agrave Cacircmara

Temaacutetica do Meio Ambiente do Foacuterum de Desenvolvimento do Extremo

Sul Catarinense (FDESC) sob a Coordenaccedilatildeo da ONG Soacutecios da

Natureza da AMESC do Nuacutecleo Amigos da TerraBrasil Secretaria de

Desenvolvimento Regional (22ordf SDR) da Prefeitura Municipal de

Araranguaacute (PMA) e do Comitecirc de Gerenciamento da Bacia Hidrograacutefica

do Rio Araranguaacute (CGBHRA) Os eventos tambeacutem receberam apoio das

seguintes organizaccedilotildees e coletivos Assembleia Legislativa do Estado de

Santa Catarina (ALESC) Centro de Apoio Socioambiental (CASA)

Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA) Amigos da Terra

Internacional Defesa Civil de Santa Catarina Movimento Proacute-

Araranguaacute (MPA) Instituto da Cidadania de Araranguaacute (ICA) Proacute-

Comitecirc da Bacia do Mampituba e Federaccedilatildeo de Entidades Ecologistas

Catarinenses (FEEC) (SOacuteCIOS DA NATUREZA 2009 2005) Os dois

encontros demonstram o interesse e a organizaccedilatildeo socioinstitucional da

128

aacuterea afetada em torno da discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas

relacionada ao mesmo tempo com problemas jaacute existentes no territoacuterio

O Manifesto por justiccedila climaacutetica elaborado em 2005 eacute um ponto de

partida para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas e justiccedila ambiental

em Santa Catarina Trata-se de uma discussatildeo local que se conecta com

o global sobre um problema atual que se conecta com problemas jaacute

existentes na regiatildeo (MALUF ROSA 2009)

Outra iniciativa importante eacute a dos Foacuteruns Sul Ambiental que

tecircm como objetivo fortalecer um espaccedilo democraacutetico juntando pessoas

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees populares na discussatildeo sobre os problemas

socioambientais do Sul Destaca-se aiacute a participaccedilatildeo de professores e

professoras da UNESC e UFSC aleacutem de convidados e convidadas de

outras universidades sediadas em outros estados brasileiros (SANTOS

2008)

A regiatildeo tambeacutem eacute palco de conflitos Dois casos emblemaacuteticos

envolvendo a resistecircncia dos agricultores aconteceram em 1996 em

Criciuacutema na localidade chamada Morro do Estevatildeo e Albino e em

2003 em Iccedilara na localidade de Santa Cruz e Esperanccedila Neste segundo

conflito havia 300 famiacutelias envolvidas aproximadamente mil pessoas

Essas pessoas sobreviviam da agricultura habitavam o local haacute mais de

cem anos e o tamanho de suas propriedades era na meacutedia de vinte

hectares O conflito era de natureza econocircmica (mineraccedilatildeo versus

agricultura) social (envolvimento e mobilizaccedilatildeo social regional) e

ambiental (degradaccedilatildeo) (NASCIMENTO BURSZTYN 2010 p 79)

Nesses conflitos e nas discussotildees regionais destacam-se

- A ONG Soacutecios da Natureza que surgiu em 1980 em

Araranguaacute e se institucionalizou em 1996 tendo uma atuaccedilatildeo regional

(SANTOS 2008)

A ONG trabalha no sentido de buscar em suas

vaacuterias fontes de accedilatildeo a preservaccedilatildeo da natureza e

uma melhor qualidade de vida para a regiatildeo sul de

Santa Catarina o que assinala sua performance de

conotaccedilatildeo socioambiental No entanto por estar

do mesmo modo voltada a accedilotildees que

constantemente envolvem o papel do Estado

tambeacutem pode ser caracterizada por suas

suposiccedilotildees poliacuteticas contra o poder estabelecido

(SANTOS 2008 p 124)

129

- A FEEC que surgiu em 1989 tendo como objetivo unificar e

fortalecer a luta ecoloacutegica catarinense (SANTOS 2008)

- A atuaccedilatildeo de pesquisadores da UNESC e UFSC bem como

pesquisadores sediados em outras universidades do Brasil

- O Grupo de Pesquisa ldquoMemoacuteria e Cultura do Carvatildeo em Santa

Catarinardquo que foi formado em 2000 e inscrito no CNPq em 2002 Ele

reuacutene professores e alunos da UNESC Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (UFRGS) e CETEM do Rio de Janeiro que estudam

temas relacionados agraves atividades carboniacuteferas O objetivo principal do

Grupo eacute discutir criticamente a cultura a histoacuteria e a economia do

carvatildeo

Ainda nos segmentos sociais incluem-se

- O IPAT vinculado agrave UNESC responsaacutevel pela confecccedilatildeo de

EIARIMA para muitas mineradoras da regiatildeo

- Os meios de comunicaccedilatildeo locais e regionais que natildeo publicam

informaccedilotildees que prejudiquem o segmento carboniacutefero jaacute que muitos satildeo

de propriedade de mineradores e outros recebem valores na forma

patrociacutenio (SANTOS 2008)

46 Situaccedilatildeo atual e desafios

As poucas mudanccedilas ocorridas ateacute o momento satildeo

frutos da pressatildeo exercida pelo movimento

ambiental como um todo na qual seus integrantes

protagonizam um conflito que revela o quanto a

voz do lsquoinimigorsquo fala mais alto (SANTOS 2008

p 160)

A intenccedilatildeo do capiacutetulo foi tratar da gestatildeo de recursos comuns em

Santa Catarina com ecircnfase no carvatildeo mineral O resgate agrave trajetoacuteria do

desenvolvimento catarinense mostra uma ecircnfase na apropriaccedilatildeo privada

dos recursos comuns subordinada ao crescimento econocircmico A

preocupaccedilatildeo ambiental por muito tempo foi considerada marginal

curiosamente ateacute mesmo pelo oacutergatildeo ambiental estadual que incentivou

a expansatildeo da atividade carboniacutefera Essa condiccedilatildeo marginal tambeacutem se

mostra nas regras em uso O Coacutedigo Ambiental de Santa Catarina eacute um

exemplo disso Vaacuterios pontos flexibilizaram a lei ambiental federal para

beneficiar os segmentos econocircmicos

130

O Sul de Santa Catarina tem disponibilidade de carvatildeo mineral e

ao longo de sua trajetoacuteria de desenvolvimento o vem explorando a

despeito dos impactos socioambientais causados pela atividade Nas

uacuteltimas deacutecadas a centralidade desta vem cedendo lugar a outra

atividades econocircmicas Todavia o viacutenculo cultural eacute muito forte Mas

tambeacutem satildeo fortes as vozes contraacuterias agrave exploraccedilatildeo do carvatildeo Os

segmentos sociais se organizam regionalmente e satildeo responsaacuteveis por

movimentos eventos e por uma articulaccedilatildeo em rede com organizaccedilotildees

sediadas em outros estados do Brasil

No Quadro 7 eacute feita uma siacutentese dos principais pontos abordados

ao longo do capiacutetulo que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

energia termeleacutetrica

Quadro 7 ndash Aspectos que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral Santa

Catarina

MACRO

VARIAacuteVEIS

ASPECTOS QUE

FAVORECEM A

AMPLIACcedilAtildeO

ASPECTOS QUE

QUESTIONAM A

AMPLIACcedilAtildeO

Dinacircmicas de

desenvolvimento

- Fragilidade institucional da

FATMA

- Dependecircncia da matriz

energeacutetica catarinense ndash 35

da energia eleacutetrica

consumida no estado vem do

carvatildeo mineral

- Possibilidade de

conexatildeo do carvatildeo

com discussotildees mais

amplas

Atributos fiacutesicos e

tecnoloacutegicos

- Cultura do carvatildeo no Sul

de Santa Catarina

- Disponibilidade do recurso

- Bom faturamento do

segmento do carvatildeo mineral

- Aumento da produccedilatildeo com

a mecanizaccedilatildeo do processo

de trabalho

- Recuperaccedilatildeo do passivo

ambiental como ponto

positivo para a continuidade

da exploraccedilatildeo do recurso

- Aumento da

produccedilatildeo associado a

degradaccedilatildeo

socioambiental

- Diversificaccedilatildeo

econocircmica da regiatildeo

Sul de Santa

Catarina

Regras em uso - Coacutedigo Estadual do Meio

Ambiente estabelece prazos

para as licenccedilas ambientais

131

- Dispensa do EIARIMA

para a atividade de extraccedilatildeo

do carvatildeo mineral de

pequeno porte

- Reduccedilatildeo do ICMS de 25

para 3

Arena de accedilatildeo

(Caracterizaccedilatildeo dos

envolvidos na gestatildeo)

- Parceria de parte dos

segmentos poliacuteticos com os

segmentos econocircmicos

- Parte dos segmentos

sociais os trabalhadores

costumam apoiar a causa do

carvatildeo

- A UNESC que tambeacutem faz

parte dos segmentos sociais

elaborou o EIARIMA

- Miacutedia (segmentos sociais)

natildeo divulga notiacutecias que

prejudiquem o segmento

carboniacutefero

- Parte dos segmentos

sociais ocupam

espaccedilos de

participaccedilatildeo

instituiacutedos

- Existecircncia de

movimentos sociais

regionais

- Parcerias com

ONGs e

Universidades

- Observatoacuterio do

Carvatildeo

- Foacuteruns de

discussatildeo

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na macro variaacutevel arena de accedilatildeo a variaacutevel da democracia

apresenta limites relacionados ao apoio dos segmentos poliacuteticos

(Governo Estadual e FATMA) e de parte dos segmentos sociais

(Movimento Sindical IPATUNESC e miacutedia) agrave causa do carvatildeo

mineral Nas possibilidades destacam-se a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico a organizaccedilatildeo dos segmentos sociais nas redes que unem

ONGs academia e afetadosatingidosameaccedilados e as publicaccedilotildees

(Quadro 8)

132

Quadro 8 ndash Limites e possibilidades do sistema democraacutetico em

Santa Catarina VARIAacuteVEL LIMITES POSSIBILIDADES

Fortalecimento

do sistema

democraacutetico

- Parte dos segmentos

poliacuteticos (Governo

estadual e FATMA)

apoiam a atividade

- Parte dos segmentos

sociais (Movimento

sindical e o

IPATUNESC) apoiam a

causa do carvatildeo mineral

- Miacutedia apoia o segmento

carboniacutefero

- Atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico

- Organizaccedilatildeo de parte dos

segmentos sociais

- Redes unindo ONGs

academia e

afetadosatingidosameaccedilados

- Publicaccedilotildees

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar do forte viacutenculo entre parte dos segmentos poliacuteticos

segmentos econocircmicos e parte dos segmentos sociais em defesa do

carvatildeo mineral outra parte dos segmentos sociais demonstra

aprendizado social adaptativo ao coordenar suas accedilotildees no niacutevel regional

Em uma regiatildeo na qual a atividade estaacute tatildeo arraigada e muitos

municiacutepios e pessoas dependem dela para o seu sustento a mobilizaccedilatildeo

regional eacute uma forma criativa e articulada de enfrentar um problema que

eacute histoacuterico e que se perpetua nas relaccedilotildees poliacuteticas existentes Estas

seratildeo tratadas nos capiacutetulos cinco e seis tanto na democracia

representativa (via eleiccedilotildees) quanto na democracia participativa

(audiecircncias puacuteblicas no processo de licenciamento) para elucidar ainda

mais os limites e as margens de manobra colocadas nos capiacutetulos trecircs e

quatro fundamentais no delineamento de alternativas ao carvatildeo mineral

5 CARVAtildeO MINERAL E POLIacuteTICA EM SANTA CATARINA

ELEICcedilOtildeES E FINANCIAMENTO PRIVADO

Como montanhas de rejeitos soacutelidos compostos de

pirita e enxofre permanece a mesma poliacutetica do

passado patrimonial (TEIXEIRA 1996 p 95)

A histoacuteria do Sul de Santa Catarina estaacute intimamente ligada ao

carvatildeo mineral Dos tempos aacuteureos entre as deacutecadas de 1930 e 1980 agrave

crise dos anos 1990 e do seu ressurgimento no Governo Fernando

Henrique Cardoso com o anuacutencio da construccedilatildeo de novas termeleacutetricas

movidas a carvatildeo mineral Agora em 2013 no Governo Dilma o carvatildeo

nos leilotildees de energia em 2013 As decisotildees nacionais que ora

incentivam o carvatildeo mineral ora dificultam sua exploraccedilatildeo e uso

impactam sensivelmente as regiotildees que tecircm em seu subsolo esse

recurso natural natildeo renovaacutevel Cabe a essas regiotildees se adaptar

preferencialmente influenciando esses contextos mais amplos

No livro Os donos da cidade Joseacute Paulo Teixeira (1996 p 16)

afirma que o complexo carboniacutefero do Sul de Santa Catarina ldquofoi

constituiacutedo a partir de uma ligaccedilatildeo poliacutetico-estrutural entre a esfera

puacuteblica e privadardquo Tendo essa ideia como referecircncia o objetivo do

capiacutetulo eacute identificar relaccedilotildees entre a poliacutetica catarinense e as empresas

que exploram e utilizam o carvatildeo mineral

Para aleacutem dos discursos sobre desenvolvimento econocircmico

seguranccedila energeacutetica e tecnologias natildeo poluentes a hipoacutetese de que se

parte eacute que existe uma reciprocidade entre os interesses dos poliacuteticos ao

receberem doaccedilotildees para suas campanhas eleitorais e os interesses dos

doadores ligados ao carvatildeo mineral Nesse sentido as injusticcedilas

ecoloacutegicas se referem natildeo apenas agrave distribuiccedilatildeo de riscos ambientais

delimitados localmente Elas satildeo condicionadas tambeacutem poliacuteticas e

praacuteticas cujas consequecircncias atravessam fronteiras instituiacutedas e afetam

muacuteltiplas escalas Como jaacute foi ressaltado anteriormente o conceito de

injusticcedila ecoloacutegica designa um sintoma de um processo que envolve a

distribuiccedilatildeo o reconhecimento e a representaccedilatildeo poliacutetica e determina a

distribuiccedilatildeo desigual dos riscos e danos ambientais (HOLIFIELD et al

2009 SCHLOSBERG 2009 e 2004)

Para tanto foram analisados os pronunciamentos da Frente

Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral e as prestaccedilotildees de

contas das eleiccedilotildees de 2002 2004 2006 2008 2010 e 2012 As eleiccedilotildees

de 2004 2008 e 2012 foram eleiccedilotildees municipais e as eleiccedilotildees de 2002

134

2006 e 2010 foram gerais O recorte temporal utilizado se deve a duas

razotildees principais acompanhar as doaccedilotildees durante o periacuteodo em que se

deu o processo de licenciamento da USITESC e o acesso agraves prestaccedilotildees

de contas que teve iniacutecio na eleiccedilatildeo de 2002

O capiacutetulo eacute dividido em trecircs seccedilotildees principais aleacutem dessa

introduccedilatildeo A primeira seccedilatildeo trata dos argumentos presentes nos

discursos poliacuteticos A segunda apresenta os dados sobre doaccedilotildees de

empresas nas eleiccedilotildees gerais e municipais A terceira e uacuteltima seccedilatildeo traz

uma siacutentese dos fatos ausentes dos discursos Os dados apresentados

sugerem um apoio muacutetuo entre os interesses poliacuteticos e privados Os

candidatos de Santa Catarina que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral em suas campanhas satildeo os mesmos que

apoiam a causa do carvatildeo mineral Nesse caso o apoio envolve a

construccedilatildeo de mais uma termeleacutetrica a USITESC a inclusatildeo do carvatildeo

mineral nos leilotildees de 2013 e a reduccedilatildeo de Imposto sobre o ICMS de

25 para 3 na venda de energia eleacutetrica visando melhorar a

competitividade do carvatildeo mineral de Santa Catarina frente a outros

recursos energeacuteticos

51 Os argumentos presentes no discurso dos poliacuteticos

A Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral foi

constituiacuteda no Congresso Nacional em 2005 tendo como principal

objetivo a expansatildeo do uso do carvatildeo mineral na matriz energeacutetica

nacional Datam desse ano quatro pronunciamentos na Cacircmara dos

Deputados Afonso Hamm (Partido Progressista - PPRS) no dia 19 de

outubro Leodegar Tiscoski (PPSC) no dia 2 de novembro Marcus

Vicente (Partido Trabalhista Brasileiro - PTBES) no dia 9 de

novembro e Edinho Bez (PMDBSC) no dia 18 de novembro

As frentes satildeo constituiacutedas por parlamentares que de forma

suprapartidaacuteria se reuacutenem para tratar de uma questatildeo especiacutefica O que

estaacute em jogo eacute a defesa de interesses econocircmicos ou empresariais

corporativos setoriais ou profissionais regionais e ideoloacutegicos dentre

outros No periacuteodo de 2003 a 2007 havia 148 frentes no parlamento

brasileiro (CORADINI 2010)

Em 19 de outubro de 2005 Afonso Hamm (PPRS) em seu

pronunciamento na Cacircmara dos Deputados reforccedilou a importacircncia do

setor para a seguranccedila energeacutetica e para a geraccedilatildeo de empregos em

Santa Catarina e no Rio Grande do Sul Natildeo houve qualquer menccedilatildeo agrave

135

questatildeo socioambiental exceto para falar do carvatildeo mineral como

ldquoreserva de energiardquo O carvatildeo foi colocado como ldquotema de grande

relevacircnciardquo ressaltando-se a importacircncia de buscar a ldquocompetitividade

do setorrdquo atraveacutes de novos projetos para gerar ldquoem torno de 10 mil

empregos na regiatildeo atualmente deprimida econocircmica e socialmenterdquo

(HAMM 2005 p 50549) Os argumentos em defesa do carvatildeo mineral

enaltecem a seguranccedila e a auto-suficiecircncia energeacutetica do Sul e do Brasil

juntamente com outros argumentos de cunho econocircmico

Por sua vez o pronunciamento de Leodegard Tiscoski traz um

histoacuterico do carvatildeo mineral desafios e medidas reinvindicadas pela

Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral Sobre a

questatildeo ambiental a uacutenica menccedilatildeo aparece no seguinte trecho

Principal insumo energeacutetico no iniacutecio do seacuteculo

XX o carvatildeo foi gradualmente perdendo

importacircncia ateacute transformar-se no patinho feio das

nossas fontes energeacuteticas natildeo soacute pelas suas

deficiecircncias naturais mas principalmente pelos

danos ambientais causados pela sua exploraccedilatildeo

(TISCOSKI 2005 p 52894)

Os problemas enfrentados pelo carvatildeo mineral satildeo imputados ao

governo federal como sugere o trecho a seguir ldquoA histoacuteria do carvatildeo

em Santa Catarina eacute uma sucessatildeo de altos e baixos determinados

sempre pela vontade do Governo Federal independentemente de que tal

vontade fosse beneacutefica ou maleacutefica aos interesses estaduaisrdquo

(TISCOSKI 2005 p 52895) Ao Governo Federal eacute atribuiacuteda tambeacutem a

responsabilidade pela estabilidade de empregos retorno de

investimentos e recuperaccedilatildeo do ambiente natural ldquoRelegado agrave proacutepria

sorte o carvatildeo em Santa Catarina passou a conviver com a incerteza do

emprego e mais que tudo com a anguacutestia da perda de renda de milhares

e milhares de famiacutelias da regiatildeo sul de Santa Catarinardquo (TISCOSKI

2005 p 52895)

Somados aos argumentos sobre a importacircncia econocircmica

ressalta-se o carvatildeo mineral como alternativa ao petroacuteleo e agrave

hidroeletricidade A Frente Parlamentar reivindica a isonomia das regras do leilatildeo de energia nova regulamentaccedilatildeo do artigo 13 da Lei nordm

10438 retomada das pesquisas geoloacutegicas e implementaccedilatildeo de projetos

de pesquisa visando um melhor aproveitamento do carvatildeo ldquoO carvatildeo

136

mineral do Brasil natildeo pode ser objeto de atenccedilatildeo por parte do Governo

Federal apenas nos momentos de criserdquo (TISCOSKI 2005 p 52896)

Em seu pronunciamento Marcus Vicente (PTBES) (2005 p

53630) trata o carvatildeo mineral como ldquoitem de alto significado

estrateacutegicordquo ldquofonte energeacutetica segura e confiaacutevelrdquo que ldquosempre foi

colocado em plano secundaacuteriordquo O discurso reforccedila a geraccedilatildeo de

empregos e a seguranccedila energeacutetica Quanto agrave questatildeo ambiental ela eacute

ldquocolocada em duacutevida quando se fala em maior aproveitamento do

carvatildeordquo (VICENTE 2005 p 53630) Haacute uma aposta na pesquisa e no

desenvolvimento tecnoloacutegico que coloca a mineraccedilatildeo como uma

atividade que pode ser feita ldquosem degradaccedilatildeo ambiental nem

comprometimento da sauacutede dos trabalhadoresrdquo Afirma-se que em

1520 anos a energia seraacute gerada com emissatildeo zero e que as aacutereas

degradadas no Brasil jaacute estatildeo sendo recuperadas (VICENTE 2005 p

53631) Segundo este parlamentar o Brasil precisa acompanhar o curso

da histoacuteria

Jaacute Edinho Bez (PMDBSC) fundamenta seus argumentos em uma

reuniatildeo do G-8 na qual se assume que ldquosuprimentos de energia

confiaacuteveis e baratos satildeo essenciais para um forte crescimento

econocircmicordquo (BEZ 2005 p 55746) Ele afirma que o carvatildeo mineral

tem um papel ldquovitalrdquo a desempenhar face ao contingente de pessoas que

ainda natildeo dispotildeem de acesso a energia comercial por ser uma energia

barata O petroacuteleo e o gaacutes natural seriam fontes energeacuteticas inseguras se

comparadas ao carvatildeo mineral A questatildeo ambiental aparece como

desafio que estaacute sendo equacionado pelo investimento em

desenvolvimento tecnoloacutegico Segundo Bez (2005 p 55746) o objetivo

da Frente Parlamentar eacute o de colocar o carvatildeo mineral ldquodefinitivamente

na agenda do Governo Federal com isso induzindo ao desenvolvimento

regional gerando renda e trabalho e aumentando a seguranccedila energeacutetica

vital para o crescimento do Paiacutesrdquo

No intervalo de tempo compreendido entre dezembro de 2005 e

maio de 2011 natildeo houve pronunciamentos da Frente Parlamentar em

Defesa do Carvatildeo Mineral Todavia nesse periacuteodo a Frente manteve a

articulaccedilatildeo natildeo soacute com o segmento produtivo do carvatildeo mineral mas

tambeacutem com o Ministeacuterio das Minas e Energia e o Ministeacuterio da Ciecircncia

e Tecnologia resultando em accedilotildees programas e projetos importantes

para o segmento (AMARAL 2011)

Em 2011 ocorreram apenas dois pronunciamentos um de Edinho

Bez e outro de Delciacutedio do Amaral O pronunciamento de Edinho Bez

137

(PMDBSC) primeiro secretaacuterio da Frente Parlamentar refere-se agrave

posse da Comissatildeo Executiva da referida Frente Ele fala no carvatildeo

mineral como ldquoenergia do futurordquo ldquoresponsaacutevel pela boa qualidade de

vida de centenas de pessoas nas economias mais desenvolvidasrdquo (BEZ

2011 p 20895) Menciona apenas aspectos econocircmicos da induacutestria

carboniacutefera entendida como base do desenvolvimento socioeconocircmico

do Sul de Santa Catarina Ele finaliza o pronunciamento afirmando que

natildeo se poderia abrir matildeo de nenhuma alternativa energeacutetica

Em novembro de 2011 ocorreu a reinstalaccedilatildeo da Frente formada

por 203 deputados federais e 12 senadores e integrada por ex-

parlamentares do Congresso Nacional Deputados Estaduais Prefeitos

Municipais Vereadores Sindicalistas O principal objetivo da Frente em

2011 era a participaccedilatildeo nos leilotildees A-5

A Frente Parlamentar tem como presidentes de honra o Senador

Joseacute Sarney (PMDBAP) e o Deputado Marco Maia (PTRS) Na

Comissatildeo Executiva o Presidente eacute o Senador Delciacutedio do Amaral

(PTMG) Primeiro Vice-Presidente Deputado Afonso Hamm (PPRS)

Segundo Vice-Presidente Senador Paulo Bauer (Partido da Social

Democracia Brasileira - PSDBSC) Primeiro Secretaacuterio Deputado

Edinho Bez (PMDBSC) Segundo Secretaacuterio Deputado Henrique

Fontanta (PTRS) Terceiro Secretaacuterio Deputado Eduardo Sciarra

(DEMPR) e Quarto Secretaacuterio Deputado Ronaldo Zulke (PTRS)

(AMARAL 2011)

Fazem parte do Conselho Consultivo da Frente como Presidente

o Senador Luiz Henrique da Silveira (PMDBSC) e Vice-Presidente

Deputado Ronaldo Benedet (PMDBSC) como membros cooperadores

Fernando Luiz Zancan (Presidente da ABCM) Cesar Weinschenck de

Faria (Presidente do SNIEC) Ruy Hulse (Presidente do SIECESC)

Sereno Chaise (Diretor da CGTEE) Manoel Arlindo Zaroni Torres

(Diretor-Presidente da Tractebel Energia SA) Paulo Monteiro (Diretor

de Sustentabilidade da EBX representando a MPX Energia SA)

Benony Schmitz Filho (Diretor-Presidente da Ferrovia Tereza Cristina

SA ndash FTC) Paulo Camillo Vargas Penna (Presidente do IBRAM) Luiz

Fernando Leone Vianna (Presidente do Conselho de Administraccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Eleacutetrica

ndash APINE) Heacutelio Bunn (Presidente da AMREC e prefeito do municiacutepio

de Lauro Muller) Paulo Roberto Felix Machado (Presidente da

Associaccedilatildeo de Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera do Rio Grande do Sul

ndash ASMURC e prefeito de Butiaacute) Genoir Joseacute dos Santos (Presidente da

138

Federaccedilatildeo Interestadual dos Trabalhadores na Induacutestria da Extraccedilatildeo de

Carvatildeo) e Oniro da Silva Camilo (Presidente do Sindicato

Intermunicipal dos Trabalhadores nas Induacutestrias de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

Ouro Calcaacuterio Cal e Barro da Regiatildeo Centro-Sul do Estado do Rio

Grande do Sul) (AMARAL 2011) A composiccedilatildeo do conselho

consultivo demonstra que a Frente Parlamentar Mista em Defesa do

Carvatildeo Mineral se assenta em interesses setoriais e empresariais

regionalmente e nacionalmente representados (CORADINI 2010)

Em agosto de 2012 Afonso Hamm fez um pronunciamento cujo

tema era a sustentabilidade da matriz energeacutetica do Brasil e a criaccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Proacute-Carvatildeo (APC) Na sua opiniatildeo ldquoa associaccedilatildeo tem como

propoacutesito estabelecer estrateacutegias de reivindicaccedilatildeo tendo como principal

finalidade a inclusatildeo das usinas termeleacutetricas a carvatildeo mineral nos

leilotildees de energia A-5rdquo (HAMM 2012 p 28704) Mais adiante

esclarece que ldquofalei pessoalmente com a Presidenta Dilma haacute

aproximadamente um ano em Esteio tratando dessa Agendardquo (HAMM

2012 p 28704) Natildeo se fala da questatildeo ambiental a natildeo ser quando eacute

colocada em pauta a inclusatildeo no leilatildeo dos empreendimentos jaacute

instalados e daqueles cuja licenccedila ambiental encontra-se em andamento

Em marccedilo de 2013 Edinho Bez fez seu pronunciamento sobre a

inclusatildeo do carvatildeo mineral no leilatildeo

Sr Presidente meus colegas Parlamentares falo

com satisfaccedilatildeo envaidecido com esta casa e o

proacuteprio Paiacutes pela notiacutecia dada pelo Ministro

Edison Lobatildeo de Minas e Energia com a

autorizaccedilatildeo da Presidente Dilma de que seraacute

incluiacutedo nos proacuteximos leilotildees o carvatildeo mineral

uma fonte de energia uma fonte que garante o

fornecimento de energia natildeo dependeraacute de Satildeo

Pedro natildeo dependeraacute das chuvas natildeo dependeraacute

sequer de uma nem duas ou trecircs Noacutes teremos

mais uma alternativa (BEZ 2013 p 06320)

Bez (2013) ressaltou ainda que o preccedilo do carvatildeo nacional

precisa baixar e para tanto torna-se necessaacuterio reduzir a carga

tributaacuteria Segundo ele o Vice-Governador do Estado de Santa Catarina

Eduardo Moreira jaacute manifestou a disposiccedilatildeo de avanccedilar nessa direccedilatildeo O

resultado dessa disposiccedilatildeo foi a reduccedilatildeo via Decreto em 2013 do ICMS

de 25 para 3 na venda de energia eleacutetrica para novos

empreendimentos beneficiando principalmente as termeleacutetricas a carvatildeo

(ALESC 2013)

139

Ao comentar sobre a posse da nova diretoria da Frente

Parlamentar composta por 182 deputados e senadores presidida pelo

Deputado Federal Afonso Hamm Bez (2013 p 06321) comenta que a

abertura ficou a cargo do presidente da Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo

Mineral o ldquoamigordquo Fernando Zancan

Nos pronunciamentos transparece a ecircnfase colocada na promoccedilatildeo

da seguranccedila energeacutetica do Sul e do Paiacutes mediante o aproveitamento do

carvatildeo mineral visto como uma alternativa viaacutevel se comparada agrave

hidroeletricidade ao gaacutes natural e ao petroacuteleo Como argumentos de

defesa o desenvolvimento econocircmico das regiotildees carboniacuteferas de Santa

Catarina e do Rio Grande do Sul parece depender desta atividade

Aspectos socioambientais satildeo apenas tangenciados reconhecendo-se em

alguns momentos que a atividade carboniacutefera causou impactos mas

tambeacutem se admitindo que os mesmos jaacute foram ou estatildeo sendo

resolvidos natildeo devendo se repetir em decorrecircncia dos avanccedilos

tecnoloacutegicos do segmento

52 Panorama das eleiccedilotildees e doaccedilotildees de campanha de 2002 a 2012

Ateacute 1992 a legislaccedilatildeo em vigor proibia a oferta de doaccedilotildees por

parte das empresas Mas as reformas na legislaccedilatildeo apoacutes 1992 tornaram o

sistema mais tolerante apostando na prestaccedilatildeo de contas como forma de

controle puacuteblico Em 1994 o TSE passou a divulgar dados sobre as

candidaturas e contas de campanha Os dados satildeo de responsabilidade

dos candidatos e questiona-se a veracidade dos mesmos vaacuterios satildeo os

casos de financiamentos ilegais corrupccedilatildeo traacutefico de influecircncias

envolvimento com crime organizado que passam a contribuir para a

criacutetica ao financiamento privado Em funccedilatildeo desses problemas o tema

do financiamento poliacutetico tornou-se central no debate recente sobre a

reforma poliacutetica (LEMOS MARCELINO PEDERIVA 2010 SPECK

2005)

Os resultados das eleiccedilotildees indicam fortes viacutenculos com doaccedilotildees e

gastos de campanha quanto maiores as doaccedilotildees e gastos maiores as

chances de o candidato se eleger Os doadores se tornaram tatildeo

fundamentais nas campanhas que tecircm determinado muitas vezes a

proacutepria escolha do candidato A reeleiccedilatildeo apresenta-se como um trunfo

aos candidatos jaacute que o risco do doador eacute menor do que se este

escolhesse um iniciante (LEMOS MARCELINO PEDERIVA 2010)

140

Em contrapartida candidatos tendem a compensar tais investimentos se

e quando eleitos ldquoEacute grande a lista de entidades que satildeo potencialmente

beneficiadas por decisotildees ou medidas administrativas do governo entre

estes os bancosrdquo (SPECK 2005 p 148)

No Brasil satildeo permitidas doaccedilotildees de empresas que possuem

relaccedilotildees contratuais com o Estado natildeo existindo regra que limite a

dependecircncia entre candidato e doador Dados sobre as prestaccedilotildees de

contas demonstram um problema de dependecircncia entre os candidatos e

seus principais financiadores (SPECK 2005)

Na sequecircncia satildeo examinadas as doaccedilotildees das eleiccedilotildees de 2002 a

2012 divididas em eleiccedilotildees gerais e eleiccedilotildees municipais A ecircnfase recai

nas doaccedilotildees realizadas por empresas ligadas ao carvatildeo mineral e sua

relaccedilatildeo com os candidatos de Santa Catarina As doaccedilotildees para

candidatos de outros estados natildeo satildeo tratadas neste capiacutetulo

521 Eleiccedilotildees gerais

No periacuteodo compreendido entre os anos de 2002 e 2012

ocorreram trecircs eleiccedilotildees gerais Constam nos registros do Tribunal

Superior Eleitoral nove empresas relacionadas ao carvatildeo mineral em

Santa Catarina como doadoras

O Complexo Jorge Lacerda que utiliza carvatildeo mineral para

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica pertence agrave Tractebel que tambeacutem eacute

proprietaacuteria das Usinas Hidreleacutetricas de Itaacute Machadinho e Co-geraccedilatildeo

de biomassa em Lages todos situados em Santa Catarina A Carboniacutefera

Metropolitana SA tem 123 anos de existecircncia estaacute sediada em

Criciuacutema e possui parte da USITESC A Carboniacutefera Belluno Ltda foi

fundada em 1991 apoacutes a compra de parte da Companhia Sideruacutergica

Nacional pelo Grupo Salvaro e localiza-se em Sideroacutepolis Aleacutem de

trabalhar na extraccedilatildeo e beneficiamento do Carvatildeo a Carboniacutefera

Belluno tambeacutem atua no transporte e na comunicaccedilatildeo A Mineraccedilatildeo

Castelo Branco Ltda localiza-se em Lauro Muller A Carboniacutefera

Criciuacutema foi fundada em 1943 e tem sede em Criciuacutema A Induacutestria

Carboniacutefera Rio Deserto foi criada em 1918 e localiza-se em Criciuacutema

bem como a Coque Catarinense a Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos e a

Mineraccedilatildeo Santa Augusta

141

A eleiccedilatildeo de 2002 teve como principais doadores a Tractebel

(5007) a Carboniacutefera Metropolitana (1488) e a Carboniacutefera

Belluno (1320) A empresa que mais apoiou candidatos dez no total

foi a Carboniacutefera Metropolitana As demais empresas apoiaram cinco

candidatos ou menos conforme consta na Tabela 7

Tabela 7 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2002

Fonte TSE 2013

Quanto ao montante de doaccedilotildees por candidato em 2002

destacou-se o candidato a governador Esperidiatildeo Amin que recebeu de

quatro empresas 4138 do total de doaccedilotildees O candidato Paulo Roberto

Bauer recebeu de quatro empresas o equivalente a 1182 das doaccedilotildees

Cleacutesio Salvaro recebeu apenas 673 Aleacutem dos trecircs candidatos citados

outros dezesseis candidatos ficaram com 4007 das doaccedilotildees conforme

dados da Tabela 8 As duas uacuteltimas colunas da Tabela 8 relacionam as

doaccedilotildees com a receita total dos candidatos Em quatro dos 19 candidatos

as doaccedilotildees das empresas ligadas ao carvatildeo mineral representam mais de

50 de sua respectiva receita

Nordm

CANDIDATOS

Tractebel Egi South America Ltda 5 PFL PP PPB PSDB 53000000 5007

Carboniacutefera Metropolitana SA 10 PP PMDB PSDB PT PPB PFL 15750000 1488

Carboniacutefera Belluno Ltda 3 PMDB PFL PT 13970000 1320

Mineraccedilatildeo Castelo Branco Ltda 5 PFL PMDB PP PPB PSDB 8467400 800

Carboniacutefera Criciuacutema Ltda 5 PFL PT PSDB PMDB PT 6450000 609

Induacutestria Carboniacutefera Rio Deserto Ltda 5 PFL PMDB PSDB 4050000 383

Coque Catarinense Ltda 2 PFL PMDB 2434000 230

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos Ltda 4 PFL PMDB PP 927000 088

Mineraccedilatildeo Santa Augusta Ltda 1 PP 800000 076

TOTAL 105848400 10000

DOADOR PARTIDOS VALOR R$

142

Tabela 8 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2002 que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees de 2002 o PP recebeu 46 das doaccedilotildees o Partido

da Frente Liberal (PFL) 2147 o PSDB 1352 o PMDB 1027

o PT 477 e o Partido Progressista Brasileiro (PPB) 397

Tabela 9 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2002

Fonte TSE 2013

NO ME PARTIDO CANDIDATURA VALO R R$ RECEITA TO TAL R$

Esperidiatildeo Amin PP Governador 43798600 4138 373920269 1171

Paulo R Bauer PSDB Deputado Federal 12510800 1182 49994468 2502

Clesio Salvaro PFL Deputado Estadual 7120000 673 11296000 6303

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 5266200 498 27320200 1928

Paulo R Bornhausen PFL Senador 4900000 463 198753494 247

Leodegar da C Tiscoski PP Deputado Federal 4892000 462 20432951 2394

Joseacute P Serafim PT Deputado Estadual 4500000 425 7303000 6162

Luiz H da Silveira PMDB Governador 4000000 378 240099527 167

Ivan C Ranzolin PFL Deputado Federal 3000000 283 26017099 1153

Pedro Bittencourt Neto PFL Deputado Federal 2860800 27 13469800 2124

Vanio de Oliveira PPB Deputado Federal 2200000 208 3110990 7072

Celestino RSecco PPB Deputado Estadual 2000000 189 21164000 945

Joatildeo P K Kleinubing PFL Deputado Estadual 2000000 189 10710330 1867

Julio Cesar Garcia PFL Deputado Estadual 2000000 189 4449450 4495

Cezar P de Luca PSDB Deputado Federal 1800000 17 3925683 4585

Ronaldo J Benedet PMDB Deputado Estadual 1350000 128 12097324 1116

Arleu R da Silveira PFL Deputado Estadual 850000 08 890370 9547

Edson C Rodrigues PT Deputado Federal 550000 052 8653600 636

Aceacutelio Casagrande PMDB Deputado Federal 250000 024 1512694 1653

TOTAL 105848400 100

PARTIDO VALOR R$

PP 48690600 46

PFL 22730800 2147

PSDB 14310800 1352

PMDB 10866200 1027

PT 5050000 477

PPB 4200000 397

TOTAL 105848400 100

143

Nas Eleiccedilotildees de 2006 entraram em cena as seguintes empresas

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasileira que atua na regiatildeo Companhia

Energeacutetica Meridional que eacute subsidiaacuteria da empresa Tractebel A

Mendes Terraplanagem Construccedilatildeo e Extraccedilatildeo de Minerais Ltda que

atua na regiatildeo Minageo Ltda de Criciuacutema Sulcatarinense Mineraccedilatildeo e

Artefatos Ltda com sede em Biguaccedilu Carboniacutefera Sideroacutepolis de

Criciuacutema Gabriella Mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis Carboniacutefera Catarinense

Ltda de Lauro Muller Nas eleiccedilotildees de 2006 a Tractebel doou 4038

para onze candidatos a Carboniacutefera Metropolitana 1226 para quatro

candidatos e a Carboniacutefera Criciuacutema 1136 (Tabela 10) O montante

de doaccedilotildees aumentou de R$ 105848400 em 2002 para R$

158506900 em 2006

Tabela 10 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2006

Fonte TSE 2013

Dos 22 candidatos apoiados pelas empresas em 2006 Edson Bez

de Oliveira recebeu 1325 dos recursos de seis empresas Ada Lili

Faraco de Luca recebeu 1262 de duas empresas Luiz Henrique da

Silveira recebeu 1262 de uma empresa e Paulo Roberto Bauer

recebeu 946 de quatro empresas (Tabela 11) Constata-se uma

distribuiccedilatildeo maior das doaccedilotildees jaacute que na Eleiccedilatildeo de 2002 um uacutenico

candidato Esperidiatildeo Amim recebeu 4138 das doaccedilotildees

DOADOR NordmCANDIDATOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora 11 PFL PMDB PP PPS PSDB PT 64000000 4038

Carboniacutefera Metropolitana SA 4 PMDB PP PSDB 19432000 1226

Carboniacutefera Criciuacutema SA 2 PMDB PSDB 18000000 1136

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasil Ltda 7 PFL PMDB PP PPS PT 15555000 981

Cia Energeacutetica Meridional 3 PFL PP PT 14000000 883

Carboniacutefera Catarinense Ltda 2 PFL PP 8183000 516

Carboniacutefera Belluno Ltda 2 PMDB PSDB 6776000 427

A Mendes TerConstr E Extr De

Minerais Ltda 1 PMDB 4000000 252

Minageo Ltda 2 PMDB PT 3288000 207

Sul Catarinense Mineraccedilatildeo e Art 4 PP PPS PSDB 2400000 151

Carboniacutefera Sideroacutepolis Ltda 1 PP 1186500 075

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda 1 PP 1186400 075

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos 1 PMDB 500000 032

TOTAL 158506900 10000

144

Tabela 11 - Candidatosas que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2006

Fonte TSE 2013

Em 2006 o PMDB recebeu o maior montante de doaccedilotildees

4104 enquanto na eleiccedilatildeo de 2002 o maior montante foi destinado ao

PP 46 O PSDB aumentou suas captaccedilotildees junto ao lobby do carvatildeo de

1352 em 2002 para 1640 em 2006 O PT de 477 em 2002

para 807 em 2006 O PFL diminuiu de 2147 para 1577 no

periacuteodo Aleacutem do PMDB apareceu na lista tambeacutem o Partido Popular

Socialista (PPS) com 265 (Tabela 12)

NOME PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 21000000 1325 44379023 4732

Ada Lili Faraco de Luca PMDB Deputado Estadual 20000000 1262 62976575 3176

Luiz Henrique da Silveira PMDB Governador 20000000 1262 725548795 276

Paulo Roberto Bauer PSDB Deputado Federal 15000000 946 63272293 2371

Leodegar da Cunha Tiscoski PP Deputado Federal 12263900 774 16487006 7439

Geraldo Cesar Althoff PFL Deputado Federal 11000000 694 113398356 97

Angela Regina Heinzen Amin Helou PP Deputado Federal 10000000 631 25349000 3945

Djalma Vando Berger PSDB Deputado Federal 5000000 315 107978844 463

Gervaacutesio Joseacute da Silva PFL Deputado Federal 5000000 315 95845710 522

Giancarlo Tomelin PSDB Deputado Estadual 5000000 315 14028277 3564

Jorge Catalino Leonardelli Boeira PT Deputado Federal 5000000 315 47519555 1052

Paulo Roberto Barreto Bornhausen PFL Deputado Federal 5000000 315 132260292 378

Ivan Cesar Ranzolin PFL Deputado Federal 4000000 252 23237183 1721

Milton Mendes de Oliveira PT Deputado Federal 4000000 252 18603010 215

Joseacute Paulo Serafim PT Deputado Estadual 3788000 239 19238000 1969

Sergio Joseacute Grando PPS Deputado Estadual 3200000 202 16206665 1974

Antonio Carlos Vieira PP Deputado Estadual 3000000 189 15931786 1883

Acelio Casagrande PMDB Deputado Federal 2055000 13 14020875 1466

Ronaldo Joseacute Benedet PMDB Deputado Estadual 2000000 126 42694345 468

Altair Guidi PPS Deputado Estadual 1000000 063 10547730 948

Joseacute Natal Pereira PSDB Deputado Estadual 1000000 063 13659460 732

Licio Mauro Ferreira da Silveira PP Deputado Estadual 200000 013 10092456 198

158506900 100

145

Tabela 12 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2006

Fonte TSE 2013

Na Eleiccedilatildeo de 2010 cinco empresas aparecem como doadoras A

Tractebel assim como na Eleiccedilatildeo de 2002 e 2006 doou a maior parte

dos recursos 7483 para 27 candidatos de vaacuterios partidos As outras

quatro empresas dividem os 2517 restantes conforme dados

apresentados na Tabela 13

Tabela 13 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2010

Fonte TSE 2013

Os candidatos que receberam o maior montante de doaccedilotildees foram

Angela Amin com 1515 Paulo Roberto Bauer com 1082 e Edson

Bez de Oliveira com 884 (Tabela 14) O nuacutemero de candidatos

apoiados por doaccedilotildees aumentou de 19 candidatos em 2002 para 22 em

2006 e 30 em 2010 Diminuiu tambeacutem a concentraccedilatildeo dos recursos em

relaccedilatildeo ao nuacutemero de candidatos em 2002 os trecircs primeiros candidatos

receberam 5993 das doaccedilotildees em 2006 receberam 3849 e em

2010 3481 Isso demonstra que as empresas passaram a investir em

um nuacutemero maior de candidatos concentrando menos as doaccedilotildees

PARTIDO VALOR [R$]

PMDB 65055000 4104

PSDB 26000000 164

PP 25463900 1606

PFL 25000000 1577

PT 12788000 807

PPS 4200000 265

TOTAL 158506900 100

DOADOR NordmCANDIDATOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora

Ltda

27 PMDB PP

PPS PR

PSDB e PT

123500000 7483

Industria Carboniacutefera Rio Deserto

Ltda

4 PMDB e

PSDB

12548100 760

Carboniacutefera Metropolitana SA 5 PMDB

PSDB

11700000 709

Carboniacutefera Belluno Ltda 2 PSDB 10600000 642

Carboniacutefera Criciuacutema Ltda 3 PMDB 6700600 406

TOTAL 165048700 10000

146

Tabela 14 - Candidatosas receberam doaccedilotildees das empresas ligadas

ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2010

Fonte TSE 2013

Em 2010 o mesmo natildeo aconteceu com os partidos poliacuteticos As

doaccedilotildees concentraram-se em trecircs partidos PMDB com 3641 PT com

3393 e PSDB com 1784 conforme dados apresentados na Tabela

15 A concentraccedilatildeo de doaccedilotildees no PMDB diminuiu de 4104 em 2006

para 3641 em 2010 e aumentou para o PT (de 807 em 2006 para

3393 em 2010) e o PSDB (de 1640 em 2006 para 1784 em

2010)

NOME PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Angela R H Amin Helou PP Governador 25000000 1515 285235728 876

Paulo Roberto Bauer PSDB Senador 17859100 1082 215018697 831

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 14589500 884 76475776 1908

Ronaldo Joseacute Benedet PMDB Deputado Federal 10037000 608 62224076 1613

Claudio Antocircnio Vignatti PT Senador 10000000 606 225944994 443

Luiz Henrique da Silveira PMDB Senador 7463100 452 316150000 236

Thatiane Ferro Teixeira PSDB Deputado Estadual 5600000 339 21357586 2622

Ada Lili Faraco de Luca PMDB Deputado Estadual 5000000 303 66479091 752

Jorge C Leonardeli Boeira PT Deputado Federal 5000000 303 51226181 976

Celso Maldaner PMDB Deputado Federal 4000000 242 56183406 712

Deacutecio Nery de Lima PT Deputado Federal 4000000 242 94602191 423

Gean Marques Loureiro PMDB Deputado Federal 4000000 242 47666076 839

Gervaacutesio Joseacute da Silva PSDB Deputado Federal 4000000 242 68162276 587

Luci T K Choinacki PT Deputado Federal 4000000 242 53638737 746

Paulo R B Bornhausen DEM Deputado Federal 4000000 242 132193682 303

Pedro Francisco Uczai PT Deputado Federal 4000000 242 45421410 881

Vanio dos Santos PT Deputado Federal 4000000 242 68945421 580

Aceacutelio Casagrande PMDB Deputado Estadual 2500000 151 19129380 1307

Alexandre Santos Moraes PMDB Deputado Estadual 2500000 151 11717054 2134

Ana Paulo de Souza Lima PT Deputado Estadual 2500000 151 19360800 1291

Antonio M R de Aguiar PMDB Deputado Estadual 2500000 151 57962102 431

Carlos Joseacute Stupp PSDB Deputado Estadual 2500000 151 41555975 602

Edison A A de Oliveira PMDB Deputado Estadual 2500000 151 44778059 558

Giancarlo Tomelin PSDB Deputado Estadual 2500000 151 26041812 960

Joatildeo Batista Nunes PR Deputado Estadual 2500000 151 28970265 863

Joatildeo Olavio Falchetti PT Deputado Estadual 2500000 151 6753000 3702

Joares Carlos Ponticelli PP Deputado Estadual 2500000 151 45669621 547

Luciano Formighieri PPS Deputado Estadual 2500000 151 17351190 1441

Marcos Luiz Vieira PSDB Deputado Estadual 2500000 151 79902729 313

Rosemeacuteri Bartucheski PMDB Deputado Estadual 2500000 151 30045075 832

TOTAL 165048700 10000

147

Tabela 15 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2010

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees gerais de 2002 2006 e 2010 foram registradas

doaccedilotildees de 16 empresas ligadas ao carvatildeo mineral somando um total de

R$ 429404000 A Tractebel doou 5601 do total (R$ 240500000)

seguida pela Carboniacutefera Metropolitana SA com 1092 (R$

46882000) e pela Carboniacutefera Belluno com 730 (R$ 31346000) As

doaccedilotildees tecircm aumentado a cada eleiccedilatildeo em 2002 foram R$

105848400 em 2006 foram R$ 158506900 e em 2010 foram R$

165048700

O candidato Paulo Roberto Bauer recebeu um total de R$

45369900 em doaccedilotildees representando 1057 do total de doaccedilotildees Jaacute

Esperidiatildeo Amin recebeu R$ 43798600 (1020) e Edson Bez de

Oliveira foi agraciado com R$ 40855700 (951) Todos os candidatos

eleitos que receberam doaccedilotildees de campanha das empresas ligadas ao

carvatildeo mineral participam da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral confirmando a hipoacutetese da relaccedilatildeo estreita entre doaccedilotildees e

apoio agrave causa do carvatildeo mineral

No que se refere agrave relaccedilatildeo entre doaccedilotildees e os partidos poliacuteticos

constatou-se que o PMDB recebeu 3168 das doaccedilotildees no periacuteodo de

2002 a 2010 (R$ 136017900) Quanto ao PP este recebeu 1937 (R$

83154500) O PT levou 1720 (R$ 73838000) O PMDB aumentou

de R$ 10866200 em 2002 para R$ 60096700 em 2010 O PT

aumentou de R$ 5050000 em 2002 para R$ 56000000 em 2010 Jaacute

o PP diminuiu de R$ 48690600 em 2002 para R$ 9000000 em

2010 O aumento das doaccedilotildees para o PMDB e o PT pode ser explicado

se considerarmos a reeleiccedilatildeo e ascensatildeo de alguns candidatos inclusive

pela reeleiccedilatildeo de Luiz Inaacutecio Lula da Silva do PT para a presidecircncia da

Repuacuteblica Jaacute as doaccedilotildees concedidas ao PP diminuiacuteram apoacutes a aposta

frustrada na eleiccedilatildeo de Esperidiatildeo Amin para governador

PARTIDO VALOR R$

PMDB 60096700 3641

PT 56000000 3393

PSDB 29452000 1784

PP 9000000 545

DEM 4000000 242

PR 4000000 242

PPS 2500000 151

TOTAL 165048700 10000

148

522 Eleiccedilotildees municipais

Nas eleiccedilotildees municipais de 2004 cinco empresas foram

doadoras Carboniacutefera Belluno (6383) Carboniacutefera Criciuacutema

(1558) Carboniacutefera Metropolitana (895) Carboniacutefera Catarinense

(823) e Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos (341) conforme dados da

Tabela 16 Foram doados R$ 41232300 para sete municiacutepios

Tabela 16 - Doadores eleiccedilotildees de 2004

Fonte TSE 2013

O municiacutepio de Criciuacutema recebeu 852 das doaccedilotildees Dentre os

candidatos estatildeo o candidato a vereador do municiacutepio de Criciuacutema

Edson do Nascimento do PMDB com 728 das doaccedilotildees o candidato

a prefeito de Criciuacutema Deacutecio Gomes Goacutees do PT com 606 e Carlos

Joseacute Stupp candidato a prefeito no municiacutepio de Tubaratildeo pelo PSDB

com 485 Aleacutem dos Comitecircs Financeiros Municipais (CFM) de

Criciuacutema Sideroacutepolis Treviso Lauro Muller e Iccedilara quatorze

candidatos a prefeito e vereador foram apoiados por doaccedilotildees (Tabela

17) Dos quatorze candidatos seis se mostram mais dependentes das

doaccedilotildees representando mais de 50 de sua receita total

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Carboniacutefera Criciuacutema Criciuacutema e Tubaratildeo PFL PMDB PSDB 6425000 3791

Carboniacutefera Metropolitana Criciuacutema Iccedilara e Tubaratildeo PFL PMDB e PT 3688500 2176

Caboniacutefera Catarinense Criciuacutema Lauro Muller Sideroacutepolis

Tubaratildeo

PFL PP PT 3391500 2001

Carboniacutefera Belluno Criciuacutema e Treviso PSDB 2034300 1200

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos Criciuacutema Lauro Muller Urussanga

PMDB PP PSDB e

PT 1408000 831

TOTAL 16947300 10000

149

Tabela 17 - Comitecircs e candidatos que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

2004

Fonte TSE 2013

Em 2004 dos cinco partidos que estatildeo entre os receptores o

PSDB recebeu 6798 das doaccedilotildees o PMDB recebeu 1823 o PT

recebeu 657 o PP recebeu 402 e o PFL recebeu 319 (Tabela

18)

Tabela 18 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2004

Fonte TSE 2013

CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$

RECEITA

TOTAL

R

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Criciuacutema PSDB - 29431300 7138 37042800 7945

Edson Do Nascimento Criciuacutema PMDB Vereador 3000000 728 3777163 7942

Deacutecio Gomes Goacutees Criciuacutema PT Prefeito 2500000 606 41391000 604

Carlos Jose Stupp Tubaratildeo PSDB Prefeito 2000000 485 66861662 299

Comitecirc Financeiro

Municipal Uacutenico

Sideroacutepolis PP - 791500 192 916500 8636

Luiz Carlos Zen Urussanga PP Prefeito 668000 162 4418000 1512

Felipe Felisbino Tubaratildeo PFL Vereador 500000 121 641145 7799

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Treviso PMDB - 388000 094 1004554 3862

Nestor Spricigo Lauro Muller PMDB Prefeito 330000 080 830752 3972

Elemar Nunes Tubaratildeo PFL Vereador 264000 064 404248 6531

Dalton Luiz Marcon Tubaratildeo PFL Vereador 202500 049 342514 5912

Manoel Duarte Porto Tubaratildeo PFL Vereador 202500 049 529725 3823

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Lauro Muller PP - 200000 049 600000 3333

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Iccedilara PMDB - 200000 049 6610000 303

Rudemar Silveira Da

Cunha

Tubaratildeo PFL Vereador 144500 035 242894 5949

Paulo Gonccedilalves Filho Lauro Muller PT Prefeito 110000 027 535000 2056

Antonio Alves Elias Lauro Muller PT Vereador 100000 024 166828 5994

Lauro Pirolla Criciuacutema PSDB Vereador 100000 024 279420 3579

Vanderlei Joseacute Zilli Criciuacutema PMDB Vereador 100000 024 1007126 993

41232300 10000

PARTIDO VALOR R$

PSDB 28031300 6798

PMDB 7518000 1823

PT 2710000 657

PP 1659500 402

PFL 1313500 319

TOTAL 41232300 10000

150

Nas eleiccedilotildees de 2008 seis empresas doaram um total de R$

22918311 A Carboniacutefera Criciuacutema doou 4132 a Mineraccedilatildeo e

Pesquisa Brasileira doou 2313 e a Tractebel doou 2182 (Tabela

19) O montante de doaccedilotildees de 2008 se comparado ao de 2004

diminuiu 4442

Tabela 19 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2008

Fonte TSE 2013

As doaccedilotildees de 2008 se concentraram em trecircs candidatos O

candidato a prefeito de Tubaratildeo Joatildeo Falchetti do PT recebeu 4363

das doaccedilotildees Edison do Nascimento do PMDB candidato a vereador

por Criciuacutema recebeu 2396 e Joseacute Claudio Gonccedilalves do DEM

candidato a prefeito de Forquilhinha recebeu 1091 das doaccedilotildees

Conforme dados apresentados na Tabela 20 receberam doaccedilotildees

candidatos dos municiacutepios de Criciuacutema Tubaratildeo Forquilhinha Iccedilara

Meleiro Timbeacute do Sul Sideroacutepolis e Lauro Muller Se consideradas as

receitas totais dos dezesseis candidatos cinco candidatos satildeo muito

dependentes das doaccedilotildees jaacute que elas representam mais de 50 da

receita total

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Carbonifera Criciuma SA Criciuacutema Forquilhinha Lauro Muller

Meleiro Timbeacute do Sul

PMDB DEM 9468944 4132

Mineraccedilatildeo E Pesquisa Brasileira Criciuacutema Tubaratildeo PMDB PT 5300000 2313

Tractebel Energia Tubaratildeo PT 5000000 2182

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda Criciuacutema Iccedilara DEM PP PSDB 1679175 733

Carboniacutefera Belluno Ltda Criciuacutema PSDB 1120192 489

Carbonifera Metropolitana SA Criciuacutema Sideroacutepolis Timbeacute do Sul PMDB 350000 153

TOTAL 22918311 10000

151

Tabela 20 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2008 que receberam doaccedilotildees

das empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

Fonte TSE 2013

As doaccedilotildees entre os partidos nas eleiccedilotildees de 2008 foram

distribuiacutedas da seguinte forma o PT recebeu 4363 das doaccedilotildees o

PMDB recebeu 3181 o DEM recebeu 1158 o PSDB recebeu

774 e o PP recebeu 524 (Tabela 21)

Tabela 21 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2008

Fonte TSE 2013

Nas Eleiccedilotildees de 2012 cinco empresas doaram R$ 22700000

para candidatos de trecircs municiacutepios Criciuacutema Iccedilara e Tubaratildeo Os

maiores montantes de doaccedilatildeo tiveram origem na Tractebel (6608) Carboniacutefera Metropolitana (1762) e Carboniacutefera Criciuacutema (1101)

conforme dados apresentados na Tabela 22

NOME DO CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Joatildeo Olavio Falchetti Tubaratildeo PT Prefeito 10000000 4363 18223525 5487

Edison Do Nascimento Criciuacutema PMDB Vereador 5490944 2396 10054122 5461

Joseacute Claudio Gonccedilalves Forquilhinha DEM Prefeito 2500000 1091 10147880 2464

Darlan Bitencourt Carpes Iccedilara PP Vereador 1200000 524 3761519 3190

Antoninho Dal Molin Netto Meleiro PMDB Prefeito 1000000 436 1997000 5008

Clesio Salvaro Criciuacutema PSDB Prefeito 842992 368 72173591 117

Andre M Jucoski Iccedilara PSDB Vereador 454175 198 1245875 3645

Luiz Fernando Cardoso Criciuacutema PMDB Vereador 400000 175 8071771 496

Jose Daminelli Criciuacutema PSDB Vereador 277200 121 1227765 2258

Arleu Ronaldo Da Silveira Criciuacutema PSDB Vereador 200000 087 1649455 1213

Heacutelio Roberto Cesa Sideroacutepolis PMDB Prefeito 150000 065 9963963 151

Wersmberg Laureano Lauro Muumlller DEM Vereador 128000 056 385903 3317

Loraci Davila Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 100000 044 163000 6135

Gislael Floriano Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 100000 044 195000 5128

Joao Batista Mandelli Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 50000 022 255800 1955

Romanna G C L Remor Criciuacutema DEM Vereador 25000 011 10166479 025

22918311 10000

152

Tabela 22 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2012

Fonte TSE 2013

Os candidatos a prefeito de Tubaratildeo do PSDB PMDB PSD e

PT receberam 8812 das doaccedilotildees (Tabela 23) O municiacutepio de Tubaratildeo

recebeu 8944 do total de doaccedilotildees Se consideradas as receitas totais

natildeo haacute evidecircncias de uma maior dependecircncia grande das doaccedilotildees

Tabela 23 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2012 que receberam doaccedilotildees

das empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

Fonte TSE 2013

Em 2012 o PSDB recebeu 2996 das doaccedilotildees o PMDB o PSD

e o PT receberam 2203 respectivamente e o PP recebeu 396

(Tabela 24) As doaccedilotildees da Eleiccedilatildeo de 2012 se comparadas agraves eleiccedilotildees

de 2004 e 2008 foram distribuiacutedas de forma mais equilibrada entre os

partidos

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora

Ltda

Tubaratildeo PSD PSDB

PT

15000000 6608

Carboniacutefera Metropolitana SA Iccedilara Tubaratildeo PSDB 4000000 1762

Carboniacutefera Criciuacutema SA Iccedilara Tubaratildeo PMDB PSDB 2500000 1101

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasileira Ltda Criciuacutema PP 900000 396

Minageo Ltda Tubaratildeo PSDB 300000 132

TOTAL 22700000 10000

CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Carlos Joseacute Stupp Tubaratildeo PSDB Prefeito 5000000 2203 36245503 1379

Edson Bez de

Oliveira

Tubaratildeo PMDB Prefeito 5000000 2203 129287720 387

Felippe Luiz Collaccedilo Tubaratildeo PSD Prefeito 5000000 2203 34140000 1465

Joatildeo Olavio falchetti Tubaratildeo PT Prefeito 5000000 2203 42272000 1183

Andreacute Mazzuchello

Jucoski

Iccedilara PSDB Vereador 1500000 661 4995950 3002

Daniel Costa de

Freitas

Criciuacutema PP Vereador 900000 396 6319977 1424

Felipe Felisbino Tubaratildeo PSDB Vereador 300000 132 4119158 728

22700000 10000

153

Tabela 24 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2012

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees municipais de 2004 2008 e 2012 nove empresas

doaram R$ 86850611 para os candidatos a prefeito e vereador As

doaccedilotildees direcionadas agraves eleiccedilotildees municipais apresentam uma reduccedilatildeo

significativa foram R$ 41232300 em 2004 R$ 22918311 em 2008 e

R$ 22700000 em 2012 A Carboniacutefera Belluno lidera as doaccedilotildees com

3159 seguida da Tractebel com 2303 e da Carboniacutefera Criciuacutema

com 2118 Os trecircs partidos que mais recebem doaccedilotildees nas eleiccedilotildees

municipais satildeo PSDB com 4215 PMDB com 2281 e PT com

2039

53 Os fatos ausentes do discurso dos poliacuteticos

No Brasil a degradaccedilatildeo do meio ambiente

e da sociedade das pessoas e da natureza

constitui cara e coroa de uma mesma

moeda de um mesmo estilo de

desenvolvimento e da ausecircncia de

democracia (SOUZA 1992 p 16)

As empresas ligadas ao carvatildeo mineral em Santa Catarina

doaram no intervalo de dez anos R$ 516254611 para candidatos a

eleiccedilotildees gerais e municipais Das dezessete empresas que aparecem

como doadoras a Tractebel foi responsaacutevel por 5046 das doaccedilotildees

seguida pela Carboniacutefera Belluno com 1139 e pela Carboniacutefera

Metropolitana com 1064 As demais quatorze empresas somam

2751 das doaccedilotildees (Tabela 25) O aumento nas doaccedilotildees para eleiccedilotildees

gerais e a diminuiccedilatildeo das doaccedilotildees para eleiccedilotildees municipais mostra que cresce nas empresas o interesse em apoiar candidatos a eleiccedilotildees gerais

que possam participar da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral

PARTIDO VALOR R$

PSDB 6800000 2996

PMDB 5000000 2203

PSD 5000000 2203

PT 5000000 2203

PP 900000 396

TOTAL 22700000 10000

154

Tabela 25 - Siacutentese dos doadores Eleiccedilotildees de 2002 e 2012

Fonte TSE 2013

Os dez candidatos que receberam maiores doaccedilotildees entre 2002 e

2012 foram candidatos a eleiccedilotildees gerais exceto Joatildeo Olavio Falchetti

que foi candidato em duas eleiccedilotildees municipais em 2008 e 2012 (Tabela

26) Todos os candidatos a eleiccedilotildees gerais que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e foram eleitos fazem parte

atualmente da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral

ANO ELEICcedilAtildeO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

DOADOR VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$

Tractebel Egi South

America Ltda 53000000 0 64000000 5000000 123500000 15000000 260500000 5046

Carboniacutefera Belluno Ltda 13970000 26319300 6776000 1120192 10600000 0 58785492 1139

Carboniacutefera

Metropolitana SA 15750000 3688500 19432000 350000 11700000 4000000 54920500 1064

Carboniacutefera Criciuacutema 6450000 6425000 18000000 9468944 6700600 2500000 49544544 96

Mineraccedilatildeo e Pesquisa

Brasil Ltda 0 0 15555000 5300000 0 900000 21755000 421

Induacutestria Carboniacutefera Rio

Deserto 4050000 0 0 0 12548100 0 16598100 322

Cia Energeacutetica Meridional 0 0 14000000 0 0 0 14000000 271

Mineraccedilatildeo Castelo

Branco Ltda 8467400 0 0 0 0 0 8467400 164

Carboniacutefera Catarinense

Ltda 0 0 8183000 0 0 0 8183000 159

Coque Catarinense Ltda 2434000 3391500 0 0 0 0 5825500 113

A Mendes TC e E de

Minerais Ltda 0 0 4000000 0 0 0 4000000 077

Minageo Ltda 0 0 3288000 0 0 300000 3588000 07

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda 0 0 1186400 1679175 0 0 2865575 056

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos

Ltda 927000 1408000 500000 0 0 0 2835000 055

Sul Catarinense

Mineraccedilatildeo e Art 0 0 2400000 0 0 0 2400000 046

Carboniacutefera Sideroacutepolis

Ltda 0 0 1186500 0 0 0 1186500 023

Mineraccedilatildeo Santa Augusta

Ltda 800000 0 0 0 0 0 800000 015

TOTAL 105848400 41232300 158506900 22918311 165048700 22700000 516254611 100

TOTAL

155

Tabela 26 - Candidatos que receberam maiores doaccedilotildees Eleiccedilotildees de

2002 a 2012

Fonte TSE 2013

Os partidos poliacuteticos que se destacam como maiores

receptores das doaccedilotildees satildeo PMDB com 3018 PSDB com 2060

PT com 1773 e PP com 1684 (Tabela 27)

Tabela 27 - Doaccedilotildees por Partido Poliacutetico Eleiccedilotildees de 2002 a 2012

Fonte TSE 2013

Os dados apresentados corroboram a hipoacutetese de que na defesa da causa do carvatildeo mineral se aliam poliacuteticos e empresas pelas doaccedilotildees

de campanha Trazer os fatos ausentes do discurso coloca em questatildeo o

reconhecimento e a representaccedilatildeo poliacutetica condiccedilotildees fundamentais para

assegurar a justiccedila ecoloacutegica e consequentemente para favorecer a

ANO ELEICcedilAtildeO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

NOME VALOR R$ VALOR R$VALOR R$ VALOR R$VALOR R$VALOR R$ TOTAL R$

Edson Bez de

Oliveira 5266200 0 21000000 0 14589500 5000000 45855700 89

Paulo Roberto

Bauer 12510800 0 15000000 0 17859100 0 45369900 88

Esperidiatildeo Amin

Helou Filho 43798600 0 0 0 0 0 43798600 85

Angela R H Amin

Helou 0 0 10000000 0 25000000 0 35000000 68

Luiz Henrique da

Silveira 4000000 0 20000000 0 7463100 0 31463100 61

Ada Lili Faraco de

Luca 0 0 20000000 0 5000000 0 25000000 48

Leodegar da Cunha

Tiscoski 4892000 0 12263900 0 0 0 17155900 33

Joatildeo Olavio

Falchetti 0 0 0 10000000 2500000 1500000 14000000 27

Paulo R B

Bornhausen 4900000 0 5000000 0 4000000 0 13900000 27

Ronaldo Joseacute

Benedet 1350000 0 2000000 0 10037000 0 13387000 26

ANO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

PARTIDO VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ TOTAL

PMDB 10866200 7518000 65055000 7290944 60096700 5000000 155826844 3018

PSDB 14310800 28031300 26000000 1774367 29452000 6800000 106368467 206

PT 5050000 2710000 12788000 10000000 56000000 5000000 91548000 1773

PP 48690600 1659500 25463900 1200000 9000000 900000 86914000 1684

PFL 22730800 1313500 25000000 0 0 0 49044300 95

PPB 4200000 0 4200000 0 2500000 0 10900000 211

DEM 0 0 0 2653000 4000000 0 6653000 129

PR 0 0 0 0 4000000 0 4000000 077

PSD 0 0 0 0 0 5000000 5000000 097

TOTAL 516254611 100

156

aplicaccedilatildeo do enfoque do ecodesenvolvimento Os candidatos eleitos natildeo

representam os interesses da maioria que os elegeu e sim daqueles

poucos que investiram em suas campanhas por meio de doaccedilotildees Vecircm se

consolidando assim um cenaacuterio no qual a injusticcedila poliacutetica alimenta a

reproduccedilatildeo da injusticcedila ambiental e ecoloacutegica

6 CARVAtildeO MINERAL E AMPLIACcedilAtildeO DA ENERGIA

TERMELEacuteTRICA EM SANTA CATARINA

A trajetoacuteria do carvatildeo mineral no Brasil e em Santa Catarina eacute

acompanhada de periacuteodos de crise e recuperaccedilatildeo do segmento A

construccedilatildeo da USITESC eacute uma forma de garantir a continuidade da

exploraccedilatildeo e do consumo do carvatildeo Aleacutem da crise do carvatildeo o que

aparece nos discursos de parlamentares presentes no capiacutetulo anterior eacute

o carvatildeo como seguranccedila energeacutetica

O objetivo desse capiacutetulo eacute compreender a ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo

de energia eleacutetrica movida a carvatildeo mineral atraveacutes da anaacutelise do

processo de licenciamento ambiental da USITESC Nos capiacutetulos dois e

trecircs foram tratados condicionantes mais amplos que incidem sobre a

ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo No capiacutetulo quatro foi examinada a relaccedilatildeo das

redes de influecircncia entre segmentos poliacuteticos e econocircmicos em vaacuterias

escalas Neste capiacutetulo a ideia eacute verificar os condicionantes que atuam

localmente

Para tanto o capiacutetulo estaacute dividido em quatro seccedilotildees aleacutem dessa

introduccedilatildeo A primeira seccedilatildeo trata das principais caracteriacutesticas do

municiacutepio de Treviso A segunda seccedilatildeo traz informaccedilotildees sobre os

documentos escritos da USITESC o EIARIMA o processo de

licenciamento e audiecircncias as correspondecircncias e articulaccedilotildees entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos e a posiccedilatildeo dos segmentos sociais Na

terceira seccedilatildeo entram os documentos falados do processo de

licenciamento os discursos nas audiecircncias puacuteblicas A anaacutelise dos

discursos torna expliacutecitas as relaccedilotildees de poder e desigualdade nas

audiecircncias puacuteblicas A quarta seccedilatildeo faz uma siacutentese das limitaccedilotildees e

possibilidades da democracia e do aprendizado social no caso do

licenciamento da USITESC

61 O municiacutepio de Treviso

A chegada dos primeiros imigrantes italianos no Sul de Santa

Catarina data de 1891 oriundas das proviacutencias de Treviso Beacutergamo

158

Cremona e Ferrara O povoado de Treviso tornou-se distrito de

Urussanga em 1933 Em 1958 o controle do distrito passou para

Sideroacutepolis emancipado de Urussanga Em 1995 o distrito de Treviso eacute

desmembrado de Sideroacutepolis formando um novo municiacutepio (IBGE

2013 PMT 2014)

No brasatildeo do municiacutepio a alusatildeo ao navio que trouxe os

primeiros imigrantes as duas atividades econocircmicas principais (extraccedilatildeo

do carvatildeo e o cultivo da banana) e as datas de colonizaccedilatildeo e

emancipaccedilatildeo (Figura 8)

Figura 8- Brasatildeo do municiacutepio de Treviso

Fonte PMT (2014) Autora Daniela Losso Redesenhado por Edson

Cesconetto

O municiacutepio de Treviso localiza-se na Bacia Carboniacutefera (Figura

9) entre Sideroacutepolis Lauro Muumlller e Urussanga a 220 km da capital

Florianoacutepolis a 35 km da BR 101 e a 25 km da cidade de Criciuacutema

(PMT 2014)

159

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Treviso

Fonte Concepccedilatildeo de Luciana Butzke Elaborado por Ruy Lucas de

Souza

O clima geral da regiatildeo segundo a classificaccedilatildeo climaacutetica de

Koumleppen eacute do tipo Cfa (mesoteacutermico uacutemido e com veratildeo quente) A

temperatura meacutedia anual varia de 170 a 193ordmC maacuteximas de 234 a

259ordmC e miacutenimas entre 120 e 151ordmC A meacutedia anual pluviomeacutetrica fica

em torno de 1220 a 1660mm e a umidade relativa do ar varia de 814

a 822 (UNESC PLURAL 2006)

A regiatildeo conta com grandes variaccedilotildees de relevo clima tipos de

solo fauna e flora A geomorfologia da regiatildeo conta com seis domiacutenios

ambientais Planalto dos Campos Gerais Serra Geral Patamares da

Serra Geral Depressatildeo da Zona Carboniacutefera Sudeste Catarinense

Embasamento em estilos complexos e Planiacutecie Coluacutevio-aluvionar (Quadro 9)

160

Quadro 9 - Principais caracteriacutesticas fiacutesicas e bioacuteticas da aacuterea de

influecircncia indireta do projeto USITESC DOMIacuteNIOS

AMBIENTAIS

SIacuteNTESE DAS CARACTERIacuteSTICAS

1 Planalto dos

Campos Gerais

Corresponde agrave regiatildeo mais elevada com relevo pouco

ondulado e altitudes superiores a 1000 metros Neste

domiacutenio prevalecem rochas de origem vulcacircnicasub-

vulcacircnica com solos pouco desenvolvidos normalmente

utilizados para produccedilatildeo de maccedilatilde reflorestamento e

pastagem Esse domiacutenio abriga algumas nascentes de rios

da bacia do Araranguaacute e da bacia do Tubaratildeo com

cobertura vegetal representada pelas matas de araucaacuteria

matinha nebular e campos de cima da serra tendo fauna

diversificada Aacuterea impactada pela derrubada das matas

de araucaacuteria plantio de pinus e queimadas nos campos

2 Serra Geral Corresponde agraves aacutereas de encosta com altitudes entre

500m e 1000m onde os desniacuteveis satildeo acentuados e os

vales satildeo fechados e profundos Satildeo formadas

principalmente por rochas arenosas e basaacutelticas e solos

rasos normalmente susceptiacuteveis agrave erosatildeo e a movimentos

de massa Abriga grande parte das nascentes dos rios das

bacias do Araranguaacute e do Tubaratildeo As florestas

encontram-se entre as mais preservadas da regiatildeo sul do

Estado atuando como reguladoras do clima do ciclo e da

distribuiccedilatildeo de chuvas servindo de centro de dispersatildeo e

conexatildeo de espeacutecies Caracteriza-se pela ampla

biodiversidade representando um dos ambientes mais

complexos fraacutegeis e ameaccedilados da regiatildeo que deve ser

preservado Neste domiacutenio se insere a Reserva Bioloacutegica

Estadual do Aguaiacute

3 Patamares da

Serra Geral

Os patamares da Serra Geral representam o

prolongamento da escarpa da Serra Geral que avanccedila

sobre a Depressatildeo Carboniacutefera e a Planiacutecie Coluacutevio-

Aluvionar constituindo morros-testemunhos como o

Montanhatildeo sustentados principalmente por basaltos e

diabaacutesicos Os solos tecircm normalmente baixa fertilidade e

satildeo utilizados nas aacutereas planas para pastagens plantio de

eucalipto e lavouras de subsistecircncia Nos terrenos

iacutengremes o solo eacute usado para o cultivo de banana No

alto do Montanhatildeo encontra-se uma das aacutereas mais

preservadas deste domiacutenio correspondente agrave APA do rio

Ferreira

4 Depressatildeo da

Zona Carboniacutefera

Regiatildeo de relevo mais suave em que predominam vales

abertos e pouco profundos Constitui-se principalmente

161

do Sudeste

Catarinense

de rochas sedimentares como arenitos folhelhos siltitos

e camadas de carvatildeo Os solos satildeo variados utilizados

principalmente para pastagens culturas de subsistecircncia e

reflorestamento de eucalipto Os recursos hiacutedricos

encontram-se comprometidos principalmente pela

exploraccedilatildeo de carvatildeo mas tambeacutem pelas atividades

industriais agriacutecolas e esgotamento sanitaacuterio A regiatildeo eacute

fortemente impactada com vaacuterias aacutereas degradadas pela

exploraccedilatildeo do carvatildeo paisagens fortemente

descaracterizadas e reduzida biodiversidade em alguns

locais

5 Embasamento

em estilos

complexos

Corresponde aos relevos ondulados formados por rochas

granitoacuteides e gnaacuteissicas onde os solos normalmente satildeo

pouco desenvolvidos e de baixa fertilidade

6 Planiacutecie Coluacutevio-

Aluvionar

Aacuterea de relevo plano (cotas inferiores a 100m) com solos

do tipo hidromoacuterficos com elevado teor de mateacuteria

orgacircnica Os solos satildeo empregados no cultivo de arroz

irrigado produccedilatildeo de hortaliccedilas uva e cana-de-accediluacutecar

Em regiotildees menos inundadas satildeo utilizados tambeacutem para

reflorestamento e pastagem

Fonte UNESC Plural (2006 p 24)

Eacute destaque em Treviso a Reserva Bioloacutegica Estadual do Aguaiacute e

a Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente do Rio Ferreira A Reserva Bioloacutegica

Estadual do Aguaiacute conta com aacuterea de 7762 hectares que se estende

entre os municiacutepios de Treviso Sideroacutepolis e Nova Veneza nos beirais

da Serra Geral A reserva abriga cachoeiras fauna e flora diversificadas

que constituem grande riqueza natural (UNESC PLURAL 2006)

O municiacutepio contava em 2010 com 3527 habitantes em

157084 km2 com uma densidade demograacutefica de 2245 habitantes por

quilocircmetro quadrado Desses 1789 eram homens e 1738 eram

mulheres 1833 habitavam o espaccedilo urbano e 1694 o espaccedilo rural A

Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) correspondia a 487 da

populaccedilatildeo (SEBRAE 2013b)

O Produto Interno Bruto (PIB) de Treviso corresponde a 008

da composiccedilatildeo do PIB catarinense Jaacute em relaccedilatildeo ao PIB per capita

Treviso encontra-se em 2009 na 17ordf posiccedilatildeo no ranking estadual O

Valor Adicionado Bruto (VAB) que representa a soma de todos os bens

e serviccedilos produzidos num determinado territoacuterio econocircmico ficou

assim distribuiacutedo 61 na induacutestria 24 no setor de serviccedilos e 9 na

administraccedilatildeo puacuteblica Em relaccedilatildeo ao Valor Adicionado Fiscal (VAF)

162

indicador econocircmico contaacutebil utilizado para calcular a participaccedilatildeo

municipal no repasse de impostos a extraccedilatildeo de carvatildeo mineral era

responsaacutevel por 66 da participaccedilatildeo do VAF no ano de 2010

(SEBRAE 2013b) Esses dados demonstram uma forte dependecircncia do

municiacutepio agrave atividade carboniacutefera

Dos 1093 domiciacutelios existentes no municiacutepio 853 eram

proacuteprios 91 alugados 55 cedidos e 01 em outra condiccedilatildeo No

que se refere agrave renda familiar 04 da populaccedilatildeo contava com renda

familiar per capita de ateacute R$ 7000 16 com renda familiar per capita

de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo e 103 com ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo A meacutedia

salarial da induacutestria extrativa era de R$ 185480 inferior apenas a

atividades relacionadas agrave eletricidade e gaacutes com uma meacutedia de R$

277460 Nesse mesmo ano o municiacutepio contava com 1629 postos de

trabalho com carteira assinada dos quais 1132 eram vinculados agrave

atividade carboniacutefera em cinco empresas (SEBRAE 2013b) Quando

69 dos postos de trabalho com carteira assinada tecircm origem na

atividade carboniacutefera que na localidade apresenta tambeacutem uma das

melhores meacutedias salariais a populaccedilatildeo fica numa posiccedilatildeo de

vulnerabilidade jaacute que depende dessa atividade para o seu sustento

Na lavoura temporaacuteria destacam-se a produccedilatildeo do arroz batata-

doce batata inglesa feijatildeo (gratildeo) fumo mandioca milho (gratildeo) Na

lavoura permanente tem se destacado a banana No municiacutepio tambeacutem

satildeo criadas aves (galos galinhas frangos e pintos) que em 2010

somavam 500000 cabeccedilas (SEBRAE 2013b)

Treviso conta com trecircs aacutereas inclusas na Accedilatildeo Civil Puacuteblica nordm

938000533-4 que determina a recuperaccedilatildeo das aacutereas degradas pela

mineraccedilatildeo Aacuterea III Rio Pio que tem 11781 hectares Campo Morosini

com 22100 hectares e UM IV Volta Redonda com 5797 hectares A

primeira aacuterea natildeo foi iniciada a segunda estaacute em andamento e a terceira

jaacute estaacute finalizada O processo de recuperaccedilatildeo foi orccedilado em 319 milhotildees

de reais (ACP DO CARVAtildeO 2014)

62 O processo de licenciamento os documentos escritos

A primeira solicitaccedilatildeo de parecer da USITESC referente ao

Licenciamento Preacutevio (LP) data do dia 2 de maio de 2000 Segundo a

solicitaccedilatildeo o parecer se fazia necessaacuterio para que a Usina fosse

163

implantada dentro do prazo previsto pelo Governo e pelo Programa

Prioritaacuterio de Termeleacutetricas que se colocava para dezembro de 2003

(FATMA 2013a fl 1) A contrataccedilatildeo do EIARIMA foi em 2001 e a

entrega aconteceu em 18 de agosto de 2003 (FATMA 2013a fl 49)

621 O EIARIMA da USITESC

A equipe responsaacutevel pelo projeto da USITESC foi composta por

consoacutercio formado pela Carboniacutefera Criciuacutema SA e pela Companhia

Carboniacutefera Metropolitana SA O projeto foi desenvolvido com o apoio

da Parsons Energy amp Chemicals Group Main Engenharia amp Consultoria

Ltda e Taylor DeJongh E o EIARIMA foi realizado pelo IPAT

vinculado agrave UNESC e Plural

A previsatildeo de construccedilatildeo da USITESC eacute de 40 meses A aacuterea a

ser ocupada pela usina localiza-se na margem direita do rio Matildee Luzia

tem aproximadamente 500000m2 e pertence agrave Carboniacutefera

Metropolitana sendo utilizada como depoacutesito de rejeitos (Figura 10)

(UNESC PLURAL 2006)

Figura 10 - Aacuterea prevista para a implantaccedilatildeo da USITESC

Fonte UNESC Plural 2006 p 5

164

Para a produccedilatildeo de energia termeleacutetrica a usina vai utilizar carvatildeo

bruto da camada Bonito (70) e rejeitos da camada Barro Branco

(30) que seratildeo fornecidos pelas duas empresas que compotildeem o

consoacutercio O consumo meacutedio anual previsto eacute de 1900000 toneladas de

carvatildeo e 820000 toneladas de rejeito A USITESC teraacute potecircncia

instalada de 440 MW e segundo a descriccedilatildeo do empreendimento vai

gerar 180 empregos diretos (FATMA 2013a fl 34)

Na justificativa do EIARIMA destacou-se a importacircncia

estrateacutegica do carvatildeo dada a dependecircncia hidroenergeacutetica e a

inseguranccedila quanto agrave importaccedilatildeo do gaacutes natural e o uso de tecnologias

limpas de queima de carvatildeo Natildeo satildeo citados dados sobre consumo e

demanda A USITESC adquire importacircncia na recuperaccedilatildeo ambiental do

Sul jaacute que vai consumir os rejeitos (UNESC PLURAL 2006)

Para gerar energia termeleacutetrica a USITESC vai utilizar o ciclo

teacutermico regenerativo com uso de caldeira de leito fluidizado que

recupera calor exigindo um consumo menor de combustiacutevel A

combustatildeo em leito fluidizado circulante reduz a produccedilatildeo de oacutexidos de

nitrogecircnio O controle das emissotildees atmosfeacutericas seraacute feito atraveacutes da

injeccedilatildeo de calcaacuterio na caldeira (Consumo meacutedio anual de 150000

toneladas) e de um sistema de filtragem que utilizaraacute amocircnia (consumo

meacutedio anual entre 72000 a 80000 toneladas Como resultado seratildeo

obtidas aproximadamente 300000 toneladas de sulfato de amocircnia que

seratildeo utilizadas na produccedilatildeo de fertilizantes quiacutemicos Quanto ao

consumo de aacutegua prevecirc-se um consumo meacutedio de 32 ls (115m3h) no

processo e 2361 ls (848m3h) no resfriamento Soacute a tiacutetulo de

comparaccedilatildeo para o abastecimento de Criciuacutema e municiacutepios vizinhos

satildeo utilizados 800ls do rio Satildeo Bento localizado na sub-bacia do Rio

Matildee Luzia (UNESC PLURAL 2006)16

Na avaliaccedilatildeo de impactos constam no RIMA oito impactos no

meio fiacutesico seis impactos no meio bioacutetico e 11 no meio antroacutepico

(Quadro 10) Dentre os impactos listados os de maior expressatildeo satildeo

16

O alto consumo de aacutegua e a construccedilatildeo de uma barragem no Rio

Matildee Luzia foram desde o iniacutecio do processo de licenciamento

pontos polecircmicos do projeto Devido a esses pontos o projeto foi

alterado de torre uacutemida para torre seca diminuindo o consumo de

aacutegua para 115m3h em todo o processo

165

reduccedilatildeo na geraccedilatildeo de drenagem aacutecida (considerado um impacto

positivo) alteraccedilatildeo da qualidade do ar (principalmente durante a

construccedilatildeo da Usina com a movimentaccedilatildeo de veiacuteculos pesados o

dioacutexido de enxofre pode elevar-se) reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua

(com as torres de resfriamento uacutemidas) e impacto sobre aacutereas

protegidas

Quadro 10- Impactos sobre o Meio Fiacutesico Bioacutetico e Antroacutepico e

accedilotildees geradoras IMPACTOS SOBRE O

MEIO FIacuteSICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Solo Intensificaccedilatildeo de

processos erosivos e

de assoreamento

Obras de corte e aterro necessaacuterias agrave

implantaccedilatildeo do empreendimento

Contaminaccedilatildeo do solo

pela disposiccedilatildeo de

resiacuteduos soacutelidos e

efluentes

Operaccedilatildeo da usina resiacuteduos produzidos

durante as fases de construccedilatildeo e operaccedilatildeo da

usina

Reduccedilatildeo da geraccedilatildeo

de drenagem aacutecida

Consumo de rejeito do beneficiamento de

carvatildeo e recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

pela mineraccedilatildeo

Aacutegua

Alteraccedilatildeo na

qualidade das aacuteguas

superficiais

Construccedilatildeo da usina efluentes oleosos

como oacuteleos e graxas advindos da

manutenccedilatildeo de maacutequinas e caminhotildees

ligados agraves obras eou do armazenamento

temporaacuterio de combustiacuteveis e lubrificantes

Efluentes a serem descartados pelo

empreendimento durante a fase de operaccedilatildeo

Alteraccedilatildeo na

qualidade das aacuteguas

subterracircneas

Disposiccedilatildeo inadequada de resiacuteduos soacutelidos

efluentes sanitaacuterios efluentes industriais

Reduccedilatildeo da

disponibilidade de

aacutegua

Operaccedilatildeo da usina captaccedilatildeo de aacutegua para

torre de resfriamento da usina

Ar e

ruiacutedo

Alteraccedilatildeo da

qualidade do ar

Aumento do traacutefego de veiacuteculos pesados

movimentaccedilatildeo de veiacuteculos em aacutereas natildeo

pavimentadas operaccedilatildeo da usina manuseio

do combustiacutevel

Alteraccedilatildeo das

condiccedilotildees de ruiacutedo de

fundo

Traacutefego e operaccedilatildeo de veiacuteculos pesados

operaccedilatildeo de equipamentos como

compressores britadores sondas etc

operaccedilatildeo dos equipamentos da usina

166

IMPACTOS SOBRE O

MEIO BIOacuteTICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Fauna

e

Flora

Reduccedilatildeo de habitats

para a fauna local

Preparaccedilatildeo da aacuterea de implantaccedilatildeo da usina

obras de terraplenagem e retirada da

cobertura vegetal

Evasatildeo da fauna Ruiacutedos produzidos durante a fase de

implantaccedilatildeo e construccedilatildeo da usina alteraccedilatildeo

da qualidade do ar e perda de habitats devido

agraves obras de terraplenagem

Impacto sobre a

avifauna

Operaccedilatildeo da usina

Impacto sobre a fauna

de peixes e

organismos aquaacuteticos

Construccedilatildeo da usina operaccedilatildeo da usina

manutenccedilatildeo de equipamentos transporte e

armazenamento de reagentes e outros

insumos natildeo inertes

Impacto sobre a

vegetaccedilatildeo

remanescente e

culturas

Traacutefego de veiacuteculos movidos a oacuteleo diesel

operaccedilatildeo da usina (queima de carvatildeo)

Impacto sobre as aacutereas

protegidas

Periacuteodo de construccedilatildeo da usina contingente

de trabalhadores e operaccedilatildeo da usina

IMPACTOS SOBRE O

MEIO ANTROacutePICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Geraccedilatildeo de conflitos Contrataccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

instalaccedilatildeo do canteiro de obras

Geraccedilatildeo de

expectativa e

mobilizaccedilatildeo da

comunidade

Estudos e projetos contrataccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

Sobrecarga da infra-

estrutura social

existente

Obras da usina contrataccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

da matildeo-de-obra

Geraccedilatildeo de emprego Construccedilatildeo da usina operaccedilatildeo da usina

mineraccedilatildeo do carvatildeo serviccedilos terceirizados

Geraccedilatildeo de renda e

ampliaccedilatildeo da oferta de

serviccedilos

Construccedilatildeo e operaccedilatildeo da usina

Atraccedilatildeo de matildeo-de-

obra de outras aacutereas

Construccedilatildeo da usina contrataccedilatildeo e

desmobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

Incremento do

desenvolvimento

econocircmico

Operaccedilatildeo da usina

Mudanccedila no cotidiano

da comunidade

Obras da usina contrataccedilatildeo de matildeo-de-obra

de outras regiotildees demanda por serviccedilos e

167

sobrecarga da infra-estrutura social

alteraccedilatildeo do padratildeo de traacutefego dos veiacuteculos

Alteraccedilatildeo das

condiccedilotildees de sauacutede da

populaccedilatildeo

Implantaccedilatildeo da usina fase das obras e

operaccedilatildeo da usina emissatildeo de gases ruiacutedo

disposiccedilatildeo das cinzas e depoacutesito temporaacuterio

de carvatildeo e reagentes

Aumento do traacutefego

de veiacuteculos e pressatildeo

sobre a infra-estrutura

viaacuteria

Obras da usina obras complementares

operaccedilatildeo da usina transporte de insumos de

subprodutos e de resiacuteduos

Aumento do risco de

acidentes de tracircnsito

Obras da usina transporte de pessoas e

insumos

Impacto na paisagem

local e perda de

referecircncias histoacuterico-

culturais

Obras da usina e complementares

Interferecircncia em siacutetios

arqueoloacutegicos

Obras complementares da usina barragem e

reservatoacuterio estradas e vias de acesso linha

de transmissatildeo

Fonte UNESC Plural (2006 p 34-5)

No EIARIMA natildeo haacute nenhuma referecircncia aos empreendimentos

acessoacuterios a saber o reservatoacuterio de aacutegua a ser construiacutedo no rio Matildee

Luzia a extensatildeo da ferrovia entre Sideroacutepolis e a Mina Esperanccedila e

Fontanella a linha de transmissatildeo que vai conectar a subestaccedilatildeo da

ELETROSUL em Sideroacutepolis com a Usina e o terminal de recebimento

e estocagem de amocircnia no Porto de Imbituba Os empreendimentos

acessoacuterios seratildeo tratados na sessatildeo 63 deste capiacutetulo Faltou tambeacutem

mencionar nos impactos sobre o meio antroacutepico da desarticulaccedilatildeo da

estrutura econocircmica existente o pequeno comeacutercio a lavoura de

subsistecircncia a pesca artesanal as atividades domeacutesticas etc

Tendo como referecircncia os impactos listados no Quadro 10 foram

propostas 59 medidas mitigatoacuterias sendo 25 preventivas duas

corretivas trecircs preventivas e corretivas 17 compensatoacuterias nove de

acompanhamento e trecircs de controle

Dentre os programas ambientais propostos para a USITESC

destacam-se programa de monitoramento ambiental programa de

conservaccedilatildeo da fauna e flora programa de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

arqueoloacutegico programa de comunicaccedilatildeo social programa de

gerenciamento de risco programa de reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas

168

programa de gestatildeo ambiental e programa de fomento ao

desenvolvimento sustentaacutevel No Quadro 11 uma siacutentese dos programas

e seus alvos principais

Quadro 11 - Siacutentese dos Programas da USITESC e alvos principais PROGRAMA ALVO

Monitoramento ambiental Qualidade do ar solo e aacutegua

Adequaccedilatildeo da infraestrutura baacutesica Rodovias sauacutede educaccedilatildeo e

abastecimento de aacutegua

Controle ambiental Qualidade do ar solo e aacutegua na aacuterea

do empreendimento

Conservaccedilatildeo da fauna e flora Fauna e flora no entorno do

empreendimento

Preservaccedilatildeo do patrimocircnio

arqueoloacutegico

Patrimocircnio arqueoloacutegico da regiatildeo

Comunicaccedilatildeo social Informaccedilotildees atualizadas sobre o

empreendimento para a comunidade

Gerenciamento de risco Armazenamento de produtos

perigosos

Reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas Entorno do empreendimento

Gestatildeo ambiental Processo decisoacuterio da Usina e relaccedilatildeo

com os colaboradores

Fomento ao desenvolvimento

sustentaacutevel

Criaccedilatildeo de um fundo de fomento agrave

atividades de recuperaccedilatildeo ambiental

melhoria da qualidade de vida e

desenvolvimento sustentaacutevel

Fonte Baseado em UNESC Plural (2006)

Quando analisadas as perspectivas para a regiatildeo com e sem a

implantaccedilatildeo do empreendimento alguns aspectos podem ser destacados

Sem o empreendimento natildeo haveria pressatildeo antroacutepica e a regiatildeo seguiria

as atuais tendecircncias de desconcentraccedilatildeo crescimento moderado da

atividade agropecuaacuteria continuidade da atividade carboniacutefera num

cenaacuterio de suposta estagnaccedilatildeo econocircmica Com o empreendimento

haveria uma dinamizaccedilatildeo da economia municipal geraccedilatildeo de emprego e

renda o consumo do rejeito para geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica e a pressatildeo antroacutepica na aacuterea de influecircncia da USITESC inclusive aacutereas

preservadas (UNESC PLURAL 2006)

169

622 Das audiecircncias puacuteblicas e licenccedilas

O processo de licenciamento da USITESC contou com a

realizaccedilatildeo de quatro audiecircncias puacuteblicas que ocorreram de acordo com

a resoluccedilatildeo do CONAMA nordm 00987 As audiecircncias aconteceram no

municiacutepio de Treviso A primeira ocorreu em 19 de fevereiro de 2004 a

segunda em oito de julho de 2004 a terceira em 16 de maio de 2006 e a

quarta em 8 de novembro de 2007 A realizaccedilatildeo das quatro audiecircncias

puacuteblicas se deve ao fato de que vaacuterias informaccedilotildees natildeo constavam do

EIARIMA tendo sido solicitados estudos complementares que

incluiacuteam tambeacutem os empreendimentos acessoacuterios

Apoacutes a terceira audiecircncia puacuteblica em trecircs de julho de 2006

Darlan Aiacuterton Dias Procurador da Repuacuteblica enviou uma

correspondecircncia para o entatildeo presidente da FATMA Jacircnio Wagner

Constante informando que o licenciamento da USITESC e do

reservatoacuterio de aacutegua precisam ser conjuntos sob pena de fracionar o

licenciamento (FATMA 2013d fl 687) O procurador da repuacuteblica

recomendou que ldquonatildeo seja concedida LP para a USITESC sem que

antes seja apresentado EIARIMA relativo agrave construccedilatildeo do reservatoacuterio

no rio Matildee Luzia o qual deveraacute ser publicado e submetido a audiecircncia

puacuteblica conforme determina a legislaccedilatildeo vigenterdquo (FATMA 2013d fl

687)

Em seis de marccedilo de 2007 Alfredo Flavio Gazzolla informou ao

novo presidente da FATMA Carlos L Kreuz que diante da situaccedilatildeo

colocada a USITESC estava alterando seu projeto original mudando o

sistema de resfriamento da usina e reduzindo o consumo de aacutegua a 10

do previsto anteriormente (FATMA 2013e fl 831)

Com a alteraccedilatildeo do projeto o Procurador da Repuacuteblica Darlan

Airton Dias em oito de maio de 2007 informou a necessidade da

realizaccedilatildeo de uma nova audiecircncia puacuteblica ldquoConsiderando a mudanccedila

conceitual no projeto eventual concessatildeo de Licenccedila Ambiental Preacutevia

ndash LAP depende da realizaccedilatildeo de nova audiecircncia puacuteblicardquo (FATMA

2013e fl 842-3) Apoacutes a realizaccedilatildeo da quarta audiecircncia puacuteblica em 8 de novembro de 2007 a LP foi concedida em 14 de dezembro de 2007

(LAP nordm 1482007) (FATMA 2013f fl 1065)

Em 31 de marccedilo de 2008 foi comunicada a Alteraccedilatildeo da

composiccedilatildeo acionaacuteria da USITESC 95 do capital foi assumido pela

170

Linear Participaccedilotildees e Incorporaccedilotildees Ltda e os 5 restantes ficam com

as Carboniacuteferas Criciuacutema e Metropolitana A comunicaccedilatildeo remetida por

Kaioaacute Gomes diretor teacutecnico da Linear foi endereccedilada ao novo

presidente da FATMA Murilo Xavier Flores (FATMA 2013f fl

1111)

Em dois de marccedilo de 2010 foi concedida a LI (LAI nordm 06GELUR

2010) (FATMA 2013h fl 1540) Ainda em 2010 foi estabelecido o

Termo de Compromisso de Compensaccedilatildeo Ambiental R$ 670800000 a

serem aplicados na Reserva Bioloacutegica Estadual do Aguaiacute (FATMA

2013h fl 1549-1554)

Em 15 de fevereiro de 2013 Kaioaacute Gomes solicitou a

prorrogaccedilatildeo da LI (FATMA 2013h fl 1607-08) Em resposta Ivana

Becker concluiu ser viaacutevel a prorrogaccedilatildeo da LI pelo prazo de 36 meses

(FATMA 2013h fl 1603-5)

A solicitaccedilatildeo de estudos complementares e as quatro audiecircncias

puacuteblicas parecem demonstrar uma estrateacutegia de desinformaccedilatildeo por parte

dos segmentos econocircmicos O papel do Ministeacuterio Puacuteblico foi chave no

questionamento e equacionamento dessa questatildeo

623 Pressotildees dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos no processo de

licenciamento

Um aspecto interessante na anaacutelise do discurso dos documentos

do processo de licenciamento foi a pressatildeo exercida pela USITESC e

pelo Governo do Estado sobre a FATMA Em janeiro de 2005 o entatildeo

presidente da USITESC enviou uma carta ao governo do estado

questionando o tratamento dado pela FATMA ao processo de

licenciamento ambiental destacando a importacircncia da USITESC e

sugerindo uma falta de sintonia entre FATMA e poder executivo

conforme trecho da carta a seguir

Esta empresa gostaria de registrar seu protesto e

indignaccedilatildeo pelo peacutessimo tratamento dado por esta

Fundaccedilatildeo ao processo de licenciamento ambiental

da USITESC embora tenhamos sempre procurado

dar o maacuteximo de suporte e pautado nossa postura

171

no sentido da maacutexima cooperaccedilatildeo e pronto

atendimento a qualquer solicitaccedilatildeo da FATMA

Nossa paciecircncia esgota-se no momento em que

percebemos o descaso com que eacute tratado um

projeto da magnitude da Usina Termeleacutetrica Sul

Catarinense ndash USITESC cujo conceito de

desenvolvimento vem desde o iniacutecio de seus

estudos buscando a melhor integraccedilatildeo do projeto

com sua aacuterea de influecircncia e geraccedilatildeo de resultados

positivos para o meio ambiente em que se insere

()

Este fato contrasta com as manifestaccedilotildees puacuteblicas

de apoio ao Projeto USITESC recebidas do

Governo Estadual pelos empreendedores e revela

falta de sintonia entre a Fatma e o poder executivo

do Estado de Santa Catarina (Alfredo Flaacutevio

Gazzolla presidente da USITESC FATMA

2013c fl 357 e 359)

Em marccedilo de 2005 o vice-governador em exerciacutecio Eduardo

Pinho Moreira cobrou um posicionamento do diretor geral da FATMA

Janio Wagner Constante

Pela inegaacutevel importacircncia da instalaccedilatildeo da Usina

para o Estado de Santa Catarina e tendo em vista

ter a mesma cumprido com todas as

recomendaccedilotildees ministeriais solicito-lhe urgecircncia

na anaacutelise teacutecnica do projeto pelo que agradeccedilo

antecipadamente (FATMA 2013b fl 352)

Em dezembro de 2005 novamente Alfredo Flaacutevio Gazzolla

enviou carta ao governador do estado Luiz Henrique da Silveira

pedindo a determinaccedilatildeo de um ldquomelhor estudordquo para a emissatildeo da LP

Assim em respeito ao vosso honrado nome e na

defesa do maior empreendimento em estudo no

estado de Santa Catarina solicito seus preacutestimos

no sentido de determinar um melhor estudo

quanto agrave emissatildeo da LAP sem a qual estaremos

impossibilitados de participar do proacuteximo leilatildeo

de energia no semestre vindouro (FATMA

2013c fl 388)

172

Na mesma carta o presidente da USITESC solicitou a licenccedila

preacutevia independente da conclusatildeo do Estudo Suplementar solicitado

pela FATMA

Solicita-se ao Governo do Estado que emita a

Licenccedila Preacutevia para a USITESC

independentemente da conclusatildeo do Estudo

Suplementar solicitado pela FATMA jaacute que nada

impede a FATMA de emitir esta licenccedila uma vez

que o empreendedor cumpriu todas as exigecircncias

legais cabiacuteveis para sua obtenccedilatildeo e que a FATMA

poderaacute nela colocar todos os condicionantes que

considerar pertinentes tendo em vista assegurar a

viabilidade da continuidade do processo de

licenciamento ambiental da USITESC (FATMA

2013c fl 390)

Em resposta Luiz Antocircnio Garcia Correcirca Diretor de controle

ambiental da FATMA em 19 de dezembro de 2005 repreendeu a

USITESC quanto agraves manifestaccedilotildees da miacutedia que relacionavam o natildeo

licenciamento da USITESC e a natildeo participaccedilatildeo no leilatildeo da ANEEL a

uma decisatildeo da FATMA

Temos observado manifestaccedilotildees equivocadas na

miacutedia provenientes de representante do SIECESC

relativa ao processo de licenciamento ambiental

reputado inclusive a FATMA a natildeo participaccedilatildeo

da USITESC no leilatildeo da ANEEL o que natildeo

condiz com a realidade Tais fatos em nada

contribuem ao processo de licenciamento

ambiental (FATMA 2013c fl 641-642)

O conteuacutedo das correspondecircncias demonstra as articulaccedilotildees entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos Depois de 2005 natildeo constam mais

correspondecircncias relacionadas Eacute importante frisar que eacute em 2005 que

surgiu a Frente Parlamentar Mista em defesa do Carvatildeo Mineral e

aumentaram as doaccedilotildees das carboniacuteferas aos poliacuteticos Dessa forma

sugere-se que se ateacute 2005 a pressatildeo sobre o oacutergatildeo ambiental era

173

exercida diretamente apoacutes 2005 com uma maior articulaccedilatildeo a pressatildeo

pode ser exercida de outras formas natildeo passando necessariamente pelo

oacutergatildeo ambiental

624 A posiccedilatildeo dos segmentos sociais

Os segmentos sociais se posicionaram contra a ampliaccedilatildeo da

energia termeleacutetrica ao longo do processo de licenciamento Na ocasiatildeo

da primeira audiecircncia puacuteblica em 19 de fevereiro de 2004 a ONG

Amigos da Terra Brasil enviou a seguinte mensagem

Amigos da Terra se solidariza com as entidades da

regiatildeo sul de Santa Catarina e acredita que as lutas

locais satildeo responsaacuteveis pela resistecircncia agraves

injusticcedilas socioambientais e pela promoccedilatildeo das

mudanccedilas necessaacuterias para um futuro sustentaacutevel

Um futuro onde as energias renovaacuteveis podem

promover descentralizaccedilatildeo universalizaccedilatildeo do

acesso controle social e empregos sem a

contaminaccedilatildeo local e o aquecimento global

decorrentes do uso do carvatildeo mineral (FATMA

2013c Fl 463)

O Grupo de Trabalho Energia do FBOMS tambeacutem enviou uma

mensagem

As organizaccedilotildees do GT Energia do Foacuterum

Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento expressam

sua solidariedade agraves populaccedilotildees direta ou

indiretamente afetadas pelos impactos da

mineraccedilatildeo e queima do carvatildeo mineral para a

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica na regiatildeo sul de

Santa Catarina () Conhecendo os graves

impactos jaacute causados pelas atividades carboniacuteferas

no Sul de Santa Catarina temos a certeza do

equiacutevoco que representa a instalaccedilatildeo de mais uma

174

usina a carvatildeo na regiatildeo (FATMA 2013c fl

464)

O Movimento pela Vida de Iccedilara tambeacutem registrou sua posiccedilatildeo

ldquoA regiatildeo natildeo suporta mais impactos ambientais eacute preciso mais

seriedade quando se discute qualquer accedilatildeo que interfira na natureza e na

qualidade de vida das crianccedilas dos jovens das mulheres e dos homens

que vivem na regiatildeordquo (FATMA 2013c fl 466)

Na ocasiatildeo da segunda audiecircncia puacuteblica 8 de julho de 2004 natildeo

constaram manifestaccedilotildees escritas Na terceira audiecircncia puacuteblica 16 de

maio de 2006 em carta da ONG Soacutecios da Natureza assinada por Tadeu

Santos agrave Direccedilatildeo da FATMA ficou registrado que havia uma

solicitaccedilatildeo ldquo() agrave FATMA que realizasse a terceira AP em Criciuacutema ou

mesmo em Araranguaacute jaacute que se trata de um empreendimento que

comprovadamente promove impactos ambientais em toda regiatildeordquo E

mais a frente ao falar sobre o processo de licenciamento afirmou que

ldquosomos atores num circo montado para apresentar uma peccedila com o final

desejado pelo empreendedorrdquo (FATMA 2013c fl 538-542)

Na quarta audiecircncia puacuteblica 8 de novembro de 2007 tambeacutem

natildeo constam manifestaccedilotildees escritas Em 19 de maio de 2011 a Diocese

de Criciuacutema enviou um manifesto para o entatildeo presidente da FATMA

Murilo Xavier Flores contra a instalaccedilatildeo da USITESC (FATMA

2013h fl 1601)

A articulaccedilatildeo dos segmentos sociais apresenta estrateacutegias

importantes que convergem com o enfoque da justiccedila ambiental A

difusatildeo espacial do movimento torna-se vital quando aleacutem dos impactos

regionais a populaccedilatildeo diretamente afetada pelo empreendimento tem

uma forte dependecircncia do segmento em questatildeo Conforme jaacute

mencionamos neste capiacutetulo 69 dos empregos com carteira assinada

satildeo oferecidos pelo segmento do carvatildeo mineral e boa parte da

arrecadaccedilatildeo da prefeitura local vem desta atividade Dessa forma natildeo se

verifica uma resistecircncia local ao empreendimento daiacute porque os

segmentos sociais sediados em outros municiacutepios regiotildees estados

brasileiros desempenham um papel fundamental no questionamento do

empreendimento

175

63 Relaccedilotildees de poder e desigualdade nas audiecircncias puacuteblicas os

documentos falados

No estado de Santa Catarina o procedimento adotado durante

uma audiecircncia puacuteblica eacute descrito resumidamente no Quadro 12 A

coordenaccedilatildeo dos trabalhos eacute feita pela FATMA e o tempo de duraccedilatildeo

maacuteximo da audiecircncia puacuteblica eacute de quatro horas Eacute feita uma abertura da

sessatildeo na qual o presidente da mesa esclarece os objetivos e transmite

as regras gerais Na sequecircncia o empreendedor apresenta o projeto e a

consultoria apresenta o EIARIMA Um intervalo de 15 minutos eacute feito

para que os presentes possam se inscrever Os questionamentos satildeo

feitos por ordem de inscriccedilatildeo e podem ser orais ou escritos Os escritos

satildeo lidos pelo coordenador da sessatildeo e os orais devem ser formulados

em trecircs minutos O empreendedor e a consultoria tecircm cinco minutos

para responder e ainda constam dois minutos para reacuteplica e trecircs minutos

para treacuteplica O encerramento eacute feito pelo coordenador da sessatildeo

Quadro 12 - Procedimento para conduccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas

FATMA ETAPAS DA AUDIEcircNCIA TEMPO

Abertura FATMA (10min)

Exposiccedilotildees Proponente do projeto (20min)

Consultoria responsaacutevel pelo

EIARIMA (45min)

Manifestaccedilatildeo da plenaacuteria e debates Intervalo para inscriccedilotildees (15min)

Questionamento (3min)

Resposta (5min)

Reacuteplica (2min)

Treacuteplica (3min)

Encerramento FATMA (sem tempo definido)

Fonte Adaptado de FATMA (2013a fl 101-2)

A elaboraccedilatildeo do projeto da USITESC iniciou em 1999 (Luis

Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007) Em 19 de

fevereiro de 2004 foi realizada a primeira audiecircncia puacuteblica Na

abertura foi lido um ofiacutecio do Ministeacuterio Puacuteblico Federal avisando que

seria requerida uma segunda audiecircncia puacuteblica dado que o EIA

precisava da anaacutelise dos peritos da quarta cacircmara de Brasiacutelia A segunda

audiecircncia puacuteblica foi realizada no dia 8 de julho de 2004 por solicitaccedilatildeo

da FATMA para discutir o projeto da USITESC com o Comitecirc Gestor

176

da Bacia do Rio Araranguaacute porque havia uma preocupaccedilatildeo com o

consumo de aacutegua Motivado pela recomendaccedilatildeo nordm 14 foi contratado

entatildeo um estudo de suplementaccedilatildeo Esse estudo foi apresentado na

terceira audiecircncia puacuteblica em 16 de maio de 2006 tratando dos

empreendimentos acessoacuterios da USITESC (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

As duas audiecircncias puacuteblicas analisadas neste capiacutetulo a terceira e

quarta audiecircncia de 16 de maio de 2006 e 8 de novembro de 2007

respectivamente seguiram o procedimento acima apresentado Em

ambas constatou-se um rigor maior no controle do tempo dos

participantes que apresentaram seus questionamentos que com os

respondentes (empreendedor IPAT Ministeacuterio Puacuteblico Federal e

FATMA) Foram convidados para tomar assento na mesa representantes

da FATMA Ministeacuterio Puacuteblico Federal empreendedor IPAT

prefeitura e SIESESC Diante disso cabe questionar Por que somente

representantes dos segmentos poliacuteticos e econocircmicos tiveram assento na

mesa de trabalho Por que os representantes dos segmentos sociais natildeo

tiveram assento

Na quarta audiecircncia mediada por Adhiles Bortot da FATMA foi

utilizada uma sequecircncia diferente nos questionamentos orais e escritos

natildeo foi respeitada a ordem de chegada Os questionamentos escritos

foram lidos primeiro Em muitos momentos nos questionamentos orais

diante de colocaccedilotildees polecircmicas Adhiles Bortot passava para a pergunta

seguinte como se o questionamento natildeo precisasse ser respondido Por

vaacuterias vezes ele foi interrompido pelo IPAT e Ministeacuterio Puacuteblico

Federal que queriam comentar as intervenccedilotildees do puacuteblico Outro ponto

que merece ser destacado eacute que ele interrompia repetidamente o

questionador pedindo que o tempo fosse respeitado Logo as pessoas

que faziam questionamentos resumiam sua fala sobrando mais tempo

para os respondentes

Nas proacuteximas seccedilotildees desse capiacutetulo a partir da transcriccedilatildeo e

anaacutelise das audiecircncias puacuteblicas encontram-se trechos selecionados de

temas Fragmentos dos discursos dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais foram destacados e comentados a partir dos pontos mais

controvertidos

177

631 A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica

Os discursos das audiecircncias puacuteblicas proacute USITESC tenderam a

minimizar os impactos causados pelo empreendimento ressaltando seus

aspectos positivos Os segmentos econocircmicos representados pelo

empreendedor situaram a USITESC num contexto mundial no qual o

carvatildeo mineral eacute base da matriz energeacutetica O uso de novas tecnologias

e a situaccedilatildeo do Brasil colocaria as emissotildees de gases de efeito estufa

como insignificantes na matriz energeacutetica brasileira

() os estudos energeacuteticos mostram que o carvatildeo

ainda seraacute a base da matriz energeacutetica mundial ateacute

o ano de 2050 no miacutenimo O incremento de

novos projetos a carvatildeo vem paulatinamente

recebendo tratamento tecnoloacutegico para minimizar

a formaccedilatildeo de gases de efeito estufa Isso eacute uma

verdade () a contribuiccedilatildeo do Brasil para o efeito

estufa com novas usinas a carvatildeo eacute insignificante

perante o quadro mundial Soacute para citar um

exemplo esse ano soacute na Alemanha foram

contratados mais de oito mil novos megawatts a

carvatildeo O Brasil todo tem pouco mais de mil

megawatts a carvatildeo instalados A USITESC estaacute

propondo colocar uma potecircncia bruta de 200440

dos quais vai gerar em meacutedia 280 a 300

Alemanha tem 70 mil megawatts de carvatildeo

instalados O nordeste dos Estados Unidos tem

350 mil soacute o nordeste dos Estados Unidos 350

mil megawatts de carvatildeo instalados (Luis Carlos

Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

A ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral eacute

ldquonecessaacuteriardquo para o Brasil e a USITESC eacute um empreendimento

economicamente viaacutevel

() o sistema eleacutetrico brasileiro necessita da

geraccedilatildeo teacutermica e para isso o carvatildeo mineral eacute

sem duacutevida o nosso melhor potencial a USITESC

utilizaraacute um combustiacutevel de baixo custo os niacuteveis

tarifaacuterios sinalizados para o horizonte de

contrataccedilatildeo da energia da Usina indicam boa

rentabilidade para o Projeto adicional pela venda

178

do sulfato de amocircnia 320000 toneladas por ano

(Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Os impactos ambientais e riscos foram minimizados nas

colocaccedilotildees garantindo-se que os investidores internacionais natildeo

participam de empreendimentos que contrariem a legislaccedilatildeo e possuam

risco ambiental A atuaccedilatildeo fiscalizadora do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

tambeacutem foi citada Natildeo foi destacada em nenhum momento a

importacircncia da FATMA

() a USITESC significa um investimento global

da ordem de 750 milhotildees de doacutelares Esse

dinheiro natildeo vai ser buscado em algum fundo de

quintal Esse dinheiro tem investidores

internacionais e ningueacutem arrasta dinheiro

ningueacutem bota dinheiro em empreendimento que

possui risco ambiental A maior garantia que vocecirc

tem que um projeto vai ser implantado com a

qualidade ambiental que estaacute sendo anunciada eacute

que hoje os auditores internacionais natildeo aprovam

os financiamentos se o projeto natildeo estiver de

acordo com aquela disposiccedilatildeo feita no papel

(Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

O que noacutes estamos querendo implantar aqui na

regiatildeo natildeo eacute nada de coisa anormal que vai

prejudicar algueacutem Mesmo porque () o

Ministeacuterio Puacuteblico natildeo vai deixar noacutes cometermos

barbaridade () Eu digo a todos vocecircs o seguinte

como o proacuteprio Banco Mundial me disse laacute em

Washington ldquose vocecircs tiverem algum problema de

poluiccedilatildeo ao implantar o projeto noacutes natildeo daremos

um centavo sequer (Alfredo Flaacutevio Gazzolla

USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

A importacircncia do empreendimento para a regiatildeo e para o municiacutepio tambeacutem foi destacada Ele vai trazer desenvolvimento para

Treviso e regiatildeo com geraccedilatildeo de emprego e renda E quanto agrave

dependecircncia do municiacutepio em relaccedilatildeo ao carvatildeo Luis Carlos Cunha

garantiu que o municiacutepio diversificaraacute sua economia

179

Ora cinquenta anos eacute um prazo bastante grande

pra pra pra um desenvolvimento de outras

atividades no municiacutepio Natildeo vai o municiacutepio natildeo

vai ficar estagnado somente na mina e numa

Usina E a Usina eacute multiplicadora na medida em

que ela vai proporcionar com os seus subprodutos

o sulfato de amocircnia e a proacutepria cinza que eacute uma

mateacuteria prima importante para a construccedilatildeo civil

etc a implantaccedilatildeo de outros empreendimentos na

regiatildeo ou no proacuteprio municiacutepio pra

aproveitamento industrial desses subprodutos e

presumo ao longo de cinquenta anos outras

oportunidades apareceratildeo para o municiacutepio dentro

das suas vocaccedilotildees (Luis Carlos Cunha USITESC

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A usina foi colocada pelo empreendedor como uma forma de

recuperaccedilatildeo ambiental jaacute que vai ser construiacuteda em aacuterea degradada e

utilizar 30 de rejeito como mateacuteria prima para geraccedilatildeo de energia ldquoA

rigor a instalaccedilatildeo da Usina nessa localizaccedilatildeo significa uma accedilatildeo de

recuperaccedilatildeo ambientalrdquo (Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

O maior impacto ambiental segundo o representante do

empreendedor eacute a pressatildeo sobre a infraestrutura urbana de Treviso que

seraacute devidamente minimizada com investimentos nessa aacuterea Como

principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo foi destacada a geraccedilatildeo de emprego e

renda apresentada ao puacuteblico da audiecircncia atraveacutes da Tabela 28

Tabela 28 ndash Principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo com a construccedilatildeo da

USITESC SETOR DA

ECONOMIA

EMPREGOS

DIRETOS

EMPREGOS

INDIRETOS

Mineraccedilatildeo de carvatildeo 400-500

Mineraccedilatildeo de calcaacuterio ~60

Geraccedilatildeo de energia ~150

Amocircnia e sulfato de

amocircnia

~60

Transportes diversos ~140

Restante da economia

associada

4500

Fonte Luis Carlos Cunha USITESC Audiecircncia Puacuteblica (2007)

180

Os segmentos poliacuteticos tambeacutem se posicionaram em relaccedilatildeo agrave

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica O representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal ressaltou a necessidade da ampliaccedilatildeo da oferta de

energia eleacutetrica resguardando seu posicionamento teacutecnico-legal

E aiacute o Brasil estaacute numa encruzilhada no meu

ponto de vista e aqui isso que noacutes estamos

vivendo em Treviso eacute um microcosmo do que taacute

acontecendo no paiacutes Porque o paiacutes estaacute diante de

uma crise energeacutetica noacutes tivemos um apagatildeo

daqui a um tempo vamos ter outro aqui noacutes

estamos discutindo USITESC mas tem problema

de usina hidreleacutetrica em Itaacute em Anita Garibaldi

em Belo Monte laacute na Amazocircnia e natildeo sei mais

aonde e noacutes estamos refeacutem do gasoduto do Evo

Morales Entatildeo Esse eacute um questionamento pra

noacutes brasileiros como um todo Claro que natildeo

somos noacutes aqui que vamos resolver isso mas

temos que ter isso em mente E isso passa pelo

presidente da repuacuteblica pelo Congresso a

sociedade tem que ter uma resposta pra isso

porque noacutes queremos luz eleacutetrica queremos o

desenvolvimento econocircmico Entatildeo daonde vai

sair a energia Algum impacto ambiental em

algum lugar vai ter que ter Eacute claro que noacutes

queremos o mais longe possiacutevel do nosso quintal

E o papel do Ministeacuterio Puacuteblico nesse processo eacute

um oacutergatildeo independente que fiscaliza E noacutes

estamos fiscalizando esse processo da USITESC

com base olhando duas coisas o cumprimento da

legislaccedilatildeo e os aspectos teacutecnicos Vocecircs viram

aqui que tem uma equipe teacutecnica trabalhando

temos outros profissionais que estatildeo trabalhando

nisso () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico

Federal AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A prefeita Lucia Simolin enfatizou a situaccedilatildeo de dependecircncia do municiacutepio em relaccedilatildeo agrave atividade carboniacutefera

Eacute verdade tambeacutem que Treviso hoje tem a

seguinte realidade incontestaacutevel feliz ou

infelizmente 80 da nossa economia faltando

alguns poucos deacutecimos praticamente

181

arredondando para 80 depende da economia da

extraccedilatildeo do carvatildeo mineral nos seus diversos tipos

de exploraccedilatildeo e usos Em torno de 20 gira em

torno da produccedilatildeo agropecuaacuteria embora a gente

tenha 168km2 de aacuterea Entatildeo senhores a

exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral para Treviso ela eacute

equivalente agrave monocultura do arroz para Turvo e

Meleiro Essa eacute uma realidade teacutecnica e

administrativa que natildeo eacute do dia pra noite que a

gente pode alterar (Lucia Simolin prefeita

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

() noacutes temos a consciecircncia dos problemas que

podem advir uns mais visiacuteveis e comprovados

outros que o tempo vai nos dizer e a natureza de

que um empreendimento desse porte ele vai nos

afetar Mas vejamos bem como vamos

sobreviver a uma condiccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos

municipais se praticamente a receita do

municiacutepio hoje estaacute diretamente vinculada a

extraccedilatildeo de um foacutessil (Lucia Simolin prefeita

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Apesar de demonstrar uma certa inseguranccedila em relaccedilatildeo aos

impactos o empreendimento natildeo foi questionado A prefeita inclusive

enfatizou a ldquocultura do carvatildeordquo e a ideia da construccedilatildeo do museu do

carvatildeo como algo positivo para a cidade

noacutes temos a nossa cultura eacute o carvatildeo Aiacute a natildeo

exploraacute-lo ou a transformaacute-lo em energia eacute uma

discussatildeo que noacutes estamos presentes e portanto

natildeo fugindo () A gente tem que ver a melhor

saiacuteda pra todas as situaccedilotildees E noacutes do poder

puacuteblico estamos aqui pra isso Estamos aqui para

contribuir Entatildeo esse eacute o meu depoimento a

respeito do empreendimento essa eacute a realidade do

municiacutepio e que natildeo pode ser negada Eacute a nossa

realidade Eacute a nossa verdade A verdade que eacute

uma verdade econocircmico-financeira mas eacute a nossa

verdade (Lucia Simolin AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

182

O crescimento econocircmico do municiacutepio e regiatildeo foi um

argumento forte de convencimento

Noacutes temos que ter consciecircncia de que o projeto

USITESC quando implantado ele seraacute a mola

propulsora de uma nova fase de desenvolvimento

para toda a regiatildeo carboniacutefera Natildeo eacute soacute mineiro

que quer emprego Toda a populaccedilatildeo quer

emprego Quer investimento em sauacutede educaccedilatildeo

e a USITESC eacute investimento eacute sinal de

investimento () Eu acho que a regiatildeo toda tem

muito a ganhar com esse grande projeto que vai

alavancar o progresso e o desenvolvimento de

uma nova fase () (Marcos Antocircnio Cesconetto

Vereador AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

O que fica expliacutecito nos discursos de alguns poliacuteticos locais eacute

uma confianccedila no processo de licenciamento e nas empresas

carboniacuteferas

Noacutes temos que discutir aqui assuntos pertinentes

agrave populaccedilatildeo ou seja a instalaccedilatildeo da Usina E

dizer Dr Darlan que noacutes confiamos na atuaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico Federal confiamos na atuaccedilatildeo

do Ministeacuterio Puacuteblico Estadual na atuaccedilatildeo da

Fatma e de tantos oacutergatildeos como o Ibama que satildeo

realmente quem tem condiccedilotildees de fiscalizar aquilo

que vai acontecer no empreendimento Natildeo satildeo

afirmaccedilotildees infundadas que foram levantadas aqui

e que muitas delas natildeo tem a ver com o

empreendimento Noacutes queremos dizer que noacutes

confiamos na Carboniacutefera Metropolitana e na

Carboniacutefera Criciuacutema uma delas aqui a mais de

vinte anos outra jaacute explorou carvatildeo aqui na volta

redonda e nas reservas que eles tecircm aqui E noacutes

temos consciecircncia de que o empreendimento eacute

viaacutevel e eacute viaacutevel porque ele pode viabilizar a

exploraccedilatildeo de carvatildeo e a grande maioria das

pessoas eu posso dizer que quase a totalidade das

pessoas que estatildeo aqui ou satildeo mineiros ou algueacutem

da famiacutelia vive do carvatildeo nos mais diversos

municiacutepios (Marcos Antocircnio Cesconetto

Vereador AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

183

A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica fica evidente

nos discursos aqui apresentados O empreendimento se justifica na

medida em que paiacuteses ldquodesenvolvidosrdquo utilizam o carvatildeo para geraccedilatildeo

de energia e o Brasil por ter uma matriz energeacutetica considerada

ldquolimpardquo pode usaacute-lo sem maiores problemas Os impactos ambientais

do empreendimento seratildeo miacutenimos jaacute que os investidores internacionais

assim o exigem e o Ministeacuterio Puacuteblico estaacute fiscalizando Afinal a

concessatildeo do licenciamento estaacute condicionada ao respeito agraves leis e a

criteacuterios teacutecnicos

Os poliacuteticos municipais dada a dependecircncia econocircmica da

atividade carboniacutefera veem o empreendimento com ldquobons olhosrdquo pois

apesar dos impactos negativos ele traraacute tambeacutem o crescimento ao

municiacutepio e agrave regiatildeo Segundo eles a cultura do carvatildeo precisa ser

mantida

632 As mudanccedilas climaacuteticas natildeo vecircm ao caso

Os segmentos sociais presentes nas audiecircncia puacuteblicas (Amigos

da Terra Movimento Iccedilara pela Vida Soacutecios da Natureza UNESC

dentre outros) demonstraram preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas

com o aquecimento global com o impacto regional do empreendimento

e a continuidade da atividade carboniacutefera que jaacute causou muitos impactos

na regiatildeo

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionou a

continuidade de uma atividade que se mostrou e se mostra inviaacutevel do

ponto de vista socioambiental

Porque a nossa preocupaccedilatildeo do Movimento pela

Vida aleacutem de todo o efeito estufa aleacutem de toda a

poluiccedilatildeo que vai gerar aqui na regiatildeo que natildeo eacute

soacute o CO2 que vai largar O gaacutes que vai ser largado

aqui mas toda uma poluiccedilatildeo que vai ser gerada

aqui proacuteximo do Aquiacutefero Guarani da Serra todo

esse ecossistema que existe que essa usina estaacute

colocando em perigo E tambeacutem vai a meacutedio e

longo prazo trazer problemas para as famiacutelias da

regiatildeo onde existe carvatildeo no subsolo porque

assim como laacute na Iccedilara eles tatildeo tentando tirar

carvatildeo eles vatildeo tentar continuar tirando de outros

184

lugares (Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela

Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Carlyle professor da UNESC fez a seguinte pergunta

ldquoConsiderando as implicaccedilotildees das emissotildees de CO2 Dioacutexido de Carbono

para o aquecimento global quais as razotildees pelas quais esse poluente natildeo

foi analisado17

tendo em vista os recentes relatoacuterios do Painel sobre

Mudanccedilas Climaacuteticasrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Em resposta Luiz Nogueira Palma deixou claro que a questatildeo

das mudanccedilas climaacuteticas natildeo dizia respeito ao conteuacutedo da audiecircncia

puacuteblica

Eu vou responder isso aiacute eu acho que o Carlyle

estaacute colocando uma pergunta muito interessante

mas que no meu entendimento ela foge

totalmente ao objeto dessa audiecircncia Eacute todo

mundo sabe que uma usina termeleacutetrica que

queima carvatildeo ou qualquer outro combustiacutevel

emite CO2 Existem necessidades de gerar energia

e o que estaacute se discutindo aqui eacute a necessidade de

um empreendimento que foi colocado junto ao

cenaacuterio nacional Eacute eu natildeo vou mentir para vocecircs

essa usina emite CO2 como o carro de cada um de

noacutes emite CO2 e o que o que o Carlyle taacute

colocando eacute uma preocupaccedilatildeo mundial de emissatildeo

de CO2 Mas nem por isso nenhum paiacutes estaacute

deixando de implantar usina as necessaacuterias como

todos os controles necessaacuterios [ele interrompe

momentaneamente a fala por conta do burburinho]

Entatildeo eu acho que essa pergunta que trata de uma

mateacuteria global A usina trata os poluentes

atmosfeacutericos de forma exemplar com elementos

de controle extremamente sofisticados

encarecendo o preccedilo da energia gerada e por isso

estaacute se chamando usina da energia verde neacute

Porque a teacutermica que usa um combustiacutevel natildeo tatildeo

nobre como o gaacutes que eacute o carvatildeo nacional ela taiacute

para produzir mostrando que as emissotildees tatildeo

muito abaixo dos padrotildees nacionais Natildeo existe

um padratildeo nacional para CO2 em lugar nenhum

17

Nos estudos complementares que haviam sido apresentados na audiecircncia

puacuteblica

185

do mundo Entatildeo essa eacute outra questatildeo () O

contraponto dessa pergunta e de que se noacutes

estamos ou natildeo colaborando com o Protocolo de

Quioto O Brasil colabora porque a nossa matriz

energeacutetica mais de 90 da energia gerada no paiacutes

eacute hidraacuteulica (Luiz Nogueira Palma IPAT

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida fez a leitura de

uma moccedilatildeo que foi aprovada na etapa regional da Conferecircncia do Meio

Ambiente A Conferecircncia aconteceu na UNESC e foi promovida pela

Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econocircmico Sustentaacutevel pelo

IBAMA Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo EPAGRI CIRAM

FECAM ANAMA FLORAM FEEC FIESC ALESC FETAESC

Poliacutecia Militar Ambiental e ACAFE Aconteceram sete delas em Santa

Catarina O objetivo das Conferecircncias foi traccedilar poliacuteticas puacuteblicas sobre

meio ambiente no paiacutes em relaccedilatildeo ao aquecimento global ldquoE qual foi a

decisatildeo que a Conferecircncia Regional aqui tomou em relaccedilatildeo ao carvatildeo

