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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SOUSA – PB PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SOUSA – PB EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA 8ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA Nº. _______________/2015/MPF/PRM/SOUSA/PB/GAB/TMJM OPERAÇÃO ANDAIME Referências: Inquérito Policial n. 048/2014 Procedimento Investigatório Criminal n. 1.24.003.000250/2014-46; Ação Cautelar Penal n. 000297-38.2015.4.05.8202 (Medidas Pessoais); Ação Cautelar Penal n. 000296-53.2015.4.05.8202 (Busca e Apreensão); Ação Cautelar Penal n. 000301-75.2015.4.05.8202 (Sequestro de Bens); O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do órgão de execução oficiante na Procuradoria da República em Sousa – PB, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, inscritas, respectivamente, nos arts. 127 e 129, inciso I, da Constituição da República e nos arts. 24 e 41 do Decreto-Lei n. 3.689/41 – Código de Processo Penal, valendo-se das ressalvas contidas na Resolução n. 58/2009 do Conselho da Justiça Federal para procedimentos sigilosos, com fulcro nos procedimentos em epígrafe, vem oferecer D E N Ú N C I A D E N Ú N C I A em desfavor de 1. FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, vulgo “Deusimar”, brasileiro, casado, CPF n. 033.889.914-64, residente na Rua R. Francisco Vieira da Costa, s/n, Bairro Maria Raquel Gadelha, Sousa/PB – CEP: 58804-725 (83) 3522-3977 / 3522-3302 – www.prpb.mpf.mp.br 1/136

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EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA 8ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIADA PARAÍBA

Nº. _______________/2015/MPF/PRM/SOUSA/PB/GAB/TMJM

OPERAÇÃO ANDAIME

Referências:Inquérito Policial n. 048/2014Procedimento Investigatório Criminal n. 1.24.003.000250/2014-46;Ação Cautelar Penal n. 000297-38.2015.4.05.8202 (Medidas Pessoais); Ação Cautelar Penal n. 000296-53.2015.4.05.8202 (Busca e Apreensão);Ação Cautelar Penal n. 000301-75.2015.4.05.8202 (Sequestro de Bens);

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do órgão deexecução oficiante na Procuradoria da República em Sousa – PB, no uso de suasatribuições constitucionais e legais, inscritas, respectivamente, nos arts. 127 e 129,inciso I, da Constituição da República e nos arts. 24 e 41 do Decreto-Lei n. 3.689/41– Código de Processo Penal, valendo-se das ressalvas contidas na Resolução n.58/2009 do Conselho da Justiça Federal para procedimentos sigilosos, com fulcronos procedimentos em epígrafe, vem oferecer

D E N Ú N C I AD E N Ú N C I A

em desfavor de

1. FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, vulgo “Deusimar”,brasileiro, casado, CPF n. 033.889.914-64, residente na Rua

R. Francisco Vieira da Costa, s/n, Bairro Maria Raquel Gadelha, Sousa/PB – CEP: 58804-725(83) 3522-3977 / 3522-3302 – www.prpb.mpf.mp.br

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Terezinha Moreira da Nóbrega, S/N, Bairro Jardim Soledade II,Cajazeiras-PB, atualmente recolhido no presídio de Cajazeiras – PB;

2. FERNANDO ALEXANDRE ESTRELA, brasileiro, solteiro, CPF103.824.114-63, residente na Rua São Sebastião, n. 100-A, 1° andar,centro, Cajazeiras;

3. WENDELL ALVES DANTAS, brasileiro, casado, engenheiro eSecretário de Finanças de Joca Claudino – PB, CPF 992.793.714-87,residente na Rua Tonheiro Pedoca, n. 50, centro, Joca Claudino,podendo ser encontrado também na Prefeitura de Joca Claudino,atualmente recolhido no presídio de Cajazeiras – PB;

4. JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS, brasileiro, casado, engenheiro efuncionário público, CPF n. 045.883.134-44, residente atualmente naRua José de Oliveira Curchatuz, n. 320, apto. 502, Bloco A, Bessa, JoãoPessoa, telefone (83) 98678100;

5. MÁRCIO BRAGA DE OLIVEIRA, brasileiro, casado, engenheiro efuncionário público, CPF n. 73909530478, residente na Rua Dr. CelsoMattos Rolim, 635 - Casa - Jardim Primavera - Cajazeiras – PB,atualmente recolhido no presídio de Cajazeiras – PB;

6. MOACIR VIANA SOBREIRA, brasileiro, empresário, CPF n.075.220.374-68, residente na Rua Josias Farias da Silva, n. 730,Conjunto IPEP, Cajazeiras – PB;

7. HORLEY FERNANDES, brasileiro, casado, engenheiro, CPF020.579.644-34, residente na Rua Tabelião Antônio Holanda, n 250,Centro, Cajazeiras – PB;

8. JARISMARQUES GOMES FERREIRA, brasileiro, presidente da CPLde Bernardino Batista, CPF n. 607.967.154-91, residente na RuaFrancisco Egídio dos Santos, Centro, Bernardino Batista – PB,podendo ser encontrado também na Prefeitura de BernardinoBatista;

R. Francisco Vieira da Costa, s/n, Bairro Maria Raquel Gadelha, Sousa/PB – CEP: 58804-725(83) 3522-3977 / 3522-3302 – www.prpb.mpf.mp.br

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9. LINDOMARCOS GOMES DA SILVA, brasileiro, membro da CPL deBernardino Batista, CPF n. 049.524.294-23, residente na RuaFrancisco Egídio dos Santos, Centro, Bernardino Batista – PB,podendo ser encontrado também na Prefeitura de BernardinoBatista;

10. DOMINGOS GOMES LOURENÇO, brasileiro, membro da CPL deBernardino Batista, CPF n. 037.749.734-74, residente na Rua PedroFerreira, n. 371, Centro, Triunfo – PB, podendo ser encontradotambém na Prefeitura de Bernardino Batista;

11. RAIMUNDO BILA VIANA, brasileiro, membro da CPL deBernardino Batista, CPF n. 298.501.258-96, residente na RuaProjetada, s/n, Bernadino Batista – PB, podendo ser encontradotambém na Prefeitura de Bernardino Batista;

12. AURELIANO BATISTA DUARTE, brasileiro, membro da CPL deJoca Claudino, CPF n. 054.076.274-18, filho de Maria das GraçasBatista Duarte, residente no sítio de Santa Rita, zona rural, JocaClaudino – PB, podendo ser encontrado na Prefeitura de JocaClaudino;

13. JOSÉ COSTA DUARTE, brasileiro, membro da CPL de JocaClaudino, CPF n. 032.492.274-47, filho de Geralda Maria CostaDuarte, residente na zona rural de Joca Claudino – PB, podendo serencontrado na Prefeitura de Joca Claudino;

14. CEZAR CAMPOS DUARTE, brasileiro, membro da CPL de JocaClaudino, CPF n. 041.616.544-30, filho de Ivonete Campos Duarte,residente no Mundinho Anacleto, zona rural de Joca Claudino – PB,podendo ser encontrado na Prefeitura de Joca Claudino ou noMercadinho Padre Cícero, situado na Rua Heleno Barreto, n. 34,centro, Joca Claudino;

15. JEFFERSON STEFÂNIO LAURENTINO DE ANDRADE, brasileiro,solteiro, consultor, CPF n. 058.947.684-03, residente na Rua AntônioClaudino de Galiza, n. 207, primeiro andar, Tamandaré, Uiráuna – PB;

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16. FRANCISCO LUAN BORGES CASSIANO, brasileiro, CPF n.082.873.804-13, residente na Rua Monsenhor Constantino, n. 309,Cristo Rei, Uiraúna – PB, podendo ser encontrado também na sede daempresa Borges Cassiano, na Rua Francisco Fernandes Nogueira, n.309, Algasa, Uiraúna;

17. CARLOS ALBERTO MARTINS, brasileiro, CPF n. 222.416.473-49,residente na Rua Dr. José Torquato, n. 1115, centro, São Miguel – RN,podendo se encontrado também na sede da empresa RC-MAC

Construções LTDA (MAC Construtora), na Rua Antônio do Rego Leite,n. 377, centro, São Miguel – RN;

18. RODRIGO LIMA MAIA, brasileiro, advogado, CPF n. 036.143.674-28, residente na Rua Juracy de Carvalho Luna, n. 31, apto. 402,Brisamar, CEP n. 58034-240, João Pessoa – PB;

19. FRANCISCO ROMANO NETO, brasileiro, casado, advogado, CPF n.885.656.104-20, residente na Rua José Vieira Bujary, n. 118, B,Centro, Uiraúna – PB;

pelo cometimento dos fatos criminosos doravante delineados.

Sumário1. Contextualização da Operação Andaime...................................................................................................5

1.1. Da Organização Criminosa...............................................................................................................51.1.1. Do Início das Fraudes: IMCON Limpeza e Construções.........................................................71.1.2. Do Arranjo Atual da Organização: Servcon e Tec Nova..........................................................91.1.3. Servcon e Tec Nova como Empresas Fictícias.......................................................................14

1.1.3.1. Da Ausência de Mão de Obra para Execução das Obras...............................................151.1.3.2. Da Ausência de Lucros Declarados à Receita Federal...................................................161.1.3.3. Da Ausência de Insumos para a Atividade.....................................................................171.1.3.4. Da Movimentação Bancária Atípica..............................................................................201.1.3.5. Das Informações Colhidas em Interceptação Telefônica...............................................21

1.1.4. Do Objetivo da Organização Criminosa.................................................................................262. Dos Fatos Imputados na Presente Denúncia ...........................................................................................29

2.1 Da Organização Criminosa em Bernardino Batista e em Joca Claudino.........................................29

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2.2. Dos Crimes Praticados em Bernardino Batista...............................................................................382.2.1. No Convênio n. 657011/2009 (SIAFI n. 657159) – Creche FNDE.......................................38

2.2.1.1. Da Fraude Licitatória na TP n. 003/2010.......................................................................382.1.1.2. Do Peculato Através de Boletins de Medição Ideologicamente Falsos.........................412.1.1.3. Da Lavagem de Dinheiro e da Corrupção Ativa e Passiva............................................51

2.2.2. Na Proposta n. 10484826000113002 – UBS do Distrito de Antônio Paulo...........................552.2.2.1. Da Fraude Licitatória na TP n. 004/2013.......................................................................552.2.2.2. Do Peculato Através de Boletins de Medição Ideologicamente Falsos.........................572.2.2.3. Da Lavagem de Dinheiro...............................................................................................64

2.3. Dos Crimes Praticados em Joca Claudino.......................................................................................662.3.1. No TC PAC n. 204302/2013 – Quadra Coberta na Zona Urbana...........................................66

2.3.1.1. Da Fraude Licitatória na TP n. 001/2013.......................................................................662.3.1.2. Do Superfaturamento.....................................................................................................682.3.1.3. Do Peculato – Encargos Sociais.....................................................................................722.3.1.4. Do Peculato Através de Boletins de Medição Ideologicamente Falsos.........................792.3.1.5. Da Lavagem de Dinheiro...............................................................................................86

2.3.2. Na Reforma da Escola com Recursos do FUNDEB...............................................................882.3.2.1. Da Fraude Licitatória no Convite 005/2013..................................................................882.3.2.2. Do Peculato Através Boletins de Medição Ideologicamente Falsos..............................982.3.2.3. Da Lavagem de Dinheiro.............................................................................................107

2.4. Dos Crimes Praticadas por Wendell Alves Dantas........................................................................1082.4.1. Atestado Ideologicamente Falso e Uso perante o MPF .......................................................1092.4.2. Fraude Processual: Influência sobre Testemunha.................................................................1142.4.3. Prevaricação..........................................................................................................................1182.4.4. Da Falsificação de Documento Público................................................................................121

3. Da Imputação Jurídica...........................................................................................................................1214. Do Pedido...............................................................................................................................................134

1. Contextualização da Operação Andaime1. Contextualização da Operação Andaime

1.1. Da Organização Criminosa

Nos autos do PIC n. 1.24.002.000250/2014-46 1, o Ministério PúblicoFederal, em atuação coordenada com Polícia Federal (IPL n. 048/2014) eControladoria-Geral da União, reuniu elementos probatórios que indicam aexistência de uma organização criminosa do colarinho branco lavada a cabo porFrancisco Justino do Nascimento, vulgo “Deusimar”, sua esposa, Elaine da SilvaAlexandre, vulgo “Laninha”, seus sobrinhos, Fernando Alexandre Estrela e

1 Instaurado a partir do IC n. 1.24.002.000062/2014-18 (apenso: IC n. 1.24.002.000176/2012-04).

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Mayco Alexandre Gomes, e os engenheiros Horley Fernandes e GeraldoMarcolino da Silva, com o objetivo reiterado de fraudar licitações públicas emdiversos municípios da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte 2, mascarar desviosde recursos públicos em favor próprio e de terceiros, lavar o dinheiro públicodesviado e fraudar os fiscos federal e estadual 3.

A investigação 4 partiu de representação formulada pelo VereadorAbdon Salomão Lopes Furtado, noticiando a execução irregular do contratoadministrativo decorrente da Tomada de Preços n. 005/2012, realizada peloMunicípio de Marizópolis para escolha da empresa Servcon ConstruçõesComércio e Serviços LTDA – EPP, nome fantasia “Construtora Servcon”, pararealização de pavimentação de ruas (anexo I).

A irregularidade noticiada consistiria no fato de a obra depavimentação estar sendo realizada, em verdade, por funcionários da prefeitura deMarizópolis, cabendo à empresa Servcon apenas fornecer as notas fiscais “frias” 5

para dar aparência de legalidade à licitação fraudulenta e ao subsequente desviodo dinheiro público.

No início da investigação, buscou-se o rastreamento societário daempresa especializada em vender notas fiscais “frias”, descobrindo-se verdadeira

2 Os dados coletados no presente PIC foram remetidos às Procuradorias da República em Pau dosFerros no Rio Grande do Norte e à Procuradoria da República em Juazeiro do Norte no Ceará.

3 No que pertine aos crimes fiscais, dependentes de lançamento definitivo do crédito tributário, ainformação sobre a sonegação fiscal da Construtora Servcon, relativamente ao Imposto de Rendade Pessoa Jurídica – IRPJ, não declarados valores recebidos pelas obras públicas, já foi noticiadaà Receita Federa do Brasil (fl. 364).

4 Ainda nos autos do IC n. 1.24.002.000176/2012-04. No mesmo sentido, representaçãoformulada pelo Deputado Estadual José Aldemir Meireles, tombada inicialmente sob a rubrica deNF n. 1.24.002.000031/2014-67 e atualmente no anexo V do presente PIC.

5 Para efeito de precisão conceitual, em todo o texto se usa a expressão “notas fiscais frias” paradesignar aquela nota fiscal que, embora documentalmente verdadeira, possui informações sobreserviços não prestados ou sobre uma operação não realizada pela empresa, em verdadeiro crimede falsidade ideológica (art. 299, CP). Como a nota fiscal se tornou no Brasil a base de todatransação comercial e base para aplicação de impostos, realização de pagamentos e prestação decontas, a utilização desse documento fiscal se tornou também estratégico para as fraudespraticadas contra a administração. A experiência tem demonstrado que a produção de notasfiscais “frias” se tornou uma profissão, praticada por aqueles que se aprofundaram em técnicasde obtenção desses documentos e nos procedimentos de abertura de empresas “fantasmas” coma utilização de laranjas e documentos falsos.

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sucessão empresarial ilícita capitaneada pelo ex-policial militar 6, FranciscoJustino do Nascimento, conforme a seguir esmiuçado.

1.1.1. Do Início das Fraudes: IMCON Limpeza e Construções

Entre 04 de março de 1999 e 07 de julho de 2009, Francisco Justinodo Nascimento foi sócio da empresa IMCON Limpeza e Construções (CNPJ n.03.007.452/0001-93), com 30% de participação, juntamente com sua esposa,Elaine da Silva Alexandre, vulgo “Laninha”, com 70% da participação (fls.118/121).

Tal empresa, ainda ativa, recebeu, somente a título de recursospúblicos, o valor de R$ 3.628.658,84, conforme dados extraídos do Sistema deAcompanhamento da Gestão dos Recursos da Sociedade (SAGRES) do Tribunal deContas do Estado da Paraíba. Grande parte desses recursos foi recebida até o anode 2009, quando a empresa era supostamente operada por Francisco Justino.

Ocorre que, nos dez anos em que esteve à frente da IMCON,precisamente em 2004 e 2005, Francisco Justino já havia deixado a Polícia Militarda Paraíba e chegou a receber auxílio financeiro de R$ 100,00 dos municípios deJoca Claudino e Poço José de Moura (fls. 150 e 152) por ser considerada pessoacarente.

Nesse período, Francisco Justino e “Laninha” também tiveram contrasi instaurado o inquérito policial n. 327/2002 – SR/DPF/PB (retombado como

6 O interesse sobre o principal articulador do esquema criminoso, Francisco Justino doNascimento, começa com as informações prestadas pela Polícia Militar do Estado da Paraíba. Osdocumentos de fls. 404/440 e 453/491 demonstram que ele teve sua carreira militar marcadapor repetidas e graves faltas disciplinares, tais como deserção (fls. 408, 417, 419, 438),contração de dívidas acima de suas possibilidades (“contumaz inadimplente, incorrigível nesse

tipo de atitude”, fl. 440), furto de cheques, expedição de cheques sem fundos (fl. 415 e 422),embriaguez alcoólica, desobediência de ordem superior e peculato de valores do quartel (fl.434). Em decorrência, o militar foi preso diversas vezes (fls. 415, 434, 438, 439 e 440) e teve seucomportamento considerado “mau” para efeitos disciplinares de hierarquia (fl. 440 e 457).

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n. 13/2007 – DPF/PAT/PB), por uso de documento falso e fraudes licitatóriascom a empresa IMCON 7.

Em 07 de julho de 2009, o controle formal da IMCON passou a JoséKennedy Leandro Gomes, vulgo “Dedezinho”, e seus sócios, José Alves de OliveiraNeto e Francisco Pereira de Sousa (fl. 118/120).

No curso do IC n. 1.24.002.000097/2015-38, apurou-se que os novosadministradores da empresa IMCON eram, em verdade, “laranjas” 8 de MoacirViana Sobreira, construtor que operou, por quase uma década, o mesmo esquemade venda de notas fiscais “frias”, atualmente capitaneado por Francisco Justino. Portais condutas, Moacir Viana Sobreira fez uso de diversas empresas “fantasmas” 9 efoi demandado em mais de uma dúzia de ações 10.

A IMCON e a Servcon chegaram a participar juntas em duas licitaçõesem Poço Dantas e Cachoeira dos Índios 11. A relação próxima de Francisco Justino eMoacir Viana retornaria posteriormente, quando aquele teria “contratado” estecomo engenheiro, conforme narrado na exordial da ação penal que trata do núcleocriminoso em Bernardino Batista (TP n. 003/2010).

7 Número judicial 0009202-92.2002.4.05.8200, remetido à Justiça Estadual, Comarca deCajazeiras-PB.

8 Neste texto, usa-se o termos “laranja” para caracterizar o agente intermediário que efetua emseu nome, por ordem de terceiros, transações comerciais ou financeiras, ocultando a identidadedo real agente ou beneficiário.

9 Sendo as mais conhecidas, além da IMCOM, a Joatan Construções LTDA (CNPJ n.06.171.252/0001-60), a Vetor Pré-moldados Construções Comércio e Serviços LTDA (CNPJ n.05.828.370/0001-35) e a Personal Construções, Comércio e Serviços LTDA (CNPJ n.05.410.518/0001-17).

10 Exemplificativamente: 0000113-19.2014.4.05.8202 - AÇÃO PENAL; 0000222-14.2006.4.05.8202 (2006.82.02.000222-1) - AÇÃO PENAL; 0000256-08.2014.4.05.8202 - AÇÃOPENAL; 0000283-88.2014.4.05.8202 - AÇÃO PENAL; 0000305-49.2014.4.05.8202 - AÇÃOPENAL; 0000565-63.2013.4.05.8202 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADEADMINISTRATIVA; 0000567-33.2013.4.05.8202 - AÇÃO PENAL; 0000793-38.2013.4.05.8202 -AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA; 0000874-84.2013.4.05.8202 -MEDIDA CAUTELAR INOMINADA; 0000875-69.2013.4.05.8202 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA DEIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA; 0001433-12.2011.4.05.8202 - AÇÃO PENAL; 0002431-14.2010.4.05.8202 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA; 0003051-26.2010.4.05.8202 - AÇÃO PENAL; e 0003232-90.2011.4.05.8202 - AÇÃO PENAL.

11 Trata-se da TP n. 06/2010 de Poço Dantas e a TP n. 02/2011 de Cachoeira dos Índios,envolvendo recursos estaduais.

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1.1.2. Do Arranjo Atual da Organização: Servcon e Tec Nova

Em 22 de julho de 2009, quinze dias após deixar a IMCON, FranciscoJustino do Nascimento constituiu a Servcon Construções Comércio e ServiçosLTDA – EPP, nome fantasia “Construtora Servcon” (CNPJ n. 10.997.953/0001-20),que era integrada, de sua fundação até 27 de outubro de 2011, por FranciscoJustino do Nascimento, com 80% das cotas, e seu genitor, Justino Raimundo doNascimento (CPF n. 037.851.554-33), com 20% das cotas (fls. 142/144).

Em 27 de outubro de 2011, Justino Raimundo do Nascimento ésubstituído pelo engenheiro Geraldo Marcolino da Silva (CPF n. 086.518.504-25),passando a constituição societária a ser: Francisco Justino do Nascimento com99% das cotas e Geraldo Marcolino da Silva com o 1% restante.

Formalmente, a empresa Servcon pode ser assim representada:

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A informação inicial era de que a Servcon Construções Comércio e

Serviços LTDA – EPP, em parceria com a empresa Tec Nova – Construção CivilLTDA – ME (CNPJ n. 14.958.510/0001-80), operacionalizavam amplo esquemacriminoso de venda de notas fiscais “frias”.

Entre 18 de janeiro de 2012 e 12 de junho de 2013, foram sócios daTec Nova – Construção Civil LTDA Mayco Alexandre Gomes (CPF n. 084.850.354-61), com 99% de participação, e Maria Alda da Silva Alexandre (CPF n.675.292.164-49), com 1% de participação. Em 12 de junho de 2013, os sóciospassaram a ser Fernando Alexandre Estrela (CPF n. 103.824.114-63), com 99%de participação 12, e o engenheiro civil Horley Fernandes (CPF n. 020.579.644-34),com 1% de participação 13. Em 04 de novembro de 2014, Elaine da SilvaAlexandre, vulgo “Laninha”, esposa de Francisco Justino, substituiu FernandoAlexandre no quadro societário da Tec Nova.

Formalmente, a Tec Nova pode ser assim representada:

12 No período imediatamente anterior a ser alçado ao cargo de “administrador” da empresa Tec

Nova, Fernando Alexandre Estrela trabalhava na empresa Auto Posto Cajazeiras LTDA (CNPJ n.05.471.862/0001-16), no período de 17 de outubro de 2012 a 21 de outubro de 2013,exercendo o cargo de frentista (fl. 148) e, na declaração de IRPF, identificou-se como “vendedor e

prestador de serviços do comércio, ambulante, caixeiro-viajante e camelô” (fl. 450 e mídia).13 Horley Fernandes também foi sócio da Personal Construções, Comércio e Serviços LTDA,

identificada como empresa “fantasma” pertencente a Moacir Viana Sobreira, acima referido.

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Destes sócios meramente figurativos, descobriu-se que Maria Alda daSilva Alexandre é genitora de “Laninha”, esposa de Francisco Justino, e avó deFernando Alexandre Estrela. Este, por sua vez, é irmão de Mayco Alexandre Gomese ambos (Mayco e Alexandre) são filhos de Eliana da Silva Alexandre, irmã deLeninha e filha de Alda – ou seja, sobrinhos de Francisco Justino. A sede da TecNova se situa na casa de Maria Alda da Silva Alexandre, mãe de “Laninha”, e amenos de 35 metros de sua antiga residência (atualmente habitada por EnieideAlexandre, irmã de “Laninha”).

Como se os vínculos familiares próximos não fosse suficiente paraapontar Francisco Justino e “Laninha” como reais administradores de ambas asempresas, as informações constantes dos relatórios de inteligência do COAFdocumentam diversos saques efetuados na conta da Tec Nova diretamente porFrancisco Justino (fls. 51/52), além da compra de um veículo com cheques da Tec

Nova assinados por Francisco Justino (fls. 387/391).

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Por fim, a fotografia colhida na rede social Facebook, em perfil de“Laninha”, Mayco e Alexandre aparecem trabalhando no escritório da Servcon (fl.191) e o próprio Francisco Justino compareceu a esta PRM – Sousa para inquiriçãoem outro procedimento e se apresentou como represente da Tec Nova (fl. 190).

Em depoimentos prestados à Polícia Federal quando de suas prisões,os denunciados afirmaram que as empresas eram administradas por FranciscoJustino do Nascimento, cabendo a Mayco Alexandre Gomes e a FernandoAlexandre Estrela participar das fraudes na qualidade de “testas de ferro” (fls.290/304, IPL). Inclusive, na busca e apreensão realizada na cada de Justino eElaine foi encontrado um talonário de cheques do Banco Itaú, relativo à contacorrente nº 01357-5 da agência nº 6781-4, em nome da Tec Nova, com os chequesAA-000010 a AA-000020 assinados em branco por Mayco Alexandre. Do mesmotalão, os cheques de AA-00001, AA-00008 e AA-00009, diziam respeito a despesasde Francisco Justino e foram emitidos até o primeiro semestre de 2013, época emque a empresa era formalmente administrada por Mayco.

Os sócios e engenheiros Horley Fernandes e Geraldo Marcolino daSilva eram responsáveis por assinar as ATR's que possibilitavam a regularizaçãodocumental das obras públicas, sabendo que as obras não seriam executadas pelasempresas Servcon e Tec Nova. Inclusive, durante as buscas, um carimbo com osdados do engenheiro Geraldo Marcolino foi encontrado na casa de FranciscoJustino.

Por sua vez, a participação de Elaine da Silva Alexandre, vulgo“Laninha”, na esquema não se resumia ao acompanhamento do marido,participando ela ativamente da empresa criminosa, como, aliás, revela o trecho dodiálogo interceptado:

ÍNDICE: 7168842NOME DO ALVO: FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTOTELEFONE DO ALVO: 8393045008DATA DA CHAMADA: 19/11/2014HORA DA CHAMADA: 07:13:56DURAÇÃO: 00:00:41TELEFONE DO CONTATO: 8433880124TRANSCRIÇÃO:

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HNI - Justino se encontra?LANINHA - foi deixar Juliana no colégio.HNI - (...) quando ele chegar peça a ele, diga a ele que mandei no email duasnotinhas pequenas peça para ele emitir que eu tô tirando aqui as certidões.LANINHA - pronto, assim que ele chegar eu falo para ele.HNI - tá bom. Obrigado Laninha.LANINHA - nada.

Na análise do material apreendido, destacam-se as anotaçõesrealizadas na agenda de “Laninha” relacionadas claramente ao seu envolvimentocom as atividades ilícitas do marido. Dela consta anotação sobre “monte Orebe asNotas – Júnior ligou” (sic), que diz respeito a pedido de notas fiscais pelaPrefeitura de Monte Horebe-PB, ente público do qual as empresas de “Laninha” eJustino receberam R$ 1.699.111,96.

De outra anotação consta “Paolo R$ 450.000,00, R$ 160.000,00, R$160.000,00 e R$ 30.000,00”, indicando possível rateio de valores. Há ainda aanotação, “Wendeo de Joca Claudino – 9988 6065 – a respeito de umamedição” (sic), relativamente a Wendell Alves Dantas, marido da Prefeita de JocaClaudino, Secretário de Finanças da Prefeitura e réu em outro processo da“Operação Andaime” por operacionalizar naquele Município a segunda camada daempreitada criminosa aqui imputada a “Laninha”.

Por fim, consta da mesma agenda a anotação “Francina fui praMajor Sales, só o que vem aqui hoje é o rapaz pra colocar o toldo deixe eleentrar. Qualquer coisa me ligue. Laninha” (sic), demonstrando o conhecimentoe participação desta nas negociações das empresas pertencentes ao casal emMunicípios do Rio Grande do Norte, no caso, o Município de Major Sales.

Ainda em relação à participação de Laninha no esquema, observe-seque ela chega a pessoalmente assinar documentos ideologicamente falsos paraparticipar de licitações com a empresa Tec Nova, como dão conta a descriçãoconstante do ponto abaixo, relativamente a Concorrência n. 02/2015 de Cajazeiras.

Pelo exposto, parece além de qualquer dúvida razoável que asempresas Servcon Construções Comércio e Serviços LTDA – EPP e Tec Nova –

Construção Civil LTDA se encontravam sob o controle de Francisco Justino do

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Nascimento e de sua esposa Elaine da Silva Alexandre, vulgo “Laninha”, com vistasa operacionalizar o seu esquema criminoso de fraude a licitações e desvio derecursos públicos.

Somente até este momento já se prova, com certa facilidade, o crimede fraude à licitação (art. 90, Lei n. 8.666/93) em pelo menos oito certamesrealizados no Estado da Paraíba (fl. 21 e 193/202), em que ambas as empresasparticiparam em conjunto, cuja discriminação será feita em tópicos apartadosabaixo.

1.1.3. Servcon e Tec Nova como Empresas Fictícias

Por “empresa fictícia” ou “empresa fantasma” se entende a pessoajurídica constituída apenas documentalmente, ou seja, somente no papel. Pordefinição, a constituição de empresas “fantasmas” é prática colusiva que consistena criação, por meio de registro nas juntas comerciais, de empresas que não atuamde fato no mercado (ou atuam se valendo da estrutura empresarial de outra), mas“participam” das licitações públicas com o intuito único de conferir aparência delegalidade ao certame 14.

A participação de empresa “fictícia” em licitação implicanecessariamente também na formulação de uma proposta fictícia. Na prática,sagrando-se vencedora, o adimplemento contratual – se ocorrer – será feito poroutra empresa, que detém a estrutura operacional necessária (empregados,maquinário, veículos, etc.) 15, ou, como alguns casos demonstrou (v.g., emMarizópolis), a realização das obras é feita pelos servidores do próprio entepúblico.

Diferentemente das “empresa de fachada” 16, a empresa fictícia nãotem nenhuma atividade econômica e é utilizada apenas para fornecer documentos

14 Na maior parte dos casos elas assumem a natureza de microempresas (ME) ou de empresas depequeno porte (EPP), como é o caso da Servcon e Tec Nova, gozando de prerrogativas dedesempate e de preferência de contratação nas licitações públicas (art. 44, LC n. 123/2006).

15 CECCATO, Marco Aurélio. Cartéis em Licitações: estudo tipológico das práticas colusivas entre

licitantes e mecanismos extrajudiciais de combate. Disponível em: [www.esaf.fazenda.gov.br].

