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SÃO PAULO, 2007 FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO MARILI DE LIMA FERREIRA BRANDÃO DESIGN SUSTENTÁVEL: O USO DA MATÉRIA PRIMA RENOVÁVEL. UM ESTUDO DE CASO DA PRODUÇÃO DO COURO VEGETAL NO NORTE DO BRASIL

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São Paulo, 2007

FaCulDaDE DE aRQuITETuRa E uRBaNISMo

uNIVERSIDaDE DE São Paulo

MARILI DE LIMA FERREIRA BRANDÃO

DESIGN SUSTENTÁVEL: O USO DA MATÉRIA PRIMA RENOVÁVEL.UM ESTUDO DE CASO DA PRODUÇÃO DO COURO VEGETAL NO

NORTE DO BRASIL

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São Paulo, 2007

Marili de lima Ferreira Brandão

Design sustentável: o uso da matéria prima renovável.Um estudo de caso da produção do couro vegetal no norte

do Brasil.

Dissertação de Mestrado apresentada à

Faculdade de arquitetura e urbanismo da

universidade de São Paulo como exigência

parcial para obtenção do título de Mestre

em arquitetura e urbanismo – área de

concentração: Design e arquitetura, sob

orientação da Prof. Dra. Maria Cecília

loschiavo dos Santos.

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auToRIZo a REPRoDuÇão E DIVulGaÇão ToTal ou PaRCIal DESTE TRaBalHo, PoR QualQuER MEIo CoNVENCIoNal ou ElETRÔNICo, PaRa FINS DE ESTuDo E PESQuISa, DESDE QuE CITaDa a FoNTE.

aSSINaTuRa:

E-MaIl: [email protected]

B817d Brandão, Marili de lima Ferreira

Design sustentável: o uso da matéria prima renovável.

um estudo de caso da produção do couro vegetal no norte

do Brasil /Marili de lima Ferreira Brandão.–São Paulo, 2007.

137 p. : il.

Dissertação (Mestrado - Área de Concentração:

Design e arquitetura) – FauuSP.

orientadora: Maria Cecília loschiavo dos Santos

1.Design( Projeto) – Brasil 2.Projetos de produtos

3.Borracha 4.Áreas de conservação I.Título

CDu 7.05(81)

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é certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz...sei que não dá para mudar o começo, mas, se a gente quiser, dá para mudar o final.

(Só de Sacanagem – Elisa Lucinda – CD Ana Carolina e Seu Jorge)

DESIGN SuSTENTÁVEl

aos meus pais Maria lygia e augusto

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AGRADECIMENTOS

agradeço a todos que colaboraram para realização deste trabalho:

a minha orientadora Maria Cecília loschiavo do Santos pela acolhida dada a este trabalho e pelo apoio nos percalços de caminho, permitindo sua finalização.

aos professores da universidade de São Paulo que me aceitaram em suas disciplinas possibilitando um entendimento multidiciplinar da complexa questão da sustentabilidade: Prof. Pedro Jacobi da Faculdade de Educação, Prof. Tadeu Malheiros da Faculdade de Saúde Pública, Prof. Isak Kruglianskas da Faculdade de Economia e administração, Prof. Wagner Ribeiro da Faculdade de Filosofia, letras e Ciências Humanas, Departamento de Geografia.

ao Centro São Paulo Design pela possibilidade de freqüentar o Curso da avaliação de Ciclo de Vida e ao Prof. Gil anderi da Engenharia Química da Escola Politécnica, que me auxiliou com informações de aCV aplicada a meu estudo de caso.

aos professores da ESalQ, Marcos Bernardes Silveira pelas informações sobre borracha natural e seringal plantado; e ao Prof. José Nivaldo Garcia por ter acreditado no encaminhamento deste trabalho. Á Henrique Sérvulo Filho pela possibilidade de assistir sua dissertação de mestrado sobre o couro vegetal.

ao Prof. da Faculdade de Contabilidade da FEa, Gilberto andrade Martins que me permitiu participar de suas Discussões Metodológicas

aos Prof. da Fau, Giorgio Giorgi Jr. pela colaboração no exame de qualificação e Chico Homem de Melo pelo incentivo de iniciar o processo de mestrado.

ao Prof. Giuseppe lotti da universidade de Florença, Itália e a prof. aslaug Mikkelsen da universidade de Stavanger, Noruega, por confirmarem que a linguagem da sustentabilidade é universal.

ao Grupo de Meio ambiente da FIESP pela possibilidade de ter trabalhado na revisão da tradução da ISo 14 062 e a Suzana Serrão, do INPI, pelas informações sobre Patente de Invenção.

a Patrícia Gomes, Coordenadora de Certificação Florestal Comunitária e PFNMsdo Imaflora, que mostrou ser possível traçar a cadeia produtiva do couro vegetal produzido em Boca do acre e ao Estevão do WWF-Brasil, pelos esclarecimentos sobre a parceria desta oNG com o Projeto Couro Vegetal da amazônia.

a alexandre Goulart de andrade, autor de dissertação de mestrado pela unicamp sobre o couro vegetal do alto Juruá, pelo envio de relatório de visita de campo de autoria de luis Mario Fujiwara realizado para a Fundação Ford.

a Bia Saldanha da Couro Vegetal da amazônia e a Wilson Manzoni, ex-presidente da aPaS, pela colaboração.

aos amigos designers Christian ullmann, Ivo Pons, Gustavo Dias, Vanessa Espínola, Daniela Jardim, Carla Tenenbaum, pelas constantes conversas sobre como o design pode colaborar para construir uma sociedade mais saudável e mais justa.

ao Tasso azevedo, diretor do Serviço Florestal do MMa pela introdução ao tema do Manejo Florestal e da Certificação. Á Haroldo de Mattos lemos, presidente do Instituto Brasil PNuMa, pelas várias conversas sobre sustentabilidade. aos ministros José Sarney Filho e Marina Silva por prestigiarem nosso evento Design & Natureza, confirmando a possibilidade de harmonia entre estes temas.

DESIGN SuSTENTÁVEl

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RESUMO

Esta dissertação constitui-se em um estudo do Projeto Couro Vegetal da amazônia que

possui características de um projeto de design sustentável. o trabalho procura demonstrar

isto através da conceituação de sustentabilidade aplicada ao projeto de produto sob os

ângulos ambiental, social e econômico.

a conceituação foi feita segundo parâmetros internacionais aplicadas ao contexto

brasileiro. o estudo tem como ponto de partida o uso e características da matéria prima

renovável, a borracha, e seu histórico do ponto de vista do extrativismo, dos conflitos sociais

e dos resultados positivos destas lutas a favor dos seringueiros que resultou também em

benefícios ecológicos para a preservação das florestas através da criação de unidades de

Conservação de uso Sustentável que fazem parte das políticas públicas brasileiras atuais.

Para medir o impacto ambiental do produto foi estudada a ferramenta de avaliação de Ciclo

de Vida e sua aplicação na fabricação do couro vegetal. o trabalho pretende contribuir para

a criação de parâmetros de sustentabilidade aplicados ao design brasileiro que possam

servir de referência na atividade de projeto de produto.

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ABSTRACT

This dissertation is a study of amazonia Vegetal leather Project that has caracteristics

of “sustainable design”. The aim of this work is to demonstrate it, based upon concepts of

sustainability considering environmental, social and economic aspects, applied to product

project. This approach has been made based in international concepts applied to brazilian

reality. The starting point of the study is the use and the caracteristics of the renewable raw

material, the natural rubber, its history of extractivism, social conflicts, and the positive results

for the “seringueiros” and for the conservation of the forest by the creation of Conservation

units with Sustainable use that is part of brazilian public politics nowadays. To measure the

environmental impacts of the product the life Cycle assesstment has been studied and its

application to vegetal leather production. The intention of this work is contribute to create

parameters of sustainability applied to Brazilian design that can be a reference to the activity

of product project.

DESIGN SuSTENTÁVEl

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: a volta ao mundo na fabricação de uma calça jeans. Fonte: Kazazian, Tierry,

2003, p. 61 ..................................................................................................................... 22

Figura 2: logotipo Rio 92. Design: Evelyn Grumach. Fonte: Catálogo Brasil Faz

Design 1995 ................................................................................................................... 38

Figura 3: Mapa com localização da Floresta Nacional Mapiá-Inauiní. Fonte: Mapa ISa .... 45

Figura 4: Negócios Sustentáveis na amazônia. Fonte: Negócios para amazônia

Sustentável, 2002/03. .................................................................................................... 51

Figura 5: Fotografia da extração do látex da seringueira. Fonte: Catálogo amazon

life, 2006. . .................................................................................................................... 60

Figura 6: Fotografia de lâminas de couro vegetal secando ao ar livre após processo

de vulcanização. Fonte: Catálogo amazon life, 2006. ................................................ 66

Figura 7: Mapa das unidades de Produção de Couro Vegetal da aPaS. Fonte: Site

aPaS, 2007 .................................................................................................................... 83

Figura 8: Fotografia de Produtos da amazon life. Fonte: Catálogo amazon life .. 91

Figura 9: Comunicação Visual da amazon life: logotipo, capa do catálogo, página

inicial do site e cartão de visita.. .................................................................................... 91

Figura 10: Foto da loja da amazon life em Ipanema, Rio de Janeiro. Fonte: Catálogo

amazon life, 2006. ........................................................................................................ 92

Figura 11: Fotografia de Produtos da amazon life. Fonte: Catálogo amazon life 92

Figura 12: Esquema do Ciclo de Vida do Produto. Fonte: Kazazian, Thierry, 2003,

p.53. ............................................................................................................................... 94

Figura 13: Esquema de etapas críticas para integração dos aspectos ambientais no

projeto e desenvolvimento do produto. Fonte: ISo 14.062 ......................................... 96

Figura 14: Esquema linear unidirecional da Economia. Fonte: Kazazian, Tierry,

2003, p. 52 ..................................................................................................................... 98

Figura 15: Esquema de Fluxo Fechado. Fonte: Kazazian, Tierry, 2003, p. 53 ....... 99

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Figura 16: Foto de seringueiro banhando tecido de algodão com látex natural. Fonte:

Catálogo amazon life, 2006 ........................................................................................113

Figura 17: Foto de seringueiro defumando tecido de algodão em látex. Fonte: Catálogo

amazon life, 2006 ........................................................................................................113

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LISTA DE SIGLAS

ABNT associação Brasileira de Normas Técnicas

ACV avaliação do Ciclo de Vida

APAS associação de Produtores de artesanato de Seringa

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

BNDESpar Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Participações S.a.

CEMPRE Compromisso Empresarial para Reciclagem

CETEA Centro de Tecnologia de Embalagem

COC Cadeia de Custódia (Chain of Custody)

CO² Monóxido de Carbono

EPR Extended Producer Responsability

ESD Ecologilly Sustainable Development

ESALQ Escola Superior de agricultura luis Evaldo de Queirós

FSC Conselho de manejo Florestal (Forest Stewardship Council)

FSC/BR Iniciativa Nacional do FSC no Brasil

FLONA Floresta Nacional

IBAMA Instituto de Meio ambiente e Recursos Naturais Renováveis

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

ISA Instituto Socioambiental

Imaflora Instituto de Manejo e Certificação Florestal e agrícola

ISO International organization for Stantardization

MMA Ministério do Meio ambiente

ONG organização Não Governamental

ONU organização das Nações unidas

PAS Plano amazônia Sustentável

PIB Produto Interno Bruto

P&C Princípios e Critérios do FSC

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PMF Plano de Manejo Florestal

PNMA Programa Nacional de Meio ambiente

PNUD Programa das Nações unidas para o Desenvolvimento

PPG7 Programa Piloto de Conservação das Florestas Tropicais do Brasil

RESEX Reserva Extrativista

SGA Sistema de manejo ambiental

G7 Grupo dos sete países mais ricos do mundo, substituído por G8

SLIMF Manejo Florestal em Pequenas Propriedades e de Baixa Intensidade (Small

and low Intensity Managed Florests)

SNUC Sistema Nacional de unidade de Conservação

SRI Social Responsible Investing

TR Technical Report

UC unidade de Conservação

USAID united States agency for International Development

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SUMÁRIO

RESUMO ..................................................................................................................... 4

ABSTRACT ................................................................................................................ 5

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13

1. DESIGN SUSTENTÁVEL ............................................................................ 16

1.1. Questões Conceituais .......................................................................... 16

1.2. Abrangência do design para a sustentabilidade ........................... 18

1.2.1. Considerações sobre tempo e lugar .................................................... 19

1.2.2. Aparência e Longevidade ..................................................................... 23

1.2.3. Desmaterialização ................................................................................. 24

1.2.4. Mais Veloz, Mais Insustentável ............................................................. 24

1.2.5. Responsabilidade sobre os Efeitos dos Próprios Atos ......................... 25

1.2.6. Relatividades .......................................................................................... 27

1.3. Design Sustentável no Setor Empresarial Brasileiro ........... 28

1.4. Utopia ou um Projeto Necessário? ................................................ 32

1.4.1. A Finitude dos Recursos Naturais ....................................................... 34

2. POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS NO BRASIL ....................... 37

2.1. Políticas Ambientais e Conseqüências da Rio 92 .................. 37

2.1.1. Agenda 21 ............................................................................................... 39

2.1.2. Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil 40

2.1.3. SNUC – Sistema Nacional Unidades de Conservação....................... 44

2.2. SNUC: Preservação das Florestas e Desenvolvimento na Amazônia ............................................................................................................. 47

2.2.1. Povos da Floresta ................................................................................. 52

2.2.2. Conhecimento Tradicional .................................................................... 54

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2.3. Extração de Madeira e Produtos Florestais Não Madeireiros .. 64

2.4. Valorização do Conhecimento Tradicional ................................ 64

3. A BORRACHA NATURAL .......................................................................... 57

3.1. Borracha Natural: matéria prima renovável .............................. 57

3.1. Extrativismo e Plantio ........................................................................... 59

3.2. Ciclos da Borracha e Movimentos Socioambientais .......... 61

4. O COURO VEGETAL .................................................................................. 66

4.1. O couro vegetal: aprimoramento do tecido encauchado ...... 66

4.2. Projetos similares ao Couro Vegetal da Amazônia ............... 68

4.3. A APAS - Associação de Produtores de Artesanato e Seringa da Boca do Acre - Amazonas/ Flona Mapiá Inauní ......................... 74

4.3.1. A Certificação FSC – Forest Stewardship Council .............................. 76

4.3.2. A Certificação FSC da APAS pelo Imaflora .......................................... 82

4.4. A empresa Couro Vegetal da Amazônia e a Amazon Life .... 86

4.4.1. Questões Sociais do empreendimento ................................................ 90

4.4.2. O design da Amazon Life ....................................................................... 91

5. AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA DO PRODUTO ......................... 93

5.1. Indicadores de Sustentabilidade .................................................. 93

5.2. A ACV - Avaliação do Ciclo de Vida do Produto ...................... 94

5.3. Os desafios para o designer .............................................................. 96

5.4. Ciclos Ecológicos e ACV ..................................................................... 97

5.5. O Conceito de ACV .............................................................................. 100

5.6. Fases de Execução da ACV ............................................................. 103

5.7. Informações Qualitativas para ACV do Couro Vegetal .......110

5.7.1. Definição de Objetivo e Escopo ...........................................................110

DESIGN SuSTENTÁVEl

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5.7.2. Análise de Inventário ............................................................................112

CONCLUSÃO ....................................................................................................... 124

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 129

ANEXOS ................................................................................................................. 135

DESIGN SuSTENTÁVEl

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INTRODUÇÃO

“Sustentabilidade significa encontrar meios de distribuição dos recursos existentes que sejam sadios, economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente justo. Significa garantir qualidade de vida valorizando os bens comuns, o meio ambiente e a comunidade, e reconhecer a interdependência entre eles. o planeta está em grau de manter-se inteiro somente se respeitarmos as exigências da natureza e tornarmos eficientes o uso da tecnologia.” (Rogers, 1997, p.166)

Para que haja um desenvolvimento com futuro é necessário que seja “sustentável”. o

conceito de “desenvolvimento sustentável” foi criado para que haja uma convergência

entre a sustentabilidade dos seres humanos e os ambientes dos quais eles dependem;

impõe uma redução contínua dos impactos dos modos humanos de habitar – seja pen-

sando nas populações atuais seja nas futuras.

a atividade humana continua criando ambientes artificiais e, encontrar a melhor forma de

interação entre o “natural” e o “artificial” é o grande desafio dos profissionais que projetam

produtos de design.

o presente trabalho teve por objetivo, através do estudo de caso da produção do couro

vegetal no norte do país e sua aplicação na produção de artefatos com este material,

apresentar um caminho possível para o desenvolvimento de um design sustentável em

território brasileiro, respeitando suas particularidades naturais, suas políticas ambientais

e suas carências sociais, porém tendo como base conceitos e instrumentos globais.

o Projeto Couro Vegetal da amazônia tem como proposta: desenvolvimento, produção,

promoção e comercialização do couro vegetal que é um tecido emborrachado com látex

natural extraído da seringueira (Hevea brasiliensis) por seringueiros no estado do acre e

amazonas.

Este trabalho refere-se à produção realizada na área da Floresta Nacional de Mapiá

13DESIGN SuSTENTÁVEl | INTRoDuÇão

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Inauiní no estado do amazonas, coordenada pela aPaS – associação dos Produtores

de Seringa e artesanato da Boca do acre, coordenada pela Couro Vegetal da amazônia

e comercializada pela Amazon Life, seja em formato de lâmina ou já transformada em

produto final: bolsas, pastas, mochilas e bonés.

a escolha deste caso se deu porque o processo de produção deste material envolve

questões de grande importância para discussão de sustentabilidade, quais sejam: ma-

téria prima de origem renovável extraída de árvore nativa brasileira, manejo florestal de

baixo impacto, certificação florestal, agroextrativismo, conhecimento tradicional, inclusão

social e geração de renda, preservação da Floresta amazônica, baixo consumo de ener-

gia, inovação tecnológica, agregação de valor através do design, identidade brasileira e

mercado externo.

Esta dissertação está organizada em cinco capítulos. o primeiro capítulo trata de ques-

tões conceituais do design sustentável, o segundo de políticas públicas brasileiras com

especial interesse aos temas que se referem ao estudo de caso, o terceiro sobre a borra-

cha, matéria prima do estudo de caso e os últimos dois sobre o couro vegetal e avaliação

de ciclo de vida, ferramenta capaz de medir os impactos ambientais de um produto desde

seu nascimento até seu descarte. No capítulo cinco constam informações iniciais para

realização de uma aCV completa do couro vegetal. Futuramente deveria ser feita uma

aCV comparativa com outro material com uma mesma função, ou couro animal, ou um

tecido emborrachado com material sintético para se ter conhecimento em números do

impacto ambiental causado por diferentes produtos. Seria também importante incluir uma

visita ao local do extrativismo para conhecer in situ o processo de produção.

a metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica e entrevistas. Dada à atualidade do

tema desenvolvimento sustentável e por conseqüência design sustentável as informações

obtidas foram provenientes não só de livros, mas também coletadas através de sites ofi-

ciais na internet de entidades governamentais e de oNGs ambientalistas, além de dis

14DESIGN SuSTENTÁVEl | INTRoDuÇão

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sertação de mestrado e relatórios de visita de campo realizados por Fujiwara e allessio

para a Fundação Getúlio Vargas e Fundação Ford, e o resumo público do Imaflora para

certificação do FSC. Foram coletados dados primários das três partes envolvidas no

estudo de caso: a empresária e designer da Couro Vegetal da amazônia, Maria Beatriz

Saldanha, o ex-presidente da aPaS (até 2006), Wilson Manzoni, e Patrícia Gomes, do

Imaflora que realizou visita de campo em outubro de 2006 para elaboração de relatório

anual do Imaflora.

No último capítulo são feitas consideração finais sobre possíveis caminhos do design

para colaborar com as mudanças de paradigmas em relação a estilo de vida, avanços

tecnológicos e novos modelos de industrialização tendo em mente que Política ambiental

e Desenvolvimento são duas faces da mesma moeda e que Desenvolvimento Sustentável

é o que é capaz de conciliar crescimento econômico, preservação do meio ambiente e

melhoria das condições sociais.

15DESIGN SuSTENTÁVEl | INTRoDuÇão

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1. DESIGN SUSTENTÁVEL

1.1. Questões Conceituais

a palavra “sustentabilidade” passou a ser associada à “ecológica” desde a publicação

do “Relatório sobre o Nosso Futuro Comum” (Our Common Future Report ou Relatório

Bruntland como ficou conhecido, pois foi coordenado pela então Primeira Ministra da

Noruega, Gro Harlem Bruntland, em 1987).

Neste relatório apareceu pela primeira vez a expressão “desenvolvimento ecológico

sustentável (ecologically sustainable development – ESD)”.

o ecodesign é um modelo de projeto de design orientado por critérios ecológicos. o

tema sintetiza um vasto conjunto de atividades projetuais que envolvem o desenho, ou o

redesenho, de um produto destinado a ser produzido em série.

a dificuldade expressa no conceito de “sustentabilidade” está em conciliar a manu-

tenção ecológica , de forma equilibrada e dinâmica, com um conjunto de atividades ex-

pansionistas realizadas pelo homem denominada de “desenvolvimento”. a característica

do desenvolvimento econômico é o crescimento linear, independente da capacidade de

regeneração dos recursos naturais necessários para a sua produção. a introdução, no

sistema ecológico de ações que alterem de maneira significativa este sistema, cuja carac-

terística é a estabilidade de sua dinâmica, faz com que seja desencadeado um processo

insustentável.

Para Stuart Walker, professor da universidade de Calgary, Canadá, hoje seria precipi-

tado tentar encontrar uma solução definitiva para o projeto de design sustentável, pois

o tema é vasto e pode ser encarado sob diversos ângulos, além disso, seu estudo está

apenas começando.

16DESIGN SuSTENTÁVEl | DESIGN SuSTENTÁVEl

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o autor reconhece a importância de ferramentas como avaliação de Ciclo de Vida,

Natural Step e Fator 10, porém seu foco de interesse refere-se a contribuição do design

em encontrar soluções criativas de estética, aproveitamento de materiais, economia de

energia, etc. para resolver os problemas que a sociedade enfrenta do ponto de vista

econômico, social e ambiental. os exemplos de design sustentável apresentado em seu

livro Sustainable by Design referem-se a projetos acadêmicos, desenvolvidos sob sua

orientação, direcionados para soluções locais e com possibilidades de serem produzidos

em pequena série.

Para Tony Fry, diretor da Ecodesign Foundation na austrália, o ecodesign deve ser en-

tendido dentro de um quadro amplo da sustentabilidade, o que significa ir além do enfoque

limitado de materiais e produtos, e deve apontar uma série de aspectos importantes de

estratégias a ele relacionados.

Indicado no site da Ecodesign Foundation, com um dos pensadores de design mais

importantes da atualidade, Ezio Manzini, do Politécnico de Milão, se apresenta no cenário

internacional de maneira mais pragmática. Seu intuito é de contribuir para o desenvolvi-

mento de uma cultura projetual capaz de enfrentar a transição para a sustentabilidade e de

promover o aparecimento de uma nova geração de produtos e serviços intrinsecamente

mais sustentáveis. o que significa operar no duplo terreno do Life Cycle Design e do de-

sign para a sustentabilidade.

Esta é também a opção adotada por este estudo.

17DESIGN SuSTENTÁVEl | DESIGN SuSTENTÁVEl

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1.2. Abragência do ecodesign

Inicialmente o objetivo do ecodesign era mais restrito: referia-se exclusivamente a dimi-

nuir o impacto ambiental durante a produção e uso de determinado produto, considerando

a utilização de matérias recicláveis ou reciclados e o baixo consumo de energia.

Com a crescente tomada de consciência em relação aos problemas ambientais houve

uma mudança de abrangência de enfoque: passou de um tratamento de poluição, com

políticas de final de processo (end-of-pipe), para as interferências nos processos produti-

vos que são geradores desta poluição, as tecnologias limpas e, depois, para o projeto de

produtos limpos, e finalmente para a reorientação de comportamento da sociedade em

direção à sustentabilidade.

