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2 ANÁLISE DA DEMANDA
Em microeconomia, considera-se a demanda, como a quantidade de um bem ou
serviço que um consumidor deseja e está disposto e apto a adquirir por determinado preço e
em determinado momento. Neste contexto a teoria da demanda busca explicar,
fundamentalmente, o comportamento de um consumidor, tomado individualmente como, por
exemplo, um sujeito interessado na compra de um determinado produto ou serviço.
Por sua vez, pode-se considerar que a demanda é condicionada por diversos fatores,
como por exemplo a preferência do consumidor, o seu poder de compra, os preços dos
outros bens, tanto os bens substitutos como dos complementares e sua renda. Esses são
os conceitos que vamos detalhar nesse capítulo.
2.1 Demanda
A demanda ou procura pode ser definida como a quantidade de um determinado
bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado período de tempo a
um determinado preço, mantidas constantes todas as outras variáveis (coeteris paribus).
A partir dessa definição, três elementos podem ser destacados:
a demanda é uma aspiração, um desejo e não a realização deste. Ela é um
anseio de comprar (um bem, um serviço) e a realização dele se dá pela compra
do bem desejado. Logo, não se pode confundir demanda (ou procura) com
compra;
para que haja demanda por um bem (ou serviço) é preciso que o indivíduo esteja
capacitado a pagar por ele. Em outras palavras, é preciso que tenha renda que
lhe permita participar do mercado desse bem. Na realidade, nem todo desejo do
consumidor se manifesta no mercado sob a forma de demanda. O anseio de um
consumidor comprar um bem somente influirá no preço de mercado desse bem
se tal desejo puder ser traduzido em uma demanda monetária para o bem em
questão. Assim, podemos afirmar que em economia, demanda significa desejo
apoiado por dinheiro suficiente para comprar o bem desejado. Como exemplo,
podemos citar as inúmeras pessoas que desejam comprar um carro importado,
porém, com certeza, poucas têm os recursos necessários para efetivamente
adquirir este tipo de bem;
1
a demanda é um fluxo por unidade de tempo, ou seja, devemos expressar a
procura por uma determinada quantidade em um certo período de tempo. Assim,
se dissermos que João deseja adquirir 20 litros de leite e que essa é sua procura,
estaremos incorrendo em erro, uma vez que não teremos especificado a unidade
de tempo em que João deseja comprar os litros de leite (se por dia, semana,
mês, ano, ou qualquer outra unidade de tempo). Para que a informação esteja
válida é preciso que se diga que João deseja adquirir 20 litros de leite por mês
(ou qualquer outra unidade de tempo) sendo esta, então, a sua procura de leite.
O estudo da demanda está alicerçado no conceito de utilidade. Utilidade é a
qualidade que os bens econômicos possuem de satisfazer as necessidades humanas. Esta
utilidade difere de consumidor para consumidor, uma vez que está baseada em aspectos
psicológicos ou preferências. Como esta utilidade visa satisfazer necessidades humanas,
elas têm que apresentar algum valor. A utilidade é um conceito subjetivo, pois considera que
o valor nasce da relação homem com os bens e/ou serviços.
2.2 Elementos que influenciam a demanda dos consumidores
Feitas estas observações, devemos identificar quais os elementos que influenciam a
demanda do consumidor por um determinado bem ou serviço. Dentre os diversos fatores, os
economistas costumam destacar os seguintes: o preço do bem, a renda do consumidor, o
gosto e preferência do consumidor, e o preço dos bens relacionados.
Não podemos negar que a quantidade demandada (procurada) de um bem é
influenciada por seu preço. Normalmente é de se esperar que quanto maior for o valor de
um bem, menor deverá ser a quantidade que o consumidor desejará adquirir desse bem;
alternativamente, quanto menor for o preço, maior deverá ser a quantidade que o
consumidor poderá obter desse bem. Quantas vezes você ficou só no anseio de comprar
um bem, mas não pode ser classificado na demanda dele por não possuir recursos
financeiros para adquiri-lo?
