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Karina D’Elia Albuquerque Medicina Transfusional Felina Revisão de Literatura São Paulo 2014

Medicina Transfusional Felina Revisão de Literatura€¦ · Cytauxzoon felis (REINE, 2004; WARDROP et al, 2005). A investigação do doador ... As raças felinas pêlo curto Britânico

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Karina D’Elia Albuquerque

Medicina Transfusional Felina

Revisão de Literatura

São Paulo 2014

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Karina D’Elia Albuquerque

Medicina Transfusional Felina

Revisão de Literatura

Monografia apresentada como requisito para

conclusão do Curso de Pós Graduação,

Especialização em Clínica Médica de Felinos,do

Centro de Estudos Superiores de Maceió da

Fundação Educacional Jayme de Altavila,

orientada pela Prof.ª Doutora Simone Gonçalves

Rodrigues Gomes

São Paulo

SP\2014

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DEDICATÓRIA

Aos meus amigos fiéis, caninos e felinos que me ensinaram que o

amor incondicional supera todas as barreiras.

Meg (In Memoriam) minha filha de quatro patas, obrigada pelas horas

inesquecíveis, você é parte de mim e está guardada em meu coração para sempre.

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AGRADECIMENTOS

Sou uma pessoa muito feliz e realizada, agradeço a todos que fizeram

ou fazem parte da minha vida e que de alguma forma me ensinaram que viver vale a pena.

Em primeiro lugar agradeço á Deus por permitir mais este

aprendizado.

A meus queridos e amados pais Célia e Berval que estão sempre

presentes me ajudando, ensinando e amparando no decorrer de todos estes anos, vocês são

meu porto seguro, amo vocês!

Ruy, meu amado marido, meu muito obrigada pelas palavras de

incentivo, por compreender minhas horas de ausência e por acreditar em meu sonho.

Breno, filho amado, você tem todo o meu amor e obrigada por me

ensinar a arte de ser mãe.

Leandro obrigada por acreditar que tudo valeria a pena, você realizou

meu grande sonho, mais uma vez meu muito obrigada.

Simone muito obrigada por seus infinitos ensinamentos, por sua

dedicação, paciência e orientação e por acreditar em mim, saiba que você é para mim uma

referência.

Aos meus colegas que me substituíram na minha ausência: Giuliano,

Camila, Eder, meu muito obrigada.

E a todas as outras pessoas que não citei, mas que de alguma forma

fizeram parte da minha vida, minha eterna gratidão.

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“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo

começo qualquer um pode recomeçar agora e fazer um

novo fim “

‘(Francisco Cândido Xavier)

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RESUMO

A medicina transfusional na espécie felina está em constante

desenvolvimento acompanhando o aumento cada vez maior de gatos que necessitam de

transfusão de sangue total ou seus hemocomponentes. Desta forma, a hemoterapia nesta

espécie vem evoluindo ao longo dos anos com a implantação de bancos de sangue com

técnicas bem elaboradas que envolvem a seleção rigorosa dos doadores até a obtenção dos

hemocomponentes. Os felinos possuem três tipos sanguíneos principais: A, B e AB. O tipo A

é o mais comum seguido pelo B. A incidência de cada tipo varia de acordo com a raça e

localização geográfica. Os gatos possuem aloanticorpos sendo assim há necessidade de

realização de tipagem e teste de compatibilidade desde a primeira transfusão. A indicação

para a transfusão de hemácias envolve valores baixos de hematócrito (< 15%) ou

hemoglobina (< 7 g/dL) associados às manifestações clínicas de descompensação

hemodinâmica da anemia como taquicardia, taquipneia, pulso fraco e letargia. Os

componentes sanguíneos disponíveis para a utilização são o sangue total fresco, sangue total

estocado, concentrado de hemácias, plasma fresco congelado e plasma congelado. As reações

transfusionais são classificadas em imunológicas e não imunológicas que são prevenidas

através da realização da tipagem sanguínea, teste de compatibilidade, coleta e conservação

adequada das bolsas e triagem dos doadores para as principais doenças infecciosas

colaborando para um procedimento cada vez mais seguro.

Palavras – chaves: Anemia, banco de sangue, tipos sanguíneos.

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LISTA DE ABREVIATURAS

IN : Isoeritrólise neonatal

RTNHF : Reação transfusional não hemolítica febril

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 -: Prevalência dos tipos sanguíneos em gatos sem raça definida em diferentes

regiões (ABRAMS-OGG, 2000). --------------------------------------------------------------------- 14

Quadro 2 – Descrição da técnica do teste de compatibilidade maior (GIBSON,G ;ABRAMS-

OGG, 2012). --------------------------------------------------------------------------------------------- 16

Quadro 3 – Etapas do fracionamento do sangue total felino (LUCAS, et al. 2004). ---------- 22

Quadro 4 – Sangue total e hemocomponentes sanguíneos felinos (HALE, 2006). ------------ 24

Quadro 5 - Classificação das reações transfusionais (KOHN & WEINGART 2012). -------- 32

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - cartão de tipagem sanguínea de gatos do kit comercial RapidVet H Feline (DMS

Laboratories, Flemington, NJ, USA) com reação positiva no poço do tipo A. ----------------- 15

Figura 2 - cartão de tipagem sanguínea do kit comercial RapidVet H Feline (DMS

Laboratories, Flemington, NJ, USA) com reação positiva no poço do tipo B. ----------------- 17

Figura 3- Seringa de 60 ml acoplada a uma torneira de 3 vias, scalp e bolsa de transferência

utilizada já com anticoagulante CPDA1. (HEMOVET 2013). ----------------------------------- 16

Figura 4- - Bolsa pediátrica humana acoplada ao scalp. (HEMOVET/ USP 2010). -------- 18

Figura 5- Indicações da transfusão de hemácias baseada nos valores médios do hematócrito

(BARFIELD, ADAMANTOS,2010). ---------------------------------------------------------------- 26

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------------- 9

1 . REVISÃO DE LITERATURA-------------------------------------------------------------------- 11

1.1. Seleção de doadores ------------------------------------------------------------------------------- 11

1.2. Tipos sanguíneos----------------------------------------------------------------------------------- 12

1.3 . Tipagem Sanguínea------------------------------------------------------------------------------- 14

1.4. Coleta ----------------------------------------------------------------------------------------------- 17

A. Sistema aberto ----------------------------------------------------------------------------------- 17

B. Sistema Fechado --------------------------------------------------------------------------------- 17

1.5 Sedação -------------------------------------------------------------------------------------------- 18

1.6 .Processamento-------------------------------------------------------------------------------------- 20

1.7. Armazenamento------------------------------------------------------------------------------------ 23

1.8. Anticoagulantes------------------------------------------------------------------------------------ 24

1.9 . Indicações para transfusão ----------------------------------------------------------------------- 25

1.10. Transfusão de sangue---------------------------------------------------------------------------- 25

1.11. Administração------------------------------------------------------------------------------------- 27

1.12. Monitoramento ----------------------------------------------------------------------------------- 29

1.13. Reações Transfusionais ------------------------------------------------------------------------- 29

1.14. Tratamento das reações transfuncionais ------------------------------------------------------ 32

1.15. Isoeritrólise neonatal----------------------------------------------------------------------------- 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS---------------------------------------------------------------------- 35

REFERÊNCIAS------------------------- ----------------------------------------------------------- 36

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INTRODUÇÃO

As transfusões sanguíneas tornaram–se uma ferramenta importante no cuidado

crítico e emergencial dos pacientes felinos.