Na prática, segundo Manzini é possível definir quatro níveis fundamentais de possíveis

interferências:

• o redesign de produtos já existentes;

• o projeto de novos produtos ou serviços que substituam os atuais;

• o projeto de novos produtos/serviços intrinsecamente sustentáveis;

• a proposta de novos cenários que correspondam a um estilo de vida sustentável.

a possibilidade da realização de um design para a sustentabilidade (design for sustaina-

bility), está vinculada a um plano estratégico que envolve a promoção de um novo merca-

do, diferente do já existente. além de utilizar tecnologias limpas, o produto deve também

ser aceito social e culturalmente. Porém ainda segundo o autor, para que realmente haja

uma mudança seria necessário, além de redesenhar produtos e ou gerar novos produtos,

atuar considerando outros aspectos como por exemplo o projeto de novos produtos-servi-

ços intrinsecamente sustentáveis ou criando propostas de novos cenários caracterizados

por estilos de vida sustentáveis.

18DESIGN SuSTENTÁVEl | DESIGN SuSTENTÁVEl

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Para que um produto possa ser considerado realmente sustentável, este deveria ser sub-

metido a constantes avaliações comparadas: de implicações ambientais e de diferentes

soluções técnicas, sociais e econômicas; além de que deveria considerar todas as condi-

cionantes que determinam seu impacto durante todo seu ciclo de vida pela metodologia

conhecida como Life Cycle Design (Design do Ciclo de Vida).

ou seja, ao se projetar novos produtos deve-se levar em consideração todas as fases

do projeto e suas possíveis implicações ambientais ligadas à cada fase do ciclo de vida

do produto: pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte.

a análise do Ciclo de Vida será analisada com mais detalhe no Capitulo 5 deste traba-

lho.

1.2.1. Considerações sobre tempo e lugar

o desenvolvimento sustentável deve também levar em consideração escalas de tempo

e lugar, a necessidade de eqüidade e o bem-estar de todos os seres vivos, sua coexis-

tência com o não vivo em seu espaço vital e compreender a importância da integração, e

interdependências, entre as esferas, econômicas e sociais e a biosfera.

o design sustentável além das questões ambientais atende a uma questão de caráter

mais fundamental: a de contribuir progressivamente para a capacidade de sustentar-se

relacionando-se com ambiente, cultura e economia. a análise de um produto não se res-

tringe a sua forma e funcionamento, mas a uma análise mais ampla que envolve também

seu processo de produção. Significa para o profissional da área atuar com maior envol-

vimento com o estilo de vida, a forma de trabalho, a tecnologia a cultura e a relação entre

o tipo de economia, o insustentável e a sustentabilidade. o design passa então a ser um

agente potencial de transformação positiva em larga escala.

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a produção de um produto pode ser feita localmente ou globalmente.

Para que haja uma diminuição dos impactos de um produto é necessário desenvolver

projetos de design que, dentro do possível, utilizem matérias locais disponíveis, produção

em pequena série, e que empregue mão de obra local. Soluções de produção e consumo

locais impactantes.

a integração de uma atitude mais local com técnicas mais automatizadas para a pro-

dução de produtos de moda pode fornecer um caminho em direção à uma economia de

mercado ao mesmo tempo que assegura desenvolvimento e mudanças em direção à

práticas que são responsáveis do ponto de vista social e ambiental.

Stuart Walker sugere que objetos podem ganhar em significado se somarmos à utilidade

do objeto os benefícios econômicos, ambientais e sociais de sua produção. Para que isto

aconteça é necessário uma relação mais profunda com nosso mundo material que, como

parece, pode ser encontrado em nível local.

Somar significado transforma a relação do usuário com o produto, cria uma relação

com sua história. Se no design e na produção não existirem questões ambientais, éticas

e sócio-econômicas ele deixa simbolizar beleza, pois representa um produto nocivo á

sociedade. Entretanto podemos encontrar prazer em objetos que possuem significados

virtuosos, que representam a criatividade, individual ou coletiva e geração de emprego e

renda e prática digna de trabalho.

a beleza pode ser entendida nos objetos através do que ele representa e não somente

por sua aparência. Porém a parte criativa, imaginativa, ética e espiritual da sociedade

está em desvantagem da parte racional e instrumental. a ênfase no utilitarismo, eficiência

econômica, pragmatismo, competitividade agressiva e a idéia do progresso na sociedade

atual e do mundo do design limitou, e frequentemente, eliminou a poesia a elegância e a

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austeridade criativa da nossa cultura.

a palavra sustentabilidade evoca idéia de longevidade, continuidade e durabilidade.

Produtos globalizados, produzidos em massa inundam o cotidiano das pessoas em di-

versas partes do mundo. São produtos que não são duráveis, quase sempre fica mais

barato descartá-los do que consertar. São um caminho para a insustentabilidade pois

faz com que haja um aumento de consumo de energia, matéria prima e aumente o nível

de resíduo no mundo.

a maioria dos produtos fabricados em larga escala que buscam o conceito de estética

que seguem tendências e modismos escondem por trás da aparência, ações de explora-

ção de recursos naturais, poluição, exploração de mão de obra e disparidade social. Muitas

vezes são produtos que para ganhar mercado, através do baixo custo, são produzidos

em países que remuneram mal seus empregados, ou são produzidos em empresas de

alto nível de automação e alto índice de gasto energético. utilizam técnicas automatiza-

das que requerem pouca mão de obra e gastam muita energia na sua produção e na sua

distribuição internacional.

o conceito de sustentabilidade não harmoniza com a palavra exploração; baseia-se

numa relação respeitosa, responsável e de reciprocidades com pessoas e com o mundo

natural. o planeta é um sistema vivo do qual somos dependentes.

É necessário desenvolver projetos de design que, dentro do possível, utilizem materiais

locais disponíveis, produção em pequena série, e que empregue mão de obra local. a

integração de uma atitude mais local com técnicas mais automatizadas para a produção

de produtos pode fornecer um caminho em direção à uma economia de mercado ao

mesmo tempo que assegura desenvolvimento e mudanças em direção à práticas que são

responsáveis do ponto de vista social e ambiental.

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austeridade criativa da nossa cultura.

a palavra sustentabilidade evoca idéia de longevidade, continuidade e durabilidade.

Produtos globalizados, produzidos em massa inundam o cotidiano das pessoas em di-

versas partes do mundo. São produtos que não são duráveis, quase sempre fica mais

barato descartá-los do que consertar. São um caminho para a insustentabilidade pois

faz com que haja um aumento de consumo de energia, matéria prima e aumente o nível

de resíduo no mundo.

a maioria dos produtos fabricados em larga escala que buscam o conceito de estética

que seguem tendências e modismos escondem por trás da aparência, ações de explora-

ção de recursos naturais, poluição, exploração de mão de obra e disparidade social. Muitas

vezes são produtos que para ganhar mercado, através do baixo custo, são produzidos

em países que remuneram mal seus empregados, ou são produzidos em empresas de

alto nível de automação e alto índice de gasto energético. utilizam técnicas automatiza-

das que requerem pouca mão de obra e gastam muita energia na sua produção e na sua

distribuição internacional.

o conceito de sustentabilidade não harmoniza com a palavra exploração; baseia-se

numa relação respeitosa, responsável e de reciprocidades com pessoas e com o mundo

natural. o planeta é um sistema vivo do qual somos dependentes.

É necessário desenvolver projetos de design que, dentro do possível, utilizem materiais

locais disponíveis, produção em pequena série, e que empregue mão de obra local. a

integração de uma atitude mais local com técnicas mais automatizadas para a produção

de produtos pode fornecer um caminho em direção à uma economia de mercado ao

mesmo tempo que assegura desenvolvimento e mudanças em direção à práticas que são

responsáveis do ponto de vista social e ambiental.

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1.2.2. Aparência e Longevidade

a questão da durabilidade de um objeto passa pela avaliação de resistência dos mate-

riais, tecnologia e qualidade do envelhecimento do material.

o problema em relação a longevidade de um produto feito em plástico brilhante é quando

novo é perfeito porém envelhece mal: fica fora de moda e sua superfície perde a perfeição,

então o proprietário é impulsionado a comprar um modelo novo e o ciclo recomeça. Desta

maneira o lixo aumenta, o consumo é estimulado e o mundo material é desvalorizado.

Para combater a cultura do descartável seria útil encontrar atitudes alternativas a este

modelo de produção e consumo. Se ao invés de conceber produtos que tenham super-

fícies brilhantes e perfeitas, as irregularidades dos materiais forem aceitas, o envelheci-

mento deixa de ser um elemento de deterioração do produto a passa a enobrecer, pois

conta sua história (diferentemente dos materiais envelhecidos artificialmente). Na verdade

precisamos projetar produtos que “envelhecem bem”. Por exemplo, produtos de madeira,

em relação ao plástico, são mais fáceis de consertar, exigem mão de obra menos espe-

cializada é uma matéria prima que quando é danificada é fácil de ser lixada e voltar ao

seu estado de novo.

o estilo pode definir a durabilidade de um objeto, pois ele pode ficar “fora de moda” num

curto espaço de tempo. as tendências podem colaborar com as vendas de uma empresa,

mas frequentemente é um problema para a sustentabilidade.

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1.2.3. Desmaterialização

a desmaterialização visa à redução da utilização de matérias e consequentemente a dis-

sociação do crescimento econômico com o aumento da exploração de matérias-primas.

a empresa de economia leve deve aperfeiçoar seus meios, ferramentas de produção e

projeto de produtos, para a obtenção de um resultado igual ou até superior ao da estratégia

clássica. a desmaterialização é ainda mais adequada em empresas baseadas em valores

cada vez mais imateriais, como o domínio do conhecimento científico e tecnológico, as

transferências de informação ou as estratégias de organização. ou seja, a regra é: usar

mais raciocínio e menos matéria.

o Fator 4 e o Fator 10 foram concebidos como instrumentos para reduzir os fluxos de

matérias-primas na economia: uma divisão por 4 em vinte anos e por 10 em cinqüenta

anos. Respeitar estes princípios significa conceber e produzir objetos cotidianos com 4, ou

10, vezes menos matérias primas. a dificuldade em colocar o Fator 4 em prática é menos

uma problema de ordem tecnológica do que econômica e psicológica.

1.2.4. Mais Veloz, Mais Insustentável.

É possível traduzir o progresso alimentado à combustível fóssil com a expressão “mais

rápido”. até hoje a idéia que prevalece é que velocidade maior é melhor que menor.

Porém para se obter alta velocidade é necessário pagar um preço. o deslocamento no

espaço e no tempo requer deslocamento da natureza. Veículos e combustíveis, estradas

e pistas para aviões, aparelhos eletrônicos e eletricidade requerem um gigantesco fluxo

de energia material.

É possível melhorar a eficiência do combustível porém, não é possível negar a lei que

rege a física da velocidade: para vencer o atrito e a resistência do ar é necessário, em

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maneira não proporcional, grande quantidade de energia.

além disto, a transmissão eletrônica à velocidade da luz pode levar a um congestio-

namento de tráfico. É provável que será necessário controlar a velocidade para que a

sociedade da informação seja sustentável.

É difícil que uma sociedade que quer se movimentar cada vez mais velozmente seja

também sustentável do ponto de vista ambiental.

1.2.5. Responsabilidade sobre os Efeitos dos Próprios Atos

Em 1979 Hans Jonas, constatando os abusos da civilização tecnicista e suas conse-

qüências na exploração da natureza sem responsabilidade teorizou o princípio da pre-

caução. Este princípio e se baseia em atos de prudência e bom senso: toda ação gera

uma série de riscos e a vigilância sobre ela é indispensável.

a precaução consiste em ampliar a percepção do desenvolvimento em relação à com-

plexidade dos sistemas que regem a natureza e de questionar as “certezas” existentes.

Em determinado momento ficou claro que a pesquisa científica não era mais suficiente

para garantir a inocuidade de uma ação determinada através de uma escolha. até as

decisões mais racionais podem influenciar o futuro de forma negativa. Exemplo disto foi

a substituição, em 1940, do gás propano pelo CFC e somente quarenta anos depois foi

possível identificar os efeitos altamente destruidores deste gás na camada de ozônio da

estratosfera.

o princípio da precaução se aplica à todas as formas de estrutura, tanto políticas quanto

institucionais ou industriais.

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Indivíduos, organizações e governo devem assumir as conseqüências de seus atos. o

resultado prático desta teoria foi a criação do princípio do “poluidor-pagador” em que o

Estado responsabiliza quem está na origem da poluição. É verdade que nem sempre é

fácil localizar de quem é a responsabilidade devido a complexidade dos sistemas econô-

micos.

uma das interpretações dessa responsabilidade está presente no mercado de cotas de

carbono: uma empresa ou país industrializado financia um projeto “limpo” em outro país,

obtém créditos e a “permissão para poluir”. Na verdade são mecanismos paliativos para

poder atingir os objetivos do protocolo de Quioto, mas não substituem os compromissos

assumidos em acordos internacionais.

as empresas muitas vezes são reponsáveis por danos ambientais graves e por isso

desempenham um importante papel na transformação em direção à sustentabilidade.

Durante muito tempo a empresa foi vista como um modelo linear em um sistema composto

por ela mesma, seus fornecedores e seu mercado, sobre os qual ela deveria ser capaz

de exercer um domínio unilateral. atualmente é representada como uma célula ativa no

meio de um conjunto de relações com o meio ambiente que interage.

algumas empresas interagem com o meio ambiente como uma oportunidade na sua

estratégia de desenvolvimento. a aplicação de métodos de antecipação, gestão das con-

seqüências, compreensão das interações mudou a visão que tinham de si mesmas a de

suas atividades. Desta maneira reduziram a quantidade de matéria prima empregada,

o volume de resíduo depositado nos aterros, a utilização de energia através de um uso

mais eficiente. Esta abordagem chamada de “ecoeficiente” permite um ganho ambiental

ao mesmo tempo que aumenta o lucro para a empresa.

Certificações voluntárias, baseados nos modelos internacionais de gestão de qualidade,

“selos” de gestão ambiental do meio ambiente industrial foram elaborados no anos 90.

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atualmente milhares de indústria no mundo exibem sua adesão às normas ambientais

da série ISo 14 000. a certificação pode se transformar em um item de competitividade e

evitar possíveis barreiras comerciais, uma vez que quando é criada uma norma interna-

cional ela pode se tornar restritiva a determinados produtos.

a tendência de estender a responsabilidade do produtor também às fases finais da vida

do produto (EPR – Extented Producer Responsability) é uma das mudanças mais signifi-

cativas em termos de normas atuais no cenário internacional.

1.2.6. Relatividades

Experiências têm mostrado que as melhores soluções são específicas para o produto

a para a empresa. É necessário encontrar a estratégia adequada para integrar aspectos

ambientais no design de produto. algumas decisões podem ser benéficas se analisadas

de um determinado ponto de vista, mas impactar de maneira negativa de outro. É o cha-

mado efeito boomerang. (rebound effect).

algumas escolhas que, tecnicamente, à primeira vista parecem positivas para o ambien-

te, quando colocadas em prática se revelam geradoras de novos problemas. Por isso para

a tomada de decisões é importante considerar as análises compensatórias (trade-off) que

segundo a ISo TR 14 062 podem ser de três tipos:

• Trades offs entre diferentes aspectos ambientais

Ex.: a redução de matéria de um produto pode afetar sua reciclabilidade, ou sua du-

rabilidade tornando-o descartável. Com a diminuição da matéria prima, o preço diminui,

aumenta o consumo e na prática há um maior consumo de matéria prima. o computador

é um meio digital, porém a facilidade de adquirir impressora fez com que houvesse maior

consumo de papel.

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• Trade offs entre benefícios econômicos, sociais e ambientais

Ex.: Fazer produtos robustos pode impactar negativamente no que se refere ao uso de

maior quantidade de matéria prima e aumentar o custo inicial, porém agrega valor em

imagem e durabilidade.

• Trade offs entre aspectos ambientais, técnicos e/ou de qualidade

Ex. aumentar a durabilidade é bom porém em certos produtos pode acarretar prejuízos

de consumo de energia. Novas tecnologias podem trazer benefícios de perfomance do

produto e fazer com que gaste menos energia. Produtos descartáveis não são aconselhá-

veis, porém utilizar copinhos de plásticos descartáveis e recicláveis pode gerar economia

de água e evitar uso de detergente poluidor.

Estas questões fazem parte de um complexo sistema econômico, social, cultural e tec-

nológico que interferem na esfera individual e social. as transições tecnológicas carregam

com elas a imprevisibilidade das suas conseqüências no ambiente sócio-cultural.

1.3. Design Sustentável no Setor Empresarial Brasileiro

Como já foi dito anteriormente, a dificuldade expressa no conceito de “sustentabilidade”

é a de conciliar a manutenção do ambiente ecológico com o conjunto de atividades expan-

sionistas do “desenvolvimento”. Esta dificuldade ganhou ainda mais divulgação no Brasil,

quando o presidente lula, empenhado em aumentar o índice de crescimento de país

declarou que “questões ambientais” eram um entrave ao desenvolvimento do país.

Na análise de diversos especialistas, economistas, cientistas sociais e ecologistas, com

este foco o governo se concentra apenas no crescimento econômico e, por isso, é des-

provido de uma visão sistêmica acerca do desenvolvimento como um todo.

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Fernando almeida, professor adjunto da uFRJ e presidente da CEBDS – Conselho

Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável afirma que quem está na frente da cor-

rida por compreender, assimilar e aplicar os conceitos do desenvolvimento sustentável

em todas as suas esferas são as empresas.

um, ainda pequeno, grupo de empresários, entendeu que as empresas tem um impor-

tante papel na transformação em direção à sustentabilidade e que cumprir a lei já não é o

suficiente. ações voluntárias por parte das empresas evolvendo conceitos de “ecoefici-

ência” proporciona ganho ambiental ao mesmo tempo que gera aumento de lucro.

Segundo Fernando de almeida, para a classe empresarial a conscientização da ne-

cessidade da aplicação dos conceitos da sustentabilidade em larga escala é questão de

sobrevivência. Da própria sobrevivência”.

Sem a pretensão de analisar os resultado efetivos das iniciativas, vale citar que tem

aumentado em número as ações empresariais em direção a sustentabilidade, com des-

taque para a atuação do Instituto Ethos, do Depto. de Meio ambiente da FIESP/CIESP,

e a criação do Índice de Sustentabilidade ambiental da Bovespa, coordenado pela FGV

– Fundação Getúlio Vargas.

o ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial é um índice de ações que procura esta-

belecer um referencial para os investimentos socialmente responsáveis. a tendência de

investidores procurarem empresas socialmente responsáveis, sustentáveis e rentáveis

para aplicar seus recursos teve início há alguns anos. Estas aplicações, denominadas

“investimentos socialmente responsáveis” (SRI), consideram que empresas sustentáveis

geram valor para o acionista no longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar

riscos econômicos, sociais e ambientais. o Dow Jones foi a primeira instituição a incor-

porar sustentabilidade no mercado de ações: o Dow Jones Sustainability Index (Índice

Dow Jones de Sustentabilidade).

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o Centro São Paulo Design, mantido pelo IPT, FIESP/CIESP, Sebrae e Secretária de

Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo é o parceiro da FIESP no que se refere ao

tema design sustentável.

“Design Sustentável é a ferramenta que intensifica, aprimora e amplia os objetivos origi-nais de design e seu respectivo raio de ação, através de produtos, serviços, processos, sistemas e estratégias, agindo em comunhão com o conceitos de desenvolvimento sustentável seguindo as metas estabelecidas internacionalmente para este fim. (Fábio Souza, 2004, site Centro São Paulo Design).

o design sustentável procura otimizar o uso da ferramenta do design com o objetivo gerar

possibilidades de melhoria da qualidade de vida do indivíduo numa evolução sustentável

– garantindo a continuidade do processo nos mesmos patamares de seu início.

a atividade do design sustentável acompanha a direção das metas traçadas em con-

venções internacionais sobre o futuro das políticas públicas em benefício do planeta,

nas dimensões sociais, ambientais e econômicos. São exemplos: Protocolo de Quioto,

Agenda 21, Metas do Milênio, Programa Piloto de Preservação das Florestas Tropicais e

conceitos emergentes como Responsabilidade Social, Inclusão Digital, Comércio Justo,

Mudanças Climáticas.

através da ecoeficiência é possível a obtenção de serviços com preços competitivos que

satisfazem as necessidades humanas e trazem qualidade de vida reduzindo progressiva-

mente os impactos ambientais através de todo o ciclo de vida para um nível, no mínimo,

alinhado com a capacidade que a Terra tem de suportar. (WBCS – World Business Council

for Sustainable Development)

Quando, em 1997, a Federação das Indústrias do Estado de São lançou o Prêmio

Ecodesign: um prêmio à competitividade com design e princípios ecológicos, um sinal

concreto de que as preocupações ecológicas unidas ao design entrava na agenda das

indústrias brasileiras, foi dado.

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É sabido que empresários trabalham com números e resultados e que os melhores

trabalham com planejamento a longo prazo. Na época o então presidente da instituição,

Horácio Piva lafer afirmava em texto publicado sobre o concurso:

o desenvolvimento de produtos de acordo com princípios ambientais tornou-se um dos pré-requisitos de competitividade. a indústria que, com raras exceções encarava as questões ambientais como um problema, custoso de ser resolvido e a legislação como entrave hoje transforma estas questões como um desafio de transformar problemas em oportunidade de negócios. a indústria que por outro lado era vista, de maneira simplista, como sendo uma atividade eminentemente poluidora, tem incorporado o paradigma ambiental e encontrado caminhos e soluções eficazes para inserção de novos critérios na produção industrial.

“o ecodesign incorpora tecnologias, materiais e processos produtivos modernos, usan-do-os de forma adequada e em conformidade ambiental, com vantagens competitivas excepcionais para a indústria, com otimização de processos, economia de recursos e eliminação de desperdícios, contribuindo para viabilizar uma relação mais harmônica entre sociedade e meio ambiente. Significativamente o ecodesign abre perspectivas re-alistas para os nossos recursos e peculiaridades econômicas e socioculturais, gerando produtos com design diferenciado e identidade marcante, associado à biodiversidade e à responsabilidade para com as futuras gerações e, simultaneamente, capazes de se consolidar em mercados mundiais mais exigentes.”.

Para angelo albiero Filho, então Diretor Titular do Departamento de Meio ambiente e

Desenvolvimento Sustentável da FIESP/CIESP

“a velocidade da globalização, o fortalecimento da consciência ambiental, as pressões e legislações correlatas , assim como o espaço que o tema vem recebendo na mídia, acelera o desenvolvimento da cultura sobre o tema no setor industrial de todo país, seus benefícios e aplicações, assim como o desenvolvimento de ferramentas técnicas e metodológicas.”.

a predominância inicial era o aproveitamento de resíduos e a reciclabilidade dos ma-

teriais porém as diretrizes mais recentes enfatizam soluções que enfocam economia de

energia, o uso sustentável das matérias-primas, a redução de componentes, a separação

de materiais para facilitar seu aproveitamento posterior, a substituição de materiais polui-

dores por outros ambientalmente mais adequados, a extensão da vida útil dos produtos,

entre outras questões.

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Para angelo albiero o Brasil, ao aproveitar de forma sustentável suas incontáveis ri-

quezas naturais, tem imenso potencial competitivo no mercado interno e no exterior. É

necessário promover um esforço de mobilização de diversos setores envolvidos e uma

postura pró-ativa em relação ao tema.

atualmente o Departamento de Meio ambiente e Sustentabilidade da Fiesp trabalha na

tradução das Normas da Série ISo 14000, Sistema de Gestão ambiental (SGa), Rotulagem

ambiental de Produto, aCV - avaliação de Ciclo de Vida, Mudanças Climáticas, Barreiras

Técnicas ambientais ao Comércio, e, Integração de aspectos ambientais em Normas e

em Projeto de Desenvolvimento de Produtos.

1.4. Utopia ou um projeto necessário?

a tecnologia cria a interação entre o “natural” e o “artificial”.

a insustentabilidade acontece quando atingimos o ponto crítico nesta relação, quando a

velocidade da utilização do “capital da sustentação” (aquele do qual dependemos) ultra-

passa sua capacidade de renovação, regeneração, reparo ou recriação de tais “ativos”.

a população do planeta passou de 1,6 bilhões de pessoas em 1900, para mais de 6

milhões nos dias de hoje. Desde o início da Revolução Industrial a utilização de recursos

e a capacidade de produção, bem como o consumo e o desperdício cresceram continu-

amente.

uma sociedade incapaz de ver as implicações de seus atos e que se recusa a enfrentar

o que muitas vezes, empiricamente, é evidente torna o desenvolvimento “insustentável”.

o problema está no centro das economias industriais, da sociedade de consumo e do

modo que vivemos e sonhamos.

