Marcos Reigota EA Frente Ao Esfacelamento Da Cidadania Governo Lula

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  • 7/25/2019 Marcos Reigota EA Frente Ao Esfacelamento Da Cidadania Governo Lula

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    A educao ambiental frente ao esfacelamento da cidadania no governo Lula(2002-2006). (*)

    Marcos ReigotaUniversidade de Sorocaba

    No h sada, s ruas, esquinas e avenidas(Itamar Assumpo)

    Conteto.

    A educao ambiental brasileira con!ecida pelo seu enga"amento pol#tico naconstruo de uma sociedade "usta$ sustent%vel e democr%tica& 'sse argumento podeser veriicado numa etensa bibliograia$ da *ual destaco apenas alguns dos livros eno incluindo por absoluta alta de espao$ artigos$ teses e disserta+es de in,meroscolegas$ *ue l!e deram identidade pol#tica$ pedag-gica e visibilidade cientiicainternacional& ( .ias$ /00$ 2!ilippi 3r&42elicioni$/005$ 6o7oni8 Reis$/009$ :ia;a etalli$ /00oal et alli$ /000$ 6amar$/000$ ?ascino$ 1$ ?urie$ 1B$ ?ascino et alli$ 1C$ 2%dua4 6abane7$ 1C$Rodrigues$ 1C$ =rueger$ 19$ Reigota$ 19)&

    >ela a perspectiva da cidadania tem importDncia undamental$ no entantodesde o in#cio do governo Eula$ uma srie de acontecimentos$ decis+es pol#ticas$eventos$ semin%rios e documentos oram no sentido contr%rio ao *ue tem sidoarduamente constru#do desde o inal dos anos 1C0&

    &&&&&&&&&&&&&&&

    (*)A primeira verso desse texto foi apresentada no Grupo Cotidiano e rti!as"o!iais#no $% "impsio &rasi'eiro de esquisa e %nter!mio Cientfi!o da

    Asso!iao Na!iona' de s+raduao em si!o'oia (Anpepp), rea'i-ado de ./ a.0 de maio de 1223 em 4'orianpo'is+ "C5 6 'ivre a reproduo e difuso (copyleft)ex!'usivamente para fins no !omer!iais, desde que o autor e a fonte se7am !itados eesta nota se7a in!'uda5

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    2odemos situar a crise da identidade pol#tica da educao ambiental brasileirano momento em *ue a sara de so"a transgFnica$ produ7ida clandestinamente no Rio@rande do Sul oi liberada para eportao e comerciali7ao& .iante desse ato oiobservado o silFncio de grande parte dos mais con!ecidos educadoresGas ambientaismuitos deles e delas pr-imos do c#rculo do poder ou ocupando cargos pol#ticos nos

    Ministrios da 'ducao e do Meio Ambiente& 'ssesGas colegas se no apoiaram amedida governamental tambm no se maniestaram publicamente a respeito ouabandonaram seus cargos&

    Huando era ministro da ?asa ?ivil$ 3os .irceu divulgava em altos brados *uea usina nuclear Angra < seria conclu#da& >ovamente o silFncio se e7 entre n-s& A transposio do Rio So rancisco$ obra considerada estratgica pelo atualgoverno$ oi criticada por bi-logos$ ge-graos$ ge-logos e antrop-logos$ mas osilFncio *ue se instalava entre osGas educadores ambientais oi rompido *uando o reiEui7 lavio ?appio iniciou greve de ome& Apesar do intenso debate$ inclusive nosmeios de comunicao de massa$ a ministra do Meio Ambiente$ airmou em dierentesocasi+es *ue do ponto de vista tcnico e ambiental a obra no apresentava nen!um

    risco& oi constrangedor observar o empen!o de muitos militantes ambientalistas ealiados estratgicos do Ministrio do Meio Ambiente pela aprovao da lei numero9&CCG/005 *ue regulamenta a eplorao da madeira na Ama7Jnia& @rupos como@reenpeace$ KK e o @6A8 @rupo de 6rabal!o da Ama7Jnia ( *ue congregain,meras L>@s atuando na regio) oram avor%veis lei e i7eram intensa campan!a

    pela sua aprovao&>os meios ambientalistas$ e dosGdas educadores ambientais$ se ouviu v%rias

    ve7es *ue o Ministrio do Meio Ambiente estava sendo muito eiciente$ apoiando ospro"etos das L>@s e *ue por isso$ no podiam a7er criticas ao governo$ nem ministra$ ou ainda *ue as criticas avoreciam a direita& A palavra cooptaocomeou a a7er parte do vocabul%rio e se tornou constante nas conversas cotidianasentre os *ue estavam em desacordo com essa pol#tica& Ls meios de comunicaoderam Fnase a um suposto consenso entre governo$ madeireiros e ambientalistas emtorno da reerida lei$ mas as vo7es dissidentes pouco oram ouvidas& L seman%rio?arta ?apital de // de evereiro de /00 publicou como matria de capa umareportagem com a *uestoN A Ama7Jnia est% salvaO e oereceu a respostaN 2ela

    primeira ve7 na !ist-ria$ !% consenso entre ambientalistas$ seringueiros e madeireirosem torno de um novo modelo de eplorao da loresta& Resta ver se o governo ar%cumprir a lei inovadora & >a reportagem !% uma srie de depoimentos de novosambientalistas (de tons moderados) e de outros *ue esto constantemente nos meiosde comunicao$ mas a "ornalista 2!idia de At!aide no ouviu$ por eemplo$ o

    proessor A7i7 AbPS%ber$ undador do 26$ pes*uisador com mais de 50 anos de

    atividade na Ama7Jnia e tenor dos pes*uisadores$ educadoresGas ambientais emilitantes *ue se posicionaram contrariamente& >ovamente no se ouviramGvirammaniesta+es p,blicas dosGas educadoresGas ambientais$ pr-imos ou no interior dosMinistrios do Meio Ambiente e da 'ducao4 *ue participam de suas publica+es4tFm contratos eventuais de consultoria4 so convidados com direito a vo7 em eventos4tFm pro"etos inanciados eGou apoiados por esses ministrios e empresas estatais4 ouainda *ue so membros do 26 ou dos partidos aliados do governo&

    Ls dissidentes (na alta de uma mel!or deinio) alavam entre si e nosespaos con*uistados ao longo de suas tra"et-rias& As conerFncias$ semin%rios eeventuais entrevistas tornaram8se oportunidades para a construo e disseminaodessa oposio$ no momento em *ue uma pol#tica pragm%tica e totalit%ria se instalava

    com a complacFncia de militantes$ intelectuais$ pes*uisadores e proessores *ue seapoderam ou se avi7in!aram do aparel!o de 'stado e *ue de sua -rbita enviavam

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    os ,ltimos anos$ os discursossobre as ciFncias em v%rios espaos inluentes tFm privilegiado um descompromisso

    pol#tico$?iFncia militante se tornou uma denominao pe"orativa$ relacionada com aintelectuais *ue produ7em discursos enga"ado$ com reerFncias biologia$neurociFncias$ #sica *uDntica$ mas sem comprovao emp#rica$ eGou com ragilidadeconceitual& A educao ambiental padece desses dois problemas& Q uma atividade(cient#ica) enga"ada de interveno social$ pol#tica$ cultural e ecol-gica econstantemente se ap-ia em discursos produ7idos e diundidos$ com as caracter#sticasnegativas apontadas acima& Antes de abordar os tetos sobre cidadania dos anos 1B0 e 10 necess%rioeplicitar *ue essa produo cient#ica oi escol!ida com o ob"etivo de observar acontribuio de %reas das ciFncias !umanas num momento espec#ico como oi e temsido o cotidiano pol#tico brasileiro desde o im da ditadura militar e com a *ual deuma orma ou de outra a educao ambiental brasileira tem dialogado& A incluso

    desses autores e autoras nesse ensaio oi orientada pela observao de *ueN (&&&) aslutas mais especiicas em matria de arte$ de literatura$ ou de ciFncia no sototalmente desprovidas de conse*Fncias no espao social global (=ourdieu$ /009a$

    p&B)& Ao recorrer a esses tetos ao um percurso e escol!as deliberadas& Assim diria*ue (&&&)min!a inteno eplorar as possibilidades de utili7ar o registro pol#tico

    para descrever as ciFncias$ sem me ecluir deste registro$ *uer di7er$ tendoconsciFncia de *ue o sentimento de verdade em caso algum desculpa para no selevar em conta as conse*Fncias do *ue n-s consideramos verdadeiro (Stengers$/00/$ p& /)&

