Manual comunicação assertiva_relacionamento interpessoal

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    UFCD 0350 - Comunicao interpessoal - comunicao assertiva

    2. Comunicao Assertiva

    2.1. Particularidades e Vantagens do Perfil Assertivo

    A palavra assertividade vem de assero, afirmar. Diferente de acertar, afirmar no

    tem relao com o certo ou errado e sim com a exposio positiva do que se deseja

    transmitir. Uma pessoa assertiva capaz de expressar o mais directamente

    possvel o que pensa, o que deseja, escolhendo um conjunto de atitudes adequadas

    para cada situao, de acordo com o local e o momento. A assertividade permite

    uma comunicao directa por meio de um comportamento que habilita o indivduo

    a agir no seu interesse, defender-se sem ansiedade excessiva, expressar os seussentimentos de forma honesta e adequada, fazendo valer os seus direitos sem

    negar os dos outros. Portanto, a assertividade pode ser entendida como uma forma

    comportamental de comunicar que significa afirmar o que eu quero, sinto e penso,

    dando simultaneamente espao de afirmao ao outro.

    Frequentemente adoptamos diferentes formas de comunicao que variam de

    acordo com o local, a situao e os interlocutores, porm uma forma relativamente

    constante e caracterstica se torna o nosso estilo predominante de comportamento

    comunicacional.

    A assertividade um treino sistemtico, em que o indivduo tem de reaprender a

    autenticidade atravs de uma prtica gradual e regular. Ser verdadeiro no consiste

    em "dizer tudo o que me vem cabea", mas sim em exprimir-me eficazmente,

    tendo como objectivo a evoluo satisfatria e realista da situao. necessrio,

    ento, saber que tipo de comportamento provoca esta reaco; evitar a mmica e a

    entoao contrria s palavras; tentar descrever as prprias reaces, em vez de

    avaliar as aces dos outros; exprimir-me de forma positiva em vez de desvalorizar,

    julgar, criticar, ridicularizar ou fazer interpretaes, facilitando a expresso dos

    sentimentos dos outros.

    O comportamento assertivo resulta na fuso de quatro factores:

    bom contacto visual ;

    tom de voz neutro ;

    ateno linguagem; e

    postura aberta .

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    Ser assertivo aumenta o respeito por ns prprios, reduz a noo de

    insegurana e vulnerabilidade, aumenta a autoconfiana no relacionamento

    com os outros, diminuindo a necessidade de aprovao para aquilo que fazemos.Far com que os outros aumentem o seu respeito e admirao por ns.

    Permitir que, ao defendermos os nossos direitos, consigamos que as nossas

    preferncias sejam respeitadas e as nossas necessidades satisfeitas. um estilo

    de relacionamento interpessoal que poder ser extremamente recompensante,

    uma vez que proporciona maior proximidade entre as pessoas e maior

    satisfao na comunicao das nossas emoes. Ou, dito simplesmente,

    possvel que se goste mais de uma pessoa quando ela age assertivamente.

    Os direitos assertivos so um conjunto de direitos que permitem a cadaum de ns sermos ns prprios agir e expressarmo-nos como ns prprios,

    perante os outros, se m distines de cor, sexo, idade ou estatuto social.

    importante considerar que os direitos vm definidos em termos abstractos, e

    que devero ser particularizados de acordo com as nossas situaes individuais.

    No obrigatrio concordarmos com todos eles, a listagem constitui

    apenas um auxiliar para cada um de ns construir o seu guia de

    aco na comunicao assertiva. Mas ao faz-lo teremos

    obrigatoriamente que aceitar que no so direitos exclusivamente nossos mas si

    m aplicveis a todas as pessoas com quem interagimos. No podemos defender

    direitos sem aceitar a responsabilidade que lhes inerente, a de defender os

    nossos direitos considerando sempre os direitos dos outros.

    Eles so:

    Eu tenho o direito de s er respeitado e tratado de igual para igual, qualquer que seja

    o papel que desempenho ou o meu status social.

