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MANUAL DO CURSO UFCD 3553 “Saúde mental na 3ª “Saúde mental na 3ª idade” idade” Mod.: 035.0 MUTAÇÃO – Consultoria Estudos e Serviços de Formação, Lda. || Rua Dr. Teixeira Dias, N.º 59 C, 3090-495 Paião|| Telef./Fax: 233 942 205 || E-mail: [email protected]

Manual Curso Saúde Mental 3ª idade

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MANUAL DO CURSO

UFCD 3553

“Saúde mental na 3ª“Saúde mental na 3ª

idade”idade”

Mod.: 035.0

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Formadora: Ana Cardoso

Setembro

2014

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ÍNDICE

0 – INTRODUÇÃO ………………………………................................................................................

PÁGINAS

3

I – SAÚDE MENTAL E RECURSOS ……………………………………………………….……………. 4

1. A saúde mental na 3ª idade ...……..……….……………................................................ 4

1.1. Definição de Saúde Mental .……............................................................................ 4

1.2. Promoção da Saúde .……............................................................................................ 5

1.3. Saúde mental e comunidade .……......................................................................... 6

II- PSICOPATOLOGIA DA PESSOA IDOSA …………………………………….……………………. 6

2. O NORMAL E O PATOLÓGICO ................................................................................................... 6

2.1. Conceito de doença mental .…….….…………….................................................... 6

3. ENVELHECIMENTO NORMAL E PATOLÓGICO ....................................................................... 8

4. AS DEMÊNCIAS ........................................................................................................................... 11

4.1. Demência de Alzheimer .…….................................................................................. 11

4.2. Demência de Parkinson .…….................................................................................. 14

4.3. Demência Vascular .……........................................................................................... 15

5. DEPRESSÃO NA PESSOA IDOSA ............................................................................................... 16

6. PSICOPATOLOGIA DO DELÍRIO ………………………………………………………………..….. 20

7. OUTRAS PERTURBAÇÕES MENTAIS PRESENTES NO IDOSO……………………………….. 22

III – RECURSOS COMUNITÁRIOS DE APOIO ………………………………………………………. 24

8. RESPOSTAS SOCIAIS À VELHICE …………………………..……………….………………….….. 24

8.1. Família……....……..……………………………………….….……………........................... 24

8.2. Hospital……....……..…….….……………........................................................................ 26

8.2. Centro de dia……....……..…….….……………............................................................... 26

8.2. Lar ……....……..…….….……………..................................................................................... 26

8.3. Apoio domiciliário ……....……..…….….…………….................................................. 27

CONCLUSÃO ….……………….……………….……………….……………….………………………… 29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………….………….................................................... 30

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0 - INTRODUÇÃO

O envelhecimento das populações é cada vez mais um fenómeno a nível mundial,

sobretudo nos países mais desenvolvidos. A OMS (Organização Mundial de Saúde, 2001)

fez uma projecção que aponta para um 1,2 biliões de pessoas entre os 60 e os 80 anos,

sendo que a maior parte destas pessoas (75%) vive nos países considerados

desenvolvidos. Tendo em conta as grandes transformações demográficas sobretudo nos

países europeus, no que diz respeito ao envelhecimento da população o debate e a troca

de impressões sobre os aspectos sociais deste fenómeno têm vindo a estar cada vez mais

na ordem do dia. Envelhecer com saúde, autonomia e independência, o mais tempo

possível, constitui assim, hoje, um desafio à responsabilidade individual e coletiva, com

tradução significativa no desenvolvimento económico dos países.

Portugal viu nas últimas décadas uma mudança muito significativa em relação à

evolução demográfica, sendo que actualmente os problemas com os quais se depara e se

questiona são em tudo semelhantes aos restantes países da união europeia. A população

continua a aumentar a sua esperança média de vida a par de uma baixa taxa de

natalidade, como resultado a população vai envelhecendo cada vez mais.

Coloca-se, pois, a questão de pensar o envelhecimento ao longo da vida, numa

atitude mais preventiva e promotora da saúde e da autonomia. Do mesmo modo,

importa reduzir as incapacidades, numa atitude de recuperação global precoce e

adequada às necessidades individuais e familiares, envolvendo a comunidade, numa

responsabilidade partilhada, potenciadora dos recursos existentes e dinamizadora de

ações cada vez mais próximas dos cidadãos.

O envelhecimento não é um problema, mas uma parte natural do ciclo de vida,

sendo desejável que constitua uma oportunidade para viver de forma saudável e

autónoma o mais tempo possível, o que implica uma adequação dos serviços de saúde e

de apoio social às novas realidades sociais e familiares que acompanham o

envelhecimento individual e demográfico e um ajustamento do ambiente às fragilidades

que, mais frequentemente, acompanham a idade avançada. Cada vez mais, torna-se

fundamental manter a pessoa idosa no seu meio social tendo em vista o seu bem-estar

físico, psíquico e emocional.

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I – SAÚDE MENTAL E RECURSOS

1. A Saúde Mental na 3ª idade

1.1 Definição de Saúde Mental

A saúde como um “Estado físico e mental em que é possível alcançar todas as

metas vitais, dadas as circunstâncias” (Nordenfelt, 2001). Há autores que defendem que

a saúde deve ser encarada como “A medida em que um indivíduo ou grupo é capaz, por

um lado, de realizar aspirações e satisfazer necessidades e, por outro, de lidar com o meio

ambiente. A saúde é, portanto, vista como um recurso para a vida diária, não o objetivo

dela; abranger os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas, é um

conceito positivo” (OMS, 2009)

Em contrapartida, a SAÚDE MENTAL é definida como “Nível de qualidade de vida

cognitiva e/ou emocional ou a ausência de uma doença mental” ou considerando a

psicologia positiva, “Capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um

equilíbrio entre as actividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica”.