    2or v%rios motivos$ c!egar s deini+es de cidadania de Milton Santos oiresultado de um percurso incontorn%vel& 'le observa *ue cidadania$ sem d,vida$ se

    aprende& Q assim *ue ela se torna um estado de esp#rito$ enrai7ado na cultura& Q$talve7$ nesse sentido$ *ue se costuma di7er *ue a liberdade no uma d%diva$ mas

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    uma con*uista$ uma con*uista a manter& Ameaados por um cotidiano implac%vel$ nobasta cidadania ser um estado de esp#rito ou uma declarao de inten+es& 'la tem oseu corpo e os seus limites como uma situao social$ "ur#dica e pol#tica& 2ara sermantida pelas gera+es sucessivas$ para ter eic%cia e ser onte de direitos$ ela deve seinscrever na pr-pria letra das leis$ mediante dispositivos institucionais *ue assegurem

    a ruio de prerrogativas pactuadas$ e sempre *ue !a"a recusa$ o direito de reclamar eser ouvido& A cidadania pode comear por deini+es abstratas$ cab#veis em *ual*uertempo e lugar$ mas para ser v%lida deve poder ser reclamada& A metamorose dessaliberdade te-rica em direito poss#vel depende de condi+es concretas$ como anature7a do 'stado e do regime$ o tipo de sociedade estabelecida e o grau deimpugnacidade *ue vem da consciFncia poss#vel dentro da sociedade civil emmovimento& Q por isso *ue desse ponto de vista a situao dos indiv#duos no imut%vel$ mas est% su"eita a retrocessos e avanos& (Santos$ 1BC$p&C8B)& Mais adianteMilton Santos airmaNA luta pela cidadania no se esgota na coneco de uma lei ouda ?onstituio por*ue a lei apenas uma concepo$ um momento inito de umdebate ilos-ico sempre inacabado& Assim como o indiv#duo deve estar sempre

    vigiando a si mesmo para no se enredar pela alienao circundante$ assim o cidado$ partir das con*uistas obtidas$ tem de permanecer alerta para garantir e ampliar suacidadania ( Santos$ 1BC$ p&B0)&

    Lbservar a relao da produo cient#ica em educao e em educaoambiental em particular no Dmbito te-rico e pol#tico das an%lises sobre a cidadania no

    per#odo da redemocrati7ao do =rasil eigiria um espao muito maior$ mas necess%rio lembrar uma ve7 mais *ue a Fnase dada cidadania na educaoambiental resultado da pr%is de v%rios proissionais e militantes da %rea&

    A discreta presena da educao ambiental na produo te-rica sobre acidadania no per#odo posterior ditadura militar deve ser analisada levando8se emconsiderao o movimento !ist-rico de sua origem$ presena nas universidades e

    processo de diuso$ legitimidade e institucionali7ao acadFmica$ pol#tica e social*ue ocorrer% principalmente partir dos anos 0&

    Atualmente v%rios pes*uisadores tFm se dedicado problem%tica da cidadania&A revista 2es*uisa A2'S2 de evereiro de /00 d% c!amada de capa ao tema (?riseatual aeta cidadania) para a matria 2acato cidado assinada por ?arlos aag& L

    "ornalista destaca$ entre outras$ a pes*uisa ?idadania$ participao institui+espol#ticasN o *ue pensa o brasileiroO reali7ada pelo ?entro de 2es*uisa e.ocumentao da undao @et,lio Targas *ue mostra como o brasileiro ainda seconorma com a tese de *ue o =rasil $ e sempre ser%$ um eternomar de lama$ contrao *ual pouco se pode a7er& 2ara C dos entrevistados$ a corrupo a marca doservio p,blico (aag$ /00$ p&B0)& L autor ornece dados de outras estudos e*uestionaN Hue cidados somos n-s$ to %geis em identiicar as deiciFncias

    institucionais e to lentos em mudar esse estado de coisasO Somos$ eetivamente$pacatos cidados ou ser% *ue nos i7eram acreditar nissoO (aag$ /00$ p&B/)& >atentativa de obter uma resposta o "ornalista se ap-ia em KanderleV @uil!erme dosSantos$ Maria ?lia 2aoli e 3os Murilo de ?arval!o& 2ara o primeiroN L =rasilencontra8se muito a*um do limiar da sensibilidade social e assim tem convivido$

    paciicamente$ com a misria cotidiana$ material e c#vica$ sem gerar grandes ameaas&A*ui$ o !ori7onte do dese"o ainda puro dese"o$ sem !ori7onte (aag$ /00$ p&B/)&2ara Maria ?lia 2aoliN %$ ao mesmo tempo$ uma recusa !ist-rica do pa#s emconigurar um espao p,blico de enunciao autJnoma de direitos ao lado danovidade espantosa de os direitos sociais e sua regulao p,blica terem setransormado em obst%culos cidadania$ *ue$ dramaticamente transormada$ !abita

    agora os espaos do mundo privado e da reali7ao individual sob governos *ue seapresentam apenas como gestores de crise e mudanas&(aag$ /00$ p&B/)&

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    L argumento de 3os Murilo de ?arval!o de *ueN ?om o im da ditaduramilitar e da construo da democracia$ a partir de 1B5$ a palavra cidadania caiu na

    boca do povo& avia a crena de *ue a democrati7ao das institui+es trariarapidamente a elicidade nacional& Isso uncionou com o voto$ mas no em tudo& Asgrandes desigualdades sociais e econJmicas continuam e$ em conse*Fncia$ os

    mecanismos e agentes da democracia$ como elei+es$ partidos& ?ongresso$ pol#ticos$se desgastam e perdem a coniana do p,blico (aag$ /00$ p&B/)&'m seu livro ori7onte do dese"oN instabilidade$ racasso coletivo e inrcia

    social KanderleV @uil!erme dos Santos airmaN A indierena com as institui+esp,blicas nada tem a ver$ neste caso$ com a inclinao ao imobilismo ou ao al!eamentopol#tico caracter#sticos de popula+es em condi+es materiais mais conort%veis&Identiicar nestas$ aparente conormismo e despre7o pela democracia $ no m#nimo$temer%rio& Q bem poss#vel *ue$ em sociedades opulentas e relativamente autJnomasem relao ao 'stado$ o al!eamento pol#tica reira8se a substDncia de decis+esespeciicas$ mas no ao modus operandidas institui+es& Lbviamente$ no esteo caso de sociedades como a brasileira& 2or outro lado$ supor *ue$ nestas$ escassa

    participao indi*ue$ a# sim$ alienao igualmente precipitado& 2or ra7+es distintas$tanto pode ser racional para diversos segmentos sociais$ em sociedades aluentes$ orecol!imento vida privada$ *uanto o ser%$ a mesma atitude$ em subsociedades

    brasileiras$ em *ue os riscos$ muito mais *ue os custos$ da participao soconsideravelmente superiores as epectativas de poss#veis gan!os& 'm ambos casos$ a

    pura eigFncia de participao$ as ve7es acompan!ada de san+es morais$ relete oaspecto autorit%rio de um rousseaunianismo doutrin%rio$ antes *ue apropriadoentendimento das ra7+es da inrcia( Santos$ /00$ p&1C5)& 'm outra passagem oautor escreve4 L !ori7onte do dese"o algo m-vel e *ue o impulsiona a relativasegurana de *ue o racasso na tentativa de alcan%8lo cobrar% custo toler%vel$ *uandoa situao em *ue se recair% $ em si mesma$ "% conort%vel& L limiar de sensibilidadesocial deinido por conseguinte$ como a pior punio poss#vel caso algum ousedese"ar !obbesianamente e racasse& >o caso brasileiro$ o custo do racasso consisteem desemprego prolongado$ aastamento do processo produtivo$ violFnciainstitucional e marginali7ao& 2or isso a privao relativa to insigniicante8

    por*ue relativamente privao absoluta elas so *uase iguais& (Santos$ /00$p&1C)&

    As conclus+es de KanderleV @uil!erme dos Santos podem ser comparadascom a produo cient#ica do in#cio dos anos 10 sobre cidadania e as deini+es$sentimentos e perspectivas da*uele per#odo&

