Mistica Cidade de Deus Livro 6

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LIVRO SEXTO E QUARTO DA SEGUNDA PARTE

CONTM: as bodas de Can na Galilia; como a Me do ledentor do mundo acompanhou-o na pregao; humildade da cvina Rainha por ocasio dos milagres de seu Filho santssimo; tnsfgurao de Cristo; sua entrada em Jerusalm;

sua paixo e morte; o triun fo que obteve na cruz sobre Lcifer e seus ^quazes; a santssima Ressurreio do Salvador e sua admirvel Ascenso ao cu.

Sexto Livro - Captulo 1Sexto Livro Captulo 1

CAPTULO 1 INICIO DA MANIFESTAO DO SALVADOR PELO MILAGRE NAS BODAS DE CAN A PEDIDO DE SUA ME SANTSSIMA. Jesus e seus discpulos so 1 - n" 1130. convidados para as bodas de Can lado de SanfAna. Estando a grande Rainha em Can, os 1033. O evangelista So noivos tiveram notcia da vinda Joo que, no fim do captulo 1 de Jesus com os discpulos. Por refere a vocao de Natanael, intermdio de sua Me quinto discpulo de Cristo, santssima e vontade do mesmo comea o segundo captulo da Senhor, que assim dispunha para narrao evanglica, dizendo: Ao seus altos fins, Ele foi convidado terceiro dia, realizaram-se umas com seus discpulos para a festa. bodas em Can da Gali-lia, e a Me de Jesus ali se encontrava. Jesus e seus discpulos tambm Concordncia da narrao da foram convidados para a festa. (Jo Escritora com o Evangelho 2,1). Daqui parece que a divina 1034. O terceiro dia referido Senhora j estava em Can, antes pelo Evangelista, foi o terceiro dia de seu Filho ser convidado. Para da semana dos hebreus. Ainda que concordar esta passagem com o no o diga expressamente, que deixo dito no captulo tampouco diz que foi o terceiro passado, e saber qual seria este depois da vocao dos discpulos "terceiro dia" fiz algumas e da entrada na Galilia. Se se perguntas por ordem da referisse a isto te-lo-ia dito. Era, obedincia. porm, naturalmente, impossvel Foi-me respondido que. no que estas bodas fossem ao terceiro obstante, as diversas opinies dos dia depois da vocao dos expositores, a Histria da Rainha discpulos e da entrada na concorda com Galilia, pois Can est situada 0 Evangelho, e o fato foi nesta nas fronteiras da tribo de Zabulom forma: Cristo, nosso Senhor, com com a Fencia, ao norte onde se seus cinco Apstolos, ao entrar na encontrava a tribo de Aser em Galilia foi dueto a Nazar, relao Judia. pregando e ensinando. Distancia-se muito do ponto Nesta viagem levou alguns da fronteira que Jesus transps dias, mais que trs. Chegando a para passar da Judia para a Nazar, batizou sua Me Galilia. Se o terceiro dia tivesse santssima como fica dito, * e saiu sido o das bodas, s teriam dois pelos lugares vizinhos a pregar dias para vir da Judia Can, com seus discpulos. Neste cuja distncia leva trs dias de nterim, a Divina Senhora foi viagem. Estaria, ento prximo de convidada para a festa de Can, antes de ser convidado, e casamento, da qual fala o para isto era necessrio mais Evangelista. Era de uns primos tempo. seus, em quarto grau, pelo

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Alm disto, para ir da Judia Can da Galilia teria que passar por Nazar, porque Can est situada mais para a frente na direo do Mar Mediterrneo, vizinha da tribo de Aser, conforme falei. O Salvador do mundo teria ido primeiro visitar sua Me Santssima que o esperava em sua casa, pois no ignorava sua vinda. Se o Evangelista no narrou esta visita nem o batismo da divina Senhora, no foi por no terem acontecido, mas porque falou s o que interessava sua inteno. O mesmo So Joo confessa que muitos milagres operados pelo divino Mestre no foram escritos (Jo 20,30), por no ser necessrio, referi-los todos. Com esta explicao, fica entendido o Evangelho e a concordncia dele com este ponto da Histria de sua Me santssima. Cristo sanfifica o matrimnio 1035. Estando, pois, a Rainha do inundo em Can, seu Filho santssimo com os primeiros discpulos foram convidados para as bodas. Sua benignidade, que tudo dispunha, aceitou o convite. Foi com o fim de santificar e honrar o matrimnio, e para comear a confirmar sua doutrina com um milagre pblico. Apresentando-se como Mestre, reatando discpulos, era necessrio confirm-los na vocao, autorizando a credi-)ilidade e aceitao de sua doutrina J >perara o Senhor muitos prodgios, mas cultamente, sem se revelar por autor leles como nesta ocasio. Por isto, o evangelista chama este milagre (Jo2,11). rimeiro dos sinais que fez Jesus em Can a Galilia. O mesmo Senhor disse a sua le santssima que at ento no chegara ia hora. (Jo 2, 4). Sucedeu esta maravilha no dia ein que se completava um ano do batismo de Cristo nosso Salvador, eocor-ria no mesmo dia da adorao dos Magos, como o comemora a Santa Igreja, celebrando estes trs mistrios a seis de Janeiro. Contava Cristo, nosso Senhor, trinta anos de idade completos, mais os treze dias que h do Natal Epifania O matrimnio sacramento elevado a

graa e viveram com perfeio o estado que tiveram a felicidade de abraar na presena dos Reis do cu e da tena. No vou demorar a explicar que este noivo no era So Joo Evangelista Basta saber que, como disse no captulo passado, ele vinha como discpulo do Salvador, e nesta ocasio o Senhor no pretendeu dissolver o matrimnio Se veio assistir s bodas, foi para autoriza-lo e san-tific-lo elevando-o a Sacramento Seria, pois. uma contradio, dissolvilo nesse prprio momento O Evangelista, tampouco, jamais teve inteno de;e casar. Havendo exortado aos desposa-dos, fez nosso Salvador fervorosa orao ao Pai eterno, suplicando-lhe que, na lei da graa, abenoasse a propagao humana e, da em diante, desse ao ma

1036. Entrou o Mestre da vida na casa dos noivos e saudou seus moradores, dizendo: A paz do Senhor e a luz esteja convosco. Estava, realmente, na suadivi-na pessoa. Em seguida, fez uma exortao de vida eterna ao noivo, instruindo-o nas obrigaes de seu estado, para nele ser santo e perfeito O mesmo fez a Rainha do cu com a neo-esposa, a quem. coni pala-vras amenssiinas e eficazes, admoestou ao cumprimento de seus deveres. Ambos conesponderam a esta

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Sexto Livro - Captulo ISexto Livro Captulo I

trimnio graa para santificar aos que o abraassem na Santa Igreja, e fosse um de seus sacramentos. Sociabilidade de Jesus e Maria 1037. A virgem santssima, ciente da vontade e da orao de seu Filho santssimo, acompanhou-o, cooperando nesta, como em todas as outras obras, que Ele realizava a favor da linhagem humana. Como tomara por sua conta o agradecimento que os homens deviam por estes benefcios, fez um cntico de louvor ao Senhor, convidando os anjos para nele participarem. Tudo isto era manifesto apenas ao Senhor e Salvador nosso que se comprazia na sabedoria e nos atos de sua Me purssima, do mesmo modo que ela nos de seu Filho. No mais, conversavam e se entre-tinham com os demais convidados, porm, com sabedoria e gravidade dignas de suas pessoas, e com a finalidade de tocar os coraes dos circunstantes. A prudentssima Senhora falava muito pouco, s por necessidade ou quando interrogada. Tinha a ateno sempre fixa nas palavras e atos de Jesus, para guard-los e meditlos em seu santssimo corao. Raro exemplo de prudncia e modstia foram as palavras e todo o proceder desta grande Rainha no decurso de sua vida. Nesta ocasio, foi exemplo no s para as religiosas, mas especialmente para as mulheres do sculo. Se dele se lembrassem, em circunstncias seme-lhantes s daquela festa de casamento, aprenderiam a calar, a se moderar, e a compor-se interior e exteriormente sem leviandade e desenvoltura. A tempe-rana nunca to necessria como quando h maior perigo. Nas mulheres sempre maior adorno, beleza e atrativo, o silncio, a moderao, e o rerraimento que fecha a entrada de muitos vcios e servem de coroa mulher casta e honesta. Maria percebe a falta de vinho 1038. mesa, o Senhor e sua Me santssima comeram alguns manjares servidos, com grande temperana, mas sem que esta abstinncia chamasse a ateno. Quando estavam a ss, no comiam tais alimentos, como

antes tenho dito'2' Sendo contudo mestres da perfeio que no pretendiam reprovar a vida comum dos homens, mas sim aperfeio-la coin seus exemplos, acomodavamse aos OUTOS, sem exageros e singularidades, no que no era reprovvel e se podia fazer com perfeio. Assim como ensinou pelo exemplo, o Senhor deixou tambm como doutrina acs apstolos, ordenando-lhes que quando fossem pregar, comessem o que lhes fosse apresentado (Mt 10, 10; Lc 10,8). No deveriam se fazer singulares, imperfeitos e pouco sbios no caminho da virtude, porque o verdadeiro pobre e humild; no faz escolha de manjares Permitiu Deus que faltasse o vinho para dar motivo ao milagre, e a piedosa Rainha disse ao Salvador (Jo 2,3-4): Senhor, no h mais vinho para o banquete. Respondeulhe Jesus. Mulher, que importa a mim e a Ti? Ainda no chegou minha hora. Esta resposta de Cristo no foi de repreenso, mas de mistrio. A prudentssima Senhora no pediu o milagre casualmente. Com luz divina, conheceu que j era tempo oportuno para o poder de seu Filho santssimo se manifestar. No podia ignorar isso, quem estava repleta de sabedoria e da cincia das obras da Redeno, com a respectiva ordem dos tempos e 2-tT898

ocasies em que o Salvador iria execul-las. ainda para se advertir, que Jesus no pronunciou estas palavras com semblante de censura, mas com liberal e afvel serenidade. No deu Virgem o nome de Me, mas de mulher, porque ento no a tratava com palavras de muito carinho, como acima disse'3*.

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Interpretao da resposta de Cristo 1039. O mistrio da resposta de Cristo nosso Senhor, consistiu em confirmar os discpulos na f da sua Divindade, e comear a manifest-la aos demais, mostrando-se Deus verdadeiro, independente de sua me no ser divino e no poder de operar milagres. Por este motivo chamou-a mulher em vez de Me. Que te importa, ou que temos a ver. Tu e Eu, com isto? Foi o mesmo que dizer: o poder de fazer milagres no recebi de li, apesardeme t rcs dado a natureza humana com a qual os farei. S minha divindade compete fa/-los, e para ela no chegou a minha hoia.c

fazer muitos e grandes prodgios. Quis nos ensinar o remdio rjc nossa misrias e enfermidades, levando-nos ao cumprimento da vontade do s-simo, na qual consiste todo o nosso beui.