    Eu tenho o direito de manter os meus prprios valores, desde que eles respe item

    os direitos dos outros;

    Eu tenho o direito de expressar os meus sentimentos e opinies.

    Eu tenho o direito de expressar as minhas necessidades e pedir o que quero.

    Eu tenho o direito de dizer NO e no me sentir culpado por isso.

    Eu tenho o direito de pedir ajuda e de escolher se quero prestar ajuda a algum.

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    Eu tenho o direito de me sentir bem comigo prprio sem sentir necessidade

    de me justificar perante os outros. Eu tenho o direito de mudar de opinio.

    Eu tenho o direito de pensar antes de agir ou tomar uma deciso.

    Eu tenho o direito de dizer Eu no estou a perceber e pedir que me esclare amou ajudem.

    Eu tenho o direito de co meter erros sem me sentir culpado.

    Eu tenho o direito de fixar os meus prprios objectivos de vida e lutar para que as

    minhas expectativas sejam realizadas, desde que respeite os direitos dos outros .

    2.2. Empatia

    2.2.1. Escuta Activa

    A escuta activa aplicada encora ja o interlocutor a explicitar as suas

    necessidades, ao mesmo tempo que d a quem atende a certeza de e star a

    compreender o que ele est a dizer.

    Estudos afirmam que ouvimos metade do que dito, prestamos ateno a metade

    do que ouvimos e lembramo-nos apenas de metad e do que prestmos ateno. De

    facto, temos a tendncia para ouvir o que queremos ouvir e ver o que queremos

    ver. Devido a este facto, a mensagem recebida por ns muitas vezes

    completamente dif erente daquela que o emissor desejava transmitir.

    As melhores ocasies para recorrer escuta activa so quando no estamos

    certos d e ter compreendido o emissor ou quando transmitida uma

    mensagem fortemente emocional (um a reclamao, por exemplo).

    No que consiste ento a escuta activa? Quais as atitudes e aces a tomar para

    escutar activamente?

    Gostar de escutar quando algum est a falar.

    Incentivar os outros para que falem.

    Ouvir mesmo que no simpatize com a pessoa.

    Escutar com a mesma ateno quer seja homem, mulher, criana ou velho.

    Escutar com a mesma ateno quer seja amigo, conhecido ou

    desconhecido.

    Deixar tudo o que se est a fazer enquanto algum fala.

    Olhar para a pessoa que fala.

    Concentra-se no que ouve, ignorando todas as distraces em seu redor.

    Sorrir ou mostrar que est a compreender o que ouve.

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    Reflectir sobre o que a outra pessoa est a dizer.

    Tratar de compreender o que dizem.

    Tentar descortinar porque o dizem.

    No interromper quem fala.

    Quando algum que est a falar hesita em dizer algo, encoraj-lo para queprossiga

    Abster-se de julgar as i deias at que o interlocutor as termine de expor.

    Fazer um resumo do qu e foi dito e perguntar se foi isso que o interlocutor

    pretendeu comunicar.

    Escutar o interlocutor sem se deixar influenciar demasiado pela sua ma

    neira de falar, voz, vocabulrio, gestos e aparncia fsica. Escutar mesmo que consiga antecipar o que vai ser dito.

    Fazer perguntas para ajudar o outro a exprimir-se melhor.

    Pedir, se necessrio, que o interlocutor explique em que contexto est a util

    izar determinada (s) palavra (s).

    2.2.2. Comportamentos No Verbais Assertivos/ Paralinguagem

    Contacto visual. O olhar deve estar direccionado para o interlocutor enquanto

    este fala. Recomenda-se que mantenha o contacto visual pelo menos durante 50%

    da conversao. Mas ateno, um olhar demasiado fixo pode ser interpretado

    como hostil.

    Afecto. O tom deve ser fir me e convincente, mas nunca hostil. Deve ser adaptado

    situao domomento.

