Upload
rinamarques
View
222
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
A importância das metodogias de investigação em educação
Citation preview
Psicologia da Educação 2004/2005
1. Introdução
Este trabalho de reflexão realiza-se no âmbito da cadeira de Psicologia da
Educação, do segundo ano da Licenciatura em Ciências da Educação.
Conforme referimos no nosso ante-projecto (Anexo – I), entregue ao docente
da cadeira, o nosso grupo propõem-se a fazer uma reflexão aprofundada do filme
“Mentes Perigosas”, tendo como objectivo fazer uma análise da relação pedagógica
presente no mesmo. Procuraremos identificar os aspectos positivos e negativos de tal
relação, assim como adoptar um olhar crítico acerca da mesma, tentando verificar se
aquilo que acontece no filme poderá, ou não, transpor-se para o real, assim como as suas
implicações. A partir da visualização do filme e das questões levantadas acerca dele
procuraremos estabelecer uma relação com as questões levantadas durante as aulas
práticas. Sendo assim, nesta reflexão, iremos executar aquilo que nos propusemos no
ante-projecto.
O nosso grupo escolheu o filme “Mentes Perigosas”, como mencionamos
no ante-projecto, pois este retrata os constrangimentos pedagógicos que os professores e
os alunos/as têm de enfrentar; diferentes situações que nos transportam para várias
realidades presentes na escola; e, a nosso entender, este é pertinente para abordarmos as
questões da relação pedagógica.
Neste trabalho começaremos por fazer uma breve distinção entre relação
pedagógica e relação educativa, seguidamente, iremos caracterizar a relação pedagógica
existente no filme, tendo em conta as dimensões que lhe estão inerentes.
Posteriormente, iremos elaborar uma breve reflexão critica acerca da mesma.
Reflexão de Grupo 1
Psicologia da Educação 2004/2005
2. Relação Pedagógica e Relação Educativa: Que distinção?
Na sua origem etimológica, o termo “relação”, de acordo com aquilo que
refere Maria Teresa Estrela (1992), deriva do latim relatio, onis e pode significar:
narração, relato de inventos, conexão, ligação, contacto; comércio, trato, frequentação e,
ainda, conhecimento. A autora, ainda, salienta que ao acrescentarmos o adjectivo
“pedagógica” ao termo relação esta poderá significar: uma relação parental, amical ou
conjugal. Assim sendo, para a autora a relação pedagógica «é o contacto interpessoal
que se gera entre os intervenientes de uma situação pedagógica e o resultado desses
contactos» (Estrela, 1992: 31). Podemos também afirmar que a relação pedagógica é o
conjunto de relações educativas que ocorrem dentro do contexto escolar.
Mas, quando falamos em relação pedagógica não podemos esquecer o
conjunto de constrangimentos que esta tem subjacente, na medida em que esta não pode
ser pensada somente na relação professor/a – aluno/a, mas também na dimensão do
saber. A forma como o/a professor/a mantém a relação com o/a aluno/a e com o saber
não depende das suas características pessoais, mas sim da forma como o/a professor/a
decide expor o saber, isto é, depende das suas opções epistemológicas e pedagógicas.
Por relação educativa entendemos todas as relações que temos com os/as
outros/as, (catequese, escuteiros, grupos de jovens, actividades desportivas,...), e que
visam promover uma outra visão do mundo.
A nosso entender, achamos pertinente fazermos esta breve distinção entre
relação pedagógica e relação educativa, pois a relação educativa engloba a relação
pedagógica e é mais ampla que esta. Na medida em que, a relação pedagógica ocorre
dentro do contexto escolar e tem sempre presente a dimensão do saber, e uma relação
educativa pode também ser pedagógica, por exemplo quando um pai ou uma mãe se
torna professor/a para ajudar um/a filho/a.