A Saúde Mental pode ser entendida como o equilíbrio psíquico que resulta da

interacção da pessoa com a realidade. Essa realidade é o meio circundante que permite à

pessoa desenvolver as suas potencialidades humanas e, normalmente, essas

potencialidades estão estreitamente associadas à satisfação das necessidades humanas.

Uma das principais necessidades humanas básicas, para o idoso ou qualquer um outro, é

a chamada Autonomia. Esta, diz respeito à capacidade que tem a pessoa para valer-se de

si mesmo, interactuar com o ambiente e satisfazer suas necessidades.

1.2 Promoção da Saúde

É inquestionável que os problemas de saúde mental representam um grave

problema de saúde pública. Os custos diretos (despesas assistenciais) e indiretos (p.ex.

baixas por doença) da perturbação mental, atingem uma magnitude preocupante,

estimando-se que o impacto mundial acumulado que representa em perda de

produtividade económica possa ascender a 16.3 mil milhões de dólares entre 2011 e

2030.

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Neste contexto, na 66.ª Assembleia Mundial de Saúde, os Estados-Membros da

Organização Mundial de Saúde aprovaram um Plano de ação para 2013-2020 assente em

quatro grandes objetivos: reforçar uma liderança eficaz na saúde mental; implementar

respostas comunitárias de saúde mental compreensivas, abrangentes, integradas e

acessíveis, incluindo serviços de apoio social; implementar estratégias de promoção e

prevenção em saúde mental; e fortalecer os sistemas de informação e de investigação no

domínio da saúde mental.

As pessoas afetadas por problemas de saúde mental são muitas vezes

incompreendidas, estigmatizadas, excluídas ou marginalizadas, devido a falsos conceitos,

que importa esclarecer e desmistificar, tais como: as doenças mentais são fruto da

imaginação; as doenças mentais não têm cura; as pessoas com problemas mentais são

pouco inteligentes, preguiçosas, imprevisíveis ou perigosas,etc.

Estes mitos, a par do estigma e da discriminação associados à doença mental,

fazem com que muitas pessoas tenham vergonha e medo de procurar apoio ou

tratamento, ou não queiram reconhecer os primeiros sinais ou sintomas de doença. O

tratamento deverá ser sempre procurado, uma vez que a recuperação é tanto mais eficaz

quanto mais precoce for o tratamento. Mesmo nas doenças mais graves é possível

controlar e reduzir os sintomas e, através de medidas de reabilitação, desenvolver

capacidades e melhorar a qualidade de vida.

1.3 Saúde mental e comunidade

Ao longo da vida, todos nós podemos ser afetados por problemas de saúde

mental, de maior ou menor gravidade. Algumas fases, como a entrada na escola, a

adolescência, a menopausa e o envelhecimento, ou acontecimentos e dificuldades, tais

como a perda de familiar próximo, o divórcio, o desemprego, a reforma e a pobreza

podem ser causa de perturbações da saúde mental. Factores genéticos, infeciosos ou

traumáticos podem também estar na origem de doenças mentais graves.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 30% da população

mundial sofre de alguma doença mental.

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Desse total, 154 milhões de indivíduos sofrem de depressão e 25 milhões de

esquizofrenia. Sensivelmente, 40 mil mortes são atribuídas às patologias psiquiátricas,

como depressão bipolar, esquizofrenia e stress pós-traumático.

Segundo dados do 1.º Relatório do “Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde

Mental”, Portugal “tem, em conjunto com a Irlanda do Norte, a mais elevada prevalência

de doenças psiquiátricas na Europa”; “cerca de 65% de pessoas com uma perturbação

psiquiátrica não tem qualquer tratamento” e “o tempo que medeia entre o começo das

perturbações psiquiátricas e o momento em que se inicia o seu tratamento varia, na

maior parte dos casos, entre um e quatro anos”. Paralelamente, sabemos existir um

reduzido número de profissionais não médicos integrados na rede de cuidados de saúde

mental, bem como falta de formação adequada nos modelos de intervenção de eficácia

comprovada para responder aos múltiplos desafios que as pessoas com experiência de

uma perturbação mental e seus familiares enfrentam.

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, 5% da

população nacional já teve um episódio de depressão grave. A doença bipolar é a

perturbação com maior incidência em Portugal, afetando cerca de 200 mil pessoas,

seguida pela esquizofrenia com 100 mil indivíduos.

II – PSICOPATOLOGIA DA PESSOA IDOSA

2. O normal e o patológico

2.1 Conceito de doença mental

A doença mental, tal como a maioria das doenças, é multifactorial, ou seja, resulta

da combinação de diferentes factores. Assim é na conjugação da nossa base genética com

o meio que nos envolve e seus momentos ou períodos importantes

(facilitadores/desencadeadores) que a doença pode surgir, repentinamente ou de forma

mais insidiosa. Uma das clássicas formas de olhar para as causas da doença mental,

subdivide-as em doenças de causa endógena (resultado de factores hereditários e

constitucionais), em doenças de causa exógena, sendo que estas, ao contrário das

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primeiras, são mais reactivas aos acontecimentos do dia-a-dia e menos dependentes da

nossa genética, biologia e fisiologia.

Popularmente há tendência para se julgar a sanidade da pessoa, de acordo com o

seu comportamento, com a sua adequação às conveniências socioculturais como, por

exemplo, a obediência aos familiares, o sucesso no sistema de produção, a postura

sexual, etc. Medicamente, a Doença Mental pode ser entendida como uma variação

mórbida do normal, variação esta capaz de produzir prejuízo na performance global da

pessoa (social, ocupacional, familiar e pessoal) e/ou das pessoas com quem convive.