Nesta palavra deu a entender que. determinar prodgios no pertencia oferece meu sentimento, ignorados pelos homens, doloroso sentimento, a fim rrn de que se cumpra tua prossegui x~s&m os Reis do cu e santssima vontasade e beneplcito. Oh! que terra, a viagem d: Nazar a rpidos correrem os dias e as horas, aproximando o Jerusalm, atravs da Galiliaonde a noite de minha dor e amargura! Par;icara a no mais voltou o Salvador do linhagem humana ser dia feliz, mas 2 s noite de mundo, em sua vida mortal aflio para meu corao to coacontristado com a Como estava a teniunai o : ausncia do sol que o illi iluminava. jmpo de trabalhar pela salvao dos

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Scxlo Liuo - Capitulo 6

listas (Mt 13; Mc 10; Lc 9; Jo 7), desde a partida da Galilia at o dia de sua entrada triunfante em Jerusalm, como direi adiante1 (2) . At esta ocasio, depois da festa dos Tabernculos, o Salvador esteve percorrendo a Judia, aguardando o tempo marcado para se oferecer em sacrifcio, quando e como Ele mesmo queria. Amor entre Filho e Me 1108 Nesta viagem, a Me santssima acompanhou-o sempre, salvo o tempo em que se separavam para acudir a diferentes obras em beneficio das almas Nestas ocasies, era acompanhada e servida por So Joo. Desde esse tempo, o santo Evangelista percebia grandes mistrios e segredos da purssima Virgem Me, sendo ilustrado com altssima luz para entend-los. Entre as maravilhas que a prudentssima e poderosa Rainha operava, as principais e de maior caridade, consistiam em dirigir seus anseios e splicas para a justificao das almas. Tambm Ela, como seu Filho santssimo, fez maiores favores aos homens, trazendo muitos ao bom caminho, curando enfermos, visitando pobres, necessitados e desamparados. Ajudava-os a bem morrer, servia-os pessoalmente, principalmente aos mais abandonados, doentes e chagados. De tudo era testemunha o Discpulo amado que se encarregara de servi2- l,- 1121 la. A fora do amor de Maria purssima por seu Filho e Deus eterno crescera imensamente. Vendo-o agora prestes a se despedir para voltar ao Pai, sofria a Me beatssima to contnuos mpetos do corao no desejo de o ver, que chegava a sentir amorosos desfalecimentos quando dele se ausentava ou quando Ele se demorava a voltar. O Senhor, como Deus e Filhe \ I.I o que acontecia sua Me queridissuiu Conespondialhe com a mesma lidcli dade, dizendo-lhe interiormente as palavras dos Cnticos que aqui se realizaram literalmente: Feris.te meu corao, minha inn, feristeo com um dos teus olhos (Cnt 4, 9). Ferido e veiK iJ< i por seu amor ia logo a seu encontro Confonne entendi, Cristo, nosso Senhor, enquanto homem, no podei ia li car longe dapresena de sua Me, se ateu desse intensidade da afeio que lhe dedicava, como Me que tanto o amava Sua vistae presena O consolava, a bele/a daquela alma purssima dava-lhe prazer e tomava-lhe suaves os trabalhos e

penalidades, dos quais Ela era o fruto, entre Iodos, nico e singular. Sua amabiliuWM presena era de grande alivio para as penas sensveis do Senhor. Volta de Cristo Betnia 1109. Continuava nosso Salvadoi a realizar maravilhas na Judia, entre elas a ressuneio de Lzaro na Betnia (Jo 11, 17). onde veio a chamado das irms Marta e Maria Muito prximo de Jerusalm, logo se divulgou ali o milagre, e os pontfices e fariseus, imtados com o prodgio, fizeram uma reunio para deci catara morte do Salvador (Jo 11,47) Ordenaram que, se algum tivesse noticia d" Ele, o denunciasse, porque depois da ressuneio de Lzaro, Jesus retirara-se cidade de Efren (Jo 11, 54) at a festa da pscoa que no estava longe. Ao chegar o tempo de voltai a celebr-la com a sua morte, abriu-se mais com os Apstolos, dizendo-lhes que subiam a Jerusalm, onde o Filho do Homem seria entregue aos prncipes dos fariseus, para ser preso, aoitado e velipendiado at a

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morte de cruz (Mt 20, 17; Mc 10, 32; Lc 18, 31; Jo 11, 12). Neste nterim, andavam os fariseus atentos, espreita de o ver subir a Jerusalm para celebrar a Pscoa. Seis dias antes voltou a Betnia (Jo 12, l)onde ressuscitara Lzaro. Foi hospedado por suas duas irms que prepararam lauta ceia para Jesus e sua Me santssima e todos os que os acompanhavam para a festividade da Pscoa. Um dos presentes ceia foi Lzaro, ressuscitado poucos dias antes. A uno por Madalena 1110. Estando o Salvador recli-nado mesa, conforme o costume dos judeus, entrou Maria Madalena (Jo 12,3) repleta de luz divina e de elevados e nobilssimos pensamentos. Com ardentssimo amor por seu divino Mestre, derramou-lhe sobre a cabea e os ps um frasco

A casa toda rescendeu com a fra-grncia desse unguento. Era bastante, muito precioso e a liberal e amorosa discpula quebrou o frasco para derram-lo totalmente em honra de seu Mestre. O avarento apstolo, Judas, que desejava t-lo vendido para ficar com o dinheiro, comeou a criticar a misteriosa uno. (Jo 12,5), contagiando alguns dos outros apstolos, sob o pretexto de caridade para com os pobres. Dizia que se lesavam as esmolas, gastando to prodigamente e sem proveito coisa de tanto valor. Na realidade, aquele ato fora inspirado por vontade divina, enquanto ele no passava de hipcrita, avarento e insolente. Revolta de Judas 1111. O Mestre da verdade defendeu Mad alena a quem Judas repreendia de prdiga e irrefletida. Disse o Senhor, a ele e aos demais, que no a incomodassem (M126,10) porque aquele ato no era fei to sem justa razo. Os pobres, por causa disso, no seriam privados das esmolas que lhes quisessem dar todos os dias,mas sua pessoa nem sempre poderiam fazer aquele obsquio. Era a sua sepultura que a generosa e enamorada Madalena, inspi-

de alabastro, cheio de precioso e fragran-tssimo perfume feito de nardo e outras substncias arointicas. Limpou-lhe os ps com os cabelos, como fizera em sua converso, na casa do fariseu, conforme conta So Lucas (Lc 7, 38). Os outros trs Evangelistas (Mt 26,6; Mc 14,3; Jo 12,3) descrevem esta segunda uno, feita por Madalena, com alguma diferena. Todavia, no entendi que fossem duas unes, nem duas mulheres, mas s a Madalena, inspirada pelo divino Esprito e por seu inflamado amor por Cristo nosso Salvador 60

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rada pelo cu, eslava prevenindo com aquela misteriosa uno. Testemunhava, assim, que o Senhor iria se sacrificar pelo gnero humano, e sua morte e sepultura estavam muito prximas. Nada disso, porm, entendeu o prfido discpulo, cncolerizando-se contra seu Mestre por ter justificado o ato de Madalena. Vendo Lcifer a disposio daquele depravado corao, lanou-lhe novas setas de cobia, raiva e mortal dio contra o Autor da vida. Desde esse momento. Judas decidiu maquinar a morte do Mestre desacreditando-o, junto aos fariseus de Jerusalm como realmente e com audcia o fez. As ocultas, procurou-os e lhes disse que seu Mestre ensinava leis novas, contrrias s leis de Moiss e dos imperadores; que era amigo de banquetes, de gente perdida e mundana; que acolhia muitos homens e mulheres de ma vida e andava em sua companhia. Que os fariseus matassem de ver isso, no viesse acontecer alguma tragdia que depois no pudessem remediar. Como os fariseus pensavam de igual modo, manejados, tanto eles como Judas, pelo prncipe das trevas, aceitaram o conselho, e combinaram a venda de Cristo nosso Salvador. Obstinao de Judas 1112. Todos os pensamentos de Judas eram conhecidos, no s do divino Mestre, mas tambm de sua Me santssima. Nem por isto, o Senhor deixou de lhe falar como amoroso pai, e dc lhe enviar ao obstinado corao santas inspiraes. A estas, a Me de clemncia acrescentou novas exortaes e diligncias para impedir o discpulo de cair no precipcio. Naquela noite da ceia, que foi no sbado antes do domingo de Ramos, chamou-o em particular e com palsVTM dc grande doura, entre copiosas lgrimas, lhe mostrou o tremendo perigo que conia. Pediu-lhe que mudasse de resoluo, e se nutria rancor por seu Mest 11 que se vingasse n'Ela, pois seria menoi mal, sendo Ela pura criatura, e Ele seu Mestre e verdadeiro Deus. Para saciar a cobia daquele ava-rento corao, ofereceu-lhe algumas coisas que para isso a divina Me recebera de Madalena. Nenhuma destas delign-cias, entretanto, foram capazes de abran-daro nimo endurecido de Judas, nem to vivas e suaves razes puderam impressionar seu corao mais duro que 0 diamante. Pelo contrrio, no achando o que responder s justas palavras da prudentssima Rainha, calou e se irritou ainda mai v mostrando-

se ofendido. Mas, nem por isso, se envergonhou de aceitai o que Ela lhe deu. pois era to ambicioso quanto desleal Deixando-o, Maria santissilM dirigiu-se a seu Filho e Mestre, e cheia de amargura e lgrimas atirou-se a seus ps. Procurou consol-lo com grande com paixo, pois via que sua humanidade santssima se entristecia pelas mesmas razes que depois o fez dizer aos discpulos: minha alma est triste at a morte (Mt 26, 38). Estas penas eram produzidas pelos pecados dos homens que haviam de perder o mito de sua paixo e moite, como adiante direi* DOUTRINA DA RAINHA DO ( I I MARIA SANTSSIMA. Pela cruz glria 1113. Minha filha, continuando n escrever a histria de minha vida, cada (Ul vais compreendendo melhor o ardentssimo amor com que meu Senhor e I u 3-n 1210. 1215. 1395. abraamos o caminho da cruz e do sofrimento, o nico que escolheu na vida mortal. J que recebes esta cincia que Eu sempre te repito, razo que trabalhes por imit-la. Esta dvida vai crescendo para ti, desde o dia que te escolheu por Esposa. Aumentando sempre, no a podes solver se no abraares os trabalhos, e se no os amares com tal afeto, que para ti a maior pena seja o no padec-los. Cada dia, renova em teu corao esta cincia ignorada e detestada pelo mundo. Ao mesmo tempo, adverte, porm, que Deus no quer provar a criatura apenas para a afligir, mas sim para tom-la capaz e digna dos benefcios e tesouros que, por este meio, lhe prepara e ultrapassam todo humano pensamento (1 Cor 2, 9). Em f da referida verdade e como penhor dessa promessa quis se transfigurar no Tabor, na presena minha e de alguns discpulos. Na orao que ali fez ao Pai, e que s Eu conheci e entendi, adorou-o por verdadeiro Deus, infinito em perfeies e atributos, confonne costumava fazer quando queria lhe dirigir algum pedido. Em seguida, suplicou que os corpos mortais, que por seu amor e sua imi-. tao se mortificassem e sofressem, na nova lei da graa, participassem depois da glria de seu corpo; e, para dela gozar no grau que cada qual merecesse, fosse ressuscitado no dia do juzo final e unido prpria alma. Concedeu o eterno Pai este pedido. Confinnou-o como por

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um contrato entre Ele e os homens, mediante a glria do corpo de seu Mestre e Salvador, penhor da que pedia para todos seus seguidores. Tanto valor como este adquire o momentneo trabalho (Cor 4,17) dos mortais ao se privarem dos deleites terrenos, modificando sua carne e padecendo por Cristo, meu Filho e Senhor. Pacincia com as almas 1114. Em virtude dos mritos infinitos que Ele interps nesta petio, esta glria coroa de justia para a criatura. Tem direito a ela como membro da cabea que lha mereceu, Cristo (2Tim 4, 8). A unio a Ele, porm, efetuada pela graa e pela imitao no padecer ao qual corresponde o prmio. Se qualquer sofrimento corporal ter sua coroa, muito maior ser o de sofrer e perdoar as injrias, retribuindo-as com benefcios, como ns fizemos com Judas. O Senhor no o excluiu do apostolado, no se mostrou indignado contra ele, e o esperou at o fim. Finalmente, pela prpria malcia o infeliz acabou por se entregar ao demnio e se impossibilitar para o bem. Na vida mortal o Senhor muito lento para se vingar, mas depois compensar a tardana com o rigor do castigo Pois, se Deus suporta e espera tanto, quanto no deve um vil bichinho tolerar a outro de sua mesma natureza e condio? Por esta verdade, e com o zelo da caridade de teu Senhor e Esposo, deves regular ma pacincia, tolerncia e solicitude pela salvao das almas. No te digo para tolerar o que for contra a honra de Deus, pois isto no seria verdadeiro zelo pelo bem do prximo. Quero que aborreas o pecado, mas ames as criaturas do Senhor; que sofras e dissimules o que se referir a ti, e trabalhes para, o quanto for possvel, todas se salvarem. No percas logo a confiana quando no vires o resultado, mas apresenta ao eterno Pai os mritos de meu Filho Santssimo, a minha intercesso, a dos anjos e santos. Deus caridade, e estando nele, os bem-aventurados a exercitam a favor dos peregrinos na terra (1 Jo 4, 16).