Em resumo ldquoa substituiccedilatildeo da matriz energeacutetica baseada no carvatildeo para

outras alternativas de modo gradativordquo Moccedilatildeo que foi aprovada por

unanimidade Ele aproveitou para ler um trecho da moccedilatildeo

() em face da comprovada participaccedilatildeo da

queima de carvatildeo mineral no aumento do

aquecimento global e na intensa degradaccedilatildeo do

solo e aacuteguas provocadas pela sua extraccedilatildeo a

Conferecircncia Regional do Meio Ambiente de

Criciuacutema solicita o cancelamento de todo o

processo de licenciamento da Termeleacutetrica

USITESC em Santa Catarina bem como outras da

regiatildeo sul do Estado dado o elevado passivo

ambiental associado aos empreendimentos

especialmente em termos de degradaccedilatildeo dos

ecossistemas costeiros e da perda da qualidade de

vida das populaccedilotildees que ocupam o sul do estadordquo

Ele completou sua intervenccedilatildeo fazendo o seguinte comentaacuterio

Algueacutem estaacute indo na contramatildeo da histoacuteria ()

Ou noacutes nos damos conta que esse

empreendimento vai contra taacute indo contra tudo o

que estaacute se vendo nesse paiacutes nesse planeta ou

entatildeo a gente estaacute assinando nossa sentenccedila de

morte Chegamos ao absurdo de escutar dos

186

teacutecnicos do IPAT que essa questatildeo do CO2 eacute uma

questatildeo irrelevante natildeo vem ao caso Gente essa

eacute a maior questatildeo E que foi deixada de lado E o

IPAT estaacute indo contra a missatildeo da UNESC

(Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Diante do comentaacuterio o representante do IPAT Marcos Back

fez as seguintes consideraccedilotildees

Em primeiro lugar eu gostaria de esclarecer

algumas questotildees por aqui que natildeo estatildeo muito

claras Primeiro existe um posicionamento

equivocado aqui Noacutes temos que entender

exatamente o que noacutes estamos colocando

Primeiro noacutes estamos discutindo o EIARIMA

que se refere a uma usina termeleacutetrica que queima

carvatildeo e que emite CO2 Quando o Engenheiro

Palma coloca que a questatildeo do CO2 natildeo deve ser

discutida aqui natildeo eacute que ele estaacute querendo dizer

que a questatildeo do CO2 eacute irrelevante Natildeo eacute que ele

quer dizer que o problema do CO2 do

aquecimento global natildeo sejam questotildees

importantes a serem discutidas Pelo contraacuterio a

questatildeo do aquecimento global e da emissatildeo de

CO2 eacute uma questatildeo muito importante a ser

discutida Que a sociedade tem que pensar

seriamente nas consequecircncias da emissatildeo de CO2

que natildeo vem soacute do carvatildeo taacute Entatildeo noacutes temos

que pensar nisso que o aquecimento global estaacute

mostrando seus efeitos e jaacute vaacuterios cientistas

demonstraram mostraram esses efeitos Entatildeo noacutes

temos que pensar nisso sim Quando o IPAT taacute

colocando aqui que noacutes estamos discutindo o

EIARIMA da USITESC noacutes estamos colocando

que discutir licenciamento ambiental eacute um

procedimento legal vocecirc segue o tracircmite as

normas de um procedimento legal () Natildeo eacute da

competecircncia do IPAT julgar a matriz energeacutetica

brasileira Quem estabeleceu isso foram as leis

federais o Congresso Nacional e o Presidente

Lula Satildeo eles que estabelecem se pode ou natildeo

pode produzir carvatildeo se pode ou natildeo pode ter

187

energia movida a carvatildeo Entatildeo natildeo compete ao

IPAT nesse estudo NESSE ESTUDO de usina

termeleacutetrica conduzir uma discussatildeo sobre

aquecimento global porque natildeo eacute isso que estaacute

em discussatildeo aqui O que taacute em discussatildeo aqui eacute

se pode ou natildeo implantar a usina termeleacutetrica

dentro dos tracircmites da lei atual (Marcos Back

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Um representante dos segmentos poliacuteticos Joatildeo Luiacutes presidente

da Cacircmara de Vereadores de Trevisto tambeacutem fez um questionamento

sobre o assunto

Eu gostaria de fazer uma pergunta aos oacutergatildeos

ambientais Noacutes vimos na televisatildeo todos os dias

que os Estados Unidos eacute o maior produtor desse

planeta e foi superado pela China Exatamente nas

suas termeleacutetricas que queimam carvatildeo mineral

87 da energia produzida pela China eacute da queima

do carvatildeo mineral Entatildeo noacutes vemos aiacute o mundo

todo criticando brigando contra isso agora eu

gostaria que vocecircs respondessem a todos noacutes que

satildeo pessoas entendidas Noacutes podemos implantar

um projeto como esse em Treviso Ele eacute viaacutevel

Noacutes podemos pagar esse preccedilo E por que (Joatildeo

Luis Presidente da Cacircmara de Vereadores de

Treviso AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

A resposta do representante da FATMA tambeacutem natildeo contemplou

a preocupaccedilatildeo com questotildees mais amplas

Algumas questotildees que jaacute foram hoje objeto de

abordagem aqui ele foge do escopo do processo

de licenciamento Noacutes tratarmos de mudanccedilas

climaacuteticas natildeo eacute uma questatildeo que estaacute inserida no

projeto que hoje estaacute sendo objeto dessa audiecircncia

puacuteblica A garantia que eu posso dar aos senhores

em relaccedilatildeo ao projeto que estaacute sendo avaliado pela

FATMA e logicamente que noacutes temos natildeo eacute uma

parceria mas um papel fiscalizador do Ministeacuterio

Puacuteblico que tem auxiliado e tem contribuiacutedo de

uma maneira positiva pra que noacutes ao longo desses

dois trecircs anos desse processo de licenciamento

noacutes tenhamos tido avanccedilos significativos em

188

termos de ganhos ambientais () (Luis Antocircnio

Garcia FATMA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Jaacute o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal Darlan Aiacutelton

Dias contemplou a preocupaccedilatildeo dos presentes afirmando que ldquoeu acho

sim que o aquecimento global faz parte da discussatildeo da USITESC Deve

ser discutida mas a decisatildeo do licenciamento eacute verificar a adequaccedilatildeo

teacutecnica e o atendimento agrave legislaccedilatildeordquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Apesar do parecer favoraacutevel do representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal fica claro que para os que compotildeem a mesa de

trabalho na audiecircncia puacuteblica o tema natildeo tem relaccedilatildeo com o

licenciamento Aos representantes dos segmentos sociais e poliacuteticos aqui

citados foi permitida a manifestaccedilatildeo quanto ao tema mas ela natildeo

encontrou eco Isso aconteceu tambeacutem para a tentativa de discutir o

empreendimento regionalmente

633 Quem defende quem E quem defende os

afetadosatingidosameaccedilados

Nas audiecircncias puacuteblicas foram colocadas duacutevidas em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo da populaccedilatildeo de Treviso O vereador Joatildeo Luis Brunel fez a

seguinte colocaccedilatildeo seguida de uma pergunta

() Eu quero dizer que sou a favor do progresso e

quero que a nossa gente tenha emprego mas que

noacutes temos que pagar um preccedilo justo Eu gostaria

de fazer uma pergunta aqui Falou-se sobre muita

coisa mas eu gostaria de saber sobre todas essas

famiacutelias que seratildeo desapropriadas Eu cito aqui a

comunidade da Brasiacutelia Eu vejo aqui a

comunidade satildeo famiacutelias centenaacuterias de gente que

desbravaram essa terra que ajudaram a construir

esse municiacutepio Entatildeo eu faccedilo a seguinte pergunta

como que eles tem o direito de se defender Eles

simplesmente vatildeo ser notificados vatildeo ser

desapropriados Satildeo pessoas que estatildeo aiacute haacute mais

de um seacuteculo Eu gostaria de saber onde estatildeo os

direitos humanos Quais satildeo os direitos que eles

189

tecircm (Joatildeo Luis Brunel AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

Joaquim Teixeira Neto estudante da UNESC fez seu comentaacuterio

sobre a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo na audiecircncia puacuteblica

Entatildeo o seguinte eu gostaria que a populaccedilatildeo de

Treviso que natildeo estaacute aqui presente por motivos

que a gente desconhece precisa A populaccedilatildeo de

Treviso precisa se manifestar em audiecircncia

exclusiva Porque esse empreendimento apesar de

ser regional vai atingir primeiramente essa

comunidade e eles natildeo estatildeo sendo ouvidos Eles

estatildeo sendo calados e todos sabemos (Joaquim

Teixeira Neto AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Lucia Ortiz da Amigos da Terra fez um relato de um processo

de licenciamento que aconteceu no Rio Grande do Sul no qual mesmo

depois de emitida a licenccedila foi feito um plebiscito na regiatildeo

() mesmo depois que a Fepam liberou a licenccedila

preacutevia pra instalaccedilatildeo dessa usina o pessoal

conseguiu realizar a realizaccedilatildeo de um plebiscito

na regiatildeo que vai ser agora esse saacutebado pra que a

populaccedilatildeo de fato possa decidir se quer ou natildeo

esse empreendimento A minha pergunta eu tenho

duas perguntas uma eu acho que seria saber se

tem resposta pra populaccedilatildeo dos municiacutepios aqui

da regiatildeo que eacute se as pessoas aqui estatildeo mesmo

dispostas a abrirem matildeo das suas reservas de

aacutegua pro seu abastecimento proacuteprio ou dos seus

filhos ou dos seus netos tendo em vista que essa

usina vai consumir muito mais que a populaccedilatildeo da

regiatildeo de aacutegua a aacutegua do Rio Matildee Luzia aquilo

que ainda resta de aacutegua natildeo contaminada nessa

bacia (Lucia Ortiz Amigos da Terra

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A prefeita de Treviso Lucia Simolin na quarta Audiecircncia

Puacuteblica comentou que foi realizada uma pesquisa e que 70 da

populaccedilatildeo de Treviso concorda com o empreendimento Duas criacuteticas

feitas merecem destaque

190

A primeira feita pelo estudante da UNESC Joaquim Teixeira

chamou a atenccedilatildeo para o fato de que a USITESC eacute um empreendimento

que afetaraacute a regiatildeo e ouvir apenas a populaccedilatildeo de Treviso natildeo seria

uma medida adequada Segundo ele ldquoa termeleacutetrica natildeo eacute soacute um

problema de Treviso Fazer pesquisa de opiniatildeo soacute em Treviso eacute

desprezar uma questatildeo que eacute regionalrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

A segunda criacutetica questionou a pesquisa citada pela prefeita com

base em uma pesquisa feita no municiacutepio de Iccedilara

O IPAT quando fala que eacute imparcial ele estaacute

numa situaccedilatildeo que eu passei pelo conjunto do

Movimento pela Vida em Iccedilara Foi feita uma

pesquisa na Iccedilara pelo IPAT perguntando o

seguinte se a mina natildeo degradar natildeo poluir natildeo

fazer isso natildeo fazer aquilo nanana nananan vocecirc

vai ser a favor da mina Ai o pessoal ateacute eu

responderia que sim Aiacute fizeram uma publicaccedilatildeo

ldquoO IPAT confirma que 80 da populaccedilatildeo de Iccedilara

eacute a favor da mina Fomos laacute saber qual era a

pergunta que foi feita era desse jeito Noacutes

queremos contratar o IPAT para fazer a seguinte

pesquisa se levar em conta toda a degradaccedilatildeo que

a mina provoca os caimentos as casas rachadas a

aacutegua poluiacuteda o aquecimento global papapaacute vocecircs

seriam a favor da mina ou natildeo Ah isso noacutes natildeo

podemos fazer Pra noacutes podiam fazer uma

pesquisa desde fugiu a palavra aqui () mas pra

eles sim Eu questiono sim o IPAT mas

parabenizo grande parte da UNESC professores e

alunos que estatildeo buscando realmente uma defesa

do meio ambiente (Gilmar Bonifaacutecio Movimento

Iccedilara pela Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Nos discursos das duas audiecircncias puacuteblicas constatou-se que

apenas uma pessoa se colocou como representante de uma comunidade

de Treviso Gerson Hanne A intervenccedilatildeo seguinte de Sivio Saad

sintetiza a preocupaccedilatildeo de quem assistiu as duas audiecircncias puacuteblicas

Noacutes temos uma cidade pacata com 3500

habitantes e algueacutem resolve colocar um

empreendimento dentro dessa cidade Os

moradores claro devem saber o que estaacute

191

acontecendo Vimos a exposiccedilatildeo do

empreendedor vimos a exposiccedilatildeo da universidade

e o poder de julgar de saber se aceitam ou natildeo o

empreendimento agrave medida que eles foram

convincentes neacute os empreendedores satildeo

convincentes tatildeo preparados tem audiovisual satildeo

convincentes Mas eu gostaria de saber se a

populaccedilatildeo decide que natildeo quer quem defende os

interesses da populaccedilatildeo Quem eacute que taacute aqui

sentado (ele mostra os integrantes da mesa) que

representa os interesses dessa populaccedilatildeo Que

possa pelo menos equilibrar esse jogo Seria o

empreendedor Claro que natildeo Ele taacute defendendo

os seus interesses Ele eacute capaz de dizer aqui que

os oacutergatildeos internacionais soacute aprovam o dinheiro se

tiver cuidado com o meio ambiente Acredite se

quiser Temos aqui o pessoal da FATMA Eu jaacute vi

a FATMA aprovar coisas absurdas () Agora

depois que ela aprovou ela fiscaliza () Aiacute eles

respondem ldquonatildeo temos quem fiscalizerdquo Quem

seria a Universidade A UNESC () A prefeita

() eu ouvi uma entrevista dela hoje cedo dizendo

que se der dinheiro para a cidade ela aprova

Quem mais O governador que vem aqui diz que

vai dar emprego Vocecircs querem emprego Vocecircs

querem colocar mais duas mil pessoas aqui

dentro () Se a populaccedilatildeo quer oacutetimo Se a

populaccedilatildeo natildeo quer precisa ter algueacutem aqui que

defende () Soacute tem uma pessoa que defende os

interesses da populaccedilatildeo o Dr Darlan Esse

defende Dentro da lei esse defende Agora

precisava mais algueacutem () Se for confiar em

quem taacute aqui na mesa vocecircs tatildeo perdidos Se a

populaccedilatildeo chega agrave conclusatildeo que natildeo quer e

confia nesses que tatildeo aqui vocecircs estatildeo perdidos

A minha pergunta eacute quem defende os interesses

da populaccedilatildeo (Silvio Saad AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Diante dessa fala o apresentador Adhiles Bortot da FATMA

passou para a proacutexima pergunta sem que ningueacutem da mesa se

pronunciasse Essa atitude refletiu o clima das duas audiecircncias

analisadas Quando o assunto se referia aos

192

atingidosafetadosameaccedilados muitas respostas evasivas eram dadas

ressaltando sempre o respeito pelas leis e pelos criteacuterios teacutecnicos

As interveccedilotildees apresentadas demonstram a injusticcedila poliacutetica Se a

mineraccedilatildeo respeita as leis e os criteacuterios teacutecnicos ela eacute liacutecita O que passa

ao largo eacute uma discussatildeo mais ampla sobre gestatildeo de recursos comuns

opccedilotildees de desenvolvimento direitos humanos e justiccedila ecoloacutegica

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida falou da importacircncia

de uma discussatildeo sobre os direitos do cidadatildeo ldquo() concordamos

tambeacutem com o direito constitucional que todo cidadatildeo tem o direito a

um ambiente saudaacutevel () Essa tambeacutem eacute uma questatildeo legal Entatildeo noacutes

devemos comeccedilar a discutir questotildees legaisrdquo (Gilmar Bonifaacutecio

Movimento Iccedilara pela Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007) Mas as

evidecircncias demonstram que as audiecircncias se propunham a ser espaccedilo de

discussatildeo apenas de assuntos referentes ao licenciamento Todas as

discussotildees mais amplas foram desconsideradas

634 O papel da FATMA em questatildeo

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionou o

Ministeacuterio Puacuteblico e a FATMA que na segunda audiecircncia afirmaram

que a licenccedila natildeo seria emitida sem estudos conclusivos Ele citou o

exemplo de Iccedilara que haacute trecircs anos vinha se mobilizando para a natildeo

instalaccedilatildeo de uma mina de carvatildeo Ele destacou o papel do Ministeacuterio

Puacuteblico e questionou o papel da FATMA No caso da USITESC a

preocupaccedilatildeo dele foi que se a LP fosse dada e os empreendedores

participassem do leilatildeo haveria uma pressatildeo para a aprovaccedilatildeo dos

processos de licenciamento dos empreendimentos acessoacuterios

(AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Joatildeo Luis Brunel tambeacutem questionou os criteacuterios da FATMA na

concessatildeo da licenccedila

() noacutes vemos aiacute todos os dias uma campanha

mundial de preservaccedilatildeo da natureza

principalmente das aacuteguas aacuteguas do nosso planeta

que estatildeo quase que totalmente poluiacutedas entatildeo eu

faccedilo a pergunta noacutes vamos construir essa usina ao

lado de uma reserva ambiental e vamos captar a

maior fonte de aacutegua potaacutevel do nosso municiacutepio

193

uma aacutegua que jaacute estaacute mapeada pela Casan pra

abastecimento futuro em cidades vizinhas E onde

vatildeo passar a linha do trem e a linha de transmissatildeo

vatildeo atingir terrenos cobertos por floresta nativa

Entatildeo eu gostaria de saber quais satildeo os criteacuterios

que a Fatma os oacutergatildeos ambientais adotam pra dar

a licenccedila ou natildeo para a construccedilatildeo de um projeto

como esse (Joatildeo Luis Brunel AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Luis Antocircnio Garcia da FATMA respondeu ldquoA Fatma atraveacutes

de seu corpo teacutecnico e seus consultores vai avaliar os estudos como os

demais e leva em consideraccedilatildeo criteacuterios teacutecnicos e aspectos legais Se

houver viabilidade pelo licenciamento assim seraacute feito Se natildeo houver

viabilidade a licenccedila natildeo seraacute concedidardquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

O representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal na defesa da

FATMA fez as seguintes consideraccedilotildees

Mas posso dizer que na maioria dos casos

inclusive envolvendo o carvatildeo a Fatma tem

atuado em bastante sintonia com o Ministeacuterio

Puacuteblico Eacute claro que a Fatma eacute um oacutergatildeo do poder

executivo e noacutes conhecemos a tradiccedilatildeo do nosso

estado poliacutetica inclusive tudo eacute muito politizado

noacutes sabemos que a Fatma sofre pressotildees poliacuteticas

de toda ordem Mas eu sou testemunha pelo que

vivo aqui em Criciuacutema que os teacutecnicos tem se

esforccedilado e a direccedilatildeo tambeacutem pra resistir agraves

pressotildees e fazer um trabalho teacutecnico (Darlan

Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Na quarta audiecircncia puacuteblica a legitimidade da FATMA nos

processos de licenciamento tambeacutem foi colocada vaacuterias vezes em

duacutevida A jornalista Ana Echevenguaacute de Florianoacutepolis fez o seguinte

questionamento

() eu gostaria de perguntar para o Dr Darlan de

acordo com aquela decisatildeo liminar proferida pelo

Dr Germano juiz federal onde ele dizia que

enquanto a FATMA natildeo tiver o corpo teacutecnico

194

capaz de apreciar EIARIMA ela estaacute proibida e o

IBAMA assumiria essa responsabilidade eu

entendo que nem essa audiecircncia deveria estar

acontecendo (Ana Echevenguaacute AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Em resposta o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

enfatizou o caraacuteter fiscalizador do Ministeacuterio Puacuteblico e que o IBAMA

natildeo seria a soluccedilatildeo para os problemas de licenciamento em Santa

Catarina

Aquela decisatildeo do juiz que disse que o

licenciamento das minas e dos PRADES de

recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas natildeo poderia ser

feito pela FATMA se natildeo fosse embasada em

pareceres teacutecnicos aiacute o juiz lista uma seacuterie de

empreendedores perdatildeo de profissionais

geoacutelogos engenheiro de minas bioacutelogo

agrocircnomo e tal tal tal natildeo me lembro de cabeccedila

mas se a FATMA tiver um parecer teacutecnico

embasado por esses profissionais ela pode emitir a

licenccedila Quando o juiz disse que o licenciamento

tem que ser passado para o IBAMA o Ministeacuterio

Puacuteblico entende que isso eacute um equiacutevoco do juiz e

noacutes recorremos contra essa parte da decisatildeo Por

que Primeiro que isso natildeo foi pedido entatildeo o

juiz natildeo pode julgar extra petita18

e ele fez isso

nesse caso Segundo o IBAMA natildeo eacute a soluccedilatildeo

A FATMA tem problemas Tem seacuterios e vaacuterios

problemas Noacutes estamos fiscalizando e atuando

para que isso se altere Mas o IBAMA natildeo eacute a

soluccedilatildeo Porque o IBAMA eacute totalmente ausente

da regiatildeo Sul de Santa Catarina O estado de Santa

Catarina inteiro a equipe do IBAMA eacute

precariacutessima Entatildeo com respeito ao Leonir aqui

que taacute por aiacute que agora eacute do Chico Mendes O

IBAMA aqui na regiatildeo sul natildeo existe Entatildeo

passar o licenciamento de qualquer coisa pro

IBAMA aqui na regiatildeo eacute um equiacutevoco (Darlan

Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico Federal

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

18

Decisotildees extra petita satildeo aquelas que o juiz toma concedendo ao

autor coisa diversa da que foi requerida em sua peticcedilatildeo inicial

195

O representante da FATMA Luis Antocircnio Garcia por sua vez

insistiu que a FATMA tem melhorado seu quadro teacutecnico e conta com

consultores externos Ele ressaltou tambeacutem que a decisatildeo do

licenciamento eacute baseada nos criteacuterios legais e teacutecnicos

Dos segmentos sociais que participaram das audiecircncias

percebeu-se uma desconfianccedila em relaccedilatildeo agrave conduta da FATMA nos

processos de licenciamento A FATMA por sua vez reconhece as

dificuldades existentes e faz uma aposta na atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico Segundo o representante da FATMA ldquoo licenciamento com

todas as dificuldades que temos mas noacutes temos hoje uma cooperaccedilatildeo

uma parceria extremamente sadia e participativa e com resultados

extremamente beneacuteficos a sociedade que eacute junto com o Ministeacuterio

Puacuteblico ()rdquo (Luis Antocircnio Garcia FATMA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Nos discursos dos segmentos sociais e poliacuteticos transparece a

fragilidade do oacutergatildeo ambiental E aiacute a responsabilidade que seria do

oacutergatildeo ambiental eacute passada para o Ministeacuterio Puacuteblico Isso pode ser bom

por um lado uma vez que existe fiscalizaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental mas

por outro lado pode fazer com que as fragilidades do oacutergatildeo ambiental se

perpetuem

635 O IPAT e a neutralidade da ciecircncia

A linguagem teacutecnica do IPAT foi questionada na terceira

audiecircncia puacuteblica ldquo() a maioria de noacutes cidadatildeos mortais e comuns

natildeo temos conhecimento suficiente para traduzir as informaccedilotildees que

foram passadasrdquo (Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida

AUDIEcircNCIA 2006) Mauricio Luis Camara questionou sobre a

apresentaccedilatildeo do IPAT para que fizessem um resumo de forma que

todos entendessem (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Outro ponto que merece destaque eacute o fato de o IPAT natildeo ter

deixado clara a viabilidade do empreendimento Abaixo a intervenccedilatildeo

de Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionando esse

ponto

196

[] eacute nesse sentido que eu gostaria de saber []

quais satildeo os pontos positivos e quais satildeo os

pontos negativos para que a populaccedilatildeo tambeacutem

tenha condiccedilatildeo de por si soacute analisar e tomar uma

posiccedilatildeo e natildeo simplesmente tomar uma posiccedilatildeo

porque algueacutem ou um chefe poliacutetico tipo um

empreendedor taacute dizendo que eacute assim [] na

minha opiniatildeo ficou faltando isso do IPAT uma

posiccedilatildeo clara de quais satildeo os pontos positivos e

negativos porque aiacute se coloca na balanccedila Porque

eacute isso que a gente tem que ver [] (AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Em resposta Fabiano Luzi Neris representante do IPAT

afirmou que ldquoo IPAT natildeo tem posicionamento se a Usina eacute viaacutevel ou

natildeo eacute viaacutevel se ele eacute a favor ou contra a Usina () Soacute o oacutergatildeo

ambiental tem competecircncia para viabilizar ou natildeo a Usinardquo (Fabiano

Luiz Neris IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A Universidade apresentou os resultados teacutecnicos

que estatildeo aqui e foram apresentados e estatildeo nos

documentos entregues ao empreendedor e ao

oacutergatildeo ambiental A Universidade natildeo tem o papel

de emitir o parecer favoraacutevel ou contraacuterio agrave

liberaccedilatildeo da licenccedila da Usina A Universidade tem

o papel de apresentar os estudos realizados Se

tiver algum conflito em relaccedilatildeo aos estudos a

gente estaacute a disposiccedilatildeo para discutir tecnicamente

(Fabiano Luiz Neris IPAT AUDIEcircNCIA 2006)

A representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal questionou a

resposta dada pelo IPAT ldquose o EIA natildeo vai dizer se eacute viaacutevel ou natildeo

quem de noacutes diraacute issordquo (Denise Cristina de Resende Nicolaitz

Ministeacuterio Puacuteblico Federal AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Na sequecircncia manifesta-se um posicionamento que parece

contraacuterio ao anterior

Todas as consideraccedilotildees positivas ou negativas

estatildeo e fazem parte de uma matriz de anaacutelise de

impacto Elas constam tanto do estudo da

USITESC quanto dos estudos dos

empreendimentos acessoacuterios E a equipe embora

tenha optado por natildeo fazer nenhuma manifestaccedilatildeo

197

proacute ou contra a USITESC ela nos estudos nas

suas conclusotildees ela deixa bem claro se eacute viaacutevel

ou natildeo dentro do estudo que foi feito Eu soacute queria

dizer isso e que a populaccedilatildeo tivesse ciecircncia e os

nossos colegas ecologistas que Que noacutes

apresentamos os trabalhos e noacutes temos

consciecircncia Noacutes temos nossa responsabilidade

social tambeacutem Noacutes natildeo somos levianos noacutes natildeo

queremos aprovar absolutamente nada Noacutes

estamos fazendo um estudo que demonstra a

possibilidade ou natildeo do empreendimento (Luiz

Nogueira Palma IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

O IPAT enfatizou em muitas intervenccedilotildees o ldquocaraacuteter teacutecnicordquo das

informaccedilotildees prestadas Alguns exemplos de explicaccedilotildees duvidosas

foram extraiacutedos das duas audiecircncias puacuteblicas e satildeo apresentados na

sequecircncia Na audiecircncia puacuteblica de 2006 o IPAT afirmou que uma

barragem no Rio Matildee Luzia preservaria a aacutegua

() quando vocecirc constroacutei um barramento ele

isola ou seja vocecirc taacute preservando a aacutegua boa a

aacutegua de boa qualidade Vocecirc taacute reservando vocecirc

taacute evitando que aquela aacutegua polua neacute pelo menos

pelos outros motivos que mineraccedilatildeo a gente sabe

que o ph nesses frac34 de trecho do Rio Matildee Luzia o

ph da aacutegua eacute 3 E laacute em cima na foz onde natildeo

tem onde natildeo ocorre ou seja a aacutegua eacute de boa

qualidade Entatildeo vocecirc taacute isolando vocecirc taacute

isolando vocecirc taacute preservando (Naacutedia e Andreacuteia

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Quanto agrave existecircncia de risco na construccedilatildeo da barragem e na

possibilidade de caimento de mina o IPAT tambeacutem manifestou sua

posiccedilatildeo

Teoricamente eu natildeo vou te dizer que natildeo eacute

possiacutevel ocorrer um problema na construccedilatildeo da

barragem mas isso aiacute eacute uma coisa que eacute pouco

provaacutevel E quanto aos caimentos de mina cai em

vaacuterios locais e esse caimento que ocorreu

recentemente natildeo tem absolutamente nada a ver

vamos dizer assim com a eventual construccedilatildeo de

198

um barramento neacute Natildeo tem realmente natildeo tem

nada a ver e foi uma coisa improvaacutevel daquelas

coisas que natildeo se pode dizer que estava por

acontecer A mina onde caiu era um lugar

conhecido claro tinha falha geoloacutegica neacute Mas

ela tava sendo vamos dizer assim toda eacute toda

minerada de uma maneira muito teacutecnica com um

fator de seguranccedila muito alto e aconteceu Quer

dizer eacute a natureza neacute Eu com toda sinceridade

natildeo vou lhe enganar pra dizer que eacute impossiacutevel de

ocorrer um caimento laacute () Se for minerado de

uma maneira teacutecnica eacute pouco provaacutevel que

aconteccedila Agora dizer que natildeo tem caimento eu

acho que teacutecnico nenhum diria isso (Cleacutevis

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Na quarta audiecircncia puacuteblica mais duas explicaccedilotildees chamaram a

atenccedilatildeo uma do IPAT outra do empreendedor A primeira foi dada por

Marcos Back do IPAT ldquoSegundo as pesquisas natildeo haacute uma correlaccedilatildeo

entre a usina e a sauacutede da populaccedilatildeo entre a Usina Termeleacutetrica Jorge

Lacerda e as doenccedilas respiratoacuteriasrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Em contraposiccedilatildeo a essa informaccedilatildeo Joseacute Dagostin do Movimento

Iccedilara pela Vida trouxe informaccedilotildees atualizadas dados do Datasus

questionando o IPAT sobre os dados defasados do estudo sobre sauacutede e

tambeacutem sobre acidentes com amocircnia Dois anos depois o proacuteprio

Ministeacuterio Puacuteblico coletou e analisou dados confirmando a relaccedilatildeo

entre diversos problemas de sauacutede e o funcionamento do Complexo

Jorge Lacerda (MPF 2009)

A outra fala do empreendedor sugeriu que ldquoa estocagem de

amocircnia eacute mais segura que o botijatildeo de gaacutes que vocecircs tecircm em suas casas

Muitos dos senhores tecircm mangueiras inadequadas para conectar o

botijatildeo de gaacutes Quantas vezes passam perto do botijatildeo de gaacutesrdquo (Luis

Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Essa eacute uma amostra pequena das explicaccedilotildees dadas em resposta

aos questionamentos Muitas pessoas tambeacutem natildeo se sentiram

contempladas com as respostas As evasivas contemplavam encaminhar questionamentos por escrito agrave FATMA e ao IPAT desconsiderar as

perguntas com base no fato de que as informaccedilotildees jaacute haviam sido

apresentadas nas outras audiecircncias ou que as informaccedilotildees seriam

tratadas posteriormente na anaacutelise de risco

199

Nas duas audiecircncias puacuteblicas analisadas o IPAT foi questionado

ao fazer o EIARIMA da USITESC quanto ao seu posicionamento

O estudante da UNESC Joaquim Teixeira fez a seguinte

intervenccedilatildeo

ldquoA USITESC eacute a nova Marion do seacuteculo XXIrdquo Eacute

preciso separar a UNESC eacute nossa o IPAT eacute de

quem paga () o empreendimento pode ser feito

ou natildeo feito tem essa possibilidade taacute na lei Tem

alternativas ao empreendimento () Eacute preciso

mudar de paradigma () Vocecircs podem virar a

paacutegina da histoacuteria Treviso natildeo precisa de mina

Ou melhor termeleacutetrica (Joaquim Teixeira

estudante da UNESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Em resposta Marcos Back do IPAT reclamou dessa e de outras

intervenccedilotildees como ldquoataque gratuito agrave Universidaderdquo E completou

() Eu quero dizer o seguinte que eacute muito faacutecil

muito faacutecil a gente vir para uma audiecircncia e

quando a gente natildeo tem mais argumento vocecirc

desqualifica quem produziu Quem dizer eu tocirc

numa discussatildeo eu natildeo sei mais o que dizer eu

desqualifico o outro eu falo que o outro natildeo sabe

nada E na hora que eu desqualifico a pessoa

comeccedilo a desqualificar todo o estudo que foi feito

() natildeo adianta dizer que o IPAT natildeo eacute

Universidade porque a decisatildeo de implantaccedilatildeo

que o IPAT participasse desse estudo partiu da

eacutepoca que o reitor era Edson Rodrigues que fez

uma reuniatildeo com a Universidade inteira e decidiu

que a Universidade ia participar desse processo

porque eacute muito grande para a regiatildeo inteira esse

empreendimento e era preciso que a Universidade

se envolvesse no projeto para fazer a avaliaccedilatildeo

desses impactos ambientais (Marcos Back IPAT

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Percebe-se nos posicionamentos do IPAT que existe a confianccedila

de que o documento produzido eacute neutro Dessa forma os segmentos

sociais natildeo teriam que questionar quem produz o documento apenas as

informaccedilotildees que o documento traz

200

636 Audiecircncias puacuteblicas como espaccedilos democraacuteticos

Somente o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal Darlan

Aiacutelton Dias e os segmentos sociais fizeram menccedilatildeo agrave questatildeo

democraacutetica nas audiecircncias puacuteblicas Na terceira audiecircncia puacuteblica o

representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal fez a seguinte intervenccedilatildeo

A audiecircncia puacuteblica eacute um ambiente democraacutetico

bonito agraves vezes a gente fica [pausa] vem com

uma preacute-concepccedilatildeo e fica irritado quando algueacutem

fala o contraacuterio mas isso eacute o processo

democraacutetico uma sociedade democraacutetica Em

outros tempos da nossa histoacuteria recente era

inimaginaacutevel um empreendedor ter que se

submeter a esse tipo de [pausa] situaccedilatildeo Mas eacute a

realidade da nossa sociedade democraacutetica graccedilas

a deus neacute E a Constituiccedilatildeo nos daacute esse recado do

desenvolvimento sustentaacutevel noacutes queremos

desenvolver o paiacutes mas queremos preservar o

meio ambiente (Darlan Aiacutelton Dias

AUDIEcircNCIA 2006)

Todavia o elogio agrave democracia contrasta com o processo da

audiecircncia puacuteblica Tadeu Santos da ONG Soacutecios da Natureza colocou

em questatildeo o caraacuteter democraacutetico da audiecircncia puacuteblica depois de ter

sido lembrado do limite de tempo quatro vezes Segundo ele

As audiecircncias puacuteblicas anteriores foram mais

democraacuteticas a coisa taacute ficando fechada Taacute se

percebendo que o grande lobby das mineradoras

estaacute funcionando Eacute possiacutevel que realmente a

FATMA venha a dar o licenciamento Eacute possiacutevel

natildeo vai dar Porque deu para a mineradora em

Treviso (Tadeu Santos AUDIEcircNCIA 2006)

E continua referindo-se a Luis Antocircnio Garcia da FATMA ldquoSr

diretor eu gostaria que o Sr fosse mais maleaacutevel que conduzisse a

assembleia de forma mais democraacutetica porque afinal estamos

discutindo uma coisa muito seacuteriardquo (Tadeu Santos AUDIEcircNCIA 2006)

201

Na quarta audiecircncia puacuteblica o representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal novamente enaltece o caraacuteter democraacutetico da audiecircncia

() a audiecircncia puacuteblica eacute o instrumento que estaacute

previsto na lei e noacutes vivemos num estado

democraacutetico de direito e que a publicidade dos

licenciamentos ambientais eacute um princiacutepio

fundamental previsto na poliacutetica nacional do meio

ambiente Entatildeo um processo de licenciamento

tem que ser puacuteblico as pessoas tem que ter o

direito de se manifestar desde que haja claro

respeito muacutetuo Mas por outro lado eu percebo

que muita gente veio aqui hoje com a cabeccedila feita

a favor ou contra o empreendimento sem querer

ouvir qualquer coisa Isso ficou muito claro jaacute

nano niacutevel de conversa durante as apresentaccedilotildees

As pessoas tem o direito de ser contra ou a favor

do empreendimento Aleacutem disso disse a prefeita

aqui que os estudos ficaram agrave disposiccedilatildeo da

populaccedilatildeo por 45 dias como manda a lei mas soacute

duas pessoas consultaram os estudos na prefeitura

Entatildeo eu peccedilo que se respeite as opiniotildees e que

todos tem direito a fazer uso da palavra E isso eacute

democraacutetico () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio

Puacuteblico Federal AUDIEcircNCIA 2007)

O reflexo dessa democracia foi o rigoroso controle do tempo de

questionamento o despeito pela ordem de chegada dos questionamentos

(orais e escritos) e a inexistecircncia de reacuteplica Gilmar Bonifaacutecio do

Movimento Iccedilara pela Vida criticou a forma como foram conduzidos os

debates jaacute que natildeo foi respeitado o direito agrave reacuteplica

A intervenccedilatildeo do representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

trouxe alguma esperanccedila para os segmentos sociais

Na verdade toda essa discussatildeo que hoje se trava

aqui eacute uma discussatildeo se a gente for pensar aqui

do ponto de vista histoacuterico bonita e importante e

acho que essa luta pode mudar o rumo dessa

legislaccedilatildeo Mas vamos colocar ela num contexto

maior que precisa ser colocado Na verdade eacute

uma discussatildeo que se trava no Brasil inteiro e no

mundo inteiro que eacute a discussatildeo de que modelo

de sociedade e desenvolvimento noacutes queremos

202

Pela questatildeo do efeito estufa e toda a questatildeo de

sobrevivecircncia da espeacutecie E eu como ser humano

como pai eu quero tambeacutem que o mundo pros

meus filhos pros meus netos seja viaacutevel No

entanto diante desse debate e assim como aqui

natildeo se quer uma usina termeleacutetrica laacute em Belo

Monte natildeo se quer uma hidreleacutetrica laacute em

Campos Novos natildeo se quer uma hidreleacutetrica laacute no

Rio Madeira e assim por diante Mas de algum

lugar tem que sair energia E o Ministeacuterio Puacuteblico

nessa discussatildeo tem que se pautar no equiliacutebrio e

ter como paracircmetro o que A Constituiccedilatildeo e as

leis E eacute assim que eu procuro agir Entatildeo essa

discussatildeo eacute legiacutetima essa oposiccedilatildeo a qualquer

empreendimento desse tipo eacute legiacutetima e esse eacute o

espaccedilo para falar Mas noacutes vamos nos pautar pela

lei () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico

Federal Federal AUDIEcircNCIA 2007)

O representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal reconhece a

possibilidade de mudanccedila na legislaccedilatildeo mas reconhece que sua atuaccedilatildeo

se restringe ao que eacute legal O Ministeacuterio Puacuteblico Federal produziu em

2004 um dossiecirc sobre as Deficiecircncias em estudos de impacto ambiental

mas natildeo tocou na questatildeo das audiecircncias puacuteblicas (MPF 2004) Apesar

das audiecircncias puacuteblicas natildeo serem deliberativas a observacircncia do

processo democraacutetico eacute algo necessaacuterio e deveria entrar nos estudos do

Ministeacuterio Puacuteblico

64 Democracias possiacuteveis e aprendizagem social

A avaliaccedilatildeo de impacto ambiental compreende processos que

envolvem muacuteltiplos segmentos que recolhem analisam sintetizam e

comunicam informaccedilotildees sobre as condiccedilotildees ambientais tendecircncias

direccedilotildees impactos e futuros possiacuteveis com o objetivo de sensibilizar

para uma questatildeo especiacutefica ou apoiar processos de regulaccedilatildeo ambiental

Essas avaliaccedilotildees satildeo processos sociais de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo que

envolvem muito mais do que a mera produccedilatildeo de relatoacuterios Todavia os

limites estruturais e conjunturais das avaliaccedilotildees natildeo garantem o

questionamento do estilo de desenvolvimento de planos poliacuteticas e

203

programas que estariam sendo elaborados avaliados e implementados

(SACHS 1986 VIEIRA 2005)

O licenciamento ambiental estaacute envolto numa suposta

neutralidade em relaccedilatildeo aos criteacuterios juriacutedicos e teacutecnicos que o

sustentam e os condicionantes e interesses intriacutensecos ao processo

acabam passando para segundo plano ldquoNatildeo eacute porque a mineradora

cumpre com as exigecircncias que o oacutergatildeo licenciador pode liberar a

atividade Eacute preciso considerar a aceitaccedilatildeo do empreendimento pela

comunidade que poderaacute ser afetadardquo (Soacutecios da Natureza citado por

SANTOS 2008 p 103)

No caso especiacutefico da USITESC os segmentos poliacuteticos

(representados pelos poliacuteticos estaduais e municipais Ministeacuterio Puacuteblico

e FATMA) apresentaram em seus discursos algumas peculiaridades Os

poliacuteticos estaduais e municipais apoiam o empreendimento porque

querem estimular o desenvolvimento econocircmico A FATMA sofre

pressotildees poliacuteticas e tem dificuldades teacutecnicas mas garante que o

licenciamento eacute concedido considerando a anaacutelise teacutecnico-legal O

Ministeacuterio Puacuteblico aparece nos discursos dos segmentos econocircmicos

poliacuteticos e sociais como confiaacutevel Ele se mostra receptivo as colocaccedilotildees

dos segmentos sociais mas se move dentro do que considera legal Pode

questionar os dados do EIARIMA mas dificilmente questionaria a

questatildeo democraacutetica no processo da audiecircncia puacuteblica

Os segmentos econocircmicos como tratado na seccedilatildeo 623 fazem

pressatildeo sobre os segmentos poliacuteticos Nas audiecircncias puacuteblicas sua

participaccedilatildeo se limita a responder agrave perguntas e fazer a defesa do

empreendimento quando necessaacuterio O fato eacute que a USITESC tem a LI e

pode participar dos leilotildees de energia O iniacutecio da construccedilatildeo vai

depender dos interesses econocircmicos e poliacuteticos envolvidos O ponto

importante nesse capiacutetulo era tornar mais expliacutecitas as redes de

influecircncia e os mecanismos que satildeo utilizados nas audiecircncias puacuteblicas

para neutralizar as criacuteticas (aqui entra a injusticcedila poliacutetica nos tempos e

nas intervenccedilotildees) e a desinformaccedilatildeo Ao mesmo tempo tornam-se

tambeacutem mais expliacutecitas as formas de atuaccedilatildeo dos segmentos sociais

(afetadosatingidosameaccedilados ONGs e parte da academia)

A histoacuteria dos segmentos sociais no Sul de Santa Catarina traz

evidecircncias de aprendizagem social adaptativa Eles contam com uma

atuaccedilatildeo regional articulada fazem a relaccedilatildeo dos problemas globais e

locais questionam os segmentos poliacuteticos e os segmentos econocircmicos e

reivindicam que as audiecircncias puacuteblicas sejam mais democraacuteticas Isso

204

demonstra na discussatildeo especiacutefica da USITESC que se vem travando

uma luta histoacuterica na regiatildeo

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Nesta tese buscamos compreender as contradiccedilotildees inerentes agrave

proposta de ampliaccedilatildeo do sistema de geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica na

regiatildeo sul de Santa Catarina Para tanto adotamos um modelo de anaacutelise

que combina os enfoques de gestatildeo de ldquocommonsrdquo para o

ecodesenvolvimento e de justiccedila ambiental e ecoloacutegica Na estrutura

deste modelo hiacutebrido comparecem os conceitos de trajetoacuteria de

desenvolvimento local de atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso em

questatildeo de padrotildees de interaccedilatildeo entre os atores sociais envolvidos no

sistema de gestatildeo de regras em uso de arena de accedilatildeo e de resultados

eou consequecircncias das tomadas de decisatildeo

Caracterizamos inicialmente a especificidade das dinacircmicas de

desenvolvimento que tecircm influenciado as accedilotildees coletivas dos segmentos

poliacuteticos econocircmicos e sociais envolvidos nos modos de apropriaccedilatildeo e

gestatildeo do carvatildeo mineral na regiatildeo em pauta Neste sentido destacamos

o papel hegemocircnico exercido pelos agentes governamentais na

centralizaccedilatildeo dos processos decisoacuterios e na oferta de subsiacutedios agrave

utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis foacutesseis natildeo obstante o apelo agrave necessidade

de se promover uma ldquomatriz energeacutetica limpardquo no Paiacutes

No resgate da dinacircmica de exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral

buscamos caracterizar os fatores relacionados agrave disponibilidade do

recurso agrave rentabilidade econocircmica deste segmento atualmente aos

criteacuterios de tomada de decisatildeo na pesquisa de inovaccedilotildees na busca de

alternativas de mecanizaccedilatildeo dos processos de extraccedilatildeo agraves praacuteticas de

recuperaccedilatildeo do passivo ambiental e ao perfil dominante das poliacuteticas de

suprimento energeacutetico no bojo do modelo de desenvolvimento adotado

Com base nas evidecircncias coletadas foi possiacutevel constatar que o nosso

Paiacutes natildeo conta ainda hoje com uma ldquocultura do carvatildeordquo e que na

regiatildeo estudada as atividades de mineraccedilatildeo dificultam ou mesmo

impedem outros usos possiacuteveis do solo aleacutem de responderem pela

geraccedilatildeo de riscos e de impactos socioambientais cujos custos

geralmente muito elevados continuam a ser distribuiacutedos de forma

socialmente desigual Aleacutem disso reforccedilamos o ponto de vista segundo

o qual as escolhas tecnoloacutegicas satildeo essencialmente tributaacuterias de

orientaccedilotildees poliacuteticas As anaacutelises mostraram tambeacutem que uma parcela

significativa da populaccedilatildeo catarinense jaacute percebe natildeo soacute uma relaccedilatildeo

causal direta entre o aumento da exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral e o

comprometimento da resiliecircncia ecossistecircmica e da qualidade de vida

das comunidades locais Ao mesmo tempo vem se impondo

206

gradualmente a impressatildeo de que os processos de diversificaccedilatildeo da

economia regional vecircm legitimando a adoccedilatildeo de uma poliacutetica mais firme

de reconversatildeo do segmento de exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral

No que diz respeito agrave adequaccedilatildeo dos arranjos institucionais em

vigor na dinacircmica de gestatildeo deste segmento correlacionamos a

iniciativa de ampliaccedilatildeo do sistema de geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica

movida a carvatildeo mineral agrave desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo ambiental - especialmente do Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e do

Coacutedigo Estadual do Meio Ambiente em Santa Catarina No segundo

caso o Coacutedigo estabeleceu prazos para as licenccedilas ambientais e a

Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina dispensou o EIARIMA para

atividade de extraccedilatildeo de pequeno porte A CFEM e a reduccedilatildeo do ICMS

de 15 para 3 no estado contribuiacuteram fortemente para legitimar o

projeto de uma nova usina junto agrave opiniatildeo puacuteblica Mas outros aspectos

relevantes foram destacados a exemplo da evoluccedilatildeo progressiva das leis

ambientais favorecendo a percepccedilatildeo de que o direito a um meio

ambiente saudaacutevel integra o coacutedigo universal dos direitos humanos

fundamentais Todavia o balanccedilo entre os aspectos que favorecem a

ampliaccedilatildeo e os que questionam eacute bastante desigual A

desregulamentaccedilatildeo e a flexibilizaccedilatildeo dos coacutedigos juriacutedicos promovidas

nos uacuteltimos anos representam da perspectiva adotada na tese um

evidente e preocupante retrocesso em relaccedilatildeo aos avanccedilos alcanccedilados

anteriormente Finalmente acreditamos que a dimensatildeo da participaccedilatildeo

autecircntica da sociedade civil organizada nas tomadas de decisatildeo uma das

bandeiras da deacutecada de 1980 continua ainda hoje muito aqueacutem das

expectativas ndash sobretudo pelo fato de permanecer tutelada pelo jogo de

alianccedilas formadas pelos representantes dos setores econocircmico e

governamental

A reflexatildeo centrada no aprofundamento deste uacuteltimo toacutepico

mostrou que o sistema de gestatildeo de recursos comuns no Brasil continua

atrelado a um modelo de desenvolvimento que faz do apelo agrave

sustentabilidade uma retoacuterica que natildeo ataca as raiacutezes do problema

Trata-se de evitar as mudanccedilas estruturais que se tornaram emergenciais

face ao agravamento da crise em escala global Nesse contexto o

componente democraacutetico-representativo do sistema poliacutetico que tende a

reforccedilar e a legitimar a formaccedilatildeo de lobbies envolvendo os segmentos

poliacuteticos e econocircmicos contrasta com o componente democraacutetico-

participativo que responde pela abertura de espaccedilos ainda incipientes e

restritos de participaccedilatildeo aos setores majoritaacuterios da populaccedilatildeo A

existecircncia da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral eacute

207

um indiacutecio da existecircncia dessas articulaccedilotildees entre segmentos

econocircmicos e poliacuteticos E os dados apresentados no capiacutetulo 5

confirmam a hipoacutetese de que no bojo do processo de licenciamento da

USITESC no periacuteodo de 2002 a 2012 as doaccedilotildees de empresaacuterios para o

financiamento de campanhas eleitorais (nos niacuteveis municipal estadual e

nacional) tornaram-se um fenocircmeno recorrente

Em outras palavras consideramos que a gestatildeo de recursos

comuns em Santa Catarina segue as tendecircncias nacionais

Historicamente a questatildeo ambiental vem sendo apropriada de forma

marginal no estado permanecendo subordinada agrave hegemonia dos

interesses dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos Um dos principais

indicadores dessa tendecircncia pode ser encontrado na dinacircmica de

organizaccedilatildeo e funcionamento da FATMA abrigando a formaccedilatildeo de

lobbies ativos no setor da exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral - seja

estimulando sua expansatildeo seja dificultando sua fiscalizaccedilatildeo em

coerecircncia com os avanccedilos da legislaccedilatildeo ambiental Todavia ressaltamos

ainda que se uma parte dos segmentos poliacuteticos e dos segmentos sociais

apoia a tendecircncia de ampliaccedilatildeo deste setor os posicionamentos natildeo satildeo

homogecircneos e o fortalecimento do sistema democraacutetico vem se dando

por meio da organizaccedilatildeo dos segmentos sociais (ONGs academia

afetadosatingidosameaccedilados) e da atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico No

que diz respeito agrave organizaccedilatildeo dos segmentos sociais as iniciativas

extrapolam os espaccedilos de participaccedilatildeo previstos constitucionalmente

envolvendo tambeacutem accedilotildees autocircnomas de produccedilatildeo e difusatildeo de

conhecimentos aleacutem da promoccedilatildeo de campanhas e manifestaccedilotildees

Na consideraccedilatildeo do processo de licenciamento da USITESC

constatamos que no processo de licenciamento as audiecircncias puacuteblicas

realizadas no municiacutepio de Treviso foram coordenadas pela FATMA e

natildeo contaram com estrateacutegias de distribuiccedilatildeo (minimizando a

desigualdade) reconhecimento (considerando as distintas perspectivas)

e a representaccedilatildeo (paridade de participaccedilatildeo) As evidecircncias obtidas

indicam que essas reuniotildees foram organizadas visando reproduzir a

loacutegica que bloqueia na base a concretizaccedilatildeo desses anseios

Os principais temas tratados nas audiecircncias puacuteblicas foram

tratados no capiacutetulo 6 mostrando as contradiccedilotildees existentes ldquoentrerdquo e

ldquodentrordquo dos segmentos sociais principalmente A ampliaccedilatildeo de energia

termeleacutetrica eacute inevitaacutevel do ponto de vista dos segmentos econocircmicos

sendo respaldada por uma parcela dos agentes governamentais locais e

dos representantes da sociedade civil A discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre

208

a construccedilatildeo da USITESC e as mudanccedilas climaacuteticas proposta pela rede

de ONGs movimentos sociais e parte da UNESC foi categoricamente

colocada de lado como um aspecto natildeo pertinente ao caso em pauta ou

seja a apresentaccedilatildeo do EIARIMA Aleacutem disso ressaltamos que

durante as audiecircncias praticamente natildeo foram consideradas as vozes

dos habitantes de Treviso que seriam afetados pela implementaccedilatildeo do

projeto As discussotildees envolveram apenas uma parcela dos

representantes da sociedade civil sediados em outros municiacutepios e em

outros estados Poucos habitantes de Treviso participaram das

audiecircncias puacuteblicas Num municiacutepio em que 69 dos postos de trabalho

estatildeo vinculados a atividade carboniacutefera torna-se difiacutecil imaginar que os

habitantes estivessem em condiccedilotildees favoraacuteveis para se posicionarem

contra a implantaccedilatildeo da USITESC

Mostramos tambeacutem que a competecircncia da FATMA e da UNESC

foi repetidamente questionada nessas audiecircncias Se os representantes da

FATMA argumentaram agrave luz do princiacutepio de respeito agrave legislaccedilatildeo em

vigor e os pesquisadores da UNESC agrave luz do princiacutepio de neutralidade

da ciecircncia ambos os grupos evitaram assumir o desafio de encarar uma

discussatildeo poliacutetica do caso em pauta Por sua vez foi enaltecido o papel

desempenhado pelo Ministeacuterio Puacuteblico na defesa dos interesses da

populaccedilatildeo local Natildeo obstante consideramos que os depoimentos dos

Procuradores permaneceram refeacutens de um ponto de vista essencialmente

legalista na avaliaccedilatildeo do processo de licenciamento

Na busca de respostas agrave questatildeo de ldquoserdquo e ldquocomordquo as accedilotildees

coletivas estudadas teriam gerado oportunidades de aprendizagem social

adaptativa capazes de deflagrar accedilotildees coletivas de mudanccedila

institucional concluiacutemos que a atuaccedilatildeo de parte dos segmentos sociais

envolvidos no caso da USITESC aponta nesta direccedilatildeo Eles jaacute

conseguem perceber o surgimento da demanda de ampliaccedilatildeo do sistema

termeleacutetrico como um elemento de uma problemaacutetica mais ampla e mais

complexa que natildeo foi considerada nas audiecircncias puacuteblicas Eles estatildeo

mobilizados de outras formas mas a concessatildeo do licenciamento ainda

tem a audiecircncia puacuteblica (consultiva) como uacutenica modalidade de

participaccedilatildeo Diante disso pensamos que os problemas de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo existentes no espaccedilo da audiecircncia

precisariam ser vistos com mais cuidado pelo Ministeacuterio Puacuteblico Seria

interessante que daqui em diante o Ministeacuterio Puacuteblico superasse a

visatildeo dominante segundo a qual a anaacutelise das deficiecircncias do

EIARIMA (MPF 2004) satildeo suficientes para democratizar os processos

209

de licenciamento de projetos programas e poliacuteticas de desenvolvimento

no Paiacutes

Finalmente o trabalho ofereceu subsiacutedios que reforccedilam a

validade do pressuposto de que a maturaccedilatildeo de um sistema de gestatildeo de

recursos comuns voltado para um novo estilo de desenvolvimento

norteado pelo princiacutepio de sustentabilidade forte deveraacute passar

necessariamente pela ldquodemocratizaccedilatildeo do aparelho do Estado de modo

que a sociedade possa controlar seus controladoresrdquo (BOcircA NOVA

1985 p 227)

A sugestatildeo eacute que se faccedila uma pesquisa sobre ldquodeficiecircncias nas

audiecircncias puacuteblicasrdquo Como mencionado na justificativa desta tese um

dos encaminhamentos possiacuteveis seria a realizaccedilatildeo de um levantamento

mais rigoroso dos processos de licenciamento realizados no litoral de

Santa Catarina nos uacuteltimos anos a ser suplementado pela anaacutelise criacutetica

das respectivas audiecircncias puacuteblicas Os resultados poderiam ser

encaminhados ao Ministeacuterio Puacuteblico Estadual e Federal servindo assim

de base para o questionamento da forma pela qual os anseios de

distribuiccedilatildeo justa reconhecimento e representaccedilatildeo autecircntica dos

segmentos sociais tecircm sido incorporados nos processos de

licenciamento Neste sentido o caraacuteter meramente consultivo das

audiecircncias puacuteblicas poderia se tornar tambeacutem objeto de reconsideraccedilatildeo

na trilha ainda incipiente que nos conduziria ao exerciacutecio da cidadania

ambiental plena

Em outras palavras as perspectivas de ampliaccedilatildeo da rede de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica no Sul de Santa Catarina refletem uma

tomada de consciecircncia ainda bastante restrita dos riscos envolvidos na

continuidade da atividade carboniacutefera e de forma mais ampla de um

modelo de gestatildeo de recursos naturais de cunho ecologicamente

predatoacuterio e socialmente injusto Diante de argumentos que defendem o

caraacuteter ldquoinevitaacutevelrdquo do apelo a fontes natildeo renovaacuteveis de geraccedilatildeo de

energia cabe lembrar que

() existe pela frente um futuro repleto de possibilidades

alternativas e de potenciais inexplorados que natildeo cabem na bitola

estreita dos que estatildeo presos a modelos do passado ou a interesses do establishment Ou seja o futuro natildeo se projeta nas equaccedilotildees

matemaacuteticas mas se inventa na incessante discussatildeo das alternativas e

se faz na luta poliacutetica (BOcircA NOVA 1985 p 233)

210

Transformar a essa situaccedilatildeo envolve a adoccedilatildeo de outra

perspectiva baseada natildeo soacute na compreensatildeo da complexidade do

problema mas tambeacutem na consideraccedilatildeo simultacircnea dos fatores que

comparecem em todas as escalas do local ao global e na formaccedilatildeo de

parcerias capazes de impulsionar a gestaccedilatildeo de um projeto alternativo de

sociedade Esperamos que os resultados obtidos ofereccedilam subsiacutedios

uacuteteis apontando nesta direccedilatildeo insistindo que a superaccedilatildeo dos atuais

dilemas que cercam o exerciacutecio da democracia em nosso Paiacutes deveria

transcender a preocupaccedilatildeo pela pertinecircncia dos arranjos institucionais

em vigor Se os limites da tradiccedilatildeo democraacutetico-representativa tornam-

se evidentes quando prevalecem os interesses dos grupos sociais

atrelados agrave hegemonia do regime de apropriaccedilatildeo privada e economicista

dos ldquocommonsrdquo por sua vez os avanccedilos alcanccedilados na promoccedilatildeo de um

novo formato democraacutetico-participativo correm o risco de se tornarem

funcionais agrave reproduccedilatildeo das tendecircncias dominantes se permanecerem

restritos aos limites fixados pela obediecircncia agraves determinaccedilotildees legais

Impotildee-se assim uma dinacircmica de radicalizaccedilatildeo da democracia

entendida como componente essencial de uma estrateacutegia consistente de

enfrentamento dos dilemas colocados pela urgecircncia de uma transiccedilatildeo

ecoloacutegica consistente com os princiacutepios do ecodesenvolvimento

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ZOLA Eacutemile Germinal Satildeo Paulo Ciacuterculo do Livro 1981

Aos meus pais Marilda e Hermes que

com seus exemplos me inspiram a

tentar ser uma pessoa melhor

AGRADECIMENTOS

O doutoramento foi muito mais abertura de caminhos e encontros que

pontos de chegada E nesses caminhos e encontros pude conhecer

pessoas e estreitar laccedilos que foram muito importantes ao longo desse

processo Aproveito para deixar registrado aqui os meus

agradecimentos

Ao meu orientador Prof Paulo Freire Vieira que me acompanha desde

o mestrado Eacute muito importante ter algueacutem que com equanimidade nos

faccedila perceber os nossos limites e nos estimule a ir aleacutem com humildade

e sem ilusotildees

Aos professores que gentilmente participaram da qualificaccedilatildeo e da

defesa e trouxeram valiosas contribuiccedilotildees ao texto aqui apresentado

Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes da UNESC Profordf Drordf Cristiane

Mansur de Moraes Souza da FURB Prof Dr Luiz Fernando Scheibe do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da UFSC Profordf Drordf Janice

Pontes Tirelli e Marcia Grisotti do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Sociologia Poliacutetica da UFSC

Agrave coordenaccedilatildeo e aos professores e professoras do Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica importantiacutessimos nesse processo de

formaccedilatildeo

Agrave Albertina Buss Volkmann e agrave Maria de Faacutetima Xavier da Silva pelo

carinho e pela ajuda junto agrave Secretaria do PPGSP

Ao CNPq pelo auxiacutelio financeiro por meio da bolsa de estudos

Agraves amigas e amigos do Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e

Desenvolvimento do Grupo de Educaccedilatildeo para o Ecodesenvolvimento e

do Nuacutecleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional Nossas

vivecircncias e convivecircncias foram fundamentais para o meu processo

formativo Foi muito bom poder contar com o carinho e apoio de vocecircs

Agrave Juliana Adriano Marina Fravrim Gasparini Melissa Vivacqua

Tatiane Viega Vargas e Tadeu Santos (da ONG Soacutecios da Natureza) que

gentilmente compartilharam suas impressotildees sobre partes da tese

Agrave Mariana Thibes pela agradaacutevel parceria ao longo desse percurso e ao

Juliano Giassi Goularti pela sugestatildeo dos dados do quinto capiacutetulo

Aos colegas da rede TransForMar pela acolhida e pela oportunidade de

compartilhar e dialogar sobre nossos projetos

Aos amigos Andresa Graciela Wagner Joaquim Hoepers Silvana Maria

Bittencourt e Vanessa Juliana da Silva Santos

Agraves amigas Katia Parizoto e Laurete Coleti que me inspiraram com a sua

coragem

Agraves minhas tias Lizete e Dalila eacute muito bom tecirc-las por perto

Ao Ivo cuja presenccedila tornou minha caminhada mais leve Com carinho e

paciecircncia nas nossas incontaacuteveis conversas sobre a tese ajudou e falou

o essencial quando eu mais precisava e permaneceu em silecircncio quando

isso significava me compreender e respeitar

Agrave minha famiacutelia Marilda Hermes Viviana Susana Lucas Hermes

Carlos Dora Dara e Bruna presenccedilas constantes em minha vida O

amor carinho e apoio de vocecircs foi e sempre seraacute fundamental

Agrave minha querida oma Leonida tio Flaacutevio tio Irineu minha prima

Valeacuteria e minha cachorrinha Nicole que partiram no periacuteodo de

doutorado e deixaram muitas saudades

Meus mais sinceros agradecimentos a todas e todos pois naquilo que

faccedilo sou e me torno a cada dia levo um pouquinho de cada um de

vocecircs

A terra natildeo eacute soacute um espaccedilo onde vivemos Eacute um

mundo que produz e condiciona nossa proacutepria

existecircncia que antecede e se prolonga em nossa

vida em todas as suas dimensotildees Somos seres

terrestres A democracia natildeo eacute soacute um espaccedilo

institucional da poliacutetica Ela para existir deve

tambeacutem realizar-se e estar presente em todas as

dimensotildees de nossas vidas Talvez por isso haja

uma relaccedilatildeo histoacuterica tatildeo estreita entre terra e

democracia Quando a terra eacute apropriada usada

monopolizada por uns poucos a democracia natildeo

existe Quando a democracia natildeo existe a terra se

transforma em um mundo de poucos contra a

maioria (Herbert de Souza ndash Betinho 1991 p

108-9)

RESUMO

Esta tese focaliza os dilemas que continuam bloqueando quatro deacutecadas

apoacutes a Conferecircncia de Estocolmo o funcionamento do sistema de gestatildeo

de recursos naturais natildeo renovaacuteveis no Brasil Mais especificamente o

texto conteacutem uma anaacutelise dos bastidores do processo de licenciamento

ambiental voltado para a implantaccedilatildeo de uma nova usina termeleacutetrica na

regiatildeo sul do estado de Santa Catarina O enfoque analiacutetico utilizado foi

construiacutedo mediante uma hibridizaccedilatildeo de duas linhas de pesquisa

sistecircmica sobre o binocircmio meio ambiente amp desenvolvimento ainda

pouco conhecidas em nosso Paiacutes a saber gestatildeo de recursos comuns

(ldquocommonsrdquo) para o ecodesenvolvimento e justiccedila ambiental e ecoloacutegica Aleacutem da introduccedilatildeo e de uma siacutentese da revisatildeo de literatura

sobre a atualidade dos princiacutepios de ecodesenvolvimento no debate

sobre modos de apropriaccedilatildeo e sistemas de gestatildeo de ldquocommonsrdquo o texto

oferece inicialmente um resgate historiograacutefico das modalidades e das

implicaccedilotildees socioecoloacutegicas do aproveitamento de jazidas de carvatildeo

mineral no Brasil e em Santa Catarina Na sequecircncia coloca em

primeiro plano uma anaacutelise dos padrotildees de interaccedilatildeo dos segmentos

sociais envolvidos no projeto de implantaccedilatildeo da Usina Termeleacutetrica Sul-

Catarinense (USITESC) no municiacutepio de Treviso Os dados coletados

permitiram validar a hipoacutetese segundo a qual a decisatildeo de implantar esta

usina constitui um indicador suplementar de crise do sistema poliacutetico

implantado no Paiacutes relativamente ao agravamento tendencial da

problemaacutetica socioecoloacutegica A linha de criacutetica adotada incide nas

implicaccedilotildees da reproduccedilatildeo de falhas estruturais nos processos de

construccedilatildeo da cidadania ambiental e de promoccedilatildeo da justiccedila ambiental

e ecoloacutegica em todos os niacuteveis de governo ndash do local ao nacional

Argumenta-se que a despeito dos avanccedilos obtidos no debate social

contemporacircneo sobre a urgecircncia de uma transiccedilatildeo ecoloacutegica

consequente para aleacutem de uma ldquoeconomia verderdquo ou do ideaacuterio de um

ldquodesenvolvimento sustentaacutevelrdquo que natildeo rompe com o imaginaacuterio

ocidental de um crescimento material ilimitado a intenccedilatildeo de ampliar a

utilizaccedilatildeo do carvatildeo como fonte de energia estaacute diretamente associada agrave

formaccedilatildeo de redes de influecircncia envolvendo empresaacuterios e agentes

governamentais Buscando elucidar os condicionantes desse cenaacuterio de

mercantilizaccedilatildeo intensiva e indiscriminada de ldquocommonsrdquo o trabalho

reuacutene tambeacutem evidecircncias de iniciativas de resistecircncia que vecircm sendo

gestadas na regiatildeo estudada por de grupos sociais portadores de uma

visatildeo ecoloacutegica da economia da cultura e da poliacutetica

Palavras-chave Ecodesenvolvimento Gestatildeo de recursos comuns

Justiccedila ambiental Justiccedila Ecoloacutegica Democracia Energia Termeleacutetrica

Carvatildeo Mineral Santa Catarina

ABSTRACT

This thesis focuses on the dilemmas that continue blocking four

decades after the Stockholm Conference the functioning of the

management system based on non-renewable natural resources in Brazil

More specifically the text contains an analysis of the backstage of the

licensing process focused on the deployment of a new thermal power

plant in the southern state of Santa Catarina The analytical approach

used was built by a hybridization of two lines of systemic research on

the binomial environment amp development still little known in our

country namely management of common resources (commons) for

the ecodevelopment and environmental and ecological justice Besides

the introduction and a summary of the literature review on the actuality

of the principles of ecodevelopment in the current debate on modes of

ownership and management of commons systems the text initially

provides a historiographical rescuing of the terms and socio-ecological

implications of utilizing coal mines in Brazil and in Santa Catarina

State Following it foregrounds an analysis of the patterns of interaction

of social groups involved in the deployment project Thermoelectric

Plant of South of the Santa Catarina (USITESC) in the city of Treviso

The collected data allow to validate the hypothesis that the decision to

deploy this Plant is a further indicator of the political system deployed

crisis in the country regarding the trend towards worsening of socio-

ecological problems The adopted line of criticism focuses on the

implications of reproducing structural flaws in the processes of

construction of environmental citizenship and promotion of

environmental and ecological justice at all levels of government - from

local to national It is argued that despite the progress achieved in the

contemporary social debate on the urgency of a consequent ecological

transition beyond a green economy or the ideas of sustainable

development that does not break the Western imagination of a growing

unlimited material intention of expanding nowadays the use of coal as

an energy source is directly associated with the formation of powerful

lobbies involving businessmen and government officials Trying to

elucidate the determinants of this intensive and indiscriminate

commodification of commons scenario the paper also gathers

evidence of resistance initiatives that have been gestated in the study

area for social groups suffering from an ecological view of the

economy culture and policy

Keywords Ecodevelopment Management of common resources

Environmental justice Ecological justice Democracy Thermoelectric

energy Coal Santa Catarina

LISTA DE FIGURAS

Figura 1ndash Tipologia das formas de expressatildeo do cidadatildeo numa

democracia 56 Figura 2 - Modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns ajustado a

co-gestatildeo adaptativa 69 Figura 3 - Primeira adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa 72 Figura 4 - Segunda adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa 75 Figura 5 - Tipos de carvatildeo e uso 87 Figura 6 - Etapas da avaliaccedilatildeo de impacto ambiental 95 Figura 7 ndash Mapa de localizaccedilatildeo da Bacia Carboniacutefera Santa Catarina

114 Figura 8- Brasatildeo do municiacutepio de Treviso 158 Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Treviso 159 Figura 10 - Aacuterea prevista para a implantaccedilatildeo da USITESC 163

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Divisatildeo dos envolvidos na gestatildeo por segmentos 55 Quadro 2 - Quadro de anaacutelise do sistema democraacutetico agrave luz da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica 57 Quadro 3 ndash O enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento e as

dimensotildees baacutesicas do conceito sistecircmico de meio ambiente 64 Quadro 4 - Aspectos das atividades de mineraccedilatildeo e processamento do

carvatildeo mineral 91 Quadro 5 - Siacutentese dos pontos que favorecem e questionam a

amplicaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral

por macro variaacutevel 104 Quadro 6 ndash Limites e oportunidades do sistema democraacutetico no Brasil

106 Quadro 7 ndash Aspectos que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral Santa Catarina

130 Quadro 8 ndash Limites e possibilidades do sistema democraacutetico em Santa

Catarina 132 Quadro 9 - Principais caracteriacutesticas fiacutesicas e bioacuteticas da aacuterea de

influecircncia indireta do projeto USITESC 160 Quadro 10- Impactos sobre o Meio Fiacutesico Bioacutetico e Antroacutepico e accedilotildees

geradoras 165 Quadro 11 - Siacutentese dos Programas da USITESC e alvos principais 168 Quadro 12 - Procedimento para conduccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas

FATMA 175

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral em operaccedilatildeo

em 2013 Brasil 88 Tabela 2 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral com outorga

de 1998 a 2013 Brasil 88 Tabela 3 - Faturamento do Segmento do Carvatildeo Mineral 2012 118 Tabela 4 - Produccedilatildeo de carvatildeo bruto (ROM) de 2009 a 2012 119 Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de passivos ambientais em relaccedilatildeo agraves empresas

120 Tabela 6 - Cronograma de recuperaccedilatildeo dos passivos ambientais 120 Tabela 7 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2002 141 Tabela 8 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2002 que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral 142 Tabela 9 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2002 142 Tabela 10 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2006 143 Tabela 11 - Candidatosas que receberam doaccedilotildees das empresas ligadas

ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2006 144 Tabela 12 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2006 145 Tabela 13 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2010 145 Tabela 14 - Candidatosas receberam doaccedilotildees das empresas ligadas ao

carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2010 146 Tabela 15 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2010 147 Tabela 16 - Doadores eleiccedilotildees de 2004 148 Tabela 17 - Comitecircs e candidatos que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2004 149 Tabela 18 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2004 149 Tabela 19 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2008 150 Tabela 20 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2008 que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 151 Tabela 21 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2008 151 Tabela 22 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2012 152 Tabela 23 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2012 que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 152 Tabela 24 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2012 153 Tabela 25 - Siacutentese dos doadores Eleiccedilotildees de 2002 e 2012 154 Tabela 26 - Candidatos que receberam maiores doaccedilotildees Eleiccedilotildees de

2002 a 2012 155 Tabela 27 - Doaccedilotildees por Partido Poliacutetico Eleiccedilotildees de 2002 a 2012 155 Tabela 28 ndash Principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo com a construccedilatildeo da

USITESC 179

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABCM Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo Mineral

ACARESC

Associaccedilatildeo de Creacutedito e Assistecircncia Rural de Santa

Catarina

ACARIMO Associaccedilatildeo Comunitaacuteria do Alto do Rio Molha

AIA Avaliaccedilatildeo de Impacto Ambiental

ALESC Assembleacuteia Legislativa do Estado de Santa Catarina

AMESC Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Extremo Sul Catarinense

AMREC Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera

AMUREL Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo de Laguna

ANEEL Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica

ANSDNPM Associaccedilatildeo Nacional de Servidores do Departamento

Nacional de Produccedilatildeo Mineral

APC Associaccedilatildeo Proacute-Carvatildeo

APIB Articulaccedilatildeo dos Povos Indiacutegenas do Brasil

APINE

Associaccedilatildeo Brasileira dos Produtores Independentes de

Energia Eleacutetrica

APP Agraverea de Preservaccedilatildeo Permanente

ASMURC

Associaccedilatildeo de Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera do

Rio Grande do Sul

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento

CAPES

Coordenadoria de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CASA Centro de Apoio Socioambiental

CBCA Companhia Carboniacutefera de Araranguaacute

CCEE Cacircmara de Comercializaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica

CEPCAN Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo Nacional

CETEM Centro de Tecnologia Mineral

CETMA Conselho Estadual de Tecnologia e Meio ambiente

CFEM

Compensaccedilatildeo Finaceira pela Exploraccedilatildeo de Recursos

Minerais

CFM Comitecircs Financeiros Municipais

CGBHRA

Comitecirc de Gerenciamento da Bacia Hidrograacutefica do Rio

Araranguaacute

CGTEE Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica

CNBB Conferecircncia Nacional dos Bispos do Brasil

CNPE Conselho Nacional de Poliacutetica Energeacutetica

CNPq

Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico

CO2 Dioacutexido de Carbono

COCALIT Coque Catarinense Ltda

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONDEMA Conselho Municipal de Defesa Ambiental

COPEL Companhia Paranaense de Energia

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

DEM Democratas

DNPM Departamento Nacional de Produccedilatildeo Mineral

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EPE Empresa de Pesquisa Energeacutetica

FASE

Federaccedilatildeo de oacutergatildeos para Assistecircncia Social e

Educacional

FATMA Fundaccedilatildeo do Meio Ambiente

FBOMS Foacuterum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais

FBOMS

Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

FDESC Foacuterum de Desenvolvimento do Extremo Sul Catarinense

FEEC Federaccedilatildeo de Entidades Ecologistas Catarinenses

FELC Foacuterum de Ecodesenvolvimento do Litoral Catarinense

FURB Universidade Regional de Blumenau

GAPLAN Gabinete de Planejamento

GEE Gases de Efeito Estufa

GWH Gigawatt-hora

IAD Institutional Framework for Policy Analysis and Design IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renovaacuteveis

IBASE Instituto Brasileiro de Anaacutelises Sociais e Econocircmicas

IBRAM Instituto Brasileiro de Mineraccedilatildeo

ICA Instituto da Cidadania de Araranguaacute

ICC Induacutestria Carboquiacutemica Catarinense

ICMS

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Prestaccedilatildeo de

Serviccedilos

IEA Agecircncia Internacional de Energia

INESC Instituto de Estudos Socioeconocircmicos

IPAT Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnoloacutegicas

JICA Agecircncia de Cooperaccedilatildeo internacional do Japatildeo

KWh QuiloWatt hora

LI Licenccedila de Instalaccedilatildeo

LO Licenccedila de Operaccedilatildeo

LP Licenccedila Preacutevia

MAM Movimento Popular frente agrave Mineraccedilatildeo

MEcircS Movimento Ecoloacutegico de Sideroacutepolis

MMA Ministeacuterio do Meio Ambiente

MME Ministeacuterio das Minas e Energia

MOVET Movimento Ecoloacutegico Tubaronense

MPA Movimento Proacute-Araranguaacute

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MW Megawatt

N Nitrogecircnio

NMD

Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e

Desenvolvimento

NPDR Nuacutecleo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional

OCDE

Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento

Econocircmico

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

PAC Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento

PFL Partido da Frente Liberal

PL Projeto de Lei

PMA Prefeitura Municipal de Araranguaacute

PMDB Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro

PNMA Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente

PNUMA Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente

PP Partido Progressista

PPB Partido Progressista Brasileiro

PPS Partido Popular Socialista

PR Partido da Repuacuteblica

PSD Partido Social Democraacutetico

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

PT Partido dos Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

RBJA Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental

RIMA Relatoacuterio de Impacto Ambiental

ROM Run of Mine

SATC

Associaccedilatildeo Beneficente da Induacutestria Carboniacutefera de

Santa Catarina

SDR Secretaria de Desenvolvimento Regional

SETMA Secretaria de Tecnologia e Meio Ambiente

SIESESC

Sindicato da Induacutestria da Extraccedilatildeo de Carvatildeo do Estado

de Santa Catarina

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNIEC Sindicato Nacional da Induacutestria de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

SOLTECA Sociedade Termoeleacutetrica de Capivari SA

TWH Tera Watt Hora

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense

USITESC Usina Termeleacutetrica Sul-Catarinense

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO39

2 A ATUALIDADE DO ECODESENVOLVIMENTO NO ESTUDO

CONTEMPORAcircNEO SOBRE GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS59

21 RESGATE DO ENFOQUE ldquoCLAacuteSSICOrdquo DE

ECODESENVOLVIMENTO 61

22 AS CONTRIBUICcedilOtildeES DE DIFERENTES ENFOQUES 63

221 Gestatildeo de recursos comuns a importacircncia da

aprendizagem social adaptativa 66

222 Ecodesenvolvimento territorial os recursos comuns no

contexto do desenvolvimento 71

223 Justiccedila ambiental e justiccedila ecoloacutegica os caminhos da

democracia 73

23 LIMITES E POSSIBILIDADES DO

ECODESENVOLVIMENTO REVISITADO 77

3 GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS NO BRASIL O CARVAtildeO

MINERAL EM QUESTAtildeO79

31 DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO GESTAtildeO DE

RECURSOS COMUNS E ENERGIA 81

32 CARACTERIZACcedilAtildeO E USOS DO CARVAtildeO MINERAL NO

BRASIL 86

33 TECNOLOGIAS DISPONIacuteVEIS E IMPACTOS

SOCIOAMBIENTAIS 89

34 REGRAS EM USO NUMA PERSPECTIVA HISTOacuteRICA

INTERFACE ENTRE DIREITOS AMBIENTAIS E DIREITOS

HUMANOS 92

35 ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO 98

351 Segmentos poliacuteticos 98

352 Segmentos econocircmicos 100

353 Segmentos sociais 102

36 SITUACcedilAtildeO ATUAL E DESAFIOS 103

4 CARVAtildeO MINERAL EM SANTA

CATARINA109

41 ldquoCombinandordquo crescimento econocircmico e proteccedilatildeo ambiental 110

42 O sul catarinense uma trajetoacuteria (de desenvolvimento) marcada

pelo carvatildeo mineral 114

43 Da extraccedilatildeo manual agrave mecanizaccedilatildeo das minas 121

44 Regras em uso 122

45 Envolvidos na gestatildeo 124

451 Segmentos poliacuteticos 124

452 Segmentos econocircmicos 124

453 Segmentos sociais 126

46 Situaccedilatildeo atual e desafios 129

5 CARVAtildeO MINERAL E POLIacuteTICA EM SANTA CATARINA

ELEICcedilOtildeES E FINANCIAMENTO PRIVADO133

51 Os argumentos presentes no discurso dos poliacuteticos 134

52 Panorama das eleiccedilotildees e doaccedilotildees de campanha de 2002 a 2012

139

521 Eleiccedilotildees gerais 140

522 Eleiccedilotildees municipais 148

53 Os fatos ausentes do discurso dos poliacuteticos 153

6 CARVAtildeO MINERAL E AMPLIACcedilAtildeO DA ENERGIA

TERMELEacuteTRICA EM SANTA CATARINA157

61 O municiacutepio de Treviso 157

62 O processo de licenciamento os documentos escritos 162

621 O EIARIMA da USITESC 163

622 Das audiecircncias puacuteblicas e licenccedilas 169

623 Pressotildees dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos no

processo de licenciamento 170

624 A posiccedilatildeo dos segmentos sociais 173

63 Relaccedilotildees de poder e desigualdade nas audiecircncias puacuteblicas os

documentos falados 175

631 A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica 177

632 As mudanccedilas climaacuteticas natildeo vecircm ao caso 183

633 Quem defende quem E quem defende os

afetadosatingidosameaccedilados 188

634 O papel da FATMA em questatildeo 192

635 O IPAT e a neutralidade da ciecircncia 195

636 Audiecircncias puacuteblicas como espaccedilos democraacuteticos 200

64 Democracias possiacuteveis e aprendizagem social 202

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS205

REFEREcircNCIAS211

1 INTRODUCcedilAtildeO

O crescimento e as transformaccedilotildees da economia mundial ao

longo do seacuteculo XX foram impulsionados pela oferta de energia tendo

como fonte principal os combustiacuteveis foacutesseis petroacuteleo e carvatildeo mineral

O uso da energia eacute essencial agrave cultura consumista moderna presente em

todas as regiotildees do mundo Os processos de produccedilatildeo e consumo satildeo

responsaacuteveis por inuacutemeros riscos e danos ecoloacutegicos (TOUCHEacute 2004)

A geopoliacutetica mundial dos recursos naturais faz da energia aacutegua

mineacuterio e espaccedilo territorial elementos do comeacutercio internacional Esse

movimento global afeta as localidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de redes

de infraestrutura reconversatildeo de atividades alteraccedilatildeo das formas de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo e satildeo geradores de injusticcedila ambiental Aiacute surgem

conflitos entre a exploraccedilatildeo dos recursos orientada por interesses

presentes em vaacuterias escalas espaciais (ACSELRAD BEZERRA 2010

ZHOURI 2008)

A partir da deacutecada de 1990 depois de mais de cinquenta anos de

controle estatal o sistema energeacutetico brasileiro passou por um periacuteodo

de liberalizaccedilatildeo Duas mudanccedilas consideraacuteveis podem ser apontadas A

privatizaccedilatildeo das companhias operadoras iniciando com a Lei nordm 9427

de dezembro de 1996 que instituiu a Agecircncia Nacional de Energia

Eleacutetrica (ANEEL) e determinou que o potencial energeacutetico seria

concedido via leilatildeo A segunda mudanccedila ocorreu em 2004 com o Novo

Modelo do Setor Eleacutetrico marcando a retomada do planejamento nesse

setor pelo Estado garantindo a seguranccedila no suprimento modicidade

tarifaacuteria e inserccedilatildeo social (atraveacutes do Programa Luz para Todos)

(ANEEL 2008a) Essa deacutecada marcou tambeacutem a desregulamentaccedilatildeo do

setor carboniacutefero que perdeu o mercado metaluacutergico e enfrentou seacuterias

dificuldades vindo a se recuperar somente com a possibilidade de

ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica (JFSC 2008)

Muitas poliacuteticas puacuteblicas incluindo as do setor energeacutetico tecircm

como efeitos colaterais grandes impactos socioambientais (PINHEIRO

2006 RAULINO 2009 SAacuteNCHEZ 2008a VIEacuteGAS 2007) O

Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) reforccedilou a velha loacutegica

de grandes projetos de infraestrutura e a atuaccedilatildeo do Estado ainda eacute

bastante controversa (VIEIRA 2009 ZHOURI LASCHEFSKI 2010)

Dentre as controveacutersias presentes na atuaccedilatildeo do Estado uma refere-se

ao compromisso assumido pelo Brasil no Plano Nacional sobre

40

Mudanccedila do Clima de reduzir as desigualdades sociais a partir de uma

dinacircmica econocircmica que natildeo repita a trajetoacuteria dos paiacuteses

industrializados em termos de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

(GEE) (BRASIL 2008) Esse discurso parece caminhar na contramatildeo

do PAC que prevecirc a construccedilatildeo de mais cinco termeleacutetricas movidas a

carvatildeo mineral sendo uma em Santa Catarina (MONTEIRO 2008)

A Poliacutetica Estadual sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e

Desenvolvimento Sustentaacutevel de Santa Catarina foi instituiacuteda em 2009

Esta pretende compatibilizar desenvolvimento social econocircmico e

tecnoloacutegico com a proteccedilatildeo do sistema climaacutetico e do meio ambiente

com ecircnfase especial agrave minimizaccedilatildeo das atividades geradoras de gases de

efeito estufa (SANTA CATARINA 2009a) Entretanto o Coacutedigo

Estadual do Meio Ambiente aprovado em 2009 (SANTA CATARINA

2009b) e alterado em 2013 abre a possibilidade de regularizaccedilatildeo

fundiaacuteria em Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e do

licenciamento por decurso de prazo (FEEC 2008 SANTA

CATARINA 2014a) Estes e outros aspectos causam grande impacto

nas relaccedilotildees sociedade e meio ambiente no geral e na questatildeo

energeacutetica em particular

O desenvolvimento de Santa Catarina foi durante muito tempo

considerado bem sucedido por ter reduzido grau de desigualdade

socioeconocircmica amparada no predomiacutenio da pequena propriedade e da

produccedilatildeo diversificada (LISBOA THEIS 1993) Todavia com o passar

do tempo observa-se a elevaccedilatildeo do ecircxodo rural o aumento dos

problemas urbanos e da degradaccedilatildeo ecossistecircmica (VIEIRA et al

2010 VIEIRA CUNHA 2002) A crise socioecoloacutegica catarinense estaacute

intimamente ligada agrave civilizaccedilatildeo dos negoacutecios (LENZI 2000) e o

sistema energeacutetico que a sustenta contribui em alguma medida para o

agravamento deste quadro (LISBOA THEIS 1993) O aumento da

produccedilatildeo e consumo de energia em Santa Catarina relaciona-se ao

crescimento da atividade econocircmica e ao crescimento dos impactos

ambientais (THEIS 1988)

Dentre as regiotildees mais afetadas estaacute o Sul de Santa Catarina A

regiatildeo concentra 1041 das reservas de carvatildeo mineral do Brasil

(MONTEIRO 2008) Desde a descoberta do carvatildeo catarinense pelos

tropeiros em 1822 ateacute os dias atuais muitas coisas mudaram em termos

de incentivos ao uso do carvatildeo mineral tecnologias utilizadas

agravamento da problemaacutetica socioambiental global e desenvolvimento

de mecanismos institucionais para lidar com esta problemaacutetica Todavia

41

apesar de existirem avanccedilos intensificaram-se tambeacutem processos de

degradaccedilatildeo ambiental (MENEZES WATERKEMPER 2009 SANTA

CATARINA 1990)

A Agecircncia de Cooperaccedilatildeo Internacional do Japatildeo (JICA)

identificou 4700 hectares degradados no Sul de Santa Catarina mas

estima-se que seriam 6000 hectares (NASCIMENTO BURSZTYN

2010) Do mineacuterio extraiacutedo 25 eacute aproveitado e 75 torna-se rejeito

piritoso (MILIOLI 2009) Na regiatildeo carboniacutefera apesar da

mecanizaccedilatildeo da extraccedilatildeo do carvatildeo ainda existem precaacuterias condiccedilotildees

de trabalho e peacutessimas condiccedilotildees de vida (moradia sauacutede saneamento)

(MONTIBELLER FILHO 2004) Haacute na regiatildeo um gradativo

comprometimento do setor agriacutecola As aacutereas proacuteximas agraves lavras de

subsolo sofrem com rachaduras desabamentos e rebaixamentos do solo

Ocorrem tambeacutem infiltraccedilotildees secagem de cursos de aacutegua accediludes e

poccedilos Dois terccedilos do sistema hidrograacutefico da regiatildeo estatildeo

comprometidos Existem tambeacutem impactos na flora e fauna e decliacutenio

do potencial pesqueiro (MILIOLI 2009)

Em 1993 o Ministeacuterio Puacuteblico Federal propocircs uma Accedilatildeo Civil

Puacuteblica contra as empresas carboniacuteferas diretores soacutecios majoritaacuterios o

Estado de Santa Catarina e a Uniatildeo Federal visando agrave recuperaccedilatildeo do

passivo ambiental resultante da mineraccedilatildeo do carvatildeo Em 2000

aconteceu a condenaccedilatildeo dos reacuteus agrave recuperaccedilatildeo de 619159 hectares de

aacutereas degradadas trecircs bacias hidrograacuteficas (bacias dos rios Araranguaacute

Tubaratildeo e Urussanga) e 768 minas de boca abandonadas (TSJ 2007)

A regiatildeo eacute palco de muitos conflitos No que diz respeito agrave

extraccedilatildeo do carvatildeo destacam-se em 1988 o conflito entre a Companhia

Sideruacutergica Nacional (CSN) e moradores da comunidade rural de

Montanhatildeo em 1994 entre a Companhia Carboniacutefera Belluno e 200

agricultores em 1995 envolvendo a Associaccedilatildeo Comunitaacuteria do Alto do

Rio Molha (ACARIMO) em Urussanga em 1996 o conflito entre

mineradores e agricultores no ldquoMorrordquo do Albino e Estevatildeo em

Criciuacutema (SILVA SCHEIBE 2005) em 1999 o conflito com a

Carboniacutefera Rio Deserto em Sideroacutepolis e em Iccedilara entre agricultores e

a Carboniacutefera Rio Deserto (NASCIMENTO BURSZTYN 2010) Em

2004 com a ocorrecircncia do furacatildeo Catarina o primeiro do Atlacircntico

Sul inaugura-se uma mobilizaccedilatildeo social que une a discussatildeo sobre a

mineraccedilatildeo do carvatildeo com a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas e

justiccedila ambiental (SOacuteCIOS DA NATUREZA 2009 e 2005)

Historicamente na regiatildeo aqueles que tecircm o benefiacutecio econocircmico

42

geralmente natildeo arcam com os impactos negativos resultantes da

mineraccedilatildeo (MILIOLI 2009 NASCIMENTO BURSZTYN 2010)

Todavia os impactos natildeo necessariamente afetam apenas as populaccedilotildees

mais vulneraacuteveis do ponto de vista socioeconocircmico

O iacutendice meacutedio de mortalidade por neoplasias e doenccedilas

respiratoacuterias eacute superior ao resto do territoacuterio catarinense e ultrapassa a

meacutedia nacional Chama atenccedilatildeo tambeacutem o iacutendice de mortalidade de

menores de um ano por doenccedilas respiratoacuterias anomalias congecircnitas

notadamente no sistema nervoso incluindo anencefalia tambeacutem

superiores ao resto do paiacutes (MPF 2009) Os municiacutepios de Imbituba

Tubaratildeo Criciuacutema e Urussanga lideram os piores iacutendices de qualidade

do ar do Estado Existem tambeacutem muitos prejuiacutezos relacionados agrave sauacutede

da populaccedilatildeo De 1980 a 2004 foram 846 mortes causadas por doenccedilas

do aparelho respiratoacuterio nos municiacutepios de Criciuacutema Iccedilara Lauro

Muumlller Morro da Fumaccedila Sideroacutepolis Nova Veneza Urussanga

(MILIOLI 2009)

A mineraccedilatildeo no Sul em 2010 contava com 12 induacutestrias e

aproximadamente 4136 empregos diretos O principal destino do carvatildeo

(95) era o Complexo Termeleacutetrico Jorge Lacerda localizado no

municiacutepio de Capivari de Baixo administrado pela Tractebel

(SIECESC 2010) A Usina Termeleacutetrica Jorge Lacerda foi inaugurada

em 1965 entrando em operaccedilatildeo em 1966 com potecircncia instalada de 50

MW atualmente 856 MW com a incorporaccedilatildeo de mais unidades e

ampliaccedilatildeo da produccedilatildeo de energia eleacutetrica Em 1998 como parte dos

processos de privatizaccedilatildeo o Complexo Jorge Lacerda foi vendido para o

Grupo SuezTractebel (Beacutelgica) (GOULARTI FILHO MORAES

2004)

O Complexo Jorge Lacerda tem o compromisso da compra de

200 mil toneladas mensais de carvatildeo mineral A cadeia produtiva do

carvatildeo gera mais de seis mil empregos (na mineraccedilatildeo do carvatildeo

transporte e abastecimento do carvatildeo geraccedilatildeo de energia eleacutetrica e

extraccedilatildeo e transporte de cinzas) e eacute responsaacutevel por 70 da arrecadaccedilatildeo

de tributos municipais e por 75 da economia de Capivari de Baixo

(TRACTEBEL 2008)

A ampliaccedilatildeo de energia termeleacutetrica tornou-se uma possibilidade

atraveacutes da construccedilatildeo da Usina Termeleacutetrica Sul-Catarinense

(USITESC) Ela faz parte de uma realidade diferente se comparada ao

Complexo Termeleacutetrico Jorge Lacerda Enquanto o Complexo

Termeleacutetrico Jorge Lacerda foi construiacutedo num periacuteodo em que a

43

questatildeo da energia passava pela intervenccedilatildeo federal e estadual

(GOULARTI FILHO MORAES 2004) a USITESC vai ser construiacuteda

num periacuteodo de liberalizaccedilatildeo e privatizaccedilatildeo do setor eleacutetrico Ocorrem

ainda nesse intervalo de tempo a democratizaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de espaccedilos

legais e institucionais motivados pela crescente preocupaccedilatildeo com

questotildees socioambientais (VAINER 2007) Todavia existem

dificuldades na articulaccedilatildeo entre os niacuteveis de planejamento e gestatildeo

(federal estadual regional municipal) especificidades da cultura

poliacutetica brasileira a degeneraccedilatildeo das instituiccedilotildees poliacuteticas e o vieacutes

tecno-burocraacutetico das poliacuteticas ambientais (VIEIRA 2006) Ao liberar

as forccedilas do capital das regulamentaccedilotildees do Estado o controle social

sobre os efeitos nocivos do uso exacerbado do meio ambiente pelos

interesses privados pode ser inviabilizado (ACSELRAD 1992b)

No que se refere agrave geraccedilatildeo de energia do Complexo Jorge

Lacerda a Tractebel natildeo sofre nenhum tipo de fiscalizaccedilatildeo O

Complexo Jorge Lacerda emite 42 milhotildees de toneladas de Dioacutexido de

Carbono (CO2) por ano (MONTEIRO 2008) A Fundaccedilatildeo do Meio

Ambiente (FATMA) autorizou a Tractebel a emitir 15667117

toneladasano de dioacutexido de enxofre Essa e as demais emissotildees

ultrapassam em muito os limites da Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional do

Meio Ambiente (CONAMA) nordm 0890 e violam tambeacutem a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) sobre a Mudanccedila do Clima da

qual o Brasil eacute signataacuterio Em 2009 o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

determinou que a Tractebel Energia SA realize uma auditoria

ambiental uma vez que sua atuaccedilatildeo tem como base um estudo de

impacto ambiental feito em 1986 (MPF 2009)

Jaacute o relatoacuterio de impacto ambiental da USITESC foi questionado

pela sociedade civil organizada e em alguns pontos pelo Ministeacuterio

Puacuteblico (SANTOS 2011 DIAS 2011) Segundo Dias (2011) o estudo

de impacto ambientalrelatoacuterio de impacto ambiental considerou apenas

os impactos da implantaccedilatildeo da usina termeleacutetrica desconsiderando os

empreendimentos acessoacuterios (reservatoacuterio de aacutegua ramal da Ferrovia

Tereza Cristina linha de transmissatildeo e terminal de amocircnia no porto de

ImbitubaSC) Foram feitos estudos complementares e o Ministeacuterio

Puacuteblico corroborou o licenciamento ambiental emitido pela FATMA

Se os estudos de impacto ambiental e relatoacuterios de impacto

ambiental satildeo a base para as tomadas de decisatildeo aleacutem da qualidade

documental a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em associaccedilotildees locais eacute uma

conquista democraacutetica importante mas a praacutetica permanece precaacuteria

44

(SAacuteNCHEZ 2008b AGRA FILHO 2010) na medida em que o campo

ambiental eacute ldquoconstituiacutedo por posiccedilotildees hieraacuterquicas e relaccedilotildees de poder

muito desiguaisrdquo (ZHOURI 2008 p 99) Os empresaacuterios enaltecem os

benefiacutecios sociais dos empreendimentos e o governo tem demonstrado

atitudes controvertidas nos espaccedilos de negociaccedilatildeo e decisatildeo As

audiecircncias puacuteblicas passam de ldquo() um instrumento de avaliaccedilatildeo da

sustentabilidade socioambiental das obras para ser mero instrumento

viabilizador de um projeto de sociedade que tem no meio ambiente um

recurso material a ser explorado economicamenterdquo (ZHOURI 2008 p

101) Outro risco que se corre para aleacutem da negociaccedilatildeo caso a caso eacute

lidar ldquoapenas com a manifestaccedilatildeo superficial de questotildees mais

fundamentais e enraizadas ndash os conflitos de valores e princiacutepios baacutesicos

relativos agrave gestatildeo dos recursosrdquo (ACSELRAD BEZERRA 2010 p

52) Ou seja a preocupaccedilatildeo socioambiental acaba muitas vezes

limitada ao processo de avaliaccedilatildeo de impacto ambiental de casos

isolados sem levar em conta uma discussatildeo ampla e bem informada

sobre alternativas ao estilo de desenvolvimento hegemocircnico

A regiatildeo Sul catarinense convive com um problema socioambiental

considerado grave a saber os impactos negativos decorrentes da

mineraccedilatildeo e do uso do carvatildeo mineral e a construccedilatildeo da USITESC

demonstram a insistecircncia nesse estilo de desenvolvimento Levando em

conta a situaccedilatildeo-problema aqui descrita a questatildeo norteadora dessa tese

foi assim formulada Por que apesar da evoluccedilatildeo do debate sobre os

impactos socioambientais da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral e dos avanccedilos institucionais relacionados agrave questatildeo ambiental o sistema de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral vem sendo

ampliado em Santa Catarina

Partindo dessa questatildeo norteadora satildeo apresentados a seguir o enfoque

analiacutetico e os principais conceitos que ajudaram a delimitar essa tese

Enfoque analiacutetico

Desde a emergecircncia social e cientiacutefica da problemaacutetica

socioambiental a partir da deacutecada de 1960 podemos destacar avanccedilos

conceituais que se somam a progressos no conhecimento empiacuterico

sobre os problemas e ameaccedilas socioambientais e avanccedilos institucionais

da questatildeo ambiental Apesar dos avanccedilos os desafios da problemaacutetica

45

socioambiental satildeo ineacuteditos e possuem implicaccedilotildees epistemoloacutegicas

eacuteticas e poliacuteticas

O ecodesenvolvimento tem sido o ponto de confluecircncia dessa

reflexatildeo Mencionado pela primeira vez no acircmbito da Conferecircncia de

Estocolmo foi utilizado no decorrer da deacutecada de 1970 sendo

progressivamente marginalizado na deacutecada seguinte considerado como

um enfoque demasiadamente criacutetico e radical pela ideologia neoliberal

(SACHS 1986 VIEIRA 2006) O enfoque analiacutetico aqui apresentado

resgata o enfoque ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento enfatizando suas

trecircs dimensotildees (i) recursos naturais (ii) espaccedilo-territoacuterio e (iii) habitat

(compreendido como qualidade de vida)

No que se refere agrave primeira dimensatildeo satildeo consideradas as

contribuiccedilotildees do enfoque da gestatildeo de recursos comuns que vecircm

permeando o debate sobre os modos de apropriaccedilatildeo e gestatildeo No que diz

respeito agrave segunda dimensatildeo traz-se o enfoque do ecodesenvolvimento

territorial como uma possibilidade de operacionalizar o enfoque de

ecodesenvolvimento Por fim as contribuiccedilotildees agrave dimensatildeo do haacutebitat a

partir do enfoque de justiccedila ambiental e ecoloacutegica entendido como

capaz de contribuir na avaliaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo dos benefiacutecios dos

riscos e danos ambientais assim como na reflexatildeo sobre redistribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre os seres humanos

destes com o meio ambiente com as futuras geraccedilotildees espeacutecies natildeo

humanas e processos ecossistecircmicos

O enfoque da gestatildeo de recursos comuns atraveacutes do Institutional Framework for Policy Analysis and Design (IAD) adaptado por

Oakerson (1992) oferece atraveacutes de quatro macro variaacuteveis uma forma

de descrever a gestatildeo de um dado recurso os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso as regras em uso que orientam a interaccedilatildeo dos

envolvidos na gestatildeo a arena de accedilatildeo que compreendem os espaccedilo nos

quais os envolvidos se relacionam e os resultados e consequecircncias da

gestatildeo A relaccedilatildeo entre essas macro variaacuteveis eacute dinacircmica e as mudanccedilas

da gestatildeo envolvem o aprendizado social adaptativo que se incorpora

ao modelo a partir das contribuiccedilotildees recentes do enfoque da cogestatildeo

adaptativa (ARMITAGE et al 2009 PLUMMER 2009 HOLLING

2001 BERKES 2009 CUNDILL 2010) Esse enfoque eacute importante

para o problema desta tese porque a descriccedilatildeo e anaacutelise das macro

variaacuteveis possibilita um diagnoacutestico e uma compreensatildeo mais ampla do

problema bem como um prognoacutestico avaliando estrateacutegias passiacuteveis de

serem colocadas em accedilatildeo visando a resoluccedilatildeo do problema inicial

46

A fim de complementar o enfoque da gestatildeo de recursos comuns

o enfoque do ecodesenvolvimento territorial reforccedila a ideia de que a

gestatildeo de recursos comuns deve ser analisada junto ao estilo de

desenvolvimento Para aleacutem da situaccedilatildeo especiacutefica do recurso

encontram-se as opccedilotildees de desenvolvimento que influenciam as macro

variaacuteveis acima listadas em todas as escalas espaciais do local ao global

(VIEIRA 2006)

Os enfoques da justiccedila ambiental e da justiccedila ecoloacutegica por sua

vez trazem a indissociabilidade da questatildeo ambiental e da questatildeo

democraacutetica enfatizando o fortalecimento do sistema democraacutetico como

condiccedilatildeo para a aprendizagem social adaptativa e como um caminho

para a reflexatildeo-accedilatildeo criacutetica em relaccedilatildeo agrave gestatildeo de recursos comuns e agraves

opccedilotildees de desenvolvimento A democracia (representativa e

participativa) eacute um ldquoelemento dardquo e uma ldquocondiccedilatildeo parardquo a justiccedila

ambiental e ecoloacutegica (SCHLOSBERG 2009)

No sistema democraacutetico eacute preciso identificar os mecanismos de

produccedilatildeo da injusticcedila ambiental entendida como distribuiccedilatildeo

desproporcional dos riscos e danos ambientais proteccedilatildeo ambiental

desigual e acesso desigual aos recursos naturais A justiccedila ambiental

centraliza sua anaacutelise na redistribuiccedilatildeo (que remete a aspectos

econocircmicos) e a justiccedila ecoloacutegica complementa com outras duas

dimensotildees o reconhecimento (que remete a aspectos culturais) e a

representaccedilatildeo (que remete a aspectos poliacuteticos) (FRASER 2009 2007

SCHLOSBERG 2009) A ampliaccedilatildeo da democracia e

consequentemente do aprendizado social adaptativo envolve estrateacutegias

dos segmentos sociais que considerem essas duas dimensotildees

Dessa forma o enfoque central utilizado nessa tese o

ecodesenvolvimento conta com as contribuiccedilotildees da gestatildeo de recursos

comuns do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila ambiental e da

justiccedila ecoloacutegica Mesmo diante da situaccedilatildeo-problema apresentada na

qual os problemas tendem a se acirrar com a ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica a combinaccedilatildeo dos enfoques permite aleacutem de um

diagnoacutestico visando compreender o problema a possibilidade de

atraveacutes do exame das dinacircmicas de desenvolvimento do sistema

democraacutetico e da aprendizagem social adaptativa identificar avanccedilos e

margens de manobra junto aos segmentos sociais que possibilitem o

questionamento da situaccedilatildeo e seu enfrentamento

47

Questotildees norteadoras

Por que apesar da evoluccedilatildeo do debate sobre os impactos

socioambientais da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral e dos avanccedilos

institucionais relacionados agrave questatildeo ambiental o sistema de geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral vem sendo ampliado em

Santa Catarina

Para auxiliar a questatildeo norteadora constam ainda as seguintes questotildees auxiliares

Quais condicionantes levam agrave ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica no Brasil e em Santa Catarina

Como as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento influenciam

as accedilotildees coletivas dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais

De que maneira os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais se

articulam para que a atividade carboniacutefera se mantenha e se

amplie

Como se deu o processo de licenciamento da Usitesc

Como se manifestam os problemas de reconhecimento e

representaccedilatildeo no processo de licenciamento

As accedilotildees coletivas estudadas tecircm gerado oportunidades para

processos de aprendizagem social adaptativa

Haacute indiacutecios de uma possiacutevel rota para uma democracia que

permita que os segmentos sociais intervenham efetivamente em

debates cada vez mais mediados por uma ciecircncia e tecnologia a

serviccedilo dos projetos dos segmentos econocircmicos e respaldados

pelos segmentos poliacuteticos

Hipoacuteteses

Partindo do pressuposto de que a democracia representativa e

participativa eacute um ldquoelemento dardquo e uma ldquocondiccedilatildeo parardquo a

justiccedila social ambiental e ecoloacutegica a falta de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e de representaccedilatildeo nos processos democraacuteticos

seria uma condiccedilatildeo favoraacutevel agrave produccedilatildeo de injusticcedila ambiental

48

e ecoloacutegica Dessa forma a hipoacutetese sustentada aqui eacute de que o

processo poliacutetico que resulta na ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica envolve problemas de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo nos processos democraacuteticos em

todas as escalas espaciais (nacional estadual regional e local)

tanto na modalidade representativa quanto na modalidade

participativa

A tomada de consciecircncia dos limites da democracia

representativa e da democracia participativa faz com que os

segmentos sociais passem a investir em accedilotildees autocircnomas

favorecendo a aprendizagem social adaptativa

Objetivos

Compreender as contradiccedilotildees inerentes agrave ampliaccedilatildeo do sistema de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral no Sul de

Santa Catarina agrave luz do enfoque hiacutebrido envolvendo gestatildeo de recursos

comuns ecodesenvolvimento territorial e justiccedila ambiental e ecoloacutegica

Como objetivos especiacuteficos destacam-se

Apontar as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento que

influenciam as accedilotildees coletivas dos segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais envolvidos na gestatildeo do carvatildeo mineral

Descrever a gestatildeo de recursos comuns no Brasil e em Santa

Catarina com ecircnfase no carvatildeo mineral

Compreender a maneira como os segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais envolvidos na gestatildeo se articulam em

relaccedilatildeo agrave gestatildeo de recursos comuns

Descrever o processo de licenciamento da Usitesc

Reconhecer os problemas de distribuiccedilatildeo reconhecimento e

representaccedilatildeo no processo de licenciamento e nas audiecircncias

puacuteblicas

Verificar ldquoserdquo e ldquocomordquo as accedilotildees coletivas estudadas tecircm

gerado oportunidades para processos de aprendizagem social

adaptativa e

49

Reconhecer indiacutecios de uma possiacutevel rota para uma democracia

que permita que os segmentos sociais intervenham efetivamente

em debates cada vez mais mediados por uma ciecircncia e

tecnologia a serviccedilo dos projetos dos segmentos econocircmicos e

respaldados pelos segmentos poliacuteticos

Justificativa

Satildeo muitos os caminhos que levam ateacute o tema e o problema da

tese Desde a apresentaccedilatildeo do projeto na ocasiatildeo do processo seletivo

da qualificaccedilatildeo agrave defesa e depois O permanente refletir duvidar

reconstruir o que se cristaliza no papel e vai aleacutem dele A aacuterdua tarefa de

tentar traduzir em palavras a dinacircmica complexa da qual todas e todos

satildeo parte

O tema do planejamento do desenvolvimento me acompanha

desde o mestrado e na ocasiatildeo da seleccedilatildeo do doutorado apresentei um

projeto cujo tema era planejamento e aquecimento global Nos anos

subsequentes nas oportunidades que tive para debater o projeto fui

desafiada a trazer o tema para a realidade do estado de Santa Catarina

E seguindo essa intuiccedilatildeo a partir da pesquisa exploratoacuteria entrei em

contato com o Manifesto por Justiccedila Climaacutetica formulado por

movimentos sociais do Sul de Santa Catarina que trazia a reflexatildeo sobre

as mudanccedilas climaacuteticas e a exploraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral para

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica no Sul de Santa Catarina Tive tambeacutem a

oportunidade de participar de uma saiacuteda de campo na bacia carboniacutefera

e ter contato direto com os impactos causados pela mineraccedilatildeo Essas

experiecircncias e as leituras foram gradativamente me ajudando a definir

o tema e o problema desta tese

Existe muito material jaacute produzido sobre a trajetoacuteria de

desenvolvimento e os impactos decorrentes da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo

mineral no Sul de Santa Catarina Aqui se objetivou uma breve siacutentese

de dados e de parte do material jaacute produzido pois a ecircnfase desta tese

recaiu sobre a identificaccedilatildeo de incoerecircncias na relaccedilatildeo entre as questotildees ambientais e o sistema democraacutetico mostrando que o funcionamento do

sistema poliacutetico eacute parte do problema e que as margens de manobra

existentes podem ser mais bem exploradas pelos movimentos sociais

que atuam na regiatildeo Como jaacute foi assinalado anteriormente apesar da

possibilidade de ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a

50

carvatildeo mineral no Sul de Santa Catarina o cenaacuterio atual eacute de

aguccedilamento dos conflitos bem maior do que nas deacutecadas anteriores

Nesse sentido a construccedilatildeo da USITESC eacute mais um elo de um

segmento que tem historicamente um caraacuteter eminentemente destrutivo

do ponto de vista socioecoloacutegico Resta confirmar se isto eacute um destino

inexoraacutevel em funccedilatildeo das caracteriacutesticas especiacuteficas da regiatildeo ou se

pode ser mudado num contexto de questionamento da loacutegica subjacente

agraves dinacircmicas do sistema democraacutetico que envolvem decisotildees sobre as

poliacuteticas ambientais energeacuteticas e poliacuteticas de desenvolvimento

No plano teoacuterico a contribuiccedilatildeo desta tese inscreve-se no

aprofundamento teoacuterico do enfoque ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento

agregando as contribuiccedilotildees dos enfoques da gestatildeo de recursos comuns

do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila ambiental e da justiccedila

ecoloacutegica O esforccedilo de juntar enfoques se justificou na medida em que

se um dos condicionantes da problemaacutetica socioambiental eacute a

fragmentaccedilatildeo do problema e a dificuldade de concebecirc-lo como

problema complexo (GARCIacuteA 1994) religar as perspectivas segundo

as quais observamos e analisamos a realidade faz parte tambeacutem das

estrateacutegias para o enfrentamento do problema

Dessa forma o diaacutelogo entre enfoques trouxe pontos de reflexatildeo

diferentes que enriqueceram a anaacutelise ao enfoque da gestatildeo de recursos

comuns a questatildeo das dinacircmicas de desenvolvimento e do sistema

poliacutetico ao ecodesenvolvimento territorial a preocupaccedilatildeo com a gestatildeo

de recursos comuns e com a desigualdade ambiental e agrave justiccedila

ambiental e ecoloacutegica a atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de desenvolvimento e agrave

gestatildeo de recursos comuns Um ponto que merece destaque eacute o esforccedilo

recente das pesquisas sobre gestatildeo de recursos comuns e justiccedila

ambiental e ecoloacutegica de aplicar os enfoques para tratar as

especificidades do caso brasileiro Esta tese se inscreve como parte

desse esforccedilo

Outro ponto importante eacute a junccedilatildeo dos temas democracia e meio

ambiente no Brasil A democracia foi e eacute sem duacutevida um tema muito

caro agrave Sociologia brasileira e a inclusatildeo de um tema mais recente (o

meio ambiente) tambeacutem eacute considerada uma contribuiccedilatildeo possiacutevel dessa tese

Vale a pena ressaltar ainda que essa tese se insere nas atividades

realizadas pelos integrantes do Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio

Ambiente e Desenvolvimento (NMD) vinculado ao Programa de Poacutes-

51

Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica O Nuacutecleo atua no litoral Centro Sul

de Santa Catarina haacute mais de dez anos Dentre as atividades

desenvolvidas pelo NMD inclui-se a participaccedilatildeo no Observatoacuterio do

Litoral Catarinense que tem como objetivo

Organizar e coordenar uma rede de apoio teacutecnico-

cientiacutefico ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal e

Estadual tendo em vista a promoccedilatildeo de um estilo

de gestatildeo democraacutetico-participativa de conflitos

relacionados agrave apropriaccedilatildeo dos recursos

ambientais existentes na zona costeira e o

consequente fortalecimento da cidadania

ambiental no Paiacutes (OBSERVATOacuteRIO DO

LITORAL 2010)

Como parte das atividades do Observatoacuterio do Litoral

Catarinense a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre meio ambiente e

desenvolvimento auxilia na elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos e prognoacutesticos e

pode favorecer a mobilizaccedilatildeo jaacute que a visibilidade dos problemas

existentes pode estimular a criaccedilatildeo de redes visando a criaccedilatildeo de

estrateacutegias integradas para enfrentamento dos problemas

Essa tese tambeacutem faz parte de um esforccedilo mais amplo de

pesquisa articulado pelo edital da Coordenadoria de Aperfeiccediloamento de

Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) Ciecircncias do Mar tendo como tema

a Gestatildeo Integrada e Compartilhada de Territoacuterios Marinho-Costeiros O projeto possibilitou o compartilhamento do objeto de estudo do

marco conceitual e epistecircmico e a articulaccedilatildeo dos estudos entre os

membros da equipe

Em siacutentese dentre os possiacuteveis aspectos inovativos do trabalho

destacam-se do ponto de vista praacutetico o olhar sobre a questatildeo da

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral a partir do

funcionamento do sistema democraacutetico a identificaccedilatildeo dos

condicionantes da ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica em

diferentes escalas e consequentemente o reconhecimento de limites e

das possibilidades do sistema democraacutetico e da aprendizagem social

adaptativa Do ponto de vista teoacuterico destacam-se o diaacutelogo entre os

enfoques e a aplicaccedilatildeo dos enfoques agraves especificidades brasileiras

Metodologia

52

O agravamento dos problemas socioambientais tem povoado o

debate nos campos de especializaccedilatildeo cientiacutefica seja para a criaccedilatildeo de

novas disciplinas seja para ir aleacutem da fragmentaccedilatildeo disciplinar ldquoA

problemaacutetica socioambiental constituiacute um vigoroso instrumento de

integraccedilatildeo de conceitos teorias e meacutetodos desenvolvidos em

praticamente todas as especialidades cientiacuteficasrdquo (VIEIRA 1993 p

26) A epistemologia das ciecircncias ambientais entra como uma

importante contribuiccedilatildeo para a pesquisa ambiental Ela considera a

complexidade inerente agrave crise socioambiental privilegiando uma visatildeo

integrada do problema socioecoloacutegico e da ciecircncia no acircmbito do novo

paradigma sistecircmico Neste sentido a busca de integraccedilatildeo inter e

transdisciplinar do conhecimento emerge como um elemento essencial

no enfrentamento da crise (GARCIacuteA 1994 JOLLIVET PAVEacute 2000

MORIN 2002)

A tese aqui apresentada se insere nesse esforccedilo de pesquisa Para

tanto a construccedilatildeo da tese considerou sete etapas (a pergunta de partida

a exploraccedilatildeo a problemaacutetica a construccedilatildeo do modelo de anaacutelise a

observaccedilatildeo a anaacutelise das informaccedilotildees e as conclusotildees) segundo os trecircs

princiacutepios do procedimento cientiacutefico em ciecircncias sociais (ruptura

construccedilatildeo e verificaccedilatildeo) (BOURDIEU CHAMBOREDON

PASSERON 2004 QUIVY CAMPENHOUDT 1998)

Apesar de haver uma sequecircncia loacutegica as etapas subsequentes

influenciaram a reelaboraccedilatildeo das etapas precedentes As etapas

estiveram ao longo do processo em permanente interaccedilatildeo (QUIVY

CAMPENHOUDT 1998)

Se eacute evidente que os automatismos adquiridos

podem permitir a economia de uma invenccedilatildeo

permanente devemos nos abster de deixar crer

que o sujeito da invenccedilatildeo cientiacutefica eacute um

automaton spirituale obedecendo aos

mecanismos bem ajustados de uma programaccedilatildeo

metodoloacutegica constituiacuteda uma vez por todas e

confinar dessa forma o pesquisador na submissatildeo

cega ao programa que exclui o retorno reflexivo

ao mesmo condiccedilatildeo da invenccedilatildeo de novos

programas (BOURDIEU CHAMBOREDON

PASSERON 2004 p 15)

53

Dessa forma a evoluccedilatildeo dessa tese natildeo foi linear As quatro

primeiras etapas (a pergunta de partida a exploraccedilatildeo a problemaacutetica e a

construccedilatildeo do modelo de anaacutelise) jaacute apresentadas nessa introduccedilatildeo satildeo

tratadas a seguir de forma a indicar como se deu o processo de sua

construccedilatildeo

1ordf etapa (A pergunta de partida) Foi sendo elaborada e

reelaborada ao longo das vaacuterias etapas da pesquisa

2ordf etapa (A exploraccedilatildeo) Essa etapa compreendeu conversas com

o orientador leituras e entrevistas exploratoacuterias Nessa etapa destacou-se

uma saiacuteda de campo no ano de 2010 agrave Bacia do Rio Araranguaacute

supervisionada pelo Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes e Profordf Drordf

Vanilde Citadini Zanette da Universidade do Extremo Sul Catarinense

(UNESC) Essa saiacuteda de campo foi fundamental para despertar o

interesse pelo problema da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral no Sul do

Estado

Foi feita uma entrevista exploratoacuteria com Tadeu Santos da

Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental (ONG) Soacutecios da Natureza com sede

em Araranguaacute e conversas informais com estudantes da Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Auditoria e Periacutecia Ambiental da UNESC em 2010 e 2012

Etapa 3 (A problemaacutetica) e Etapa 4 (A construccedilatildeo do modelo de

anaacutelise) Destacam-se tambeacutem nessa fase aleacutem das conversas com o

orientador as leituras e o esforccedilo de preparaccedilatildeo do projeto para

qualificaccedilatildeo que ocorreu em 2011 contando com as contribuiccedilotildees do

Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes da UNESC do Prof Dr Luiz

Fernando Scheibe do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da

Universidade Federal de Santa Catarina e da Profordf Drordf Janice Pontes

Tirelli do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica da UFSC

O projeto foi tambeacutem discutido no acircmbito do NMD em alguns

seminaacuterios de pesquisa na disciplina de Ecologia Humana (ministrada

pela ProfordfDrordf Marcia Grisotti e pelo Prof Dr Fernando Dias Aacutevila

Pires) em 2010 nas duas disciplinas de seminaacuterio de pesquisa uma

ministrada pela Profordf Drordf Elizabeth Farias da Silva (na qual o projeto

foi debatido pelo Prof Dr Daniel Silva) e outra ministrada pelo Prof

Dr Raul Burgos no ano de 2011 O projeto tambeacutem foi apresentado e debatido no Nuacutecleo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional (NPDR)

da Universidade Regional de Blumenau (FURB) coordenado pelo Prof

Dr Ivo Marcos Theis e em dois eventos do Projeto Gestatildeo Integrada e Compartilhada de Territoacuterios Marinho-Costeiros em 2011 e 2012

54

Etapa 5 ndash A observaccedilatildeo Nessa etapa o modelo de anaacutelise foi

submetido aos fatos e confrontado com os dados observaacuteveis Aqui satildeo

respondidas as questotildees baacutesicas o que foi observado Em que observou-se E como observou-se

O procedimento da pesquisa foi bibliograacutefico e documental Na

pesquisa bibliograacutefica foram selecionadas fontes secundaacuterias (obras e

artigos) que tratavam do tema de estudo jaacute reconhecidas no domiacutenio

cientiacutefico e na pesquisa documental foram priorizadas fontes primaacuterias

(escritas e audiovisuais) que ateacute entatildeo natildeo haviam recebido tratamento

cientiacutefico (SAacute-SILVA ALMEIDA GUIDANI 2009)

Os discursos da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo

Mineral foram acessados atraveacutes de consulta agrave Cacircmara de Deputados

pelo correio eletrocircnico Os dados sobre prestaccedilatildeo de contas eleitorais

foram acessados atraveacutes do banco de dados online do TSE O processo

de licenciamento da USITESC arquivado na FATMA conta com oito

volumes e 1617 paacuteginas e com arquivos audiovisuais de duas das quatro

audiecircncias puacuteblicas (FATMA 2013) Das quatro audiecircncias puacuteblicas

realizadas soacute foram disponibilizadas as gravaccedilotildees da terceira e da quarta

audiecircncia (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006 2007) Segundo informaccedilatildeo

da FATMA a primeira e a segunda audiecircncia puacuteblica foram gravadas em

VHS e foram danificadas pela accedilatildeo do tempo

A descriccedilatildeo das macro variaacuteveis (as dinacircmicas de

desenvolvimento os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos as regras em uso a

arena de accedilatildeo e os resultadosconsequecircncias) foi feita atraveacutes da

pesquisa bibliograacutefica a fontes secundaacuterias (obras e artigos) Jaacute a

variaacutevel do sistema democraacutetico contou com fontes primaacuterias os

discursos da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral na

Cacircmara dados sobre prestaccedilatildeo de contas eleitoral do Tribunal Superior

Eleitoral e os documentos referentes ao processo de licenciamento

ambiental da USITESC arquivados na FATMA

Na arena de accedilatildeo um primeiro passo foi descrever os envolvidos

na gestatildeo Para tanto os envolvidos foram divididos em segmentos

poliacuteticos econocircmicos e sociais que por sua vez foram subdivididos Os

segmentos poliacuteticos em executivo parlamento e autocircnomo os segmentos econocircmicos em associaccedilotildees empresariais e mistas e empresas

e cooperativas e os segmentos sociais em trabalhadores

afetadosatingidosameaccedilados ONG e academia (Quadro 1) Os

segmentos natildeo apresentam um posicionamento homogecircneo em relaccedilatildeo

ao tema da tese Ao longo do texto a preocupaccedilatildeo eacute tambeacutem de

55

explicitar os diferentes posicionamentos entre e no interior de cada

segmento

Quadro 1 ndash Divisatildeo dos envolvidos na gestatildeo por segmentos SEGMENTOS ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO

Poliacuteticos Executivo

Parlamento

Autocircnomo

Econocircmicos Associaccedilotildees empresariais e mistas

Empresas

Cooperativas

Sociais Trabalhadores

AfetadosAtingidosAmeaccedilados

Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais

Academia

Fonte baseada em Oliveira (2013)

A existecircncia de afetados atingidos e ameaccedilados se inscreve no

reconhecimento e legitimaccedilatildeo de direitos A legislaccedilatildeo ambiental faz

com que os impactos passem a ser considerados e se existem impactos

existem seres humanos que satildeo afetados atingidos e ameaccedilados

(VAINER 2008) A distinccedilatildeo entre os termos afetados atingidos e

ameaccedilados remete agrave proximidade dos seres humanos em relaccedilatildeo aos

impactos Nos afetados o impacto fica num limiar tecircnue entre o direto e

indireto nos atingidos o impacto eacute direto e nos ameaccedilados o impacto eacute

potencialmente indireto

Uma variaacutevel importante na arena de accedilatildeo eacute a democracia que

por sua vez envolve a questatildeo da representaccedilatildeo e da participaccedilatildeo A

expressatildeo cidadatilde atraveacutes da representaccedilatildeo se daacute principalmente nas

eleiccedilotildees plebiscitos e conselhos Jaacute a expressatildeo mediante participaccedilatildeo

pode ser accedilatildeo sob convite (planejamento participativo consulta puacuteblica

e mediaccedilatildeo) e accedilatildeo autocircnoma (lobby peticcedilotildees manifestaccedilotildees

campanhas na imprensa outros) (Figura 1) (SAacuteNCHEZ 2008b)

56

Figura 1ndash Tipologia das formas de expressatildeo do cidadatildeo numa

democracia

Fonte Adaptado de Sagravenchez (2008b p 409)

Na anaacutelise do sistema democraacutetico foi importante identificar as

dimensotildees da justiccedila ambiental (redistribuiccedilatildeo) e da justiccedila ecoloacutegica

(reconhecimento e representaccedilatildeo) ldquoO natildeo reconhecimento eacute uma

questatildeo de impedimentos externamente manifestados e publicamente

verificaacuteveis a que certos indiviacuteduos sejam membros integrais da

sociedaderdquo (FRASER 2007 p 114) O centro normativo da concepccedilatildeo

de Fraser (2007) eacute a paridade de participaccedilatildeo que demanda uma

condiccedilatildeo objetiva e outra intersubjetiva A condiccedilatildeo objetiva ldquoexclui formas e niacuteveis de desigualdade material e dependecircncia econocircmica que

impedem a paridade de participaccedilatildeordquo (FRASER 2007 p 119) A

condiccedilatildeo intersubjetiva ldquoexclui normas institucionalizadas que

sistematicamente depreciam algumas categorias de pessoas e as

caracteriacutesticas associadas a elasrdquo (FRASER 2007 p 120)

57

Quadro 2 - Quadro de anaacutelise do sistema democraacutetico agrave luz da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica

DIMENSOtildeES DO SISTEMA

DEMOCRAacuteTICO

ESTRATEacuteGIAS DA JUSTICcedilA

AMBIENTAL E ECOLOacuteGICA

- Redistribuiccedilatildeo

- Reconhecimento e

- Representaccedilatildeo

- Produccedilatildeo do conhecimento proacuteprio

- Pressatildeo pela aplicaccedilatildeo universal das

leis

- Pressatildeo pelo aperfeiccediloamento da

legislaccedilatildeo de ambiental

- Pressatildeo por novas racionalidades no

exerciacutecio do poder estatal

- Introduccedilatildeo de procedimentos de

avaliaccedilatildeo de equidade ambiental

- Accedilatildeo direta e difusatildeo espacial do

movimento

Fonte Adaptado de Acselrad Mello Bezerra (2009) e Fraser (2009

2007)

As dimensotildees e estrateacutegias da justiccedila ambiental e ecoloacutegica

presentes no Quadro acima entraram no modelo de anaacutelise dessa tese

como indicadores da aprendizagem social adaptativa

Quanto aos meacutetodos de anaacutelise priorizou-se a anaacutelise estatiacutestica e

a anaacutelise do discurso Anaacutelise estatiacutestica privilegiou a interpretaccedilatildeo dos

dados atraveacutes do modelo de anaacutelise buscando ir aleacutem da mera exposiccedilatildeo

de resultados A anaacutelise do discurso aqui proposta ficou num limiar

entre essa modalidade e a anaacutelise de conteuacutedo As categorias utilizadas

estatildeo dispostas no quadro da paacutegina 56 Elas orientaram a seleccedilatildeo de

passagens relevantes nas audiecircncias puacuteblicas analisadas com o

propoacutesito de revelar aspectos da atividade cognitiva do locutor dos

significados sociais e poliacuteticos do discurso (GILL 2002 QUIVY

CAMPENHOUDT 1998 RESENDE RAMALHO 2006)

O processo da tese aqui descrito natildeo foi linear Para Quivy e

Campenhoudt (1998 p 236) ldquoum processo de diaacutelogo e de vaiveacutens

permanentes entre teoria e empirismo mas tambeacutem entre construccedilatildeo e

intuiccedilatildeo que estatildeo mais imbricadasrdquo

As etapas 6 e 7 (Anaacutelise de informaccedilotildees e Conclusotildees)

correspondem ao ldquocorpordquo da tese apresentado na sequecircncia

58

Estrutura da tese

Essa tese foi dividida em sete capiacutetulos O primeiro capiacutetulo eacute

esta introduccedilatildeo dedicada agrave siacutentese dos principais pontos que nortearam a

tese O segundo capiacutetulo busca resgatar a contribuiccedilatildeo do enfoque

ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento agregando com o enfoque da gestatildeo

de recursos comuns do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica elementos que satildeo incorporados no modelo de

anaacutelise e que conferem uma atualidade maior agrave discussatildeo No terceiro

capiacutetulo e quarto capiacutetulo eacute feita uma descriccedilatildeo da gestatildeo de recursos

comuns do Brasil e de Santa Catarina enfatizando as particularidades do

carvatildeo mineral A preocupaccedilatildeo presente nos dois capiacutetulos eacute de realizar

um balanccedilo dos fatores que estimulam a ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral e os fatores que podem favorecer

o questionamento da ampliaccedilatildeo bem como tratar dos limites e

possibilidades do sistema democraacutetico e possibilidades de aprendizagem

social adaptativa O quinto capiacutetulo trata da rede de influecircncia entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos no campo da democracia

representativa tratando a relaccedilatildeo entre doaccedilotildees de campanha e apoio

poliacutetico a causa do carvatildeo mineral O sexto capiacutetulo trata da ampliaccedilatildeo

da energia termeleacutetrica atraveacutes do caso da USITESC no Sul de Santa

Catarina buscando atraveacutes da anaacutelise do processo de licenciamento

compreender os condicionantes locais da ampliaccedilatildeo O seacutetimo e uacuteltimo

capiacutetulo faz uma siacutentese dos principais pontos discutidos na tese

2 A ATUALIDADE DO ECODESENVOLVIMENTO NO ESTUDO

CONTEMPORAcircNEO SOBRE GESTAtildeO DE RECURSOS

COMUNS

O surgimento de uma problemaacutetica de pesquisa envolve o

amadurecimento dos olhares com os quais se observa analisa e

empreende esforccedilos para transformar a realidade A problemaacutetica

socioambiental natildeo surge em um lugar especiacutefico e num tempo

determinado Surge em paiacuteses diferentes em eacutepocas diferentes As

formas variadas de delimitaccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema e da construccedilatildeo da

problemaacutetica correspondente envolvem as diferentes percepccedilotildees dos

cidadatildeos bem como o protagonismo dos foacuteruns locais e movimentos

sociais o envolvimento da comunidade cientiacutefica e a busca de respostas

poliacuteticas agrave altura dos desafios identificados

No final da deacutecada de 1960 a problemaacutetica socioambiental

assume um perfil de crise global ensejando a realizaccedilatildeo de vaacuterios

eventos sobre o tema Numa visatildeo retrospectiva e criacutetica do surgimento

do Clube de Roma em 1968 agrave realizaccedilatildeo da Rio +20 em 2012 muitos

avanccedilos e retrocessos podem ser apontados no espectro que se estende

do questionamento radical do estilo de desenvolvimento hegemocircnico

visto como condicionante da crise socioambiental agrave incorporaccedilatildeo da

crise soacutecio ecoloacutegica na reproduccedilatildeo da loacutegica economicista no campo do

planejamento e da gestatildeo das experiecircncias de gestatildeo dos recursos

comuns agrave caracterizaccedilatildeo da Trageacutedia dos Comuns (HARDIN 1980)

das denuacutencias de injusticcedila ambiental e ecoloacutegica agrave constataccedilatildeo da

violecircncia estrutural embutida na persistecircncia das assimetrias de riqueza

e poder envolvendo os dois hemisfeacuterios (ESTEVA 2001 FENNY et

al 2001 SACHS 1993)