De acordo com a NAMI (Aliança Nacional de Doenças Mentais): as doenças

mentais são distúrbios graves que causam alterações biológicas no cérebro e são

debilitantes em diferentes graus. Os sintomas destas doenças tipicamente começam a

aparecer na adolescência ou idade adulta jovem. A doença mental atinge cerca de 5% dos

adultos e 9% das crianças e dos adolescentes.

Há muitos equívocos a respeito das doenças mentais. Isto infelizmente contribui

para o facto de muitas pessoas não procurarem tratamento. Não tratada, a doença

mental pode resultar em desemprego, abuso de substâncias psicoativas, deterioramento

das relações interpessoais, e nos casos mais graves, isolamento e suicídio.

A fim de conquistar o estigma da doença mental, é importante compreender que

estas condições não estão relacionadas com o carácter, inteligência, ou vontade.

Doenças mentais são doenças como quaisquer outras, e com intervenções

modernas, são altamente tratáveis.

Problemas de saúde mental mais frequentes:

Ansiedade

Mal-estar psicológico ou stress continuado

Depressão

Dependência de álcool e outras drogas

Perturbações psicóticas, como a esquizofrenia

Atraso mental

Demências

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Estima-se que em cada 100 pessoas 30 sofram, ou venham a sofrer, num ou

noutro momento da vida, de problemas de saúde mental e que cerca de 12 tenham uma

doença mental grave.

A depressão é a doença mental mais frequente, sendo uma causa importante de

incapacidade.

3. Envelhecimento normal e patológico

A delimitação entre o normal e o patológico é, por vezes, extremamente difícil de

estabelecer.

Esta delimitação baseia-se geralmente em critérios estatísticos, considerando-se

normal o comportamento mais frequente e concordante com os valores estabelecidos e

aceites em determinada sociedade.

É um facto que sendo nós, seres sociais, nos medimos comparativamente à média

da restante população. À medida que crescemos é suposto interiorizarmos regras e

normas que facilitam a nossa adaptação na sociedade, a nossa comunicação e a sermos

aceites pelos outros. Mas vários autores consideraram a norma ou o conceito de

normalidade perigosamente limitativo para a existência individual, colocando de lado a

experiência de vida que cada um de nós tem e causadora de angústia para aqueles que

não estão de acordo com a suposta regra social.

É humanamente impossível que pessoas com histórias de vida diferentes tenham

os mesmos comportamentos e os mesmos sentimentos. E tendo em conta que a noção

de normalidade está intrinsecamente ligada ao conceito social e cultura, não poderemos

esquecer que as sociedades não são todas iguais e cada uma tem também a sua própria

noção do que é ou não aceite como normal. Por isso aquilo que é normal numas culturas

já não o é noutras.

Envelhecimento normal vs envelhecimento patológico:

As alterações biológicas e psicológicas devidas ao envelhecimento ocorrem

normalmente de forma gradual, ao longo de anos ou décadas,daí que não existe uma

idade determinada em que as pessoas possam ser consideradas velhas. Os

gerontologistas, especialistas no domínio da 3ª idade consideram que:

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Velhos-jovens (abaixo dos 75 anos de idade)

Velhos-velhos (acima dos 75 anos de idade)

Velhos-mais velhos (85 anos de idade ou mais)

Relativamente ao contexto social de envelhecimento, deve salientar-se que na 3ª

idade ocorrem mudanças/perdas de papéis, estatuto educacional, laboral e financeiro,

casamento e viuvez, ao nível da participação da família, dos amigos e de grupos. Por tudo

isto é que estar socialmente envolvido e dependente de outros parece ser importante

para se envelhecer com êxito, tanto subjectiva como objectivamente. A este nível, revela-

se essencial e necessário identificar fontes de apoio social, bem como facilitar contactos

plenos de sentido para os que carecem de redes sociais e promover a reciprocidade na

ajuda. Em suma, “Ser necessário aos outros e contribuir para a família ou a sociedade

como um todo enquanto factores importantes para se manter o sentimento de autovalor,

tal como lamentar a perda de antigas aptidões e papéis sociais”.

Características do Envelhecimento Normal

Enquanto uma pessoa envelhece, o seu organismo passa por diversas alterações

na sua estrutura e funções. Este processo normal, conhecido por senescência, ocorre de

forma gradual e expressa-se com manifestações características. De todas elas, as que

acontecem no sistema nervoso são de uma importância fundamental.

Observou-se que o volume do tecido cerebral

diminui de forma gradual e variável. Esta situação resulta

da redução da quantidade ou do tamanho de algumas

das células que formam parte do cérebro, os neurónios.

Ao mesmo tempo ocorre um aumento do volume do

líquido que se encontra normalmente dentro do sistema

nervoso. A combinação de ambas as alterações é conhecida por atrofia cerebral.

Estas modificações podem acompanhar-se de algumas alterações nas funções

intelectuais; assim, verifica-se uma lentificação generalizada de todos os processos

mentais. Entre as manifestações mais marcantes podem mencionar-se a diminuição da

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capacidade de memorização, aquisição e retenção de nova informação. É característico,

por exemplo, que um idoso tenha dificuldades em evocar um nome ou uma data

específica de uma experiência cuja memória está intacta. Esta alteração da memória

praticamente não agrava com o passar dos anos e pode não interferir com as actividades

quotidianas.

Além das alterações mencionadas, o envelhecimento normal

pode acompanhar-se de outras manifestações neurológicas.