Reflexão de Grupo 2
Psicologia da Educação 2004/2005
3. Mentes Perigosas: Que Relação Pedagógica?
“Mentes Perigosas” é um filme que nos permite chegar a uma visão acerca
das relações que se vão construindo no âmbito da sala de aula. No entanto não estamos
a falar de uma relação qualquer, estamos a falar de uma relação pedagógica que ocorre
entre professor/a – aluno/a dentro de uma determinada sala de aula e dentro de um
determinado contexto escolar. Isto porque a relação pedagógica não pode ser vista como
algo que é homogéneo, uma vez que ela não depende apenas das características pessoais
do/a professor/a, mas também das opções epistemológicas e pedagógicas dos mesmos.
Os/as docentes devem ter em conta o que está por trás dessas opções:
- Constrangimentos da escola;
- Constrangimentos do mundo em criança vive.
Assim, à medida que descrevemos e discutimos o filme, vamos abordando a
relação pedagógica tendo em conta as diferentes dimensões assim como certos aspectos
que achamos pertinentes relativos a esta relação.
3.1. Dimensões que Permitem Abordar e Configurar a Relação
Pedagógica
Neste capítulo iremos discutir o filme, tendo em conta as dimensões da
relação pedagógica. Podemos distinguir, a dimensão do conflito, do afecto, da ajuda e
de autoridade.
3.1.1. Dimensão do conflito
Na nossa perspectiva esta é uma dimensão inevitável, pois todos/as os/as
actores e actoras do contexto escolar pensam de forma diferente. O conflito é inerente,
incontornável. No filme que visualizamos, esta dimensão está presente desde início, isto
Reflexão de Grupo 3
Psicologia da Educação 2004/2005
porque a turma dos/as alunos/as especiais, confinada à professora, caracterizam-se, a
nosso entender, por terem interesses distintos, poderes diferentes, experiências e saberes
diversos, bem como posicionamentos sócio-culturais diversos na e face à escola.
Todos/as os/as alunos/as da turma em questão eram provenientes de classes
sociais mais desfavorecidas, tinham problemas familiares,...e muitos outros
constrangimentos que não lhes permitiam “olhar” para a escola como um “bem”
necessário, mas como uma obrigação ou um passatempo. Por outro lado, a instituição
escolar do filme, não demostra flexibilidade relativamente às turmas e aos/às alunos/as,
impondo regras rígidas e incontornáveis que estes deveriam sempre cumprir. Os/as
alunos/as desta turma específica, não entravam em conformidade com estas regras, e
«(...) a falta de motivação dos/as alunos/as podem originar situações de frustração e de
descontentamento que se expressam através da agressividade, da fuga ao trabalho ou
da apatia. Esse mal-estar pode voltar-se contra os/as colegas ou contra o/a
professor/a» (Estrela, 1992:48). Na primeira aula esses aspectos negativos são
demonstrados pelos/as discentes em questão, mas Louanne, após um momento de
tensão, volta no dia seguinte com algumas estratégias que poderão facilitar a
comunicação entre ela e os/as jovens/as que ali se encontravam sem qualquer
predisposição para aprender. Mas a dimensão de conflito, não se pauta apenas por uma
conotação negativa; as correntes mais inovadoras salientam que este factor (o conflito) é
decisivo, no qual a sua superação constitui o momento pedagógico. No filme, a
professora tenta intervir na relação que os/as jovens têm com a escola, no momento em
que propõe uma visita aos/às alunos/as, supostamente paga pelo Conselho Directivo.
Reflexão de Grupo 4
Psicologia da Educação 2004/2005
3.1.2. Dimensão de Ajuda
Esta dimensão baseia-se na definição de estratégias que visam facilitar a
comunicação entre professor/a – aluno/a e alunos/as entre si.
