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2 ANÁLISE DA DEMANDA Em microeconomia, considera-se a demanda, como a quantidade de um bem ou serviço que um consumidor deseja e está disposto e apto a adquirir por determinado preço e em determinado momento. Neste contexto a teoria da demanda busca explicar, fundamentalmente, o comportamento de um consumidor, tomado individualmente como, por exemplo, um sujeito interessado na compra de um determinado produto ou serviço. Por sua vez, pode-se considerar que a demanda é condicionada por diversos fatores, como por exemplo a preferência do consumidor, o seu poder de compra, os preços dos outros bens, tanto os bens substitutos como dos complementares e sua renda. Esses são os conceitos que vamos detalhar nesse capítulo. 2.1 Demanda A demanda ou procura pode ser definida como a quantidade de um determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado período de tempo a um determinado preço, mantidas constantes todas as outras variáveis (coeteris paribus). A partir dessa definição, três elementos podem ser destacados: a demanda é uma aspiração, um desejo e não a realização deste. Ela é um anseio de comprar (um bem, um serviço) e a realização dele se dá pela compra do bem desejado. Logo, não se pode confundir demanda (ou procura) com compra; para que haja demanda por um bem (ou serviço) é preciso que o indivíduo esteja capacitado a pagar por ele. Em outras palavras, é preciso que tenha renda que lhe permita 1

Microeconomia_2

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2 ANÁLISE DA DEMANDA

Em microeconomia, considera-se a demanda, como a quantidade de um bem ou

serviço que um consumidor deseja e está disposto e apto a adquirir por determinado preço e

em determinado momento. Neste contexto a teoria da demanda busca explicar,

fundamentalmente, o comportamento de um consumidor, tomado individualmente como, por

exemplo, um sujeito interessado na compra de um determinado produto ou serviço.

Por sua vez, pode-se considerar que a demanda é condicionada por diversos fatores,

como por exemplo a preferência do consumidor, o seu poder de compra, os preços dos

outros bens, tanto os bens substitutos como dos complementares e sua renda. Esses são

os conceitos que vamos detalhar nesse capítulo.

2.1 Demanda

A demanda ou procura pode ser definida como a quantidade de um determinado

bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado período de tempo a

um determinado preço, mantidas constantes todas as outras variáveis (coeteris paribus).

A partir dessa definição, três elementos podem ser destacados:

a demanda é uma aspiração, um desejo e não a realização deste. Ela é um

anseio de comprar (um bem, um serviço) e a realização dele se dá pela compra

do bem desejado. Logo, não se pode confundir demanda (ou procura) com

compra;

para que haja demanda por um bem (ou serviço) é preciso que o indivíduo esteja

capacitado a pagar por ele. Em outras palavras, é preciso que tenha renda que

lhe permita participar do mercado desse bem. Na realidade, nem todo desejo do

consumidor se manifesta no mercado sob a forma de demanda. O anseio de um

consumidor comprar um bem somente influirá no preço de mercado desse bem

se tal desejo puder ser traduzido em uma demanda monetária para o bem em

questão. Assim, podemos afirmar que em economia, demanda significa desejo

apoiado por dinheiro suficiente para comprar o bem desejado. Como exemplo,

podemos citar as inúmeras pessoas que desejam comprar um carro importado,

porém, com certeza, poucas têm os recursos necessários para efetivamente

adquirir este tipo de bem;

1

Page 2: Microeconomia_2

a demanda é um fluxo por unidade de tempo, ou seja, devemos expressar a

procura por uma determinada quantidade em um certo período de tempo. Assim,

se dissermos que João deseja adquirir 20 litros de leite e que essa é sua procura,

estaremos incorrendo em erro, uma vez que não teremos especificado a unidade

de tempo em que João deseja comprar os litros de leite (se por dia, semana,

mês, ano, ou qualquer outra unidade de tempo). Para que a informação esteja

válida é preciso que se diga que João deseja adquirir 20 litros de leite por mês

(ou qualquer outra unidade de tempo) sendo esta, então, a sua procura de leite.