Sexto Livro - Capitulo 7Sexto Livro Capitulo 7

CAPITULO 7 OCULTO SACRAMENTO QUE PRECEDEU A ENTRADA TRIUNFANTE DE JESUS EM JERUSALM E COMO FOI RECEBIDO POR SEUS HABITANTES. Os mistrios e sua revelao 1115. Entre as obras de Deus chamadas ad extra, porque as fez fora de Si mesmo, a maior foi assumir carne humana, padecer e morrer pela salvao dos homens. Este mistrio no poderia ter sido cogitado pela sabedoria humana (Mt 16, 17), se o seu Autor no o revelara por tantos argumentos e testemunhos. Apesar de tudo, a muitos sbios segundo a carne, foi difcil acreditar no seu prprio bem e remdio Outros acreditaram, mas sem as condies e as autnticas implicaes do fato. Quanto aos catlicos, crem, confessam e conhecem este mistrio no grau da luz que dele recebeu a santa Igreja. Na f explicita dos mistrios revelados, confessamos implicitamente os outros que em si encenam, e que no foram manifestados ao mundo. Deus no os revelou, ou por no serem necessrios, ou por no haver chegado o momento oportuno. Outros, Ele os reserva para o ltimo dia, quando os coraes forem desvendados na presena do justo juiz. A inteno do Senhor mandando-me escrever esta Histria -como outras vezes disse, e em muitas o entendi - manifestar alguns destes ocultos mistrios, despidos de opinies e conjecturas humanas. Assim, escrevo os que me so declarados, entendendo que ainda ficam ocultos outros muitos, venerveis e admirveis. Quero prevenir a piedade e a f catlica dos fiis: tudo o que escrevi sobre esta matria, principalmente a respeito da Paixo de nosso Redentor, so complementos colocados sobre a base e fundamento das verdades catlicas. Crendo nestas, os fiis no acharo dificuldade em admitir aqueles complementos. Jesus e Maria em orao 1116 No sbado em que Madalena ungiu o Salvador em Betnia, terminada a ceia, como disse no captulo passado, nosso divino Mesne retirou-se a ss. Sua Me santssima, depois de falar coin o obstinado Judas, foi presena de seu Filho amantssimo acompanhando-o, como costumava, em sua orao. Estava o Senhor para entrar no maior combate do itinerrio que, como diz David no salino 18, 7, percorrera do supremo cu tena, onde venceu o demnio, o pecado e a morte, para voltar novamente ao cu. Ia livremente ao encontro da Paixo e da Cruz, mas como Filho obedientssimo, ofereceu-se de novo ao eterno

Scxlo Livro Capitulo 1

Pai. Prostrado com a face em lerra adorou-o, louvou-o e fez profunda orao da altssima conformidade com que aceitava as ignomnias de sua Paixo, as penas, injrias e morte de cruz, pela glria de Deus e resgate da linhagem humana Estava sua Me santssima um pouco afastada, a um lado do feliz oratrio, acompanhando seu querido Filho e Senhor na orao que ambos faziam, do ntimo de suas almas santssimas e entre muitas lgrimas. O eterno Pai aceita o sacrifcio de Cristo e Maria 1117. Antes da meia-noite apareceu o eterno Pai em forma humana visvel, com o Espirito Santo e multido de anjos que assistiam ao ato O Pai aceitou o sacrifcio de Cristo, seu amantssiino Filho, e que n'Ele se executasse o rigor de sua justia, e o mundo fosse perdoado. Disse o Pai eterno Me beatssima: Maria, filha e esposa nossa, quero que mais uma vez entregues teu Filho para que me seja sacrificado, pois eu o entrego pela redeno humana. Respondeu a humilde e cndida pomba: Aqui est, Senhor, o p e a cinza, indigna de que vosso Unignito e Redentor do mundo seja meu Submissa, porm, vossa inefvel dignao que lhe deu fonna humana em meu seio, ofereo-o e, com Ele, a mim mesma para cumprir vosso divino beneplcito. Suplico-vos, Senhor e Pai eterno, me aceiteis para sofrer juntamente com vosso e meu Filho. Recebeu o eterno Pai a oblao de Maria santssima, aceitou-a como agradvel sacrifcio e levantando do solo a Filho e Me, disse: este o bendito fruto da terra, que minha vontade deseja. Logo elevou o Verbo humanado ao trono em que estava, e colocou-o suu direita com a sua mesma supremacia C poder O Salmo 109 1118 Pennaneceu Maria santssima em seu lugar, mas toda elevada e transformada em admirvel jbilo c resplendor. Vendo seu Unignito sentado destra de seu Pai pronunciou as primei ras palavras do Salmo 109, no qual David profetizou este oculto mistrio: "Disse o Senhor ao meu Senhor, senta-te minha direita." (VI) Comentando estas palavras, lc/ .i divina Rainha misterioso cntico em louva do eterno Pai e do Verbo humanado Cessando ela de falar, prosseguiu o eterno Pai o resto do salmo, como executando

em seu imutvel decreto, tudo o que contm aquel misteriosas e profundas palavras. Muito difcil traduzir, em meus limitados tennos. a inteligncia que tenho de to alto mistrio. Direi alguma coisa, como o Senhor me conceder, para que se entenda parte de to oculto sacramento do Todo-poderoso, e o que o Pai eterno quis dizer a Maria santssima e aos espiritai anglicos que ali assistiam Interpretao do Salmo 109 1119 Prosseguiu o Eterno P.n "At que eu ponha teus inimigos por es-cabelode teu ps." (SI 109.1) Como te humilhaste obedecendo minha eterna vontade (Filp 2,8-9), ma ceste a exaltao que te dou sobre as criaturas. Em a natureza humana que lece-beste, reinars eternamente a minha dn cita. Para sempre, colocarei teus inimigos sob teus ps e sob o domnio que possuis

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Scxlo Livro - Capitulo

Sexto Livro - Capitulo 7 como Deus e Redentor dos homens. Aqueles que no te obedeceram nem aceitaram, vero tua humanidade que so os teus ps, elevada e exaltada Enquanto no o executo, pois necessrio que se complete a redeno humana, quero que meus cortesos vejam agora, o que depois os demnios e os homens conhecero: a posse de minha destra, em troca de te haveres humilhado morte ignominiosa de cruz. Se te entrego a ela e ao capricho da malcia deles, para minha glria, e para que depois, cheios de confuso, sejam postos debaixo de teus ps. - Para isto, "'o Senhor estender o cetro de teu poder desde Sio: dominars no meio de teus inimigos" (SI 109, 2). Eu, Deus onipotente, sou o que sou, verdadeira e realmente (Ex 3, 14). Estenderei e governarei o cetro de teu invencvel poder, no s depois que tenhas triunfado da morte consumada pela redeno humana, quando te reconhecerem por seu Redentor, guia, Cabea e Senhor de tudo. Quero que desde hoje, antes de padecer a morte, obtenhas admiravel-mente este triunfo, enquanto os homens te desprezam e tramam tua runa. Quero que triunfes de sua maldade e da morte; que na fora de teu poder sejam compelidos a honrar-te, te confessem e te adorem, dando-te culto e venerao. Os demnios sejam vencidos e confundidos pelo cetro de teu poder, e os Profetas e justos que te esperam no Limbo, reconheam com meus anjos, esta maravilhosa exaltao que merecesteem minha aceitao e beneplcito. - "Contigo est o princpio, no dia de teu poder; nos resplendores dos Santos eu te gerei antes do luzeiro de minha fecundidade" (SI 109,3). No dia desta virtude e poder que tens para vencer teus inimigos, estou em Ti e contigo, como pri ncpio de quem procedes, por etema gerao, de meu fecundo entendimento. Esta gerao precedeu o luzeiro da graa, o decreto de nos manifestannos s criaturas, fonnado nos resplendores que gozaro os Santos, quando forem beatifi-cados com nossa glria. Tambm est contigo teu princpio, aquele que tiveste enquanto homem gerado no dia de teu poder. Desde o instante em que recebeste o ser humano pela gerao temporal ein tua Me, comeaste a adquirir o mrito que agora est contigo e te faz digno da honra e glria que ho de coroar tua virtude, neste dia e no de minha eternidade. - "O Senhorjurou e no se anepen-der: tu s sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque" (SI 109, 4) Eu que sou o Senhor Todo-poderoso para cumprir o que prometo, determinei fnne-mente, com imutvel juramento, que tu fosses o sumo sacerdote da nova Igreja e lei do Evangelho, segundo a antiga ordem do sacerdote Melquisedeque. Sers o verdadeiro sacerdote que oferecer po e vinho, figurado na oblao de Melquisedeque (Gn 14,18) Nomeanepen-derei deste decreto, porque essa oblao ser pura, aceitvel, sacrificio de louvor para mim - "O Senhor est tua direita e esmagar os reis no dia de sua ira" (SI 109, 5). Pelas obras de tua humanidade, cuja destra a divindade a ela unida, e em cuja virtude as realizars: com o instrumento de tua humanidade, Eu que sou um Contigo (Jo 10, 30), esmagarei a tirania e poder dos chefes e prncipes das trevas e do mundo, tanto anjos apstatas como homens rebeldes que se recusaram adorar-te, reconhecerte e servir-te, como a seu Deus, Superior e Cabea. Executei esta punio, quando Lcifer e seus sequazes no te reconheceram. Para eles, esse foi o dia de minha

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ira. Depois chegar aquele em que farei o mesmo aos homens que no te houverem recebido e aceito tua santa lei. A todos humilharei e esmagarei com minha justa indignao. - "Julgar as naes, restaurar as runas, e na terra esmagar a cabea de muitos." (SI 109,6). Justificada tua causa contra todos os filhos de Ado que no se aproveitaram da misericrdia que usas com eles, redimindo-os gratuitamente do pecado e da eterna morte; Eu, o Senhor, julgarei com equidade e justia a todas as naes. Separando os justos e escolhidos, dos pecadores e rprobos, encherei as vagas das runas deixadas pelos anjos apstatas que no conservaram sua graa e lugar Com isto, esmagarei na terra a cabea dos soberbos, que sero muitos, por sua depravada e obstinada vontade. - "Beber da torrente no caminho; por isso levantar a cabea" (SI 109, 7) O Senhor, Deus das vinganas, a levantar para julgar a tena e retribuir aos soberbos. Bebendo a torrente de sua indignao, embeber suas lexas no sangue de seus inimigos (Dt 32,42), e com a espada de seu castigo os confundir no caminho por onde deveriam ter chegado sua felicidade. Deste modo, levantar tua cabea e a exaltar sobre teus inimigos, desobedientes tua lei, infiis tua verdade e doutrina Isto ser justificado pelo fato de teres bebido a torrente dos oprbrios e afrontas, at a morte de cruz pela sua redeno. Exaltao universal de Cristo 1120. Estas e outras muitas ocultas e altssimas inteligncias, teve Maria santssima das misteriosas palavras deste salmo pronunciado pelo eterno Pai AJI que algumas so ditas em terceira pess, dizia-as de Si e do Verbo humanado

Todos estes mistrios se refai principalmente a dois pontos: primei* ameaas contra os pecadores, int < maus cristos, que no aceitaram o F.i tor, ou no guardaram sua divina li Segundo, as promessas |c eterno Pai fez a seu Filho fiuman.ifc glorificar seu santo nome vingandus inimigos. Como penhor e garantia u exaltao universal de Cristo depi Ascenso, e ainda mais no juzo fiw-denou o Pai que recebesse ao enim Jerusalm, aquele aplauso e glria n habitantes, no dia seguinte ao dess teriosa viso. Terminada, desapareceu o li Esprito Santo, com os anjos que tt dos, presenciaram este oculto i mento.