A prática da medicina transfusional vem aumentando muito na última década, e

vem se espelhando no progresso dos bancos de sangue humanos, se preocupando desde

a seleção rigorosa dos doadores, processamento das bolsas e acompanhamento do

paciente minimizando ao máximo o risco de reações transfusionais.

As causas mais comuns de anemia em gatos que requerem transfusões são

hemorragia (pós-operatória), trauma, hemorragia gastrointestinal, neoplasia abdominal,

trombocitopenia imunomediada primária e coagulopatias, anemia hemolítica

imunomediada primária e eritropoiese ineficaz, ou ausente (HALE, 2006). A anemia

também é vista em gatos jovens com intensa puliciose,necrose hepática ou Isoeritrólise

neonatal (KOHN;WEINGART, 2012).

Na maioria das situações, a anemia é considerada grave quando o hematócrito

atinge 12 a 14% (ABRAMS-OGG,2000; HALDANE et al. 2004; WARDROP, 2001).

As transfusões são menos realizadas em gatos do que em cães devido à dificuldade de

obtenção das bolsas de sangue de felinos uma vez que há uma complexidade maior na

seleção do doador neste espécie, envolvendo a necessidade de sedação na maioria das

vezes, o que limita a frequência de doações sanguíneas autorizadas pelo cuidador do

animal.

O felino possui três tipos sanguíneos: A, B e AB que varia conforme a raça e a

localização geográfica. Apesar do uso das mesmas letras aplicadas aos tipos sanguíneos

humanos, não existe relação sorológica alguma entre o sistema AB felino e o sistema

ABO humano. No entanto, como em seres humanos, os gatos possuem aloanticorpos

naturais que reconhecem os antígenos eritrocitários de outro tipo sanguíneo. Além deste

grupo foi descoberto na última década um grupo sanguíneo denominado anemia

também é vista em gatos jovens com intensa puliciose, necrose hepática ou

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Mik (composto de tipos Mik positivos e negativos) este grupo tem sido identificado

como causa de incompatibilidades entre doador e receptor de sangue que não estão

relacionados com o sistema AB felino (BARFIELD; ADAMANTOS, 2011) .

O objetivo deste trabalho é realizar a revisão de literatura sobre a medicina

transfusional felina envolvendo desde a seleção dos doadores até a transfusão sanguínea

propriamente dita destacando as particularidades e complexidade desta espécie.

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1. REVISÃO DE LITERATURA

1.1. SELEÇÃO DE DOADORES

Uma transfusão segura começa com uma criteriosa seleção dos doadores. É

preciso um histórico clínico completo e exame físico detalhado (HALE, 2006).

O doador felino deve apresentar peso mínimo de 5 kg, idade entre um a seis anos

e temperamento dócil (ABRAMS-OGG, 2000; HALDANE et al. 2004; WARDROP,

2001). O hematócrito mínimo é de 35 % embora seja desejado 40% e pelo menos 11

g/dL de hemoglobina. O volume máximo aceitável por doação é de 11-13 mL/kg

correspondendo a uma unidade de sangue felino. A frequência de doação sanguínea

pode ser uma vez a cada três a quatro semanas (GRIONT-WENK ; GIGER, 1995).

Gatas prenhes não devem doar devido ao estresse causado à doadora e aos fetos. Gatas

paridas e fora de amamentação podem doar normalmente (ABRAM-OGG, 2000). O

animal deve estar com boa saúde e não deverá estar tomando nenhum medicamento

(GRIONT-WENK ; GIGER, 1995).

É desejável dar um intervalo de pelo menos um mês entre a doação de sangue e

vacinação ou cirurgias eletivas como a esterilização de machos e fêmeas. Gatos com uso

prolongado de medicação de qualquer tipo, incluindo agentes anti-inflamatórios não

esteroides, devem ser excluídos da doação sanguínea durante o período de

administração dos fármacos (BARFIELD; ADAMANTOS, 2011).

Os doadores devem ser negativos para o vírus da imunodeficiência felina, vírus da

leucemia felina, Mycoplasma sp. e Toxoplasma gondii. Os gatos não domiciliados,

dependendo da região, devem ser testados também para Erlichia sp. Anaplasma sp.

Cytauxzoon felis (REINE, 2004; WARDROP et al, 2005). A investigação do doador

com relação à peritonite infecciosa felina (PIF) é controversa, visto que alguns gatos

têm títulos para o coronavirus entérico felino, mas nunca desenvolvem sinais e sintomas

clínicos relacionados a PIF, além disso, há uma grande dificuldade de diagnóstico

definitivo para a doença devido ausência de marcadores genéticos para o vírus da PIF.

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A maioria dos autores argumenta que o fato dos animais doadores não se

enquadrarem na faixa etária preferencial de manifestação da PIF e que serão sempre

monitorados com relação a qualquer alteração física e laboratorial, isso justificaria a

exclusão da PIF do painel de exames de triagem para seleção de doadores na maioria

dos bancos de sangue (ABRAMS-OGG, 2000).

O hemograma deverá ser realizado previamente antes de cada doação sanguínea e

a função renal e hepática anualmente (BARFIELD; ADAMANTOS, 2011).

Os doadores devem ser frequentemente tratados com antiparasitários a cada seis

meses animais domiciliados e controlados contra ectoparasitas (como pulgas, carrapatos

e piolhos) a cada trinta dias (WEINGART et al., 2004).

1.2. TIPOS SANGUÍNEOS

Os tipos sanguíneos são definidos por antígenos espécie-específicos presentes na

superfície dos eritrócitos. A maior parte dos antígenos é um componente integral de

membrana composto por carboidratos complexos associados a proteínas ou lipídeos

inseridos na membrana eritrocitária. Na medicina veterinária, o significado clínico dos

tipos sanguíneos está associado às reações transfusionais e à isoeritrólise neonatal

(LACERDA et. al ., 2008).

O sistema de grupo sanguíneo AB felino foi descrito pela primeira vez em 1962 e

está associado a dois antígenos eritrocitários. O tipo sanguíneo A é ligado ao ácido N -

glicolineuramínico e o tipo sanguíneo B, ao ácido N – acetilneuroamínico. Os gatos

com tipo de sangue AB transportam os dois antígenos. A identificação desses tipos de

sangue tornou-se essencial para a medicina transfusional felina, uma vez que

desempenha um importante papel na redução de reações transfusionais. A tipagem de

sangue também tem um papel fundamental em gatis para acasalamentos de matrizes

com tipos sanguíneos compatíveis, evitando assim, óbitos nas ninhadas devido a

isoeritrólise neonatal (WEINSTEIN et al., 2007).

