MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

  • Upload
    v1na

  • View
    223

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    1/12

    GerativismoEduardo Kenedy

    Neste capitulo apresentam-se em linhas gerais os principais aspectos quecaracterizam a corrente de estudos lingu sticos conhecida como gerativismo.Analisaremosa concep

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    2/12

    28 anual de lingufstico

    a primeira metade do seculo XX . Para OS beha vio ristas, dentre OS quais se destacava 0lingui sta norte-americana Leonard Bloomfield, a linguagem humana era interpretadacomo urn condicionamento social, uma resposta que o organismo humano produziamediante os esdmulos que recebia da interas; ao social . Essa respo sta, a partir darepetis;ao constance e meca.ni ca, seria convertida em habitos, que caracterizariam ocomportamento linguisti co de urn falante. Vejamos, por exemplo, como Bloomfield

    1933: 29-30) descre via a maneira pela qual uma crians:a aprendia a falar uma lingua:

    Cada criant;:a que nasce num grupo social adquire habitos de fala e de resposta nosprimeiros anos de sua vida. [ .. ] Sob estimulac?o variada, a criant;:a repete sons vocais . [ .. ]Alguem, por exemplo, a mae, produz, na pr esen

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    3/12

    G erati v ism o 2 9

    abandon ado , como de fato foi ap 6s a publi ca

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    4/12

    13 anual de lingufstica

    modelo te6rico

    Naturalmente, apenas postular a existencia da faculdade da linguagem comourn dispositive inato que permite aos humanos desenvolver uma competencialinguistica nao resolveria todos OS problemas da lingufstica gerativa. Era e ainda e)

    preciso descrever exatamente como e essa faculdade , como ela funciona e como

    epossivel que ela seja geneticamente determinada se as linguas do mundo parecem

    tao diferentes entre si. Para dar coma dessa aparente contradis:ao entre a hip6tese dafaculdade da linguagem e as milhares de linguas existentes no planeta, os linguistasda Corrente gerativa vern elaborando teorias que procuram explicar 0 funcionamentoda linguagem na mente das pessoas. Ao observar os fatos das linguas naturais, urn

    gerativista faz-se perguntas como: 0 que h:i em comum entre todas as linguas humanas e de que maneira elas

    diferem entre si?

    Em que consiste o conhecimento que urn indivfduo possui quando ecapazde falar e compreender uma lingua?

    omo o indi v iduo adquire esse conhecimento? De que maneira esse conhecimento eposto em uso pelo individuo? Quais sao as sustenta

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    5/12

    Gerativismo 1 3 1

    A gram tica como sistema de regrasA primeira elabora

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    6/12

    132 Manual de lingu fst ica

    Essas regras de composi

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    7/12

    Gerativismo 133

    Na decad a de 1990, a ideia da tran sformayao de uma estrutura profunda

    numa estrutura superficial seria abandonada em favor de uma visaa que nao maisrepresent v estrucuras, e sim as derivava - mostranda os passos pelo s quais umaestrutura e formada (derivada) sem que ela tenha de ser comparada com uma outraestrutura independeme. Nao obstante, a id eia das transformay6es como operay6escomputacionais (fenomenas sint:hicos) que derivam sentenyas e 0 t6pico central dap esquisa gerativista are o pr eseme momenta.

    Outro centro de atenyao dos gerativistas sempre foi com preend er co mo epossivel que os falames de uma lingua tenham n t u i ~ o ssabre as estruturas simaticasque produzem e ouvem. Por exemplo, todo falante nativa do ponugues sabe que umafra se como quamos livros voce ja esc reveu ? e perfeitameme normal e pod e se r faladapor qualquer urn de n6s sem causar es tranharn en to. Trata-se, portanto, de uma frasegramatical normal na lingua. Esse mesmo falante do portugu es tam bern sabe, pela suaimuiyao, que uma frase como *que livra voce conhece uma pessoa que escreveu? naae normal, e estranha , euma frase agramatical da lingua (e, por isso, aparece antecedidado asterisco, que indica a agrarnaticalidade).

