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Maria Cecília Periotto
Distúrbios da linguagem falada no transtorno do déficit de atenção/hiperatividade
Dissertação apresentada à Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Mestre em
Ciências
Área de concentração: Neurologia
Orientadora: Profa. Dra. Umbertina Conti
Reed
São Paulo 2009
2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
©reprodução autorizada pelo autor
Periotto, Maria Cecília Distúrbios da linguagem falada no transtorno do déficit de atenção/hiperatividade / Maria Cecília Periotto. -- São Paulo, 2009. Dissertação(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Departamento de Neurologia. Área de concentração: Neurologia. Orientador: Humbertina Conti Reed.
Descritores: 1.Transtorno da falta de atenção com hiperatividade 2. Transtornos do desenvolvimento da linguagem 3.Fonoaudiologia 4.Distúrbios da fala 5.Atenção 6.Discurso narrativo
USP/FM/SBD-065/09
3
DEDICATÓRIA
Para Olívia Mendes Periotto (in memorian).
4
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Aos meus pais, Orlando e Dulcinéa pelo apoio e incentivo em
todos os momentos.
Aos meus filhos, Guilherme, Gabriela e Victória pela
compreensão e afeto.
Ao meu querido João, pelo seu amor e dedicação.
5
AGRADECIMENTOS
Dra Umbertina Conti Reed que me orientou, acolheu e me deu
a oportunidade de realizar um grande desafio – me aprimorar em
neurociência.
Ao Dr. Erasmo Barbante Casella que chefiou o Ambulatório
de TDA/H do HC da FMUSP onde esse trabalho foi realizado, pelo
seu apoio e dedicação como médico e colaborador neste trabalho.
À Sulamy M. C. Castelo Branco, professora, amiga e colega
de ambulatório, que não mediu esforços para me ensinar, apoiar e
encorajar em todos os momentos;
À Sandra Pasquale Pacheco, que realizou pacientemente
exames neuropsicológicos em todos os pacientes deste estudo
durante um ano todo.
À Dra Carmem S. M. G Miziara pelo incentivo e ajuda.
Aos pacientes por tornarem possível este trabalho.
6
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS RESUMO SUMMARY 1 INTRODUÇÃO 1.1 Linguagem e TDA/H
1.2 Conceitos básicos de linguagem, língua e fala
1.3 Linguagem falada (Fonologia)
1.4 Consciência fonológica
1.5 Discurso narrativo
1.6 Recontagem de estória
1.7 Fluência
1.8 Pragmática
2 OBJETIVOS
3 MÉTODO 3.1 Casuística
3.2 Métodos
3.3 Procedimentos
4 RESULTADOS 4.1 Aspectos gerais
7
4.2 Aspectos específicos: primeiro objetivo – comparação entre o
grupo TDA/H e o grupo controle
4.2.1 Análise da avaliação clínica-fonoaudiológica do sistema estomatognático e da função respiratória
4.2.2 Análise da discriminação auditiva 4.2.3 Análise das praxias orais 4.2.4 Análise dos resultados do teste de Imitação do protocolo ABFW
4.2.5 Análise do teste de vocabulário – Boston Naming Test 4.2.6 Análise do discurso narrativo
4.2.7 Análise da avaliação do discurso narrativo em uma tarefa de recontagem de estória
4.2.7.1 Número de frases
4.2.7.2 Freqüência e tipo de erros
4.2.7.3 Gramática da estória
4.2.7.4 Fluência
4.2.8 Análise do questionário de SNAP-IV 4.3 Aspectos específicos: segundo objetivo – comparação entre os momentos inicial e medicado 4.3.1 Análise da discriminação auditiva
4.3.2 Análise dos resultados do teste de imitação do protocolo
ABFW
4.3 3 Análise do teste de vocabulário – Boston Naming Test
4.3.4 Análise da avaliação do discurso narrativo em uma tarefa de
recontagem de estória
4.3.4.1 Número de frases
4.3.4.2 Freqüência e tipo de erros
8
4.3.4.3.Gramática da estória
4.3.4.4 Fluência
4.4 Aspectos específicos: segundo objetivo - comparação entre os
momentos inicial e medicado, considerando a amostra dos
pacientes que receberam a medicação em um período que variou
de 30 a 60 dias – grupo parcial
4.4.1 Análise da discriminação auditiva
4.4.2 Análise dos resultados do teste de imitação do protocolo
ABFW
4.4.3 Análise do teste de vocabulário – Boston Naming Test
4.4.4 Análise da avaliação do discurso narrativo em uma tarefa de
recontagem de estória
4.4.4.1 Número de frases
4.4.4.2 Freqüência e tipo de erros
4.4.4.3.Gramática da estória
4.4.4.4 Fluência
5 DISCUSSÃO 5.1 Características gerais
5.2 Aspectos específicos: primeiro objetivo – comparação entre o
grupo TDA/H e o grupo controle
5.3 Aspectos específicos: segundo objetivo – comparação entre os
momentos inicial e medicado
5.4 Aspectos específicos: segundo objetivo - comparação entre os
momentos inicial e medicado considerando a amostra dos pacientes
que receberam a medicação em um período que variou de 30 a 60
dias – grupo parcial
9
6 CONCLUSÃO
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS 1 Protocolo de anamnese fonoaudiologia
2 Protocolo de avaliação clínica fonoaudiológica e da função
respiratória 3 Prova para a avaliação da Discriminação auditiva – Yopp (1988)
4 Protocolo para a avaliação das praxias orais
5 Teste de imitação – protocolo de registro (ABFW)
6 Teste de vocabulário – protocolo de registro do Boston Naming
Test
7 Estória estímulo 1
8 Estória estímulo 2
9 Análise da gramática da estória – estória estímulo 1
10 Análise da gramática da estória – estória estímulo 2
11 Protocolo de análise - número de orações – estória estímulo 1
12 Protocolo de análise – número de orações – estória estímulo 2
13 Protocolo de análise do tipo e da freqüência de erros
14 Teste de fluência – protocolo de registro (ABFW)
15 Questionário SNAP-IV
10
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Medidas resumo da idade das crianças (em meses) do grupo TDA/H e do grupo controle
Tabela 2: Distribuição de acordo com o tipo de escola das crianças do grupo TDA/H e do grupo controle
Tabela 3: Distribuição de acordo com o sexo das crianças do grupo TDA/H e do grupo
Tabela 4: Distribuição das alterações na Discriminação auditiva entre o grupo TDA/H e o grupo controle
Tabela 5: Distribuição das alterações nas Praxias orais entre o grupo TDA/H e o grupo controle
Tabela 6: Distribuição das alterações no teste de imitação entre o grupo TDA/H e o grupo controle
Tabela 7:Distribuição do número de respostas corretas espontâneas no teste de vocabulário entre o grupo TDA/H e o grupo controle
Tabela 8: Distribuição do número de respostas corretas após pista fonológica no teste de vocabulário entre o grupo TDA/H e o grupo
controle
Tabela 9: Distribuição do número total de respostas corretas no teste de vocabulário entre o grupo TDA/H e o grupo controle
Tabela 10: Distribuição do número de respostas corretas após pista semântica no teste de vocabulário entre o grupo TDA/H e o grupo
controle
Tabela 11: Distribuição do número de frases relatadas na tarefa de recontagem de estória entre grupo TDA/H e o grupo controle
11
Tabela 12: Distribuição do número total de erros entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de estória
Tabela 13: Distribuição da freqüência de erros do tipo interpretação incorreta entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de
recontagem de estória
Tabela 14: Distribuição da freqüência de erros de seqüência entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de estória
Tabela 15: Distribuição da freqüência de erros do tipo substituição entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de
estória
Tabela 16: Distribuição da freqüência de erros do tipo referência ambígua entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de
recontagem de estória
Tabela 17: Distribuição da freqüência de erros do tipo acréscimo fictício entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de
recontagem de estória
Tabela 18: Distribuição da freqüência de erros do tipo repetição entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de
estória
Tabela 19: Distribuição do elemento resposta interna 1 entre grupo o TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
Tabela 20: Distribuição do elemento evento iniciador 1 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória Tabela 21: Distribuição do elemento evento iniciador 2 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
Tabela 22: Distribuição do elemento cenário entre o grupo TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
12
Tabela 23: Distribuição do elemento tentativa 1 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
Tabela 24: Distribuição do elemento conseqüência 1 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
Tabela 25: Distribuição do elemento resposta interna 2 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
Tabela 26: Distribuição do elemento tentativa 2 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
Tabela 27: Distribuição do elemento conseqüência 2 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
Tabela 28: Distribuição das disfluências comuns entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW
Tabela 29: Distribuição das disfluência gagas entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW
Tabela 30: Distribuição do fluxo de palavras por minuto entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW
Tabela 31: Distribuição do fluxo de sílabas por minuto entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW
Tabela 32: Distribuição da porcentagem de disfluências comuns entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem
ABFW
Tabela 33: Distribuição da porcentagem de disfluências gagas entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW
Tabela 34: Resultados da comparação no teste de discriminação auditiva (DA) entre os momentos inicial e após medicação
Tabela 35: Distribuição das alterações no teste de imitação entre os momentos inicial e após medicação
13
Tabela 36: Resultados da comparação no Boston Naming Test entre os momentos inicial e após medicação
Tabela 37: Resultados da comparação do tipo e freqüência de erros entre os momentos inicial e após medicação
Tabela 38: Resultados da comparação na distribuição da presença e ausência dos elementos da gramática da estória entre os
momentos inicial e após medicação
Tabela 39: Resultados da comparação na distribuição das disfluências entre os momentos inicial e após medicação
Tabela 40: Resultados do teste de discriminação auditiva (DA) no grupo parcial de crianças com TDA/H entre os momentos inicial e
após medicação
Tabela 41: Distribuição das alterações no teste de imitação no grupo parcial de crianças com TDA/H entre os momentos inicial e
após medicação
Tabela 42: Resultados do Boston naming test no grupo parcial de crianças com TDA/H entre os momentos inicial e após medicação
Tabela 43: Resultados da comparação do tipo e freqüência de erros entre os momentos inicial e após medicação no grupo parcial de
crianças com TDA/H
Tabela 44: Resultados da comparação na distribuição da presença e ausência dos elementos da gramática da estória entre os
momentos inicial e após medicação no grupo parcial de crianças
com TDA/H
Tabela 45: Distribuição e comparação das disfluências no grupo parcial de crianças com TDA/H entre os momentos inicial e
medicado.