Desde sua origem um desafio que acompanha essa problemaacutetica

refere-se agrave dificuldade de se lidar (na pesquisa cientiacutefica e nos espaccedilos

de tomada de decisatildeo poliacutetica) com dinacircmicas natildeo lineares de

dinamizaccedilatildeo socioeconocircmica e recriaccedilatildeo cultural envolvendo para tanto

a coordenaccedilatildeo de processos transescalares num horizonte de

planejamento de longo prazo Neste contexto vem se tornando cada vez mais evidente a capacidade ainda bastante restrita de cientistas gestores

e agentes governamentais de compreender e tratar a complexidade

inerente agrave teia de interdependecircncias que configura a coordenaccedilatildeo da

dinacircmica de sistemas socioecoloacutegicos que envolve diferentes niacuteveis e

escalas espaciais (BERKES FOLKE 1998 CASHet al 2006)

60

Levando em conta essas consideraccedilotildees gerais o objetivo deste

capiacutetulo eacute discutir a atualidade do enfoque de ecodesenvolvimento e por

implicaccedilatildeo da necessidade de dotaacute-lo da capacidade de assegurar a

coerecircncia das regras que norteiam a gestatildeo dos modos de apropriaccedilatildeo

dos recursos comuns nas diferentes escalas espaciais Parte-se assim da

premissa segundo a qual a efetividade de experiecircncias compatiacuteveis com

os fundamentos deste enfoque dependeraacute de uma consideraccedilatildeo mais

precisa do papel da democracia e da aprendizagem social adaptativa nos

processos de gestatildeo de recursos comuns Para tanto leva-se em conta o

lento processo de elaboraccedilatildeo do enfoque ldquoclaacutessicordquo de

ecodesenvolvimento com a incorporaccedilatildeo sucessiva dos debates sobre (i)

gestatildeo de recursos comuns (ii) ecodesenvolvimento territorial e (iii)

justiccedila ambiental e ecoloacutegica

Em siacutentese defende-se o ponto de vista segundo o qual a gestatildeo

de recursos comuns internaliza os criteacuterios de promoccedilatildeo da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica na produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-superaccedilatildeo da siacutendrome

de violecircncia estrutural que caracteriza a dinacircmica de globalizaccedilatildeo

assimeacutetrica Por sua vez o enfoque de ecodesenvolvimento territorial

focaliza este debate de uma perspectiva mais ampla insistindo na

complexidade envolvida na construccedilatildeo de dinacircmicas territoriais de

desenvolvimento ecologicamente prudente no atual cenaacuterio ldquopoacutes-

fordistardquo

O capiacutetulo estaacute dividido em quatro seccedilotildees contando com essa

introduccedilatildeo A seccedilatildeo seguinte delineia o contexto de emergecircncia da

problemaacutetica socioambiental e do enfoque de ecodesenvolvimento Na

sequecircncia satildeo apresentadas as dimensotildees do conceito sistecircmico de meio

ambiente assumidas pelos estudiosos do ecodesenvolvimento

relacionando-as com as maneiras pelas quais as linhas de reflexatildeo sobre

gestatildeo de recursos comuns ecodesenvolvimento territorial e justiccedila

ambiental e ecoloacutegica focalizam suas anaacutelises Finalmente na quarta

seccedilatildeo avaliam-se as possibilidades e os limites de um esforccedilo de

hibridizaccedilatildeo dessas vaacuterias linhas de reflexatildeo tendo em vista uma

caracterizaccedilatildeo mais rigorosa do conceito de co-gestatildeo adaptativa face agraves

novas configuraccedilotildees do processo de globalizaccedilatildeo econocircmica e cultural

61

21 RESGATE DO ENFOQUE ldquoCLAacuteSSICOrdquo DE

ECODESENVOLVIMENTO

Mar que se encontra na beira do mar congelado do

Norte No inverno todas as palavras e sons da

regiatildeo satildeo congelados na primavera comeccedilam a

degelar e podem ser claramente ouvidos Os

viajantes podem apanhar as palavras congeladas

que se parecem com doces cristalizados de vaacuterias

cores (Franccedilois Rabelais 1991)

A percepccedilatildeo de que a crise socioambiental decorre

fundamentalmente da reproduccedilatildeo de um estilo de desenvolvimento que

hipertrofia a dimensatildeo do crescimento econocircmico ilimitado e eacute

insensiacutevel a uma avaliaccedilatildeo multidimensional de custos sociais e

ecoloacutegicos passou a ser discutida em vaacuterios encontros internacionais

desde o final da deacutecada de 1960 Vaacuterios termos foram sendo criados nos

debates que vecircm sendo conduzidos desde entatildeo Alguns deles foram

esquecidos e outros foram ressignificados visando pontuar as criacuteticas

mais ou menos radicais ao modelo neoliberal hegemocircnico O resgate

dessa polissemia contribui para alimentar a reflexatildeo contemporacircnea e o

aprendizado obtido ao longo das quatro uacuteltimas deacutecadas na concepccedilatildeo

de estrateacutegias de superaccedilatildeo deste modelo Alguns termos atualizam o

modelo de desenvolvimento hegemocircnico incorporando marginalmente

a questatildeo socioecoloacutegica outros se abrem a experimentaccedilotildees criativas

com projetos que subvertem o mainstream da economia do

desenvolvimento O ecodesenvolvimento e o desenvolvimento

sustentaacutevel tratados nessa seccedilatildeo representam dois contrapontos desse

movimento sem duacutevida incerto e controvertido

Maurice Strong utilizou pela primeira vez o conceito de

ecodesenvolvimento no contexto da Conferecircncia de Estocolmo

organizada pela ONU em 1972 A ideia foi reelaborada e sistematizada

de forma pioneira num artigo publicado por Ignacy Sachs em 19741 na

eacutepoca atuando como coordenador do primeiro coletivo interdisciplinar

de pesquisa sistecircmica voltada para a internalizaccedilatildeo da variaacutevel

socioecoloacutegica no campo das teorias do desenvolvimento Deste ponto

1 Em um estudo que foi realizado no acircmbito do Programa das Naccedilotildees Unidas

para o Meio Ambiente (PNUMA) no ano referido e reproduzido em Sachs

(1986 2007)

62

de vista a noccedilatildeo de ecodesenvolvimento foi veiculada como uma

resposta possiacutevel de caraacuteter experimental agrave ideologia que identifica o

desenvolvimento com a supervalorizaccedilatildeo do crescimento econocircmico

sobre o pano de fundo de uma visatildeo tecnocraacutetica dos sistemas de

planejamento e gestatildeo Na contramatildeo do modelo de desenvolvimento

hegemocircnico o enfoque de ecodesenvolvimento foi desenhado com base

numa plataforma normativa composta pelos seguintes criteacuterios

interdependentes (i) satisfaccedilatildeo de necessidades baacutesicas (materiais e

intangiacuteveis) (ii) autonomia local (ou self reliance) (iii) prudecircncia

ecoloacutegica e (iv) eficiecircncia econocircmica a ser reavaliada com base no

debate sobre limites do crescimento material e da prospectiva ecoloacutegica

(SACHS 1986)

O Coloacutequio de Cocoyoc realizado no Meacutexico em 1974

significou uma tentativa bem sucedida de reenfatizar a importacircncia da

dimensatildeo geopoliacutetica na estruturaccedilatildeo do arcabouccedilo metodoloacutegico do

enfoque de ecodesenvolvimento Acreditava-se assim que ldquouma luta

efetiva contra o subdesenvolvimento demandaria o questionamento do

sobredesenvolvimento dos ricosrdquo (SACHS 2009 p 243) Naquela

eacutepoca falar em contracultura e natildeo-crescimento em natildeo repetir nos

paiacuteses do Sul o mesmo caminho percorrido pelos paiacuteses

industrializados num cenaacuterio marcado pela Guerra Fria parecia no

miacutenimo um gesto inconsequente e provocativo Desde entatildeo o conceito

foi eclipsado no acircmbito do sistema onusiano Mas ressurgiu com novas

roupagens vinte anos depois por ocasiatildeo da Cuacutepula da Terra Os

conceitos de desenvolvimento sustentaacutevel e Agenda 21 passaram a

representar os dois principais pontos de referecircncia do debate social

voltado para o enfrentamento da crise global (SACHS 2009 SACHS

2007 VIEIRA 2005)

Seria importante salientar que o Relatoacuterio Nosso Futuro Comum

publicado pela Comissatildeo Brundtland em1987 contribuiu para

aprofundar a discussatildeo em torno do conceito de sustentabilidade Este

texto enfatiza a necessidade de se colocar em primeiro plano nas

agendas governamentais a busca de satisfaccedilatildeo das necessidades da

geraccedilatildeo atual mas sem desconsiderar as geraccedilotildees futuras (CMMAD

1988)

Existem certamente semelhanccedilas entre os conceitos de

ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentaacutevel na medida em que

ambos colocam em primeiro plano a adoccedilatildeo de uma visatildeo de longo

prazo na busca de enfrentamento da crise socioecoloacutegica e de uma

63

incorporaccedilatildeo sistemaacutetica dos atores locais nos processos de tomada de

decisatildeo sobre dinacircmicas alternativas de desenvolvimento Mas apesar

das semelhanccedilas existem diferenccedilas marcantes que tecircm sido objeto de

um volume crescente de contribuiccedilotildees acadecircmicas As mais importantes

referem-se ao contraste entre a radicalidade embutida na cosmovisatildeo

sistecircmico-complexa assumida pelos adeptos do ecodesenvolvimento e o

vieacutes de ldquoeconomicizaccedilatildeo da ecologiardquo que continua a nortear as

propostas dos arquitetos de uma ldquoeconomia verderdquo Satildeo evidentes os

reflexos desse debate na maneira de se levar em conta as assimetrias

Norte-Sul a promoccedilatildeo da equidade inter e transgeracional os riscos

embutidos nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas inspiradas na siacutendrome de

mercantilizaccedilatildeo indiscriminada de todas as dimensotildees da vida em

sociedade e a hipertrofia da economia de mercado na dinacircmica de

mundializaccedilatildeo

A experimentaccedilatildeo de estrateacutegias de ecodesenvolvimento vem sendo

associada ao questionamento dos fundamentos epistemoloacutegicos eacuteticos e

poliacuteticos do modelo de desenvolvimento que se tornou hegemocircnico nos

dois hemisfeacuterios para aleacutem da ldquooacutetica simplificadora e alienada dos

paradigmas culturais dominantesrdquo (VIEIRA 2005 p 357) Dessa

forma contesta o efeito de imitaccedilatildeo deste modelo pelos paiacuteses do Sul

apostando na fecundidade da pesquisa de um novo projeto civilizador

inspirado numa nova cosmologia e nos princiacutepios de ecossocioeconomia

e convivialidade (LAYRARGUES 1997 SACHS 2007 KAPP 1987

ILLICH 1973)

22 AS CONTRIBUICcedilOtildeES DE DIFERENTES ENFOQUES

Como foi sugerido o ecodesenvolvimento pode ser encarado

como ponto de partida para a reflexatildeo-elaboraccedilatildeo-implementaccedilatildeo de

novos projetos de sociedade e como ponto de convergecircncia das linhas

de reflexatildeo centradas nas noccedilotildees de gestatildeo de recursos comuns

territorializaccedilatildeo das dinacircmicas de desenvolvimento e justiccedila ambientalecoloacutegica O desenho e a concretizaccedilatildeo de estrateacutegias de

gestatildeo levam em conta as dimensotildees essenciais do conceito sistecircmico de meio ambiente incorporado ao modelo de anaacutelise de alternativas de

desenvolvimento territorializado a saber a base de recursos naturais o

espaccedilo-territoacuterio e a qualidade dos haacutebitats (GODARD SACHS 1975

SACHS 1993 1986 VIEIRA 2005 1993) Dessa forma

64

() o ambiente eacute concebido como um fornecedor

de recursos naturais e um receptor de dejetos da

accedilatildeo antroacutepica um espaccedilo-territoacuterio onde

ocorrem as interaccedilotildees entre processos sociais e

ecoloacutegicos e um haacutebitat pensado em sentido

amplo integrando a dimensatildeo da qualidade de

vida das populaccedilotildees (VIEIRA 2006 p 346)

No quadro abaixo essas dimensotildees encontram-se relacionadas

com as trecircs linhas de reflexatildeo que aqui foram incorporadas ao enfoque

de ecodesenvolvimento

Quadro 3 ndash O enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento e as

dimensotildees baacutesicas do conceito sistecircmico de meio ambiente Enfoque central Ecodesenvolvimento

Dimensotildees do

conceito de meio

ambiente

Recursos

naturais Espaccedilo-territoacuterio

Haacutebitat-

qualidade de

vida

Enfoques

complementares

Gestatildeo de

recursos comuns

Desenvolvimento

territorial

Justiccedila ambiental

e ecoloacutegica

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na perspectiva do enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento a

dimensatildeo dos recursos naturais refere-se agrave busca de preservaccedilatildeo e

economia de recursos renovaacuteveis e natildeo renovaacuteveis de valorizaccedilatildeo de

recursos locais subutilizados eou ainda desconhecidos e de promoccedilatildeo

da soberania alimentar e energeacutetica O enfoque de gestatildeo de recursos

comuns ao oferecer uma nova perspectiva de abordagem dos desafios

colocados pela regulaccedilatildeo das modalidades de acesso e uso da base de

recursos naturais pode ser tomado como um ponto de referecircncia Nessa

perspectiva o termo recurso comum avanccedila em relaccedilatildeo aos termos

recurso natural renovaacutevel e recurso natural natildeo renovaacutevel O fato de

serem renovaacuteveis ou natildeo tem relaccedilatildeo com a disponibilidade e

reprodutibilidade dos recursos O termo recurso comum envolve duas

caracteriacutesticas baacutesicas a exclusatildeo ou controle do acesso que eacute

problemaacutetica e o uso que se faz do recurso subtrai aquilo que pertence a todos que tambeacutem coloca em questatildeo o uso compartilhado (BERKES

2005a) As pesquisas em curso ressaltam a importacircncia da participaccedilatildeo

das populaccedilotildees nas tomadas de decisatildeo e da consideraccedilatildeo da

65

complexidade envolvida nas interaccedilotildees transescalares nas dinacircmicas de

planejamento e gestatildeo (VIEIRA 2005)

Por sua vez na internalizaccedilatildeo da dimensatildeo do espaccedilo-territoacuterio a

ecircnfase eacute colocada na organizaccedilatildeo territorial das atividades produtivas

tendo em vista a minimizaccedilatildeo dos desequiliacutebrios nas configuraccedilotildees

rural-urbanas ndash a exemplo do ecircxodo rural e da hiperurbanizaccedilatildeo O

ecodesenvolvimento territorial sensiacutevel agrave variaacutevel socioecoloacutegica acena

com a inclusatildeo da dimensatildeo territorial no planejamento de novas

estrateacutegias de desenvolvimento favorecendo assim o enfrentamento dos

problemas de compatibilidade entre diferentes tipos de atividades

econocircmicas e os demais aspectos que compotildeem a dinacircmica de

coordenaccedilatildeo das interaccedilotildees sociais (GODARD SACHS 1975

VIEIRA et al 2010 VIEIRA 2005)

Finalmente a dimensatildeo do haacutebitat refere-se agrave gestatildeo da qualidade

de vida das populaccedilotildees Converge para os estudos da ecologia humana e

justiccedila ambiental e ecoloacutegica que demonstram ser necessaacuterio considerar

as condiccedilotildees ambientais de existecircncia direitos sociais e trabalhistas

direitos de seguranccedila e integridade fiacutesica direitos de informaccedilatildeo

educaccedilatildeo e auto-realizaccedilatildeo direitos de participaccedilatildeo democraacutetica e

cidadania poliacutetica Neste contexto as noccedilotildees de justiccedila ambiental e

ecoloacutegica alimentam um novo tipo de questionamento da

produccedilatildeoreproduccedilatildeo das relaccedilotildees desiguais entre os seres humanos e

destes com o meio ambiente assim como dos seres humanos com as

futuras geraccedilotildees espeacutecies natildeo humanas e processos ecossistecircmicos

(DANSEREAU 1999 LEROY et al 2002 LOW GLEESON 1998

SCHLOSBERG 2009) ldquoA noccedilatildeo de justiccedila ambiental implica pois o

direito a um meio ambiente seguro sadio e produtivo para todos onde o

lsquomeio ambientersquo eacute considerado em sua totalidade incluindo suas

dimensotildees ecoloacutegicas fiacutesicas construiacutedas sociais poliacuteticas esteacuteticas e

econocircmicasrdquo (ACSELRAD MELLO BEZERRA 2009 p 16)

Em siacutentese o resgate do processo de complexificaccedilatildeo progressiva

do enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento permite a obtenccedilatildeo de

uma imagem mais niacutetida das contribuiccedilotildees oferecidas por outras linhas

de teorizaccedilatildeo sobre o planejamento de dinacircmicas alternativas de

desenvolvimento que corporificam diferentes olhares sobre a crise

socioambiental As trecircs dimensotildees do conceito de meio ambiente

mencionadas acima trazem agrave tona as inter-relaccedilotildees entre processos

naturais e sociais e a escolha de ldquofuturos possiacuteveisrdquo no campo das

dinacircmicas de desenvolvimento Mas resta incorporar agrave linha de

66

argumentaccedilatildeo os subitens correspondentes a contribuiccedilatildeo dos trecircs

enfoques ao ecodesenvolvimento

221 Gestatildeo de recursos comuns a importacircncia da aprendizagem

social adaptativa

O presente enfoque da gestatildeo de recursos comuns tem como

ponto de partida um artigo publicado por Garrett Hardin em 1968 a

Trageacutedia dos Comuns Os recursos comuns satildeo aqueles cuja exclusatildeo de

possiacuteveis usuaacuterios e cujo controle do acesso satildeo geralmente

problemaacuteticos e seu uso envolve subtraccedilatildeo eou rivalidade - que coloca

o problema do uso compartilhado Natildeo haacute um consenso na literatura dos

comuns sobre quais recursos podem ser considerados recursos comuns

Para Berkes (2005) incluem-se entre os recursos comuns peixes

animais selvagens florestas pastagens comunitaacuterias sistemas de

irrigaccedilatildeo aacutegua subterracircnea selvas parques espaccedilos puacuteblicos e

excluem-se as terras agricultaacuteveis e a mineraccedilatildeo Jaacute Oakerson (1992)

afirma que os comuns podem ter uma locaccedilatildeo fixa (mineacuterios) ou pode

ser moacuteveis (como peixes e animais selvagens) Em alguns casos

(oceanos atmosfera) satildeo indivisiacuteveis e natildeo podem ser apropriados de

forma privada e em outros casos (pasto) satildeo organizados como

recursos comuns de acordo com a opccedilatildeo social Os padrotildees de

organizaccedilatildeo variam conforme o lugar e a cultura

A modernidade ocidental transformou a natureza

em ldquoambienterdquo simples cenaacuterio no centro do qual

reina o homem que se autoproclama ldquodono e

senhorrdquo Esse ambiente cedo perderaacute toda a

consistecircncia ontoloacutegica sendo desde logo

reduzido a um simples conservatoacuterio de recursos

antes de se tornar depoacutesito de resiacuteduos (OST

1995 p 10)

O enfoque eacute aqui considerado na perspectiva da gestatildeo integrada

de recursos naturais pois um recurso comum natildeo pode ser gerido

independentemente de outras partes do sistema e de outros recursos

(BERKES 2005a VIEIRA BERKES SEIXAS 2005 VIEIRA

67

WEBER 1997)2 Esse posicionamento converge para o enfoque

patrimonial de recursos naturais desenvolvido na Franccedila Dessa forma

ldquoa qualidade da natureza deve se tornar o lsquobem comumrsquo do conjunto da

sociedaderdquo (OLLAGNON 1997 p 172) No enfoque patrimonial os

recursos satildeo considerados na perspectiva da gestatildeo integrada

Evidecircncias de maacute gestatildeo e prescriccedilotildees de soluccedilotildees convencionais

na gestatildeo de recursos comuns tecircm se avolumado no periacuteodo recente Haacute

falhas em reconhecer a importacircncia das interaccedilotildees entre niacuteveis e escalas

persistecircncia na fragmentaccedilatildeo dos sistemas socioambientais e omissatildeo

em reconhecer a heterogeneidade da percepccedilatildeo das escalas pelos

diferentes atores sociais envolvidos na gestatildeo Isso pode resultar em

poliacuteticas amplas que constrangem poliacuteticas locais accedilotildees locais

desvinculadas de problemas mais amplos soluccedilotildees de curto prazo que

acirram problemas de longo prazo pesquisas cientiacuteficas que enfatizam

apenas um niacutevel e raramente analisam as interaccedilotildees sociais e ecoloacutegicas

do fenocircmeno entre niacuteveis (CASH et al 2006 FENNY et al 2001

HOLLING BERKES FOLKE 1998)

O enfoque da gestatildeo de recursos comuns vem evoluindo atraveacutes

do enfoque da co-gestatildeo e da gestatildeo adaptativa A co-gestatildeo enfatiza a

partilha do poder e responsabilidade entre governo e usuaacuterios e a gestatildeo

adaptativa enfatiza a aprendizagem Ambos vecircm evoluindo em direccedilatildeo agrave

co-gestatildeo adaptativa (BERKES 2009)

Como parte do esforccedilo coletivo dos pesquisadores alinhados com

o enfoque dos comuns vem se desenvolvendo o Institutional Framework for Policy Analysis and Design (IAD) desde a deacutecada de 1970

Inicialmente o modelo de anaacutelise IAD foi utilizado no estudo de

poliacuteticas puacuteblicas em aacutereas metropolitanas e em 1985 Ronald Oakerson

adaptou o IAD aos recursos comuns apresentando o modelo num painel

da Academia Nacional de Ciecircncias (HESS OSTROM 2005)

Oakerson (1992) distingue quatro atributos ou variaacuteveis que

podem ser usadas para descrever os recursos comuns atributos fiacutesicos e

tecnoloacutegicos as regras em uso que governam as relaccedilotildees entre usuaacuterios

a arena de accedilatildeo que envolve a escolha de estrateacutegias e a interaccedilatildeo entre

os envolvidos na gestatildeo e os resultados e consequecircncias O quadro

2 Aqui eacute feita a opccedilatildeo pelo enfoque da gestatildeo de recursos comuns mas outra

possibilidade seria via teoria da regulaccedilatildeo explorada por Drummond e Marsden

(1995)

68

conceitual eacute uma ferramenta heuriacutestica para pensar a loacutegica da situaccedilatildeo e

considerar possibilidades alternativas

Com base em Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992) segue uma breve descriccedilatildeo do modelo de anaacutelise

adaptado a co-gestatildeo adaptativa3

Atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos A natureza fiacutesica e tecnoloacutegica

determinam as limitaccedilotildees e possibilidades de uso do recurso comum

Esses atributos compreendem o tamanho localizaccedilatildeo limites

capacidade e abundacircncia do recurso A tecnologia determina a forma

como se lida com o recurso e com os demais fatores relacionados

Regras em uso O segundo conjunto de atributos no modelo de

anaacutelise consiste nas regras que estruturam as escolhas individuais e

coletivas em relaccedilatildeo aos recursos comuns

Arena de accedilatildeo As regras natildeo satildeo garantia da emergecircncia de

novos padrotildees de comportamento Entre as regras e os comportamentos

observados existe uma distacircncia A arena de accedilatildeo eacute um espaccedilo

conceitual no qual os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais se

informam consideram cursos de accedilatildeo alternativos tomam decisotildees

agem e experienciam as consequecircncias de suas accedilotildees A arena de accedilatildeo

conta com dois aspectos interligados a situaccedilatildeo de accedilatildeo e os segmentos

que interagem na situaccedilatildeo de accedilatildeo A situaccedilatildeo de accedilatildeo enfatiza como as

pessoas cooperam ou natildeo cooperam entre si em vaacuterias circunstacircncias Agrave

anaacutelise da situaccedilatildeo da accedilatildeo eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo dos envolvidos e

os papeacuteis que desempenham na gestatildeo do recurso comum

Resultados eou consequecircncias A observacircncia dos resultados

eou consequecircncias eacute fundamental para avaliar o sistema de gestatildeo

encorajando a inovaccedilatildeo e a aprendizagem adaptativa

As relaccedilotildees entre essas macro variaacuteveis satildeo o principal foco dos

estudos A Figura 2 traz modelo de anaacutelise e como as macro variaacuteveis se

relacionam umas com as outras Os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos e as

regras em uso afetam a arena de accedilatildeo e os resultados e consequecircncias

As linhas soacutelidas a e b representam fortes conexotildees causais

compreendendo que o comportamento individual eacute constrangido mas

natildeo determinado pelo mundo biofiacutesico e pelas regras As linhas soacutelidas

3 Outra opccedilatildeo seria utilizar o modelo de anaacutelise dos ciclos adaptativos descrito

no artigo de Holling (2001) e na coletacircnea organizada por Gunderson e Holling

(2002)

69

c e d representam fortes relaccedilotildees Os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos

afetam os recursos comuns de duas formas afetam a arena de accedilatildeo e

caso natildeo sejam considerados na arena de accedilatildeo podem afetar diretamente

os resultados As regras em uso por sua vez natildeo tecircm efeito nos

resultados independente da escolha humana No longo prazo a interaccedilatildeo

entre as macro variaacuteveis eacute marcada pelas linhas tracejadas Dessa forma

o movimento eacute incorporado no modelo na forma de aprendizagem social

adaptativa

Figura 2 - Modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns ajustado

a co-gestatildeo adaptativa

Fonte Baseado em Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

A aprendizagem social adaptativa marcada principalmente pela

retroalimentaccedilatildeo (linhas tracejadas) presente no modelo de anaacutelise da

gestatildeo de recursos comuns eacute um processo interativo e contiacutenuo No

entanto por ser um processo coletivo a cooperaccedilatildeo entre os envolvidos

na gestatildeo pode ser difiacutecil devido agrave distribuiccedilatildeo de poder tanto nos

segmentos sociais quanto nos segmentos poliacuteticos e entre eles

(BERKES 2009) A expectativa eacute que a aprendizagem leve a accedilatildeo

coletiva agrave mudanccedila institucional na forma de regras leis costumes e

normas As abordagens do aprendizado social visam encontrar formas

70

nas quais as pessoas possam transcender as normas sociais valores e

formas tradicionais de pensar os problemas convergindo para mudanccedilas

socioecoloacutegicas e desempenhando um papel direto no estiacutemulo da

inovaccedilatildeo institucional (CUNDILL 2010)

No campo da co-gestatildeo adaptativa a aprendizagem eacute definida

como a reflexatildeo e accedilatildeo coletiva que tem lugar entre indiviacuteduos e grupos

quanto trabalham para melhorar a gestatildeo das relaccedilotildees entre sistemas

sociais e ecoloacutegicos Aiacute entram em cena os niacuteveis de aprendizagem

aprendizagem em circuito simples duplo e triplo A aprendizagem em

circuito simples se refere a melhorar as accedilotildees estrateacutegias e praacuteticas que

ocorrem num grupo envolvido num projeto de gestatildeo de recursos

comuns A aprendizagem em circuito duplo envolve o questionamento

dos pressupostos e dos modelos mentais que apoiam a seleccedilatildeo de

estrateacutegias particulares e accedilotildees Isto eacute particularmente importante nos

processos colaborativos onde diferentes formas de conhecimento e

modelos mentais estatildeo juntos Na aprendizagem em circuito triplo a

aprendizagem ocorre quando os valores e normas que sustentam as

hipoacuteteses satildeo questionados e refletidos Isto leva a um entendimento

mais profundo do contexto dinacircmicas de poder valores que influenciam

a capacidade de gerir os recursos comuns (CUNDILL 2010)4

A ecircnfase da gestatildeo de recursos comuns eacute na anaacutelise dos modos de

apropriaccedilatildeo e dos sistemas de gestatildeo e neste sentido a cooperaccedilatildeo entre

instituiccedilotildees situadas em diversas escalas e niacuteveis torna-se um elemento

fundamental Inuacutemeras atividades humanas tecircm causas e consequecircncias

que podem ser medidas em niacuteveis diferentes ao longo de muacuteltiplas

escalas Os multi-niacuteveis e as multi-escalas e a transescalaridade dos

problemas relacionados com as dimensotildees humanas das mudanccedilas

globais demandam que pesquisadores abordem questotildees-chave de

escalas e niacuteveis em suas anaacutelises Se a arena de accedilatildeo compreende

tambeacutem as relaccedilotildees que se estabelecem entre os vaacuterios niacuteveis de uma

mesma escala a gestatildeo refere-se a arranjos por meio dos quais o poder

decisoacuterio e as responsabilidades decorrentes satildeo compartilhados entre os

atores envolvidos nas vaacuterias escalas espaciais (CASH et al 2006

BERKES 2005b DIETZ et al 2002 GIBSON OSTROM AHN

2000)

4 A aprendizagem em circuito triplo converge para o engajamento reflexivo e a

reflexividade ecoloacutegica (SCHLOSBERG 2009)

71

222 Ecodesenvolvimento territorial os recursos comuns no

contexto do desenvolvimento

Na tentativa de incorporar ao presente o que o passado nos traz

como bagagem vaacuterios autores vecircm descortinando novas vias de anaacutelise

criacutetica das limitaccedilotildees do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que

tem sido apropriado pelos arautos da globalizaccedilatildeo neoliberal desde o

iniacutecio dos anos 1990

Ignacy Sachs escreve sobre desenvolvimento e meio ambiente haacute

vaacuterias deacutecadas e tem acompanhado as mudanccedilas que aconteceram ao

longo da histoacuteria Para unir os enfoques do ecodesenvolvimento e do

desenvolvimento sustentaacutevel ele distingue no ecodesenvolvimento as

cinco dimensotildees da sustentabilidade sustentabilidade social

sustentabilidade econocircmica sustentabilidade ecoloacutegica sustentabilidade

espacial e sustentabilidade cultural Mais recentemente tem utilizado os

termos desenvolvimento territorial integrado e sustentaacutevel ou ainda

desenvolvimento includente sustentaacutevel sustentado (RIBEIRO 2005

SACHS 2004 2002 1993)

Nos uacuteltimos anos Paulo Freire Vieira tem utilizado o termo

desenvolvimento territorial sustentaacutevel e mais recentemente

ecodesenvolvimento territorial tendo como ideia central o

ecodesenvolvimento agregando tambeacutem o enfoque da gestatildeo de

recursos comuns e os estudos territoriais Nas palavras de Pierre

Dansereau (2005 p 523) Paulo Freire Vieira deu ldquoum novo tom agrave

Sociologia um desembaraccedilo maior agrave experiecircncia em quadros teoacutericos

ampliadosrdquo Nessa linha o conceito emergente de ecodesenvolvimento

territorial leva em conta os riscos de desvio economicista e tecnocraacutetico

nos estudos sobre dinacircmicas territoriais de desenvolvimento

enfatizando a criaccedilatildeo de sistemas de gestatildeo compartilhada e adaptativa

de recursos comuns e a governanccedila territorial Deste ponto de vista

ainda em construccedilatildeo trata-se de favorecer ao maacuteximo possiacutevel a gestatildeo

das conexotildees institucionais transescalares evitando soluccedilotildees

reducionistas e uniformizadoras aleacutem de escalas fixas (GODARD

1997 SACHS 2002 VIEIRA 2010 2009 2005 2006 VIEIRA CAZELLA CERDAN 2006)

A noccedilatildeo de territoacuterio incorporada recentemente ao debate sobre

desenvolvimento amp ambiente designa processos de criaccedilatildeo coletiva e

institucional e as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento

72

ecologicamente prudente pressupotildeem o resgate dos criteacuterios de

endogeneidade descentralizaccedilatildeo e autonomia local (pensada

sistemicamente) assumidos como elementos constitutivos do enfoque

ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento (VIEIRA et al 2010 VIEIRA

2006)

O ecodesenvolvimento territorial traz agrave gestatildeo de recursos

comuns a preocupaccedilatildeo com o estilo de desenvolvimento conforme

demonstrado na Figura 3 Mas partindo do pressuposto que a gestatildeo de

recursos comuns eacute um dos principais componentes na interaccedilatildeo

sociedade e natureza capaz de assegurar seu bom funcionamento seu

melhor rendimento sua perenidade e desenvolvimento ela deveria estar

a montante e natildeo a jusante das principais opccedilotildees de desenvolvimento

(GODARD 1997) Todavia seraacute mantido o estilo de desenvolvimento

como mais amplo para reforccedilar a ideia de que a gestatildeo de recursos

comuns precisa considerar o estilo de desenvolvimento assumindo cada

vez mais a responsabilidade da criacutetica e da mudanccedila

Figura 3 - Primeira adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa

Fonte Adaptado de Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

73

A anaacutelise do contexto e do discurso presente na gestatildeo de

recursos comuns explicita os fatores endoacutegenos e exoacutegenos das

dinacircmicas de desenvolvimento demonstrando seus limites e margens de

manobra

O problema natildeo se identifica tanto com a

preocupaccedilatildeo em se especificar o niacutevel de

responsabilidade ideal mas antes com o

entendimento daquelas formas de interaccedilatildeo entre

os diversos niacuteveis territoriais que tornariam

possiacutevel uma decisatildeo que levasse em conta ao

mesmo tempo os interesses e objetivos locais

regionais e nacionais ou mesmo internacionais

(GODARD 1997 p 237)

Para colocar em praacutetica estrateacutegias alternativas de

desenvolvimento eacute importante reequilibrar a transferecircncia de poder e a

comunicaccedilatildeo entre o local o regional e o nacional e integrar as vaacuterias

dimensotildees das estrateacutegias de desenvolvimento (social econocircmica

ecoloacutegica espacial e cultural) ldquoAgrave luz do princiacutepio da co-gestatildeo

adaptativa os sistemas de planejamento e gestatildeo deveratildeo se abrir cada

vez mais a um padratildeo de envolvimento autecircntico da sociedade civilrdquo

(VIEIRA 2005 p 366)

223 Justiccedila ambiental e justiccedila ecoloacutegica os caminhos da

democracia

O movimento por justiccedila ambiental teve origem nos Estados

Unidos em 1982 com um conflito em Afton na Carolina do Norte Na

iminecircncia de instalaccedilatildeo de um depoacutesito de bifenilpoliclorinato que

contaminaria a aacutegua que abastecia a cidade a populaccedilatildeo organizou

protestos Como a populaccedilatildeo de Afton era composta de 84 de negros e

negras o movimento se desenvolveu como uma reaccedilatildeo expliacutecita agrave

atenccedilatildeo inadequada dos movimentos ambientalistas agrave questatildeo da raccedila e

da classe social Os princiacutepios da justiccedila ambiental ofereceram ao ambientalismo possibilidades de pensar classe social e raccedila junto com

questotildees ambientais combatendo o abuso de corporaccedilotildees poluentes e o

abuso do proacuteprio Estado (ACSELRAD 2009 ACSELRAD MELLO

BEZERRA 2009 SZE LONDON 2008)

74

Desde entatildeo as pesquisas sobre justiccedila ambiental contribuiacuteram

para ampliar a discussatildeo sobre a necessidade de um enfoque consistente

de anaacutelise deste fenocircmeno Aleacutem de vaacuterias aacutereas de conhecimento

(geografia radical geografia criacutetica e economia poliacutetica entre outras)

passaram a ser mobilizados dados relacionados a diferentes grupos

raciais e eacutetnicos aleacutem de disparidades associadas a gecircnero e idade Mais

recentemente as reflexotildees sobre justiccedila ecoloacutegica conduziram o

enfoque a um niacutevel cada vez mais alto de abrangecircncia e abstraccedilatildeo

(BYRNE MARTINEZ GLOVER 2002 HOLIFIELD PORTER

WALKER 2009 SZE LONDON 2008)

O conceito de injusticcedila ambiental designa uma distribuiccedilatildeo

desproporcional dos riscos e danos ambientais devido agrave implantaccedilatildeo de

projetos industriais homogeneizadores do espaccedilo bem como de

poliacuteticas globais que impactam negativamente as camadas mais

vulneraacuteveis da sociedade Trata-se de uma siacutendrome recorrente que

transcende a simples distribuiccedilatildeo de riscos ambientais delimitados

localmente refletindo tambeacutem o reconhecimento de que as poliacuteticas

ambientais tecircm consequecircncias que atravessam as fronteiras nacionais

afetam muacuteltiplas escalas e se estendem agraves redes globais As iniciativas

que geram espaccedilos de desigualdade e injusticcedila ambiental satildeo histoacuterica e

geograficamente muito mais complexas do que parecem (ACSELRAD

MELLO BEZERRA 2009 HOLIFIELD PORTER WALKER 2009

ZHOURI 2008)

A ampliaccedilatildeo dos temas tratados pela justiccedila ambiental e o uso da

pesquisa sistecircmica refletem a percepccedilatildeo da complexidade intriacutenseca aos

problemas estudados inclusive das conexotildees transescalares - do local ao

global Alguns autores passaram a adotar o termo justiccedila ecoloacutegica entendida como aquela que afeta natildeo apenas os seres humanos mais

vulneraacuteveis mas todos os seres humanos as geraccedilotildees futuras espeacutecies

natildeo humanas e processos ecossistecircmicos (BYRNE MARTINEZ

GLOVER 2002 HOLIFIELD PORTER WALKER 2009 LOW e

GLEESON 1998 MAacuteRMORA 1992 PENtildeA 2003 SCHLOSBERG

2009 e 2004 SZE LONDON 2008 TOUCHEacute 2004)

Partindo do pressuposto de que a desigualdade socioambiental se

relaciona ao sistema poliacutetico aquela eacute apenas um sintoma de um

processo que envolve a redistribuiccedilatildeo o reconhecimento e a

representaccedilatildeo (SCHLOSBERG 2009 e 2004) A redistribuiccedilatildeo envolve

minimizar a desigualdade ambiental Jaacute o reconhecimento envolve a

consideraccedilatildeo de distintas perspectivas (das minorias eacutetnicas ldquoraciaisrdquo e

75

sexuais) O reconhecimento objetiva tambeacutem ldquodesinstitucionalizar

padrotildees de valoraccedilatildeo cultural que impedem a paridade de participaccedilatildeo

e substituiacute-los por padrotildees que a promovamrdquo (FRASER 2007 p 109)

A representaccedilatildeo torna-se central nas lutas pela redistribuiccedilatildeo e

pelo reconhecimento natildeo haacute redistribuiccedilatildeo e reconhecimento sem

representaccedilatildeo Logo os problemas na representaccedilatildeo satildeo condicionantes

da injusticcedila ambiental e ecoloacutegica (FRASER 2010 2009)

A representaccedilatildeo juntamente com a redistribuiccedilatildeo e

reconhecimento satildeo fundamentais para o fortalecimento e recriaccedilatildeo do

sistema democraacutetico e aprendizagem social adaptativa Na Figura 4

insere-se no modelo de anaacutelise a variaacutevel do fortalecimento do sistema

democraacutetico

Figura 4 - Segunda adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa

Fonte Adaptado de Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

Satildeo os mesmos caminhos que levam ao restabelecimento do

equiliacutebrio na natureza e agrave construccedilatildeo da democracia na sociedade ldquoO

pensamento democraacutetico estaacute desafiado a pensar o desenvolvimento de

toda a humanidade em harmonia com a naturezardquo (SOUZA 1992 p

76

13) Cabe questionar ldquosob que condiccedilotildees eacute de se esperar que a

democracia produza resultados poliacuteticos justosrdquo (VITA 2003 p 111)

A democracia representativa vem sendo alvo de inuacutemeras

criacuteticas economicizaccedilatildeo do poliacutetico incapacidade de cumprir com suas

promessas fundamentais (governo do povo igualdade poliacutetica

participaccedilatildeo dos cidadatildeos na tomada de decisatildeo) a falta de controle da

representaccedilatildeo e a crescente desconfianccedila dos cidadatildeos na democracia

(MANIN et al 2006 MIGUEL 2005 ROSANVALLON 2006

SCHUMPETER1984)

Jaacute a democracia participativa pretende alcanccedilar uma democracia

digna de seu nome (MIGUEL 2005) A consciecircncia do custo do

crescimento econocircmico da produccedilatildeo das desigualdades e da apatia

poliacutetica podem ser consideradas brechas para a democracia participativa

e a expansatildeo e aprofundamento da participaccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia

promissora para desafiar as desigualdades as assimetrias de interesses e

as hierarquias sociais e poliacuteticas tradicionais (FUNG COHEN 2007

PATEMAN 1992) Todavia ldquo() o principal problema quanto agrave

democracia participativa natildeo eacute quanto a fazecirc-la funcionar mas como

atingi-lardquo (MACPHERSON 1978 p 101)

A ecologia e a democracia se determinam mutuamente ldquo() seja

pela accedilatildeo dos condicionantes soacutecio-poliacuteticos da degradaccedilatildeo ambiental

seja pela prevalecircncia das bases ambientais da desigualdade socialrdquo

(ACSELRAD 1992a p 10) Para compreender essa relaccedilatildeo eacute preciso

identificar e entender a origem das contradiccedilotildees na incorporaccedilatildeo da

questatildeo ambiental pelo Estado e a correlaccedilatildeo de forccedilas sociais em

confronto pelo controle dos recursos

Os estudos sobre justiccedila ambiental identificam como causas da

injusticcedila ambiental as redes de influecircncia (baseadas em alianccedilas entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos) a desinformaccedilatildeo e a neutralizaccedilatildeo

da criacutetica potencial Na linha de questionamento entre as accedilotildees que

buscam reverter quadros de injusticcedilas ambientais estatildeo a produccedilatildeo do

conhecimento proacuteprio a pressatildeo pela aplicaccedilatildeo universal das leis a

pressatildeo pelo aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo de proteccedilatildeo ambiental a

pressatildeo por novas racionalidades no exerciacutecio do poder estatal a introduccedilatildeo de procedimentos de avaliaccedilatildeo de equidade ambiental e a

accedilatildeo direta e difusatildeo espacial do movimento (ACSELRAD MELLO

BEZERRA 2009 GRAZIANO 1997) A base de um modelo mais

justo envolveria a democratizaccedilatildeo do controle dos recursos naturais a

77

desprivatizaccedilatildeo do meio ambiente assegurando o caraacuteter puacuteblico do

patrimocircnio comum (ACSELRAD 1992a)

O desafio consiste em identificar os limites da representaccedilatildeo e da

participaccedilatildeo identificando experiecircncias que caminhem na direccedilatildeo de

uma recuperaccedilatildeo da autonomia (CASTORIADIS COHN-BENDIT

PUacuteBLICO DE LOUVAIN-LA-NEUVE 1981 ILLICH 1973) da

construccedilatildeo de uma democracia cognitiva (MORIN 2002 THEYS

1997) de uma cidadania terrestre (MORIN KERN 2000) de uma

cidadania ecoloacutegica (DOBSON 2003) de uma ecologia da

transformaccedilatildeolibertaccedilatildeo (HATHAWAY BOFF 2012) A direccedilatildeo

apontada a partir dos termos indicados eacute exigente e implica reconhecer

o caraacuteter indissociaacutevel da natureza e da comunidade seres humanos natildeo

humanos e a Terra em uma concepccedilatildeo alargada de justiccedila

(SCHLOSBERG 2009)

23 LIMITES E POSSIBILIDADES DO ECODESENVOLVIMENTO

REVISITADO

De todos os objetos os que mais amo satildeo os

usados () Impregnado do uso de muitos a

miuacuteda transformados foram aperfeiccediloando suas

formas e se fizeram preciosos porque tecircm sido

apreciados muitas vezes (Bertolt Brecht

Antologia Poeacutetica 1982 p 58)

A procura da harmonizaccedilatildeo entre desenvolvimento e gestatildeo de

longo prazo do meio ambiente natildeo pode ser feita de maneira isolada

pois se trata de uma reflexatildeo global sobre a viabilidade de novos estilos

de desenvolvimento baseados no pensamento sistecircmico-complexo

(GODARD SACHS 1975 VIEIRA 2006) Este capiacutetulo insere-se

nessa linha de reflexatildeo ao tratar a atualidade do ecodesenvolvimento

aplicado agrave gestatildeo de recursos comuns

O ecodesenvolvimento eacute o eixo central do modelo de anaacutelise

trazendo em si a criacutetica do modelo hegemocircnico de desenvolvimento e a

preocupaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novos projetos civilizatoacuterios Para tanto eacute preciso considerar o meio ambiente como relaccedilatildeo e natildeo como objeto

Suas dimensotildees os recursos naturais o espaccedilo-territoacuterio e o haacutebitat

colocam no centro as relaccedilotildees que os seres humanos estabelecem entre

si e com o meio Os conceitos de co-gestatildeo adaptativa

78

ecodesenvolvimento territorial e justiccedila ambiental e ecoloacutegica vecircm

sendo incorporados ao modelo de anaacutelise ldquoclaacutessicordquo ampliando o seu

potencial heuriacutestico no enfrentamento da crise socioecoloacutegica global

O enfrentamento envolve mais adaptaccedilatildeo que controle poliacuteticas

flexiacuteveis integradas e adaptativas gestatildeo e planejamento voltados agrave

aprendizagem acompanhamento concebido como uma parte de

intervenccedilotildees ativas para conseguir compreender e identificar respostas

aos problemas natildeo a vigilacircncia pela vigilacircncia investimentos ecleacuteticos

em ciecircncia participaccedilatildeo dos cidadatildeos e parceria na construccedilatildeo de uma

ciecircncia mais cidadatilde evitando a informaccedilatildeo passiva (HOLLING 1995)

O desenvolvimento de uma democracia cognitiva

soacute eacute possiacutevel com uma reorganizaccedilatildeo do saber e

esta pede uma reforma do pensamento que

permita natildeo apenas isolar para conhecer mas

tambeacutem ligar o que estaacute isolado e nela

renasceriam de uma nova maneira as noccedilotildees

pulverizadas pelo esmagamento disciplinar o ser

humano a natureza o cosmo a realidade

(MORIN 2002 p 104)

O ecodesenvolvimento e os enfoques complementares ajudam a

compreender a gestatildeo de recursos comuns em relaccedilatildeo agrave sustentabilidade

dos recursos naturais as dinacircmicas de desenvolvimento e a

desigualdade ecoloacutegica A pesquisa sobre gestatildeo de recursos comuns

nessa perspectiva incorpora uma perspectiva mais ampla sobre seu

papel no modelo de desenvolvimento hegemocircnico e ao mesmo tempo

seu potencial de mudanccedila como parte integrante e importante na

proposta do ecodesenvolvimento O fundamental eacute a compreensatildeo de

que nenhum enfoque eacute completo e que para aleacutem da fragmentaccedilatildeo da

ciecircncia o diaacutelogo entre os enfoques pode oferecer insights para uma

melhor compreensatildeo dos problemas e para a construccedilatildeo de alternativas

capazes de fazer frente agrave crise sistecircmica do meio ambiente

3 GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS NO BRASIL O CARVAtildeO

MINERAL EM QUESTAtildeO

Tudo se aniquilava no fundo desconhecido das

noites obscuras soacute percebia muito ao longe os

altos-fornos e as fornalhas de coque () Era uma

tristeza de incecircndio natildeo havia no horizonte

ameaccedilador outros astros elevando-se a natildeo ser

esses fogos noturnos dos paiacuteses da hulha e do

ferro (Eacutemile Zola 1981 p 14)

O uso do carvatildeo mineral em larga escala estaacute intrinsecamente

ligada agrave Revoluccedilatildeo Industrial e com a origem do movimento dos

trabalhadores na Inglaterra como bem ilustrou Emile Zola em seu livro

Germinal e nos Estados Unidos Ele continua sendo a fonte mais

utilizada para geraccedilatildeo de energia eleacutetrica no mundo correspondendo em

meacutedia a 40 da produccedilatildeo total mundial no periacuteodo de 1973 a 2006

Segundo a Agecircncia Internacional de Energia (IEA) a posiccedilatildeo seraacute

mantida nos proacuteximos trinta anos e a discussatildeo sobre reconversatildeo da

mineraccedilatildeo do carvatildeo ainda permanece incipiente5(ANEEL 2008a

FERREIRA 2002)

No debate sobre mudanccedila ambiental global os recursos naturais

natildeo renovaacuteveis satildeo centrais Embora o petroacuteleo ocupe posiccedilatildeo

privilegiada os impactos ambientais do processo produtivo do carvatildeo

mineral eacute um ponto importante a ser considerado Os combustiacuteveis

foacutesseis continuam a dominar a matriz energeacutetica mundial apoiados por

523 mil milhotildees de doacutelares de subsiacutedios em 2011 quase 30 a mais que

em 2010 e seis vezes mais do que as fontes renovaacuteveis (OCDE IEA

2012) O carvatildeo mineral representou em 2012 195 da matriz

energeacutetica dos paiacuteses que compotildeem a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e

Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) e 282 da matriz mundial Em

relaccedilatildeo agrave oferta de energia eleacutetrica o carvatildeo mineral representou em

2012 14 da oferta brasileira e 417 da oferta mundial Se

consideradas as dimensotildees de sustentabilidade seguranccedila energeacutetica

equidade social e mitigaccedilatildeo dos impactos ambientais o Brasil aparece

como 53ordm lugar em 2012 Se tomadas separadamente o Brasil assume o

5 Destaca-se aqui a iniciativa da Comissatildeo das Comunidades Europeias que

teve iniacutecio em 1989 de proporcionar assistecircncia as Comunidades que queiram

adotar uma reconversatildeo econocircmica das aacutereas de mineraccedilatildeo do carvatildeo atraveacutes de

empreacutestimos e subsiacutedios (COMISSAtildeO DAS COMUNIDADES EUROPEacuteIAS

1990)

80

77ordm lugar em seguranccedila energeacutetica 65ordm em equidade social e 21ordm em

mitigaccedilatildeo dos impactos ambientais (WORLD ENERGY COUNCIL

2012)

A matriz energeacutetica brasileira teve em sua composiccedilatildeo no ano de

2012 424 de oferta de energia de fontes renovaacuteveis (biomassa da

cana hidraacuteulica e eletricidade lenha e carvatildeo vegetal e lixiacutevia dentre

outras) e 576 de fontes de energia natildeo renovaacuteveis (petroacuteleo e

derivados gaacutes natural carvatildeo mineral e uracircnio) da qual o carvatildeo

mineral tem uma participaccedilatildeo de 54 (BRASIL EPE 2013) A

presenccedila de combustiacuteveis foacutesseis na matriz energeacutetica brasileira tende a

aumentar com a exploraccedilatildeo do petroacuteleo do preacute-sal com a possiacutevel

exploraccedilatildeo do gaacutes de xisto e com o retorno do carvatildeo mineral nos leilatildeo

A-56 de 2013 Eacute urgente lidar com a questatildeo das emissotildees de gases de

efeito estufa devido agraves altas emissotildees dos combustiacuteveis foacutesseis O

carvatildeo mineral eacute o mais abundante combustiacutevel foacutessil do mundo e

tambeacutem o que mais produz gases de efeito estufa (BRASIL MME

2007 YAMAOKA et al 2013)

O Brasil no cenaacuterio mundial desponta como fornecedor global

de commodities minerais energeacuteticas e agriacutecolas Esse papel justifica a

abertura de minas de fosfato a mineraccedilatildeo de uracircnio do ferro e de outros

mineacuterios Apesar do carvatildeo mineral brasileiro ser o ldquoprimo pobrerdquo dos

mineacuterios voltado ao mercado interno eacute preciso considerar tambeacutem a

mineraccedilatildeo no geral O marco legal da mineraccedilatildeo estaacute mudando com a

regulamentaccedilatildeo da mineraccedilatildeo em terras indiacutegenas quilombolas e

ribeirinhas e a expansatildeo das mineradoras brasileiras para outros paiacuteses

A conjuntura brasileira eacute de desregulamentaccedilatildeo e de flexibilizaccedilatildeo da

normativa ambiental sem um questionamento profundo sobre as

desigualdades socioambientais existentes no territoacuterio (MALERBA

2012 MILANEZ et al 2013)

O objetivo deste capiacutetulo foi descrever as macro variaacuteveis

presentes no modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns (HESS

6 Os leilotildees foram instituiacutedos em 2005 e satildeo processos licitatoacuterios com o

objetivo de contratar energia eleacutetrica para assegurar o pleno atendimento da

demanda futura no Ambiente de Regulaccedilatildeo Controlada Os leilotildees satildeo divididos

em A-1 A-3 e A-5 Os nuacutemeros 1 3 e 5 correspondem aos anos de

antecedecircncia do iniacutecio do suprimento O Leilatildeo A-5 por exemplo envolve a

licitaccedilatildeo para contrataccedilatildeo de energia eleacutetrica de novos empreendimentos

realizado com cinco anos de antecedecircncia do iniacutecio do suprimento (MME

2014)

81

OSTROM 2005 OAKERSON 1992 POLSKI OSTROM 1992)

abordando o tema no Brasil com destaque agrave gestatildeo do carvatildeo mineral

Para tanto aleacutem de uma breve introduccedilatildeo sobre desenvolvimento

econocircmico gestatildeo de recursos comuns e energia no Brasil o capiacutetulo

traz uma caracterizaccedilatildeo dos atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso

em termos de disponibilidade usos tecnologias disponiacuteveis e impactos

As regras em uso tratam das principais leis que afetam o recurso bem

como das interfaces entre direitos ambientais e direitos humanos Em

relaccedilatildeo agrave arena de accedilatildeo eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos envolvidos na

gestatildeo no niacutevel nacional O balanccedilo da gestatildeo de recursos comuns no

Brasil em especial do carvatildeo mineral revela ao longo desse capiacutetulo

importantes pontos a serem considerados na compreensatildeo da ampliaccedilatildeo

da geraccedilatildeo de energia eleacutetrica movida a carvatildeo mineral no Sul de Santa

Catarina e da possibilidade de surgirem caminhos alternativos para a

questatildeo energeacutetica

31 DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO GESTAtildeO DE RECURSOS

COMUNS E ENERGIA

A gestatildeo de recursos comuns em particular do carvatildeo mineral

traz agrave tona questotildees relacionadas ao desenvolvimento econocircmico e a

questatildeo energeacutetica que envolvem a atuaccedilatildeo de segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais O desafio de tratar a gestatildeo de recursos comuns

reside justamente na complexidade existente nessas inter-relaccedilotildees A

tentativa dessa seccedilatildeo eacute tratar a gestatildeo contextualizada para na

sequecircncia abordar as especificidades do carvatildeo mineral

Na eacutepoca da Repuacuteblica Velha (1889-1930) o governo era

controlado pela oligarquia rural (SCARDUA BURSZTYN 2003) Se

ateacute 1930 a teoria econocircmica pregava o livre funcionamento do mercado

com a crise mundial passou a aceitar um papel mais atuante do Estado e

tambeacutem do planejamento Os recursos comuns acompanharam essa

mesma linha de atuaccedilatildeo federal sendo marcada pelo controle federal na

disputa com elites locais Isso justificou a criaccedilatildeo de poderes setoriais e

deu lugar a burocracias especializadas (NEDER 2002) O setor eleacutetrico que antes era resultado de investimentos privados e locais sofreu

intervenccedilatildeo estatal e de empresas estrangeiras (MALAGUTI 2009)

A Ditadura Vargas (1930-1945) foi centralizada no presidente

com a dissoluccedilatildeo das representaccedilotildees poliacuteticas e baseada numa poliacutetica

82

voltada ao desenvolvimento urbano industrial e nacionalista

(SCARDUA BURSZTYN 2003) Nesse periacuteodo houve pouca

demanda por energia baseada principalmente na geraccedilatildeo de energia a

partir de fontes vegetais indicando um reduzido grau de expansatildeo das

forccedilas produtivas De 1939 em diante ocorreu a consolidaccedilatildeo da

industrializaccedilatildeo com o crescimento da atividade econocircmica e uma

participaccedilatildeo maior no uso de combustiacuteveis foacutesseis (THEIS 1990)

Durante o periacuteodo democraacutetico (1945-1964) teve lugar a

reorganizaccedilatildeo dos partidos poliacuteticos e das representaccedilotildees favorecendo a

descentralizaccedilatildeo sem uma poliacutetica especiacutefica para esse fim Na Ditadura

Militar (1964-1985) a centralidade federal voltou a ser realidade e nesse

contexto o crescimento econocircmico aconteceu a despeito dos custos

sociais e ambientais (EGLER 1997 SCARDUA BURSZTYN 2003)

A questatildeo ambiental era tratada como gestatildeo de recursos naturais com a

criaccedilatildeo de parques e reservas bioloacutegicas Com vieacutes claramente

conservacionista natildeo havia uma preocupaccedilatildeo com os impactos do

crescimento econocircmico da eacutepoca (NEDER 2002) ldquoA ideia de

desenvolvimento econocircmico penetrava a consciecircncia da cidadania

justificando cada ato de governo e ateacute de ditadura e de extinccedilatildeo da

naturezardquo (DEAN 1996 p 281)

O processo de crise na economia mundial deflagrado na deacutecada

de 1970 contou com trecircs marcos poliacuteticos o rompimento dos Estados

Unidos aos acordos de Bretton Woods em 1971 que trouxe a crise aos

paiacuteses membros da OCDE a inclusatildeo das questotildees ambientais no debate

sobre desenvolvimento estimulada pelo relatoacuterio do Clube de Roma e

pela Conferecircncia de Estocolmo em 1972 e a elevaccedilatildeo do preccedilo do

petroacuteleo em 1973 que trouxe a preocupaccedilatildeo com a questatildeo energeacutetica

Esses eventos dentre outros colocaram tambeacutem em questatildeo a regulaccedilatildeo

das relaccedilotildees econocircmicas internacionais e os mecanismos internos de

promoccedilatildeo do desenvolvimento (EGLER 1997)

Na deacutecada de 1970 aumentou a preocupaccedilatildeo com a poluiccedilatildeo

industrial todavia natildeo se alterou a relaccedilatildeo Estado-empresa (NEDER

2002) O movimento ambientalista em sua fase fundacional (1971-86)

foi dominado por uma compreensatildeo estreita da problemaacutetica ambiental

tendo como principais preocupaccedilotildees a poluiccedilatildeo industrial e a

preservaccedilatildeo dos ecossistemas naturais A conexatildeo entre a problemaacutetica

ambiental e o desenvolvimento econocircmico natildeo era percebida pelo

movimento ambientalista nessa fase (VIOLA 1992)

83

Na deacutecada de 1980 a crise do Estado e o processo de

redemocratizaccedilatildeo do paiacutes somou-se agrave discussatildeo do ldquodesenvolvimento

sustentaacutevelrdquo que se inseriu no discurso e na definiccedilatildeo de poliacuteticas Poacutes

1980 outro padratildeo de regulaccedilatildeo puacuteblica socioambiental veio se

desenvolvendo no Brasil ldquoele desloca a dicotomia estado versus capital

privado para um patamar mais complexo que amplia os dois modos

claacutessicos de coordenaccedilatildeo a ordem estatal e mercantil para incluir novas

arenas de conflitosrdquo (NEDER 2009 p 8)

Com a crise econocircmica dos anos 1980 o movimento

ambientalista passou a considerar a dimensatildeo econocircmica como

condicionante e parte da crise socioambiental Nessa mesma deacutecada

formaram-se grupos cientiacuteficos que passaram a tratar da questatildeo

ambiental Em 1981 com a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Meio

Ambiente (PNMA) constituiu-se segundo o artigo 6ordm o Sistema

Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e o CONAMA O movimento

ambientalista de 1987 a 1991 passou por uma fase de institucionalizaccedilatildeo

que envolveu uma organizaccedilatildeo maior do movimento ambientalista em

relaccedilatildeo a recursos financeiros especializaccedilatildeo dos envolvidos e com o

envolvimento com movimentos socioambientais (como o Movimento de

Atingidos por Barragens Movimento dos Seringueiros Movimentos

Indiacutegenas etc) (VIOLA 1992) Somado a isso o fim da Ditadura

Militar em 1985 e a Constituiccedilatildeo de 1988 acenavam com a volta da

democracia representativa e com novos mecanismos participativos

O governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) realizou

uma grande reforma no setor eleacutetrico marcando a transiccedilatildeo entre um

modelo de crescimento impulsionado pelo Estado para um modelo de

crescimento impulsionado pelo mercado A reforma teve como objetivos

a separaccedilatildeo das atividades de geraccedilatildeo transmissatildeo distribuiccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo privatizaccedilatildeo competiccedilatildeo na geraccedilatildeo e na

comercializaccedilatildeo e livre acesso agraves redes de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

(GOLDENBERG PRADO 2003) ldquoO processo de privatizaccedilatildeo do setor

eleacutetrico representou um gigantesco processo de transferecircncia de rendas

utilizando-se de dinheiro puacuteblico para beneficiar grupos empresariais e

garantir o propalado lsquosucessorsquo das privatizaccedilotildeesrdquo (BERMANN 2003

p 47) O ano de 2001 foi conhecido como o ano do ldquoapagatildeordquo Houve

falta de energia eleacutetrica causada pelo desabastecimento de aacutegua e por

uma privatizaccedilatildeo parcial na qual as estatais perderam sua capacidade de

planejamento mediante reduccedilatildeo de investimentos e o setor privado ainda

natildeo havia tomado o seu lugar (GOLDENBERG 2012a)

84

Com a vitoacuteria de Luis Inaacutecio Lula da Silva em 2002 do Partido

dos Trabalhadores (PT) para a presidecircncia da repuacuteblica houve uma

grande expectativa por parte dos movimentos sociais que possuiacuteam uma

ligaccedilatildeo histoacuterica com os partidos de esquerda especialmente o PT Lula

permaneceu na presidecircncia de 2003 a 2010 rompendo com uma

tradiccedilatildeo de eleiccedilotildees que mantinham na presidecircncia a elite tradicional

(LOSEKANN 2012) O fato de ter tido como ministra do meio

ambiente Marina Silva ligada agrave luta dos seringueiros fez com que

muitos acreditassem que o governo Lula seria um marco na poliacutetica

ambiental brasileira Mas contrariando as expectativas houve a

legalizaccedilatildeo dos transgecircnicos a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco e a

anistia aos desmatadores O Ministeacuterio das Minas e Energia (MME) na

eacutepoca liderado por Dilma Russef atual presidenta do Brasil ressuscitou

projetos hidreleacutetricos na Amazocircnia e retomou o programa da energia

nuclear Se durante a sua histoacuteria o PT esteve receptivo agraves demandas

dos movimentos socioambientais uma vez no poder a praacutetica foi

restritiva no CONAMA a participaccedilatildeo dos movimentos sociais foi

diminuiacuteda resultando numa injusticcedila poliacutetica em relaccedilatildeo aos segmentos

poliacuteticos e empresariais A poliacutetica de desenvolvimento empreendida

pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) priorizou a

pecuaacuteria mineraccedilatildeo geraccedilatildeo de energia soja cimento e celulose

causadores de impactos socioambientais e injusticcedilas ambientais e

ecoloacutegicas (LISBOA 2011)

Na Rio+20 que aconteceu em 2012 o tema central da Cuacutepula

dos Povos foi a justiccedila social e ambiental Para a Cuacutepula dos Povos natildeo

houve um balanccedilo das dificuldades e conquistas poacutes Rio-92 e a ecircnfase

na ldquoeconomia verderdquo foi uma forma de reforccedilar a acumulaccedilatildeo

capitalista que natildeo questiona ou substitui a economia baseada no uso de

combustiacuteveis foacutesseis nem nos padrotildees de produccedilatildeo industrial e

consumo crescente (CUacutePULA DOS POVOS 2012)

No governo Dilma (2011- atual) foi aprovada a mudanccedila no

Coacutedigo Florestal que estava tramitando desde 1996 ateacute ser totalmente

reformulado em 2012 Tramita tambeacutem a mudanccedila do Coacutedigo da

Mineraccedilatildeo que vai reduzir radicalmente as conquistas de grupos eacutetnicos

e comunidades tradicionais Com essas mudanccedilas instaura-se a

dominaccedilatildeo poliacutetica empresarial na qual o territoacuterio passa a ser objeto da

accedilatildeo de empresas preocupadas com as proacuteprias metas e apoiadas pela

accedilatildeo do Estado Confunde-se aiacute capitalismo com democracia e liberdade

poliacutetica com liberdade para explorar e investir (SEVAacute FILHO 2013)

No que se refere agrave matriz energeacutetica antes se pensava no que era melhor

85

para o Estado e atualmente a poliacutetica energeacutetica eacute pensada para os

empreiteiros (GOLDENBERG 2012b)

O planejamento energeacutetico no Brasil apoacutes as reformas passou a

ter uma visatildeo ldquoofertistardquo natildeo se baseia em previsotildees de demandas

Existe um emaranhado de interesses e o ldquoplanejamentordquo se eacute que pode

ser assim chamado serve aos que querem vender energia e aos que

querem comprar As empresas por sua vez aperfeiccediloam sua influecircncia

poliacutetica nos espaccedilos de poder do Estado atuando sobre os

licenciamentos ambientais mecanismos de financiamento

influenciando ateacute propostas de reforma do Estado (BERMANN 2012)

No final da deacutecada de 1980 apoacutes momentos de crescimento

econocircmico e crise houve um reposicionamento da economia da gestatildeo

de recursos comuns e da energia do fim da deacutecada de 1980 em diante

Se a PNMA de 1986 e a Constituiccedilatildeo de 1988 pareciam acenar com a

garantia aos direitos humanos e ambientais e uma preocupaccedilatildeo maior

com a participaccedilatildeo das pessoas nos processos de tomada de decisatildeo as

recentes alteraccedilotildees nas leis ambientais parecem um grande retrocesso e

a participaccedilatildeo das pessoas restrita agrave democracia representativa e a

instacircncias participativas controladas

O Estado passou a reforccedilar seu papel como indutor do

desenvolvimento capitalista direcionando investimentos em alguns

setores econocircmicos aos quais se destina financiamento subsiacutedios e

infraestrutura logiacutestica (transporte e energia) Acabou criando tambeacutem

mecanismos que asseguram o aumento no ritmo da exploraccedilatildeo de

recursos naturais e da despossessatildeo de grupos sociais com a desculpa de

gerar divisas para reduzir a pobreza e a desigualdade social ldquoEm nome

da superaccedilatildeo da desigualdade e da pobreza governos progressistas

impulsionam a expansatildeo de atividades extrativas ndash notadamente o

petroacuteleo e os mineacuterios ndash cujos custos sociais e ambientais tecircm gerado

exclusatildeo e desigualdaderdquo (MALERBA 2012 p 12-3)

O carvatildeo mineral acompanha esse movimento mais amplo com

suas especificidades que satildeo tratadas a seguir

86

32 CARACTERIZACcedilAtildeO E USOS DO CARVAtildeO MINERAL7 NO

BRASIL

A histoacuteria do carvatildeo mineral no Brasil teve iniacutecio em 1795 no Rio

Grande do Sul Ele foi descoberto por teacutecnicos ingleses que construiacuteam

ferrovias na regiatildeo do baixo Jacuiacute Durante muito tempo sua exploraccedilatildeo

foi manual passando agrave etapa da mecanizaccedilatildeo somente apoacutes a Segunda

Guerra Mundial (CHAVES 2008 GOMES et al 1998)

A mineraccedilatildeo eacute uma atividade intensiva em recursos naturais

principalmente do solo e da aacutegua competindo com outros usos dos

recursos naturais locais principalmente aqueles que dependem do meio

ambiente tais como pesca turismo agricultura etc Dentre os principais

usos do carvatildeo mineral destacam-se a produccedilatildeo de energia eleacutetrica e uso

industrial principalmente sideruacutergico O uso tem relaccedilatildeo com a

qualidade do carvatildeo medida pela capacidade de produccedilatildeo de calor

Capacidade essa que eacute favorecida pela existecircncia de carbono e

prejudicada pela quantidade de impurezas normalmente material

orgacircnico (macerais do carvatildeo) e inorgacircnicos (argilas pirita e

carbonatos) (ANEEL 2008a SAMPAIO 2002)

O Brasil natildeo tem uma cultura de uso do carvatildeo mineral como em

outros paiacuteses sua exploraccedilatildeo eacute restrita ao Sul do paiacutes outras regiotildees natildeo

convivem com a questatildeo A qualidade do carvatildeo mineral brasileiro eacute

inferior dado resultante dos altos teores de cinza e enxofre (carvatildeo de

SC e PR) e o passivo ambiental de uma exploraccedilatildeo predatoacuteria e sem

compromisso com o meio ambiente fez com que essa atividade natildeo

contasse com boa fama (CHAVES 2008)

O carvatildeo mineral de acordo com o poder caloriacutefico e a incidecircncia

de impurezas se subdivide em carvatildeo de baixa qualidade (linhito e sub-

betuminoso) e hulha (Betuminoso e Antracito) As reservas brasileiras

satildeo compostas pelo carvatildeo dos tipos linhito e sub-betuminoso que pode

ser utilizado na produccedilatildeo de energia eleacutetrica e usado industrialmente

(ANEEL 2008a) (Figura 5)

7 O carvatildeo mineral natildeo eacute um mineral no sentido estrito sendo mais correto

chamaacute-lo de carvatildeo foacutessil A opccedilatildeo pelo carvatildeo mineral se justifica na medida

em que a maior parte dos documentos e referecircncias consultadas utilizam o

termo (CHAVES 2008)

87

Figura 5 - Tipos de carvatildeo e uso

Fonte Adaptado de Aneel (2008a p 133)

A produccedilatildeo do carvatildeo mineral bruto no Brasil em 1970 foi de 55

milhotildees de toneladas chegando ao pico em 1985 com 249 milhotildees de

toneladas (MILIOLI 2009) Ateacute final da deacutecada de 1980 as sideruacutergicas

brasileiras eram obrigadas a comprar carvatildeo coqueificaacutevel nacional para

misturar com o importado Os empresaacuterios do setor contaram com as

benesses do governo federal que obrigava as sideruacutergicas a utilizarem o

carvatildeo mineral brasileiro e os consumidores do carvatildeo mineral eram

empresas governamentais Como natildeo havia diferenccedila entre o preccedilo e a

qualidade do produto as carboniacuteferas natildeo eram estimuladas a melhorar

a qualidade nem buscar tecnologia para isso

O Governo Collor rompeu com a obrigatoriedade do consumo do

carvatildeo mineral pelas metaluacutergicas e muitas mineradoras enfrentaram

problemas (CHAVES 2008) O pano de fundo para o debate eleacutetrico

dos anos 1990 principalmente durante o governo de Fernando Henrique

Cardoso era a liberalizaccedilatildeo dos preccedilos do comeacutercio e do investimento

estrangeiro a desregulamentaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo em grande escala

(GOLDENBERG PRADO 2003)

O carvatildeo energeacutetico passou a ser uma opccedilatildeo para a crise

enfrentada pelas carboniacuteferas As termeleacutetricas estatais foram

privatizadas ou tiveram o seu capital aberto na deacutecada de 1990 exceto a

Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica (CGTEE) Em 2013

estavam em operaccedilatildeo treze usinas termeleacutetricas em seis estados

brasileiros somando um total de 2711 Megawatts (MW) (Tabela 1)

Destaca-se nessas usinas a participaccedilatildeo de empresas estrangeiras

88

Tractebel CITIC Group (estatal chinesa em parceria com a Companhia

de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica) o Consoacutercio Alumar (formado

pelas empresas Alcoa BHP Billiton e Rio Tinto Alcan) e a ENEVA

Tabela 1 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral em

operaccedilatildeo em 2013 Brasil

Fonte ANEEL 2013

Natildeo havia nenhum empreendimento movido a carvatildeo mineral em

construccedilatildeo no ano de 2013 Existem quatro empreendimentos com

outorga no periacuteodo de 1998 a 2013 somando um total de 1445 MW

localizados nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Tabela

2)

Tabela 2 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral com

outorga de 1998 a 2013 Brasil

Fonte ANEEL 2013

USINAPOTEcircNCIA

(MW)MUNICIacutePIO UF PROPRIETAacuteRIO

Charqueadas 72 Charqueadas RS Tractebel

Presidente Meacutedici A B 446 Candiota RS CGTEE

Satildeo Jerocircnimo 20 Satildeo Jerocircnimo RS CGTEE

Figueira 20 Figueira PR Copel

Jorge Lacerda I e II 232 Capivari de Baixo SC Tractebel

Jorge Lacerda III 262 Capivari de Baixo SC Tractebel

Jorge Lacerda IV 363 Capivari de Baixo SC Tractebel

Alunorte 103 Nossa Senhora do Socorro SE Alumina Norte do Brasil SA

Alumar 75 Satildeo Luiacutes MA Consoacutercio Alumar

Porto do Itaqui 360 Satildeo Luiacutes MA UTE Porto do Itaqui Geraccedilatildeo de Energia SA

Porto do Peceacutem I 381 Satildeo Gonccedilalo do Amarante CE Porto do Peceacutem Geraccedilatildeo de Energia SA

Candiota III 12 Candiota RS CGTEE

Porto do Peceacutem II 365 Satildeo Gonccedilalo do Amarante CE MPX Peceacutem II Geraccedilatildeo de Energia SA

TOTAL 2711

USINAPOTEcircNCIA

(MW)MUNICIacutePIO UF PROPRIETAacuteRIO

Jacuiacute 350 Charqueadas RS Eleacutetrica Jacuiacute SA

Sul Catarinense 440 Treviso SC UTE Sul Catarinense

Concoacuterdia 5 Concoacuterdia SC Sadia

CTSUL 650 Cachoeira do Sul RS Central Termoeleacutetrica Sul SA

TOTAL 1445

89

As reservas de carvatildeo no Brasil totalizam sete bilhotildees de

toneladas ocupando o 10ordm lugar no ranking mundial podendo gerar 17

mil mw (ANEEL 2008B) Conveacutem ressaltar tambeacutem que o Brasil

produz mais energia eleacutetrica do que consome em 2011 foram

disponibilizados 5676 TeraWattshora (TWh) e consumidos 4801TWh

e em 2012 foram disponibilizados 5928TWh e consumidos 4984 TWh

A oferta de energia eleacutetrica a base de carvatildeo mineral tende a aumentar

em 53 se as usinas termeleacutetricas com outorga forem construiacutedas Com

a inclusatildeo do carvatildeo mineral nos leilotildees em 2013 parece ser uma

questatildeo de tempo para que as termeleacutetricas listadas na tabela 22 entrem

no leilatildeo e comecem a ser construiacutedas (BRASIL EPE 2013b)

33 TECNOLOGIAS DISPONIacuteVEIS E IMPACTOS

SOCIOAMBIENTAIS

Da extraccedilatildeo do carvatildeo mineral ateacute a geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

existem diferentes processos a serem considerados a extraccedilatildeo o

beneficiamento o transporte o uso do carvatildeo mineral para geraccedilatildeo de

energia eleacutetrica e a disposiccedilatildeo dos rejeitos Cada um desses processos

envolve escolhas tecnoloacutegicas e seus impactos Nesta seccedilatildeo faz-se uma

breve exposiccedilatildeo dos meacutetodos utilizados nos processos compreendendo

que a escolha entre os meacutetodos e impactos decorrentes eacute mais

condicionada pelas leis existentes do que pelo tipo de tecnologia

disponiacutevel A escolha tem a ver com a opccedilatildeo do desenvolvimento

(BRITO 1981)

No que se refere agrave extraccedilatildeo do carvatildeo mineral os meacutetodos

utilizados satildeo a lavra a ceacuteu aberto e subterracircnea dependendo das

caracteriacutesticas geoloacutegicas No iniacutecio as lavras eram essencialmente

manuais depois passaram para uma fase semi-mecanizada e depois

mecanizada Na fase manual o impacto ambiental e a produtividade

eram menores O processo de mecanizaccedilatildeo aumentou a produccedilatildeo e com

ela uma maior destruiccedilatildeo ambiental e problemas de sauacutede (MENEZES

CAROLA 2011)

As lavras a ceacuteu aberto utilizam os seguintes meacutetodos meacutetodo de

lavras em tiras (strip mining) lavra de descobertura com escavadeiras de

arrasto (dragline stripping method) lavra em bancadasescavadeira Os

trecircs meacutetodos de formas diferentes retiram as camadas de solo e outras

formaccedilotildees sedimentares que cobrem as camadas de carvatildeo Satildeo meacutetodos

90

de baixo custo comparados aos de lavra subterracircnea mas foram as

lavras a ceacuteu aberto que causaram entre 1960 e 1970 os maiores danos

ambientais do Sul de Santa Catarina (KOPPE COSTA 2008

MENEZES CAROLA 2011 MONTEIRO 2008)

Dentre os meacutetodos de lavra subterracircnea destacam-se o meacutetodo de

cacircmaras e pilares e de frente larga No primeiro meacutetodo o carvatildeo eacute

extraiacutedo e os pilares satildeo formados pelo proacuteprio carvatildeo que sustenta a

cobertura e facilita o fluxo de ar Na medida em que a mineraccedilatildeo

avanccedila os pilares satildeo retirados e a cobertura tomba Jaacute o meacutetodo da

frente larga envolve a remoccedilatildeo total do carvatildeo e a sustentaccedilatildeo eacute feita por

macacos hidraacuteulicos O meacutetodo precisa estar adequado agrave geologia da

mina e o custo do maquinaacuterio eacute cerca de dez vezes maior que do outro

meacutetodo A lavra subterracircnea causa menos impacto visual mas os

impactos ambientais tambeacutem satildeo significativos Torna-se necessaacuterio o

descarte da aacutegua subterracircnea alterando o regime hiacutedrico e inviabiliza

outros usos do solo (KOPPE COSTA 2008 MONTEIRO 2008)

Dentre os principais impactos resultantes das lavras estatildeo as

mudanccedilas na vida da populaccedilatildeo nos recursos hiacutedricos na fauna e flora

Jaacute o processo de beneficiamento que compreende a separaccedilatildeo dos

materiais desejaacuteveis e indesejaacuteveis tem como principal causador de

impacto o rejeito (ANEEL 2008a) O Quadro 4 apresenta alguns

aspectos ambientais associados agrave atividade de mineraccedilatildeo e

processamento mineral

91

Quadro 4 - Aspectos das atividades de mineraccedilatildeo e processamento

do carvatildeo mineral Mineraccedilatildeo e

processamento

Ar Dispersatildeo de partiacuteculas

Variaccedilatildeo da composiccedilatildeo da poeira do

ar

Poeira

Solo Fontes pontuais de contaminaccedilatildeo

Geraccedilatildeo de resiacuteduos

Alteraccedilatildeo na vegetaccedilatildeo

Instabilidade de taludes

Variaccedilatildeo na morfologia do terreno

Cavidades subterracircneas

Aacutegua

superficial

Contaminaccedilatildeo quiacutemica (drenagem

aacutecida etc)

Soacutelidos em suspensatildeo

Desestabilizaccedilatildeo das margens

Alteraccedilatildeo dos cursos de aacutegua

Criaccedilatildeo de novos corpos hiacutedricos

Aacutegua

subterracircnea

Contaminaccedilatildeo quiacutemica

Alteraccedilatildeo na profundidade do niacutevel

drsquoaacutegua

Variaccedilatildeo nas propriedades dos

aquiacuteferos

Fonte CETEM (2000 p 16)

No meacutetodo mais tradicional de geraccedilatildeo de energia eleacutetrica o

carvatildeo mineral eacute queimado a altas temperaturas transformando a aacutegua da

caldeira em vapor capaz de mover a turbina gerando eletricidade Em

meacutedia as teacutermicas movidas a carvatildeo mineral produzem 700g de CO2

por Quilowatt-hora (KWh) sendo responsaacuteveis por 30 a 35 do total de

emissotildees de CO2 no mundo Aleacutem do CO2 tambeacutem emitem Nitrogecircnio

(N) (ANEEL 2008a YAMAOKA et al 2013)

As chamadas tecnologias limpas compreendem a combustatildeo

pulverizada supercriacutetica a combustatildeo em leito fluidizado e a

gaseificaccedilatildeo integrada a ciclo combinado segundo a IEA Na

combustatildeo pulverizada supercriacutetica o carvatildeo eacute queimado como partiacuteculas pulverizadas o que aumenta substancialmente a eficiecircncia da

combustatildeo e conversatildeo No processo de combustatildeo em leito fluidizado

haacute uma reduccedilatildeo de Enxofre (ateacute 90) e de Nitrogecircnio (7080) pelo

emprego de partiacuteculas calcaacuterias e de temperaturas inferiores ao processo

convencional de pulverizaccedilatildeo Jaacute a gaseificaccedilatildeo integrada a ciclo

92

combinado consiste na reaccedilatildeo do carvatildeo com vapor de alta temperatura

e um oxidante (processo de gaseificaccedilatildeo) o que daacute origem a um gaacutes

combustiacutevel sinteacutetico de meacutedio poder caloriacutefico Esse gaacutes pode ser

queimado em turbinas a gaacutes e recuperado por meio de uma turbina a

vapor (ciclo combinado) o que possibilita a remoccedilatildeo de cerca de 95

do Enxofre e a captura de 90 do Nitrogecircnio Apesar da reduccedilatildeo de

Enxofre e Nitrogecircnio as tecnologias do chamado ldquocarvatildeo limpordquo natildeo

representam uma soluccedilatildeo para a emissatildeo de gases de efeito estufa

(ANEEL 2008a MONTEIRO 2008)

Cada tecnologia tem o seu impacto Na escolha por uma

tecnologia ou outra um impacto menor natildeo eacute considerado o motivador

inicial Atender os requisitos miacutenimos da legislaccedilatildeo e ser viaacutevel do

ponto de vista econocircmico satildeo os motivadores principais das escolhas

Os interesses dos segmentos econocircmicos natildeo raro prevalecem sobre os

interesses dos segmentos sociais ldquoO planejamento pauta-se em acordos

setoriais natildeo necessariamente fruto de uma compilaccedilatildeo e mediaccedilatildeo de

interesses mais amplos da sociedaderdquo (BERMANN 2012 p 21)

O raciociacutenio eacute produzir mais e natildeo pensar em eficiecircncia

energeacutetica O paiacutes perde cerca de 20 de energia na transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo Antes de investir em novas tecnologias e ampliar o sistema

seria interessante resolver a perda na transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de

energia (BERMANN 2012)

34 REGRAS EM USO NUMA PERSPECTIVA HISTOacuteRICA

INTERFACE ENTRE DIREITOS AMBIENTAIS E DIREITOS

HUMANOS

O marco regulatoacuterio do carvatildeo mineral se relaciona com o modo

como a questatildeo ambiental foi sendo incorporada nas leis e numa

perspectiva mais ampla sobre como os direitos ambientais e os direitos

humanos foram sendo constituiacutedos no Brasil O desafio da justiccedila em

sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas ambientais tem dois aspectos relacionais a

justiccedila da distribuiccedilatildeo de ambientes entre pessoas e a justiccedila da relaccedilatildeo

entre humanos e o resto do mundo natural a justiccedila ambiental e justiccedila

ecoloacutegica respectivamente A justiccedila eacute uma qualidade da conduta

humana e envolve tanto a reflexatildeo sobre si mesmo e o estar no mundo

quanto a conduta coordenada com os outros a conduta social e poliacutetica

(LOW GLEESON 1998)

93

Durante muito tempo na histoacuteria recente do brasil os recursos

naturais natildeo renovaacuteveis foram tratados como recursos a serem

explorados natildeo havia uma preocupaccedilatildeo com sua preservaccedilatildeo e com os

impactos socioambientais decorrentes das atividades econocircmicas A

Constituiccedilatildeo de 1934 mencionou pela primeira vez a competecircncia

privativa da Uniatildeo para legislar sobre o subsolo mineraccedilatildeo metalurgia

aacuteguas energia hidreleacutetrica florestas caccedila e pesca Do ponto de vista das

competecircncias a Constituiccedilatildeo de 1937 manteacutem a competecircncia privativa

da Uniatildeo sobre os recursos naturais e seus usos considerando a

competecircncia supletiva dos Estados As Constituiccedilotildees de 1946 1967-69

reproduzem com poucas atualizaccedilotildees as mesmas competecircncias

(SCARDUA BURSZTYN 2003)

A despeito do Coacutedigo das Aacuteguas de 1934 que lograva proteger

os recursos hiacutedricos e imputava ao poluidor os custos com a

recuperaccedilatildeo o setor carboniacutefero seguiu intensificando a poluiccedilatildeo das

aacuteguas e dos solos O mesmo aconteceu com as condiccedilotildees miacutenimas de

trabalho presentes no Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e no Coacutedigo de Higiene e

Seguranccedila no Trabalho que foram sistematicamente desconsideradas

impondo condiccedilotildees muitas vezes incompatiacuteveis com a vida humana

(MENEZES CAROLA 2011)

O avanccedilo do segmento do carvatildeo mineral contou com incentivos

e proteccedilatildeo do governo federal a partir de 1931 atraveacutes do Decreto

20089 em 1940 com o Decreto 2667e o Decreto 1828 de 1937 Aleacutem

de regular o aproveitamento do carvatildeo mineral iniciou nesse momento a

obrigatoriedade de compra do carvatildeo nacional em 10 em 1931 e 20

em 1937 do montante das importaccedilotildees (BRASIL 1931 1937 1940) As

medidas tomadas nesse periacuteodo incluindo aiacute o Plano do Carvatildeo

Nacional Lei nordm 1886 de 1953 fortaleceram muito o setor (BRASIL

1953) Inclui-se nessa lista o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo de 1967 Decreto-Lei

nordm 227 (BRASIL 1967) Junto com o Plano do Carvatildeo Mineral eacute criada

a Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo Nacional (CEPCAN) ligada

inicialmente ao Presidente da Repuacuteblica e depois ao MME A

CEPCAN foi responsaacutevel pela consolidaccedilatildeo da modernizaccedilatildeo e dos

subsiacutedios para o setor carboniacutefero (MENEZES CAROLA 2011)

A Avaliaccedilatildeo de Impacto Ambiental (AIA) apareceu no Brasil

pela primeira vez na deacutecada de 1970 no projeto da hidroeleacutetrica de

Sobradinho por pressatildeo do Banco Mundial e na Lei nordm 6803 de 1980

que dispotildee sobre zoneamento industrial Mas soacute se efetivou na Lei nordm

6938 de 1981 que dispotildee sobre a PNMA que coloca a avaliaccedilatildeo de

94

impacto ambiental como instrumento da Poliacutetica Com o Decreto nordm

88351 ela se tornou parte do licenciamento de atividades e

empreendimentos potencialmente poluidores ou causadores de

degradaccedilatildeo ambiental (BARBIERI 1995)

O CONAMA atraveacutes da Resoluccedilatildeo nordm 1 de 1986 trouxe os

criteacuterios baacutesicos e diretrizes para o uso e implementaccedilatildeo da AIA A

resoluccedilatildeo define impacto ambiental como ldquoqualquer alteraccedilatildeo das

propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das atividades

humanas que direta ou indiretamente afetam I) a sauacutede e bem-estar da

populaccedilatildeo II) as atividades sociais e econocircmicas III) a biota IV) as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V) a qualidade dos

recursos ambientaisrdquo Os processos que envolvem o carvatildeo mineral

extraccedilatildeo beneficiamento transporte uso para geraccedilatildeo de energia satildeo

considerados passiacuteveis de causar impacto e por isso a exigecircncia da

avaliaccedilatildeo de impacto ambiental para seus licenciamentos (BARBIERI

1995)

O Decreto nordm 9927490 conta com a seguinte redaccedilatildeo

Art 19 O Poder Puacuteblico no exerciacutecio de sua

competecircncia de controle expediraacute as seguintes

licenccedilas

I - Licenccedila Preacutevia (LP) na fase preliminar do

planejamento de atividade contendo requisitos

baacutesicos a serem atendidos nas fases de

localizaccedilatildeo instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo observados os

planos municipais estaduais ou federais de uso do

solo

II - Licenccedila de Instalaccedilatildeo (LI) autorizando o

iniacutecio da implantaccedilatildeo de acordo com as

especificaccedilotildees constantes do Projeto Executivo

aprovado e

III - Licenccedila de Operaccedilatildeo (LO) autorizando

apoacutes as verificaccedilotildees necessaacuterias o iniacutecio da

atividade licenciada e o funcionamento de seus

equipamentos de controle de poluiccedilatildeo de acordo

com o previsto nas Licenccedilas Preacutevia e de

Instalaccedilatildeo (BRASIL 1990)

Uma exigecircncia no processo de licenciamento eacute a elaboraccedilatildeo do

Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatoacuterio de Impacto

Ambiental (RIMA) A avaliaccedilatildeo de impacto ambiental conforme consta

95

na Figura 6 compreende segundo orientaccedilotildees internacionalmente

aceitas uma etapa inicial de triagem [na qual o estudo de impacto

ambiental eacute solicitado ou natildeo de acordo com o grau de possiacuteveis

impactos ambientais] uma etapa de anaacutelise detalhada [que inclui a

delimitaccedilatildeo do escopo do estudo a elaboraccedilatildeo do estudo de impacto

ambiental e do relatoacuterio de impacto ambiental a anaacutelise teacutecnica e a

consulta puacuteblica] e a etapa poacutes-aprovaccedilatildeo [que prevecirc o monitoramento

e gestatildeo ambiental e o acompanhamento] (SAacuteNCHEZ 2008a)

Figura 6 - Etapas da avaliaccedilatildeo de impacto ambiental

Fonte Adaptado de Saacutenchez (2008 p 96)

96

A audiecircncia puacuteblica no processo de licenciamento ambiental eacute

uma forma de consulta puacuteblica (consta na anaacutelise detalhada na Figura 6)

um instrumento de participaccedilatildeo de caraacuteter consultivo e informativo

segundo resoluccedilatildeo do CONAMA Nordm 009 de 03 de dezembro de 1987

A audiecircncia pode ser solicitada pelo oacutergatildeo ambiental responsaacutevel pelo

licenciamento por uma entidade civil pelo ministeacuterio puacuteblico ou por

um grupo de pelo menos 50 cidadatildeos (CONAMA 1987) Todavia a

decisatildeo no processo de licenciamento cabe aos oacutergatildeos ambientais

competentes No acircmbito federal ao IBAMA e no acircmbito estadual os

oacutergatildeos ambientais estaduais (SAacuteNCHEZ 2008a)

A Avaliaccedilatildeo Ambiental Estrateacutegica (AAE) surge dos limites da

AIA Entre esses limites estatildeo a dificuldade ldquode analisar com

profundidade alternativas tecnoloacutegicas e de localizaccedilatildeo de levar em

conta satisfatoriamente os impactos cumulativos e os impactos indiretos

satildeo inerentes a esta forma de avaliaccedilatildeo de impacto ambientalrdquo

(SAacuteNCHEZ 2008 p 4)

A Constituiccedilatildeo de 1988 traz um capiacutetulo sobre o meio ambiente e

pela primeira vez na histoacuteria do Brasil coloca o meio ambiente como

direito ldquoTodos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder Puacuteblico e agrave coletividade o dever de

defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo (Art

225 BRASIL 1988) Cabe aos Estados Distrito Federal e Municiacutepios

acrescentar normas especiacuteficas desde que natildeo colidam com a norma

federal (BARBIERI 1995)

A descentralizaccedilatildeo estimulada pela Constituiccedilatildeo de 1988 foi

inovadora ao contemplar mecanismos de democracia participativa

complementando os mecanismos da democracia representativa todavia

essa ainda natildeo ocorreu em niacutevel satisfatoacuterio e efetivo Desde 1996 todos

os estados brasileiros contam com poliacuteticas ambientais estaduais e

oacutergatildeos responsaacuteveis pela sua implementaccedilatildeo Os municiacutepios caminham

devagar 117 contam com algum oacutergatildeo para tratar do meio ambiente e

213 possuem Conselho Municipal de Meio Ambiente (SCARDUA BURSZTYN 2003)

Outro ponto tratado na Constituiccedilatildeo de 1988 que diz respeito agrave

atividade mineradora eacute a Compensaccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo de

Recursos Minerais (CFEM) O valor da CFEM eacute aplicado sobre o

97

faturamento liacutequido e varia de acordo com a substacircncia mineral Para o

carvatildeo aplica-se a aliacutequota de 2 O valor eacute pago mensalmente e 12

dele vai para a Uniatildeo 23 para o Estado e 65 para o municiacutepio

produtor Os recursos devem ser aplicados em projetos que direta ou

indiretamente melhorem a infra-estrutura qualidade ambiental sauacutede e

educaccedilatildeo da comunidade local (DNPM 2013) Um desafio colocado por

algumas pesquisas eacute o uso adequado da CFEM pela gestatildeo puacuteblica jaacute

que natildeo haacute uma regulamentaccedilatildeo legal para o uso do recurso (AARAtildeO

2011 ENRIacuteQUEZ 2007)

No Governo Fernando Henrique Cardoso foi aprovado o Decreto

nordm 3371 de 24 de fevereiro de 2000 que instituiu o Programa

Prioritaacuterio de Termeletricidade (BRASIL 2000) Com o apagatildeo de 2001

ressurgiu a ideia de que a seguranccedila energeacutetica do paiacutes estaria garantida

com a construccedilatildeo de mais usinas termeleacutetricas (GOLDENBERG

2012a)

Em 2010 comeccedilou a ser articulado um novo marco regulatoacuterio

para a mineraccedilatildeo no Brasil sendo lanccedilado o Projeto de Lei (PL) em

junho de 2013 Em 2014 o Congresso analisaraacute o PL 58072013

(BRASIL 2013a) fruto da Frente Parlamentar da Mineraccedilatildeo Brasileira

da qual fazem parte Celso Maldaner (PMDB) Deacutecio Lima (PT)

Jorginho Mello (Partido da Repuacuteblica - PR) Onofre Santo Agostini

(Partido Social Democraacutetico - PSD) todos eleitos por Santa Catarina

(BRASIL 2013b)

Um dos pontos polecircmicos eacute a regulamentaccedilatildeo da mineraccedilatildeo em

terras indiacutegenas quilombolas e ribeirinhas questatildeo que se situa na

interface entre direitos ambientais e direitos humanos A Constituiccedilatildeo de

1891 vinculava a propriedade do subsolo agrave do solo sendo alterada pela

Constituiccedilatildeo de 1934 ateacute os dias atuais permanecendo a natildeo existecircncia

de viacutenculo entre propriedade do solo e subsolo que pertence agrave Uniatildeo

Todavia conveacutem ressaltar que apesar do domiacutenio puacuteblico dos recursos

minerais eacute possiacutevel a apropriaccedilatildeo privada mediante concessatildeo

(BRASIL MME 2013) A principal criacutetica do novo marco regulatoacuterio eacute

a de que ldquoeacute necessaacuterio reafirmar que o lsquopuacuteblicorsquo e a lsquonaccedilatildeorsquo vivem e

ocorrem sobre o solo e natildeo no subsolo Dessa forma eacute o uso do solo que

deve definir a possibilidade da exploraccedilatildeo do subsolo e natildeo o contraacuteriordquo

(MILANEZ 2012 p 82)

O crescimento da consciecircncia ambiental relaciona-se agrave discussatildeo

histoacuterica sobre direitos humanos e do exerciacutecio desigual de direitos O

movimento ambientalista eacute fruto dessa tradiccedilatildeo de lutas por direitos

98

individuais e coletivos (GONCcedilALVES 1992) Todavia o desafio eacute

superar a visatildeo de que o natildeo-humano eacute de interesse apenas na medida

em que afeta os seres humanos A democracia a justiccedila social e os

direitos humanos satildeo condiccedilatildeo importante para enfrentar a crise mas

natildeo satildeo suficientes Eacute preciso superar tambeacutem o antropocentrismo

caminhando da justiccedila ambiental para a justiccedila ecoloacutegica (DELUCA

2007)

35 ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO

Nesta seccedilatildeo satildeo destacados os envolvidos na gestatildeo do carvatildeo

mineral no Brasil que atuam numa escala mais ampla que a estadual Os

envolvidos na gestatildeo de recursos comuns de Santa Catarina sediados no

estado seratildeo destacados no capiacutetulo quatro Os que foram aqui citados

aparecem nos documentos consultados Dessa forma conveacutem ressaltar

que pode haver outros envolvidos que natildeo estejam citados nesse

capiacutetulo

351 Segmentos poliacuteticos

A atual presidente da repuacuteblica Dilma Rousseff eleita pelo PT

tem mandato de 2011 a 2014 Em sua campanha mais de 90 da receita

foi proveniente de doaccedilotildees ao Comitecirc Financeiro Nacional Do total de

R$ 137 milhotildees e meio o setor mineral contribuiu com 10 desse

valor A Tractebel empresa geradora de energia eleacutetrica doou um

milhatildeo de reais para o Comitecirc Financeiro Nacional para Presidente da

Repuacuteblica do PT o que correspondeu a 07 da receita (OLIVEIRA

2013 TSE 2013) Do setor carboniacutefero natildeo foram identificadas

doaccedilotildees

O Ministeacuterio das Minas e Energia (MME) eacute chave tambeacutem no

processo de gestatildeo Ele foi criado em 1960 e tem como competecircncias a

formulaccedilatildeo e supervisatildeo das poliacuteticas puacuteblicas nos seguintes segmentos geologia recursos minerais e energeacuteticos aproveitamento da energia

hidraacuteulica mineraccedilatildeo e metalurgia e petroacuteleo combustiacutevel e energia

eleacutetrica inclusive nuclear Tem como ministro Edison Lobatildeo e congrega

as secretarias de Petroacuteleo Gaacutes Natural e Combustiacuteveis Renovaacuteveis a

99

Secretaria de Energia Eleacutetrica a Secretaria de Planejamento e

Desenvolvimento Energeacutetico Estatildeo vinculados ao MME o

Departamento Nacional de Produccedilatildeo Mineral (DNPM) (Criado em

1934) a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM)

(Criada em 1969 e iniciando suas atividades em 1970) a ANEEL

(Criada em 1996) o Conselho Nacional de Poliacutetica Energeacutetica (CNPE)

(Criado em 1997)

No Brasil apesar de haverem espaccedilos institucionais o debate

sobre a poliacutetica energeacutetica permanece restrito O Conselho Nacional de

Poliacutetica Energeacutetica (CNPE) criado em 1997 e regulamentado em 2000

eacute um oacutergatildeo de assessoramento da Presidecircncia da Repuacuteblica Ele tem em

sua composiccedilatildeo sete Ministros um representante dos estados e do

Distrito Federal um cidadatildeo brasileiro especialista em energia

designado pelo Presidente da Repuacuteblica e um representante de

universidade brasileira especialista em energia O CNPE eacute influente nos

rumos da poliacutetica energeacutetica nacional todavia pouco democraacutetica em

sua composiccedilatildeo A ANEEL por sua vez ao inveacutes de ser autocircnoma e

independente estaacute formalmente vinculada ao MME como autarquia e

na praacutetica demostra subordinaccedilatildeo ao governo federal (BERMANN

2001)

O Ministeacuterio do Meio Ambiente (MMA) foi criado em 1992

tendo como missatildeo ldquopromover a adoccedilatildeo de princiacutepios e estrateacutegias para

o conhecimento a proteccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo do meio ambiente o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais a valorizaccedilatildeo dos serviccedilos ambientais

e a inserccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel na formulaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de forma transversal e

compartilhada participativa e democraacutetica em todos os niacuteveis e

instacircncias de governo e sociedaderdquo (MMA 2013) O CONAMA eacute o

oacutergatildeo consultivo e deliberativo do SISNAMA ambos criados em 1981

como instrumentos participativos da PNMA O CONAMA eacute o uacutenico

conselho com poder de legislar Os recursos naturais renovaacuteveis ficam

sob a tutela do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renovaacuteveis (IBAMA) criado em 1989 vinculado

posteriormente ao MMA Jaacute os recursos natildeo renovaacuteveis ficam sob tutela

do MME

O Parlamento eacute composto pelos representantes eleitos pelo povo

Ele se divide entre o Senado Federal (Senadores) e a Cacircmara dos

Deputados (Deputados Federais) e exerce o poder legislativo e

fiscalizador no Congresso Nacional Atuam tambeacutem no Parlamento a

100

Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral criada em 2005

e a Frente Parlamentar da Mineraccedilatildeo Brasileira criada em 2011 As

relaccedilotildees entre o parlamento e os segmentos econocircmicos junto agrave questatildeo

do carvatildeo mineral satildeo analisadas no capiacutetulo cinco dessa tese

(OLIVEIRA 2013)

Jaacute o Ministeacuterio Puacuteblico tem autonomia na estrutura do Estado em

relaccedilatildeo ao executivo legislativo e judiciaacuterio Cabe ao Ministeacuterio Puacuteblico

a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico dos interesses

sociais e dos interesses individuais indisponiacuteveis O Ministeacuterio Puacuteblico

da Uniatildeo divide-se em Ministeacuterio Puacuteblico Federal e os Ministeacuterios

Puacuteblicos de cada Estado da Federaccedilatildeo (BRASIL 1993 MPSC 2013)

Os segmentos poliacuteticos aqui apresentados atuam com limitaccedilotildees

mas tambeacutem oferecem brechas A sociedade deveria aproveitaacute-las para

debater os rumos da poliacutetica energeacutetica e as opccedilotildees de desenvolvimento

Contudo o contexto de energia privada e de consequente concentraccedilatildeo

de poder econocircmico se mostra prejudicial agraves questotildees ecoloacutegicas e

democraacuteticas (BERMANN 2001)

352 Segmentos econocircmicos

Os segmentos econocircmicos estatildeo organizados em associaccedilotildees

empresariais e mistas O Instituto Brasileiro de Mineraccedilatildeo (IBRAM) foi

criado em 1976 eacute uma associaccedilatildeo privada sem fins lucrativos que tem

por objetivo congregar representar promover e divulgar a induacutestria

mineral brasileira contribuindo para a sua competitividade nacional e

internacional A mineraccedilatildeo tambeacutem conta com o Consoacutercio Alumar

inaugurado em 1984 eacute um dos maiores complexos de produccedilatildeo de

alumiacutenio do mundo localiza-se no Maranhatildeo e eacute formado pelas

empresas Alcoa BHP Biliton e Rio Tinto Alcan

Os segmentos econocircmicos ligados ao carvatildeo mineral organizam-

se junto ao Sindicato Nacional da Induacutestria de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

(SNIEC) e a Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo Mineral (ABCM) O

SNIEC foi criado em 1989 em Santa Catarina reuacutene as empresas de

mineraccedilatildeo A ABCM foi constituiacuteda em 2006 e reuacutene agentes da cadeia

produtiva do carvatildeo mineradoras geradoras e transportadores O

principal objetivo da Associaccedilatildeo eacute integrar a cadeia produtiva visando o

desenvolvimento sustentaacutevel Conta com 20 empresas associadas

101

Como o tema de tese relaciona-se com a geraccedilatildeo de energia

eleacutetrica conveacutem ressaltar o papel da Cacircmara de Comercializaccedilatildeo de

Energia Eleacutetrica (CCEE) A CCEE foi criada em 2004 ela viabiliza a

compra e venda de energia em todo o paiacutes Ela reuacutene empresas de

geraccedilatildeo de serviccedilo puacuteblico produtores independentes autoprodutores

distribuidoras comercializadoras importadoras e exportadoras de

energia aleacutem de consumidores livres e especiais de todo o paiacutes

Existem empresas e cooperativas bastante influentes a niacutevel

nacional

- A Tractebel do grupo franco-belga GDF-Suez eacute a segunda

maior geradora de energia eleacutetrica privada do Brasil e maior produtora

independente de energia do mundo

- A CITIC Group estatal Chinesa eacute parceira da Eletrobraacutes no

acordo promulgado pelo Decreto nordm 6009 de 3 de janeiro de 2007

(BRASIL 2007)

- A Alunorte Alumina do Norte do Brasil SA criada em 1973

num acordo entre Brasil e Japatildeo pertencia a Vale e localiza-se no estado

do Paraacute A Vale foi privatizada em 1997 e em 2011 negociou as accedilotildees

da Alunorte com a Norsk Hydro ASA

- A ENEVA antiga MPX tendo como principais acionistas a

empresa alematilde EON com 362 e o empresaacuterio brasileiro Eike Batista

com 285 Eacute a maior geradora de energia eleacutetrica privada do Brasil

- A Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica

(CGTEE) constituiacuteda em 1997 pela Uniatildeo tornou-se uma empresa do

Sistema Eletrobraacutes em 2000 Em 2009 assinou um contrato com as

empresas Alstom Power Systems SA ndash France e com a Alstom Brasil

Energia e Transporte Ltda para recuperaccedilatildeo de caldeiras

- A estatal Companhia Paranaense de Energia (COPEL) foi criada

em 1954 abrindo seu capital em abril de 1994

- A Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) eacute uma empresa

puacuteblica criada em 2004 e tem por finalidade prestar serviccedilos na aacuterea de

estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energeacutetico

Destaca-se nas empresas citadas um nuacutemero consideraacutevel de

empresas estrangeiras Conveacutem ressaltar aqui que as mineradoras

102

beneficiadoras e transportadoras natildeo constam nesse item por terem

influecircncia principalmente nos estados e regiotildees produtoras

353 Segmentos sociais

Os trabalhadores do setor mineral encontram-se organizados na

Associaccedilatildeo Nacional de Servidores do Departamento Nacional de

Produccedilatildeo Mineral (ANSDNPM) nos Sindicatos Metabase dentre

outros Jaacute os trabalhadores ligados ao carvatildeo mineral natildeo contam com

uma associaccedilatildeo especiacutefica em niacutevel nacional mas estatildeo organizados em

sindicatos estaduais A posiccedilatildeo dos trabalhadores em relaccedilatildeo ao carvatildeo

mineral eacute de apoio atuando em parceria com os segmentos econocircmicos

O que estaacute em jogo para os trabalhadores eacute a manutenccedilatildeo dos postos de

trabalho e seu sustento (MILANEZ et al 2013)

Os afetadosatingidosameaccedilados enfrentam dificuldades de

vaacuterias ordens no acesso agrave informaccedilatildeo falta de conhecimento teacutecnico-

cientiacutefico espaccedilo de debate restrito etc Na maioria das vezes as

decisotildees sobre empreendimentos de geraccedilatildeo de energia satildeo alimentadas

pela siacutendrome do ldquoapagatildeordquo e os direitos das populaccedilotildees atingidas

parecem ferir o ldquodireitordquo da maioria que precisa de energia

(BERMANN 2001) Mas apesar de todas as dificuldades os

afetadosatingidosameaccedilados pelo setor da mineraccedilatildeo se organizam em

frentes de defesa apoiadas por vaacuterias entidades sediadas em vaacuterias

escalas do local ao global Somam-se aiacute entidades religiosas sindicais

movimentos ambientais movimentos em defesa dos direitos humanos

movimentos indiacutegenas dentre outros Em 2012 surgiu o Movimento

Popular frente agrave Mineraccedilatildeo (MAM) e em 2013 surgiu o Comitecirc

Nacional em Defesa dos Territoacuterios Frente agrave Mineraccedilatildeo Faz parte do

Comitecirc a Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para a Assistecircncia Social e Educacional

(FASE) que atua desde 1961 pela democracia o Instituto de Estudos

Socioeconocircmicos (INESC) criado em 1979 e tem como principal frente

agrave questatildeo da cidadania a Conferecircncia Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB) o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) a

Articulaccedilatildeo dos Povos Indiacutegenas do Brasil (APIB) o Instituto Brasileiro de Anaacutelises Sociais e Econocircmicas (IBASE) entre outros (OLIVEIRA

2013) No caso especiacutefico do carvatildeo mineral natildeo haacute um movimento

popular ou comitecirc em acircmbito nacional embora tenha relaccedilatildeo com o

movimento e comitecirc acima referidos

103

As ONGs e representantes da comunidade acadecircmica tecircm um

papel de parceria com esses movimentos Vaacuterias publicaccedilotildees

demonstram a preocupaccedilatildeo com a questatildeo do carvatildeo mineral o

Greenpeace reprova o chamado ldquocarvatildeo limpordquo e os investimentos feitos

nesse setor (YAMAOKA et al 2013) Amigos da Terra Brasil publicou

Carvatildeo combustiacutevel de ontem com dados atualizados sobre os impactos

do carvatildeo mineral no Brasil (MONTEIRO 2008) A FASE apoiada

pela Fundaccedilatildeo Ford e pela Heinrich Boumlll Stiftung publicou em 2012 o

livro Novo marco legal da mineraccedilatildeo no Brasil Para quecirc Para

Quem (MARLERBA 2012) O IBASE com o apoio da Fundaccedilatildeo Ford

lanccedilou em 2013 Quem eacute quem nas discussotildees do novo coacutedigo da mineraccedilatildeo (OLIVEIRA 2013) Com um caraacuteter mais articulador

aparece o Foacuterum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) desde 1990 e a Rede

Brasileira de Justiccedila Ambiental a partir de 2001

Os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais natildeo tecircm um

posicionamento homogecircneo em relaccedilatildeo a criacutetica ou continuidade da

exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral diferente da posiccedilatildeo dos segmentos

econocircmicos todos contam com contradiccedilotildees internas e externas As

relaccedilotildees estabelecidas nos segmentos e os diferentes posicionamentos de

segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais seratildeo examinados ao longo

dos proacuteximos capiacutetulos

36 SITUACcedilAtildeO ATUAL E DESAFIOS

O objetivo do capiacutetulo foi o de tratar a gestatildeo de recursos

comuns colocando ecircnfase no carvatildeo mineral Pela importacircncia

geopoliacutetica e econocircmica os recursos natildeo renovaacuteveis satildeo de competecircncia

do Ministeacuterio das Minas e Energia mesmo apoacutes a criaccedilatildeo do Ministeacuterio

do Meio Ambiente Dessa forma se a gestatildeo dos recursos naturais no

Brasil se pautou durante um longo periacuteodo pela preservaccedilatildeo e pela

conservaccedilatildeo os recursos naturais natildeo renovaacuteveis natildeo participaram desse

movimento A apropriaccedilatildeo e uso dos recursos naturais natildeo renovaacuteveis

passaram ao largo da regulaccedilatildeo dos recursos comuns

O segmento do carvatildeo mineral aleacutem da preocupaccedilatildeo com os

impactos socioambientais sofreu na deacutecada de 1990 com o corte dos

subsiacutedios e reorientou sua produccedilatildeo para a geraccedilatildeo de energia

termeleacutetrica Tambeacutem na geraccedilatildeo de energia eleacutetrica os novos

104

empreendimentos movidos a carvatildeo mineral passaram por um periacuteodo

sem entrar nos leilotildees de energia sendo incluiacutedos novamente em 2013

A inclusatildeo do carvatildeo mineral nos leilotildees e a reforma do Coacutedigo

de Mineraccedilatildeo demonstram a forte articulaccedilatildeo entre parte dos segmentos

poliacuteticos e econocircmicos Os segmentos sociais tecircm aiacute um grande desafio

Uma possibilidade jaacute explorada pelo movimento ambiental eacute a

interface entre direitos ambientais e direitos humanos Eacute preciso cada

vez mais politizar o tema da mineraccedilatildeo do carvatildeo mineral e da energia

Mineraccedilatildeo por quecirc Como Para quem Energia por quecirc Como Para

quem Natildeo existem respostas uacutenicas mas se parte dos segmentos

poliacuteticos e econocircmicos fazem valer seus interesses como ficam os

interesses dos segmentos sociais

Com a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente atraveacutes da avaliaccedilatildeo

de impacto ambiental e a Constituiccedilatildeo de 1988 surgiram novos espaccedilos

de participaccedilatildeo vistos como uma grande conquista pelo movimento

ambiental Um ponto chave para a questatildeo ambiental eacute o avanccedilo das

praacuteticas democraacuteticas E o campo de lutas por direitos envolve todas as

escalas

No Quadro 5 a seguir foi feita uma siacutentese dos principais

aspectos tratados ao longo do capiacutetulo que favorecem e questionam a

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral

Quadro 5 - Siacutentese dos pontos que favorecem e questionam a

amplicaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo

mineral por macro variaacutevel

MACRO

VARIAacuteVEIS

ASPECTOS QUE

FAVORECEM A

AMPLIACcedilAtildeO

ASPECTOS QUE

QUESTIONAM A

AMPLIACcedilAtildeO

Dinacircmicas de

desenvolvimento

- Papel central do Estado

em assegurar os interesses

privados na gestatildeo de

recursos comuns e na

poliacutetica energeacutetica

- Fragmentaccedilatildeo da gestatildeo

de recursos comuns os

recursos renovaacuteveis satildeo da

competecircncia do MMA e os

recursos natildeo renovaacuteveis satildeo

da competecircncia do MME

- Discussatildeo mundial sobre

mudanccedila ambiental global

- Brasil como fornecedor

de commodities minerais

energeacuteticas e agriacutecolas e

- Atuaccedilatildeo do movimento

ambiental

105

- Privatizaccedilatildeo do setor

eleacutetrico

- subsiacutedios aos combustiacuteveis

foacutesseis

- Matriz energeacutetica

brasileira considerada limpa

em relaccedilatildeo a outros paiacuteses

justifica a ampliaccedilatildeo do uso

de combustiacuteveis foacutesseis e

- Visatildeo do planejamento

energeacutetico eacute aumentar a

oferta de energia eleacutetrica

Atributos fiacutesicos

e tecnoloacutegicos

- Disponibilidade do

recurso

- Evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

- Neutralidade ldquodardquo e

confianccedila ldquonardquo tecnologia

- Ecircnfase na produccedilatildeo e natildeo

na eficiecircncia energeacutetica

- O Brasil natildeo tem uma

cultura do carvatildeo mineral a

atividade estaacute restrita ao sul

do paiacutes

- Mineraccedilatildeo impede outros

usos do solo

- Evoluccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo

garante minimizaccedilatildeo dos

impactos socioambientais

- Escolhas teacutecnicas satildeo

escolhas poliacuteticas natildeo satildeo

neutras

- Necessidade de aumento

da eficiecircncia energeacutetica

Regras em uso - Desregulamentaccedilatildeo e

flexibilizaccedilatildeo das leis

(Coacutedigo de Mineraccedilatildeo)

- A CFEM faz com que o

governo em todos os seus

niacuteveis administrativos

ganhe com a exploraccedilatildeo

mineral

- Participaccedilatildeo tutelada

- Avanccedilo nas leis

(Exigecircncia da AIA nos

licenciamentos)

- Ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo via audiecircncia

puacuteblica accedilatildeo civil puacuteblica

etc

- Relaccedilatildeo entre direitos

ambientais e direitos

humanos

Arena de accedilatildeo

(Caracterizaccedilatildeo

dos envolvidos

na gestatildeo)

- Parte dos segmentos

poliacuteticos tecircm parcerias com

os segmentos econocircmicos

atraveacutes de doaccedilotildees de

campanha e atraveacutes da

atuaccedilatildeo de parlamentares na

Frente Parlamentar Mista

em Defesa do Carvatildeo

Mineral

- Parte dos segmentos

poliacuteticos possuem

instacircncias participativas e

destaca-se tambeacutem a

atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico

- Os segmentos sociais

exceto o movimento

sindical estatildeo organizados

106

- Os segmentos econocircmicos

estatildeo organizados de vaacuterias

formas (sindicato

associaccedilatildeo instituto

cacircmara consoacutercio) e as

empresas exceto a COPEL

e a EPE satildeo

majoritariamente de capital

estrangeiro

- Nos segmentos sociais

destaca-se o apoio dos

sindicatos agrave causa do carvatildeo

mineral

e atuantes no

questionamento da

ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica movida a

carvatildeo mineral

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na macro variaacutevel arena de accedilatildeo a variaacutevel da democracia

apresenta limites relacionadas aos problemas da democracia

representativa e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo aos espaccedilos existentes Nas

oportunidades destacam-se a organizaccedilatildeo dos segmentos sociais (no

MAM e no Comitecirc Nacional em Defesa dos Territoacuterios Frente agrave

Mineraccedilatildeo) nas redes que unem ONGs academia e

afetadosatingidosameaccedilados e as publicaccedilotildees (Quadro 6)

Quadro 6 ndash Limites e oportunidades do sistema democraacutetico no

Brasil VARIAacuteVEL LIMITES OPORTUNIDADES

Fortalecimento do

sistema

democraacutetico

- Democracia

representativa

- Reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo aos

espaccedilos existentes

- Organizaccedilatildeo dos Segmentos

sociais

- Redes unindo ONGs

academia e

afetadosatingidos

ameaccedilados

- Publicaccedilotildees

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Se a aprendizagem social adaptativa eacute chave nesse processo para

que ela ocorra defende-se a hipoacutetese de que o fortalecimento do sistema

democraacutetico se faz necessaacuterio A compreensatildeo da ampliaccedilatildeo da energia

107

termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral aleacutem das evidecircncias descritas

nesse capiacutetulo depende tambeacutem da investigaccedilatildeo dos processos do

ponto de vista do exerciacutecio da democracia em todas as escalas espaciais

e entre os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais A questatildeo passa

pelo modo como os recursos satildeo explorados mas coloca tambeacutem em

questatildeo os objetivos e a direccedilatildeo do desenvolvimento (MELUCCI

2001)

4 CARVAtildeO MINERAL EM SANTA CATARINA

Eacute o duplo resultado da extraccedilatildeo do carvatildeo bens e

riquezas de um lado pirita e restos de homens de

outro (VOLPATO 1984 p 16)

A gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina foi marcada pela

apropriaccedilatildeo privada dos recursos e seu uso serviu principalmente ao

crescimento econocircmico As poliacuteticas ambientais por sua vez foram

condicionadas e limitadas pelos interesses poliacuteticos e econocircmicos e o

oacutergatildeo responsaacutevel a FATMA adotou uma postura de defesa das causas

ambientais sem desestruturar o crescimento econocircmico Nesse contexto

o discurso do carvatildeo foi habilmente sustentado do ponto de vista

material cultural psicoloacutegico e simboacutelico (CAROLA 2004)

O segmento do carvatildeo mineral alternou desde as primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX periacuteodos de crescimento e periacuteodos de crise Os

periacuteodos de crescimento amparados por incentivos do governo federal

e os momentos de crise associados a momentos de crise na esfera

governamental Isso levou os segmentos econocircmicos da regiatildeo sul

catarinense a se articularem cada vez mais com os segmentos poliacuteticos

visando a proteccedilatildeo do segmento e a continuidade da mineraccedilatildeo do

carvatildeo no Sul de Santa Catarina Uma das estrateacutegias mais recentes eacute a

construccedilatildeo da USITESC

Cerca de 95 do carvatildeo mineral extraiacutedo na regiatildeo tem como

destino a geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica Se observados os dados sobre

geraccedilatildeo e consumo de energia eleacutetrica em Santa Catarina o estado natildeo eacute

autossuficiente Em 2012 o estado produziu 16963 Gigawatt-hora

(GWh) consumiu 21601 GWh O consumo industrial ficou em 9312

GWh 431 do total consumido no estado e o consumo residencial foi

de 4699 GWh 218 do total consumido (ANEEL 2014 EPE 2013)

O carvatildeo mineral foi responsaacutevel pelo equivalente a 35 da eletricidade

gerada em Santa Catarina (ALESC 2013)

Existem fortes argumentos para que a geraccedilatildeo de energia

termeleacutetrica se amplie contudo o histoacuterico de impactos socioambientais

poderia ser impeditivo Buscando aprofundar a reflexatildeo sobre os

argumento proacute e contra a ampliaccedilatildeo o objetivo deste capiacutetulo eacute tratar da

gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina com destaque agrave gestatildeo do

carvatildeo mineral considerando as macro variaacuteveis presentes no modelo de

110

anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns (HESS OSTROM 2005

OAKERSON 1992 POLSKI OSTROM 1992)

Inicialmente eacute apresentada uma breve siacutentese de como foi se

organizando a gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina tendo

como eixo central o oacutergatildeo responsaacutevel pelas questotildees ambientais no

estado a FATMA Na sequecircncia as seccedilotildees contextualizam o carvatildeo

mineral na trajetoacuteria de desenvolvimento do Sul de Santa Catarina e

tratam das mudanccedilas ocorridas na extraccedilatildeo do carvatildeo mineral bem

como de seus impactos na regiatildeo Satildeo ainda discutidas as regras em uso

incorporando as alteraccedilotildees recentes do Coacutedigo Estadual do Meio

Ambiente de Santa Catarina e eacute feita uma breve caracterizaccedilatildeo da arena

de accedilatildeo com uma descriccedilatildeo dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais envolvidos na gestatildeo do recurso A forma como a gestatildeo de

recursos comuns se organiza em Santa Catarina revela aspectos

importantes para a compreensatildeo da ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica

bem como aspectos que ldquocoloquem em chequerdquo a continuidade da

atividade carboniacutefera

41 ldquoCombinandordquo crescimento econocircmico e proteccedilatildeo ambiental

Santa Catarina fez parte da histoacuteria do Brasil num primeiro

momento como territoacuterio de passagem para o gado gauacutecho e gerava

produtos primaacuterios para satisfazer as necessidades locais Na segunda

metade do seacuteculo XIX foram implantadas as primeiras induacutestrias do

estado A industrializaccedilatildeo catarinense teve em seu iniacutecio uma estreita

ligaccedilatildeo com os movimentos migratoacuterios da Alemanha e Itaacutelia jaacute que os

imigrantes tinham formaccedilatildeo intelectual e profissional e viveram a

modernizaccedilatildeo provocada pela Revoluccedilatildeo Industrial Destacaram-se

nesse periacuteodo a induacutestria tecircxtil alimentar e madeireira e o uso

energeacutetico do carvatildeo vegetal (THEIS 1988)

No final do seacuteculo XIX o estado ainda tinha uma economia

predominantemente agriacutecola e foram os produtos primaacuterios que

possibilitaram a geraccedilatildeo de capital para o investimento na induacutestria Na

histoacuteria de Santa Catarina dois marcos se destacaram na disputa pela

hegemonia na apropriaccedilatildeo dos recursos comuns o Genociacutedio Indiacutegena e

a Guerra do Contestado A desobstruccedilatildeo das aacutereas contestadas e

daquelas ocupadas pelos Carijoacute Xokleng e Kaingang foram

fundamentais para ampliar a apropriaccedilatildeo privada dos recursos naturais

111

(BORINELLI 1998) Aleacutem disso para sustentar o processo de

industrializaccedilatildeo em Santa Catarina no iniacutecio do seacuteculo XX ocorreu a

instalaccedilatildeo de pequenas usinas hidraacuteulicas e o aumento no uso do carvatildeo

mineral Na Primeira Guerra Mundial o carvatildeo mineral passou a ter

destaque possibilitando o surgimento da induacutestria carboniacutefera (THEIS

1988)

Ateacute a deacutecada de 1960 a regulaccedilatildeo dos recursos comuns foi

marcada pelo poder federal Todavia no campo econocircmico o estado

catarinense assumiu para si diversas funccedilotildees na promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico Data dessa eacutepoca a criaccedilatildeo do Banco

Estadual de Santa Catarina a Caixa Estadual de Santa Catarina do

Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina da

Universidade para o Desenvolvimento de Santa Catarina e a instalaccedilatildeo

de 46 escritoacuterios locais da Associaccedilatildeo de Creacutedito e Assistecircncia Rural de

Santa Catarina (ACARESC) e a Companhia Telefocircnica de Santa

Catarina (BORINELLI 1998) O sistema poliacutetico por sua vez teve um

predomiacutenio conservador relacionado principalmente com a dominaccedilatildeo

oligaacuterquica As lideranccedilas empresariais encontravam-se acomodadas nos

grandes partidos (CARREIRAtildeO 1990)

O crescimento econocircmico somado a uma regulaccedilatildeo dos recursos

naturais que privilegiava o acesso privado deu forma agrave crise ambiental

que teve lugar em Santa Catarina apoacutes a deacutecada de 1970 O consumo de

energia eleacutetrica com o processo de industrializaccedilatildeo catarinense

aumentou sensivelmente O consumo final de energia do setor industrial

ficou numa meacutedia de 60 O modelo de desenvolvimento

industrializante de Santa Catarina implicou natildeo apenas num elevado

consumo de energia mas tambeacutem numa exploraccedilatildeo inadequada da

natureza (THEIS 1988)

No Governo Konder Reis em 1975 foi criada a Secretaria de

Tecnologia e Meio Ambiente (SETMA) o Conselho Estadual de

Tecnologia e Meio ambiente (CETMA) e a FATMA na eacutepoca

Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Tecnologia e Meio Ambiente A FATMA esteve

vinculada a SETMA ateacute sua extinccedilatildeo em 1977 Para o Governo Konder

Reis a finalidade baacutesica da SETMA era ldquoservir numa primeira fase ao

desenvolvimento do Estadordquo Dentre as principais preocupaccedilotildees

ambientais estavam os serviccedilos de aacutegua e esgoto e contraditoriamente o

aumento da produccedilatildeo mineral e da oferta de madeira (BORINELLI

1998)

112

Todas as unidades de conservaccedilatildeo estaduais foram criadas no

periacuteodo de 1975 a 1983 sob a influecircncia direta de Raulino Reitz Parque

Estadual da Serra Tabuleiro (1975) Reserva Bioloacutegica Estadual de

Sassafraacutes (1977) Parque Estadual da Serra Furada e Reserva Bioloacutegica

da Canela Preta (1980) e Reserva Bioloacutegica Estadual de Aguaiacute (1983)

(BORINELLI 1998 MASSIGNAN 1995)

O primeiro secretaacuterio da SETMA foi Augusto Batista Pereira

empresaacuterio do setor carboniacutefero A preocupaccedilatildeo principal da SETMA no

primeiro ano foi de implantar uma Usina Sideruacutergica no Sul do Estado

Nessa eacutepoca foi construiacuteda a Usina Teacutermica Jorge Lacerda a Induacutestria

Carboquiacutemica Catarinense (ICC) e a proposta da Sideruacutergica

Catarinense Havia tambeacutem uma preocupaccedilatildeo com a poluiccedilatildeo industrial

com a balneabilidade e com os recursos hiacutedricos no geral (BORINELLI

1998 MASSIGNAN 1995)

Da segunda parte da deacutecada de 1970 ateacute meados da deacutecada de

1980 a agenda ambiental foi se ampliando passando a exigir da

FATMA respostas mais consistentes (BORINELLI 1998) O intervalo

de tempo compreendido entre 1979 a 1982 marcou o fim do periacuteodo de

maior crescimento econocircmico de Santa Catarina Durante o periacuteodo

conservador do Governo Estadual e no novo contexto democraacutetico a

poliacutetica ambiental sofreu um grande desgaste com a crise econocircmica e

fiscal

As forccedilas conservadoras continuaram atuantes com a eleiccedilatildeo de

Esperidiatildeo Amin para governador (1983-1987) e os problemas

ambientais continuaram divorciados de outras poliacuteticas setoriais

(econocircmicas de ciecircncia e tecnologia minerais) O licenciamento

ambiental entrou como atividade inovadora e a FATMA na condiccedilatildeo

de fundaccedilatildeo passava a imagem de independecircncia em relaccedilatildeo ao estado

o que na praacutetica natildeo acontecia e tornava difusa a responsabilidade sobre

a poliacutetica ambiental (BORINELLI 1998) Entre os anos de 1983 e 1987

o oacutergatildeo diretamente envolvido com o Planejamento Ambiental no

Estado de Santa Catarina era o Gabinete de Planejamento (GAPLAN)

(SDS 2014)

Mesmo sendo baseada na pequena propriedade rural Santa Catarina sofreu com o enfraquecimento da pequena produccedilatildeo rural

aumentando o ecircxodo rural e consequentemente os problemas urbanos

Em termos socioambientais intensificaram-se os processos de

degradaccedilatildeo ecossistecircmica mau uso do solo falta de saneamento

impacto do turismo nas zonas costeiras etc (VIEIRA CUNHA 2002)

113

A incapacidade de resolver a contento estas tensotildees inaugurava o

reconhecimento de uma crise ambiental em Santa Catarina e uma crise

institucional da FATMA Nos municiacutepios foram criados os Conselhos

Municipais de Defesa Ambiental (CONDEMA) oacutergatildeos consultivos de

assessoramento das Prefeituras Os membros do CONDEMA eram

escolhidos pelos Prefeitos Em 1983 foram criados trecircs escritoacuterios

regionais da FATMA em Joinville Chapecoacute e Joaccedilaba totalizando

quatro com o escritoacuterio de Criciuacutema criado em 1979 Apesar disso as

poliacuteticas ambientais continuaram condicionadas e limitadas pelos

interesses poliacuteticos e econocircmicos (BORINELLI 1998)

Na linha da natildeo responsabilizaccedilatildeo durante muito tempo os

empresaacuterios do segmento do carvatildeo mineral atuaram livremente na

regiatildeo Sul de Santa Catarina gerando o maior passivo ambiental do

estado Em 1983 a FATMA foi incumbida de licenciar e fiscalizar essa

atividade fazendo um acordo com as empresas que assumiram o

compromisso de instalar equipamentos e modificar processos visando a

diminuiccedilatildeo dos impactos Mesmo assim treze anos depois em 1996 o

diretor da FATMA veio a puacuteblico declarar que natildeo era possiacutevel

identificar os responsaacuteveis pelos impactos na regiatildeo e que a sociedade

pagaria o custo da recuperaccedilatildeo cerca de 70 milhotildees de doacutelares

(BORINELLI 1998)

Nos anos 1990 proliferaram denuncias de corrupccedilatildeo envolvendo

oacutergatildeos ambientais federais e estaduais em processos de licenciamento

apontando para a crise do Estado a fragilidade da democracia e dos

mecanismos de controle puacuteblico das instituiccedilotildees O aumento da procura

por licenciamento ambiental trouxe agrave FATMA uma posiccedilatildeo mais

influente entre os segmentos econocircmicos e poliacuteticos e aumentou

tambeacutem sua autonomia financeira atraveacutes dos licenciamentos

ambientais Apesar disso sua trajetoacuteria estaacute marcada por uma atuaccedilatildeo na

defesa das causas ambientais sem desestruturar o desenvolvimento

econocircmico (BORINELLI 2013 2007)

