22
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA JOSEFA GILSILEIDE FONSECA DA SILVA O BRINCAR NA PRÁTICA DOCENTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL LUIS GOMES, RN 2016

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO … · O BRINCAR NA PRÁTICA DOCENTE DA EDUCAÇÃO ... Elas criam seus próprios objetos que servem de brinquedo ... a segunda parte

Embed Size (px)

Citation preview

0

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

JOSEFA GILSILEIDE FONSECA DA SILVA

O BRINCAR NA PRÁTICA DOCENTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL

LUIS GOMES, RN

2016

1

JOSEFA GILSILEIDE FONSECA DA SILVA

O BRINCAR NA PRÁTICA DOCENTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Artigo Científico apresentado ao Curso de

Pedagogia a Distância do Centro de Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito parcial para obtenção do título de

Licenciada em Pedagogia, sob orientação da

professora Mestre Rúbia Kátia Azevedo

Montenegro.

LUIS GOMES, RN

2016

2

O BRINCAR NA PRÁTICA DOCENTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por

JOSEFA GILSILEIDE FONSECA DA SILVA

Artigo Científico apresentado ao Curso de

Pedagogia a Distância do Centro de Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito parcial para obtenção do título de

Licenciatura em Pedagogia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Ms. Rúbia Kátia Azevedo Montenegro. (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________

Ms. Jaécia Bezerra de Brito

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________

Esp. Luiz Antônio da Silva dos Santos

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

3

O BRINCAR NA PRÁTICA DOCENTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Josefa Gilsileide Fonseca da Silva1

Rúbia Kátia Azevedo Montenegro2

RESUMO

O brincar além de ser um direito da criança é uma forma de linguagem, por isso, deve ser

privilegiada, com ênfase, na educação infantil. Aprender brincando dá mais prazer às

crianças, além de possibilitar o desenvolvimento de diversas habilidades, dentre elas, motora,

afetiva e cognitiva. Amparado na assertiva, o presente artigo objetiva compreender como a

brincadeira acontece na Educação Infantil, bem como conhecer a posição da escola, da família

e dos educadores quanto à prática do brincar. Para realização da pesquisa fizemos

observações, registros, como também leituras à bibliografia especializada. E para fundamentar

a nossa pesquisa amparamo-nos teoricamente em KISHIMOTO (2001), OSTETO (1992),

BRASIL (1998), FRIEDMANN (2012), SEABRA (2010), dentre outros teóricos que

privilegiam o brincar nos seus estudos. Por fim, concluímos que na Educação Infantil a

prática do brincar está em segundo plano, visto que, em vez de brincar, as crianças estão

fazendo atividades baseadas numa rotina diária, que não privilegiam a brincadeira como

atividade pedagógica. Além disso, percebe-se que a escola e a família enxergam a brincadeira

como um passa tempo. Contudo, percebe-se que os docentes e a instituição tem ciência da

importância da brincadeira para os pequeninos, mas não inserem essa prática no seu

planejamento, em virtude, de a Educação ser enxergada como fase de preparação para o

Ensino Fundamental. Por fim, essa pesquisa é de suma importância para professores e

pesquisadores, visto que temos mais um referencial de como a brincadeira precisa ser

realizada na Educação Infantil.

Palavras-chave: Educação Infantil. Brincadeira. Prática docente.

ABSTRACT

The play besides being a child right is a form of language , therefore, priority should be given

, with emphasis on early childhood education. Learning playing gives more pleasure to the

children , and enable the development of various skills , among them motor , affective and

cognitive . Supported the assertion , this article aims to understand how the game happens in

kindergarten , and know the school position , family and educators about the practice of play .

To carry out the research made observations , records, as well as reading the relevant

literature . And to support our admitted them in theoretically in KISHIMOTO research (2001

) , OSTETO (1992 ) , BRAZIL (1998 ) , Friedmann ( 2012) , Seabra (2010 ) , among other

authors that emphasize play in their studies. Finally , we conclude that in kindergarten

practice the play is in the background , since, instead of playing , children are doing activities

1 Graduanda em Pedagogia, Especialista em Educação Infantil, Supervisão e Orientação Educacional e Graduada

em Letras – [email protected] 2 Orientadora Mestre em Ciências da Educação, Especialista em Mídias na Educação e Psicopedagogia

Institucional e Graduada em Letras – [email protected]

4

based on a daily routine, which do not favor the game as a pedagogical activity. Moreover, it

is clear that the school and the family they see the game as a pass time. However , it is clear

that the teachers and the institution is aware of the importance of play for little ones , but do

not insert this practice in its planning , in virtue of Education be enxergada as preparation for

primary education . Finally , this research is very important for teachers and researchers , as

we have another reference of how the game needs to be done in early childhood education .

Key-words: childhood education. Play. Teaching practice.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, a escola tem se preocupado em pesquisar a respeito do brincar como

prática docente, diríamos que até estão fazendo uma ressignificação do brincar em sala de

aula. Tal preocupação é decorrente de bibliografia especializada que vem demonstrando que o

uso das brincadeiras em sala de aula vem potencializando o processo ensino-aprendizagem.

Ao brincar a criança pode descobrir o mundo e representá-lo a partir da sua lógica. Além

disso, a criança possui um poder transformador e criativo quando a situação é a brincadeira.

Elas criam seus próprios objetos que servem de brinquedo para se expressarem.

Este trabalho, traz algumas considerações acerca da importância da inserção do

brincar na prática docente da Educação Infantil. Para tanto, objetiva compreender como a

brincadeira acontece na Educação Infantil, bem como conhecer a posição da escola, da família

e dos educadores quanto à prática do brincar.

Nesta pesquisa de cunho qualitativo-descritiva, buscaremos analisar e interpretar o

problema mediante observações, registro, como também leituras à bibliografia especializada.

