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A Deliberação Online em Ambientes Institucionais. Um Estudo do Fórum de Discussão do Portal da Câmara dos Deputados Edna Miola * Resumo: Este artigo apresenta uma investigação que considera a ideia de deliberação pública para avaliar em que medida a internet fomentar a existência de situações discursivas. Analisa-se, quantitativamente e qualitativamente, o fórum promovido por uma Comissão Parlamentar, no Portal da Câmara dos Deputados. Esta experiência foi escolhida por consistir em uma iniciativa institucional com o objetivo de promover uma aproximação dos parlamentares com os cidadãos e colher contribuições a respeito da participação popular. Dentre as conclusões está (1) a constatação de que os participantes se reportaram prioritariamente ao agente político, em lugar de estabelecer uma conversação com os demais participantes. Além disso, há (2) a comprovação de que o caráter institucional deste fórum influencia no desenvolvimento das discussões e, por fim, (3) a ponderação de que a deliberação online é afetada pelo desenho das ferramentas de discussão oferecidas. Palavras-chave: Deliberação pública; Fóruns online de discussão; Câmara dos Deputados Abstract: This article presents an investigation on how the internet fosters deliberation between political officials and citizens. The work proposes a quantitative and a qualitative analysis of a digital forum sponsored by the Brazilian House of Representatives website. This forum was chosen because it consists of an institutional experience aimed to know how citizens fell about political participation. Moreover this very same discussion includes in its scope citizens and Parliament members. Among the conclusions is (1) the finding that participants address mostly to the political officials, rather than settle a conversation with the other citizens. In addition, (2) there is evidence that institutional environment of this forum * Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia. Bolsista CAPES. Contato: [email protected]. A autora agradece a valiosa contribuição do Grupo de Pesquisa Comunicação, Internet e Democracia (PósCom/UFBA), assim como do Grupo de Pesquisa em Mídia e Esfera Pública – EME (PPGCom/UFMG).

Miola 2009 - Revista Contemporânea

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Autora: Edna Miola

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  • A Deliberao Online em Ambientes

    Institucionais.

    Um Estudo do Frum de Discusso do

    Portal da Cmara dos Deputados

    Edna Miola

    Resumo:

    Este artigo apresenta uma investigao que considera a ideia de deliberao pblica para avaliar em que medida a internet fomentar a existncia de situaes discursivas. Analisa-se, quantitativamente e qualitativamente, o frum promovido por uma Comisso Parlamentar, no Portal da Cmara dos Deputados. Esta experincia foi escolhida por consistir em uma iniciativa institucional com o objetivo de promover uma aproximao dos parlamentares com os cidados e colher contribuies a respeito da participao popular. Dentre as concluses est (1) a constatao de que os participantes se reportaram prioritariamente ao agente poltico, em lugar de estabelecer uma conversao com os demais participantes. Alm disso, h (2) a comprovao de que o carter institucional deste frum influencia no desenvolvimento das discusses e, por fim, (3) a ponderao de que a deliberao online afetada pelo desenho das ferramentas de discusso oferecidas. Palavras-chave: Deliberao pblica; Fruns online de discusso; Cmara dos Deputados

    Abstract:

    This article presents an investigation on how the internet fosters deliberation between political officials and citizens. The work proposes a quantitative and a qualitative analysis of a digital forum sponsored by the Brazilian House of Representatives website. This forum was chosen because it consists of an institutional experience aimed to know how citizens fell about political participation. Moreover this very same discussion includes in its scope citizens and Parliament members. Among the conclusions is (1) the finding that participants address mostly to the political officials, rather than settle a conversation with the other citizens. In addition, (2) there is evidence that institutional environment of this forum Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Comunicao e Cultura Contemporneas pela Universidade Federal da Bahia. Bolsista CAPES. Contato: [email protected]. A autora agradece a valiosa contribuio do Grupo de Pesquisa Comunicao, Internet e Democracia (PsCom/UFBA), assim como do Grupo de Pesquisa em Mdia e Esfera Pblica EME (PPGCom/UFMG).

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    influences the progress of discussions. Finally, (3) it concludes the design of e-participation tools influences particularly online deliberation. Key words: Public Deliberation; Online forums; Brazilian House of Representatives

    1. Introduo

    A discusso a respeito da utilizao da internet para fins polticos e o papel que ela

    vem desempenhando nas democracias contemporneas tem superado uma fase de

    especulaes a respeito do que os new media podem vir a representar e,

    atualmente, tem evoludo no sentido de considerar os usos que diversos atores

    fazem da rede e as consequncias prticas que ela traz para os processos polticos

    (GOMES, 2008; MAIA, 2008; MARQUES, 2008). Na esteira dos estudos que

    investigam questes da democracia contempornea e o impacto da utilizao dos

    meios digitais de comunicao em rede encontra-se uma tendncia que parte de

    uma perspectiva democrtica to recente1 quanto a prpria world wide web. Trata-

    se de uma corrente terica que pensa a democracia sob a tica do uso pblico da

    razo como mecanismo para a discusso de temas de concernncia ampla e

    produo e legitimao da deciso poltica, em uma reunio de atores diversos na

    busca da resoluo dos conflitos. Para tanto, necessrio o estabelecimento de

    uma deliberao pblica regida por um conjunto de procedimentos normativos

    (BOHMAN, 1996; DRYZEK, 2000; GUTMANN; THOMPSON, 1996; HABERMAS,

    1997).

    Ao se considerar alguns aspectos inerentes internet, como a capacidade de se

    ultrapassar barreiras geogrficas, scio-culturais e econmicas, por exemplo,

    permitindo uma comunicao no hierarquizada e discursiva, tornam-se claras as

    razes para a simpatia com que alguns deliberacionistas veem determinadas

    ferramentas oferecidas na rede. Assim sendo, uma parcela dos autores dedicados a

    pensar a deliberao pblica na internet tem buscado em ferramentas como salas

    de bate-papo (chats), listas de discusso, consultas pblicas e fruns online

    elementos que sustentem a hiptese de que a web pode no apenas fortalecer a

    democracia sob ponto de vista da transparncia e a accountability, valores

    democrticos essencialmente liberais, como tambm ampliar a participao poltica

    dos cidados com vistas ao (a) questionamento de posies e argumentos que tm

    como finalidade a formao da vontade e da opinio pblica a respeito de temas de

    ampla concernncia; e (b) gerao de canais de influncia da sociedade sobre as

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    decises do estado, possibilitando o que se denomina fluxo de poder bottom-up

    (DRYZEK, 2000).

    Embora haja um volume considervel de investigaes empricas dessas

    experincias em mbito internacional, a literatura nacional carente de incurses

    desse gnero. Nesse sentido, o trabalho procura desenvolver uma reflexo a

    respeito da deliberao online a partir da investigao de um frum de discusso

    brasileiro. Centrada em uma experincia de carter institucional promovida pela

    Cmara dos Deputados, a pesquisa busca responder qual o carter da utilizao

    dos espaos de discusso online por atores da sociedade e do estado brasileiro e se

    h indcios de deliberao pblica em um frum abrigado no Portal da Cmara dos

    Deputados na internet. Antes de apresentar a anlise propriamente dita, alguns

    aspectos gerais a respeito dos fruns promovidos pela Cmara dos Deputados,

    assim como esclarecimentos quanto experincia investigada, fazem-se

    necessrios.