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ao manter o mesmo modelo de vida já estabelecido o homem caminha para um mundo

de recursos esgotados, ambientes degradados, ecologias danificadas e um sistema dis-

funcional de valores, que aparentemente faz parte da “natureza humana”.

alguns teóricos acreditam que novas tecnologias podem, em algum momento, resolver

todos os problemas.

Para Tony Fry esta crença está equivocada. apesar da tecnologia poder resolver certos

problemas ela é também capaz de aumentá-los. através da tecnologia tem sido possível

uma crescente capacidade produtiva que alimenta a sociedade de consumo; quando uma

nova tecnologia é criada, muitas vezes, não é possível prever seu impacto futuro como,

por exemplo aconteceu com o uso do automóvel e a engenharia genética. outra questão

que se apresenta é que muitos problemas ambientais não se referem exclusivamente ao

domínio da tecnologia. o aquecimento global, gerado em grande parte pela emissão de

gases, não se resolve somente por técnicas de redução ou substituição, apesar deste

ser um grande desafio. É também necessário comprometimento político e mudanças

culturais. o caminho que os países em desenvolvimento procuram trilhar é o de um

desenvolvimento industrial e cultural baseado em uma economia apoiada em consumo

energético e aumento de emissões de gases de efeito estufa. a sustentabilidade só poderá

ser alcançada ser houver uma ampla redução de impactos, justiça social e novos imagi-

nários, que permitam a humanidade realizar seus sonhos sem que haja uma constante

destruição ambiental.

Estamos num grau de desenvolvimento que apesar de dependermos da natureza,

não é mais possível voltar a uma vida “natural”, porém é necessário repensar a relação

entre o “natural” e o “artificial” e reconhecer que os antigos, e os não modernos, sabiam,

e ainda sabem no caso de populações tradicionais, mais sobre seus ambientes do que a

civilização contemporânea.

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a sustentabilidade é um processo necessário para garantir o futuro da humanidade, no

qual a adaptação é possível. É parte de um tempo de mudanças. Não será alcançada

somente com um passo, nem desvinculada de uma teoria e de um valor. o ecodesign, ou

o design sustentável é somente uma das ferramentas deste processo.

4.1. A Finitude dos Recursos Naturais

o homem recorre aos recursos naturais, isto é, aqueles que estão na Natureza, para

satisfazer suas necessidades, porém, enquanto que a população continua a crescer o

planeta Terra é um sistema limitado.

Hoje estamos mais conscientes sobre os impactos negativos da atividade humana so-

bre o meio ambiente, porém os danos ambientais não são um fenômeno recente. Já no

século XVI, com o desenvolvimento da indústria do aço, houve uma destruição maciça

das florestas na Europa.

os impactos negativos se agravaram nas últimas quatro décadas uma vez que as con-

seqüências locais de produção e consumo se transformaram em escala universal através

da globalização.

os recursos naturais podem ser renováveis, isto é, voltarem a ser disponíveis, ou não

renováveis, isto é, nunca mais ficarem disponíveis. Conservar os recursos naturais implica

em usá-los de forma econômica e racional para que, os renováveis não se extingam por

mau uso e os não renováveis não se extingam rapidamente.

as matérias primas renováveis são produzidas pela natureza e transformadas pelo

homem. Seu tempo de renovação é inferior ou igual ao de uma vida humana. Trata-se de

materiais de origem vegetal ou animal, como a madeira, o algodão ou a lã. uma gestão

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adequada de produtos florestais e provenientes da agricultura assegura sua regenera-

ção. ao escolher matérias primas certificadas é possível ter certeza que são provenientes

de um bom manejo.

as matérias primas não-renováveis se encontram em quantidade limitada na natureza.

os minerais, como por exemplo o minério de ferro, são classificados como recursos natu-

rais não renováveis. outro exemplo é o petróleo. São recursos não renováveis porque, se

utilizadas de forma intensiva, um dia, irão se esgotar no Planeta. Por isso é importante, no

caso de matérias primas não renováveis sempre que possível, utilizar material reciclado.

No caso da água é preciso reaproveitá-la ao máximo e, quanto menos for poluída mais

fácil será purificá-la para sucessivas utilizações.

Se o recurso natural não renovável for reciclado de maneira conveniente é possível haver

uma dilatação do prazo de existência desse recurso na natureza.

Segundo o conceito da pegada ecológica (ecological footprint) que mostra impacto de

uma pessoa, uma empresa, uma cidade, a humanidade já está vivendo além de seus

limites (Beyond the Limits, Mesdows et. al., 1973) e já está utilizando o capital ecológico

que é a base para a saúde continuada do planeta. Para satisfazer as necessidades da

população mundial vivendo conforme os padrões europeus seriam necessários dois pla-

netas e meio e segundo os padrões americanos cinco planetas.

Sendo assim a gestão de recursos naturais se torna uma questão vital na economia e

não haverá uma nova economia sem que hajam novos modelos de vida.

Considerando que: a produção industrial parece crescer de forma inexorável, a popula-

ção do planeta continua a aumentar, os países em desenvolvimento procuram se indus-

trializar segundo o modelo de bem estar dos países industrializados, o planeta Terra é um

só e os recursos naturais são finitos concluímos que o consumo deve ser crítico e

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responsável pois um planeta só não é suficiente para responder às exigências, atuais e

futuras, da população humana. Para atingir a sustentabilidade o ser deve prevalecer sobre

ter; ter deve servir a ser. a sociedade deverá privilegiar serviços ao invés de produtos.

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2. POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS NO BRASIL

2.1. Políticas Ambientais e Conseqüências da Rio 92

a política ambiental é o conjunto de decisões estratégicas que visam promover a con-

servação e o uso sustentável dos recursos naturais.

a ordem internacional é um conjunto de convenções internacionais que busca regular as ações humanas sobre o ambiente em escala internacional. Cada documento firmado prevê a maneira pela qual ocorre a participação das partes – países que assinaram a convenção, que a ratificaram, seja por ato presidencial ou do monarca, seja pela ratifi-cação do Congresso -, a periodicidade das reuniões e eventuais sanções a que estão sujeitas aqueles que não cumprirem os termos acordados. a ampla maioria desses tra-tados internacionais é resultado de eventos promovidos pela organização das Nações unidas – oNu. (Ribeiro, 2003, p. 601 ).

Devido à gravidade dos problemas ambientais a importância dada às questões relati-

vas a este tema aumentou. as Conferências Internacionais de Meio ambiente colocaram

a questão socioambiental definitivamente na pauta das preocupações prioritárias mun-

diais. a primeira reunião da oNu sobre meio ambiente ocorreu em Estocolmo Suécia

em 1972 e dela resultou a criação do PNuMa Programa das Nações unidas para o Meio

ambiente.

as questões de sustentabilidade social e ambiental foram incluídas nas discussões

públicas de desenvolvimento e temas como transporte, energia, comércio e indústria pas-

saram a interagir com o setor ambiental. Nesta interação transversal o desafio tem sido o

de conciliar interesses que muitas vezes são conflitantes: o da preservação ambiental de

um lado e o expansionismo econômico de outro que movimenta setores como mineração,

agropecuária, setor imobiliário.

No Brasil as primeiras iniciativas governamentais de gestão ambiental datam do século

XIX, com a criação do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, e do Serviço Florestal extinto

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1959 e sucedido pelo Departamento de Recursos Naturais Renováveis e, em 1967, pelo

Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Em 1973 foi criada a Secretaria

Especial do Meio ambiente (SEMa) no âmbito do Ministério do Interior.

a criação do Ministério do Desenvolvimento urbano e Meio ambiente se deu em 1985,

e do IBaMa - Instituto Brasileiro de do Meio ambiente e dos Recursos Naturais em 1989,

que fundiu a Sema à Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (Sudepe) e ao IBDF,

vinculados ao Ministério da agricultura à Superintendência da Borracha (Sudhevea). Em

1999 as questões ambientais passaram a ser tratadas no âmbito de uma Secretaria

Especial da Presidência República e finalmente, em 1992, foi criado o Ministério do Meio

ambiente, no mesmo ano em que foi realizada a Conferência das Nações unidas para o

Meio ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, como ficou conhecida.

a Rio 92 faz parte de um calendário de conferências interna-

cionais organizadas pela oNu com o objetivo de tratar de pro-

blemas internacionais de caráter econômico, social, cultural,

ambiental e humanitário.

a mudança de paradigmas na questão ambiental, se deu com

a introdução do conceito de desenvolvimento sustentável que já

estava presente no relatório Brundtland (1987) e que foi a base dos documentos firmados

na Rio 92, a segunda reunião organizada pela oNu.

a Rio 92 pode ser considerada um marco histórico importante na política ambiental

brasileira e internacional. Prova disto é que durante sua realização estiveram presentes

118 governantes mundiais, entre eles os presidentes do Brasil e dos Eua, e 15 mil oNGs

provenientes de vários países que celebraram um pacto em defesa da justiça social e do

meio ambiente resultando na criação do Fórum Brasileiro de oNGs e Movimentos Sociais

para o Meio ambiente e Desenvolvimento.

Figura 2: logotipo

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Entre os documentos firmados Rio 92 estão: a Declaração sobre Meio ambiente e

Desenvolvimento, a Convenção da Diversidade Biológica, a Declaração de Princípios

sobre o uso das Florestas, a Convenção sobre Mudanças Climáticas e a Agenda 21. os

parâmetros estabelecidos nestes documentos passaram a ser referência para definição

de políticas públicas dos países participantes.

Em 2002 foi realizada em Joannesburg, África do Sul, a Cúpula Mundial sobre

Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10. Porém o que deveria ser uma consolidação dos

propósitos estabelecidos na Rio 92, se transformou na elaboração de um documento com

metas genéricas e sem previsão de prazos.

Neste mesmo ano o Ministério do Meio ambiente finalizou a Agenda 21 nacional. Foram

então consolidados mecanismos de participação da sociedade nos programas de go-

verno. São exemplos desta cooperação o PP-G7 Programa Piloto para Conservação

das Florestas Tropicais do Brasil e o PNMa – Programa Nacional do Meio ambiente que

fortaleceu a estrutura institucional, legal e normativa das políticas ambientais.

2.1.1. Agenda 21

a Agenda 21 é um instrumento importante de reconversão da sociedade industrial em

direção a um novo paradigma, que exige a reinterpretação do conceito de progresso,

contemplando maior harmonia e equilíbrio holístico entre todas as partes, promovendo

a qualidade e não apenas a quantidade do crescimento. É um plano de ação para ser

adotado global, nacional e localmente, por organizações do sistema das Nações unidas,

governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o

meio ambiente.

a Agenda 21 Brasileira foi construída a partir das diretrizes da Agenda 21 Global e

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tou com participação de representantes da sociedade brasileira. Hoje faz parte do Plano

Plurianual do Governo o que confirma sua importância como política pública. É um ins-

trumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável e tem como

eixo central a sustentabilidade, compatibilizando conservação ambiental, justiça social e

crescimento econômico.

as ações prioritárias são programas de inclusão social, sustentabilidade urbana e rural,

preservação dos recursos naturais e minerais, estímulo ao consumo responsável e ética

na política.

Desde sua adoção a Agenda 21 tem sido ajustada e revista. Primeiro na Rio +5 em Nova

Iorque, depois com a redação das Metas do Milênio com ênfase na erradicação da fome

e nas políticas de globalização e em 2002 na Rio +10 realizada em Joannesburgo.

2.1.2 – Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil

o Programa Piloto foi proposto na reunião do Grupo dos Sete Países industrializados

(ex G7) em Houston, Eua, em 1990. Foi aprovado em conjunto com a Comissão Européia

em dezembro de 1991. Em 1992, durante a conferência das Nações unidas para o Meio

ambiente e o Desenvolvimento o programa foi lançado oficialmente pelo Brasil. uma se-

gunda fase do programa foi iniciada em 2003 e deverá se estender até 2010.

o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil é uma ação conjunta

do governo brasileiro, da sociedade civil brasileira e da comunidade internacional, que bus-

ca formas de conservar as florestas tropicais da amazônia e costa brasileira. Conservar

significa tanto proteger as florestas quanto promover o desenvolvimento sustentável da

região – para satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer

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as necessidades das gerações futuras.

as florestas tropicais brasileiras oferecem benefícios para o Brasil e para o mundo. as

florestas abrigam uma grande diversidade de plantas e animais; armazenam carbono que,

se fosse liberado contribuiria para a formação de gases do efeito estufa; regulam ciclos

hídricos e preservam o clima da região. o Brasil também tem interesse legítimo em usar

este recurso natural como oportunidade econômica que ele representa para a população

silvícola e para a nação como um todo. assim o objetivo do Programa é o desenvolvimento

de estratégias inovadoras para a proteção e o uso sustentável da Floresta amazônica e

da Mata atlântica, associadas à melhoria na qualidade de vida das populações locais. É

o maior programa de cooperação multilateral relacionada a uma temática ambiental de

importância global.

Para maximizar os benefícios ambientais da floresta de forma e ser consistente com as

metas de desenvolvimento do Brasil e de sua população, reduzindo de maneira contínua

o índice de desmatamento é necessário:

• demonstrar a viabilidade da harmonização dos objetivos ambientais e econômicos nas

florestas tropicais;

• ajudar a conservar os enormes recursos genéticos que as florestas dispõem;

• contribuir para diminuir a participação das florestas brasileiras na emissão de Co2

através do desmatamento.

• servir como exemplo de cooperação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento

para resolução de questões ambientais globais.

o Programa é financiado por doações dos países integrantes de ex-Grupo dos Sete,

da união Européia e dos Países Baixos, complementadas com contrapartida crescente

do governo Federal, dos governos estaduais e de organizações da sociedade civil. o

Ministério do Meio ambiente - MMa é responsável pela sua coordenação geral. o plane

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jamento e execução das atividades envolvem parcerias com órgãos do governo federal,

governos estaduais e municipais, movimentos sociais, organizações ambientais e setor

privado.

o desafio do governo é a implantação de um novo modelo de desenvolvimento na região

amazônica, pautado na inclusão social com respeito à diversidade cultural, no fomento a

atividades econômicas dinâmicas e competitivas e no uso sustentável dos recursos natu-

rais numa região caracterizada historicamente por uma exploração não sustentável dos

recursos naturais da região, relacionados muitas vezes a expansão e colapso de ciclos

econômicos, conflitos sociais e de posse de terra.

o governo brasileiro criou em 2003 o PaS – Plano amazônia Sustentável que en-

volve cinco temas principais: ordenamento Territorial e Gestão ambiental, produção

Sustentável com Inovação e Competitividade, inclusão Social e Cidadania, Novo Modelo

de Financiamento e Infra-estrutura para o Desenvolvimento.

Desde o início de sua implementação, o que ficou claro, é que os projetos devem ser

além de ecologicamente corretos, também política e economicamente sustentáveis. os

projetos que visam mudar a maneira de como as pessoas usam a terra e os recursos na-

turais devem receber o apoio tantos dos que formulam as políticas quanto daqueles que

serão afetados por elas. os esforços no sentido do desenvolvimento sustentável devem

propiciar benefícios para todas as partes - para os grupos atuais afetados, para gerações

futuras e para o meio ambiente. o desenvolvimento sustentável deve ser mais atrativo e

deve melhorar a qualidade de vida das pessoas, de maneira que seja uma escolha e não

uma imposição.

o desenvolvimento de bases de apoio pode ajudar a gerar apoio político e restringir o

uso não sustentável dos recursos florestais. Devem fazer parte destas bases de apoio não

só as pessoas que vivem na floresta ou perto dela, e que retirem dela seu sustento

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através do desenvolvimento sustentável, mas também outros setores da sociedade, tais

como a comunidade científica, grupos empresariais, meios de comunicação, governantes

e residentes urbanos cientes da necessidade da conservação dos recursos naturais. uma

das tarefas do programa é construir estas bases, fazendo com que haja uma aceitação

mais ampla do conceito de desenvolvimento sustentável e que haja uma participação

mais ativa da sociedade civil.

o Programa Piloto representa um modelo novo de parceria internacional. a colaboração

em questões ambientais de importância e preocupação mundial está sendo fortalecida

através de novos arranjos e procedimentos institucionais em escala internacional. o go-

verno brasileiro, o Banco Mundial e os doadores trabalham juntos para fazer com que esta

parceria, que é inovadora, seja bem sucedida.

o setor privado, tanto no Brasil quanto no exterior, também deverá estar envolvido nas

atividades do programa. o envolvimento da iniciativa privada é importante para que se

abram mercados nacionais e mundiais para os produtos florestais e a adoção de práticas

sustentáveis de manejo florestal e produção de madeira com origem certificada. Porém

dificuldades como a incerteza sobre os mercados, a falta de informação sobre produtos

e tecnologias, a titulação insegura da terra, e obstáculos legais e burocráticos detêm os

investimentos do setor privado. o Programa deve remover estes obstáculos para aumen-

tar o envolvimento do setor privado.

Nos últimos anos cada vez mais as pessoas entendem que o desenvolvimento não sus-

tentável na Floresta amazônica e na Mata atlântica gera benefícios a curto prazo porém,

em longo prazo, gera custos relacionados a destruição e degradação de ecossistemas

complexos e perda irreparável da biodiversidade. a construção da capacidade de comu-

nidades locais de desenvolver, adaptar e implementar formas sólidas de uso dos recursos

é uma estratégia essencial para atingir o desenvolvimento sustentado da região.

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2.1.3 – SNUC – Sistema Nacional Unidades de Conservação

Áreas protegidas são áreas de terra e/ou mar especialmente dedicadas à proteção e

manutenção da diversidade biológica e de seus recursos naturais e culturais. através

da co-gestão conduzida por governo e sociedade cível foi possível ampliar o número

de unidades de Conservação, um dos mecanismos importantes para a conservação da

biodiversidade.

as unidades de Conservação – uC são tipos especiais de áreas protegidas. São espa-

ços territoriais (incluindo seus recursos ambientais e as águas jurisdicionais) com carac-

terísticas regionais relevantes, legalmente instituídas pelo Poder Público, com objetivos

de conservação e de limites definidos, sob regime especial de administração, às quais se

aplicam garantias adequadas de proteção.

as uC podem ser de dois tipos: unidades de Proteção Integral onde não são permiti-

das interferências humanas para fins de exploração e unidades de uso Sustentável que

permite o uso sustentável de uma parcela de seus recursos naturais.

a área de extração do látex estudo desta dissertação está localizada em umas destas

unidades, a Floresta Nacional Mapiá-Inauiní no estado do amazonas.

a Florestas Nacionais, segundo definição de lei, são áreas com cobertura vegetal de es-

pécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável

dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração

sustentável de florestas nativas.

a FloNa é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em

seus limites devem ser desapropriadas. Nestas florestas é admitida a permanência de po-

pulações tradicionais que a habitavam quando da sua criação, em conformidade com o

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Figura 3: Mapa com localização da Floresta Nacional Mapiá-Inauiní

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disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.

a visitação pública é permitida, considerada às normas estabelecidas para o manejo

da unidade pelo órgão responsável pela sua administração. a pesquisa é permitida e in-

centivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração

da unidade, ás condições e restrições por estas estabelecidas e àquelas previstas em

regulamento.

a FloNa tem um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua ad-

ministração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da

sociedade civil e, quando for o caso das populações tradicionais residentes.

as outras uC que permitem a extração de matéria prima através do extrativismo são:

Reserva Extrativista – RESEX que são áreas utilizadas por populações extrativistas

tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente na agri-

cultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos

básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sus-

tentável dos recursos naturais da unidade. a exploração comercial de recursos madeirei-

ros só será admitida em bases sustentáveis e em situações especiais e complementares

às demais atividades na Reserva Extrativista.

Reserva de Desenvolvimento Sustentável – RDS que são áreas que abrigam popu-

lações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração

dos recursos naturais, desenvolvida ao longo de gerações e adaptadas às condições

ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza

e na manutenção da diversidade biológica. a Reserva de Desenvolvimento Sustentável

tem como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condi-

ções e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade

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exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, con-

servar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente desenvolvido

por estas populações.

2.2 Preservação das Florestas e Desenvolvimento na Amazônia

o termo Amazônia pode se referir à diferentes áreas geográficas:

a Amazônia Clássica que corresponde a uma divisão política e geográfica formada por

seis estados conhecida como Região Norte: amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, acre

e amapá. a floresta tipo hiléia é predominante.

a Amazônia Legal que foi criada em 1996 pelo governo federal para juntar aos estados

da amazônia Clássica parte daqueles que situavam em suas bordas: Maranhão, Tocantins

e Mato Grosso, tendo com ela uma certa identidade física humana e histórica seja no

meio-norte, Nordeste, como no planalto central, Centro-oeste. Desta maneira a região

poderia receber incentivos fiscais, um fundo formado pela renúncia fiscal destinado a

investimentos destinados a uma área pouco ocupada e conhecida.

o Bioma Amazônia que corresponde ao conjunto de ecossistemas que formam a bacia

amazônica. Está presente em nove países da américa do sul. a hiléia amazônica possui

grande concentração de árvores de grande porte, que atingem até 50 metros de altura.

o Rio amazonas é o eixo dominante por 300 km. Considerando cada lado de seu curso,

ocupa uma área de 3,5 milhões de km².

a Bacia Amazônica que começa na sua nascente na Cordilheira dos andes, no Peru, e

vai até a foz, no amazonas. Tem uma extensão de 6 400 km, superando o rio Nilo. É

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também o maior rio do planeta em vazão, com um volume que varia de 120 milhões á

200 milhões de litros de água por segundo, e também em agia doce corresponde a 20%

de todos os rios do planeta somados.

o Amazonas que é o maior estado em extensão do Brasil com 1,5 milhões de km², cor-

respondente á 20% da superfície do país. Sua principal atividade econômica se situa na

Zona Franca em Manaus. É o estado menos alterado da amazônia e de baixa densidade

demográfica e por este motivo preocupação da segurança nacional uma vez que possui

extensas fronteiras sem a presença de brasileiros.

a amazônia brasileira ocupa mais de metade do território nacional (58%) cobrindo uma

área de 5 milhões de km², uma área equivalente á metade d área continental dos Eua,

ou mais do que 25 países europeus juntos. 1/5 da água doce do mundo circula na bacia

hidrográfica. a amazônia é a maior região de floresta tropical que resta no mundo. Junto

com a Mata atlântica contém uma diversidade vegetal e animal que não é encontrada e

nenhum outro local.

a Floresta amazônica é um ecossistema auto-sustentável, ou seja, mantém seus pró-

prios nutrientes num ciclo permanente. ajuda a manter o clima local e a controlar o efeito

estufa pelo armazenamento de carbono; protege as bacias hidrográficas e fornece maté-

ria-prima para o artesanato e a indústria.

apesar da característica mais importante da amazônia ser a floresta, a região é formada

por uma grande variedade de ecossistemas entre os quais: mata de terra firme, florestas

inundadas, várzeas, igapós, campos abertos e cerrados.

a Região amazônica abriga mais de 10 milhões de pessoas. Estima-se que 1,5 milhões

de pessoas vivam na floresta. São os povos da floresta, entre os quais povos indígenas,

seringueiros, castanheiros, pescadores e pequenos agricultores que dependem da flo

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resta para seu sustento e que também contribuem para sua manutenção.

a devastação tem crescido e este patrimônio natural encontra-se ameaçado. 15% já foi

destruído e da área original da Mata atlântica restou somente 7%.

Na década de 80 aumentou a preocupação da comunidade internacional com a rápida

destruição das florestas tropicais do Brasil e surgiram vários projetos que buscam soluções

para cessar, ou pelo menos reduzir o ritmo da destruição. a posição do estado brasileiro

é de encarar as florestas não só como um recurso natural a ser protegido mas também

como uma fonte de renda para as populações regionais.