Sexlo Livro - Captulo 7 Cristo, nosso Redentor, e sua Me beatssima permaneceram em divinos colquios o resto daquela felicssima noite. Entrada de Jesus em Jerusalm 1121. Chegado o dia correspondente ao domingo de Ramos, partiu Jesus para Jerusalm em companhia de seus discpulos e de muitos anjos que o louvavam, por v-lo to enamorado pelos homens e to solcito por sua eterna salvao. Tendo caminhado duas lguas, mais ou menos, chegando a Betfag, enviou dois discpulos casa prxima de um homem abastado, para dali lhe trazerem dois jumentinhos (M121,2), um dos quais ainda no havia sido montado por ningum. Os discpulos estenderam suas capas sobre os dois animais, e Nosso Senhor dirigiu-se para Jerusalm, servindo-se de ambos no seu triunfo, conforme as profecias de Isaias (62,11) e Zacarias (9, 9) Muitos sculos antes as deixaram escritas, para que os sacerdotes e sbios da lei no alegassem ignorncia. Os quatro Evangelistas escreveram este maravilhoso triunfo de Cristo: (Mt21,4 Mc 11,1; Lc 19,30; Jo 12,13). Nanaram o que foi presenciado por todos os circunstantes. Durante o caminho, eles e todo o povo, pequenos e grandes, aclamaram o Redentor como verdadeiro Rei. Uns diziam: Paz no cu. glria nas alturas, bendito O que vem como Rei em nome do Senhor. Outros exclamavam: Hosana ao Filho de David; salvai-nos, Filho de David, bendito seja o reino de nosso Pai David que est para vir. Uns e outros cortavam palmas e ramos de rvores, em sinal de triunfo e alegria, e com suas vestes forravam o caminho por onde passava o vencedor das batalhas, Cristo nosso Senhor. Cristo aclamado 1122. Todas estas nobres demons-naes de culto e adorao que os homens prestavam ao Verbo divino humanado, manifestavam o poder de sua divindade, principalmente pelo momento em que sucederam. Era a ocasio em que os sacerdotes e os fariseus o esperavam, para tirarlhe a vida nessa mesma cidade. Se no fossem movidos interiormente por sua virtude divina, superior a seus outros milagres, no seria possvel

que tantos homens, muitos deles tentios, outros inimigos declarados, ao mesmo tempo, o aclamassem por verdadeiro Rei, Salvador e Messias. Alm disto, inclinavam-se a um homem pobre, humilde e perseguido, apresentando-se sem o aparato de anuas e poder humano: nem riquezas, nem carros de triunfo, nem soberbos cavalos. Com exceo de seu semblante grave, sereno e cheio de majestade, correspondente sua oculta dignidade, tudo lhe faltava. Chegava num humildejumen-tinho, desprezvel para o fausto e vaidade mundana, e em tudo o mais, nada tinha do que o inundo aplaude e exalta. Deste modo, eram manifestos os efeitos da fora divina que movia a vontade e o corao dos homens a se renderem a seu Criador e Redentor. Rcpfiiu.Nso Uo triunfo no I iniboe noutras partes do mundo 1123, Alm do movimento geral produzido em Jerusalm, pela inspirao que o Senhor enviou aos coraes a fim de que todos reconhecessem nosso Salvador, o triunfo se estendeu a todas, ou a muitas criaturas racionais. Assim se cumpria o que o Pai eterno havia prometido a seu Unignito, como fica dito'1 \ Quando Cristo, nosso Salvador, entrou em Jerusalm, o anjo So Miguel foi enviado para anunciar este mistrio aos santos Pais e Profetas do Limbo, que, ao mesmo tempo, tiveram particular viso da entrada do Senhor e do mais que ento aconteceu. Daquela priso onde se encontravam, reconheceram e adoraram Cristo, nosso Mestre e Senhor, como verdadeiro Deus e Redentor do mundo. Fizeram-lhe novos cnticos de glria e louvor, pelo seu admirvel triunfo sobre a morte, o pecado e o inferno. 1 entregue complca ti... J Pfpriacobiae maldade, destitudo da graa que seria necessria para revni. , SUa clsa0, muit0 -. . . saltado sobrcs-dos e.lnquieto, dirigiu-se ao concilio )0l t lc , r.' ! "" es. Combinou com eles a entrega de estre Seu gam -^ - mediante o pau V,afe,, Sn e se

r^.entde,rinadinheiros(Mt 26,15). contentanH quem "se em dar esse preo, por ' como espiritual. Como tens menos possifcdade do praticar a

corporal, exercita- * sempre generosamente na espiritual, ceno o Senhor o quer. Com oraes, spicas, devoes, e tambm com prudente e santa exortaes, procura o bem espitual das almas. Lembra-te que meu Filho: Scnli< >i nunca fez um beneficio tempori, sem o acompanhar de um espiritual, pis suas divinas obras teriam sido menos jerfeitas, se lhes faltasse essa plenitude. Daqui entenders a preferncia que se de ve dar aos benefcios pari a al 111. i os quais devem ser pedidos senpre cm primeiro lugar Os homens teneros ordinariamente pedem, s cegas, os bins temporais, esquecendo os eternos e o; C|uc M referem verdadeira amizade e gaa do Altssimo. Humildade 1178 A humildade e aobeii ncia foram engrandecidas por meu Fill santssimo no ato do lavaps. Com a I uz interior que tens deste raro exemplo , ser muito duro teu corao e indcil c ar ncia do Senhor, se no te humilhares ma isque o p. Fica pois, convencida, des* le j. nunca digas, nem imagines que te fcnumi

Sexto Livro - Captulo 10Sexto Livro Captulo 10

lhaste suficientemente, ainda que sejas desprezada e posta aos ps de todas as criaturas, por pecadores que sejam, pois nenhum ser pior que Judas, nem tu podes ser como teu Mestre e Senhor. Se mere-ceres que te favorea e honre com esta virtude da humildade, ser dando-te um gnero de perfeio que te tomar digna do titulo de esposa sua e participante de certa igualdade com Ele. Sem esta humildade, nenhuma alma pode ser elevada a tal excelncia e participao. O alto deve antes se abaixar, e o humilhado o que se pode e deve exaltar (Mt 23,12). Sempre a alma elevada, na medida em que se humilha e aniquila. Obedincia 1179. Para no perderes esta jia da humildade, quando julgas que a praticas, advirto-te que seu exerccio no se deve antepor obedincia, nem se regular pelo prprio ditame, mas pelo do superior. Se preferires teu prprio juzo ao de quem te governa, ainda que seja sob pretexto de humildade, virs a ser soberba, pois no s no te pes no ltimo lugar, mas te elevas acima do juzo de quem teu supenor. Daqui ficars advertida do eno que podes cometer furtandote, como So Pedro, em aceitar os favores e benefcios do Senhor. Com tal atitude, te privars no s dos dons e tesouros que recusas, mas do maior deles, a prpria humildade, aquele que pretendes conservar. Frustrar-se- tambm a exaltao do nome do Senhor e o agradecimento que lhe deves pelos altos fins de suas obras. No te cabe sondar os seus ocultos e inescrutveis desgnios, nem corrigi-los por tuas razes e pelos motivos que, em teu julgamento, te fazem indigna de receber tais favores, ou de realizar tais obras. Tudo isto semente da soberba de Lcifer, disfarada em aparente humildade. Ele pretende te indispor participao do Senhor, dos seus dons e amizade, como tanto desejas. Seja-te pois, regra absoluta, que aprovando teus confessores e prelados os benefcios e favores do Senhor, os creias, aceites, estimes e agradeas com digna reverncia. No andes vacilando com novas dvidas e temores, mas procede com fervor e sers humilde, obediente e mansa.

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Scxlo Livro - Capitulo 11Sexto Livro Capitulo 11

CAPTULO 11 CRISTO CELEBRA A CEIA SACRAMENTAL, CONSAGRANDO NA EUCARISTIA SEU SAGRADO CORPO E SANGUE. MARIA SANTSSIMA COMUNGOU. OUTROS MISTRIOS DESSA OCASIO. ^eceios da Escritora 1180. cheia de temor que comeo a tratar do mistrio dos mistrios, a inefvel Eucaristia e sua instituio. Elevo o olhar da alma para receber a 'uz divina que me dirige e governa nesta 0ra, e participando na inteligncia de tan-^ maravilhas sagradas, na mesma luz veJ e temo a minha insignificncia. Minhas potncias se confundem e nao encontro nem posso dar adequada explicao para o que vejo, ainda que seja m uito menos de quanto entendo. Apesar de ignorante nos termos e ^ habilidade nas potncias, falarei para faltar obedincia, e para continuar a ^ria do que, nestas maravilhas, realizou a Brinde Senhora do mundo, Mariasantissima. Se no falar com a propriedade ^gida pela matria, sirvam-me de des-^'pa minhas condies e deslumbramento. No fcil traduzir em palavras o a vontade deseja entender apenas pelo ^tirnento, e gozar a ss o que no pode ne,n convm manifestar. ,rtl>arafivos da ceia sacramentai 1181. Cristo, nosso bem, celebrou a ceia legal, reclinado no cho com os apstolos, junto a uma mesa ou estrado, com seis ou sete dedos de altura acima do solo. Assim era o costume dos judeus. Terminado o lava-ps, mandou preparar outra mesa alta, como agora usamos para comer. Encerrava assim as ceias legais e figurativas, para inaugurar o banquete no qual fundava a nova lei da graa. Daqui se originou o costume que se conserva na Igreja catlica, de consagrar em mesa ou altar elevado. Estenderam sobre a mesa uma toalha muito rica. Sobre ela colocaram um prato ou bandeja e um copo grande em forma de clice, suficiente para conter o vinho necessrio, conforme a vontade de Cristo, nosso Salvador, que com seu divino poder e sabedoria tudo prevenia e dispunha. Foi divinamente inspirado que o dono da casa lhe ofereceu estes vasos to ricos, ornados de pedras preciosas. Mais tarde, quando chegou a ocasio oportuna, os apstolos os usaram para consagrar. Jesus sentou-se mesa, com os doze apstolos e alguns outros discpulos. Pediu que lhe trouxessem po delgado^sem fermento e o colocou no prato. Em seguida, vinho puro que ps no clice. I - Po achatado, de pouca espessura,, mais ou menos na -.1 i de bolacha (N.T)1

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Enoc, Elias e os Anjos no Cenculo 1182. Fez o Mestre da vida uma prtica afetuosissima a seus apstolos. Suas palavras divinas, que sempre penetravam at o fundo do corao, desta vez foram raios inflamados no fogo da caridade que os abrasavam em sua doce chama Manifestou-lhes novamente altssimos mistrios de sua divindade, humanidade e da Redeno. Recomendou-lhes a paz (Jo 14, 27) e unio de caridade, deixando-a vinculada quele sagrado mistrio que se preparava para realizar. Prometeu-lhes que, amando-se uns aos outros, seriam amados pelo eterno Pai, assim como Este o amava. Deu-lhes compreenso desta promessa e que os escolhera para fundar a nova Igreja e lei da graa. Renovou-lhes a luz interior sobre a suprema dignidade, excelncia e prerrogativa de sua purssima Virgem Me. De todos estes mistrios, So Joo foi o mais iluminado, pelo ofcio a que estava destinado. De seu retiro, em divina contemplao, a grande Senhora ia presenciando tudo o que seu Filho santssimo fazia no Cenculo. Com profunda inteligncia, penetrava e entendia mais que todos os Apstolos e anjos que ali assistiam, como disse acima/2' em figura corprea, adorando a seu verdadeiro Senhor, Rei e Criador. Estes anjos trouxeram Enoc e Elias ao Cenculo, do lugar onde estes se encontravam. Quis o Senhor que estes dois Pais da lei natural e escrita, estivessem presentes maravilhosa fundao da lei evanglica, e participassem de seus admirveis mistrios. 0 cu no Cenculo 1183. Estando todos reunidos, esperando, com admirao, o que faria o 1 - n 1163 Autor da vida, apareceu no Cenculo u pessoa do Eterno Pai e a do Espirito Santo, como apareceu no Jordo e no Tabor. Os apstolos e discpulos senln am alguns efeitos desta viso, mas s alguns a viram, entre estes So Joo que sempic teve penetrante e privilegiado olhai ,lr guia para os divinos mistrios. Todo o cu trasladou-se ao Cenculo de Jerusalm, pois assim uiagiuli-camente fundou-se a Igreja do Novo Testamento, e se estabeleceu a lei da graa para nossa eterna salvao. Para entender os atos do Ve 1111111 manado, lembro que