    >a Apresentao do livro A cidadania em construoN uma releotransdisciplinar *ue re,ne tetos apresentados no IT 'ncontro Regional de2sicologia Social da Associao =rasileira de 2sicologia Social8 A=RA2SL$reali7ado na 2onti#cia Universidade ?at-lica de So 2aulo em maio de 1/$ MarV3ane 2aris Spin; observa *ue todos os tetos visam superar a perspectiva centrada namera constatao da eistFncia8 ou ineistFncia W dos direitos associados cidadania

    plena ou centrados na eplicao macroestrutural da alFncia da democracia baseadanos princ#pios de igualdadeGliberdadeGraternidade$ debruando8se sobre o processo deconstruo do ser cidado& 'mbora acatando os atores estruturais comosobredetermina+es$ os diversos autores compartil!am do pressuposto de *ue asociedade uma construo social e *ue a sub"etividade um elemento intr#nsecodesta construo& (Spin;$ 19$ p&)& 'ncontram8se entre os autores e autoras$ aorgani7adora$ =ader =uri!an SaXaia$ Eui7a Ylein Alonso$ YabengelF Munanga$ 2eterSpin;$ Salvador A& M& Sandoval e Sueli Rolni;& ?om base nos tetos de seus colegas

    MarV 3ane 2aris Spin; observa *ueN A cidadania W en*uanto enJmeno socialconcreti7ado no cotidiano compartil!ado W s- pode ser entendida na interace

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    indiv#duo8sociedade& Interace esta *ue tem dimens+es amplas e ronteiras nadar#gidas e $ conse*uentemente$ dom#nio de disciplinas m,ltiplas (&&&) 2rismasm,ltiplos por*ue a cidadania *ue a*ui se discute $ tambm ela$ multiplicidadeNelementos !ist-ricos$ determina+es estruturais$ sub"etividade e at mesmo prenunciode uma ruptura iminente de epist8me *ue leva a ampliar o conceito para incluir a#

    no mais apenas os direitos constru#dos lu7 das teorias da igualdade$ como tambma integrao criativa da dierena$ da tica e at mesmo$ ou sobretudo$ daelicidade&(Spin;$ pg&810)&

    A organi7adora do livro Ls anos 0N pol#tica e sociedade no =rasil$ 'velina.agnino escreve na ApresentaoN L amplo *uadro de *uest+es eploradas nestevolume certamente possibilitar% leituras particulares$ traadas pelos interessesespec#icos de cada leitor& >o entanto$ se comportar uma leitura ,nica$ ela certamenteser% condu7ida pelo desaio colocado !o"e para a sociedade brasileira pela tarea daconstruo eetiva da democracia$ inclu#do a# o encamin!amento da resoluo dasdesigualdades sociais e econJmicas& 6ratada a partir de uma pluralidade de posi+este-ricas e pol#ticas$ essa a *uesto *ue$ para alm das propostas tem%ticas de

    discusso *ue organi7am o livro$ emerge clara e enaticamente ao longo de suasp%ginas& Se ao lado da pluralidade$ essa or a Fnase *ue se epressa tambm napr-pria sociedade$ !% *ue se esperar *ue o ano /000$ nos encontre diante de outrascontinuidades e de outras rupturas (.agnino$ 19$ p&15)& L *ue talve7 a

    pes*uisadora no esperasse *ue alguns dos autores e autoras do livro como Marilena?!au#$ Renato 3anine Ribeiro$ Maria erminia 6avares de Almeida e Marco Aurlio@arcia se encontrariam em posio de desta*ue durante a crise tica e pol#tica nogoverno Eula e do 2artido dos 6rabal!adores&

    L livro Ls anos 0N 2ol#tica e Sociedade no =rasil re,ne o con"unto detetos apresentados no II Simp-sio Anual de ?iFncia 2ol#tica$ organi7ado pelodepartamento de ?iFncia 2ol#tica do Instituto de ilosoia e ?iFncias umanas daUnicamp reali7ado em novembro de 1ele &&& decidimos privilegiar$ a partir deuma proposta original do pro& .cio Saes$ um con"unto de *uatro temas *ue

    "ulgamos eios articuladores da pol#tica brasileira na dcada de 10N a emergFncia dopopulismo e as tendFncias a personali7ao e espetaculari7ao da pol#tica4 acorporativi7ao do conlito social4 as conse*Fncias pol#ticas da presena dosmovimentos sociais$ e inalmente$ as dire+es politico8ideol-gicas predominantes esua epresso no *uadro partid%rio& 'ssa escol!a teve tambm como critrio a idia deeaminar os processos de continuidade e de ruptura$ a convivFncia do vel!o e donovo$ numa sociedade *ue$ se certamente passou por transorma+es muitosigniicativas$ enrenta ainda desaios antigos& 2or outro lado$ esses temasepressavam tambm a inteno de condu7ir uma discusso da pol#tica partir dadinDmica e das transorma+es da sociedade civil$ mais do *ue da perspectiva estrita

    do 'stado (.agnino$ 19$p&C8B)& 'ntre os autores e autoras$ encontram8se os "%citados$ a organi7adora$ Rut! ?orrea Eeite ?ardoso$ ?aio >avarro de 6oledo$ Antoniolavio 2ierucci e Tera da Silva 6elles& 2ara essa ,ltima &&& precisamente nisso$ no

    "ogo das ambivalFncias inscritas na vida social$ *ue a *uesto da cidadania se deinecomo problema W problema te-rico$ problema !ist-rico$ problema pol#tico W *ueescapa s ormulas pr8deinidas$ pois ancorada num terreno su"eito ao imprevisto dosacontecimentos e *ue constru#do na interseco entre !istoria$ cultura e pol#tica$numa combinao nem sempre muito discern#vel entre tradi+es persistentes e anovidade dos tempos presentes& Se"a como or um terreno no *ual convergem o

    pesado legado de uma tradio autorit%ria e ecludente e os dilemas postos pelatransormao em curso na sociedade e no mundo contemporDneos& (&&&) 'm um

    conteto no *ual as organi7a+es estatais no do conta das eigFncias cidads e no*ual reerFncias identit%rias tradicionais so erodidas pela emergFncia de dierenas

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    sociais$ culturais e simb-licas *ue escapam aos mecanismos tradicionais derepresentao$ a *uesto *ue est% a desaiar a imaginao pol#tica o di#cil problemade tornar comensur%vel a !eterogeneidade inscrita na vida social& (6elles$19$p&o entanto no se pode negar *ue !ouve ummovimento de reivindica+es e possibilidades da cidadania$ do *ual muitos de n-s

    participamos$ se considerarmos os testemun!os$ tra"et-rias e vivFncias& 'stamos entonos reerindo no normati7ao pol#tica e "ur#dica da cidadania mas sim a umsentimento compartil!ado dela$ mesmo *ue esse sentimento se"a polissFmico eautoeplicativo& >esse sentido so as representa+es de cidadania elaboradas$reivindicadas e vivenciadas no =rasil como resistFncia ao regime militar e depoisdesse a todos os tipos de totalitarismos *ue esacelaram& 'ste ensaio uma tentativa

    de analisar os signiicados pol#ticos e pedag-gicos de sentimentos e vivFnciascompartil!ados *ue originaram representa+es de cidadania constru#das apoiando8seem valores de "ustia contra as desigualdades imperantes na sociedade4 dasolidariedade entre os dominados$ os trabal!adores$ os pobres4 da dignidadeconstru#da na pr-pria luta em *ue a7em recon!ecer seu valor4 i7eram da airmaoda pr-pria identidade um valor *ue antecede c%lculos racionais para a obteno deob"etivos concretos (Sader$1BB$p&

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    carism%ticas$ adotadas pelo governo EulaO ?omo oi poss#vel um pro"eto pol#ticopautado na tica e nas possibilidades de concreti7ao (das representa+es) dacidadania originar um comportamento como o *ue consta na concluso do relat-rio do

    procurador8geral da Rep,blica$ Antonio ernando de Sou7a *ue identiica comoormao de *uadril!a a atuao de ministros$ senadores$ deputados$ publicit%rios$

    uncion%rios p,blicos e do 2artido dos 6rabal!adoresOSe estivermos interessados em obter respostas convincentes para isso osespaos de releo pol#tica e te-rica sobre a sociedade brasileira contemporDneatero pela rente o desaio de abordar *uest+es relacionadas com a dimenso pol#ticados sentimentos de repugnDncia$ indignao$ decepo e dos atos etremos como osde imolao$ greve de ome e e#lio& 6eremos tambm *ue analisar as conse*Fncias

    pol#ticas da depresso c#vica *ue se abateu na*ueles e na*uelas *ue no sesatisa7em com palavras de ordem$ clic!Fs e discursos constru#dos em agFncias de

    publicidade&>esse *uestionamento ica impl#cita *ue a dimenso pol#tica da sub"etividade

    se apresenta no como uma possibilidade de pratica pol#tica dierenciada ou de

    reerencial te-rico de transgresso assimilada$ d-cil aostatus quo$ mas sim como umproblema concreto$ cotidiano$ indisciplinado$ pois indignado na sua origem$ *uerecusa e dispensa solu+es %ceis e conciliadoras&