    Voz. O volume deve ser audvel, nem demasiado elevado nem baixo. A articulao

    das palavras deveser clara, sem hesita es. O ritmo deve ser tranquilo.

    Pausas. Deve fazer-se uma pausa maior para dar entender ao interlocutor que a

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    sua vez de falar.

    Gestos. Podem fazer-se g estos com a cabea , a cara, os braos e as m os que

    enfatizem odiscurso. Deve ter em ateno que estes gestos devem ser naturais,,sem forar a mensagem. Devem evitar-se gestos como apontar o dedo indicador

    que pode ser entendido como uma ameaa, e em geral qualquer outro que possa

    transmitir hostilidade.

    Postura corporal. O corpo deve estar direito mas relaxado. A cabea erguida,

    olhando para ointerlocutor.

    2.2.3. Comportamentos Ver bais Assertivos/ Semntica/ Sintaxe

    Expresso que indique compreenso pelo outro. Compreender o outro nosignifica estar deacordo. Neste ponto temos que fazer um esforo para entender

    os motiv os e ponto de vista do interlocutor. Se necessrio, devem-se pedir

    informaes mais claras para depois poder formular uma frase sntese que seja

    objectiva e sem formular juzos de valor. Suponhamos que um cliente lhe f az uma

    exigncia em tom hostil: Amanh passo por c novamente queroque me tratem

    deste assunto. Ando a pagar para no trabalharem. A sua resposta poder ser:

    Entendo que provavelmente esteja aborrecido e que necessite disto com

    urgncia..."

    Expresso do problema. De seguida deve expor o problema de forma clara e co

    ncisa. Continuandoo exemplo anterior, po dia dizer o seguinte: "porm, incomoda-

    me exija que exija o assunto resolvido numa margem to curta de tempo e que

    insinue que perdemos temp o sem trabalhar

    Desacordo verbal. Aconselha-se a utilizar uma frmula breve com "no estou d e

    acordo com...", ou "no estou disposto a faz-lo...". Para o exemplo que

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    estamos a seguir bastaria: "no possoaceitar esse prazo...".

    Pedido de mudana de conduta. Este ponto essencial em termos de

    comunicao assertiva. Deve oferecer ao receptor um a informao de comoespera que ele se comporte n o futuro. No nosso exemplo poderamos ap resentar a

    seguinte soluo: "peo-lhe que de agora em diante nos peapara tratar deste tipo

    e assuntos com a antecedncia mnima de uma semana para que possamos ter

    tudo pront o atempadamente

    Proposta de Soluo. Suponhamos que no exemplo anterior o cliente insiste que

    na sua empresa os assuntos no so tratados atempadamente porque perdem

    muito tempo se m trabalhar. Neste ponto seria importante oferecer uma soluo

    alternativa que o fizesse mudar essa opinio. Uma delas poderia ser: "creio que se

    nos pedir para tratar do assunto com a an tecedncia que lhe referi, nos dar o

    tempo suficiente para termos tudo pronto e o senhor no ter que se incomodar em

    voltar c mais vezes para tratar do mesmo assunto"

    3. Barreiras Comunicao

    3.1. Barreiras Gerais do Processo de Comunicao

    As interaces sociais, ao nvel das relaes face-a-face, esto sujeitas

    influncia de um conjunto de variveis de carcter manifesto ou latente, que lhes

    determinam, ou pelo menos influenciam, a conduo dos processos

    comunicacionais. Os padres de interaco resultantes das relaes entre osindivduos so consequncia, por um lado, da aleatoriedade humana e, por outro,

    da previsibilidade que a vida em sociedade possibilita.