14
LISTA DE ABREVIATURAS
ABFW - Teste de Linguagem Infantil nas áreas de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática
ACID - Aritmética, código, informação e dígitos DSM-IV-TR - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
FMUSP - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo HC - Hospital das Clínicas IC - Instituto Central OFA - Órgãos fonoarticulatórios Q I - Quociente de Inteligência RAVLT - Rey Auditory Verbal Learning Test SNAP-IV - Escala de avaliação para pais e professores STROOP - Teste de atenção inibitória TDA/H - Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade TMT - Teste de atenção focada e alternada WISC-III - Escala de Inteligência Wechsler para Crianças
15
RESUMO
O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO
/HIPERATIVIDADE (TDA/H) afeta memória operacional,
planejamento, auto-regulação de motivação e limiar para a ação
dirigida, alterando funções executivas, inclusive linguagem. Crianças
com TDA/H apresentam distúrbios da linguagem, mostrando baixo
rendimento nos testes de vocabulário, sintaxe, fluência, memória
operacional e discurso. OBJETIVOS: avaliar tipo e freqüência das alterações da linguagem
oral em crianças com TDA/H; verificar a evolução desses distúrbios
após dois meses de tratamento com metilfenidato; correlacionar
produção do discurso do tipo recontagem com memória operacional.
MÉTODOS: trinta e seis pacientes de sete a 14 anos de idade com
diagnóstico de TDA/H pelos critérios do DSM-IV, QI ≥ 85, sem co-
morbidades definidas, sem déficits sensoriais e com avaliação
neuropsicológica prévia foram submetidos à seguinte avaliação
fonoaudiológica: anamnese; avaliação clínica do sistema
estomatognático; função respiratória; discriminação auditiva; praxias
orais; teste de imitação do protocolo ABFW; teste de vocabulário –
Boston Naming test; discurso narrativo e análise da recontagem de
estória (gramática da história, número de frases, freqüência e tipo
de erros). A avaliação fonoaudiológica foi aplicada antes do início do
tratamento com metilfenidato sendo que seus resultados foram
comparados com o grupo controle. Após dois meses de tratamento
medicamentoso as crianças foram reavaliadas e os resultados
16
foram comparados com a avaliação inicial. Verificou-se evolução da
linguagem falada após dois meses de tratamento com medicamento
estimulante.
RESULTADOS: Os pacientes mostraram comprometimento no
sistema estomatognático, na respiração, na discriminação auditiva,
no acesso lexical, na fluência, na compreensão e na organização do
discurso narrativo em tarefa de recontagem de estória. Na
reavaliação os resultados mostraram melhora significante nos
seguintes aspectos da linguagem falada.
CONCLUSÃO: nos pacientes com TDA/H, os distúrbios da
linguagem falada são freqüentes, podendo estar diretamente
associados às dificuldades de aprendizado, já que o
desenvolvimento da linguagem falada é pré-requisito importante
para a aquisição da linguagem escrita.
17
SUMMARY
OBJECTIVE: ATTENTION-DEFICIT HYPERACTIVITY
DISORDER (ADHD) exists alone in approximately 30-40% of the
children diagnosed with it , and frequently are documented high
rates of one or more comorbidities, pointing out the language
disabilities. The patients present poor performance in tests of
vocabulary, syntax, fluency, working memory and speech. The
present study evaluate the type and incidence of oral language
disabilities in children with ADHD.,
MATERIAL AND METHOD: Thirty and six children (aged 7-14) with
ADHD, IQ ≥ 85, without psychiatric comorbid conditions or sensorial
deficits are matched for age and level of education to thirty and four
control subjects. The two groups were assessed by a speech
pathology evaluation including: history, clinical examination of
stomatognathic system; respiratory function; hearing discrimination;
oral praxis; imitation for the protocol of the Test of Childlike
Language ABFW; vocabulary for the Boston Naming Test; narrative
speech in a task of recounting of story - analysis of the grammar of
the history, of the number of sentences, of the frequency and of the
types of mistake and, of the fluency for the ABFW.
RESULTS: The children with ADHD showed compromising in the
stomatognathic system, in the breathing, in the hearing
discrimination, in the lexical access, in the fluency, in the
understanding and in the organization of the narrative speech in task
18
of recounting of story. Compared with the control group, the patients
with ADHD perform significantly slower and were less efficient .
CONCLUSION: The presence of faults in several areas of the
language spoken in patients with TDAH is a frequent find and this
fact can be straightly associate with learning disabilities, which are
frequent in these patients, since the development of the well-known
language is essential for fully acquiring written language.
19
1 INTRODUÇÃO E PRINCIPAIS ASPECTOS DA LITERATURA
Segundo o DSM-IV-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais), o Transtorno do Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDA/H) é o distúrbio do comportamento
mais freqüente em crianças, acometendo quatro a 10% delas em
idade escolar (Skounti et al, 2007). Na população ocorre,
aproximadamente três vezes mais em meninos do que em meninas
e em amostras clínicas de cinco a nove vezes mais (Barkley, 2008).
De acordo com Barkley (1998), 40% das crianças encaminhadas
para serviços de saúde mental têm TDA/H. Recentemente, este
mesmo autor apresentou a seguinte definição do distúrbio:
“Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH) é o atual
diagnóstico usado para denominar os significativos problemas
apresentados por crianças quanto à atenção, impulsividade e
atividade excessiva. As crianças com TDA/H representam uma
população bastante heterogênea e existe uma variação considerável
no grau em que outros transtornos ocorrem em associação com o
TDA/H.” (Barkley, 2008)
Segundo o DSM-IV-TR, o TDA/H pode ser subdividido em:
20
TDA/H tipo combinado
TDA/H tipo predominantemente desatento
TDA/H tipo predominantemente hiperativo-impulsivo.
O quadro clínico do TDA/H caracteriza-se pela combinação
em proporções variáveis de déficit de atenção, hiperatividade e
impulsividade, embora outros sintomas também sejam observados e
descritos. O diagnóstico ocorre com base clínica e implica em
reconhecer um padrão persistente de desatenção, hiperatividade e
impulsividade maior e mais freqüente do que o observado
ocasionalmente em crianças normais. Geralmente, se associa com
déficit perceptivo, motor, lingüístico, de aprendizagem e
comportamental (Barkley, 2008; Damico et al, 2004; Schubiner et al,
2008; Wolraich, 2006).
A etiopatogenia do TDA/H é complexa, amplamente
pesquisada, periodicamente revista (Arnsten, 2006; Barkley, 1997;
Bugalho et al, Dickstein et al, 2006; Doyle, 2006; Faraone et al,
2005; Faraone, 2006; Kieling et al, 2008; Pliszka, 2004; Prince,
2008; Schubiner et al, 2008; Spencer et al, 2007; Willcutt et al, 2005;
Wolraich, 2006), podendo ser assim resumida: a hereditariedade é
indiscutível, sendo que estudos em pacientes gêmeos, irmãos
21
biológicos e irmãos adotivos comprovam a influência genética; os
estudos genéticos em crianças com TDA/H e seus familiares
mostram alterações em diferentes genes, principalmente naqueles
relacionados com o transporte e recepção de catecolaminas,
ocorrendo concordância de que existe um mecanismo multigênico
pelo qual cada gene alterado acrescentaria um tanto de
suscetibilidade ou de risco para desenvolver TDA/H; também existe
um consenso de que na gênese do distúrbio cognitivo-
comportamental do TDA/H, que mostra ampla variabilidade clínica, à
predisposição genética podem se associar fatores pré e perinatais
adversos, bem como influências ambientais/sociais, todos
modulando a intensidade do distúrbio; o locus neuroanatômico
definido para o TDA/H, cuja disfunção é mediada pela alteração dos
neurotransmissores, sobretudo noradrenalina e dopamina, é a rede
neuronal responsável pela função executiva do lobo frontal, ou seja,
o córtex pré-frontal e suas conexões com o neostriado, giro cíngulo,
ínsula, amígdala, hipocampo e vérmis cerebelar; estes circuitos
frontais e subcorticais guiam as respostas comportamentais,
inibindo impulsos inapropriados e distrações e permitindo
22
planejamento e organização efetiva da ação, têmporo-
espacialmente e seqüêncialmente.
Inúmeros estudos de neuroimagem (RNM, PET, SPECT,
RNM) foram efetuados e corroboram a alteração do circuito
neuronal ligado à função executiva, mostrando de uma forma geral
(Bush, 2008; Bush et al, 2005; Ellison-Wright et al, 2008; Hutchinson
et al, 2008; Kelly et al, 2007; Rauch, 2005. Slaats-Willemse, 2003;
Valera et al, 2007): em meninos, redução do volume cerebral total;
em ambos os sexos, redução bilateral do volume do córtex pré-
frontal posterior e do núcleo caudado, bem como do globo pálido
esquerdo e do vermis cerebelar póstero-inferior; de modo geral,
redução volumétrica anterior (frontal e corpo caloso anterior).