114

42 O sul catarinense uma trajetoacuteria marcada pelo carvatildeo mineral

A regiatildeo Sul Catarinense eacute formada por 46 municiacutepios agrupados

em trecircs microrregiotildees Araranguaacute8 Criciuacutema

9 e Tubaratildeo

10 Tem como

limites o Oceano Atlacircntico a Leste a mesorregiatildeo da Grande

Florianoacutepolis e Serrana no estado de Santa Catarina e a Mesorregiatildeo

Metropolitana de Porto Alegre e Nordeste Rio-Grandense no estado do

Rio Grande do Sul

Figura 7 ndash Mapa de localizaccedilatildeo da Bacia Carboniacutefera Santa

Catarina

Fonte Concepccedilatildeo de Luciana Butzke Elaborado por Ruy Lucas de

Souza

8 Municiacutepios Araranguaacute Balneaacuterio Arroio do Silva Balneaacuterio Gaivota Ermo

Jacinto Machado Maracajaacute Meleiro Morro Grande Passo de Torres Praia

Grande Santa Rosa do Sul Satildeo Joatildeo do Sul Sombrio Timbeacute do Sul e Turvo 9 Municiacutepios Balneaacuterio Rincatildeo Cocal do Sul Criciuacutema Forquilhinha Iccedilara

Lauro Muller Morro da Fumaccedila Nova Veneza Sideroacutepolis Treviso e

Urussanga 10

Municiacutepios Armazeacutem Braccedilo do Norte Capivari de Baixo Garopaba Gratildeo

Paraacute Gravatal Imaruiacute Imbituba Jaguaruna Lagura Orleans Pedras Grandes

Pescaria Brava Rio Fortuna Sangatildeo Santa Rosa de Lima Satildeo Ludgero Satildeo

Martinho Treze de Maio e Tubaratildeo

115

Os municiacutepios da regiatildeo se dividem em trecircs associaccedilotildees de

municiacutepios a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Extremo Sul Catarinense

(AMESC)11

a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera

(AMREC)12

e a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo de Laguna

(AMUREL)13

(FECAM 2014) (Figura 7) A regiatildeo possui tambeacutem

quatro Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDR) SDR de

Laguna SDR de Tubaratildeo SDR de Criciuacutema e SDR de Araranguaacute

(SANTA CATARINA 2014a)

Na aacuterea existem quatro feiccedilotildees geoloacutegicas as rochas

cristalinas e metamoacuterficas mais antigas do ldquoembasamento cristalinordquo a

sucessatildeo de rochas sedimentares gondwacircnicas que contecircm as camadas

de carvatildeo os derrames baacutesicos aacutecidos e intermediaacuterios da Formaccedilatildeo

Serra Geral e os sedimentos litoracircneos recentes (SCHEIBE 2000)

Na regiatildeo sul localizam-se duas regiotildees hidrograacuteficas

pertencentes agrave Vertente Atlacircntica a Regiatildeo Hidrograacutefica Sul

Catarinense que tem como bacias hidrograacuteficas a Bacia Hidrograacutefica do

Rio Tubaratildeo e a Bacia Hidrograacutefica do Rio drsquoUna contando com 5733

km2 e a Regiatildeo Hidrograacutefica do Extremo Sul Catarinense tendo como

bacias hidrograacuteficas a Bacia do Rio Urussanga a Bacia Hidrograacutefica do

Rio Araranguaacute e a Bacia Hidrograacutefica do Rio Mambituba contando com

5052 km2 (SANTA CATARINA 2006)

O relevo predominante eacute o forte ondulado e montanhoso com

ocorrecircncia de plano e suave ondulado na planiacutecie costeira Jaacute os solos

predominantes na Regiatildeo Hidrograacutefica Sul Catarinense satildeo os

mediamente profundos de origem graniacutetica pouco feacuterteis e aacutecidos

apresentando pedregosidade Na Regiatildeo Hidrograacutefica Extremo Sul

Catarinense predominam os solos mediamente profundos cascalhentos

11

Municiacutepios filiados Araranguaacute Balneaacuterio Arroio do Silva Balneaacuterio

Gaivota Ermo Jacinto Machado Maracajaacute Meleiro Morro Grande Passo de

Torres Praia Grande Santa Rosa do Sul Satildeo Joatildeo do Sul Sombrio Timbeacute do

Sul e Turvo 12

Municiacutepios filiados Balneaacuterio Rincatildeo Cocal do Sul Criciuacutema Forquilhinha

Iccedilara Lauro Muller Morro da Fumaccedila Nova Veneza Orleans Sideroacutepolis

Treviso e Urussanga 13

Municiacutepios filiados Armazeacutem Braccedilo do Norte Capivari de Baixo Gratildeo

Paraacute Gravatal Imaruiacute Imbituba Jaguaruna Laguna Pedras Grandes Pescaria

Brava Rio Fortuna Sangatildeo Santa Rosa de Lima Satildeo Ludgero Satildeo Martinho

Treze de Maio e Tubaratildeo

116

com baixa fertilidade de origem graniacutetica e sedimentar (SANTA

CATARINA 2006)

Na regiatildeo predomina a Floresta Tropical Atlacircntica e a Vegetaccedilatildeo

Litoracircnea contando com trecircs Unidades de Conservaccedilatildeo estaduais o

Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (criado em 1975) o Parque

Estadual da Serra Furada (1980) e a Reserva Bioloacutegica Estadual do

Aguaiacute (1983) e duas Unidades de Conservaccedilatildeo Federais o Parque

Nacional de Satildeo Joaquim (1961) e a Aacuterea de Proteccedilatildeo Integral da Baleia

Franca (2000) (SANTA CATARINA 2006)

Em 2010 a regiatildeo contava com uma populaccedilatildeo de 906927

habitantes e uma densidade populacional de 944 habkm2 Em 2009 a

movimentaccedilatildeo econocircmica segundo a composiccedilatildeo do PIB foi de R$ 147

bilhotildees que equivale a 113 do PIB estadual ocupando a quinta

posiccedilatildeo no ranking estadual entre as nove macrorregiotildees (SEBRAE

2013a)

A ocupaccedilatildeo do sul do Brasil contou com a presenccedila de grupos

caccediladores-coletores (aproximadamente 8000 anos) pescadores-

coletores (6000 e 4000 anos) ceramistas TaquaraItarareacute e Guarani e

horticultores (1000 anos) (CAMPOS et al 2013) Em 1877 chegaram

os italianos seguidos de poloneses e alematildees Os primeiros nuacutecleos

coloniais foram Azambuja (1877) Urussanga (1878) Satildeo Joseacute de

Cresciuacutema (1880) Cocal (1885) Nova Veneza (1890) Nova Belluno

(1891) dentre outros As lavras de carvatildeo surgiram em Santa Catarina

no final do seacuteculo XIX por iniciativa de uma empresa britacircnica Ateacute

entatildeo a economia da regiatildeo era agriacutecola A transformaccedilatildeo urbano-

industrial foi estimulada pelo carvatildeo que vinculava-se a ideia de

progresso Eacute marcante a presenccedila do carvatildeo nos hinos das cidades

monumentos festas de Santa Baacuterbara (Protetora dos Mineiros) houve

uma fusatildeo entre a memoacuteria da imigraccedilatildeo e a memoacuteria do carvatildeo

(CAROLA 2004 GOULARTI FILHO LIVRAMENTO 2004a)

A Primeira Guerra Mundial marcou o aumento da produccedilatildeo do

carvatildeo mineral destacando-se a Companhia Carboniacutefera de Araranguaacute

(CBCA) (1917) a Companhia Carboniacutefera Urussanga (1918) e a

Companhia Carboniacutefera Proacutespera (1921) Em 1920 Santa Catarina jaacute contava com alguns elementos importantes para um complexo

carboniacutefero minas ferrovia e porto Em 1924 com a Lei nordm 4801

abordou-se pela primeira vez a possibilidade de construccedilatildeo de uma usina

sideruacutergica no estado Isso se concretizou em 1941 no Governo Getuacutelio

117

Vargas com a fundaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica Nacional (CSN)

(KOPPE COSTA 2008 MORAES 2003)

Nos periacuteodos referentes ao Plano de Metas (1956-1960) e Plano

Nacional do Desenvolvimento (1974 a 1978) o clima estava propiacutecio

para o aumento da produccedilatildeo do carvatildeo mineral No Plano de Metas

surgiu a Sociedade Termoeleacutetrica de Capivari SA (SOLTECA)

passando depois a se chamar Complexo Termoeleacutetrico Jorge Lacerda

constituiacuteda em 1957 entrou em operaccedilatildeo em 1965 No periacuteodo do Plano

Nacional do Desenvolvimento foi construiacuteda a ICC e o Complexo Jorge

Lacerda foi ampliado (KOPPE COSTA 2008 MORAES 2003)

O primeiro boom do setor foi na ocasiatildeo da Primeira Guerra

Mundial e depois durante a Segunda Guerra Mundial com a produccedilatildeo

aumentando em 300 Com o fim da Segunda Guerra o governo

acabou com as cotas e o setor entrou em crise A reaccedilatildeo do segmento do

carvatildeo mineral foi a ldquobatalha do carvatildeordquo14

e o governo reagiu criando a

CEPCAM e retornando agraves cotas Em 1973 com a crise do petroacuteleo o

setor passou novamente por um boom O auge da mineraccedilatildeo foi entre

1982 a 1985 No periacuteodo aacuteureo do carvatildeo poucas vozes denunciavam as

peacutessimas condiccedilotildees de trabalho tudo em nome do progresso pois o

carvatildeo mineral representava a consolidaccedilatildeo da induacutestria de base no

Brasil De 1970 em diante onze empresas pertencentes a empresaacuterios

locais passaram a explorar o carvatildeo mineral (CAROLA 2004

GOULARTI FILHO 2002)

Ateacute 1990 o Sul de Santa Catarina tinha a primazia em termos de

volume de produccedilatildeo nuacutemero e mecanizaccedilatildeo de minas trabalhadores

empregados e valores econocircmicos entrando em crise a partir daiacute com

sua desregulamentaccedilatildeo no Governo Collor O que precisa ser destacado

eacute que a crise da deacutecada de 1990 natildeo foi a ldquocrise do carvatildeordquo As

induacutestrias de ceracircmica vestuaacuterio e plaacutestico localizadas no Sul tambeacutem

sofreram com a recessatildeo de 1990 a 1992 (BEacuteRZIN 2005 GOULARTI

FILHO 2002 MORAES 2003)

A deacutecada de 1990 foi marcada pelo fechamento e desestatizaccedilatildeo

das induacutestrias do complexo carboniacutefero e eliminaccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais O lavador de Capivari foi fechado em 1992 a ICC

14

A ldquobatalha do carvatildeordquo compreende a adoccedilatildeo de estrateacutegias por parte dos

segmentos econocircmicos envolvidos com o carvatildeo mineral visando pressionar e

convencer o governo federal a apoiar a continuidade da atividade (CAROLA

2010)

118

passou para o controle da Petrobraacutes em 1993 A CSN foi privatizada em

1993 e a Companhia Proacutespera propriedade da CSN foi vendida para a

Nova Proacutespera A Ferrovia Teresa Cristina foi privatizada em 1996 e o

Complexo Jorge Lacerda em 1998 (BEacuteRZIN 2005 GOULARTI

FILHO 2002 MORAES 2003)

O setor carboniacutefero foi cedendo espaccedilo para a induacutestria de

revestimento ceracircmico de plaacutesticos e descartaacuteveis do vestuaacuterio de

calccedilados e metal-mecacircnica Em 1985 a atividade do carvatildeo era a que

mais empregava na regiatildeo sul com 10536 trabalhadores Em 2000

passou para a quinta posiccedilatildeo com 2752 trabalhadores empregados

(GOULARTI FILHO 2005) Em 2010 as atividades econocircmicas que

mais se destacaram foram Induacutestria de transformaccedilatildeo com 3395

estabelecimentos e 58652 trabalhadores seguida por serviccedilos com

16971 estabelecimentos e 47956 trabalhadores em terceiro Comeacutercio

com 7062 estabelecimentos e 34467 trabalhadores construccedilatildeo civil

com 828 estabelecimentos e 6641 trabalhadores induacutestria extrativa

mineral com 78 estabelecimentos e 4083 trabalhadores As atividades

que mais empregavam vestuaacuterio minerais natildeo metaacutelicos (ceracircmica)

alimentar e plaacutestico (FIESC 2012)

Em 2012 as mineradoras empregavam em Santa Catarina 4042

trabalhadores no Paranaacute 358 e no Rio Grande do Sul 734 trabalhadores

Jaacute o faturamento para o mesmo ano foi de R$ 49231200000 (Tabela 3)

(SATC 2012)

Tabela 3 - Faturamento do Segmento do Carvatildeo Mineral 2012

Estado Total (R$)

Paranaacute 2602336257

RG Sul 29354141523

S Catarina 49231200000

Total de R$ 81187677780

Fonte SATC (2012 p 11)

Jaacute a arrecadaccedilatildeo da CFEM para o ano de 2013 ficou em R$

358664403 contando os municiacutepios de Treviso (R$ 356903710)

Lauro Muller (R$ 1570791) e Urussanga (R$ 189902) para um total de R$ 18589306884 (DNPM 2014)

Aleacutem de ocupar o primeiro lugar em faturamento e na

arrecadaccedilatildeo da CFEM Santa Catarina tambeacutem ocupa o primeiro lugar

na produccedilatildeo de carvatildeo bruto considerando os trecircs estados do Sul do

Brasil conforme dados da Tabela 4

119

Tabela 4 - Produccedilatildeo de carvatildeo bruto (ROM) de 2009 a 2012

ESTADOS PRODUCcedilAtildeO ROM (t)

2009 2010 2011 2012

Santa Catarina 8208063 6278327 6570292 6097496

Rio Grande do Sul 4585050 5010779 5153199 5134217

Paranaacute 351930 293329 344161 315131

Brasil 13145043 11582435 12067652 11546844

SCBrasil () 6244 5421 5445 5281

Ranking de SC 1ordm 1ordm 1ordm 1ordm

Fonte Fiesc (2012 p 68) SATC (2012)

O segmento do carvatildeo mineral no Sul de Santa Catarina apesar

do destaque na produccedilatildeo do carvatildeo bruto teve ao longo dos uacuteltimos

anos sua participaccedilatildeo diminuiacuteda em nuacutemero de empregos Isso

demonstra uma maior diversificaccedilatildeo econocircmica e poderia representar a

possibilidade de reconversatildeo da atividade Contudo as accedilotildees do

segmento do carvatildeo mineral e dos segmentos poliacuteticos caminham para a

continuidade e ampliaccedilatildeo da atividade e natildeo para sua reconversatildeo

Um importante passo para o questionamento da atividade

carboniacutefera foi dado em 1993 O passivo ambiental resultante da

atividade carboniacutefera foi alvo de uma accedilatildeo civil puacuteblica (processo

938000533-4) Os reacuteus da accedilatildeo foram as empresas carboniacuteferas seus

diretores e soacutecios majoritaacuterios do Estado de Santa Catarina e da Uniatildeo

totalizando 24 reacuteus (MPF 2012)

A sentenccedila foi declarada em 05012000 tendo como resultado a

condenaccedilatildeo dos reacuteus A eles foi solicitado a elaboraccedilatildeo de ldquoum projeto

de recuperaccedilatildeo da regiatildeo que compotildee a Bacia Carboniacutefera do Sul do Estadordquo contemplando ldquoas aacutereas de depoacutesitos de rejeitos aacutereas

mineradas a ceacuteu aberto e minas abandonadas bem como o

desassoreamento fixaccedilatildeo de barrancas descontaminaccedilatildeo e retificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua aleacutem de outras obras que visem amenizar os danos

sofridos principalmente pela populaccedilatildeo dos municiacutepios-sede da extraccedilatildeo e do beneficiamentordquo (MPF 2012)

Apoacutes os acordos e imposiccedilotildees judiciais os passivos ambientais

foram distribuiacutedos de acordo com a responsabilidade das empresas

(Tabela 5)

120

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de passivos ambientais em relaccedilatildeo agraves

empresas

RESPONSAacuteVEL HECTARES

CSN 1336 26

Uniatildeo 1215 24

Rio Deserto 571 11

Catarinense 522 10

Criciuacutema 457 9

Cocalit 181 4

Outras empresas 807 16

Fonte MPF (2012)

As aacutereas terrestres a recuperar totalizam 5094 hectares em 217

diferentes aacutereas da Bacia Carboniacutefera O cronograma de recuperaccedilatildeo

compreende o periacuteodo de 2012 a 2020 e um total de 3726 hectares

(Tabela 6) (MPF 2012)

Tabela 6 - Cronograma de recuperaccedilatildeo dos passivos ambientais

Ano conclusatildeo Hectares a serem

recuperadas

Acumulado da

recuperaccedilatildeo

Obras jaacute concluiacutedas e assim

consideradas apoacutes vistorias

526 526

2012 1142 1667

2013 205 1872

2014 528 2400

2015 141 2542

2016 560 3102

2017 84 3186

2018 71 3257

2019 382 3639

2020 87 3726

3726

Fonte MPF (2012)

121

Os 1365 hectares restantes natildeo dispotildeem de cronogramas

definidos e representam aacutereas cuja recuperaccedilatildeo eacute de incumbecircncia da

Uniatildeo (89 deles) (MPF 2012)

A trajetoacuteria do Sul eacute marcada pelo carvatildeo mineral mas para aleacutem

da ldquocultura do carvatildeordquo nascem possibilidades ligadas agrave diversificaccedilatildeo

econocircmica que rompem com a dependecircncia econocircmica do carvatildeo

43 Da extraccedilatildeo manual agrave mecanizaccedilatildeo das minas

A mecanizaccedilatildeo das minas comeccedilou na deacutecada de 1970 e com

ela o fim do ldquovelho mineirordquo que dominava todo o processo de

produccedilatildeo Com a mecanizaccedilatildeo iniciou-se a divisatildeo teacutecnica do trabalho e

aumentou a poluiccedilatildeo Na extraccedilatildeo manual do carvatildeo a pneumoconiose

afetava 5 a 8 passando a 10 a 12 com a mecanizaccedilatildeo das minas

Somadas a pneumoconiose bronquites crocircnicas doenccedilas de pele e

ansiedade (CHOINACKI 1992) A tecnologia dessa forma foi ldquo()

implantada na induacutestria natildeo como serva dos trabalhadores mas como

instrumento que tecircm como fim a acumulaccedilatildeo de capitalrdquo (VOLPATO

1984 p 43)

Volpato (2001) destaca trecircs momentos distintos um primeiro

momento que compreende o periacuteodo de 1913 a 1976 no qual a extraccedilatildeo

de carvatildeo era artesanal sem agregar maiores recursos tecnoloacutegicos um

segundo periacuteodo de 1976 a 1981 no qual procurou-se agregar recursos

tecnoloacutegicos para aumentar a produccedilatildeo e um terceiro periacuteodo de 1981 a

1988 no qual verificaram-se os malefiacutecios da tecnologia para o meio

ambiente sauacutede e seguranccedila do trabalhador ldquoAos poucos os operadores

foram sentindo alguns efeitos prejudiciais das novas maacutequinas - A

desagregaccedilatildeo das praacuteticas nas frentes de trabalho pela agilidade e

domiacutenio da maacutequina sobre o processordquo (VOLPATO 2001 p 34)

A mecanizaccedilatildeo por um lado facilitou as praacuteticas de trabalho

poupando a forccedila fiacutesica do mineiro mas por outro com a intensificaccedilatildeo do processo aumentaram os impactos na sauacutede do trabalhador e no meio

ambiente A pneumoconiose natildeo era reconhecida como doenccedila

profissional o que fazia com que os mineiros escondessem os sintomas

e prejudicassem ainda mais sua sauacutede (VOLPATO 2001) Aleacutem das

doenccedilas pulmonares acontecem tambeacutem acidentes de trabalho Em

122

outubro de 2013 os mineiros fizeram uma paralisaccedilatildeo apoacutes a morte de

um colega na mina Fontanella em Treviso Foi o segundo acidente com

morte em menos de trecircs meses e o nono nos uacuteltimos cinco anos (G1SC

2013)

44 Regras em uso

Em grande medida as leis estaduais se articulam agraves leis federais

Nessa seccedilatildeo satildeo apresentados alguns casos em que a lei estadual difere

da lei federal Um primeiro exemplo eacute o Projeto de Lei nordm 026632005

de autoria do Deputado Estadual Julio Garcia que entrou em tramitaccedilatildeo

em 2005 O Projeto defendia a dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental e Relatoacuterio de Impacto Ambiental para a atividade de

pequeno porte de extraccedilatildeo de carvatildeo mineral em aacutereas de ateacute dois

hectares e meio Para tanto contava com a seguinte fundamentaccedilatildeo

O art 12 sectsect 1ordm a 3ordm da Resoluccedilatildeo CONAMA n

237 de 19 de dezembro 1997 permite que o

oacutergatildeo ambiental competente no caso a FATMA

se necessaacuterio estabeleccedila procedimentos

especiacuteficos e simplificados para o licenciamento

de atividades cujas caracteriacutesticas e peculiaridades

importem em pequeno potencial de impacto

ambiental ou ainda o licenciamento uacutenico e

simplificado para atividades integrantes de planos

e programas voluntaacuterios de gestatildeo ambiental

(SANTA CATARINA 2005 p 2)

Como os impactos do carvatildeo foram considerados de ldquopequeno

potencialrdquo pelos membros da Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina

(ALESC) o Projeto de Lei foi transformado na Lei nordm 18052 de 26 de

janeiro de 2007 (SANTA CATARINA 2007)

Outro exemplo foi a assinatura do Decreto em 2013 que reduziu

o Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadoria (ICMS) de 25 para 3 na

venda de energia eleacutetrica para novos empreendimentos beneficiando

principalmente as termeleacutetricas a carvatildeo O Decreto tem como objetivo favorecer a competitividade do carvatildeo mineral catarinense nos proacuteximos

leilotildees de energia eleacutetrica A-5 (ALESC 2013)

Um uacuteltimo exemplo eacute o Coacutedigo Estadual do Meio Ambiente de

Santa Catarina que continua cercado de muitos pontos polecircmicos

123

(SALVADOR 2009 SANTOS 2014) No Coacutedigo aprovado em 2009 o

Governador em exerciacutecio Luiz Henrique da Silveira fez severas criacuteticas

ao Coacutedigo Ambiental Brasileiro que resulta de uma medida provisoacuteria

que ele chamou de ldquofilha bastarda dos Decretos-Lei da Ditadurardquo

(SILVEIRA 2009 p 9) concebido sem amplitude democraacutetica

Segundo ele o Coacutedigo Ambiental Catarinense levou cinco anos para ser

elaborado e envolveu debates e audiecircncias puacuteblicas

Nosso Coacutedigo foi alvo de poucas mas barulhentas

reaccedilotildees e incompreensotildees contraacuterias ao

desenvolvimento sustentaacutevel Houve quem

ameaccedilasse mandar prender os honestos e

indefesos agricultores que lavrassem suas terras a

menos de trinta metros da mata ciliar

(SILVEIRA 2009 p 9)

A alusatildeo aos agricultores se justifica na medida em que um dos

pontos mais polecircmicos do Coacutedigo eacute a reduccedilatildeo da mata ciliar de 30

metros como prevecirc o Coacutedigo Florestal para 5 metros em propriedades

de menos de cinco hectares

O Coacutedigo natildeo trata de forma especiacutefica o carvatildeo mineral mas

traz novidades em relaccedilatildeo a flexibilizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo do processo

de licenciamento A Seccedilatildeo II do Coacutedigo estabelece prazos para a

concessatildeo das licenccedilas trecircs meses para a LAP e nos casos em que

houver EIARIMA e audiecircncia puacuteblica o prazo seraacute de quatro meses

trecircs meses para a LI e dois meses para a LO Quanto aos prazos de

validade das licenccedilas cinco anos para a LP seis anos para a LI e de

quatro a dez anos para a LAO (SANTA CATARINA 2009b)

Em 2013 entrou em tramitaccedilatildeo o Projeto de Lei 030542013 que

trouxe mudanccedilas ao Coacutedigo Ambiental de Santa Catarina (SANTA

CATARINA 2013) O Projeto foi transformado na Lei nordm 16342 de 21

de janeiro de 2014 A principal mudanccedila eacute a possibilidade de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em aacuterea rural e urbana de edificaccedilotildees atividades

e demais formas de ocupaccedilatildeo em Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente

desde que aprovadas pelo Municiacutepio (SANTA CATARINA 2014b) Conveacutem ressaltar que a revisatildeo do Coacutedigo Ambiental de SC e a defesa

do carvatildeo mineral na produccedilatildeo termeleacutetrica foram as duas principais

bandeiras da Assembleia Legislativa de Santa Catarina em 2013

124

45 Envolvidos na gestatildeo

Na sequecircncia faz-se uma breve descriccedilatildeo dos envolvidos na

gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina lembrando que aparecem

aqui os envolvidos que constam nos documentos e publicaccedilotildees

consultadas

451 Segmentos poliacuteticos

O governador em exerciacutecio Raimundo Colombo investiu em sua

campanha de 2010 R$ 323669211 Natildeo houve nenhuma doaccedilatildeo de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral diretamente ao candidato Mas o

Comitecirc Financeiro Uacutenico do Democratas (DEM) que tambeacutem repassou

recursos ao candidato recebeu R$ 6000000 da Carboniacutefera Nossa

Senhora do Caravagio Ltda (TSE 2013) Jaacute os representantes eleitos se

dividem na Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina (Deputados

Estaduais) e nas Cacircmaras Municipais (Vereadores) As relaccedilotildees entre

carvatildeo mineral e poliacutetica seratildeo aprofundadas no proacuteximo capiacutetulo

A FATMA tambeacutem faz parte dos segmentos poliacuteticos Aleacutem do

seu papel descrito na seccedilatildeo 41 um outro ponto merece ser destacado

De 2000 ateacute 2014 periacuteodo que compreende o licenciamento da

USITESC passaram pela FATMA na funccedilatildeo de presidente Suzana

Maria Cordeiro Trebien Seacutergio Joseacute Grando Jacircnio Wagner Constante

Carlos L Kreuz Murilo Xavier Flores e Gean Loureiro Desses Seacutergio

Joseacute Grando recebeu na eleiccedilatildeo de 2006 quando concorreu a Deputado

Estadual R$ 200000 da Sul Catarinense Mineraccedilatildeo e R$ 3000000 da

Tractebel e Jean Marques Loureiro recebeu R$ 10000000 da

Tractebel quando concorreu a prefeito do municiacutepio de Florianoacutepolis

(TSE 2013)

Inclui-se tambeacutem nos segmentos poliacuteticos o Ministeacuterio Puacuteblico

Estadual que atua em parceria com o Ministeacuterio Puacuteblico Federal no

acompanhamento da accedilatildeo civil puacuteblica do carvatildeo (MPF 2012) e no

acompanhamento dos processos de licenciamento

452 Segmentos econocircmicos

Os segmentos econocircmicos se organizam no Sindicato da Induacutestria

da Extraccedilatildeo de Carvatildeo do Estado de Santa Catarina (SIESESC) criado

125

em 1989 em Criciuacutema e na Associaccedilatildeo Beneficente da Induacutestria

Carboniacutefera de Santa Catarina (SATC)15

As principais empresas que atuam no segmento tecircm origem na

proacutepria regiatildeo A Carboniacutefera Metropolitana SA iniciou suas atividades

em 1890 em Nova Veneza A empresa tem sede em Criciuacutema eacute

detentora das maiores reservas de carvatildeo mineral do paiacutes e explora trecircs

minas no municiacutepio de Treviso Outra empresa que atua na regiatildeo haacute

mais de noventa anos criada em 1918 eacute a Carboniacutefera Rio Deserto

Ltda administrada pela famiacutelia Zanette hoje na terceira geraccedilatildeo A

Carboniacutefera conta com minas nos municiacutepios de Lauro Muller Treviso

Criciuacutema e Iccedilara A Carboniacutefera Criciuacutema SA tecircm origem na fusatildeo da

Carboniacutefera Caeteacute Ltda e Carboniacutefera Cocal Ltda em 1943 Com sede

em Criciuacutema a carboniacutefera explora o carvatildeo no municiacutepio de

Forquilhinha A Comin amp Cia atua no rebeneficiamento de rejeitos

antigos Suas atividades iniciaram em 1984 e sua unidade de

beneficiamento localiza-se em Criciuacutema Na deacutecada de 1980 foi criada

tambeacutem a Cooperminas a partir da falecircncia da CBCA A Cooperminas eacute

uma cooperativa de trabalhadores da mineraccedilatildeo que explora o carvatildeo em

Forquilhinha A Carboniacutefera Belluno Ltda iniciou suas atividades em

1991 tem sede em Sideroacutepolis e aleacutem de trabalhar na extraccedilatildeo e

beneficiamento do Carvatildeo atua tambeacutem no transporte e na

comunicaccedilatildeo A empresa eacute administrada pelo Grupo Salvaro e conta

com reservas de 140 milhotildees de toneladas de carvatildeo mineral e minas em

Treviso e Sideroacutepolis Em 1999 a Carboniacutefera Catarinense Ltda passou

a explorar e beneficiar o carvatildeo em duas minas localizadas em Lauro

Muller A Carboniacutefera Sideroacutepolis Ltda opera a Usina de

Beneficiamento Lageado no municiacutepio de Urussanga A Companhia

Energeacutetica Meridional pertence agrave Tractebel Energia SA e tem sede em

Florianoacutepolis A Gabriella Mineraccedilatildeo foi fundada em 2004 a partir da

dissoluccedilatildeo da empresa Coque Catarinense Ltda (COCALIT) A

Minageo atua desde 1986 em sondagens e obras subterracircneas entrando

para a extraccedilatildeo do carvatildeo em 1997 Em 2000 assinou um contrato de

fornecimento de carvatildeo para a Tractebel Energia neste ano mudando

seu nome para Mineraccedilatildeo Santa Augusta em (SIESESC 2008)

15

A SATC foi criada em 1959 como Sociedade de Assistecircncia aos

Trabalhadores do Carvatildeo e tinha como objetivo a preparaccedilatildeo de matildeo-de-obra

qualificada e assistecircncia social As carboniacuteferas contribuem com 1 de seu

faturamento para a manutenccedilatildeo da instituiccedilatildeo (SATC 2014)

126

453 Segmentos sociais

O movimento mineiro teve iniacutecio em 1920 com uma greve na

CBCA Em 1944 surgiu em Criciuacutema a Associaccedilatildeo dos Trabalhadores

na Induacutestria Extrativa do Carvatildeo Em 1945 a associaccedilatildeo passou a ser

sindicato Nos anos 1950 foram fundados sindicatos mineiros em Lauro

Muller (1951) TubaratildeoCapivari (1953) Urussanga (1957) e Rio Maina

(1961) A primeira greve apoacutes o surgimento dos sindicatos aconteceu

em 1958 seguida de outras em 1959 1960 1961 e 1963 (GOULARTI

FILHO LIVRAMENTO 2004b)

Aleacutem das muitas greves um dos maiores feitos do movimento

sindical mineiro foi a ocupaccedilatildeo da CSN e o gerenciamento da massa

falida da CBCA e da Mineraccedilatildeo Barro Branco De 1945 a 1957 os

mineiros natildeo encontraram no sindicato um espaccedilo de luta De 1957 a

1964 formou-se um sindicalismo baseado na luta e na resistecircncia O

sindicato denunciou as condiccedilotildees precaacuterias de trabalho a exploraccedilatildeo

sofrida pela categoria e a falta de seguranccedila nas minas Passando por

momentos difiacuteceis durante a ditadura militar de 1964 a 1978 o

sindicalismo passou por uma letargia vindo a se reorganizar em 1988

apoiando quatro greves da CBCA e da Proacutespera (CHOINACKI 1992

VOLPATO 2001)

Os mineiros apoiam a causa do carvatildeo mineral e as mineradoras

se o assunto for a questatildeo ambiental A categoria natildeo se envolve em

movimentos ambientais

A negaccedilatildeo ou o silecircncio e a passividade dos

mineiros em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo ambiental

resultante da induacutestria carboniacutefera eacute a expressatildeo

de um mecanismo de defesa reforccedilando a

seguranccedila dos trabalhadores na manutenccedilatildeo do

emprego e da sobrevivecircncia como objetivo mais

imediato e realista (VOLPATO 2001 p 132)

Essas ideias aleacutem de serem defendidas pelos mineiros satildeo

apoiadas por poliacuteticos ligados ao movimento sindical e agrave luta histoacuterica dos trabalhadores Destacam-se Luci Choinacki Joseacute Paulo Serafim e

Milton Mendes de Oliveira que adotam um discurso de apoio ao carvatildeo

mineral em funccedilatildeo de sua importacircncia social (CHOINACKI 1992)

127

A regiatildeo sul de Santa Catarina contou com vaacuterios movimentos

sociais que atuaram e atuam contra a mineraccedilatildeo ao longo da sua

histoacuteria Em 1986 em Sideroacutepolis surgiu o Movimento Ecoloacutegico de

Sideroacutepolis (MES) que atuou ateacute 1989 Tambeacutem em 1986 em Tubaratildeo

surgiu o Movimento Ecoloacutegico Tubaronense (MOVET) que atuou ateacute

1996 Havia um grande envolvimento da igreja catoacutelica que se

consolidou atraveacutes da criaccedilatildeo da Pastoral da Ecologia ligada agrave Diocese

de Tubaratildeo O objetivo da Pastoral da Ecologia era ldquodespertar uma

consciecircncia ecoloacutegica no homem do sul de Santa Catarina destacando a

importacircncia da preservaccedilatildeo da natureza dom de Deus para todos para

que possa atuar comunitariamente na recuperaccedilatildeo do meio ambienterdquo

(Diocese de Tubaratildeo citada por SANTOS 2008 p 81-2) A Pastoral da

Ecologia organizou romarias ecoloacutegicas a primeira aconteceu em

Criciuacutema em 1986 com o tema ldquoNatureza a ganacircncia te destruiu Noacutes te

reconstruiremosrdquo a segunda em Sideroacutepolis em 1988 com o tema ldquoPela

vida pela paz Contra a induacutestria da morterdquo e a terceira em Tubaratildeo em

1991 com o tema ldquoA Matildee Natureza pede socorro O povo exige a

recuperaccedilatildeo da vida na regiatildeo sulrdquo

Uma iniciativa mais recente de mobilizaccedilatildeo e discussatildeo

aconteceu apoacutes o Furacatildeo Catarina em 2004 Exatamente um ano

depois em 2005 aconteceu o 1ordm Encontro da Regiatildeo Sul sobre fenocircmenos naturais adversidades e mudanccedilas climaacuteticas suas causas

efeitos e necessidades de adaptaccedilatildeo que deu origem ao Manifesto por

Justiccedila Climaacutetica O 2ordm Encontro sobre fenocircmenos naturais adversidades e mudanccedilas climaacuteticas da regiatildeo Sul foi realizado em 6 a

8 de outubro de 2009 A realizaccedilatildeo dos dois eventos coube agrave Cacircmara

Temaacutetica do Meio Ambiente do Foacuterum de Desenvolvimento do Extremo

Sul Catarinense (FDESC) sob a Coordenaccedilatildeo da ONG Soacutecios da

Natureza da AMESC do Nuacutecleo Amigos da TerraBrasil Secretaria de

Desenvolvimento Regional (22ordf SDR) da Prefeitura Municipal de

Araranguaacute (PMA) e do Comitecirc de Gerenciamento da Bacia Hidrograacutefica

do Rio Araranguaacute (CGBHRA) Os eventos tambeacutem receberam apoio das

seguintes organizaccedilotildees e coletivos Assembleia Legislativa do Estado de

Santa Catarina (ALESC) Centro de Apoio Socioambiental (CASA)

Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA) Amigos da Terra

Internacional Defesa Civil de Santa Catarina Movimento Proacute-

Araranguaacute (MPA) Instituto da Cidadania de Araranguaacute (ICA) Proacute-

Comitecirc da Bacia do Mampituba e Federaccedilatildeo de Entidades Ecologistas

Catarinenses (FEEC) (SOacuteCIOS DA NATUREZA 2009 2005) Os dois

encontros demonstram o interesse e a organizaccedilatildeo socioinstitucional da

128

aacuterea afetada em torno da discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas

relacionada ao mesmo tempo com problemas jaacute existentes no territoacuterio

O Manifesto por justiccedila climaacutetica elaborado em 2005 eacute um ponto de

partida para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas e justiccedila ambiental

em Santa Catarina Trata-se de uma discussatildeo local que se conecta com

o global sobre um problema atual que se conecta com problemas jaacute

existentes na regiatildeo (MALUF ROSA 2009)

Outra iniciativa importante eacute a dos Foacuteruns Sul Ambiental que

tecircm como objetivo fortalecer um espaccedilo democraacutetico juntando pessoas

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees populares na discussatildeo sobre os problemas

socioambientais do Sul Destaca-se aiacute a participaccedilatildeo de professores e

professoras da UNESC e UFSC aleacutem de convidados e convidadas de

outras universidades sediadas em outros estados brasileiros (SANTOS

2008)

A regiatildeo tambeacutem eacute palco de conflitos Dois casos emblemaacuteticos

envolvendo a resistecircncia dos agricultores aconteceram em 1996 em

Criciuacutema na localidade chamada Morro do Estevatildeo e Albino e em

2003 em Iccedilara na localidade de Santa Cruz e Esperanccedila Neste segundo

conflito havia 300 famiacutelias envolvidas aproximadamente mil pessoas

Essas pessoas sobreviviam da agricultura habitavam o local haacute mais de

cem anos e o tamanho de suas propriedades era na meacutedia de vinte

hectares O conflito era de natureza econocircmica (mineraccedilatildeo versus

agricultura) social (envolvimento e mobilizaccedilatildeo social regional) e

ambiental (degradaccedilatildeo) (NASCIMENTO BURSZTYN 2010 p 79)

Nesses conflitos e nas discussotildees regionais destacam-se

- A ONG Soacutecios da Natureza que surgiu em 1980 em

Araranguaacute e se institucionalizou em 1996 tendo uma atuaccedilatildeo regional

(SANTOS 2008)

A ONG trabalha no sentido de buscar em suas

vaacuterias fontes de accedilatildeo a preservaccedilatildeo da natureza e

uma melhor qualidade de vida para a regiatildeo sul de

Santa Catarina o que assinala sua performance de

conotaccedilatildeo socioambiental No entanto por estar

do mesmo modo voltada a accedilotildees que

constantemente envolvem o papel do Estado

tambeacutem pode ser caracterizada por suas

suposiccedilotildees poliacuteticas contra o poder estabelecido

(SANTOS 2008 p 124)

129

- A FEEC que surgiu em 1989 tendo como objetivo unificar e

fortalecer a luta ecoloacutegica catarinense (SANTOS 2008)

- A atuaccedilatildeo de pesquisadores da UNESC e UFSC bem como

pesquisadores sediados em outras universidades do Brasil

- O Grupo de Pesquisa ldquoMemoacuteria e Cultura do Carvatildeo em Santa

Catarinardquo que foi formado em 2000 e inscrito no CNPq em 2002 Ele

reuacutene professores e alunos da UNESC Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (UFRGS) e CETEM do Rio de Janeiro que estudam

temas relacionados agraves atividades carboniacuteferas O objetivo principal do

Grupo eacute discutir criticamente a cultura a histoacuteria e a economia do

carvatildeo

Ainda nos segmentos sociais incluem-se

- O IPAT vinculado agrave UNESC responsaacutevel pela confecccedilatildeo de

EIARIMA para muitas mineradoras da regiatildeo

- Os meios de comunicaccedilatildeo locais e regionais que natildeo publicam

informaccedilotildees que prejudiquem o segmento carboniacutefero jaacute que muitos satildeo

de propriedade de mineradores e outros recebem valores na forma

patrociacutenio (SANTOS 2008)

46 Situaccedilatildeo atual e desafios

As poucas mudanccedilas ocorridas ateacute o momento satildeo

frutos da pressatildeo exercida pelo movimento

ambiental como um todo na qual seus integrantes

protagonizam um conflito que revela o quanto a

voz do lsquoinimigorsquo fala mais alto (SANTOS 2008

p 160)

A intenccedilatildeo do capiacutetulo foi tratar da gestatildeo de recursos comuns em

Santa Catarina com ecircnfase no carvatildeo mineral O resgate agrave trajetoacuteria do

desenvolvimento catarinense mostra uma ecircnfase na apropriaccedilatildeo privada

dos recursos comuns subordinada ao crescimento econocircmico A

preocupaccedilatildeo ambiental por muito tempo foi considerada marginal

curiosamente ateacute mesmo pelo oacutergatildeo ambiental estadual que incentivou

a expansatildeo da atividade carboniacutefera Essa condiccedilatildeo marginal tambeacutem se

mostra nas regras em uso O Coacutedigo Ambiental de Santa Catarina eacute um

exemplo disso Vaacuterios pontos flexibilizaram a lei ambiental federal para

beneficiar os segmentos econocircmicos

130

O Sul de Santa Catarina tem disponibilidade de carvatildeo mineral e

ao longo de sua trajetoacuteria de desenvolvimento o vem explorando a

despeito dos impactos socioambientais causados pela atividade Nas

uacuteltimas deacutecadas a centralidade desta vem cedendo lugar a outra

atividades econocircmicas Todavia o viacutenculo cultural eacute muito forte Mas

tambeacutem satildeo fortes as vozes contraacuterias agrave exploraccedilatildeo do carvatildeo Os

segmentos sociais se organizam regionalmente e satildeo responsaacuteveis por

movimentos eventos e por uma articulaccedilatildeo em rede com organizaccedilotildees

sediadas em outros estados do Brasil

No Quadro 7 eacute feita uma siacutentese dos principais pontos abordados

ao longo do capiacutetulo que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

energia termeleacutetrica

Quadro 7 ndash Aspectos que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral Santa

Catarina

MACRO

VARIAacuteVEIS

ASPECTOS QUE

FAVORECEM A

AMPLIACcedilAtildeO

ASPECTOS QUE

QUESTIONAM A

AMPLIACcedilAtildeO

Dinacircmicas de

desenvolvimento

- Fragilidade institucional da

FATMA

- Dependecircncia da matriz

energeacutetica catarinense ndash 35

da energia eleacutetrica

consumida no estado vem do

carvatildeo mineral

- Possibilidade de

conexatildeo do carvatildeo

com discussotildees mais

amplas

Atributos fiacutesicos e

tecnoloacutegicos

- Cultura do carvatildeo no Sul

de Santa Catarina

- Disponibilidade do recurso

- Bom faturamento do

segmento do carvatildeo mineral

- Aumento da produccedilatildeo com

a mecanizaccedilatildeo do processo

de trabalho

- Recuperaccedilatildeo do passivo

ambiental como ponto

positivo para a continuidade

da exploraccedilatildeo do recurso

- Aumento da

produccedilatildeo associado a

degradaccedilatildeo

socioambiental

- Diversificaccedilatildeo

econocircmica da regiatildeo

Sul de Santa

Catarina

Regras em uso - Coacutedigo Estadual do Meio

Ambiente estabelece prazos

para as licenccedilas ambientais

131

- Dispensa do EIARIMA

para a atividade de extraccedilatildeo

do carvatildeo mineral de

pequeno porte

- Reduccedilatildeo do ICMS de 25

para 3

Arena de accedilatildeo

(Caracterizaccedilatildeo dos

envolvidos na gestatildeo)

- Parceria de parte dos

segmentos poliacuteticos com os

segmentos econocircmicos

- Parte dos segmentos

sociais os trabalhadores

costumam apoiar a causa do

carvatildeo

- A UNESC que tambeacutem faz

parte dos segmentos sociais

elaborou o EIARIMA

- Miacutedia (segmentos sociais)

natildeo divulga notiacutecias que

prejudiquem o segmento

carboniacutefero

- Parte dos segmentos

sociais ocupam

espaccedilos de

participaccedilatildeo

instituiacutedos

- Existecircncia de

movimentos sociais

regionais

- Parcerias com

ONGs e

Universidades

- Observatoacuterio do

Carvatildeo

- Foacuteruns de

discussatildeo

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na macro variaacutevel arena de accedilatildeo a variaacutevel da democracia

apresenta limites relacionados ao apoio dos segmentos poliacuteticos

(Governo Estadual e FATMA) e de parte dos segmentos sociais

(Movimento Sindical IPATUNESC e miacutedia) agrave causa do carvatildeo

mineral Nas possibilidades destacam-se a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico a organizaccedilatildeo dos segmentos sociais nas redes que unem

ONGs academia e afetadosatingidosameaccedilados e as publicaccedilotildees

(Quadro 8)

132

Quadro 8 ndash Limites e possibilidades do sistema democraacutetico em

Santa Catarina VARIAacuteVEL LIMITES POSSIBILIDADES

Fortalecimento

do sistema

democraacutetico

- Parte dos segmentos

poliacuteticos (Governo

estadual e FATMA)

apoiam a atividade

- Parte dos segmentos

sociais (Movimento

sindical e o

IPATUNESC) apoiam a

causa do carvatildeo mineral

- Miacutedia apoia o segmento

carboniacutefero

- Atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico

- Organizaccedilatildeo de parte dos

segmentos sociais

- Redes unindo ONGs

academia e

afetadosatingidosameaccedilados

- Publicaccedilotildees

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar do forte viacutenculo entre parte dos segmentos poliacuteticos

segmentos econocircmicos e parte dos segmentos sociais em defesa do

carvatildeo mineral outra parte dos segmentos sociais demonstra

aprendizado social adaptativo ao coordenar suas accedilotildees no niacutevel regional

Em uma regiatildeo na qual a atividade estaacute tatildeo arraigada e muitos

municiacutepios e pessoas dependem dela para o seu sustento a mobilizaccedilatildeo

regional eacute uma forma criativa e articulada de enfrentar um problema que

eacute histoacuterico e que se perpetua nas relaccedilotildees poliacuteticas existentes Estas

seratildeo tratadas nos capiacutetulos cinco e seis tanto na democracia

representativa (via eleiccedilotildees) quanto na democracia participativa

(audiecircncias puacuteblicas no processo de licenciamento) para elucidar ainda

mais os limites e as margens de manobra colocadas nos capiacutetulos trecircs e

quatro fundamentais no delineamento de alternativas ao carvatildeo mineral

5 CARVAtildeO MINERAL E POLIacuteTICA EM SANTA CATARINA

ELEICcedilOtildeES E FINANCIAMENTO PRIVADO

Como montanhas de rejeitos soacutelidos compostos de

pirita e enxofre permanece a mesma poliacutetica do

passado patrimonial (TEIXEIRA 1996 p 95)

A histoacuteria do Sul de Santa Catarina estaacute intimamente ligada ao

carvatildeo mineral Dos tempos aacuteureos entre as deacutecadas de 1930 e 1980 agrave

crise dos anos 1990 e do seu ressurgimento no Governo Fernando

Henrique Cardoso com o anuacutencio da construccedilatildeo de novas termeleacutetricas

movidas a carvatildeo mineral Agora em 2013 no Governo Dilma o carvatildeo

nos leilotildees de energia em 2013 As decisotildees nacionais que ora

incentivam o carvatildeo mineral ora dificultam sua exploraccedilatildeo e uso

impactam sensivelmente as regiotildees que tecircm em seu subsolo esse

recurso natural natildeo renovaacutevel Cabe a essas regiotildees se adaptar

preferencialmente influenciando esses contextos mais amplos

No livro Os donos da cidade Joseacute Paulo Teixeira (1996 p 16)

afirma que o complexo carboniacutefero do Sul de Santa Catarina ldquofoi

constituiacutedo a partir de uma ligaccedilatildeo poliacutetico-estrutural entre a esfera

puacuteblica e privadardquo Tendo essa ideia como referecircncia o objetivo do

capiacutetulo eacute identificar relaccedilotildees entre a poliacutetica catarinense e as empresas

que exploram e utilizam o carvatildeo mineral

Para aleacutem dos discursos sobre desenvolvimento econocircmico

seguranccedila energeacutetica e tecnologias natildeo poluentes a hipoacutetese de que se

parte eacute que existe uma reciprocidade entre os interesses dos poliacuteticos ao

receberem doaccedilotildees para suas campanhas eleitorais e os interesses dos

doadores ligados ao carvatildeo mineral Nesse sentido as injusticcedilas

ecoloacutegicas se referem natildeo apenas agrave distribuiccedilatildeo de riscos ambientais

delimitados localmente Elas satildeo condicionadas tambeacutem poliacuteticas e

praacuteticas cujas consequecircncias atravessam fronteiras instituiacutedas e afetam

muacuteltiplas escalas Como jaacute foi ressaltado anteriormente o conceito de

injusticcedila ecoloacutegica designa um sintoma de um processo que envolve a

distribuiccedilatildeo o reconhecimento e a representaccedilatildeo poliacutetica e determina a

distribuiccedilatildeo desigual dos riscos e danos ambientais (HOLIFIELD et al

2009 SCHLOSBERG 2009 e 2004)

Para tanto foram analisados os pronunciamentos da Frente

Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral e as prestaccedilotildees de

contas das eleiccedilotildees de 2002 2004 2006 2008 2010 e 2012 As eleiccedilotildees

de 2004 2008 e 2012 foram eleiccedilotildees municipais e as eleiccedilotildees de 2002

134

2006 e 2010 foram gerais O recorte temporal utilizado se deve a duas

razotildees principais acompanhar as doaccedilotildees durante o periacuteodo em que se

deu o processo de licenciamento da USITESC e o acesso agraves prestaccedilotildees

de contas que teve iniacutecio na eleiccedilatildeo de 2002

O capiacutetulo eacute dividido em trecircs seccedilotildees principais aleacutem dessa

introduccedilatildeo A primeira seccedilatildeo trata dos argumentos presentes nos

discursos poliacuteticos A segunda apresenta os dados sobre doaccedilotildees de

empresas nas eleiccedilotildees gerais e municipais A terceira e uacuteltima seccedilatildeo traz

uma siacutentese dos fatos ausentes dos discursos Os dados apresentados

sugerem um apoio muacutetuo entre os interesses poliacuteticos e privados Os

candidatos de Santa Catarina que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral em suas campanhas satildeo os mesmos que

apoiam a causa do carvatildeo mineral Nesse caso o apoio envolve a

construccedilatildeo de mais uma termeleacutetrica a USITESC a inclusatildeo do carvatildeo

mineral nos leilotildees de 2013 e a reduccedilatildeo de Imposto sobre o ICMS de

25 para 3 na venda de energia eleacutetrica visando melhorar a

competitividade do carvatildeo mineral de Santa Catarina frente a outros

recursos energeacuteticos

51 Os argumentos presentes no discurso dos poliacuteticos

A Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral foi

constituiacuteda no Congresso Nacional em 2005 tendo como principal

objetivo a expansatildeo do uso do carvatildeo mineral na matriz energeacutetica

nacional Datam desse ano quatro pronunciamentos na Cacircmara dos

Deputados Afonso Hamm (Partido Progressista - PPRS) no dia 19 de

outubro Leodegar Tiscoski (PPSC) no dia 2 de novembro Marcus

Vicente (Partido Trabalhista Brasileiro - PTBES) no dia 9 de

novembro e Edinho Bez (PMDBSC) no dia 18 de novembro

As frentes satildeo constituiacutedas por parlamentares que de forma

suprapartidaacuteria se reuacutenem para tratar de uma questatildeo especiacutefica O que

estaacute em jogo eacute a defesa de interesses econocircmicos ou empresariais

corporativos setoriais ou profissionais regionais e ideoloacutegicos dentre

outros No periacuteodo de 2003 a 2007 havia 148 frentes no parlamento

brasileiro (CORADINI 2010)

Em 19 de outubro de 2005 Afonso Hamm (PPRS) em seu

pronunciamento na Cacircmara dos Deputados reforccedilou a importacircncia do

setor para a seguranccedila energeacutetica e para a geraccedilatildeo de empregos em

Santa Catarina e no Rio Grande do Sul Natildeo houve qualquer menccedilatildeo agrave

135

questatildeo socioambiental exceto para falar do carvatildeo mineral como

ldquoreserva de energiardquo O carvatildeo foi colocado como ldquotema de grande

relevacircnciardquo ressaltando-se a importacircncia de buscar a ldquocompetitividade

do setorrdquo atraveacutes de novos projetos para gerar ldquoem torno de 10 mil

empregos na regiatildeo atualmente deprimida econocircmica e socialmenterdquo

(HAMM 2005 p 50549) Os argumentos em defesa do carvatildeo mineral

enaltecem a seguranccedila e a auto-suficiecircncia energeacutetica do Sul e do Brasil

juntamente com outros argumentos de cunho econocircmico

Por sua vez o pronunciamento de Leodegard Tiscoski traz um

histoacuterico do carvatildeo mineral desafios e medidas reinvindicadas pela

Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral Sobre a

questatildeo ambiental a uacutenica menccedilatildeo aparece no seguinte trecho

Principal insumo energeacutetico no iniacutecio do seacuteculo

XX o carvatildeo foi gradualmente perdendo

importacircncia ateacute transformar-se no patinho feio das

nossas fontes energeacuteticas natildeo soacute pelas suas

deficiecircncias naturais mas principalmente pelos

danos ambientais causados pela sua exploraccedilatildeo

(TISCOSKI 2005 p 52894)

Os problemas enfrentados pelo carvatildeo mineral satildeo imputados ao

governo federal como sugere o trecho a seguir ldquoA histoacuteria do carvatildeo

em Santa Catarina eacute uma sucessatildeo de altos e baixos determinados

sempre pela vontade do Governo Federal independentemente de que tal

vontade fosse beneacutefica ou maleacutefica aos interesses estaduaisrdquo

(TISCOSKI 2005 p 52895) Ao Governo Federal eacute atribuiacuteda tambeacutem a

responsabilidade pela estabilidade de empregos retorno de

investimentos e recuperaccedilatildeo do ambiente natural ldquoRelegado agrave proacutepria

sorte o carvatildeo em Santa Catarina passou a conviver com a incerteza do

emprego e mais que tudo com a anguacutestia da perda de renda de milhares

e milhares de famiacutelias da regiatildeo sul de Santa Catarinardquo (TISCOSKI

2005 p 52895)

Somados aos argumentos sobre a importacircncia econocircmica

ressalta-se o carvatildeo mineral como alternativa ao petroacuteleo e agrave

hidroeletricidade A Frente Parlamentar reivindica a isonomia das regras do leilatildeo de energia nova regulamentaccedilatildeo do artigo 13 da Lei nordm

10438 retomada das pesquisas geoloacutegicas e implementaccedilatildeo de projetos

de pesquisa visando um melhor aproveitamento do carvatildeo ldquoO carvatildeo

136

mineral do Brasil natildeo pode ser objeto de atenccedilatildeo por parte do Governo

Federal apenas nos momentos de criserdquo (TISCOSKI 2005 p 52896)

Em seu pronunciamento Marcus Vicente (PTBES) (2005 p

53630) trata o carvatildeo mineral como ldquoitem de alto significado

estrateacutegicordquo ldquofonte energeacutetica segura e confiaacutevelrdquo que ldquosempre foi

colocado em plano secundaacuteriordquo O discurso reforccedila a geraccedilatildeo de

empregos e a seguranccedila energeacutetica Quanto agrave questatildeo ambiental ela eacute

ldquocolocada em duacutevida quando se fala em maior aproveitamento do

carvatildeordquo (VICENTE 2005 p 53630) Haacute uma aposta na pesquisa e no

desenvolvimento tecnoloacutegico que coloca a mineraccedilatildeo como uma

atividade que pode ser feita ldquosem degradaccedilatildeo ambiental nem

comprometimento da sauacutede dos trabalhadoresrdquo Afirma-se que em

1520 anos a energia seraacute gerada com emissatildeo zero e que as aacutereas

degradadas no Brasil jaacute estatildeo sendo recuperadas (VICENTE 2005 p

53631) Segundo este parlamentar o Brasil precisa acompanhar o curso

da histoacuteria

Jaacute Edinho Bez (PMDBSC) fundamenta seus argumentos em uma

reuniatildeo do G-8 na qual se assume que ldquosuprimentos de energia

confiaacuteveis e baratos satildeo essenciais para um forte crescimento

econocircmicordquo (BEZ 2005 p 55746) Ele afirma que o carvatildeo mineral

tem um papel ldquovitalrdquo a desempenhar face ao contingente de pessoas que

ainda natildeo dispotildeem de acesso a energia comercial por ser uma energia

barata O petroacuteleo e o gaacutes natural seriam fontes energeacuteticas inseguras se

comparadas ao carvatildeo mineral A questatildeo ambiental aparece como

desafio que estaacute sendo equacionado pelo investimento em

desenvolvimento tecnoloacutegico Segundo Bez (2005 p 55746) o objetivo

da Frente Parlamentar eacute o de colocar o carvatildeo mineral ldquodefinitivamente

na agenda do Governo Federal com isso induzindo ao desenvolvimento

regional gerando renda e trabalho e aumentando a seguranccedila energeacutetica

vital para o crescimento do Paiacutesrdquo

No intervalo de tempo compreendido entre dezembro de 2005 e

maio de 2011 natildeo houve pronunciamentos da Frente Parlamentar em

Defesa do Carvatildeo Mineral Todavia nesse periacuteodo a Frente manteve a

articulaccedilatildeo natildeo soacute com o segmento produtivo do carvatildeo mineral mas

tambeacutem com o Ministeacuterio das Minas e Energia e o Ministeacuterio da Ciecircncia

e Tecnologia resultando em accedilotildees programas e projetos importantes

para o segmento (AMARAL 2011)

Em 2011 ocorreram apenas dois pronunciamentos um de Edinho

Bez e outro de Delciacutedio do Amaral O pronunciamento de Edinho Bez

137

(PMDBSC) primeiro secretaacuterio da Frente Parlamentar refere-se agrave

posse da Comissatildeo Executiva da referida Frente Ele fala no carvatildeo

mineral como ldquoenergia do futurordquo ldquoresponsaacutevel pela boa qualidade de

vida de centenas de pessoas nas economias mais desenvolvidasrdquo (BEZ

2011 p 20895) Menciona apenas aspectos econocircmicos da induacutestria

carboniacutefera entendida como base do desenvolvimento socioeconocircmico

do Sul de Santa Catarina Ele finaliza o pronunciamento afirmando que

natildeo se poderia abrir matildeo de nenhuma alternativa energeacutetica

Em novembro de 2011 ocorreu a reinstalaccedilatildeo da Frente formada

por 203 deputados federais e 12 senadores e integrada por ex-

parlamentares do Congresso Nacional Deputados Estaduais Prefeitos

Municipais Vereadores Sindicalistas O principal objetivo da Frente em

2011 era a participaccedilatildeo nos leilotildees A-5

A Frente Parlamentar tem como presidentes de honra o Senador

Joseacute Sarney (PMDBAP) e o Deputado Marco Maia (PTRS) Na

Comissatildeo Executiva o Presidente eacute o Senador Delciacutedio do Amaral

(PTMG) Primeiro Vice-Presidente Deputado Afonso Hamm (PPRS)

Segundo Vice-Presidente Senador Paulo Bauer (Partido da Social

Democracia Brasileira - PSDBSC) Primeiro Secretaacuterio Deputado

Edinho Bez (PMDBSC) Segundo Secretaacuterio Deputado Henrique

Fontanta (PTRS) Terceiro Secretaacuterio Deputado Eduardo Sciarra

(DEMPR) e Quarto Secretaacuterio Deputado Ronaldo Zulke (PTRS)

(AMARAL 2011)

Fazem parte do Conselho Consultivo da Frente como Presidente

o Senador Luiz Henrique da Silveira (PMDBSC) e Vice-Presidente

Deputado Ronaldo Benedet (PMDBSC) como membros cooperadores

Fernando Luiz Zancan (Presidente da ABCM) Cesar Weinschenck de

Faria (Presidente do SNIEC) Ruy Hulse (Presidente do SIECESC)

Sereno Chaise (Diretor da CGTEE) Manoel Arlindo Zaroni Torres

(Diretor-Presidente da Tractebel Energia SA) Paulo Monteiro (Diretor

de Sustentabilidade da EBX representando a MPX Energia SA)

Benony Schmitz Filho (Diretor-Presidente da Ferrovia Tereza Cristina

SA ndash FTC) Paulo Camillo Vargas Penna (Presidente do IBRAM) Luiz

Fernando Leone Vianna (Presidente do Conselho de Administraccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Eleacutetrica

ndash APINE) Heacutelio Bunn (Presidente da AMREC e prefeito do municiacutepio

de Lauro Muller) Paulo Roberto Felix Machado (Presidente da

Associaccedilatildeo de Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera do Rio Grande do Sul

ndash ASMURC e prefeito de Butiaacute) Genoir Joseacute dos Santos (Presidente da

138

Federaccedilatildeo Interestadual dos Trabalhadores na Induacutestria da Extraccedilatildeo de

Carvatildeo) e Oniro da Silva Camilo (Presidente do Sindicato

Intermunicipal dos Trabalhadores nas Induacutestrias de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

Ouro Calcaacuterio Cal e Barro da Regiatildeo Centro-Sul do Estado do Rio

Grande do Sul) (AMARAL 2011) A composiccedilatildeo do conselho

consultivo demonstra que a Frente Parlamentar Mista em Defesa do

Carvatildeo Mineral se assenta em interesses setoriais e empresariais

regionalmente e nacionalmente representados (CORADINI 2010)

Em agosto de 2012 Afonso Hamm fez um pronunciamento cujo

tema era a sustentabilidade da matriz energeacutetica do Brasil e a criaccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Proacute-Carvatildeo (APC) Na sua opiniatildeo ldquoa associaccedilatildeo tem como

propoacutesito estabelecer estrateacutegias de reivindicaccedilatildeo tendo como principal

finalidade a inclusatildeo das usinas termeleacutetricas a carvatildeo mineral nos

leilotildees de energia A-5rdquo (HAMM 2012 p 28704) Mais adiante

esclarece que ldquofalei pessoalmente com a Presidenta Dilma haacute

aproximadamente um ano em Esteio tratando dessa Agendardquo (HAMM

2012 p 28704) Natildeo se fala da questatildeo ambiental a natildeo ser quando eacute

colocada em pauta a inclusatildeo no leilatildeo dos empreendimentos jaacute

instalados e daqueles cuja licenccedila ambiental encontra-se em andamento

Em marccedilo de 2013 Edinho Bez fez seu pronunciamento sobre a

inclusatildeo do carvatildeo mineral no leilatildeo

Sr Presidente meus colegas Parlamentares falo

com satisfaccedilatildeo envaidecido com esta casa e o

proacuteprio Paiacutes pela notiacutecia dada pelo Ministro

Edison Lobatildeo de Minas e Energia com a

autorizaccedilatildeo da Presidente Dilma de que seraacute

incluiacutedo nos proacuteximos leilotildees o carvatildeo mineral

uma fonte de energia uma fonte que garante o

fornecimento de energia natildeo dependeraacute de Satildeo

Pedro natildeo dependeraacute das chuvas natildeo dependeraacute

sequer de uma nem duas ou trecircs Noacutes teremos

mais uma alternativa (BEZ 2013 p 06320)

Bez (2013) ressaltou ainda que o preccedilo do carvatildeo nacional

precisa baixar e para tanto torna-se necessaacuterio reduzir a carga

tributaacuteria Segundo ele o Vice-Governador do Estado de Santa Catarina

Eduardo Moreira jaacute manifestou a disposiccedilatildeo de avanccedilar nessa direccedilatildeo O

resultado dessa disposiccedilatildeo foi a reduccedilatildeo via Decreto em 2013 do ICMS

de 25 para 3 na venda de energia eleacutetrica para novos

empreendimentos beneficiando principalmente as termeleacutetricas a carvatildeo

(ALESC 2013)

139

Ao comentar sobre a posse da nova diretoria da Frente

Parlamentar composta por 182 deputados e senadores presidida pelo

Deputado Federal Afonso Hamm Bez (2013 p 06321) comenta que a

abertura ficou a cargo do presidente da Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo

Mineral o ldquoamigordquo Fernando Zancan

Nos pronunciamentos transparece a ecircnfase colocada na promoccedilatildeo

da seguranccedila energeacutetica do Sul e do Paiacutes mediante o aproveitamento do

carvatildeo mineral visto como uma alternativa viaacutevel se comparada agrave

hidroeletricidade ao gaacutes natural e ao petroacuteleo Como argumentos de

defesa o desenvolvimento econocircmico das regiotildees carboniacuteferas de Santa

Catarina e do Rio Grande do Sul parece depender desta atividade

Aspectos socioambientais satildeo apenas tangenciados reconhecendo-se em

alguns momentos que a atividade carboniacutefera causou impactos mas

tambeacutem se admitindo que os mesmos jaacute foram ou estatildeo sendo

resolvidos natildeo devendo se repetir em decorrecircncia dos avanccedilos

tecnoloacutegicos do segmento

52 Panorama das eleiccedilotildees e doaccedilotildees de campanha de 2002 a 2012

Ateacute 1992 a legislaccedilatildeo em vigor proibia a oferta de doaccedilotildees por

parte das empresas Mas as reformas na legislaccedilatildeo apoacutes 1992 tornaram o

sistema mais tolerante apostando na prestaccedilatildeo de contas como forma de

controle puacuteblico Em 1994 o TSE passou a divulgar dados sobre as

candidaturas e contas de campanha Os dados satildeo de responsabilidade

dos candidatos e questiona-se a veracidade dos mesmos vaacuterios satildeo os

casos de financiamentos ilegais corrupccedilatildeo traacutefico de influecircncias

envolvimento com crime organizado que passam a contribuir para a

criacutetica ao financiamento privado Em funccedilatildeo desses problemas o tema

do financiamento poliacutetico tornou-se central no debate recente sobre a

reforma poliacutetica (LEMOS MARCELINO PEDERIVA 2010 SPECK

2005)

Os resultados das eleiccedilotildees indicam fortes viacutenculos com doaccedilotildees e

gastos de campanha quanto maiores as doaccedilotildees e gastos maiores as

chances de o candidato se eleger Os doadores se tornaram tatildeo

fundamentais nas campanhas que tecircm determinado muitas vezes a

proacutepria escolha do candidato A reeleiccedilatildeo apresenta-se como um trunfo

aos candidatos jaacute que o risco do doador eacute menor do que se este

escolhesse um iniciante (LEMOS MARCELINO PEDERIVA 2010)

140

Em contrapartida candidatos tendem a compensar tais investimentos se

e quando eleitos ldquoEacute grande a lista de entidades que satildeo potencialmente

beneficiadas por decisotildees ou medidas administrativas do governo entre

estes os bancosrdquo (SPECK 2005 p 148)

No Brasil satildeo permitidas doaccedilotildees de empresas que possuem

relaccedilotildees contratuais com o Estado natildeo existindo regra que limite a

dependecircncia entre candidato e doador Dados sobre as prestaccedilotildees de

contas demonstram um problema de dependecircncia entre os candidatos e

seus principais financiadores (SPECK 2005)

Na sequecircncia satildeo examinadas as doaccedilotildees das eleiccedilotildees de 2002 a

2012 divididas em eleiccedilotildees gerais e eleiccedilotildees municipais A ecircnfase recai

nas doaccedilotildees realizadas por empresas ligadas ao carvatildeo mineral e sua

relaccedilatildeo com os candidatos de Santa Catarina As doaccedilotildees para

candidatos de outros estados natildeo satildeo tratadas neste capiacutetulo

521 Eleiccedilotildees gerais

No periacuteodo compreendido entre os anos de 2002 e 2012

ocorreram trecircs eleiccedilotildees gerais Constam nos registros do Tribunal

Superior Eleitoral nove empresas relacionadas ao carvatildeo mineral em

Santa Catarina como doadoras

O Complexo Jorge Lacerda que utiliza carvatildeo mineral para

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica pertence agrave Tractebel que tambeacutem eacute

proprietaacuteria das Usinas Hidreleacutetricas de Itaacute Machadinho e Co-geraccedilatildeo

de biomassa em Lages todos situados em Santa Catarina A Carboniacutefera

Metropolitana SA tem 123 anos de existecircncia estaacute sediada em

Criciuacutema e possui parte da USITESC A Carboniacutefera Belluno Ltda foi

fundada em 1991 apoacutes a compra de parte da Companhia Sideruacutergica

Nacional pelo Grupo Salvaro e localiza-se em Sideroacutepolis Aleacutem de

trabalhar na extraccedilatildeo e beneficiamento do Carvatildeo a Carboniacutefera

Belluno tambeacutem atua no transporte e na comunicaccedilatildeo A Mineraccedilatildeo

Castelo Branco Ltda localiza-se em Lauro Muller A Carboniacutefera

Criciuacutema foi fundada em 1943 e tem sede em Criciuacutema A Induacutestria

Carboniacutefera Rio Deserto foi criada em 1918 e localiza-se em Criciuacutema

bem como a Coque Catarinense a Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos e a

Mineraccedilatildeo Santa Augusta

141

A eleiccedilatildeo de 2002 teve como principais doadores a Tractebel

(5007) a Carboniacutefera Metropolitana (1488) e a Carboniacutefera

Belluno (1320) A empresa que mais apoiou candidatos dez no total

foi a Carboniacutefera Metropolitana As demais empresas apoiaram cinco

candidatos ou menos conforme consta na Tabela 7

Tabela 7 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2002

Fonte TSE 2013

Quanto ao montante de doaccedilotildees por candidato em 2002

destacou-se o candidato a governador Esperidiatildeo Amin que recebeu de

quatro empresas 4138 do total de doaccedilotildees O candidato Paulo Roberto

Bauer recebeu de quatro empresas o equivalente a 1182 das doaccedilotildees

Cleacutesio Salvaro recebeu apenas 673 Aleacutem dos trecircs candidatos citados

outros dezesseis candidatos ficaram com 4007 das doaccedilotildees conforme

dados da Tabela 8 As duas uacuteltimas colunas da Tabela 8 relacionam as

doaccedilotildees com a receita total dos candidatos Em quatro dos 19 candidatos

as doaccedilotildees das empresas ligadas ao carvatildeo mineral representam mais de

50 de sua respectiva receita

Nordm

CANDIDATOS

Tractebel Egi South America Ltda 5 PFL PP PPB PSDB 53000000 5007

Carboniacutefera Metropolitana SA 10 PP PMDB PSDB PT PPB PFL 15750000 1488

Carboniacutefera Belluno Ltda 3 PMDB PFL PT 13970000 1320

Mineraccedilatildeo Castelo Branco Ltda 5 PFL PMDB PP PPB PSDB 8467400 800

Carboniacutefera Criciuacutema Ltda 5 PFL PT PSDB PMDB PT 6450000 609

Induacutestria Carboniacutefera Rio Deserto Ltda 5 PFL PMDB PSDB 4050000 383

Coque Catarinense Ltda 2 PFL PMDB 2434000 230

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos Ltda 4 PFL PMDB PP 927000 088

Mineraccedilatildeo Santa Augusta Ltda 1 PP 800000 076

TOTAL 105848400 10000

DOADOR PARTIDOS VALOR R$

142

Tabela 8 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2002 que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees de 2002 o PP recebeu 46 das doaccedilotildees o Partido

da Frente Liberal (PFL) 2147 o PSDB 1352 o PMDB 1027

o PT 477 e o Partido Progressista Brasileiro (PPB) 397

Tabela 9 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2002

Fonte TSE 2013

NO ME PARTIDO CANDIDATURA VALO R R$ RECEITA TO TAL R$

Esperidiatildeo Amin PP Governador 43798600 4138 373920269 1171

Paulo R Bauer PSDB Deputado Federal 12510800 1182 49994468 2502

Clesio Salvaro PFL Deputado Estadual 7120000 673 11296000 6303

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 5266200 498 27320200 1928

Paulo R Bornhausen PFL Senador 4900000 463 198753494 247

Leodegar da C Tiscoski PP Deputado Federal 4892000 462 20432951 2394

Joseacute P Serafim PT Deputado Estadual 4500000 425 7303000 6162

Luiz H da Silveira PMDB Governador 4000000 378 240099527 167

Ivan C Ranzolin PFL Deputado Federal 3000000 283 26017099 1153

Pedro Bittencourt Neto PFL Deputado Federal 2860800 27 13469800 2124

Vanio de Oliveira PPB Deputado Federal 2200000 208 3110990 7072

Celestino RSecco PPB Deputado Estadual 2000000 189 21164000 945

Joatildeo P K Kleinubing PFL Deputado Estadual 2000000 189 10710330 1867

Julio Cesar Garcia PFL Deputado Estadual 2000000 189 4449450 4495

Cezar P de Luca PSDB Deputado Federal 1800000 17 3925683 4585

Ronaldo J Benedet PMDB Deputado Estadual 1350000 128 12097324 1116

Arleu R da Silveira PFL Deputado Estadual 850000 08 890370 9547

Edson C Rodrigues PT Deputado Federal 550000 052 8653600 636

Aceacutelio Casagrande PMDB Deputado Federal 250000 024 1512694 1653

TOTAL 105848400 100

PARTIDO VALOR R$

PP 48690600 46

PFL 22730800 2147

PSDB 14310800 1352

PMDB 10866200 1027

PT 5050000 477

PPB 4200000 397

TOTAL 105848400 100

143

Nas Eleiccedilotildees de 2006 entraram em cena as seguintes empresas

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasileira que atua na regiatildeo Companhia

Energeacutetica Meridional que eacute subsidiaacuteria da empresa Tractebel A

Mendes Terraplanagem Construccedilatildeo e Extraccedilatildeo de Minerais Ltda que

atua na regiatildeo Minageo Ltda de Criciuacutema Sulcatarinense Mineraccedilatildeo e

Artefatos Ltda com sede em Biguaccedilu Carboniacutefera Sideroacutepolis de

Criciuacutema Gabriella Mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis Carboniacutefera Catarinense

Ltda de Lauro Muller Nas eleiccedilotildees de 2006 a Tractebel doou 4038

para onze candidatos a Carboniacutefera Metropolitana 1226 para quatro

candidatos e a Carboniacutefera Criciuacutema 1136 (Tabela 10) O montante

de doaccedilotildees aumentou de R$ 105848400 em 2002 para R$

158506900 em 2006

Tabela 10 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2006

Fonte TSE 2013

Dos 22 candidatos apoiados pelas empresas em 2006 Edson Bez

de Oliveira recebeu 1325 dos recursos de seis empresas Ada Lili

Faraco de Luca recebeu 1262 de duas empresas Luiz Henrique da

Silveira recebeu 1262 de uma empresa e Paulo Roberto Bauer

recebeu 946 de quatro empresas (Tabela 11) Constata-se uma

distribuiccedilatildeo maior das doaccedilotildees jaacute que na Eleiccedilatildeo de 2002 um uacutenico

candidato Esperidiatildeo Amim recebeu 4138 das doaccedilotildees

DOADOR NordmCANDIDATOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora 11 PFL PMDB PP PPS PSDB PT 64000000 4038

Carboniacutefera Metropolitana SA 4 PMDB PP PSDB 19432000 1226

Carboniacutefera Criciuacutema SA 2 PMDB PSDB 18000000 1136

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasil Ltda 7 PFL PMDB PP PPS PT 15555000 981

Cia Energeacutetica Meridional 3 PFL PP PT 14000000 883

Carboniacutefera Catarinense Ltda 2 PFL PP 8183000 516

Carboniacutefera Belluno Ltda 2 PMDB PSDB 6776000 427

A Mendes TerConstr E Extr De

Minerais Ltda 1 PMDB 4000000 252

Minageo Ltda 2 PMDB PT 3288000 207

Sul Catarinense Mineraccedilatildeo e Art 4 PP PPS PSDB 2400000 151

Carboniacutefera Sideroacutepolis Ltda 1 PP 1186500 075

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda 1 PP 1186400 075

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos 1 PMDB 500000 032

TOTAL 158506900 10000

144

Tabela 11 - Candidatosas que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2006

Fonte TSE 2013

Em 2006 o PMDB recebeu o maior montante de doaccedilotildees

4104 enquanto na eleiccedilatildeo de 2002 o maior montante foi destinado ao

PP 46 O PSDB aumentou suas captaccedilotildees junto ao lobby do carvatildeo de

1352 em 2002 para 1640 em 2006 O PT de 477 em 2002

para 807 em 2006 O PFL diminuiu de 2147 para 1577 no

periacuteodo Aleacutem do PMDB apareceu na lista tambeacutem o Partido Popular

Socialista (PPS) com 265 (Tabela 12)

NOME PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 21000000 1325 44379023 4732

Ada Lili Faraco de Luca PMDB Deputado Estadual 20000000 1262 62976575 3176

Luiz Henrique da Silveira PMDB Governador 20000000 1262 725548795 276

Paulo Roberto Bauer PSDB Deputado Federal 15000000 946 63272293 2371

Leodegar da Cunha Tiscoski PP Deputado Federal 12263900 774 16487006 7439

Geraldo Cesar Althoff PFL Deputado Federal 11000000 694 113398356 97

Angela Regina Heinzen Amin Helou PP Deputado Federal 10000000 631 25349000 3945

Djalma Vando Berger PSDB Deputado Federal 5000000 315 107978844 463

Gervaacutesio Joseacute da Silva PFL Deputado Federal 5000000 315 95845710 522

Giancarlo Tomelin PSDB Deputado Estadual 5000000 315 14028277 3564

Jorge Catalino Leonardelli Boeira PT Deputado Federal 5000000 315 47519555 1052

Paulo Roberto Barreto Bornhausen PFL Deputado Federal 5000000 315 132260292 378

Ivan Cesar Ranzolin PFL Deputado Federal 4000000 252 23237183 1721

Milton Mendes de Oliveira PT Deputado Federal 4000000 252 18603010 215

Joseacute Paulo Serafim PT Deputado Estadual 3788000 239 19238000 1969

Sergio Joseacute Grando PPS Deputado Estadual 3200000 202 16206665 1974

Antonio Carlos Vieira PP Deputado Estadual 3000000 189 15931786 1883

Acelio Casagrande PMDB Deputado Federal 2055000 13 14020875 1466

Ronaldo Joseacute Benedet PMDB Deputado Estadual 2000000 126 42694345 468

Altair Guidi PPS Deputado Estadual 1000000 063 10547730 948

Joseacute Natal Pereira PSDB Deputado Estadual 1000000 063 13659460 732

Licio Mauro Ferreira da Silveira PP Deputado Estadual 200000 013 10092456 198

158506900 100

145

Tabela 12 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2006

Fonte TSE 2013

Na Eleiccedilatildeo de 2010 cinco empresas aparecem como doadoras A

Tractebel assim como na Eleiccedilatildeo de 2002 e 2006 doou a maior parte

dos recursos 7483 para 27 candidatos de vaacuterios partidos As outras

quatro empresas dividem os 2517 restantes conforme dados

apresentados na Tabela 13

Tabela 13 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2010

Fonte TSE 2013

Os candidatos que receberam o maior montante de doaccedilotildees foram

Angela Amin com 1515 Paulo Roberto Bauer com 1082 e Edson

Bez de Oliveira com 884 (Tabela 14) O nuacutemero de candidatos

apoiados por doaccedilotildees aumentou de 19 candidatos em 2002 para 22 em

2006 e 30 em 2010 Diminuiu tambeacutem a concentraccedilatildeo dos recursos em

relaccedilatildeo ao nuacutemero de candidatos em 2002 os trecircs primeiros candidatos

receberam 5993 das doaccedilotildees em 2006 receberam 3849 e em

2010 3481 Isso demonstra que as empresas passaram a investir em

um nuacutemero maior de candidatos concentrando menos as doaccedilotildees

PARTIDO VALOR [R$]

PMDB 65055000 4104

PSDB 26000000 164

PP 25463900 1606

PFL 25000000 1577

PT 12788000 807

PPS 4200000 265

TOTAL 158506900 100

DOADOR NordmCANDIDATOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora

Ltda

27 PMDB PP

PPS PR

PSDB e PT

123500000 7483

Industria Carboniacutefera Rio Deserto

Ltda

4 PMDB e

PSDB

12548100 760

Carboniacutefera Metropolitana SA 5 PMDB

PSDB

11700000 709

Carboniacutefera Belluno Ltda 2 PSDB 10600000 642

Carboniacutefera Criciuacutema Ltda 3 PMDB 6700600 406

TOTAL 165048700 10000

146

Tabela 14 - Candidatosas receberam doaccedilotildees das empresas ligadas

ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2010

Fonte TSE 2013

Em 2010 o mesmo natildeo aconteceu com os partidos poliacuteticos As

doaccedilotildees concentraram-se em trecircs partidos PMDB com 3641 PT com

3393 e PSDB com 1784 conforme dados apresentados na Tabela

15 A concentraccedilatildeo de doaccedilotildees no PMDB diminuiu de 4104 em 2006

para 3641 em 2010 e aumentou para o PT (de 807 em 2006 para

3393 em 2010) e o PSDB (de 1640 em 2006 para 1784 em

2010)

NOME PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Angela R H Amin Helou PP Governador 25000000 1515 285235728 876

Paulo Roberto Bauer PSDB Senador 17859100 1082 215018697 831

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 14589500 884 76475776 1908

Ronaldo Joseacute Benedet PMDB Deputado Federal 10037000 608 62224076 1613

Claudio Antocircnio Vignatti PT Senador 10000000 606 225944994 443

Luiz Henrique da Silveira PMDB Senador 7463100 452 316150000 236

Thatiane Ferro Teixeira PSDB Deputado Estadual 5600000 339 21357586 2622

Ada Lili Faraco de Luca PMDB Deputado Estadual 5000000 303 66479091 752

Jorge C Leonardeli Boeira PT Deputado Federal 5000000 303 51226181 976

Celso Maldaner PMDB Deputado Federal 4000000 242 56183406 712

Deacutecio Nery de Lima PT Deputado Federal 4000000 242 94602191 423

Gean Marques Loureiro PMDB Deputado Federal 4000000 242 47666076 839

Gervaacutesio Joseacute da Silva PSDB Deputado Federal 4000000 242 68162276 587

Luci T K Choinacki PT Deputado Federal 4000000 242 53638737 746

Paulo R B Bornhausen DEM Deputado Federal 4000000 242 132193682 303

Pedro Francisco Uczai PT Deputado Federal 4000000 242 45421410 881

Vanio dos Santos PT Deputado Federal 4000000 242 68945421 580

Aceacutelio Casagrande PMDB Deputado Estadual 2500000 151 19129380 1307

Alexandre Santos Moraes PMDB Deputado Estadual 2500000 151 11717054 2134

Ana Paulo de Souza Lima PT Deputado Estadual 2500000 151 19360800 1291

Antonio M R de Aguiar PMDB Deputado Estadual 2500000 151 57962102 431

Carlos Joseacute Stupp PSDB Deputado Estadual 2500000 151 41555975 602

Edison A A de Oliveira PMDB Deputado Estadual 2500000 151 44778059 558

Giancarlo Tomelin PSDB Deputado Estadual 2500000 151 26041812 960

Joatildeo Batista Nunes PR Deputado Estadual 2500000 151 28970265 863

Joatildeo Olavio Falchetti PT Deputado Estadual 2500000 151 6753000 3702

Joares Carlos Ponticelli PP Deputado Estadual 2500000 151 45669621 547

Luciano Formighieri PPS Deputado Estadual 2500000 151 17351190 1441

Marcos Luiz Vieira PSDB Deputado Estadual 2500000 151 79902729 313

Rosemeacuteri Bartucheski PMDB Deputado Estadual 2500000 151 30045075 832

TOTAL 165048700 10000

147

Tabela 15 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2010

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees gerais de 2002 2006 e 2010 foram registradas

doaccedilotildees de 16 empresas ligadas ao carvatildeo mineral somando um total de

R$ 429404000 A Tractebel doou 5601 do total (R$ 240500000)

seguida pela Carboniacutefera Metropolitana SA com 1092 (R$

46882000) e pela Carboniacutefera Belluno com 730 (R$ 31346000) As

doaccedilotildees tecircm aumentado a cada eleiccedilatildeo em 2002 foram R$

105848400 em 2006 foram R$ 158506900 e em 2010 foram R$

165048700

O candidato Paulo Roberto Bauer recebeu um total de R$

45369900 em doaccedilotildees representando 1057 do total de doaccedilotildees Jaacute

Esperidiatildeo Amin recebeu R$ 43798600 (1020) e Edson Bez de

Oliveira foi agraciado com R$ 40855700 (951) Todos os candidatos

eleitos que receberam doaccedilotildees de campanha das empresas ligadas ao

carvatildeo mineral participam da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral confirmando a hipoacutetese da relaccedilatildeo estreita entre doaccedilotildees e

apoio agrave causa do carvatildeo mineral

No que se refere agrave relaccedilatildeo entre doaccedilotildees e os partidos poliacuteticos

constatou-se que o PMDB recebeu 3168 das doaccedilotildees no periacuteodo de

2002 a 2010 (R$ 136017900) Quanto ao PP este recebeu 1937 (R$

83154500) O PT levou 1720 (R$ 73838000) O PMDB aumentou

de R$ 10866200 em 2002 para R$ 60096700 em 2010 O PT

aumentou de R$ 5050000 em 2002 para R$ 56000000 em 2010 Jaacute

o PP diminuiu de R$ 48690600 em 2002 para R$ 9000000 em

2010 O aumento das doaccedilotildees para o PMDB e o PT pode ser explicado

se considerarmos a reeleiccedilatildeo e ascensatildeo de alguns candidatos inclusive

pela reeleiccedilatildeo de Luiz Inaacutecio Lula da Silva do PT para a presidecircncia da

Repuacuteblica Jaacute as doaccedilotildees concedidas ao PP diminuiacuteram apoacutes a aposta

frustrada na eleiccedilatildeo de Esperidiatildeo Amin para governador

PARTIDO VALOR R$

PMDB 60096700 3641

PT 56000000 3393

PSDB 29452000 1784

PP 9000000 545

DEM 4000000 242

PR 4000000 242

PPS 2500000 151

TOTAL 165048700 10000

148

522 Eleiccedilotildees municipais

Nas eleiccedilotildees municipais de 2004 cinco empresas foram

doadoras Carboniacutefera Belluno (6383) Carboniacutefera Criciuacutema

(1558) Carboniacutefera Metropolitana (895) Carboniacutefera Catarinense

(823) e Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos (341) conforme dados da

Tabela 16 Foram doados R$ 41232300 para sete municiacutepios

Tabela 16 - Doadores eleiccedilotildees de 2004

Fonte TSE 2013

O municiacutepio de Criciuacutema recebeu 852 das doaccedilotildees Dentre os

candidatos estatildeo o candidato a vereador do municiacutepio de Criciuacutema

Edson do Nascimento do PMDB com 728 das doaccedilotildees o candidato

a prefeito de Criciuacutema Deacutecio Gomes Goacutees do PT com 606 e Carlos

Joseacute Stupp candidato a prefeito no municiacutepio de Tubaratildeo pelo PSDB

com 485 Aleacutem dos Comitecircs Financeiros Municipais (CFM) de

Criciuacutema Sideroacutepolis Treviso Lauro Muller e Iccedilara quatorze

candidatos a prefeito e vereador foram apoiados por doaccedilotildees (Tabela

17) Dos quatorze candidatos seis se mostram mais dependentes das

doaccedilotildees representando mais de 50 de sua receita total

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Carboniacutefera Criciuacutema Criciuacutema e Tubaratildeo PFL PMDB PSDB 6425000 3791

Carboniacutefera Metropolitana Criciuacutema Iccedilara e Tubaratildeo PFL PMDB e PT 3688500 2176

Caboniacutefera Catarinense Criciuacutema Lauro Muller Sideroacutepolis

Tubaratildeo

PFL PP PT 3391500 2001

Carboniacutefera Belluno Criciuacutema e Treviso PSDB 2034300 1200

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos Criciuacutema Lauro Muller Urussanga

PMDB PP PSDB e

PT 1408000 831

TOTAL 16947300 10000

149

Tabela 17 - Comitecircs e candidatos que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

2004

Fonte TSE 2013

Em 2004 dos cinco partidos que estatildeo entre os receptores o

PSDB recebeu 6798 das doaccedilotildees o PMDB recebeu 1823 o PT

recebeu 657 o PP recebeu 402 e o PFL recebeu 319 (Tabela

18)

Tabela 18 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2004

Fonte TSE 2013

CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$

RECEITA

TOTAL

R

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Criciuacutema PSDB - 29431300 7138 37042800 7945

Edson Do Nascimento Criciuacutema PMDB Vereador 3000000 728 3777163 7942

Deacutecio Gomes Goacutees Criciuacutema PT Prefeito 2500000 606 41391000 604

Carlos Jose Stupp Tubaratildeo PSDB Prefeito 2000000 485 66861662 299

Comitecirc Financeiro

Municipal Uacutenico

Sideroacutepolis PP - 791500 192 916500 8636

Luiz Carlos Zen Urussanga PP Prefeito 668000 162 4418000 1512

Felipe Felisbino Tubaratildeo PFL Vereador 500000 121 641145 7799

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Treviso PMDB - 388000 094 1004554 3862

Nestor Spricigo Lauro Muller PMDB Prefeito 330000 080 830752 3972

Elemar Nunes Tubaratildeo PFL Vereador 264000 064 404248 6531

Dalton Luiz Marcon Tubaratildeo PFL Vereador 202500 049 342514 5912

Manoel Duarte Porto Tubaratildeo PFL Vereador 202500 049 529725 3823

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Lauro Muller PP - 200000 049 600000 3333

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Iccedilara PMDB - 200000 049 6610000 303

Rudemar Silveira Da

Cunha

Tubaratildeo PFL Vereador 144500 035 242894 5949

Paulo Gonccedilalves Filho Lauro Muller PT Prefeito 110000 027 535000 2056

Antonio Alves Elias Lauro Muller PT Vereador 100000 024 166828 5994

Lauro Pirolla Criciuacutema PSDB Vereador 100000 024 279420 3579

Vanderlei Joseacute Zilli Criciuacutema PMDB Vereador 100000 024 1007126 993

41232300 10000

PARTIDO VALOR R$

PSDB 28031300 6798

PMDB 7518000 1823

PT 2710000 657

PP 1659500 402

PFL 1313500 319

TOTAL 41232300 10000

150

Nas eleiccedilotildees de 2008 seis empresas doaram um total de R$

22918311 A Carboniacutefera Criciuacutema doou 4132 a Mineraccedilatildeo e

Pesquisa Brasileira doou 2313 e a Tractebel doou 2182 (Tabela

19) O montante de doaccedilotildees de 2008 se comparado ao de 2004

diminuiu 4442

Tabela 19 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2008

Fonte TSE 2013

As doaccedilotildees de 2008 se concentraram em trecircs candidatos O

candidato a prefeito de Tubaratildeo Joatildeo Falchetti do PT recebeu 4363

das doaccedilotildees Edison do Nascimento do PMDB candidato a vereador

por Criciuacutema recebeu 2396 e Joseacute Claudio Gonccedilalves do DEM

candidato a prefeito de Forquilhinha recebeu 1091 das doaccedilotildees

Conforme dados apresentados na Tabela 20 receberam doaccedilotildees

candidatos dos municiacutepios de Criciuacutema Tubaratildeo Forquilhinha Iccedilara

Meleiro Timbeacute do Sul Sideroacutepolis e Lauro Muller Se consideradas as

receitas totais dos dezesseis candidatos cinco candidatos satildeo muito

dependentes das doaccedilotildees jaacute que elas representam mais de 50 da

receita total

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Carbonifera Criciuma SA Criciuacutema Forquilhinha Lauro Muller

Meleiro Timbeacute do Sul

PMDB DEM 9468944 4132

Mineraccedilatildeo E Pesquisa Brasileira Criciuacutema Tubaratildeo PMDB PT 5300000 2313

Tractebel Energia Tubaratildeo PT 5000000 2182

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda Criciuacutema Iccedilara DEM PP PSDB 1679175 733

Carboniacutefera Belluno Ltda Criciuacutema PSDB 1120192 489

Carbonifera Metropolitana SA Criciuacutema Sideroacutepolis Timbeacute do Sul PMDB 350000 153

TOTAL 22918311 10000

151

Tabela 20 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2008 que receberam doaccedilotildees

das empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

Fonte TSE 2013

As doaccedilotildees entre os partidos nas eleiccedilotildees de 2008 foram

distribuiacutedas da seguinte forma o PT recebeu 4363 das doaccedilotildees o

PMDB recebeu 3181 o DEM recebeu 1158 o PSDB recebeu

774 e o PP recebeu 524 (Tabela 21)

Tabela 21 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2008

Fonte TSE 2013

Nas Eleiccedilotildees de 2012 cinco empresas doaram R$ 22700000

para candidatos de trecircs municiacutepios Criciuacutema Iccedilara e Tubaratildeo Os

maiores montantes de doaccedilatildeo tiveram origem na Tractebel (6608) Carboniacutefera Metropolitana (1762) e Carboniacutefera Criciuacutema (1101)

conforme dados apresentados na Tabela 22

NOME DO CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Joatildeo Olavio Falchetti Tubaratildeo PT Prefeito 10000000 4363 18223525 5487

Edison Do Nascimento Criciuacutema PMDB Vereador 5490944 2396 10054122 5461

Joseacute Claudio Gonccedilalves Forquilhinha DEM Prefeito 2500000 1091 10147880 2464

Darlan Bitencourt Carpes Iccedilara PP Vereador 1200000 524 3761519 3190

Antoninho Dal Molin Netto Meleiro PMDB Prefeito 1000000 436 1997000 5008

Clesio Salvaro Criciuacutema PSDB Prefeito 842992 368 72173591 117

Andre M Jucoski Iccedilara PSDB Vereador 454175 198 1245875 3645

Luiz Fernando Cardoso Criciuacutema PMDB Vereador 400000 175 8071771 496

Jose Daminelli Criciuacutema PSDB Vereador 277200 121 1227765 2258

Arleu Ronaldo Da Silveira Criciuacutema PSDB Vereador 200000 087 1649455 1213

Heacutelio Roberto Cesa Sideroacutepolis PMDB Prefeito 150000 065 9963963 151

Wersmberg Laureano Lauro Muumlller DEM Vereador 128000 056 385903 3317

Loraci Davila Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 100000 044 163000 6135

Gislael Floriano Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 100000 044 195000 5128

Joao Batista Mandelli Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 50000 022 255800 1955

Romanna G C L Remor Criciuacutema DEM Vereador 25000 011 10166479 025

22918311 10000

152

Tabela 22 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2012

Fonte TSE 2013

Os candidatos a prefeito de Tubaratildeo do PSDB PMDB PSD e

PT receberam 8812 das doaccedilotildees (Tabela 23) O municiacutepio de Tubaratildeo

recebeu 8944 do total de doaccedilotildees Se consideradas as receitas totais

natildeo haacute evidecircncias de uma maior dependecircncia grande das doaccedilotildees

Tabela 23 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2012 que receberam doaccedilotildees

das empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

Fonte TSE 2013

Em 2012 o PSDB recebeu 2996 das doaccedilotildees o PMDB o PSD

e o PT receberam 2203 respectivamente e o PP recebeu 396

(Tabela 24) As doaccedilotildees da Eleiccedilatildeo de 2012 se comparadas agraves eleiccedilotildees

de 2004 e 2008 foram distribuiacutedas de forma mais equilibrada entre os

partidos

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora

Ltda

Tubaratildeo PSD PSDB

PT

15000000 6608

Carboniacutefera Metropolitana SA Iccedilara Tubaratildeo PSDB 4000000 1762

Carboniacutefera Criciuacutema SA Iccedilara Tubaratildeo PMDB PSDB 2500000 1101

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasileira Ltda Criciuacutema PP 900000 396

Minageo Ltda Tubaratildeo PSDB 300000 132

TOTAL 22700000 10000

CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Carlos Joseacute Stupp Tubaratildeo PSDB Prefeito 5000000 2203 36245503 1379

Edson Bez de

Oliveira

Tubaratildeo PMDB Prefeito 5000000 2203 129287720 387

Felippe Luiz Collaccedilo Tubaratildeo PSD Prefeito 5000000 2203 34140000 1465

Joatildeo Olavio falchetti Tubaratildeo PT Prefeito 5000000 2203 42272000 1183

Andreacute Mazzuchello

Jucoski

Iccedilara PSDB Vereador 1500000 661 4995950 3002

Daniel Costa de

Freitas

Criciuacutema PP Vereador 900000 396 6319977 1424

Felipe Felisbino Tubaratildeo PSDB Vereador 300000 132 4119158 728

22700000 10000

153

Tabela 24 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2012

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees municipais de 2004 2008 e 2012 nove empresas

doaram R$ 86850611 para os candidatos a prefeito e vereador As

doaccedilotildees direcionadas agraves eleiccedilotildees municipais apresentam uma reduccedilatildeo

significativa foram R$ 41232300 em 2004 R$ 22918311 em 2008 e

R$ 22700000 em 2012 A Carboniacutefera Belluno lidera as doaccedilotildees com

3159 seguida da Tractebel com 2303 e da Carboniacutefera Criciuacutema

com 2118 Os trecircs partidos que mais recebem doaccedilotildees nas eleiccedilotildees

municipais satildeo PSDB com 4215 PMDB com 2281 e PT com

2039

53 Os fatos ausentes do discurso dos poliacuteticos

No Brasil a degradaccedilatildeo do meio ambiente

e da sociedade das pessoas e da natureza

constitui cara e coroa de uma mesma

moeda de um mesmo estilo de

desenvolvimento e da ausecircncia de

democracia (SOUZA 1992 p 16)

As empresas ligadas ao carvatildeo mineral em Santa Catarina

doaram no intervalo de dez anos R$ 516254611 para candidatos a

eleiccedilotildees gerais e municipais Das dezessete empresas que aparecem

como doadoras a Tractebel foi responsaacutevel por 5046 das doaccedilotildees

seguida pela Carboniacutefera Belluno com 1139 e pela Carboniacutefera

Metropolitana com 1064 As demais quatorze empresas somam

2751 das doaccedilotildees (Tabela 25) O aumento nas doaccedilotildees para eleiccedilotildees

gerais e a diminuiccedilatildeo das doaccedilotildees para eleiccedilotildees municipais mostra que cresce nas empresas o interesse em apoiar candidatos a eleiccedilotildees gerais

que possam participar da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral

PARTIDO VALOR R$

PSDB 6800000 2996

PMDB 5000000 2203

PSD 5000000 2203

PT 5000000 2203

PP 900000 396

TOTAL 22700000 10000

154

Tabela 25 - Siacutentese dos doadores Eleiccedilotildees de 2002 e 2012

Fonte TSE 2013

Os dez candidatos que receberam maiores doaccedilotildees entre 2002 e

2012 foram candidatos a eleiccedilotildees gerais exceto Joatildeo Olavio Falchetti

que foi candidato em duas eleiccedilotildees municipais em 2008 e 2012 (Tabela

26) Todos os candidatos a eleiccedilotildees gerais que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e foram eleitos fazem parte

atualmente da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral

ANO ELEICcedilAtildeO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

DOADOR VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$

Tractebel Egi South

America Ltda 53000000 0 64000000 5000000 123500000 15000000 260500000 5046

Carboniacutefera Belluno Ltda 13970000 26319300 6776000 1120192 10600000 0 58785492 1139

Carboniacutefera

Metropolitana SA 15750000 3688500 19432000 350000 11700000 4000000 54920500 1064

Carboniacutefera Criciuacutema 6450000 6425000 18000000 9468944 6700600 2500000 49544544 96

Mineraccedilatildeo e Pesquisa

Brasil Ltda 0 0 15555000 5300000 0 900000 21755000 421

Induacutestria Carboniacutefera Rio

Deserto 4050000 0 0 0 12548100 0 16598100 322

Cia Energeacutetica Meridional 0 0 14000000 0 0 0 14000000 271

Mineraccedilatildeo Castelo

Branco Ltda 8467400 0 0 0 0 0 8467400 164

Carboniacutefera Catarinense

Ltda 0 0 8183000 0 0 0 8183000 159

Coque Catarinense Ltda 2434000 3391500 0 0 0 0 5825500 113

A Mendes TC e E de

Minerais Ltda 0 0 4000000 0 0 0 4000000 077

Minageo Ltda 0 0 3288000 0 0 300000 3588000 07

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda 0 0 1186400 1679175 0 0 2865575 056

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos

Ltda 927000 1408000 500000 0 0 0 2835000 055

Sul Catarinense

Mineraccedilatildeo e Art 0 0 2400000 0 0 0 2400000 046

Carboniacutefera Sideroacutepolis

Ltda 0 0 1186500 0 0 0 1186500 023

Mineraccedilatildeo Santa Augusta

Ltda 800000 0 0 0 0 0 800000 015

TOTAL 105848400 41232300 158506900 22918311 165048700 22700000 516254611 100

TOTAL

155

Tabela 26 - Candidatos que receberam maiores doaccedilotildees Eleiccedilotildees de

2002 a 2012

Fonte TSE 2013

Os partidos poliacuteticos que se destacam como maiores

receptores das doaccedilotildees satildeo PMDB com 3018 PSDB com 2060

PT com 1773 e PP com 1684 (Tabela 27)

Tabela 27 - Doaccedilotildees por Partido Poliacutetico Eleiccedilotildees de 2002 a 2012

Fonte TSE 2013

Os dados apresentados corroboram a hipoacutetese de que na defesa da causa do carvatildeo mineral se aliam poliacuteticos e empresas pelas doaccedilotildees

de campanha Trazer os fatos ausentes do discurso coloca em questatildeo o

reconhecimento e a representaccedilatildeo poliacutetica condiccedilotildees fundamentais para

assegurar a justiccedila ecoloacutegica e consequentemente para favorecer a

ANO ELEICcedilAtildeO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

NOME VALOR R$ VALOR R$VALOR R$ VALOR R$VALOR R$VALOR R$ TOTAL R$

Edson Bez de

Oliveira 5266200 0 21000000 0 14589500 5000000 45855700 89

Paulo Roberto

Bauer 12510800 0 15000000 0 17859100 0 45369900 88

Esperidiatildeo Amin

Helou Filho 43798600 0 0 0 0 0 43798600 85

Angela R H Amin

Helou 0 0 10000000 0 25000000 0 35000000 68

Luiz Henrique da

Silveira 4000000 0 20000000 0 7463100 0 31463100 61

Ada Lili Faraco de

Luca 0 0 20000000 0 5000000 0 25000000 48

Leodegar da Cunha

Tiscoski 4892000 0 12263900 0 0 0 17155900 33

Joatildeo Olavio

Falchetti 0 0 0 10000000 2500000 1500000 14000000 27

Paulo R B

Bornhausen 4900000 0 5000000 0 4000000 0 13900000 27

Ronaldo Joseacute

Benedet 1350000 0 2000000 0 10037000 0 13387000 26

ANO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

PARTIDO VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ TOTAL

PMDB 10866200 7518000 65055000 7290944 60096700 5000000 155826844 3018

PSDB 14310800 28031300 26000000 1774367 29452000 6800000 106368467 206

PT 5050000 2710000 12788000 10000000 56000000 5000000 91548000 1773

PP 48690600 1659500 25463900 1200000 9000000 900000 86914000 1684

PFL 22730800 1313500 25000000 0 0 0 49044300 95

PPB 4200000 0 4200000 0 2500000 0 10900000 211

DEM 0 0 0 2653000 4000000 0 6653000 129

PR 0 0 0 0 4000000 0 4000000 077

PSD 0 0 0 0 0 5000000 5000000 097

TOTAL 516254611 100

156

aplicaccedilatildeo do enfoque do ecodesenvolvimento Os candidatos eleitos natildeo

representam os interesses da maioria que os elegeu e sim daqueles

poucos que investiram em suas campanhas por meio de doaccedilotildees Vecircm se

consolidando assim um cenaacuterio no qual a injusticcedila poliacutetica alimenta a

reproduccedilatildeo da injusticcedila ambiental e ecoloacutegica

6 CARVAtildeO MINERAL E AMPLIACcedilAtildeO DA ENERGIA

TERMELEacuteTRICA EM SANTA CATARINA

A trajetoacuteria do carvatildeo mineral no Brasil e em Santa Catarina eacute

acompanhada de periacuteodos de crise e recuperaccedilatildeo do segmento A

construccedilatildeo da USITESC eacute uma forma de garantir a continuidade da

exploraccedilatildeo e do consumo do carvatildeo Aleacutem da crise do carvatildeo o que

aparece nos discursos de parlamentares presentes no capiacutetulo anterior eacute

o carvatildeo como seguranccedila energeacutetica

O objetivo desse capiacutetulo eacute compreender a ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo

de energia eleacutetrica movida a carvatildeo mineral atraveacutes da anaacutelise do

processo de licenciamento ambiental da USITESC Nos capiacutetulos dois e

trecircs foram tratados condicionantes mais amplos que incidem sobre a

ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo No capiacutetulo quatro foi examinada a relaccedilatildeo das

redes de influecircncia entre segmentos poliacuteticos e econocircmicos em vaacuterias

escalas Neste capiacutetulo a ideia eacute verificar os condicionantes que atuam

localmente

Para tanto o capiacutetulo estaacute dividido em quatro seccedilotildees aleacutem dessa

introduccedilatildeo A primeira seccedilatildeo trata das principais caracteriacutesticas do

municiacutepio de Treviso A segunda seccedilatildeo traz informaccedilotildees sobre os

documentos escritos da USITESC o EIARIMA o processo de

licenciamento e audiecircncias as correspondecircncias e articulaccedilotildees entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos e a posiccedilatildeo dos segmentos sociais Na

terceira seccedilatildeo entram os documentos falados do processo de

licenciamento os discursos nas audiecircncias puacuteblicas A anaacutelise dos

discursos torna expliacutecitas as relaccedilotildees de poder e desigualdade nas

audiecircncias puacuteblicas A quarta seccedilatildeo faz uma siacutentese das limitaccedilotildees e

possibilidades da democracia e do aprendizado social no caso do

licenciamento da USITESC

61 O municiacutepio de Treviso

A chegada dos primeiros imigrantes italianos no Sul de Santa

Catarina data de 1891 oriundas das proviacutencias de Treviso Beacutergamo

158

Cremona e Ferrara O povoado de Treviso tornou-se distrito de

Urussanga em 1933 Em 1958 o controle do distrito passou para

Sideroacutepolis emancipado de Urussanga Em 1995 o distrito de Treviso eacute

desmembrado de Sideroacutepolis formando um novo municiacutepio (IBGE

2013 PMT 2014)

No brasatildeo do municiacutepio a alusatildeo ao navio que trouxe os

primeiros imigrantes as duas atividades econocircmicas principais (extraccedilatildeo

do carvatildeo e o cultivo da banana) e as datas de colonizaccedilatildeo e

emancipaccedilatildeo (Figura 8)

Figura 8- Brasatildeo do municiacutepio de Treviso

Fonte PMT (2014) Autora Daniela Losso Redesenhado por Edson

Cesconetto

O municiacutepio de Treviso localiza-se na Bacia Carboniacutefera (Figura

9) entre Sideroacutepolis Lauro Muumlller e Urussanga a 220 km da capital

Florianoacutepolis a 35 km da BR 101 e a 25 km da cidade de Criciuacutema

(PMT 2014)

159

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Treviso

Fonte Concepccedilatildeo de Luciana Butzke Elaborado por Ruy Lucas de

Souza

O clima geral da regiatildeo segundo a classificaccedilatildeo climaacutetica de

Koumleppen eacute do tipo Cfa (mesoteacutermico uacutemido e com veratildeo quente) A

temperatura meacutedia anual varia de 170 a 193ordmC maacuteximas de 234 a

259ordmC e miacutenimas entre 120 e 151ordmC A meacutedia anual pluviomeacutetrica fica

em torno de 1220 a 1660mm e a umidade relativa do ar varia de 814

a 822 (UNESC PLURAL 2006)

A regiatildeo conta com grandes variaccedilotildees de relevo clima tipos de

solo fauna e flora A geomorfologia da regiatildeo conta com seis domiacutenios

ambientais Planalto dos Campos Gerais Serra Geral Patamares da

Serra Geral Depressatildeo da Zona Carboniacutefera Sudeste Catarinense

Embasamento em estilos complexos e Planiacutecie Coluacutevio-aluvionar (Quadro 9)

160

Quadro 9 - Principais caracteriacutesticas fiacutesicas e bioacuteticas da aacuterea de

influecircncia indireta do projeto USITESC DOMIacuteNIOS

AMBIENTAIS

SIacuteNTESE DAS CARACTERIacuteSTICAS

1 Planalto dos

Campos Gerais

Corresponde agrave regiatildeo mais elevada com relevo pouco

ondulado e altitudes superiores a 1000 metros Neste

domiacutenio prevalecem rochas de origem vulcacircnicasub-

vulcacircnica com solos pouco desenvolvidos normalmente

utilizados para produccedilatildeo de maccedilatilde reflorestamento e

pastagem Esse domiacutenio abriga algumas nascentes de rios

da bacia do Araranguaacute e da bacia do Tubaratildeo com

cobertura vegetal representada pelas matas de araucaacuteria

matinha nebular e campos de cima da serra tendo fauna

diversificada Aacuterea impactada pela derrubada das matas

de araucaacuteria plantio de pinus e queimadas nos campos

2 Serra Geral Corresponde agraves aacutereas de encosta com altitudes entre

500m e 1000m onde os desniacuteveis satildeo acentuados e os

vales satildeo fechados e profundos Satildeo formadas

principalmente por rochas arenosas e basaacutelticas e solos

rasos normalmente susceptiacuteveis agrave erosatildeo e a movimentos

de massa Abriga grande parte das nascentes dos rios das

bacias do Araranguaacute e do Tubaratildeo As florestas

encontram-se entre as mais preservadas da regiatildeo sul do

Estado atuando como reguladoras do clima do ciclo e da

distribuiccedilatildeo de chuvas servindo de centro de dispersatildeo e

conexatildeo de espeacutecies Caracteriza-se pela ampla

biodiversidade representando um dos ambientes mais

complexos fraacutegeis e ameaccedilados da regiatildeo que deve ser

preservado Neste domiacutenio se insere a Reserva Bioloacutegica

Estadual do Aguaiacute

3 Patamares da

Serra Geral

Os patamares da Serra Geral representam o

prolongamento da escarpa da Serra Geral que avanccedila

sobre a Depressatildeo Carboniacutefera e a Planiacutecie Coluacutevio-

Aluvionar constituindo morros-testemunhos como o

Montanhatildeo sustentados principalmente por basaltos e

diabaacutesicos Os solos tecircm normalmente baixa fertilidade e

satildeo utilizados nas aacutereas planas para pastagens plantio de

eucalipto e lavouras de subsistecircncia Nos terrenos

iacutengremes o solo eacute usado para o cultivo de banana No

alto do Montanhatildeo encontra-se uma das aacutereas mais

preservadas deste domiacutenio correspondente agrave APA do rio

Ferreira

4 Depressatildeo da

Zona Carboniacutefera

Regiatildeo de relevo mais suave em que predominam vales

abertos e pouco profundos Constitui-se principalmente

161

do Sudeste

Catarinense

de rochas sedimentares como arenitos folhelhos siltitos

e camadas de carvatildeo Os solos satildeo variados utilizados

principalmente para pastagens culturas de subsistecircncia e

reflorestamento de eucalipto Os recursos hiacutedricos

encontram-se comprometidos principalmente pela

exploraccedilatildeo de carvatildeo mas tambeacutem pelas atividades

industriais agriacutecolas e esgotamento sanitaacuterio A regiatildeo eacute

fortemente impactada com vaacuterias aacutereas degradadas pela

exploraccedilatildeo do carvatildeo paisagens fortemente

descaracterizadas e reduzida biodiversidade em alguns

locais

5 Embasamento

em estilos

complexos

Corresponde aos relevos ondulados formados por rochas

granitoacuteides e gnaacuteissicas onde os solos normalmente satildeo

pouco desenvolvidos e de baixa fertilidade

6 Planiacutecie Coluacutevio-

Aluvionar

Aacuterea de relevo plano (cotas inferiores a 100m) com solos

do tipo hidromoacuterficos com elevado teor de mateacuteria

orgacircnica Os solos satildeo empregados no cultivo de arroz

irrigado produccedilatildeo de hortaliccedilas uva e cana-de-accediluacutecar

Em regiotildees menos inundadas satildeo utilizados tambeacutem para

reflorestamento e pastagem

Fonte UNESC Plural (2006 p 24)

Eacute destaque em Treviso a Reserva Bioloacutegica Estadual do Aguaiacute e

a Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente do Rio Ferreira A Reserva Bioloacutegica

Estadual do Aguaiacute conta com aacuterea de 7762 hectares que se estende

entre os municiacutepios de Treviso Sideroacutepolis e Nova Veneza nos beirais

da Serra Geral A reserva abriga cachoeiras fauna e flora diversificadas

que constituem grande riqueza natural (UNESC PLURAL 2006)

O municiacutepio contava em 2010 com 3527 habitantes em

157084 km2 com uma densidade demograacutefica de 2245 habitantes por

quilocircmetro quadrado Desses 1789 eram homens e 1738 eram

mulheres 1833 habitavam o espaccedilo urbano e 1694 o espaccedilo rural A

Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) correspondia a 487 da

populaccedilatildeo (SEBRAE 2013b)

O Produto Interno Bruto (PIB) de Treviso corresponde a 008

da composiccedilatildeo do PIB catarinense Jaacute em relaccedilatildeo ao PIB per capita

Treviso encontra-se em 2009 na 17ordf posiccedilatildeo no ranking estadual O

Valor Adicionado Bruto (VAB) que representa a soma de todos os bens

e serviccedilos produzidos num determinado territoacuterio econocircmico ficou

assim distribuiacutedo 61 na induacutestria 24 no setor de serviccedilos e 9 na

administraccedilatildeo puacuteblica Em relaccedilatildeo ao Valor Adicionado Fiscal (VAF)

162

indicador econocircmico contaacutebil utilizado para calcular a participaccedilatildeo

municipal no repasse de impostos a extraccedilatildeo de carvatildeo mineral era

responsaacutevel por 66 da participaccedilatildeo do VAF no ano de 2010

(SEBRAE 2013b) Esses dados demonstram uma forte dependecircncia do

municiacutepio agrave atividade carboniacutefera

Dos 1093 domiciacutelios existentes no municiacutepio 853 eram

proacuteprios 91 alugados 55 cedidos e 01 em outra condiccedilatildeo No

que se refere agrave renda familiar 04 da populaccedilatildeo contava com renda

familiar per capita de ateacute R$ 7000 16 com renda familiar per capita

de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo e 103 com ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo A meacutedia

salarial da induacutestria extrativa era de R$ 185480 inferior apenas a

atividades relacionadas agrave eletricidade e gaacutes com uma meacutedia de R$

277460 Nesse mesmo ano o municiacutepio contava com 1629 postos de

trabalho com carteira assinada dos quais 1132 eram vinculados agrave

atividade carboniacutefera em cinco empresas (SEBRAE 2013b) Quando

69 dos postos de trabalho com carteira assinada tecircm origem na

atividade carboniacutefera que na localidade apresenta tambeacutem uma das

melhores meacutedias salariais a populaccedilatildeo fica numa posiccedilatildeo de

vulnerabilidade jaacute que depende dessa atividade para o seu sustento

Na lavoura temporaacuteria destacam-se a produccedilatildeo do arroz batata-

doce batata inglesa feijatildeo (gratildeo) fumo mandioca milho (gratildeo) Na

lavoura permanente tem se destacado a banana No municiacutepio tambeacutem

satildeo criadas aves (galos galinhas frangos e pintos) que em 2010

somavam 500000 cabeccedilas (SEBRAE 2013b)

Treviso conta com trecircs aacutereas inclusas na Accedilatildeo Civil Puacuteblica nordm

938000533-4 que determina a recuperaccedilatildeo das aacutereas degradas pela

mineraccedilatildeo Aacuterea III Rio Pio que tem 11781 hectares Campo Morosini

com 22100 hectares e UM IV Volta Redonda com 5797 hectares A

primeira aacuterea natildeo foi iniciada a segunda estaacute em andamento e a terceira

jaacute estaacute finalizada O processo de recuperaccedilatildeo foi orccedilado em 319 milhotildees

de reais (ACP DO CARVAtildeO 2014)

62 O processo de licenciamento os documentos escritos

A primeira solicitaccedilatildeo de parecer da USITESC referente ao

Licenciamento Preacutevio (LP) data do dia 2 de maio de 2000 Segundo a

solicitaccedilatildeo o parecer se fazia necessaacuterio para que a Usina fosse

163

implantada dentro do prazo previsto pelo Governo e pelo Programa

Prioritaacuterio de Termeleacutetricas que se colocava para dezembro de 2003

(FATMA 2013a fl 1) A contrataccedilatildeo do EIARIMA foi em 2001 e a

entrega aconteceu em 18 de agosto de 2003 (FATMA 2013a fl 49)

621 O EIARIMA da USITESC

A equipe responsaacutevel pelo projeto da USITESC foi composta por

consoacutercio formado pela Carboniacutefera Criciuacutema SA e pela Companhia

Carboniacutefera Metropolitana SA O projeto foi desenvolvido com o apoio

da Parsons Energy amp Chemicals Group Main Engenharia amp Consultoria

Ltda e Taylor DeJongh E o EIARIMA foi realizado pelo IPAT

vinculado agrave UNESC e Plural

A previsatildeo de construccedilatildeo da USITESC eacute de 40 meses A aacuterea a

ser ocupada pela usina localiza-se na margem direita do rio Matildee Luzia

tem aproximadamente 500000m2 e pertence agrave Carboniacutefera

Metropolitana sendo utilizada como depoacutesito de rejeitos (Figura 10)

(UNESC PLURAL 2006)

Figura 10 - Aacuterea prevista para a implantaccedilatildeo da USITESC

Fonte UNESC Plural 2006 p 5

164

Para a produccedilatildeo de energia termeleacutetrica a usina vai utilizar carvatildeo

bruto da camada Bonito (70) e rejeitos da camada Barro Branco

(30) que seratildeo fornecidos pelas duas empresas que compotildeem o

consoacutercio O consumo meacutedio anual previsto eacute de 1900000 toneladas de

carvatildeo e 820000 toneladas de rejeito A USITESC teraacute potecircncia

instalada de 440 MW e segundo a descriccedilatildeo do empreendimento vai

gerar 180 empregos diretos (FATMA 2013a fl 34)

Na justificativa do EIARIMA destacou-se a importacircncia

estrateacutegica do carvatildeo dada a dependecircncia hidroenergeacutetica e a

inseguranccedila quanto agrave importaccedilatildeo do gaacutes natural e o uso de tecnologias

limpas de queima de carvatildeo Natildeo satildeo citados dados sobre consumo e

demanda A USITESC adquire importacircncia na recuperaccedilatildeo ambiental do

Sul jaacute que vai consumir os rejeitos (UNESC PLURAL 2006)

Para gerar energia termeleacutetrica a USITESC vai utilizar o ciclo

teacutermico regenerativo com uso de caldeira de leito fluidizado que

recupera calor exigindo um consumo menor de combustiacutevel A

combustatildeo em leito fluidizado circulante reduz a produccedilatildeo de oacutexidos de

nitrogecircnio O controle das emissotildees atmosfeacutericas seraacute feito atraveacutes da

injeccedilatildeo de calcaacuterio na caldeira (Consumo meacutedio anual de 150000

toneladas) e de um sistema de filtragem que utilizaraacute amocircnia (consumo

meacutedio anual entre 72000 a 80000 toneladas Como resultado seratildeo

obtidas aproximadamente 300000 toneladas de sulfato de amocircnia que

seratildeo utilizadas na produccedilatildeo de fertilizantes quiacutemicos Quanto ao

consumo de aacutegua prevecirc-se um consumo meacutedio de 32 ls (115m3h) no

processo e 2361 ls (848m3h) no resfriamento Soacute a tiacutetulo de

comparaccedilatildeo para o abastecimento de Criciuacutema e municiacutepios vizinhos

satildeo utilizados 800ls do rio Satildeo Bento localizado na sub-bacia do Rio

Matildee Luzia (UNESC PLURAL 2006)16

Na avaliaccedilatildeo de impactos constam no RIMA oito impactos no

meio fiacutesico seis impactos no meio bioacutetico e 11 no meio antroacutepico

(Quadro 10) Dentre os impactos listados os de maior expressatildeo satildeo

16

O alto consumo de aacutegua e a construccedilatildeo de uma barragem no Rio

Matildee Luzia foram desde o iniacutecio do processo de licenciamento

pontos polecircmicos do projeto Devido a esses pontos o projeto foi

alterado de torre uacutemida para torre seca diminuindo o consumo de

aacutegua para 115m3h em todo o processo

165

reduccedilatildeo na geraccedilatildeo de drenagem aacutecida (considerado um impacto

positivo) alteraccedilatildeo da qualidade do ar (principalmente durante a

construccedilatildeo da Usina com a movimentaccedilatildeo de veiacuteculos pesados o

dioacutexido de enxofre pode elevar-se) reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua

(com as torres de resfriamento uacutemidas) e impacto sobre aacutereas

protegidas

Quadro 10- Impactos sobre o Meio Fiacutesico Bioacutetico e Antroacutepico e

accedilotildees geradoras IMPACTOS SOBRE O

MEIO FIacuteSICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Solo Intensificaccedilatildeo de

processos erosivos e

de assoreamento

Obras de corte e aterro necessaacuterias agrave

implantaccedilatildeo do empreendimento

Contaminaccedilatildeo do solo

pela disposiccedilatildeo de

resiacuteduos soacutelidos e

efluentes

Operaccedilatildeo da usina resiacuteduos produzidos

durante as fases de construccedilatildeo e operaccedilatildeo da

usina

Reduccedilatildeo da geraccedilatildeo

de drenagem aacutecida

Consumo de rejeito do beneficiamento de

carvatildeo e recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

pela mineraccedilatildeo

Aacutegua

Alteraccedilatildeo na

qualidade das aacuteguas

superficiais

Construccedilatildeo da usina efluentes oleosos

como oacuteleos e graxas advindos da

manutenccedilatildeo de maacutequinas e caminhotildees

ligados agraves obras eou do armazenamento

temporaacuterio de combustiacuteveis e lubrificantes

Efluentes a serem descartados pelo

empreendimento durante a fase de operaccedilatildeo

Alteraccedilatildeo na

qualidade das aacuteguas

subterracircneas

Disposiccedilatildeo inadequada de resiacuteduos soacutelidos

efluentes sanitaacuterios efluentes industriais

Reduccedilatildeo da

disponibilidade de

aacutegua

Operaccedilatildeo da usina captaccedilatildeo de aacutegua para

torre de resfriamento da usina

Ar e

ruiacutedo

Alteraccedilatildeo da

qualidade do ar

Aumento do traacutefego de veiacuteculos pesados

movimentaccedilatildeo de veiacuteculos em aacutereas natildeo

pavimentadas operaccedilatildeo da usina manuseio

do combustiacutevel

Alteraccedilatildeo das

condiccedilotildees de ruiacutedo de

fundo

Traacutefego e operaccedilatildeo de veiacuteculos pesados

operaccedilatildeo de equipamentos como

compressores britadores sondas etc

operaccedilatildeo dos equipamentos da usina

166

IMPACTOS SOBRE O

MEIO BIOacuteTICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Fauna

e

Flora

Reduccedilatildeo de habitats

para a fauna local

Preparaccedilatildeo da aacuterea de implantaccedilatildeo da usina

obras de terraplenagem e retirada da

cobertura vegetal

Evasatildeo da fauna Ruiacutedos produzidos durante a fase de

implantaccedilatildeo e construccedilatildeo da usina alteraccedilatildeo

da qualidade do ar e perda de habitats devido

agraves obras de terraplenagem

Impacto sobre a

avifauna

Operaccedilatildeo da usina

Impacto sobre a fauna

de peixes e

organismos aquaacuteticos

Construccedilatildeo da usina operaccedilatildeo da usina

manutenccedilatildeo de equipamentos transporte e

armazenamento de reagentes e outros

insumos natildeo inertes

Impacto sobre a

vegetaccedilatildeo

remanescente e

culturas

Traacutefego de veiacuteculos movidos a oacuteleo diesel

operaccedilatildeo da usina (queima de carvatildeo)

Impacto sobre as aacutereas

protegidas

Periacuteodo de construccedilatildeo da usina contingente

de trabalhadores e operaccedilatildeo da usina

IMPACTOS SOBRE O

MEIO ANTROacutePICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Geraccedilatildeo de conflitos Contrataccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

instalaccedilatildeo do canteiro de obras

Geraccedilatildeo de

expectativa e

mobilizaccedilatildeo da

comunidade

Estudos e projetos contrataccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

Sobrecarga da infra-

estrutura social

existente

Obras da usina contrataccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

da matildeo-de-obra

Geraccedilatildeo de emprego Construccedilatildeo da usina operaccedilatildeo da usina

mineraccedilatildeo do carvatildeo serviccedilos terceirizados

Geraccedilatildeo de renda e

ampliaccedilatildeo da oferta de

serviccedilos

Construccedilatildeo e operaccedilatildeo da usina

Atraccedilatildeo de matildeo-de-

obra de outras aacutereas

Construccedilatildeo da usina contrataccedilatildeo e

desmobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

Incremento do

desenvolvimento

econocircmico

Operaccedilatildeo da usina

Mudanccedila no cotidiano

da comunidade

Obras da usina contrataccedilatildeo de matildeo-de-obra

de outras regiotildees demanda por serviccedilos e

167

sobrecarga da infra-estrutura social

alteraccedilatildeo do padratildeo de traacutefego dos veiacuteculos

Alteraccedilatildeo das

condiccedilotildees de sauacutede da

populaccedilatildeo

Implantaccedilatildeo da usina fase das obras e

operaccedilatildeo da usina emissatildeo de gases ruiacutedo

disposiccedilatildeo das cinzas e depoacutesito temporaacuterio

de carvatildeo e reagentes

Aumento do traacutefego

de veiacuteculos e pressatildeo

sobre a infra-estrutura

viaacuteria

Obras da usina obras complementares

operaccedilatildeo da usina transporte de insumos de

subprodutos e de resiacuteduos

Aumento do risco de

acidentes de tracircnsito

Obras da usina transporte de pessoas e

insumos

Impacto na paisagem

local e perda de

referecircncias histoacuterico-

culturais

Obras da usina e complementares

Interferecircncia em siacutetios

arqueoloacutegicos

Obras complementares da usina barragem e

reservatoacuterio estradas e vias de acesso linha

de transmissatildeo

Fonte UNESC Plural (2006 p 34-5)

No EIARIMA natildeo haacute nenhuma referecircncia aos empreendimentos

acessoacuterios a saber o reservatoacuterio de aacutegua a ser construiacutedo no rio Matildee

Luzia a extensatildeo da ferrovia entre Sideroacutepolis e a Mina Esperanccedila e

Fontanella a linha de transmissatildeo que vai conectar a subestaccedilatildeo da

ELETROSUL em Sideroacutepolis com a Usina e o terminal de recebimento

e estocagem de amocircnia no Porto de Imbituba Os empreendimentos

acessoacuterios seratildeo tratados na sessatildeo 63 deste capiacutetulo Faltou tambeacutem

mencionar nos impactos sobre o meio antroacutepico da desarticulaccedilatildeo da

estrutura econocircmica existente o pequeno comeacutercio a lavoura de

subsistecircncia a pesca artesanal as atividades domeacutesticas etc

Tendo como referecircncia os impactos listados no Quadro 10 foram

propostas 59 medidas mitigatoacuterias sendo 25 preventivas duas

corretivas trecircs preventivas e corretivas 17 compensatoacuterias nove de

acompanhamento e trecircs de controle

Dentre os programas ambientais propostos para a USITESC

destacam-se programa de monitoramento ambiental programa de

conservaccedilatildeo da fauna e flora programa de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

arqueoloacutegico programa de comunicaccedilatildeo social programa de

gerenciamento de risco programa de reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas

168

programa de gestatildeo ambiental e programa de fomento ao

desenvolvimento sustentaacutevel No Quadro 11 uma siacutentese dos programas

e seus alvos principais

Quadro 11 - Siacutentese dos Programas da USITESC e alvos principais PROGRAMA ALVO

Monitoramento ambiental Qualidade do ar solo e aacutegua

Adequaccedilatildeo da infraestrutura baacutesica Rodovias sauacutede educaccedilatildeo e

abastecimento de aacutegua

Controle ambiental Qualidade do ar solo e aacutegua na aacuterea

do empreendimento

Conservaccedilatildeo da fauna e flora Fauna e flora no entorno do

empreendimento

Preservaccedilatildeo do patrimocircnio

arqueoloacutegico

Patrimocircnio arqueoloacutegico da regiatildeo

Comunicaccedilatildeo social Informaccedilotildees atualizadas sobre o

empreendimento para a comunidade

Gerenciamento de risco Armazenamento de produtos

perigosos

Reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas Entorno do empreendimento

Gestatildeo ambiental Processo decisoacuterio da Usina e relaccedilatildeo

com os colaboradores

Fomento ao desenvolvimento

sustentaacutevel

Criaccedilatildeo de um fundo de fomento agrave

atividades de recuperaccedilatildeo ambiental

melhoria da qualidade de vida e

desenvolvimento sustentaacutevel

Fonte Baseado em UNESC Plural (2006)

Quando analisadas as perspectivas para a regiatildeo com e sem a

implantaccedilatildeo do empreendimento alguns aspectos podem ser destacados

Sem o empreendimento natildeo haveria pressatildeo antroacutepica e a regiatildeo seguiria

as atuais tendecircncias de desconcentraccedilatildeo crescimento moderado da

atividade agropecuaacuteria continuidade da atividade carboniacutefera num

cenaacuterio de suposta estagnaccedilatildeo econocircmica Com o empreendimento

haveria uma dinamizaccedilatildeo da economia municipal geraccedilatildeo de emprego e

renda o consumo do rejeito para geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica e a pressatildeo antroacutepica na aacuterea de influecircncia da USITESC inclusive aacutereas

preservadas (UNESC PLURAL 2006)

169

622 Das audiecircncias puacuteblicas e licenccedilas

O processo de licenciamento da USITESC contou com a

realizaccedilatildeo de quatro audiecircncias puacuteblicas que ocorreram de acordo com

a resoluccedilatildeo do CONAMA nordm 00987 As audiecircncias aconteceram no

municiacutepio de Treviso A primeira ocorreu em 19 de fevereiro de 2004 a

segunda em oito de julho de 2004 a terceira em 16 de maio de 2006 e a

quarta em 8 de novembro de 2007 A realizaccedilatildeo das quatro audiecircncias

puacuteblicas se deve ao fato de que vaacuterias informaccedilotildees natildeo constavam do

EIARIMA tendo sido solicitados estudos complementares que

incluiacuteam tambeacutem os empreendimentos acessoacuterios

Apoacutes a terceira audiecircncia puacuteblica em trecircs de julho de 2006

Darlan Aiacuterton Dias Procurador da Repuacuteblica enviou uma

correspondecircncia para o entatildeo presidente da FATMA Jacircnio Wagner

Constante informando que o licenciamento da USITESC e do

reservatoacuterio de aacutegua precisam ser conjuntos sob pena de fracionar o

licenciamento (FATMA 2013d fl 687) O procurador da repuacuteblica

recomendou que ldquonatildeo seja concedida LP para a USITESC sem que

antes seja apresentado EIARIMA relativo agrave construccedilatildeo do reservatoacuterio

no rio Matildee Luzia o qual deveraacute ser publicado e submetido a audiecircncia

puacuteblica conforme determina a legislaccedilatildeo vigenterdquo (FATMA 2013d fl