Ele possua duas naturezas, humana e divina, numa s pej soa, a do Verbo. Por isto, as aes dc ambas as naturezas pertencem mesma pessoa, Deus e homem. Dizendo que o Verbo humanado falava e orava a seu eterno Pai, no se entenda que falav a com a natureza divina, pela qual era igual ao Pai (Jo 10, 30), mas sim com a humana, pela qual era menor (Jo 14,28), porque consta como ,t nossa, de corpo e alma. Deste modo que no Cenculo louvou ao eterno Pai, exaltando-lhc a divindade e infinito ser. Em seguida, orou pelo gnero humano, dizendo: Orao de Cristo 1184. Meu Pai e Deus eterno, eu te confesso, louvo e exalto no ser infinito de tua incompreensvel divindade Nesta, sou um Contigo (Jo 10, 30) e o Espirito S anto, gerado desde toda a eternidade pelo teu entendimento (SI 109,3), figurado tua substncia (Heb 1, 3), de tua indivisa natureza. Quero consumar a obra da redeno humana que encomendaste natureza que assumi no seio virginal de minha Me. Quero faz-lo com a suma perfeio e plenitude de vosso divino agrado, passando deste mundo vossa destra. Levarei a Ti todos os que me deste (Jo 17, 12), sem que nenhum se perca, pelo quanto depender de vossa vontade e da suficincia de sua redeno. Minhas delicias so estar com os filhos dos homens (Prov 8, 31), e na minha ausncia ficaro ss e rfos, se os deixar sem minha assistncia e presena. Quero, meu Pai, deixar-lhes penhor certo e seguro de meu inextinguvel amor e da recompensa eterna que lhes tenho preparado. Quero deixar-lhes lembrana im-perecvel do que por eles tenho feito e sofrido. Quero que encontrem em meus merecimentos, remdio fcil e eficiente da participao que tiveram no pecado de desobedincia do primeiro homem, e lhes seja copiosamente restaurado o direito que perderam felicidade eterna, para a qual foram criados. Splica a favor dos homens 1185. Como poucos se conservaro na justia, necessrio que tenham recursos para a recuperar e aumentar Recebam outros altssimos dons e favores de tua inefvel clemncia, para se justificarem e santi ficarem por diversos meios e caminhos, durante sua perigosa peregrinao terrestre. Nossa vontade eterna em crilos do nada existncia, foi para lhes comunicar nossa divindade,

perfeies e eterna felicidade. Teu amor, que me impeliu a nascer passvel e a humilhar-me por eles at a morte de cruz (Filip 2,8), no se contenta nem se satisfaz, se no inventar novos modos de se comunicar aos homens, segundo sua capacidade e nossa sabedoria e poder. Isto dever ser com sinais visveis e concretos, apropriados natureza sensvel dos homens. Ao mesmo tempo, produzam efeitos invisveis, dos quais participem suas almas imateriais. Splica misericrdia do Pai 1186. Para estes altssimos fins de vossa exaltao e glria, peo, Senhor e Pai meu, em meu nome e no de todos os pobres e aflitos filhos de Ado, o vosso fiat. Se as culpas deles provocam vossa justia, sua misria e necessidade clamam por vossa infinita misericrdia. Junto a ela interponho as obras de minha humanidade, unida com lao indissolvel minha divindade; a obedincia com que aceitei ser passvel at morrer, a humildade com que me sujeitei aos homens e a seus depravados julgamentos; a pobreza e trabalhos de minha vida; as afrontas, paixo e morte; o amor com que tudo aceitei pela tua glria, para que sejas conhecido e adorado por todas as criaturas capazes de tua graa e tua glria. Fizeste-me, Senhor e Pai meu, irmo e cabea (Colos 1,18) dos homens e de todos os eleitos que conosco gozaro de vossa divindade para sempre. Como filhos, sejam Comigo herdeiros de teus bens eternos (Rom 8,17); como membros (1 Cor 6, 15), participem do influxo da cabea, que lhes quero comunicar, segundo o amor de irmo que lhes tenho. Quero, quanto est de minha parte, traz-los Comigo tua amizade e participao. Batismo, Confirmao e Penitncia 1187. Com este imenso amor, Senhor e Pai meu, providencio desde agora, que todos os mortais possam, com o sacramento do Batismo, ser plenamente regenerados em tua amizade e graa Possam receb-lo, assim que venham ao mundo, e renasam para o teu amor. No tendo ainda uso de razo, a vontade de outros adultos supriro a sua. Desde logo sejam herdeiros de tua gloria; fiquem marcados por filhos de minha Igreja, com um sinal interior

que jamais se apagar; fiquem limpos da mcula do pecado original; recebam o dom das virtudes da f, esperana e caridade, para agirem como filhos, conhecendo-te, esperando e te amando por Ti mesmo. Recebam tambm as virtudes para dominar e governar as paixes desordenadas pelo pecado, e conheam claramente o bem e o mal. Seja este Sacramento a porta de minha Igreja, e o que tome os fiis capazes de receber os demais Sacramentos e novos favores e benefcios de vossa graa. Disponho tambm que, em seguida ao Sacramento do Batismo, recebam outro (a Confirmao) para serem confirmados na santa f que professaram e devem testemunhar e defender com fortaleza, chegando ao uso da razo. Como a fragilidade humana facilmente esmorecer na observncia de minha lei, e minha caridade no suportar deix-la sem remdio fcil e oportuno, quero que sirva para isto o Sacramento da Penitncia. Reconhecendo, contritos, suas culpas, e confessando-as, os fiis recuperem o estado de graa; continuem a adquirir mritos para a glria que lhes prometi, e Lcifer e seus sequazes no fiquem triunfantes por os ter privado do estado e segurana que tinham recebido no Batismo. Eucaristia, Uno dos enfermos, Ordem e Matrimnio 1188. Justificados os homens por meio destes Sacramentos, estaro em condies de fruir a mxima participao que, em meu amor e Comigo, podem ter no desterro de sua vida mortal. Isto acontfl cer recebendo-me sacramentado, |H>I inefvel modo, sob as espcies de po c vinho; nas do po deixarei meu corpo o nas do vinho deixarei meu sangue I .mio no po, como no vinho estarei todo, real e verdadeiramente Assim disponho este misterioso Sacramento da Eucaristia, pm u me dar em forma de alimento adequado s condies humanas e ao estado dc viadores. Por eles fao estas maravilhas, e com eles ficarei, por este modo, at o fim dos sculos futuros (Mt 28,20). Para quando os homens chegai M ao fim da vida, instituo o sacramento da Uno dos Enfermos, para os purificai, defender e ser tambm penhor da resiuj reio de seus corpos marcados com este Sacramento Todos os sacramentos se ordenam a santificar os membros do corpo mstico de minha Igreja, e nela dever haver perfeita ordem, tendo cada qual o seu OOB veniente

ministrio. Visto isso, quero qut os ministros destes Sacramentos sejam estabelecidos por outro Sacramento quelhti. confira o supremo grau de sacerdotes, cm relao a todos os outros fiis. Este sacramento ser o da Ordem que os assinale, distinga e santifique com particular excelncia. Este sacerdcio, todos o nBOfl bero de Mim, mas atravs de um chefe) meu Vigrio, representante de minha Pessoa, supremo Sacerdote, a cuja vontade entrego as chaves do cu, e dever ser obedecido por todos na terra. Para maior perfeio de minha Igreja, instituirei o ltimo sacramento, o Matrimnio, para santificar o vnculo natural que se ordena propagao lui mana. Deste modo, todos os graus na Igreja fiquem enriquecidos e adornados por meus infinitos merecimentos. E esta, eterno Pai, minha ltima vontade, pela qual fao todos os mortais herdeiros de meus merecimentos que deixo vinculados e depositados em minha nova Igreja. Cooperao de Maria 1189. Esta orao foi feita por Cristo, nosso Redentor, na presena dos Apstolos, mas sem demonstrao exterior. A Me santssima, porm, que de seu retiro a presenciava e o acompanhava nela, prostrou-se em terra e ofereceu ao eterno Pai as peties de seu Filho. Nada podia acrescentar ao mrito das obras de seu Filho, mas como sua coadjutora, tomou parte nesta orao, como em outras ocasies. Colaborava em atrair a misericrdia do eterno Pai ao ver seu Unignito, no sozinho, mas sempre em companhia da Me. E o Pai aceitou as oraes e splicas de Filho e Me pela salvao dos homens. Nesta ocasio, por ordem de seu Filho santssimo, a Rainha fez outra coisa, Para entend-la, preciso advertir que Lcifer esteve presente ao lava-ps dos apstolos, como fica dito no capitulo passado. Pelo que viu Cristo, nosso bem. fazer, e por no lhe ter sido permitido sair do Cenculo, sua astcia deduziu que o Senhor preparava algum grande favor para os apstolos Ainda que o drago se sentisse muito enfraquecido contra o Redentor, seu implacvel furor e soberba quis sondar aqueles mistrios para intentar contra eles qualquer maldade. Viu a grande Senhora este esforo de Lcifer, e que seu Filho santssimo remetia a Ela essa causa. Inflamada no amor e zelo

da glria do Altssimo, com poder de Rainha, ordenou ao drago, e a todas suas quadrilhas, que imediatamente sassem do Cenculo e descessem s profundezas do inferno.

Sexto Livro - Capitulo 11Sexto Livro - Capitulo 11

Maria repele os demnios 1190. O brao do Onipotente deu novo poder a Maria santssima para esta faanha contra a rebeldia de Lcifer, de modo que nem ele, nem seus demnios puderam resistir. Foram precipitados nas cavernas infernais, at que lhes fosse dada permisso para sairem e presenciarem a paixo e morte de nosso Redentor. Ento, ficariam completamente vencidose certos de que Cristo era o Messias Redentor do mundo, Deus e homem verdadeiro. Daqui se entenda, que Lcifer e os demnios estiveram presente ceia legal e ao lava-ps dos apstolos, e depois a toda a paixo. No estiveram, porm, na instituio da sagrada Eucaristia, nem sua recepo. A grande Rainha elevou-se mais elevada contemplao dos mistrios que aguardava, e os santos anjos cantaram-lhe