Estudos neuropsicológicos também demonstram alterações no
funcionamento executivo, reforçando a hipótese de que as
estruturas responsáveis por essas funções apresentam alterações,
essencialmente as vias fronto-estriatais-cerebelares (Barkley, 1997;
Bradley e Golden, 2001; Frazier et al, 2004; Tannock, 1998). Com
base nos circuitos anatômicos acima mencionados, os estudos
neuropsicológicos apontam que, do ponto de vista
23
neurocomportamental, ocorre falta da inibição comportamental como
ponto central para o surgimento do transtorno e indicam que os
déficits no funcionamento executivo e na auto-regulação podem
explicar parte ou todos os sintomas de desatenção (Barkley, 2008;
Poissant et al, 2008). Esta falência do controle inibitório, levando
essencialmente um distúrbio da execução, é descrita de forma
simplificada por Denckla (2008), a qual considera que no TDA/H
ocorreria um distúrbio da prontidão para agir em resposta à
percepção, ou seja, quando e como agir, sendo impossível inibir a
resposta a um estímulo ou adiá-la para um momento mais
adequado, o que caracteriza a impulsividade. Entretanto, Alderson
et al (2007) reviram em meta-análise as diferentes teorias sobre o
papel do controle inibitório no TDA/H e concluiram que o assunto
ainda é controvertido e, possivelmente, embora este papel seja
evidente, o TDA/H decorre de um defeito mais generalizado no
processamento cognitivo e da atenção.
Jonsdottir et al, em 2005, revisando a bibliografia relativa a
esses estudos, sugerem que crianças com TDA/H podem
compreender detalhes superficiais adequadamente, mas mostram
déficits nas tarefas que requerem alto grau de atenção, esforço e
24
controle do processo de linguagem. Segundo essa revisão, os mais
abrangentes estudos do TDA/H propõem que um déficit no
desenvolvimento neurológico da função executiva limita o
desenvolvimento das habilidades de auto-regulação que guiam as
funções comportamentais e cognitivas, constituindo a base dos
sintomas típicos associados ao TDA/H.
Segundo Barkley (1997), as alterações da função executiva do
planejamento, entre as quais a expressão da linguagem através da
fala, afetariam a memória operacional e a auto-regulação de
motivação bem como de limiar para a ação dirigida a um objeto
definido. A memória operacional nas crianças com TDA/H também
foi amplamente estudada e uma meta-análise (Martinussen et al,
2005) de todos estes estudos concluiu que se encontra alterada nos
pacientes e que são necessárias mais pesquisas que avaliem os
detalhes desta alteração e sua implicação no quadro geral
(Martinussen et al, 2005; Martinussen & Tannock, 2006).
O diagnóstico reside numa base puramente clínica, através de
avaliação neurológica e, quando necessário, neuropsicológica,
questionários e entrevista com pais e professores (Culpepper, 2006;
Perrin et al, 2001; Wolraich, 2006).
25
O emprego de psicoestimulantes associados à terapia
comportamental demonstrou ser mais efetivo em comparação à
terapia isoladamente (Benner-Davis & Heaton, 2007; Brown et al,
2005; Culpepper, 2006; Damico et al, 2004; Faraone et al, 2006;
Kaiser et al, 2008; Majewicz-Hefley & Carlson, 2007; Swanson et al,
2008; Van der Oord et al, 2008)
O prognóstico do TDA/H será melhor definido à medida que
se sucederem trabalhos prospectivos e a partir do novo campo de
pesquisa representado pelo TDA/H em adultos. De um modo
geral, utilizando o tratamento medicamentoso, e o suporte
psicológico e pedagógico adequado, calcula-se que cerca de 60%
das crianças com TDA-H se transformem em adultos funcionais,
porém mantendo de forma modificada, a sintomatologia iniciada
na infância. Entretanto, na faixa dos 40% que apresentam
prognóstico pior há alta taxa de instabilidade profissional e afetiva,
bem como maior índice de violações sociais, alcoolismo e
toxicomanias. De um modo geral, o subgrupo com predomínio do
déficit de atenção tem pior prognóstico do que o grupo
hiperativo/impulsivo (Denckla, 2005; Culpepper, 2006; Perrin et al,
26
2001; Schonwald & Lechner, 2006; Weiss et al, 2006; Wolraich,
2006).
1.1 Linguagem e TDA/H
O uso competente da linguagem possibilita o desempenho
social do indivíduo. Segundo Manola, 2006: “Desde o nascimento, a
criança está submetida a um sistema de linguagem verbal e não
verbal que lhe possibilitará, gradativamente, organizar seu
pensamento e construir, no percurso de seu desenvolvimento,
diversas formas de linguagens. Isso nos leva a crer que a linguagem
destaca-se dentre os inúmeros elementos que compõem o processo
de aprendizagem do ser humano”
A literatura aponta correlação importante entre o diagnóstico
de TDA/H e a ocorrência de baixo rendimento escolar, distúrbios de
aprendizagem e distúrbios de linguagem. (Cormier, 2008; Foy &
Earls, 2005; Goldstein & Goldstein, 1990; Klassen et al, 2004; Spira
& Fischel, 2005). Estudo epidemiológico, usando testes
padronizados de linguagem, sugere que os problemas de linguagem
27
co-ocorrem em 35-50% das crianças que apresentam TDA/H
(Redmond, 2004).
Os distúrbios de linguagem associados ao TDA/H são objeto
de numerosas pesquisas clínicas e neurobiológicas, que evidenciam
tanto co-morbidades, como distúrbios secundários aos sintomas
primários (desatenção, impulsividade, e hiperatividade) do TDA-H
(Barkley et al, 1990; Barwick et al, 2000; Bierderman & Knee, 1987;
Cohen et al, 2002; Hartsough & Lambert, 1985; Kim & Kaiser, 2000;
Mathers, 2006; Munir et al, 1989; Redmond, 2004; Spira & Fischel,
2005; Sundheim & Voeller, 2004; Tetnowski, 2004; Webster &
Shevell, 2004; Westby & Watson, 2004).
A memória operacional, no caso a fonológica, é um ponto
central na análise dos distúrbios da linguagem associados ao TDA/H
(Webster & Shevell, 2004; Westby &Watson, 2004)
A qualidade dos distúrbios da linguagem, leitura, escrita e
aprendizagem nas crianças com TDA/H é muito heterogênea e
significativa proporção mostra baixo rendimento nos testes de
vocabulário, sintaxe, fluência, memória operacional, discurso
narrativo (com falhas na coesão e manutenção) e dificuldades
28
associadas à pragmática (Kim & Kaiser, 2000; Mathers, 2006,
Redmond, 2004).
É freqüentemente salientado o déficit na competência
comunicativa dessas crianças que: tendem a falar muito e de modo
acelerado, não permanecem no tópico tratado ou respondem
impulsivamente antes que a pergunta tenha sido completamente
formulada, e ressaltam também as dificuldades para planejar e
estruturar relatos orais e recontagens de estórias. As crianças com
TDA/H apresentam mais problemas específicos no desenvolvimento
da linguagem e desempenho abaixo da média nos testes de fluência
verbal (Clark et al, 2000; Geurts et al, 2004; Giddan, 1991; Purvis &
Tannock, 1997; Reader et al, 1994).
Miranda-Casas et al, 2002, descreveram as seguintes
características na linguagem das crianças com TDA/H:
a) Conduta lingüística irregular com certa ineficácia para se
ajustar ao contexto comunicativo e para compreender a
intenção comunicativa do seu interlocutor;
b) Atraso na aquisição de aspectos lingüísticos, tais como o
código fonológico e o nível semântico-sintático, especialmente
na compreensão e expressão de tempos verbais;
29
c) Dificuldades na execução de tarefas lingüísticas que
demandam controle inibitório como nas tarefas que requerem
rapidez no acesso lexical;
d) Rendimento muito prejudicado nas tarefas que requerem a
capacidade de processamento simultâneo da informação, tais
como tarefas de processamento semântico e, principalmente,
as que requerem pensamento lingüístico. Essa mesma
dificuldade se observa na execução de tarefas de tipo
metalingüístico, especialmente nas de consciência fonológica;
e) Execução deficitária em tarefas que não exigem
propriamente uma resposta verbal (aquelas em que a
linguagem atua como mediadora de uma execução).
Em nosso meio, Rohde & Mattos (2003) relataram diversas
alterações da linguagem em associação ao TDA/H: alterações da
fala, atraso na aquisição da linguagem, alterações de linguagem
receptiva e expressiva, bem como distúrbios da competência
comunicativa. As deficiências na pragmática (competência
comunicativa) provavelmente representam a maior parte, seguidas
pelos problemas de linguagem receptiva-expressiva. Atraso na
aquisição da linguagem é comum no TDA/H, entre seis a 35%,
30
sendo que em crianças sem TDA/H, a ocorrência é de dois a seis
por cento. Os casos de distúrbios de fala são menos freqüentes. Em
geral, aparecem em conjunto a dificuldades lingüísticas,
observando-se alterações de modulação do volume da voz e
alterações na fluência.
Segundo Albuquerque & Lima in Rohde & Mattos, (2003) “a
produção e a compreensão de linguagem são processos mentais
que operam com representações de diferentes tipos, como, por
exemplo, representações fonológicas, sintáticas, semânticas,
ortográficas e lexicais, dentre outras, que constituem o conjunto de
competências do falante e que se encontram armazenadas pelo
sistema de memória. O sistema de memória é fundamental para o
processamento da linguagem, pois é principalmente a memória
operacional que viabiliza as operações lingüísticas, já que essas
têm o caráter de linearidade, ou seja, transcorrem no tempo, mas
são processadas sucessiva e paralelamente no modo
computacional, precisando, portanto, ser mantidas pelo tempo
necessário para sua análise (compreensão) ou formulação
(produção)”. Dessa forma, hipoteticamente, explica-se a alta
31
freqüência de distúrbios de linguagem encontrada em crianças com
TDA/H.