O estudo da demanda está alicerçado no conceito de utilidade. Utilidade é a

qualidade que os bens econômicos possuem de satisfazer as necessidades humanas. Esta

utilidade difere de consumidor para consumidor, uma vez que está baseada em aspectos

psicológicos ou preferências. Como esta utilidade visa satisfazer necessidades humanas,

elas têm que apresentar algum valor. A utilidade é um conceito subjetivo, pois considera que

o valor nasce da relação homem com os bens e/ou serviços.

2.2 Elementos que influenciam a demanda dos consumidores

Feitas estas observações, devemos identificar quais os elementos que influenciam a

demanda do consumidor por um determinado bem ou serviço. Dentre os diversos fatores, os

economistas costumam destacar os seguintes: o preço do bem, a renda do consumidor, o

gosto e preferência do consumidor, e o preço dos bens relacionados.

Não podemos negar que a quantidade demandada (procurada) de um bem é

influenciada por seu preço. Normalmente é de se esperar que quanto maior for o valor de

um bem, menor deverá ser a quantidade que o consumidor desejará adquirir desse bem;

alternativamente, quanto menor for o preço, maior deverá ser a quantidade que o

consumidor poderá obter desse bem. Quantas vezes você ficou só no anseio de comprar

um bem, mas não pode ser classificado na demanda dele por não possuir recursos

financeiros para adquiri-lo?

Da mesma forma, pode-se esperar que para a maioria dos bens, uma elevação da

renda do consumidor esteja associada a uma elevação das quantidades compradas. Essa é

a regra geral, e os bens que têm essa particularidade são chamados bens normais. Os

exemplos incluem a maioria dos alimentos, roupas, aparelhos de som ou domésticos. É

comum vermos uma pessoa ao receber aumento salarial pensar “agora vai sobrar um

pouquinho para eu poder comprar mais roupas” ou algo similar.

A demanda de um determinado bem ou serviço também depende dos hábitos e

preferências do consumidor. Estes, por sua vez, dependem de uma série de circunstâncias 2

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tais como idade, sexo, tradições culturais, religião e até educação. Mudanças nesses

hábitos e preferências podem provocar alterações na demanda desse bem. A moda esta ai

para comprovar essa afirmação.

Além disso, a demanda de um produto pode ser afetada pela variação no preço de

outros bens. Isso ocorre em relação aos denominados bens complementares e bens

substitutos. Bens complementares são aqueles que tendem a aumentar a satisfação do

consumidor quando utilizados em conjunto. Neste caso, a elevação no preço de um deles

produz uma redução na demanda de outro, e uma diminuição no preço gera um aumento na

demanda do outro. É no caso, por exemplo, do pão e da manteiga. Assim, um aumento no

preço do pão tende a reduzir a demanda de manteiga. Devemos observar que a

complementaridade pode ser técnica, caso da caneta tinteiro e tinta, automóvel e

combustível, ou psicológica, tal como restaurante com música.

Os bens substitutos (também denominados de concorrentes), por sua vez, são

aqueles cujo consumo de um pode substituir de outro. Nesse caso haverá uma relação

direta entre o preço de um e a demanda do outro bem. Em outras palavras, uma elevação

do preço de um bem produzirá aumento na demanda do outro bem (e uma redução no

preço de um provocará redução na demanda do outro). A manteiga e a margarina, ao que

parece, enquadram-se nessa classificação. Assim, um aumento no preço da manteiga

deverá elevar a demanda de margarina (e uma diminuição no preço da manteiga deverá

diminuir a demanda de margarina). Outros exemplos de bens substitutos seriam leite em pó

e leite fresco, carne de frango e carne bovina entre outros.

Além dos bens já citados, existem ainda os bens de giffen. Em economia, um bem

de giffen é um produto para o qual um aumento do preço faz aumentar a sua demanda.

Este comportamento é diferente do da maioria dos produtos, que são mais procurados à

medida que seu preço cai.

Um exemplo constante de Bem de Giffen é o pão, assim como outros produtos

básicos. Uma elevação moderada dos preços de pão pode levar a um maior consumo de

pão, principalmente em famílias pobres, pois não há outro bem barato e acessível capaz de

substituir o pão em sua dieta. Desta forma maiores gastos com pão levariam a uma redução

do consumo de outros produtos alimentícios, o que obrigaria os mais pobres a consumir

mais pão para sobreviver. Vamos analisar outro exemplo. Suponha que Andrea, Francisco,

Débora e Marcelo moram no bairro da Pavuna, cidade do Rio de Janeiro, e trabalham como

ajudantes em uma lanchonete no bairro de Ipanema (os quatro percorrem diariamente o

trajeto casa-trabalho de ônibus). Pode-se considerar a passagem de ônibus como um bem

inferior, em comparação a outras modalidades de transporte mais rápidas e cômodas.