Da mesma forma, pode-se esperar que para a maioria dos bens, uma elevação da
renda do consumidor esteja associada a uma elevação das quantidades compradas. Essa é
a regra geral, e os bens que têm essa particularidade são chamados bens normais. Os
exemplos incluem a maioria dos alimentos, roupas, aparelhos de som ou domésticos. É
comum vermos uma pessoa ao receber aumento salarial pensar “agora vai sobrar um
pouquinho para eu poder comprar mais roupas” ou algo similar.
A demanda de um determinado bem ou serviço também depende dos hábitos e
preferências do consumidor. Estes, por sua vez, dependem de uma série de circunstâncias 2
tais como idade, sexo, tradições culturais, religião e até educação. Mudanças nesses
hábitos e preferências podem provocar alterações na demanda desse bem. A moda esta ai
para comprovar essa afirmação.
Além disso, a demanda de um produto pode ser afetada pela variação no preço de
outros bens. Isso ocorre em relação aos denominados bens complementares e bens
substitutos. Bens complementares são aqueles que tendem a aumentar a satisfação do
consumidor quando utilizados em conjunto. Neste caso, a elevação no preço de um deles
produz uma redução na demanda de outro, e uma diminuição no preço gera um aumento na
demanda do outro. É no caso, por exemplo, do pão e da manteiga. Assim, um aumento no
preço do pão tende a reduzir a demanda de manteiga. Devemos observar que a
complementaridade pode ser técnica, caso da caneta tinteiro e tinta, automóvel e
combustível, ou psicológica, tal como restaurante com música.
Os bens substitutos (também denominados de concorrentes), por sua vez, são
aqueles cujo consumo de um pode substituir de outro. Nesse caso haverá uma relação
direta entre o preço de um e a demanda do outro bem. Em outras palavras, uma elevação
do preço de um bem produzirá aumento na demanda do outro bem (e uma redução no
preço de um provocará redução na demanda do outro). A manteiga e a margarina, ao que
parece, enquadram-se nessa classificação. Assim, um aumento no preço da manteiga
deverá elevar a demanda de margarina (e uma diminuição no preço da manteiga deverá
diminuir a demanda de margarina). Outros exemplos de bens substitutos seriam leite em pó
e leite fresco, carne de frango e carne bovina entre outros.
Além dos bens já citados, existem ainda os bens de giffen. Em economia, um bem
de giffen é um produto para o qual um aumento do preço faz aumentar a sua demanda.
Este comportamento é diferente do da maioria dos produtos, que são mais procurados à
medida que seu preço cai.
Um exemplo constante de Bem de Giffen é o pão, assim como outros produtos
básicos. Uma elevação moderada dos preços de pão pode levar a um maior consumo de
pão, principalmente em famílias pobres, pois não há outro bem barato e acessível capaz de
substituir o pão em sua dieta. Desta forma maiores gastos com pão levariam a uma redução
do consumo de outros produtos alimentícios, o que obrigaria os mais pobres a consumir
mais pão para sobreviver. Vamos analisar outro exemplo. Suponha que Andrea, Francisco,
Débora e Marcelo moram no bairro da Pavuna, cidade do Rio de Janeiro, e trabalham como
ajudantes em uma lanchonete no bairro de Ipanema (os quatro percorrem diariamente o
trajeto casa-trabalho de ônibus). Pode-se considerar a passagem de ônibus como um bem
inferior, em comparação a outras modalidades de transporte mais rápidas e cômodas.
Supondo, então, que ocorra, por algum motivo, uma redução substancial na passagem de 3
ônibus, pode-se admitir que os quatro amigos sentir-se-ão mais ricos, na medida em que
suas respectivas rendas disponíveis (renda após o gasto obrigatório com a condução diária)
aumentaram de forma significativa. Passam, a partir de então, a dividir o custo de corridas
de táxi duas vezes por semana (ida nas segundas-feiras e volta nas sextas-feiras), ou seja:
uma queda de preço provocou uma queda na quantidade demandada de passagens de
ônibus. Essa classe de bens recebe esse nome em homenagem a Sir Robert Giffen, que
foi citado no século XIX por Alfred Marshall como o criador da ideia.