Tannock et al (2000) salientaram que apesar dos inúmeros
estudos a respeito dos efeitos de medicamentos estimulantes sobre
os sintomas do TDA/H, há poucos dados na literatura quanto ao seu
efeito sobre os distúrbios da linguagem, e consideram que são
necessários estudos que analisem a relação entre esses distúrbios
e o tratamento de longo prazo com metilfenidato. Em 2001, Francis
et al, do mesmo grupo de pesquisadores, verificaram o efeito
benéfico do metilfenidato sobre o desempenho na reprodução de
estórias, porém apenas em relação ao uso agudo da droga por
ocasião dos testes. Em 2003, Mc Innes et al, ainda do mesmo grupo
de pesquisadores, verificaram que em 19 crianças com TDA/H (sem
co-morbidades), embora a memória operacional verbal e espacial
estivesse prejudicada, a compreensão era pouco afetada, ao passo
que em crianças com TDA/H associado a distúrbios de linguagem,
ocorria déficit de compreensão. Os autores salientaram a
necessidade de distinguir esses aspectos para melhorar o enfoque
terapêutico.
32
O presente trabalho sobre a linguagem oral em crianças com
TDA/H foi motivado pela recente consideração de Barkley (2008) de
que o TDA/H está associado a deficiências em linguagem, nas
áreas de: pragmática, recordação de histórias, fluência verbal e
resolução de problemas verbais. Adicionalmente, nos propusemos a
este estudo devido ao fato de que ainda não há estudos nacionais
abordando especificamente a freqüência e o tipo de distúrbios da
linguagem nas crianças com TDA/H em nosso meio social, bem
como sua resposta à medicação estimulante.
Devido ao fato deste trabalho ter como objetivo analisar a
relação entre TDA/H e a linguagem oral, serão relatados, de forma
resumida, os principais aspectos do desenvolvimento da linguagem,
bem como os fundamentos dos principais aspectos da linguagem
falada que analisamos nos pacientes com TDA/H e no grupo
controle.
1.2 Conceitos básicos de linguagem, língua e fala
“A linguagem é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores.
A linguagem é inseparável do homem e segue-o em todos os seus
33
actos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela
o seu pensamento, seus sentimentos, as suas emoções, os seus
esforços, sua vontade e seus actos, o instrumento graças ao qual
ele influencia e é influenciado, a base última e mais profunda da
sociedade humana (Hjelmslev, 1970).”
A linguagem tem caráter individual, não uniforme, que
possibilita selecionar livremente os diversos elementos em estoque
no código fonêmico, sintático ou semântico. Apesar de a linguagem
incluir a liberdade de expressão, essa é instrumentalizada por um
código rígido, que é a língua, cuja construção pressupõe uma
organização interna, bastante complexa, que interliga aspectos
sintáticos, fonológicos e lexicais (Issler, 1996; Silva, 2002).
A linguagem é expressa através de “signos”, que são
entidades psíquicas ou abstrações e que contêm a unidade
indissolúvel significante/ significado. O signo lingüístico é formado
por um significado conceitual e simbólico, e um significante, que
pode ser psicoacústico ou gráfico. Pessoas de uma mesma
comunidade lingüística obedecem a um consenso quanto à relação
significante/ significado. A cadeia de significantes compõe o plano
de expressão e a cadeia de significados compõe o plano do
34
conteúdo. Essas complexas relações significante/ significado
decorrem de experiências sócio-culturais de uma comunidade, que
extrapolam a simples recepção passiva das ondas acústicas
sonoras daquele que fala (Issler, 1996; Silva, 2002).
O desenvolvimento da linguagem é um processo que exige
bases orgânicas e psiquismo íntegros, ambiente social estimulador
e fatores cognitivo-lingüísticos específicos (Vygotsky et al, 1988).
Trata-se de uma função complexa que requer a integração de um
conjunto de operações com diferentes representações mentais
(Schirmer et al, 2003). Envolve processos cognitivos de ordem
geral, tais como a capacidade de análise e a de síntese para
planejar e para interferir, bem como processos específicos de
linguagem, como decodificação fonológica e busca lexical. O
processamento dessas informações (extraindo, recrutando e
integrando informações de outros sistemas cerebrais perceptivos,
lingüísticos, mnemônicos e emocionais), regula a função executiva
que capacita o indivíduo para ação voluntária, autônoma, auto-
organizada e orientada para fins específicos, nas tarefas de rotina
ou na resolução de situações novas (Issler, 1996; Castaño, 2003;
Barkley, 2008).
35
Durante o desenvolvimento, a fonologia apresenta um
percurso paralelo e diverso dos demais componentes lingüísticos
(pragmática, sintaxe, semântica e morfologia) (Rice, 1997, Mota in
Ferreira, 2005).
1.3 Linguagem falada (Fonologia)
Os sons da fala referem-se aos lingüisticamente relevantes,
utilizados na formação de sílabas, palavras e frases, dentro dos
padrões que ocorrem em uma determinada língua e dos arranjos
possíveis desses, relativamente aos processos para acrescentar,
omitir ou mudá-los (Slaats-Willmse, 2003; Mota in Ferreira, 2005;
Adams et al, 2006).
Cada língua possui seu sistema exclusivo de padrões de som.
O objetivo da Fonologia é estudar as propriedades dos sistemas de
som que os falantes devem aprender ou internalizar, a fim de utilizar
a sua língua para a comunicação. O componente fonológico da
linguagem, conforme descrito por Edwards & Shouberg, 1992,
possui dois níveis: o subjacente e o superficial. O subjacente se
refere ao conhecimento que o usuário da língua tem da fonologia,
36
incluindo inventários e regras fonéticas, enquanto que o superficial
se refere à articulação e envolve o planejamento, a execução e a
modulação via feedback dos movimentos que ocorrem durante a
produção da fala.
Além dessa complexa série de interações, a produção da fala
inclui também os estímulos provenientes de outros domínios que
influenciam a linguagem, tais como cognitivos e ambientais. Essas
aferências influenciam o conhecimento fonológico do falante que,
por vez, influenciará a produção lingüística (Lima e Albuquerque,
2003).
Assim, a Fonologia pode ser considerada como o estudo do
conhecimento inconsciente que torna o ser humano apto para
pronunciar a própria língua (Adams et al, 2006).
O início do desenvolvimento fonológico normal é
freqüentemente associado ao balbucio; a aquisição do sistema
fonológico e de suas regras acontece, gradativamente, até por volta
dos sete anos de idade (Lowe,1996; Yavas, 1998; Wetzner in
Limongi, 2003).
As habilidades perceptivas da criança se encontram bastante
desenvolvidas antes dos primeiros enunciados significativos e são
37
importantes para identificar e compreender as palavras ouvidas
(Ingram, 1976; Fey,1992; Wetzner in Ferreira, 2005).
Pesquisas evidenciam a precocidade de funcionamento do
sistema perceptual da fala (Jusezyk, 1997). Os bebês demonstram
uma notável capacidade para perceber padrões de fala, ao
identificar a voz da mãe, discriminar contrastes fonêmicos e
descobrir as regularidades fonológicas, sintáticas e pragmáticas da
língua materna.
Em torno do primeiro ano tem início um novo período do
desenvolvimento fonológico da criança – a fase lingüística. O
crescimento perceptivo, motor e cognitivo dessa, bem como a
influência do meio, têm papéis indispensáveis nesse estágio de
aquisição da linguagem. A capacidade para compreender e produzir
vocábulos, ou desenvolvimento lexical está diretamente relacionada
à qualidade da interação comunicativa e dos modelos ofertados. É
com a mãe ou com o adulto substituto que a criança aprende a
interagir e internaliza padrões prosódicos, atribuindo significados
para os sons e para o silêncio, dando conteúdo comunicativo às
suas expressões verbais e não verbais e modulando a
38
comunicação. A falta desse “jogo de comunicação” compromete o
desenvolvimento da linguagem (Yopp, 1996, Branco in Hitos, 2008 ).
O último estágio do desenvolvimento fonológico acontece no
momento em que as crianças entram na escola. A criança nesse
estágio desenvolve a consciência metalingüística ou consciência
fonológica de forma lenta; nesta ocorre a segmentação dos
fonemas, que é o passo inicial da aprendizagem da leitura e da
escrita (McWhinney & Fletcher, 1997; Wetzner in Ferreira, 2006
Adams et al, 2006).
1.4 Consciência fonológica
Desde a década de 1970, pesquisas têm demonstrado
claramente a importância das habilidades da consciência fonológica
para a aquisição da leitura (Stanovich, 1984; Santos e Navas, 2002).
Consciência fonológica se refere às operações de
processamento de informações baseadas na fala, ou seja, na
estrutura fonológica da linguagem oral, e envolve as memórias de
trabalho e de longo prazo (Bradley & Bryant, 1983).
39
A consciência fonológica é a capacidade de focalizar a
atenção sobre os segmentos sonoros da fala, identificá-los ou
manipulá-los; trata-se de uma capacidade metalingüística - um
conhecimento metafônico (Ávila, in Ferreira, 2005).
Os processos auditivos e fonológicos permitem a percepção, a
discriminação e a categorização dos sons da língua materna; para
que isso ocorra de modo adequado é necessário que a criança dirija
sua atenção, seletivamente, aos estímulos e aos modelos de
locução. Os padrões de sons emitidos e repetidos pelos
interlocutores propiciam as pistas para a aquisição dos padrões
fonêmicos da língua e para a segmentação do fluxo da fala em
unidades de significado, possibilitando a compreensão dos
enunciados (Nadeau, 2000).