Em «Mentes Perigosas», Louanne, a professora, após a aula de apresentação
à turma, que não correu muito bem, tenta definir algumas estratégias de forma a cativar
a atenção dos/as alunos/as. Em casa, pesquisa alguns livros, acerca de Disciplina
Agressiva, e no dia seguinte adopta um novo visual de forma a captar a atenção dos/as
jovens. A comunicação foi estabelecida na segunda aula, através de uma pequena
demonstração de Karaté, por parte da docente, e com o passar do tempo pudemos
observar que a professora procurou estar “sempre presente” quando os/as seus/suas
alunos/as tinham problemas. Por exemplo, quando o seu aluno, Emílio, precisava de se
esconder porque estava a ser perseguido por um traficante de droga que o queria matar,
a professora disponibilizou a sua casa para este poder se esconder. Um outro caso onde
está presente a dimensão de ajuda no filme é quando a professora paga a dívida a outro
seu aluno, o Raúl, e diz-lhe que a única forma de ele a pagar é acabar o Ensino
Secundário.
Assim sendo, verificamos que a professora tenta, ao longo de todo o filme,
estabelecer interacções, que proporcionem o desenvolvimento de uma relação positiva,
e a mudança de comportamento dos/as alunos/as: «toda a interacção provoca
necessariamente alguma mudança nos indivíduos envolvidos, no domínio dos
conhecimentos, dos sentimentos ou dos comportamentos. Muitas interacções, aliás, são
empreendidas precisamente porque alguém está interessado em mudar alguma coisa
em si próprio ou em outrem» (Ribeiro, (s/d): 139).
Reflexão de Grupo 5
Psicologia da Educação 2004/2005
3.1.3. Dimensão da Autoridade
Esta dimensão supõe a existência de uma relação de poder, isto é, o exercício
de um processo de influência sobre a outra pessoa. A relação pedagógica supõe, sempre,
uma relação de poder, na medida em que se constitui uma relação em que se espera que
o/a professor/a possa influenciar, a vários níveis, um/a aluno/a.
No filme que analisamos, também está presente esta dimensão, na medida
em que a professora por mais que procure estabelecer laços afectivos com os/as
alunos/as; ajudá-los/as nos seus problemas pessoais, por exemplo: quando uma das
alunas engravida e pensa em mudar para uma escola que “ensina a ser mãe” e ela tenta
convencê-la a ficar porque ela tem possibilidades de acabar o secundário com bom
aproveitamento; ou quando ela “esconde” o Emílio em sua casa para que este não seja
assassinado; ou quando paga o casaco ao aluno,.... ela, a professora, não deixa de ser um
elemento com bastante poder dentro da sala de aula.
É a professora que avalia, que define aquilo que os/as alunos/as têm de
aprender, por exemplo: no segundo dia de aulas a professora diz que é fuzileira dos
EUA e ensina Karaté aos alunos, mas já no terceiro dia chega à sala de aula e escreve no
quadro: «Vamos conjugar verbos», podemos verificar que a autoridade que a professora
possui é que lhe permite ”impor” aquilo que os/as alunos/as têm de fazer e aprender.
A autoridade da professora confere-lhe, igualmente, poder para decidir quais
as recompensas dos/as alunos/as: como pudemos observar, inicialmente, a professora dá
chocolates aos/às alunos/as quando estes/as respondem acertadamente acerca dos
verbos, para estimular a sua atenção, mas passado algum tempo ela deixa de dar
chocolates, dizendo-lhes que o maior prémio para eles/as era aprender. Constatamos,
então, que, «o seu poder perante o aluno é ainda reforçado pela capacidade que tem de
recompensar ou punir e pela sua suposta competência» (Ribeiro, (s/d): 145).
Reflexão de Grupo 6
Psicologia da Educação 2004/2005
A dimensão da autoridade também poderá ser utilizada para promover outra
dimensão, designada por agrado ou afecto, que vamos abordar seguidamente, isto
porque «nem todas as relações interpessoais, porém, se inspiram na “metáfora do
poder”. A atracção interpessoal, que tende a reduzir a distância, conduz
frequentemente a uma relação de agrado, a que corresponde a “metáfora da
imediação”» (Ribeiro, (s/d): 151).