Perturbações do equilíbrio

Postura encurvada

Lentificação da marcha, com passos mais curtos

Maior sensibilidade à luz intensa e menor adaptação ao

escuro

Surdez variável, especialmente para sons agudos

Diminuição do gosto e do olfacto

Redução da velocidade e potência musculares

Características do Envelhecimento Patológico

No envelhecimento patológico ocorre um declínio significativo das funções cognitivas:

Alteração e deterioração da memória para registar, armazenar e recuperar

informação nova;

Perda de conteúdos referentes à família e passado;

Alteração e deterioração do pensamento e raciocínio com redução do fluxo de

ideias e diminuição da atenção, etc.

Défice significativo nas diversas áreas que permitem a execução de tarefas da

vida diária (vestir, comer, etc.);

Alterações da linguagem;

Alteração da “Consciência clara”;

Sintomatologia presente durante pelo menos 6 meses.

4. As demênciasMod.: 035.0

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As Demências são classificadas como um transtorno cognitivo, pois apresentam

múltiplos défices cognitivos (incluindo a memória, a linguagem e a inteligência)

decorrentes dos efeitos fisiológicos de uma condição médica geral, dos efeitos de uma

substância ou de múltiplas causas.

Pacientes com demência costumam apresentar dano da linguagem,

reconhecimento, identificação de objectos e capacidades motoras.

4.1 Demência de Alzheimer

A doença de Alzheimer ou simplesmente Alzheimer, é uma doença degenerativa

actualmente incurável mas que possui tratamento. O tratamento permite melhorar a

saúde, retardar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de

comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida ao idoso e sua família.

Na doença de Alzheimer uma diminuição do tamanho geral do cérebro, em

resultado da perda de neurónios.

Factores de risco

• Idade;

• História Familiar;

• Um baixo nível de educação (a actividade intelectual parece exercer um efeito

protector);

• Tabagismo

• Inactividade Física

• Depressão

• Hipertensão

• Obesidade

• Diabetes

Incidência

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Evolução da doença

A

doença de

Alzheimer tem início com pequenos esquecimentos, evoluindo até a pessoa ficar

completamente dependente. Esta evolução acontece, em média, durante 8 anos mas em

alguns casos pode levar até 20 anos para acontecer.

Na fase precoce, os idosos começam a ter perda de memória e, frequentemente,

esquecem-se da comida no forno, onde deixaram as chaves, a carteira e outros objectos

pessoais. Além disso, aparecem sinais da dificuldade em reconhecer amigos, pessoas da

família e lugares conhecidos.

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Já na fase moderada, a perda de memória é mais evidente, a capacidade de

decisão fica alterada e, na maioria dos casos, a pessoa não percebe essas mudanças.

Nesse momento, revelam-se também alguns outros sintomas, como dificuldade em

nomear e identificar objectos, sons e formas, e problemas para fazer movimentos

precisos – como copiar um desenho. A desorientação, tanto de espaço quanto de tempo,

torna-se um risco, pois o idoso pode se perder facilmente na rua.

Após algum tempo, as transformações na linguagem também ficam mais

evidentes. A dificuldade de nomeação evolui para perdas de identidade, compreensão e

capacidade de conversar. Outros sinais característicos desse estágio são as ideias

paranóicas e persecutórias, a agitação, a agressividade, os distúrbios de sono e os

questionamentos repetitivos.

Na fase severa, todas as funções mentais estão prejudicadas, o problema de fala

progride até à perda total, e as pessoas tornam-se dependentes em todas as actividades

do dia-a-dia, inclusive nas mais simples, como comer, tomar banho, trocar de roupa e

andar.

Tratamento

Não existe cura para o Alzheimer, no entanto, existem cuidados a ter para manter

a qualidade de vida do idoso. Existem, basicamente, para estes pacientes, quatro tipos

principais de terapias:

• Terapia da orientação para a realidade: trabalha os aspectos cognitivos e

intelectuais, memória etc.

• Terapia física: melhora e manutenção das condições físicas, motoras e

respiratórias.

• Terapia ocupacional: maximiza o desempenho para as actividades da vida diária.

• Terapia ambiental: sugere e indica mudanças e adaptações ambientais no

domicílio e nas instituições, com o propósito de facilitar o dia-a-dia e prevenir

acidentes.

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Prevenção

Alguns estudos mostraram que manter actividades intelectuais como a leitura,

jogos que exercitam o cérebro, assim como exercer alguma actividade física (caminhada,

etc.) tem um forte efeito positivo sobre o Alzheimer.

Tratar a hipertensão, colesterol, diabetes, não fumar, assim como manter uma

alimentação rica em frutas constituem também um meio eficaz de prevenir demências

como o Alzheimer.

4.2 Demência na Doença de Parkinson

A Doença de Parkinson é uma doença degenerativa de Progressão lenta que afecta

principalmente a mobilidade. Uma das alterações não-motoras mais comuns na doença

de Parkinson (DP) é a demência.

Sintomas

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Outros sintomas

• Bradicinesia: Lentidão dos movimentos causada pelo atraso na transmissão de

instruções do cérebro para o resto do corpo;

• Depressão

• Ansiedade

• Instabilidade Postural

• Bradifrenia: Pensamento lento

Progressão da Doença

O doente fica susceptível e

fraco, aumentando o risco de infecções e outros episódios com potencial mortal.

4.3 Demência Vascular

A Demência Vascular é a segunda causa mais comum de Demência. Ela tende a

apresentar um início um tanto mais precoce que a Doença de Alzheimer e, ao contrário

da Doença de Alzheimer, os homens são mais frequentemente afectados que as

mulheres, contudo, muitas vezes ela acaba sendo confundida com a doença de

Alzheimer.

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O início da Demência Vascular é tipicamente súbito, seguido por um trajecto

flutuante e gradual, caracterizado por rápidas alterações no funcionamento, ao invés de

uma progressão lenta. A duração, entretanto, pode ser altamente variável, e um início

insidioso com declínio gradual também é encontrado.

