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1 TEXTO DO CAPÍTULO 6 da segunda edição do Livro MITOLOGIA SIMBÓLICA HADES Maria Zelia de Alvarenga Terminada a luta de Zeus e seus aliados contra Crono e demais Titãs, o Universo foi dividido em três níveis, configurando impérios, e Hades tornou-se rei das entranhas da Terra, “seio das trevas brumosas”, como fala Junito Brandão (1986:311). Os Ciclopes armaram-no com o capacete que lhe conferia a invisibilidade, donde, segundo Brandão, a falsa etimologia de não) ver), ou seja, o que não se vê. Hades, o deus, era tão temido que seu nome não era pronunciado, por receio de desencadear-lhe a cólera. Quando invocado, o era por eufemismos como Plutão, o rico, pelo fato de receber inumeráveis hóspedes e possuir riquezas das profundezas, sustentação das produções de toda agricultura. Hades teme a atuação do “Treme-Treme”, epíteto de Posídon, pois somente ele, por meio de seus abalos terrestres, poderia mostrar seu reino aos olhos mortais. Hades, nome do local onde reina Hades ou Plutão, era um abismo das entranhas da Terra. Três possíveis localizações de sua entrada são relatadas: Cabo Tênaro, região sul do Peloponeso, ou através de uma caverna perto de Cumas, sul da Itália, por onde adentrou Enéias, como também em pleno oceano, conforme relato de Homero, por onde

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TEXTO DO CAPÍTULO 6 da segunda edição do Livro MITOLOGIA SIMBÓLICA

HADES

Maria Zelia de Alvarenga

Terminada a luta de Zeus e seus aliados contra Crono e demais Titãs, o

Universo foi dividido em três níveis, configurando impérios, e Hades tornou-se rei das

entranhas da Terra, “seio das trevas brumosas”, como fala Junito Brandão (1986:311).

Os Ciclopes armaram-no com o capacete que lhe conferia a invisibilidade, donde,

segundo Brandão, a falsa etimologia de não) ver), ou seja, o que não se vê.

Hades, o deus, era tão temido que seu nome não era pronunciado, por receio de

desencadear-lhe a cólera. Quando invocado, o era por eufemismos como Plutão, o rico,

pelo fato de receber inumeráveis hóspedes e possuir riquezas das profundezas,

sustentação das produções de toda agricultura. Hades teme a atuação do “Treme-

Treme”, epíteto de Posídon, pois somente ele, por meio de seus abalos terrestres,

poderia mostrar seu reino aos olhos mortais.

Hades, nome do local onde reina Hades ou Plutão, era um abismo das

entranhas da Terra. Três possíveis localizações de sua entrada são relatadas: Cabo

Tênaro, região sul do Peloponeso, ou através de uma caverna perto de Cumas, sul da

Itália, por onde adentrou Enéias, como também em pleno oceano, conforme relato de

Homero, por onde entrou Ulisses quando buscou esclarecimentos com Tirésias.

***

Saber de Hades1 representa, simbolicamente, povoar-se do recolhimento

próprio da introversão, condição propiciadora de reflexões que possibilitam perceber as

ideações intuitivas. Hades é o guardião dos sonhos mais incorpóreos, que permanecem

distantes, muito distantes do campo da consciência, porém desejosos de realização.

Falar de Hades implica necessariamente saber de sua polaridade oposta

configurada em seu irmão Zeus, com quem, por expressar o seu duplo, constitui o par

complementar portador de características antinomiais, seu irmão Zeus. O regente

olímpico é a atualização da possibilidade do ser social, do ser no mundo, da capacidade

1. Todos os dados referentes à mitologia, presentes neste capítulo devem-se a: Brandão (1986, 1988, 1991, 1992); Bolen (2002); Calasso (1996); Hesíodo (2003); Kerennyi (1994); Homero (1987, 2001,2002); Eurípides (1993); Apuleio (1969); Otto (2004, 2005; 2006A, 2006B)

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relacional com os outros concretos ou simbólicos, do ser político, do ser regente, pai,

protetor, etc. Figura mítica arquetípica, por seus incontáveis casamentos, expressa a

função de fecundador e do Deus Faber, criador de famílias míticas, gestadoras da

humanidade. Manifestar-se como herói, amante, competidor, entre outros, faz parte de

sua “história”. Seus filhos, seus confrontos e lutas, bem como suas hierofanias,

configuram aspectos dos diferentes caminhos de humanização pelos quais a estruturação

do símbolo poderá se fazer. Assim, o arquétipo do masculino (expresso como Pai, Filho,

Amante, Amado, Guerreiro, Conquistador, Herói, Amigo e tantos outros aspectos), ao

se atualizar pela imagem arquetípica de Zeus, poderá seguir um processo de

humanização segundo o referencial dos vários mitologemas que compõem o seu mito.

Os mitologemas componentes do mito de Zeus e, igualmente, os de Hades representam

momentos de grande significado, constituindo aspectos imprescindíveis à compreensão

do caminho de humanização do arquétipo. Eles nos permitem entender a relevância

estratégica das escolhas, casamentos e confrontos no processo de humanização

enquanto propiciatórios da atualização da realidade arquetípica em seu sentido mais ou

menos criativo de forma a criar condições para que o ser seja cada vez mais o que

nasceu para ser.

De outra parte, Hades, divino regente do mundo dos mortos pode ser

entendido simbolicamente como a capacidade de reflexão e introspecção, condição

indispensável para que as transformações de alma ocorram, sem a qual a possibilidade

da consciência, como um vir a ser em atualização pelos caminhos de humanização de

Zeus, não teria substrato nem seria realidade.

Hades é a expressão da possibilidade do recolhimento necessário quando a

elaboração simbólica pontifica; é a expressão da possibilidade do processo de

ensimesmamento, que gesta pelas funções intuitiva e pensamento, a concepção de

idéias, dos conceitos, dos filhos do tempo novo. Hades é a melhor expressão da

metanóia, do casamento interior, do encontro de si consigo mesmo, da integração de

alma, da coniunctio oppositorum em sua plenitude maior. Hades é a expressão da

possibilidade da atualização da consciência da finitude, da consciência da aceitação do

morrer como condição intrínseca do existir.

O divino Plutão, seu outro nome, representa a fidelidade a sua anima, e

dessa forma, seu casamento com Perséfone é único e exclusivo. Segundo o mito, Hades

esteve interessado em outras criaturas femininas como relata Brandão (1991;475) e

Bolen (2002, 119). Todavia, como casal, Hades e Perséfone representam os amantes e

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tão somente a condição de serem amantes, eternos amantes um do outro, representações

simbólicas complementares de anima e animus respectivos. O casal, regente dos ínferos,

não configura a representação de pai e mãe, mas sim e tão somente o casal

amante/amado.

A autonomia da anima de Zeus-Hades, expressa na figura de Perséfone,

surge tão grandiosa, tão divinamente poética, como configuração da metáfora das

metáforas. Quando a deusa-anima-grão retorna à superfície, anunciando a chegada da

primavera, apresenta-se carregando em seus braços espigas e mais espigas de trigo.