3.1.4. Dimensão do Agrado ou do Afecto
A dimensão do agrado diz respeito à dinâmica de atracção interpessoal que
tende a reduzir o distanciamento entre os actores envolvidos na relação pedagógica,
dando origem a situações de maior intimidade.
Esta dimensão, tal como as anteriores, está presente no filme quando a
professora vai a casa do seu aluno Raúl para falar com os pais dele e dizer-lhes que ele é
um bom aluno (divertido, expressivo, um dos alunos preferidos) e que acha que ele
consegue acabar o Secundário, basta ele estar predisposto para tal. Outra situação onde
está presente esta dimensão é no jantar que ela oferece como recompensa ao concurso
Dylan – Dylan, relacionado com uma pesquisa na biblioteca. Nesse jantar, a professora
tomou conhecimento que o casaco que o Raúl tinha comprado para vestir nessa noite, o
faria faltar durante alguns dias às aulas, pois este teria de arranjar dinheiro para o pagar.
Mas, Louanne preferiu ajudá-lo, pagando a sua dívida, só para que este não faltasse às
aulas, dizendo-lhe, igualmente, que a melhor maneira deste a pagar era estudar para
completar o Secundário. Através destes dois exemplos, podemos verificar a redução do
distanciamento entre a professora e o aluno.
Reflexão de Grupo 7
Psicologia da Educação 2004/2005
Até agora, através das dimensões que temos vindo a referir, fomos
descrevendo o filme de forma a podermos caracterizar, de certo modo, a relação
pedagógica presente.
3.2. As “adversidades” Presentes na Escola
Neste pequeno capítulo pretendemos aprofundar certos aspectos do filme
que já têm vindo a ser abordados ao longo de toda a reflexão, como os constrangimentos
do mundo em que a criança vive e os constrangimentos da escola, e ao mesmo tempo
mostrar como a professora em questão procurou ultrapassar os obstáculos que se lhe
iam colocando.
No filme, a actriz Michelle Pfeiffer encarna o papel da professora Louanne
Jonhson que é convidada para ensinar alunos “jovens, inteligentes, especiais,
energéticos e apaixonados”1. No primeiro contacto com os seus novos alunos a Louanne
deparou-se com uma turma constituída por alunos/as de etnias diferentes, que se
revelavam problemáticos/as, com fracos rendimentos escolares e muito
indisciplinados/as. A sala de aula apresentava-se desorganizada, barulhenta, e os/as
alunos/as utilizavam uma linguagem de bairro. Era um ambiente que, desde logo, se
mostrou intimidante para a professora.
Estes/as alunos/as tinham problemas sociais devido à sua origem e ao meio
em que viviam. Os pais eram pessoas com poucas habilitações literárias, de classe social
baixa, muitos deles desempregados com muitos/as filhos/as para sustentar. Alguns
deles/as tinham de trabalhar para ajudar em casa como é o caso da Callie e de outros/as
alunos/as. Deste modo, o meio social destes/as alunos/as acaba por ser um
constrangimento que afecta a forma como eles/as vêem e interessam-se pela escola e,
consequentemente, a relação pedagógica que se estabelece entre os professores/as e
1 Citação do guião do filme “Mentes Perigosas”
Reflexão de Grupo 8
Psicologia da Educação 2004/2005
os/as alunos/as. Os/as alunos/as recusavam-se a aprender e consequentemente
desenvolviam uma cultura “contra-escolar”2, no sentido de impedir que o/a professor/a
pudesse agir sobre eles/as e estabelecer uma relação pedagógica com eles/as «muitos
problemas dos educadores, na família e na escola, situam-se ao nível da relação com o
educando (...) o acto educativo efectua-se através de uma relação interpessoal»
(Ribeiro, s/d: 135). Os/as alunos/as não pareciam estar preocupados/as em manter uma
relação com a professora chegando mesmo a ignorar a sua presença na sala de aula.