    1.1 Fruns da Cmara dos Deputados e o Frum da CLP

    O portal da Cmara dos Deputados consiste em um caso notvel de implementao

    de recursos da internet como forma de fornecer inputs participao dos cidados,

    conforme investigao de Marques (2008). Na anlise do conjunto dessas

    ferramentas o autor destaca o investimento da instituio em diversas modalidades

    de interao com os cidados, que contemplam o fornecimento de informaes que

    servem de subsdio participao e de instrumentos para aferio das disposies

    do pblico e envio de manifestaes individuais (como enquetes e endereos de

    email, respectivamente). A Casa dispe tambm canais que viabilizam um espao

    de debates onde a troca de razes e argumentos entre cidados e representantes

    seria capaz de contribuir para a formulao e aplicao das decises polticas com

    maior grau de legitimidade (MARQUES, 2008, p. 348). Dentre estes canais

    identificados por Marques est o frum de discusso online, ao qual este trabalho

    se dedica a investigar, sob a perspectiva deliberacionista.

    Os fruns de discusso oferecidos aos cidados no portal da Cmara dos Deputados

    so acessveis a partir do link na pgina principal denominado Participao

    popular (que rene tambm outras ferramentas como a ouvidoria parlamentar, as

    enquetes e os bate-papos com deputados). Desde 2005 alguns fruns foram

    promovidos, sempre vinculados s Comisses Parlamentares da Casa, a respeito de

    temas diversos, como investimentos em cultura ou a regulamentao da utilizao

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    de animais em circos (Comisso de Educao e Cultura) e reforma tributria

    (Comisso Especial da Reforma Tributria.

    Um dos primeiros, e mais profcuos, fruns foi ofertado pela Comisso de

    Legislao Participativa (CLP), que est entre as comisses permanentes da

    Cmara dos Deputados e foi criada em 2001 com o objetivo de facilitar a

    participao da sociedade no processo de elaborao legislativa2. Esse frum

    desenrolou-se entre 27 de abril e 19 de outubro de 2005, totalizando 25 semanas

    e, diferentemente de outros fruns que receberam pouqussimas contribuies, a

    iniciativa da CLP reuniu 56 participantes que publicaram 90 mensagens no total3. A

    abertura do frum da CLP se deu com o lanamento de um questionamento a

    instigar a discusso do pblico. Preocupada em se apresentar aos cidados, a

    Comisso provocou-os a responder Como a Cmara dos Deputados pode

    aproximar voc, cidado, e a sociedade civil organizada da Comisso de Legislao

    Participativa? que sucedia uma descrio dos trabalhos desempenhados pela

    prpria CLP4.

    O objetivo da experincia em tela contribuir para o entendimento a respeito das

    iniciativas institucionais deliberativas que pretendem fortalecer canais de mediao

    entre os tomadores de decises polticas e a sociedade. Em outras palavras, essa

    experincia utilizada como ilustrao de aes institucionais promovidas pelos

    governos para a aproximao dialgica das esferas poltica e social que lanam mo

    de recursos j amplamente utilizados na internet, principalmente em iniciativas da

    sociedade civil5.

    2. Deliberao Pblica atravs dos Fruns de Discusso Online

    A base terica da qual partem as investigaes da deliberao pblica online

    demanda a adaptao dos requisitos antes estabelecidos para a definio da esfera

    pblica ao ambiente online da internet e suas especificidades. Tais requisitos,

    indicados por Jrgen Habermas e sistematizados por diversos autores, traam, por

    um lado, orientaes para qualquer iniciativa que pretenda incentivar a deliberao

    pblica beneficiada pelos elementos oferecidos pela internet e servem, por outro

    lado, para avaliar a aplicao da rede na possvel resoluo de problemas

    democrticos, como o incremento da participao da sociedade na discusso de

    temas e polticas com vistas ao aumento da porosidade da esfera de deciso

    poltica s demandas geradas na esfera social.

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    Nesse sentido, os fruns de discusso online experincia na qual se encaixa o

    objeto de investigao deste artigo dispem de caractersticas que favorecem tal

    projeto participativo. necessrio, contudo, especificar os parmetros que

    permitiro avaliar com maior profundidade o frum de discusso promovido pela

    CLP.

    Uma das diversas sistematizaes proposta por Lincoln Dahlberg (2001). De

    acordo com o autor, necessrio que haja na deliberao (a) uma troca de razes

    moralmente vlidas; (b) que seus participantes reflitam e examinem seus valores

    culturais, pressupostos e interesses luz dos demais argumentos apresentados; (c)

    praticando a reciprocidade ao comprometerem-se com o progresso do dilogo,

    ouvindo respeitosamente os parceiros e colocando-se uns no lugar dos outros; (d)

    agindo de acordo com uma lealdade argumentativa, tornando disponveis

    informaes sobre suas prprias intenes, interesses, necessidades e desejos. A

    arena discursiva deve oferecer, ainda, (e) a incluso e paridade discursiva e

    constituir (f) uma instncia autnoma frente ao poder econmico e influencia do

    estado (DAHLBERG, 2001).

    Jakob L. Jensen, por outro lado, operacionaliza a investigao da deliberao

    pblica na internet buscando certos indcios. Analisando o dilogo a partir das

    mensagens publicadas nos fruns, primeiramente, o autor questiona como cada

    contribuio se relaciona ao debate, identificando (a) a pertinncia da mensagem

    na discusso e (b) se ela estabelece um contnuo, inserindo um tema ou oferecendo

    uma resposta. Alm disso, Jensen isola as variveis contextuais estimando (c) a

    abertura dos participantes, que podem evidenciar sua identidade ou resguard-la, e

    (d) o tom por eles utilizado, se cordial ou agressivo. Por fim, quanto ao contedo,

    o autor procura traos de (e) argumentao, perceptvel na apresentao de

    justificativas ou validaes, e (f) reciprocidade, considerando a relao que cada

    mensagem estabelece com as demais (JENSEN, 2003).

    Essas e outras sistematizaes so utilizadas para analisar as ferramentas

    discursivas na internet, como os fruns de discusso online, que venham constituir

    espaos de deliberao poltica em mbitos locais, como o Minnesota e-Democracy

    (DAHLBERG, 2001), nacionais, como o UK Online (GRAHAM; WITSCHGE, 2003), ou

    mesmo transnacionais, como o Source dEurope (COLEMAN; GTZE, 2001). Das

    investigaes realizadas a respeito dessas experincias, depreende-se duas

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    categorias de formalizao dessas arenas. A primeira categoria rene aquelas que,

    organizadas pela sociedade, tm carter cvico e muitas vezes apresentam alto

    nvel de informalidade. A segunda categoria de arena de discusso abrigada na

    internet tem um nvel de formalidade diferenciada. Dispondo da estrutura do

    estado, como tcnicos e servidores, por exemplo, podem contar tambm com a

    participao de agentes estatais nas discusses.