    L esacelamento das representa+es de cidadania deve ser entendido como aruptura de um processo(ou da representao *ue osGas dissidentes tin!am dele) no*ual os dese"os$ sentimentos e enga"amento oram atores undamentais para *ue estese constitu#sse e se validasse nos espaos p,blicos como uma alternativa de poder e degesto do 'stado$ na *ual esses sentimentos$ valores e critrios assumissem o centroda pr%is pol#tica& Se optarmos por uma deinio mais conceitual poderemos di7er*ue a cidadania *ue se esacelou oi a*uela denominada como nova cidadania(.agnino$ 19$ p10/)$ ermentada e eplicitada no =rasil a partir da resistFncia aoregime militar e no surgimento dos movimentos sociais (Sader$ 1BB$ ?arval!o$ /001$.ean$ /00/$ all$ /005) assim como nas mudanas no pensamento pol#tico dees*uerda *ue passa a considerar a democracia como um valor universal& ?omoobserva ?aio >avarro de 6oledo A partir dos anos C0 (incluindo$ pois$ os dias *uecorrem)$ o *uadro te-rico bastante diverso& A an%lise critica do socialismo real e adura eperiFncia do regime militar (a represso$ a morte$ o e#lio$ bem como oracasso da luta armada) contribu#ram decisivamente para a es*uerda brasileirareabilitarP a *uesto da democracia&(6oledo$ 19$ p&1/B)&

    A nova cidadania est% ligada eperiFncia concreta dos movimentossociais$ tanto os do tipo urbano W e a*ui interessante anotar como cidadania seentrelaa com o acesso cidade W *uanto os movimentos de mul!eres$ negros$!omosseuais$ ecol-gicos$ etc& >a organi7ao desses movimentos sociais$ a luta por

    direitos tanto o direito igualdade como o direito dierena W constituiu a baseundamental para a emergFncia de uma nova noo de cidadania& 'm segundo lugar$ oato de *ue$ a essa eperiFncia concreta$ se agregou cumulativamente uma Fnasemais ampla na construo da democracia$ porm$ mais do *ue isso$ na sua etenso eno seu aproundamento& >esse sentido$ a nova noo de cidadania epressa o novoestatuto te-rico e pol#tico *ue assumiu a *uesto da democracia em todo o mundo$especialmente a partir da crise do socialismo real&( .agnino$ 19$ p& 109)& A autoraesmi,a o *ue c!ama de nova cidadania em cinco itensN 18?onsidero *ue a novacidadania trabal!a com uma redeinio da idia de direitos,cu"o ponto de partida aconcepo de um direito a ter direitos& (&&&) o direito autonomia sobre o seu pr-priocorpo$ o direito proteo ambiental e o direto Za moradia so eemplos W

    propositadamente bastante dierentes W dessa criao de novos direitos (&&&) /8 (&&&) anova cidadania$ ao contrario da concepo liberal$ no se vincula a uma estratgia das

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    classes dominantes e do 'stado para a incorporao pol#tica progressiva dos setoreseclu#dos$ com vistas a uma maior integrao social$ ou como condio "ur#dica e

    pol#tica indispens%vel instalao do capitalismo (&&&) >esse sentido$ ela umaestratgia dos no8cidados$ dos eclu#dos$ uma cidadania de baio para cima$ a Introduo do trabal!o a primeiraautora escreveN 'm uma poca em *ue as pol#ticas neoliberais dominavam a cena no

    >orte$ o oramento participativo de 2orto Alegre e de outros munic#pios do =rasilse converteu em um emblema da possibilidade de democrati7ar8 no lugar de

    privati7ar8 as institui+es do 'stado (KainXrig!t$ /00$ p&B$ traduo min!a)& Maisadiante encontramos a seguinte airmativaN Eevando em considerao as dierenasdas circunstDncias do governo ederal$ no se tratava de etrapolar um modelo "%desenvolvido no conteto municipal& 6anto Ubiratan dos Santos$ um dos art#ices das

    eperiFncias participativas no sul do pa#s$ como eli Sanc!e7$ o coordenador dainiciativa do oramento participativo da cidade de So 2aulo$ uma das maioresmetr-poles do mundo$ !aviam apresentado propostas ao governo do 26 sobre comose poderia ampliar esse processo& aviam enviado suas idias ao ministro respons%veldas rela+es com os movimentos sociais$ Euis .ulci& >o receberam se*uer umaresposta (KainXrig!t$ /00$ p&$ traduo min!a)

    As pes*uisadoras perceberam *ue o problema era mais compleo e durante oper#odo em *ue as *uest+es relativas a democracia participativa oram substitu#daspor outras mais imediatas e escandalosas(&&&) vindas de um partido cu"a l-gicaprincipal consistia em tentar acabar com a corrupo endFmica das institui+espol#ticas brasileiras (KainXrig!t$ /00$ p&$ traduo min!a)& 2ara essa pes*uisa

    oram entrevistados $ entre outros$ ?sar =en"amin$ rancisco (?!ico) de Lliveira$@ilmar Mauro$ Eeda 2aulani$ Marco Aurlio @arcia e Marina da Silva& 'ntre os

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    v%rios depoimentos importantes para se entender o esacelamento da cidadania nogoverno Eula$ encontram8se o de Marco Aurlio @arcia$ proessor de !ist-ria naUnicamp e assessor de rela+es internacionais da 2residFncia da Republica *ue di7% pouco tempo descobri contas novas& 'stava alando com um tesoureiro do

    partido$ *ue me disse *ue todos os membros da 'ecutiva >acional recebiam sal%rios

    muito altos$ tanto a*ueles *ue estavam nos grupos ma"orit%rios *uanto nos gruposminorit%rios& 'u ui Secret%rio de Rela+es Internacionais durante de7 anos$ emembro da 3unta 'ecutiva& Mas nunca recebi um sal%rio$ por*ue vivia do *uegan!ava como proessor universit%rio& Um membro da tendFncia de es*uerda$ *uetambm proessor universit%rio$ recebia um sal%rio de C&/00 reais( /&5C0 euros) pormFs do partido& Isso mais do *ue o dobro do *ue recebo atualmente pelo meutrabal!o& (&&&)& avia muito din!eiro dispon#vel& (KainXrig!t4 =ranord$ /00$ p&/B$traduo min!a)& ?sar =en"amim$ membro undador do 26$ pes*uisador da U'R3di74 'm /00/$ a elite brasileira carecia de um candidato orte e o pro"eto neoliberalestava muito debilitado& Assim oi *ue em /00/$ a elite decidiu inalmente apoiar acandidatura de Eula& Isto no icava muito evidente para a grande maioria das pessoas

    *ue estavam acompan!ando a campan!a de ora ou distDncia& A vit-ria de Eula oiconsiderada como uma vit-ria da es*uerda$ mas no oi o caso& (KainXrig!t4=ranord$ /00$ p&o creio *ue ogoverno Eula dF democracia participativa alguma prioridade& L pouco *ue seconseguiu oi graas aos ativistas$ *ue tentaram implement%8la$ inluenciados peloato de *ue 2orto Alegre !avia demonstrado *ue era poss#vel reali7ar uma ao

    pol#tica dierente& Mas a direo do 26 nunca l!e deu nen!uma importDncia$ somenteno papel& (KainXrig!t4=ranord$ /00$ p&9189/$ 6raduo min!a)&A entrevista dada

    pela ministra Marina da Silva uma das mais curtas de todo o documento e o seudiscurso praticamente o mesmo *ue se encontra em outras publica+esN 'u sousenadora$ ainda *ue vinda de uma am#lia pobre& >unca teria c!egado onde estou seno osse por um partido como o 26 (&&&) L governo Eula tem eito muito paraomentar uma mel!or relao entre governo e sociedade& 6en!o um eemplo& Huandoassumimos o governo$ o deslorestamento da Ama7Jnia !avia aumentado em /C entre /001 e /00/& .urante os dois primeiros anos reali7amos um grande esoro pararedu7ir essa porcentagem e conseguimos dim#nui8lo para uns & (&&&)& 6emos tambmdesenvolvido uma importante colaborao com a sociedade civil e com governosestaduais e locais& (KainXrig!tN =ranord$ /00$ p&