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para as licitações e notas fiscais “frias” de serviços que não executou, como formade dar aparência de legalidade às licitações e ao desvio de recursos públicos. Emúltima análise, as movimentações financeiras da empresa no suposto recebimentodos recursos públicos e seu posterior desvio em favor dos beneficiários seenquadram, em tese, como dissimulação do proveito de crime antecedente,consistindo em típico crime de lavagem de dinheiro.

No caso investigado, além de as empresas Servcon e Tec Nova

pertencerem a Francisco Justino do Nascimento, que, juntamente com os demaisdenunciados, usa-as para fraudar licitações públicas, as provas coligadas aopresente PIC revelam que ambas as pessoas jurídicas são “empresa fantasmas”,criadas apenas para dar aparência de legalidade às licitações e fornecerem adocumentação lastreadora dos recursos públicos desviados (notas fiscais “frias”),operacionalizando a primeira fase da lavagem de dinheiro do proveito do crime.

A seguir, esmiunça-se os motivos pelos quais as empresas Servcon eTec Nova são empresas “fantasmas”.

1.1.3.1. Da Ausência de Mão de Obra para Execução das Obras

Os dados do Sistema de Acompanhamento da Gestão dos Recursos daSociedade (SAGRES) do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba apontam aparticipação da Construtora Servcon em 142 licitações, movimentando, em apenascinco anos (2009 a 2014) o valor de R$ 14.233.923.45 (quatorze milhõesduzentos e trinta e três mil novecentos e vinte e três reais e quarenta e cincocentavos), somente de pagamentos de órgãos públicos. O sistema não apresenta osvalores de 2015, mas a investigação apontou que se trata de empresa em plenofuncionamento.

Por sua vez, a Tec Nova participou de 35 licitações, movimentando,em apenas dois anos (2012 a 2014) o valor de R$ 2.777.655,37 (dois milhõessetecentos e setenta e sete mil seiscentos e cinquenta e cinco reais e trinta e setecentavos), somente de pagamentos de órgãos públicos. O sistema não apresenta os

16 Entendida como a entidade legalmente constituída que participa do comércio legítimo, mas éutilizada para contabilizar recursos oriundos de atividades ilícitas, mesclando ou não recursosilícitos com recursos provenientes de sua própria atividade.

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valores de 2015, mas a investigação também apontou que se trata de empresa empleno funcionamento – tanto que nas buscas foi encontrado envelope contendodocumentação de habilitação em licitação que a Tec Nova participaria naquelamesma data (26/07/2015) na cidade de Cajazeiras.

Por intermédio dessas empresas fictícias, a organização criminosachefiada por Francisco Justino do Nascimento fraudou 177 licitações eforneceu documentação para desvio e lavagem de mais de R$ 17.000.000,00em recursos públicos.

A despeito de movimentarem quantias superlativas de recursospúblicos, nenhuma das empresas – Servcon e Tec Nova – registrou qualquerempregado durante todos os seus anos de funcionamento (fls. 144 e 147) 17. Essecompleta ausência de mão de obra é, inclusive, confessada por Francisco Justino nodepoimento gravado à fl. fl. 20, anexo IX.

Assim, a Servcon e a Tec Nova não possuem nenhuma estruturade mão de obra para realizar os serviços que supostamente lhes tornarammilionárias – o que é tipologia característica de empresa fantasma usada paralavagem de dinheiro segundo o COAF 18.

1.1.3.2. Da Ausência de Lucros Declarados à Receita Federal

Ademais, o acesso aos dados fiscais, deferido judicialmente nos autosn. 0000378-21.2014.4.05.8202, revela que as empresas Servcon e Tec Nova

prestaram informações falsas à Receita Federal do Brasil.

Efetivamente, a Servcon não declarou suas receitas na DIPJ dos anos-calendário de 2009, 2010 e 2010, chegando a informar que nos anos de 2009 e2011 estava inativa. Em decorrência dessa informação falsa, foi abertoprocedimento de fiscalização pela Receita Federal, ainda em curso (fl. 450 e mídia).

17 Somente em 01 de fevereiro de 2013, a Servcon admitiu Francina Andrade Silva (CPF n.076.763.034-35) (fl. 158, anexo XI), beneficiária do Programa Bolsa Família desde 2011.

18 COAF, II Coletânea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro, 2014, pág. 19. disponível em: [http://www.coaf.fazenda.gov.br/pld-ft/publicacoes]

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Por sua vez, a Tec Nova apresentou DIPJ do exercício de 2013, informando que noano-calendário de 2012 estava inativa.

Já em relação à Francisco Justino do Nascimento, os dados fiscaisrevelam que ele também não declarou na DIPF o suposto lucro auferido de suasempresas milionárias, limitando-se a declarar, a partir do ano-calendário de 2009,renda de pouco mais de mil reais por mês – exceto no exercício de 2014, quandoinformou não possuir renda alguma (fl. 450 e mídia). Da mesma forma, FernandoAlexandre Estrela, embora administrador da empresa Tec Nova, na DIPF ano-calendário 2013, também declara renda de pouco mais de mil reais mensais (fl.450 e mídia).

O engenheiro Geraldo Marcolino da Silva apenas informou sua rendade servidor público da SUPLAN, sem nada falar sobre lucros eventualmenteauferidos. Igualmente, Horley Fernandes, que declara renda de diversas fontespagadoras, mas não o faz em relação a lucros das empresas em questão.

Os demais membros da organização criminosa – quais sejam,“Laninha” e Mayco Alexandre Gomes (embora este tenha movimentadoconsiderável quantia de recursos em contas sob seu nome) - jamais declararamqualquer dados ou atividades à Receita Federal.

1.1.3.3. Da Ausência de Insumos para a Atividade

Outro dado fundamental para se caracterizar as empresas Servcon eTec Nova como “fantasmas” foi fornecido pela Controladoria-Geral da União aoanalisar os dados fiscais da Receita Estadual, cujo compartilhamento foi deferidojudicialmente nos referidos autos. Efetivamente, em análise minuciosa das notasfiscais eletrônicas emitidas no período de 2011 a 2014, em razão de compras juntoa outras empresas, verificou-se que a Servcon não adquiriu materiais ou insumossuficientes para executar as obras contratadas junto a prefeituras paraibanas (fls.84/88, anexo XI).

Por meio de consultas ao Sistema Sagres do Tribunal de Contas doEstado da Paraíba – SAGRES/PB, verificou-se que, no período de 2011 a 2014, a

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Servcon foi beneficiada com pagamentos realizados por prefeituras no montante deR$ 11.860.346,83.

A análise de documentos fiscais estaduais indicam que foramemitidas notas fiscais à Servcon, no período de 2011 à 2014, no valor total de R$240.900,13, o que corresponde a 2,03% do montante recebido de prefeiturasparaibanas no mesmo período.

Considerando o valor pago à Servcon entre 2011 a 2014 (R$11.860.346,83), pode-se estimar o custo direto das obras contratadas junto aprefeituras paraibanas, conforme a seguir detalhado:

Valor Pago (A) BDI = 30% (B = 0,3 x A) Custo Direto C = A - B

R$ 11.860.346,83 R$ 2.737.003,11 R$ 9.123.343,72

Considerando os percentuais adotados pela legislação previdenciáriae pela doutrina para determinação do valor referente aos encargos sociais a seremrecolhidos, estima-se o percentual de 35% do faturamento bruto no intuito dedeterminar a base de cálculo para fins de recolhimento previdenciário, ou seja,35% do valor faturado corresponde a mão-de-obra.

Para fins de determinação de um valor referente à despesa quedeveria ter sido incorrida pela Servcon para executar as obras contratadas pelasprefeituras, estima-se que seria necessária a aquisição de materiaiscorrespondentes a 65% do custo direto da obra (observe-se que este percentualfoi considerado em relação ao custo direto, excluindo-se impostos e lucro, entreoutros), o que corresponde a R$ 5.930.173,42, ou seja, para a execução de todas asobras contratadas pela empresa Servcon junto aos municípios, deveriam ter sidoemitidas notas fiscais em favor desta empresa naquele valor.

Em que pese tal fato, no período de 2011 a 2014, as notas fiscais deaquisição de materiais pela Servcon correspondem a apenas R$ 240.900,13, umpercentual de 2,03% do montante recebido, o que resulta uma diferença de R$

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5.689.273,29, corroborando os demais fatos que demonstram indícios de que aempresa Servcon não ter executado diretamente as obras.

Além disso, observe-se a quantidade de sacos de cimento adquiridospela empresa Servcon, no período de 2011 a 2014:

CNPJ FORNECEDOR DATA QUANTIDADE SACOS DE CIMENTO

10140522000142 26/03/2014 280

10140522000142 28/07/2014 100

10140522000142 02/09/2014 50

10140522000142 10/09/2014 50

10140522000142 23/09/2014 70

10140522000142 28/10/2014 80

TOTAL 630

Conforme demonstrado na tabela, a empresa Servcon adquiriusacos de cimento apenas a partir do exercício 2014 e, no período de 2011 a2013, apesar de ter recebido de prefeituras paraibanas R$ 8.732.889,40 não háregistros de notas fiscais de aquisição de cimento emitidas em seu favor, sendooutro indício de que as obras não foram executadas diretamente por ela.

Em relação ao total de cimento registrado nas notas fiscais emitidasem favor da empresa Servcon, ele sequer seria suficiente para executar os itens deserviços referentes aos elementos de concreto da obra de construção de quadraescolar no Distrito Tambor, contratada junto à Prefeitura de Cachoeira dosÍndios/PB, conforme demonstrado no aludido relatório da CGU.

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Assim, o cimento registrado nas notas fiscais emitidas em favorda Servcon sequer seria suficiente para executar os elementos de concreto deuma das inúmeras obras que a empresa deveria ter executado, destacando-se,ainda, que outros itens de serviços da quadra escolar necessitam da utilização decimento, a exemplo de chapisco, reboco, emboço, entre outros.

1.1.3.4. Da Movimentação Bancária Atípica

A análise das contas bancárias mantidas pelas empresas Servcon eTec Nova também indicam movimentações financeiras atípica, característica deempresas “fantasmas”, conforme tipologia estabelecida pelo COAF em publicaçãooficial 19.

Efetivamente, as contas das empresas, às quais o MPF teve acesso apartir de decisão judicial 20, apresentam sempre o mesmo comportamento demovimentação configurado como “recebimento de recursos com imediatarealização de saques em espécie”. O relatório de fl. 16 do anexo VII indica que naprincipal conta da Servcon foram realizados 422 saques, totalizando R$13.968.879,26, correspondente a 95% de toda a movimentação à débito. O mesmoé verificado na principal conta da Tec Nova, entre saques com cartão (47) e saquescontra recibo (26), assim foram movimentados quase 83% dos recursos (fl. 19).

Destes saques vultosos em espécie, o COAF remeteu relatório deinteligência financeira (fls. 40/56), no qual se verifica a ocorrência de 15 saquesnas contas da Servcon, feitos por Francisco Justino do Nascimento, em quantiasacima de R$ 100.000,00. No total, tais saques atípicos somam aproximadamentetrês milhões de reais sacados na boca do caixa. Francisco Justino também realizou07 saques nas contas da Tec Nova em quantias acima de R$ 100.000,00, totalizandoaproximadamente R$ 750.000,00. Por sua vez, Mayco Alexandre Gomes realizou01 saque na conta de Tec Nova no valor de R$ 150.000,00.

Ademais, Francisco Justino realizou absolutamente ilícitossaques nas contas do municípios de Bernardino Batista (fl. 46) e Marizópolis

19 COAF, II Coletânea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro, 2014, pág. 13 e 39. disponívelem: [http://www.coaf.fazenda.gov.br/pld-ft/publicacoes]

20 Autos n. 0000378-21.2014.4.05.8202 e n. 0000251-83.2014.4.05.8202.

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(fl. 49), no valor respectivo de R$ 110.520,00 e R$ 100.000,00 – não por acaso,duas da prefeituras nas quais se verificou crimes narrados em outras denúnciasnesta data apresentadas.

Em complemento, o acesso aos extratos bancários das referidasempresas revelam que elas, em outra tipologia característica de empresasfantasmas, possuem como credores quase exclusivamente órgãos públicos,especificamente prefeituras do sertão da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.Estranhamente, para o real mundo das relações comerciais capitalistas, tratam-sede empresas que não prestam qualquer serviço de engenharia a particulares.Nesse sentido, observar os extratos consolidados por depositante de fls. 75/78 e82/84.

Por outro lado, como se narrou acima, não se precisa lembrar que amovimentação bancária das empresas é absolutamente incompatível com asinformações fiscais prestadas pelos investigados à receita federal.

1.1.3.5. Das Informações Colhidas em Interceptação Telefônica

Com autorização judicial, proferida nos autos da ação cautelar penaln. 0000346-16.2014.4.05.8202, a Polícia Federal interceptou telefones ligados àFrancisco Justino do Nascimento e a suas empresas, constatando-se que, em todasas suas relações comerciais, ele somente tratava sobre a documentação paralicitações, notas fiscais para pagamentos com recursos públicos e sobretransferências que precisava fazer para terceiras pessoas – tudo movimentaçãocomercial padrão de empresários “fantasmas”.

Conforme constatou a Polícia Federal em seus autos circunstanciadosdas interceptações, Francisco Justino não realiza ligações relacionadas à efetivaexecução das obras, compra de material ou insumos utilizados na construção civil,não mencionou qualquer nome de trabalhador, operário, mestre de obras,pedreiros, pintores etc., assim como não faz qualquer tipo de contato com

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fornecedor. Sequer com os engenheiros de sua própria empresa ele mantevecontato 21.

A esse respeito, os seguintes trechos da interceptação:

Índice : 6804825Operação : ANDAIMENome do Alvo : FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTOFone do Alvo : 8393045008Fone de Contato : 8391321000Data : 27/8/2014Horário : 07:08:46AFRANIO - oi.FRANCISCO - um pede um quite de certidão pra aquela nota viu, para não perder tempo, faz favor.AFRANIO - você num quer que eu leve logo o dinheiro logo não, na mão não.FRANCISCO - aí era melhor.AFRANIO - tu vai pagar meu dinheiro hoje?FRANCISCO - vou, tu é doido.AFRANIO - será preciso eu vou falar com Jorge, para interferir no negócio.FRANCISCO - vai tomar no teu cu, eu vou já é pro Uiraúna pra ver se eu arranjo a medição já já no posto de saúde. E semana que entra já tem outra de Cajazeiras.AFRANIO - tá bom.FRANCISCO - cuide aí desse negócio.AFRANIO - valeu, vou já fazer e vou deixar lá.FRANCISCO - beleza, tchau.

Índice : 6984508Operação : ANDAIMENome do Alvo : FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTOFone do Alvo : 8393045008Fone de Contato : 8391211494Data : 06/10/2014Horário : 07:58:06

21 Nesse sentido, é precisa a constatação do Delegado de Polícia Federal, condutor do IPL: “os

diálogos mantidos pelo investigado basicamente se resumem à obtenção de documentos de CEI

[Cadastro Específico do INSS] e ART [Anotação de Responsabilidade Técnica], fato que reforça a

suspeita inicial de que Justino e suas 'empresas' são utilizadas exclusivamente para fornecer notas

fiscais para justificar a realização / liquidação de despesas públicas, até mesmo porque, conforme já

apontado, tais 'empresas' não apresentam uma atividade empresarial regular” (fl. 109).

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JUSTINO - ei CHICO deu certo, eu já mandei o cabra para Campina Grande, o cabra já tá trazendo o Talão de volta.CHICO - tá, tá bom.JUSTINO - aí agora é só aguardar para ver o que vai fazer.CHICO - isso, isso.JUSTINO - outra coisa que eu tô ligando para lembrar a tu, tu viu o negócio da receita?CHICO - eu tava olhando aqui, mas tava fora do ar, é só o da Previdência né?JUSTINO - é, teve movimento.CHICO - aí eu vou olhar aqui.JUSTINO - olhe aí o que é, que teve uns recolhimento em Bernardino Batista.CHICO - porque se tiver mostrando o recolhimento aqui aí é melhor porque eu já informo.JUSTINO - tu olha hoje?CHICO - tô ligando os computadores, daqui a pouco eu to vendo.JUSTINO - pois valeu, eu liguei só para dizer a tu, já deu certo o talão e eu já mandei o talão de volta, vou devolver para a prefeitura.CHICO – ah, tá bom todo.JUSTINO - é o talão VIRGEM que eles tavam dizendo que tava faltando, que estava faltando cinquenta notas.CHICO - é, mas homem deu beleza. Ei, eu passei o e-mail dos negócios. JUSTINO - de quê?CHICO - do extrato e do imposto lá.JUSTINO - não, eu tô olhando aqui, é porque eu olhei no da TECNOVA, perái, tu passou no da SERVCON num foi?CHICO - foi.JUSTINO - Eu disse oxi, CHICO ficou de passar umas coisas e também não passou.CHICO - passei naquele dia mesmo.JUSTINO - tá aqui, CHICO EXTRATO.CHICO - eu tive que sair, foi levar um pessoal para votar, tive que ajeitar carro.JUSTINO - votou em quem?CHICO - (...) votei em Cássio.(transcrito a partir do áudio, grifos acrescidos)

O papel que cabe a Francisco Justino como fabricador de documentosnecessários ao desvio também fica revelado no seguinte áudio:

Índice : 7004309Operação : ANDAIMENome do Alvo : AFRANIO GONDIM JUNIOR

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Fone do Alvo : 8391321000Fone de Contato : 8393045008Data : 13/10/2014Horário : 10:33:00AFRANIO - meu filho faça um favor pra mim.JUSTINO - diga aí.AFRANIO - providencie essa documentação que eu deixei aí, pra eu correr comela. Umas coisas que Cirilo deixou lá, aqui que eu te falei, um problema que houve (…) fazer tudo de novo.JUSTINO - é pra refazer as planinhas é?AFRANIO - tá tudo pronto só falta assinar aí. (...)JUSTINO - assim que eu chegar levo pra GIVALDO assinar, aí ligo pra você e voudeixar aonde você estiver.AFRANIO - beleza.JUSTINO - ei, deu certo o cheque?AFRANIO - deu, deu. (...) cê deu quanto lá, sabe dizer?JUSTINO - eu botei o valor que foi creditado, R$ dezessete mil seiscentos e pouco...eu botei até os centavos, pra depois não dizer que eu estou lhe devendo.AFRANIO - vixe Maria tá muito direito.JUSTINO - é MARINHO (...) vou lhe dá dois reais seus. AFRANIO - aquele nego filho de rapariga.JUSTINO - assim que chegar em casa eu faço lá e ligo pra você.AFRANIO - beleza.(transcrito a partir do áudio, grifos acrescidos)

E no seguinte trecho:

ÍNDICE: 7144162OPERAÇÃO: ANDAIMENOME DO ALVO: FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTOTELEFONE DO ALVO: 8393045008DATA DA CHAMADA: 14/11/2014HORA DA CHAMADA: 09:48:26DURAÇÃO: 00:01:31TELEFONE DO CONTATO: 8391321000JUSTINO - oi.AFRANIO - tu pode anotar pra mim aí um negócio?JUSTINO - eu tô em São José de Piranhas.AFRANIO - era pra tirar uma nota, então dá tempo pra tu chegar lá.JUSTINO - eu tô em São José de Piranhas.AFRANIO - me dê logo o nome da sua conta.

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JUSTINO - CT-22.660-2. AFRANIO - que essa aí é da SERVCON né?JUSTINO - é.AFRANIO - tá bom. Não adiante você pegar o valor não porque você tá naestrada né?JUSTINO - oi, eu tô aqui em São José de Piranhas, que eu vim entrar com umMandado de Segurança aqui.AFRANIO - então pronto, tu quer pegar o valor logo da nota?JUSTINO - me dê que assim que eu chegar em casa eu já adianto.AFRANIO - R$ 81.548,04.JUSTINO - isso é de quê?AFRANIO - lá vai ter assim a mesma nota, você vai pegar nota anterior, só vaimudar a rua.JUSTINO - deixe eu chegar que agente faz bem direitinho homem.AFRANIO - é, vá simbora.(transcrito a partir do áudio, grifos acrescidos)

Em arremate, o telefone celular utilizado por Francisco Justino doNascimento recebeu mensagem de texto do número (84) 9611-3064, pertencente aseu contato no estado do Rio Grande Norte, o engenheiro José Fernandes deOliveira Júnior (CPF 251.057.364-00 e CREA 1606098985), com o seguinte teor:“Justino envie para vc uma nota e gostaria que vc emitisse e enviasse a nota fiscal

para recebermos ainda na quinta feita” (sic, fl. 101).

Assim, percebe-se que: a) ambas as empresas funcionam nas casas deseus sócios; b) nunca possuíram qualquer funcionário para desempenhar suasatividades finalísticas; c) não possuem maquinário de qualquer natureza para suasobras de engenharia; d) não adquiriram materiais de construção em quantidadecompatível com suas rendas; e) não declararam regularmente suas rendas àReceita Federal; f) somente participam de litações públicas, sem clientesparticulares; g) e movimentam literalmente milhões de reais que foramimediatamente sacados em dinheiro na boca do caixa bancário. Some-se a isso ofato de h) terem por sócios formais pessoas absolutamente improváveis para aatividade comercial (tais como Mayco, Fernando, Alda e Raimundo) e i)pertencerem ambas a Francisco Justino, tudo isso indica, acima de qualquerdúvida, a qualidade de empresas fantasmas da Servcon e da Tec Nova, montadasapenas para a prática de fraudes às licitações de que participa, desvio de recursospúblicos e lavagem de dinheiro.

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1.1.4. Do Objetivo da Organização Criminosa

Assentando-se a premissa de que as empresas de Francisco Justino e“Laninha”, Servcon e Tec Nova, são empresas “fantasmas”, convém esclarecer oobjetivo pelo qual essas empresas são constituídas e quem, em cada município,opera a segunda camada de empreitada criminosa.

O objeto de se fazer uma licitação fraudada com empresas“fantasmas” e lhes atribuir formalmente a execução de obras públicas intenta,logicamente, esconder os reais beneficiários dos recursos públicos supostamenteempregados. Realmente, se não são Servcon e Tec Nova quem executam a obra,alguém tem que o fazer. E se alguém realizaria a obra, a pergunta que se faz é: porque esse executor não concorreu na licitação?

Nesse passo a investigação revelou que a execução da obra, comtodos os seus lucros diretos (lícitos, constantes do BDI) e como os indiretos(ilícitos, como tributos não recolhidos, direitos trabalhistas não pagos etc), cabe,sempre, em cada município analisado, a pessoas ligadas à administração municipale, portanto, impedidas de licitar regularmente – vale dizer: Márcio Braga deOliveira, Francisco Harley Braga Fernandes, Jorge Luiz Lopes dos Santos e WendellAlves Dantas são engenheiros dos Municípios onde ocorreram as fraudes.

Porque não podem licitar regularmente, esses núcleos criminososnos municípios contratam os serviços de Francisco Justino do Nascimento, queatravés de suas empresas “fantasmas” participa da licitação e fornece toda adocumentação legal para dar esteio à despesa pública. Como é evidente, FranciscoJustino é remunerado por esse serviço em valor variável entre 02 a 04% do valorda nota fiscal, conforme indica diálogos interceptados de fls. 240 e 248 e confissãode Afrânio Gondim Rego (fl. 185/190, IPL).

A esse respeito, convém transcrever o trecho do áudio interceptado:

ÍNDICE: 7118543

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OPERAÇÃO: ANDAIMENOME DO ALVO: AFRANIO GONDIM JUNIORTELEFONE DO ALVO: 8391321000DATA DA CHAMADA: 11/11/2014HORA DA CHAMADA: 11:19:18DURAÇÃO: 00:02:12JUSTINO - alô.AFRANIO - empreitei com “Nezinho” viu. Dez mil.JUSTINO – pronto.AFRANIO – Dez mil, ai eu vou mandar o projeto por “Nano”, ele já vai começara cavar os buracos, os ferros, fazer as aterragem. Eu disse, “agora 'Nezinho'agilize aí, eu tenho que dar alguma coisa a esses teus funcionários?” (…) JUSTINO – Já mandaram o dinheiro?AFRANIO - faz mais de ano que transferiram o dinheiro da tua conta, foi noano passado, tá renovando sua senha. Daqui uns quinze ou vinte minutos está naconta. Eu lhe aviso. Ele disse que na hora que botar lhe avisa.JUSTINO - quem?AFRANIO – “Vandon” diz que na hora que fizer avisa.JUSTINO - eu não tô ouvindo não Afrânio, alô?AFRANIO - vai cair o dinheiro na sua conta e você fica mudo.JUSTINO - alô.AFRANIO - é igual a Marinho, num pode vê dinheiro não.JUSTINO – Ei, já caiu viu? A mulher já disse.AFRANIO – então pronto. A conta está aqui já, tome, ela já me deu. É o CNPJ...eu mando um zap zap? Vou mandar pro grupo. (…) Você deposita nessa conta2% do valor em cima do seiscentos e trinta e três, viu?JUSTINO – 2% de quanto?AFRANIO – de seiscentos e trinta e três. O valor da nota, né?JUSTINO – É.AFRANIO – O valor da nota que foi feita, calcula 2%.JUSTINO – Beleza.(transcrito a partir do áudio, grifos acrescidos)

Quando da deflagração da operação policial, Afrânio Gondin Júnior,agente executor no Município de Cajazeiras, confirmou o funcionamento daorganização (fl. 185/190, IPL), conforme se depreende do trecho:

QUE JUSTINO contratava verbalmente os serviços profissionais da empresa dointerrogado para execução de obras públicas nos municípios de CAJAZEIRAS/PB e

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UIRAÚNA/PB vencidas em processos licitatórios pela empresa SERVCOM; QUEtodas as obras eram executadas totalmente pela empresa do interrogado; QUE dosvalores recebidos pela SERVCOM correspondentes à medições que iam ocorrendodurante a obra, JUSTINO ficava com 4% do valor e mais o correspondente aosimpostos relativos às obras; (...) QUE com relação aos fatos em apuração, esclareceque foi procurado por JUSTINO em meados de 2013 e início de 2014, que oquestionou se estaria interessado em executar obras públicas que a empresa deletinha vencido em processos licitatórios em prefeituras; (...) QUE atualmente estáexecutando três contratos da empresa SERVCOM, sendo um em CAJAZEIRAS/PB edois em UIRAÚNA/PB; QUE em Cajazeiras está construindo quatro postos desaúde e em Uiraúna três postos de saúde e a reforma da rodoviária; QUE járecebeu em torno de 80% do valor da obra de Cajazeiras, 20% dos postos de saúdee 30% da reforma da rodoviária; QUE dos valores recebidos, conforme relatouanteriormente, JUSTINO ficou com 4% e mais os impostos; QUE não sabe informarse empresa SERVCOM possui veículos ou equipamentos, uma vez que nas obrasexecutadas pela empresa do interrogado, utiliza veículos e equipamentoscontratados pelo interrogado; (...) QUE tanto o interrogado quanto sua empresanão participou ou providenciou qualquer documento relativo aos processoslicitatórios das obras acima citadas; QUE a sua participação se limitava tãosomente à execução das obras vencidas por JUSTINO; (...) QUE ao ser executado oáudio índice 7004309 (conversa sua com JUSTINO), informa que deve se referir aalguma planilha de medição feita em alguma das obras que estava executando paraJUSTINO; QUE dependendo do andamento das obras ligava para JUSTINOprovidenciar as planilhas de medição para que os valores correspondentes fossemrepassados do órgão para JUSTINO e, consequentemente depois para ointerrogado, já descontado os valores acima informados; QUE as notas tinham queser emitidas pela firma de JUSTINO por ter sido ela a vencedora dos processoslicitatórios”

Francisco Justino do Nascimento opera uma organização criminosaque presta serviços ilegais a outros agentes organizados em cada município paraexecutar o obra pública e possibilitar desviar os recursos públicos.

Efetivamente, em cada município investigado existem agentesexecutores ligados à administração municipal que realizam as obras públicas,pagando uma comissão pelo “aluguel” das empresas do Francisco Justino eauferindo todos os lucros direitos e indiretos:

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a) em Cajazeiras, os agentes executores são Afrânio Gondin Júnior,Mário Messias Filho, vulgo “Marinho”, José Hélio Farias e MárcioBraga de Oliveira;

b) em Cachoeira dos Índios, é Francisco Harley Braga Fernandese Horley Fernandes e

c) em Joca Claudino e Bernardino Batista, os agentes executoressão Jorge Luiz Lopes dos Santos e Wendell Alves Dantas.

Por tais crimes, na ação penal n. 000297-38.2015.4.05.8202,apresentada em 23 de junho de 2015, o Ministério Público Federal imputou aFrancisco Justino do Nascimento, Elaine da Silva Alexandre, FernandoAlexandre Estrela, Mayco Alexandre Gomes, Horley Fernandes e GeraldoMarcolino da Silva o fato típico previsto no art. 2º, caput, da Lei n.12.850/2013, ao promoverem, constituírem, financiarem e integrarem,pessoalmente, organização criminosa.

A seguir, descrimina-se os fatos criminosos especificamenteimputados na presente denúncia.

2. Dos Fatos Imputados na Presente Denúncia

2.1 Da Organização Criminosa em Bernardino Batista eem Joca Claudino

A organização criminosa supramunicipal, narrada no tópico decontextualização e imputada àqueles agentes em denúncia em separado 22, possuíaum braço operacional nas cidades da Joca Claudino e Bernardino Batista paraexecução das obras públicas, unificado em razão da proximidade física entre as

22 Ação penal n. 000297-38.2015.4.05.8202, apresentada em 23 de junho de 2015.

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duas cidades (17,2 km) e do número diminuto de habitantes (2.675 na primeira e3.312 na segunda, segundo dados do IBGE para 2014).

Efetivamente, a partir da fiscalização in loco em obras públicas,realizada pela Controladoria-Geral da União entre os dias 01 e 05 de setembro de2014 (fls. fls. 147/185 e fls. 03/41, anexo XI, PIC), desvendou-se os demaisintegrantes da organização criminosa que atuava especificamente nas cidades deJoca Claudino e Bernardino Batista.

Verificou-se que, além dos operacionalizadores das empresas“fantasmas”, narrados em denúncia em apartado (Francisco Justino, “Laninha” edemais membros de seu núcleo familiar), aderiram à empreitada criminosa osengenheiros Jorge Luiz Lopes dos Santos, fiscal de Joca Claudino e ex-vereador;Wendell Alves Dantas, fiscal de Bernardino Batista, Secretário de Finanças de JocaClaudino e esposo da atual Prefeita deste município; e Márcio Braga de Oliveira,fiscal de Bernardino Batista e também participante do núcleo criminoso emCajazeiras, conforme narrado em denúncia específica.