    Comunicar torna-se, assim, uma arte de bem gerir mensagens, enviadas e

    recebi das, nos processos interaccionais. Mas no s. O tempo, o espao, o meio

    fsico envolvente, o clima relacional, o corpo, os factores histricos da vida pessoal e

    social de cada indivduo em presena, as expectativas e os sistemas de

    conhecimento que moldam estrutura cognitiva de cada actor social condicionam e

    determinam o jogo relacional dos seres humanos.Conhecer alguns dos factores que podem constituir barreiras compreenso, ao

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    sentir e ao agir dos actores sociais que pretendem interagir o propsito que nos

    orienta. Assim, podem os equacionar uma estrutura de variveis interaccionais que,

    nos processos de comunicao humana, tanto podem facilitar como barrar ou

    constituir fontes de rudo s relaes face-a-face.

    3.1.1. Factores Pessoais

    Factores pessoais. Compreendem um conjunto de aspectos que

    passamos a referir. O nvel de profundidade de conhecimento ue o indivduo

    tem e revela na decorrncia do processo conversacional, ou, o nvel de

    conhecimento q ue os outros intervenientes lhe atribuem ou reconhecem ter sobre

    o assunto a tratar. Este aspecto pode conduzir maior ou menor credibilidade aatribuir ao emissor e trazer-lhe um estatuto que pode marcar o desempenho do seu

    papel enquanto comunicador.

    Outro aspecto a considerar nos factores pessoais diz respeito aparncia do

    sujeito enunciador do discurso. No h nesta matria aspectos morais a considerar,

    no que se refere a padres de referncia. Podemos, no entanto, dizer qu e no

    andino, para a maioria das pessoas, a aparncia do outro. O estar cuidado ou no,

    o parece r este ou aquele tipo profissional, o estar ou no enquadrado num ou

    noutro grupo marca a relao, mais que no seja pelas expectativas que provo ca,

    sobretudo, nas primeiras impresses.

    Outro aspecto dos factores pessoais a postura corporal. Naturalmente que,

    nesta matria, h sempre posturas prprias, eminentemente individuais. Mas o que

    interessa aqui ressaltar so, sobretudo, as posturas corporais que, apesar de

    pessoais, fazem parte de um lxico social, s qua is possvel atribuir significados

    tambm sociais. o caso de uma postura que, em determinados contextos se

    espera que no seja excessivamente rgida ou excessivamente descontrada.

    Determinados grupos tm expectativas, por vezes muito elevadas, relativamente s

    formas que o corpo deve adoptar. Caso contrrio, corre-se o risco de no ser

    identificado com o grupo em causa, ou ser considerado como um outsider do

    mesmo.

    Tambm o movimento corporal se insere nos factores pessoais que podem

    constituir barreiras comunicao. Sobretudo em grupos fechados, ou em

    comunidades pouco abertas ao exterior, a vigilncia sobre o movimento corporal dos indivduos exercida de forma expectante. Os cdigos, por vezes rgidos, de

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    determinados meios sociais coagem os indivduos moderao ou exuberncia a

    que o corpo deve obedecer nos seus movimentos. Certos movimentos do corpo, ou

    de zonas do corpo, podem ser interpretados como insinuaes de ordem sexual em

    determinados meios, enquanto que noutros os mesmos movimentos podem serconsiderados como indicadores de agilidade ou de graciosidade. O importante a

    reter a ideia de que a forma como o corpo ocupa o espao tem um significado

    social e cultural que, em determinados contextos, o seu valor pode facilitar ou

    constituir factor de obstruo s relaes entre os indivduos.

    O contacto visual tambm el e um factor pessoal que, apesar de tudo, pode

    obstruir a interaco e provocar momentos de embarao ou, at, de pnico. O

    direccionamento, o te mpo, o contexto, a oportunidade, a intensidade, o status de

    quem olha ou de quem olhado impem um quadro interpretativo, que cadacultura se encarrega de transmitir aos seus membros, pelo processo de

    socializao. Os indivduos sabem, por intuio, os parmetros que condicionam o

    contacto visual aprenderam e interiorizaram, no decorrer do tempo, as regras e os

    mecanismos de censura que o processo do olhar implica em sociedade.