Perséfone é a melhor possibilidade do ser consciente, profundamente

consciente de si mesma, certa de sua condição de ser Grão–Coré. Perséfone, ao

apresentar-se como trigo-cuore–alimento-pão–corpo, representa a vida que se alimenta

de vida, vida que provê a vida, vida que transforma a vida, grão que gesta o filho do

tempo novo. Perséfone, anima-grão que concebe com Zeus-Hades, e Zeus-Hades que

concebe com sua anima-grão, entregam-se à humanidade, na figura do filho Dioniso-

trigo como redenção, alimento e cura da alma.

A autonomia da anima de Hades-Zeus ctônio é a expressão da liberdade de

criar, da competência para criar e da necessidade intrínseca de criar.

Criar é uma das condições que traduz transformação. Para criar é

fundamental que o ser recupere a consciência de se saber divino e, portanto, Criador.

Somente então poderá individuar-se, ou seja, conceber-se como criatura ímpar.

***

Hades, como Zeus ctônio, gestou com Deméter o símbolo mais complexo da

integração, da conjunção. Gestou para si a mais complexa configuração da anima: Coré.

Zeus ctônio gestou o grão fecundante do homem, gestou sua parte mulher. E,

sincronicamente, a humanidade surgiu como criatura criada do filho devorado de Zeus-

ctônio-Hades com sua anima Coré - Perséfone. O filho Dioniso Zagreu nasce desse

encontro, e torna-se a melhor expressão do duplo ou hipóstase mais humana de Zeus-

Hades. Com Dioniso2 emerge a possibilidade de Zeus - Hades atualizar-se como

símbolo da criança divina, como filho sacrificial, redentor das criaturas humanas,

provedor e protetor, o que morre e renasce num processo de eterna renovação. Dioniso

2 Para mais detalhes sobre Dioniso, consulte o capítulo referente a este divino.

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Zagreu é  o divino mais humano já concebido. Assim o Zeus-ctônio-Hades, depois de

realizar sua melhor expressão de anima, concebe com ela própria a expressão máxima

da possibilidade de humanização.

Interessante pensar Hades como pai de Dioniso Zagreu, o mais humano dos

divinos, expressão plena do ciclo completo da vida, o que nasce, morre e renasce:

Hades, o divino que mais explicitamente não suporta a dor física, nem suporta a finitude

da vida, tem no filho seu par, duplo complementar, o que morre por despedaçamento,

renascendo para o novo tempo, símbolo de eterna renovação. Pai e filho, Hades e

Dioniso retratam antinomias e complementaridades, mesmo porque Dioniso é o corpo

que Hades não pode ser (Baptista, 2007). Hades-Zeus-ctônio, sempre leal e fiel a sua

anima, é o amante-amado e o próprio filho gerado: é a expressão do símbolo da

transformação. Walter F. Otto, em seu texto Dioniso, Mito y Culto (2006B), citando

Heráclito, relata que “Para el que brinca furioso, Hades y Dioniso son una misma

coisa. Dioniso es para él El dios de La locura salvaje, de La actividad de lãs

y de las , emparentadas con aquéllas. Y declara que este dios es el

propio Hades”. (pg. 88).

.

***

Hades deixou os ínferos por duas vezes: da primeira para raptar Coré,

simbolicamente sua anima, com quem estabeleceu núpcias no recôndito dos ínferos,

numa condição profunda de busca de alma; deixou os ínferos para conquistar a

completude. Sua primeira saída traduz a demanda do Self por estabelecer a coniunctio

oppositorum, sem o que transformação alguma pode ocorrer.

Da segunda vez Hades deixou os ínferos em decorrência do ferimento

sofrido em luta mantida com Héracles. O herói, a mando do primo Euristeu, no

cumprimento de suas tarefas purificadoras do crime cometido, e sob a égide de Hera,

deveria capturar o cão Cérbero e levá-lo para Micenas. Hades se opôs tenazmente. No

embate teve seu ombro direito ferido por flecha envenenada pela peçonha da Hidra de

Lerna. A dor foi tão grande que o senhor dos ínferos, incontinente, buscou Apolo no

sentido de ter sua ferida curada. E assim se deu: os serviços de Peã, epíteto de Apolo,

resultaram em alívio imediato, tão logo o bálsamo foi aplicado (Brandão-1991, p.476).

Interessante atentar para o fato de que o deus dos mortos não suporta a sensação da dor,

tão comum aos vivos, sensação essa que concorre para a estruturação da consciência

corporal. A dor talvez seja um dos primeiros veículos mobilizadores para se fazer (criar)

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consciência, por sua instância corporal, consciência que estrutura ego Os imortais

expressam a possibilidade dessas realidades primordiais, modelos de representação no

mundo, tornarem-se símbolos estruturantes da psique (Alvarenga: 1995). Esses

símbolos passam a forjar consciência coagulando o núcleo complexo egóico. Estímulos

e mobilizações relacionais são elementos propiciatórios para a emergência de símbolos

estruturantes da consciência (Byington: 1983).

Diante da sensação dolorosa, o primeiro movimento de todos os seres vivos

é evitá-la. O ser humano como os demais seres vivos fogem da causa da dor, encolhem-

se, escondem-se: sofrer a dor sempre causa desconforto desagradável. E, quanto mais

encolhido o ser permanece mais fica com a dor, e constata (toma consciência de) o que

dói, porque dói, onde dói. O encolhimento e/ou recolhimento do corpo propicia ao ser

humano a possibilidade de contatar mais profundamente com o próprio corpo (quando a

dor é física) e refletir sobre o fenômeno. Quando se depara com as dores da alma, o

recolhimento ocorre mais comumente com os introvertidos.

Na criança, quando a dor surge, o corpo se agita e, o choro vem

desesperado. No meu entender esta situação -sofrer a dor- representa uma das primeiras

condições que configura a solidão do abandono para o humano, se a mesma for vivida

sem a continência do colo que aconchega e estabelece o contorno, o limite do corpo. A

condição de conviver com o sofrimento, enquanto realidade da existência, estabelece os

primórdios da consciência patriarcal. O feto, o contido, e o continente –útero, bolsa

amniótica, placenta- são uma só realidade. O tempo-espaço do inconsciente está

configurado nessa condição primordial. O nascimento impõe a retirada desse paraíso

urobórico. A necessidade de nascer, já presente, irrompe como demanda e o primeiro

lampejo de consciência discriminadora ocorre e a realidade tempo-espaço até então

circular torna-se linear. À primeira inspiração contrapõe-se o grito, o choro do

nascimento. O primeiro berro é como: venci o desafio, nasci, e ao mesmo tempo: que

dor!

A consciência do tempo linear parece vir associada à consciência corporal.

O tempo do inconsciente é circular como também é circular, simbolicamente, o tempo

do mito. Podemos pensar que a primeira consciência do tempo como uma realidade

indefinida, como se interminável; e nessa condição, o sofrimento terá a conotação da

insuportabilidade, talvez similar à configuração simbólica retratada no mito de Hades. A

criança atendida e contida pelos braços/colo da mãe, contato físico amoroso que dá

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limite, continência ao corpo, compõe a dor como realidade finita e o sofrer

compartilhado e contido é muito mais suportável.

