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MITOS E PRECONCEITOS A RESPEITO DA CRIANÇA QUE NÃO APRENDE A patologização e biologização do que é pedagógico

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MITOS E PRECONCEITOS A RESPEITO DA

CRIANÇA QUE NÃO APRENDE

A patologização e biologização do que é pedagógico

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A patologização e biologização do que é pedagógico.

Tema: Mitos e preconceitos a respeito da criança que não aprende

Texto: MOYSÉS, Maria Aparecida. A e COLLARES, Cecília A . L. Sobre alguns preconceitos no cotidiano escolar. In: Idéias 19, FDE – Fundação para o desenvolvimento da Educação. São Paulo, 1993. p. 9-25

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Bibliografia

Maria Aparecida Moysés Professora do Departamento de Pediatria da

UNICAMP Co-Autora de "Preconceitos no Cotidiano

Escolar -Ensino e Medicalização“ Condena a prescrição sem critérios Discute a relação entre medicina e

educação Analisa os mitos sobre o fracasso escolar Questiona como algumas crianças só não

aprendem na escola

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“Esse processo de medicalização acaba sendo

um alívio para pais e professores. É mais fácil lidar com um problema "médico" do que mudar o método de

educação da criança”

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Medicalização

Transformar questões não-médicas de origem social e política, em questões médicas

Encontrar causas e soluções para esses problemas

Privilegia a abordagem biológica, organicista Omite que o processo saúde-doença é

determinado pela inserção social do indivíduo, sendo, ao mesmo

tempo, a expressão do individual e do coletivo.

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Biologização

Biologização de conflitos sociais – reducionismo biológico Transformar em biológico tudo que é

social O termo medicalização é substituído por:

Patologização - porque o fenômeno tem-se ampliado, fugindo dos limites da prática médica, indo para os psicólogos, fonoaudiólogos, enfermeiros e pedagogos

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Doença inexistente

"O espaço escolar, voltado para a aprendizagem, para a normalidade, para o saudável, transforma-se em espaço clínico, voltado para erros e distúrbios. Sem qualquer melhoria dos índices de fracasso escolar... Porém, se as crianças continuam não aprendendo, a isto agrega-se, em taxas alarmantes, a incorporação da doença... uma doença inexistente..."

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A patologização do fracasso escolar sobre duas vertentes

O fracasso escolar seria uma conseqüência da desnutrição ( crianças da classe trabalhadora)

O fracasso escolar seria o resultado da existência de disfunções neurológicas: Hiperatividade Disfunção cerebral mínima Distúrbios de aprendizagem Dislexia

Utilizadas para justificar pretensas doenças que não apresentam relação com o não aprendizado

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Patologização e biologização Quais os principais efeitos da

medicalização e patologização dos problemas escolares?

Você acha que a desnutrição impede uma criança de aprender?

Quais são as crianças desnutridas que estão hoje freqüentando nossas escolas ? São as portadoras de desnutrição leve (1º

grau) A desnutrição grave pode afetar o intelecto

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Reflexão

Como a criança e a família reagem ao fracasso escolar e ao estigma?

Como a escola e as professoras a percebem?

Qual a dimensão da patologização do desempenho escolar?

Que mecanismos a informam e mantêm? Como poderia ver diferente a professora

que foi ensinada a ver as crianças com as lentes deformadas da patologização?

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Visão do mestres - 2006

Levantamento do Sindicato dos professores do Estado de SP sobre problemas na sala de aula

87% relatam casos de violência 96% mencionam agressão verbal 88,5% apontam vandalismo 82% citaram agressão física 77% relacionam superlotação com

aumento da violência

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Relato da professora

"(...) Causas do não-aprender? Bem.., é aalimentação... problemas em casa... A gente

vêlogo que é desnutrida. Se ela émal-alimentada, a cabecinha não pode mesmofuncionar. No geral é o organismo todo queestá comprometido, tem problema neurológicopor causa da desnutrição (...)'"

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Crenças dos professores

Preconceito = Crença de que a desnutrição é responsável pelo fracasso escolar

Professor passa por reciclagem = quebra da crença anterior

Aquisição de uma nova crença

"(...) ela não consegue mesmo aprender é pré silábica (...) ela é imatura"

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Como diferenciar uma criança disléxica de uma mal-alfabetizada?