    A expresso facial mais um factor pessoal com repercusses no campo

    interaccional. Os cdigos sociais e culturais tambm aqui se fazem sentir. As

    expectativas e as previses comportamentais que os indivduos fazem uns dos

    outros passam pelas mensagens emitidas pela expresso facial. A expresso facial

    , talvez, um dos meios de comunicao mais importante nas relaes face-a-face,

    quer para confirmao de expectativas, quer para afirmao de determinados

    estados de esprito, sejam eles espontneos ou engendrados. importncia dada

    socialmente expresso facial pode determinar, por vezes, a vida de um cidado. E

    m determinados contextos, pode ser fatal ou fundamental uma expresso de dio,

    de desprezo, de raiva, de desqualificao, de preocupao, de simpatia, de

    compreenso, de alegria, de bem-estar, de aceitao, etc.

    A fluncia com que os indivduo s falam ou discursam, bem como a

    articulao, a modulao, o ritmo ou o timbre que emprestam sua vo z no

    escapam observao social e cultural de determinados meios. So indicadores

    pessoais que os restantes actores tm em conta nas relaes socia is que

    estabelecem. As matrizes em vigor em cada sistema social dizem aos indivduos,

    muitas vezes, a forma como devem interpretar no s a personalidade como

    tambm o carcter e o meio social de origem do falante. Claro est que, neste

    processo de adivinhao muitos erros e equvocos condicionam as relaesinterpessoais, constituindo, por i sso mesmo barreiras comunicao no

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    desprezveis.

    3.1.2. Factores Sociais

    Factores sociais. Temos vindo a abordar factores de origem pessoal que podem

    afectar a dimenso social das relaes. Debrucemos -nos agora, por instantes,

    sobre alguns factores so ciais, cuja origem a consideramos tambm social. o caso

    da flexibilidade ou da rigidez dos sistemas de conhecimento, que impregnam e

    condicionam as for mas como os indivduos pensam o mundo.

    Os sistemas de conhecimento condicionam e so condicionados por uma

    multiplicidade de factores. A educao um deles, ao inculcar nos indivduos

    determinados princpios como certos os e absolutos. No se pretende com isto fazera apologia da relatividade axiolgica, e muito menos fazer a apologia de

    determinados princpios educacionais, aqui e agora. A importncia desta

    abordagem permite-nos perceber, de forma objectiva, a marca que podem ter os

    princpios e os valores a cosmoviso dos sujeitos, e isso importante por que, entre

    outros aspectos, a forma como cada um v o mundo pontua as sequncias

    comunicacionais. Havendo fortes discrepncias na pontuao das interaces entre

    os indivduos, maior a probabilidade de ocorrncia de equvocos e de conflitos nos

    processos de comunicao.

    Mas no so s os princpios e os valores da educao a determinar os

    olhares do m undo. A cultura que marca a origem de cada actor social d aos

    indivduos uma orientao normativa s suas formas de pensar, de sentir e de agir,

    assi m nos refere o socilogo americano Talcott Parsons. Por isso, os padres de

    cultura que embebem o trajecto pessoal e social dos indivduos geram, frequente

    mente, aproximao ou afastamento entre si. Como sabido, a dcalage resultante

    dos padres culturais pode, em casos extremos, redundar em conflitos e

    incompreenses, devido a desfazamentos na interpretao das diferenas culturais.

    Entendemos, por isso, que a presena fsica por si s dos indivduos uns com os

    outros no evita os conflitos interaccionais. S a compreenso, mediante processos

    de conhecimento, das caractersticas de cada padro cultural permitem uma

    (re)aprendizagem das diferenas, as quais por si mesmas podem constituir motivos

    de comunicao e convvio, sem riscos de p erda de identidade cultural e social.