Supondo, então, que ocorra, por algum motivo, uma redução substancial na passagem de 3

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ônibus, pode-se admitir que os quatro amigos sentir-se-ão mais ricos, na medida em que

suas respectivas rendas disponíveis (renda após o gasto obrigatório com a condução diária)

aumentaram de forma significativa. Passam, a partir de então, a dividir o custo de corridas

de táxi duas vezes por semana (ida nas segundas-feiras e volta nas sextas-feiras), ou seja:

uma queda de preço provocou uma queda na quantidade demandada de passagens de

ônibus. Essa classe de bens recebe esse nome em homenagem a Sir Robert Giffen, que

foi citado no século XIX por Alfred Marshall como o criador da ideia.

Em termos microeconômicos, a elasticidade-preço da demanda por Bens de Giffen é

positiva e, por consequência, sua curva de demanda é crescente. Outra repercussão

microeconômica é que seu efeito renda é maior que o efeito substituição. Um exemplo de

Bem de Giffen é o pão, assim como outros produtos básicos. Uma elevação moderada dos

preços de pão pode levar a um maior consumo de pão, principalmente em famílias pobres,

pois não há outro bem barato e acessível capaz de substituir o pão em sua dieta. Dessa

forma, maiores gastos com pão levariam a uma redução do consumo de outros produtos

alimentícios, o que obrigaria os mais pobres a consumir mais pão para sobreviver.

2.3 A demanda e as expectativas sobre preços, rendas ou disponibilidade

As expectativas que as pessoas têm em relação ao futuro de seus rendimentos e em

relação ao comportamento dos preços também exercem papel fundamental na demanda por

bens e serviços. Assim, se um consumidor acredita que, no futuro, terá um aumento

substancial em seus rendimentos, poderá estar disposto a gastar mais hoje do que uma

pessoa que acredita que virá a ter um rendimento bem menor no futuro. Da mesma forma,

se o consumidor acredita que os preços irão aumentar no futuro próximo, pode crescer a

demanda corrente de bens estocáveis, prevenindo-se assim de eventuais dilatação de

preços.

2.4 Curva de Demanda

A curva de demanda revela as preferências dos consumidores, sob a hipótese de

que estão maximizando sua utilidade, ou seja, estão dando o mais alto grau de satisfação

no consumo daquele produto.

No exemplo da curva abaixo podemos verificar que para cada nível de preços as

pessoas estão dispostas a adquirir determinadas quantidades de bens, onde quanto menor

o preço mais produtos elas estarão dispostas a adquirir. A curva de demanda inclina-se de

cima para baixo, no sentido da esquerda para a direita, tendo uma inclinação negativa,

4

Page 5: Microeconomia_2

devido à inversibilidade da relação preço quantidade demandada. A figura 2.1 mostra esse

comportamento.

Resumindo:

Figura 2.1: Gráfico da curva de demanda.

Fonte: Ferguson, 1999.

2.5 Função Demanda

5

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A curva de demanda especifica a relação existente entre o preço de um bem e sua

quantidade demandada. Ou seja, para cada alteração no nível de preço haverá um

deslocamento ao longo da curva, de modo que a quantidade demandada também se

modifique. Entretanto, existem variáveis que provocam o deslocamento da curva da

demanda. A função de demanda permite que se entenda de que forma a quantidade

demandada de um bem se relaciona com determinadas variáveis independentes. O uso da

função de demanda possibilita que sejam feitas estimativas da quantidade de demanda a

partir do conhecimento das variáveis independentes (variáveis explicativas). Vejamos o

exemplo abaixo.

A função de demanda por pares de sapato fabricados por uma determinada empresa

foi estimada em QD = 5.000 + 10Y – 5P , onde Y é a renda em unidades monetárias ($) e P

é o preço do bem em $.

Determinar:

(a) a quantidade demandada de pares de sapato se a renda for de $2.000 e o preço

do par de $100.