Assim, a professora previu desde logo, uma grande dificuldade em estabelecer uma
relação com estes/as alunos/as, pois eles demonstravam uma resistência à escola e
àquilo que ela lhes procurava transmitir.
Neste sentido a professora decidiu adoptar uma postura e uma atitude com o
objectivo de cativar e ser aceite pelos/as alunos/as e, deste modo, estabelecer uma
relação com eles/as, «toda a interacção provoca necessariamente alguma mudança nos
indivíduos envolvidos, no domínio dos conhecimentos, dos sentimentos ou dos
comportamentos. Muitas interacções, aliás, são empreendidas precisamente porque
alguém está interessado em mudar alguma coisa em si próprio ou em outrem, em
alguns desses domínios» (Ribeiro, s/d: 139). Assim, Louanne leu livros sobre disciplina
agressiva e procurou adaptar-se ao mundo dos/as seus/suas alunos/as: largou as roupas
convencionais, vestiu roupas de cabedal, adoptou uma postura muito próxima à dos
seus/suas alunos/as e não procurou estabelecer «um processo de comunicação do tipo
sedução persuasão. Neste modo de comunicação as interacções provenientes do
professor são dominantes (tempo e uso da palavra superior ao dos alunos) e o
professor ajusta pouco o seu discurso ao dos alunos» (Altet, 1994: 69). Ou seja, ao
contrário disto a professora procurou estabelecer uma relação com os/as alunos/as de
forma a entrar no mundo deles/as e, assim, poder estar mais próxima deles/as «o
2 conceito retirado de uma das obra de Paul Willis
Reflexão de Grupo 9
Psicologia da Educação 2004/2005
professor adapta-se mais ao aluno, mas é ainda uma transacção com vista a perseguir
o objectivo definido pelo professor» (Altet, 1994: 71). Por exemplo, Louanne para
ensinar os verbos e ensinar os/as alunos/as a interpretarem os poemas recorreu a
palavras e temas, como por exemplo a morte, que chamassem a atenção e suscitasse o
interesse dos/as seus/suas alunos/as.
Com vista a conseguir que os seus alunos/as modificassem a sua maneira de
pensar e agir e que, consequentemente, pudessem aprender, Louanne recorreu algumas
técnicas que o comportamentalismo enuncia. Apesar deste não ter em conta alguns
aspectos, que na nossa opinião são importantes, como não reflectir sobre os sentidos dos
comportamentos, o que leva que determinado comportamento aconteça, preocupando-se
apenas com aquilo o que observa e, assim, em modificar esses aspectos, há algumas
técnicas as quais podemos recorrer para tentar atingir alguns dos nossos fins. A
professora tentou encontrar resposta adequadas à população existente na turma. Deste
modo, ela teve em conta a especificidade dos/as seus/as alunos, com o objectivo de
modificar os seus comportamentos e despoletar algum interesse pela matéria e os temas
a serem leccionados.
Anteriormente, outros/as professores/as não tinham tido êxito e não
conseguiam alterar o ambiente da sala de aula de desorganização, de uma anarquia
completa para um clima harmonioso onde pudesse proporcionar boas condições de
trabalho e, como tal, viram-se obrigados a desistir.
Primeiramente, para chamar atenção dos/as alunos/as ela usou a estratégia de
custo de resposta, «que consiste na retirada de reforços previamente adquiridos, como
consequência pela realização de um comportamento indesejável»3, pois Louanne disse
aos/às alunos/as que “a partir de agora todos têm vinte, depende de vocês em manterem
esse vinte”. Alguns/algumas alunos/as ficaram desde logo entusiasmados/as, pois nunca