Em termos microeconômicos, a elasticidade-preço da demanda por Bens de Giffen é
positiva e, por consequência, sua curva de demanda é crescente. Outra repercussão
microeconômica é que seu efeito renda é maior que o efeito substituição. Um exemplo de
Bem de Giffen é o pão, assim como outros produtos básicos. Uma elevação moderada dos
preços de pão pode levar a um maior consumo de pão, principalmente em famílias pobres,
pois não há outro bem barato e acessível capaz de substituir o pão em sua dieta. Dessa
forma, maiores gastos com pão levariam a uma redução do consumo de outros produtos
alimentícios, o que obrigaria os mais pobres a consumir mais pão para sobreviver.
2.3 A demanda e as expectativas sobre preços, rendas ou disponibilidade
As expectativas que as pessoas têm em relação ao futuro de seus rendimentos e em
relação ao comportamento dos preços também exercem papel fundamental na demanda por
bens e serviços. Assim, se um consumidor acredita que, no futuro, terá um aumento
substancial em seus rendimentos, poderá estar disposto a gastar mais hoje do que uma
pessoa que acredita que virá a ter um rendimento bem menor no futuro. Da mesma forma,
se o consumidor acredita que os preços irão aumentar no futuro próximo, pode crescer a
demanda corrente de bens estocáveis, prevenindo-se assim de eventuais dilatação de
preços.
2.4 Curva de Demanda
A curva de demanda revela as preferências dos consumidores, sob a hipótese de
que estão maximizando sua utilidade, ou seja, estão dando o mais alto grau de satisfação
no consumo daquele produto.
No exemplo da curva abaixo podemos verificar que para cada nível de preços as
pessoas estão dispostas a adquirir determinadas quantidades de bens, onde quanto menor
o preço mais produtos elas estarão dispostas a adquirir. A curva de demanda inclina-se de
cima para baixo, no sentido da esquerda para a direita, tendo uma inclinação negativa,
4
devido à inversibilidade da relação preço quantidade demandada. A figura 2.1 mostra esse
comportamento.
Resumindo:
Figura 2.1: Gráfico da curva de demanda.
Fonte: Ferguson, 1999.
2.5 Função Demanda
5
A curva de demanda especifica a relação existente entre o preço de um bem e sua
quantidade demandada. Ou seja, para cada alteração no nível de preço haverá um
deslocamento ao longo da curva, de modo que a quantidade demandada também se
modifique. Entretanto, existem variáveis que provocam o deslocamento da curva da
demanda. A função de demanda permite que se entenda de que forma a quantidade
demandada de um bem se relaciona com determinadas variáveis independentes. O uso da
função de demanda possibilita que sejam feitas estimativas da quantidade de demanda a
partir do conhecimento das variáveis independentes (variáveis explicativas). Vejamos o
exemplo abaixo.
A função de demanda por pares de sapato fabricados por uma determinada empresa
foi estimada em QD = 5.000 + 10Y – 5P , onde Y é a renda em unidades monetárias ($) e P
é o preço do bem em $.
Determinar:
(a) a quantidade demandada de pares de sapato se a renda for de $2.000 e o preço
do par de $100.
(b) a quantidade demandada de pares de sapato se a renda for de $4.000 e o preço
do par de $100.
(c) a quantidade demandada de pares de sapato se a renda for de $4.000 e o preço
do par de $200.
Solução:
(a) = 5.000 + (10 x 2.000) – (5 x 100) = 24.500 unidades.
(b) = 5.000 + (10 x 4.000) – (5 x 100) = 44.500 unidades.
(c) = 5.000 + (10 x 4.000) – (5 x 200) = 44.000 unidades.