Os divinos são expressões simbólicas de grandes emoções, criatividade,

idéias, modelos de realização, mas, em si mesmos, são tão somente imagens

arquetípicas. O divino (o arquétipo) precisa humanizar-se, ou seja, estruturar

consciência reflexiva para se saber: fazer-se humano é criar consciência, consciência de

si mesmo. A dor, sendo um símbolo estruturante, ao ser sentida concorre para a

realização dessa tarefa.

Hades, imagem arquetípica, retrata neste mitologema, como a estruturação

simbólica da consciência pode ser vivida como dor insuportável. A dor física, quando

não contida, não assistida, configura abandono. O contato com a dor faz emergir a

demanda pela finitude, pela morte, concreta ou simbólica. O ferimento de Hades3,

causado pela flecha envenenada, é em tudo similar ao ferimento de Quíron, também

causado por Héracles, ferimento esse que provocaria a morte para os seres mortais. Em

sendo Quíron e Hades imortais, a morte não pode ocorrer com o que o sofrimento torna-

se interminável, parte integrante da eternidade, sem possibilidade de ser transformado4

O sofrimento, qualquer que seja, permanece como condição de ser

insuportável se o mesmo se mantiver eternamente alheio à própria identidade, como

corpo estranho. A dor, o sofrimento, o pathos, deixa de ser insuportável quando pode

ser elaborado e, na condição de símbolo estruturante, passa a compor a identidade,

transformando-se em realidade integrante da totalidade do indivíduo. A dor se torna

suportável quando, pela transformação, se faz símbolo estruturante da própria

identidade. Assim entendido, a individuação implica integrar as próprias

insuportabilidades.

3 O momento mítico referente ao ferimento, dor insuportável de Hades, fornece uma correlação simbólica importante. A ferida de morte, na divindade guardiã da morte, não pode durar para sempre. Precisa ser curada e o curador escolhido é Apolo, a divindade da racionalidade, da discriminação, da justa medida. O mito revela o quão importante é experimentar a consciência da morte, pela via dolorosa, porém dentro dos “limites” – apolíneos- suportáveis de dor. Permanecer com a consciência constante da morte é incompatível com o processo de vida-morte-vida, representado pelo casal Hades/Perséfone. O mitologema aponta para a possibilidade de transformar a ferida portadora da insuportabilidade da dor, via logos, via distanciamento racional. (Cordeiro,2007)4 Hades não determina quem deve ou não morrer; quem o faz são as Trias ou as Moiras. Por ser o deus imortal que reina no campo das mortes, e traz para os que lá vão a confirmação da dimensão de finitude, a vivência física da dor, o entrar em contato direto com o penar, com o sofrimento material, Hades precisa dessa “vivência” para poder de fato se realizar como regente dos ínferos. O mitologema poderia traduzir, assim, a necessidade premente da experiência da dor, e sua consciência, para a compreensão do fenômeno da morte e da vida. (Baptista, 2007).

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Entendemos, portanto, porque Quíron, instrutor, mentor de heróis, precisa

ser mortal para saber como integrar a dor sem curá-la. A dor não se cura, mas se

transforma em símbolo estruturante, pois, ao integrar a mortalidade, a finitude, gera para

as criaturas consciência de ser. A geração de consciência não se dá, todavia, sem morte.

Humanizar é sinônimo de tornar-se mortal. A geração de consciência somente se faz

com as incontáveis Mortes simbólicas vividas. Assim entendido, podemos afirmar ser o

autoconhecimento, condição para se estabelecer a consciência profunda de si mesmo,

portanto, de caráter reflexivo, configura realidade de difícil suportabilidade. É

necessário aprender a morrer para poder transformar as inúmeras dores de alma!

O divino Hades parece representar a expressão arquetípica menos afeita à

humanização pelos caminhos da sensorialidade. A regência de Hades acentua a

introversão, o ensimesmamento, o recolhimento. O coletivo qualifica o humano,

portador dessa regência, como esquisito ou estranho.

Hades, em sendo uma tipologia INTP, com características da

incorporeidade, introvertido, com funções intuitiva e pensamento, expressa o universo

da reflexão subjetiva, ideativa, sem respaldo sensorial. Todo e qualquer estímulo vindo

pelo caminho da sensação ou do corpo, causará profundo desconforto.

***A catábase, ou descida aos ínferos, é tarefa relevante nos mitos de heróis,

seja em Homero, Hesíodo, Virgílio, entre os cavaleiros de Arthur, bem como na vida

dos grandes avatares. Quem quer que adentre o reino das profundezas haverá de morrer

e renascer simbolicamente para um tempo novo. Quem desce aos ínferos nunca mais

retorna, pois o que volta é outro ser, é o renascido. Nos mitos de heróis encontramos

vários relatos que constituem mitologemas de regressus ad uterus. Na mítica greco-

romana, todas as figuras heróicas e divinas que fizeram sua passagem pelo mundo dos

ínferos, reino de Hades e Perséfone, estabeleceram com os regentes relações interativas

propiciadoras de transformações para as suas personalidades tanto dos que lá

adentraram como para os que foram seus anfitriões.

Héracles por duas vezes esteve nos ínferos: da primeira vez para resgatar

Alceste e da segunda para capturar Cérbero. Teseu lá esteve também, sem contar que

anteriormente passara pela prova do labirinto. Orfeu desceu ao reino de Hades e

Perséfone com o intuito de trazer Eurídice de volta. Psiquê, após orientar-se com a

Torre, desceu aos ínferos, cumprindo tarefa imposta por Afrodite. Deveria entrar e

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retornar do reino dos Ínferos com o ungüento da beleza e entregá-lo à poderosa deusa da

beleza e da vida. Ulisses, a conselho de Circe, fez sua catábase ao reino dos mortos em

pleno oceano, à procura de Tirésias, para que o mesmo lhe revelasse o caminho de

retorno a Ítaca. Enéas, de quem Virgílio (1955, 176) cantou os feitos heróicos, desceu

aos ínferos, na companhia da sacerdotisa Sibila, indo ao encontro do pai, Anquises, de

quem recebeu instruções e revelações sobre seu futuro, sua descendência e seu povo.

Para melhor entender as razões outras que levaram essas personagens

míticas às suas catábases, faremos a leitura simbólica de alguns desses mitologemas.

Alceste (Eurípedes, 1993), quando resgatada da Morte pela intercessão de

Héracles, retornou dos Ínferos mais jovem e mais bela, manifestação essa que configura

um enigma. E, como entender simbolicamente o fenômeno?