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    tambm a alFncia de uma categoria de intelectuais p,blicos *ue estava longe daetino& 'ssa categoria de intelectuais se destaca e se alimenta pela intensa presenanos meios de comunicao de massa$ pelo poder [delegado pelos pares "unto sagFncias de omentos de pes*uisa e nos comitFs de avaliao do desempen!o$

    produo e *ualidade de con!ecimento cient#ico$ inluFncia nos consel!os editoriais

    das mais importantes revistas especiali7adas e editoras (algumas de universidadesp,blicas)$ proessores de renomadas universidades e programas de p-s8graduao e*ue ocupam cargos (tcnicos e pol#ticos) no atual governo& 'ssa categoria deintelectuais aliu por*ue perdeu a credibilidade$ mas no perdeu o poder$ nem dele sedistanciou& 'les e elas continuam a analisar a sociedade brasileira segundo$ os seus

    pr-prios critrios e estudos$ seu discurso ideol-gico$ perspectiva e !%bitos de classemdia$ ou mdia alta&

    LsGas intelectuais *ue participaram da alFncia de sua pr-pria categoria$mostraram o *uanto so desnecess%riosGas *uando tomaram (e ainda tomam) posi+essobre a crise tica e pol#tica do governo Eula$ presos aos discursos dos compromissos

    partid%rios e ideol-gicos& Uma cena *ue eempliica esse momento oi *uando

    deenderam a moral$ a !onestidade e a tra"et-ria de pol#ticos como$ entre outros$3os .irceu&'sses intelectuais empobreceram o debate e o processo pedag-gico de

    construo de uma sociedade democr%tica& ?olaboraram com o esacelando dacidadania& Lcuparam p%ginas de "ornais com os seus coment%rios$ artigos e otos dereuni+es e "antares de compadrios epl#citos& Sorriram para os ot-graos do interiorde seus apartamentos caros& 'm ambiente de esta e sem nen!um constrangimentomostravam8se eli7es por disporem da certe7a guardi dos mais nobres valores& >o

    perceberam *ue os anJnimos$ os invis#veis e os ensimesmados estavam observando8os atentamente$ procurando entender as origens e os signiicados dessescomportamentos& >o auge da crise tica e pol#tica deram depoimentos avor%veis aogoverno Eula$ intelectuais do peso de AntonnV @iddens$ 6oni >egri e o pop star=ono do U/&

    'm contraponto$ adentraram a cena pol#tica os anJnimos$ com os seusdiscursos truncados mas carregados de veracidade$ de indignao e de pertinFnciacomo os de uma at ento discreta secretaria de -culos& 'la oi des*ualiicada ecolocada sob suspeita moral por deputados e senadores do 26 *uando compareceu ?omisso 2arlamentar de In*urito para depor contra seu patro$ Marcos Talrio$ umdos principais ornecedores do es*uema de corrupo no governo& 'm rede nacionalde televiso se viu uma "ovem acuada e !umil!ada& A declarada e8eleitora do 26 no

    perdeu sua dignidade$ nem se deiou intimidar e contou o *ue sabia& 'la parece terperdido de ve7 a timide7 ao posar nua para uma revista masculina& ?om o valorrecebido por essas otos est% com o uturo econJmico de sua am#lia garantido&

    Lutro personagem at ento anJnimo o "ovem caseiro nascido no 2iau#$eleitor de Eula para presidente$ *ue do seu no lugar em =ras#lia observava omovimento do ministro 2alocci e seus aliados no epicentro do poder& >o oi visto$mas viu muita coisa e contou o *ue viu& ?om ele se pode di7er *ue um !omem daclasse trabal!adora derrubou o poder$ isso claro se a categoria de intelectuais *uealiu$ mas *ue no perdeu nem se distanciou do poder$ permitir& Mas ainda proibido

    proibir& 'ssa categoria de intelectuais *ue des*ualiica os discursos dos subalternosest% acostumada a vF8los apenas como membros da classe eplorada pelo capital$ semcritrios ticos universais$ sem redes de solidariedade e de sobrevivFncia$ sem rosto$sentimentos$ seualidade$ tra"et-ria$ leitura de mundo e singularidade& Aos intelectuais*ue se consideram os ,nicos !abilitados e autori7ados intrpretes do comportamento

    pol#tico da classe trabal!adora e dos sistemas de dominao$ cabe a perguntaN ' agora3osO

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    1iet7sc!e o a7 agora "% somente em nome de uma revoluo *ue temsua base na escrita$ no estilo$ nos tetos$ e *ue "% no se ilude em atuar diretamentesobre as estruturas eetivas da sociedade (Tattimo$/000$ p&/BB$ traduo min!a)& Lsleitores ranceses de >iet7sc!e citados nessa passagem de Tattimo so alguns dos *uemais inluenciaram uma parte da intelectualidade de es*uerda brasileira p-s8 ditaduramilitar$ principalmente da*uela *ue se aproimou das possibilidades pol#ticas dasrevolu+es do e no cotidiano e da desconstruo do poder nas suas instDncias maiseetivas do aparel!o ideol-gico de 'stado$ entre eles a escola ( @allo$ /00o eiste algo unit%rio e global c!amado poder$mas unicamente ormas d#spares$ !eterogFneas$ em constante transormao& L poderno um ob"eto natural$ uma coisa4 uma pr%tica social e$ como tal$ constitu#da!istoricamente (&&&)Uma coisa no se poder negar s an%lises geneal-gicas do poderNelas produ7iram um importante deslocamento com relao ciFncia pol#tica$ *uelimita ao 'stado o undamental de sua investigao sobre o poder (&&&) A ra7o *ue oaparel!o de 'stado um instrumento especiico de um sistema de poderes *ue no seencontra unicamente nele locali7ado$ mas o ultrapassa e complementa& L *ue me

    parece$ inclusive apontar para uma conse*Fncia pol#tica contida em suas an%lises$*ue evidentemente$ no tFm apenas como ob"etivo dissecar$ es*uadrin!arteoricamente as rela+es de poder$ mas servir como instrumento de luta$ articulado

    com outros instrumentos$ contra essas mesmas rela+es de poder& Q *ue nem ocontrole$ nem a destruio do aparel!o do 'stado$ como muitas ve7es se pensaembora cada ve7 menos$ suiciente para a7er desaparecer ou para transormar$ emsuas caracter#sticas undamentais$ a rede de poderes *ue impera em uma sociedade(&&&&)& >o se tratava$ porm$ de minimi7ar o papel do 'stado nas rela+es de podereistentes em determinada sociedade& L *ue se pretendia era se insurgir contra a idiade *ue o 'stado seria o -rgo central e ,nico de poder$ ou de *ue a ineg%vel rede de

    poderes das sociedades modernas seria uma etenso dos eeitos do 'stado$ umsimples prolongamento ou uma simples diuso de seu modo de ao$ o *ue seriadestruir a especiicidade dos poderes *ue a an%lise pretendia ocali7ar (Mac!ado$/005$ p&\I8 \III)& L autor conclui airmando *ue para oucault$ Rigorosamente

    alando$ o poder no eiste4 eistem sim pr%ticas ou rela+es de poder&(Mac!ado$/005$ p& \IT)&

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    Ao comentar o teto [@overnamentalidade Roberto Mac!ado observa &&& Seas ciFncias !umanas tFm como condio de possibilidade pol#tica a disciplina$ omomento atual da an%lise parece sugerir *ue o bio8poder$ a regulao$ osdispositivos de segurana esto na origem de ciFncias sociais como a estat#stica$ ademograia$ a economia$ a geograia$ etc&&& inalmente importante assinalar *ue$ a

    partir desse momento$ a *uesto do 'stado$ at ento no temati7ada especiicamente$ad*uire grande importDncia para a genealogia& L *ue se deu atravs de governo$ dagesto governamental$ ou da governamentalidade$ *ue tem na populao seu ob"eto$na economia seu saber mais importante e nos dispositivos de segurana seusmecanismos b%sicos (Mac!ado$ /005$p&\\III)

    oucault desenvolveu inicialmente a noo de governamentalidade no cursodado por ele no ?oll]ge de rance$ em 01 de evereiro de 1CB$ procurando analisar arelao entre segurana$ populao e governo (oucault$ /005$ p& /CC)& L autorornece alguns eemplos dessa relao na !ist-ria e observaN .e modo geral$ o

    problema do governo aparece no sculo \TI com relao a *uest+es bastantedierentes e sob m,ltiplos aspectos$ pelo retorno do estoicismo no sculo \TI4

    problema do governo das almas e das condutas$ tema da pastoral cat-lica eprotestante4 problema do governo das crianas$ problem%tica central da pedagogia$*ue aparece e se desenvolve no sculo \TI4 enim$ problema do governo dos 'stados

    pelos pr#ncipes& ?omo se governar$ como ser governado$ como a7er para ser omel!or governante poss#vel$ etc&&& (oucault$ /005 p&/CB)&