    Ora, como e que o falante sabe disso? Como ele consegue distinguir uma frasegrarnatical de uma frase agramatical em sua lingu a? Note bern: esta mos falando de urnconhecimento implkito, incon scieme e natural acerca da lingua que tados os falames

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    8/12

    134 a n ua l de lingu i ica

    indiv ldu o, aquel as frases que de f ato uma pes soa pronuncia quando usa a lingua. Esse

    uso con creto da lin gua denomin a-se desempenho linguistico tambe m conh ec ido porperformance OU, a inda , atuar;iio) e envolve di ve rSOS tipo s de h abilidade q ue n ao sa olinguisticas, como aten

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    9/12

    Gerativismo 135

    a gramatica quando algum de seus componentes se transforma ao longo do tempo,perdendo ou ganhando formas. Esse ultimo tipo de analise gerativista e que maisse aproxima da linguistica basead a em dados co ncreto s do uso d a lingua corpus). NoBrasil, trabalharam e trabalham nessa linha , que ficou conhecida como sociolinguisticaparamecrica , lin guistas de importancia e reconheci m ento internacional como FernandoTarallo, Mary Kato, Maria Eu genia Duarte, entre outros.

    A gram tica universal princfpios e para metrosCom a evol w ;:ao da lingu istica gerativa no in icio dos anos 1980, a ideia da

    competencia lingui stica como urn sistema de regras espedficas cedeu lugar a hip6t eseda gramatica univer sal Gu). Deve-se entend er por GUo conjunto das propried adesgramaticais comuns compartilhadas po r codas as li:nguas naturais, bern como asdiferenc;:as entre ela s que sao previsive is segundo o lequ e de opc;6es disponiveis na pr6priaGU. A hip 6tese da GU rep res en a urn refinamento da noc;:ao de faculdade da linguagemsuste ntada pelo gerativismo desde o seu inici o: a fac uldad e da lingu agem eo dispositiveina o, pr esence em todos os seres humano s como heranc;a biol6gica, que no s fornece urnalgoritmo, isto e, urn sistema gerativo, urn con unto de in st ru c;:oes passo a passo- comoas inscritas num programa de comp utad or - o qual nos to rna a pros para d esenvo lverou adquirir) a gramatica de um a llngua. Esse algoritmo e a GU

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    10/12

    136 Manual de lingufstica

    do lexica, eo produto final da sintaxe (a s e m e n ~deve receber uma leitura fonologica e

    tambem uma interpretac;:ao semantica basica, que no gerativismo se chama forma logica.Podemos visualizar essa interac;:io entre os modulos da gramatica no esquema a seguir.

    u:x1co/

    l 'SINTAXE

    FONOLOGIA SEMANTICA

    igura 4: o modelo de gramatica

    Nessa ilustrac;:ao, vemos que o elem ento central da gramatica e a sint axe. Elaretira do lexica as palavras com as quais construira., segundo suas proprias regras,estruturas como sintagmas e sentenc;:as, que da sintaxe sao encaminhadas apreparac;:aopara a pronuncia , no modulo fonologico, e para a interpreta c; ao formal, no modulosemantico. Nessa man eira de compreender o funcionamento da gramatica, a morfologiae interpretada como parte do lexica, j a que dacom a da es trutura interna da palavra, etambem como parte da fonologia , uma vez que deve dar coma das alterac;:6es morficas

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    11/12

    Gerativismo 137

    Vejamos agora urn exemplo de parametro. Se considerarmos que o valorsemantico basico da frase (a) seja, digamos, algo como Joao disse que ele mesmo, oproprio Joao , vai se casar , sabere mos que de se refere a Joao . Joao eo sujeitoda orac;ao principal , e ele eo sujeito da orac;iio subordinada. Oizemos , encao, que ossujeitos das duas orac;6es sao correferenciais. 0 que e ntere ssa nte nesse exemplo equeo sujeito da segunda orac;iio poderia nao ser preenchido por urn pronome anaf6rico,isro e o sujeito da orac;iio subordinada pod eria se r oculto - que na lingui stica gerativachamamos tecni camenr e de sujeito nulo (represencado aqui informalmenr e por 0 ) - ,como ocorre na senrenc;a (c) Joao disse que 0 vai se casar .

    i) Joao di sse que ele vai se casar ( ele 7 sujeito preenchido)

    ii ) Joao disse que 0 vai se casar ( 0 7 sujeito nulo)Podemos dizer que a lingua portugue sa se caracteriza por suportar a ocorrencia

    de sujeitos nulo s, como ocorre tambem ne ssas frases 0 sa on ern , 0 fomos aocinema , 0 fez o trabalho? , 0 choveu oncem , etc. Tanto nesses casos quanto nao rac;:ao subordinada em (ii) , o SN sujeito do v predicado nao possui nenhum elemenro

    pronunciado, esta vazio, nulo , co mo se ilustra na sencenc;a (S) abaixo.

    SN

    - - - -s -----------

    SV

  • 8/10/2019 MARTELOTTA (2013) - p. 127-138

    12/12