3 Citação retirada e um texto fornecido na aula teórica pelo professor o qual não tem ano nem autor.
Reflexão de Grupo 10
Psicologia da Educação 2004/2005
tinham tido um vinte na vida deles/as, no entanto, outros mostravam-se resistentes em
acreditar que isso fosse verdade. Louanne decidiu, também, para reforçar os
comportamentos adequados dos/as alunos/as, oferecer chocolates após a emissão de
respostas adequadas. Esta estratégia mostrou-se eficaz porque, aos poucos e poucos, ela
conseguiu que os seus alunos e alunas se entusiasmassem mais pelo o que ela estava a
ensinar. Estas estratégias eram acompanhadas por outras como a estratégia de reforço
social em que a finalidade é “promover o aumento dos comportamentos adequados ou
pretendidos através da emissão de respostas socialmente compensadoras”4. Por
exemplo, quando um/a aluno/a dá uma resposta adequada ela diz logo que está muito
bem e para continuar assim. Também estabeleceu alguns acordos, com o objectivo de
envolver de forma explícita os/as alunos/as no processo de negociação relativamente
aos comportamentos pretendidos como se eles/as participassem nas aulas de poesia,
poderiam ir a uma visita de estudo. Assim, neste método de ensino os/as alunas lutam
por uma recompensa que lhes proporcione agrado e satisfação.
Apesar destas técnicas se mostrarem eficazes é preciso ter em conta que elas
podem levar a desenvolver no/a aluno/a uma dependência em relação à recompensa que
poderão receber. Ou seja o/a aluno/a age apenas porque sabe que vai ter alguma coisa
em troca e na ausência dessa recompensa ele/a pode deixar de efectuar os
comportamentos. No filme, a professora estava sempre a dar coisas em troca para
estimular os/as alunos/as e quando ela deixou de o fazer houve logo uma reacção por
parte destes/as que lhes perguntavam o que iam receber em troca ao que ela respondeu
“aprender”. Neste momento os/as alunos/as podiam ter perdido a vontade de aprender
mas não aconteceu, isto porque ela procurou construir, desde cedo, uma relação de
proximidade com eles/as o que acabou por lhes chamar a atenção e despertar o interesse
por aquilo que ela ia ensinando.
4 Conceito retirado de um dos acetatos apresentados durante a aula teórica de Psicologia da Educação
Reflexão de Grupo 11
Psicologia da Educação 2004/2005
A escola também nada faz para ajudar estes/as alunos/as e limitando-se a
pô-los/as de lado em relação aos/às outros/as. Os/as alunos/as considerados/as
problemáticos estavam todos numa só turma enquanto que os/as outros que não eram
considerados tão problemáticos estavam em turmas diferentes o que dificultou a acção
da professora Louanne que ficou com a turma dos/as jovens problemáticos/as.
Devido a isto ela não poderia utilizar uma técnica tradicional de ensino ou
seja chegar à escola e expor a matéria. Para isso ela adoptou técnicas e estratégias
diferentes para poder captar atenção dos/as alunos/as, como referimos anteriormente.
Contudo as ideias e formas que ela foi encontrando para conseguir aproximar-se dos/as
alunos/as e procurar incutir-lhes algo, estavam sempre a ser postas em causa pela escola
e pelo director da mesma que não achava pedagógico que ensinasse Karaté aos/às
alunos/as, distribuísse chocolates ou então que os levasse a dar passeios. Ou seja a
escola estava sempre a pôr em causa aquilo o que ela fazia não tendo em conta que tudo
o que Louanne realizava estava a originar bons resultados.
A própria escola encarregava-se de não dar atenção às necessidades dos/as
seus/suas alunos/as acabando, em certas situações por os/as excluir. Por exemplo as
raparigas que ficavam grávidas eram reencaminhadas para uma espécie de escola que as
ia ensinar tudo o que fosse preciso para quando fossem mães. Louanne não concordava
com esta ideia e achava absurdo que a escola as pusesse de lado desta maneira.
Outro problema era ao nível do material disponível na escola nas salas de
aula, pois a escola não disponibilizava muito material, papel, lápis e canetas, para que
os/as professores/as pudessem usar. É de relembrar a cena em que o professor de
história corrigia os testes com um lápis porque não havia canetas.