Segundo Capovilla & Capovilla (1998), o conceito de
“consciência fonológica” alude ao conhecimento sobre a
segmentação da fala e a habilidade em manipular tais segmentos.
Essa consciência fonológica é adquirida gradualmente durante o
desenvolvimento, quando a criança vai reconhecendo que frases,
palavras, sílabas e fonemas são unidades separadas e
identificáveis.
40
A linguagem escrita é um complexo sistema de representação
e comunicação que apresenta propriedades específicas em relação
à linguagem oral, não se reduzindo, portanto, à mera transcrição da
fala. Para se alfabetizar, é necessário que se compreenda que a
linguagem escrita representa a pauta sonora das palavras, através
da correspondência entre grafemas e fonemas, assim como se
compreender as funções e especificidades da linguagem escrita.
Dessa forma, é preciso ser capaz de desprezar momentaneamente
o significado (componente semântico) da palavra, dirigindo-se a
atenção no significante ou aspecto fonológico da mesma, uma vez
que esse último é que deve ser representado a partir das letras
(Godoy, 2003)
Para Tomasello, Kruger & Ratner (1993) a capacidade
metalingüística se relaciona à compreensão de estratégias
subconscientes para explicar a linguagem através da própria
linguagem.
“O aprendizado de leitura-escrita faz parte do continuum de
conhecimentos lingüísticos adquiridos pelo indivíduo ao longo da
vida. A leitura e a escrita marcariam os estágios superiores do
41
desenvolvimento lingüístico, um processo que pressupõe etapas
interdependentes e hierarquizadas” (Branco in Hitos, 2008).
A dificuldade de desenvolver a consciência fonológica pode
estar relacionada a um déficit fonológico expressivo de caráter geral,
que impediria a evocação da codificação fonológica existente na
memória operacional. Segundo Hitch, 1984, o termo memória
operacional passou a ser utilizado por Baddeley & Hitch, a partir de
1974, para descrever o sistema de memória que se caracteriza por
um sistema de capacidade limitada encarregado de armazenar
brevemente as informações em um código fonético Para estes
autores, a memória operacional tem importante papel enquanto
subsídio para diversas atividades cognitivas diárias, por exemplo, o
raciocínio, a compreensão de linguagem, o aprendizado em longo
prazo e a aritmética mental.
“A consciência fonológica funcionaria como uma pré-condição
para o aprendizado das escritas alfabéticas e está relacionada à
competência da criança em linguagem falada” (Branco in Hitos,
2008). Assim, os transtornos manifestados na aprendizagem da
leitura, por dificuldade específica no processamento fonológico,
podem ter origem na aquisição da linguagem oral.
42
1.5 Discurso narrativo
O discurso narrativo marca a fase final do desenvolvimento da
linguagem e a passagem obrigatória do diálogo para o monólogo
(Manola, 2006).
Narrar é fazer um relato de determinada seqüência de
acontecimentos, reais ou inventados com representação de
temporalidade (Cabral, 1989).
“A aquisição da narrativa é um indício importante de uma nova
relação da criança com a linguagem. É o momento em que ela não
depende mais da interpretação do interlocutor, em que a progressão
de seu discurso já repousa sobre sua própria possibilidade de,
interpretando o já dito, lançar o que está por dizer” (Perroni, 1992).
O desenvolvimento da narrativa na criança é um processo
histórico-cultural que ocorre por meio das interações com o mundo
físico e psíquico através de atos lingüísticos sob a forma de
enunciados da língua (Takemoto, 2005).
Nos estudos de Burman & Medeiros in Mac-Kay (1999), o
processo de desenvolvimento do texto narrativo é entendido como o
produto da interação verbal e a formação do sujeito, pressupondo
algumas marcas: a) a apresentação de acontecimentos; b) a
43
utilização dos marcadores: daí, aí, e... ; c) o ordenamento temporal
e seqüencial dos fatos; d) a recorrência aos tempos verbais; e) a
repetição para a confirmação de sentidos; e o surgimento do
aspecto lúdico.
Para Vygotsky (1998), por meio de interações sócio-culturais,
a criança desenvolve a capacidade de assimilar gradativamente a
representação simbólica do mundo através da linguagem. O
desenvolvimento ocorre em dois planos, o plano social –
interpsicológico e o plano individual – intrapsicológico. Segundo este
autor, o desenvolvimento e o funcionamento mental são
determinados pela linguagem humana e intervêm na formação e
funcionamento de todas as funções psicológicas. Nessa visão, a
linguagem possibilita a representação mental, oferecendo a
oportunidade de pensar, imaginar, e, portanto, narrar.
Bakhtin (1992) ressalta que a importância da linguagem não
se encontra nas palavras, mas no sentido que elas assumem no
contexto da interação verbal: “A verdadeira substância da língua não
é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem
pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico
de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal,
44
realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação
verbal constitui assim a realidade fundamental da língua” (Bakhtin,
1992).
1.6 Recontagem de estória
A recontagem de estórias é uma habilidade específica do
discurso narrativo que pressupõe o uso de estratégias pragmáticas
(John, 2001).
O ato de recontar estórias exige habilidades metacognitivas,
como: atenção focada à informação auditiva, organização temporal
dos fatos narrados, extração do significado, memória, reconstrução
dos fatos linguísticos usando a memória operacional, estratégias de
julgamento das memórias de longo prazo, e coerência (Purvis &
Tannock, 1997).
A tarefa de recontagem de estórias requer: organização,
planejamento e auto-monitoramento (regulação executiva),
habilidades que se encontram deficientes nas crianças com TDA/H.
(John, 2001).
45
A recontagem de estórias tem sido usada como estratégia de
avaliação de linguagem em crianças com TDA/H. Estudos
demonstram a existência nessa população de déficits significativos
na compreensão, na recordação e na estruturação de estórias
(Francis, Fine e Tannock, 2001).
1.7 Fluência
“Fluência se refere ao fluxo contínuo e suave de produção da
fala” (Starkweather & Givens-Ackerman, 1997). A fluência, ou
melhor, a fala fluente se encontra diretamente relacionada ao
desenvolvimento e ao equilíbrio dos processamentos cerebrais:
motores, auditivos, prosódicos e lingüísticos (Andrade in Ferreira,
2005). Fatores ambientais também apresentam forte relação com a
fluência.
A fluência é um acontecimento complexo que ocorre a partir da
interação de três dimensões que envolvem o falante: orgânica,
psíquica e social. A dimensão orgânica se refere às condições
biológicas; a psíquica, às condições subjetivas; e a social, à cultura.
“Fluir na fala é a ação de um sujeito que elabora enunciados e
46
discursos, que pretendem dizer algo de si para alguém, em algum
tempo e lugar” (Friedman in Ferreira, 2005).
No córtex pré-frontal se inicia o processamento da decisão de
falar, a mensagem gerada é transmitida ao córtex motor da fala que
potencializa uma programação motora complexa. Há uma interação
com os gânglios da base (que funciona também como sistema
inibitório) e com o cerebelo que possibilita a coordenação e a
suavidade dos movimentos. Em seguida, os neurônios motores
superiores e inferiores ativam a musculatura específica das
estruturas periféricas da fala (lábios, língua, mandíbula, laringe,
palato) resultando na articulação dos sons da fala (Andrade in
Ferreira, 2005).
Segundo Perkins et al (1991), o padrão de fluência se relaciona
ao controle cerebral de dois sistemas neurais. Esses devem operar
em um equilíbrio temporal antes que a mensagem gerada chegue
ao córtex motor. O primeiro é o sistema simbólico (composto pelos
componentes cognitivos e lingüísticos), e o segundo é o sistema de
sinais (composto pelos componentes prosódicos e paralinguísticos
da língua).
47
Para Zebrowski (1995), durante a aquisição e desenvolvimento
da linguagem ocorrem períodos variáveis no grau de fluência
decorrente das incertezas morfo-sintático-semânticas e do
amadurecimento neuromotor para os atos da fala. A maioria das
crianças supera com sucesso esses períodos (cerca de 80%);
aquelas que não superam, tendem à disfluência crônica, podendo
evoluir para a gagueira.
A gagueira é considerada uma patologia na qual a disfluência
não se recupera e o falante apresenta interrupções, quebras e
outras marcas no fluxo de fala que comprometem a qualidade da
emissão (Andrade, 2005).
1.8 Pragmática
A pragmática estuda os aspectos funcionais da linguagem –
uso da linguagem (Fernandes, 2002).
A pragmática se concentra nos aspectos do significado que
não dependem somente do conhecimento lingüístico, mas, levam
em conta o conhecimento sobre o mundo físico e social: a relação
48
da linguagem e seu usuário e as aplicações que o usuário faz da
linguagem (Prutting, 1982).
O ato de falar acontece em um contexto sociocultural e com
uma intenção psicológica. Dentro dessa perspectiva, o ato de falar
carrega em si o que a lingüística chama de fatores de textualidade,
que são classificados em: fatores lingüísticos – coesão, coerência e
intertextualidade, e fatores extralingüísticos – intencionalidade,
aceitabilidade, informalidade e situacionalidade (Bachman, 2003).
. De modo sintético, pode-se dizer que o campo de estudo da
pragmática se relaciona a aplicação e a eficiência das várias formas
de discurso nas várias situações de fala. A pragmática se ocupa
com os fatores fonológicos, semânticos e sintáticos da fala, seu
contexto e, explica seus diferentes usos expressando a
competência do falante e do ouvinte em um ato comunicativo
(Borges e Salomão, 2003).