Admeto, rei de Feres, apaixonou-se por Alceste, a mais bela das filhas de

Pélias, rei de Iolco. Para conseguir tê-la como esposa, precisaria vencer difícil prova

imposta pelo futuro sogro, apresentando-se à corte de Iolco num carro puxado por

parelha de animais, um leão e um javali: expressão do antagonismo. Com a ajuda de

Apolo, conseguiu o intento. O casamento foi uma união de amor e modelo de ternura

conjugal. Mas, Admeto há muito fora escolhido pelas Queres para deixar esta vida.

Apolo intercedeu junto às Moiras e conseguiu delas a promessa de Admeto continuar a

viver, desde que encontrasse um substituto para morrer em seu lugar. Como ninguém,

nem mesmo os pais do jovem rei, aceitassem tão grande sacrifício, Alceste, sua esposa,

se ofereceu para o intento e assim se deu. Héracles, em suas viagens no cumprimento de

suas tarefas, hospeda-se em casa de Admeto. Estranha a trisreza reinante no reino

quando toma conhecimento do luto do rei. Héracles dirige-se ao túmulo onde a rainha

fora enterrada e, após dura peleja com Tânatos, a Morte, resgata Alceste do infausto

destino e a traz de volta à vida. E, ao regressar a rainha retorna mais jovem e mais bela

que nunca. O amor de Alceste por Admeto era tão intenso que viabilizou o sacrifício; a

rainha podia abdicar de viver sua própria vida uma vez que experimentara a

transformação em si mesma, decorrência de seu casamento profundo com seu animus.

A juventude e a beleza de Alceste, acentuadas após o regresso dos ínferos,

configuram paradoxo que a morte por Amor, simbólica ou concreta, confere. Ao

entregar-se ao morrer sacrificial, por amor ao amado, e retornar à vida, resgatada pelo

amor do amigo, Alceste tornou-se iluminada, restaurada, apaziguada, porquanto o

morrer por Amor confere juventude e beleza. Relata-se ter sido Perséfone que,

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impressionada com o amor e devotamento de Alceste, aceitou mandá-la de volta à luz

do sol (Brandão, 1991:47). Após o regresso, Alceste retornou transformada, certamente,

pela vivência da Morte.

Como compreender a atitude de Alceste imolando-se pelo amado e a atitude

de Admeto aceitando o sacrifício da amada? Morrer pelo outro retrata uma realidade

sacrificial com poucos paralelos na mítica ou mesmo na história do mundo. A melhor

comparação simbólica pode ser encontrada no mito de Cristo, morrendo pela redenção

dos homens e mulheres. Ifigênia aceitou o sacrifício de morrer por um ideal, pela

pátria, pela honra do pai. O sacrifício por amor confere competência para renascer. A

Vida passa a ser retratada pelo complexo nascer-morrer. A morte sacrificial confere

eternidade!

Certamente que, assim como Perséfone, Hades comoveu-se com o amor e

devotamento de Alceste. Mesmo porque, o divino regente já há muito “devota” á

Perséfone tal padrão de amor irrestrito. Somos levados a pensar que esse seja um

mitologema que tenha em muito contribuído para o processo de humanização de Hades:

o contato com a humana capaz de viver um amor tão divino quanto o seu e que

incorpora o morrer como condição de se tornar divina.

Psiquê, a jovem amante de Eros desceu aos ínferos e conseguiu que a rainha

Perséfone lhe entregasse a caixinha com o ungüento da beleza, que deveria ser levado a

Afrodite. De posse do creme, Psiquê, pela primeira vez no mito, desejou a beleza;

desejou-a tão ardentemente que superou sua necessidade de recuperar Eros. Psiquê

desejou para si a integração, no campo da consciência, do símbolo beleza como

realidade fundamental de sua psique. Ao desejar saber-se, desejar conhecer-se, quis para

si o ungüento, com o que pagaria com a própria vida; entretanto, saber-se era mais

importante. Psiquê morre pela descoberta de si-mesma

Podemos pensar que a busca do autoconhecimento, experimentada por

Psiquê, implica sincronicamente a morte simbólica ou concreta. Psiquê, após saber-se

humanamente bela, experimenta a morte simbólica, para renascer transformada pela

intercessão e interação com seu animus – amante. Deixa de ter um Eros para ser com

Eros. Psiquê pode se ocupar de si mesma quando desvencilha-se das viciosidades de seu

jeito de ser, ou seja, estar a serviço do que o outro espera que ela faça e não a serviço de

seu próprio processo. Estar em função de seu próprio processo implica fazer escolhas

que a piedade ilícita não permite.

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Psiqué é a temperança do feminino da busca de si mesma pela coniunctio

com o animus, com o que a integração de símbolos indispensáveis à coniunctio com o

si-mesmo se faz. Hades “sabe” como a coniunctio com a anima se realiza, mas a

coniunctio que implica o morrer para o referencial estabelecido pelo outro para renascer

para o referencial estabelecido por/com o si-mesmo, se revela em Psiqué.

Orfeu. O herói, depois de longa viagem ao reino de Eetes, na Cólquida,

compondo a tripulação da nau Argos, comandada por Jasão, retornou a sua casa e, para

seu desespero, encontrou a esposa Eurídice morta, picada por uma serpente quando

perseguida por Aristeu. Orfeu sem Eurídice se sente perdido de si mesmo e decide

descer aos ínferos para resgatá-la do reino dos mortos.

A viagem de Orfeu ao reino do Hades representa episódio iniciático de seu

processo de individuação. Orfeu canta e encanta a todos quantos o ouvem; toca sua lira

com a competência de mestre, filho do divino Apolo, deus da música, da arte, da

medicina e da cura. De outra parte, Apolo é o deus da ordem, da lei, da justiça, da visão

solar. Orfeu pode ser considerado como um duplo simbólico de Apolo. Inflado, talvez,

pelo poder de sua arte, e tendo comovido tanto a Perséfone quanto a Hades com sua

música, melodia, paixão, Orfeu acabou por conseguir o retorno de Eurídice. Havia,

porém, uma interdição: não olhar para trás, não ficar no passado, e, assim se dando,

retornar permeado pela transformação ritualística. Orfeu já era casado com Eurídice. Ao

tentar resgatá-la do reino da morte, resgatava a si mesmo, porquanto transformado pela

coniunctio simbólica com a anima. Mas, Orfeu titubeou, suas dúvidas o fizeram olhar

para trás e sua anima Eurídice se perdeu no reino da morte.

Talvez, tomado pela inflação egóica, Orfeu não conseguiu sua coniunctio

com a anima. Sua juventude não lhe conferiu suficiente competência para tão grande

desafio, e, assim, não pode desfrutar do presente que o Self lhe oferecia. O desespero

tomou conta de nosso herói. Orfeu não estava pronto! Ao descer para reunir-se a sua

contraparte de alma, na realidade desejou a Eurídice do passado, enquanto Hades e

Perséfone propiciavam-lhe sua coniunctio com anima! Por não estar pronto, sabia

porém não tinha consciência de precisar de sua alma-anima-companheira enquanto

símbolo estruturante de sua psique. O presente que o Self lhe oferecia era a

manifestação do símbolo anima. Orfeu-ego desejava o retorno da mulher amada, insiste

em ter Eurídice, mas as portas dos ínferos estavam-lhe fechadas. O herói retorna

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derrotado e não mais tocou sua lira, não mais cantou, desdenhou Afrodite, e deprimiu.