2.6 Variação de demanda e variação na quantidade demandada
É importante distinguir variações da demanda e variações na quantidade
demandada. A variação de demanda caracteriza-se pelo deslocamento da curva da
demanda, devido a alterações nos preço dos outros bens ou serviços ou renda do
consumidor. Por exemplo, sendo um bem normal, ocorrerá um aumento da demanda
(mantidos os preços constantes, o consumidor poderá comprar mais). A figura 2.2 apresenta
a variação de demanda.
6
Figura 2.2: Variação de demanda
Fonte: dados do autor.
A variação na quantidade demandada caracteriza-se pelo movimento que ocorre
ao longo da própria curva de demanda, devido a variação do preço do próprio bem ou
serviço, mantendo as demais variáveis constantes (coeteris paribus). A figura 2.3 apresenta
a variação na quantidade demandada.
7
Figura 2.4: Variação na quantidade demandada
Fonte: dados do autor.
2.7 Elasticidade
A elasticidade é a alteração percentual em uma variável, dada uma variação
percentual em outra. É sinônimo de sensibilidade, resposta, reação de uma variável, em
face de mudanças em outras variáveis. Na teoria econômica, o termo elasticidade significa
a mesma coisa. Na realidade, a elasticidade mostra quão sensíveis são os consumidores
de um produto X (ou seus produtores), quando o seu preço sofre uma variação para mais ou
para menos. Em outras palavras, a elasticidade serve para medir a reação – grande ou
pequena – desses consumidores (ou de seus produtores) diante de uma variação do preço
do produto X. Neste caso, teríamos a chamada elasticidade-preço da procura ou da
demanda (ou, no caso dos produtores, a elasticidade-preço da oferta) por este produto. O
mesmo raciocínio poderia ser aplicado em relação a uma variação na renda real dos
consumidores. Neste caso, estaríamos medindo o quanto a demanda pelo bem X é sensível
a uma variação na renda dos consumidores – e teríamos, então, a chamada elasticidade
renda. Mas, não vamos misturar as coisas. Vamos, primeiro, nos fixar no conceito de
elasticidade preço da procura. Depois analisaremos a questão da elasticidade renda e por
fim a elasticidade cruzada da procura.
2.7.1 Elasticidade preço da demanda – Epd
É fácil constatar que as pessoas reagem com intensidade diferente diante de
variações dos preços dos diferentes produtos. Se o sal sobe de preço, as pessoas não vão
deixar de comprá-lo por causa disso e, provavelmente, nem vão reduzir a quantidade que
costumam comprar desse produto – já que o sal é essencial para elas. Também e por
razões diferentes, as pessoas não devem reagir muito a um aumento no preço de uma bala
e, aqui, isso se explicaria pelo fato de que o preço da bala é muito baixo e não afeta o bolso
do consumidor. De outra parte, porém, se produtos como automóveis, ou passagens aéreas
e outros, subirem de preço, é bastante provável que sua demanda se reduza
significativamente.
8
Com esses exemplos, podemos ver que a reação das pessoas a uma variação do
preço de um produto depende muito do tipo de produto. Em alguns casos, a reação pode
ser muito grande, em outros, pequena e em uns poucos casos nem reação há. E note-se
que é importante – para os produtores/vendedores, principalmente – saber se o consumidor
do produto X reage muito ou pouco a uma variação – aumento ou redução – do seu preço,
pois isso vai ajudar o produtor a estabelecer um preço “ótimo” para seu produto – ou seja,
um preço onde sua receita pode ser máxima. E para conhecer a elasticidade-preço da
demanda pelo produto X é preciso calculá-la. É o que vamos fazer a seguir.
Medição numérica da Elasticidade preço da demanda:
Epd = Variação % da quantidade demandada
Variação % no preço
ou
q1 – q0
qo Epd = p1 – p 0
po
ou ainda:
Epd = dqa (derivada parcial da quantidade em função do preço).
dpa
Onde:
Epd = Elasticidade preço da demanda
q0 = quantidade no período inicial;
q1 = quantidade no período final;
p0 = preço inicial;
p1 = preço final.
Interpretação
Epd > 1 DEMANDA ELÁSTICA. Uma variação % no preço provoca uma variação %
maior na quantidade demandada, ou seja, a expansão relativa das quantidades procuradas
é mais do que proporcional à redução relativa dos preços.