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Sexto Livro - Capitulo 11 a glria de seu grande triunfo contra o Nosso grande Sacerdote Jesus (ris to, drago infernal. Ao mesmo tempo, Cristo, ergueu nas mos seu prprio coqxi a nosso bem, fez outro cntico glorificando e sangue consagrados, para ser adorado poi agradecendo ao eterno Pai, por lhe ter todos os que assistiam esta primeira missa. atendido os pedidos que fizera em benefcio A esta elevao, receberam grande dos homens. ilustrao, sua Me purssima, So Joo, Enoc e Elias Conheceram, por especial modo, como nas espcies de po estava Cristo inteiro, vivo e verdadeiro, pela inInstituio da Eucaristia separvel unio de sua alma santssima 1191. Havendo decorrido o que tenho com seu corpo e sangue; que estava predito, Cristo, nosso Senhor, tomou em suas sente a Divindade, e na pessoa do Verbo a venerveis mos o po que estava no prato. do Pai e a do Esprito Santo; que, por estas Interiormente, pediu ao Altssimo que, unies e inseparveis concomitn-cias naquele momento e depois na santa Igreja, encontravam-se na Eucaristia as trs estivesse real e verdadeiramente presente na Pessoas, com a perfeita humanidade de hstia, em virtude das palavras que ia pro- Cristo, senhor nosso. A divina Senhora conheceu tudo com nunciar. Em seguida, elevou os olhos ao mais profundeza, e os outros viden tes, no cu, com semblante de tanta majestade, que grau de que eram capazes. produziu aos anjos, aos apstolos e Conheceram tambm a eficcia das mesma Virgem Me, novo temor palavras da consagrao e seu di\ inO reverenciai. Pronunciou as palavras da con- poder. Pronunciadas, com a inteno dc sagrao sobre o po, transformando-o, por Cristo, por qualquer sacerdote presente OU transubstanciao, em seu verdadeiro corpo. futuro, converteriam a substncia do po Depois tomou o clice e consagrou o vinho em seu corpo e a do vinho em seu sanem pennanecendo os acidentes sem sujeito I em seu verdadeiro sangue. No momento em que Cristo terminou com novo modo de subsistir, sem deu de pronunciar as palavras, disse o eterno parecer. Tudo isto, com certeza to in1 Pai: Este meu Filho muito amado em falvel, que antes faltar o cu e a tet .i dl quem tenho minha complacncia e a terei que a eficcia desta forma de consagrar, at o fim do mundo; e Ele ficar com os devidamente pronunciada pelo ministro S homens, todo o tempo que durar seu sacerdote de Cristo. desterro. O mesmo foi confirmado pela pessoa do Esprito Santo. A humanidade santssima de Cristo, A presena de Cristo na eucaristia na pessoa do Verbo, fez profunda reverncia Divindade no Sacramento de seu corpo e 1193. Nossa divina Rainha conhesangue. ceu, por especial viso, como se enconEm seu retiro, a Virgem Me pros- trava o sagrado corpo de Cristo nosso Setrou-se em terra e adorou seu Filho sacra- nhor oculto sob os acidentes do po e do mentado, com incomparvel reverncia. O vinho, sem alterar esses acidentes, nem mesmo fizeram seus anjos custdios, e estes ao corpo, porque nem o corpo pode todos os anjos do cu. Depois deles, o ser sujeito deles, nem eles podem ser adoraram Enoc e Elias respectivamente, forma do corpo. Os acidentes permanecem com a por si e em nome dos antigos Patriarcas e mesma extenso e qualidades, antes e deProfetas das leis natural e escrita. pois da consagrao, ocupando o mesmo Primeiras adoraes da Eucaristia lugar que a hstia. O corpo sagrado est de modo indivisvel, inteiro, sem confuso 1 1192. Os apstolos e discpulo -, entre suas partes. Est todo em toda a exceto o traidor Judas, crendo o grande mistrio, cheios de f o adoraram com pTO hstia, e todo em qualquer parte dela, sem que a hstia o amplie ou o reduza, nem o funda humildade e venerao, cada qual corpo faa o mesmo hstia. A extenso, segundo a prpria disposio. 105

Sexto Livro - Capitulo 11Sexto Livro - Capitulo 11 porm, do corpo no tem relao com a que se alimenta, s pode aumentar com extenso das espcies acidentais, nem a outra substncia que se lhe acrescente, e os extenso destas com as do corpo santssimo. acidentes no podem continuar-se nesta Corpo e espcies tm diferentes modos de substncia. existncia, e o corpo penetra a quantidade dos acidentes sem alter-los. Naturalmente falando, pediria dife- Maria supre a ingratido humana rente lugar e espao, a cabea, as mos, o peito e o mais. Todavia, pelo poder divino, 1195. Todos estes, e outros milagres, o corpo consagrado se pe, com sua exten- a destra do Onipotente reuniu neste so, num mesmo lugar. No se sujeita ao augustssimo sacramento da Eucar i stia. A espao que naturalmente ocupa, inde- todos a Senhora do cu e da terra en tendeu pendente dessas leis naturais, pois sem elas e penetrou profundamente. pode ser corpo quantitativo. Tambm no So Joo, os outros apstolos e os fica num s lugar e numa s hstia, mas em Pais da antiga lei que ali se encontravam, muitas ao mesmo tempo, ainda que sejam tambm compreenderam, segunde a prinumerveis as hstias consagradas. pria capacidade. Vendo que este beneficio to grande era para todos, a Me pur-ssima conheceu Os milagres da transubstanciao tambm a ingratido cque os mortais mostrariam por mistrio to inefvel, 1194. Maria santssima entendeu ainda institudo para seu bem. Descde esse que, embora o sagrado corpo no tivesse momento, encarregou-se de compensar e dependncia natural dos acidentes, nomodo suprir, com todas suas foras, nossa dureza como expliquei, contudo no se conservaria e desagradecimento, dando Ela ao eterno neles sacramentado, seno enquanto os Pai e a seu Filho santssimo, as graas por acidentes de po e vinho durassem sem se maravilha to rara a favor do gnero corromper. Assim o ordenou a vontade humano. santssima de Cristo, autor dessas Esta ateno lhe durou toda a vida, e maravilhas. muitas vezes o fazia derramando lgrimas Esta determinao foi como que uma de sangue de seu ardentssimo corao, dependncia, voluntria e moral, da para reparar nosso repreensvel e grosseiro existncia milagrosa de seu corpo e sangue esquecimento existncia incorrupta dos acidentes. Quando eles se corrompem e destroem pelas causas naturais que os Cristo comungando a Si mesmo podem alterar - como acontece com o calor do estmago de quem recebe o Sa1196. Maior admirao me causa o cramento, ou por outras causas - ento que sucedeu ao mesmo Jesus, quando Deus cria de novo outra substncia, no depois de elevar o santssimo Sacramento ltimo instante em que as espcies estepara ser adorado pelos discpulos, partiu-o jam dispostas para receber essa transforcom suas sagradas mos e comungou-se a mao. Com esta nova substncia, falSi mesmo, antes de todos, como primeiro e tando j a existncia do corpo sagrado, sumo sacerdote. opera-se a nutrio do corpo que alimenta Reconhecendo-se, enquanto homem, e se introduz a formahumana que a inferior Divindade que recebia em seu alma. mesmo corpo e sangue consagrados, Este prodgio de criar nova substncia humilhou-se, retraiu-se e comoveu-se na que assuma os acidentes alterados e parte sensitiva, manifestando duas coisas; corrompidos, conseqente determinao rjrimeira, a reverncia com que se devia da vontade divina, de no permanecer o receber seu sagrado corpo; segunda, a dor corpo sagrado com a corrupo dos que sentia na previso da temeridade e acidentes. E conseqente tambm audcia com que muitos chegariam a renatureza, porque a substncia do homem ceber e tratar este altssimo e eminente 106106

Sexto Livro - Capitulo 11 Sacramento. prodgio, tanto para consolo da grande Os efeitos que a Comunho produziu Rainha, como para cumprir, anno corpo de Cristo, nosso bem, foram tecipadamente, a promessa que depois divinos e admirveis. Por alguns momentos, faria sua Igreja, de estar com os homens n'Ele redundaram os dotes da glria de sua at o fim dos tempos (Mt 28,20). alma santssima, como no Tabor. Esta No prazo que mediou entre sua morte maravilha, porm foi vista s por sua Me e a consagrao de seu corpo c purssima, e um pouco por So Joo, Enoc e 3-3* pane. n 112. Elias. Este favor, foi o ltimo, de repouso e gozo, que a humanidade santssima recebeu em sua parte inferior, at sua morte. A Virgem Me teve tambm especial viso de como Cristo recebeu-se sacramentado, e como esteve em seu divino peito, o mesmo que se recebia. Esta viso produziu grandiosos efeitos em nossa Rainha e Senhora Permanncia eucarstica na Virgem 1197. Ao comungar-se. Cristo fez um cntico de louvor ao eterno Pai, ofcrecendo-se sacramentado pela salvao humana. Separou uma partcula do po COfl sagrado e a entregou ao arcanjo Sflo Gabriel, para que a levasse a Maria santssima. Este favor deixou os santos anjos como que satisfeitos e consolados, de que a dignidade sacerdotal, to excelente, tocasse aos homens e no a eles. S por Io viu nas mos, em fonna humana, o corpo sacramentado de seu verdadeiro Deus c Senhor, causou grande e novo gozo a todos eles. A grande Senhora e Rainha esperava, entre muitas lgrimas, o favoi dj sagrada Comunho, quando chegou Sflo Gabriel acompanhado de inmeros anjos. Recebeua da mo do prncipe celeste, sendo a primeira a comungar, depois dc seu Filho santssimo, imitando-o na lm mildade, reverncia e santo temor. O santssimo Sacramento ficou de positado no peito de Maria santssima sobre o corao, legtimo sacrrio e tabcinculodo Altssimo. Ali permaneceu todo o tempo desde aquela noite at depois da ressurreio, quando So Pedro COO* sagrou na primeira missa, como direi adiante*3'. O Senhor todo-poderoso operou este 107

sangue, sua humanidade santssima no poderia estar na Igreja, por outro modo. Permaneceu este verdadeiro man depositado em Maria santssima, arca viva, juntamente com toda a lei evanglica, conforme estava figurado na arca de Moiss (Heb 9,4). Durante esse tempo, no se consumiram nem alteraram as espcies sacramentais no peito desta Senhora e Rainha do cu, que agradeceu ao eterno Pai e a seu Filho santssimo com novos cnticos, imitando as aes de graas que o Verbo divino fizera.

Sexto Livro - Capitulo 11Sexto Livro - Capitulo 11 Sacerdcio dos Apstolos. Comunho de Em seguida, por ordem de Cristo Enoc e Elias nosso Senhor, So Pedro deu a comunho aos dois antigos Pais, Enoc e Elias. Com o gozo e efeitos desta 1198. Depois que a divina Princesa comungou, nosso Salvador deu o po concomunho, foram confortados sagrado aos apstolos (Lc 22, 17), mannovamente, para esperar a viso dando-lhes que o repartissem e o dessem beatifica. at o fim do mundo, conuns aos outros. Com estas palavras, conforme determinou a vontade divina. feriu-lhes a dignidade sacerdotal que Os dois Patriarcas deram comearam a exercitar comungando pelas fervorosos louvores e humildes aes prprias mos. Fizeram-no com suma rede graas ao Todo-poderoso por este verncia, derramando copiosas lgrimas e favor, e foram restitudos a seu lugar, dando culto ao corpo e sangue de nosso por ministrio dos santos anjos. Redentor. O Senhor realizou este prodgio, para dar penhor e participao de sua Segundo a pre-eminncia Encarnao, Redeno e Ressurreio de antigidade, receberam os geral s leis antiga, natural e escrita, poderes sacer-dotais, e foram pois o sacramento da Eucaristia constitudos fundadores da encerra em si todos estes Igreja do evangelho (Ef 2, 20).

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Sexto Livro - Capitulo 11

mistrios. Administrada aos dois santos Enoc e Elias, que estavam vivos em carne mortal, estendeu esta participao aos estados da lei natural e escrita. Os demais que a receberam, pertenciam nova lei da graa cujos pais eram os apstolos. Assim o compreenderam Enoc e Elias, e em nome dos demais santos de suas leis, deram graas a seu e nosso Redentor, por este oculto beneficio. Judas e a comunho 1199. Durante a comunho dos apstolos, aconteceu outro oculto milagre. O prfido e traidor Judas, vendo que seu divino Mestre ia dar a comunho aos apstolos, no tendo f, determinou no a receber. Se pudesse, esconderia o sagrado corpo para mostr-lo aos pontfices e fariseus, vituperando o Mestre que dizia ser aquele po o seu corpo. Isto poderia lhes servir de acusao contra Jesus. Caso no pudesse fazer isso, tencionava algum outro ultraje ao divino Sacramento. A Senhora e Rainha do cu, por viso clarssima, via tudo o que se passava: a disposio interior e exterior dos apstolos ao receberem a sagrada Comunho, seus efeitos e afetos, e tambm os execrveis planos do obstinado Judas. Inflamou-se toda no zelo da glria de seu Senhor, como Filha, Esposa e Me. Conhecendo que era sua vontade que, naquela ocasio, usasse de seu poder de Me e Rainha, mandou a seus anjos que, sucessivamente, tirassem da boca de Judas o po e o vinho consagrados, e o tomassem a colocar no prato e no clice. Naquela ocasio, incumbia-lhe defender a honra de seu Filho santssimo, impedindo que Judas o profanasse com a ignomniaque maquinava. Os anjos obedeceram, e quando o pssimo Judas ia comungar, tiraram-lhe da boca, uma aps a outra, as espciessacramentais. Pun ficando-asdo contatodaqueleimundssimolugar. colo-caramnasocultamenteentreasdeiniis c assim oSenhorencobriuaindaahoni. seu inimigo e obstinado apstolo. F.stas es-pcies foram depois recebidas pelos outros que comungaram depois de Judas, pela ordem de antigidade, pois ele no foi nem o primeiro nem o ltimo que comungou, e o ato dos santos anjos foi instantneo. Deu nosso Salvador graas uo eterno Pai, e com isto tenninou os mistrios dasceias legal e sacramentai, pnn cipiando os de sua paixo que descie\ aj aj nos

captulos seguintes. A Rainha dos cus continuuvu atenta a todos, admirando-se, louvando I glorificando ao altssimo Senhor. DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA DO CU. O tesouro da Eucaristia 1200. Oh! minha filha, se os qut professam a santa f catlica abrissem os coraes, pesados e endurecidos, para receberem a verdadeira compicen so do sagrado mistrio e dom da Eu-caristia! Oh! se desvencilhados e abstrados dos afetos terrenos e controlando suas paixes, aplicassem a f viva para entender, na divina luz, a felicidade de ter consigo o Deuseterno sacramentado, podendo-o receber e participai dos frutos deste divino man celeste' Se dignamente, conhecessem esta grande ddiva! Se estimassem este tesouro' Se saboreassem sua doura! Se com el.i participassem da virtude oculta de seu Deus onipotente! Depois disso, nada lhes restaria para desejar, nem temei em seu desterro!