Orfeu perdeu-se de si mesmo.

Mas, assim conta o mito, Orfeu não desiste. Sua busca continua e seu

encontro e coniuctio consigo mesmo se dará pela busca da Sabedoria Profunda, busca

pelo Conhecimento, pelo religar-se pela via do logos espiritual. Orfeu instituiu os

Mistérios Órficos dando início à teologia do orfismo cuja idéia principal é a expiação

das próprias culpas e faltas, assim como a aceitação da responsabilidade individual

pelos atos cometidos e da crença na vida pós-morte (Coelho-2004). O herói do tempo

novo ousou fazer perguntas e buscar respostas que somente ele poderia responder.

Orfeu se individua pelo logos espiritual, quando busca o divino em si mesmo. O Eros

da relação carnal, material, concreta com seu grande amor Eurídice, transforma-se no

amor de Ágape sagrado com Sofia (Souza, 2007). Dessa forma pôde novamente reunir-

se a si mesmo. Foi preciso que Orfeu experimentasse a morte simbólica com o que

estabeleceu a coniunctio consigo mesmo para reencontrar-se com Eurídice e voltar a

cantar a Vida.

Orfeu representa a possibilidade de se fazer a incursão pelo reino dos

ínferos, como primeira busca da morte simbólica. Essa condição primeira é necessária à

transformação da psique, tornando viável a integração anímica do Outro conjugado ao

Eu como centro da consciência, pela regência de Eros. A morte literal de Eurídice fez

Orfeu buscá-la no reino de Hades e Perséfone. Por não estar pronto para a integração,

perdeu-se de sua anima e, podemos dizer, permaneceu no passado. O herói configurado

por Orfeu não desiste e enceta nova busca de coniunctio com a anima, dessa vez pelos

caminhos do logos spiritual quando então consegue seu encontro com a Sabedoria

Profunda, que permite sua coniunctio com a anima Sofia. Podemos depreender o quanto

a temperança titânica presente nos humanos, filhos do corpo devorado de Dioniso,

mobiliza Hades e o leva a desejar trilhar os caminhos de humanização.

Ulisses desceu aos ínferos, à procura de Tirésias, para descobrir que as

respostas às suas próprias questões estavam em si mesmo. O vidente tebano, ao lhe

responder:- Andas em busca do doce regresso, Odisseu preclaríssimo... mas apesar dos

trabalhos, à pátria hás de ir ter se conseguires refrear tua cobiça e a de teus

companheiros... (Homero, Odisséia, XI: 100-105), estava certamente recordando ao

herói a necessidade de render-se às demandas que o conclamavam para reassumir seu

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12

papel e lugar de servir ao coletivo – reino, súditos, governo, etc. – bem como o

direcionavam para as relações que humanizam – esposa, filho, pais. Somente com esse

feito Ulisses conseguiria experimentar a transformação – refrear a cobiça. Interessante

atentar para o alerta de Tirésias que anuncia o quanto o descomedimento perverso do Eu

nos afasta do caminho da individuação. A viagem ao reino da morte configura aquisição

de autoconhecimento. Para Jung (1990: OC, XIV-2 § 398), O autoconhecimento é uma

aventura que conduz a amplidões e profundezas inesperadas. A presença de Ulisses no

reino dos Ínferos também convida Hades a essa que seria a maior de todas as aventuras:

aquisição do autoconhecimento.

Teseu, o herói da democracia, desceu ao reino dos Ínferos para raptar

Perséfone, levando consigo o companheiro Piritoo. A hybris ou descomedimento, ou

ultrapassagem da medida de Teseu, o fez prisioneiro ao macular sua condição mítica de

transformador do coletivo quando, para satisfazer a própria inflação, desejou possuir,

entre tantas mulheres conquistadas e abandonadas, a própria rainha das profundezas.

Teseu se desviou da aventura do autoconhecimento, perdendo-se de si mesmo ao seguir

em busca da glória. Ficou aprisionado no Hades e só conseguiu deixar o reino dos

ínferos por conta da intercessão de Héracles, que de lá o arrancou, porquanto estava

preso a uma pedra. Teseu não experimentou transformação suficiente em suas duas

catábases - aos ínferos e ao labirinto - para completar seu rito de passagem e adquirir

competência para seu novo nascimento simbólico. O mito de Teseu nos ensina que não

basta sofrer para que a transformação da alma ocorra. É necessário compreender o

processo vivido, encontrar o sentido do sofrimento e, acima de tudo, saber que: “Tudo

tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu"

(Eclesiastes: 3,1)

Teseu representa a inflação da psique -mecanismo de defesa- quando, então,

o centro da consciência se vê invadido pelo complexo autônomo e o Ego torna-se mero

espectador. A hibrys do grande herói democratizador de Atenas foi drasticamente

castigada por Hades. Permanecendo prisioneiro no reino dos Ínferos, de lá não teria

saído não fora a intervenção de Héracles que do assento o arrancou.

Hades deslumbrou-se com a tenacidade de Psiqué e com o desprendimento

de Alceste, comoveu-se com a arte de Orfeu, surpreendeu-se com a humildade de

Ulisses; no entanto, na presença da hybris de Teseu exerceu-se com presteza, refreando

o descomedimento do herói. Hades está aberto ao “diálogo”, mas não se perde de seu

centro.

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13

Hades, o que estabeleceu núpcias com Coré, por amor, caminha pelo

processo de humanização, conduzido pelas demandas de seus heróis visitantes,

demandas essas que o impregnam e compõem sua personalidade, levando o regente dos

ínferos a desejar cumprir seu caminho de humanização, o que pressupõe enfrentar o

desafio da morte..

***

Quando no jogo da Vida, o herói acessa o reino da Morte, recebe do Self a

certeza do vir a ser inédito. Ao retornar de sua catábase, experimenta um novo

nascimento traduzido pela juventude e beleza restauradas, alegria e senso de renovação

e, paradoxalmente, a certeza de ter-se tornado mais velho. Aquele que faz a viagem

nunca retorna, pois o que volta é sempre o transformado. E, como diz Eliade (1994:49),

descer aos infernos é percorrer um labirinto, é descer ao interior da terra para depois

sair com sabedoria e com o corpo passível de se tornar imortal.

Que simboliza esse novo nascimento?

Hades, senhor dos Ínferos, é o propiciador da realização dessas demandas.

Em seu reino, heróis e heroínas experimentam vivências possíveis tão somente nesse

tempo e local. Não há como propiciar tais transformações sem ser também por elas

transformado. A descida ao reino de Hades é condição precípua de busca de

conhecimento e estruturação das instâncias da identidade, sem o que o processo de

individuação não se realiza.

A descida aos ínferos configura rito de passagem e de iniciação. O ritual é

condição fundamental para a aceitação da morte simbólica sem o que o renascimento

para a nova vida não acontece. A morte iniciática é condição indispensável às demandas

da plenitude do processo de humanização.