Na prática ilícita, o que se constatou foi que os agentes executoresJorge Luiz Lopes dos Santos e Wendell Alves Dantas, ex-sócios da empresa WJ

Engenharia LTDA, exerciam, revesadamente, as funções simbólicas de “executor defato da obra” e “engenheiro fiscal da obra”. Nesse particular, o trecho da constataçãoda CGU:

Analisando os documentos disponibilizados pela Prefeitura de Bernardino Batista/PB, constatou-se que,em 18 de agosto de 2010, foram emitidas as seguintes Anotações de Responsabilidade Técnica (ART)para a obra da Escola Infantil, objeto do Convênio nº 657011/2009:

ART Tipo de ART Nº CREA-PB Nome do Responsável CPFS00007722 Execução 1605949051 Jorge Luiz Lopes dos Santos 045.883.134-44C00011868 Fiscalização 1600209831 Wendell Alves Dantas 992.793.714-87

Ocorre que, em consulta aos dados disponíveis nos sistemas do Governo Federal, constatou-se que osreferidos profissionais são os sócios fundadores da empresa WJ ENGENHARIA LTDA – ME (CNPJ12.396.152/0001-34), aberta em 09 de agosto de 2010, ou seja, 09 (nove) dias antes de os referidossócios efetuarem o registro no CREA/PB da Anotação de Responsabilidade Técnica para execução epara fiscalização das obras do Convênio nº 657011/2009.

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Cabe citar que o sócio JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS permaneceu na empresa WJ ENGENHARIALTDA – ME no período de 09 de agosto de 2010 até 29 de junho de 2011 e de 09 de agosto de 2013 atéos dias atuais. Quanto ao sócio WENDELL ALVES DANTAS, este permaneceu na sociedade no períodode 09 de agosto de 2010 até o dia 29 de junho de 2011.

Atualmente, a segunda sócia da empresa WJ ENGENHARIA LTDA é ADRIANA DA COSTA ROLIM(CPF 078.708.224-42), que foi funcionária do Município de Joca Claudino/PB, no período de 01 dejaneiro de 2009 até 31 de dezembro de 2010.

Ressalte-se que o município de Joca Claudino/PB tem por Prefeita, desde 01 de janeiro de 2009 até osdias atuais, a Prefeita LUCRECIA ADRIANA DE ANDRADE BARBOSA DANTAS, que é esposa deWENDELL ALVES DANTAS, ex-sócio da WJ ENGENHARIA, sendo que este é atualmente o Secretáriode Finanças do Município de Joca Claudino/PB.

No que se refere à atuação dos engenheiros citados, no processo de execução das obras, constatou-seque os Boletins de Medição estão assinados por JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS, comorepresentante da empresa SERVCON - Construções, Comércio e Serviços Ltda., enquanto queWENDELL ALVES DANTAS consta nos boletins de medição como responsável pela fiscalização dasobras. Segue adiante quadro resumo das medições realizadas:

Tabela: Assinatura dos responsáveis pela Execução e pela Fiscalização nos boletins de medição.Medição NF Data Valor (R$) Resp. p/ Execução Resp. p/ Fiscalização

BM 01 00021 08/06/2010170.229,0

9JORGE Não consta

BM 02 00037 27/07/2010129.965,4

1JORGE WENDELL

BM 03 00121 06/01/2012150.095,2

6JORGE WENDELL

BM 04 NF-e 179 20/11/2013 45.996,70 JORGE WENDELLBM 05 NF-e 192 23/12/2013 15.912,81 Não consta WENDELLBM 06 NF-e 213 17/02/2014 27.931,79 Não consta WENDELLBM 07 NF-e 244 15/04/2014 27.264,89 Não consta WENDELLBM 08 Final NF-e 310 01/08/2014 30.248,78 JORGE WENDELL

Valor total das medições597.644,7

3Fontes: Boletins de Medição.

(...)

Diante da existência dos vínculos demonstrados neste relatório, há indícios de que os engenheirosfundadores da empresa WJ Engenharia Ltda. atuaram conjuntamente e, efetivamente, foram osresponsáveis pela execução das obras da Escola Infantil – Tipo C, objeto do Convênio nº 657011/2009.

Em resposta à Solicitação de Fiscalização nº 06, de 19/11/2014, a Prefeitura de Bernardino Batista/PBencaminhou, por e-mail, o Ofício nº 168/2014, de 28/11/2014, com as seguintes justificativas: “Quandoda contratação do engenheiro WENDELL ALVES DANTAS pelo município de Bernardino Batista-PB,

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para exercer as funções de Engenheiro Fiscal da Obra, não existia nenhum vínculo societário com oEngenheiro Executor da Obra, Sr. JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS, pois o contrato com amunicipalidade deu-se em 20/04/2010 e o vínculo societário entre ambos em 17/06/2010, tudo conformecontratos anexos ao presente. Sendo assim, resta plenamente justificada a seleção do engenheiro citadoacima.”

Apesar de o contrato entre a Prefeitura de Bernardino Batista/PB e o Engenheiro WENDELL ALVESDATAS ter sido celebrado em 20/04/2010, a ART nº C00011868, relativa à fiscalização das obras doConvênio nº 657011-2009, foi emitida em 20/08/2010, ou seja, posteriormente ao registro da empresa WJEngenharia Ltda.

(fls. 150/159, anexo XI)

Essas informações foram comprovadas com os dados extraídos dosautos do PA n. 1.24.002.000305/2013-37 (anexo IX), no qual, em visita de rotina àreferida obra pública, o técnico de transportes desta Procuradoria da Repúblicacertificou que:

Convênio SIAFI n. 657159. Conforme visita in loco, a obra está concluída e emfuncionamento (imagens abaixo). De acordo com a sra. Juliana Maria da Silva,coordenadora pedagógica da creche, a obra foi entregue com grande atraso, sendoinaugurada momentos antes da festa da cidade, em setembro de 2014. A sra.Juliana afirmou ainda que quem executou a obra foi o sr. Wendel de JocaClaudino e que o mesmo é visto frequentemente na Prefeitura Municipal. A sra.Anastácia Maria de Andrade Sousa, moradora e professora do município, tambémafirmou que a obra escolar, bem como todas as obras realizadas no município, sãode responsabilidade da empresa do sr. Wendel e que a creche foi entregue em06/09/2014.

(fl. 33, anexo IX)

Em oitiva na sede desta PRM – Sousa, Jorge Luiz Lopes dos Santosafirma que executou a obra do convênio em “parceria” com Francisco Justino,dividindo os lucros (fl. 26, anexo IX) – fato também confirmado por este (fl. 20,anexo IX). Nessa obra, os trabalhadores sem carteira assinada foramarregimentados por Jorge Luiz e por ele remunerados, bem como era Jorge Luiz o

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responsável pela execução física da obra e suas medições, sem qualquer ingerênciade Francisco Justino.

Rastreado o destino final dos recursos públicos empregados nasobras, conforme narrado em pormenores no tópico específico abaixo para cadaobra, os recebedores finais prestaram depoimento e comprovaram que aquisiçãode material (areia, barro, brita etc.), aluguel de maquinário (trator esteira) eremuneração de trabalhadores das obras atribuídas formalmente à Servcon eramrealizadas exclusivamente por Jorge Luiz Lopes dos Santos.

Por sua vez, Wendell Alves Dantas fora contratado para fiscalizartrês obras específicas, dentre as quais a da creche (fl. 26, anexo IX). Essa confusãoentre as funções de fiscal e construtor por parte de Wendell é inclusive ressaltadapor Francisco Justino (fl. 20, anexo IX) ao afirmar que Wendell e Jorge Luiztinham obras em conjunto em diversos municípios e compareciam juntos à obra.Tal fato se afina com a constatação da CGU de que “os engenheiros fundadores da

empresa WJ Engenharia LTDA [Wendell e Jorge] atuaram conjuntamente e,

efetivamente, foram os responsáveis pela execução das obras” (fl. 163, anexo XI).

A participação de Wendell Alves Dantas e de Márcio Braga deOliveira na fraude para execução das obras em Bernardino Batista foi desveladaatravés do seguinte diálogo interceptado, travado entre o primeiro e seu advogado:

Índice : 7145306Data : 14/11/2014Horário : 12:21:23(...)Wendel: Eu vou te contar: No tempo de Endomarques, em 2010 mais ou menos,2010/2011, ele me chamou pra fiscalizar três obras. Pra ser fiscal de três obras lá:a creche, a praça de eventos e umas melhorias habitacionais, certo? ai eu fui, ai eucheguei, preparei toda a documentação como fiscal, como engenheiro, dei a entradanos processo (...) deu um mês e pouco, um mês e quinze dias, quase dois meses aiprocurei o meu contato...não, pensei que não tava, foi não sei pra onde, viajou,certo, ficou pra resolver isso depois, mais na frente...eu sei que passou três meses eeu não recebi nada. Não recebi dinheiro, não recebi nada...como fiscal...ai desisti.Não fui mais.Rodrigues: Certo

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Wendel: Eu fiquei sabendo também que o pessoal desistiu das obras, das três obraso pessoal da empresa, das empresas...são duas empresas e três obras...desistiramtambém que Endomarques alegou que não entrou dinheiro em uma, outra queentrou dinheiro não dá pra concluir no meu governo, eu tenho que entregar ogoverno, a outra entrou a metade e não tem previsão do restante e passou...asobras ficaram se tocar, ninguém mexeu. Quando foi no Governo de Gervásio agora,ai eu procurei Gervásio, em janeiro pra fevereiro, eu disse: Gervásio, você quer queeu continue quer que eu fique como fiscal da obra que Endomarques não acertoumas ai deixa pra lá ai, agora seria outra coisa. Ai Gervásio disse rapaz, eu já tenhoMárcio Braga, ele é engenheiro lá de Cajazeira ele já é fiscal contratado prafiscalizar todas as obras do município, já tá ai no Sagres...tudo bem! Ai voltei pracasa. Nisso teve uma reunião com as firmas pra reiniciar ai o pessoal das firmas nahora lá me ligaram, eu fui, e perguntou se eu queria ficar administrando as obras,as três obras... o pessoal da construtora. Me contratar diretamente comoengenheiro para administrar e nessa mesma reunião o engenheiro fiscal tava lá edisse: Wendel pra não... devido a burocracia grande, a gente ter que mudar CREA,mudar todas essa papelada, tudo, deixa teu nome mesmo aí como fiscal, você nãorecebeu mesmo nada da Prefeitura, nunca recebi...pra tocar, administrar asobras...aqui eu fiscalizo por aqui, pela prefeitura... tudo bem, tocamos. Quando foisemana passada, semana passada não, há quinze dias "atrás"...o Ministério Pú...ostécnicos estiveram lá, e foram...só com relação a essas três, só com relação a essastrês . Duas estão concluídas, sabe Rodrigues...duas estão concluídas e uma não táconcluída porque ainda falta trinta por cento do recurso ser liberado junto aFunasa...e o que é que acontece, eles estiveram lá procurando os meninos quetrabalhavam...Quem é que paga vocês? É o Wendel? É... o Wendel que pagava aquique empreitava com a gente tal, dessas três obras ...ai, eu creio que deva ser isso...Gervásio me chamou, rapaz o pessoal do Ministério Público Federal teve aqui,fazendo perguntas...Rodrigues: Wendel, deixa eu só te pedir uma coisa, vamos voltar umpouquinho...que ?? falou aqui e tirou minha atenção. É...eu não entendi a partefinal...eu entendi até a parte que ele disse vamos deixar você (...) ai a partir dai eunão entendi mais nãoWendel: Porque foi assim, o pessoal das empresas, nessa reunião me chamaram eperguntaram se eu queria trabalhar nas duas empresas, como administrador dastrês obras como engenheiro pela experiência que eu tenho, inclusive as crechesvocê tinha que ter um curso, isso ai eu tinha... as construtoras começaram a mepagar certo, me pagar pra eu administrar as obras lá no município de Bernardino...nisso ai, o engenheiro fiscal disse: rapaz como já tá teu nome, pra gente não atrasarmais ainda as obras, pra não ter que dar entrada no CREA, tira Wendel, bota MárcioBraga, deixa teu nome mesmo como fiscal, você não recebeu mesmo nada daprefeitura (...) não tenho nada, não recebi um centavo até hoje... as construtoras mepagaram e eu administrei as obras, empreitando com as pessoas e tirando dúvidas,fiz meu trabalho de engenheiro e o Ministério Público Federal teve agora, há quinzedias "atrás" na casa dos pedreiros dos trabalhadores perguntando: quem é quepagava vocês? Era o Wendel? Era! era ele que pagava, negociava com a gente tudo,

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certo! Eu creio que é isso que eu mandei pra você, eu creio que é isso. Ai eu querosaber assim, se eu continuo com essa tese.Rodrigues: Não, não, não...de forma alguma, de forma alguma...vamos fazer oseguinte (...) tem como ir no Crea, tem como ir no Crea fazer uma Art retificadora?Ou não?Wendel:Tem não!Rodrigues:Você assinou o boletim de medição?Wendel:Já assinei esse ano...agora (...)Rodrigues: Mas como fiscal, você assinou?Wendel:Assinei e o pior é que também assim, deixa eu te dizer outra coisa que eume lembrei: tando a Funasa como o FNDE já disse a eles que eu tava como fiscal,certo! eles já tem isso ai certo e ele já pegou do posto, já botou o pessoal pra assinarcomo eu que pagava o pessoal, então ele já teve...vão me ouvir só pra saber atéaonde vai chegar(...)Wendel: Apesar que nesse caso agora eu não recebi nada da Prefeitura, nada (...)Rodrigues:Mas apesar de você não ter recebido nada da Prefeitura mas vocêatestou que o serviço foi feito e pro Ministério Público (...) um serviço que vocêmesmo está fazendo, você tá entendendo?Wendel:É, é, exatamente

Em outro diálogo interceptado, Wendell Alves Dantas e uma pessoaidentificada como “Crescilam” combinam as versões sobre a execução das obras emBernardino Batista, envolvendo a versão a ser apresentada por Francisco Justinodo Nascimento e Jorge Luiz Lopes dos Santos:

Índice : 7173365Operação : ANDAIMEData : 20/11/2014Horário : 08:05:35(...)Wendel: (...) tá bom, passai ai pra Crescilam.(...)Crescilam: Eu fui pra Cajazeiras mais ele ontem de noite, lá no homem láWendel: Que ele tinha ligado pra mim dizendo que achava...tinha um negócio...pra outro dia lá sabe...pois peça pra resolver isso...Crescilam: Mas não deu não! Deu certo não! Ai nós fomos lá em Cajazeiras, lá em JUSTINOWendel: foi!Crescilam: Ele já passou pra tu?

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Wendel: Lá em JUSTINO?Crescilam: Sim... o negócio da audiência lá homemWendel: Que audiência? Não tô sabendo não!Crescilam: Ele não foi chamado também...o negócio teu lá homemWendel: Sim, JUSTINO!!!Crescilam:Sim homem! Ele já foi ouvido ontem homem!Wendel: E ele disse o que? Ele falou o que?Crescilam: Quer conversar pelo telefone?Wendel: É melhor amanhã mesmo!Crescilam: Antônio tá com os negócios tudinho lá, vai caçar uma maneira de mandar pra você, pra você já ficar por dentroWendel: Ah, então tá bom, rapaz, vê se ele mandava, vê se ele mandava agora porque eu vou me sentar com o menino lá, eu vou sentar com o advogado agora. Vêse ele mandava.Crescilam: (...) tu tá fazendo, o problema é só isso ai...mas JUSTINO desmentiu tudo,disse que era ele e JORGE, pronto. Disse que era ele e JORGE. Foi uma parceria com JORGE. Agora você andava lá como fiscal da Prefeitura. Tem que fiscalizar. Mais ou menos isso ai (...) Umas perguntas, respostasWendel: Pronto!Crescilam: Ele vai passar pra mimWendel: Pronto! ProntoCrescilam: Agora você tem que combinar com JORGE pra dizer o mesmo né?Wendel:É! Não, tranquilo!Crescilam: (…) É só isso ai..Wendel:Boa! Boa demais. Pois manda pra mim, viu!Crescilam: Vou ligar pra ANTONIO pra ver como ele vai mandar pra tuWendel: Pode mandar por email homem, manda por email mesmo ou então por whatsappCrescilam: Vou ligar pra ele.

Os mesmo áudios interceptados indicam a atuação deliberada deWendell Alves Dantas para fabricar provas para enganar a CGU, falsificarassinatura em documento público, coagir testemunhas e apresentar documentosfalsificados ao Ministério Público Federal – fatos que fundamentaram o seu pedidode prisão preventiva e as imputações de crime abaixo realizadas.

O modo de rateio dos valores públicos entre os membros daorganização criminosa resta inclusive documentalmente comprovado por anotaçãomanuscrita encontrada em busca e apreensão na sede da empresa. Efetivamente,no material apreendido consta um comprovante de transferência bancária relativoa pagamento realizado pela Prefeitura de Bernardino Batista em 18 de fevereiro de

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2014 23, com anotação manuscrita indicando o rateio do valor (R$ 26.702,79) emduas parcelas: uma no valor de R$ 2.463,55, correspondente a impostos e valordevido à “FIRMA”, e outra correspondente à diferença (R$ 24.239,00) para osagentes executores.

Observe-se a fotografia da anotação:

23 Em consulta realizada no Sistema SAGRES do TCE/PB a CGU identificou o empenho nº 693, emque se verifica que o pagamento acima decorreu do 6º Boletim de Medição dos serviços deconstrução de uma escola infantil tipo “C”, objeto da Tomada de Preços nº 003/2010. Esteprocesso licitatório foi analisado pela Controladoria-Geral da União (CGU), quando da fiscalizaçãoocorrida no Município de Bernardino Batista/PB, em setembro/2014, e os crimes a ela relativosencontram-se a seguir narrados.

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Dessa anotação se observa que o valor pago à Servcon nesta parcelado pagamento da obra foi de R$ 1.486,55, aproximadamente 5% do valor daparcela, mais os impostos (R$ 977,00), conforme metodologia de divisão de lucrosilícitos já exposta no item da contextualização da “Operação Andaime”. Essepercentual da “firma” ia para Francisco Justino como remuneração pelas notasfiscais “frias”. Todo o restante, no valor de R$ 24.239,00, ficava com os agentesexecutores.

Assim agindo, Jorge Luiz Lopes dos Santos, Wendell Alves Dantase Márcio Braga de Oliveira praticaram o fato típico previsto no art. 2º, caput, daLei n. 12.850/2013, ao integrarem, pessoalmente, organização criminosa 24, paracuja pena é de 03 a 08 anos, além de multa, sem prejuízo das penascorrespondentes às demais infrações penais praticadas e a seguir narradas.

2.2. Dos Crimes Praticados em Bernardino Batista

2.2.1. No Convênio n. 657011/2009 (SIAFI n. 657159) – CrecheFNDE

2.2.1.1. Da Fraude Licitatória na TP n. 003/2010

Em 13 de março de 2010, o Município de Bernardino Batistainstaurou a Tomada de Preços n. 003/2010 com o objetivo de selecionarempresa para execução do objeto do Convênio n. 657011/2009 (SIAFI n.657159), firmado com o FNDE para a construção de uma Escola de EducaçãoInfantil, Modelo Pró Infância – Tipo C.

Da análise do procedimento licitatório, sabendo-se da existência daorganização criminosa narrada acima, identifica-se a fraude licitatóriaempreendida para beneficiar indevidamente a Servcon Construções Comércio eServiços LTDA – EPP, nome fantasia “Construtora Servcon”.

24 Como se narrou, tal organização criminosa, quanto a Francisco Justino do Nascimento, Elaine daSilva Alexandre, Fernando Alexandre Estrela, Mayco Alexandre Gomes, Horley Fernandes e GeraldoMarcolino da Silva, já foi denunciada na ação penal n. 000297-38.2015.4.05.8202, apresentada em23 de junho de 2015.

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Efetivamente, o primeiro indício de fraude decorre da constatação daCGU de que, das 17 empresas que supostamente retiraram cópias do edital,conforme recibos constantes dos autos da licitação, somente a Servcon efetuou opagamento das taxas para reprodução dos documentos do processo (fl. 151, anexoXI, PIC). Tal fato indica que a Comissão Permanente de Licitação (constituída porJarismarques Gomes Ferreira, Lindomarcos Gomes da Silva e DomingosGomes Lourenço) somente concedeu à Servcon acesso à documentação completapara participar do certame, situação reforçada pela constatação de que ela foi aúnica empresa que compareceu à sessão de abertura da TP 03/10 (fl. 152).

A mesma Comissão Permanente de Licitação inseriu cláusulaeditalícia (6.1.4.2) que restringe o caráter competitivo da licitação 25, ao exigir ademonstração de capacidade para execução de serviços de baixa complexidadee/ou de pouca materialidade financeira – discriminados à fl. 153, anexo XI, PIC, quesomados não chegam a 14% do valor toral da obra –, contrariando o art. 30, § 1°,inciso I, de Lei n. 8.666/93.

De igual modo, a CPL inseriu as cláusulas 6.1.4.2 e 6.1.4.3 no edital erestringiram ilegalmente a competitividade 26, ao obrigaram que o licitantedemonstre o vínculo empregatício do responsável técnico por meio de registro doempregado no momento da entrega dos documentos de habilitação, negando-se areceber o contrato de prestação de serviço.

No caso, a inclusão dessas cláusulas flagrantemente ilegais no editalpermitiu que apenas a Servcon participasse do certame, sendo decisiva a atuaçãodos membros da CPL nesse sentido – mormente, como se narrará abaixo, quandose observa que seu presidente, Jarismarques Gomes Ferreira, recebeu em suaconta corrente valores depositados por Francisco Justino do Nascimento.

A CGU ainda verificou que a licitação foi realizada sem que constassede seus autos o projeto básico da obra, em grotesca violação ao art. 7°, § 2°, inciso I,da Lei n. 8.666/93. Viu-se que a numeração do procedimento segue da página n. 01(abertura) até a página n. 205 (publicação do sétimo termo aditivo), inexistindovolume anexo à licitação com o projeto básico ou executivo. Durante a visita in loco,

25 Conforme já decidiu o TCU na Decisão n. 800/2008 – Plenário.26 Conforme já decidiu o TCU na Decisão n. 1110/2007 – Plenário e na Decisão n. 800/2008 –Plenário, dentre inúmeras outras, em entendimento pacificado.

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o município disponibilizou à CGU os supostos projetos em arquivos digitais comformato “.pdf”, cujas datas de criação são 17 de junho de 2010 e 12 de abril de2010, posteriores, portanto, à sessão de abertura da licitação (31/03/2010) (fls.155/156, anexo XI, PIC).

Mesmo sem existir projeto básico na presente TP, a proposta depreços da Servcon foi apresentada pelo engenheiro Moacir Viana Sobreira, emcópia digitalizada constante dos documentos de trabalho da CGU (mídia, anexo XI).Lembre-se este foi descrito no tópico da contextualização como “homem detrás” daempresa IMCON, anteriormente integrada por Francisco Justino e “Laninha”. MoacirViana Sobreira também era o proprietário da MAXICON - Construções e Serviços

Ltda, uma das empresas que teriam “retirado” o edital da presente Tomada dePreços mas “desistiu” de concorrer com a Servcon.

Na data da abertura da licitação, somente compareceu FranciscoJustino do Nascimento representando a Servcon e a CPL ainda a habilitouilegalmente, mesmo quando a empresa deixou de apresentar documentos exigidosnaquelas referidas cláusulas editalícia que restringiam a competitividade (fls.157/159, anexo IX, PIC). Exemplificativamente, ver-se que a Servcon foi habilitadaquando apresentou mero contrato de prestação de serviços com Jorge Luiz Lopesdos Santos, em contrariedade à cláusula acima referida que exigia o vínculoempregatício.

Há ainda a informação de que a Servcon não apresentou nenhumacomprovação do pagamento da folha de pagamento dos trabalhadores quando dasmedições (fl. 160/162, anexo IX, PIC). Fato que, associado àquele de que a Servcon

não possuía nenhum empregado no período, aponta para a sua configuração deempresa “fantasma” e para a execução da obra realmente por pessoas diversas,conforme tópico a seguir.

Assim agindo, Francisco Justino do Nascimento, Moacir VianaSobreira, Jarismarques Gomes Ferreira, Lindomarcos Gomes da Silva eDomingos Gomes Lourenço praticaram o fato típico previsto no art. 90, caput,da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste e combinação, o carátercompetitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter para a empresaServcon, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação TP n. 03/2010,para o qual a pena é de 02 a 04 anos e multa.

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2.1.1.2. Do Peculato Através de Boletins de Medição Ideologicamente Falsos

Na sequência das ilegalidades, após a fraude licitatória, verifica-seque Francisco Justino do Nascimento, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopesdos Santos iniciaram as obras da escola infantil, cada um com sua função naorganização, e produziram documentos (boletins de medição) ideologicamentefalsos para obterem liberação de recursos públicos do convênio.

Efetivamente, a Controladoria-Geral da União detectou que oMunicípio, à vista de documentos ideologicamente falsos apresentados pelosdenunciados, realizou o pagamento por serviços não executados na ordem de R$27.309,91 (fls. 164/173, anexo XI).

Para constar na presente exordial as particularidades técnicas daconstatação fiscalizatória, permito-me transcrever o trecho do relatório da CGU:

A inspeção física às obras da Escola Infantil – Modelo Pro-infância (Tipo C) foi realizada no período de02 a 04 de setembro de 2014 e contou, no primeiro dia da visita, com o acompanhamento do Engenheiroresponsável pela fiscalização das obras, WENDELL ALVES DANTAS (ART nº C00011868), tendo afinalidade preliminar de observar o andamento das obras, haja vista que a documentação necessária àinspeção ainda não havia sido entregue naquela data.

Durante a visita “in loco”, não foram localizados funcionários da empresa SERVCON, tendo sidocomprovado, posteriormente, que a Prefeitura de Bernardino Batista emitiu, em 04 de junho de 2014, oTermo de Aceitação Definitivo das obras da Escola Infantil, cujo documento foi assinado pelo Prefeito doMunicípio e pelo Engenheiro responsável pela fiscalização das obras (WENDELL). Segundo informaçõesverbais da Prefeitura de Bernardino Batista/PB, a desmobilização de pessoal e de equipamentos daempresa teria ocorrido após a conclusão das obras.

Na escola infantil foram encontrados alguns servidores do município realizando serviçoscomplementares à obra, tais como a pintura de paredes com temas infantis (desenhos animados), aorganização do mobiliário e a limpeza final para início das atividades da Escola Infantil, momento emque foi obtida a informação de que a inauguração estava prevista para o dia 06 de setembro de 2014.

Aproveitando a oportunidade, os servidores municipais presentes foram questionados se teriamtrabalhado, também, na fase construtiva da Escola Infantil ou se poderiam informar o nome dosfuncionários da empresa SERVCON que atuaram em sua construção. Porém, afirmaram que nãotrabalharam na construção da Escola Infantil e não tinham informações a respeito de funcionários daempresa SERVCON da época da construção da Escola.

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Merece destacar que não há registro de empregados da empresa SERVCON nos sistemas do GovernoFederal, exceto quanto à funcionária contratada em fevereiro de 2013.

Na sede da Prefeitura de Bernardino Batista/PB, foi mantido contato com o Sócio Administrador daempresa SERVCON (FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO CPF 033.889.914-64). Porém, esteapenas acompanhou a Equipe da CGU na inspeção às obras de construção de uma Unidade Básica deSaúde no Distrito de Antônio Paulo, zona rural do município.

As verificações foram continuadas no dia 03 de setembro de 2014, sendo que, desta vez, com oacompanhamento da Secretária de Educação do Município, quando foram encontradas diversas falhasde execução, razão pela qual foi comunicado ao Engenheiro Fiscal que uma terceira verificação, maisdetalhada, seria realizada no dia 04 de setembro de 2014, no período da manhã. Na oportunidade, aSecretária de Educação foi comunicada que as falhas seriam evidenciadas, de preferência, na presençados engenheiros responsáveis pela fiscalização e pela execução das obras.

Apesar da prévia comunicação ao município, durante a inspeção realizada no dia 04 de setembro de2014 a Equipe da CGU não foi acompanhada pelos engenheiros responsáveis pela fiscalização(WENDELL) e pela execução das obras (JORGE). Cabe citar que, nesta última inspeção, estavampresentes a Secretária de Educação e o Prefeito de Bernardino Batista/PB. É importante destacar que, àépoca em que foram realizadas as inspeções físicas às obras, os serviços previstos em contrato haviamsido totalmente medidos e pagos à empresa SERVCON, sendo o último pagamento realizado em 1º deagosto de 2014.

Nesta última inspeção, realizada no dia 04 de setembro de 2014, foram encontradas as seguintes falhasna execução das obras, referentes a itens não executados ou executados em quantitativos inferiores aoprevisto, bem como itens executados em desconformidade com as especificações:

a) Piso cimentado nos ambientes “Solarium”. (Item 10.6 – R$ 1.326,19):Nos ambientes denominados “Solarium” foi prevista a colocação de piso cimentado desempenado,com juntas de dilatação. No entanto, apesar de este serviço ter sido medido e pago, não foiexecutado pela empresa SERVCON, conforme fotos adiante.

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Detalhe do projeto de arquitetura, indicando apaginação do piso do ambiente “Solarium”.

Foto do ambiente mostrando a execução apenas docontra piso.

b) Proteção anticorrosiva sob a pintura em todas as esquadrias metálicas. (Item 12.6 – R$1.629,83):Segundo o Caderno de Encargos apresentado à CGU, a pintura das chapas, das barras de ferro oude aço, deveria ter um fundo anticorrosivo a base de cromato de zinco da Suvinil ou equivalente,obedecendo às especificações do fabricante. No entanto, constatou-se que a proteção dasesquadrias metálicas não foi executada, causando diversos pontos de ferrugem antes mesmo dainauguração da escola, conforme imagens adiante:

Pintura de janela “descascando”, evidenciando aausência da proteção anticorrosiva.

Janela apresentando ferrugem.

c) Rampa de acesso para deficientes (ao lado do estacionamento para deficientes).(Itens 10.1 e 10.2 – R$ 1.365,12):

Conforme detalhado no projeto de paginação de piso, foi prevista a construção de uma rampa de acesopara os Portadores de Necessidades Especiais (PNE), ao lado da rampa de entrada e do estacionamento.No entanto, apesar de este serviço ter sido medido e pago, não foi executado pela empresa SERVCON,conforme fotos adiante. Ressalte-se que o valor calculado refere-se à área em projeto, haja vista que oterreno dimensionado apresenta variação em relação à área real.

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Projeto arquitetônico – Paginação de piso do estacionamento para PNE e rampa de acesso. ](Área mais escura não executada).

Foto de área onde deveria ter sido executada a rampade acesso, próximos aos mastros.

