METODO CARTOGRAFIA

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  • PISTAS DO MTODODA CARTOGRAFIA

    Pesquisa-interveno

    e produo de subjetividade

  • Apoio:

    UFRJ

    CONSELHO EDITORIALdo livro Pistas do mtodo da cartografia

    Maria Elizabeth Barros de Barros

    Universidade Federal do Esprito Santo, Departamento de Psicologia,Programa de Ps-Graduao em Psicologia Institucional.

    Maurcio Mangueira

    Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Psicologia,Programa de Ps-Graduao em Psicologia Social.

    Srgio Carvalho

    Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Medicina Preventiva,Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva.

    Tania Galli Fonseca

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul,Programas de Ps-Graduao em Psicologia Social e Institucional

    e de Informtica na Educao.

  • Orgs.

    Eduardo Passos

    Virgnia Kastrup

    Liliana da Escssia

    PISTAS DO MTODODA CARTOGRAFIA

    Pesquisa-interveno

    e produo de subjetividade

  • Autores, 2009

    Capa: Alexandre de Freitas, sobre litografia de Angelo MarzanoProjeto Grfico: FOSFOROGRFICO/Clo SbardelottoEditorao: Clo SbardelottoReviso: Patrcia Arago

    Editor: Luis Gomes

    Maio / 2010Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    Todos os direitos desta edio reservados

    EDITORA MERIDIONAL LTDA.

    Av. Osvaldo Aranha, 440 conj. 101CEP: 90035-190 Porto Alegre RSTel.: (51) 3311-4082 Fax: (51) [email protected]

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Bibliotecria responsvel: Denise Mari de Andrade Souza CRB 10/960

    P679 Pistas do mtodo da cartografia: Pesquisa-interveno e produode subjetividade / orgs. Eduardo Passos, Virgnia Kastrup eLiliana da Escssia. Porto Alegre: Sulina, 2010.207 p.

    ISBN: 978-85-205-0530-4

    1. Psicologia. 2. Psicanlise. 3. Filosofia. I. Passos, Eduardo.II. Kastrup, Virgnia. III. Escssia, Liliana da.

    CDD: 150CDD: 101 159.9 159.964.2

    1 reimpresso

  • SUMRIO

    Apresentao / 7Eduardo Passos, Virgnia Kastrup e Liliana da Escssia

    Pista 1A cartografia como mtodo de pesquisa-interveno / 17Eduardo Passos e Regina Benevides de Barros

    Pista 2O funcionamento da ateno no trabalho do cartgrafo / 32Virgnia Kastrup

    Pista 3Cartografar acompanhar processos / 52Laura Pozzana de Barros e Virgnia Kastrup

    Pista 4Movimentos-funes do dispositivo na prtica da cartografia / 76Virgnia Kastrup e Regina Benevides de Barros

    Pista 5O coletivo de foras como plano de experincia cartogrfica / 92Liliana da Escssia e Silvia Tedesco

    Pista 6Cartografia como dissoluo do ponto de vista do observador / 109Eduardo Passos e Andr do Eirado

    Pista 7Cartografar habitar um territrio existencial / 131Johnny Alvarez e Eduardo Passos

    Pista 8Por uma poltica da narratividade / 150Eduardo Passos e Regina Benevides de Barros

    Dirio de bordo de uma viagem-interveno / 172Regina Benevides de Barros e Eduardo Passos

    PosfcioSobre a formao do cartgrafo e o problema das polticas cognitivas / 201Eduardo Passos, Virgnia Kastrup e Liliana da Escssia

    Sobre os autores / 206

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  • 7APRESENTAO

    Nos anos 2005 a 2007 um grupo de professores e pesqui-sadores se reuniu uma vez por ms no Departamento de Psico-logia da Universidade Federal Fluminense e no Instituto de Psico-logia da Universidade Federal do Rio de Janeiro em seminrios depesquisa cujo objetivo foi a elaborao das pistas do mtodo dacartografia. Unidos pela afinidade terica com o pensamento deGilles Deleuze e Flix Guattari e por inquietaes relativas me-todologia de pesquisa, Eduardo Passos, Virgnia Kastrup, SilviaTedesco, Andr do Eirado, Regina Benevides, Auterives Maciel,Liliana da Escssia, Maria Helena Vasconcelos, Johnny Alvareze Laura Pozzana, bem como diversos alunos de graduao e ps-graduao apresentaram e discutiram ideias, criaram duplas detrabalho, escreveram textos e, num ambiente de parceria, realiza-ram um fecundo exerccio de construo coletiva do conhecimento.Definimos inicialmente que a cada encontro nos dedicaramos auma de dez pistas do mtodo da cartografia o que chamvamosde declogo do mtodo da cartografia. Foram trs anos de tra-balho. Em 2005 realizamos a primeira rodada de discusso. A cadaencontro uma dupla apresentava as ideias disparadoras do debate,visando coletivizao do esforo de sistematizao do mtodo.Em 2006 cada dupla apresentou um texto a ser discutido no gru-po. Muitos comentrios, crticas e ajustes propostos. Em 2007houve nova rodada de discusso, agora j trabalhando com os tex-tos revisados. As discusses versavam sobre questes terico-conceituais, buscavam a formulao adequada dos problemasmetodolgicos, envolveram a eliminao e o acrscimo de pistase concorreram para o desenho final que este livro assumiu1.