    Alm dessas caractersticas, as discusses promovidas pelo estado, quando

    oferecem uma interao direta com agentes estatais, tendem a atrair mais o

    pblico por lev-lo a supor que h mais chances de suas reivindicaes e

    argumentos serem levados em conta no momento da deciso poltica constituindo

    aquilo que Nancy Fraser denomina pblico forte, ou seja, com poder de deciso

    (FRASER, 1992). Outros aspectos distinguem fruns que tm carter institucional,

    promovidos pelo estado, daqueles essencialmente civis, como, por exemplo, o

    aumento da utilizao de argumentos justificados nos debates que recebem

    participaes de agentes polticos (JENSEN, 2003). Tais iniciativas tericas

    colaboram para a identificao de indcios de deliberao nos fruns online, mas

    igualmente importante considerar os aspectos formais dos espaos de discusso.

    Uma vez que o objetivo deste trabalho consiste em averiguar se as condies

    oferecidas pelo aparato institucional, da qual gozam os fruns de discusso online

    viabilizados pelo estado e seus agentes, favorecem o estabelecimento e a

    manuteno de uma arena de discusso que satisfaa os requisitos que

    caracterizam uma deliberao pblica. Sendo assim, a sistematizao emprica aqui

    proposta passa por duas fases. A primeira delas aborda os aspectos do desenho

    institucional dos fruns de discusso da Cmara dos Deputados, em especial aquele

    promovido pela CLP, com a finalidade de identificar em que medida as escolhas dos

    agentes estatais influenciam na participao dos cidados na internet. Em seguida,

    partindo para a verificao de alguns requisitos deliberativos, a investigao

    esquadrinha algumas caractersticas do frum da CLP e seus participantes a partir

    da adaptao de alguns parmetros previamente discutidos nesta parte do

    trabalho. Por fim, o artigo se encerra com algumas reflexes tericas oportunizadas

    pela anlise emprica realizada.

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    3. Desenho Institucional do Frum da Comisso de Legislao

    Participativa

    Dentre as diversas possibilidades de anlise aplicveis a uma experincia

    participativa de utilizao da internet pelo estado encontra-se uma proposta de

    investigao que se d na observao do desenho institucional a partir de trs

    aspectos: provimento de informao, motivao e canais de participao. Essa

    abordagem proposta por Marques (2008) e aplicada pelo autor na anlise da

    oferta de oportunidades de participao em portais da internet dos Poderes

    Executivo e Legislativo brasileiros. Em seu trabalho, Marques organiza o exame das

    oportunidades de participao a partir da avaliao dos recursos de informao que

    subsidiam e capacitam os cidados e suas intervenes; da considerao dos

    mecanismos de motivao, que incentivam e demonstram a eficcia do

    envolvimento dos cidados; e, por fim, a abertura de canais, que conduzem o fluxo

    das intervenes da sociedade para o centro da deciso poltica (MARQUES, 2008).

    O que se prope neste artigo, considerando a contribuio de Marques na anlise

    do desenho da participao atravs de ferramentas na internet, avaliar o frum

    online promovido pela Comisso de Legislao Participativa quanto (1) s

    informaes a respeito do tema debatido pelo frum e a respeito da prpria

    utilizao da ferramenta; (2) motivao fornecida para os cidados se engajarem

    na deliberao; e (3) s particularidades do desenho da ferramenta na forma que

    foi proposta pelo portal da Cmara dos Deputados.

    3.1 Quanto ao fornecimento de informaes

    A anlise das informaes fornecidas como subsdio participao dos cidados no

    frum da Comisso de Legislao Participativa no portal da Cmara dos Deputados

    se deu em dois mbitos: informaes que subsidiassem a formao da opinio e

    argumentao dos participantes e informaes tcnicas relacionadas ao

    funcionamento do frum.

    Primeiramente, as informaes fornecidas pela Cmara em seu portal so

    abundantes e, de acordo com Marques (2008) compreendem desde aquelas a

    respeito da historia da Casa, seu funcionamento e curiosidades at aquelas que

    desempenham papel relevante no provimento de subsdios participao e ao

    cultivo de habilidades cvicas (MARQUES, 2008, p. 333).

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    Na poca em que se deu a coleta do material emprico que sustenta esta anlise,

    tais informaes se encontravam, porm, dispersas em variados sites do portal.

    Quando o usurio acessava o link Participao popular era direcionado para uma

    pgina onde constava um conjunto de ferramentas de participao que tm

    naturezas diversas e eram tematicamente orientadas de forma no conjugada6.

    Uma dessas ferramentas consistia nos fruns de discusso online. Linkados os

    fruns ativos, cada um deles conduzia o cidado a uma sala de discusso temtica.

    Cada frum, de responsabilidade da comisso promotora, podia abrigar

    informaes prvias ao acesso s postagens, como era o caso da discusso

    ministrada pela CLP.

    No frum da CLP, o texto que antecedia o acesso s discusses explicitava os

    dispositivos previstos na Constituio de 1988 para facilitar o exerccio da soberania

    popular: plebiscito, referendo e iniciativa popular. Reconhecendo os empecilhos

    para a concretizao desses mecanismos de participao, a Cmara teria criado,

    em 2001, a Comisso de Legislao Participativa, afirma o texto, que passa ento a

    apresentar a Comisso, suas funes e a dinmica de seu trabalho receber e

    administrar propostas legislativas encaminhadas Cmara por entidades da

    sociedade civil. Feita esta apresentao, o usurio era convidado a participar do

    frum respondendo ao seguinte questionamento: Como a Cmara dos Deputados

    pode aproximar voc, cidado, e a sociedade civil organizada da Comisso de

    Legislao Participativa?. Abaixo, um link continha a informao Veja as

    discusses do frum aqui que, ao clique, conduzia ferramenta de envio e

    visualizao de mensagens propriamente dita7.

    3.2 Quanto s motivaes para a participao

    Ainda de acordo com Marques (2008), a motivao compreende o estmulo

    fornecido por agentes estatais participao dos cidados oriunda da

    demonstrao da efetividade do seu envolvimento. Isto , para que a sociedade se

    sinta motivada a se engajar em uma atividade poltica necessrio que seja

    evidente que suas iniciativas sero levadas em conta e podero influenciar o

    processo poltico (MARQUES, 2008, p. 248).

    No caso analisado, o frum da CLP no portal da Cmara dos Deputados, alguns

    elementos poderiam ser destacados como motivadores dos cidados a tomar parte

    da discusso. Em primeiro lugar, a presena e atuao freqente da Dep. Ftima

    Bezerra (presidente da CLP) asseguram que no apenas o frum foi construdo e

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    mantido por funcionrios a servio da Cmara, como tambm ofereceu um contato

    direto entre cidados e representantes de maneira transparente (dada a publicao

    das intervenes e respostas) e accountable, pois possibilita a interpelao e

    questionamentos que expem o representante ao escrutnio pblico. Esse primeiro

    aspecto funciona como elemento de motivao por superar, aparentemente, os

    filtros que funcionam em canais que raramente estabelecem o contato direto, sem

    intermedirios, entre o pblico e os agentes polticos.