(b) a quantidade demandada de pares de sapato se a renda for de $4.000 e o preço

do par de $100.

(c) a quantidade demandada de pares de sapato se a renda for de $4.000 e o preço

do par de $200.

Solução:

(a) = 5.000 + (10 x 2.000) – (5 x 100) = 24.500 unidades.

(b) = 5.000 + (10 x 4.000) – (5 x 100) = 44.500 unidades.

(c) = 5.000 + (10 x 4.000) – (5 x 200) = 44.000 unidades.

2.6 Variação de demanda e variação na quantidade demandada

É importante distinguir variações da demanda e variações na quantidade

demandada. A variação de demanda caracteriza-se pelo deslocamento da curva da

demanda, devido a alterações nos preço dos outros bens ou serviços ou renda do

consumidor. Por exemplo, sendo um bem normal, ocorrerá um aumento da demanda

(mantidos os preços constantes, o consumidor poderá comprar mais). A figura 2.2 apresenta

a variação de demanda.

6

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Figura 2.2: Variação de demanda

Fonte: dados do autor.

A variação na quantidade demandada caracteriza-se pelo movimento que ocorre

ao longo da própria curva de demanda, devido a variação do preço do próprio bem ou

serviço, mantendo as demais variáveis constantes (coeteris paribus). A figura 2.3 apresenta

a variação na quantidade demandada.

7

Page 8: Microeconomia_2

Figura 2.4: Variação na quantidade demandada

Fonte: dados do autor.

2.7 Elasticidade

A elasticidade é a alteração percentual em uma variável, dada uma variação

percentual em outra. É sinônimo de sensibilidade, resposta, reação de uma variável, em

face de mudanças em outras variáveis. Na teoria econômica, o termo elasticidade significa

a mesma coisa. Na realidade, a elasticidade mostra quão sensíveis são os consumidores

de um produto X (ou seus produtores), quando o seu preço sofre uma variação para mais ou

para menos. Em outras palavras, a elasticidade serve para medir a reação – grande ou

pequena – desses consumidores (ou de seus produtores) diante de uma variação do preço

do produto X. Neste caso, teríamos a chamada elasticidade-preço da procura ou da

demanda (ou, no caso dos produtores, a elasticidade-preço da oferta) por este produto. O

mesmo raciocínio poderia ser aplicado em relação a uma variação na renda real dos

consumidores. Neste caso, estaríamos medindo o quanto a demanda pelo bem X é sensível

a uma variação na renda dos consumidores – e teríamos, então, a chamada elasticidade

renda. Mas, não vamos misturar as coisas. Vamos, primeiro, nos fixar no conceito de

elasticidade preço da procura. Depois analisaremos a questão da elasticidade renda e por

fim a elasticidade cruzada da procura.

2.7.1 Elasticidade preço da demanda – Epd

É fácil constatar que as pessoas reagem com intensidade diferente diante de

variações dos preços dos diferentes produtos. Se o sal sobe de preço, as pessoas não vão

deixar de comprá-lo por causa disso e, provavelmente, nem vão reduzir a quantidade que

costumam comprar desse produto – já que o sal é essencial para elas. Também e por

razões diferentes, as pessoas não devem reagir muito a um aumento no preço de uma bala

e, aqui, isso se explicaria pelo fato de que o preço da bala é muito baixo e não afeta o bolso

do consumidor. De outra parte, porém, se produtos como automóveis, ou passagens aéreas

e outros, subirem de preço, é bastante provável que sua demanda se reduza

significativamente.

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Com esses exemplos, podemos ver que a reação das pessoas a uma variação do

preço de um produto depende muito do tipo de produto. Em alguns casos, a reação pode

ser muito grande, em outros, pequena e em uns poucos casos nem reação há. E note-se

que é importante – para os produtores/vendedores, principalmente – saber se o consumidor

do produto X reage muito ou pouco a uma variação – aumento ou redução – do seu preço,

pois isso vai ajudar o produtor a estabelecer um preço “ótimo” para seu produto – ou seja,

um preço onde sua receita pode ser máxima. E para conhecer a elasticidade-preço da

demanda pelo produto X é preciso calculá-la. É o que vamos fazer a seguir.