Vista oposta da foto anterior. Inexistência derampa para deficientes.

d) Torneiras do W.C. Feminino externo, inclusive pontos de água. (Item 16.2.6 – R$ 20,00):Não foram instaladas as torneiras metálicas acima da bancada de granito, inclusive os pontos deágua, localizas no W.C. Feminino externo, inviabilizando a utilização desses lavatórios. Destaque-se que a instalação das torneiras implicará doravante a necessidade de rasgo em alvenaria erecomposição da cerâmica já assentada. Seguem fotos que mostram a situação:

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Lavatório instalado sem torneiras. Não há comolavar as mãos.

Vista lateral da foto anterior.

e) Prateleiras para guarda de panelas na cozinha. (Item 17.3 – R$ 542,61):O Projeto arquitetônico e o orçamento previram a execução de prateleiras em mármore para a guarda depanelas na cozinha. Todavia, este serviço foi medido e pago à empresa SERVCON sem ter sidoexecutado. As imagens a seguir mostram o que havia sido projetado e o que foi executado no local:

Projeto Arquitetônico – Serviço (Planta baixa e vista frontal)Fotografia mostrando a execução somente da pia da cozinha (sem as prateleiras para guarda de panelas).

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f) Rede de cabeamento estruturado. (Item 13.5 – R$ 6.346,10):No projeto executivo (elétrico) foi prevista a execução de pontos de rede e cabeamento estruturadona sala multiuso, além de equipamentos, a exemplo de um “switch”. Todavia, o serviço foi medido epago sem ter sido executado, conforme imagens a seguir:

Projeto Elétrico – Rede de cabeamento estruturadoVista da entrada das salas sem os equipamentosinstalados.

g) Plantio de grama, inclusive camada de terra vegetal. (Item 20.1.1 – R$ 1.592,00):O projeto arquitetônico de paginação do piso previu o plantio de grama em todo o terreno nãopavimentado, inclusive a colocação de uma camada de terra vegetal. Contudo, o serviço de plantiode grama não atende as especificações e deveria ter sido glosado do pagamento, considerando aausência de camada vegetal e o espaçamento excessivo entre as placas de grama, que estáprovocando a morte das mudas, conforme imagens a seguir:

Espaçamento excessivo entre as mudas de grama,inviabilizando seu desenvolvimento. Ausência decamada vegetal provocando a morte das mudas.

Área próxima ao reservatório sem mudas de grama esem camada de terra vegetal.

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h) Portas internas dos banheiros. (Item 6.1.7 – R$ 2.547,48):Constatou-se que não houve instalação das portas internas dos banheiros, conforme exemplomostrado nas imagens a seguir:

Projeto arquitetônico detalhando as portas do W.C.Masculino.

Foto das divisões internas do W.C. sem a instalaçãode portas.

i) Bancada do W.C. para funcionários (masculino). (Item 17.4 – R$ 110,37):No W.C. para funcionários, foi instalado lavatório em louça branca, quando a previsão era ainstalação de bancada em granito, conforme mostrado nas imagens a seguir:

Ampliação da foto anterior do projeto, destacando olavatório de bancada em granito com duastorneiras.

Foto do lavatório instalado, divergindo do projeto.

j) Camada de areia filtrada para o “play ground”. (Item 10.5 – R$ 798,61):

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As fotografias adiante mostram que não foi realizada a cobertura do “play ground” com camada deareia filtrada, apesar de este serviço ter sido previsto no projeto e de o pagamento ter sido efetuadoà empresa SERVCON:

Detalhe da planta de paginação de piso, com aprevisão de colocação de grama sintética ou areiafiltrada no “play ground”.

Foto mostrando que a camada de areia filtrada nãofoi colocada.

k) Todas as portas nos modelos P1, P2 e P3 foram executadas em desconformidade com asespecificações (sem instalação de barras metálicas ou telas).(Itens 6.1.1, 6.1.2, 6.1.3 – R$ 6.751,35):

Detalhe das portas P1, P2 e P3 no projeto dearquitetura. Observa-se os puxadores em metal paraos PNE (P1 e P2) e a tela inferior (P3).

Foto mostrando as portas sem puxadores para PNEou tela na parte inferior.

l) Prateleiras da despensa da cozinha. (Item 17.3 – R$ 429,32):

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As prateleiras da despensa da cozinha foram executadas com dimensões inferiores ao projeto,conforme imagens adiante:

Detalhe das prateleiras da despensa no projeto dearquitetura. Observa-se seu formato em “C”.

Foto mostrando as prateleiras construídas, formandoum “L”, ou seja, não foi executado um dos lados.

m) Bancada e lavatório da pré-escola e das chefes 1, 2 e 3. Porta sabonete líquido fornecimento einstalação (Itens 16.5.1 e 16.5.2 – R$ 969,96):A bancada, o lavatório e o porta sabonete não foram instalados nos ambientes da pré-escola e dascreches, apesar de existir previsão no projeto e no orçamento para estes itens, conforme imagens aseguir:

Projeto Arquitetônico – Planta Baixa.Bancada e lavatório na Creche 1

Detalhe da bancada e lavatório da creche III.

n) Lavatório para o “banho” da Creche 1 (Item 16.4.2 – R$ 208,70):Verificou-se que não houve a instalação do lavatório na bancada da sala de banho da Creche 1.Destaque-se que havia previsão no projeto para este serviço, conforme evidenciado na imagemadiante:

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Projeto Arquitetônico – Planta Baixa. Lavatório não instalado no banho da Creche 1. (Observação: A bancada em granito foi instalada, restando a colocação do lavatório).

o) Banco em concreto na creche 1. (Item 20.1.2 – R$ 150,00).Não houve a instalação do banco em concreto na creche 1.

p) Lavatório da cozinha, inclusive ponto de água (Item 16.4.3 – R$ 208,70):Não houve a instalação do lavatório de louça branca, previsto para ser instalado na cozinha.

q) Fechamento da meia-parede com vidro de 8mm para o repouso das crianças, localizadodentro das creches. (Item 6.4.1 – R$ 2.313,57):Este serviço não foi executado, tendo sido instaladas janelas de ferro para divisão dos ambientes.

Cabe destacar que os serviços listados acima foram medidos e pagos sem a correspondente execuçãofísica, ou foram executados em desacordo com as especificações, causando prejuízo de R$ 27.309,91.

(fls. 164/173, anexo XI, PIC)

Como é evidente, o pagamento por esses valores não executadossomente foi possível em decorrência do conluio entre os denunciados – dois dosquais funcionários públicos – que produziram documentos (boletins de mediçãoideologicamente falsos) com itens não realizados de obras.

Assim, Francisco Justino do Nascimento, Wendell Alves Dantas eJorge Luiz Lopes dos Santos praticaram o fato típico previsto no art. 312, § 1º, doCódigo Penal – Peculato, ao receberem soma em dinheiro do erário (R$ 27.309,91)por obras não executadas, com base em atestado falso de medição da obra.

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2.1.1.3. Da Lavagem de Dinheiro e da Corrupção Ativa e Passiva

Narrados os crimes antecedentes, convém se demonstrar como aestrutura da Servcon – empresa “fantasma”, como se demonstrou – foi utilizadapelos agentes executores para ocultar a origem criminosa dos recursos públicosobtidos pela organização criminosa – em tipologia característica de lavagem dedinheiro 27.

Efetivamente, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dos Santosutilizavam a estrutura formal (bancária) da Servcon, com a operacionalização deFrancisco Justino do Nascimento, para mascarar a origem ilícita dos recursospúblicos obtidos pela organização criminosa através de fraudes licitatórias edesvios de recursos públicas.

Ocorridos os crimes antecedentes, os pagamentos ingressavam naconta corrente da empresa “fantasma” Servcon e eram imediata e integralmentesacados por Francisco Justino do Nascimento, para repasse aos verdadeirosexecutores das obras. Com isso, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dosSantos mascaravam a origem dos lucros que obtinham com a atividade daorganização criminosa, remunerando Francisco Justino com o percentual de 04%do valor da parcela depositada, conforme modus operandi verificado.

Nessas operações de ocultação dos proveitos do crime, verificou-seainda o pagamento de propina ao presidente da Comissão Permanente de Licitaçãode Bernardino Batista, Jarismarques Gomes Ferreira, corresponsável pela crimede fraude licitatória narrado no primeiro item.

Assim, tem-se que para o convênio Convênio SIAFI n. 657159, foiaberta a conta corrente n. 19536-7, Ag. 1165-7, do Banco do Brasil.

Os recursos públicos desta conta foram debitados através de cincocheques (cheques n. 850.001 a 850.005) e cinco transferências feitas para conta daempresa Servcon, conforme quadro em anexo:

27 COAF, II Coletânea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro, 2014. disponível em: [http://www.coaf.fazenda.gov.br/pld-ft/publicacoes]

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DATA VALOR MODALIDADE

08/06/10 R$ 156.781,01 Cheque n. 850.001

27/07/10 R$ 119.698,16 Cheque n. 850.002 28

28/07/10 R$ 10.506,78 Cheque n. 850.003 29

28/07/10 R$ 13.208,55 Cheque n. 850.004 30

25/08/10 R$ 714,00 Cheque n. 850.005 31

06/01/12 R$ 138.237,73 Transferência on line

22/11/13 R$ 42.362,97 Transferência on line

22/11/13 R$ 1.609,88 Transferência on line

23/12/13 R$ 15.212,65 Transferência on line

18/02/14 R$ 26.702,79 Transferência on line

No que pertine ao cheque 850.001, no valor de R$ 156.781,01,nota-se que, embora nominal à empresa Servcon, ele fora endossado por FranciscoJustino (fls. 63/64, anexo X), em manobra a permitir que o título nominal se tornetítulo ao portador, ensejando o saque do dinheiro público por virtualmentequalquer pessoa. Malgrado o Banco do Brasil haver remetido de forma incompletaas fitas de caixa da sessão de atendimento, pôde-se desde já identificar umpagamento a Getúlio Faustino Almeida (R$ 5.000,00) (fl. 65, anexo X), que,oitivado na sede desta PRM – Sousa, afirmou que o valor recebido correspondeu àremuneração pelo aluguel, em duas oportunidades, a Jorge Luiz Lopes dos Santosde um trator de esteira D4E 1980.

Quanto aos valores transferidos para a conta da Servcon, tem-se queeles, em movimento usual de suas transações bancárias, forma sacados nosmesmos dias, conforme gráfico abaixo:

28 O cheque 850.002, no valor de R$ 119.698,16, também foi endossado por Francisco Justino (fls.57/58, anexo X), mas as informações prestadas pelo Banco do Brasil estavam incompletas (fl. 65,anexo X), motivo pelo qual já se requereu judicialmente a renovação do pedido.

29 A análise dos dados bancários oriundos dos afastamentos de sigilo bancário indicaram que oscheques n. 850.003 e 850.004 foram emitidos para pagamento, respectivamente, de ISS e INSS.30 Na sessão de atendimento houve dois pagamentos de guias GPS (INSS).

31 O cheque 850.005, no valor de R$ 714,00, foi expedido nominalmente à Elielza Gabriel Braga(fls. 53/54, anexo X) e por ela endossado (inclusive constando lá seu CPF, n. 050.918.2014-30) paradepósito em sua própria conta poupança (fl. 65, anexo X). Em oitiva, ela afirmou se tratar de suaremuneração como assistente social do Município de Bernardino Batista.

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DATA VALOR MODALIDADE BENEFICIÁRIO SAQUE

06/01/12 R$ 138.237,73 Transferência online

Servcon 06/01/12

22/11/13 R$ 42.362,97 Transferência online

Servcon 22/11/13 32

22/11/13 R$ 1.609,88 Transferência online

Servcon 22/11/13

23/12/13 R$ 15.212,65 Transferência online

Servcon 23/12/13 33

18/02/14 R$ 26.702,79 Transferência online

Servcon 18/02/14 34

A análise da fita de caixa da sessão de atendimento onde ocorreu ossaques revelam o destino de parte daqueles recursos públicos.

Assim, em relação ao saque efetuado por Francisco Justino doNascimento, por meio do cartão magnético, em 06/01/12, no valor de R$138.237,73, as fitas de caixa indicam que parte do dinheiro (R$ 10.000,00) foi pagoa Luiz Vitoriano dos Santos, genitor de Jorge Luiz Lopes dos Santos. Nodepoimento de fl. 20 do anexo IX, Francisco Justino informa que Luiz Vitoriano dosSantos trabalha para o filho. Em oitiva nesta PRM, Luiz Vitoriano dos Santosafirmou que o valor se trata da parcela de uma venda de uma casa em FazendaNova, distrito de Joca Claudino, feita por ele a Jorge Luiz, completando que naépoca Jorge Luiz era engenheiro da empresa do Francisco Justino e por isso esteteria efetuado o depósito.

A mesma fita de caixa da operação revela que houve pagamentos ásseguintes pessoas: a) Getúlio Faustino Almeida (R$ 8.700,00), que informou setratar de aluguel de trator de esteira D4E 1980 a Jorge Luiz; b) Jean Roberto Pires

32 Em dois saques com cartão magnético, as fitas de caixa indicam que foi realizado um depósito deR$ 56.131,00 na conta da empresa PROCONE Construções e Engenharia LTDA, de José Fernandes deOliveira Júnior.

33 O saque efetuado não gerou depósitos na sessão de atendimento, indicando as fitas de caixa queo dinheiro foi retirado da agência em espécie.

34 As fitas de caixa indicam que foi realizado um depósito de R$ 22.290,00 na conta de FranciscoSarmento de Oliveira, saindo Francisco Justino com o restante do valor em dinheiro.

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Lira (R$ 4.360,00), que informou se tratar de quatro carradas de brita para a obrada creche, contratado pelo mestre de obras a mando de Jorge Luiz; c) José Cletogomes Pinto (R$ 2.650,00), que informou se tratar de trinta e cinco carradas deareia e aterro para a obra da creche, encomendadas por Jorge Luiz; d) VanduirAlves de Sousa (R$ 3.000,00), que informou se tratar de pagamento por materialconstrução para duas obras em Bernardino Batista, comprado por Jorge Luiz; e)Iracema Maria de Lira da Silva (R$ 11.500,00), que informou se tratar decaçambas de areia e barro que o esposo, Custódio Pereira da Silva, foi contratadopor Jorge Luiz para obras em Joca Claudino; f) Simone Santos Batista (R$1.125,00), que informou se tratar de pagamento a seu esposo, Antônio Duarte deLima, que trabalhava como “assessor” de Jorge Luiz em obras públicas.

Houve ainda uma transferência interbancária para a CC 3731, ag.5187, do Banco Santander, no valor de R$ 11.000,00, de titularidade da empresaPrumus Construção e Serviços (fl. 658, PIC), pertencente ao mesmo proprietárioda empresa INPREL, da qual Jorge Luiz é engenheiro contratado e parceiro emlicitações com a empresa WJ Engenharia.

Percebe-se, ainda, que R$ 1.500,00 foi depositado na conta correntede Jarismarques Gomes Ferreira, presidente da CPL que fraudou a licitação quedeu ares de legalidade à contratação da Servcon, além de tesoureiro do Município(fl. 150, anexo XI). Esse pagamento em nome do presidente da comissãopermanente de licitação, responsável pela licitação, indica a ocorrência induvidosade pagamento de propina a agente público.

Como se vê, a parte rastreável dos valores públicos pagos à empresaServcon se destinaram ao pagamento de serviços de obras contratadosdiretamente por Jorge Luiz Lopes dos Santos (demonstrando, mais uma vez, suacondição de agente executor), à aquisição de imóvel pelo mesmo Jorge Luiz e aopagamento de propina a servidor público municipal presidente da CPL.

Assim agindo, Francisco Justino do Nascimento, Wendell AlvesDantas e Jorge Luiz Lopes dos Santos praticaram o fato típico previsto no art. 1º,caput, da Lei n. 9.613/1998, ao ocultarem e dissimularem a origem de valoresprovenientes dos crimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusãode 03 a 10 anos e multa.

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Igualmente, Francisco Justino do Nascimento, Wendell AlvesDantas e Jorge Luiz Lopes dos Santos praticaram o fato típico previsto no art.333 do Código Penal – Corrupção Ativa, ao pagarem o valor de R$ 1.5000,00 aopresidente da CPL e tesoureiro do Município de Bernardino Batista, JarismarquesGomes Ferreira, para determiná-lo a fraudar a licitação TP n. 03/2010 em favor daempresa Servcon, para o qual a pena é de 02 a 12 anos e multa, acrescida de causade aumento de pena do parágrafo único.

Por fim, Jarismarques Gomes Ferreira praticou o fato típicoprevisto no art. 317 do Código Penal – Corrupção Passiva, ao receber R$ 1.5000,00para fraudar a licitação TP n. 03/2010 em favor da empresa Servcon, para o qual apena é de 02 a 12 anos e multa, acrescida de causa de aumento de pena do § 1º.

2.2.2. Na Proposta n. 10484826000113002 – UBS do Distrito deAntônio Paulo

2.2.2.1. Da Fraude Licitatória na TP n. 004/2013

Em 27 de novembro de 2013, o Município de Bernardino Batistainstaurou a Tomada de Preços n. 0004/2013 com o objetivo de selecionarempresa para a construção de uma unidade básica de saúde de porte I no Distritode Antônio Paulo, objeto da Proposta n. 10484826000113002, aprovada pelaPortaria n. 1.380/13 do Ministério da Saúde, com recursos federais repassadospelo Fundo Nacional de Saúde.

Da análise do procedimento licitatório, sabendo-se da existência daorganização criminosa narrada acima, identifica-se a fraude licitatóriaempreendida para beneficiar indevidamente a Servcon Construções Comércio eServiços LTDA – EPP, nome fantasia “Construtora Servcon”.

Efetivamente, o primeiro indício de fraude decorre da atuação daComissão Permanente de Licitação (constituída por Jarismarques GomesFerreira 35, Lindomarcos Gomes da Silva e Raimundo Bila Viana, mídia de fl.188, anexo XI) em fazer constar da ata de recebimento da habilitação e propostas

35 Denunciado no item acima por corrupção passiva.

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que 7 empresas teriam retirado cópias do edital, quando só há os comprovantes derecebimento do edital pela Servcon, Rangel & Sousa e Serra Construções e nenhumadessas chegou a pagar a taxa para a retirada do edital e de seus anexos. Ademais, aCGU constatou vínculos familiares entre os sócios das empresas Rangel & Sousa eSerra Construções que inviabilizam a possibilidade de existir qualquer concorrênciaentre elas (fl. 176, anexo XI, PIC).

Por fim, na data de recebimento das propostas, somente compareceuFrancisco Justino do Nascimento representando a Servcon, tendo a CPLinabilitado todas as empresas, exceto Servcon e Ampla Consultoria, Projetos, Obras e

Serviços Ltda EPP. Ocorre que, quanto a esta (Ampla), não havia no processolicitatório sequer os comprovantes de entrega do edital e seus anexos, bem comodo pagamento da taxa de reprodução gráfica, indicando que a empresa Ampla foi“habilitada” sem sequer ter adquirido o edital da licitação (fls. 175, anexo XI, PIC).

Ademais, sobre as empresas MAXITRATE Construções e Serviços Ltda,INPREL Construções e Serviços Ltda 36 e Construtora TMA Ltda, todas supostamenteinabilitadas, inexiste nos autos do procedimento licitatório qualquer manifestaçãode interesse destas em participar do processo, apesar disso, seus nomes aparecemna ata como se tivessem retirado o edital da licitação.

Após as manobras da CPL, restaram na licitação Servcon e Ampla,sendo decisiva para a consumação da fraude a classificação indevida da propostade preços da Servcon, mesmo ela não tendo apresentado o detalhamento dosencargos sociais (a planilha apresentada trata apenas da composição do BDI),descumprindo o item 7.2.12 do edital, ensejando a sua desclassificação segundo oitem 7.4 do mesmo edital (fl. 178, anexo XI, PIC).

Outro indício de fraude exsurge da análise das propostas de preçoapresentadas por Servcon e Ampla. Esta supostamente propôs preços unitáriosiguais aos do orçamento básico da licitação, havendo redução somente no BDI, quepassou de 19,70% para 19,00%. A Servcon, por sua vez, “venceu” a licitaçãoapresentando desconto linear de 1% para todos os itens da planilha do orçamento(fl. 178, anexo XI, PIC).

36 Empresa da qual Jorge Luiz Lopes dos Santos é engenheiro contratado.

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Assim agindo, Francisco Justino do Nascimento, JarismarquesGomes Ferreira, Lindomarcos Gomes da Silva e Raimundo Bila Vianapraticaram o fato típico previsto no art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar,mediante ajuste e combinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório,com o intuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 04/2013, para o qual a pena é de 02 a 04anos e multa.

2.2.2.2. Do Peculato Através de Boletins de Medição Ideologicamente Falsos

Na sequência das ilegalidades, após a fraude licitatória, verifica-seque Francisco Justino do Nascimento, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopesdos Santos iniciaram as obras da escola infantil, com a participação do fiscal daprefeitura Márcio Braga de Oliveira, cada um com sua função na organização, eproduziram documentos (boletins de medição ideologicamente falsos) paraobterem liberação de recursos públicos do convênio.

Efetivamente, a Controladoria-Geral da União detectou que oMunicípio, à vista de documentos ideologicamente falsos apresentados pelosdenunciados, realizou o pagamento por serviços não executados na ordem de R$R$ 100.485,78 (fls. 179/185, anexo XI).

Para constar na presente exordial as particularidades técnicas daconstatação fiscalizatória, permito-me transcrever o trecho do relatório da CGU:

Com relação às obras, a inspeção física na UBS foi realizada no dia 02/09/2014, com oacompanhamento do Sócio Administrador da empresa SERVCON, Francisco JUSTINO do Nascimento(CPF 033.889.914-64). No dia da fiscalização, não foram localizados funcionários da empresaSERVCON trabalhando nas obras da Unidade Básica de Saúde. Na ocasião, JUSTINO localizou oencarregado/vigia, PATRÍCIO Dionísio da Silva (CPF 203.515.854-00), que mora próximo à obra e queteria trabalhado na construção da Unidade. O referido encarregado afirmou que não teve a sua CTPSassinada, mas que trabalhava como vigia da obra.

Foi constatado que as obras estavam paralisadas e, segundo informações prestadas pela Secretária deAdministração e Finanças, por meio do Ofício nº 128/2014, de 03/09/2014, a situação se devia à semanade comemoração da emancipação política do município, que estava sendo realizada no período de 30 deagosto a 06 de setembro de 2014. Além disso, a Secretária informou que, devido à situação de

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emergência causada pela estiagem, somada à semana comemorativa alusiva à emancipação municipal,todas as obras em andamento foram suspensas, por um período de 10 (dez) dias, a contar do dia 30 deagosto de 2014.

Até a data da inspeção física realizada por esta controladoria, haviam sido descentralizados recursos nomontante de R$ 326.400,00, correspondentes a 80% do valor sob a responsabilidade do Ministério daSaúde/FNS, cujas parcelas foram creditadas no dia 04/09/2013 (R$ 81.600,00 = 20%) e no dia28/07/2014 (R$ 244.800,00 = 60%). Por sua vez, a Prefeitura de Bernardino Batista realizou depósitosna conta específica, no montante de R$ 9.618,64 a título de contrapartida municipal. O valordesembolsado para pagamento à empresa SERVCON totalizava a quantia de R$ 336.018,64,correspondente a 75% do valor do Contrato, restando um saldo contratual de R$ 111.130,82, conformemostrado na tabela adiante:

Medição Empenho Data Valor (R$) Nota Fiscal Data Valor (R$)

011411

02/04/20147.830,00

242 03/04/2014 89.430,001412 81.600,00

023461

28/07/20141.788,64

308 31/07/2014 246.588,643462 244.800,00

Total dos pagamentos 336.018,64Valor do Contrato Administrativo nº 00032/2014 447.149,76Saldo contratual disponível 111.130,82Fonte: Documentos relativos aos pagamentos

Em relação à avaliação dos serviços medidos, os trabalhos foram parcialmente prejudicados devido àPrefeitura não ter disponibilizado, no momento da inspeção física, o Boletim de Medição nº 02, pago em31 de julho de 2014, o que dificultou a evidenciação dos fatos. A requisição do Boletim da Medição nº 02foi reiterada por meio da Solicitação de Fiscalização nº 06, de 19 de novembro de 2014, cujadisponibilização ocorreu somente no dia 04/12/2014, por meio de e-mail enviado pela Secretária deAdministração do município de Bernardino Batista/PB.

Em que pese o confronto entre os serviços medidos e os serviços executados ter sido realizado aposterior, foi possível constatar que diversos serviços medidos no Boletim de Medição nº 02 não haviamsido executados, ficando caracterizado o favorecimento à empresa SERVCON, por meio do pagamentopor serviços não prestados no montante de R$ 100.485,78, conforme demonstrado na tabela adiante:

Tabela: Serviços atestados no Boletim de Medição nº 02 e pagos à empresa SERVCON que não foramexecutados

Item Discriminação do Serviço Valor (R$)3. Cobertura 43.830,52

7.3Piso (calçada) em concreto (cimento/área/seixo rolado) preparo mecânico, e espessura de 7cm (contorno UBS)

3.961,48

7.4Pavimentação em Paver Rejuntado com pó de pedra (acesso ambulância e estacionamento)

3.030,06

7.6 Guia de Concreto 2.032,787.8 Piso Cerâmico 40x40cm 10.629,90

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Item Discriminação do Serviço Valor (R$)

7.9Rodapé cerâmico h = 10 cm, assentada com argamassa colante, com rejuntamento em epóxi

1.727,87

7.10 Soleira de granito - Portas 1.443,43

7.14Revestimento cerâmico 20x20cm, assentada com argamassa colante, com rejuntamento em epóxi

5.724,98

7.15 Emassamento c/massa acrílica para ambientes internos, duas demãos 6.533,457.18 Pintura externa em textura acrílica 9.203,927.21 Emassamento com massa látex 1.925,35 7.23 Pintura externa 469,58 7.24 Foro de gesso 337,27 7.27 Pintura externa em textura acrílica 516,92 8.9 Janela de alumínio projetante 2.077,17 9.27 Disjuntor termomagnético tripolar 80A capac. interrup. 25ka-curva C 198,289.28 Disjuntor termomagnético monopolar padrão Nema (Americano) 10 a 30A 119,339.29 Disjuntor termomagnético monopolar padrão Nema (Americano) 35 a 50A 151,929.30 Disjuntor termomagnético bipolar padrão Nema (Americano) 10 a 50A 297,0910.1 Vaso sanitário sifonado louça branca padrão popular 150,5610.3 Vaso sanitário sifonado louça branca padrão PNE 1.383,8410.20 Reservatório d’água de fibra cilíndrico. Capacidade 3.000L 1.509,81

10.46Caixa de inspeção em alvenaria de tijolo maciço 60x60x60cm, revestida internamento com barra lisa (cimento e areia, traço 1:4) e=2,0 cm, com tampa pré-moldada de concreto e fundo de concreto 15mpa

1.937,88

13.1 Banco de concreto curvo 1.107,8013.3 Limpeza final da obra 184,59

Total 100.485,78Fonte: Inspeção física realizada no dia 02/09/2014.

No relatório fotográfico a seguir foram evidenciadas algumas situações apontadas na tabela acima,demonstrando que os serviços não haviam sido executados até a data da inspeção física:

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Foto 01: Placa da obra. Foto 02: Laje superior. Item 3 – Cobertura, que incluiestrutura em madeira, telha, cumeeira, calha e rufos,foi pago mas não foi executado (R$ 43.830,52).

Foto 03: Entrada da UBS. Itens pagos que não foramexecutados:7.3 – Calçada (R$ 3.961,48); 7.4 – Acesso ambulância/estacionamento(R$ 3.030,06);7.6 – Guia de concreto (R$ 2.032,78);7.27 – Pintura externa acrílica – muros (R$ 516,92);13.1 – Banco em concreto curvo (R$ 1.107,80).

Foto 04: Entrada da UBS. Itens pagos que não foramexecutados:7.18 – Pintura externa acrílica - paredes (R$ 9.203,92);7.23 – Pintura externa acrílica – tetos (R$ 469,58).

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Foto 05: Foto interna da UBS. Itens pagos que nãoforam executados:7.8 – Piso Cerâmico (R$ 10.629,90);7.9 – Rodapé cerâmico (R$ 1.727,87);7.15 – Emassamento com massa látex (R$ 1.925,35).

Foto 06: Serviços pagos que não foram executados:Disjuntores.9.27 – (R$ 198,28); 9.28 – (R$ 119,33); 9.29 – (R$ 151,92); 9.30 – (R$ 297,09).

Foto 07: Serviços pagos que não foram executados:7.14 – Revestimentos cerâmicos (R$ 5.724,98)10.1 – Vasos Sanitários padrão PNE (R$ 150,56)

Foto 08: Serviços pagos que não foram executados:10.3 – Vasos Sanitários padrão popular (R$ 1.383,84)

Foto 09: Serviços pagos que não foram executados:7.10 – Soleiras de granito (R$ 1.443,43);13.3 – Limpeza final da obra (R$ 184,59).

Foto 10: Serviços pagos que não foram executados:7.15 – Emassamento c/ massa acrílica (R$ 6.533,45)7.24 – Forro de gesso (R$ 337,27)8.9 – Janelas em alumínio (R$ 2.077,17)

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Foto 11: Área onde deveria estar instalado oreservatório para aproveitamento de água pluvial. 10.20 Reservatório – (R$ 1.509,81).

Foto 12: Serviços pagos e não executados.10.46 – Caixas de inspeção (R$ 1.937,88). Observação: serviço apenas iniciado.

Foto 13: Ausência de luminárias, esquadrias dealumínio, emassamento e pintura.

Foto 14: emboço da laje não realizado. Ausência dejanela de alumínio.

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Foto 15: Pontos de tomadas não concluídos (sem ainstalação das caixas 4”x2”).

Foto 16: teto e paredes sem emboço. Ausência deluminárias.

Foto 17: Serviços não executados:Pintura do teto externo e janelas (já quantificados).

Portanto, foi possível constatar que a empresa SERVCON foi favorecida na execução do ContratoAdministrativo nº 032/2014, em razão do pagamento antecipado por serviços não executados, nomontante de R$ 100.485,78.

(...)

Por fim, cabe mencionar que o Boletim de Medição nº 02 foi atestado por MÁRCIO Braga de Oliveira(Engenheiro Fiscal – CPF 739.095.304-78) e o pagamento foi autorizado por JARIMARQUES GomesFerreira (Presidente da CPL e Tesoureiro – CPF 607.967.154-91) e por SEVERINA Alves de Andrade(Secretária de Saúde – CPF 768.827.484-20).

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(fls. 179/185, anexo XI)

Como é evidente, o pagamento por esses valores não executadossomente foi possível em decorrência do conluio entre os denunciados – dois dosquais funcionários públicos – que produziram documentos (boletins de mediçãoideologicamente falsos) com itens não realizados de obras.