Humanizar implica incorporar a condição do morrer, ponto crucial quando a

meta é alcançar o autoconhecimento. Humanizar é tornar-se um ser reflexivo. Pelo

processo reflexivo a dinâmica do Coração se estabelece, a consciência de si mesmo se

faz, o religar-se com o Self torna-se o ômega da criatura humana.

***

Descida aos Ínferos e a Busca do Conhecimento.  

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14

Os ritos iniciáticos implicam sempre, como já dissemos, atividades pelas

quais o indivíduo se propõe adentrar uma compreensão nova, um tempo inédito de sua

vida, ou um conhecimento de fatos e realidades que até então não lhe haviam sido

permitidos. A busca do conhecimento constitui-se como demanda arquetípica em todos

nós. Buscar-se, procurar saber-se, é realidade imperiosa que a todos impulsiona. A

aquisição do conhecimento no sentido de sabermos quais são os grãos que nos

constituem decorre da constatação do fato de que necessitamos do outro para nos

sabermos, precisamos nos comparar com outros. E tal comparação nos remete de volta

a nós mesmos.

Segundo Kant (1975:51), conhecer é, em última instância, buscar saber a

essência de algo: para realizar o feito no sentido de conhecer a coisa ou o objeto, haverá

sempre a necessidade de o indivíduo comparar essa coisa com seus valores, num

processo de aferição, ou seja, a coisa, ou o objeto, ou o dado, conjuga-se com um

pressuposto seu, sem o que talvez nem se aperceba do objeto ou dado. Dito de outra

forma, se não houver um pressuposto do sujeito (referência), o dado se apresenta e não

é reconhecido e muitas vezes nem é sequer visto. Quando o pressuposto existe no

sujeito, o conhecimento acontece. O autoconhecimento pressupõe um dado, que é a

própria pessoa que busca o autoconhecimento, e um pressuposto, também da própria

pessoa.

Se o sujeito se perguntar qual o pressuposto que o faz reconhecer-se, saber-

se, descobrir-se, só poderá pensar o pressuposto como uma realidade arquetípica,

inerente à sua totalidade, portanto realidade do Self. O Self contém desde sempre o

pressuposto de si próprio que o leva a se buscar.

Essa condição de pressuposto em busca do dado e do dado que busca o

pressuposto se expressa para a consciência sempre como um processo interacional para

todo reclamo de conhecimento. Essas realidades simbólicas são expressões do reclamo

de conhecimento e estão presentes, como sempre estiveram, na totalidade do Self.

Dentre as buscas de comparações, algumas se sobressaem. São aquelas que

dizem de tudo quanto temos em comum com o outro, com a humanidade; compõem-se

de vivências, demandas, desejos, sentimentos e expectativas que muitas vezes supomos

serem profundamente individuais, ímpares. O tempo e a vida fazem-nos constatar serem

essas vivências parte da condição humana, pertencentes a todos. E assim entramos em

contato com as realidades do universo coletivo.

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15

A busca do conhecimento conduz necessariamente ao confronto com a

finitude. Saber-se humano significa saber-se finito, perecível, mortal. Conquistar o

conhecimento será lidar com o limite do que é acessível à consciência.

A instauração de consciência, que nos define como humanos, define

também o limite: limite de tempo, limite do conhecer e do que pode ser conhecido,

limite do tempo de vida, limite do que pode ser alcançado, almejado, atingido, limite de

velocidade, limite de resistência. Tudo que diz respeito ao ser humano implica limite.

Mortalidade e humanidade são realidades inseparáveis da condição de se

adquirir consciência. Assim, a individuação como processo implica também aprender a

lidar com o limite do Eu uma vez que o Outro passará a compor o centro da consciência

numa condição de coniunctio: Eu – Outro.

Retomando a condição do conhecer como um processo de interação entre o

dado e o pressuposto, a conjunção Eu – Outro determina o Eu como portador do

pressuposto e o Outro como sendo o dado; porém concomitantemente teremos sempre o

fato de que, na perspectiva do Outro, a base do pressuposto será o Outro e o Eu ficará

como sendo o dado. Dessa forma Eu e Outro se aferem como dados de seus

pressupostos e se devolvem um ao outro como conhecimento.

Dentre as realidades que cada qual tem em comum com o Outro ou com a

humanidade, facilmente se descobre e facilmente se aceita que o Outro seja similar ao

Eu. Se o processo assim se dá, o que se descobre em si (e que concomitantemente é o

Outro ou no Outro) passa a traduzir o certo ou a verdade para si mesmo e também para

o Outro. Nessas aferições cada qual descobre as paridades, as semelhanças e as

identidades, ou seja, o Eu é como o Outro.

O grande problema ocorre quando se constata que o Outro, ou seja, o dado,

não se conjuga com nenhum dos próprios pressupostos: o Outro é um desconhecido,

estranho, diferente. E, mais, o Outro também vê o Eu, sente ou o toma como algo

insólito, diferente, etc. Esse é o momento que não se tem irmandade com ninguém,

momento em que se é o dado de si mesmo e o pressuposto em si é o próprio Self. Só

ele, Self, sabe e pode dar testemunho de si, da própria imparidade, das individualidades.

Dessa forma, o processo de individuação passará a ser a possibilidade de conjugar as

paridades e imparidades.

O processo de individuação como a busca imprescindível do conhecimento

de si e do outro implicará sempre lidar com o limite da vida, do tempo da existência,

limite de vitalidade, da suportabilidade da dor, da fome, da sede, do sono, limite do Eu,

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que é imposto pela constelação do Outro no campo da consciência – limite de alcance

de conhecimento. o conseguimento de conhecimento. A mesma consciência que nos faz

saber dos limites, das finitudes, do perecível, do mortal, do humano, nos faz também

buscar incansavelmente tudo quanto é complementar, ou a polaridade oposta, ou seja,

buscar o ilimitado, o imperecível, o imortal, o divino, o eterno.

Como entender essa demanda de busca da realidade complementar do

conhecimento, senão como uma realidade intrínseca da própria natureza humana, ou

seja, como um fenômeno arquetípico? Com efeito, buscar saber do oposto, do

complementar, da antítese, só pode ser entendido como uma condição arquetípica.

A busca do conhecimento comporta duas vertentes: a primeira busca o

mundo, as relações, a aquisição de informações, a realização de tecnologia e tantas

outras; a segunda busca a subjetividade, a introspecção, as questões das razões do existir

e do sentido da vida, condição que depende do contato ou da atualização da regência de

Hades. Esta última vertente de busca se depara, com freqüência, com sentimentos ou

vivências subjetivas estranhas, como ter saudade do não vivido, saudade daquilo que

não conhecemos.

Talvez a saudade do não conhecido seja uma expressão da própria demanda

arquetípica, demanda do ainda por se fazer. Essa demanda, ao ser decodificada pela

consciência, poderá se traduzir como imagens arquetípicas experimentadas pela

consciência como o já vivido, apesar de ser tão somente uma realidade virtual.. E, então,

sentimos saudade de uma totalidade que sempre esteve em nós somente como realidade

arquetípica, como se a mesma já tivesse sido realidade existencial.