    1 Uma primeira verso das pistas do mtodo da cartografia foi apresentadano texto de Virgnia Kastrup: O mtodo da cartografia e os quatro nveis da

  • 8Investigando processos de produo de subjetividade, en-trvamos em um debate metodolgico que tradicionalmente seorganiza prioritariamente a partir da oposio entre mtodos depesquisa quantitativa e qualitativa. Os impasses metodolgicos somuitas vezes atribudos natureza da pesquisa qualitativa, querene grande parte das investigaes no campo dos estudos dasubjetividade. Argumenta-se que se a pesquisa quantitativa se ade-qua bem a frames e scripts preexistentes, como testes e questio-nrios padronizados, alm de contar com mtodos estatsticos esoftwares de ltima gerao que do a tranquilizadora imagemde sofisticao e exatido cientfica, o mesmo no ocorre com apesquisa qualitativa. Esta requer procedimentos mais abertos eao mesmo tempo mais inventivos. Por outro lado, a distinoentre pesquisa quantitativa e qualitativa, embora pertinente, sur-ge ainda insuficiente, j que os processos de produo da rea-lidade se expressam de mltiplas maneiras, cabendo a inclusode dados quantitativos e qualitativos. Pesquisas quantitativas equalitativas podem constituir prticas cartogrficas, desde quese proponham ao acompanhamento de processos. Para alm dadistino quantitativa-qualitativa restam em aberto impassesrelativos adequao entre a natureza do problema investigadoe as exigncias do mtodo. A questo como investigar proces-sos sem deix-los escapar por entre os dedos.

    Com esse desafio frente, nos movamos inicialmente porentre questes disparadoras: como estudar processos acompanhan-do movimentos, mais do que apreendendo estruturas e estados decoisas? Investigando processos, como lanar mo de um mtodoigualmente processual? Como assegurar, no plano dos processos,a sintonia entre objeto e mtodo? Desde o incio estvamos cien-tes de que a elaborao do mtodo da cartografia no poderialevar formulao de regras ou protocolos. Percebamos tambm

    pesquisa-interveno, publicado em Lcia Rabello de Castro e Vera Besset(Orgs.), Pesquisa-interveno na infncia e juventude (Rio de Janeiro, Nau,2008).

  • 9que nossas inquietaes estavam presentes na prtica diria demuitos de nossos colegas.

    Pesquisadores que investigam processos nas reas desade, educao, cognio, clnica, grupos e instituies, dentreoutros, enfrentam muitas vezes, na escrita de seus projetos, difi-culdades em dar conta do item consagrado ao mtodo. Como no-mear as estratgias empregadas na pesquisa, quando elas no seenquadram bem no modelo da cincia moderna, que recomendamtodos de representao de objetos preexistentes? Como encon-trar um mtodo de investigao que esteja em sintonia com ocarter processual da investigao? No que concerne chamadacoleta de dados, tal dificuldade muitas vezes contornada peloapelo noo de observao participante e s entrevistas semies-truturadas. Embora em certa medida conveniente, o vocabulrioimportado da pesquisa etnogrfica e das pesquisas qualitativas empsicologia e nas cincias humanas em geral parece, todavia, muitogenrico e longe de ser satisfatrio.

    Buscamos referncias no conceito de cartografia que apresentado por Gilles Deleuze e Flix Guattari na Introduo deMil Plats (Paris: Minuit, 1980; Rio de Janeiro: Editora 34, 1995).Na abertura do livro, os autores definem o projeto desta escrita adois: texto-agenciamento, livro-multiplicidade feito de diferentesdatas e velocidades. Qual a coerncia do livro? Qual a suaunidade? H uma clara recusa organizao que prpria de umlivro-raiz, livro que se estrutura como se fizesse o decalque doque quer tratar; que se aprofunda para desvelar a essncia do queinvestiga; que trata da realidade de seu objeto como se s pu-desse represent-la. Livro-raiz que se inocenta de qualquer com-promisso com a gnese da realidade, com o libi de represent-la(ou re-apresent-la) de maneira clara e formal. Mil Plats no sequer como imagem do mundo. A diversidade que matria dopensamento e carne do texto descrita, ento, como linhas quese condensam em estratos mais os menos duros, mais ou menossegmentados e em constante rearranjo como os abalos ssmicospela movimentao das placas tectnicas que compem a Terra.