Medição numérica da Elasticidade preço da demanda:

Epd = Variação % da quantidade demandada

Variação % no preço

ou

q1 – q0

qo Epd = p1 – p 0

po

ou ainda:

Epd = dqa (derivada parcial da quantidade em função do preço).

dpa

Onde:

Epd = Elasticidade preço da demanda

q0 = quantidade no período inicial;

q1 = quantidade no período final;

p0 = preço inicial;

p1 = preço final.

Interpretação

Epd > 1 DEMANDA ELÁSTICA. Uma variação % no preço provoca uma variação %

maior na quantidade demandada, ou seja, a expansão relativa das quantidades procuradas

é mais do que proporcional à redução relativa dos preços.

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Page 10: Microeconomia_2

Epd = 1 DEMANDA COM ELASTICIDADE UNITÁRIA. Uma variação % no preço

resulta em uma variação % igual na quantidade demandada, ou seja, a expansão relativa

das quantidades procuradas é rigorosamente proporcional à redução relativa dos preços.

Epd < 1 DEMANDA INELÁSTICA. Uma variação % no preço resulta numa variação

% menor na quantidade demandada, ou seja, a expansão relativa das quantidades

procuradas é menos do que proporcional à redução relativa dos preços.

Epd = 0 DEMANDA PERFEITAMENTE INELÁSTICA. Um aumento de preço deixa a

quantidade demandada inalterada.

O conhecimento da elasticidade da demanda por um bem ou serviço é de vital

importância para a tomada de decisão dos produtores, isto porque, dependendo da

elasticidade, a receita obtida na venda do bem ou serviço pode ser profundamente afetada

por variações de preços.

Como foi visto, se a demanda por um bem ou serviço for inelástica, variações de

preço gerarão variações menos intensas na quantidade demandada. Neste sentido, uma

elevação de preço de 10%, por exemplo, acarretará uma redução na demanda de menos de

10%. Como a receita total é dada pelo preço unitário vezes a quantidade vendida, no caso

de demanda inelástica haverá uma elevação na receita total. Um exemplo clássico de uma

situação desse tipo foi àquela vivida pelos países produtores de petróleo na época do

primeiro choque de preços de 1973: como a demanda mundial por petróleo era

relativamente inelástica naquele momento, pois o mundo dependia quase que

exclusivamente do óleo como fonte de energia, a elevação dos preços internacionais do

petróleo trouxe um acréscimo impressionante de receita para os países produtores,

enriquecendo de maneira rápida países que eram até então relativamente pobres.

Se, por outro lado, a demanda for elástica, as reações da demanda a variações no

preço serão proporcionalmente maiores. Assim, uma elevação no preço acarretará uma

contração da demanda proporcionalmente maior, o que reduzirá a receita total. Reduções

de preço terão impacto inverso sobre a receita total, elevando-a. Fica claro, portanto, que o

conhecimento da elasticidade de demanda é fundamental para que não se tomem medidas

cujos resultados serão opostos aos planejados.

Vejamos um exemplo. Quando o preço do leite que é de R$ 2,00 e passa para R$

2,20, diminui a quantidade demandada de 100 litros para 85 litros por mês. Determine o

coeficiente de elasticidade.

Epd = Elasticidade preço da demanda

q0 = 100

10

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q1 = 85

p0 = 2,00

p1 = 2,20

Epd = 85 – 100 / 100

2,20 – 2,00 / 2,00

Epd = – 0,15 / 0,1

Epd = 1,5

Neste exemplo, a elasticidade preço da demanda é igual a 1,5. Por que ignoramos o

sinal negativo da elasticidade preço da demanda? A lei da demanda dita que o preço e a

quantidade de um bem se movem em direções opostas; então a variação percentual na

quantidade demandada terá sempre o sinal oposto (+ ou –) da variação percentual no preço

(– ou +) . Em nosso exemplo, uma variação percentual de + 10% no preço do bem resulta

em uma variação de – 15% em sua quantidade demandada. Logo a elasticidade preço da

demanda sempre será negativa. Entretanto o que importa é a magnitude dessa elasticidade,

se maior do que a unidade (elástica) e se menor do que a unidade (inelástica).