Para tal, foram efetuadas observações em uma instituição de Educação Infantil, que contribuiu

de forma relevante para compreensão da prática do brincar, e a percepção de até que ponto o

ambiente escolar propicia o desenvolvimento dessa prática.

Sendo assim, nosso estudo traz relevância por abordar uma temática já discutida

como o brincar na prática docente da Educação Infantil, no entanto, trabalhada

equivocadamente por alguns educadores como passa tempo entre as atividades e, não como

atividade pedagógica. Sendo assim, pressupomos ainda que a atividade do brincar não é

planejada como deveria pelos professores, e a instituição escolar não insere essa atividade na

rotina da escola de forma sistematizada. Além disso, os pais precisam ser conscientizados ou

“informados” que brincando também se aprende.

5

Para fundamentar a nossa pesquisa amparamo-nos teoricamente em Kishimoto

(2001), Osteto (1992), Brasil (1998), Friedmann (2012), Seabra (2010), dentre outros teóricos

que privilegiam o brincar nos seus estudos.

O artigo divide-se em três partes, sendo a primeira uma abordagem histórica do

percurso da Educação Infantil, a segunda parte trará considerações sobre o brincar na prática

docente, e por fim, refletiremos sobre a importância do planejamento das atividades que

envolvam as brincadeiras.

2 UM BREVE PERCURSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para compreender o percurso que a Educação Infantil trilha hoje, faz-se necessário

retornar ao passado, precisamente no discurso do filósofo francês Michel Foucault (2007) em

busca de elementos que propiciem entender essa trajetória. Assim, poderemos conhecer todas

as descontinuidades que atravessaram a história da Educação Infantil com o intuito de

reencontrar as raízes identitárias da constituição da infância. Para tanto, convém refletir sobre

o conceito de infância no âmbito social, político e econômico, visto que a infância é uma

construção cultural própria ao momento histórico e social vivenciado pela sociedade.

A palavra infância é originária do latim que significa “aquele que não sabe falar”, ou

seja, algo sem importância. O status da criança não existia, quem decidia a vida dos

pequeninos eram os pais. Heywood (2004) fala que o tratamento dado às crianças na

sociedade medieval era diferenciado. Se a criança nascesse deficiente e fosse do sexo

feminino era mandada para um prostíbulo para servir como objeto sexual ou morta. Segundo

o autor, o infanticídio era bem presente na sociedade medieval, pois se tinha a ideia de que

“criança pode ser feita novamente”. Já o nascimento das crianças do sexo masculino,

conforme o autor citado, era recebido com saudações de três badaladas de um sino grande,

enquanto a criança do sexo feminino era recebida apenas com uma badalada de um sino

pequeno.

Nessa época, o sentimento de infância não existia, simplesmente era ignorado em

razão da sua dependência e fragilidade nos primeiros anos de vida. A criança era tratada como

um “animalzinho”, objeto de distração dos adultos. Vejamos o que diz Philippe Ariès (1981)

no seu livro “A História Social da Criança e da Família”:

Contudo, um sentimento superficial da criança, a que chamei de

“paparicação”, era reservado à criancinha em seus primeiros anos de vida,

enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadinha. As pessoas se divertiam

6

com a criança pequena como um animalzinho, um macaquinho impudico

(ÁRIES, 1981, p. 10).

Percebe-se que a infância era algo superficial, sem importância e se a criança

chegasse a óbito não faziam caso, visto que a regra era “criança pode ser feita novamente”. A

mesma era tratada com muito descaso e a perda diante das condições demográficas da época

era natural. Para Ariès (1981) esse sentimento de “paparicação” reflete a superficialidade da

criança vista apenas como distração para os adultos. As crianças, segundo Heywood (2004),

sofriam de um descaso assustador, pois, as condições de higiene e saúde também eram

precárias ocasionando bastante mortalidade infantil.

Ainda na sociedade medieval, precisamente no século XV, a criança era vista como

uma “miniatura do adulto”, ou seja, eram tratadas e vestidas como adultos. Além disso, eram

atribuídas responsabilidades que cabiam aos adultos. Toda criança, independente da sua

condição social, a partir dos sete anos de idade era obrigada a fazer serviços domésticos.

Rodrigues (2009) afirma que em cada família havia um anfitrião que era chamado de

mestre e a criança de aprendiz, pois se tinha a concepção que, segundo Ariès (2006), o mestre

transmitiria o conhecimento e os valores morais que a criança precisava adquirir para ser um

bom “adulto”. Na verdade, percebemos que a criança aprendia na prática a ser “um adulto em

miniatura”, negligenciando, assim, a sua infância. Podemos acrescentar que nessa época a

infância foi roubada, daí entende-se quando o documentário “A Invenção da infância” afirma

que “ser criança não significa ter infância”.

Somente no final do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial que se

criou uma concepção de criança como “um ser fraco e incompleto” que precisava de cuidados

e instrução. Porém, esta atitude teve como objetivo formar mão de obra para a indústria o que

forçou a formação das primeiras creches e instituições de cunho assistencial, nas quais as

crianças permaneceriam enquanto as mães estavam trabalhando. A esse respeito, Andrade

(2010) esclarece:

As referências históricas da creche são unânimes em afirmar que ela foi

criada para cuidar das crianças pequenas, cujas mães saíam para o trabalho.

Está, portanto, historicamente vinculada ao trabalho extradomiciliar da

mulher. Sua origem, na sociedade ocidental, está no trinômio mulher-

trabalho-criança. Até hoje a conexão desses três elementos determina grande

parte da demanda (ANDRADE, 2010, apud DIDONET, 2001, p. 12).