Assim, Francisco Justino do Nascimento, Wendell Alves Dantas,Jorge Luiz Lopes dos Santos e Márcio Braga de Oliveira praticaram o fato típicoprevisto no art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem soma emdinheiro do erário (R$ 100.485,78) por obras não executadas, com base ematestado falso de medição da obra.

2.2.2.3. Da Lavagem de Dinheiro

Narrados os crimes antecedentes, convém se demonstrar como aestrutura da Servcon – empresa “fantasma”, como se demonstrou – foi utilizadapelos agentes executores para ocultar a origem criminosa dos recursos públicosobtidos pela organização criminosa – em tipologia característica de lavagem dedinheiro 37.

Efetivamente, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dos Santosutilizavam a estrutura formal (bancária) da Servcon, com a operacionalização deFrancisco Justino do Nascimento, para mascarar a origem ilícita dos recursospúblicos obtidos pela organização criminosa através de fraudes licitatórias edesvios de recursos públicas.

Ocorridos os crimes antecedentes, os pagamentos ingressavam naconta corrente da empresa “fantasma” Servcon e eram imediatamente sacados porFrancisco Justino do Nascimento em sua integralidade, para repasse aos

37 COAF, II Coletânea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro, 2014 disponível em: [http://www.coaf.fazenda.gov.br/pld-ft/publicacoes]

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verdadeiros executores das obras. Com isso, Wendell Alves Dantas e Jorge LuizLopes dos Santos mascaravam a origem dos lucros que obtinham com a atividadeda organização criminosa, remunerando Francisco Justino com o percentual de04% do valor da parcela depositada, como o modus operandi verificado.

Assim, tem-se que para a Proposta n. 10484826000113002 foiaberta a conta corrente n. 23969-0, Ag. 1165-7, do Banco do Brasil, vinculadaao Fundo Municipal de Saúde, tendo havido pagamento, mediante transferência on

line, à empresa Servcon, conforme quadro a seguir:

DATA VALOR MODALIDADE BENEFICIÁRIO SAQUE

09/04/14 R$ 85.495,08 Transferência online

Servcon 09/04/14

31/07/14 R$ 246.588,64 Transferência online

Servcon 31/07/14 38

Esses valores foram recebidos na CC n. 22.660-2, Ag. 099-X, do Bancodo Brasil, de titularidade da Servcon e na mesma data, sacados. Analisando as fitasde caixa do saque realizado em 09/04/14, nota-se o rastro bancário dos crimes.

Nesta data, Francisco Justino do Nascimento, usando o cartão n.4984.3099.1164.4125, realizou na CC n. 22.660-2, Ag. 099-X, do Banco do Brasil,um saque no valor de R$ 90.000,00, tendo, na mesma sessão de atendimento,devolvido para a mesmíssima conta o valor de R$ 4.505,00, correspondente aaproximadamente 4% do valor sacado. O restante foi levado da agência emespécie.

O valor de 4% que foi redepositado correspondeu à remuneração deFrancisco Justino pelas notas “frias” e aquele retirado da agência em espéciedestinava-se aos agentes executores. Mascarado estava a origem ilícita dosrecursos.

38 O valor de R$ 95.000,00 foi sacado e levado da agência em espécie.

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Assim agindo, Francisco Justino do Nascimento, Wendell AlvesDantas e Jorge Luiz Lopes dos Santos praticaram o fato típico previsto no art. 1º,caput, da Lei n. 9.613/1998, ao ocultarem e dissimularem a origem de valoresprovenientes dos crimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusãode 03 a 10 anos e multa.

2.3. Dos Crimes Praticados em Joca Claudino

2.3.1. No TC PAC n. 204302/2013 – Quadra Coberta na ZonaUrbana

2.3.1.1. Da Fraude Licitatória na TP n. 001/2013

Em 12 de novembro de 2013, o Município de Joca Claudino instauroua Tomada de Preços n. 001/2013 com o objetivo de selecionar empresa paraexecução do objeto do TC PAC n. 204302/2013, firmado com o FNDE para aconstrução de uma quadra escolar localizada na zona urbana do município.

Da análise do procedimento licitatório, sabendo-se da existência daorganização criminosa narrada acima, identifica-se a fraude licitatóriaempreendida para beneficiar indevidamente a Tec Nova – Construção Civil LTDAME. Deste certame, juntamente com Francisco Justino do Nascimento, atuou pelaTec Nova, com documentos assinados, Fernando Alexandre Estrela.

Efetivamente, o primeiro indício de fraude decorre da constatação deque nenhuma das três empresas que supostamente teria participado do certame(Tec Nova, Construterra e Belchior) retirou o edital e seus anexos, pois não foramidentificados o recolhimento aos cofres municipais dos valor da taxa de R$ 100,00exigida nos termos do item 3.2 do edital (fl. 04/05, anexo XI, PIC).

Ademais, observa-se que Jorge Luiz Lopes do Santos, agenteexecutor da obras da Servcon/Tec Nova em Joca Claudino e engenheiro fiscal domunicípio, teve exposta sua relação com a Construterra na apreensão de diversosdocumentos dessa empresa na sede social da WJ Engenharia. Efetivamente, quandodeflagrada a Operação Andaime, ocorrida em 26/06/2015, todos os documentos

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da empresa Construterra foram apreendido na sede da empresa WJ Engenharia 39.

Na mesma apreensão, verificou-se que hoje a empresa Construterra está registradaem nome de Denilson Pereira Rodrigues, mas permanece administradacompletamente por seu antigo dono, Jefferson Stefânio de Andrade 40. Inclusivena data da TP n. 01/2013, os documentos da Construterra foram todos assinadospor Jefferson Stefânio, na qualidade de administrador da empresa (mídia, fl. 187,anexo XI).

Essa relação negocial próxima, a ponto de a CGU indicar que nãohavia diferença operacional entre as empresas (WJ Engenharia de Jorge Luiz,agente executor, e a Construterra, de Jefferson Stefânio), indica que nesse ponto aparticipação da Construterra na TP n. 01/2013 de Joca Claudino somente ocorreupara dar ares de legalidade à fraude que viria a beneficiar a empresa Tec Nova.

A participação da Comissão Permanente de Licitação (formada porAureliano Batista Duarte, José Costa Duarte e Cezar Campos Duarte) na fraudeconsistiu em inabilitar a Belchior Construtora e Imobiliária Ltda. – ME por nãoapresentar o comprovante de visita às obras, contrariando o item 8.1.6 do Edital e oartigo 30, inciso III, da Lei nº 8.666/93; e em realizar a divulgação dos valores daspropostas e o respectivo julgamento no mesmo dia da abertura dos documentos dehabilitação (12/11/2013), sem observância ao prazo de interposição de recurso e

3939 Tais como os originais do Contrato de Constituição da Construterra, das Certidões, Certidão deRegularidade com o FGTS e Certidões Negativas de Débitos dos tributos federais, estaduais etrabalhistas e outras certidões, emitidas em Maio/2015 e Junho/2015 (Equipe 19, Item 04),carimbos da empresa e de seu sócios e engenheiros responsáveis técnicos (Equipe 19, Item 09),demonstrativos contábeis de 2012 a 2014 (Equipe 19, Itens 07 e 11), cópias de documentos deidentificação dos sócios e originais de procurações da Construterra para os representantesparticiparem de licitações (Equipe 10, Item 11), papéis timbrados e em branco (Equipe 19, Item 24),etc, corroborando com o vínculos operacionais entre elas, inclusive com pagamentos de títulos daConstruterra, com recursos da WJ Engenharia. Ademais, segundo informações do Tribunal de Contasdos Municípios no Estado do Ceará, a Prefeitura Municipal de Sobral realizou a Concorrência nº028/2014, que foi homologada em favor da WJ Engenharia, em 12/01/2015, decorrente de recursosfederais. Nesta licitação, a WJ Engenharia foi representada por Jefferson Stefânio de Andrade.

40 Observe-se, por exemplo, o pagamento de títulos do CREA-RN da empresa Construterra, no

valor de R$ 101,06, pago por Jefferson Stefânio de Andrade., mediante débito em sua contapessoal de poupança (CP 013.00013074-1, AG. 0558), configurando que, apesar de ele ter seretirado formalmente da empresa em 17/06/2014, permaneceu como responsável de fato pelaConstruterra.

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sem a desistência expressa dos licitantes quanto à interposição de recursos (art.43, III c/c art. 109, I, Lei nº 8.666/93).

Por ocasião da busca e apreensão na Prefeitura de Joca Claudino,quando deflagrada a Operação Andaime, também se encontrou duas vias originaisda Ata 001 de realização da Tomada de Preços nº 001/2013 e duas vias originaisdo Histórico da Ata 001 da Tomada de Preços nº 001/2013. Ao serem comparadosesses documentos apreendidos com os documentos constantes do procedimentoda Tomada de Preços nº 001/2013 disponibilizado à CGU, no período dafiscalização, comprovou-se que a CPL de Joca Claudino fraudou a realização dalicitação, tendo em vista a existência de duas atas das sessões de realização daTomada de Preço.

Esses documentos duplicados apontam divergências quanto aonúmero de empresas participantes na realização da licitação da Tomada de Preçosnº 001/2013, pois a ata de realização da TP 001/2013 (Equipe 16, Item 07) declaraa participação de três empresas (Belchior, Construterra e Tec Nova), enquanto que aata apreendida declara a participação de quatro empresas (Belchior, Construterra,

Servcon e Tec Nova).

Assim agindo, Francisco Justino do Nascimento, FernandoAlexandre Estrela, Jorge Luiz Lopes dos Santos, Jefferson Stefânio deAndrade, Aureliano Batista Duarte, José Costa Duarte e Cezar Campos Duartepraticaram o fato típico previsto no art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar,mediante ajuste e combinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório,com o intuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 01/2013, para o qual a pena é de 02 a 04anos e multa.

2.3.1.2. Do Superfaturamento

A análise da Controladoria-Geral da União verificou que a propostade preços da empresa vencedora Tec Nova contava custos unitários acima dospreços de referência, caracterizando superfaturamento no valor de R$ 23.855,45.

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A CGU analisou o serviço materialmente mais relevante (item 6.1,estrutura de aço em vão de 30m, correspondente a 21,78% do valor da obra) econstatou que o preço apresentado pela Tec Nova foi superior ao SINAPI,ocasionando o sobrepreço do serviço no montante de R$ 23.855,45.

Para constar na presente exordial as particularidades técnicas daconstatação fiscalizatória, permito-me transcrever o trecho do relatório da CGU:

Da análise do orçamento e da proposta de preços da quadra escolar em construção na zona urbana domunicípio de Joca Claudino/PB, objeto do Termo de Compromisso PAC nº 204302/2013, observou-se queo serviço materialmente mais relevante foi o item 6.1 (Estrutura de aço em arco vão de 30m), no valor deR$ 109.439,36, que representa 21,78% do valor total das obras, estimado em R$ 502.359,15.

Apesar de o projeto apresentar um quadro resumo do aço a ser aplicado na estrutura da cobertura daquadra, não constam informações sobre o peso total dessa estrutura, tampouco o peso linear de cadauma das peças que a compõem, conforme mostrado no quadro a seguir:

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Quadro Extraído da Prancha 02/2011 – Projeto Estrutural - Quadra Escolar 02 - FNDE

Em face disso, esta Controladoria elaborou um quadro resumo do aço, a partir de levantamento de dadosnos projetos, referentes às peças que compõem a estrutura, considerando o peso linear constante depublicações de fabricantes e fornecedores para cada um dos elementos, obtendo-se um peso totalestimado de 12.802,31 kg, conforme demonstrado na tabela a seguir:

Peça

DescriçãoQuan

t.Comprim. (m)

Comprim. Total(m)

Peso Linear(kg/m)

Peso Total(kg)

6 PEL 35x35x3,00mm 56 0,8944 50,0864 1,923 96,305 PEL 35x35x3,00mm 896 0,8944 801,3824 1,923 1.540,794 PEL 150x35x3,35mm 14 1,0624 14,8735 6,798 101,113 PEL 150x35x3,35mm 14 0,8000 11,2000 6,798 76,142 PEL 150x35x3,35mm 14 14,4307 202,0298 6,798 1.373,401 PEL 150x35x3,35mm 14 14,0069 196,0966 6,798 1.333,06E Varão 12,5 (Chapa) 126 0,0900 11,3400 11,760 133,36D CH # 12,5x250x1970 14 1,9700 27,5800 14,700 405,43Gr Varão 10,0 144 0,8594 123,7536 0,617 76,36C CH # 2,66x70x70 172 0,0700 12,0400 1,484 17,87

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Peça

DescriçãoQuan

t.Comprim. (m)

Comprim. Total(m)

Peso Linear(kg/m)

Peso Total(kg)

EB PEL U 50 32 1,80375 57,7200 1,560 90,04E6 PEL U 50 18 0,3000 5,4000 1,560 8,42E5 PEL U 50 36 0,7100 25,5600 1,560 39,87E4 Varão 12,5 36 1,8850 67,8600 0,963 65,35E3 Varão 12,5 36 1,8000 64,8000 0,963 62,40E2 Varão 12,5 108 2,5500 275,4000 0,963 265,21E1 Varão 12,5 36 2,1300 76,6800 0,963 73,84MF PEL U 76 224 1,2500 280,0000 2,940 823,20SMF

PEL U 76 112 0,3500 39,2000 2,940 115,25

B CH # 1/8"x95x195 112 0,2200 24,6400 6,830 168,28A L 200x100#1/8" 112 0,2200 24,6400 7,065 174,08

ED Varão 12,5 24 2,6459 63,5016 0,963 61,15ED1 Varão 12,5 4 2,0047 8,0188 0,963 7,72CX4 Varão 10,0 16 6,2500 100,0000 0,617 61,70CX3 Varão 10,0 8 6,2000 49,6000 0,617 30,60CX2 Varão 10,0 40 6,4000 256,0000 0,617 157,95CX1 Varão 10,0 8 6,3000 50,4000 0,617 31,10T2 UL 200x75x25#2,66 64 5,9800 382,7200 7,920 3.031,14T1 UL 200x75x25#2,66 32 6,9900 223,6800 7,920 1.771,55

Total 12.192,68Peso Total da Estrutura (+5% de acréscimo) 12.802,31

Para determinação do peso total, além do peso das peças que compõem a estrutura, foram acrescidos5% a título de perdas, obtendo-se o peso total da estrutura em projeto de 12.802,31 kg.

Inicialmente, cabe destacar que a planilha orçamentária elaborada pela Prefeitura de Joca Claudino/PBprevê a execução de serviço com vão de 30 m, em que pese o projeto da quadra definir vão inferior a 25m, o que demonstra que a previsão deste serviço no orçamento está incompatível ao que iria serrealizado.

Considerando que a Prefeitura não disponibilizou a composição de custos unitários, tampouco asempresas apresentaram esta informação em suas propostas, visando apurar a adequabilidade dos custosorçados pela Prefeitura para a execução deste item, foi utilizada a composição de custos unitários nº72114 do Sistema Nacional de Preços da Caixa Econômica Federal (SINAPI), que diz respeito ao serviço“Estrutura de aço em arco vão de 30m”, a qual consta como referência na planilha orçamentária dasquadras escolares no sítio eletrônico do FNDE, consoante detalhamento da referida composição aseguir:

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Estrutura Metálica – Vão livre de 30 m – Sinapi – referência março/2013

A taxa de aço por metro quadrado de estrutura foi calculada dividindo-se o peso total da estruturaobtido por esta Controladoria em projeto (12.802,31 kg) pela área total da cobertura (1.096,29m²),também calculada em projeto, resultando em uma taxa de utilização de aço de 11,68kg por m² decobertura.

Considerando que a composição 72114 do SINAPI para um vão de 30m utiliza 15kg de aço por m² decobertura, constatou-se que foram utilizados 77,85% do peso por metro quadrado da composição doSINAPI (% Utilização = 11,68 / 15,00 x 100 = 77,85%).

Assim, para a execução do serviço de “Estrutura de aço em arco vão de 30m” foram necessáriosdespender 77,85% do custo previsto, pois os insumos que compõem o serviço (material e mão-de-obra)são proporcionais ao consumo de aço utilizado.

Tal fato ocasionou sobrepreço no montante de R$ 23.855,45, haja vista que para a execução de 1.096,29m2 de área de cobertura em estrutura metálica seriam necessários R$ 107.699,53, segundo o preçoofertado pela empresa TEC NOVA, e, deste valor, o preço efetivo deveria corresponder a 77,85%,conforme adiante demonstrado:

Item Serviço Unid Quant Preço Unit Valor Total

6.1 Estrutura de aço em arco vão de 30 m m21.096,2

998,24 107.699,53

77,85% x Valor Total 83.844,08Diferença (em R$) 23.855,45

Assim agindo, Francisco Justino do Nascimento, FernandoAlexandre Estrela e Horley Fernandes praticaram o fato típico previsto no art.96, inciso I, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública,licitação elevando arbitrariamente os preços, para o qual a pena é de 03 a 06 anos emulta.

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2.3.1.3. Do Peculato – Encargos Sociais

Na sequência das ilegalidades, após a fraude licitatória e osuperfaturamento de preços, verifica-se que Wendell Alves Dantas e Jorge LuizLopes dos Santos – com o auxílio dos documentos ideologicamente falsosproduzidos por Francisco Justino do Nascimento, Fernando Alexandre Estrelae Horley Fernandes – obtiveram vantagem ilícita, em prejuízo da Fazenda Pública,induzindo e mantendo em erro, mediante meio fraudulento (planilhasideologicamente falsas).

Efetivamente, embutidos na composição unitária de cada um dosserviços que compõem a planilha orçamentária apresentada pela Tec Nova,

contratada pela Prefeitura de Joca Claudino, estão valores relativos a encargossociais, os quais, conforme verificou a CGU (fls. 09/13, anexo XI, PIC), não foramrecolhidos, sendo apropriados pelos agentes executores.

Inexistindo empregados formais ou informais, a Tec Nova apresentouem planilha ideologicamente falsa e com ela recebeu recursos públicos, alegando sedestinarem a encargos sociais embutidos no preço da mão de obra, no valor de R$39.395,38 (fls. 59/64), sendo, posteriormente repassados para os agentesexecutores Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dos Santos.

A esse respeito, transcrevo trecho do relatório CGU sobre os desviosde recursos públicos narrados:

Segundo consulta realizada no Sistema de Gestão dos Recursos da Sociedade (SAGRES), disponibilizadopelo Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE/PB), foram realizados pagamentos à empresa TECNOVA - Construção Civil Ltda. – ME. (CNPJ 14.958.510/0001-80) com recursos da conta específica doTermo de Compromisso PAC nº 204302/2013 (Banco do Brasil, Ag. 1165, c/c nº 24030-3) que totalizamR$ 229.530,39.

Em relação às obrigações assumidas pela empresa TEC NOVA no Contrato Administrativo nº00045/2013-CPL, firmado em 21/11/2013, destacamos as seguintes alíneas da cláusula nona: “(...) b-Responsabilizar-se por todos os ônus e obrigações concernentes à legislação fiscal, civil, tributária etrabalhista, bem como por todas as despesas e compromissos assumidos, a qualquer título, perante seusfornecedores ou terceiros em razão da execução do objeto contratado; (…) d - Permitir e facilitar afiscalização do Contratante devendo prestar os informes e esclarecimentos solicitados; (…) g - Manter,

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durante a vigência do contrato, em compatibilidade com as obrigações assumidas, todas as condições dehabilitação e qualificação exigidas no respectivo processo licitatório, apresentando ao Contratante osdocumentos necessários, sempre que solicitado.”

Apesar da previsão contratual, a Prefeitura de Joca Claudino/PB não disponibilizou os comprovantesreferentes aos recolhimentos dos encargos sociais devidos pela empresa TEC NOVA, a exemplo dacontribuição para o Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) bem como o depósito para o Fundode Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) do pessoal contratado para execução das obras, cujoscomprovantes foram requisitados por meio da Solicitação de Fiscalização – SF nº. 01/2014/JocaClaudino, emitida em 29/08/2014, tendo sido reiterado por meio da Solicitação de Fiscalização nº 06, de20/11/2014.

Durante a inspeção física, ao entrevistar os serventes, todos informaram que começaram a trabalharnaquela semana e que não possuíam a CTPS assinada, tendo sido contratados pelo mestre de obras.Segundo informações do mestre de obras, ele havia trabalhado nos serviços de fundação da QuadraEscolar. Porém, a obra havia sido paralisada por alguns meses, tendo retomado os serviços na semanade campo desta Fiscalização.

Ao ser questionado sobre os responsáveis pelo pagamento dos empregados e a forma como os serventes epedreiros eram remunerados, o mestre de obras informou que “HORLEY FERNANDES” era quem“trazia” o dinheiro mensalmente e efetuava tais pagamentos, em espécie, sem qualquer emissão derecibo ou contracheque, sendo que o próprio mestre de obras informava ao HORLEY a relação com osnomes dos serventes/pedreiros e o valor das diárias, que variavam de R$ 50,00 a R$ 80,00. Em facedisso, foram realizadas consultas aos Sistemas Corporativos, não tendo sido encontrados registros deempregados para a empresa TEC NOVA, no período de execução das obras.

Cabe registrar que, em consulta aos Sistemas Corporativos, verificou-se que a última Guia do FGTS eInformações à Previdência Social (GFIP), transmitida para a CAIXA pela empresa TEC NOVA, refere-seà competência 09/2012, na qual foi declarada a inexistência de empregados contratados. Apesar disso,ou seja, mesmo sem apresentar informações à CAIXA e à Previdência social por meio da GFIP e sem terefetuado quaisquer recolhimentos, a empresa TEC NOVA vem emitindo mensalmente o Certificado deRegularidade do FGTS (CRF), conforme consulta ao histórico do empregador, disponível no site daCAIXA.

Destaque-se que a empresa TEC NOVA recebeu R$ 1.053.879,87 de municípios paraibanos em 2013 eR$ 1.353.647,03 em 2014, conforme registros no SAGRES/TCE/PB, não sendo razoável supor que, noperíodo de 02 anos, não tenha realizado recolhimentos de encargos sociais sequer de profissionaistécnicos (Engenheiros Civis, Técnicos em Edificações, etc.) ou operacionais (pedreiros, carpinteiros,armadores, etc.).

É importante citar que o recolhimento dos valores retidos dos salários dos empregados contratados parao Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), assim como o recolhimento para o Fundo de Garantiado Tempo de Serviço (FGTS), independe do enquadramento da construtora TEC NOCA comomicroempresa.

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Esta situação demonstra indícios de que os custos relativos aos encargos sociais, embutidos nacomposição unitária de preços de cada um dos serviços que compõem a planilha orçamentáriacontratada pela Prefeitura de Joca Claudino/PB, deixaram de ser recolhidos, favorecendo a construtoraTEC NOVA.

Com o propósito de levantar os valores relativos aos encargos mencionados, em princípio, foramcotejados os principais itens de serviços que compõem a planilha de custos da empresa contratada, osquais representam 65,95% do montante total contratado, conforme mostrado na tabela a seguir:

Item DescriçãoCódigoSINAPI

Unid. Quant. Valor

Unit. (R$) Valor

Total (R$)

3.2.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

74074/3 m2 260,60 30,84 8.036,90

3.2.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

74138/3 m3 34,30 988,17 33.894,23

4.1.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

74074/3 m2 185,50 30,84 5.720,82

4.1.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

74138/3 m3 18,00 1.159,67 20.874,06

4.2.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

74074/3 m2 110,00 30,84 3.392,40

4.2.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

74138/3 m3 7,50 1.159,67 8.697,53

6.1 Estrutura de aço em arco vão de 30 m 72114 m2 1.114,00 98,24 109.439,36

6.2Telha metálica em chapa galvanizada e-0,5mm

24757/1 m2 1.114,00 36,88 41.084,32

8.3Reboco c/ argamassa pré-fabricada, adesivo de alta resistência para tinta epóxi esp-5mm p/ parede

5995 m2 551,00 12,88 7.096,88

8.4Revestimento cerâmico de paredes PEI IV - cerâmica 20x20cm, incl. Rejunte, conforme projeto

73912/1 m2 328,00 28,53 9.357,84

9.2Piso em concreto armado com tela e juntas de dilatação (esp - 10 cm)

72182 m2 633,20 63,19 40.011,91

10.4Esmalte sintético em estrutura de aço carbono 50 micra com revólver

74145/1 m2 1.114,00 10,07 11.217,98

10.5Pintura c/ primer epóxi em estrutura de aço carbono 25 micra com revólver

73865/001

m2 1.114,00 8,48 9.446,72

10.6Pintura de acabamento com aplicaçãode 02 demãos de tinta acrílica

70995/1 m2 847,20 10,03 8.497,42

16.1

Alambrado com tela de arame galvanizado fio 12 DWG, malha 2", revestido em pvc, fixada com tubos de ferro galvanizado 2"

74244/1 m2 147,00 98,89 14.536,83

Valor da amostra analisada (R$) 331.305,19Valor do Contrato Administrativo nº 045/2013 (R$) 502.359,15

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Item DescriçãoCódigoSINAPI

Unid. Quant. Valor

Unit. (R$) Valor

Total (R$)% Analisado 65,95%

Considerando-se a composição unitária destes serviços no SINAPI – Sistema Nacional de Pesquisas deCustos e Índices da Construção Civil da Caixa Econômica Federal (referência novembro/2013), obteve-se o percentual de encargos sociais sobre o custo unitário destes serviços, segundo demonstrado noquadro a seguir:

Item Descrição do serviçoCódigoSINAPI

Custo deMão-de-obra (R$)

(A)

Custo Total daComposição

(R$) (B)

Perc. de Mão-de-Obra s/ o total dacomposição (R$)

(A) / (B)

3.2.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

74074/3 24,12 32,16 75,00%

3.2.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

74138/3 26,9 406,07 6,62%

4.1.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

74074/3 24,12 32,16 75,00%

4.1.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

74138/3 26,9 406,07 6,62%

4.2.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

74074/3 24,12 32,16 75,00%

4.2.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

74138/3 26,9 406,07 6,62%

6.1Estrutura de aço em arco vão de 30 m

72114 18,36 83,31 22,04%

6.2Telha metálica em chapa galvanizada e-0,5mm

24757/ 1 4,03 29,97 13,45%

8.3

Reboco c/ argamassa pré-fabricada, adesivo de alta resistência para tinta epóxi esp-5mm p/ parede

5995 7,11 49,08 14,49%

8.4

Revestimento cerâmico de paredes PEI IV - cerâmica 20x20cm, incl. Rejunte, conformeprojeto

73912/ 1 4,87 22,46 21,68%

9.2Piso em concreto armado com tela e juntas de dilatação (esp - 10 cm)

72182 11,03 39,01 28,27%

10.4Esmalte sintético em estrutura deaço carbono 50 micra com revólver

74145/ 1 2,59 10,59 24,46%

10.5Pintura c/ primer epóxi em estrutura de aço carbono 25 micra com revólver

73865/001

0,97 6,88 14,10%

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Item Descrição do serviçoCódigoSINAPI

Custo deMão-de-obra (R$)

(A)

Custo Total daComposição

(R$) (B)

Perc. de Mão-de-Obra s/ o total dacomposição (R$)

(A) / (B)

10.6Pintura de acabamento com aplicação de 02 demãos de tinta acrílica

70995/ 1 8,54 11,69 73,05%

16.1

Alambrado com tela de arame galvanizado fio 12 DWG, malha 2", revestido em pvc, fixada com tubos de ferro galvanizado 2"

74244/ 1 13,08 100,34 13,04%

Para obtenção do valor que corresponde aos encargos sociais na proposta da empresa TEC NOVA,considerou-se o percentual de 116,37% sobre a mão-de-obra, conforme estabelecido pelo SINAPI. Dessaforma, verificou-se que o percentual dos encargos sociais embutido no preço da mão-de-obra representa53,78% dos custos totais com mão-de-obra nas composições do SINAPI, conforme cálculo demonstradoa seguir:

% Encargos = Valor dos encargos x 100 = (Valor da mão de obra + Valor dos encargos)

% Encargos = 116,37 x 100 = 53,78% (100,00 + 116,37)

Destarte, foram obtidos os percentuais relativos aos encargos sociais para cada um dos itens analisadosna amostra:

Item Descrição do serviçoCódigoSINAPI

% Mão-de-Obrasobre o total dacomposição (A)

PercentualEncargos Sociais

(A x 53,78%)

3.2.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

74074/3 75,00% 40,34%

3.2.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

74138/3 6,62% 3,56%

4.1.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

74074/3 75,00% 40,34%

4.1.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

74138/3 6,62% 3,56%

4.2.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

74074/3 75,00% 40,34%

4.2.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

74138/3 6,62% 3,56%

6.1 Estrutura de aço em arco vão de 30 m 72114 22,04% 11,85%

6.2Telha metálica em chapa galvanizada e-0,5mm

24757/ 1 13,45% 7,23%

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Item Descrição do serviçoCódigoSINAPI

% Mão-de-Obrasobre o total dacomposição (A)

PercentualEncargos Sociais

(A x 53,78%)

8.3Reboco c/ argamassa pré-fabricada, adesivo de alta resistência para tinta epóxi esp-5mm p/ parede

5995 14,49% 7,79%

8.4Revestimento cerâmico de paredes PEI IV - cerâmica 20x20cm, incl. Rejunte, conforme projeto

73912/ 1 21,68% 11,66%

9.2Piso em concreto armado com tela e juntas de dilatação (esp - 10 cm)

72182 28,27% 15,21%

10.4Esmalte sintético em estrutura de aço carbono 50 micra com revólver

74145/ 1 24,46% 13,15%

10.5Pintura c/ primer epóxi em estrutura de aço carbono 25 micra com revólver

73865/001

14,10% 7,58%

10.6Pintura de acabamento com aplicação de 02 demãos de tinta acrílica

70995/ 1 73,05% 39,29%

16.1

Alambrado com tela de arame galvanizado fio 12 DWG, malha 2", revestido em pvc, fixada com tubos de ferro galvanizado 2"

74244/ 1 13,04% 7,01%

Assim, em se confirmando o não recolhimento dos encargos sociais, estima-se um prejuízo potencial aoErário de R$ 39.395,38, conforme a seguir detalhado, o que corresponde a 7,84% do montante totalcontratado:

Item DiscriminaçãoValor Total

do item(R$)

% dos EncargosSociais

Valor dosEncargos (R$)

3.2.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

8.036,90 40,34% 3.242,09

3.2.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

33.894,23 3,56% 1.206,63

4.1.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

5.720,82 40,34% 2.307,78

4.1.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

20.874,06 3,56% 743,12

4.2.1Forma plana chapa compensada plastificada, esp - 12mm útil 5x

3.392,40 40,34% 1.368,49

4.2.2Concreto armado fck 25 Mpa, usinado, inclusive lançamento

8.697,53 3,56% 309,63

6.1 Estrutura de aço em arco vão de 30 m 109.439,36 11,85% 12.968,56

6.2Telha metálica em chapa galvanizada e-0,5mm

41.084,32 7,23% 2.970,40

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Item DiscriminaçãoValor Total

do item(R$)

% dos EncargosSociais

Valor dosEncargos (R$)

8.3Reboco c/ argamassa pré-fabricada, adesivode alta resistência para tinta epóxi esp-5mmp/ parede

7.096,88 7,79% 552,85

8.4Revestimento cerâmico de paredes PEI IV - cerâmica 20x20cm, incl. Rejunte, conforme projeto

9.357,84 11,66% 1.091,12

9.2Piso em concreto armado com tela e juntas de dilatação (esp - 10 cm)

40.011,91 15,21% 6.085,81

10.4Esmalte sintético em estrutura de aço carbono 50 micra com revólver

11.217,98 13,15% 1.475,16

10.4Pintura c/ primer epóxi em estrutura de aço carbono 25 micra com revólver

9.446,72 7,58% 716,06

10.6Pintura de acabamento com aplicação de 02demãos de tinta acrílica

8.497,42 39,29% 3.338,63

16.1Alambrado com tela de arame galvanizado fio 12 DWG, malha 2", revestido em pvc, fixada com tubos de ferro galvanizado 2"

14.536,83 7,01% 1.019,03

Total do prejuízo estimado 39.395,38##/Fato##

No caso, Tec Nova sequer chegou a contratar empregados para aexecução da obra, por lhe faltar absoluta capacidade operacional, conformedemonstrado na abertura da presente denúncia. As obras em Joca Claudino,vencidas pelas empresas de Francisco Justino eram executadas por Wendell AlvesDantas e Jorge Luiz Lopes dos Santos.