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    Os mil plats se mantm lado a lado sem hierarquia e semtotalizao. Tal geologia filosfico-poltica convoca a uma deci-so metodolgica, ou melhor, a uma atitude (ethos da pesquisa)que opera no por unificao/totalizao, mas por subtrao donico, como na frmula do n-1. Menos o Uno. Menos o Todo, detal maneira que a realidade se apresenta como plano de composi-o de elementos heterogneos e de funo heterogentica: planode diferenas e plano do diferir frente ao qual o pensamento chamado menos a representar do que a acompanhar o engendra-mento daquilo que ele pensa. Eis, ento, o sentido da cartografia:acompanhamento de percursos, implicao em processos de pro-duo, conexo de redes ou rizomas.

    assim que Deleuze e Guattari designam sua Introduo:Rizoma. A cartografia surge como um princpio do rizoma queatesta, no pensamento, sua fora performtica, sua pragmtica:princpio inteiramente voltado para uma experimentao ancora-da no real (Deleuze e Guattari, 1995, p.21). Nesse mapa, justa-mente porque nele nada se decalca, no h um nico sentido paraa sua experimentao nem uma mesma entrada. So mltiplas asentradas em uma cartografia. A realidade cartografada se apre-senta como mapa mvel, de tal maneira que tudo aquilo que temaparncia de o mesmo no passa de um concentrado de signifi-cao, de saber e de poder, que pode por vezes ter a pretensoilegtima de ser centro de organizao do rizoma. Entretanto, orizoma no tem centro.

    Em um sistema acntrico, como conceber a direo me-todolgica? A metodologia, quando se impe como palavra deordem, define-se por regras previamente estabelecidas. Da o sen-tido tradicional de metodologia que est impresso na prpriaetimologia da palavra: met-hdos. Com essa direo, a pesquisa definida como um caminho (hdos) predeterminado pelas metasdadas de partida. Por sua vez, a cartografia prope uma reversometodolgica: transformar o met-hdos em hdos-met. Essareverso consiste numa aposta na experimentao do pensamento um mtodo no para ser aplicado, mas para ser experimentado e

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    assumido como atitude. Com isso no se abre mo do rigor, masesse ressignificado. O rigor do caminho, sua preciso, est maisprximo dos movimentos da vida ou da normatividade do vivo,de que fala Canguilhem. A preciso no tomada como exatido,mas como compromisso e interesse, como implicao na reali-dade, como interveno.

    Em 1982 Suely Rolnik agencia a vinda de Flix Guattariao Brasil. Essa visita foi a ocasio para um importante exercciocartogrfico. Os dois cartgrafos apontaram diferentes linhas decomposio da experincia macro e micropoltica brasileira. Noindicaram apenas os impasses e perigos que vivamos naquelesanos de finalizao da ditadura e de anncio do processo de de-mocratizao institucional, tendo como pano de fundo a ondaneoliberal e a globalizao capitalstica. Privilegiaram, sobretudo,as linhas flexveis e de fuga que indicavam germens potenciaispara a mudana: os movimentos negro, feminista, gay, a ReformaPsiquiatra brasileira, as mdias alternativas, a autonomizao dopartido dos trabalhadores. O mapa que foi traado a partir dasandanas de Guattari pelo Brasil indicava menos o que era do queo que estava em vias de ser. O mapa cartografava nossas mo-vimentaes micropolticas e dava pistas de como acompanharesses processos de ao minoritria. O livro-rizoma que da resul-tou (Micropoltica. Cartografias do desejo. Petrpolis: Vozes,1986) impactou verdadeiramente os que estavam ali participandoda tecedura daquelas redes.

    tambm no fim dos anos 1980 que Suely Rolnik apresen-ta 24 figuras-tipo do feminino que do pistas ao cartgrafo quequer acompanhar as mutaes do capitalismo em sua relao comas polticas de subjetivao. Suely faz uma Cartografia Sentimen-tal do mundo em que vivemos, tomando as noivinhas comopersonagens conceituais que em sua deriva histrica dos anos1950 aos 1980 expressam movimentos de mudana, alteraesdos regimes de afetabilidade, reconfiguraes micropolticas dodesejo. O trabalho de Suely Rolnik junto a Peter Pelbart e LuizOrlandi garantiram ao Ncleo de Estudos e Pesquisas da Subje-

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    tividade do Programa de Estudos Ps-Graduados em Psicologiada PUC/SP grande importncia na formulao das direes domtodo cartogrfico.