    Permanece, porm, um questionamento frequente entre aqueles autores que visam

    criticar a ampliao indiscriminada da participao: para qu participar? Quando

    acessa um dos fruns da Cmara, o cidado pode ter em vista fornecer subsdios

    para uma deciso poltica, influenciando as posies a serem consideradas pelos

    representantes ao proporem ou votarem uma lei. A maioria dos fruns

    subsequentes ao frum da CLP teve como eixo da discusso um tema em pauta no

    Congresso (como a reforma tributria ou o piso salarial para professores do ensino

    bsico) ou em evidncia na agenda da sociedade (como investimentos do governo

    na cultura). O frum da CLP, entretanto, estava aberto a colaboraes de varias

    formas, pois oferecia como gatilho um questionamento a respeito da prpria

    participao tema amplo e controverso at mesmo para o meio acadmico.

    Alguns participantes do frum, confusos, chegaram a considerar o prprio espao

    de debate como canal de envio para as iniciativas legislativas (que a Comisso

    recebe atravs de outros canais). Outros viram ali a oportunidade de confrontar a

    instituio e a conduta de seus membros apresentando crticas diversas. Ou seja,

    no havia um objetivo claramente expresso na realizao daquele frum, pois, no

    associado a um tema conciso, a oferta da ferramenta deu margem para

    entendimentos pblicos controversos sem fornecer, de fato, elementos motivadores

    especficos para a participao naquele evento.

    3.3 Quanto ao canal de participao

    Na anlise empreendida por Marques (2008), a complexidade das ferramentas de

    comunicao e sua capacidade de fomentar avanos qualitativos nas intervenes

    concluem o projeto participativo que se iniciou com a oferta de informao e

    gerao de motivao para a participao nos cidados (p. 257). Embora o

    pesquisador trate do conjunto de canais de interao oferecidos pelas instituies

    para a efetivao da participao poltica, a ideia aqui pensar apenas a utilizao

    de uma destas ferramentas, os fruns de discusso online a partir de uma

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    experincia particular. A inteno, ento, tratar do frum da CLP no portal da

    Cmara como canal de participao para a consecuo da anlise de seu desenho

    institucional.

    Assim, considerado um canal de participao poltica, o frum da CLP consistiu em

    uma das iniciativas com maiores probabilidades de satisfazer demandas

    participativas especialmente do ponto de vista da deliberao pblica, pois

    comporta dinmicas argumentativas assncronas e permite intervenes discursivas

    de natureza pblica.

    preciso identificar certos aspectos de seu desenho que podem ter influenciado em

    sua eficcia. Em primeiro lugar, a utilizao de mecanismos que demandam do

    usurio conhecimentos razoveis de plataformas tecnolgicas devem ser

    subsidiados pela oferta de materiais especializados que expliquem o funcionamento

    da prpria ferramenta o que no acontece nos fruns da Cmara dos Deputados.

    No h informaes sobre a dinmica dos fruns (como os usurios podem se

    dirigir uns aos outros), nem sobre a estrutura das respostas e insero de novos

    tpicos (threads). Tampouco h informaes fundamentais como aquelas a respeito

    da moderao e do sistema de publicao. No se sabe quais so os parmetros

    utilizados para o filtro das mensagens nem quanto tempo as mensagens esperam

    at que sejam publicadas no site.

    O ltimo ponto a ser abordado quanto ao canal de participao que o frum da

    CLP se trata de um aspecto associado intimamente quele tratado acima

    (motivao). A seleo da questo de abertura e, consequentemente, o tema

    do frum, os agentes estatais envolvidos drenaram, em parte, a possibilidade de

    haver controvrsia, um dos combustveis do aperfeioamento de argumentos e que

    um dos benefcios da deliberao pblica. Sem essa clara noo dos propsitos do

    frum, seu tema ou seu funcionamento, aos seus participantes restaram poucos

    instrumentos para pr em prtica uma discusso pblica racionalmente orientada

    que visasse a formao da vontade e da opinio, muito menos elaborar posies a

    auxiliar a tomada de deciso por parte dos legisladores.

    4. Requisitos Deliberativos Aplicados ao Frum

    A agregao das variveis utilizadas na anlise pretende identificar as propriedades

    dos fruns e indicar a existncia ou ausncia dos elementos a caracterizarem uma

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    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

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    deliberao pblica. Parcialmente inspirado no trabalho de Jensen (2003), esta

    investigao se ancora em anlises dos participantes e das mensagens por eles

    trocadas. Quanto aos participantes, interessante pensar como se deu seu

    engajamento na discusso.

    As mensagens, por outro lado, oportunizam diversas abordagens. Foram

    estabelecidas, alm de (1) o engajamento dos participantes, aspectos relativos s

    mensagens trocadas, destacando (2) o fluxo de envio das mensagens; (3) sua

    pertinncia para a discusso; (4) o tom positivo ou negativo empregado; (5) o

    estabelecimento de um dilogo, com rplicas ou mensagens monolgicas; (6) a

    reciprocidade, com o progresso ou radicalizao das posies; e, por fim, (7) a

    argumentao acionada para validar posies.

    4.1 Engajamento dos participantes

    Na avaliao dos aspectos concernentes aos participantes dos fruns possvel

    capturar, em primeiro lugar, qual o nvel de engajamento dos indivduos. A

    varivel utilizada para compreender o engajamento dos participantes no desenrolar

    da discusso aferida a partir da anlise da distribuio de mensagens por

    debatedores. Um fenmeno comumente encontrado nas comunidades discursivas

    online, e retratado por autores como Graham e Witschge (2003) e Janssen e Kies

    (2005), denomina-se one-timer effect. Conforme suas explanaes tal efeito est

    relacionado queles membros dos espaos de discusso que se limitam a

    participaes espordicas, s vezes singulares, que prejudicam, por sua vez, a

    continuidade e coerncia do debate. O frum promovido pela CLP confirma tal

    tendncia, j que poucos participantes enviaram mais de uma mensagem (Fig. 1).

    ndice de participao

    23

    8

    4 3

    52

    Dep. FtimaBezerra

    S. M. R. G. R. S. G. P. Comisso deLegislao

    Participativa(moderador)

    Demaisparticipantes

    (uma mensagempor participante)

    Nm

    ero

    de m

    ensa

    gens

    Figura 1: ndice de participao (nmero de mensagens por participante).

  • Edna Miola

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    12

    Do nmero total de participantes (56), a maioria (52) enviou apenas uma

    mensagem. Enquanto isso, 48 mensagens tiveram apenas quatro remetentes,

    dentre os quais esto a Dep. Ftima Bezerra, presidente da Comisso de Legislao

    Participativa, que promoveu o frum (com 23 mensagens), e a prpria CLP, no

    papel de moderador do espao de discusso. Certamente, este fraco engajamento

    j depe negativamente para a avaliao do frum em termos deliberativos. Mas,

    como a inteno considerar a dinmica global das discusses, so necessrios

    outros indcios, que so avaliados na sequencia.

    4.2 Fluxo de envio de mensagens e durao do frum

    Uma observao do fluxo de envio das mensagens para o frum pode tambm

    auxiliar nessa avaliao da dinmica da discusso. Quanto a isso, de se pensar

    qual seria a ideal durao de um frum: deveria ele se estender infinitamente, para

    que o jogo argumentativo evolua e para que o mximo de pessoas tome

    conhecimento da discusso e envie colaboraes? Ou seria necessria a

    manuteno do gerenciamento de um frum que no recebe mais mensagem

    alguma? Qual seria, ento, a durao mais adequada?