    L autor analisa o impacto do L pr#ncipe de Ma*uiavel$ e airma *ue este essencialmente um tratado de !abilidade do pr#ncipe em conservar seu principado isto *ue a literatura anti8Ma*uiavel *uer substituir por uma arte de governar& Ser !%bilem conservar seu principado no de modo algum possuir a arte de governar(oucault$ /005 p& /B0)& A obra *ue serve de contraponto para oucault analisar a artede governar Miroir politi*ue contenant diverses mani]res de gouverner$ de@uillaume de Ea 2erri]re& >o teto de Ea 2erri]re$ ao contr%rio$ a deinio dogoverno no se reere de modo algum ao territ-rio& @overnam8se coisas& Mas o *uesigniica esta epressoO >o creio *ue se trate de opor coisas a !omens$ mas demostrar *ue a*uilo *ue o governo se reere no um territ-rio e sim um con"unto de!omens e coisas& 'stas coisas$ de *ue o governo deve se encarregar$ so os !omens$mas em suas rela+es com coisas *ue so as ri*ue7as$ os recursos$ os meios desubsistFncia$ o territ-rio em suas ronteiras$ com suas *ualidades$ clima$ seca$ertilidade$ etc&4 os !omens em suas rela+es com outras coisas *ue so os costumes$os !%bitos$ as ormas de agir ou de pensar$ etc&4 inalmente$ os !omens em suasrela+es com outras coisas ainda *ue possam ser os acidentes ou as desgraas como aome$ a epidemia$ a morte$ etc& Hue o governo diga respeito as coisas entendidascomo a imbricao de !omens e coisas temos a conirmao em uma met%ora *ue

    aparece em todos esses tratadosN o navio& L *ue governar um navioO Q certamente seocupar dos marin!eiros$ da nau e da carga4 governar um navio tambm prestarateno aos ventos$ aos recies$ s tempestades$ s intempries$ etcN so estesrelacionamentos *ue caracteri7am o governo de um navio&(oucault$ /005$p&/B/8/B

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    orma bastante especiica e complea de poder$ *ue tem por alvo a populao$ pororma principal de saber a economia pol#tica e por instrumentos tcnicos osdispositivos de segurana$ /8 a tendFncia *ue em todo o Lcidente condu7iuincessantemente durante muito tempo$ preeminFncia deste tipo de poder$ *ue se

    pode c!amar de governo$ sobre todos os outros 8 soberania$ disciplina$ etc&8 e levou ao

    desenvolvimento de uma srie de aparel!os espec#icos de governo e de um con"untode saberes$

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    um comissariado& .e tal orma *ue a ao comporta um tipo de inormao denature7a totalmente dierente das inorma+es dos "ornais (oucault$ /005$ p&C9&C5)&'m outro trec!o .eleu7e *uestionaN como poss#vel *ue pessoas *ue no tFm muitointeresse nele sigam o poder$ se liguem estreitamente a ele$ mendiguem uma partedeleO Q *ue talve7 em termos de investimento$ tanto econJmicos *uanto

    inconscientes$ o interesse no se"a a ultima palavraN !% investimentos de dese"o *ueeplicam *ue se possa dese"ar$ no contra seu interesse8visto *ue o interesse sempreuma decorrFncia e se encontra onde o dese"o o coloca$ mas dese"ar de uma orma mais

    prounda e mais diusa do *ue seu interesse&(oucault$ /005$ p&C8CB)Ao con"unto dessas observa+es de .eleu7e$ Mic!el oucault acrescenta

    Mas se contra o poder *ue se luta$ ento todos a*ueles sobre *uem o poder seeerce como abuso$ todos a*ueles *ue o recon!ecem como intoler%vel$ podemcomear a luta onde se encontram e a partir de sua atividade ( ou passividade)

    pr-pria& ( oucault$ /005$ p& CC)&Q sobre a conversa entre oucault e .eleu7e *ue Renato 3anine Ribeiro e7

    sua an%lise durante o Rencontres Internationales @illes .eleu7e$ ocorrido no Rio

    de 3aneiro e So 2aulo em "un!o de 1 *ue reuniu alguns dos mais conceituadosestudiosos e intrpretes da obra do il-soo rancFs (Allie7$ 1B)&A opo pelo teto de Renato 3anine Ribeiro devido sua proimidade com os

    ob"etivos desse ensaio e pela sua intimidade com o poder no cargo *ue ocupa comodiretor da ?A2'S$ na *ual tem tido uma postura controversa deendendo critrios de

    produo e avaliao cientiicas pr-imas da*uilo *ue 2ierre =ourdieu c!ama dedispositivos tecnocr%ticos$ tais como a cientometria ou a bibliometria$ novossistemas de critrios capa7es de undar cientiicamente decis+es burocraticamenteimpec%veis ( =ourdieu$ /009a$ p&/)& Renato 3anine Ribeiro priori7a abordar naconversa entre os il-soos ranceses o *ue ele considera atual e o *ue no mais nodebate pol#tico ilos-ico& 'le analisa as dierenas entre oucault e .eleu7e no *uedi7 respeito organi7ao de massa$ observando o silFncio dos dois a respeito daorgani7ao partid%ria$ ou o papel organi7ador do 2artido (Ribeiro$ 1B p&

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    dierentes tipos de legitimidade& >o se ser% ento radical em pol#tica sem*uestionar essa distribuio espacial$ esse dispositivo segundo o *ual um centrodeine os direitos$ determina as pr%ticas$ a7 circular os discursos& 'sse es*uema omesmo da legitimao& Q necess%rio ento pensar as pr%ticas *ue no tFm maisnecessidade de obter sua legitimao ora da*uilo *ue est% absolutamente ora delas$

    das pr%ticas *ue estabelecem$ entre elas e o *ue elas representam como o seu outro$seu lado de ora$ uma certa relao de imanFncia& (Ribeiro$ 1B$p&90/$ traduomin!a)

    >esse mesmo congresso$ redric 3ameson analisou os dualismos presentes naobra de .eleu7e e as suas contribui+es para se pensar o ilos-ico e uma pol#tica areinventar (3ameson$ 1B$ p&

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    dos anos 10 *ue se oram ou elas so$ ao contr%rio$ suscept#veis de nos pro"etarnesse *ue vir% *ue deine nosso presente&&&O(3ameson$ 1B$ p&@s tFm atuado comoorgani7a+es do aparel!o ideol-gico de 'stado$ e a pr-pria denominao ( nogovernamental) perdeu o seu sentido& A des*ualiicao p,blica ou nos bastidores e aecluso dosGas educadoresGas ambientais dissidentes da !ist-ria do movimento oramos atos pol#ticos mais relevantes e paradigm%ticos&

    'ssas divis+es oram sentidas$ comentadas$ vivenciadas$ discutidas econcreti7adas em v%rios eventos ocorridos no =rasil e no eterior com a participaode educadoresGas ambientais brasileiros nos ,ltimos *uatro anos& >a impossibilidadede me reerir a todos eles destaco as reuni+es preparat-rias constituio do @rupo de6rabal!o 'ducao Ambiental da Anped8 Associao >acional de 2es*uisa em'ducao em /00< ( 2oos de ?aldas) e /009 ( ?aambu)$ os II e III 'ncontros de2es*uisa em 'ducao Ambiental ocorridos respectivamente na Universidade ederalde So ?arlos em /00< e na aculdade de ilosoia$ ?iFncias e Eetras da

    Universidade de So 2aulo8 Ribeiro 2reto em /005$ o T -rum de 'ducaoAmbiental ocorrido em @oiDnia em /009$ os II e III ?ongresso Mundial de 'ducaoAmbiental reali7ados no Rio de 3aneiro em /009 e em 6urim em /005 e por ,ltimo oT ?ongresso Ibero8americano de 'ducao Ambiental ocorrido em 3oinville em /00&