9
Epd = 1 DEMANDA COM ELASTICIDADE UNITÁRIA. Uma variação % no preço
resulta em uma variação % igual na quantidade demandada, ou seja, a expansão relativa
das quantidades procuradas é rigorosamente proporcional à redução relativa dos preços.
Epd < 1 DEMANDA INELÁSTICA. Uma variação % no preço resulta numa variação
% menor na quantidade demandada, ou seja, a expansão relativa das quantidades
procuradas é menos do que proporcional à redução relativa dos preços.
Epd = 0 DEMANDA PERFEITAMENTE INELÁSTICA. Um aumento de preço deixa a
quantidade demandada inalterada.
O conhecimento da elasticidade da demanda por um bem ou serviço é de vital
importância para a tomada de decisão dos produtores, isto porque, dependendo da
elasticidade, a receita obtida na venda do bem ou serviço pode ser profundamente afetada
por variações de preços.
Como foi visto, se a demanda por um bem ou serviço for inelástica, variações de
preço gerarão variações menos intensas na quantidade demandada. Neste sentido, uma
elevação de preço de 10%, por exemplo, acarretará uma redução na demanda de menos de
10%. Como a receita total é dada pelo preço unitário vezes a quantidade vendida, no caso
de demanda inelástica haverá uma elevação na receita total. Um exemplo clássico de uma
situação desse tipo foi àquela vivida pelos países produtores de petróleo na época do
primeiro choque de preços de 1973: como a demanda mundial por petróleo era
relativamente inelástica naquele momento, pois o mundo dependia quase que
exclusivamente do óleo como fonte de energia, a elevação dos preços internacionais do
petróleo trouxe um acréscimo impressionante de receita para os países produtores,
enriquecendo de maneira rápida países que eram até então relativamente pobres.
Se, por outro lado, a demanda for elástica, as reações da demanda a variações no
preço serão proporcionalmente maiores. Assim, uma elevação no preço acarretará uma
contração da demanda proporcionalmente maior, o que reduzirá a receita total. Reduções
de preço terão impacto inverso sobre a receita total, elevando-a. Fica claro, portanto, que o
conhecimento da elasticidade de demanda é fundamental para que não se tomem medidas
cujos resultados serão opostos aos planejados.
Vejamos um exemplo. Quando o preço do leite que é de R$ 2,00 e passa para R$
2,20, diminui a quantidade demandada de 100 litros para 85 litros por mês. Determine o
coeficiente de elasticidade.
Epd = Elasticidade preço da demanda
q0 = 100
10
q1 = 85
p0 = 2,00
p1 = 2,20
Epd = 85 – 100 / 100
2,20 – 2,00 / 2,00
Epd = – 0,15 / 0,1
Epd = 1,5
Neste exemplo, a elasticidade preço da demanda é igual a 1,5. Por que ignoramos o
sinal negativo da elasticidade preço da demanda? A lei da demanda dita que o preço e a
quantidade de um bem se movem em direções opostas; então a variação percentual na
quantidade demandada terá sempre o sinal oposto (+ ou –) da variação percentual no preço
(– ou +) . Em nosso exemplo, uma variação percentual de + 10% no preço do bem resulta
em uma variação de – 15% em sua quantidade demandada. Logo a elasticidade preço da
demanda sempre será negativa. Entretanto o que importa é a magnitude dessa elasticidade,
se maior do que a unidade (elástica) e se menor do que a unidade (inelástica).