    No sul do Brasil, a pesquisa cartogrfica encontra impor-tante laboratrio. A condio de extremo sul deve ter favorecidoas experimentaes que desde o I Frum Social Mundial emPorto Alegre (2001) anunciaram o lema de uma nova esquerdainternacional: T Frum. L tambm Tnia Galli tem conduzido agrupalizao de pesquisadores interessados no modo de fazer dacartografia. O livro Cartografia e devires. A construo do pre-sente (Porto Alegre: UFRGS, 2003) afirmou problemas cruciaispara o campo da pesquisa nas cincias humanas: a) impossi-bilidade da transparncia do olhar do pesquisador e afirmaodo perspectivismo; b) crtica da separao entre sujeito e objetoe articulao do conhecimento com o desejo e implicao; c)recusa da atitude demonstrativa em nome do construtivismo en-tendido como experimentao de conceitos e novos dispositivosde interveno.

    Em Campinas, no Departamento de Medicina Preventivada UNICAMP, Srgio Carvalho e o grupo Conexes tm con-tribudo para a ampliao do debate cartogrfico no campo depesquisa das prticas de ateno e gesto em sade. O mesmoacontece em Sergipe, com o grupo Prosaico, do Departamento dePsicologia da UFS. O mtodo da cartografia se apresenta, assim,como alternativa importante para acompanhar o movimento dareforma sanitria brasileira e as lutas macro e micropolticas paraa produo de polticas pblicas no Brasil. Outros cartgrafos tmestendido esta aposta metodolgica no campo da sade pblica.

    Na Universidade Federal Fluminense e na UniversidadeFederal do Rio de Janeiro o grupo de pesquisa Cognio e Subje-tividade tomou o tema da cartografia como problema metodol-gico, surgido frente aos impasses experimentados no campo dosestudos da cognio. Em nosso percurso, partimos do problemaformulado no projeto de pesquisa A noo de subjetividade e a

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    superao do modelo da representao (CNPq, 95/96). Nessemomento, colocvamos em questo o pressuposto de que conhe-cer representar ou reconhecer a realidade. Configurava-se parans a importncia do binmio cognio/criao, o que nos exigiuinvestigar com mais detalhe a dimenso temporal dos processosde produo de conhecimento. Chegamos definio do conceitode cognio como criao, autopoiese (Humberto Maturana &Francisco Varela) ou enao (Francisco Varela). De acordo comtal perspectiva os polos da relao cognoscente (sujeito e objeto)so efeitos, e no condio da atividade cognitiva. Com o alar-gamento do conceito de cognio e sua inseparabilidade daideia de criao, a produo de conhecimento no encontrafundamentos num sujeito cognitivo prvio nem num supostomundo dado, mas configura, de maneira pragmtica e recproca,o si e o domnio cognitivo. Destituda de fundamentos invarian-tes, a prtica cognitiva engendra concretamente subjetividades emundos. A investigao da cognio criadora coloca ento oproblema do compromisso tico do ato cognitivo com a realidadecriada. Produo de conhecimento, produo de subjetividade.Eis que surge o problema metodolgico. Como estudar esse planode produo da realidade? Que mtodo nos permite acompanharesses processos de produo?

    Em vez de regras para serem aplicadas, propusemos aideia de pistas. Apresentamos pistas para nos guiar no trabalhoda pesquisa, sabendo que para acompanhar processos no pode-mos ter predeterminada de antemo a totalidade dos procedi-mentos metodolgicos. As pistas que guiam o cartgrafo so comoreferncias que concorrem para a manuteno de uma atitude deabertura ao que vai se produzindo e de calibragem do caminharno prprio percurso da pesquisa o hdos-met da pesquisa.