    'sse ,ltimo merece desta*ue$ por ter sido reali7ado *uase um ano depois doin#cio da crise tica e pol#tica e *uando as campan!as de apoio reeleio de Eulaestavam em pleno movimento& L ?ongresso Ibero8americano contou com o apoio dosMinistrios do Meio Ambiente e da 'ducao$ inclusive com a presena da ministraMarina Silva na solenidade de abertura& >a pasta de documentos entregue aos

    participantes$ encontram8se logotipos de 1B institui+es *ue colaboraram oupatrocinaram o evento$ entre elas o 2>UMA e a U>'S?L& Ls principais patroc#nios

    oram da 2etrobr%s$ ?ompan!ia Tale do Rio .oce$ governo estadual e preeitura& 2elomenos 5000 pessoas se inscreveram e alguns atos e documentos distribu#dos na

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    ocasio merecem an%lises mais detal!adas&?omo ato *ue mostra as divis+es no movimento destaco a vaia *ue parte do

    p,blico deu aos colegas respons%veis pela pol#tica de educao ambiental nosMinistrios de Meio Ambiente e 'ducao$ na man! de C de abril& A discusso sob a

    pertinFncia ou no da vaia continuou nas redes virtuais por alguns dias e nas

    conversas do cotidiano entre osGas educadores ambientais& .esde o inicio dos anos1B0 so reali7ados encontros de educadores ambientais no =rasil mas pelo *ueconsta a primeira ve7 *ue colegas so vaiados em p,blico&

    'ntre os v%rios documentos publicados em papel reciclado pelos Ministriosdo Meio Ambiente e da 'ducao$ e com o apoio da Unesco$ *ue oram distribu#dosaos participantes e inclu#das nas pastas do T ?ongresso Ibero8americano de 'ducaoAmbiental encontra8se orofea+ rorama Na!iona' de 4ormao de ;du!adoras(es) Amientais< or um &rasi' edu!ado e edu!ando amienta'mente para a

    sustentai'idade#5 L documento no tra7 o nome dos autores e tem caracter#sticas de*ue oi escrito por um coletivo& Apresenta os membros do ^rgo @estor da 2ol#tica

    >acional de 'ducao Ambiental (L@2>'A)$ entre eles o da ministra de Meio

    Ambiente e o do ministro da 'ducao& L pre%cio assinado pela '*uipe.'AGMMA e no primeiro par%grao inorma *ue o documento uma pea decomunicao$ um convite ao di%logo (p&5)& 2ode ter sido escrito por uma e*uipediversiicada$ se observarmos os dierentes estilos de linguagem e os reerenciais

    pol#ticos e te-ricos indicados ao longo do teto& >a Introduo encontramos a Fnasesempre bem8vinda$ ao eno*ue democr%tico e participativo e o desli7e conceitual aoairmar *ue o 2rograma >acional de 'ducao Ambiental est% pautado na concepototali7ante de ambiente (p&5)$ sem *ue no entanto se"a eplicitado o *ue se entende

    por isso& >a se*Fncia da Introduo se lFN 'sta dinDmica articulada$ autJnoma einterdependente tem como orientao$ ou por utopia$ a ormao de 1B0 mil!+es de

    brasileiros (as) educados (as) e educando ambientalmente (p&5)& 'ssas primeirasidias banali7am a perspectiva pol#tica ut-pica da educao ambiental *ue est%distante da ormao de uma sociedade tendo como reerencial apenas uma de suas

    possibilidades$ *ue ( se"a l% o *ue se entende por isso) a concepo totali7ante deambiente&

    A ragilidade conceitual aparece em v%rias passagens$ das *uais podemosdestacar as relacionadas com concepo libert%ria de educao (p&11)$desenvolvimento como processo natural (p&11)$ autogesto originada dametodologia de pes*uisa8ao8participante(p&15) e na vertente cr#tica eemancipat-ria da educao ambiental (pg&/1)& Sobre a concepo libert%ria daeducao$ se lF *ue a mesma emana de 2aulo reire (&&&) e *ue seu undamento

    pol#tico a democracia radical *ue recon!ece *ue cada ser !umano detm o direito participao$ deinio do seu uturo e construo da sua realidade ( p&11)& Se o

    ob"etivo pol#tico sedutor e diicilmente poder#amos ter uma posio contr%ria$ noentanto$ *ual*uer proposta (pol#tica e pedag-gica) libert%ria no tem o aparel!oideol-gico de 'stado como aliado ou meta& Airmar *ue a perspectiva pedag-gicaemana de 2aulo reire$ buscar cumplicidades ideol-gicas com o autor$ mas noargumentos em sua obra& 2odemos sim situar 2aulo reire como um autor libert%rio$em v%rios momentos de sua obra e tra"et-ria$ mas o *ue se con!ece por concepolibert%ria de educao est% pautada em outros reerenciais te-ricos e pol#ticos&(@allo$ 15$ =arc!i$ /00)& 'sse mesmo e*u#voco conceitual$ ou apropriao doide%rio pol#tico e pedag-gico libert%rio$ aparece em outros momentos como o *ue sereere ao educador(a) ambiental libert%rio(a) contribuir com a ormao e oempoderamento de compan!eiras (os) de camin!ada (p&1/)$ ou ainda na utili7ao

    da noo de autogesto ora do seu conteto pol#tico e aplic%8lo automaticamente auma proposta metodol-gica (pes*uisa8ao8participante)$ cu"o !ist-rico e

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    undamentos pol#ticos "% oram eaustivamente discutidos$ estudados e aplicados emv%rios contetos voltados para a organi7ao das massas ou da sociedade civil eno para a autogesto na perspectiva libert%ria& Huanto idia de *ue =usca8se

    processos autJnomos de uma conscienti7ao individual e coletiva em avor dasustentabilidade das sociedades$ onde o %esenvolvimento sea um &rocesso natural

    (grio meu)$ idiossincr%tico$ peculiar a cada conteto e cu"a conigurao descon!ecida por todos os su"eitos$ ou se"a o uturo no est% pr8deinido& (p&11)podemos a7er v%rias observa+es& A primeira *ue todo processo dedesenvolvimento (social) um processo !ist-rico e cultural como in,meros estudos$

    pes*uisas e eperiFncias tFm mostrado$ no sendo nunca natural& 2or outro lado$onde e *uando o uturo pJde ser pr8deinidoO

    A vertente emancipat-ria e cr#tica da educao ambiental anuncia mais umagrupamento de colegas *ue circula em torno dos Ministrios do Meio Ambiente e da'ducao e *ue atravs deles e dos seus satlites divulga suas idias nada originaisou com undamentos pr-prios e singulares e *ue desconsidera o movimento !ist-ricoda educao ambiental brasileira$ *ue nasceu e con*uistou legitimidade pela sua

    perspectiva cr#tica aos modelos de desenvolvimento$ aos totalitarismos$ aotecnocratismo e ao diretivismo pedag-gico e pol#tico$ portanto emancipat-ria na rai7&?omo deve ou deveria ser do con!ecimento desses autores e autoras$ cr#ticos eemancipat-rios o movimento !ist-rico da educao ambiental brasileira temapontado para a desconstruo do ambiental na sua deinio e no ampli%8la deorma redundante& A educao ambiental procura ser educao sem *uais*uer outrosad"etivos&

    >o reerido documento pode8se tambm observar a utili7ao de idias econceitos con!ecidos$ sem *ue as devidas reerFncias autorais e bibliogr%icas possamser encontradas$ como por eemplo$ na rase esta certa antropoagia cultural daeducao ambiental tem ortalecido suas pr%ticas e rele+es (pg&1)& A produote-rica sobre a relao do pensamento antropo%gico com a educao ambientalcircula no nosso meio !% pelo menos 10 anos e seus autores ainda no oramdevorados& .a mesma orma$ essa ausFncia de autoria$ se apresenta em p de p%gina*uando os autores se reerem ao 6ratado da 'ducao Ambiental para SociedadesSustent%veis e Responsabilidade @lobal& Ali se lF *ue o tratado oi elaborado duranteo processo preparat-rio da Rio / a partir de amplo processo de di%logo internacionalcoordenado por institui+es e pessoas *ue viriam a constituir a R'='A (p&10)& 'ssainormao uma verdade parcial *ue avorece osGas colegas *ue ocupam cargos nosMinistrios e a*uelesGas *ue circulam em torno delesGas divulgando e apoiando aR'='A& Lutras leituras e interpreta+es da mesma !ist-ria provavelmente surgirocom a tese *ue Magda erc!eui est% escrevendo na Eondon Sc!ool o 'conomics and2olitical Science& 2ara a elaborao do reerido 6ratado oram utili7ados tetos *ue o

    undamentaram$ de autores con!ecidos$ *ue tiveram grande diuso p,blica& 'ssesmesmos autores participaram da elaborao do 6ratado e colaboraram na sua redao$mas at o momento no tiveram seus nomes e seus tetos inclu#dos nesse !ist-rico$se"a pelos -rgos oiciais$ se"a pelos autores *ue circulam em torno dos Ministrios nogoverno Eula&