2.7.2 Fatores que influenciam a magnitude da elasticidade-preço
Mas, afinal de contas, o que leva um produto a ter uma demanda elástica ou
inelástica? Ou como identificar, sem necessidade de fazer cálculos, um produto de demanda
elástica ou inelástica? Embora rigorosamente só se possa afirmar que a demanda do
produto X é elástica ou não em relação a variações em seu preço a partir de uma pesquisa
específica, os produtos possuem certas características que nos permitem concluir a priori se
eles são mais ou menos elásticos a variações em seu preço, a saber:
essencialidade do produto – parece claro que quanto maior o grau de utilidade
ou de essencialidade do produto para o consumidor, menos elástica (ou seja,
mais inelástica) tende a ser sua demanda. De fato, se o produto é essencial para
o consumidor, aumentos em seu preço reduzirão pouco ou quase nada suas
compras. Da mesma forma, reduções de preço desses produtos não deverão
provocar aumentos em suas compras, pois o consumidor tende a comprar um
certa quantidade – digamos, fixa – dos mesmos. É o que ocorre, geralmente, com
os bens de primeira necessidade, como alimentos, serviços de saúde ou de
educação – que sabidamente têm demanda inelástica ao preço. De outra parte,
11
produtos supérfluos, para o consumidor, como jóias e perfumes, tendem a ter
demanda elástica a preço;
quantidade de substitutos – também parece inquestionável a afirmação de que,
se o produto tiver muitos substitutos próximos, um aumento de seu preço deve
estimular o consumidor a mudar de produto, reduzindo, portanto, a demanda
daquele cujo preço se elevou (se o preço do Palio se elevar, o consumidor
tenderá a substituí-lo por Gol 1000, ou por um Fiesta). Ou seja, quanto mais
substitutos houver para um produto X, mais elástica a preço será sua demanda.
Obviamente, o contrário ocorre na hipótese de o produto não ter substitutos
próximos (como é o caso do sal). Nesta hipótese, mesmo ocorrendo um aumento
do preço do produto, o consumidor tenderá a continuar adquirindo a mesma
quantidade de antes, por simples falta de opção – o que torna sua demanda
inelástica a preço;
peso no orçamento do consumidor – quanto menor for o preço do produto,
menos ele pesará no bolso do consumidor, como é o caso da caixa de fósforos.
Assim, aumentos no preço de um produto “barato”, tendem a não alterar a
demanda daquele produto, como seria o caso se o preço da caixa de fósforos
passasse de 20 centavos para 30 centavos (um aumento de 50%!). Nesta
hipótese, a demanda desses produtos ditos “baratos” tende a ser inelástica a
preço, ocorrendo o contrário no caso dos produtos mais caros, como carros de
luxo e jóias.
2.7.3 Elasticidade renda da demanda – Erd
O estudo da influência da elasticidade sobre um produto, quando se varia a renda
real do consumidor, chama-se elasticidade-renda. Mede a sensibilidade da demanda, em
face de mudanças na renda. A fórmula é definida do seguinte modo:
Erd = Variação % da quantidade demandada
Variação % na renda
ou
q1 – q0
qo Erd = r1 – r0
ro
12
ou ainda:
Epd = dR (derivada parcial da renda em função do preço).
dp
Onde:
Erd = Elasticidade preço da demanda;
q0 = quantidade no período inicial;
q1 = quantidade no período final;
r0 = renda inicial;
r1 = renda final.
Interpretação
Erd < 1 BENS NORMAIS. Um aumento na renda do consumidor aumenta a
quantidade demandada do bem ou serviço considerado. Exemplo: a maioria dos alimentos,
roupas, aparelhos de som, aparelhos domésticos entre outros.
Erd = 0 BENS DE CONSUMO SACIADO. O consumo não se altera quando a renda
aumenta. A quantidade adquirida do bem se mantém constante, independentemente de
variações no nível de renda. Exemplo: alguns produtos de higiene pessoal como o sabonete
e o creme dental.
Erd < 0 BENS INFERIORES. Uma elevação na renda, traz como consequência, uma
queda na quantidade demandada. Assim, a elasticidade-renda é negativa.
Erd > 1 BENS SUPERIORES. São conhecidos também como bens de luxo ou
supérfluos. São altamente elásticos em relação à renda, porque cada 1% de aumento na
renda, aumenta as quantidades compradas em mais de 1%. Exemplos: jóias, casacos de
peles, limusines, aulas de mergulho; possuem alta elasticidade-renda.