49
2 OBJETIVOS
Este trabalho teve como objetivos:
a) Avaliar o tipo e a freqüência das alterações da linguagem
oral em crianças com TDA/H;
b) Verificar a evolução desses distúrbios após um período de
dois meses de tratamento com metilfenidato;
50
3 MÉTODO
3.1 Casuística
Foram avaliadas sessenta (60) crianças, sendo que vinte e
quatro (24) foram excluídas e trinta e seis (36) crianças de ambos
os sexos, de idade entre sete e 14 anos foram incluídas neste
estudo. Todas apresentavam diagnostico de TDA/H, segundo os
critérios do DSM-IV, e formaram o grupo TDA/H. Trinta e quatro (34)
crianças formaram o grupo controle. Portanto, setenta (70) crianças
fizeram parte do estudo.
Os pacientes foram avaliados no Ambulatório de TDA/H do
Serviço de Neurologia Infantil do Instituto Central (IC) do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e o
grupo controle foi avaliado em uma escola.
Foi realizada reavaliação fonoaudiológica no grupo de crianças
com TDA/H após dois meses de tratamento medicamentoso (32
crianças).
51
3.1.1 Critérios de inclusão:
a) Quociente de Inteligência (QI), segundo o WISC-III, maior
ou igual a 85;
b) freqüência à escola regular;
c) português como língua materna;
d) colaboração com o processo de avaliação;
e) aceitação da participação na pesquisa e assinatura de
termo de compromisso.
3.1.2 Critérios de exclusão:
a) recusa em participar da pesquisa ou falta de colaboração
durante o processo de avaliação;
b) apresentar co-morbidades psiquiátricas definidas
c) presença de déficits sensoriais
d) não realizar todos os testes propostos no início do estudo.
52
3.2 Métodos
Foram aplicados os seguintes métodos de avaliação:
a) Anamnese Fonoaudiológica;
b) Avaliação Clínica-Fonoaudiológica do Sistema
Estomatognático e da Função Respiratória (órgãos fono-
articulatórios-OFA);
c) Avaliação da Discriminação Auditiva pelo protocolo de Yopp
(1988);
d) Avaliação das Praxias Orais;
e) Teste de Imitação – Teste de Linguagem Infantil nas áreas
de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática (ABFW);
f) Teste de Vocabulário – Boston Naming test;
g) Análise do Discurso Narrativo;
h) Avaliação do Discurso Narrativo em uma tarefa de
recontagem de estória;
i) Protocolo de registro do desempenho da criança em todas
as provas;
53
j) Registro dos dados de desempenho nas tarefas de memória
do exame neuropsicológico, fornecidos pela neuropsicóloga do
ambulatório de TDA/H;
k) Questionário de SNAP-IV.
O protocolo de pesquisa foi aprovado pela Comissão de Ética
para Análise de Pesquisa da Diretoria Clínica do HC-FMUSP.
Todos responsáveis pelas crianças assinaram do “Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido”, consentindo, desta forma, com
a realização e divulgação desta pesquisa e seus resultados.
3.3 Procedimentos
A avaliação foi aplicada por ocasião do estabelecimento do
diagnóstico médico, antes da introdução de medicamentos
estimulantes.
A reavaliação foi realizada em período que variou de 16 a 60
dias de uso de estimulante.
A terapia medicamentosa foi prescrita e assistida, durante todo
o período da pesquisa, pelo neurologista infantil responsável pelo
54
Ambulatório de TDA/H do HC-FMUSP. A medicação utilizada foi
sempre o metilfenidato, na dose de 0.3-0.5 mg/kg/dose, em duas
administrações, com intervalo de 4-6 horas
A avaliação e a reavaliação foram realizadas individualmente
em duas ou três sessões de trinta minutos na sala de consulta
ambulatorial.
As respostas das crianças nos testes fonoaudiológicos foram
registradas e analisadas em protocolo desenvolvido para esse
estudo (em anexo).
3.3.1 Anamnese fonoaudiológica
Foi realizada anamnese com os pais da criança sobre:
gestação, parto, desenvolvimento da linguagem, desenvolvimento
neuropsicomotor, saúde geral, escolaridade do cuidador, renda
familiar, histórico familiar, rotina, histórico escolar, comportamento e
queixas.
3.3.2 Avaliação clínica-fonoaudiológica do sistema estomatognático
e da função respiratória
55
A examinadora observou:
a) oclusão dentária
b) palato duro
c) mobilidade do palato mole
d) articulação têmporo mandibular
e) orofaringe e amígdalas
f) tonicidade de lábios, língua e bochechas
g) mobilidade de lábios, língua e bochechas
h) frênulo lingual
i) frênulos labiais
j) fluxo nasal com auxílio de um espelho colocado logo abaixo
das narinas durante 30 segundos
k) postura dos lábios em repouso
Ao final, a examinadora classificou cada item como adequado
ou alterado. A postura dos lábios em repouso foi classificada em
lábios abertos, entreabertos ou fechados. Foram considerados
respiradores orais aqueles pacientes que apresentaram alterações
56
do fluxo nasal e cuja postura dos lábios permaneceu entreaberta ou
aberta durante todo o teste.
3.3.3 Avaliação da discriminação auditiva, segundo Yopp, (1988).
O teste contém 30 pares de palavras foneticamente
semelhantes que foram lidas para a criança, um par de cada vez,
sem fornecer pistas visuais. As crianças foram orientadas a
responder se as palavras de cada par eram iguais ou diferentes.
3.3.4 Avaliação das praxias orais
Foi aplicada uma bateria de provas práxicas composta por
movimentos que avaliaram os OFA, a qual continha: 19 provas de
movimentos de língua, 16 provas de movimentos de lábios, quatro
provas de movimentos de bochechas, quatro de mandíbula e uma
de palato mole.
A examinadora solicitava um movimento à criança; quando a
criança não compreendia ou apresentava dificuldade na realização
da tarefa, uma segunda e, se necessária, uma terceira oportunidade
57
era dada. Quando a criança não conseguia realizar a tarefa após
três tentativas, considerava-se como erro.
3.3.5 Teste de imitação do protocolo do Teste de Linguagem Infantil
nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática - ABFW
Essa prova avaliou o inventário fonético de cada participante.
A examinadora pediu à criança para repetir palavras de uma lista de
39 vocábulos foneticamente balanceados. O teste foi gravado, as
respostas foram transcritas foneticamente e posteriormente
analisadas seguindo os critérios do teste.
Segundo o teste são consideradas alterações: omissão
(ausência fonêmica na palavra), substituição (troca de um fonema
por outro) e distorção (desvios audíveis na produção do fonema).
3.3.6 Teste de vocabulário – Boston Naming test
A examinadora seguiu o procedimento indicado pelos autores
do teste (Kaplan et al., 1983). Foram apresentadas figuras em
pranchas individuais e a criança recebeu a instrução para nomear
58
cada figura em até 20 segundos. Quando a resposta era correta, a
examinadora passava para outra figura dando continuidade ao teste
(total de 60 figuras). Quando a resposta apresentava aproximação
ou falha na percepção da figura, a examinadora fornecia uma pista
semântica como estímulo, indicada pelo autor do teste. Após essa
pista, se a criança não conseguia nomear a figura, outra pista era
fornecida, dessa vez uma pista fonológica (som inicial da palavra
alvo). Foram computadas as respostas corretas diretas, o número
de pistas semânticas e fonológicas, bem como o número de acertos
após cada tipo de pista.
3.3.7 Avaliação do discurso narrativo
A criança contou uma estória do tipo “Conto de Fadas”, que foi
gravada em arquivo MP3 e posteriormente analisada segundo os
critérios do Desenvolvimento do Discurso Narrativo de Perroni,
1992.
Segundo Perroni (1992), o discurso narrativo apresenta um
desenvolvimento que passa por quatro fases: protonarrativa, relato,
caso e estória (discurso narrativo).
59
3.3.8 Avaliação do discurso narrativo em uma tarefa de recontagem
de estória
A examinadora solicita a atenção da criança numa tarefa de
escutar uma estória que foi gravada por um ator oralmente (o texto
dura um minuto e 30 segundos). Em seguida, a examinadora pede
que a criança reconte essa história com as suas palavras. A
recontagem foi gravada e analisada segundo três critérios: a
gramática da estória (Glenn, 1992), número de orações, e também
número e tipo de erros (Tannock, et al, 2003).
A fluência foi analisada pelos critérios de tipologia das
disfluências (comuns e gagas) e velocidade de fala (fluxo de
palavras por minuto), do sub-teste de fluência do Teste ABFW.
A reavaliação da recontagem da estória foi realizada da
mesma forma usando-se nova estória estímulo que também foi
gravada por um ator oralmente (em anexo – estória estímulo 2).
60
3.3.9. Avaliação neuropsicológica
Esta avaliação constou de:
• WISC-III, área verbal: informação, semelhança, aritmética,
vocabulário e dígitos;
• WISC-III, área de execução: arranjo de figuras, cubos, código
e procurar símbolos;
• Perfil ACID (testes de maior predomínio de atenção):
aritmética, código, informação e dígitos;
• STROOP: teste de atenção inibitória;
• TMT: teste de atenção focada e alternada;
• fluência verbal: alça fonética e alça conceitual;
• RAVLT (Rey Auditory Verbal Learning Test): span-memória
imediata, curva de repetição, interferência, evocação breve e
evocação longa.
A neuropsicóloga avaliou as crianças individualmente durante
duas ou três sessões de uma hora. Posteriormente, realizou a
análise do material e disponibilizou os dados para o presente
trabalho.
61
3.3.10 Questionário de SNAP-IV
O questionário foi aplicado para um dos responsáveis pelo
paciente e para um de seus professores, de português ou de
matemática, do ano escolar vigente na época da avaliação
fonoaudiológica, sendo analisado posteriormente segundo o escore
determinado pelo SNAP.