A demência vascular cerebral é muito mais comum do que se pensa e pode ser

evitada.

Ela caracteriza-se por múltiplos acidentes vasculares cerebrais (avc’s) que vão

ocorrendo no cérebro ao longo da vida do indivíduo, estes vão-se somando e estão

associadas a uma história de declínio cognitivo. Às vezes, são pequenos episódios em que

o indivíduo fica indisposto mas vai melhorando e não chega a ter conhecimento de que a

causa daquela indisposição foi uma pequena isquemia, um pequeno derrame cerebral.

A prevenção da demência vascular pode ser feita por meio de procedimentos

simples, como controle de tensão arterial e dos níveis de colesterol no sangue, evitar

gorduras e excesso de sal.

Enquanto o Alzheimer é uma doença degenerativa que leva à morte dos

neurónios, a demência vascular é uma doença dos vasos sanguíneos do cérebro que,

quando afectados, não conseguem compensar esse órgão de oxigénio e nutrientes e,

assim, as conexões entre os neurónios se degeneram.

Na demência vascular as alterações são vistas principalmente na parte branca,

área do cérebro onde ficam as fibras de comunicação do órgão. Os sintomas clássicos são

discretamente diferentes, pois a doença de Alzheimer apresenta perda de memória

progressiva e a demência vascular, perda de memória em ‘degraus’.

5. Depressão na pessoa idosa

Actualmente, verifica-se que a depressão é uma problemática subdiagnosticada e

por conseguinte, subtratada porque apenas 35% dos idosos que têm depressão estão a

tomar um antidepressivo. Este aspecto deve-se, muitas vezes, à crença de que os

sintomas de depressão são normais ou expectáveis dada a idade do doente, as

circunstâncias sociais (incluindo perdas recentes) e o estado médico e também porque os

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sintomas como perda de energia, falta de apetite e as perturbações do sono, são muitas

vezes associados ao processo normal de envelhecimento.

A depressão é um sentimento semelhante a tristeza, mas poderá não ter uma

causa especifica inicialmente. A depressão é “um distúrbio da área afetiva ou do humor,

com forte impacto funcional em qualquer faixa etária e com repercussões para a vida:

redução da capacidade para pensar, sentir, interagir com o meio, trabalhar e etc…”

Sintomas:

Humor depressivo durante a maior parte do dia, quase todos os dias

Diminuição clara do interesse em todas ou quase todas as actividades durante

a maior parte do dia, quase todos os dias

Perda/aumento de peso; diminuição/aumento do apetite;

Insónia/hipersónia quase todos os dias;

Agitação ou lentificação psicomotora quase todos os dias (observável por

outros)

Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;

Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva ou inapropriada (não

meramente autocensura ou sentimentos de culpa por estar doente)

Diminuição da capacidade de pensamento ou da concentração, ou indecisão

Pensamentos recorrentes acerca da morte (não somente acerca do medo de

morrer), ideação suicida ou um tentativa de suicidio;

Desconhece-se a causa da maioria das depressões no idoso; se bem que são

apontados os seguintes aspectos que intervêem fisicamente com a questão depressiva:

Vulnerabilidade genética; Determinada medicação e Doenças como hipotiroidismo. Em

termos comportamentais e cognitivos verifica-se o conceito de “Desânimo Aprendido”

(Seligman), associado aos declínios do vigor físico, da função sexual e da saúde em geral

associados à sensação de desamparo passivo.

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Page 19: Manual Curso Saúde Mental 3ª idade

Tratamento “ Remédios para os sintomas. Diálogo para os problemas.”

Psicoterapia

Farmacoterapia

Associação das duas (ideal)

(religião, suporte familiar, atividade física)

Ao falarmos de 3ª idade, é também essencial abordar a temática do “Luto”. O luto

normal pode apresentar algumas ou todas as características da depressão, excepto ideias

suicidas, psicose, perda grave da auto-estima e de funcionalidade e lentidão psicomotora.

Depressão (maior concentração em si próprio e no seu papel na perda, culpa e

auto-estima reduzida);

Luto (centração no objecto perdido);

FASES DO LUTO

1. As primeiras semanas após a morte de uma pessoa querida ... Entorpecimento,

choque, incredulidade e sensação de vazio, frequentemente acompanhados por ansiedade

intensa, perturbação do sono e queixas somáticas

2. O 1º ano após a morte de um ente querido... Período de adaptação durante o qual

ocorre o trabalho de elaboração cognitiva e afectiva, através de um processo de

rememoração, fantasia e racionalização; termina com a aceitação da perda;

3. Depois do primeiro ano pós-perda . .. Inicia-se uma fase de recuperação, durante a

qual se dá uma redefinição do Eu sem a pessoa amada perdida

DEPRESSÃO VS LUTO TRAUMÁTICO

Sintomas de sofrimento de separação (pensamentos sobre a pessoa falecida, ânsia

e procura da pessoa falecida e sentimento de solidão que se segue à perda);

Sofrimento traumático (ausência de finalidade ou futilidade face ao futuro;

sentimento de desligamento; “a vida não tem qualquer sentido”)

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6. Psicopatologia do delírio

O delírio é uma disfunção cerebral global caracterizada por alterações da

consciência e cognitivas ao nível da atenção, pensamento, memória, percepção, discurso,

emoções, comportamento psicomotor e do ciclo sono-vigília.

O delírio tem prevalência alta nos doentes internados, o que contribui

significativamente para a morbilidade e a mortalidade.

Aproximadamente 15 a 25% dos doentes com cancro e 10 a 56% dos doentes

idosos desenvolvem delírio durante o internamento.