687)

Em seis de marccedilo de 2007 Alfredo Flavio Gazzolla informou ao

novo presidente da FATMA Carlos L Kreuz que diante da situaccedilatildeo

colocada a USITESC estava alterando seu projeto original mudando o

sistema de resfriamento da usina e reduzindo o consumo de aacutegua a 10

do previsto anteriormente (FATMA 2013e fl 831)

Com a alteraccedilatildeo do projeto o Procurador da Repuacuteblica Darlan

Airton Dias em oito de maio de 2007 informou a necessidade da

realizaccedilatildeo de uma nova audiecircncia puacuteblica ldquoConsiderando a mudanccedila

conceitual no projeto eventual concessatildeo de Licenccedila Ambiental Preacutevia

ndash LAP depende da realizaccedilatildeo de nova audiecircncia puacuteblicardquo (FATMA

2013e fl 842-3) Apoacutes a realizaccedilatildeo da quarta audiecircncia puacuteblica em 8 de novembro de 2007 a LP foi concedida em 14 de dezembro de 2007

(LAP nordm 1482007) (FATMA 2013f fl 1065)

Em 31 de marccedilo de 2008 foi comunicada a Alteraccedilatildeo da

composiccedilatildeo acionaacuteria da USITESC 95 do capital foi assumido pela

170

Linear Participaccedilotildees e Incorporaccedilotildees Ltda e os 5 restantes ficam com

as Carboniacuteferas Criciuacutema e Metropolitana A comunicaccedilatildeo remetida por

Kaioaacute Gomes diretor teacutecnico da Linear foi endereccedilada ao novo

presidente da FATMA Murilo Xavier Flores (FATMA 2013f fl

1111)

Em dois de marccedilo de 2010 foi concedida a LI (LAI nordm 06GELUR

2010) (FATMA 2013h fl 1540) Ainda em 2010 foi estabelecido o

Termo de Compromisso de Compensaccedilatildeo Ambiental R$ 670800000 a

serem aplicados na Reserva Bioloacutegica Estadual do Aguaiacute (FATMA

2013h fl 1549-1554)

Em 15 de fevereiro de 2013 Kaioaacute Gomes solicitou a

prorrogaccedilatildeo da LI (FATMA 2013h fl 1607-08) Em resposta Ivana

Becker concluiu ser viaacutevel a prorrogaccedilatildeo da LI pelo prazo de 36 meses

(FATMA 2013h fl 1603-5)

A solicitaccedilatildeo de estudos complementares e as quatro audiecircncias

puacuteblicas parecem demonstrar uma estrateacutegia de desinformaccedilatildeo por parte

dos segmentos econocircmicos O papel do Ministeacuterio Puacuteblico foi chave no

questionamento e equacionamento dessa questatildeo

623 Pressotildees dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos no processo de

licenciamento

Um aspecto interessante na anaacutelise do discurso dos documentos

do processo de licenciamento foi a pressatildeo exercida pela USITESC e

pelo Governo do Estado sobre a FATMA Em janeiro de 2005 o entatildeo

presidente da USITESC enviou uma carta ao governo do estado

questionando o tratamento dado pela FATMA ao processo de

licenciamento ambiental destacando a importacircncia da USITESC e

sugerindo uma falta de sintonia entre FATMA e poder executivo

conforme trecho da carta a seguir

Esta empresa gostaria de registrar seu protesto e

indignaccedilatildeo pelo peacutessimo tratamento dado por esta

Fundaccedilatildeo ao processo de licenciamento ambiental

da USITESC embora tenhamos sempre procurado

dar o maacuteximo de suporte e pautado nossa postura

171

no sentido da maacutexima cooperaccedilatildeo e pronto

atendimento a qualquer solicitaccedilatildeo da FATMA

Nossa paciecircncia esgota-se no momento em que

percebemos o descaso com que eacute tratado um

projeto da magnitude da Usina Termeleacutetrica Sul

Catarinense ndash USITESC cujo conceito de

desenvolvimento vem desde o iniacutecio de seus

estudos buscando a melhor integraccedilatildeo do projeto

com sua aacuterea de influecircncia e geraccedilatildeo de resultados

positivos para o meio ambiente em que se insere

()

Este fato contrasta com as manifestaccedilotildees puacuteblicas

de apoio ao Projeto USITESC recebidas do

Governo Estadual pelos empreendedores e revela

falta de sintonia entre a Fatma e o poder executivo

do Estado de Santa Catarina (Alfredo Flaacutevio

Gazzolla presidente da USITESC FATMA

2013c fl 357 e 359)

Em marccedilo de 2005 o vice-governador em exerciacutecio Eduardo

Pinho Moreira cobrou um posicionamento do diretor geral da FATMA

Janio Wagner Constante

Pela inegaacutevel importacircncia da instalaccedilatildeo da Usina

para o Estado de Santa Catarina e tendo em vista

ter a mesma cumprido com todas as

recomendaccedilotildees ministeriais solicito-lhe urgecircncia

na anaacutelise teacutecnica do projeto pelo que agradeccedilo

antecipadamente (FATMA 2013b fl 352)

Em dezembro de 2005 novamente Alfredo Flaacutevio Gazzolla

enviou carta ao governador do estado Luiz Henrique da Silveira

pedindo a determinaccedilatildeo de um ldquomelhor estudordquo para a emissatildeo da LP

Assim em respeito ao vosso honrado nome e na

defesa do maior empreendimento em estudo no

estado de Santa Catarina solicito seus preacutestimos

no sentido de determinar um melhor estudo

quanto agrave emissatildeo da LAP sem a qual estaremos

impossibilitados de participar do proacuteximo leilatildeo

de energia no semestre vindouro (FATMA

2013c fl 388)

172

Na mesma carta o presidente da USITESC solicitou a licenccedila

preacutevia independente da conclusatildeo do Estudo Suplementar solicitado

pela FATMA

Solicita-se ao Governo do Estado que emita a

Licenccedila Preacutevia para a USITESC

independentemente da conclusatildeo do Estudo

Suplementar solicitado pela FATMA jaacute que nada

impede a FATMA de emitir esta licenccedila uma vez

que o empreendedor cumpriu todas as exigecircncias

legais cabiacuteveis para sua obtenccedilatildeo e que a FATMA

poderaacute nela colocar todos os condicionantes que

considerar pertinentes tendo em vista assegurar a

viabilidade da continuidade do processo de

licenciamento ambiental da USITESC (FATMA

2013c fl 390)

Em resposta Luiz Antocircnio Garcia Correcirca Diretor de controle

ambiental da FATMA em 19 de dezembro de 2005 repreendeu a

USITESC quanto agraves manifestaccedilotildees da miacutedia que relacionavam o natildeo

licenciamento da USITESC e a natildeo participaccedilatildeo no leilatildeo da ANEEL a

uma decisatildeo da FATMA

Temos observado manifestaccedilotildees equivocadas na

miacutedia provenientes de representante do SIECESC

relativa ao processo de licenciamento ambiental

reputado inclusive a FATMA a natildeo participaccedilatildeo

da USITESC no leilatildeo da ANEEL o que natildeo

condiz com a realidade Tais fatos em nada

contribuem ao processo de licenciamento

ambiental (FATMA 2013c fl 641-642)

O conteuacutedo das correspondecircncias demonstra as articulaccedilotildees entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos Depois de 2005 natildeo constam mais

correspondecircncias relacionadas Eacute importante frisar que eacute em 2005 que

surgiu a Frente Parlamentar Mista em defesa do Carvatildeo Mineral e

aumentaram as doaccedilotildees das carboniacuteferas aos poliacuteticos Dessa forma

sugere-se que se ateacute 2005 a pressatildeo sobre o oacutergatildeo ambiental era

173

exercida diretamente apoacutes 2005 com uma maior articulaccedilatildeo a pressatildeo

pode ser exercida de outras formas natildeo passando necessariamente pelo

oacutergatildeo ambiental

624 A posiccedilatildeo dos segmentos sociais

Os segmentos sociais se posicionaram contra a ampliaccedilatildeo da

energia termeleacutetrica ao longo do processo de licenciamento Na ocasiatildeo

da primeira audiecircncia puacuteblica em 19 de fevereiro de 2004 a ONG

Amigos da Terra Brasil enviou a seguinte mensagem

Amigos da Terra se solidariza com as entidades da

regiatildeo sul de Santa Catarina e acredita que as lutas

locais satildeo responsaacuteveis pela resistecircncia agraves

injusticcedilas socioambientais e pela promoccedilatildeo das

mudanccedilas necessaacuterias para um futuro sustentaacutevel

Um futuro onde as energias renovaacuteveis podem

promover descentralizaccedilatildeo universalizaccedilatildeo do

acesso controle social e empregos sem a

contaminaccedilatildeo local e o aquecimento global

decorrentes do uso do carvatildeo mineral (FATMA

2013c Fl 463)

O Grupo de Trabalho Energia do FBOMS tambeacutem enviou uma

mensagem

As organizaccedilotildees do GT Energia do Foacuterum

Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento expressam

sua solidariedade agraves populaccedilotildees direta ou

indiretamente afetadas pelos impactos da

mineraccedilatildeo e queima do carvatildeo mineral para a

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica na regiatildeo sul de

Santa Catarina () Conhecendo os graves

impactos jaacute causados pelas atividades carboniacuteferas

no Sul de Santa Catarina temos a certeza do

equiacutevoco que representa a instalaccedilatildeo de mais uma

174

usina a carvatildeo na regiatildeo (FATMA 2013c fl

464)

O Movimento pela Vida de Iccedilara tambeacutem registrou sua posiccedilatildeo

ldquoA regiatildeo natildeo suporta mais impactos ambientais eacute preciso mais

seriedade quando se discute qualquer accedilatildeo que interfira na natureza e na

qualidade de vida das crianccedilas dos jovens das mulheres e dos homens

que vivem na regiatildeordquo (FATMA 2013c fl 466)

Na ocasiatildeo da segunda audiecircncia puacuteblica 8 de julho de 2004 natildeo

constaram manifestaccedilotildees escritas Na terceira audiecircncia puacuteblica 16 de

maio de 2006 em carta da ONG Soacutecios da Natureza assinada por Tadeu

Santos agrave Direccedilatildeo da FATMA ficou registrado que havia uma

solicitaccedilatildeo ldquo() agrave FATMA que realizasse a terceira AP em Criciuacutema ou

mesmo em Araranguaacute jaacute que se trata de um empreendimento que

comprovadamente promove impactos ambientais em toda regiatildeordquo E

mais a frente ao falar sobre o processo de licenciamento afirmou que

ldquosomos atores num circo montado para apresentar uma peccedila com o final

desejado pelo empreendedorrdquo (FATMA 2013c fl 538-542)

Na quarta audiecircncia puacuteblica 8 de novembro de 2007 tambeacutem

natildeo constam manifestaccedilotildees escritas Em 19 de maio de 2011 a Diocese

de Criciuacutema enviou um manifesto para o entatildeo presidente da FATMA

Murilo Xavier Flores contra a instalaccedilatildeo da USITESC (FATMA

2013h fl 1601)

A articulaccedilatildeo dos segmentos sociais apresenta estrateacutegias

importantes que convergem com o enfoque da justiccedila ambiental A

difusatildeo espacial do movimento torna-se vital quando aleacutem dos impactos

regionais a populaccedilatildeo diretamente afetada pelo empreendimento tem

uma forte dependecircncia do segmento em questatildeo Conforme jaacute

mencionamos neste capiacutetulo 69 dos empregos com carteira assinada

satildeo oferecidos pelo segmento do carvatildeo mineral e boa parte da

arrecadaccedilatildeo da prefeitura local vem desta atividade Dessa forma natildeo se

verifica uma resistecircncia local ao empreendimento daiacute porque os

segmentos sociais sediados em outros municiacutepios regiotildees estados

brasileiros desempenham um papel fundamental no questionamento do

empreendimento

175

63 Relaccedilotildees de poder e desigualdade nas audiecircncias puacuteblicas os

documentos falados

No estado de Santa Catarina o procedimento adotado durante

uma audiecircncia puacuteblica eacute descrito resumidamente no Quadro 12 A

coordenaccedilatildeo dos trabalhos eacute feita pela FATMA e o tempo de duraccedilatildeo

maacuteximo da audiecircncia puacuteblica eacute de quatro horas Eacute feita uma abertura da

sessatildeo na qual o presidente da mesa esclarece os objetivos e transmite

as regras gerais Na sequecircncia o empreendedor apresenta o projeto e a

consultoria apresenta o EIARIMA Um intervalo de 15 minutos eacute feito

para que os presentes possam se inscrever Os questionamentos satildeo

feitos por ordem de inscriccedilatildeo e podem ser orais ou escritos Os escritos

satildeo lidos pelo coordenador da sessatildeo e os orais devem ser formulados

em trecircs minutos O empreendedor e a consultoria tecircm cinco minutos

para responder e ainda constam dois minutos para reacuteplica e trecircs minutos

para treacuteplica O encerramento eacute feito pelo coordenador da sessatildeo

Quadro 12 - Procedimento para conduccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas

FATMA ETAPAS DA AUDIEcircNCIA TEMPO

Abertura FATMA (10min)

Exposiccedilotildees Proponente do projeto (20min)

Consultoria responsaacutevel pelo

EIARIMA (45min)

Manifestaccedilatildeo da plenaacuteria e debates Intervalo para inscriccedilotildees (15min)

Questionamento (3min)

Resposta (5min)

Reacuteplica (2min)

Treacuteplica (3min)

Encerramento FATMA (sem tempo definido)

Fonte Adaptado de FATMA (2013a fl 101-2)

A elaboraccedilatildeo do projeto da USITESC iniciou em 1999 (Luis

Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007) Em 19 de

fevereiro de 2004 foi realizada a primeira audiecircncia puacuteblica Na

abertura foi lido um ofiacutecio do Ministeacuterio Puacuteblico Federal avisando que

seria requerida uma segunda audiecircncia puacuteblica dado que o EIA

precisava da anaacutelise dos peritos da quarta cacircmara de Brasiacutelia A segunda

audiecircncia puacuteblica foi realizada no dia 8 de julho de 2004 por solicitaccedilatildeo

da FATMA para discutir o projeto da USITESC com o Comitecirc Gestor

176

da Bacia do Rio Araranguaacute porque havia uma preocupaccedilatildeo com o

consumo de aacutegua Motivado pela recomendaccedilatildeo nordm 14 foi contratado

entatildeo um estudo de suplementaccedilatildeo Esse estudo foi apresentado na

terceira audiecircncia puacuteblica em 16 de maio de 2006 tratando dos

empreendimentos acessoacuterios da USITESC (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

As duas audiecircncias puacuteblicas analisadas neste capiacutetulo a terceira e

quarta audiecircncia de 16 de maio de 2006 e 8 de novembro de 2007

respectivamente seguiram o procedimento acima apresentado Em

ambas constatou-se um rigor maior no controle do tempo dos

participantes que apresentaram seus questionamentos que com os

respondentes (empreendedor IPAT Ministeacuterio Puacuteblico Federal e

FATMA) Foram convidados para tomar assento na mesa representantes

da FATMA Ministeacuterio Puacuteblico Federal empreendedor IPAT

prefeitura e SIESESC Diante disso cabe questionar Por que somente

representantes dos segmentos poliacuteticos e econocircmicos tiveram assento na

mesa de trabalho Por que os representantes dos segmentos sociais natildeo

tiveram assento

Na quarta audiecircncia mediada por Adhiles Bortot da FATMA foi

utilizada uma sequecircncia diferente nos questionamentos orais e escritos

natildeo foi respeitada a ordem de chegada Os questionamentos escritos

foram lidos primeiro Em muitos momentos nos questionamentos orais

diante de colocaccedilotildees polecircmicas Adhiles Bortot passava para a pergunta

seguinte como se o questionamento natildeo precisasse ser respondido Por

vaacuterias vezes ele foi interrompido pelo IPAT e Ministeacuterio Puacuteblico

Federal que queriam comentar as intervenccedilotildees do puacuteblico Outro ponto

que merece ser destacado eacute que ele interrompia repetidamente o

questionador pedindo que o tempo fosse respeitado Logo as pessoas

que faziam questionamentos resumiam sua fala sobrando mais tempo

para os respondentes

Nas proacuteximas seccedilotildees desse capiacutetulo a partir da transcriccedilatildeo e

anaacutelise das audiecircncias puacuteblicas encontram-se trechos selecionados de

temas Fragmentos dos discursos dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais foram destacados e comentados a partir dos pontos mais

controvertidos

177

631 A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica

Os discursos das audiecircncias puacuteblicas proacute USITESC tenderam a

minimizar os impactos causados pelo empreendimento ressaltando seus

aspectos positivos Os segmentos econocircmicos representados pelo

empreendedor situaram a USITESC num contexto mundial no qual o

carvatildeo mineral eacute base da matriz energeacutetica O uso de novas tecnologias

e a situaccedilatildeo do Brasil colocaria as emissotildees de gases de efeito estufa

como insignificantes na matriz energeacutetica brasileira

() os estudos energeacuteticos mostram que o carvatildeo

ainda seraacute a base da matriz energeacutetica mundial ateacute

o ano de 2050 no miacutenimo O incremento de

novos projetos a carvatildeo vem paulatinamente

recebendo tratamento tecnoloacutegico para minimizar

a formaccedilatildeo de gases de efeito estufa Isso eacute uma

verdade () a contribuiccedilatildeo do Brasil para o efeito

estufa com novas usinas a carvatildeo eacute insignificante

perante o quadro mundial Soacute para citar um

exemplo esse ano soacute na Alemanha foram

contratados mais de oito mil novos megawatts a

carvatildeo O Brasil todo tem pouco mais de mil

megawatts a carvatildeo instalados A USITESC estaacute

propondo colocar uma potecircncia bruta de 200440

dos quais vai gerar em meacutedia 280 a 300

Alemanha tem 70 mil megawatts de carvatildeo

instalados O nordeste dos Estados Unidos tem

350 mil soacute o nordeste dos Estados Unidos 350

mil megawatts de carvatildeo instalados (Luis Carlos

Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

A ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral eacute

ldquonecessaacuteriardquo para o Brasil e a USITESC eacute um empreendimento

economicamente viaacutevel

() o sistema eleacutetrico brasileiro necessita da

geraccedilatildeo teacutermica e para isso o carvatildeo mineral eacute

sem duacutevida o nosso melhor potencial a USITESC

utilizaraacute um combustiacutevel de baixo custo os niacuteveis

tarifaacuterios sinalizados para o horizonte de

contrataccedilatildeo da energia da Usina indicam boa

rentabilidade para o Projeto adicional pela venda

178

do sulfato de amocircnia 320000 toneladas por ano

(Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Os impactos ambientais e riscos foram minimizados nas

colocaccedilotildees garantindo-se que os investidores internacionais natildeo

participam de empreendimentos que contrariem a legislaccedilatildeo e possuam

risco ambiental A atuaccedilatildeo fiscalizadora do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

tambeacutem foi citada Natildeo foi destacada em nenhum momento a

importacircncia da FATMA

() a USITESC significa um investimento global

da ordem de 750 milhotildees de doacutelares Esse

dinheiro natildeo vai ser buscado em algum fundo de

quintal Esse dinheiro tem investidores

internacionais e ningueacutem arrasta dinheiro

ningueacutem bota dinheiro em empreendimento que

possui risco ambiental A maior garantia que vocecirc

tem que um projeto vai ser implantado com a

qualidade ambiental que estaacute sendo anunciada eacute

que hoje os auditores internacionais natildeo aprovam

os financiamentos se o projeto natildeo estiver de

acordo com aquela disposiccedilatildeo feita no papel

(Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

O que noacutes estamos querendo implantar aqui na

regiatildeo natildeo eacute nada de coisa anormal que vai

prejudicar algueacutem Mesmo porque () o

Ministeacuterio Puacuteblico natildeo vai deixar noacutes cometermos

barbaridade () Eu digo a todos vocecircs o seguinte

como o proacuteprio Banco Mundial me disse laacute em

Washington ldquose vocecircs tiverem algum problema de

poluiccedilatildeo ao implantar o projeto noacutes natildeo daremos

um centavo sequer (Alfredo Flaacutevio Gazzolla

USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

A importacircncia do empreendimento para a regiatildeo e para o municiacutepio tambeacutem foi destacada Ele vai trazer desenvolvimento para

Treviso e regiatildeo com geraccedilatildeo de emprego e renda E quanto agrave

dependecircncia do municiacutepio em relaccedilatildeo ao carvatildeo Luis Carlos Cunha

garantiu que o municiacutepio diversificaraacute sua economia

179

Ora cinquenta anos eacute um prazo bastante grande

pra pra pra um desenvolvimento de outras

atividades no municiacutepio Natildeo vai o municiacutepio natildeo

vai ficar estagnado somente na mina e numa

Usina E a Usina eacute multiplicadora na medida em

que ela vai proporcionar com os seus subprodutos

o sulfato de amocircnia e a proacutepria cinza que eacute uma

mateacuteria prima importante para a construccedilatildeo civil

etc a implantaccedilatildeo de outros empreendimentos na

regiatildeo ou no proacuteprio municiacutepio pra

aproveitamento industrial desses subprodutos e

presumo ao longo de cinquenta anos outras

oportunidades apareceratildeo para o municiacutepio dentro

das suas vocaccedilotildees (Luis Carlos Cunha USITESC

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A usina foi colocada pelo empreendedor como uma forma de

recuperaccedilatildeo ambiental jaacute que vai ser construiacuteda em aacuterea degradada e

utilizar 30 de rejeito como mateacuteria prima para geraccedilatildeo de energia ldquoA

rigor a instalaccedilatildeo da Usina nessa localizaccedilatildeo significa uma accedilatildeo de

recuperaccedilatildeo ambientalrdquo (Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

O maior impacto ambiental segundo o representante do

empreendedor eacute a pressatildeo sobre a infraestrutura urbana de Treviso que

seraacute devidamente minimizada com investimentos nessa aacuterea Como

principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo foi destacada a geraccedilatildeo de emprego e

renda apresentada ao puacuteblico da audiecircncia atraveacutes da Tabela 28

Tabela 28 ndash Principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo com a construccedilatildeo da

USITESC SETOR DA

ECONOMIA

EMPREGOS

DIRETOS

EMPREGOS

INDIRETOS

Mineraccedilatildeo de carvatildeo 400-500

Mineraccedilatildeo de calcaacuterio ~60

Geraccedilatildeo de energia ~150

Amocircnia e sulfato de

amocircnia

~60

Transportes diversos ~140

Restante da economia

associada

4500

Fonte Luis Carlos Cunha USITESC Audiecircncia Puacuteblica (2007)

180

Os segmentos poliacuteticos tambeacutem se posicionaram em relaccedilatildeo agrave

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica O representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal ressaltou a necessidade da ampliaccedilatildeo da oferta de

energia eleacutetrica resguardando seu posicionamento teacutecnico-legal

E aiacute o Brasil estaacute numa encruzilhada no meu

ponto de vista e aqui isso que noacutes estamos

vivendo em Treviso eacute um microcosmo do que taacute

acontecendo no paiacutes Porque o paiacutes estaacute diante de

uma crise energeacutetica noacutes tivemos um apagatildeo

daqui a um tempo vamos ter outro aqui noacutes

estamos discutindo USITESC mas tem problema

de usina hidreleacutetrica em Itaacute em Anita Garibaldi

em Belo Monte laacute na Amazocircnia e natildeo sei mais

aonde e noacutes estamos refeacutem do gasoduto do Evo

Morales Entatildeo Esse eacute um questionamento pra

noacutes brasileiros como um todo Claro que natildeo

somos noacutes aqui que vamos resolver isso mas

temos que ter isso em mente E isso passa pelo

presidente da repuacuteblica pelo Congresso a

sociedade tem que ter uma resposta pra isso

porque noacutes queremos luz eleacutetrica queremos o

desenvolvimento econocircmico Entatildeo daonde vai

sair a energia Algum impacto ambiental em

algum lugar vai ter que ter Eacute claro que noacutes

queremos o mais longe possiacutevel do nosso quintal

E o papel do Ministeacuterio Puacuteblico nesse processo eacute

um oacutergatildeo independente que fiscaliza E noacutes

estamos fiscalizando esse processo da USITESC

com base olhando duas coisas o cumprimento da

legislaccedilatildeo e os aspectos teacutecnicos Vocecircs viram

aqui que tem uma equipe teacutecnica trabalhando

temos outros profissionais que estatildeo trabalhando

nisso () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico

Federal AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A prefeita Lucia Simolin enfatizou a situaccedilatildeo de dependecircncia do municiacutepio em relaccedilatildeo agrave atividade carboniacutefera

Eacute verdade tambeacutem que Treviso hoje tem a

seguinte realidade incontestaacutevel feliz ou

infelizmente 80 da nossa economia faltando

alguns poucos deacutecimos praticamente

181

arredondando para 80 depende da economia da

extraccedilatildeo do carvatildeo mineral nos seus diversos tipos

de exploraccedilatildeo e usos Em torno de 20 gira em

torno da produccedilatildeo agropecuaacuteria embora a gente

tenha 168km2 de aacuterea Entatildeo senhores a

exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral para Treviso ela eacute

equivalente agrave monocultura do arroz para Turvo e

Meleiro Essa eacute uma realidade teacutecnica e

administrativa que natildeo eacute do dia pra noite que a

gente pode alterar (Lucia Simolin prefeita

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

() noacutes temos a consciecircncia dos problemas que

podem advir uns mais visiacuteveis e comprovados

outros que o tempo vai nos dizer e a natureza de

que um empreendimento desse porte ele vai nos

afetar Mas vejamos bem como vamos

sobreviver a uma condiccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos

municipais se praticamente a receita do

municiacutepio hoje estaacute diretamente vinculada a

extraccedilatildeo de um foacutessil (Lucia Simolin prefeita

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Apesar de demonstrar uma certa inseguranccedila em relaccedilatildeo aos

impactos o empreendimento natildeo foi questionado A prefeita inclusive

enfatizou a ldquocultura do carvatildeordquo e a ideia da construccedilatildeo do museu do

carvatildeo como algo positivo para a cidade

noacutes temos a nossa cultura eacute o carvatildeo Aiacute a natildeo

exploraacute-lo ou a transformaacute-lo em energia eacute uma

discussatildeo que noacutes estamos presentes e portanto

natildeo fugindo () A gente tem que ver a melhor

saiacuteda pra todas as situaccedilotildees E noacutes do poder

puacuteblico estamos aqui pra isso Estamos aqui para

contribuir Entatildeo esse eacute o meu depoimento a

respeito do empreendimento essa eacute a realidade do

municiacutepio e que natildeo pode ser negada Eacute a nossa

realidade Eacute a nossa verdade A verdade que eacute

uma verdade econocircmico-financeira mas eacute a nossa

verdade (Lucia Simolin AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

182

O crescimento econocircmico do municiacutepio e regiatildeo foi um

argumento forte de convencimento

Noacutes temos que ter consciecircncia de que o projeto

USITESC quando implantado ele seraacute a mola

propulsora de uma nova fase de desenvolvimento

para toda a regiatildeo carboniacutefera Natildeo eacute soacute mineiro

que quer emprego Toda a populaccedilatildeo quer

emprego Quer investimento em sauacutede educaccedilatildeo

e a USITESC eacute investimento eacute sinal de

investimento () Eu acho que a regiatildeo toda tem

muito a ganhar com esse grande projeto que vai

alavancar o progresso e o desenvolvimento de

uma nova fase () (Marcos Antocircnio Cesconetto

Vereador AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

O que fica expliacutecito nos discursos de alguns poliacuteticos locais eacute

uma confianccedila no processo de licenciamento e nas empresas

carboniacuteferas

Noacutes temos que discutir aqui assuntos pertinentes

agrave populaccedilatildeo ou seja a instalaccedilatildeo da Usina E

dizer Dr Darlan que noacutes confiamos na atuaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico Federal confiamos na atuaccedilatildeo

do Ministeacuterio Puacuteblico Estadual na atuaccedilatildeo da

Fatma e de tantos oacutergatildeos como o Ibama que satildeo

realmente quem tem condiccedilotildees de fiscalizar aquilo

que vai acontecer no empreendimento Natildeo satildeo

afirmaccedilotildees infundadas que foram levantadas aqui

e que muitas delas natildeo tem a ver com o

empreendimento Noacutes queremos dizer que noacutes

confiamos na Carboniacutefera Metropolitana e na

Carboniacutefera Criciuacutema uma delas aqui a mais de

vinte anos outra jaacute explorou carvatildeo aqui na volta

redonda e nas reservas que eles tecircm aqui E noacutes

temos consciecircncia de que o empreendimento eacute

viaacutevel e eacute viaacutevel porque ele pode viabilizar a

exploraccedilatildeo de carvatildeo e a grande maioria das

pessoas eu posso dizer que quase a totalidade das

pessoas que estatildeo aqui ou satildeo mineiros ou algueacutem

da famiacutelia vive do carvatildeo nos mais diversos

municiacutepios (Marcos Antocircnio Cesconetto

Vereador AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

183

A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica fica evidente

nos discursos aqui apresentados O empreendimento se justifica na

medida em que paiacuteses ldquodesenvolvidosrdquo utilizam o carvatildeo para geraccedilatildeo

de energia e o Brasil por ter uma matriz energeacutetica considerada

ldquolimpardquo pode usaacute-lo sem maiores problemas Os impactos ambientais

do empreendimento seratildeo miacutenimos jaacute que os investidores internacionais

assim o exigem e o Ministeacuterio Puacuteblico estaacute fiscalizando Afinal a

concessatildeo do licenciamento estaacute condicionada ao respeito agraves leis e a

criteacuterios teacutecnicos

Os poliacuteticos municipais dada a dependecircncia econocircmica da

atividade carboniacutefera veem o empreendimento com ldquobons olhosrdquo pois

apesar dos impactos negativos ele traraacute tambeacutem o crescimento ao

municiacutepio e agrave regiatildeo Segundo eles a cultura do carvatildeo precisa ser

mantida

632 As mudanccedilas climaacuteticas natildeo vecircm ao caso

Os segmentos sociais presentes nas audiecircncia puacuteblicas (Amigos

da Terra Movimento Iccedilara pela Vida Soacutecios da Natureza UNESC

dentre outros) demonstraram preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas

com o aquecimento global com o impacto regional do empreendimento

e a continuidade da atividade carboniacutefera que jaacute causou muitos impactos

na regiatildeo

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionou a

continuidade de uma atividade que se mostrou e se mostra inviaacutevel do

ponto de vista socioambiental

Porque a nossa preocupaccedilatildeo do Movimento pela

Vida aleacutem de todo o efeito estufa aleacutem de toda a

poluiccedilatildeo que vai gerar aqui na regiatildeo que natildeo eacute

soacute o CO2 que vai largar O gaacutes que vai ser largado

aqui mas toda uma poluiccedilatildeo que vai ser gerada

aqui proacuteximo do Aquiacutefero Guarani da Serra todo

esse ecossistema que existe que essa usina estaacute

colocando em perigo E tambeacutem vai a meacutedio e

longo prazo trazer problemas para as famiacutelias da

regiatildeo onde existe carvatildeo no subsolo porque

assim como laacute na Iccedilara eles tatildeo tentando tirar

carvatildeo eles vatildeo tentar continuar tirando de outros

184

lugares (Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela

Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Carlyle professor da UNESC fez a seguinte pergunta

ldquoConsiderando as implicaccedilotildees das emissotildees de CO2 Dioacutexido de Carbono

para o aquecimento global quais as razotildees pelas quais esse poluente natildeo

foi analisado17

tendo em vista os recentes relatoacuterios do Painel sobre

Mudanccedilas Climaacuteticasrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Em resposta Luiz Nogueira Palma deixou claro que a questatildeo

das mudanccedilas climaacuteticas natildeo dizia respeito ao conteuacutedo da audiecircncia

puacuteblica

Eu vou responder isso aiacute eu acho que o Carlyle

estaacute colocando uma pergunta muito interessante

mas que no meu entendimento ela foge

totalmente ao objeto dessa audiecircncia Eacute todo

mundo sabe que uma usina termeleacutetrica que

queima carvatildeo ou qualquer outro combustiacutevel

emite CO2 Existem necessidades de gerar energia

e o que estaacute se discutindo aqui eacute a necessidade de

um empreendimento que foi colocado junto ao

cenaacuterio nacional Eacute eu natildeo vou mentir para vocecircs

essa usina emite CO2 como o carro de cada um de

noacutes emite CO2 e o que o que o Carlyle taacute

colocando eacute uma preocupaccedilatildeo mundial de emissatildeo

de CO2 Mas nem por isso nenhum paiacutes estaacute

deixando de implantar usina as necessaacuterias como

todos os controles necessaacuterios [ele interrompe

momentaneamente a fala por conta do burburinho]

Entatildeo eu acho que essa pergunta que trata de uma

mateacuteria global A usina trata os poluentes

atmosfeacutericos de forma exemplar com elementos

de controle extremamente sofisticados

encarecendo o preccedilo da energia gerada e por isso

estaacute se chamando usina da energia verde neacute

Porque a teacutermica que usa um combustiacutevel natildeo tatildeo

nobre como o gaacutes que eacute o carvatildeo nacional ela taiacute

para produzir mostrando que as emissotildees tatildeo

muito abaixo dos padrotildees nacionais Natildeo existe

um padratildeo nacional para CO2 em lugar nenhum

17

Nos estudos complementares que haviam sido apresentados na audiecircncia

puacuteblica

185

do mundo Entatildeo essa eacute outra questatildeo () O

contraponto dessa pergunta e de que se noacutes

estamos ou natildeo colaborando com o Protocolo de

Quioto O Brasil colabora porque a nossa matriz

energeacutetica mais de 90 da energia gerada no paiacutes

eacute hidraacuteulica (Luiz Nogueira Palma IPAT

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida fez a leitura de

uma moccedilatildeo que foi aprovada na etapa regional da Conferecircncia do Meio

Ambiente A Conferecircncia aconteceu na UNESC e foi promovida pela

Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econocircmico Sustentaacutevel pelo

IBAMA Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo EPAGRI CIRAM

FECAM ANAMA FLORAM FEEC FIESC ALESC FETAESC

Poliacutecia Militar Ambiental e ACAFE Aconteceram sete delas em Santa

Catarina O objetivo das Conferecircncias foi traccedilar poliacuteticas puacuteblicas sobre

meio ambiente no paiacutes em relaccedilatildeo ao aquecimento global ldquoE qual foi a

decisatildeo que a Conferecircncia Regional aqui tomou em relaccedilatildeo ao carvatildeo

Em resumo ldquoa substituiccedilatildeo da matriz energeacutetica baseada no carvatildeo para

outras alternativas de modo gradativordquo Moccedilatildeo que foi aprovada por

unanimidade Ele aproveitou para ler um trecho da moccedilatildeo

() em face da comprovada participaccedilatildeo da

queima de carvatildeo mineral no aumento do

aquecimento global e na intensa degradaccedilatildeo do

solo e aacuteguas provocadas pela sua extraccedilatildeo a

Conferecircncia Regional do Meio Ambiente de

Criciuacutema solicita o cancelamento de todo o

processo de licenciamento da Termeleacutetrica

USITESC em Santa Catarina bem como outras da

regiatildeo sul do Estado dado o elevado passivo

ambiental associado aos empreendimentos

especialmente em termos de degradaccedilatildeo dos

ecossistemas costeiros e da perda da qualidade de

vida das populaccedilotildees que ocupam o sul do estadordquo

Ele completou sua intervenccedilatildeo fazendo o seguinte comentaacuterio

Algueacutem estaacute indo na contramatildeo da histoacuteria ()

Ou noacutes nos damos conta que esse

empreendimento vai contra taacute indo contra tudo o

que estaacute se vendo nesse paiacutes nesse planeta ou

entatildeo a gente estaacute assinando nossa sentenccedila de

morte Chegamos ao absurdo de escutar dos

186

teacutecnicos do IPAT que essa questatildeo do CO2 eacute uma

questatildeo irrelevante natildeo vem ao caso Gente essa

eacute a maior questatildeo E que foi deixada de lado E o

IPAT estaacute indo contra a missatildeo da UNESC

(Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Diante do comentaacuterio o representante do IPAT Marcos Back

fez as seguintes consideraccedilotildees

Em primeiro lugar eu gostaria de esclarecer

algumas questotildees por aqui que natildeo estatildeo muito

claras Primeiro existe um posicionamento

equivocado aqui Noacutes temos que entender

exatamente o que noacutes estamos colocando

Primeiro noacutes estamos discutindo o EIARIMA

que se refere a uma usina termeleacutetrica que queima

carvatildeo e que emite CO2 Quando o Engenheiro

Palma coloca que a questatildeo do CO2 natildeo deve ser

discutida aqui natildeo eacute que ele estaacute querendo dizer

que a questatildeo do CO2 eacute irrelevante Natildeo eacute que ele

quer dizer que o problema do CO2 do

aquecimento global natildeo sejam questotildees

importantes a serem discutidas Pelo contraacuterio a

questatildeo do aquecimento global e da emissatildeo de

CO2 eacute uma questatildeo muito importante a ser

discutida Que a sociedade tem que pensar

seriamente nas consequecircncias da emissatildeo de CO2

que natildeo vem soacute do carvatildeo taacute Entatildeo noacutes temos

que pensar nisso que o aquecimento global estaacute

mostrando seus efeitos e jaacute vaacuterios cientistas

demonstraram mostraram esses efeitos Entatildeo noacutes

temos que pensar nisso sim Quando o IPAT taacute

colocando aqui que noacutes estamos discutindo o

EIARIMA da USITESC noacutes estamos colocando

que discutir licenciamento ambiental eacute um

procedimento legal vocecirc segue o tracircmite as

normas de um procedimento legal () Natildeo eacute da

competecircncia do IPAT julgar a matriz energeacutetica

brasileira Quem estabeleceu isso foram as leis

federais o Congresso Nacional e o Presidente

Lula Satildeo eles que estabelecem se pode ou natildeo

pode produzir carvatildeo se pode ou natildeo pode ter

187

energia movida a carvatildeo Entatildeo natildeo compete ao

IPAT nesse estudo NESSE ESTUDO de usina

termeleacutetrica conduzir uma discussatildeo sobre

aquecimento global porque natildeo eacute isso que estaacute

em discussatildeo aqui O que taacute em discussatildeo aqui eacute

se pode ou natildeo implantar a usina termeleacutetrica

dentro dos tracircmites da lei atual (Marcos Back

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Um representante dos segmentos poliacuteticos Joatildeo Luiacutes presidente

da Cacircmara de Vereadores de Trevisto tambeacutem fez um questionamento

sobre o assunto

Eu gostaria de fazer uma pergunta aos oacutergatildeos

ambientais Noacutes vimos na televisatildeo todos os dias

que os Estados Unidos eacute o maior produtor desse

planeta e foi superado pela China Exatamente nas

suas termeleacutetricas que queimam carvatildeo mineral

87 da energia produzida pela China eacute da queima

do carvatildeo mineral Entatildeo noacutes vemos aiacute o mundo

todo criticando brigando contra isso agora eu

gostaria que vocecircs respondessem a todos noacutes que

satildeo pessoas entendidas Noacutes podemos implantar

um projeto como esse em Treviso Ele eacute viaacutevel

Noacutes podemos pagar esse preccedilo E por que (Joatildeo

Luis Presidente da Cacircmara de Vereadores de

Treviso AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

A resposta do representante da FATMA tambeacutem natildeo contemplou

a preocupaccedilatildeo com questotildees mais amplas

Algumas questotildees que jaacute foram hoje objeto de

abordagem aqui ele foge do escopo do processo

de licenciamento Noacutes tratarmos de mudanccedilas

climaacuteticas natildeo eacute uma questatildeo que estaacute inserida no

projeto que hoje estaacute sendo objeto dessa audiecircncia

puacuteblica A garantia que eu posso dar aos senhores

em relaccedilatildeo ao projeto que estaacute sendo avaliado pela

FATMA e logicamente que noacutes temos natildeo eacute uma

parceria mas um papel fiscalizador do Ministeacuterio

Puacuteblico que tem auxiliado e tem contribuiacutedo de

uma maneira positiva pra que noacutes ao longo desses

dois trecircs anos desse processo de licenciamento

noacutes tenhamos tido avanccedilos significativos em

188

termos de ganhos ambientais () (Luis Antocircnio

Garcia FATMA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Jaacute o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal Darlan Aiacutelton

Dias contemplou a preocupaccedilatildeo dos presentes afirmando que ldquoeu acho

sim que o aquecimento global faz parte da discussatildeo da USITESC Deve

ser discutida mas a decisatildeo do licenciamento eacute verificar a adequaccedilatildeo

teacutecnica e o atendimento agrave legislaccedilatildeordquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Apesar do parecer favoraacutevel do representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal fica claro que para os que compotildeem a mesa de

trabalho na audiecircncia puacuteblica o tema natildeo tem relaccedilatildeo com o

licenciamento Aos representantes dos segmentos sociais e poliacuteticos aqui

citados foi permitida a manifestaccedilatildeo quanto ao tema mas ela natildeo

encontrou eco Isso aconteceu tambeacutem para a tentativa de discutir o

empreendimento regionalmente

633 Quem defende quem E quem defende os

afetadosatingidosameaccedilados

Nas audiecircncias puacuteblicas foram colocadas duacutevidas em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo da populaccedilatildeo de Treviso O vereador Joatildeo Luis Brunel fez a

seguinte colocaccedilatildeo seguida de uma pergunta

() Eu quero dizer que sou a favor do progresso e

quero que a nossa gente tenha emprego mas que

noacutes temos que pagar um preccedilo justo Eu gostaria

de fazer uma pergunta aqui Falou-se sobre muita

coisa mas eu gostaria de saber sobre todas essas

famiacutelias que seratildeo desapropriadas Eu cito aqui a

comunidade da Brasiacutelia Eu vejo aqui a

comunidade satildeo famiacutelias centenaacuterias de gente que

desbravaram essa terra que ajudaram a construir

esse municiacutepio Entatildeo eu faccedilo a seguinte pergunta

como que eles tem o direito de se defender Eles

simplesmente vatildeo ser notificados vatildeo ser

desapropriados Satildeo pessoas que estatildeo aiacute haacute mais

de um seacuteculo Eu gostaria de saber onde estatildeo os

direitos humanos Quais satildeo os direitos que eles

189

tecircm (Joatildeo Luis Brunel AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

Joaquim Teixeira Neto estudante da UNESC fez seu comentaacuterio

sobre a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo na audiecircncia puacuteblica

Entatildeo o seguinte eu gostaria que a populaccedilatildeo de

Treviso que natildeo estaacute aqui presente por motivos

que a gente desconhece precisa A populaccedilatildeo de

Treviso precisa se manifestar em audiecircncia

exclusiva Porque esse empreendimento apesar de

ser regional vai atingir primeiramente essa

comunidade e eles natildeo estatildeo sendo ouvidos Eles

estatildeo sendo calados e todos sabemos (Joaquim

Teixeira Neto AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Lucia Ortiz da Amigos da Terra fez um relato de um processo

de licenciamento que aconteceu no Rio Grande do Sul no qual mesmo

depois de emitida a licenccedila foi feito um plebiscito na regiatildeo

() mesmo depois que a Fepam liberou a licenccedila

preacutevia pra instalaccedilatildeo dessa usina o pessoal

conseguiu realizar a realizaccedilatildeo de um plebiscito

na regiatildeo que vai ser agora esse saacutebado pra que a

populaccedilatildeo de fato possa decidir se quer ou natildeo

esse empreendimento A minha pergunta eu tenho

duas perguntas uma eu acho que seria saber se

tem resposta pra populaccedilatildeo dos municiacutepios aqui

da regiatildeo que eacute se as pessoas aqui estatildeo mesmo

dispostas a abrirem matildeo das suas reservas de

aacutegua pro seu abastecimento proacuteprio ou dos seus

filhos ou dos seus netos tendo em vista que essa

usina vai consumir muito mais que a populaccedilatildeo da

regiatildeo de aacutegua a aacutegua do Rio Matildee Luzia aquilo

que ainda resta de aacutegua natildeo contaminada nessa

bacia (Lucia Ortiz Amigos da Terra

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A prefeita de Treviso Lucia Simolin na quarta Audiecircncia

Puacuteblica comentou que foi realizada uma pesquisa e que 70 da

populaccedilatildeo de Treviso concorda com o empreendimento Duas criacuteticas

feitas merecem destaque

190

A primeira feita pelo estudante da UNESC Joaquim Teixeira

chamou a atenccedilatildeo para o fato de que a USITESC eacute um empreendimento

que afetaraacute a regiatildeo e ouvir apenas a populaccedilatildeo de Treviso natildeo seria

uma medida adequada Segundo ele ldquoa termeleacutetrica natildeo eacute soacute um

problema de Treviso Fazer pesquisa de opiniatildeo soacute em Treviso eacute

desprezar uma questatildeo que eacute regionalrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

A segunda criacutetica questionou a pesquisa citada pela prefeita com

base em uma pesquisa feita no municiacutepio de Iccedilara

O IPAT quando fala que eacute imparcial ele estaacute

numa situaccedilatildeo que eu passei pelo conjunto do

Movimento pela Vida em Iccedilara Foi feita uma

pesquisa na Iccedilara pelo IPAT perguntando o

seguinte se a mina natildeo degradar natildeo poluir natildeo

fazer isso natildeo fazer aquilo nanana nananan vocecirc

vai ser a favor da mina Ai o pessoal ateacute eu

responderia que sim Aiacute fizeram uma publicaccedilatildeo

ldquoO IPAT confirma que 80 da populaccedilatildeo de Iccedilara

eacute a favor da mina Fomos laacute saber qual era a

pergunta que foi feita era desse jeito Noacutes

queremos contratar o IPAT para fazer a seguinte

pesquisa se levar em conta toda a degradaccedilatildeo que

a mina provoca os caimentos as casas rachadas a

aacutegua poluiacuteda o aquecimento global papapaacute vocecircs

seriam a favor da mina ou natildeo Ah isso noacutes natildeo

podemos fazer Pra noacutes podiam fazer uma

pesquisa desde fugiu a palavra aqui () mas pra

eles sim Eu questiono sim o IPAT mas

parabenizo grande parte da UNESC professores e

alunos que estatildeo buscando realmente uma defesa

do meio ambiente (Gilmar Bonifaacutecio Movimento

Iccedilara pela Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Nos discursos das duas audiecircncias puacuteblicas constatou-se que

apenas uma pessoa se colocou como representante de uma comunidade

de Treviso Gerson Hanne A intervenccedilatildeo seguinte de Sivio Saad

sintetiza a preocupaccedilatildeo de quem assistiu as duas audiecircncias puacuteblicas

Noacutes temos uma cidade pacata com 3500

habitantes e algueacutem resolve colocar um

empreendimento dentro dessa cidade Os

moradores claro devem saber o que estaacute

191

acontecendo Vimos a exposiccedilatildeo do

empreendedor vimos a exposiccedilatildeo da universidade

e o poder de julgar de saber se aceitam ou natildeo o

empreendimento agrave medida que eles foram

convincentes neacute os empreendedores satildeo

convincentes tatildeo preparados tem audiovisual satildeo

convincentes Mas eu gostaria de saber se a

populaccedilatildeo decide que natildeo quer quem defende os

interesses da populaccedilatildeo Quem eacute que taacute aqui

sentado (ele mostra os integrantes da mesa) que

representa os interesses dessa populaccedilatildeo Que

possa pelo menos equilibrar esse jogo Seria o

empreendedor Claro que natildeo Ele taacute defendendo

os seus interesses Ele eacute capaz de dizer aqui que

os oacutergatildeos internacionais soacute aprovam o dinheiro se

tiver cuidado com o meio ambiente Acredite se

quiser Temos aqui o pessoal da FATMA Eu jaacute vi

a FATMA aprovar coisas absurdas () Agora

depois que ela aprovou ela fiscaliza () Aiacute eles

respondem ldquonatildeo temos quem fiscalizerdquo Quem

seria a Universidade A UNESC () A prefeita

() eu ouvi uma entrevista dela hoje cedo dizendo

que se der dinheiro para a cidade ela aprova

Quem mais O governador que vem aqui diz que

vai dar emprego Vocecircs querem emprego Vocecircs

querem colocar mais duas mil pessoas aqui

dentro () Se a populaccedilatildeo quer oacutetimo Se a

populaccedilatildeo natildeo quer precisa ter algueacutem aqui que

defende () Soacute tem uma pessoa que defende os

interesses da populaccedilatildeo o Dr Darlan Esse

defende Dentro da lei esse defende Agora

precisava mais algueacutem () Se for confiar em

quem taacute aqui na mesa vocecircs tatildeo perdidos Se a

populaccedilatildeo chega agrave conclusatildeo que natildeo quer e

confia nesses que tatildeo aqui vocecircs estatildeo perdidos

A minha pergunta eacute quem defende os interesses

da populaccedilatildeo (Silvio Saad AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Diante dessa fala o apresentador Adhiles Bortot da FATMA

passou para a proacutexima pergunta sem que ningueacutem da mesa se

pronunciasse Essa atitude refletiu o clima das duas audiecircncias

analisadas Quando o assunto se referia aos

192

atingidosafetadosameaccedilados muitas respostas evasivas eram dadas

ressaltando sempre o respeito pelas leis e pelos criteacuterios teacutecnicos

As interveccedilotildees apresentadas demonstram a injusticcedila poliacutetica Se a

mineraccedilatildeo respeita as leis e os criteacuterios teacutecnicos ela eacute liacutecita O que passa

ao largo eacute uma discussatildeo mais ampla sobre gestatildeo de recursos comuns

opccedilotildees de desenvolvimento direitos humanos e justiccedila ecoloacutegica

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida falou da importacircncia

de uma discussatildeo sobre os direitos do cidadatildeo ldquo() concordamos

tambeacutem com o direito constitucional que todo cidadatildeo tem o direito a

um ambiente saudaacutevel () Essa tambeacutem eacute uma questatildeo legal Entatildeo noacutes

devemos comeccedilar a discutir questotildees legaisrdquo (Gilmar Bonifaacutecio

Movimento Iccedilara pela Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007) Mas as

evidecircncias demonstram que as audiecircncias se propunham a ser espaccedilo de

discussatildeo apenas de assuntos referentes ao licenciamento Todas as

discussotildees mais amplas foram desconsideradas

634 O papel da FATMA em questatildeo

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionou o

Ministeacuterio Puacuteblico e a FATMA que na segunda audiecircncia afirmaram

que a licenccedila natildeo seria emitida sem estudos conclusivos Ele citou o

exemplo de Iccedilara que haacute trecircs anos vinha se mobilizando para a natildeo

instalaccedilatildeo de uma mina de carvatildeo Ele destacou o papel do Ministeacuterio

Puacuteblico e questionou o papel da FATMA No caso da USITESC a

preocupaccedilatildeo dele foi que se a LP fosse dada e os empreendedores

participassem do leilatildeo haveria uma pressatildeo para a aprovaccedilatildeo dos

processos de licenciamento dos empreendimentos acessoacuterios

(AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Joatildeo Luis Brunel tambeacutem questionou os criteacuterios da FATMA na

concessatildeo da licenccedila

() noacutes vemos aiacute todos os dias uma campanha

mundial de preservaccedilatildeo da natureza

principalmente das aacuteguas aacuteguas do nosso planeta

que estatildeo quase que totalmente poluiacutedas entatildeo eu

faccedilo a pergunta noacutes vamos construir essa usina ao

lado de uma reserva ambiental e vamos captar a

maior fonte de aacutegua potaacutevel do nosso municiacutepio

193

uma aacutegua que jaacute estaacute mapeada pela Casan pra

abastecimento futuro em cidades vizinhas E onde

vatildeo passar a linha do trem e a linha de transmissatildeo

vatildeo atingir terrenos cobertos por floresta nativa

Entatildeo eu gostaria de saber quais satildeo os criteacuterios

que a Fatma os oacutergatildeos ambientais adotam pra dar

a licenccedila ou natildeo para a construccedilatildeo de um projeto

como esse (Joatildeo Luis Brunel AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Luis Antocircnio Garcia da FATMA respondeu ldquoA Fatma atraveacutes

de seu corpo teacutecnico e seus consultores vai avaliar os estudos como os

demais e leva em consideraccedilatildeo criteacuterios teacutecnicos e aspectos legais Se

houver viabilidade pelo licenciamento assim seraacute feito Se natildeo houver

viabilidade a licenccedila natildeo seraacute concedidardquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

O representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal na defesa da

FATMA fez as seguintes consideraccedilotildees

Mas posso dizer que na maioria dos casos

inclusive envolvendo o carvatildeo a Fatma tem

atuado em bastante sintonia com o Ministeacuterio

Puacuteblico Eacute claro que a Fatma eacute um oacutergatildeo do poder

executivo e noacutes conhecemos a tradiccedilatildeo do nosso

estado poliacutetica inclusive tudo eacute muito politizado

noacutes sabemos que a Fatma sofre pressotildees poliacuteticas

de toda ordem Mas eu sou testemunha pelo que

vivo aqui em Criciuacutema que os teacutecnicos tem se

esforccedilado e a direccedilatildeo tambeacutem pra resistir agraves

pressotildees e fazer um trabalho teacutecnico (Darlan

Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Na quarta audiecircncia puacuteblica a legitimidade da FATMA nos

processos de licenciamento tambeacutem foi colocada vaacuterias vezes em

duacutevida A jornalista Ana Echevenguaacute de Florianoacutepolis fez o seguinte

questionamento

() eu gostaria de perguntar para o Dr Darlan de

acordo com aquela decisatildeo liminar proferida pelo

Dr Germano juiz federal onde ele dizia que

enquanto a FATMA natildeo tiver o corpo teacutecnico

194

capaz de apreciar EIARIMA ela estaacute proibida e o

IBAMA assumiria essa responsabilidade eu

entendo que nem essa audiecircncia deveria estar

acontecendo (Ana Echevenguaacute AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Em resposta o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

enfatizou o caraacuteter fiscalizador do Ministeacuterio Puacuteblico e que o IBAMA

natildeo seria a soluccedilatildeo para os problemas de licenciamento em Santa

Catarina

Aquela decisatildeo do juiz que disse que o

licenciamento das minas e dos PRADES de

recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas natildeo poderia ser

feito pela FATMA se natildeo fosse embasada em

pareceres teacutecnicos aiacute o juiz lista uma seacuterie de

empreendedores perdatildeo de profissionais

geoacutelogos engenheiro de minas bioacutelogo

agrocircnomo e tal tal tal natildeo me lembro de cabeccedila

mas se a FATMA tiver um parecer teacutecnico

embasado por esses profissionais ela pode emitir a

licenccedila Quando o juiz disse que o licenciamento

tem que ser passado para o IBAMA o Ministeacuterio

Puacuteblico entende que isso eacute um equiacutevoco do juiz e

noacutes recorremos contra essa parte da decisatildeo Por

que Primeiro que isso natildeo foi pedido entatildeo o

juiz natildeo pode julgar extra petita18

e ele fez isso

nesse caso Segundo o IBAMA natildeo eacute a soluccedilatildeo

A FATMA tem problemas Tem seacuterios e vaacuterios

problemas Noacutes estamos fiscalizando e atuando

para que isso se altere Mas o IBAMA natildeo eacute a

soluccedilatildeo Porque o IBAMA eacute totalmente ausente

da regiatildeo Sul de Santa Catarina O estado de Santa

Catarina inteiro a equipe do IBAMA eacute

precariacutessima Entatildeo com respeito ao Leonir aqui

que taacute por aiacute que agora eacute do Chico Mendes O

IBAMA aqui na regiatildeo sul natildeo existe Entatildeo

passar o licenciamento de qualquer coisa pro

IBAMA aqui na regiatildeo eacute um equiacutevoco (Darlan

Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico Federal

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

18

Decisotildees extra petita satildeo aquelas que o juiz toma concedendo ao

autor coisa diversa da que foi requerida em sua peticcedilatildeo inicial

195

O representante da FATMA Luis Antocircnio Garcia por sua vez

insistiu que a FATMA tem melhorado seu quadro teacutecnico e conta com

consultores externos Ele ressaltou tambeacutem que a decisatildeo do

licenciamento eacute baseada nos criteacuterios legais e teacutecnicos

Dos segmentos sociais que participaram das audiecircncias

percebeu-se uma desconfianccedila em relaccedilatildeo agrave conduta da FATMA nos

processos de licenciamento A FATMA por sua vez reconhece as

dificuldades existentes e faz uma aposta na atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico Segundo o representante da FATMA ldquoo licenciamento com

todas as dificuldades que temos mas noacutes temos hoje uma cooperaccedilatildeo

uma parceria extremamente sadia e participativa e com resultados

extremamente beneacuteficos a sociedade que eacute junto com o Ministeacuterio

Puacuteblico ()rdquo (Luis Antocircnio Garcia FATMA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Nos discursos dos segmentos sociais e poliacuteticos transparece a

fragilidade do oacutergatildeo ambiental E aiacute a responsabilidade que seria do

oacutergatildeo ambiental eacute passada para o Ministeacuterio Puacuteblico Isso pode ser bom

por um lado uma vez que existe fiscalizaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental mas

por outro lado pode fazer com que as fragilidades do oacutergatildeo ambiental se

perpetuem

635 O IPAT e a neutralidade da ciecircncia

A linguagem teacutecnica do IPAT foi questionada na terceira

audiecircncia puacuteblica ldquo() a maioria de noacutes cidadatildeos mortais e comuns

natildeo temos conhecimento suficiente para traduzir as informaccedilotildees que

foram passadasrdquo (Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida

AUDIEcircNCIA 2006) Mauricio Luis Camara questionou sobre a

apresentaccedilatildeo do IPAT para que fizessem um resumo de forma que

todos entendessem (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Outro ponto que merece destaque eacute o fato de o IPAT natildeo ter

deixado clara a viabilidade do empreendimento Abaixo a intervenccedilatildeo

de Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionando esse

ponto

196

[] eacute nesse sentido que eu gostaria de saber []

quais satildeo os pontos positivos e quais satildeo os

pontos negativos para que a populaccedilatildeo tambeacutem

tenha condiccedilatildeo de por si soacute analisar e tomar uma

posiccedilatildeo e natildeo simplesmente tomar uma posiccedilatildeo

porque algueacutem ou um chefe poliacutetico tipo um

empreendedor taacute dizendo que eacute assim [] na

minha opiniatildeo ficou faltando isso do IPAT uma

posiccedilatildeo clara de quais satildeo os pontos positivos e

negativos porque aiacute se coloca na balanccedila Porque

eacute isso que a gente tem que ver [] (AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Em resposta Fabiano Luzi Neris representante do IPAT

afirmou que ldquoo IPAT natildeo tem posicionamento se a Usina eacute viaacutevel ou

natildeo eacute viaacutevel se ele eacute a favor ou contra a Usina () Soacute o oacutergatildeo

ambiental tem competecircncia para viabilizar ou natildeo a Usinardquo (Fabiano

Luiz Neris IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A Universidade apresentou os resultados teacutecnicos

que estatildeo aqui e foram apresentados e estatildeo nos

documentos entregues ao empreendedor e ao

oacutergatildeo ambiental A Universidade natildeo tem o papel

de emitir o parecer favoraacutevel ou contraacuterio agrave

liberaccedilatildeo da licenccedila da Usina A Universidade tem

o papel de apresentar os estudos realizados Se

tiver algum conflito em relaccedilatildeo aos estudos a

gente estaacute a disposiccedilatildeo para discutir tecnicamente

(Fabiano Luiz Neris IPAT AUDIEcircNCIA 2006)

A representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal questionou a

resposta dada pelo IPAT ldquose o EIA natildeo vai dizer se eacute viaacutevel ou natildeo

quem de noacutes diraacute issordquo (Denise Cristina de Resende Nicolaitz

Ministeacuterio Puacuteblico Federal AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Na sequecircncia manifesta-se um posicionamento que parece

contraacuterio ao anterior

Todas as consideraccedilotildees positivas ou negativas

estatildeo e fazem parte de uma matriz de anaacutelise de

impacto Elas constam tanto do estudo da

USITESC quanto dos estudos dos

empreendimentos acessoacuterios E a equipe embora

tenha optado por natildeo fazer nenhuma manifestaccedilatildeo

197

proacute ou contra a USITESC ela nos estudos nas

suas conclusotildees ela deixa bem claro se eacute viaacutevel

ou natildeo dentro do estudo que foi feito Eu soacute queria

dizer isso e que a populaccedilatildeo tivesse ciecircncia e os

nossos colegas ecologistas que Que noacutes

apresentamos os trabalhos e noacutes temos

consciecircncia Noacutes temos nossa responsabilidade

social tambeacutem Noacutes natildeo somos levianos noacutes natildeo

queremos aprovar absolutamente nada Noacutes

estamos fazendo um estudo que demonstra a

possibilidade ou natildeo do empreendimento (Luiz

Nogueira Palma IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

O IPAT enfatizou em muitas intervenccedilotildees o ldquocaraacuteter teacutecnicordquo das

informaccedilotildees prestadas Alguns exemplos de explicaccedilotildees duvidosas

foram extraiacutedos das duas audiecircncias puacuteblicas e satildeo apresentados na

sequecircncia Na audiecircncia puacuteblica de 2006 o IPAT afirmou que uma

barragem no Rio Matildee Luzia preservaria a aacutegua

() quando vocecirc constroacutei um barramento ele

isola ou seja vocecirc taacute preservando a aacutegua boa a

aacutegua de boa qualidade Vocecirc taacute reservando vocecirc

taacute evitando que aquela aacutegua polua neacute pelo menos

pelos outros motivos que mineraccedilatildeo a gente sabe

que o ph nesses frac34 de trecho do Rio Matildee Luzia o

ph da aacutegua eacute 3 E laacute em cima na foz onde natildeo

tem onde natildeo ocorre ou seja a aacutegua eacute de boa

qualidade Entatildeo vocecirc taacute isolando vocecirc taacute

isolando vocecirc taacute preservando (Naacutedia e Andreacuteia

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Quanto agrave existecircncia de risco na construccedilatildeo da barragem e na

possibilidade de caimento de mina o IPAT tambeacutem manifestou sua

posiccedilatildeo

Teoricamente eu natildeo vou te dizer que natildeo eacute

possiacutevel ocorrer um problema na construccedilatildeo da

barragem mas isso aiacute eacute uma coisa que eacute pouco

provaacutevel E quanto aos caimentos de mina cai em

vaacuterios locais e esse caimento que ocorreu

recentemente natildeo tem absolutamente nada a ver

vamos dizer assim com a eventual construccedilatildeo de

198

um barramento neacute Natildeo tem realmente natildeo tem

nada a ver e foi uma coisa improvaacutevel daquelas

coisas que natildeo se pode dizer que estava por

acontecer A mina onde caiu era um lugar

conhecido claro tinha falha geoloacutegica neacute Mas

ela tava sendo vamos dizer assim toda eacute toda

minerada de uma maneira muito teacutecnica com um

fator de seguranccedila muito alto e aconteceu Quer

dizer eacute a natureza neacute Eu com toda sinceridade

natildeo vou lhe enganar pra dizer que eacute impossiacutevel de

ocorrer um caimento laacute () Se for minerado de

uma maneira teacutecnica eacute pouco provaacutevel que

aconteccedila Agora dizer que natildeo tem caimento eu

acho que teacutecnico nenhum diria isso (Cleacutevis

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Na quarta audiecircncia puacuteblica mais duas explicaccedilotildees chamaram a

atenccedilatildeo uma do IPAT outra do empreendedor A primeira foi dada por

Marcos Back do IPAT ldquoSegundo as pesquisas natildeo haacute uma correlaccedilatildeo

entre a usina e a sauacutede da populaccedilatildeo entre a Usina Termeleacutetrica Jorge

Lacerda e as doenccedilas respiratoacuteriasrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Em contraposiccedilatildeo a essa informaccedilatildeo Joseacute Dagostin do Movimento

Iccedilara pela Vida trouxe informaccedilotildees atualizadas dados do Datasus

questionando o IPAT sobre os dados defasados do estudo sobre sauacutede e

tambeacutem sobre acidentes com amocircnia Dois anos depois o proacuteprio

Ministeacuterio Puacuteblico coletou e analisou dados confirmando a relaccedilatildeo

entre diversos problemas de sauacutede e o funcionamento do Complexo

Jorge Lacerda (MPF 2009)

A outra fala do empreendedor sugeriu que ldquoa estocagem de

amocircnia eacute mais segura que o botijatildeo de gaacutes que vocecircs tecircm em suas casas

Muitos dos senhores tecircm mangueiras inadequadas para conectar o

botijatildeo de gaacutes Quantas vezes passam perto do botijatildeo de gaacutesrdquo (Luis

Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Essa eacute uma amostra pequena das explicaccedilotildees dadas em resposta

aos questionamentos Muitas pessoas tambeacutem natildeo se sentiram

contempladas com as respostas As evasivas contemplavam encaminhar questionamentos por escrito agrave FATMA e ao IPAT desconsiderar as

perguntas com base no fato de que as informaccedilotildees jaacute haviam sido

apresentadas nas outras audiecircncias ou que as informaccedilotildees seriam

tratadas posteriormente na anaacutelise de risco

199

Nas duas audiecircncias puacuteblicas analisadas o IPAT foi questionado

ao fazer o EIARIMA da USITESC quanto ao seu posicionamento

O estudante da UNESC Joaquim Teixeira fez a seguinte

intervenccedilatildeo

ldquoA USITESC eacute a nova Marion do seacuteculo XXIrdquo Eacute

preciso separar a UNESC eacute nossa o IPAT eacute de

quem paga () o empreendimento pode ser feito

ou natildeo feito tem essa possibilidade taacute na lei Tem

alternativas ao empreendimento () Eacute preciso

mudar de paradigma () Vocecircs podem virar a

paacutegina da histoacuteria Treviso natildeo precisa de mina

Ou melhor termeleacutetrica (Joaquim Teixeira

estudante da UNESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Em resposta Marcos Back do IPAT reclamou dessa e de outras

intervenccedilotildees como ldquoataque gratuito agrave Universidaderdquo E completou

() Eu quero dizer o seguinte que eacute muito faacutecil

muito faacutecil a gente vir para uma audiecircncia e

quando a gente natildeo tem mais argumento vocecirc

desqualifica quem produziu Quem dizer eu tocirc

numa discussatildeo eu natildeo sei mais o que dizer eu

desqualifico o outro eu falo que o outro natildeo sabe

nada E na hora que eu desqualifico a pessoa

comeccedilo a desqualificar todo o estudo que foi feito

() natildeo adianta dizer que o IPAT natildeo eacute

Universidade porque a decisatildeo de implantaccedilatildeo

que o IPAT participasse desse estudo partiu da

eacutepoca que o reitor era Edson Rodrigues que fez

uma reuniatildeo com a Universidade inteira e decidiu

que a Universidade ia participar desse processo

porque eacute muito grande para a regiatildeo inteira esse

empreendimento e era preciso que a Universidade

se envolvesse no projeto para fazer a avaliaccedilatildeo

desses impactos ambientais (Marcos Back IPAT

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Percebe-se nos posicionamentos do IPAT que existe a confianccedila

de que o documento produzido eacute neutro Dessa forma os segmentos

sociais natildeo teriam que questionar quem produz o documento apenas as

informaccedilotildees que o documento traz

200

636 Audiecircncias puacuteblicas como espaccedilos democraacuteticos

Somente o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal Darlan

Aiacutelton Dias e os segmentos sociais fizeram menccedilatildeo agrave questatildeo

democraacutetica nas audiecircncias puacuteblicas Na terceira audiecircncia puacuteblica o

representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal fez a seguinte intervenccedilatildeo

A audiecircncia puacuteblica eacute um ambiente democraacutetico

bonito agraves vezes a gente fica [pausa] vem com

uma preacute-concepccedilatildeo e fica irritado quando algueacutem

fala o contraacuterio mas isso eacute o processo

democraacutetico uma sociedade democraacutetica Em

outros tempos da nossa histoacuteria recente era

inimaginaacutevel um empreendedor ter que se

submeter a esse tipo de [pausa] situaccedilatildeo Mas eacute a

realidade da nossa sociedade democraacutetica graccedilas

a deus neacute E a Constituiccedilatildeo nos daacute esse recado do

desenvolvimento sustentaacutevel noacutes queremos

desenvolver o paiacutes mas queremos preservar o

meio ambiente (Darlan Aiacutelton Dias

AUDIEcircNCIA 2006)

Todavia o elogio agrave democracia contrasta com o processo da

audiecircncia puacuteblica Tadeu Santos da ONG Soacutecios da Natureza colocou

em questatildeo o caraacuteter democraacutetico da audiecircncia puacuteblica depois de ter

sido lembrado do limite de tempo quatro vezes Segundo ele

As audiecircncias puacuteblicas anteriores foram mais

democraacuteticas a coisa taacute ficando fechada Taacute se

percebendo que o grande lobby das mineradoras

estaacute funcionando Eacute possiacutevel que realmente a

FATMA venha a dar o licenciamento Eacute possiacutevel

natildeo vai dar Porque deu para a mineradora em

Treviso (Tadeu Santos AUDIEcircNCIA 2006)

E continua referindo-se a Luis Antocircnio Garcia da FATMA ldquoSr

diretor eu gostaria que o Sr fosse mais maleaacutevel que conduzisse a

assembleia de forma mais democraacutetica porque afinal estamos

discutindo uma coisa muito seacuteriardquo (Tadeu Santos AUDIEcircNCIA 2006)

201

Na quarta audiecircncia puacuteblica o representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal novamente enaltece o caraacuteter democraacutetico da audiecircncia

() a audiecircncia puacuteblica eacute o instrumento que estaacute

previsto na lei e noacutes vivemos num estado

democraacutetico de direito e que a publicidade dos

licenciamentos ambientais eacute um princiacutepio

fundamental previsto na poliacutetica nacional do meio

ambiente Entatildeo um processo de licenciamento

tem que ser puacuteblico as pessoas tem que ter o

direito de se manifestar desde que haja claro

respeito muacutetuo Mas por outro lado eu percebo

que muita gente veio aqui hoje com a cabeccedila feita

a favor ou contra o empreendimento sem querer

ouvir qualquer coisa Isso ficou muito claro jaacute

nano niacutevel de conversa durante as apresentaccedilotildees

As pessoas tem o direito de ser contra ou a favor

do empreendimento Aleacutem disso disse a prefeita

aqui que os estudos ficaram agrave disposiccedilatildeo da

populaccedilatildeo por 45 dias como manda a lei mas soacute

duas pessoas consultaram os estudos na prefeitura

Entatildeo eu peccedilo que se respeite as opiniotildees e que

todos tem direito a fazer uso da palavra E isso eacute

democraacutetico () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio

Puacuteblico Federal AUDIEcircNCIA 2007)

O reflexo dessa democracia foi o rigoroso controle do tempo de

questionamento o despeito pela ordem de chegada dos questionamentos

(orais e escritos) e a inexistecircncia de reacuteplica Gilmar Bonifaacutecio do

Movimento Iccedilara pela Vida criticou a forma como foram conduzidos os

debates jaacute que natildeo foi respeitado o direito agrave reacuteplica

A intervenccedilatildeo do representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

trouxe alguma esperanccedila para os segmentos sociais

Na verdade toda essa discussatildeo que hoje se trava

aqui eacute uma discussatildeo se a gente for pensar aqui

do ponto de vista histoacuterico bonita e importante e

acho que essa luta pode mudar o rumo dessa

legislaccedilatildeo Mas vamos colocar ela num contexto

maior que precisa ser colocado Na verdade eacute

uma discussatildeo que se trava no Brasil inteiro e no

mundo inteiro que eacute a discussatildeo de que modelo

de sociedade e desenvolvimento noacutes queremos

202

Pela questatildeo do efeito estufa e toda a questatildeo de

sobrevivecircncia da espeacutecie E eu como ser humano

como pai eu quero tambeacutem que o mundo pros

meus filhos pros meus netos seja viaacutevel No

entanto diante desse debate e assim como aqui

natildeo se quer uma usina termeleacutetrica laacute em Belo

Monte natildeo se quer uma hidreleacutetrica laacute em

Campos Novos natildeo se quer uma hidreleacutetrica laacute no

Rio Madeira e assim por diante Mas de algum

lugar tem que sair energia E o Ministeacuterio Puacuteblico

nessa discussatildeo tem que se pautar no equiliacutebrio e

ter como paracircmetro o que A Constituiccedilatildeo e as

leis E eacute assim que eu procuro agir Entatildeo essa

discussatildeo eacute legiacutetima essa oposiccedilatildeo a qualquer

empreendimento desse tipo eacute legiacutetima e esse eacute o

espaccedilo para falar Mas noacutes vamos nos pautar pela

lei () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico

Federal Federal AUDIEcircNCIA 2007)

O representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal reconhece a

possibilidade de mudanccedila na legislaccedilatildeo mas reconhece que sua atuaccedilatildeo

se restringe ao que eacute legal O Ministeacuterio Puacuteblico Federal produziu em

2004 um dossiecirc sobre as Deficiecircncias em estudos de impacto ambiental

mas natildeo tocou na questatildeo das audiecircncias puacuteblicas (MPF 2004) Apesar

das audiecircncias puacuteblicas natildeo serem deliberativas a observacircncia do

processo democraacutetico eacute algo necessaacuterio e deveria entrar nos estudos do

Ministeacuterio Puacuteblico

64 Democracias possiacuteveis e aprendizagem social

A avaliaccedilatildeo de impacto ambiental compreende processos que

envolvem muacuteltiplos segmentos que recolhem analisam sintetizam e

comunicam informaccedilotildees sobre as condiccedilotildees ambientais tendecircncias

direccedilotildees impactos e futuros possiacuteveis com o objetivo de sensibilizar

para uma questatildeo especiacutefica ou apoiar processos de regulaccedilatildeo ambiental

Essas avaliaccedilotildees satildeo processos sociais de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo que

envolvem muito mais do que a mera produccedilatildeo de relatoacuterios Todavia os

limites estruturais e conjunturais das avaliaccedilotildees natildeo garantem o

questionamento do estilo de desenvolvimento de planos poliacuteticas e

203

programas que estariam sendo elaborados avaliados e implementados

(SACHS 1986 VIEIRA 2005)

O licenciamento ambiental estaacute envolto numa suposta

neutralidade em relaccedilatildeo aos criteacuterios juriacutedicos e teacutecnicos que o

sustentam e os condicionantes e interesses intriacutensecos ao processo

acabam passando para segundo plano ldquoNatildeo eacute porque a mineradora

cumpre com as exigecircncias que o oacutergatildeo licenciador pode liberar a

atividade Eacute preciso considerar a aceitaccedilatildeo do empreendimento pela

comunidade que poderaacute ser afetadardquo (Soacutecios da Natureza citado por

SANTOS 2008 p 103)

No caso especiacutefico da USITESC os segmentos poliacuteticos

(representados pelos poliacuteticos estaduais e municipais Ministeacuterio Puacuteblico

e FATMA) apresentaram em seus discursos algumas peculiaridades Os

poliacuteticos estaduais e municipais apoiam o empreendimento porque

querem estimular o desenvolvimento econocircmico A FATMA sofre

pressotildees poliacuteticas e tem dificuldades teacutecnicas mas garante que o

licenciamento eacute concedido considerando a anaacutelise teacutecnico-legal O

Ministeacuterio Puacuteblico aparece nos discursos dos segmentos econocircmicos

poliacuteticos e sociais como confiaacutevel Ele se mostra receptivo as colocaccedilotildees

dos segmentos sociais mas se move dentro do que considera legal Pode

questionar os dados do EIARIMA mas dificilmente questionaria a

questatildeo democraacutetica no processo da audiecircncia puacuteblica

Os segmentos econocircmicos como tratado na seccedilatildeo 623 fazem

pressatildeo sobre os segmentos poliacuteticos Nas audiecircncias puacuteblicas sua

participaccedilatildeo se limita a responder agrave perguntas e fazer a defesa do

empreendimento quando necessaacuterio O fato eacute que a USITESC tem a LI e

pode participar dos leilotildees de energia O iniacutecio da construccedilatildeo vai

depender dos interesses econocircmicos e poliacuteticos envolvidos O ponto

importante nesse capiacutetulo era tornar mais expliacutecitas as redes de

influecircncia e os mecanismos que satildeo utilizados nas audiecircncias puacuteblicas

para neutralizar as criacuteticas (aqui entra a injusticcedila poliacutetica nos tempos e

nas intervenccedilotildees) e a desinformaccedilatildeo Ao mesmo tempo tornam-se

tambeacutem mais expliacutecitas as formas de atuaccedilatildeo dos segmentos sociais

(afetadosatingidosameaccedilados ONGs e parte da academia)

A histoacuteria dos segmentos sociais no Sul de Santa Catarina traz

evidecircncias de aprendizagem social adaptativa Eles contam com uma

atuaccedilatildeo regional articulada fazem a relaccedilatildeo dos problemas globais e

locais questionam os segmentos poliacuteticos e os segmentos econocircmicos e

reivindicam que as audiecircncias puacuteblicas sejam mais democraacuteticas Isso

204

demonstra na discussatildeo especiacutefica da USITESC que se vem travando

uma luta histoacuterica na regiatildeo

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Nesta tese buscamos compreender as contradiccedilotildees inerentes agrave

proposta de ampliaccedilatildeo do sistema de geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica na

regiatildeo sul de Santa Catarina Para tanto adotamos um modelo de anaacutelise

que combina os enfoques de gestatildeo de ldquocommonsrdquo para o

ecodesenvolvimento e de justiccedila ambiental e ecoloacutegica Na estrutura

deste modelo hiacutebrido comparecem os conceitos de trajetoacuteria de

desenvolvimento local de atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso em

questatildeo de padrotildees de interaccedilatildeo entre os atores sociais envolvidos no

sistema de gestatildeo de regras em uso de arena de accedilatildeo e de resultados

eou consequecircncias das tomadas de decisatildeo

Caracterizamos inicialmente a especificidade das dinacircmicas de

desenvolvimento que tecircm influenciado as accedilotildees coletivas dos segmentos

poliacuteticos econocircmicos e sociais envolvidos nos modos de apropriaccedilatildeo e

gestatildeo do carvatildeo mineral na regiatildeo em pauta Neste sentido destacamos

o papel hegemocircnico exercido pelos agentes governamentais na

centralizaccedilatildeo dos processos decisoacuterios e na oferta de subsiacutedios agrave

utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis foacutesseis natildeo obstante o apelo agrave necessidade

de se promover uma ldquomatriz energeacutetica limpardquo no Paiacutes

No resgate da dinacircmica de exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral

buscamos caracterizar os fatores relacionados agrave disponibilidade do

recurso agrave rentabilidade econocircmica deste segmento atualmente aos

criteacuterios de tomada de decisatildeo na pesquisa de inovaccedilotildees na busca de

alternativas de mecanizaccedilatildeo dos processos de extraccedilatildeo agraves praacuteticas de

recuperaccedilatildeo do passivo ambiental e ao perfil dominante das poliacuteticas de

suprimento energeacutetico no bojo do modelo de desenvolvimento adotado

Com base nas evidecircncias coletadas foi possiacutevel constatar que o nosso

Paiacutes natildeo conta ainda hoje com uma ldquocultura do carvatildeordquo e que na

regiatildeo estudada as atividades de mineraccedilatildeo dificultam ou mesmo

impedem outros usos possiacuteveis do solo aleacutem de responderem pela

geraccedilatildeo de riscos e de impactos socioambientais cujos custos

geralmente muito elevados continuam a ser distribuiacutedos de forma

socialmente desigual Aleacutem disso reforccedilamos o ponto de vista segundo

o qual as escolhas tecnoloacutegicas satildeo essencialmente tributaacuterias de

orientaccedilotildees poliacuteticas As anaacutelises mostraram tambeacutem que uma parcela

significativa da populaccedilatildeo catarinense jaacute percebe natildeo soacute uma relaccedilatildeo

causal direta entre o aumento da exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral e o

comprometimento da resiliecircncia ecossistecircmica e da qualidade de vida

das comunidades locais Ao mesmo tempo vem se impondo

206

gradualmente a impressatildeo de que os processos de diversificaccedilatildeo da

economia regional vecircm legitimando a adoccedilatildeo de uma poliacutetica mais firme

de reconversatildeo do segmento de exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral

No que diz respeito agrave adequaccedilatildeo dos arranjos institucionais em

vigor na dinacircmica de gestatildeo deste segmento correlacionamos a

iniciativa de ampliaccedilatildeo do sistema de geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica

movida a carvatildeo mineral agrave desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo ambiental - especialmente do Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e do

Coacutedigo Estadual do Meio Ambiente em Santa Catarina No segundo

caso o Coacutedigo estabeleceu prazos para as licenccedilas ambientais e a

Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina dispensou o EIARIMA para

atividade de extraccedilatildeo de pequeno porte A CFEM e a reduccedilatildeo do ICMS

de 15 para 3 no estado contribuiacuteram fortemente para legitimar o

projeto de uma nova usina junto agrave opiniatildeo puacuteblica Mas outros aspectos

relevantes foram destacados a exemplo da evoluccedilatildeo progressiva das leis

ambientais favorecendo a percepccedilatildeo de que o direito a um meio

ambiente saudaacutevel integra o coacutedigo universal dos direitos humanos

fundamentais Todavia o balanccedilo entre os aspectos que favorecem a

ampliaccedilatildeo e os que questionam eacute bastante desigual A

desregulamentaccedilatildeo e a flexibilizaccedilatildeo dos coacutedigos juriacutedicos promovidas

nos uacuteltimos anos representam da perspectiva adotada na tese um

evidente e preocupante retrocesso em relaccedilatildeo aos avanccedilos alcanccedilados

anteriormente Finalmente acreditamos que a dimensatildeo da participaccedilatildeo

autecircntica da sociedade civil organizada nas tomadas de decisatildeo uma das

bandeiras da deacutecada de 1980 continua ainda hoje muito aqueacutem das

expectativas ndash sobretudo pelo fato de permanecer tutelada pelo jogo de

alianccedilas formadas pelos representantes dos setores econocircmico e

governamental

A reflexatildeo centrada no aprofundamento deste uacuteltimo toacutepico

mostrou que o sistema de gestatildeo de recursos comuns no Brasil continua

atrelado a um modelo de desenvolvimento que faz do apelo agrave

sustentabilidade uma retoacuterica que natildeo ataca as raiacutezes do problema

Trata-se de evitar as mudanccedilas estruturais que se tornaram emergenciais

face ao agravamento da crise em escala global Nesse contexto o

componente democraacutetico-representativo do sistema poliacutetico que tende a

reforccedilar e a legitimar a formaccedilatildeo de lobbies envolvendo os segmentos

poliacuteticos e econocircmicos contrasta com o componente democraacutetico-

participativo que responde pela abertura de espaccedilos ainda incipientes e

restritos de participaccedilatildeo aos setores majoritaacuterios da populaccedilatildeo A

existecircncia da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral eacute

207

um indiacutecio da existecircncia dessas articulaccedilotildees entre segmentos

econocircmicos e poliacuteticos E os dados apresentados no capiacutetulo 5

confirmam a hipoacutetese de que no bojo do processo de licenciamento da

USITESC no periacuteodo de 2002 a 2012 as doaccedilotildees de empresaacuterios para o

financiamento de campanhas eleitorais (nos niacuteveis municipal estadual e

nacional) tornaram-se um fenocircmeno recorrente

Em outras palavras consideramos que a gestatildeo de recursos

comuns em Santa Catarina segue as tendecircncias nacionais

Historicamente a questatildeo ambiental vem sendo apropriada de forma

marginal no estado permanecendo subordinada agrave hegemonia dos

interesses dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos Um dos principais

indicadores dessa tendecircncia pode ser encontrado na dinacircmica de

organizaccedilatildeo e funcionamento da FATMA abrigando a formaccedilatildeo de

lobbies ativos no setor da exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral - seja

estimulando sua expansatildeo seja dificultando sua fiscalizaccedilatildeo em

coerecircncia com os avanccedilos da legislaccedilatildeo ambiental Todavia ressaltamos

ainda que se uma parte dos segmentos poliacuteticos e dos segmentos sociais

apoia a tendecircncia de ampliaccedilatildeo deste setor os posicionamentos natildeo satildeo

homogecircneos e o fortalecimento do sistema democraacutetico vem se dando

por meio da organizaccedilatildeo dos segmentos sociais (ONGs academia

afetadosatingidosameaccedilados) e da atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico No

que diz respeito agrave organizaccedilatildeo dos segmentos sociais as iniciativas

extrapolam os espaccedilos de participaccedilatildeo previstos constitucionalmente

envolvendo tambeacutem accedilotildees autocircnomas de produccedilatildeo e difusatildeo de

conhecimentos aleacutem da promoccedilatildeo de campanhas e manifestaccedilotildees

Na consideraccedilatildeo do processo de licenciamento da USITESC

constatamos que no processo de licenciamento as audiecircncias puacuteblicas

realizadas no municiacutepio de Treviso foram coordenadas pela FATMA e

natildeo contaram com estrateacutegias de distribuiccedilatildeo (minimizando a

desigualdade) reconhecimento (considerando as distintas perspectivas)

e a representaccedilatildeo (paridade de participaccedilatildeo) As evidecircncias obtidas

indicam que essas reuniotildees foram organizadas visando reproduzir a

loacutegica que bloqueia na base a concretizaccedilatildeo desses anseios

Os principais temas tratados nas audiecircncias puacuteblicas foram

tratados no capiacutetulo 6 mostrando as contradiccedilotildees existentes ldquoentrerdquo e

ldquodentrordquo dos segmentos sociais principalmente A ampliaccedilatildeo de energia

termeleacutetrica eacute inevitaacutevel do ponto de vista dos segmentos econocircmicos

sendo respaldada por uma parcela dos agentes governamentais locais e

dos representantes da sociedade civil A discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre

208

a construccedilatildeo da USITESC e as mudanccedilas climaacuteticas proposta pela rede

de ONGs movimentos sociais e parte da UNESC foi categoricamente

colocada de lado como um aspecto natildeo pertinente ao caso em pauta ou

seja a apresentaccedilatildeo do EIARIMA Aleacutem disso ressaltamos que

durante as audiecircncias praticamente natildeo foram consideradas as vozes

dos habitantes de Treviso que seriam afetados pela implementaccedilatildeo do

projeto As discussotildees envolveram apenas uma parcela dos

representantes da sociedade civil sediados em outros municiacutepios e em

outros estados Poucos habitantes de Treviso participaram das

audiecircncias puacuteblicas Num municiacutepio em que 69 dos postos de trabalho

estatildeo vinculados a atividade carboniacutefera torna-se difiacutecil imaginar que os

habitantes estivessem em condiccedilotildees favoraacuteveis para se posicionarem

contra a implantaccedilatildeo da USITESC

Mostramos tambeacutem que a competecircncia da FATMA e da UNESC

foi repetidamente questionada nessas audiecircncias Se os representantes da

FATMA argumentaram agrave luz do princiacutepio de respeito agrave legislaccedilatildeo em

vigor e os pesquisadores da UNESC agrave luz do princiacutepio de neutralidade

da ciecircncia ambos os grupos evitaram assumir o desafio de encarar uma

discussatildeo poliacutetica do caso em pauta Por sua vez foi enaltecido o papel

desempenhado pelo Ministeacuterio Puacuteblico na defesa dos interesses da

populaccedilatildeo local Natildeo obstante consideramos que os depoimentos dos

Procuradores permaneceram refeacutens de um ponto de vista essencialmente

legalista na avaliaccedilatildeo do processo de licenciamento

Na busca de respostas agrave questatildeo de ldquoserdquo e ldquocomordquo as accedilotildees

coletivas estudadas teriam gerado oportunidades de aprendizagem social

adaptativa capazes de deflagrar accedilotildees coletivas de mudanccedila

institucional concluiacutemos que a atuaccedilatildeo de parte dos segmentos sociais

envolvidos no caso da USITESC aponta nesta direccedilatildeo Eles jaacute

conseguem perceber o surgimento da demanda de ampliaccedilatildeo do sistema

termeleacutetrico como um elemento de uma problemaacutetica mais ampla e mais

complexa que natildeo foi considerada nas audiecircncias puacuteblicas Eles estatildeo

mobilizados de outras formas mas a concessatildeo do licenciamento ainda

tem a audiecircncia puacuteblica (consultiva) como uacutenica modalidade de

participaccedilatildeo Diante disso pensamos que os problemas de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo existentes no espaccedilo da audiecircncia

precisariam ser vistos com mais cuidado pelo Ministeacuterio Puacuteblico Seria

interessante que daqui em diante o Ministeacuterio Puacuteblico superasse a

visatildeo dominante segundo a qual a anaacutelise das deficiecircncias do

EIARIMA (MPF 2004) satildeo suficientes para democratizar os processos

209

de licenciamento de projetos programas e poliacuteticas de desenvolvimento

no Paiacutes

Finalmente o trabalho ofereceu subsiacutedios que reforccedilam a

validade do pressuposto de que a maturaccedilatildeo de um sistema de gestatildeo de

recursos comuns voltado para um novo estilo de desenvolvimento

norteado pelo princiacutepio de sustentabilidade forte deveraacute passar

necessariamente pela ldquodemocratizaccedilatildeo do aparelho do Estado de modo

que a sociedade possa controlar seus controladoresrdquo (BOcircA NOVA

1985 p 227)

A sugestatildeo eacute que se faccedila uma pesquisa sobre ldquodeficiecircncias nas

audiecircncias puacuteblicasrdquo Como mencionado na justificativa desta tese um

dos encaminhamentos possiacuteveis seria a realizaccedilatildeo de um levantamento

mais rigoroso dos processos de licenciamento realizados no litoral de

Santa Catarina nos uacuteltimos anos a ser suplementado pela anaacutelise criacutetica

das respectivas audiecircncias puacuteblicas Os resultados poderiam ser

encaminhados ao Ministeacuterio Puacuteblico Estadual e Federal servindo assim

de base para o questionamento da forma pela qual os anseios de

distribuiccedilatildeo justa reconhecimento e representaccedilatildeo autecircntica dos

segmentos sociais tecircm sido incorporados nos processos de

licenciamento Neste sentido o caraacuteter meramente consultivo das

audiecircncias puacuteblicas poderia se tornar tambeacutem objeto de reconsideraccedilatildeo

na trilha ainda incipiente que nos conduziria ao exerciacutecio da cidadania

ambiental plena

Em outras palavras as perspectivas de ampliaccedilatildeo da rede de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica no Sul de Santa Catarina refletem uma

tomada de consciecircncia ainda bastante restrita dos riscos envolvidos na

continuidade da atividade carboniacutefera e de forma mais ampla de um

modelo de gestatildeo de recursos naturais de cunho ecologicamente

predatoacuterio e socialmente injusto Diante de argumentos que defendem o

caraacuteter ldquoinevitaacutevelrdquo do apelo a fontes natildeo renovaacuteveis de geraccedilatildeo de

energia cabe lembrar que

() existe pela frente um futuro repleto de possibilidades

alternativas e de potenciais inexplorados que natildeo cabem na bitola

estreita dos que estatildeo presos a modelos do passado ou a interesses do establishment Ou seja o futuro natildeo se projeta nas equaccedilotildees

matemaacuteticas mas se inventa na incessante discussatildeo das alternativas e

se faz na luta poliacutetica (BOcircA NOVA 1985 p 233)

210

Transformar a essa situaccedilatildeo envolve a adoccedilatildeo de outra

perspectiva baseada natildeo soacute na compreensatildeo da complexidade do

problema mas tambeacutem na consideraccedilatildeo simultacircnea dos fatores que

comparecem em todas as escalas do local ao global e na formaccedilatildeo de

parcerias capazes de impulsionar a gestaccedilatildeo de um projeto alternativo de

sociedade Esperamos que os resultados obtidos ofereccedilam subsiacutedios

uacuteteis apontando nesta direccedilatildeo insistindo que a superaccedilatildeo dos atuais

dilemas que cercam o exerciacutecio da democracia em nosso Paiacutes deveria

transcender a preocupaccedilatildeo pela pertinecircncia dos arranjos institucionais

em vigor Se os limites da tradiccedilatildeo democraacutetico-representativa tornam-

se evidentes quando prevalecem os interesses dos grupos sociais

atrelados agrave hegemonia do regime de apropriaccedilatildeo privada e economicista

dos ldquocommonsrdquo por sua vez os avanccedilos alcanccedilados na promoccedilatildeo de um

novo formato democraacutetico-participativo correm o risco de se tornarem

funcionais agrave reproduccedilatildeo das tendecircncias dominantes se permanecerem

restritos aos limites fixados pela obediecircncia agraves determinaccedilotildees legais

Impotildee-se assim uma dinacircmica de radicalizaccedilatildeo da democracia

entendida como componente essencial de uma estrateacutegia consistente de

enfrentamento dos dilemas colocados pela urgecircncia de uma transiccedilatildeo

ecoloacutegica consistente com os princiacutepios do ecodesenvolvimento

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AGRADECIMENTOS

O doutoramento foi muito mais abertura de caminhos e encontros que

pontos de chegada E nesses caminhos e encontros pude conhecer

pessoas e estreitar laccedilos que foram muito importantes ao longo desse

processo Aproveito para deixar registrado aqui os meus

agradecimentos

Ao meu orientador Prof Paulo Freire Vieira que me acompanha desde

o mestrado Eacute muito importante ter algueacutem que com equanimidade nos

faccedila perceber os nossos limites e nos estimule a ir aleacutem com humildade

e sem ilusotildees

Aos professores que gentilmente participaram da qualificaccedilatildeo e da

defesa e trouxeram valiosas contribuiccedilotildees ao texto aqui apresentado

Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes da UNESC Profordf Drordf Cristiane

Mansur de Moraes Souza da FURB Prof Dr Luiz Fernando Scheibe do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da UFSC Profordf Drordf Janice

Pontes Tirelli e Marcia Grisotti do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Sociologia Poliacutetica da UFSC

Agrave coordenaccedilatildeo e aos professores e professoras do Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica importantiacutessimos nesse processo de

formaccedilatildeo

Agrave Albertina Buss Volkmann e agrave Maria de Faacutetima Xavier da Silva pelo

carinho e pela ajuda junto agrave Secretaria do PPGSP

Ao CNPq pelo auxiacutelio financeiro por meio da bolsa de estudos

Agraves amigas e amigos do Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e

Desenvolvimento do Grupo de Educaccedilatildeo para o Ecodesenvolvimento e

do Nuacutecleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional Nossas

vivecircncias e convivecircncias foram fundamentais para o meu processo

formativo Foi muito bom poder contar com o carinho e apoio de vocecircs

Agrave Juliana Adriano Marina Fravrim Gasparini Melissa Vivacqua

Tatiane Viega Vargas e Tadeu Santos (da ONG Soacutecios da Natureza) que

gentilmente compartilharam suas impressotildees sobre partes da tese

Agrave Mariana Thibes pela agradaacutevel parceria ao longo desse percurso e ao

Juliano Giassi Goularti pela sugestatildeo dos dados do quinto capiacutetulo

Aos colegas da rede TransForMar pela acolhida e pela oportunidade de

compartilhar e dialogar sobre nossos projetos

Aos amigos Andresa Graciela Wagner Joaquim Hoepers Silvana Maria

Bittencourt e Vanessa Juliana da Silva Santos

Agraves amigas Katia Parizoto e Laurete Coleti que me inspiraram com a sua

coragem

Agraves minhas tias Lizete e Dalila eacute muito bom tecirc-las por perto

Ao Ivo cuja presenccedila tornou minha caminhada mais leve Com carinho e

paciecircncia nas nossas incontaacuteveis conversas sobre a tese ajudou e falou

o essencial quando eu mais precisava e permaneceu em silecircncio quando

isso significava me compreender e respeitar

Agrave minha famiacutelia Marilda Hermes Viviana Susana Lucas Hermes

Carlos Dora Dara e Bruna presenccedilas constantes em minha vida O

amor carinho e apoio de vocecircs foi e sempre seraacute fundamental

Agrave minha querida oma Leonida tio Flaacutevio tio Irineu minha prima

Valeacuteria e minha cachorrinha Nicole que partiram no periacuteodo de

doutorado e deixaram muitas saudades

Meus mais sinceros agradecimentos a todas e todos pois naquilo que

faccedilo sou e me torno a cada dia levo um pouquinho de cada um de

vocecircs

A terra natildeo eacute soacute um espaccedilo onde vivemos Eacute um

mundo que produz e condiciona nossa proacutepria

existecircncia que antecede e se prolonga em nossa

vida em todas as suas dimensotildees Somos seres

terrestres A democracia natildeo eacute soacute um espaccedilo

institucional da poliacutetica Ela para existir deve

tambeacutem realizar-se e estar presente em todas as

dimensotildees de nossas vidas Talvez por isso haja

uma relaccedilatildeo histoacuterica tatildeo estreita entre terra e

democracia Quando a terra eacute apropriada usada

monopolizada por uns poucos a democracia natildeo

existe Quando a democracia natildeo existe a terra se

transforma em um mundo de poucos contra a

maioria (Herbert de Souza ndash Betinho 1991 p

108-9)

RESUMO

Esta tese focaliza os dilemas que continuam bloqueando quatro deacutecadas

apoacutes a Conferecircncia de Estocolmo o funcionamento do sistema de gestatildeo

de recursos naturais natildeo renovaacuteveis no Brasil Mais especificamente o

texto conteacutem uma anaacutelise dos bastidores do processo de licenciamento

ambiental voltado para a implantaccedilatildeo de uma nova usina termeleacutetrica na

regiatildeo sul do estado de Santa Catarina O enfoque analiacutetico utilizado foi

construiacutedo mediante uma hibridizaccedilatildeo de duas linhas de pesquisa

sistecircmica sobre o binocircmio meio ambiente amp desenvolvimento ainda

pouco conhecidas em nosso Paiacutes a saber gestatildeo de recursos comuns

(ldquocommonsrdquo) para o ecodesenvolvimento e justiccedila ambiental e ecoloacutegica Aleacutem da introduccedilatildeo e de uma siacutentese da revisatildeo de literatura

sobre a atualidade dos princiacutepios de ecodesenvolvimento no debate

sobre modos de apropriaccedilatildeo e sistemas de gestatildeo de ldquocommonsrdquo o texto

oferece inicialmente um resgate historiograacutefico das modalidades e das

implicaccedilotildees socioecoloacutegicas do aproveitamento de jazidas de carvatildeo

mineral no Brasil e em Santa Catarina Na sequecircncia coloca em

primeiro plano uma anaacutelise dos padrotildees de interaccedilatildeo dos segmentos

sociais envolvidos no projeto de implantaccedilatildeo da Usina Termeleacutetrica Sul-

Catarinense (USITESC) no municiacutepio de Treviso Os dados coletados

permitiram validar a hipoacutetese segundo a qual a decisatildeo de implantar esta

usina constitui um indicador suplementar de crise do sistema poliacutetico

implantado no Paiacutes relativamente ao agravamento tendencial da

problemaacutetica socioecoloacutegica A linha de criacutetica adotada incide nas

implicaccedilotildees da reproduccedilatildeo de falhas estruturais nos processos de

construccedilatildeo da cidadania ambiental e de promoccedilatildeo da justiccedila ambiental

e ecoloacutegica em todos os niacuteveis de governo ndash do local ao nacional

Argumenta-se que a despeito dos avanccedilos obtidos no debate social

contemporacircneo sobre a urgecircncia de uma transiccedilatildeo ecoloacutegica

consequente para aleacutem de uma ldquoeconomia verderdquo ou do ideaacuterio de um

ldquodesenvolvimento sustentaacutevelrdquo que natildeo rompe com o imaginaacuterio

ocidental de um crescimento material ilimitado a intenccedilatildeo de ampliar a

utilizaccedilatildeo do carvatildeo como fonte de energia estaacute diretamente associada agrave

formaccedilatildeo de redes de influecircncia envolvendo empresaacuterios e agentes

governamentais Buscando elucidar os condicionantes desse cenaacuterio de

mercantilizaccedilatildeo intensiva e indiscriminada de ldquocommonsrdquo o trabalho

reuacutene tambeacutem evidecircncias de iniciativas de resistecircncia que vecircm sendo

gestadas na regiatildeo estudada por de grupos sociais portadores de uma

visatildeo ecoloacutegica da economia da cultura e da poliacutetica

Palavras-chave Ecodesenvolvimento Gestatildeo de recursos comuns

Justiccedila ambiental Justiccedila Ecoloacutegica Democracia Energia Termeleacutetrica

Carvatildeo Mineral Santa Catarina

ABSTRACT

This thesis focuses on the dilemmas that continue blocking four

decades after the Stockholm Conference the functioning of the

management system based on non-renewable natural resources in Brazil

More specifically the text contains an analysis of the backstage of the

licensing process focused on the deployment of a new thermal power

plant in the southern state of Santa Catarina The analytical approach

used was built by a hybridization of two lines of systemic research on

the binomial environment amp development still little known in our

country namely management of common resources (commons) for

the ecodevelopment and environmental and ecological justice Besides

the introduction and a summary of the literature review on the actuality

of the principles of ecodevelopment in the current debate on modes of

ownership and management of commons systems the text initially

provides a historiographical rescuing of the terms and socio-ecological

implications of utilizing coal mines in Brazil and in Santa Catarina

State Following it foregrounds an analysis of the patterns of interaction

of social groups involved in the deployment project Thermoelectric

Plant of South of the Santa Catarina (USITESC) in the city of Treviso

The collected data allow to validate the hypothesis that the decision to

deploy this Plant is a further indicator of the political system deployed

crisis in the country regarding the trend towards worsening of socio-

ecological problems The adopted line of criticism focuses on the

implications of reproducing structural flaws in the processes of

construction of environmental citizenship and promotion of

environmental and ecological justice at all levels of government - from

local to national It is argued that despite the progress achieved in the

contemporary social debate on the urgency of a consequent ecological

transition beyond a green economy or the ideas of sustainable

development that does not break the Western imagination of a growing

unlimited material intention of expanding nowadays the use of coal as

an energy source is directly associated with the formation of powerful

lobbies involving businessmen and government officials Trying to

elucidate the determinants of this intensive and indiscriminate

commodification of commons scenario the paper also gathers

evidence of resistance initiatives that have been gestated in the study

area for social groups suffering from an ecological view of the

economy culture and policy

Keywords Ecodevelopment Management of common resources

Environmental justice Ecological justice Democracy Thermoelectric

energy Coal Santa Catarina

LISTA DE FIGURAS

Figura 1ndash Tipologia das formas de expressatildeo do cidadatildeo numa

democracia 56 Figura 2 - Modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns ajustado a

co-gestatildeo adaptativa 69 Figura 3 - Primeira adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa 72 Figura 4 - Segunda adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa 75 Figura 5 - Tipos de carvatildeo e uso 87 Figura 6 - Etapas da avaliaccedilatildeo de impacto ambiental 95 Figura 7 ndash Mapa de localizaccedilatildeo da Bacia Carboniacutefera Santa Catarina

114 Figura 8- Brasatildeo do municiacutepio de Treviso 158 Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Treviso 159 Figura 10 - Aacuterea prevista para a implantaccedilatildeo da USITESC 163

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Divisatildeo dos envolvidos na gestatildeo por segmentos 55 Quadro 2 - Quadro de anaacutelise do sistema democraacutetico agrave luz da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica 57 Quadro 3 ndash O enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento e as

dimensotildees baacutesicas do conceito sistecircmico de meio ambiente 64 Quadro 4 - Aspectos das atividades de mineraccedilatildeo e processamento do

carvatildeo mineral 91 Quadro 5 - Siacutentese dos pontos que favorecem e questionam a

amplicaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral

por macro variaacutevel 104 Quadro 6 ndash Limites e oportunidades do sistema democraacutetico no Brasil

106 Quadro 7 ndash Aspectos que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral Santa Catarina

130 Quadro 8 ndash Limites e possibilidades do sistema democraacutetico em Santa

Catarina 132 Quadro 9 - Principais caracteriacutesticas fiacutesicas e bioacuteticas da aacuterea de

influecircncia indireta do projeto USITESC 160 Quadro 10- Impactos sobre o Meio Fiacutesico Bioacutetico e Antroacutepico e accedilotildees

geradoras 165 Quadro 11 - Siacutentese dos Programas da USITESC e alvos principais 168 Quadro 12 - Procedimento para conduccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas

FATMA 175

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral em operaccedilatildeo

em 2013 Brasil 88 Tabela 2 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral com outorga

de 1998 a 2013 Brasil 88 Tabela 3 - Faturamento do Segmento do Carvatildeo Mineral 2012 118 Tabela 4 - Produccedilatildeo de carvatildeo bruto (ROM) de 2009 a 2012 119 Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de passivos ambientais em relaccedilatildeo agraves empresas

120 Tabela 6 - Cronograma de recuperaccedilatildeo dos passivos ambientais 120 Tabela 7 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2002 141 Tabela 8 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2002 que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral 142 Tabela 9 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2002 142 Tabela 10 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2006 143 Tabela 11 - Candidatosas que receberam doaccedilotildees das empresas ligadas

ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2006 144 Tabela 12 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2006 145 Tabela 13 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2010 145 Tabela 14 - Candidatosas receberam doaccedilotildees das empresas ligadas ao

carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2010 146 Tabela 15 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2010 147 Tabela 16 - Doadores eleiccedilotildees de 2004 148 Tabela 17 - Comitecircs e candidatos que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2004 149 Tabela 18 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2004 149 Tabela 19 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2008 150 Tabela 20 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2008 que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 151 Tabela 21 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2008 151 Tabela 22 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2012 152 Tabela 23 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2012 que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 152 Tabela 24 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2012 153 Tabela 25 - Siacutentese dos doadores Eleiccedilotildees de 2002 e 2012 154 Tabela 26 - Candidatos que receberam maiores doaccedilotildees Eleiccedilotildees de

2002 a 2012 155 Tabela 27 - Doaccedilotildees por Partido Poliacutetico Eleiccedilotildees de 2002 a 2012 155 Tabela 28 ndash Principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo com a construccedilatildeo da

USITESC 179

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABCM Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo Mineral

ACARESC

Associaccedilatildeo de Creacutedito e Assistecircncia Rural de Santa

Catarina

ACARIMO Associaccedilatildeo Comunitaacuteria do Alto do Rio Molha

AIA Avaliaccedilatildeo de Impacto Ambiental

ALESC Assembleacuteia Legislativa do Estado de Santa Catarina

AMESC Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Extremo Sul Catarinense

AMREC Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera

AMUREL Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo de Laguna

ANEEL Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica

ANSDNPM Associaccedilatildeo Nacional de Servidores do Departamento

Nacional de Produccedilatildeo Mineral

APC Associaccedilatildeo Proacute-Carvatildeo

APIB Articulaccedilatildeo dos Povos Indiacutegenas do Brasil

APINE

Associaccedilatildeo Brasileira dos Produtores Independentes de

Energia Eleacutetrica

APP Agraverea de Preservaccedilatildeo Permanente

ASMURC

Associaccedilatildeo de Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera do

Rio Grande do Sul

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento

CAPES

Coordenadoria de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CASA Centro de Apoio Socioambiental

CBCA Companhia Carboniacutefera de Araranguaacute

CCEE Cacircmara de Comercializaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica

CEPCAN Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo Nacional

CETEM Centro de Tecnologia Mineral

CETMA Conselho Estadual de Tecnologia e Meio ambiente

CFEM

Compensaccedilatildeo Finaceira pela Exploraccedilatildeo de Recursos

Minerais

CFM Comitecircs Financeiros Municipais

CGBHRA

Comitecirc de Gerenciamento da Bacia Hidrograacutefica do Rio

Araranguaacute

CGTEE Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica

CNBB Conferecircncia Nacional dos Bispos do Brasil

CNPE Conselho Nacional de Poliacutetica Energeacutetica

CNPq

Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico

CO2 Dioacutexido de Carbono

COCALIT Coque Catarinense Ltda

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONDEMA Conselho Municipal de Defesa Ambiental

COPEL Companhia Paranaense de Energia

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

DEM Democratas

DNPM Departamento Nacional de Produccedilatildeo Mineral

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EPE Empresa de Pesquisa Energeacutetica

FASE

Federaccedilatildeo de oacutergatildeos para Assistecircncia Social e

Educacional

FATMA Fundaccedilatildeo do Meio Ambiente

FBOMS Foacuterum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais

FBOMS

Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

FDESC Foacuterum de Desenvolvimento do Extremo Sul Catarinense

FEEC Federaccedilatildeo de Entidades Ecologistas Catarinenses

FELC Foacuterum de Ecodesenvolvimento do Litoral Catarinense

FURB Universidade Regional de Blumenau

GAPLAN Gabinete de Planejamento

GEE Gases de Efeito Estufa

GWH Gigawatt-hora

IAD Institutional Framework for Policy Analysis and Design IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renovaacuteveis

IBASE Instituto Brasileiro de Anaacutelises Sociais e Econocircmicas

IBRAM Instituto Brasileiro de Mineraccedilatildeo

ICA Instituto da Cidadania de Araranguaacute

ICC Induacutestria Carboquiacutemica Catarinense

ICMS

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Prestaccedilatildeo de

Serviccedilos

IEA Agecircncia Internacional de Energia

INESC Instituto de Estudos Socioeconocircmicos

IPAT Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnoloacutegicas

JICA Agecircncia de Cooperaccedilatildeo internacional do Japatildeo

KWh QuiloWatt hora

LI Licenccedila de Instalaccedilatildeo

LO Licenccedila de Operaccedilatildeo

LP Licenccedila Preacutevia

MAM Movimento Popular frente agrave Mineraccedilatildeo

MEcircS Movimento Ecoloacutegico de Sideroacutepolis

MMA Ministeacuterio do Meio Ambiente

MME Ministeacuterio das Minas e Energia

MOVET Movimento Ecoloacutegico Tubaronense

MPA Movimento Proacute-Araranguaacute

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MW Megawatt

N Nitrogecircnio

NMD

Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e

Desenvolvimento

NPDR Nuacutecleo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional

OCDE

Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento

Econocircmico

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

PAC Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento

PFL Partido da Frente Liberal

PL Projeto de Lei

PMA Prefeitura Municipal de Araranguaacute

PMDB Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro

PNMA Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente

PNUMA Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente

PP Partido Progressista

PPB Partido Progressista Brasileiro

PPS Partido Popular Socialista

PR Partido da Repuacuteblica

PSD Partido Social Democraacutetico

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

PT Partido dos Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

RBJA Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental

RIMA Relatoacuterio de Impacto Ambiental

ROM Run of Mine

SATC

Associaccedilatildeo Beneficente da Induacutestria Carboniacutefera de

Santa Catarina

SDR Secretaria de Desenvolvimento Regional

SETMA Secretaria de Tecnologia e Meio Ambiente

SIESESC

Sindicato da Induacutestria da Extraccedilatildeo de Carvatildeo do Estado

de Santa Catarina

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNIEC Sindicato Nacional da Induacutestria de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

SOLTECA Sociedade Termoeleacutetrica de Capivari SA

TWH Tera Watt Hora

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense

USITESC Usina Termeleacutetrica Sul-Catarinense

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO39

2 A ATUALIDADE DO ECODESENVOLVIMENTO NO ESTUDO

CONTEMPORAcircNEO SOBRE GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS59

21 RESGATE DO ENFOQUE ldquoCLAacuteSSICOrdquo DE

ECODESENVOLVIMENTO 61

22 AS CONTRIBUICcedilOtildeES DE DIFERENTES ENFOQUES 63

221 Gestatildeo de recursos comuns a importacircncia da

aprendizagem social adaptativa 66

222 Ecodesenvolvimento territorial os recursos comuns no

contexto do desenvolvimento 71

223 Justiccedila ambiental e justiccedila ecoloacutegica os caminhos da

democracia 73

23 LIMITES E POSSIBILIDADES DO

ECODESENVOLVIMENTO REVISITADO 77

3 GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS NO BRASIL O CARVAtildeO

MINERAL EM QUESTAtildeO79

31 DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO GESTAtildeO DE

RECURSOS COMUNS E ENERGIA 81

32 CARACTERIZACcedilAtildeO E USOS DO CARVAtildeO MINERAL NO

BRASIL 86

33 TECNOLOGIAS DISPONIacuteVEIS E IMPACTOS

SOCIOAMBIENTAIS 89

34 REGRAS EM USO NUMA PERSPECTIVA HISTOacuteRICA

INTERFACE ENTRE DIREITOS AMBIENTAIS E DIREITOS

HUMANOS 92

35 ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO 98

351 Segmentos poliacuteticos 98

352 Segmentos econocircmicos 100

353 Segmentos sociais 102

36 SITUACcedilAtildeO ATUAL E DESAFIOS 103

4 CARVAtildeO MINERAL EM SANTA

CATARINA109

41 ldquoCombinandordquo crescimento econocircmico e proteccedilatildeo ambiental 110

42 O sul catarinense uma trajetoacuteria (de desenvolvimento) marcada

pelo carvatildeo mineral 114

43 Da extraccedilatildeo manual agrave mecanizaccedilatildeo das minas 121

44 Regras em uso 122

45 Envolvidos na gestatildeo 124

451 Segmentos poliacuteticos 124

452 Segmentos econocircmicos 124

453 Segmentos sociais 126

46 Situaccedilatildeo atual e desafios 129

5 CARVAtildeO MINERAL E POLIacuteTICA EM SANTA CATARINA

ELEICcedilOtildeES E FINANCIAMENTO PRIVADO133

51 Os argumentos presentes no discurso dos poliacuteticos 134

52 Panorama das eleiccedilotildees e doaccedilotildees de campanha de 2002 a 2012

139

521 Eleiccedilotildees gerais 140

522 Eleiccedilotildees municipais 148

53 Os fatos ausentes do discurso dos poliacuteticos 153

6 CARVAtildeO MINERAL E AMPLIACcedilAtildeO DA ENERGIA

TERMELEacuteTRICA EM SANTA CATARINA157

61 O municiacutepio de Treviso 157

62 O processo de licenciamento os documentos escritos 162

621 O EIARIMA da USITESC 163

622 Das audiecircncias puacuteblicas e licenccedilas 169

623 Pressotildees dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos no

processo de licenciamento 170

624 A posiccedilatildeo dos segmentos sociais 173

63 Relaccedilotildees de poder e desigualdade nas audiecircncias puacuteblicas os

documentos falados 175

631 A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica 177

632 As mudanccedilas climaacuteticas natildeo vecircm ao caso 183

633 Quem defende quem E quem defende os

afetadosatingidosameaccedilados 188

634 O papel da FATMA em questatildeo 192

635 O IPAT e a neutralidade da ciecircncia 195

636 Audiecircncias puacuteblicas como espaccedilos democraacuteticos 200

64 Democracias possiacuteveis e aprendizagem social 202

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS205

REFEREcircNCIAS211

1 INTRODUCcedilAtildeO

O crescimento e as transformaccedilotildees da economia mundial ao

longo do seacuteculo XX foram impulsionados pela oferta de energia tendo

como fonte principal os combustiacuteveis foacutesseis petroacuteleo e carvatildeo mineral

O uso da energia eacute essencial agrave cultura consumista moderna presente em

todas as regiotildees do mundo Os processos de produccedilatildeo e consumo satildeo

responsaacuteveis por inuacutemeros riscos e danos ecoloacutegicos (TOUCHEacute 2004)

A geopoliacutetica mundial dos recursos naturais faz da energia aacutegua

mineacuterio e espaccedilo territorial elementos do comeacutercio internacional Esse

movimento global afeta as localidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de redes

de infraestrutura reconversatildeo de atividades alteraccedilatildeo das formas de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo e satildeo geradores de injusticcedila ambiental Aiacute surgem

conflitos entre a exploraccedilatildeo dos recursos orientada por interesses

presentes em vaacuterias escalas espaciais (ACSELRAD BEZERRA 2010

ZHOURI 2008)

A partir da deacutecada de 1990 depois de mais de cinquenta anos de

controle estatal o sistema energeacutetico brasileiro passou por um periacuteodo

de liberalizaccedilatildeo Duas mudanccedilas consideraacuteveis podem ser apontadas A

privatizaccedilatildeo das companhias operadoras iniciando com a Lei nordm 9427

de dezembro de 1996 que instituiu a Agecircncia Nacional de Energia

Eleacutetrica (ANEEL) e determinou que o potencial energeacutetico seria

concedido via leilatildeo A segunda mudanccedila ocorreu em 2004 com o Novo

Modelo do Setor Eleacutetrico marcando a retomada do planejamento nesse

setor pelo Estado garantindo a seguranccedila no suprimento modicidade

tarifaacuteria e inserccedilatildeo social (atraveacutes do Programa Luz para Todos)

(ANEEL 2008a) Essa deacutecada marcou tambeacutem a desregulamentaccedilatildeo do

setor carboniacutefero que perdeu o mercado metaluacutergico e enfrentou seacuterias

dificuldades vindo a se recuperar somente com a possibilidade de

ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica (JFSC 2008)

Muitas poliacuteticas puacuteblicas incluindo as do setor energeacutetico tecircm

como efeitos colaterais grandes impactos socioambientais (PINHEIRO

2006 RAULINO 2009 SAacuteNCHEZ 2008a VIEacuteGAS 2007) O

Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) reforccedilou a velha loacutegica

de grandes projetos de infraestrutura e a atuaccedilatildeo do Estado ainda eacute

bastante controversa (VIEIRA 2009 ZHOURI LASCHEFSKI 2010)

Dentre as controveacutersias presentes na atuaccedilatildeo do Estado uma refere-se

ao compromisso assumido pelo Brasil no Plano Nacional sobre

40

Mudanccedila do Clima de reduzir as desigualdades sociais a partir de uma

dinacircmica econocircmica que natildeo repita a trajetoacuteria dos paiacuteses

industrializados em termos de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

(GEE) (BRASIL 2008) Esse discurso parece caminhar na contramatildeo

do PAC que prevecirc a construccedilatildeo de mais cinco termeleacutetricas movidas a

carvatildeo mineral sendo uma em Santa Catarina (MONTEIRO 2008)

A Poliacutetica Estadual sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e

Desenvolvimento Sustentaacutevel de Santa Catarina foi instituiacuteda em 2009

Esta pretende compatibilizar desenvolvimento social econocircmico e

tecnoloacutegico com a proteccedilatildeo do sistema climaacutetico e do meio ambiente

com ecircnfase especial agrave minimizaccedilatildeo das atividades geradoras de gases de

efeito estufa (SANTA CATARINA 2009a) Entretanto o Coacutedigo

Estadual do Meio Ambiente aprovado em 2009 (SANTA CATARINA

2009b) e alterado em 2013 abre a possibilidade de regularizaccedilatildeo

fundiaacuteria em Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e do

licenciamento por decurso de prazo (FEEC 2008 SANTA

CATARINA 2014a) Estes e outros aspectos causam grande impacto

nas relaccedilotildees sociedade e meio ambiente no geral e na questatildeo

energeacutetica em particular

O desenvolvimento de Santa Catarina foi durante muito tempo

considerado bem sucedido por ter reduzido grau de desigualdade

socioeconocircmica amparada no predomiacutenio da pequena propriedade e da

produccedilatildeo diversificada (LISBOA THEIS 1993) Todavia com o passar

do tempo observa-se a elevaccedilatildeo do ecircxodo rural o aumento dos

problemas urbanos e da degradaccedilatildeo ecossistecircmica (VIEIRA et al

2010 VIEIRA CUNHA 2002) A crise socioecoloacutegica catarinense estaacute

intimamente ligada agrave civilizaccedilatildeo dos negoacutecios (LENZI 2000) e o

sistema energeacutetico que a sustenta contribui em alguma medida para o

agravamento deste quadro (LISBOA THEIS 1993) O aumento da

produccedilatildeo e consumo de energia em Santa Catarina relaciona-se ao

crescimento da atividade econocircmica e ao crescimento dos impactos

ambientais (THEIS 1988)

Dentre as regiotildees mais afetadas estaacute o Sul de Santa Catarina A

regiatildeo concentra 1041 das reservas de carvatildeo mineral do Brasil

(MONTEIRO 2008) Desde a descoberta do carvatildeo catarinense pelos

tropeiros em 1822 ateacute os dias atuais muitas coisas mudaram em termos

de incentivos ao uso do carvatildeo mineral tecnologias utilizadas

agravamento da problemaacutetica socioambiental global e desenvolvimento

de mecanismos institucionais para lidar com esta problemaacutetica Todavia

41

apesar de existirem avanccedilos intensificaram-se tambeacutem processos de

degradaccedilatildeo ambiental (MENEZES WATERKEMPER 2009 SANTA

CATARINA 1990)

A Agecircncia de Cooperaccedilatildeo Internacional do Japatildeo (JICA)

identificou 4700 hectares degradados no Sul de Santa Catarina mas

estima-se que seriam 6000 hectares (NASCIMENTO BURSZTYN

2010) Do mineacuterio extraiacutedo 25 eacute aproveitado e 75 torna-se rejeito

piritoso (MILIOLI 2009) Na regiatildeo carboniacutefera apesar da

mecanizaccedilatildeo da extraccedilatildeo do carvatildeo ainda existem precaacuterias condiccedilotildees

de trabalho e peacutessimas condiccedilotildees de vida (moradia sauacutede saneamento)

(MONTIBELLER FILHO 2004) Haacute na regiatildeo um gradativo

comprometimento do setor agriacutecola As aacutereas proacuteximas agraves lavras de

subsolo sofrem com rachaduras desabamentos e rebaixamentos do solo

Ocorrem tambeacutem infiltraccedilotildees secagem de cursos de aacutegua accediludes e

poccedilos Dois terccedilos do sistema hidrograacutefico da regiatildeo estatildeo

comprometidos Existem tambeacutem impactos na flora e fauna e decliacutenio

do potencial pesqueiro (MILIOLI 2009)

Em 1993 o Ministeacuterio Puacuteblico Federal propocircs uma Accedilatildeo Civil

Puacuteblica contra as empresas carboniacuteferas diretores soacutecios majoritaacuterios o

Estado de Santa Catarina e a Uniatildeo Federal visando agrave recuperaccedilatildeo do

passivo ambiental resultante da mineraccedilatildeo do carvatildeo Em 2000

aconteceu a condenaccedilatildeo dos reacuteus agrave recuperaccedilatildeo de 619159 hectares de

aacutereas degradadas trecircs bacias hidrograacuteficas (bacias dos rios Araranguaacute

Tubaratildeo e Urussanga) e 768 minas de boca abandonadas (TSJ 2007)

A regiatildeo eacute palco de muitos conflitos No que diz respeito agrave

extraccedilatildeo do carvatildeo destacam-se em 1988 o conflito entre a Companhia

Sideruacutergica Nacional (CSN) e moradores da comunidade rural de

Montanhatildeo em 1994 entre a Companhia Carboniacutefera Belluno e 200

agricultores em 1995 envolvendo a Associaccedilatildeo Comunitaacuteria do Alto do

Rio Molha (ACARIMO) em Urussanga em 1996 o conflito entre

mineradores e agricultores no ldquoMorrordquo do Albino e Estevatildeo em

Criciuacutema (SILVA SCHEIBE 2005) em 1999 o conflito com a

Carboniacutefera Rio Deserto em Sideroacutepolis e em Iccedilara entre agricultores e

a Carboniacutefera Rio Deserto (NASCIMENTO BURSZTYN 2010) Em

2004 com a ocorrecircncia do furacatildeo Catarina o primeiro do Atlacircntico

Sul inaugura-se uma mobilizaccedilatildeo social que une a discussatildeo sobre a

mineraccedilatildeo do carvatildeo com a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas e

justiccedila ambiental (SOacuteCIOS DA NATUREZA 2009 e 2005)

Historicamente na regiatildeo aqueles que tecircm o benefiacutecio econocircmico

42

geralmente natildeo arcam com os impactos negativos resultantes da

mineraccedilatildeo (MILIOLI 2009 NASCIMENTO BURSZTYN 2010)

Todavia os impactos natildeo necessariamente afetam apenas as populaccedilotildees

mais vulneraacuteveis do ponto de vista socioeconocircmico

O iacutendice meacutedio de mortalidade por neoplasias e doenccedilas

respiratoacuterias eacute superior ao resto do territoacuterio catarinense e ultrapassa a

meacutedia nacional Chama atenccedilatildeo tambeacutem o iacutendice de mortalidade de

menores de um ano por doenccedilas respiratoacuterias anomalias congecircnitas

notadamente no sistema nervoso incluindo anencefalia tambeacutem

superiores ao resto do paiacutes (MPF 2009) Os municiacutepios de Imbituba

Tubaratildeo Criciuacutema e Urussanga lideram os piores iacutendices de qualidade

do ar do Estado Existem tambeacutem muitos prejuiacutezos relacionados agrave sauacutede

da populaccedilatildeo De 1980 a 2004 foram 846 mortes causadas por doenccedilas

do aparelho respiratoacuterio nos municiacutepios de Criciuacutema Iccedilara Lauro

Muumlller Morro da Fumaccedila Sideroacutepolis Nova Veneza Urussanga

(MILIOLI 2009)

A mineraccedilatildeo no Sul em 2010 contava com 12 induacutestrias e

aproximadamente 4136 empregos diretos O principal destino do carvatildeo

(95) era o Complexo Termeleacutetrico Jorge Lacerda localizado no

municiacutepio de Capivari de Baixo administrado pela Tractebel

(SIECESC 2010) A Usina Termeleacutetrica Jorge Lacerda foi inaugurada

em 1965 entrando em operaccedilatildeo em 1966 com potecircncia instalada de 50

MW atualmente 856 MW com a incorporaccedilatildeo de mais unidades e

ampliaccedilatildeo da produccedilatildeo de energia eleacutetrica Em 1998 como parte dos

processos de privatizaccedilatildeo o Complexo Jorge Lacerda foi vendido para o

Grupo SuezTractebel (Beacutelgica) (GOULARTI FILHO MORAES

2004)

O Complexo Jorge Lacerda tem o compromisso da compra de

200 mil toneladas mensais de carvatildeo mineral A cadeia produtiva do

carvatildeo gera mais de seis mil empregos (na mineraccedilatildeo do carvatildeo

transporte e abastecimento do carvatildeo geraccedilatildeo de energia eleacutetrica e

extraccedilatildeo e transporte de cinzas) e eacute responsaacutevel por 70 da arrecadaccedilatildeo

de tributos municipais e por 75 da economia de Capivari de Baixo

(TRACTEBEL 2008)

A ampliaccedilatildeo de energia termeleacutetrica tornou-se uma possibilidade

atraveacutes da construccedilatildeo da Usina Termeleacutetrica Sul-Catarinense

(USITESC) Ela faz parte de uma realidade diferente se comparada ao

Complexo Termeleacutetrico Jorge Lacerda Enquanto o Complexo

Termeleacutetrico Jorge Lacerda foi construiacutedo num periacuteodo em que a

43

questatildeo da energia passava pela intervenccedilatildeo federal e estadual

(GOULARTI FILHO MORAES 2004) a USITESC vai ser construiacuteda

num periacuteodo de liberalizaccedilatildeo e privatizaccedilatildeo do setor eleacutetrico Ocorrem

ainda nesse intervalo de tempo a democratizaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de espaccedilos

legais e institucionais motivados pela crescente preocupaccedilatildeo com

questotildees socioambientais (VAINER 2007) Todavia existem

dificuldades na articulaccedilatildeo entre os niacuteveis de planejamento e gestatildeo

(federal estadual regional municipal) especificidades da cultura

poliacutetica brasileira a degeneraccedilatildeo das instituiccedilotildees poliacuteticas e o vieacutes

tecno-burocraacutetico das poliacuteticas ambientais (VIEIRA 2006) Ao liberar

as forccedilas do capital das regulamentaccedilotildees do Estado o controle social

sobre os efeitos nocivos do uso exacerbado do meio ambiente pelos

interesses privados pode ser inviabilizado (ACSELRAD 1992b)

No que se refere agrave geraccedilatildeo de energia do Complexo Jorge

Lacerda a Tractebel natildeo sofre nenhum tipo de fiscalizaccedilatildeo O

Complexo Jorge Lacerda emite 42 milhotildees de toneladas de Dioacutexido de

Carbono (CO2) por ano (MONTEIRO 2008) A Fundaccedilatildeo do Meio

Ambiente (FATMA) autorizou a Tractebel a emitir 15667117

toneladasano de dioacutexido de enxofre Essa e as demais emissotildees

ultrapassam em muito os limites da Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional do

Meio Ambiente (CONAMA) nordm 0890 e violam tambeacutem a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) sobre a Mudanccedila do Clima da

qual o Brasil eacute signataacuterio Em 2009 o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

determinou que a Tractebel Energia SA realize uma auditoria

ambiental uma vez que sua atuaccedilatildeo tem como base um estudo de

impacto ambiental feito em 1986 (MPF 2009)

Jaacute o relatoacuterio de impacto ambiental da USITESC foi questionado

pela sociedade civil organizada e em alguns pontos pelo Ministeacuterio

Puacuteblico (SANTOS 2011 DIAS 2011) Segundo Dias (2011) o estudo

de impacto ambientalrelatoacuterio de impacto ambiental considerou apenas

os impactos da implantaccedilatildeo da usina termeleacutetrica desconsiderando os

empreendimentos acessoacuterios (reservatoacuterio de aacutegua ramal da Ferrovia