    Neste volume enumeramos oito pistas para a prtica domtodo da cartografia. H trinta anos, Guattari (O inconscientemaqunico. Ensaios de esquizoanlise. Campinas: Papirus, 1988[1979]) propunha os Oito princpios da esquizoanlise. Se o

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    primeiro princpio foi No impedir, isto , no atrapalhar osprocessos em curso, o ltimo recolocava as bases da enumeraoproposta, dizendo: Toda ideia de princpio deve ser consideradasuspeita. Era a ideia de princpio que se dissolvia na contundn-cia da aposta metodolgica de Guattari, fazendo com que no sepudesse esperar por uma garantia definitiva (tal como um funda-mento) para o trabalho da anlise. Neste volume enumeramos oitopistas para a prtica do mtodo da cartografia. Como destacouRegina Benevides, podemos dizer que mais do que a sintonia donmero 8, as pistas que propomos agora nortearam-se por umaatitude atenta ao que j em 1979 Guattari convocava.

    A apresentao das pistas no corresponde a uma ordemhierrquica. A leitura da primeira pista no pr-requisito para aleitura da segunda e assim sucessivamente. A organizao do livrocorresponde a um rizoma. O leitor pode iniciar pela pista que jul-gar mais conveniente ou interessante e ler as outras na sequnciaque lhe aprouver. Como no poderia deixar de ser, elas remetemumas s outras. Ainda como um rizoma, as pistas aqui apresenta-das no formam uma totalidade, mas um conjunto de linhas emconexo e de referncias, cujo objetivo desenvolver e coletivizara experincia do cartgrafo.

    A pista 1, A cartografia como mtodo de pesquisa-inter-veno, apresentada por Eduardo Passos e Regina Benevides.Baseada na contribuio da anlise institucional, discute a indis-sociabilidade entre o conhecimento e a transformao, tanto darealidade quanto do pesquisador.

    A pista 2 trabalhada por Virgnia Kastrup no texto Ofuncionamento da ateno no trabalho do cartgrafo. Criandouma interlocuo entre Freud, Bergson e a pragmtica fenome-nolgica, so definidos os quatro gestos da ateno cartogrfica: orastreio, o toque, o pouso e o reconhecimento atento.

    Na pista 3 Laura Pozzana e Virgnia Kastrup discutem aideia de que Cartografar acompanhar processos. Baseado numapesquisa sobre oficinas de leitura com crianas, o texto analisa a

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    distino entre a proposta da cincia moderna de representar obje-tos e a proposta da cartografia de acompanhar processos, alm deapresentar um exerccio da (re)inveno metodolgica nas entre-vistas com crianas.

    A pista 4 vem apresentada no texto de Virgnia Kastrup eRegina Benevides Movimentos-funes do dispositivo no m-todo da cartografia. As ideias de Foucault e Deleuze surgemmescladas com exemplos concretos extrados do campo da clni-ca e da pesquisa com deficientes visuais. So propostos trs mo-vimentos-funes: de referncia, de explicitao e de produo etransformao da realidade.

    A pista 5 foi escrita por Liliana da Escssia e SilviaTedesco. No texto O coletivo de foras como plano da experin-cia cartogrfica as autoras apontam, apoiadas sobretudo emGilbert Simondon e Gilles Deleuze, que ao lado dos contornosestveis do que denominamos formas, objetos ou sujeitos, coe-xiste o plano coletivo das foras que os produzem, alm de defi-nirem a cartografia como prtica de construo desse plano.

    A pista 6 apresentada por Eduardo Passos e Andr doEirado no texto Cartografia como dissoluo do ponto de vistado observador. O texto revela a preocupao em apontar que arecusa do objetivismo positivista no deve conduzir afirmaoda participao de interesses, crenas e juzos do pesquisador,concluindo que objetivismo e subjetivismo so duas faces damesma moeda.

    A pista 7, Cartografar habitar um territrio existen-cial, apresentada por Johnny Alvarez e Eduardo Passos. Pormeio do relato de uma pesquisa sobre o aprendizado da capoeira,o texto traz cena a importncia da imerso do cartgrafo noterritrio e seus signos.

    A pista 8 aborda o tema da escrita de textos de pesquisa.Eduardo Passos e Regina Benevides apresentam em Por uma pol-tica de narratividade a ideia de que a alterao metodolgica pro-posta pela cartografia exige uma mudana das prticas de narrar.

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    Encerrando a coletnea, o texto Dirio de bordo de umaviagem-interveno de Regina Benevides e Eduardo Passos apre-senta um exemplo vivo da construo coletiva de uma pesquisa.Usando uma troca de correspondncia durante uma viagem depesquisa-interveno, discutem a utilizao do hors-texte.

    Como um balano final do livro, um Posfcio discute a for-mao do cartgrafo e as polticas cognitivas do pesquisador, almde abrir novos problemas que continuam desafiando o pensamen-to e atentam para o rigor da pesquisa cartogrfica.

    Eduardo Passos,Virgnia Kastrup

    e Liliana da Escssia