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Oncologia 161 Prática Hospitalar Ano IX Nº 53 Set-Out/2007 Divulgação A massoterapia é uma das formas mais an- tigas utilizadas no controle da dor, sendo descrita primeiramente na China durante o 2º século a.C. e logo após na Índia e Egito. Hipócrates, em 400 a.C., definiu esse tratamento como a “ARTE DE ESFREGAR”. (1) A massoterapia foi introduzida nos EUA na metade do século 19 por dois médicos de Nova York e foi usada por um grande número de médicos entre 1880 e 1910. (2) Com o avanço da tecnologia ela desapareceu do cenário ame- ricano na década de 40; entretanto, em 1970 a massoterapia ressurgiu e hoje é uma das formas mais aceitáveis de terapia complementar. (3) A massagem está sendo usada como terapia complementar juntamente com o tratamento convencional para pacientes com câncer. Esta de- manda é refletida no crescimento de tais terapias por centros de câncer e unidades de cuidados paliativos. Entre 108 hospitais no Reino Unido, os quais responderam um questionário em 1991, 68% ofereciam aromaterapia e 70% massotera- pia. (4) A massoterapia tem sido disponível sistema- ticamente pelo “Memorial Sloan – Kettering Cancer Center” (MSKCC) desde o estabelecimento do serviço de medicina integrativo em 1999. (29) Cerca de 18% a 53% dos pacientes adultos com câncer usam ou usaram a massoterapia juntamente com o tratamento convencional. (5, 6) Em novembro de 1991 foi decidido o de- senvolvimento da massagem no programa de Massoterapia como Técnica Adjuvante no Controle da Dor em Pacientes Oncológicos sob Cuidados Paliativos Dra. Adriana da Silva Martins Ferreira 1 • Profa. Dra. Gabriela Rocha Lauretti 2 1 - Mestre e Doutoranda pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Fisioterapeuta do Setor de Cuidados Paliativos da Fundação Pio XII - Hospital de Câncer de Barretos. 2 - Professora Associada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Responsável pela Clínica para o Tratamento da Dor – Hospital das Clínicas – FMRP-USP. cuidados no Hospital de Oncologia Hammersmith. (7) Segundo um estudo publi- cado em 2000, 26% dos 453 pacientes adultos estu- dados no “Anderson Cancer Center” relataram usar mas- soterapia para o controle da dor. (8) Em 2001, 20% dos 100 pacientes que busca- ram cuidados em centros de câncer privados relataram ter recebido massoterapia. Durante um estudo prospectivo de 50 pacientes que estavam rece- bendo radioterapia por ter câncer de próstata, 6% deles relataram que recebiam massoterapia; em 2004, 60% dos 169 hospitais que responde- ram um relatório no qual eles ofereciam serviço de medicina complementar a massoterapia foi o serviço mais comumente oferecido. TÉCNICAS DE MASSAGEM Existem inúmeras técnicas de massagem que se tornam seguras quando praticadas por Dra. Adriana da Silva Martins Ferreira (à esq.) e Profa. Dra. Gabriela Rocha Lauretti .

Massagem e CA

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Artigo relaciona os benefícios da massoterapia do tratamento de pacientes oncológicos como ferramento na melhora da qualidade de vida em pacientes terminais.

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A massoterapia é uma das formas mais an-tigas utilizadas no controle da dor, sendo descrita primeiramente na China durante

o 2º século a.C. e logo após na Índia e Egito. Hipócrates, em 400 a.C., definiu esse tratamento como a “ARTE DE ESFREGAR”.(1)

A massoterapia foi introduzida nos EUA na metade do século 19 por dois médicos de Nova York e foi usada por um grande número de médicos entre 1880 e 1910.(2) Com o avanço da tecnologia ela desapareceu do cenário ame-ricano na década de 40; entretanto, em 1970 a massoterapia ressurgiu e hoje é uma das formas mais aceitáveis de terapia complementar.(3)

A massagem está sendo usada como terapia complementar juntamente com o tratamento convencional para pacientes com câncer. Esta de-manda é refletida no crescimento de tais terapias por centros de câncer e unidades de cuidados paliativos. Entre 108 hospitais no Reino Unido, os quais responderam um questionário em 1991, 68% ofereciam aromaterapia e 70% massotera-pia. (4) A massoterapia tem sido disponível sistema-ticamente pelo “Memorial Sloan – Kettering Cancer Center” (MSKCC) desde o estabelecimento do serviço de medicina integrativo em 1999.(29) Cerca de 18% a 53% dos pacientes adultos com câncer usam ou usaram a massoterapia juntamente com o tratamento convencional.(5, 6)

Em novembro de 1991 foi decidido o de-senvolvimento da massagem no programa de

Massoterapia como Técnica Adjuvante no Controle da Dorem Pacientes Oncológicos sob

Cuidados PaliativosDra. Adriana da Silva Martins Ferreira1 • Profa. Dra. Gabriela Rocha Lauretti2

1 - Mestre e Doutoranda pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Fisioterapeuta do Setor de Cuidados Paliativos da Fundação Pio XII - Hospital de Câncer de Barretos.