2.7.4 Elasticidade cruzada da demanda – Exy
A elasticidade-preço cruzada da demanda mede a variação percentual na quantidade
demandada de um bem X, resultante da variação percentual no preço do bem Y. A fórmula
é conceituada da seguinte maneira:
Exy = Variação % da quantidade demandada X
13
Variação % no preço Y
ou
qx1 – qx0
qxo Exy =
py1 – py0
pyo
ou ainda:
Exy = dqx (derivada parcial da quantidade de um bem X em função do preço do bem
Y).
dpy
Onde:
Exy = Elasticidade-preço cruzada da demanda
qx1 = quantidade final do bem x;
qx0 = quantidade inicial do bem x;
py1 = preço final do bem y;
py0 = preço inicial do bem x.
Interpretação
Exy > 0 BENS SUBSTITUTOS. A quantidade demandada de X se move na mesma
direção que uma variação no preço de Y. Então X e Y são bens substitutos.
Exy < 0 BENS COMPLEMENTARES. O aumento no preço de um produto diminui a
demanda pelo outro, ou seja, X e Y “se movem juntos”. Os bens são complementares.
Exy = 0 BENS INDEPENDENTES. Os dois produtos são não-relacionados. Os bens
X e Y são independentes.
Autoestudo
1. Um trabalhador ganha mensalmente R$ 1.200,00 e adquire 10 unidades no bem A. Em
função de acordo coletivo de trabalho, sua renda mensal passa para R$ 1.400,00 o que lhe
permite gastar 30 unidades no bem A. Qual é a Elasticidade renda da demanda e o que ela
nos mostra? Construa o gráfico correspondente.
14
2. Um restaurante serve diariamente 80 refeições ao preço de R$ 7,50 o buffet. Como o
inverno foi rigoroso, alguns hortifrutigranjeiros aumentaram de preço. Com isso, o dono do
restaurante decidiu aumentar o preço da refeição em 20%, o que ocasionou uma demanda
de 70 refeições/dia. Determine a Elasticidade preço da demanda, interprete
economicamente o resultado encontrado e construa o respectivo gráfico.
3. Quando o preço do Bem A passa de R$ 8 para R$ 6, a quantidade do bem B passa de 96
para 80 unidades. Qual é a Elasticidade cruzada da demanda e que relações existem entre
A e B ?
4. Ao aumentar o preço da tarifa por um determinado serviço de R$ 8,00 para R$10,00, uma
rede bancária observou uma queda na demanda, que era de 20 serviços prestados por dia,
para 12. Nestas circunstâncias, pede-se:
a) Construa uma tabela e um gráfico demonstrando a situação:
b) Qual a elasticidade preço-demanda e qual o seu tipo?
6. Dada à função Q = 1.600 - 20p, pede-se:
a) A quantidade demandada quando o preço é de R$ 32,00
b) A quantidade demanda diante de uma alteração no preço para R$ 31,80
c) Construa uma tabela e um gráfico demonstrando a situação.
d) Encontre o coeficiente e o tipo de elasticidade para esta alteração de preço.
Referências comentadas
CABRAL, Arnoldo Souza; YONEYAMA, Takashi. Microeconomia: uma visão integrada
para empreendedores. São Paulo: Saraiva, 2008.
Ao abordar a microeconomia a partir de um quadro conceitual amplo e integral,
realista e prático, este livro identifica e transmite aos leitores o entendimento de problemas e
fatores que afetam o sucesso dos agentes econômicos mais atuantes em uma economia:
consumidores, empresários, governos e mercados. A obra apresenta uma visão integrada
do tema, por meio dos conceitos fundamentais, da análise de cenários típicos do mercado e
dos métodos quantitativos essenciais para tomada de decisão.
Referências
PINDYCK, Robert S. & RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. São Paulo: Makron Books,
2006. 15
FERGUSON, Charles E. Microeconomia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999.
VASCONCELLOS, M. A et ali. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2003.
WESSELS, Walter J. Economia. São Paulo: Saraiva, 2003.
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