“a transição de um padrão de desenvolvimento que se esgota – a economia de fronteira para outro que emerge – o desenvolvimento sustentável - envolve todo o território bra-sileiro” (MMa, 1995.p.18).

o desenvolvimento da amazônia tornou-se uma questão complexa que abrange confli-

tos de interesse acerca do meio ambiente. ao mesmo tempo que a conservação da biodi-

versidade tem enorme valor como garantia de qualidade de vida para as futuras gerações,

seus recursos naturais são fonte e meio de sobrevivência para as populações nativas e,

ainda, base essencial de recursos para outros segmentos produtivos.

o Programa Áreas Protegidas da amazônia – aRPa é um programa do governo federal,

coordenado pelo MMa com duração prevista de dez anos, para expandir, consolidar e

manter uma parte do SNuC no Bioma amazônia, protegendo pelo menos 50 milhões de

hectares e promovendo o desenvolvimento sustentável da região. São executores do pro-

grama: o IBaMa, as organizações Estaduais de Meio ambiente – oEMas, o Fundo para

a Biodiversidade – FuNBIo. São doadores: Fundo para o Meio ambiente Global – GEF

– Banco Mundial; KfW – Banco alemão de Cooperação; WWF – Brasil. São Parceiros em

Cooperação Técnica: WWF-Brasil e GTZ.

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o Plano amazônia Sustentável - PaS é uma iniciativa do Governo Federal em parceria

com os estados da região amazônica e tem como objetivo implementar um novo modelo

de desenvolvimento na amazônia Brasileira pautado na valorização de seu patrimônio

natural e sócio-cultural. os objetivos são: geração de emprego e renda, redução das de-

sigualdades sociais, viabilização de atividades econômicas e inovadoras, com inserção

de produtos em mercados regionais, nacionais e internacionais, bem como para uso

sustentável dos recursos naturais com manutenção do equilíbrio ecológico.

o Departamento de agroextrativismo e Desenvolvimento Sustentável da Secretária

de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável do MMa tem por objetivo promover a

formulação e gestão pública, assim como a execução de ações e projetos voltados para

o Desenvolvimento Sustentável de populações Tradicionais, Quilombolas, Indígenas e

produtores familiares, por meio do uso de recursos naturais respeitando a especificidades

sócio-culturais destas populações.

Segundo o governo do Estado do amazonas é necessária uma ampla parceria da so-

ciedade brasileira para atingir a sustentabilidade. É necessário aumentar o consumo de

produtos florestais madeireiros e não madeireiros da amazônia, valorizando especial-

mente os que possuem selo verde ou orgânico. Devem ser desenvolvidos mecanismos

para o pagamento dos serviços ambientais das florestas, ao produtor rural, com redução

de impostos, incentivo ao crédito mais barato, reconhecimento da propriedade intelectual

dos povos indígenas e populações tradicionais. É necessário criar uma rede que inclua a

universidades e instituições de pesquisa, empresários e investidores privados, e alianças

intergovernamentais.

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Figura 4: Negócios Sustentáveis na amazônia

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2.2.1 - Povos da Floresta

as populações tradicionais da amazônia são consideradas guardiãs da floresta, pois,

com sua presença, conseguem conter o avanço da fronteira agrícola e de ações preda-

tórias.

Segundo o Grupo de Trabalho amazônico – GTa apoiar estas comunidades e projetos

locais é a melhor estratégia de futuro para região. Fazem parte do grupo: agricultores,

seringueiros, indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, pescadores, ribeirinhos e

entidades ambientalistas, de assessoria técnica, de comunicação comunitária e de direi-

tos humanos.

a cooperação com os povos nativos e tradicionais é essencial para encontrar o rumo da

sustentabilidade e da cidadania que implica em mudanças também dos moradores das

cidades através de seu consumo e de suas escolhas.

as comunidades extrativistas são aquelas que vivem basicamente da pesca, da caça,

do plantio da mandioca e da coleta de produtos da floresta, como fibras, cipós, remédios,

frutas, cascas, gomas e resinas. Conhecem profundamente a natureza e usam sem des-

truí-las, pois dependem dela para sobreviver.

as comunidades indígenas são formadas pelos primeiros habitantes conhecidos da

amazônia. os índios detém o conhecimento ancestral da floresta e uma técnica de inte-

ratividade, que permite explorar o meio ambiente sem destruí-lo.

Existem 30.000 comunidades extrativistas que vivem em áreas rurais. os índices sócio-

econômicos destas áreas são muito baixos e se traduzem em baixa qualidade de vida

e falta de oportunidade para a população. o custo de produção é alto, o que dificulta a

agregação de valor, o escoamento dos produtos e consequentemente a rentabilidade

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econômica. Nos últimos 40 anos os problemas aumentaram com os desmatamentos

(principalmente devido à queimadas e a conversão de terras para a agricultura), ocupação

desordenada da terra, uso inadequado do solo e execução de grandes obras (estradas,

barragens, usinas, etc.) sem que tenha havido cuidado para minimizar os impactos.

o extrativismo moderno, baseado na tecnologia e no manejo, permite agregar valor ao

produto ainda na floresta, ou na margem do rio. Desta maneira é possível a comunidade

local aumentar sua renda e colaborar para a manutenção do meio ambiente que melho-

ra a qualidade de vida de toda sociedade. Pesquisas científicas comprovam que o uso

racional dos produtos naturais resulta em aumento de produtividade e renda e garante a

regeneração e conservação da natureza.

o Brasil se caracteriza por ter políticas ambientais que não estão somente baseada em

iniciativas do governo, mas também dos diferentes segmentos da sociedade como as

organizações não-governamentais, institutos de pesquisa e empresa privadas.

a oNG WWF-Brasil, que tem apoiado o Projeto Couro Vegetal da amazônia, faz parte

das entidades que defendem a adoção de uma agenda pró desenvolvimento sustentável

e conservação da biodiversidade. Para isso, toma por base o conceito ecoregional, que

leva em conta a grande diversidade de paisagens do bioma e o impacto que qualquer ele-

mento físico ou biológico tem sobre os demais. o conceito é valorizar a vocação florestal

da região, conservando e utilizando recursos naturais de forma racional e duradoura para

beneficiar todos os seguimentos sociais da região amazônica.

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2.1.2 Conhecimento Tradicional

a densidade na amazônia é baixa, 2 habitantes por km² e está concentrada, principal-

mente nos centros urbanos e ao longo dos rios. a riqueza cultural das diversas etnias

indígenas e das várias correntes migratórias inclui o conhecimento tradicional sobre usos

e formas de explorar os recursos da floresta sem esgotá-los nem destruir o habitat natu-

ral.

o conhecimento tradicional é o acumulado por uma cultura em gerações, em estreita relação com a natureza, incluindo sistemas de classificação, de zoneamento e de ma-nejo. Em relação à ciência ocidental é mais qualitativo, holístico e inclusivo. Estas cul-turas entenderam, privilegiadamente, que a biodiversidade, tomada como conjunto dos recursos genéticos, espécies e ecossistemas, viabiliza a vida humana. (apud Ribeiro, 2003, p.446).

o modo de vida das populações indígenas e tradicionais foi colocado na agenda pública

interrnacional, com vários desdobramentos: definição de áreas ocupadas por estas po-

pulações com áreas de preservação permanente, com uso; aproveitamento econômico

destas áreas; direitos destas populações à autodeterminação, tanto á terra e os recursos

naturais como de acesso ao mercado quando o desejarem; direito de propriedade intelec-

tual sobre o uso no mercado de conhecimentos desenvolvidos por suas tradições

Segundo Mauro leonel os índios e extrativistas não se beneficiaram economicamente,

historicamente, dos vários dos produtos desenvolvidos por sua cultura como no caso do

ciclo da borracha em que os ganhos foram para os donos dos seringais e exportadores.

ao contrário as atividades extrativistas levaram os índio e seringueiros a servidão, como

no caso do regime de barracão, cumulativamente endividados, sem direitos à terra, aos

recursos e ao resultado de seu trabalho. Quando acontece a reintrodução dos produtos

ex situs, ou o adensamento in situ sob controle de outros interesses, os detentores desses

conhecimentos não são recompensados.

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Á primeira vista, a hipótese de aliar preservação, diferença cultural, mercado e desen-

volvimento para populações é animadora. algumas correntes de pensamento acreditam

que seja possível combinar a vontade de algumas populações e sua contribuição à pre-

servação, e articulá-la com o capital industrial trazendo lucro para ambas as partes.

os chamados capitalistas verdes defendem que para salvar a floresta, é preciso con-

vencer governos e empresas a criar mercado rentáveis para os produtos da floresta.

Porém experiências tem mostrado que o conhecimento não volta de forma vantajosa

para os tradicionais quando colocado sob o poder de interesses externos, industriais

ou do agrobusiness devido a um maior controle do acesso à informação, tecnologia, ao

capital e à escala de produção. Para evitar que isso ocorra existem propostas de criação

de instituições próprias para controle do conhecimento com realização de acordos sobre

royalties e negociação de autorizações e compensações.

a jurisprudência internacional reconhece a propriedade intelectual da criatividade e das

inovações das empresas, pelas patentes, mas não a informal, tradicional, coletiva ou

intergeneracional. os recursos dos ecossistemas tropicais são considerados herança da

humanidade, sem dono, livres para patente e comercialização. o conhecimento tradicio-

nal é considerado bem coletivo e a tecnologia, privado. a partir do processo de amostras

coletadas, a “descoberta” é patenteada e os direitos passam para a empresa financiadora,

protegidas como mercadoria.

Patentear produtos resultante do conhecimento tradicional sem reconhecer os direitos

das populações é visto com restrições do ponto de vista ético por haver a apropriação do

conhecimento sem que haja repartição de benefícios com as populações detentoras.

Por existir diferenças culturais, outros problemas devem ser considerados na comercia-

lização dos produtos locais, pois, existe uma incompatibilidade da visão indígena com as

exigências de produção e mercado que envolvem tecnologia, ritmo de trabalho, escala

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de produção, administração e financiamento além da forma de apresentação do produto

no mercado, ou seja de design de embalagem do produto.

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3. A BORRACHA NATURAL

“... a minha esperança é que todos os nossos jovens, eles vão usufruir de todo esse tra-balho e que, realmente, os jovens daqui para frente, eles vão ser os grandes beneficiados desse futuro da amazônia. uma amazônia preservada e economicamente viável...Eu acredito que, na medida que as primeiras Reservas Extrativistas começarem a dar seus frutos, o governo vai ter que reconhecer a importância deste trabalho que nós pretende-mos desenvolver. Para o nosso bem e para o bem da humanidade. Esse é o meu sonho.“ (Chico Mendes, 1988, Xapuri, acre)*

3.1 - Borracha Natural: matéria prima renovável

os materiais são substâncias físicas usadas com “entradas” para produção ou manu-

fatura. as matéria primas são os primeiros materiais extraídos da natureza que depois se

transformam em “materiais semi-acabados”.

a borracha natural é o produto primário da defumação do látex extraído da seringuei-

ra.

a seringueira é a principal fonte de borracha natural produzida no mundo.

o gênero Hevea pertence à família Euphorbiaceace e tem como ocorrência e dispersão natural a amazônia Brasileira e países vizinhos próximos como a Bolívia, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Suriname e Guiana. a classificação atual do gênero Hevea apresenta onze espécies, dentre as quais destaca-se Hevea brasiliensis com maior capacidade produtiva e variabilidade genética (Costa et al., 2001).

Sendo de origem vegetal é uma matéria prima renovável pois, se retirada numa ve-

locidade que permite sua regeneração, estará sempre disponível na natureza para ser

utilizada. além disso permite sua extração sem que a árvore seja derrubada e por isso

colabora para manutenção da “floresta em pé”.

a borracha faz parte de um grupo de materiais industriais conhecidos como materiais

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de engenharia, que inclui também metais, fibras, concreto, madeira, plásticos, vidros

dos quais depende parte da tecnologia moderna.

a borracha é o único produto natural que possui elasticidade, plasticidade, resistência ao

desgaste, propriedade isolante de elasticidade, e impermeabilidade para líquidos e gases,

sendo essencial como matéria prima na indústria e principalmente no setor de transportes.

o plástico inteligente mais antigo que se conhece. através do processo de vulcanização

adquire a propriedade de voltar a sua forma original depois de ter sido deformada por um

esforço mecânico, ou seja é um material com memória. ao ser estimulada por um esforço

mecânico, a borracha responde com uma contração de forma.

a borracha só se tornou uma matéria prima importante, quando em 1839, foi descoberto

o processo de vulcanização atribuída a Charles Goodyear, nos Estado unidos e a Thomas

Hankok, na Inglaterra.

através de enxofre e calor foi possível melhorar as condições químicas e físicas do mate-

rial que então não mais amolecia com temperatura elevadas ou endurecia em temperatura

fria. Com as propriedades elásticas mais duradouras suas aplicações multiplicaram-se.

“Na história da percepção dos recursos naturais, a borracha tem o seu lugar à parte. a borracha entrou no desenvolvimento do processo industrial a partir de meados do século passado, quando a tecnologia do ferro era onipresente e totalizante. a estrada de ferro foi o produto mais vigoroso e universal de uma época que antecedeu o uso da borracha. Esta não veio substituir quase nada, mas complementar quase tudo. a ferrovia marcou a época da roda de aço em contato direto com os trilhos de aço. Já a descoberta dos usos múltiplos da borracha – tornado possível intermediar o aço em relação ao chão – coloca o automóvel em todas as ruas, estradas e rodovias do mundo. ao ferroviarismo acres-centa-se o flexível rodoviarismo, sob a intermediação do uso da borracha e dos óleos lubrificantes. (ab’Sáber, apud Dean, 1989, p. 8).

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3.2. Extrativismo e Plantio

a domesticação das plantas é uma das realizações mais conseqüentes da humanidade. o cultivo dos vegetais multiplicou os humanos, impulsionou a civilização e estabeleceu para melhor ou para pior, o domínio do homem sobre a natureza. ( Dean, 1989, p.21).

Desde os tempos de Colombo a prática de transferência de plantas domesticadas é

realizada. Este fator foi de fundamental importância para suprir a demanda de alimentos

da população crescente, para a ampliação do comércio mundial e para expansão do im-

perialismo europeu.

ao a expandir a agricultura os europeu interferiram de maneira agressiva nas relações

entre plantas, parasitas e pragas. apesar de passarem desapercebidas estas mudanças

eram também históricas inseparáveis das mudanças sócio políticas que sucederam à

introdução de novos cultivares.

Por volta do século XIX , a transferência de plantas exóticas e a busca de plantas sel-

vagens possíveis de domesticação eram atividades que se tornaram racionalizadas ,

organizadas e postas a serviço do capitalismo industrial. a Europa mandava coletores

aos mais distantes rincões da terra à procura de espécies desconhecidas que pudessem

servir de matéria prima, remédio ou ornamento.

De todos os feitos daquela época de descobertas científicas, nenhum foi mais grandioso

que a domesticação das árvores produtoras de borracha...

a história da borracha brasileira, precisa começar com o mito, porque tal mito sobrevive, conquistou a imaginação do mundo inteiro e é poderosos e maligno. É o mito de Henry Wickham, o herói inglês o doador das sementes de seringueira. É o mito de Henry Wickham, o patife inglês, o ladrão das sementes de seringueira. (Dean, 1989, p.29).

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o centro deste debate está relacionado a transferência da seringueira para fora da

amazônia brasileira, através de um carregamento de sementes feito por Wickmham para

o Jardim de Kew Gardens na Inglaterra e sua posterior domesticação no Sudeste asiático

fato que foi visto por alguns pesquisadores brasileiros como um caso de roubo.

“Em 1912, houve a primeira crise da borracha. Naquela ocasião, pesquisadores Ingleses levaram mudas de hevea brasilienses para cultivar na Malásia. Foi o primeiro gesto de biopirataria de que se tem notícia na região.... É verdade que os barões da borracha es-banjavam riqueza, apoiados nos patrões, seringalistas que impunham aos seringueiros regime de trabalho semi-escravo. ainda assim, o fato é que o Brasil foi vítima de um roubo. (Silva, Marina em Viana et al., 2001, p. 201).

as desvantagens essenciais do extrativimo em relação ao plantio da seringueira deri-

vam da dispersão das árvores lactíferas dentro da estrutura florestal, como por exemplo,

os altos custos produtivos, a baixa produção e produtividade e as longas jornadas de

trabalho.

“o extrativismo da borracha da amazônia foi gradativa-mente desativado a partir dos anos 80, mas ainda ge-ra ocupação e renda para inúmeras comunidades de seringueiros. (agenda de Trabalho, Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Borracha Natural, 2006, p. 6). Nas áreas mais úmidas da amazônia e com maior incidência do mal de folhas, devem ser privilegiados os projetos voltados ao extra-tivismo sustentável, à agre-gação de valor à borracha voltado e sua colocação em nichos especiais de mer-cado na forma de artefatos fabricados por indústrias cuja instalação deve ser estimulada pelos governos dos estados e municípios da região, para absorver a produção e gerar renda as comunidades ribeirinhas evitando o transporte da borracha amazônica até

Figura 5: Fotografia da extração do látex da seringueira

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as indústrias localizadas nas regiões leste e Sudeste do país. Esse projetos devem ser incentivados, pois além do seu benefício sócio econômico servem para continuar valo-rizando os nosso seringais nativos que são verdadeiros bancos de germoplasta in situ da espécie, de extrema importância para o futuro da heveicultura. (idem, p. 44)

a borracha dos seringais nativos representa relativamente pouco na produção nacional, porém, a questão do fornecimento de insumos produtivos e da manutenção da família do seringueiro, historicamente se constituiu no fator crítico que favoreceu o estabeleci-mento de uma cadeia de dominação e de exploração, onde o seringueiro foi o elo mais fraco e explorado....os insumos necessários para a produção de borracha dos seringais nativos depende da oferta de canecas, facas de sangria e pedras de amolar. arma e munição para caça e proteção dos seringueiros que vivem isolados na floresta, lamparina e querosene para iluminação, e outros materiais de consumo como calçados, roupas e alimentos básicos para a família do seringueiro. (idem, p. 38)

3.3 – Ciclos da Borracha e Movimentos Socioambientais

o primeiro ciclo da borracha na amazônia ocorreu de 1870 a 1912. Começou quan-

do, por causa da invenção da vulcanização pode ser usada em grande escala, e sendo

proveniente da uma árvore nativa da região amazônica o mundo dependia da produção

brasileira. Para atender a demanda pela matéria prima ocorreu uma grande migração de

mão de obra nordestina.

“Preços altos até 1912 significaram importações maciças de nordestinos homens, e pouquíssimas mulheres, que ficavam na estrita dependência do barracão1 para obter seus víveres, já que eram proibidos de plantar para seu próprio sustento e de vender a comerciantes independentes, os regatões2 Significaram também matanças de aldeias inteiras de índios, com exceção de mulheres jovens e algumas crianças, incorporadas à população seringueira; ou então a arregimentação de índios para trabalhar nos seringais ou para afugentar outros grupos indígenas.” (almeida, 2002, p.105)

Em 1913, a produção inglesa na Malásia superou a brasileira e em seguida muitos

seringais foram abandonados no Brasil, encerrando desta maneira o primeiro ciclo da

borracha.

um novo ciclo, de 1943 a 1945, teve início quando o Japão invadiu o sudeste asiático e

cortou o acesso dos aliados à borracha provenientes das colônias asiáticas inglesas,

1 Barracão: Centro econômico-admistrativo do seringal, no qual se encontra a casa do patrão ou gerente do seringal. (idem)

2 Regatão: aMaZ mercador que percorre os rios de barco, parando em vários povoados. (Houaiss, 2001, p.2415)

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holandesas e francesas. Em 1943 o Brasil uniu-se aos aliados e, como a borracha tinha

importância estratégica, por suas aplicações militares, comprometeu-se a exportar toda

sua produção para os Estados unidos da américa. os preços dobraram, e o governo

brasileiro que havia assumido o compromisso de levar para a floresta amazônica 50 mil

trabalhadores recrutou nas cidades e vilas do nordeste, mediante propaganda e promessa

de benefícios, os migrantes ficaram conhecidos como “soldados da borracha”.

a relação entre os patrões, chamados de seringalistas, e os migrantes seguia um con-

trato padrão. aparentemente o contrato serviria para melhorar as condições trabalhistas

para os seringueiros, mas o que ocorreu é que de certa forma piorou. o trabalhador só

poderia se dedicar um dia da semana as atividades agrícolas, o resto da semana era

dedicada ao corte da seringa. No pós-guerra toda borracha passou a ser monopólio do

Estado sendo também o governo o órgão que aviava3 todos os patrões ou “seringalistas”

os quais por sua vez também aviavam os seringueiros. Desta maneira toda borracha

produzida era considerada pagamento de dívida e foi considerado crime vender borracha

para os regatões.

Mais do que a quantidade produzida, o resultado mais importante da “Batalha da

Borracha”, foi o reconhecimento, pelo governo federal, dos interesses regionais dos pa-

trões de seringais. a Constituição de 1947 determinou que 3% do orçamento federal

fosse para a amazônia e o monopólio federal foi prorrogado. a proteção aos preços se

estendeu até 1986 quando começou nova queda de preços e em 1996 foi determinado o

final do protecionismo.

Na década de 80, os seringueiros começaram a se revoltar contra a situação de depen-

dência simbolizada pelo pagamento anual da renda das estradas (caminhos usados para

a extração de seringa) e contra a violência usada pelos patrões para garantir o monopólio

comercial sobre a borracha. Iniciou-se então uma revolta dos seringueiros contra esta

situação que era qualificada como sendo de cativeiro ou semi-escravidão.

3 Aviador: Quem fornece aviamento, mercadoria que se recebe em troca de borracha. (Marchese, 2005, p.133).

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Com o apoio do Conselho Nacional dos Seringueiros, de líderes sindicais rurais, repre-

sentantes da Igreja Católica e uma rede de assessores e aliados, conseguiu-se estabe-

lecer uma visão e uma agenda em defesa de seus direitos.

a luta assumiu também características de uma luta ecológica pois foi criada uma re-

sistência contra pecuaristas, madeireiros e exploradores de terra que aportaram pelas

estradas para substituir antigos patrões e expulsar os seringueiro e derrubar a floresta.

ambientalistas, do Brasil e do mundo, reconheceram nos seringueiros, não um destruidor

da floresta em busca de alimentos, mas um parceiro na preservação das florestas.

“o movimento ambientalista...quando se associa às lutas sociais, transforma-se em ambientalismo político, definido como a ação dos movimentos sociais que defendem os recursos naturais por se constituírem a base produtiva a partir da qual obtém sua sobrevi-vência e buscam formas sustentáveis, do ponto de vista tecnológico social e institucional, de explorá-los. São movimentos que utilizam as vantagens comparativas derivadas da concentração em seu territórios, de recursos estratégicos como a biodiversidade, para negociação de modelos alternativos de desenvolvimento. (alegretti, 2002, p.7350)

os seringueiros organizaram-se contra o monopólio comercial dos barracões, o pa-

gamento da renda em terras sem dono legítimo e a violência. Contemporaneamente os

índios, sobreviventes de massacres, começaram a lutar por seus direitos territoriais. os

dois grupos, índios e seringueiros, anteriormente inimigos, começaram a se dar conta

que possuíam interesses comuns, a favor da justiça social e da preservação da floresta,

e o resultado foi a formação da “aliança dos Povos da Floresta”, algo inédito na história

do Brasil.

“a grande mudança, porém, foi a união esclarecida entre os povos da floresta: índios e se-ringueiros. um acontecimento que comoveu o mundo esclarecido, ao fim de um século. Resta-nos a esperança de que as autoridades brasileiras – atuais e futura – entrem em consonância com as expectativas amazônidas e contribuam para uma ajuda substan-cial aos grupos humanos adaptados a conviver com a floresta. Não se trata de eliminar, por uma forma ou outra, os dignos herdeiros de uma geografia humana sofrida: mas sobretudo, de lhes dar um feixe de pequenas e indispensáveis infra-estruturas para que eles e seus filhos tenham a possibilidade de opção entre continuar sendo seringueiros ou seguirem outros caminhos no amplo espectro de espaços sócioeconômicos de uma amazônia em mudança. (ab’Sáber, em Dean, 1989, p. 9).

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No ano de 1985, em Brasília, foi realizado o Encontro Nacional dos Seringueiros. Neste

momento começou a primeira articulação internacional dos seringueiros e o conseqüente

reconhecimento internacional do movimento. a Comissão Brundtland responsável pela

preparação da Rio 92 esteve no Brasil, e recebeu em audiência pública realizada em São

Paulo os líderes do Conselho Nacional dos Seringueiros e da união da Nações Indígenas.