2 - Professora Associada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Responsável pela Clínica para o Tratamento da Dor – Hospital das Clínicas – FMRP-USP.

cuidados no Hospital de Oncologia Hammersmith. (7) Segundo um estudo publi-cado em 2000, 26% dos 453 pacientes adultos estu-dados no “Anderson Cancer Center” relataram usar mas-soterapia para o controle da dor.(8) Em 2001, 20% dos 100 pacientes que busca-ram cuidados em centros de câncer privados relataram ter recebido massoterapia. Durante um estudo prospectivo de 50 pacientes que estavam rece-bendo radioterapia por ter câncer de próstata, 6% deles relataram que recebiam massoterapia; em 2004, 60% dos 169 hospitais que responde-ram um relatório no qual eles ofereciam serviço de medicina complementar a massoterapia foi o serviço mais comumente oferecido.

TÉCNICAS DE MASSAGEM

Existem inúmeras técnicas de massagem que se tornam seguras quando praticadas por

Dra. Adriana da Silva Martins Ferreira (à esq.) e Profa. Dra. Gabriela Rocha Lauretti.

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terapeutas credenciados e preparados para aplicá-las nos pacientes portadores de neoplasia.(9)

Entre estas técnicas destacam-se a massagem sueca, que é a mais comum e é realizada usando toques longos e superficiais nos músculos, para promover relaxamento e alívio da tensão muscular; a massagem profunda no tecido, que é realizada com toques lentos e pressão profunda, para aliviar a tensão crônica do músculo; massagem esportiva, que é uma combinação da massagem sueca com a profunda, para aliviar efeitos dos treinamentos atléticos e a massagem neuromuscular em tecido profundo, apli-cada em músculos individuais para aliviar pontos gatilhos.(10)

A vibração é uma técnica de massa-gem com movimentos trêmulos, realizados com as mãos do terapeuta; a tapotagem que é realizada com as mãos do terapeuta em concha batendo de leve no paciente; e a massagem superficial no tecido, que é realizada com pressão leve usando toda a mão do terapeuta.(11)

EFEITOS DA MASSOTERAPIA

A massoterapia envolve toques rít-micos e metódicos e a compressão dos músculos e tecidos conectivos através das mãos do terapeuta, com o benefício de aumentar a circulação, estimulando a drenagem venosa, aumentando o metabo-lismo do tecido muscular e a elasticidade, promovendo relaxamento através do siste-ma parassimpático realçado e atividade do sistema nervoso simpático reduzido.(12)

A massagem suave ou superficial dilata os vasos sangüíneos superficiais e aumenta o fluxo sangüíneo local após a massagem por mais de dois;(13,14) aumenta o fluxo sangüíneo do membro contralateral não estimulado;(15) diminui a viscosidade do sangue e diminui o valor do hematócrito por hemodiluição;(16) aumenta os compo-nentes fibrinolíticos do sangue;(17) reduz o edema e alivia espasmos musculares;(18)

reduz a inflamação do músculo após exercícios;(19) previne atrofias;(20) alivia a dor por um curto período(21,22) e produz um estado de relaxamento.(23)

A massagem profunda aumenta o volume cardíaco por causa da melhora do retorno venoso;(24) eleva o soro glutâmico transaminase oxalacético, a mioglobina, a creatinina e as concentrações de desidro-genase lática;(25) melhora o fluxo linfático;(26) mantém ou melhora a mobilidade dos ligamentos, tendões e músculos e previne adesão de cicatriz(27) e alivia a dor por um longo período através da ativação dos mecanismos de controle inibitórios des-cendentes da dor (vias noradrenérgica e serotoninérgica).(28)

No tratamento de câncer, evidências comprovam que a massagem pode pro-porcionar efeitos benéficos nos sintomas físicos e psicológicos nos pacientes com câncer avançado; ela alivia a dor estimu-lando a liberação da endorfina, reduzindo a tensão muscular e a ansiedade.(4)

Uma avaliação retrospectiva de 1.290 pacientes com neoplasia tratados com massoterapia demonstrou redução de até 50% na intensidade da dor.(29) Um estudo aleatório, duplamente encoberto em 230 pacientes sofredores de dor neoplásica, demonstrou que o grupo de pacientes sub-metidos à massoterapia apresentou menor

incidência de fadiga muscular, melhor padrão respiratório e circulatório (avaliados pela pressão arterial e pelo pulso), menor incidência de ansiedade e depressão, além de menor consumo de analgésicos de res-gate.(30) Em concordância, a massoterapia foi estatisticamente significativa no controle da intensidade da dor, na diminuição da dosagem de analgésicos e na melhora da qualidade de vida.(11)

EFEITOS ADVERSOS E CONTRA-INDICAÇÕES DA

UTILIZAÇÃO DA MASSOTERAPIA

Os efeitos adversos da massagem são poucos, e as contra-indicações desta terapia são designadas a evitar uma preci-pitação da queda na pressão sangüínea ou a expansão de substâncias prejudiciais nos fluidos corporais. As doenças malignas são em muitas vezes uma contra-indicação citada para a técnica de massoterapia devido ao risco de expansão de células neoplásicas, podendo promover metásta-ses através do aumento do fluxo linfático. Entretanto, em pacientes debilitados que apresentam a doença neoplásica em fase terminal, o risco de expansão metastática é irrelevante e o benefício fisiológico e os efeitos psicológicos da massagem têm potencial positivo para melhorar a função, aliviar sintomas e contribuir para a melhoria da qualidade de vida.(11) t

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No tratamento

de câncer, evidências

comprovam que

a massagem pode

proporcionar efeitos

benéficos nos sintomas

físicos e psicológicos nos

pacientes com câncer

avançado

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