2.7.2 Fatores que influenciam a magnitude da elasticidade-preço

Mas, afinal de contas, o que leva um produto a ter uma demanda elástica ou

inelástica? Ou como identificar, sem necessidade de fazer cálculos, um produto de demanda

elástica ou inelástica? Embora rigorosamente só se possa afirmar que a demanda do

produto X é elástica ou não em relação a variações em seu preço a partir de uma pesquisa

específica, os produtos possuem certas características que nos permitem concluir a priori se

eles são mais ou menos elásticos a variações em seu preço, a saber:

essencialidade do produto – parece claro que quanto maior o grau de utilidade

ou de essencialidade do produto para o consumidor, menos elástica (ou seja,

mais inelástica) tende a ser sua demanda. De fato, se o produto é essencial para

o consumidor, aumentos em seu preço reduzirão pouco ou quase nada suas

compras. Da mesma forma, reduções de preço desses produtos não deverão

provocar aumentos em suas compras, pois o consumidor tende a comprar um

certa quantidade – digamos, fixa – dos mesmos. É o que ocorre, geralmente, com

os bens de primeira necessidade, como alimentos, serviços de saúde ou de

educação – que sabidamente têm demanda inelástica ao preço. De outra parte,

11

Page 12: Microeconomia_2

produtos supérfluos, para o consumidor, como jóias e perfumes, tendem a ter

demanda elástica a preço;

quantidade de substitutos – também parece inquestionável a afirmação de que,

se o produto tiver muitos substitutos próximos, um aumento de seu preço deve

estimular o consumidor a mudar de produto, reduzindo, portanto, a demanda

daquele cujo preço se elevou (se o preço do Palio se elevar, o consumidor

tenderá a substituí-lo por Gol 1000, ou por um Fiesta). Ou seja, quanto mais

substitutos houver para um produto X, mais elástica a preço será sua demanda.

Obviamente, o contrário ocorre na hipótese de o produto não ter substitutos

próximos (como é o caso do sal). Nesta hipótese, mesmo ocorrendo um aumento

do preço do produto, o consumidor tenderá a continuar adquirindo a mesma

quantidade de antes, por simples falta de opção – o que torna sua demanda

inelástica a preço;

peso no orçamento do consumidor – quanto menor for o preço do produto,

menos ele pesará no bolso do consumidor, como é o caso da caixa de fósforos.

Assim, aumentos no preço de um produto “barato”, tendem a não alterar a

demanda daquele produto, como seria o caso se o preço da caixa de fósforos

passasse de 20 centavos para 30 centavos (um aumento de 50%!). Nesta

hipótese, a demanda desses produtos ditos “baratos” tende a ser inelástica a

preço, ocorrendo o contrário no caso dos produtos mais caros, como carros de

luxo e jóias.

2.7.3 Elasticidade renda da demanda – Erd

O estudo da influência da elasticidade sobre um produto, quando se varia a renda

real do consumidor, chama-se elasticidade-renda. Mede a sensibilidade da demanda, em

face de mudanças na renda. A fórmula é definida do seguinte modo:

Erd = Variação % da quantidade demandada

Variação % na renda

ou

q1 – q0

qo Erd = r1 – r0

ro

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Page 13: Microeconomia_2

ou ainda:

Epd = dR (derivada parcial da renda em função do preço).

dp

Onde:

Erd = Elasticidade preço da demanda;

q0 = quantidade no período inicial;

q1 = quantidade no período final;

r0 = renda inicial;

r1 = renda final.

Interpretação

Erd < 1 BENS NORMAIS. Um aumento na renda do consumidor aumenta a

quantidade demandada do bem ou serviço considerado. Exemplo: a maioria dos alimentos,

roupas, aparelhos de som, aparelhos domésticos entre outros.

Erd = 0 BENS DE CONSUMO SACIADO. O consumo não se altera quando a renda

aumenta. A quantidade adquirida do bem se mantém constante, independentemente de

variações no nível de renda. Exemplo: alguns produtos de higiene pessoal como o sabonete

e o creme dental.

Erd < 0 BENS INFERIORES. Uma elevação na renda, traz como consequência, uma

queda na quantidade demandada. Assim, a elasticidade-renda é negativa.

Erd > 1 BENS SUPERIORES. São conhecidos também como bens de luxo ou

supérfluos. São altamente elásticos em relação à renda, porque cada 1% de aumento na

renda, aumenta as quantidades compradas em mais de 1%. Exemplos: jóias, casacos de

peles, limusines, aulas de mergulho; possuem alta elasticidade-renda.