Deste modo, a própria escola acaba por colocar alguns constrangimentos às
relações que se estabelecem lá o que pode condicionar a relação pedagógica. No caso do
Reflexão de Grupo 12
Psicologia da Educação 2004/2005
filme, a acção da professora era posta em causa não tendo qualquer apoio por parte da
instituição.
4. O Saber no Seio da Relação Pedagógica
Inicialmente, a relação que se estabelece entre a professora e os alunos e as
alunas desenvolve-se em função dos interesses e das necessidades dos/as mesmos/as. A
professor/a aproxima-se como alguém que é capaz de respeitar a natureza e o processo
de desenvolvimento do/a aluno/a, tendo o saber um papel secundário. A partir do
momento que a professora constatou que o interesse dos/as alunos/as estava a aumentar,
começou a solicitar a participação destes/as, a estimulá-los/as e a apresentar situações –
problema.
À medida que Louanne ia estabelecendo uma maior relação de proximidade
com os/as alunos/as, começou a “tirar” partido disso, ou seja, começou a valorizar
gradualmente os saberes e a procura-los transmiti-los. O saber começou ter um papel
também importante, no entanto, não era o fundamental. Ao longo do filme pode-se
constatar que a relação não se centrava apenas nos/as alunos/as ou apenas no saber, mas
procurava ter em conta o saber, a relação professora – alunos/as e a relação alunos/as –
alunos/as. Ou seja, a nosso entender, estabelece-se uma relação em torno de todos estes
aspectos não havendo a valorização de um aspecto em particular. Como está
subentendido ao longo de toda a nossa reflexão.
5. Um Olhar Crítico Sobre a Relação Pedagógica em “Mentes Perigosas”
Nesta reflexão não poderíamos deixar de estabelecer um olhar crítico acerca
da problemática em questão. Inicialmente, se visualizássemos o filme sem termos em
Reflexão de Grupo 13
Psicologia da Educação 2004/2005
conta os conhecimentos que adquirimos na cadeira de Psicologia da Educação iríamos
considerar que a situação vivenciada no filme poderia ser transposta para o real. Ou
seja, poderia ser adoptada em situações semelhantes que se vivenciam no quotidiano
escolar. No entanto, ao longo do ano fomos adquirindo conhecimentos, através das
aulas de Psicologia da Educação que nos permitiram desenvolver um olhar crítico
acerca daquilo que acontece no filme. Deste modo, pretendemos mostrar, neste capítulo,
que apesar do filme nos dar uma visão bastante positiva temos de ter em conta que isso
pode não acontecer na realidade de uma escola com as mesmas características. Pois, o
sucesso dos/as alunos/as não depende exclusivamente do/a professor/a, mas da
envolvência de todos os elementos de uma comunidade educativa e das políticas
educativas implementadas. Ao mesmo tempo vamos procurar enunciar os aspectos
positivos e negativos inerentes ao filme.
Um dos primeiros constrangimentos que iríamos ter, se quiséssemos aplicar
o que acontece no filme à realidade, era ao nível da escola e das políticas educativas
implementadas, que embora já tenham em consideração o “olhar” pelo diferente,
continuam a desvalorizar de forma continuada as diferenças presentes na escola.
Enquanto no filme a professora tem consciência das diferenças que existem na sala de
aula e procura adaptar-se, de forma a poder ajudar os/as alunos/as, na realidade isto
seria difícil de acontecer pois ainda é preciso haver uma grande “consciencialização”5
por parte de muitos professores/as. Na maior parte das vezes acção dos/as professores/as
depende da escola, pois nem sempre ela apoia os/as professores/as como acontece no
filme. Contudo, no filme, a professora conseguia desenvolver as suas estratégias
pedagógicas, mesmo estas não sendo aceites pela própria escola, pois ela sempre
acreditou, ao contrário da escola (o director), que os/as seus/suas alunos/as tinham
capacidades que podiam ser desenvolvidas. Outro aspecto que achamos importante tem
5 Termo utilizado por Paulo Freire quando fala acerca das escolas
Reflexão de Grupo 14
Psicologia da Educação 2004/2005
haver com a disponibilidade que Louanne tinha com os/as seus/suas alunos/as, mesmo
quando estava fora do seu espaço de trabalho dedicando muito do seu tempo a estes/as,
procurando inteirar-se com os problemas, ser um apoio e poder ajudar os mesmos.