    As crenas ocupam no panorama dos factores sociais que condicionam os

    sistemas d e conhecimento um lugar proeminente. Pode dizer-se que elas soprincpio, meio e fim dos sistemas d e conhecimento. Se tivermos em conta que,

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    sobretudo, as crenas que assentam na ignorncia ou que como certos

    determinados princpios podem gerar guerras ou conflitos difceis de sanar,

    perceber-se- a sua importncia nos estudos sociolgicos. Mas as crenas podem

    igualmente pontuar os ritmos de vida pessoal e social, ao nvel dos es tilo de vida,das escolhas de parceiros, de mtodos relacionais e, at, de decises de vida ou de

    morte, pessoal ou de familiares dependentes de quem toma a deciso. As crenas

    podem igualmente leva r certos indivduos a acreditar que no vale a pen a

    considerar a vida como um bem, j que a sua passagem pela terra efmera, ou

    ento porque aps a morte haver um paraso mais agradvel para vi ver. A

    complexidade das crenas na vida das pesso as , pois, um dos factores que mais

    riscos pode trazer s relaes interpessoais e, por consequncia, barreiras

    comunicao.As normas sociais so em cada sociedade um factor de duplo sentimento: amor e

    dio. As normas sociais parametrizam os comportamentos, e por isso do aos

    actores sociais segurana e previsibilidade nas relaes entre si. Por isso, todas as

    sociedades, com maior ou menor firmeza, ad optam mecanismos de controlo e de

    sanes para a observncia das suas regras. As normas sociais, atravs do processo

    de socializao, dizem aos indivduos como devem estar no mundo, ao nvel

    orgnico, psquico, social, cultural e simblico. A coaco q ue as normas sociais

    exercem sobre os indivduos provoca-lhes o receio de serem ou virem a ser

    considerados desviantes do sistema em que esto inserido . Por essa razo,

    previsvel a importncia que t m as normas sociais nos padres de relacionamento

    e de comunicao entre os diferentes agentes e actores sociais.

    Os dogmas religiosos, sobretudo quando rejeitam tudo o que possa ir contra

    determinadas convices, so um dos factores sociais que podem constituir

    barreiras intercompreenso humana. A Histria est repleta de maus exemplos

    sobre esta matria e, apesar dos avanos tecnolgicos de comunicao, ainda no

    foi possvel, com frequncia e em determinadas zonas, desenvolver con textos

    propcios comunicao. No esto, natura lmente em causa os dogmas em si

    mesmos, visto q ue no h religies sem dogmas. Esto em causa os dogmas que,

    por princpio, em vez de constiturem um factor de aglutinao e desenvolvimento

    humano, provocam a desagregao social, o sub desenvolvimento e a ignorncia,

    que s trazem infelicidade.

    3.1.3. Factores Fisiolgicos

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    Nem todos os aspectos da fisiologia humana constituem barreiras

    comunica o e nem todos os indivduos valorizam os mesmos factores

    como entraves interaco. Todavia, sujeitos h que, portadores de

    determinado handicap, ou tm eles mesmos dificuldade na interaco com osoutros, ou so os outros que lhes provoca m dificuldades. Estamos perante

    situaes de dificuldade comunicacional com origem em percepes

    marcadamente pessoais ou com origem em padres cognitivos resultantes de

    determinados meios sociais ou culturais. De qualquer forma, interessa salientar a

    dificuldade que constitui para alguns interlocutores a conversa sobre determinados

    assuntos que versem, de forma assumida ou tangencial, a deficincia na sua

    comunicao.

    3.1.4 Factores de Personalidade

    A comunicao , com frequncia, complicada, seno mesmo impossvel,

    quando esta procura ocorrer no seio das chamadas personalidades difceis. H,

    neste campo, um conjunto de aspectos que conviria referenciar como

    potenciadores de bloqueios comunicao entre os indivduos. Um deles diz

    respeito conhecida auto-suficincia. De facto, torna-se complicado interagir com

    sujeitos que presumem saber tudo sobre determinado assunto, ou ento, de que o

    que sabem esgota tudo s obre o assunto em questo.