A descida aos ínferos, descrita no item dos heróis que adentram o Hades,

numa condição de retorno ad uterus, traduz a condição simbólica de busca do

autoconhecimento. Para buscar-se há que morrer. Sem a vivência simbólica da morte

não haverá possibilidade do renascer para o tempo novo, para a consciência

transformada, para a compreensão inédita de polaridades que se conjugam como

realidades até então paradoxais para os padrões de consciência linear. A morte

simbólica do tempo da consciência patriarcal viabiliza conjugar em si mesmo o humano

e o divino, a criatura e o criador, a consciência e o inconsciente, o efêmero e o eterno e

tantas outras polaridades tidas até então como excludentes.

***

***

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17

Descida aos Ínferos, Confronto com a Sombra e o Novo Nascimento.

A descida aos ínferos como vivência de morte, pode significar também

confronto com a sombra, como instância que contém as polaridades simbólicas

afastadas do campo da consciência e, portanto, impossibilitadas de forjar identidade,

bem como a sombra enquanto aquilo que nos é desconhecido. A transformação causada

pela morte é a mais dolorosa, pois o iniciado ao retornar dos ínferos, necessita compor

seu centro da consciência, cerne da individualidade, com o desconhecido. O Outro, o

grande desconhecido, será a polaridade eternamente complementar e eternamente de

oposição. Ter o Outro no centro da consciência implica manter-se no constante desafio

de estar na aferição de dados que não têm pressupostos no Eu, mas são dados que

reclamam a atualização dos pressupostos. Podemos pensar que os dados insólitos, do

grande desconhecido, mobilizam demandas de pressupostos para a estrutura do Eu.

Num primeiro momento, o Eu se espanta, se assusta diante do desconhecido, mas, ao

trocar referenciais com o Outro, constrói pressupostos e se espanta com as próprias

descobertas

Essa competência de se fazer pressuposto, contando com o referencial do

Outro, confere sabedoria e ao mesmo tempo configura o sofrimento da perda do poder,

o poder de se manter como centro da psique, da consciência, para passar a dividi-lo com

o Outro. A aquisição do autoconhecimento decorre do sofrimento experimentado pela

vivência da Morte simbólica e composição do novo centro da consciência com o Outro.

A vivência de morte é veículo poderoso de integração simbólica.

***

Hades e a Originalidade dos Castigos

Hades é o regente dos processos de transformação da psique, porquanto é o

Senhor da Morte, realidade suprema da condição de ser a transformação da psique uma

vivência simbólica de morrer. A par disso, a vivência de morte propicia a integração de

símbolos estruturantes ao complexo do ego, os quais são, em última instãncia,

elementos fundamentais do autoconhecimento.

Somos levados a pensar que todas as figuras míticas sofredoras de castigos

explícitos vividos no mundo de Hades são expressões simbólicas da recusa ao auto

conhecer-se. A meta do processo de individuação é tornar-se a plenitude da expressão

da imparidade do si-mesmo, o que, para tanto, implica humanizar seu genoma

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arquetípico. A humanização demanda a consciência de nossa instância perecível,

mortal, finita, ou seja, humanizar implica incluir no campo da consciência e na estrutura

do complexo egóico a condição da morte.

No processo de evolução estrutural dois grandes fatos são apontados como

marcos fundamentais de transformação; o desenvolvimento da reprodução

sexuada e o surgimento da consciência (mente)(JACOB-1983,22 & BATESON-

1986).

A sexualidade parece ter aparecido muito cedo no universo. Recorrer ã

sexualidade para reprodução implica ampliar gigantescamente o código genético

que deixa de ser propriedade exclusiva de uma linhagem. O código passa a

pertencer ao coletivo (JACOB-1983, 22). A sexualidade obriga a examinar

possibilidades de combinação genética que, necessariamente, leva a mudanças. A

sexualidade por abrigar, em si mesma, a possibilidade de combinação genética,

gera um fator evolutivo estruturante do sistema, associando-se a um

acontecimento ímpar, qual seja, a morte: não a morte como acidente, mas a morte

imposta pelo próprio programa genético (JACOB-1970,22).

Não aceitar a morte significaria, pois, ceder à tentação da polaridade divina,

imortal, da eterna juventude, da ilusão da eternidade. Recusar-se a viver os processos

do morrer implica trair o processo de individuação.

Sísifo, rei de Corinto, é a imagem arquetípica daquele que ludibria a morte.

Conta o mito que Sísifo, conforme relata Junito Brandão, é tido como o mais astuto e

inescrupuloso dos mortais. Um dia, Sísifo viu Zeus raptar a filha de Ásopo, o deus-rio.

De posse da informação, negociou com Ásopo a criação de uma fonte de água doce em

suas terras e revelou ao pai da jovem a identidade do raptor. Zeus, para castigar Sísifo,

enviou-lhe Tânatos. O astuto rei de Corinto enganou a Morte de tal forma, que

conseguiu prendê-la. Assim, as pessoas deixaram de morrer e Hades, rei dos ínferos,

reclamou. Zeus intimou que Tânatos fosse libertado, o qual imediatamente foi em busca

do astuto rei. Sísifo, sabendo que ia morrer, pediu à esposa para não lhe prestar as

honras fúnebres. Quando chegou aos ínferos, sem o revestimento próprio do ritual,

Hades perguntou-lhe o motivo. Sísifo, de forma astuta, culpou sua esposa e, à força de

súplicas, conseguiu permissão para voltar dos ínferos e exigir as honras a que tinha

direito. Mas, Sísifo não cumpriu o trato, não regressou aos ínferos e permaneceu na

Terra até idade avançada. Um dia, contudo, Tânatos veio buscá-lo em definitivo e o

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19

castigo se deu: foi condenado a rolar montanha acima um bloco de pedra, que em

função do próprio peso, sempre o obrigava a retornar, pois a pedra rolava montanha

abaixo. Sísifo, então, recomeçava a tarefa, que haveria de durar para sempre.

O castigo infligido a Sísifo por Hades é a expressão da repetição obsessiva

de uma tarefa que não pode ser terminada; uma tarefa que eternamente se repete, sem

nada transformar; uma tarefa que não pode experimentar a condição do morrer. Assim,

não há como terminar um texto, não há como cumprir um acordo, acabar um trabalho.

A finalização de qualquer atividade/realidade implica a necessidade de morrer para um

tempo, para um trato, para uma função, para uma vida.

Quem não aceita a morte não experimenta a transformação; é como se

aquele que se recusa a morrer não se tornasse humano, perecível. Quem não faz o

caminho da humanização não cria consciência. Quem não se rende à Morte não conhece

a Vida. O castigo de Sísifo é também a configuração simbólica da psicopatologia do

transtorno obsessivo-compulsivo.