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O grupo A é o tipo sanguíneo mais comum (Tabela 1). A maioria dos gatos da

raça Siamês é do tipo A. As raças felinas pêlo curto Britânico e exótico, Cornish rex e

Devon rex possuem uma alta frequência de tipo sanguíneo B segundo estudo realizado

por Giger (1991) nos Estados Unidos. O sangue do tipo AB é raro, porém já foi descrito

em gatos sem raça definida, no Abissínio, Birmanês, Pêlo curto Britânico, Persas, dentre

outras (ABRAMS-OGG, 2000).

Todos os gatos com mais de três meses tem aloanticorpos naturais, com exceção

do tipo AB , considerado o receptor universal. Por esta razão, não existe doador

universal felino, desta forma todos os gatos que precisarem de transfusão sanguínea,

devem ser tipados para poderem receber o mesmo tipo sanguíneo, prevenindo assim

reações transfusionais hemolíticas que podem ser fatais quando gatos com sangue tipo

B recebem o tipo A ou AB. Gatos do tipo A possuem baixos títulos de anticorpos

naturais anti-B. Entretanto, gatos do tipo B têm altos títulos de anticorpos naturais anti-

A. Os gatos AB não possuem aloanticorpos contra os tipos sanguíneos A ou B logo são

considerados receptores universais (HALDANE et al., 2004; WARDROP, 2001).

Entretanto, se um gato tipo sanguíneo B é transfundido para um receptor AB, os

aloanticorpos anti-A presentes no sangue do doador podem desencadear uma

significante reação transfusional dependendo da concentração destes anticorpos

circulantes. O ideal é que gatos do tipo sanguíneo AB sejam transfundidos com o

mesmo grupo sanguíneo, se disponível, caso contrário a preferência é pelo tipo

sanguíneo A por possuir baixos títulos de anti-B (HALDANE et al.,2004).

O sistema AB dos felinos possui pelo menos dois alelos (A e B) no mesmo lócus,

sendo o alelo A dominante sobre o alelo B e, portanto, gatos com fenótipos A podem

possuir genótipo A/A ou A/b, enquanto somente os felinos homozigotos para o alelo b

(b/b) expressam antígenos eritrocitários B e não expressam o antígeno A. Sabe-se que o

terceiro alelo AB é recessivo ao alelo A e dominante ao alelo B, mas ainda não foi

determinado a herança do tipo sanguíneo AB (LACERDA et al., 2008).

Foi descrito recentemente um tipo sanguíneo adicional que foi chamado tipo Mik,

este foi descoberto após gatos que nunca tinham recebido sangue apresentarem reações

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hemolíticas agudas sendo compatíveis em relação ao grupo sanguíneo AB

(WEINSTEIN et al., 2007).

Tabela 1: Prevalência dos tipos sanguíneos em gatos sem raça definida em diferentes

regiões (ABRAMS-OGG, 2000)

Região

Nº de

gatos

A

%

B

%

AB

%

Austrália 187 62 36 1,6

Hungria 100 100 0 0

Portugal (Gatos pelos curto) 132 90,2 3,8 6

Portugal (Gatos de pelos longo) 5 80,0 6,7 13,3

Brasil (área do Rio de Janeiro) 172 94,8 2,9 2,3

Reino Unido 105 67,6 30,5 1,9

FONTE: ABRAMS-OGG,( 2000)

1.3. TIPAGEM SANGUÍNEA E TESTE DE COMPATIBILIDADE

A tipagem sanguínea pode ser feita através de vários métodos que estão

disponíveis no mercado, tais como o método de cartão de aglutinação,

imunocromatografia, aglutinação em gel, aglutinação em tubos, aglutinação em slides

(SETH et al, 2011). Alguns destes métodos estão disponíveis comercialmente

RapidVet-H Feline®, DMS Laboratories; DME VET A + B Alvedia®, France e

Dulbecco´s (SETH et al., 2011).

O mais usado na medicina transfusional felina é o RapidVet-H Feline®,observar

as figuras abaixo, este método consiste de acordo com o fabricante de um cartão

individual para cada animal, com três poços pré determinados como: controle da

solução salina (C), teste paciente tipo A contendo soro felino anti-A e teste paciente tipo

B contendo Triticum vulgaris, uma lecitina de germe de trigo, que induz a aglutinação

de células tipo B (LACERDA et al. ,2008).

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Na medicina transfusional felina além da tipagem sanguínea é de suma

importância realizar o teste de compatibilidade, pois pode haver incompatibilidades

com outros antígenos da superfície das hemácias além do grupo AB (ABRAMS-OGG,

2000).

O teste de compatibilidade ou reação cruzada é dividido em maior e menor. Na

rotina clínica, usamos frequentemente a reação cruzada maior que consiste em verificar

a presença de anticorpos no receptor contra as hemácias do doador (Quadro 2), sendo a

mais importante já que é fundamental para prevenção das hemólise. A prova menor

verifica a presença de anticorpos no plasma do doador contra as hemácias do receptor,

Figura 1 - Cartão de tipagem

sanguínea de gatos do kit

comercial RapidVet H Feline

(DMS Laboratories,

Flemington, NJ, USA)

com reação positiva no poço

do tipo A

Figura 2 - Cartão de tipagem

sanguínea do kit comercial

RapidVet H Feline (DMS

Laboratories, Flemington, NJ,

USA) com reação positiva no

poço do tipo B – 13

 

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esta prova tem menor importância do que a primeira quando se utiliza concentrado de

hemácias, pela pequena quantidade de plasma do doador no receptor. Por outro lado, se

a transfusão for de plasma ou sangue total é importante a realização das duas provas.

(PEREIRA, 2008)

Quadro 2 – Descrição da técnica do teste de compatibilidade maior para cães e gatos

(GIBSON ; ABRAMS-OGG, 2012)

1) Colher sangue em tubos com EDTA e tubos de bioquímicos (tampa vermelha ou amarela) e dos possíveis doadores ou separar amostras de sangue da bolsa de colheita.

2) Em um tubo de vidro colocar de 0,5 a 1,0 ml de sangue do doador e suspender com 4,8 ml de solução fisiológica.

3) Centrifugar em macrocentrífuga na rotação de 3000 rpm por 1 minuto, retirar o sobrenadante, ressuspender as hemácias com solução fisiológica. Repetir esta lavagem três vezes.

4) Após a última lavagem, retirar o sobrenadante, separar, em outro tubo de vidro, 200 ul ou 0,20 ml das hemácias lavadas e ressuspender novamente com solução fisiológica (hemácias lavadas).

5) Pegar 2 gotas das hemácias lavadas e duas gotas do plasma do receptor, centrifugar por 1 minuto e observar a presença de hemólise ou aglutinação macroscópica.

6) Colocar uma gota em lâmina de microscopia cobrir com uma lamínula e observar a presença de microaglutinação.

7) Se não houver formação de aglutinação, preparar 3 tubos de vidro identificados à 37 ºC (banho maria), 25 ºC (temperatura ambiente) e 4 ºC (geladeira) e colocar 2 gotas das hemácias lavadas e 2 gotas do plasma do receptor deixar incubado por 30 minutos.