Na maioria dos casos, o delírio é secundário a uma doença física grave, intoxicação

medicamentosa e abstinência a sedativos, álcool ou outra droga de abuso.

O delírio, muitas vezes, não é reconhecido ou é diagnosticado de forma errada.

Na maioria das vezes é confundido com depressão, demência ou psicose.

Diversos estudos mostram que 57 a 80% dos pacientes idosos com distúrbios

cognitivos não são diagnosticados pelos clínicos na admissão hospitalar e, tratando-se de

delírio, essa falha pode chegar a 70%.

O delírio pode ser a única manifestação clínica consequente a um enfarte agudo

do miocárdio, pneumonia, septicemia, distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos em

idosos hospitalizados.

O seu reconhecimento conduz à imediata investigação, no sentido de se identificar

precocemente a causa básica, salvando vidas.

Sintomas

A primeira característica do delírio é o distúrbio da consciência, que envolve

alteração do nível de percepção do ambiente e redução da capacidade para se

concentrar, manter ou mudar a atenção.

O paciente idoso usualmente mostra-se desatento, letárgico, sonolento, incapaz

de obedecer a ordens complexas ou manter raciocínio sequenciado, distraindo-se com

muita facilidade.

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Por norma o doente com delírio não apresenta hiperactividade, agitação ou

agressividade, excepto no delírio por abstinência ao álcool, benzodiazepínicos ou anti-

depressivos tricíclicos.

O paciente não estabelece contacto com o olhar e parece ignorar o ambiente e as

pessoas, olha vagamente, sem direcção, e às vezes dorme enquanto está a ser

examinado.

Nos pacientes com delírio, a fala é arrastada e desconexa, a compreensão falha e a

escrita é quase impraticável.

Podem ocorrer ilusões e alucinações, no entanto, entre os idosos, são mais

comuns erros de interpretação e identificação (por exemplo, a enfermeira que entra no

quarto pode ser tomada por um agressor potencial ou o cônjuge por um impostor).

A terceira característica do delírio é a sua instalação aguda e o seu curso flutuante.

Desenvolve-se em horas ou dias, característica de grande importância cronológica no

diagnóstico diferencial com a demência.

É possível que o médico ao retornar à enfermaria poucas horas, ou mesmo

minutos, após ter avaliado um paciente que se encontrava relativamente sonolento e

apático, deparar-se com o mesmo inquieto, agitado, gritando, batendo, cuspindo,

tentando sair do leito, querendo ir para casa ou fugir de visões e alucinações, muitas

vezes aterrorizantes, em curso naquele momento.

Os idosos são susceptíveis ao desenvolvimento de delírio como consequência de

uma grande variedade de factores orgânicos que podem actuar isolados ou, com maior

frequência, em associação (por exemplo, no pós-operatório de fractura do fémur o delírio

pode dever-se a anemia e/ou toxicidade oriunda da medicação anestésica).

O delírio costuma ocorrer devido à retirada brusca de medicação sedativa ou

droga de abuso.

Muitos pacientes ficam inquietos, tentam levantar-se inoportunamente do leito,

arrancando equipamento endovenoso, cateteres, sondas etc. No entanto, é mais comum

o paciente mostrar redução da actividade psicomotora, com lentidão nas respostas.

Também se verificam distúrbios emocionais como ansiedade, medo, depressão,

irritabilidade, raiva, disforia ou apatia.

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Mudanças súbitas e imprevisíveis de um estado emocional para outro podem

ocorrer em alguns pacientes, enquanto outros se mantêm estáveis.

A maioria dos estudos mostra que em geral, durante a noite, os sintomas

emocionais e a actividade psicomotora são mais intensos ou evidentes.

7. Outras perturbações mentais frequentes no idoso

Perturbação bipolar

Os sintomas bipolares em idosos são semelhantes àqueles de adultos mais jovens

e incluem euforia, humor expansivo e irritável, necessidade de sono diminuída, fácil

distracção, impulsividade e, frequentemente, consumo excessivo de álcool. Pode haver

um comportamento hostil e desconfiado. O tratamento deve ser feito com medicação

cuidadosamente controlada pelo médico.

Perturbação de ansiedade

Incluem perturbações de pânico, fobias, ansiedade generalizada, de stress agudo e

de stress pós-traumático. Desses, os mais comuns são as fobias.

As perturbações de ansiedade começam no início ou no período intermediário da

idade adulta, mas alguns aparecem pela primeira vez após os 60 anos.

Em idosos a fragilidade do sistema nervoso autónomo pode explicar o

desenvolvimento de ansiedade após um acontecimento stressante. A perturbação de

stresse pós-traumático é, frequentemente é mais severa nos idosos que em indivíduos

mais jovens em vista da debilidade física concomitante nos idosos.

As obsessões (pensamento, sentimento, ideia ou sensação intrusiva e persistente)

e compulsões (comportamento consciente e repetitivo como contar, verificar ou evitar ou

um pensamento que serve para anular uma obsessão) podem aparecer pela primeira vez

em idosos, embora geralmente seja possível encontrar esses sintomas em pessoas que

eram mais organizadas, perfeccionistas, pontuais e parcimoniosas. Tornam-se excessivos

em seu desejo por organização, rituais e necessidade excessiva de manter rotinas. Podem

ter compulsões para verificar as coisas repetidamente, tornando-se geralmente inflexíveis

e rígidos.

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Perturbações somatoformes

São um grupo de perturbações que incluem sintomas físicos (por exemplo dores,

náuseas e tonturas) para os quais não pode ser encontrada uma explicação médica

adequada e que são suficientemente sérios para causarem um sofrimento emocional ou

prejuízo significativo à capacidade do paciente para funcionar em papéis sociais e

ocupacionais. Nestas perturbações, os factores psicológicos contribuem para o início,

severidade e a duração dos sintomas. Não são resultado de simulação consciente.