Foi criado então um novo paradigma do movimento ambientalista em que direitos huma-

nos deveriam ser considerados em conjunto com direitos ambientais. Naquele momento

foi reconhecido que dentro da floresta moravam pessoas, que dependiam da floresta para

a própria sobrevivência e por isso protegiam os recursos naturais e queriam ser reconhe-

cidas como protetoras e guardiãs deste patrimônio.

um dos resultados práticos de uma década de empates4 nas florestas, proposto pelo movimento acreano liderado por Chico Mendes foi a criação das Reservas Extrativistas – RESEX uma área onde os seringueiros poderiam diversificar a produção extrativista, garantir o uso da terra e da floresta e assegurar que cada família extraísse o látex em sua própria colocação5, com uma área média de 300 hectares. a proposta das reservas indígenas se integrava a um novo projeto de reforma agrária para a amazônia, consi-derando a diversidade social, cultural e biológica dos diferentes ecossistemas. (Silva, Marina,2001,p.205)

alguns fatos agravaram a situação de conflito entre latifundiários e as lideranças sin-

dicais rurais. Chico Mendes era o líder mais conhecido e continuava a incentivar a lutas

pelas RESEX . Por outro lado foi também protagonista de uma ação de grande impacto

na políticas de empréstimos internacionais. acompanhado pelo produtor americano de

cinema adrian Cowell e pelo antropólogo Steve Schwartzman, membro de uma das oNGs

norte-americanas mais importantes, a Environmental Defense Found, compareceu em

1987 à Reunião anual do BID em Miami e informou aos doadores do Banco que se a estra-

da, BR 364 Porto Velho-Rio Branco, para qual estava destinado os recursos, continuasse

a ser construída, sem que fossem tomadas medidas de proteção aos índios e seringueiros,

poderia resultar em alto impacto social e ambiental para o acre e amazônia.

5 Colocação : unidade produtiva dentro do seringal, onde vive o seringueiro, onde ele constrói sua casa, tem suas “estradas de se-ringa”, planta seus roçados, caça, pesca, retira a madeira e palha necessárias para a construção da casa, coleta frutos. um seringal é formado por várias colocações. Por sua vez, cada colocação é formada por várias “estradas de seringa”. (idem)

4 Empate: no vocabulário amazônico empatar significa impedir. Pressionados pelos novos proprietários de terra, os seringueiros pro-tagonizaram a reinvenção de resistência popular da floresta. o empate às derrubadas foi uma iniciativa local que resultou da orga-nização do primeiro sindicato de trabalhadores rurais no acre, em Brasiléia, e da consciência sobre o direito de posse, assegurado pelo Estatuto da Terra. (Souza, 2007, p. 78)

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(alegretti, 2002 , p.741). Como conseqüência o desembolso de recursos foi suspenso

pelo banco o que gerou indignação entre a elite acreana e os latifundiários começaram

a agir com mais violência contra as lideranças sindicais. a partir de 1988 a tensão em

Xapuri era grande e foi culminada com o assassinato de Chico Mendes em 1988, fato que

ganhou grande repercussão internacional e uniu, durante a realização da Rio 92, várias

ações em defesa da amazônia.

Em 1995 os seringueiros passaram, através de Marina Silva, ela também nascida e criada

nos seringais do acre, a ter uma representante no Senado. Com João alberto Capiberibe,

eleito governador do amapá e Jorge Viana, do acre aparecia uma nova geração de polí-

ticos que buscou colocar em prática os preceitos do desenvolvimento sustentável.

Segundo Mary alegretti, a defasagem ainda existente entre discurso e prática do desen-

volvimento sustentável, se explica pela dificuldade de mudar a matriz de desenvolvimento

baseado na inesgotabilidade para outra fundada na escassez e finitude dos recursos

naturais pois implicaria em profundas transformações no modelo de desenvolvimento da

humanidade.

ainda hoje a borracha é a fonte principal de renda para os habitantes da floresta ama-

zônica brasileira. Com o preço da borracha em baixa, os seringueiros estão perdendo

capacidade de subsistência, o que gera êxodo rural e miséria urbana.

uma das propostas de solução para estes problemas são os chamados negócios sus-

tentáveis, que procura agregar valor a produção da borracha e aumentar e diversificar

a oferta de produtos florestais não madeireiros como a castanha do Pará, frutas, óleos,

plantas medicinais, artesanato de fibras e semente, etc. Para facilitar a comercialização

dos produtos têm sido organizadas na região sudeste feiras e exposições como por exem-

plo: Mercado da Floresta, Feira Brasil Certificado, amazônia BR e Negócios Sustentáveis

da amazônia.

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4. O COURO VEGETAL

4.1. O couro vegetal: aprimoramento do tecido encaucha-do

o estudo de caso deste trabalho refere-se à produção de lâminas de couro vegetal pela

aPaS – associação de Produtores de artefato e Seringa de Boca do acre, cidade loca-

lizada no estado do amazonas e à confecção de produtos com utilização deste material

pela Couro Vegetal da amazônia e a comercialização pela empresa Amazon Life ambas

localizadas no Rio de Janeiro.

o couro vegetal é o nome dado a um tecido formado a partir de duas matérias primas

renováveis: o látex proveniente da seringueira (hevea brasiliensis) e o algodão. o látex

proveniente da atividade extrativista e o algodão de cultivo.

o material é denomi-

nado “couro vegetal”

pela sua semelhança

visual com o couro de

origem animal, porém

não tem nada em co-

mum em sua composi-

ção.

Esta denominação já

havia sido mencionada

em 1834:

66DESIGN SuSTENTÁVEl | o CouRo VEGETal

Figura 6: Fotografia de lâminas de couro vegetal secando ao ar livre após processo de vulcanização

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“Goodyear via a borracha como nós conhecemos hoje: o primeiro e mais versátil dos “plásticos modernos”. Ele percebeu a borracha como um “couro vegetal” que desafiava os elementos, um “metal elástico”, substituto da madeira, que poderia adquirir várias formas, através da utilização de moldes.” (site Goodyear)

a origem do couro vegetal produzido pela Couro Vegetal da amazônia vem do material

que os seringueiros,aproveitando látex das seringueira , utilizavam para confeccionar ar-

tigos de uso próprio como a bolsa “capanga” os sapatos de seringa e o saco encauchado

(saco de algodão banhado e impermeabilizado com látex). o aprimoramento deste pro-

cesso, através da vulcanização, deu origem ao tecido atualmente utilizado pela empresa

na confecção de bolsas.

Na definição da aPaS o produto tem proveniência específica, a Floresta amazônica, e

produção é feita pela população tradicional dos seringueiros:

“ o couro vegetal é um material à base de látex natural, extraído das seringueiras nativas da Floresta amazônica e confeccionado pelo processo tradicional dos seringueiros em suas moradas na floresta.”

Sendo assim estaria excluído desta definição o mesmo produto se confeccionado a partir

do látex proveniente de seringais plantados que não utilizam na sua produção o processo

tradicional de extração da seringa.

Porém, em dissertação de mestrado da ESalQ, cujo objetivo era o de

“avaliar os processos de produção do couro vegetal produzido com látex de diferentes cultivares de seringueira, especificamente os processos de impregnação de tecidos com látex e de vulcanização da borracha natural impregnada bem como definir uma metodo-logia de avaliação de resistência à tração para este tipo de material” (Sérvolo, 2006, p.9) o couro vegetal é definido como sendo um produto “obtido através do revestimento de tecido de fibras celulósicas com látex de campo ou concentrado, extraído de seringueira” (Hevea spp.).

ou seja aqui o produto aparece desprovido das condicionantes regionais e de geração de

renda, e passa a ser um produto destinado a atender possíveis demandas da indústria

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calçadista e da moda:

“ a possibilidade de obtenção de produtos com o couro vegetal sempre esbarrou na falta de padrão da matéria prima, sendo que esta variável é proibitiva para uma linha de produção em escala. Com este trabalho rompe-se esta barreira dando abertura a criação de inúmeros produtos beneficiados.” (idem).

4.2 Projetos semelhantes ao Couro Vegetal da Amazônia

Existem projetos posteriores desenvolvidos em vários estados, que também utilizam

o látex para produção de mantas e artefatos deste material. É importante citá-los para

melhor entendimento do universo da produção do couro vegetal.

DISTRITO FEDERAL Programa Tecbor

Coordenação latec – laboratório de Tecnologia Química da universidade de Brasília

Tecnologia para produção de borracha e artefatos na amazônia

Produto: FDl – Folha de Defumação líquida

Semelhante ao produto couro vegetal existe o trabalho desenvolvido pela universidade

de Brasília através do projeto Tecbor, do latec – laboratório de Tecnologia Química,

porém o produto não é exatamente o mesmo, pois não utiliza a manta de algodão: são

lâminas confeccionadas exclusivamente com o látex. a fase piloto foi realizada de junho

de 1997 à fevereiro de 1999.

o programa Tecbor – Tecnologia para produção de borracha e artefatos na amazônia - consiste em uma proposta tecnológica alternativa para produção de borracha natural, que permite ao seringueiro preparar um produto beneficiado, empregando técnicas e

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materiais simples e de baixo custo. o coagulante é um ácido pirolenhosos obtido da carbonização da madeira. a lâmina de borracha, FDl – Folha de Defumação líquida, após secagem ao ar livre, de poucos dias, é um produto de boa qualidade que pode ser direcionada para produção de artefatos especiais ou, em geral, para substituição da folha fumada. Esta tecnologia está direcionada para que o seringueiro trabalhe com a família, constituindo uma micro-usina de processamento do látex, agregando valor ao produto, evitando um processo intermediário na usina de beneficiamento. * (site uNB).

o objetivo é o aumento de renda que poderá proporcionar a condição que o seringueiro

almeja de permanecer na floresta ao invés de migrar para a periferia das cidades em bus-

cas de melhores condições de vida. uma das conseqüências dessa situação é a maior

probabilidade de conservação da floresta na área do seringueiro, com proteção dos recur-

sos genéticos e da sua própria cultura. Em 2001 o projeto foi premiado com o Troféu de

Excelência de Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil. a FBB criou um processo

de franquia Social para disponibilizar estas tecnologias para sua mais ampla difusão na

sociedade. É importante ressaltar este projeto pelas semelhanças com o projeto da Couro

Vegetal da amazônia, porém, tendo sido desenvolvido por uma universidade pública pro-

cura disseminar a informação tecnológica em benefício da sociedade. É interessante notar

que a premiação refere-se à Tecnologia Social, termo que une dois conceitos tecnologia

e bem estar social, e que indica um caminho de sustentabilidade.

ACREProjeto D’ Arvore

Produto: sandália de couro vegetal e crepe claro de borracha.

Promoção: Ecoamazon – Instituto de Econegócios da amazônia e Capeb – Central

de associações de Pequenos Produtores Rurais e Extrativistas de Epitaciolândia e

Basiléia.

Local de Extração: Epicolândia e Basiléia.

Local de Produção: acre

Financiamento: oNG WWF.

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Colaboração Tecnológica: Couro Vegetal da amazônia.

o objetivo do projeto é o desenvolvimento de produtos que utilizem matéria-prima da

floresta amazônica com objetivo de contribuir para a melhoria das condições sociais e

econômicas da região amazônica.

a sandália utiliza duas matérias-primas provenientes da seringueira. o crepe é usado no

solado e o couro vegetal nas tiras da sandália. Quando necessário as tiras são reforçadas

com couro animal ou lona. Em baixo da palminha é colocado um preenchimento de cortiça

para diminuir o peso da borracha.

o solado de crepe e o couro vegetal das sandálias são produzidos pela Capeb (28 as-

sociações das reservas extrativistas do acre) e pelos índios kaxinawá. as sandálias são

confeccionadas no Rio Grande do Sul.

o coordenar do projeto, João Tezza, explica que ao consumir o produto o consumidor

participa da preservação da amazônia. Em 2002 o projeto recebeu o Prêmio Iniciativa

Social Inovadora do Banco Mundial.

ACREProjeto Amazônia Vegetal

Produtos: bolsas, casacos, bonés, estojos.

Local de Extração: RESEX Chico Mendes e Cazumbá-Iracema.

Local de Produção do Produto: acre

Parceira: Ibama

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Para evitar a defumação, que é uma atividade nociva à saúde dos seringueiros pela

emissão de fumaça pirolenhosa, a empresa em parceria com o Ibama, desenvolveu uma

tecnologia em que ao invés de queimar o látex para produzir a manta, os seringueiros

usam a técnica de pintar o tecido com a matéria prima.

o proprietário da empresa, Solidei lima, afirma que o couro é ecológico pois a fumaça

não afeta a saúde dos seringueiros. além disso foi desenvolvida uma técnica que permi-

te a pigmentação do látex fazendo com que o material possa ser produzido em várias

cores.

Para o empresário o seringueiros são valorizados e não é preciso que saiam das reserva

para crescer profissionalmente. o litro do látex era vendido à R$ 1,60 e hoje com um litro

produzem uma manta que é vendida á R$ 16,00 (7/12/2003).

as comunidades, num total de trinta famílias, são capacitadas pela empresa.

Na atividade de produção das mantas e 9 empregados dão conta de todo o processo

produtivo, desde a criação do molde até o acabamento dos produtos. a empresa é total-

mente acreana. Possui 11 máquinas industriais próprias com produção de 50 produtos

por dia. o estoque conta com mil bolsas para ser lançado no mercado.

os preços dos produtos variam de R$ 33,00 à R$ 205,00 de acordo com acabamento,

padrão e textura do couro. (7/11/2003).

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PARÁProjeto Couro Ecológico

Produtores: aSMIPRuT – associação Intercomunitária de Mini e Pequenos Produtores

Rurais da Margem Direita do Rio Tapajós de Piquiatuba a Revolva

Produtos: bolsas, malas, mochilas e brinquedos

Local de Extração: FloNa do Tapajós

local de Produção: Belterra de Maguary, Pará.

Apoio: MMa-IBaMa (Projeto Manejo Florestal Sustentável da amazônia), uSaID,

PNuD

Data de início: 1995

localizada a 726,3 km de Belém, o município de Belterra de Magary é povoado por 56

famílias seringueiras. 26 destas famílias participam da iniciativa do Couro Ecológico.

Em 2001 com o financiamento da uSaID – agência Norte-americana para o

Desenvolvimento Internacional houve uma melhoria em infra-estruutura do local e foi

realizada um plano de negócios. Em 2004 a iniciativa recebeu o apoio do Promanejo

– Programa de apoio ao Manejo Floresta na amazônia do Ibama com apoio do PNuD

– Programa das Nações unidas para o Desenvolvimento. Com isto foi possível aperfeiçoar

a técnicas de produção do couro ecológico, o design dos produtos e ampliar os mercados

de venda.

“a atividade é uma forma de manter o seringueiro no campo. Há alguns anos quando a borracha sofreu uma queda no preço, 70% dos seringueiros que viviam na floresta tiveram que ir para a cidade porque não tinham como sobreviver do látex” diz o diretor de vendas do projeto, arimar Feitosa Rodrigues. “o projeto melhorou muito a qualidade de vida das famílias envolvidas. antes a única fonte de renda era a agricultura familiar. os ribeirinhos da comunidade de Maguary trabalham na produção de farinha de mandioca, feijão e arroz para sua subsistência. a produção do couro ecológico envolve mulheres e homens , melhorando assim as relações de gênero, além de resgatar os saberes e a cultura local e fomentar a organização comunitária”.

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arimar explica:

uma família que sobrevive apenas dos produtos que planta tem uma renda de R$ 150,00 por mês, incluindo a ajuda dos programas de transferência de renda com o Bolsa Família. No couro ecológico é possível ganhar de R$ 250,00 à R$ 600,00. os benefícios se es-tendem a todas as famílias da comunidade pois 5% do lucro da venda é repassado para um fundo comunitário destinado a ajudar a população, como por exemplo a comprar remédios.

o projeto recebeu menção honrosa no Prêmio oDM Brasil, destinado a contemplar

práticas de trabalho em prol dos objetivos de Desenvolvimento do Milênio – uma série

de metas socioeconômicas que os países da oNu se comprometeram a atingir até 2015.

o projeto foi apresentado na Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade como um

modelo para ajudar o Brasil a cumprir metas da oNu.

os produtos foram expostos em Bolonha, Itália num encontro de cooperativas. Segundo

arimar a cooperativas seguem os princípios do comércio justo e não superfaturam os pro-

dutos. Na França, com padrões de comércio normal uma bolsa de R$ 15,00 é vendida á

R$ 124,00 (45 euros) encarecendo muito o produto.

AMAZONAS Projeto Seringueira – Microempresa de confecção e comercialização

de bolsas e mochilas de couro vegetal.

Sócio: Wilson Manzoni

Local de extração: Flona Mapiá Inauiní

Local da empresa: Boca do acre

Ano da Fundação: 1999

o artesão paulista, Wilson Manzoni, viajou para Rio Branco em 1978 e lá conheceu o pa-

drinho Sebastião de Mota de Melo, seringueiro e líder comunitário. Sebastião ensinou

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a ele o processo de produção de artefatos de borracha. Numa iniciativa pioneira iniciou

então a comercialização de produtos, que antes era de uso exclusivo do seringueiro, como

bolsas e sapatos, em lojas de artesanato.

Em 1999 abriu sua própria empresa, a Seringueira, produz bolsa e mochilas de couro

vegetal. os produtos são confeccionados por costureiras locais e vendidos em Boca do

acre e nas cidades próximas, além da internet.

a parceria com a Couro Vegetal da amazônia se deu quando era presidente da aPaS,

um vez que a associação é fornecedora das mantas de couro vegetal.

4.3. A APAS - Associação de Produtores de Artesanato e Seringa da Boca do Acre - Amazonas/ Flona Mapiá Inauiní

a aPaS foi fundada em 1995 e desde então trabalha produção do couro vegetal a partir

de unidades de produção descentralizadas. É uma associação civil, legalmente registra-

da que tem como meta colaborar para a permanência do povo na floresta e incentivar a

melhoria das condições de saúde e educação. Este trabalho beneficia atualmente 500

pessoas, sendo 89% seringueiros e seus familiares.

a área de atuação da aPaS vai do Rio acre (município de Boca do acre, amazonas)

sobe e desce o Rio Purus até o município de Pauíni e percorre vários igarapés afluentes

destes rios.

a aPaS tem como objetivo de colaborar na manutenção dos seringueiros na floresta

tornando o beneficiamento do látex uma atividade mais rentável. Na produção de uma

lâmina que utiliza 1,3 l de látex o seringueiro recebe R$ 3,00. Na produção tradicional

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recebe R$ 1,5 por kg de borracha para qual emprega 3,3 l de látex.

o bioextrativismo não agride o meio ambiente, trabalha com o conceito de “floresta em

pé, que pressupõe a preservação da flora regional, e está representando uma alternativa

de renda á comunidade local para a decadência que sofreu a produção da borracha.

Esta modalidade extrativista é vinculada ao tipo de organização social e ao universo cul-

tural específico da região. a atividade não faz apenas o uso imediato (coleta de recursos

animais ou vegetais), mas também usos mediatos (cultivo e beneficiamento de produtos)

da biota, por meio da produção familiar ou comunitária e dentro dos valores e crenças das

sociedades que habitam os ecossistemas da região.

as pessoas envolvidas na produção recebem treinamento em técnicas de produção,

capacitação gerencial e administrativa, controle de qualidade e manejo florestal de produ-

ção. a empresa Couro Vegetal da amazônia leva os insumos (tecido de algodão e mistura

química para a vulcanização). a população local é responsável pela produção das lâminas,

pelo gerenciamento do processo produtivo, por parte do controle de qualidade e pelo envio

do material até rio Branco, capital do acre.

a produção do couro vegetal é um trabalho familiar realizado por unidades domésticas,

sendo que cada unidade envolve de seis a dez famílias. a atividade dos produtores é rea-

lizada em duas fases. Primeiro recolhe-se o látex nos seringais das florestas (através das

estradas de borrachas), e uma vez feita a extração, o material é levado para o terreno de

suas casas (colocação). Neste terreno, existem dois espaços necessários para obtenção

do couro vegetal: o defumador, onde o látex é aplicado ao algodão e defumado; e uma

estufa, onde as mantas são vulcanizadas a altas temperaturas, usando-se lenha como

combustível. após essa última etapa, a manta ganha consistência e o couro vegetal está

produzido.

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a produção familiar é vendida à empresa Couro Vegetal da amazônia, que tem exclu-

sividade na obtenção do material. o fato da renda obtida através da produção do couro

vegetal levou á uma melhoria sensível na qualidade de vida das pessoas envolvidas no

processo. Neste sistema eles recebem dinheiro em mãos, além de poder usufruir de uma

espécie de cooperativa de consumo da cesta básica, que não existia antes.

Para Floriano Pastore Jr., professor da unb, a renda maior, obtida na extração da bor-

racha, diminui a migração do trabalhador para a cidades. Ele deixa de extrair madeira ,

evitar partir para a produção agropecuária precária e não fica a mercê do narcotráfico, que

constantemente tenta recrutar pessoas daquela região para suas atividades.

4.3.1. A Certificação FSC – Forest Stewardship Council

a certificação tem o objetivo de garantir que o uso de recursos naturais é feito de manei-

ra adequada, e apresenta uma alternativa à exploração predatória das florestas. atesta

que uma empresa ou comunidade obtém produtos florestais respeitando os aspectos

ambientais, sociais e econômicos de determinada região.

a atuação do empreendimento pode estar sendo feita de maneira correta, porém a cer-

tificação é a garantia para o consumidor de que o produto é proveniente de uma floresta

manejada adequadamente, que gera emprego e renda, que os direitos trabalhistas são

respeitados e que ,ao mesmo tempo, respeita o meio ambiente. Desta maneira o consu-

midor sabe que sua compra contribui para a conservação das florestas.

a certificação florestal de maior reconhecimento e credibilidade é a do FSC – Forest

Stewardship Council, traduzida para o português como Conselho de Manejo Florestal,

uma organização não governamental internacional que tem como missão promover o bom

manejo das florestas do mundo.

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Para a obtenção do selo FSC, um empreendimento deve estar de acordo com uma

série de critérios sociais, ambientais e econômicas, também chamados de padrões. uma

equipe de avaliação independente utiliza essas regras ou padrões para verificar se o

manejo da floresta está sendo bem feito e se os produtos desta floresta, madeireiros ou

não, podem levar o selo FSC.

a certificação não é um processo simples, principalmente para atividades informais, pois

exige controle de todas as etapas envolvidas no processo: desde as árvores utilizadas

no extrativismo ou na derrubada no caso de extração de madeira, ao controle de estoque,

à normas de segurança no trabalho. Cada árvore é numerada na floresta através do pla-

queamento. ou seja, a área florestal é toda mapeada. E todos processos de devem estar

dentro da leis vigente no país: sejam leis trabalhistas ou de direito de posse da terra.

a certificação é um processo voluntário no qual a certificadora, uma organização in-

dependente credenciada pelo FSC, verifica o cumprimento dos Princípios e Critérios do

FSC.

os 10 princípios e critérios da certificação são:

1 – Obediência às Leis e aos Princípios do FSC

o manejo deve respeitar todas a leis aplicáveis ao país onde opera, os tratados interna-

cionais e acordo assinados por este país, e obedecer os Princípios e Critérios do FSC.

2 – Responsabilidade e direitos de posse e uso da terra

os direitos de posse e uso de longo prazo relativos à terra a aos recursos florestais de-

vem ser claramente definidos, documentados e legalmente estabelecidos.

3 – Direitos dos povos indígenas

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os direitos e costumários dos povos indígenas de possuir, usar e manejar suas terras,

territórios e recursos devem ser reconhecidos e respeitados.

4 – Relações comunitárias e direitos dos trabalhadores

as atividades de manejo florestal devem manter ou ampliar o bem estar econômico e

social de longo prazo dos trabalhadores florestais e das comunidades locais.

5 – Benefícios da floresta

as operações de manejo florestal devem incentivar o uso eficiente dos múltiplos pro-

dutos da floresta para assegurar a viabilidade econômica e uma grande de benefícios

ambientais e sociais.

6 - Impacto ambiental

o manejo florestal deve conservar a diversidade ecológica e seu valores associados,

os recursos hídricos, os solos e os ecossistemas e paisagens frágeis e singulares, e ao

assim atuar, manter as funções ecológicas e a integridade da floresta.

7 – Plano de manejo

um plano de manejo – apropriado à escala e intensidades operações propostas – deve

ser escrito, implementado e atualizado. os objetivos de longo prazo do manejo florestal

e os meios para atingi-los devem ser claramente definidos.