8) Centrifugar por 1 minuto, verificar presença de macro e microaglutinação ou hemólise, em cada uma das temperaturas.

Dois fatores importantes devem ser levados em consideração no que se diz

respeito ao teste de compatibilidade (reação cruzada). Em primeiro lugar, ele não exclui

totalmente o risco de reação transfusional, apenas indica que naquele momento não há

anticorpos significativos para as hemácias do receptor. Em segundo lugar, é que o teste

avalia apenas a presença de anticorpos antieritrocitários e não contra outras células

como leucócitos e plaquetas, embora, com menos frequência, podem causar reação

transfusional não hemolítica (KOHN; WEINGART, 2012).

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1.4. COLETA

Existem dois sistemas de coleta, o sistema aberto e o sistema fechado. Estes

sistemas consistem em:

a) Sistema Aberto: usa-se um “scalp” 19 G acoplado com uma torneira de três

vias, e com uma seringa de 60 ml aspira-se 7,0 ml de anticoagulante (CPDA-1), acopla-

se esta seringa em uma das saídas da torneira de três vias e na outra saída da torneira a

bolsa satélite sem anticoagulante e estéril, que servirá para armazenar o sangue,

recomenda-se imediatamente o uso deste sangue ou no máximo 24 horas, devido ao

grande risco de contaminação (HALE, 2004 ) .

b) Sistema Fechado: Este sistema consiste no mesmo método do sistema aberto,

usa-se uma seringa de 60 ml, “scalp” 19 G e uma bolsa de transferência. A diferença é

que será esterilizado antes do uso, como esta bolsa de transferência não tem agulha é

necessário um conector de tubos que permitirá acoplar o “scalp” à bolsa sem risco de

contaminação ( Figura 3) (BARFIELD;ADAMANTOS, 2011; HALE, 2004).

Figura 3. Seringa de 60 ml acoplada a uma torneira de 3 vias, scalp e bolsa de transferência utilizada já com anticoagulante CPDA1 (HEMOVET 2013)

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A Universidade da Pensilvânia desenvolveu sua própria bolsa de coleta. São

utilizadas bolsas de sangue pediátricas (humanas) com capacidade de 75 ml de sangue,

mas como são bolsas de transferência também há necessidade de usar um aparelho

conector de tubos que permite acoplar uma agulha de calibre adequado à bolsa de forma

estéril (Figura 4) (SPRINGER et al.,1998).

Figura 4: Sistema fechado utilizando bolsas pediátricas humanas (HEMOVET, 2010).

1.5. SEDAÇÃO

Devido ao temperamento do felino e para se ter uma coleta de sangue tranquila

evitando várias punções e uma assepsia adequada, alguns autores recomendam a

contenção química com sedação ou anestesia (HALE, 2006). No entanto, este

procedimento deve ser realizado com cautela sempre preservando a saúde do doador,

monitorando constantemente pressão arterial com protocolos anestésicos ou de sedação

que permitam uma recuperação rápida do animal (KRISTENSEN; FELDMAN, 1995).

Vários protocolos anestésicos são sugeridos:

• Indução com Sevoflurano 6% e 1,5 L/min de O2 e a manutenção com Sevoflurano

3-4% e 1 L/min de O2. Não utilizar medicação pré-anestésica (IAZBIK, 2007).

• Cetamina (1 a 2 mg/kg), Diazepam (0,1mg/kg) e Atropina (0,01mg/kg) via

intramuscular (GRIOT-WENK, 1995).

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• Cetamina (5mg/kg), Butorfanol (0,3 mg/kg) e Midazolan (0,2 mg/kg) via

intramuscular (KILLOS, 2010).

A maioria dos bancos de sangue usam a cetamina como fármaco de escolha, e tem

como vantagem uma boa margem de segurança com manutenção dos reflexos

respiratórios e ação simpatomimética, não deprimindo a função cardiovascular

(KILLOS, 2010).

As principais desvantagens do uso de protocolos baseados em cetamina são os

efeitos prolongados da anestesia e o risco de desencadear arritmia cardíaca em gatos não

diagnosticados para cardiomiopatia hipertrófica. Por essa razão pode-se utilizar

protocolos baseados na neuroleptanalgesia (ABRAMS-OGG, 2000) como:

• Oximorfina (0,05 – 0,1 mg/kg) e Acepromazina (0,04 – 0,1 mg/kg) na mesma

seringa, via intramuscular ou intravenosa.

• Butorfanol (0,2 – 0,4 mg/kg) e Acepromazina (0,04 – 0,1 mg/kg) na mesma

seringa, via intramuscular ou intravenosa.

• Butorfanol (0,1 – 0,2 mg/kg) e Diazepam (0,5 mg/kg) na mesma seringa, via

intravenosa.

As principais desvantagens desses protocolos baseados na neuroleptanalgesia são

a exacerbação da hipotensão pela acepromazina durante a doação e a sedação

insuficiente para a coleta. Alguns veterinários preferem utilizar somente a oximorfina na

dose de 0,1 a 0,2 mg/kg intravenosa, para minimizar os riscos de hipotensão. Nesses

casos de sedação insuficiente pode-se adicionar propofol na dose de 4 mg/kg via

intravenosa, sendo metade da dose “in bolus” e a outra metade lentamente até atingir o

efeito desejado. A dose de 1,0 mg/kg de propofol intravenoso pode ser administrada

para prolongar a anestesia (ABRAMS-OGG, 2000).

Qualquer que seja o protocolo de sedação na hora da coleta de sangue é necessário

ter máscara de oxigênio e todos os equipamentos para sondagem endotraqueal, além de

um monitoramento constante dos sinais vitais e da pressão arterial (ABRAMS-OGG,

2000).

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20  

 

O volume sanguíneo total doado pelos felinos representa um volume muito maior

de perda, assim uma das complicações mais comuns em felinos doadores após a coleta é

a hipovolemia e choque, devido a isto recomenda-se fazer reposição com solução

cristaloide nos doadores, nas doses de 90 ml de solução fisiológica, por via subcutânea,

imediatamente antes da coleta e 60 ml da mesma solução intravenosa, durante 15 a 20

minutos, iniciando na metade da coleta de sangue (WARDROP, 2001).

Alguns autores recomendam a reposição com solução cristaloide de 2 a 3 vezes o

volume doado de forma rápida, mas aumenta muito o risco de se ter uma hemodiluição

(ABRAMS-OGG, 2000) .

Outro fator que deve ser levado em consideração na coleta de sangue é a assepsia

no local da coleta, pois pode ocorrer infecção no local da punção (KOHN

;WEINGART, 2012).

Os animais que doam frequentemente precisam de suplementação de ferro, o ideal

é que esta reposição deve ser feita baseada nos níveis séricos de ferro através de exames

laboratoriais (KIRSTENSEN; FELDMAN, 1995). A dose recomendada para

suplementação de ferro é de 10 mg/kg de sulfato ferroso duas vezes por semana ou 5

mg/gato de fumarato ferroso ao dia (KOHN;WEINGART, 2012).