    Por outro lado, a ideia que alguns sujeitos tm de que uma palavra aplicada

    por diferentes pessoas ter de ter, natural e forosamente, o mesmo significado

    entre elas uma das barreiras comunicao, que toma a designao de

    avaliaes congeladas.

    A confuso que constantemente alguns sujeitos fazem entre aquilo que do

    foro objectivo e aquilo que do subjectivo provoca no s dificuldades de

    compreenso por parte dos outros m embros do sistema comunicacional como, no

    raras as vezes, conflitos. Esta confuso entre aquilo que eminentemente a

    realidade concreta dos factos e as opinies que sobre eles se possam ter razo

    mais que suficiente para provocar paralizaes no processo de entendimento entre

    os diferentes actores.

    Um outro aspecto que por veze s se confunde com este a chamada

    confuso entre mapas e territrios, que d pelo nome de geografite. Os territrios

    diro respeito aos objectos, s pessoas, s coisas e s situaes, enquanto que os

    mapas diro respeito aos sentimentos do indivduo que se pronuncia sobre osterritrios, aos seus preconceitos e inferncias. Como de ver, esta tendncia

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    confuso entre um nvel de realidade e outro no deixa, por certo, de trazer

    interaco humana as ma iores dificuldades e equvocos de compreenso. Se a tudo

    isto juntarmos a chamada tendncia complicao de alguns actore na cena da

    vida, ficaremos com uma ideia de quo complexas so as redes comunicacionais erelacionais dos sistemas sociais.

    3.1.5. Factores de Linguagem

    Para alm de tudo o que j foi dito sobre os diferentes factores que podem

    constituir dificuldades ao relacionamento humano, podemos ainda equacionar os

    Factores de linguagem. Tamb m neste captulo possvel enquadrar os problemas

    de confuso entre a realidade e as inferncias que dela se fazem para, num

    segundo momento discursivo, mesmo no tendo eventualmente observadodirectamente os factos, fazer confuso entre estes dois planos. O uso constante de

    palavras abstractas por parte de determinados comunicadores motivo frequente

    de desorientao e equvocos de compreenso entre os indivduos.

    No so tambm raras as vezes que a confuso nos processos

    comunicacionais tem origem no desencontro de sentidos que cada um dos

    interlocutores atribui s palavras dos outro s e s suas prprias mensagens. Os

    equvocos de compreenso oriundos destes desencontros no deixa m de constituir,

    por isso, mais um factor de barreiras comunicao.

    Quando os sujeitos em interaco no conseguem separar as coisas entre si

    ou aspectos da realidade que s aparentemente so iguais, estamos perante

    processos comunicacionais em que predominam as chamadas indiscriminaes.

    Mas as perturbaes nos processos de comunicao tambm podem ter

    origem no uso frequente de polarizaes por parte de um ou mais intervenientes.

    Com efeito, o uso sistemtico de expresses extremas no discurso dos indivduos

    pode levar desacreditao do emissor de tal discurso. Este mecanismo discursivo

    uma espcie de tudo ou nada. Para tais emissores, a realidade das situaes

    nunca tem um meio termo - tudo maximizado na sua linguagem.

    Como factores de linguagem ainda considerada a falsa identidade baseada

    nas palavras. Numa situao destas, o emissor est crente de que resume numa

    palavra ou expresso as suas crenas, atitudes ou avaliaes. com o se um

    simples rtulo conseguisse identificar a complexidade dos contedos que ele

    expressa. Como se depreende, o recurso sistemtico a este mecanismo de

    simplificao, apesar de constituir para o emissor uma forma cognitiva e discursivaeconmica, corre o risco de provocar reaces adversas e contrrias aos seus

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    objectivos comunicacionais. Finalmente, ainda no campo os factores de linguagem,

    a polissemia apresenta-se-nos como um mecanismo propcio ao desencontro de

    sentidos. O uso sistemtico de vocbulos com dimenses polissmicas diversas

    induz nas audincias uma fonte de rudo, s vezes difcil de ultrapassar. S orecurso a mecanismos de redundncia pode, por vezes, contrariar as perturbaes

    do processo de comunicao.