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Criança estigmatizada

Incorpora os rótulos Introjeta a doença Passa a ser psicologicamente doente Conseqüências previsíveis sobre:

Sua auto estima Seu auto conceito Sua aprendizagem Na prática confirma o diagnóstico/rótulo

estabelecido

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Reflexões

Discussões sobre a política educacional A história falada no processo de

escolarização Histórico escolar do aluno Relação professor–aluno Relação pais–aluno Relação escola–pais Funcionamento institucional escolar Papel do psicólogo como aplicação de

diagnósticos ou testes (estigmatização)

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Atuação do psicólogoEscuta da versão dos

personagens Fazer intersecção entre:

A realidade escolar A criança A família

Tentar suprimir a idéia de carência cultural

Contribuir para que o fracasso escolar não seja considerado uma realidade e nem exista como produção.

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Estudo de caso : alunos copistas

Exemplo da atuação

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Uma Análise Do Fracasso Escolar Desconstruir a falsa idéia de que as crianças

e os jovens não aprendem por terem "problemas de saúde“

Apresentar às professoras as conseqüências deste diagnóstico infundado de doença na formação do auto conceito e da auto-estima

Refletir: Será que alguém pode aprender quando se considera incapaz de aprender, ou, melhor dizendo, será que alguém consegue fazer qualquer coisa se descrê de si mesmo?

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Rótulos dos profissionais para estas crianças

Dificuldade de aprendizagem Dislexia Distúrbios Disfunções neurológicas Desnutrição Disfunção cerebral Conseqüência

Imputação à vítima da responsabilidade do fracasso escolar

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A culpa não é dos professores Pensar a escola como sendo responsável

O fracasso é de cada um e é de todos, principalmente do sistema

Repensar o processo de culpabilização: Da criança Da mãe Da professora

Afinal, todos são vítimas e sofrem O que faz a professora, que também é vítima,

assumir o papel de agente acusador, quando se percebe em sua fala sua própria angústia e ambigüidade?

Como se naturaliza uma violência social contra quase todos?

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Alunos provindos das camadas populares que não aprendem Justificativas preconceituosas: Ora responsabilidade é dos pais, por

serem analfabetos, trabalharem fora, não estimularem seus filhos a aprender e pelo baixo repertório

Ora afirma-se as crianças são as culpadas porque têm problemas emocionais, não estão prontas ou não querem aprender

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Fracasso escolar traduzido em : Evasão Abandono Repetência Descrença no sistema de ensino Culpabilização das famílias pobres Crianças desiludidas e frustradas Crianças com sentimento de falha no

que deveriam ter tido êxito

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Escola responsabiliza a família Sempre vamos à escola, em reuniões, ou quando

somos chamados por causa do estudo dele. Ele é meio lento. A professora pediu para levar ao psicólogo para ver se resolve, pois ele está com muita dificuldade. É esforçado, mas é lento. Não consegue aprender direito. ‘E a senhora acha que ele precisa de acompanhamento com psicólogo?’[pesquisadora].

‘Eu acho que não, porque ele é lento em tudo que ele

faz. Até em casa pra comer ele é lento, que é uma coisa que ele adora fazer’ (sic)

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Avaliação do psicólogo

Sempre que tem alguma reunião, eu vou lá para pegar encaminhamento para psicólogo com a coordenadora. O F. está com dificuldades de aprender. Tá muito fraquinho e lento. ‘Você acha que ele precisa de psicólogo?’ [pesquisadora]. ‘Eu acho que não. Ele está fraco realmente, mais é por causa da professora do ano passado que não cobrava. Toda vez que eu ia à escola, ela falava que estava tudo bem com ele. E agora está aí o menino fraquinho e jogam a culpa nele e em mim. Eu não tenho plano de saúde e pra você conseguir psicólogo em policlínica é muito difícil

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Avaliação do psicólogo

Minha filha é quietinha. Fica sempre no canto dela sossegada. Acho até que é para evitar qualquer coisa por parte dos colegas, como os apelidos. A professora até me mandou levar ela ao psicólogo, porque ela não fala, não participa da aula. Só responde se perguntar pra ela, do contrário fica no canto dela. Não é de se envolver com outras crianças. Ela é boa aluna. Já está lendo. Brinca de escolinha com sua irmãzinha. Ela é uma boa aluna faz tudo...

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A principal preocupação consiste em encontrar "diagnósticos" que expliquem, justifiquem o não aprender. Não se trata de buscar um diagnóstico real para uma ação efetiva, no sentido de minimizá-lo, ou mesmo anulá-lo. Uma vez feito o

"diagnóstico", cessam as preocupações e angústias...