Apesar de ser positivo, uma vez que a professora procura estar em contacto com a
realidade deles/as, pode também ser negativo, pois há uma grande interferência por
parte da professora na vida pessoal dos/as alunos/as. Um dos exemplos que podemos
tirar do filme é quando dois dos alunos se envolveram numa luta e ela interferiu, o que
não foi aceite por estes. A visão dada pelo filme é muito positiva, no entanto, na
realidade isto nunca ou raramente acontece, pois as relações professor/a – aluno/a
tendem a ser caracterizadas por um certo distanciamento. Como alunos/as que
estudamos e continuamos a estudar, vivenciamos ocasiões marcadas por este
distanciamento, principalmente quando havia alunos/as que tinham dificuldades ou que
estavam afastados da escola e, os/as professores/as, nada faziam para procurar ajuda-
los/as ou chamar atenção deles/as.
No filme, a professora procura compreender os/as alunos/as, aproximar-se
deles/as e, assim, ajuda-los/as recorrendo a várias estratégias para estimular os/as
alunos/as como os reforços sociais, a “técnica” do custo resposta, que embora pudessem
se tornar negativos, com o tempo, ela soube gerir estas estratégias tendo acabado por
alcançar os seus objectivos.
Assim, com base naquilo o que temos vindo a referir a relação presente no
filme dificilmente seria transponível para a realidade sendo, para nós, um pouco
utópica, no entanto, não podemos vê-la como sendo impossível de ser executada.
Reflexão de Grupo 15
Psicologia da Educação 2004/2005
6. Conclusão
Com a realização deste trabalho concluímos que o êxito da relação
pedagógica não depende apenas do/a professor/a ou do/a aluno/a, mas de ambos os
elementos, na medida em que os/as professores/as podem ser os/as “andaimadores/as”
da aquisição de saberes pelos/as alunos/as, e, consequentemente, estes/as têm a função
de “aproveitar” o apoio que os/as professores/as lhes oferecem.
Reflexão de Grupo 16
Psicologia da Educação 2004/2005
A partir do trabalho, chegamos também à conclusão que a reflexão sobre a
relação pedagógica é importante, pois existem certos aspectos que têm de ser tidos em
conta, tais como, a forma como o professor/a ensina; as relações interpessoais que se
estabelecem, … para que estes possam ser melhorados e/ou transformados. Temos de
ter em consideração que caminhamos para sociedades que se vão modificando e,
consequentemente, para escolas que também se vão modificando no seio dessas
sociedades. Logo, é necessário que haja um debate e uma reflexão coerente acerca da
relação pedagógica, pois esta não pode ser neutra às mudanças.
Reflexão de Grupo 17
Psicologia da Educação 2004/2005
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTET, Marguerite (1994) Análise das Práticas dos Professores e das Situações Pedagógicas. Colecção das Ciências da Educação. Porto: Porto Editora.
ESTRELA, Maria Teresa (1992) Relação Pedagógica, Disciplina e Indisciplina na aula. Colecção Ciências da Educação. Porto: Porto Editora. pp. 29-66.
RIBEIRO, Agostinho (s/d) “Relação Educativa” in Psicologia do Desenvolvimento e Educação de Jovens, Campos, Bártolo Paiva (coord.). Universidades Aberta, vol. 1, pp 134-159.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
FERNANDES, Rui Eduardo Trindade (1995) As escolas do 1º ciclo do ensino básico
como espaços de formação pessoal e social : contributo para uma reflexão. Porto:
FPCEUP.
Reflexão de Grupo 18