    3.1.7. Factores Psicolgicos

    H nesta matria uma variedade de aspectos que podem concorrer para odesenrolar dos padres interaccionais. O chamado efeito de halo um mecanismo

    que diz respeito ao recurso que determinados sujeitos fazem quando se refere m a

    outra pessoa. Do seu discurso emergem palavras ou expresses que remetem para

    a generalizao de uma pessoa, a partir de uma s das suas caract ersticas. Claro

    est que, nestes casos o que importa salientar o enviesamento da informao, o

    qual pode distorcer a objectividade da comunicao.

    Um outro mecanismo de dificuldade interaccional pode ser o decorrente do

    designado efeito lgico. Neste caso, o problema centra-se n a tendncia que

    determinados sujeitos revelam em associar duas caractersticas de um indivduo,

    como se houvesse uma relao causal linear: s e A, ento B. Ora, sabendo ns que

    a realidade, esmo a fsica, nem sempre se rege por esta simplicidade, muito mais

    prudncia dever haver no estabelecimento desta relao quando se trata de

    factores comportamentais. Os processo de comunicao humana no esto imunes

    a esta dificuldade.

    Quando determinados indivduos tendem a enquadrar os outros em tipos

    sociais ou profissionais, estamos perante os chamados tipos pr-determinados.

    um mecanismo a que todos recorremos, por uma questo de economia cognitiva ou

    perceptiva, ou simplesmente como dimenso ldica, em tentar adivinhar ou prever

    o outro. O problema no reside no mecanismo de simplificao que este processo

    implica; est, sobretudo, ao nvel da estigmatizao, que por vezes se projecta no

    outro da nossa relao.

    A tendncia, ou a dificuldade, que alguns sujeitos revelam em situar os outro

    s, objectos da sua apreciao, em valores escalares diversificados, leva-os aperspectiv-los em pontos centrais, medianos, que em nada corresponde, por

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    vezes, fidelidade de uma apreciao correcta . Mais uma vez, o problema maior

    no campo da interaco dir respeito falta de objectividade que acaba por marcar

    as relaes interpessoais. A este mecanismo d-se o nome de efeito de tendncia

    central.Finalmente, pertencente ainda aos factores psicolgicos, temos a tendncia

    de alguns indivduos avaliarem os outros e situ-los no campo extremo da escala de

    apreciao. A esta deturpao da informao no processo interaccional d-se o

    nome de efeito de polarizao.

    3.2. Barreiras Tpicas do Processo de Comunicao

    Na comunicao interpessoal h que eliminar barreiras para que o processose desenrole eficazmente e com qualidade. Assim, constituem algumas barreiras

    comunicao eficaz:

    1. Sobrecarga de Informaes : quando temos mais informaes do que somos

    capazes de ordenar eutilizar.

    2. Tipos de informaes: as in formaes que se encaixarem com o nosso auto

    conceito tendem a serrecebidas e aceites muito mais prontamente do que dados

    que venham a contradizer o que j sabemos. Em muitos cas os negamos aquelas

    que contrariam nossas crenas e valores.

    3. Fonte de informaes: como algumas pessoas contam com mais credibilidade do

    que outras (status), temos tendncia a acreditar nessas pessoas e descontar de

    informaes recebidas de outras.

    4. Localizao fsica: a localizao fsica e a proximidade entre transmissor receptor

    tambm influenciam a eficcia da comunicao. Resultados de pesquisas tm

    sugerido que a probabilidade de duas pessoas comunicarem decresce

    proporcionalmente ao quadrado da distncia entre elas.

    5. Defensidade: uma das principais causas de muitas falhas de comunicao ocorre

    quando um ou mais dos participantes assume a defensiva. Indivduos que se sintam

    ameaa dos ou sob ataque tendero a reagir de maneiras que diminuem a

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    probabilidade de entendimento mtuo.

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