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Nos felizes tempos da lei da graa, no se devem lamentar os mortais de que as paixes e fragilidades os afligem, pois neste po celeste tm mo a sade e a fortaleza. Nem se queixem das tentaes e perseguies do demnio, pois com o bom uso deste inefvel Sacramento o vencero gloriosamente, se para isto dignamente o freqentam. No atender a este mistrio e no se valer de sua virtude infinita para todas as necessidades e trabalhos, culpa dos fiis, pois para seu remdio o ordenou meu Filho santssimo. Em verdade te digo, carssima, que Lcifer e seus demnios temem de tal modo a Eucaristia, que aproximar-se de sua presena lhes causa maiores tormentos do que estar no inferno. Muito embora entrem nos templos para tentar as almas, tem que se violentar c sofrer cruis penas a troco de derrubar uma alma, e incit-la a cometer um pecado, ainda mais nos lugares sagrados e na presena da Eucaristia O dio que nutrem contra Deus e as almas, os compele a se exporem ao tormento de se aproximar de Cristo, meu Filho, sacramentado. Poder da Eucaristia 1201. Quando levado em procisso pelas ruas, ordinariamente fogem a toda pressa. No se atreveriam a se aproximar dos acompanhantes, se no fora a esperana adquirida por longa experincia, de que vencero alguns, fazendo-os perder a reverncia pelo Senhor. Por isto, trabalham muito em tentar nos templos. Sabem quanta injria se faz ao Senhor ali sacramentado, a espera de que os homens lhe conespondam o amor que to gene-rosamente lhes demonstra. Daqui entenders, o poder que adquire sobre os demnios, quem dignamente recebe este sagrado po dos anjos. Se os homens o freqentassem com devoo e pureza, procurando conservar-se nestas disposies, de uma a outra comunho, seriam temidos pelos demnios Muito poucos, porm, tem este zelo, enquanto o inimigo fica alerta, espreitando e trabalhando para que se esqueam, se esfriem e distraiam, e no se valham contra eles de arma to poderosa. Grava esta doutrina em teu corao. Sem mereceres, ordenou o Altssimo, por meio da

obedincia, que cada dia participes deste sagrado Sacramento, recebendo-o. Esfora-te por permanecer no estado em que te pes para uma comunho, at a outra. vontade do Senhor e minha, que traves com esta espada as guerras do Altssimo, em nome da santa Igreja. Combate seus inimigos invisveis que, atualmente, afligem e entristecem tanto Senhora das naes (Trens 1,1), sem haver quem a console, nem atentamente o considere. Chora por esta causa e parta-se o teu corao de dor. O onipotente e justo Juiz acha-se indignado contra os catlicos que irritam sua justia, com pecados to freqentes e desmedidos, apesar da santa f que professam. No h quem considere, pese e tema to grande dano, nem recorra ao remdio que poderiam solicitar, com o bom uso do divino sacramento da Eucaristia, chegando-se a ele de corao contrito, humilhado e protegido por minha inter-cesso. Recompensa do amor Eucaristia 1202. Nos filhos da Igreja esta culpa gravssima, mas ainda inais repreensvel nos maus e indignos sacerdotes. A irreverncia com que eles tratam o santssimo Sacramento do altar, d ocasio a diminuir nos demais catlicos a estima que lhe devem. Se o povo visse os

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uma > w . .. cicerdotes e os lieis que a c sacerdotes se aproximarem dos tieoiien v tir os >" ? 9 Abre tievas tu os olhos nas divinos mistrios com temor e densas c tremor reverenciai, seriam levados tam; a tratar e receber com igual devoo ( ejra dos homens, e levanta-os a seu Deus sacramentado. a Os que assim fazem, j * luz. para conhecer para estes I U K resplandecem no cu como o sol mistrios divina . . entre as estrelas. Os que trataram e Julga ruas obras insignificantes. receberam meu Filho santssimo teus trabalhos com toda reverncia, gozaro mritos limitados, n0S e teu a rade teus , levssi' ' S cimento especial luz e resplendor de glria, muito m-flcjnte, para to raro participao da mesma glria de beneficio, como ,r a santa Igreja, sua Humanidade santssima. 0 Cristo, meu Filho santss'1110 mesmo no tero os que no sacramentado, desejoso de que freqentaram com devoo a odos 0 recebam para enriquecsagrada Eucaristia. Alm disto, los Sc - ..is digna retribuio para lhe sero vistos nos corpos gloriosos ofere3 r nao te" .outros que daqueles, uns brilhantes e mui r este bem e os f cs recebes, cer po ... I irrenos humilha-te e apega-te formosos sinais ou divisas no peito, com o em testemunho de haverem sido PM dignos tabernculos do santssimo c c0rn toda sinceridade do Sacramento. Isto lhes servir de grande corao. r -ca-te indigna sdele gozo acidental, de jbilo e louvor ^ Fnaltece ao confe> disposta . .a. sofrei , . compreendero, com especial rios para obter tao grande bem inteligncia, o modo como meu Filho santssimo est na Eucaristia, e todos os milagres nela encerrados. Ser to grande este gozo, que s ele bastaria para alegr-los eternamente, se no houvesse outro no cu. Quanto glria essencial dos que, com a devida pureza e devoo, receberam a Eucaristia, igualar, e em muitos exceder, a alguns mrtires que no a receberam. Humildade Eucaristia na recepo da

1203. Quero tambm, minha (ilha que, de minha boca, ouas a apreciao que de Mim fazia quando, na vida mortal, ia receber meu Filho e Senhor sacramentado. Para melhor o entenderes, renova em tua memria tudo o que compreendeste sobre os dons, graas, obras e merecimentos de minha vida, confonne tenho te mostrado para o escreveres. Fui preservada em minha concepo, daculpa original, e naquele instante tive conhecimento e viso da divinconfonne disseste muitas vezes Kc ^.j, ,naior cincia do que todos os santos, ^por ultrapassei os supremos sei afins. .jj cometi culpa atual; sempre MM citei heroicamente todas as virtudes | .i mem* c'e'aS suPe"or a suprema dos jjjjores santos, no cume de sua santidade 0 alvo de todas minhas obras loi altissimo, os hbitos e dons sem medula ou falha lindei meu Filho santssimo com suma perfeio; trabalhei fielmente, soli i e coo ere cora|L P ' nas obras do Redenfc>r na mea^a me ,ocava; .1'"" cesse" & 31X131 e ^e ,nerecer aumentos de j e glria, em grau eminentssimo Julguei, no entanto, que todos Stes mritos ter-me-iam sido pagos i U y ^nte s com o receber uma nica vc/ sarado nani"corpo _ na Eucaristia, e anuiu r seu W" , .. 7 talto lavoi n^o [I)e julgava digna de tao era ra Consid " ag - minha filha, o que lu c demais filhos de Ado devei s pensar, nj0 se aproximam para receber este adinirve' Sacramento Se, para o in.uoi dos s3n,os ser'a Pr*m' superabundaiite -n comunho, que devem fazer e senl5aniente

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Sexto Li\ro - Capitulo 12

CAPTULO 12 A ORAO DO SALVADOR NO HORTO E SEUS MISTRIOS. PARTICIPAO DE SUA ME SANTSSIMA. Jesus despede-se de sua Me 1204. Com as maravilhas e mistrios que nosso Salvador Jesus operou no Cenculo, deixava preparado o reino que o eterno Pai, por sua vontade imutvel, lhe havia dado. Chegada a noite da quintafeira da ceia, entrou na penosa batalha de sua paixo e morte, pela qual consumaria a redeno humana. Saiu do aposento onde celebrara tantos mistrios, ao mesmo tempo que sua Me santssima saa do seu. Encontraram-se o Prncipe das eternidades e a Rainha, e a penetrante espada da dor os feriu, traspassando-os de um modo que ultrapassa qualquer pensamento humano ou anglico. A dolorosa Me prostrou-se em terra adorando-o, como a seu verdadeiro Deus e Redentor. Olhando-a com semblante, ao mesmo tempo majestoso, filial e temo, disse-lhe apenas estas palavras: Minha Me, estarei convosco na tribulao: cumpramos a vontade de meu eterno Pai e a salvao dos homens. A grande Rainha ofereceuse, de todo o corao, ao sacrifcio e pediu-lhe a bno. Tendo-a recebido, voltou ao seu retiro, onde concedeu-lhe o Senhor a viso de quanto fazia e acontecia com seu Filho santssimo, para participar e cooperar em tudo, na forma que a Ela competia. O dono da casa que estava presente despedida, por divina inspirao, ofereceu Senhora do cu sua casa, com tudo o que tinha, para dela se servir enquanto estivesse em Jerusalm. A Rainha aceitou, agradecendo humildemente. Ficaram em sua companhia os mil anjos da guarda que sempre a acompanharam em forma visvel para Ela, e tambm algumas das piedosas mulheres que havia trazido consigo. Judas e Lcifer 1205. Nosso Redentor e Mestre saiu do Cenculo com os homens que haviam celebrado, com Ele, as ceias e seus mistrios. Muitos se despediram e, por diferentes ruas, dirigiram-se s suas ocupaes 112 Jesus, com os doze apstolos, encaminharam-se para o monte Olivete, prximo e fora de Jerusalm, ao lado oriental. O prfido Judas que espreitava oportunidade para entregar o divino Mestre, sups que l passaria a noite em orao, conforme seu costume. Aquela ocasio pareceu-lhe muito prpria para entreg-lo nas mos de seus confederados, os escribas e fariseus. Com esta depravada inteno, foi se retardando e afastando de seu divino Mestre e dos outros apstolos, sem que estes o percebessem. No momento em que os perdeu de vista, partiu a toda pressa para a prpria perdio. Ia com grande sobressalto, agitao e nsia, testemunhos da maldade que ia cometer. Com esta inquietao de uma conscincia insegura, chegou correndo e excitado casa dos pontfices. Durante o caminho, vendo Lcifer a pressa com que Judas procurava a morte de Cristo nosso bem, e suspeitando o drago que Jesus seria o verdadeiro Messias, (como fica dito no captulo 10), saiu-lhe ao encontro na figura de um homem muito mau, amigo de Judas, a quem havia confidenciado sua traio. Nesta figura, sem ser conhecido por Judas, Lcifer lhe falou sobre aquela deciso de vender o Mestre: ainda que, a princpio, lhe parecera acertado pelas maldades que d'Ele lhe havia dito, pensando melhor no caso, achava mais conveniente no o entregar aos pontfices e fariseus. Afinal, no era to mau quanto Judas pensava, nem merecia a morte. Alm disso, poderia escapar por meio de milagres, e depois Judas teria que se haver com as conseqncias. Judas e os fariseus 1206. Com este enredo, Lcifer quis desfazer, com novos temores, as sugestes que antes insuflara no prfido corao do discpulo traidor, contra o Senhor da vida. Falhou, porm, esta sua nova malcia. Judas, que voluntariamente perdera a f, e no tinha as mesmas suspeitas do