8 – Monitoramento e avaliação

o monitoramento deve ser conduzido – apropriado á escala e á intensidade do manejo

florestal – para que sejam avaliados á condição da floresta, o rendimento dos produtos

florestais, a cadeia de custódia, as atividades de manejo e seus impacto ambientais e

sociais.

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9 – Manutenção de florestas de alto valor de conservação

as atividades em manejo de florestas de alto valor de conservação devem manter ou

ampliar os atributos que definem estas florestas. Decisões relacionadas à florestas de alto

valor de conservação devem sempre ser consideradas no contexto de uma abordagem

precautória.

10 – Plantações

as plantações devem ser planejadas e manejadas de acordo com os Princípios e Critérios

de 1 a 9 e o Princípio 10 e seus Critérios. Considerando que as plantações podem pro-

porcionar um leque de benefícios sociais e econômicos e contribuir para satisfazer as

necessidades globais por produtos florestais, recomenda-se que elas complementem o

manejo, reduzam as pressões, e promovam a restauração e conservação das florestas

naturais.

o processo de certificação deve incluir as seguintes etapas:

• Contato inicial – a operação florestal entra em contato com a certificadora;

• Avaliação – consiste em uma análise geral do manejo, da documentação e da ava-

liação de campo. Seu objetivo é preparar a operação para receber a certificação. Nessa

fase são realizadas a consultas públicas, quando os grupos de interesse podem se ma-

nifestar;

• Adequação – após a avaliação, a operação florestal deve adequar as não conformi-

dades (quando houver);

• Certificação da operação – a operação florestal recebe a cerificação. Essa etapa, a

certificadora elabora e disponibiliza um resumo público;

• Monitoramento anual – após a certificação é realizado pelo menos um monitoramento

da operação ao ano. (site FSC 23/12/2006).

o processo de certificação é conduzido pela certificadora. Cabe à ela avaliar opera-

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de manejo florestal ou de cadeia de custódia e de auditar operações certificadas. a ca-

deia de custódia permite que o produto final leve o selo FSC. a certificadora cobra pelos

serviços prestados. atualmente no Brasil existem cinco certificadoras credenciadas pelo

FSC.

Para obter a certificação FSC, os empreendimentos florestais devem ter um plano de

manejo que inclua, no mínimo, os seguintes aspectos:

• os objetivos do manejo;

• descrição dos recursos florestais a serem manejados, das limitações ambientais, do

uso da terra, da situação fundiária e das condições sócio econômicas da unidade de

manejo e entorno;

• descrição do sistema de manejo, baseado nas características ecológicas da floresta

em questão e informações coletadas através de inventários florestais;

• planos operacionais anuais especificando todas as operações a serem realizadas na

unidade de manejo florestal, incluindo critérios de seleção de corte, volume de corte anu-

al, procedimentos para monitoramento do crescimento e da dinâmica da floresta – cujos

resultados devem ser utilizados na justificativa para ciclo de corte;

• justificativa das técnicas de colheita escolhidas e equipamentos a serem utilizados;

• medidas para atenuação dos impactos ambientais identificados, incluindo a identifica-

ção e proteção de espécies raras, ameaçadas ou em perigo de extinção;

• mapas ou croquis descrevendo a base dos recursos florestais, incluindo áreas prote-

gidas, principais tipologias florestais, topografia, hidrografia, infra-estrutura preexistente,

usos atuais do solo e além das áreas vizinhas;

o plano de manejo incorpora a estratégia de longo prazo de abastecimento das unidades industriais, caso existentes, e os mecanismos de sustentabilidade econômica durante todo o ciclo previsto de recuperação da floresta ( em geral de 20 a 30 anos). (Brasil Certificado – Imaflora, 2005 )

No Brasil, o Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e agrícola é a única

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entidade que certifica, além de empresas, comunidades rurais, através de manejo flo-

restal comunitário.

Para ambientalistas do WWF é importante que a certificação da floresta não fique restrita

somente à madeira, mas à todos os recursos da floresta como por exemplo a copaíba

e a jarina. o apoio à esses projetos se dá através de Grupos de Produtores Florestais

Comunitários.

o manejo florestal madeireiro não é algo tradicional das comunidades e povos da flo-

resta, por isso há necessidade de capacitação e investimento. o manejo florestal não

madeireiro por ser um sistema que se aproxima do universo do extrativismo é melhor

assimilado pelas comunidades: faz parte da cultura do seringueiro colher a castanha,

furar a copaíba, colher a casca do ipê para remédio, etc.

Para luis Meneses, Coordenador do Programa amazônia da WWF Brasil, a grande

vantagem do Grupo de Produtores Florestais Comunitários e do qual o CTa é o assessor

técnico, organizacional e político, é reunir a pequena oferta dos diversos grupos comuni-

tários para negociar em quantidades significativas com grandes empresas e compradores

no mercado. a venda coletiva é um grande avanço. o WWF busca processos de inclusão

social trazendo o povo que está nas florestas para a economia de mercado. o trabalho

tem sido direcionado para assistência técnica do manejo florestal e para o fortalecimento

das capacidades administrativas, de liderança e participativas nas associações.

a expectativa é que em determinado momento as comunidades possam estar capa-

citadas para gerir seu próprio negócio. a WWF é parceira do projeto Couro Vegetal da

amazônia.

uma das vantagens para as comunidades e populações locais é a possibilidade de

entrar em contato com alternativas, economicamente viáveis, às práticas destrutivas da

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e de poder influenciar na conservação das áreas necessárias para a sua sobrevivência.

além disso, têm seus direitos preservados e acesso à novas perspectivas de renda.

4.3.2. A Certificação FSC da APAS pelo Imaflora

Para avaliação da aPaS foi considerada a versão adaptada dos Padrões do FSC para

Manejo Florestal em Terra Firme na amazônia Brasileira (2002) e os Padrões Genéricos

do SmartWood para Manejo do produtos Florestais Não madeireiros

No início de 2005 foi realizada auditoria na área de manejo florestal da aPaS pelo en-

genheiro florestal da Imaflora, andré Giacini Freitas com objetivo de:

• avaliar o plano de manejo aplicado às áreas florestais sob responsabilidade da

aPaS.

• avaliar a conformidade da operação florestal com os Princípios e Critérios do FSC,

através das “Diretrizes Gerais SmartWood para avaliação do Manejo Florestal” , versão

de 2000, para que esta operação florestal pudesse ser fornecedora de matéria prima

certificada.

• identificar as possíveis Pré-condições e Condições para que o Manejo Florestal da

aPaS seja certificado.

o resultado desta auditoria está presente no Resumo Público de Certificação FSC –

Programa SmartWood da associação dos Produtores de artesanato e Seringa – aPaS em

Boca do acre, amazonas. Certificado número: SW-FM/CoC-NTFP1447 de 10/03/2005.

a Rede Smartwood é coordenada pela Rainforest Alliance, uma oNG conservacionista

internacional da qual o Imaflora é membro institucional.

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as áreas de manejo da aPaS foram consideradas do tipo SlIMF – Small and Low

Intensity Managed Forests por se tratar de um manejo florestal de pequena escala e baixa

intensidade.

É um tipo de manejo comunitário para produção do látex de seringueira (Hevea sp. ) em

propriedades rurais da amazônia úmida brasileira, com extração de pequenos volumes de

madeira para o processo de defumação e para lenha nas estufas. o manejo é organizado

por uma associação comunitária e seus associados que realizam o processamento pri-

mário do produto. os produtos finais comercializado pela

associação são lâminas de couro vegetal.

Figura

7: Mapa das unidades de Produção de Couro Vegetal da aPaS

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o manejo florestal conta com o apoio do Instituto Nawa, da empresa Couro Vegetal

da amazônia, do WWF – Fundo Mundial para a Natureza e Fundação Ford, além das

parcerias técnicas com a Secretaria de Extrativismo e Produção Familiar do Estado do

acre, laboratório de Produtos Florestais do Parque Zoobotâncio/universidade Federal

do acre e do IBaMa.

as áreas de manejo estão localizadas ao longo do Igarapé São Francisco, dentro da

Floresta Nacional Mapiá Inauiní e no seu entorno.

localização da Flona Mapiá Inauiní:

Latitude: 07º 57’ 39” a 08° 41’ 54´ S

Longitude: 67° 42’ 02” a 68° 38’ 50” W

No manejo florestal estão envolvidas seis colocações que realizam a extração do látex.

Quatro delas possuem unidades de produção de couro vegetal e extraem madeira para

defumação das lâminas.

São realizados dois tipos de manejo: para do látex e para produção de madeira.

Produção do látex

as etapas da produção do látex, considerando as estradas já abertas são:

• numeração e plaqueamento das seringueiras

• divisão das árvores em bandeiras

• raspagem das bandeiras

• corte (sangria) da seringueira

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Este é o sistema tradicional extrativista da amazônia, apenas realizado com maior con-

trole sobre a produção de cada estrada e a numeração das árvores de seringueira.

o período de produção vai de maio a agosto e de outubro à novembro. Normalmente

uma estrada é cortada uma vez a cada três dias.

Produção de madeira

a madeira é utilizada na defumação e nas estufas de secagem. Nas estufas normal-

mente a lenha utilizada é proveniente das áreas de roçados.

a área considerada para manejo é de 20 hectares. a produção da madeira ocorre em

áreas de produção anual de um hectare, com um ciclo proposto de 20 anos. São localiza-

das as árvores que tenham diâmetro acima de 150 cm. Para que uma espécie seja derru-

bada é necessário que exista mais duas árvores da mesma espécie. a derrubada é feita

de maneira direcionada de forma a causar o mínimo impacto. as toras são seccionadas

em discos de 15 a 20 cm de espessura, transportados manualmente até as unidades de

produção e transformadas em cavacos.

as áreas de manejo estão divididas em florestas de várzea e florestas de terra firme.

a economia local é baseada na agricultura de subsistência e produção de couro vegetal.

alguns produtores trabalham também com produção de canoa, artesanato de cipó e ex-

trativismo da castanha.

a população mora nas margens dos cursos d’água em colocações definidas com base

em estradas de borracha. as colocações são entendidas como o espaço geográfico onde

estão localizadas as estradas de borracha, castanhais. Roçados e as casas das famílias.

Medem em geral de 300 a 600 hectares. os responsáveis pela área são pessoas que

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nasceram, ou se encontram há décadas, na região.

a população local é em sua maioria jovem e sem grupo doméstico constituído. a taxa de

analfabetismo é superior a 60% na população acima de 14 anos. Para atendimento médi-

co a população tem que se deslocar até Boca do acre. Tem havido migração para dentro

e para fora da Flona. a causa provável é a baixa no preço da borracha o que faz que as

colocações distantes, apesar de boas produtoras de látex, sejam abandonadas em favor

de áreas localizadas mais próximas aos grandes rios e a sede do município.

a auditoria concluiu pela decisão favorável à certificação fazendo algumas observações.

Entre elas:

• regularizar autorização oficial para extração da madeira

• regularizar documentação definitiva da terra

• melhorar as condições de trabalho no que se refere à exposição dos produtores á

fumaça no processo de defumação das lâminas.

• resolver disposição adequada para resíduos (embalagens, pilhas, etc.)

• ampliar o mercado para o couro vegetal para garantir a sustentabilidade econômica

do projeto.

• estimular o envolvimento e capacitação de mulheres e jovens na criação e produção de

artesanato com couro vegetal, madeira e produtos florestais não madeireiros (sementes,

cipós, etc.)

4.4. A empresa Couro Vegetal da Amazônia e a Amazon Life

o Projeto Couro Vegetal da amazônia é o resultado da aliança formada pela Couro

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da amazônia S.a., Instituto Nawa para o desenvolvimento do Extrativismos Sustentável

da amazônia e três associações de produtores: associação dos Seringueiros e agricultores

da Reserva Extrativista do alto Juruá (aSaREaJ) no acre, associação dos Produtores de

artesanato e Seringa (aPaS) de Boca do acre, no amazonas, com extração na Floresta

Nacional Mapiá-Inauiní e associação dos Seringueiros Kaxinawá com extração na Terra

Indígena do Rio Jordão, (aSKaRJ).

o projeto Couro Vegetal da amazônia tem como objetivo desenvolver, produzir e comer-

cializar o couro vegetal, tecido emborrachado com látex da seringueira, nos estados do

acre e amazonas, criando alternativas econômicas para os seringueiros.

Diversas áreas do Norte do Brasil se caracterizam pelo desmatamento crescente, con-

centração de propriedades e conflitos pela posse de terra. a atividade mais comum na

zona rural é a extração da borracha. Porém os seringueiros são obrigados a vender toda

a produção para intermediários, a preços baixos.

a atividade da empresa Couro Vegetal da amazônia teve início em 1988.

No final da década de 80, em especial o ano de 1988, foi marcante para o movimento

ambiental no Rio de janeiro. Neste ano os ecologistas começaram a olhar com certa reve-

rência para o que vinha acontecendo na amazônia, com destaque para a luta dos povos

da floresta. No Rio de Janeiro, uma grande passeata foi organizada pelos ambientalistas

e um dos pontos máximos foi a afixação de uma grande faixa, num dos mais belos car-

tões-postais do mundo, o Pão de açúcar. a faixa estampava a frase: Salve a amazônia.

o propósito da manifestação foi chamar a atenção para a luta dos seringueiros do acre

em defesa da floresta. Isso aconteceu um mês antes do assassinato do líder seringueiro,

sindicalista e ativista ambiental Chico Mendes em 22 de dezembro de 1988.

Nesta época aconteceram várias mobilizações para apoiar os extrativistas da

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Influenciadas pelos movimentos de luta pela amazônia e sensibilizados pela morte do

sindicalista, os empresários João augusto Fortes e Maria Beatriz Saldanha se uniram para

criar, em 1990, no Rio de Janeiro, uma das primeiras lojas brasileiras especializadas em

produtos ecológicos, o Ecomercado. Era uma maneira de abrir novos mercados e criar

alternativas econômicas para os seringueiros da amazônia e colaborar com o movimento

em defesa da floresta.

os sócios da empresa foram contatados por seringueiros de Boca do acre, aM, para

apresentar o saco encauchado, uma espécie de bolsa de tecido impermeabilizado pelo

látex, tradicionalmente usado pelos seringueiros para embalar e transportar o látex colhido

e suas bagagens pessoais.

um lote de couro vegetal foi encomendado e com ele foram produzidos as primeiras bol-

sas e pastas que foram lançadas durante a realização da Rio 92. Porém tal qual aconteceu

com os primeiros comerciantes de borracha natural, antes de ser conhecido o processo da

vulcanização, os produtos foram devolvidos pelos clientes com a reclamação que estavam

pegajosos e tinham odor desagradável.

Ficou clara a necessidade da utilização do processo de vulcanização para tornar o pro-

duto mais durável.

Para o aprimoramento deste material foram contratados especialistas que desenvolve-

ram um processo tecnológico exclusivo que viabilizou o produto para o mercado interna-

cional. o resultado foi o couro vegetal – Tree Tap Wild Rubber, que conferiu à borracha

nativa ótimos padrões de qualidade enfatizando seu valor cultural e ecológico. o Tree Tap

foi desenvolvido especialmente para a realidade dos seringais nativos da amazônia para

ser utilizados na confecção de bolsas, mochilas, pastas, artigos de vestuário, calçados,

encadernações e revestimentos.

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a formalização da empresa Couro Vegetal da amazônia S/a, sociedade anônima de

capital fechado que produzia e comercializava os produtos em couro vegetal, se deu em

1994. a partir de então foi possível a obtenção de financiamento do BNDES, através do

BNDESpar, para viabilizar o projeto, investir na tecnologia do produto e na infra-estrutura

das áreas de produção. até hoje este financiamento continua sendo pago através de

renegociação da dívida, o que demonstra que até o momento o empreendimento não é

totalmente auto-sustentável.

Durante os anos que se seguiram, produtores, associações e empresa trabalharam

juntos no desenvolvimento do Tree Tap e sua colocação no mercado. Na amazônia a

estruturação das quatro atuais áreas de produção e treinamentos para capacitação de

produtores.

Bia Salanha reconhece a importância, na viabilização deste projeto a existência de um

movimento social organizado.

Em 1996, foi fundado o Instituto Nawa, entidade sem fins lucrativos criada para dinami-

zar parcerias entre associações de produtores, empresas, governo e oNGs, nacionais e

internacionais.

a soma de experiência adquirida seja no estabelecimento de relações sociais, seja na

aquisição de conhecimento técnico para atingir a qualidade necessária para a colocação

do material no mercado de forma duradoura resultou num know how único que diferencia

a empresa de forma inédita no mercado.

Para viabilização do empreendimento foi necessário um investimento no valor de u$

2.000.000 destinado á pesquisa, implementação de unidades produtoras, curso de ca-

pacitação. Parte deste capital foi feito com aporte dos próprios sócios sendo o restante

proveniente do financiamento do BNDES através da BNDESpar.

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Em 1998 um contrato entre a Couro Vegetal da amazônia e a Hermès de Paris – garantiu

mais um ano de pesquisa. a empresa comprou grande quantidade de couro vegetal para

a produção de pastas masculinas e estojos femininos com design próprio.

4.4.1. Questões Sociais do Empreendimento

Para avaliar os pontos positivos do projeto da Amazon Life, é importante aqui voltar ao

conceito de “tecnologia social”.

Segundo o Instituto de Tecnologia Social:

Quando falamos que uma tecnologia é social queremos destacar que ela carrega algo diferente das “outras” tecnologias, as chamadas tecnologias convencionais, criadas dentro de universidades e centros de pesquisa, no campo das chamadas “ciências duras”.

a Tecnologia Social tem a ver com as soluções criadas na interação com a população como resposta aos problemas que ela enfrenta, levando em conta suas tradições, seus arranjos organizacionais, os saberes locais, o potencial natural da região, enfim, sua realidade histórica, econômica, social e cultural. Ela não se define só pelos resultados e impactos que produz. a Tecnologia Social é prin-cipalmente um modo de fazer, um modo de produzir conhecimento, que presta atenção em valores como a participação e o aprendizado, a disseminação de informações e do conhecimento entre todas as partes envolvidas, a transformação das pessoas e da realidade social, entre outros aspectos, procurando caminhar para o desenvolvimento socioeconômico sustentável.

a Tecnologia Social se vincula, assim, à ampliação da cidadania e à inclusão social,

porque possibilita a aprendizagem, a transformação da sociedade, e que os instrumentos

de conhecimento sejam apropriados por aqueles que, ao longo da História, não tiveram

acesso ao sistema de Ciência e Tecnologia.

Sendo assim se por um lado o projeto da Amazon Life é geradora de renda para uma

população tradicional, de outro ao registrar a patente do processo tecnológico da produ

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ção do couro vegetal impede a possibilidade de expansão dos negócios que não estejam

vinculados à empresa.

a Couro Vegetal da amazônia garante a compra do material e paga aos produtores,

pelas lâminas entre R$ 6,00 e R$ 10,00 (valores do ano 2000)

4.4.2. O design da Amazon Life

a diferença da Amazon Life em relação

com outras iniciativas de produtos de

ecodesign é que a empresa se

caracteriza pelo design e qualidade

de seus produtos.

Por meio de parcerias, melhorou

a tecnologia de produção do cou-

ro vegetal colaborando na ima-

gem, na durabilidade e no odor do

produto.

Estabeleceu um plano estratégico de

negócios que envol-

ve a área comercial

mas também a ima-

gem coordenada de

design de produto

e comunicação visual

incluindo criação e apli-

Figura 8:

91DESIGN SuSTENTÁVEl | o CouRo VEGETal

Figura 9: Comunicação Visual da amazon life: logotipo, capa do catálogo, página inicial do site e cartão de visita.

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o design das

peças apesar de

contemporâneo

n ã o s e g u e

modismos sendo

possível encontrar

em l inha os

primeiros modelos

desenvolvidos pela

empresa.

as cores tem uma tendência de tons que remetem à natureza. o

material complementar principal é o algodão

tingido em várias tonalidades. Todas as

bolsas tem ótimo acabamento e prima

pelo cuidado nos detalhes, como a

presença de uma etiqueta interna que

possui um mapa que localiza a área de

extração do látex na amazônia. Tanto

no catálogo comercial quanto no site

da empresa a história do produto pode

ser encontrada conectada às comunidades

da amazônia e preservação da floresta.

Concluindo, é um produto que os com-

pradores se afeiçoam pela sua história

e por isso não entram na categoria de

descartáveis.

92DESIGN SuSTENTÁVEl | o CouRo VEGETal

Figura 11: Fotografia de Produtos da amazon life

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5. AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA DO PRODUTO

5.1 - Indicadores de Sustentabilidade

um indicador é uma unidade de medida de determinado fenômeno. Por exemplo, a

temperatura do corpo é um indicador da saúde de um paciente.

PIB (Produto Interno Bruto), IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), Taxa de

Mortalidade, Índice de Escolaridade, Renda Per Capita, Índice de Concentração de Co2

na atmosfera são indicadores econômicos, sociais e ambientais.

Na Agenda 21 já estava expressa a necessidade de determinar alguns indicadores de

sustentabilidade pois o números relativos ao PIB ou a quantidade de emissões atmosféri-

cas não são suficientes para construir indicadores de sustentabilidade. Com a introdução

do conceito de espaço ambiental foi possível a concretização da noção de sustentabilida-

de (sustainability) ou capacidade de futuro (Zukunftsfähigkeit): a manutenção dos funda-

mentos naturais da vida e uma justa divisão da sua limitada possibilidade de utilização.

“É necessário elaborar indicadores de desenvolvimento sustentável, de maneira a criar fundamentos sólidos para tomada de decisão em todos os níveis para contribuir para uma sustentabilidade auto reguladora dos sistemas integrados ambiental e de desen-volvimento. (agenda 21, par. 40.4.)

Porém unir grandezas de diferentes aspectos: ecológicos, sociais, econômicos e institu-

cionais representa um problema de grande complexidade. Várias tentativas têm sido rea-

lizadas neste sentido. a uNCSD – Comissão das Nações unidas para o Desenvolvimento

criou algumas propostas de sistemas de indicadores.

Considerando a complexidade da criação de indicadores de sustentabilidade, a escassa

existência de exemplos a serem seguidos, principalmente se aplicado ao projeto de

93DESIGN SuSTENTÁVEl | aValIaÇão DE CIClo DE VIDa

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Figura 12: Esquema do

Ciclo de Vida do Produto

produto (a maioria dos exemplos se refere construção de índice de uma empresa, uma

cidade, uma pessoa, uma população), o presente estudo se limitará a um indicador de

impacto ambiental, que poderá ser integrado futuramente a um sistema geral de indicador

de sustentabilidade.

5.2. A ACV - Avaliação do Ciclo de Vida do Produto

Para a avaliação do impacto ambiental de um produto, a metodologia da aCV é a mais segura e promissora. (Manzini e Vezzoli, 1998).

Introduzir os requisitos ambientais no projeto de produto aumenta a complexidade da

atividade de projeto porque é necessário a incluir maior quantidade de informações e ain-

da faltam experiências consolidadas e instrumentos apropriados de análise. as questões

ambientais devem ser integradas desde o início do processo de projeto para dar suporte

à tomada de decisões, que serão as mais importantes do processo total. a atividade do

designer deve estar comprometida desde a etapa inicial e para projetar o profissional deve

dispor de informações e métodos de análise, medidas de avaliação e instrumentos de

suporte para avaliar as conseqüências de suas decisões.

Segundo Manzini e Vezolli a indisponibilidade dos dados sobre

o impacto ambiental é um dos problemas mais relevan-

tes que encontramos no decorrer dos vários proces-

sos que envolvem as fases do ciclo de vida de um

produto. Em geral os dados não estão facilmente

disponíveis e quando estão muitas vezes as infor-

mações são obsoletas, não são representativas ou

ainda se encontram sob tutela privada.

94DESIGN SuSTENTÁVEl | aValIaÇão DE CIClo DE VIDa

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É necessário então trabalhar para a obtenção de dados detalhados sobre a origem, a

produção a distribuição dos materiais e mais adiante de informações à respeito da trans-

formação destes materiais em produtos, do seu potencial risco no impacto ambiental e,

dos seus efeitos para a saúde durante toda a sua fase de produção, como também durante

se uso e na eliminação dos produto.