    A durao do frum da Comisso de Legislao Participativa foi de 25 semanas, nas

    quais o envio de colaboraes foi distribudo equilibradamente (Fig. 2). Alm da

    constatao que a publicao de mensagens foi significativamente mais intensa na

    primeira semana, observam-se picos de atividade, onde o nmero de postagens

    est entre 8 e 9 como visto nas 11, 14, 15 e 25 semanas e, por outro lado,

    verificam-se semanas onde no houve publicao alguma 5, 6, 13, 17, 19 e

    24. A mdia aritmtica de participao foi de 3,6 mensagens por semana8.

    Fluxo de mensagens durante o perodo

    14

    2 1 0 0

    4

    1 23

    1

    8

    0

    6

    9 9

    02

    0

    3 2

    7 6

    3

    0

    8

    27/ab

    r

    04/m

    ai

    11/m

    ai

    18/m

    ai

    25/m

    ai

    01/ju

    n

    08/ju

    n

    15/ju

    n

    22/ju

    n

    29/ju

    n06

    /jul

    13/ju

    l

    20/ju

    l

    27/ju

    l

    03/ag

    o

    10/ag

    o

    17/ag

    o

    24/ag

    o

    31/ag

    o

    07/se

    t

    14/se

    t

    21/se

    t

    28/se

    t

    05/ou

    t

    12/ou

    t

    Semanas

    Nm

    ero

    de m

    ensa

    gens

    Figura 2: Fluxo de mensagens durante o perodo de atividade do frum da CLP.

  • A Deliberao Online em Ambientes Institucionais

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    13

    Tal fluxo equilibrado sugere que o frum no passou por um enfraquecimento e sim

    agregou novos debatedores medida que alguns participantes deixavam de

    colaborar. A titulo de ilustrao, destaca-se que a publicao de mensagens da

    Dep. Ftima Bezerra foi mais intensa nas primeiras semanas, na qual respondeu ou

    forneceu informaes a vrios participantes, enquanto uma das participantes mais

    ativas, S. M. R. G., s tomou parte da discusso a partir da 14 semana, mas

    continuou enviando mensagens at o encerramento do frum, com uma mensagem

    da Dep. agradecendo a participao de todos e dando por encerrada a discusso.

    Houve, ento, uma rotatividade de participantes, demonstrando que o perodo pelo

    o qual o frum da CLP se estendeu oportunizou o envolvimento de diversos atores,

    mas no possvel saber se a discusso se aprofundaria ou se ampliaria se sua

    durao fosse prolongada. Ou seja, a durao de um frum de discusso pode

    variar de acordo com o envolvimento das pessoas, mas deve evidenciado se aquele

    frum do qual elas participam ser permanente ou no e, em caso negativo, qual

    ser sua durao.

    O encerramento das discusses, por outro lado, no justifica o cancelamento do

    acesso pblico aos arquivos do frum. vlido considerar que a manuteno do

    acesso aos arquivos dos debates, mesmo quando encerrados, pode ser til como

    fonte de consulta do pblico e dos prprios agentes estatais e funcionar como um

    registro dos posicionamentos discutidos num dado momento. Sem se distanciar do

    mbito dos fruns do portal da Cmara dos Deputados, possvel consultar as

    opinies dos cidados que discutiram, por exemplo, a reforma tributria em 20059,

    ou a proibio da manuteno de animais em circos em 200810. O frum da CLP

    esteve hospedado na pgina da Cmara (no link Participao Popular) at meados

    de 2008 (quando a coleta das informaes utilizadas neste artigo ocorreu).

    Posteriormente, os fruns da Cmara foram atualizados, com a criao de outros

    fruns e, no momento, os arquivos do frum investigado, assim como de outros

    fruns j encerrados, permanecem no servidor do site da Cmara dos Deputados,

    embora no haja links evidentes que direcionem o usurio a eles.

    4.3 Pertinncia das mensagens

    A anlise do contedo das mensagens revela tambm aspectos ligados

    elaborao e apresentao dos argumentos. Passa-se, ento, a discutir o que

    Jensen afirma constituir a forma, ou melhor, a pertinncia, dos debates. Conforme

    a constatao de outros pesquisadores, muitas das discusses ocorridas na internet

    padecem por ser alvo de spammers11 ou por receber mensagens irrelevantes para o

  • Edna Miola

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    14

    debate (JENSEN, 2003). Na avaliao realizada das mensagens enviadas ao frum

    da CLP, optou-se por considerar relevantes quaisquer mensagens que tivessem

    como tema a poltica nacional, incluindo-se at mesmo comentrios queles

    episdios ocorridos prximos ao perodo de realizao do frum que estivessem

    relacionados vida poltica do brasileiro, como o escndalo de corrupo que ficou

    conhecido como Mensalo e o referendo a respeito da proibio da

    comercializao de armas de fogo. Apenas uma (1%) das 90 mensagens foi

    considerada no-pertinente ao debate proposto com a abertura do frum12.

    Outra ressalva deve ser feita a esta anlise, pois a existncia de moderao

    constri uma barreira s mensagens indesejveis, tais como os spams. Ainda

    assim, ela no deve censurar nenhuma contribuio por julgar uma mensagem

    irrelevante ao debate, pois tal deciso deve ser tomada pela prpria comunidade,

    que dar continuidade ou no ao tpico proposto, em um processo auto-

    regulatrio. o que a moderao da CLP parece fazer (permitindo a publicao da

    mensagem de C. T.), corroborada pela atitude da Dep. Ftima Bezerra, que, em

    resposta, informa que o participante deve buscar outros meios para ter sua

    reivindicao ou sugesto atendida (mensagem publicada sob o ttulo Mnima

    Burocracia, em 18/08/2005, 18:56).

    4.4 Tom das mensagens

    Outra constatao de pesquisadores que se dedicam a apreender as caractersticas

    dos fruns de discusso online que os participantes podem utilizar a

    impessoalidade da internet para violar normas de etiqueta, provocando, insultando

    ou apelando para esteretipos ofensivos ao lidar com os demais debatedores e

    argumentos divergentes o que se denomina flaming (DAHLBERG, 2001;

    JANSSEN; KIES, 2005).

    Acredita-se que regras e a atividade moderadora podem reprimir desvios de

    conduta dos participantes. Neste caso, a afirmao de que mensagens com

    contedo ofensivo no seriam publicadas, sob o link que d acesso aos fruns, era

    destacada e servia como primeiro alerta de que as mensagens sero filtradas.

    Efetivamente, ao analisar o tom das mensagens publicadas no frum, no se

    encontram agresses ou palavras de baixo calo.

    A grande maioria das mensagens (89%) marcada pelo tom respeitoso, mas

    possvel identificar algumas contribuies em que os representantes polticos so

  • A Deliberao Online em Ambientes Institucionais

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    15

    tomados como classe homognea e a eles so direcionadas afirmaes

    generalizantes de teor negativo. No levantamento feito, estas constituram a

    totalidade das mensagens classificadas como agressivas (11%). Esta categorizao

    abaixo exemplificada:

    A "demonstrao" de interesse real?

    por V. T. (22/08/2008 22:33)

    [...] Tudo o que interessa ao parlamento aprovar conduzido

    por jogadas milionrias como essa que induzem a maioria

    menos esclarecida. Acho que em 1 lugar precisamos acabar

    com esse cncer indutor que via de regra leva metastase

    mortal.Para que o parlamentar paute sua gesto em

    consonncia com o povo, basta rememorar quais foram os

    itens pelos quais se elegeu. Infelizmente a maioria "coitados"

    so acometidos de estranha doena que lhes enfraquece a

    memria assim que assumem [...].