Desse modo, inicialmente, as creches possuíam um caráter assistencialista, visto que

estavam preocupadas apenas com as ações do cuidar da criança. Além disso, os mentores

7

dessas instituições eram médicos sanitaristas. Percebe-se, na verdade, conforme Kuhlmann

Júnior (2000), que no assistencialismo tinha-se uma noção de pedagogia da submissão. Dito

de outro modo, o capitalismo queria apenas formar pessoas passivas para futuramente serem

exploradas socialmente pelo Estado. A intencionalidade do Estado era tão óbvia que segundo

Mello (2010), prestava um serviço precário e de baixo custo somente aos filhos dos pobres.

Na contramão do capitalismo, surge uma nova proposta de Educação Infantil

institucionalizada “O Jardim de Infância” do educador alemão Froebel, que visava à

integração da criança em jogos e atividades pedagógicas. Para o educador a criança era uma

“semente da divindade de Deus”, cabendo à educação desabrochar essa semente.

Para Andrade (2010) o novo conceito de infância e o surgimento do “Jardim de

Infância” foi para respaldar o ideário da sociedade moderna que visava, na verdade, o

desenvolvimento científico tecnológico, mas ao mesmo tempo, incluir um caráter pedagógico

ao tratamento dado às crianças. Temos, portanto, o surgimento de uma preocupação com o

educar e não só apenas com o cuidar como era no assistencialismo.

Aqui no Brasil, somente a partir da Constituição Federal de 1988, foi que a história

da Educação infantil começou a mudar. A Carta Magna determinou que a Educação Infantil

seria dever do estado e parte do sistema educacional. Dessa forma, a constituição educacional

institui que as crianças como “sujeitos de direitos” que pensam e veem o mundo do seu jeito

próprio. Reforçando essas informações, Mello (2010), acrescenta que foi apenas em 2006,

com a aprovação da Lei nº 9.394/1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que

definiu a educação infantil como primeira etapa da educação básica, que ela avançou. Na

verdade, a LDB reafirmou o direito da criança e o dever do Estado em cumpri-lo.

Assim, a Educação Infantil foi incorporada ao ensino pela LDB que definiu um

sistema de atendimento e nomenclatura, ou seja, para crianças de até 3 anos temos a creche e

pré-escola para as de 4 a 5 anos. Além disso, temos documentos norteadores legais para o

trabalho na educação infantil que são as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação

Infantil e o RCNEI - Referencial Curricular Nacional Para Educação Infantil (1998).

Esses documentos, na verdade, são orientações para o trabalho docente, visto que, foi

a partir do RCNEI (1998) que o conceito de infância na modernidade começou a ser

compreendido de outra forma. Dito de outro modo, a criança passou a ser protagonista da

história, vista como um “ser que pensa e sente o mundo do seu jeito próprio” (BRASIL,

1998). Dessa forma, vejamos o conceito de criança apresentada pelo RCNEI,

8

A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte

de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma

determinada cultura, em um determinado momento histórico. É

profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas

também o marca (BRASIL, 1998, p. 21).

Com referência ao exposto compreendemos e comungamos com a afirmação de

Ariès (1981) quando diz que a “infância é uma construção social”, nesse ponto, concebemos

também, a criança como um ser social capaz de interagir na sociedade mediante diferentes

linguagens e brincadeiras.

Depois desse mergulho histórico, pontuamos que a educação infantil avançou de

forma considerável, existindo documentos e políticas públicas de assistência a essa fase dos

pequeninos. Contudo, ainda há muito o que melhorar em termos de “educação de qualidade”

para termos, de fato e de direito, a tão sonhada “educação emancipadora”.

2.1 O CUIDAR, O EDUCAR E O BRINCAR: O TRINÔMIO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Durante muito tempo, privilegiou-se uma concepção de educação assistencialista, na

qual, a preocupação era apenas com o cuidar, pois a noção de infância que se tinham era a de

criança “como um ser incompleto que precisava de cuidados”. Porém, o RCNEI (1998)

resgatou a necessidade da integração entre o cuidar, o educar e o brincar para o

desenvolvimento integral da criança.

O cuidar, o educar e o brincar são apresentados pelo RCNEI (1998) em três eixos de

forma separadas. Contudo, entende-se que são ações indissociáveis na Educação Infantil, ou

seja, não podem ser vistas separadamente. Além disso, são ações essenciais ao processo de

construção do conhecimento dos pequeninos, visto que o ato do cuidar está estritamente

ligado ao ato de educar bem como ao ato de brincar. Dito de outro modo, esta integração é

preciso para o desenvolvimento das crianças. Nesse sentido, o RCNEI (1998) traz

contribuições e orienta o que seria o ato de educar:

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e

aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o

desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e

estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança,

e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade

social e cultural (BRASIL, 1998, p. 23).

9

Sendo assim, para compreendermos a indissociabilidade entre educar, cuidar e

brincar, para Seabra (2010) nos diz que, convém pensar em uma ação pedagógica respaldada

em uma visão integrada acerca do desenvolvimento da criança, que respeite a individualidade

e favoreça situações de aprendizagem significativas e prazerosas. Na verdade, essas situações

propiciam as crianças o desenvolvimento de capacidades físicas, psicológicas, sociais,

afetivas, emocionais e culturais. Além disso, entende-se que nessa ação integrada do trinômio:

educar, cuidar e brincar deve-se atentar para as necessidades da criança, visto que é na ação

do cuidado que percebemos a criação de vínculos.

Para o RCNEI (1998) é na ação do cuidar que as crianças desenvolvem a noção de

cuidar de si, do outro e do ambiente. A esse respeito, Mello (2010) faz um importante

comentário expressando que todo ato de educar é um ato que cuida, e todo ato de cuidar é um

gesto que educa. E, ainda acrescentamos ao comentário que esse ato precisa está impregnado

de sentido, consciência e confiança, além de ser algo divertido para as crianças.