3.3.11 Análise estatística
Para a análise estatística, inicialmente os grupos foram
comparados em relação às características demográficas (idade,
sexo e tipo de escola que freqüentavam). A idade foi comparada
através do teste t para amostras independentes e o sexo. O tipo de
escola foi comparado através do teste de qui-quadrado. Os demais
resultados foram comparados de acordo com o tipo de parâmetro
analisado, as variáveis categóricas pelo teste de qui-quadrado e as
numéricas, com distribuição contínua, pelo teste t para amostras
independentes.
62
Na impossibilidade da aplicação do teste de qui-quadrado
devido às baixas freqüências em determinadas categorias, foi
aplicado o teste exato de Fisher. A significância estatística foi
considerada para valores de p
63
3.3.13 Perfil comparativo dos grupos
Os critérios para a comparação entre os grupos foram: idade,
tipo de administração escolar, sexo, freqüência à escola (em anos),
instrução pré escolar e escolaridade.
Não houve diferença estatística significante entre as crianças
do grupo TDA/H e controle em relação à idade (p = 0,203), ou ao
tipo de escola (p = 0,484). Porém, foi identificada diferença
significante entre os grupos com relação ao sexo (p = 0,032), sendo
que no grupo TDA/H participaram mais meninos do que meninas e
no grupo controle participaram mais meninas do que meninos.
Tabela 1: Medidas resumo da idade das crianças (em meses) do
grupo TDA/H e do grupo controle
Grupo N Média d.p. Mínimo Mediana Máximo
TDAH 36 118,2 22,8 84 114 167 Controle 34 125,1 22,3 90 121,5 166
Comparação entre os grupos: p = 0,203 (teste t)
64
Tabela 2: Distribuição de acordo com o tipo de escola das crianças
do grupo TDA/H e do grupo controle
Escola TDAH N (%)
Controle N (%)
Total N (%)
Privada 21 (58,3) 17 (50,0) 38 (54,3) Pública 15 (41,7) 17 (50,0) 32 (45,7)
Total 36 34 70
Comparação entre os grupos: p = 0,484 (teste de Qui-quadrado)
Tabela 3: Distribuição de acordo com o sexo das crianças do grupo
TDA/H e do grupo controle
Sexo TDAH N (%)
controle N (%)
Total N (%)
Feminino 11 (30,6) 19 (55,9) 30 (42,9) Masculino 25 (69,4) 15 (44,1) 40 (57,1)
Total 36 34 70
Comparação entre os grupos: p = 0,032 (teste de Qui-quadrado)
Quanto ao tempo de permanência na escola, não houve
diferença significante (p = 0,978), sendo que o grupo controle
apresentou média de 3,71 anos e o grupo TDA/H média de 3,69
anos.
65
Quanto à instrução pré escolar, não houve diferença
significante entre os grupos (p = 0,493), sendo que 100% das
crianças do grupo controle e 94,44% daquelas do grupo TDA/H
freqüentou pré escola.
Quanto à escolaridade, não houve diferença significante entre
os grupos (p = 0,826). As crianças do grupo controle e TDA/H foram
pareadas pela série escolar.
66
4 RESULTADOS
4.1 Aspectos gerais
Das 36 crianças com diagnóstico de TDA/H avaliadas nesse
estudo, 11 (30,6%) eram do sexo feminino e 25 (69,4%) do sexo
masculino.
A idade das crianças variou de 7 anos a 13 anos e 11 meses,
e a média foi de 9 anos e 8 meses.
Vinte e uma (58,3%) crianças estudavam em escolas de
administração privada e 15 (21,7%), em regime público.
O número de anos de escolaridade foi de 3,69, em média.
A maioria das crianças, 35 (94,44%), tiveram instrução pré
escolar.
A renda familiar variou de meio a dez salários mínimos, sendo
a média igual a cinco salários mínimos (desvio padrão 1,204).
A escolaridade do cuidador (responsável pela educação da
criança) variou do ensino fundamental completo à pós-graduação,
67
sendo que a média ficou no nível médio completo (desvio padrão
1,748).
Das 36 crianças que participaram do estudo, 14 (38,89%)
procuraram o ambulatório de TDA/H HC-FMUSP por iniciativa da
família e 22 (61,11%) por encaminhamento da escola devido a
fracasso escolar.
4.2 Aspectos específicos: primeiro objetivo – comparação
entre o grupo TDA/H e o grupo controle
Avaliou-se o tipo e a freqüência das alterações da linguagem
oral em crianças com TDA/H e comparou-se com o grupo controle.
Seguem os resultados de cada teste.
4.2.1 Análise da avaliação clínica-fonoaudiológica do sistema
estomatognático e da função respiratória
Foram analisados os seguintes itens: oclusão dentária; palato
duro; mobilidade do palato mole; articulação têmporo mandibular;
orofaringe e amígdalas; tonicidade de lábios, língua e bochechas;
68
mobilidade de lábios, língua e bochechas; frênulo lingual e frênulos
labiais, e padrão de fluxo aéreo (nasal ou oral). Para fins de análise,
cada item foi considerado adequado ou alterado.
Quanto à oclusão dentária, a diferença entre os grupos não foi
considerada significante (p = 0,054), sendo que alterações
ocorreram em 21 (58,33%) crianças do grupo TDA/H e 12 (35,29%)
do grupo controle.
Quanto ao palato duro, a diferença entre os grupos foi
significante (p = 0,009), sendo que 14 (38,89%) crianças do grupo
TDA/H e 4 (11,76%) do grupo controle apresentaram alterações.
Quanto à mobilidade do palato mole, a diferença não foi
significante (p = 0,055), sendo que sete (19,44%) crianças do grupo
TDA/H e uma (2,94%) do grupo controle apresentaram alterações.
Quanto à articulação têmporo mandibular, a diferença entre os
grupos não foi significante (p = 0,107), sendo que seis (16,67%)
crianças com TDA/H e uma (2,94%) criança do grupo controle
apresentaram alterações.
Quanto à orofaringe e amígdalas, a diferença entre os grupos
foi significante (p
69
TDA/H apresentaram alterações e no grupo controle apenas oito
(23,53%).
Quanto à tonicidade dos OFA – lábios, língua e bochechas- a
diferença entre os grupos foi significante (p = 0,002), sendo que 24
(66,67%) crianças do grupo TDA/H e 10 (29,41%) do controle
apresentaram alterações.
Quanto à mobilidade dos OFA, a diferença entre os grupos foi
significante (p = 0,001), sendo que 24 (66,67%) crianças com
TDA/H e nove (26,47%) do grupo controle apresentaram alterações.
Quanto aos frênulos labiais e linguais, não foram encontradas
alterações tanto nas crianças do grupo TDA/H, como no grupo
controle.
O padrão de fluxo aéreo apresentou diferença significante
entre os grupos (p = 0,0051), sendo que 22 (61,11%) crianças do
grupo TDA/H e 6 (17,65%) do grupo controle apresentaram
alterações.
Em resumo, o grupo TDA/H apresentou alteração significante
em relação ao grupo controle nos itens: palato duro, orofaringe/
amígdalas, bem como tonicidade e mobilidade dos OFA. A
70
incidência de alterações na oclusão e no padrão de fluxo aéreo foi
limítrofe do ponto de vista da significância.
4.2.2 Análise da discriminação auditiva
A diferença entre os grupos foi significante (p
71
13 (36,11%) crianças do grupo TDA/H e em cinco (14,71%) do
grupo controle.
Tabela 5: Distribuição das alterações nas Praxias orais entre o
grupo TDA/H e o grupo controle
GRUPO N Normal Alterada P TDA/H 36 23 (63,89%) 13 (36,11%)
Controle 34 29 (85,29%) 5 (14,71%) 0,041
4.2.4 Análise dos resultados do teste de imitação do protocolo
ABFW
A articulação dos sons da fala foi avaliada através do teste de
imitação do protocolo ABFW. Analisou-se a freqüência e o tipo de
alteração nos grupos.
Em relação à freqüência de alterações na articulação da fala, a
diferença foi significante entre os grupos (p = 0,023). No grupo
TDA/H, 14 (38,89%) crianças apresentaram alterações e no grupo
controle, apenas 5 (14,71%).
72
Quanto ao tipo de alterações fonêmicas da articulação, foram
encontradas distorções, omissões e trocas, isoladads ou em
combinação.
A distribuição das alterações fonêmicas da articulação nos
dois grupos, TDA/H e controle, está ilustrada na Tabela 6.
Tabela 6: Distribuição das alterações no teste de imitação entre o
grupo TDA/H e o grupo controle
Alterações TDAH Controle D 4 (11,11%) 1 (2,94%) O 1 (2,78%) 0 T 0 1 (2,94%)
D/O 1 (2,78%) 0 D/T 6 (16,67%) 3 (8,82%)
D/T/O 2 (5,56%) 0 D: distorção; O: omissão; T: troca
No grupo controle: uma criança apresentou distorção (2,78%),
uma (2,78%), troca e três (8,82%) apresentaram a combinação de
distorção e troca de fonemas.
No grupo TDA/H: quatro crianças (11,11%) apresentaram
distorção, uma criança (2,78%), omissão, uma criança (2,78%),
73
distorção e omissão, e duas crianças (2,56%) apresentaram
distorção, troca e omissão de fonemas.
4.2.5 Análise do teste de vocabulário – Boston Naming Test
O teste de Boston contabiliza as resposta corretas
espontâneas, as respostas corretas após a apresentação de pistas
semânticas e/ou fonológicas e o total de acertos.