    Legislao Participativa- Mundos diferentes

    por I. L. L. C. (22/08/2008 22:34)

    [...] A Cmara no pode nos aproximar da Comisso de

    Legislao Participativa pelo simples fato de os senhores,

    onde incluo, vereadores, deputados, senadores, e membros

    do poder executivo, viverem em um mundo parte do nosso.

    Os senhores tem direito, ns deveres. [...] Alm do mais seria

    perda de tempo e para que vamos perder nosso precioso

    tempo? Ns s temos tempo para trabalhar e pagar todas as

    contas, mais nada. Nossa nica diverso hoje a novela do

    Mensalo, que promete ser mais longa que o Direito de

    Nascer, com final feliz para todos os envolvidos [...].

    Em geral, tais participantes utilizam o frum para demonstrar suas insatisfaes e,

    em alguns casos, at mesmo desqualificam a prpria iniciativa de dilogo proposta

    pela Cmara dos Deputados aos cidados.

    4.5 Dilogo

    O dilogo entre os participantes dos fruns tambm guarda relao com o desenho

    ideal de deliberao pblica. A premissa do aperfeioamento de razes se realiza

    quando h uma participao reflexiva, em que os debatedores levam em

    considerao os argumentos alheios ao elaborar suas prprias intervenes. De

    acordo com Dahlberg, a verificao emprica da reflexividade esbarra na dificuldade

  • Edna Miola

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    16

    em apreender um processo que internalizado pelos indivduos. O autor reconhece,

    entretanto, que essa varivel no pode ser ignorada, pois a anlise do contedo

    dos discursos pode explicitar a autocrtica e a mudana de posicionamentos

    (DAHLBERG, 2004, p. 33).

    Neste sentido, a investigao aqui empreendida buscou indcios no contedo das

    mensagens que evidenciassem a reflexo que sustentaria a interveno dos

    participantes. Para a codificao das unidades analisadas recorreu-se s categorias

    elaboradas por Jensen (2003) no intuito de identificar a existncia do dilogo entre

    os debatedores. Ou seja, as mensagens foram organizadas da seguinte maneira:

    (a) mensagens que se relacionam com o debate, iniciando ou dando seguimento s

    discusses na forma de respostas e (b) mensagens que no buscavam o dilogo o

    que o autor qualifica como indivduos estridentes que pretendem dominar de cima

    de seu prprio plpito sem inteno real de trocar argumentos13 (JENSEN, 2003,

    p. 357) ou seja, monolgicas.

    Da anlise do contedo das mensagens averiguou-se que uma poro razovel

    delas pretendia iniciar uma discusso (31 mensagens), introduzindo um sub-tema

    no-discutido no corpo do debate, enquanto a maioria das mensagens consistiu em

    respostas a outras contribuies (38 mensagens). O restante das mensagens no

    demonstrava inteno de dar incio a um debate, tampouco se reportava a qualquer

    outra contribuio j publicada, ou seja, as mensagens monolgicas representaram

    23% do volume total (21 mensagens).

    vlido ressaltar que 22 das 38 mensagens que desempenharam o papel de

    resposta foram enviadas pela Dep. Ftima Bezerra, presidente da Comisso de

    Legislao Participativa, satisfazendo questionamentos, fazendo esclarecimentos,

    incentivando a participao ou enaltecendo o trabalho da CLP. Isto , a maioria dos

    debatedores da esfera da sociedade no buscou um dilogo ampliado com todos os

    participantes e deu preferncia, por outro lado, a se reportar aos governantes

    representados naquele espao pela referida deputada.

    4.6 Reciprocidade

    Como adendo anlise acima realizada, buscou-se indcios de reciprocidade,

    conforme o conceito desenvolvido por Gutmann e Thompson (1996), que demanda

    dos participantes de uma deliberao pblica a considerao dos demais e sua

    justificao de posicionamentos no intuito de aperfeioar razes e selecionar os

  • A Deliberao Online em Ambientes Institucionais

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    17

    melhores argumentos. Um fenmeno comumente identificado nas discusses online

    a agregao usurios em comunidades com interesses e posies comuns, o que,

    em lugar de favorecer a deliberao, finda por reforar ideias pr-concebidas.

    Conforme a percepo de Jensen (2003), a reciprocidade de um frum de discusso

    pode ser apreendida considerando a ocorrncia de mensagens que revelam

    persuaso, progresso ou radicalizao dos argumentos. Para o autor, os dois

    primeiros, persuaso e progresso, so positivos para a deliberao, enquanto a

    radicalizao teria impactos negativos na contabilizao da deliberao no espao

    analisado (JENSEN, 2003, p. 361).

    A opo na investigao do frum da Comisso de Legislao Participativa no site

    da Cmara dos Deputados, embora tenha se inspirado nas categorias estabelecidas

    por Jensen, no foi por identificar o ndice de deliberao do caso estudado e sim

    evidenciar tendncias de participao. Dessa forma, as mensagens enviadas ao

    frum foram classificadas conforme a maneira de expressar os pontos de vista de

    cada participante. Caso ele tenha fornecido novas informaes ou apresentado um

    ponto de vista, sua contribuio foi aqui contabilizada como progresso; se, em

    lugar de incrementar a discusso a partir de novos elementos, o participante tenha

    procurado reforar pontos que j tenham sido defendidos, sua mensagem foi

    codificada como persuaso; e, por fim, caso a mensagem no demonstrasse

    flexibilidade argumentativa e desrespeitasse participantes ou pontos de vista

    alheios, foram considerados casos de radicalizao.

    Sendo assim, as mensagens que procuravam contribuir na discusso com

    informaes ou pontos de vista (progresso) foram maioria (64%)14. As mensagens

    de persuaso e radicalizao, dessa forma, consistiram respectivamente 17% e

    19%. Dentre as mensagens persuasivas, destacam-se as que demonstravam uma

    tentativa de convencimento, como aquelas reiteradamente enviadas pela Dep.

    Ftima Bezerra, na maioria, enaltecendo a iniciativa da Comisso de Legislao

    Participativa de prover canais de participao aos cidados e promovendo a

    imagem da prpria deputada.

    Um caminho para todos

    por Deputada Ftima Bezerra (22/08/2008 22:33)

    Prezado Renato,

    Fiquei muito contente e ao mesmo tempo agradecida pelas

    palavras carinhosas com que voc tratou a Comisso de

    Legislao Participativa (CLP). Temos conscincia de nosso

  • Edna Miola

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    18

    mister: servir a todos com urbanidade, ateno e carinho,

    ouvindo atentamente suas demandas e sugestes. No

    fazemos aqui na CLP qualquer tipo de acepo de entidades.

    Pode ser pequena, mdia ou uma grande entidade. Todas so

    importantes para ns. A CLP um alto-falante a servio da

    sociedade, pois procura ecoar e amplificar as ideias de

    cidados, iguais a voc, empenhados em construir conosco

    um Brasil mais prspero, justo e solidrio. [...].