2.7.4 Elasticidade cruzada da demanda – Exy

A elasticidade-preço cruzada da demanda mede a variação percentual na quantidade

demandada de um bem X, resultante da variação percentual no preço do bem Y. A fórmula

é conceituada da seguinte maneira:

Exy = Variação % da quantidade demandada X

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Page 14: Microeconomia_2

Variação % no preço Y

ou

qx1 – qx0

qxo Exy =

py1 – py0

pyo

ou ainda:

Exy = dqx (derivada parcial da quantidade de um bem X em função do preço do bem

Y).

dpy

Onde:

Exy = Elasticidade-preço cruzada da demanda

qx1 = quantidade final do bem x;

qx0 = quantidade inicial do bem x;

py1 = preço final do bem y;

py0 = preço inicial do bem x.

Interpretação

Exy > 0 BENS SUBSTITUTOS. A quantidade demandada de X se move na mesma

direção que uma variação no preço de Y. Então X e Y são bens substitutos.

Exy < 0 BENS COMPLEMENTARES. O aumento no preço de um produto diminui a

demanda pelo outro, ou seja, X e Y “se movem juntos”. Os bens são complementares.

Exy = 0 BENS INDEPENDENTES. Os dois produtos são não-relacionados. Os bens

X e Y são independentes.

Autoestudo

1. Um trabalhador ganha mensalmente R$ 1.200,00 e adquire 10 unidades no bem A. Em

função de acordo coletivo de trabalho, sua renda mensal passa para R$ 1.400,00 o que lhe

permite gastar 30 unidades no bem A. Qual é a Elasticidade renda da demanda e o que ela

nos mostra? Construa o gráfico correspondente.

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Page 15: Microeconomia_2

2. Um restaurante serve diariamente 80 refeições ao preço de R$ 7,50 o buffet. Como o

inverno foi rigoroso, alguns hortifrutigranjeiros aumentaram de preço. Com isso, o dono do

restaurante decidiu aumentar o preço da refeição em 20%, o que ocasionou uma demanda

de 70 refeições/dia. Determine a Elasticidade preço da demanda, interprete

economicamente o resultado encontrado e construa o respectivo gráfico.

3. Quando o preço do Bem A passa de R$ 8 para R$ 6, a quantidade do bem B passa de 96

para 80 unidades. Qual é a Elasticidade cruzada da demanda e que relações existem entre

A e B ?

4. Ao aumentar o preço da tarifa por um determinado serviço de R$ 8,00 para R$10,00, uma

rede bancária observou uma queda na demanda, que era de 20 serviços prestados por dia,

para 12. Nestas circunstâncias, pede-se:

a) Construa uma tabela e um gráfico demonstrando a situação:

b) Qual a elasticidade preço-demanda e qual o seu tipo?

6. Dada à função Q = 1.600 - 20p, pede-se:

a) A quantidade demandada quando o preço é de R$ 32,00

b) A quantidade demanda diante de uma alteração no preço para R$ 31,80

c) Construa uma tabela e um gráfico demonstrando a situação.

d) Encontre o coeficiente e o tipo de elasticidade para esta alteração de preço.

Referências comentadas

CABRAL, Arnoldo Souza; YONEYAMA, Takashi. Microeconomia: uma visão integrada

para empreendedores. São Paulo: Saraiva, 2008.

Ao abordar a microeconomia a partir de um quadro conceitual amplo e integral,

realista e prático, este livro identifica e transmite aos leitores o entendimento de problemas e

fatores que afetam o sucesso dos agentes econômicos mais atuantes em uma economia:

consumidores, empresários, governos e mercados. A obra apresenta uma visão integrada

do tema, por meio dos conceitos fundamentais, da análise de cenários típicos do mercado e

dos métodos quantitativos essenciais para tomada de decisão.

Referências

PINDYCK, Robert S. & RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. São Paulo: Makron Books,

2006. 15

Page 16: Microeconomia_2

FERGUSON, Charles E. Microeconomia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999.

VASCONCELLOS, M. A et ali. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2003.

WESSELS, Walter J. Economia. São Paulo: Saraiva, 2003.

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