Para tanto, uma situação que reflete essa integração do trinômio na educação infantil

é o momento do banho, pois é interessante como as ações se complementam nessa atividade,

que para alguns se remete apenas a cuidados de higiene, mas para o educador que impregna a

sua prática de sentido e consciência a “hora do banho” é o momento de integração entre o

cuidar, o educar e o brincar.

Seabra (2010) orienta que no momento do banho temos que ter a noção de está

orientando a criança para que adquira autonomia e tenha ciência da importância desse cuidado

para sua saúde. Além disso, podem-se explorar as partes do corpo da criança usando a

criatividade e imaginação.

É nesse momento, que o brincar entra em cena, mostrando que, para a criança, até a

hora do banho é diversão e aprendizagem, pois no instante que a criança bate com as mãos na

água e sorri, aquele gesto, aquele sinal, segundo o RCNEI (1998), tem outro significado

daquilo que aparenta ser, pois “ao brincar as crianças recriam acontecimentos e assumem

papéis”. Por exemplo, na hora do banho, algumas crianças assumem papeis de marinheiros,

piratas, dentre outros personagens do imaginário infantil.

De acordo com o RCNEI (1998) ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças

agem frente à realidade de maneira não literal, transferindo e substituindo suas ações

cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos

substitutos. Assim, compreende-se que na brincadeira a criança vivencia situações

imaginárias criadas por elas mesmas. Além, de propiciar o desenvolvimento da sua

10

autoestima. Sabemos que o brincar além de ser um direito da criança é uma forma de

linguagem, por isso, deve ser privilegiada com ênfase na educação infantil.

Quanto aos docentes da educação infantil, esses precisam ter noção de que a tríade:

cuidar, educar e brincar, é indissociável, e entrelaçar esses atos na prática pedagógica é uma

necessidade, visto que a criança na educação infantil necessita de cuidado, de orientação e de

aprender a partir do brincar.

3 O BRINCAR NA PRÁTICA DOCENTE

Atualmente a escola tem se preocupado em pesquisar a respeito do brincar como

prática docente, diríamos que os docentes estão ressignificando o brincar do brincar em sala

de aula. Tal preocupação é decorrente de bibliografia especializada que vem demonstrando

que o uso das brincadeiras em sala de aula potencializa o processo ensino-aprendizagem. Daí,

concordamos com Brougère (1994) citado em Brasil (2012) quando afirma que a brincadeira é

uma aprendizagem social, portanto, construção de cultura. Nos termos de Borba (2011) citada

em Brasil (2012) o eixo principal em torno do qual o brincar deve ser incorporado em nossas

práticas é o seu significado como experiência de cultura.

Assim sendo, o brincar constitui um dos eixos importantes do trabalho pedagógico, e

quando estimulado e adequado, as situações de aprendizagem propostas em sala de aula

tornam-se nas palavras de Marques (2012, apud BROUGÈRE, 1994) um espaço de invenção,

de curiosidade e de expectativa diversificada. Diferentes teóricos apontam a importância do

brincar para a aprendizagem das crianças, dentre eles temos Kishimoto (2003) que ressalta a

brincadeira como sendo uma atividade séria para as crianças, vejamos:

Para a criança, o brincar é a atividade principal do dia-a-dia. É importante

porque dá a ela o poder de tomar decisões, expressar sentimentos e valores,

conhecer a si, aos outros e o mundo, de repetir ações prazerosas, de partilhar,

expressar sua individualidade e identidade por meio de diferentes

linguagens, de usar o corpo, os sentidos, os movimentos, de solucionar

problemas e criar. Ao brincar, a criança experimenta o poder de explorar o

mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê-

lo e expressá-lo por meio de variadas linguagens (KISHIMOTO, 2003, p.

01).

Assim sendo, ao brincar a criança pode descobrir o mundo e representá-lo a partir da

sua lógica. Além disso, a criança possui um poder transformador e criativo quando a situação

é a brincadeira. Elas criam seus próprios objetos que servem de brinquedo para expressar-se.

11

Nesse momento, acontece a interação da criança com o brinquedo que nas palavras de

Kishimoto (2003) é essencial para o conhecimento do mundo dos objetos. A diversidade de

formas, texturas, cores, tamanhos, espessuras, cheiros e outras especificidades do objeto são

importantes para a criança compreender esse mundo.

Essa interação apresentada por Kishimoto (2003) também está presente no RCNEI

que orienta ser:

A interação social em situações diversas é uma das estratégias mais

importantes do professor para a promoção de aprendizagens pelas crianças.

Assim, cabe ao professor propiciar situações de conversa, brincadeiras ou de

aprendizagens orientadas que garantam a troca entre as crianças, de forma a

que possam comunicar-se e expressar-se, demonstrando seus modos de agir,

de pensar e de sentir, em um ambiente acolhedor e que propicie a confiança

e a autoestima (BRASIL, 1998, p. 31).

Por conseguinte, é nesse momento de trocas simbólicas que a criança, na brincadeira,

começa a interagir com os colegas se socializa e, ao mesmo tempo constrói a sua identidade

social. Assim, a escola precisa propiciar espaço adequado para que a criança mediante a

brincadeira, seja ela dirigida ou livre, desenvolva o seu potencial. A brincadeira consiste,

portanto, nos termos de Vygotsky (1998) numa atividade enriquecedora, tendo em vista que

trabalha o cognitivo, o social e o afetivo da criança.

Mediante a observação de uma brincadeira podemos compreender situações do

comportamento das crianças, visto que nas brincadeiras, principalmente no faz de contas elas

assumem papéis sociais que refletem o seu pensamento.