    Quanto s mensagens de radicalizao, pode-se exemplificar a partir daquelas

    manifestaes de desagrado que no do espao controvrsia:

    Sendo e agindo como Cidado brasileiro

    por C. de C. C. S. (22/08/2008 22:33)

    Deputados e Deputadas se aproximariam da populao, se

    tivessem um desempenho digno de suas funes, durante as

    campanhas promete-se muitas coisas que sabemos no ser

    cumprida, depois Vocs simplesmente somem do mapa s

    reaparecem no incio das prximas campanhas [...].

    4.7 Argumentao

    Como pice do exame realizado, a ltima anlise pretende verificar indcios de

    argumentao racional nas mensagens enviadas ao frum da CLP atravs da

    existncia ou no de justificativas para os posicionamentos apresentados. Ou seja,

    procurou-se identificar, seguindo classificao de Jensen (2003), se h indcios de

    (a) validao externa, que consiste no amparo das afirmaes feitas em

    informaes de fontes externas, construindo um argumento baseado em fatos e

    demonstraes; (b) validao interna, onde o debatedor apresenta seu ponto de

    vista, suas posies e valores, explicitando a particularidade de seu argumento; e

    (c) alegaes, que so aquelas afirmaes que carecem de qualquer tipo de

    validao ou apresentao de fatos e tampouco so apresentadas como ponto de

    vista, ou seja, no so justificadas.

    Aproximadamente um quarto das mensagens enviadas ao frum continha

    informaes que as qualificavam como pertencentes primeira categoria (validao

    externa). As demais mensagens se dividiram equilibradamente entre aqueles

    participantes que expuseram seus pontos de vista (validao interna, 34%) e

    aqueles que fizeram afirmaes sem qualquer justificao (alegaes, 39%). Foi

    encontrada, ainda, uma mensagem em que a Dep. Ftima Bezerra simplesmente

  • A Deliberao Online em Ambientes Institucionais

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    19

    informava em qual tpico respondera ao questionamento semelhante ao feito pela

    participante, que foi categorizada como no contendo argumentao (1%)15.

    A Tabela 1 sintetiza o levantamento realizado, demonstrando a classificao

    absoluta das mensagens nas categorias, assim como sua distribuio percentual de

    acordo com o total de mensagens.

    MENSAGENS Nmero de

    mensagens

    Pertinncia Relevante 89 99%

    Irrelevante 1 1%

    Tom Agressivo 10 11%

    Respeitoso 80 89%

    Dilogo

    Inicia um debate 31 34%

    Responde 38 42%

    Monolgica 21 23%

    Reciprocidade

    Progresso 58 64%

    Persuaso 15 17%

    Radicalizao 17 19%

    Argumentao

    Validao externa 23 26%

    Validao interna 31 34%

    Alegao 35 39%

    No h argumentao 1 1%

    Tabela 1: Sntese da classificao das mensagens

    5.Discutindo as particularidades do frum de discusso da CLP

    Algumas caractersticas inerentes ao desenho da ferramenta e sua apresentao

    influenciam o modo como o frum administrado pela Comisso de Legislao

    Participativa se desenvolve. Pode-se citar como aspectos enquadrados nesse

    problema (a) a organizao do frum a partir de uma pergunta aberta; (b) a

    disposio de informaes que poderiam servir de subsdio para o debate a respeito

    da Comisso e sobre o tipo de participao social que ela promove; e (c) a

    existncia expressa de moderao. Por outro lado, h carncia de informaes de

    outra natureza, ligadas dinmica da prpria ferramenta, como a finalidade e o

    modo de funcionamento de um frum de discusso online e aspectos tcnicos de

    utilizao de threads, alm da inexistncia de elucidao dos critrios utilizados

    para a moderao e publicao das mensagens.

  • Edna Miola

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    20

    Em um nvel diverso, seria desejvel que as intenes do convite feito pela Cmara

    dos Deputados aos cidados para que participem de um debate com representantes

    polticos e outros cidados fossem explicitadas. Esse frum pretendia colher

    informaes a respeito das disposies do pblico com a finalidade de influenciar

    determinadas decises ou ele servia apenas como instrumento de autopromoo

    dos agentes e instituies polticos? Ou, ainda, o que se pretendia era gerar uma

    falsa sensao de poder de influncia dos cidados? Esses questionamentos

    transparecem inclusive em mensagens enviadas por alguns indivduos que

    demonstraram suspeitar da utilizao que ser posteriormente feita de suas

    contribuies.

    Considerando a perspectiva da postura dos participantes, interessante destacar

    que, embora o moderador possa ter atuado barrando a publicao de ofensas e

    palavras de baixo calo (conforme advertido no site) o tom predominante foi

    respeitoso, o que leva a inferir que a considerao de que o interlocutor se tratava

    de um representante do estado influenciou a postura adotada pelos participantes de

    maneira diversa daquela que talvez esses mesmos adotassem em uma esfera de

    discusso exclusivamente civil ou informal.

    Passando discusso dos aspectos deliberativos captados no frum da CLP,

    identificou-se uma assimetria considervel na eloqncia e na elaborao de

    argumentos dos participantes do frum. No por acaso, as maiores mensagens e os

    argumentos mais validados foram enviados pela Dep. Ftima Bezerra,

    provavelmente a maior detentora de recursos informacionais (polticos) e

    habilidades comunicativas dentre os participantes. Isso evidencia que na internet

    permanecem certas iniqidades argumentativas presentes em outros mbitos

    deliberativos, embora, no caso analisado, as manifestaes menos elaboradas ou

    justificadas no tenham sido totalmente limadas do debate.

    Quanto dinmica estabelecida, muito se pode atribuir ao prprio questionamento

    inicial do frum, que solicitava sugestes em lugar de suscitar a exposio e o

    confronto de posicionamentos, diferentemente de outros fruns realizados no Portal

    da Cmara que discutiam a regulamentao da manuteno de animais em circos,

    por exemplo. O estmulo fornecido aos cidados tendia consulta e no

    argumentao. Esse fator pode ter influenciado tambm outras constataes

    realizadas na anlise do frum da CLP, como a utilizao do espao fornecido para

    manifestao do pblico como se estes enviassem mensagens a um mural para

  • A Deliberao Online em Ambientes Institucionais

    Contemporanea, vol. 7, n 2. Dez.2009

    21

    exposio de sugestes, reivindicaes ou reclamaes e no um frum onde se

    travaria um dilogo. Outra interpretao possvel que esses cidados se

    dispuseram a estabelecer a comunicao com os agentes polticos, mas no entre

    si.

    Seguindo ainda essa linha de raciocnio, necessrio avaliar a reciprocidade do

    frum da CLP. A razo para que os nveis dos indicadores de reciprocidade

    diagnosticados tenham sido altos se deve opo da pesquisa em considerar

    implcita uma intencionalidade de colaborar no progresso da discusso que foi

    atribuda aos participantes. E necessrio, porm, relativizar tais ndices de

    reciprocidade dado que muitas das mensagens assim codificadas faziam remisso

    no a contribuies fornecidas no decorrer da discusso e sim ao questionamento

    inicial proposto pelo frum. Isso pode ser ilustrado quando se confronta o

    percentual da categoria progresso (64%) com o ndice bem menor de mensagens

    que foram classificadas como resposta (42%). A explicao para esse fato que,

    embora a pressuposio da inteno de colaborar na evoluo da discusso tenha

    se estendido maioria das mensagens, um percentual bem menor era de fato uma

    rplica a mensagens anteriores e no apenas ao questionamento inicial do frum.