É de suma importância o monitoramento dos animais doadores, durante a coleta e

até 4 horas após o procedimento, acompanhando sinais como taquicardia, extremidades

frias, fraqueza, depressão e síncopes (GRIOT-WENK et. al ., 1995).

1.6.. PROCESSAMENTO

Nos felinos o sangue total coletado pode ser dividido em dois hemocomponentes:

concentrado de hemácias e plasma. Esta separação é feita para o melhor

aproveitamento de todos os componentes do sangue (KOHN; WEINGART,2012).

O preparo dos hemocomponentes é mais complicado nos felinos, pois a quantidade de

sangue coletada é bem menor comparada ao cão, devido à isto é necessário alguns

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cuidados na hora do preparo dos hemocomponentes, como a adaptação da centrífuga

para a espécie, calibrando as bolsas com dispositivos de plástico para permitir

estabilidade durante a centrifugação para a separação do plasma (LUCAS et al., 2004).

O sangue total fresco é composto por hemácias, leucócitos, plaquetas, fatores de

coagulação e proteínas plasmáticas, inclusive albumina e antitrombina III. As hemácias

são responsáveis por carregar oxigênio para os tecidos enquanto que o plasma mantém a

pressão oncótica e contém fatores de coagulação. O sangue total é considerado fresco

se for coletado e utilizado até 4 horas após a coleta para o aproveitamento de 100% dos

componentes oferecidos, pois neste período os fatores de coagulação e as plaquetas são

preservadas (LUCAS et.al., 2004) .

O sangue total estocado contém hemácias e proteínas plasmáticas, incluindo

albumina e antitrombina III. Durante a estocagem as concentrações dos fatores de

coagulação V e VIII diminuem e as plaquetas não sobrevivem à refrigeração

(CHIARAMONTE, 2004). O sangue total estocado pode ficar refrigerado por 35 dias

em temperatura entre 2 a 6 °C.

Para a separação dos hemocomponentes se faz necessário o uso de bolsas duplas,

que são chamadas de bolsas satélites próprias para armazenamento adequado dos

hemocomponentes (Quadro 3) (BARFIELD; ADAMANTOS, 2011).

O concentrado de hemácias é feito através da centrifugação do sangue total fresco

a 3800 rpm por 12 minutos (LUCAS et al.,2004). Contém menos eletrólitos comparado

ao sangue total, e a quantidade de anticoagulante é bem menor. Uma unidade de

concentrado de hemácias tem aproximadamente 25 a 30 ml e o hematócrito da bolsa

gira em torno de 80%, dependendo do hematócrito do doador (KRISTENSEN;

FELDMAN, 1995).

O plasma fresco congelado é separado pela centrifugação, e congelado até 6 horas

após a coleta do sangue. O congelamento protege os fatores V e VIII da coagulação, é

composto por todos os elementos da coagulação, sistema complemento e sistema

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fibrinolítico, assim como as proteínas que mantém a pressão oncótica e modulam a

imunidade (KRISTENSEN; FELDMAN, 1995).

Após um ano de congelamento do plasma fresco, ele passa a ser chamado de

plasma congelado (CHIARAMONTE, 2004) sendo composto por fatores dependentes

da vitamina K (II, VII ,IX e X) (KRISTENSEN; FELDMAN, 1995).

Qualquer que seja o hemocomponente a ser coletado é imprescindível, que todas

as bolsas ou seringas, independente do tipo de coleta, sejam s identificadas com

etiquetas, com data, horário da coleta, identificação do doador, valor do hematócrito e o

tipo sanguíneo do doador (LUCAS et al., 2004).

Quadro 3 – Etapas do fracionamento do sangue total felino (LUCAS et al., 2004).

1) Certifique que a centrifuga esteja ligada e refrigerada em torno de 10 ° C

2) Abra a centrifuga e retire os baldes.

3) Coloque as bolsas de sangue verticalmente e calibre com suplementos de

plástico.

4) Preencher o espaço vazio com espuma.

5) Certifique que não há dobras nas bolsas de sangue

6) Coloque a tampa sobre a centrífuga travando-a

7) Ajustar a rotação à 3800 rpm conferindo a temperatura a 10 ° C

8) Ajustar o tempo de rotação em 12 minutos.

9) Após a centrifugação retirar os baldes da centrifuga, mantendo sempre

verticalmente as bolsas

10) Observar a separação do sangue e do plasma, caso não ocorra processar

novamente

11) Colocar a bolsa no separador de plasma

12) Deixar o plasma correr para a bolsa satélite e após o término selar as duas

bolsas.

13) Homogeneizar o concentrado de hemácias

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14) Pesar o plasma e o concentrado de hemácias, etiquetá-los com o peso da

bolsa, nome do doador, tipo sanguíneo e data da coleta.

15) Armazenar o concentrado de hemácias no refrigerador a 4 °C e o plasma no

freezer à menos 20 °C

1.7. ARMAZENAMENTO

O armazenamento adequado dos hemocomponentes é de suma importância para o

sucesso de uma transfusão, quando é feito de forma incorreta, o receptor é exposto a

grandes riscos de reações transfusionais não imunológicas. A manutenção da

temperatura, manejo correto durante o transporte e manipulação da bolsa ou seringa são

fatores imprescindíveis para evitar danos de armazenamento no sangue, como hemólise,

aumento ou diminuição do ph, aumento de amônia e eletrólitos (Quadro 4) (HALE,

2006).

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24  

 

Quadro 4 – Sangue total e hemocomponentes sanguíneos felinos (HALE, 2006).

COMPONENTE ARMAZENAMENTO VALIDADE OBS

Sangue total

fresco

25º para manter função

plaquetária

4 horas

Sangue total

estocado

1º a 6ºC

28 dias

Sangue armazenado

na seringa não deve

ser estocado por

mais de 24 horas

Concentrado de

hemácias

1º a 6ºC

28 dias,35 dias se

adicionada solução

nutriente para as

hemácias

Plasma fresco

congelado

- 18º a – 65ºC

1 ano

Após expirar a data

de validade passa a

ser plasma

congelado

Plasma Congelado

- 18º a – 65ºC

5 anos

(a partir da data de

coleta)

1.8. ANTICOAGULANTES

Existem várias soluções de anticoagulantes usadas para o armazenamento do

sangue, estes são CPD (citrato-fosfato-dextrose), CPD2 (mesma composição do CPD,

porém com o dobro de dextrose) e CPDA 1 (citrato-fosfato-dextrose-adenina). O mais

utilizado de todos é o CPDA 1 presente nas bolsas de sangue disponíveis

comercialmente (LACERDA, 2005). O CPDA 1 mantém teores mais elevados de 2,3

difosfoglicerato (2,3 DPG) e trifosfato de adenosina (ATP) (THRALL, 2006) .

A heparina ativa as plaquetas, não sendo recomendada para a coleta de sangue.

(TRALL, 2006).