Para administrar estas informações é importante a utilização de instrumentos efica-

zes na gestão das informações e de suporte nas decisões projetuais. Instrumentos de

informática como, por exemplo, CaD (Computer Aided Design) e CaM (Computer Aided

Manufacturing) devem estar integrados ao projeto de produto. Com a inclusão do aCV a

atividade de projeto de produto se torna mais complexa e interdisciplinar.

Depois de fazer o levantamento das informações é necessário confrontá-las e estabe-

lecer relações entre:

• sistemas de produção, consumo e ambiente.

• os vários atores envolvidos no sistema de desenvolvimento dos produtos.

• entre estes atores e os que estão evolvidos no ciclo de vida dos produtos.

Fica então claro que as mudanças necessárias para a transição para a sustentabilidade

são de ordem sistêmica e exigem mudanças tecnológicas, sociais e culturais. Para que

isso ocorra a utilização da informática se torna um instrumento imprescindível capaz de

armazenar, circular, confrontar, elaborar e apresentar de várias maneiras possíveis (com

diferentes interfaces), um grande número de informações. ou seja, a utilização da infor-

mática é necessária pela sua capacidade de administrar o aumento da complexidade da

atividade de projeto.

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5.3. Os desafios para o designer

o designer possui limitações na sua área de atuação porém pode contribuir na elabo-

ração de alternativas para o modelo atual de desenvolvimento.

a questão crucial é o da oferta de possíveis alternativas pois são essas alternativas (isto

é, uma nova geração de produtos e serviços intrinsecamente mais limpos) e seu sucesso

(isto é, o fato de elas serem efetivamente praticáveis) que vão decidir o tempo e os modos

da transição para a sustentabilidade. (idem).

Figura 13: Esquema de etapas críticas para integração dos aspectos ambientais no projeto e

desenvolvimento do produto. Fonte: ISo 14.062

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Na busca da sustentabilidade, tecnologia, design e marketing devem estar unidos. o

desafio está em conseguir comunicar à sociedade a gravidade do problema ambiental

de maneira a aumentar a capacidade do indivíduo de reconhecer e praticar as atitudes

alternativas, mesmo quando são contrárias a comportamentos e critérios de valores já

estabelecidos.

apesar de não poder criar lei ou obrigar as pessoas a consumir determinados produtos, o

designer pode atuar de maneira crítica aos modelos existentes e criar produtos com novos

conceitos. Pode, e deveria, contribuir para aumentar o número de alternativas viáveis,

técnica e economicamente, de estratégias de soluções para os problemas; intervir na

definição de resultados, dando-se o direito de compreender, agir e até errar; imaginar so-

luções ainda não expressas claramente, intervir no âmbito cultural, de valores, de critérios

de qualidade e em visões de mundos possíveis para tentar influenciar o mundo existente.

Dentro da limitação de sua atuação deve propor oportunidades que tornem praticáveis

estilos sustentáveis de vida trabalhando em colaboração com as empresas que são os

atores sociais que detém os maiores recursos em termos de investimento, conhecimento,

organização e capacidade de tomar iniciativa.

5.4. Ciclos Ecológicos e ACV

Para evitar o uso excessivo de recursos é necessário transformar os fluxos de materiais

unidirecionais em ciclos ecológicos reduzindo o consumo de matérias primas e energia.

Depois de extraídas as matérias primas são transformadas em produtos. Estes produ-

tos, depois de utilizados, se transformam em resíduos e então são devolvidos à biosfera.

Sendo assim são criados dois impactos negativos, um sobre o esgotamento de recursos

naturais e outro sobre o aumento de resíduos que são fontes de poluição.

97DESIGN SuSTENTÁVEl | aValIaÇão DE CIClo DE VIDa

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No ciclo industrial ecológico é importante observar que:

• a utilização de recursos renováveis deve ser coerente com a capacidade de regene-

ração da natureza e dos ecossistemas;

• o consumo de recursos não renováveis deve ser minimizado;

• o projeto de produtos e serviços deve gerar o mínimo impacto possível sobre o meio

ambiente;

• os produtos devem ser projetados para serem reciclados ou reutilizados;

• a reutilização e a reciclagem devem ser feitas da forma mais eficiente possível;

• os resíduos industriais que não podem retornar ao ecociclo devem ter uma disposição

segura a longo prazo.

o conceito de Ciclo de Vida do Produto se baseia em um conceito circular, fechado:

que vai do berço ao túmulo, ou do berço ao berço uma vez que se existirem resíduos eles

devem ser reintegrados à produção.

Para realizar a aCV é necessário compreender de onde vieram as matérias primas uti-

lizadas, para onde irão os produtos fabricados, os subprodutos que são gerados e os re

Figura 14: Esquema linear unidirecional da Economia. Fonte: o2 France

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síduos do processo como também os efeitos das emissões geradas no meio ambien-

te.

a abordagem em Ciclo de Vida do Produto é fundamental para avaliar seu impacto no

meio ambiente. Todas as etapas devem ser avaliadas desde a concepção do produto:

na escolha das matérias primas,das tecnologias, dos processos de fabricação, da orga-

nização da logística e no seu uso e descarte que deve facilitar sua reintegração no ciclo

de outro produto.

a emissão zero é a estratégia da produção limpa. Há uma redução máxima de saídas e a

venda das emissões restantes a outras empresas como matérias secundárias. a utilização

das entradas (energia e recursos) é otimizada e os produtos são concebidos levando em

consideração as saídas.

Próximo a este conceito está o do ciclo fechado, quando a empresa controla todas as fa-

Figura 15: Esquema de Fluxo Fechado. Fonte: o2 France

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devolução ao mercado. as empresas se tornam produtoras de matérias primas secundá-

rias e de serviços, diminuindo custos e evitando taxações sobre produção de resíduos.

Integrar o conceito de ciclo em um produto significa valorar todas as etapas do proces-

so incluindo a reutilização do produto, ou de um de seus componentes, na recuperação

de energia pela incineração ou de matérias primas via reciclagem ou no caso de ser de

origem vegetal utilizar para compostagem.

os produtos deveriam ter o maior tempo de duração possível dentro dos sucessivos

ciclos de utilização.

5.5. O Conceito de ACV

a avaliação do Ciclo de Vida de um produto é um instrumento de identificação e ava-

liação dos impactos energéticos, dos impactos ambientais e dos impactos potenciais

associados a todas as fases do ciclo de vida de um produto, processo, atividade. Baseado

na análise dos impactos é possível determinar uma oportunidade de melhoria. a avalia-

ção compreende o ciclo de vida inteiro do produto, processo ou atividade: a extração e

transformação da matéria prima, a fabricação do produto e a distribuição, o uso, o reuso,

a estocagem, a reciclagem e o descarte.

a aCV de um produto permite uma contabilização ambiental que leva em consideração

as retiradas de recursos naturais e energia da natureza e as “devoluções” para a mesma

e a avaliação dos impactos ambientais potenciais relativos às entradas e saídas do sis-

tema.

a contabilização tem início na natureza em termos de utilização de recursos naturais

100DESIGN SuSTENTÁVEl | aValIaÇão DE CIClo DE VIDa

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como água, minério, floresta, petróleo e atmosfera e considera todas as transformações

intermediárias necessárias para obtenção do produto estudado como processamentos,

distribuição e transporte, reciclagem e disposição final.

a contabilidade também é finalizada na natureza, novamente expressa em termos de

resíduos gerados, subprodutos e emissões para a água, terra e ar.

as emissões do sistema são avaliadas quanto aos impactos potenciais em relação ao

uso de recursos naturais, saúde humana e conseqüências ecológicas (como efeito estufa,

uso de recursos renováveis ou não, acidificação, etc.).

a aCV é abordada dentro de uma ótica macro onde são consideradas as inter-relações

entre os diversos sistemas, porém deve-se considerar que apesar da abordagem holística,

na prática constitui-se uma ferramenta normatizada pela ISo 14040 que contabiliza re-

cursos utilizados e emissões geradas e avalia os impactos ambientais potenciais. apesar

de ampla, não se aplica a todas as necessidades como, por exemplo, avaliação de risco,

ou aspectos econômicos ou sociais. Para um gerenciamento ambiental adequado deve

estar integrada a outros instrumentos de gestão ambiental.

Por ter uma abordagem ampla é um instrumento complexo de análise. uma das dificul-

dades é que é necessário considerar que o impacto de um produto não é determinado por

ele mesmo, ou pelo material utilizado na sua fabricação, mas pelo conjunto de processos

que o acompanha durante todo seu ciclo de vida. Este modelo inclui algumas incertezas,

como por exemplo, na definição do comportamento do usuário em relação ao produto ou

como ele procede para descartá-lo. Depois de considerar o perfil do ciclo de vida inteiro

do produto ficam dúvidas sobre os reais impactos dos processos utilizados pois o conheci-

mento do ambiente que nos circunda ainda é limitado e as relações entre causas e efeitos

não são facilmente identificáveis.

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Entre os limites desta ferramenta está a possibilidade de inclusão ou não de determina-

das etapas. Isto ocorre para evitar que a avaliação se transforme em um processo inaca-

bável pela sua extensão e pela abrangência de informações. a avaliação tem restrições

geográficas e temporais. o estudo abrange uma determinada região geográfica em um

determinado momento. Por isso nem sempre é possível exportar para outro país os dados

de determinada de análise quando, por exemplo, há variação de matriz energética. ou

quando um estudo foi executado anos atrás, pois pode ter ocorrido variações.

apesar de que alguns estágios do ciclo de vida de um produto podem ser excluídos,

esta seleção de etapas deve ser declarada e justificada no objetivo e escopo do estudo

de maneira clara e transparente.

É recomendado que não sejam excluídas as seguintes fases da avaliação:

• seqüência principal do processo produtivo: entradas e saídas de energia, água e utili-

zação de recursos naturais (matéria-prima ou insumo);

• transporte e distribuição;

• dados associados à geração de energia;

• utilização de combustíveis para geração de energia, calor e transporte;

• subprodutos gerados no processo produtivo;

• disposição de resíduos sólidos.

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5.6. Fases de Execução da ACV

as fases de uma aCV segundo a norma NBR ISo 14040 são quatro:

1 - Definição de Objetivo e Escopo

Nesta etapa são definidas a finalidade da análise, a unidade funcional, os limites do

sistema estudado, os dados, os itens pré-definidos, os procedimentos de verificação.

Segundo a publicação Avaliação do Ciclo de Vida – Princípios e Aplicações deverão ser

respondidas as seguintes perguntas:

- Porque realizar o estudo?

- Para quem o estudo se destina?

- Quais as fronteiras do estudo?

- Quais categorias de impacto serão consideradas e qual unidade funcional será

considerada?

- Quais são os critérios de avaliação do impacto ambiental?

- Quais os critérios de alocação de consumo/emissões em processos que geram

mais de um produto?

- Como o resultado será divulgado?

2 - Análise de Inventário.

São identificados e quantificados as entradas (consumo de recursos, energia, etc.) e

saídas (emissões na atmosfera, na água, etc.).

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Nesta fase são feitos o levantamento, a compilação e a quantificação das entradas e

saídas do sistema em termos de energia, recursos naturais e emissões para água terra e

ar considerando as categorias de impactos e as fronteiras pré-definidas.

3 - Avaliação de impacto.

Procede-se à uma caracterização qualitativa e quantitativa das conseqüências ambien-

tais ao longo de todas as fases do ciclo de vida do produto;

Pode ser dividida em três etapas distintas:

• classificação: na qual se opera uma agregação quantitativa de diversos impactos am-

bientais em determinada categoria: efeito estufa, eutrofização, consumo de energia, etc.

em geral por meio de indicadores;

• avaliação: na qual se efetua uma comparação qualitativa das várias alternativas ou a

determinação de um índice sintético final baseado na hierarquização dos diversos impac-

tos (por exemplo um sistema de peso) ou de redução a um valor convencional;

• validação, na qual se efetua uma análise de sensitividade dos resultados baseados

na quantidade de dados, dos itens pré-definidos, dos sistemas de classificação e valora-

ção utilizados.

Nesta etapa procura-se entender a avaliar a intensidade e o significado das alterações

potenciais sobre o meio ambiente associados ao consumo de recursos naturais e energia

e da emissão de substâncias relativas ao ciclo de vida do produto.

Segundo a aBNT NBR ISo 14040 esta avaliação deve incluir três etapas: classificação,

caracterização – de caráter científico - e ponderação – que inclui julgamentos subjetivos,

políticos ou normativos.

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Classificação- Nesta etapa cada parâmetro do inventário é associado a uma categoria de impacto,

como efeito estufa, acidificação, etc.

Caracterização

- Nesta etapa são colocados em uma mesma base de dados diferentes parâmetros que

contribuem para uma mesma categoria de impacto, considerando o efeito de cada um.

Por exemplo: todas as substâncias que contribuem para o efeito estufa são somados na

base de massa de Co2 equivalente, que é uma grandeza calculada a partir do potencial

do aquecimento global de cada substância, parâmetro já aceito pela comunidade científica

internacional.

Ponderação- Nesta etapa as categorias de impacto são somadas entre si, de acordo com o grau

de importância para o meio ambiente previamente definida, buscando-se um indicador

único de desempenho ambiental para o produto. Embora grandes debates científicos

tenham sido gerados até o momento na busca de metodologias para a ponderação, não

se obteve nenhum acordo internacional geral sobre metodologias mais adequadas para

esta finalidade.

Principais categorias que devem estar presentes na avaliação de impactos ambien-

tais:

Consumo de Recursos Naturaisavaliação do uso de água e a extração de recursos naturais para ser utilizado como fonte

de energia e como matéria prima.

Consumo de EnergiaÉ um dos indicadores mais importantes pois está associado ao uso de recursos natu-

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e às emissões para o ar e para água. a queima de combustíveis produzidos a partir de

fontes não renováveis como petróleo e carvão mineral além de contribuir para o esgota-

mento de recursos que são finitos, emite no ar Co2, So2 e Nox contribuindo em outras

categorias de impacto como efeito estufa, formação de chuva ácida, formação de fumaça

oxidante além de prejudicar a saúde da população. a energia nuclear oferece risco de con-

taminação por radioatividade em caso de acidente, consome recursos naturais e produz

lixo perigoso. a hidrelétricas produzem energia limpa porém necessita ter disponibilidade

de água e terra, alterando o ecosistema local. Restam as energia alternativas como a

aeólica e solar.

Efeito Estufaa intensificação do efeito estufa decorrente da ação do homem pode trazer como con-

seqüência o aumento da temperatura média do globo terrestre gerando chuvas intensas

em áreas consideradas desérticas, falta de água em regiões férteis e o aumento do nível

dos oceanos devido ao derretimento das geleiras e calotas polares.

Acidificaçãoocorre quando substâncias emitidas no ar, como dióxido de enxofre (So2) e óxido de

nitrogênio (Nox), são disolvidas na água da chuva e combinam-se com outros elementos

formando ácidos que atingem a superfície da terra e alteram a composição química do solo

e das águas, interferindo nas lavouras, florestas, rios, lagos, além de causarem danos

em estruturas metálicas e edificações. o So2 é proveniente principalmente da queima

de combustíveis fósseis nos processos industriais e o Nox da queima de combustíveis

especialmente durante o transporte.

Toxidade humana a emissão para o ar, água ou solo de substâncias consideradas tóxicas, como os compos-

tos aromáticos(tolueno, benzeno, xileno, fenol, etc.), metais pesados (chumbo, cádmio,

cromo, arsênio, mercúrio, etc.), tetracoleto de carbono, idrocarbonetos halogenados

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(tricloro metano, etc.) podem causar problemas à saúde humana quando inaladas ou

ingeridas. alimentos contaminados por mercúrio podem causar encefalite, cegueira e

retardo mental. Podem ainda causar doenças a disposição não controlada de lixo hos-

pitalar, embalagens de pesticidas, resíduos industriais de natureza tóxica e a utilização

indiscriminada de pigmentos e corantes que contém metais pesados.

Ecotoxidadea emissão de materiais pesados (etilbezeno, hidrocarbonetos, alogenados, inseticidas,

hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, fenol, etc.) no ar, na água e no solo tem efeito

negativo sobre a flora e a fauna.

Nutrificação e eutroficaçãoÉ a adição de nutrientes no solo ou na água que faz com que haja um aumento da

produção de biomassa (microorganismos). a conseqüência é a redução do oxigênio dis-

ponível fato que afeta a flora e a fauna. o nitrogênio e o fósforo são os principais elemen-

tos deste fenômeno porém também estão incluídos amônia, nitratos, nitritos, compostos

nitrogenados, óxidos de nitrogênio, fosfatos, resíduos de alimentos, óleos, gorduras, etc.

Formas indiretas de quantificação destes fenômenos são as determinações de DBo

- Demanda Bioquímica de oxigênio – que é a quantidade de oxigênio necessária à de-

gradação biológica de resíduos orgânicos contidos numa determinada porção de água

e a DQo - Demanda Química de oxigênio que é a quantidade de oxigênio necessária a

uma degradação puramente química de resíduos orgânicos contidos numa determinada

porção de água, se intervenção de microorganismos.

Fumaça fotoquímica oxidanteÉ o nevoeiro causado pela reação entre óxidos de nitrogênio (No2) e substâncias or-

gânicas voláteis sob a ação de raios ultravioletas que gera compostos oxidantes fotoquí-

micos. Esta névoa afeta a saúde da população, produzindo um aumento no número de

doenças respiratórias, principalmente em grandes centros urbanos onde é mais difícil a

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da nuvem de poluentes que foi formada.

Redução da camada de ozônio a camada de ozônio está localizada na estratosfera, entre 20 e 35km de altitude da

superfície terrestre, possui uma espessura de 15 km, e funciona como uma espécie de

filtro que protege a Terra da radiação ultravioleta emitida pelo sol.o ozônio é um gás rare-

feito formado pela exposição de moléculas de oxigênio à radiação solar ou a descargas

elétricas. a diminuição dessa camada permite que a radiação ultravioleta chegue à terra

com maior intensidade. Esta radiação é nociva á saúde e causa principalmente câncer

de pele e doenças oculares, como a catarata.

Nos últimos anos cientistas identificaram que a camada de ozônio está diminuindo,

sobretudo nos pólos, e que apresenta alguns “buracos”. acredita-se que os compostos

de clorofluorcabono (CFC) sejam os principais responsáveis pela distruição da camada

de ozônio. Desde 1987 vários tratados e acordos internacionais formam assinados com

o objetivo de reduzir a emissão de CFC até ser totalmente extinto em 2010. Desde então

muitos processo produtivos e tecnologias foram alterados ou desenvolvido para eliminar

o uso de CFC. Estes gases são utilizados como propelente em alguns tipos de aerossóis,

em mistura de agente expansor para plástico, em chips de computadores, em solventes

utilizados pela indústria eletrônica e principalmente em aparelho de refrigeração como

geladeiras e ar condicionado.

4 - Interpretação

Tendo como base a interpretação dos resultados da análise, se avaliam e se identificam

as melhores soluções para diminuir os impactos energéticos e ambientais.

Nesta fase são relacionados ao objetivo e Escopo os resultados obtidos na análise de

Inventário e na avaliação de Impacto.

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Para que objetivo e Escopo sejam alcançados, a qualidade de dados utilizados no estu-

do deve ser analisada de maneira crítica quanto ao período de tempo, área geográfica e

tecnologias cobertas, precisão, completeza e representatividade, consistência e reprodu-

tibilidade dos métodos usados ao logo do aCV, fontes de dados e sua representatividade

e incerteza da informação.

uma aCV é de natureza interativa – por sua natureza dinâmica pode ser continuamente

revisto e modificado – à medida que as informações adicionais forem sendo coletadas ou

quando o sistema for conhecido melhor, o escopo pode sofre modificações.

as conclusões da aCV devem indicar possíveis melhorias ambientais através da:

• identificação, avaliação e seleção de opções para melhoria ambiental;

• identificação de pontos críticos do ciclo de vida que precisam ser melhorados pela

análise do inventário;

• estimativas de ganhos ambientais que podem ser obtido seguindo as melhorias su-

geridas como: aumento de eficiência energética, diminuição da geração de resíduos ou,

melhor aproveitamento dos que forem inevitáveis, implantação de sistemas de filtragem

e de tratamento de efluentes, etc.

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5.7 – Informações qualitativas para ACV do Couro Vegetal produzida pela APAS

Por questões de abrangência e objetivo desta dissertação serão levantadas informa-

ções relativas à da primeira e a segunda etapa do aCV, ou seja: Definição de Escopo e

objetivo.

É preciso esclarecer que o Inventário representa somente uma das fases do aCV. Este

trabalho é essencialmente descritivo e a aCV é uma avaliação ampla dos impactos resul-

tantes avaliados durante todo o ciclo de vida do produto. Porém acompanhando o racio-

cínio da medição da temperatura de um doente com febre, esta medição é importante e

conclusiva sobre o estado de saúde do paciente, mas antes mesmo da medição é possível

perceber o mal funcionamento do organismo somente pela sensibilidade. Percebemos

que alguma coisa não está funcionando bem numa cidade quando notamos uma grande

quantidade de mendigos pelas ruas, mesmo sem conhecer o IDH daquela cidade. Com

isso quero ressaltar a importância de uma aCV qualitativa que avalia, mesmo sem quan-

tificar, os impactos ambientais de um produto desde seu nascimento até seu destino final.

a consciência dos efeitos negativos permite que os mesmos sejam minimizados já na fase

de projeto do produto.

5.7.1 - Definição de Objetivo e Escopo

Para definição de objetivo foram respondidas as questões sugeridas em Avaliação do

Ciclo de Vida – Princípios e Aplicações no que se refere à produção do couro vegetal pela

aPaS e sua utilização na manufatura de produtos de uso pessoal pela Couro Vegetal da

amazônia.

Questionário respondido segundo escopo acadêmico deste trabalho:

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- Porque realizar o estudo?

Para avaliação de impacto ambiental, identificando pontos críticos e possíveis melho-

rias.

- Para quem o estudo se destina?

Para uso interno como instrumento de validação do produto como “produto ecológico”.

Para que a empresa Couro Vegetal da amazônia tome consciência dos pontos críticos em

relação à cadeia produtiva de seus produtos uma vez que a empresa atua no segmento

do “mercado verde” e por desconhecimento de todo o processo poderia estar incorrendo

em alguma decisão incorreta em relação à matérias primas ou processos.

- Quais as fronteiras do estudo?

o presente estudo está relacionado à produção das lâminas de Couro Vegetal Produzidas

pela aPaS – associação de Produtores de artesanato e Seringa da Boca do acre – aM.

Serão incluídas no estudo as fases de obtenção da borracha natural, que é matéria prima

que caracteriza o couro vegetal, e tratdo com menos importância o algodão, que é o supor-

te de aplicação do látex; o processamento para produção do couro vegetal, o transporte de

Boca do acre ao Rio de Janeiro, a transformação do material em produto (bolsas e outros

acessórios), embalagem, venda através da loja, distribuição para clientes internacionais,

e venda direta pela internet, distribuição pelo correio e descarte final pelo usuário.

Será avaliado potencial risco no impacto ambiental e seus efeitos na saúde durante toda

a sua fase de produção, como também durante se uso e na eliminação dos produtos.

a etapa mais detalhada será a da extração da seringa pois esta etapa está relacionada

a preservação da floresta e valorização do trabalho dos seringueiros. ou seja a dimensão

ambiental e social da sustentabilidade.

Menos atenção será destinada ao descarte final, uma vez, como muito bem Manzini

e Vezzoli apontaram, é difícil identificar como o consumidor se comporta em relação ao

produto, durante o uso e no descarte final do produto no seu final de vida.

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- Quais os critérios de alocação de consumo/emissões em processos que geram

mais de um produto?

No processo do couro vegetal não existe outros produtos. o látex colhido é todo utilizado

na produção deste material.

- Como o resultado será divulgado?

através de relatório de uso interno.

5.7.2 - Análise de Inventário

Na análise de Inventário são descritas todas as fases do ciclo de vida inteiro do produto:

a extração e transformação da matéria prima, a fabricação do produto e a distribuição, o

uso, a estocagem, a reciclagem e o descarte.

a contabilização do processo se inicia na natureza com a extração e utilização de re-

cursos naturais e também é finalizada na natureza expressa em resíduos e emissões

geradas.