    Outra nuance do conjunto de mensagens categorizado como resposta deve ser

    evidenciado: as contribuies eram originrias predominantemente da Dep. Ftima

    Bezerra. Ou seja, o dilogo travado teve um carter individual e hierarquizado

    estado-cidado-estado e raramente cidado-cidado.

    6. Concluses

    A pesquisa aqui apresentada foi instigada pela proeminncia e atualidade de

    estudos que se dirigem ao que se pode denominar ciberdemocracia (GOMES,

    2007). Ateno especial foi reservada investigao de estratgias que visam

    estabelecer uma relao discursiva entre cidados e representantes na internet,

    que vo ao encontro dos anseios de uma corrente terica democrtica que busca a

    constituio de esferas de deliberao pblica para a formao da vontade poltica,

    resoluo de problemas e divergncias e at mesmo produo e legitimao das

    decises.

    A experincia selecionada para a investigao da materializao da deliberao

    pblica foi um dos fruns de discusso online promovidos pela Cmara dos

    Deputados em seu portal. Tencionou-se identificar traos deliberativos na anlise

  • Edna Miola

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    de seu desenho, participantes e nas caractersticas das mensagens enviadas como

    forma de apreender e contextualizar o impacto que o carter institucional que

    distingue aquele frum gera sobre as condies e dinmicas que marcaram aquela

    discusso.

    Mais do que diagnosticar se houve deliberao pblica, em seu sentido mais estrito,

    no frum da Cmara, esta pesquisa apontou certas preocupaes que devem ser

    levadas em considerao pelas instituies polticas no desenho de uma ferramenta

    de comunicao online que pretenda estabelecer um dilogo profcuo com os

    cidados e destes entre si.

    preciso reconhecer, por outro lado, que a aplicao genrica de critrios

    avaliativos de deliberao pode encobrir certas nuances que cada experincia pode

    apresentar. O que fica evidente, porm, a carncia de canais efetivos de

    comunicao dos cidados e com seus representantes, ainda que as demandas no

    sejam articuladas na forma de uma argumentao consistente e justificada. Ou

    seja, o pblico anseia por ser levado em conta no momento da deciso poltica e

    apenas a oferta e prtica constante desse dilogo trar condies para o

    aperfeioamento da articulao comunicativa dos cidados e sua qualificao como

    deliberao pblica.

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    Notas

    1 Levando-se em conta as principais obras lanadas nos anos 1990 por J. Dryzek, A. Gutmann e D. Thompson, J. Bohman, S. Benhabib e J. Habermas. 2 Para tanto, a CLP recebe, analisa, elabora pareceres sobre as sugestes recebidas a respeito, por exemplo, de alteraes oramentrias, projetos de lei, requerimentos de audincia pblica, entre outros e apresenta proposies para apreciao da Casa, disponibilizando formulrios eletrnicos na sua pgina na internet e endereos de e-mail, correio postal ou fax para o envio do material. O principal critrio estabelecido para o recebimento de propostas a vinculao do remetente a uma organizao no-governamental com participao paritria da sociedade civil, excetuando-se partidos polticos e rgos e entidades da administrao direta e indireta. Proposies individuais no so aceitas. Informaes disponveis em http://www2.camara.gov.br/comissoes/clp/comissao.html. Acesso em 20/10/2009. 3 Para fins de descrio das estratgias metodolgicas empregadas, vlido esclarecer que a coleta emprica foi realizada em fevereiro de 2008. At esta data, o contedo do frum da CLP era disponvel como no momento de seu encerramento, pois no foram ofertados novos fruns em substituio. Em meados de 2008, entretanto, uma nova srie de fruns foi lanada e o contedo das mensagens

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    enviadas em 2005 ao frum da CLP foi re-publicado, sendo que as informaes sobre a data de cada mensagem foram alteradas. 4 Disponvel em: http://www2.camara.gov.br/popular/forum/legislacaoparticipativa. Acesso em 20/10/2009. 5 A ttulo de ilustrao, uma rpida busca no diretrio de grupos do Yahoo no Brasil pelas palavras-chave poltica e Brasil no texto de apresentao dos grupos redundou em 978 fruns (Disponvel em http://br.groups.yahoo.com. Acesso em 05/03/2009). 6 Disponvel em: http://www2.camara.gov.br/popular. Acesso em 20/10/2009. 7 Disponvel em: http://www2.camara.gov.br/internet/popular/forumdisc.html. Acesso em 20/10/2009. 8 Tais dados no podem ser tomados incondicionalmente. Considerando que a atividade do frum moderada pela CLP, necessrio considerar a possibilidade de haver um perodo indeterminado de tempo entre o envio e a publicao. Um indcio disso pode ser identificado nas duas ltimas semanas do frum, quando no houve publicao de mensagem na 24 semana, enquanto a 25 apresentou um dos picos de envio, com 8 mensagens publicadas. Alm disso, em um esclarecimento apresentado participante S. M. R. G., a Comisso de Legislao Participativa afirma: esclarecemos que a mensagem a que a senhora se refere foi colocada disposio do pblico no dia 29/07 s 10h06 (mensagem publicada sob o ttulo Espao Democrtico em 01/08/2005, 11h45). 9 Disponvel em: http://www2.camara.gov.br/popular/forum-reforma-tributaria/forum-reforma-tributaria/beneficios-de-se-fazer-uma-reforma-tributaria. Acesso em 20/10/2009. 10 Disponvel em: http://www2.camara.gov.br/popular/foruns/forumCultura/animais-no-circo. Acesso em 20/10/2009. 11 Spammers so usurios que utilizam ferramentas de distribuio de contedo na internet para a veiculao no-solicitada de mensagens em massa. 12 Retificao de Registro de Nascimento, por C. T. (08/08/2005 10:13): Quando por Deus vamos poder ter nossos nomes e sexo retificados nos registros de nascimento, temos que trabalhar e no podemos temos que viver e no podemos, pois quando apresentamos nossos RGs, as pessoas nos rejeitam, mas se ha uma lei que aprova a cirurgia no Brasil por que no aprovar a retifico em cartrios. 13 No original: strident individuals who dominate each from their own pulpit without really exchanging arguments. 14 Em realidade, partiu-se do pressuposto que, ao enviar uma mensagem ao frum, o participante demonstrava a iniciativa de contribuir positivamente, o que facilitou na codificao de participaes que no evidenciavam claramente argumentao ou informaes e influenciou na primazia destas mensagens sobre as demais categorias. 15 "News Letter" por Dep. Ftima Bezerra (29/07/2005 11:48): Prezada Ana Cludia, Quanto sua sugesto, favor consultar a minha resposta mensagem da Senhora Maria Helena, sob o ttulo News Letter. Abraos da Deputada Ftima Bezerra (PT-RN), Presidente da CLP.