Tereza Cristina linha de transmissatildeo e terminal de amocircnia no porto de

ImbitubaSC) Foram feitos estudos complementares e o Ministeacuterio

Puacuteblico corroborou o licenciamento ambiental emitido pela FATMA

Se os estudos de impacto ambiental e relatoacuterios de impacto

ambiental satildeo a base para as tomadas de decisatildeo aleacutem da qualidade

documental a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em associaccedilotildees locais eacute uma

conquista democraacutetica importante mas a praacutetica permanece precaacuteria

44

(SAacuteNCHEZ 2008b AGRA FILHO 2010) na medida em que o campo

ambiental eacute ldquoconstituiacutedo por posiccedilotildees hieraacuterquicas e relaccedilotildees de poder

muito desiguaisrdquo (ZHOURI 2008 p 99) Os empresaacuterios enaltecem os

benefiacutecios sociais dos empreendimentos e o governo tem demonstrado

atitudes controvertidas nos espaccedilos de negociaccedilatildeo e decisatildeo As

audiecircncias puacuteblicas passam de ldquo() um instrumento de avaliaccedilatildeo da

sustentabilidade socioambiental das obras para ser mero instrumento

viabilizador de um projeto de sociedade que tem no meio ambiente um

recurso material a ser explorado economicamenterdquo (ZHOURI 2008 p

101) Outro risco que se corre para aleacutem da negociaccedilatildeo caso a caso eacute

lidar ldquoapenas com a manifestaccedilatildeo superficial de questotildees mais

fundamentais e enraizadas ndash os conflitos de valores e princiacutepios baacutesicos

relativos agrave gestatildeo dos recursosrdquo (ACSELRAD BEZERRA 2010 p

52) Ou seja a preocupaccedilatildeo socioambiental acaba muitas vezes

limitada ao processo de avaliaccedilatildeo de impacto ambiental de casos

isolados sem levar em conta uma discussatildeo ampla e bem informada

sobre alternativas ao estilo de desenvolvimento hegemocircnico

A regiatildeo Sul catarinense convive com um problema socioambiental

considerado grave a saber os impactos negativos decorrentes da

mineraccedilatildeo e do uso do carvatildeo mineral e a construccedilatildeo da USITESC

demonstram a insistecircncia nesse estilo de desenvolvimento Levando em

conta a situaccedilatildeo-problema aqui descrita a questatildeo norteadora dessa tese

foi assim formulada Por que apesar da evoluccedilatildeo do debate sobre os

impactos socioambientais da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral e dos avanccedilos institucionais relacionados agrave questatildeo ambiental o sistema de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral vem sendo

ampliado em Santa Catarina

Partindo dessa questatildeo norteadora satildeo apresentados a seguir o enfoque

analiacutetico e os principais conceitos que ajudaram a delimitar essa tese

Enfoque analiacutetico

Desde a emergecircncia social e cientiacutefica da problemaacutetica

socioambiental a partir da deacutecada de 1960 podemos destacar avanccedilos

conceituais que se somam a progressos no conhecimento empiacuterico

sobre os problemas e ameaccedilas socioambientais e avanccedilos institucionais

da questatildeo ambiental Apesar dos avanccedilos os desafios da problemaacutetica

45

socioambiental satildeo ineacuteditos e possuem implicaccedilotildees epistemoloacutegicas

eacuteticas e poliacuteticas

O ecodesenvolvimento tem sido o ponto de confluecircncia dessa

reflexatildeo Mencionado pela primeira vez no acircmbito da Conferecircncia de

Estocolmo foi utilizado no decorrer da deacutecada de 1970 sendo

progressivamente marginalizado na deacutecada seguinte considerado como

um enfoque demasiadamente criacutetico e radical pela ideologia neoliberal

(SACHS 1986 VIEIRA 2006) O enfoque analiacutetico aqui apresentado

resgata o enfoque ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento enfatizando suas

trecircs dimensotildees (i) recursos naturais (ii) espaccedilo-territoacuterio e (iii) habitat

(compreendido como qualidade de vida)

No que se refere agrave primeira dimensatildeo satildeo consideradas as

contribuiccedilotildees do enfoque da gestatildeo de recursos comuns que vecircm

permeando o debate sobre os modos de apropriaccedilatildeo e gestatildeo No que diz

respeito agrave segunda dimensatildeo traz-se o enfoque do ecodesenvolvimento

territorial como uma possibilidade de operacionalizar o enfoque de

ecodesenvolvimento Por fim as contribuiccedilotildees agrave dimensatildeo do haacutebitat a

partir do enfoque de justiccedila ambiental e ecoloacutegica entendido como

capaz de contribuir na avaliaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo dos benefiacutecios dos

riscos e danos ambientais assim como na reflexatildeo sobre redistribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre os seres humanos

destes com o meio ambiente com as futuras geraccedilotildees espeacutecies natildeo

humanas e processos ecossistecircmicos

O enfoque da gestatildeo de recursos comuns atraveacutes do Institutional Framework for Policy Analysis and Design (IAD) adaptado por

Oakerson (1992) oferece atraveacutes de quatro macro variaacuteveis uma forma

de descrever a gestatildeo de um dado recurso os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso as regras em uso que orientam a interaccedilatildeo dos

envolvidos na gestatildeo a arena de accedilatildeo que compreendem os espaccedilo nos

quais os envolvidos se relacionam e os resultados e consequecircncias da

gestatildeo A relaccedilatildeo entre essas macro variaacuteveis eacute dinacircmica e as mudanccedilas

da gestatildeo envolvem o aprendizado social adaptativo que se incorpora

ao modelo a partir das contribuiccedilotildees recentes do enfoque da cogestatildeo

adaptativa (ARMITAGE et al 2009 PLUMMER 2009 HOLLING

2001 BERKES 2009 CUNDILL 2010) Esse enfoque eacute importante

para o problema desta tese porque a descriccedilatildeo e anaacutelise das macro

variaacuteveis possibilita um diagnoacutestico e uma compreensatildeo mais ampla do

problema bem como um prognoacutestico avaliando estrateacutegias passiacuteveis de

serem colocadas em accedilatildeo visando a resoluccedilatildeo do problema inicial

46

A fim de complementar o enfoque da gestatildeo de recursos comuns

o enfoque do ecodesenvolvimento territorial reforccedila a ideia de que a

gestatildeo de recursos comuns deve ser analisada junto ao estilo de

desenvolvimento Para aleacutem da situaccedilatildeo especiacutefica do recurso

encontram-se as opccedilotildees de desenvolvimento que influenciam as macro

variaacuteveis acima listadas em todas as escalas espaciais do local ao global

(VIEIRA 2006)

Os enfoques da justiccedila ambiental e da justiccedila ecoloacutegica por sua

vez trazem a indissociabilidade da questatildeo ambiental e da questatildeo

democraacutetica enfatizando o fortalecimento do sistema democraacutetico como

condiccedilatildeo para a aprendizagem social adaptativa e como um caminho

para a reflexatildeo-accedilatildeo criacutetica em relaccedilatildeo agrave gestatildeo de recursos comuns e agraves

opccedilotildees de desenvolvimento A democracia (representativa e

participativa) eacute um ldquoelemento dardquo e uma ldquocondiccedilatildeo parardquo a justiccedila

ambiental e ecoloacutegica (SCHLOSBERG 2009)

No sistema democraacutetico eacute preciso identificar os mecanismos de

produccedilatildeo da injusticcedila ambiental entendida como distribuiccedilatildeo

desproporcional dos riscos e danos ambientais proteccedilatildeo ambiental

desigual e acesso desigual aos recursos naturais A justiccedila ambiental

centraliza sua anaacutelise na redistribuiccedilatildeo (que remete a aspectos

econocircmicos) e a justiccedila ecoloacutegica complementa com outras duas

dimensotildees o reconhecimento (que remete a aspectos culturais) e a

representaccedilatildeo (que remete a aspectos poliacuteticos) (FRASER 2009 2007

SCHLOSBERG 2009) A ampliaccedilatildeo da democracia e

consequentemente do aprendizado social adaptativo envolve estrateacutegias

dos segmentos sociais que considerem essas duas dimensotildees

Dessa forma o enfoque central utilizado nessa tese o

ecodesenvolvimento conta com as contribuiccedilotildees da gestatildeo de recursos

comuns do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila ambiental e da

justiccedila ecoloacutegica Mesmo diante da situaccedilatildeo-problema apresentada na

qual os problemas tendem a se acirrar com a ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica a combinaccedilatildeo dos enfoques permite aleacutem de um

diagnoacutestico visando compreender o problema a possibilidade de

atraveacutes do exame das dinacircmicas de desenvolvimento do sistema

democraacutetico e da aprendizagem social adaptativa identificar avanccedilos e

margens de manobra junto aos segmentos sociais que possibilitem o

questionamento da situaccedilatildeo e seu enfrentamento

47

Questotildees norteadoras

Por que apesar da evoluccedilatildeo do debate sobre os impactos

socioambientais da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral e dos avanccedilos

institucionais relacionados agrave questatildeo ambiental o sistema de geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral vem sendo ampliado em

Santa Catarina

Para auxiliar a questatildeo norteadora constam ainda as seguintes questotildees auxiliares

Quais condicionantes levam agrave ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica no Brasil e em Santa Catarina

Como as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento influenciam

as accedilotildees coletivas dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais

De que maneira os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais se

articulam para que a atividade carboniacutefera se mantenha e se

amplie

Como se deu o processo de licenciamento da Usitesc

Como se manifestam os problemas de reconhecimento e

representaccedilatildeo no processo de licenciamento

As accedilotildees coletivas estudadas tecircm gerado oportunidades para

processos de aprendizagem social adaptativa

Haacute indiacutecios de uma possiacutevel rota para uma democracia que

permita que os segmentos sociais intervenham efetivamente em

debates cada vez mais mediados por uma ciecircncia e tecnologia a

serviccedilo dos projetos dos segmentos econocircmicos e respaldados

pelos segmentos poliacuteticos

Hipoacuteteses

Partindo do pressuposto de que a democracia representativa e

participativa eacute um ldquoelemento dardquo e uma ldquocondiccedilatildeo parardquo a

justiccedila social ambiental e ecoloacutegica a falta de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e de representaccedilatildeo nos processos democraacuteticos

seria uma condiccedilatildeo favoraacutevel agrave produccedilatildeo de injusticcedila ambiental

48

e ecoloacutegica Dessa forma a hipoacutetese sustentada aqui eacute de que o

processo poliacutetico que resulta na ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de

energia termeleacutetrica envolve problemas de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo nos processos democraacuteticos em

todas as escalas espaciais (nacional estadual regional e local)

tanto na modalidade representativa quanto na modalidade

participativa

A tomada de consciecircncia dos limites da democracia

representativa e da democracia participativa faz com que os

segmentos sociais passem a investir em accedilotildees autocircnomas

favorecendo a aprendizagem social adaptativa

Objetivos

Compreender as contradiccedilotildees inerentes agrave ampliaccedilatildeo do sistema de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movido a carvatildeo mineral no Sul de

Santa Catarina agrave luz do enfoque hiacutebrido envolvendo gestatildeo de recursos

comuns ecodesenvolvimento territorial e justiccedila ambiental e ecoloacutegica

Como objetivos especiacuteficos destacam-se

Apontar as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento que

influenciam as accedilotildees coletivas dos segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais envolvidos na gestatildeo do carvatildeo mineral

Descrever a gestatildeo de recursos comuns no Brasil e em Santa

Catarina com ecircnfase no carvatildeo mineral

Compreender a maneira como os segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais envolvidos na gestatildeo se articulam em

relaccedilatildeo agrave gestatildeo de recursos comuns

Descrever o processo de licenciamento da Usitesc

Reconhecer os problemas de distribuiccedilatildeo reconhecimento e

representaccedilatildeo no processo de licenciamento e nas audiecircncias

puacuteblicas

Verificar ldquoserdquo e ldquocomordquo as accedilotildees coletivas estudadas tecircm

gerado oportunidades para processos de aprendizagem social

adaptativa e

49

Reconhecer indiacutecios de uma possiacutevel rota para uma democracia

que permita que os segmentos sociais intervenham efetivamente

em debates cada vez mais mediados por uma ciecircncia e

tecnologia a serviccedilo dos projetos dos segmentos econocircmicos e

respaldados pelos segmentos poliacuteticos

Justificativa

Satildeo muitos os caminhos que levam ateacute o tema e o problema da

tese Desde a apresentaccedilatildeo do projeto na ocasiatildeo do processo seletivo

da qualificaccedilatildeo agrave defesa e depois O permanente refletir duvidar

reconstruir o que se cristaliza no papel e vai aleacutem dele A aacuterdua tarefa de

tentar traduzir em palavras a dinacircmica complexa da qual todas e todos

satildeo parte

O tema do planejamento do desenvolvimento me acompanha

desde o mestrado e na ocasiatildeo da seleccedilatildeo do doutorado apresentei um

projeto cujo tema era planejamento e aquecimento global Nos anos

subsequentes nas oportunidades que tive para debater o projeto fui

desafiada a trazer o tema para a realidade do estado de Santa Catarina

E seguindo essa intuiccedilatildeo a partir da pesquisa exploratoacuteria entrei em

contato com o Manifesto por Justiccedila Climaacutetica formulado por

movimentos sociais do Sul de Santa Catarina que trazia a reflexatildeo sobre

as mudanccedilas climaacuteticas e a exploraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral para

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica no Sul de Santa Catarina Tive tambeacutem a

oportunidade de participar de uma saiacuteda de campo na bacia carboniacutefera

e ter contato direto com os impactos causados pela mineraccedilatildeo Essas

experiecircncias e as leituras foram gradativamente me ajudando a definir

o tema e o problema desta tese

Existe muito material jaacute produzido sobre a trajetoacuteria de

desenvolvimento e os impactos decorrentes da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo

mineral no Sul de Santa Catarina Aqui se objetivou uma breve siacutentese

de dados e de parte do material jaacute produzido pois a ecircnfase desta tese

recaiu sobre a identificaccedilatildeo de incoerecircncias na relaccedilatildeo entre as questotildees ambientais e o sistema democraacutetico mostrando que o funcionamento do

sistema poliacutetico eacute parte do problema e que as margens de manobra

existentes podem ser mais bem exploradas pelos movimentos sociais

que atuam na regiatildeo Como jaacute foi assinalado anteriormente apesar da

possibilidade de ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a

50

carvatildeo mineral no Sul de Santa Catarina o cenaacuterio atual eacute de

aguccedilamento dos conflitos bem maior do que nas deacutecadas anteriores

Nesse sentido a construccedilatildeo da USITESC eacute mais um elo de um

segmento que tem historicamente um caraacuteter eminentemente destrutivo

do ponto de vista socioecoloacutegico Resta confirmar se isto eacute um destino

inexoraacutevel em funccedilatildeo das caracteriacutesticas especiacuteficas da regiatildeo ou se

pode ser mudado num contexto de questionamento da loacutegica subjacente

agraves dinacircmicas do sistema democraacutetico que envolvem decisotildees sobre as

poliacuteticas ambientais energeacuteticas e poliacuteticas de desenvolvimento

No plano teoacuterico a contribuiccedilatildeo desta tese inscreve-se no

aprofundamento teoacuterico do enfoque ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento

agregando as contribuiccedilotildees dos enfoques da gestatildeo de recursos comuns

do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila ambiental e da justiccedila

ecoloacutegica O esforccedilo de juntar enfoques se justificou na medida em que

se um dos condicionantes da problemaacutetica socioambiental eacute a

fragmentaccedilatildeo do problema e a dificuldade de concebecirc-lo como

problema complexo (GARCIacuteA 1994) religar as perspectivas segundo

as quais observamos e analisamos a realidade faz parte tambeacutem das

estrateacutegias para o enfrentamento do problema

Dessa forma o diaacutelogo entre enfoques trouxe pontos de reflexatildeo

diferentes que enriqueceram a anaacutelise ao enfoque da gestatildeo de recursos

comuns a questatildeo das dinacircmicas de desenvolvimento e do sistema

poliacutetico ao ecodesenvolvimento territorial a preocupaccedilatildeo com a gestatildeo

de recursos comuns e com a desigualdade ambiental e agrave justiccedila

ambiental e ecoloacutegica a atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de desenvolvimento e agrave

gestatildeo de recursos comuns Um ponto que merece destaque eacute o esforccedilo

recente das pesquisas sobre gestatildeo de recursos comuns e justiccedila

ambiental e ecoloacutegica de aplicar os enfoques para tratar as

especificidades do caso brasileiro Esta tese se inscreve como parte

desse esforccedilo

Outro ponto importante eacute a junccedilatildeo dos temas democracia e meio

ambiente no Brasil A democracia foi e eacute sem duacutevida um tema muito

caro agrave Sociologia brasileira e a inclusatildeo de um tema mais recente (o

meio ambiente) tambeacutem eacute considerada uma contribuiccedilatildeo possiacutevel dessa tese

Vale a pena ressaltar ainda que essa tese se insere nas atividades

realizadas pelos integrantes do Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio

Ambiente e Desenvolvimento (NMD) vinculado ao Programa de Poacutes-

51

Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica O Nuacutecleo atua no litoral Centro Sul

de Santa Catarina haacute mais de dez anos Dentre as atividades

desenvolvidas pelo NMD inclui-se a participaccedilatildeo no Observatoacuterio do

Litoral Catarinense que tem como objetivo

Organizar e coordenar uma rede de apoio teacutecnico-

cientiacutefico ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal e

Estadual tendo em vista a promoccedilatildeo de um estilo

de gestatildeo democraacutetico-participativa de conflitos

relacionados agrave apropriaccedilatildeo dos recursos

ambientais existentes na zona costeira e o

consequente fortalecimento da cidadania

ambiental no Paiacutes (OBSERVATOacuteRIO DO

LITORAL 2010)

Como parte das atividades do Observatoacuterio do Litoral

Catarinense a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre meio ambiente e

desenvolvimento auxilia na elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos e prognoacutesticos e

pode favorecer a mobilizaccedilatildeo jaacute que a visibilidade dos problemas

existentes pode estimular a criaccedilatildeo de redes visando a criaccedilatildeo de

estrateacutegias integradas para enfrentamento dos problemas

Essa tese tambeacutem faz parte de um esforccedilo mais amplo de

pesquisa articulado pelo edital da Coordenadoria de Aperfeiccediloamento de

Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) Ciecircncias do Mar tendo como tema

a Gestatildeo Integrada e Compartilhada de Territoacuterios Marinho-Costeiros O projeto possibilitou o compartilhamento do objeto de estudo do

marco conceitual e epistecircmico e a articulaccedilatildeo dos estudos entre os

membros da equipe

Em siacutentese dentre os possiacuteveis aspectos inovativos do trabalho

destacam-se do ponto de vista praacutetico o olhar sobre a questatildeo da

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral a partir do

funcionamento do sistema democraacutetico a identificaccedilatildeo dos

condicionantes da ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica em

diferentes escalas e consequentemente o reconhecimento de limites e

das possibilidades do sistema democraacutetico e da aprendizagem social

adaptativa Do ponto de vista teoacuterico destacam-se o diaacutelogo entre os

enfoques e a aplicaccedilatildeo dos enfoques agraves especificidades brasileiras

Metodologia

52

O agravamento dos problemas socioambientais tem povoado o

debate nos campos de especializaccedilatildeo cientiacutefica seja para a criaccedilatildeo de

novas disciplinas seja para ir aleacutem da fragmentaccedilatildeo disciplinar ldquoA

problemaacutetica socioambiental constituiacute um vigoroso instrumento de

integraccedilatildeo de conceitos teorias e meacutetodos desenvolvidos em

praticamente todas as especialidades cientiacuteficasrdquo (VIEIRA 1993 p

26) A epistemologia das ciecircncias ambientais entra como uma

importante contribuiccedilatildeo para a pesquisa ambiental Ela considera a

complexidade inerente agrave crise socioambiental privilegiando uma visatildeo

integrada do problema socioecoloacutegico e da ciecircncia no acircmbito do novo

paradigma sistecircmico Neste sentido a busca de integraccedilatildeo inter e

transdisciplinar do conhecimento emerge como um elemento essencial

no enfrentamento da crise (GARCIacuteA 1994 JOLLIVET PAVEacute 2000

MORIN 2002)

A tese aqui apresentada se insere nesse esforccedilo de pesquisa Para

tanto a construccedilatildeo da tese considerou sete etapas (a pergunta de partida

a exploraccedilatildeo a problemaacutetica a construccedilatildeo do modelo de anaacutelise a

observaccedilatildeo a anaacutelise das informaccedilotildees e as conclusotildees) segundo os trecircs

princiacutepios do procedimento cientiacutefico em ciecircncias sociais (ruptura

construccedilatildeo e verificaccedilatildeo) (BOURDIEU CHAMBOREDON

PASSERON 2004 QUIVY CAMPENHOUDT 1998)

Apesar de haver uma sequecircncia loacutegica as etapas subsequentes

influenciaram a reelaboraccedilatildeo das etapas precedentes As etapas

estiveram ao longo do processo em permanente interaccedilatildeo (QUIVY

CAMPENHOUDT 1998)

Se eacute evidente que os automatismos adquiridos

podem permitir a economia de uma invenccedilatildeo

permanente devemos nos abster de deixar crer

que o sujeito da invenccedilatildeo cientiacutefica eacute um

automaton spirituale obedecendo aos

mecanismos bem ajustados de uma programaccedilatildeo

metodoloacutegica constituiacuteda uma vez por todas e

confinar dessa forma o pesquisador na submissatildeo

cega ao programa que exclui o retorno reflexivo

ao mesmo condiccedilatildeo da invenccedilatildeo de novos

programas (BOURDIEU CHAMBOREDON

PASSERON 2004 p 15)

53

Dessa forma a evoluccedilatildeo dessa tese natildeo foi linear As quatro

primeiras etapas (a pergunta de partida a exploraccedilatildeo a problemaacutetica e a

construccedilatildeo do modelo de anaacutelise) jaacute apresentadas nessa introduccedilatildeo satildeo

tratadas a seguir de forma a indicar como se deu o processo de sua

construccedilatildeo

1ordf etapa (A pergunta de partida) Foi sendo elaborada e

reelaborada ao longo das vaacuterias etapas da pesquisa

2ordf etapa (A exploraccedilatildeo) Essa etapa compreendeu conversas com

o orientador leituras e entrevistas exploratoacuterias Nessa etapa destacou-se

uma saiacuteda de campo no ano de 2010 agrave Bacia do Rio Araranguaacute

supervisionada pelo Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes e Profordf Drordf

Vanilde Citadini Zanette da Universidade do Extremo Sul Catarinense

(UNESC) Essa saiacuteda de campo foi fundamental para despertar o

interesse pelo problema da extraccedilatildeo e uso do carvatildeo mineral no Sul do

Estado

Foi feita uma entrevista exploratoacuteria com Tadeu Santos da

Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental (ONG) Soacutecios da Natureza com sede

em Araranguaacute e conversas informais com estudantes da Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Auditoria e Periacutecia Ambiental da UNESC em 2010 e 2012

Etapa 3 (A problemaacutetica) e Etapa 4 (A construccedilatildeo do modelo de

anaacutelise) Destacam-se tambeacutem nessa fase aleacutem das conversas com o

orientador as leituras e o esforccedilo de preparaccedilatildeo do projeto para

qualificaccedilatildeo que ocorreu em 2011 contando com as contribuiccedilotildees do

Prof Dr Carlyle Bezerra de Menezes da UNESC do Prof Dr Luiz

Fernando Scheibe do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da

Universidade Federal de Santa Catarina e da Profordf Drordf Janice Pontes

Tirelli do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sociologia Poliacutetica da UFSC

O projeto foi tambeacutem discutido no acircmbito do NMD em alguns

seminaacuterios de pesquisa na disciplina de Ecologia Humana (ministrada

pela ProfordfDrordf Marcia Grisotti e pelo Prof Dr Fernando Dias Aacutevila

Pires) em 2010 nas duas disciplinas de seminaacuterio de pesquisa uma

ministrada pela Profordf Drordf Elizabeth Farias da Silva (na qual o projeto

foi debatido pelo Prof Dr Daniel Silva) e outra ministrada pelo Prof

Dr Raul Burgos no ano de 2011 O projeto tambeacutem foi apresentado e debatido no Nuacutecleo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional (NPDR)

da Universidade Regional de Blumenau (FURB) coordenado pelo Prof

Dr Ivo Marcos Theis e em dois eventos do Projeto Gestatildeo Integrada e Compartilhada de Territoacuterios Marinho-Costeiros em 2011 e 2012

54

Etapa 5 ndash A observaccedilatildeo Nessa etapa o modelo de anaacutelise foi

submetido aos fatos e confrontado com os dados observaacuteveis Aqui satildeo

respondidas as questotildees baacutesicas o que foi observado Em que observou-se E como observou-se

O procedimento da pesquisa foi bibliograacutefico e documental Na

pesquisa bibliograacutefica foram selecionadas fontes secundaacuterias (obras e

artigos) que tratavam do tema de estudo jaacute reconhecidas no domiacutenio

cientiacutefico e na pesquisa documental foram priorizadas fontes primaacuterias

(escritas e audiovisuais) que ateacute entatildeo natildeo haviam recebido tratamento

cientiacutefico (SAacute-SILVA ALMEIDA GUIDANI 2009)

Os discursos da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo

Mineral foram acessados atraveacutes de consulta agrave Cacircmara de Deputados

pelo correio eletrocircnico Os dados sobre prestaccedilatildeo de contas eleitorais

foram acessados atraveacutes do banco de dados online do TSE O processo

de licenciamento da USITESC arquivado na FATMA conta com oito

volumes e 1617 paacuteginas e com arquivos audiovisuais de duas das quatro

audiecircncias puacuteblicas (FATMA 2013) Das quatro audiecircncias puacuteblicas

realizadas soacute foram disponibilizadas as gravaccedilotildees da terceira e da quarta

audiecircncia (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006 2007) Segundo informaccedilatildeo

da FATMA a primeira e a segunda audiecircncia puacuteblica foram gravadas em

VHS e foram danificadas pela accedilatildeo do tempo

A descriccedilatildeo das macro variaacuteveis (as dinacircmicas de

desenvolvimento os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos as regras em uso a

arena de accedilatildeo e os resultadosconsequecircncias) foi feita atraveacutes da

pesquisa bibliograacutefica a fontes secundaacuterias (obras e artigos) Jaacute a

variaacutevel do sistema democraacutetico contou com fontes primaacuterias os

discursos da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral na

Cacircmara dados sobre prestaccedilatildeo de contas eleitoral do Tribunal Superior

Eleitoral e os documentos referentes ao processo de licenciamento

ambiental da USITESC arquivados na FATMA

Na arena de accedilatildeo um primeiro passo foi descrever os envolvidos

na gestatildeo Para tanto os envolvidos foram divididos em segmentos

poliacuteticos econocircmicos e sociais que por sua vez foram subdivididos Os

segmentos poliacuteticos em executivo parlamento e autocircnomo os segmentos econocircmicos em associaccedilotildees empresariais e mistas e empresas

e cooperativas e os segmentos sociais em trabalhadores

afetadosatingidosameaccedilados ONG e academia (Quadro 1) Os

segmentos natildeo apresentam um posicionamento homogecircneo em relaccedilatildeo

ao tema da tese Ao longo do texto a preocupaccedilatildeo eacute tambeacutem de

55

explicitar os diferentes posicionamentos entre e no interior de cada

segmento

Quadro 1 ndash Divisatildeo dos envolvidos na gestatildeo por segmentos SEGMENTOS ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO

Poliacuteticos Executivo

Parlamento

Autocircnomo

Econocircmicos Associaccedilotildees empresariais e mistas

Empresas

Cooperativas

Sociais Trabalhadores

AfetadosAtingidosAmeaccedilados

Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais

Academia

Fonte baseada em Oliveira (2013)

A existecircncia de afetados atingidos e ameaccedilados se inscreve no

reconhecimento e legitimaccedilatildeo de direitos A legislaccedilatildeo ambiental faz

com que os impactos passem a ser considerados e se existem impactos

existem seres humanos que satildeo afetados atingidos e ameaccedilados

(VAINER 2008) A distinccedilatildeo entre os termos afetados atingidos e

ameaccedilados remete agrave proximidade dos seres humanos em relaccedilatildeo aos

impactos Nos afetados o impacto fica num limiar tecircnue entre o direto e

indireto nos atingidos o impacto eacute direto e nos ameaccedilados o impacto eacute

potencialmente indireto

Uma variaacutevel importante na arena de accedilatildeo eacute a democracia que

por sua vez envolve a questatildeo da representaccedilatildeo e da participaccedilatildeo A

expressatildeo cidadatilde atraveacutes da representaccedilatildeo se daacute principalmente nas

eleiccedilotildees plebiscitos e conselhos Jaacute a expressatildeo mediante participaccedilatildeo

pode ser accedilatildeo sob convite (planejamento participativo consulta puacuteblica

e mediaccedilatildeo) e accedilatildeo autocircnoma (lobby peticcedilotildees manifestaccedilotildees

campanhas na imprensa outros) (Figura 1) (SAacuteNCHEZ 2008b)

56

Figura 1ndash Tipologia das formas de expressatildeo do cidadatildeo numa

democracia

Fonte Adaptado de Sagravenchez (2008b p 409)

Na anaacutelise do sistema democraacutetico foi importante identificar as

dimensotildees da justiccedila ambiental (redistribuiccedilatildeo) e da justiccedila ecoloacutegica

(reconhecimento e representaccedilatildeo) ldquoO natildeo reconhecimento eacute uma

questatildeo de impedimentos externamente manifestados e publicamente

verificaacuteveis a que certos indiviacuteduos sejam membros integrais da

sociedaderdquo (FRASER 2007 p 114) O centro normativo da concepccedilatildeo

de Fraser (2007) eacute a paridade de participaccedilatildeo que demanda uma

condiccedilatildeo objetiva e outra intersubjetiva A condiccedilatildeo objetiva ldquoexclui formas e niacuteveis de desigualdade material e dependecircncia econocircmica que

impedem a paridade de participaccedilatildeordquo (FRASER 2007 p 119) A

condiccedilatildeo intersubjetiva ldquoexclui normas institucionalizadas que

sistematicamente depreciam algumas categorias de pessoas e as

caracteriacutesticas associadas a elasrdquo (FRASER 2007 p 120)

57

Quadro 2 - Quadro de anaacutelise do sistema democraacutetico agrave luz da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica

DIMENSOtildeES DO SISTEMA

DEMOCRAacuteTICO

ESTRATEacuteGIAS DA JUSTICcedilA

AMBIENTAL E ECOLOacuteGICA

- Redistribuiccedilatildeo

- Reconhecimento e

- Representaccedilatildeo

- Produccedilatildeo do conhecimento proacuteprio

- Pressatildeo pela aplicaccedilatildeo universal das

leis

- Pressatildeo pelo aperfeiccediloamento da

legislaccedilatildeo de ambiental

- Pressatildeo por novas racionalidades no

exerciacutecio do poder estatal

- Introduccedilatildeo de procedimentos de

avaliaccedilatildeo de equidade ambiental

- Accedilatildeo direta e difusatildeo espacial do

movimento

Fonte Adaptado de Acselrad Mello Bezerra (2009) e Fraser (2009

2007)

As dimensotildees e estrateacutegias da justiccedila ambiental e ecoloacutegica

presentes no Quadro acima entraram no modelo de anaacutelise dessa tese

como indicadores da aprendizagem social adaptativa

Quanto aos meacutetodos de anaacutelise priorizou-se a anaacutelise estatiacutestica e

a anaacutelise do discurso Anaacutelise estatiacutestica privilegiou a interpretaccedilatildeo dos

dados atraveacutes do modelo de anaacutelise buscando ir aleacutem da mera exposiccedilatildeo

de resultados A anaacutelise do discurso aqui proposta ficou num limiar

entre essa modalidade e a anaacutelise de conteuacutedo As categorias utilizadas

estatildeo dispostas no quadro da paacutegina 56 Elas orientaram a seleccedilatildeo de

passagens relevantes nas audiecircncias puacuteblicas analisadas com o

propoacutesito de revelar aspectos da atividade cognitiva do locutor dos

significados sociais e poliacuteticos do discurso (GILL 2002 QUIVY

CAMPENHOUDT 1998 RESENDE RAMALHO 2006)

O processo da tese aqui descrito natildeo foi linear Para Quivy e

Campenhoudt (1998 p 236) ldquoum processo de diaacutelogo e de vaiveacutens

permanentes entre teoria e empirismo mas tambeacutem entre construccedilatildeo e

intuiccedilatildeo que estatildeo mais imbricadasrdquo

As etapas 6 e 7 (Anaacutelise de informaccedilotildees e Conclusotildees)

correspondem ao ldquocorpordquo da tese apresentado na sequecircncia

58

Estrutura da tese

Essa tese foi dividida em sete capiacutetulos O primeiro capiacutetulo eacute

esta introduccedilatildeo dedicada agrave siacutentese dos principais pontos que nortearam a

tese O segundo capiacutetulo busca resgatar a contribuiccedilatildeo do enfoque

ldquoclaacutessicordquo do ecodesenvolvimento agregando com o enfoque da gestatildeo

de recursos comuns do ecodesenvolvimento territorial e da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica elementos que satildeo incorporados no modelo de

anaacutelise e que conferem uma atualidade maior agrave discussatildeo No terceiro

capiacutetulo e quarto capiacutetulo eacute feita uma descriccedilatildeo da gestatildeo de recursos

comuns do Brasil e de Santa Catarina enfatizando as particularidades do

carvatildeo mineral A preocupaccedilatildeo presente nos dois capiacutetulos eacute de realizar

um balanccedilo dos fatores que estimulam a ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral e os fatores que podem favorecer

o questionamento da ampliaccedilatildeo bem como tratar dos limites e

possibilidades do sistema democraacutetico e possibilidades de aprendizagem

social adaptativa O quinto capiacutetulo trata da rede de influecircncia entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos no campo da democracia

representativa tratando a relaccedilatildeo entre doaccedilotildees de campanha e apoio

poliacutetico a causa do carvatildeo mineral O sexto capiacutetulo trata da ampliaccedilatildeo

da energia termeleacutetrica atraveacutes do caso da USITESC no Sul de Santa

Catarina buscando atraveacutes da anaacutelise do processo de licenciamento

compreender os condicionantes locais da ampliaccedilatildeo O seacutetimo e uacuteltimo

capiacutetulo faz uma siacutentese dos principais pontos discutidos na tese

2 A ATUALIDADE DO ECODESENVOLVIMENTO NO ESTUDO

CONTEMPORAcircNEO SOBRE GESTAtildeO DE RECURSOS

COMUNS

O surgimento de uma problemaacutetica de pesquisa envolve o

amadurecimento dos olhares com os quais se observa analisa e

empreende esforccedilos para transformar a realidade A problemaacutetica

socioambiental natildeo surge em um lugar especiacutefico e num tempo

determinado Surge em paiacuteses diferentes em eacutepocas diferentes As

formas variadas de delimitaccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema e da construccedilatildeo da

problemaacutetica correspondente envolvem as diferentes percepccedilotildees dos

cidadatildeos bem como o protagonismo dos foacuteruns locais e movimentos

sociais o envolvimento da comunidade cientiacutefica e a busca de respostas

poliacuteticas agrave altura dos desafios identificados

No final da deacutecada de 1960 a problemaacutetica socioambiental

assume um perfil de crise global ensejando a realizaccedilatildeo de vaacuterios

eventos sobre o tema Numa visatildeo retrospectiva e criacutetica do surgimento

do Clube de Roma em 1968 agrave realizaccedilatildeo da Rio +20 em 2012 muitos

avanccedilos e retrocessos podem ser apontados no espectro que se estende

do questionamento radical do estilo de desenvolvimento hegemocircnico

visto como condicionante da crise socioambiental agrave incorporaccedilatildeo da

crise soacutecio ecoloacutegica na reproduccedilatildeo da loacutegica economicista no campo do

planejamento e da gestatildeo das experiecircncias de gestatildeo dos recursos

comuns agrave caracterizaccedilatildeo da Trageacutedia dos Comuns (HARDIN 1980)

das denuacutencias de injusticcedila ambiental e ecoloacutegica agrave constataccedilatildeo da

violecircncia estrutural embutida na persistecircncia das assimetrias de riqueza

e poder envolvendo os dois hemisfeacuterios (ESTEVA 2001 FENNY et

al 2001 SACHS 1993)

Desde sua origem um desafio que acompanha essa problemaacutetica

refere-se agrave dificuldade de se lidar (na pesquisa cientiacutefica e nos espaccedilos

de tomada de decisatildeo poliacutetica) com dinacircmicas natildeo lineares de

dinamizaccedilatildeo socioeconocircmica e recriaccedilatildeo cultural envolvendo para tanto

a coordenaccedilatildeo de processos transescalares num horizonte de

planejamento de longo prazo Neste contexto vem se tornando cada vez mais evidente a capacidade ainda bastante restrita de cientistas gestores

e agentes governamentais de compreender e tratar a complexidade

inerente agrave teia de interdependecircncias que configura a coordenaccedilatildeo da

dinacircmica de sistemas socioecoloacutegicos que envolve diferentes niacuteveis e

escalas espaciais (BERKES FOLKE 1998 CASHet al 2006)

60

Levando em conta essas consideraccedilotildees gerais o objetivo deste

capiacutetulo eacute discutir a atualidade do enfoque de ecodesenvolvimento e por

implicaccedilatildeo da necessidade de dotaacute-lo da capacidade de assegurar a

coerecircncia das regras que norteiam a gestatildeo dos modos de apropriaccedilatildeo

dos recursos comuns nas diferentes escalas espaciais Parte-se assim da

premissa segundo a qual a efetividade de experiecircncias compatiacuteveis com

os fundamentos deste enfoque dependeraacute de uma consideraccedilatildeo mais

precisa do papel da democracia e da aprendizagem social adaptativa nos

processos de gestatildeo de recursos comuns Para tanto leva-se em conta o

lento processo de elaboraccedilatildeo do enfoque ldquoclaacutessicordquo de

ecodesenvolvimento com a incorporaccedilatildeo sucessiva dos debates sobre (i)

gestatildeo de recursos comuns (ii) ecodesenvolvimento territorial e (iii)

justiccedila ambiental e ecoloacutegica

Em siacutentese defende-se o ponto de vista segundo o qual a gestatildeo

de recursos comuns internaliza os criteacuterios de promoccedilatildeo da justiccedila

ambiental e ecoloacutegica na produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-superaccedilatildeo da siacutendrome

de violecircncia estrutural que caracteriza a dinacircmica de globalizaccedilatildeo

assimeacutetrica Por sua vez o enfoque de ecodesenvolvimento territorial

focaliza este debate de uma perspectiva mais ampla insistindo na

complexidade envolvida na construccedilatildeo de dinacircmicas territoriais de

desenvolvimento ecologicamente prudente no atual cenaacuterio ldquopoacutes-

fordistardquo

O capiacutetulo estaacute dividido em quatro seccedilotildees contando com essa

introduccedilatildeo A seccedilatildeo seguinte delineia o contexto de emergecircncia da

problemaacutetica socioambiental e do enfoque de ecodesenvolvimento Na

sequecircncia satildeo apresentadas as dimensotildees do conceito sistecircmico de meio

ambiente assumidas pelos estudiosos do ecodesenvolvimento

relacionando-as com as maneiras pelas quais as linhas de reflexatildeo sobre

gestatildeo de recursos comuns ecodesenvolvimento territorial e justiccedila

ambiental e ecoloacutegica focalizam suas anaacutelises Finalmente na quarta

seccedilatildeo avaliam-se as possibilidades e os limites de um esforccedilo de

hibridizaccedilatildeo dessas vaacuterias linhas de reflexatildeo tendo em vista uma

caracterizaccedilatildeo mais rigorosa do conceito de co-gestatildeo adaptativa face agraves

novas configuraccedilotildees do processo de globalizaccedilatildeo econocircmica e cultural

61

21 RESGATE DO ENFOQUE ldquoCLAacuteSSICOrdquo DE

ECODESENVOLVIMENTO

Mar que se encontra na beira do mar congelado do

Norte No inverno todas as palavras e sons da

regiatildeo satildeo congelados na primavera comeccedilam a

degelar e podem ser claramente ouvidos Os

viajantes podem apanhar as palavras congeladas

que se parecem com doces cristalizados de vaacuterias

cores (Franccedilois Rabelais 1991)

A percepccedilatildeo de que a crise socioambiental decorre

fundamentalmente da reproduccedilatildeo de um estilo de desenvolvimento que

hipertrofia a dimensatildeo do crescimento econocircmico ilimitado e eacute

insensiacutevel a uma avaliaccedilatildeo multidimensional de custos sociais e

ecoloacutegicos passou a ser discutida em vaacuterios encontros internacionais

desde o final da deacutecada de 1960 Vaacuterios termos foram sendo criados nos

debates que vecircm sendo conduzidos desde entatildeo Alguns deles foram

esquecidos e outros foram ressignificados visando pontuar as criacuteticas

mais ou menos radicais ao modelo neoliberal hegemocircnico O resgate

dessa polissemia contribui para alimentar a reflexatildeo contemporacircnea e o

aprendizado obtido ao longo das quatro uacuteltimas deacutecadas na concepccedilatildeo

de estrateacutegias de superaccedilatildeo deste modelo Alguns termos atualizam o

modelo de desenvolvimento hegemocircnico incorporando marginalmente

a questatildeo socioecoloacutegica outros se abrem a experimentaccedilotildees criativas

com projetos que subvertem o mainstream da economia do

desenvolvimento O ecodesenvolvimento e o desenvolvimento

sustentaacutevel tratados nessa seccedilatildeo representam dois contrapontos desse

movimento sem duacutevida incerto e controvertido

Maurice Strong utilizou pela primeira vez o conceito de

ecodesenvolvimento no contexto da Conferecircncia de Estocolmo

organizada pela ONU em 1972 A ideia foi reelaborada e sistematizada

de forma pioneira num artigo publicado por Ignacy Sachs em 19741 na

eacutepoca atuando como coordenador do primeiro coletivo interdisciplinar

de pesquisa sistecircmica voltada para a internalizaccedilatildeo da variaacutevel

socioecoloacutegica no campo das teorias do desenvolvimento Deste ponto

1 Em um estudo que foi realizado no acircmbito do Programa das Naccedilotildees Unidas

para o Meio Ambiente (PNUMA) no ano referido e reproduzido em Sachs

(1986 2007)

62

de vista a noccedilatildeo de ecodesenvolvimento foi veiculada como uma

resposta possiacutevel de caraacuteter experimental agrave ideologia que identifica o

desenvolvimento com a supervalorizaccedilatildeo do crescimento econocircmico

sobre o pano de fundo de uma visatildeo tecnocraacutetica dos sistemas de

planejamento e gestatildeo Na contramatildeo do modelo de desenvolvimento

hegemocircnico o enfoque de ecodesenvolvimento foi desenhado com base

numa plataforma normativa composta pelos seguintes criteacuterios

interdependentes (i) satisfaccedilatildeo de necessidades baacutesicas (materiais e

intangiacuteveis) (ii) autonomia local (ou self reliance) (iii) prudecircncia

ecoloacutegica e (iv) eficiecircncia econocircmica a ser reavaliada com base no

debate sobre limites do crescimento material e da prospectiva ecoloacutegica

(SACHS 1986)

O Coloacutequio de Cocoyoc realizado no Meacutexico em 1974

significou uma tentativa bem sucedida de reenfatizar a importacircncia da

dimensatildeo geopoliacutetica na estruturaccedilatildeo do arcabouccedilo metodoloacutegico do

enfoque de ecodesenvolvimento Acreditava-se assim que ldquouma luta

efetiva contra o subdesenvolvimento demandaria o questionamento do

sobredesenvolvimento dos ricosrdquo (SACHS 2009 p 243) Naquela

eacutepoca falar em contracultura e natildeo-crescimento em natildeo repetir nos

paiacuteses do Sul o mesmo caminho percorrido pelos paiacuteses

industrializados num cenaacuterio marcado pela Guerra Fria parecia no

miacutenimo um gesto inconsequente e provocativo Desde entatildeo o conceito

foi eclipsado no acircmbito do sistema onusiano Mas ressurgiu com novas

roupagens vinte anos depois por ocasiatildeo da Cuacutepula da Terra Os

conceitos de desenvolvimento sustentaacutevel e Agenda 21 passaram a

representar os dois principais pontos de referecircncia do debate social

voltado para o enfrentamento da crise global (SACHS 2009 SACHS

2007 VIEIRA 2005)

Seria importante salientar que o Relatoacuterio Nosso Futuro Comum

publicado pela Comissatildeo Brundtland em1987 contribuiu para

aprofundar a discussatildeo em torno do conceito de sustentabilidade Este

texto enfatiza a necessidade de se colocar em primeiro plano nas

agendas governamentais a busca de satisfaccedilatildeo das necessidades da

geraccedilatildeo atual mas sem desconsiderar as geraccedilotildees futuras (CMMAD

1988)

Existem certamente semelhanccedilas entre os conceitos de

ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentaacutevel na medida em que

ambos colocam em primeiro plano a adoccedilatildeo de uma visatildeo de longo

prazo na busca de enfrentamento da crise socioecoloacutegica e de uma

63

incorporaccedilatildeo sistemaacutetica dos atores locais nos processos de tomada de

decisatildeo sobre dinacircmicas alternativas de desenvolvimento Mas apesar

das semelhanccedilas existem diferenccedilas marcantes que tecircm sido objeto de

um volume crescente de contribuiccedilotildees acadecircmicas As mais importantes

referem-se ao contraste entre a radicalidade embutida na cosmovisatildeo

sistecircmico-complexa assumida pelos adeptos do ecodesenvolvimento e o

vieacutes de ldquoeconomicizaccedilatildeo da ecologiardquo que continua a nortear as

propostas dos arquitetos de uma ldquoeconomia verderdquo Satildeo evidentes os

reflexos desse debate na maneira de se levar em conta as assimetrias

Norte-Sul a promoccedilatildeo da equidade inter e transgeracional os riscos

embutidos nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas inspiradas na siacutendrome de

mercantilizaccedilatildeo indiscriminada de todas as dimensotildees da vida em

sociedade e a hipertrofia da economia de mercado na dinacircmica de

mundializaccedilatildeo

A experimentaccedilatildeo de estrateacutegias de ecodesenvolvimento vem sendo

associada ao questionamento dos fundamentos epistemoloacutegicos eacuteticos e

poliacuteticos do modelo de desenvolvimento que se tornou hegemocircnico nos

dois hemisfeacuterios para aleacutem da ldquooacutetica simplificadora e alienada dos

paradigmas culturais dominantesrdquo (VIEIRA 2005 p 357) Dessa

forma contesta o efeito de imitaccedilatildeo deste modelo pelos paiacuteses do Sul

apostando na fecundidade da pesquisa de um novo projeto civilizador

inspirado numa nova cosmologia e nos princiacutepios de ecossocioeconomia

e convivialidade (LAYRARGUES 1997 SACHS 2007 KAPP 1987

ILLICH 1973)

22 AS CONTRIBUICcedilOtildeES DE DIFERENTES ENFOQUES

Como foi sugerido o ecodesenvolvimento pode ser encarado

como ponto de partida para a reflexatildeo-elaboraccedilatildeo-implementaccedilatildeo de

novos projetos de sociedade e como ponto de convergecircncia das linhas

de reflexatildeo centradas nas noccedilotildees de gestatildeo de recursos comuns

territorializaccedilatildeo das dinacircmicas de desenvolvimento e justiccedila ambientalecoloacutegica O desenho e a concretizaccedilatildeo de estrateacutegias de

gestatildeo levam em conta as dimensotildees essenciais do conceito sistecircmico de meio ambiente incorporado ao modelo de anaacutelise de alternativas de

desenvolvimento territorializado a saber a base de recursos naturais o

espaccedilo-territoacuterio e a qualidade dos haacutebitats (GODARD SACHS 1975

SACHS 1993 1986 VIEIRA 2005 1993) Dessa forma

64

() o ambiente eacute concebido como um fornecedor

de recursos naturais e um receptor de dejetos da

accedilatildeo antroacutepica um espaccedilo-territoacuterio onde

ocorrem as interaccedilotildees entre processos sociais e

ecoloacutegicos e um haacutebitat pensado em sentido

amplo integrando a dimensatildeo da qualidade de

vida das populaccedilotildees (VIEIRA 2006 p 346)

No quadro abaixo essas dimensotildees encontram-se relacionadas

com as trecircs linhas de reflexatildeo que aqui foram incorporadas ao enfoque

de ecodesenvolvimento

Quadro 3 ndash O enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento e as

dimensotildees baacutesicas do conceito sistecircmico de meio ambiente Enfoque central Ecodesenvolvimento

Dimensotildees do

conceito de meio

ambiente

Recursos

naturais Espaccedilo-territoacuterio

Haacutebitat-

qualidade de

vida

Enfoques

complementares

Gestatildeo de

recursos comuns

Desenvolvimento

territorial

Justiccedila ambiental

e ecoloacutegica

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na perspectiva do enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento a

dimensatildeo dos recursos naturais refere-se agrave busca de preservaccedilatildeo e

economia de recursos renovaacuteveis e natildeo renovaacuteveis de valorizaccedilatildeo de

recursos locais subutilizados eou ainda desconhecidos e de promoccedilatildeo

da soberania alimentar e energeacutetica O enfoque de gestatildeo de recursos

comuns ao oferecer uma nova perspectiva de abordagem dos desafios

colocados pela regulaccedilatildeo das modalidades de acesso e uso da base de

recursos naturais pode ser tomado como um ponto de referecircncia Nessa

perspectiva o termo recurso comum avanccedila em relaccedilatildeo aos termos

recurso natural renovaacutevel e recurso natural natildeo renovaacutevel O fato de

serem renovaacuteveis ou natildeo tem relaccedilatildeo com a disponibilidade e

reprodutibilidade dos recursos O termo recurso comum envolve duas

caracteriacutesticas baacutesicas a exclusatildeo ou controle do acesso que eacute

problemaacutetica e o uso que se faz do recurso subtrai aquilo que pertence a todos que tambeacutem coloca em questatildeo o uso compartilhado (BERKES

2005a) As pesquisas em curso ressaltam a importacircncia da participaccedilatildeo

das populaccedilotildees nas tomadas de decisatildeo e da consideraccedilatildeo da

65

complexidade envolvida nas interaccedilotildees transescalares nas dinacircmicas de

planejamento e gestatildeo (VIEIRA 2005)

Por sua vez na internalizaccedilatildeo da dimensatildeo do espaccedilo-territoacuterio a

ecircnfase eacute colocada na organizaccedilatildeo territorial das atividades produtivas

tendo em vista a minimizaccedilatildeo dos desequiliacutebrios nas configuraccedilotildees

rural-urbanas ndash a exemplo do ecircxodo rural e da hiperurbanizaccedilatildeo O

ecodesenvolvimento territorial sensiacutevel agrave variaacutevel socioecoloacutegica acena

com a inclusatildeo da dimensatildeo territorial no planejamento de novas

estrateacutegias de desenvolvimento favorecendo assim o enfrentamento dos

problemas de compatibilidade entre diferentes tipos de atividades

econocircmicas e os demais aspectos que compotildeem a dinacircmica de

coordenaccedilatildeo das interaccedilotildees sociais (GODARD SACHS 1975

VIEIRA et al 2010 VIEIRA 2005)

Finalmente a dimensatildeo do haacutebitat refere-se agrave gestatildeo da qualidade

de vida das populaccedilotildees Converge para os estudos da ecologia humana e

justiccedila ambiental e ecoloacutegica que demonstram ser necessaacuterio considerar

as condiccedilotildees ambientais de existecircncia direitos sociais e trabalhistas

direitos de seguranccedila e integridade fiacutesica direitos de informaccedilatildeo

educaccedilatildeo e auto-realizaccedilatildeo direitos de participaccedilatildeo democraacutetica e

cidadania poliacutetica Neste contexto as noccedilotildees de justiccedila ambiental e

ecoloacutegica alimentam um novo tipo de questionamento da

produccedilatildeoreproduccedilatildeo das relaccedilotildees desiguais entre os seres humanos e

destes com o meio ambiente assim como dos seres humanos com as

futuras geraccedilotildees espeacutecies natildeo humanas e processos ecossistecircmicos

(DANSEREAU 1999 LEROY et al 2002 LOW GLEESON 1998

SCHLOSBERG 2009) ldquoA noccedilatildeo de justiccedila ambiental implica pois o

direito a um meio ambiente seguro sadio e produtivo para todos onde o

lsquomeio ambientersquo eacute considerado em sua totalidade incluindo suas

dimensotildees ecoloacutegicas fiacutesicas construiacutedas sociais poliacuteticas esteacuteticas e

econocircmicasrdquo (ACSELRAD MELLO BEZERRA 2009 p 16)

Em siacutentese o resgate do processo de complexificaccedilatildeo progressiva

do enfoque ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento permite a obtenccedilatildeo de

uma imagem mais niacutetida das contribuiccedilotildees oferecidas por outras linhas

de teorizaccedilatildeo sobre o planejamento de dinacircmicas alternativas de

desenvolvimento que corporificam diferentes olhares sobre a crise

socioambiental As trecircs dimensotildees do conceito de meio ambiente

mencionadas acima trazem agrave tona as inter-relaccedilotildees entre processos

naturais e sociais e a escolha de ldquofuturos possiacuteveisrdquo no campo das

dinacircmicas de desenvolvimento Mas resta incorporar agrave linha de

66

argumentaccedilatildeo os subitens correspondentes a contribuiccedilatildeo dos trecircs

enfoques ao ecodesenvolvimento

221 Gestatildeo de recursos comuns a importacircncia da aprendizagem

social adaptativa

O presente enfoque da gestatildeo de recursos comuns tem como

ponto de partida um artigo publicado por Garrett Hardin em 1968 a

Trageacutedia dos Comuns Os recursos comuns satildeo aqueles cuja exclusatildeo de

possiacuteveis usuaacuterios e cujo controle do acesso satildeo geralmente

problemaacuteticos e seu uso envolve subtraccedilatildeo eou rivalidade - que coloca

o problema do uso compartilhado Natildeo haacute um consenso na literatura dos

comuns sobre quais recursos podem ser considerados recursos comuns

Para Berkes (2005) incluem-se entre os recursos comuns peixes

animais selvagens florestas pastagens comunitaacuterias sistemas de

irrigaccedilatildeo aacutegua subterracircnea selvas parques espaccedilos puacuteblicos e

excluem-se as terras agricultaacuteveis e a mineraccedilatildeo Jaacute Oakerson (1992)

afirma que os comuns podem ter uma locaccedilatildeo fixa (mineacuterios) ou pode

ser moacuteveis (como peixes e animais selvagens) Em alguns casos

(oceanos atmosfera) satildeo indivisiacuteveis e natildeo podem ser apropriados de

forma privada e em outros casos (pasto) satildeo organizados como

recursos comuns de acordo com a opccedilatildeo social Os padrotildees de

organizaccedilatildeo variam conforme o lugar e a cultura

A modernidade ocidental transformou a natureza

em ldquoambienterdquo simples cenaacuterio no centro do qual

reina o homem que se autoproclama ldquodono e

senhorrdquo Esse ambiente cedo perderaacute toda a

consistecircncia ontoloacutegica sendo desde logo

reduzido a um simples conservatoacuterio de recursos

antes de se tornar depoacutesito de resiacuteduos (OST

1995 p 10)

O enfoque eacute aqui considerado na perspectiva da gestatildeo integrada

de recursos naturais pois um recurso comum natildeo pode ser gerido

independentemente de outras partes do sistema e de outros recursos

(BERKES 2005a VIEIRA BERKES SEIXAS 2005 VIEIRA

67

WEBER 1997)2 Esse posicionamento converge para o enfoque

patrimonial de recursos naturais desenvolvido na Franccedila Dessa forma

ldquoa qualidade da natureza deve se tornar o lsquobem comumrsquo do conjunto da

sociedaderdquo (OLLAGNON 1997 p 172) No enfoque patrimonial os

recursos satildeo considerados na perspectiva da gestatildeo integrada

Evidecircncias de maacute gestatildeo e prescriccedilotildees de soluccedilotildees convencionais

na gestatildeo de recursos comuns tecircm se avolumado no periacuteodo recente Haacute

falhas em reconhecer a importacircncia das interaccedilotildees entre niacuteveis e escalas

persistecircncia na fragmentaccedilatildeo dos sistemas socioambientais e omissatildeo

em reconhecer a heterogeneidade da percepccedilatildeo das escalas pelos

diferentes atores sociais envolvidos na gestatildeo Isso pode resultar em

poliacuteticas amplas que constrangem poliacuteticas locais accedilotildees locais

desvinculadas de problemas mais amplos soluccedilotildees de curto prazo que

acirram problemas de longo prazo pesquisas cientiacuteficas que enfatizam

apenas um niacutevel e raramente analisam as interaccedilotildees sociais e ecoloacutegicas

do fenocircmeno entre niacuteveis (CASH et al 2006 FENNY et al 2001

HOLLING BERKES FOLKE 1998)

O enfoque da gestatildeo de recursos comuns vem evoluindo atraveacutes

do enfoque da co-gestatildeo e da gestatildeo adaptativa A co-gestatildeo enfatiza a

partilha do poder e responsabilidade entre governo e usuaacuterios e a gestatildeo

adaptativa enfatiza a aprendizagem Ambos vecircm evoluindo em direccedilatildeo agrave

co-gestatildeo adaptativa (BERKES 2009)

Como parte do esforccedilo coletivo dos pesquisadores alinhados com

o enfoque dos comuns vem se desenvolvendo o Institutional Framework for Policy Analysis and Design (IAD) desde a deacutecada de 1970

Inicialmente o modelo de anaacutelise IAD foi utilizado no estudo de

poliacuteticas puacuteblicas em aacutereas metropolitanas e em 1985 Ronald Oakerson

adaptou o IAD aos recursos comuns apresentando o modelo num painel

da Academia Nacional de Ciecircncias (HESS OSTROM 2005)

Oakerson (1992) distingue quatro atributos ou variaacuteveis que

podem ser usadas para descrever os recursos comuns atributos fiacutesicos e

tecnoloacutegicos as regras em uso que governam as relaccedilotildees entre usuaacuterios

a arena de accedilatildeo que envolve a escolha de estrateacutegias e a interaccedilatildeo entre

os envolvidos na gestatildeo e os resultados e consequecircncias O quadro

2 Aqui eacute feita a opccedilatildeo pelo enfoque da gestatildeo de recursos comuns mas outra

possibilidade seria via teoria da regulaccedilatildeo explorada por Drummond e Marsden

(1995)

68

conceitual eacute uma ferramenta heuriacutestica para pensar a loacutegica da situaccedilatildeo e

considerar possibilidades alternativas

Com base em Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992) segue uma breve descriccedilatildeo do modelo de anaacutelise

adaptado a co-gestatildeo adaptativa3

Atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos A natureza fiacutesica e tecnoloacutegica

determinam as limitaccedilotildees e possibilidades de uso do recurso comum

Esses atributos compreendem o tamanho localizaccedilatildeo limites

capacidade e abundacircncia do recurso A tecnologia determina a forma

como se lida com o recurso e com os demais fatores relacionados

Regras em uso O segundo conjunto de atributos no modelo de

anaacutelise consiste nas regras que estruturam as escolhas individuais e

coletivas em relaccedilatildeo aos recursos comuns

Arena de accedilatildeo As regras natildeo satildeo garantia da emergecircncia de

novos padrotildees de comportamento Entre as regras e os comportamentos

observados existe uma distacircncia A arena de accedilatildeo eacute um espaccedilo

conceitual no qual os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais se

informam consideram cursos de accedilatildeo alternativos tomam decisotildees

agem e experienciam as consequecircncias de suas accedilotildees A arena de accedilatildeo

conta com dois aspectos interligados a situaccedilatildeo de accedilatildeo e os segmentos

que interagem na situaccedilatildeo de accedilatildeo A situaccedilatildeo de accedilatildeo enfatiza como as

pessoas cooperam ou natildeo cooperam entre si em vaacuterias circunstacircncias Agrave

anaacutelise da situaccedilatildeo da accedilatildeo eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo dos envolvidos e

os papeacuteis que desempenham na gestatildeo do recurso comum

Resultados eou consequecircncias A observacircncia dos resultados

eou consequecircncias eacute fundamental para avaliar o sistema de gestatildeo

encorajando a inovaccedilatildeo e a aprendizagem adaptativa

As relaccedilotildees entre essas macro variaacuteveis satildeo o principal foco dos

estudos A Figura 2 traz modelo de anaacutelise e como as macro variaacuteveis se

relacionam umas com as outras Os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos e as

regras em uso afetam a arena de accedilatildeo e os resultados e consequecircncias

As linhas soacutelidas a e b representam fortes conexotildees causais

compreendendo que o comportamento individual eacute constrangido mas

natildeo determinado pelo mundo biofiacutesico e pelas regras As linhas soacutelidas

3 Outra opccedilatildeo seria utilizar o modelo de anaacutelise dos ciclos adaptativos descrito

no artigo de Holling (2001) e na coletacircnea organizada por Gunderson e Holling

(2002)

69

c e d representam fortes relaccedilotildees Os atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos

afetam os recursos comuns de duas formas afetam a arena de accedilatildeo e

caso natildeo sejam considerados na arena de accedilatildeo podem afetar diretamente

os resultados As regras em uso por sua vez natildeo tecircm efeito nos

resultados independente da escolha humana No longo prazo a interaccedilatildeo

entre as macro variaacuteveis eacute marcada pelas linhas tracejadas Dessa forma

o movimento eacute incorporado no modelo na forma de aprendizagem social

adaptativa

Figura 2 - Modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns ajustado

a co-gestatildeo adaptativa

Fonte Baseado em Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

A aprendizagem social adaptativa marcada principalmente pela

retroalimentaccedilatildeo (linhas tracejadas) presente no modelo de anaacutelise da

gestatildeo de recursos comuns eacute um processo interativo e contiacutenuo No

entanto por ser um processo coletivo a cooperaccedilatildeo entre os envolvidos

na gestatildeo pode ser difiacutecil devido agrave distribuiccedilatildeo de poder tanto nos

segmentos sociais quanto nos segmentos poliacuteticos e entre eles

(BERKES 2009) A expectativa eacute que a aprendizagem leve a accedilatildeo

coletiva agrave mudanccedila institucional na forma de regras leis costumes e

normas As abordagens do aprendizado social visam encontrar formas

70

nas quais as pessoas possam transcender as normas sociais valores e

formas tradicionais de pensar os problemas convergindo para mudanccedilas

socioecoloacutegicas e desempenhando um papel direto no estiacutemulo da

inovaccedilatildeo institucional (CUNDILL 2010)

No campo da co-gestatildeo adaptativa a aprendizagem eacute definida

como a reflexatildeo e accedilatildeo coletiva que tem lugar entre indiviacuteduos e grupos

quanto trabalham para melhorar a gestatildeo das relaccedilotildees entre sistemas

sociais e ecoloacutegicos Aiacute entram em cena os niacuteveis de aprendizagem

aprendizagem em circuito simples duplo e triplo A aprendizagem em

circuito simples se refere a melhorar as accedilotildees estrateacutegias e praacuteticas que

ocorrem num grupo envolvido num projeto de gestatildeo de recursos

comuns A aprendizagem em circuito duplo envolve o questionamento

dos pressupostos e dos modelos mentais que apoiam a seleccedilatildeo de

estrateacutegias particulares e accedilotildees Isto eacute particularmente importante nos

processos colaborativos onde diferentes formas de conhecimento e

modelos mentais estatildeo juntos Na aprendizagem em circuito triplo a

aprendizagem ocorre quando os valores e normas que sustentam as

hipoacuteteses satildeo questionados e refletidos Isto leva a um entendimento

mais profundo do contexto dinacircmicas de poder valores que influenciam

a capacidade de gerir os recursos comuns (CUNDILL 2010)4

A ecircnfase da gestatildeo de recursos comuns eacute na anaacutelise dos modos de

apropriaccedilatildeo e dos sistemas de gestatildeo e neste sentido a cooperaccedilatildeo entre

instituiccedilotildees situadas em diversas escalas e niacuteveis torna-se um elemento

fundamental Inuacutemeras atividades humanas tecircm causas e consequecircncias

que podem ser medidas em niacuteveis diferentes ao longo de muacuteltiplas

escalas Os multi-niacuteveis e as multi-escalas e a transescalaridade dos

problemas relacionados com as dimensotildees humanas das mudanccedilas

globais demandam que pesquisadores abordem questotildees-chave de

escalas e niacuteveis em suas anaacutelises Se a arena de accedilatildeo compreende

tambeacutem as relaccedilotildees que se estabelecem entre os vaacuterios niacuteveis de uma

mesma escala a gestatildeo refere-se a arranjos por meio dos quais o poder

decisoacuterio e as responsabilidades decorrentes satildeo compartilhados entre os

atores envolvidos nas vaacuterias escalas espaciais (CASH et al 2006

BERKES 2005b DIETZ et al 2002 GIBSON OSTROM AHN

2000)

4 A aprendizagem em circuito triplo converge para o engajamento reflexivo e a

reflexividade ecoloacutegica (SCHLOSBERG 2009)

71

222 Ecodesenvolvimento territorial os recursos comuns no

contexto do desenvolvimento

Na tentativa de incorporar ao presente o que o passado nos traz

como bagagem vaacuterios autores vecircm descortinando novas vias de anaacutelise

criacutetica das limitaccedilotildees do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que

tem sido apropriado pelos arautos da globalizaccedilatildeo neoliberal desde o

iniacutecio dos anos 1990

Ignacy Sachs escreve sobre desenvolvimento e meio ambiente haacute

vaacuterias deacutecadas e tem acompanhado as mudanccedilas que aconteceram ao

longo da histoacuteria Para unir os enfoques do ecodesenvolvimento e do

desenvolvimento sustentaacutevel ele distingue no ecodesenvolvimento as

cinco dimensotildees da sustentabilidade sustentabilidade social

sustentabilidade econocircmica sustentabilidade ecoloacutegica sustentabilidade

espacial e sustentabilidade cultural Mais recentemente tem utilizado os

termos desenvolvimento territorial integrado e sustentaacutevel ou ainda

desenvolvimento includente sustentaacutevel sustentado (RIBEIRO 2005

SACHS 2004 2002 1993)

Nos uacuteltimos anos Paulo Freire Vieira tem utilizado o termo

desenvolvimento territorial sustentaacutevel e mais recentemente

ecodesenvolvimento territorial tendo como ideia central o

ecodesenvolvimento agregando tambeacutem o enfoque da gestatildeo de

recursos comuns e os estudos territoriais Nas palavras de Pierre

Dansereau (2005 p 523) Paulo Freire Vieira deu ldquoum novo tom agrave

Sociologia um desembaraccedilo maior agrave experiecircncia em quadros teoacutericos

ampliadosrdquo Nessa linha o conceito emergente de ecodesenvolvimento

territorial leva em conta os riscos de desvio economicista e tecnocraacutetico

nos estudos sobre dinacircmicas territoriais de desenvolvimento

enfatizando a criaccedilatildeo de sistemas de gestatildeo compartilhada e adaptativa

de recursos comuns e a governanccedila territorial Deste ponto de vista

ainda em construccedilatildeo trata-se de favorecer ao maacuteximo possiacutevel a gestatildeo

das conexotildees institucionais transescalares evitando soluccedilotildees

reducionistas e uniformizadoras aleacutem de escalas fixas (GODARD

1997 SACHS 2002 VIEIRA 2010 2009 2005 2006 VIEIRA CAZELLA CERDAN 2006)

A noccedilatildeo de territoacuterio incorporada recentemente ao debate sobre

desenvolvimento amp ambiente designa processos de criaccedilatildeo coletiva e

institucional e as dinacircmicas territoriais de desenvolvimento

72

ecologicamente prudente pressupotildeem o resgate dos criteacuterios de

endogeneidade descentralizaccedilatildeo e autonomia local (pensada

sistemicamente) assumidos como elementos constitutivos do enfoque

ldquoclaacutessicordquo de ecodesenvolvimento (VIEIRA et al 2010 VIEIRA

2006)

O ecodesenvolvimento territorial traz agrave gestatildeo de recursos

comuns a preocupaccedilatildeo com o estilo de desenvolvimento conforme

demonstrado na Figura 3 Mas partindo do pressuposto que a gestatildeo de

recursos comuns eacute um dos principais componentes na interaccedilatildeo

sociedade e natureza capaz de assegurar seu bom funcionamento seu

melhor rendimento sua perenidade e desenvolvimento ela deveria estar

a montante e natildeo a jusante das principais opccedilotildees de desenvolvimento

(GODARD 1997) Todavia seraacute mantido o estilo de desenvolvimento

como mais amplo para reforccedilar a ideia de que a gestatildeo de recursos

comuns precisa considerar o estilo de desenvolvimento assumindo cada

vez mais a responsabilidade da criacutetica e da mudanccedila

Figura 3 - Primeira adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa

Fonte Adaptado de Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

73

A anaacutelise do contexto e do discurso presente na gestatildeo de

recursos comuns explicita os fatores endoacutegenos e exoacutegenos das

dinacircmicas de desenvolvimento demonstrando seus limites e margens de

manobra

O problema natildeo se identifica tanto com a

preocupaccedilatildeo em se especificar o niacutevel de

responsabilidade ideal mas antes com o

entendimento daquelas formas de interaccedilatildeo entre

os diversos niacuteveis territoriais que tornariam

possiacutevel uma decisatildeo que levasse em conta ao

mesmo tempo os interesses e objetivos locais

regionais e nacionais ou mesmo internacionais

(GODARD 1997 p 237)

Para colocar em praacutetica estrateacutegias alternativas de

desenvolvimento eacute importante reequilibrar a transferecircncia de poder e a

comunicaccedilatildeo entre o local o regional e o nacional e integrar as vaacuterias

dimensotildees das estrateacutegias de desenvolvimento (social econocircmica

ecoloacutegica espacial e cultural) ldquoAgrave luz do princiacutepio da co-gestatildeo

adaptativa os sistemas de planejamento e gestatildeo deveratildeo se abrir cada

vez mais a um padratildeo de envolvimento autecircntico da sociedade civilrdquo

(VIEIRA 2005 p 366)

223 Justiccedila ambiental e justiccedila ecoloacutegica os caminhos da

democracia

O movimento por justiccedila ambiental teve origem nos Estados

Unidos em 1982 com um conflito em Afton na Carolina do Norte Na

iminecircncia de instalaccedilatildeo de um depoacutesito de bifenilpoliclorinato que

contaminaria a aacutegua que abastecia a cidade a populaccedilatildeo organizou

protestos Como a populaccedilatildeo de Afton era composta de 84 de negros e

negras o movimento se desenvolveu como uma reaccedilatildeo expliacutecita agrave

atenccedilatildeo inadequada dos movimentos ambientalistas agrave questatildeo da raccedila e

da classe social Os princiacutepios da justiccedila ambiental ofereceram ao ambientalismo possibilidades de pensar classe social e raccedila junto com

questotildees ambientais combatendo o abuso de corporaccedilotildees poluentes e o

abuso do proacuteprio Estado (ACSELRAD 2009 ACSELRAD MELLO

BEZERRA 2009 SZE LONDON 2008)

74

Desde entatildeo as pesquisas sobre justiccedila ambiental contribuiacuteram

para ampliar a discussatildeo sobre a necessidade de um enfoque consistente

de anaacutelise deste fenocircmeno Aleacutem de vaacuterias aacutereas de conhecimento

(geografia radical geografia criacutetica e economia poliacutetica entre outras)

passaram a ser mobilizados dados relacionados a diferentes grupos

raciais e eacutetnicos aleacutem de disparidades associadas a gecircnero e idade Mais

recentemente as reflexotildees sobre justiccedila ecoloacutegica conduziram o

enfoque a um niacutevel cada vez mais alto de abrangecircncia e abstraccedilatildeo

(BYRNE MARTINEZ GLOVER 2002 HOLIFIELD PORTER

WALKER 2009 SZE LONDON 2008)

O conceito de injusticcedila ambiental designa uma distribuiccedilatildeo

desproporcional dos riscos e danos ambientais devido agrave implantaccedilatildeo de

projetos industriais homogeneizadores do espaccedilo bem como de

poliacuteticas globais que impactam negativamente as camadas mais

vulneraacuteveis da sociedade Trata-se de uma siacutendrome recorrente que

transcende a simples distribuiccedilatildeo de riscos ambientais delimitados

localmente refletindo tambeacutem o reconhecimento de que as poliacuteticas

ambientais tecircm consequecircncias que atravessam as fronteiras nacionais

afetam muacuteltiplas escalas e se estendem agraves redes globais As iniciativas

que geram espaccedilos de desigualdade e injusticcedila ambiental satildeo histoacuterica e

geograficamente muito mais complexas do que parecem (ACSELRAD

MELLO BEZERRA 2009 HOLIFIELD PORTER WALKER 2009

ZHOURI 2008)

A ampliaccedilatildeo dos temas tratados pela justiccedila ambiental e o uso da

pesquisa sistecircmica refletem a percepccedilatildeo da complexidade intriacutenseca aos

problemas estudados inclusive das conexotildees transescalares - do local ao

global Alguns autores passaram a adotar o termo justiccedila ecoloacutegica entendida como aquela que afeta natildeo apenas os seres humanos mais

vulneraacuteveis mas todos os seres humanos as geraccedilotildees futuras espeacutecies

natildeo humanas e processos ecossistecircmicos (BYRNE MARTINEZ

GLOVER 2002 HOLIFIELD PORTER WALKER 2009 LOW e

GLEESON 1998 MAacuteRMORA 1992 PENtildeA 2003 SCHLOSBERG

2009 e 2004 SZE LONDON 2008 TOUCHEacute 2004)

Partindo do pressuposto de que a desigualdade socioambiental se

relaciona ao sistema poliacutetico aquela eacute apenas um sintoma de um

processo que envolve a redistribuiccedilatildeo o reconhecimento e a

representaccedilatildeo (SCHLOSBERG 2009 e 2004) A redistribuiccedilatildeo envolve

minimizar a desigualdade ambiental Jaacute o reconhecimento envolve a

consideraccedilatildeo de distintas perspectivas (das minorias eacutetnicas ldquoraciaisrdquo e

75

sexuais) O reconhecimento objetiva tambeacutem ldquodesinstitucionalizar

padrotildees de valoraccedilatildeo cultural que impedem a paridade de participaccedilatildeo

e substituiacute-los por padrotildees que a promovamrdquo (FRASER 2007 p 109)

A representaccedilatildeo torna-se central nas lutas pela redistribuiccedilatildeo e

pelo reconhecimento natildeo haacute redistribuiccedilatildeo e reconhecimento sem

representaccedilatildeo Logo os problemas na representaccedilatildeo satildeo condicionantes

da injusticcedila ambiental e ecoloacutegica (FRASER 2010 2009)

A representaccedilatildeo juntamente com a redistribuiccedilatildeo e

reconhecimento satildeo fundamentais para o fortalecimento e recriaccedilatildeo do

sistema democraacutetico e aprendizagem social adaptativa Na Figura 4

insere-se no modelo de anaacutelise a variaacutevel do fortalecimento do sistema

democraacutetico

Figura 4 - Segunda adaptaccedilatildeo do modelo de anaacutelise da co-gestatildeo

adaptativa

Fonte Adaptado de Hess e Ostrom (2005) Oakerson (1992) Polski e

Ostrom (1992)

Satildeo os mesmos caminhos que levam ao restabelecimento do

equiliacutebrio na natureza e agrave construccedilatildeo da democracia na sociedade ldquoO

pensamento democraacutetico estaacute desafiado a pensar o desenvolvimento de

toda a humanidade em harmonia com a naturezardquo (SOUZA 1992 p

76

13) Cabe questionar ldquosob que condiccedilotildees eacute de se esperar que a

democracia produza resultados poliacuteticos justosrdquo (VITA 2003 p 111)

A democracia representativa vem sendo alvo de inuacutemeras

criacuteticas economicizaccedilatildeo do poliacutetico incapacidade de cumprir com suas

promessas fundamentais (governo do povo igualdade poliacutetica

participaccedilatildeo dos cidadatildeos na tomada de decisatildeo) a falta de controle da

representaccedilatildeo e a crescente desconfianccedila dos cidadatildeos na democracia

(MANIN et al 2006 MIGUEL 2005 ROSANVALLON 2006

SCHUMPETER1984)

Jaacute a democracia participativa pretende alcanccedilar uma democracia

digna de seu nome (MIGUEL 2005) A consciecircncia do custo do

crescimento econocircmico da produccedilatildeo das desigualdades e da apatia

poliacutetica podem ser consideradas brechas para a democracia participativa

e a expansatildeo e aprofundamento da participaccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia

promissora para desafiar as desigualdades as assimetrias de interesses e

as hierarquias sociais e poliacuteticas tradicionais (FUNG COHEN 2007

PATEMAN 1992) Todavia ldquo() o principal problema quanto agrave

democracia participativa natildeo eacute quanto a fazecirc-la funcionar mas como

atingi-lardquo (MACPHERSON 1978 p 101)

A ecologia e a democracia se determinam mutuamente ldquo() seja

pela accedilatildeo dos condicionantes soacutecio-poliacuteticos da degradaccedilatildeo ambiental

seja pela prevalecircncia das bases ambientais da desigualdade socialrdquo

(ACSELRAD 1992a p 10) Para compreender essa relaccedilatildeo eacute preciso

identificar e entender a origem das contradiccedilotildees na incorporaccedilatildeo da

questatildeo ambiental pelo Estado e a correlaccedilatildeo de forccedilas sociais em

confronto pelo controle dos recursos

Os estudos sobre justiccedila ambiental identificam como causas da

injusticcedila ambiental as redes de influecircncia (baseadas em alianccedilas entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos) a desinformaccedilatildeo e a neutralizaccedilatildeo

da criacutetica potencial Na linha de questionamento entre as accedilotildees que

buscam reverter quadros de injusticcedilas ambientais estatildeo a produccedilatildeo do

conhecimento proacuteprio a pressatildeo pela aplicaccedilatildeo universal das leis a

pressatildeo pelo aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo de proteccedilatildeo ambiental a

pressatildeo por novas racionalidades no exerciacutecio do poder estatal a introduccedilatildeo de procedimentos de avaliaccedilatildeo de equidade ambiental e a

accedilatildeo direta e difusatildeo espacial do movimento (ACSELRAD MELLO

BEZERRA 2009 GRAZIANO 1997) A base de um modelo mais

justo envolveria a democratizaccedilatildeo do controle dos recursos naturais a

77

desprivatizaccedilatildeo do meio ambiente assegurando o caraacuteter puacuteblico do

patrimocircnio comum (ACSELRAD 1992a)

O desafio consiste em identificar os limites da representaccedilatildeo e da

participaccedilatildeo identificando experiecircncias que caminhem na direccedilatildeo de

uma recuperaccedilatildeo da autonomia (CASTORIADIS COHN-BENDIT

PUacuteBLICO DE LOUVAIN-LA-NEUVE 1981 ILLICH 1973) da

construccedilatildeo de uma democracia cognitiva (MORIN 2002 THEYS

1997) de uma cidadania terrestre (MORIN KERN 2000) de uma

cidadania ecoloacutegica (DOBSON 2003) de uma ecologia da

transformaccedilatildeolibertaccedilatildeo (HATHAWAY BOFF 2012) A direccedilatildeo

apontada a partir dos termos indicados eacute exigente e implica reconhecer

o caraacuteter indissociaacutevel da natureza e da comunidade seres humanos natildeo

humanos e a Terra em uma concepccedilatildeo alargada de justiccedila

(SCHLOSBERG 2009)

23 LIMITES E POSSIBILIDADES DO ECODESENVOLVIMENTO

REVISITADO

De todos os objetos os que mais amo satildeo os

usados () Impregnado do uso de muitos a

miuacuteda transformados foram aperfeiccediloando suas

formas e se fizeram preciosos porque tecircm sido

apreciados muitas vezes (Bertolt Brecht

Antologia Poeacutetica 1982 p 58)

A procura da harmonizaccedilatildeo entre desenvolvimento e gestatildeo de

longo prazo do meio ambiente natildeo pode ser feita de maneira isolada

pois se trata de uma reflexatildeo global sobre a viabilidade de novos estilos

de desenvolvimento baseados no pensamento sistecircmico-complexo

(GODARD SACHS 1975 VIEIRA 2006) Este capiacutetulo insere-se

nessa linha de reflexatildeo ao tratar a atualidade do ecodesenvolvimento

aplicado agrave gestatildeo de recursos comuns

O ecodesenvolvimento eacute o eixo central do modelo de anaacutelise

trazendo em si a criacutetica do modelo hegemocircnico de desenvolvimento e a

preocupaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novos projetos civilizatoacuterios Para tanto eacute preciso considerar o meio ambiente como relaccedilatildeo e natildeo como objeto

Suas dimensotildees os recursos naturais o espaccedilo-territoacuterio e o haacutebitat

colocam no centro as relaccedilotildees que os seres humanos estabelecem entre

si e com o meio Os conceitos de co-gestatildeo adaptativa

78

ecodesenvolvimento territorial e justiccedila ambiental e ecoloacutegica vecircm

sendo incorporados ao modelo de anaacutelise ldquoclaacutessicordquo ampliando o seu

potencial heuriacutestico no enfrentamento da crise socioecoloacutegica global

O enfrentamento envolve mais adaptaccedilatildeo que controle poliacuteticas

flexiacuteveis integradas e adaptativas gestatildeo e planejamento voltados agrave

aprendizagem acompanhamento concebido como uma parte de

intervenccedilotildees ativas para conseguir compreender e identificar respostas

aos problemas natildeo a vigilacircncia pela vigilacircncia investimentos ecleacuteticos

em ciecircncia participaccedilatildeo dos cidadatildeos e parceria na construccedilatildeo de uma

ciecircncia mais cidadatilde evitando a informaccedilatildeo passiva (HOLLING 1995)

O desenvolvimento de uma democracia cognitiva

soacute eacute possiacutevel com uma reorganizaccedilatildeo do saber e

esta pede uma reforma do pensamento que

permita natildeo apenas isolar para conhecer mas

tambeacutem ligar o que estaacute isolado e nela

renasceriam de uma nova maneira as noccedilotildees

pulverizadas pelo esmagamento disciplinar o ser

humano a natureza o cosmo a realidade

(MORIN 2002 p 104)

O ecodesenvolvimento e os enfoques complementares ajudam a

compreender a gestatildeo de recursos comuns em relaccedilatildeo agrave sustentabilidade

dos recursos naturais as dinacircmicas de desenvolvimento e a

desigualdade ecoloacutegica A pesquisa sobre gestatildeo de recursos comuns

nessa perspectiva incorpora uma perspectiva mais ampla sobre seu

papel no modelo de desenvolvimento hegemocircnico e ao mesmo tempo

seu potencial de mudanccedila como parte integrante e importante na

proposta do ecodesenvolvimento O fundamental eacute a compreensatildeo de

que nenhum enfoque eacute completo e que para aleacutem da fragmentaccedilatildeo da

ciecircncia o diaacutelogo entre os enfoques pode oferecer insights para uma

melhor compreensatildeo dos problemas e para a construccedilatildeo de alternativas

capazes de fazer frente agrave crise sistecircmica do meio ambiente

3 GESTAtildeO DE RECURSOS COMUNS NO BRASIL O CARVAtildeO

MINERAL EM QUESTAtildeO

Tudo se aniquilava no fundo desconhecido das

noites obscuras soacute percebia muito ao longe os

altos-fornos e as fornalhas de coque () Era uma

tristeza de incecircndio natildeo havia no horizonte

ameaccedilador outros astros elevando-se a natildeo ser

esses fogos noturnos dos paiacuteses da hulha e do

ferro (Eacutemile Zola 1981 p 14)

O uso do carvatildeo mineral em larga escala estaacute intrinsecamente

ligada agrave Revoluccedilatildeo Industrial e com a origem do movimento dos

trabalhadores na Inglaterra como bem ilustrou Emile Zola em seu livro

Germinal e nos Estados Unidos Ele continua sendo a fonte mais

utilizada para geraccedilatildeo de energia eleacutetrica no mundo correspondendo em

meacutedia a 40 da produccedilatildeo total mundial no periacuteodo de 1973 a 2006

Segundo a Agecircncia Internacional de Energia (IEA) a posiccedilatildeo seraacute

mantida nos proacuteximos trinta anos e a discussatildeo sobre reconversatildeo da

mineraccedilatildeo do carvatildeo ainda permanece incipiente5(ANEEL 2008a

FERREIRA 2002)

No debate sobre mudanccedila ambiental global os recursos naturais

natildeo renovaacuteveis satildeo centrais Embora o petroacuteleo ocupe posiccedilatildeo

privilegiada os impactos ambientais do processo produtivo do carvatildeo

mineral eacute um ponto importante a ser considerado Os combustiacuteveis

foacutesseis continuam a dominar a matriz energeacutetica mundial apoiados por

523 mil milhotildees de doacutelares de subsiacutedios em 2011 quase 30 a mais que

em 2010 e seis vezes mais do que as fontes renovaacuteveis (OCDE IEA

2012) O carvatildeo mineral representou em 2012 195 da matriz

energeacutetica dos paiacuteses que compotildeem a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e

Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) e 282 da matriz mundial Em

relaccedilatildeo agrave oferta de energia eleacutetrica o carvatildeo mineral representou em

2012 14 da oferta brasileira e 417 da oferta mundial Se

consideradas as dimensotildees de sustentabilidade seguranccedila energeacutetica

equidade social e mitigaccedilatildeo dos impactos ambientais o Brasil aparece

como 53ordm lugar em 2012 Se tomadas separadamente o Brasil assume o

5 Destaca-se aqui a iniciativa da Comissatildeo das Comunidades Europeias que

teve iniacutecio em 1989 de proporcionar assistecircncia as Comunidades que queiram

adotar uma reconversatildeo econocircmica das aacutereas de mineraccedilatildeo do carvatildeo atraveacutes de

empreacutestimos e subsiacutedios (COMISSAtildeO DAS COMUNIDADES EUROPEacuteIAS

1990)

80

77ordm lugar em seguranccedila energeacutetica 65ordm em equidade social e 21ordm em

mitigaccedilatildeo dos impactos ambientais (WORLD ENERGY COUNCIL

2012)

A matriz energeacutetica brasileira teve em sua composiccedilatildeo no ano de

2012 424 de oferta de energia de fontes renovaacuteveis (biomassa da

cana hidraacuteulica e eletricidade lenha e carvatildeo vegetal e lixiacutevia dentre

outras) e 576 de fontes de energia natildeo renovaacuteveis (petroacuteleo e

derivados gaacutes natural carvatildeo mineral e uracircnio) da qual o carvatildeo

mineral tem uma participaccedilatildeo de 54 (BRASIL EPE 2013) A

presenccedila de combustiacuteveis foacutesseis na matriz energeacutetica brasileira tende a

aumentar com a exploraccedilatildeo do petroacuteleo do preacute-sal com a possiacutevel

exploraccedilatildeo do gaacutes de xisto e com o retorno do carvatildeo mineral nos leilatildeo

A-56 de 2013 Eacute urgente lidar com a questatildeo das emissotildees de gases de

efeito estufa devido agraves altas emissotildees dos combustiacuteveis foacutesseis O

carvatildeo mineral eacute o mais abundante combustiacutevel foacutessil do mundo e

tambeacutem o que mais produz gases de efeito estufa (BRASIL MME

2007 YAMAOKA et al 2013)

O Brasil no cenaacuterio mundial desponta como fornecedor global

de commodities minerais energeacuteticas e agriacutecolas Esse papel justifica a

abertura de minas de fosfato a mineraccedilatildeo de uracircnio do ferro e de outros

mineacuterios Apesar do carvatildeo mineral brasileiro ser o ldquoprimo pobrerdquo dos

mineacuterios voltado ao mercado interno eacute preciso considerar tambeacutem a

mineraccedilatildeo no geral O marco legal da mineraccedilatildeo estaacute mudando com a

regulamentaccedilatildeo da mineraccedilatildeo em terras indiacutegenas quilombolas e

ribeirinhas e a expansatildeo das mineradoras brasileiras para outros paiacuteses

A conjuntura brasileira eacute de desregulamentaccedilatildeo e de flexibilizaccedilatildeo da

normativa ambiental sem um questionamento profundo sobre as

desigualdades socioambientais existentes no territoacuterio (MALERBA

2012 MILANEZ et al 2013)

O objetivo deste capiacutetulo foi descrever as macro variaacuteveis

presentes no modelo de anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns (HESS

6 Os leilotildees foram instituiacutedos em 2005 e satildeo processos licitatoacuterios com o

objetivo de contratar energia eleacutetrica para assegurar o pleno atendimento da

demanda futura no Ambiente de Regulaccedilatildeo Controlada Os leilotildees satildeo divididos

em A-1 A-3 e A-5 Os nuacutemeros 1 3 e 5 correspondem aos anos de

antecedecircncia do iniacutecio do suprimento O Leilatildeo A-5 por exemplo envolve a

licitaccedilatildeo para contrataccedilatildeo de energia eleacutetrica de novos empreendimentos

realizado com cinco anos de antecedecircncia do iniacutecio do suprimento (MME

2014)

81

OSTROM 2005 OAKERSON 1992 POLSKI OSTROM 1992)

abordando o tema no Brasil com destaque agrave gestatildeo do carvatildeo mineral

Para tanto aleacutem de uma breve introduccedilatildeo sobre desenvolvimento

econocircmico gestatildeo de recursos comuns e energia no Brasil o capiacutetulo

traz uma caracterizaccedilatildeo dos atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso

em termos de disponibilidade usos tecnologias disponiacuteveis e impactos

As regras em uso tratam das principais leis que afetam o recurso bem

como das interfaces entre direitos ambientais e direitos humanos Em

relaccedilatildeo agrave arena de accedilatildeo eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos envolvidos na

gestatildeo no niacutevel nacional O balanccedilo da gestatildeo de recursos comuns no

Brasil em especial do carvatildeo mineral revela ao longo desse capiacutetulo

importantes pontos a serem considerados na compreensatildeo da ampliaccedilatildeo

da geraccedilatildeo de energia eleacutetrica movida a carvatildeo mineral no Sul de Santa

Catarina e da possibilidade de surgirem caminhos alternativos para a

questatildeo energeacutetica

31 DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO GESTAtildeO DE RECURSOS

COMUNS E ENERGIA

A gestatildeo de recursos comuns em particular do carvatildeo mineral

traz agrave tona questotildees relacionadas ao desenvolvimento econocircmico e a

questatildeo energeacutetica que envolvem a atuaccedilatildeo de segmentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais O desafio de tratar a gestatildeo de recursos comuns

reside justamente na complexidade existente nessas inter-relaccedilotildees A

tentativa dessa seccedilatildeo eacute tratar a gestatildeo contextualizada para na

sequecircncia abordar as especificidades do carvatildeo mineral

Na eacutepoca da Repuacuteblica Velha (1889-1930) o governo era

controlado pela oligarquia rural (SCARDUA BURSZTYN 2003) Se

ateacute 1930 a teoria econocircmica pregava o livre funcionamento do mercado

com a crise mundial passou a aceitar um papel mais atuante do Estado e

tambeacutem do planejamento Os recursos comuns acompanharam essa

mesma linha de atuaccedilatildeo federal sendo marcada pelo controle federal na

disputa com elites locais Isso justificou a criaccedilatildeo de poderes setoriais e

deu lugar a burocracias especializadas (NEDER 2002) O setor eleacutetrico que antes era resultado de investimentos privados e locais sofreu

intervenccedilatildeo estatal e de empresas estrangeiras (MALAGUTI 2009)

A Ditadura Vargas (1930-1945) foi centralizada no presidente

com a dissoluccedilatildeo das representaccedilotildees poliacuteticas e baseada numa poliacutetica

82

voltada ao desenvolvimento urbano industrial e nacionalista

(SCARDUA BURSZTYN 2003) Nesse periacuteodo houve pouca

demanda por energia baseada principalmente na geraccedilatildeo de energia a

partir de fontes vegetais indicando um reduzido grau de expansatildeo das

forccedilas produtivas De 1939 em diante ocorreu a consolidaccedilatildeo da

industrializaccedilatildeo com o crescimento da atividade econocircmica e uma

participaccedilatildeo maior no uso de combustiacuteveis foacutesseis (THEIS 1990)

Durante o periacuteodo democraacutetico (1945-1964) teve lugar a

reorganizaccedilatildeo dos partidos poliacuteticos e das representaccedilotildees favorecendo a

descentralizaccedilatildeo sem uma poliacutetica especiacutefica para esse fim Na Ditadura

Militar (1964-1985) a centralidade federal voltou a ser realidade e nesse

contexto o crescimento econocircmico aconteceu a despeito dos custos

sociais e ambientais (EGLER 1997 SCARDUA BURSZTYN 2003)

A questatildeo ambiental era tratada como gestatildeo de recursos naturais com a

criaccedilatildeo de parques e reservas bioloacutegicas Com vieacutes claramente

conservacionista natildeo havia uma preocupaccedilatildeo com os impactos do

crescimento econocircmico da eacutepoca (NEDER 2002) ldquoA ideia de

desenvolvimento econocircmico penetrava a consciecircncia da cidadania

justificando cada ato de governo e ateacute de ditadura e de extinccedilatildeo da

naturezardquo (DEAN 1996 p 281)

O processo de crise na economia mundial deflagrado na deacutecada

de 1970 contou com trecircs marcos poliacuteticos o rompimento dos Estados

Unidos aos acordos de Bretton Woods em 1971 que trouxe a crise aos

paiacuteses membros da OCDE a inclusatildeo das questotildees ambientais no debate

sobre desenvolvimento estimulada pelo relatoacuterio do Clube de Roma e

pela Conferecircncia de Estocolmo em 1972 e a elevaccedilatildeo do preccedilo do

petroacuteleo em 1973 que trouxe a preocupaccedilatildeo com a questatildeo energeacutetica

Esses eventos dentre outros colocaram tambeacutem em questatildeo a regulaccedilatildeo

das relaccedilotildees econocircmicas internacionais e os mecanismos internos de

promoccedilatildeo do desenvolvimento (EGLER 1997)

Na deacutecada de 1970 aumentou a preocupaccedilatildeo com a poluiccedilatildeo

industrial todavia natildeo se alterou a relaccedilatildeo Estado-empresa (NEDER

2002) O movimento ambientalista em sua fase fundacional (1971-86)

foi dominado por uma compreensatildeo estreita da problemaacutetica ambiental

tendo como principais preocupaccedilotildees a poluiccedilatildeo industrial e a

preservaccedilatildeo dos ecossistemas naturais A conexatildeo entre a problemaacutetica

ambiental e o desenvolvimento econocircmico natildeo era percebida pelo

movimento ambientalista nessa fase (VIOLA 1992)

83

Na deacutecada de 1980 a crise do Estado e o processo de

redemocratizaccedilatildeo do paiacutes somou-se agrave discussatildeo do ldquodesenvolvimento

sustentaacutevelrdquo que se inseriu no discurso e na definiccedilatildeo de poliacuteticas Poacutes

1980 outro padratildeo de regulaccedilatildeo puacuteblica socioambiental veio se

desenvolvendo no Brasil ldquoele desloca a dicotomia estado versus capital

privado para um patamar mais complexo que amplia os dois modos

claacutessicos de coordenaccedilatildeo a ordem estatal e mercantil para incluir novas

arenas de conflitosrdquo (NEDER 2009 p 8)

Com a crise econocircmica dos anos 1980 o movimento

ambientalista passou a considerar a dimensatildeo econocircmica como

condicionante e parte da crise socioambiental Nessa mesma deacutecada

formaram-se grupos cientiacuteficos que passaram a tratar da questatildeo

ambiental Em 1981 com a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Meio

Ambiente (PNMA) constituiu-se segundo o artigo 6ordm o Sistema

Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e o CONAMA O movimento

ambientalista de 1987 a 1991 passou por uma fase de institucionalizaccedilatildeo

que envolveu uma organizaccedilatildeo maior do movimento ambientalista em

relaccedilatildeo a recursos financeiros especializaccedilatildeo dos envolvidos e com o

envolvimento com movimentos socioambientais (como o Movimento de

Atingidos por Barragens Movimento dos Seringueiros Movimentos

Indiacutegenas etc) (VIOLA 1992) Somado a isso o fim da Ditadura

Militar em 1985 e a Constituiccedilatildeo de 1988 acenavam com a volta da

democracia representativa e com novos mecanismos participativos

O governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) realizou

uma grande reforma no setor eleacutetrico marcando a transiccedilatildeo entre um

modelo de crescimento impulsionado pelo Estado para um modelo de

crescimento impulsionado pelo mercado A reforma teve como objetivos

a separaccedilatildeo das atividades de geraccedilatildeo transmissatildeo distribuiccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo privatizaccedilatildeo competiccedilatildeo na geraccedilatildeo e na

comercializaccedilatildeo e livre acesso agraves redes de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

(GOLDENBERG PRADO 2003) ldquoO processo de privatizaccedilatildeo do setor

eleacutetrico representou um gigantesco processo de transferecircncia de rendas

utilizando-se de dinheiro puacuteblico para beneficiar grupos empresariais e

garantir o propalado lsquosucessorsquo das privatizaccedilotildeesrdquo (BERMANN 2003

p 47) O ano de 2001 foi conhecido como o ano do ldquoapagatildeordquo Houve

falta de energia eleacutetrica causada pelo desabastecimento de aacutegua e por

uma privatizaccedilatildeo parcial na qual as estatais perderam sua capacidade de

planejamento mediante reduccedilatildeo de investimentos e o setor privado ainda

natildeo havia tomado o seu lugar (GOLDENBERG 2012a)

84

Com a vitoacuteria de Luis Inaacutecio Lula da Silva em 2002 do Partido

dos Trabalhadores (PT) para a presidecircncia da repuacuteblica houve uma

grande expectativa por parte dos movimentos sociais que possuiacuteam uma

ligaccedilatildeo histoacuterica com os partidos de esquerda especialmente o PT Lula

permaneceu na presidecircncia de 2003 a 2010 rompendo com uma

tradiccedilatildeo de eleiccedilotildees que mantinham na presidecircncia a elite tradicional

(LOSEKANN 2012) O fato de ter tido como ministra do meio

ambiente Marina Silva ligada agrave luta dos seringueiros fez com que

muitos acreditassem que o governo Lula seria um marco na poliacutetica

ambiental brasileira Mas contrariando as expectativas houve a

legalizaccedilatildeo dos transgecircnicos a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco e a

anistia aos desmatadores O Ministeacuterio das Minas e Energia (MME) na

eacutepoca liderado por Dilma Russef atual presidenta do Brasil ressuscitou

projetos hidreleacutetricos na Amazocircnia e retomou o programa da energia

nuclear Se durante a sua histoacuteria o PT esteve receptivo agraves demandas

dos movimentos socioambientais uma vez no poder a praacutetica foi

restritiva no CONAMA a participaccedilatildeo dos movimentos sociais foi

diminuiacuteda resultando numa injusticcedila poliacutetica em relaccedilatildeo aos segmentos

poliacuteticos e empresariais A poliacutetica de desenvolvimento empreendida

pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) priorizou a

pecuaacuteria mineraccedilatildeo geraccedilatildeo de energia soja cimento e celulose

causadores de impactos socioambientais e injusticcedilas ambientais e

ecoloacutegicas (LISBOA 2011)

Na Rio+20 que aconteceu em 2012 o tema central da Cuacutepula

dos Povos foi a justiccedila social e ambiental Para a Cuacutepula dos Povos natildeo

houve um balanccedilo das dificuldades e conquistas poacutes Rio-92 e a ecircnfase

na ldquoeconomia verderdquo foi uma forma de reforccedilar a acumulaccedilatildeo

capitalista que natildeo questiona ou substitui a economia baseada no uso de

combustiacuteveis foacutesseis nem nos padrotildees de produccedilatildeo industrial e

consumo crescente (CUacutePULA DOS POVOS 2012)

No governo Dilma (2011- atual) foi aprovada a mudanccedila no

Coacutedigo Florestal que estava tramitando desde 1996 ateacute ser totalmente

reformulado em 2012 Tramita tambeacutem a mudanccedila do Coacutedigo da

Mineraccedilatildeo que vai reduzir radicalmente as conquistas de grupos eacutetnicos

e comunidades tradicionais Com essas mudanccedilas instaura-se a

dominaccedilatildeo poliacutetica empresarial na qual o territoacuterio passa a ser objeto da

accedilatildeo de empresas preocupadas com as proacuteprias metas e apoiadas pela

accedilatildeo do Estado Confunde-se aiacute capitalismo com democracia e liberdade

poliacutetica com liberdade para explorar e investir (SEVAacute FILHO 2013)

No que se refere agrave matriz energeacutetica antes se pensava no que era melhor

85

para o Estado e atualmente a poliacutetica energeacutetica eacute pensada para os

empreiteiros (GOLDENBERG 2012b)

O planejamento energeacutetico no Brasil apoacutes as reformas passou a

ter uma visatildeo ldquoofertistardquo natildeo se baseia em previsotildees de demandas

Existe um emaranhado de interesses e o ldquoplanejamentordquo se eacute que pode

ser assim chamado serve aos que querem vender energia e aos que

querem comprar As empresas por sua vez aperfeiccediloam sua influecircncia

poliacutetica nos espaccedilos de poder do Estado atuando sobre os

licenciamentos ambientais mecanismos de financiamento

influenciando ateacute propostas de reforma do Estado (BERMANN 2012)

No final da deacutecada de 1980 apoacutes momentos de crescimento

econocircmico e crise houve um reposicionamento da economia da gestatildeo

de recursos comuns e da energia do fim da deacutecada de 1980 em diante

Se a PNMA de 1986 e a Constituiccedilatildeo de 1988 pareciam acenar com a

garantia aos direitos humanos e ambientais e uma preocupaccedilatildeo maior

com a participaccedilatildeo das pessoas nos processos de tomada de decisatildeo as

recentes alteraccedilotildees nas leis ambientais parecem um grande retrocesso e

a participaccedilatildeo das pessoas restrita agrave democracia representativa e a

instacircncias participativas controladas

O Estado passou a reforccedilar seu papel como indutor do

desenvolvimento capitalista direcionando investimentos em alguns

setores econocircmicos aos quais se destina financiamento subsiacutedios e

infraestrutura logiacutestica (transporte e energia) Acabou criando tambeacutem

mecanismos que asseguram o aumento no ritmo da exploraccedilatildeo de

recursos naturais e da despossessatildeo de grupos sociais com a desculpa de

gerar divisas para reduzir a pobreza e a desigualdade social ldquoEm nome

da superaccedilatildeo da desigualdade e da pobreza governos progressistas

impulsionam a expansatildeo de atividades extrativas ndash notadamente o

petroacuteleo e os mineacuterios ndash cujos custos sociais e ambientais tecircm gerado

exclusatildeo e desigualdaderdquo (MALERBA 2012 p 12-3)

O carvatildeo mineral acompanha esse movimento mais amplo com

suas especificidades que satildeo tratadas a seguir

86

32 CARACTERIZACcedilAtildeO E USOS DO CARVAtildeO MINERAL7 NO

BRASIL

A histoacuteria do carvatildeo mineral no Brasil teve iniacutecio em 1795 no Rio

Grande do Sul Ele foi descoberto por teacutecnicos ingleses que construiacuteam

ferrovias na regiatildeo do baixo Jacuiacute Durante muito tempo sua exploraccedilatildeo

foi manual passando agrave etapa da mecanizaccedilatildeo somente apoacutes a Segunda

Guerra Mundial (CHAVES 2008 GOMES et al 1998)

A mineraccedilatildeo eacute uma atividade intensiva em recursos naturais

principalmente do solo e da aacutegua competindo com outros usos dos

recursos naturais locais principalmente aqueles que dependem do meio

ambiente tais como pesca turismo agricultura etc Dentre os principais

usos do carvatildeo mineral destacam-se a produccedilatildeo de energia eleacutetrica e uso

industrial principalmente sideruacutergico O uso tem relaccedilatildeo com a

qualidade do carvatildeo medida pela capacidade de produccedilatildeo de calor

Capacidade essa que eacute favorecida pela existecircncia de carbono e

prejudicada pela quantidade de impurezas normalmente material

orgacircnico (macerais do carvatildeo) e inorgacircnicos (argilas pirita e

carbonatos) (ANEEL 2008a SAMPAIO 2002)

O Brasil natildeo tem uma cultura de uso do carvatildeo mineral como em

outros paiacuteses sua exploraccedilatildeo eacute restrita ao Sul do paiacutes outras regiotildees natildeo

convivem com a questatildeo A qualidade do carvatildeo mineral brasileiro eacute

inferior dado resultante dos altos teores de cinza e enxofre (carvatildeo de

SC e PR) e o passivo ambiental de uma exploraccedilatildeo predatoacuteria e sem

compromisso com o meio ambiente fez com que essa atividade natildeo

contasse com boa fama (CHAVES 2008)

O carvatildeo mineral de acordo com o poder caloriacutefico e a incidecircncia

de impurezas se subdivide em carvatildeo de baixa qualidade (linhito e sub-

betuminoso) e hulha (Betuminoso e Antracito) As reservas brasileiras

satildeo compostas pelo carvatildeo dos tipos linhito e sub-betuminoso que pode

ser utilizado na produccedilatildeo de energia eleacutetrica e usado industrialmente

(ANEEL 2008a) (Figura 5)

7 O carvatildeo mineral natildeo eacute um mineral no sentido estrito sendo mais correto

chamaacute-lo de carvatildeo foacutessil A opccedilatildeo pelo carvatildeo mineral se justifica na medida

em que a maior parte dos documentos e referecircncias consultadas utilizam o

termo (CHAVES 2008)

87

Figura 5 - Tipos de carvatildeo e uso

Fonte Adaptado de Aneel (2008a p 133)

A produccedilatildeo do carvatildeo mineral bruto no Brasil em 1970 foi de 55

milhotildees de toneladas chegando ao pico em 1985 com 249 milhotildees de

toneladas (MILIOLI 2009) Ateacute final da deacutecada de 1980 as sideruacutergicas

brasileiras eram obrigadas a comprar carvatildeo coqueificaacutevel nacional para

misturar com o importado Os empresaacuterios do setor contaram com as

benesses do governo federal que obrigava as sideruacutergicas a utilizarem o

carvatildeo mineral brasileiro e os consumidores do carvatildeo mineral eram

empresas governamentais Como natildeo havia diferenccedila entre o preccedilo e a

qualidade do produto as carboniacuteferas natildeo eram estimuladas a melhorar

a qualidade nem buscar tecnologia para isso

O Governo Collor rompeu com a obrigatoriedade do consumo do

carvatildeo mineral pelas metaluacutergicas e muitas mineradoras enfrentaram

problemas (CHAVES 2008) O pano de fundo para o debate eleacutetrico

dos anos 1990 principalmente durante o governo de Fernando Henrique

Cardoso era a liberalizaccedilatildeo dos preccedilos do comeacutercio e do investimento

estrangeiro a desregulamentaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo em grande escala

(GOLDENBERG PRADO 2003)

O carvatildeo energeacutetico passou a ser uma opccedilatildeo para a crise

enfrentada pelas carboniacuteferas As termeleacutetricas estatais foram

privatizadas ou tiveram o seu capital aberto na deacutecada de 1990 exceto a

Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica (CGTEE) Em 2013

estavam em operaccedilatildeo treze usinas termeleacutetricas em seis estados

brasileiros somando um total de 2711 Megawatts (MW) (Tabela 1)

Destaca-se nessas usinas a participaccedilatildeo de empresas estrangeiras

88

Tractebel CITIC Group (estatal chinesa em parceria com a Companhia

de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica) o Consoacutercio Alumar (formado

pelas empresas Alcoa BHP Billiton e Rio Tinto Alcan) e a ENEVA

Tabela 1 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral em

operaccedilatildeo em 2013 Brasil

Fonte ANEEL 2013

Natildeo havia nenhum empreendimento movido a carvatildeo mineral em

construccedilatildeo no ano de 2013 Existem quatro empreendimentos com

outorga no periacuteodo de 1998 a 2013 somando um total de 1445 MW

localizados nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Tabela

2)

Tabela 2 - Usinas termeleacutetricas movidas a carvatildeo mineral com

outorga de 1998 a 2013 Brasil

Fonte ANEEL 2013

USINAPOTEcircNCIA

(MW)MUNICIacutePIO UF PROPRIETAacuteRIO

Charqueadas 72 Charqueadas RS Tractebel

Presidente Meacutedici A B 446 Candiota RS CGTEE

Satildeo Jerocircnimo 20 Satildeo Jerocircnimo RS CGTEE

Figueira 20 Figueira PR Copel

Jorge Lacerda I e II 232 Capivari de Baixo SC Tractebel

Jorge Lacerda III 262 Capivari de Baixo SC Tractebel

Jorge Lacerda IV 363 Capivari de Baixo SC Tractebel

Alunorte 103 Nossa Senhora do Socorro SE Alumina Norte do Brasil SA

Alumar 75 Satildeo Luiacutes MA Consoacutercio Alumar

Porto do Itaqui 360 Satildeo Luiacutes MA UTE Porto do Itaqui Geraccedilatildeo de Energia SA

Porto do Peceacutem I 381 Satildeo Gonccedilalo do Amarante CE Porto do Peceacutem Geraccedilatildeo de Energia SA

Candiota III 12 Candiota RS CGTEE

Porto do Peceacutem II 365 Satildeo Gonccedilalo do Amarante CE MPX Peceacutem II Geraccedilatildeo de Energia SA

TOTAL 2711

USINAPOTEcircNCIA

(MW)MUNICIacutePIO UF PROPRIETAacuteRIO

Jacuiacute 350 Charqueadas RS Eleacutetrica Jacuiacute SA

Sul Catarinense 440 Treviso SC UTE Sul Catarinense

Concoacuterdia 5 Concoacuterdia SC Sadia

CTSUL 650 Cachoeira do Sul RS Central Termoeleacutetrica Sul SA

TOTAL 1445

89

As reservas de carvatildeo no Brasil totalizam sete bilhotildees de

toneladas ocupando o 10ordm lugar no ranking mundial podendo gerar 17

mil mw (ANEEL 2008B) Conveacutem ressaltar tambeacutem que o Brasil

produz mais energia eleacutetrica do que consome em 2011 foram

disponibilizados 5676 TeraWattshora (TWh) e consumidos 4801TWh

e em 2012 foram disponibilizados 5928TWh e consumidos 4984 TWh

A oferta de energia eleacutetrica a base de carvatildeo mineral tende a aumentar

em 53 se as usinas termeleacutetricas com outorga forem construiacutedas Com

a inclusatildeo do carvatildeo mineral nos leilotildees em 2013 parece ser uma

questatildeo de tempo para que as termeleacutetricas listadas na tabela 22 entrem

no leilatildeo e comecem a ser construiacutedas (BRASIL EPE 2013b)

33 TECNOLOGIAS DISPONIacuteVEIS E IMPACTOS

SOCIOAMBIENTAIS

Da extraccedilatildeo do carvatildeo mineral ateacute a geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

existem diferentes processos a serem considerados a extraccedilatildeo o

beneficiamento o transporte o uso do carvatildeo mineral para geraccedilatildeo de

energia eleacutetrica e a disposiccedilatildeo dos rejeitos Cada um desses processos

envolve escolhas tecnoloacutegicas e seus impactos Nesta seccedilatildeo faz-se uma

breve exposiccedilatildeo dos meacutetodos utilizados nos processos compreendendo

que a escolha entre os meacutetodos e impactos decorrentes eacute mais

condicionada pelas leis existentes do que pelo tipo de tecnologia

disponiacutevel A escolha tem a ver com a opccedilatildeo do desenvolvimento

(BRITO 1981)

No que se refere agrave extraccedilatildeo do carvatildeo mineral os meacutetodos

utilizados satildeo a lavra a ceacuteu aberto e subterracircnea dependendo das

caracteriacutesticas geoloacutegicas No iniacutecio as lavras eram essencialmente

manuais depois passaram para uma fase semi-mecanizada e depois

mecanizada Na fase manual o impacto ambiental e a produtividade

eram menores O processo de mecanizaccedilatildeo aumentou a produccedilatildeo e com

ela uma maior destruiccedilatildeo ambiental e problemas de sauacutede (MENEZES

CAROLA 2011)

As lavras a ceacuteu aberto utilizam os seguintes meacutetodos meacutetodo de

lavras em tiras (strip mining) lavra de descobertura com escavadeiras de

arrasto (dragline stripping method) lavra em bancadasescavadeira Os

trecircs meacutetodos de formas diferentes retiram as camadas de solo e outras

formaccedilotildees sedimentares que cobrem as camadas de carvatildeo Satildeo meacutetodos

90

de baixo custo comparados aos de lavra subterracircnea mas foram as

lavras a ceacuteu aberto que causaram entre 1960 e 1970 os maiores danos

ambientais do Sul de Santa Catarina (KOPPE COSTA 2008

MENEZES CAROLA 2011 MONTEIRO 2008)

Dentre os meacutetodos de lavra subterracircnea destacam-se o meacutetodo de

cacircmaras e pilares e de frente larga No primeiro meacutetodo o carvatildeo eacute

extraiacutedo e os pilares satildeo formados pelo proacuteprio carvatildeo que sustenta a

cobertura e facilita o fluxo de ar Na medida em que a mineraccedilatildeo

avanccedila os pilares satildeo retirados e a cobertura tomba Jaacute o meacutetodo da

frente larga envolve a remoccedilatildeo total do carvatildeo e a sustentaccedilatildeo eacute feita por

macacos hidraacuteulicos O meacutetodo precisa estar adequado agrave geologia da

mina e o custo do maquinaacuterio eacute cerca de dez vezes maior que do outro

meacutetodo A lavra subterracircnea causa menos impacto visual mas os

impactos ambientais tambeacutem satildeo significativos Torna-se necessaacuterio o

descarte da aacutegua subterracircnea alterando o regime hiacutedrico e inviabiliza

outros usos do solo (KOPPE COSTA 2008 MONTEIRO 2008)

Dentre os principais impactos resultantes das lavras estatildeo as

mudanccedilas na vida da populaccedilatildeo nos recursos hiacutedricos na fauna e flora

Jaacute o processo de beneficiamento que compreende a separaccedilatildeo dos

materiais desejaacuteveis e indesejaacuteveis tem como principal causador de

impacto o rejeito (ANEEL 2008a) O Quadro 4 apresenta alguns

aspectos ambientais associados agrave atividade de mineraccedilatildeo e

processamento mineral

91

Quadro 4 - Aspectos das atividades de mineraccedilatildeo e processamento

do carvatildeo mineral Mineraccedilatildeo e

processamento

Ar Dispersatildeo de partiacuteculas

Variaccedilatildeo da composiccedilatildeo da poeira do

ar

Poeira

Solo Fontes pontuais de contaminaccedilatildeo

Geraccedilatildeo de resiacuteduos

Alteraccedilatildeo na vegetaccedilatildeo

Instabilidade de taludes

Variaccedilatildeo na morfologia do terreno

Cavidades subterracircneas

Aacutegua

superficial

Contaminaccedilatildeo quiacutemica (drenagem

aacutecida etc)

Soacutelidos em suspensatildeo

Desestabilizaccedilatildeo das margens

Alteraccedilatildeo dos cursos de aacutegua

Criaccedilatildeo de novos corpos hiacutedricos

Aacutegua

subterracircnea

Contaminaccedilatildeo quiacutemica

Alteraccedilatildeo na profundidade do niacutevel

drsquoaacutegua

Variaccedilatildeo nas propriedades dos

aquiacuteferos

Fonte CETEM (2000 p 16)

No meacutetodo mais tradicional de geraccedilatildeo de energia eleacutetrica o

carvatildeo mineral eacute queimado a altas temperaturas transformando a aacutegua da

caldeira em vapor capaz de mover a turbina gerando eletricidade Em

meacutedia as teacutermicas movidas a carvatildeo mineral produzem 700g de CO2

por Quilowatt-hora (KWh) sendo responsaacuteveis por 30 a 35 do total de

emissotildees de CO2 no mundo Aleacutem do CO2 tambeacutem emitem Nitrogecircnio

(N) (ANEEL 2008a YAMAOKA et al 2013)

As chamadas tecnologias limpas compreendem a combustatildeo

pulverizada supercriacutetica a combustatildeo em leito fluidizado e a

gaseificaccedilatildeo integrada a ciclo combinado segundo a IEA Na

combustatildeo pulverizada supercriacutetica o carvatildeo eacute queimado como partiacuteculas pulverizadas o que aumenta substancialmente a eficiecircncia da

combustatildeo e conversatildeo No processo de combustatildeo em leito fluidizado

haacute uma reduccedilatildeo de Enxofre (ateacute 90) e de Nitrogecircnio (7080) pelo

emprego de partiacuteculas calcaacuterias e de temperaturas inferiores ao processo

convencional de pulverizaccedilatildeo Jaacute a gaseificaccedilatildeo integrada a ciclo

92

combinado consiste na reaccedilatildeo do carvatildeo com vapor de alta temperatura

e um oxidante (processo de gaseificaccedilatildeo) o que daacute origem a um gaacutes

combustiacutevel sinteacutetico de meacutedio poder caloriacutefico Esse gaacutes pode ser

queimado em turbinas a gaacutes e recuperado por meio de uma turbina a

vapor (ciclo combinado) o que possibilita a remoccedilatildeo de cerca de 95

do Enxofre e a captura de 90 do Nitrogecircnio Apesar da reduccedilatildeo de

Enxofre e Nitrogecircnio as tecnologias do chamado ldquocarvatildeo limpordquo natildeo

representam uma soluccedilatildeo para a emissatildeo de gases de efeito estufa

(ANEEL 2008a MONTEIRO 2008)

Cada tecnologia tem o seu impacto Na escolha por uma

tecnologia ou outra um impacto menor natildeo eacute considerado o motivador

inicial Atender os requisitos miacutenimos da legislaccedilatildeo e ser viaacutevel do

ponto de vista econocircmico satildeo os motivadores principais das escolhas

Os interesses dos segmentos econocircmicos natildeo raro prevalecem sobre os

interesses dos segmentos sociais ldquoO planejamento pauta-se em acordos

setoriais natildeo necessariamente fruto de uma compilaccedilatildeo e mediaccedilatildeo de

interesses mais amplos da sociedaderdquo (BERMANN 2012 p 21)

O raciociacutenio eacute produzir mais e natildeo pensar em eficiecircncia

energeacutetica O paiacutes perde cerca de 20 de energia na transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo Antes de investir em novas tecnologias e ampliar o sistema

seria interessante resolver a perda na transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de

energia (BERMANN 2012)

34 REGRAS EM USO NUMA PERSPECTIVA HISTOacuteRICA

INTERFACE ENTRE DIREITOS AMBIENTAIS E DIREITOS

HUMANOS

O marco regulatoacuterio do carvatildeo mineral se relaciona com o modo

como a questatildeo ambiental foi sendo incorporada nas leis e numa

perspectiva mais ampla sobre como os direitos ambientais e os direitos

humanos foram sendo constituiacutedos no Brasil O desafio da justiccedila em

sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas ambientais tem dois aspectos relacionais a

justiccedila da distribuiccedilatildeo de ambientes entre pessoas e a justiccedila da relaccedilatildeo

entre humanos e o resto do mundo natural a justiccedila ambiental e justiccedila

ecoloacutegica respectivamente A justiccedila eacute uma qualidade da conduta

humana e envolve tanto a reflexatildeo sobre si mesmo e o estar no mundo

quanto a conduta coordenada com os outros a conduta social e poliacutetica

(LOW GLEESON 1998)

93

Durante muito tempo na histoacuteria recente do brasil os recursos

naturais natildeo renovaacuteveis foram tratados como recursos a serem

explorados natildeo havia uma preocupaccedilatildeo com sua preservaccedilatildeo e com os

impactos socioambientais decorrentes das atividades econocircmicas A

Constituiccedilatildeo de 1934 mencionou pela primeira vez a competecircncia

privativa da Uniatildeo para legislar sobre o subsolo mineraccedilatildeo metalurgia

aacuteguas energia hidreleacutetrica florestas caccedila e pesca Do ponto de vista das

competecircncias a Constituiccedilatildeo de 1937 manteacutem a competecircncia privativa

da Uniatildeo sobre os recursos naturais e seus usos considerando a

competecircncia supletiva dos Estados As Constituiccedilotildees de 1946 1967-69

reproduzem com poucas atualizaccedilotildees as mesmas competecircncias

(SCARDUA BURSZTYN 2003)

A despeito do Coacutedigo das Aacuteguas de 1934 que lograva proteger

os recursos hiacutedricos e imputava ao poluidor os custos com a

recuperaccedilatildeo o setor carboniacutefero seguiu intensificando a poluiccedilatildeo das

aacuteguas e dos solos O mesmo aconteceu com as condiccedilotildees miacutenimas de

trabalho presentes no Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e no Coacutedigo de Higiene e

Seguranccedila no Trabalho que foram sistematicamente desconsideradas

impondo condiccedilotildees muitas vezes incompatiacuteveis com a vida humana

(MENEZES CAROLA 2011)

O avanccedilo do segmento do carvatildeo mineral contou com incentivos

e proteccedilatildeo do governo federal a partir de 1931 atraveacutes do Decreto

20089 em 1940 com o Decreto 2667e o Decreto 1828 de 1937 Aleacutem

de regular o aproveitamento do carvatildeo mineral iniciou nesse momento a

obrigatoriedade de compra do carvatildeo nacional em 10 em 1931 e 20

em 1937 do montante das importaccedilotildees (BRASIL 1931 1937 1940) As

medidas tomadas nesse periacuteodo incluindo aiacute o Plano do Carvatildeo

Nacional Lei nordm 1886 de 1953 fortaleceram muito o setor (BRASIL

1953) Inclui-se nessa lista o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo de 1967 Decreto-Lei

nordm 227 (BRASIL 1967) Junto com o Plano do Carvatildeo Mineral eacute criada

a Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo Nacional (CEPCAN) ligada

inicialmente ao Presidente da Repuacuteblica e depois ao MME A

CEPCAN foi responsaacutevel pela consolidaccedilatildeo da modernizaccedilatildeo e dos

subsiacutedios para o setor carboniacutefero (MENEZES CAROLA 2011)

A Avaliaccedilatildeo de Impacto Ambiental (AIA) apareceu no Brasil

pela primeira vez na deacutecada de 1970 no projeto da hidroeleacutetrica de

Sobradinho por pressatildeo do Banco Mundial e na Lei nordm 6803 de 1980

que dispotildee sobre zoneamento industrial Mas soacute se efetivou na Lei nordm

6938 de 1981 que dispotildee sobre a PNMA que coloca a avaliaccedilatildeo de

94

impacto ambiental como instrumento da Poliacutetica Com o Decreto nordm

88351 ela se tornou parte do licenciamento de atividades e

empreendimentos potencialmente poluidores ou causadores de

degradaccedilatildeo ambiental (BARBIERI 1995)

O CONAMA atraveacutes da Resoluccedilatildeo nordm 1 de 1986 trouxe os

criteacuterios baacutesicos e diretrizes para o uso e implementaccedilatildeo da AIA A

resoluccedilatildeo define impacto ambiental como ldquoqualquer alteraccedilatildeo das

propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das atividades

humanas que direta ou indiretamente afetam I) a sauacutede e bem-estar da

populaccedilatildeo II) as atividades sociais e econocircmicas III) a biota IV) as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V) a qualidade dos

recursos ambientaisrdquo Os processos que envolvem o carvatildeo mineral

extraccedilatildeo beneficiamento transporte uso para geraccedilatildeo de energia satildeo

considerados passiacuteveis de causar impacto e por isso a exigecircncia da

avaliaccedilatildeo de impacto ambiental para seus licenciamentos (BARBIERI

1995)

O Decreto nordm 9927490 conta com a seguinte redaccedilatildeo

Art 19 O Poder Puacuteblico no exerciacutecio de sua

competecircncia de controle expediraacute as seguintes

licenccedilas

I - Licenccedila Preacutevia (LP) na fase preliminar do

planejamento de atividade contendo requisitos

baacutesicos a serem atendidos nas fases de

localizaccedilatildeo instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo observados os

planos municipais estaduais ou federais de uso do

solo

II - Licenccedila de Instalaccedilatildeo (LI) autorizando o

iniacutecio da implantaccedilatildeo de acordo com as

especificaccedilotildees constantes do Projeto Executivo

aprovado e

III - Licenccedila de Operaccedilatildeo (LO) autorizando

apoacutes as verificaccedilotildees necessaacuterias o iniacutecio da

atividade licenciada e o funcionamento de seus

equipamentos de controle de poluiccedilatildeo de acordo

com o previsto nas Licenccedilas Preacutevia e de

Instalaccedilatildeo (BRASIL 1990)

Uma exigecircncia no processo de licenciamento eacute a elaboraccedilatildeo do

Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatoacuterio de Impacto

Ambiental (RIMA) A avaliaccedilatildeo de impacto ambiental conforme consta

95

na Figura 6 compreende segundo orientaccedilotildees internacionalmente

aceitas uma etapa inicial de triagem [na qual o estudo de impacto

ambiental eacute solicitado ou natildeo de acordo com o grau de possiacuteveis

impactos ambientais] uma etapa de anaacutelise detalhada [que inclui a

delimitaccedilatildeo do escopo do estudo a elaboraccedilatildeo do estudo de impacto

ambiental e do relatoacuterio de impacto ambiental a anaacutelise teacutecnica e a

consulta puacuteblica] e a etapa poacutes-aprovaccedilatildeo [que prevecirc o monitoramento

e gestatildeo ambiental e o acompanhamento] (SAacuteNCHEZ 2008a)

Figura 6 - Etapas da avaliaccedilatildeo de impacto ambiental

Fonte Adaptado de Saacutenchez (2008 p 96)

96

A audiecircncia puacuteblica no processo de licenciamento ambiental eacute

uma forma de consulta puacuteblica (consta na anaacutelise detalhada na Figura 6)

um instrumento de participaccedilatildeo de caraacuteter consultivo e informativo

segundo resoluccedilatildeo do CONAMA Nordm 009 de 03 de dezembro de 1987

A audiecircncia pode ser solicitada pelo oacutergatildeo ambiental responsaacutevel pelo

licenciamento por uma entidade civil pelo ministeacuterio puacuteblico ou por

um grupo de pelo menos 50 cidadatildeos (CONAMA 1987) Todavia a

decisatildeo no processo de licenciamento cabe aos oacutergatildeos ambientais

competentes No acircmbito federal ao IBAMA e no acircmbito estadual os

oacutergatildeos ambientais estaduais (SAacuteNCHEZ 2008a)

A Avaliaccedilatildeo Ambiental Estrateacutegica (AAE) surge dos limites da

AIA Entre esses limites estatildeo a dificuldade ldquode analisar com

profundidade alternativas tecnoloacutegicas e de localizaccedilatildeo de levar em

conta satisfatoriamente os impactos cumulativos e os impactos indiretos

satildeo inerentes a esta forma de avaliaccedilatildeo de impacto ambientalrdquo

(SAacuteNCHEZ 2008 p 4)

A Constituiccedilatildeo de 1988 traz um capiacutetulo sobre o meio ambiente e

pela primeira vez na histoacuteria do Brasil coloca o meio ambiente como

direito ldquoTodos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder Puacuteblico e agrave coletividade o dever de

defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo (Art

225 BRASIL 1988) Cabe aos Estados Distrito Federal e Municiacutepios

acrescentar normas especiacuteficas desde que natildeo colidam com a norma

federal (BARBIERI 1995)

A descentralizaccedilatildeo estimulada pela Constituiccedilatildeo de 1988 foi

inovadora ao contemplar mecanismos de democracia participativa

complementando os mecanismos da democracia representativa todavia

essa ainda natildeo ocorreu em niacutevel satisfatoacuterio e efetivo Desde 1996 todos

os estados brasileiros contam com poliacuteticas ambientais estaduais e

oacutergatildeos responsaacuteveis pela sua implementaccedilatildeo Os municiacutepios caminham

devagar 117 contam com algum oacutergatildeo para tratar do meio ambiente e

213 possuem Conselho Municipal de Meio Ambiente (SCARDUA BURSZTYN 2003)

Outro ponto tratado na Constituiccedilatildeo de 1988 que diz respeito agrave

atividade mineradora eacute a Compensaccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo de

Recursos Minerais (CFEM) O valor da CFEM eacute aplicado sobre o

97

faturamento liacutequido e varia de acordo com a substacircncia mineral Para o

carvatildeo aplica-se a aliacutequota de 2 O valor eacute pago mensalmente e 12

dele vai para a Uniatildeo 23 para o Estado e 65 para o municiacutepio

produtor Os recursos devem ser aplicados em projetos que direta ou

indiretamente melhorem a infra-estrutura qualidade ambiental sauacutede e

educaccedilatildeo da comunidade local (DNPM 2013) Um desafio colocado por

algumas pesquisas eacute o uso adequado da CFEM pela gestatildeo puacuteblica jaacute

que natildeo haacute uma regulamentaccedilatildeo legal para o uso do recurso (AARAtildeO

2011 ENRIacuteQUEZ 2007)

No Governo Fernando Henrique Cardoso foi aprovado o Decreto

nordm 3371 de 24 de fevereiro de 2000 que instituiu o Programa

Prioritaacuterio de Termeletricidade (BRASIL 2000) Com o apagatildeo de 2001

ressurgiu a ideia de que a seguranccedila energeacutetica do paiacutes estaria garantida

com a construccedilatildeo de mais usinas termeleacutetricas (GOLDENBERG

2012a)

Em 2010 comeccedilou a ser articulado um novo marco regulatoacuterio

para a mineraccedilatildeo no Brasil sendo lanccedilado o Projeto de Lei (PL) em

junho de 2013 Em 2014 o Congresso analisaraacute o PL 58072013

(BRASIL 2013a) fruto da Frente Parlamentar da Mineraccedilatildeo Brasileira

da qual fazem parte Celso Maldaner (PMDB) Deacutecio Lima (PT)

Jorginho Mello (Partido da Repuacuteblica - PR) Onofre Santo Agostini

(Partido Social Democraacutetico - PSD) todos eleitos por Santa Catarina

(BRASIL 2013b)

Um dos pontos polecircmicos eacute a regulamentaccedilatildeo da mineraccedilatildeo em

terras indiacutegenas quilombolas e ribeirinhas questatildeo que se situa na

interface entre direitos ambientais e direitos humanos A Constituiccedilatildeo de

1891 vinculava a propriedade do subsolo agrave do solo sendo alterada pela

Constituiccedilatildeo de 1934 ateacute os dias atuais permanecendo a natildeo existecircncia

de viacutenculo entre propriedade do solo e subsolo que pertence agrave Uniatildeo

Todavia conveacutem ressaltar que apesar do domiacutenio puacuteblico dos recursos

minerais eacute possiacutevel a apropriaccedilatildeo privada mediante concessatildeo

(BRASIL MME 2013) A principal criacutetica do novo marco regulatoacuterio eacute

a de que ldquoeacute necessaacuterio reafirmar que o lsquopuacuteblicorsquo e a lsquonaccedilatildeorsquo vivem e

ocorrem sobre o solo e natildeo no subsolo Dessa forma eacute o uso do solo que

deve definir a possibilidade da exploraccedilatildeo do subsolo e natildeo o contraacuteriordquo

(MILANEZ 2012 p 82)

O crescimento da consciecircncia ambiental relaciona-se agrave discussatildeo

histoacuterica sobre direitos humanos e do exerciacutecio desigual de direitos O

movimento ambientalista eacute fruto dessa tradiccedilatildeo de lutas por direitos

98

individuais e coletivos (GONCcedilALVES 1992) Todavia o desafio eacute

superar a visatildeo de que o natildeo-humano eacute de interesse apenas na medida

em que afeta os seres humanos A democracia a justiccedila social e os

direitos humanos satildeo condiccedilatildeo importante para enfrentar a crise mas

natildeo satildeo suficientes Eacute preciso superar tambeacutem o antropocentrismo

caminhando da justiccedila ambiental para a justiccedila ecoloacutegica (DELUCA

2007)