Certo de que o prejuízo ao erário se deu quando a Prefeitura da JocaClaudino efetuou o pagamento da medição, atestada pelo engenheiro fiscal JorgeLuiz Lopes dos Santos, este contribuiu decisivamente para o crime. Ademais,conforme constatou a CGU, houve inequívoco conhecimento do engenheiro HorleyFernandes sobre o modo como se operava a fraude, posto que ele realizava partedos pagamentos aos trabalhadores irregulares.

Assim, Francisco Justino do Nascimento, Fernando AlexandreEstrela, Horley Fernandes, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dosSantos praticaram o fato típico previsto no art. 312, § 1º, do Código Penal –

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Peculato, ao receberem soma em dinheiro do erário (R$ 39.395,38) por encargossociais não recolhidos, com base em planilhas ideologicamente falsas.

2.3.1.4. Do Peculato Através de Boletins de Medição Ideologicamente Falsos

Na sequência das ilegalidades, verifica-se que Francisco Justino doNascimento, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dos Santos iniciaram aobra pública, cada um com sua função na organização, e produziram documentos(boletins de medição ideologicamente falsos) para obterem liberação de recursospúblicos do convênio.

Efetivamente, a Controladoria-Geral da União detectou que oMunicípio, à vista de documentos ideologicamente falsos apresentados pelosdenunciados, realizou o pagamento por serviços não executados na ordem de R$29.621,16 (fls. 18/22, anexo XI, PIC).

Para constar na presente exordial as particularidades técnicas daconstatação fiscalizatória, permito-me transcrever o trecho do relatório da CGU:

A inspeção física da construção da Quadra Escolar Coberta foi realizada no dia 01/09/2014, com oacompanhamento do Engenheiro Fiscal da obra, JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS (CPF045.883.134-44), visto que os representantes da empresa TEC NOVA não compareceram ao local, bemcomo não havia qualquer funcionário trabalhando na construção da Quadra no primeiro dia dainspeção.

Para auxílio à inspeção física, a Prefeitura de Joca Claudino disponibilizou os seguintes boletins demedição: Boletim de Medição nº 01, no valor de R$ 100.003,20, emitido em 31/01/2014 e pago àempresa TEC NOVA na mesma data, por meio de transferência eletrônica. Boletim de Medição nº 02, novalor de R$ 26.421,20, emitido em 17/02/2014 e pago à empresa TEC NOVA no dia seguinte em18/02/2014, por meio de transferência eletrônica.

Tendo por base o Boletim de Medição nº 02, que contém o valor acumulado dos serviços medidos epagos até aquela data, foi possível identificar o pagamento irregular de serviços atestados peloEngenheiro Fiscal da obra, haja vista que tais serviços não haviam sido executados até aquele momento.No mesmo instante, essa situação foi cientificada ao próprio Engenheiro Fiscal, JORGE LUIZ LOPESDOS SANTOS, tendo sido comunicado que uma nova inspeção seria realizada no outro dia.

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No dia seguinte, novamente com o acompanhamento do Engenheiro Fiscal, constatou-se que havia cincotrabalhadores no local realizando a concretagem de pilares. Destaque-se que a ausência de concretagemdos pilares tinha sido apontada no dia anterior como a principal causadora da irregularidade, que serefere ao pagamento pelos seguintes serviços atestados pelo Engenheiro Fiscal e que não haviam sidoexecutados:

a) Item 1.0 - Serviços Preliminares:Valor superfaturado: R$ 5.885,78.

Foi realizado o pagamento integral por este serviço. No entanto, constatou-se que a construtora utilizouuma sala de aula da escola que será atendida pela quadra poliesportiva em construção, havendo oaproveitamento das respectivas instalações físicas e das redes de água, energia e esgoto, ou seja, esteserviço foi custeado pelo próprio município de Joca Claudino/PB.

Seguem fotos da sala utilizada pela construtora TEC NOVA:

Foto 01: Vista externa da sala de aula utilizada pelaconstrutora como abrigo para o canteiro de obras.GPS: 6º29’2,376” S – 38º28’47,37” O.

Foto 02: Saco de cimento sobre o peitoril da janelade onde ficam depositados ferramentas e materiais.

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Foto 03: Vista interna da sala de aula utilizada pelaconstrutora como abrigo para o canteiro de obras.

Foto 04: Área externa da quadra que faz divisa com aescola.

b) PILARES: Item 4.1.1 (Formas) e 4.1.2 (Concreto):Valor superfaturado: R$ 13.297,44.

Constatou-se que o Engenheiro Fiscal da obra, JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS, atestou, em17/02/2014, a execução integral da concretagem e das formas dos 14 pilares laterais de sustentação daestrutura da quadra no Boletim de Medição nº 02. Todavia, na data da inspeção física às obras,realizada no dia 02/09/2014, constatou-se que 6 pilares não haviam sido concretados e 8 foramconcretados apenas parcialmente. Desse modo, foi considerada a execução de 50% dos serviços,apurando-se um superfaturamento de R$ 13.297,44, conforme fotografias adiante reproduzidas:

Foto 05: Lateral oeste da quadra, mostrando 03pilares não concretados.

Foto 06: Vista oposta da imagem anterior.

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Foto 07: Vista da lateral leste da quadra: 03 pilaresnão concretados e 01 pilar parcialmente concretado.

Foto 08: Vista oposta da foto anterior. Dos 07pilares da lateral leste, 03 não foram concretados eos 04 restantes foram concretados apenasparcialmente.

Foto 09: Pilares da lateral oeste concretadosparcialmente.

Foto 10: Pilar central (Norte) parcialmenteconcretado.

c) VIGAS: Item 4.2.1 (Formas) e 4.2.2 (Concreto):Valor superfaturado: R$ 10.437,94.

Constatou-se que, no Boletim de Medição nº 02, o Engenheiro Fiscal atestou a execução integral desteserviço em 17/02/2014. No entanto, na data da inspeção física às obras, realizada no dia 02/09/2014,verificou-se que nenhuma das vigas da superestrutura havia sido totalmente concretada. Considerandoque o pagamento destes serviços foi realizado integralmente, restou caracterizado um superfaturamentona medição de R$ 10.437,94.

As fotografias a seguir mostram detalhes da superestrutura onde se observa que as vigas foramconcretadas parcialmente e apenas sobre algumas paredes internas:

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Foto 11: Vigas da superestrutura sobre as paredes eo pilar de sustentação da cobertura nãoconcretadas. (Lado Oeste)

Foto 12: Vigas parcialmente concretadas. (Lado Leste)

Foto 11: Vigas da superestrutura sobre as paredes internas parcialmente concretadas.

Tal fato afronta o art. 63, §§ 1º e 2º da Lei nº 4.320/64, pois houve a liquidação da despesa referente aserviços que não foram executados: “Art. 63. A liquidação da despesa consiste na verificação do direitoadquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito. § 1°Essa verificação tem por fim apurar: I - a origem e o objeto do que se deve pagar; II - a importânciaexata a pagar; III - a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação. § 2º A liquidaçãoda despesa por fornecimentos feitos ou serviços prestados terá por base: I - o contrato, ajuste ou acordorespectivo; II - a nota de empenho; III - os comprovantes da entrega de material ou da prestação efetivado serviço.”

A tabela a seguir apresenta o resumo do superfaturamento verificado, correspondente aos serviçosatestados irregularmente pelo Engenheiro Fiscal:

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Item Discriminação dos serviçosValores (R$)

Atestado Executado1.0 SERVIÇOS PRELIMINARES1.1 Abrigo provisório c/ pavimento para alojamento e depósito 2.516,88 0,001.4 Instalações provisórias de esgoto 1.132,75 0,001.5 Instalações provisórias de energia 1.229,48 0,001.6 Instalações provisórias de água 1.006,67 0,004.1 PILARES4.1.1 Forma plana chapa compensada plast., esp.= 12mm util. 5x 5.720,82 2.860,414.1.2 Concreto arm. fck 25 MPa, usinado, inclusive lançamento 20.874,06 10.437,034.2 VIGAS4.2.1 Forma plana chapa compensada plast., esp.= 12mm util. 5x 3.392,40 0,004.2.2 Concreto arm. fck 25 MPa, usinado, inclusive lançamento 7.045,54 0,00

Valor total do Superfaturamento (R$)

Cabe destacar que a Prefeitura de Joca Claudino/PB não disponibilizou o Boletim deMedição referente ao pagamento realizado à empresa TEC NOVA em 21/08/2014, por meio detransferência eletrônica, no valor de R$ 103.105,99, o que indica que o valor superfaturado deve ter sidoainda superior ao encontrado pela Equipe de Fiscalização da CGU.

(fls. 08/22, anexo XI)

Quando da deflagração da “Operação Andaime”, em busca na sede daprefeitura de Joca Claudino foi apreendido o Boletim de Medição nº 03, nãodisponibilizado à CGU na época da fiscalização, referente à Nota de Empenho nº2242/2014, de 26/08/2015, no valor de R$ 103.105,99, confirmando que osuperfaturamento efetivo desses itens, na época, era de R$ 31.273,14, pois haviasido medido mais concretagem (item 4.2.1), conforme tabela a seguir:

Item Discriminação dos serviços

Valores (R$)

Atestado Executado Diferença

1.0 SERVIÇOS PRELIMINARES

1.1Abrigo provisório c/ pavimento para alojamento e depósito

2.516,88 0,00 2.516,88

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Item Discriminação dos serviços

Valores (R$)

Atestado Executado Diferença

1.4 Instalações provisórias de esgoto 1.132,75 0,00 1.132,75

1.5 Instalações provisórias de energia 1.229,48 0,00 1.229,48

1.6 Instalações provisórias de água 1.006,67 0,00 1.006,67

4.1 PILARES

4.1.1Forma plana chapa compensada plast., esp.= 12mm util. 5x

5.720,82 2.860,41 2.860,41

4.1.2 Concreto arm. fck 25 MPa, usinado, inclusive lançamento 20.874,06 10.437,03 10.437,03

4.2 VIGAS

4.2.1Forma plana chapa compensada plast., esp.= 12mm util. 5x

3.392,40 0,00 3.392,40

4.2.2 Concreto arm. fck 25 MPa, usinado, inclusive lançamento 8.697,52 0,00 8.697,52

Valor total do Superfaturamento (R$) 31.273,14

A demais, na mesma oportunidade, foi apreendido o Boletim deMedição nº 04, referente à Nota de Empenho nº 2242/2014 (Equipe 16, Item 16),de 26/02/2015, com medição do período de 01/07/2014 a 30/01/2015, no valorde R$ 24.275,24. Analisando as assinaturas dos engenheiros responsáveis pelaexecução e fiscalização da obra, constantes do Boletim de Medição nº 04, a CGUindicou que o engenheiro da Tec Nova, responsável pela execução, HorleyFernandes, não assinou efetivamente o referido documento, pois a rubrica posta

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no Boletim nº 04 parece provinda de um carimbo – situação observada pelaconsistência da tinta meio pontilhada, pela largura da linha azulada e pela ausênciade relevo da assinatura no verso da folha. Tal fato revela ainda mais claramente acontrafação dos documentos públicos para a obtenção de vantagens ilícitas.

Como é evidente, o pagamento por esses valores não executadossomente foi possível em decorrência do conluio entre os denunciados – dois dosquais funcionários públicos – que produziram documentos (boletins de mediçãoideologicamente falsos) com itens não realizados de obras.

Assim, Francisco Justino do Nascimento, Wendell Alves Dantas eJorge Luiz Lopes dos Santos praticaram o fato típico previsto no art. 312, § 1º, doCódigo Penal – Peculato, ao receberem soma em dinheiro do erário (R$ 31.273,14)por obras não executadas, com base em atestado falso de medição da obra.

2.3.1.5. Da Lavagem de Dinheiro

Narrados os crimes antecedentes, convém se demonstrar como aestrutura da Tec Nova – empresa “fantasma”, como se demonstrou – foi utilizadapelos agentes executores para ocultar a origem criminosa dos recursos públicosobtidos pela organização criminosa, em tipologia característica de lavagem dedinheiro 41.

Efetivamente, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dos Santosutilizavam a estrutura formal (bancária) da Tec Nova, com a operacionalização deFrancisco Justino do Nascimento, para mascarar a origem ilícita dos recursospúblicos obtidos pela organização criminosa através de fraudes licitatórias edesvios de recursos públicas.

Ocorridos os crimes antecedentes, os pagamentos ingressavam naconta corrente da empresa “fantasma” Tec Nova e eram imediatamente sacados porFrancisco Justino do Nascimento em sua integralidade, para repasse aosverdadeiros executores das obras. Com isso, Wendell Alves Dantas e Jorge LuizLopes dos Santos mascaravam a origem dos lucros que obtinham com a atividade

41 COAF, II Coletânea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro, 2014 disponível em: [http://www.coaf.fazenda.gov.br/pld-ft/publicacoes]

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da organização criminosa, remunerando Francisco Justino com o percentual de04% do valor da parcela depositada, como o modus operandi verificado.

Para o presente convênio foi aberta a CC n. 24030-3, Ag. 1165-7, doBanco do Brasil, oriunda da qual foram feitos pagamentos, mediantetransferências on line, à empresa Tec Nova nas seguintes datas:

DATA VALOR MODALIDADE BENEFICIÁRIO SAQUE

31/01/14 R$ 100.003,00 Transferência online

Tec Nova 31/01/14

18/02/14 R$ 26.421,20 Transferência online

Tec Nova 18/02/14 42

Posteriormente ao pedido de quebra inicial, foi realizado novopagamento à empresa em 21/08/2014, no valor de R$ 103.105,99.

Quanto aos dados já obtidos, tem-se que os valores foram recebidosna CC n. 30.158-2, Ag. 099-X, do Banco do Brasil, de titularidade da empresa Tec

Nova e nas mesmas datas sacados em operações identificadas como “saque contrarecibo” (saque realizado sem o cartão magnético).

Quanto ao saque do dia 31/01/2014, a análise da fita de caixa indicaque houve depósitos, dentre outros, nas contas de Antônio Fernandes Nogueira(R$ 15.000,00) e Valdy Francisco Duarte (R$ 15.000,00). Oitivado na sede daPRM Sousa, este afirmou que os valores recebidos correspondiam a compra decarradas de areia e barro para aterro vendidas a Jorge Luiz Lopes dos Santos paraobras públicas em Joca Claudino. Por sua vez, Antônio Fernandes Nogueira afirmouter recebido a quantia de Jorge Luiz Lopes dos Santos para pagamento de dívidasde dez meses de combustível com o posto para o qual trabalhava em Uiraúna.

42 O saque do dia 18/02/2014, a análise da fita de caixa indica que houve depósito na conta deFrancisco Sarmento de Oliveira, no valor de R$ 22.290,00, tendo o sacador saído do banco com orestante do valor sacado.

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Assim agindo, Francisco Justino do Nascimento, Wendell AlvesDantas e Jorge Luiz Lopes dos Santos praticaram o fato típico previsto no art. 1º,caput, da Lei n. 9.613/1998, ao ocultarem e dissimularem a origem de valoresprovenientes dos crimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusãode 03 a 10 anos e multa.

2.3.2. Na Reforma da Escola com Recursos do FUNDEB2.3.2. Na Reforma da Escola com Recursos do FUNDEB

2.3.2.1. Da Fraude Licitatória no Convite 005/20132.3.2.1. Da Fraude Licitatória no Convite 005/2013

Em 2013, o Município de Joca Claudino instaurou a licitação namodalidade Carta Convite n. 05/2013, com o objetivo de selecionar empresa parareforma da Escola Municipal de de Ensino Fundamental José Gualberto de Andrade,com recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica ede Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB.

Da análise do procedimento licitatório, sabendo-se da existência daorganização criminosa narrada acima, identifica-se a fraude licitatóriaempreendida para beneficiar indevidamente a Tec Nova – Construção Civil LTDAME. Deste certame, juntamente com Francisco Justino do Nascimento, atuou pelaTec Nova, com documentos assinados, Fernando Alexandre Estrela.

Efetivamente, a atuação da Comissão Permanente de Licitação(composta na ocasião por Aureliano Batista Duarte, José Costa Duarte e CézarCampos Duarte) para favorecer a empresa Tec Nova iniciou com a verificação deque, embora autuado e numerado, o procedimento da Carta Convite n. 05/2013não continha ata da sessão de abertura dos documentos de habilitação e propostas,contrariando o art. 43, § 1º, da Lei nº 8.666/93. Ademais, não consta o projetobásico dentre os documentos da licitação, em violação grotesca ao art. 7º, § 2º,inciso II, da Lei nº 8.666/93 43 (fl. 28, anexo XI, PIC).

43 Em resposta à solicitação de fiscalização da CGU, em novembro de 2014, o municípioencaminhou dois arquivos no formato “.pdf” relativos aos supostos projetos de reforma da escola.Todavia, como verificou a CGU, além de não terem integrado o processo licitatório original, osreferidos projetos não continham detalhamento suficiente para identificação de todos os serviçoscontratados por meio do Convite nº 005/2013 (fl. 28, anexo XI, PIC).

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Mesmo a sessão de recepção dos documentos foi realizada em datadiferente do previsto, pois em que pese o aviso de licitação acostado na fl 035 doConvite nº 005/2013 ter marcado a sessão pública de recepção dos documentospara o dia 10/07/2013, constam somente registros de atos da licitação praticadosa partir do dia 11/07/2013 – quais sejam: quadro comparativo de preços,notificações de resultado da fase de proposta, publicação do resultado no quadrode avisos da Prefeitura de Joca Claudino, em 11/04/2013 (fls. 125/129); relatóriodo Convite nº 005/2013, parecer jurídico, homologação e adjudicação, em12/07/2013 (fls. 130/133).

Ademais, os próprios documento encartados no procedimento dalicitação comprovam a montagem posterior da licitação. Na análise dosdocumentos apresentados pela empresa RC-MAC Construções Ltda. – EPP,constatou-se que a certidão negativa de contribuições previdenciárias (fl. 082), de11/07/2013, e a certidão de falência (fl. 084), de 15/07/2013, foram emitidasposteriormente à data prevista para a realização do certame (10/07/2013).

Em relação aos documentos de habilitação da Tec Nova, constatou-seque a Certidão de Regularidade do FGTS (fl. 100), de 20/07/2013, também foiemitida posteriormente à data prevista para a realização do certame(10/07/2013). Destaque-se que os atos de adjudicação e homologação, bem comoo contrato administrativo nº 00044/2013-CPL, possuem a data de 12/07/2013, ouseja, existem documentos no processo com data de emissão posterior àhomologação da licitação e à assinatura do contrato.

Constatou-se que, apesar de a licitação ter sido marcada para o dia10/07/2013, as propostas de preços de todas as três empresas habilitadaspossuem a mesma data de emissão em 23/07/2013, ou seja, posterior à datamarcada para a sessão de recebimento dos documentos de habilitação e daspropostas de preços, bem como posterior à data dos atos de homologação e deadjudicação, conforme apresentado nos quadros a seguir:

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Proposta da empresa BORGES Cassiano (fl. 117)

Proposta da empresa RC-MAC (fl. 120)

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Proposta da empresa TEC NOVA (fl. 123)

Além desse fato, constatou-se que todas as propostas das empresasparticipantes cotaram o mesmo preço unitário do orçamento base para todos ositens de serviço, ou seja, não houve variação do preço unitário nas propostas,conforme mostrado na tabela adiante:

Item DescriçãoPreços Unitários (R$)

OrçamentoPrefeitura

BorgesCassiano

RC-MACTEC

NOVA1.0 SERVIÇOS PRELIMINARES1.1 Placa indicativa da Obra 206,45 206,45 206,45 206,451.2 Instalação de Canteiro de Obras 2.707,82 2.707,82 2.707,82 2.707,82

1.3Demolição de alvenaria 1/2 vez, de tijolocerâmico.

50,65 50,65 50,65 50,65

1.4 Demolição de estrutura de concreto armado 116,29 116,29 116,29 116,291.5 Demolição de piso alta resistência 13,42 13,42 13,42 13,422.0 MOVIMENTO DE TERRA2.1 Escavação manual de valas. 22,81 22,81 22,81 22,812.2 Aterro compactado com material de empréstimo. 31,31 31,31 31,31 31,313.0 FUNDAÇÕES3.1 Alvenaria de pedra argamassada 327,09 327,09 327,09327,093.2 Alvenaria de 1 vez p/ embasamento. 64,35 64,35 64,35 64,354.0 CONCRETO ARMADO4.1 Pra fundação 1.697,34 1697,34 1697,34 1697,344.2 Para cinta inferior 1.697,34 1697,34 1697,34 1697,344.3 Para pilar 1.697,34 1697,34 1697,34 1697,344.4 Para cintas superiores 1.697,34 1697,34 1697,34 1697,34

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Item DescriçãoPreços Unitários (R$)

OrçamentoPrefeitura

BorgesCassiano

RC-MACTEC

NOVA4.5 Viga estrutural 1.697,34 1697,34 1697,34 1697,345.0 ELEVAÇÃO5.1 Alvenaria de ½ vez, com tijolos cerâmicos. 32,25 32,25 32,25 32,255.2 Elementos vazados, cobogó de cimento. 89,31 89,31 89,31 89,316.0 COBERTA6.1 Retelhamento de cobertura em telha cerâmica 21,3621,36 21,36 21,366.2 Calha em zinco 31,36 31,36 31,36 31,367.0 REVESTIMENTO

7.1Chapisco de aderência, traço 1:3(cimento eareia)

4,18 4,18 4,18 4,18

7.2 Emboco para cerâmica 19,39 19,39 19,39 19,397.3 Cerâmico, inclusive rejunte. 28,47 28,47 28,47 28,477.4 Reboco massa única. 19,39 19,39 19,39 19,398.0 PISO8.1 Laje de impermeabilização c/ e = 0,07 m 62,70 62,70 62,70 62,708.2 Regularização do contrapiso. 51,83 51,83 51,83 51,838.3 Piso de alta resistência 31,36 31,36 31,36 31,369.0 ESQUADRIAS

9.1Porta de madeira compensada lisa, (0,90 x2,10)m

464,02 464,02 464,02 464,02

9.2 Janela de madeira tipo veneziana. 425,93 425,93 425,93 425,9310.0 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS10.1 Fornecimento e assentamento de eletroduto 3/4. 9,03 9,03 9,03 9,03

10.2Fornecimento e assentamento de eletrodutoflexível, 1/2.

3,28 3,28 3,28 3,28

10.3Fornecimento e assentamento de Fio piraplastic1,50mm²

1,96 1,96 1,96 1,96

10.4Fornecimento e assentamento de Fio piraplastic2,50mm²

2,60 2,60 2,60 2,60

10.5Fornecimento e assentamento de Caixa de PVC4 x 2

11,62 11,62 11,62 11,62

10.6Fornecimento e assentamento de Caixa de PVC4 x 4

13,28 13,28 13,28 13,28

10.7 Disjuntor monopolar 15A 12,92 12,92 12,92 12,9210.8 Interruptor de embutir de 02 sec. 11,51 11,51 11,51 11,5110.9 Tomada de embutir de 01 secção. 28,75 28,75 28,75 28,7510.10 Tomada de embutir de 02 secções. 30,02 30,02 30,02 30,02

10.11Luminária tipo calha aberta, p/02 lâmpadafluorescente de 40w,

84,84 84,84 84,84 84,84

11.0 INSTALACOES HIDRO-SANITÁRIA.11.1 Ponto de água fria, 20mm, inclusive conexões. 67,16 67,16 67,16 67,16

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Item DescriçãoPreços Unitários (R$)

OrçamentoPrefeitura

BorgesCassiano

RC-MACTEC

NOVA

11.2Tubo em PVC, esgoto, 40mm, inclusiveconexões.

18,76 18,76 18,76 18,76

11.3Tubo em PVC, esgoto, 50mm, inclusiveconexões.

25,87 25,87 25,87 25,87

11.4Tubo em PVC, esgoto, 100mm, inclusiveconexões.

37,72 37,72 37,72 37,72

11.5 Caixa sifonada 100 x 100 x 50 32,55 32,55 32,55 32,55

11.6Lavatório de louça com coluna e ferragens esifão cromado

154,13 154,13 154,13 154,13

11.7Bacia sanitária em louça com caixa acoplada etampo.

225,27 225,27 225,27 225,27

11.8 Papeleira em louça 46,30 46,30 46,30 46,3011.9 Saboneteira de louça 38,21 38,21 38,21 38,2111.10 Cabide de louça 32,60 32,60 32,60 32,6011.11 Reservatório em fibra, 5000l, com acessórios. 3.111,50 3.111,50 3111,50 3111,5011.12 Caixa de gordura em alvenaria d=40cm. 73,28 73,28 73,28 73,28

11.13Caixa de inspeção em alvenaria (0,60x0,60x0,60)m

113,26 113,26 113,26 113,26

11.14 Fossa séptica, 1.500l, com barra lisa. 896,91 896,91 896,91 896,9111.15 Sumidouro, D=1,40m. 1.203,27 1.203,27 1203,27 1203,2712.0 PINTURA

12.1Pintura em látex, SEM EMASSAMENTO, em 2demãos

14,24 14,24 14,24 14,24

12.2 Pintura em esmalte sintético, duas demãos 18,68 18,68 18,68 18,6813.0 SERVIÇOS COMPLEMENTARES13.1 Limpeza geral da obra 1,02 1,02 1,02 1,02

Para diferenciar o preço global das obras de reforma, ao invés de asempresas competirem entre si e estabelecerem preços menores em relação aoorçamento municipal, todas as licitantes fizeram ajustes nos quantitativos dos itensdas propostas de preços. A redução dos quantitativos orçados causou situaçõesincomuns, decorrentes de serviços impossíveis de serem executados, ou seja, itensindivisíveis (medidos por unidades) foram cotados pelas empresas emquantitativos fracionários, conforme mostrado na tabela seguinte:

Item Descrição Quantidades cotadas

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Unid

OrçamentoPrefeitura

PropostaBORGES

PropostaRC-MAC

1.2 Instalação de Canteiro de Obras und 1,00 1,00 0,999.1 Porta de madeira compensada lisa, (0,90 x 2,10)mund 6,00 5,91 5,9910.5 Fornecimento e assentamento de Caixa de PVC 4x2und 25,00 24,75 24,8110.6 Fornecimento e assentamento de Caixa de PVC 4x4und 8,00 7,90 7,8910.7 Disjuntor monopolar 15A und 4,00 4,00 3,9510.8 Interruptor de embutir de 02 sec. und 4,00 4,00 3,9910.9 Tomada de embutir de 01 secção. und 6,00 6,00 5,7910.10 Tomada de embutir de 02 secções. und 10,00 9,54 9,87

10.11Luminária tipo calha aberta, p/02 lâmpadafluorescente de 40w,

un 28,00 27,05 27,49

11.1 Ponto de água fria, 20mm, inclusive conexões. und 12,00 11,79 11,8411.5 Caixa sifonada 100 x 100 x 50 un 3,00 2,83 2,99

11.6Lavatório de louça com coluna e ferragens e sifãocromado

un 2,00 1,92 1,98

11.7Bacia sanitária em louça com caixa acoplada etampo.

un 5,00 4,89 4,95

11.8 Papeleira em louça un 2,00 1,90 1,9711.9 Saboneteira de louça un 2,00 1,93 1,9511.10 Cabide de louça un 2,00 1,94 1,9611.11 Reservatório em fibra, 5000l, com acessórios. un 1,00 1,00 0,9811.12 Caixa de gordura em alvenaria d=40cm. un 1,00 0,91 0,9811.13 Caixa de inspeção em alvenaria (0,60x0,60x0,60)m un 2,00 1,78 1,8911.14 Fossa séptica, 1.500l, com barra lisa. un 1,00 0,95 0,9911.15 Sumidouro, D=1,40m. un 1,00 1,00 0,99

A título de exemplo de quantitativos cotados que geraram situaçõesconsideradas impossíveis de serem executadas, apresentadas na tabela acima,podemos citar o fornecimento e a instalação dos seguintes itens:

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Proposta da empresa BORGES Cassiano (fl. 117). Quantidades cotadas:“ 1,92” lavatórios (Item 11.6); “4,89” Bacias sanitárias (Item 11.7); “1,90” Papeleiras (Item 11.8).

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Proposta da empresa RC-MAC (fl. 120). Quantidades cotadas:“ 1,98” lavatórios (Item 11.6); “4,95” Bacias sanitárias (Item 11.7); “1,97” Papeleiras (Item 11.8).

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Proposta da empresa RC-MAC (fl. 123). Quantidades cotadas:“ 1,88” lavatórios (Item 11.6); “4,75” Bacias sanitárias (Item 11.7); “1,87” Papeleiras (Item 11.8).

Cabe destacar que esses itens foram estimados em quantitativosinteiros no orçamento municipal e que as propostas de todas as empresasapresentaram a mesma forma de cotação, com a manutenção do mesmo preçounitário e a redução nos quantitativos de itens de serviço.

Assim agindo, Francisco Justino do Nascimento, FernandoAlexandre Estrela, Francisco Luan Borges Cassiano, Carlos Alberto Martins,Aureliano Batista Duarte, José Costa Duarte e Cézar Campos Duarte praticaramo fato típico previsto no art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, medianteajuste e combinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente da adjudicação doobjeto da licitação Carta Convite n. 05/2013, para o qual a pena é de 02 a 04 anos emulta.