Para Kishimoto (2003) a criança pode representar na brincadeira um acontecimento

desagradável que lhe aconteceu e a deixou reprimida. Assim, ela usa a brincadeira para expor

seus sentimentos. Daí a importância do professor observar o brincar das crianças para

compreender o porquê do isolamento, agressividade ou timidez do aluno.

Compreende-se que a brincadeira é uma atividade prazerosa para as crianças sendo a

educação infantil um período importante para a introdução dessa atividade como prática

docente. Daí, a preocupação em enfocar o brincar como prática docente na educação infantil,

visto que, essa prática está escassa no cotidiano escolar infantil. Sendo assim, Friedmann

(2012) acrescenta que a educação infantil perdeu o caráter recreativo passando a preparar as

crianças para alfabetização.

Por isso, a importância da ressignificação da “cultura do brincar” na educação

infantil. E para confirmação do exposto veremos como o docente, a família e a escola

12

compreendem a prática do brincar em sala de aula, para termos ciência de que a escola tem

uma difícil tarefa, “ensinar a brincar”.

3.1 A VISÃO DO EDUCADOR, DA FAMÍLIA E DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR SOBRE

O BRINCAR

Como já descrevemos, a história da Educação Infantil foi pautada por lutas, dessa

forma, sendo reflexo do momento social, político e econômico que emerge a sociedade.

Assim, sabe-se que a educação infantil precisa privilegiar a tríade: cuidar, educar e brincar no

seu currículo de forma integrada para potencializar o desenvolvimento da criança.

Isto posto, a instituição de educação infantil deve criar condições que propiciem o

desenvolvimento da criança de forma integral. Para o RCNEI (1998) as instituições infantis

são um dos contextos de desenvolvimento da criança. Além de prestar cuidados físicos, ela

cria condições para o seu desenvolvimento cognitivo, simbólico, social e emocional. Logo,

não pode ser pensada como “uma segunda casa das crianças”, ou um ambiente que oferta

atividades para passar o tempo, mas como ambiente de socialização e aprendizagem.

Portanto, a educação infantil tem a incumbência de incrementar no seu currículo

práticas educativas que privilegiem a brincadeira com prática educativa e não apenas como

momento de diversão ou descanso para os professores. Dessa forma, o planejamento de

atividades que envolvam o brincar torna-se imprescindível na educação infantil.

Convém ressaltar que as instituições de educação infantil criam um espaço chamado

de brinquedoteca, são espaços organizados para concretização do brincar. Sommerhalder

(2011) citando Kishimoto (1992) ressalta que o objetivo da brinquedoteca é proporcionar

atividades lúdicas.

Esse ambiente comporta diversos “cantos de aprendizagem”, além de uma grande

variedade de brinquedos industrializados ou confeccionados por meio de sucatas. Para

Kishimoto (2001) as brinquedotecas não desempenham o papel de aprimorar o lúdico,

vejamos:

São raras as brinquedotecas que funcionam como espaços alternativos para

estimular brincadeiras e formar profissionais, em decorrência das dimensões

das Escolas de Educação Infantil, que chegam a dispor de mais de vinte

salas, o que exige a rotatividade de uso desses espaços pelas crianças. O

brincar como um direito da criança é inviabilizado pela estrutura criada: uma

brinquedoteca para cada escola. Cada sala de atividade deveria comportar,

em seu interior, áreas de brincadeira, incluindo faz-de-conta, construções e

13

jogos e tempo na rotina para essa atividade, caso se deseje respeitar o direito

de brincar da criança, fugindo do espontaneísmo ou do jogo educativo

(KISHIMOTO, 2001, p. 243).

Nesses termos, compreende-se que as brinquedotecas funcionam como ambientes

decorativos, aos quais, as crianças não têm acesso e os professores, dificilmente, fazem uso.

Por conseguinte, a escola, no que tange a exploração do lúdico, deve investir em formação

continuada para os professores, pois nas palavras de Kishimoto (2001) incluir brincadeiras

como estratégias educativas e não investir na formação dos professores é arbitrário, pois é

brincando e pensando sobre o brincar que se adquire consciência sobre sua importância.

Comprovando a assertiva, as escolas determinam períodos, horários e espaços para

que aconteça o brincar como se a criança fosse incapaz de realizar atividades de forma

autônoma e livre. Tal atitude acontece, em virtude de uma concepção tradicional de ensino

que, infelizmente, ainda, está arraigada nas práticas educativas. E o ato de brincar que deveria

ser momento de interação e diversão, torna-se momento, para alguns docentes, de bagunça.

O que observamos, na verdade, é que há professores que obrigam as crianças a

cantarem sentadas nas cadeiras, e nas músicas que fazem uso de movimentos, esses realizam

em silêncio e imóveis. Kishimoto (2001) acrescenta que os professores tem a concepção de

que “brincar é no pátio e na sala é lição”. Para tanto, abandonam as crianças na hora do

recreio em suas próprias atividades lúdicas.

Contudo, os professores tem o apoio do RCNEI (1998) que oferece estratégias

diversificadas para o desenvolvimento do brincar em sala de aula.

Cabe ao professor organizar situações para que as brincadeiras ocorram de

maneira diversificada para propiciar às crianças a possibilidade de

escolherem os temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar ou

jogos de regras e de construção, e assim elaborem de forma pessoal e

independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais

(BRASIL, 2001, p. 29).

À vista disso, o professor deve atuar como um facilitador da aprendizagem

proporcionando as crianças diversificadas brincadeiras, jogos e oferecendo brinquedos da

cultura local, de modo que, a prática do brincar seja privilegiada. Para tanto, a criança terá a

oportunidade de escolher temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar ou os

jogos de regras e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e independente suas

emoções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais.

14

De acordo com o RCNEI (1998) é preciso que o professor tenha consciência que na

brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas

do conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginativa. Por isso, a interação do

professor no momento das brincadeiras torna-se imprescindível, visto que, atua como

facilitador criando situações e espaços de ludicidade.