Para produção de artefatos em couro vegetal são realizadas as seguintes etapas:

1- Plantio, colheita, fiação e tecelagem do algodão

- Transporte do tecido até Boca do acre e depois até a colocação

- Estoque

2- Extração da seringa na floresta

- Transporte até a colocação

3- Processamento para obtenção do produto

- Estoque

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- Transporte da colocação até

Boca do acre, para Rio Branco e

depois para o Rio de Janeiro.

- Estoque

4- Transformação do couro vege-

tal em produto na Confecção

- Estoque

- Embalagem

- Transporte para loja

5 - Venda

- Direta

- Internet

6 - uso e manutenção

7 - Disposição final.

Figura 16: Foto de seringueiro banhando tecido de algodão com látex natural

Figura 17: Foto de seringueiro defumando tecido de algodão em látex.

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Descrição das Etapas

Para coleta de dados com objetivo de elaboração do inventário foi realizada no dia 26

de outubro de 2006, no escritório da Brasil faz Design, uma entrevista com Maria Beatriz

Saldanha, sócia gerente da empresa Amazon Life.

1- Plantio, colheita, fiação e tecelagem do algodão

o algodão é responsável por 10% da composição do couro vegetal.

o tecido de algodão é adquirido em sua maior parte da Tecelagem São Francisco de

São Paulo.

as fases da produção do algodão são:

• Plantio, utilização de adubos e fertilizantes, defensivos, uso da terra e colheita.

• Transporte à tecelagem

• o algodão é estirado para ser transformado em fio.

• Enrolado em bobina

• Tecido

• Tingimento

Possíveis impactos negativos: uso de agrotóxicos, emissões poluidoras derivadas do

tingimento, geração de resíduos sólidos.

os rolos de tecido de algodão são transportados para de São Paulo para Boca do acre

– aM através de transportadora rodoviária e para a colocação por barco com motor à

diesel. o diesel é adquirido pelo seringueiro em Boca do acre.

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Este material é estocado na colocação.

2 - Extração da seringa na floresta

a extração do látex se dá sem a derrubada da árvore. a ação do homem na floresta só é

visível através de minúsculos pontos espalhados – as clareiras que constituem as sedes

das colocações.

a marca da atividade extrativista são trilhas que atravessam a floresta sob a copa das árvores, e se as estradas fossem abandonadas, somente as cicatrizes dos numerosos cortes nos troncos de Hevea testemunhariam a longa história da borracha na floresta amazônica. (Enciclopédia da Floresta, 2002).

Recentemente foram criadas políticas dirigidas às reservas extrativistas reconhecendo

o papel que a exploração da floresta por seringueiros desempenha na sua conservação.

São valorizados os produtos dos seringueiros, como o couro vegetal, são estimuladas

melhorias de qualidade com técnicas de processamento do látex e melhorias de produti-

vidade na exploração da floresta como por exemplo através das ilhas de produtividade.

após a sangria o látex está disponível em dois ou três dias e as árvores podem ser ex-

ploradas cerca de sessenta vezes por ano, durante decênios. Porém a extração é delicada

e a sangria deve ser feita com cuidado. uma pressão exagerada pode conduzir a uma

deterioração do capital florestal. Não se corta em dias consecutivos, nem fora das leis de

corte transmitidas pela tradição e reiteradas pelos planos de manejo. Não são permitidos

roçados junto às estradas de seringa.

a extração exige prudência e abstenção: não sangrar demais, não abusar dos recursos

sejam eles o látex, a caça, ou a mata bruta para roçados. os ciclos e ritmos naturais devem

ser respeitados. os espaços criados no interior da floresta: pequenos roçados, piques

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de caça e estradas de seringas devem ser baixo impacto. Isto dá a estrutura básica do

território de uma colocação, irradiando-se a partir da casa para dentro da mata bruta e

ao longo de rios e igarapés, formando, por assim dizer, um esqueleto radial que delimita

os estoques de plantas, animais e águas utilizados pelos seringueiros. as estradas de

seringas são como túneis abertos na base das florestas: largas e limpas com escadas e

pontes, raspadas com bandeiras, sempre reparadas para impedir sua reincorporação à

natureza. Com 1 metro de largura, uma estrada de 10km de extensão representa cerca de

1 hectare de floresta que teve sua vegetação rasteira, e apenas ela, roçada para trânsito

dos seringueiros. apesar dos seringueiros trabalharem na formação e manutenção das

estradas e das florestas e de seu entorno ao contrário do que acontece na agricultura,

este trabalho não é reconhecida como benfeitoria.

as informações que seguem abaixo estão baseadas no Resumo Público de Certificação

FSC – Programa Smartwood de associação dos Produtores de artesanato e Seringa

– aPaS em Boca do acre, amazonas.

Data da certificação e do Resumo Público de Certificação: 10/03/2005.

a certificação foi realizada em parceria com Instituto de Manejo e Certificação Florestal

e agrícola Imaflora de acordo com os padrões do SmartWood de SlIMF – Small and Low

Intensity Managed Forests (Manejo Florestal em Pequenas Propriedades e de Baixa

Intensidade). Para esta avaliação foi considerada a versão adaptada dos Padrões do FSC

para Manejo Florestal em Terra Firme da amazônia Brasileira, de março de 2002.

o Programa Smartwood é executado em nível mundial através dos membros institu-

cionais (todos sem fins lucrativos) da Rede SmartWood que por sua vez é coordenada

pela Rainforest Alliance, organização conservacionista sem fim de lucro com sede nos

Estados unidos da américa. o programa SmartWood é aprovado pelo FSC – Forest

Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal Mundial). Para receber a certificação

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de manejo florestal deve submeter-se a uma avaliação de campo. São realizadas audi-

torias anuais para monitorar as atividades de manejo florestal, para revisar o progresso

da operação para cumprimento de suas condições de certificação e para verificar se os

padrões de manejo são mantidos. a certificação é voluntária e realizada a pedido do in-

teressado. o Imaflora é uma oNG certificadora e a única instituição no Brasil que realiza

certificação, não só para empresas, mas também para comunidades seja ela indígena,

de seringueiros, de ribeirinhos, etc. a certificação garante que a extração dos recursos

florestais é feita de maneira ambientalmente correta, socialmente justo e economicamente

viável.

Local da operação: Floresta Nacional Flona do Mapiá Inauní

Latitude: 07°57’39” a 08°41’54” S

Longitude: 67°42’02” a 68°38’50” W

as áreas de manejo se encontram distribuídas ao longo do Igarapé São Francisco, dentro

da Flona do Mapiá Inauiní e no seu entorno.

Não existe plantio. o látex é extraído de seringueiras nativas (Hevea brasiliensis) através

de processo manual de sangria.

Para estudo de caso foram consideradas as colocações certificadas pelo FSC. São ao

todo seis que estão envolvidas na produção do couro vegetal, quatro dentro da Flona e

duas em seu entorno. Quatro destas colocações possuem unidades de produção do couro

vegetal e realizam manejo para extração do látex e produção de madeira para defumação

das lâminas de couro vegetal. as outras duas colocações realizam o manejo apenas para

a produção do látex de seringueira. a certificação de manejo florestal refere-se à extração

do látex e da madeira.

o manejo para produção do látex segue o sistema tradicional extrativista na

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apenas com maior controle sobre a produção de cada estrada6 e numeração das árvores

de seringueira para assegurar a certificação.

as etapas envolvidas no manejo para a produção do látex são, considerando as estradas

já abertas: numeração e plaqueteamento (colocação de placas metálicas com número)

das seringueiras, divisão das árvores em bandeiras7, raspagem das bandeiras e corte da

seringueira.

os meses de produção são de maio a agosto e de outubro a novembro, geralmente com

uma estrada sendo cortada uma vez a cada três dias.

No extrativismo não são utilizados adubos ou fertilizantes. a floresta é manejada de

acordo com o conhecimento tradicional dos seringueiros.

3 - Processamento para obtenção do produto

o couro vegetal é um produto derivado do aperfeiçoamento do saco encauchado, um te-

cido impermeabilizado pelo látex tradicionalmente usado pelos seringueiros como emba-

lagem para transporte de látex e de bagagens especiais. o processo de aperfeiçoamento

foi realizado pela empresa Couro Vegetal da amazônia que, quando produziu as primeiras

peças com este material verificou que os mesmos ficavam “melados” após o uso.

a Couro Vegetal da amazônia solicitou pedido de invenção pela melhoria tecnológica

do processo que permitiu maior estabilidade do látex pela vulcanização (processo de

modificação da borracha natural obtida pela sua combinação com enxofre, para atribuir-

lhe maior força, elasticidade e resistência a temperaturas altas e baixas. Foram feitos três

pedido: em 1993 (deferido), 1994 (indeferido) e 2000 ( aguardando avaliação).

7 Bandeiras: áreas dos troncos onde serão feitos os cortes.

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6 Estrada: estrada de seringa. Ex.: João tem duas estradas. (Enciclopédia da Floresta)

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Resumo do pedido de patente ainda não avaliado:

Processo e Composição para Obtenção de Tecido Emborrachado

a presente invenção se refere a um processo e a uma composição, contendo látex,

para a fabricação de lâminas de tecido emborrachado. o processo da presente invenção

consiste nas etapas de formulação da composição; ciclos sucessivos de impregnação e

defumação; e maturação. Também faz parte do escopo da presente invenção uma com-

posição de impregnação que consiste essencialmente em uma solução aquosa contendo

látex, fonte de enxofre e acelerador de vulcanização. as lâminas de tecido emborrachado

obtidas da presente invenção podem ser submetidas a processos subseqüentes de manu-

faturamento para a fabricação de bolsas, malas, valises, vestimentas, agendas, carteiras,

sapatos, e outros artefatos usuais em couro.

antes deste pedido de patente outro pedido já havia sido analisado porém indeferido.

o indeferimento daquele PI foi baseado no artigo 8 da lPI (lei de Propriedade Industrial

- 9.279/96)

art. 8o.- É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade

inventiva e aplicação industrial.

Para o antropólogo professor da unicamp, Mauro almeida, não haveria inovação em

um processo que envolve defumações e vulcanizações, que são operações já muito co-

nhecidas pelo homem.

Resumo do pedido de patente indeferido:

Aperfeiçoamento em Processo de Beneficiamento de Tecido Emborrachado para

Produção de Lâminas de Couro Vegetal compreendendo a adição, de látex, de solução

de potassa a 10% na proporção de 0,4% sólido sobre o peso seco de borracha no látex,

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e adição, visando à efetivação da vulcanização e proteção à borracha, ao látex, de

ingredientes obedecendo à seguinte formulação em peso: borracha seca (100), enxo-

fre (1), óxido de zinco (0,5), BDC (dibutil ditiocarbonato de zinco), antioxidante do tipo

fenol-estirenado, homogeneizado, peneirado e aquecido a 45°C-50°C, para utilização

no emborrachamento dos tecidos através de sucessivos banhos alternados com igual

número de defumações seguidos das secagens em estufas e ao ar livre, pelos períodos

adequados, e à lixiviação em água corrente.

Descrição da produção do couro vegetal feita por técnico do Imaflora:

apesar do processo de produção do couro vegetal ser simples, ele exige uma mão-de-obra qualificada para obter um bom produto com boas características para comercia-lização. Basicamente o processo envolve banhos de um tecido de algodão com late, misturado a alguns produtos químico, como potassa e um agente vulcanizante. após cada banho, a lâmina é exposta a fumaça e após cerca de 7 banhos, as grades com os tecidos emborrachados vão para uma estufa de alvenaria. após a estufa, o produto passa por uma rápida lavagem e se encontra pronto para o transporte. aqui acrescenta-se que antes do transporte fica estocado.

Descrição feita pelo pesquisador da unicamp, o economista alexandre Goulart de

andrade:

a produção do couro vegetal é um trabalho familiar, realizada por unidades domésticas, sendo que cada unidade envolve de seis a dez famílias. a atividade dos produtores é realizada em duas fases. Primeiro, recolhe-se o látex nos seringais da floresta, e uma vez feita a extração, o material é levado para o terreno de suas casas. Nesse terreno, existem dois espaços necessários para obtenção do couro vegetal: o defumador, onde o látex é envolvido em algodão e defumado, e uma estufa, para onde as tiras são vulcanizadas a altas temperaturas, usando-se lenha como combustível. após essa última etapa, a tira ganha uma certa consistência e está feito o couro vegetal.

Segundo recomendações da certificadora deveriam ser implementadas melhorias no

sistema de defumação das lâminas para minimizar a exposição dos produtores à fumaça.

Deveria ser garantida a destinação adequada para o lixo/resíduos do manejo florestal e

outros resíduos perigosos gerados na colocação.

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a produção é sazonal sendo realizada de maio a dezembro.

o desperdício no manuseio e mistura do produto químico com o látex é pequeno.

Na realização do banho de látex no algodão é pequeno.

No controle de qualidade aPaS se aproveitam as lâminas refugadas como laminas de

segunda e são produzidos produtos para o mercado local.

• Estoque na colocação

• Transporte da colocação até Boca do acre. o transporte é feito por barco á motor á

diesel. lá é estocado na aPaS que também realiza controle de qualidade.

• Transporte Boca do acre até Rio Branco de caminhão.

• De Rio Branco até o Rio de Janeiro por transportadora rodoviária tercerizada

4 - Transformação do couro vegetal em produto

• Estoque dos componentes no galpão da amazon life:

lâminas de couro vegetal e material complementar: tecido de algodão para forro e eti-

queta impressa da tecelagem São Francisco, jeans já tingido da Santista, fivelas e ferra-

gens da altero, imãs da Eberle, zíper de nylon e algodão da YKK, espuma, papel cartão,

selo da marca em borracha sintética da Plastitol.

• Embalagem individual em saco de tecido de algodão. Embalagem coletiva em caixa

de papelão.

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• Transporte por caminhão à Diesel para a manufatura de confecção terceirizada no Rio

de Janeiro

• Manufatura dos produtos

a manufatura é terceirizada na High Life.

Produção feita por costureiras através de corte e costura. Máquinas de costura elétrica.

a geração de resíduos pré-consumo é pequena por causa do corte que é otimizado. Às ve-

zes material não aproveitado para exportação é utilizado para mercado local brasileiro.

• Transporte para loja no leblon, RJ

Por caminhão à diesel

Comercialização

Em uma loja própria da marca no Rio de Janeiro.

a bolsa recebe uma segunda embalagem, um bolsa de papelão kraft impressa com a

marca.

Venda por correio via Sedex.

Para exportação (Inglaterra, Eua, França, Itália, Noruega) através de embalagem co-

letiva da Fedex.

Uso

Manutenção: silicone

Não permite lavagem com produto químico pois danifica o material.

Descarte

Não está previsto nenhum destino específico no final de vida. o destino provável é que

seja no em um aterro.

É biodegradável

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Considerando que as parte são unidas por costura é fácil separar as parte de diferentes

materiais.

Durabilidade Material

De 3 à 10 anos dependendo do uso.

o couro vegetal tem a característica de ser um material de bom envelhecimento isto

ajuda para um maior ciclo de vida do produto

Por ser um material natural o uso desgasta o material e a sua estética se transforma

ganhando novos valores e significados sociais

Possibilidade de conserto

a empresa executa consertos na fábrica.

Durabilidade de Estilo

o design das peças não segue modismos sendo possível encontrar em linha os primei-

ros modelos desenvolvidos pela empresa.

os design dos modelos não seguem o modelo de consumismo e de obsolescência pro-

gramada sendo que a maioria dos usuários continuam a utilização do produto por longo

período.

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CONCLUSÃO

o presente trabalho mostrou caminhos possíveis para o projeto de design sustentável

apresentando-o como uma opção viável e desejável.

Seu objetivo foi o de sistematizar informações sobre sustentabilidade, apresentar ca-

racterísticas do meio ambiente e das políticas ambientais brasileiras, mostrando a possi-

bilidade de interação do designer com esta realidade através do exemplo couro vegetal e

da atuação da Amazon Life de maneira a criar exemplo de referência para atuação profis-

sional do designer comprometido com o bem estar social e ambiental da sociedade. a isto

foi somado um indicador de sustentabilidade ambiental , a aCV – avaliação de Ciclo de

Vida do Produto, uma ferramenta da área da engenharia, que se expressa através de um

raciocínio e uma linguagem técnica e representa um importante instrumento para orien-

tador de tomadas de decisões e neste sentido é desejável que o profissional de design se

familiarize com o raciocínio do ciclo de vida produto pesando nos seus impactos desde a

extração da matéria prima até seu descarte final

Potencialmente os designers podem dar contribuições significativas para o desafio da sustentabilidade desenvolvendo soluções que desafiem as anteriores e que demons-tram possibilidades alternativas – mas para fazer isto precisamos transformar o ensino e a prática do design e desenvolver um novo entendimento da estética do produto e as noções de “ bom design”. ( Walker, 2006 ).

os novos desafios se apresentam associados com a globalização do capitalismo in-

dustrial, disparidades sócio-econômicas nacionais e transnacionais e com os desenvolvi-

mentos científicos e tecnológicos que acontecem rapidamente. É preciso encontrar novas

idéias que rompam o convencional , que testem pré-conceitos, que redefinam as noções

de design de produto e de cultura material pós-industrial.

Desenvolver produtos visando somente o mercado limita a atuação do design industrial

e não estimula o enfrentamento de autenticas e importantes questões do nosso tempo:

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as responsabilidades éticas e ambientais da ação de cada um. É imperativo que sejam

abordadas também questões de significado, identidade e cultura associada com bens

materiais.

Para que novas idéias sejam significativas e inovadoras os designers deveriam receber

educação em temas que vão além das tradicionais fronteiras do design como: Filosofia,

Temas Históricos e Contemporâneos e discussões que estimulem o pensamento críti-

co.

Para Victor Papanek o futuro do design encontra-se associado ao papel fucral da síntese

entre as várias disciplinas que constituem a matriz sócio-econômica-política dentro da

qual o design funciona. À medida que avançamos no século XXI verifica-se a necessida-

de de designers especializados em design ecológico. Todavia toda educação deveria ser

baseada em métodos e idéias ecológicos. Deveria incluir tanto estudos sobre o método

científico como sobre biologia, antropologia, geografia e campos afins. a ecologia social

e humana, bem como a filosofia e a ética deverão ser parte integrante desta formação.

Em geral jovens designers acreditam que a alta tecnologia possa alterar o equilíbrio

ecológico. Esta preocupação se manifesta pelo desejo de um retorno a um estilo de

vida simples e primitivo. outros acreditam que precisamos ainda mais tecnologia para

resolver os problemas criados pela própria tecnologia. Muitas respostas são provenientes

de área associadas à alta tecnologia, como eletrônica, informática, circuitos integrados.

através da informática é possível analisar a destruição da camada de ozônio. os satélites

permitem compreender até que ponto a poluição, a desertificação, e as secas mudam

o solo, os oceanos e o clima da Terra. Mas também através das ciências naturais como

da antropologia, da geografia cultural e da geologia será possível chegar a indícios infor-

mativos sobre a verdadeira natureza das dificuldades que enfrentamos. Conhecimentos

ainda mais profundos provirão de fontes biológicas, botânicas e biomórficas, assim como

do estudo da história, da etnografia e da chamada “tecnologia antiga” . Estamos todos no

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e necessitamos de toda informação que conseguirmos obter. (Papanek, 1995)

o designer trabalha, com algumas exceções para o mercado e responde à suas exigên-cias. os mercados são uma das instituições entre muitas: a governança democrática ofe-rece o único esquema adequado à sua regulamentação (Sen, 2000). “Cada mecanismo de coordenação da sociedade – o Estado, o mercado, a comunidade – tem sua próprias falhas, mas cada um tem algumas vantagens únicas que podemos tentar combinar a fim de coordenar a correção das falhas (Bardhan, 2001).

o Estado nacional tem três funções principais:

a- a articulação de espaço de desenvolvimento, desde o nível local (que deve ser am-pliado e fortalecido) ao transacional (que deve ser objeto de uma política cautelosa de integração seletiva, subordinada a uma estratégia de desenvolvimento endógeno);b- a promoção de parcerias entre todos os autores interessados, em torno de um acordo negociado de desenvolvimento sustentável:c – a harmonização de metas sociais, ambientais e econômicas, por meio do planeja-mento estratégico e do gerenciamento cotidiano da economia e da sociedade, buscando um equilíbrio. (Sachs, 2004, p.11)

o designer é um dos atores que interage na sociedade como um todo. Tem sido protago-

nista da chamada Revolução Industrial e do desenvolvimento dos produtos atuais muitos

dos quais trazem benefícios reais ao consumidor e à sociedade e outros que respondem

às exigências da indústria mas fica alienado em relação aos prejuízos que pode trazer

sua atividade para o planeta quando por exemplo ao escolher para seu produto a madeira

que destrói a floresta, utilizar recursos que não tem reposição e não se preocupa com sua

reciclabilidade ou quando desenha carros sem se levar em conta a queima Co² que vai

para atmosfera aumentar o efeito estufa.

Vários seguimentos da sociedade têm se comprometido em encontrar soluções para

um equilíbrio mais harmonioso entre homem e meio ambiente. o setor industrial é um

deles. Depois de passado o momento que se acreditava que o problema estava no final

do processo “end of pipe” a gestão ambiental tem mostrado a necessidade de atuar de

forma preventiva, na origem dos problemas.

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Na origem de cada produto está a matéria prima e a sua extração. Saber escolher

matérias primas de baixo impacto ambiental é um dos requisitos do design sustentável

e saber tirar proveito das características da natureza brasileira é uma oportunidade de

ganhar competitividade internacional. acredito que com o exemplo do Couro Vegetal da

amazônia serviu para validar esta afirmação.

“um dos grandes méritos do Projeto Couro Vegetal da amazônia é o de ensejar a moder-nização das relações em comunidades de floresta. É clara a mudança face do vínculo extremamente iníquo que costumava prevalecer entre o seringalista (o empresário da borracha) e os seringueiros e populações indígenas aliciadas para fazer o extrativismo do látex. Ficou para trás o tempo em que os seringalistas transformavam os trabalhadores da floresta em escravos por dívidas. “ (Fujiwara e alessio, 1998, p.18)

um dos caminhos no Brasil para o design colaborar com o desenvolvimento sustentável,

é tomar conhecimento da produção artesanal de comunidades tradicionais e agregar va-

lor a seus produtos aumentando a geração de renda, gerando um,a relação de comércio

justo, de maneira que os dois lados saia ganhando.

“ uma das propostas de desenvolvimento sustentável, alternativa à visão dominante do passado, é a do manejo florestal feito pelas populações tradicionais. o extrativismo vegetal, a caça e a pesca podem e devem ser aliados a mini-agroindústrias, a centros de produção artesanal ou a outros projetos de desenvolvimento comunitário. uma alter-nativa que representa o abandono da idéia da super-estrada, para que se dê a abertura de variados caminhos – as pequenas trilhas, correndo pararelamente a um modelo de desenvolvimento que se submeta ao princípio da sociobiodiversidade. (idem. P.14)

o negócio sustentável é o que se caracteriza pela adoção de medidas que reduzem ao

máximo o impacto ambiental no processo produtivo, por gerar benefícios sociais para as

comunidades envolvidas e que com como base relações comerciais justas, que possibi-

litam a capacitação dos produtores, o repasse de tecnologias, o pagamento de royalties

e investimentos sociais, (alegretti, 2002)

Seria o design sustentável um conceito a ser desenvolvidos por algumas empresas e

alguns designer esperançosos em transformar o mundo num espaço mais agradável do

ponto de vista ambiental e socialmente mais justo ou como comprovam as últimas notí

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cias estamos atingindo o nível de tolerância da Terra, e estamos entrando numa era de

catástrofes ambientais: 2007 será o ano mais quente da Terra com aquecimento médio de

0,5 %; haverá derretimento de geleiras e conseqüente aumento dos problemas no meio

ambiente e estamos correndo o perigo de iniciar um processo em que populações de áreas

críticas podem perder seu território e se transformar em “refugiados ambientais” e sendo

assim é necessário que a nossa maneira de administrar o mundo mude radicalmente?

Sendo assim é necessário a participação de que todos para que a situação não se agrave

ainda mais e que seja possível encontrar alternativas mais saudáveis para a vida humana

e que o design não seja, como afirmava Papanek (1978, p.9). uma das profissões mais

perigosas que existem, só perdendo para outra que engana mais: a publicidade, que se

caracteriza por convencer pessoas a comprar coisas que não precisam, com dinheiro que

não tem, de modo a impressionar pessoas com que não se importam.

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