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25  

 

1.9. INDICAÇÕES PARA TRANSFUSÃO SANGUÍNEA

Outras causas comuns de anemia em gatos e que requerem transfusão de sangue

em felinos são hemorragia devido traumas, doenças gastrintestinais, neoplasias

abdominais, trombocitopenias ou coagulopatias (BARFIELD; ADAMANTOS, 2010).

Pode ser observada anemia severa em animais jovens devido a necrose hepática ou

isoeritrólise neonatal (DAY ; KOHN, 2012).

A anemia pode estar associada a algumas doenças infecciosas como a

imunodeficiência viral felina, leucemia viral felina, peritonite infecciosa felina e

micoplasmose. Existem outros microrganismos raramente descritos como a Ehrlichia

sp. Anaplasma sp. Cytauxzoon felis e Rickettsia felis que também podem ocasionar

anemia nesta espécie (BARFIELD; ADAMANTOS, 2010).

1.10. TRANSFUSÃO DE SANGUE

O principal objetivo da transfusão de sangue é a recuperação da capacidade de

transporte de oxigênio que é realizada pelas hemácias (WEINGART et al., 2004). A

meia vida das hemácias transfundidas compatíveis é de 35 dias nos felinos. Desta

forma, o uso da transfusão para anemias crônicas é questionado, servindo apenas para

casos emergenciais até que um tratamento definitivo, quando existente seja estabelecido

(LUCAS et al., 2004).

Os parâmetros hematológicos utilizados para a indicação da transfusão dependerá

do valor do hematócrito juntamente com os sinais clínicos de descompensação

hemodinâmica da anemia (DAY; KOHN, 2012). Em geral, indica-se a transfusão de

hemácias em valores de hematócrito abaixo 12 a 15% devido à queda brusca

(hemorragia ou hemólise) e hematócrito entre 10 a 17% em animais com manifestações

clínicas de anemia grave (Figura 5) (ANDRADE, 2002) Alguns veterinários

recomendam a transfusão de sangue baseada na concentração de hemoglobina, abaixo

de 7g/dl equivalente ao hematócrito de 21%, ou em casos em que o paciente requerer

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cirurgia é necessário uma hemoglobina superior a 10 g/dl (BARFIELD;

ADAMANTOS, 2010)

Figura 5 – Indicações de transfusão de hemácias baseadas nos valores médios de

hematócrito (BARFIELD; ADAMANTOS, 2010).

A decisão final para se indicar a transfusão de hemácias para um paciente baseia-

se nos valores baixos de hematócrito ou hemoglobina juntamente com os sinais e

sintomas clínicos no que se refere à descompensação hemodinâmica da anemia como

letargia, distrição respiratória, mucosas pálidas, pulso fraco, tempo de preenchimento

capilar prolongado e fraqueza (KOHN;WEINGART,2012).O organismo sofre inúmeras

alterações para manter o oxigênio nos tecidos (BARFIELD; ADAMANTOS, 2010).

Animais anêmicos normovolêmicos geralmente sofrem de um processo crônico e

os valores baixos de hematócrito são bem tolerados de forma que a transfusão é menos

urgente. Na maioria das vezes o animal está alerta, com frequência cardíaca e

respiratória normal ou levemente elevada e pressão sanguínea normal (ROZANSKI;

LAFORCADE, 2004).

Anemia  Crônica  não  regenerativa  Hematócrito<  10%  

 

Transfusão  sanguínea    

 

Procedimento  cirúrgico  Hematócrito  18-­‐20%  

 

Taquicardia  Hematócrito  10%-­‐20%  

 

Perda  de  sangue  contínua  Hematócrito  15%  

 

Perda  de  sangue  por  coagulopatia  Hematócrito  15%  

 

Perda  aguda  de  sangue  com  sinais  de  hipovolêmia  hematócrito  <18%      

h  PCV  <  10  

 

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27  

 

2.11. ADMINISTRAÇÃO

Na anemia aguda ou em cirurgia, a transfusão pode ser feita mesmo com valores

de hematócrito mais altos (KOHN;WEINGART ,2012). Gatos com perda aguda de

sangue não têm tempo suficiente para se adaptar ao hematócrito baixo e apresentam

sinais de hipovolemia, por isso são transfundidos mais cedo do que gatos com anemia

crônica (GRIOT-WENK, 1995). São pacientes que se apresentam fracos, com pulso

rápido e fraco, e mucosas mais hipocoradas do que o hematócrito sugere (ROZANSKI;

LAFORCADE, 2004).

Devido às dificuldades em separar os hemocomponentes em função do volume da

unidade de sangue ser pequeno, gatos anêmicos geralmente recebem sangue total fresco

ou estocado, quando o mais indicado seria a administração de concentrado de hemácias

ou plasma fresco congelado (GRIOT-WENK, 1995).

O sangue pode ser transfundido pela veia cefálica, safena ou jugular. Segundo

Wardrop (2001), se não for possível os acessos convencionais, pode se administrar o

sangue por via intra- óssea do fêmur, íleo ou úmero.

O volume de sangue a ser transfundido pode ser calculado através da fórmula

abaixo (WEINGART et al., 2004):

Volume de sangue transfundido = HT % Desejado x Peso corpóreo (Kg) x 2

Existem outras fórmulas que podem ser utilizadas para o cálculo do volume de

sangue total ou concentrado de hemácias (HALDANE, 2004):

Volume total=Peso (kg) x 70 x (Ht % desejado - Ht % receptor)

Ht do doador (bolsa)

Essa formula assume 70 ml/kg como o volume sanguíneo médio de um gato.

O volume a ser transfundido deve visar aumentar o hematócrito em 15% a 20%.

(WEINGART et al. 2004).

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O sangue refrigerado deve ser pré-aquecido à temperatura entre 22ºC e 37ºC

imediatamente antes da transfusão. É indicado que se mantenha a unidade a temperatura

ambiente por cerca de uma hora (GRIOT-WENK ; GIGER, 1995). Não é adequado que

se aqueça a bolsa em microondas para não causar hemólise, e se for utilizar de banho

maria (principalmente em componente congelado) colocar a bolsa em um envoltório

plástico, pois a mesma é permeável (TOCCI, 2010).

A transfusão deve iniciar com uma velocidade de 1 a 3 ml/ kg / hora nos primeiros

5 minutos da transfusão, mesmo usando-se sangue previamente analisado com teste de

compatibilidade e tipagem sanguínea (GRIOT-WENK & GIGER, 1995). Em pacientes

cardiopatas ou nefropatas a velocidade da infusão deve ser de 5ml/Kg/h nos primeiros 5

a 15 minutos, continuando por todo o procedimento (WARDROP, 2001). Alguns

animais cardiopatas não toleram transfusões com taxas de infusões maiores que 1

ml/kg/h (GRIOT-WENK & GIGER, 1995). Após 15 a 20 minutos de transfusão se, não

forem observadas reações transfusionais, pode se elevar a velocidade de infusão do

sangue para 10 a 22 ml/kg/hora em pacientes normovolêmico (WARDROP, 2001).