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2.3.2.2. Do Peculato Através Boletins de Medição Ideologicamente Falsos

Na sequência das ilegalidades, verifica-se que Francisco Justino doNascimento, Horley Fernandes, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dosSantos iniciaram a obra pública, cada um com sua função na organização, eproduziram documentos (boletins de medição) ideologicamente falsos paraobterem liberação de recursos públicos do convênio.

Efetivamente, a Controladoria-Geral da União detectou que oMunicípio, à vista de documentos ideologicamente falsos apresentados pelosdenunciados, realizou o pagamento por serviços não executados na ordem de R$51.326,34 (fl. 64/41, anexo XI, PIC).

Para constar na presente exordial as particularidades técnicas daconstatação fiscalizatória, permito-me transcrever o trecho do relatório da CGU:

A inspeção física à Escola Municipal de Ensino Fundamental José Gualberto de Andrade, objeto dosserviços de reforma de que tratam o Convite nº 005/2013 e o Contrato nº 00044/2013-CPL, foi realizadano período de 02/09/2014 a 04/09/2014, com o acompanhamento do Engenheiro WENDELL ALVESDANTAS (CPF 992.793.71487), Secretário de Finanças da Prefeitura de Joca Claudino/PB. OEngenheiro Fiscal da obra, JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS (CPF 045.883.134-44), nãoacompanhou a inspeção, apesar de sua presença ter sido solicitada. Os engenheiros e/ou sóciosresponsáveis pela empresa TEC NOVA - Construção Civil Ltda. – ME (CNPJ 14.958.510/0001-80)também não estavam presentes, tendo sido justificado verbalmente pela Secretária que a reforma daescola foi finalizada no primeiro semestre de 2014, tendo havido a desmobilização da empresa. Caberessaltar que os responsáveis pela empresa TEC NOVA também não estiveram presentes paraacompanhar a fiscalização da quadra coberta anexa à Escola José Gualberto de Andrade, cujas obrasestavam em andamento.

A fiscalização teve por base o último Boletim de Medição (BM 03), emitido em 31/12/2013, cujopagamento ocorreu em 10/04/2014. É importante citar que os serviços medidos acumulados até oBoletim de Medição nº 03 contemplam todo o Contrato Administrativo nº 044/2013-CPL, firmado com aempresa TEC NOVA, no valor de R$ 128.351,26.

Cabe destacar que a Prefeitura de Joca Claudino/PB não disponibilizou alguns documentos que forampreviamente requeridos por meio da Solicitação de Fiscalização – SF nº. 04/2014/Joca Claudino, emitidaem 29/08/2014, relacionados à execução das obras e à regularidade da empresa contratada, cujo pedidofoi reiterado por meio da Solicitação de Fiscalização nº 06, de 20/11/2014.

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Para auxiliar na identificação dos serviços, a inspeção foi acompanhada pela Vice-Diretora da escola, aqual informou verbalmente naquela oportunidade que o responsável pela empresa TEC NOVA nuncaapareceu para acompanhar as obras, mas confirmou que o fiscal da obra era o Senhor JORGE LUIZLOPES DOS SANTOS.

Da análise por amostragem dos itens previstos na planilha do Boletim de Medição nº 03 foi constatado osuperfaturamento de serviços, os quais não foram executados, apesar de terem sido atestados peloEngenheiro Fiscal da obra, JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS, e pagos pela Prefeitura de JocaClaudino/PB à empresa TEC NOVA, causando dano ao erário no montante de R$ 51.326,34.

A seleção de itens foi por amostragem, cujas situações de superfaturamento estão discriminadas aseguir:

a) Instalação do canteiro de obras:

Item Descrição Valor do Item Superfaturamento1.2 Instalação do canteiro de obras R$ 2.626,59 R$ 2.626,59

Em conversa com a Vice-Diretora da Escola José Gualberto de Andrade (I. C. da S., CPF ***.922.884-** ), foi informado que a empresa TEC NOVA não instalou um abrigo provisório para o canteiro de obrasdurante a reforma. Na inspeção física, ficou evidenciado que a escola cedeu uma sala para utilização daempresa como depósito de equipamentos e materiais, a qual continua em uso para as obras deconstrução da quadra coberta anexa à Escola José Gualberto de Andrade. Desse modo, o serviço foimedido e pago sem ter sido executado, causando um prejuízo de R$ 2.626,59. A situação pode serevidenciada pelas fotografias a seguir:

Foto 01: Vista interna da sala de aula utilizada pelaconstrutora como abrigo para o canteiro de obras.

Foto 02: Vista externa da sala de aula, ao lado daquadra escolar em construção pela mesma empresa.Detalhe de um saco de cimento sobre o peitoril dajanela.

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b) Demolição de piso, aterro e porta de madeira:

Item Descrição Valor do Item Superfaturamento1.5 Demolição de piso de alta resistência R$ 2.093,59 R$ 2.093,592.2 Aterro compactado com material de empréstimo R$ 1.213,09 R$ 1.213,099.1 Porta de madeira compensada lisa (0,90 x 2,10)m R$ 2.723,80 R$ 2.723,80

Total R$ 6.030,48

Os projetos disponibilizados por meio do Ofício nº 178/2014 – GAPRE, de 25/11/2014, não identificavamos locais onde haveria a realização destes serviços. Além disso, não há memorial descritivo, no processodo Convite nº 005/2013, que indicasse tal localização. Ao questionar a diretora da escola e o Secretáriode Finanças, que acompanharam a inspeção realizada pela Equipe da CGU, estes também nãoidentificaram onde tais serviços teriam sido executados.

Cabe destacar que a quantidade de portas (item 9.1) na planilha do Boletim de Medição nº 03 é de 5,87(cinco vírgula oitenta e sete) portas, sendo que este item foi cotado por unidade não fracionária. Alémdisso, merece destacar que a quantidade de 5,87 portas foi medida e atestada pelo Engenheiro Fiscal daobra, JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS, com o respectivo pagamento à empresa TEC NOVA pelaPrefeitura de Joca Claudino/PB. Constatou-se que os serviços foram medidos e pagos sem terem sidoexecutados, causando um prejuízo de R$ 6.030,48.

c) Retelhamento de cobertura:

Item Descrição Valor do Item Superfaturamento6.1 Retelhamento de cobertura em telha cerâmica R$ 7.026,80 R$ 7.026,80

Na inspeção física foram constatadas falhas na disposição de telhas na cobertura e falta de cimentaçãoda cumeeira (conforme fotografia abaixo), o que indica que o serviço não foi executado, considerando ocurto período transcorrido desde o pagamento pelo serviço à empresa TEC NOVA. Em conversa com aVice-Diretora da escola, esta informou não lembrar se este serviço de retelhamento teria sido realizado,configurando que o serviço foi medido e pago sem ter sido executado, causando um prejuízo de R$7.026,80. As fotografias a seguir evidenciam o fato apontado:

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Foto 03: Foto da cumeeira não executada, comafastamento das telhas.

Foto 04: Telhas desarrumadas e falta de telhas nacoberta.

d) Calha de zinco:

Item Descrição Valor do Item Superfaturamento6.2 Calha de zinco R$ 2.618,88 R$ 2.139,38

Apesar de o projeto disponibilizado posteriormente pela Prefeitura não especificar onde deveriam serinstaladas as calhas de zinco, durante a inspeção física foi verificado que na escola existia apenas umacalha na cobertura, localizada sobre o corredor que fica entre o “hall” e o almoxarifado, com umaextensão de 15,30m. Todavia, considerando que o dimensionamento da colocação de calhas na planilhade preços do contrato com a empresa TEC NOVA foi de 83,52 m, houve uma diferença de 68,22 m, quecorrespondente a um superfaturamento de R$ 2.139,38.

e) Revestimento cerâmico:

Item Descrição Valor do Item Superfaturamento7.2 Emboço para cerâmica R$ 3.531,06 R$ 2.293,457.3 Revestimento cerâmico, inclusive rejunte R$ 5.184,44 R$ 3.367,43

Durante o período de campo desta fiscalização, em que pese a falta de informações no MemorialDescritivo e nos projetos, estes encaminhados posteriormente pela Prefeitura por meio do Ofício nº178/2014 – GAPRE, de 25/11/2014, foram realizadas medições das áreas de revestimento cerâmicolocalizadas nas dependências da cantina escolar e no WC/Depósito, observando indicação da Vice-Diretora da Escola José Gualberto de Andrade, haja vista que as outras áreas com revestimentocerâmico eram procedentes de serviços realizados anteriormente ao Contrato Administrativo nº044/2013.

Tomando por base a diferença entre o quantitativo de revestimento atestado no Boletim de Medição nº 03(acumulado) e o levantamento das áreas revestidas com cerâmicas, realizado com o acompanhamento da

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Vice-Diretora da escola e do Engenheiro WENDELL, Secretário de Finanças da Prefeitura, constatou-seum superfaturamento destes itens no valor de R$ 5.660,88, conforme discriminado nas tabelas a seguir:

Tabela: Memória de cálculo das áreas de revestimento cerâmico.Ambiente Memória de cálculo Área (m²) Total (m²) BM 03 (m²) Diferença (m²)

WC Depósito

= [ (1,00 + 1,40) x 2 ] x 7 33,6063,80 182,08 118,28

Cozinha = [6,60x1,00 + 11,80] x 2,00]

30,20

Tabela: Superfaturamento dos itens 7.2 e 7.3

Item DescriçãoQuantidades (m²) Valor Unit.

(R$)Prevista Executada Diferença7.2 Emboço para cerâmica 182,08 63,80 118,28 19,39

7.3Revestimento cerâmico, inclusive rejunte

182,08 63,80 118,28 28,47

Total do Superfaturamento (R$)

f) Piso de alta resistência:

Item

Descrição Valor do Item Superfaturamento

8.2 Regularização do contra piso R$ 18.423,55 R$ 14.945,188.3 Piso de alta resistência R$ 11.145,91 R$ 9.042,34

Em relação a esses serviços, o Secretário de Finanças mostrou à Equipe da CGU uma área de 29,40m²[3,00m x 9,80m], correspondente aos banheiros externos, onde os serviços poderiam ter sido realizados.

Cabe ressaltar que os pisos da escola já apresentavam desgaste e possuíam alguns reparos, em que peseterem sido executados recentemente segundo o Boletim de Medição nº 03, correspondente ao período de02/11/2013 a 31/12/2013, ou seja, cerca de nove meses antes da inspeção realizada pela CGU.

Após o período de campo desta fiscalização, ao analisar o arquivo no formato “.pdf” do projeto dereforma, encaminhado à CGU por meio do Ofício nº 178/2014 – GAPRE, de 25/11/2014, verificou-seque consta apenas uma hachura de execução de “PISO” em uma área externa ao lado do almoxarifado,medindo 3,80m por 3,20m (aproximadamente), correspondendo a 12,16m².

Além desta área ao lado do almoxarifado, os banheiros externos e quatro rampas constam com asmesmas hachuras na planta baixa, o que poderia indicar a execução de piso também nesses ambientes,sendo que não há informações no projeto.

Ocorre que toda a área hachurada na planta baixa, excluindo as que se referem às drenagens pluviais,corresponde a 67,12m², enquanto que o quantitativo atestado pelo Engenheiro Fiscal e pago pelaPrefeitura de Joca Claudino/PB à empresa TEC NOVA foi de 355,46m², gerando uma diferença de

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288,34m². Esse quantitativo corresponde a um superfaturamento de R$ 23.987,52, conformedemonstrado nas tabelas adiante:

Tabela: Memória de cálculo das áreas de reforma de piso indicadas no projeto.Ambiente Comp. (m) Largura (m) Área (m²)

Rampa 1 2,85 1,65 4,70Rampa 2 4,00 2,00 8,00Rampa 3 4,00 2,00 8,00Rampa 4 2,70 1,80 4,86Área ao lado do Almoxarifado 3,80 3,20 12,16WC Externos 9,80 3,00 29,40

Área total 67,12

Tabela: Superfaturamento dos itens 8.2 e 8.3

Item DescriçãoQuantidades (m²) Valor Unit.

(R$)Prevista Executada Diferença8.2 Regularização do contra piso 355,47 67,12 288,35 51,838.3 Piso de alta resistência 355,46 67,12 288,34 31,36

Total do Superfaturamento (R$)

A figura a seguir foi extraída da planta baixa da reforma da Escola José Gualberto de Andrade,encaminhada pela Prefeitura de Joca Claudino/PB, onde se observam nas indicações das setas e nasáreas delimitadas os possíveis locais onde deveriam ter sido executados os pisos.

Fonte: Projeto encaminhado pela Prefeitura (editado), com setas indicativas das intervenções de piso econtornos das hachuras de rampas, área lateral do almoxarifado e banheiros externos.

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Foto 05: Piso da entrada dos banheiros externos.Corresponde à indicação à direita.

Foto 06: Local utilizado como depósito no banheiroexterno.

g) Luminárias:

Item Descrição Valor do Item Superfaturamento10.1

1Luminária tipo calha aberta, p/ 02 lâmpadasfluorescentes

R$ 2.270,21 R$ 743,19

Foi contratada a instalação de “26,76” unidades de luminárias p/ 02 lâmpadas na escola. Todavia, pormeio de simples contagem realizada juntamente com o Engenheiro WENDELL, Secretário de Finançasda Prefeitura, constatou-se que na escola existem somente 18 luminárias p/ 02 lâmpadas fluorescentes,porém, não foi possível avaliar também se houve reaproveitamento das calhas das luminárias. Dessemodo, foi constatado o superfaturamento de “8,76” luminárias, correspondentes ao valor de R$ 743,19.

h) Reservatório:

Item Descrição Valor do Item Superfaturamento11.11

Reservatório em fibra, 5.000L, com acessórios

R$ 3.111,50 R$ 3.111,50

Em primeiro lugar, cabe destacar que foi contratada a instalação de “0,98” unidade de reservatório,com capacidade de 5.000 l, cuja quantidade do item é incompatível com o tipo de bem a ser adquirido.

Na inspeção realizada com o acompanhamento do Engenheiro WENDELL, Secretário de Finanças daPrefeitura, constatou-se que este item não foi instalado, apesar de ter sido atestado e pago. Verificou-seque na escola havia somente um reservatório de 1.000 litros, instalado sobre a laje acima da despensa,cuja capacidade não correspondia ao item de serviço contratado.

Após o período de campo desta fiscalização, ao analisar o arquivo no formato “.pdf” do projeto dereforma, encaminhado à CGU por meio do Ofício nº 178/2014 – GAPRE, de 25/11/2014, verificou-se que

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o reservatório de 5.000 litros foi contratado para ser instalado ao nível do solo, em uma área próxima àsala de informática, o que demonstra que o reservatório sobre a laje próxima à despensa nãocorresponde ao item que havia sido contratado, configurando que o item foi medido e pago sem ter sidoexecutado, causando um prejuízo de R$ 3.111,50. Seguem fotos que evidenciam os fatos apontados:

Foto 07: Detalhe do local onde deveria ter sidoinstalado o reservatório de 5.000 litros (no piso).

Foto 08: Local onde deveria existir o reservatório de5.000 litros (no solo).

Foto 09: Indicação (aproximada) onde havia oreservatório de 1.000 litros (sobre a laje).

Foto 10: Foto do reservatório de 1.000 litros sobre alaje próxima à despensa.

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Foto 11: Detalhe da capacidade do reservatório de 1000 litros.

A tabela a seguir apresenta o detalhamento do total do superfaturamento verificado, no valor deR$ 51.326,34, correspondente aos serviços atestados irregularmente pelo Engenheiro Fiscal, JORGELUIZ LOPES DOS SANTOS, e pagos pela Prefeitura de Joca Claudino/PB:

Tabela: Resumo do superfaturamento

Item DescriçãoQuantidade Valor (R$)

Superfaturamento

Unid. Atestada Executada Atestado Executado R$1.2 Instalação do canteiro de obras unid. 0,97 0,00 2.626,59 0,00 2.626,59

1.5Demolição de piso de altaresistência

m² 155,96 0,00 2.093,59 0,00 2.093,59

2.2Aterro compactado commaterial de empréstimo

m³ 38,75 0,00 1.213,09 0,00 1.213,09

6.1Retelhamento de cobertura emtelha cerâmica

m² 328,97 0,00 7.026,80 0,00 7.026,80

6.2 Calha de zinco m 83,52 15,30 2.618,88 479,50 2.139,387.2 Emboço para cerâmica m² 182,08 63,80 3.531,06 1.237,61 2.293,45

7.3Revestimento cerâmico,inclusive rejunte

m² 182,08 63,80 5.184,44 1.817,01 3.367,43

8.2 Regularização do contra piso m² 355,47 67,12 18.423,55 3.478,37 14.945,188.3 Piso de alta resistência m² 355,47 67,12 11.145,91 2.103,57 9.042,34

9.1Porta de madeira compensadalisa (0,90 x 2,10)m

unid. 5,87 0,00 2.723,80 0,00 2.723,80

10.11Luminária tipo calha aberta, p/02 lâmpadas fluorescentes

unid. 26,75 18,00 2.270,21 1.527,02 743,19

11.11Reservatório em fibra, 5.000L,com acessórios

unid. 0,98 0,00 3.111,50 0,00 3.111,50

Valor total superfaturado (R$) 51.326,34

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Item DescriçãoQuantidade Valor (R$)

Superfaturamento

Unid. Atestada Executada Atestado Executado R$Fonte: Boletim de Medição nº 03. Quantidades medidas na escola durante a inspeção física.

É importante reforçar que a inspeção foi realizada por amostragem sobre itens passíveis de seremmedidos em campo. Desse modo, o prejuízo tende a ser maior haja vista que outros itens da planilha depreços da empresa TEC NOVA, que se inter-relacionam com os itens apontados na tabela acima, podemnão ter sido executados, a exemplo da fiação e da tubulação para instalação das luminárias (itens 10.1 e10.2) e a tubulação e conexões para instalação do reservatório (item 10.1).

Por último, deve ficar registrado que o pagamento pelo Contrato Administrativo nº 044/2013-CPL foirealizado integralmente à empresa TEC NOVA - Construção Civil Ltda. – ME (CNPJ 14.958.510/0001-80), configurando o fato como prejuízo efetivo ao erário, no valor de R$ 51.326,34, visto que o contratoestá encerrado.

Como é evidente, o pagamento por esses valores não executadossomente foi possível em decorrência do conluio entre os denunciados – dois dosquais funcionários públicos – que produziram documentos (boletins de mediçãoideologicamente falsos) com itens não realizados de obras.

Assim, Francisco Justino do Nascimento, Horley Fernandes,Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dos Santos praticaram o fato típicoprevisto no art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem soma emdinheiro do erário (R$ 51.326,34) por obras não executadas, com base em atestadofalso de medição da obra.

2.3.2.3. Da Lavagem de Dinheiro

Narrados os crimes antecedentes, convém se demonstrar como aestrutura da Tec Nova – empresa “fantasma”, como se demonstrou – foi utilizadapelos agentes executores para ocultar a origem criminosa dos recursos públicosobtidos pela organização criminosa, em tipologia característica de lavagem dedinheiro 44.

44 COAF, II Coletânea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro, 2014 disponível em: [http://www.coaf.fazenda.gov.br/pld-ft/publicacoes]

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Efetivamente, Wendell Alves Dantas e Jorge Luiz Lopes dos Santosutilizavam a estrutura formal (bancária) da Tec Nova, com a operacionalização deFrancisco Justino do Nascimento, para mascarar a origem ilícita dos recursospúblicos obtidos pela organização criminosa através de fraudes licitatórias edesvios de recursos públicas.

Ocorridos os crimes antecedentes, os pagamentos ingressavam naconta corrente da empresa “fantasma” Tec Nova e eram imediatamente sacados porFrancisco Justino do Nascimento em sua integralidade, para repasse aosverdadeiros executores das obras. Com isso, Wendell Alves Dantas e Jorge LuizLopes dos Santos mascaravam a origem dos lucros que obtinham com a atividadeda organização criminosa, remunerando Francisco Justino com o percentual de04% do valor da parcela depositada, como o modus operandi verificado.

Assim agindo, Francisco Justino do Nascimento, Wendell AlvesDantas e Jorge Luiz Lopes dos Santos praticaram o fato típico previsto no art. 1º,caput, da Lei n. 9.613/1998, ao ocultarem e dissimularem a origem de valoresprovenientes dos crimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusãode 03 a 10 anos e multa.

2.4. Dos Crimes Praticadas por Wendell Alves Dantas

No curso da investigação que deu origem à presente denúncia,Wendell Alves Dantas e seus advogados atuaram ativa e deliberadamente com oobjetivo de levar a erro os órgãos públicos.

As interceptações telefônicas 45 deram conta de que Wendell AlvesDantas: a) apresentou documentação ideologicamente falsificada ao MinistérioPúblico Federal – no caso, o atestado falso de fl. 15, anexo IX (fls. 254/255,256/258); b) determinou que seus empregados contatassem os trabalhadores daobra, anteriormente entrevistados pelo técnico de transportes desta PRM – Sousa,para que eles desmentissem o afirmado de que ele era o executor da obra (fls.259/260); c) escondeu documentos da CGU (fl. 266); e d) determinou que seuscomparsas falsificassem sua assinatura em documento público (fl. 269).

45 Autos da Interceptação telefônica (n. 0000346-16.2014.4.05.8202).

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2.4.1. Atestado Ideologicamente Falso e Uso perante o MPF

Wendell Alves Dantas, dentre outras pessoas, foi notificado peloMinistério Público Federal para comparecer na sede desta Procuradoria deRepública em Sousa no dia 18 de novembro de 2014, às 14h00min, com o objetivode ser oitivado nos autos do procedimento administrativo de acompanhamento deobras públicas federais em municípios sob atribuição desta PRM (PA n.1.24.002.000305/2013-37), cuja cópia encontra-se coligada no anexo IX do PICepigrafado.

No dia em questão, o denunciado apresentou petição acompanhadade atestado médico lhe indicando 04 dias de afastamento de suas atividades paratratamento médico, assinado pela Dra. Maria Fernandes S. Neta, em documento daCasa de Saúde Padre Costa em Uirauna – PB (estabelecimento de saúde privado,pertencente a João Bosco Nonato Fernandes, vulgo Dr. Bosco, Prefeito de Uiraúna)datado do mesmo dia 18 de novembro de 2014.

Todavia, os áudios revelaram que Wendell Alves Dantas, orientadopor seu advogado, Rodrigo Lima Maia, prestou informações falsas para obter oatestado médico de fl. 15, anexo IX, levando a erro a médica Maria Fernandes S.Neta, com o objetivo de adiar sua oitiva pelo MPF e obter tempo de viajar a JoãoPessoa para montar uma versão inverídica dos fatos com seu advogado.

Nesse sentido, observe-se os esclarecedores diálogos interceptados:

ÍNDICE: 7145306OPERAÇÃO: ANDAIMENOME DO ALVO: WENDELL ALVES DANTASTELEFONE DO ALVO: 8399886065DATA DA CHAMADA: 14/11/2014HORA DA CHAMADA: 12:21:23DURAÇÃO: 00:08:43Rodrigo: Oi Wendel, tudo em ordem?Wendel:tá podendo falar agora?Rodrigo: Tô, tô sim. Tudo em paz?

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Wendel:Tudo em paz. Tudo viu o ofício que eu recebiRodrigo:Uma audiência pro dia 18 não é? Wendel:Dia 18, mas deixa eu te dizer o que é que tá acontecendo. Eu acho que deveser isso. Elerson foi lá agora. Eu mandei uma procuração e Elerson foi lá. Ai o que éque acontece, quando foi ontem Gervásio me ligou e eu fui lá em Bernardinosobre...pra ele me contar uns negócios...o que acontece...eu vou te contar do início,até porque eu não tenho como ir ai, hoje é terça feira, pra você dar uma opinião seeu sigo essa tese ou se não, certo?Rodrigo:Certo!Wendel:Eu vou te contar: No tempo de Endomarques, em 2010 mais ou menos,2010/2011, ele me chamou pra fiscalizar três obras. Pra ser fiscal de três obras lá:a creche, a praça de eventos e umas melhorias habitacionais, certo? ai eu fui, ai eucheguei, preparei toda a documentação como fiscal, como engenheiro, dei aentrada nos processo (...) deu um mês e pouco, um mês e quinze dias, quase doismeses ai procurei o meu contato...não, pensei que não tava, foi não sei pra onde,viajou, certo, ficou pra resolver isso depois, mais na frente...eu sei que passou trêsmeses e eu não recebi nada. Não recebi dinheiro, não recebi nada...como fiscal...aidesisti. Não fui mais.Rodrigo:CertoWendel:Eu fiquei sabendo também que o pessoal desistiu das obras, das três obraso pessoal da empresa, das empresas...são duas empresas e três obras...desistiramtambém que Endomarques alegou que não entrou dinheiro em uma, outra queentrou dinheiro não dá pra concluir no meu governo, eu tenho que entregar ogoverno, a outra entrou a metade e não tem previsão do restante e passou...asobras ficaram se tocar, ninguém mexeu. Quando foi no Governo de Gervásio agora,ai eu procurei Gervásio, em janeiro pra fevereiro, eu disse: Gervásio, você quer queeu continue quer que eu fique como fiscal da obra que Endomarques não acertoumas ai deixa pra lá ai, agora seria outra coisa. Ai Gervásio disse rapaz, eu já tenhoMárcio Braga, ele é engenheiro lá de Cajazeira ele já é fiscal contratado prafiscalizar todas as obras do município, já tá ai no Sagres...tudo bem! Ai voltei pracasa. Nisso teve uma reunião com as firmas pra reiniciar ai o pessoal das firmas nahora lá me ligaram, eu fui, e perguntou se eu queria ficar administrando as obras,as três obras...o pessoal da construtora. Me contratar diretamente comoengenheiro para administrar e nessa mesma reunião o engenheiro fiscal tava lá edisse: Wendel pra não...devido a burocracia grande, a gente ter que mudar crea (?),mudar todas essa papelada, tudo, deixa teu nome mesmo aí como fiscal, você nãorecebeu mesmo nada da Prefeitura, nunca recebi...pra tocar, administrar asobras...aqui eu fiscalizo por aqui, pela prefeitura...tudo bem, tocamos. Quando foisemana passada, semana passada não, há quinze dias "atrás"...o Ministério Pú...ostécnicos estiveram lá, e foram...só com relação a essas três, só com relação a essastrês . Duas estão concluídas, sabe Rodrigues...duas estão concluídas e uma não táconcluída porque ainda falta trinta por cento do recurso ser liberado junto aFunasa...e o que é que acontece, eles estiveram lá procurando os meninos quetrabalhavam...Quem é que paga vocês? É o Wendel? É...o Wendel que pagava aquique empreitava com a gente tal, dessas três obras ...ai, eu creio que deva ser

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isso...Gervásio me chamou, rapaz o pessoal do Ministério Público Federal teve aqui,fazendo perguntas...Rodrigo:Wendel, deixa eu só te pedir uma coisa, vamos voltar umpouquinho...que ?? falou aqui e tirou minha atenção. É...eu não entendi a partefinal...eu entendi até a parte que ele disse vamos deixar você (...) ai a partir dai eunão entendi mais nãoWendel:Porque foi assim, o pessoal das empresas, nessa reunião me chamaram eperguntaram se eu queria trabalhar nas duas empresas, como administrador dastrês obras como engenheiro pela experiência que eu tenho, inclusive as crechesvocê tinha que ter um curso, isso ai eu tinha...as construtoras começaram a mepagar certo, me pagar pra eu administrar as obras lá no município deBernardino...nisso ai, o engenheiro fiscal disse: rapaz como já tá teu nome, pragente não atrasar mais ainda as obras, pra não ter que dar entrada no crea, tiraWendel, bota Márcio Braga, deixa teu nome mesmo como fiscal, você não recebeumesmo nada da prefeitura (...) não tenho nada, não recebi um centavo até hoje...asconstrutoras me pagaram e eu administrei as obras, empreitando com as pessoas etirando dúvidas, fiz meu trabalho de engenheiro e o Ministério Público Federal teveagora, há quinze dias "atrás" na casa dos pedreiros dos trabalhadoresperguntando: quem é que pagava vocês? Era o Wendel? Era! era ele que pagava,negociava com a gente tudo, certo! Eu creio que é isso que eu mandei pra você, eucreio que é isso.Ai eu quero saber assim, se eu continuo com essa tese Rodrigo:Não, não, não...de forma alguma, de forma alguma...vamos fazer o seguinte(...) tem como ir no Crea, tem como ir no Crea fazer uma Art retificadora? Ou não?Wendel:Tem não!Rodrigo:Você assinou o boletim de medição?Wendel:Já assinei esse ano...agora (...)Rodrigo: Mas como fiscal, você assinou?Wendel:Assinei e o pior é que também assim, deixa eu te dizer outra coisa que eume lembrei: tando a Funasa como o Fnds já disse a eles que eu tava como fiscal,certo! eles já tem isso ai certo e ele já pegou do posto, já botou o pessoal praassinar como eu que pagava o pessoal, então ele já teve...vão me ouvir só pra saberaté aonde vai chegarRodrigo:Oh Wendel, deixa eu te dizer uma coisa, vamos fazer o seguinte. Eversontem que tirar cópia do procedimento, certo. Você tem que entregar pra ele paratirar cópia do procedimentoWendel:Foi pra lá agora(...)Rodrigo:Se foi isso que você tá me dizendo, não vamos pra essa audiência de terça-feira certo. Não vamos, a gente vai ter que... atestado , alguma coisa entendeu, masnão vamos, não tem como ir não, certo, vamos justificar que você não pode ir...Wendel:Ele disse que eu podia ligar, se eu não pudesse ir...que o cara veio entregarem mãos...eu podia ligar e dizer pra marcar outro dia (...)Rodrigo:Deixe Elerson chegar lá...Elerson levou uma procuração suaWendel: Levou, levou (...)Rodrigo: Eu vou ligar pra Elerson pra ver se ele não junta a procuração...se eleconsegue tirar cópia sem juntar e se for isso que você tá me dizendo você não deve

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ir, certo. Você não deve ir pra gente poder pensar numa estratégia porque você nãopode dizer isso ai que você tá me dizendo, entendeu. Você não pode dizer isso aique você tá me dizendo não! Apesar que é a realidade dos fatos mas...é a mesmacoisa com outra história...ai a gente vai ter que montar um negócio...Wendel: Apesar que nesse caso agora eu não recebi nada da Prefeitura, nada (...)Rodrigo:Mas apesar de você não ter recebido nada da Prefeitura mas você atestouque o serviço foi feito e pro Ministério Público(..) um serviço que você mesmo estáfazendo, você tá entendendo?Wendel:É, é, exatamenteRodrigo: Apesar de você não ter recebido, o recebimento é o mesmo (...) do seuponto de vista é o mínimo...Vamos ver se é realmente isso, se for realmente isso, agente vai ter quer reformular a questão (...)Wendel:CertoRodrigo: Tirar cópia do processo, dá uma estudada pra poder a gente ver como agente vai fazer isso, certo?Wendel:Tudo bem (...) Rodrigo: Deixe Elerson voltar.Wendel:Tu vai ligar pra Elerson?Rodrigo: Vou ligar, vou ligar pra Elerson, vou ligar pra ele agora, tá certoWendel:Combinado, ai na segunda feira eu ligo pra lá e digo, olha eu não posso irporque eu não sabia mas eu tinha...um problema pra resolver, sabe, de urgência evou a João Pessoa eu vou ter quer marcar pra outro diaRodrigo:Pronto...Wendel:Ai eu marco, na outra semana que eu dou um pulinho ai em João Pessoa,levo o processo e a gente estudaRodrigo:Pronto, combinado...deixa Elerson ligar que a gente se comunica...até maistardeDespedem-se