As diferenças entre os grupos foi significante em relação às
respostas corretas espontâneas (p = 0,001), às respostas corretas
após pistas fonológicas (p = 0,021) e ao número total de acertos (p
74
Em relação às respostas corretas espontâneas, o grupo
TDA/H apresentou média de 35,06 (58,43%) e o grupo controle, de
41,35 (68,92%) - (p = 0,001).
Tabela 8: Distribuição do número de respostas corretas após pista
fonológica no teste de vocabulário entre o grupo TDA/H e o grupo
controle
GRUPO N Média % DP P TDA/H 36 5,19 8,65 2,75
Controle 34 6,74 11,23 2,70 0,021
Em relação às respostas corretas após pista fonológica, o
grupo TDA/H apresentou média de 5,19 (8,65%) e o grupo controle,
de 6,74 (11,23%) - (p = 0,021).
Tabela 9: Distribuição do número total de respostas corretas no
teste de vocabulário entre grupo TDA/H e o grupo controle
GRUPO N Média % DP P TDA/H 36 41,78 69,63 7,82
Controle 34 49,44 82,40 4,95
75
Em relação ao total de respostas corretas, o grupo TDA/H
apresentou média de 41,78 (69,63%) e o grupo controle, de 49,44
(82,40%) – (p
76
4.2.7 Análise da avaliação do discurso narrativo em uma tarefa
de recontagem de estória
4.2.7.1 Número de frases
A diferença entre os grupos quanto ao número de frases
relatadas na tarefa de recontagem, tendo como base a estória
estímulo 1 (26 frases), foi significante (p = 0,001). O grupo TDA/H
apresentou média de 8,83 (33,96%) frases e o grupo controle de
12,62 (48,54 %) (Tabela 11).
Tabela 11: Distribuição do número de frases relatadas na tarefa de
recontagem de estória entre o grupo TDA/H e o grupo controle
GRUPO N Média % DP P TDA/H 36 8,83 33,96 4,67
Controle 34 12,62 48,54 4,43 0,001
4.2.7.2 Freqüência e tipo de erros
77
Quanto à freqüência de erros na tarefa de recontagem de
estória, a diferença foi significante entre os grupos (p = 0,001). O
grupo TDA/H apresentou média total de erros de 5,75 e o grupo
controle de 3,32 (Tabela 12).
Tabela 12: Distribuição do número total de erros entre o grupo
TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de estória
GRUPO N Média % DP P TDA/H 36 5,75 22,12 3,76
Controle 34 3,32 12,77 1,9 0,001
Quanto ao tipo de erro, a diferença foi significante apenas para
o erro de interpretação incorreta (p
78
A diferença não foi significante para os seguintes tipos de
erros: seqüência (p = 0,825), substituição (p = 0,348), referência
ambígua (p = 0,222), acréscimo fictício (p = 0,061) e repetição (p =
0,058) (Tabelas 14 a 18).
Tabela 14: Distribuição da freqüência de erros de seqüência entre
grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de estória
GRUPO N Média DP P TODA/H 36 0,28 0,57 Controle 34 0,32 1,06 0,825
Tabela 15: Distribuição da freqüência de erros do tipo substituição
entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de
estória
GRUPO N Média DP P TODA/H 36 0,83 0,91 Controle 34 0,65 0,73 0,348
79
Tabela 16: Distribuição da freqüência de erros do tipo referência
ambígua entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de
recontagem de estória
GRUPO N Média DP P TODA/H 36 1,28 1,78 Controle 34 0,82 1,27 0,222
Tabela 17: Distribuição da freqüência de erros do tipo acréscimo
fictício entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de
recontagem de estória
GRUPO N Média DP P TODA/H 36 0,81 1,71 Controle 34 0,24 0,5 0,061
Tabela 18: Distribuição da freqüência de erros do tipo repetição
entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de
estória
GRUPO N Média DP P TODA/H 36 1,03 1,23 Controle 34 0,85 0,96 0,058
80
4.2.7.3 Gramática da estória
A gramática da estória foi analisada através da presença ou
ausência dos seguintes elementos pertencentes a estória original:
cenário, resposta interna 1, evento iniciador 1, tentativa 1,
conseqüência 1, evento iniciador 2, resposta interna 2, tentativa 2 e
conseqüência 2.
A diferença foi significante, entre os grupos, em relação à
presença de resposta interna 1 (p = 0,009), do evento iniciador 1 (p
= 0,004) e do evento iniciador 2 (p = 0,028) (Tabelas 19 a 21).
Tabela 19: Distribuição do elemento resposta interna 1 entre o
grupo TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
INCIDÊNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausência 25 (69,44%) 13 (38,24%) Presença 11 (30,56%) 21 (61,76%) 0,009
Tabela 20: Distribuição do elemento evento iniciador 1 entre o grupo
TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
81
INCIDÊNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausência 10 (27,78%) 1 (2,94%) Presença 26 (72,22%) 33 (97,06%) 0,004
Tabela 21: Distribuição do elemento evento iniciador 2 entre o grupo
TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
INCIDÊNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausência 9 (25%) 2 (5,88%) Presença 27 (75%) 32 (94,12%) 0,028
A diferença entre os grupos não foi significante, em relação à
presença de cenário (p = 0,493), de tentativa 1 (p = 0,144), de
conseqüência 1 (p = 0,167), de resposta interna 2 (p = 0,496), de
tentativa 2 (p = 0,420) e de conseqüência 2 (p = 0,663) (Tabelas 22
a 27).
Tabela 22: Distribuição do elemento cenário entre o grupo TDA/H e
o grupo controle na análise da gramática da estória
INCIDÊNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausência 2 (5,56%) 0 Presença 34 (94,44%) 34 (100%) 0,493
82
Tabela 23: Distribuição do elemento tentativa 1 entre o grupo TDA/H
e o grupo controle na análise da gramática da estória
INCIDÊNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausência 28 (77,78%) 21 (61,76%) Presença 8 (22,22%) 13 (38,24%) 0,144
Tabela 24: Distribuição do elemento conseqüência 1 entre o grupo
TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
INCIDÊNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausência 14 (38,89%) 8 (23,53%) Presença 22 (61,11%) 26 (76,47%) 0,167
Tabela 25: Distribuição do elemento resposta interna 2 entre o grupo
TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
INCIDÊNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausência 27 (75%) 23 (67,65%) Presença 9 (25%) 11 (32,35%) 0,496
83
Tabela 26: Distribuição do elemento tentativa 2 entre o grupo TDA/H
e o grupo controle na análise da gramática da estória
INCIDÊNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausência 15 (41,67%) 11 (32,35%) Presença 21 (58,33%) 23 (67,65%) 0,420
Tabela 27: Distribuição do elemento conseqüência 2 entre o grupo
TDA/H e o grupo controle na análise da gramática da estória
INCIDÊNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausência 23 (63,89%) 20 (58,82%) Presença 13 (36,11%) 14 (41,18%) 0,663
4.2.7.4 Fluência
A recontagem da estória foi transcrita literalmente e foram
seguidos os critérios para o registro dos eventos de disfluência do
sub-teste de fluência do Teste de Linguagem ABFW.
Analisou-se o tipo de disfluências – comuns e gagas-, a
velocidade de fala e a freqüência de rupturas.
84
Quanto ao tipo de disfluências, a diferença entre os grupos foi
considerada significante tanto para as disfluências comuns (p<
0,001), quanto para as gagas (p
85
Tabela 30: Distribuição do fluxo de palavras por minuto entre o
grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW
GRUPO N Média DP P TODA/H 36 87,15 41,37 Controle 34 112,5 28,13 0,004
Quanto ao fluxo de sílabas por minuto, a diferença entre os
grupos foi significante (p = 0,004), sendo que a média no grupo
TDA/H foi 146, 8 e no grupo controle foi de 189,63 sílabas por
minuto (Tabela 31).
Tabela 31: Distribuição do fluxo de sílabas por minuto entre o grupo
TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW
GRUPO N Média DP P TODA/H 36 146,8 72,3 Controle 34 189,6 46,08 0,004
86
Quanto à porcentagem de disfluências comuns, a diferença foi
significante entre os grupos (p
87
Em resumo, em todos os critérios usados na análise da
fluência a diferença foi significante entre os grupos: presença de
disfluências comuns e gagas, fluxo de palavras por minuto, fluxo de
sílabas por minuto, porcentagem de disfluências comuns e
porcentagem de disfluências gagas.
4.2.8 Análise do questionário SNAP-IV
O questionário foi dirigido ao cuidador e a um professor de
português ou de matemática do ano escolar vigente que a criança
freqüentava. Todos responderam. Não houve resistência do
cuidador em realizar a tarefa. O questionário direcionado ao
professor foi acompanhado de carta justificando sua aplicação e
solicitando colaboração; observou-se resistência dos professores
em responder o SNAP-IV em 6 casos (16,67%).
No grupo de crianças com TDA/H, dos questionários
direcionados aos professores, 31 (86,11%) apresentaram resultados
indicativos do quadro diagnóstico de TDA/H e cinco (13,89%) não
indicativos. Àqueles direcionados aos pais, 36 (100%) obtiveram
resultados indicativos de TDA/H.
88
4.3 Aspectos específicos: segundo objetivo – comparação
entre os momentos - inicial e após medicação
Após um período tratamento com metilfenidato que variou de
16 a 60 dias, os aspectos da linguagem oral foram reavaliados em
32 dos 36 pacientes com TDA/H e comparados com os achados
iniciais pré-tratamento. Quatro pacientes não aderiram ao
tratamento. Alguns itens da bateria de avaliação fonoaudiológica
não foram reavaliados por se tratarem de testes referentes a
aspectos pouco sensíveis ao tratamento medicamentoso -
avaliação clínica do sistema estomatognático e da função
respiratória.
O discurso narrativo através do relato de conto de fadas não
foi reavaliado, visto