35 ENVOLVIDOS NA GESTAtildeO

Nesta seccedilatildeo satildeo destacados os envolvidos na gestatildeo do carvatildeo

mineral no Brasil que atuam numa escala mais ampla que a estadual Os

envolvidos na gestatildeo de recursos comuns de Santa Catarina sediados no

estado seratildeo destacados no capiacutetulo quatro Os que foram aqui citados

aparecem nos documentos consultados Dessa forma conveacutem ressaltar

que pode haver outros envolvidos que natildeo estejam citados nesse

capiacutetulo

351 Segmentos poliacuteticos

A atual presidente da repuacuteblica Dilma Rousseff eleita pelo PT

tem mandato de 2011 a 2014 Em sua campanha mais de 90 da receita

foi proveniente de doaccedilotildees ao Comitecirc Financeiro Nacional Do total de

R$ 137 milhotildees e meio o setor mineral contribuiu com 10 desse

valor A Tractebel empresa geradora de energia eleacutetrica doou um

milhatildeo de reais para o Comitecirc Financeiro Nacional para Presidente da

Repuacuteblica do PT o que correspondeu a 07 da receita (OLIVEIRA

2013 TSE 2013) Do setor carboniacutefero natildeo foram identificadas

doaccedilotildees

O Ministeacuterio das Minas e Energia (MME) eacute chave tambeacutem no

processo de gestatildeo Ele foi criado em 1960 e tem como competecircncias a

formulaccedilatildeo e supervisatildeo das poliacuteticas puacuteblicas nos seguintes segmentos geologia recursos minerais e energeacuteticos aproveitamento da energia

hidraacuteulica mineraccedilatildeo e metalurgia e petroacuteleo combustiacutevel e energia

eleacutetrica inclusive nuclear Tem como ministro Edison Lobatildeo e congrega

as secretarias de Petroacuteleo Gaacutes Natural e Combustiacuteveis Renovaacuteveis a

99

Secretaria de Energia Eleacutetrica a Secretaria de Planejamento e

Desenvolvimento Energeacutetico Estatildeo vinculados ao MME o

Departamento Nacional de Produccedilatildeo Mineral (DNPM) (Criado em

1934) a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM)

(Criada em 1969 e iniciando suas atividades em 1970) a ANEEL

(Criada em 1996) o Conselho Nacional de Poliacutetica Energeacutetica (CNPE)

(Criado em 1997)

No Brasil apesar de haverem espaccedilos institucionais o debate

sobre a poliacutetica energeacutetica permanece restrito O Conselho Nacional de

Poliacutetica Energeacutetica (CNPE) criado em 1997 e regulamentado em 2000

eacute um oacutergatildeo de assessoramento da Presidecircncia da Repuacuteblica Ele tem em

sua composiccedilatildeo sete Ministros um representante dos estados e do

Distrito Federal um cidadatildeo brasileiro especialista em energia

designado pelo Presidente da Repuacuteblica e um representante de

universidade brasileira especialista em energia O CNPE eacute influente nos

rumos da poliacutetica energeacutetica nacional todavia pouco democraacutetica em

sua composiccedilatildeo A ANEEL por sua vez ao inveacutes de ser autocircnoma e

independente estaacute formalmente vinculada ao MME como autarquia e

na praacutetica demostra subordinaccedilatildeo ao governo federal (BERMANN

2001)

O Ministeacuterio do Meio Ambiente (MMA) foi criado em 1992

tendo como missatildeo ldquopromover a adoccedilatildeo de princiacutepios e estrateacutegias para

o conhecimento a proteccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo do meio ambiente o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais a valorizaccedilatildeo dos serviccedilos ambientais

e a inserccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel na formulaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de forma transversal e

compartilhada participativa e democraacutetica em todos os niacuteveis e

instacircncias de governo e sociedaderdquo (MMA 2013) O CONAMA eacute o

oacutergatildeo consultivo e deliberativo do SISNAMA ambos criados em 1981

como instrumentos participativos da PNMA O CONAMA eacute o uacutenico

conselho com poder de legislar Os recursos naturais renovaacuteveis ficam

sob a tutela do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renovaacuteveis (IBAMA) criado em 1989 vinculado

posteriormente ao MMA Jaacute os recursos natildeo renovaacuteveis ficam sob tutela

do MME

O Parlamento eacute composto pelos representantes eleitos pelo povo

Ele se divide entre o Senado Federal (Senadores) e a Cacircmara dos

Deputados (Deputados Federais) e exerce o poder legislativo e

fiscalizador no Congresso Nacional Atuam tambeacutem no Parlamento a

100

Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral criada em 2005

e a Frente Parlamentar da Mineraccedilatildeo Brasileira criada em 2011 As

relaccedilotildees entre o parlamento e os segmentos econocircmicos junto agrave questatildeo

do carvatildeo mineral satildeo analisadas no capiacutetulo cinco dessa tese

(OLIVEIRA 2013)

Jaacute o Ministeacuterio Puacuteblico tem autonomia na estrutura do Estado em

relaccedilatildeo ao executivo legislativo e judiciaacuterio Cabe ao Ministeacuterio Puacuteblico

a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico dos interesses

sociais e dos interesses individuais indisponiacuteveis O Ministeacuterio Puacuteblico

da Uniatildeo divide-se em Ministeacuterio Puacuteblico Federal e os Ministeacuterios

Puacuteblicos de cada Estado da Federaccedilatildeo (BRASIL 1993 MPSC 2013)

Os segmentos poliacuteticos aqui apresentados atuam com limitaccedilotildees

mas tambeacutem oferecem brechas A sociedade deveria aproveitaacute-las para

debater os rumos da poliacutetica energeacutetica e as opccedilotildees de desenvolvimento

Contudo o contexto de energia privada e de consequente concentraccedilatildeo

de poder econocircmico se mostra prejudicial agraves questotildees ecoloacutegicas e

democraacuteticas (BERMANN 2001)

352 Segmentos econocircmicos

Os segmentos econocircmicos estatildeo organizados em associaccedilotildees

empresariais e mistas O Instituto Brasileiro de Mineraccedilatildeo (IBRAM) foi

criado em 1976 eacute uma associaccedilatildeo privada sem fins lucrativos que tem

por objetivo congregar representar promover e divulgar a induacutestria

mineral brasileira contribuindo para a sua competitividade nacional e

internacional A mineraccedilatildeo tambeacutem conta com o Consoacutercio Alumar

inaugurado em 1984 eacute um dos maiores complexos de produccedilatildeo de

alumiacutenio do mundo localiza-se no Maranhatildeo e eacute formado pelas

empresas Alcoa BHP Biliton e Rio Tinto Alcan

Os segmentos econocircmicos ligados ao carvatildeo mineral organizam-

se junto ao Sindicato Nacional da Induacutestria de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

(SNIEC) e a Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo Mineral (ABCM) O

SNIEC foi criado em 1989 em Santa Catarina reuacutene as empresas de

mineraccedilatildeo A ABCM foi constituiacuteda em 2006 e reuacutene agentes da cadeia

produtiva do carvatildeo mineradoras geradoras e transportadores O

principal objetivo da Associaccedilatildeo eacute integrar a cadeia produtiva visando o

desenvolvimento sustentaacutevel Conta com 20 empresas associadas

101

Como o tema de tese relaciona-se com a geraccedilatildeo de energia

eleacutetrica conveacutem ressaltar o papel da Cacircmara de Comercializaccedilatildeo de

Energia Eleacutetrica (CCEE) A CCEE foi criada em 2004 ela viabiliza a

compra e venda de energia em todo o paiacutes Ela reuacutene empresas de

geraccedilatildeo de serviccedilo puacuteblico produtores independentes autoprodutores

distribuidoras comercializadoras importadoras e exportadoras de

energia aleacutem de consumidores livres e especiais de todo o paiacutes

Existem empresas e cooperativas bastante influentes a niacutevel

nacional

- A Tractebel do grupo franco-belga GDF-Suez eacute a segunda

maior geradora de energia eleacutetrica privada do Brasil e maior produtora

independente de energia do mundo

- A CITIC Group estatal Chinesa eacute parceira da Eletrobraacutes no

acordo promulgado pelo Decreto nordm 6009 de 3 de janeiro de 2007

(BRASIL 2007)

- A Alunorte Alumina do Norte do Brasil SA criada em 1973

num acordo entre Brasil e Japatildeo pertencia a Vale e localiza-se no estado

do Paraacute A Vale foi privatizada em 1997 e em 2011 negociou as accedilotildees

da Alunorte com a Norsk Hydro ASA

- A ENEVA antiga MPX tendo como principais acionistas a

empresa alematilde EON com 362 e o empresaacuterio brasileiro Eike Batista

com 285 Eacute a maior geradora de energia eleacutetrica privada do Brasil

- A Companhia de Geraccedilatildeo Teacutermica de Energia Eleacutetrica

(CGTEE) constituiacuteda em 1997 pela Uniatildeo tornou-se uma empresa do

Sistema Eletrobraacutes em 2000 Em 2009 assinou um contrato com as

empresas Alstom Power Systems SA ndash France e com a Alstom Brasil

Energia e Transporte Ltda para recuperaccedilatildeo de caldeiras

- A estatal Companhia Paranaense de Energia (COPEL) foi criada

em 1954 abrindo seu capital em abril de 1994

- A Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) eacute uma empresa

puacuteblica criada em 2004 e tem por finalidade prestar serviccedilos na aacuterea de

estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energeacutetico

Destaca-se nas empresas citadas um nuacutemero consideraacutevel de

empresas estrangeiras Conveacutem ressaltar aqui que as mineradoras

102

beneficiadoras e transportadoras natildeo constam nesse item por terem

influecircncia principalmente nos estados e regiotildees produtoras

353 Segmentos sociais

Os trabalhadores do setor mineral encontram-se organizados na

Associaccedilatildeo Nacional de Servidores do Departamento Nacional de

Produccedilatildeo Mineral (ANSDNPM) nos Sindicatos Metabase dentre

outros Jaacute os trabalhadores ligados ao carvatildeo mineral natildeo contam com

uma associaccedilatildeo especiacutefica em niacutevel nacional mas estatildeo organizados em

sindicatos estaduais A posiccedilatildeo dos trabalhadores em relaccedilatildeo ao carvatildeo

mineral eacute de apoio atuando em parceria com os segmentos econocircmicos

O que estaacute em jogo para os trabalhadores eacute a manutenccedilatildeo dos postos de

trabalho e seu sustento (MILANEZ et al 2013)

Os afetadosatingidosameaccedilados enfrentam dificuldades de

vaacuterias ordens no acesso agrave informaccedilatildeo falta de conhecimento teacutecnico-

cientiacutefico espaccedilo de debate restrito etc Na maioria das vezes as

decisotildees sobre empreendimentos de geraccedilatildeo de energia satildeo alimentadas

pela siacutendrome do ldquoapagatildeordquo e os direitos das populaccedilotildees atingidas

parecem ferir o ldquodireitordquo da maioria que precisa de energia

(BERMANN 2001) Mas apesar de todas as dificuldades os

afetadosatingidosameaccedilados pelo setor da mineraccedilatildeo se organizam em

frentes de defesa apoiadas por vaacuterias entidades sediadas em vaacuterias

escalas do local ao global Somam-se aiacute entidades religiosas sindicais

movimentos ambientais movimentos em defesa dos direitos humanos

movimentos indiacutegenas dentre outros Em 2012 surgiu o Movimento

Popular frente agrave Mineraccedilatildeo (MAM) e em 2013 surgiu o Comitecirc

Nacional em Defesa dos Territoacuterios Frente agrave Mineraccedilatildeo Faz parte do

Comitecirc a Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para a Assistecircncia Social e Educacional

(FASE) que atua desde 1961 pela democracia o Instituto de Estudos

Socioeconocircmicos (INESC) criado em 1979 e tem como principal frente

agrave questatildeo da cidadania a Conferecircncia Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB) o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) a

Articulaccedilatildeo dos Povos Indiacutegenas do Brasil (APIB) o Instituto Brasileiro de Anaacutelises Sociais e Econocircmicas (IBASE) entre outros (OLIVEIRA

2013) No caso especiacutefico do carvatildeo mineral natildeo haacute um movimento

popular ou comitecirc em acircmbito nacional embora tenha relaccedilatildeo com o

movimento e comitecirc acima referidos

103

As ONGs e representantes da comunidade acadecircmica tecircm um

papel de parceria com esses movimentos Vaacuterias publicaccedilotildees

demonstram a preocupaccedilatildeo com a questatildeo do carvatildeo mineral o

Greenpeace reprova o chamado ldquocarvatildeo limpordquo e os investimentos feitos

nesse setor (YAMAOKA et al 2013) Amigos da Terra Brasil publicou

Carvatildeo combustiacutevel de ontem com dados atualizados sobre os impactos

do carvatildeo mineral no Brasil (MONTEIRO 2008) A FASE apoiada

pela Fundaccedilatildeo Ford e pela Heinrich Boumlll Stiftung publicou em 2012 o

livro Novo marco legal da mineraccedilatildeo no Brasil Para quecirc Para

Quem (MARLERBA 2012) O IBASE com o apoio da Fundaccedilatildeo Ford

lanccedilou em 2013 Quem eacute quem nas discussotildees do novo coacutedigo da mineraccedilatildeo (OLIVEIRA 2013) Com um caraacuteter mais articulador

aparece o Foacuterum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) desde 1990 e a Rede

Brasileira de Justiccedila Ambiental a partir de 2001

Os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais natildeo tecircm um

posicionamento homogecircneo em relaccedilatildeo a criacutetica ou continuidade da

exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral diferente da posiccedilatildeo dos segmentos

econocircmicos todos contam com contradiccedilotildees internas e externas As

relaccedilotildees estabelecidas nos segmentos e os diferentes posicionamentos de

segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais seratildeo examinados ao longo

dos proacuteximos capiacutetulos

36 SITUACcedilAtildeO ATUAL E DESAFIOS

O objetivo do capiacutetulo foi o de tratar a gestatildeo de recursos

comuns colocando ecircnfase no carvatildeo mineral Pela importacircncia

geopoliacutetica e econocircmica os recursos natildeo renovaacuteveis satildeo de competecircncia

do Ministeacuterio das Minas e Energia mesmo apoacutes a criaccedilatildeo do Ministeacuterio

do Meio Ambiente Dessa forma se a gestatildeo dos recursos naturais no

Brasil se pautou durante um longo periacuteodo pela preservaccedilatildeo e pela

conservaccedilatildeo os recursos naturais natildeo renovaacuteveis natildeo participaram desse

movimento A apropriaccedilatildeo e uso dos recursos naturais natildeo renovaacuteveis

passaram ao largo da regulaccedilatildeo dos recursos comuns

O segmento do carvatildeo mineral aleacutem da preocupaccedilatildeo com os

impactos socioambientais sofreu na deacutecada de 1990 com o corte dos

subsiacutedios e reorientou sua produccedilatildeo para a geraccedilatildeo de energia

termeleacutetrica Tambeacutem na geraccedilatildeo de energia eleacutetrica os novos

104

empreendimentos movidos a carvatildeo mineral passaram por um periacuteodo

sem entrar nos leilotildees de energia sendo incluiacutedos novamente em 2013

A inclusatildeo do carvatildeo mineral nos leilotildees e a reforma do Coacutedigo

de Mineraccedilatildeo demonstram a forte articulaccedilatildeo entre parte dos segmentos

poliacuteticos e econocircmicos Os segmentos sociais tecircm aiacute um grande desafio

Uma possibilidade jaacute explorada pelo movimento ambiental eacute a

interface entre direitos ambientais e direitos humanos Eacute preciso cada

vez mais politizar o tema da mineraccedilatildeo do carvatildeo mineral e da energia

Mineraccedilatildeo por quecirc Como Para quem Energia por quecirc Como Para

quem Natildeo existem respostas uacutenicas mas se parte dos segmentos

poliacuteticos e econocircmicos fazem valer seus interesses como ficam os

interesses dos segmentos sociais

Com a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente atraveacutes da avaliaccedilatildeo

de impacto ambiental e a Constituiccedilatildeo de 1988 surgiram novos espaccedilos

de participaccedilatildeo vistos como uma grande conquista pelo movimento

ambiental Um ponto chave para a questatildeo ambiental eacute o avanccedilo das

praacuteticas democraacuteticas E o campo de lutas por direitos envolve todas as

escalas

No Quadro 5 a seguir foi feita uma siacutentese dos principais

aspectos tratados ao longo do capiacutetulo que favorecem e questionam a

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral

Quadro 5 - Siacutentese dos pontos que favorecem e questionam a

amplicaccedilatildeo da geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo

mineral por macro variaacutevel

MACRO

VARIAacuteVEIS

ASPECTOS QUE

FAVORECEM A

AMPLIACcedilAtildeO

ASPECTOS QUE

QUESTIONAM A

AMPLIACcedilAtildeO

Dinacircmicas de

desenvolvimento

- Papel central do Estado

em assegurar os interesses

privados na gestatildeo de

recursos comuns e na

poliacutetica energeacutetica

- Fragmentaccedilatildeo da gestatildeo

de recursos comuns os

recursos renovaacuteveis satildeo da

competecircncia do MMA e os

recursos natildeo renovaacuteveis satildeo

da competecircncia do MME

- Discussatildeo mundial sobre

mudanccedila ambiental global

- Brasil como fornecedor

de commodities minerais

energeacuteticas e agriacutecolas e

- Atuaccedilatildeo do movimento

ambiental

105

- Privatizaccedilatildeo do setor

eleacutetrico

- subsiacutedios aos combustiacuteveis

foacutesseis

- Matriz energeacutetica

brasileira considerada limpa

em relaccedilatildeo a outros paiacuteses

justifica a ampliaccedilatildeo do uso

de combustiacuteveis foacutesseis e

- Visatildeo do planejamento

energeacutetico eacute aumentar a

oferta de energia eleacutetrica

Atributos fiacutesicos

e tecnoloacutegicos

- Disponibilidade do

recurso

- Evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

- Neutralidade ldquodardquo e

confianccedila ldquonardquo tecnologia

- Ecircnfase na produccedilatildeo e natildeo

na eficiecircncia energeacutetica

- O Brasil natildeo tem uma

cultura do carvatildeo mineral a

atividade estaacute restrita ao sul

do paiacutes

- Mineraccedilatildeo impede outros

usos do solo

- Evoluccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo

garante minimizaccedilatildeo dos

impactos socioambientais

- Escolhas teacutecnicas satildeo

escolhas poliacuteticas natildeo satildeo

neutras

- Necessidade de aumento

da eficiecircncia energeacutetica

Regras em uso - Desregulamentaccedilatildeo e

flexibilizaccedilatildeo das leis

(Coacutedigo de Mineraccedilatildeo)

- A CFEM faz com que o

governo em todos os seus

niacuteveis administrativos

ganhe com a exploraccedilatildeo

mineral

- Participaccedilatildeo tutelada

- Avanccedilo nas leis

(Exigecircncia da AIA nos

licenciamentos)

- Ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo via audiecircncia

puacuteblica accedilatildeo civil puacuteblica

etc

- Relaccedilatildeo entre direitos

ambientais e direitos

humanos

Arena de accedilatildeo

(Caracterizaccedilatildeo

dos envolvidos

na gestatildeo)

- Parte dos segmentos

poliacuteticos tecircm parcerias com

os segmentos econocircmicos

atraveacutes de doaccedilotildees de

campanha e atraveacutes da

atuaccedilatildeo de parlamentares na

Frente Parlamentar Mista

em Defesa do Carvatildeo

Mineral

- Parte dos segmentos

poliacuteticos possuem

instacircncias participativas e

destaca-se tambeacutem a

atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico

- Os segmentos sociais

exceto o movimento

sindical estatildeo organizados

106

- Os segmentos econocircmicos

estatildeo organizados de vaacuterias

formas (sindicato

associaccedilatildeo instituto

cacircmara consoacutercio) e as

empresas exceto a COPEL

e a EPE satildeo

majoritariamente de capital

estrangeiro

- Nos segmentos sociais

destaca-se o apoio dos

sindicatos agrave causa do carvatildeo

mineral

e atuantes no

questionamento da

ampliaccedilatildeo da energia

termeleacutetrica movida a

carvatildeo mineral

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na macro variaacutevel arena de accedilatildeo a variaacutevel da democracia

apresenta limites relacionadas aos problemas da democracia

representativa e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo aos espaccedilos existentes Nas

oportunidades destacam-se a organizaccedilatildeo dos segmentos sociais (no

MAM e no Comitecirc Nacional em Defesa dos Territoacuterios Frente agrave

Mineraccedilatildeo) nas redes que unem ONGs academia e

afetadosatingidosameaccedilados e as publicaccedilotildees (Quadro 6)

Quadro 6 ndash Limites e oportunidades do sistema democraacutetico no

Brasil VARIAacuteVEL LIMITES OPORTUNIDADES

Fortalecimento do

sistema

democraacutetico

- Democracia

representativa

- Reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo aos

espaccedilos existentes

- Organizaccedilatildeo dos Segmentos

sociais

- Redes unindo ONGs

academia e

afetadosatingidos

ameaccedilados

- Publicaccedilotildees

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Se a aprendizagem social adaptativa eacute chave nesse processo para

que ela ocorra defende-se a hipoacutetese de que o fortalecimento do sistema

democraacutetico se faz necessaacuterio A compreensatildeo da ampliaccedilatildeo da energia

107

termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral aleacutem das evidecircncias descritas

nesse capiacutetulo depende tambeacutem da investigaccedilatildeo dos processos do

ponto de vista do exerciacutecio da democracia em todas as escalas espaciais

e entre os segmentos poliacuteticos econocircmicos e sociais A questatildeo passa

pelo modo como os recursos satildeo explorados mas coloca tambeacutem em

questatildeo os objetivos e a direccedilatildeo do desenvolvimento (MELUCCI

2001)

4 CARVAtildeO MINERAL EM SANTA CATARINA

Eacute o duplo resultado da extraccedilatildeo do carvatildeo bens e

riquezas de um lado pirita e restos de homens de

outro (VOLPATO 1984 p 16)

A gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina foi marcada pela

apropriaccedilatildeo privada dos recursos e seu uso serviu principalmente ao

crescimento econocircmico As poliacuteticas ambientais por sua vez foram

condicionadas e limitadas pelos interesses poliacuteticos e econocircmicos e o

oacutergatildeo responsaacutevel a FATMA adotou uma postura de defesa das causas

ambientais sem desestruturar o crescimento econocircmico Nesse contexto

o discurso do carvatildeo foi habilmente sustentado do ponto de vista

material cultural psicoloacutegico e simboacutelico (CAROLA 2004)

O segmento do carvatildeo mineral alternou desde as primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX periacuteodos de crescimento e periacuteodos de crise Os

periacuteodos de crescimento amparados por incentivos do governo federal

e os momentos de crise associados a momentos de crise na esfera

governamental Isso levou os segmentos econocircmicos da regiatildeo sul

catarinense a se articularem cada vez mais com os segmentos poliacuteticos

visando a proteccedilatildeo do segmento e a continuidade da mineraccedilatildeo do

carvatildeo no Sul de Santa Catarina Uma das estrateacutegias mais recentes eacute a

construccedilatildeo da USITESC

Cerca de 95 do carvatildeo mineral extraiacutedo na regiatildeo tem como

destino a geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica Se observados os dados sobre

geraccedilatildeo e consumo de energia eleacutetrica em Santa Catarina o estado natildeo eacute

autossuficiente Em 2012 o estado produziu 16963 Gigawatt-hora

(GWh) consumiu 21601 GWh O consumo industrial ficou em 9312

GWh 431 do total consumido no estado e o consumo residencial foi

de 4699 GWh 218 do total consumido (ANEEL 2014 EPE 2013)

O carvatildeo mineral foi responsaacutevel pelo equivalente a 35 da eletricidade

gerada em Santa Catarina (ALESC 2013)

Existem fortes argumentos para que a geraccedilatildeo de energia

termeleacutetrica se amplie contudo o histoacuterico de impactos socioambientais

poderia ser impeditivo Buscando aprofundar a reflexatildeo sobre os

argumento proacute e contra a ampliaccedilatildeo o objetivo deste capiacutetulo eacute tratar da

gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina com destaque agrave gestatildeo do

carvatildeo mineral considerando as macro variaacuteveis presentes no modelo de

110

anaacutelise de gestatildeo de recursos comuns (HESS OSTROM 2005

OAKERSON 1992 POLSKI OSTROM 1992)

Inicialmente eacute apresentada uma breve siacutentese de como foi se

organizando a gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina tendo

como eixo central o oacutergatildeo responsaacutevel pelas questotildees ambientais no

estado a FATMA Na sequecircncia as seccedilotildees contextualizam o carvatildeo

mineral na trajetoacuteria de desenvolvimento do Sul de Santa Catarina e

tratam das mudanccedilas ocorridas na extraccedilatildeo do carvatildeo mineral bem

como de seus impactos na regiatildeo Satildeo ainda discutidas as regras em uso

incorporando as alteraccedilotildees recentes do Coacutedigo Estadual do Meio

Ambiente de Santa Catarina e eacute feita uma breve caracterizaccedilatildeo da arena

de accedilatildeo com uma descriccedilatildeo dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais envolvidos na gestatildeo do recurso A forma como a gestatildeo de

recursos comuns se organiza em Santa Catarina revela aspectos

importantes para a compreensatildeo da ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica

bem como aspectos que ldquocoloquem em chequerdquo a continuidade da

atividade carboniacutefera

41 ldquoCombinandordquo crescimento econocircmico e proteccedilatildeo ambiental

Santa Catarina fez parte da histoacuteria do Brasil num primeiro

momento como territoacuterio de passagem para o gado gauacutecho e gerava

produtos primaacuterios para satisfazer as necessidades locais Na segunda

metade do seacuteculo XIX foram implantadas as primeiras induacutestrias do

estado A industrializaccedilatildeo catarinense teve em seu iniacutecio uma estreita

ligaccedilatildeo com os movimentos migratoacuterios da Alemanha e Itaacutelia jaacute que os

imigrantes tinham formaccedilatildeo intelectual e profissional e viveram a

modernizaccedilatildeo provocada pela Revoluccedilatildeo Industrial Destacaram-se

nesse periacuteodo a induacutestria tecircxtil alimentar e madeireira e o uso

energeacutetico do carvatildeo vegetal (THEIS 1988)

No final do seacuteculo XIX o estado ainda tinha uma economia

predominantemente agriacutecola e foram os produtos primaacuterios que

possibilitaram a geraccedilatildeo de capital para o investimento na induacutestria Na

histoacuteria de Santa Catarina dois marcos se destacaram na disputa pela

hegemonia na apropriaccedilatildeo dos recursos comuns o Genociacutedio Indiacutegena e

a Guerra do Contestado A desobstruccedilatildeo das aacutereas contestadas e

daquelas ocupadas pelos Carijoacute Xokleng e Kaingang foram

fundamentais para ampliar a apropriaccedilatildeo privada dos recursos naturais

111

(BORINELLI 1998) Aleacutem disso para sustentar o processo de

industrializaccedilatildeo em Santa Catarina no iniacutecio do seacuteculo XX ocorreu a

instalaccedilatildeo de pequenas usinas hidraacuteulicas e o aumento no uso do carvatildeo

mineral Na Primeira Guerra Mundial o carvatildeo mineral passou a ter

destaque possibilitando o surgimento da induacutestria carboniacutefera (THEIS

1988)

Ateacute a deacutecada de 1960 a regulaccedilatildeo dos recursos comuns foi

marcada pelo poder federal Todavia no campo econocircmico o estado

catarinense assumiu para si diversas funccedilotildees na promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico Data dessa eacutepoca a criaccedilatildeo do Banco

Estadual de Santa Catarina a Caixa Estadual de Santa Catarina do

Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina da

Universidade para o Desenvolvimento de Santa Catarina e a instalaccedilatildeo

de 46 escritoacuterios locais da Associaccedilatildeo de Creacutedito e Assistecircncia Rural de

Santa Catarina (ACARESC) e a Companhia Telefocircnica de Santa

Catarina (BORINELLI 1998) O sistema poliacutetico por sua vez teve um

predomiacutenio conservador relacionado principalmente com a dominaccedilatildeo

oligaacuterquica As lideranccedilas empresariais encontravam-se acomodadas nos

grandes partidos (CARREIRAtildeO 1990)

O crescimento econocircmico somado a uma regulaccedilatildeo dos recursos

naturais que privilegiava o acesso privado deu forma agrave crise ambiental

que teve lugar em Santa Catarina apoacutes a deacutecada de 1970 O consumo de

energia eleacutetrica com o processo de industrializaccedilatildeo catarinense

aumentou sensivelmente O consumo final de energia do setor industrial

ficou numa meacutedia de 60 O modelo de desenvolvimento

industrializante de Santa Catarina implicou natildeo apenas num elevado

consumo de energia mas tambeacutem numa exploraccedilatildeo inadequada da

natureza (THEIS 1988)

No Governo Konder Reis em 1975 foi criada a Secretaria de

Tecnologia e Meio Ambiente (SETMA) o Conselho Estadual de

Tecnologia e Meio ambiente (CETMA) e a FATMA na eacutepoca

Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Tecnologia e Meio Ambiente A FATMA esteve

vinculada a SETMA ateacute sua extinccedilatildeo em 1977 Para o Governo Konder

Reis a finalidade baacutesica da SETMA era ldquoservir numa primeira fase ao

desenvolvimento do Estadordquo Dentre as principais preocupaccedilotildees

ambientais estavam os serviccedilos de aacutegua e esgoto e contraditoriamente o

aumento da produccedilatildeo mineral e da oferta de madeira (BORINELLI

1998)

112

Todas as unidades de conservaccedilatildeo estaduais foram criadas no

periacuteodo de 1975 a 1983 sob a influecircncia direta de Raulino Reitz Parque

Estadual da Serra Tabuleiro (1975) Reserva Bioloacutegica Estadual de

Sassafraacutes (1977) Parque Estadual da Serra Furada e Reserva Bioloacutegica

da Canela Preta (1980) e Reserva Bioloacutegica Estadual de Aguaiacute (1983)

(BORINELLI 1998 MASSIGNAN 1995)

O primeiro secretaacuterio da SETMA foi Augusto Batista Pereira

empresaacuterio do setor carboniacutefero A preocupaccedilatildeo principal da SETMA no

primeiro ano foi de implantar uma Usina Sideruacutergica no Sul do Estado

Nessa eacutepoca foi construiacuteda a Usina Teacutermica Jorge Lacerda a Induacutestria

Carboquiacutemica Catarinense (ICC) e a proposta da Sideruacutergica

Catarinense Havia tambeacutem uma preocupaccedilatildeo com a poluiccedilatildeo industrial

com a balneabilidade e com os recursos hiacutedricos no geral (BORINELLI

1998 MASSIGNAN 1995)

Da segunda parte da deacutecada de 1970 ateacute meados da deacutecada de

1980 a agenda ambiental foi se ampliando passando a exigir da

FATMA respostas mais consistentes (BORINELLI 1998) O intervalo

de tempo compreendido entre 1979 a 1982 marcou o fim do periacuteodo de

maior crescimento econocircmico de Santa Catarina Durante o periacuteodo

conservador do Governo Estadual e no novo contexto democraacutetico a

poliacutetica ambiental sofreu um grande desgaste com a crise econocircmica e

fiscal

As forccedilas conservadoras continuaram atuantes com a eleiccedilatildeo de

Esperidiatildeo Amin para governador (1983-1987) e os problemas

ambientais continuaram divorciados de outras poliacuteticas setoriais

(econocircmicas de ciecircncia e tecnologia minerais) O licenciamento

ambiental entrou como atividade inovadora e a FATMA na condiccedilatildeo

de fundaccedilatildeo passava a imagem de independecircncia em relaccedilatildeo ao estado

o que na praacutetica natildeo acontecia e tornava difusa a responsabilidade sobre

a poliacutetica ambiental (BORINELLI 1998) Entre os anos de 1983 e 1987

o oacutergatildeo diretamente envolvido com o Planejamento Ambiental no

Estado de Santa Catarina era o Gabinete de Planejamento (GAPLAN)

(SDS 2014)

Mesmo sendo baseada na pequena propriedade rural Santa Catarina sofreu com o enfraquecimento da pequena produccedilatildeo rural

aumentando o ecircxodo rural e consequentemente os problemas urbanos

Em termos socioambientais intensificaram-se os processos de

degradaccedilatildeo ecossistecircmica mau uso do solo falta de saneamento

impacto do turismo nas zonas costeiras etc (VIEIRA CUNHA 2002)

113

A incapacidade de resolver a contento estas tensotildees inaugurava o

reconhecimento de uma crise ambiental em Santa Catarina e uma crise

institucional da FATMA Nos municiacutepios foram criados os Conselhos

Municipais de Defesa Ambiental (CONDEMA) oacutergatildeos consultivos de

assessoramento das Prefeituras Os membros do CONDEMA eram

escolhidos pelos Prefeitos Em 1983 foram criados trecircs escritoacuterios

regionais da FATMA em Joinville Chapecoacute e Joaccedilaba totalizando

quatro com o escritoacuterio de Criciuacutema criado em 1979 Apesar disso as

poliacuteticas ambientais continuaram condicionadas e limitadas pelos

interesses poliacuteticos e econocircmicos (BORINELLI 1998)

Na linha da natildeo responsabilizaccedilatildeo durante muito tempo os

empresaacuterios do segmento do carvatildeo mineral atuaram livremente na

regiatildeo Sul de Santa Catarina gerando o maior passivo ambiental do

estado Em 1983 a FATMA foi incumbida de licenciar e fiscalizar essa

atividade fazendo um acordo com as empresas que assumiram o

compromisso de instalar equipamentos e modificar processos visando a

diminuiccedilatildeo dos impactos Mesmo assim treze anos depois em 1996 o

diretor da FATMA veio a puacuteblico declarar que natildeo era possiacutevel

identificar os responsaacuteveis pelos impactos na regiatildeo e que a sociedade

pagaria o custo da recuperaccedilatildeo cerca de 70 milhotildees de doacutelares

(BORINELLI 1998)

Nos anos 1990 proliferaram denuncias de corrupccedilatildeo envolvendo

oacutergatildeos ambientais federais e estaduais em processos de licenciamento

apontando para a crise do Estado a fragilidade da democracia e dos

mecanismos de controle puacuteblico das instituiccedilotildees O aumento da procura

por licenciamento ambiental trouxe agrave FATMA uma posiccedilatildeo mais

influente entre os segmentos econocircmicos e poliacuteticos e aumentou

tambeacutem sua autonomia financeira atraveacutes dos licenciamentos

ambientais Apesar disso sua trajetoacuteria estaacute marcada por uma atuaccedilatildeo na

defesa das causas ambientais sem desestruturar o desenvolvimento

econocircmico (BORINELLI 2013 2007)

114

42 O sul catarinense uma trajetoacuteria marcada pelo carvatildeo mineral

A regiatildeo Sul Catarinense eacute formada por 46 municiacutepios agrupados

em trecircs microrregiotildees Araranguaacute8 Criciuacutema

9 e Tubaratildeo

10 Tem como

limites o Oceano Atlacircntico a Leste a mesorregiatildeo da Grande

Florianoacutepolis e Serrana no estado de Santa Catarina e a Mesorregiatildeo

Metropolitana de Porto Alegre e Nordeste Rio-Grandense no estado do

Rio Grande do Sul

Figura 7 ndash Mapa de localizaccedilatildeo da Bacia Carboniacutefera Santa

Catarina

Fonte Concepccedilatildeo de Luciana Butzke Elaborado por Ruy Lucas de

Souza

8 Municiacutepios Araranguaacute Balneaacuterio Arroio do Silva Balneaacuterio Gaivota Ermo

Jacinto Machado Maracajaacute Meleiro Morro Grande Passo de Torres Praia

Grande Santa Rosa do Sul Satildeo Joatildeo do Sul Sombrio Timbeacute do Sul e Turvo 9 Municiacutepios Balneaacuterio Rincatildeo Cocal do Sul Criciuacutema Forquilhinha Iccedilara

Lauro Muller Morro da Fumaccedila Nova Veneza Sideroacutepolis Treviso e

Urussanga 10

Municiacutepios Armazeacutem Braccedilo do Norte Capivari de Baixo Garopaba Gratildeo

Paraacute Gravatal Imaruiacute Imbituba Jaguaruna Lagura Orleans Pedras Grandes

Pescaria Brava Rio Fortuna Sangatildeo Santa Rosa de Lima Satildeo Ludgero Satildeo

Martinho Treze de Maio e Tubaratildeo

115

Os municiacutepios da regiatildeo se dividem em trecircs associaccedilotildees de

municiacutepios a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Extremo Sul Catarinense

(AMESC)11

a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera

(AMREC)12

e a Associaccedilatildeo dos Municiacutepios da Regiatildeo de Laguna

(AMUREL)13

(FECAM 2014) (Figura 7) A regiatildeo possui tambeacutem

quatro Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDR) SDR de

Laguna SDR de Tubaratildeo SDR de Criciuacutema e SDR de Araranguaacute

(SANTA CATARINA 2014a)

Na aacuterea existem quatro feiccedilotildees geoloacutegicas as rochas

cristalinas e metamoacuterficas mais antigas do ldquoembasamento cristalinordquo a

sucessatildeo de rochas sedimentares gondwacircnicas que contecircm as camadas

de carvatildeo os derrames baacutesicos aacutecidos e intermediaacuterios da Formaccedilatildeo

Serra Geral e os sedimentos litoracircneos recentes (SCHEIBE 2000)

Na regiatildeo sul localizam-se duas regiotildees hidrograacuteficas

pertencentes agrave Vertente Atlacircntica a Regiatildeo Hidrograacutefica Sul

Catarinense que tem como bacias hidrograacuteficas a Bacia Hidrograacutefica do

Rio Tubaratildeo e a Bacia Hidrograacutefica do Rio drsquoUna contando com 5733

km2 e a Regiatildeo Hidrograacutefica do Extremo Sul Catarinense tendo como

bacias hidrograacuteficas a Bacia do Rio Urussanga a Bacia Hidrograacutefica do

Rio Araranguaacute e a Bacia Hidrograacutefica do Rio Mambituba contando com

5052 km2 (SANTA CATARINA 2006)

O relevo predominante eacute o forte ondulado e montanhoso com

ocorrecircncia de plano e suave ondulado na planiacutecie costeira Jaacute os solos

predominantes na Regiatildeo Hidrograacutefica Sul Catarinense satildeo os

mediamente profundos de origem graniacutetica pouco feacuterteis e aacutecidos

apresentando pedregosidade Na Regiatildeo Hidrograacutefica Extremo Sul

Catarinense predominam os solos mediamente profundos cascalhentos

11

Municiacutepios filiados Araranguaacute Balneaacuterio Arroio do Silva Balneaacuterio

Gaivota Ermo Jacinto Machado Maracajaacute Meleiro Morro Grande Passo de

Torres Praia Grande Santa Rosa do Sul Satildeo Joatildeo do Sul Sombrio Timbeacute do

Sul e Turvo 12

Municiacutepios filiados Balneaacuterio Rincatildeo Cocal do Sul Criciuacutema Forquilhinha

Iccedilara Lauro Muller Morro da Fumaccedila Nova Veneza Orleans Sideroacutepolis

Treviso e Urussanga 13

Municiacutepios filiados Armazeacutem Braccedilo do Norte Capivari de Baixo Gratildeo

Paraacute Gravatal Imaruiacute Imbituba Jaguaruna Laguna Pedras Grandes Pescaria

Brava Rio Fortuna Sangatildeo Santa Rosa de Lima Satildeo Ludgero Satildeo Martinho

Treze de Maio e Tubaratildeo

116

com baixa fertilidade de origem graniacutetica e sedimentar (SANTA

CATARINA 2006)

Na regiatildeo predomina a Floresta Tropical Atlacircntica e a Vegetaccedilatildeo

Litoracircnea contando com trecircs Unidades de Conservaccedilatildeo estaduais o

Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (criado em 1975) o Parque

Estadual da Serra Furada (1980) e a Reserva Bioloacutegica Estadual do

Aguaiacute (1983) e duas Unidades de Conservaccedilatildeo Federais o Parque

Nacional de Satildeo Joaquim (1961) e a Aacuterea de Proteccedilatildeo Integral da Baleia

Franca (2000) (SANTA CATARINA 2006)

Em 2010 a regiatildeo contava com uma populaccedilatildeo de 906927

habitantes e uma densidade populacional de 944 habkm2 Em 2009 a

movimentaccedilatildeo econocircmica segundo a composiccedilatildeo do PIB foi de R$ 147

bilhotildees que equivale a 113 do PIB estadual ocupando a quinta

posiccedilatildeo no ranking estadual entre as nove macrorregiotildees (SEBRAE

2013a)

A ocupaccedilatildeo do sul do Brasil contou com a presenccedila de grupos

caccediladores-coletores (aproximadamente 8000 anos) pescadores-

coletores (6000 e 4000 anos) ceramistas TaquaraItarareacute e Guarani e

horticultores (1000 anos) (CAMPOS et al 2013) Em 1877 chegaram

os italianos seguidos de poloneses e alematildees Os primeiros nuacutecleos

coloniais foram Azambuja (1877) Urussanga (1878) Satildeo Joseacute de

Cresciuacutema (1880) Cocal (1885) Nova Veneza (1890) Nova Belluno

(1891) dentre outros As lavras de carvatildeo surgiram em Santa Catarina

no final do seacuteculo XIX por iniciativa de uma empresa britacircnica Ateacute

entatildeo a economia da regiatildeo era agriacutecola A transformaccedilatildeo urbano-

industrial foi estimulada pelo carvatildeo que vinculava-se a ideia de

progresso Eacute marcante a presenccedila do carvatildeo nos hinos das cidades

monumentos festas de Santa Baacuterbara (Protetora dos Mineiros) houve

uma fusatildeo entre a memoacuteria da imigraccedilatildeo e a memoacuteria do carvatildeo

(CAROLA 2004 GOULARTI FILHO LIVRAMENTO 2004a)

A Primeira Guerra Mundial marcou o aumento da produccedilatildeo do

carvatildeo mineral destacando-se a Companhia Carboniacutefera de Araranguaacute

(CBCA) (1917) a Companhia Carboniacutefera Urussanga (1918) e a

Companhia Carboniacutefera Proacutespera (1921) Em 1920 Santa Catarina jaacute contava com alguns elementos importantes para um complexo

carboniacutefero minas ferrovia e porto Em 1924 com a Lei nordm 4801

abordou-se pela primeira vez a possibilidade de construccedilatildeo de uma usina

sideruacutergica no estado Isso se concretizou em 1941 no Governo Getuacutelio

117

Vargas com a fundaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica Nacional (CSN)

(KOPPE COSTA 2008 MORAES 2003)

Nos periacuteodos referentes ao Plano de Metas (1956-1960) e Plano

Nacional do Desenvolvimento (1974 a 1978) o clima estava propiacutecio

para o aumento da produccedilatildeo do carvatildeo mineral No Plano de Metas

surgiu a Sociedade Termoeleacutetrica de Capivari SA (SOLTECA)

passando depois a se chamar Complexo Termoeleacutetrico Jorge Lacerda

constituiacuteda em 1957 entrou em operaccedilatildeo em 1965 No periacuteodo do Plano

Nacional do Desenvolvimento foi construiacuteda a ICC e o Complexo Jorge

Lacerda foi ampliado (KOPPE COSTA 2008 MORAES 2003)

O primeiro boom do setor foi na ocasiatildeo da Primeira Guerra

Mundial e depois durante a Segunda Guerra Mundial com a produccedilatildeo

aumentando em 300 Com o fim da Segunda Guerra o governo

acabou com as cotas e o setor entrou em crise A reaccedilatildeo do segmento do

carvatildeo mineral foi a ldquobatalha do carvatildeordquo14

e o governo reagiu criando a

CEPCAM e retornando agraves cotas Em 1973 com a crise do petroacuteleo o

setor passou novamente por um boom O auge da mineraccedilatildeo foi entre

1982 a 1985 No periacuteodo aacuteureo do carvatildeo poucas vozes denunciavam as

peacutessimas condiccedilotildees de trabalho tudo em nome do progresso pois o

carvatildeo mineral representava a consolidaccedilatildeo da induacutestria de base no

Brasil De 1970 em diante onze empresas pertencentes a empresaacuterios

locais passaram a explorar o carvatildeo mineral (CAROLA 2004

GOULARTI FILHO 2002)

Ateacute 1990 o Sul de Santa Catarina tinha a primazia em termos de

volume de produccedilatildeo nuacutemero e mecanizaccedilatildeo de minas trabalhadores

empregados e valores econocircmicos entrando em crise a partir daiacute com

sua desregulamentaccedilatildeo no Governo Collor O que precisa ser destacado

eacute que a crise da deacutecada de 1990 natildeo foi a ldquocrise do carvatildeordquo As

induacutestrias de ceracircmica vestuaacuterio e plaacutestico localizadas no Sul tambeacutem

sofreram com a recessatildeo de 1990 a 1992 (BEacuteRZIN 2005 GOULARTI

FILHO 2002 MORAES 2003)

A deacutecada de 1990 foi marcada pelo fechamento e desestatizaccedilatildeo

das induacutestrias do complexo carboniacutefero e eliminaccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais O lavador de Capivari foi fechado em 1992 a ICC

14

A ldquobatalha do carvatildeordquo compreende a adoccedilatildeo de estrateacutegias por parte dos

segmentos econocircmicos envolvidos com o carvatildeo mineral visando pressionar e

convencer o governo federal a apoiar a continuidade da atividade (CAROLA

2010)

118

passou para o controle da Petrobraacutes em 1993 A CSN foi privatizada em

1993 e a Companhia Proacutespera propriedade da CSN foi vendida para a

Nova Proacutespera A Ferrovia Teresa Cristina foi privatizada em 1996 e o

Complexo Jorge Lacerda em 1998 (BEacuteRZIN 2005 GOULARTI

FILHO 2002 MORAES 2003)

O setor carboniacutefero foi cedendo espaccedilo para a induacutestria de

revestimento ceracircmico de plaacutesticos e descartaacuteveis do vestuaacuterio de

calccedilados e metal-mecacircnica Em 1985 a atividade do carvatildeo era a que

mais empregava na regiatildeo sul com 10536 trabalhadores Em 2000

passou para a quinta posiccedilatildeo com 2752 trabalhadores empregados

(GOULARTI FILHO 2005) Em 2010 as atividades econocircmicas que

mais se destacaram foram Induacutestria de transformaccedilatildeo com 3395

estabelecimentos e 58652 trabalhadores seguida por serviccedilos com

16971 estabelecimentos e 47956 trabalhadores em terceiro Comeacutercio

com 7062 estabelecimentos e 34467 trabalhadores construccedilatildeo civil

com 828 estabelecimentos e 6641 trabalhadores induacutestria extrativa

mineral com 78 estabelecimentos e 4083 trabalhadores As atividades

que mais empregavam vestuaacuterio minerais natildeo metaacutelicos (ceracircmica)

alimentar e plaacutestico (FIESC 2012)

Em 2012 as mineradoras empregavam em Santa Catarina 4042

trabalhadores no Paranaacute 358 e no Rio Grande do Sul 734 trabalhadores

Jaacute o faturamento para o mesmo ano foi de R$ 49231200000 (Tabela 3)

(SATC 2012)

Tabela 3 - Faturamento do Segmento do Carvatildeo Mineral 2012

Estado Total (R$)

Paranaacute 2602336257

RG Sul 29354141523

S Catarina 49231200000

Total de R$ 81187677780

Fonte SATC (2012 p 11)

Jaacute a arrecadaccedilatildeo da CFEM para o ano de 2013 ficou em R$

358664403 contando os municiacutepios de Treviso (R$ 356903710)

Lauro Muller (R$ 1570791) e Urussanga (R$ 189902) para um total de R$ 18589306884 (DNPM 2014)

Aleacutem de ocupar o primeiro lugar em faturamento e na

arrecadaccedilatildeo da CFEM Santa Catarina tambeacutem ocupa o primeiro lugar

na produccedilatildeo de carvatildeo bruto considerando os trecircs estados do Sul do

Brasil conforme dados da Tabela 4

119

Tabela 4 - Produccedilatildeo de carvatildeo bruto (ROM) de 2009 a 2012

ESTADOS PRODUCcedilAtildeO ROM (t)

2009 2010 2011 2012

Santa Catarina 8208063 6278327 6570292 6097496

Rio Grande do Sul 4585050 5010779 5153199 5134217

Paranaacute 351930 293329 344161 315131

Brasil 13145043 11582435 12067652 11546844

SCBrasil () 6244 5421 5445 5281

Ranking de SC 1ordm 1ordm 1ordm 1ordm

Fonte Fiesc (2012 p 68) SATC (2012)

O segmento do carvatildeo mineral no Sul de Santa Catarina apesar

do destaque na produccedilatildeo do carvatildeo bruto teve ao longo dos uacuteltimos

anos sua participaccedilatildeo diminuiacuteda em nuacutemero de empregos Isso

demonstra uma maior diversificaccedilatildeo econocircmica e poderia representar a

possibilidade de reconversatildeo da atividade Contudo as accedilotildees do

segmento do carvatildeo mineral e dos segmentos poliacuteticos caminham para a

continuidade e ampliaccedilatildeo da atividade e natildeo para sua reconversatildeo

Um importante passo para o questionamento da atividade

carboniacutefera foi dado em 1993 O passivo ambiental resultante da

atividade carboniacutefera foi alvo de uma accedilatildeo civil puacuteblica (processo

938000533-4) Os reacuteus da accedilatildeo foram as empresas carboniacuteferas seus

diretores e soacutecios majoritaacuterios do Estado de Santa Catarina e da Uniatildeo

totalizando 24 reacuteus (MPF 2012)

A sentenccedila foi declarada em 05012000 tendo como resultado a

condenaccedilatildeo dos reacuteus A eles foi solicitado a elaboraccedilatildeo de ldquoum projeto

de recuperaccedilatildeo da regiatildeo que compotildee a Bacia Carboniacutefera do Sul do Estadordquo contemplando ldquoas aacutereas de depoacutesitos de rejeitos aacutereas

mineradas a ceacuteu aberto e minas abandonadas bem como o

desassoreamento fixaccedilatildeo de barrancas descontaminaccedilatildeo e retificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua aleacutem de outras obras que visem amenizar os danos

sofridos principalmente pela populaccedilatildeo dos municiacutepios-sede da extraccedilatildeo e do beneficiamentordquo (MPF 2012)

Apoacutes os acordos e imposiccedilotildees judiciais os passivos ambientais

foram distribuiacutedos de acordo com a responsabilidade das empresas

(Tabela 5)

120

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de passivos ambientais em relaccedilatildeo agraves

empresas

RESPONSAacuteVEL HECTARES

CSN 1336 26

Uniatildeo 1215 24

Rio Deserto 571 11

Catarinense 522 10

Criciuacutema 457 9

Cocalit 181 4

Outras empresas 807 16

Fonte MPF (2012)

As aacutereas terrestres a recuperar totalizam 5094 hectares em 217

diferentes aacutereas da Bacia Carboniacutefera O cronograma de recuperaccedilatildeo

compreende o periacuteodo de 2012 a 2020 e um total de 3726 hectares

(Tabela 6) (MPF 2012)

Tabela 6 - Cronograma de recuperaccedilatildeo dos passivos ambientais

Ano conclusatildeo Hectares a serem

recuperadas

Acumulado da

recuperaccedilatildeo

Obras jaacute concluiacutedas e assim

consideradas apoacutes vistorias

526 526

2012 1142 1667

2013 205 1872

2014 528 2400

2015 141 2542

2016 560 3102

2017 84 3186

2018 71 3257

2019 382 3639

2020 87 3726

3726

Fonte MPF (2012)

121

Os 1365 hectares restantes natildeo dispotildeem de cronogramas

definidos e representam aacutereas cuja recuperaccedilatildeo eacute de incumbecircncia da

Uniatildeo (89 deles) (MPF 2012)

A trajetoacuteria do Sul eacute marcada pelo carvatildeo mineral mas para aleacutem

da ldquocultura do carvatildeordquo nascem possibilidades ligadas agrave diversificaccedilatildeo

econocircmica que rompem com a dependecircncia econocircmica do carvatildeo

43 Da extraccedilatildeo manual agrave mecanizaccedilatildeo das minas

A mecanizaccedilatildeo das minas comeccedilou na deacutecada de 1970 e com

ela o fim do ldquovelho mineirordquo que dominava todo o processo de

produccedilatildeo Com a mecanizaccedilatildeo iniciou-se a divisatildeo teacutecnica do trabalho e

aumentou a poluiccedilatildeo Na extraccedilatildeo manual do carvatildeo a pneumoconiose

afetava 5 a 8 passando a 10 a 12 com a mecanizaccedilatildeo das minas

Somadas a pneumoconiose bronquites crocircnicas doenccedilas de pele e

ansiedade (CHOINACKI 1992) A tecnologia dessa forma foi ldquo()

implantada na induacutestria natildeo como serva dos trabalhadores mas como

instrumento que tecircm como fim a acumulaccedilatildeo de capitalrdquo (VOLPATO

1984 p 43)

Volpato (2001) destaca trecircs momentos distintos um primeiro

momento que compreende o periacuteodo de 1913 a 1976 no qual a extraccedilatildeo

de carvatildeo era artesanal sem agregar maiores recursos tecnoloacutegicos um

segundo periacuteodo de 1976 a 1981 no qual procurou-se agregar recursos

tecnoloacutegicos para aumentar a produccedilatildeo e um terceiro periacuteodo de 1981 a

1988 no qual verificaram-se os malefiacutecios da tecnologia para o meio

ambiente sauacutede e seguranccedila do trabalhador ldquoAos poucos os operadores

foram sentindo alguns efeitos prejudiciais das novas maacutequinas - A

desagregaccedilatildeo das praacuteticas nas frentes de trabalho pela agilidade e

domiacutenio da maacutequina sobre o processordquo (VOLPATO 2001 p 34)

A mecanizaccedilatildeo por um lado facilitou as praacuteticas de trabalho

poupando a forccedila fiacutesica do mineiro mas por outro com a intensificaccedilatildeo do processo aumentaram os impactos na sauacutede do trabalhador e no meio

ambiente A pneumoconiose natildeo era reconhecida como doenccedila

profissional o que fazia com que os mineiros escondessem os sintomas

e prejudicassem ainda mais sua sauacutede (VOLPATO 2001) Aleacutem das

doenccedilas pulmonares acontecem tambeacutem acidentes de trabalho Em

122

outubro de 2013 os mineiros fizeram uma paralisaccedilatildeo apoacutes a morte de

um colega na mina Fontanella em Treviso Foi o segundo acidente com

morte em menos de trecircs meses e o nono nos uacuteltimos cinco anos (G1SC

2013)

44 Regras em uso

Em grande medida as leis estaduais se articulam agraves leis federais

Nessa seccedilatildeo satildeo apresentados alguns casos em que a lei estadual difere

da lei federal Um primeiro exemplo eacute o Projeto de Lei nordm 026632005

de autoria do Deputado Estadual Julio Garcia que entrou em tramitaccedilatildeo

em 2005 O Projeto defendia a dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental e Relatoacuterio de Impacto Ambiental para a atividade de

pequeno porte de extraccedilatildeo de carvatildeo mineral em aacutereas de ateacute dois

hectares e meio Para tanto contava com a seguinte fundamentaccedilatildeo

O art 12 sectsect 1ordm a 3ordm da Resoluccedilatildeo CONAMA n

237 de 19 de dezembro 1997 permite que o

oacutergatildeo ambiental competente no caso a FATMA

se necessaacuterio estabeleccedila procedimentos

especiacuteficos e simplificados para o licenciamento

de atividades cujas caracteriacutesticas e peculiaridades

importem em pequeno potencial de impacto

ambiental ou ainda o licenciamento uacutenico e

simplificado para atividades integrantes de planos

e programas voluntaacuterios de gestatildeo ambiental

(SANTA CATARINA 2005 p 2)

Como os impactos do carvatildeo foram considerados de ldquopequeno

potencialrdquo pelos membros da Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina

(ALESC) o Projeto de Lei foi transformado na Lei nordm 18052 de 26 de

janeiro de 2007 (SANTA CATARINA 2007)

Outro exemplo foi a assinatura do Decreto em 2013 que reduziu

o Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadoria (ICMS) de 25 para 3 na

venda de energia eleacutetrica para novos empreendimentos beneficiando

principalmente as termeleacutetricas a carvatildeo O Decreto tem como objetivo favorecer a competitividade do carvatildeo mineral catarinense nos proacuteximos

leilotildees de energia eleacutetrica A-5 (ALESC 2013)

Um uacuteltimo exemplo eacute o Coacutedigo Estadual do Meio Ambiente de

Santa Catarina que continua cercado de muitos pontos polecircmicos

123

(SALVADOR 2009 SANTOS 2014) No Coacutedigo aprovado em 2009 o

Governador em exerciacutecio Luiz Henrique da Silveira fez severas criacuteticas

ao Coacutedigo Ambiental Brasileiro que resulta de uma medida provisoacuteria

que ele chamou de ldquofilha bastarda dos Decretos-Lei da Ditadurardquo

(SILVEIRA 2009 p 9) concebido sem amplitude democraacutetica

Segundo ele o Coacutedigo Ambiental Catarinense levou cinco anos para ser

elaborado e envolveu debates e audiecircncias puacuteblicas

Nosso Coacutedigo foi alvo de poucas mas barulhentas

reaccedilotildees e incompreensotildees contraacuterias ao

desenvolvimento sustentaacutevel Houve quem

ameaccedilasse mandar prender os honestos e

indefesos agricultores que lavrassem suas terras a

menos de trinta metros da mata ciliar

(SILVEIRA 2009 p 9)

A alusatildeo aos agricultores se justifica na medida em que um dos

pontos mais polecircmicos do Coacutedigo eacute a reduccedilatildeo da mata ciliar de 30

metros como prevecirc o Coacutedigo Florestal para 5 metros em propriedades

de menos de cinco hectares

O Coacutedigo natildeo trata de forma especiacutefica o carvatildeo mineral mas

traz novidades em relaccedilatildeo a flexibilizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo do processo

de licenciamento A Seccedilatildeo II do Coacutedigo estabelece prazos para a

concessatildeo das licenccedilas trecircs meses para a LAP e nos casos em que

houver EIARIMA e audiecircncia puacuteblica o prazo seraacute de quatro meses

trecircs meses para a LI e dois meses para a LO Quanto aos prazos de

validade das licenccedilas cinco anos para a LP seis anos para a LI e de

quatro a dez anos para a LAO (SANTA CATARINA 2009b)

Em 2013 entrou em tramitaccedilatildeo o Projeto de Lei 030542013 que

trouxe mudanccedilas ao Coacutedigo Ambiental de Santa Catarina (SANTA

CATARINA 2013) O Projeto foi transformado na Lei nordm 16342 de 21

de janeiro de 2014 A principal mudanccedila eacute a possibilidade de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em aacuterea rural e urbana de edificaccedilotildees atividades

e demais formas de ocupaccedilatildeo em Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente

desde que aprovadas pelo Municiacutepio (SANTA CATARINA 2014b) Conveacutem ressaltar que a revisatildeo do Coacutedigo Ambiental de SC e a defesa

do carvatildeo mineral na produccedilatildeo termeleacutetrica foram as duas principais

bandeiras da Assembleia Legislativa de Santa Catarina em 2013

124

45 Envolvidos na gestatildeo

Na sequecircncia faz-se uma breve descriccedilatildeo dos envolvidos na

gestatildeo de recursos comuns em Santa Catarina lembrando que aparecem

aqui os envolvidos que constam nos documentos e publicaccedilotildees

consultadas

451 Segmentos poliacuteticos

O governador em exerciacutecio Raimundo Colombo investiu em sua

campanha de 2010 R$ 323669211 Natildeo houve nenhuma doaccedilatildeo de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral diretamente ao candidato Mas o

Comitecirc Financeiro Uacutenico do Democratas (DEM) que tambeacutem repassou

recursos ao candidato recebeu R$ 6000000 da Carboniacutefera Nossa

Senhora do Caravagio Ltda (TSE 2013) Jaacute os representantes eleitos se

dividem na Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina (Deputados

Estaduais) e nas Cacircmaras Municipais (Vereadores) As relaccedilotildees entre

carvatildeo mineral e poliacutetica seratildeo aprofundadas no proacuteximo capiacutetulo

A FATMA tambeacutem faz parte dos segmentos poliacuteticos Aleacutem do

seu papel descrito na seccedilatildeo 41 um outro ponto merece ser destacado

De 2000 ateacute 2014 periacuteodo que compreende o licenciamento da

USITESC passaram pela FATMA na funccedilatildeo de presidente Suzana

Maria Cordeiro Trebien Seacutergio Joseacute Grando Jacircnio Wagner Constante

Carlos L Kreuz Murilo Xavier Flores e Gean Loureiro Desses Seacutergio

Joseacute Grando recebeu na eleiccedilatildeo de 2006 quando concorreu a Deputado

Estadual R$ 200000 da Sul Catarinense Mineraccedilatildeo e R$ 3000000 da

Tractebel e Jean Marques Loureiro recebeu R$ 10000000 da

Tractebel quando concorreu a prefeito do municiacutepio de Florianoacutepolis

(TSE 2013)

Inclui-se tambeacutem nos segmentos poliacuteticos o Ministeacuterio Puacuteblico

Estadual que atua em parceria com o Ministeacuterio Puacuteblico Federal no

acompanhamento da accedilatildeo civil puacuteblica do carvatildeo (MPF 2012) e no

acompanhamento dos processos de licenciamento

452 Segmentos econocircmicos

Os segmentos econocircmicos se organizam no Sindicato da Induacutestria

da Extraccedilatildeo de Carvatildeo do Estado de Santa Catarina (SIESESC) criado

125

em 1989 em Criciuacutema e na Associaccedilatildeo Beneficente da Induacutestria

Carboniacutefera de Santa Catarina (SATC)15

As principais empresas que atuam no segmento tecircm origem na

proacutepria regiatildeo A Carboniacutefera Metropolitana SA iniciou suas atividades

em 1890 em Nova Veneza A empresa tem sede em Criciuacutema eacute

detentora das maiores reservas de carvatildeo mineral do paiacutes e explora trecircs

minas no municiacutepio de Treviso Outra empresa que atua na regiatildeo haacute

mais de noventa anos criada em 1918 eacute a Carboniacutefera Rio Deserto

Ltda administrada pela famiacutelia Zanette hoje na terceira geraccedilatildeo A

Carboniacutefera conta com minas nos municiacutepios de Lauro Muller Treviso

Criciuacutema e Iccedilara A Carboniacutefera Criciuacutema SA tecircm origem na fusatildeo da

Carboniacutefera Caeteacute Ltda e Carboniacutefera Cocal Ltda em 1943 Com sede

em Criciuacutema a carboniacutefera explora o carvatildeo no municiacutepio de

Forquilhinha A Comin amp Cia atua no rebeneficiamento de rejeitos

antigos Suas atividades iniciaram em 1984 e sua unidade de

beneficiamento localiza-se em Criciuacutema Na deacutecada de 1980 foi criada

tambeacutem a Cooperminas a partir da falecircncia da CBCA A Cooperminas eacute

uma cooperativa de trabalhadores da mineraccedilatildeo que explora o carvatildeo em

Forquilhinha A Carboniacutefera Belluno Ltda iniciou suas atividades em

1991 tem sede em Sideroacutepolis e aleacutem de trabalhar na extraccedilatildeo e

beneficiamento do Carvatildeo atua tambeacutem no transporte e na

comunicaccedilatildeo A empresa eacute administrada pelo Grupo Salvaro e conta

com reservas de 140 milhotildees de toneladas de carvatildeo mineral e minas em

Treviso e Sideroacutepolis Em 1999 a Carboniacutefera Catarinense Ltda passou

a explorar e beneficiar o carvatildeo em duas minas localizadas em Lauro

Muller A Carboniacutefera Sideroacutepolis Ltda opera a Usina de

Beneficiamento Lageado no municiacutepio de Urussanga A Companhia

Energeacutetica Meridional pertence agrave Tractebel Energia SA e tem sede em

Florianoacutepolis A Gabriella Mineraccedilatildeo foi fundada em 2004 a partir da

dissoluccedilatildeo da empresa Coque Catarinense Ltda (COCALIT) A

Minageo atua desde 1986 em sondagens e obras subterracircneas entrando

para a extraccedilatildeo do carvatildeo em 1997 Em 2000 assinou um contrato de

fornecimento de carvatildeo para a Tractebel Energia neste ano mudando

seu nome para Mineraccedilatildeo Santa Augusta em (SIESESC 2008)

15

A SATC foi criada em 1959 como Sociedade de Assistecircncia aos

Trabalhadores do Carvatildeo e tinha como objetivo a preparaccedilatildeo de matildeo-de-obra

qualificada e assistecircncia social As carboniacuteferas contribuem com 1 de seu

faturamento para a manutenccedilatildeo da instituiccedilatildeo (SATC 2014)

126

453 Segmentos sociais

O movimento mineiro teve iniacutecio em 1920 com uma greve na

CBCA Em 1944 surgiu em Criciuacutema a Associaccedilatildeo dos Trabalhadores

na Induacutestria Extrativa do Carvatildeo Em 1945 a associaccedilatildeo passou a ser

sindicato Nos anos 1950 foram fundados sindicatos mineiros em Lauro

Muller (1951) TubaratildeoCapivari (1953) Urussanga (1957) e Rio Maina

(1961) A primeira greve apoacutes o surgimento dos sindicatos aconteceu

em 1958 seguida de outras em 1959 1960 1961 e 1963 (GOULARTI

FILHO LIVRAMENTO 2004b)

Aleacutem das muitas greves um dos maiores feitos do movimento

sindical mineiro foi a ocupaccedilatildeo da CSN e o gerenciamento da massa

falida da CBCA e da Mineraccedilatildeo Barro Branco De 1945 a 1957 os

mineiros natildeo encontraram no sindicato um espaccedilo de luta De 1957 a

1964 formou-se um sindicalismo baseado na luta e na resistecircncia O

sindicato denunciou as condiccedilotildees precaacuterias de trabalho a exploraccedilatildeo

sofrida pela categoria e a falta de seguranccedila nas minas Passando por

momentos difiacuteceis durante a ditadura militar de 1964 a 1978 o

sindicalismo passou por uma letargia vindo a se reorganizar em 1988

apoiando quatro greves da CBCA e da Proacutespera (CHOINACKI 1992

VOLPATO 2001)

Os mineiros apoiam a causa do carvatildeo mineral e as mineradoras

se o assunto for a questatildeo ambiental A categoria natildeo se envolve em

movimentos ambientais

A negaccedilatildeo ou o silecircncio e a passividade dos

mineiros em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo ambiental

resultante da induacutestria carboniacutefera eacute a expressatildeo

de um mecanismo de defesa reforccedilando a

seguranccedila dos trabalhadores na manutenccedilatildeo do

emprego e da sobrevivecircncia como objetivo mais

imediato e realista (VOLPATO 2001 p 132)

Essas ideias aleacutem de serem defendidas pelos mineiros satildeo

apoiadas por poliacuteticos ligados ao movimento sindical e agrave luta histoacuterica dos trabalhadores Destacam-se Luci Choinacki Joseacute Paulo Serafim e

Milton Mendes de Oliveira que adotam um discurso de apoio ao carvatildeo

mineral em funccedilatildeo de sua importacircncia social (CHOINACKI 1992)

127

A regiatildeo sul de Santa Catarina contou com vaacuterios movimentos

sociais que atuaram e atuam contra a mineraccedilatildeo ao longo da sua

histoacuteria Em 1986 em Sideroacutepolis surgiu o Movimento Ecoloacutegico de

Sideroacutepolis (MES) que atuou ateacute 1989 Tambeacutem em 1986 em Tubaratildeo

surgiu o Movimento Ecoloacutegico Tubaronense (MOVET) que atuou ateacute

1996 Havia um grande envolvimento da igreja catoacutelica que se

consolidou atraveacutes da criaccedilatildeo da Pastoral da Ecologia ligada agrave Diocese

de Tubaratildeo O objetivo da Pastoral da Ecologia era ldquodespertar uma

consciecircncia ecoloacutegica no homem do sul de Santa Catarina destacando a

importacircncia da preservaccedilatildeo da natureza dom de Deus para todos para

que possa atuar comunitariamente na recuperaccedilatildeo do meio ambienterdquo

(Diocese de Tubaratildeo citada por SANTOS 2008 p 81-2) A Pastoral da

Ecologia organizou romarias ecoloacutegicas a primeira aconteceu em

Criciuacutema em 1986 com o tema ldquoNatureza a ganacircncia te destruiu Noacutes te

reconstruiremosrdquo a segunda em Sideroacutepolis em 1988 com o tema ldquoPela

vida pela paz Contra a induacutestria da morterdquo e a terceira em Tubaratildeo em

1991 com o tema ldquoA Matildee Natureza pede socorro O povo exige a

recuperaccedilatildeo da vida na regiatildeo sulrdquo

Uma iniciativa mais recente de mobilizaccedilatildeo e discussatildeo

aconteceu apoacutes o Furacatildeo Catarina em 2004 Exatamente um ano

depois em 2005 aconteceu o 1ordm Encontro da Regiatildeo Sul sobre fenocircmenos naturais adversidades e mudanccedilas climaacuteticas suas causas

efeitos e necessidades de adaptaccedilatildeo que deu origem ao Manifesto por

Justiccedila Climaacutetica O 2ordm Encontro sobre fenocircmenos naturais adversidades e mudanccedilas climaacuteticas da regiatildeo Sul foi realizado em 6 a

8 de outubro de 2009 A realizaccedilatildeo dos dois eventos coube agrave Cacircmara

Temaacutetica do Meio Ambiente do Foacuterum de Desenvolvimento do Extremo

Sul Catarinense (FDESC) sob a Coordenaccedilatildeo da ONG Soacutecios da

Natureza da AMESC do Nuacutecleo Amigos da TerraBrasil Secretaria de

Desenvolvimento Regional (22ordf SDR) da Prefeitura Municipal de

Araranguaacute (PMA) e do Comitecirc de Gerenciamento da Bacia Hidrograacutefica

do Rio Araranguaacute (CGBHRA) Os eventos tambeacutem receberam apoio das

seguintes organizaccedilotildees e coletivos Assembleia Legislativa do Estado de

Santa Catarina (ALESC) Centro de Apoio Socioambiental (CASA)

Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA) Amigos da Terra

Internacional Defesa Civil de Santa Catarina Movimento Proacute-

Araranguaacute (MPA) Instituto da Cidadania de Araranguaacute (ICA) Proacute-

Comitecirc da Bacia do Mampituba e Federaccedilatildeo de Entidades Ecologistas

Catarinenses (FEEC) (SOacuteCIOS DA NATUREZA 2009 2005) Os dois

encontros demonstram o interesse e a organizaccedilatildeo socioinstitucional da

128

aacuterea afetada em torno da discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas

relacionada ao mesmo tempo com problemas jaacute existentes no territoacuterio

O Manifesto por justiccedila climaacutetica elaborado em 2005 eacute um ponto de

partida para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas e justiccedila ambiental

em Santa Catarina Trata-se de uma discussatildeo local que se conecta com

o global sobre um problema atual que se conecta com problemas jaacute

existentes na regiatildeo (MALUF ROSA 2009)

Outra iniciativa importante eacute a dos Foacuteruns Sul Ambiental que

tecircm como objetivo fortalecer um espaccedilo democraacutetico juntando pessoas

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees populares na discussatildeo sobre os problemas

socioambientais do Sul Destaca-se aiacute a participaccedilatildeo de professores e

professoras da UNESC e UFSC aleacutem de convidados e convidadas de

outras universidades sediadas em outros estados brasileiros (SANTOS

2008)

A regiatildeo tambeacutem eacute palco de conflitos Dois casos emblemaacuteticos

envolvendo a resistecircncia dos agricultores aconteceram em 1996 em

Criciuacutema na localidade chamada Morro do Estevatildeo e Albino e em

2003 em Iccedilara na localidade de Santa Cruz e Esperanccedila Neste segundo

conflito havia 300 famiacutelias envolvidas aproximadamente mil pessoas

Essas pessoas sobreviviam da agricultura habitavam o local haacute mais de

cem anos e o tamanho de suas propriedades era na meacutedia de vinte

hectares O conflito era de natureza econocircmica (mineraccedilatildeo versus

agricultura) social (envolvimento e mobilizaccedilatildeo social regional) e

ambiental (degradaccedilatildeo) (NASCIMENTO BURSZTYN 2010 p 79)

Nesses conflitos e nas discussotildees regionais destacam-se

- A ONG Soacutecios da Natureza que surgiu em 1980 em

Araranguaacute e se institucionalizou em 1996 tendo uma atuaccedilatildeo regional

(SANTOS 2008)

A ONG trabalha no sentido de buscar em suas

vaacuterias fontes de accedilatildeo a preservaccedilatildeo da natureza e

uma melhor qualidade de vida para a regiatildeo sul de

Santa Catarina o que assinala sua performance de

conotaccedilatildeo socioambiental No entanto por estar

do mesmo modo voltada a accedilotildees que

constantemente envolvem o papel do Estado

tambeacutem pode ser caracterizada por suas

suposiccedilotildees poliacuteticas contra o poder estabelecido

(SANTOS 2008 p 124)

129

- A FEEC que surgiu em 1989 tendo como objetivo unificar e

fortalecer a luta ecoloacutegica catarinense (SANTOS 2008)

- A atuaccedilatildeo de pesquisadores da UNESC e UFSC bem como

pesquisadores sediados em outras universidades do Brasil

- O Grupo de Pesquisa ldquoMemoacuteria e Cultura do Carvatildeo em Santa

Catarinardquo que foi formado em 2000 e inscrito no CNPq em 2002 Ele

reuacutene professores e alunos da UNESC Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (UFRGS) e CETEM do Rio de Janeiro que estudam

temas relacionados agraves atividades carboniacuteferas O objetivo principal do

Grupo eacute discutir criticamente a cultura a histoacuteria e a economia do

carvatildeo

Ainda nos segmentos sociais incluem-se

- O IPAT vinculado agrave UNESC responsaacutevel pela confecccedilatildeo de

EIARIMA para muitas mineradoras da regiatildeo

- Os meios de comunicaccedilatildeo locais e regionais que natildeo publicam

informaccedilotildees que prejudiquem o segmento carboniacutefero jaacute que muitos satildeo

de propriedade de mineradores e outros recebem valores na forma

patrociacutenio (SANTOS 2008)

46 Situaccedilatildeo atual e desafios

As poucas mudanccedilas ocorridas ateacute o momento satildeo

frutos da pressatildeo exercida pelo movimento

ambiental como um todo na qual seus integrantes

protagonizam um conflito que revela o quanto a

voz do lsquoinimigorsquo fala mais alto (SANTOS 2008

p 160)

A intenccedilatildeo do capiacutetulo foi tratar da gestatildeo de recursos comuns em

Santa Catarina com ecircnfase no carvatildeo mineral O resgate agrave trajetoacuteria do

desenvolvimento catarinense mostra uma ecircnfase na apropriaccedilatildeo privada

dos recursos comuns subordinada ao crescimento econocircmico A

preocupaccedilatildeo ambiental por muito tempo foi considerada marginal

curiosamente ateacute mesmo pelo oacutergatildeo ambiental estadual que incentivou

a expansatildeo da atividade carboniacutefera Essa condiccedilatildeo marginal tambeacutem se

mostra nas regras em uso O Coacutedigo Ambiental de Santa Catarina eacute um

exemplo disso Vaacuterios pontos flexibilizaram a lei ambiental federal para

beneficiar os segmentos econocircmicos

130

O Sul de Santa Catarina tem disponibilidade de carvatildeo mineral e

ao longo de sua trajetoacuteria de desenvolvimento o vem explorando a

despeito dos impactos socioambientais causados pela atividade Nas

uacuteltimas deacutecadas a centralidade desta vem cedendo lugar a outra

atividades econocircmicas Todavia o viacutenculo cultural eacute muito forte Mas

tambeacutem satildeo fortes as vozes contraacuterias agrave exploraccedilatildeo do carvatildeo Os

segmentos sociais se organizam regionalmente e satildeo responsaacuteveis por

movimentos eventos e por uma articulaccedilatildeo em rede com organizaccedilotildees

sediadas em outros estados do Brasil

No Quadro 7 eacute feita uma siacutentese dos principais pontos abordados

ao longo do capiacutetulo que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

energia termeleacutetrica

Quadro 7 ndash Aspectos que favorecem e questionam a ampliaccedilatildeo da

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral Santa

Catarina

MACRO

VARIAacuteVEIS

ASPECTOS QUE

FAVORECEM A

AMPLIACcedilAtildeO

ASPECTOS QUE

QUESTIONAM A

AMPLIACcedilAtildeO

Dinacircmicas de

desenvolvimento

- Fragilidade institucional da

FATMA

- Dependecircncia da matriz

energeacutetica catarinense ndash 35

da energia eleacutetrica

consumida no estado vem do

carvatildeo mineral

- Possibilidade de

conexatildeo do carvatildeo

com discussotildees mais

amplas

Atributos fiacutesicos e

tecnoloacutegicos

- Cultura do carvatildeo no Sul

de Santa Catarina

- Disponibilidade do recurso

- Bom faturamento do

segmento do carvatildeo mineral

- Aumento da produccedilatildeo com

a mecanizaccedilatildeo do processo

de trabalho

- Recuperaccedilatildeo do passivo

ambiental como ponto

positivo para a continuidade

da exploraccedilatildeo do recurso

- Aumento da

produccedilatildeo associado a

degradaccedilatildeo

socioambiental

- Diversificaccedilatildeo

econocircmica da regiatildeo

Sul de Santa

Catarina

Regras em uso - Coacutedigo Estadual do Meio

Ambiente estabelece prazos

para as licenccedilas ambientais

131

- Dispensa do EIARIMA

para a atividade de extraccedilatildeo

do carvatildeo mineral de

pequeno porte

- Reduccedilatildeo do ICMS de 25

para 3

Arena de accedilatildeo

(Caracterizaccedilatildeo dos

envolvidos na gestatildeo)

- Parceria de parte dos

segmentos poliacuteticos com os

segmentos econocircmicos

- Parte dos segmentos

sociais os trabalhadores

costumam apoiar a causa do

carvatildeo

- A UNESC que tambeacutem faz

parte dos segmentos sociais

elaborou o EIARIMA

- Miacutedia (segmentos sociais)

natildeo divulga notiacutecias que

prejudiquem o segmento

carboniacutefero

- Parte dos segmentos

sociais ocupam

espaccedilos de

participaccedilatildeo

instituiacutedos

- Existecircncia de

movimentos sociais

regionais

- Parcerias com

ONGs e

Universidades

- Observatoacuterio do

Carvatildeo

- Foacuteruns de

discussatildeo

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Na macro variaacutevel arena de accedilatildeo a variaacutevel da democracia

apresenta limites relacionados ao apoio dos segmentos poliacuteticos

(Governo Estadual e FATMA) e de parte dos segmentos sociais

(Movimento Sindical IPATUNESC e miacutedia) agrave causa do carvatildeo

mineral Nas possibilidades destacam-se a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico a organizaccedilatildeo dos segmentos sociais nas redes que unem

ONGs academia e afetadosatingidosameaccedilados e as publicaccedilotildees

(Quadro 8)

132

Quadro 8 ndash Limites e possibilidades do sistema democraacutetico em

Santa Catarina VARIAacuteVEL LIMITES POSSIBILIDADES

Fortalecimento

do sistema

democraacutetico

- Parte dos segmentos

poliacuteticos (Governo

estadual e FATMA)

apoiam a atividade

- Parte dos segmentos

sociais (Movimento

sindical e o

IPATUNESC) apoiam a

causa do carvatildeo mineral

- Miacutedia apoia o segmento

carboniacutefero

- Atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico

- Organizaccedilatildeo de parte dos

segmentos sociais

- Redes unindo ONGs

academia e

afetadosatingidosameaccedilados

- Publicaccedilotildees

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar do forte viacutenculo entre parte dos segmentos poliacuteticos

segmentos econocircmicos e parte dos segmentos sociais em defesa do

carvatildeo mineral outra parte dos segmentos sociais demonstra

aprendizado social adaptativo ao coordenar suas accedilotildees no niacutevel regional

Em uma regiatildeo na qual a atividade estaacute tatildeo arraigada e muitos

municiacutepios e pessoas dependem dela para o seu sustento a mobilizaccedilatildeo

regional eacute uma forma criativa e articulada de enfrentar um problema que

eacute histoacuterico e que se perpetua nas relaccedilotildees poliacuteticas existentes Estas

seratildeo tratadas nos capiacutetulos cinco e seis tanto na democracia

representativa (via eleiccedilotildees) quanto na democracia participativa

(audiecircncias puacuteblicas no processo de licenciamento) para elucidar ainda

mais os limites e as margens de manobra colocadas nos capiacutetulos trecircs e

quatro fundamentais no delineamento de alternativas ao carvatildeo mineral

5 CARVAtildeO MINERAL E POLIacuteTICA EM SANTA CATARINA

ELEICcedilOtildeES E FINANCIAMENTO PRIVADO

Como montanhas de rejeitos soacutelidos compostos de

pirita e enxofre permanece a mesma poliacutetica do

passado patrimonial (TEIXEIRA 1996 p 95)

A histoacuteria do Sul de Santa Catarina estaacute intimamente ligada ao

carvatildeo mineral Dos tempos aacuteureos entre as deacutecadas de 1930 e 1980 agrave

crise dos anos 1990 e do seu ressurgimento no Governo Fernando

Henrique Cardoso com o anuacutencio da construccedilatildeo de novas termeleacutetricas

movidas a carvatildeo mineral Agora em 2013 no Governo Dilma o carvatildeo

nos leilotildees de energia em 2013 As decisotildees nacionais que ora

incentivam o carvatildeo mineral ora dificultam sua exploraccedilatildeo e uso

impactam sensivelmente as regiotildees que tecircm em seu subsolo esse

recurso natural natildeo renovaacutevel Cabe a essas regiotildees se adaptar

preferencialmente influenciando esses contextos mais amplos

No livro Os donos da cidade Joseacute Paulo Teixeira (1996 p 16)

afirma que o complexo carboniacutefero do Sul de Santa Catarina ldquofoi

constituiacutedo a partir de uma ligaccedilatildeo poliacutetico-estrutural entre a esfera

puacuteblica e privadardquo Tendo essa ideia como referecircncia o objetivo do

capiacutetulo eacute identificar relaccedilotildees entre a poliacutetica catarinense e as empresas

que exploram e utilizam o carvatildeo mineral

Para aleacutem dos discursos sobre desenvolvimento econocircmico

seguranccedila energeacutetica e tecnologias natildeo poluentes a hipoacutetese de que se

parte eacute que existe uma reciprocidade entre os interesses dos poliacuteticos ao

receberem doaccedilotildees para suas campanhas eleitorais e os interesses dos

doadores ligados ao carvatildeo mineral Nesse sentido as injusticcedilas

ecoloacutegicas se referem natildeo apenas agrave distribuiccedilatildeo de riscos ambientais

delimitados localmente Elas satildeo condicionadas tambeacutem poliacuteticas e

praacuteticas cujas consequecircncias atravessam fronteiras instituiacutedas e afetam

muacuteltiplas escalas Como jaacute foi ressaltado anteriormente o conceito de

injusticcedila ecoloacutegica designa um sintoma de um processo que envolve a

distribuiccedilatildeo o reconhecimento e a representaccedilatildeo poliacutetica e determina a

distribuiccedilatildeo desigual dos riscos e danos ambientais (HOLIFIELD et al

2009 SCHLOSBERG 2009 e 2004)

Para tanto foram analisados os pronunciamentos da Frente

Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral e as prestaccedilotildees de

contas das eleiccedilotildees de 2002 2004 2006 2008 2010 e 2012 As eleiccedilotildees

de 2004 2008 e 2012 foram eleiccedilotildees municipais e as eleiccedilotildees de 2002

134

2006 e 2010 foram gerais O recorte temporal utilizado se deve a duas

razotildees principais acompanhar as doaccedilotildees durante o periacuteodo em que se

deu o processo de licenciamento da USITESC e o acesso agraves prestaccedilotildees

de contas que teve iniacutecio na eleiccedilatildeo de 2002

O capiacutetulo eacute dividido em trecircs seccedilotildees principais aleacutem dessa

introduccedilatildeo A primeira seccedilatildeo trata dos argumentos presentes nos

discursos poliacuteticos A segunda apresenta os dados sobre doaccedilotildees de

empresas nas eleiccedilotildees gerais e municipais A terceira e uacuteltima seccedilatildeo traz

uma siacutentese dos fatos ausentes dos discursos Os dados apresentados

sugerem um apoio muacutetuo entre os interesses poliacuteticos e privados Os

candidatos de Santa Catarina que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral em suas campanhas satildeo os mesmos que

apoiam a causa do carvatildeo mineral Nesse caso o apoio envolve a

construccedilatildeo de mais uma termeleacutetrica a USITESC a inclusatildeo do carvatildeo

mineral nos leilotildees de 2013 e a reduccedilatildeo de Imposto sobre o ICMS de

25 para 3 na venda de energia eleacutetrica visando melhorar a

competitividade do carvatildeo mineral de Santa Catarina frente a outros

recursos energeacuteticos

51 Os argumentos presentes no discurso dos poliacuteticos

A Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral foi

constituiacuteda no Congresso Nacional em 2005 tendo como principal

objetivo a expansatildeo do uso do carvatildeo mineral na matriz energeacutetica

nacional Datam desse ano quatro pronunciamentos na Cacircmara dos

Deputados Afonso Hamm (Partido Progressista - PPRS) no dia 19 de

outubro Leodegar Tiscoski (PPSC) no dia 2 de novembro Marcus

Vicente (Partido Trabalhista Brasileiro - PTBES) no dia 9 de

novembro e Edinho Bez (PMDBSC) no dia 18 de novembro

As frentes satildeo constituiacutedas por parlamentares que de forma

suprapartidaacuteria se reuacutenem para tratar de uma questatildeo especiacutefica O que

estaacute em jogo eacute a defesa de interesses econocircmicos ou empresariais

corporativos setoriais ou profissionais regionais e ideoloacutegicos dentre

outros No periacuteodo de 2003 a 2007 havia 148 frentes no parlamento

brasileiro (CORADINI 2010)

Em 19 de outubro de 2005 Afonso Hamm (PPRS) em seu

pronunciamento na Cacircmara dos Deputados reforccedilou a importacircncia do

setor para a seguranccedila energeacutetica e para a geraccedilatildeo de empregos em

Santa Catarina e no Rio Grande do Sul Natildeo houve qualquer menccedilatildeo agrave

135

questatildeo socioambiental exceto para falar do carvatildeo mineral como

ldquoreserva de energiardquo O carvatildeo foi colocado como ldquotema de grande

relevacircnciardquo ressaltando-se a importacircncia de buscar a ldquocompetitividade

do setorrdquo atraveacutes de novos projetos para gerar ldquoem torno de 10 mil

empregos na regiatildeo atualmente deprimida econocircmica e socialmenterdquo

(HAMM 2005 p 50549) Os argumentos em defesa do carvatildeo mineral

enaltecem a seguranccedila e a auto-suficiecircncia energeacutetica do Sul e do Brasil

juntamente com outros argumentos de cunho econocircmico

Por sua vez o pronunciamento de Leodegard Tiscoski traz um

histoacuterico do carvatildeo mineral desafios e medidas reinvindicadas pela

Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral Sobre a

questatildeo ambiental a uacutenica menccedilatildeo aparece no seguinte trecho

Principal insumo energeacutetico no iniacutecio do seacuteculo

XX o carvatildeo foi gradualmente perdendo

importacircncia ateacute transformar-se no patinho feio das

nossas fontes energeacuteticas natildeo soacute pelas suas

deficiecircncias naturais mas principalmente pelos

danos ambientais causados pela sua exploraccedilatildeo

(TISCOSKI 2005 p 52894)

Os problemas enfrentados pelo carvatildeo mineral satildeo imputados ao

governo federal como sugere o trecho a seguir ldquoA histoacuteria do carvatildeo

em Santa Catarina eacute uma sucessatildeo de altos e baixos determinados

sempre pela vontade do Governo Federal independentemente de que tal

vontade fosse beneacutefica ou maleacutefica aos interesses estaduaisrdquo

(TISCOSKI 2005 p 52895) Ao Governo Federal eacute atribuiacuteda tambeacutem a

responsabilidade pela estabilidade de empregos retorno de

investimentos e recuperaccedilatildeo do ambiente natural ldquoRelegado agrave proacutepria

sorte o carvatildeo em Santa Catarina passou a conviver com a incerteza do

emprego e mais que tudo com a anguacutestia da perda de renda de milhares

e milhares de famiacutelias da regiatildeo sul de Santa Catarinardquo (TISCOSKI

2005 p 52895)

Somados aos argumentos sobre a importacircncia econocircmica

ressalta-se o carvatildeo mineral como alternativa ao petroacuteleo e agrave

hidroeletricidade A Frente Parlamentar reivindica a isonomia das regras do leilatildeo de energia nova regulamentaccedilatildeo do artigo 13 da Lei nordm

10438 retomada das pesquisas geoloacutegicas e implementaccedilatildeo de projetos

de pesquisa visando um melhor aproveitamento do carvatildeo ldquoO carvatildeo

136

mineral do Brasil natildeo pode ser objeto de atenccedilatildeo por parte do Governo

Federal apenas nos momentos de criserdquo (TISCOSKI 2005 p 52896)

Em seu pronunciamento Marcus Vicente (PTBES) (2005 p

53630) trata o carvatildeo mineral como ldquoitem de alto significado

estrateacutegicordquo ldquofonte energeacutetica segura e confiaacutevelrdquo que ldquosempre foi

colocado em plano secundaacuteriordquo O discurso reforccedila a geraccedilatildeo de

empregos e a seguranccedila energeacutetica Quanto agrave questatildeo ambiental ela eacute

ldquocolocada em duacutevida quando se fala em maior aproveitamento do

carvatildeordquo (VICENTE 2005 p 53630) Haacute uma aposta na pesquisa e no

desenvolvimento tecnoloacutegico que coloca a mineraccedilatildeo como uma

atividade que pode ser feita ldquosem degradaccedilatildeo ambiental nem

comprometimento da sauacutede dos trabalhadoresrdquo Afirma-se que em

1520 anos a energia seraacute gerada com emissatildeo zero e que as aacutereas

degradadas no Brasil jaacute estatildeo sendo recuperadas (VICENTE 2005 p

53631) Segundo este parlamentar o Brasil precisa acompanhar o curso

da histoacuteria

Jaacute Edinho Bez (PMDBSC) fundamenta seus argumentos em uma

reuniatildeo do G-8 na qual se assume que ldquosuprimentos de energia

confiaacuteveis e baratos satildeo essenciais para um forte crescimento

econocircmicordquo (BEZ 2005 p 55746) Ele afirma que o carvatildeo mineral

tem um papel ldquovitalrdquo a desempenhar face ao contingente de pessoas que

ainda natildeo dispotildeem de acesso a energia comercial por ser uma energia

barata O petroacuteleo e o gaacutes natural seriam fontes energeacuteticas inseguras se

comparadas ao carvatildeo mineral A questatildeo ambiental aparece como

desafio que estaacute sendo equacionado pelo investimento em

desenvolvimento tecnoloacutegico Segundo Bez (2005 p 55746) o objetivo

da Frente Parlamentar eacute o de colocar o carvatildeo mineral ldquodefinitivamente

na agenda do Governo Federal com isso induzindo ao desenvolvimento

regional gerando renda e trabalho e aumentando a seguranccedila energeacutetica

vital para o crescimento do Paiacutesrdquo

No intervalo de tempo compreendido entre dezembro de 2005 e

maio de 2011 natildeo houve pronunciamentos da Frente Parlamentar em

Defesa do Carvatildeo Mineral Todavia nesse periacuteodo a Frente manteve a

articulaccedilatildeo natildeo soacute com o segmento produtivo do carvatildeo mineral mas

tambeacutem com o Ministeacuterio das Minas e Energia e o Ministeacuterio da Ciecircncia

e Tecnologia resultando em accedilotildees programas e projetos importantes

para o segmento (AMARAL 2011)

Em 2011 ocorreram apenas dois pronunciamentos um de Edinho

Bez e outro de Delciacutedio do Amaral O pronunciamento de Edinho Bez

137

(PMDBSC) primeiro secretaacuterio da Frente Parlamentar refere-se agrave

posse da Comissatildeo Executiva da referida Frente Ele fala no carvatildeo

mineral como ldquoenergia do futurordquo ldquoresponsaacutevel pela boa qualidade de

vida de centenas de pessoas nas economias mais desenvolvidasrdquo (BEZ

2011 p 20895) Menciona apenas aspectos econocircmicos da induacutestria

carboniacutefera entendida como base do desenvolvimento socioeconocircmico

do Sul de Santa Catarina Ele finaliza o pronunciamento afirmando que

natildeo se poderia abrir matildeo de nenhuma alternativa energeacutetica

Em novembro de 2011 ocorreu a reinstalaccedilatildeo da Frente formada

por 203 deputados federais e 12 senadores e integrada por ex-

parlamentares do Congresso Nacional Deputados Estaduais Prefeitos

Municipais Vereadores Sindicalistas O principal objetivo da Frente em

2011 era a participaccedilatildeo nos leilotildees A-5

A Frente Parlamentar tem como presidentes de honra o Senador

Joseacute Sarney (PMDBAP) e o Deputado Marco Maia (PTRS) Na

Comissatildeo Executiva o Presidente eacute o Senador Delciacutedio do Amaral

(PTMG) Primeiro Vice-Presidente Deputado Afonso Hamm (PPRS)

Segundo Vice-Presidente Senador Paulo Bauer (Partido da Social

Democracia Brasileira - PSDBSC) Primeiro Secretaacuterio Deputado

Edinho Bez (PMDBSC) Segundo Secretaacuterio Deputado Henrique

Fontanta (PTRS) Terceiro Secretaacuterio Deputado Eduardo Sciarra

(DEMPR) e Quarto Secretaacuterio Deputado Ronaldo Zulke (PTRS)

(AMARAL 2011)

Fazem parte do Conselho Consultivo da Frente como Presidente

o Senador Luiz Henrique da Silveira (PMDBSC) e Vice-Presidente

Deputado Ronaldo Benedet (PMDBSC) como membros cooperadores

Fernando Luiz Zancan (Presidente da ABCM) Cesar Weinschenck de

Faria (Presidente do SNIEC) Ruy Hulse (Presidente do SIECESC)

Sereno Chaise (Diretor da CGTEE) Manoel Arlindo Zaroni Torres

(Diretor-Presidente da Tractebel Energia SA) Paulo Monteiro (Diretor

de Sustentabilidade da EBX representando a MPX Energia SA)

Benony Schmitz Filho (Diretor-Presidente da Ferrovia Tereza Cristina

SA ndash FTC) Paulo Camillo Vargas Penna (Presidente do IBRAM) Luiz

Fernando Leone Vianna (Presidente do Conselho de Administraccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Eleacutetrica

ndash APINE) Heacutelio Bunn (Presidente da AMREC e prefeito do municiacutepio

de Lauro Muller) Paulo Roberto Felix Machado (Presidente da

Associaccedilatildeo de Municiacutepios da Regiatildeo Carboniacutefera do Rio Grande do Sul

ndash ASMURC e prefeito de Butiaacute) Genoir Joseacute dos Santos (Presidente da

138

Federaccedilatildeo Interestadual dos Trabalhadores na Induacutestria da Extraccedilatildeo de

Carvatildeo) e Oniro da Silva Camilo (Presidente do Sindicato

Intermunicipal dos Trabalhadores nas Induacutestrias de Extraccedilatildeo de Carvatildeo

Ouro Calcaacuterio Cal e Barro da Regiatildeo Centro-Sul do Estado do Rio

Grande do Sul) (AMARAL 2011) A composiccedilatildeo do conselho

consultivo demonstra que a Frente Parlamentar Mista em Defesa do

Carvatildeo Mineral se assenta em interesses setoriais e empresariais

regionalmente e nacionalmente representados (CORADINI 2010)

Em agosto de 2012 Afonso Hamm fez um pronunciamento cujo

tema era a sustentabilidade da matriz energeacutetica do Brasil e a criaccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Proacute-Carvatildeo (APC) Na sua opiniatildeo ldquoa associaccedilatildeo tem como

propoacutesito estabelecer estrateacutegias de reivindicaccedilatildeo tendo como principal

finalidade a inclusatildeo das usinas termeleacutetricas a carvatildeo mineral nos

leilotildees de energia A-5rdquo (HAMM 2012 p 28704) Mais adiante

esclarece que ldquofalei pessoalmente com a Presidenta Dilma haacute

aproximadamente um ano em Esteio tratando dessa Agendardquo (HAMM

2012 p 28704) Natildeo se fala da questatildeo ambiental a natildeo ser quando eacute

colocada em pauta a inclusatildeo no leilatildeo dos empreendimentos jaacute

instalados e daqueles cuja licenccedila ambiental encontra-se em andamento

Em marccedilo de 2013 Edinho Bez fez seu pronunciamento sobre a

inclusatildeo do carvatildeo mineral no leilatildeo

Sr Presidente meus colegas Parlamentares falo

com satisfaccedilatildeo envaidecido com esta casa e o

proacuteprio Paiacutes pela notiacutecia dada pelo Ministro

Edison Lobatildeo de Minas e Energia com a

autorizaccedilatildeo da Presidente Dilma de que seraacute

incluiacutedo nos proacuteximos leilotildees o carvatildeo mineral

uma fonte de energia uma fonte que garante o

fornecimento de energia natildeo dependeraacute de Satildeo

Pedro natildeo dependeraacute das chuvas natildeo dependeraacute

sequer de uma nem duas ou trecircs Noacutes teremos

mais uma alternativa (BEZ 2013 p 06320)

Bez (2013) ressaltou ainda que o preccedilo do carvatildeo nacional

precisa baixar e para tanto torna-se necessaacuterio reduzir a carga

tributaacuteria Segundo ele o Vice-Governador do Estado de Santa Catarina

Eduardo Moreira jaacute manifestou a disposiccedilatildeo de avanccedilar nessa direccedilatildeo O

resultado dessa disposiccedilatildeo foi a reduccedilatildeo via Decreto em 2013 do ICMS

de 25 para 3 na venda de energia eleacutetrica para novos

empreendimentos beneficiando principalmente as termeleacutetricas a carvatildeo

(ALESC 2013)

139

Ao comentar sobre a posse da nova diretoria da Frente

Parlamentar composta por 182 deputados e senadores presidida pelo

Deputado Federal Afonso Hamm Bez (2013 p 06321) comenta que a

abertura ficou a cargo do presidente da Associaccedilatildeo Brasileira do Carvatildeo

Mineral o ldquoamigordquo Fernando Zancan

Nos pronunciamentos transparece a ecircnfase colocada na promoccedilatildeo

da seguranccedila energeacutetica do Sul e do Paiacutes mediante o aproveitamento do

carvatildeo mineral visto como uma alternativa viaacutevel se comparada agrave

hidroeletricidade ao gaacutes natural e ao petroacuteleo Como argumentos de

defesa o desenvolvimento econocircmico das regiotildees carboniacuteferas de Santa

Catarina e do Rio Grande do Sul parece depender desta atividade

Aspectos socioambientais satildeo apenas tangenciados reconhecendo-se em

alguns momentos que a atividade carboniacutefera causou impactos mas

tambeacutem se admitindo que os mesmos jaacute foram ou estatildeo sendo

resolvidos natildeo devendo se repetir em decorrecircncia dos avanccedilos

tecnoloacutegicos do segmento

52 Panorama das eleiccedilotildees e doaccedilotildees de campanha de 2002 a 2012

Ateacute 1992 a legislaccedilatildeo em vigor proibia a oferta de doaccedilotildees por

parte das empresas Mas as reformas na legislaccedilatildeo apoacutes 1992 tornaram o

sistema mais tolerante apostando na prestaccedilatildeo de contas como forma de

controle puacuteblico Em 1994 o TSE passou a divulgar dados sobre as

candidaturas e contas de campanha Os dados satildeo de responsabilidade

dos candidatos e questiona-se a veracidade dos mesmos vaacuterios satildeo os

casos de financiamentos ilegais corrupccedilatildeo traacutefico de influecircncias

envolvimento com crime organizado que passam a contribuir para a

criacutetica ao financiamento privado Em funccedilatildeo desses problemas o tema

do financiamento poliacutetico tornou-se central no debate recente sobre a

reforma poliacutetica (LEMOS MARCELINO PEDERIVA 2010 SPECK

2005)

Os resultados das eleiccedilotildees indicam fortes viacutenculos com doaccedilotildees e

gastos de campanha quanto maiores as doaccedilotildees e gastos maiores as

chances de o candidato se eleger Os doadores se tornaram tatildeo

fundamentais nas campanhas que tecircm determinado muitas vezes a

proacutepria escolha do candidato A reeleiccedilatildeo apresenta-se como um trunfo

aos candidatos jaacute que o risco do doador eacute menor do que se este

escolhesse um iniciante (LEMOS MARCELINO PEDERIVA 2010)

140

Em contrapartida candidatos tendem a compensar tais investimentos se

e quando eleitos ldquoEacute grande a lista de entidades que satildeo potencialmente

beneficiadas por decisotildees ou medidas administrativas do governo entre

estes os bancosrdquo (SPECK 2005 p 148)

No Brasil satildeo permitidas doaccedilotildees de empresas que possuem

relaccedilotildees contratuais com o Estado natildeo existindo regra que limite a

dependecircncia entre candidato e doador Dados sobre as prestaccedilotildees de

contas demonstram um problema de dependecircncia entre os candidatos e

seus principais financiadores (SPECK 2005)

Na sequecircncia satildeo examinadas as doaccedilotildees das eleiccedilotildees de 2002 a

2012 divididas em eleiccedilotildees gerais e eleiccedilotildees municipais A ecircnfase recai

nas doaccedilotildees realizadas por empresas ligadas ao carvatildeo mineral e sua

relaccedilatildeo com os candidatos de Santa Catarina As doaccedilotildees para

candidatos de outros estados natildeo satildeo tratadas neste capiacutetulo

521 Eleiccedilotildees gerais

No periacuteodo compreendido entre os anos de 2002 e 2012

ocorreram trecircs eleiccedilotildees gerais Constam nos registros do Tribunal

Superior Eleitoral nove empresas relacionadas ao carvatildeo mineral em

Santa Catarina como doadoras

O Complexo Jorge Lacerda que utiliza carvatildeo mineral para

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica pertence agrave Tractebel que tambeacutem eacute

proprietaacuteria das Usinas Hidreleacutetricas de Itaacute Machadinho e Co-geraccedilatildeo

de biomassa em Lages todos situados em Santa Catarina A Carboniacutefera

Metropolitana SA tem 123 anos de existecircncia estaacute sediada em

Criciuacutema e possui parte da USITESC A Carboniacutefera Belluno Ltda foi

fundada em 1991 apoacutes a compra de parte da Companhia Sideruacutergica

Nacional pelo Grupo Salvaro e localiza-se em Sideroacutepolis Aleacutem de

trabalhar na extraccedilatildeo e beneficiamento do Carvatildeo a Carboniacutefera

Belluno tambeacutem atua no transporte e na comunicaccedilatildeo A Mineraccedilatildeo

Castelo Branco Ltda localiza-se em Lauro Muller A Carboniacutefera

Criciuacutema foi fundada em 1943 e tem sede em Criciuacutema A Induacutestria

Carboniacutefera Rio Deserto foi criada em 1918 e localiza-se em Criciuacutema

bem como a Coque Catarinense a Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos e a

Mineraccedilatildeo Santa Augusta

141

A eleiccedilatildeo de 2002 teve como principais doadores a Tractebel

(5007) a Carboniacutefera Metropolitana (1488) e a Carboniacutefera

Belluno (1320) A empresa que mais apoiou candidatos dez no total

foi a Carboniacutefera Metropolitana As demais empresas apoiaram cinco

candidatos ou menos conforme consta na Tabela 7

Tabela 7 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2002

Fonte TSE 2013

Quanto ao montante de doaccedilotildees por candidato em 2002

destacou-se o candidato a governador Esperidiatildeo Amin que recebeu de

quatro empresas 4138 do total de doaccedilotildees O candidato Paulo Roberto

Bauer recebeu de quatro empresas o equivalente a 1182 das doaccedilotildees

Cleacutesio Salvaro recebeu apenas 673 Aleacutem dos trecircs candidatos citados

outros dezesseis candidatos ficaram com 4007 das doaccedilotildees conforme

dados da Tabela 8 As duas uacuteltimas colunas da Tabela 8 relacionam as

doaccedilotildees com a receita total dos candidatos Em quatro dos 19 candidatos

as doaccedilotildees das empresas ligadas ao carvatildeo mineral representam mais de

50 de sua respectiva receita

Nordm

CANDIDATOS

Tractebel Egi South America Ltda 5 PFL PP PPB PSDB 53000000 5007

Carboniacutefera Metropolitana SA 10 PP PMDB PSDB PT PPB PFL 15750000 1488

Carboniacutefera Belluno Ltda 3 PMDB PFL PT 13970000 1320

Mineraccedilatildeo Castelo Branco Ltda 5 PFL PMDB PP PPB PSDB 8467400 800

Carboniacutefera Criciuacutema Ltda 5 PFL PT PSDB PMDB PT 6450000 609

Induacutestria Carboniacutefera Rio Deserto Ltda 5 PFL PMDB PSDB 4050000 383

Coque Catarinense Ltda 2 PFL PMDB 2434000 230

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos Ltda 4 PFL PMDB PP 927000 088

Mineraccedilatildeo Santa Augusta Ltda 1 PP 800000 076

TOTAL 105848400 10000

DOADOR PARTIDOS VALOR R$

142

Tabela 8 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2002 que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees de 2002 o PP recebeu 46 das doaccedilotildees o Partido

da Frente Liberal (PFL) 2147 o PSDB 1352 o PMDB 1027

o PT 477 e o Partido Progressista Brasileiro (PPB) 397

Tabela 9 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2002

Fonte TSE 2013

NO ME PARTIDO CANDIDATURA VALO R R$ RECEITA TO TAL R$

Esperidiatildeo Amin PP Governador 43798600 4138 373920269 1171

Paulo R Bauer PSDB Deputado Federal 12510800 1182 49994468 2502

Clesio Salvaro PFL Deputado Estadual 7120000 673 11296000 6303

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 5266200 498 27320200 1928

Paulo R Bornhausen PFL Senador 4900000 463 198753494 247

Leodegar da C Tiscoski PP Deputado Federal 4892000 462 20432951 2394

Joseacute P Serafim PT Deputado Estadual 4500000 425 7303000 6162

Luiz H da Silveira PMDB Governador 4000000 378 240099527 167

Ivan C Ranzolin PFL Deputado Federal 3000000 283 26017099 1153

Pedro Bittencourt Neto PFL Deputado Federal 2860800 27 13469800 2124

Vanio de Oliveira PPB Deputado Federal 2200000 208 3110990 7072

Celestino RSecco PPB Deputado Estadual 2000000 189 21164000 945

Joatildeo P K Kleinubing PFL Deputado Estadual 2000000 189 10710330 1867

Julio Cesar Garcia PFL Deputado Estadual 2000000 189 4449450 4495

Cezar P de Luca PSDB Deputado Federal 1800000 17 3925683 4585

Ronaldo J Benedet PMDB Deputado Estadual 1350000 128 12097324 1116

Arleu R da Silveira PFL Deputado Estadual 850000 08 890370 9547

Edson C Rodrigues PT Deputado Federal 550000 052 8653600 636

Aceacutelio Casagrande PMDB Deputado Federal 250000 024 1512694 1653

TOTAL 105848400 100

PARTIDO VALOR R$

PP 48690600 46

PFL 22730800 2147

PSDB 14310800 1352

PMDB 10866200 1027

PT 5050000 477

PPB 4200000 397

TOTAL 105848400 100

143

Nas Eleiccedilotildees de 2006 entraram em cena as seguintes empresas

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasileira que atua na regiatildeo Companhia

Energeacutetica Meridional que eacute subsidiaacuteria da empresa Tractebel A

Mendes Terraplanagem Construccedilatildeo e Extraccedilatildeo de Minerais Ltda que

atua na regiatildeo Minageo Ltda de Criciuacutema Sulcatarinense Mineraccedilatildeo e

Artefatos Ltda com sede em Biguaccedilu Carboniacutefera Sideroacutepolis de

Criciuacutema Gabriella Mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis Carboniacutefera Catarinense

Ltda de Lauro Muller Nas eleiccedilotildees de 2006 a Tractebel doou 4038

para onze candidatos a Carboniacutefera Metropolitana 1226 para quatro

candidatos e a Carboniacutefera Criciuacutema 1136 (Tabela 10) O montante

de doaccedilotildees aumentou de R$ 105848400 em 2002 para R$

158506900 em 2006

Tabela 10 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2006

Fonte TSE 2013

Dos 22 candidatos apoiados pelas empresas em 2006 Edson Bez

de Oliveira recebeu 1325 dos recursos de seis empresas Ada Lili

Faraco de Luca recebeu 1262 de duas empresas Luiz Henrique da

Silveira recebeu 1262 de uma empresa e Paulo Roberto Bauer

recebeu 946 de quatro empresas (Tabela 11) Constata-se uma

distribuiccedilatildeo maior das doaccedilotildees jaacute que na Eleiccedilatildeo de 2002 um uacutenico

candidato Esperidiatildeo Amim recebeu 4138 das doaccedilotildees

DOADOR NordmCANDIDATOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora 11 PFL PMDB PP PPS PSDB PT 64000000 4038

Carboniacutefera Metropolitana SA 4 PMDB PP PSDB 19432000 1226

Carboniacutefera Criciuacutema SA 2 PMDB PSDB 18000000 1136

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasil Ltda 7 PFL PMDB PP PPS PT 15555000 981

Cia Energeacutetica Meridional 3 PFL PP PT 14000000 883

Carboniacutefera Catarinense Ltda 2 PFL PP 8183000 516

Carboniacutefera Belluno Ltda 2 PMDB PSDB 6776000 427

A Mendes TerConstr E Extr De

Minerais Ltda 1 PMDB 4000000 252

Minageo Ltda 2 PMDB PT 3288000 207

Sul Catarinense Mineraccedilatildeo e Art 4 PP PPS PSDB 2400000 151

Carboniacutefera Sideroacutepolis Ltda 1 PP 1186500 075

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda 1 PP 1186400 075

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos 1 PMDB 500000 032

TOTAL 158506900 10000

144

Tabela 11 - Candidatosas que receberam doaccedilotildees das empresas

ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2006

Fonte TSE 2013

Em 2006 o PMDB recebeu o maior montante de doaccedilotildees

4104 enquanto na eleiccedilatildeo de 2002 o maior montante foi destinado ao

PP 46 O PSDB aumentou suas captaccedilotildees junto ao lobby do carvatildeo de

1352 em 2002 para 1640 em 2006 O PT de 477 em 2002

para 807 em 2006 O PFL diminuiu de 2147 para 1577 no

periacuteodo Aleacutem do PMDB apareceu na lista tambeacutem o Partido Popular

Socialista (PPS) com 265 (Tabela 12)

NOME PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 21000000 1325 44379023 4732

Ada Lili Faraco de Luca PMDB Deputado Estadual 20000000 1262 62976575 3176

Luiz Henrique da Silveira PMDB Governador 20000000 1262 725548795 276

Paulo Roberto Bauer PSDB Deputado Federal 15000000 946 63272293 2371

Leodegar da Cunha Tiscoski PP Deputado Federal 12263900 774 16487006 7439

Geraldo Cesar Althoff PFL Deputado Federal 11000000 694 113398356 97

Angela Regina Heinzen Amin Helou PP Deputado Federal 10000000 631 25349000 3945

Djalma Vando Berger PSDB Deputado Federal 5000000 315 107978844 463

Gervaacutesio Joseacute da Silva PFL Deputado Federal 5000000 315 95845710 522

Giancarlo Tomelin PSDB Deputado Estadual 5000000 315 14028277 3564

Jorge Catalino Leonardelli Boeira PT Deputado Federal 5000000 315 47519555 1052

Paulo Roberto Barreto Bornhausen PFL Deputado Federal 5000000 315 132260292 378

Ivan Cesar Ranzolin PFL Deputado Federal 4000000 252 23237183 1721

Milton Mendes de Oliveira PT Deputado Federal 4000000 252 18603010 215

Joseacute Paulo Serafim PT Deputado Estadual 3788000 239 19238000 1969

Sergio Joseacute Grando PPS Deputado Estadual 3200000 202 16206665 1974

Antonio Carlos Vieira PP Deputado Estadual 3000000 189 15931786 1883

Acelio Casagrande PMDB Deputado Federal 2055000 13 14020875 1466

Ronaldo Joseacute Benedet PMDB Deputado Estadual 2000000 126 42694345 468

Altair Guidi PPS Deputado Estadual 1000000 063 10547730 948

Joseacute Natal Pereira PSDB Deputado Estadual 1000000 063 13659460 732

Licio Mauro Ferreira da Silveira PP Deputado Estadual 200000 013 10092456 198

158506900 100

145

Tabela 12 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2006

Fonte TSE 2013

Na Eleiccedilatildeo de 2010 cinco empresas aparecem como doadoras A

Tractebel assim como na Eleiccedilatildeo de 2002 e 2006 doou a maior parte

dos recursos 7483 para 27 candidatos de vaacuterios partidos As outras

quatro empresas dividem os 2517 restantes conforme dados

apresentados na Tabela 13

Tabela 13 - Doadores da Eleiccedilatildeo de 2010

Fonte TSE 2013

Os candidatos que receberam o maior montante de doaccedilotildees foram

Angela Amin com 1515 Paulo Roberto Bauer com 1082 e Edson

Bez de Oliveira com 884 (Tabela 14) O nuacutemero de candidatos

apoiados por doaccedilotildees aumentou de 19 candidatos em 2002 para 22 em

2006 e 30 em 2010 Diminuiu tambeacutem a concentraccedilatildeo dos recursos em

relaccedilatildeo ao nuacutemero de candidatos em 2002 os trecircs primeiros candidatos

receberam 5993 das doaccedilotildees em 2006 receberam 3849 e em

2010 3481 Isso demonstra que as empresas passaram a investir em

um nuacutemero maior de candidatos concentrando menos as doaccedilotildees

PARTIDO VALOR [R$]

PMDB 65055000 4104

PSDB 26000000 164

PP 25463900 1606

PFL 25000000 1577

PT 12788000 807

PPS 4200000 265

TOTAL 158506900 100

DOADOR NordmCANDIDATOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora

Ltda

27 PMDB PP

PPS PR

PSDB e PT

123500000 7483

Industria Carboniacutefera Rio Deserto

Ltda

4 PMDB e

PSDB

12548100 760

Carboniacutefera Metropolitana SA 5 PMDB

PSDB

11700000 709

Carboniacutefera Belluno Ltda 2 PSDB 10600000 642

Carboniacutefera Criciuacutema Ltda 3 PMDB 6700600 406

TOTAL 165048700 10000

146

Tabela 14 - Candidatosas receberam doaccedilotildees das empresas ligadas

ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total 2010

Fonte TSE 2013

Em 2010 o mesmo natildeo aconteceu com os partidos poliacuteticos As

doaccedilotildees concentraram-se em trecircs partidos PMDB com 3641 PT com

3393 e PSDB com 1784 conforme dados apresentados na Tabela

15 A concentraccedilatildeo de doaccedilotildees no PMDB diminuiu de 4104 em 2006

para 3641 em 2010 e aumentou para o PT (de 807 em 2006 para

3393 em 2010) e o PSDB (de 1640 em 2006 para 1784 em

2010)

NOME PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Angela R H Amin Helou PP Governador 25000000 1515 285235728 876

Paulo Roberto Bauer PSDB Senador 17859100 1082 215018697 831

Edson Bez de Oliveira PMDB Deputado Federal 14589500 884 76475776 1908

Ronaldo Joseacute Benedet PMDB Deputado Federal 10037000 608 62224076 1613

Claudio Antocircnio Vignatti PT Senador 10000000 606 225944994 443

Luiz Henrique da Silveira PMDB Senador 7463100 452 316150000 236

Thatiane Ferro Teixeira PSDB Deputado Estadual 5600000 339 21357586 2622

Ada Lili Faraco de Luca PMDB Deputado Estadual 5000000 303 66479091 752

Jorge C Leonardeli Boeira PT Deputado Federal 5000000 303 51226181 976

Celso Maldaner PMDB Deputado Federal 4000000 242 56183406 712

Deacutecio Nery de Lima PT Deputado Federal 4000000 242 94602191 423

Gean Marques Loureiro PMDB Deputado Federal 4000000 242 47666076 839

Gervaacutesio Joseacute da Silva PSDB Deputado Federal 4000000 242 68162276 587

Luci T K Choinacki PT Deputado Federal 4000000 242 53638737 746

Paulo R B Bornhausen DEM Deputado Federal 4000000 242 132193682 303

Pedro Francisco Uczai PT Deputado Federal 4000000 242 45421410 881

Vanio dos Santos PT Deputado Federal 4000000 242 68945421 580

Aceacutelio Casagrande PMDB Deputado Estadual 2500000 151 19129380 1307

Alexandre Santos Moraes PMDB Deputado Estadual 2500000 151 11717054 2134

Ana Paulo de Souza Lima PT Deputado Estadual 2500000 151 19360800 1291

Antonio M R de Aguiar PMDB Deputado Estadual 2500000 151 57962102 431

Carlos Joseacute Stupp PSDB Deputado Estadual 2500000 151 41555975 602

Edison A A de Oliveira PMDB Deputado Estadual 2500000 151 44778059 558

Giancarlo Tomelin PSDB Deputado Estadual 2500000 151 26041812 960

Joatildeo Batista Nunes PR Deputado Estadual 2500000 151 28970265 863

Joatildeo Olavio Falchetti PT Deputado Estadual 2500000 151 6753000 3702

Joares Carlos Ponticelli PP Deputado Estadual 2500000 151 45669621 547

Luciano Formighieri PPS Deputado Estadual 2500000 151 17351190 1441

Marcos Luiz Vieira PSDB Deputado Estadual 2500000 151 79902729 313

Rosemeacuteri Bartucheski PMDB Deputado Estadual 2500000 151 30045075 832

TOTAL 165048700 10000

147

Tabela 15 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2010

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees gerais de 2002 2006 e 2010 foram registradas

doaccedilotildees de 16 empresas ligadas ao carvatildeo mineral somando um total de

R$ 429404000 A Tractebel doou 5601 do total (R$ 240500000)

seguida pela Carboniacutefera Metropolitana SA com 1092 (R$

46882000) e pela Carboniacutefera Belluno com 730 (R$ 31346000) As

doaccedilotildees tecircm aumentado a cada eleiccedilatildeo em 2002 foram R$

105848400 em 2006 foram R$ 158506900 e em 2010 foram R$

165048700

O candidato Paulo Roberto Bauer recebeu um total de R$

45369900 em doaccedilotildees representando 1057 do total de doaccedilotildees Jaacute

Esperidiatildeo Amin recebeu R$ 43798600 (1020) e Edson Bez de

Oliveira foi agraciado com R$ 40855700 (951) Todos os candidatos

eleitos que receberam doaccedilotildees de campanha das empresas ligadas ao

carvatildeo mineral participam da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral confirmando a hipoacutetese da relaccedilatildeo estreita entre doaccedilotildees e

apoio agrave causa do carvatildeo mineral

No que se refere agrave relaccedilatildeo entre doaccedilotildees e os partidos poliacuteticos

constatou-se que o PMDB recebeu 3168 das doaccedilotildees no periacuteodo de

2002 a 2010 (R$ 136017900) Quanto ao PP este recebeu 1937 (R$

83154500) O PT levou 1720 (R$ 73838000) O PMDB aumentou

de R$ 10866200 em 2002 para R$ 60096700 em 2010 O PT

aumentou de R$ 5050000 em 2002 para R$ 56000000 em 2010 Jaacute

o PP diminuiu de R$ 48690600 em 2002 para R$ 9000000 em

2010 O aumento das doaccedilotildees para o PMDB e o PT pode ser explicado

se considerarmos a reeleiccedilatildeo e ascensatildeo de alguns candidatos inclusive

pela reeleiccedilatildeo de Luiz Inaacutecio Lula da Silva do PT para a presidecircncia da

Repuacuteblica Jaacute as doaccedilotildees concedidas ao PP diminuiacuteram apoacutes a aposta

frustrada na eleiccedilatildeo de Esperidiatildeo Amin para governador

PARTIDO VALOR R$

PMDB 60096700 3641

PT 56000000 3393

PSDB 29452000 1784

PP 9000000 545

DEM 4000000 242

PR 4000000 242

PPS 2500000 151

TOTAL 165048700 10000

148

522 Eleiccedilotildees municipais

Nas eleiccedilotildees municipais de 2004 cinco empresas foram

doadoras Carboniacutefera Belluno (6383) Carboniacutefera Criciuacutema

(1558) Carboniacutefera Metropolitana (895) Carboniacutefera Catarinense

(823) e Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos (341) conforme dados da

Tabela 16 Foram doados R$ 41232300 para sete municiacutepios

Tabela 16 - Doadores eleiccedilotildees de 2004

Fonte TSE 2013

O municiacutepio de Criciuacutema recebeu 852 das doaccedilotildees Dentre os

candidatos estatildeo o candidato a vereador do municiacutepio de Criciuacutema

Edson do Nascimento do PMDB com 728 das doaccedilotildees o candidato

a prefeito de Criciuacutema Deacutecio Gomes Goacutees do PT com 606 e Carlos

Joseacute Stupp candidato a prefeito no municiacutepio de Tubaratildeo pelo PSDB

com 485 Aleacutem dos Comitecircs Financeiros Municipais (CFM) de

Criciuacutema Sideroacutepolis Treviso Lauro Muller e Iccedilara quatorze

candidatos a prefeito e vereador foram apoiados por doaccedilotildees (Tabela

17) Dos quatorze candidatos seis se mostram mais dependentes das

doaccedilotildees representando mais de 50 de sua receita total

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Carboniacutefera Criciuacutema Criciuacutema e Tubaratildeo PFL PMDB PSDB 6425000 3791

Carboniacutefera Metropolitana Criciuacutema Iccedilara e Tubaratildeo PFL PMDB e PT 3688500 2176

Caboniacutefera Catarinense Criciuacutema Lauro Muller Sideroacutepolis

Tubaratildeo

PFL PP PT 3391500 2001

Carboniacutefera Belluno Criciuacutema e Treviso PSDB 2034300 1200

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos Criciuacutema Lauro Muller Urussanga

PMDB PP PSDB e

PT 1408000 831

TOTAL 16947300 10000

149

Tabela 17 - Comitecircs e candidatos que receberam doaccedilotildees das

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

2004

Fonte TSE 2013

Em 2004 dos cinco partidos que estatildeo entre os receptores o

PSDB recebeu 6798 das doaccedilotildees o PMDB recebeu 1823 o PT

recebeu 657 o PP recebeu 402 e o PFL recebeu 319 (Tabela

18)

Tabela 18 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2004

Fonte TSE 2013

CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$

RECEITA

TOTAL

R

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Criciuacutema PSDB - 29431300 7138 37042800 7945

Edson Do Nascimento Criciuacutema PMDB Vereador 3000000 728 3777163 7942

Deacutecio Gomes Goacutees Criciuacutema PT Prefeito 2500000 606 41391000 604

Carlos Jose Stupp Tubaratildeo PSDB Prefeito 2000000 485 66861662 299

Comitecirc Financeiro

Municipal Uacutenico

Sideroacutepolis PP - 791500 192 916500 8636

Luiz Carlos Zen Urussanga PP Prefeito 668000 162 4418000 1512

Felipe Felisbino Tubaratildeo PFL Vereador 500000 121 641145 7799

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Treviso PMDB - 388000 094 1004554 3862

Nestor Spricigo Lauro Muller PMDB Prefeito 330000 080 830752 3972

Elemar Nunes Tubaratildeo PFL Vereador 264000 064 404248 6531

Dalton Luiz Marcon Tubaratildeo PFL Vereador 202500 049 342514 5912

Manoel Duarte Porto Tubaratildeo PFL Vereador 202500 049 529725 3823

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Lauro Muller PP - 200000 049 600000 3333

Comitecirc Financeiro

MunicipalPrefeito

Iccedilara PMDB - 200000 049 6610000 303

Rudemar Silveira Da

Cunha

Tubaratildeo PFL Vereador 144500 035 242894 5949

Paulo Gonccedilalves Filho Lauro Muller PT Prefeito 110000 027 535000 2056

Antonio Alves Elias Lauro Muller PT Vereador 100000 024 166828 5994

Lauro Pirolla Criciuacutema PSDB Vereador 100000 024 279420 3579

Vanderlei Joseacute Zilli Criciuacutema PMDB Vereador 100000 024 1007126 993

41232300 10000

PARTIDO VALOR R$

PSDB 28031300 6798

PMDB 7518000 1823

PT 2710000 657

PP 1659500 402

PFL 1313500 319

TOTAL 41232300 10000

150

Nas eleiccedilotildees de 2008 seis empresas doaram um total de R$

22918311 A Carboniacutefera Criciuacutema doou 4132 a Mineraccedilatildeo e

Pesquisa Brasileira doou 2313 e a Tractebel doou 2182 (Tabela

19) O montante de doaccedilotildees de 2008 se comparado ao de 2004

diminuiu 4442

Tabela 19 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2008

Fonte TSE 2013

As doaccedilotildees de 2008 se concentraram em trecircs candidatos O

candidato a prefeito de Tubaratildeo Joatildeo Falchetti do PT recebeu 4363

das doaccedilotildees Edison do Nascimento do PMDB candidato a vereador

por Criciuacutema recebeu 2396 e Joseacute Claudio Gonccedilalves do DEM

candidato a prefeito de Forquilhinha recebeu 1091 das doaccedilotildees

Conforme dados apresentados na Tabela 20 receberam doaccedilotildees

candidatos dos municiacutepios de Criciuacutema Tubaratildeo Forquilhinha Iccedilara

Meleiro Timbeacute do Sul Sideroacutepolis e Lauro Muller Se consideradas as

receitas totais dos dezesseis candidatos cinco candidatos satildeo muito

dependentes das doaccedilotildees jaacute que elas representam mais de 50 da

receita total

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Carbonifera Criciuma SA Criciuacutema Forquilhinha Lauro Muller

Meleiro Timbeacute do Sul

PMDB DEM 9468944 4132

Mineraccedilatildeo E Pesquisa Brasileira Criciuacutema Tubaratildeo PMDB PT 5300000 2313

Tractebel Energia Tubaratildeo PT 5000000 2182

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda Criciuacutema Iccedilara DEM PP PSDB 1679175 733

Carboniacutefera Belluno Ltda Criciuacutema PSDB 1120192 489

Carbonifera Metropolitana SA Criciuacutema Sideroacutepolis Timbeacute do Sul PMDB 350000 153

TOTAL 22918311 10000

151

Tabela 20 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2008 que receberam doaccedilotildees

das empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

Fonte TSE 2013

As doaccedilotildees entre os partidos nas eleiccedilotildees de 2008 foram

distribuiacutedas da seguinte forma o PT recebeu 4363 das doaccedilotildees o

PMDB recebeu 3181 o DEM recebeu 1158 o PSDB recebeu

774 e o PP recebeu 524 (Tabela 21)

Tabela 21 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2008

Fonte TSE 2013

Nas Eleiccedilotildees de 2012 cinco empresas doaram R$ 22700000

para candidatos de trecircs municiacutepios Criciuacutema Iccedilara e Tubaratildeo Os

maiores montantes de doaccedilatildeo tiveram origem na Tractebel (6608) Carboniacutefera Metropolitana (1762) e Carboniacutefera Criciuacutema (1101)

conforme dados apresentados na Tabela 22

NOME DO CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Joatildeo Olavio Falchetti Tubaratildeo PT Prefeito 10000000 4363 18223525 5487

Edison Do Nascimento Criciuacutema PMDB Vereador 5490944 2396 10054122 5461

Joseacute Claudio Gonccedilalves Forquilhinha DEM Prefeito 2500000 1091 10147880 2464

Darlan Bitencourt Carpes Iccedilara PP Vereador 1200000 524 3761519 3190

Antoninho Dal Molin Netto Meleiro PMDB Prefeito 1000000 436 1997000 5008

Clesio Salvaro Criciuacutema PSDB Prefeito 842992 368 72173591 117

Andre M Jucoski Iccedilara PSDB Vereador 454175 198 1245875 3645

Luiz Fernando Cardoso Criciuacutema PMDB Vereador 400000 175 8071771 496

Jose Daminelli Criciuacutema PSDB Vereador 277200 121 1227765 2258

Arleu Ronaldo Da Silveira Criciuacutema PSDB Vereador 200000 087 1649455 1213

Heacutelio Roberto Cesa Sideroacutepolis PMDB Prefeito 150000 065 9963963 151

Wersmberg Laureano Lauro Muumlller DEM Vereador 128000 056 385903 3317

Loraci Davila Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 100000 044 163000 6135

Gislael Floriano Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 100000 044 195000 5128

Joao Batista Mandelli Timbeacute Do Sul PMDB Vereador 50000 022 255800 1955

Romanna G C L Remor Criciuacutema DEM Vereador 25000 011 10166479 025

22918311 10000

152

Tabela 22 - Doadores Eleiccedilatildeo de 2012

Fonte TSE 2013

Os candidatos a prefeito de Tubaratildeo do PSDB PMDB PSD e

PT receberam 8812 das doaccedilotildees (Tabela 23) O municiacutepio de Tubaratildeo

recebeu 8944 do total de doaccedilotildees Se consideradas as receitas totais

natildeo haacute evidecircncias de uma maior dependecircncia grande das doaccedilotildees

Tabela 23 - Candidatos da Eleiccedilatildeo de 2012 que receberam doaccedilotildees

das empresas ligadas ao carvatildeo mineral e relaccedilatildeo com a receita total