ÍNDICE: 7148156OPERAÇÃO: ANDAIMENOME DO ALVO: WENDELL ALVES DANTASTELEFONE DO ALVO: 8399886065DATA DA CHAMADA: 14/11/2014HORA DA CHAMADA: 18:49:06DURAÇÃO: 00:02:39TELEFONE DO CONTATO: 8388182648Wendel: Oi doutorRodrigo:Wendel, você falou com Everson?Wendel:Falei, falei com ele. Ele disse que lá só funcionava até o meio dia, ai ele vaisegunda-feira ai quando ele foi já era de tarde já não tava mais funcionandoRodrigo:Pronto, ai eu já to lhe ligando pra na segunda de manhã você informar quenão pode ir,viu

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Wendel:Certo...ai eu perguntei a ele, ele mandou te procurar, ai eu já ligo nasegunda de manha né?Rodrigo:Na segunda a tarde, você liga pra láWendel:Ligo segunda a tarde né?Rodrigo:ÉWendel: Segunda a tarde...eu já ligo pra marcar outra data né, eu já ligo pra marcaroutra data (...) você disse pra eu ligar, hoje, eu não posso ir amanhã...ou então euvou dizer que tô doente,eu pego um atestado, eu vou em dr. Bosco, pego umatestado com alguém aqui (...) eu amanhecia a segunda doente, peguei umatestado de três dias, até quarta-feira...Rodrigo: Não! Dê mais um pouquinho...viu...a gente tem que ganhar essasemanaWendel:Certo...tranquilo...ai eu vou ai...eu dou um pulinho ai...eu vou ai e volto nomesmo dia... mandou pra você...mas eu tenho que ir ai pessoalmenteRodrigo:viu...belezaWendel:Beleza...oh...porque se lá não tiver cópia de boletim de medição, nada...tiversó dos processos iniciais, ai, não precisa nem dizer aqueles negócios que você disseque era fiscal...dizer que era da empresa né? (...) de boletim...nada que comproveque eu sou fiscal, eu tô aqui contratado pelas empresas...faço um contrato com asconstrutoras, pego um contrato, que eu tenho!eu já tenho..Rodrigo: Isso!Wendel: Prestando serviço...Rodrigo: Vamos ver o que é que temWendel: Exatamente....Despedem-se

ÍNDICE: 7162929OPERAÇÃO: ANDAIMENOME DO ALVO: WENDELL ALVES DANTASTELEFONE DO ALVO: 8399886065DATA DA CHAMADA: 17/11/2014HORA DA CHAMADA: 20:15:24DURAÇÃO: 00:04:34TELEFONE DO CONTATO: 8388182648(…)Wendel:Então você não quer que eu vá amanhã não?Rodrigo:Não! Quero não, quero não! quero não. Eu prefiro que você junte umatestado. Por que?Wendel:Dá pra conseguir...(...)Rodrigo:Então é a mesma coisa, você tá juntando um atestado, amanhã vocênão pode tá andando, entendeu...Wendel:Não, o médico pediu uma ressonância pra mim...ai eu vou pra JoãoPessoa pra bater uma ressonância

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Rodrigo:ProntoWendel:Tô indo pra João PessoaRodrigo:Você ligou pra lá hoje, não?Wendel: Não, não! Porque eu vou mandar amanhã o atestado...que Eversonorientou a mandar amanhã de 10h pra 11hRodrigo:Que horas tá marcada a audiência?Wendel:De duas horas da tardeRodrigo:Era melhor que já tivesse mando hoje, era melhor que já tivesse mandohojeWendel:Porque começa com data de amanha, homem...amanhã, quarta, quinta esexta, não é com data de hojeRodrigo:Pronto, então você deixa com Everson pra Everson entregar lá, certo?Wendel:Pronto, prontoRodrigo: Ai a gente conversa pessoalmente. Se você já puder trazer algumadocumentação de Bernardino Batista, tragaDespedem-se

Assim agindo, Wendell Alves Dantas e Rodrigo Lima Maiapraticaram o crime previsto no art. 299 do Código Penal – Falsidade Ideológica,ao inserirem em documento público (atestado médico, atendimento pelo SUS)declaração falsa (doença) com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamenterelevante, para o qual a pena é de um a cinco anos e multa.

Igualmente, Wendell Alves Dantas e Rodrigo Lima Maiapraticaram o crime previsto no art. 304 do Código Penal – Uso de DocumentoFalso, ao apresentarem o documento acima referido (atestado médico) perante oMinistério Público Federal em 18 de novembro de 2014, para o qual a pena é de uma cinco anos e multa.

2.4.2. Fraude Processual: Influência sobre Testemunha

Wendell Alves Dantas e o seu advogado, Rodrigo Lima Maia,também procuraram inovar artificiosamente no curso da investigação ao tentareminduzir o depoimento prestado por trabalhadores das obras públicas.

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Efetivamente, em 06 de novembro de 2014, o técnico de transportesdesta Procuradoria da República, atendendo a despacho proferido nos autos doprocedimento de acompanhamento n. 1.24.002.000305/2013-37 visitou algumasobras no Município de Bernardino Batista. Na obra em andamento de construçãoda praça de eventos, o servidor falou com trabalhadores no local, chefiados porCosme Simplício da Silva. Também estavam no local Israel Barbosa da Silva,Adailsom Estrela, Damião Anderson e José Airton. Todos afirmaram que a obraestaria sendo realizada por Wendell Alves Dantas, conforme efetivamente sedemonstrou na presente denúncia (fl. 34, anexo IX).

Após esta visita, Wendell Alves Dantas, ao ser notificado paraprestar esclarecimentos na sede desta PRM e após apresentar o atestado faltoacima, seguindo orientação de seus advogados Rodrigo Lima Maia e FranciscoRomano Neto, procurou os referidos trabalhadores e lhes orientou a prestar umdepoimento uniforme, dizendo que Wendell Alves Dantas somente desempenhavaa função de fiscal de obras.

A fraude foi revelada nos seguintes áudios:

ÍNDICE: 7145306OPERAÇÃO: ANDAIMENOME DO ALVO: WENDELL ALVES DANTASTELEFONE DO ALVO: 8399886065DATA DA CHAMADA: 14/11/2014HORA DA CHAMADA: 12:21:23DURAÇÃO: 00:08:43(…) Quando foi semana passada, semana passada não, há quinze dias "atrás"...oMinistério Pú...os técnicos estiveram lá, e foram...só com relação a essas três, sócom relação a essas três. Duas estão concluídas, sabe Rodrigues...duas estãoconcluídas e uma não tá concluída porque ainda falta trinta por cento do recursoser liberado junto a Funasa...e o que é que acontece, eles estiveram lá procurandoos meninos que trabalhavam...Quem é que paga vocês? É o Wendel? É...o Wendelque pagava aqui que empreitava com a gente tal, dessas três obras ...ai, eu creio quedeva ser isso...Gervásio me chamou, rapaz o pessoal do Ministério Público Federalteve aqui, fazendo perguntas... (…) as construtoras me pagaram e eu administrei asobras, empreitando com as pessoas e tirando dúvidas, fiz meu trabalho deengenheiro e o Ministério Público Federal teve agora, há quinze dias "atrás" nacasa dos pedreiros dos trabalhadores perguntando: quem é que pagava vocês? Era

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o Wendel? Era! era ele que pagava, negociava com a gente tudo, certo! Eu creio queé isso que eu mandei pra você, eu creio que é isso.

ÍNDICE: 7176132OPERAÇÃO: ANDAIMENOME DO ALVO: WENDELL ALVES DANTASTELEFONE DO ALVO: 8399886065DATA DA CHAMADA: 20/11/2014HORA DA CHAMADA: 17:54:57DURAÇÃO: 00:02:31TELEFONE DO CONTATO: 8388182648Rodrigo: Oi Wendell.Wendell: Tudo bom doutor?Rodrigo: Tudo tranquilo.Wendell: Os meninos localizaram o outro cabra lá, viu. O que ficou faltando. Amesma linha, viu, da conversa. Rodrigo: Foi na mesma linha né?Wendell: Foi. Então segura aquela tese mesmo né?Rodrigo: Segura aquela tese, segura aquela mesma história.(...)

ÍNDICE: 7178267OPERAÇÃO: ANDAIMENOME DO ALVO: WENDELL ALVES DANTASTELEFONE DO ALVO: 8399886065DATA DA CHAMADA: 21/11/2014HORA DA CHAMADA: 12:58:18DURAÇÃO: 00:03:19TELEFONE DO CONTATO: 8388182648Wendel:alôRodrigo: Oi WendelWendel:Oi doutor, tudo bomRodrigo:Tudo tranquilo! Já falei com Everson viuWendel:Beleza, eu tô com doutor Romano aqui.Rodrigo:Ah, tá com essa autoridade. Doutor Romano.Wendel:Já, já botamos na agenda aqui. A agenda tava bem branquinha. Não tinhanadaRodrigo:É o maior advogado criminalista do Norte/Nordeste desse paísWendel:Risos. Ei Rodrigues, chegou as contas de 2011 tambémRodrigo:Pegaram lá na CâmaraWendel: (...) tem duas, ai vão botar pra votar no mesmo dia, Romano, na segunda-feira...né...ela chegou dia 10...Rodrigo:Mas deram um prazo de defesa à LucréciaWendel:Não...o maior criminalista da Paraíba, Rodrigues tá dizendo..eu vou passar

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pra ele(brincadeiras, risos...)Romano: (...) nada lá não Romano. Olha isso aqui. Olhe nem número deprocedimento tinha (...) os caras foram lá, os caras foram lá, pegaram trêsserventes de pedreiro e perguntaram de quem era a obra ai os cabasdisseram que era de Wendel. Ai eu disse a Wendel. Não tem negócio não aquimesmo que o caba não tenha conhecimento, vai lá e diz o seguinte: Sempretava no meio da obra, que tem o dever de acompanhar essa obras, certo, nacondição de engenheiro do município. Já leva a portaria que ele éengenheiro. Não tem a portaria e pronto... é só apresentar e conversar comesses empregados, esses funcionários. Eu tô orientando ele aqui, marcaruma reunião com Gervásio, vai eu, ele e Gervásio e explicar lá, dizer, issoaqui, essa obra aqui é dos meninos mas Wendel é apenas engenheiro domunicípio e a gente remenda quando essas caras forem por lá, entendeu?Romano:Pronto, belezaRodrigo:É o que eu vejo... vamos por ai, vamos por ai. Eu só disse a ele que falassepouco lá, entendeu? não falasse muita coisa não...Romano:Pronto, ele vai dizer isso...ele vai dizer...o que é que acreditava que aobra era dele. Porque quando eles estão fiscalizando a obra eles costumasdizer, olha essa obra é minha porque ele é o engenheiro responsável pelomunicípio, entendeu? Porque eles vão perguntar e vai ter que dizer isso...é ojargão usual, entendeu?(...)

Assim agindo, Wendell Alves Dantas, Rodrigo Lima Maia eFrancisco Romano Neto praticaram o crime previsto no art. 347 do CódigoPenal – Fraude Processual, ao inovarem artificiosamente estado de pessoa nocurso de investigação criminal, para a qual a pena é de três meses a dois anos, emulta, aplicada em dobro (parágrafo único).

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2.4.3. Prevaricação

Wendell Alves Dantas, na qualidade de Secretário de Finanças doMunicípio de Joca Claudino, durante a fiscalização da Controladoria-Geral da Uniãoem Joca Claudino retardou ato de ofício consistente na apresentação dosdocumentos pedidos pelo órgão em controle, para atender a sentimento pessoal,qual seja: esconder irregularidade de sua documentação financeira. Tudo sobconhecimento e orientação de seu advogado Rodrigo Lima Maia.

A trama encontra-se bem explicada nos seguintes trechosinterceptados:

Índice : 7190506Operação : ANDAIMENome do Alvo : WENDELL ALVES DANTASFone do Alvo : 8399886065Data : 26/11/2014Horário : 19:51:29Rodrigues: Oi WendelWendel: Oi doutor, tudo bom?Rodrigues: Tudo tranquiloWendel: Tá em casa?Rodrigues:Tô, diga ai o que é que mandaWendel:Rapaz, a gente tá numa encruzilhada grande aqui, rapaz...um bocado deencruzilhada grande. Chegou um processo daquele negócio com a CGU rapaz,enganchou aqui, sabe. Enganchou. E o pior que os "cabas" arrochando praencaminhar logo, sabe... as respostas, ai deram um prazo até o dia vinte e cinco enão teve com a gente encaminhar...também, eles pediraram uma documentação naquinta-feira e deram prazo até terça. Uma coisa absurda...muita coisa, muitodocumento, justificativa, ai não teve como encaminhar(...) preocupado aqui atrásde saber, são muitas dúvidas, muitas coisa, sabe. Porque a gente tá pensando aquiqual o caminho que a gente toma...vê como é que faz...eu tô pensando seriamenteem vê se a gente idealizada alguma coisa aqui amanhã e sexta a gente ia ai, bicho.Dá uma pulinho ai pra o que era, que decisão a gente tomava, se mandava algumacoisa, se não mandava nada agora...dava uma de doido, não mandava nada, depoisa gente sentava pra ver, pra não se precipitar também e mandar coisa que as vezes(...)Rodrigues: E depois se prejudica mais aindaWendel: Se prejudica mais ainda, exatamente! Ai, a gente tá preocupado com isso,então...eu tô pensando seriamente em a gente não mandar nada e dar um tempo aie a gente sentar, depois a gente manda

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Rodrigues:Wendel, o que Elerson me escreveu no email, aquilo ali eu aconselho anão enviar nada, certo! o restante (...) eu não sei o que é...mas pelo menos...Wendel:Eu pensei assim, eu pensei assim: porque assim, a gente tem várias idéiasaqui, sabe, mas precisava sentar, uma tarde, uma hora, duas horas, pra dizerassim...sentava eu, você, CEZAR, EVERSON, dizer aqui, olha nós pensamos aqui,desse jeito. Ai tem esse prós e esses contras, tem essa outra tese aqui, tem essesprós e esses contras, ver qual a melhor saída, porque ali, ir pra justiça ele vai, agorao que é que a gente vai se preparar lá na frente, o que seria melhor, qual a melhorsolução, é impossível. Eu pensei assim, pra gente responder a eles até amanhã,é...por isso que eu te liguei, saber assim, se a gente poderia colocar referências só aesse processo que os outros já estão tudo pronto. Os outros estão tudo ok, tão tudocorrigido, resolvido o outro justificado o outro tudo...sabe...tá tudo belezinha sabe,tudo bonitinho...só enganchou num processo, dos cinco, quatro já estão tudopronto o volume tudo pronto aqui pra encaminhar, pra entregar a eles...ai esseprocesso pra gente não fazer não se precipitar...dizer assim o que você acha dosetor jurídico dizer que vai instaurar um inquérito administrativo, umprocedimento administrativo do município, porque ai, mesmo que ele diga não oresponderam nada do que perguntamos, não responderam nada do queperguntamos. Ai ficava aquele negócio, na certeza de que vai ser apurado né pelomunicípioRodrigues: Wendel eu acho o seguinte, a partir do momento que você respondeisso você admitiu que tem algum vício, certo. Você admitiu que tem algum vício. Apartir do momento que você coloca isso você admite que tem algum vício...entãoassim (...) solicitou outras coisas?Wendel: Solicitou! Neste mesmo processo, solicitou!Rodrigues: E as outras coisa nós temos?Wendel: Temos! Temos! Ele solicitou referente a esse processo (...)Rodrigues: Deixa eu lhe dizer, com relação a este processo eu não mandaria nada,certo! eu não mandaria nada. Nem dizendo nada, nada de assessoria jurídicanada... ai o que é que nós faríamos...a gente poderia instaurar um inquéritoadministrativo, certo, pra apurar (...)Wendel:Sem dizer a eles!Rodrigues: Sem dizer a eles! Não mencionar. Quando eles vierem a solicitarnovamente, a gente diz: tomando providência tal, tal e tal, certo? Wendel:Certo, certo...Rodrigues: Eu não mencionaria nada disso. Como se fosse...Wendel: Até porque nós vamos mandar pelos Correios mesmo né...se ele alegar quenós fomos omissos...mas é melhor ser omisso do que conversar besteira, né!Rodrigues: Justamente! Entendeu? Justamente!Wendel: Certo, certo...Rodrigues:Justamente. É isso ai que eu vejo. Entedeu?Wendel:Certo, certo...pois então eu vou combinar (...)

Índice : 7185750Operação : ANDAIMENome do Alvo : WENDELL ALVES DANTAS

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Fone do Alvo : 8399886065Data : 25/11/2014Horário : 09:17:04Transcrição :WENDEL - oi Jolis.JOLIS - essas duas do dia 26, as do dia 26, uma de 1.630 e a outra 1089 é IFFimposto de renda da Compacto. E essa de 900 reais do dia 28 é outras receitas, nãotem dizendo o quê é. Porque quando eu não sei o quê é, eu coloco outras receitas.WENDEL - essa vai dá boa. Outras receitas. JOLIS - até porque não tem taxas de licitação, as guias de receitas não taxa delicitação, dá para encaixar essa aí.WENDEL - certo, pois eu mandar Júnior, tire uma cópia desse aí e tire uma cópia docomprovante de depósito do movimento e traga praqui, eu vou mandar Júnior irpegar aí.JOLIS - oh, eu acho que esses R$900,00 não tem comprovante de depósito, eu achoque só tem como visualizar ele no extrato. (...) é só o extrato e mostrar o crédito. WENDEL - mande um email para Jo... que ele imprimi lá e bota tudo aí dentrotambém, que vai para a CGU, que pode ser que eles uma dia venha e vá mechernesse movimento aí, aí você já prega ele aí, no movimento financeiro.JOLIS - certo.WENDEL - vá lá no movimento, pegue lá a papelada lá e apregue esse negócio.Certo viu?JOLIS - certo, tá bom.WENDEL – combinado.

Assim agindo, Wendell Alves Dantas e Rodrigo Lima Maiapraticaram o crime previsto no art. 319 do Código Penal – Prevaricação,retardou ato de ofício consistente na apresentação dos documentos pedidos peloórgão em controle, para atender a sentimento pessoal (esconder a irregularidadede sua documentação financeira), para a qual a pena é de três meses a um anos.

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2.4.4. Da Falsificação de Documento Público

Por fim, Wendell Alves Dantas determinou ao funcionário públicode Joca Claudino “Clinio” 46, a falsificação de um documento público (fl. 269),conforme atesta o áudio abaixo:

Índice : 7175680Operação : ANDAIMENome do Alvo : WENDELL ALVES DANTASFone do Alvo : 8399886065Fone de Contato : 8399885934Data : 20/11/2014Horário : 16:08:30Wendel:Clinio (?)Clinio:Oi, eu tava mais Cezar aqui...Wendel:Ei, não é do Ministério não é o da Justiça. É porque é o outro processo(...) mande pra Rodrigues...é porque foi ele quem entrou com a ação contra a gente....foi o que nós ganhamos. Nós ganhamos o criminal e vamos ganhar esse ai, se Deus quiserClinio: Ei, bota tua assinatura falsa né?Wendel:Isso, isso...manda pra Rodrigo isso aí.

Assim agindo, Wendell Alves Dantas praticou o fato típico previstono art. 297 do Código Penal, ao determinar a falsificação de documento público,para a qual a pena é de dois a seis anos e multa.

3. Da Imputação Jurídica3. Da Imputação JurídicaAnte todo o exposto, os denunciados cometeram os seguintes delitos:

46 “Clinio” usa o telefone 83-9988.5934, cadastrado em nome da Prefeitura de Santarém, para secomunicar nesse momento com Wendell.

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a) FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 03/2010, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

2. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 27.309,91) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

3. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 - Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

4. art. 333 do Código Penal – Corrupção Ativa, ao pagar o valor deR$ 1.5000,00 ao presidente da CPL e tesoureiro do Município deBernardino Batista, Jarismarques Gomes Ferreira, para determiná-loa fraudar a licitação TP n. 03/2010 em favor da empresa Servcon,para o qual a pena é de 02 a 12 anos e multa, acrescida de causa deaumento de pena do parágrafo único.

5. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 04/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

6. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 100.485,78) por obras não executadas,com base em atestado falso de medição da obra.

7. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 - Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes dos

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crimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

8. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 01/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

9. art. 96, inciso I, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, em prejuízo daFazenda Pública, licitação elevando arbitrariamente os preços, para oqual a pena é de 03 a 06 anos e multa.

10. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 39.395,38) por encargos sociais nãorecolhidos, com base em planilhas ideologicamente falsas.

11. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 31.273,14) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

12. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 - Lavagem de Dinheiro,ao ocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

13. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação Carta Convite n. 05/2013, para oqual a pena é de 02 a 04 anos e multa.

14. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 51.326,34) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

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15. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 - Lavagem de Dinheiro,ao ocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

b) FERNANDO ALEXANDRE ESTRELA, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 01/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

2. art. 96, inciso I, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, em prejuízo daFazenda Pública, licitação elevando arbitrariamente os preços, para oqual a pena é de 03 a 06 anos e multa.

3. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 39.395,38) por encargos sociais nãorecolhidos, com base em planilhas ideologicamente falsas.

4. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação Carta Convite n. 05/2013, para oqual a pena é de 02 a 04 anos e multa.

c) WENDELL ALVES DANTAS, praticou os seguintes crimes:

1. art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/2013, ao integrarem,pessoalmente, organização criminosa, para cuja pena é de 03 a 08anos, além de multa, sem prejuízo das penas correspondentes àsdemais infrações penais praticadas e a seguir narradas.

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2. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 27.309,91) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

3. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 – Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

4. art. 333 do Código Penal – Corrupção Ativa, ao pagarem o valorde R$ 1.5000,00 ao presidente da CPL e tesoureiro do Município deBernardino Batista, Jarismarques Gomes Ferreira, para determiná-loa fraudar a licitação TP n. 03/2010 em favor da empresa Servcon,para o qual a pena é de 02 a 12 anos e multa, acrescida de causa deaumento de pena do parágrafo único.

5. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 100.485,78) por obras não executadas,com base em atestado falso de medição da obra.

6. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 – Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

7. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 39.395,38) por encargos sociais nãorecolhidos, com base em planilhas ideologicamente falsas.

8. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 31.273,14) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

9. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 – Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

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10. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 51.326,34) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

11. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 – Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

12. art. 299 do Código Penal – Falsidade Ideológica, ao inseriremem documento público (atestado médico, atendimento pelo SUS)declaração falsa (doença) com o fim de alterar a verdade sobre fatojuridicamente relevante, para o qual a pena é de um a cinco anos emulta.

13. art. 304 do Código Penal – Uso de Documento Falso, aoapresentarem o documento acima referido (atestado médico)perante o Ministério Público Federal em 18 de novembro de 2014,para o qual a pena é de um a cinco anos e multa.

14. art. 347 do Código Penal – Fraude Processual, ao inovaremartificiosamente estado de pessoa no curso de investigação criminal,para a qual a pena é de três meses a dois anos, e multa, aplicada emdobro (parágrafo único).

15. art. 319 do Código Penal – Prevaricação, retardou ato de ofícioconsistente na apresentação dos documentos pedidos pelo órgão emcontrole, para atender a sentimento pessoal (esconder airregularidade de sua documentação financeira), para a qual a pena éde três meses a um anos.

16. art. 297 do Código Penal, ao determinar a falsificação dedocumento público, para a qual a pena é de dois a seis anos e multa.

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d) JORGE LUIZ LOPES DOS SANTOS, praticou os seguintes crimes:

1. art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/2013, ao integrarem,pessoalmente, organização criminosa, para cuja pena é de 03 a 08anos, além de multa, sem prejuízo das penas correspondentes àsdemais infrações penais praticadas e a seguir narradas.

2. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 27.309,91) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

3. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 – Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

4. art. 333 do Código Penal – Corrupção Ativa, ao pagarem o valorde R$ 1.5000,00 ao presidente da CPL e tesoureiro do Município deBernardino Batista, Jarismarques Gomes Ferreira, para determiná-loa fraudar a licitação TP n. 03/2010 em favor da empresa Servcon,para o qual a pena é de 02 a 12 anos e multa, acrescida de causa deaumento de pena do parágrafo único.

5. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 100.485,78) por obras não executadas,com base em atestado falso de medição da obra.

6. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 – Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

7. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 01/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

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8. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 39.395,38) por encargos sociais nãorecolhidos, com base em planilhas ideologicamente falsas.

9. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 31.273,14) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

10. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 – Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

11. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 51.326,34) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

12. art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998 – Lavagem de Dinheiro, aoocultarem e dissimularem a origem de valores provenientes doscrimes anteriormente narrados, para o qual a pena é de reclusão de03 a 10 anos e multa.

e) MÁRCIO BRAGA DE OLIVEIRA, praticou os seguintes crimes:

1. art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/2013, ao integrarem,pessoalmente, organização criminosa, para cuja pena é de 03 a 08anos, além de multa, sem prejuízo das penas correspondentes àsdemais infrações penais praticadas e a seguir narradas.

2. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 100.485,78) por obras não executadas,com base em atestado falso de medição da obra.

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f) MOACIR VIANA SOBREIRA, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 03/2010, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

g) HORLEY FERNANDES, praticou os seguintes crimes:

1. art. 96, inciso I, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, em prejuízo daFazenda Pública, licitação elevando arbitrariamente os preços, para oqual a pena é de 03 a 06 anos e multa.

2. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 39.395,38) por encargos sociais nãorecolhidos, com base em planilhas ideologicamente falsas.

3. art. 312, § 1º, do Código Penal – Peculato, ao receberem somaem dinheiro do erário (R$ 51.326,34) por obras não executadas, combase em atestado falso de medição da obra.

h) JARISMARQUES GOMES FERREIRA, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 03/2010, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

2. art. 317 do Código Penal – Corrupção Passiva, ao receber R$1.5000,00 para fraudar a licitação TP n. 03/2010 em favor da

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empresa Servcon, para o qual a pena é de 02 a 12 anos e multa,acrescida de causa de aumento de pena do § 1º.

3. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 04/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

i) LINDOMARCOS GOMES DA SILVA, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 03/2010, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

2. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 04/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

i) DOMINGOS GOMES LOURENÇO, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 03/2010, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

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j) RAIMUNDO BILA VIANA, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Servcon, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 04/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

l) AURELIANO BATISTA DUARTE, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 01/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

2. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação Carta Convite n. 05/2013, para oqual a pena é de 02 a 04 anos e multa.

m) JOSÉ COSTA DUARTE, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 01/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

2. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o

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intuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação Carta Convite n. 05/2013, para oqual a pena é de 02 a 04 anos e multa.

n) CEZAR CAMPOS DUARTE, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 01/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

2. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação Carta Convite n. 05/2013, para oqual a pena é de 02 a 04 anos e multa.

o) JEFFERSON STEFÂNIO LAURENTINO DE ANDRADE, praticou os seguintescrimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, como intuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação TP n. 01/2013, para o qual a penaé de 02 a 04 anos e multa.

p) FRANCISCO LUAN BORGES CASSIANO, praticou os seguintes crimes:

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1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação Carta Convite n. 05/2013, para oqual a pena é de 02 a 04 anos e multa.

q) CARLOS ALBERTO MARTINS, praticou os seguintes crimes:

1. art. 90, caput, da Lei n. 8.666/93, ao fraudar, mediante ajuste ecombinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com ointuito de obter para a empresa Tec Nova, vantagem decorrente daadjudicação do objeto da licitação Carta Convite n. 05/2013, para oqual a pena é de 02 a 04 anos e multa.

r) RODRIGO LIMA MAIA, praticou os seguintes crimes:

1. art. 299 do Código Penal – Falsidade Ideológica, ao inseriremem documento público (atestado médico, atendimento pelo SUS)declaração falsa (doença) com o fim de alterar a verdade sobre fatojuridicamente relevante, para o qual a pena é de um a cinco anos emulta.

2. art. 304 do Código Penal – Uso de Documento Falso, aoapresentarem o documento acima referido (atestado médico)perante o Ministério Público Federal em 18 de novembro de 2014,para o qual a pena é de um a cinco anos e multa.

3. art. 347 do Código Penal – Fraude Processual, ao inovaremartificiosamente estado de pessoa no curso de investigação criminal,para a qual a pena é de três meses a dois anos, e multa, aplicada emdobro (parágrafo único).

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4. art. 319 do Código Penal – Prevaricação, retardou ato de ofícioconsistente na apresentação dos documentos pedidos pelo órgão emcontrole, para atender a sentimento pessoal (esconder airregularidade de sua documentação financeira), para a qual a pena éde três meses a um anos.

s) FRANCISCO ROMANO NETO, praticou os seguintes crimes:

1. art. 347 do Código Penal – Fraude Processual, ao inovaremartificiosamente estado de pessoa no curso de investigação criminal,para a qual a pena é de três meses a dois anos, e multa, aplicada emdobro (parágrafo único).

4. Do Pedido4. Do Pedido

Por tais razões, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL orecebimento da presente peça inaugural e seu processamento, nos termos da leiprocessual penal, até o julgamento final condenatório, no qual pugna por:

a) a aplicação da pena privativa de liberdade, em montante a serproposto em alegações finais, individualizadamente para cada umdos réus;

b) a aplicação da perda de cargo, emprego, função pública oumandato eletivo dos réus como efeito da condenação - art. 92,inciso I, alínea a, do Código Penal 47;

c) a fixação do valor mínimo para reparação dos danos causadospela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (art.387, inciso IV, CPP), no caso orçado em R$ 18.000.000,00 (dezoito

47 Art. 92. São também efeitos da condenação: I - a perda de cargo, função pública ou mandatoeletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano,nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a AdministraçãoPública

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milhões), solidariamente entre os réus, como forma de se viabilizaro efeito da condenação previsto no art. 91, inciso I, do Código Penal.

Sousa, 27 de julho de 2015.

TIAGO MISAEL DE J. MARTINS TIAGO MISAEL DE J. MARTINS DJALMA GUSMÃO FEITOSADJALMA GUSMÃO FEITOSAProcurador da República Procurador da RepúblicaProcurador da República Procurador da República

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