Outros tantos condenados encontramos nos ínferos suportando castigos

decorrentes de seus descomedimentos! Senão vejamos: Tântalo mantém-se eternamente

amarrado, sofrendo sede e fome em meio à água e alimentos. Sua hybris foi desafiar os

divinos testando a onisciência dos mesmos. Ao sacrificar o próprio filho Pélops para

fazer valer sua superbia, julgou-se possuidor do saber do iluminado. As Danaídes

lutam com seus tonéis sem nunca conseguir preenchê-los, no exercício obsessivo de

uma atividade que não pode ser terminada, como no exemplo de Sísifo. As Danaídes

recusaram-se a morrer, simbolicamente, ao assassinarem seus respectivos maridos na

noite de núpcias; não aceitaram viver a interdependência masculino/feminino,

recusaram-se a aceitar as demandas da instauração da dinâmica patriarcal. Hipermnestra

e Amímone não sofreram os castigos, pois ambas se tornaram expressões de um tempo

novo. Hipermnestra e Linceu darão origem a grandiosa família dos Pérsidas e Amímone

abranda a fúria de Posídon, possibilitando que os rios voltem a correr na região do

Peloponeso.

Todos os humanos, em algum momento de sua jornada, cometeram algum

desatino, ou de alguma forma ultrapassaram a medida do permitido. Assim posto,

podemos questionar sobre o porquê do fato de somente alguns terem sido castigados,

cada qual com uma penalidade ímpar.

Todos os castigados, ao se eximirem de sua condição humana ou por

pretenderem exercer-se exclusivamente por sua condição divina, permanecem nos

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ínferos como mortos, impossibilitados de experimentar a gloriosa condição de poder

morrer a própria morte.

***

Dioniso nos Ínferos

Dioniso desceu aos ínferos para de lá arrancar o eidolon de sua mãe

Sêmele com o consentimento de Hades que pede algo em troca. Dioniso deu-lhe uma de

suas plantas favoritas, o mirto, que cobria a fonte dos iniciados nos mistérios

orgiásticos do filho de Sêmele (Brandão, 291, 1991). O mais humano de todos os

divinos desceu aos ínferos para resgatar Sêmele e com essa atitude podemos pensar na

incorporação de sua instância humana como decorrência do fato de ser também filho de

uma heroína. Hades e Dioniso se encontram, se confrontam e se respeitam.

Hades recebe o filho, seu duplo complementar e pelos caminhos dionisíacos

se definem seus processos arquetípicos de humanização. Hades foi presenteado com a

planta mirto, com o que podia ornar sua própria cabeça e participar dos rituais

dionisíacos orgiásticos incorporando a condição do morrer e renascer. O quarto regente,

expressão simbólica do próprio Hades realiza seu processo de humanização.

Dioniso, duplo ou a hipóstase mais humana de Zeus, representa a criança divina,

o filho sacrificial, redentor das criaturas humanas, provedor e protetor, que morre e

renasce num processo de eterna renovação. Com o nascimento de Dioniso o quatérnio

Urano-Crono-Zeus-Dioniso se completa. Dioniso é o quarto regente5, o mais humano

dos divinos, deus que morre e renasce. A inclusão da morte no sistema se fez.

Resumo: Hades é a expressão da possibilidade do recolhimento para a

elaboração simbólica, do ensimesmamento que gesta pelas funções intuitiva e

pensamento, a concepção de idéias e conceitos. É a expressão da metanóia, do

casamento interior, do encontro de si consigo mesmo, da integração de alma. Hades é a

atualização da consciência da finitude, do morrer como condição intrínseca do existir.

Representa a fidelidade a si mesmo. Como casal, Hades e Perséfone retratam os eternos

amantes um do outro. Como Zeus ctônio, gestou com Demeter sua anima: Coré. E com

ela gestou o filho Dioniso - Zagreu, hipóstase mais humana de Zeus-Hades e a

possibilidade de Zeus - Hades atualizar-se como símbolo da criança divina, filho

sacrificial, redentor, provedor e protetor. Seu processo de vida se faz no recôndito do

5 . Remeter ao capítulo de Dioniso

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21

inconsciente, na reflexão, no ensimesmamento. Configura com sua esposa Perséfone o

casal de amantes, expressão máxima da relação anima-animus

Hades e sua tipologia: INTP: Pessoas com a tipologia de Hades, com o

pensamento introvertido apoiado pela intuição, são bons teóricos, estudiosos e

pensadores abstratos. A intuição lhes proporciona insights profundos. São curiosos,

intelectuais e vislumbram possibilidades além da lógica. Apresentam baixo limiar de

tolerância para com a rotina, porém adaptam-se à pesquisa e à busca intelectual.

Suportam muito pouco a rotina, mas adaptam-se à pesquisa e busca intelectual. Seu

maior interesse se concentra na análise e solução de problemas. São pessoas que

valorizam muito mais as teorias que os fatos considerados tão-somente evidências. Têm

certa dificuldade de comunicação e exigem de si mesmos respostas exatas e detalhadas.

São mentalmente rápidos, introspectivos e criativos. Como são intuitivos, têm seu

interesse centrado nas idéias que surgem, entretanto o julgamento se faz por meio do

pensamento, configurando um processo lógico dirigido a uma descoberta impessoal.

Quando as circunstâncias permitem, os introvertidos concentram a percepção e o

julgamento nas idéias, bem como trabalham melhor com a reflexão. Sua atitude

perceptiva confere-lhes a condição de simplesmente viver a vida, deixando que as

coisas aconteçam.

Myers propõe que, nos introvertidos, o processo dominante é igualmente

introvertido de forma que, ao necessitar que a atenção esteja voltada para o mundo

exterior, estes indivíduos tendem a usar o processo auxiliar. Os introvertidos cujo

processo dominante é perceptivo não agem exteriormente como pessoas perceptivas,

entretanto filtram a vida exterior a partir de uma atitude julgadora, uma vez que a

preferência JP diz respeito somente aos processos usados para lidar com o mundo

exterior.

Os perceptivos intuitivos consideram a vida como algo a ser experimentado

e compreendido; gostam de manter seus planos e opiniões o mais abertamente possível.

Esperam resolver os problemas a partir da compreensão de sua base, de sua origem, na

medida que a análise criteriosa, ou o julgamento, permite a continuidade dos propósitos

ao fornecer padrão de crítica e domínio às próprias ações. Os dons da percepção são:

espontaneidade e aceitação da experiência do presente; mente aberta e flexível à

consideração de novos fatos, idéias e propostas; compreensão do ponto de vista do

outro, com apreciação da situação; tolerância; curiosidade; possibilidade de destacar

Page 22: Maria Zelia de Alvarenga HADESCAPITULO_6[1].DoHc

22

algo interessante em qualquer situação; prazer pela experiência; capacidade de

adaptação dos meios disponíveis para atingir os fins.

Agradeço à colaboração de Ana Célia Rodrigues de Souza, Ana Maria Cordeiro e

Sylvia de Mello Baptista pelas sugestões na elaboração desse texto.

À Evelyn Doering-Silveira meu muitíssimo obrigada pela revisão gramatical do texto e

sugestões sobre a composição dos parágrafos

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