A hipocondria é comum em pacientes com mais de 60 anos, embora o seja mais

frequente entre 40 e 50 anos. Exames físicos repetidos são úteis para garantirem aos

pacientes que eles não têm uma doença fatal. A queixa é real, a dor é verdadeira e

percebida como tal pelo paciente. Ao tratamento, deve dar-se um abordagem psicológica

e/ou farmacológico.

Perturbações por uso de álcool e outras substâncias

Os pacientes idosos podem iniciar um quadro de dependência a uma droga ou um

remédio, devido à automedicação. Por exemplo, um senhor que ganha o hábito beber

uma dose de álcool todos os dias para relaxar, ou então uma senhora que ao passar por

uma situação de maior ansiedade, como a perda ou morte de algum conhecido ou

familiar, inicia o uso de medicamentos sedativos a fim de não se sentir tão mal.

A dependência de álcool, geralmente, apresenta uma história de consumo

excessivo que começou na idade adulta e frequentemente está associada a uma doença

médica, principalmente doença hepática. Além disso, a dependência ao álcool está

claramente associada a uma maior incidência de quadros demenciais.

A dependência de substâncias como hipnóticos, ansiolíticos e narcóticos é comum.

Os pacientes idosos podem abusar de ansiolíticos para o alívio da ansiedade crónica ou

para garantirem uma noite de sono. A apresentação clínica é variada e inclui quedas,

confusão mental, fraca higiene pessoal, depressão e desnutrição.

Uma particularidade de tais dependências nesses pacientes é que tanto os medicamentos

sedativos quanto o álcool estão relacionados com maior número de quedas e fracturas, o

que reduz significativamente a expectativa de vida do idoso após o incidente.

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III – RECURSOS COMUNITÁRIOS DE APOIO

8. Respostas sociais à velhice

8.1 Família

Dentro da família a pessoa é vista como sendo ela mesma, independentemente da

utilidade económica, política ou social, ela é única, sem máscaras, na sua intimidade, faz

parte da família sempre.

O idoso é visto como o principal membro da comunidade familiar, pois ele

representa uma história de vida, a história daquela família, como se codificasse um gene,

a biografia.

É na família que o idoso necessita de cuidados, apresenta as suas manias e acaba

por envolver a família em torno de si, leva os mais jovens a olhar não só para si como

também para tudo à sua volta.

A família pode vir a deparar-se com o idoso saudável ou com o idoso doente, onde

existe um comprometimento de alguns órgão e que acabam por levar o idoso a um grau

de dependência , sendo o apoio familiar de suma importância.

É indispensável para a família saber tudo que se passa com o idoso,

nomeadamente se apresenta alguma doença que leva à toma de medicação e produz

alteração nas actividades de vida diária.

É no seio familiar que é decidido como o idoso vai ser cuidado e quem irá ser o

responsável.

É através do convívio familiar que muitas doenças são relatadas, quando bem

observados os costumes e o dia-a-dia do idoso.

Nem todos os idosos se adaptam facilmente a mudanças no ambiente, onde as

alterações podem levar a uma incapacidade de aceitar a situação.

A reforma, as perdas funcionais e sociais levam muitas vezes o idoso a desenvolver

um quadro depressivo.

Nem todas as famílias possuem estrutura imediata para receber um idoso

debilitado, nem todos tem uma família grande.

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Por vezes, encontramos idosos que vivem sozinhos, porque não têm a quem

recorrer, pois não tiveram filhos, ou estão zangados há anos com a família, ou todos já se

foram de sua vida.

Muitos idosos, têm capacidade e oportunidade e conseguem formar novos elos.

Os seus vizinhos e os seus amigos acabam por se tornar cuidadores, dando carinho

e apoio. Porém, a falta da estrutura familiar fica como uma marca.

Quem cuida durante um período de tempo prolongado, tem tendência a

apresentar sinais de stress que devem, de igual forma, ser tidos em conta e alvo de

atenção por parte destes e de quem os rodeia.

Atitudes a tomar para reduzir o stress do cuidador

• Apreender mais sobre a Doença de Alzheimer e tornar-se num cuidador

informado;

• Ser realista quanto a si próprio e reconhecer as suas limitações como cuidador;

• Aceitar os seus sentimentos - O cuidador pode sofrer um misto de sentimentos no

seu dia-a-dia e que podem ser confusos, mas é importante não esquecer que são

reacções normais e que está a dar o seu melhor nos cuidados ao doente.

• Partilhar informações e sentimentos com familiares e amigos - Se partilhar as

informações acerca da doença bem como os seus sentimentos com familiares e

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amigos, contribuirá para uma maior compreensão por partes destes o que lhes

permitirá prestar o apoio que tanto precisa.

8.2 Hospital

Durante o internamento, a pessoa idosa passa a estar ao cargo de uma equipa

multidisciplinar de saúde, que tudo faz para que esta atinja o mais rapidamente possível,

um estado máximo de saúde.

Quando um idoso é internado, surgem frequentemente dúvidas e insegurança em

todos os membros da família.

É um momento de tomada de decisões que podem ser fáceis ou não.

Para tentar ultrapassar este momento menos favorável, as pessoas precisam de

ajuda, apoio moral, alguém com que possam esclarecer dúvidas.

É importante existir uma boa relação entre a rede familiar e os técnicos de saúde a

fim de melhorar quer o estado emocional da pessoa internada, quer para aumentar a sua

interacção no seu processo de cura, bem como a integração da família neste processo.