No entanto, percebe-se que os professores tem consciência da importância do

brincar, mas não desenvolvem essa prática de forma coerente, pois aproveitam o momento

para descanso, ficam conversando, intervindo apenas em algumas situações de conflito entre

as crianças. Assim, o lúdico está sendo excluído da educação infantil, dando lugar a práticas

de atividade mimeografadas e/ou digitalizadas.

Alguns professores argumentam que não desenvolvem as atividades de ludicidade

por não terem espaço adequado e brinquedos suficientes. Além disso, acrescentam a postura

dos pais diante dessas atividades, pois reclamam quando a criança chega suja de tinta. Ainda,

afirmam que “escola não é lugar de brincar”, “brincadeira é perda de tempo ou enrolação dos

professores”. Diante dessa visão dos pais referente ao brincar cabe a nós refletir sobre o que

afirma Fortuna (2000) citando Carlos Drummond de Andrade (2012) no trecho abaixo:

Se é triste ver meninos sem escola/brincar com as crianças não é perder

tempo, é ganhá-lo./Mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas

sem ar,/Com exercícios estéreis, sem/Valor para a formação do homem

(FORTUNA, 2000, apud ANDRADE 2012, p. 01).

Assim, percebe-se que a família não possui uma compreensão adequada da

integração das brincadeiras no currículo da educação infantil. Dessa forma, cabe à escola

apresentar aos pais uma proposta de trabalho expondo o aparato legal que privilegia a

importância do brincar como ato educativo, promovendo o envolvimento dos pais nas

brincadeiras juntamente com as crianças. Os adultos precisam compreender que brincar para a

criança não é perder tempo, mas sim, ganhá-lo, pois participam das brincadeiras com muita

seriedade.

Para Kishimoto (2003) tal concepção é decorrente da cultura da infância dos adultos

que, ainda tem a visão de “criança como miniatura do adulto”, daí, colocar a brincadeira como

“perda de tempo”. A autora acrescenta que é preciso desconstruir essa visão equivocada para

pensar na criança, em sua subjetividade, assim, estará garantindo a circulação e preservação

da cultura lúdica.

15

Fortuna (2000) citando Oliveira (1984) acrescenta que pais e professores parecem

querer intervir deliberadamente no lazer infantil, colocando conteúdo pedagógico nas

brincadeiras das crianças. Assim, o brincar fica visto como pretexto para a exploração de

conteúdos e não para a promoção da cidadania da criança, dentre outras potencialidades já

citadas nesse exposto.

3.2 A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E ESPAÇO NA HORA DO

BRINCAR

Reconhecer a organização do espaço e do tempo na instituição de Educação Infantil

torna-se essencial para consolidação da proposta pedagógica do brincar, visto que, no

momento de planejar as brincadeiras, o professor precisa ter noção de tempo e espaço para

desenvolver as atividades propostas. Assim, os espaços escolares devem oferecer estímulos,

segurança, e serem ainda, motivadores e acolhedores para os pequeninos.

Para Seabra (2010), o ambiente físico precisa ser transformado em ambiente

educativo que promova a prática do brincar. E a organização desse ambiente cabe ao

professor. Porém, deve-se levar em consideração a bagagem cultural do professor e da

criança, pois o ideal seria um espaço que reflita a cultura do brincar da criança. Tal atitude

propiciará que a criança assimile elementos culturais ao explorar o ambiente e os brinquedos

que serão inseridos nesse espaço educativo.

Aliás, temos na Educação Infantil, o uso do espaço interno e externo para realização

das atividades. Dessa forma, a sala de aula corresponde a um espaço interno organizado em

formas de “cantinhos de aprendizagem”, que segundo Seabra (2010), a organização desses

cantinhos favorece a interação entre as crianças, a experimentação, a imaginação, a

autonomia, a resolução de conflitos e problemas, assim como a própria construção do

conhecimento.

Apesar disso, observa-se nas salas de aula de Educação Infantil que o espaço é

pequeno, ocupado por objetos, não sobrando espaço livre para as crianças brincarem. Além

disso, não se observa nenhum tipo de brinquedo exposto, pois os mesmos ficam guardados em

armários fechados. Dessa forma, as atividades de brincadeira ficam restritas ao espaço externo

da instituição no recreio.

Seabra (2010) acrescenta que os espaços externos são essenciais para que a criança

possa observar e ter contato com a natureza. Por esse motivo, a escola deve aproveitar esse

espaço para desenvolver atividades que potencializem as aprendizagens das crianças. Assim,

16

o pátio, por exemplo, pode ser usado para contação de histórias, brincadeiras com uso de

movimento, dentre outras atividades.

No entanto, observa-se que o pátio é usado apenas para o recreio das crianças, que

normalmente brincam de “correr”, não sendo oferecidos brinquedos nesse período de tempo.

Além disso, o professor não interfere no momento do recreio sugerindo brincadeiras ou

brincando com as crianças, pois essas inventam suas próprias brincadeiras.

Com relação à organização do tempo nas instituições de Educação Infantil, esse

também precisa abranger aspectos pedagógicos e aspectos da rotina cotidiana de cada sala de

aula. Deste modo, quando falamos em organização de tempo nas creches convém falar em

rotina, visto que, a mesma funciona como determinação de tempo para as crianças. Portanto, a

implementação da rotina diária deve ser pensada com a criança, pois elas precisam

compreender o que estão fazendo.

De acordo com Seabra (2010), a organização do tempo de cada atividade deve ser

adequada ao nível de desenvolvimento e concentração das crianças. Assim, nessa organização

de tempo, deve-se privilegiar conforme o RCNEI (1998), atividades dirigidas, livres,

diversificadas e de rotina. Esses momentos não excluem, de modo algum, a presença do

educador que precisa aproveitar essas atividades para promover múltiplas experiências de

interação entre as crianças.