O tratamento prévio com corticoides ou antihistamínicos não se faz necessário,

pois não existe comprovação que seu uso previne reações hemolíticas. Se qualquer

reação transfusional ocorrer é necessário imediatamente interromper a transfusão,

avaliar o paciente e tratar de acordo com o tipo de reação ((KOHN;WEINGART ,2012).

A transfusão de plasma pode ser realizada em gatos, embora a administração seja

bem menos frequente que no cão. A dose é de 10 ml/kg (GONÇALVES, 2008).

Seja transfusão de sangue total ou seus hemocomponentes, o procedimento deverá

ser feito usando um equipo de transfusão com filtro interno de 170 µm para remover

qualquer coágulo ou debris celulares. Em casos de transfusão de plasma, o equipo deve

ser livre de látex em sua composição. A duração total da transfusão não deve exceder 4

horas, para evitar contaminação bacteriana e perda da função celular ou proteica dos

hemocomponentes (GRIOT-WENK ; GIGER, 1995).

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29  

 

2.12. MONITORAMENTO

Para o sucesso da transfusão, o animal deve ser monitorado frequentemente,

sendo observado seus sinais vitais como frequência cardíaca, frequência respiratória e

temperatura corpórea, hematócrito pré e pós transfusional. Durante a transfusão não se

pode alimentar o animal com água ou alimento sólido, pois pode ocasionar náuseas e

nem administrar pelo mesmo acesso qualquer medicamento, pois pode ocorrer

hemoaglutinação ou hemólise (GRIOT-WENK; GIGER, 1995).

Recomenda-se mensurar a temperatura corpórea a cada 5 a 10 minutos, nos

primeiros 15 a 30 minutos de transfusão. Na ausência de efeitos adversos, pode-se

aumentar a velocidade de infusão, monitorando os parâmetros vitais (temperatura,

frequência cardíaca e respiratória) a cada 30 minutos, a hipertermia é considerada

quando a temperatura corporal se eleva em 1ºC (GONÇALVES, 2008).

O hematócrito, proteína total, e a coloração do plasma pode ser avaliado após 12

e 24 horas pós transfusão para avaliar a ocorrência de hemólise. Outro indicador de

hemólise é avaliação da coloração da urina (GIBSON,G;ABRAMS-OGG, 2012) .

2.13. REAÇÕES TRANSFUSIONAIS

As reações transfusionais são raras, mas podem ocorrer mesmo após um controle

prévio com teste de compatibilidade e tipagem sanguínea (GIBSON ; ABRAMS-OGG,

2012) . Em um estudo na Universidade de Berlim com 163 gatos somente 1,2 % destes

animais apresentaram reação transfusional. (KOHN & WEINGART, 2012).

As reações transfusionais podem ser divididas em reações imunológicas e não

imunológicas e podem ser agudas ou tardias (Quadro 5). A reação aguda ocorre durante

ou até 48 horas pós transfusão e a reação tardia ocorre após este período podendo

ocorrer após semanas, meses ou anos (GIBSON; ABRAMS-OGG, 2012;

GONÇALVES, 2008) . As imunológicas são mediadas por anticorpos desencadeadas

pelos eritrócitos, proteínas plasmáticas, antígenos leucocitários e plaquetários (TOCCI,

2010).

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30  

 

A reação hemolítica aguda é a mais severa de todas as reações. Envolve uma

reação imunológica causada pela destruição dos eritrócitos do doador durante a

transfusão, devido a ocorrência de anticorpos naturais presentes no plasma do receptor

(KOHN; WEINGART, 2012). A incidência desta reação nos felinos é menor que 1 %,

mas é mais comumente relatada nessa espécie do que no cão provavelmente pela

presença de anticorpos naturais na espécie felina (GONÇALVES, 2008) , e também

pode ser vista em transfusões com tipos sanguíneos diferentes (KOHN; WEINGART,

2012).

Em casos de transfusão entre animais com sangue compatível, as células

vermelhas do doador têm meia vida de aproximadamente 35 a 38 dias, porém se a

transfusão ocorrer entre animais com sangue não compatíveis, as hemácias doadas são

rapidamente destruídas. Quando a transfusão é feita de um gato tipo B para um gato tipo

A, a meia vida das hemácias é de dois dias. Quando é transfundido um gato tipo A para

o gato tipo B a meia vida de células vermelhas tipo A é de minutos a horas, devido a

altos títulos de aloanticorpos anti-A presentes no plasma do receptor, levando a uma

hemólise intravascular massiva das células A transfundidas (KOHN; WEINGART,

2012).

Esses animais tipo B que são transfundidos com tipo A apresentam uma reação

hemolítica aguda severa e com sinais clínicos resultantes da resposta vasoativa e

inflamatória devido à ativação do sistema complemento apresentando hipotensão e

ativação do sistema nervoso parassimpático, tais como: letargia, bradicardia, dispneia,

arritmia cardíaca, salivação, vômitos, alguns sintomas neurológicos, podendo urinar e

defecar, geralmente nesta fase chegam a óbito. Se estes animais conseguirem

sobreviver podem desenvolver sinais clínicos como taquicardia, taquipnéia , febre,

hemoglobinemia e hemoglobinúria (WARDROP, 2001) .

Os animais com tipo B que são transfundidos com sangue tipo A, apresentam uma

reação transfusional mais branda, isto ocorre devido baixos títulos de aloanticorpos anti

B presentes no plasma do receptor. Estes aloanticorpos causam predominantemente

hemólise extravascular sem ativação do sistema complemento. Os sinais são mais

brandos tais como taquicardia e taquipneia, mas a transfusão é ineficaz, pois ocorre a

destruição das hemácias de dois a cinco dias (KOHN ; WEINGART, 2012).

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31  

 

Acredita-se que algumas reações transfusionais hemolíticas agudas ocorrem com

animais transfundidos com o mesmo tipo sanguíneo, isso acontece devido a um novo

tipo sanguíneo denominado Mik, devido a ocorrência de aloanticorpos naturais anti-

Mik, levando às reações, devido a isto é de suma importância realizar o teste de

compatibilidade sanguínea (WEINGART et al,.2004).

Outras reações imunológicas são a reação transfusional não hemolítica febril

(RTNHF) e reação anafilática (mediada ou não por IgE). A RTNHF causa um aumento

de temperatura corpórea de 1ºC ou mais, e ocorre durante ou até 4 horas após o

procedimento (GRIOT-WENK et. al, 1995; WARDROP, 2001). Muitas vezes ocorre

por anticorpos do receptor contra células brancas ou plaquetas do doador, mas como

esses anticorpos não são detectados na tipagem sanguínea e nem no teste de

compatibilidade, esse tipo de reação é difícil de evitar (GRIOT-WENK et. al,.1995).

Geralmente é autolimitante, mas pode ser tratada com antipirético. Como a

hipertermia também é sinal de reação hemolítica ou sepse, estas devem ser descartadas

para fechar diagnóstico ( KOHN; WEINGART, 2012).