O hospital desempenha assim um papel importante na informação e preparação

da doença, bem como a melhor forma de lidar com a mesma.

8.3 Centro de Dia

Os Centros de Dia são importantes pois poderão integrar os doentes crónicos,

tendo uma função de protecção de dia em relação aos indivíduos dependentes, e

também um centro de actividades que têm como finalidade manter senão mesmo

melhorar o estado destes utentes.

8.4 Lar

A institucionalização dos idosos provoca receios para o próprio idoso que, de

repente, tem o sentimento de ser abandonado pelos familiares e, muito particularmente,

pelos filhos que os levam para um lugar desconhecido para eles.

Estes receios podem provocar agressividade, o que é culturalmente inaceitável,

sobretudo se o idoso começa a manifestar sinais de demência que podem ser

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interpretados como a extremização do mau carácter do familiar e não como uma doença

que se instala, por vezes lentamente.

Para evitar desgastes desnecessários, programas de informação sobre esta doença

degenerativa deveriam ser implementados de uma forma sistemática, assim como

reuniões entre os familiares para eles poderem identificar-se também com as vivências

dos outros intervenientes.

Isto evita sentimentos de culpabilidade nos próprios filhos e eventuais desgastes

em termos de saúde, sobretudo para aquele que se ocupa do doente.

8.5 Apoio Domiciliário

O apoio domiciliário é importante, sobretudo para idosos que mantém uma certa

autonomia mas necessitam de um determinado apoio, pois encontram-se isolados, por

vezes em zonas rurais, ou mesmo em zonas urbanas.

Eles necessitam de alguém que os acompanhe aos serviços de saúde e aos serviços

públicos e os apoie na aquisição dos bens de primeira necessidade.

É fundamental conhecer os idosos, nomeadamente as suas características

pessoais, os valores, os seus princípios, a sua cultura, capacidades e dificuldades e ainda

os seus gostos pessoais. A nível institucional, devem conhecer-se bem os horários, o

funcionamento, os espaços disponíveis, os recursos materiais, financeiros e humanos

acessíveis, bem como as prioridades o os objectivos da direcção. É ainda essencial

conhecer a comunidade local, em particular, a sua cultura, modos de vida, as outras

instituições, equipamentos, organizações sociais e culturais.

A saúde é considerada como uma dimensão da qualidade de vida, essencial e que

surge associada ao papel do hospital na vida de um idoso...

Na medida em que falamos de saúde e bem-estar do idoso, falamos de um

envelhecimento com qualidade de vida, um envelhecimento que na literatura

especialiszada é designado como ENVELHECIMENTO ACTIVO. Facilmente se depreende

que o alargamento das redes sociais, que na maioria dos idosos estão apenas associadas à

família e aos vizinhos, é uma das medidas que devem ser tidas em conta ao nível da

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promoção da qualidade de vida. Para isto muito contribuem toda uma série de

instituições como seja os centros de convívio, os serviços de saúde, os centros de dia, e

outras associações e instituições.

Atendendo agora às instituições dedicadas à prestação de serviços de saúde é

inevitável falar da necessidade de humanizar estes serviços de saúde que se tornaram

demasiado mecanizados e parecem esquecer-se que a substância do seu trabalho é um

ser humano que precisa de cuidados, de carinho, de protecção, daí que mais do que um

acto, o cuidado deve ser uma atitude.

É essencial que ao nível da prestação de serviços a utentes idosos, os serviços de

saúde adoptem uma postura de integralidade, marcada por um tratamento digno e

respeitoso, com qualidade, acolhimento e vínculo.

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CONCLUSÃO

Questiona-se cada vez mais a institucionalização da pessoa idosa como resposta

social prevalente, verificando-se uma tendência para a actuação conjunta dos vários

organismos institucionais, quer a nível nacional como a nível local no sentido de criar

respostas alternativas à institucionalização do idoso. Criaram-se nos últimos anos

respostas tais como: os serviços de apoio domiciliário, centros de dia e de convívio, e até

mesmo os serviços de acolhimento domiciliário. A nível nacional, as respostas sociais

institucionais existentes podem caracterizar-se segundo dois tipos: o acolhimento

permanente que engloba os equipamentos de colocação institucional de idosos, tais

como: os lares, as residências e famílias de acolhimento; o acolhimento temporário, de

carácter não institucional, reúne os serviços de apoio e acompanhamento local dos

idosos, tais como: os serviços de apoio domiciliário. Cada vez mais, as instituições tentam

oferecer serviços que promovam um envelhecimento bem-sucedido, que potenciem a

conservação do empenhamento social e do bem-estar.

Tendo em conta os estudos realizados nesta área que vieram contribuir para

encarar de forma diferente o processo do envelhecimento, bem como, as problemáticas

que se colocam, a necessidade de uma formação específica e contínua dos recursos

humanos destas instituições e equipamentos sociais, quer ao nível das chefias, quer ao

nível dos seus colaboradores, torna-se fundamental. Essa formação deve ser específica e

contínua, uma vez que, numa sociedade em constante mudança vão surgindo novas

realidades e novas problemáticas que este tipo de serviços deverá dar resposta. Assim, é

necessário que as instituições e equipamentos sociais tenham um espírito de abertura

suficiente face ao exterior, no sentido de estarem em pleno contacto com o meio, sendo

capazes das necessárias adaptações, quer ao nível das políticas sociais, quer ao nível das

respostas que efectivamente prestam. Assim, e só assim, este tipo de serviços e

equipamentos sociais poderão colocar o utente, o cliente no centro de toda a sua

actuação, sendo este o princípio primordial de toda e qualquer resposta social, de acordo

com as novas orientações.

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Page 30: Manual Curso Saúde Mental 3ª idade

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