No que tange ao tempo disponibilizado para as brincadeiras, observemos a “rotina”

de uma determinada instituição de educação infantil para concluirmos a nossa tese:

Acolhida – 13h

Lanche- 14h

Rodinha: hora de cantar, hora da história- 14h às 15h

Atividade escrita- 15h às 15h30min

Recreio: brincar 15h30min às 16h

Hora da higiene- 16h às 16h20min

Jantar -16h:30min

Saída- 17h:20min

(Rotina da Creche São Francisco das Chagas - Luís Gomes/RN)

Mediante, a observação da rotina, percebe-se que as brincadeiras estão restritas

somente a hora do recreio, assim, as crianças realizam diversas atividades pedagógicas, no

entanto, não privilegiam a brincadeira como atividade. As mesmas são inseridas apenas

quando sobra tempo na realização das atividades propostas na rotina.

17

A ideia dos educadores é que “se sobrar tempo as crianças brincam”. Assim, nessa

concepção, a brincadeira funciona como “um tapa buraco” entre uma atividade e outra, não

disponibilizando o devido tempo para realização de atividades que envolvam as brincadeiras

dirigidas e livres, essenciais ao desenvolvimento físico, motor, cognitivo e emocional da

criança. Além disso, acrescentam que as crianças “não sabem brincar, porque não brincam

daquilo que pra os adultos é “adequado”, privando, assim, o desenvolvimento da autonomia

da criança e seu tempo lúdico”.

Por conseguinte, cabe ao professor, no momento de planejar as atividades que

envolvem o brincar, pensar a importância da organização do ambiente e do tempo para

realização de tais atividades.

4 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

As brincadeiras não podem acontecer de qualquer forma na Educação Infantil.

Devido a sua importância e seriedade para os pequeninos, devem ser bem planejadas levando

em consideração os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem, o espaço social e físico

da instituição educativa.

Para compreender sobre essa ação, faz-se relevante, refletir sobre as palavras de

Ostetto (2000) que coloca o planejamento pedagógico como uma atitude crítica do educador

diante o trabalho docente. Dessa forma, o planejamento torna-se um processo reflexivo que

norteia e orienta a prática educativa. Além disso, a autora acrescenta que o planejamento deve

levar em consideração a realidade das crianças e os recursos disponíveis para realização das

atividades propostas.

O planejamento educativo deve ser assumido no cotidiano como um

processo de reflexão, pois, mais do que ser um papel preenchido, é atitude e

envolve todas as ações e situações do educador no cotidiano do seu trabalho

pedagógico. Planejar é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar

um roteiro pra empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de

experiências múltiplas e significativas para com o grupo de crianças

(OSTETTO, 2000, p. 01).

Assim, o planejamento é uma estratégia de reflexão do conteúdo, dito de outro modo

com as palavras de Vasconcellos (2000) objeto de transformação da realidade. E ainda

acrescentamos mudança da realidade lúdico-cultural.

18

Consequentemente, planejar o brincar é imprescindível, pois a atividade precisa ter

objetivos definidos a serem alcançados, do contrário, torna-se apenas em “passa tempo” para

os professores e para as crianças “momento de brigas”, pois quando uma atividade que tem

brincadeiras não é planejada não flui adequadamente. Além disso, seu valor pedagógico é

desnorteado e, o que deveria ser prazeroso deixa as crianças agressivas e revoltadas.

Por isso, Ostetto (2000) coloca a intencionalidade como marca do planejamento, pois

a intenção do professor é colocada nessa ação, bem como, a sua concepção de infância.

Assim, os docentes desempenham um planejamento rudimentar baseado em conteúdos e

forma. O autor chama esse tipo de planejamento como “listagem de atividades”. Segundo a

autora, esse comportamento está baseado na preocupação do educador em preencher o tempo

de trabalho com o grupo de crianças, entre um e outro momento da rotina (higiene,

alimentação, sono etc).

Na verdade, o educador lista diversas atividades, de modo que, não sobre tempo para

as crianças brincarem. Como se observa, atividades lúdicas não são privilegiadas no

planejamento, os professores desenvolvem atividades diárias baseadas em uma “rotina”

adotada pela instituição. O que se percebe é que os professores estão considerando os

conteúdos e esquecendo a criança.

Para Ostetto (2000) o planejamento adequado à Educação Infantil é o Planejamento

baseado em aspectos do desenvolvimento.

Esse planejamento revela uma preocupação com os aspectos que englobam o

desenvolvimento infantil. Nessa direção, várias são as áreas contempladas,

sendo mais comum a indicação dos aspectos físico-motor, afetivo, social e

cognitivo. Nessa perspectiva nota-se a preocupação em caracterizar a criança

pequena, dentro dos parâmetros da psicologia do desenvolvimento, o que

indica uma preocupação com as especificidades da criança de zero a seis

anos (OSTETTO, 2000, p. 04).

Esse tipo de planejamento vê a criança na sua essência, pois possibilita o seu

desenvolvimento de forma integral, ou seja, particulariza a sua aprendizagem enfocando

atividades que estimulam a criatividade, a curiosidade, a motivação e a ludicidade da criança.

Desse modo, no planejamento das atividades que envolvem o brincar a postura do

professor deve ser analisada para que essa prática seja concretizada de forma eficaz. Assim,

quando o professor for desenvolver atividades lúdicas nos espaços educativos faz-se

necessário atentar para o tempo, espaço e materiais a serem oferecidos para que a brincadeira

tenha o objetivo pedagógico alcançado, e não funcione como simples “passa tempo”.