demnio, quis aventurar antes a morte de seu Mestre, do que enfrentar a indignao dos fariseus, deixando-o com vida. Neste medo, e com sua abominvel cobia, no fez caso do conselho de Lcifer, ainda que acreditou ser o homem que aparentava Como estava sem a graa divina, no quis. nem pde deixar-se persuadir pelo demnio, a retroceder em sua maldade Quando Judas chegou, esta\ um os pontfices a discutir, como iria o inflai discpulo cumprir a promessa de lhes entregar Jesus (Mc 14,44). Entrou o traidoi e os informou que deixara o Mestre com os outros discpulos no monte Ohvete Parecia-lhe a melhor ocasio paia prende-lo naquela noite: que fossem com cautela, no acontecesse escapar-se pelas artimanhas que sabia fazer Alegraram-se muito os sacrilegos pontfices, e puseramse a reunir pessoal annado para executar imediatamente a priso do inocentssimo Cordeiro. O auge do bem e do mal 1207. Neste nterim, estava o Se nhor com os onze apstolos a tratai da eterna salvao de ns todos, inclusive dos que tramavam sua morte Inaudita porfia entre o cmulo da malicia humani e a imensidade da caridade divina Desde o primeiro homem, COOM ou no mundo este combate entre o bem e o mal Mas, na morte de nosso Redcnloi chegaram ambos ao mximo que pudei am atingir. Ao mesmo tempo, um frente ao outro, agiram no sumo grau possvel: a malcia humana tirando a vida e a honra dc seu prprio Criador e Redentor; e o Salvador dando-a por eles, com infinita caridade. Nesta ocasio, a nosso modo de entender, tornou-se necessrio que a alma de Cristo, nosso bem, e sua divindade, concentrasse a ateno em sua Me pui ia* sima. Entre todas as criaturas, era a nica em quem encontrava a complacncia, na qual seu amor repousava e sua justia se dfi. >Iesta singular pura criatura, Ele viria e dignissimamente aproveitada a to e morte que iria sofrer pelos hais. Naquela santidade, sem medida, a jtM divina encontrava certa compensada malcia humana. Na humildade e idade fidelssima desta grande Se-nk, ficavam depositados os tesouros de saierecimentos. Depois, como de cin-zJifl amadas, renasceria a Igreja, nova 12; em virtude dos mesmos mere-cntos e morte de Cristo, nosso Senhor. Esta complacncia que a humanidade nosso Redentor recebia da santidade sua digna Me, dava-lhe como ato e

coragem para vencer a malcia dtiortais. Considerava bem empregada a rincia em sofrer tais penas, por ver en os homens sua Me santssima. Mria e os inimigos de Jesus 1208. A grande Senhora, do retiro e que se encontrava, ia presenciando tub o que acontecia. Viu os pensamentos doobstinado Judas, o modo como se M U ou do grupo dos apstolos e como Liifer lhe falou na figura daquele hnem seu conhecido. Viu tudo o que se pisou, quando se encontrou com os prn-ci:s dos sacerdotes, e como se prepararam, com tanta pressa, para prender ao Snhor. Nossa capacidade no pode ex-pfcar a dor que esta cincia produziu ao curtssimo corao da Virgem Me e os atos de virtude que Ela exerceu diante dc tais malddes. Basta dizer, que em tido agiu com plenitude de sabedoria, santidade e agrado da santssima Trindade. Compadeceu-se de Judas e chorou a perdio do perverso discpulo. Compensou sua maldade, adorando, confessando, amando e louvando o Senhor que ele vendia, com to injuriosa e desleal traio. Estava pronta a morrer por ele, se fosse necessrio. Pediu pelos que estavam urdindo a priso e morte de seu divino Cordeiro, como prendas que se havia de comprar e estimar com o preo infinito de to precioso sangue. Assim os considerava e valorizava a prudentssima Senhora. Jesus chega a Getsmani 1209. Prosseguiu nosso Salvador seu caminho, passando a tonente do Ce-dron (Jo 18, 1) para o monte Olivete e entrou no horto de Getsmani, dizendo aos apstolos: Esperai aqui, enquanto Eu me afasto um pouco para rezar (Mt 26, 36); orai tambm vs, para no entrardes em tentao (Lc 22,40). Deu-lhes este aviso o divino Mestre, para se manterem firmes na f contra as tentaes. Na ceia j os prevenira de que todos se escandalizariam naquela noite, (Mt 26, 31) com o que o veriam padecer; que Satans os investiria para sacudi-los (Lc 22,31) e desnorte-los com falsas sugestes. Como estava profetizado (Zac 13, 7), o Pastor seria ferido e as ove-lhas se dispersariam. Chamando So Pedro, So Joo e So Tiago (Mc 14,33), retirou-secomeles mais para longe, donde no podia ser visto nem ouvido pelos outros. Elevou os olhos ao eterno Pai, adorou-o e louvou-o como

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costumava. Interiormente fez uma prece, cumprindo a profecia de Zacarias (Zac 13,7): Deu permisso morte para se aproximar do inocentssimo sem pecado, mandando espada da justia divina casse sobre o Pastor e sobre o Homem unido ao mesmo Deus; executando nele todo seu rigor e fe-rindo-o at tirar-lhe a vida. Para tanto ofereceu-se Cristo, nosso bem, ao Pai em satisfao de sua justia e resgate de todo o gnero humano Deu consentimento aos tormentos da paixo e morte, para atingirem a parte em que sua humanidade santssima era passvel. Desde esse momento, suspendeu o consolo e alvio que da parte impassvel lhe poderia advir, para que seus sofrimentos chegassem ao mximo da dor. O Eterno Pai tudo aprovou e concedeu, segundo a vontade da humanidade santssima do Verbo. A tristeza de Cristo 1210. Esta orao foi o consentimento que abriu a porta para o mar da paixo e da amargura entrar violentamente at a alma de Cristo, como dissera David (SI 68,2). Comeou ento a afligir-se e a sentir grandes angustias, dizendo aos trs apstolos: Minha alma est triste at a morte (Mc 14, 34). Como estas palavras e tristeza de nosso Salvador encerram muitos mistrios para nossa instruo, direi alguma coisa do que me foi mostrado e como o entendi. Permitiu o Senhor que esta tristeza chegasse ao mximo Dilatou miracu-losamente sua capacidade natural, e exauriu todas as possibilidades da condio passvel de sua humanidade santssima. Entristeceu-se, no apenas na parte inferior da natureza humana, pelo natural instinto de viver, mas tambm na parte superior, vendo nos inescrutveis decretos e juzos da divina justia, a reprovao de tantos pelos quais havia de morrer. Esta foi a causa de sua maior tristeza, como veremos adiante*2*.

No disse que 2-n' 1395 estava triste por causa da morte, mas sim at a morte, porque a tristeza pela morte que o esperava to prxima, foi menor do que a oulta Alm da morte ser necessria paia .i Re deno, sua vontade santssima estava pronta para vencer o natural apetite de viver. Queria tambm nos ensinar que. tendo, como viador. gozado da glria do corpo em sua Transfigurao, julgava-se como obrigado a sofrer, para pagar devidamente aquele gozo. Ficamos instrudos desta doutrina, na pessoa dos trs apstolos, testemunhas da glria na Transfigurao e da tristeza no Getsmani. Por este motivo foram escolhidos para presenciar ambos os mistrios, e assim o entenderam nesta ocasio, por especial luz que lhes foi dada Mistrios da tristeza de Cristo 1211 Pennitirque esta misteriosa tristeza, to profundamente o invadisse, foi como necessrio para satisfazer o imenso amor de nosso Salvador Jesus poi ns. Se no padecera a mxima intensidade desta tristeza, no ficaria saciada sua caridade, nem se conheceria, to claramente, que ela era inextinguvel pelai muitas guas das nibulaes (Cnt 8, 7). No prprio sofrimento, praticou esta caridade com os trs apstolos presentes, perturbados por saber que j chegava a hora em que o divino Mestre havia de padecer e morrer, como Ele mesmo havia declarado, por muitos mo dos e avisos. Esta perturbao e covardia os OI vergonhava e no se atreviam a revel-la Por isto, o ainantssimo Senhor os ani mou, manifestando-lhes a prpria tristeza pelo que ia sofrer at a morte. Vendo-o aflito e deprimido, no se envergonhai iam das prprias penas e temores. Esta tristeza do Senhor teve ainda outro mistrio que dizia respeito aos lu , apstolos, Pedro, Joo e Tiago. Deniic to

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Sexto Livro - Captulo 12

dos os apstolos, os trs possuam mais elevado conceito da divindade e excelncia de seu Mestre, quer pela grandeza de sua doutrina, quer pela santidade de suas obras e poder de seus milagres. Admirava-os o domnio que o Mestre possua sobre as criaturas. Para confirm-los na f de que era homem verdadeiro e passvel, foi conveniente que, pessoalmente. O vissem triste e aflito. Com o testemunho destes trs privilegiados apstolos, a santa Igreja ficaria instruda e preparada contra os erros que o demnio pretenderia nela semear, negando a verdade sobre a humanidade de Cristo, nosso Salvador. Alm disso, ns os demais fiis, teramos essa consolao, quando aflitos pelo sofrimento e atingidos pela tristeza.Vigiai e orai 1212. Ilustrados, interiormente, os trs apstolos com esta doutrina, acrescentou o Autor da vida: Esperai aqui, velai e orai comigo (Mt 26,28). Com isto ensinou-lhes a prtica do que antes lhes advertira: que permanecessem com Ele constantes em sua doutrina e f, e no se desviassem para o lado do inimigo; que para conhecer a este e resistir-lhe, ficassem atentos e vigilantes, esperando que depois das ignomnias da Paixo, veriam a exaltao de seu Nome. Distanciou-se o Senhor, um pouco, dos trs apstolos e prostrado com a face em terra, orou ao Pai eterno: Meu Pai, se for possvel, passe de mim este clice (Mt26, 39). Cristo, nosso bem, fez esta orao depois de haver descido do cu para sofrer e morrer pelos homens; depois de haver desprezado a ignomnia de sua paixo (lleb 12,2), abraando-a voluntariamente sem aceitar o gozo para sua humanidade; depois de ter ido ao encontro, com ardentssimo amor, das afrontas, das dores, dos tormentos e da morte; depois de haver mostrado tanto apreo aos homens, que os quis redimir com o preo de seu sangue. Quando, poi s, com sua divina e humana sabedoria, e com inextinguvel caridade,

ultrapassava tanto ao temor natural da morte, no parece ter sido s este o motivo de sua splica. Assim o entendi, na luz que me foi dada sobre os ocultos mistrios desta orao de nosso Salvador. A redeno e os rprobos 1213. Para manifestar o que entendo, advirto que nesta ocasio, tratava-se entre nosso Redentor Jesus e seu eterno Pai, o mais rduo negcio de que se encarregara: a redeno humana e o fruto de sua paixo e morte de cruz, para a oculta predestinao dos santos. Nesta orao, Cristo nosso bem apresentou ao eterno Pai seus tonnentos, seu sangue preciosssimo e sua morte. De sua parte, oferecia-a por todos os mortais, como preo superabundantssimo para todos, e para cada um dos nascidos que existiram e haveriam de existir at o fim do mundo. Da parte do gnero humano, apresentou todos os pecados, infidelidades, ingratides e desprezos com que os maus inutilizariam sua afrontosa morte, por eles aceita e sofrida, e os que realmente seriam condenados pena eterna, por no se terem aproveitado de sua clemncia. Morrer pelos amigos e predestinados, era agradvel e como desejvel a nosso Salvador. Morrer e sofrer, porm, pelos rprobos, era muito amargo e penoso, pois no havia sentido sofrer por eles a morte que no aproveitariam. A esta dor, Jesus chamou clice, palavra que os homens empregavam para significar uma

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Sexto Li\ro - Capitulo 12 Nosso Salvador repetiu esta orao trs vezes, com intervalos (M126,44) orando longamente em agonia, como d So Lucas (22, 43), segundo exigia a importncia da causa que tratava. A nosso modo de entender, levantou-se como que um conflito entre a humanidade santssim