A reação hemolítica tardia ocorre com a formação de aloanticorpos

aproximadamente de quatro a catorze dias pós transfusão, nestes casos usualmente o

paciente tem de estar imunizado por uma transfusão prévia ou gestação. (KOHN &

WEINGART, 2012)

As reações não imunológicas incluem reação hemolítica devido à solução

hipotônica no mesmo cateter que o sangue infundido, superaquecimento ou

congelamento da bolsa de sangue, sepse ou reação a drogas. Sobrecarga circulatória

que é em decorrência de uma transfusão muito rápida (até mesmo pequenas

quantidades), ou de quantidade excessiva de sangue (mesmo se administrada

vagarosamente) (FELDMAN; SINK, 2007). Os sinais e sintomas clínicos incluem

distrição respiratória, cianose, ortopnéia, edema pulmonar entre outros (TOCCI, 2010).

Distúrbios eletrolíticos, como hipocalcemia, devido à grande quantidade de

anticoagulante com citrato, que quela cálcio. Neste caso, o animal apresenta tremores,

taquicardia, arritmia cardíaca, febre e êmese. O citrato é rapidamente metabolizado pelo

fígado, por isso a probabilidade de intoxicação por citrato é baixa, podendo ocorrer com

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32  

 

maior frequência em animais com hepatopatias, em casos de transfusão rápida ou se a

proporção sangue anticoagulante estiver incorreta (GRIOT-WENK et. al,. 1995) .

O uso de sangue total ou concentrado de hemácias quando armazenado por um

período longo, pode resultar em hemólise e consequentemente na liberação de potássio.

Em animais com doença renal é aconselhável o uso de sangue fresco ou até 14 dias de

estocagem (KOHN ;WEINGART, 2012).

Quadro 5 - Classificação das reações transfusionais (KOHN ; WEINGART 2012).

Imunológicas Não Imunológicas

Agudas Anemia hemolítica aguda

(hemoglobinúria,

hemoglobinemia, febre,

vomito, taquicardia,

taquipnéia), urticária,

edema, febre por reação

não hemolítica e choque

anafilático.

Febre, vômito, distúrbios

eletrolíticos, hipocalcemia,

hipercalemia,hipomagnesemia,

aumento da concentração de

amônia,choque

endotóxico(sepse e

febre),sobrecarga

circulatória(tosse, dispnéia e

vômito, hipotermia

Tardias Reação hemolítica tardia,

imuno supressão.

Transmissão de agentes

infecciosos

2.14. TRATAMENTO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS

Durante a transfusão se houver suspeita de reação hemolítica aguda , é necessário

interromper imediatamente a transfusão, deve-se coletar amostras de urina e sangue para

avaliações hematológicas, bioquímicas e de coagulopatias. O soro e a urina devem ser

avaliados para verificar hemoglobinemia ou hemoglobinúria (KOHN ; WEINGART,

2012).

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33  

 

As reações severas com sinais de choque devem ser tratadas com fluidoterapia

intensa e glicocorticoide (succinato sódico de metilprednisolona 2,0 mg/kg, intravenoso,

dose única. Hipertermia pode ser tratada com resfriamento do paciente e antipirético

(dipirona sódica 20 mg/kg, bem devagar, por via intravenosa). Em caso de eritema ou

urticária deverá ser administrado anti-histamínico (difenidramina 20 mg/kg, via

intravenosa) e/ou dose antinflamatória de glicocorticoide (prednisolona 0,5 mg/kg).

Pacientes que apresentarem êmese deverão ser medicados com antieméticos.

(citrato de maropitant na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg) Se a reação retroceder e não houver

sinal de hemólise, a transfusão poderá reiniciar de forma mais lenta e o paciente deve

ser monitorado mais cuidadosamente. Em situações de choque anafilático é necessário o

uso de epinefrina na dose de 0,1 ml/kg intravenosa, a bradicardia pode ser tratada com

atropina na dose de 0,04 mg/kg intravenosa . Em situações de sobrecarga circulatória o

tratamento envolve a interrupção da transfusão, diurético e oxigênioterapia (TOCCI,

2010) .

O tratamento da intoxicação por citrato de sódio é parar imediatamente a

transfusão e administrar lentamente durante 10 a 20 minutos gluconato de cálcio 10%

na dose de 0,5-1,5 ml/kg (KOHN; WEINGART, 2012) .

2.15. ISOERITRÓLISE NEONATAL

A isoeritrólise neonatal (IN) é uma doença imunomediada genética que acomete

neonatos com sangue tipo A e AB, nascidos de mães com sangue tipo B e é

responsável por grande mortalidade dos filhotes (LITTLE , 2006) .

Fêmeas do tipo B secretam aloanticorpos anti-A em seu colostro. Após ser ingerido, os

anticorpos IgG são absorvidos no intestino dos neonatos nas primeiras 24 horas de vida

(SPARKES et. al ., 2000) .

Os anticorpos colostrais podem ser detectados no soro do neonato 4 horas após

seu nascimento (ANDREWS ; PENEDO, 2010). Dependendo do título de anticorpos

presente no sangue e no colostro da mãe e da quantidade absorvida pelo neonato, pode

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ocorrer anemia hemolítica e morte dos filhotes nos primeiros dois a três dias de

nascidos (SPARKES et. al . , 2000) .

Os sinais clínicos nos neonatos com IN são diversos tais como: hemoglobinemia,

hemoglobinúria, icterícia e bilirrubinúria (LITTLE, 2006).

Filhotes com sinais menos severos geralmente param de mamar e são

subdesenvolvidos. Os que sobrevivem por alguns dias, ou que apresentam sintomas

leves podem desenvolver necrose de cauda (EVANS, 1994). A necrose está associada à

ação do IgM frio, com hemoaglutinação, formação de coágulos e necrose isquêmica.

Em adultos, decorrente de outras etiologias, orelhas, patas, narinas, escroto e ponta da

cauda são sítios de ação das aglutininas frias, mas em neonatos, protegidos pelo calor do

corpo da mãe e porque as orelhas são dobradas contra a cabeça, estas partes não são

acometidas, consequentemente a ponta da cauda dos neonatos é a parte mais vulnerável

a ação da aglutinina (SILVESTRE-FERREIRA ; PASTOR, 2010 ).

A ocorrência da IN pode ser evitada em gatis fazendo previamente antes do

cruzamento a tipagem sanguínea dos animais tanto dos machos e das fêmeas, se ocorrer

o cruzamento pode separar os filhotes da mãe ao nascimento e estes serem alimentados

com sucedâneo do leite (LITTLE ,2006) .

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A medicina transfusional felina vem se desenvolvendo muito nos últimos anos

em consequência do aumento das enfermidades que causam anemia e coagulopatia

nesta espécie.

Uma transfusão segura se inicia desde a seleção adequada dos doadores com

exames de triagem abrangentes e protocolos anestésicos seguros até a minimização das

reações transfusionais no receptor.

O conhecimento dos tipos sanguíneos, a importância da realização da tipagem

sanguínea e teste de compatibilidade e a monitoração adequada do receptor durante o

procedimento é imprescindível para o sucesso da transfusão sanguínea.

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