19

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante as reflexões feitas nesse artigo concluímos que a Educação Infantil é uma

fase que merece toda atenção, visto que, passou por diversos conflitos para chegar a ser

reconhecida como parte da Educação Básica. Além disso, o conceito de infância também

evoluiu conforme a sociedade, a criança é um ser social e histórico que possui sua

subjetividade e individualidade. Dessa maneira, a educação precisa pensar na sua

especificidade e nos seus direitos, dentre eles, o brincar.

Assim, reconhecendo a importância do brincar para a Educação Infantil, convém que

as instituições e os docentes revejam conceitos sobre essa prática, de modo que, a brincadeira

seja explorada em sala de aula como atividade pedagógica e não meramente como um passa

tempo entre uma atividade e outra.

O brincar precisa ser visto como protagonista pela escola, além de potencializador do

desenvolvimento integral da criança. Do mesmo modo, a escola precisa propiciar espaço

adequado para que a criança mediante a brincadeira, seja ela dirigida ou livre, desenvolva o

seu potencial. Nas brincadeiras os pequeninos tem a oportunidade de expressar sentimentos,

emoções, desejos, medos, dentre outros elementos que fazem parte do seu comportamento.

É nesse momento que a criança começa a interagir com os colegas, se sociabiliza e,

ao mesmo tempo constrói a sua identidade social. Além disso, os pais precisam ser

conscientizados ou “informados” que brincando também se aprende e, que a atividade do

brincar é tão importante na aprendizagem dos alunos quanto à leitura e a escrita.

Novamente, planejar o brincar é imprescindível, pois a atividade precisa ter objetivos

definidos a serem alcançados, do contrário, torna-se apenas em “passa tempo” para os

professores e para as crianças “momento de brigas”. Portanto, a educação infantil tem a

incumbência de incrementar no seu currículo práticas educativas que privilegiem a

brincadeira com prática educativa e não apenas como momento de diversão ou descanso para

os professores.

Por conseguinte, acredita-se que a brincadeira precisa ser resgatada na Educação

Infantil, visto que, em vez de brincar, as crianças estão fazendo atividades baseadas numa

rotina diária, que não privilegia a brincadeira como atividade pedagógica. Contudo, percebe-

se que os docentes e a instituição tem ciência da importância da brincadeira para os

pequeninos, mas não inserem essa prática no seu planejamento, em virtude, de a Educação ser

enxergada como fase de preparação para o Ensino Fundamental.

20

REFERÊNCIAS

ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 2ª ed., 1981.

ANDRADE, LBP. Educação infantil: discurso, legislação e práticas institucionais [online].

São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 193 p. ISBN 978-85-7983-

085-3. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. Acesso em 10 de abril de

2016.

BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.

Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998.

_______. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio a Gestão Educacional. Pacto

Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Brincando na escola: o lúdico nas escolas do

campo. Unidade 4, Brasilia /MEC/SEB, 2012.

CAVALCANTE, Andreza Emicarla Pereira. O cuidar e o educar nas instituições de

educação infantil: um olhar investigativo. Disponível em:

http://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/36e729ec173b94133d8fa552e4029f8b.pdf

. Acesso em 16 de abril de 2016 às 23h34min.

FRIEDMANN, Adriana. O Brincar na Educação Infantil: observação, adequação e

inclusão.1. ed. São Paulo, Moderna, 2012.

FORTUNA, Tânia Ramos. O lugar do brincar na educação infantil. Revista Pátio. Porto

Alegre, nº 27, p. 8-10, abr/jun. 2011. Acesso em 11 de abril de 2016. Disponivel em:

http://www.infoescola.com/sociologia/conceito-de-infancia/.

HEYWOOD, Colin. Uma história da infância: da Idade Média à época Contemporânea no

Ocidente. Porto Alegre: Artmed, 2004.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo:

Cortez, 2001.

__________, T. M. O jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Cengage Learning, 2003.

KUHLMANN JR., M.. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto

Alegre: Mediação, 1998.

MELLO, Ana Maria. O educador como gestor de espaços educacionais. Série editada por

Suzi Mesquita Vargas. – Brasília: Gerdau, Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, 2011.

MAÉVI, Anabel, Nono. O brincar na educação infantil: fundamentos e princípios da

educação infantil. Unesp - Departamento de Educação – Instituto de Biociências, Letras e

Ciências Exatas. Acesso em 19 de abril de 2016. Disponivel em:

http://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/231/1/01d12t05.pdf.

21

MARQUES, Eveline Ignácio da Silva. Educação Infantil: Tempo Para Brincar. Mimesis,

Bauru, v.32, n. 2, 2011, p.115-130, 2011. Disponivel em: http://www.usc.br/biblioteca/

mimesis/mimesisv32_n2_2011_art_02.pdf. Acesso em 12 de maio de 2016.

OSTETTO, Esmeralda Luciana. Planejamento na Educação Infantil, mais que atividade a

criança em foco. Campinas, Papirus. 1992.

RODRIGUES, Luzia Maria. A criança e o brincar. Monografia do Curso de Especialização

em Educação Infantil: Desafios do trabalho cotidiano: a educação das crianças de 0 a 10 anos,

UFRRJ,2009. Acesso em 22 de abril de 2016. Disponivel em:

http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/desafios-cotidianos/arquivos

/integra/integra_RODRIGUES.pdf.

SOMMERHALDER, Aline. Jogos e educação da infância: muito prazer em aprender. 1. Ed.

Curitiba, CRV, 2011.

SEABRA, Karla. O cuidar e o educar e as rotinas da Educação Infantil. Rio de Janeiro,

Fundação CECIERJ, 2010.

VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto

político-pedagógico. São Paulo, Libertad, 2000.

VYGOTSKY, L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In: A formação social da

mente. Martins Fontes. São Paulo, 1989.