    'm outros trec!os !% uma abundDncia de citao de te-ricos e conceitos$ semnen!uma reerFncia bibliogr%ica$ alguns com perspectivas antagJnicas mas *ue socolocados como se ossem interlocutores ou *ue estivessem envolvidos com asmesmas undamenta+es& 2odemos encontrar em um ,nico par%grao$ dedicado aormao de coletivos de 2es*uisa8Ao82articipante ( ou pessoas *ue aprendem

    participando) reerFncias vita a!tiva e inter hominesde Arendt (&&&) 2es*uisa8

    ao( Yurt EeXin$ 6!iollent$ =arbier)$ na 2es*uisa 2articipante (=rando)$ na idia deEaborat-rio Social ( EeXin)$ na ?omunidade Interpretativa (=oaventura e abermas)

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    /a min!a longa convivFncia com tetos de e sobre otema posso airmar *ue oi a primeira ve7 *ue me deparei com um em *ue apareceindicao eplicita ao pensamento pedag-gico (e portanto pol#tico8partid%rio) de Mao6se86ung& 2ensamento este *ue *ual*uer proissional minimamente con!ecedor do

    processo c!inFs sabe (ou deveria saber) como oi produ7ido e o *ue provocou& 'ssapresena no teria maiores conse*Fncias$ se o documento em papel reciclado$ notivesse sido$ produ7ido e distribu#do aos mil!ares com verbas p,blicas$ no contassecom o apoio oicial dos Ministrios da 'ducao e do Meio Ambiente$ nem trouesseo logotipo da U>'S?L e o nome dos respons%veis pela 2ol#tica >acional de

    'ducao Ambiental$ entre eles os da ministra do Meio Ambiente e o do ministro da'ducao&

    %is&utas no cam&o

    L processo de legitimao pol#tica$ social e cient#ica da educao ambientalbrasileira apesar de no ser recente ainda no est% conclu#do e portanto seriaprematuro pensarmos em disputas no campo segundo as ormula+es de =ourdieu *ueas caracteri7a entre proissionais mais ou menos bem situados e inluentes& (=ourdieu$/009`$ /009b)& As divergFncias eistentes entre os grupos *ue c!amei de dissidentes ede adeptos$ tFm caracter#sticas *ue se aproimam e permitem uma an%lise sobre o

    campo da educao ambiental em constituio$ *ue no momento apresenta um atorparticular *ue o espao e a inluFncia ad*uirido pelos amadores na ormulao de

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    pol#ticas p,blicas e conse*entemente na ormao de educadores ambientais&'mbora a 2ol#tica >acional de 'ducao Ambiental dispon!a de proissionais comtitulao elevada e proessores de renomadas universidades os argumentos eundamentos apresentados em documentos como o 2RL'A so prim%rios&

    >o podemos tambm perder de vista *ue o *ue uniu osGas educadores

    ambientais oi a representao de cidadania constru#da em oposio aos totalitarismose desrespeito s dierenas e diversidade& ?om o esacelamento do sentimentooutrora partil!ado *uais so os desaios *ue se apresentam para a consolidao daeducao ambiental en*uanto campo cientiico e pol#ticoO ?omo poderemos rediscutirseu papel pol#tico e identidade desprovidos dessa representao$ dos nossossentimentos$ con!ecimentos e testemun!os !ist-ricosO

    Se a cidadania esacelou8se$ como icamos diante de nossa utopia maior *ue a de construir a cidadania planet%riaO

    A cidadania planet%ria no um con"unto de cidadanias locais ou nacionais$nem vir% um dia como prFmio ou etapa inal da con*uista destas& Q um processo *ueultrapassa ronteiras e envolve sentimentos e identidades de pertencimento$ mas

    praticamente imposs#vel abord%8la em nossas pr%ticas sociais e pedag-gicascotidianas se no recol!ermos os ragmentos do *ue sobrou do *ue entend#amos porcidadania& L *ue ica como possibilidade e ponto de partida so as idias de liberdade$

    "ustia e solidariedade e a valori7ao da vida$ como arte$ bem e com signiicadoeistencial e pol#tico em *ual*uer lugar do planeta&

    Am&liar o rudo

    Lnde no se encontra a sa#da$ pode !aver pistas$ rastros e ru#dos& Ao longodesse ensaio surgiram v%rias *uest+es *ue podero ser debatidas nos processos

    pedag-gicos e sociais de (re)construo de representa+es convincentes de cidadaniae de interveno pol#tica cotidiana& >esse momento$ ser% mais importante iniciar o

    processo de aglutinao de pessoas *ue no desistiram de sua capacidade detransormao pessoal e coletiva& 6emos *ue transormar o no acredito em maisnada em argumentos pol#ticos e elaborar uma reao a essa descrena& 2rocurartransormar a vergon!a da*uilo *ue nossas crenas permitiram em capacidade de*uestionar e inventar$ ou se"a$ resistir (Stengers$ /00/$ p&1B

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    /B

    sociais rente aos aparel!os ideol-gicos de 'stadoO Huem viver$ ver%&

    efer3ncias

    Allie7$ '& (dir&) (1B)$ @illes .eleu7eN Une vie p!ilosop!i*ue$ 2aris$ InstitutSVnt!]labo pour les 2rogr]s de la ?onnaissance&

    Alves$ >&4 @arcia$ R&E& (orgs) (1)$ L sentido da escola$ Rio de 3aneiro$ .2A&

    At!a#de$ 2!& (/00)$ Ama7Jnia4 novo rumoO$ ?arta ?apital$ Ano \II$ n& arrativas e tra"et-rias da educaoambiental no =rasil$ 2orto Alegre$ 'd&Urgs&

    ?arval!o$ 3& M& (/001)$ ?idadania no =rasilN L longo camin!o$ Rio de 3aneiro$?ivili7ao =rasileira&

    ?ascino$ &$ et alli (org) (1C)$ 'ducao$ meio ambiente e cidadania$ So 2aulo$S'MA&

    ?ascino$ & (1)$ 'ducao ambientalN 2rinc#pios$ !ist-ria e ormao deproessores$ So 2aulo$ Senac&

    ?astoriadis$ ?&$ (1C

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    /

    2apirus&

    .agnino$ '& (19a)$ Apresentao$ in .agnino '& (org)$ Anos 0N 2ol#tica eSociedade no =rasil$ So 2aulo$ =rasiliense$ p&C815

    .agnino$ '& (19b)$ Ls movimentos sociais e a emergFncia de uma nova noo decidadania$ in .agnino$ '&(org)$ Anos 0N 2ol#tica e Sociedade no =rasil$ So 2aulo$=rasiliense$ pg 10

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    isan8UspGManole&

    RaXls$ 3&& (/000)$ 2or uma 6eoria da 3ustia$ So 2aulo$ Martins ontes$ 6raduo deAlmiro 2isetta e Eenita M& R& 'steves&

    Reigota$ M& (19)$ L *ue educao ambiental$ So 2aulo$ =rasiliense&

    Ribeiro R& 3& (1B)$ Ees intellectuels et le pouvoir revisited$ in Allie7 '&& (org)$@illes .eleu7eN Une vie p!ilosop!i*ue$ 2aris$ Institut SVnt!]labo pour les 2rogr]s dela ?onnaissance$ p&

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    Spin;$ M&3&2&4 Spin;$ 2& (orgs) $ (/00)$ 2r%ticas cotidianas e a naturali7ao dasdesigualdadesN Uma semana de noticias nos "ornais$ So 2aulo$ ?orte7&

    Spin;$ 2& (1)$ An%lise de documentos de dom#nio p,blico$ in Spin;$ M&3& 2&

    (org)$ 2r%ticas discursivas e produ+es de sentidos no cotidianoN Aproima+este-ricas e metodol-gicas$ ?orte7$ so 2aulo$ p& 1/& (19)$ As es*uerdas e a descoberta da democracia$ in .agnino '&(org)$ Anos 0N 2ol#tica e sociedade no =rasil$ So 2aulo$ =rasiliense$ p&1/C81