Fonte TSE 2013

Em 2012 o PSDB recebeu 2996 das doaccedilotildees o PMDB o PSD

e o PT receberam 2203 respectivamente e o PP recebeu 396

(Tabela 24) As doaccedilotildees da Eleiccedilatildeo de 2012 se comparadas agraves eleiccedilotildees

de 2004 e 2008 foram distribuiacutedas de forma mais equilibrada entre os

partidos

DOADOR MUNICIacutePIOS PARTIDOS VALOR R$

Tractebel Energia Comercializadora

Ltda

Tubaratildeo PSD PSDB

PT

15000000 6608

Carboniacutefera Metropolitana SA Iccedilara Tubaratildeo PSDB 4000000 1762

Carboniacutefera Criciuacutema SA Iccedilara Tubaratildeo PMDB PSDB 2500000 1101

Mineraccedilatildeo e Pesquisa Brasileira Ltda Criciuacutema PP 900000 396

Minageo Ltda Tubaratildeo PSDB 300000 132

TOTAL 22700000 10000

CANDIDATO MUNICIacutePIO PARTIDO CANDIDATURA VALOR R$ RECEITA

TOTAL R$

Carlos Joseacute Stupp Tubaratildeo PSDB Prefeito 5000000 2203 36245503 1379

Edson Bez de

Oliveira

Tubaratildeo PMDB Prefeito 5000000 2203 129287720 387

Felippe Luiz Collaccedilo Tubaratildeo PSD Prefeito 5000000 2203 34140000 1465

Joatildeo Olavio falchetti Tubaratildeo PT Prefeito 5000000 2203 42272000 1183

Andreacute Mazzuchello

Jucoski

Iccedilara PSDB Vereador 1500000 661 4995950 3002

Daniel Costa de

Freitas

Criciuacutema PP Vereador 900000 396 6319977 1424

Felipe Felisbino Tubaratildeo PSDB Vereador 300000 132 4119158 728

22700000 10000

153

Tabela 24 - Doaccedilotildees por partido Eleiccedilatildeo de 2012

Fonte TSE 2013

Nas eleiccedilotildees municipais de 2004 2008 e 2012 nove empresas

doaram R$ 86850611 para os candidatos a prefeito e vereador As

doaccedilotildees direcionadas agraves eleiccedilotildees municipais apresentam uma reduccedilatildeo

significativa foram R$ 41232300 em 2004 R$ 22918311 em 2008 e

R$ 22700000 em 2012 A Carboniacutefera Belluno lidera as doaccedilotildees com

3159 seguida da Tractebel com 2303 e da Carboniacutefera Criciuacutema

com 2118 Os trecircs partidos que mais recebem doaccedilotildees nas eleiccedilotildees

municipais satildeo PSDB com 4215 PMDB com 2281 e PT com

2039

53 Os fatos ausentes do discurso dos poliacuteticos

No Brasil a degradaccedilatildeo do meio ambiente

e da sociedade das pessoas e da natureza

constitui cara e coroa de uma mesma

moeda de um mesmo estilo de

desenvolvimento e da ausecircncia de

democracia (SOUZA 1992 p 16)

As empresas ligadas ao carvatildeo mineral em Santa Catarina

doaram no intervalo de dez anos R$ 516254611 para candidatos a

eleiccedilotildees gerais e municipais Das dezessete empresas que aparecem

como doadoras a Tractebel foi responsaacutevel por 5046 das doaccedilotildees

seguida pela Carboniacutefera Belluno com 1139 e pela Carboniacutefera

Metropolitana com 1064 As demais quatorze empresas somam

2751 das doaccedilotildees (Tabela 25) O aumento nas doaccedilotildees para eleiccedilotildees

gerais e a diminuiccedilatildeo das doaccedilotildees para eleiccedilotildees municipais mostra que cresce nas empresas o interesse em apoiar candidatos a eleiccedilotildees gerais

que possam participar da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral

PARTIDO VALOR R$

PSDB 6800000 2996

PMDB 5000000 2203

PSD 5000000 2203

PT 5000000 2203

PP 900000 396

TOTAL 22700000 10000

154

Tabela 25 - Siacutentese dos doadores Eleiccedilotildees de 2002 e 2012

Fonte TSE 2013

Os dez candidatos que receberam maiores doaccedilotildees entre 2002 e

2012 foram candidatos a eleiccedilotildees gerais exceto Joatildeo Olavio Falchetti

que foi candidato em duas eleiccedilotildees municipais em 2008 e 2012 (Tabela

26) Todos os candidatos a eleiccedilotildees gerais que receberam doaccedilotildees de

empresas ligadas ao carvatildeo mineral e foram eleitos fazem parte

atualmente da Frente Parlamentar em Defesa do Carvatildeo Mineral

ANO ELEICcedilAtildeO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

DOADOR VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$

Tractebel Egi South

America Ltda 53000000 0 64000000 5000000 123500000 15000000 260500000 5046

Carboniacutefera Belluno Ltda 13970000 26319300 6776000 1120192 10600000 0 58785492 1139

Carboniacutefera

Metropolitana SA 15750000 3688500 19432000 350000 11700000 4000000 54920500 1064

Carboniacutefera Criciuacutema 6450000 6425000 18000000 9468944 6700600 2500000 49544544 96

Mineraccedilatildeo e Pesquisa

Brasil Ltda 0 0 15555000 5300000 0 900000 21755000 421

Induacutestria Carboniacutefera Rio

Deserto 4050000 0 0 0 12548100 0 16598100 322

Cia Energeacutetica Meridional 0 0 14000000 0 0 0 14000000 271

Mineraccedilatildeo Castelo

Branco Ltda 8467400 0 0 0 0 0 8467400 164

Carboniacutefera Catarinense

Ltda 0 0 8183000 0 0 0 8183000 159

Coque Catarinense Ltda 2434000 3391500 0 0 0 0 5825500 113

A Mendes TC e E de

Minerais Ltda 0 0 4000000 0 0 0 4000000 077

Minageo Ltda 0 0 3288000 0 0 300000 3588000 07

Gabriella Mineraccedilatildeo Ltda 0 0 1186400 1679175 0 0 2865575 056

Mineraccedilatildeo Satildeo Domingos

Ltda 927000 1408000 500000 0 0 0 2835000 055

Sul Catarinense

Mineraccedilatildeo e Art 0 0 2400000 0 0 0 2400000 046

Carboniacutefera Sideroacutepolis

Ltda 0 0 1186500 0 0 0 1186500 023

Mineraccedilatildeo Santa Augusta

Ltda 800000 0 0 0 0 0 800000 015

TOTAL 105848400 41232300 158506900 22918311 165048700 22700000 516254611 100

TOTAL

155

Tabela 26 - Candidatos que receberam maiores doaccedilotildees Eleiccedilotildees de

2002 a 2012

Fonte TSE 2013

Os partidos poliacuteticos que se destacam como maiores

receptores das doaccedilotildees satildeo PMDB com 3018 PSDB com 2060

PT com 1773 e PP com 1684 (Tabela 27)

Tabela 27 - Doaccedilotildees por Partido Poliacutetico Eleiccedilotildees de 2002 a 2012

Fonte TSE 2013

Os dados apresentados corroboram a hipoacutetese de que na defesa da causa do carvatildeo mineral se aliam poliacuteticos e empresas pelas doaccedilotildees

de campanha Trazer os fatos ausentes do discurso coloca em questatildeo o

reconhecimento e a representaccedilatildeo poliacutetica condiccedilotildees fundamentais para

assegurar a justiccedila ecoloacutegica e consequentemente para favorecer a

ANO ELEICcedilAtildeO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

NOME VALOR R$ VALOR R$VALOR R$ VALOR R$VALOR R$VALOR R$ TOTAL R$

Edson Bez de

Oliveira 5266200 0 21000000 0 14589500 5000000 45855700 89

Paulo Roberto

Bauer 12510800 0 15000000 0 17859100 0 45369900 88

Esperidiatildeo Amin

Helou Filho 43798600 0 0 0 0 0 43798600 85

Angela R H Amin

Helou 0 0 10000000 0 25000000 0 35000000 68

Luiz Henrique da

Silveira 4000000 0 20000000 0 7463100 0 31463100 61

Ada Lili Faraco de

Luca 0 0 20000000 0 5000000 0 25000000 48

Leodegar da Cunha

Tiscoski 4892000 0 12263900 0 0 0 17155900 33

Joatildeo Olavio

Falchetti 0 0 0 10000000 2500000 1500000 14000000 27

Paulo R B

Bornhausen 4900000 0 5000000 0 4000000 0 13900000 27

Ronaldo Joseacute

Benedet 1350000 0 2000000 0 10037000 0 13387000 26

ANO 2002 2004 2006 2008 2010 2012

PARTIDO VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ VALOR R$ TOTAL

PMDB 10866200 7518000 65055000 7290944 60096700 5000000 155826844 3018

PSDB 14310800 28031300 26000000 1774367 29452000 6800000 106368467 206

PT 5050000 2710000 12788000 10000000 56000000 5000000 91548000 1773

PP 48690600 1659500 25463900 1200000 9000000 900000 86914000 1684

PFL 22730800 1313500 25000000 0 0 0 49044300 95

PPB 4200000 0 4200000 0 2500000 0 10900000 211

DEM 0 0 0 2653000 4000000 0 6653000 129

PR 0 0 0 0 4000000 0 4000000 077

PSD 0 0 0 0 0 5000000 5000000 097

TOTAL 516254611 100

156

aplicaccedilatildeo do enfoque do ecodesenvolvimento Os candidatos eleitos natildeo

representam os interesses da maioria que os elegeu e sim daqueles

poucos que investiram em suas campanhas por meio de doaccedilotildees Vecircm se

consolidando assim um cenaacuterio no qual a injusticcedila poliacutetica alimenta a

reproduccedilatildeo da injusticcedila ambiental e ecoloacutegica

6 CARVAtildeO MINERAL E AMPLIACcedilAtildeO DA ENERGIA

TERMELEacuteTRICA EM SANTA CATARINA

A trajetoacuteria do carvatildeo mineral no Brasil e em Santa Catarina eacute

acompanhada de periacuteodos de crise e recuperaccedilatildeo do segmento A

construccedilatildeo da USITESC eacute uma forma de garantir a continuidade da

exploraccedilatildeo e do consumo do carvatildeo Aleacutem da crise do carvatildeo o que

aparece nos discursos de parlamentares presentes no capiacutetulo anterior eacute

o carvatildeo como seguranccedila energeacutetica

O objetivo desse capiacutetulo eacute compreender a ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo

de energia eleacutetrica movida a carvatildeo mineral atraveacutes da anaacutelise do

processo de licenciamento ambiental da USITESC Nos capiacutetulos dois e

trecircs foram tratados condicionantes mais amplos que incidem sobre a

ampliaccedilatildeo da geraccedilatildeo No capiacutetulo quatro foi examinada a relaccedilatildeo das

redes de influecircncia entre segmentos poliacuteticos e econocircmicos em vaacuterias

escalas Neste capiacutetulo a ideia eacute verificar os condicionantes que atuam

localmente

Para tanto o capiacutetulo estaacute dividido em quatro seccedilotildees aleacutem dessa

introduccedilatildeo A primeira seccedilatildeo trata das principais caracteriacutesticas do

municiacutepio de Treviso A segunda seccedilatildeo traz informaccedilotildees sobre os

documentos escritos da USITESC o EIARIMA o processo de

licenciamento e audiecircncias as correspondecircncias e articulaccedilotildees entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos e a posiccedilatildeo dos segmentos sociais Na

terceira seccedilatildeo entram os documentos falados do processo de

licenciamento os discursos nas audiecircncias puacuteblicas A anaacutelise dos

discursos torna expliacutecitas as relaccedilotildees de poder e desigualdade nas

audiecircncias puacuteblicas A quarta seccedilatildeo faz uma siacutentese das limitaccedilotildees e

possibilidades da democracia e do aprendizado social no caso do

licenciamento da USITESC

61 O municiacutepio de Treviso

A chegada dos primeiros imigrantes italianos no Sul de Santa

Catarina data de 1891 oriundas das proviacutencias de Treviso Beacutergamo

158

Cremona e Ferrara O povoado de Treviso tornou-se distrito de

Urussanga em 1933 Em 1958 o controle do distrito passou para

Sideroacutepolis emancipado de Urussanga Em 1995 o distrito de Treviso eacute

desmembrado de Sideroacutepolis formando um novo municiacutepio (IBGE

2013 PMT 2014)

No brasatildeo do municiacutepio a alusatildeo ao navio que trouxe os

primeiros imigrantes as duas atividades econocircmicas principais (extraccedilatildeo

do carvatildeo e o cultivo da banana) e as datas de colonizaccedilatildeo e

emancipaccedilatildeo (Figura 8)

Figura 8- Brasatildeo do municiacutepio de Treviso

Fonte PMT (2014) Autora Daniela Losso Redesenhado por Edson

Cesconetto

O municiacutepio de Treviso localiza-se na Bacia Carboniacutefera (Figura

9) entre Sideroacutepolis Lauro Muumlller e Urussanga a 220 km da capital

Florianoacutepolis a 35 km da BR 101 e a 25 km da cidade de Criciuacutema

(PMT 2014)

159

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Treviso

Fonte Concepccedilatildeo de Luciana Butzke Elaborado por Ruy Lucas de

Souza

O clima geral da regiatildeo segundo a classificaccedilatildeo climaacutetica de

Koumleppen eacute do tipo Cfa (mesoteacutermico uacutemido e com veratildeo quente) A

temperatura meacutedia anual varia de 170 a 193ordmC maacuteximas de 234 a

259ordmC e miacutenimas entre 120 e 151ordmC A meacutedia anual pluviomeacutetrica fica

em torno de 1220 a 1660mm e a umidade relativa do ar varia de 814

a 822 (UNESC PLURAL 2006)

A regiatildeo conta com grandes variaccedilotildees de relevo clima tipos de

solo fauna e flora A geomorfologia da regiatildeo conta com seis domiacutenios

ambientais Planalto dos Campos Gerais Serra Geral Patamares da

Serra Geral Depressatildeo da Zona Carboniacutefera Sudeste Catarinense

Embasamento em estilos complexos e Planiacutecie Coluacutevio-aluvionar (Quadro 9)

160

Quadro 9 - Principais caracteriacutesticas fiacutesicas e bioacuteticas da aacuterea de

influecircncia indireta do projeto USITESC DOMIacuteNIOS

AMBIENTAIS

SIacuteNTESE DAS CARACTERIacuteSTICAS

1 Planalto dos

Campos Gerais

Corresponde agrave regiatildeo mais elevada com relevo pouco

ondulado e altitudes superiores a 1000 metros Neste

domiacutenio prevalecem rochas de origem vulcacircnicasub-

vulcacircnica com solos pouco desenvolvidos normalmente

utilizados para produccedilatildeo de maccedilatilde reflorestamento e

pastagem Esse domiacutenio abriga algumas nascentes de rios

da bacia do Araranguaacute e da bacia do Tubaratildeo com

cobertura vegetal representada pelas matas de araucaacuteria

matinha nebular e campos de cima da serra tendo fauna

diversificada Aacuterea impactada pela derrubada das matas

de araucaacuteria plantio de pinus e queimadas nos campos

2 Serra Geral Corresponde agraves aacutereas de encosta com altitudes entre

500m e 1000m onde os desniacuteveis satildeo acentuados e os

vales satildeo fechados e profundos Satildeo formadas

principalmente por rochas arenosas e basaacutelticas e solos

rasos normalmente susceptiacuteveis agrave erosatildeo e a movimentos

de massa Abriga grande parte das nascentes dos rios das

bacias do Araranguaacute e do Tubaratildeo As florestas

encontram-se entre as mais preservadas da regiatildeo sul do

Estado atuando como reguladoras do clima do ciclo e da

distribuiccedilatildeo de chuvas servindo de centro de dispersatildeo e

conexatildeo de espeacutecies Caracteriza-se pela ampla

biodiversidade representando um dos ambientes mais

complexos fraacutegeis e ameaccedilados da regiatildeo que deve ser

preservado Neste domiacutenio se insere a Reserva Bioloacutegica

Estadual do Aguaiacute

3 Patamares da

Serra Geral

Os patamares da Serra Geral representam o

prolongamento da escarpa da Serra Geral que avanccedila

sobre a Depressatildeo Carboniacutefera e a Planiacutecie Coluacutevio-

Aluvionar constituindo morros-testemunhos como o

Montanhatildeo sustentados principalmente por basaltos e

diabaacutesicos Os solos tecircm normalmente baixa fertilidade e

satildeo utilizados nas aacutereas planas para pastagens plantio de

eucalipto e lavouras de subsistecircncia Nos terrenos

iacutengremes o solo eacute usado para o cultivo de banana No

alto do Montanhatildeo encontra-se uma das aacutereas mais

preservadas deste domiacutenio correspondente agrave APA do rio

Ferreira

4 Depressatildeo da

Zona Carboniacutefera

Regiatildeo de relevo mais suave em que predominam vales

abertos e pouco profundos Constitui-se principalmente

161

do Sudeste

Catarinense

de rochas sedimentares como arenitos folhelhos siltitos

e camadas de carvatildeo Os solos satildeo variados utilizados

principalmente para pastagens culturas de subsistecircncia e

reflorestamento de eucalipto Os recursos hiacutedricos

encontram-se comprometidos principalmente pela

exploraccedilatildeo de carvatildeo mas tambeacutem pelas atividades

industriais agriacutecolas e esgotamento sanitaacuterio A regiatildeo eacute

fortemente impactada com vaacuterias aacutereas degradadas pela

exploraccedilatildeo do carvatildeo paisagens fortemente

descaracterizadas e reduzida biodiversidade em alguns

locais

5 Embasamento

em estilos

complexos

Corresponde aos relevos ondulados formados por rochas

granitoacuteides e gnaacuteissicas onde os solos normalmente satildeo

pouco desenvolvidos e de baixa fertilidade

6 Planiacutecie Coluacutevio-

Aluvionar

Aacuterea de relevo plano (cotas inferiores a 100m) com solos

do tipo hidromoacuterficos com elevado teor de mateacuteria

orgacircnica Os solos satildeo empregados no cultivo de arroz

irrigado produccedilatildeo de hortaliccedilas uva e cana-de-accediluacutecar

Em regiotildees menos inundadas satildeo utilizados tambeacutem para

reflorestamento e pastagem

Fonte UNESC Plural (2006 p 24)

Eacute destaque em Treviso a Reserva Bioloacutegica Estadual do Aguaiacute e

a Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente do Rio Ferreira A Reserva Bioloacutegica

Estadual do Aguaiacute conta com aacuterea de 7762 hectares que se estende

entre os municiacutepios de Treviso Sideroacutepolis e Nova Veneza nos beirais

da Serra Geral A reserva abriga cachoeiras fauna e flora diversificadas

que constituem grande riqueza natural (UNESC PLURAL 2006)

O municiacutepio contava em 2010 com 3527 habitantes em

157084 km2 com uma densidade demograacutefica de 2245 habitantes por

quilocircmetro quadrado Desses 1789 eram homens e 1738 eram

mulheres 1833 habitavam o espaccedilo urbano e 1694 o espaccedilo rural A

Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) correspondia a 487 da

populaccedilatildeo (SEBRAE 2013b)

O Produto Interno Bruto (PIB) de Treviso corresponde a 008

da composiccedilatildeo do PIB catarinense Jaacute em relaccedilatildeo ao PIB per capita

Treviso encontra-se em 2009 na 17ordf posiccedilatildeo no ranking estadual O

Valor Adicionado Bruto (VAB) que representa a soma de todos os bens

e serviccedilos produzidos num determinado territoacuterio econocircmico ficou

assim distribuiacutedo 61 na induacutestria 24 no setor de serviccedilos e 9 na

administraccedilatildeo puacuteblica Em relaccedilatildeo ao Valor Adicionado Fiscal (VAF)

162

indicador econocircmico contaacutebil utilizado para calcular a participaccedilatildeo

municipal no repasse de impostos a extraccedilatildeo de carvatildeo mineral era

responsaacutevel por 66 da participaccedilatildeo do VAF no ano de 2010

(SEBRAE 2013b) Esses dados demonstram uma forte dependecircncia do

municiacutepio agrave atividade carboniacutefera

Dos 1093 domiciacutelios existentes no municiacutepio 853 eram

proacuteprios 91 alugados 55 cedidos e 01 em outra condiccedilatildeo No

que se refere agrave renda familiar 04 da populaccedilatildeo contava com renda

familiar per capita de ateacute R$ 7000 16 com renda familiar per capita

de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo e 103 com ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo A meacutedia

salarial da induacutestria extrativa era de R$ 185480 inferior apenas a

atividades relacionadas agrave eletricidade e gaacutes com uma meacutedia de R$

277460 Nesse mesmo ano o municiacutepio contava com 1629 postos de

trabalho com carteira assinada dos quais 1132 eram vinculados agrave

atividade carboniacutefera em cinco empresas (SEBRAE 2013b) Quando

69 dos postos de trabalho com carteira assinada tecircm origem na

atividade carboniacutefera que na localidade apresenta tambeacutem uma das

melhores meacutedias salariais a populaccedilatildeo fica numa posiccedilatildeo de

vulnerabilidade jaacute que depende dessa atividade para o seu sustento

Na lavoura temporaacuteria destacam-se a produccedilatildeo do arroz batata-

doce batata inglesa feijatildeo (gratildeo) fumo mandioca milho (gratildeo) Na

lavoura permanente tem se destacado a banana No municiacutepio tambeacutem

satildeo criadas aves (galos galinhas frangos e pintos) que em 2010

somavam 500000 cabeccedilas (SEBRAE 2013b)

Treviso conta com trecircs aacutereas inclusas na Accedilatildeo Civil Puacuteblica nordm

938000533-4 que determina a recuperaccedilatildeo das aacutereas degradas pela

mineraccedilatildeo Aacuterea III Rio Pio que tem 11781 hectares Campo Morosini

com 22100 hectares e UM IV Volta Redonda com 5797 hectares A

primeira aacuterea natildeo foi iniciada a segunda estaacute em andamento e a terceira

jaacute estaacute finalizada O processo de recuperaccedilatildeo foi orccedilado em 319 milhotildees

de reais (ACP DO CARVAtildeO 2014)

62 O processo de licenciamento os documentos escritos

A primeira solicitaccedilatildeo de parecer da USITESC referente ao

Licenciamento Preacutevio (LP) data do dia 2 de maio de 2000 Segundo a

solicitaccedilatildeo o parecer se fazia necessaacuterio para que a Usina fosse

163

implantada dentro do prazo previsto pelo Governo e pelo Programa

Prioritaacuterio de Termeleacutetricas que se colocava para dezembro de 2003

(FATMA 2013a fl 1) A contrataccedilatildeo do EIARIMA foi em 2001 e a

entrega aconteceu em 18 de agosto de 2003 (FATMA 2013a fl 49)

621 O EIARIMA da USITESC

A equipe responsaacutevel pelo projeto da USITESC foi composta por

consoacutercio formado pela Carboniacutefera Criciuacutema SA e pela Companhia

Carboniacutefera Metropolitana SA O projeto foi desenvolvido com o apoio

da Parsons Energy amp Chemicals Group Main Engenharia amp Consultoria

Ltda e Taylor DeJongh E o EIARIMA foi realizado pelo IPAT

vinculado agrave UNESC e Plural

A previsatildeo de construccedilatildeo da USITESC eacute de 40 meses A aacuterea a

ser ocupada pela usina localiza-se na margem direita do rio Matildee Luzia

tem aproximadamente 500000m2 e pertence agrave Carboniacutefera

Metropolitana sendo utilizada como depoacutesito de rejeitos (Figura 10)

(UNESC PLURAL 2006)

Figura 10 - Aacuterea prevista para a implantaccedilatildeo da USITESC

Fonte UNESC Plural 2006 p 5

164

Para a produccedilatildeo de energia termeleacutetrica a usina vai utilizar carvatildeo

bruto da camada Bonito (70) e rejeitos da camada Barro Branco

(30) que seratildeo fornecidos pelas duas empresas que compotildeem o

consoacutercio O consumo meacutedio anual previsto eacute de 1900000 toneladas de

carvatildeo e 820000 toneladas de rejeito A USITESC teraacute potecircncia

instalada de 440 MW e segundo a descriccedilatildeo do empreendimento vai

gerar 180 empregos diretos (FATMA 2013a fl 34)

Na justificativa do EIARIMA destacou-se a importacircncia

estrateacutegica do carvatildeo dada a dependecircncia hidroenergeacutetica e a

inseguranccedila quanto agrave importaccedilatildeo do gaacutes natural e o uso de tecnologias

limpas de queima de carvatildeo Natildeo satildeo citados dados sobre consumo e

demanda A USITESC adquire importacircncia na recuperaccedilatildeo ambiental do

Sul jaacute que vai consumir os rejeitos (UNESC PLURAL 2006)

Para gerar energia termeleacutetrica a USITESC vai utilizar o ciclo

teacutermico regenerativo com uso de caldeira de leito fluidizado que

recupera calor exigindo um consumo menor de combustiacutevel A

combustatildeo em leito fluidizado circulante reduz a produccedilatildeo de oacutexidos de

nitrogecircnio O controle das emissotildees atmosfeacutericas seraacute feito atraveacutes da

injeccedilatildeo de calcaacuterio na caldeira (Consumo meacutedio anual de 150000

toneladas) e de um sistema de filtragem que utilizaraacute amocircnia (consumo

meacutedio anual entre 72000 a 80000 toneladas Como resultado seratildeo

obtidas aproximadamente 300000 toneladas de sulfato de amocircnia que

seratildeo utilizadas na produccedilatildeo de fertilizantes quiacutemicos Quanto ao

consumo de aacutegua prevecirc-se um consumo meacutedio de 32 ls (115m3h) no

processo e 2361 ls (848m3h) no resfriamento Soacute a tiacutetulo de

comparaccedilatildeo para o abastecimento de Criciuacutema e municiacutepios vizinhos

satildeo utilizados 800ls do rio Satildeo Bento localizado na sub-bacia do Rio

Matildee Luzia (UNESC PLURAL 2006)16

Na avaliaccedilatildeo de impactos constam no RIMA oito impactos no

meio fiacutesico seis impactos no meio bioacutetico e 11 no meio antroacutepico

(Quadro 10) Dentre os impactos listados os de maior expressatildeo satildeo

16

O alto consumo de aacutegua e a construccedilatildeo de uma barragem no Rio

Matildee Luzia foram desde o iniacutecio do processo de licenciamento

pontos polecircmicos do projeto Devido a esses pontos o projeto foi

alterado de torre uacutemida para torre seca diminuindo o consumo de

aacutegua para 115m3h em todo o processo

165

reduccedilatildeo na geraccedilatildeo de drenagem aacutecida (considerado um impacto

positivo) alteraccedilatildeo da qualidade do ar (principalmente durante a

construccedilatildeo da Usina com a movimentaccedilatildeo de veiacuteculos pesados o

dioacutexido de enxofre pode elevar-se) reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua

(com as torres de resfriamento uacutemidas) e impacto sobre aacutereas

protegidas

Quadro 10- Impactos sobre o Meio Fiacutesico Bioacutetico e Antroacutepico e

accedilotildees geradoras IMPACTOS SOBRE O

MEIO FIacuteSICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Solo Intensificaccedilatildeo de

processos erosivos e

de assoreamento

Obras de corte e aterro necessaacuterias agrave

implantaccedilatildeo do empreendimento

Contaminaccedilatildeo do solo

pela disposiccedilatildeo de

resiacuteduos soacutelidos e

efluentes

Operaccedilatildeo da usina resiacuteduos produzidos

durante as fases de construccedilatildeo e operaccedilatildeo da

usina

Reduccedilatildeo da geraccedilatildeo

de drenagem aacutecida

Consumo de rejeito do beneficiamento de

carvatildeo e recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

pela mineraccedilatildeo

Aacutegua

Alteraccedilatildeo na

qualidade das aacuteguas

superficiais

Construccedilatildeo da usina efluentes oleosos

como oacuteleos e graxas advindos da

manutenccedilatildeo de maacutequinas e caminhotildees

ligados agraves obras eou do armazenamento

temporaacuterio de combustiacuteveis e lubrificantes

Efluentes a serem descartados pelo

empreendimento durante a fase de operaccedilatildeo

Alteraccedilatildeo na

qualidade das aacuteguas

subterracircneas

Disposiccedilatildeo inadequada de resiacuteduos soacutelidos

efluentes sanitaacuterios efluentes industriais

Reduccedilatildeo da

disponibilidade de

aacutegua

Operaccedilatildeo da usina captaccedilatildeo de aacutegua para

torre de resfriamento da usina

Ar e

ruiacutedo

Alteraccedilatildeo da

qualidade do ar

Aumento do traacutefego de veiacuteculos pesados

movimentaccedilatildeo de veiacuteculos em aacutereas natildeo

pavimentadas operaccedilatildeo da usina manuseio

do combustiacutevel

Alteraccedilatildeo das

condiccedilotildees de ruiacutedo de

fundo

Traacutefego e operaccedilatildeo de veiacuteculos pesados

operaccedilatildeo de equipamentos como

compressores britadores sondas etc

operaccedilatildeo dos equipamentos da usina

166

IMPACTOS SOBRE O

MEIO BIOacuteTICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Fauna

e

Flora

Reduccedilatildeo de habitats

para a fauna local

Preparaccedilatildeo da aacuterea de implantaccedilatildeo da usina

obras de terraplenagem e retirada da

cobertura vegetal

Evasatildeo da fauna Ruiacutedos produzidos durante a fase de

implantaccedilatildeo e construccedilatildeo da usina alteraccedilatildeo

da qualidade do ar e perda de habitats devido

agraves obras de terraplenagem

Impacto sobre a

avifauna

Operaccedilatildeo da usina

Impacto sobre a fauna

de peixes e

organismos aquaacuteticos

Construccedilatildeo da usina operaccedilatildeo da usina

manutenccedilatildeo de equipamentos transporte e

armazenamento de reagentes e outros

insumos natildeo inertes

Impacto sobre a

vegetaccedilatildeo

remanescente e

culturas

Traacutefego de veiacuteculos movidos a oacuteleo diesel

operaccedilatildeo da usina (queima de carvatildeo)

Impacto sobre as aacutereas

protegidas

Periacuteodo de construccedilatildeo da usina contingente

de trabalhadores e operaccedilatildeo da usina

IMPACTOS SOBRE O

MEIO ANTROacutePICO

ACcedilOtildeES GERADORAS

Geraccedilatildeo de conflitos Contrataccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

instalaccedilatildeo do canteiro de obras

Geraccedilatildeo de

expectativa e

mobilizaccedilatildeo da

comunidade

Estudos e projetos contrataccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

Sobrecarga da infra-

estrutura social

existente

Obras da usina contrataccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

da matildeo-de-obra

Geraccedilatildeo de emprego Construccedilatildeo da usina operaccedilatildeo da usina

mineraccedilatildeo do carvatildeo serviccedilos terceirizados

Geraccedilatildeo de renda e

ampliaccedilatildeo da oferta de

serviccedilos

Construccedilatildeo e operaccedilatildeo da usina

Atraccedilatildeo de matildeo-de-

obra de outras aacutereas

Construccedilatildeo da usina contrataccedilatildeo e

desmobilizaccedilatildeo de matildeo-de-obra

Incremento do

desenvolvimento

econocircmico

Operaccedilatildeo da usina

Mudanccedila no cotidiano

da comunidade

Obras da usina contrataccedilatildeo de matildeo-de-obra

de outras regiotildees demanda por serviccedilos e

167

sobrecarga da infra-estrutura social

alteraccedilatildeo do padratildeo de traacutefego dos veiacuteculos

Alteraccedilatildeo das

condiccedilotildees de sauacutede da

populaccedilatildeo

Implantaccedilatildeo da usina fase das obras e

operaccedilatildeo da usina emissatildeo de gases ruiacutedo

disposiccedilatildeo das cinzas e depoacutesito temporaacuterio

de carvatildeo e reagentes

Aumento do traacutefego

de veiacuteculos e pressatildeo

sobre a infra-estrutura

viaacuteria

Obras da usina obras complementares

operaccedilatildeo da usina transporte de insumos de

subprodutos e de resiacuteduos

Aumento do risco de

acidentes de tracircnsito

Obras da usina transporte de pessoas e

insumos

Impacto na paisagem

local e perda de

referecircncias histoacuterico-

culturais

Obras da usina e complementares

Interferecircncia em siacutetios

arqueoloacutegicos

Obras complementares da usina barragem e

reservatoacuterio estradas e vias de acesso linha

de transmissatildeo

Fonte UNESC Plural (2006 p 34-5)

No EIARIMA natildeo haacute nenhuma referecircncia aos empreendimentos

acessoacuterios a saber o reservatoacuterio de aacutegua a ser construiacutedo no rio Matildee

Luzia a extensatildeo da ferrovia entre Sideroacutepolis e a Mina Esperanccedila e

Fontanella a linha de transmissatildeo que vai conectar a subestaccedilatildeo da

ELETROSUL em Sideroacutepolis com a Usina e o terminal de recebimento

e estocagem de amocircnia no Porto de Imbituba Os empreendimentos

acessoacuterios seratildeo tratados na sessatildeo 63 deste capiacutetulo Faltou tambeacutem

mencionar nos impactos sobre o meio antroacutepico da desarticulaccedilatildeo da

estrutura econocircmica existente o pequeno comeacutercio a lavoura de

subsistecircncia a pesca artesanal as atividades domeacutesticas etc

Tendo como referecircncia os impactos listados no Quadro 10 foram

propostas 59 medidas mitigatoacuterias sendo 25 preventivas duas

corretivas trecircs preventivas e corretivas 17 compensatoacuterias nove de

acompanhamento e trecircs de controle

Dentre os programas ambientais propostos para a USITESC

destacam-se programa de monitoramento ambiental programa de

conservaccedilatildeo da fauna e flora programa de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

arqueoloacutegico programa de comunicaccedilatildeo social programa de

gerenciamento de risco programa de reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas

168

programa de gestatildeo ambiental e programa de fomento ao

desenvolvimento sustentaacutevel No Quadro 11 uma siacutentese dos programas

e seus alvos principais

Quadro 11 - Siacutentese dos Programas da USITESC e alvos principais PROGRAMA ALVO

Monitoramento ambiental Qualidade do ar solo e aacutegua

Adequaccedilatildeo da infraestrutura baacutesica Rodovias sauacutede educaccedilatildeo e

abastecimento de aacutegua

Controle ambiental Qualidade do ar solo e aacutegua na aacuterea

do empreendimento

Conservaccedilatildeo da fauna e flora Fauna e flora no entorno do

empreendimento

Preservaccedilatildeo do patrimocircnio

arqueoloacutegico

Patrimocircnio arqueoloacutegico da regiatildeo

Comunicaccedilatildeo social Informaccedilotildees atualizadas sobre o

empreendimento para a comunidade

Gerenciamento de risco Armazenamento de produtos

perigosos

Reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas Entorno do empreendimento

Gestatildeo ambiental Processo decisoacuterio da Usina e relaccedilatildeo

com os colaboradores

Fomento ao desenvolvimento

sustentaacutevel

Criaccedilatildeo de um fundo de fomento agrave

atividades de recuperaccedilatildeo ambiental

melhoria da qualidade de vida e

desenvolvimento sustentaacutevel

Fonte Baseado em UNESC Plural (2006)

Quando analisadas as perspectivas para a regiatildeo com e sem a

implantaccedilatildeo do empreendimento alguns aspectos podem ser destacados

Sem o empreendimento natildeo haveria pressatildeo antroacutepica e a regiatildeo seguiria

as atuais tendecircncias de desconcentraccedilatildeo crescimento moderado da

atividade agropecuaacuteria continuidade da atividade carboniacutefera num

cenaacuterio de suposta estagnaccedilatildeo econocircmica Com o empreendimento

haveria uma dinamizaccedilatildeo da economia municipal geraccedilatildeo de emprego e

renda o consumo do rejeito para geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica e a pressatildeo antroacutepica na aacuterea de influecircncia da USITESC inclusive aacutereas

preservadas (UNESC PLURAL 2006)

169

622 Das audiecircncias puacuteblicas e licenccedilas

O processo de licenciamento da USITESC contou com a

realizaccedilatildeo de quatro audiecircncias puacuteblicas que ocorreram de acordo com

a resoluccedilatildeo do CONAMA nordm 00987 As audiecircncias aconteceram no

municiacutepio de Treviso A primeira ocorreu em 19 de fevereiro de 2004 a

segunda em oito de julho de 2004 a terceira em 16 de maio de 2006 e a

quarta em 8 de novembro de 2007 A realizaccedilatildeo das quatro audiecircncias

puacuteblicas se deve ao fato de que vaacuterias informaccedilotildees natildeo constavam do

EIARIMA tendo sido solicitados estudos complementares que

incluiacuteam tambeacutem os empreendimentos acessoacuterios

Apoacutes a terceira audiecircncia puacuteblica em trecircs de julho de 2006

Darlan Aiacuterton Dias Procurador da Repuacuteblica enviou uma

correspondecircncia para o entatildeo presidente da FATMA Jacircnio Wagner

Constante informando que o licenciamento da USITESC e do

reservatoacuterio de aacutegua precisam ser conjuntos sob pena de fracionar o

licenciamento (FATMA 2013d fl 687) O procurador da repuacuteblica

recomendou que ldquonatildeo seja concedida LP para a USITESC sem que

antes seja apresentado EIARIMA relativo agrave construccedilatildeo do reservatoacuterio

no rio Matildee Luzia o qual deveraacute ser publicado e submetido a audiecircncia

puacuteblica conforme determina a legislaccedilatildeo vigenterdquo (FATMA 2013d fl

687)

Em seis de marccedilo de 2007 Alfredo Flavio Gazzolla informou ao

novo presidente da FATMA Carlos L Kreuz que diante da situaccedilatildeo

colocada a USITESC estava alterando seu projeto original mudando o

sistema de resfriamento da usina e reduzindo o consumo de aacutegua a 10

do previsto anteriormente (FATMA 2013e fl 831)

Com a alteraccedilatildeo do projeto o Procurador da Repuacuteblica Darlan

Airton Dias em oito de maio de 2007 informou a necessidade da

realizaccedilatildeo de uma nova audiecircncia puacuteblica ldquoConsiderando a mudanccedila

conceitual no projeto eventual concessatildeo de Licenccedila Ambiental Preacutevia

ndash LAP depende da realizaccedilatildeo de nova audiecircncia puacuteblicardquo (FATMA

2013e fl 842-3) Apoacutes a realizaccedilatildeo da quarta audiecircncia puacuteblica em 8 de novembro de 2007 a LP foi concedida em 14 de dezembro de 2007

(LAP nordm 1482007) (FATMA 2013f fl 1065)

Em 31 de marccedilo de 2008 foi comunicada a Alteraccedilatildeo da

composiccedilatildeo acionaacuteria da USITESC 95 do capital foi assumido pela

170

Linear Participaccedilotildees e Incorporaccedilotildees Ltda e os 5 restantes ficam com

as Carboniacuteferas Criciuacutema e Metropolitana A comunicaccedilatildeo remetida por

Kaioaacute Gomes diretor teacutecnico da Linear foi endereccedilada ao novo

presidente da FATMA Murilo Xavier Flores (FATMA 2013f fl

1111)

Em dois de marccedilo de 2010 foi concedida a LI (LAI nordm 06GELUR

2010) (FATMA 2013h fl 1540) Ainda em 2010 foi estabelecido o

Termo de Compromisso de Compensaccedilatildeo Ambiental R$ 670800000 a

serem aplicados na Reserva Bioloacutegica Estadual do Aguaiacute (FATMA

2013h fl 1549-1554)

Em 15 de fevereiro de 2013 Kaioaacute Gomes solicitou a

prorrogaccedilatildeo da LI (FATMA 2013h fl 1607-08) Em resposta Ivana

Becker concluiu ser viaacutevel a prorrogaccedilatildeo da LI pelo prazo de 36 meses

(FATMA 2013h fl 1603-5)

A solicitaccedilatildeo de estudos complementares e as quatro audiecircncias

puacuteblicas parecem demonstrar uma estrateacutegia de desinformaccedilatildeo por parte

dos segmentos econocircmicos O papel do Ministeacuterio Puacuteblico foi chave no

questionamento e equacionamento dessa questatildeo

623 Pressotildees dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos no processo de

licenciamento

Um aspecto interessante na anaacutelise do discurso dos documentos

do processo de licenciamento foi a pressatildeo exercida pela USITESC e

pelo Governo do Estado sobre a FATMA Em janeiro de 2005 o entatildeo

presidente da USITESC enviou uma carta ao governo do estado

questionando o tratamento dado pela FATMA ao processo de

licenciamento ambiental destacando a importacircncia da USITESC e

sugerindo uma falta de sintonia entre FATMA e poder executivo

conforme trecho da carta a seguir

Esta empresa gostaria de registrar seu protesto e

indignaccedilatildeo pelo peacutessimo tratamento dado por esta

Fundaccedilatildeo ao processo de licenciamento ambiental

da USITESC embora tenhamos sempre procurado

dar o maacuteximo de suporte e pautado nossa postura

171

no sentido da maacutexima cooperaccedilatildeo e pronto

atendimento a qualquer solicitaccedilatildeo da FATMA

Nossa paciecircncia esgota-se no momento em que

percebemos o descaso com que eacute tratado um

projeto da magnitude da Usina Termeleacutetrica Sul

Catarinense ndash USITESC cujo conceito de

desenvolvimento vem desde o iniacutecio de seus

estudos buscando a melhor integraccedilatildeo do projeto

com sua aacuterea de influecircncia e geraccedilatildeo de resultados

positivos para o meio ambiente em que se insere

()

Este fato contrasta com as manifestaccedilotildees puacuteblicas

de apoio ao Projeto USITESC recebidas do

Governo Estadual pelos empreendedores e revela

falta de sintonia entre a Fatma e o poder executivo

do Estado de Santa Catarina (Alfredo Flaacutevio

Gazzolla presidente da USITESC FATMA

2013c fl 357 e 359)

Em marccedilo de 2005 o vice-governador em exerciacutecio Eduardo

Pinho Moreira cobrou um posicionamento do diretor geral da FATMA

Janio Wagner Constante

Pela inegaacutevel importacircncia da instalaccedilatildeo da Usina

para o Estado de Santa Catarina e tendo em vista

ter a mesma cumprido com todas as

recomendaccedilotildees ministeriais solicito-lhe urgecircncia

na anaacutelise teacutecnica do projeto pelo que agradeccedilo

antecipadamente (FATMA 2013b fl 352)

Em dezembro de 2005 novamente Alfredo Flaacutevio Gazzolla

enviou carta ao governador do estado Luiz Henrique da Silveira

pedindo a determinaccedilatildeo de um ldquomelhor estudordquo para a emissatildeo da LP

Assim em respeito ao vosso honrado nome e na

defesa do maior empreendimento em estudo no

estado de Santa Catarina solicito seus preacutestimos

no sentido de determinar um melhor estudo

quanto agrave emissatildeo da LAP sem a qual estaremos

impossibilitados de participar do proacuteximo leilatildeo

de energia no semestre vindouro (FATMA

2013c fl 388)

172

Na mesma carta o presidente da USITESC solicitou a licenccedila

preacutevia independente da conclusatildeo do Estudo Suplementar solicitado

pela FATMA

Solicita-se ao Governo do Estado que emita a

Licenccedila Preacutevia para a USITESC

independentemente da conclusatildeo do Estudo

Suplementar solicitado pela FATMA jaacute que nada

impede a FATMA de emitir esta licenccedila uma vez

que o empreendedor cumpriu todas as exigecircncias

legais cabiacuteveis para sua obtenccedilatildeo e que a FATMA

poderaacute nela colocar todos os condicionantes que

considerar pertinentes tendo em vista assegurar a

viabilidade da continuidade do processo de

licenciamento ambiental da USITESC (FATMA

2013c fl 390)

Em resposta Luiz Antocircnio Garcia Correcirca Diretor de controle

ambiental da FATMA em 19 de dezembro de 2005 repreendeu a

USITESC quanto agraves manifestaccedilotildees da miacutedia que relacionavam o natildeo

licenciamento da USITESC e a natildeo participaccedilatildeo no leilatildeo da ANEEL a

uma decisatildeo da FATMA

Temos observado manifestaccedilotildees equivocadas na

miacutedia provenientes de representante do SIECESC

relativa ao processo de licenciamento ambiental

reputado inclusive a FATMA a natildeo participaccedilatildeo

da USITESC no leilatildeo da ANEEL o que natildeo

condiz com a realidade Tais fatos em nada

contribuem ao processo de licenciamento

ambiental (FATMA 2013c fl 641-642)

O conteuacutedo das correspondecircncias demonstra as articulaccedilotildees entre

segmentos poliacuteticos e econocircmicos Depois de 2005 natildeo constam mais

correspondecircncias relacionadas Eacute importante frisar que eacute em 2005 que

surgiu a Frente Parlamentar Mista em defesa do Carvatildeo Mineral e

aumentaram as doaccedilotildees das carboniacuteferas aos poliacuteticos Dessa forma

sugere-se que se ateacute 2005 a pressatildeo sobre o oacutergatildeo ambiental era

173

exercida diretamente apoacutes 2005 com uma maior articulaccedilatildeo a pressatildeo

pode ser exercida de outras formas natildeo passando necessariamente pelo

oacutergatildeo ambiental

624 A posiccedilatildeo dos segmentos sociais

Os segmentos sociais se posicionaram contra a ampliaccedilatildeo da

energia termeleacutetrica ao longo do processo de licenciamento Na ocasiatildeo

da primeira audiecircncia puacuteblica em 19 de fevereiro de 2004 a ONG

Amigos da Terra Brasil enviou a seguinte mensagem

Amigos da Terra se solidariza com as entidades da

regiatildeo sul de Santa Catarina e acredita que as lutas

locais satildeo responsaacuteveis pela resistecircncia agraves

injusticcedilas socioambientais e pela promoccedilatildeo das

mudanccedilas necessaacuterias para um futuro sustentaacutevel

Um futuro onde as energias renovaacuteveis podem

promover descentralizaccedilatildeo universalizaccedilatildeo do

acesso controle social e empregos sem a

contaminaccedilatildeo local e o aquecimento global

decorrentes do uso do carvatildeo mineral (FATMA

2013c Fl 463)

O Grupo de Trabalho Energia do FBOMS tambeacutem enviou uma

mensagem

As organizaccedilotildees do GT Energia do Foacuterum

Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento expressam

sua solidariedade agraves populaccedilotildees direta ou

indiretamente afetadas pelos impactos da

mineraccedilatildeo e queima do carvatildeo mineral para a

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica na regiatildeo sul de

Santa Catarina () Conhecendo os graves

impactos jaacute causados pelas atividades carboniacuteferas

no Sul de Santa Catarina temos a certeza do

equiacutevoco que representa a instalaccedilatildeo de mais uma

174

usina a carvatildeo na regiatildeo (FATMA 2013c fl

464)

O Movimento pela Vida de Iccedilara tambeacutem registrou sua posiccedilatildeo

ldquoA regiatildeo natildeo suporta mais impactos ambientais eacute preciso mais

seriedade quando se discute qualquer accedilatildeo que interfira na natureza e na

qualidade de vida das crianccedilas dos jovens das mulheres e dos homens

que vivem na regiatildeordquo (FATMA 2013c fl 466)

Na ocasiatildeo da segunda audiecircncia puacuteblica 8 de julho de 2004 natildeo

constaram manifestaccedilotildees escritas Na terceira audiecircncia puacuteblica 16 de

maio de 2006 em carta da ONG Soacutecios da Natureza assinada por Tadeu

Santos agrave Direccedilatildeo da FATMA ficou registrado que havia uma

solicitaccedilatildeo ldquo() agrave FATMA que realizasse a terceira AP em Criciuacutema ou

mesmo em Araranguaacute jaacute que se trata de um empreendimento que

comprovadamente promove impactos ambientais em toda regiatildeordquo E

mais a frente ao falar sobre o processo de licenciamento afirmou que

ldquosomos atores num circo montado para apresentar uma peccedila com o final

desejado pelo empreendedorrdquo (FATMA 2013c fl 538-542)

Na quarta audiecircncia puacuteblica 8 de novembro de 2007 tambeacutem

natildeo constam manifestaccedilotildees escritas Em 19 de maio de 2011 a Diocese

de Criciuacutema enviou um manifesto para o entatildeo presidente da FATMA

Murilo Xavier Flores contra a instalaccedilatildeo da USITESC (FATMA

2013h fl 1601)

A articulaccedilatildeo dos segmentos sociais apresenta estrateacutegias

importantes que convergem com o enfoque da justiccedila ambiental A

difusatildeo espacial do movimento torna-se vital quando aleacutem dos impactos

regionais a populaccedilatildeo diretamente afetada pelo empreendimento tem

uma forte dependecircncia do segmento em questatildeo Conforme jaacute

mencionamos neste capiacutetulo 69 dos empregos com carteira assinada

satildeo oferecidos pelo segmento do carvatildeo mineral e boa parte da

arrecadaccedilatildeo da prefeitura local vem desta atividade Dessa forma natildeo se

verifica uma resistecircncia local ao empreendimento daiacute porque os

segmentos sociais sediados em outros municiacutepios regiotildees estados

brasileiros desempenham um papel fundamental no questionamento do

empreendimento

175

63 Relaccedilotildees de poder e desigualdade nas audiecircncias puacuteblicas os

documentos falados

No estado de Santa Catarina o procedimento adotado durante

uma audiecircncia puacuteblica eacute descrito resumidamente no Quadro 12 A

coordenaccedilatildeo dos trabalhos eacute feita pela FATMA e o tempo de duraccedilatildeo

maacuteximo da audiecircncia puacuteblica eacute de quatro horas Eacute feita uma abertura da

sessatildeo na qual o presidente da mesa esclarece os objetivos e transmite

as regras gerais Na sequecircncia o empreendedor apresenta o projeto e a

consultoria apresenta o EIARIMA Um intervalo de 15 minutos eacute feito

para que os presentes possam se inscrever Os questionamentos satildeo

feitos por ordem de inscriccedilatildeo e podem ser orais ou escritos Os escritos

satildeo lidos pelo coordenador da sessatildeo e os orais devem ser formulados

em trecircs minutos O empreendedor e a consultoria tecircm cinco minutos

para responder e ainda constam dois minutos para reacuteplica e trecircs minutos

para treacuteplica O encerramento eacute feito pelo coordenador da sessatildeo

Quadro 12 - Procedimento para conduccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas

FATMA ETAPAS DA AUDIEcircNCIA TEMPO

Abertura FATMA (10min)

Exposiccedilotildees Proponente do projeto (20min)

Consultoria responsaacutevel pelo

EIARIMA (45min)

Manifestaccedilatildeo da plenaacuteria e debates Intervalo para inscriccedilotildees (15min)

Questionamento (3min)

Resposta (5min)

Reacuteplica (2min)

Treacuteplica (3min)

Encerramento FATMA (sem tempo definido)

Fonte Adaptado de FATMA (2013a fl 101-2)

A elaboraccedilatildeo do projeto da USITESC iniciou em 1999 (Luis

Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007) Em 19 de

fevereiro de 2004 foi realizada a primeira audiecircncia puacuteblica Na

abertura foi lido um ofiacutecio do Ministeacuterio Puacuteblico Federal avisando que

seria requerida uma segunda audiecircncia puacuteblica dado que o EIA

precisava da anaacutelise dos peritos da quarta cacircmara de Brasiacutelia A segunda

audiecircncia puacuteblica foi realizada no dia 8 de julho de 2004 por solicitaccedilatildeo

da FATMA para discutir o projeto da USITESC com o Comitecirc Gestor

176

da Bacia do Rio Araranguaacute porque havia uma preocupaccedilatildeo com o

consumo de aacutegua Motivado pela recomendaccedilatildeo nordm 14 foi contratado

entatildeo um estudo de suplementaccedilatildeo Esse estudo foi apresentado na

terceira audiecircncia puacuteblica em 16 de maio de 2006 tratando dos

empreendimentos acessoacuterios da USITESC (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

As duas audiecircncias puacuteblicas analisadas neste capiacutetulo a terceira e

quarta audiecircncia de 16 de maio de 2006 e 8 de novembro de 2007

respectivamente seguiram o procedimento acima apresentado Em

ambas constatou-se um rigor maior no controle do tempo dos

participantes que apresentaram seus questionamentos que com os

respondentes (empreendedor IPAT Ministeacuterio Puacuteblico Federal e

FATMA) Foram convidados para tomar assento na mesa representantes

da FATMA Ministeacuterio Puacuteblico Federal empreendedor IPAT

prefeitura e SIESESC Diante disso cabe questionar Por que somente

representantes dos segmentos poliacuteticos e econocircmicos tiveram assento na

mesa de trabalho Por que os representantes dos segmentos sociais natildeo

tiveram assento

Na quarta audiecircncia mediada por Adhiles Bortot da FATMA foi

utilizada uma sequecircncia diferente nos questionamentos orais e escritos

natildeo foi respeitada a ordem de chegada Os questionamentos escritos

foram lidos primeiro Em muitos momentos nos questionamentos orais

diante de colocaccedilotildees polecircmicas Adhiles Bortot passava para a pergunta

seguinte como se o questionamento natildeo precisasse ser respondido Por

vaacuterias vezes ele foi interrompido pelo IPAT e Ministeacuterio Puacuteblico

Federal que queriam comentar as intervenccedilotildees do puacuteblico Outro ponto

que merece ser destacado eacute que ele interrompia repetidamente o

questionador pedindo que o tempo fosse respeitado Logo as pessoas

que faziam questionamentos resumiam sua fala sobrando mais tempo

para os respondentes

Nas proacuteximas seccedilotildees desse capiacutetulo a partir da transcriccedilatildeo e

anaacutelise das audiecircncias puacuteblicas encontram-se trechos selecionados de

temas Fragmentos dos discursos dos segmentos poliacuteticos econocircmicos e

sociais foram destacados e comentados a partir dos pontos mais

controvertidos

177

631 A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica

Os discursos das audiecircncias puacuteblicas proacute USITESC tenderam a

minimizar os impactos causados pelo empreendimento ressaltando seus

aspectos positivos Os segmentos econocircmicos representados pelo

empreendedor situaram a USITESC num contexto mundial no qual o

carvatildeo mineral eacute base da matriz energeacutetica O uso de novas tecnologias

e a situaccedilatildeo do Brasil colocaria as emissotildees de gases de efeito estufa

como insignificantes na matriz energeacutetica brasileira

() os estudos energeacuteticos mostram que o carvatildeo

ainda seraacute a base da matriz energeacutetica mundial ateacute

o ano de 2050 no miacutenimo O incremento de

novos projetos a carvatildeo vem paulatinamente

recebendo tratamento tecnoloacutegico para minimizar

a formaccedilatildeo de gases de efeito estufa Isso eacute uma

verdade () a contribuiccedilatildeo do Brasil para o efeito

estufa com novas usinas a carvatildeo eacute insignificante

perante o quadro mundial Soacute para citar um

exemplo esse ano soacute na Alemanha foram

contratados mais de oito mil novos megawatts a

carvatildeo O Brasil todo tem pouco mais de mil

megawatts a carvatildeo instalados A USITESC estaacute

propondo colocar uma potecircncia bruta de 200440

dos quais vai gerar em meacutedia 280 a 300

Alemanha tem 70 mil megawatts de carvatildeo

instalados O nordeste dos Estados Unidos tem

350 mil soacute o nordeste dos Estados Unidos 350

mil megawatts de carvatildeo instalados (Luis Carlos

Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

A ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica movida a carvatildeo mineral eacute

ldquonecessaacuteriardquo para o Brasil e a USITESC eacute um empreendimento

economicamente viaacutevel

() o sistema eleacutetrico brasileiro necessita da

geraccedilatildeo teacutermica e para isso o carvatildeo mineral eacute

sem duacutevida o nosso melhor potencial a USITESC

utilizaraacute um combustiacutevel de baixo custo os niacuteveis

tarifaacuterios sinalizados para o horizonte de

contrataccedilatildeo da energia da Usina indicam boa

rentabilidade para o Projeto adicional pela venda

178

do sulfato de amocircnia 320000 toneladas por ano

(Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Os impactos ambientais e riscos foram minimizados nas

colocaccedilotildees garantindo-se que os investidores internacionais natildeo

participam de empreendimentos que contrariem a legislaccedilatildeo e possuam

risco ambiental A atuaccedilatildeo fiscalizadora do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

tambeacutem foi citada Natildeo foi destacada em nenhum momento a

importacircncia da FATMA

() a USITESC significa um investimento global

da ordem de 750 milhotildees de doacutelares Esse

dinheiro natildeo vai ser buscado em algum fundo de

quintal Esse dinheiro tem investidores

internacionais e ningueacutem arrasta dinheiro

ningueacutem bota dinheiro em empreendimento que

possui risco ambiental A maior garantia que vocecirc

tem que um projeto vai ser implantado com a

qualidade ambiental que estaacute sendo anunciada eacute

que hoje os auditores internacionais natildeo aprovam

os financiamentos se o projeto natildeo estiver de

acordo com aquela disposiccedilatildeo feita no papel

(Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

O que noacutes estamos querendo implantar aqui na

regiatildeo natildeo eacute nada de coisa anormal que vai

prejudicar algueacutem Mesmo porque () o

Ministeacuterio Puacuteblico natildeo vai deixar noacutes cometermos

barbaridade () Eu digo a todos vocecircs o seguinte

como o proacuteprio Banco Mundial me disse laacute em

Washington ldquose vocecircs tiverem algum problema de

poluiccedilatildeo ao implantar o projeto noacutes natildeo daremos

um centavo sequer (Alfredo Flaacutevio Gazzolla

USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

A importacircncia do empreendimento para a regiatildeo e para o municiacutepio tambeacutem foi destacada Ele vai trazer desenvolvimento para

Treviso e regiatildeo com geraccedilatildeo de emprego e renda E quanto agrave

dependecircncia do municiacutepio em relaccedilatildeo ao carvatildeo Luis Carlos Cunha

garantiu que o municiacutepio diversificaraacute sua economia

179

Ora cinquenta anos eacute um prazo bastante grande

pra pra pra um desenvolvimento de outras

atividades no municiacutepio Natildeo vai o municiacutepio natildeo

vai ficar estagnado somente na mina e numa

Usina E a Usina eacute multiplicadora na medida em

que ela vai proporcionar com os seus subprodutos

o sulfato de amocircnia e a proacutepria cinza que eacute uma

mateacuteria prima importante para a construccedilatildeo civil

etc a implantaccedilatildeo de outros empreendimentos na

regiatildeo ou no proacuteprio municiacutepio pra

aproveitamento industrial desses subprodutos e

presumo ao longo de cinquenta anos outras

oportunidades apareceratildeo para o municiacutepio dentro

das suas vocaccedilotildees (Luis Carlos Cunha USITESC

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A usina foi colocada pelo empreendedor como uma forma de

recuperaccedilatildeo ambiental jaacute que vai ser construiacuteda em aacuterea degradada e

utilizar 30 de rejeito como mateacuteria prima para geraccedilatildeo de energia ldquoA

rigor a instalaccedilatildeo da Usina nessa localizaccedilatildeo significa uma accedilatildeo de

recuperaccedilatildeo ambientalrdquo (Luis Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

O maior impacto ambiental segundo o representante do

empreendedor eacute a pressatildeo sobre a infraestrutura urbana de Treviso que

seraacute devidamente minimizada com investimentos nessa aacuterea Como

principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo foi destacada a geraccedilatildeo de emprego e

renda apresentada ao puacuteblico da audiecircncia atraveacutes da Tabela 28

Tabela 28 ndash Principal ldquobenefiacutecio ambientalrdquo com a construccedilatildeo da

USITESC SETOR DA

ECONOMIA

EMPREGOS

DIRETOS

EMPREGOS

INDIRETOS

Mineraccedilatildeo de carvatildeo 400-500

Mineraccedilatildeo de calcaacuterio ~60

Geraccedilatildeo de energia ~150

Amocircnia e sulfato de

amocircnia

~60

Transportes diversos ~140

Restante da economia

associada

4500

Fonte Luis Carlos Cunha USITESC Audiecircncia Puacuteblica (2007)

180

Os segmentos poliacuteticos tambeacutem se posicionaram em relaccedilatildeo agrave

ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica O representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal ressaltou a necessidade da ampliaccedilatildeo da oferta de

energia eleacutetrica resguardando seu posicionamento teacutecnico-legal

E aiacute o Brasil estaacute numa encruzilhada no meu

ponto de vista e aqui isso que noacutes estamos

vivendo em Treviso eacute um microcosmo do que taacute

acontecendo no paiacutes Porque o paiacutes estaacute diante de

uma crise energeacutetica noacutes tivemos um apagatildeo

daqui a um tempo vamos ter outro aqui noacutes

estamos discutindo USITESC mas tem problema

de usina hidreleacutetrica em Itaacute em Anita Garibaldi

em Belo Monte laacute na Amazocircnia e natildeo sei mais

aonde e noacutes estamos refeacutem do gasoduto do Evo

Morales Entatildeo Esse eacute um questionamento pra

noacutes brasileiros como um todo Claro que natildeo

somos noacutes aqui que vamos resolver isso mas

temos que ter isso em mente E isso passa pelo

presidente da repuacuteblica pelo Congresso a

sociedade tem que ter uma resposta pra isso

porque noacutes queremos luz eleacutetrica queremos o

desenvolvimento econocircmico Entatildeo daonde vai

sair a energia Algum impacto ambiental em

algum lugar vai ter que ter Eacute claro que noacutes

queremos o mais longe possiacutevel do nosso quintal

E o papel do Ministeacuterio Puacuteblico nesse processo eacute

um oacutergatildeo independente que fiscaliza E noacutes

estamos fiscalizando esse processo da USITESC

com base olhando duas coisas o cumprimento da

legislaccedilatildeo e os aspectos teacutecnicos Vocecircs viram

aqui que tem uma equipe teacutecnica trabalhando

temos outros profissionais que estatildeo trabalhando

nisso () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico

Federal AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A prefeita Lucia Simolin enfatizou a situaccedilatildeo de dependecircncia do municiacutepio em relaccedilatildeo agrave atividade carboniacutefera

Eacute verdade tambeacutem que Treviso hoje tem a

seguinte realidade incontestaacutevel feliz ou

infelizmente 80 da nossa economia faltando

alguns poucos deacutecimos praticamente

181

arredondando para 80 depende da economia da

extraccedilatildeo do carvatildeo mineral nos seus diversos tipos

de exploraccedilatildeo e usos Em torno de 20 gira em

torno da produccedilatildeo agropecuaacuteria embora a gente

tenha 168km2 de aacuterea Entatildeo senhores a

exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral para Treviso ela eacute

equivalente agrave monocultura do arroz para Turvo e

Meleiro Essa eacute uma realidade teacutecnica e

administrativa que natildeo eacute do dia pra noite que a

gente pode alterar (Lucia Simolin prefeita

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

() noacutes temos a consciecircncia dos problemas que

podem advir uns mais visiacuteveis e comprovados

outros que o tempo vai nos dizer e a natureza de

que um empreendimento desse porte ele vai nos

afetar Mas vejamos bem como vamos

sobreviver a uma condiccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos

municipais se praticamente a receita do

municiacutepio hoje estaacute diretamente vinculada a

extraccedilatildeo de um foacutessil (Lucia Simolin prefeita

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Apesar de demonstrar uma certa inseguranccedila em relaccedilatildeo aos

impactos o empreendimento natildeo foi questionado A prefeita inclusive

enfatizou a ldquocultura do carvatildeordquo e a ideia da construccedilatildeo do museu do

carvatildeo como algo positivo para a cidade

noacutes temos a nossa cultura eacute o carvatildeo Aiacute a natildeo

exploraacute-lo ou a transformaacute-lo em energia eacute uma

discussatildeo que noacutes estamos presentes e portanto

natildeo fugindo () A gente tem que ver a melhor

saiacuteda pra todas as situaccedilotildees E noacutes do poder

puacuteblico estamos aqui pra isso Estamos aqui para

contribuir Entatildeo esse eacute o meu depoimento a

respeito do empreendimento essa eacute a realidade do

municiacutepio e que natildeo pode ser negada Eacute a nossa

realidade Eacute a nossa verdade A verdade que eacute

uma verdade econocircmico-financeira mas eacute a nossa

verdade (Lucia Simolin AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

182

O crescimento econocircmico do municiacutepio e regiatildeo foi um

argumento forte de convencimento

Noacutes temos que ter consciecircncia de que o projeto

USITESC quando implantado ele seraacute a mola

propulsora de uma nova fase de desenvolvimento

para toda a regiatildeo carboniacutefera Natildeo eacute soacute mineiro

que quer emprego Toda a populaccedilatildeo quer

emprego Quer investimento em sauacutede educaccedilatildeo

e a USITESC eacute investimento eacute sinal de

investimento () Eu acho que a regiatildeo toda tem

muito a ganhar com esse grande projeto que vai

alavancar o progresso e o desenvolvimento de

uma nova fase () (Marcos Antocircnio Cesconetto

Vereador AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

O que fica expliacutecito nos discursos de alguns poliacuteticos locais eacute

uma confianccedila no processo de licenciamento e nas empresas

carboniacuteferas

Noacutes temos que discutir aqui assuntos pertinentes

agrave populaccedilatildeo ou seja a instalaccedilatildeo da Usina E

dizer Dr Darlan que noacutes confiamos na atuaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico Federal confiamos na atuaccedilatildeo

do Ministeacuterio Puacuteblico Estadual na atuaccedilatildeo da

Fatma e de tantos oacutergatildeos como o Ibama que satildeo

realmente quem tem condiccedilotildees de fiscalizar aquilo

que vai acontecer no empreendimento Natildeo satildeo

afirmaccedilotildees infundadas que foram levantadas aqui

e que muitas delas natildeo tem a ver com o

empreendimento Noacutes queremos dizer que noacutes

confiamos na Carboniacutefera Metropolitana e na

Carboniacutefera Criciuacutema uma delas aqui a mais de

vinte anos outra jaacute explorou carvatildeo aqui na volta

redonda e nas reservas que eles tecircm aqui E noacutes

temos consciecircncia de que o empreendimento eacute

viaacutevel e eacute viaacutevel porque ele pode viabilizar a

exploraccedilatildeo de carvatildeo e a grande maioria das

pessoas eu posso dizer que quase a totalidade das

pessoas que estatildeo aqui ou satildeo mineiros ou algueacutem

da famiacutelia vive do carvatildeo nos mais diversos

municiacutepios (Marcos Antocircnio Cesconetto

Vereador AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

183

A ldquoinevitaacutevelrdquo ampliaccedilatildeo da energia termeleacutetrica fica evidente

nos discursos aqui apresentados O empreendimento se justifica na

medida em que paiacuteses ldquodesenvolvidosrdquo utilizam o carvatildeo para geraccedilatildeo

de energia e o Brasil por ter uma matriz energeacutetica considerada

ldquolimpardquo pode usaacute-lo sem maiores problemas Os impactos ambientais

do empreendimento seratildeo miacutenimos jaacute que os investidores internacionais

assim o exigem e o Ministeacuterio Puacuteblico estaacute fiscalizando Afinal a

concessatildeo do licenciamento estaacute condicionada ao respeito agraves leis e a

criteacuterios teacutecnicos

Os poliacuteticos municipais dada a dependecircncia econocircmica da

atividade carboniacutefera veem o empreendimento com ldquobons olhosrdquo pois

apesar dos impactos negativos ele traraacute tambeacutem o crescimento ao

municiacutepio e agrave regiatildeo Segundo eles a cultura do carvatildeo precisa ser

mantida

632 As mudanccedilas climaacuteticas natildeo vecircm ao caso

Os segmentos sociais presentes nas audiecircncia puacuteblicas (Amigos

da Terra Movimento Iccedilara pela Vida Soacutecios da Natureza UNESC

dentre outros) demonstraram preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas

com o aquecimento global com o impacto regional do empreendimento

e a continuidade da atividade carboniacutefera que jaacute causou muitos impactos

na regiatildeo

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionou a

continuidade de uma atividade que se mostrou e se mostra inviaacutevel do

ponto de vista socioambiental

Porque a nossa preocupaccedilatildeo do Movimento pela

Vida aleacutem de todo o efeito estufa aleacutem de toda a

poluiccedilatildeo que vai gerar aqui na regiatildeo que natildeo eacute

soacute o CO2 que vai largar O gaacutes que vai ser largado

aqui mas toda uma poluiccedilatildeo que vai ser gerada

aqui proacuteximo do Aquiacutefero Guarani da Serra todo

esse ecossistema que existe que essa usina estaacute

colocando em perigo E tambeacutem vai a meacutedio e

longo prazo trazer problemas para as famiacutelias da

regiatildeo onde existe carvatildeo no subsolo porque

assim como laacute na Iccedilara eles tatildeo tentando tirar

carvatildeo eles vatildeo tentar continuar tirando de outros

184

lugares (Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela

Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Carlyle professor da UNESC fez a seguinte pergunta

ldquoConsiderando as implicaccedilotildees das emissotildees de CO2 Dioacutexido de Carbono

para o aquecimento global quais as razotildees pelas quais esse poluente natildeo

foi analisado17

tendo em vista os recentes relatoacuterios do Painel sobre

Mudanccedilas Climaacuteticasrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Em resposta Luiz Nogueira Palma deixou claro que a questatildeo

das mudanccedilas climaacuteticas natildeo dizia respeito ao conteuacutedo da audiecircncia

puacuteblica

Eu vou responder isso aiacute eu acho que o Carlyle

estaacute colocando uma pergunta muito interessante

mas que no meu entendimento ela foge

totalmente ao objeto dessa audiecircncia Eacute todo

mundo sabe que uma usina termeleacutetrica que

queima carvatildeo ou qualquer outro combustiacutevel

emite CO2 Existem necessidades de gerar energia

e o que estaacute se discutindo aqui eacute a necessidade de

um empreendimento que foi colocado junto ao

cenaacuterio nacional Eacute eu natildeo vou mentir para vocecircs

essa usina emite CO2 como o carro de cada um de

noacutes emite CO2 e o que o que o Carlyle taacute

colocando eacute uma preocupaccedilatildeo mundial de emissatildeo

de CO2 Mas nem por isso nenhum paiacutes estaacute

deixando de implantar usina as necessaacuterias como

todos os controles necessaacuterios [ele interrompe

momentaneamente a fala por conta do burburinho]

Entatildeo eu acho que essa pergunta que trata de uma

mateacuteria global A usina trata os poluentes

atmosfeacutericos de forma exemplar com elementos

de controle extremamente sofisticados

encarecendo o preccedilo da energia gerada e por isso

estaacute se chamando usina da energia verde neacute

Porque a teacutermica que usa um combustiacutevel natildeo tatildeo

nobre como o gaacutes que eacute o carvatildeo nacional ela taiacute

para produzir mostrando que as emissotildees tatildeo

muito abaixo dos padrotildees nacionais Natildeo existe

um padratildeo nacional para CO2 em lugar nenhum

17

Nos estudos complementares que haviam sido apresentados na audiecircncia

puacuteblica

185

do mundo Entatildeo essa eacute outra questatildeo () O

contraponto dessa pergunta e de que se noacutes

estamos ou natildeo colaborando com o Protocolo de

Quioto O Brasil colabora porque a nossa matriz

energeacutetica mais de 90 da energia gerada no paiacutes

eacute hidraacuteulica (Luiz Nogueira Palma IPAT

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida fez a leitura de

uma moccedilatildeo que foi aprovada na etapa regional da Conferecircncia do Meio

Ambiente A Conferecircncia aconteceu na UNESC e foi promovida pela

Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econocircmico Sustentaacutevel pelo

IBAMA Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo EPAGRI CIRAM

FECAM ANAMA FLORAM FEEC FIESC ALESC FETAESC

Poliacutecia Militar Ambiental e ACAFE Aconteceram sete delas em Santa

Catarina O objetivo das Conferecircncias foi traccedilar poliacuteticas puacuteblicas sobre

meio ambiente no paiacutes em relaccedilatildeo ao aquecimento global ldquoE qual foi a

decisatildeo que a Conferecircncia Regional aqui tomou em relaccedilatildeo ao carvatildeo

Em resumo ldquoa substituiccedilatildeo da matriz energeacutetica baseada no carvatildeo para

outras alternativas de modo gradativordquo Moccedilatildeo que foi aprovada por

unanimidade Ele aproveitou para ler um trecho da moccedilatildeo

() em face da comprovada participaccedilatildeo da

queima de carvatildeo mineral no aumento do

aquecimento global e na intensa degradaccedilatildeo do

solo e aacuteguas provocadas pela sua extraccedilatildeo a

Conferecircncia Regional do Meio Ambiente de

Criciuacutema solicita o cancelamento de todo o

processo de licenciamento da Termeleacutetrica

USITESC em Santa Catarina bem como outras da

regiatildeo sul do Estado dado o elevado passivo

ambiental associado aos empreendimentos

especialmente em termos de degradaccedilatildeo dos

ecossistemas costeiros e da perda da qualidade de

vida das populaccedilotildees que ocupam o sul do estadordquo

Ele completou sua intervenccedilatildeo fazendo o seguinte comentaacuterio

Algueacutem estaacute indo na contramatildeo da histoacuteria ()

Ou noacutes nos damos conta que esse

empreendimento vai contra taacute indo contra tudo o

que estaacute se vendo nesse paiacutes nesse planeta ou

entatildeo a gente estaacute assinando nossa sentenccedila de

morte Chegamos ao absurdo de escutar dos

186

teacutecnicos do IPAT que essa questatildeo do CO2 eacute uma

questatildeo irrelevante natildeo vem ao caso Gente essa

eacute a maior questatildeo E que foi deixada de lado E o

IPAT estaacute indo contra a missatildeo da UNESC

(Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Diante do comentaacuterio o representante do IPAT Marcos Back

fez as seguintes consideraccedilotildees

Em primeiro lugar eu gostaria de esclarecer

algumas questotildees por aqui que natildeo estatildeo muito

claras Primeiro existe um posicionamento

equivocado aqui Noacutes temos que entender

exatamente o que noacutes estamos colocando

Primeiro noacutes estamos discutindo o EIARIMA

que se refere a uma usina termeleacutetrica que queima

carvatildeo e que emite CO2 Quando o Engenheiro

Palma coloca que a questatildeo do CO2 natildeo deve ser

discutida aqui natildeo eacute que ele estaacute querendo dizer

que a questatildeo do CO2 eacute irrelevante Natildeo eacute que ele

quer dizer que o problema do CO2 do

aquecimento global natildeo sejam questotildees

importantes a serem discutidas Pelo contraacuterio a

questatildeo do aquecimento global e da emissatildeo de

CO2 eacute uma questatildeo muito importante a ser

discutida Que a sociedade tem que pensar

seriamente nas consequecircncias da emissatildeo de CO2

que natildeo vem soacute do carvatildeo taacute Entatildeo noacutes temos

que pensar nisso que o aquecimento global estaacute

mostrando seus efeitos e jaacute vaacuterios cientistas

demonstraram mostraram esses efeitos Entatildeo noacutes

temos que pensar nisso sim Quando o IPAT taacute

colocando aqui que noacutes estamos discutindo o

EIARIMA da USITESC noacutes estamos colocando

que discutir licenciamento ambiental eacute um

procedimento legal vocecirc segue o tracircmite as

normas de um procedimento legal () Natildeo eacute da

competecircncia do IPAT julgar a matriz energeacutetica

brasileira Quem estabeleceu isso foram as leis

federais o Congresso Nacional e o Presidente

Lula Satildeo eles que estabelecem se pode ou natildeo

pode produzir carvatildeo se pode ou natildeo pode ter

187

energia movida a carvatildeo Entatildeo natildeo compete ao

IPAT nesse estudo NESSE ESTUDO de usina

termeleacutetrica conduzir uma discussatildeo sobre

aquecimento global porque natildeo eacute isso que estaacute

em discussatildeo aqui O que taacute em discussatildeo aqui eacute

se pode ou natildeo implantar a usina termeleacutetrica

dentro dos tracircmites da lei atual (Marcos Back

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Um representante dos segmentos poliacuteticos Joatildeo Luiacutes presidente

da Cacircmara de Vereadores de Trevisto tambeacutem fez um questionamento

sobre o assunto

Eu gostaria de fazer uma pergunta aos oacutergatildeos

ambientais Noacutes vimos na televisatildeo todos os dias

que os Estados Unidos eacute o maior produtor desse

planeta e foi superado pela China Exatamente nas

suas termeleacutetricas que queimam carvatildeo mineral

87 da energia produzida pela China eacute da queima

do carvatildeo mineral Entatildeo noacutes vemos aiacute o mundo

todo criticando brigando contra isso agora eu

gostaria que vocecircs respondessem a todos noacutes que

satildeo pessoas entendidas Noacutes podemos implantar

um projeto como esse em Treviso Ele eacute viaacutevel

Noacutes podemos pagar esse preccedilo E por que (Joatildeo

Luis Presidente da Cacircmara de Vereadores de

Treviso AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

A resposta do representante da FATMA tambeacutem natildeo contemplou

a preocupaccedilatildeo com questotildees mais amplas

Algumas questotildees que jaacute foram hoje objeto de

abordagem aqui ele foge do escopo do processo

de licenciamento Noacutes tratarmos de mudanccedilas

climaacuteticas natildeo eacute uma questatildeo que estaacute inserida no

projeto que hoje estaacute sendo objeto dessa audiecircncia

puacuteblica A garantia que eu posso dar aos senhores

em relaccedilatildeo ao projeto que estaacute sendo avaliado pela

FATMA e logicamente que noacutes temos natildeo eacute uma

parceria mas um papel fiscalizador do Ministeacuterio

Puacuteblico que tem auxiliado e tem contribuiacutedo de

uma maneira positiva pra que noacutes ao longo desses

dois trecircs anos desse processo de licenciamento

noacutes tenhamos tido avanccedilos significativos em

188

termos de ganhos ambientais () (Luis Antocircnio

Garcia FATMA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Jaacute o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal Darlan Aiacutelton

Dias contemplou a preocupaccedilatildeo dos presentes afirmando que ldquoeu acho

sim que o aquecimento global faz parte da discussatildeo da USITESC Deve

ser discutida mas a decisatildeo do licenciamento eacute verificar a adequaccedilatildeo

teacutecnica e o atendimento agrave legislaccedilatildeordquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Apesar do parecer favoraacutevel do representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal fica claro que para os que compotildeem a mesa de

trabalho na audiecircncia puacuteblica o tema natildeo tem relaccedilatildeo com o

licenciamento Aos representantes dos segmentos sociais e poliacuteticos aqui

citados foi permitida a manifestaccedilatildeo quanto ao tema mas ela natildeo

encontrou eco Isso aconteceu tambeacutem para a tentativa de discutir o

empreendimento regionalmente

633 Quem defende quem E quem defende os

afetadosatingidosameaccedilados

Nas audiecircncias puacuteblicas foram colocadas duacutevidas em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo da populaccedilatildeo de Treviso O vereador Joatildeo Luis Brunel fez a

seguinte colocaccedilatildeo seguida de uma pergunta

() Eu quero dizer que sou a favor do progresso e

quero que a nossa gente tenha emprego mas que

noacutes temos que pagar um preccedilo justo Eu gostaria

de fazer uma pergunta aqui Falou-se sobre muita

coisa mas eu gostaria de saber sobre todas essas

famiacutelias que seratildeo desapropriadas Eu cito aqui a

comunidade da Brasiacutelia Eu vejo aqui a

comunidade satildeo famiacutelias centenaacuterias de gente que

desbravaram essa terra que ajudaram a construir

esse municiacutepio Entatildeo eu faccedilo a seguinte pergunta

como que eles tem o direito de se defender Eles

simplesmente vatildeo ser notificados vatildeo ser

desapropriados Satildeo pessoas que estatildeo aiacute haacute mais

de um seacuteculo Eu gostaria de saber onde estatildeo os

direitos humanos Quais satildeo os direitos que eles

189

tecircm (Joatildeo Luis Brunel AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

Joaquim Teixeira Neto estudante da UNESC fez seu comentaacuterio

sobre a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo na audiecircncia puacuteblica

Entatildeo o seguinte eu gostaria que a populaccedilatildeo de

Treviso que natildeo estaacute aqui presente por motivos

que a gente desconhece precisa A populaccedilatildeo de

Treviso precisa se manifestar em audiecircncia

exclusiva Porque esse empreendimento apesar de

ser regional vai atingir primeiramente essa

comunidade e eles natildeo estatildeo sendo ouvidos Eles

estatildeo sendo calados e todos sabemos (Joaquim

Teixeira Neto AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Lucia Ortiz da Amigos da Terra fez um relato de um processo

de licenciamento que aconteceu no Rio Grande do Sul no qual mesmo

depois de emitida a licenccedila foi feito um plebiscito na regiatildeo

() mesmo depois que a Fepam liberou a licenccedila

preacutevia pra instalaccedilatildeo dessa usina o pessoal

conseguiu realizar a realizaccedilatildeo de um plebiscito

na regiatildeo que vai ser agora esse saacutebado pra que a

populaccedilatildeo de fato possa decidir se quer ou natildeo

esse empreendimento A minha pergunta eu tenho

duas perguntas uma eu acho que seria saber se

tem resposta pra populaccedilatildeo dos municiacutepios aqui

da regiatildeo que eacute se as pessoas aqui estatildeo mesmo

dispostas a abrirem matildeo das suas reservas de

aacutegua pro seu abastecimento proacuteprio ou dos seus

filhos ou dos seus netos tendo em vista que essa

usina vai consumir muito mais que a populaccedilatildeo da

regiatildeo de aacutegua a aacutegua do Rio Matildee Luzia aquilo

que ainda resta de aacutegua natildeo contaminada nessa

bacia (Lucia Ortiz Amigos da Terra

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A prefeita de Treviso Lucia Simolin na quarta Audiecircncia

Puacuteblica comentou que foi realizada uma pesquisa e que 70 da

populaccedilatildeo de Treviso concorda com o empreendimento Duas criacuteticas

feitas merecem destaque

190

A primeira feita pelo estudante da UNESC Joaquim Teixeira

chamou a atenccedilatildeo para o fato de que a USITESC eacute um empreendimento

que afetaraacute a regiatildeo e ouvir apenas a populaccedilatildeo de Treviso natildeo seria

uma medida adequada Segundo ele ldquoa termeleacutetrica natildeo eacute soacute um

problema de Treviso Fazer pesquisa de opiniatildeo soacute em Treviso eacute

desprezar uma questatildeo que eacute regionalrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

A segunda criacutetica questionou a pesquisa citada pela prefeita com

base em uma pesquisa feita no municiacutepio de Iccedilara

O IPAT quando fala que eacute imparcial ele estaacute

numa situaccedilatildeo que eu passei pelo conjunto do

Movimento pela Vida em Iccedilara Foi feita uma

pesquisa na Iccedilara pelo IPAT perguntando o

seguinte se a mina natildeo degradar natildeo poluir natildeo

fazer isso natildeo fazer aquilo nanana nananan vocecirc

vai ser a favor da mina Ai o pessoal ateacute eu

responderia que sim Aiacute fizeram uma publicaccedilatildeo

ldquoO IPAT confirma que 80 da populaccedilatildeo de Iccedilara

eacute a favor da mina Fomos laacute saber qual era a

pergunta que foi feita era desse jeito Noacutes

queremos contratar o IPAT para fazer a seguinte

pesquisa se levar em conta toda a degradaccedilatildeo que

a mina provoca os caimentos as casas rachadas a

aacutegua poluiacuteda o aquecimento global papapaacute vocecircs

seriam a favor da mina ou natildeo Ah isso noacutes natildeo

podemos fazer Pra noacutes podiam fazer uma

pesquisa desde fugiu a palavra aqui () mas pra

eles sim Eu questiono sim o IPAT mas

parabenizo grande parte da UNESC professores e

alunos que estatildeo buscando realmente uma defesa

do meio ambiente (Gilmar Bonifaacutecio Movimento

Iccedilara pela Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Nos discursos das duas audiecircncias puacuteblicas constatou-se que

apenas uma pessoa se colocou como representante de uma comunidade

de Treviso Gerson Hanne A intervenccedilatildeo seguinte de Sivio Saad

sintetiza a preocupaccedilatildeo de quem assistiu as duas audiecircncias puacuteblicas

Noacutes temos uma cidade pacata com 3500

habitantes e algueacutem resolve colocar um

empreendimento dentro dessa cidade Os

moradores claro devem saber o que estaacute

191

acontecendo Vimos a exposiccedilatildeo do

empreendedor vimos a exposiccedilatildeo da universidade

e o poder de julgar de saber se aceitam ou natildeo o

empreendimento agrave medida que eles foram

convincentes neacute os empreendedores satildeo

convincentes tatildeo preparados tem audiovisual satildeo

convincentes Mas eu gostaria de saber se a

populaccedilatildeo decide que natildeo quer quem defende os

interesses da populaccedilatildeo Quem eacute que taacute aqui

sentado (ele mostra os integrantes da mesa) que

representa os interesses dessa populaccedilatildeo Que

possa pelo menos equilibrar esse jogo Seria o

empreendedor Claro que natildeo Ele taacute defendendo

os seus interesses Ele eacute capaz de dizer aqui que

os oacutergatildeos internacionais soacute aprovam o dinheiro se

tiver cuidado com o meio ambiente Acredite se

quiser Temos aqui o pessoal da FATMA Eu jaacute vi

a FATMA aprovar coisas absurdas () Agora

depois que ela aprovou ela fiscaliza () Aiacute eles

respondem ldquonatildeo temos quem fiscalizerdquo Quem

seria a Universidade A UNESC () A prefeita

() eu ouvi uma entrevista dela hoje cedo dizendo

que se der dinheiro para a cidade ela aprova

Quem mais O governador que vem aqui diz que

vai dar emprego Vocecircs querem emprego Vocecircs

querem colocar mais duas mil pessoas aqui

dentro () Se a populaccedilatildeo quer oacutetimo Se a

populaccedilatildeo natildeo quer precisa ter algueacutem aqui que

defende () Soacute tem uma pessoa que defende os

interesses da populaccedilatildeo o Dr Darlan Esse

defende Dentro da lei esse defende Agora

precisava mais algueacutem () Se for confiar em

quem taacute aqui na mesa vocecircs tatildeo perdidos Se a

populaccedilatildeo chega agrave conclusatildeo que natildeo quer e

confia nesses que tatildeo aqui vocecircs estatildeo perdidos

A minha pergunta eacute quem defende os interesses

da populaccedilatildeo (Silvio Saad AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Diante dessa fala o apresentador Adhiles Bortot da FATMA

passou para a proacutexima pergunta sem que ningueacutem da mesa se

pronunciasse Essa atitude refletiu o clima das duas audiecircncias

analisadas Quando o assunto se referia aos

192

atingidosafetadosameaccedilados muitas respostas evasivas eram dadas

ressaltando sempre o respeito pelas leis e pelos criteacuterios teacutecnicos

As interveccedilotildees apresentadas demonstram a injusticcedila poliacutetica Se a

mineraccedilatildeo respeita as leis e os criteacuterios teacutecnicos ela eacute liacutecita O que passa

ao largo eacute uma discussatildeo mais ampla sobre gestatildeo de recursos comuns

opccedilotildees de desenvolvimento direitos humanos e justiccedila ecoloacutegica

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida falou da importacircncia

de uma discussatildeo sobre os direitos do cidadatildeo ldquo() concordamos

tambeacutem com o direito constitucional que todo cidadatildeo tem o direito a

um ambiente saudaacutevel () Essa tambeacutem eacute uma questatildeo legal Entatildeo noacutes

devemos comeccedilar a discutir questotildees legaisrdquo (Gilmar Bonifaacutecio

Movimento Iccedilara pela Vida AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007) Mas as

evidecircncias demonstram que as audiecircncias se propunham a ser espaccedilo de

discussatildeo apenas de assuntos referentes ao licenciamento Todas as

discussotildees mais amplas foram desconsideradas

634 O papel da FATMA em questatildeo

Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionou o

Ministeacuterio Puacuteblico e a FATMA que na segunda audiecircncia afirmaram

que a licenccedila natildeo seria emitida sem estudos conclusivos Ele citou o

exemplo de Iccedilara que haacute trecircs anos vinha se mobilizando para a natildeo

instalaccedilatildeo de uma mina de carvatildeo Ele destacou o papel do Ministeacuterio

Puacuteblico e questionou o papel da FATMA No caso da USITESC a

preocupaccedilatildeo dele foi que se a LP fosse dada e os empreendedores

participassem do leilatildeo haveria uma pressatildeo para a aprovaccedilatildeo dos

processos de licenciamento dos empreendimentos acessoacuterios

(AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Joatildeo Luis Brunel tambeacutem questionou os criteacuterios da FATMA na

concessatildeo da licenccedila

() noacutes vemos aiacute todos os dias uma campanha

mundial de preservaccedilatildeo da natureza

principalmente das aacuteguas aacuteguas do nosso planeta

que estatildeo quase que totalmente poluiacutedas entatildeo eu

faccedilo a pergunta noacutes vamos construir essa usina ao

lado de uma reserva ambiental e vamos captar a

maior fonte de aacutegua potaacutevel do nosso municiacutepio

193

uma aacutegua que jaacute estaacute mapeada pela Casan pra

abastecimento futuro em cidades vizinhas E onde

vatildeo passar a linha do trem e a linha de transmissatildeo

vatildeo atingir terrenos cobertos por floresta nativa

Entatildeo eu gostaria de saber quais satildeo os criteacuterios

que a Fatma os oacutergatildeos ambientais adotam pra dar

a licenccedila ou natildeo para a construccedilatildeo de um projeto

como esse (Joatildeo Luis Brunel AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Luis Antocircnio Garcia da FATMA respondeu ldquoA Fatma atraveacutes

de seu corpo teacutecnico e seus consultores vai avaliar os estudos como os

demais e leva em consideraccedilatildeo criteacuterios teacutecnicos e aspectos legais Se

houver viabilidade pelo licenciamento assim seraacute feito Se natildeo houver

viabilidade a licenccedila natildeo seraacute concedidardquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

O representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal na defesa da

FATMA fez as seguintes consideraccedilotildees

Mas posso dizer que na maioria dos casos

inclusive envolvendo o carvatildeo a Fatma tem

atuado em bastante sintonia com o Ministeacuterio

Puacuteblico Eacute claro que a Fatma eacute um oacutergatildeo do poder

executivo e noacutes conhecemos a tradiccedilatildeo do nosso

estado poliacutetica inclusive tudo eacute muito politizado

noacutes sabemos que a Fatma sofre pressotildees poliacuteticas

de toda ordem Mas eu sou testemunha pelo que

vivo aqui em Criciuacutema que os teacutecnicos tem se

esforccedilado e a direccedilatildeo tambeacutem pra resistir agraves

pressotildees e fazer um trabalho teacutecnico (Darlan

Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Na quarta audiecircncia puacuteblica a legitimidade da FATMA nos

processos de licenciamento tambeacutem foi colocada vaacuterias vezes em

duacutevida A jornalista Ana Echevenguaacute de Florianoacutepolis fez o seguinte

questionamento

() eu gostaria de perguntar para o Dr Darlan de

acordo com aquela decisatildeo liminar proferida pelo

Dr Germano juiz federal onde ele dizia que

enquanto a FATMA natildeo tiver o corpo teacutecnico

194

capaz de apreciar EIARIMA ela estaacute proibida e o

IBAMA assumiria essa responsabilidade eu

entendo que nem essa audiecircncia deveria estar

acontecendo (Ana Echevenguaacute AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2007)

Em resposta o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

enfatizou o caraacuteter fiscalizador do Ministeacuterio Puacuteblico e que o IBAMA

natildeo seria a soluccedilatildeo para os problemas de licenciamento em Santa

Catarina

Aquela decisatildeo do juiz que disse que o

licenciamento das minas e dos PRADES de

recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas natildeo poderia ser

feito pela FATMA se natildeo fosse embasada em

pareceres teacutecnicos aiacute o juiz lista uma seacuterie de

empreendedores perdatildeo de profissionais

geoacutelogos engenheiro de minas bioacutelogo

agrocircnomo e tal tal tal natildeo me lembro de cabeccedila

mas se a FATMA tiver um parecer teacutecnico

embasado por esses profissionais ela pode emitir a

licenccedila Quando o juiz disse que o licenciamento

tem que ser passado para o IBAMA o Ministeacuterio

Puacuteblico entende que isso eacute um equiacutevoco do juiz e

noacutes recorremos contra essa parte da decisatildeo Por

que Primeiro que isso natildeo foi pedido entatildeo o

juiz natildeo pode julgar extra petita18

e ele fez isso

nesse caso Segundo o IBAMA natildeo eacute a soluccedilatildeo

A FATMA tem problemas Tem seacuterios e vaacuterios

problemas Noacutes estamos fiscalizando e atuando

para que isso se altere Mas o IBAMA natildeo eacute a

soluccedilatildeo Porque o IBAMA eacute totalmente ausente

da regiatildeo Sul de Santa Catarina O estado de Santa

Catarina inteiro a equipe do IBAMA eacute

precariacutessima Entatildeo com respeito ao Leonir aqui

que taacute por aiacute que agora eacute do Chico Mendes O

IBAMA aqui na regiatildeo sul natildeo existe Entatildeo

passar o licenciamento de qualquer coisa pro

IBAMA aqui na regiatildeo eacute um equiacutevoco (Darlan

Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico Federal

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

18

Decisotildees extra petita satildeo aquelas que o juiz toma concedendo ao

autor coisa diversa da que foi requerida em sua peticcedilatildeo inicial

195

O representante da FATMA Luis Antocircnio Garcia por sua vez

insistiu que a FATMA tem melhorado seu quadro teacutecnico e conta com

consultores externos Ele ressaltou tambeacutem que a decisatildeo do

licenciamento eacute baseada nos criteacuterios legais e teacutecnicos

Dos segmentos sociais que participaram das audiecircncias

percebeu-se uma desconfianccedila em relaccedilatildeo agrave conduta da FATMA nos

processos de licenciamento A FATMA por sua vez reconhece as

dificuldades existentes e faz uma aposta na atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico Segundo o representante da FATMA ldquoo licenciamento com

todas as dificuldades que temos mas noacutes temos hoje uma cooperaccedilatildeo

uma parceria extremamente sadia e participativa e com resultados

extremamente beneacuteficos a sociedade que eacute junto com o Ministeacuterio

Puacuteblico ()rdquo (Luis Antocircnio Garcia FATMA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Nos discursos dos segmentos sociais e poliacuteticos transparece a

fragilidade do oacutergatildeo ambiental E aiacute a responsabilidade que seria do

oacutergatildeo ambiental eacute passada para o Ministeacuterio Puacuteblico Isso pode ser bom

por um lado uma vez que existe fiscalizaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental mas

por outro lado pode fazer com que as fragilidades do oacutergatildeo ambiental se

perpetuem

635 O IPAT e a neutralidade da ciecircncia

A linguagem teacutecnica do IPAT foi questionada na terceira

audiecircncia puacuteblica ldquo() a maioria de noacutes cidadatildeos mortais e comuns

natildeo temos conhecimento suficiente para traduzir as informaccedilotildees que

foram passadasrdquo (Gilmar Bonifaacutecio Movimento Iccedilara pela Vida

AUDIEcircNCIA 2006) Mauricio Luis Camara questionou sobre a

apresentaccedilatildeo do IPAT para que fizessem um resumo de forma que

todos entendessem (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Outro ponto que merece destaque eacute o fato de o IPAT natildeo ter

deixado clara a viabilidade do empreendimento Abaixo a intervenccedilatildeo

de Gilmar Bonifaacutecio do Movimento Iccedilara pela Vida questionando esse

ponto

196

[] eacute nesse sentido que eu gostaria de saber []

quais satildeo os pontos positivos e quais satildeo os

pontos negativos para que a populaccedilatildeo tambeacutem

tenha condiccedilatildeo de por si soacute analisar e tomar uma

posiccedilatildeo e natildeo simplesmente tomar uma posiccedilatildeo

porque algueacutem ou um chefe poliacutetico tipo um

empreendedor taacute dizendo que eacute assim [] na

minha opiniatildeo ficou faltando isso do IPAT uma

posiccedilatildeo clara de quais satildeo os pontos positivos e

negativos porque aiacute se coloca na balanccedila Porque

eacute isso que a gente tem que ver [] (AUDIEcircNCIA

PUacuteBLICA 2006)

Em resposta Fabiano Luzi Neris representante do IPAT

afirmou que ldquoo IPAT natildeo tem posicionamento se a Usina eacute viaacutevel ou

natildeo eacute viaacutevel se ele eacute a favor ou contra a Usina () Soacute o oacutergatildeo

ambiental tem competecircncia para viabilizar ou natildeo a Usinardquo (Fabiano

Luiz Neris IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

A Universidade apresentou os resultados teacutecnicos

que estatildeo aqui e foram apresentados e estatildeo nos

documentos entregues ao empreendedor e ao

oacutergatildeo ambiental A Universidade natildeo tem o papel

de emitir o parecer favoraacutevel ou contraacuterio agrave

liberaccedilatildeo da licenccedila da Usina A Universidade tem

o papel de apresentar os estudos realizados Se

tiver algum conflito em relaccedilatildeo aos estudos a

gente estaacute a disposiccedilatildeo para discutir tecnicamente

(Fabiano Luiz Neris IPAT AUDIEcircNCIA 2006)

A representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal questionou a

resposta dada pelo IPAT ldquose o EIA natildeo vai dizer se eacute viaacutevel ou natildeo

quem de noacutes diraacute issordquo (Denise Cristina de Resende Nicolaitz

Ministeacuterio Puacuteblico Federal AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Na sequecircncia manifesta-se um posicionamento que parece

contraacuterio ao anterior

Todas as consideraccedilotildees positivas ou negativas

estatildeo e fazem parte de uma matriz de anaacutelise de

impacto Elas constam tanto do estudo da

USITESC quanto dos estudos dos

empreendimentos acessoacuterios E a equipe embora

tenha optado por natildeo fazer nenhuma manifestaccedilatildeo

197

proacute ou contra a USITESC ela nos estudos nas

suas conclusotildees ela deixa bem claro se eacute viaacutevel

ou natildeo dentro do estudo que foi feito Eu soacute queria

dizer isso e que a populaccedilatildeo tivesse ciecircncia e os

nossos colegas ecologistas que Que noacutes

apresentamos os trabalhos e noacutes temos

consciecircncia Noacutes temos nossa responsabilidade

social tambeacutem Noacutes natildeo somos levianos noacutes natildeo

queremos aprovar absolutamente nada Noacutes

estamos fazendo um estudo que demonstra a

possibilidade ou natildeo do empreendimento (Luiz

Nogueira Palma IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2006)

O IPAT enfatizou em muitas intervenccedilotildees o ldquocaraacuteter teacutecnicordquo das

informaccedilotildees prestadas Alguns exemplos de explicaccedilotildees duvidosas

foram extraiacutedos das duas audiecircncias puacuteblicas e satildeo apresentados na

sequecircncia Na audiecircncia puacuteblica de 2006 o IPAT afirmou que uma

barragem no Rio Matildee Luzia preservaria a aacutegua

() quando vocecirc constroacutei um barramento ele

isola ou seja vocecirc taacute preservando a aacutegua boa a

aacutegua de boa qualidade Vocecirc taacute reservando vocecirc

taacute evitando que aquela aacutegua polua neacute pelo menos

pelos outros motivos que mineraccedilatildeo a gente sabe

que o ph nesses frac34 de trecho do Rio Matildee Luzia o

ph da aacutegua eacute 3 E laacute em cima na foz onde natildeo

tem onde natildeo ocorre ou seja a aacutegua eacute de boa

qualidade Entatildeo vocecirc taacute isolando vocecirc taacute

isolando vocecirc taacute preservando (Naacutedia e Andreacuteia

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Quanto agrave existecircncia de risco na construccedilatildeo da barragem e na

possibilidade de caimento de mina o IPAT tambeacutem manifestou sua

posiccedilatildeo

Teoricamente eu natildeo vou te dizer que natildeo eacute

possiacutevel ocorrer um problema na construccedilatildeo da

barragem mas isso aiacute eacute uma coisa que eacute pouco

provaacutevel E quanto aos caimentos de mina cai em

vaacuterios locais e esse caimento que ocorreu

recentemente natildeo tem absolutamente nada a ver

vamos dizer assim com a eventual construccedilatildeo de

198

um barramento neacute Natildeo tem realmente natildeo tem

nada a ver e foi uma coisa improvaacutevel daquelas

coisas que natildeo se pode dizer que estava por

acontecer A mina onde caiu era um lugar

conhecido claro tinha falha geoloacutegica neacute Mas

ela tava sendo vamos dizer assim toda eacute toda

minerada de uma maneira muito teacutecnica com um

fator de seguranccedila muito alto e aconteceu Quer

dizer eacute a natureza neacute Eu com toda sinceridade

natildeo vou lhe enganar pra dizer que eacute impossiacutevel de

ocorrer um caimento laacute () Se for minerado de

uma maneira teacutecnica eacute pouco provaacutevel que

aconteccedila Agora dizer que natildeo tem caimento eu

acho que teacutecnico nenhum diria isso (Cleacutevis

IPAT AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2006)

Na quarta audiecircncia puacuteblica mais duas explicaccedilotildees chamaram a

atenccedilatildeo uma do IPAT outra do empreendedor A primeira foi dada por

Marcos Back do IPAT ldquoSegundo as pesquisas natildeo haacute uma correlaccedilatildeo

entre a usina e a sauacutede da populaccedilatildeo entre a Usina Termeleacutetrica Jorge

Lacerda e as doenccedilas respiratoacuteriasrdquo (AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Em contraposiccedilatildeo a essa informaccedilatildeo Joseacute Dagostin do Movimento

Iccedilara pela Vida trouxe informaccedilotildees atualizadas dados do Datasus

questionando o IPAT sobre os dados defasados do estudo sobre sauacutede e

tambeacutem sobre acidentes com amocircnia Dois anos depois o proacuteprio

Ministeacuterio Puacuteblico coletou e analisou dados confirmando a relaccedilatildeo

entre diversos problemas de sauacutede e o funcionamento do Complexo

Jorge Lacerda (MPF 2009)

A outra fala do empreendedor sugeriu que ldquoa estocagem de

amocircnia eacute mais segura que o botijatildeo de gaacutes que vocecircs tecircm em suas casas

Muitos dos senhores tecircm mangueiras inadequadas para conectar o

botijatildeo de gaacutes Quantas vezes passam perto do botijatildeo de gaacutesrdquo (Luis

Carlos Cunha USITESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Essa eacute uma amostra pequena das explicaccedilotildees dadas em resposta

aos questionamentos Muitas pessoas tambeacutem natildeo se sentiram

contempladas com as respostas As evasivas contemplavam encaminhar questionamentos por escrito agrave FATMA e ao IPAT desconsiderar as

perguntas com base no fato de que as informaccedilotildees jaacute haviam sido

apresentadas nas outras audiecircncias ou que as informaccedilotildees seriam

tratadas posteriormente na anaacutelise de risco

199

Nas duas audiecircncias puacuteblicas analisadas o IPAT foi questionado

ao fazer o EIARIMA da USITESC quanto ao seu posicionamento

O estudante da UNESC Joaquim Teixeira fez a seguinte

intervenccedilatildeo

ldquoA USITESC eacute a nova Marion do seacuteculo XXIrdquo Eacute

preciso separar a UNESC eacute nossa o IPAT eacute de

quem paga () o empreendimento pode ser feito

ou natildeo feito tem essa possibilidade taacute na lei Tem

alternativas ao empreendimento () Eacute preciso

mudar de paradigma () Vocecircs podem virar a

paacutegina da histoacuteria Treviso natildeo precisa de mina

Ou melhor termeleacutetrica (Joaquim Teixeira

estudante da UNESC AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA

2007)

Em resposta Marcos Back do IPAT reclamou dessa e de outras

intervenccedilotildees como ldquoataque gratuito agrave Universidaderdquo E completou

() Eu quero dizer o seguinte que eacute muito faacutecil

muito faacutecil a gente vir para uma audiecircncia e

quando a gente natildeo tem mais argumento vocecirc

desqualifica quem produziu Quem dizer eu tocirc

numa discussatildeo eu natildeo sei mais o que dizer eu

desqualifico o outro eu falo que o outro natildeo sabe

nada E na hora que eu desqualifico a pessoa

comeccedilo a desqualificar todo o estudo que foi feito

() natildeo adianta dizer que o IPAT natildeo eacute

Universidade porque a decisatildeo de implantaccedilatildeo

que o IPAT participasse desse estudo partiu da

eacutepoca que o reitor era Edson Rodrigues que fez

uma reuniatildeo com a Universidade inteira e decidiu

que a Universidade ia participar desse processo

porque eacute muito grande para a regiatildeo inteira esse

empreendimento e era preciso que a Universidade

se envolvesse no projeto para fazer a avaliaccedilatildeo

desses impactos ambientais (Marcos Back IPAT

AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA 2007)

Percebe-se nos posicionamentos do IPAT que existe a confianccedila

de que o documento produzido eacute neutro Dessa forma os segmentos

sociais natildeo teriam que questionar quem produz o documento apenas as

informaccedilotildees que o documento traz

200

636 Audiecircncias puacuteblicas como espaccedilos democraacuteticos

Somente o representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal Darlan

Aiacutelton Dias e os segmentos sociais fizeram menccedilatildeo agrave questatildeo

democraacutetica nas audiecircncias puacuteblicas Na terceira audiecircncia puacuteblica o

representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal fez a seguinte intervenccedilatildeo

A audiecircncia puacuteblica eacute um ambiente democraacutetico

bonito agraves vezes a gente fica [pausa] vem com

uma preacute-concepccedilatildeo e fica irritado quando algueacutem

fala o contraacuterio mas isso eacute o processo

democraacutetico uma sociedade democraacutetica Em

outros tempos da nossa histoacuteria recente era

inimaginaacutevel um empreendedor ter que se

submeter a esse tipo de [pausa] situaccedilatildeo Mas eacute a

realidade da nossa sociedade democraacutetica graccedilas

a deus neacute E a Constituiccedilatildeo nos daacute esse recado do

desenvolvimento sustentaacutevel noacutes queremos

desenvolver o paiacutes mas queremos preservar o

meio ambiente (Darlan Aiacutelton Dias

AUDIEcircNCIA 2006)

Todavia o elogio agrave democracia contrasta com o processo da

audiecircncia puacuteblica Tadeu Santos da ONG Soacutecios da Natureza colocou

em questatildeo o caraacuteter democraacutetico da audiecircncia puacuteblica depois de ter

sido lembrado do limite de tempo quatro vezes Segundo ele

As audiecircncias puacuteblicas anteriores foram mais

democraacuteticas a coisa taacute ficando fechada Taacute se

percebendo que o grande lobby das mineradoras

estaacute funcionando Eacute possiacutevel que realmente a

FATMA venha a dar o licenciamento Eacute possiacutevel

natildeo vai dar Porque deu para a mineradora em

Treviso (Tadeu Santos AUDIEcircNCIA 2006)

E continua referindo-se a Luis Antocircnio Garcia da FATMA ldquoSr

diretor eu gostaria que o Sr fosse mais maleaacutevel que conduzisse a

assembleia de forma mais democraacutetica porque afinal estamos

discutindo uma coisa muito seacuteriardquo (Tadeu Santos AUDIEcircNCIA 2006)

201

Na quarta audiecircncia puacuteblica o representante do Ministeacuterio

Puacuteblico Federal novamente enaltece o caraacuteter democraacutetico da audiecircncia

() a audiecircncia puacuteblica eacute o instrumento que estaacute

previsto na lei e noacutes vivemos num estado

democraacutetico de direito e que a publicidade dos

licenciamentos ambientais eacute um princiacutepio

fundamental previsto na poliacutetica nacional do meio

ambiente Entatildeo um processo de licenciamento

tem que ser puacuteblico as pessoas tem que ter o

direito de se manifestar desde que haja claro

respeito muacutetuo Mas por outro lado eu percebo

que muita gente veio aqui hoje com a cabeccedila feita

a favor ou contra o empreendimento sem querer

ouvir qualquer coisa Isso ficou muito claro jaacute

nano niacutevel de conversa durante as apresentaccedilotildees

As pessoas tem o direito de ser contra ou a favor

do empreendimento Aleacutem disso disse a prefeita

aqui que os estudos ficaram agrave disposiccedilatildeo da

populaccedilatildeo por 45 dias como manda a lei mas soacute

duas pessoas consultaram os estudos na prefeitura

Entatildeo eu peccedilo que se respeite as opiniotildees e que

todos tem direito a fazer uso da palavra E isso eacute

democraacutetico () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio

Puacuteblico Federal AUDIEcircNCIA 2007)

O reflexo dessa democracia foi o rigoroso controle do tempo de

questionamento o despeito pela ordem de chegada dos questionamentos

(orais e escritos) e a inexistecircncia de reacuteplica Gilmar Bonifaacutecio do

Movimento Iccedilara pela Vida criticou a forma como foram conduzidos os

debates jaacute que natildeo foi respeitado o direito agrave reacuteplica

A intervenccedilatildeo do representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal

trouxe alguma esperanccedila para os segmentos sociais

Na verdade toda essa discussatildeo que hoje se trava

aqui eacute uma discussatildeo se a gente for pensar aqui

do ponto de vista histoacuterico bonita e importante e

acho que essa luta pode mudar o rumo dessa

legislaccedilatildeo Mas vamos colocar ela num contexto

maior que precisa ser colocado Na verdade eacute

uma discussatildeo que se trava no Brasil inteiro e no

mundo inteiro que eacute a discussatildeo de que modelo

de sociedade e desenvolvimento noacutes queremos

202

Pela questatildeo do efeito estufa e toda a questatildeo de

sobrevivecircncia da espeacutecie E eu como ser humano

como pai eu quero tambeacutem que o mundo pros

meus filhos pros meus netos seja viaacutevel No

entanto diante desse debate e assim como aqui

natildeo se quer uma usina termeleacutetrica laacute em Belo

Monte natildeo se quer uma hidreleacutetrica laacute em

Campos Novos natildeo se quer uma hidreleacutetrica laacute no

Rio Madeira e assim por diante Mas de algum

lugar tem que sair energia E o Ministeacuterio Puacuteblico

nessa discussatildeo tem que se pautar no equiliacutebrio e

ter como paracircmetro o que A Constituiccedilatildeo e as

leis E eacute assim que eu procuro agir Entatildeo essa

discussatildeo eacute legiacutetima essa oposiccedilatildeo a qualquer

empreendimento desse tipo eacute legiacutetima e esse eacute o

espaccedilo para falar Mas noacutes vamos nos pautar pela

lei () (Darlan Aiacutelton Dias Ministeacuterio Puacuteblico

Federal Federal AUDIEcircNCIA 2007)

O representante do Ministeacuterio Puacuteblico Federal reconhece a

possibilidade de mudanccedila na legislaccedilatildeo mas reconhece que sua atuaccedilatildeo

se restringe ao que eacute legal O Ministeacuterio Puacuteblico Federal produziu em

2004 um dossiecirc sobre as Deficiecircncias em estudos de impacto ambiental

mas natildeo tocou na questatildeo das audiecircncias puacuteblicas (MPF 2004) Apesar

das audiecircncias puacuteblicas natildeo serem deliberativas a observacircncia do

processo democraacutetico eacute algo necessaacuterio e deveria entrar nos estudos do

Ministeacuterio Puacuteblico

64 Democracias possiacuteveis e aprendizagem social

A avaliaccedilatildeo de impacto ambiental compreende processos que

envolvem muacuteltiplos segmentos que recolhem analisam sintetizam e

comunicam informaccedilotildees sobre as condiccedilotildees ambientais tendecircncias

direccedilotildees impactos e futuros possiacuteveis com o objetivo de sensibilizar

para uma questatildeo especiacutefica ou apoiar processos de regulaccedilatildeo ambiental

Essas avaliaccedilotildees satildeo processos sociais de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo que

envolvem muito mais do que a mera produccedilatildeo de relatoacuterios Todavia os

limites estruturais e conjunturais das avaliaccedilotildees natildeo garantem o

questionamento do estilo de desenvolvimento de planos poliacuteticas e

203

programas que estariam sendo elaborados avaliados e implementados

(SACHS 1986 VIEIRA 2005)

O licenciamento ambiental estaacute envolto numa suposta

neutralidade em relaccedilatildeo aos criteacuterios juriacutedicos e teacutecnicos que o

sustentam e os condicionantes e interesses intriacutensecos ao processo

acabam passando para segundo plano ldquoNatildeo eacute porque a mineradora

cumpre com as exigecircncias que o oacutergatildeo licenciador pode liberar a

atividade Eacute preciso considerar a aceitaccedilatildeo do empreendimento pela

comunidade que poderaacute ser afetadardquo (Soacutecios da Natureza citado por

SANTOS 2008 p 103)

No caso especiacutefico da USITESC os segmentos poliacuteticos

(representados pelos poliacuteticos estaduais e municipais Ministeacuterio Puacuteblico

e FATMA) apresentaram em seus discursos algumas peculiaridades Os

poliacuteticos estaduais e municipais apoiam o empreendimento porque

querem estimular o desenvolvimento econocircmico A FATMA sofre

pressotildees poliacuteticas e tem dificuldades teacutecnicas mas garante que o

licenciamento eacute concedido considerando a anaacutelise teacutecnico-legal O

Ministeacuterio Puacuteblico aparece nos discursos dos segmentos econocircmicos

poliacuteticos e sociais como confiaacutevel Ele se mostra receptivo as colocaccedilotildees

dos segmentos sociais mas se move dentro do que considera legal Pode

questionar os dados do EIARIMA mas dificilmente questionaria a

questatildeo democraacutetica no processo da audiecircncia puacuteblica

Os segmentos econocircmicos como tratado na seccedilatildeo 623 fazem

pressatildeo sobre os segmentos poliacuteticos Nas audiecircncias puacuteblicas sua

participaccedilatildeo se limita a responder agrave perguntas e fazer a defesa do

empreendimento quando necessaacuterio O fato eacute que a USITESC tem a LI e

pode participar dos leilotildees de energia O iniacutecio da construccedilatildeo vai

depender dos interesses econocircmicos e poliacuteticos envolvidos O ponto

importante nesse capiacutetulo era tornar mais expliacutecitas as redes de

influecircncia e os mecanismos que satildeo utilizados nas audiecircncias puacuteblicas

para neutralizar as criacuteticas (aqui entra a injusticcedila poliacutetica nos tempos e

nas intervenccedilotildees) e a desinformaccedilatildeo Ao mesmo tempo tornam-se

tambeacutem mais expliacutecitas as formas de atuaccedilatildeo dos segmentos sociais

(afetadosatingidosameaccedilados ONGs e parte da academia)

A histoacuteria dos segmentos sociais no Sul de Santa Catarina traz

evidecircncias de aprendizagem social adaptativa Eles contam com uma

atuaccedilatildeo regional articulada fazem a relaccedilatildeo dos problemas globais e

locais questionam os segmentos poliacuteticos e os segmentos econocircmicos e

reivindicam que as audiecircncias puacuteblicas sejam mais democraacuteticas Isso

204

demonstra na discussatildeo especiacutefica da USITESC que se vem travando

uma luta histoacuterica na regiatildeo

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Nesta tese buscamos compreender as contradiccedilotildees inerentes agrave

proposta de ampliaccedilatildeo do sistema de geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica na

regiatildeo sul de Santa Catarina Para tanto adotamos um modelo de anaacutelise

que combina os enfoques de gestatildeo de ldquocommonsrdquo para o

ecodesenvolvimento e de justiccedila ambiental e ecoloacutegica Na estrutura

deste modelo hiacutebrido comparecem os conceitos de trajetoacuteria de

desenvolvimento local de atributos fiacutesicos e tecnoloacutegicos do recurso em

questatildeo de padrotildees de interaccedilatildeo entre os atores sociais envolvidos no

sistema de gestatildeo de regras em uso de arena de accedilatildeo e de resultados

eou consequecircncias das tomadas de decisatildeo

Caracterizamos inicialmente a especificidade das dinacircmicas de

desenvolvimento que tecircm influenciado as accedilotildees coletivas dos segmentos

poliacuteticos econocircmicos e sociais envolvidos nos modos de apropriaccedilatildeo e

gestatildeo do carvatildeo mineral na regiatildeo em pauta Neste sentido destacamos

o papel hegemocircnico exercido pelos agentes governamentais na

centralizaccedilatildeo dos processos decisoacuterios e na oferta de subsiacutedios agrave

utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis foacutesseis natildeo obstante o apelo agrave necessidade

de se promover uma ldquomatriz energeacutetica limpardquo no Paiacutes

No resgate da dinacircmica de exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral

buscamos caracterizar os fatores relacionados agrave disponibilidade do

recurso agrave rentabilidade econocircmica deste segmento atualmente aos

criteacuterios de tomada de decisatildeo na pesquisa de inovaccedilotildees na busca de

alternativas de mecanizaccedilatildeo dos processos de extraccedilatildeo agraves praacuteticas de

recuperaccedilatildeo do passivo ambiental e ao perfil dominante das poliacuteticas de

suprimento energeacutetico no bojo do modelo de desenvolvimento adotado

Com base nas evidecircncias coletadas foi possiacutevel constatar que o nosso

Paiacutes natildeo conta ainda hoje com uma ldquocultura do carvatildeordquo e que na

regiatildeo estudada as atividades de mineraccedilatildeo dificultam ou mesmo

impedem outros usos possiacuteveis do solo aleacutem de responderem pela

geraccedilatildeo de riscos e de impactos socioambientais cujos custos

geralmente muito elevados continuam a ser distribuiacutedos de forma

socialmente desigual Aleacutem disso reforccedilamos o ponto de vista segundo

o qual as escolhas tecnoloacutegicas satildeo essencialmente tributaacuterias de

orientaccedilotildees poliacuteticas As anaacutelises mostraram tambeacutem que uma parcela

significativa da populaccedilatildeo catarinense jaacute percebe natildeo soacute uma relaccedilatildeo

causal direta entre o aumento da exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral e o

comprometimento da resiliecircncia ecossistecircmica e da qualidade de vida

das comunidades locais Ao mesmo tempo vem se impondo

206

gradualmente a impressatildeo de que os processos de diversificaccedilatildeo da

economia regional vecircm legitimando a adoccedilatildeo de uma poliacutetica mais firme

de reconversatildeo do segmento de exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral

No que diz respeito agrave adequaccedilatildeo dos arranjos institucionais em

vigor na dinacircmica de gestatildeo deste segmento correlacionamos a

iniciativa de ampliaccedilatildeo do sistema de geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica

movida a carvatildeo mineral agrave desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo ambiental - especialmente do Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e do

Coacutedigo Estadual do Meio Ambiente em Santa Catarina No segundo

caso o Coacutedigo estabeleceu prazos para as licenccedilas ambientais e a

Assembleacuteia Legislativa de Santa Catarina dispensou o EIARIMA para

atividade de extraccedilatildeo de pequeno porte A CFEM e a reduccedilatildeo do ICMS

de 15 para 3 no estado contribuiacuteram fortemente para legitimar o

projeto de uma nova usina junto agrave opiniatildeo puacuteblica Mas outros aspectos

relevantes foram destacados a exemplo da evoluccedilatildeo progressiva das leis

ambientais favorecendo a percepccedilatildeo de que o direito a um meio

ambiente saudaacutevel integra o coacutedigo universal dos direitos humanos

fundamentais Todavia o balanccedilo entre os aspectos que favorecem a

ampliaccedilatildeo e os que questionam eacute bastante desigual A

desregulamentaccedilatildeo e a flexibilizaccedilatildeo dos coacutedigos juriacutedicos promovidas

nos uacuteltimos anos representam da perspectiva adotada na tese um

evidente e preocupante retrocesso em relaccedilatildeo aos avanccedilos alcanccedilados

anteriormente Finalmente acreditamos que a dimensatildeo da participaccedilatildeo

autecircntica da sociedade civil organizada nas tomadas de decisatildeo uma das

bandeiras da deacutecada de 1980 continua ainda hoje muito aqueacutem das

expectativas ndash sobretudo pelo fato de permanecer tutelada pelo jogo de

alianccedilas formadas pelos representantes dos setores econocircmico e

governamental

A reflexatildeo centrada no aprofundamento deste uacuteltimo toacutepico

mostrou que o sistema de gestatildeo de recursos comuns no Brasil continua

atrelado a um modelo de desenvolvimento que faz do apelo agrave

sustentabilidade uma retoacuterica que natildeo ataca as raiacutezes do problema

Trata-se de evitar as mudanccedilas estruturais que se tornaram emergenciais

face ao agravamento da crise em escala global Nesse contexto o

componente democraacutetico-representativo do sistema poliacutetico que tende a

reforccedilar e a legitimar a formaccedilatildeo de lobbies envolvendo os segmentos

poliacuteticos e econocircmicos contrasta com o componente democraacutetico-

participativo que responde pela abertura de espaccedilos ainda incipientes e

restritos de participaccedilatildeo aos setores majoritaacuterios da populaccedilatildeo A

existecircncia da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvatildeo Mineral eacute

207

um indiacutecio da existecircncia dessas articulaccedilotildees entre segmentos

econocircmicos e poliacuteticos E os dados apresentados no capiacutetulo 5

confirmam a hipoacutetese de que no bojo do processo de licenciamento da

USITESC no periacuteodo de 2002 a 2012 as doaccedilotildees de empresaacuterios para o

financiamento de campanhas eleitorais (nos niacuteveis municipal estadual e

nacional) tornaram-se um fenocircmeno recorrente

Em outras palavras consideramos que a gestatildeo de recursos

comuns em Santa Catarina segue as tendecircncias nacionais

Historicamente a questatildeo ambiental vem sendo apropriada de forma

marginal no estado permanecendo subordinada agrave hegemonia dos

interesses dos segmentos econocircmicos e poliacuteticos Um dos principais

indicadores dessa tendecircncia pode ser encontrado na dinacircmica de

organizaccedilatildeo e funcionamento da FATMA abrigando a formaccedilatildeo de

lobbies ativos no setor da exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral - seja

estimulando sua expansatildeo seja dificultando sua fiscalizaccedilatildeo em

coerecircncia com os avanccedilos da legislaccedilatildeo ambiental Todavia ressaltamos

ainda que se uma parte dos segmentos poliacuteticos e dos segmentos sociais

apoia a tendecircncia de ampliaccedilatildeo deste setor os posicionamentos natildeo satildeo

homogecircneos e o fortalecimento do sistema democraacutetico vem se dando

por meio da organizaccedilatildeo dos segmentos sociais (ONGs academia

afetadosatingidosameaccedilados) e da atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico No

que diz respeito agrave organizaccedilatildeo dos segmentos sociais as iniciativas

extrapolam os espaccedilos de participaccedilatildeo previstos constitucionalmente

envolvendo tambeacutem accedilotildees autocircnomas de produccedilatildeo e difusatildeo de

conhecimentos aleacutem da promoccedilatildeo de campanhas e manifestaccedilotildees

Na consideraccedilatildeo do processo de licenciamento da USITESC

constatamos que no processo de licenciamento as audiecircncias puacuteblicas

realizadas no municiacutepio de Treviso foram coordenadas pela FATMA e

natildeo contaram com estrateacutegias de distribuiccedilatildeo (minimizando a

desigualdade) reconhecimento (considerando as distintas perspectivas)

e a representaccedilatildeo (paridade de participaccedilatildeo) As evidecircncias obtidas

indicam que essas reuniotildees foram organizadas visando reproduzir a

loacutegica que bloqueia na base a concretizaccedilatildeo desses anseios

Os principais temas tratados nas audiecircncias puacuteblicas foram

tratados no capiacutetulo 6 mostrando as contradiccedilotildees existentes ldquoentrerdquo e

ldquodentrordquo dos segmentos sociais principalmente A ampliaccedilatildeo de energia

termeleacutetrica eacute inevitaacutevel do ponto de vista dos segmentos econocircmicos

sendo respaldada por uma parcela dos agentes governamentais locais e

dos representantes da sociedade civil A discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre

208

a construccedilatildeo da USITESC e as mudanccedilas climaacuteticas proposta pela rede

de ONGs movimentos sociais e parte da UNESC foi categoricamente

colocada de lado como um aspecto natildeo pertinente ao caso em pauta ou

seja a apresentaccedilatildeo do EIARIMA Aleacutem disso ressaltamos que

durante as audiecircncias praticamente natildeo foram consideradas as vozes

dos habitantes de Treviso que seriam afetados pela implementaccedilatildeo do

projeto As discussotildees envolveram apenas uma parcela dos

representantes da sociedade civil sediados em outros municiacutepios e em

outros estados Poucos habitantes de Treviso participaram das

audiecircncias puacuteblicas Num municiacutepio em que 69 dos postos de trabalho

estatildeo vinculados a atividade carboniacutefera torna-se difiacutecil imaginar que os

habitantes estivessem em condiccedilotildees favoraacuteveis para se posicionarem

contra a implantaccedilatildeo da USITESC

Mostramos tambeacutem que a competecircncia da FATMA e da UNESC

foi repetidamente questionada nessas audiecircncias Se os representantes da

FATMA argumentaram agrave luz do princiacutepio de respeito agrave legislaccedilatildeo em

vigor e os pesquisadores da UNESC agrave luz do princiacutepio de neutralidade

da ciecircncia ambos os grupos evitaram assumir o desafio de encarar uma

discussatildeo poliacutetica do caso em pauta Por sua vez foi enaltecido o papel

desempenhado pelo Ministeacuterio Puacuteblico na defesa dos interesses da

populaccedilatildeo local Natildeo obstante consideramos que os depoimentos dos

Procuradores permaneceram refeacutens de um ponto de vista essencialmente

legalista na avaliaccedilatildeo do processo de licenciamento

Na busca de respostas agrave questatildeo de ldquoserdquo e ldquocomordquo as accedilotildees

coletivas estudadas teriam gerado oportunidades de aprendizagem social

adaptativa capazes de deflagrar accedilotildees coletivas de mudanccedila

institucional concluiacutemos que a atuaccedilatildeo de parte dos segmentos sociais

envolvidos no caso da USITESC aponta nesta direccedilatildeo Eles jaacute

conseguem perceber o surgimento da demanda de ampliaccedilatildeo do sistema

termeleacutetrico como um elemento de uma problemaacutetica mais ampla e mais

complexa que natildeo foi considerada nas audiecircncias puacuteblicas Eles estatildeo

mobilizados de outras formas mas a concessatildeo do licenciamento ainda

tem a audiecircncia puacuteblica (consultiva) como uacutenica modalidade de

participaccedilatildeo Diante disso pensamos que os problemas de distribuiccedilatildeo

reconhecimento e representaccedilatildeo existentes no espaccedilo da audiecircncia

precisariam ser vistos com mais cuidado pelo Ministeacuterio Puacuteblico Seria

interessante que daqui em diante o Ministeacuterio Puacuteblico superasse a

visatildeo dominante segundo a qual a anaacutelise das deficiecircncias do

EIARIMA (MPF 2004) satildeo suficientes para democratizar os processos

209

de licenciamento de projetos programas e poliacuteticas de desenvolvimento

no Paiacutes

Finalmente o trabalho ofereceu subsiacutedios que reforccedilam a

validade do pressuposto de que a maturaccedilatildeo de um sistema de gestatildeo de

recursos comuns voltado para um novo estilo de desenvolvimento

norteado pelo princiacutepio de sustentabilidade forte deveraacute passar

necessariamente pela ldquodemocratizaccedilatildeo do aparelho do Estado de modo

que a sociedade possa controlar seus controladoresrdquo (BOcircA NOVA

1985 p 227)

A sugestatildeo eacute que se faccedila uma pesquisa sobre ldquodeficiecircncias nas

audiecircncias puacuteblicasrdquo Como mencionado na justificativa desta tese um

dos encaminhamentos possiacuteveis seria a realizaccedilatildeo de um levantamento

mais rigoroso dos processos de licenciamento realizados no litoral de

Santa Catarina nos uacuteltimos anos a ser suplementado pela anaacutelise criacutetica

das respectivas audiecircncias puacuteblicas Os resultados poderiam ser

encaminhados ao Ministeacuterio Puacuteblico Estadual e Federal servindo assim

de base para o questionamento da forma pela qual os anseios de

distribuiccedilatildeo justa reconhecimento e representaccedilatildeo autecircntica dos

segmentos sociais tecircm sido incorporados nos processos de

licenciamento Neste sentido o caraacuteter meramente consultivo das

audiecircncias puacuteblicas poderia se tornar tambeacutem objeto de reconsideraccedilatildeo

na trilha ainda incipiente que nos conduziria ao exerciacutecio da cidadania

ambiental plena

Em outras palavras as perspectivas de ampliaccedilatildeo da rede de

geraccedilatildeo de energia termeleacutetrica no Sul de Santa Catarina refletem uma

tomada de consciecircncia ainda bastante restrita dos riscos envolvidos na

continuidade da atividade carboniacutefera e de forma mais ampla de um

modelo de gestatildeo de recursos naturais de cunho ecologicamente

predatoacuterio e socialmente injusto Diante de argumentos que defendem o

caraacuteter ldquoinevitaacutevelrdquo do apelo a fontes natildeo renovaacuteveis de geraccedilatildeo de

energia cabe lembrar que

() existe pela frente um futuro repleto de possibilidades

alternativas e de potenciais inexplorados que natildeo cabem na bitola

estreita dos que estatildeo presos a modelos do passado ou a interesses do establishment Ou seja o futuro natildeo se projeta nas equaccedilotildees

matemaacuteticas mas se inventa na incessante discussatildeo das alternativas e

se faz na luta poliacutetica (BOcircA NOVA 1985 p 233)

210

Transformar a essa situaccedilatildeo envolve a adoccedilatildeo de outra

perspectiva baseada natildeo soacute na compreensatildeo da complexidade do

problema mas tambeacutem na consideraccedilatildeo simultacircnea dos fatores que

comparecem em todas as escalas do local ao global e na formaccedilatildeo de

parcerias capazes de impulsionar a gestaccedilatildeo de um projeto alternativo de

sociedade Esperamos que os resultados obtidos ofereccedilam subsiacutedios

uacuteteis apontando nesta direccedilatildeo insistindo que a superaccedilatildeo dos atuais

dilemas que cercam o exerciacutecio da democracia em nosso Paiacutes deveria

transcender a preocupaccedilatildeo pela pertinecircncia dos arranjos institucionais

em vigor Se os limites da tradiccedilatildeo democraacutetico-representativa tornam-

se evidentes quando prevalecem os interesses dos grupos sociais

atrelados agrave hegemonia do regime de apropriaccedilatildeo privada e economicista

dos ldquocommonsrdquo por sua vez os avanccedilos alcanccedilados na promoccedilatildeo de um

novo formato democraacutetico-participativo correm o risco de se tornarem

funcionais agrave reproduccedilatildeo das tendecircncias dominantes se permanecerem

restritos aos limites fixados pela obediecircncia agraves determinaccedilotildees legais

Impotildee-se assim uma dinacircmica de radicalizaccedilatildeo da democracia

entendida como componente essencial de uma estrateacutegia consistente de

enfrentamento dos dilemas colocados pela urgecircncia de uma transiccedilatildeo

ecoloacutegica consistente com os princiacutepios do ecodesenvolvimento

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